Upload
phamhuong
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho de conclusão de curso permitiu um razoável aprofundamento sobre o
tema Resíduo Hospitalar, mostrando a necessidade da elaboração e implantação de
Plano de Gerenciamento de Resíduo de Serviços de Saúde (PGRSS).
No seu decorrer, apresentamos uma breve visão da história dos hospitais, das
contribuições dada pelo cristianismo, budismo e militares. Depois, logicamente,
abordamos os pontos centrais da nossa linha de raciocínio – resíduo hospitalar e
seu gerenciamento.
Desde as antigas civilizações os homens se preocupavam em afastar das
proximidades de suas habitações tudo o que sobrava de suas atividades diárias, não
se importando com a maneira que esse lixo era destinado. Nessa época a prática do
descarte dos resíduos sólidos ao ar livre ou em cursos de água já existia. Hábitos
que permanecem até hoje em muitos paises, principalmente os subdesenvolvidos
(Confortin, 2001).
Com o crescimento populacional, os avanços científicos, tecnológicos e
desenvolvimento industrial, o descarte de resíduos tornou-se um problema ainda
maior.
Os riscos ambientais, causados por um manejo inadequado dos resíduos, podem ir
muito além dos limites os estabelecimentos de saúde, podendo gerar doenças e
afetar a qualidade de vida da população que, direta ou indiretamente, pode entrar
em contado com o material descartado (Almeida, 2003).
2
Temos como exemplo o caso da catadora de lixo que encontrou um pedaço de
carne no lixão e comeu junto com seu filho. Esse pedaço de carne tratava-se de
uma mama amputada, e foi descartado como lixo comum. Esse caso aconteceu em
Olinda (PE), no ano de 1994.
A destinação inadequada de resíduos de serviços de saúde tem causado problemas
ambientais, sociais e sanitários. Somente um adequado gerenciamento dos resíduos
de serviços de saúde poderá minimizar os impactos negativos.
3
Capítulo 1. A HISTÓRIA DOS HOSPITAIS
Ao longo da história o homem vem buscando soluções para a melhoria de sua
qualidade de vida. Essa busca levou a construção de hospitais, ao surgimento de
aspectos sanitários e ao aparecimento de práticas exercidas por profissionais da
área da saúde. Mesmo com o avanço científico e tecnológico, o processo de
mudança sempre estará frente a novos desafios.
A palavra hospital origina-se do latim hospitalis, significa “ser hospitaleiro”
acolhedor, caridoso, adjetivo derivado de hospes, que se refere a hóspede, que se
aloja temporariamente em casa alheia, que hospeda (dicionário).
Da palavra “hospitium”, derivou hospício, que indicava os locais onde eram
recebidos os enfermos pobres, incuráveis ou loucos (Lisboa).
Deve-se ao budismo a difusão das instituições hospitalares. Segundo Mac Eacherm
(apud Campos, 1944:13), Sidartha Gautama, o iluminado (Buda), construiu vários
hospitais e nomeou, para cada dez cidades, um médico já formado, prática
continuada pelo seu filho Upatise (Lisboa).
Lisboa aponta que “em ordem cronológica, vários autores indicam a existência de
hospitais: anexos aos mosteiros budistas, em 543 a.C.; existentes no Ceilão, entre
os anos 437 e 137 a.C.; vários hospitais mantidos em diferentes lugares, providos de
dieta conveniente e de medicamentos para os enfermos, preparados por médicos,
em 161 a.C.; 18 hospitais, providos pelo rei Gamari, no Ceilão, em 61 a.C. Da
mesma forma, aparecem as primeiras referências a enfermeiros (geralmente
estudantes de medicina): eles deveriam ter "asseio, habilidade, inteligência,
4
conhecimento da arte culinária e de preparo de medicamentos. Moralmente
deveriam ser puros, dedicados, cooperadores. (apud Paixão, 1960:13)”.
Recebemos também a contribuição dos hospitais militares que eram os maiores em
estrutura arquitetônica, complexidade e em seu corpo médico. Eles tratavam de
soldados feridos e doentes. Os casos leves eram cuidados a céu aberto, os mais
graves encaminhados para os hospitais cada vez mais complexos. O exército se
tornou mais técnico e com isso o custo para a formação de um soldado aumentou.
Ele deixou de ser um trabalhador manual quando passou a usar armas, e
consequentemente sua vida passou a ser mais valorizada.
Até o século XVIII, o hospital era uma instituição com acentuado viés de exclusão,
uma vez que se voltava às classes inferiores incapazes de financiar assistência
medica particular. A internação de um paciente indicava um estado terminal, fosse
pela ignorância acentuada no setor da saúde, com baixíssimos cuidados com
higiene, fosse pela simples incapacidade e desconhecimento faziam de doenças e
curas comuns em nossa época. As crenças religiosas somadas ao desconhecimento
faziam dos hospitais apenas “casas de passagem”, onde padres e freiras se
travestiam de enfermeiros para, na verdade, auxiliar os internos no processo de
morte.
Conforme Michel Foucault, “a medicina dos séculos XVII e XVIII era profundamente
individualista. Individualista da parte do médico, qualificado como tal ao termino de
uma iniciação assegurada pela própria corporação dos médicos que compreendia
conhecimentos de textos e transmissão de receitas mais ou menos secretas. A
experiência hospitalar estava excluída da formação ritual do médico. O que
qualificava era a transmissão de receitas e não o campo de experiência que ele teria
atravessado, assimilado e integrado”. (1989:59)
Os médicos não tinham prática hospitalar e os doentes dos hospitais eram
acompanhados por pessoas que queriam a salvação e não tinham conhecimento
específico.
5
Medicina e hospital ficaram separados até meados do século XVIII, quando passou-
se a identificar os hospitais como potente fator de geração e transmissão de
doenças.
No final do século XVIII reformula-se o conceito de hospital que passa a ser
instrumento terapêutico. Define-se, então, um programa de reforma e construção de
hospitais. O hospital passa a atuar como instituição sanitária, com seus próprios
caracteres estruturais.
