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www.senge-pr.org.br 1 Novembro/Dezembro de 2009 Jornal do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná Ano 18. Número 102. Novembro/Dezembro de 2009 Muito além do apagão ENERGIA ELÉTRICA Um blecaute que traz à memória os tempos de apagão e racionamento esquenta as trocas de acusações entre presidenciáveis. Enquanto isso, questões de fundo permanecem intocadas: por que pagamos tão cara por uma energia barata para produzir? E como fica a situação dos atingidos pelas barragens? Entrevistas: Roberto D’Araújo, pesquisador do Iuperj Rubens Ghilardi, presidente da Copel Robson Sebastian Formica, coordenador estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens Páginas 3 a 16 Em defesa do engenheiro Copel e Sanepar aprovam Acordos Coletivos de Trabalho Página 17 Participação nos Resultados segue indefinida na Sanepar Assinatura da tarifa básica da telefonia fixa subiu 7.000% desde Plano Real, revela estudo do Dieese Página 19 Veja imagens do jantar promovido pelo Senge-PR para comemorar o Dia do Engenheiro 2010 em Curitiba; evento reuniu mais de 500 pessoas Página 16

Jornal O Engenheiro - Alexsandro Teixeira Ribeiro

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1 Novembro/Dezembro de 2009

Jornal do Sindicato dos Engenheiros no Estado do ParanáAno 18. Número 102. Novembro/Dezembro de 2009

Muito além do apagãoENERGIA ELÉTRICA

Um blecaute que traz à memória os tempos de apagão e racionamento esquenta astrocas de acusações entre presidenciáveis. Enquanto isso, questões de fundo

permanecem intocadas: por que pagamos tão cara por uma energia barata paraproduzir? E como fica a situação dos atingidos pelas barragens?

Entrevistas: Roberto D’Araújo, pesquisador do Iuperj g Rubens Ghilardi, presidente da Copelg Robson Sebastian Formica, coordenador estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens Páginas 3 a 16

Em defesa do engenheirol Copel e Sanepar aprovam

Acordos Coletivos deTrabalho

Página 17

l Participação nosResultados segueindefinida na Sanepar

Assinatura da tarifabásica da telefonia fixasubiu 7.000% desdePlano Real, revela estudodo Dieese

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Veja imagens do jantarpromovido pelo Senge-PRpara comemorar o Dia doEngenheiro 2010 em Curitiba;evento reuniu mais de500 pessoas

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SINDICATO DOS ENGENHEIROSNO ESTADO DO PARANÁ SENGE-PR

Diretor-PresidenteValter FANINIVice-PresidenteErnesto Galvão Ramos de CARVALHODiretor-SecretárioUlisses KANIAKDiretor-Secretário AdjuntoMarcos Valério de Freitas ANDERSENDiretor FinanceiroLÍdio Akio SASAKIDiretor Financeiro AdjuntoJorge Irineu DEMÉTRIO

DiretoresADRIANO Luiz Ceni Riesemberg, Antonio Cezar QuevedoGOULART, CLODOMIRO Onésimo da Silva, Décio José ZUFFO,EDISON Samways Junior, ERASMO Felix Benvenutti Filho,GERALDO Rocha de Barros, GISLENE Lessa, JOÃO GUILHERMEIansen Baptista, Joel KRUGER, José da Encarnação LEITÃO, LuizAntônio CALDANI, MARGIT Hauer, PAULO SIDNEI Carreiro Ferraz,ROLF Gustavo Meyer, ROSANA Scaramella, SANDRA CristinaLins dos Santos, WILSON Uhren

Sede Rua Marechal Deodoro, 630, 22.º andar.Centro Comercial Itália (CCI). CEP 80010-912Tel./fax: (41) 3224 7536. [email protected]

Diretores RegionaisRoberto Menezes MEIRELLES (Campo Mourão)HÉLIO Sabino Deitos (Cascavel)ROGÉRIO Diniz Siqueira (Foz do Iguaçu)ORLEY Jayr Lopes (Francisco Beltrão)WILSON Sachetin Marçal (Londrina)SAMIR Jorge (Maringá)Carlos SCIPIONI (Pato Branco)

Campo Mourão Avenida Capitão Índio Bandeira, 1400,sala 607, Centro, 87300-000.Tel./fax: (44) 3523 7386. [email protected]

Cascavel Rua Paraná, 3056,sala 703, Centro, 85801-000.Tel./fax: (45) 3223 5325. [email protected]

Foz do Iguaçu Rua Almirante Barroso, 1293,loja 9, Centro, 85851-010Tel./fax: (45) 3574 1738. [email protected]

Francisco Beltrão Rua Palmas, 1800,loja D, Centro, 85601-650.Tel./fax: (46) 3523 1531. [email protected]

Londrina Rua Senador Souza Naves, 282,sala 1001, Centro, 86010-170.Tel./fax: (43) 3324 4736. [email protected]

Maringá Travessa Guilherme de Almeida, 36,cj.1304, Centro, 87013-150.Tel./fax: (44) 3227 5150. [email protected]

Pato Branco Rua Guarani, 1444,sala 1, Centro, 85501-050.Tel./fax: (46) 3225 2678. [email protected]

Publicação bimestral do Sindicatodos Engenheiros no Estado do Paraná

Editor responsável Rafael Martins (Reg. Prof. 3.849 PR)

Ilustrações e diagramação Alexsandro Teixeira Ribeiro

Fale conosco [email protected]

Artigos assinados são de responsabilidade dos autores.O Senge-PR permite a reprodução do conteúdo destejornal, desde que a fonte seja citada.

Fotolitos/impressão Reproset

Tiragem 12 mil exemplares

Carta do presidente

Filiado à Federação Interestadual de Sindicatos de EngenheirosO apagão tarifário

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Valter Fanini

Com algum atraso, você tem emmãos esta edição de O Enge-nheiro, atraso que se explica. Des-de que pautamos o tema principaldeste número, a política energéticabrasileira, buscamos ouvir fontesoficiais a respeito. A intenção eraouvir respostas a perguntas que nós,engenheiros, preparamos. Entretan-to, após longa espera, este jornal che-ga aos leitores sem que tenhamos conseguidoqualquer resposta dos órgãos federais respon-sáveis pela questão enérgica nacional. Ou seja,que o Ministério de Minas e Energia (MME),a Empresa de Planejamento Energético (EPE)e a Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel) respondessem a um punhado dequestões elaboradas por engenheiros do setor,componentes da diretoria do Senge-PR, e pornossa Assessoria de Comunicação. É umapena. Ao contrário do que vimos fazendo nasúltimas edições, desta vez publicamos apenasas críticas e os apontamentos de especialistas,sem que haja o necessário contraponto.

É importante lembrarmos que as entre-vistas com o engenheiro eletricista Robertod’Araújo e o presidente da Copel, RubensGhilardi, foram feitas antes do blecaute queatingiu boa parte do Brasil em novembropassado. Portanto, elas não tratam daqueleepisódio, mas apenas do risco de um possívelapagão, similar ao que vivemos em 2001. Épreciso dizer que um blecaute, como o de no-vembro, se deve a alguma falha no sistemaintegrado nacional. Já um apagão como o de2001 deve-se a um desligamento intencionalpor falta de energia suficiente para atender àdemanda.

Todavia, o risco de um novo racionamento,como em 2001, não está exatamente eliminadode nosso horizonte. Ghilardi, por exemplo, vêriscos potenciais, principalmente devidos a umapossível retomada vigorosa do crescimentoeconômico brasileiro, caso o epicentro da criseeconômica tenha ficado no nosso espelhoretrovisor. Se a falta de planejamento e aprivatização de parte considerável do sistemaelétrico brasileiro nos conduziram a um apagãopor falta de energia para suprir a demanda, ébom lembrar que o poder do capital privado— que já se instalara no Sistema à época doracionamento — gerou um apagão bem menoscomentado na mídia. Estamos falando doapagão da lógica tarifária.

Embora tenhamos um parqueprodutor de energia majorita-riamente hidrelétrico, e em grandeparte com investimentos de implan-tação já amortizados, passamos,após as privatizações, a pagar tari-fas condizentes com uma eletrici-dade muito mais cara, como a ge-rada em usinas termoelétricas. Oque explica tal extravagância? A

resposta está nas privatizações. A pressão dosinvestidores em busca de lucros cada vezmaiores inflou as tarifas. Adicione-se a isso o“erro matemático” recentemente descobertona fórmula de reajuste tarifário. E, lembremos,o aumento de tarifas não foi acompanhadode investimentos na mesma proporção. Fenô-meno semelhante, aliás, se observa em diver-sos setores da economia brasileira. Caso, porexemplo, das telecomunicações. Um estudodo Senge-PR e do Dieese constatou que aassinatura básica da telefonia fixa subiu7.000% desde a privatização.

Outro problema que pouco se discute naimprensa brasileira é o dos atingidos pelas bar-ragens. Por isso, abrimos espaço nesta ediçãopara um belo, pungente texto de Antonio CezarQuevedo Goulart, diretor do Sindicato, relatarsuas impressões de audiências públicas quetratam da construção de centrais hidrelétricasno Sudoeste do Paraná. Também entrevista-mos um dos coordenadores do Movimentodos Atingidos por Barragens no Paraná.

Que fique claro que o Senge-PR não seopõe, por princípio, à construção de usinashidrelétricas — por enquanto, a alternativamais econômica e ambientalmente viável paraproduzir energia no Brasil. Mas também nãose pode fechar os olhos ao drama que elasimpõem a centenas de milhares de brasileiros.Expor as bandeiras do MAB, dos atingidos,só irá contribuir para que nosso modelo deprodução de energia se torne também social-mente responsável. Acredito que o Sindicatopode respaldar o Movimento em suas justasreivindicações. É preciso que a energia geradapor novos empreendimentos leve seusbenefícios às comunidades afetadas. Não éisso que, necessariamente, acontece hoje.

Finalmente, aproveito para deixar os votosde um bom 2010 a todos os engenheiros eprofissionais que representamos no Senge-PR. Um grande abraço da diretoria e da equipede profissionais do Sindicato.

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O apagão ocultoEnergia elétrica4

O recente blecaute originado de uma falhano sistema integrado de energia fez com queos holofotes da mídia brasileira se voltassemao sistema elétrico brasileiro. A maciçacobertura da imprensa sobre o caso, entretanto,pouco ou nada tratou das distorções do modeloenergético do País, que tem como principalmatriz geradora as hidrelétricas, mas que cobrados consumidores tarifas desproporcionalmentecaras, como se a eletricidade viesse de usinastermoelétricas.

É o que afirmam, em entrevistas exclusivasao Senge-PR, o engenheiro eletricista RobertoD’Araújo e o presidente da Copel, RubensGhilardi. “Um brasileiro paga emmédia, sem impostos, o dobro doque gasta um morador de Que-bec, no Canadá, já incluídos ostributos. Ou seja — uma famíliapobre do Maranhão gasta 50%a mais que um morador de To-ronto”, afirma D’Araújo, autorde alguns livros sobre o setorelétrico brasileiro.

“Não são os encargos setori-ais nem os subsídios os vi-lões da cara eletrici-dade brasileira. Aresponsabilidade éda decisão de privatizar as empresas, medidaque não agregou um único quilowatt à potênciainstalada no País, mas que deu origem àspressões dos investidores para a elevação dastarifas”, crava Ghilardi.

