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São Borja Edição 3, 13 de agosto 2013 Cultura é debatida na II Conferência municipal em São Borja O programa Nota Fiscal Gaúcha tem pouca visibilidade no município de São Borja O Turismo da Fé Centenário do Escotismo no Rio Grande do Sul recebe homenagem da câmara de vereadores em São Borja

Jornal Matiz

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Na Terceira edição do Jornal Matiz você confere a reportagem sobre a Jornada Mundial da Juventude, que este ano, aconteceu aqui no Brasil. Ainda nesta edição a reportagem sobre o centenário do Escotismo no estado, o programa Nota Fiscal Gaúcha, e a II Conferência Municipal de Cultura em São Borja.

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São BorjaEdição 3,

13 de agosto 2013

Cultura é debatida na II Conferência

municipal em São Borja

O programa Nota Fiscal Gaúcha tem pouca

visibilidade no município de São Borja

O Turismo da FéCentenário do Escotismo

no Rio Grande do Sul recebe homenagem da

câmara de vereadores em São Borja

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Da religião ao turismo, da fé ao comércio

Por Vivian Belochio

Energias positivas, esperança, cura, penitência, adora-ção. Todas as palavras mencionadas anteriormente podem ser relacionadas com a expressão da fé. Mas o que é, mesmo, a fé? Em alguns momentos, ela parece refletir a mistura de sen-timentos, de crenças e de posturas seguidas pela coletivida-de. Noutros, contudo, parece estar relacionada com o respei-to a determinadas regras e padrões de comportamento, que assegurariam o que muitos acreditam ser a salvação do espírito.

A visita do Papa Francisco ao Brasil estimulou novas dis-cussões e reflexões a respeito do significado da fé. Isso numa re-alidade em que muitas pessoas se dizem religiosas, porém não praticantes. No contexto atual, também é visível o fenômeno da multiplicação de religiões, que ganham novos adeptos a cada dia. Como pensar a fé nesse cenário? Será que a igreja católica man-tém a autoridade e a influência historicamente constituídas para influenciar o pensamento sobre a fé na contemporaneidade?

Esta edição do Matiz coloca em destaque questões como as que foram expostas. Partindo do acontecimento que foi a passagem do pontífice no país, expõe o ponto de vis-ta de católicos praticantes e de ateus a respeito da fé, da reli-gião nos dias de hoje. Salienta o poder econômico de even-tos como a Jornada da Juventude. Reflete sobre as possíveis intenções da igreja católica com a realização do referido evento.

Parece que é preciso mais que a tradicional emissão de opiniões e de normas sobre a conduta da sociedade para atrair e manter fiéis. Nos tempos atuais, então, é preciso tocar o pú-blico de maneira diferente, mais aberta, sem imposições base-adas em mitos. É o que fica evidente a partir do depoimento de alguns são-borjenses, que consideram a Jornada da Ju-ventude uma dessas iniciativas. Fica a dúvida sobre o caráter do evento: turismo e/ou religião? Busca da fé ou comércio?

A terceira edição do Matiz também traz matérias sobre as opções de atrações culturais em São Borja. Aborda as inicia-tivas que estão sendo realizadas para viabilizar novos projetos nesse sentido. Destaca, também, o fato de que os cidadãos es-tão insatisfeitos com a realidade atual. Além disso, expõe dados que revelam a falta de informações dos cidadãos sobre a possi-bilidade de auxiliar no combate à sonegação de impostos. Ma-téria sobre a digitalização do cadastro nos programas de doação de notas fiscais pelos consumidores explica essa situação. Por fim, aspectos da história do escotismo são descritos, com ênfa-se no recomeço das atividades do Grupo Iguariaçá, de São Bor-ja. Depois de 20 anos inativo, o grupo retomou seus trabalhos.

Expediente

Direção: Vivian Belochio. Edição: Vivian Belochio.Repórteres: Andressa Dantas, Daniele Kunzler, Manuella Sampaio, Phillipp Gripp, Will Lee.Fotos: Andressa Dantas, Juliano Jaques, Phillipp Gripp.Editores: Daniele Kunzler, Nathalia de Oliveira, Tatiane Bernardo, Thalita Cha-gas.Diagramação: Andressa Dantas, Ludmila Constant, Phillipp Gripp, Tatiane Bernar-do, Tamara Finardi.Identidade Visual: David Kochann.

Edição III do Jornal Matiz, produzido para disciplina de Agência de Notícias II, do Curso de Comunicação Social - Ha-bilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa, Campus São Borja, em parceria com a i4, Agência Experimental de Jornalismo.

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“Agrada-me anunciar, agora, que a sede da próxima Jornada Mundial da Juventu-

de, em 2013, será o Rio do Janeiro”. Foi com essas palavras que, no dia 21 de agosto de 2011, ao concluir a Missa em Madrid (Espa-nha), o Papa Bento XVI anunciou que a Jornada Mundial da Juven-tude, seguinte àquela que estava sendo finalizada, seria na cidade do Rio de Janeiro (Brasil). Após isso, no dia 24 de agosto, durante uma audiência geral, o mesmo Papa divulgou que o lema da próxima Jornada seria o versículo 19, do capítulo 28, do livro

de Mateus: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”.Este ideal norteou a 14ª Jornada entre os dias 23 e 28

de julho, sendo conduzida pelo atual Papa Francis-co, por conta da renúncia ao papado de Bento

XVI, em fevereiro de 2013. Foi a segunda vez que o evento foi realizado num país

da América do Sul, já que, em 1987, a edição do encontro foi realizada

na Argentina (veja a linha do tempo nas próximas pági-

nas).

