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Juliana Soares Moura Costa Tipologias Culturais e Ciclo de Vida Organizacional: O Caso ENSR AECOM Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós- Graduação em Administração de Empresas do Departamento de Administração da PUC-Rio. Orientadora: Patrícia Amélia Tomei Rio de Janeiro Fevereiro de 2008

Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

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Juliana Soares Moura Costa

Tipologias Culturais e Ciclo de Vida Organizacional:

O Caso ENSR AECOM

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas do Departamento de Administração da PUC-Rio.

Orientadora: Patrícia Amélia Tomei

Rio de Janeiro Fevereiro de 2008

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Juliana Soares Moura Costa

Tipologias Culturais e

Ciclo de Vida Organizacional:

O Caso ENSR AECOM

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas do Departamento de Administração da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Patrícia Amélia Tomei

Orientadora Departamento de Administração-PUC-Rio

Prof. José Roberto Gomes

Departamento de Administração-PUC-Rio

Prof. Jorge Augusto de Sá Brito e Freitas

Universidade Estácio de Sá

Prof. João Pontes Nogueira

Vice-Decano de Pós Graduação do CCS

Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2008

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Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e da orientadora.

Juliana Soares Moura Costa

Graduou-se em Engenharia Civil Ambiental e Engenharia de Produção Civil na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, em 2002. Em 2005 concluiu o curso de Especialização em Análise e Avaliação Ambiental, em nível de Pós-Graduação “Lato Sensu”, na Coordenação Central de Extensão da PUC-Rio. Atualmente é Gerente de Licenciamento da multinacional ENSR, aonde gerencia uma equipe de dezessete profissionais e diversos projetos na área ambiental.

Ficha Catalográfica

CDD 658

Costa, Juliana Soares Moura

Tipologias culturais e ciclo de vida

organizacional : o caso ENSR / AECOM / Juliana

Soares Moura Costa ; orientadora: Patrícia Amélia

Tomei. – 2008.

119 f. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Administração)–

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro, 2008.

Inclui bibliografia

1. Administração – Teses. 2. Cultura

organizacional. 3. Ciclo de vida das empresas. 4.

Gerenciamento cultural. I. Tomei, Patrícia Amélia. II.

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Departamento Administração. IV. Título.

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Para minha família, em especial sua mais nova integrante,

minha princesinha.

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Agradecimentos

Ao meu marido, pelo apoio, paciência, companheirismo e pela linda família que

estamos formando.

Aos meus pais, pelo constante e incondicional incentivo, apoio, carinho e atenção.

Aos meus irmãos, aos tios Erlane e Christine, aos primos Marcus e Márcia, e a

todos os outros familiares que de alguma forma contribuíram para que eu

terminasse mais esse projeto.

À professora e orientadora Patrícia Tomei, pela dedicação, paciência, aprendizado

e confiança que tornaram possível realizar essa obra.

À ENSR pelo aprendizado ao longo de cinco anos de convivência profissional.

Aos profissionais e amigos que contribuíram de forma direta ou indireta com a

elaboração deste trabalho, sem os quais nada teria sido feito.

Ao Marco Aurélio de Sá Ribeiro, pelas importantes contribuições a esse trabalho

e incentivo. Aos amigos do mestrado acadêmico, cujas trocas dentro e fora da sala

de aula serviram como grande aprendizado.

Aos professores José Roberto Gomes, Sergio Proença, Marie Agnes Chauvel,

Jorge Ferreira, Paulo César Mota e Diana Macedo Soares pela troca e aprendizado

em suas disciplinas.

A todos os meus amigos, que de uma forma ou de outra me ajudaram a completar

mais essa etapa.

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Page 7: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

Resumo

Costa, Jul iana Soares Moura; Tomei , Patr ícia Amelia. Tipologias Culturais e Ciclo de Vida Organizacional: O

Caso ENSR AECOM. Rio de Janeiro, 2008. 119p. Dissertação de Mes trado - Departamento de Adminis t ração, Pont i f ícia Univers idade Catól ica do Rio de Janeiro.

Esta dissertação analisa o gerenciamento cultural ao longo do ciclo de vida

de uma organização. Para tanto, foi feito um estudo de caso da ENSR Brasil –

ENSR International Brasil Ltda., empresa do mercado de consultoria ambiental,

presente no Brasil desde 1998. Com base em uma análise qualitativa, neste

trabalho foi avaliada a evolução da cultura organizacional da ENSR Brasil em

seus diferentes estágios evolutivos e, com base em modelos e tipologias culturais

identificados na literatura, analisado o processo de mudança cultural instituído na

empresa a partir de 2006, depois de instituída influência mais direta e efetiva da

matriz americana. O resultado deste estudo reforça a literatura sobre o tema

referente à questão da forte correlação entre cultura e ciclo de vida, evidenciando

a importância de variáveis como a estrutura de poder e o processo decisório no

gerenciamento da mudança organizacional.

Palavras-chave

Cultura Organizacional; Ciclo de Vida das Empresas; Gerenciamento Cultural.

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Page 8: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

Abstract

Costa, Jul iana Soares Moura; Tomei , Patr ícia Amelia. Cultural Typologies and Organizational Life Cycle: Case

ENSR AECOM . Rio de Janeiro, 2008. 119p. MSc. Dissertat ion - Departamento de Adminis t ração, Pont i f íc ia Univers idade Catól ica do Rio de Janeiro.

This essay analyses the cultural management along the organization life

cycle. With this purpose, a case study was developed based on the research of the

company ENSR Brasil – ENSR International Brasil Ltda., which was established

in Brazil in 1998. Based on a qualitative analysis, this works evaluates the

evolution of ENSR Brasil’s organizational cultural in its different evolution

stages. Additionally, by applying models and typologies identified in the

literature, it analyses the process of cultural change established in the company

from 2006 on, after a more direct and effective influence of the American head

office was instituted. The result of this study reinforces the literature about the

subject related to the strong correlation between culture and life cycle, pointing

out the importance of variables such as power structure and the decision process

in the management of the organizational change.

Keywords

Organizational Culture; Organizational Life Cycle; Culture management.

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Sumário

1. O Problema 11

1.1. Introdução 11

1.2. Objetivos 12

1.3. Delimitação do Estudo 13

1.4. Relevância do Estudo 13

2. Referencial Teórico 16

2.1. Cultura Organizacional 16

2.1.1. Definições e conceituação 16

2.1.2. Formação e características da cultura organizacional 21

2.1.3. Importância e funções 25

2.2. Manifestações e Níveis Culturais 26

2.2.1. A abordagem de Schein 27

2.2.2. A abordagem de Trice & Beyer 29

2.3. Tipologias Culturais – Decifrando a Cultura Organizacional 32

2.3.1. Modelo de Charles Handy 33

2.3.2. Modelo de Sethia & Von Glinow 35

2.3.3. Modelo de Donnelly 37

2.3.4. Modelo de Deal & Kennedy 37

2.3.5. Modelo de Davis 40

2.3.6. Modelo de Barros e Prates 40

2.4. Ciclo de Vida das Organizações 42

2.5. Gerenciamento Cultural 45

2.5.1. Liderança e gerenciamento cultural 48

2.6. Mudança Cultural 50

2.6.1. Modelo de Pettigrew 51

3. Metodologia 54

3.1. Tipo de Pesquisa 54

3.2. Seleção do Caso e Escolha dos Sujeitos 55

3.3. Descrição das Etapas da Pesquisa 57

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Page 10: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

3.4. Coleta de Dados 58

3.5. Fundamentação Metodológica 59

3.6. Tratamento dos Dados 59

3.7. Limitações do Método 60

4. Estudo de Caso: ENSR Brasil 62

4.1. Histórico 62

4.1.1. Histórico da ENSR 62

4.1.2. Histórico da AECOM 63

4.1.3. Histórico da ENSR Brasil 63

4.2. Definição do Negócio 65

4.2.1. Serviços, posicionamento, vendas e marketing 67

4.2.2. Missão 69

4.2.3. Visão 69

4.2.4. Valores 69

4.2.5. Localização física e descrição da operação 71

4.3. Estrutura Organizacional e Evolução no Número de

Funcionários

73

4.4. Desenvolvimento Organizacional 79

4.4.1. Política de remuneração e premiações 79

4.4.2. Recrutamento e seleção 81

4.4.3. Processos sucessórios 82

4.4.4. Outras ações de desenvolvimento organizacional 82

4.4.5. Responsabilidade social 84

5. Análise da Cultura Organizacional 86

5.1. Análise do Ciclo de Vida 87

5.2. Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Nascimento 91

5.3. Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Meia-Vida

Organizacional

93

5.4. Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Maturidade

Organizacional

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5.5. Comparação da Cultura Organizacional antes e após a

Reestruturação Organizacional de 2006

101

5.6. Gerenciamento da Mudança 105

6. Conclusão 112

6.1. Recomendações 113

6.2. Sugestões para Pesquisas Futuras 114

7. Referências Bibliográficas 115

8. Apêndice – Questionários Aplicados 118

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1

O Problema

1.1

Introdução

O cenário organizacional atual vem tornando-se cada vez mais complexo e

dinâmico, com mudanças constantes nos ambientes internos e externos das

empresas, passando por reestruturações, fusões e aquisições, crescimento

repentino, incertezas regulatórias, entre outros. Essa dinâmica faz com que as

organizações busquem um entendimento cada vez mais aprofundado de todas as

suas forças e fraquezas e seus potenciais diferenciais competitivos, de forma a

permitir uma melhor adaptação a esse ambiente extremamente complexo.

Um dos fatores que já vem sendo estudado há algumas décadas, mas cuja

relevância ganhou destaque a partir da década de 80, é a cultura organizacional,

definida por diversos autores de diferentes formas, mas que representa um sistema

de valores compartilhado pelos membros de uma organização que a diferencia das

demais (ROBBINS, 2005).

Ainda não há consenso na academia sobre a possibilidade de se mudar uma

cultura organizacional, ou seja, se a organização é uma cultura ou se a cultura é

algo que ela possui. Porém, é unanimidade que o conhecimento da cultura

organizacional e suas características é essencial para o gerenciamento de uma

organização, representando importante variável para a manutenção ou obtenção

do sucesso.

Ao longo da vida de uma organização, cada vez mais estruturas e

estratégias flexíveis são perseguidas de forma inovadora para se adaptar ao

ambiente em constante mudança. No entanto, muitas vezes as empresas esbarram

em barreiras à mudança que dificultam a constante adaptação a essas pressões do

ambiente. Por isso destaca-se a necessidade de estabelecer valores e crenças

organizacionais que permitam que a cultura da organização esteja alinhada com

estas estruturas e estratégias. Logo, urge que as empresas trabalhem esses

pressupostos culturais de forma a manter o sucesso alcançado ou evoluir através

de mudanças estruturais, estratégicas e também culturais.

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Logo, a pergunta que surge é: qual o impacto da evolução de uma

empresa ao longo de seu ciclo de vida na sua cultura organizacional?

Esta questão irá nortear este trabalho, buscando relacionar a evolução de

uma empresa ao longo de seu ciclo de vida às tipologias culturais e avaliar as

possibilidades de gerenciamento da mudança cultural, à luz das teorias de

evolução cultural, tipologias culturais e mudança e gerenciamento cultural

identificadas na literatura organizacional.

1.2

Objetivos

Para definir os objetivos deste estudo, usamos o conceito de Schein (2004)

de que a cultura de uma organização é um mundo de valores e pressupostos

amplos e sua descrição pode preencher numerosos volumes, logo o administrador

deve ter um objetivo gerencial ao analisar uma dada cultura.

Portanto, o objetivo final deste estudo é avaliar o impacto da evolução de

uma empresa ao longo de seu ciclo de vida em sua cultura organizacional,

avaliando as possibilidades de gerenciamento da cultura em processos de

mudança.

Os objetivos intermediários são:

• Caracterizar e delimitar os conceitos relacionados à cultura

organizacional e gerenciamento cultural;

• Apresentar modelos e tipologias culturais sobre a questão da evolução

organizacional e mudança organizacional;

• Com base no referencial teórico desenvolvido, descrever o estudo de

caso, focando nos seguintes aspectos:

- A evolução organizacional da empresa com base no seu ciclo de

vida, relacionando com a caracterização de sua cultura organizacional

e seu posicionamento nas diferentes tipologias culturais;

- O estágio de crescimento em que a organização se encontra e como

isto interfere na função de sua cultura hoje;

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13

- As mudanças ambientais e culturais encontradas ao longo do

processo evolutivo da empresa, em particular o processo de

reestruturação organizacional ocorrido, identificando o gerenciamento

possível dentro deste contexto.

1.3

Delimitação do Estudo

Sob o ponto de vista geográfico, o estudo limita-se à filial do grupo ENSR

no Brasil, a ENSR Brasil, abrangendo os escritórios no Rio de Janeiro e em São

Paulo, apesar de que a empresa tem forte influência de sua matriz americana sobre

os aspectos de sua cultura. O escopo deste estudo, portanto, é limitado à análise de

um setor (consultoria ambiental).

Adicionalmente, além da questão da cultura organizacional, outros fatores

são importantes no processo de amadurecimento de uma empresa, como a

conjuntura econômica, os aspectos regulatórios, a concorrência, marketing e a

estratégia adotada. Logo, o estudo não pretende esgotar todos os fatores que

possam ser responsáveis pelo amadurecimento da organização.

Um fator relevante que não será tratado neste estudo é a relação da

evolução da empresa e de sua cultura organizacional com seu desempenho.

Trataremos unicamente das questões relacionadas à cultura organizacional e seu

papel no contexto de mudança.

Em termos temporais, esse estudo compreende o período entre 1998, ano

de criação da ENSR Brasil, e 2007, ano de mudança no comando da empresa.

1.4

Relevância do Estudo

Segundo Robbins (2005), uma forte cultura organizacional dá direção à

empresa e fornece direção aos funcionários, ajudando a formar uma compreensão

clara acerca da “maneira como as coisas são feitas aqui”. Adicionalmente, um

bom clima organizacional é o que propiciará a empresa reter os seus talentos e, da

mesma forma, atrair novos talentos, fundamentais à sua competitividade num

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cenário de tantos desafios e mudanças como o que estamos enfrentando (TOMEI,

1994).

Considerando-se o ambiente externo de constante e dinâmica mudança, o

aprofundamento do conhecimento sobre cultura organizacional torna-se relevante

para apontar formas de gerenciar essa variável e seu impacto na administração e

implementação de estratégias e mudanças estruturais que visem adaptar a

organização ao ambiente externo e buscar um modelo de sucesso. O conteúdo das

crenças representa o que faz a diferença entre as empresas de alto padrão – as

campeãs – e aquelas insignificantes e medíocres (FREITAS, 2007).

Quando tratamos de empresas de serviço, o assunto toma importância maior

ainda, pelo significado crucial dos funcionários de serviços, uma vez que eles são

o serviço, são a organização aos olhos do cliente e são profissionais de mercado

(ZEITHAML & BITNER, 2003). Segundo Deal & Kennedy (2000), organizações

são instituições humanas, não prédios de pelúcia, fins da linha ou planos

estratégicos de cinco anos. Ainda segundo os autores, a real existência de uma

companhia está nos corações e cérebros de seus funcionários. Adicionalmente, o

setor de serviços no Brasil é a grande promessa de empregabilidade (formal ou

não) para um enorme contingente de profissionais que chega ao mercado de

trabalho a cada ano.

Outra relevância do estudo está relacionada ao ciclo de vida de empresas,

em especial as pequenas e médias empresas Brasileiras que lutam contra um

ambiente tributário extremamente desfavorável, baixo investimento em infra-

estrutura e graves problemas de distribuição de renda e educação, que ocasionam

dificuldade de contratação de mão de obra qualificada. Estatísticas recentes

mostram que de cada 100 empresas familiares fundadas no Brasil e no mundo,

apenas 30 sobrevivem à segunda geração, 15 à terceira, e 4 à quarta (SANTOS,

2004). Além disso, de acordo com a “Demografia das empresas 2005/IBGE”

(RODRIGUES, 2007), apenas 51,6% da companhias criadas em 1997

conseguiram enfrentar as dificuldades, permanecendo abertas oito anos depois.

Essa mortalidade é muitas vezes causada pelo fraco entendimento e

consideração do gerenciamento cultural como importante variável ao longo do

ciclo de vida das organizações. Compreendendo melhor os pressupostos culturais

de uma organização, será possível estabelecer os caminhos corretos para a

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definição e a implementação de estruturas organizacionais e estratégias de

negócios que gerem resultados positivos.

Segundo Schein (2004), o fato de uma cultura ser boa ou não, de ser

efetivamente funcional ou não, depende não somente da cultura, mas do

relacionamento desta com o ambiente onde ela existe. O estudo da cultura de uma

organização permite chegar a elementos suficientes para tornar compreensíveis

alguns dos fenômenos-chave na empresa (SCHEIN, 2004). Trice & Beyer (1993)

ressaltam o caráter contingencial da cultura organizacional como propiciadora do

êxito empresarial.

Portanto, através de estudos de casos em empresas que passaram por

diferentes situações de ruptura, poderemos alcançar algumas conclusões e

recomendações mais eficientes para os gestores destas empresas.

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16

2

Referencial Teórico

2.1

Cultura Organizacional

Segundo Trice & Beyer (1993), a pesquisa em cultura organizacional não é

recente, havendo uma linha de pesquisa constante sobre o fenômeno da cultura

nas organizações que data desde os anos 30. Ela, porém, ganhou mais notoriedade

nos anos 80, quando o número de artigos e pesquisas sobre o assunto se

multiplicou consideravelmente e através de artigos precursores como o de

Pettigrew (1979).

2.1.1

Definições e conceituação

O termo cultura é um termo com diversas definições, estudado por diversos

campos das ciências sociais, como a antropologia, a sociologia, a geografia, etc.

Como afirma Freitas (2007), “É preciso, pois, termos clareza de que o conceito de

cultura não é universal, tampouco inequívoco”. Neste item, busca-se definir e

conceituar os termos cultura e cultura organizacional, mas sabendo que não

encontraremos uma definição definitiva ou universal.

O conceito de cultura originou-se na Antropologia. “Edward Burnett Tyler é

considerado o fundador da antropologia cultural, para ele Cultura ou civilização,

no seu sentido etnográfico estrito, é um todo complexo que inclui conhecimento,

crença, arte, leis, moral, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos

adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade ou de um grupo” (SÁ

RIBEIRO, 2007, p.19). Tylor definiu cultura como “todo comportamento

aprendido, independente de transmissão genética” (LARAIA, 2003). Mesmo

dentro da antropologia, o conceito de cultura encontra diversas definições,

conforme demonstrado no levantamento feito pelos antropólogos Kroeber e

Kluckholm em 1952, quando encontraram cerca de 160 diferentes definições para

o termo (FREITAS, 2007).

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Para efeito de ilustração, Freitas (2007, p.11-12) usa a definição de cultura

para a antropologia cognitiva, como sendo “o conjunto dos conhecimentos que

são compartilhados entre os membros de um grupo ou sociedade”; na

antropologia simbólica a ênfase recai sobre os significados compartilhados e não

nos conhecimentos; e já a antropologia estrutural, o estudo dos processos

psicológicos inconscientes é privilegiado, vendo a “cultura como uma projeção

universal da mente”.

Com base nos estudos de Smircich (1983), os estudos sobre cultura

organizacional a enxergam de duas maneiras distintas: a) como uma metáfora, ou

seja, considera a cultura algo que a organização é; b) como uma variável,

considerando a cultura como algo que a organização tem.

Quando a cultura organizacional é vista como uma metáfora, prioriza-se os

aspectos conceituais e políticos da organização, como a questão do poder, do

controle social e ideológico ou a importância de construção vínculo e imagem

(FREITAS, 2007). No entanto, quando tratamos a cultura organizacional como

uma variável, aceitamos que ela seja interpretada como uma variável e, portanto,

que seja gerenciável, sendo mais um dos aspectos de uma organização que

poderão ser administrados (junto com a estrutura e a estratégia) para atingir os

objetivos da empresa. Neste sentido, ela passa a ser tratada dentro do paradigma

funcionalista, buscando soluções e respostas pragmáticas para os problemas

gerenciais.

Dentro dessas diferentes perspectivas, muitas são as definições para o termo

cultura organizacional. A mais citada e provavelmente uma das mais ricas foi

desenvolvida por Schein (1984). Para o autor, cultura organizacional é:

“um padrão de pressupostos básicos compartilhados que foram aprendidos por um

grupo conforme ele soluciona seus problemas de adaptação externa e integração

interna; e que estes pressupostos tenham funcionado bem o suficiente para serem

considerados válidos e, portanto, para serem ensinados a novos membros como a

maneira correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses problemas”

(SCHEIN, 1984, p.17).

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Segundo Schein, os pressupostos básicos compartilhados de uma

organização podem ser vistos como seu DNA. Além disso, segundo o autor:

“Cultura é tanto um fenômeno dinâmico que nos cerca todo o tempo, sendo

constante mente interpretada e criada por nossas interações com outros e formada

pelo comportamento da liderança, como um conjunto de estruturas, rotinas, regras

e normas que guiam e reprimem o comportamento” (SCHEIN, 1984, p.1).

Segundo Hofstede:

“Culturas organizacionais devem ser distinguidas de culturas nacionais. Culturas

nacionais diferenciam pessoas, instituições e organizações similares em diferentes

países. Culturas organizacionais, da forma como eu uso o termo, fazem distinção

entre diferentes organizações no mesmo país ou países. Culturas se manifestam da

superfície até profundamente, em símbolos, heróis, rituais e valores. Minha

pesquisa mostrou que culturas organizacionais se diferenciam principalmente no

nível dos símbolos, heróis e rituais, junto com ‘práticas’ padronizadas; culturas

nacionais se diferenciam principalmente no nível profundo, o nível dos valores.

Como conseqüência, as cinco dimensões de culturas nacionais identificadas na

minha pesquisa, que são baseadas em valores, não são aplicáveis para comparar

organizações em um mesmo país. Culturas nacionais pertencem à antropologia;

culturas organizacionais à sociologia” (http://www.geert-hofstede.com/ - acesso

em 09/12/07).

Shrivastava (1985) vê a cultura organizacional como um conjunto de

produtos concretos por meio dos quais o sistema é estabilizado e perpetuado.

Esses produtos incluem os mitos, as sagas, os sistemas de linguagem, as

metáforas, os símbolos, as cerimônias, os rituais, o sistema de valores e as normas

de comportamento. Para ele, os produtos culturais são determinados pelos

pressupostos que são compartilhados por um grupo e adverte que é o consenso e a

homogeneidade em torno desses pressupostos que determinam a força e o caráter

único dos processos e produtos culturais nas organizações.

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Para Tomei (1994), cultura organizacional é definida como valores e

crenças divididos por membros das organizações, expressos por jargões,

cerimoniais ou rituais, práticas organizacionais, etc.

Segundo Trompenaars (1994), cultura é o resultado de uma interação social,

que pressupõe formas comuns de processar informações entre as pessoas que

interagem. Com isto, a dependência mútua dos atores deve-se ao fato de que

juntos, constituem um sistema interligado de significados, uma definição comum

de uma situação para um grupo.

Já Pettrigrew (1979) trata a cultura organizacional dentro de um viés

interpretativo, aonde a cultura organizacional é representada por um sistema de

significados que é aceito publica e coletivamente por dado grupo durante certo

tempo. Esse sistema de termos, formas, categorias e imagens interpretam para as

pessoas as suas próprias experiências e situações.

Segundo Trice & Beyer:

“As Culturas são um fenômeno coletivo que abrangem as respostas das pessoas às

incertezas e ao caos que são inevitáveis na experiência humana. Estas respostas

caem em dois tipos principais de categorias, a primeira é a substancia da cultura –

os sistemas compartilhados de crenças que chamamos de ideologias. A segunda

são as formas culturais – entidades observáveis, incluindo as ações, através das

quais os membros de uma cultura expressam, afirmam e comunicam a substancia

de sua cultura uns para os outros” (TRICE & BEYER, 1993, p.2).

Conforme demonstrado através das diversas definições apresentadas, a

cultura organizacional foi e continua sendo foco de muitos estudos, resultando em

diferentes formas e enfoques dados pelos autores. Neste estudo, adotaremos a

definição de Pettigrew (1996, p.146), que abrange os conceitos de Schein (1985),

Barney (1986) e do próprio Pettigrew (1979):

“Compreende-se a cultura organizacional como um fenômeno que existe numa

variedade de níveis diferentes. No nível mais profundo, a cultura é pensada como

um conjunto complexo de valores, crenças e pressupostos que definem os modos

pelos quais uma empresa conduz seus negócios. Tal núcleo de crenças e

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pressupostos básicos são, naturalmente, manifestos nas estruturas, sistemas,

símbolos, mitos e padrões de recompensas dentro da organização.”

Por fim, é importante diferenciar cultura organizacional de clima

organizacional. Clima organizacional é a atmosfera resultante das percepções que

os colaboradores de uma organização têm dos diferentes aspectos que influenciam

seu bem estar e satisfação (TOMEI, 1994). O clima organizacional tem diversas

formas de manifestação, tais como, o envolvimento das pessoas, turnover,

absenteísmo, ações sindicais, greves, integração das equipes de trabalho, conflitos,

entusiasmo, etc. Um bom clima organizacional é que proporcionará a empresa

reter seus talentos e, da mesma forma, atrair novos talentos, fundamentais à sua

competitividade num cenário de tantos desafios e mudanças como o atual

(TOMEI, 1994).

Clima é o reflexo do estado de espírito ou do ânimo das pessoas,

predominante em uma determinada organização em um determinado período. É

importante destacar o fator tempo neste conceito, uma vez que o clima

organizacional é instável, conforme a influência que sofre de algumas variáveis

(LUZ, 1996 apud CASTRO, 2004).

Algumas variáveis, que, segundo Luz (1996 apud CASTRO, 2004), afetam

o clima organizacional são: os conflitos intra-organizacionais, ocorridos entre

pessoas (que é considerado normal pelo autor), grupos (o que passa a ser

preocupante) pessoas e organização (prejudicial ao clima organizacional), fatores

positivos e negativos da organização e fatores externos à organização.

