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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO CAMPUS MARIA AUXILIADORA Marcos Rogerio Soares JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL Americana 2015

JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL - unisal.br§ão_MARCOS... · inevitável mencionar sobre a presença familiar que sempre me motivou a desenvolver meus sonhos e metas e, acima

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO CAMPUS MARIA AUXILIADORA

Marcos Rogerio Soares

JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL

Americana

2015

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Marcos Rogerio Soares

JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Pessagno Caro.

Americana

2015

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Catalogação elaborada por Lissandra Pinhatelli de Britto CRB-8/7539

Bibliotecária UNISAL – Americana

Soares, Marcos Rogerio

S676j Juventude e vulnerabilidade social / Marcos Rogerio Soares. – Americana: UNISAL, 2015. 137 f. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Salesiano de São Paulo. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Pessagno Caro. Inclui bibliografia. 1. Juventude. 2. Vulnerabilidade social. 3. Educação

sociocomunitária. I. Marcos Rogerio Soares. II. Centro Universitário Salesiano de Americana. III. Adolescência e vulnerabilidade social.

CDD 305.23

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MARCOS ROGERIO SOARES

JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Pessagno Caro.

Dissertação de Mestrado defendida e aprovada em __/___/2015, pela comissão julgadora:

____________________________________________

Prof.ª Dr.ª Regiane Aparecida Rossi Hilkner

UNISAL

____________________________________________

Prof. Dr. Francisco Evangelista

UNISAL

___________________________________________

Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Pessagno Caro

UNISAL

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Dedico esta dissertação a todas as pessoas que ao olharem o ser humano, não

enxerguem apenas números, mas que entendam que em cada pessoa habita o

milagre da existência e as diferentes formas de vida.

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos estendem-se em primeiro lugar a Deus, que me

possibilitou realizar esse trabalho. À minha família pelo estímulo, fortalecimento

e encorajamento em todos os momentos. De modo especial, sou grato ao

Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP, por meio do diretor

Pe. Fernando Campane Vidal, que possibilitou o acesso aos materiais

históricos e documentais, a todos os colegas do Ensino Fundamental I por

meio das coordenadoras Márcia Regina Fontanella Teixeira, Maria Lúcia

Cunha de Figueiredo Torres Carvalho, bem como a todos os colegas do Ensino

Fundamental II, na pessoa da coordenadora Vera Silva de Oliveira e à

orientadora Maria Ana Marabita T. de Oliveira.

A todos os educandos envolvidos no Programa de Bolsas de Estudo

pela acessibilidade e simpatia demonstrada por meio dos questionários e

entrevistas aplicadas.

A todo o corpo docente do Programa de Mestrado em Educação do

Centro UNISAL, que contribuíram para que essa fase de pesquisa e busca de

novos conhecimentos se efetivasse.

De maneira especial à Prof.ª Dr.ª Sueli Maria Pessagno Caro e ao Prof.

Dr. Francisco Evangelista, que durante episódios de enfraquecimento e de

desejo de desistência fortaleceram-me para a finalização e concretização

desse projeto.

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Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de

que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia

impossível. (Charles Chaplin)

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RESUMO

A vulnerabilidade social está ligada aos indicadores de risco social. Esta

pesquisa aborda a vulnerabilidade social da juventude e sua relação com a

educação, com o foco voltado para a vulnerável juventude, considerada um

grupo dentre outros grupos nas grandes metrópoles brasileiras. Esta

dissertação tem o objetivo de compreender os anseios, expectativas, sonhos e

visão de futuro dos adolescentes inseridos no Programa de Bolsas de Estudo.

Tais vulnerabilidades são constatadas nos baixos índices educacionais, nas

elevadas taxas de desemprego e nas condições sociais apresentadas nas

áreas pesquisadas. Esse trabalho de pesquisa surgiu do desejo de aprofundar

o conhecimento sobre ética e esperança no atual sistema vigente, e da ânsia

de desenvolver o espírito de pesquisa, relacionando o conteúdo pedagógico à

realidade social da juventude. A pesquisa fora desenvolvida através da coleta

de dados sobre o público pretendido, do estudo da pedagogia e da ética

salesiana que não é indiferente ao contexto socioeconômico em que se vive.

Esta pesquisa pretende aliar a teoria à prática, demonstrando por experiências

concretas já realizadas, a possibilidade de transformar as estruturas do atual

sistema neoliberal, excludente e opressor, a partir de iniciativas que visam

resgatar a esperança de pessoas situadas à margem da sociedade. Dentro

dessa proposta, o foco concentra-se nos adolescentes presentes na Instituição

Educacional - Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP. A

pesquisa visa compreender e escutar seus anseios dentro da dinâmica de

Bolsa de Estudo integral, a qual são assistidos por meio da Instituição. Essa

iniciativa além de favorecer o desenvolvimento do espírito de pesquisa, tem

uma função social e educativa, na medida em que visa despertar a consciência

solidária e participativa de cada pessoa que vier a tomar contato com o

trabalho, incentivando a ser mais um agente de restituição de esperança aos

mais sofridos e excluídos pelo sistema neoliberal.

