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Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa

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Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa Arte Urbana como estratégia contemporânea sobre o remanescente industrial Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie Novembro de 2014

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O mundo está muito técnico. Precisamos muito mais do que

páginas, paredes e ruas vazias. Quebre a monotonia.

Inspire-seInvente

Crie

Uma capa vazia?

Seja criativo. Pode ser na capa desse livro ou nessa parede

ao seu lado. Faça um desenho, uma pintura, conte um poema...

Compartilhe ideias. Intervenha nesse livro.

Use marcadores, spray, aquarela, giz, seja lá o que for. Abuse

da sua caneta bic e deixe sua marca.

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arte de rua

como estratégia contemporânea

sobre o remanescente industrial

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GHENDOV, Camila de OliveiraInversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa / Camila de Oliveira Ghendov - 2014135f.

Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014Bibliografia f.125-135

1. Arte de rua 2. Metrópole pós-industrial 3. Espaço público 4. Recuperação

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria CriativaA arte de rua como estrátegia contemporânea sobre

o remanescente industrial

Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Prof. Dra. Lizete Maria Rubano

São Paulo

Novembro de 2014

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Novas ideias alimentam novas riquezas ao transformar nossos recursos existentes em

algo mais produtivo, mais empolgante e mais lucrativo. A criatividade é a essência de trabalhar com mais inteligência, e não

apenas mais duro. Pode-se argumentar que a criatividade é a resposta adaptativa humana

ao excesso de trabalho duro. Nossa imaginação simplesmente se rebela e nós pensamos:

“Deve haver uma maneira melhor.”

[ COELHO, T. 2008. p.72. ]

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Àqueles que ensinaram a mim e a meu irmão que, com os estudos, podemos ir a qualquer lugar que quisermos e que conhecimento é o único bem que ninguém pode tomar de nós.

A Izabel Margarida, Sidney Ghendov, Igor, Francine, Rosa Maria e ao pequeno João Vitor, que, com a pureza de uma criança, sempre dizia que aqueles desenhos indecifráveis de arquitetura eram muito bonitos. Agradeço também a todos os familiares que acreditaram nessa vitória.

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Aos amigos Japonês, Mariana Simões, Mayara Barbosa, Vera Ligia, Nashalyn Casagrande, Beatriz Morozetti, Andrea Teixeira, Alice Américo, Bruna Scarpa, Renata Yumi, Carolina Miranda, Rodrigo Ribeiro, Lucas Simões e Henrique Ferrarini, que sempre me apoiaram não só nas aulas ou nos intermináveis trabalhos de arquitetura, como também em minha vida particular, que ultrapassou os limites da faculdade e do país que vivemos.

Agradeço a todos os amigos dessa turma 409, uma das mais unidas que nossa faculdade já viu.

Aos amigos da FAU-Mack, calouros e veteranos que me acompanhavam nos corredores do prédio 9, agradeço as loucuras e organizações das Gincanas dos Bixos, aos sorrisos de cada ritmista da Bateria Arquitetura Mackenzie e os queridos cacos do nosso alaranjado MosaIco no sótão desse edifício.

Aos queridos amigos de longa data, Letícia Simões, Vivian Toma, Saeri Kubota e Yumi Nakasa, que sempre compreenderam minhas ausências.

Àqueles que acreditaram no meu potencial como estagiária e profissional de trabalho e que, além de colegas de trabalho ou chefes, tornaram-se amigos.

Aos amigos que Lisboa me deu, Larissa Bonatto, Allison Nathan, Simon Schlegel, André Mata, Jelle Uijtdewilligen, Cécile van Akkeren e Laura Spottl, e a todos outros amigos Erasmus: obrigada por, nessa fase da vida, me proporcionar uma visão diferente de mundo pelos olhos daqueles que estudaram outras ciências ou outras filosofias que não a arquitetura.

Aos amigos Lizete Rubano, Ângelo Cecco, Lucas Fehr e todos os mestres que sempre acreditaram em meu potencial e compartilharam comigo seus conhecimentos, além dos meios acadêmicos.

E um agradecimento especial ao amigo e eterno mestre: Luiz Benedito Telles. Aquele que ensinou que a vida deve ser vivida.

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Sumá

rioBibliografia Básica 125

Experimentação 895Recorte Urbano - A Lapa 674

Apropriação e ocupação urbana pela arte 393Espaço coletivo e vida pública 232

Consolidação da metrópole pós-indústrial 131

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1.1 . Industrialização

1.2 . Desindustrialização

1.3 . Condição da morfologia na metrópole pós-industrial

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Antes de chegarmos aos temas da cidade contemporânea

e na discussão das inter-relações sociais no espaço público

amparadas pela arte de rua, relataremos aqui a consolidação da

metrópole paulista. Para isso, precisamos compreender que São

Paulo percorreu dois períodos consideráveis que caracterizaram

a configuração de seu território: primeiro a década 20 com o

desenvolvimento industrial paulista e a ferrovia como principal eixo

estruturador; depois a década de 50, com a desindustrialização e

o espraiamento da cidade.

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Vale lembrar que estamos utilizando São Paulo para

exemplificar um modelo de metrópole industrial. Outras

metrópoles, como Londres, Berlim ou Tóquio, respeitando suas

peculiaridades históricas, poderiam ser mencionadas para que

se discutisse o mesmo tema: como reintegrar os remanescentes

da cidade industrial na metrópole contemporânea para fins

diversos, para novos programas e, entre eles, a indústria

criativa?

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“Maior complexo fabril do país no inicio do século, as Indústrias Reunidas Matarazzo são o grande símbolo da industrialização

de São Paulo. A fábrica da Água Branca possuía cerca de vinte unidades, entre produção, pesquisa e depósitos. Centro do maior

conglomerado econômico do país, que incluía refinarias de açúcar e grãos, fundições, frigoríficos, indústrias químicas, atividades

extrativas e bancos, foi construída, em 1920, num vasto terreno de mais de 100 mil metros quadrados. A fábrica dedicava-se à

produção de alimentos enlatados, óleo de cozinha e produtos de limpeza. Para assegurar o escoamento do enorme fluxo de

mercadorias, foi implantada uma linha ferroviária interna, operando com duas locomotivas, que se conectava com os ramais da São

Paulo Railway e Sorocabana.

BRISSAC, 2004. p.103

“ }Indústrias Matarazzo e Parque Antártica. Não datada. Possível década de 60

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IndustrializaçãoA cidade descobriu seu potencial de desenvolvimento com o

advento da produção e exportação cafeeira. As terras eram favoráveis para plantação e o produto era de bastante interesse para o mercado europeu. O porto de Santos passava a ser um dos locais mais notáveis do país, fazendo a conexão mercantil com a Europa.

Para São Paulo, o começo do século XX foi quando se inseriu um novo complemento à atividade comercial da cidade. Em todo país, aportavam imigrantes da Europa e Ásia para trabalhar nas colheitas. Alguns deles viram em São Paulo a grande oportunidade de criar indústrias manufatureiras, que fabricariam produtos de todas as espécies, de sabonetes a materiais de construção.

Depois de duas tentativas em vão, por falta de recursos financeiros para a execução de uma estrada de ferro, só em 1860 fora lançada a pedra fundamental para a construção da chamada ferrovia inglesa1, pela “Association of the São Paulo Railway Co. Ltda” que ligaria Santos à Jundiaí. A primeira linha ferroviária tinha de antemão que vencer os 800m de altitude da Serra do Mar para conectar a cidade produtora de café com o porto de Santos. Sua construção, então coube a engenheiros ingleses que já haviam acumulado experiências na construção de estradas de ferro.

O espraiamento da cidade sucede a instalação do sistema ferroviário. A lógica da implementação do eixo dá-se pelas grandes indústrias já instaladas naquele período, conformando um intenso corredor de exportação. Conjuntos industriais de grande porte, como as Indústrias Reunidas Matarazzo2, foram pioneiras em receber estações no interior dos seus pátios a fim de viabilizar o escoamento da produção de forma mais rápida.

1. No final do século XIX os ingleses passam a exportar o jeito de construir cidades, principalmente na tecnologia de bondes, ferrovias e iluminação. A primeira estrada de ferro, a ligação Santos-Jundiaí, foi projeto do Engenheiro Daniel Makinson Fox, que deixaria seu nome para a rua paralela à estação da Lapa.

2. A IRFM chegou a empregar 6% da população paulistana em 365 fábricas. Possuia duas locomotivas para transportar mercadorias e também um terminal exclusivo no porto de Santos. O faturamento das empresas eram equivalentes à arrecadação de São Paulo, no período de administração por Francesco Matarazzo. Dados disponíveis em <http://falandodegestao.com/2011/05/16/industrias-matarazzo-a-maior-

empresa-brasileira-de-todos-os-tempos-parte-i/> Acesso em 19/11/2014

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Diagrama Ferrovias e Rodovias

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Pode-se verificar hoje que o território paulista expandiu-se apoiado no eixo das grandes vias ferroviárias3 que reforçaram a dispersão da cidade com um crescimento ilimitado, sendo ele o elemento polarizador da estrutura urbana. A implantação de um corredor de exportação do porto de Santos às regiões cafeerias marcou um processo de interesses econômicos e políticos na cidade, que conformaria a metrópole como pólo centralizador econômico décadas mais tarde.

As primeiras formas de ocupação do período industrial aconteceram ao redor das estações ferroviárias. De antemão, as vilas operárias e outras residências de aluguel abrigavam os trabalhadores das fábricas e funcionários da companhia inglesa, trazendo consigo aspectos de vida pública que caracterizaram culturalmente bairros como a Brás, Luz, Bexiga, Moóca e Vila Mariana. Verificaremos esse exemplo mais tarde diante do desenvolvimento do bairro da Lapa.

DesindustrializaçãoVerifica-se que, na condição metropolitana do final do

século XX, à medida que o setor comercial e o setor de serviços se desenvolviam, o valor da terra crescia a níveis elevados. O aumento do preço da terra foi influenciado, também, pelas políticas de regularização ambiental, como poluição sonora e atmosférica, tornando iminente a evacuação das fábricas para locais afastados dos centros urbanos mais adensados.

Os novos vetores rodoviários4 em São Paulo, construídos ou modernizados entre a década de 50 e 80, impulsionaram a reestruturação do setor de produção para novos subcentros fora do eixo ferroviário, como São Bernardo do Campo, Suzano e Mauá, dando início a uma fase de decadência de antigos bairros como Lapa, Brás e Penha.