Qual fé move você?

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Em Roma, no Vaticano, a 1ª JMJ reuniu cerca de 500.000 pessoas e teve o tema Ano Santo da Redenção: uma festa

de esperança.

A 2ª edição da JMJ foi realzada novamente em Roma, no Vaticano, e reuniu cerca de 800.000 pessoas com o tema Ano Internacional da

A 3ª edição da JMJ teve a temática “Assim conhecemos o Amor que Deus tem por nós e confiamos nesse Amor” reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas em Buenos Aires, Argentina.

A história das Jornadas começou em 1984, cria-da pelo Papa João Paulo II, na Praça São Pedro, no Vaticano. O evento, que reúne milhares de católicos do mundo inteiro em cada edição, principalmente os jovens, tem o intuito de promover uma integração en-tre eles para que aprendam ainda mais sobre o cristia-nismo e seus dogmas.

No Rio de Janeiro, o evento reuniu cerca de 3,5 milhões de pessoas. Ficou em segundo lugar entre as edições que mais agruparam peregrinos, perdendo apenas para a 7ª edição, que aconteceu em Manila, Fi-lipinas, contando com uma média de 4 milhões de fi-éis. Estima-se que R$118 milhões foram gastos com o evento, verba que foi custeada pelo Comitê Organiza-dor Local da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013. A prefeitura do RJ e o Estado deram suporte apenas no quesito segurança e saúde dos presentes.

Segundo uma pesquisa realizada por cinco professores e 20 alunos da Faculdade de Turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), em parceria com a Secretaria Estadual de Turismo do RJ, durante a Jornada, o evento rendeu cerca de R$ 1,8 bilhões à capital. Além disso, a pesquisa constatou que 62% dos participantes eram brasileiros, enquanto que, entre es-tes, 18% eram de São Paulo, 8% de Minas Gerais e 7% do Ceará.

O antropólogo e professor de Ciência Política da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Daniel Etcheverry, acredita que o sucesso da Jornada se dá em, em grande parte, porque “um evento como esse é sempre muito divulgado e encorajado, pois movimen-ta a economia e muita gente tira proveito disso. Mas

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A 4ª Jornada foi realizada em Santiago de Compostela (Espanha), reuniu uma média de 800.000 fiéis com o tema “Eu sou o Caminho, a Verdade

e a Vida”.

A 5ª edição reuniu cerca de 1,6 milhão de pessoas em Częstochowa (Polônia), e teve como tema “Vocês receberam o Espírito que os adota como

filhos”.

A 6ª edição teve como temática “Eu vim para que tenham Vida, e a tenham plenamente”, reunindo uma média de 900.000

fiéis em Denver (EUA).

acredito que muita gente recupera um catolicismo an-cestral e esquecido frente a eventos de grande porte. E os jovens... Bom, eu sei que o Brasil teve uma virada conservadora na década de 90 e parte da de 2000, mas penso, também, que muitos sentem o entusiasmo de participar de um evento global e não vivem esse cato-licismo no dia-a-dia”.

No Rio Grande do Sul, alguns grupos se orga-nizaram em suas dioceses para excursões das suas regiões até o RJ, como os 50 fiéis da diocese de Uru-guaiana. Eles participaram durante o fim de semana da Jornada, que você pode conferir na matéria de Re-nan Guerra, no site da Agência i4.

Além destes, um grupo de outros 50 peregri-nos participou de todo o evento pela diocese de Passo Fundo, como o acadêmico do curso de Serviço Social da Unipampa, Nizar Shihadeh, que afirma não ter me-dido esforços para participar da JMJ Rio 2013. “Tinha absoluta certeza de que seria um grande momento e de oportunidade única. Imaginava que a JMJ era mui-to mais do que todas as pessoas me questionavam: ‘vai para ver o Papa?’, eles perguntavam. Mas não era isso, eu tinha consciência de que seria um grande encontro de pessoas de várias nações, culturas e carismas, mas em uma só fé e crença”.

Pesquisa de âmbito mundial, realizada pelo ins-tituto Pew Research, expõe que o cristianismo tem perdido seguidores durante os últimos 100 anos. Nos dois continentes onde a religião possui maior influ-ência, Europa e América, por exemplo, a proporção caiu de 95% para 76% e de 96% para 86% em 2010, respectivamente. O número de ateus também tem au-mentado significativamente no decorrer dos últimos

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A 7ª edição teve o tema “Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio” e reuniu uma média de 4 milhões de pessoas

em Manila, Filipinas.

A 8ª edição reuniu cerca de 1,2 milhão de pessoas em Paris (França), e teve como tema “Mestre, onde moras? Vinde e

vereis”.