As duas entrevistas foram feitas antes doblecaute de novembro, que deixou no escuroboa parte do País, a partir de uma falha aindanão esclarecida no sistema elétrico. Não setratou, entretanto, de um apagão com o de 2001— fruto da insuficiência de oferta deeletricidade ante a demanda, contornada com

Enquanto o recente blecaute que deixou no escuro boa parte do Brasil serve decombustível à sucessão presidencial, os verdadeiros problemas do setor elétricobrasileiro seguem sem discussão. Por que pagamos preços de energia geradapor termoelétricas se nossa base de produção são hidrelétricas já amortizadas?E a quem serve a energia produzida por novas usinas, que deixam chagasincontornáveis na vida dos milhares de brasileiros atingidos pelas barragens?

um racionamento imposto à maior parte dosconsumidores.

D’Araújo não crê numa repetição dessecenário. Ghilardi discorda. Para ele, aretomada do crescimento acelerado do Paístraz o risco de um novo apagão. “Ainda que oBrasil escape de um novo racionamento, ocusto financeiro e ambiental disso não seriadesprezível, pois todas as usinas térmicasseriam colocadas no limite de produção”,avalia.

As perguntas apresentadas pelo Senge-PRa D’Araújo e Ghilardi também foram feitasao Ministério das Minas e Energia (MME) eà Agência Nacional de Energia Elétrica(Aneel). Nenhum dos dois as respondeu. AAneel informou que a maior parte das infor-mações teria de partir do MME, e que nãoteria tempo hábil para responder às questõesque lhe cabem. O MME também nãoconseguiu responder a tempo do fechamentodesta edição — bastante postergado de formaa receber tais esclarecimentos. Após o

blecaute de novembro, a assessoria de impren-sa do Ministério sequer respondeu aos emailse telefonemas do Senge-PR.

Esta série de reportagens sobre a energiatambém aborda outro tema que pouca ou ne-nhuma atenção recebe da mídia brasileira —a situação dos desalojados pelas inundaçõesdos reservatórios das hidrelétricas. O Movi-mento de Atingidos por Barragens (MAB)estima que mais de 1 milhão de brasileiros játiveram que deixar suas terras por causa disso.

Embora o presidente Luiz Inácio Lula daSilva (PT) admita que o País tem uma dívida

histórica com os atingidos, as compensaçõesainda são poucas. “Para as empresas deenergia, atingido é só quem tem em seunome a escritura da terra alagada. Des-considera-se os direitos de arrendatários,parceiros, quilombolas, indígenas, assen-tados de reforma agrária, posseiros emeeiros”, argumenta Robson Sebas-tian Formica, coordenador do MAB.

Se são grandes os efeitos sociaisda construção de hidrelétricas, é pre-ciso que a sociedade discuta e definao que será feito da energia produzida,defende ele. “Vemos muitos projetosvoltados basicamente à produção deeletricidade para exportação a regiões

distantes”, lamenta. Enquanto isso, os atingidosvivem dramas pessoais e familiares por vezesincontornáveis, narra Antonio Cezar QuevedoGoulart, diretor do Senge-PR. Ele participoude audiências públicas com milhares depequenos agricultores que vivem às margensdo Rio Chopim, no Sudoeste paranaense.Gente que está prestes a perder a casa, a terrae as raízes por conta de três novas usinashidrelétricas. A conclusão de Goulart é amesma questão proposta pelo MAB: para que,e para quem, irá servir toda a energia produzida?

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“Compramos energia elétricaa preço de termoelétrica”,critica Roberto D’AraujoBrasileiros de regiões pobres pagam duas vezes mais pela eletricidade,sem impostos, que um canadense de Quebec, com impostos, comparaautor de “Setor Elétrico Brasileiro — Uma Aventura Mercantil”, publicadopelo projeto Pensar o Brasil, do Confea

O Brasil é o único país domundo com matrizenergética hidrelétricaque cobra tarifas equi-valentes às de umanação abastecidapor sistemas termoelétricos — que são muitomais caros —, afirma o engenheiro eletricistaRoberto D’Araujo, em entrevista exclusiva aO Engenheiro. Ele é autor do livro “SetorElétrico Brasileiro — Uma AventuraMercantil”, lançado pelo projeto Pensar oBrasil, do Confea. D’Araujo também écoautor de “O Brasil à luz do apagão” e “Areconstrução do setor elétrico brasileiro”.

“Para que se tenha ideia de quanto nosdistanciamos dos países com semelhança namatriz hidráulica, um brasileiro paga emmédia, sem impostos, o dobro do que pagaum morador de Quebec, no Canadá, comimpostos. Um ‘baixa renda’ do Maranhãopaga 50% a mais do que um morador deToronto ou o mesmo que um ‘alta renda’ doTexas”, explica D’Araujo.

“Lógico que a tarifa brasileira é mais baixado que a da Itália ou do Japão, mas há sentidonessa comparação? É correto compararsistemas de produção totalmente distintos?Culpa-se a carga tributária e encargos, masmesmo sem impostos e subsídios, a tarifa éalta para os padrões de renda e para a matrizbrasileira”, critica o estudioso.

“Os principais sistemas com matrizesenergéticas semelhantes à brasileira adotarammodelagem diferente da nossa, caso doCanadá e da maioria dos estados norte-americanos. Sabendo-se que a vida útil deuma hidroelétrica ultrapassa em muito umcontrato de concessão, esses sistemas ainda

são regidos pelo velho regime de serviçopúblico ou serviço pelo custo. Lá, se o serviçoestá sendo prestado a contento, o reguladormantém a concessão, aplicando a tarifa queremunera os ativos não amortizados, sejamprivados ou estatais”, diz.

“É preciso salientar que as agênciasreguladoras americanas têm mais de umséculo de existência e empregam mais de 100mil especialistas. Aqui, as agências sãoclaramente ineficientes e foram imaginadascomo apêndices de um processo de priva-tização feito às pressas. Aqui, se privatizouempresas antes da existência da Aneel. Alegislação que criou esses órgãos só estavapreocupada com os contratos de concessão.Há uma CPI das tarifas no congresso queestá apurando as ineficiências da Aneel nastarifas dos estados brasileiros, e os resultadosparciais são preocupantes”, lamenta D’Arau-jo. “Não foi preciso privatizar empresasestatais e a energia nunca foi tão privada.”

Roberto Pereira D’Araujo é engenheiroeletricista e mestre em Engenharia deSistemas e Controles pela PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro(PUC-Rio). É pós-graduado em Operação ePlanejamento de Sistemas de Energia pelaWaterloo University, do Canadá. Foi chefedo Departamento de Estudos Energéticos ede Mercados de Furnas Centrais Elétricas, ediretor do Instituto de DesenvolvimentoEstratégico do Setor Elétrico (Ilumina) entre1999 e 2004. Atualmente, é professor noMBA da Coppe na área de Petróleo.

Leia a entrevista.

Senge-PR — Poucas estataissobraram no setor depois da passagemAraújo:privatizações são anteriores à regulação do mercado

Arquivo pessoal

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do “tufão neoliberal” pelo País, antes dogoverno Lula. Essas empresas convivemcom uma série de dificuldades: limitaçãopara levantar recursos de financiamento,a referência das empresas privadas, aproibição de participar de algunsprocessos — a Copel não pode entrar noleilão da CTEEP. Por que até hoje se impõeuma gama de restrições às empresaspúblicas? A intenção é privatizá-las?

Roberto Araújo — É verdade que hojenão há a intenção de se privatizar empresaspúblicas. Entretanto, a onda liberalizante dadécada de 90 apenas se “transmutou” naprivatização da energia. Afinal, foi no atualgoverno que o mercado livre se expandiu paracerca de 30% do consumo total do sistemainterligado. Lá há uma enorme falta detransparência. O atual governo tambémmanteve a figura jurídica do produtorindependente de energia, que está livre dasregras do serviço público. Lembre-se tambémque a expansão do sistema está sendo feitaprincipalmente por empresas privadas.Quando há a participação de empresaspúblicas, exige-se a associação minoritária.Pelas queixas dos empresários que entramnos leilões sem a parceria de empresasestatais, elas estão assumindo taxas de retornomuito baixas, o que causaria uma competiçãonão isonômica. Enfim, não foi precisoprivatizar empresas estatais, e a energia nuncafoi tão privada.

Senge-PR — Existe uma ameaçavelada de privatização das estatais, coma revisão das concessões. Há chances deestendê-las sem uma nova licitação?

Araújo — Esse é um dos resquícios domodelo privatizante-mercantil não reformadopelo atual governo. É importante esclarecerque os principais sistemas com matrizesenergéticas semelhantes à brasileira nãoadotaram essa modelagem. Os exemplosmais importantes são o Canadá e a maioriados estados americanos. Evidentemente,sabendo que a vida útil de uma hidroelétricaultrapassa em muito um contrato deconcessão, esses sistemas ainda são regidospelo velho regime de serviço público ouserviço pelo custo. Lá, se o serviço está sendoprestado a contento, o regulador mantém aconcessão aplicando a tarifa que remuneraos ativos não amortizados, sejam privados ouestatais. No caso brasileiro, há uma grandediscordância sobre o que seria necessáriofazer para a prorrogação. Alguns juristasacham que será necessária uma alteraçãona constituição, pois, ironicamente, a carta de1988, considerada por muitos como

“estatizante” além de eliminar o conceito de“justa remuneração”, exige que a concessãoseja feita “sempre por licitação”. Outrosconsideram que a lei 8.987 abre uma brechapara a prorrogação. Acho que é preciso quefiquemos atentos, pois, dados os altos níveistarifários, o governo pode eleger mais umavez as estatais para “pagar o pato”. Assimcomo ocorreu no leilão liquidação de 2004,que resultou em preços ridículos para asestatais federais, agora, pode-se prorrogar asconcessões à custa de uma baixíssimaremuneração das estatais.

Senge-PR — Os aumentos das tarifasnos últimos doze anos foram muito maisaltos que os principais índices de preçosdo Brasil. Quais as medidas necessáriaspara minimizar o impacto do preço daenergia na estrutura de preços dosprodutos e serviços?

Araújo — Muitas foram as razões:indexação pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), (em que 60% dacomposição são preços no atacado, quesofrem grande influência do câmbio; assim,o IGP-M repassa as variações cambiais parao preço das tarifas, o que sustenta a receitaem dólares das concessionárias) reajustestarifários da ordem de 30% por conta daqueda de mercado pós-racionamento,permissão para contratação de usinas dopróprio grupo da distribuidora por preços até120% das tarifas das empresas estatais,obrigadas a descontratar, erros primários nasfórmulas de reajustes apontados pelo Tribunalde Contas da União (TCU) e até hoje nãocorrigidos. Além disso, o modelo mercantilcusta mais caro, mesmo. A própria Inglaterra,

pioneira nessa experiência, tambémreconhece que uma série de custosinexistentes apareceu e as regras ficaramcada vez mais complexas. A maioria dosencargos brasileiros surgiu após a reformade 1995.