No século XIX, três descobertas importantes contribuíram para o desenvolvimento
da medicina: a teoria bacteriológica; o uso de métodos assépticos e anti-sépticos
que diminuíram drasticamente o número de mortes por infecção; a introdução da
anestesia, permitindo a realização de cirurgias sem dor e com mais possibilidade de
êxito, contribuíram muito para alterar a imagem do hospital que deixou de ser um
lugar aonde os pobres iam para morrer, transformando-se em local onde os
enfermos podiam se curar.
No século XX, a medicina se converte em prática eminentemente hospitalar. Com o
avanço do conhecimento estabelece-se um rígido controle sobre tudo que
envolvesse o doente: a qualidade do ar, da água em que eram banhados, a
temperatura do ambiente, o regime alimentar etc.
Segundo Michel Foucault, dois passos são responsáveis pela transformação dos
hospitais contemporâneos: a imposição de mecanismos disciplinares para reger as
atividades dos hospitais e a conversão da disciplina resultante em disciplina medica.
Hoje, os estabelecimentos de saúde mantêm a mesma forma arquitetônica que
caracterizava as unidades hospitalares contemporâneas, com a valorização do
espaço urbano e, graças aos avanços da medicina, mantêm métodos rigorosos e
eficazes para manutenção da assepsia hospitalar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define hospital como parte integrante de
um sistema coordenado de saúde, cuja função é dispensar à comunidade completa
assistência à saúde, tanto curativa quanto preventiva, incluindo serviços extensivos
6
à família, em seu domicílio e ainda um centro de formação para os que trabalham no
campo da saúde e para as pesquisas biossociais".
Nery cita que “ alguém no século XX, definiu a casa como sendo a máquina de
morar. Pode-se analogicamente, definir hospital, no mundo tecnológico de hoje,
como uma máquina de promover, proteger e recuperar a saúde. Mais do que uma
simples máquina: uma linha de montagem. Uma empresa. Portanto, considerando-
se o hospital como uma empresa, tanto seus problemas devem ser analisados,
como a solução para os mesmos devem ser formulados à luz dos critérios de
rendimentos e de custos, que são critérios tipicamente econômicos, de onde se
concluem que a procura por melhores rendimentos deve fazer-se paralelamente à
busca de custos mais baixos”(1970:15).
De acordo com a Resolução Conama nº. 358, e obrigação de todos os geradores de
RSS a elaboração e a execução de um plano de gerenciamento de resíduos de
serviço de saúde. Muitos administradores hospitalares ainda enxergam esse plano
somente como um aumento de custos e desperdício de tempo. Não levam em conta
que o descarte inadequado de RSS pode causar danos ambientais capazes de
comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida da geração atual e futura.
O avanço tecnológico das últimas décadas, se, por um lado, possibilitou conquistas
surpreendentes no campo das ciências, por outro, contribuiu para o aumento da
diversidade de produtos com componentes e materiais de difícil degradação e maior
toxicidade. É o paradoxo do desenvolvimento cientifico e tecnológico gerando
conflitos com os quais se depara o homem pós-moderno diante dos graves
problemas sanitários e ambientais advindos de sua própria criatividade. Entre esses,
situam-se aqueles criados pelo descarte inadequado de resíduos que criaram, e
ainda criam, enormes passivos ambientais, colocando em riscos recursos naturais e
a qualidade de vida das presentes e futuras gerações. A disposição inadequada
desses resíduos decorrentes da ação de agentes físicos, químicos ou biológicos,
cria condições ambientais potencialmente perigosas que modificam esses agentes e
propiciam sua disseminação no ambiente, o que afeta, conseqüentemente, a saúde
humana. São as “iatrogenias” do progresso humano (ANVISA).
7
Esse capítulo tem como objetivo apresentar o surgimento dos hospitais, sua
evolução e seus avanços científicos e tecnológicos.
Sabemos que quanto maior o consumo, maior e a geração de ”lixo”, temos como
grande exemplo de país consumidor os Estados Unidos. Podemos aplicar a mesma
regra para os resíduos hospitalares, quanto mais pessoas tiverem acesso a todo
esse avanço, maior a geração de resíduos.
Há décadas atrás não se tinha a consciência que temos hoje. Como, por exemplo,
nos relatou Foucault que no século XVIII, em Paris, os cadáveres de pessoas
pobres eram amontoados no interior dos cemitérios. O número de cadáveres
empilhados era tão grande que os muros já não suportavam e se desmoronavam
espalhando esqueletos nas casas vizinhas. (1989:48)
Absurdos como esse já não acontece nos dias de hoje. Conforme adquirimos
conhecimento e consciência, evoluímos, e caminhamos em busca de uma melhor
qualidade de vida.
Terminaremos esse capítulo com uma frase da Coordenadora do Meio Ambiente do
Hospital Alvorada Moema, de São Paulo, Sueli Sanches “entendo que a arte ‘do
cuidar’ não se restringe somente aos pacientes, mas a aprender a preservar a
natureza”.
1. 2. Resíduos
Este capítulo tem como objetivo apresentar as definições de resíduo, assim como
suas classificações e origens. Estas definições contribuíram bastante para se
compreender a necessidade de um gerenciamento dos resíduos de saúde.
Resíduo pode ser considerado qualquer material que sobra após uma ação ou
processo produtivo. A concentração demográfica nas grandes cidades e o grande
aumento do consumo de bens gera uma enorme quantidade de resíduos de todo
8
tipo, procedentes tanto das residências como das atividades públicas e dos
processos industriais.
Nos últimos 10 anos, a população brasileira cresceu 16,8%, enquanto que a geração
de resíduos cresceu 48% (Fonte: IBGE, 1989/2000). Grande parte desses rejeitos
ainda são descartados e acumulados no meio ambiente, causando graves
problemas de poluição e contaminação.
1.2.1. Formas de Classificação dos Resíduos
O resíduo pode ser classificado por sua natureza física como seco ou úmido.