Palavras-chave: Juventude. Vulnerabilidade social. Educação

sociocomunitária.

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RESUMEN

La vulnerabilidad social está relacionada a los indicadores de riesgo

social. La pesquisa trata la vulnerabilidad social de la juventud y su relación con

la educación, con el foco en la juventud, donde considerase un grupo entre

otros grupos, vulnerables en las grandes metrópolis brasileñas. Tales

vulnerabilidades son constatadas en los bajos índices educacionales, en las

altas tasas de desempleos y en las condiciones sociales presentadas en las

áreas de la búsqueda. Este trabajo de pesquisa surgió del deseo de

profundizar el conocimiento sobre la ética y la esperanza en el actual sistema

vigente, y la gana de desarrollar el espíritu de búsqueda, relacionando el

contenido pedagógico con la realidad social de la juventud. El estudio

pedagógico y de la ética salesiana no es indiferente al contexto

socioeconómico en que si vive. En ese sentido, la pesquisa pretende añadir la

teoría y la práctica, presentada por experiencias concretas, ya realizadas, la

posibilidad de transformar las estructuras del actual sistema neoliberal,

excluyente y opresor, a partir de las iniciativas que visan rescatar la esperanza

de las personas ubicadas a las márgenes de la sociedad, dentro de esas

propuesta, los jóvenes presentes en la Institución Educacional – Colégio Liceu

Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP –, pretendía que visa comprender

y escuchar lo que quiere el educando, cuyo perfil, obtener la beca al estudio

integral en la Institución. Además, esa iniciativa favorece el desarrollo del

espíritu de pesquisa, que tiene una función social y educativa, en la medida en

que visa despertar la consciencia solidaria y participativa de cada persona que

viene y toma contacto con el trabajo, incentivando a ser más un agente de

restitución de esperanza a los más sufridos y excluidos por el sistema

neoliberal.

Palabras-clave: Juventud. Vulnerabilidad social. Educación sociocomunitária.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Índice de desemprego no Brasil por regiões ................................. 66

Gráfico 2: Índice de condição de vulnerabilidade no Brasil .......................... 67

Grafico 3: Esperança de vida ao nascer, segundo a América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia, Europa, Oceania e Brasil – 2010 68

Gráfico 4: Taxa de mortalidade infantil segundo a América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia, África, Europa e Oceania – 2010 ............................. 88

Gráfico 5:Taxa de frequência bruta e estabelecimento de ensino da população residente, segundo os grupos de idade – Brasil – 1999/2009 .. 88

Gráfico 6 : Taxa de escolarização líquida dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade, segundo as Grandes Regiões – 1999/2009 ............................ 90

Gráfico 7: Média de anos de estudo das crianças de 10 a 14 anos de idade, segundo a idade – Brasil – 1999/2009 ..................................................... 91

Gráfico 8 : Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade, segundo o nível de ensino frequentado – Brasil – 1999/2009 ......................................... 92

Gráfico 9 : Distribuição percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade, analfabetas, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil – 1999/2009 ..................................................................................................................... 93

Gráfico 10 : Fluxo escolar por faixa etária – Campinas/SP – 1991/2000/2010 ........................................................................................................... 95

Gráfico 11 : Fluxo escolar por faixa etária – Campinas/SP – 2010 .............. 96

Grafico 12: Escolaridade da população de 25 anos ou mais 1991/2000/2010 ........................................................................................................... 97

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: IDH MUNICIPAL E SEUS COMPONENTES – CAMPINAS/SP ....... 94

Tabela 2 : POPULAÇÃO TOTAL, POR GÊNERO, RURAL-URBANA – CAMPINAS/SP ............................................................................................................ 95

Tabela 3: RENDA, POBREZA E DESIGUALDADE – CAMPINAS/SP (1991/2000/2010) ......................................................................................................... 98

Tabela 4: OCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO DE 18 ANOS OU MAIS – CAMPINAS/SP ............................................................................................................ 99

Tabela 5 : INDICADORES DE HABITAÇÃO – CAMPINAS/SP ....................... 100

Tabela 6: VULNERABILIDADE SOCIAL (FAMÍLIA, TRABALHO E RENDA E CONDIÇÃO DE MORADIA) – CAMPINAS/SP .................................................... 100

Tabela 7: DADOS ESPECÍFICOS DOS PARTICIPANTES DO QUESTIONÁRIO E DA ENTREVISTA .................................................................. 103

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AED – Áreas de Expansão Demográfica

AL – América Latina

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos

Socioeconômicos

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EF – Ensino Fundamental

EM – Ensino Médio

ES – Ensino Superior

FJP – Fundação João Pinheiro

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

ILANUD – Instituto Latino-americano das Nações Unidas para a Prevenção do

Delito e Tratamento do Delinquente

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LDB – Leis de Diretrizes e Base da Educação

