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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
08 a 10 de junho de 2016
GT 2. GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES
Ações infracionais de adolescentes em conflito com a lei a partir de uma
perspectiva de gênero no espaço urbano de Palmeira-PR entre 2010-2012
Jéssica Emanueli Moreschi Bedin (Mestranda UEPG)
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IV SIMPÓSIO GÊNERO E POLÍTICAS PÚBLICAS
GT2. GÊNERO, CORPO E SEXUALIDADES
Ações infracionais de adolescentes em conflito com a lei a partir de uma perspectiva de
gênero no espaço urbano de Palmeira-PR entre 2010-2012
Jéssica Emanueli Moreschi Bedin1
Resumo: Esta pesquisa tem como fio condutor a seguinte questão: como se
caracterizam as ações infracionais dos adolescentes em conflito com a lei a partir da
perspectiva de gênero no espaço urbano de Palmeira, Paraná?. Tal questão foi elaborada pela
necessidade de compreender, a partir da geografia, um grupo social pouco explorado neste
campo científico que são adolescentes e jovens. Além disso, privilegiar a perspectiva de
gênero por ser ainda um campo de pequena produção científica no Brasil. A operacionalização
foi realizada com base nos processos da Vara da Infância e Juventude junto ao fórum da
comarca de Palmeira - PR, considerando o período entre 2010 a 2012, foram analisados 146
processos de forma padronizada, sendo levantados os seguintes dados: gênero, raça,
escolaridade, idade, local de moradia, tipos de atos infracionais cometidos por estes
adolescentes e local destas infrações com o objetivo de traçar perfis destes sujeitos.
O fenômeno analisado evidencia que cerca de 84 % dos atos infracionais são
cometidos por meninos e 16% por meninas. Além disso, são adolescentes moradores de
periferias pobres, possuindo diferenças de acesso e infraestrutura. As infrações mais comuns
com relação às meninas é a lesão corporal, representando 46%, e para os meninos o furto,
com 20%. Ao analisarmos os atos infracionais do universo masculino e feminino, pôde-se
verificar que há diferenças significativas entre ambos os sexos, e que determinadas infrações
são inexistentes no universo feminino. Dessa mesma forma, os meninos, quando comparados
com as meninas, apresentam espacialidades distintas no que diz respeito às ações infracionais.
Assim, destacamos a importância de estudarmos as diferentes construções de papéis de gênero
dos adolescentes em conflito com a lei.
Palavras-chave: Atos infracionais, Gênero, Adolescentes em conflito com a lei.
Introdução
1 Universidade Estadual de Ponta Grossa; Mestranda em Gestão do Território, E-mail: [email protected]
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As questões referentes ao menor infrator têm dado origem a muitos estudos e
pesquisas à medida que aumenta a preocupação social acerca do tema, que se mostra atual e
relevante tanto em Palmeira como em todo o País. Através da aprovação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, resultou na criação social do “adolescente em
conflito com a lei”, trazendo novas demandas políticas e jurídicas. Segundo o ECA, as
pessoas menores de dezoito anos não podem receber penalidades criminais como se fossem
adultas, mas elas devem receber medidas socioeducativas, com o objetivo de transformar sua
conduta infracional. O ato infracional cometido por estes adolescentes é definido como “(...) a
conduta descrita como crime ou contravenção penal’’ (ECA, art.103).
Os atos infracionais cometidos por adolescentes tem sido objeto de pesquisa de várias
áreas como a sociologia, antropologia social e também pela geografia. No campo da geografia
se destacam os trabalhos de Teixeira (2007), Chimin Jr (2009) Rossi (2010), Budny (2010),
Gomes (2013) e Rocha (2013).
As cidades de médio e grande porte populacional tem sido mais exploradas do que as
cidades de pequeno porte. Entretanto, tais cidades têm enfrentado dinâmicas infracionais que
são ainda pouco conhecidas do ponto de vista científico. Nesse sentido, Palmeira com 19.376
habitantes residentes na área urbana é uma das cidades consideradas de pequeno porte que
pode servir de estudo específico para compreender a dinâmica das relações entre espaço,
gênero e adolescentes em conflito com a lei.
