12
JORNAL RESISTÊNCIA - SOCIEDADE PARAENSE DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS - ANO 37 - AGOSTO 2015 10 A saída para crise é a organização popular 11 Os rumos da luta pela reforma política no Brasil 12 Para que(m) reduzir a (maior)idade penal? JEAN BRITO ROBERTO PARIZOTTI DIVULGAÇÃO Extermínio na Amazônia: da pistolagem às milícias. 6 e 7 DIVULGAÇÃO

Jornal Resistência - Edição de agosto de 2015

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O Jornal Resistência é um histórico veículo de comunicação do Estado do Pará. Nasceu ainda no período da Ditadura Militar e ainda hoje, embora sejam outros tempos e outros desafios, continua com a sua proposta: resistir!

Citation preview

JORNAL RESISTÊNCIA - SOCIEDADE PARAENSE DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS - ANO 37 - AGOSTO 2015

10A saída para crise é a organização popular

11Os rumos da luta pela reforma política no Brasil

12Para que(m) reduzir a (maior)idade penal?

JE

AN

BR

ITO

RO

BE

RT

O P

AR

IZO

TT

I

DIV

UL

GA

ÇÃ

O

Extermínio na Amazônia: da pistolagem às milícias. 6 e 7

DIV

UL

GA

ÇÃ

O

A têmpera da RESISTÊNCIA é a força que impulsiona homens e mulheres a lutar sem trégua contra as forças horrendas do capitalismo, que saqueia riquezas e usurpa vidas na Amazônia. Nestes 38 anos de sonhos e lutas da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos queremos render graças e oferendas às bravas pessoas que regaram nosso chão com o sangue de sua luta para manter viva esta esperança da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Homens e mulheres que nos deixaram grandes lições de vida, que não citaremos nomes para não correr o risco de cometer nenhuma injustiça, mas que cada um pode resgatar e buscar fazer esta lem-brança, porque esta memória ajuda a nos revestir no presente desta têmpera da resistência, não nos deixando sucumbir diante das mais brutais dificuldades encontradas em nosso caminhar.

Hoje vivenciamos em nossa região amazônica um grande ataque os direitos humanos. Isso porque a defesa dos direitos humanos vai de encontro aos interesses capitalistas de grandes empresários ou grupos empresaria-is, que buscam apenas saquear nossas riquezas e não estão nem um pouco preocupados com o desenvol-vimento econômico e social do nosso povo.

E enquanto prevalecem os interesses empresariais e corporati-vos a realidade de nosso povo é marcada pela violação de seus direitos. Pessoas que são expulsas de suas casas e de suas terras por causa de grandes projetos e não tem seus direitos respeitados; comunidades indígenas e quilombolas que sofrem com a falta de garantia de seus direitos; trabalhadores rurais sem terra que lutam por um pedaço de terra para viverem, enquanto há grandes latifundiários com enormes áreas, muitas delas apropriadas de forma ilegal através da grilagem; trabalhadores nas cidades com baixos salários e péssimas condições de trabalho e moradia, enfrentando dificuldade para acessar políticas públicas básicas como saúde e educação.

Nesta situação, mas do que nunca devemos nos revestir da têmpera da resistência para lutar contra esta força do mal que se chama capital. Mas como se revestir desta têmpera? Só através da união, da organização e da mobilização poderemos encontrar o ponto certo da têmpera necessária para resistir às atrocidades do capital e construir um novo horizonte para nós e nossos filhos. Ou seja, indígenas, campone-ses, quilombolas, ribeirinhos e operários devem encontrar o ponto de equilíbrio da unidade e construir um processo unitário de luta contra o projeto capitalista. Somente assim alcançaremos a vitória, tirando do isolamento nossas lutas para construir uma grande têmpera de resistência, que seja capaz de construir um projeto popular para a Amazônia como alternativa.

7 5

O Jornal Resistência é uma publicação da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). Direção Colegiada: Elisety Veiga Maia – Coordenadora Geral; Marco Apolo Santana Leão – Coordenador de Administração e Finanças; Antonio Alberto da Costa Pimentel - Coordenador de Comunicação e Cultura; Fátima Matos - Coordenadora Formação e Pesquisa. Suplentes: Marcelo Silva de Freitas, Eliana Fonseca Pereira, Flávia Marçal Pantoja de Araújo e Fátima Matos. Sede: Rua 25 de Junho, nº 2015-A, entre 3 de Outubro e Avenida Barão de Igarapé Miri.

Jornal ResistênciaDireção Geral: Antonio Alberto da Costa Pimentel.Editores: Antonio Alberto da Costa Pimentel e Vivianny Matos.Jornalista Responsável: Vivianny MatosFotografia: Jean Brito, Carlos Borges e Raphaela Lopes.Diagramação: Ítalo GadelhaGráfica: Cromos

Expediente

ertamente 2015 será cum ano que marcará a história da luta sindical

e a defesa da educação pública. O Sindicato dos (as) t rabalhadores (as ) em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) e sua categoria organizaram de março a junho a maior greve das últimas duas décadas em re spos t a a s pé s s imas condições estruturais das escolas, pelo atraso no pagamento do Piso Nacional do Magistério, contra a redução abrupta de salários provocada por distorções na implantação da Lei da J o r n a d a e A u l a s Suplementares, pela unifica-ção do Plano de Cargo, Carreira e Remuneração (PCCR) e contra o descumpri-mento do acordo judicial de 2013.Foram 73 dias de atividades, com atos, assembleias, manifestações, audiências públicas, reuniões com a comunidade , governo , judiciário e parlamentares que visaram mostram para a sociedade a pauta de reivindicação dos servidores vinculados à Secretaria Estadual de Educação – Seduc, a maior gerida pelo governo Simão Jatene (PSDB).Ainda no início do ano o sindicato encaminhou ao governo o detalhamento dos pontos divergentes e solicitou audiência junto à Seduc e à Secretaria de Administração (SEAD), porém as reuniões tornaram-se sequências de repetições dos anúncios da polí t ica retal iatória de direitos que seria cumprida pelo novo Secretário de Educação, Helenilson Pontes e a já conhecida Secretária de Administração, Alice Viana. Ambos indiscutivelmente preparados para executar a política de achatamento de direitos dos trabalhadores (as), na dianteira de um discurso explanado pela qualidade de uma educação nada solidificada nos ambien-

tes educacionais do Pará.Enquanto o governo Jatene, que notadamente em seu 3º mandato não consegue dar respostas à precariedade do ensino público, sobrecaem para a comunidade escolar os ônus, mesmo diante dos olhares mais desatentos. “No início do ano a educação pública do Pará foi indicada pelo IDEB* como uma das mais precárias do país, chegando a ficar apenas a

frente do estado do Alagoas. É de conhecimento público que vários fatores levam a falência da educação, mas se t i v é s s e m o s m e l h o r e s condições de trabalho com e s c o l a s e s t r u t u r a d a s fisicamente, e isso inclui climatização adequada e recursos diversos. Também se não en f ren tás semos a ausênc ia de fo rmação continuada por parte da Seduc aos seus docentes

Por Geisianne Dias

7 5

foi por direitos e em denúncia ao desmonte da educação pública

Greve dos profissionais da educação da rede pública de ensino do estado paraense foi uma das mais longas em todo o Brasil: durou mais de 40 dias

Toda greve tem sua peculiari-dade. Mas como não apontar nesta o poderio econômico do governo sobre sindicato e sua categoria? Antecipadamente Jatene anunciou na mídia o fim da paralisação, ingressou no Tribunal de Justiça do Estado (TJE/PA) com ação de abusividade do movimento contra o Sintepp, aplicou falta greve, usou os meios de comunicação para tentar persuadir a população. E a resposta dos (as) trabalhado-res (as)? A luta, a coragem e a resistência! “Antes mesmo de o movimento começar e durante todo seu período o governo Jatene já tinha estabelecido estratégias para tentar nos parar, que envolviam ações judiciais com pedido de abusividade do movimento, resistência em cumprir o acordo já estabeleci-do com sindicato, suspensão da mesa de negociação por mais de 2 semanas, utilização da máqu ina púb l i ca e imponente aparato midiático para convencer a sociedade de nó s é que é ramos o s responsáveis pelo desmantela-mento de nossas instituições, ainda assim a categoria sustentou a greve, deu uma aula de cidadania e o mais importante com a adesão e apoio da comunidade escolar, uma vez que esta sim perma-

Sem respostas, Jatene buscou respaldo na nata judiciária e midiática

nece conosco penalizada pela falta do subsídio devido do poder público. Esta é uma prova da legitimidade de nosso movimento”, disse Mateus Ferreira.Respeitável instrumento de mobilização, a greve deixou lu tas que terão como horizonte este próximo período. “O governo ainda não cumpre o nosso PCCR no q u e d i z r e s p e i t o a o enquadramento na carreira; as escolas estão em péssimas condições, sem água potável ou mesmo higienização e não nos calaremos para isso. O governo havia assinado um acordo judicial em 2013 e não o cumpriu na íntegra. O novo Piso Nacional deveria ser pago desde janeiro de 2015. Além de não cumprir com suas obrigações legais, Helenilson/Jatene queriam reduzir a remuneração dos professores, desconsiderando a lei nº8030/2014 (jornada) do próprio executivo do Estado. Neste sentido a categoria deliberou lutar com todas as armas, priorizando a comunidade para desmentir às propagandas do governo e os meios de comunicação que c o a d u n a m o u s o f r e m influência do estado. Não p o d í a m o s d e i x a r d e reivindicar direitos constituci-onais escamoteados por

Jatene, inclusive na ação de abusiv idade ingressada contra o Sintepp, onde eles afirmaram que estavam implementando 1/3 de hora atividade se adequando na íntegra na lei do Piso Nacional. Ataques graves aos direitos da classe trabalhado-ra que não seriam e não serão silenciados”, complementou Mateus Ferreira.O S i n t e p p l e v o u a o s Ministérios Públicos Estadual e Federal (MPE/MPF) duas importantes denúncias e aguarda aprovisionamentos: a primeira refere-se a uma ação civil pública que cobra providências quanto a grave si tuação estrutural das escolas e a outra esclarece os riscos a que a medida punitiva do governo de descontar os d i a s d e g r e v e e x p õ e e s t u d a n t e s a o n ã o cumprimento do estabelecido pela LDB** dos 200 dias letivos, uma vez que caso não receba sua remuneração o profissional não tem a obrigação de repor aulas. O achatamento do ano letivo já foi denunciado pelo sindicato antes, a ação fora imposta no ano de 2014 pela Seduc, o que novamente confirma a falta de comprometimento com a qualidade de ensino aos alunos atendidos pela rede estadual de ensino.

Ao final da greve, sete educadores foram surpreendi-dos com a instalação de inquérito policial da DOS***, que a pedido do TJE/PA, deve investigar fatos ocorridos durante a paralisação, em uma evidente tentativa de criminalizar o movimento. São eles: Williams Silva e Mateus Ferreira (coordenado-res gerais do Sintepp), Alberto Andrade e Silvia Letícia (secretários gerais do Sintepp), Rosa Olivia e Abel Pinheiro (dirigentes do Sintepp na Regional Metropolitana) e Edilon Coelho (professor da rede). As acusações de tipos penais são: dano qualificado em razão de dano ao patrimô-nio público; sequestro e cárcere privado; resistência em cumprir decisão judicial, mediante violência e ameaça a funcionário; desobediência legal à funcionário público – no caso ao oficial de justiça e perturbação do trabalho e sossego alheios – uso de carro som e obstrução de trabalho funcional. De modo que judicialmente estes crimes podem ser agrupados, em caso de condenação, as penas

serão de 8 anos e 8 meses de prisão. O indiciamento está no MPE, que analisa a possibilidade de denúncia à Jus t i ça Pa raense . E a Assessor ia Jur íd i ca do sindicato já trabalha ampla defesa, além de entidades do Movimento Social terem instalado de imediato campa-nha que pede o arquivamento do inquérito e a caracteriza-ção de perseguição aos dirigentes. “Infelizmente assim como outros movimentos o Sintepp vem sofrendo fortes ataques tanto do governo, quanto do TJE/Pa. Repudiamos o fato de a estrutura do estado em dois poderes (executivo e judiciá-rio) estarem atuando no sentido de colocar educadores que estão lutando por uma escola pública, gratuita e de qualidade, bem como direitos legais de melhores condições de trabalho como vilões desta história. Contraditoriamente, ao governo que retira do estudante o direito ao ensino qualificado nenhuma penali-dade. Nossa conf iança ampara-se na força do trabalho profissional que

realizamos e sobretudo em nosso compromisso com nosso alunado. A greve foi suspensa, mas nossa luta em defesa da educação pública com qualidade social não cessa e nos manteremos firmes neste compromisso”, concluiu Mateus Ferreira.* I D E B - Í n d i c e d e D e s e n v o l v i m e n t o d a Educação Básica, iniciativa criada em 2007 pelo INEP ( Inst i tuto Nacional de E s t u d o s e Pe s q u i s a s Educacionais), vinculado ao governo federal, que reúne em um único indicador dois conceitos para a qualidade da educação, o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O Pará tem apresentado significativa queda, o que se reflete diretamente no Plano de D e s e n v o l v i m e n t o d a Educação (PDE) de modo negativo.

**LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação no Brasil.***DOS - Delegacia de Ordem Social, no passado também conhecida como DOPS ou DEOPS é uma espécie de polícia política do Estado, herança das ditaduras do Estado Novo e Militar.

talvez o cenário fosse reverso. Não podemos deixar de destacar ainda as salas superlotadas e uma jornada excessiva de trabalho ao professor, exercida para minimizar a falta de uma r e m u n e r a ç ã o d i g n a ” , esclareceu Mateus Ferreira, Coordenador gera l do Sintepp.Porém o ímpeto governamen-tal de resumir a pauta da greve em economicista mais

uma vez fracassou pelo modo como alunos, pais e responsáveis assumiram para si ações em conjunto com o sindicato e a catego-ria, avocando atos que denunciavam a falta de espaços para atividades físicas, precariedades na fiação elétrica, alagamen-t o s , b a n h e i r o s s e m condições de uso e o descalabro experimentado no interior das escolas.

Lutar não é crime! A greve foi suspensa, mas a luta e a resistência continuam.

JE

AN

BR

ITO

Greve dos professores: Não foi por salários,

Mídias Virtuais: Site: www.sddh.org.br Blog: jornalresistenciaonline.blogspot.com Fanpage: Jornal Resistência || Twitter: @resistenciaSDDH

A têmpera da RESISTÊNCIA é a força que impulsiona homens e mulheres a lutar sem trégua contra as forças horrendas do capitalismo, que saqueia riquezas e usurpa vidas na Amazônia. Nestes 38 anos de sonhos e lutas da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos queremos render graças e oferendas às bravas pessoas que regaram nosso chão com o sangue de sua luta para manter viva esta esperança da construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Homens e mulheres que nos deixaram grandes lições de vida, que não citaremos nomes para não correr o risco de cometer nenhuma injustiça, mas que cada um pode resgatar e buscar fazer esta lem-brança, porque esta memória ajuda a nos revestir no presente desta têmpera da resistência, não nos deixando sucumbir diante das mais brutais dificuldades encontradas em nosso caminhar.

Hoje vivenciamos em nossa região amazônica um grande ataque os direitos humanos. Isso porque a defesa dos direitos humanos vai de encontro aos interesses capitalistas de grandes empresários ou grupos empresaria-is, que buscam apenas saquear nossas riquezas e não estão nem um pouco preocupados com o desenvol-vimento econômico e social do nosso povo.