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts

OIJ – Organização Ibero-americana de Juventude

ONG – Organização não governamental

ONU – Organização das nações unidas

PEA – População Economicamente Ativa

PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RES – Rede Salesiana de Escolas

RESAS – Rede Salesiana de Ação Social

RM – Região Metropolitana

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MEMORIAL

Minha história de vida baseia-se em vários momentos de alegrias,

crescimentos e partilhas que contribuíram de forma significativa para o

amadurecimento pessoal, social e familiar. Ao mencionar o projeto pessoal é

inevitável mencionar sobre a presença familiar que sempre me motivou a

desenvolver meus sonhos e metas e, acima de tudo, a observar as relações de

comportamento e respeito, com a contribuição da religiosidade.

Meu pai, natural de Corumbataí, interior de São Paulo, caçula dentre os

homens, com espírito esportivo, logo cedo entendeu que a vida era feita de

muitos esforços, e na companhia de vários irmãos que como todas as crianças

aspiravam em realizar sonhos e fantasias, próprias da idade. Tinha uma grande

admiração pelo seu pai que era responsável pela oração do terço na casa das

famílias e pela alfabetização dos filhos dos fazendeiros da época. Sua mãe,

responsável pelo lar, educava de forma enérgica, sempre disponível a uma

palavra amiga ou conselho que rendia aos filhos grandes e profundas

reflexões.

Devido ao grande número de irmãos, não passaram diretamente grandes

necessidades, mas alimentos ou variedades alimentícias, não eram muito

comum nas suas relações.

Minha mãe, natural de Lins, interior de São Paulo, foi criada no campo e

sempre menciona que sua relação familiar fora muito amistosa, pois fora

acompanhada da educação da sua mãe, que sempre se mostrava presente, e

do seu pai, que se orgulhava pelo seu trabalho e pelo cuidado legítimo e

íntegro com os filhos. Sua infância e adolescência foram desenvolvidas nessa

região, que segundo comentários, foram regadas de muita fé, união e harmonia

familiar.

Meus pais conheceram-se por intermédio de um deslocamento da minha mãe

para a região de Campinas, pois, nesse período, meu pai já residia na região

junto à família. Após se conhecerem mediante o contato de irmãos, iniciaram o

namoro e se casaram no ano de 1970.

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Após 3 anos houve o nascimento da minha irmã Lueli, após 5 anos o do

meu irmão Alessandro, no ano seguinte o do meu irmão Carlos e, por fim,

finda--se o ciclo com o meu nascimento. A proximidade da idade favoreceu-nos

a obter um melhor contato, com brincadeiras, atividades de lazer, entre outras.

Isso contribuiu muito para o aspecto de socialização, de trocas, de partilhas e

de valorização do espírito coletivo.

Os anos escolares que se seguiram foram muito interessantes, tamanha

era a ansiedade para conhecer a escola e estrear o banco da 1ª série, como

era chamada. O primeiro ano escolar agregou muito em vários aspectos, entre

eles, a disciplina de horários, a troca com novos grupos, a socialização como

sentido de pertencimento ao grupo e à questão da estima.

De uma certa forma, sempre recebia elogios da professora, através das

atividades bem realizadas, da postura em sala de aula e dos resultados

favoráveis. Uma coisa bacana que também ocorreu dentre as muitas, é que, no

período da 4ª série, eu tinha uma amiga que realizava comigo as tarefas de

classe diariamente, assim, mantínhamos uma disciplina de horários e

buscávamos sempre chegar a bons resultados nas avaliações, e fomos

apelidados de “namoradinhos”, e, por incrível que pareça, essa relação criou

uma marca positiva, visto que tenho melhor desenvolvimento estudando em

grupo, pois me vejo mais concentrado, as atividades rendem mais e me sinto

muito mais produtivo do que individualmente.

Ao chegar no Ensino Médio, foi uma sensação bem diferente, os colegas

normalmente diziam que essa fase seria mais difícil, não manteríamos os

mesmos resultados favoráveis, como outrora fora no Ensino Fundamental II.

Considero o Ensino Médio de grande importância em minha vida, pois fora um

momento ao qual treinava futebol com o projeto de um dia profissionalizar-me

na área. Após disputar um campeonato denominado “mundialito”, na região de

Campinas, fui chamado para uma equipe de futebol do Paraná, na categoria

sub-15, mas para isso teria que deixar temporariamente os estudos na cidade

de Paulínia-SP e embarcar o mais breve possível ao meu novo intento.

O sonho era muito latente, conversei com meus pais, que aderiram ao

projeto. Viajei ao Paraná em companhia de amigos, apresentei-me ao clube, fui

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muito bem acolhido e iniciei o treinamento pela 1ª vez em uma longa

quilometragem de casa. Disputamos o campeonato paranaense, fomos

campeões, isso significou muito gratificante para mim. Após o término do

campeonato, obtivemos um período de férias para que pudéssemos retornar

descansados dentro de poucos meses.