Senge-PR — A energia elétrica noBrasil possui um dos menores custos deprodução em relação à outros países, masos encargos setoriais, tributos e subsídiostarifários são dos maiores do mundo,superam 50% da tarifa. Quais medidasdeveriam ser tomadas para uma reduçãogradual?

Araújo — Para que se tenha ideia dequanto nos distanciamos dos países comsemelhança na matriz hidráulica, um brasileiropaga em média, sem impostos, o dobro doque paga um morador de Quebec no Canadá,com impostos. Um “baixa renda” doMaranhão paga 50% a mais do que ummorador de Toronto ou o mesmo que um “altarenda” do Texas. Lógico que a tarifa brasileiraé mais baixa do que a da Itália ou do Japão,mas há sentido nessa comparação? É corretocomparar sistemas de produção totalmentedistintos? Culpa-se a carga tributária eencargos, mas mesmo sem impostos esubsídios, a tarifa é alta para os padrões derenda e para a matriz brasileira. Penso que,para baixar tarifa, seria necessária umaprofunda crítica ao modelo implantado. Nãoacredito que essa reflexão será feita, umavez que a concepção mercantil é uma opçãoideológica do governo.

Senge-PR — Quando se inclui naremuneração tarifária um limite de gastoscom pessoal, cria-se uma interferênciaindireta nas relações trabalhistas dasempresas do setor. Na prática, empresasdemitem e cortam benefícios para seadaptar ao padrão imposto pelo modelo.O custo social e o risco técnico que issocausa são compensados por uma“modicidade tarifária” que sequer temos?

Araújo — Essa é outra realidade herdadapara a qual o governo fecha os olhos. O nívelde terceirização nos serviços públicosconcedidos é alarmante. Na realidade, isso éum sobrecusto para o consumidor, que recebeum serviço pior. Afinal, o serviço de umaconcessionária não se limita à venda deenergia. Existem claros indícios de que ométodo de revisão tarifária via “empresa dereferência” não funciona. Basta analisar oíndice lucro/patrimônio das distribuidoras paraencontrar lucratividades de até 100%.

Senge-PR — O mercado livre seapropria de cerca de 25% da energia

“ Culpa-se a cargatributária e encargos, masmesmo sem impostos esubsídios, a tarifa é alta

para os padrões de renda epara a matriz brasileira.Penso que, para baixar

tarifa, seria necessária umaprofunda crítica ao modeloimplantado. Não acredito

que essa reflexão será feita,uma vez que a concepçãomercantil é uma opção

ideológica do governo ”

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elétrica disponível, a preços muito abaixodos valores de referência dasconcessionárias. Quais medidas poderiamser tomadas para neutralizar odesequilíbrio tarifário atualmenteexistente?

Araújo — Qualquer técnico conhecedordo modelo de operação sabe que, no sistemabrasileiro, há uma enorme probabilidade deque o preço no mercado de curto prazo sesitue em valores baixos. É uma singularidadeligada à nossa natureza tropical. Portanto,quem atua formando “oferta” através decontratos de curto prazo tem grandevantagem. Muitas medidas poderiam sertomadas, como por exemplo, capturar ganhosexcessivos para quem atua nesse segmento.Mas “ganho excessivo” é um conceito ligadoà filosofia de serviço pelo custo.

A ideologia de mercado não aceita talinterferência. Portanto, lamentavelmente, omercado cativo deve continuar patrocinandoindiretamente essa vantagem estruturaltotalmente indevida, pois, afinal, ela advémda exuberância das nossas afluências. Naminha opinião, as usinas podem ser privadas,mas a água e os ganhos que se originam naexuberância das afluências deveriam ser dasociedade.

Senge-PR — O Brasil corre risco deum novo apagão, caso seja retomadoefetivamente o crescimento econômico doPaís?

Araújo — Na realidade, ninguém podedizer que estamos 100% livres deracionamento. O senso comum subestima avariabilidade das afluências brasileiras.Mesmo com a ocorrência de hidrologia crítica,não acredito numa repetição de 2001. Mas ocrescimento econômico não se freia só comracionamento. As tarifas altas também tornamo Brasil uma exceção. Somos o único paíshidroelétrico com tarifas de país termoelétrico.

Senge-PR — Em artigo publicado emedição do jornal O Engenheiro deOutubro/Novembro de 2008, o engenheiroIvo Pugnaloni informa que a Aneel temapenas 12 engenheiros para analisar maisde 27 mil MW em projetos de grandes epequenas hidrelétricas, alguns encalhadoshá mais de cinco anos. Isso é oequivalente a um terço do que o Brasiltem instalado, hoje. Além disso, Pugnalonidiz que a Aneel jamais emitiu um termo deintimação obrigando a construção de umaPequena Central Hidrelétrica autorizada.Por isso, criou-se um mercado paralelode venda de autorizações. Por que issoacontece? O que é possível e preciso fazerpara resolver o problema? Por que a

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Angra 3: com legislação confusa, País deve priorizar térmicas, e não nucleares, como alternativa às hidrelétricas

Acervo Eletrobras Termonuclear

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7 Novembro/Dezembro de 2009

Brasil poderia ter tarifamais baixa do mundo,diz presidente da CopelRubens Ghilardi diz que sistema de pool deenergia puniu estados que, como o Paraná,investiram na produção de energia hidrelétrica.Privatização do sistema elétrico é origem de todoo problema, afirma

A instituição do sistema de pool de ele-tricidade puniu o Paraná e os para-naenses por historicamente tereminvestido na construção de hidre-létricas, afirma o presidente da Co-pel, Rubens Ghilardi. “Em lu-gar de nos beneficiarmos dobaixo custo de produção das usinas que nósmesmos construímos, estamos repartindo essavantagem com os outros estados ajudando adiluir o preço médio da energia vendida parafornecimento pelo pool”, afirma o dirigenteda estatal paranaense de energia ementrevista exclusiva ao Senge-PR.

“Não vejo a questão dos encargossetoriais, os tributos ou mesmo os subsídioscomo os reais vilões da eletricidade brasileiracara. A responsabilidade maior é, sim, dadecisão de privatizar as empresas, medida quenão agregou um único quilowatt à potênciainstalada no País e, como era evidente queiria acontecer, deu origem às pressões dosinvestidores para a elevação das tarifas”,argumenta.

“A vantagem competitiva que o Brasildispunha de ter eletricidade barata obtida dosrios foi perdida, e hoje os brasileiros pagamuma das tarifas mais caras do mundo, maiscara que a de países cuja base de geração étérmica. Isso é incompreensível e inaceitável”,lamenta Ghilardi.

Na origem do problema está aprivatização do sistema elétrico, afirma. “Etão errada quanto a decisão de privatizar foisua implementação sem preparação eplanejamento. Produziu-se um fato novo antesde suas regras e regulamentos estaremprontos”, diz o dirigente da Copel. “Mas o

festival de equívocos praticado nosetor elétrico brasileiro não estariacompleto se não fosse adotado ummodelo operacional absoluta-mente inadequado, semelhante ao

inglês, que no Brasil produziuverdadeiras aberrações.”

“E não devemos nos esquecer que omodelo tarifário foi alterado: de tarifa pelocusto, passamos à tarifa pelo preço. Oresultado foi uma apropriação indevida,criando essa distorção de mercado livre. Sefosse mantida a metodologia de cálculo detarifas utilizado anteriormente, o Brasil teriaa energia elétrica mais barata do mundo, poisa maior parte do seu parque gerador já estáquase que totalmente amortizado”, dizGhilardi.

Leia a entrevista.

Senge-PR — A energia elétrica noBrasil possui um dos menores custos deprodução em relação a outros países, masos encargos setoriais, tributos e subsídiostarifários são dos maiores do mundo,superam 50% da tarifa. Quais medidasdeveriam ser tomadas para uma reduçãogradual?

Rubens Ghilardi — O grande problema,o que originou todas as atuais distorçõestarifárias, foi a decisão equivocada do governoFHC de privatizar as empresas elétricas. Etão errada quanto essa decisão foi o momentoem que ela foi implementada, pois a açãoantecedeu a preparação e o planejamento.Ou seja, produziu-se um fato novo antes desuas regras e regulamentos estarem prontos.Mas o festival de equívocos praticado no setor

burocracia é maior para as hidrelétricasque para as termoelétricas?

Araújo — Dado o tamanho do nossoterritório, a complexidade do sistema e adiversidade de situações regionais, ainsuficiência da equipe da Aneel chega às raiasdo ridículo. Existem estados que ainda nãotêm regulação local e portanto não háconvênios com a Aneel. É preciso salientarque as agências reguladoras americanas têmmais de um século de existência e empregammais de 100 mil especialistas. Aqui, asagências são claramente ineficientes e foramimaginadas como apêndices de um processode privatização feito às pressas. Aqui, seprivatizou empresas antes da existência daAneel. A legislação que criou esses órgãossó estava preocupada com os contratos deconcessão. Há uma CPI das tarifas nocongresso que está apurando as ineficiênciasda Aneel nas tarifas dos estados brasileiros,e os resultados parciais são preocupantes.Não conheço o caso específico das PCH’s,mas conheço a seriedade do engenheiroPugnaloni e reconheço que há todas ascondições para o que ele relata ser verdade.

Senge-PR — A construção de Angra3 é muito questionada, face a outrasalternativas de produção de energiaelétrica. Qual seu posicionamento quantoà utilização da energia nuclear paraprodução de energia elétrica?

Araújo — Essa é a pergunta mais difícilde responder, porque envolve investimentos járealizados em Angra 3 e a confusa questãoambiental. Dada a enorme resistência àconstrução de novas hidroelétricas comreservatório de regularização, acho que vamosprecisar de mais geração térmica.Lamentavelmente, ao imaginar quehidroelétricas são apenas fábricas de kWh,estamos perdendo a oportunidade de integrá-las às realidades locais e, com uma visãopuramente mercantilista, nos confrontando comos previsíveis interesses locais. Se, na atualsituação, a atenção mundial se voltar para aemissão de gases de efeito estufa, as nuclearesestão em vantagem. Mas, diante desse confusoquadro, ainda estamos na estaca zero naconservação e eficiência energética. Porexemplo, classificar eletrodomésticos comletras, como faz o Procel no Brasil, não impedeque um aparelho ineficiente seja adquirido eusado. Japão, Estados Unidos, Austrália eoutros países adotam o Minimum EnergyPerformance Standard, que é uma espécie de“licenciamento” de um produto. Se não tiveruma performance mínima estabelecida efiscalizada, não pode ser comercializado. Essaé a usina mais barata que existe. >>

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>> elétrico brasileiro não estaria completo se nãofosse adotado um modelo operacionalabsolutamente inadequado, o modelo inglês.Na Inglaterra, onde a base da geração deeletricidade é térmica, e não hídrica, ele podeaté funcionar, mas no Brasil produziuverdadeiras aberrações. A maior delas éincentivar a proliferação de termelétricas comelevadíssimo custo de produção que, além doscustos ambientais e do ônus estratégicorepresentado pela dependência do com-bustível, seja gás natural, óleo ou carvão mine-ral, acabam sendo remuneradas via tarifa pe-los consumidores, onerados mesmo que taistermelétricas permaneçam desativadas.