O resíduo seco é composto por materiais potencialmente recicláveis. Ex.: papéis,
plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras, guardanapos e tolhas
de papel, pontas de cigarro, isopor, lâmpadas, parafina, cerâmicas, porcelana,
espumas, cortiças.
O resíduo úmido corresponde à parte orgânica dos resíduos. Ex.: restos de comida,
cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados, etc.
Por composição química como matéria orgânica (hidrocarbonetos). Ex.: pó de café e
chá, cabelos, restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos,
legumes, alimentos estragados, ossos, aparas e podas de jardim.
Por sua composição química como matéria inorgânica (sais). Ex.: composto por
produtos manufaturados como plásticos, vidros, borrachas, tecidos, metais
(alumínio, ferro, etc.), tecidos, isopor, lâmpadas, velas, parafina, cerâmicas,
porcelana, espumas, cortiças, etc.
O resíduo também pode ser classificado de acordo com seus riscos potenciais.
Segundo a NBR/ABNT 10.004, os resíduos dividem-se em:
Classe I - Resíduos Perigosos: são aqueles que apresentam riscos à saúde pública
e ao meio ambiente, exigindo tratamento e disposição especiais em função de suas
9
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade, que são os perigosos.
Classe II - Resíduos Não-inertes: são os resíduos que não apresentam
periculosidade, porém não são inertes; podem ter propriedades tais como:
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. São basicamente os
resíduos com as características do lixo doméstico que são os não perigosos. Estes
ainda são divididos em resíduos Classe IIA, os não inertes (que apresentam
características como biodegradabilidade, solubilidade ou combustibilidade, como os
restos de ali-mentos e o papel) e Classe IIB, os inertes (que não são decompostos
facilmente, como plásticos e borrachas). Quaisquer materiais resultantes de
atividades que contenham radionuclídeos e para os quais a reutilização é imprópria
são considerados rejeitos radioativos e devem obedecer às exigências definidas
pela Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN.
Classe III - Resíduos Inertes: são aqueles que, ao serem submetidos aos testes de
solubilização (NBR-10.007 da ABNT), não têm nenhum de seus constituintes
solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água.
Isto significa que a água permanecerá potável quando em contato com o resíduo.
Muitos destes resíduos são recicláveis. Estes resíduos não se degradam ou não se
decompõem quando dispostos no solo (se degradam muito lentamente). Estão nesta
classificação, por exemplo, os entulhos de demolição, pedras e areias retirados de
escavações.
1.2.2. Quanto sua origem
Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por restos de
alimentos, produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral,
papel higiênico, fraldas descartáveis e etc. Pode, ainda, conter alguns resíduos
tóxicos.
Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, tais
como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes, etc.
10
Serviços Públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo todos os
resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, galerias, córregos, restos
de podas de plantas, corpos de animais, limpeza de feiras livres, constituído por
restos de vegetais diversos, embalagens, etc.
Portos, Aeroportos, Terminais Rodoviários e Ferroviários: resíduos sépticos, ou
seja, que contém ou potencialmente podem conter germes patogênicos.
Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e restos de alimentos, que
podem hospedar doenças provenientes de outras cidades, estados e países.
Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o
metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia, etc.
O lixo industrial varia de acordo com o ramo de atividade, podendo ser representado
por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira,
fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria está a maior
parte dos resíduos considerados perigosos ou tóxicos. Esse tipo de lixo necessita de
tratamento especial pelo seu potencial de contaminação.
Radioativo: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de atividades com
urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser manuseados apenas com
equipamentos e técnicos adequados.
Agrícola: resíduos sólidos resultantes das atividades agrícola e pecuária, como
embalagens de adubos, agrotóxicos, ração, restos de colheita, dejetos de animais,
etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento
especial.
Entulho: resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de
escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de
reaproveitamento.
Hospitalar: descartados por hospitais, farmácias, clínica médica, odontológica,
clínicas veterinárias. É potencialmente perigoso, pois pode conter materiais
11
contaminados com agentes biológicos ou perigosos, produtos químicos e
quimioterápicos (algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas, curativos,
sangue coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais
utilizados em testes, resina sintética, filmes fotográficos de raios X, brocas, etc). Em
função de suas características, merece um cuidado especial em seu
acondicionamento, manipulação e disposição final.
2.2. Resíduos de Serviços de Saúde
Dados do IBGE de 2003 apontam que, no Brasil, são produzidas aproximadamente
2,3 mil toneladas por dia de RSS e os organismos presentes não são tratados,
sendo fontes potentes de contaminação.
A OPAS (1997) ressalta que a geração de resíduos sólidos de um estabelecimento
de saúde é determinada pela complexidade e pela freqüência dos serviços que
proporciona e para eficiência que alcançam os responsáveis pelos serviços no
desenvolvimento de suas tarefas, assim pela tecnologia utilizada.
De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e a Resolução CONAMA no 358/2005,
são definidos como geradores de RSS todos os serviços relacionados com o
atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência
domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de produtos para a saúde;
necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de embalsamamento,
serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de manipulação;
estabelecimentos de ensino e pesquisa na área da saúde, centro de controle de
zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores
produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro, unidades móveis de
atendimento à saúde; serviços de acupuntura, serviços de tatuagem, dentre outros
similares.
A OPAS afirma que na América Latina, a média de geração de resíduos varia entre
1,0 a 4,5 kg/leito/dia. Desses resíduos 10 a 40% são considerados perigosos.
12
O Resíduo Hospitalar, sempre representou um problema para os Administradores
Hospitalares devido, principalmente, a pouca informação e orientação dada a
funcionários, pacientes, familiares e principalmente a comunidade vizinha.
1.2.3. Classificação
Os resíduos de serviços de saúde são classificados em função de suas
características e riscos. De acordo com a ANVISA, essa classificação vem sofrendo
um processo de evolução contínuo, na medida em que são introduzidos novos tipos
de resíduos nas unidades de saúde e como resultado do conhecimento do
comportamento destes perante o meio ambiente e a saúde, como forma de
estabelecer uma gestão segura com base nos princípios da avaliação e
gerenciamento dos riscos envolvidos na sua manipulação.
