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82 82 82 82 82 CEHC – Centro de Estudos Históricos e Culturais Capítulo 5 CONCLUSÃO P ara o levantamento e a análise dos gas- tos realizados com cultura pelo grupo das empresas amostradas nesta pesquisa, fo- ram considerados diversos fatores que pudes- sem caracterizar o tipo de empresa que patroci- na projetos culturais, desde os de identificação – origem de capital, ramo de atividade econô- mica e distribuição geográfica – até os de cará- ter mais genérico, como aqueles ligados à vo- cação e à tradição da empresa para o investi- mento na área cultural, a importância que ela atribui à cultura em face de outras áreas, a pre- ferência por determinado segmento cultural e a freqüência com que utiliza as leis de incentivo. Quanto a suas estratégias de comunicação, observou-se que, no mínimo, 50% das 123 em- presas entrevistadas, além do setor Cultural, investiam em outros, tais como Assistencial, Educacional, Esportivo, Meio Ambiente, Saú- de e Científico. Entretanto, ao considerar-se a ordem de importância que essas empresas atri- buem a cada setor, o Cultural ocupa o primeiro lugar, sendo citado em 53% das vezes, princi- palmente pelas públicas. Quanto à tradição do patrocínio cultural, aproximadamente 40% das empresas investido- ras responderam que já patrocinavam projetos culturais antes de 1985. De maneira geral, o setor privado mostrou maior tradição de inves- timento em cultura do que o estatal. Três variáveis principais – gasto com cultu- ra, número de empresas investidoras e número de projetos culturais incentivados – tiveram seu comportamento analisado anualmente, de 1990 a 1997. Para o ano de 1997, foram feitas estimativas de valores para complementar os dados parci- ais obtidos, visto ter sido este o ano de realiza- ção da pesquisa. Um conjunto de fatores indica uma subesti- mação dos valores obtidos na pesquisa em re- lação aos realmente investidos pelas empresas no período estudado: a recusa de importantes empresas sabidamente investidoras em cultura em participar da pesquisa; o problema enfren- tado pelas organizações em recuperar os dados relativos aos investimentos culturais realizados nos primeiros anos do período pesquisado; a dificuldade em contabilizar os apoios e as per- mutas de serviços utilizados por algumas em- presas como estratégia de patrocínio cultural, cujos custos muitas delas não souberam quan- tificar; e a impossibilidade de acesso a outras fontes de dados que poderiam complementar os já obtidos, à exceção do cadastro do mecenato da Lei 8.313 (Lei Rouanet) relativo ao período de 1993 a setembro de 1997. A partir de 1992, detectou-se um crescimento contínuo e proporcional do número de empre- sas investidoras em cultura até o final do perío- do. Nos dois últimos anos, a expansão foi um pouco maior do que nos anos anteriores. O crescimento do número de projetos cultu- rais patrocinados no período de 1990 a 1997 foi fortemente influenciado pela legislação de incentivo à cultura. Empresas tradicionalmente investidoras intensificaram seu patrocínio a par- tir da adoção das leis, enquanto outras passa- ram a investir por essa razão. Essas alterações revelaram-se de forma acentuada nos últimos anos da série, quando a participação percentual de projetos viabilizados pelas leis superou aque- la que não fez uso desses mecanismos. Os anos de 1996 e 1997 foram responsáveis por mais de

Investimento Cultura Cap 05

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  • DIAGNSTICO DOS INVESTIMENTOS EM CULTURA NO BRASIL

    8 28 28 28 28 2 CEHC Centro de Estudos Histricos e Culturais

    Captulo 5

    CONCLUSO

    Para o levantamento e a anlise dos gas-tos realizados com cultura pelo grupo dasempresas amostradas nesta pesquisa, fo-ram considerados diversos fatores que pudes-sem caracterizar o tipo de empresa que patroci-na projetos culturais, desde os de identificao origem de capital, ramo de atividade econ-mica e distribuio geogrfica at os de car-ter mais genrico, como aqueles ligados vo-cao e tradio da empresa para o investi-mento na rea cultural, a importncia que elaatribui cultura em face de outras reas, a pre-ferncia por determinado segmento cultural e afreqncia com que utiliza as leis de incentivo.

