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Introdução à Filosofia de Eric Voegelin Curso em 6 aulas, por Olavo de Carvalho Colonial Heights, VA, 27 Abril de 2009 a 02 Maio 2009 No vídeo recém-publicado da rodada de conferências “Voegelin in Toronto”, o que mais me chama atenção é a diferença entre pensadores acadêmicos de alto calibre, mas presos às formalidades do meio universitário, e o estudioso que tira sua inspiração diretamente da vida mesma. Todo o conjunto de temas a que Eric Voegelin dedicou seis décadas de estudo e meditação vieram da sua experiência pessoal ante a eclosão dos movimentos ideológicos de massa no século XX. O grande objetivo da sua vida foi não apenas explicar as origens intelectuais e espirituais desses fenômenos sangrentos, mas apreender a sua significação no quadro geral da existência humana. Para isso ele teve de desenvolver toda uma antropologia filosófica, partindo das fontes clássicas do pensamento ocidental, especialmente o Banquete de Platão, onde o ser humano aparece como uma criatura intermediária e hesitante, vivendo na fronteira entre dois mundos: o transcendente e o imanente, o infinito e o finito. A esse espaço entre os mundos Platão dava o nome de metaxy, “entremeio”. É da experiência direta aí colhida que surgem os símbolos com que o ser humano procura dar alguma inteligibilidade ao processo existencial que ele não pode observar de fora e de cima, porque o processo o envolve em todos os instantes e sob todos os aspectos. Da universalidade da metaxy como condição permanente da vida, Voegelin conclui que os pólos da existência são inseparáveis e nenhum deles pode ser concebido como objeto: Deus e o homem, o eu e o outro, consciência e objeto, natureza e sociedade só existem como oposições internas dentro da metaxy. Não há um posto de observação privilegiado desde o qual possamos captar a unidade do processo e constituir os seus elementos como “objetos”. É o processo mesmo que, em nós, busca a expressão da sua inteligibilidade possível a cada momento. Isso não quer dizer que o conhecimento gire em círculos. Ele tem um certo sentido acumulativo e progressivo, na medida em que as sucessivas

Introdução à Filosofia de Eric Voegelin

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Page 1: Introdução à Filosofia de Eric Voegelin

Introdução à Filosofia de Eric Voegelin

Curso em 6 aulas, por Olavo de Carvalho

Colonial Heights, VA, 27 Abril de 2009 a 02 Maio 2009

No vídeo recém-publicado da rodada de conferências “Voegelin in Toronto”, o que mais me chama atenção é a diferença entre pensadores acadêmicos de alto calibre, mas presos às formalidades do meio universitário, e o estudioso que tira sua inspiração diretamente da vida mesma. Todo o conjunto de temas a que Eric Voegelin dedicou seis décadas de estudo e meditação vieram da sua experiência pessoal ante a eclosão dos movimentos ideológicos de massa no século XX. O grande objetivo da sua vida foi não apenas explicar as origens intelectuais e espirituais desses fenômenos sangrentos, mas apreender a sua significação no quadro geral da existência humana. Para isso ele teve de desenvolver toda uma antropologia filosófica, partindo das fontes clássicas do pensamento ocidental, especialmente o Banquete de Platão, onde o ser humano aparece como uma criatura intermediária e hesitante, vivendo na fronteira entre dois mundos: o transcendente e o imanente, o infinito e o finito. A esse espaço entre os mundos Platão dava o nome de metaxy, “entremeio”. É da experiência direta aí colhida que surgem os símbolos com que o ser humano procura dar alguma inteligibilidade ao processo existencial que ele não pode observar de fora e de cima, porque o processo o envolve em todos os instantes e sob todos os aspectos.

Da universalidade da metaxy como condição permanente da vida, Voegelin conclui que os pólos da existência são inseparáveis e nenhum deles pode ser concebido como objeto: Deus e o homem, o eu e o outro, consciência e objeto, natureza e sociedade só existem como oposições internas dentro da metaxy. Não há um posto de observação privilegiado desde o qual possamos captar a unidade do processo e constituir os seus elementos como “objetos”. É o processo mesmo que, em nós, busca a expressão da sua inteligibilidade possível a cada momento. Isso não quer dizer que o conhecimento gire em círculos. Ele tem um certo sentido acumulativo e progressivo, na medida em que as sucessivas simbolizações vão se esclarecendo umas às outras numa escala que vai do mais compacto para o mais diferenciado. Os símbolos da existência formam sucessivas imagens da “ordem”, e a sucessão das ordens no tempo é ela própria a “Ordem da História”. A eclosão dos movimentos ideológicos de massa é uma etapa dessa sucessão e pode ser, até certo ponto, compreendida.

