Interações Comunicativas No Museu - Bia Bretas e Educadores Do Oi Futuro BH

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  • 7/24/2019 Interaes Comunicativas No Museu - Bia Bretas e Educadores Do Oi Futuro BH

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    museu das telecomunicaes

    Comunicao e Educao no Museu

    O relato anterior refere-se ao amplo espectro de compartilhamentos possveis nas situaesde mediao, trabalhadas no dia a dia no Museu das Telecomunicaes. So ocasies nas

    quais a diversidade de pblicos exige dos educadores posicionamentos rpidos e aes

    criativas, de modo a estabelecer o dilogo. Assim, a valorizao da escuta uma posturaque orienta a mediao, dando lugar fala do outro e busca do compartilhamento desaberes tcitos, provenientes das interaes dos sujeitos em comunicao.

    A instituio museolgica ultrapassa a idia de suporte fsico proporcionado pelaarquitetura e pelas interfaces de exposio dos objetos, abarcando uma matriz depensamento que orienta a produo de sentido, ao ordenar a inscrio de enunciados eao fornecer chaves de leitura ao pblico nos esforos de mediao. O trabalho realizado

    pelos educadores do Museu, por sua vez, constitui-se de interaes comunicativas que

    visam entrelaar os sujeitos, mediadores e pblico, em redes de relaes. A proposta

    educativa praticada investe-se da tarefa de aprofundar o conhecimento acerca dos bensculturais disponibilizados, promovendo o pensamento crtico, criativo, relacional e tico. Adurao dos vnculos criados entre instituio e seus pblicos torna-se, ento, uma meta,

    tendo em vista, a conduo de processos formativos. Esta a perspectiva do ProgramaContinuado, que vem sendo desenvolvido desde 2008 em parceria com diferentes

    instituies educativas de Belo Horizonte.

    interessante ressaltar, como exemplo, o trabalho desenvolvido com Escola Guignard em2009, com a participao de 25 alunos. O plano de atividades baseou-se na articulao

    dos contedos e processos da disciplina Tcnicas de Expresso e Comunicao Visual com

    os eixos temticos do Museu, que conduziram as aes em cada encontro. As prticas,

    orientadas para a reexo sobre a produo da imagem na sociedade contempornea e

    seus desdobramentos na educao, foram frutos do dilogo entre mediadores e alunos.A partir das provocaes da mediao, os estudantes se posicionaram enquanto co-

    autores no apenas das aes especcas, mas tambm da metodologia desenvolvida,

    visto que o Programa Continuado passa essencialmente pela produo conjunta entrediferentes sujeitos, que se conectam para a conduo coletiva de aes educativas. Para

    alm dos resultados da produo colaborativa ao longo de um semestre, observamosoutro saldo signicativo do Programa, vericado na tessitura de interaes que foi sendo

    construda no decorrer do processo.

    Enquanto tecamos a rede fsica com as intervenes pessoais,

    outras redes eram consolidadas: as redes de amizades, redes desemelhanas e diferenas. Tudo isso fez com que o grupo chegasseao nal mais prximo, mais coeso que no incio, s isso j fez valera pena...

    aluna da Escola Guinard aps participao no Programa Continuado, 2009

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    museu das telecomunicaes

    A fora do dilogo

    A comunicao dialgica imprime um carter singular a cada interao e promove ocompartilhamento de sentidos entre os mediadores e o pblico. Isto signica dizer

    que todos os interlocutores podem expressar seus conhecimentos e experinciaspara construir um referencial de sentidos partilhados. O que implica, por exemplo, noreconhecimento dos saberes das crianas e na inveno de modos de abordagem dastemticas a serem aprofundadas.

    As visitas com crianas so realizadas de uma forma diferenciada, dinmica ealternativa, por um percurso no qual o mtodo de aprendizagem construdo numavia de mo dupla. (OLHO) Mediadores e crianas interagem, aprendem e vivenciam

    momentos nicos. A visita tem um signicado amplo, onde o objetivo estimular a

    criana seja na construo de opinio ou de aguar sua curiosidade. A visita mediadatenta abranger conceitos e experincias, tendo como pressuposto um processo deaprendizagem pessoal para a criana.