A 9ª Jornada foi realizada em Roma, no Vaticano, e reuniu cerca de 2 milhões pessoas com o tema “E o Verbo se fez

Carne e habitou entre nós”.

anos, como mostram as pesquisas de Phil Zucker-man (2007), Richard Lynn (2008) e Elaine Howard Ecklund (2010), que pode vista no infográfico da pá-gina anterior). Com isso, como explica o doutor em Socio-logia, professor da Unipampa Cesar Beras, a Jornada Mundial da Juventude, desde seu início, “busca, tendo uma função que é fundamental para qualquer institui-ção, e para a igreja não seria diferente, potencializar os jovens, até porque a forma de se manter um sentimen-to religioso vivo é tendo pessoas que continuem com ele após as que estão o mantendo vivo hoje morrerem. Logo, a preocupação central da igreja é no sentido de sua renovação”. Neste sentido, foi a própria participação nu-merosa dos jovens que surpreendeu Nizar: “foi o es-pírito de coletividade, a presença maciça da juventude que atendeu um convite da igreja. Hoje, quando mui-to se diz que a igreja está perdendo fiéis e, principal-

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A 10ª edição da JMJ teve a temática “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo”, foi realizada em Toronto, no Canadá, reunindo

cerca de 800.000 fiéis.

A 11ª Jornada foi realizada em Colônia, Alemanha, e reuniu uma média de 1,2 milhão de pessoas com o tema “Viemos

adorá-Lo”.

A 12ª edição reuniu cerca de 600.000 pessoas em Sydney (Austrália), e teve como tema “Recebereis a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis Minhas testemunhas”.

mente, afastando os jovens, que em muitos casos se intitulam ateus, que a juventude não quer nada com nada. A igreja mostrou seu rosto jovem (...). Na Jorna-da, pude presenciar o papel da juventude na socieda-de, tanto na função de manifestantes com muita garra na luta pela garantia de direitos e contra a corrupção quanto a juventude que, com muito orgulho, mostra-va ao mundo sua crença e seu papel social”. Enquanto isso, ateia e também acadêmica de Serviço Social da Unipampa, Lisiane Pohlmann, con-sidera que “é natural que os fiéis estejam emociona-dos, visto que o intuito [da Jornada] é realmente um apelo emocional forte. Os pontos positivos são mais ligados à política, ao turismo e ao fomentar da eco-nomia local, do que qualquer outra coisa. Considero negativo se aproveitar da crença para proclamar pre-conceitos, usar opiniões (e não fatos) para justificar o injustificável”. A Igreja Católica tem se envolvido em várias polêmicas nos últimos anos referentes à sua posição antiquada sobre alguns assuntos, como ser contrária ao aborto e ao casamento homossexual, o que se clas-sifica como uma das justificativas para que a institui-ção venha perdendo um grande número de seguido-

res. Lisiane acredita que “a Igreja adentra no campo da decisão singular, fazendo regulações sociais de uma maneira bastante triste: condenando o que afasta os homens da crença, mas permitindo abusos pelos pró-prios crentes. A exemplo disso, Padre Beto foi real-mente excomungado por ter defendido o casamento igualitário. Mas imagine você que os padres pedófilos não são excomungados. O ‘grande crime’ é ver o ou-tro como uma possibilidade, permitindo que ele tome suas próprias decisões”. A 14ª Jornada Mundial da Juventude também foi marcada por diversas manifestações de grupos contrários à postura da igreja católica referente a tais assuntos. Nizar, que assistiu a algumas e participou de uma contra a corrupção, explica que, como católico, é a favor desses atos. Entretanto, “alguns outros grupos se manifestaram, mas eram grupos muito pequenos e, num determinado momento, acabaram perdendo o foco e começaram a dispersar, não chegando a in-fluenciar diretamente na JMJ”, relata. Grupos de feministas expunham os seios em protestos pelo direito de decidir o que fazer com o próprio corpo e contra o machismo. Além disso, di-versos homossexuais se beijavam, promovendo mani-festações a favor do casamento igualitário. Enquanto isso, os peregrinos da Jornada recebiam bonecos de plástico de fetos humanos em tamanho real ao da sua 12ª semana de gestação, distribuídos pela Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, um movimento que é contrário ao aborto. A intenção era “valorizar o ser humano, desde a fase inicial de sua vida”, de acordo com o presidente da Associação, Humberto Leal Viei-ra. O Papa se declarou a favor das manifestações e ma-nifestantes, dizendo que estes não podem ser manipu-

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A 13ª edição teve o tema “Enraizados e edificados em Cristo... firmes na Fé”, e reuniu uma média de 1,5 milhão de pessoas em Madrid, Espanha.