No entanto, voltei para Paulínia, com o objetivo de finalizar meus

estudos. Conversei com os professores, recuperei as notas e fui muito

parabenizado por meio da equipe pedagógica. Posteriormente, deveria voltar

ao Paraná para retornar aos treinamentos e competições. Em família,

decidimos que permaneceria na cidade e resgataria oportunidades nas equipes

de Campinas (Ponte Preta ou Guarani).

Nos anos seguintes permaneci com as atividades de estudo e

treinamentos, fui convidado pela Ponte Preta para fazer parte da equipe sub-

17. Conciliei meus estudos, treinamentos e no final da etapa, recebi um prêmio

conduzido pelos professores de melhor aluno da escola. Fiquei muito feliz pela

homenagem e daquele período em diante percebi que vale a pena lutar pelo

bem, tratar bem as pessoas e acreditar em um mundo melhor.

Após a formatura do Ensino Médio, foquei meus sonhos e projetos na

perspectiva de ser um grande jogador de futebol. Dentro desse período,

ocorreram muitas coisas, treinava com atletas de grandes níveis, dentre eles,

destaco os que estão no cenário do futebol atual, como o Luís Fabiano

(atacante do São Paulo), Rodrigo (zagueiro do Vasco), Adrianinho (meia da

Ponte Preta), Fábio (goleiro do Cruzeiro), dentre outros que despontaram no

cenário do futebol nacional e internacional.

O aspecto familiar, esportivo e religioso sempre foi preponderante na

minha história de vida e em determinados momentos, comecei a pensar, com a

idade de 18 anos, o que de fato gostaria de realizar profissionalmente, e nesse

período, meu irmão tinha acabado de se profissionalizar na Ponte Preta, e após

refletir, tomei a decisão de abandonar o futebol e responder a outros anseios

do meu coração, entre os quais estava uma inquietação sobre a vida

sacerdotal e religiosa.

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Isso foi uma reviravolta em minha história, meus pais questionaram

bastante, assim como meu irmão que havia acabado de se profissionalizar na

Ponte Preta. Em 2001, aos 21 anos de idade, iniciei em Marília, no chamado

Propedêutico, tempo de preparação e discernimento, os estudos de Filosofia.

Permaneci no seminário de Marília, no período de 2001 a 2005, mas logo após,

transferi-me para o seminário de Campinas no ano de 2006, lá permanecendo

até 2008.

Formei-me em Filosofia e, quando estava no terceiro ano de Teologia,

tomei a decisão de deixar a formação e experienciar uma nova etapa em minha

vida. Após deixar a formação em 2008, saí com o objetivo de realizar

experiências profissionais e, após apresentar um projeto no colégio Salesiano

de Campinas (Liceu), fui chamado para desenvolver um projeto de Filosofia no

Ensino Fundamental I.

Felicitou-me muito a oportunidade e após o 1º ano, assumi as aulas no

Ensino Médio e, na sequência, fiquei responsável por iniciar também o projeto

no setor do Ensino Fundamental II, do 6º ao 9º ano.

Após a inserção e continuidade do projeto, senti a necessidade de

continuar me aplicando nos estudos através de especializações. Os projetos

desenvolvidos na escola, desde então, foram muito interessantes, através de

produções de vídeo, apresentações musicais, projetos solidários,

apresentações de seminários, entre outros.

A escola apresenta os próprios desafios diários, que nos levam a

questionar e criar elementos que de fato possam corresponder ao universo dos

jovens e adolescentes. No ano de 2013 organizei-me para um possível projeto

de mestrado, e após conversar com vários colegas da área, direcionei os meus

estudos e foquei nessa possibilidade. O mestrado corresponde a um grande

sonho de realizar uma pesquisa que realmente contribua para a educação dos

jovens e, consequentemente, para o bem da sociedade. Em outras palavras,

sou imensamente grato a Deus por esta oportunidade.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 19

2 A JUVENTUDE ......................................................................................................... 22

2.1 OS JOVENS DE HOJE, CONTEXTOS, DIFERENÇAS E TRAJETÓRIAS

OS JOVENS DE HOJE: MEDO DE SOBRAR, MEDO DE MORRER ........... 35

2.2 FABRICAÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE

DESAFIOS DOS PROJETOS JUVENIS ............................................................. 37

2.3 O CONCEITO DE JOVEM A PARTIR DO MODELO ECONÔMICO

JOVENS SEM COMPROMISSO? ........................................................................ 44

2.4 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE UM PROJETO VITAL PARA A VIDA DOS JOVENS? ........................................................................................................ 49

2.5 CULTURA DE PROJETOS VITAIS ............................................................... 50

3 COLÉGIO LICEU SALESIANO NOSSA SENHORA AUXILIADORA DE

CAMPINAS-SP ............................................................................................................ 53