Materiais e Métodos
A pesquisa desenvolveu-se a partir do levantamento dos processos, junto ao fórum da
Vara da Infância e Juventude da Comarca de Palmeira – PR, entre os anos de 2010 e 2012,
mediante autorização da Excelentíssima juíza Cláudia Sanine Ponich Bosco. Tal recorte
temporal justifica-se pela implantação do Processo Judicial Digital (PROJUDI) em 2010 no
Município de Palmeira, e pelo fato de serem disponibilizados apenas os processos arquivados,
desta forma, optou-se em realizar o levantamento até 2012. Sendo assim, houve a
inviabilidade de explorar o ano 2013 e 2014, visto que ainda continham processos em
andamento.
Foram analisados 146 processos de forma padronizada, sendo levantados os seguintes
dados: gênero, raça, escolaridade, idade, local de moradia, tipos de atos infracionais
cometidos por estes adolescentes e local destas infrações. Este levantamento teve por objetivo
traçar perfis destes sujeitos. Este procedimento incluiu a criação de um banco de dados para
armazenamento das informações dos processos. A criação deste banco de dados possibilitou o
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cruzamento de informações, baseadas em ferramentas de consulta, orientadas a responder aos
objetivos específicos desta pesquisa. Ao final da pesquisa, foi cartografando todas as
informações que foram coletadas em campo, sendo este também material para as análises
geográficas.
Resultados e Discussões
O espaço é um conceito chave da geografia, explorado por diversas correntes
científicas. Segundo Corrêa (1995) em seu livro, Espaço, Um Conceito Chave da Geografia,
afirma que o conceito de espaço ganha projeção na corrente crítica da geográfica na década de
1970, que foi fundamentada no materialismo histórico e na dialética, renovando o pensamento
geográfico, principalmente por permitir o debate sobre espaço, território, assumindo temas
como dominação, controle, exclusão, desigualdade socioespacial, pobreza e vulnerabilidade.
Entretanto vale ressaltar que Corrêa (1995) buscou em Lefébvre a abordagem marxista
de espaço, pelo qual "desempenha um papel ou uma função decisiva na estruturação de uma
totalidade, de uma lógica, de um sistema" (LEFÉBVRE, 1976, p. 25). Onde o espaço passa a
ser concebido como o lócus da reprodução das relações sociais de produção. Isto é,
reprodução da sociedade.
Muitas das ideias de Lefébvre (1976) se aproximam de Milton Santos (2008), onde
colocam o espaço como produto social, construído coletivamente por atores sociais que
possuem intencionalidades. O espaço é a expressão da sociedade que o produz, os espaços
produzidos pela sociedade capitalista moderna vão contribuir então para a manutenção de
toda a desigualdade existente nela, todos os conflitos e contradições, reflexos das relações de
produção e da luta de classes.
Dessa forma os adolescentes, podem ser considerados como um grupo socialmente
construído, ao pensar o adolescente infrator inserido em um sistema que o excluí, em uma
sociedade capitalista, que tem se mostrado incapaz, de incluir as classes sociais menos
favorecidas, características essas de uma sociedade excludente e desigual.
Que do ponto de vista econômico, em condições de acesso aos bens e riquezas
produzidos socialmente, faz com que o adolescente muitas vezes procure no crime, aquilo que
a sociedade afirma que eles devem possuir para serem considerados como parte desta, nesse
sentido, encontrando no crime um lugar de pertencimento, reconhecimento e superação de sua
realidade.
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Ao contrário Massey (2000, p.179), afirma “há muito mais coisas determinando nossa
vivência no espaço do que o capital. Acreditamos que a experiência cotidiana dos lugares
sofra variações de acordo com as características de cada grupo ali presente”.
Sendo assim a autora coloca que diferentes espaços são apropriados de diferentes
formas por diferentes grupos. Desse modo, os adolescentes em conflito com a lei constituem
um grupo, e várias são as características que podem ser levantadas para a compreensão desses
sujeitos, como a renda, a escolaridade, a raça, e também o gênero. Assim, pode-se analisar a
relação entre espaço e adolescentes sob qualquer um desses aspectos, explorando suas
particularidades.