    Quando a equipe do educativo recebe um grupo com crianas, encaramos esse comoo desao do dia, pois nessas visitas, sempre sabemos como iniciaremos, mas

    durante o percurso, a abordagem muda e a visita construda atravs de assuntos,dvidas e curiosidades que so trazidos pelas crianas. Quando uma criana nos

    traz um assunto, como por exemplo, a natureza, a visita conduzida para algorelacionado ao meio ambiente.

    No Museu das Telecomunicaes, damos abertura s crianas para que iniciem avisita por onde desejarem, deixando assim, que ela corra na direo daquilo quemais lhe atraia, dando autonomia e capacidade para conduzir sua transformao,tornando-a responsvel por suas escolhas. Percebemos nesse momento quanto oespao as toca de forma diferente.(OLHO) Direcionando-se a caminhos opostos,

    observamos a construo de uma relao da criana com o espao do museu emsua experincia pessoal e subjetiva atravs de suas aes. Nestes processos so

    trabalhadas as dimenses afetivas e intelectuais, para que haja compreenso e

    transformao daquele momento em uma aprendizagem signicativa, imprimindo

    visita uma lembrana slida e duradoura.

    Na diversidade de pblicos do Museu, ocorrem situaes nas quais barreiras comunicao entre mediadores e pblicos exigem esforos capazes de superar as

    aparentes indiferenas s proposies dos educadores. Recebemos visitas agendadas

    das mais diversas instituies, sendo a grande maioria composta por escolas e

    universidades. Entretanto, mesmo que raramente, h empresas que agendam visitaspara grupos de funcionrios. Como foi o caso da visita de um grupo de prossionais

    de vendas. Ao recepcion-los, percebemos um pequeno estranhamento por parte dosvisitantes em relao dinmica de funcionamento do Museu. Optamos por iniciar

    As visitas comcrianas sorealizadas

    de uma formadiferenciada,dinmica ealternativa,por umpercursono qual omtodo deaprendizagem construdonuma via demo dupla.

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    No Museu das

    Telecomunicaes,damos abertura

    s crianas paraque iniciem a

    visita por ondedesejarem,

    deixando assim,que ela corra nadireo daquilo

    que mais lheatraia, dando

    autonomia ecapacidade para

    conduzir suatransformao,

    tornando-aresponsvel por

    suas escolhas.Percebemos nessemomento quanto oespao as toca deforma diferente

    a visita pela Galeria de Arte do TeatroKlauss Vianna, pois a maioria nunca haviavisitado um espao similar. Na pocacontvamos com a exposio As portas

    da percepo, de Arthur Omar.

    Os olhares eram curiosos, mas tambmrepletos de autocensura; alguns usavamo humor como forma de defesa e faziambrincadeiras um tanto quanto clichs emrelao s obras, destacando a aparenteexcentricidade da exposio. A leiturade suas falas nos levaram a concluirque, mesmo sem ter visitado outrasgalerias de arte, j conheciam, aindaque vagamente, formas de expresso daarte contempornea. Contudo, viam aarte como algo compreendido apenas porpessoas cultas e o artista como um sersobre-humano.

    Aps alguns minutos de apreciao dasobras pedimos aos visitantes que sesentassem formando um grande crculo,indagando-os sobre os porqus da opopor essa formao. Pouco a pouco elesexpressaram opinies que demonstravam

    a compreenso da opo pela disposiocircular do grupo e perceberam quebuscvamos a democratizao como

    alicerce para o debate que se seguiria,j que em uma roda no h ningum

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    museu das telecomunicaes

    em destaque. Todas as palavras, opinies

    e comentrios tm o mesmo valor, no hcerto e nem errado e sim uma troca deimpresses.

    Utilizando estratgias de percepo visual,iniciamos o debate com as seguintesindagaes: o que se passa nessas

    fotograas? O que vocs vm para dizerem

    isso? O que mais podemos encontrar nelas?As respostas foram escassas e tmidas:vemos algumas fotograas de gua;

    formas confusas; etc. As expresses

    demonstravam incerteza, medo do erro ou doridculo, mas pouco a pouco o debate ganhoucorpo e todos expressavam opinies diversas

    e mais entusiasmadas. As fotograas de

    pores de gua, antes disformes e sem

    signicado, passaram a retratar clebres

    guras histricas, bailarinas, pombas,

    borboletas, contornos continentais, gurasreligiosas, etc.