3. SP Railway - Santos/Jundiaí (1867); Sorocabana em 1875; Companhia Mogiana em 1872; Estrada de Ferro do Norte - Central do Brasil em 1877; e outras ramificações.

4. Rodovias Anchieta desde 1947; Anhanguera desde 1940; Bandeirantes desde 1978; Castelo Branco desde 1968; Fernão Dias desde 1959; Imigrantes desde 1974; Presidente Dutra desde 1951; Raposo Tavares desde 1937; Trabalhadores ou Ayrton Senna desde 1982; Washington Luis desde 1952;

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O desenvolvimento da economia conformou uma reestruturação do processo produtivo industrial. Os centros urbanos, que antes recebiam as estruturas manufatureiras têm, agora, como central, o sistema terciário com pólos administrativos e informacionais que dirigem o conjunto de produção e gestão de produtos, distante do maquinário industrial. A desconcentração das funções produtivas gerou uma nova organização territorial fragmentada que se deu pela dispersão espacial da indústria de base e transformação e pela centralização do setor de serviços.

Como afirma MEYER e GROSTEIN, 2004, no período industrial a proximidade de uma estação ferroviária representava um valor locacional considerável, mas com o mercado globalizado, a flexibilização dos sistemas de transporte, com a mudança da ferrovia para a rodovia, fizeram que as indústrias ficassem menos dependentes dessa localização, concentrando apenas suas sedes nos centros urbanos.

Condição da morfologia urbana na metrópole pós-industrial

Em nome da substituição do setor manufatureiro para o do serviço informacional, que dirige a produção, distribuição e armazenamento dos produtos, torna-se dispensável a presença de galpões industriais dentro da cidade, que passa a ser substituídos pelos escritórios em edifícios verticalizados. Assim, com o deslocamento das funções centrais e em um movimento estabelecido por interesses especulativos, essas novas atividades articulam-se ao tecido urbano distante do território construído no período industrial. A verticalidade crescente assume e gera novos centros urbanos, criando novas dinâmicas sobrepostas à estrutura física anterior da metrópole.

“[...] deve-se diferenciar o processo que resultou no abandono dos bairros centrais - aqueles que circundam o centro histórico - no passado e o que

está ocorrendo nos bairros do centro expandido. Enquanto os primeiros sofreram por longo período um processo de estagnação e desinteresse por

parte do mercado imobiliário, nos bairros do centro expandido ocorre o

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oposto. Eles estão em intenso processo de transformação, com substituição do estoque edificado, onde as casas unifamiliares estão sendo substituídas por

edifícios verticais, residenciais ou de escritórios.”

MEYER e GROSTEIN, 2004, p.65

Como afirma, MEYER e GROSTEIN, 2004, antes de classificar as intervenções na cidade como resultantes de uma ausência de plano, deve-se entender que a condição atual da metrópole foi historicamente construída. A lógica especulativa de ocupação do território gerou uma morfologia descuidada que compõe zonas desarticuladas. Deve-se reconhecer, portanto, que a estrutura do tecido urbano tem uma organização complexa composta por sobreposições de camadas independentes como: a mobilidade dos automóveis, a mobilidade das pessoas, as áreas esvaziadas, as novas zonas de moradia, comércio e produção.

A monofuncionalidade das antigas zonas industriais e seu consequente esvaziamento, por exemplo, estagnaram o desenvolvimento dessas áreas, desvalorizando seus imóveis e seu entorno. Desse processo resultaram quarteirões imensos sem dinâmicas urbanas atraentes para a vida pública.

Ao mesmo tempo, novos centros empresariais, distantes dos setores urbanos plenamente atendidos pela infraestrutura e pelos serviços fundamentais, desenvolveram-se rapidamente, imprimindo um adensamento (em horário comercial) e uma verticalidade súbita de edifícios que ignoram a vida coletiva.

Assim, uma nova organização sobrepõe-se, precariamente, ao tecido urbano existente, e a cidade “velha” recebe pouco ou nenhum estímulo renovador, comprometendo a morfologia urbana da metrópole.

A estrutura física dos espaços públicos, por exemplo, é negligenciada à medida que o mercado imobilliário de habitações imprime ao morar interior de um lote fechado, murado e gradeado, onde as opções de lazer se afastam da vida urbana.

Cabe entender, então, que a metrópole contemporânea é a condição dada pela transformação da cidade industrial. Os aspectos da vida pública, que discutiremos na segunda parte desse trabalho, são originados da carência de políticas que, minimamente, direcionem o crescimento da cidade no sentido comum.

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2.1 . Mobilidade na metrópole contemporânea

2.2 . Novas dinâmicas urbanas

2.3 . Espaço Hostil

2.4 . Espaços interruptores

a) Ocupa Largo Vivo, Porto Alegre

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Conforme análises no capítulo anterior, o desenvolvimento

territorial desigual da metrópole promoveu o surgimento de cidades-

dormitório no perímetro máximo da capital e nos municípios

vizinhos, gerando transformações no deslocamento de pessoas.

Faz parte mostrar que, embora desqualificados, o espaço público

e os espaços de fluxos são elementos funcionais fundamentais

para a estruturação da cidade contemporânea.

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Portanto antes de chegarmos à experiência de apropriação

urbana pela arte, temos que tangenciar o “comportamento”

da cidade contemporânea para analisar de qual forma a arte

pode lhe atingir.

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Mobilidade na metrópole contemporânea

Na análise de GIROTO, Não-datado, a velocidade urbanizadora, associada às necessidades emergenciais dos novos habitantes colocou os espaços públicos em segundo plano na construção da cidade.

Segundo MEYER e GROSTEIN, 2004, a região metropolitana apresentou importantes ganhos migratórios entre as décadas de 60 e 70. Chegaram perto de dois milhões de pessoas, atraídas então pelo mercado de trabalho, que, expandindo, proporcionava empregos tanto no setor industrial quanto no de serviços.

Já a cidade contemporânea, pós-industrial, vê-se cada vez mais especializada com os trabalhos migrando para o setor de serviços, gestão e comércio. Como afirma MEYER e GROSTEIN, 2004, a redução da força de trabalho na indústria está relacionada aos avanços tecnológicos recentes.

Assim, como encarece o valor da terra, dificultando a manutenção das indústrias dentro do centro urbano, a relação trabalho-moradia também sofre uma reestruturação organizacional. As possibilidades de mobilidade entre cidades conurbadas e as vantagens econômicas de moradia fora do centro metropolitano, viabilizam uma nova organização de alojamento da classe trabalhadora em cidades no entorno da capital ou em zonas periféricas. Além disso, a precariedade, o estado de abandono e a baixa renovação do mercado imobiliário são incentivos para o esvaziamento das moradias nos bairros centrais.

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Conforme observam BRISSAC, 2004 e DE BEM, 2006, a ferrovia foi o primeiro dispositivo de desterritorialização, onde o desenvolvimento urbano da metrópole passa a ser composto por descontínuos segmentos urbanos ligados pelos trilhos e polarizados pelas estações que estabeleceram centros populosos de bairros.

Porém, a implantação do sistema rodoviário em todo território nacional na década de 80 provocou uma subutilização das ferrovias para o setor de escoamento da produção, ganhando cada vez mais características de transporte público de massa.

“[...] no território paulista estava voltado para o transporte de carga. Mais tarde ganhou características de serviço público, na medida em que se tornou o mais importante meio de transporte de passageiros para os municípios do entorno e

mesmo para os bairros mais afastados da cidade”

MEYER e GROSTEIN, 2004. p.35

A metade do século XX foi promissora para a inserção de novas estruturas de mobilidade no interior da metrópole. A partir do momento em que a classe trabalhadora passou a morar nas periferias e continuou a trabalhar nos centros urbanos, seus espaços principais de convívio diário passam a ser as zonas de fluxo e seus espaços de mobilidade, como as ruas, estações e terminais.

Do progresso dos novos núcleos empresariais, distantes das zonas residenciais, colocam a perspectiva do deslocamento diário da população trabalhadora, que esgota-se diariamente em um penoso percurso trabalho-moradia se movimentando para diferentes partes da cidade ou da região metropolitana.

“A desindustrialização difundiu a lógica de programação nas cidades, habitamos em territórios indefinidos. A produção não está concentrada em um

determinado lugar, mas disseminado por todo lado..

CACCIARI, 2010. p.52

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O novo padrão de organização do território metropolitano está intriscamente associado à mobilidade e é comandado, em grande

parte, por seus novos atributos - dispersão e continuidade. Esse novo modelo espacial requer uma infra-estrutura de transportes cuja eficiência repousa na capacidade de integrar as atividades

dispersas no terrirório metropolitano e criou fortes e eficientes pólos articuladores locais. O reconhecimento desses “pólos de convergência” é hoje um dos focos de planejamento e projeto

urbano.”

MEYER e GROSTEIN, 2004.“ }

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Novas Dinâmicas

urbanasDevido às lógicas hegemônicas de organização (regidas pelos

interesses econômicos), sabe-se que os espaços de fluxo cada vez mais adensados são essencialmente funcionais e conectores. Mas de certa forma, podemos estimar que eles também são espaços da vida pública na metrópole contemporânea.

Nota-se também que as praças adjacentes às estações ferroviárias ou de metrô, as áreas de espera próximas aos pontos de ônibus, ou outros espaços metropolitanos usados como apoio aos deslocamentos, poderiam ser, mesmo que compulsoriamente, espaços qualificados para o uso público. (BOGÉA, 2009)

FERREIRA, 2007, descreve que a estrutura física dos espaços públicos teve sua origem na relação da população com os afazeres coletivos com a aglutinação para o comércio e a vida política. Porém, ao analisar o modo de vida da sociedade na metrópole contemporânea, cada vez mais a presença do ócio e lazer tem sido colocada à margem da rotina diária dos indivíduos. Em uma lógica da voracidade e ânsia de percorrer esses caminhos entre trabalho e moradia de uma maneira mais rápida, o aproveitamento do percurso e o desejo de convívio tornaram-se cada vez menos relevantes. “Conceitualmente, vários autores têm buscado formas alternativas de definição

deste ‘espaço intermediário’ que surge entre as necessidades econômico-industriais e as práticas do cotidiano. Esse ‘intervalo’ se deve a um processo

de aceleração temporal nas dinâmicas econômicas contemporâneas, de amplificação das possibilidades de deslocamento, na necessidade de uma

mobilidade de mercadorias mais eficiente e sincronizada e na multiplicação das fontes de informação e comunicação, etc.”