Os resultados apontam que em relação ao gênero, é possível perceber que assim como
numa tendência nacional a predominância de adolescentes infratores é do sexo masculino,
apresentando 84% de adolescentes envolvidos com a prática de ato infracional e 16% do sexo
feminino, considerando: 122 meninos e 24 meninas.
Embora o universo feminino seja bastante inferior do que o masculino, é importante
construir uma visibilidade dessas pessoas e de seus atos. Ao contrapormos nossos resultados a
outras pesquisas de mesmo teor, pode-se constatar este fato, não se exclui a participação
feminina, no entanto, esta é em menor número.
Desta forma podemos entender que gênero é uma categoria ampla, permeada por
relações, por interpretações que não devem estar restritas apenas ao universo feminino, nem
ao masculino. Várias produções científicas sobre adolescentes em conflito com a lei apontam
que o gênero estabelece uma diferença fundamental.
Em estudos anteriores como de Chimim Jr (2009, p.56) em sua dissertação de
mestrado argumenta que o universo masculino é bastante superior ao feminino nos inquéritos
policiais por ele estudados. Segundo o autor “Do total de 1551 adolescentes em conflito com
a lei, registrados nos processos da Delegacia do Adolescente e Anti-tóxico da Policia Civil de
Ponta Grossa no período de 2005 a 2007, 1320 são do sexo masculino, perfazendo 85,1% do
universo de adolescentes”. (CHIMIN, JR 2009, p. 56).
Rossi (2010) explorando os territórios instituídos por adolescentes em conflito com a
lei também aponta para os mesmos diferenciais de gênero detectados por Chimin Jr. (2009):
Em Ponta Grossa, mantém-se o padrão, com 85% dos atendidos pelo sistema
socioeducativo representados pelo sexo masculino e, apenas 15% do sexo
feminino, tal como se evidencia a partir de levantamento sobre os atos infracionais
registrados na Delegacia do Adolescente e Anti- Tóxicos referente ao período de
2005 a 2007. (ROSSI 2010, p. 24).
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Teixeira (2008) por sua vez não exclui a participação feminina mesmo ela estando em
menor número, conforme dados levantados pela autora, em Londrina - Paraná na unidade de
ressocialização do CIAADI (Centro Integrado de Ajuda ao Adolescente Infrator) no período
de 2000 a 2004 dos 910 adolescentes registrados o universo masculino representou 90% e
apenas 10% do sexo feminino.
Embora o universo feminino seja bastante inferior do que o masculino, é importante
entendemos que as relações de gênero não são determinadas pelo sexo masculino ou
feminino, não são determinadas por um fator biológico, são edificadas socialmente. E estão
inscritas nas relações cotidianas, nos mais diferentes espaços, sendo assim os adolescentes em
conflito com a lei estão diretamente relacionados ao gênero como um importante componente
na vulnerabilidade e nas suas ações infracionais
O conceito de gênero procura abranger questões históricas e contemporâneas no que se
refere às relações desiguais entre os homens e mulheres. O termo vem do movimento
feminista, que segundo Joan Scott (1995), gênero é uma categoria de análise sociológica e
histórica que permite compreender as relações sociais que estabelecem saberes para a
diferença sexual, isto é, saberes que dão significados às diferenças corporais e que implicam
numa organização social a partir delas. A autora ainda coloca que o conceito de gênero está
bastante interligado com as relações de poder, já que os papeis de gênero estão hierarquizados
socialmente.
A este propósito, a autora formaliza teoricamente, que as desigualdades sociais não
são somente de classe, de raça/etnia ou de religião, elas trazem a forte marca das relações de
gênero definidas segundo atributos culturais impostos ao masculino e ao feminino.