3.1 DOM BOSCO .................................................................................................... 53

3.2 SALESIANOS NO BRASIL ............................................................................ 54

3.3 PROJETO PEDAGÓGICO .............................................................................. 55

3.4 CARISMA SALESIANO .................................................................................. 56

3.5 ACESSIBILIDADE DE BOLSAS DE ESTUDO NO COLÉGIO LICEU NOSSA SENHORA AUXILIADORA DE CAMPINAS-SP ................................ 57

3.6 RESPONSABILIDADES DO SETOR DE SERVIÇO SOCIAL ................. 61

3.7 CONDIÇÕES IMPEDITIVAS DA CONCESSÃO E DA MANUTENÇÃO DA BOLSA DE ESTUDO ....................................................................................... 62

4 O CAPITALISMO NEOLIBERAL COMO FONTE DE DESESPERANÇA

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HUMANA ...................................................................................................................... 64

4.1 CONSEQUÊNCIAS DAS MEDIDAS NEOLIBERAIS ................................. 65

4.2 A ESPERANÇA HUMANA E O NEOLIBERALISMO ................................ 68

5 JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL ................................................. 72

5.1 OS MEDOS E INSEGURANÇAS DOS JOVENS ....................................... 78

5.2 QUEM SÃO OS JOVENS CONSIDERADOS À MARGEM? .................... 82

5.3 ASPECTOS DA VULNERABILIDADE (JUVENTUDE, VIOLÊNCIA E VULNERABILIDADE SOCIAL) ............................................................................ 85

5.4 DADOS EDUCACIONAIS REFERENTES À POPULAÇÃO DE CAMPINAS ............................................................................................................... 93

5.4.1 JUVENTUDE .................................................................................................. 93

6 A METODOLOGIA E A ANÁLISE DOS DADOS ............................................. 101

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 125

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 129

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19

1 INTRODUÇÃO

A busca do tema “Juventude e desigualdade social” acresce a

compreensão de fenômenos sociais diversos em sua reprodução, tais como

exclusão social, pobreza, vulnerabilidade social, risco social, entre outros, bem

como se pretende explorar algumas dessas formas, sobretudo mediante esse

público.

Esta pesquisa é uma forma de exteriorizar o carinho, aproximar-nos dos

jovens e tentar compreender as “vozes ocultas”, muitas vezes internalizadas

por rupturas socioeconômicas. Consideramos de extrema importância salientar

que ao contemplar o cenário capitalista, torna-se explícito as marcas profundas

de individualismo, inversão de valores, fragilidade nas relações humanas,

manipulação dos meios de comunicação de massa, entre outras coisas.

Mediante esse cenário, regido pelos desafios inerentes, na qual a maior

preocupação apresenta-se através do público adolescente inserido nas

grandes regiões metropolitanas, esta pesquisa tem a intenção de apresentar

uma nova ótica, sobre jovens aprendizes do Colégio Liceu Nossa Senhora

Auxiliadora de Campinas-SP. Para que essa dinâmica se concretizasse, busca-

se compreender quais os anseios e formas de vivência desses adolescentes

dentro do cenário escolar, uma vez assistidos com o Auxílio Bolsa Integral,

dentro do Programa de Assistência Social do Colégio.

Para o favorecimento e enriquecimento da proposta perquire-se

conhecer melhor os ideais desses jovens, suas perspectivas de futuro, suas

formas de relacionamento familiar, suas relações com a Instituição requerida,

assim como a forma de se entender o cenário adolescente.

A metodologia utilizada foi a bibliográfica e documental, pautada por

teorias relacionadas à temática, questionário exploratório, entrevistas e análise

dos dados coletados. Na tentativa de discutir e ampliar os elementos teóricos

para essa dissertação, apresenta-se possibilidades de reflexão e, talvez, novas

formas de abordar a temática. Deste modo, esta dissertação está estruturada

em quatro capítulos:

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20

No primeiro capítulo, destaca-se a Introdução da discussão e no

segundo capítulo procura-se evidenciar o que se entende por juventude, as

determinações presentes regidas através do modelo econômico e cultural e os

fundamentos importantíssimos para se compreender a dinâmica social em que

os jovens estão inseridos. A busca por definições da identidade “juvenil”

marcada pela tensão entre uma busca pela autonomia, pela necessidade de

regras, pelo desejo de serem valorizados e respeitados, pela motivação por

mudar o seu entorno e o mundo e pelas formas de superação da solidão. Um

dos dramas e desafios que a adolescência vive na modernidade é a qualidade

dos modelos traçados para o seu modo de viver. Denota-se uma

supervalorização da subjetividade, que pode, a curto ou longo prazo,

comprometer os seus sentimentos, numa convivência qualitativa, de maneira a

ser livre e ao mesmo tempo responsável, a partir de suas próprias escolhas.