A 14ª edição da Jornada reuniu cerca de 3,5 milhões de pessoas, no Rio de Janeiro, e teve como temática “Ide e fazei discípulos entre todas as

O Papa Francisco anunciou, no último dia da Jornada Mundial da Juventude 2013, durante a celebração da Missa realizada

na Praia de Copacabana, Zona Sul do RJ, que a próxima edição do evento

será realizada em 2016, em Cracóvia, capital da Polônia, país este que

é terra natal de João Paulo II, o criador da JMJ. A cidade

tem cerca de 850 mil habitantes.

tência singular, possível entre tantas milhões, em uma época determinada e onde olhar para o ser humano é mais importante que olhar para um deus. Não espero uma justiça divina. Espero uma justiça humana, um olhar humano, mãos humanas”. Mas, afinal, como se pode classificar a fé das pessoas? Como se pode definir o que motiva as pesso-as a irem a um evento internacional religioso, como a JMJ? Os participantes do evento de fato seguem à ris-ca todos os princípios morais estabelecidos pelo cris-tianismo? Para o sociólogo Beras, “você pode ser reli-gioso, pode ir na igreja todo domingo e pagar dízimo, mas pode ir na terreira de umbanda, pode frequentar um centro de espiritismo, ou seja, o sentimento reli-gioso é muito mais eclético. Na verdade o que as pes-soas buscam, principalmente num país como o brasil, por sua construção sócio-histórica, é o conforto”. Diversos teóricos, como o jamaicano Stuart Hall e o polonês Zygmunt Bauman, por exemplo, acreditam que estamos vivenciando um momento de pós-modernidade, no qual uma de suas principais ca-racterísticas se evidencia a partir das particularidades que tornam as pessoas únicas, diferenciando-as umas das outras. A partir da condição sócio-cultural pós-moderna se pode pensar que a fé pode ser considerada

um sentimento estabelecido pelo próprio indivíduo para usufruto dele próprio. Logo, participar de um evento religioso internacional, crer ou descrer em um deus, depende do que o deixa de bem consigo mes-mo. É necessário apenas que se estabeleça um critério de respeito com as posições individuais, afinal, para que cada um possa prezar pela ideologia que acredita, precisamos estimar, antes de tudo, pela democracia de um estado laico.

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lados e têm direito de lutar pelo que acreditam. Lisiane, entretanto, vê as manifestações e a posição da instituição católica de forma heterogênea. Ela acredita que “você fez uma escolha e vai sofrer as consequências, não existem deuses ou demônios que nos salvem de nós mesmos. Preciso olhar para o meu semelhante e entender que reparto com ele uma exis-

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Os cem anOs dO escOtismO nO

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Da criação à popularização do movimento

Não há como comemorar o centésimo aniversário do escotismo no Rio Grande do Sul sem reverenciar o idealizador do movimento escotista no mundo: o britânico de aparência sisuda, Robert Baden Powell. Nascido na então Inglaterra dos anos 1857, numa época marcada pela Expansão Colonial da coroa Inglesa em busca de mercados para as suas especiarias. Baden, assim como sua mãe, ingressou para o exército inglês ainda rapaz, e logo aos 26 anos, ocupara o cargo de capitão. Foi esta posição de militar que o fez transitar, até o final de sua vida, aos 83 anos, entre a África e o continente Europeu. Um intelectual que publicou 45 livros, quase todos sobre a ótica do escotismo.Os anos à frente do regime militarista deram preceitos para Powell fundamentar a base do que viria a se tornar o Movimento Escotista. Como na definição do próprio Robert Powell - “O Escotismo é uma escola de cidadania através da destreza e habilidade em assuntos mateiros”. Robert acreditava na construção do caráter do cidadão através atividades lúdicas desenvolvidas por meio de brincadeiras livres que visam o busca pelo prazer.

A Ilha de Brownsea , no canal da mancha, foi palco do primeiro encontro, um esboço do que é hoje o escotismo no mundo. 16 jovens, com faixa etária de 12 a 16 anos, juntaram-se a Robert para dar início ao acampamento que durou cerca 10 dez dias. O movimento não demorou a popularizar-se, e logo chegou ao Brasil, pelo Almirante e jogador da seleção brasileira de futebol

de campo, Benjamim Sodré. O ilustre personagem brasileiro escreveu uma das maiores obras destinada aos admiradores do escotismo, intitulada ‘O guia do escoteiro’.Em São Borja o Grupo leva o nome de ‘Escoteiros Iguariaçá’, uma saudação ao tempo em que se atravessava à balsa, entre as cidades de São Borja e Santo Tomé. Jorge Airton, um dos membros mais antigos do Grupo, conta que este ‘meio’, que é o rio Uruguai, se torna um espaço em comum, no trânsito pessoas e mercadorias, ao tempo que não há distinção de etnias ou classe social. A ideia, segundo ele, é a do rio materializar, na essencial, os conceitos de Powell; ou seja: a pregação do companheirismo, igualdade e lealdade.Jorge ganhou o apelido de chefe porco, dentro do grupo, mas o nome acabou se estendendo e hoje é conhecido na comunidade somente como ‘porco’. Essa identidade foi criada ao longo dos anos por quem faz parte do grupo de escoteiros. Criando um laço de irmandade com os integrantes. Chefe ‘porco’, como assim gosta de ser chamado, guarda um ‘o livro de atos’, que compila as atividades do Grupo Iguariaçá, datado de 03 de maio de 1969. O livro é uma espécie de diário de campo, nele está assinalado todas às atividades desenvolvidas nos acampamentos nas últimas décadas. Quase 60 anos de histórias, quase todas ricas de detalhes. Aqui segue um trecho: “A roda começou às 11h. Foi mais um dia frio e sem sol...