E enquanto prevalecem os interesses empresariais e corporati-vos a realidade de nosso povo é marcada pela violação de seus direitos. Pessoas que são expulsas de suas casas e de suas terras por causa de grandes projetos e não tem seus direitos respeitados; comunidades indígenas e quilombolas que sofrem com a falta de garantia de seus direitos; trabalhadores rurais sem terra que lutam por um pedaço de terra para viverem, enquanto há grandes latifundiários com enormes áreas, muitas delas apropriadas de forma ilegal através da grilagem; trabalhadores nas cidades com baixos salários e péssimas condições de trabalho e moradia, enfrentando dificuldade para acessar políticas públicas básicas como saúde e educação.

Nesta situação, mas do que nunca devemos nos revestir da têmpera da resistência para lutar contra esta força do mal que se chama capital. Mas como se revestir desta têmpera? Só através da união, da organização e da mobilização poderemos encontrar o ponto certo da têmpera necessária para resistir às atrocidades do capital e construir um novo horizonte para nós e nossos filhos. Ou seja, indígenas, campone-ses, quilombolas, ribeirinhos e operários devem encontrar o ponto de equilíbrio da unidade e construir um processo unitário de luta contra o projeto capitalista. Somente assim alcançaremos a vitória, tirando do isolamento nossas lutas para construir uma grande têmpera de resistência, que seja capaz de construir um projeto popular para a Amazônia como alternativa.

7 5

O Jornal Resistência é uma publicação da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH). Direção Colegiada: Elisety Veiga Maia – Coordenadora Geral; Marco Apolo Santana Leão – Coordenador de Administração e Finanças; Antonio Alberto da Costa Pimentel - Coordenador de Comunicação e Cultura; Fátima Matos - Coordenadora Formação e Pesquisa. Suplentes: Marcelo Silva de Freitas, Eliana Fonseca Pereira, Flávia Marçal Pantoja de Araújo e Fátima Matos. Sede: Rua 25 de Junho, nº 2015-A, entre 3 de Outubro e Avenida Barão de Igarapé Miri.

Jornal ResistênciaDireção Geral: Antonio Alberto da Costa Pimentel.Editores: Antonio Alberto da Costa Pimentel e Vivianny Matos.Jornalista Responsável: Vivianny MatosFotografia: Jean Brito, Carlos Borges e Raphaela Lopes.Diagramação: Ítalo GadelhaGráfica: Cromos

Expediente

ertamente 2015 será cum ano que marcará a história da luta sindical

e a defesa da educação pública. O Sindicato dos (as) t rabalhadores (as ) em Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp) e sua categoria organizaram de março a junho a maior greve das últimas duas décadas em re spos t a a s pé s s imas condições estruturais das escolas, pelo atraso no pagamento do Piso Nacional do Magistério, contra a redução abrupta de salários provocada por distorções na implantação da Lei da J o r n a d a e A u l a s Suplementares, pela unifica-ção do Plano de Cargo, Carreira e Remuneração (PCCR) e contra o descumpri-mento do acordo judicial de 2013.Foram 73 dias de atividades, com atos, assembleias, manifestações, audiências públicas, reuniões com a comunidade , governo , judiciário e parlamentares que visaram mostram para a sociedade a pauta de reivindicação dos servidores vinculados à Secretaria Estadual de Educação – Seduc, a maior gerida pelo governo Simão Jatene (PSDB).Ainda no início do ano o sindicato encaminhou ao governo o detalhamento dos pontos divergentes e solicitou audiência junto à Seduc e à Secretaria de Administração (SEAD), porém as reuniões tornaram-se sequências de repetições dos anúncios da polí t ica retal iatória de direitos que seria cumprida pelo novo Secretário de Educação, Helenilson Pontes e a já conhecida Secretária de Administração, Alice Viana. Ambos indiscutivelmente preparados para executar a política de achatamento de direitos dos trabalhadores (as), na dianteira de um discurso explanado pela qualidade de uma educação nada solidificada nos ambien-

tes educacionais do Pará.Enquanto o governo Jatene, que notadamente em seu 3º mandato não consegue dar respostas à precariedade do ensino público, sobrecaem para a comunidade escolar os ônus, mesmo diante dos olhares mais desatentos. “No início do ano a educação pública do Pará foi indicada pelo IDEB* como uma das mais precárias do país, chegando a ficar apenas a

frente do estado do Alagoas. É de conhecimento público que vários fatores levam a falência da educação, mas se t i v é s s e m o s m e l h o r e s condições de trabalho com e s c o l a s e s t r u t u r a d a s fisicamente, e isso inclui climatização adequada e recursos diversos. Também se não en f ren tás semos a ausênc ia de fo rmação continuada por parte da Seduc aos seus docentes

Por Geisianne Dias

7 5

foi por direitos e em denúncia ao desmonte da educação pública

Greve dos profissionais da educação da rede pública de ensino do estado paraense foi uma das mais longas em todo o Brasil: durou mais de 40 dias

Toda greve tem sua peculiari-dade. Mas como não apontar nesta o poderio econômico do governo sobre sindicato e sua categoria? Antecipadamente Jatene anunciou na mídia o fim da paralisação, ingressou no Tribunal de Justiça do Estado (TJE/PA) com ação de abusividade do movimento contra o Sintepp, aplicou falta greve, usou os meios de comunicação para tentar persuadir a população. E a resposta dos (as) trabalhado-res (as)? A luta, a coragem e a resistência! “Antes mesmo de o movimento começar e durante todo seu período o governo Jatene já tinha estabelecido estratégias para tentar nos parar, que envolviam ações judiciais com pedido de abusividade do movimento, resistência em cumprir o acordo já estabeleci-do com sindicato, suspensão da mesa de negociação por mais de 2 semanas, utilização da máqu ina púb l i ca e imponente aparato midiático para convencer a sociedade de nó s é que é ramos o s responsáveis pelo desmantela-mento de nossas instituições, ainda assim a categoria sustentou a greve, deu uma aula de cidadania e o mais importante com a adesão e apoio da comunidade escolar, uma vez que esta sim perma-

Sem respostas, Jatene buscou respaldo na nata judiciária e midiática

nece conosco penalizada pela falta do subsídio devido do poder público. Esta é uma prova da legitimidade de nosso movimento”, disse Mateus Ferreira.Respeitável instrumento de mobilização, a greve deixou lu tas que terão como horizonte este próximo período. “O governo ainda não cumpre o nosso PCCR no q u e d i z r e s p e i t o a o enquadramento na carreira; as escolas estão em péssimas condições, sem água potável ou mesmo higienização e não nos calaremos para isso. O governo havia assinado um acordo judicial em 2013 e não o cumpriu na íntegra. O novo Piso Nacional deveria ser pago desde janeiro de 2015. Além de não cumprir com suas obrigações legais, Helenilson/Jatene queriam reduzir a remuneração dos professores, desconsiderando a lei nº8030/2014 (jornada) do próprio executivo do Estado. Neste sentido a categoria deliberou lutar com todas as armas, priorizando a comunidade para desmentir às propagandas do governo e os meios de comunicação que c o a d u n a m o u s o f r e m influência do estado. Não p o d í a m o s d e i x a r d e reivindicar direitos constituci-onais escamoteados por

Jatene, inclusive na ação de abusiv idade ingressada contra o Sintepp, onde eles afirmaram que estavam implementando 1/3 de hora atividade se adequando na íntegra na lei do Piso Nacional. Ataques graves aos direitos da classe trabalhado-ra que não seriam e não serão silenciados”, complementou Mateus Ferreira.O S i n t e p p l e v o u a o s Ministérios Públicos Estadual e Federal (MPE/MPF) duas importantes denúncias e aguarda aprovisionamentos: a primeira refere-se a uma ação civil pública que cobra providências quanto a grave si tuação estrutural das escolas e a outra esclarece os riscos a que a medida punitiva do governo de descontar os d i a s d e g r e v e e x p õ e e s t u d a n t e s a o n ã o cumprimento do estabelecido pela LDB** dos 200 dias letivos, uma vez que caso não receba sua remuneração o profissional não tem a obrigação de repor aulas. O achatamento do ano letivo já foi denunciado pelo sindicato antes, a ação fora imposta no ano de 2014 pela Seduc, o que novamente confirma a falta de comprometimento com a qualidade de ensino aos alunos atendidos pela rede estadual de ensino.

Ao final da greve, sete educadores foram surpreendi-dos com a instalação de inquérito policial da DOS***, que a pedido do TJE/PA, deve investigar fatos ocorridos durante a paralisação, em uma evidente tentativa de criminalizar o movimento. São eles: Williams Silva e Mateus Ferreira (coordenado-res gerais do Sintepp), Alberto Andrade e Silvia Letícia (secretários gerais do Sintepp), Rosa Olivia e Abel Pinheiro (dirigentes do Sintepp na Regional Metropolitana) e Edilon Coelho (professor da rede). As acusações de tipos penais são: dano qualificado em razão de dano ao patrimô-nio público; sequestro e cárcere privado; resistência em cumprir decisão judicial, mediante violência e ameaça a funcionário; desobediência legal à funcionário público – no caso ao oficial de justiça e perturbação do trabalho e sossego alheios – uso de carro som e obstrução de trabalho funcional. De modo que judicialmente estes crimes podem ser agrupados, em caso de condenação, as penas

serão de 8 anos e 8 meses de prisão. O indiciamento está no MPE, que analisa a possibilidade de denúncia à Jus t i ça Pa raense . E a Assessor ia Jur íd i ca do sindicato já trabalha ampla defesa, além de entidades do Movimento Social terem instalado de imediato campa-nha que pede o arquivamento do inquérito e a caracteriza-ção de perseguição aos dirigentes. “Infelizmente assim como outros movimentos o Sintepp vem sofrendo fortes ataques tanto do governo, quanto do TJE/Pa. Repudiamos o fato de a estrutura do estado em dois poderes (executivo e judiciá-rio) estarem atuando no sentido de colocar educadores que estão lutando por uma escola pública, gratuita e de qualidade, bem como direitos legais de melhores condições de trabalho como vilões desta história. Contraditoriamente, ao governo que retira do estudante o direito ao ensino qualificado nenhuma penali-dade. Nossa conf iança ampara-se na força do trabalho profissional que

realizamos e sobretudo em nosso compromisso com nosso alunado. A greve foi suspensa, mas nossa luta em defesa da educação pública com qualidade social não cessa e nos manteremos firmes neste compromisso”, concluiu Mateus Ferreira.* I D E B - Í n d i c e d e D e s e n v o l v i m e n t o d a Educação Básica, iniciativa criada em 2007 pelo INEP ( Inst i tuto Nacional de E s t u d o s e Pe s q u i s a s Educacionais), vinculado ao governo federal, que reúne em um único indicador dois conceitos para a qualidade da educação, o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações. O Pará tem apresentado significativa queda, o que se reflete diretamente no Plano de D e s e n v o l v i m e n t o d a Educação (PDE) de modo negativo.

**LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação no Brasil.***DOS - Delegacia de Ordem Social, no passado também conhecida como DOPS ou DEOPS é uma espécie de polícia política do Estado, herança das ditaduras do Estado Novo e Militar.

talvez o cenário fosse reverso. Não podemos deixar de destacar ainda as salas superlotadas e uma jornada excessiva de trabalho ao professor, exercida para minimizar a falta de uma r e m u n e r a ç ã o d i g n a ” , esclareceu Mateus Ferreira, Coordenador gera l do Sintepp.Porém o ímpeto governamen-tal de resumir a pauta da greve em economicista mais

uma vez fracassou pelo modo como alunos, pais e responsáveis assumiram para si ações em conjunto com o sindicato e a catego-ria, avocando atos que denunciavam a falta de espaços para atividades físicas, precariedades na fiação elétrica, alagamen-t o s , b a n h e i r o s s e m condições de uso e o descalabro experimentado no interior das escolas.

Lutar não é crime! A greve foi suspensa, mas a luta e a resistência continuam.

JE

AN

BR

ITO

Greve dos professores: Não foi por salários,

Mídias Virtuais: Site: www.sddh.org.br Blog: jornalresistenciaonline.blogspot.com Fanpage: Jornal Resistência || Twitter: @resistenciaSDDH

4 5

c o m i s s ã o

AInteramericana de Direitos Humanos

(CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) analisa no momento a manutenção de medidas cautelares contra o Brasil por causa das violações de direitos nas obras da usina de Belo Monte. A Justiça Global, a Sociedade Paraense de D e f e s a d o s D i r e i t o s Humanos, a Asociación Interamericana para la Defensa del Ambiente (AIDA) e o Movimento Xingu Vivo para Sempre enviaram neste mês para a CIDH resposta, em que as entidades se contrapõem ao pedido do Estado brasileiro de suspen-são das medidas que o obrigam a cumprir uma série de determinações relaciona-das à proteção de populações indígenas.As medidas cautelares foram concedidas para proteger a vida, saúde e integridade dos membros de comunidades indígenas em isolamento voluntário; proteger a saúde dos membros das comunida-des indígenas da bacia do

Xingu, afetadas pelas obras de Belo Monte; e garantir a rápida f inal ização dos processos de regularização das terras ancestrais de povos indígenas na bacia do Xingu. A última comunicação do Estado brasileiro à CIDH ocorre em um momento em que diversas organizações da sociedade civil denunciam o descumprimento das condici-onantes previstas no Plano Básico Ambiental e no Projeto B á s i c o A m b i e n t a l d e Componente Indígena. A não execução das determinações deveria impedir a outorga da licença de operação, por parte do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos N a t u r a i s R e n o v á v e i s (IBAMA). A usina já tem 77% de suas obras concluídas e a previsão é que comece a operar em novembro deste ano, com o desvio do rio Xingu e o enchimento da represa da usina.As comunidades indígenas afetadas por Belo Monte encontram-se hoje muito mais vulneráveis do que antes do início das obras. O início da operação da usina concretizará a perda do território e a modificação do modo de vida tradicional dos povos indígenas. Sendo

assim, a situação nas áreas no entorno da usina perma-nece urgente, grave e passível de gerar danos irreparáveis, justificando a intervenção da CIDH. A situação em Altamira e na região do entorno da usina se torna cada vez mais precária, à medida que as obras avançam e as medidas

de mitigação de impacto não são cumpridas. Em resposta a este cenário, foi realizada uma inspeção nas áreas impactadas, f e i t a p e l o C o n s e l h o Nac iona l de D i re i tos Humanos e pelo Ministério Público Federal, da qual Justiça Global e Sociedade Paraense de D i re i tos

Humanos , bem como o u t r a s e n t i d a d e s d a sociedade civil e órgãos do Estado fizeram parte. A resposta das organizações ao Brasil na CIDH se base-ou em algumas conclusões desta inspeção, bem como em documentos oficiais e o u t r o s r e l a t ó r i o s d a sociedade civil.