Um breve histórico do Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de

Campinas-SP pautará o terceiro capítulo, através da perspectiva do Dom

Bosco e de seu olhar voltado para a capacidade potencializadora dos jovens. A

partir desse pressuposto teórico, busca-se os alunos bolsistas desta Instituição,

através de questionário exploratório e entrevistas que contribuem para o

entendimento desse público, das formas de socialização, das relações

familiares e dos anseios e angústias que norteiam essa fase importante de

suas histórias. Os dados obtidos pela pesquisa permitiram vislumbrar as

motivações e perspectivas futuras desses sujeitos envolvidos na temática.

No quarto capítulo, busca-se evidenciar as características do sistema

neoliberal e as diversas formas opressoras as quais as pessoas são

submetidas, sobretudo o público adolescente. Pretende-se demonstrar por

meio da investigação bibliográfica, como o atual modelo econômico

(capitalismo neoliberal) propicia a exclusão social e usurpa a esperança e a

dignidade de muitos jovens, lançando-os às margens da sociedade. Também,

verifica-se por meio da ética, como mesmo em meio a esse cenário desafiador,

é possível valorizar as relações entre as pessoas não de forma numérica, mas

sim como sujeitos únicos e dignos de serem respeitados.

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21

O quinto capítulo aborda a vulnerabilidade social que envolve os jovens,

proporcionando algumas diferenças presentes nos contextos em que estão

inseridos, com implicações sociais, familiares e educacionais, uma vez que

uma parcela significativa não pode usufruir dos mesmos direitos, teoricamente,

garantidos pelo governo. Através de gráficos e tabelas procura-se identificar

alguns pontos de vulnerabilidade, em algumas regiões do país, através de

dados estatísticos. Na sequência é realizado um recorte para a região de

Campinas com alguns índices de vulnerabilidade na dimensão educacional, e a

partir dessa coleta de dados entender os impactos sociais sobre os sujeitos da

pesquisa e as formas de lacuna existentes.

No sexto e último capítulo destaca-se a análise dos dados obtidos

através da ótica da Educação Sóciocomunitária e a partir dessa ampliar as

possibilidades de compreensão do universo juvenil e dessa forma aproximar da

dinamicidade que envolve esse período de construção.

Deste modo, esta pesquisa deseja contribuir para estimular novos

olhares sobre a juventude em questão, para que favoreça a garantia de seus

direitos e crie condições para um desenvolvimento qualitativo. Dentro dessa

dinâmica, é fundamental que se conheça os anseios e o universo juvenis,

focados em seus desejos, expectativas e dificuldades no cenário educacional

em que se encontram.

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2 A JUVENTUDE

O jovem em sua ânsia pela existência, sente-se impulsionado a buscar

novos horizontes, proposta essa que requer o gosto por desafios, a

necessidade de abdicação, a sede por transformação e, ao mesmo tempo,

estímulos diversos para seguir adiante a sua trajetória.

Dentre os vários desafios existentes, denota-se muitas vezes o jovem

em busca de um ninho que lhe garanta as condições mínimas para sua

sobrevivência.

Surgem ao logo da história da humanidade, vários questionamentos que

se referem à postura, ao comportamento juvenil e às inúmeras necessidades

teóricas para compreender uma fase avaliada por alguns setores midiáticos e

institucionais, como uma fase de conflitos, de turbulências, de busca de

identidade e aceitação de si mesmo, de busca coletiva pelos iguais e de

demonstração de força e autonomia. Mediante as transformações existentes,

torna-se necessária a contribuição de algumas ciências que conferem uma

possibilidade de investigação mais apurada sobre a juventude.

As ciências médicas criaram a concepção de puberdade, referente à fase de transformações no corpo do indivíduo que era criança e que está se tornando maduro. A psicologia e a psicanálise criaram a concepção de adolescência, relativa às mudanças na personalidade, na mente ou no comportamento do indivíduo que se torna adulto. A sociologia costuma trabalhar com a concepção de juventude quando trata do período interstício entre as funções sociais da infância e as funções sociais do homem adulto. (GROPPO, 2000, p. 13).

Rezende (1989, p. 4, apud GROPPO, 2000) sugere o uso sociológico no

plural do termo juventude, para que possamos dar conta da diversidade na

vivência desta fase de transição à maturidade, ou de socialização secundária,

denominada “juventude”. O estudo sobre a juventude nos permite vislumbrar

vários grupos juvenis, com suas características próprias que possibilitam

entender formas de pensamento, de vestimentas e de linguagem. É inevitável

realizar comparações entre os jovens reduzindo-os a padrões e estereótipos,

no entanto, faz-se necessário um esforço teórico e prático para melhor

sistematização desse quadro juvenil. A pluralidade de juventudes se estabelece

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diante de um recorte sociocultural, tais como, classe social, estrato, etnia,

religião, mundo urbano ou rural, gênero, etc.