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Era domingo, dia 25. Alvorada Cedo. As patrulhas movimentaram logo as suas atividades. Pela Manhã, por volta das 10hs, largam os “lobos maus”, e em seguida começou a ‘trilha de aventura’. Todos seguindo o Palomêta, e bem agasalhados, correndo pelo mato e campo...” São mais de 300 páginas, com fotos e depoimentos, desenhos e gravuras. O Grupo Iguariaçá, carrega o status de um dos mais antigos Grupos de escotismos do Estado. Iniciou suas atividades no ano de 1931; à frente estava Inocencio Alvez Pedroso, reverendo da Igreja Metodista local. Mas o Grupo só veio ganhar certa notoriedade a partir da vinda da família Pedroso para o município São-Borjense. Foi nesse segundo momento, em 1956, que o movimento local tornou-se mais forte, atraindo uma maior concentração de participantes. Atualmente a equipe São-borjense de escoteiros conta com mais de 80 pessoas envolvidas.

Dentro do Grupo existe uma sub-divisão:

• Dos 11 aos 15 anos leva o nome de lobinho. • Dos 15 aos 18 anos é intitulado de sênior.• Acima dos 18 anos é conhecido como pioneiro e depois chega a chefe.

A chegada de uma data tão representativa para a comunidade escotista no Brasil é seguida de inúmeras manifestações em comemoração ao centenário. Em São Bor-ja acontece no próximo dia 13 de agosto, na câmara dos vereadores, às 19h, uma ho-menagem ao movimento escoteiro, onde contara com a presença de um dos fun-dadores do movimento no município, o senhor Alfredo Borges. Na oportunidade Alfredo receberá uma condecoração em alusão ao mérito de ser um membro fundador.

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Quer CPF na nota?

A pergunta clássica, sobre o interesse do consumidor em doar suas notas fiscais para o governo, é pouco realizada em São Borja. Pesquisa revela que poucos sabem como contribuir com os programas que visam à entrega das notas. Tampouco sabem da digitalização desses processos.

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Foto: Andressa Dantas

Ficou mais fácil para os cidadãos o auxilio ao governo na coleta de notas fiscais emitidas por em-presas. O Rio Grande do Sul, desde agosto de 2012, conta com o programa Nota Fiscal Gaúcha (NFG). Ele visa fomentar a cidadania fiscal, incentivando o consumidor a exigir a inclusão do seu CPF em um prévio cadastro online para concorrer a prêmios. O problema é que, em São Borja, poucas pessoas conhecem essa possibilidade. Um gran-de desafio para as entidades sociais participantes do programa é o trabalho realizado para receber o auxílio das empresas na arrecadação. Segundo a presidente do Asilo São Vicente de Paula, Tanira Rillo, “as pessoas estão se conscientizando aos pou-cos da importância. Muitas ainda não doam as no-tas para ter controle de suas compras”, pondera.Enquete feita com os são-borjenses confirmou a avaliação de Tanira. Fizemos a seguinte pergun-ta: Você conhece o programa Nota Fiscal Gaúcha? De 12 pessoas, apenas duas já tinham ouvido fa-lar, mas não souberam explicar o funcionamento. Antes da implantação do NFG, não havia a possibilidade desse cadastro que identifica os cidadãos que realizam essa ação. As no-tas fiscais somente podiam ser entregues pelos consumidores interessados com as identificações de cada instituição indicada ao benefício. Elas eram trocadas por fichas que permitiam a inclusão em sorteios tri-mestrais de prêmios como televisões e mo-tos, entre outros. Existiam duas possibili-dades: o programa A Nota é Minha, para o beneficiamento dos consumidores e A Nota Solidária, para o apoio a entidades fi-lantrópicas. Todo o cartão trocado acumu-lava pontos em dinheiro para a instituição. O recurso é destinado para me-lhorias em seus estabelecimentos. No ano passado, as cartelas foram extintas, exis-tindo apenas um canal de participação: a NFG via sistema digital. Deste modo, o processo possui mais facilidades, bastan-do, apenas, o cadastro online e a indicação da instituição ganhadora dos pontos. Des-sa forma, o programa tenta ajudar no com-bate da sonegação de tributos como o Im-posto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A ideia é manter os pro-cedimentos das empresas legalizados em relação ao pagamento em dia de tributos. Entidades ligadas à educação, saú-de e desenvolvimento social também rece-bem benefícios. As instituições municipais

que participam através do acúmulo de pontos e indi-cações pelo site da NFG são: o Hospital Ivan Goulart, Asilo, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Centro de Formação Tereza Verzéri e as esco-las Timbaúva e o Colégio Estadual São Borja (CESB). As doações podem ser feitas na hora do pagamento das compras, nos caixas ou em armá-rios próximos, através de urnas de coleta. Elas de-vem ficar expostas em estabelecimentos comer-ciais, identificadas com o nome da instituição. A visualização induz, de forma indireta, a participação. Os benefícios gerados pelo programa de pontos são revertidos em valores pelo governo e re-passados às instituições. Segundo a funcionária da Escola de Educação Especial Ciro Ferreira Aquino (APAE – São Borja), Zeni Teresinha Chaves, o en-vio das notas é um trabalho trimestral, realizado pe-las entidades via internet. Através dessa atividade, são acumulados os registros de aproximadamente