Fonte: Justiça Global

legitimam o Programa de Proteção às Testemunhas.Sucintamente, as medidas protetivas consistem na retirada da testemunha e familiares (se as ameaças forem extensivas a estes) do local onde ocorreram os fatos criminosos e em providenciar sua(s) inserção em comunida-des seguras , con tudo, distantes da terra natal. Estes núcleos são acompanhados por profissionais (equipes técnicas interdisciplinares) que monitoram o processo de adaptação nesses novos espaços, atentando para o chamamento da justiça, já que sua denúncia é impres-cindível para o deslinde de crimes de grande monta.Para garantir esse funciona-mento, o PROVITA possui uma estrutura que garante o exercício da parceria entre o Estado e a sociedade civil organizada, por meio de instâncias com papéis e objetivos definidos. No Estado do Pará, o PROVITA existe há 16 anos e já possibilitou a proteção efetiva de 501 pessoas. Os procedi-mentos e estrutura são similares ao descrito acima, sendo que em nível estadual, a diferença principal reside na demarcação e jurisdição de atuação da Equipe Técnica, porém não de forma herméti-

ca, cabendo flexibilizações. É regulamentado por legislação estadual, Lei 6.325 de Novembro de 2000, além da legislação federal já mencio-nada . O conse lho do P R O V I TA / P A t a m b é m apresenta em sua composi-ção, a exemplo do que ocorre n o c e n á r i o n a c i o n a l , inst i tuições de direi tos humanos, segurança pública, assistência social e justiça.A gestão do PROVITA/PA foi realizada pela Sociedade

Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, ONG com mais de 30 anos de perseve-rante militância na área dos Direitos Humanos, entre os anos 1999 e 2015. Essa organização é, portanto, uma das mais antigas do Brasil que continua em plena atividade. Por sua antiguidade, acúmulo de experiências e larga atuação junto aos inúmeros movimentos sociais amazôni-das no cenário político paraense, além de sua

credibilidade e a legitimida-de, foi indicada em 1999 para assumir a autoria e condução das atividades do PROVITA/PA. Durante o período de gestão da SDDH, o PROVITA Pará foi executado cumprindo o que previu seu planejamento, mas, sobretudo a premissa dos Direitos Humanos. A equipe técnica que realizou o a c o m p a n h a m e n t o e atendimento das centenas de pessoas que passaram por esse Programa tinha como norte de sua atuação, as diretrizes da Declaração Universal dos Direi tos Humanos. A partir deste embasamento teór i co -político as intervenções se davam sobre e para as pessoas e não somente sobre uma importante prova testemunhal. Esse caráter humanizado obviamente singularizou e continuará sendo o diferencial do PROVITA sobre as demais políticas públicas, conside-rando seu olhar global sobre o humano, e na perspectiva de construção de um Sistema de Justiça e Segurança Pública aproximado e em permanente diálogo com os d i r e i t o s h u m a n o s , colaborando assim para a assunção de uma sociedade mais justa e equânime.

invest igação do

Apassado é fundamen-tal para a construção

da identidade e da cidadania. Estudar o passado, resgatar sua verdade e trazer à tona os acontecimentos caracterizam formas de transmissão de experiência histórica que é essencial para a constituição da memória individual e coletiva.

O encontro dos paraenses com sua história, com seu pas sado , é um passo significativo na busca da justiça. Esse é o desafio em que deve se pautar a Comissão da Verdade do Pará, criada através da aprovação da Lei Estadual nº 7.802, sancionada em 31 de M a r ç o d e 2 0 1 4 p e l o governador Simão Jatene e cuja instalação ocorreu no dia 1° de Setembro deste mesmo ano, no São José Liberto, antigo presídio que em tempos de repressão e cerceamento das liberdades públicas, foi usado também como cárcere para presos políticos. Mas toda essa conquista está ligada a uma quadra histórica mais avançada, como a que engendrou o aparecimento da Comissão Nacional da Verdade , de p ro funda dimensão democrática, cujas bases fundamentais foram consolidadas no terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) em 2009, ainda na gestão do governo Lula, e finalmente instalada em 2012, momento em que a Presidência da Repúb l i ca é e xe r c i da , emblematicamente, pela ex-presa política Dilma Roussef, barbaramente torturada no regime da ditadura.

Os principais objetivos da Comissão da Verdade do Pará são esclarecer os casos de graves violações de direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, em especial os episódios de torturas, mortes, prisões arbitrárias, desapare-cimentos forçados, ocultações de cadáveres, como, também, a autoria desses crimes, em especial nos anos de chumbo.

Acontece que tais desafios se confundem com a realidade e o contexto da Amazônia que, nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado fora alvo de f o r t í s s i m a p e n e t r a ç ã o econômica, seja nacional e estrangeira, como expressão maior da expansão do grande capital e do latifúndio,

A Comissão da Verdade: o direito à memória e à justiça dos paraenses.

responsável até os nossos dias pela degradação ambiental, o trabalho escravo, a grilagem, os crimes de pistolagem e a transferência de nossa imensa riqueza mineral para além-mar, ainda tão comum na realidade dos paraenses na atualidade.

Com a Comissão da Verdade, indispensável ferramenta da Justiça de Transição, podere-mos identificar e tornar público o nome dos agentes do Estado, bem como das instituições relacionadas a essas práticas e eventuais ramificações nos diversos aparelhos governamentais e na sociedade.

Poderemos, ainda, encami-

nhar aos órgãos públicos c o m p e t e n t e s t o d a e qualquer informação obtida que possa auxiliar na localização de corpos e restos mortais de desapare-cidos políticos, notadamen-t e n a G u e r r i l h a d o Araguaia, onde dezenas de brasileiros, entre campone-ses e militantes do Partido Comunista do Brasil ainda se encontram desapareci-dos nas úmidas terras paraenses.

Aspecto importante dessa tarefa civilizatória é a colaboração com todas as instâncias do poder público para a apuração dos graves crimes cometidos por agentes do estado e

recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir a violação de direitos humanos. Com o pleno êxito da Comissão da Verdade, a luta pela justiça no Pará será elevada a um novo patamar, capaz de interromper um longo ciclo d e i m p u n i d a d e q u e assistimos até os nossos dias.

Questão mercurial para a Comissão da Verdade é a mentalidade de que só podemos avança r se conhecermos os fatos que marcaram e definiram os rumos que o Pará seguiu nos últimos 50 anos e promover a construção do futuro sem a repetição dos

infames descaminhos do passado, dos tempos de d i t adu ra m i l i t a r e da r ep r e s são po l í t i c a . É , também, um passo decisivo para que seja feita justiça a B e n e d i t o S e r r a , a o s Guerrilheiros do Araguaia, a Raimundo Ferreira Lima, Gabriel Pimenta, João Canuto de Oliveira, irmã Adelaide Molinari, Paulo Fonteles, João Batista, Raimundo Jinkings, S á Pe r e i r a , B e n e d i t o Monteiro, Ruy Paranatinga Barata, Cléo Bernardo, Levi Hall de Moura e às centenas de paraenses e brasileiros, conhecidos ou anônimos, que f o r a m p e r s e g u i d o s e torturados e deram suas vidas lutando pelas liberdades públicas e a democracia.

7 5

Da redação

Belo Monte: Brasil é pressionado para cumprir determinações da OEA

RA

PH

AE

LA

LO

PE

S/J

US

TIÇ

A G

LO

BA

L

A Invasão dos Padres, situada em Altamira, sudoeste do Pará, está em condições precárias

p r o g r a m a d e

Oproteção às testemu-nhas no Brasil surgiu

em 1996 a partir da pressão e investimento de uma socieda-de civil organizada, exausta em suas tentat ivas de contribuir para a efetivação da justiça. É que sem a re taguarda neces sá r ia ninguém se dispunha, à época, a testemunhar. Logo, este fato contribuía sobrema-neira para o recrudescimento da impunidade, além de entravar processos judiciais por falta de testemunhos relevantes. Sueli Almeida, referindo-se à época do surgimento desse Programa – violência e criminalidade urbana difusa, atuação de grupos de extermínios, narcotráfico transnacional – afirma que “está delineado o contexto fortemente marcado pela cultura da violência e da impunidade no qual é gestado o PROVITA”.O Programa possui como marco legal a Lei Federal nº 9.807/99 e o Decreto 3 .518/00. Ademais , a Constituição brasileira e o Código Penal e Processual Penal, além de inúmeras leis estaduais, também constitu-em os instrumentos legais que

O Programa Brasileiro de Proteção às Testemunhas: histórico e perspectivas

Por Marcelo Moreira

O Pará ainda é um dos poucos estados brasileiros em que o PROVITA ainda está ativo

DIV

UL

GA

ÇÃ

O

7 5

Por Paulo Fonteles Filho e Angelina Anjos

Lançamento da Comissão pela Memória Verdade e Justiça do Pará - Foto de Jean Brito

Integrante da Comissão pela Memória Verdade e Justiça do Pará, o ex-vereador Paulo Fonteles, com um fóssil que pode ser de um guerrilheiro do Araguaia

JE

AN

BR

ITO

JE

AN

BR

ITO

4 5

c o m i s s ã o

AInteramericana de Direitos Humanos

(CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) analisa no momento a manutenção de medidas cautelares contra o Brasil por causa das violações de direitos nas obras da usina de Belo Monte. A Justiça Global, a Sociedade Paraense de D e f e s a d o s D i r e i t o s Humanos, a Asociación Interamericana para la Defensa del Ambiente (AIDA) e o Movimento Xingu Vivo para Sempre enviaram neste mês para a CIDH resposta, em que as entidades se contrapõem ao pedido do Estado brasileiro de suspen-são das medidas que o obrigam a cumprir uma série de determinações relaciona-das à proteção de populações indígenas.As medidas cautelares foram concedidas para proteger a vida, saúde e integridade dos membros de comunidades indígenas em isolamento voluntário; proteger a saúde dos membros das comunida-des indígenas da bacia do

Xingu, afetadas pelas obras de Belo Monte; e garantir a rápida f inal ização dos processos de regularização das terras ancestrais de povos indígenas na bacia do Xingu. A última comunicação do Estado brasileiro à CIDH ocorre em um momento em que diversas organizações da sociedade civil denunciam o descumprimento das condici-onantes previstas no Plano Básico Ambiental e no Projeto B á s i c o A m b i e n t a l d e Componente Indígena. A não execução das determinações deveria impedir a outorga da licença de operação, por parte do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos N a t u r a i s R e n o v á v e i s (IBAMA). A usina já tem 77% de suas obras concluídas e a previsão é que comece a operar em novembro deste ano, com o desvio do rio Xingu e o enchimento da represa da usina.As comunidades indígenas afetadas por Belo Monte encontram-se hoje muito mais vulneráveis do que antes do início das obras. O início da operação da usina concretizará a perda do território e a modificação do modo de vida tradicional dos povos indígenas. Sendo

assim, a situação nas áreas no entorno da usina perma-nece urgente, grave e passível de gerar danos irreparáveis, justificando a intervenção da CIDH. A situação em Altamira e na região do entorno da usina se torna cada vez mais precária, à medida que as obras avançam e as medidas

de mitigação de impacto não são cumpridas. Em resposta a este cenário, foi realizada uma inspeção nas áreas impactadas, f e i t a p e l o C o n s e l h o Nac iona l de D i re i tos Humanos e pelo Ministério Público Federal, da qual Justiça Global e Sociedade Paraense de D i re i tos

Humanos , bem como o u t r a s e n t i d a d e s d a sociedade civil e órgãos do Estado fizeram parte. A resposta das organizações ao Brasil na CIDH se base-ou em algumas conclusões desta inspeção, bem como em documentos oficiais e o u t r o s r e l a t ó r i o s d a sociedade civil.

Fonte: Justiça Global

legitimam o Programa de Proteção às Testemunhas.Sucintamente, as medidas protetivas consistem na retirada da testemunha e familiares (se as ameaças forem extensivas a estes) do local onde ocorreram os fatos criminosos e em providenciar sua(s) inserção em comunida-des seguras , con tudo, distantes da terra natal. Estes núcleos são acompanhados por profissionais (equipes técnicas interdisciplinares) que monitoram o processo de adaptação nesses novos espaços, atentando para o chamamento da justiça, já que sua denúncia é impres-cindível para o deslinde de crimes de grande monta.Para garantir esse funciona-mento, o PROVITA possui uma estrutura que garante o exercício da parceria entre o Estado e a sociedade civil organizada, por meio de instâncias com papéis e objetivos definidos. No Estado do Pará, o PROVITA existe há 16 anos e já possibilitou a proteção efetiva de 501 pessoas. Os procedi-mentos e estrutura são similares ao descrito acima, sendo que em nível estadual, a diferença principal reside na demarcação e jurisdição de atuação da Equipe Técnica, porém não de forma herméti-

ca, cabendo flexibilizações. É regulamentado por legislação estadual, Lei 6.325 de Novembro de 2000, além da legislação federal já mencio-nada . O conse lho do P R O V I TA / P A t a m b é m apresenta em sua composi-ção, a exemplo do que ocorre n o c e n á r i o n a c i o n a l , inst i tuições de direi tos humanos, segurança pública, assistência social e justiça.A gestão do PROVITA/PA foi realizada pela Sociedade

Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, ONG com mais de 30 anos de perseve-rante militância na área dos Direitos Humanos, entre os anos 1999 e 2015. Essa organização é, portanto, uma das mais antigas do Brasil que continua em plena atividade. Por sua antiguidade, acúmulo de experiências e larga atuação junto aos inúmeros movimentos sociais amazôni-das no cenário político paraense, além de sua

credibilidade e a legitimida-de, foi indicada em 1999 para assumir a autoria e condução das atividades do PROVITA/PA. Durante o período de gestão da SDDH, o PROVITA Pará foi executado cumprindo o que previu seu planejamento, mas, sobretudo a premissa dos Direitos Humanos. A equipe técnica que realizou o a c o m p a n h a m e n t o e atendimento das centenas de pessoas que passaram por esse Programa tinha como norte de sua atuação, as diretrizes da Declaração Universal dos Direi tos Humanos. A partir deste embasamento teór i co -político as intervenções se davam sobre e para as pessoas e não somente sobre uma importante prova testemunhal. Esse caráter humanizado obviamente singularizou e continuará sendo o diferencial do PROVITA sobre as demais políticas públicas, conside-rando seu olhar global sobre o humano, e na perspectiva de construção de um Sistema de Justiça e Segurança Pública aproximado e em permanente diálogo com os d i r e i t o s h u m a n o s , colaborando assim para a assunção de uma sociedade mais justa e equânime.

invest igação do

Apassado é fundamen-tal para a construção

da identidade e da cidadania. Estudar o passado, resgatar sua verdade e trazer à tona os acontecimentos caracterizam formas de transmissão de experiência histórica que é essencial para a constituição da memória individual e coletiva.

O encontro dos paraenses com sua história, com seu pas sado , é um passo significativo na busca da justiça. Esse é o desafio em que deve se pautar a Comissão da Verdade do Pará, criada através da aprovação da Lei Estadual nº 7.802, sancionada em 31 de M a r ç o d e 2 0 1 4 p e l o governador Simão Jatene e cuja instalação ocorreu no dia 1° de Setembro deste mesmo ano, no São José Liberto, antigo presídio que em tempos de repressão e cerceamento das liberdades públicas, foi usado também como cárcere para presos políticos. Mas toda essa conquista está ligada a uma quadra histórica mais avançada, como a que engendrou o aparecimento da Comissão Nacional da Verdade , de p ro funda dimensão democrática, cujas bases fundamentais foram consolidadas no terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) em 2009, ainda na gestão do governo Lula, e finalmente instalada em 2012, momento em que a Presidência da Repúb l i ca é e xe r c i da , emblematicamente, pela ex-presa política Dilma Roussef, barbaramente torturada no regime da ditadura.

Os principais objetivos da Comissão da Verdade do Pará são esclarecer os casos de graves violações de direitos humanos ocorridos entre 1946 e 1988, em especial os episódios de torturas, mortes, prisões arbitrárias, desapare-cimentos forçados, ocultações de cadáveres, como, também, a autoria desses crimes, em especial nos anos de chumbo.