MASSARA, 2005

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“A cidade - os sistemas de comunicação e transporte - impõe ganhar tempo. Andar depressa é esquecer rápido, reter apenas

a informação útil no momento. Seria a anamnese o antípoda da pressa, da velocidade? Em vez de acelerar cada vez mais, diferenciar: conservar várias temporalidades no mesmo tempo,

simultaneidade de passado e presente, presente e futuro - no ritmo das coisas, provocando um sobreposição de andamentos. Retardar

o fluxo, criando um espaço vazio no qual outra coisa pode se instalar. Um mundo de lentidão, que se dá tempo. Devagar: sem

destinação precisa, desacelerado. É o que permite que o passado, o tempo perdido, seja presente, como uma alusão, como uma brisa

que sopra suavemente.”

BRISSAC, 2004, p.213“ }

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Espaço hostil

Tendo como base os conceitos elaborados por autores como VIRILIO, 1993 e AUGÉ, 2007, esses espaços transitórios ou espaços de circulação são qualificados como zonas de curta permanência, sem fins específicos e com ausência de identidade e apropriação pelos indivíduos.

A própria condição do tecido urbano, que dá prioridade para o sistema de automóveis sem aparo fisico para o pedestre e também, como observa GIROTO, Não-datado, o caos e a vida acelerada da cidade contemporânea, aliados à inseguridade das ruas, entre tantos outros aspectos, criaram um ambiente urbano pouco favorável à vida comunitária nos espaços públicos, e o surgimento de “lugares-enclaves” no interior da cidade. Esse desequilíbrio do sistema reflete na fragilidade da dimensão pública, repercutindo em espaços tímidos e muitas vezes marginalizados.

“[...] numa sociedade individualista e competitiva, em que não há nada a compartilhar, o comunitário, o público, passa a ser tomado como o espaço

da marginalidade, dos desocupados, da porção ponderável da sociedade que não pôde ou a quem não foi permitida a inserção no sistema produtivo. A

essa supressão conceitual corresponde, na prática, a eliminação de qualquer possibilidade de intercâmbio social, de participação coletiva na produção da

paisagem, de enriquecimento pela troca de experiências e emoções.”

LEITE (in) FERREIRA, 2007. p.17

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Fotografia: NILSSEN, Robin. Não-datada.

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espaços interruptores

Pode-se dizer que a rua é receptora de diversos conteúdos programáticos. Os espaços intermediários, presentes ao logo de um percurso urbano, por exemplo, são lugares que concentram a diversidade cultural. Entende-se portanto que a origem, o destino e o percurso não devem ser vistos como localizações isoladas, reconhecendo que a organização da cidade é composta por uma sobreposição de trilhas, percursos e permanências que compõem sua dinâmica.

De forma que a cidade aparece composta por uma rede de conexões formada por centralidades e deslocamentos, torna-se necessário que os espaços intermediários sejam interruptores dos fluxos e das conexões, de forma que permite surgir a imprevisibilidade. A idéia da interrupção dessas tramas aparece como a possibilidade de estimular a vida comunitária e imprimir outros tempos à dimensão do convívio.

“Seja como impedimento, seja como transgressão de acesso, o que esses movimentos indicam é que pertencer e ocupar o território implica consciência

- hoje mais evidente - de que é a circulação que vitaliza o pulso e a existência das cidades. [...]

Augé alertou: “Interromper o tráfego para se fazer ouvir”, seja ele virtual ou real; e observa, ainda, que a interrupção das conexões, mesmo quando

feita de forma pacífica, é bastante violenta. Isso porque tal interrupção põe em evidência uma contradição ou ambiguidade do sistema que ordena as

sociedades: o fato de que nunca se circulou tanto quanto hoje.

BOGÉA, 2004, p.153

Os espaços entre são, portanto, espaços contenedores da sociabilidade e diversidade cultural onde se misturam os transeuntes, os residentes e os comerciantes.

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Largo Vivo, Porto Alegreocupação urbana

O Largo Vivo é uma reinvidicação pelo uso do espaço público em Porto Alegre. Às portas do Mercado Municipal, o Largo Glênio Peres é uma das centralidades da cidade e usado para feiras complementares às atividades do mercado.

Em 2011, quando o secretário municipal da Indústria e Comércio de POA declarou que a instalação de um estacionamento no Largo garantiria um espaço público mais qualificado, um movimento denominado “Farofada dos Desqualificados” organizado por ciclistas chamou a atenção sobre as políticas públicas que privilegiam o transporte particular sobre o transporte público e por bicicletas ocasionando em detrimento dos espaços públicos e da qualidade da cidade.

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Fotografia: Autoria desconhecida.

Pode-se notar que as políticas urbanas não correspondem com a sociedade da capital gaúcha. Os porto-alegrenses têm de costume aproveitar os finais da tarde à beira do Lago Guaíba.

O movimento então ganhou forças, sendo denominado agora como “Ocupa Largo Vivo”, em que toda semana grupos músicais, artesãos, artistas circenses, atores e diversos outros artistas e pessoas de toda a cidade apropriam-se do Largo para compartilhar experiências, fazer piquenique e aproveitar a vida urbana, trazendo movimentação e energia para as noites de Porto Alegre.

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3.1 . Arte como manifestação pública

a) Doel, uma cidade dominada pelo graffiti

3.2 . Dissolução do suporte tradicional

3.4 . Ocupação do espaço público pela arte

3.5 . Apropriação dos vazios territoriais

a) Lx Factory, Lisboa - A arte em ocupação

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Com base no reconhecimento que tivemos até agora sobre

a nossa cidade, podemos dizer que os aspectos cotidianos da

sociedade atual vêm alterando as condições da vida pública. Então

traremos aqui a arte como forma de manifestação, de maneira

que o imprevisível transforme a vida pública pela ressignificação

das dinâmicas urbanas, reconhecendo a cidade contemporânea

e a cidade histórica como cenário e assunto propulsor de novas

percepções.

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Poderíamos discutir as mais variadas expressões artísticas

e como elas dialogam com o contexto urbano. Focaremos,

porém, em algumas expressões mais populares como o

graffiti, street-dance, hip-hop, teatro e o circo de rua, sendo

que algumas delas serão definidoras de uma proposição de

projeto que veremos mais adiante.

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arte como manifestação pública

Então, o que é a arte, se não a figuração de sentimentos, expressões e pensamentos dos individuos com emoção, entusiasmo e inspiração?

O fato é, que assim como abordam diversos autores, o papel do artista é colocar os indivíduos diante de determinadas situações já conhecidas e trazer a ele - ou desencadear nele - uma nova percepção. O artísta cria a ruptura. Neste sentido a arte de rua intervem como uma manifestação crítica no contexto urbano e social.

“Mas curiosamente quando você ouve determinada música, quando você lê determinando livro, quando você assite determinado filme, você se põe a

pensar: Como é que eu pude viver até hoje sem ter visto isso?”

FARIAS, 2011, 11 min

O artista é um transgressor. Rompe com a vida cotidiana e materializa o que até então não fora dito. No contexto urbano, nas cidades, a arte surge como uma verbalização social.

A cultura do Hip-Hop e o Street-dance, assim como o graffiti, por exemplo, surgiram em bairros de Nova Iorque, os mais censurados dos Estados Unidos. Após conflitos entre grupos minoritários da sociedade e a polícia local, despertou-se um movimento apolitco, que proclamava a anti-violência e o anti-racísmo, com princípios de respeito pelo próximo, pela diferença, solidariedade, tolerância e criatividade. Era uma união das diversas minorias étnicas, principalmente, de jovens, com suas bandeiras de luta e manifestação. (CUNHA, 2003)

Page 45: Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa

Visto como arte ou visto como vandalismo, o graffiti é uma das manifestações artísticas contemporâneas mais expressivas da arte de rua, sendo considerada uma das manifestações culturais mais fortes depois do movimento punk nos anos 70.

Segundo, CHOQUE1, 2010, as primeiras pixações2 tinham cunho político, sem nenhuma preocupação de linguagem. Simples e direta era a comunicação para qualquer pessoa se apropriar. Depois veio a pixação poética, já nos anos 90, onde alerta para problemas sociais. Em algumas cidades, como na Cidade do Cabo, na África do Sul, nos anos 80 ela era usado como uma ferramenta política para as guerrilhas, escreviam frases como: Parem a violência!, Paz! ou Liberdade a Mandela!. E isso era considerado um crime político3.

A forma como acontecem as pixações hoje, na cidade de São Paulo, revela sua popularização : é a linguagem da periferia, uma estética “marginal” da arte da pobreza como reconhecimento social. Construída como uma comunicação fechada sem o intuito de se comunicar com o mundo, a pixação paulistana tem a capacidade apresentar-se ao espaço público com uma grafia particular, quase como um código criado por aqueles que estão à margem da sociedade.

Os modelo de vida pública das cidades contemporâneas, principalmente naquelas como São Paulo, onde as rotinas tem como base o trabalho e produção das atividades comerciais e produtivas, as atividades de lazer e do fazer coletivo são colocadas à margem.

Diante da condição da metrópole indústrial os espaços coletivos remanescentes carecem de características agregadoras da vida pública. Então, em meio ao caos e a fragmentação da cidade contemporânea, a arte surge como elemento de ruptura do ritmo de funcionalidade da cidade e que estimula uma nova forma de percepção.

1. Choque (nome artístico) é fotógrafo formado pela Universidade SENAC, considera a Arte e a Fotografia instrumentos de Legítima Defesa e de Intermediação de Conflitos, já trabalhou como repórter-fotográfico da Folha de São Paulo e atualmente dedica seus esforços na documentação autoral das Street-Arts realizadas por jovens das periferias brasileiras, especialmente a “Pixação de São Paulo”. Texto disponível em <https://www.flickr.com/people/choquephotos/> O discurso citado acima foi retirado do documentário PIXO. - WAINER, João e OLIVEIRA, Roberto. 2010.

2. Pixo vs. Picho - Segundo a ortografia da língua portuguesa a palavra escreve-se com “CH”. Porém, na linguagem informal das ruas e de seus praticantes ela vem sendo escrita com “X”.

3. Documentário Bomb it! - REISS, John, 2007

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Fotografia: Autoria desconhecida.