Tanira Rillo trabalha na separação das Notas fiscais13

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três mil notas por lote enviado. A arrecadação é pro-porcional ao número de notas cadastradas. De acor-do com a auxiliar de escritório do Centro de For-mação Tereza Verzeri, Carla Maciel, o repasse dos valores é feito através do Banrisul e é usado para reformas, folha de pagamento e eventuais despesas. A entidade participa desde 2003 da Nota soli-dária e há aproximadamente 6 meses participa do Nota Fiscal Gaúcha. Carla afirma que, com esse novo sistema, ficou mais rápido e fácil para a instituição ser beneficiada.Pessoas da comunidade que têm vínculos ou são sim-patizantes da ação sempre procuram disponibilizar as notas. A aposentada Marilene Pereira é uma delas. “Sempre que compro algo, dôo as notas para a Apae, pois tenho uma neta que é portadora de necessidades

especiais e sei o quanto é importante essa doação”, diz. A presidente do Asilo , Tanira Rillo, diz que se faz necessária a parceria com aproximadamen-te 15 estabelecimentos, com caixas arrecadando no-tas para assistência de aproximadamente 70 idosos.Algumas escolas Estaduais de São Borja, como Timbaúva e CESB, também participam do programa, arrecadando suas notas e acumulando pontos. Segundo a assistente financeira do Colégio Estadual São Borja (CESB), Elia-ne Galle, a escola se cadastrou no programa há pou-co tempo e divulgou no Facebook, buscando doações. O empenho das entidades em disponibi-lizar suas caixinhas nos estabelecimentos comer-ciais do município reflete a importância dos bene-fícios gerados pelo Programa Nota Fiscal Gaúcha.

As doações podem ser feitas na hora do pagamento das compras ou

Nos caixas ou em armários próximos, através de urnas de coleta

Como fazer doações

Localização das urnas

As urnas devem ficar ex-postas em estabelecimentos

comerciais, identificadas com o nome da instituição.

A visualização induz, de forma indireta, a participa-

ção.

• Hospital Ivan Goulart• Asilo São Vicente de Paula• Associação de Pais e Ami-

gos dos Excepcionais (APAE)

• Centro de Formação Tereza Verzéri

• Escola Timbaúva • Colégio Estadual São Borja

(CESB)• Grupo Libertação São Borja

Instituições municipais beneficiadas

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Descontos no IPTU também beneficiam o

município Segundo Souza, a isenção de impos-tos direta, o não reajuste nas avaliações dos imóveis e o valor venal com índices baixíssi-mos acabam prejudicando a arrecadação do município. O beneficio que este pode ter com programas como NFS-e é com a motivação das pessoas para que solicitem as notas fis-cais. Com isso, pode ocorrer a diminuição da sonegação de impostos. Por exemplo, do total do valor de uma nota de 6%, 2% vai para pre-feitura e os outros 4% são do governo fede-ral. Assim, sempre que as notas são emitidas, o município também é beneficiado. Mesmo com o desconto concedido no IPTU median-te a entrega das notas fiscais, a arrecadação não fica comprometida, podendo aumen-tar. Isso à medida que mais empresários se-rão cobrados e precisarão emitir mais notas. Mesmo fazendo parte do Simples Na-cional, que é “um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tribu-tos aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte, previsto na Lei Complemen-tar nº 123, de 14 de dezembro de 2006 “(Fonte: http://www8.receita.fazenda.gov.br/simples-nacional/SobreSimples.aspx), uma parte des-ses valores de tributos permanece nas cidades, mesmo sendo uma arrecadação federal. Nil-son explica: “quanto mais as pessoas ganharem notas de serviços, mais a prefeitura arrecada. Todo programa criado de renúncia há um ganho maior, caso contrário, não compensa”. Esses dois tipos de programas explica-dos acima buscam a diminuição da sonegação de impostos e o favorecimento das empresas participantes do sistema da Nota Fiscal Gaú-cha. Isso envolvendo outros fatores como: benefícios aos consumidores (redução de al-gumas taxas tributárias, premiações), além de doações trimestrais a entidades filantrópicas.