Acontece que tais desafios se confundem com a realidade e o contexto da Amazônia que, nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado fora alvo de f o r t í s s i m a p e n e t r a ç ã o econômica, seja nacional e estrangeira, como expressão maior da expansão do grande capital e do latifúndio,

A Comissão da Verdade: o direito à memória e à justiça dos paraenses.

responsável até os nossos dias pela degradação ambiental, o trabalho escravo, a grilagem, os crimes de pistolagem e a transferência de nossa imensa riqueza mineral para além-mar, ainda tão comum na realidade dos paraenses na atualidade.

Com a Comissão da Verdade, indispensável ferramenta da Justiça de Transição, podere-mos identificar e tornar público o nome dos agentes do Estado, bem como das instituições relacionadas a essas práticas e eventuais ramificações nos diversos aparelhos governamentais e na sociedade.

Poderemos, ainda, encami-

nhar aos órgãos públicos c o m p e t e n t e s t o d a e qualquer informação obtida que possa auxiliar na localização de corpos e restos mortais de desapare-cidos políticos, notadamen-t e n a G u e r r i l h a d o Araguaia, onde dezenas de brasileiros, entre campone-ses e militantes do Partido Comunista do Brasil ainda se encontram desapareci-dos nas úmidas terras paraenses.

Aspecto importante dessa tarefa civilizatória é a colaboração com todas as instâncias do poder público para a apuração dos graves crimes cometidos por agentes do estado e

recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir a violação de direitos humanos. Com o pleno êxito da Comissão da Verdade, a luta pela justiça no Pará será elevada a um novo patamar, capaz de interromper um longo ciclo d e i m p u n i d a d e q u e assistimos até os nossos dias.

Questão mercurial para a Comissão da Verdade é a mentalidade de que só podemos avança r se conhecermos os fatos que marcaram e definiram os rumos que o Pará seguiu nos últimos 50 anos e promover a construção do futuro sem a repetição dos

infames descaminhos do passado, dos tempos de d i t adu ra m i l i t a r e da r ep r e s são po l í t i c a . É , também, um passo decisivo para que seja feita justiça a B e n e d i t o S e r r a , a o s Guerrilheiros do Araguaia, a Raimundo Ferreira Lima, Gabriel Pimenta, João Canuto de Oliveira, irmã Adelaide Molinari, Paulo Fonteles, João Batista, Raimundo Jinkings, S á Pe r e i r a , B e n e d i t o Monteiro, Ruy Paranatinga Barata, Cléo Bernardo, Levi Hall de Moura e às centenas de paraenses e brasileiros, conhecidos ou anônimos, que f o r a m p e r s e g u i d o s e torturados e deram suas vidas lutando pelas liberdades públicas e a democracia.

7 5

Da redação

Belo Monte: Brasil é pressionado para cumprir determinações da OEA

RA

PH

AE

LA

LO

PE

S/J

US

TIÇ

A G

LO

BA

L

A Invasão dos Padres, situada em Altamira, sudoeste do Pará, está em condições precárias

p r o g r a m a d e

Oproteção às testemu-nhas no Brasil surgiu

em 1996 a partir da pressão e investimento de uma socieda-de civil organizada, exausta em suas tentat ivas de contribuir para a efetivação da justiça. É que sem a re taguarda neces sá r ia ninguém se dispunha, à época, a testemunhar. Logo, este fato contribuía sobrema-neira para o recrudescimento da impunidade, além de entravar processos judiciais por falta de testemunhos relevantes. Sueli Almeida, referindo-se à época do surgimento desse Programa – violência e criminalidade urbana difusa, atuação de grupos de extermínios, narcotráfico transnacional – afirma que “está delineado o contexto fortemente marcado pela cultura da violência e da impunidade no qual é gestado o PROVITA”.O Programa possui como marco legal a Lei Federal nº 9.807/99 e o Decreto 3 .518/00. Ademais , a Constituição brasileira e o Código Penal e Processual Penal, além de inúmeras leis estaduais, também constitu-em os instrumentos legais que

O Programa Brasileiro de Proteção às Testemunhas: histórico e perspectivas

Por Marcelo Moreira

O Pará ainda é um dos poucos estados brasileiros em que o PROVITA ainda está ativo

DIV

UL

GA

ÇÃ

O

7 5

Por Paulo Fonteles Filho e Angelina Anjos

Lançamento da Comissão pela Memória Verdade e Justiça do Pará - Foto de Jean Brito

Integrante da Comissão pela Memória Verdade e Justiça do Pará, o ex-vereador Paulo Fonteles, com um fóssil que pode ser de um guerrilheiro do Araguaia

JE

AN

BR

ITO

JE

AN

BR

ITO

7 5 7 5

Extermínio na Amazônia: Da pistolagem às milícias.

existência de grupos

Ad e e x t e r m í n i o , esquadrões da morte,

milícias privadas e paramilita-res, pistoleiros, jagunços e matadores de aluguel não é fenômeno novo no Brasil. Esses grupos vêm desenvol-vendo suas atividades ilegais, abusivas, perversas e em regra, de forma impune em vários estados no Brasil há séculos. As primeiras vítimas de grupos de extermínio foram os indígenas, seguidas pelo povo africano escraviza-do no Brasil, pessoas conside-radas inimigas do Poder, delinquentes e na Amazônia, lideranças sindicais, militan-tes sociais e polít icos, defensores e defensoras de D i r e i t o s H u m a n o s e trabalhadores rurais além da população pobre que mora na periferia, em sua grande maioria de jovens negros. Desde a década de 90, principalmente após o Brasil ratificar diversos instrumentos legais internacionais de Di re i tos Humanos que condenam a prática de execuções sumárias, extraju-diciais e arbitrárias já foram realizadas diversas investiga-ções sobre esses grupos no Bras i l , conduz idas por parlamentares, através de CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) e também por membros do Ministério Público tendo em vista diversas denúncias sobre o crescente número desses grupos. Um exemplo emblemático foi a CPI criada na Câmara dos Deputados sobre os grupos de extermínio com atuação na região nordeste do Brasil que revelou o índice alarmante de 80% dos crimes promovidos por estes grupos contam com a participação direta de agentes de segurança pública. Tais grupos se proclamam “justiceiros” responsáveis em fazer uma limpeza social onde preten-dem atuar, na grande maioria dos casos, eliminando os chamados “fora da lei”, bandidos, transgressores e qualquer pessoa por eles identificada como perigosas a paz social ou indicadas como tal por mandantes. Na Amazônia, o fenômeno também não é novo nas áreas peri fér icas dos centros urbanos e áreas rurais, mas o que testemunhávamos como “ p i s t o l a g e m” , q u a n d o matadores de aluguel são contratados para assassinar trabalhadores rurais, lideran-ças sindicais e sociais e ambientais hoje vem passan-do por um processo de “sofisticação” deste tipo de associação criminosa com a

p re sença das m i l í c i a s contratadas a título de proteção de terras, bens e serviços de grupos econômi-cos, políticos e de latifundiári-os, além de dar proteção a grupos criminosos ligados a desmatamentos i legais, grilagem de terras, tráfico de drogas e contrabando. Tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais há uma série de características em comum entre essas associa-ções criminosas como o controle dos territórios pelo temor genera l i zado, a violência desmedida e os assassinatos. A constituição de tais grupos de matadores é de agentes que possuem muita força e condições para agir, tais como armas, in formações e pessoal especializado, não à toa, a grande maioria é constituída por agentes de segurança pública ou ex-agentes. O crescimento expressivo da violência urbana e a ineficiên-cia do aparato policial aliadas a uma conformação político-institucional inadequada da polícia militar a realidade do Brasil após a Constituição Federal de 1988 e a difusão através de alguns programas de TV de cunho “policiales-cos” na construção de um discurso legitimador de extermínios vem sendo apontados como as principais causas da proliferação desses grupos no Brasil.O aparato policial brasileiro mata muito no Brasil, seja por meios considerados “legais” e “justificáveis” através de procedimentos como os “autos de resistência seguidos de morte” ou por meio ilegais quando se associam a esquadrões da morte, grupos de extermínio ou milícias? Uma das razões seria a ideologia do “combate ao inimigo interno” construído na época da ditadura militar quando as polícias militares passam “oficialmente” a serem forças auxiliares das forças armadas e perseguem inimigos políticos do regime d i t a to r i a l . A tua lmen te a lgumas p rá t i cas e a ideologia autoritária ainda permanecem praticamente intocadas, mesmo após a reconstrução democrática no Brasil e são usadas contra outros “inimigos”.O discurso legitimador dos extermínios seja pela via “legal e justificável” seja pela via ilegal e abusiva vem sendo reproduzido pela mídia, que produz o que pesquisadores como Rômulo Moraes e Celina Hamoy acreditam ser uma concepção “de vidas descartáveis, discursos que desqualificam essas vidas,

colocando-as na condição de inúteis para o sistema econômico hegemônico e que coloca essas pessoas em uma condição em que elas r e p r e s e n t a m p e r i g o social/biológico para as vidas dignas (cidadãos de bem) e para a sociedade. É o que Michel Foucault fala sobre o "Biopoder" que é essa relação e associação entre violência e pobreza e a construção da imagem de um inimigo da sociedade, forjando uma dicotomia entre bem e mau”. No caso mais recente de chacina na cidade de Belém observamos atentamente o comportamento de alguns programas policialescos e foi possível analisar a tentativa de se criminalizar as vítimas da chacina e justificar os crimes praticados na noite do dia 4 e madrugada do dia 5 de novembro de 2014. Várias pesquisas nacionais e internacionais sugerem que quanto mais as pessoas ficam expostas ao crime, mais elas tenderão a apoiar soluções "de força" para o problema da violência que as aflige. Nos casos acompanhados por entidades da sociedade civil como CEDECA/Emaús, SDDH no Pará, Justiça global no Rio de janeiro e Movimento Mães de Maio em São Paulo tem pontos em comum, onde a m a i o r i a d a s c h a c i n a s perpetradas, por motivações de “justiça privada”, pelo fato das vítimas serem “suspeitas” de cometimento de crimes, em especial contra agentes de

segurança pública. Não à toa, em menos de 01 ano em duas c i d a d e s d a A m a z ô n i a (Chacina em Belém e Chacina em Manaus ) pudemos constatar massacres em série de pessoas ocorridas logo após o assassinato de agentes de segurança pública.Diante deste cenário, é muito comum, e um símbolo do menosprezo pelas vidas consideradas como "descartá-veis", a ausência de apuração dos crimes de extermínio perpe t rados cont ra os pobres/pretos, ou, quando existem apurações, elas são ineficazes e discriminatórias e muita das vezes servem ou são usadas pela mídia e por d i ve r sos g rupos como reafirmação dos estereótipos negat ivos das v í t imas, principalmente da juventude negra. Infelizmente, no Brasil, as autoridades não mantêm cifras nacionais sobre a incidência dessa prática abusiva. Essa é uma constata-ção grave da falta de priorida-de que os governos atribuem a este grave problema.Aqui no Pará, após a chacina em Belém e passados mais de 9 meses pouco foi apurado, apesar de ser de domínio público a intensa participa-ção de agentes e ex-agentes de segurança pública. Dos onze inquéritos policiais instaurados pela Polícia Civil apenas dois foram concluí-dos e encaminhados a Justiça que denunciou até agora duas pessoas, um ex-policial militar e um homem alheio às

forças de segurança pública. Os inquéritos que ainda estão em andamento estão sob segredo de justiça. Por sua vez, a promotoria militar e s t a d u a l e n c a m i n h o u denúncia contra 15 policiais militares por homicídio doloso por omissão para a J u s t i ç a C o m u m , o n d e podem/devem ser processa-dos. A conclusão da promo-toria é de que policiais militares em serviço na noite do dia 4 e madrugada do dia 5 de novembro de 2014 poderiam ter evitado a matança indiscriminada, mas não o fizeram. Há relatos de testemunhas que presenciaram viaturas da p o l i c i a m i l i t a r m u i t o próximas aos motoqueiros que as sass inaram dez pessoas naquela noite e madrugada. Uma CPI foi instalada em dezembro de 2014 pela Assembleia Legislativa do Estado e em relatório conclu-sivo reconheceu a existência de diversos grupos atuando no Pará e uma das conclusões que mais chamaram a atenção foi a confirmação das relações dos chefes de milícias com agentes da segurança pública e o apoio dos agentes em serviço no caso em que ficou conhecido como chacina em Belém. Outra contribuição relevante foi a revelação do modus operandi das milícias no Pará que diferem das milícias no Rio de Janeiro e de outras regiões do Brasil. (veja o BOX 1 )

Caminhada pela paz e justiça no ,Tapanã, em memória às vítimas da chacina de novembro de 2014

CPI das milícias,

Aapesar de não ter tido acesso d i re to as

investigações da polícia civil, que até hoje se encontram em “segredo de Justiça”, mesmo assim conseguiu acessar fontes importantes e revelou esquemas e nomes de pessoas e agentes de segurança pública envolvidos em milícias e homicídios, sendo que alguns deles ainda não foram afastados e continuam trabalhando. Reconhecemos que esta CPI fez um trabalho relevante e uma série de recomendações encaminhadas ao Estado, mas até agora o que está sendo feito? Chama a atenção, alguns discursos oficiais, logo após a chacina, de NEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE TAIS GRUPOS

CRIMINOSOS. Aliás, algumas d e c l a r a ç õ e s p ú b l i c a s , infelizmente, com caráter nitidamente corporativista. Passados 9 meses da chacina a impressão que se tem é que o Governo do Pará não vem conseguindo ou não tem o interesse em investigar as milícias no Pará e desarticula-las. As recomendações da CPI das milícias estão sendo ignoradas solenemente e os pedidos de esclarecimentos dos familiares das vítimas da chacina também. Em sessão do CONSEP/PA com a presença dos familiares das vitimas da chacina em junho passado as poucas respostas foram genéricas e i n comp le ta s , a l ém de autoridades da área não reconhecerem a existência das milícias e nem reconhecer

a participação de agentes de segurança pública, mesmo após as inves t igações concluídas pelo promotor Armando Bras i l e por a c o m p a n h a m e n t o d a Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública do Pará além das investigações da CPI das milícias.Quando ocorreu a Chacina em Belém em novembro de 2 0 1 4 , A S D D H , CEDECA/EMAÚS, Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA, CEDENPA e outras autoridades declararam publicamente que não era um fato isolado. São muitos anos de acompanhamento de casos s imi lares e que revelam, infelizmente, a falta de compromisso do Estado em prevenir e combater essas situações. (veja o BOX 2)

a quem interessa

Eacobertar os mandan-tes desses crimes? A

quem interessa ocultar a triste realidade da presença de milícias nas periferias de Belém e em outras regiões do Pará? O fato é que essa negação , l en iênc ia e omissão do Governo do estado do Pará em atuar contra as milícias vêm tendo consequências graves para pessoas que corajosamente v e m d e n u n c i a n d o , acompanhando e cobrando ações como os deputados Edmilson Rodrigues, autor d o r e q u e r i m e n t o d e instalação da CPI e Carlos Bordalo, relator da CPI das Milícias, além do promotor de justiça estadual militar A r m a n d o B r a s i l q u e denunciou 15 policiais militares e Eliana Fonseca, atual Ouvidora do sistema de segurança pública que vem acompanhando e monitorando as investiga-ções. Essas pessoas fazem parte de uma lista de marcados para morrer, segundo denúncias recentes.Há re la to s a inda de perseguições a lideranças sociais jovens e já denuncia-das a diversas autoridades como foi o caso de Alex Pamplona, que precisou se afastar de sua residência e ainda aguarda proteção oficial do programa de proteção aos defensores a m e a ç a d o s . A l g u n s familiares e testemunhas r e l a t a m a t é h o j e perseguições, ameaças e a l g u m a s “ s i t u a ç õ e s estranhas e alheias” as suas rotinas e todos se encontram alarmados. A essas situações são somados novos casos de crimes praticados contra pessoas nas periferias de Belém com as mesmas características dos matado-res da chacina em Belém. Pessoas vestidas de preto, com máscaras ou capacetes em motocicletas geralmente em número de duas ou mais pessoas.O direito à vida, o direito à integridade física e moral, bem como a garantia de proteção judicial, do devido processo legal e de ampla defesa são direitos assegura-dos tan to no âmbi to nacional, como no âmbito internacional, mediante os tratados internacionais de proteção dos Dire i tos Humanos ratificados pelo Estado Brasileiro. No entanto as chacinas e extermínios principalmente os que são praticados por agentes de segurança pública tem c o n t o r n o s p o l í t i c o -institucionais frágeis que vem impedindo que se previna e combata com mais rigor essas situações. Esse