Doel, BélgicaUma cidade dominada pelo graffitiDoel é um vilarejo localizado no norte da Bélgica,

próximo oo rio Schelde, com mais de 700 anos e com edificações mais recentes datadas do século XIX. Por estar próximo a reatores nucleares, que apresentavam falhas de segurança, precisou ser evacuada em 1999. A população, de pouco mais de 2.000 moradores, migrou para cidades vizinhas permanecendo, ali, pouquíssimos habitantes. Além disso, com projeto de ampliação do porto da Antuérpia, iniciou-se um processo de demolição das edificações.

Embora o número de moradores de Doel seja pequeno, podendo ser caracterizada como uma cidade fantasma, o vilarejo ainda resiste em razoáveis condições mesmo depois de algumas demolições feitas pelo governo belga. É comum ver, por exemplo, em meio a uma dezena de casas desabitadas, uma com jardineira florida e um coração desenhado na porta indicando que alguma família reside ali e não tem pretenção de sair.

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Nota-se que indústrias, armazéns e usinas de energia ocuparam gradualmente parte da zona rural da Antuérpia, sendo Doel o único vilarejo a se manter às margens do rio Scheldt.

A cidade continua com suas edificações intactas e foi dominada então por graffitis, manifestação encontrada pela população para demarcar posição acerca da preservação ou demolição da cidade. Utilizando as frases “Doel Moet blijven! - Doel deve ficar!” grafitadas pelos próprios moradores, exprimem, via manifesto social nas marcas físicas da cidade, que Doel deve ser preservada e protegida para a vida.

Afinal, até que ponto o fruto do desenvolvimento de um país, pode suprimir o desenvolvimento de pequenas localidades?

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“I mean, the city is the best gallery I could imagine.” Jr Artist, 2011

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dissolução do suporte tradicional

Como afirma Jr4, 2011, a cidade pode ser a melhor galeria de arte para qualquer artista. Não é necessário montar uma exposição, levar a uma galeria e deixar que outros decidam se o trabalho é bom o suficiente para ser exibido. A obra da arte de rua simplesmente convive com a espacialidade urbana. Ela é, portanto, uma arte democrática que quer ser vista por todas as pessoas. Essa discussão coloca a formulação artística frente a frente com o artefato maior da produção cultural humana : a cidade.

O conceito de Belas Artes compõe um conjunto de 7 expressões artísticas tradicionais: a Música, a Dança, a Pintura, a Escultura, o Teatro, a Literatura e o Cinema. Até o período moderno eram expressões artísticas prenominante das classes dominantes conhecidas e apreciadas por um público intelectualmente elitizado. Provavelmente, a escultura fora uma das primeiras artes a sair dos espaços confinados dos museus e ir para o espaço urbano.

Como afirma BRISSAC, 2004, as obras de arte tradicionais não possuem vínculo com seu suporte, tanto que hoje mudam-se entre museus e galerias em todo o mundo sem problema algum. Poderíamos até comparar os museus e galerias de arte com a Cidade Genérica de KOOLHAAS, 2007: ainda que as obras estejam em exposição para um público amplo, ao estarem inseridas no espaço confinado, elas perdem parte de sua identidade e do contexto histórico-social em que foram produzidas.

O período pós-guerra trouxe novos questionamentos para a sociedade, conjuntamente as obras artísticas passaram a se projetar no ramo das manifestações e protesto. Associado à uma cultura popular a arte desprendeu-se do suporte tradicional (dos grandes museus e casas de espetáculos) e passou a utilizar a

4. JR (nome artístico) é ex-grafiteiro parisiense. Em 2003, percebeu a influência que a arte de rua causava nas pessoas, no seu caso a fotografia. Há alguns anos ele produz o projeto intitulado “Inside Out” com retratos expostos em muros, casas e outros suportes urbanos no mundo todo. Em 2011 fez uma palestra para o “TED Talks” onde discursou sobre “How could art change the world”. Disponível em <http://www.ted.com/talks/jr_s_ted_prize_wish_use_art_to_turn_the_world_inside_out>

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pIXO

Feita com pressa, com menos elaboração de desenho, formado por uma primeira camada de tinta uniforme abaixo de uma camada de linhas de contorno, formando nomes, palavras ou desenhos com formas simplificadas.

Também popular como pixação poética, geralmente é usado como frases simples e diretas para que qualquer leitor possa compreender. Muitas vezes são expressões com cunho social ou político.

O pixo ou pixação tornou-se popular na metrópole de São Paulo. Transformada em uma linguagem da periferia, é uma forma de representação de uma parcela segregada na sociedade paulistana.

Muralismo - Institucionalizado ou Não. São mais elaborados e exigem mais tempo para o processo de criação e pintura. Utiliza-se de cores e tintas variadas, como sprays, pinceis atômicos e marcadores.

Há ainda outras formas populares de intervenções, como o stencil e o lambe-lambe.Mas bastante interessante, e menos popular é o processo de utilizar sujeira da fuligem dos veículos ou a degradação da pintura para produzir murais de subtração.

formas populares do grafite

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cidade como um suporte desejado. Podemos dizer que a arte urbana manifesta-se como uma variação nas dinâmicas do seu território de intervenção em reação contra a alienação do cotidiano. Isto é, em meio ao ritmo acelerado da vida urbana, ela se faz alterando o território de intervenção.

0 graffiti, por exemplo, surgiu no século XX: No início as autoridades não sabiam como atuar diante da prática dessa arte que se espalhava pelas ruas dos Estados Unidos. No documentário “Bomb it”, 2007, no começo dos anos 70, governantes de cidades americanas não sabiam o que fazer com os grafiteiros que utilizavam principalmente os vagões do metrô como suporte. Muitos dos crimes aconteciam nos subterrâneos de Nova Iorque e associava-se a prática do graffiti com o medo e a decadência urbana, decidindo então criminalizar seus praticantes, mesmo que crimes mais severos continuassem a acontecer pela cidade.

A arte de rua consolidou-se como obra que se inscreve na paisagem e na vida pública, sendo totalmente influenciada por ambas e projetando, sua prática, nas estruturas da cidade.

Metro de Nova Iorque déc. de 80 por Martha Cooper

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Na contemporaneidade a arte deixa os espaços convencionais de abrigo e dirige-se para o urbano em busca das pessoas comuns.

A arte urbana não se faz mais representar somente por monumentos enaltecedores da classe dominante nem, tampouco,

por objetos com intenção única de “enfeitar” partes da cidade. A arte foi às ruas não somente para tirar da crise os espaços públicos

e assinalar o descaso com a cidade contemporânea, mas para contribuir na redefinição e apropriação do espaço.”

TELLES, 2011. p.139“ }

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Ocupação do espaço público

pela arteA paisagem da cidade contemporânea é um extenso

muro. A vida volta-se para os interiores das edificações. Segundo BRISSAC, 2004, a função da arte é construir imagens da cidade que sejam novas, que passam a fazer parte da própria paisagem urbana. Quando a arte de rua surge em meio à vida pública ela alivia a paisagem de todo o peso daquilo que é construído e da intensidade das obrigações do cotidiano. É na delicadeza com evidência o invisível, diante da fragmentação e do caos urbano, a arte assemelha-se àquilo que desestabiliza a lógica formal das estruturas da cidade.

O teatro de rua, por exemplo, desencadeia choque sobre a imaginação do transeunte. Ao distanciar do ambiente tradicional do palco de frontalidade, passa a priorizar outros aspectos de apresentação e da dramaturgia. Por se estabelecer no ambiente do cotidiano, aborda temas de cunho social incluindo a paisagem urbana como elemento cênico, dialogando com ela. Assim, ao se instalar nesse ambiente “hostil” ele impõe uma interferência na dinâmica da rua, permitindo outras possibilidades de explorar a atenção do espectador. Basta entender, então, que o teatro de rua não é feito para as pessoas, mas construido com elas.

“E nesses tempos em que tudo parece mais veloz, a rua mais agressiva e pela qual devamos passar rapidamente, o teatro pode se colocar como um

elemento interruptor dessa agonia moderna, levando o passante a sonhar e a refletir sobre sua condição de sujeito histórico dentro da cidade”

TEIXEIRA, 2008, p.23

A prática do teatro de rua é uma atividade invasora. Considera-se, então, a interferência da cidade como parte estruturante do próprio conteúdo teatral, a partir mesmo da incorporação do espaço da rua com todas as suas imprevisibilidades.

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Fotografias: Av. Paulista. GHENDOV, Camila. 2013.

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O teatro tradicional ocupou diferentes formas de espaços ao longo dos séculos, tornando o palco italiano como padrão na contemporaneidade. Os espaços convencionais distinguiram o teatro culto ao ambiente fechado e o teatro de rua passou a ocupar totalmente os espaços abertos com apresentações de cultura popular. Segundo CANCLINI, 1980, a arquitetura renascentista teatral marcou rigorosamente a diferença entre o palco e a platéia; já no rococó e o romantismo estreitaram o espaço cênico e afastaram da platéia o foco de atenção e tornaram irreal a ação dramática, deram à ficção representada uma autonomia e ao público uma passividade, distanciando como nunca tinha conhecido.

Portanto, a primeira característica a ser explorada pelo artista de rua é a sua abordagem acerca da espacialidade. Segundo RUBENS, 2004, a condição espacial urbana é a essência do próprio teatro de rua. Diferente do palco italiano que estabelece uma relação de frontalidade, no ambiente urbano a posição do público está no mesmo patamar da área de atuação do artista, sendo ele o foco principal da apresentação. O espectador ali, foi abordado na espotaneidade do momento que atravessava o local sem o compromisso de permanecer até o final, o que obriga o ator a encontrar maneiras de atraí-lo e mantê-lo por perto. As ações do personagem projetam para as três dimensões, mantendo uma relação direta com o espectador. A ausência de paredes e outros tipos de fechamentos arquitetônicos reforça a condição física do ator, que necessita explorar sua potencialidade de emissão de voz e visibilidade de sua ação, sem perder sua relação com o público.

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O espetáculo na rua parece intensificar tendências da teatralidade que compõe as rotinas na rua. O sujeito que se desloca pela cidade

com o fim de chegar a algum espaço fechado, ou aquele sujeito que está na rua – vivendo ou trabalhando momentaneamente – desempenham papéis no “espetáculo” que é a rua. O vendedor

ambulante e sua prática comercial, o policial de trânsito e seu apito, a velha senhora que leva sua pequena mascote para passear, o

morador de rua que ocupa um banco de praça, e até mesmo o mais invisível pedestre que cruza apressado uma rua, estão fabricando o ambiente da rua e produzindo a teatralidade que representa a

matriz das intervenções teatrais que tem o espaço aberto da cidade como lugar.