Nota fiscal eletrônica: em São Borja, o benefício é o desconto de até 30% do IPTU de empresas O Município de São Borja criou um siste-ma semelhante ao Nota fiscal Gaúcha. Ele está em funcionamento desde 2012 e está constituído na Lei 4.329/2010. Esta institui a Nota Fiscal de Ser-viços Eletrônica (NFS-e) e dispõe sobre a geração e utilização de créditos tributários para tomado-res de serviços no Município. Este sistema, con-tudo, é direcionado a empresas e beneficia as mes-mas com o abatimento de até 30% do valor pago em Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). O programa consiste em repassar à prefeitura, de forma eletrônica, as notas, somente com o registro da transação vinculada ao nome da empresa beneficiada. Segundo o ex-coordenador do setor tributá-rio da prefeitura, Edison Zappe, que traba-lhou na época da implantação do sistema, as regras para a participação das empresas no pro-grama estão disponíveis no site da prefeitura. Podem participar empresas com notas re-ferentes a serviços prestados para a prefeitura. Os tipos de impostos municipais que podem ser abatidos são: o Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e Imposto Sobre Serviços de Qualquer Na-tureza (ISSQN), de competência dos municípios e do Distrito Federal. Esses dois tipos de impos-tos são de responsabilidade municipal. Os demais são encargos estaduais e federais. De acordo com o economista Nilson Sousa, qualquer tipo de res-sarcimento de taxas tem que ser aprovado pela Câ-mara de Vereadores. O único imposto que pode ser reduzido é o IPTU. No entanto, somente pes-soas jurídicas podem tentar reduzir esse tributo. Qualquer prestador de serviços pode pe-dir a nota fiscal, desde aqueles que oferecem ser-viços como uma simples impressão. As ações nesse sentido, agrupadas, vão somando até che-gar em um percentual que dá o direito a essa em-presa de reduzir seu Imposto Predial Territo-rial Urbano. Parte desses valores são somados, com direito ao abatimento de até 30% do mesmo.

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Novas diretrizes para a cultura em

São Borja

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Cultura: tema amplo e complexo, intrínseco ao nosso dia a dia. Está em todo lugar e pode ser vista e in-terpretada de inúmeras formas. Alguns autores, como Manuel Castells, consideram a cultura como “um conjunto de valores que formam comportamentos e características de uma sociedade”. A cultura também pode ser interpretada de uma forma econômica, quan-do falamos em mercado, ou, ainda, nicho cultural. Desta forma, relacionamos a bases materiais e ideais. A cultura de uma sociedade está relacionada com todos os hábitos, costumes e conhecimentos re-passados ao longo das gerações, significando aquilo que identifica um povo. Partindo desses pressupostos, qual seria a base cultural de São Borja? Esta é uma pergunta que rende muitas pesquisas e é necessário grande aprofundamento para que a sua resposta seja encontrada. No entanto, é perceptível que, na cidade, há uma variedade de traços culturais e que estes, por si só, formam um feixe de várias características locais. Segundo o professor do curso de Relações Públicas da Unipampa, Tiago Martins, São Borja é constituída por um processo de diversas perspectivas culturais. “Vejo, em São Borja, até por estar há três anos aqui, um pro-cesso extremamente dinâmico de diferentes campos sociais procurando estabelecer, usar e criar recursiva-mente uma base cultural. No círculo da pesquisa univer-sitária, existem inúmeros estudos discutindo fronteira e identidade missioneira. Na música e nas artes plás-ticas também é possível perceber produções culturais

no contexto missioneiro. No campo político, inúme-ras ações em torno da Terra dos Presidentes. Ou seja, o que quero dizer é que essa diversi-dade é a própria configuração da cultura local”, afirma. Partindo dessa diversidade, podemos nos pergun-tar: porquê, então, parece que existem tão poucas opções de atrações culturais na cidade? Aí entra-mos em questões mais amplas, citadas no início des-te texto: nicho cultural, mercado e bases materiais.A cultura de que, talvez, parte das pessoas que vem de fora da cidade sente falta, se origina dos espaços, ou seja, espaços culturais dinâmicos. Mais claramente fa-lando, cinemas, teatros, shows, etc. Esses espaços são limitados na cidade. Podem ser encontrados, atual-mente, em outras perspectivas, como por exemplo nos museus. Isso se deve a um aspecto histórico e cultural da cidade, mas também se deve a um déficit de pla-nejamento e investimento no segmento local. Martins considera que “São Borja precisa compreender e apon-

As atrações culturais existentes em São Borja

não atendem às de-mandas da totalidade

da população atual. Uma comissão foi esco-lhida para discutir isso

e elaborar novo projetos nesse sentido.

Professor Tiago Martins foi um dos relatores das discussões realizadas por segmento durante a conferência

Foto: Juliano Jacques

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Membros escolhidos para o Conselho Municipal de Políticas Culturais

• Artes Cênicas (Dança, Teatro e Circo) - Salete Maurer e Miriam Goulart (suplência);• Artes Visuais - Pintores, escultores e artesãos;• Audiovisual (Vídeo, Foto, Som, Rádio e TV) - Cláudio Gottfried e João Batista Correia (suplência)• Culturas Populares (carnaval, manifestações e étnicas culturais) - Clemar Dias e José Norinaldo Tavares (suplência)• Letras (escritores, poetas, autores) - Clemar Dias e José Norinaldo Tavares (suplência);• Memória e Patrimônio (historiadores, museológos, antropólogos) - Izabel Scalco e Ramão Aguilar (suplência)• Artes Visuais: Mikita Cabeleira e Juliano Aquino (suplência);• Música (cantores, compositores, corais, grupos musicais, instrumentistas, arranjadores, bandas, orquestras) - Vantuir Cáceres e Telma Pinto (suplência);• Tradição e Folclore (CTGs, piquetes, centros de folclore, centro nativistas, cultura missioneira) - Carmen Iara Corin• Instituições acadêmicas e um representante da Câmara de Vereadores de São Borja - Muriel Pinto e Mariza Perobelli (suplência).