Não vejo a questão dos encargos setoriais,os tributos ou mesmo os subsídios como osreais vilões da eletricidade brasileira cara. Aresponsabilidade maior é, sim, da decisão deprivatizar as empresas, medida que nãoagregou um único quilowatt à potênciainstalada no País e, como era evidente queiria acontecer, deu origem às pressões dosinvestidores para a elevação das tarifas.Nenhum investidor estrangeiro veio ao Brasilpor patriotismo. É lógico que eles queremmáximas taxas de retorno, repatriando seuslucros. Por conta disso, a vantagem com-petitiva que o Brasil dispunha de tereletricidade barata obtida dos rios foi perdida,e hoje os brasileiros pagam uma das tarifasmais caras do mundo, mais cara que a demuitos países cuja base de geração é térmica.Isso é incompreensível e inaceitável.

Senge-PR — Que prejuízos trouxepara o estado do Paraná a obrigação deadesão ao pool, impedindo a CopelDistribuição de comprar direto da CopelGeração?

Ghilardi — A instituição do sistema depool, bem como a adesão compulsória a ele,simplesmente puniu o Paraná e osparanaenses por historicamente tereminvestido na construção de hidrelétricas. Emlugar de nos beneficiarmos do baixo custo deprodução das usinas que nós mesmosconstruímos, estamos repartindo essavantagem com os outros estados ajudando adiluir o preço médio da energia vendida parafornecimento pelo pool. Foi uma grandeinjustiça praticada contra os interesses doParaná, e com a qual o governador RobertoRequião jamais se conformou. Se as usinasda Copel gerassem eletricidade para consumono Paraná e não para esse mercado nacional,certamente a tarifa de energia de seus clientes,que já é a menor do país, seria ainda maisbarata.

O sistema de pool nos obriga, comoempresa geradora, a vender a eletricidade que

produzimos a um único ente e, no momentoseguinte, como empresa distribuidora, acomprar desse ente a eletricidade de queprecisamos para atender aos nossosconsumidores. A diferença verificada entreo mix dos preços pelos quais vendemos anossa produção e o mix dos preços pelos quaiscompramos nossa necessidade é o custo dosistema de pool para o cliente da Copel.

Senge-PR — Existe uma ameaçavelada de privatização das estatais, coma revisão das concessões. Quais as datascríticas? Como o Paraná se prepara paraevitar a perda destas concessões e, porconseguinte, de seu patrimônio?

Ghilardi — A questão do que fazer aotérmino do prazo das concessões que já nãoadmitam renovação ou prorrogação é algoque deve há muito tempo estar tirando o sonodas autoridades do setor elétrico brasileiro.Simplesmente não há uma definição do quedeva ou vá ser feito. Mas quando a primeiraconcessão nessas condições expirar, e issoé, sem trocadilho, mera questão de tempo,será preciso que já exista uma regra. A eladeverão se submeter todos os detentores deconcessão no sistema elétrico, sejam elesagentes públicos ou privados. A Copel estáatenta, acompanhando todas as discussõesem torno do assunto. Estamos prontos paracolaborar com críticas e sugestões. E tambémpara impedir que o interesse dos paranaenses,proprietários da Copel, seja contrariado.

“ O sistema de poolnos obriga, como empresa

geradora, a vender aeletricidade que produzimos

a um único ente e, nomomento seguinte, comoempresa distribuidora, acomprar desse ente aeletricidade de que

precisamos para atenderaos nossos consumidores.

A diferença verificada entreo mix dos preços pelosquais vendemos a nossa

produção e o mix dos preçospelos quais compramos nossa

necessidade é o custodo sistema de pool parao cliente da Copel ”

Arnaldo Alves/AEN

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9 Novembro/Dezembro de 2009

Senge-PR — A Aneel fazdeterminações claras com relação àpolítica salarial e trabalhista do setor? Istoinflui na retirada de benefícios dostrabalhadores? As empresas estãoperdendo sua autonomia em gerenciarrecursos humanos? O custo social e orisco técnico que isso causa sãocompensados por uma “modicidadetarifária” que sequer temos?

Ghilardi — Creio que essa questão nãoesteja sendo claramente entendida. A Aneelnão interfere diretamente na política de saláriosnem na relação de emprego das companhiasdo setor, pois não é seu papel nem tem elapoderes para isso. O que a Aneel faz éestabelecer parâmetros sob a forma da tal“empresa de referência”, ente hipotético queoperaria num determinado mercado com umaestrutura de custos e de pessoal considerada“ideal”, que seria comparada com a estruturade custos e de pessoal da empresa real. Osindicadores que fugirem ao que a Aneelconsiderar razoável em sua empresa de

referência são desconsiderados na cadeia decomposição de custos do serviço e deixamde ser contemplados, ao menos integralmente,na definição da nova tarifa.

Mas o que efetivamente move as relaçõesde trabalho entre empregador e empregadoé a busca do equilíbrio econômico e financeiroda empresa, sem perder de vista arentabilidade adequada para seus acionistase a valorização dos empregados. Da mesmaforma que seria inaceitável promover umaelevação nas tarifas para engordar os ganhosdos acionistas, também não seria razoávelelevar gastos – entre eles, os de pessoal –que pudessem interferir na manutenção dessemencionado equilíbrio.

O ponto a observar é que tudo acaba serefletindo no bolso de quem paga a conta deluz. Não existe mágica. Também é importanteobservar que a Copel de hoje, como empresaestatal preocupada com os seus empregados,não tem planos de demissões visando reduzircustos de pessoal, como a iniciativa privada.Ela já teve, em passado relativamente recente,

quando o número de empregados foi reduzidoà metade, mas a atual gestão veio a recomporo quadro. Hoje, o total de empregados estános mesmos patamares do ano de 1998.

Senge-PR — A Cemig, empresa dosetor mais parecida estruturalmente coma Copel, tem ampliado seus ativos e suaárea de atuação. Por que a Copel temtanta dificuldade em fazer novosinvestimentos?

Ghilardi — Diferentemente da Cemig,a Copel deve ser majoritária em qualquernovo negócio que ela pretenda participar. Essaobrigação foi estabelecida pela Lei Estadual14.286, de 9 de fevereiro de 2004. Claro queisso limita o leque de oportunidades para novosinvestimentos da Copel, mas também garantea primazia do interesse da populaçãoparanaense sobre interesses de qualqueroutra natureza, impedindo que a Companhiavolte a se envolver em parcerias “nebulosas”como as que foram feitas até o ano de 2002.

E mesmo a Cemig, citada como exemplo,não é o melhor parâmetro de boa estratégia>>

Arnaldo Alves/AEN

Hidrelétrica do Fundão, construída pela Copel no Rio Jordão em 2005: atualmente, empresa constrói outro grande empreendimento, a Usina Mauá, no Rio Tibagi, que deve entrar em operação em 2011

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Senge-PR — Poucas estataissobraram no setor depois da passagemdo “tufão neoliberal” pelo País, antes dogoverno Lula. Essas empresas convivemcom uma série de dificuldades — limitaçãopara levantar recursos de financiamento,a referência das empresas privadas, aproibição de participar de algunsprocessos — a Copel não pode entrar noleilão da CTEEP. Por que até hoje se impõeuma gama de restrições às empresaspúblicas? A intenção é privatizá-las?

Ghilardi — O risco de haver uma novaonda privatizante não pode ser descartado,muito embora ele não encontre terrenopropício para adquirir vulto ou vir a sematerializar no atual governo – principalmentedepois dessa crise internacional, onde ficoubastante evidente que o neoliberalismoquebrou empresas e bancos por ser falho oseu princípio básico de que o mercado seautorregula. Penso que as restrições de todaordem feitas no Brasil às empresas estatais,que compunham o receituário demagnificação do superávit primário aplicadona economia brasileira antes da posse dopresidente Lula, foram mantidas como partede um receituário ortodoxo que já produziuos efeitos que deveria produzir e agorapoderia ser flexibilizado.

Tenho comigo, no entanto, a sensação deque existe um certo temor entre os defensoresda chamada “economia de mercado” com odesempenho das estatais, caso todos osagentes possam competir em situação deigualdade. Como uma empresa privadaexplicaria resultados inferiores ou preços mais

elevados que os de uma empresa estatal?Como sustentar o discurso dogmático de queas empresas privadas detêm o monopólio daeficiência operacional, da excelência emgestão e do menor preço?

Quando alguém coloca os olhos sobre umaestatal como a Copel e vê que ela consegueser tudo isso mesmo tendo de competir comum dos braços amarrado, todo esse discursocai por terra. Não vejo razão para odesempenho da Copel piorar quando ela pudercompetir com os dois braços. E quando issoacontecer, certas diferenças que já existemhoje vão ficar bem mais flagrantes.

Senge-PR — O mercado livre seapropria de cerca de 25% da energiaelétrica disponível, a preços muito abaixodos valores de referência dasconcessionárias. Quais medidas poderiamser tomadas para neutralizar odesequilíbrio tarifário atualmenteexistente?

Ghilardi — Eis que retornamos àsquestões mal resolvidas, ou pouco pensadas,pelos formuladores do novo modeloinstitucional do setor elétrico no momento emque escreviam as regras do jogo. Em tese, omercado livre deveria funcionar como ummecanismo de incentivo aos grandesconsumidores, para que buscassemautonomia no suprimento de energia elétrica,em princípio investindo na autoprodução. Masas forças de mercado, que por natureza sãoimediatistas e argentárias, não tardaram atransformar o mercado livre num grandemovimento especulatório para obtenção deelevados ganhos em curto prazo.

em parcerias. Convém notar o casorecentemente noticiado pelo jornal ValorEconômico sobre a compra da TernaParticipações, empresa que atua na área detransmissão: a Cemig ia entrar comominoritária (49%) na compra da Terna,consorciada com a Neoenergia, controladapela espanhola Iberdrola em sociedade coma Previ, que ficaria com 51%. Mas, na últimahora, os espanhóis desistiram do negócio, e aCemig acabou com um problema bilionárionas mãos: ela precisa arranjar rapidamenteum sócio privado que seja majoritário naparceria, sob pena de a Terna, legalmente,virar uma estatal. Só que como estatal, a Terna– ou seja, a Cemig – terá de quitarimediatamente uma dívida de R$ 1,1 bilhãoque tem com o BNDES, que por conta dessasrestrições está impedido de financiarempresas estatais.

Ou seja, se em decorrência da Lei a Copeldeixa de ter absoluta liberdade para investir,por outro lado ela confere à população aconfiança de que os recursos públicosenvolvidos estão sendo investidos em projetosabsolutamente seguros, protegidos contrainteresses especulatórios.

Mas a Copel está ativa e investindo ondeé possível investir. Por exemplo, construindoa Usina Mauá, no Rio Tibagi, colocando emoperação a Linha de Transmissão 230 kVBateias/Pilarzinho e pronta para iniciar aconstrução da Linha de Transmissão 525 kVFoz do Iguaçu/Cascavel Oeste – todosempreendimentos cuja concessão foiarrematada pela Copel em leilões públicos daAneel.

