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 PODER JUDICIÁRIO VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO APELAÇÃO CÍVEL N.º 0184748-82.2011.8.19.0001 APELANTE: CRAFT MULTIMODAL LTDA. APELADA: NAVEPORT INTERNATIONAL LTDA. RELATORA: DESEMBARGADORA GEÓRGIA DE CARVALHO LIMA  EMENTA Apelação Cível. Ação de Procedimento Comum Sumário, por meio da qual pretendeu a autora o ressarcimento pela sobreestadia do contêiner indicado na inicial. Sentença que  julgou improcedente o pedido. Inconformismo da mesma. A apelante é consignatária da mercadoria objeto do contrato de transporte firmado entre o proprietário do contêiner e a importadora, ora apelada; portanto, é tão responsável pelo pagamento relativo à demurrage quanto àquela.  In casu, os elementos coligidos aos autos não foram suficientes para demonstrar que a ré tenha extrapolado o prazo  free time para a devolução do contêiner em questão. Assim, não restou cumprido o disposto no artigo 33 3, inciso I, do Código de Processo Civil, ônus esse que incumbia à demandante, pelo que se impõe a manutenção da sentença. Recurso a que se nega provimento. 168 GEORGIA DE CARVALHO LIMA:000015001 Assinado em 08/05/2014 18:54:13 Local: GAB. DES(A). GEORGIA DE CARVALHO LIMA

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VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DOESTADO DO RIO DE JANEIRO

APELAÇÃO CÍVEL N.º 0184748-82.2011.8.19.0001

APELANTE: CRAFT MULTIMODAL LTDA.

APELADA: NAVEPORT INTERNATIONAL LTDA.

RELATORA: DESEMBARGADORA GEÓRGIA DE CARVALHO LIMA 

EMENTA

Apelação Cível. Ação de ProcedimentoComum Sumário, por meio da qual pretendeua autora o ressarcimento pela sobreestadia docontêiner indicado na inicial. Sentença que

 julgou improcedente o pedido. Inconformismoda mesma. A apelante é consignatária damercadoria objeto do contrato de transportefirmado entre o proprietário do contêiner e aimportadora, ora apelada; portanto, é tãoresponsável pelo pagamento relativo àdemurrage  quanto àquela.  In casu, os

elementos coligidos aos autos não foramsuficientes para demonstrar que a ré tenhaextrapolado o prazo free time para a devoluçãodo contêiner em questão. Assim, não restoucumprido o disposto no artigo 333, inciso I,do Código de Processo Civil, ônus esse queincumbia à demandante, pelo que se impõe amanutenção da sentença. Recurso a que senega provimento.

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A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos estes autos de ApelaçãoCível n.º 0184748-82.2011.8.19.0001, em que é apelante a CRAFT MULTIMODAL

 LTDA.e apelada a NAVEPORT INTERNATIONAL LTDA. 

A C O R D A M os Desembargadores da Vigésima Câmara Cível doTribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em negar

provimento ao recurso.

Trata-se de  Ação de Procedimento Comum Sumário, proposta pelaCraft Multimodal   Ltda. em face da  Naveport International Ltda., por meio da qual

 pretendeu a autora o ressarcimento pela sobreestadia do contêiner mencionado na exordial,sob o fundamento, em síntese, de que a ré ultrapassou o prazo para a devolução do mesmo.

Sentença, constante de fls. 89/99, que julgou improcedente o pedido.

Inconformada, a autora apresentou apelação, às fls. 108/132,

repisando os argumentos trazidos na peça vestibular.

A apelada prestigiou o julgado.

É o relatório.

A hipótese dos autos versa sobre a taxa de sobreestadia de contêiner(demurrage), que consiste na remuneração devida ao transportador marítimo pela nãodevolução do seu equipamento no prazo estipulado.

Cumpre denotar, inicialmente, que o contrato de transporte,

denominado “conteinerizado”, é regulamentado, atualmente, pela Lei n.º 9.611, de 19 defevereiro de 1998, que disciplina o transporte multimodal de cargas em geral.

 No contrato em comento, as partes contratantes convencionam o preço do frete e os prazos, inclusive no tocante ao tempo de carga e descarga damercadoria no porto.