Juliano Jacques

Grupos de discussão foram formados para debater as novas diretrizes da cultura na cidade

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tar as falhas de mercado e criar alternativas para resol-vê-las. Cada domínio cultural (artes cênicas, dança, artesanato, etc.) deve ser analisado na produção, dis-tribuição e consumo. O artesanato, por exemplo, pode ter consumo e espaços para a distribuição. No entanto, precisa de uma qualificação na produção. A produção cultural precisa ser vista como uma política e todos os agentes culturais precisam participar dessa discussão”. O assunto comentado por Martins foi tam-bém o debatido na II Conferência Municipal de Cultura, que teve como tema “Uma Política de Es-tado para a Cultura: Desafios do Sistema Nacional de Cultura”. Os objetivos principais da conferência, segundo a diretora do Departamento de Assuntos Culturais do município, Viviane Pimenta, são propor estratégias para a consolidação do Sistema Nacio-nal de Cultura, eleger os delegados para representar e a cidade de São Borja na etapa estadual, em Porto Alegre, e eleger os representantes da sociedade civil para representarem o Conselho Municipal de Políti-cas Culturais. No evento, estiveram presentes auto-ridades, artistas locais dos mais diversos segmentos, estudantes e a população são-borjense. A intenção principal das discussões e diretri-zes formuladas durante os dois dias é a elaboração, o acompanhamento e a aplicação das políticas de cultu-ra na cidade de forma participativa. Ou seja, pretende-se que a comunidade em geral e os produtores de bens culturais simbólicos – os artistas locais-, possam, de fato, dialogar sobre os investimentos no que diz respei-to à cultura. A ideia é, de forma coletiva, construir um planejamento condizente com a realidade da cidade.

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Hoje, no Brasil, existem políticas públicas de incenti-vo à cultura. A Lei Rouanet, de abrangência nacional, é uma delas. No entanto, podemos nos perguntar até que ponto estas inciativas, de fato, funcionam e tornam acessíveis os espaços não ocupados pela população. O Sistema Nacional de Cultura também integra esse aporte de medidas estatais. Consiste em um modelo de gestão, criado pelo Ministério da Cultura (MinC), para estimular e integrar as políticas públicas culturais implantadas por governo, estados e municípios. O ob-jetivo do sistema é descentralizar e organizar o desen-volvimento cultural do país, para que todos os proje-tos tenham continuidade, mesmo com a alternância de governos.Viviane Pimenta ressalta a im-portância da participação popu-lar na escolha das diretrizes para a aplicação da verba em âmbito municipal. “Hoje, o conceito de cultura é dividido em três dimen-sões: simbólica, social econômica. Considerando essa estrutura, o cidadão tem espaço de participação, porque o siste-ma age por meio dos conselhos e das conferências, que contam com a participação da sociedade e co-munidade artística para a formulação, acompanha-mento e aplicação das políticas de cultura”, explica.Dentro dessa lógica, foi eleito o Conselho Municipal de Políticas Culturais, através de voto direto, durante a conferência. Ele é composto por quinze membros: cinco membros titulares e seus respectivos suplentes,

indicados pelo Poder Executivo Municipal, sendo um deles o Secretário(a) da Secretaria Municipal de Turismo Cultura e Eventos – SMTCE; dois represen-tantes da Secretaria Municipal de Turismo Cultura e Eventos, sendo um representante do Departamen-to de Assuntos Culturais – DAC e um representante do Departamento de Turismo – DTUR; um membro da Secretaria Municipal de Educação - SMED; um Secretaria Municipal do Planejamento, Orçamento e Projetos – SMPOP; nove membros titulares e seus respectivos suplentes, eleitos pela sociedade civil, com atuação na área cultural no município de São

Borja, eleitos pelo voto direto e no-minal na Conferência Municipal. Na visão do professor Tiago, o even-to teve um caráter importante, de encaminhamento de novas diretri-zes. “O trabalho desenvolvido pela Prefeitura Municipal com a realiza-ção da Conferência parece carregar uma forte preocupação em organi-zar e potencializar a produção cul-

tural de São Borja. Este parece ser uns dos pontos ao longo prazo. São Borja caminha para a organização e o incentivo da cultura local de forma objetiva. Va-mos torcer para que isso se reflita no aumento dos investimentos públicos. No curto prazo, destaco a capacidade de mobilização e motivação que a Con-ferência produziu nos agentes culturais envolvidos no evento. Se isso continuar, a tendência é fortalecer as demais ações propostas na Conferência”, afirma.

Foto: Juliano Jacques

Lei Rouanet

“São Borja caminha para a organização e o

incentivo da cultura local de forma

objetiva.”

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