De acordo com a Resolução CONAMA nº. 358/05 e a RDC ANVISA nº. 306/04, os
RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E.
Grupo A - engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos
que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem
0apresentar um grande risco de infecção, além de poluir o meio ambiente.
Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas (membros),
tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, entre outras. A maior parte dos
estabelecimentos não faz a separação deste material, que acaba indo para os
aterros junto com o lixo normal ou para a fossa.
Grupo B - contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública
ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex: medicamentos apreendidos, reagentes
de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros.
A destinação final fica sob responsabilidade dos hospitais. O material recolhido nos
hospitais, acondicionado segundo normas que variam em função do grau de
periculosidade dos produtos, geralmente é levado a um aterro próprio.
13
Grupo C - quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados
nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, como, por exemplo,
serviços de medicina nuclear e radioterapia etc.
Grupo D - não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao
meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Ex: sobras de
alimentos e do preparo de alimentos, resíduos das áreas administrativas etc. Fica
sujeito ao mesmo sistema de recolhimento do restante da cidade.
Grupo E - materiais perfuro-cortantes ou escarificantes, tais como lâminas de
barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi,
lancetas, espátulas e outros similares.
"O lixo de serviços de saúde é um reservatório de microorganismos potencialmente
perigosos. Pode disseminar microorganismos resistentes no ambiente; causar
ferimentos, por meio dos materiais radioativos e dos perfurocortantes (agulhas,
lâminas, bisturis etc.); e provocar envenenamento e poluição, seja pelo
derramamento de produtos como antibióticos e drogas tóxicas ou por elementos
como mercúrio e dioxinas (ambos cancerígenos)", alerta a OMS (Organização
Mundial da Saúde).
Geralmente, os resíduos de serviço de saúde não são destinados conforme
deveriam. Na maioria dos casos são descartados juntamente com os resíduos
urbanos, ou seja, jogados em lixões a céu aberto, onde circulam animais e
catadores de lixo.
O governo, através da força da lei, vem pressionando os geradores de RSS a
tomarem as medidas cabíveis para evitar danos maiores à população e ao meio
ambiente.
14
Capítulo 2. LEGISLAÇÕES APLICÁVEIS AOS RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE
SAÚDE
A destinação inadequada de resíduos de serviços de saúde tem gerado passivos
ambientais capazes de por em risco o meio ambiente e a nossa qualidade de vida.
Tais problemas têm gerado políticas públicas e legislações mais exigentes, que
visam a sustentabilidade do meio ambiente e a preservação da saúde.
Nossa Constituição Federal de 1988, no Art. 225 diz “Todos tem direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público é a coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
A primeira lei brasileira a tratar de resíduos sólidos, publicada em 1954, foi a Lei
Federal de nº. 2.312, em seu Art. 12 “a coleta, o transporte, e o destino final do lixo,
deverão processar-se em condições que não tragam inconvenientes à saúde e ao
bem estar públicos”. (BRASIL: 1954)
Garcia cita que vários estados e municípios possuem legislações próprias
específicas sobre gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, estabelecendo
normas para classificação, segregação, armazenamento, coleta, transporte e
disposição final desses resíduos. Contudo, as legislações em vigor não são claras e
muitas vezes são conflitantes, o que provoca dúvidas e muitas vezes impossibilita a
adoção de normas práticas eficazes para o gerenciamento dos resíduos de serviços
de saúde em todo o país.
Neste capítulo iremos citar legislações no âmbito Federal que tratam diretamente de resíduos dos serviços de saúde.
15
Segundo a Anvisa, os resíduos dos serviços de saúde ganharam destaque legal no
início da década de 90, quando foi aprovada a Resolução CONAMA nº. 006 de
19/09/1991 que desobrigou a incineração ou qualquer outro tratamento de queima
dos resíduos sólidos provenientes dos estabelecimentos de saúde e de terminais de
transporte e deu competência aos órgãos estaduais de meio ambiente para
estabelecerem normas e procedimentos ao licenciamento ambiental do sistema de
coleta, transporte, acondicionamento e disposição final dos resíduos, nos estados e
municípios que optaram pela não incineração. Posteriormente, a Resolução
CONAMA nº. 005 de 05/08/1993, fundamentada nas diretrizes da resolução citada
anteriormente, estipula que os estabelecimentos prestadores de serviço de saúde e
terminais de transporte devem elaborar o gerenciamento de seus resíduos,
contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento,
coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos resíduos.
A Resolução CONAMA nº. 283, publicada em 12 de julho de 2001, que atualiza e
complementa a Resolução nº. 5, dispõe sobre o tratamento e destinação final dos
resíduos de serviços de saúde. Determina que caberá ao responsável legal pelo
estabelecimento gerador a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos
desde a geração até a disposição final. E que o gerador deverá elaborar o PGRSS
de acordo com os critérios estabelecidos pelos órgãos de vigilância sanitária e meio
ambiente federais, estaduais e municipais. Define os procedimentos gerais para
manejo dos resíduos, e que os resíduos serão acondicionados, atendendo às
exigências da legislação de meio ambiente e saúde e às normas aplicáveis da
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, e, na sua ausência, sejam
adotados os padrões internacionalmente aceitos.
No ano de 2000 a ANVISA iniciou um grande debate público com o objetivo de
discutir o regulamento técnico sobre diretrizes de procedimentos de manejo de
resíduos de serviços de saúde. Este debate resultou na Resolução RDC 33,
publicada em 25 de fevereiro de 2003.
A resolução considerou “os princípios da biossegurança de empregar medidas
técnicas, administrativas e normativas para prevenir acidentes ao ser humano e ao
meio ambiente”.
16
De acordo com a ANVISA, a adoção desta metodologia de análise de risco da
manipulação dos resíduos gerou divergência com as orientações estabelecidas pela
Resolução CONAMA nº. 283/01. O que levou os dois órgãos a buscarem a
harmonização das regulamentações. Decidiram dessa forma revogar a RDC nº. 33 e
publicar a RDC ANVISA nº. 306, em dezembro de 2004, e a Resolução CONAMA
nº. 358 , em maio de 2005.