Sendo assim, a organização social estabelece diferentes normas para sujeitos sociais
que são reconhecidas como papéis de gênero que atribuem diferenças de ação entre homens e
mulheres. Desta forma o gênero pode ser compreendido através de Silva (2009) quando faz
discussões baseadas na obra de Butler (2004), que propõem a compressão de gênero como um
mecanismo criado para regular a existência humana e naturalizar as noções de feminilidades e
de masculinidades”. Para ela a identidade de gênero é construída socialmente por atos
repetitivos, onde a sociedade estabelece os papeis específicos a serem assumidos pelo homem
e pela mulher, como também coloca Faria e Nobre (1997, p 9-10).
As meninas e os meninos desde crianças aprendem a ser homem e mulher. Através
da educação diferenciada recebida em casa por parte da família, em que se impõem
o que deve ser encarado como sendo menina e menino, ficando reforçadas formas
distintas de vestir-se e de comportar-se em que a cor azul é preferencialmente para
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os meninos e a cor rosa para as meninas, as brincadeiras para meninos são de bola
e carrinho e, para as meninas de boneca e casinha, “em que os papéis dos
personagens homens e mulheres são sempre muito diferentes”. (FARIA e NOBRE
1997, P 9-10).
Entretanto Butler (2004) coloca que as normas de gênero são incorporadas pela
sociedade, porém quando são experienciadas sofrem transformações diferentes das impostas
pelas normas padrões e afirma que as normas de gênero não são reproduzidas em sua
plenitude e sim continuamente transformadas e desconstruídas.
No âmbito da geografia, o conceito de gênero foi sendo fortalecida na relação entre
espaço e gênero na década de 80, onde ser homem ou mulher envolve diferentes elementos
indentitarios, dependendo dos locais de vivencia, de acordo com determinados elementos
culturais, sociais e espaciais.
Sendo assim Mcdowel (2000) coloca o gênero como possuindo um significado
simbólico e também um conjunto de relações sociais matérias que estão sempre interligados, a
autora coloca que através do tempo e do espaço foi possível identificar múltiplos atributos e
encontrando diversas definições de feminilidades e de masculinidades, não podendo
classificar uma pessoa sendo somente homem e mulher, desta forma a autora coloca:
O que a sociedade considera um comportamento próprio do homem e da mulher influencia
na idéia que eles mesmos têm do que deve ser masculino e feminino e de qual é a atitude
que corresponde a cada gênero, a pesar das diferencias de classe, idade, raça ou
sexualidade, e estas expectativas e idéias mudam de um lugar e tempo a outro. A noções
praticamente universais, intocáveis e inalteráveis da feminilidade só pode ser possível num
ícone ou imagem como talvez a da Virgem Maria; para todas as demais as idéias
estabelecidas mudam no tempo e no espaço (Mcdowel 2000 p. 21).
Silva (2005, p. 177) por sua vez compreende o gênero como “uma representação e,
enquanto representação, construção social permanentemente renovada, diferenciada local e
temporalmente”. Assim, as atribuições desempenhadas pelo homem e pela mulher no meio
social vão ser experienciadas de forma particular de acordo com determinados espaços.
Segundo Przybysz (2008) o espaço público por exemplo não é vivenciado da mesma
forma, por homens e mulheres, as mulheres se dedicam no âmbito domésticos, a vida privada
e a educação dos filhos, enquanto os homens aos espaços públicos no âmbito da produção,
pois são considerados os provedores do sustento da família.
O poder que se exerce nas relações de gênero é resultante de representações sobre
mulheres e homens, presentes no imaginário social a partir das diferenças biológicas
existentes entre os sexos. Essas representações vão agregando valores, carregado de
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estereótipos que ditam o que é apropriado para mulheres e para homens, influenciando
profundamente, a formação da identidade de gênero.
Neste sentido, os resultados apontam que as adolescentes, quando comparadas com o
grupo de meninos, evidenciam diferenças comportamentais, e de tipificação de atos
infracionais, enquanto as meninas cometem infrações com baixo poder ofensivo, como
ameaça, desacato, lesão corporal os meninos cometem atos mais graves, como porte de
drogas, porte de armas e homicídios, as quais são infrações com pequena representatividade
do universo feminino, como pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1: Tipos de infrações cometidas por adolescentes em conflito com a lei,
segundo sexo na cidade de Palmeira – Paraná entre 2010 – 2012
Fonte: dados coletados nos Processos da Vara da Infância e Juventude da comarca de Palmeira- PR.