A criação das juventudes é um dos fundamentos da modernidade, no

entanto, denota-se que há uma forma variada de representação juvenil que não

permite ser reduzida a um formato padronizado no que compete às

características juvenis. Compreender a dinâmica da juventude requer observar

as diversas categorias sociais contraditórias existentes: classe social, estrato

social, etnias, gêneros, oposição urbano-rural, relação nacional-local, global-

regional, etc.

E por que a juventude é vista por algumas camadas sociais como a

grande potencializadora do futuro? Percebe-se que mesmo mediante a um

cenário de conflitos econômicos, políticos e sociais, a presença revitalizadora

dos jovens é responsável por dinamizar e reorganizar o futuro, visando uma

nação mais completa e feliz. Essa responsabilidade atribuída aos jovens pode

indicar esse momento de transição em suas vidas, ao qual o corpo transforma-

se e a energia vital espalha-se e se multiplica por onde passa.

Para Mannheim, na juventude os indivíduos realizam pela primeira vez a absorção consciente de suas experiências sociais, passam a ter realmente uma experimentação pessoal para com a vida. Já na maturidade, as novas experiências sociais recebem, em geral, elucidação racional e reflexiva, sendo julgadas e analisadas pelo indivíduo a partir de padrões de conhecimento já sedimentados. (BRITO, 1968, p. 75).

Autores como Mannheim dizem que a juventude é paradoxal, uma

ameaça que é impossível neutralizar e que deve ser conquistada, fazendo

alusão aos grupos juvenis formados pelo nazismo, de caráter conservador,

característica essa que não contribuiria para verdadeiras e significativas

transformações na sociedade alemã. Isso pode justificar a crença de que para

Mannheim (1961 apud GROPPO, 2000, p. 24), a juventude é uma “[...] força

potencial de transformação da sociedade. Mas também pode ser, e este é o

problema, uma força de conservação”.

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As sociedades tradicionais encontram na experiência dos mais velhos a

responsabilidade, a capacidade de conservação e os projetos necessários para

a conservação e manutenção dos valores que outrora foram cultivados e

devem permanecer. Essa valorização de uma cultura tradicional não favorece a

muitas inovações e transformações e, dessa forma, não se abre muito espaço

para a força juvenil. Diferentemente da sociedade moderna a qual, segundo

Mannheim, a juventude é reconhecida como agente “revitalizador”, aquela que

potencializa novos horizontes para a modernidade.

O universo adolescente não está desassociado do cenário cultural,

político e econômico do qual se encontra, mas implica diretamente em modelos

que favorecem um estilo de comportamento e um modo de agir característicos.

Ao observar os valores atualmente imputados pela publicidade à juventude,

percebe-se que esses valores coincidem com muitas das qualidades atribuídas

ao moderno: grande interesse pela novidade, extravagância, irreverência,

espontaneidade, ousadia, rebeldia, exclusividade, diferença, entre outros.

As grandes transformações suscitadas é algo de fundamental

importância nesse período, tanto na área comportamental quanto no modelo e

no sentido existencial, desvinculando valores outrora definidos como absolutos

dentro de uma dinâmica social. A modernidade proporcionou algumas

mudanças, entre elas a burocratização dos domínios da atividade humana e o

desencantamento do mundo.

Esse desencantamento do mundo, segundo Max Weber (1981, p. 22),

impacta as novas formas de relacionamento e as esferas políticas e sociais.

Esse período pós-industrial inicia uma fase que se torna necessária perante os

novos modelos econômicos, políticos e sociais. Não se enfatiza mais, como

anteriormente, somente as questões religiosas e supersticiosas, mas também é

levada em consideração a capacidade produtiva do ser humano.

Essas prerrogativas são de extrema importância para relacioná-las com

o contexto de mudanças, e a partir desses dados confrontá-las com as

tendências modernas da juventude.

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Os processos através dos quais ocorre a cristalização das idades da vida são múltiplos e convergentes. Supõem primeiro, transformações essenciais no âmbito da família e em primeiro lugar da família burguesa, como uma mais nítida separação entre o espaço familiar e o mundo exterior, e uma redefinição do lugar da criança no interior da família. A criança se torna objeto de atenção particular e alvo de um projeto educativo individualizado, que de certo modo qualifica o lugar que ela virá posteriormente a ocupar na sociedade adulta. (PERALVA, 1997, p. 15).

Um dos grandes desafios do processo de transição destaca-se pela

descontinuidade do processo familiar. Denota-se, inicialmente, uma mudança

drástica na passagem do mundo da criança para o mundo adulto. Conforme

Eisenstadt “[...] os papéis de pais e filhos, típicos da vida familiar estão

segregados dos demais papéis representados nas principais esferas da vida

adulta.” (1996 apud GROPPO, 2000, p. 42).

A complexidade do processo transitório acentua-se devido à

dinamicidade da modernidade e às significativas e profundas mudanças do

cenário familiar para uma forma de organização em que se pretende mais

amplitude e diferentes formas de socialização.