A RDC nº. 306, publicada em 07 de dezembro de 2004, dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Considera que a
segregação dos RSS, no local de sua geração, reduz o volume de resíduos e
previne incidentes ocupacionais. Considera a necessidade de disponibilizar
informações técnicas aos geradores e aos órgãos fiscalizadores. Define que
compete à Vigilância Sanitária dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal,
com o apoio dos Órgãos de Meio Ambiente, de Limpeza Urbana, e da Comissão
Nacional de Energia Nuclear - CNEN, divulgar, orientar e fiscalizar o cumprimento
desta Resolução.
A resolução 358, foi publicada em 29 de abril de 2005, dispõe sobre o tratamento e a
disposição final de resíduos de serviços de saúde. Considera os princípios da
prevenção, da precaução, do poluidor pagador, da correção na fonte, com vistas a
preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente. Considera a
necessidade da minimização da geração de resíduos através da melhoria do
processo, redução e reciclagem. Os veículos utilizados para a coleta e transporte
externo dos resíduos de serviços de saúde devem atender as exigências legais e as
normas da ABNT. Os sistemas de tratamento e disposição final de resíduos de
serviços de saúde devem estar licenciados e monitorados pelo órgão ambiental
competente.
A união de esforços entre a ANVISA e o CONAMA resultou num grande progresso.
Essas resoluções trouxeram definições de procedimentos seguros, considerando as
realidades e peculiaridades regionais, classificação e procedimentos de segregação
e manejo dos RSS.
17
2.1. Normas Técnicas
Norma é um documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo
reconhecido que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou
características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau
ótimo de ordenação em um dado contexto. (Embrapa/Sistema de Produção)
As normas servem como parâmetros, como guia de planejamento para ações
preventivas e de fiscalização. A aplicação de normas é de fundamental importância,
pois garante uma boa qualidade dos serviços executados e também afere o
desempenho das organizações no que tange aos aspectos ambientais produzidos.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou as seguintes normas
para auxiliar na Gestão dos Resíduos de Serviços de Saúde:
Quadro 1: Normas da ABNT - Manuseio dos RSS
FINALIDADE NORMA Terminologia NBR 12,807 – Resíduos de Serviços de
Saúde Classificação NBR 10.004 – Resíduos Sólidos –
Classificação Simbologia NBR 7.500 – Símbolos de risco e
manuseio para transporte e armazenamento do material
Acondicionamento NBR 9.190 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo – Classificação NBR 9.191 – Sacos plásticos para acondicionamento – especificação NBR 9.195 – Sacos plásticos para acondicionamento – métodos de ensaio NBR 9.196 – Determinação de resistência a pressão do ar NBR 9.197 – Sacos plásticos para acondicionamento de lixo – determinação de resistência ao impacto de esfera NBR 13.055 – Saco plástico para acondicionamento – determinação de capacidade volumétrica NBR 13.056 – filmes plásticos para sacos para acondicionamento –
18
verificação de transparência NBR 13.853 – Coletores para resíduos de serviços de saúde, perfurantes e cortantes – requisitos e métodos de ensaio NEA 55/IPT – Recipiente rígido para resíduos perfurantes e cortantes de serviços de saúde
Manuseio intra-estabelecimento NBR 12.809 – Resíduos de serviços de saúde – manuseio
Rejeitos radioativos CNEN-NE 6.05 – Gerencia de rejeitos radioativos em instalações radioativas
Coleta e transporte
NBR 12.810 – Resíduos de serviços de saúde – procedimentos na coleta NBR 7.501 – Transporte de produtos perigosos – terminologia NBR 7.503 – Ficha de emergência para transporte de produtos perigosos – características e dimensões NBR 7.504 – Envelope para transporte de produtos perigosos – características e dimensões NBR 8.285 – Preenchimento da ficha de emergência para o transporte de produtos perigosos NBR 8.286 – Emprego de sinalização nas unidades de transporte e de rótulos nas embalagens de produtos perigosos NBR 9.734 – Conjunto de equipamento de proteção individual para avaliação de emergência e fuga no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 9.735 – Conjunto de equipamentos para emergência no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 12.710 – Proteção contra incêndio por extintores no transporte rodoviário de produtos perigosos NBR 13.095 – Instalação e fixação de extintores de incêndio para carga no transporte de produtos perigosos E15.011 – Sistema para incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, Portos e Aeroportos
Projetos Instrução Técnica CETESB – Apresentação do projeto de incinerador de resíduos hospitalares NBR 8.418 – Apresentação de projetos de aterros industriais NBR 8.419 – Apresentação de projetos
19
de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos
Tratamento
E15.011 – Sistema para incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, Portos e Aeroportos
Métodos de análises NBR 10.005 – Lixiviação de resíduos NBR 10.006 – Solubilização de resíduos NBR 10.007 – Amostragem de resíduos
Não basta apenas a elaboração de leis e normas para garantir a preservação do
meio ambiente e a qualidade de vida. É muito importante a conscientização dos
responsáveis pela geração dos resíduos, dos funcionários que manipulam, da
população e dos órgãos fiscalizadores.
20
Capítulo 3. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE
Segundo a ANVISA Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde “constitui-se
em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir
de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a
produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento
seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da
saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente”.
Um eficaz Gerenciamento de RSS além de minimizar a geração de resíduos,
também pode reduzir os custos com a disposição final. Caberá ao responsável legal
do estabelecimento a responsabilidade pelo gerenciamento de seus resíduos desde
a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de
saúde pública, sem prejuízo da responsabilidade civil solidária, penal e
administrativa de outros sujeitos envolvidos, em especial os transportadores e
depositários finais, como prevêem a Lei nº. 6.938, de 31 de agosto de 1981 e a
Resolução nº. 358 (CONAMA) de 29 de abril de 2005.
Para gerenciar os Resíduos de Serviços da Saúde é necessário conhecer as
atividades realizadas no local, identificar a classificação dos resíduos, as legislações
aplicáveis, procedimentos adequados para o manejo e a tecnologia mais apropriada
para destinação final.