Organização própria.
Enquanto os adolescentes do sexo masculino cometeram um total de 122 infrações, as
adolescentes do sexo feminino cometeram 24 infrações no período considerado. Portanto, a
representatividade de infrações cometidas por meninas é bastante inferior.
Entretanto, há uma distinção na concentração de infrações entre os meninos e as
meninas. As meninas, têm a lesão corporal como a infração mais comum, representando 46%
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dos casos, seguido de furto com 17%, ameaça com 13%, desacato e injúria com 8%, e, tráfico
e estupro com 4%.
Já com relação aos meninos, existe uma maior diversificação nas infrações cometidas,
enquanto as meninas têm somente sete tipificações, os meninos apresentam dezoito
tipificações. No entanto, o furto é o mais comum no universo masculino, representando 20%,
o que demonstra a necessidade que esses jovens têm de obter algum tipo de bem material,
seguido de lesão corporal com 14%, dirigir sem habilitação 12%, seguido de roubo com 9%,
uso e porte de drogas com 8%, ameaça com 7%, porte de arma com 6%, e, os demais
representando menos de 6%.
Estes adolescentes têm praticado atos infracionais, em maior número na faixa etária
dos dezessete anos de idade. A esse respeito, destaca-se que é justamente neste período que o
adolescente está se adaptando às transformações psicológicas e físicas, que acarretam ações
que podem ser agressivas e, além disso, está decifrando a sua sexualidade de uma forma geral.
Sem dúvida, eles são pessoas em desenvolvimento.
Estes adolescentes, ao contrário do que a população imagina, são pessoas que têm
acesso à educação, no município de Palmeira os adolescentes em conflito com a lei
registrados no fórum, 46% dos adolescentes do sexo masculino e 75% das adolescentes do
sexo feminino se declaram estudantes no momento em que cometeram as infrações.
Estes dados se diferem do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em
relatório divulgado em 2015, o qual traçou o perfil médio de um jovem infrator no Brasil,
mostra que 51% dos adolescentes infratores não frequentavam a escola. Além disso, há 7%
das meninas que estavam trabalhando em atividades como baba e doméstica. O tipo de
ocupação das adolescentes difere do universo masculino, já que a ocupação comum entre os
adolescentes do sexo masculino está ligada as atividades de servente e diarista representando
11%.
Sendo assim, os locais de moradias dos adolescentes de Palmeira em conflito com a lei
estão em vários pontos da cidade, mas com maior concentração no Bairro Rocio II,
Municipal, e Santa Rosa, os locais de moradia das adolescentes coincidem com as áreas de
moradia dos adolescentes do sexo masculino, conforme Figura 1.
Figura 1: Áreas selecionadas para a pesquisa, conforme a concentração espacial de
moradia de adolescentes em conflito com a lei, no período de 2010-2012.
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Estes bairros caracterizam-se por baixos rendimentos, através da Base de informações
do Censo Demográfico 2010 por setor censitário, evidenciou-se que no bairro Rocio II e Santa
Rosa, cerca de 41% dos rendimentos totais dos domicílios estão entre ½ a 1 salário mínimo.
No Municipal, 35% dos rendimentos estão entre ½ a 1 salário mínimo, seguido de 34% de ¼
a ½ salário mínimo.
Foi possível perceber, que a maioria da renda das famílias é inferior a dois salários
mínimos, além de muitos não terem renda ou a mesma não ser fixa. Isso comprova que a
desigualdade social está atrelada ao crescimento do envolvimento de adolescentes no mundo
do crime, onde os mesmos buscam alternativas ilegais para aumentar seu poder aquisitivo.
Desta forma, é plausível ressaltar que grande parte dos adolescentes, que moram nesses
locais, estão envolvidos em atos infracionais e com baixos rendimentos financeiros. Assim,
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como afirma os trabalhos de Chimin JR (200) Rossi (2010) e Gomes (2013) ao evidenciar que
os jovens de periferias pobres estão suscetíveis a cometer atos infracionais.