Para o autor, o clima é afetado pelos conflitos e pelos fatores positivos e

negativos que ocorrem no ambiente de trabalho, bem como por fatores externos

que ocorrem no contexto sócio-econômico e político, e na vida particular dos

funcionários. O clima da organização pode afetar sua cultura e vice-versa (LUZ,

1996 apud CASTRO, 2004).

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21

2.1.2

Formação e características da cultura organizacional

Segundo Schein (2004), a cultura de uma organização se forma de duas

maneiras: através da interação espontânea em um grupo não estruturado que

gradualmente leva a padrões e normas de comportamento que se tornam a cultura

do grupo; ou em grupos mais formais, quando um indivíduo cria o grupo ou se

torna seu líder. Esse indivíduo irá impor suas visões, objetivos, crenças, valores e

suposições pessoais sobre como as coisas devem ser feitas. Porém, somente se as

ações que resultam desse comportamento levam ao sucesso (no sentido que o

grupo completa suas tarefas e se sentem bem sobre suas relações entre eles), as

crenças e valores do fundador serão confirmadas, reforçadas e, mais importante,

reconhecidas como compartilhadas.

Ainda de acordo com Schein, nesse segundo caso, as culturas começam com

líderes que impõem seus próprios valores e suposições a um grupo. Uma vez que

esse grupo atinge sucesso e essas suposições são assimiladas, então temos uma

cultura que definirá para as gerações futuras que tipo de liderança é aceitável.

Neste momento, a cultura passa a definir liderança. Uma vez que o grupo encontre

dificuldades adaptativas, conforme seu ambiente muda ao ponto em que algumas

suposições não são mais válidas, a liderança deve se mostrar mais uma vez.

Liderança é agora a habilidade de sair fora da cultura que criou o líder e dar início

a processos de mudança evolucionários que sejam mais adaptativos. Essa

habilidade para perceber as limitações de sua própria cultura e desenvolver a

cultura de forma adaptativa é a essência e o maior desafio de um líder.

Freitas (2007, p.34-35) afirma que:

“as correntes que analisam a criação da cultura o fazem a partir de três pontos: a)

os fundadores e os líderes trazem consigo um conjunto de pressupostos, valores,

perspectivas e artefatos para a organização e o impõe a seus empregados; b) uma

cultura emerge com a interação dos membros da organização para resolver

problemas relacionados com a integração interna e adaptação externa; c) os

membros individuais podem tornar-se criadores da cultura, por meio da solução

de problemas individuais de identidade, controle, necessidades de aceitação,

passando-as para as gerações seguintes”.

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A autora apresenta então um modelo de evolução cultural que leve em

consideração o processo de resolução de crises na organização e o papel das

lideranças, o qual é composto por seis fases que condicionam esse modelo

(DYER, 1985 apud FREITAS, 2007). A primeira delas é se a crise percebida

questiona as habilidades e práticas da liderança atual. A segunda se a percepção

da crise é acompanhada de rupturas nos padrões, símbolos, crenças e estruturas

definidos pela liderança atual. Em terceiro, se uma nova liderança emerge com um

novo conjunto de pressupostos. Quarto, se existem conflitos entre os proponentes

da nova liderança e a antiga. Em quinto, se a crise é resolvida e é dado o crédito à

nova liderança, ela estabelece-se como uma nova elite cultural. E por fim, em

sexto, se a nova cultura é sustentada pela introdução de novos padrões de

manutenção (artefatos e valores).

Ainda segundo Freitas (2007), as culturas são criadas, apoiadas, sustentadas,

transmitidas e mudadas por meio da interação social, via processos de

modelagem, imitação, negociação, reprodução de estórias, socialização,

informações sobre as normas nos seus aspectos formais e informais, etc. Neste

ponto de vista, as organizações são intrinsecamente fenômenos de comunicação e

que todos os artefatos culturais estão interligados entre si, exercendo uma

influência múltipla no conjunto dos indivíduos e dos grupos integrantes da

organização.

Uma visão diferente é a publicada por Gordon (1991), quando argumenta

que a cultura organizacional é fortemente influenciada pelas características da

indústria ou setor em que a organização está inserida. Segundo ele três são os

elementos chave que se alterados alterarão a estrutura vigente da cultura

organizacional: 1) o ambiente competitivo (ex.: mudança de uma estrutura de

monopólio para oligopólio ou entrada de novo player); 2) necessidades dos

clientes (mudança na demanda ou na preferência dos consumidores); 3)

expectativas da sociedade (pressão por responsabilidade sócio-ambiental, etc.).

Com base nessa visão, Gordon defende que uma organização com uma cultura

muito forte não se adapta bem às mudanças do ambiente externo, uma vez que em

um momento, como os descritos, de necessidade de mudança, a organização terá

grande dificuldade de se adaptar.

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Essa visão de Gordon (1991), justamente vem questionar o estudo de Peters

& Waterman (1982 apud FREITAS, 2007), que concluíram ao analisar

organizações de maior sucesso, que a maioria delas apresentava uma forte cultura

organizacional. Porém, conforme apontado por Gordon (1991), nem sempre uma

cultura forte é a mais adequada para a organização, variando conforme o porte da

empresa, sua área de atuação ou até com o ambiente externo. Em um mundo com

transformações intensas, constantes e rápidas, novos valores são fundamentais

quando falamos de cultura organizacional: flexibilidade e inovação (BARNEY,

1986).

Voltando aos conceitos de Schein (2004) e de forma a reforçar a visão de

Gordon, Tomei e Barney, a cultura, como um conjunto de pressupostos é sempre

um processo em formação, visto que a aprendizagem sobre como se relacionar

com o ambiente e como administrar as questões internas estará sempre ocorrendo.

Segundo o autor, se uma cultura é boa ou não, se é efetivamente funcional ou não,

depende não somente da cultura, mas do relacionamento da cultura com o

ambiente aonde ela existe.

Segundo Trice & Beyer (1993), existe relativo consenso entre autores de

que uma cultura possui seis características principais: a) o caráter coletivo – uma

cultura representa tudo o que os membros de um dado grupo concordam em

termos de visão de mundo; b) emocionalmente carregada, pois ajuda a gerenciar a

ansiedade das pessoas diante da incerteza; c) construção histórica, pois é

construída através de um processo aonde as pessoas compartilham soluções para

lidar com os problemas do grupo; d) simbólica, tanto na comunicação como na

expressão cultural; e) dinamismo, evolui e muda constantemente; e f) de difícil

discernimento.

Similarmente, Hofstede (1990) afirma que a maioria dos autores concorda

com as seguintes características: a cultura organizacional é (1) holística, (2)

determinada historicamente, (3) relacionada com conceitos de antropologia, (4)

construída socialmente, (5) possui certa flexibilidade e (6) difícil de mudar.

(CASTRO, 2004)

Sathe (1985) analisa dois elementos importantes em uma cultura: o

conteúdo e a força. O conteúdo refere-se à inter-relação dos pressupostos básicos

para a formação dos padrões de comportamento. A maior congruência entre

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valores e crenças desenvolve um senso de harmonia que solidifica a atuação da

cultura na vida organizacional. A força de uma cultura influencia a intensidade do

comportamento, sendo determinada por três características: a) abrangência –

quantos pressupostos existem; b) extensão de compartilhamento – qual o grau de

compartilhamento dos pressupostos; c) grau de importância – clareza na

hierarquização da importância dos pressupostos. Culturas fortes são abrangentes,

amplamente disseminadas e claramente ordenadas em importância, influenciando

fortemente no comportamento da organização.

Outra característica importante da cultura e que ainda não encontrou

consenso na academia é a sua unicidade, existindo diferentes correntes que

defendem a unicidade ou a multiplicidade. A primeira delas, e a que vigorou

durante um tempo considerável sem contraposições, é aquela que defende uma

cultura organizacional única na organização, onde todas as pessoas da empresa,

em todas as unidades, compartilham da mesma visão, defendem os mesmos

valores, dão os mesmos significados aos eventos e mensagens que recebem do

ambiente externo. Uma outra corrente defende a diferenciação, ou seja, a

existência de várias culturas (ou subculturas) nos lugares de trabalho. Segundo

esses pesquisadores, a cultura organizacional seria uma conexão por onde se

cruzam influências ambientais, gerando subculturas que se sobrepõem, admitindo-

se a possibilidade de conflitos entre os diferentes agrupamentos organizacionais

(FREITAS, 2007). Uma terceira corrente promove uma junção parcial das duas

visões anteriores, assumindo a essência da ambigüidade da cultura organizacional.

Segundo Freitas (2007, p.46), apesar da existência das três possibilidades de

análise, “conclui-se que qualquer cultura organizacional poderá ser vista através

de elementos compatíveis com qualquer das perspectivas estudadas, pois sempre

poderão ser encontrados nas organizações certos elementos capazes de produzir

consenso, e outros que implicam divergências e contradições, assim como

contextos e conteúdos ambíguos e escorregadios, cheios de nuanças e fronteiras

móveis.”

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2.1.3

Importância e funções

Conforme já descrito antes, segundo Robbins (2005), uma forte cultura

organizacional dá direção à empresa e fornece direção aos funcionários, ajudando

a formar uma compreensão clara acerca da “maneira como as coisas são feitas

aqui” (TOMEI, 1994).

Para Deal & Kennedy (1982, p.5) existe uma associação entre histórias de

sucesso e a existência de culturas fortes: “Na verdade, uma cultura forte tem sido

quase sempre a força motora por trás do sucesso contínuo dos negócios na

América”. Os autores embasam essa afirmação, apresentando casos de empresas

que através de culturas consistentes com seus produtos e objetivos conseguiram

resultados expressivos, pois a cultura influencia significativamente como o

funcionário trabalha, sua atitude diante de ameaças e oportunidades, impactando

no desempenho final da empresa.

Schein (2001) mostra que a cultura organizacional é de suma importância

para a gestão das empresas, pois tanto a estratégia e os objetivos, quanto o modo

de operação da empresa e o comportamento das pessoas, são influenciados pelos

elementos culturais. Segundo o autor, para tornar uma organização mais eficiente

e eficaz, deve-se entender o papel da cultura na vida organizacional.

Conforme apresentado por Lanz (2004), a idéia central da cultura

organizacional como vantagem competitiva é que funcionários comprometidos

com os valores e pressupostos da organização são mais satisfeitos, mais

produtivos e mais adaptáveis que os demais.

Em termos de função, Schein (1984) cita três funções básicas para a cultura

organizacional. A primeira delas é dar sentido de permanência aos membros da

organização, o que ele denomina como integração interna. A segunda, é dar

condições essenciais de adaptabilidade e flexibilidade organizacional às mudanças

ambientais, o que ele denomina como adaptação externa. E a terceira, é a de

proteger a empresa de possíveis ameaças externas fruto das duas outras funções

citadas.

Segundo Schein (2004), cultura determina o que é possível, o que se faz no

interior de uma organização, mas não necessariamente o que se deve fazer. Ela

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não é prescritiva, mas inspira várias prescrições. Ela condiciona o conjunto de

reações frente às necessidades organizacionais e ao contexto em que a empresa

opera, mas como um padrão funcional pode perder a sua validade, caso ocorram

grandes mudanças no ambiente.

Robbins (2005) coloca outras cinco funções que, direta ou indiretamente, se

relacionam com as funções descritas por Schein: a) Papel de definidora de

fronteiras, distinguindo uma organização das demais; b) Proporciona um senso de

identidade, fazendo com que os membros da organização se identifiquem pessoal

e mutuamente; c) Facilita o comprometimento com algo maior do que os

interesses individuais; d) Estimula a estabilidade do sistema social; e) Atua como

sinalizador de sentido e mecanismo de controle que orienta e dá forma às atitudes

e comportamentos dos funcionários.

Segundo Freitas (2007, p.20-21), “uma das principais funções da cultura é

a de dar estabilidade ao grupo, construindo um “saber de receita”, regras

partilhadas em relação à forma de agir em certas situações, maneiras de

perceber e o nível de importância das coisas; tudo isso constitui um verdadeiro

esquema de interpretação daquele grupo”.

2.2

Manifestações e Níveis Culturais

Segundo Schein (2004), nível cultural é o grau no qual o fenômeno cultural

é visível ao observador. A avaliação das manifestações (ou elementos) que

constituem a cultura organizacional, a forma como eles funcionam e as mudanças

comportamentais que eles provocam são formas de dar um tratamento mais

concreto ao assunto, possibilitando o seu reconhecimento mais facilmente

(FREITAS, 2007).

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27

2.2.1

A abordagem de Schein

Para Schein (2004), os níveis culturais variam da mais evidente

manifestação tangível que se pode ver e sentir, aos pressupostos básicos

profundamente escondidos, inconscientes que são a essência da cultura.

Segundo o autor existem três níveis fundamentais em que a cultura se

manifesta: os artefatos visíveis, as crenças e valores, e os pressupostos básicos. A

determinação destes níveis é função do grau em que o fenômeno cultural é visível

para o observador.

Os artefatos são as estruturas e processos organizacionais visíveis, como por

exemplo, a arquitetura do ambiente físico, a linguagem, a tecnologia e produtos,

criação artística, estilo (maneiras de se vestir, expressões emocionais, mitos e

histórias contadas sobre a organização), sua lista de valores publicados, rituais e

cerimônias, entre outros. O “clima” do grupo é um artefato dos níveis culturais

mais profundos, já que representa o comportamento visível de seus membros.

Artefatos também incluem os processos organizacionais, elementos estruturais

como gráficos, mapas, tabelas, descrições formais de como a organização trabalha

e a estrutura organizacional.

Schein (2004, p.27) destaca que os artefatos são fáceis de observar, mas

difíceis de decifrar. “É especialmente perigoso tentar inferir sozinho os

pressupostos mais profundos dos artefatos, pois a sua interpretação irá

inevitavelmente projetar seus sentimentos e reações.”

O segundo nível cultural são as crenças e valores defendidos, apoiados e

declarados pela organização, ou seja, as estratégias, objetivos, filosofias, etc., que

representam as justificativas declaradas da empresa. Essas crenças e valores são

construídos conforme o grupo se forma e são “validados socialmente”, isto é, são

confirmados somente pela experiência social compartilhada de um grupo. Eles são

mais difíceis de serem percebidos diretamente do que os artefatos, pois muitas

vezes não estão explícitos.

Schein (2004) destaca que normalmente as listas de crenças e valores são

tão abstratas que podem ser mutuamente contraditórias. Portanto, é importante

estar atento quando se analisam crenças e valores, pois deve-se fazer distinção

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cuidadosa entre aqueles que são congruentes com os pressupostos existentes e

aqueles que efetivamente são apenas racionalizações ou aspirações para o futuro.

O terceiro e último nível, e o mais difícil de ser decifrado, são os

pressupostos básicos, que são crenças, percepções, pensamentos e sentimentos

inconscientes e que são tomados por certos, representando uma fonte final de

valores e ação. São as idéias e premissas que governam as ações e as razões dos

atos dos membros da organização. Segundo o autor:

“os pressupostos básicos são tão incorporados como certos que encontra-se pouca

variação em uma unidade social Esse grau de consenso é o resultado do sucesso

repetido em implementar certas crenças e valores” (SCHEIN, 2004, p.31).

Normalmente, os pressupostos básicos lidam com aspectos fundamentais da

vida como a natureza do tempo e do espaço, a natureza humana e atividades

humanas, a natureza da verdade e como alguém a descobre, a forma correta como

o indivíduo e o grupo devem se relacionar, a importância relativa do trabalho, da

família e do autodesenvolvimento.

O processo de internalização desses pressupostos é longo e resulta do

processo de enfrentamento de problemas e da solução adequada dada a estas

situações. Este conhecimento é apreendido e divulgado pela organização,

atingindo o nível inconsciente dos seus membros. Muitas vezes as pessoas podem

nem estar conscientes da posse destes valores e crenças, e só os percebem se eles

forem violados ou ameaçados. Eles formam o núcleo (a alma) do conteúdo

cultural. Schein (2004). Eles tendem a não ser debatidos e confrontados e são

extremamente difíceis de serem mudados.

Ainda segundo o autor, qualquer questionamento ou desafio a um

pressuposto básico resultará na liberação de ansiedade e reações defensivas, o que

faz com que eles sejam definidos como “mecanismos cognitivos psicológicos de

defesa tanto no nível individual como do nível do grupo, que permitem que o

grupo continue a funcionar” (SCHEIN, 2004, p.32).

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29

2.2.2

A abordagem de Trice & Beyer

Segundo Trice & Beyer (1984) a cultura tem dois componentes básicos: sua

substância e sua forma. A substância é a rede de significados contidos em suas

ideologias, normas e valores. Formas culturais são manifestações concretas da

cultura e consistem em entidades observáveis através das quais membros da

cultura expressam, afirmam e comunicam o conteúdo/significado da cultura para

outros. De acordo com os autores, os pesquisadores podem discernir os

significados que caracterizam uma dada cultura através da análise de suas formas

(manifestações).

Com esse objetivo em mente, Trice & Beyer (1984) apresentam um

conjunto de definições que podem ser usados como indicadores apropriados para

uniformizar e tornar comparáveis e cumulativos os estudos sobre culturas

operacionais. Segundo os autores, esses estudos focavam em elementos únicos e

isolados da cultura, resultando na necessidade de integração. A tabela a seguir

ilustra essas manifestações da cultura organizacional.

Tabela 1 – Manifestações da Cultura Organizacional

Forma Definição

Artefato - Objetos materiais fabricados pelas pessoas para facilitar o desempenho de

atividades culturalmente expressivas.

Cenário - Aquelas coisas que circundam as pessoas fisicamente, proporcionando-lhes

estímulos sensoriais imediatos, enquanto desempenham atividades

culturalmente expressivas.

Conto Popular - Uma narrativa completamente ficcional.

Estória - Narrativa baseada em eventos verdadeiros - freqüentemente uma combinação

de verdade e ficção.

Gesto - Movimentos de partes do corpo para expressar significados.

Lenda - Uma narrativa que chega até nós de algum evento maravilhoso que se

fundamenta em dados históricos mas que foi embelezada com detalhes de

ficção.

Linguagem - Uma forma ou atitude particular através da qual os membros de um outro

grupo usam sons e sinais escritos para transmitir significados entre eles.

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Forma Definição

Mito - Uma narrativa dramática de eventos imaginados, comumente usada para

explicar as origens ou transformações de algo. Significa, também, uma crença

inquestionável relativa aos benefícios práticos de certas técnicas e

comportamentos e que não é sustentada por fatos demonstrados.

Ritual - Um conjunto padronizado e detalhado de técnicas e comportamentos que

gerenciam ansiedade, mas raramente produzem conseqüências técnicas

pretendidas que mereçam destaque na prática.

Saga - Uma narrativa histórica descrevendo as realizações sem precedentes de um

grupo e seus líderes, comumente em termos heróicos.

Símbolo - Qualquer objeto, ato, evento, qualidade ou relação que serve como meio para

exprimir um significado.

Fonte: TRICE, & BEYER, 1984, p.653-669.

Ainda segundo os autores, essas manifestações podem ser agrupadas em

quatro categorias principais: símbolos, linguagem, narrativa e práticas. Como

exemplos de símbolos eles citam objetos, cenários ou ambientes naturais ou

confeccionados, executores, funcionários. Já para linguagem, eles citam jargões,

gírias, gestos, sinais, músicas, humor, piadas, fofoca, rumores, metáforas,

provérbios, slogans. Narrativas são estórias, lendas, sagas, mitos. E as práticas são

rituais, tabus, ritos, cerimônias. (TRICE & BEYER, 1993)

Entre as formas ou manifestações listadas na tabela acima, Trice e Beyer

sugerem o estudo de ritos e cerimônias, por suas características envolverem um

conjunto relativamente elaborado e planejado de atividades, que resultam em

múltiplos benefícios sociais. Segundo eles, ritos e cerimônias tipicamente

consolidam diversas formas culturais em um evento ou série de eventos. Eles

classificam os ritos em ritos de passagem, de degradação, de reforço, de

renovação, de redução de conflitos e de integração, conforme ilustrado na tabela

abaixo.

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Tabela 2 – Tipos de Ritos

Tipo de

Ritos Exemplos

Conseqüências

sociais Evidentes

e expressivas

Exemplos de possíveis conseqüências

expressivas latentes

Ritos de

Passagem

Efetivação de

um estagiário

como

funcionário.

Facilitar a

transição de uma

pessoa para

papéis sociais e

status que lhe são

novos.

Minimizar as mudanças na forma com que

as pessoas desempenham papéis sociais.

Restabelecer o equilíbrio em relações

sociais contínuas.

Ritos de

Degradação

Despedir ou

substituir um

alto executivo.

Dissolver

identidades

sociais e os

poderes que os

acompanha.

Estimular o reconhecimento público quanto

à existência de problemas e quanto aos

detalhes dos mesmos. Defender os limites

do grupo definido quem pertence ou não ao

mesmo. Reafirmar a importância social e o

papel em questão.

Ritos de

Reforço Premiações.

Realça

identidades

sociais e os

poderes que as

acompanha.

Divulgar boas notícias a respeito da

organização. Proporcionar o

reconhecimento público dos indivíduos por

suas realizações e motivar outros a esforços

semelhantes. Capacitar a organização a

reconhecer as realizações individuais.

Enfatizar o valor social do desempenho de

papéis sociais.

Ritos de

Renovação

Atividades de

desenvolvimento

organizacional.

Renovar as

estruturas sociais

e melhorar seus

estilos de

funcionamento.

Reafirmar aos membros que alguma coisa

está sendo feita a respeito dos problemas.

Disfarçar a natureza dos problemas.

Focalizar a atenção em alguns problemas e

desconsiderar outros. Legitimar e reforçar

sistemas de poder e autoridades existentes.

Ritos de

Redução de

Conflitos

Negociação

coletiva de

sindicatos.

Reduzir conflitos

e agressões.

Desviar a atenção do exercício de resolver

problemas. Restabelecer o equilíbrio em

relações sociais conflituosas.

Ritos de

Integração

Festa de natal da

empresa.

Encorajar e

reviver

sentimentos em

comum que unem

as pessoas e as

mantém fiel a um

sistema social.

Permitir a expansão das emoções e o

afrouxamento temporário de diversas

normas. Reafirmar, em contraposição a

correção moral das normas habituas.

Fonte: TRICE & BEYER, 1984, p.653-669.

Os três primeiros tipos de ritos (de passagem, degradação e reforço)

manifestam-se no nível do indivíduo, enquanto que os três últimos (renovação,

redução de conflito e integração) possuem manifestações de grupo, na

organização como um todo.

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32

2.3

Tipologias Culturais – Decifrando a Cultura Organizacional

Segundo Tomei (2004), uma organização que tenha um determinado tipo de

cultura pode trabalhar para mudar para outro tipo ou pode, sem perceber, acabar

indo parar numa tipologia cultural desfavorecida. O importante é a empresa

identificar e traçar metas para alcançar a tipologia desejada.

No entanto, no que se refere à identificação da cultura organizacional,

Freitas (2007) afirma que ela é diretamente associada ao que o pesquisador

considera cultura e, portanto, verifica-se uma grande variedade de pesquisadores

que utilizam conceitos, métodos, recomendações e passos abordando diferentes

aspectos. Cada corrente reivindica para si a análise mais fiel dos fenômenos

culturais e ignoram a contribuição de outros olhares, instalando uma verdadeira

luta intelectual do campo (MARTIN & FROST, 2001 apud FREITAS, 2007).

No entanto, cabe ressaltar que o uso de tipologias para a identificação da

cultura organizacional, não é unanimidade entre os autores. Schein (2004) afirma

que tipologias culturais podem ser bastante “desencaminhadoras”, desviando a

atenção e o foco do pesquisador para manifestações que talvez não sejam as mais

importantes para descrever uma cultura em especial.

Para Trice & Beyer (1993, p.16), surgiu pouco consenso sobre como

categorizar a cultura, apesar de que há alguma sobreposição de questões nas quais

podem ser categorizados. Segundo os autores, “se as culturas organizacionais

possuem propriedades universais, elas ainda não foram demonstradas de forma

convincente”.

Porém, as construções teóricas de alguns autores permitem identificar

alguns tipos de culturas organizacionais que, se não correspondem à realidade da

organização como um todo, admitem, enquanto recurso metodológico, que se

busque a generalização de um objeto, uma vez definida determinada visão ou

abordagem.

De acordo com Freitas (1991), estas tipologias são modelos que nos ajudam

a compreender a cultura organizacional, pois remetem a generalizações de um

objeto.

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33

Neste trabalho foi escolhido detalhar os autores mais estudados

identificados durante a pesquisa bibliográfica e que propõem formas diversas para

se decifrar a cultura. Não é objetivo enumerar nem esgotar todas as tipologias já

propostas, mas aquelas que apresentam alguma semelhança com os aspectos já

levantados nos outros itens deste capítulo.

2.3.1

Modelo de Charles Handy

Handy (1978) propôs a existência de quatro variedades de culturas da

organização, que ele busca relacionar com determinadas estruturas de

organização, ambientes externos e fases do ciclo de vida organizacional. O

modelo de Handy desenvolve uma tipologia cultural de considera como os canais

de poder são refletidos em determinadas estruturas e sistemas.

O primeira tipo é a Cultura do Poder, que é encontrada tipicamente em

pequenas empresas, podendo ser representada por uma teia. Estas organizações

possuem o poder concentrado em um ponto central, tomando decisões

influenciadas por fatores como o equilíbrio de influência e não por avaliações

lógicas. Neste tipo de cultura existem poucas regras e procedimentos definidos,

mas a empresa tende a ser orgulhosa e forte, com capacidade de reação rápida a

ameaças e perigos. Há pouca burocracia e por isso reagem bem às ameaças. Os

membros de organizações orientadas pelo poder têm mentalidade política e

assumem riscos em prol de mais poder. O problema de sucessão é a chave de seu

sucesso continuado, pois como é representado por uma teia, uma “teia sem uma

aranha” não tem força alguma. Geralmente, as organizações com esse tipo de

cultura também são caracterizadas por serem bem sucedidas, porém o trato com o

funcionário pode se tornar rude (HANDY, 1978).