A idéia do presente curso é reconstituir a “ordem” sucessiva das descobertas de Voegelin pelo mesmo método que ele aplicou à investigação da “Ordem da História”: a análise de uma biografia intelectual deve resultar no esclarecimento da unidade interna e da “estrutura”, sempre móvel, mas reconhecível, do ensinamento de Voegelin. Como exigência desse mesmo método, dedicaremos especial atenção às partes mais problemáticas da obra de Voegelin, o que não significa necessariamente as mais frágeis, porém aquelas que deixam em aberto questões que já não podem ser resolvidas pelo método voegliniano, exigindo antes a sua extensão e complementação. A leitura preliminar das Reflexões Autobiográficas de Eric Voegelin é exigência indispensável para os interessados no curso. A ordem das aulas será a seguinte:

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1. Exame sintético do trajeto intelectual de Eric Voegelin segundo as Reflexões Autobiográficas e depoimentos de discípulos e colegas do filósofo. Sugestões úteis podem ser extraídas daí para a formação intelectual dos alunos do curso.

2. A metaxy e a estrutura geral da experiência humana.

3. A consciência como participação no processo de diferenciação dos símbolos.

4. Sucessão e simultaneidade das “ordens”. Gnosticismo e messianismo como origens dos movimentos ideológicos de massa.

5. O caráter problemático da revelação cristã na filosofia de Eric Voegelin.

6. O processo efetivo da diferenciação dos símbolos.

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CURSO DE SIMBOLISMO E COSMOLOGIA TRADICIONAL Nos últimos 600 anos, a distância entre ciência, filosofia e religião só tem aumentado. Isso se deve em grande medida à perda de um “modelo máximo” de síntese desses três campos do conhecimento, modelo esse que se tipifica principalmente nas ciências cosmológicas, cuja explicação científica dos fenômenos, estruturada em princípios filosóficos firmes, nasce da revelação religiosa e a ela reconduz, fornecendo um simbolismo que propicia a vitalidade espiritual da religião.

Quais eram os princípios em que se baseavam as antigas cosmológicas? Por que eram elas dotadas desse caráter eminentemente sintético, que permitia que abarcassem em si desde os dados empíricos da vida cotidiana até os mais elevados axiomas da revelação religiosa? Por que esses conhecimentos foram primeiro depreciados e depois finalmente perdidos e substituídos pelas ciências modernas? Por que estas jamais serão capazes de cumprir o papel antes representado pelas ciências tradicionais?

Para responder a estas e a outras perguntas, o professor Luiz Gonzaga de Carvalho apresentará a palestra “Cosmologia e Simbolismo”, que, aberta ao público em geral, servirá de introdução ao curso “Princípios de Simbolismo e Cosmologia Tradicional”.

O curso, com duração prevista de um ano, pretende dar ao aluno uma idéia clara do lugar das ciências cosmológicas na cosmovisão medieval cristã e islâmica, traçando também um paralelo com outras tradições. Para alcançar-se esse objetivo, o assunto será dividido em três temas:

» Exposição dos princípios da filosofia natural por meio do estudo e definição de termos como: natureza e natural, causa, princípio, elemento, movimento, e outros, compreendidos à luz de teses tiradas das obras de S. Tomás de Aquino e Aristóteles, entre outros.

» Introdução às ciências simbólicas e descrição do simbolismo das diversas ciências cosmológicas: astrologia, alquimia, geometria, aritmética, música, feng shui ou geografia sagrada, e outras. Comparação das ciências de diversas tradições.

» Comparação entre a ciência tradicional e a ciência moderna — diferenças de objeto, método, qualidade, finalidade, função e princípios.

Informações sobre o curso:

Início: 14/02/2008

Local: Rua Dr. Correa Coelho, 741, Jardim Botânico

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Horário: 09:00 às 12:00

Datas:

Fevereiro – 14 e 28

Março – 14 e 28

Abril – 04 e 18

Maio – 09 e 23

Junho – 06 e 20

Julho – 04

Agosto – 01, 15 e 29

Setembro – 12 e 26

Outubro – 10 e 24

Novembro – 07 e 21

Dezembro – 05

Inscrições: Por e-mail [email protected] , pelos fones: 3262 0100 , 8884 6993 ou no local do curso.

Investimento: R$ 80,00 por aula sendo que a inscrição é compromisso de conclusão do curso e pagamento integral mesmo sem o comparecimento. Isenção de pagamentos por falta, serão analisados caso a caso.

Mais cursos:

- Semana da Filosofia com Olavo de Carvalho

- Seminário de Filosofia com Olavo de Carvalho