>>

Prefeitura de Foz do Iguaçu

Itaipu Binacional: “Brasil abandona matriz energética que era invejada por todas as nações do mundo e passa a adotar um figurino que é um retrocesso sob o aspecto ambiental”, diz Ghilardi

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11 Novembro/Dezembro de 2009

Não devemos esquecer que o modelotarifário foi alterado: de tarifa pelo custo paratarifa pelo preço. O resultado disso gerou umaapropriação indevida, criando essa distorçãode mercado livre. Se fosse mantida ametodologia de cálculo de tarifas utilizadoanteriormente, o Brasil teria a energia elétricamais barata do mundo, pois a maior parte doseu parque gerador já está quase quetotalmente amortizado. Até recentemente, opreço da eletricidade no mercado livre erabem mais baixo que no mercado regulado.Em lugar de investir noauto-suprimento a so-bra decorrente da eco-nomia feita com acompra de energia nomercado livre, pereni-zando uma vantagemestratégica momentâ-nea e desobrigando osdemais agentes de no-vos aportes na expan-são da geração, o quefizeram os consumido-res livres? Apropria-ram-se dessa verba. Oque acontecerá agoraque a equação se in-verteu, pois não há e-nergia disponível paracontratação no mer-cado livre? Será justopermitir que esses con-sumidores se apropri-em da eletricidade queestá reservada aosconsumidores cativos?Ou a ganância exces-siva e a imprevidênciaserão punidas pelos agentes reguladores como corte no suprimento? Eu diria que asautoridades do setor elétrico estão com umproblema urgente reclamando solução. Ecujas proporções ficam ainda maioresconsiderando-se que esses consumidoreslivres são na maior parte grandes indústrias,de cujo funcionamento dependem milharesde trabalhadores e suas famílias, isso sem falarnas receitas que geram com exportações ecom o pagamento de impostos e tributos.

Senge-PR — O Brasil corre risco deum novo apagão, caso seja retomado ocrescimento econômico do País?

Ghilardi — Sim, o risco existe. E aindaque o Brasil escape de um racionamento, ocusto financeiro e ambiental disso não seránada desprezível, pois, numa situação deracionamento iminente, todas as térmicasdeverão ser despachadas no limite da sua

“ Não devemosesquecer que o modelotarifário foi alterado: detarifa pelo custo paratarifa pelo preço. Oresultado disso gerou

uma apropriaçãoindevida, criando essadistorção de mercado

livre. Se fosse mantida ametodologia de cálculo

de tarifas utilizadoanteriormente, o Brasilteria a energia elétricamais barata do mundo,

pois a maior parte do seuparque gerador já estáquase que totalmente

amortizado. ”

capacidade de produção. O caso é que nãobastassem todas as indefinições einseguranças ainda oferecidas pelaregulamentação do setor, ainda há asdificuldades de ordem ambiental queembaraçam os projetos de construção denovas hidrelétricas.

O que soa incompreensível é os ativistasse importarem menos com o projeto deconstrução de uma nova termelétrica a óleo,exemplo perfeito e acabado de geração deenergia com grandes impactos, do que com

uma hidrelétrica – quetem lá seus impactos, éclaro, mas que além deserem infinitamentemenores, ainda sãocompensados pelosefeitos positivos queproporcionam. Além demuito mais baratas paraa coletividade, as hidre-létricas levam desenvol-vimento e investimen-tos à região de influên-cia. Elas geram oportu-nidades de emprego,melhoram a qualidadede vida das populaçõesribeirinhas, movimen-tam as indústrias demateriais e de equipa-mentos e ainda ajudamna regularização dosrios. Estranhamente, osambientalistas que semostram radicalmentecontra a construção denovas usinas hidrelé-tricas nada dizem diante

da evidência de que a nossa matriz energéticaestá cada vez mais suja, menos sustentável emais dependente de insumos importados.Estamos progressivamente abandonandouma matriz energética que era invejada portodas as nações do mundo pelo seu baixocusto, reduzido impacto e enorme potencialremanescente. Em seu lugar, passamos aadotar um figurino que é um retrocesso sob oaspecto ambiental, uma ameaça sob o aspectoestratégico e um desastre sob o aspectoeconômico.

Também não podemos ignorar que aexpansão da geração hidrelétrica está calcadaem usinas localizadas em regiões como oNorte, cujo relevo não permite a formaçãode reservatórios. Assim, em época de chuvasessas usinas atenderão plenamente omercado, mas em época de seca essa energiaterá de ser substituída por térmicas.

Arnaldo Alves/AEN

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Barragens já desalojarammais de 1 milhão de brasileirosAtingidos lutam por seus direitos em meio à falta de uma legislaçãoespecífica; Movimento de Atingidos por Barragens e Senge-PRcomeçam a discutir atividades em parceria

Pelo menos 2 mil famílias paranaensesdevem perder suas terras com asinundações provocadas por novasusinas hidrelétricas. Mas elaspodem ser muitas mais, afirmaRobson Sebastian Formica,coordenador estadual doMovimento de Atingidos por Barragens(MAB). “Essas 2 mil famílias estão na regiãoSudoeste, próximo a Francisco Beltrão. Porali, apenas no Rio Chopim, há 12 projetos denovas hidrelétricas”, explica.

O Movimento ainda não levantouquantas pessoas correm o mesmo risco emtodo o Estado. Mas os números jáconhecidos impressionam — estima-se quemais de 1 milhão de brasileiros já perderamsuas terras devido às inundações provocadaspelas barragens.

“No lançamento do Plano Safra daAgricultura Familiar, o presidente Lulareconheceu que o Estado brasileiro tem umadívida histórica com os atingidos pelasbarragens. Ainda que ele não tenhaanunciado quaisquer planos, abre-se apossibilidade de definirmos um conceito legaldo que é o atingido. Esse é o grandeproblema, e nossa grande luta, hoje”, dizFormica.

“Para nós, toda pessoa que sofra algumimpacto em função de um empreendimentohidrelétrico é atingida, e tem direito a umacompensação. Para as empresas, porém,atingido é só quem tem em seu nome aescritura da terra alagada pela barragem.Desconsidera-se, então, os direitos dearrendatários, parceiros, quilombolas,indígenas, assentados de reforma agrária,posseiros, meeiros, justamente oscamponeses mais pobres. Essas pessoasacabam engrossando bolsões de pobreza nasperiferias das grandes cidades”, relata.

O MAB também defende mudanças naforma da indenização. Atualmente, ela é pagaem dinheiro ou carta de crédito aos

proprietários de terras. “Lutamos paraque ela seja feita com o reas-sentamento dos atingidos, comcondições de trabalho, assis-tência técnica e infraestrutura,como escola para os filhos e posto

de saúde instalado na região”,afirma Formica. “E há questões que não sãoeconômicas, mas simbólicas — as relaçõesdas pessoas com a região onde nasceram, orio, a terra que é da família há gerações, avizinhança, a comunidade, a igreja, o espaçode lazer. Como se mensurar isso?”

Por ora, faltam leis que definam quais osdireitos dos atingidos — e mesmo quem sãoeles. Formica explica: “há um processo emdiscussão, aprovado pelo Conselho dosPresidentes das Estatais do Setor Elétrico,que aponta alguns avanços no reco-nhecimento dos direitos. Aceita-se, porexemplo, que não apenas quem tem escrituraé atingido. Assim, abre-se espaço para quese reconheçam os direitos de camponesesque não tem a terra documentada.”

Enquanto isso, avançam os processospara instalação de pequenas e médiascentrais hidrelétricas no Sudoesteparanaense. Três já estão licitadas — duaspertencem à Gerdau, gigante do setormetalúrgico. As centrais de Cachoeirinha eSão João terão potência instalada de 105Mwh, somadas. Suas barragens devematingir terras em dois municípios, HonórioSerpa e Clevelândia. Atualmente, osprocessos estão na fase de licenciamentoambiental, com audiências públicas emandamento. Um pouco abaixo no curso domesmo Rio Chopim, Salto Grande irá atingirPato Branco, Coronel Vivida e Itapejarad’Oeste. A Copel, estatal, é sócia majoritáriada hidrelétrica.

“É preciso que a sociedade discuta paraquê e para quem vai a energia produzidapor usinas que sacrificam a vida de tantaspessoas. A energia deve servir ao

MAB

Passeata promovida pelo Movimento em Brasília

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13 Novembro/Dezembro de 2009

Um drama ignorado

Movimento surgiuem 1991, emevento em Brasília

O Movimento de Atingidos porBarragens é uma organização socialinstalada em 16 estados brasileiros. Elesurgiu à partir do 1.º Encontro Nacional deTrabalhadores Atingidos por Barragens,realizado em 1989 em Goiânia (GO).

“O encontro de Goiânia possibilitou oinicio de uma identidade nacional dosatingidos, como uma força social que tinhaas mesmas reivindicações e que lutavacontra os mesmos adversários”, explica ocoordenador estadual Robson SebastianFormica.

Do encontro, foi organizada umaComissão Nacional Provisória, com atarefa de organizar o 1.º CongressoNacional dos Atingidos por Barragens,realizado em 1991 em Brasília. Comdelegados de vários locais do Brasil,fundou-se o MAB, um movimentonacional, popular e autônomo.

No encerramento do congresso,institui-se o dia 14 de março como DiaNacional de Luta Contra as Barragens,anos mais tarde será consolidado comoDia Internacional de Luta Contra asBarragens.

desenvolvimento local e regional, beneficiaras populações atingida e remanescente, osmicro, pequenos e médios empreendimentoslocais, a infraestrutura regional. Mas vemosmuitos projetos voltados basicamente àprodução de energia para exportação aregiões distantes, para produção de matéria-prima ou produtos semi-acabados, voltadosà exportação”, argumenta Formica.

“Também é preciso rever as tarifas.Nossa matriz é majoritariamente hidráulica,mais barata, mas a energia é vendida aoconsumidor final a preço de energia fóssil,padrão petróleo. Para as grandes empresasconsumidoras, há subsídios. Elas pagam atémenos que o preço de custo. Em troca, opequeno consumidor, o povo, paga dastarifas mais altas do mundo. É precisodiscutir esse modelo”, acrescenta. Para isso,MAB e Senge-PR começam a discutiratividades em parceria. Diz Formica —“estamos nos aproximando para ver o quepodemos construir a partir de pontos de vistacomuns”.

Num texto pungente, o engenheiro AntonioCezar Quevedo Goulart , diretor do Senge-PR,narra a situação de milhares de pequenosagricultores que vivem às margens dio RioChopim que estão prestes a perder a casa,a terra e as raízes por conta de novasusinas hidrelétricas

É quase meio-dia.Depois de vários dias de

tempestades, os campos da re-gião estão encharcados, rios eriachos quase a transbordar dosleitos. Há pouca gente nas ruasenlameadas de Pato Branco.Naquele momento, a chuva émansa, mas persistente. Lideran-ças sindicais e de movimentossociais observam o céu carrega-do, preocupados com o mau tempo, que podeatrapalhar a vinda de moradores de comu-nidades afetadas pela construção das usinas noRio Chopim. Fora grande o esforço para mobilizaro povo para esta audiência, e agora a chuvapoderia impedir o acesso dos participantes.

Mas, pouco a pouco, vão chegando osônibus, e o auditório vai sendo tomado poraqueles homens e mulheres de rostos de feiçõesfirmes, a maioria de ascendência europeia,rostos marcados pelo sol do trabalho diário naroça. Eram esperadas 250 pessoas; maisde 500 estão ali, superandoexpectativas e confirmando que ascomunidades compreenderam aimportância de debater o assunto.