tipo de crime possui um dos m a i o r e s í n d i c e s d e impunidade no Brasil.Desde 2003 o Brasil recebe relatores especiais da ONU para execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais no Brasil e o Pará recebeu a visita da relatora Asma Jhiagnadir que ouviu de diversas organizações e do Estado como estava a situação no estado. De 2003 até hoje quase nada mudou, em que pese a lguns mecanismos internos criados no âmbito do sistema de segurança pública e Justiça, como o controle externo da atividade policial e mais recente resoluções sobre uso da força policial, pois a situação é complexa e requer medidas nas mais diversas áreas, principalmente a construção de uma nova cultura institucional. No ano de 2007, Sr. Philip Alston, outro relator sobre o mesmo tema veio ao Brasil e em seu relatório sobre execuções sumárias chama a atenção para as taxas “alarmantes” de violência policial e para a ação de grupos de extermínio no país; nenhuma das 33 recomendações feitas pelas Nações Unidas foram integralmente cumpridas. “Este relatório defende uma n o v a a b o r d a g e m e recomenda reformas na Polícia Civil, Polícia Militar, corregedoria de polícia, medicina legal, ouvidorias, p r o m o t o r e s p ú b l i c o s , judiciário e administração carcerária. O escopo das reformas necessárias é assustador, mas a reforma é possível e necessária.” (relatório ONU, 2008).A ONU divulgou em 2010 um documento alertando sobre o alto número de execuções sumárias no Brasil analisando os temas tratados durante a missão de 2007 e afirmou que “execuções extrajudiciais cont inuam em grande escala” no Brasil. Entre os temas abordados estão a v io lênc ia po l i c ia l , o s homic íd ios dent ro de unidades prisionais, a atuação de milícias e grupos de extermínio formados por agentes públicos, além das falhas e vícios presentes no aparato de investigação e processamento judicial, que propiciam a não responsa-bilização de crimes cometi-dos por representantes do Estado. Pensamos que é grave o fato de o Brasil e especificamente o estado do Pará não estar tomando as devidas providências para o enfrentamento da violência policial e para a desarticulação de grupos de extermínio e milícias.

1. Valem-se da Especialização de seus membros, especialmente para as tarefas relativas ao Extermínio;2. O território de atuação determina o alcance das ações de milícia, inclusive no que diz respeito capacidade de evoluir ao ponto de exercer poder político e servir-se dele para seus propósitos criminosos;3. A condição de agentes públicos, atrai o suporte de outros agen-tes públicos que mesmo omissivamente concor-rem para os resultados das ações de milícia inclusive concorrendo para o crime de milícia per si, sendo fatores

decisivos deste suporte / conivência:a) o respeito que os milicianos tem na tropa, seja por suas destrezas ou pelo valor que apre-sentaram em “combate” enquanto exercem seus ofícios regulares sob o comando operacional;b) o agenciamento de “bicos” nos territórios que controlam;c) o receio de serem mortos por contrariarem ou oporem-se aos interesses da milícia ed) a cultura da “RESPOSTA”, profunda-mente incutida na ideologia militar vigente na corporação.4. O extermínio é sempre motivado por

dinheiro ou por vanta-gens de qualquer nature-za, e decorre de:a) controle do trafico de drogas, mantido num grau de tolerância que ora exerce o controle sobre suas atividades ora se associa;b) Contratos de eliminação pactuados com comerciantes que atuam como agiotas e que contratam “bicos” agenciados pela milícia.5. A adoção de uma estrutura conciliar de tomada de decisões e encaminhamentos operacionais, tal como descrita na Denúncia oferecida pelo Ministério Público em razão do Caso Chacina de Icoaraci.

Modus operandi das Milícias no Pará, segundo a CPI DAS MILICIAS

1

CHACINA DO TAPANÃ – 1994 – 21 POLICIAIS ENVOLVIDOS – (03 vítimas fatais e duas vítimas sobrevi-ventes) – JOVENS E NEGROS (SUSPEITOS) - processo preparado para Júri – denunciada na CIDH/OEA e relatada a ONU.CHACINA DE SANTA IZABEL – 2011 - 02 POLICIAIS MILITARES (ROTAM E COE) assassinaram uma família em 2011 (07 pessoas entre 16 a 28 anos) a motivação seria vingança pela morte de

um parente de um dos policiais militares, a família estava sendo acusada de ser ligada ao tráfico de dro-gas/Caso relatado a OEA – processo pronto para reali-zação de Júri. CHACINA DE ICOARACI – 2011 - GRUPO DE EXTERMINIO – OPERAÇÃO NAVALHA NA CARNE – 06 jovens pobres e suspeitos de praticar atos infracionais – ACUSADOS: POLICIAIS E EX-POLICIAIS – 2011 (entre 14 e 17 anos) – um dos envolvi-

dos, Rosevan Almeida foi a júri em outubro de 2014 e foi condenado a 120 anos – CEDECA atuou como assis-tente de acusação. CHACINA EM BELÉM –2014 – 11 VIDAS – JOVENS DE PERIFERIA – 01 VIDA (POLICIAL ENVOLVIDO EM MILICIA) ROTAM ANUNCIA EM REDE SOCIAL RESPOSTA AO ASSASSINATO DO CABO FIGUEIREDO (ainda em investigações pela Polícia – CPI constatou ser ação de milícia)

CHACINAS NO PARÁ

2

JE

AN

BR

ITO

Por Anna Lins, Alberto C. Pimentel, Marco Apolo e Celina Hamoy

7 5 7 5

Extermínio na Amazônia: Da pistolagem às milícias.

existência de grupos

Ad e e x t e r m í n i o , esquadrões da morte,

milícias privadas e paramilita-res, pistoleiros, jagunços e matadores de aluguel não é fenômeno novo no Brasil. Esses grupos vêm desenvol-vendo suas atividades ilegais, abusivas, perversas e em regra, de forma impune em vários estados no Brasil há séculos. As primeiras vítimas de grupos de extermínio foram os indígenas, seguidas pelo povo africano escraviza-do no Brasil, pessoas conside-radas inimigas do Poder, delinquentes e na Amazônia, lideranças sindicais, militan-tes sociais e polít icos, defensores e defensoras de D i r e i t o s H u m a n o s e trabalhadores rurais além da população pobre que mora na periferia, em sua grande maioria de jovens negros. Desde a década de 90, principalmente após o Brasil ratificar diversos instrumentos legais internacionais de Di re i tos Humanos que condenam a prática de execuções sumárias, extraju-diciais e arbitrárias já foram realizadas diversas investiga-ções sobre esses grupos no Bras i l , conduz idas por parlamentares, através de CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) e também por membros do Ministério Público tendo em vista diversas denúncias sobre o crescente número desses grupos. Um exemplo emblemático foi a CPI criada na Câmara dos Deputados sobre os grupos de extermínio com atuação na região nordeste do Brasil que revelou o índice alarmante de 80% dos crimes promovidos por estes grupos contam com a participação direta de agentes de segurança pública. Tais grupos se proclamam “justiceiros” responsáveis em fazer uma limpeza social onde preten-dem atuar, na grande maioria dos casos, eliminando os chamados “fora da lei”, bandidos, transgressores e qualquer pessoa por eles identificada como perigosas a paz social ou indicadas como tal por mandantes. Na Amazônia, o fenômeno também não é novo nas áreas peri fér icas dos centros urbanos e áreas rurais, mas o que testemunhávamos como “ p i s t o l a g e m” , q u a n d o matadores de aluguel são contratados para assassinar trabalhadores rurais, lideran-ças sindicais e sociais e ambientais hoje vem passan-do por um processo de “sofisticação” deste tipo de associação criminosa com a

p re sença das m i l í c i a s contratadas a título de proteção de terras, bens e serviços de grupos econômi-cos, políticos e de latifundiári-os, além de dar proteção a grupos criminosos ligados a desmatamentos i legais, grilagem de terras, tráfico de drogas e contrabando. Tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais há uma série de características em comum entre essas associa-ções criminosas como o controle dos territórios pelo temor genera l i zado, a violência desmedida e os assassinatos. A constituição de tais grupos de matadores é de agentes que possuem muita força e condições para agir, tais como armas, in formações e pessoal especializado, não à toa, a grande maioria é constituída por agentes de segurança pública ou ex-agentes. O crescimento expressivo da violência urbana e a ineficiên-cia do aparato policial aliadas a uma conformação político-institucional inadequada da polícia militar a realidade do Brasil após a Constituição Federal de 1988 e a difusão através de alguns programas de TV de cunho “policiales-cos” na construção de um discurso legitimador de extermínios vem sendo apontados como as principais causas da proliferação desses grupos no Brasil.O aparato policial brasileiro mata muito no Brasil, seja por meios considerados “legais” e “justificáveis” através de procedimentos como os “autos de resistência seguidos de morte” ou por meio ilegais quando se associam a esquadrões da morte, grupos de extermínio ou milícias? Uma das razões seria a ideologia do “combate ao inimigo interno” construído na época da ditadura militar quando as polícias militares passam “oficialmente” a serem forças auxiliares das forças armadas e perseguem inimigos políticos do regime d i t a to r i a l . A tua lmen te a lgumas p rá t i cas e a ideologia autoritária ainda permanecem praticamente intocadas, mesmo após a reconstrução democrática no Brasil e são usadas contra outros “inimigos”.O discurso legitimador dos extermínios seja pela via “legal e justificável” seja pela via ilegal e abusiva vem sendo reproduzido pela mídia, que produz o que pesquisadores como Rômulo Moraes e Celina Hamoy acreditam ser uma concepção “de vidas descartáveis, discursos que desqualificam essas vidas,

colocando-as na condição de inúteis para o sistema econômico hegemônico e que coloca essas pessoas em uma condição em que elas r e p r e s e n t a m p e r i g o social/biológico para as vidas dignas (cidadãos de bem) e para a sociedade. É o que Michel Foucault fala sobre o "Biopoder" que é essa relação e associação entre violência e pobreza e a construção da imagem de um inimigo da sociedade, forjando uma dicotomia entre bem e mau”. No caso mais recente de chacina na cidade de Belém observamos atentamente o comportamento de alguns programas policialescos e foi possível analisar a tentativa de se criminalizar as vítimas da chacina e justificar os crimes praticados na noite do dia 4 e madrugada do dia 5 de novembro de 2014. Várias pesquisas nacionais e internacionais sugerem que quanto mais as pessoas ficam expostas ao crime, mais elas tenderão a apoiar soluções "de força" para o problema da violência que as aflige. Nos casos acompanhados por entidades da sociedade civil como CEDECA/Emaús, SDDH no Pará, Justiça global no Rio de janeiro e Movimento Mães de Maio em São Paulo tem pontos em comum, onde a m a i o r i a d a s c h a c i n a s perpetradas, por motivações de “justiça privada”, pelo fato das vítimas serem “suspeitas” de cometimento de crimes, em especial contra agentes de

segurança pública. Não à toa, em menos de 01 ano em duas c i d a d e s d a A m a z ô n i a (Chacina em Belém e Chacina em Manaus ) pudemos constatar massacres em série de pessoas ocorridas logo após o assassinato de agentes de segurança pública.Diante deste cenário, é muito comum, e um símbolo do menosprezo pelas vidas consideradas como "descartá-veis", a ausência de apuração dos crimes de extermínio perpe t rados cont ra os pobres/pretos, ou, quando existem apurações, elas são ineficazes e discriminatórias e muita das vezes servem ou são usadas pela mídia e por d i ve r sos g rupos como reafirmação dos estereótipos negat ivos das v í t imas, principalmente da juventude negra. Infelizmente, no Brasil, as autoridades não mantêm cifras nacionais sobre a incidência dessa prática abusiva. Essa é uma constata-ção grave da falta de priorida-de que os governos atribuem a este grave problema.Aqui no Pará, após a chacina em Belém e passados mais de 9 meses pouco foi apurado, apesar de ser de domínio público a intensa participa-ção de agentes e ex-agentes de segurança pública. Dos onze inquéritos policiais instaurados pela Polícia Civil apenas dois foram concluí-dos e encaminhados a Justiça que denunciou até agora duas pessoas, um ex-policial militar e um homem alheio às

forças de segurança pública. Os inquéritos que ainda estão em andamento estão sob segredo de justiça. Por sua vez, a promotoria militar e s t a d u a l e n c a m i n h o u denúncia contra 15 policiais militares por homicídio doloso por omissão para a J u s t i ç a C o m u m , o n d e podem/devem ser processa-dos. A conclusão da promo-toria é de que policiais militares em serviço na noite do dia 4 e madrugada do dia 5 de novembro de 2014 poderiam ter evitado a matança indiscriminada, mas não o fizeram. Há relatos de testemunhas que presenciaram viaturas da p o l i c i a m i l i t a r m u i t o próximas aos motoqueiros que as sass inaram dez pessoas naquela noite e madrugada. Uma CPI foi instalada em dezembro de 2014 pela Assembleia Legislativa do Estado e em relatório conclu-sivo reconheceu a existência de diversos grupos atuando no Pará e uma das conclusões que mais chamaram a atenção foi a confirmação das relações dos chefes de milícias com agentes da segurança pública e o apoio dos agentes em serviço no caso em que ficou conhecido como chacina em Belém. Outra contribuição relevante foi a revelação do modus operandi das milícias no Pará que diferem das milícias no Rio de Janeiro e de outras regiões do Brasil. (veja o BOX 1 )

Caminhada pela paz e justiça no ,Tapanã, em memória às vítimas da chacina de novembro de 2014

CPI das milícias,

Aapesar de não ter tido acesso d i re to as

investigações da polícia civil, que até hoje se encontram em “segredo de Justiça”, mesmo assim conseguiu acessar fontes importantes e revelou esquemas e nomes de pessoas e agentes de segurança pública envolvidos em milícias e homicídios, sendo que alguns deles ainda não foram afastados e continuam trabalhando. Reconhecemos que esta CPI fez um trabalho relevante e uma série de recomendações encaminhadas ao Estado, mas até agora o que está sendo feito? Chama a atenção, alguns discursos oficiais, logo após a chacina, de NEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE TAIS GRUPOS