    Quanto a suas estratgias de comunicao,observou-se que, no mnimo, 50% das 123 em-presas entrevistadas, alm do setor Cultural,investiam em outros, tais como Assistencial,Educacional, Esportivo, Meio Ambiente, Sa-de e Cientfico. Entretanto, ao considerar-se aordem de importncia que essas empresas atri-buem a cada setor, o Cultural ocupa o primeirolugar, sendo citado em 53% das vezes, princi-palmente pelas pblicas.

    Quanto tradio do patrocnio cultural,aproximadamente 40% das empresas investido-ras responderam que j patrocinavam projetosculturais antes de 1985. De maneira geral, osetor privado mostrou maior tradio de inves-timento em cultura do que o estatal.

    Trs variveis principais gasto com cultu-ra, nmero de empresas investidoras e nmerode projetos culturais incentivados tiveram seucomportamento analisado anualmente, de 1990a 1997.

    Para o ano de 1997, foram feitas estimativasde valores para complementar os dados parci-

    ais obtidos, visto ter sido este o ano de realiza-o da pesquisa.

    Um conjunto de fatores indica uma subesti-mao dos valores obtidos na pesquisa em re-lao aos realmente investidos pelas empresasno perodo estudado: a recusa de importantesempresas sabidamente investidoras em culturaem participar da pesquisa; o problema enfren-tado pelas organizaes em recuperar os dadosrelativos aos investimentos culturais realizadosnos primeiros anos do perodo pesquisado; adificuldade em contabilizar os apoios e as per-mutas de servios utilizados por algumas em-presas como estratgia de patrocnio cultural,cujos custos muitas delas no souberam quan-tificar; e a impossibilidade de acesso a outrasfontes de dados que poderiam complementar osj obtidos, exceo do cadastro do mecenatoda Lei 8.313 (Lei Rouanet) relativo ao perodode 1993 a setembro de 1997.

    A partir de 1992, detectou-se um crescimentocontnuo e proporcional do nmero de empre-sas investidoras em cultura at o final do pero-do. Nos dois ltimos anos, a expanso foi umpouco maior do que nos anos anteriores.

    O crescimento do nmero de projetos cultu-rais patrocinados no perodo de 1990 a 1997foi fortemente influenciado pela legislao deincentivo cultura. Empresas tradicionalmenteinvestidoras intensificaram seu patrocnio a par-tir da adoo das leis, enquanto outras passa-ram a investir por essa razo. Essas alteraesrevelaram-se de forma acentuada nos ltimosanos da srie, quando a participao percentualde projetos viabilizados pelas leis superou aque-la que no fez uso desses mecanismos. Os anosde 1996 e 1997 foram responsveis por mais de

  • CAP. 5 CONCLUSO

    8 38 38 38 38 3CEHC Centro de Estudos Histricos e Culturais

    50% do total de projetos realizados no perodoem estudo.

    A pesquisa evidenciou a preferncia do pa-trocnio empresarial em cinco reas culturais:Msica, Cinema/Vdeo, Patrimnio Histricoe Cultural, Teatro/Circo/pera/Mmica e Pro-duo Editorial; as quais responderam por67,4% do total de projetos, sendo que Msica eCinema/Vdeo foram incentivados por mais dametade das empresas amostradas. Os demais32,6% dos projetos encontram-se distribudosnas demais 16 reas culturais.

    As reas menos incentivadas apresentaramreduzido nmero de projetos tanto nas empre-sas pblicas quanto nas privadas, o que apontapara a necessidade de implementarem-se pol-ticas culturais diferenciadas que estimulem oseu crescimento.

    O aumento dos gastos com cultura mostrou-se menos regular do que o comportamento apre-sentado pelo nmero de projetos e de empresasinvestidoras. Verificou-se que as maiores taxasde crescimento anual desses gastos ocorreramem 1992, 1994, 1996 e 1997.