A partir do momento em que o navio atraca no porto, existe umaexpectativa de tempo para que a descarga das mercadorias transportadas se conclua e paraque os contêineres sejam devolvidos ao armador; no presente caso, à Aliança Navegação eLogística Ltda.; e não à autora.

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O atraso na devolução do contêiner gera prejuízos ao armador, poiscausa retenção do navio e atrasos subsequentes, e, como forma de compensá-los, éestabelecida uma indenização, denominada demurrage ou sobreestadia.

 Nesse contexto, o consignatário, embora não intervenha diretamenteno mencionado contrato, recebe o conhecimento de embarque, de forma a efetuar odesembaraço aduaneiro da mercadoria importada, o que demonstra a sua adesão aos termose às condições pactuadas, como terceiro, na forma do parágrafo único do artigo 436 doCódigo Civil.

Assim, in casu, tem-se que a autora é a consignatária da mercadoriatransportada, objeto do contrato firmado entre o proprietário dos contêineres e a oraapelada; portanto, é tão responsável, pelo pagamento relativo à sobreestadia, quanto esta.

Sobre o tema, precedente neste Colendo Tribunal, da lavra doDesembargador Cherubin Helcias Schwartz, nos autos da Apelação Cíveln.º 0384151-66.2010.8.19.0001, cuja ementa ora se transcreve:

APELAÇÕES CÍVEIS. TRANSPORTE MARÍTIMODE CARGAS. AÇÃO DE COBRANÇA.UTILIZAÇÃO DE CONTAINERS ALÉM DO PRAZODA FRANQUIA, FREE TIME. SOBRESTADIA(DEMURRAGE).  INADIMPLEMENTOCONTRATUAL. Restando devidamente comprovada autilização dos containers além do tempo da franquia(free time), nasce a obrigação pelo pagamento dasobrestadia (demurrage),  que decorre do contrato detransporte marítimo, materializado no Conhecimento deEmbarque. Neste sentido, a ré, como consignatária,vinculou-se às disposições da tabela demurrage. Prática usual e costumeira inserida em contratos detransporte marítimo de carga. Precedentes. Recursos aosquais se nega seguimento, na forma do art. 557 do CPC.

 No mesmo sentido, é o julgado desta Colenda Câmara, em que foirelatora a Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira, nos autos da Apelação Cíveln.º 0412926-91.2010.8.19.0001, conforme a ementa que se passa a consignar:

PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E COMERCIAL.DIREITO MARÍTIMO. SOBREESTADIA DE"CONTAINERS" (DEMURRAGES). UTILIZAÇÃO

DE CONTAINERES PARA TRANSPORTE DEMERCADORIAS QUE DEVEM SER DEVOLVIDOS

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IMEDIATAMENTE APÓS A DESCARGA.LEGITIMIDADE PASSIVA DAQUELE QUEFIGUROU NO CONTRATO COMOCONSIGNATÁRIO. EXCEDIDO O TEMPOESTIPULADO PARA EMBARQUE OU DESCARGADO NAVIO, RESPONDE O CONTRATANTE PELOPAGAMENTO DA DEMURRAGE. SENTENÇA QUE

 NESSE SENTIDO APONTOU, INCENSURÁVEL,DESPROVIMENTO DO RECURSO. UNÂNIME.

 Nessa linha de raciocínio, verifica-se que a apelante não efetuou o pagamento da alegada sobreestadia, o que respaldaria a sua pretensão de ressarcimento.

Por outro lado, não restou comprovado que a apelada tenhaextrapolado o prazo free time, para a devolução do contêiner em questão.

Dessa forma, correto o julgado a quo, eis que a autora nãocomprovou os fatos constitutivos do seu direito, de acordo com o disposto no inciso I doartigo 333 do Código de Processo Civil, ônus esse que lhe cabia.

Do que se antecede, impõe-se a manutenção do ato judicial oraatacado.

Pelo exposto, nega-se provimento ao presente recurso.

Rio de Janeiro, 07 de maio de 2014.

GEÓRGIA DE CARVALHO LIMADESEMBARGADORA RELATORA

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