O segundo tipo é a Cultura de Papéis, que é frequentemente estereotipada

como burocracia, sendo representada por um templo grego com pilares (funções

ou especialidades) fortes, coordenados pela alta administração representada por

uma estreita faixa. O trabalho dos pilares e a interação entre eles são controlados

por procedimentos, como descrições de tarefa, definições de autoridade, regras

formais de comunicação e regras formais para solução de conflitos. São

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34

organizações de certa forma impessoais, o papel e a descrição do trabalho têm

mais importância que o indivíduo que o desempenha. O poder advém do cargo.

Estas organizações são bem sucedidas em ambientes estáveis ou quando

controlam o ambiente, como nos monopólios ou oligopólios, ou ainda com

produtos de longa duração que oferecem segurança e previsibilidade. Não se exige

alto desempenho e não é para pessoas ambiciosas que estão mais interessadas no

resultado do que no método. Para Handy (1978, p.206), “a organização baseada

em papéis será encontrada onde as economias de escala são mais importantes do

que a flexibilidade, ou quando a perícia e o grau de especialização forem mais

importantes do que a inovação ou o custo do produto”.

A Cultura da Tarefa, terceiro tipo apresentado por Handy, é orientada para o

trabalho ou o projeto, sendo representada por uma rede, com algumas malhas mais

fortes que outras. Ela está totalmente relacionada ao desempenho. A execução do

trabalho dentro do prazo previsto recebe toda ênfase, além da rapidez de resposta.

O trabalho em equipe é estimulado, os grupos possuem maior influência do que os

indivíduos. O controle é mantido pela alocação de recursos e pessoas a projetos,

onde os projetos vitais recebem os melhores recursos e os indivíduos mais

capazes. Geralmente, as organizações que possuem esta cultura estão mais aptas à

mudança, inovação, flexibilidade e sensibilidade em relação ao mercado. É

encontrada em mercados competitivos (HANDY, 1978).

Por fim, o quarto e último tipo, é a Cultura da Pessoa, que é mais rara e

representada por uma galáxia de estrelas individuais, tendo o indivíduo como

ponto central e onde a organização existe para servi-lo. “Nessa cultura o indivíduo

é o ponto central. Se houver uma estrutura ou uma organização, esta existirá

apenas para servir e assistir os indivíduos na mesma” (HANDY, 1978, p.208-

209). A organização é subordinada aos indivíduos e deles depende para existir.

Sua estrutura é bem enxuta e hierarquias ou controle sobre seus membros é quase

impossível, a não ser que o grupo todo concorde. São exemplos ordens de

advogados, grupos sociais, sociedades de arquitetura, famílias e pequenas firmas

de consultoria (HANDY, 1978).

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35

2.3.2

Modelo de Sethia & Von Glinow

Sethia e Von Glinow (1985) propõem uma classificação cultural associada

ao sistema de recompensas e os critérios pelos quais os membros da organização

se qualificam a recebê-las. Os autores propõem um modelo no qual a cultura de

uma organização influencia o sistema de recompensas diretamente, através da

filosofia de Recursos Humanos e o sistema de recompensas influencia a cultura de

forma direta ou mediada pela qualidade dos recursos.

Figura 1 – Relacionamento entre cultura e sistema de recompensas

Fonte: SETHIA & VON GLINOW, 1985, p. 405.

Entre os tipos de recompensas existentes, os autores citam as financeiras

(salário, aumentos, bônus, opções de compras de ações, participação em

resultados e outros benefícios), o conteúdo do trabalho (desafio, responsabilidade,

liberdade, significação, feedback e reconhecimento), a carreira (segurança,

programas de treinamento e desenvolvimento, possibilidades de promoções) e o

status (facilidades especiais e privilégios, títulos, participação em comitês)

(SETHIA & VON GLINOW, 1985).

O modelo associa a preocupação com o bem estar e a dignidade das pessoas

e a preocupação com o desempenho para gerar quatro tipos de culturas. A relação

pessoas x desempenho produz os tipos de cultura, ou seja, dependendo da

preocupação da organização com as pessoas ou com o desempenho da empresa,

esta se dirigirá para determinado tipo cultural, conforme ilustrado na tabela

abaixo.

CulturaOrganizacional

Sistema de Recompensas

Qualidade dos Recursos Humanos

Filosofia de Recursos Humanos

CulturaOrganizacional

Sistema de Recompensas

Qualidade dos Recursos Humanos

Filosofia de Recursos Humanos

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Tabela 3 – Modelo de Sethia & Von Glinow

Alta Cuidadosa

(1,9) Integrativa (9,9)

Preocupação com as

Pessoas Baixa

Apática

(1,1)

Exigente

(9,1)

Baixa Alta

Preocupação com a Performance

Fonte: SETHIA & VON GLINOW, 1985, p.513.

Uma Cultura Cuidadosa combina alta preocupação com as pessoas e baixa

preocupação com o desempenho. Existe preocupação com o bem-estar dos

funcionários, mas a empresa não impõe altos padrões de desempenho. É

característico em órgãos públicos ou monopólios, em que vigora uma cultura

paternalista.

Uma Cultura Apática tem pouca preocupação com as pessoas e baixa

preocupação com o desempenho também. Neste tipo de cultura impera a

indiferença e um estado de cinismo e desmoralização generalizado. Sua

perspectiva de longo prazo é duvidosa, uma vez que associa baixa motivação a

resultados financeiros insatisfatórios, exceto se a organização atua em mercados

protegidos ou tiver uma posição dominante.

A Cultura Integrativa associa alta preocupação com as pessoas a uma forte

expectativa sobre o desempenho. São organizações orientadas para atração e

retenção de profissionais talentosos. A ênfase é na equipe ou no sucesso da

companhia como um todo e não no sucesso individual. Valoriza as pessoas, tendo

recompensas financeiras normalmente acima do padrão do mercado e espera

como retorno um alto desempenho.

Por fim, a Cultura Exigente é orientada para o desempenho unicamente,

com pouca preocupação com as pessoas. São empresas geralmente agressivas e

vivem de acordo com um “código de sobrevivência dos mais capazes”. O retorno

financeiro para os funcionários é alto, mas a rotatividade também, como ocorre

em bancos e fundos de investimento.

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2.3.3

Modelo de Donnelly

Robert Donnelly (1984) relaciona a cultura organizacional com o

planejamento e assume que a cultura é fortemente influenciada pela personalidade

dos dirigentes (seus valores, suas atitudes, sua ética, estilos de vida e

personalidade). Ele define três tipos culturais: Cultura Excelente, Cultura Vaga e

Cultura Horrível.

A Cultura Excelente é aquela em que existe um planejamento e este é

respeitado pela maioria dos membros da organização, permeando o processo

decisório. Os planos são comunicados, as pessoas sabem para onde estão se

dirigindo e existe um sentido de missão. A formação de equipes é enfatizada. Os

procedimentos, padrões operacionais e de desempenho são relacionados ao

planejamento, assim como as avaliações.

Na Cultura Vaga ou Indistinta, a estagnação ou estabilidade interna

decorrente de alta regulamentação empresarial e/ou da fase de maturidade

organizacional provoca uma mudança constante na equipe dirigente, provocando

indefinição de rumo e falta de motivação para mudar e inovar.

A Cultura Horrível é caracterizada por crises constantes (“apagar

incêndios”), gerando grandes confusões e em processos decisórios erráticos. O

clima usualmente é frustrante, inseguro e desagradável. É mais comum em

organizações familiares ou com um dono que acredita saber o que é certo para

todos, em todos os momentos.

2.3.4

Modelo de Deal & Kennedy

De acordo com os autores, a cultura corporativa personifica o que é

necessário para obter sucesso em determinado ambiente.

Segundo Freitas (2007), os autores Deal & Kennedy, recomendam dois tipos

de análises, com focos interno e externo. A primeira diz respeito aos aspectos

culturais que podem ser observados diretamente pelo pesquisador. O ambiente

físico é um elemento importante, pois este representa o orgulho que a organização

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tem de si. Também é importante a leitura dos documentos e pronunciamentos

oficiais da empresa sobre a sua própria cultura, incluindo repetições sobre seus

valores e crenças, frases emblemáticas, etc.

A observação de como a companhia cumprimenta e recebe os estranhos à

organização é outra fonte de informação importante, revelando o nível de

formalidade e elegância, além de estilos dominantes. Adicionalmente, realizar

entrevistas que mostrem a história das pessoas na organização, a que é atribuído o

crescimento pessoal e da empresa, quais os requisitos de uma boa liderança, entre

outros.

O segundo tipo de análise sugerido é o relacionado às questões internas da

empresa, que podem ser bons indicadores da cultura, como o sistema de

progressão de carreiras e de recompensas, o tempo de permanência em

determinados cargos, o conteúdo de discursos e comunicações internas e a

anedotas e estórias que circulam na empresa. O resultado final destas análises irá

definir a cultura organizacional, permitindo a sua compreensão para futura

intervenção. Os autores criticam a complacência dos executivos contemporâneos

que deveriam influir de forma mais contundente na formatação cultural da

organização (SÁ RIBEIRO, 2007).

O modelo de Deal & Kennedy (1982) é um modelo de tribos corporativas.

Eles definiram quatro tipos de cultura, com base em dois fatores principais: 1) o

grau de risco do ambiente em que a organização está inserida e 2) a velocidade em

que a organização e seus membros recebem feedback sobre as suas estratégias e

decisões. A Tabela 4 a seguir ilustra o modelo.

Tabela 4 – Modelo de tribos corporativas

Alto Cultura Macho

(Tough Guy/Macho)

Cultura aposte Sua Companhia

(Bet your Company) Grau de

Risco Baixo

Cultura Trabalho Duro/Diverte Muito

(Work Hard/Play Hard)

Cultura Processo

(Process)

Rápida Lenta

Velocidade de Feedback

Fonte: DEAL & KENNEDY, 1982.

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A Cultura Macho (Tough Guy) combina alto grau de risco no negócio com

rápida velocidade de feedback, sendo caracterizada por individualistas que

assumem altos riscos. É uma cultura que tende a ser jovem, com ênfase na

velocidade, precisam de um feedback imediato. É orientada para o curto prazo e

há forte competição interna gerando falta de cooperação entre os membros. Os

heróis deste tipo de cultura são aqueles que tomam decisões rápidas e assumem

altos riscos, por isso têm a característica de ser uma pessoa dura (macho). É

característica de empresas que operam em mercados dinâmicos que exigem

velocidade de decisões e nos quais o risco é considerado como parte integrante do

negócio, principalmente no mercado financeiro, onde é comum em bancos de

investimento e fundos de ações com perfil agressivo.

A Cultura trabalho duro / diverte muito é a combinação de baixo risco e

rápido feedback. O trabalho em equipe tem um estímulo maior, mas não resulta

necessariamente em comprometimento com a organização, também é voltada para

resultados de curto prazo. Nesta cultura fazer apenas uma venda não é

necessariamente o sucesso da companhia, o sucesso vem com a persistência. O

feedback é rápido, pois qualquer reclamação do cliente aparece rapidamente. Dá

muita ênfase à quantidade de vendas, muitas vezes deixando de lado a qualidade

dos serviços. As equipes de vendas, por exemplo, são comprometidas com o ato

de vender e não com a companhia. Nem sempre há uma identificação dos

membros com a empresa.

A Cultura Aposte sua Companhia está presente em organizações que exigem

altos investimentos e o retorno financeiro é vagaroso, por isso o feedback é lento.

Pessoas que trabalham neste tipo de cultura são orientadas para o longo prazo e

têm persistência para conviver com baixo feedback. Existe respeito pela

competência técnica e pelo conhecimento compartilhado. Como exemplo pode-se

citar a indústria farmacêutica e outras indústrias protegidas por patentes e/ou com

dificuldades para a imitação de seus produtos, em que as pesquisas são extensas e

caras e o reconhecimento demora a chegar, porém quando se patenteia um produto

e inicia o processo de venda, o retorno tem longa duração.

A Cultura de Processo corresponde à combinação de lento feedback com

baixo risco. Nesta cultura, o impacto de fazer ou deixar de fazer uma transação é

virtualmente nenhum, da mesma forma que as pessoas não têm nenhum feedback.

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Há falta de identificação com o sucesso e por isso não há heróis. Os valores desta

cultura são calcados na perfeição técnica, orientada para procedimentos e padrões

de trabalho, para os detalhes a fim de proteger a integridade do sistema.

Normalmente associada a empresas antigas, e a linhas de produtos e serviços

próximas da obsolescência.

2.3.5

Modelo de Davis

Davis (1988 apud TOMEI, 1994) propõe dez práticas gerenciais que direta

ou indiretamente podem influenciar o nível cultural dos membros da organização:

• Tentar mudar os valores organizacionais mais importantes;

• Treinar os supervisores;

• Melhorar as práticas de pessoal e de trabalho;

• Melhorar o serviço aos clientes;

• Reestruturar e enriquecer as tarefas;

• Estruturar alguns programas gerenciais participativos;

• Estabelecer um programa de rotação de trabalho;

• Produzir o compartilhamento do trabalho;

• Melhorar os benefícios;

• Melhorar as condições físicas e as atividades de lazer.

2.3.6

Modelo de Barros e Prates

Os autores Barros e Prates (1996) conduziram um estudo sobre um

população de empresas e gerentes brasileiros e propuseram a existência de um

estilo brasileiro de administrar. O modelo que os autores desenvolveram descreve

a existência de quatro subsistemas formando o sistema de ação cultural brasileiro:

o subsistema dos líderes, o subsistema institucional, o subsistema pessoal e o

subsistema dos liderados.

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O subsistema dos líderes é suportado pelos pilares de concentração de

poder, paternalismo e personalismo, enquanto o subsistema formal está amparado

tanto na concentração de poder, como no formalismo e na postura de espectador

dos liderados.

O subsistema pessoal está baseado no personalismo, na lealdade pessoal e

na postura de evitar o conflito. Já o subsistema dos liderados suporta-se, além da

postura de evitar o conflito, na flexibilidade e na postura de espectador.

Os traços que interagem entre si na formação do sistema de ação cultural

brasileiro, segundo Barros e Prates (1996), têm a seguinte inter-relação:

a) a concentração de poder está situada na intersecção entre os subsistemas

líderes e formal, demonstrando que as próprias estruturas formais favorecem a que

os líderes acumulem poder;

b) o personalismo, situado na intersecção entre os subsistemas líderes e

pessoal, caracteriza os jogos de interesse realizados entre estes subsistemas, isto é,

muitas vezes as pessoas preferem que os líderes os tratem de forma diferenciada,

personalista, em relação ao grupo;

c) o paternalismo, pertencente ao subsistema líderes, é a síntese entre a

concentração de poder e o personalismo, isto é, o líder adota a postura de “pai”

que tudo sabe, e age de forma supridora para com os “seus”;

d) a postura de espectador, situada na intersecção entre os subsistemas

formal e liderados, demonstra que os liderados tendem sempre a aguardar as

soluções que de cima virão, transferindo a responsabilidade tanto por seus

sucessos quanto por seus fracassos, aos seus superiores;

e) o formalismo, situado no subsistema formal, advém da soma entre

concentração de poder e postura de espectador dos liderados, isto é, quando os

líderes formais possuem a totalidade do poder, e os liderados agem como que se

estivessem esperando pelas ordens superiores, estes instituem ordens, normas e

controles que tendem a perpetuar a situação. Assim, o formalismo garante a

convivência entre os subsistemas líderes e liderados;

f) a postura de evitar conflitos está presente na intersecção entre os

subsistemas de liderados e pessoal. É tradicional da cultura brasileira, que os

conflitos sejam mediados por um terceiro que mantenha boas relações com ambas

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as partes. Percebe-se que este traço está marcadamente presente nos liderados e

não nos líderes, que temem menos o conflito com os subordinados;

g) a flexibilidade, que faz a ligação entre o subsistema formal e o pessoal,

calcada na adaptabilidade e criatividade do povo brasileiro, possibilita a

convivência pessoal dentro de um sistema hierarquizado e formal;

h) a lealdade pessoal, lado oposto do formalismo, articula os subsistemas

líderes e liderados pelo lado das pessoas. Isto é, no Brasil há uma importante

lealdade dos subordinados para com a pessoa do líder, baseada na liderança

carismática. Assim, o indivíduo valoriza mais as necessidades de seu líder do que

as necessidades organizacionais; e,

i) a impunidade é característica não marcadamente encontrada em um

subsistema específico, mas presente em todos, e pode resultar em uma

deterioração da estabilidade do sistema de ação cultural brasileiro. Como os

liderados acreditam que as diferenças de direitos sempre existirão, ficando os

líderes sempre às margens das punições, e que a realização não vale a pena,

tendem a acomodar-se evitando participar de quaisquer movimentos no sentido de

evolução cultural.

Os autores defendem que o sistema de ação cultural brasileiro impacta de

forma significativa a gestão empresarial, especialmente na formulação de

estratégias, no processo decisório, no processo de liderança, no processo de

coesão organizacional, na estrutura organizacional, na inovação e mudança e no

processo de motivação dos membros da organização.

2.4

Ciclo de Vida das Organizações

Conforme descrito anteriormente, a cultura é construída ou desenvolvida ou

longo do tempo, continuamente, definindo uma relação clara entre cultura e o

estágio de desenvolvimento da organização. Para Schein (1985), as organizações

possuem um ciclo de vida, com vários estágios e a cultura organizacional assume

funções distintas em cada um destes estágios. Para ele, através da análise do

estágio em que se encontra uma organização é possível identificar momentos mais

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propícios e mecanismos mais eficientes para o gerenciamento da cultura

organizacional, conforme a tabela a seguir:

Tabela 5 – Cultura e ciclo de vida das organizações

Estágio de

Crescimento

Função da Cultura Mecanismo de

Mudança

I - Nascimento e primeiros estágios de crescimento:

* Controle da família *A cultura é uma demarcação de competência e fonte de identidade

*A cultura é a "cola" que mantêm a organização unida

*Ênfase em comprometimento através da socialização.

* Fase de sucessão *A cultura como um campo de batalha para conservadores e liberais.

*Os sucessores são julgados como reacionários ou revolucionários.

1 - Evolução natural.

2 - Evolução auto-dirigida através da terapia.

3 -Evolução gerencial através de personalidades híbridas.

4 -Revolução gerencial por intermédio de pessoas externas à empresa.

II - Meia-vida Organizacional

*Novos produtos

*Integração vertical

*Expansão geográfica

*Fusões e aquisições

*A integração cultural declina à medida que se criam novas subculturas.

*Oportunidade de gerenciar a direção da mudança cultural.

5- Mudança planejada e desenvolvimento organizacional.

6- Sedução tecnológica.

7- Mudança através do escândalo, explosão dos mitos.

8- Incrementalismo.

III - Maturidade Organizacional

*Maturidade dos mercados

*Estagnação ou estabilidade interna

*Acomodação

*A cultura torna-se restritiva à inovação.

*A cultura preserva as glórias do passado e portanto é valorizada como uma fonte de auto-estima e defesa.

Opção de mudança *A mudança cultural é necessária e inevitável, mas nem todos os elementos da cultura podem ou devem ser mudados.

* os elementos essenciais da cultura devem ser identificados e preservados.

*A mudança cultural é possível ou pode-se simplesmente permitir que se desenvolva.

Opção de destruição

*Falência e reorganização

*TAKEOVER e reorganização

*Fusão e assimilação

*A cultura muda em níveis básicos.

*A cultura muda através de uma maciça substituição das pessoas chaves.

9-Persuasão coerciva

10- Turnaround

11- Reorganização, destruição e renascimento.

Fonte: SCHEIN, 1985a.

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Conforme ilustrado na tabela anterior, Schein (2004) relaciona os dois

fatores e identifica três principais estágios: O Nascimento, a Diversificação e

meia-idade da organização e a Maturidade, com a provável estagnação e declínio.

Conforme descrito por Sá Ribeiro (2007), no nascimento de uma

organização, ocorre a dominação do fundador ou grupo de fundadores e a cultura

funciona como uma “cola” para a organização. Ela também é a fonte de

identidade e de competência distinta para a empresa (voltada para a inovação, para

o cliente, a eficiência ou a qualidade). Busca-se neste momento a integração

através da definição clara da cultura. É dada grande ênfase na seleção e

socialização dos funcionários, pois o impacto de uma má adequação social neste

estágio da organização pode ser fatal e os sucessores potenciais são julgados com

base na sua tendência de preservadores da cultura, que é vista como responsável

pelo sucesso do grupo até então.

Com o crescimento e diversificação das atividades da empresa, seja no

escopo de produtos, geográfico ou da produção, ou ainda através de fusões e

aquisições, surgem subculturas (conforme apresentado no item 2.1) relacionadas à

localização geográfica (matriz x filiais), especialização na produção

(departamentos, especialidades, etc.). A organização começa a ter uma crise de

identidade, com o enfraquecimento de objetivos-chave, valores e pressupostos

básicos.

Neste momento surge a oportunidade para gerenciar a direção da mudança

cultural, adaptando os valores e pressupostos a uma nova realidade e estágio

mercadológico e tecnológico, chegando muitas vezes em uma situação onde a

cultura original passa a ser “desviante”, uma barreira ao crescimento e à

sobrevivência da organização. Para esta gestão é necessário discernimento cultural

como um requisito para a administração da mesma. (SÁ RIBEIRO, 2007).

O estágio de maturidade organizacional é representado pelo crescimento

lento ou estagnação da empresa. Neste momento a cultura passa a ser

efetivamente um entrave à mudança e uma barreira à inovação. Ela volta-se à

glorificação do passado e é fonte de auto-estima e defesa do funcionário. Neste

momento a mudança cultural deve ser feita, mas com a compreensão dos

elementos a serem preservados da cultura passada e que podem ser ainda

importantes para a performance da organização. (SÁ RIBEIRO, 2007).

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Conforme já mencionado anteriormente, Freitas (2007) apresenta um

modelo de evolução cultural que deve levar em consideração o processo de

resolução de crises na organização e o papel das lideranças, o qual é composto por

seis fases que condicionam esse modelo. A primeira delas é se a crise percebida

questiona as habilidades e práticas da liderança atual. A segunda se a percepção

da crise é acompanhada de rupturas nos padrões, símbolos, crenças e estruturas

definidos pela liderança atual. Em terceiro, se uma nova liderança emerge com um

novo conjunto de pressupostos. Quarto, se existem conflitos entre os proponentes

da nova liderança e a antiga. Em quinto, se a crise é resolvida e é dado o crédito à

nova liderança, ela estabelece-se como uma nova elite cultural. E por fim, em

sexto, se a nova cultura é sustentada pela introdução de novos padrões de

manutenção (artefatos e valores).

Freitas (2007, p.49) ainda acrescenta:

“Em termos de evolução conquamos aceitemos a importância dos fundadores e

líderes no arcabouço cultural, não podemos esquecer que toda organização,

especialmente as empresas, necessita de constantes reavaliações e redefinições em

função das mudanças que ocorrem no ambiente; também os fundadores e líderes

envelhecem e os processos sucessórios podem ocorrer com maior ou menor

divergência entre o que os seus atores principais consideram o caminho a ser

seguido pela organização. Em ambientes mais instáveis, não é comum que a nova

liderança ou grupo sucessor efetue uma ruptura com algumas das principais

definições do grupo antecessor (...)”.

2.5

Gerenciamento Cultural

Quando falamos de gerenciamento cultural, a primeira pergunta que surge é

se é possível gerenciar e mudar a cultura organizacional.

Conforme descrito no item 2.1, de acordo com Freitas (2007, p.12) e com

base nos estudos de Linda Smircich (1983), os “estudos sobre cultura

organizacional tendem a enxergá-la de duas formas: a) como uma metáfora, ou

seja, considera a cultura algo que a organização é; b) como uma variável,

considerando a cultura como algo que a organização tem”.

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Portanto, as pesquisas sobre o assunto dividem-se em duas vertentes. Na

primeira delas, as organizações são culturas e, portanto, a cultura organizacional é

muito difícil de mudar. Na segunda delas, em que as organizações produzem ou

constroem uma cultura, a cultura é gerenciável, pelo menos num grau mínimo.

Pettigrew (1996) assume o posicionamento de que a cultura organizacional é

sim gerenciável, porém com grande dificuldade. Ainda segundo o autor, a

resposta acadêmica para a pergunta de que se a cultura é gerenciável dependerá o

que se entende por cultura organizacional e administração.

A vertente que considera a cultura gerenciável, segundo Hilal (1996 apud

CASTRO, 2004), pode ser classificada em dois grupos que representam um

relacionamento diferente entre cultura e organização: pragmatismo cultural e

purismo cultural.

Para o grupo do pragmatismo cultural, a cultura é uma variável

organizacional, ou seja, pode ser manipulada para melhor atender às necessidades

da organização.

O purismo cultural não isola a organização da cultura, considera, desta

maneira, que a organização não possui uma cultura, e sim é uma cultura. Portanto,

a cultura pode ser diagnosticada, reconhecida e passível de transformação dentro

da organização.

Segundo Tomei (1994), apesar de diversos trabalhos buscarem encontrar

caminhos para o gerenciamento da cultura organizacional e, embora propostas

apresentem caminhos totalmente diferentes, é unânime que cada organização é

distinta da outra e, portanto, não existem fórmulas prontas que se apliquem a

todas elas.

É bastante claro de que um aspecto essencial para ser capaz de gerenciar a

cultura de uma organização é compreendê-la. O gerenciamento da cultura é

baseado em um sofisticado entendimento dos aspectos tácitos e explícitos que

compõem a cultura de uma organização. (CASTRO, 2004)

Para poder gerenciar a cultura de uma organização é preciso primeiro

compreendê-la, identificando com a maior precisão possível os atributos da

cultura que se busca manter ou da cultura que se pretende atingir. Existe uma

grande concordância entre os autores sobre os componentes da cultura como um

constructo genérico. Porém, segundo Willcoxson e Millet (2000 apud CASTRO,

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2004), por se tratar de um tema complexo, existem discordâncias sobre alguns

aspectos:

• O que constitui uma cultura organizacional?