CARREIRA, 2009. p.03“ }

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Apropriação dos vazios territoriais

Quando BRISSAC, 2004, analisa as zonas industriais para o Arte/Cidade5, nas antigas instalações das Indústrias Matarazzo, ele descreve que em nenhuma outra parte da cidade a destruição e abandono foram tão sistemáticos e intensos. Ao longo das ferrovias surgiu uma área de desagregação, desprovida de vida, onde impera a sensação de decadência, de desorganização e perda. E, assim, esses lugares por onde a ferrovia passa foram destituídos de história e entorno, sendo tomados pela ruína e pelo mato.

Para qualquer intervenção nas antigas áreas industriais, deve-se levar em consideração essas parcelas territoriais marginalizadas. Nesse sentido, a substituição da atividade industrial pressupõe outros programas e o reconhecimento de que são áreas expectantes para as quais a indústria criativa pode contribuir na atribuição de novos significados, recuperando-se e reutilizando-se os remanescentes da cidade industrial.

Esses vazios edificados abandonados na metrópole detêm uma gama de possibilidades de intervenções e ocupações. Deve-se compreender que a indústria, a produção, o ofício estão em constante processo de renovação dentro de novos padrões. A indústria contemporânea, não se faz somente pelos produtos materializados pela manufatura, mas também pela produção criativa, que é o campo da arte.

5. Arte/Cidade é um projeto de intervenções urbanas, que se realiza em São Paulo desde 1994. Busca destacar áreas críticas da cidade diretamente relacionadas com processos de reestruturação e projetos de redesenvolvimento, visando identificar seus agentes e linhas de força e ativar sua dinâmica e diversidade. Disponível em <http://www.pucsp.br/artecidade/indexp.htm>

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Fotografia: DANGREMON, Ella. 2013

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LX Factory, lisboaa arte em ocupação

Localizada à borda do cais, entre o Largo do Calvário e o rio Tejo em Lisboa, a LX Factory ocupa um antiga zona portuária com complexo industrial composto por diversos galpões que estavam condenados ao abandono. Aquela área potente e degradada, bem ao pé da Ponte 25 de Abril, necessitava de um novo uso. Designers, artistas plásticos, arquitetos e outros artistas tranformaram aquele local em ateliers de trabalho e escritórios de co-working.

O espaço usado desde 1846 pela Companhia de Fiação e Tecidos Lisboense, foi comprado em 2004 e os 23 mil metros quadrados. só começaram a ser transformados em 2008, quando as primeiras empresas de novo ramo chegaram, sabendo que ali não encontrariam um espaço de edifícios modernos com estacionamentos e sistemas de ar-condicionado.

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Embora a proposta seja boa, alguns pormenores impedem a melhor utilização do espaço.

Durante as tardes, por exemplo, o espaço é mais ameno e silencioso, como o restante da cidade de Lisboa. Infelizmente carros ocupam as ruas internas, dificultando o fluxo de pedestres e atrapalhando a visão das edificações.

Porém, durante as noites e finais de semana, o ambiente transforma-se para receber shows e apresentações de teatro ou dança. Restaurantes com gastronomia diferenciada e artesanal atraem jovens e trabalhadores do entorno todos os dias.

Fotografia: ROSETA, Andre. 2012

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São cerca de 150 lojas, pequenas empresas e escritórios que ocupam os galpões. Durante as madrugadas dos finais de semana uma festa-balada se abre ao público.

Embora esteja em uma localização de fácil acesso ao transporte individual, o mesmo não acontece em relação ao transporte coletivo, considerando-se que a linha de metrô mais próxima está a mais de 3km de distância.

Lisboa tem uma cultura muito afetusa com o rio Tejo. Ainda que a área da LX Factory esteja localizada em uma região potencial, próxima ao cais, sua inserção descuida-se na relação com a borda do rio ao estabelecer muros que delimitam seu espaço e impedem a conexão direta do pedestre.

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Fotografia: SILVA, Benjamin, 2013

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4.1 . Morfologia e evolução urbana

4.2 . Ocupação cultural

4.3 . Pavilhão Cine Recreio

4.4 . Análises e Potencialidades

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Na introdução desse trabalho, disse que poderia exemplificar uma

atuação de projeto com diversas zonas industriais conformadas ao

longo de todo o sistema ferroviário. Escolhi, porém, focar no eixo

das duas primeiras ferrovias paulistas: as antigas ligações Santos-

Jundiaí e a Sorocabana.

Neste eixo é que se encontra a Lapa, um bairro que apresenta

Page 71: Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa

todos os aspectos referentes as questões que foram

discutidas até aqui: a ferrovia como barreira física e

potencial histórico, a ilha urbana, a densidade do fluxo de

pedestres e a readequação de infraestruturas industriais.

Além disso, o bairro marca presença no cenário artístico

e cultural da cidade.

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Mapa do primeiro loteamento - Gram-Burgo da Lapa, 1891Rio ainda não retificado e a presença linhas de bonde projetadas para São Paulo e Barueri

Área demarcada - Localização da intervenção de projeto

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Page 73: Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa

Morfologia e evolução Urbana

As grandes vias criadas para a conexão rápida entre os extremos da cidade transformam-se em barreiras físicas na escala local, prejudicando o acesso aos bairros. Assim como afirma DE BEM, 2006, se as várzeas se apresentavam como áreas difíceis de serem urbanizadas, a estrada de ferro não só lhes bloqueou transversalmente o acesso, como também produziu longitudinalmente segmentos urbanos muito descontínuos.

No contexto da Lapa, que era um bairro único, sua primeira divisão1 foi decorrente do traçado da ferrovia, que já tinha a extensão dos seus limites definido pelo leito do rio Tietê. Para transpor a ferrovia, viu-se necessária a construção do Viaduto C. E. Nagibe Breim. Com uma conexão por uma cota superior, na época, foi um atrativo de marketing para a região.

A retificação do rio, a construção das marginais e a construção da Av. Marquês de São Vicente só continuou a reafirmar essa demarcação perimetral da “Lapa de Baixo”. Podemos dizer que esse trecho da Lapa transfigurou-se em uma “ilha urbana”, como um local isolado no interior da metrópole, com dinâmicas próprias, conectado ao resto da cidade apenas pelas estações, túneis e outros acessos precários e emergenciais. Nesse sentido, segundo MEYER e GROSTEIN, 2004, tais projetos de transposição corresponderam a demandas pontuais, sem nenhum compromisso articulador com o restante da cidade, porque tal empenho não era visto como necessário na época.

[...] a concomitância entre a existência de ações modernizadoras e a omissão de iniciativas diante da precariedade, acentuando o caráter

complementar que os dois processos adquiriram ao longo do desenvolvimento

1. Atualmente, o bairro da Lapa ficou dividido espacialmente com duas denominações: a “Lapa de Baixo”, ao norte da ferrovia; a Lapa, ou “Lapa de cima”, ao sul da ferrovia; Além disso, algumas regiões específicas receberam outras denominações: o “Alto da Lapa” ou “City Lapa”, devido aos loteamentos da Companhia City na região; e região Vila Romana compreende ao loteamento próximo à estação sul das ferrovias.

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Diagrama de ligações interrompidas. GHENDOV, Camila. 2013

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da metrópole industrial evidenciam a presença de um novo padrão urbano no qual a precariedade e a modernização surgem de forma imbricada,

sobrepondo-se e gerando um espaço característico de um novo padrão de urbanização que propomos designar como modernização precária.”

MEYER e GROSTEIN, 2004. p.13

Embora esse solo aprisionado pertencente à Lapa de Baixo hoje tenha perdido seu potencial econômico na cidade, foi a região de maior influência do primeiro traçado urbano da região. No final do século XIX, operários ingleses da SP Railway, além das oficinas ferroviárias e da estação da Lapa, trouxeram o modo de vida e as opções de entretenimento para o Largo da Estação.

“A nova estação ferroviária da Santos-Jundiaí veio modificar o centro comercial da Lapa, com passagens subterrâneas, ao mesmo tempo que

fechava-se às célebres porteiras da Rua Doze de Outubro, em 1965”

SANTOS, 1980. p.183 7

A inevitável mudança da zona comercial da “Lapa de Baixo” para a conhecida “Lapa de cima” veio com a implantação do ponto final da linha de bondes na Av. Guaicurus e, anos mais tarde, modernizada e estendida para Rua Doze de Outubro. Podemos ver que o lado sul da ferrovia desenvolveu-se vertiginosamente pela conexão viária que recebeu com a cidade, fazendo parte do corredor Pirituba-Centro. Assim, o lado norte ainda resiste com os antigos pontos finais da linha de ônibus, mas com nenhum outro lugar de atratividade, a não ser residências de pequeno porte.

“espaços distantes que se tornam mais próximos, porque mais acessíveis e outros mais próximos tornam-se distantes, porque inacessíveis”

BRISSAC, 2004. p.39

Devido à sua localização, o bairro da Lapa é um marcante vetor comercial da cidade. Nota-se que a Lapa, e as regiões lindeiras como Vila Anastácio, Pirituba, Freguesia do Ó e toda a região ao norte das margens do rio, tiveram seu desenvolvimento independente do centro urbano principal, demorando a fazer parte da mancha urbana paulista. A Lapa começa a aparecer na escala da cidade quando a primeira linha de bondes elétricos chega à Av. Guaicurus fazendo a ligação com bairros mais distantes como Penha e Vila Mariana.

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Mapa da cidade de São Paulo. Demarcação da Lapa. 1943

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Ocupação cultural

A ocupação pela ferrovia inglesa e com a habitação operária deixou alguns poucos edicícios remanescentes culturais na região que eram intensamente utilizados até a metade do século XX. O bairro da Lapa ficou conhecido por eventos que envolviam intensamente a população moradora: um deles é a procissão religiosa de Nossa Senhora e o outro, que destacamos, é a vida pública e boêmia, associada a botequins, restaurantes e cinemas.