    Ao longo do perodo, foi constatado um cres-cimento positivo dos valores de patrocnios quese beneficiaram dos incentivos fiscais e umamanuteno dos demais em um mesmo pata-mar. Em 1995, os valores informados sobre osprojetos incentivados por intermdio das leissuperaram aqueles relativos aos projetos que nose beneficiaram da legislao fiscal, refletindoem grande parte os resultados do processo dedesburocratizao da Lei 8.313 (Lei Rouanet)e a maior utilizao da Lei 8.685 (Lei do Audi-ovisual), as quais, a partir de ento, passaram ainfluir de maneira mais efetiva na deciso deinvestimento cultural das empresas.

    A pesquisa revelou que as leis federais fo-ram as mais utilizadas, particularmente a LeiRouanet, tendo viabilizado 83,5% dos projetospatrocinados com lei no perodo seguidas pelasleis municipais e pelas estaduais.

    No grupo formado pelas grandes empresasbrasileiras amostradas, o investimento em cul-tura nos ltimos oito anos foi de R$ 604 mi-lhes. O crescimento dos gastos neste perodo

    passou de R$33 milhes em 1990 para R$147milhes em 1997, representando uma amplia-o de 349%. O nmero de empresas investi-doras em cultura aumentou 267%, passando de27 em 1990 para 99 empresas em 1997. O n-mero de projetos culturais patrocinados apre-sentou um percentual de crescimento recorde,de 737%, muitas vezes maior do que aqueleapresentado pelos gastos com cultura e pelonmero de empresas investidoras, indicando queas empresas comearam a investir mais e que omontante acrescido foi distribudo por um n-mero maior de projetos. Ou seja, aumentou amdia de gastos por empresa e caiu o valormdio dos projetos culturais.

    Pelo comportamento das empresas no per-odo, observou-se que as pblicas, embora sem-pre em nmero inferior, suplantaram as priva-das nos gastos com patrocnio at 1993. Somen-te a partir de 1994 que os gastos com culturaapresentados pelas empresas do setor privadoultrapassaram os do setor pblico. Pode-se afir-mar que as 27 empresas pblicas pesquisadasinvestiram cerca de 50% do gasto total, enquantoos outros 50% foram investidos pelas 84 em-presas privadas.

    A concentrao de gastos com cultura apre-sentada pelas empresas pblicas tambm foiobservada em relao ao nmero de projetos porempresa. Enquanto 27 empresas pblicas pa-trocinaram 1044 projetos culturais no perodode 1990 a 1997, as 84 privadas incentivaram1531 projetos, o que corresponde a uma mdiade 38,7 patrocnios pblicos contra apenas 18,2privados.

    Nos dois ltimos anos da srie, tanto as em-presas privadas quanto as pblicas ampliaramo nmero de projetos culturais patrocinados. Noentanto, as primeiras, tradicionalmente maisinvestidoras, apresentaram tendncia de cresci-mento inferior e ambas chegaram ao final doperodo com nmero semelhante de projetospatrocinados: 394 patrocnios privados para 378pblicos.

    As organizaes pblicas e privadas apresen-taram diferenas em relao s suas reas pre-ferenciais de investimento em cultura. Em n-

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    8 48 48 48 48 4 CEHC Centro de Estudos Histricos e Culturais

    mero de projetos patrocinados, 80,8% das p-blicas preferiram Cinema/Vdeo e em volumede recursos as reas Integradas concentrarama maior parte dos gastos. Os projetos desta reaso, em geral, de grande monta, como os pla-nos anuais de atividades de centros culturais,teatros e museus, encontros e circuitos cultu-rais, feiras e bienais, festivais de inverno e pre-miao de setores culturais diversos. As empre-sas privadas revelaram preferncia acentuadapela Msica, com 60,7% de empresas patroci-nadoras, porm em volume de gastos essa reaocupou o segundo lugar, vindo aps Patrim-nio Histrico e Cultural.

    Os incentivos fiscais, que tm efetivamentedesempenhado importante papel no fomento ecrescimento dos projetos e valores gastos comcultura nos ltimos anos, vm sendo utilizadospor empresas com diferentes convices e po-sicionamentos diante do patrocnio cultural.Embora a pesquisa tenha identificado consen-so entre as empresas a respeito do potencial dacultura em termos de ganho de imagem institu-cional e de credibilidade junto ao seu pblico al-vo, suas experincias de patrocnio e seu grau deadeso ao marketing cultural, enquanto ferramen-ta de comunicao empresarial utilizada de ma-neira sistemtica, so bastante diversificados.