CRIMINOSOS. Aliás, algumas d e c l a r a ç õ e s p ú b l i c a s , infelizmente, com caráter nitidamente corporativista. Passados 9 meses da chacina a impressão que se tem é que o Governo do Pará não vem conseguindo ou não tem o interesse em investigar as milícias no Pará e desarticula-las. As recomendações da CPI das milícias estão sendo ignoradas solenemente e os pedidos de esclarecimentos dos familiares das vítimas da chacina também. Em sessão do CONSEP/PA com a presença dos familiares das vitimas da chacina em junho passado as poucas respostas foram genéricas e i n comp le ta s , a l ém de autoridades da área não reconhecerem a existência das milícias e nem reconhecer

a participação de agentes de segurança pública, mesmo após as inves t igações concluídas pelo promotor Armando Bras i l e por a c o m p a n h a m e n t o d a Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública do Pará além das investigações da CPI das milícias.Quando ocorreu a Chacina em Belém em novembro de 2 0 1 4 , A S D D H , CEDECA/EMAÚS, Comissão de Direitos Humanos da OAB/PA, CEDENPA e outras autoridades declararam publicamente que não era um fato isolado. São muitos anos de acompanhamento de casos s imi lares e que revelam, infelizmente, a falta de compromisso do Estado em prevenir e combater essas situações. (veja o BOX 2)

a quem interessa

Eacobertar os mandan-tes desses crimes? A

quem interessa ocultar a triste realidade da presença de milícias nas periferias de Belém e em outras regiões do Pará? O fato é que essa negação , l en iênc ia e omissão do Governo do estado do Pará em atuar contra as milícias vêm tendo consequências graves para pessoas que corajosamente v e m d e n u n c i a n d o , acompanhando e cobrando ações como os deputados Edmilson Rodrigues, autor d o r e q u e r i m e n t o d e instalação da CPI e Carlos Bordalo, relator da CPI das Milícias, além do promotor de justiça estadual militar A r m a n d o B r a s i l q u e denunciou 15 policiais militares e Eliana Fonseca, atual Ouvidora do sistema de segurança pública que vem acompanhando e monitorando as investiga-ções. Essas pessoas fazem parte de uma lista de marcados para morrer, segundo denúncias recentes.Há re la to s a inda de perseguições a lideranças sociais jovens e já denuncia-das a diversas autoridades como foi o caso de Alex Pamplona, que precisou se afastar de sua residência e ainda aguarda proteção oficial do programa de proteção aos defensores a m e a ç a d o s . A l g u n s familiares e testemunhas r e l a t a m a t é h o j e perseguições, ameaças e a l g u m a s “ s i t u a ç õ e s estranhas e alheias” as suas rotinas e todos se encontram alarmados. A essas situações são somados novos casos de crimes praticados contra pessoas nas periferias de Belém com as mesmas características dos matado-res da chacina em Belém. Pessoas vestidas de preto, com máscaras ou capacetes em motocicletas geralmente em número de duas ou mais pessoas.O direito à vida, o direito à integridade física e moral, bem como a garantia de proteção judicial, do devido processo legal e de ampla defesa são direitos assegura-dos tan to no âmbi to nacional, como no âmbito internacional, mediante os tratados internacionais de proteção dos Dire i tos Humanos ratificados pelo Estado Brasileiro. No entanto as chacinas e extermínios principalmente os que são praticados por agentes de segurança pública tem c o n t o r n o s p o l í t i c o -institucionais frágeis que vem impedindo que se previna e combata com mais rigor essas situações. Esse

tipo de crime possui um dos m a i o r e s í n d i c e s d e impunidade no Brasil.Desde 2003 o Brasil recebe relatores especiais da ONU para execuções sumárias, arbitrárias e extrajudiciais no Brasil e o Pará recebeu a visita da relatora Asma Jhiagnadir que ouviu de diversas organizações e do Estado como estava a situação no estado. De 2003 até hoje quase nada mudou, em que pese a lguns mecanismos internos criados no âmbito do sistema de segurança pública e Justiça, como o controle externo da atividade policial e mais recente resoluções sobre uso da força policial, pois a situação é complexa e requer medidas nas mais diversas áreas, principalmente a construção de uma nova cultura institucional. No ano de 2007, Sr. Philip Alston, outro relator sobre o mesmo tema veio ao Brasil e em seu relatório sobre execuções sumárias chama a atenção para as taxas “alarmantes” de violência policial e para a ação de grupos de extermínio no país; nenhuma das 33 recomendações feitas pelas Nações Unidas foram integralmente cumpridas. “Este relatório defende uma n o v a a b o r d a g e m e recomenda reformas na Polícia Civil, Polícia Militar, corregedoria de polícia, medicina legal, ouvidorias, p r o m o t o r e s p ú b l i c o s , judiciário e administração carcerária. O escopo das reformas necessárias é assustador, mas a reforma é possível e necessária.” (relatório ONU, 2008).A ONU divulgou em 2010 um documento alertando sobre o alto número de execuções sumárias no Brasil analisando os temas tratados durante a missão de 2007 e afirmou que “execuções extrajudiciais cont inuam em grande escala” no Brasil. Entre os temas abordados estão a v io lênc ia po l i c ia l , o s homic íd ios dent ro de unidades prisionais, a atuação de milícias e grupos de extermínio formados por agentes públicos, além das falhas e vícios presentes no aparato de investigação e processamento judicial, que propiciam a não responsa-bilização de crimes cometi-dos por representantes do Estado. Pensamos que é grave o fato de o Brasil e especificamente o estado do Pará não estar tomando as devidas providências para o enfrentamento da violência policial e para a desarticulação de grupos de extermínio e milícias.

1. Valem-se da Especialização de seus membros, especialmente para as tarefas relativas ao Extermínio;2. O território de atuação determina o alcance das ações de milícia, inclusive no que diz respeito capacidade de evoluir ao ponto de exercer poder político e servir-se dele para seus propósitos criminosos;3. A condição de agentes públicos, atrai o suporte de outros agen-tes públicos que mesmo omissivamente concor-rem para os resultados das ações de milícia inclusive concorrendo para o crime de milícia per si, sendo fatores

decisivos deste suporte / conivência:a) o respeito que os milicianos tem na tropa, seja por suas destrezas ou pelo valor que apre-sentaram em “combate” enquanto exercem seus ofícios regulares sob o comando operacional;b) o agenciamento de “bicos” nos territórios que controlam;c) o receio de serem mortos por contrariarem ou oporem-se aos interesses da milícia ed) a cultura da “RESPOSTA”, profunda-mente incutida na ideologia militar vigente na corporação.4. O extermínio é sempre motivado por

dinheiro ou por vanta-gens de qualquer nature-za, e decorre de:a) controle do trafico de drogas, mantido num grau de tolerância que ora exerce o controle sobre suas atividades ora se associa;b) Contratos de eliminação pactuados com comerciantes que atuam como agiotas e que contratam “bicos” agenciados pela milícia.5. A adoção de uma estrutura conciliar de tomada de decisões e encaminhamentos operacionais, tal como descrita na Denúncia oferecida pelo Ministério Público em razão do Caso Chacina de Icoaraci.

Modus operandi das Milícias no Pará, segundo a CPI DAS MILICIAS

1

CHACINA DO TAPANÃ – 1994 – 21 POLICIAIS ENVOLVIDOS – (03 vítimas fatais e duas vítimas sobrevi-ventes) – JOVENS E NEGROS (SUSPEITOS) - processo preparado para Júri – denunciada na CIDH/OEA e relatada a ONU.CHACINA DE SANTA IZABEL – 2011 - 02 POLICIAIS MILITARES (ROTAM E COE) assassinaram uma família em 2011 (07 pessoas entre 16 a 28 anos) a motivação seria vingança pela morte de

um parente de um dos policiais militares, a família estava sendo acusada de ser ligada ao tráfico de dro-gas/Caso relatado a OEA – processo pronto para reali-zação de Júri. CHACINA DE ICOARACI – 2011 - GRUPO DE EXTERMINIO – OPERAÇÃO NAVALHA NA CARNE – 06 jovens pobres e suspeitos de praticar atos infracionais – ACUSADOS: POLICIAIS E EX-POLICIAIS – 2011 (entre 14 e 17 anos) – um dos envolvi-

dos, Rosevan Almeida foi a júri em outubro de 2014 e foi condenado a 120 anos – CEDECA atuou como assis-tente de acusação. CHACINA EM BELÉM –2014 – 11 VIDAS – JOVENS DE PERIFERIA – 01 VIDA (POLICIAL ENVOLVIDO EM MILICIA) ROTAM ANUNCIA EM REDE SOCIAL RESPOSTA AO ASSASSINATO DO CABO FIGUEIREDO (ainda em investigações pela Polícia – CPI constatou ser ação de milícia)

CHACINAS NO PARÁ

2

JE

AN

BR

ITO

Por Anna Lins, Alberto C. Pimentel, Marco Apolo e Celina Hamoy

7 57 5

JE

AN

BR

ITO

CA

RL

OS

BO

RG

ES

JE

AN

BR

ITO

JE

AN

BR

ITO

CA

RL

OS

BO

RG

ES

( Alberto C. Pimentel )

7 57 5

JE

AN

BR

ITO

CA

RL

OS

BO

RG

ES

JE

AN

BR

ITO

JE

AN

BR

ITO

CA

RL

OS

BO

RG

ES

( Alberto C. Pimentel )

venda de mercadorias e a circulação de dinheiro. Porém, a crise do capitalismo prosseguiu e hoje essas medidas adotadas em 2008 não cabem mais, pois, 35 milhões de brasileiros e s t ã o i n a d i m p l e n t e s , conforme estudo feito pelo SERASA. As contas do g o v e r n o v ê m s e n d o contingenciadas desde 2011. Há ainda as frequentes denúncias de corrupção na Pet robras e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).Em momentos de crise, o conflito entre as classes se acirra e fica mais evidente. De

um lado, os capitalistas que não aceitam reduzir um centavo de seus lucros, do outro os trabalhadores e trabalhadoras, que lutam pela garantia de seus direitos. Ainda há os grandes meios de comunicação, nitidamente posicionados, por sua própria natureza, do lado dos capitalistas, mentindo todos os dias, ao transmitirem informações às avessas para atender aos interesses da classe que o financia e da qual pertence. A união e organização dos diversos segmentos sociais e o fortalecimento dos sindicatos

é de t e rm inan t e ne s t e momento para que não haja nenhuma perca. As estruturas de poder político seja o executivo, o legislativo, ou ainda o judiciário estão suscetíveis à pressão social de ambas as classes, inclinados para atender aos interesses capitalistas, uma vez que o sistema político brasileiro foi sequestrado pelo poder econômico.O congresso brasileiro eleito é o mais conservador da nossa história, desde a ditadura militar. O voto, direito duramente conquista-do pelos trabalhadores, virou uma mercadoria valiosíssima.

Em período eleitoral, a economia é aquecida pela compra dos vo tos . A exemplo, o atual presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha, declarou a utilização de mais de seis milhões de reais em sua campanha eleitoral, oriundo de grandes empresas, segundo informações do site Carta Capital. Assim como ele, nas eleições de 2014, mais de 500 deputados federais eleitos declararam ter recebido R$ 168,3 milhões em “doações” de empresas.O s e m p r e s á r i o s q u e f i n a n c i a r a m e s s a s campanhas querem, depois da eleição, o retorno d o b r a d o d e s e u investimento. Portanto, a aprovação do PL 4330 é uma exigência dos financiadores das campanhas eleitorais, a retirada dos direitos dos trabalhadores é o mecanis-mo que garantirá a retoma-da dos lucros para os grandes capitalistas.O governo brasileiro está marcado por esta mesma lógica, com um grande diferencial: no segundo turno das eleições contou com apoio decisivo dos movimentos populares, sociais e sindicais e polarizou do ponto de vista programá-t ico com o programa neoliberal de Aécio Neves versus o programa de r e f o r m a s p o p u l a r e s , defendido por Dilma, o que lhe garantiu a vitória. Mas este programa foi esquecido antes mesmo da posse do s e g u n d o m a n d a t o presidencial com as medidas provisórias 666 e 667, bem c o m o a c o m p o s i ç ã o ministerial que inseriu personalidades nitidamente contrárias às reformas populares e defensoras de políticas neoliberais.

Por Alberto C. Pimentel

tema da reforma

Opo l í t i ca ganhou cent ra l idade na

pauta do congresso nacional no primeiro semestre de 2015, principalmente na Câmara dos deputados, em que seu presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) colocou em pauta de forma autoritá-ria, e sem muita discussão, uma proposta que represen-ta uma contrarreforma política, em que seu principal objetivo é de constitucionali-zar a corrupção em nosso país, já que na avaliação de expressivas entidades da sociedade civil, como Ordem dos Advogados do Brasil ( OA B ) e C o n f e r ê n c i a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o financiamento empresarial de campanha é uma das principais raízes da corrupção em nosso país. Mas o que Eduardo Cunha fez fo i uma manobra estratégica à direita para deixar tudo como está.Q u a l a r a z ã o d e s t a manobra? A razão é simples de entender. Depois das mobilizações de junho de 2013, que evidenciou os limites do nosso sistema político e democrático, emergiram na sociedade brasileira duas estratégias organizadas pela sociedade civil e movimentos popula-res, que colocaram na ordem do dia a pauta da reforma política no Brasil. A primeira estratégia se deu pela Coalizão pela Reforma Pol í t ica Democrática e eleições limpas em agosto de 2013, que iniciou um abaixo assinado para apresentar ao congresso um projeto de Lei de Iniciativa popular indican-do mudanças em nosso sistema eleitoral, sendo a principal proposta a de acabar com o financiamento empresarial de campanha, por acreditar que este é a raiz da corrupção no Brasil. A segunda est ratégia se constitui em torno de uma articulação que propõe uma profunda reforma do sistema político brasileiro através de uma Constituinte exclusiva e com ampla participação popular, que tomou a iniciativa de realizar um plebiscito popular pergun-tando ao povo brasileiro se era favorável a esta proposta de constituinte para a reforma de nosso sistema político. O plebiscito contou com a participação de aproximadamente de oito

milhões de votantes, dos q u a i s 9 7 % v o t a r a m favoráveis.Estas duas estratégias, apesar

de serem distintas, não são

divergentes e sim comple-

mentares. A única diferença é

que a primeira estratégia

apresenta proposta de

mudanças no âmbito do

sistema eleitoral, enquanto

que a segunda se propõe a

fazer uma discussão mais

ampliada da reforma política,

reivindicando mudanças nas

estruturas do sistema político,

logo, nas estruturas de poder

do estado. São estas estraté-

g ias ar t i cu ladas pe las

organizações e movimentos

sociais, associada à ação de

2011 da OAB Nacional no

Supremo Tribunal Federal

(STF) pedindo a inconstitucio-

nalidade do financiamento

empresarial de campanha,

que levou o tema da reforma

política ganhar força na

s o c i e d a d e b r a s i l e i r a ,

principalmente depois do

Plebisci to Popular pela

reforma do Sistema político

em setembro de 2014.É neste contexto que surge as

manobras de Gilmar Mendes,

ministro do STF, e Eduardo

Cunha. Em abril de 2014

Gilmar Mendes, mediante um

pedido de vista, suspendeu a

votação da ação da OAB no

supremo no justo momento

em que já havia seis votos

favoráveis do total de 11

daquela corte. Até o presente

momento o ministro ainda

não devolveu os autos para a

retomada das votações.