Do Largo da Estação, atualmente subutilizado, apenas as construções da vida boêmia que ocupavam as ruas lapeanas resistiram. Ali, restaurantes e botequins de vinhos e licores estrangeiros circundavam a estação, sendo o mais importante deles o Pavilhão Recreio da Rua Engenheiro Fóx. Era um espaço de lazer familiar com bilhares, salas de piano e patinação no gelo procurado por pessoas de diversas partes da cidade. Anos mais tarde, fora adicionado o Cine Theatro Recreio, que fazia parte da gama dos mais de 10 cinemas de rua que existiam na região, restando, hoje, apenas o Center-Lapa, no Shopping do bairro. O Cine-Recreio permaneceu aberto até meados da década de 40, quando depois de variadas reformas para adaptar-se às exigências dos bombeiros, teve suas portas fechadas e reabertas para funcionar como um estacionamento de veículos.

Em uma pequena casa tombada próxima à estação, ainda resiste a “Corporação Musical Operária da Lapa” com mais de 130 anos em que, sempre aos domingos, músicos funcionários da São Paulo Railway contemplavam os lapeanos com apresentações de rua enquanto podiam apreciar o pôr-do-sol com repertório variado que ia desde música popular brasileira até sinfônica.

A primeira readequação de galpões industriais na região aconteceu no chamado Tendal Cultural da Lapa, nas antigas instalações de um abastecedor municipal de carnes. O espaço foi ocupado por um pequeno grupo que promoveu uma invasão cultural com atividades de circo e teatro. Ao tornar-se oficial como Casa de Cultura em 1992 e por receber readequações nos espaços, passou a abrigar manifestações artísticas de diversas linguagens.

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Cine Recreiopavilhão recreioTempos depois da construção

da estação Lapa da companhia SPRailway, o conhecido Largo da Estação foi ocupado por diversos estabelecimentos de lazer da burguesia lapeana, dentre eles o Pavilhão Recreio era o mais popular.

É difícil saber quais edificações exatamente abrigavam o Pavilhão. Entretanto, permanece somente a fachada do Cine Theatro Recreio, um dos últimos ambientes construídos.

O cinema em si funcionou entre 1910 e 1940, sofrendo muitas reformas de adaptação nesse período. Em 1939 ele chegou a ter capacidade para 1244 espectadores, divididos entre 960 na platéia e 284 nos balcões.

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As propostas mais importantes de adaptação eram de melhoria das circulações de emergência exigidas pelo corpo de bombeiros. É possivel notar pelas plantas das últimas reformas que a condição de área restrita e cercada pelas edificações vizinhas sempre comprometeu sua implantação.

A diferença de cotas no interior do edifício é bastante atraente, apesar de ter sido pouco explorada.

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Estação LapaLinha 7 - Rubi CPTM

Linha 8 - CPTM Diamante

potencialidadesOs diagramas a seguir analisam o recorte urbano

para definir o território da intervenção proposta.

A partir da análise de uso predominante do solo (Diagrama 01) nota-se que há um adensamento habitacional do lado norte da ferrovia, sendo pouco utilizada pela população pendular.

Observa-se também que a região comercial é definitivamente ao sul da ferrovia, acompanhando principalmente o eixo da Rua Doze de Outubro, onde na borda da ferrovia, finaliza na entrada da passagem subterrânea existente que dá acesso ao lado norte. Nota-se isso também no diagrama 03, onde verifica-se que o fluxo e pontos de convergência de pessoas concentra-se ao lado sul.

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Rua Doze de Outubro Rua John Harrison

Passagem subterrânea - Acesso Rua 12 de outubro47

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Predominância residencial

Cine RecreioEstação Linha 7 Rubi

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Predominânciacomercial

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Predominânciacomercial

Mercado Municipal

Estação CiênciaTendal Cultural

Terminal de ônibusEstação Linha 8 Diamante

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5.1 . Projeto contemporâneo na cidade histórica

5.2 . Espraiamento do conteúdo programático

5.3 . Espaço mutável

5.3 . Estratégias projetuais A) Continuidade espacial dos fluxos B) Bordas urbanas - A cidade e ferrovia como poética teatral C) Devolver um edifício para a cidade D) Atelier Urbano - conceitos de arte urbana no objeto arquitetônico

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Após essa breve análise sobre a metrópole paulista e a

manifestação do desejo de articular resíduos industriais à

indústria criativa, vamos adentrar pelas estratégias projetuais

elaboradas para intervir em um território consolidado pela

ferrovia.

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Um dia quando atravessava o Largo Santa Cecília, li uma

simples e pequena manifestação, feita a giz comum, em um

tapume de construção, que dizia: Por que artistas sinceros

vivem na sarjeta?

Algumas letras estavam grafadas ao contrário...

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Diagrama de centralidadesFerrovias, estações ferroviárias e zonas industriais

Linha 7 e Linha 8 da CPTM

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projeto contemporâneo na cidade histórica

É curioso pensar como a ferrovia, principal elemento desencadeador da morfologia da região metropolitana de São Paulo, tornou-se um elemento marginalizado e desarticulador do tecido urbano. Poder-se-ia nesse projeto, como em muitos outros, esconder a ferrovia por meio de seu rebaixamento das vias, e fazer uma nova configuração espacial, no nível do térreo, assim como foi proposto na própia Operação Urbana Lapa Brás. Mas a questão é: O que da história podemos utilizar no projeto sem perdê-la?

Ou seja, enterrar a linha férrea nunca foi uma opção de estudo para esse projeto. A proposta é trazer uma nova percepção sobre a ferrovia e evidenciar aquilo que um dia emblematizou a cidade.

Como foi dito anteriormente, a configuração do território paulista deu-se pelos complexos fabris do século passado de modo que a ferrovia configurou pólos de convergência e um espraiamento territorial. Porém, dado um segundo momento, devido a desindustrialização dos centros urbanos, zonas de extensão expressiva esvaziaram-nos gerando o abandono territorial. Então como reentregar essa parcela urbana no território, na cidade contemporânea?

“Hoje o trem é uma incógnita. É um objeto que não está em lugar algum. Percorre um hiato entre o passado e o futuro, uma área urbana que parece

aguardar seu destino.”

BRISSAC, 2004. p.115

A arte de rua além de criar momentos interruptores no cotidiano aparece aqui como forma de evidenciar a ferrovia e a região da “Lapa de baixo” como cenário urbano. Sendo assim, procurei uma maneira de reorganizar áreas próximas da estação da Lapa atribuir-lhes programas ligados à produção artística, reafirmando vida pública na metrópole e trazendo uma nova percepção sobre as preexistências do bairro.

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espraiamento do conteúdo programático

Vou contar uma breve história:

Certa vez estava no Centro Cultural Vergueiro (CCSP), quando vi um grupo de pessoas dançando em um canto de corredor. Eles não estavam em um ambiente fechado, nem em um espaço confinado destinado ao ensaio, muito menos em um auditório ou anfiteatro. Eles estavam em um canto qualquer, com um pequeno rádio treinando passos de street-dance.

Dias mais tarde, talvez na mesma semana, eu estava com mais alguns amigos na Av. Paulista indo pegar o ônibus para ir para casa, quando vi um aglomerado de pessoas na esquina com a Rua Augusta. Quando me aproximei, percebi que os mesmos dançarinos que eu tinha visto dias atrás no CCSP, estavam agora ali em busca de uma maior atração de pessoas.

Assim, entendi que a arte urbana tem dois momentos:

O primeiro não importa o espaço. É simples e direto, um espaço qualquer para o ensaio, para a experimentação. No segundo momento a arte busca na rua a sua plateia em espaços com maior fluxo de pessoas.

A partir disso, é essencial que o conteúdo programático seja diluído por todo o território de intervenção ultrapassando os limites do lote. De forma que o espaço da rua, os espaços de coletividade pública, também façam parte do projeto, em uma readequação espacial para receber as mais diversas manifestações artísticas e também acolher a vida urbana.

Iniciou-se então um processo de busca do território de intervenção, definido pelo eixo ferroviário.

As áreas próximas do centro histórico da cidade nunca foram uma opção interessante de ser trabalhada. Afinal, já é uma região bastante consolidada com uma diversidade infinita de propostas tanto de cunho artístico como propostas de ocupação. A meu ver,

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sugerir mais um projeto para essa área não era interessante.

Procurei por uma área menos consolidada como o entorno da estação Domingos de Morais e Vila Leopoldina, ou a estação Pirituba ao lado de uma antiga fábrica de pianos, mas a falta de uma centralidade comercial tornava inviável utilizar essas regiões pela carência de um fluxo de pedestres ou espaços de atração de um público espectador.

A Lapa, ainda que muitas vezes estimulada pelo meu professor, à primeira vista não era um território que me instigava a trabalhar pois, afinal, que valor fazer outro objeto próximo do Tendal Cultural da Lapa que já aborda a arte urbana? Porém, ao analisar as pré-existências, percebi que há potenciais no bairro como pólos de convergência e outras características físicas e funcionais para definir uma trilha estruturada pelo fluxo de pedestres com pontos nodais em locais estratégicos para a produção e apresentação de diferentes artes.

A partir das dinâmicas do bairro podemos verificar três características para criar essa trilha urbana: os pontos de convergência de pessoas, sejam eles pelo cruzamento dos fluxos ou pela atratividade comercial; os espaços de fluidez ou percursos que conectam os pontos de convergência; e por último os espaços de acolhimento, onde se abriga o indivíduo para um ambiente de produção ou ócio.

Portanto, decididos por um percurso conector das duas faces da linha férra, podendo marcar três momentos para as estratégias de projeto:

1 - Os fluxos e pontos de atratividade. Utilizando a transposição transversal da linha férrea não apenas como percurso, mas também como permanência.

2 - O espaço urbano como cenário da produção artistica, principalmente pela cultura do teatro de rua, street-dance e o graffiti.

3 - O Atelier livre como espaço de produção e armazenamento artístico ao lado norte da ferrovia.

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Seguem abaixo as estratégias que foram aplicadas em cada ponto.

“Se a vida se constitui de encontros e a cidade nasce justamente como objeto agregador desses encontros, não caberia aos arquitetos, enquanto grupo que trabalha com a configuração de espaços, desenhar aquilo que é preciso ser

previsto para que o imprevisto possa acontecer?”