Convocada pela FrenteParlamentar de Acom-panhamento aos Processos de Instalações deCentrais Hidrelétricas no Paraná, coordenada pelodeputado estadual Tadeu Veneri (PT), e pelaComissão de Agricultura e pela Comissão de MeioAmbiente da Assembleia Legislativa, a audiênciaé extra-oficial, para o Ministério Público (MP).

Para o Movimento dos Atingidos porBarragens (MAB), essa é uma pré-audiência,convocada para promover um amplo debatepreparatório para as audiências públicas oficiasmarcadas para breve. Para isso, é necessárioque os mora-dores da região afetadaconheçam profun-damente quais as

consequências e os impactos dascentrais hidrelétricas nascomunidades, no meio ambientee na economia da região.

Ao longo de 100 quilômetrosdo Rio Chopim, está prevista aconstrução de doze usinas. As trêsprimeiras já têm concessionáriosdefinidos — duas são do GrupoGerdau e a outra da Copel. É issoque se irá debater na audiência.

Uma ampla mesa coordena os debates.Dela, participam procuradores do MP,deputados, vereadores, associações, sin-dicatos e movimentos sociais. Mas Copel,Gerdau e Instituto Ambiental do Paraná (IAP),lamentavelmente, não aparecem. Oscomponentes da mesa debatem direitos daspessoas atingidas pelas futuras barragens, acompensação dos municípios, aspectosambientais, a disputa entre prefeituras pela

localização da casa de força (que temimplicações tributárias), incertezas

sobre a quantidade de terrasalagadas, desconhecimento deestudos de viabilidade. Algunsdeles, embora defendam aredução dos impactos, têm acautela de não se colocar contra

a construção das usinas.É a partir das intervenções do plenário, onde

estão moradores das comunidades, queaparecem elementos, visões e debates que nós,moradores das cidades, desconhecemos.Ouvem-se relatos de experiências deprofundas mudanças de vida. Gente que viviahá gerações numa localidade e foi arrancadade seu chão, removida para assentamentosdistantes centenas de quilômetros, em terraestranha. Perde-se, assim, toda a referênciade vida. Outros relatam casos de gente quenem isso conseguiu — famílias que tiveram as>>

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terras inundadas mas não conseguiram serreassentadas nem indenizadas. Perderam tudo.Por causas come essa, agricultores relaramcasos de suicídios de gente próxima, de parentes.

Um camponês desabafa, emocionado, quevive na terra que será inundada há mais de 50anos, com dois filhos casados, noras e netos, ereclama o direito a terminar seus dias no chãoem que nasceu e se criou.

Mas as lideranças do MAB relatam que,em reuniões realizadas nos municípios com apopulação que será atingida, a Gerdau já deixouclaro que não pretende reconhecer o direitode reassentamento das famílias. A empresapretende indenizar os atingidos em dinheiro, apartir do preço de mercado das terras.

Ou seja — a Gerdau só quer reconhecer odireito de proprietários de terras. Nesse caso,herdeiros, parceiros, arrendatários, meeiros,funcionários, assentados da reforma agrária,muita gente não terá direito a nada. Umagigantesca agressão aos direitos de gentesimples. E o Movimento lembra alerta queatingido é todo aquele que se sentir prejudicadopela construção da barragem.

Projetos de usinas como as do Rio Chopimvêm sempre escoltados por argumentos fortes,convincentes — desenvolvimento, crescimentoeconômico, necessidade de energia, geraçãode empregos. Fala-se também em moder-nidade, importância da energia elétrica na vidadas pessoas, lembra-se que a hidroeletricidadeé uma energia limpa, renovável.

De fato. Em aspectos puramente técnicos,a hidroeletricidade é fantástica, tem rendimentosuperior a 95% do aproveitamento energético— notável, se comparado aos 30% dastermoelétricas —, com confiabilidade e tempode vida das instalações muito maiores. Acimade tudo, do ponto de vista do capital, o custo deprodução é irrisório.

E nem precisamos falar do aspectoambiental. Do ponto de vista social, viver semenergia elétrica é dar um salto para trás, voltarao século 19. Por isso o apelo e as justificativaspara a instalação desses complexos são tãofortes. Explicam, também, a cautela deautoridades quando tratam do tema.

É necessário compreender o contexto daconstrução dessas usinas. E a análise deve iralém da superfície. A América Latina, e o Brasilem particular, cumprem um papel fundamental,explica Ruy Mauro Marini, em seu “AméricaLatina – Dependência e Integração”.

“Hoje, como ontem, os EstadosUnidos estão interessados emrestabelecer as bases de uma divisãointernacional do trabalho que permitaa plena circulação de mercadorias ecapitais.

A pressão que exercem sobre ospaíses da América Latina vai, assim,no sentido de fomentar o modeloexportador, o que implica, em maiorou menor grau, uma reconversãoprodutiva que não apenas respeite oprincipio da especialização, segundoas vantagens comparativas, mas abramaior espaço ao livre jogo do capital.Na perspectiva desse projeto

neoliberal, começa a desenhar-se ofuturo que o capitalismo internacionalreserva a região: uma América Latinaintegrada ainda mais estreitamente àeconomia mundial, mediante a suatransformação em economiaexportadora de novo tipo, ou seja,uma economia que, ao lado daexploração mais intensiva de seusrecursos naturais, redimensione a suaindústria para torná-la competitiva nomercado externo e complementar aprodução industrial dos grandescentros.Para todos os países da região, isto

implica a destruição de parte do seucapital social, sobretudo na indústria,porque somente ramos com vantagenscomparativas reais ou que absorvamalta tecnologia e grandes massas deinvestimento aparecem como viáveis,nessa nova divisão do trabalho. (…)Para as massas, o preço da

reconversão é o agravamento dasuperexploração do trabalho e ageneralização do desemprego,qualquer que seja a sua forma, comoresultado da destruição de parte docapital social e a rápidamodernização tecnológica.”

A usinas do Rio Chopim, embora pequenas,se comparadas, por exemplo com as do Jiraue Santo Antonio, no Rio Madeira, ou com BeloMonte, no Rio Xingu, se seguem a mesmalógica. Nesse caso, a energia gerada atendeum dos ramos industriais mais competitivos, asiderurgia, que produz para exportação, e cujosos processos são movidos basicamente aenergia elétrica.

O engenheiro Célio Bermman, professoremérito da Universidade de São Paulo (USP),em trabalho recente demonstra de formadetalhada os processos industriaiseletrointensivos e verifica de forma cabal que,muito mais que o consumo residencial, oplanejamento das usinas hidrelétricas édeterminado pela necessidade dos grandescomplexos industriais ligados aos capitaisinternacionais e nacionais. Eles respondem porquase 50% do consumo de energia elétrica noPaís. E mais — não há nenhumacorrespondência em geração de emprego. Sãosetores, como diz Marini, absorvedores de altatecnologia, fortemente automatizados.

A mesma estrutura se repete naagricultura. O latifúndio detém 76% dapropriedade da terra no Brasil, e contaanualmente com 100 bilhões de reais emfinanciamentos para produzir soja, cana-de-açúcar e eucalipto. Enquanto isso, o pequenoagricultor, que tem à disposição apenas 13bilhões de reais e 24% da terra produtiva,fornece 87% da mandioca, 70% do feijão,46% do milho, 58% do leite, 59% dos suínos,50% das aves e 30% dos bovinos que osbrasileiros comem.

O uso social da energia elétrica, tãonecessário, promove mudanças quetranscendem o simples valor econômico. Elesitua-se no marco civilizatório entre o “vivercom luz” e “viver sem luz”, isto é, viver noséculo 21 ou no século 18. Em que pese todaesta potência e alcance social, esse empreen-dimentos se inserem muito mais na lógica dointeresse do capital que na humanitária.

Por isso, o drama das populações atingidaspelas barragens deve ser, fraternalmente, odrama de cada um de nós. Em recente con-versa com representantes do MAB, o presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu adivida histórica do País com um milhão de atin-gidos pelas barragens. Temos, portanto, o deverde compreender melhor este processo, antesde simplesmente nos posicionarmos a favorou contra. Para isso, é preciso que todosentendamos a quem servem esses projetos deusinas, para que não entremos, inocentes, naonda do crescimento e da modernidade.

Afinal, como diz o MAB: para que, e paraquem, serve toda esta energia?

“ Temos, portanto, odever de compreender

melhor este processo, antesde simplesmente nos

posicionarmos a favor oucontra. Para isso, é precisoque todos entendamos a

quem servem esses projetosde usinas, para que nãoentremos, inocentes, naonda do crescimento eda modernidade”

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15 Novembro/Dezembro de 2009

Distribuidoras de energiadestinam menos de 10% desua riqueza aos empregados

Economia4

O economista Fabiano Camargo , da subseção do Dieese no Senge-PR, usa dados da Demonstração de Valor Adicionado para mostrarcomo os trabalhadores ficam com uma parte inexpressiva dosrendimentos que geram para as empresas

A Demonstração de ValorAdicionado (DVA) é o relatóriocontábil que identifica o valor dariqueza gerada por umaentidade, e de que forma essariqueza foi distribuída entre osdiversos atores que influíramdireta ou indiretamente em suageração.

Com essas informações,podemos, por exemplo, verificaro quanto do que é produzido pela empresaestá sendo destinado para recompensar ostrabalhadores pelas atividades que realizam.Além disso, o total do valor adicionadodemonstra em quanto uma empresa contribuipara a economia.

A DVA é dividida em duas partes. A pri-meira apresenta de que forma ocorre a ge-ração da riqueza. A segunda explicacomo a riqueza gerada é distri-buída. Portanto, com as infor-mações da distribuição do valoradicionado, podemos verificaro quanto da riqueza foidestinado para os principais agentes dasempresas, os seus trabalhadores.

Segundo informações de 2008, a riquezagerada pela Cemig, uma das principaisempresas do setor elétrico, foi de R$ 11,7bilhões. Deste montante, apenas 13,52% (R$1,582 bilhão) foram distribuídos entre osempregados.

Ainda assim, é o maior percentual entreas oito empresas selecionadas para estaavaliação. Na Copel, a riqueza gerada atingiuR$ 5,423 bilhões, mas os funcionáriosreceberam somente 10,75% da riqueza

gerada (R$ 583 milhões).Em média, apenas 8,71% dosbilhões de reais gerados pelasoito distribuidoras de energiaelétrica analisadas recom-pensam o trabalho dos fun-cionários.

Os trabalhadores são a baseda sustentação de qualquerempresa. É graças à atividadefísica e intelectual da classe

trabalhadora que o processo produtivo se rea-liza. Sem os trabalhadores, não há produçãonem resultados. Não há, portanto, lucros.

Além disso, é público que os lucros dasempresas do setor elétrico têm aumentadosignificativamente nos últimos anos — emgrande parte devido aos recorrentes aumentos

de tarifas das concessionárias, quesuperam os índices inflacionários.

O Dieese espera que a DVAse constitua em mais um ele-mento fundamental no contextodas negociações coletivas, e nãosó nas dos empregados no setor

elétrico. Afinal, esse demonstrativo podeauxiliar os trabalhadores na busca pormelhores salários e benefícios, aumentandoassim sua participação na riqueza gerada.