• A cultura de uma organização pode ser adequadamente descrita?

• É realmente eficiente gerenciar uma cultura?

• Qual estratégia de gerenciamento será mais bem sucedida?

Independente das afirmações de alguns autores, não existem respostas certas

ou simples para estas questões e, como indicado anteriormente, abordagens de

gerenciamento cultural são dependendes do conceito dos gerentes ou agentes de

mudança da cultura organizacional.

Apesar de não haver consenso na metodologia para gerenciar a cultura

organizacional, Tomei (1994) sugere que existem algumas variáveis que quando

colocadas de forma conjugada podem fornecer indicadores para o gerenciamento

da cultura organizacional:

(1) a identificação do clima organizacional, a partir de diagnósticos e

levantamentos períodicos de opiniões e percepções dos membros da organizações;

(2) a identificação das manifestações da cultura:

- Através de ritos, artefatos, cenários, contos, símbolos, sagas, ideologias;

- Através da análise de artefatos visíveis; através de aspectos históricos;

- Através de aspectos externos;

- Através da análise do processo de comunicação.

(3) analisar os processos e estratégias de socialização de novos membros da

organização.

Pettigrew (1996) explica porque considera possível, porém difícil,

administrar a cultura organizacional. Para ele existem sete fatores explicativos,

abaixo elencados:

1) O problema dos níveis – é muito mais difícil modificar as crenças básicas e

os pressupostos dentro da organização do que modificar algumas

manifestações da cultura, como, por exemplo, a estrutura e os sistemas

administrativos.

2) O problema da infiltração – A cultura não é apenas profunda, mas é também

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extensa. Assim, a cultura organizacional não se refere somente às pessoas,

seus relacionamentos e crenças, mas também a seus pontos de vista sobre os

produtos da empresa, as estruturas, os sistemas, a missão da empresa, formas

de recrutamentos, socialização e recompensas.

3) O problema do implícito – é extremamente difícil modificar coisas que são

partes implícitas do pensamento e do comportamento das pessoas, e que

raramente emergem explicitamente para discussão.

4) O problema do impresso – a história tem grande peso na administração

presente e futura da maioria das organizações.

5) O problema do político – certos grupos de poder na organização têm

interesse associado às crenças e a pressupostos que são relevantes em

qualquer época, para o desenvolvimento da empresa.

6) O problema da pluralidade – a maioria das empresas não possui apenas uma

única cultura organizacional, porém em qualquer época podem apresentar

diferentes conjuntos de crenças e pressupostos, ou seja, uma série de

subculturas.

7) O problema da interdependência – a cultura está interconectada não apenas

com a política da empresa, mas também com a estrutura, os sistemas, as

pessoas e as prioridades da empresa.

A mistura destes sete problemas torna a cultura organizacional difícil de ser

gerenciada e modificada, mas não impede que estes dois fatos ocorram.

2.5.1

Liderança e gerenciamento cultural

A importância da liderança é geralmente unânime entre a maior parte dos

estudiosos e praticantes de gestão. Segundo Trice & Beyer (1993) é difícil

imaginar que os processos sociais necessários para criar e sustentar culturas

pudesse ocorrer sem esforços de líderes culturais.

Conforme definido anteriormente, Schein (2004) explicita que no caso de

ameaça à sobrevivência do grupo por conta de elementos de sua cultura se

tornarem mal adaptados, é finalmente função da liderança em todos os níveis da

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organização reconhecê-lo e fazer algo sobre essa situação. Nesse sentido,

liderança e cultura são conceitualmente interligadas.

Schein (2004) se dedica a detalhar como o líder inculca seus valores,

crenças e pressupostos em seus funcionários e lista dois tipos de mecanismos:

primário e secundário (Figura 2).

Mecanismos Primários

• O que os liderem prestam atenção, medem e controlam regularmente

• Como os líderes reagem a incidentes e a crises organizacionais

• Como os líderes alocam recursos

• Como eles ensinam e treinam

• Como eles alocam premiações e status

• Como eles recrutam, selecionam e excluem pessoas da organização.

Mecanismos secundários e de reforço

• Desenho e estrutura organizacional

• Sistemas e procedimentos organizacionais

• Ritos e rituais da organização

• Desenho do espaço físico, fachadas e prédios

• Histórias sobre eventos importantes e pessoas

• Documentos formais sobre filosofia, crenças e regulamentos

Figura 2 – Como os líderes inculcam suas crenças, valores e pressupostos Fonte: SCHEIN, 2004, p.246.

A essência e desafio primordial do líder é perceber as limitações da cultura

de seu grupo e desenvolvê-la de forma a adaptar-se a um novo contexto. Neste

sentido ele enfrenta dois grupos principais de problemas: o primeiro diz respeito

à sobrevivência, crescimento e adaptação em seu ambiente de negócios e o

segundo é o da integração interna que permite o funcionamento diário e a

habilidade para adaptar-se e aprender (SCHEIN, 2004, p18).

Ainda segundo Schein (2004), cabe destacar que diferentes pessoas

localizadas em diferentes papéis no mesmo ou em diferentes subgrupos podem

assumir papéis de liderança cultural ao mesmo tempo ou em tempos diferentes.

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Page 51: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

50

Portanto, a consideração ampla da liderança cultural deve apontar para múltiplos

líderes culturais.

2.6

Mudança Cultural

Conforme visto no item 2.5 acima, há duas vertentes de estudo de cultura

organizacional. Na segunda vertente descrita, acredita-se que o processo de

intervenção para mudança cultural poderia atuar em variáveis como os valores e

crenças, os quais são expressos por jargões, cerimônias ou rituais, práticas

organizacionais, etc.

Segundo Freitas (2007, p.49):

“assumir que uma organização não pode mudar é lavrar um atestado de óbito

para ela, por outro lado uma cultura que muda a todo instante não referencia

nada, ou seja, nem pode ser definida como cultura, visto que ela não se presta a

realizar a sua tarefa principal: ser um guia e um saber de receita ou esquema de

interpretação para as situações mais comuns na dinâmica organizacional”.

De acordo com Tomei (1994), os momentos de crise vivenciados pelas

organizações muitas vezes atuam como catalisadores das mudanças. Estas crises

podem ser provocadas por fatores externos, como mudanças na economia e na

política, ou internos, como o surgimento de um novo líder. A mudança é sempre

um momento de ruptura, de transformação, de criação, portanto envolve risco,

principalmente em relação às transformações na estrutura de poder.

Mudança cultural é a definição de um outro rumo, uma nova maneira de

fazer as coisas, alicerçada em novos valores, símbolos e rituais (FREITAS, 1991).

Freitas cita algumas situações em que a mudança cultural deve ser considerada

pela cúpula de uma empresa:

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Page 52: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

51

• Mudanças fundamentais no ambiente e a companhia tem sido dirigida por

valores.

• A indústria é altamente competitiva e o ambiente muda rapidamente.

• A companhia apresenta resultados medíocres ou vem, acumulando

desempenhos cada vez piores.

• A companhia está em vias de se tornar uma grande corporação.

• A companhia está crescendo rapidamente e uma massa enorme de novos

empregados está sendo absorvida.

Freitas (2007, p.38-39) nos lembra, porém, que mesmo dentro de uma

perspectiva funcionalista, positivista e politicamente neutra, “é possível prever

que grandes dificuldades possam advir quando da tentativa de mudança dos

pressupostos, crenças e valores que norteiam as principais manifestações

culturais. Mesmo quando os grupos admitem que a adaptação externa é

necessária, eles podem obstar que a organização não estará preparada caso haja

uma profunda ruptura no seu tecido social interno.”.

Segundo Tomei (1994), a literatura organizacional identifica quatro

situações nas quais os momentos de ruptura da cultura vigente permitem catalisar

o processo de mudança. São elas:

• Fusões, aquisições, reestruturações, "downsizings", terceirizações e

processos de privatização;

• Momentos onde é fortíssima a atuação de fatores externos como recessão,

oportunidade tecnológicas e de mercado;

• Situações de crises internas de gerência e processo de sucessão de comando;

• Processo de socialização de novos membros na organização.

2.6.1

Modelo de Pettigrew

Pettigrew (1996) aborda a questão da mudança de uma forma mais

abrangente. Segundo o autor, para que haja uma mudança na organização é

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Page 53: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

52

preciso haver uma interação contínua entre idéias a respeito do contexto da

mudança, o processo de mudança e o seu conteúdo. Para a formulação do

conteúdo de qualquer mudança é preciso controlar o contexto e o processo. O

contexto externo refere-se ao ambiente social, econômico, político e competitivo

em que a empresa atua. O contexto interno refere-se à estrutura, à cultura

organizacional e ao contexto político da empresa, através do qual as idéias de

mudança acontecem. O processo de mudança refere-se as ações, reações e

interações das várias partes interessadas. Pettigrew (1996) ressalta que uma das

fraquezas da literatura existente, especialmente a relacionada à mudança

estratégica, é seu enfoque apenas na ligação entre o contexto externo e o conteúdo

e, por esta razão, muitos planejadores deparam-se com a falta de aceitação das

mudanças propostas.

De acordo com Pettigrew (1996), estudos introduziram um novo conceito

a respeito de processos administrativos de mudança:

“(...) a mudança estratégica deve ser vista agora como um processo humano

complexo em que todos desempenham sua parte: a percepção diferenciada, as

buscas por eficiência e poder, as habilidades de liderança visionária, a duração

das mudanças e processos sutis que gradativamente preparam o momento propício

de apoio para a mudança e, então, a implementação vigorosa da mudança.”

(PETTIGREW, 1996, p.145).

O autor identificou aspectos considerados importantes para facilitar

mudanças na cultura organizacional (TOMEI, 1994):

a) um contexto externo receptivo, juntamente com habilidade em mobilizar

este contexto, de modo a criar um clima geral para que ocorra a mudança.

b) O comportamento de liderança tanto dos indivíduos recentemente

engajados na organização e vindos de fora, como dos indivíduos que algum tempo

vêm fazendo pressão por mudança e ocupam postos de poder internamente. A

maior parte dos casos de mudança revela clara e consistente pressão da Alta

Administração.

c) A existência de visões desarticuladas e imprecisas por parte de agentes de

mudança na Alta Administração.

d) A utilização de ações divergentes por parte de figuras-chave no novo

esquema, a fim de elevar o nível de tensão na organização pela mudança.

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Page 54: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

53

e) A utilização de meios desviantes e não ortodoxos, tanto externa como

internamente à organização, a fim de dizer o que não é expressável e pensar o que

não é pensável.

f) A liberação de caminhos e energias para a mudança, através do

deslocamento de pessoas e portfólios.

g) A criação de novas reuniões e outras arenas onde os problemas podem ser

articulados e compartilhados e as energias centradas em torno da necessidade de

mudança.

h) A alteração do processo administrativo na Alta Administração. Um

aspecto chave disto parece ser a necessidade de mudar os processos

administrativos da alta administração, que têm caráter altamente divisionista para

uma posição coerente e coesa.

i) O reforço de quaisquer alterações culturais embrionárias através de

mudanças estruturais cuidadosamente casadas, seguidas pelo fortalecimento de

tais mudanças culturais e estruturais por meio da utilização pública dos sistemas

de premiação da organização.

j) A busca e o uso de modelos de desempenho que podem, através de seu

comportamento público, apresentar os aspectos-chaves da nova cultura. A

identificação das pessoas que podem "transmitir" parece ser um aspecto chave

para tornar concreto e publico as mudanças culturais desejadas. Esses modelos de

desempenho da nova era ajudam também o reforço continuado da mudança.

k) A introdução da mensagem o mais profundamente possível na

organização através do uso de estratégias de treinamento e desenvolvimento.

l) A transmissão das novas crenças e comportamento na organização,

revolucionando os mecanismos de comunicação dos empregados.

m) Finalmente, existe uma necessidade, antiquada, mas crítica, de

persistência e paciência.

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54

3

Metodologia

3.1

Tipo de Pesquisa

De acordo com os conceitos propostos por Gil (1991) e Vergara (2000)

podemos classificar essa pesquisa segundo dois critérios básicos:

Quanto aos fins:

Descritiva – pois buscou identificar as características de determinado

fenômeno ou população, no caso a cultura e a população da organização ENSR.

Não teve compromisso de explicar os fenômenos que descreve, mas pôde servir

de base para esta explicação.

Quanto aos meios, a pesquisa utilizou os seguintes meios:

Bibliográfico: para a fundamentação teórica do trabalho foi realizada uma

investigação sobre cultura organizacional, mudança cultural e gerenciamento da

cultura com uso de material acessível ao público em geral, tais como: livros, teses,

dissertações e artigos;

Documental: uma vez que utilizou como fonte documentos internos da

empresa foco de estudo, tais como os resultados das pesquisas de clima e do

diagnóstico ambiental;

Telematizada: porque foram feitas consultas via internet e intranet para

buscar mais dados, como história da organização, missão, visão e valores, entre

outros; e

Pesquisa de campo: devido à coleta de dados primários, tais como

questionários semi-estruturados aplicados aos funcionários da empresa ENSR

Brasil e sua matriz e observação participativa (investigação empírica) da autora

realizada dentro do ambiente da ENSR Brasil.

Foram utilizadas fontes primárias e secundárias na obtenção de dados.

Segundo a taxonomia de Yin (2005), a pesquisa envolveu um estudo de caso

de uma só organização. Segundo o autor, os estudos de caso representam a

estratégia preferida quando se colocam questões do tipo “como” e “por que”,

quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o

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Page 56: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

55

foco se encontra em fenômenos menos contemporâneos inseridos em algum

contexto da vida real (YIN, 2005). O poder diferenciador do estudo de caso é sua

capacidade de lidar com uma ampla variedade de evidências – documentos,

artefatos, entrevistas e observações – além do que pode estar disponível no estudo

histórico convencional.

3.2

Seleção do Caso e Escolha dos Sujeitos

O estudo de caso feito foi o da empresa ENSR Brasil, incluindo seus dois

escritórios no Rio de Janeiro (matriz) e em São Paulo (filial), além de

questionários aplicados a vice-presidentes da matriz global (EUA). Os principais

motivos para a escolha da ENSR Brasil foram:

- O fato de tratar-se de uma empresa que passou recentemente por

situações de rupturas, tais como reestruturações, aquisição e abertura de mercado,

situações de crises internas de gerência, culminando em processo de sucessão de

comando e processo de socialização de novos membros na organização. Isso está

em linha com o apresentado no item 2.6, quando definimos as situações potenciais

para a gerência da cultura organizacional.

- A facilidade de coletar dados em virtude da pesquisadora fazer parte do

quadro de funcionários próprios da organização.

Como dados secundários, foram utilizadas informações coletadas no

departamento de RH; em apresentações corporativas disponíveis na rede; na

internet e na intranet da empresa; nas pesquisas de clima e engajamento realizadas

pela matriz americana em 2001, 2003, 2006 e 2007; além de num diagnóstico

ambiental feito em agosto de 2006 por uma consultora de RH recém contratada a

época. Adicionalmente foram aplicados questionários semi-estruturados a

funcionários e ex-funcionários da ENSR Brasil, além de um vice-presidente da

matriz americana (dados primários). A Tabela 6 a seguir resume os instrumentos

de coleta de evidência e os sujeitos pesquisados em cada um.

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Page 57: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

56

Tabela 6 – Instrumentos de Coleta de Evidência e Sujeitos Pesquisados

Instrumento de

Pesquisa

Número de

Respondentes Fonte Cargos

Pesquisa de Clima e

Engajamento 2001

16 funcionários

do RJ Secundária Anônima

Pesquisa de Clima e

Engajamento 2003

35 funcionários

do RJ e 21 de SP Secundária Anônima

Pesquisa de Clima e

Engajamento 2006

39 funcionários

do RJ e 32 de SP Secundária Anônima

Pesquisa de Clima e

Engajamento 2007

37 funcionários

do RJ e 38 de SP Secundária Anônima

Diagnóstico

Ambiental (gerente

de RH)

Agosto de 2006

11 funcionários

do RJ e 13 de SP Secundária

Desde pessoal

administrativo e

especialistas técnicos até

gerentes de departamento e

financeiro

Aplicação de

Questionários Semi-

Estruturados

Outubro-Novembro

de 2007

18 funcionários e

ex-funcionários Primária

- Chief Operating Officer

ENSR – atual Vice

presidente de

Desenvolvimento

Organizacional da AECOM

e Vice-Presidente de

Marketing da ENSR (matriz)

- Fundador e Diretor Geral

da ENSR de 1998 a 2007

- Novo Diretor Geral (ex

Gerente Operacional RJ)

- Gerente de RH, Gerente

Financeira e 1 Gerente de

Departamento

- 3 Gerentes de Projetos

- 4 funcionários técnicos ou

administrativos

- 6 ex-funcionários

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Page 58: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

57

3.3

Descrição das Etapas da Pesquisa

A seqüência de desenvolvimento da pesquisa seguiu o fluxograma ilustrado

a seguir.

Figura 3 – Desenvolvimento da Pesquisa

Na etapa de pesquisa bibliográfica foram pesquisados os principais

conceitos referentes ao tema estudado, identificando as principais metodologias

para o estudo da cultura organizacional. A seguir, foi escolhida a metodologia a

ser aplicada no estudo de caso, de acordo com critérios de acessibilidade, tempo

necessário para a pesquisa e a confiabilidade do método.

Para o levantamento de dados, subseqüente à definição da metodologia,

foram coletadas informações sobre a ENSR Brasil através de pesquisa

documental, observação informal participativa e aplicação de questionários semi-

estruturados.

A última etapa correspondeu à análise dos dados encontrados e dos

resultados das pesquisas, concluindo sobre a questão do impacto da cultura

organizacional ao longo do ciclo de vida da ENSR Brasil e dando sugestões para

estudos futuros que busquem aprofundar o tema.

Em termos temporais, destaca-se que as pesquisas de clima e engajamento

dos funcionários foram aplicadas em 2001, 2003, 2006 e 2007. Os questionários

semi-estruturados foram aplicados no segundo semestre de 2007. A observação

informal participativa da autora remonta aos cinco anos de sua permanência na

empresa (de 2002 a 2007), porém o foco de análise para este estudo deu-se

principalmente ao longo dos anos de 2006 e 2007.

PesquisaBibliográfica

Escolha da Metodologia

Levantamento de Dados

- Pesquisa Documental- Observação Participativa- Entrevistas semi-estruturadas

Análise dos Resultados e Conclusões

PesquisaBibliográfica

PesquisaBibliográfica

Escolha da MetodologiaEscolha da

MetodologiaLevantamento

de DadosLevantamento

de Dados

- Pesquisa Documental- Observação Participativa- Entrevistas semi-estruturadas

Análise dos Resultados e Conclusões

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Page 59: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

58

3.4

Coleta de Dados

De acordo com Gil (1991), os procedimentos mais usuais para a coleta de

dados em um estudo de caso são a observação, a análise de documentos, a

entrevista e a história de vida da empresa. Todos esses procedimentos foram

aplicados no estudo de caso da empresa ENSR Brasil, com exceção das

entrevistas que foram substituídas pela aplicação de questionários.

Depois de identificada a metodologia a ser aplicada na análise da empresa,

foi possível definir quais manifestações deveriam ser observadas e como

identificar suas características através dos procedimentos citados acima.

Iniciou-se então a pesquisa de campo que constitui-se de análise de

documentos existentes, cujas fontes foram o departamento de RH, a intranet e o

site da empresa e documentos que a própria autora detinha, como apresentações,

organogramas históricos e outros documentos relacionados à estrutura e estratégia

da empresa. Os questionários semi-estruturados foram aplicados pela autora

visando melhor identificar as manifestações da cultura organizacional e os

pressupostos culturais existentes. A autora optou por não entrevistar os

funcionários pessoalmente buscando não influenciar as respostas e se

comprometeu a manter sigilo das respostas pessoais. As perguntas dos

questionários não foram iguais para todos os respondentes, variando conforme a

função ou se o respondente era um ex-funcionário. As perguntas aplicadas são

apresentadas nos Anexos.

A pesquisa baseia-se também na análise participativa do ambiente de

trabalho com a coleta de outros tipos de evidências tais como: condições físicas de

trabalho, clima organizacional, layout e arquitetura das instalações, o

comportamento dos funcionários, a receptividade a novos funcionários, as regras

sociais, a linguagem e vestuário dos funcionários, entre outros.

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Page 60: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

59

3.5

Fundamentação Metodológica

Na revisão bibliográfica apresentada foram aprofundados os principais

conceitos referentes aos temas estudados, além de apresentar as metodologias

utilizadas para o estudo de cultura organizacional.

Em seguida, foi escolhida a metodologia aplicada à empresa foco do estudo

de caso, de acordo com critérios como facilidade de acesso aos dados, relevância

do caso estudado, tempo disponível e profundidade desejada para a pesquisa e

confiabilidade do método versus objetivos da pesquisa.

Para se atingir os objetivos (primários e secundários) apresentados no item

1.2, optou-se por analisar qualitativamente os dados coletados de acordo com o

apresentado no item 3.4, aplicando-se o referencial teórico apresentado. Desta

forma, para o estudo da cultura organizacional da empresa ENSR, será utilizado o

conceito de cultura e ciclo de vida da organização apresentado por Schein (item

2.4), definindo os diferentes momentos evolutivos da companhia. Após definidos

os diferentes estágios evolutivos e os momentos de ruptura, partiremos para a

caracterização da cultura organizacional dentro destes diferentes instantes,

aplicando-se os níveis culturais de Trice & Beyer (1984). A comparação da

cultura antes e após os momentos de ruptura será feita aplicando-se algumas das

tipologias apresentadas, a saber: Handy (1978), Sethia e Von Glinow (1985),

Donnelly (1984) e Deal & Kennedy (1982). Como pano de fundo, também será

feita a avaliação das práticas administrativas para o gerenciamento da mudança, à

luz dos modelos de Pettigrew (1996), Davis (1988) e Barros e Prates (1996).

3.6

Tratamento dos Dados

Os dados coletados na pesquisa documental, observação participativa e nos

questionários aplicados foram tratados qualitativamente. A pesquisa bibliográfica

forneceu os elementos interpretativos e os constructos a serem observados no

restante do material. Os documentos da empresa têm um caráter instituinte, pois a

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60

organização é relativamente nova, logo forneceram um importante elemento de

explicitação da cultura da empresa.

Os dados obtidos através dos questionários aplicados, por contemplarem

opiniões, reflexões, interpretações e análises subjetivas dos sujeitos da pesquisa,

exigiram tratamento através de um método que possibilitasse sua compreensão e

tradução, ou seja, tratamento qualitativo, através de análise de conteúdo, a fim de

interpretar as colocações dos respondentes. Conforme descrito por Yin (2005), foi

feito um emparelhamento de padrões da pesquisa de campo com a teoria.

As informações referentes às características culturais da empresa (ritos,

mitos, sistemas de avaliação e recompensas, etc.) foram analisadas de forma a

auxiliar no entendimento da cultura da empresa analisada, bem como inferir em

que estágio evolutivo encontra-se sua cultura.

3.7

Limitações do Método

Yin (2005) ressalta a principal diferença entre o método do estudo de caso

aqui utilizado e o os estudos que utilizam técnicas estatísticas. O estudo de caso

visa ao entendimento de um fenômeno a partir de sua observação em um contexto

único, e, portanto, suas conclusões podem levar a generalizações, mas não são

generalizáveis no sentido estatístico, onde se acredita que a amostra é

representativa da população e através de uma série de técnicas o estudado pode ser

extrapolado como característica da população.

Uma outra possível limitação do método é o fato do pesquisador ser

funcionária da empresa estudada há mais de 5 anos, o que por um lado facilita na

coleta de dados e obtenção de informações, mas por outro pode enviesar a análise

dos dados coletados.

Sathe (1985 apud FREITAS, 2007, p.36) destaca a importância de atentar

para as qualificações e status dos investigadores,

“pois o que é revelado da cultura pode ser afetado por quem está conduzindo a

investigação. Pessoas que têm sido expostas a diferentes culturas organizacionais

têm maior oportunidade para desenvolver a habilidade e a sensibilidade de “ler”

uma cultura e observar os seus contrastes. O status influencia quanto ao acesso às

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informações, porque membros antigos têm o benefício da experiência e o ponto de

vista nativo; por outro lado, são os recém-chegados que podem notar melhor as

manifestações culturais, porém, com a desvantagem do acesso. Ambas as posições

têm limitações para acessos e interpretações”.

Já os autores Maturana e Varela (1995) consideram o observador como um

sistema vivo e a aceitação de que o conhecimento é um fenômeno biológico deve

levar à aceitação do papel do observador e do seu papel no ambiente pesquisado.

Portanto, apesar de representar uma limitação, este fato não invalida o estudo. A

abordagem qualitativa está sujeita às interpretações do pesquisador. Entretanto, a

busca do distanciamento do objeto de estudo e isenção de preconceitos, procurou

contrabalancear esta limitação.

Em termos de coleta de dados, alguma dificuldade foi encontrada em se

obter todas as respostas desejadas, apesar de que essa dificuldade só ocorreu na

fase de aplicação dos questionários. No entanto, em termos geográficos, a

representatividade de respostas do escritório de São Paulo foi muito menor, o que

pode prejudicar a generalização para a filial. Em termos geográficos também, a

pesquisadora teve pouco acesso à observação direta dos níveis culturais no

escritório de São Paulo.

O fato de a autora ter optado pela aplicação de questionários à distância (por

e-mail) em vez da aplicação de entrevistas semi-estruturadas, para não influenciar

nas respostas por ser ela também funcionária e gerente da empresa, representa

uma limitação adicional.

Por fim, uma ultima limitação é o tempo curto desde a última situação de

ruptura (substituição do diretor geral, que ocorreu em Novembro de 2007), o que

limitou o tempo de observação após essa mudança estrutural e não permitiu a

avaliação definitiva (somente momentânea) dos impactos desta ruptura na cultura

organizacional.