GUATELLI, 2008 p.199

Espaço Mutável

Ao compreendemos que a arte urbana é uma atividade efêmera acreditamos também que as arquiteturas e espaços de intervenção, suporte a elas, são passíveis de transformação. Assim, são arquiteturas que não se estabelecem como objeto constituído, mas como a própria experiência de lugar. Além de serem constantemente modificados pelas ações artísticas são ambientes livres para apropriação e com complexidade programática definida pela ação do tempo de uma forma que eu não posso determinar e muito menos imaginar.

Teríamos então o espaço do desenho não totalmente definido, permitindo que esses espaços sejam abertos a interpretações e apropriações múltiplas à espera de novos significados (GUATELLI, 2012). Esses espaços não teriam uma função como a mais adequada, mas estariam sujeitos a novas interpretações e intervenções por parte dos usuários.

“[...] um espaço urbano como uma máquina produtiva livre das intenções primárias do autor, permanecendo apenas como traço demarcador sempre

aberto a aceitações e pronto para fecundar, espaço “em condições” de assimilar as constantes e diferentes interrogações e requisições que eventualmente

possam surgir a partir dos usuários.”

GUATELLI, 2012. p.76

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Esses espaços não são indefinidos, mas por não serem setorizados são motivadores de uma articulação de usos a partir dos usuários. Alguns ambientes são pré-determinados devido às necessidades de instalações hidráulicas e elétricas, como as caixas de sanitários, cozinha e centro de mídias digitais e informática. Outros espaços como lojas e salas de ensaio, embora o projeto influencie seus usos, também são vulneráveis a outras formas de utilização. Criam-se apenas condições e situações espaciais significativas para uma pré-configuração de projeto.

Manifestações artísticas como o teatro e o circo de rua, principalmente, são enaltecedoras da imaginação do espectador. Assim, elas são como um evento definidor de fluxos e permanências. Segundo GUATELLI, 2008, tais acontecimentos tornam a arquitetura como um evento, uma ocorrência, ao contrário de ser uma tradução física de uma ideia pré-estabelecida.

“A arte evoca como exprimir a imaterialidade na materialidade.”BRISSAC, 2004

Esses espaços e essas arquiteturas são, portanto, mutáveis a partir das demandas de crescimento e transformação urbana e social. Tornam-se então espaços de um acontecimento social-urbano e não uma tradução física de uma espacialidade formal e definitiva.

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Estratégias projetuais

Mesmo sabendo-se que o conteúdo programático será diluído pelo território, era necessário buscar edificações do período industrial que pudessem ser adaptadas para abrigar, aquilo que denominei de “Atelier Urbano”.

Entendendo que o pólo de atração de pessoas fica ao lado sul da ferrovia, onde a zona comercial da Rua Doze de Outubro e seu entorno já representam centralidades, o Atelier seria localizado, portanto, do lado norte, na região da “Lapa de Baixo”, sendo atraída por uma zona intermediária de transposição abaixo da linha férrea.

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Continuidade Espacial

de FluxosAntes de chegar no objeto arquitetônico que abrigaria a

experimentação da arte de rua, primeiro vamos falar da conexão e dos espaços públicos do lado sul da ferrovia. Sendo assim. A conformação da trilha estruturadora, define que o principal elemento, que é o coração do projeto, passaria recuperar a transposição norte e sul da via. Até o fim da década de 60, o cruzamento da ferrovia era feita em nível, mas à medida que a cidade se desenvolvia outras formas de transposição foram necessárias. As passagens subterrâneas existentes, apesar de carácter emergencial, foram importantes intervenções conectoras de espaço. Na verdade, esse seja talvez o único elemento que ainda permite a integração norte e sul da Lapa na escala do pedestre.

Por conta de técnicas construtivas da época, essas transposições de pedestres são extremamente estreitas e anti-urbanas. A maior delas tem cerca de 3m de largura, não mais que isso, a outra tem o pé-direito extraordináriamente baixo, com um corredor estreito de dimensões insuficientes para duas pessoas circularem simultaneamente, não ultrapassando 1,5m de largura. Tais características são tão inadequadas, que as passagens são conhecidas, pela população, como “Túneis do terror”.

Inspirando-se em BOGÉA, 2009, pretende-se então, transformar a passagem em uma pausa, reconstituindo os espaços de circulação, trânsito e passagem, com possibilidades de aproximações e relações.

A primeira estratégia, portanto, é criar momentos de permanência no interior do percurso subterrâneo, que podem ser tanto impostos pela continuação da zona comercial da Rua Doze de Outubro, como em criar possibilidades novas com o programa voltado às artes. O cortejo do circo de rua desperta nos transeuntes novas percepções do percurso.

Entretanto, vale lembrar que a principal característica que

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afasta a permanência de pessoas nos subsolos é a falta de contato com a luz e a vida nas ruas. Então, a maior necessidade foi a de abrir enormes rasgos na laje de cobertura, com dimensões possíveis e paralelos à ferrovia, aberturas que permitam a conexão do subsolo com a luz. São aberturas que permitam a a chuva molhe as pessoas; que os raios solares penetrem; que a sujeira invada; até mesmo que os pássaros possam atingir o pedestre com seus dejetos

Por mais que o pedestre tenha que vencer cotas por meio de escadas rolantes, elevadores ou escadas fixas, a proposta é que ele sinta a continuidade esapacial dos fluxos.

bordas urbanascidade e ferrovia como

poética teatralAssim, como a analisa Heidegger, (in) GUATELLI, 2012,

a transposição além de um elemento conector define suas extremidades como lugares.

Logo, ao lado sul da borda da ferrovia foram propostos espaços generosos, passíveis da interrupção da vida monótona pela arte urbana.

A convergência dos fluxos que resulta em um nó no final da Rua Doze de Outubro e para na barreira da linha férrea, propõe que a silhueta da cidade desconhecida torne-se um cenário, principalmente para o teatro de rua.

A estrutura que encobre a entrada da transposição subterrânea transcende seu simples uso e aqui é proposta como espaço abrigo à permanência, servindo principalmente como anfiteatro. Permitindo a elevação do olhar do observador, impulsionando a leitura do bairro para o outro lado da linha férrea, que por muito tempo fora esquecido e pouco desenvolvido.

Desta maneira enquanto o espectador assiste à peça ele pode ver a cidade revelar o inesperado, assim como Lina BoBardi faz ao inserir janelas no Teatro Oficina. (LIMA, (in) AGUIAR, 2010)

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Demolir Recuperar

Diagrama de demolir e recuperar

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devolver um edifício para cidade

Depois de definir o território de intervenção era necessário procurar uma área de ocupação para estruturar um objeto arquitetônico, o “Atelier Urbano”.

Contrapondo a lógica do abandono do patrimônio material das indústrias, a proposta é reintegrar edificações subutilizadas do período industrial. Primeiramente, havia escolhido um galpão industrial que atualmente abriga parte de uma editora de livros, ao lado da estação Lapa da antiga SPRailway (Santos-Jundiaí). Qualquer galpão é interessante no sentido de que a planta livre permite diversas propostas de espacialiades.

Entretanto ao analisar o histórico do bairro, outra edificação próxima tornou-se mais interessante. Ao lado do Largo da Estação, há uma pequena fachada, despercebida ao lado de outras muitas edificações, que um dia fez parte do maior complexo de lazer do bairro, o Pavilhão Recreio com o Cine Theatro Recreio. Apresentou-se como uma edificação passível de intervenções.

De forma a destacá-la das edificações ao redor, proponho algumas demolições. Obviamente, não faz sentido algum propor demolições desenfreadas para manter uma única edificação. Proponho, então, pontualmente, a manutenção de algumas que não perderam muito das suas características construtivas originais, aproveitando-as para novos usos.

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Atelier urbano conceitos de arte urbana

no objeto arquitetônicoEntão, quais características da arte urbana poderiam ser

aplicadas para constituir um projeto arquitetônico?

1) mutação+

2) Visibilidade+

3) coletividade+

4) Tridimensionalidade+

5) Desaceleração da vida urbana

1) Novas edificações seriam articuladas às existentes, utilizando-se estruturas metálicas acopladas sem interferir na sustentação original.

2) Ao sabemos que os ambientes tem autonomia de uso, podemos compreender que as circulações também são passíveis a apropriações múltiplas. A circulação horizontal deixa, então, de ser apenas um elemento de conectividade entre os ambientes e passa a receber novos usos à medida que se aproxima ou se distancia das edificações que articula.

No momento em que a passarela é evidenciada e colocada em uma cota superior, ela passa a possibilitar outras perspectivas visuais. Permite ao indivíduo que a percorre olhar todos os ambientes em uma cota superior. Também cumpre a função de palco e de platéia superior.

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3) Ao propor as demolições, é possível configurar um espaço generoso no interior da quadra criando um espaço público agregador.

Exceto por algumas portas e portões basculantes ou com roldanas, o espaço não tem uma delimitação efetiva entre ambiente público e espaço controlado, sendo necessariamente confundido.

4) A proposta, aqui, é que qualquer artísta das artes, mesmo aquele das artes ditas como tradicionais, possa experimentar as ações do artista de rua. O auditório em arena, por exemplo, força o apresentador, palestrante ou ator do palco tradicional (palco italiano), a expor suas ações de corpo e fala para todas as direções para atingir toda a sua platéia.

5) E, por último, foi projetado um novo Bar Cine Recreio com espaço aberto diretamente para a rua.

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Planta Atelier Urbano - Térreo Planta Atelier Urbano - Nível + 5.50

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SOUZA, José Inácio. Inventário dos espaços de sociabilidade cinematográfica da cidade de São Paulo (1895-1929) - Parceria AHMWL/DPH/SMC/PMSP e Cinemateca Brasileira. São Paulo. Ano desconhecido. Disponível em <http://www.arquiamigos.org.br/bases/cine3p/historico/00245.pdf> - Acesso em Outubro de 2014

Doel 2020. A unique village by the river Scheldt. Disponível em <http://doel2020.org/page.php?ID=134> - Acesso em 04 de novembro de 2014

PeriódicosCARVALHO, André. Ciclistas fazem ‘farofada dos

desqualificados’ contra afirmação de secretário. Sul 21, Porto Alegre, 26 de setembro de 2011. Disponível em <http://www.sul21.com.br/jornal/ciclistas-fazem-farofada-dos-desqualificados-em-protesto-contra-afirmacao-de-secretario/> Acesso em Novembro de 2014.