    Progressivamente os visitantescompreenderam que a inteno do artistaera incitar a imaginao atravs do convite experincia esttica, instigando asmais diversas leituras possveis sobre amesma obra. Athur Omar conclamava osobservadores a se tornarem co-autores desuas obras. O artista deixava de ser o gnioem destaque, detentor de um dom divino econvocava todos ao fazer artstico.

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    apresentao

    Um o que se tece com amor

    A interao pode ser denida como a inuncia recproca dos indivduos sobre as aes

    uns dos outros, quando em presena fsica imediata. O termo encontro tambm seriaapropriado (GOFFMAN, 1996, p. 23). Sendo assim, as interaes construdas nas mediaes

    entre educadores e pblicos podem se caracterizar como afetaes mtuas, nas quais todos

    os interlocutores so sujeitos do conhecimento.O o das interaes tece e congura um sentido para o conjunto de relatos aqui

    apresentados, em prol de encontros signicativos e agradveis. Longe de contemplar

    toda a diversidade e a singularidade das situaes, destacamos fragmentos de fazeres

    da mediao no Museu, marcados pela comunicao face a face entre educadores epblicos. So experincias baseadas na valorizao das interlocues, na importncia da

    construo da sociabilidade, no desenvolvimento da autonomia interpretativa dos sujeitos e,principalmente, no cuidado com o outro.

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    apresentao

    BONDIA, Jorge Larosa. Notas sobre a experincia e o saber da experincia. Revista Brasileirade Educao, num. 19, jan.-abr. 2002

    FRANA, Vera R.V. Interaes comunicativas: a matriz conceitual de G.H.Mead. In: PRIMO, A.

    et al (orgs.) Comunicao e Interao. Porto Alegre: Sulina, 2008. p. 71-92.

    JABOR, Bia. Programa Educativo do Museu das Telecomunicaes: entre a tecnologia, a

    interatividade e uma mediao em hipertexto. In: Anais do I Encontro Nacional Da Rede deEducadores em Museus e Centros Culturais do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Casade Rui Barbosa, 2010.

    JABOR, Bia. Introduo dos Cadernos Temticos do Programa Educativo do Museu das

    Telecomunicaes. Rio de Janeiro, 2007. Disponveis em www.oifuturo.org.br/museu/ media

    GOFFMAN, Erving. A representao do eu na vida cotidiana. Petrpolis: Vozes, 1996.

    MOUILLAUD, Maurice. Da forma ao sentido. In: MOUILLAUD, M., e PORTO, S. (orgs.). O jornal,

    da forma ao sentido. Braslia: Paralelo, 1997. p. 29-35.

    NASCIMENTO. Silvania Souza do. O desao de construo de uma nova prtica educativa

    para os museus. In: Museus: dos gabinetes de curiosidades museologia moderna. In:Figueiredo, B.; VIDAL, D.G. (Orgs.), Belo Horizonte: Argumentvm, 2010; Braslia: CNPq, 2005.

    Disponvel em http://www.cecimig.fae.ufmg.br/leme/docs)desao.pdf

    RAMOS, A danao do objeto: o museu no ensino de histria. Chapec: Argos, 2004.VAZ, Paulo Bernardo e ANTUNES, Elton. Mdia, um aro, um halo, um elo. In: FRANA, Vera eGuimares, Csar. Na mdia, na rua: narrativas do cotidiano: 2006. p.

    Entrevista com Anny Christina Lima, Denise Grinspum e Stela Barbieri realizada porPASQUALUCCI, Luciana. Escola de Comunicao e Artes USP. Programa de Ps-graduao

    em Artes Visuais, Prof. Dra. Maria Christina Rizzi.

    Entrevista com Stela Barbieri, disponvel em http://www.bienal.org.br/FBSP/pt/Noticias/

    Paginas/Como-falar-com-400-mil-pessoas-conversando-com-cada.uma.aspx

    Depoimentos de arte-educadores do Programa Educativo do Museu das Telecomunicaes,

    Adriana Fontes e Bia Jabor.

    Relatrios, cartas, documentos e fotos de arquivo do Programa Educativo.

    Referncias bibliogrcas