3.1. Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços da Saúde A Resolução 358, define “Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde-PGRSS: documento integrante do processo de licenciamento ambiental,
baseado nos princípios da não geração de resíduos e na minimização da geração de
21
resíduos, que aponta e escreve as ações relativas ao seu manejo, no âmbito dos
serviços mencionados no art. 1 desta Resolução, contemplando os aspectos
referentes à geração, segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento,
transporte, reciclagem, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde
pública e ao meio ambiente”(CONAMA).
De acordo com Salomão a adoção de um efetivo plano de gerenciamento dos
resíduos de serviços de saúde, deve-se contemplar um estudo de caracterização
dos resíduos, tanto quantitativo como qualitativo, pois isso permitirá otimização do
sistema de manejo dos RSS por meio da segregação dos diferentes grupos de
resíduos, impedindo que os resíduos biológicos, geralmente frações pequenas,
contaminem a totalidade (Salomão, 2004).
O CONAMA 306/04, em harmonia com a RDC ANVISA nº. 358/05, estabeleceram e
definiram a classificação, as competências e responsabilidades, as regras e
procedimentos para o gerenciamento dos RSS, desde a geração até a disposição
final. Reconhecendo a responsabilidade dos estabelecimentos de serviços de saúde,
no gerenciamento adequado dos RSS, a RDC ANVISA nº. 306/04, no seu capítulo
IV, define que é da competência dos serviços geradores de RSS:
Item 2: 2.1. A elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de
Saúde - PGRSS, obedecendo a critérios técnicos, legislação ambiental, normas de
coleta e transporte dos serviços locais de limpeza urbana e outras orientações
contidas neste Regulamento.
2.2. A designação de profissional, com registro ativo junto ao seu Conselho de
Classe, com apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, ou
Certificado de Responsabilidade Técnica ou documento similar, quando couber, para
exercer a função de Responsável pela elaboração e implantação do PGRSS.
2.3. A designação de responsável pela coordenação da execução do PGRSS.
2.4. Prover a capacitação e o treinamento inicial e de forma continuada para o
pessoal envolvido no gerenciamento de resíduos, objeto deste Regulamento.
2.5. Fazer constar nos termos de licitação e de contratação sobre os serviços
referentes ao tema desta Resolução e seu Regulamento Técnico, as exigências de
comprovação de capacitação e treinamento dos funcionários das firmas prestadoras
22
de serviço de limpeza e conservação que pretendam atuar nos estabelecimentos de
saúde, bem como no transporte, tratamento e disposição final destes resíduos.
2.6. Requerer às empresas prestadoras de serviços terceirizadas a apresentação de
licença ambiental para o tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de
saúde, e documento de cadastro emitido pelo órgão responsável de limpeza urbana
para a coleta e o transporte dos resíduos.
2.7. Requerer aos órgãos públicos responsáveis pela execução da coleta,
transporte, tratamento ou disposição final dos resíduos de serviços de saúde,
documentação que identifique a conformidade com as orientações dos órgãos de
meio ambiente.
2.8. Manter registro de operação de venda ou de doação dos resíduos destinados à
reciclagem ou compostagem, obedecidos os itens 13.3.2 e 13.3.3 deste
Regulamento. Os registros devem ser mantidos até a inspeção subseqüente.
Item 3. A responsabilidade por parte dos detentores de registro de produto que gere
resíduo classificado no grupo B, de fornecer informações documentadas referentes
ao risco inerente do manejo e disposição final do produto ou do resíduo. Estas
informações devem acompanhar o produto até o gerador do resíduo.
A Lei da Política do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), no seu artigo 3º, e a Lei dos
Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), artigos 54 e 56, responsabilizam administrativa,
civil e penalmente as pessoas físicas e jurídicas, autoras e co-autoras de condutas
ou atividades lesivas ao meio ambiente. Determina o art. 14, parágrafo 1ºda Lei da
Política Nacional do Meio Ambiente, que o poluidor é obrigado a indenizar ou reparar
os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade,
independentemente da existência de culpa. Na responsabilidade administrativa o
gerador poderá vir a ser o único ator a reparar o dano, independente da ação de
outros atores na conduta que gerou o dano. Isto induz o gestor a cercar-se de
garantias para prováveis arregimentações dos demais atores na cadeia de
responsabilidades. Deve o gerador precaver-se para, em caso de danos, fazer valer
a responsabilidade compartilhada com os demais atores, sejam eles empresas ou
órgãos públicos responsáveis pela coleta, tratamento ou disposição final desses
resíduos (ANVISA).
23
O PGRSS deve ser elaborado de acordo com as características de cada
estabelecimento e com as normas e regulamentações pertinentes, indicando as
alternativas, recursos, pessoais necessários e o responsável pela sua
implementação.
Zeltzer ressalta a necessidade do detalhamento dos procedimentos descritos, e
sugere um modelo para a elaboração do PGRSS, que iremos apresentar abaixo.
A – Identificação do Estabelecimento
• Razão Social
• Nome fantasia
• Endereço
• Telefone
• Horário de funcionamento
B – Informações Gerais
• Número de leitos (para hospitais) e de funcionários
• Responsável técnico pelo estabelecimento
• Responsável Técnico pelo PGRSS
• Equipes de trabalho e equipes envolvidas no processo:
- Comissão de Controle e Infecção Hospitalar
- Serviço de Segurança e Medicina de Trabalho, e outros...
• Área construída e área livre do terreno
• Quantidade de prédio/pavimentos
C – Objetivo
• Informação dos procedimentos de gerenciamento e as implicações de
preservação ambiental
• Racionalização do consumo de material
• Minimização da quantidade de resíduo gerado
24
• Conscientização dos colaboradores e adesão ao programa de gerenciamento
dos RSS
D – Informações Técnicas
D1 – Classificação dos resíduos
A correta classificação é o ponto de partida para o êxito do manejo dos resíduos.