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62

4

Estudo de Caso: ENSR Brasil

4.1

Histórico

4.1.1

Histórico da ENSR

A ENSR foi fundada em 1968 por especialistas do MIT (Massachussets

Institute of Technology), naquela época chamada ERT (Environmental Research

and Technology). A empresa foi formada para atender às necessidades de

qualidade do ar e consultoria ambiental, no momento em que regulamentações

marco sobre ar, água e resíduos foram lançadas. Entre 1996 e 1997, a ERT

adquiriu a empresa Fugro Environmental, abriu escritórios na América Latina, na

Europa e na Ásia. No mesmo período foi fundado o IAPC (International Audit

Protocol Consortium – Consórcio Internacional de Protocolo de Auditoria), o

mais importante protocolo de auditoria utilizado por diversos grupos como:

Alcoa, BP, Bayer, Colgate-Palmolive, Gillette, GlaxoSmithKline, entre outros.

Em 1998, o nome do grupo foi alterado para ENSR (Environmental

Services), de forma a simbolizar os serviços prestados. Entre 2000 e 2002, a

companhia já possuía escritórios em 16 países, criou a ENSR China e adquiriu

mais duas empresas: McLaren Hart/Jones e Atlantic Geoscience. Em 2004 a

ENSR abre seu escritório na França, além de possuir mais de 25 alianças e

parcerias.

Em 2005 a ENSR é adquirida pelo grupo AECOM, passando a assumir a

identidade de ENSRAECOM. Em 2007 a ENSR adquire mais duas empresas:

RETEC (EUA) e HLA (Austrália).

Após ser adquirida pela AECOM, a ENSR remodelou seu estilo de negócio

para se adaptar ao estilo gerencial do grupo, revisando conceitos como visão,

missão e valores.

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63

4.1.2

Histórico da AECOM

A AECOM foi fundada em 1990 como uma companhia independente.

Desde então, ela vem crescendo e diversificando seu negócio através de

crescimento orgânico (corporate expansion) e através de intensas atividades de

aquisição de empresas. Com isso, a companhia conseguiu aumentar

significativamente as suas linhas de serviço e seu alcance global.

O grupo é um fornecedor global de serviços profissionais técnicos e suporte

de gerenciamento para um grande número de mercados, incluindo transporte,

indústrias, meio ambiente e energia. Com mais de 32.000 funcionários em todo o

mundo, a AECOM é líder em todos os mercados chave que serve. Ela fornece

uma mistura de presença global, conhecimento local, inovação e excelência

técnica para prover soluções que melhorem e sustentem os ambientes construídos,

naturais e sociais do mundo. Ela está presente em mais de 60 países e teve

faturamento de 4.2 bilhões de dólares no ano fiscal de 2007. Em novembro de

2007, o grupo abriu seu capital através de uma oferta pública de ações (IPO) na

New York Stock Exchange (ação negociada na NYSE como ACM).

4.1.3

Histórico da ENSR Brasil

A ENSR iniciou suas atividades no Brasil em 1997, criando a empresa

ENSR International Brasil Ltda. – ENSR Brasil. A vinda da companhia para o

Brasil ocorreu a convite da Shell, um cliente mundial, que buscava no Brasil a

mesma qualidade de serviços da ENSR mundialmente.

Para iniciar e dirigir suas operações no Brasil, a ENSR convidou o

Engenheiro químico Eduardo Lopes, indicado pela própria Shell por conta de seu

histórico de prestação de serviços ao longo de sete anos.

No primeiro ano de operação (de 1997 a 1998), a ENSR funcionou dentro

da estrutura da B.R. Lopes – Engenharia Ambiental Ltda., empresa de Eduardo

Lopes e de sua esposa, também engenheira química, Simone Thury, que o ajudou

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64

na gestão das duas empresas. Nesse período, a ENSR foi administrada em

conjunto e funcionou no mesmo escritório com a B.R. Lopes.

Em setembro de 1998 a matriz da ENSR Brasil foi estabelecida no Rio de

Janeiro e assim tornou-se independente da B.R. Lopes. Nos seus dois primeiros

anos de funcionamento, a empresa prestou serviços apenas no setor de ISC –

Avaliação de Passivos Ambientais (Investigação e Remediação Ambiental de

água subterrânea e solos). Neste período, a Shell representava 90% do

faturamento da ENSR Brasil.

Em 1999 foi inaugurado o escritório operacional em São Paulo (única filial

da ENSR Brasil), por conta de um grande projeto de cunho nacional (NERA).

Esta decisão foi motivada pelo fato de a maior parte dos sites da Shell

encontrarem-se no estado de São Paulo e nos três estados da região sul do Brasil,

com o objetivo de otimizar custos de mobilização e facilitar questões logísticas.

A partir de 2000, a ENSR Brasil passou a prestar consultoria no mercado de

licenciamento ambiental de atividades offshore (exploração e produção de

petróleo e gás), mais uma vez a convite da Shell. Este serviço vem sendo prestado

exclusivamente pelo escritório do Rio de Janeiro e em sete anos, a ENSR

conseguiu penetrar o mercado de licenciamento offshore, trabalhando para

praticamente todos os principais players atualmente no Brasil.

Também nesta época, em 2002, a ENSR passou a executar serviços de

Auditoria Ambiental Fase 1 e Due Diligence. Boa parte dos serviços são

repassados pela própria matriz nos EUA, por conta de contratos mundiais com

clientes presentes também no Brasil.

No final de 2004 a ENSR Brasil ganhou a concorrência para um grande

contrato com a Shell para o departamento de ISC (avaliação de passivos

ambientais), para atender a todas as demandas de investigação ambiental da Shell

na América Latina. Por conta deste contrato a empresa teve que se reestruturar,

contratando um profissional responsável por compras e diversos técnicos de

campo para executar os serviços, além de outros profissionais de suporte e de

gerenciamento de projetos. Esse projeto denomina-se SOPLA e constitui um

departamento a parte do escritório de São Paulo.

Hoje em dia a ENSR Brasil conta com aproximadamente 100 funcionários

distribuídos em dois escritórios recém reformados, um no Rio de Janeiro – um

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65

andar na Praia de Botafogo (desde 2003) – e um prédio de três andares em São

Paulo, na Chácara Santo Antônio (desde 2007).

Ao longo de seus quase dez anos de atividade, a ENSR Brasil passou por

situações de rupturas que marcaram o estilo gerencial da companhia. O efeito

dessas situações de ruptura na cultura organizacional da ENSR Brasil será

discutido no capítulo 5 deste trabalho. Entre elas destaca-se:

• Reestruturação do escritório de São Paulo, com demissão do gerente do

escritório e outros funcionários em 2005;

• Aquisição da ENSR pelo grupo AECOM em julho de 2005;

• Processo de reestruturação organizacional e socialização de novos gerentes

(gerente de RH e gerente operacional do escritório do Rio de Janeiro) em

2006;

• Processo de substituição/sucessão do fundador e diretor geral da ENSR

Brasil em Novembro de 2007.

É importante destacar que em março de 2006, foi feito um treinamento

aplicado pela matriz americana com o diretor geral e os gerentes, aonde foi

estabelecido um plano de ação. Dos EUA vieram o recém nomeado Chief

Operating Officer (ex Vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional da

ENSR e atual Vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional da AECOM),

o Vice-presidente de Vendas e Marketing e o Diretor das Operações da América

Latina. Esse plano de ação buscava estruturar a ENSR Brasil, buscando melhorar

os resultados operacionais e atingir resultados financeiros positivos. Foi o

primeiro indício de intervenção da matriz nas operações da ENSR Brasil e foi o

primeiro passo para o processo de reestruturação organizacional da empresa.

4.2

Definição do Negócio

Conforme definição da matriz:

“Parte da AECOM, a ENSR é um fornecedor global de serviços ambientais e de

desenvolvimento energético para a indústria e o governo. Como uma empresa

DBD
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Page 67: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

66

totalmente dedicada aos serviços ambientais, os profissionais a ENSR fornecem

aos clientes consultoria, engenharia, remediação e serviços co-relatos em mais de

15 países. Todos os escritórios da ENSR operam dentro de uma filosofia unificada

de prover resposta rápida e serviço consistente” (Fonte: Intranet da ENSR).

Desde 1968 a ENSR completou mais de cem mil projetos em cem países,

em todos os continentes e em mais de 40 idiomas. Atualmente, a companhia conta

com 2.500 funcionários, 90 escritórios distribuídos em 15 países e expertise em

mais de 60 disciplinas técnicas.

Ainda segundo as informações corporativas da companhia, “a ENSR ajuda

seus clientes a desenvolver soluções de custo reduzido focadas no negócio, para

atingir e manter conformidade ambiental legal e manter operações

ambientalmente seguras” (Fonte: Intranet da ENSR).

A fórmula de negócio da ENSR é representada pela figura de um bolo de

noiva, conforme mostrado abaixo.

Figura 4 – Fórmula de Negócio da ENSR (Fonte: Departamento de Desenvolvimento Organizacional da ENSR)

Segundo essa analogia, a base do negócio da ENSR são funcionários

engajados, motivados e compromissados. Em seguida, e como resultado dessa

base, vem o comprometimento total com serviço para o cliente superior. Por fim,

embasado por essas duas camadas, chega-se ao crescimento da fatia de mercado

em cada cliente, através de contas novas e existentes.

DBD
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Page 68: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

67

4.2.1

Serviços, posicionamento, vendas e marketing

Os principais serviços da ENSR no mundo são: Licenciamento Ambiental;

Gestão da Qualidade do Ar; Gestão de Recursos Hídricos; ISC (Avaliação de

Passivos Ambientais); Consultoria em Gestão de Meio Ambiente, Saúde e

Segurança; Engenharia de Processo Ambiental; Conformidade e Licenciamento

Ambiental; Auditorias Due Diligence; Estudos de Impacto Socioambientais;

Análise de Risco Ecológico e à Saúde Humana; Meio Ambiente Geológico; Meio

Ambiente Marinho.

O foco da ENSR é em clientes pertencentes a corporações multinacionais

industriais, companhias de energia, companhias em processo de fusões e

aquisições e entidades regulatórias do governo.

A ENSR Brasil presta serviços nas áreas de ISC (Avaliação de Passivos

Ambientais), Licenciamento Ambiental e Estudos de Impacto Socioambiental,

Auditorias Ambientais e Due Diligence e Sistemas de Gestão de EHS (Meio

Ambiente, Saúde e Segurança). O escritório de São Paulo presta serviços de ISC e

auditorias, enquanto o do Rio de Janeiro, além desses, presta de licenciamento

ambiental e estudos de impacto socioambiental e de sistemas de gestão de EHS.

Recentemente, a ENSR Brasil começou a prestar também serviços de GIS

(Geographic Information System – Sistema de Informação Geográfica), também a

partir do escritório do Rio de Janeiro.

O escritório do Rio de Janeiro trabalha predominantemente para clientes do

setor de energia, notadamente de petróleo e gás, com algumas exceções de

clientes industriais. Já o escritório de São Paulo trabalha tanto para clientes de

petróleo (notadamente a Shell) como para clientes industriais. A Shell continua

sendo o principal cliente da ENSR Brasil, correspondendo a mais de 50% de seu

faturamento anual em 2007.

Em termos estratégicos, não existe um posicionamento firme, uma vez que a

prática de planejamento estratégico está sendo iniciada após a reformulação

organizacional pelo que a empresa passou recentemente. Sabe-se que o foco,

assim como o da matriz, é em clientes privados, multinacionais (clientes do grupo

internacionalmente) ou grandes empresas brasileiras dos setores industriais e

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Page 69: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

68

energéticos. Existe uma necessidade de aumento do portfolio de clientes,

descentralizando a forte dependência que existe em relação ao principal cliente

(Shell).

Existe na empresa uma forte cultura de foco no cliente, cultura essa

enraizada pela alta gerência, em especial o fundador e ex-diretor geral, Eduardo

Lopes, em reforço à cultura já existente na matriz. A ENSR Brasil adotou o

modelo americano de “sellers-doers” (vendedores-executores), claramente

evidenciado na seguinte declaração do departamento de marketing da matriz

americana: “Na ENSR, a construção do relacionamento com o cliente é trabalho

de todos. Ter uma cultura de vendas significa que todos estamos conscientes de

que estamos vendendo todos os dias com toda ação” (Fonte: Departamento de

Sales & Marketing da ENSR).

O foco na ENSR Brasil sempre foi nas ações de vendas, com poucas ações

de marketing que, quando existem, são isoladas e desordenadas, como envio de

brindes de natal, palestras isoladas para clientes do departamento de licenciamento

ambiental e participação em algumas feiras e/ou congressos. A confecção de

material de marketing também é feito de forma desordenada, ocorrendo quando

nota-se a necessidade de visita a algum cliente ou distribuição em algum evento.

Até novembro de 2007 não existia um responsável por marketing, cargo esse

ocupado atualmente pelo antigo diretor geral, Eduardo Lopes, que assumiu a

função de gerente de marketing para a América Latina.

Em termos de posicionamento, nunca foi contratado estudo de mercado ou

de posicionamento, mas existe uma clara sensação na alta gerência de que a

ENSR ocupa no Brasil posição de destaque no mercado de consultoria ambiental,

o que é refletido em declarações obtidas nos questionários tais como “a ENSR

hoje é considerada a melhor empresa de licenciamento de atividades offshore” e

“a ENSR é referência em consultoria ambiental no Brasil”.

DBD
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Page 70: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

69

4.2.2

Missão

ENSR e ENSR Brasil:

Após ser adquirida pela AECOM, a ENSR reformulou sua missão, que

passou a ser:

“Ser considerada por seus clientes, funcionários e pares a líder global no

fornecimento de serviços profissionais técnicos e de consultoria” (Fonte: Intranet

da ENSR).

AECOM:

Como parte do grupo AECOM, a ENSR também segue a missão descrita

abaixo, apesar de ter uma específica para seu nicho de serviços.

“Os profissionais da AECOM ao redor do mundo estão unidos por um objetivo

comum - aperfeiçoar e sustentar os ambientes construídos, naturais e sociais do

mundo” (Fonte: Intranet da ENSR).

4.2.3

Visão

ENSR e ENSR Brasil:

“Continuar a criar valor para seus clientes, acionistas e funcionários, enquanto

constrói/aprimora a qualidade de vida para a comunidade global, assim como

prover maiores oportunidades profissionais para seus profissionais” (Fonte:

Intranet da ENSR).

4.2.4

Valores

ENSR e ENSR Brasil:

• Respeito Mútuo e Confiança.

• Prover aos clientes serviços de qualidade e aos funcionários oportunidades

de desenvolvimento.

DBD
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Page 71: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

70

• Aumentar o valor dos acionistas – Modelo Cidadão Corporativo.

– Forte performance financeira.

– Atender rigorosamente a todas as regulamentações legais e contábeis.

– Ações éticas além das exigências legais. (Fonte: Intranet da ENSR)

AECOM:

Como parte do grupo AECOM, a ENSR também segue os valores descritos

a seguir, adicionalmente aos valores já apresentados (Fonte: Intranet da ENSR).

Integridade

• Somos honestos e éticos em tudo que fazemos.

• Mantemos nossos compromissos e tratamos os outros com respeito e

confiança mútuos.

Funcionários

• Nossos funcionários são o recurso mais valioso e mais valorizado da nossa

empresa; são eles que tornam possível o nosso sucesso.

• Temos o compromisso de criar um ótimo ambiente propício para nossos

funcionários trabalharem e prosperarem.

• Respeitamos e encorajamos as idéias, a diversidade e a cultura de nossos

funcionários.

Clientes

• Nosso sucesso é medido através do sucesso de nossos clientes.

• Estamos comprometidos com nossos clientes e com a criação de padrões de

serviços e soluções para a indústria.

• Temos grande entusiasmo em solucionar os problemas de nossos clientes e

em explorar novas oportunidades com os mesmos.

Excelência

• Buscamos atingir excelência em todas as áreas de nossos negócios – técnica,

operacional e administrativa.

• Temos orgulho de obtermos resultados excepcionais em tudo que fazemos.

DBD
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Page 72: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

71

Inovação

• Procuramos maneiras criativas, novas ou melhores para disponibilizarmos

nossa expertise em todas as dimensões de nossos negócios.

• Criatividade, pesquisa e imaginação são a chave da nossa abordagem em

nosso trabalho.

Agilidade

• Abraçamos as mudanças, a flexibilidade e a adaptação em um mundo que

evolui rapidamente.

• Empenhamo-nos para antecipar mudanças nas tendências do mercado e para

trabalhar com os nossos clientes e funcionários na adaptação a estas

mudanças.

Crescimento Rentável

• O crescimento rentável direciona nosso negócio e nos permite investir e

criar oportunidades para nossos funcionários. (Fonte: Intranet da ENSR).

4.2.5

Localização física e descrição da operação

Conforme descrito anteriormente, a ENSR possui no Brasil dois escritórios,

a matriz no Rio de Janeiro e a filial em São Paulo. Ambos escritórios passaram

por processos de mudança física e reforma nos últimos três anos, principalmente

por conta do aumento no corpo de funcionários e colaboradores.

O escritório do Rio de Janeiro localizava-se inicialmente em Botafogo, em

meio andar de um prédio comercial no coração do bairro. A localização do

escritório sempre foi priorizada em termos de facilidade de acesso aos

funcionários, através de transporte público e vias de acesso. Por conta da abertura

da nova frente de serviços de licenciamento ambiental offshore, foi necessário

expandir e ocupar o andar inteiro em 2002. Com o sucesso da área de

licenciamento, optou-se pela mudança para um escritório maior e também mais

moderno e “apresentável” aos clientes.

A mudança ocorreu em meados de 2003 para um escritório na praia de

Botafogo, ocupando um andar inteiro (400 m2) e com vista para a Baía de

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Page 73: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

72

Guanabara. O escritório foi todo reformado e as instalações todas novas. Optou-se

pelo estilo de escritório aberto, com divisórias baixas entre as mesas, para

valorizar a vista. Os únicos escritórios fechados eram do diretor geral, do gerente

de ISC, da informática e o departamento financeiro que ficava em sala a parte.

Depois, com a reestruturação organizacional e a contratação de um gerente de RH,

de um gerente operacional e de um gerente administrativo, foram fechadas mais

três salas para acomodá-los.

O escritório de São Paulo já passou por três endereços diferentes. O

primeiro tornou-se muito apertado por conta do crescimento dos serviços

prestados à Shell e outros clientes, quando mudaram-se para uma casa. O

mobiliário do novo escritório foi aproveitado do escritório do Rio de Janeiro após

a mudança. A casa, originalmente residencial, apresentou problemas operacionais

de manutenção e adequação às necessidades de escritório e por isso, decidiu-se

por mais uma mudança que ocorreu em 2007.

Nesta segunda mudança o novo escritório, um prédio de três andares no

bairro Chácara de Santo Antônio (totalizando 500 m2), que foi todo reformado,

incorporando uma identidade visual similar à do escritório do Rio de Janeiro, com

divisórias baixas, cores azuis, etc.

Em termos operacionais, a ENSR Brasil incorpora dois tipos de operações

bastante diferentes. A primeira delas e também a original, o serviço de ISC

(Avaliação de Passivos Ambientais), demanda uma estrutura operacional robusta

de equipamentos e logística para trabalhos de campo, espalhados por todo o

território brasileiro. Para tal, existe grande necessidade de uma rede de

fornecedores de material diverso e equipamentos e prestadores de serviços de

viagem, aluguel de carro, além de espaço físico nos escritórios para estoque desse

material e equipamentos (almoxarifados). Adicionalmente, existe a necessidade de

locação de galpões para guardar equipamentos de maior porte, como containeres

de equipamentos. Por fim, também é necessário ter uma estrutura específica para

os técnicos de campo (armários, chuveiro) e também uma estrutura

administrativa-financeira específica para administrar as prestações de conta de

viagens e aspectos de saúde e segurança dessas atividades.

O outro tipo de operação é a tipicamente de consultoria em que os

funcionários ficam locados exclusivamente ou na maior parte do tempo no

DBD
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Page 74: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

73

escritório, elaborando relatórios, demandando melhor estrutura de TI e espaço

físico nos escritórios. Neste tipo de operação encaixam-se os departamentos de

licenciamento ambiental, sistemas de gestão de EHS e o de auditoria.

Essas diferenças operacionais existem não só em termos de estrutura física e

organizacional, mas também em termos das demandas dos próprios funcionários e

em termos de políticas de RH, representando um desafio para a gerência da

empresa.

4.3

Estrutura Organizacional e Evolução no Número de Funcionários

De forma a situar a estrutura da ENSR Brasil na estrutura da matriz nos

EUA, abaixo é ilustrada o organograma atual da ENSR.

Figura 5 – Estrutura Organizacional da ENSR (Fonte: ENSR)

Conforme explicitado anteriormente, a ENSR Brasil passou por uma

significativa reestruturação organizacional em 2006 que provocou uma grande

mudança em seu organograma. Nas figuras 6 e 7 a seguir ilustramos essa mudança

através do contraste entre os organogramas até setembro de 2006 e após essa data.

CEO

COOMarketing

& Vendas GlobalNova Companhia

Performance de EH&S CFO/CAO

DesenvolvimentoOrganizacional

Operações naAmérica do Norte

Gestão de Risco/

Gestão de Projetos

Operações

Internacionais

Operações na

Asia

Operações na

Europa

Operações na

América Latina

ENSR BRASIL

CEO

COOMarketing

& Vendas GlobalNova Companhia

Performance de EH&S CFO/CAO

DesenvolvimentoOrganizacional

Operações naAmérica do Norte

Gestão de Risco/

Gestão de Projetos

Operações

Internacionais

Operações na

Asia

Operações na

Europa

Operações na

América Latina

ENSR BRASIL

DBD
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Page 75: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

74

Figura 6 – Organograma da ENSR Brasil de 2005 até setembro de 2006 (Fonte:

Departamento de RH da ENSR Brasil)

Figura 7 – Organograma da ENSR Brasil após setembro de 2006 (Fonte:

Departamento de RH da ENSR Brasil)

Conforme descrito, o novo organograma criado foi resultado de uma

reestruturação interna, imposta pela matriz americana e resultou na vinda de dois

novos profissionais com visões de negócio e culturas gerenciais diferentes – uma

gerente de RH e um gerente operacional para o Rio de Janeiro. O principal

objetivo na mudança da estrutura organizacional foi a descentralização da

estrutura e maior distribuição de responsabilidades.

A evolução no número de funcionários total da empresa e por escritório está

representada nas Figuras 8 e 9, respectivamente, a seguir:

Diretor Geral

Gerente

Operacional RJ

Gerente

Operacional SP

Gerente FinanceiroGerente

Administrativo

Coordenador de TI

Gerente de

Licenciamento

Ambiental

Gerente de

ISC

Gerente de

ISC

Gerente de

Auditoria

Gerente de RH

Gerente Projeto

SOPLA (Shell)

Gerente de

Auditoria

Coordenador de

Saúde e Segurança

Diretor Geral

Gerente

Operacional RJ

Gerente

Operacional SP

Gerente FinanceiroGerente

Administrativo

Coordenador de TI

Gerente de

Licenciamento

Ambiental

Gerente de

ISC

Gerente de

ISC

Gerente de

Auditoria

Gerente de RH

Gerente Projeto

SOPLA (Shell)

Gerente de

Auditoria

Coordenador de

Saúde e Segurança

Diretor

Geral

Gerente

Administrativo

Financeiro

Gerente TI

Gerente de

Licenciamento

Ambiental

Gerente de

ISC

Gerente de

Auditoria

Gerente de

Compras

Gerente de

Marketing

Gerente de

RH

Departamento

de

Pessoal

Gerente de

Saúde

e Segurança

Diretor

Geral

Gerente

Administrativo

Financeiro

Gerente TI

Gerente de

Licenciamento

Ambiental

Gerente de

ISC

Gerente de

Auditoria

Gerente de

Compras

Gerente de

Marketing

Gerente de

RH

Departamento

de

Pessoal

Gerente de

Saúde

e Segurança

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Page 76: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

75

Número de Funcionários - ENSR Brasil

5

22

30

41

49

858383

54

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Figura 8 – Evolução do Número Total de Funcionários da ENSR Brasil (Fonte:

Departamento de RH da ENSR Brasil)

Conforme informações do Departamento de RH, em 2001 e 2003 ocorreram

duas grandes levas de demissões. Em 2001 devido ao término de um projeto em

Manaus, AM, que empregou 17 técnicos de campo locais ao longo de 2000 e 2001

que foram dispensados ao término do projeto em 2001. Similarmente em 2003

ocorreu o término de um contrato de investigação e remediação de postos de

gasolina no Nordeste e Centro-Oeste do país que também empregava em torno de

15 técnicos de campo locais que também foram dispensados ao final do projeto.

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Page 77: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

76

Número de Funcionários - RJ e SP

5

1927 28

47

3631

41 43 403

3

13

13

18

18

42 40 45

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

RJ SP

Figura 9 – Evolução do Número de Funcionários da ENSR Brasil por escritório –

RJ e SP (Fonte: Departamento de RH da ENSR Brasil)

Conforme ilustrado pela Figura 9, o escritório de São Paulo teve

crescimento notável crescimento de 2004 para 2005, por conta do projeto SOPLA

ganho no final de 2004, conforme descrito no item 4.1.3.

Em termos de rotatividade de pessoal, a ENSR Brasil vem apresentando

níveis médios em torno de 20 a 25% ao ano desde 2000. Considerando-se o tipo

de serviço prestado (consultoria), em que o que se vende é o conhecimento e

especialidade do profissional, isso representa um grande problema em termos de

estabilidade do negócio e segurança para os clientes. As Figuras 10 e 11 a seguir

ilustram a evolução da rotatividade na ENSR Brasil e nos escritórios do RJ e de

SP. O gráfico apresentado na Figura 10 apresenta a rotatividade total em termos

percentuais, enquanto o gráfico apresentado na Figura 11 apresenta o número

absoluto de funcionários que deixaram a empresa, dividido entre os escritórios do

RJ e de SP.