Perguntado sobre isso, Gilmar

Mendes respondeu: "Isso é

matéria do Congresso por

exce lênc ia . A lguém já

imaginou o Supremo definin-

do qual será o sistema

eleitoral?", afirmou ao jornal

O Globo. Tal posição do

ministro deixa claro que a

ação da OAB continuará

parada enquanto não for

aprovada a proposta iniciada

por Eduardo Cunha, que tem

como principal objetivo

constitucionalizar o financia-

mento empresar ia l de

campanha e fazer algumas

m u d a n ç a s n a s r e g r a s

eleitorais que são claramente

antidemocráticas. Ou seja,

enquanto Gilmar Mendes

obstrui a votação no supremo,

Cunha agiliza a votação da

contrarreforma política, não

deixando dúvida da finíssima

sintonia do propósito de

ambos.Ao assumir a presidência da

câmara em 2015, Eduardo

Cunha tratou de desengave-

tar com urgência uma

p ropos ta de “r e fo rma

política” em contraponto ao

que os movimentos sociais e

entidades da sociedade civil

vinham propondo. Assim, o

p res iden te da câmara

retomou a Proposta de

Emenda Constitucional (PEC

182/07), na qual agregou

algumas outras iniciativas já

existentes na casa. Esta

proposta foi chamada de PEC

da corrupção, já que seu

principal objetivo é constituci-

onalizar o financiamento

empresarial de campanha.Após ser aprovada em

primeiro e segundo turno na

câmara, a proposta de

contrarreforma política segue

para o senado para aprecia-

ção também em dois turnos.

O que deve ocorrer no

segundo semestre de 2015.

Se mantida a proposta de

financiamento empresarial de

campanha, a ação da OAB,

logicamente, sucumbirá, não

tendo mais nenhum efeito e, o

projeto de Lei de Iniciativa

Popular da Coalizão pela

reforma política democrática

também estaria derrotada.

Nesta tendência, restará às

forças populares continuar

firme na luta por uma reforma

política através da constituinte

exclusiva, pois somente este

caminho restará para reverter

tal situação e fazer uma

profunda reforma do sistema

político que possam de fato

mudar estruturas de poder em

n o s s o p a í s , i n c l u s i v e

pautando a democratização

do sistema de justiça; maior

participação direta do povo

nas tomadas de decisões;

aprimoramento do sistema

eleitoral para que seja mais

democrático; democratização

dos meios de comunicação

social e maior controle social

sobre as forças de repressão

do estado.Outra tendência é a não

aprovação da proposta no

senado, o que é muito pouco

provável. O PMDB, partido do

presidente da câmara e da

presidência do senado é o

partido que mais recebeu

dinheiro pelo financiamento

empresarial de campanha nas

últimas eleições. Foram quase

300 milhões de reais,

c on fo rme i n f o rmaçõe s

disponíveis no site www.do-

nosdocongresso.com.br. Este

volume de recurso doado por

empresas ao PMDB explica o

fato de seus deputados terem

votados junto com outros

grandes partidos da direita a

favor da constitucionalização

do financiamento empresarial

de campanha. Posição que

deve se manter no senado.Neste cenário, vejo que a luta

pela constituinte exclusiva é

uma estratégia a ser fortaleci-

da pelas forças populares

como perspectivas de se

travar uma importante luta

política em nosso país que vá

para além dos palcos das

disputas eleitorais, pois

apesar de alguns setores da

esquerda apresentarem

discordância com a proposta,

por avaliarem que ainda não

há correlação de forças

favorável para uma iniciativa

de s t a enve rgadu ra , a

campanha do plebiscito

popular pela constituinte

conseguiu articular entorno

de si um grande número de

atores sociais e políticos. São

quase 500 organizações e

movimentos sociais que se

engajaram nesta luta no

Brasil.Mas é importante dizer que a

luta pela reforma política

enfrenta um grande desafio

frente à contraofensiva das

forças direitista do congresso:

transformar esta pauta em

força mobilizadora de massa

na sociedade, na qual a luta

pela constituinte assume

importância estratégica. Esta,

porém, depois da ação do

plebiscito que possibilitou

reunir pessoas, realizar

debates e fazer uma expressiva

votação, hoje tem dificuldade

de construir uma proposta de

ação que consiga canalizar as

energias da luta social, sindical

e política para esta estratégica

luta que possibilitará com que

a classe trabalhadora se

reeduque para a luta política

no país. Mas, a Plenária dos

movimentos sociais marcada

para setembro deste ano

pretende dar resposta a

este desafio.

Os rumos da luta pela Reforma política no Brasil

A contrarreforma política de Cunha e a luta pela Constituinte

O caminho para avançar a democracia no Brasil é uma profunda reforma no nosso sistema político.

BE

NE

DIC

TO

-FO

LH

AP

RE

SS

Por Ádima Monteiro

A Saída para Crise é a Organização Popular.

política econômica de

AJoaquim Levy, Ministro d a F a z e n d a d o

governo Dilma Rousseff, e o Projeto de Lei 4.330/2004, conhecido também como o PL da Terceirização, que irão reduzir e extinguir direitos trabalhistas conquistados por mais de 100 anos de luta dos trabalhadores e trabalhado-ras, são a expressão do conservadorismo neoliberal que visa atender os interesses dos grandes capitalistas, garantindo o lucro exorbitan-te que estes estão acostuma-dos a extrair através do aumento da superexploração do trabalhador.Essas medidas se inscrevem num contexto de crise do sistema capitalista, que prejudica as áreas da e c o n o m i a , a m b i e n t a l , energética, política e social. As crises são inerentes ao capitalismo e sua recupera-ç ã o d e p e n d e d a movimentação das classes sociais. A crise que vivencia-mos hoje não começou ontem, ela explodiu nos Estados Unidos em 2007 e segue no mundo todo, arruinando economias de países periféricos. O próprio EUA sofreu duramente as consequências dessa crise.Diante deste cenário, o Brasil, que desde 2003 estava num r i t m o d e c r e s c i m e n t o econômico com mínima distribuição de renda, adotou medidas anticíclicas para conter os impactos da crise: incent ivou o consumo, liberando acesso a crédito e a empréstimo nos bancos e retirou impostos dos produtos de linha branca, beneficiando de um lado os trabalhadores e, de outro, os industriais. Essas medidas garantiram a

7 57 5

O caminho para avançar a democracia no Brasil é uma profunda reforma no nosso sistema político.

O povo desconhece o poder que tem.

Os capitalistas só estão em cima porque os debaixo permitem. É o povo que dá legitimidade as decisões atuais. Mesmo com o controle do capital sobre a política, os empresários precisam ter a opinião pública ao seu lado. Só o povo organizado pode reverter essa situação de exploração. As mobilizações de junho de 2013, que explodiram em todo o país - e m b o r a d i s p e r s a s - consegui ram conter o aumento e até reduzir o preço da passagem em diversas cidades. A greve dos funcionários da Wolkswagen em janeiro de 2014, forçou a readmissão de 800 trabalha-dores. O plebiscito da constituinte realizado em

2014 por mais de 500 organizações de todo o Brasil, com a participação de quase oito milhões de pessoas, foi capaz de trazer para pauta à luta pela constituinte do sistema político, forçando os conser-vadores a se posicionarem sobre o tema, mesmo que falseando uma contra-reforma política, a fim de enganar a popu lação fingindo atender a uma reivindicação popular.

É fato também que essas iniciativas representam pequenas vi tór ias. Nos últimos meses, a cada dia, há uma nova investida dos conservadores prejudicando a classe trabalhadora. A resposta fragmentada de cada setor de categoria profissional tem sido insufici-

ente. É necessário que os trabalhadores e trabalhado-ras compreendam que a luta pelo direito das empregadas domésticas é uma luta de interesses de todos e não apenas das domésticas. Que a luta pela reforma agrária, pela manutenção da idade penal, pela garantia dos direitos trabalhistas é de todos os trabalhadores e trabalhadoras e não apenas do setor que aparentemente será o mais atingido.O conjunto das organiza-ções populares, sociais e sindicais precisam se unificar em torno de um programa de reformas estruturais, a começar pela realização de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político e adoção de medidas emergenciais na economia

para que os trabalhadores não paguem pela crise. Quiçá a frente de esquerda que vem se articulando vide o Grupo Brasil, se enraíze em todos os cantos deste país e germine um novo cenár io de v i tór ias e conquistas para a classe trabalhadora.

Os trabalhadores e t rabalhadoras prec isam defender o governo Dilma da tentativa antidemocrática de golpe que os neoliberais vêm tentando deflagrar, na mesma intensidade que precisam exigir deste governo a adoção de um programa de reformas estruturais, bem como de medidas imediatas que ajudem a economia brasileira a se recompor. A criação de impostos sobre grandes fortunas, a manutenção do

sistema de part i lha na exploração do pré-sal e a reavaliação do percentual do orçamento brasileiro são medidas que protegem a economia brasileira – hoje extremamente assediada pelas grandes multinaciona-is, que querem controlar o mercado brasileiro e nossas riquezas naturais.

Na configuração atual do governo no país e do congresso nacional, essas medidas só serão adotadas se a reivindicação destas medidas forem frutos da luta de organizações e mobiliza-ções populares, pois a luta entre as classes está acirrada e quem tiver mais força conseguirá projetar o futuro. E o futuro promissor para o Bras i l é a c r iação de condições dignas de vida a todos os brasileiros (as).

JE

AN

BR

ITO

venda de mercadorias e a circulação de dinheiro. Porém, a crise do capitalismo prosseguiu e hoje essas medidas adotadas em 2008 não cabem mais, pois, 35 milhões de brasileiros e s t ã o i n a d i m p l e n t e s , conforme estudo feito pelo SERASA. As contas do g o v e r n o v ê m s e n d o contingenciadas desde 2011. Há ainda as frequentes denúncias de corrupção na Pet robras e no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).Em momentos de crise, o conflito entre as classes se acirra e fica mais evidente. De

um lado, os capitalistas que não aceitam reduzir um centavo de seus lucros, do outro os trabalhadores e trabalhadoras, que lutam pela garantia de seus direitos. Ainda há os grandes meios de comunicação, nitidamente posicionados, por sua própria natureza, do lado dos capitalistas, mentindo todos os dias, ao transmitirem informações às avessas para atender aos interesses da classe que o financia e da qual pertence. A união e organização dos diversos segmentos sociais e o fortalecimento dos sindicatos

é de t e rm inan t e ne s t e momento para que não haja nenhuma perca. As estruturas de poder político seja o executivo, o legislativo, ou ainda o judiciário estão suscetíveis à pressão social de ambas as classes, inclinados para atender aos interesses capitalistas, uma vez que o sistema político brasileiro foi sequestrado pelo poder econômico.O congresso brasileiro eleito é o mais conservador da nossa história, desde a ditadura militar. O voto, direito duramente conquista-do pelos trabalhadores, virou uma mercadoria valiosíssima.

Em período eleitoral, a economia é aquecida pela compra dos vo tos . A exemplo, o atual presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha, declarou a utilização de mais de seis milhões de reais em sua campanha eleitoral, oriundo de grandes empresas, segundo informações do site Carta Capital. Assim como ele, nas eleições de 2014, mais de 500 deputados federais eleitos declararam ter recebido R$ 168,3 milhões em “doações” de empresas.O s e m p r e s á r i o s q u e f i n a n c i a r a m e s s a s campanhas querem, depois da eleição, o retorno d o b r a d o d e s e u investimento. Portanto, a aprovação do PL 4330 é uma exigência dos financiadores das campanhas eleitorais, a retirada dos direitos dos trabalhadores é o mecanis-mo que garantirá a retoma-da dos lucros para os grandes capitalistas.O governo brasileiro está marcado por esta mesma lógica, com um grande diferencial: no segundo turno das eleições contou com apoio decisivo dos movimentos populares, sociais e sindicais e polarizou do ponto de vista programá-t ico com o programa neoliberal de Aécio Neves versus o programa de r e f o r m a s p o p u l a r e s , defendido por Dilma, o que lhe garantiu a vitória. Mas este programa foi esquecido antes mesmo da posse do s e g u n d o m a n d a t o presidencial com as medidas provisórias 666 e 667, bem c o m o a c o m p o s i ç ã o ministerial que inseriu personalidades nitidamente contrárias às reformas populares e defensoras de políticas neoliberais.

Por Alberto C. Pimentel

tema da reforma

Opo l í t i ca ganhou cent ra l idade na

pauta do congresso nacional no primeiro semestre de 2015, principalmente na Câmara dos deputados, em que seu presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ) colocou em pauta de forma autoritá-ria, e sem muita discussão, uma proposta que represen-ta uma contrarreforma política, em que seu principal objetivo é de constitucionali-zar a corrupção em nosso país, já que na avaliação de expressivas entidades da sociedade civil, como Ordem dos Advogados do Brasil ( OA B ) e C o n f e r ê n c i a Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o financiamento empresarial de campanha é uma das principais raízes da corrupção em nosso país. Mas o que Eduardo Cunha fez fo i uma manobra estratégica à direita para deixar tudo como está.Q u a l a r a z ã o d e s t a manobra? A razão é simples de entender. Depois das mobilizações de junho de 2013, que evidenciou os limites do nosso sistema político e democrático, emergiram na sociedade brasileira duas estratégias organizadas pela sociedade civil e movimentos popula-res, que colocaram na ordem do dia a pauta da reforma política no Brasil. A primeira estratégia se deu pela Coalizão pela Reforma Pol í t ica Democrática e eleições limpas em agosto de 2013, que iniciou um abaixo assinado para apresentar ao congresso um projeto de Lei de Iniciativa popular indican-do mudanças em nosso sistema eleitoral, sendo a principal proposta a de acabar com o financiamento empresarial de campanha, por acreditar que este é a raiz da corrupção no Brasil. A segunda est ratégia se constitui em torno de uma articulação que propõe uma profunda reforma do sistema político brasileiro através de uma Constituinte exclusiva e com ampla participação popular, que tomou a iniciativa de realizar um plebiscito popular pergun-tando ao povo brasileiro se era favorável a esta proposta de constituinte para a reforma de nosso sistema político. O plebiscito contou com a participação de aproximadamente de oito

milhões de votantes, dos q u a i s 9 7 % v o t a r a m favoráveis.Estas duas estratégias, apesar

de serem distintas, não são

divergentes e sim comple-

mentares. A única diferença é

que a primeira estratégia

apresenta proposta de

mudanças no âmbito do

sistema eleitoral, enquanto

que a segunda se propõe a

fazer uma discussão mais

ampliada da reforma política,

reivindicando mudanças nas

estruturas do sistema político,

logo, nas estruturas de poder

do estado. São estas estraté-

g ias ar t i cu ladas pe las

organizações e movimentos

sociais, associada à ação de

2011 da OAB Nacional no

Supremo Tribunal Federal

(STF) pedindo a inconstitucio-

nalidade do financiamento

empresarial de campanha,

que levou o tema da reforma

política ganhar força na

s o c i e d a d e b r a s i l e i r a ,

principalmente depois do

Plebisci to Popular pela

reforma do Sistema político

em setembro de 2014.É neste contexto que surge as

manobras de Gilmar Mendes,

ministro do STF, e Eduardo

Cunha. Em abril de 2014

Gilmar Mendes, mediante um

pedido de vista, suspendeu a

votação da ação da OAB no

supremo no justo momento

em que já havia seis votos

favoráveis do total de 11

daquela corte. Até o presente

momento o ministro ainda

não devolveu os autos para a

retomada das votações.