Esta nos permite tomar decisões quanto aos resíduos que deverão ser recuperados
(reciclados) e quais os que poderão seguir seu fluxo para o tratamento e/ou
disposição final.
Cada estabelecimento deve procurar na legislação vigente e nos conhecimentos já
desenvolvidos subsídios para a definição de critérios para a sua classificação.
O quadro abaixo relaciona os serviços oferecidos em um estabelecimento hospitalar
e o tipo de resíduo gerado.
Quadro 2
SERVIÇOS TIPO DE RESÍDUO Serviços de um hospital
1. Sala de internação
2. Sala de cirurgia
3. Sala de parto
4. Central de equipamentos
5. Admissão
6. Serviços de emergência
7. Outros
Resíduos infecciosos
Serviços auxiliares de diagnósticos e tratamentos
8. Anatomia patológica
9. Laboratório
10. Radiodiagnostico
11. Gabinetes
12. Audiometrias
13. Isótopos radioativos
14. Endoscopia
15. Citoscopia
Resíduos infecciosos especiais
25
16. Radioterapia
17. Banco de sangue
18. Medicina física
19. Outros
Serviços de consulta externa
20. Consulta externa
21. Outros
Resíduos comuns
Serviços diretos complementares
22. Enfermaria
23. Relações e serviço social
24. Arquivo clínico
25. Nutrição
26. Farmácia
27. Outros
Resíduos especiais e comuns
Serviços gerais
28. Serviços indiretos
29. Cozinha
30. Lavanderia
31. Almoxarifado
32. Engenharia e manutenção
33. Programa docente
34. Programa de pesquisa
35. Outros
Resíduos especiais e comuns
Fonte: OPAS, 1997.
D2 – Segregação dos resíduos
A segregação como definição segundo a NBR 12807/93 é a “operação de
separação de resíduos no momento da geração, em função de uma classificação
previamente adotada para esses resíduos”. Essa ferramenta bem utilizada evita a
mistura e o desnecessário aumento de volume dos resíduos, que geram um maior
potencial de risco.
Quando não é assegurada, os resíduos comuns que poderiam ser tratados como
resíduos domiciliares, serão considerados resíduos infectantes, merecendo os
mesmos gerenciamentos aplicados a estes. Tratando-se de um caminho inverso,
implicaria na possibilidade de grandes problemas.
26
Sendo assim, a efetiva segregação e a conseqüente minimização dos resíduos são
fatores de segurança para quem manipula tanto dentro como fora do
estabelecimento de saúde.
D3 – Acondicionamento dos resíduos
O acondicionamento deve ser executado no momento da geração, em recipientes
adequados a seu tipo, quantidade e característica.
A forma de acondicionamento dos RSS está diretamente ligada a classificação.
Grande parte dos problemas relacionados com o gerenciamento de RSS refere-se
ao mau acondicionamento dos resíduos, devido a problemas de rompimento dos
sacos e/ou seu fechamento inadequado, portanto, estes devem ser submetidos a
inspeções de forma rigorosa.
D4 – Transporte dos resíduos
Os transportes internos dos RSS devem ser executados em rotas especificas e
planejadas, utilizando o itinerário de menor percurso entre as fontes geradoras, bem
como evitar horários e locais de grande fluxo de pessoas.
Os resíduos devem ser transportados devidamente acondicionados em seus
recipientes, em carrinho de coleta exclusiva para este fim.
D5 – Armazenamento temporário dos resíduos
Seu objetivo é manter os resíduos em condições seguras até o momento adequado
para a coleta externa.
A higienização adequada dos abrigos é muito importante para evitar maus odores e
vetores indesejáveis (insetos, ratos e outros).
27
D6 – Tratamento Disposição final dos resíduos
O objetivo de tratar resíduos infecciosos é reduzir os riscos associados com a
presença de agentes infecciosos, mudando suas características biológicas tanto
quanto reduzindo ou eliminando seu potencial de causar doenças.
A escolha de tratamento deve ser o resultado da combinação entre o impacto
ambiental, disponibilidade de recursos, fatores de segurança, bem como ao
licenciamento pelo órgão ambiental e sanitário competente.
A disposição final é a última técnica do sistema de gerenciamento dos RSS. As
técnicas mais usadas são os aterros sanitários/controlados e as valas sépticas.
Estes deverão estar assegurados às condições de proteção ao meio ambiente e à
saúde publica prevista na legislação.
De acordo com o site a um artigo no www.incineração.online.pt existem outras
técnicas que poderão tornar os resíduos inofensivos, podendo então seguir o
mesmo percurso que os resíduos comuns. Nestes processos incluem-se a
autoclavagem, o tratamento por microondas, incineração.e a desinfecção química.
A autoclavagem consiste no processo de submeter os resíduos a uma temperatura
bastante elevada, juntamente com vapor de água até que sejam destruídos os
microorganismos patogênicos. Tem como desvantagem não diminuir a perigosidade
de resíduos não-orgânicos, sendo, no entanto, menos dispendioso que a
incineração.
O tratamento por microondas surgiu mais recentemente e também é um processo
em que são utilizadas temperaturas elevadas para destruir os microorganismos
patogênicos.
A incineração é um processo de destruição de resíduos. De uma forma simples é um
processo de destruição térmica, através da combustão. Permite a redução do
volume e peso dos resíduos e a destruição de microorganismos patogênicos que
poderiam ser prejudiciais à saúde.
28
Por ultimo temos a desinfecção química em que são utilizados produtos químicos
para destruir os microorganismos.
E – Plano de Ação
Mapear os processos através de procedimentos descritos, fluxogramas, quadros
ilustrativos, desenhos e outros, proporcionando o detalhamento das atividades a
serem executadas no PGRSS.
E1 – Mapeamento dos Riscos Associados ao RSS
Avaliar os prováveis riscos físicos, biológicos, químicos, mecânicos e ergonômicos
que os setores do estabelecimento geradores de resíduos possam provocar e adotar
medidas preventivas e, quando necessárias, ações corretivas.