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Page 78: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

77

Rotatividade - ENSR Brasil (%)

8%

37%

25%

33%

23%

19%

22%

0%

25%

22%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Figura 10 – Evolução da Rotatividade da ENSR Brasil em termos percentuais

(Fonte: Departamento de RH da ENSR Brasil)

Rotatividade ENSR Brasil

(Números de Funcionários que Deixaram a Empresa)

2

10

24

20

27

15

19

24 24

2

10

23

16

24

10 1011

13

0 01

43

5

9

13

11

00

5

10

15

20

25

30

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Total RJ SP

Figura 11 – Evolução da Rotatividade da ENSR Brasil por escritório em números

absolutos – RJ e SP (Fonte: Departamento de RH da ENSR Brasil)

É importante lembrar que os picos de rotatividade em 2001 e 2003

ocorreram por conta do término de projetos com grandes números de técnicos de

campo localizados em outros estados.

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Page 79: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

78

Os motivos para a alta rotatividade são os mais diversos, variando de

término de projetos grandes, mercado de trabalho altamente aquecido no setor de

petróleo do Rio de Janeiro, problemas no processo de contratação e insatisfação

com a coordenação direta ou gerência da companhia. No entanto, a prática de

entrevistas de desligamento não foi instituída ainda na empresa de forma a

permitir melhor análise desses motivos de desligamento.

Durante a aplicação dos questionários para este trabalho, seis ex-

funcionários responderam às perguntas, incluindo a questão “Por que você decidiu

sair da ENSR Brasil?”. Apesar de não serem representativos em termos

estatísticos, alguns depoimentos estão transcritos a seguir:

“Fui “saído” pela Petrobras, caso contrário estaria até hoje na ENSR”.

“Achei que tinha uma oportunidade imperdível, em termos de conhecimento,

principalmente para voltar a trabalhar com consultoria no futuro. A questão

financeira também foi um balizador importante, mas não o principal. Ainda sim,

sinto muita falta do trabalho na ENSR, que para mim era extremamente

prazeroso”.

“Um dos maiores motivos foi a preferência e valorização de funcionário que

trabalhava muito bem seu marketing pessoal e que era colocado em outro

patamar. Em compensação até coordenadores às vezes eram tratados e colocados

ao mesmo nível de profissionais recém contratados, mesmo com maiores

responsabilidades e história de dedicação à empresa. Também enxerguei

perspectivas e oportunidades na empresa atual, tenho certeza de que minha aposta

foi acertada e que não me arrependo de ter tomado esta decisão, apesar de ter sido

dolorosa, afinal eu gostava muito de trabalhar na ENSR.”.

“Para cuidar dos filhos, seguir vida acadêmica”.

“Pois apesar de adorar trabalhar na ENSR, sempre tive uma meta de conseguir

trabalhar na Petrobras”.

“Falta de perspectiva profissional (quando na área de investigação nunca pegava

nada de desafiador para fazer). Quando surgiu um projeto melhor só fui fazê-lo

porque não houve maiores interessados, o que me levou a decidir sair de lá assim

que voltei do trabalho de campo (da viagem). Também existiram questões pessoais

que na época tiveram um grande peso na minha decisão de sair, logo tudo ocorreu

junto. A completa falta de treinamento e investimento dado aos profissionais e por

último meu salário que era bem abaixo do mercado”.

DBD
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Page 80: Juliana Soares Moura Costa Ciclo de Vida Organizacional: O

79

Essas respostas ilustram um grande vínculo emocional dos funcionários com

a empresa, principalmente nas inúmeras declarações de que estes funcionários

apesar de terem saído gostavam muito de trabalhar na ENSR Brasil. No entanto,

algumas delas já ilustram o início de conflito com a gestão organizacional na

empresa.

4.4

Desenvolvimento Organizacional

Conforme descrito, em 2006 foi instituída a gerência de RH da ENSR

Brasil, antes mesmo da reestruturação do organograma. Antes disso, a ENSR

contava com um Departamento de Pessoal, subordinado à gerência

administrativo-financeira. No entanto, algumas ações de desenvolvimento

organizacional já vinham sendo desenvolvidas, enquanto novas foram trazidas

com o surgimento do novo departamento.

Dentre as diversas ações estabelecidas no plano de ação que resultou do

treinamento de março de 2006 (vide item 4.1.3 para histórico) constavam a

contratação de um gerente de RH e diversas ações de desenvolvimento

organizacional, tais como, o estabelecimento de descrições de cargos,

estabelecimento de um plano de cargos e salários, estabelecimento do processo de

avaliação de desempenho dos funcionários, entre outros. Todas essas ações seriam

executadas nos moldes do que já era feito na matriz americana, conforme descrito

a seguir.

4.4.1

Política de remuneração e premiações

Até 2006, a política de remuneração da ENSR Brasil não era estruturada.

Houve uma tentativa de estabelecimento de um plano de cargos e salários em

2002, pelo então departamento de pessoal que contratou uma empresa que presta

esse tipo de serviço, mas este plano não resultou em uma política de remuneração

com regras estabelecidas, somente em novos nomes para cargos que eram usados

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80

somente nos registros nas carteiras de trabalho. Na época, o plano gerou bastante

questionamento entre os funcionários e foi de certa forma abandonado aos poucos.

Desta forma, qualquer revisão salarial ocorria ou na época do dissídio anual

ou quando o diretor geral resolvia reconhecer algum profissional, ou quando

algum funcionário procurava o diretor geral para pedir um aumento e esse

consentia. Toda revisão salarial era aprovada pelo diretor geral, os gerentes de

departamentos não tinham autonomia para tomar essa decisão sem consultá-lo. Os

salários não eram atribuídos a funções, mas a indivíduos e levava em

consideração a percepção subjetiva de desempenho do funcionário e em alguns

casos o tempo de casa. No entanto, era freqüente que na necessidade de

contratação de um funcionário para ocupar uma vaga aberta pela saída de um

funcionário mais antigo (muitas vezes porque tentou negociar um aumento de

salário e não teve sucesso), o novo funcionário conseguisse negociar um salário

mais alto do que o pago ao antigo ocupante da vaga.

Em 2006 foi estabelecido pela gerência de RH um plano de cargos e salários

espelho do que é utilizado na matriz americana. Esse plano definiu faixas salariais

por função e buscou nivelar os salários dentro das funções e com base nas

avaliações de desempenho que também passaram a ser feitas em 2006 de forma

estruturada.

Em relação a bonificações, até 2006 estas ocorriam quando a empresa

apresentava resultado positivo e eram distribuídas de acordo com critério

estabelecido pelo diretor geral que consultava os gerentes de departamento em

alguns momentos. Normalmente a distribuição de bônus era feita de forma que

todos o recebessem, independente do seu desempenho, por conta de sua

contribuição individual para o resultado coletivo. Os valores podiam variar

subjetivamente ou todos recebiam sob o mesmo critério (ex.: 14º salário).

A partir de 2006, por conta do estabelecimento do plano de cargos e salários

e do programa de avaliação de desempenho, a bonificação passou a ser atrelada ao

desempenho medido dos funcionários e a critérios como importância para a

empresa. Esta mudança gerou algum desconforto na organização que não estava

madura para migrar para um processo atrelado ao resultado individual.

Em termos de premiações, conforme observações da autora, respostas aos

questionários e o diagnóstico pela consultora de RH, essas não são freqüentes nem

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81

estruturadas na empresa. Mais recentemente, também a partir de 2006, alguns

prêmios foram distribuídos a funcionários pela matriz americana por conta de

programas corporativos, nos quais os gerentes podem inscrever seus funcionários

para premiações relacionadas a desempenho de saúde e segurança, inovação ou

conquista de projetos significativos. Entre 2006 e 2007, três prêmios americanos

foram entregues a grupos de funcionários brasileiros, um de saúde e segurança (a

dois funcionários do departamento de licenciamento ambiental), um por conta do

bom resultada na pesquisa de satisfação de um cliente específico (para cinco

gerentes do departamento de licenciamento ambiental) e outro pela conquista de

um importante projeto de licenciamento offshore (para todos os envolvidos no

processo da concorrência). Apesar de recente, essa premiações refletem a inserção

da filial brasileira em alguns programas corporativos da ENSR.

4.4.2

Recrutamento e seleção

O processo de recrutamento e seleção também não era estruturado até a

criação do departamento de RH, conforme evidenciado nas observações da autora,

nas respostas aos questionários e no diagnóstico pela consultora de RH. O

candidato passava por uma entrevista conduzida normalmente pelo diretor geral e,

em alguns casos, pelos gerentes. Aspectos puramente técnicos eram avaliados,

sem considerar aspectos psicológicos, de aptidão gerencial e de plano de carreira.

Sempre foi comum a contratação de profissionais por indicação de funcionários

da empresa.

Após a criação do departamento de RH, o processo passou a ser mais

estruturado, mas ainda sofre com necessidades de fugir ao processo padrão por

conta de urgências, muitas vezes inerentes ao próprio negócio de consultoria, e de

falta de planejamento de equipe. Atualmente, o RH pré-seleciona candidatos com

base em entrevistas e redações, avalia psicologicamente os candidatos e

encaminha para os futuros supervisores diretos e gerentes para entrevistas

técnicas.

Em termos de integração, não existe também um processo padrão.

Normalmente a pessoa é apresentada à empresa pelo seu supervisor direto e

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recebe diversas informações de forma desestruturada, como regras de informática,

horário de trabalho, procedimentos administrativos, etc. A empresa está

implementando atualmente um programa de integração de novos funcionários

com apresentações sobre a companhia e os diferentes serviços prestados, além de

entrega de procedimentos e instruções para início do trabalho.

4.4.3

Processos sucessórios

Os processos sucessórios sempre foram inexistentes na ENSR Brasil. Não

há planos de sucessão para nenhum cargo, nem mesmo os principais, como os de

coordenação, gerência e diretoria. Quando um coordenador ou gerente sai da

empresa, essa saída gera estresse na companhia, que se vê obrigada a encontrar

um substituto em pouco tempo. Normalmente opta-se por promover algum

funcionário interno, com pouca preocupação em avaliar se este está interessado e

apto a assumir as novas funções, tanto tecnicamente, como em termos de

maturidade. O processo de handover também é normalmente fraco ou inexistente.

Essa realidade tende a mudar com a estruturação e consolidação do

departamento de RH e das ações de desenvolvimento organizacional sendo

estabelecidas a partir de 2006, em particular o plano de cargos e salários, o

estabelecimento do processo de evolução da carreira e a avaliação de desempenho

dos funcionários.

4.4.4

Outras ações de desenvolvimento organizacional

Avaliação de Engajamento dos Funcionários

A ENSR possui um processo corporativo de avaliação do engajamento de

seus funcionários que corresponde a uma pesquisa anônima, gerenciada por uma

entidade externa contratada para tal. Essa pesquisa foi estendida aos brasileiros a

partir de 2001, quando a ENSR Brasil passou a responder ao questionário. No

entanto, os resultados da pesquisa sempre foram enviados ao diretor geral e pouca

atenção era dada às estatísticas produzidas. Muitas vezes os funcionários nem

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tomavam conhecimento dos resultados. As pesquisas atualmente são anuais e a

última foi conduzida no primeiro semestre de 2007.

Em 2006 foi o primeiro ano que os funcionários tiveram conhecimento dos

resultados, através de uma apresentação exigida pela matriz americana conduzida

pelo diretor geral e uma consultora de RH que trabalhou temporariamente na

empresa. A apresentação foi feita de forma desestruturada e confusa, pois se optou

por fazer um conference call com todos os funcionários dos escritórios do RJ e de

SP e com a matriz americana, contando com tradução simultânea para quem não

entendesse as explicações dadas. Em seguida à apresentação não foi dada

continuidade à análise dos resultados e estabelecimento de ações com base nas

estatísticas.

Em 2007 começou a se estruturar um programa de avaliação dos resultados

da pesquisa que deverá resultar em um plano de ação para melhoria dos

indicadores ruins e manutenção dos bons. Desta forma, a pesquisa de engajamento

passará a servir efetivamente como ferramenta de gestão organizacional e não

somente como algo para constar. Cabe ressaltar que a elaboração do questionário

é feita exclusivamente pela matriz americana, o que em certos casos gera alguma

confusão em termos de tradução e em termos de diferenças culturais em alguns

aspectos.

Plano de Desenvolvimento do Funcionário

Uma outra ação que passou a ser implementada a partir de 2006 foi o

Employee Development Plan – o Plano de Desenvolvimento do Funcionário. Este

plano é a avaliação do desenvolvimento do funcionário ao longo do ano, incluindo

avaliação 360º, auto-avaliação do funcionário e reunião com o supervisor direto

para preenchimento do plano com a avaliação do ano e com as metas para o ano

seguinte. O programa também prevê uma revisão semestral do plano.

Essa é uma outra ferramenta da matriz americana que foi traduzida e

implementada na empresa brasileira após a criação do departamento de RH. Ela

tem o objetivo principal de desenvolver os funcionários, identificando aptidões,

pontos de melhoria e desejos e possibilidades de rumo de carreira para o

profissional no longo prazo, além de estabelecer metas para o ano seguinte. O

programa foi bem recebido pelos funcionários, mas já há um certo descrédito da

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ferramenta, principalmente entre os gerentes operacionais, já que muitas das

metas estabelecidas ainda não são mensuráveis.

Atividades de Integração dos Funcionários

A empresa não possui um programa ou calendário de atividades de

integração dos funcionários. Ao longo de sua existência, os próprios funcionários

estabeleceram e organizaram algumas atividades ou celebrações muitas vezes sem

a participação da gerência ou diretoria diretamente, como almoços de

aniversariantes do mês, confraternizações nas sextas feiras e festas juninas.

Destaca-se aqui a festa junina que ocorre em ambos os escritórios e que

começou com uma iniciativa de alguns funcionários que organizaram uma lista

em que cada um traria uma comida típica e fariam uma pequena festa no próprio

escritório. Essa prática já ocorre há três anos e já ganhou maiores dimensões,

incluindo para fora do escritório.

O mesmo ocorreu com a confraternização mensal de aniversariantes do mês

do escritório de São Paulo, quando cada funcionário doa no início do mês um

ticket refeição para transformar o bolo dado pela empresa em uma festinha com

salgadinhos e cerveja, ao término do expediente.

4.4.5

Responsabilidade social

A empresa não possui um programa estruturado de responsabilidade social.

Algumas ações são tomadas de forma isolada e não estruturada (na maioria das

vezes por iniciativa dos próprios funcionários), como a distribuição de donativos

no natal para alguma instituição de caridade, o uso de papel reciclado nos

relatórios, a proibição do uso de copos descartáveis, entre outros.

Em termos éticos, a ENSR Brasil sempre se orgulhou de sua forma ética de

tratar seus funcionários, principalmente no que diz respeito ao atendimento a

todas as leis trabalhistas. Isso ficou sempre muito claro e explícito nos discursos

do diretor geral que relatavam o grande sacrifício que era estar em conformidade

com todos os tributos trabalhistas e demais tributos e impostos da realidade

brasileira e que ressaltavam que todos os funcionários deviam “agradecer por ter

uma carteira de trabalho assinada”. De fato, a ENSR Brasil sempre fez questão de

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honrar seus compromissos fiscais e tributários e de atender às exigências legais

brasileiras, o que sempre resultou em uma alta percepção dos funcionários em

geral de que a empresa é uma empresa ética.

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5

Análise da Cultura Organizacional

Conforme citado no ítem 1.1, a literatura organizacional identifica situações

de ruptura na cultura vigente e que permitem acelerar o processo de mudança

(TOMEI, 1994), como fusões, aquisições, reestruturações, atuação de fatores

externos como forte recessão ou grande mudança tecnológica, crises internas de

gerência, processos de sucessão ou processos de socialização de novos membros.

Essas novas situações provocam mudanças, voluntárias ou não, nos valores e

crenças da organização, por conta do surgimento de novos atores e sistemas de

controle e informação.

O histórico da ENSR Brasil, apresentado no item 4.1.3, mostra que a

empresa passou por situações de ruptura, desde sua criação até os dias atuais,

sendo elas:

• Reestruturação do escritório de São Paulo, com demissão do gerente do

escritório e outros funcionários em 2005;

• Aquisição da ENSR pelo grupo AECOM em julho de 2006;

• Processo de reestruturação organizacional e socialização de novos gerentes

(gerente de RH e gerente operacional do escritório do Rio de Janeiro) em

2006;

• Processo de substituição/sucessão do fundador e diretor geral da ENSR

Brasil em Novembro de 2007.

Desta forma, para analisar a cultura organizacional da ENSR Brasil, faremos

inicialmente uma análise da evolução do ciclo de vida da empresa, de acordo com

a proposta de Schein (2004) apresentada no item 2.4 e resumida na Tabela 5.

Em seguida, passaremos à análise da cultura organizacional neste estudo de

caso de acordo com a proposta de Trice & Beyer (1984), analisando os dois

componentes básicos da cultura, substância e forma – dentro dos estágios de

evolução do ciclo de vida da empresa.

Por fim, através da comparação dos níveis culturais antes e após a

reestruturação de 2006, passaremos à aplicação das tipologias culturais de Handy

(1978), Sethia e Von Glinow (1985), Donnelly (1984) e Deal & Kennedy (1982).

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Como pano de fundo, também será feita a avaliação das práticas

administrativas para o gerenciamento da mudança, à luz dos modelos de Pettigrew

(1996), Davis (1988) e Barros e Prates (1996).

5.1

Análise do Ciclo de Vida

Conforme apresentado no item 2.4, Schein (2004) identifica três principais

estágios de desenvolvimento de uma organização: o nascimento, a diversificação e

meia-idade da organização e a maturidade, com provável estagnação e declínio.

O histórico apresentado da ENSR Brasil e também a evolução no seu

número de funcionários e rotatividade mostrada nas Figuras 8 a 11 são

informações que propiciaram, juntamente com as obtidas nos questionários e nas

observações da pesquisadora, analisar a evolução do ciclo de vida da ENSR

Brasil.

Entre 1998 e 2001 encontram-se claros traços do estágio de nascimento e o

dito “controle da família”. A figura do fundador-diretor representava uma figura

de poder e liderança. Ele era responsável pelas contratações, ele centralizava

qualquer comunicação com a matriz, todos os coordenadores e gerentes se

reportavam a ele. A cultura era fonte de identidade e muitas vezes fontes de

competência distinta para a empresa, principalmente no que dizia respeito ao

atendimento ao cliente e a aceitar desafios de novos projetos, como se pode

identificar num dos trechos das respostas aos questionários de um funcionário do

corpo técnico transcrito a seguir:

“Uma das pessoas que considero como tendo especial significado para esta

organização é o Eduardo Lopes (fundador e ex-diretor geral) que encarou o

desafio de trazer a ENSR e aceitar projetos que não tínhamos capacidade técnica e

de equipe”.

A empresa possuía traços típicos do estágio de nascimento, em especial a

ênfase em comprometimento através da socialização. Outros depoimentos, como

o de um dos gerentes abaixo, refletem claramente essas características:

“No escritório do Rio a cultura era muito paternalista por parte da diretoria, e

respingava também no relacionamento com os gerentes seniores de São Paulo.

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Isso tornava a organização com um viés familiar, pouco profissionalizado. A

cultura cordial tem alta sociabilidade e baixa solidariedade. Trazia a possibilidade

de redes informais nos bastidores. Era uma cultura de papéis, onde o formalismo e

a hierarquia eram muito valorizados. A maior parte das decisões não eram

tomadas baseadas em fatos e necessidades do negócio, mas sim em

relacionamentos e necessidades pessoais. A empresa pregava o coleguismo, o

protecionismo, que não chegava a fazer a produtividade cair, talvez pelo ritmo de

consultoria ser muito puxado, mas tornava as pessoas muito sensíveis à cobrança e

a mudanças”.

A partir de 2001/2002, notam-se características da meia-vida

organizacional. A empresa começa a crescer mais acentuadamente, consolidando

a linha de serviço de licenciamento ambiental (denominado informalmente grupo

de “estudos”) e incorporando a nova linha de serviço de auditorias. O escritório de

São Paulo também se consolida a partir de 2001, assumindo um crescimento

constante a partir de então e mudando para um novo escritório em 2002. Até 2006

o escritório de São Paulo cresce, assumindo proporções equivalentes ao escritório

do Rio de Janeiro.

Criam-se subculturas, tanto relacionadas com localização geográficas

(matriz x filial ou RJ x SP), como pela especialização na produção (billable -

profissionais que executam tarefas técnicas faturáveis x unbillable – profissionais

de suporte ou overhead; investigação e remediação x “estudos”). A declaração da

nova gerente de RH abaixo explicita bem essa realidade:

“A empresa era dividida em pequenos clãs, que não se misturavam em

profundidade uns com os outros, e os dois escritórios tinham uma rivalidade muito

grande, que chegava a atrapalhar o negócio. Havia dificuldade das pessoas dentro

do próprio departamento se criticarem. Pela baixa capacidade dos grupos

pensarem em interesses mútuos, bons para o grupo maior, a resposta competitiva

ficava lenta. A diretoria não conseguia ter uma visão clara do desempenho de

cada um e fazer valer a meritocracia”.

Neste momento, a integração cultural começa a declinar. Alguns conflitos

sucessórios ocorreram e aqueles que estavam em consonância com o perfil da

diretoria permaneceram na empresa. Foi o que ocorreu na saída de um dos

coordenadores técnicos do Rio de Janeiro em 2004 (do departamento de

licenciamento ambiental) e em São Paulo, com a substituição da gerência do

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escritório em 2005. Eles não se alinharam às necessidades gerenciais definidas

pela diretoria e por isso foram substituídos ou decidiram sair.

Em paralelo, por motivos profissionais (transferência para o exterior), o

coordenador de ISC do Rio de Janeiro também se desligou em meados de 2005, o

que resultou na completa troca das coordenações técnicas da empresa entre 2004 e

2005. Esses coordenadores, além de profissionais técnicos, desempenharam

importantes papéis de liderança e formação de suas equipes de trabalho, na

construção das linhas de serviço, estabelecimento de aspectos operacionais

importantes e vigentes até hoje e na construção de uma cultura de atendimento ao

cliente, serviços de qualidade e companheirismo dentro das equipes.

Logo, a partir do final de 2005 e até 2006 a empresa passa para um

momento de maturidade organizacional, onde há falta de motivação para mudar e

a cultura torna-se restritiva à inovação. Também eram constantes as manifestações

a favor das glórias do passado, passando a cultura a ser usada como fonte de auto-

estima e defesa, conforme ilustrado nas declarações de técnicos, gerentes e novo

diretor geral a seguir.

“Na empresa toda não havia muito espaço para inovação, e os funcionários

estavam todos cansados de propor coisas novas e sem esperança de mudanças em

relação à alta gerência”.

“De um modo geral acho que a maior dificuldade foi a reatividade das pessoas

com relação às mudanças. Isso me causou mais surpresa pelo fato de que sendo

uma equipe formada por pessoas jovens esperava uma melhor aceitação e maior

flexibilidade. (...) Quando comecei a introduzir uma nova visão na maneira de

executar e gerenciar os projetos, as pessoas se sentindo despreparadas tiveram

dificuldade em aceitar as mudanças”.

“Como as pessoas resistiam muito às novidades no Rio e em SP a gerência não era

muito amigável a pessoas diferentes, tive dificuldade de implantar certas rotinas e

processos”.

“Talvez pela descrença em mudanças e desconfiança do novo, as pessoas no Rio

não estavam abertas a ouvir sugestões, críticas, a receber coach. Os pensamentos

eram muito fechados e a zona de conforto imperava”.

“Antigamente era mais legal, tinha chopinho toda sexta feira, as pessoas eram

mais amigas. A gente trabalhava muito mais, virava a noite, mas era mais

divertido”.

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“Até hoje os funcionários que eram dele sentem essa ausência, pela motivação, por

vestir a camisa da empresa” (referindo-se ao antigo coordenador de ISC do Rio de

Janeiro).

“Preferia que a ENSR ficasse pequena, sem crescer muito, para não ter tanta

cobrança, tanto estresse não relacionado ao trabalho técnico”.

Até 2006, atrelado ao declínio da integração cultural, ainda ocorria grande

centralização do poder na figura do diretor (conforme ilustrado na Figura 6). Em

2006 começa a reestruturação organizacional da ENSR Brasil. Com a compra da

ENSR pela AECOM, o envolvimento da matriz americana nessa estruturação

tornou-se realidade, conforme evidenciado na resposta ao questionário do Chief

Operating Officer (COO) da matriz americana:

“Tried to work with Brazil to mirror the Brazilian business to the US model (e.g.

Employee Engagement, Key Account Program, Sector Leads, etc.). Also, the recent

change with Eduardo Lopes in corporate sales and marketing was meant to further

link Brazil with the “mother ship”. The promotion of Paulo (new director) is really

part of the Company’s overall succession planning goals.”

(“Tentamos trabalhar o Brasil de forma a espelhar o negócio brasileiro no modelo

americano (ex.: Engajamento dos Funcionários, Programa de Contas Chave,

Lideranças de Setores, etc.). Adicionalmente, a mudança recente na direção da

empresa no Brasil foi feita com o objetivo de conectar mais ainda o Brasil à “nave

mãe”. A promoção do novo diretor é parte dos objetivos gerais da companhia de

planejamento sucessório.”).

Era claro nesse momento que a mudança cultural era necessária e inevitável.

Algumas declarações de novos funcionários, com visões externas, que entraram

na empresa em 2006/2007, refletem isso claramente:

“Nota-se que ao longo da vida da empresa pouca atenção foi dada ao

desenvolvimento de recursos, ao mesmo tempo em que se exigia um alto padrão de

performance em áreas muito específicas de atuação, levando a uma super

especialização.”

“A cultura de negócio desenvolvida na ENSR Brasil super valoriza as relações

com o cliente em detrimento de uma cultura onde há a preocupação com o cliente,

mas também com a qualidade do negócio para a empresa.”

“A alta gerência não conseguia motivar seus funcionários e os discursos eram

destruidores de auto-estima e motivação.”