    Considerando a relevncia do setor financei-ro, especificamente dos bancos, no patrocnio cultura, analisou-se em separado o comporta-mento dessas empresas em relao s demais.

    As financeiras apresentaram crescimento ir-regular dos gastos com cultura. No entanto, in-vestiram o maior volume de recursos em proje-tos culturais de 1990 a 1997, cerca de 57% dototal investido no perodo. So empresas tradi-cionalmente investidoras e que j atingiram umnvel elevado de investimento na rea. J as em-presas no-financeiras apresentaram crescimen-to bastante regular, sempre ascendente, de gas-tos com cultura, tanto aquelas ligadas ao setorpblico quanto ao setor privado. Foram as gran-des responsveis pelo aumento do investimentocultural nos ltimos anos, evoluindo de formaequilibrada, sem picos ou quedas expressivas.

    Ainda com relao ao grupo das no-finan-

    ceiras, as privadas mostraram-se tradicional-mente mais investidoras em cultura do que aspblicas. Entretanto, nos dois ltimos anos, ocrescimento dos gastos das pblicas foi maisexpressivo do que o apresentado pelas priva-das. Em 1997, por exemplo, a taxa de cresci-mento dos gastos culturais das primeiras foi de61%, enquanto aquela apresentada pelas segun-das foi de 14%. Estima-se que nesse ano o mon-tante investido pelas 21 empresas pblicas no-financeiras atingiu R$ 48 milhes, valor apro-ximado dos R$ 49 milhes investidos pelas 65empresas privadas no-financeiras.

    Depois do ramo Financeiro, o de Telecomu-nicaes surgiu como o maior investidor emcultura, mesmo no tendo sido este um com-portamento homogneo entre todas as empre-sas do setor.

    No segmento das estatais, as empresas liga-das ao ramo das Telecomunicaes foram dis-paradamente as maiores investidoras em cultu-ra, seguidas pelas empresas dos ramos Qumi-ca/Petroqumica, Distribuio de Petrleo egua/Gs/Energia Eltrica. So, predominan-temente, empresas que ingressaram no merca-do cultural, em perodos diferentes, nos ltimosquatro anos.

    O segmento das privadas, quando compara-do com o das pblicas, apresentou melhor dis-tribuio do gasto com cultura entre os diver-sos ramos de atividade econmica, compreen-dendo empresas tradicionalmente investidorasem cultura em quase todos os ramos contem-plados pela pesquisa, sendo que Bebida e Fumo,Construo e Minerao, alm de tradicionais,investiram regularmente expressivo volume derecursos em todos os anos analisados. A partirde 1994 e 1995, empresas privadas ligadas aoutras atividades econmicas ingressaram commaior fora no mercado do patrocnio cultural,sobretudo aquelas dos ramos de Fabricao deMaterial de Transporte/Autopeas, Edio/Im-presso, Artigos Farmacuticos/Higiene/Limpe-za, Distribuio de Petrleo e Siderurgia/Meta-lurgia.

    As grandes mudanas com relao ao inves-timento em cultura, realizadas particularmente

  • CAP. 5 CONCLUSO

    8 58 58 58 58 5CEHC Centro de Estudos Histricos e Culturais

    nos ltimos anos pela iniciativa privada, foramcertamente influenciadas pela poltica culturalde parceria entre Estado, empresrios e comu-nidade cultural, que vem sendo implementadapelo governo Federal e por alguns governosestaduais e municipais. Essas mudanas, entre-tanto, no devem ocultar o fato de que ainda hmuito a ser explorado no mercado do patroc-nio cultural.

    A situao atual exige dos atores envolvidos

    Administrao Pblica, patrocinadores, pro-dutores culturais e artistas a conjugao deesforos no sentido de que, de um lado, possaser disponibilizada uma legislao clara, obje-tiva, amplamente divulgada e sem os hatituaisentraves burocrticos e, do outro, possa ser cri-ada uma estrutura realmente profissional, ca-paz de dominar os preceitos legais e de vislum-brar as oportunidades que o mercado de patro-cnio cultural oferece.