As infrações são cometidas, na sua maioria, na região central de Palmeira, é o
principal espaço de influência para adolescentes cometerem algum tipo de infração, sendo a
região da cidade com maior movimentação financeira a partir do comércio, onde detecta-se as
infrações de furto e roubo, as escolas por se localizarem na região central da cidade, também
se caracteriza como um espaço de influência, onde o principal tipo de infração é a lesão
corporal. Ao mesmo tempo detecta-se um número bastante elevado no bairro Rocio I, onde a
principal infração é posse de drogas. Como pode ser observado na Figura 2
Figura 2: Áreas selecionadas para a pesquisa, conforme a concentração espacial de
atos infracionais cometidos por adolescentes em conflito com a lei, no período de 2010-2012.
Com relação às ações infracionais, foi possível identificar que há diferenças
fundamentais na tipificação de ações cometidas pelos adolescentes, e que determinadas
infrações são inexistentes no universo feminino. Com relação aos meninos, as infrações estão
concentradas, grande parte, na região central de Palmeira. Esse é o principal espaço de
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influência para adolescentes cometerem algum tipo de infração, sendo a região da cidade com
maior movimentação financeira a partir do comércio, onde se detecta as infrações de furto e
roubo, também se caracteriza como um espaço de influência, onde o principal tipo de infração
é a lesão corporal. Ao mesmo tempo, detecta-se um número bastante elevado no bairro Rocio
I, onde a principal infração é a posse e uso de drogas, bem como a presença de tráfico.
A maioria das infrações cometidas pelas meninas concentra-se em atos de lesão
corporal, desacato e furto, as quais apresentam uma ação desenvolvida de forma individual e
de maneira isolada. A maior parte dos casos ocorre nos próprios bairros de moradia, fazendo
com que se tenha a invisibilidade dessas ações, as quais caracterizam-se por seu pequeno
potencial ofensivo.
Conclusão
Ao mapear a criminalidade entre adolescentes no município de Palmeira sob o prisma
das relações de gênero ficou evidente que este envolvimento se encontra relacionado às
relações construídas historicamente incorporadas pelo meio social, em que a maior ocorrência
constatada se encontra no sexo masculino com 84% enquanto o sexo feminino o percentual é
de 16 %.
Assim, de acordo com a pesquisa, pode-se destacar que os adolescentes vivem em
áreas caracterizadas por baixos rendimentos. São moradores de bairros da periferia, onde há
pouco acesso aos meios de saúde e educação, e que grande parte dos adolescentes, que moram
nesses locais, estão envolvidos com atos infracionais. Mostrando-se assim, que a desigualdade
social e de oportunidades, a desestruturação das instituições públicas, são fatores que
contribuem para a ocorrência de violência em grupos sociais como o caso dos adolescentes
em conflito com a lei que vivem em determinadas circunstâncias sociais. Dessa forma, o
espaço urbano de Palmeira é vulnerável aos adolescentes estudados nesta pesquisa, o que para
o cometimento de ações infracionais.
Considerando os dados obtidos com a pesquisa, no que concerne ao município de
Palmeira, cabe à sociedade e ao Poder Público desenvolver esforços para implantação de
programas que ressaltem o chamado “ócio criativo” aos menores para que os mesmos possam
compartilhar “trabalho”, estudo e jogos ou lazer, direcionado à educação.
Cumpre ressaltar a importância e a necessidade de ampliar as investigações e
produções específicas sobre o adolescente infrator no meio acadêmico, o que é pouco
explorado, não tendo muitas produções sobre o assunto. Assim defendemos a necessidade de
aproximação da Academia com as Instituições, haja vista que a universidade tem um caráter
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investigativo, na qual sistematiza suas produções e contribui com a sociedade, na medida que
ambas estão dialeticamente articuladas.
Referências
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Ponta Grossa – Paraná. Dissertação de Mestrado, 2009. Universidade Estadual de Ponta
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