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“As pessoas tinham muitas críticas que remoíam, e isso prejudicava muito a

organização, pois acredito que não eram faladas formalmente.”

Desta forma, a partir de 2006 iniciou-se a reestruturação organizacional,

buscando uma opção de transformação. Neste momento um novo organograma foi

criado e novas posições gerenciais foram criadas, conforme ilustrado na Figura 7.

O impacto desta reestruturação e das ações voltadas para a mudança serão

avaliadas no item 5.5. A Tabela 7 a seguir resume, em termos de linha do tempo, a

evolução organizacional da ENSR Brasil dentro do conceito de ciclo de vida

organizacional estabelecido por Schein (2004).

Tabela 7 – Evolução Organizacional da ENSR Brasil

Estágio de Crescimento

(Schein, 2004)

Nascimento e

Primeiros Estágios de

Crescimento

Meia-vida

Organizacional

Maturidade

Organizacional

Período 1998-2001 2002-2005 2006 até hoje

5.2

Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Nascimento

O período até a reestruturação que ocorreu em 2006, foi compreendido por

duas fases ou dois estágios de crescimento, o nascimento (1998 a 2001) e a meia-

vida organizacional (2002 a 2005).

A primeira fase corresponde à fase de formação da empresa. Segundo as

informações obtidas nas respostas aos questionários aplicados e nas pesquisas de

satisfação dos funcionários consultadas, é reconhecida como uma fase heróica, de

superação, quando a empresa foi construída com base no suor e no sangue do seu

líder e dos primeiros funcionários.

Segundo Schein (1990), esta é a fase da formação da cultura organizacional,

quando a filosofia dos líderes é sedimentada e a socialização de novos membros

se dá de forma a transmitir a cultura da empresa. Esta é a fase de disseminação da

cultura da ENSR Brasil, buscando mantê-la coesa.

O laço estabelecido com a empresa era muito forte, conforme refletido nos

resultados da pesquisa de satisfação dos funcionários de 2001 (pesquisa foi

respondida por 16 funcionários do Rio de Janeiro): 100% dos funcionários

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respondentes recomendariam a ENSR como um bom lugar para se trabalhar.

Adicionalmente, 94% sentiam orgulho de estar associado à ENSR.

Por outro lado, era claro que a empresa ainda estava se estruturando, quando

analisamos que 56% dos funcionários consideravam que tinham as ferramentas

adequadas para executar seus trabalhos. Também era claro que a carga de trabalho

era alto para atender aos novos desafios, o que é refletido no item Equilíbrio

Trabalho/Vida Pessoal que teve somente 45% de respostas positivas. Somente

13% consideraram que havia pessoal suficiente em seu departamento para lidar

com a carga de trabalho. No entanto, a sensação de trabalho em grupo era positiva

e 100% dos respondentes consideraram que havia boa cooperação entre os grupos

de trabalho.

A importância da figura do líder, o sócio-diretor, é evidente. Ele empregou

suas características gerenciais para conduzir o negócio desde o início e selecionou

pessoalmente quem tocaria essa fase inicial com ele. Logo, ele imprimiu sua

impressão digital no estilo gerencial, seus valores e crenças na empresa, conforme

descrito no item 5.1. Nessa fase, o controle era totalmente centralizado, todas as

contratações, decisões salariais ou relacionadas a bônus e todas as decisões

financeiras e operacionais passavam pelo diretor e todos os contatos com a matriz

eram feitos quase que exclusivamente por ele. Havia uma cultura paternalista e

não havia uma cultura de avaliação de desempenho e feedback aos funcionários.

Dos respondentes, 50% afirmaram que a empresa era conivente com aqueles que

não tinham bom desempenho.

Nesta época, a “construção” da ENSR Brasil era uma estória narrada

principalmente pelo diretor geral em seus discursos e reuniões, em que ele próprio

botou a mão na massa durante a obra do escritório e glorificando o suor e sangue

dos principais colaboradores para a formação da empresa.

Também eram enfatizadas as sagas de alguns projetos técnicos que

significaram superação de seus executores como o NERA ou como a ida de dois

geólogos e um coordenador para a Ásia para ajudar em um projeto internacional,

passando por furacões e terremotos, sendo que um deles teve que adiar sua lua de

mel para ir. Outras sagas eram narradas para reforçar a cultura da liderança de

comprometimento com o trabalho, como um dos membros da alta gerência que

ficou trabalhando até o último minuto no hospital até a hora do parto do filho.

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O cenário em geral, era exclusivamente técnico. Qualquer espaço livre era

ocupado com uma nova estação de trabalho ou arquivo de projetos técnicos. As

funções de suporte ficam apertadas em salas menores e a copa apertada era o

único ambiente neutro e de alguma descompressão no escritório.

Em relação aos ritos instituídos na empresa, havia poucos ritos de

integração, como os eventos de fim de ano, na maior parte das vezes no próprio

escritório, com o discurso do diretor geral que normalmente girava em torno de

frases como “sobrevivemos a mais um ano”, “agradeçam pela oportunidade de ter

uma carteira de trabalho assinada nos dias de hoje”. Poucos ritos de renovação

ocorriam, sempre atrelados à visita de algum executivo da filial americana ao

escritório do Rio de Janeiro. Um bom exemplo de rito de renovação foi o

treinamento de motivação e trabalho em grupo ministrado em 2001 pela matriz

americana. Exemplos de ritos de reforço eram as bonificações, que eram

esporádicas e normalmente concedidas pela matriz americana ou por um cliente

que negociou bonificação para funcionários de determinado departamento no caso

de superação do prazo de entrega do serviço.

5.3

Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Meia-Vida Organizacional

Passando à segunda fase do período pré-reestruturação, conforme descrito

no item anterior, entre 2002 e 2005 a companhia evoluiu para o estágio de meia-

vida organizacional. Nesta época a empresa tem crescimento acentuado,

consolidando novas linhas de serviço como a de licenciamento ambiental

(estudos) e a de auditoria. O escritório de São Paulo se consolida e começa a

crescer, mudando-se para uma casa mais espaçosa. O escritório do Rio de Janeiro

se muda para um escritório novo, todo reformado, com vista deslumbrante para a

Baía de Guanabara.

A pesquisa de engajamento dos funcionários de 2003 (que reflete as

impressões ao longo do ano de 2002 principalmente) aponta que o

comprometimento com a empresa continua alta no início dessa fase, com 91% dos

funcionários do Rio de Janeiro e 88% de São Paulo afirmando que recomendariam

a ENSR como um bom local para se trabalhar. Adicionalmente, 85% dos

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funcionários do Rio de Janeiro e 94% de São Paulo declararam-se orgulhosos de

trabalhar na ENSR.

Porém alguns índices começam a demonstrar mudanças internas, como o

índice que avaliou se a gerência da companhia entendia os problemas encarados

na execução dos trabalhos. Esse índice caiu de 63% em 2001 para 46% em 2003

no escritório do Rio de Janeiro, o que demonstra o início de alguns conflitos

sucessórios que resultaram, até o final do período (entre meados de 2004 e

meados de 2005), na troca dos três principais coordenadores técnicos da empresa

(um em São Paulo e dois no Rio de Janeiro).

Nesta época também foi instituído o maior símbolo do controle da empresa,

reflexo da visão gerencial do diretor geral e do departamento de pessoal, o

controle de ponto que foi rapidamente denominado “dedômetro” ou simplesmente

“o dedo”. Mais do que um controle de ponto, ele tinha o significado de controle

total sobre o tempo em que o funcionário estava dentro da empresa. Em diversos

discursos da diretoria, o controle do tempo era reforçado, realçando que os

funcionários não deveriam perder tempo na copa ou nos banheiros, que deveriam

vir de casa com café da manhã tomado e suas necessidades básicas atendidas.

O nível de fofoca intensificou-se bastante nesse período, com especulações

das mais diversas circulando os escritórios. As reuniões gerenciais também

assumiram alto nível de conflito e argumentação. Por conta do crescimento, a

empresa passou a manter praticamente tudo trancado, após indícios de sumiço de

alguns materiais, os armários da cozinha, os armários com material de escritório,

as salas de reunião, as salas dos gerentes quando estes se encontravam ausentes

temporariamente ou por mais tempo. Também foram instaladas câmeras de

vigilância nos escritórios.

Conforme já descrito anteriormente, nesta fase se estabelecem subculturas

geográficas e pela especialização na produção. A saga dos profissionais billable

(profissionais técnicos que têm suas horas alocadas em projetos e pagas pelos

clientes) era realçada, já que eram eles que carregavam o piano, enquanto os

demais sentavam em cima (non-billable ou overhead), sendo um fardo para a

empresa.

No Rio de Janeiro, foi construída a subcultura de estudos (departamento de

licenciamento), reconhecido como serviço nobre que por isso deveria ocupar o

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espaço mais nobre do escritório, com vista para a Baía de Guanabara. O serviço

sujo do departamento de ISC deveria ficar restrito aos fundos do novo escritório e

a um almoxarifado apertado. Adicionalmente, a inauguração do novo escritório

carioca, com a presença de muitos clientes, foi restrita aos gerentes e

coordenadores e alguns funcionários do departamento de licenciamento,

excluindo técnicos de campo e funcionários administrativos (overhead). A

inauguração do escritório contou com a presença do CEO do grupo ENSR, que

veio pela primeira vez conhecer as operações do Brasil.

Em São Paulo, havia a síndrome da filial que não recebia atenção suficiente

da gerência corporativa, mas não ocorria uma divisão clara em subculturas,

principalmente porque o escritório era composto basicamente por um único

departamento técnico. O escritório de São Paulo herdou o mobiliário do antigo

escritório do Rio de Janeiro, reforçando a síndrome de filial sofrida pelos

funcionários paulistas. Esta síndrome, no entanto, unia os profissionais paulistas

que confraternizavam e saíam após o expediente, com muita freqüência. O nível

de envolvimento pessoal era muito mais alto do que no escritório do Rio de

Janeiro.

O escritório de São Paulo passou por importante momento de ruptura

quando a gerência local foi substituída no início de 2005. A nova gerência impôs

um estilo gerencial diferente, que causou grande mudança no escritório, inclusive

com a saída de profissionais que não se adequaram ao estilo gerencial. As

mudanças trouxeram mais organização e profissionalismo ao escritório, trazendo

também maior competitividade.

“As idéias ficam, desta forma, muito unilaterais, fazendo com que as pessoas não

imponham muito as suas verdadeiras ideologias e maneiras de agir. Isso faz com

que o trabalho seja mais burocrático, dinâmico e, muitas vezes, até mais

organizado do que o próprio escritório do RJ” – Nova gerente de RH.

“O ambiente de trabalho em SP é competitivo. Não há hostilidade, mas o ruído é

muito grande, rádio tamanco. Mas são super anfitriões com as pessoas que

chegam ao escritório, encontram-se várias vezes por semana. São muito alegres,

vivem com mais liberdade, talvez por não estar em contato com a diretoria e

gerência corporativa, podendo colocar suas insatisfações com a empresa, desde

que não seja contra a gerência local de SP” – Funcionário técnico.

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Os cenários dos escritórios foram refinados e organizados com as mudanças.

Os escritórios foram divididos em diferentes ambientes. Ambientes abertos e

integrados para os profissionais técnicos, com baias baixas e visão geral pelos

coordenadores. O diretor e alguns gerentes receberam salas individuais,

envidraçadas para visualizar o todo. A sala do diretor ainda possuía a única

varanda do escritório e decoração chique, com cadeiras de decoração renomadas e

caras.

Novos ritos foram institucionalizados nesse estágio de meia-vida. Ritos de

passagem foram instituídos à medida que a organização crescia, normalmente

promovendo profissionais técnicos para funções de coordenação de projetos ou

gerência de departamentos (na época da saída dos três gerentes), sem avaliar

cuidadosamente as habilidades gerenciais/de coordenação desses profissionais. As

decisões ainda eram centralizadas na figura do diretor geral. Os gerentes

desconheciam conceitos básicos de gestão dos projetos e conceitos financeiros

para gerenciar os seus departamentos e projetos.

Os ritos de degradação se iniciaram, principalmente em 2005 com a

substituição do gerente de São Paulo e demissão de parte do quadro funcional

daquele escritório. Em termos de ritos de reforço, destaca-se o brinde com

guaraná “champagne” que o diretor promovia quando algum projeto importante

era ganho. Os ritos de renovação e intensificação continuavam a ocorrer,

principalmente, na vinda dos executivos da matriz americana ou nos e-mails

corporativos americanos que passaram a circular para a ENSR Brasil em 2005. Os

ritos de integração foram reforçados, agora não se restringindo somente às festas

de fim de ano e ao bolo de aniversariantes do mês, mas aos almoços promovidos

no dia do aniversário dos funcionários e nos chopes de sexta-feira, praticamente

obrigatórios até 2004. No final do período (2005) foram criadas as festas juninas,

organizadas pelos próprios funcionários, contribuindo cada um com um prato

típico e confraternizam juntos.

No final de 2004, com a vinda do grande projeto SOPLA (ver item 4.1.3), a

empresa teve grandes dificuldades para atender a demanda de serviços e

conseqüentes necessidades de investimento e contratação, na época excessiva para

seu porte e estrutura organizacional. O estresse interno na organização foi muito

grande e o diretor geral e alguns gerentes precisaram envolver-se pessoalmente na

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operacionalização do projeto, negligenciando diversos aspectos de gestão da

companhia.

Os resultados da pesquisa de engajamento de 2006 (conduzida no início de

2006) refletem claramente qual era a sensação em relação à gerência no final de

2005, com destaque para o escritório do Rio de Janeiro, cuja proximidade física

facilitou o surgimento da descrença na gerência como um todo. Alguns exemplos

são: “A empresa fornece um senso de direção claro”: RJ 46% e SP 65%; “Eu

acredito que a gerência possui uma visão clara do futuro”: RJ 52% e SP 78%; “Eu

considero que recebo as informações importantes que afetam meu trabalho”: RJ

26% e SP 56%; “Eu com freqüência não acredito no que a gerência diz”: RJ 76%

e SP 78%.

De acordo com o diagnóstico ambiental conduzido pela consultora de RH

que ocupou o cargo de gerente de RH no início de 2006, havia na empresa no

final do período uma grande demanda por organização e melhoria de processos,

além de por uma política de valorização dos funcionários. Dos 24 respondentes

praticamente todos demandaram melhor organização interna, melhoria ou criação

de processos e sistemas de controle, além de maior reconhecimento dos

funcionários (em especial dos técnicos).

5.4

Análise da Cultura Organizacional no Estágio de Maturidade Organizacional

A partir de final de 2005 e ao longo de 2006, a empresa evolui para o

estágio de maturidade organizacional. Esta fase prolonga-se até os dias atuais e

representou o momento de reestruturação da empresa e interferência direta da

matriz americana, culminando com a substituição do diretor geral e sócio-

fundador no final de 2007.

A necessidade de reestruturação era clara no final de 2005, principalmente

após o estresse organizacional vivido pela empresa por conta do projeto SOPLA.

Adicionalmente, o grupo ENSR havia sido comprado pela AECOM em 2005 e o

próprio grupo estava se reestruturando para atender às novas demandas da

empresa mãe. Já no início de 2006 três executivos americanos vieram ao Brasil

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para iniciar uma fase de mudanças, instituindo para tal um plano de ação com a

gerência da ENSR Brasil.

Nesta fase foi instituído o departamento de RH e a gerência operacional do

Rio de Janeiro, com a entrada de dois novos gerentes externos à companhia. Estes

gerentes foram escolhidos juntamente com a matriz americana e trouxeram à

empresa visões gerenciais novas e diferentes da instituída pelo diretor geral desde

a fundação da empresa. Nesta fase também a matriz americana determinou a

reestruturação do organograma da empresa, descentralizando os processos

decisórios e distribuindo responsabilidades.

A ENSR Brasil passou a seguir e participar de diversos programas ou

iniciativas corporativas, devendo adaptar-se ao estilo gerencial e até mesmo

cultural da matriz. Alguns exemplos foram: a adequação ao plano de

desenvolvimento de carreiras da ENSR; a instituição de descrição de funções nos

moldes americanos; a meritocracia americana, com o estabelecimento de metas

individuais para cada funcionário, atreladas às revisões salariais e distribuição de

bonificações; a necessidade de aprovação da matriz na elaboração de propostas

com valores acima de determinado patamar; a necessidade de aprovação da matriz

para contratação de profissionais gerenciais ou mais seniores e de maiores

salários, entre outros.

O nível de controle e exigência de reporte aumentou consideravelmente.

Diversos novos processos, procedimentos e sistemas foram instituídos (ex.:

sistema de pedido e aprovação de compras e pagamentos, sistema de

acompanhamento de projetos, sistema de alocação de horas a projetos).

Juntamente às mudanças instituídas pela matriz e reforçadas pelos novos

gerentes, houve mudança significativa no clima organizacional e grande

resistência às novas práticas gerenciais, em especial do escritório do Rio de

Janeiro que estava mais próximo à diretoria e gerência corporativa e que também

criou mais resistências ao processo de mudança, conforme relatos a seguir.

“As pessoas do escritório do Rio eram mais fechadas de modo geral, mais

resistentes ao novo(...) As pessoas resistiam muito a novidades no Rio e em SP a

gerência não era muito amigável a pessoas diferentes”.

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“Talvez pela descrença em mudanças e desconfiança do novo, as pessoas no Rio

não estavam abertas a ouvir sugestões, críticas, a receber coach. Os pensamentos

eram muito fechados e a zona de conforto imperava”.

“De um modo geral acho que a maior dificuldade foi a reatividade das pessoas

com relação a mudanças.(...) Quando uma nova visão na maneira de executar e

gerenciar os projetos foi introduzida, as pessoas se sentindo despreparadas

tiveram dificuldades em aceitar as mudanças”.

Essa mudança no clima organizacional pôde ser identificada através da

análise dos resultados da pesquisa de engajamento dos funcionários de 2007. Os

resultados, analisados conjuntamente, refletem uma sensação geral de insegurança

e incerteza, típica de processos de mudança e que resulta em piora no clima

organizacional em geral. Alguns percentuais significativos estão listados a seguir:

- “No meu julgamento, a minha operação local é bem gerenciada.”: RJ 47%

e SP 73%;

- “No meu julgamento, a empresa como um todo é bem gerenciada.”: RJ

36% e SP 50%;

- “Meu supervisor desenvolve as habilidades das pessoas.”: RJ 41% e SP

63%;

- “Esforço suficiente é feito para obter as opiniões e pensamentos dos

funcionários na companhia.”: RJ 35% e SP 65%;

- “Minha empresa tem uma cultura organizacional que promove a

colaboração entre times/departamentos.”: RJ 32% e SP 45%;

- “A moral no meu time/departamento é geralmente alta.”: RJ 38% e SP

63%;

- “O estilo gerencial na minha empresa encoraja os funcionários a darem

mais de si.”: RJ 35% e SP 50%;

- “Eu acredito que o time gerencial da empresa tem uma visão clara do

futuro.”: RJ 32% e SP 58%;

- “Eu acho que a minha empresa está fazendo um bom trabalho de retenção

de seu pessoal mais talentoso.”: RJ 27% e SP 53%;

- “Eu precisaria de muito para procurar por outro empregador.”: RJ 35% e

SP 47%;

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- “Atualmente você está considerando seriamente deixar sua empresa?”: RJ

43% e SP 53%;

- “Em relação a salários, você acredita que sua empresa está fazendo um

bom trabalho em associar o salário ao desempenho?”: RJ 14% e SP 29%;

- “A minha empresa estabeleceu um clima aonde os funcionários podem

desafiar a maneira tradicional de se fazer as coisas.”: RJ 30% e SP 45%.

A linguagem na empresa também se modificou, incorporou diversos jargões

e termos americanos novos para a maior parte dos funcionários, inclusive alguns

gerentes. O nível de fofoca continuou alto, conforme a seguinte declaração: “A

comunicação oficial é falha e a “rádio peão” se diverte com isso”.

Por outro lado, o símbolo do “dedômetro” foi eliminado, substituído por um

ponto de papel somente para os profissionais técnicos. Foi instituído um jornal

interno de notícias para ambos os escritórios, que incorporou aspectos de RH

(aniversariantes do mês, novas contratações), financeiros, de saúde e segurança e

operacionais (novos projetos). Os funcionários gostam de receber o jornal e

cobram no início do mês quando ele demora a sair, mas não participam dando

sugestões ou contribuições.

O cenário do Rio de Janeiro permaneceu com a mesma configuração. Em

São Paulo houve a mudança para um novo escritório (prédio), desta vez todo

reformado e nos moldes do escritório do Rio de Janeiro.

O número de reuniões aumentou consideravelmente, o que também foi

motivo de resistência por boa parte dos gerentes. No entanto, a participação dos

gerentes em diversos processos aumentou e a sensação de compreensão dos

planos da empresa também. Os gerentes passaram a participar da gerência

financeira da empresa, o que antes era negligenciado, conforme a declaração:

“Na cultura da empresa as pessoas em cargos de supervisão muitas vezes não se

viam como responsáveis por todos os aspectos de suas áreas o que cria situações

desfavoráveis para o negócio”.

Os ritos de passagem foram intensificados. Os profissionais que recebem

algum aumento ou promoção recebem uma carta formal do seu superior,

preparada pelo RH. Os ritos de degradação seguiram o mesmo caminho. Todo

desligamento de funcionário da empresa (voluntário ou involuntário) é

comunicado através de um e-mail a todos os funcionários. Mais ritos de reforço e

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intensificação também foram instituídos, principalmente através das reuniões

semanais e quinzenais com a equipe gerencial e de premiações vindas da matriz

após a inserção da ENSR Brasil nos programas de premiação americanos. Esses

prêmios são normalmente comunicados via e-mail e/ou em

reuniões/apresentações. Os comunicados do diretor geral acabaram a partir de

2007, estruturando-se o processo de comunicação em comunicados do RH, do

financeiro, corporativos preparados previamente e de acordo com plano de

comunicação interna. O ano de 2007 foi o primeiro sem pronunciamento da

diretoria nas festas de fim de ano ou no escritório, o que claramente indica a

mudança de perfil no novo diretor geral.

Os ritos de renovação começaram a ser planejados, mas não foram

implementados. Destaca-se a criação de um grupo de trabalho, aberto a qualquer

funcionário que queira participar, para avaliar os resultados da pesquisa de

engajamento de 2007, com o objetivo de montar um plano de ação que permita

implementar atividades para melhorar os resultados atingidos e o clima

organizacional. Também foi criado um grupo de redução de overhead, nos

mesmos moldes, visando trazer os funcionários para dentro da nova cultura de

redução de custos fixos e busca de resultados.

Reuniões e conversas com os diferentes grupos foram instituídas como ritos

de redução de conflitos, buscando minimizar os impactos das mudanças

instituídas. Os ritos de integração continuaram os mesmos: festa de fim de ano,

festa junina, bolo de aniversariantes do mês. O processo de integração formal dos

funcionários ainda não foi implementado pelo departamento de RH. No escritório

do Rio de Janeiro, os almoços nos aniversários dos funcionários deixaram de

ocorrer, assim como os chopes após o expediente, o que pode representar uma

baixa motivação e integração entre os funcionários.

5.5

Comparação da Cultura Organizacional antes e após a Reestruturação Organizacional de 2006

Nos últimos itens apresentados foi possível identificar a evolução

organizacional da ENSR Brasil que, por conta das situações de ruptura que passou

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na sua história recente, encontra-se em um processo de mudança cultural

profunda.

Com base nas informações levantadas nas respostas aos questionários, na

pesquisa em material secundário (pesquisas de satisfação, publicações, intranet,

apresentações, etc.) e na observação da pesquisadora, é possível comparar a

cultura organizacional da ENSR Brasil antes e após a reestruturação

organizacional de 2006, situação importante de ruptura e propícia à mudança

cultural conforme o conceito de Tomei (1994) apresentado anteriormente.

Em termos de evolução do clima e do engajamento dos funcionários, a

Tabela 8 a seguir apresenta a evolução dos resultados entre a pesquisa de 2006 e

2007. Foram selecionados os itens com variação estatística significativa, tanto

positiva como negativamente para os escritórios do RJ e SP.

O clima organizacional no Rio de Janeiro sofreu um baque com as

mudanças, conforme apontado pela piora nos índices da pesquisa feita no início

de 2007. Em São Paulo, houve uma pequena piora nos índices, mas não tão

acentuada. Dois índices específicos devem ser destacados: o que indica que houve

aumento significativo no percentual de funcionários considerando deixar a

companhia, o que pode significar insegurança ou insatisfação com a mudança; e o

que aponta significativo aumento na percepção de que a operação local é

comprometida com alto desempenho, reflexo imediato do novo estilo gerencial

implantado na empresa.

Tabela 8 – Comparação dos Resultados das Pesquisas de Engajamento de 2006 e

2007

Pergunta da pesquisa Escritório

Percentual de

respostas

favoráveis

Variação estatística

em relação à

pesquisa de 2006

RJ 38% -39% A moral no meu departamento é

geralmente alta. SP 63% Não significativa

RJ 35% -32% Eu precisaria de muito para procurar

outro empregador. SP 47% Não significativa

RJ 43% +23% Atualmente, você está seriamente

considerando deixar a companhia? SP 53% +25%

RJ 32% -27% Eu acredito que o time gerencial

executivo tem uma visão clara do futuro. SP Não significativa

Minha empresa estabeleceu um clima RJ 30% -26%

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103

Pergunta da pesquisa Escritório

Percentual de

respostas

favoráveis

Variação estatística

em relação à

pesquisa de 2006

aonde os funcionários podem desafiar as

maneiras tradicionais de fazer as coisas. SP 45% Não significativa

RJ 41% -26% Funcionários na minha empresa são

encorajados a trazer soluções inovativas

para os problemas relacionados ao

trabalho. SP 66% Não significativa

RJ 41% -24% Meu supervisor desenvolve as

habilidades das pessoas.