CARVALHO, André. Pedindo uma Porto Alegre para as pessoas, surge o “Largo Vivo”. Sul 21, Porto Alegre, 19 de novembro de 2011. Disponível em <http://www.sul21.com.br/jornal/pedindo-uma-porto-alegre-para-as-pessoas-manifestantes-criam-o-%E2%80%9Clargo-vivo%E2%80%9D/> Acesso em Novembro de 2014.

COELHO, Alexandra. Lx Factory. O que milhares de pessoas fazem aqui. Público, Lisboa, 29 de maio de 2009. Disponível em < http://www.lxfactory.com/ficheiros/noticias/54c5a583974eb1bf789b313abb74580b.pdf> - Acesso em Setembro de 2014

SANTOS, Ricardo. Revolução Industrial. Lx Factory. Evasões, Lisboa, 01 de novembro de 2011 - Disponível em < http://www.lxfactory.com/ficheiros/noticias/imprensa_pdf_4ff5749970e48.pdf> Acesso em Setembro de 2014

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Filmes e documentáriosFARIAS, Agnaldo. TEDx Talks: Entre Homero e Platão:

Agnaldo Farias at TEDxUSP. São Paulo. 2011. 18min. color. som. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=JQcfrgU_kqY> - Acesso em Outubro de 2014

JR. TED Talks: JR: My wish: Use art to turn the world inside out. 2010. 24min. color. som. Disponível em <http://www.ted.com/talks/jr_s_ted_prize_wish_use_art_to_turn_the_world_inside_out> Acesso em Outubro de 2014

REISS, Jon - Bomb It. [Filme-vídeo]. Produção de WARES, Tracy, REISS, Jon, LEVY-HINTE, Jeffrey, CHRISTENSEN, Kate. direção de REISS, Jon. 2007. 94min, color. som.

WAINER, João e OLIVEIRA, Roberto - Pixo. [Filme-vídeo]. Produção de WAINER, João Wainer e OLIVEIRA, Roberto. Direção de WAINER, João Wainer e OLIVEIRA, Roberto. 2010. 61min. color. som.

Spookstad Doel, België. Bélgica. 2012. 9min. color. som. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=QoaTeLyI06k> - Acesso em 04 de novembro de 2014

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lista de ilustrações

Capa. Texturas do Sesc Pompeia - GHENDOV, Camila, 2012

Por quê artistas sinceros vivem na sarjeta? - GHENDOV, Camila. 2013.

02 Indústrias Matarazzo e Parque Antártica - Autoria desconhecida. Disponível em <http://casadascaldeiras.com.br/Historico_CasaDasCaldeiras_download.pdf> Acesso em Novembro de 2014

03 Diagrama de vias - Base: Mapa Digital da Cidade. Edição: GHENDOV, Camila. 2013.

04 Skate e Metro, Diversidade cultural. NILSSEN, Robin. Não-datada. Disponível em < http://www.junkyard.no/mag/interview-boon>

05 Mapa vista aérea Largo do Mercado, Porto Alegre - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2014.

06 Largo Vivo, Porto Alegre - Autoria desconhecida, 2014. Disponível em <https://www.facebook.com/305842799557362/photos/a.306164492858526.1073741828.305842799557362/393608600780781> Acesso em setembro 2014

07 Breath it, Doel, Bélgica - Autoria desconhecida. Disponível em <https://dimartblog.files.wordpress.com/2014/10/0000c38d_medium.jpeg> Acesso em Outubro de 2013.

08 Mapa vista aérea Antuérpia, Bélgica - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2014.

09 Doel, Bélgica - KyPhotography, 2014. Disponível em <https://www.flickr.com/photos/kypictured/14997562745> Acesso em Novembro de 2014.

10 Doel 2013. Miarno. 2012 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/62185251@N08/10415942975/> Acesso em Novembro 2014.

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11 Doel 2013. Miarno. 2012 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/62185251@N08/10437099896/> Acesso em Novembro 2014.

12 Dying village Doel - GOMMANS, Marc, 2014. Disponível em <https://www.flickr.com/photos/marc_gommans/14862828503> Acesso em Novembro de 2014.

13 Expo 2 Rue - Jr Artist. 2001-2003 Disponível em <http://www.jr-art.net/projects/expo-2-rue> Acesso em Setembro 2014

14 Espo di Strada - Jr Artist. 2001-2003 Disponível em <http://www.jr-art.net/projects/expo-2-rue> Acesso em Setembro 2014

15 Bombing - Ilustração feita com a fonte Bombing, criada por Qkila. Disponível em <http://www.dafont.com/pt/bombing.font> Acesso em Novembro de 2014

16 Writing - Ilustração feita com a fonte A Dripping Maker, criada por Wick van der Belt. Disponível em <http://www.dafont.com/pt/a-dripping-marker.font> Acesso em Novembro de 2014.

17 Pixo - Ilustração feita com a fonte Pixo Reto, criada por Brock Marques. Disponível em <http://www.dafont.com/pt/pixo-reto.font> Acesso em Novembro de 2014

18 Muralismo - Artista desconhecido. Disponível em <http://culturacolectiva.com/es-el-graffiti-una-forma-de-arte-incomprendida/> Acesso em Novembro de 2014

19 Retrato desconstruído - Mural criado por Alexandre Farto, Londres. Disponível em <http://www.alexandrefarto.com/>. Não-datado.

20 A cultura do Hip-Hop e graffiti em Nova Iorque na década de 70 e 80 por Martha Cooper. Disponível em <http://www.oldskull.net/2009/03/martha-cooper/> Acesso em Março de 2014.

21 Grupo de Street-Dance. Centro Cultural Vergueiro versus Av. Paulista, São Paulo. GHENDOV, Camila. 2013

22 Grupo de Street-Dance. Centro Cultural Vergueiro versus Av. Paulista, São Paulo. GHENDOV, Camila. 2013

Page 133: Inversão: Indústria Manufatureira versus Indústria Criativa

23 e a cidade inteira Poesia - Autor desconhecido, Brasília - Disponível em <http://ensaiosfragmentados.com/2013/03/25/olhe-os-muros/> Acesso em Novembro de 2014.

24 LX Factory, Lisbonne. DANGREMOM, Ella. 2013 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/102136035@N07/9806752375/in/set-72157635628799125> - Acessada em Novembro de 2013

25 Library LX factory - a place to be in Lisbon where urban culture meets food - ROSERA, Andre. 2012 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/andreroseta/8326951216/> - Acessada em Nov. de 2013

26 Mapa vista aérea Calvário, Lisboa - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2014.

27 Túnel Factory. SILVA, Benjamim. 2013 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/fotoben/9368349430/> - Acesso em Nov.13

28 Open Street Event, LX Factory. Tentugal, André. 2012 - Disponível em <http://studio.thisispacifica.com/67503/704697/work/rua-aberta-open-street-event> - Acesso em Setembro de 2014

29 Visiting LX Factory. Summer School Reinveintg the city, 2012 - Disponpivel em <https://www.flickr.com/photos/81948864@N03/7515148044/> Acesso em Setembro de 2014

30 LX Factory. TROIANO, Marcus. 2011 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/mrtroiano/6705918997> Acesso em Set. de 2014

31 Ignite Portugal - Positivo e Lutador. PIRES, Mário. 2012 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/retorta/8035723598> Acesso em Setembro de 2014.

32 LX Factory. SOARES, Rui. 2011 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/ruisoares_formiga/10231702353> Acesso em Set. de 2014

33 LX Factory - Feira de Domingo. JN Photographer. 2012 - Disponível em <https://www.flickr.com/photos/_jn_/8258435949> Acesso em Setembro de 2014.

34 Mapa vista aérea Lapa, São Paulo - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2014

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35 Planta Gram-Burgo da Lapa 1891 - SANTOS, Wanderley dos. História dos bairros de São Paulo - Volume 18: Lapa - Secretária Municipal de cultura, Departamento do Patrimônio Histórico, São Paulo, 1980

36 Diagrama divisão do bairro da Lapa - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2013

37 Diagrama fluxos interrompidos - GHENDOV, Camila. 2013

38 Planta de São Paulo, 1895. Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo - Tombo: 1322. Disponível em <http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/> Acesso em Setembro de 2013.

39 Planta de São Paulo, 1905. Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo - Tombo: 1355. Disponível em <http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/> Acesso em Setembro de 2013.

40 Planta de São Paulo, 1916. Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo - Tombo: 1356. Disponível em <http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/> Acesso em Setembro de 2013.

41 Planta de São Paulo, 1943. Secretaria de Estado de Economia e Planejamento. Instituto Geográfico e Cartográfico - IGC. Acervo - Tombo: 1153. Disponível em <http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/> Acesso em Setembro de 2013.

42 Cine Recreio - GHENDOV, Camila. 2013

43 Cine Recreio, Hall de entrada - GHENDOV, Camila. 2013

44 Cine Recreio, Área interna - GHENDOV, Camila. 2013

45 Planta de Construção Cine Theatro Recreio - Grupo Cinemas, caixa Cine-9, AHMWL. Arquivo Histórico de São Paulo. Disponível em <http://www.arquiamigos.org.br/bases/cine.htm> Acesso em Set. de 2013.

46 Panorâmica, Ferrovia trecho Lapa - GHENDOV, Camila. 2013

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47 Túnel do Terror. Transposição sob a ferrovia. - GHENDOV, Camila. 2013.

48 Diagrama volumétrico de caracterização da área - GHENDOV, Camila. 2013

49 Diagrama Fluxo principal de transporte - Base: Mapa Digital da Cidade. Edição: GHENDOV, Camila. 2013

50 Diagrama Fluxo principal de pedestres - Base: Mapa Digital da Cidade. Edição: GHENDOV, Camila. 2013

51 Diagrama área de intervenção - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2013

52 Diagrama Indústrias no entorno das Ferrovias Linha 7 e Linha 8 CPTM - Base: Mapa Digital da Cidade. Fonte: Mapa Uso do Solo Predominante 2005, Série pôster: Panorama. Secretaria de Planejamento da Prefeitura do Estado de São Paulo. Departamento de Estatística e Produção de Informação. Disponível em <http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/mm/panorama/> Edição: GHENDOV, Camila. 2013

53 Diagrama Conteúdo programático - GHENDOV, Camila. 2013

54 Diagrama Corte esquemático - GHENDOV, Camila. 2013

55 Diagrama Centralidades - Base: Google Earth. Edição: GHENDOV, Camila. 2013

56 Desenhos técnicos e Maquete Volumétrica do Atelier Urbano - GHENDOV, Camila. 2013 e 2014.

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