Perguntado sobre isso, Gilmar

Mendes respondeu: "Isso é

matéria do Congresso por

exce lênc ia . A lguém já

imaginou o Supremo definin-

do qual será o sistema

eleitoral?", afirmou ao jornal

O Globo. Tal posição do

ministro deixa claro que a

ação da OAB continuará

parada enquanto não for

aprovada a proposta iniciada

por Eduardo Cunha, que tem

como principal objetivo

constitucionalizar o financia-

mento empresar ia l de

campanha e fazer algumas

m u d a n ç a s n a s r e g r a s

eleitorais que são claramente

antidemocráticas. Ou seja,

enquanto Gilmar Mendes

obstrui a votação no supremo,

Cunha agiliza a votação da

contrarreforma política, não

deixando dúvida da finíssima

sintonia do propósito de

ambos.Ao assumir a presidência da

câmara em 2015, Eduardo

Cunha tratou de desengave-

tar com urgência uma

p ropos ta de “r e fo rma

política” em contraponto ao

que os movimentos sociais e

entidades da sociedade civil

vinham propondo. Assim, o

p res iden te da câmara

retomou a Proposta de

Emenda Constitucional (PEC

182/07), na qual agregou

algumas outras iniciativas já

existentes na casa. Esta

proposta foi chamada de PEC

da corrupção, já que seu

principal objetivo é constituci-

onalizar o financiamento

empresarial de campanha.Após ser aprovada em

primeiro e segundo turno na

câmara, a proposta de

contrarreforma política segue

para o senado para aprecia-

ção também em dois turnos.

O que deve ocorrer no

segundo semestre de 2015.

Se mantida a proposta de

financiamento empresarial de

campanha, a ação da OAB,

logicamente, sucumbirá, não

tendo mais nenhum efeito e, o

projeto de Lei de Iniciativa

Popular da Coalizão pela

reforma política democrática

também estaria derrotada.

Nesta tendência, restará às

forças populares continuar

firme na luta por uma reforma

política através da constituinte

exclusiva, pois somente este

caminho restará para reverter

tal situação e fazer uma

profunda reforma do sistema

político que possam de fato

mudar estruturas de poder em

n o s s o p a í s , i n c l u s i v e

pautando a democratização

do sistema de justiça; maior

participação direta do povo

nas tomadas de decisões;

aprimoramento do sistema

eleitoral para que seja mais

democrático; democratização

dos meios de comunicação

social e maior controle social

sobre as forças de repressão

do estado.Outra tendência é a não

aprovação da proposta no

senado, o que é muito pouco

provável. O PMDB, partido do

presidente da câmara e da

presidência do senado é o

partido que mais recebeu

dinheiro pelo financiamento

empresarial de campanha nas

últimas eleições. Foram quase

300 milhões de reais,

c on fo rme i n f o rmaçõe s

disponíveis no site www.do-

nosdocongresso.com.br. Este

volume de recurso doado por

empresas ao PMDB explica o

fato de seus deputados terem

votados junto com outros

grandes partidos da direita a

favor da constitucionalização

do financiamento empresarial

de campanha. Posição que

deve se manter no senado.Neste cenário, vejo que a luta

pela constituinte exclusiva é

uma estratégia a ser fortaleci-

da pelas forças populares

como perspectivas de se

travar uma importante luta

política em nosso país que vá

para além dos palcos das

disputas eleitorais, pois

apesar de alguns setores da

esquerda apresentarem

discordância com a proposta,

por avaliarem que ainda não

há correlação de forças

favorável para uma iniciativa

de s t a enve rgadu ra , a

campanha do plebiscito

popular pela constituinte

conseguiu articular entorno

de si um grande número de

atores sociais e políticos. São

quase 500 organizações e

movimentos sociais que se

engajaram nesta luta no

Brasil.Mas é importante dizer que a

luta pela reforma política

enfrenta um grande desafio

frente à contraofensiva das

forças direitista do congresso:

transformar esta pauta em

força mobilizadora de massa

na sociedade, na qual a luta

pela constituinte assume

importância estratégica. Esta,

porém, depois da ação do

plebiscito que possibilitou

reunir pessoas, realizar

debates e fazer uma expressiva

votação, hoje tem dificuldade

de construir uma proposta de

ação que consiga canalizar as

energias da luta social, sindical

e política para esta estratégica

luta que possibilitará com que

a classe trabalhadora se

reeduque para a luta política

no país. Mas, a Plenária dos

movimentos sociais marcada

para setembro deste ano

pretende dar resposta a

este desafio.

Os rumos da luta pela Reforma política no Brasil

A contrarreforma política de Cunha e a luta pela Constituinte

O caminho para avançar a democracia no Brasil é uma profunda reforma no nosso sistema político.

BE

NE

DIC

TO

-FO

LH

AP

RE

SS

Por Ádima Monteiro

A Saída para Crise é a Organização Popular.

política econômica de

AJoaquim Levy, Ministro d a F a z e n d a d o

governo Dilma Rousseff, e o Projeto de Lei 4.330/2004, conhecido também como o PL da Terceirização, que irão reduzir e extinguir direitos trabalhistas conquistados por mais de 100 anos de luta dos trabalhadores e trabalhado-ras, são a expressão do conservadorismo neoliberal que visa atender os interesses dos grandes capitalistas, garantindo o lucro exorbitan-te que estes estão acostuma-dos a extrair através do aumento da superexploração do trabalhador.Essas medidas se inscrevem num contexto de crise do sistema capitalista, que prejudica as áreas da e c o n o m i a , a m b i e n t a l , energética, política e social. As crises são inerentes ao capitalismo e sua recupera-ç ã o d e p e n d e d a movimentação das classes sociais. A crise que vivencia-mos hoje não começou ontem, ela explodiu nos Estados Unidos em 2007 e segue no mundo todo, arruinando economias de países periféricos. O próprio EUA sofreu duramente as consequências dessa crise.Diante deste cenário, o Brasil, que desde 2003 estava num r i t m o d e c r e s c i m e n t o econômico com mínima distribuição de renda, adotou medidas anticíclicas para conter os impactos da crise: incent ivou o consumo, liberando acesso a crédito e a empréstimo nos bancos e retirou impostos dos produtos de linha branca, beneficiando de um lado os trabalhadores e, de outro, os industriais. Essas medidas garantiram a

7 57 5

O caminho para avançar a democracia no Brasil é uma profunda reforma no nosso sistema político.

O povo desconhece o poder que tem.

Os capitalistas só estão em cima porque os debaixo permitem. É o povo que dá legitimidade as decisões atuais. Mesmo com o controle do capital sobre a política, os empresários precisam ter a opinião pública ao seu lado. Só o povo organizado pode reverter essa situação de exploração. As mobilizações de junho de 2013, que explodiram em todo o país - e m b o r a d i s p e r s a s - consegui ram conter o aumento e até reduzir o preço da passagem em diversas cidades. A greve dos funcionários da Wolkswagen em janeiro de 2014, forçou a readmissão de 800 trabalha-dores. O plebiscito da constituinte realizado em

2014 por mais de 500 organizações de todo o Brasil, com a participação de quase oito milhões de pessoas, foi capaz de trazer para pauta à luta pela constituinte do sistema político, forçando os conser-vadores a se posicionarem sobre o tema, mesmo que falseando uma contra-reforma política, a fim de enganar a popu lação fingindo atender a uma reivindicação popular.

É fato também que essas iniciativas representam pequenas vi tór ias. Nos últimos meses, a cada dia, há uma nova investida dos conservadores prejudicando a classe trabalhadora. A resposta fragmentada de cada setor de categoria profissional tem sido insufici-

ente. É necessário que os trabalhadores e trabalhado-ras compreendam que a luta pelo direito das empregadas domésticas é uma luta de interesses de todos e não apenas das domésticas. Que a luta pela reforma agrária, pela manutenção da idade penal, pela garantia dos direitos trabalhistas é de todos os trabalhadores e trabalhadoras e não apenas do setor que aparentemente será o mais atingido.O conjunto das organiza-ções populares, sociais e sindicais precisam se unificar em torno de um programa de reformas estruturais, a começar pela realização de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político e adoção de medidas emergenciais na economia

para que os trabalhadores não paguem pela crise. Quiçá a frente de esquerda que vem se articulando vide o Grupo Brasil, se enraíze em todos os cantos deste país e germine um novo cenár io de v i tór ias e conquistas para a classe trabalhadora.

Os trabalhadores e t rabalhadoras prec isam defender o governo Dilma da tentativa antidemocrática de golpe que os neoliberais vêm tentando deflagrar, na mesma intensidade que precisam exigir deste governo a adoção de um programa de reformas estruturais, bem como de medidas imediatas que ajudem a economia brasileira a se recompor. A criação de impostos sobre grandes fortunas, a manutenção do

sistema de part i lha na exploração do pré-sal e a reavaliação do percentual do orçamento brasileiro são medidas que protegem a economia brasileira – hoje extremamente assediada pelas grandes multinaciona-is, que querem controlar o mercado brasileiro e nossas riquezas naturais.

Na configuração atual do governo no país e do congresso nacional, essas medidas só serão adotadas se a reivindicação destas medidas forem frutos da luta de organizações e mobiliza-ções populares, pois a luta entre as classes está acirrada e quem tiver mais força conseguirá projetar o futuro. E o futuro promissor para o Bras i l é a c r iação de condições dignas de vida a todos os brasileiros (as).

JE

AN

BR

ITO

12

m 2015 o Brasil se viu

Ed i a n t e d e u m a c i r r a m e n t o d o s

debates acerca da redução d a i d a d e p e n a l , movimentada em parte pela pauta da mídia policialesca e, em parte, pela colocação na pauta de votação da PEC 171/93 e de outros Projetos de Leis que, direta ou indiretamente, objetivam o recrudescimento da resposta penal aos adolescentes acusados da prática de ato infracional.Assim, um dos temas mais comentados nas redes sociais, presenciais e virtuais, no primeiro semestre do corrente ano, foi a questão d a responsabilização/punição aos adolescentes envolvidos com a dita marginalidade, redirecionando a atenção do eleitorado brasileiros dos fatigantes escândalos de corrupção políticos e de o u t r a s s i g n i f i c a t i v a s alterações e inovações legislativas.No afã das enquetes de botequim, a maioria da população hoje se manifesta a favor da redução da idade penal sob o manto de argumentos segundo os quais adolescentes, embora tenham consciência do que estão fazendo, não são responsabilizados por seus atos infracionais. Para isso, traçam paralelos com a capacidade para votar e para procriar, sem explicitar a relação entre as capacidades e a necessidade de punição. Urge, entretanto, perceber os discursos subjacentes a estes argumentos e, mais ainda, as consequências jurídico-sociais que tal discurso acarreta. A dita “maioridade” traz inerente a si, na própria etimologia da expressão, a ideia de que existem diferente categorias de pessoas, as “maiores” e as “menores”. Desde a revogação do Código de Menores e da promulgação da Constituição Cidadã de 1988, enfatizando a igualdade de todos perante a lei como princípio basilar do ordenamento jurídico pátrio, essa concepção “menorista” já não tem (nem deve ter) assento nas discussões que versem sobre o tratamento a crianças e adolescentes. É p r e c i s o p a u t a r e s s a importante questão social a partir de outros paradigmas e p e n s a r a RESPONSABILIZAÇÃO de m o d o m a i s a m p l o e contextualizado do que se

7 5

Para que(m) reduzir a (maior) idade penal?

Suzany Brasil

Advogada especialista em direito da criança e do adolescente pela Universidade Federal do Pará e Professora de Língua Portuguesa.

tem nas exposições de motivos dos projetos de lei em pauta.A reflexão deve partir, necessariamente, de uma compreensão sobre o Direito Penal que não perpasse pela solução para todos os problemas sociais, como pressupõem os defensores d a s p r o p o s t a s encarceradoras. No Estado Democrático de Direito que os brasileiros se propõem oficialmente a construir, o Direito Penal tem apenas função de punir lesões aos bens da vida mais caros aos cidadãos e à sociedade, tais quais os direitos à vida, a integridade física e psíquica, e outros direitos humanos fundamentais. E, como meio de ação estatal, o Direito Penal deve ser limitado pelos m e s m o s p r i n c í p i o s e garantias constitucionais que visa proteger, não sendo leg i t imado a impetrar punição cruel, desumana ou degradante, ainda que haja em resposta a uma conduta c r i m i n o s a c o m e s s a s características.Contudo, o apelo midiático que co t id ianamente é veiculado em programas de forte cunho populista é, ainda, o da vendeta, isto é, da vingança e retribuição do mal ocasionado pelos alcunhados cr iminosos “na mesma moeda”. Tais discursos - cristalizados nas propostas de aumento de tempo de i n t e rnação/p r i s ão , de recrudescimento dos regimes disciplinares das casas de privação de liberdade, e desta famigerada redução da idade penal - objetivam mais dar resposta emocional ao crime, sob o critério da “comoção popular” ou do sofrimento acarretado às vítimas e à sociedade, que efetivar q u a l q u e r a ç ã o concretamente educativa ou socializadora.Evidente, pois, não se tratar nem de atribuir função socioeducativa a privação de liberdade, mas de tornar ainda mais gravosa a mais grave das punições admitidas pelo ordenamento jurídico. De retroceder ao mais próximo possível da já superada lógica da famosa Lei de Taleão (“olho por olho, dente por dente”). Não custa lembrar que o raciocínio penal puramente vingativo deve ser continuamente afastado ante a inegável constatação que o Direito Penal Máximo não resolve a questão da violência, mas, ao revés, a aumenta e qualifica, não sendo coerente com os princípios (inter)nacionais de humanidade e dignidade tidos como bem comum. A proposta de emenda constitucional, aprovada na calada da noite pela Câmara

dos Deputados, além de afrontar a todos os princípios constitucionais democráticos, não se apresenta, sob nenhum aspecto, como razoável para solucionar seu problema fundamental, o dito aumento da criminalidade urbana. Ao invés, acaba por duplamente vulnerabilizar os sujeitos hoje mais agredidos por esta violência urbana, quais sejam os jovens negros e moradores de periferias. Os dados estatísticos igualmente mostram que o maior índice de mortes violentas ocorre na faixa dos 15 aos 29 anos – população hoje legalmente reconhecida como Juventude e igualmente dotada de a b s o l u t a p r i o r i d a d e constitucional –, contra pessoas do sexo masculino, pretos ou pardos, e em regiões ditas periféricas. Ressalta-se que, ainda segundo dados estatísticos, é t a m b é m e s s a f a i x a populacional que mais é encarcerada no Bras i l a t u a l m e n t e . Q u a l a razoabilidade em punir as maiores vítimas do fenômeno que se diz combater? Em que pese à boa aceitação entre os 'juspenalistas de fim de semana ' da teor ia estadunidense das janelas quebradas (Broken window theory), a qual propugna pela “tolerância zero” e máxima punição aos ínfimos delitos, o s dados do s i s t ema carcerário no Brasil (e no P a r á ) e x i g e m o aprofundamento do debate p a r a a n á l i s e d a s peculiaridades socioculturais (e econômicas). De fato, o que se está estatisticamente f a z e n d o n o s i s t e m a penitenciário nacional é encarcerar a população preta, pobre e com pouco capital humano (na análise de Michel Foucault). Essa m a s s a e n c a r c e r a d a , conforme indicam os índices de reincidência, tendem a voltar reiteradas vezes ao sistema e quase nada tem c o m o p e r s p e c t i v a d e “ressocialização”. Nós, brasileiros, somos reiteradamente acusados de “não ter memória”, atuando a p e n a s p a r a a p a g a r pequenas línguas de fogo sem compreender o “incêndio na floresta” que compromete as estruturas do país, as quais estariam evidentes para quem realiza uma análise histórica, por mais superficial e incompleta que seja. Infelizmente, no que tange às propostas de redução da idade penal, evidente está que mais uma vez se está analisando a situação como o avozinho infeliz do poema de Mário Quintana, que “Em vão, por toda a parte, os óculos procura/ Tendo-os na ponta do nariz”.

RE

PR

OD

ÃO

DO

SIT

E D

IÁR

IO D

O C

EN

TR

O D

O M

UN

DO