SP 63% Não significativa

RJ 65% -22% Eu recomendaria essa empresa como um

bom local para se trabalhar. SP 87% Não significativa

RJ 92% +30% Minha operação local é comprometida

com alto desempenho. SP 97% +23%

RJ 81% +27% Os valores da minha empresa

(integridade, respeito, comunicação

aberta, flexibilidade, equilíbrio,

inovação, diversidade) estão claros. SP 79% Não significativa

RJ 59% Não significativa Eu sou suficientemente informado sobre

os valores da minha empresa. SP 66% +35%

RJ 59% +26% Meu cronograma de trabalho permite

flexibilidade suficiente para eu satisfazer

minhas necessidades pessoais/familiares. SP 58% Não significativa

RJ 54% Não significativa Eu sou suficientemente informado sobre

os planos da minha empresa. SP 66% +35%

RJ 86% Não significativa Minha empresa opera com integridade

em suas negociações externas com

clientes, fornecedores, vendedores, etc. SP 79% +32%

RJ 24% Não significativa Minha empresa faz uso adequado de

reconhecimento, premiações, que não

dinheiro, para encorajar o bom

desempenho. SP 42% +30%

RJ 64% Não significativa Na maioria das vezes é seguro falar,

emitir opinião na minha empresa. SP 76% +29%

RJ 51% Não significativa Eu compreendo as possibilidades de

evolução na carreira na minha empresa. SP 61% +29%

RJ 78% Não significativa Minha empresa opera com integridade

em suas negociações internas com

funcionários. SP 79% +26%

Fonte: ENSR - Pesquisas de Engajamento dos Funcionários de 2006 e 2007

A comparação da cultura organizacional antes (estágio de nascimento e

meia-vida organizacional) e após a reestruturação de 2006 (estágio de maturidade

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104

organizacional) foi feita com base na análise conduzida nos itens anteriores,

aplicando-se as tipologias culturais de Handy (1978), Sethia e Von Glinow

(1985), Donnelly (1984) e Deal & Kennedy (1982), descritas no item 2.2 deste

trabalho. A Tabela 9 a seguir apresenta essa comparação.

Tabela 9 – Tipologias Culturais na ENSR Brasil

Modelos

Antes da reestruturação

organizacional

1998-2005

Após a reestruturação

organizacional

2006 aos dias atuais

Handy (1978)

Cultura do Poder

O Poder é concentrado no ponto

central. Decisões influenciadas por

fatores como o equilíbrio de

influência e não por avaliações

lógicas. Pouca burocracia, poucas

regras e procedimentos. Trato com

funcionário sensível, podendo ser

rude em alguns momentos.

Cultura da Tarefa

Orientada para o trabalho ou projeto.

Totalmente relacionada ao

desempenho. Grupos possuem mais

influência do que indivíduos.

Valorização de prazos e rapidez de

resposta. Controle mantido pela

alocação de recursos e pessoas a

projetos. Encontrada em mercados

competitivos.

Sethia e Von

Glinow (1985)

Exigente

Orientada para performance com

pouca preocupação com as pessoas.

Alta rotatividade.

No final da meia vida-

organizacional assume

características de Apática

Pouca preocupação com pessoas e

baixa preocupação com a

performance. Impera a indiferença e

estado de cinismo de

desmoralização generalizado.

Integrativa

Associa alta preocupação com as

pessoas e forte expectativa de

desempenho. Ênfase na equipe ou no

sucesso da companhia como um todo

e não no sucesso individual.

Donnelly

(1984)

Cultura Vaga

Indefinição de rumo. Mudança constante na equipe gerencial e falta

de motivação para mudar e inovar.

Cultura Excelente

Planejamento respeitado pela maioria dos membros da organização,

permeando o processo decisório. A

formação de equipes é enfatizadas e

procedimentos, padrões operacionais

e de desempenho são relacionados ao

planejamento, assim como as

avaliações.

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Modelos

Antes da reestruturação

organizacional

1998-2005

Após a reestruturação

organizacional

2006 aos dias atuais

Deal &

Kennedy

(1982)

Cultura Macho

Individualistas assumem altos

riscos. Cultura que tende a ser

jovem, com ênfase na velocidade.

Orientada para o curto prazo. Heróis

são aqueles que tomam decisões

rápidas e assumem altos riscos.

Característica de empresas que

operam em mercados dinâmicos.

Cultura Trabalho Duro/Diverte

Muito

Trabalho em equipe tem estímulo

maior, mas não resulta

necessariamente em

comprometimento com a

organização. Voltada para resultados

de curto prazo. Qualquer reclamação

do cliente aparece rápido, provocando

rápido feedback.

5.6

Gerenciamento da Mudança

O processo de mudança na ENSR Brasil foi claramente intencional, segundo

exposto na resposta, já transcrita anteriormente, de um alto executivo da matriz

americana quando demandado que descrevesse o nível de envolvimento da matriz

na definição da estrutura organizacional no Brasil:

“Tried to work Brazil to mirror the Brazilian business to the US model (e.g.

Employee Engagement, Key Account Program, Sector Leads, etc.). Also, the recent

change in the direction of the company in Brazil was meant to further link Brazil

with the “mother ship”. The promotion of the new director is part of the

Company’s overall succession planning goals”.

(“Tentamos trabalhar o Brasil de forma a espelhar o negócio brasileiro no modelo

americano (ex.: Engajamento dos Funcionários, Programa de Contas Chave,

Lideranças de Setores, etc.). Adicionalmente, a mudança recente na direção da

empresa no Brasil foi feita com o objetivo de conectar mais ainda o Brasil à “nave

mãe”. A promoção do novo diretor é parte dos objetivos gerais da companhia de

planejamento sucessório.”).

Portanto, adotou-se uma perspectiva funcionalista, na qual a cultura pode ser

manipulada, seguindo a vertente que defende que a cultura é gerenciável.

Adicionalmente, segundo a análise da cultura desenvolvida, também era claro que

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os funcionários admitiam que a mudança era necessária, inclusive pedindo

melhorias de processos internos e reestruturações.

Conforme apresentado no item 2.6.1, o modelo de Pettigrew (1996)

identifica quais aspectos são importantes para facilitar mudanças na cultura

organizacional de uma empresa. Muitos destes aspectos foram identificados no

caso da ENSR Brasil. Se considerarmos a matriz americana como contexto

externo, este não só era receptivo como conduziu o processo de mudança. Em

relação aos demais componentes do contexto externo (clientes, fornecedores,

demais stakeholders, etc.), estes eram receptivos (indiretamente e

inadvertidamente) ao processo de mudança, desde que o gerenciamento da

empresa melhorasse. No entanto, a criação de um clima geral que levasse a

mudança não foi atingida facilmente, encontrando grande resistência interna, o

que de certa forma era esperado.

A pressão da Alta Administração foi clara e consistente, concordando com o

modelo de Pettigrew, mas a questão da liderança no processo de mudança não foi

estruturada de imediato, sendo aos poucos assumida pelos novos gerentes

incorporados ao quadro da empresa. A mudança foi nitidamente impulsionada

pela desarticulação e imprecisão entre as visões da Alta Administração da filial

brasileira e da matriz americana. Foi criada uma nova estrutura para liderar a

mudança, buscando “a liberação de caminhos e energias para a mudança”

(Pettigrew, 1996), além de instituídas inúmeras novas reuniões aonde os

problemas encontrados eram discutidos, buscando focar as energias no processo

de mudança. Os processos administrativos foram alterados, através da

descentralização da responsabilidade da diretoria, assumindo o que Pettigrew

chamou de “caráter altamente divisionista para uma posição coerente e coesa”.

Também foram instituídos na ENSR Brasil novos modelos de avaliação

desempenho e de reforço através de premiações, buscando apresentar os aspectos-

chaves da nova cultura. O número de treinamentos e processos de

desenvolvimento foi intensificado de forma a buscar introduzir mais

profundamente a mensagem da nova cultura. Adicionalmente, a comunicação foi

acentuada para transmitir mais intensamente as novas crenças e comportamento

na organização, processo esse que ainda deve ser melhorado.

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A mesma análise pode ser feita aplicando-se o modelo de Davis (1988),

apresentado no item 2.3.5, o qual propõe um conjunto de dez práticas gerenciais

que podem influenciar o nível cultural dos membros da organização. Faremos a

seguir uma análise das práticas gerenciais adotadas dentro do contexto do estudo

de caso da ENSR Brasil.

A primeira prática gerencial apontada por Davis (1988) é a tentativa de

mudar os valores organizacionais mais importantes. A ENSR Brasil continuou

adotando os valores organizacionais da matriz americana, comunicados aos

funcionários brasileiros através de uma apresentação interna e disponível na

intranet do grupo. Apesar dos valores não serem enraizados nos funcionários, os

gestores da mudança trabalharam para focar em dois conceitos principais que

antes da reestruturação não eram enfatizados: prover aos funcionários

oportunidades de desenvolvimento e aumentar o valor dos acionistas,

principalmente através da busca de forte performance financeira.

A segunda prática gerencial, a de treinar os supervisores, foi aplicada

principalmente no sentido de capacitar os gerentes e coordenadores nos conceitos

de negócio da ENSR, principalmente os conceitos financeiros e de gerência de

projetos. A matriz enviou dois funcionários ligados à gerenciamento de projetos

para prover um treinamento de quatro dias nos conceitos corporativos e no

software MS Project. O executivo responsável pelas operações internacionais

também promoveu a palestra “How we make money” (Como fazemos dinheiro)

para todos os funcionários, com o objetivo de reforçar o negócio da ENSR e como

o retorno financeiro é atingido. A gerente financeira da ENSR Brasil também

promoveu treinamentos internos para todos os funcionários e treinamentos

específicos para os gerentes para explicar diversos conceitos usados na gestão

financeira da empresa. Em termos de gestão de pessoas, foram dados treinamentos

curtos e otimizados da ENSR University (treinamentos corporativos da matriz via

conferência telefônica e intranet), que trataram de temas tais como: como fornecer

feedback efetivo, estabelecendo metas de desempenho, como delegar trabalhos,

entre outros.

Para atuar na terceira prática gerencial, a de melhorar as práticas de pessoal

e de trabalho, a principal ação foi o estabelecimento do departamento de RH e de

diversos novos processos, a maior parte deles refletidos no modelo americano. As

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108

ações de RH e de desenvolvimento organizacional ainda estão se estruturando e

evoluindo, uma vez que nessa fase inicial do departamento foi necessário agir em

estruturas básicas antes inexistentes, como a estruturação dos benefícios,

descrição de funções, o plano de desenvolvimento do funcionário, entre outros. Os

gestores passaram a assumir responsabilidades de desenvolvimento do funcionário

através de um processo de avaliação formal de desempenho e desenvolvimento,

processo esse que vem amadurecendo aos poucos.

Em termos de melhorar o serviço aos clientes, pouco foi alterado, uma vez

que esse não era o foco da mudança. Os clientes, em sua maioria, sempre

demonstraram grande satisfação com os serviços prestados, satisfação essa

medida através de pesquisas de satisfação dos clientes, feedbacks diretos

fornecidos pelos clientes aos gerentes de projeto e pela recontratação de serviços.

Para reestruturar e enriquecer as tarefas (quinta prática gerencial), os

gestores fizeram reuniões com todos os gerentes (de 1º e 2º níveis) para discutir

possíveis melhorias dentro das diferentes áreas da companhia (administrativa e

suporte geral e de TI, financeira, saúde e segurança, RH e operacional). Foi

elaborado um plano de ação para buscar implementar melhorias que facilitem a

execução dos serviços e a otimização de recursos. Além disso, está definido para

2008 o início da implementação do sistema de gestão integrado e futura

certificação no começo de 2009. Também foram implementados alguns sistemas

de informática para facilitar o trabalho, como o software de alocação de horas em

projetos (timesheet) e o software de controle de compras e pagamentos.

Foram estruturados alguns programas gerenciais participativos (sexta prática

gerencial), conforme descrito anteriormente, com a formação de dois grupos de

trabalho, um de engajamento de funcionários para discussão dos resultados da

pesquisa de engajamento feita em 2007 e outro de redução de overhead, que busca

discutir quais ações podem ser tomadas para otimizar e reduzir os custos fixos da

empresa. Ambos os grupos são abertos a participação de qualquer funcionário que

deseje se inscrever.

Em relação a estabelecer um programa de rotação de trabalho e produzir o

compartilhamento do trabalho, ações localizadas começaram a ser tomadas. Entre

os departamentos existe boa colaboração para ceder funcionários

temporariamente, mas nada instituído como um programa. O departamento de RH

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109

iniciou a criação de um banco de competências da empresa (ainda em construção),

estruturado na intranet, para que outros escritórios do grupo no mundo inteiro

possam acessar e visualizar os profissionais que compõem a equipe brasileira e

suas qualificações. Também foi identificada a necessidade de solicitar à matriz a

possibilidade de pequenos intercâmbios aos escritórios internacionais, de forma a

promover troca de know-how e também como forma de motivação dos

funcionários. Porém essa iniciativa ainda está sendo discutida e não foi

transformada em um programa formal.

Em termos de melhoria de benefícios (nona prática gerencial), o

departamento de RH fez um trabalho de estruturação dos benefícios diretos

existentes, instituiu alguns novos como o plano dental e aperfeiçoou o auxílio a

curso de inglês. Algumas iniciativas foram controversas e geraram certa

desconfiança entre os funcionários, quando da tentativa de redução de vale-

transporte ou troca do ticket refeição, mas foram contornadas. A empresa também

instituiu maior flexibilidade em relação ao horário de trabalho e incorporou

situações de funcionários em home office.

Por fim, ações para melhorar as condições físicas e atividades de lazer não

foram efetivamente implantadas, apenas houve a continuidade das comemorações

padrão da empresa. O “aniversariantes do mês” foi incrementado com decoração e

salgados além do bolo, mas não representa uma atividade de lazer em si.

A proposta de Barros e Prates (1996) apresentada no item 2.3.8, sugere a

existência de um estilo brasileiro de se administrar que apresenta algumas

características específicas. Algumas delas foram claramente evidenciadas na

ENSR Brasil ao longo de seus estágios de evolução e o processo de mudança

atuou especificamente na maior parte delas, visando adaptar a cultura

organizacional da ENSR Brasil às expectativas da matriz americana. A Tabela 10

a seguir apresenta a interferência feita nesses traços típicos do estilo brasileiro de

administrar e quais ações foram tomadas para tentar adequá-lo às novas

expectativas da matriz.

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110

Tabela 10 – Gerenciamento da Mudança através da Atuação em Aspectos

Específicos de acordo com o Modelo de Barros e Prates

Traços que Interagem na

Formação do Sistema de

Ação Cultural Brasileiro

Antes da reestruturação

organizacional

1998-2005

Após a reestruturação

organizacional

2006 aos dias atuais

Concentração do poder –

as próprias estruturas

formais favorecem a que

líderes acumulem poder.

Alta concentração de poder na

figura do diretor geral e sócio-

fundador (características

similares a de empresa familiar).

Mudança da estrutura de poder,

através de distribuição de

responsabilidades e novo

organograma. Novo diretor tenta

descentralizar o processo

decisório, tornando-o

participativo (reuniões

gerenciais, grupos de trabalho).

Personalismo – muitas

vezes as pessoas preferem

que os líderes os tratem de

forma diferenciada,

personalista, em relação ao

grupo.

Diferenciação subjetiva no

tratamento dos funcionários,

com base principalmente na

subjetividade do diretor geral e

de alguns gerentes.

Tratamento dos funcionários

igualitário, com base em

avaliação estruturada de

desempenho.

Paternalismo – líder

assume a postura de “pai”

que tudo sabe, e age de

forma supridora para com

os “seus”.

Diretor geral envolve-se em

todos os aspectos operacionais,

assume posição socialista, como

por exemplo na distribuição de

bônus (todos devem receber

pelo menos uma parte por sua

contribuição).

Nova gerência abole a postura

paternalista e assume postura de

cobrança de resultados e

reconhecimento por mérito.

Postura de espectador –

liderados tendem a

aguardar as soluções que

de cima virão, transferindo

a responsabilidade tanto

por seus sucessos quanto

por seus fracassos aos seus

superiores.

Diretor geral era procurado para

solucionar todo tipo de

problema (operacional, de

pessoal, financeiro). Gerentes

não se sentiam responsáveis por

resultados financeiros dos

projetos e da empresa por

diversas justificativas.

Descentralização das decisões

ocorre aos poucos. Formação de

grupos de trabalho (ex.:

engajamento dos funcionários e

de redução de overhead) para

trazer os funcionários para a

busca de soluções.

Formalismo – garante a

convivência entre os

subsistemas líderes e

liderados (somatório do

paternalismo com a

postura de espectador).

A aprovação e decisão do diretor

geral eram essenciais para

qualquer alteração de processo,

com exceção de processos

operacionais localizados.

Ainda há dependência do diretor

geral e da alta gerência para

algumas decisões. Instituído

certo nível de independência nos

departamentos.

Postura de evitar conflitos

– mediação de conflitos

por terceiro que matenha

boas relações com ambas

as partes.

Conflitos normalmente

mediados por superior imediato,

gerentes ou diretor.

Sem mudanças. Conflitos

normalmente mediados por

superior imediato, gerentes ou

diretor.

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Traços que Interagem na

Formação do Sistema de

Ação Cultural Brasileiro

Antes da reestruturação

organizacional

1998-2005

Após a reestruturação

organizacional

2006 aos dias atuais

Flexibilidade – possibilita

convivência pessoal dentro

de um sistema

hierarquizado e formal.

Alta convivência pessoal entre

os funcionários dentro e fora do

ambiente de trabalho.

Boa convivência pessoal dentro

do ambiente de trabalho.

Convivência fora do ambiente

de trabalho: boa em SP, mas no

RJ decréscimo.

Lealdade pessoal –

lealdade dos subordinados

para com a pessoa do

líder, baseada na liderança

carismática.

Forte identificação com a

liderança exercida pelo diretor

geral e sócio-fundador.

Falta de uma nova liderança.

Ainda existe forte identificação

e lealdade ao ex-diretor geral

(“Para mim ele vai ser

eternamente nosso chefe”).

Impunidade – líderes às

margens das punições e

liderados acreditam que as

diferenças de direitos

sempre existirão, evitando

participar de movimentos

no sentido de evolução

cultural.

O baixo desempenho é tolerado,

até pela falta de avaliação de

performance. Não existe a

sensação de impunidade, talvez

de favoritismo.

A tolerância com o baixo

desempenho é anulada, mas

persiste a sensação de

favoritismo, o que gera alguma

resistência ao processo de

mudança.

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112

6

Conclusão

O objetivo final deste estudo, o de avaliar o impacto da evolução de uma

empresa ao longo de seu ciclo de vida em sua cultura organizacional, avaliando as

possibilidades de gerenciamento da cultura em processos de mudança, foi

alcançado através das análises conduzidas e da avaliação do gerenciamento da

mudança conduzido pela empresa durante sua reestruturação organizacional.

O caso da ENSR Brasil representou um exemplo rico a ser estudado de uma

organização que obteve rápida expansão, com uma evolução constante através dos

diferentes estágios do ciclo de vida organizacional identificados e que passou por

diversas situações de ruptura em sua história. Os importantes momentos de

ruptura existentes representaram marcos na evolução da empresa e permitiram

analisar a história da ENSR Brasil e seu ciclo de vida, associando seus diferentes

estágios evolutivos à caracterização de sua cultura organizacional.

A possibilidade de interferência na cultura organizacional é defendida por

uma vertente de pesquisadores, mas todos concordam que essa mudança é difícil e

duradoura, o que reforça mais ainda os aspectos encontrados nos resultados

analisados. Isso foi nitidamente observado nas respostas aos questionários

aplicados, principalmente com a nova gerência, que apontaram resistência às

mudanças implantadas por grande parte de funcionários. Conforme apresentado, o

clima organizacional sofreu forte influência negativa do processo de mudança,

uma vez que esse processo gera insegurança e instabilidade na organização e nos

indivíduos.

A influência da matriz americana representou aspecto fundamental para o

gerenciamento da mudança conduzida pelo novo corpo gestor. É interessante

ressaltar a forte interferência no estilo brasileiro de se administrar, visando a

adequação da cultura organizacional da ENSR Brasil às expectativas da matriz.

As ações de gerenciamento da mudança foram intensas desde o início da

reestruturação da companhia em 2006, muitas delas ainda sendo incorporadas ao

longo de 2007, logo alguns reflexos somente serão notados ainda mais no futuro.

A própria substituição do diretor geral, ocorrida no final de 2007, gerará reações

que ainda não estão refletidas nos resultados e nas informações obtidas por essa

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113

pesquisa, uma vez que este ainda assume papel de liderança junto a muitos dos

funcionários – principalmente os mais antigos.

Portanto, através desta pesquisa foi possível identificar as variáveis culturais

que sofreram mudanças mais significativas, através da intervenção direta em

diversos aspectos de desenvolvimento organizacional, em ritos da empresa e em

diversas características do jeito brasileiro de se administrar, e as possibilidades de

gerenciamento da mudança de forma a garantir o alinhamento com as novas

orientações estratégicas.

Do ponto de vista acadêmico, este trabalho contribui como referencial

teórico para o reforço da importância da gerência da cultura organizacional ao

longo do ciclo de vida das organizações. Para as organizações, o estudo pretende

indicar possíveis caminhos para o gerenciamento cultural, identificando potenciais

barreiras à implementação de novas estratégias.

6.1

Recomendações

O grande desafio da ENSR Brasil será o de sustentar o seu processo de

mudança cultural, dando continuidade às práticas gerenciais já iniciadas, em

especial aquelas que possam produzir um resultado positivo no clima

organizacional, evitando uma alta rotatividade. Ressalta-se a necessidade de

continuação dos treinamentos gerenciais, de formação nos conceitos de

performance esperados, destacando-se os de gerenciamento de projetos e

financeiros. A continuidade da implementação da mudança deverá seguir o último

aspecto identificado por Pettigrew (1996) como importante e crítico para facilitar

o processo de mudança, a necessidade de persistência e paciência.

Um outro aspecto importante é a atenção que deve ser dada à liderança na

empresa, principalmente após a substituição do diretor geral, que assumia um

papel de líder paternalista, o diretor sócio-fundador. A liderança é um dos fatores

que influenciam fortemente a evolução organizacional de uma empresa. Segundo

Trice & Beyer (1993), é difícil imaginar que os processos sociais necessários para

criar e sustentar culturas pudesse ocorrer sem esforços de líderes culturais.

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114

Por fim, a ENSR Brasil deve manter consistência entre suas práticas e

discursos gerenciais, trazendo todos os gerentes e coordenadores para dentro de

uma mesma visão estratégica e cultural.

6.2

Sugestões para Pesquisas Futuras

A primeira extensão sugerida para essa pesquisa é a importância da

liderança no processo de mudança cultural. Conforme destacado, o papel do líder

na evolução da empresa e da construção da cultura organizacional da ENSR Brasil

foi importante, mas não foi avaliado em detalhe, principalmente no que diz

respeito ao impacto da substituição de liderança no processo de reestruturação

organizacional.

Uma segunda possibilidade de pesquisa futura seria a de comparação entre

as percepções das subculturas geográficas (escritório do Rio de Janeiro e

escritório de São Paulo), analisando que fatores provocam as diferenças notadas

nos climas locais e na percepção em relação à alta gerência.

Adicionalmente, outros escritórios do grupo ENSR no mundo passaram por

reestruturações similares, como o da Itália. Portanto, uma outra abordagem

poderia ser a de se comparar as percepções relativas aos processos de mudança

cultural liderados pela matriz americana por diferentes culturas nacionais.

Por fim, um outro estudo poderia analisar uma empresa atuando em outro

setor de atuação (que não de serviços ou de consultoria), avaliando o

comportamento da cultura organizacional durante processo de reestruturação e

buscando compreender se a própria estrutura do setor ou o tipo de serviço

fornecido força ou não a empresa a seguir um padrão de mudança cultural.

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115

7

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118

8

Apêndice – Questionários Aplicados

Questionário aplicado aos funcionários e gerentes da ENSR Brasil

- Qual a sua função na ENSR Brasil?

- Há quantos anos você trabalha na ENSR Brasil?

- Você conhece a história da ENSR Brasil? Se sim, por favor, descreva.

- Que tipos de pessoas têm aqui mais possibilidades de avançar na carreira?

- Que pessoas você considera como tendo especial significado para esta

organização?

- Que tipo de coisas as pessoas gostam de ver acontecer na ENSR Brasil?

- Que tipo de problemas de trabalho te tirou (ou tiram) o sono?

Questionário aplicado aos novos gerentes que entraram na empresa durante a

reestruração de 2006

- Descrever impressões sobre a cultura, valores da ENSR;

- Descrever dificuldades encontradas quando entrou na ENSR;

- Descrever dificuldades de mudança encontradas;

- Descrever impressões a cerca do relacionamento dos funcionários, dos eventos

que ocorrem, etc.

Questionário aplicado aos executivos americanos

- Your current position at ENSR;

- How many years you've been with ENSR and your positions that made you deal

directly with ENSR Brazil;

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- Describe the history of ENSR Brazil (why and when ENSR decided to open an

office in Brazil, how did you chose Eduardo to be director, how was the beggining

and the development of the offices);

- Describe the greatest difficulties the corporate office has found in dealing with

ENSR Brazil (any resistance, any cultural change);

- Describe what level of involvement ENSR US has had in the definition of the

organizational structure in Brazil.

Questionário aplicado aos ex-funcionários da ENSR Brasil

- Qual era a sua função na ENSR Brasil?

- Quantos anos você trabalhou na ENSR Brasil?

- Você conhece a história da ENSR Brasil? Se sim, por favor, descreva.

- Que tipos de pessoas você acha que tinham mais possibilidades de avançar na

carreira?

- Que pessoas você considera como tendo especial significado para esta

organização?

- Que tipo de coisas as pessoas gostam de ver acontecer na ENSR Brasil?

- Que tipo de problemas de trabalho te tirava o sono?

- Por que você decidiu sair?

- O que a ENSR tinha de melhor e de pior?

- Como você acha que a ENSR poderia melhorar para reter mais seus

funcionários?

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