F – Plano de Contingência
Destina-se a fazer em face de qualquer anormalidade que coloque em risco os
processos pré-estabelecidos do PGRSS. De forma geral, descreve as medidas para
assegurar a continuidade dos processos essenciais. Deve ser testado antes da
ocorrência da eventualidade para o qual foi descrito.
G – Plano de Treinamento
É de extrema importância promover um plano de treinamento continuado, programas
de sensibilização, informação e conscientização em todos os níveis hierárquicos.
A capacitação reduz os acidentes de trabalho, diminui os custos operacionais e
aumenta a eficiência do trabalho.
29
H – Controle, Avaliação e Revisão do PGRSS (Plano de Gerenciamento de
Resíduos de Serviços de Saúde)
A fim de garantir que os resultados pré-determinados sejam alcançados, deve-se
monitorar e corrigir as ações implementadas, mediante a avaliação e o controle
sistemático dos fatores críticos que incidem no processo.
A identificação dos problemas no manuseio dos RSS deve ter suas causas
identificadas, às soluções deverão ser propostas e implementadas.
Para permitir a comparação da situação antes e após as intervenções, devem ser
selecionados indicadores de avaliação que permitam o monitoramento e
acompanhamento das ações.
Os indicadores são instrumentos estatísticos que servem para avaliar e controlar os
resultados alcançados para as tomadas de decisões.
I – Orçamento Anual
Implica em uma projeção orçamentária, a fim de prover recursos (equipamentos,
insumos, pessoal, obras, capacitação e outros) para o efetivo gerenciamento dos
resíduos.
30
Capítulo 4. OS RISCOS RESULTANTES DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE
SERVIÇO DE SAÚDE
Segundo dicionário o termo risco é utilizado em administração, atuária, economia,
direito e outras ciências, para designar o resultado objetivo da combinação entre a
probabilidade de ocorrência de um determinado evento, aleatório, futuro e que
independa da vontade humana e o impacto resultante caso ele ocorra (Wikipédia ).
Risco à saúde é a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos à saúde
relacionados com a exposição humana a agentes físicos, químicos ou biológicos, em
que um indivíduo exposto a um determinado agente apresente doença, agravo ou
até mesmo morte, dentro de um período determinado de tempo ou idade (ANVISA).
Risco para o meio ambiente é a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos ao
meio ambiente, decorrentes da ação de agentes físicos, químicos ou biológicos,
causadores de condições ambientais potencialmente perigosas que favoreçam a
persistência, disseminação e modificação desses agentes no ambiente (ANVISA).
A avaliação do risco ambiental é uma ferramenta metodológica essencial para a
execução de uma política de “saúde ambiental”, sendo apropriada para auxiliar a
gestão do risco e subsidiar os órgãos reguladores na tomada de decisões
(Schneider, 2004:28).
4.1. Riscos Potenciais Segundo Anvisa, na avaliação dos riscos potenciais dos resíduos de serviços de
saúde deve-se considerar que os estabelecimentos de saúde vêm sofrendo uma
enorme evolução no que diz respeito ao desenvolvimento da ciência médica, com o
31
incremento de novas tecnologias incorporadas aos métodos de diagnósticos e
tratamento. Resultado deste processo é a geração de novos materiais, substâncias
e equipamentos, com presença de componentes mais complexos e muitas vezes
mais perigosos para o homem que os manuseia, e ao meio ambiente que os recebe.
Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque, pois merecem
atenção especial em todas as suas fases de manejo (segregação, condicionamento,
armazenamento, coleta, transporte, tratamento e disposição final) em decorrência
dos imediatos e graves riscos que podem oferecer, por apresentarem componentes
químicos, biológicos e radioativos.
Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição
das políticas públicas pelos resíduos de serviços saúde (ANVISA e CONAMA) esses
resíduos representam um potencial de risco em duas situações:
a) para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo, seja o pessoal
ligado à assistência médica ou médico-veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de
limpeza e manutenção;
b) para o meio ambiente, como decorrência da destinação inadequada de qualquer
tipo de resíduo, alterando as características do meio.
Tome nota:
O risco no manejo dos RSS está principalmente vinculado aos acidentes que
ocorrem devido às falhas no acondicionamento e segregação dos materiais perfuro-
cortantes sem utilização de proteção mecânica. Quanto aos riscos ao meio ambiente
destaca-se o potencial de contaminação do solo, das águas superficiais e
subterrâneas pelo lançamento de RSS em lixões ou aterros controlados que também
proporciona riscos aos catadores, principalmente por meio de lesões provocadas por
materiais cortantes e/ou perfurantes, e por ingestão de alimentos contaminados, ou
aspiração de material particulado contaminado em suspensão. E, finalmente, há o
risco de contaminação do ar, dada quando os RSS são tratados pelo processo de
incineração descontrolado que emite poluentes para a atmosfera contendo, por
exemplo, dioxinas e furanos (ANVISA).
32
CONCLUSÃO
A realização dessa monografia foi prazerosa, embora tenha custado muito esforço,
muita leitura e certa dose de estresse. Mas, ao terminá-la, fica a sensação
gratificante de tarefa cumprida e do objetivo atingido.
Assim, observamos que os órgãos de controle ambiental criaram normas e
resoluções exigindo um controle diferenciado para os resíduos de serviços de saúde
e que mudanças vêm acontecendo no tratamento desses resíduos, mas muitos
administradores desconhecem ou ignoram o assunto, o que só vem aumentar a
problemática dos passivos ambientais. Esse tema ainda é pouco explorado,
podemos perceber até através da dificuldade em encontrar bibliografias para
trabalharmos.
Sugerimos o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde como
ferramenta para implementar o correto gerenciamento de resíduos de serviços de
saúde.
O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde não é só um registro
de intenções, vai além, pois aborda as condições de implementação e
acompanhamento. Ele facilita a tomada de decisões e a consulta de todos os
interessados. O plano deve ser ajustado continuamente de acordo com os contextos
sempre mutáveis (ANVISA).
Entretanto, é fundamental o apoio e o envolvimento da alta administração nesse
processo, dando mais legitimidade e aumentando a participação.