Com a valorização dos funcionários,qualquer empresa iria ver uma melhoria emsua gestão. Com trabalhadores mais mo-tivados, até mesmo a produtividade pode serelevada.

Assim, concluímos que a chamadaresponsabilidade social, tão propalada pelasempresas, não deveria ser apenas umdiscurso, mas sim uma prática.

Percentual da riquezagerada distribuída entreos trabalhadores em 2008Empresa Percentual dos empregados

Cemig 13,52

Celesc 11,68

Copel 10,75

Coelce 8,31

Ampla 7,72

Eletropaulo 7,14

CPFL 5,64

Light 4,90

Média 8,71Fonte: Demonstrações contábeis das empresas

Elaboração: Dieese/Subseção Senge-PR

“ Em média,apenas 8,71% dos bilhõesde reais gerados pelasoito distribuidoras de

energia elétricaanalisadas recompensam

o trabalho dosfuncionários. Assim,concluímos que a

chamada responsabilidadesocial, tão propalada

pelas empresas,não deveria ser apenasum discurso, mas sim

uma práticae”

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Confraternização dá inícioà comemoração de75 anos do Senge-PR

Dia do engenheiro4

O Senge-PR realizou no último dia 10de dezembro a confraternização anual doDia do Engenheiro, que este ano dá início àcomemoração do aniversário de 75 anos doSindicato. O evento foi realizado no ClubeDuque de Caxias, no Bacacheri, e contou

O ex-presidente do Senge-PR, Kamal Davi Curi (no centro), recebe um dos seisnetbooks sorteados na festa. À esquerda, o ex-presidente do Sindicato, DanielLopes de Moraes, e o atual, Valter Fanini

Jantar de confraternização do Sindicato reuniu mais de quinhentos associados,familiares e amigos do Sindicato no clube Duque de Caxias. O evento tambémmarca o início da comemoração dos 75 anos do Senge-PR

Ganhadores dos pendrives de dois gibabytes de capacidade personalizadoscom a logomarca dos 75 anos do Senge-PR

Valter Fanini faz a saudação aos convidados: este é o quarto ano consecutivoem que o Senge-PR realiza o já tradicional jantar do Dia do Engenheiro

Fotos: Joka Madruga

com a participação de mais de quinhentosassociados, familiares, convidados e amigosdo Senge-PR.

No jantar, foram entregues certificadose canetas personalizadas aos associadosremidos.

O Sindicato também sorteou seiscomputadores portáteis netbook e vintependrives de 2 gibabytes de capacidade coma logomarca dos 75 anos do Senge-PR. Asdiretorias regionais também promoveramconfraternizações no interior.

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17 Novembro/Dezembro de 2009

Copel: assembleias aprovamproposta para o ACT 2009/10

Em defesa do engenheiro4

Reajuste de 4,45% repõe a inflação medida pelo INPC; aumento realé de 0,5%, além de estágio de 1%. Trabalhadores também terão reajustede 7,2% no auxílio-alimentação, que passa a valer R$ 536

As assembleias realizadas pelo ColetivoSindical da Copel aprovaram o AcordoColetivo de Trabalho 2009/10. A propostaaprovada prevê reajuste de 4,45%, que repõea inflação medida pelo Índice Nacional dePreços ao Consumidor (INPC), aumento realde 0,5% e estágio de 1%.

Além disso, os trabalhadores terão direitoao reajuste de 7,2% no auxílio-alimentação,que passa a valer R$ 536 e correção dosdemais benefícios (auxílios creche,educação, etc.) segundo o INPC.

“Apesar de a empresa ter voltado atrásno caráter discriminatório da primeiraproposta, que beneficiava apenas umaparcela dos trabalhadores da empresa, estálonge de atender as principais demandas dosengenheiros, como o piso profissional quesegue desrespeitando. Infelizmente, a maiorempregadora de engenheiros do estado doParaná não valoriza a força de trabalho que

tem, responsável pela excelência demons-trada tão bem na noite de 10 de novembro,quando os consumidores de nosso estadosentiram apenas uma piscada enquantogrande parte do país se encontrava àsescuras durante horas. Infelizmente, a Copelprefere descumprir a lei e assumir passivostrabalhistas, e acabará pagando muito maiscaro na justiça, além de perder profissionaiscapacitados para o mercado”, avalia UlissesKaniak, diretor-secretário do Senge-PR, umdos sindicatos do Coletivo.

Em decisão de mérito, Justiçareafirma que Copel não pode demitir

A Justiça do Trabalho ratificou a liminar(decisão provisória) que impede a Copel dedemitir empregados aposentados. Asentença é uma decisão de mérito, ou seja,que analisa o objeto da ação. O juiz doTrabalho Mauro César Soares Pacheco

escreve que “reconheço terem as requeridas(a Copel) tentado praticar ato discriminatóriocontra seus empregados aposentados ou queviessem a se aposentar, uma vez quetentaram utilizar como critério dedesligamento o fato de estarem usufruindode um direito constitucional.”

“É uma vitória a ser comemorada”, diz aadvogada Adriana Frazão da Silva, do escri-tório Societá Advogados Associados. Ela e aassessora jurídica do Senge-PR, a advogadaGiani Amorim, trabalharam na ação quegarantiu a liminar e a decisão de mérito do juizSoares Pacheco, proferida no último dia 6 denovembro. A ação foi impetrada em nome doSenge-PR e das demais entidades do ColetivoSindical. “A Justiça apenas confirma o que játentáramos explicar à Copel — que o plano dedemissões era discriminatório e ilegal. É umavitória do bom senso ante um estilo arbitráriode tomar decisões”, afirma Kaniak.

Engenheiros da Sanepar aprovam Acordo, masparticipação nos resultados segue indefinida

Os engenheiros da Sanepar aprovaram aproposta da empresa para o Acordo Coletivode Trabalho 2009/10 em assembleiasrealizadas pelo Senge-PR e pelo Sindicatodos Desenhistas (Sindespar) em Curitiba,Cascavel, Maringá e Londrina.

Ao todo, 185 engenheiros e desenhistasda Sanepar participaram — os quais 164aprovaram a proposta, 19 a recusaram e umanulou o voto.

Os saneparianos também aprovaram apauta de reivindicações para o AcordoColetivo de Trabalho 2010/11, e a negociaçãoem conjunto com os sindicatos das categoriasdiferenciadas da Sanepar.

Os engenheiros e desenhistas aindaaprovaram a taxa de assistência referenteaos gastos dos Sindicatos durante a campanhade negociação.

O valor, um trinta avos do salário sem aaplicação do reajuste obtido no ACT 2009/10, será cobrado apenas dos profissionais quenão são associados aos Sindicatos.

Em outubro, o governador RobertoRequião prometeu que a Sanepar pagará oPrograma de Participação nos Resultados(PPR) 2008 a seus empregados.

O anúncio foi feito poucos dias após ogovernador receber carta dos sindicatos dascategorias diferentes da Sanepar solicitando

audiência para discutir o pagamento. Entre-tanto, Requião quer que a Sanepar pague oPPR de forma linear, o que fere acordo ce-lebrado entre os sindicatos e a empresa.

Desde maio, o Senge-PR e demaisSindicatos de categorias diferenciadas daSanepar vêm procurando a empresa paradiscutir o pagamento do PPR, sem avanços.

Após inúmeras tentativas, a Saneparalegou que dívidas com o Estado a impedialegalmente de pagar o programa.

A pedido dos Sindicatos, o Dieese elaborouum estudo que deixa claro que não existe taldívida, pois ela não consta do balanço de 2008da Sanepar.

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Contribuição sindical: entenda, eveja porque vale a pena ser associado

Em defesa do engenheiro4

CLT diz que todos os trabalhadores devem pagar a contribuição;para associados ao Senge-PR, ela não custa nada

O Sindicato dos Engenheiros no Estado doParaná (Senge-PR) enviou à casa dos enge-nheiros não-associados, pelo correio, a guiapara recolhimento da contribuição sindicalobrigatória. A Consolidação das Leis doTrabalho (CLT) determina que todo empregadodeve pagar a contribuição sindical. Segundo aCLT, o trabalhador deve pagar o valorcorrespondente a um dia de trabalho por anoao sindicato que representa sua categoria.

O Senge-PR cobra o menor valor possívelpara a contribuição sindical. Ele é definido apartir do piso salarial profissional, o menorsalário que pode ser pago aos engenheiros.

Seguindo orientação da Federação Inte-restadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisen-ge), à qual é filiado, o Senge-PR passa a adotaro valor de oito vezes e meia o salário-mínimovigente em 2009 para o piso profissional nocálculo da contribuição sindical. Assim, ela irácustar R$ 131,75 em 2010, valor corres-pondente a um trinta avos de oito salários-mínimos e meio.

A contribuição deve ser paga até o últimodia útil de fevereiro. Se você não quitar a guiaaté lá, sua empresa irá descontar um dia deseu salário em março de 2010 para recolher acontribuição sindical obrigatória.

Logo, se você tem um salário superior aopiso profissional, que atualmente é de R$ 4.185,irá economizar pagando os R$ 131,75 definidospelo Senge-PR. Se, entretanto, você ganhamenos que isso, seu empregador descumprea lei. Procure o Senge-PR para resolver essasituação.

Fique atento às datas e prazos depagamento. Para evitar duplo pagamento,informe o setor de Recursos Humanos da suaempresa que você quitou sua contribuiçãosindical. Basta levar o recibo de pagamentoda guia do Senge-PR.

Lembre-se que pagar a contribuição sindicalao Senge-PR não signfica que você ésindicalizado. Para isso, é preciso ser associado,participar da instituição que defende você, osseus direitos, a profissão que você exerce.

É possível não pagara contribuição sindical obrigatória?

Sim. O Senge-PR lhe oferece essa oportu-nidade. Para isso, basta se associar ao Sin-dicato. Engenheiros associados estão livres dacontribuição sindical. Ao se tornar associado,o Senge-PR passa a pagar essa conta paravocê. Ser associado traz uma série devantagens — descontos em assistência jurídicaem todas as áreas, inclusive trabalhista,convênios com clínicas médicas e diversasempresas, bolsa de currículos e oportunidadesde trabalho.

Tudo isso custa pouco mais que acontribuição sindical obrigatória. Se associarao Senge-PR irá custar R$ 26,72 por mês em2010. E, se você se associar agora, nãoprecisará pagar a contribuição sindicalobrigatória que vence em fevereiro. O Senge-PR paga a contribuição sindical de todos osengenheiros celetistas associados.

Faça a conta. A anuidade do Senge-PRem 2010 para engenheiros celetistas custa R$294,95, com o desconto de 8% para opagamento à vista.

Descontada a contribuição sindicalobrigatória de R$ 131,75, os associado pagamapenas R$ 163,20 — o equivalente a R$ 13,60por mês. Para estatutários e autônomos, aanuidade custa R$ 258 para pagamento à vista.Aposentados pagam ainda menos — R$ 129,com o abatimento de 8%.

Representar os engenheiros, lutar por seusdireitos e interesses, é a razão de existir doSenge-PR. Nas duas últimas décadas, oSindicato se consolidou pela força quedemonstra nas discussões por respeito aosprofissionais e suas condições de trabalho.

Com firmeza e determinação, o Senge-PRparticipa de negociações com empresas, buscaacordos e convenções coletivas de trabalho,defende remunerações dignas aos engenheirosque prestam serviços como autônomos.

Além disso, o Sindicato é o espaço departicipação política dos engenheiros. Assim,tem posições firmes, decididas, em favor dajustiça, da solidariedade, da ética na política, dasoberania do Estado nacional.

O Senge-PR condena as privatizações emsetores estratégicos da economia e luta pelamanutenção do emprego, da liberdade deexpressão e por todas as causas que resultemno desenvolvimento da cidadania.

A força do Senge-PR vem da participaçãoe da dedicação dos engenheiros. Assim, suaparticipação fortalece o Sindicato e a defesada sua profissão, traz novas ideias para osdesafios que enfrentaremos agora e nofuturo. Participe. Associe-se ao Senge-PR.

Fortaleça quem lutapor você. Nas ARTs,marque o código 201

A Anotação de ResponsabilidadeTécnica (ART) é obrigatória na execu-ção de qualquer obra, atividade, projetoou serviço executado nas áreas de En-genharia, Arquitetura e da Agronomia.A taxa da ART é dividida entre o Con-selho, a Mútua de Assistência dos Pro-fissionais de Engenharia, Arquitetura ede Agronomia e a entidade de classeindicada por você.

Ao preencher suas ARTs, vocêpode marcar o código 201 no campoEntidade de Classe. Assim, escolhe oSenge-PR para receber a porcentagemdestinada à entidade de classe.

O dinheiro da ART ajuda afortalecer o o Sindicato que representavocê e sua profissão, contribui com amanutenção de um trabalho quebeneficia os engenheiros e aengenharia. Atualmente, os optantespelo código 201 são apenas 5% dosemitentes de ART do Crea-PR.Quando preencher uma ART, não seesqueça de optar pelo código 201.

O Senge-PR agradece.

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19 Novembro/Dezembro de 2009

Assinatura básica de telefonia fixa subiuquase 7.000% desde o Plano Real

O preço da assinatura básica da telefoniafixa aumentou quase 7.000% desde olançamento do Plano Real, em 1994, revelaestudo realizado pela subseção do Dieese noSindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná(Senge-PR). Uma assinatura básica residencialcustava 6.986,89% mais caro em setembropassado que em julho de 94. No período, ainflação medida pelo INPC cresceu 256,93%.

A causa principal dos aumentos é aprivatização no setor — boa parte dos reajutesveio após a venda do sistema Telebrás, em1998. E mesmo os aumentos anteriores à venda(como o reajuste de 270% autorizado em 1997)tinham como justificativa “preparar o setor paraa privatização, tornando-o atraente aosinvestidores internacionais”.

A conclusão faz parte do estudo “Tarifaspúblicas como fatores de concentração derenda: análise das tarifas de telefonia fixa”,elaborado pelos economistas FabianoCamargo, da subseção do DepartamentoIntersindical de Estatísticas e EstudosSocioeconômicos (Dieese) no Senge-PR, eSandro Silva, do Dieese. O trabalho foi

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Estudo realizado pela subseção do Dieese no Senge-PR mostraque brasileiros pagam uma das tarifas mais caras entre os Bricse uma das mais altas da América Latina

divulgado em novembro, em entrevista coletivaque Fabiano, o supervisor regional do Dieese,Cid Cordeiro, e o presidente do Senge-PR,Valter Fanini, concederam em Curitiba.

“Serviços públicos essenciais, como o detelefonia, deveriam ser acessíveis a todos,promovendo o acesso da sociedade aosbenefícios da tecnologia da informação. O quese vê, na prática, é exatamente o contrário —há dificuldade de acesso da população maiscarente aos serviços de telecomunicações”,argumenta o estudo.

“Numa comparação com o período anteriorà privatização, vemos que o custo de aquisiçãode uma linha era elevado, mas dava direito aações das empresas, e a assinatura custavamais barato. Hoje, apesar do custo de aquisiçãode uma linha ser baixo, os consumidoresacabam tendo um custo fixo (assinatura) evariável (pulso/minutos) muito elevado emcomparação à inflação e ao poder aquisitivoda população. Nota-se também um aumentodo peso do telefone fixo no orçamento familiardo brasileiro, tendo como parâmetro o IPCA”,avaliam os economistas.

Em defesa da sociedade

Posição ruim no panorama globalO estudo também analisou dados da União

Internacional de Telecomunicações (UIT),divulgado em março, que analisa o nível dedesenvolvimento das comunicações e datecnologia da informação em 150 países.

No ranking mundial do segmento em 2007,o Brasil ficou no 60.° lugar, atrás de paísescomo Cingapura, Estônia, Lituânia, Argentina,Chile, Uruguai, Rússia, Ucrânia, Jamaica,Arábia Saudita, Trinidad e Tobago, Bósnia eTurquia. No ranking de 2002, o Brasil estavana 54.ª posição — ou seja, em cinco anosperdemos seis posições.

Entre outros indicadores, o estudo analisaem quanto os serviços de telecomunicaçõescomprometem a renda da população. Segundoa UIT, em 2008 o brasileiro comprometia emmédia 5,9% da sua renda com um pacotebásico de telefonia fixa, o que colocava o Paísna 113.ª posição numa escala crescente decusto que avalia 150 países. “Portanto, estamosentre as 40 nações de maior comprometimentoda renda com telefonia fixa, pois temos a 38.ªtarifa que mais compromete a renda de seushabitantes”, lamenta o estudo.

Nesta classificação, o Brasil fica a frenteapenas de nações de menor grau dedesenvolvimento econômico, cujas populaçõescomprometem um elevado percentual de suascestas de consumo com telecomunicações,caso de Nicarágua (6,2%), Angola (9,5%),Marrocos (14,6%), Bolívia (21,65) eMadagascar (68,5%).

“Além do aumento dos preços e das tarifas,os usuários dos serviços de telecomunicaçõesconvivem com a redução da qualidade dosserviços prestados. As operadoras de telefoniasão líderes em reclamações nos órgãos dedefesa do consumidor. Some-se a isso aprecarização na condições no mercado detrabalho dos empregados do setor, com quedasignificativa dos rendimentos médios reais nosúltimos anos”, afirmam os economistas.

Valter Fanini, Cid Cordeiro e Fabiano Camargo durante a entrevista que apresentou o estudo, na sede do Senge-PR

Alexsandro Teixeira Ribeiro

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ETIQUETAREMETENTE:

Sindicato dos Engenheiros no Estado do ParanáRua Marechal Deodoro, 630, 22.º andar, Curitiba.

CEP 80010-912. Tel.: (41) 3224 7536. e-mail: [email protected]

Agenda SindicalInformações sobre o dia-a-dia e a atuação do Senge-PR4

Senge-PR coloca no ar seu novo site,mais moderno e interativo

Está no ar desde novembro o novo site do Senge-PR. Mais moderno, fácil de navegar,com mais conteúdo e interatividade, o site inaugura um novo modo do Sindicato se relacionarcom seus associados e representados via internet. Serviços como preenchimento de ART,filiação, consulta de informações jurídicas, estão mais fáceis de usar. Mas a principalmudança, em relação ao antigo site, é o espaço para notícias. A partir de hoje, o endereçodo Senge-PR na web passa a concentrar todas as notícias e informações sobre a atuaçãodo Sindicato.

Outra novidade é o Blog do Senge-PR. Ali, publicaremos as notícias que pinçamos nainternet para o Boa Tarde. O blog é um espaço aberto, democrático, para debates e opiniõesdos associados e leitores. É possível comentar as notícias publicadas, bem como sugerirtemas e abrir discussões. Participe!

Finalmente, todos o conteúdo do antigo site foi revisto e atualizado. Acesse o site emwww.senge-pr.org.br, navegue, faça críticas e sugestões. Aproveite seu novo espaço decomunicação com seu Sindicato.

Sindicato definelogomarca e sloganpara aniversáriode 75 anos

“Uma história,muitas lutas, um futuroa construir” é o sloganescolhido para ascomemorações doaniversário de 75 anosdo Senge-PR. Alogomarca, elaboradapor AlexsandroTeixeira Ribeiro, usa parte de um elementocomum à engenharia — uma engrenagem —para formar os algarismos, e inclui o pinhão,semente que simboliza o estado do Paraná.

Audiência abre debatessobre modelo integrado degestão da Grande Curitiba

Uma palestra do presidente do Sindicatodos Engenheiros do Paraná (Senge-PR),Valter Fanini, abriu em outubro os debatespara a construção de um modelo integradode gestão das funções públicas de interessecomum das cidades da Grande Curitiba.Fanini participou de audiência pública daComissão de Assuntos Metropolitanos daAssembleia Legislativa que discutiu o projetode lei complementar 212/08, queregulamenta os Conselhos Deliberativo eConsultivo da Região Metropolitana deCuritiba. O texto também define um modelode gestão de serviços como transportepúblico, sistema viário, coleta de lixo eproteção de mananciais.

Além de Fanini e Strapasson,participaram da audiência os deputadosTadeu Veneri (PT), Osmar Bertoldi (DEM)e Rosane Ferreira (PV), o coordenador daRegião Metropolitana de Curitiba no governodo estado, Alcidino Bittencourt, a presidenteda Comec, Maria Letízia Abbate Fiala, osecretário de Assuntos Metropolitanos deCuritiba, Michelle Caputo Neto, o presidenteda associação de prefeitos da GrandeCuritiba (Assomec), Edson Basso, deCampo Largo, o engenheiro Joel Kruger,diretor do Crea-PR, além de prefeitos,vereadores e ex-prefeitos da região.

Senge-PR assina convençãocoletiva da construçãopesada

O Senge-PR assinou em novembro aConvenção Coletiva de Trabalho 2009/10do setor de construção pesada, que prevêcorreção salarial de 8% e aplicação da Lei4.950/A, que rege o piso salarial do setorde engenharia. A convenção, assinadacom o sindicato patronal do setor, oSindicato da Indústria da ConstruçãoPesada do Estado do Paraná (Sicepot-PR), serve de base para as negociaçõesdo setor. Assim, as empresas devemconceder pelo menos os itens negociadosente os sindicatos patronal e deempregados. Além disso, novasreivindicações podem ser incluídas emacordos coletivos de trabalho.

Justiça do Trabalho começaa analisar adicional portempo de serviço daPetrobras

O Senge-PR participou emnovembro da audiência inicial doprocesso que discute na Justiça doTrabalho o adicional por tempo deserviço dos engenheiros da Petrobras.Uma nova audiência para que o juizouça testemunhas e analise provas foimarcada para 4 de março de 2010. O

processo está na 1.ª Vara do Trabalhode Araucária, cidade da Grande Curitibaonde está a Refinaria Presidente GetúlioVargas (Repar).

Senge-PR e Instituto deMediação e Arbitragemfecham acordo

Os presidentes do Senge-PR e doInstituto de Mediação e Arbitragem (IMA),Valter Fanini e Claude Franck Loewenthal,assinaram em dezembro (foto abaixo)convênio para facilitar o acesso dosassociados ao Sindicato ao serviço e acursos de mediação e arbitragem.

Senge-PR