Na sociedade moderna originam-se vários tipos de grupos e agências

dirigidas à juventude, e são três os principais grupos etários nas sociedades

modernas: sistema escolar educacional, agências juvenis mantidas por adultos

e grupos juvenis espontâneos. As escolas possuem o papel de preparar os

jovens para a dinâmica econômica e cultural, algo que está além do

desenvolvimento valorativo das famílias que requer um caráter mais

particularista.

A escola desempenha o seu papel formativo entre os jovens, mas como

mencionado anteriormente, a transição ou ruptura das relações familiares para

o novo cenário universalista requer um cuidado significativo com as diversas

inquietações próprias desse período, tais como a busca de autonomia, de

independência financeira, entre outras. Dentro do espaço escolar, as diversas

necessidades apresentadas não conseguem corresponder aos anseios e às

características próprias desse período juvenil. Essa não correspondência

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articula os jovens a buscarem outras formas de interação e conexão com seus

pares que ampliem as possibilidades de realizações próprias dessa fase.

Escolarização e sentimento familiar se desenvolvem como dimensões complementares e contraditórias da experiência individual: por um lado, enviar a criança ao colégio traduz a atenção particular de que ela passa a ser objeto no seio da família; por outro, essa separação necessária é contraditória com o sentimento de família nascente e com a nova importância assumida pelos vínculos afetivos na estruturação das relações familiares. (PERALVA, 1997, p. 15).

Essa lacuna, ou seja, essa não correspondência às necessidades

juvenis diversas, abre espaço para que outras instituições contribuam com a

formação juvenil. No entanto, as organizações juvenis possuem, como

característica intrínseca, a necessidade de preparar e de manter uma

identidade comum e de vivência grupal, com o objetivo de atribuir papéis

específicos. Esses grupos de atendimento e acompanhamento juvenis surgem

no período da Revolução Industrial, em meados do século XIX, em um

momento que se inicia a classificação de juventude como fonte de problemas

comportamentais e sociais.

Em alguns contextos, os jovens naturalmente buscam uma identificação

nos grupos ao qual pertencem, no entanto, dentro dos critérios universalistas,

esses valores diferem do que é previsto no sistema de organização familiar.

Nos padrões familiares, determinadas ações ou pertencimentos significavam

uma garantia de status social na vida adulta, diferente dos padrões

considerados primitivos. Pode-se dizer que uma diferença primária, mas de

importante conotação, refere-se aos modelos de formação. No primeiro

modelo, considerado de característica familiar segundo Eisenstadt (1996), as

relações agrupam e fortalecem o vínculo coletivo, por outro lado, na sociedade

considerada universalista “[...] são orientadas para o desempenho e a

realização individual”.

Desse modo, gera-se um confronto inicial entre as aspirações juvenis de

outrora nas sociedades, comparadas às relações da modernidade, pois, havia

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uma relação quase que direta sobre as futuras funções exercidas nas

comunidades primitivas, diferente das modernas, que enfatizam a

especialização e a realização, ou seja, um caráter mais individualista. Essa

transição da estrutura familiar para a sociedade global não é realizada somente

pelas escolas e instituições responsáveis pela formação juvenil, mas ocorre

também, entre os chamados grupos juvenis informais, que contribuem para que

o aspecto de socialização se fortaleça e, ao mesmo tempo, a segregação

permita aos jovens realizarem suas aspirações sem o risco de um

enfrentamento direto com as esferas sociais universalistas.

Uma vez dotadas de especificidade própria, as fases da vida não se tornam apenas autônomas, umas em relação às outras. Permanecem interdependentes e mesmo hierarquizadas. Tal hierarquia constrói-se sobre a base de uma tensão, intrínseca à modernidade, entre uma orientação definida pela lógica da modernização (portanto orientação para o futuro, pela afirmação conquistadora da renovação como valor) e o fundamento normativo da ordem moderna, que afirma, ao contrário, a primazia do passado como elemento de significação do futuro. Cabe ao passado, isto é, à ordem social já constituída, domesticar, sem destruir, os elementos de transformação e modernização inerentes à vida moderna. (PERALVA, 1997, p. 17).

Um questionamento e um desafio apresentados é que nem todos os

grupos juvenis aderem a um modelo padrão de comportamentos, existem

diversidades entre esses conhecidos como anômicos, ou seja, “delinquentes,

boêmios, radicais”. Essa busca de identificação juvenil traz em si grande

potencial para transformações sociais, por outro lado, analisa uma concepção

negativa da juventude antissocial que deve se adestrar. A sociedade

estabelece algumas formas de socialização juvenis e as incube de tarefas e

aprendizados que permitirão aos adolescentes transitar do mundo infantil,

mergulhado no particularismo dos grupos de parentesco, para o mundo adulto

e da cidadania plena.

Denota-se de forma significativa, grandes desafios e complexidades

referentes ao mundo juvenil, no sentido de se inserir e de se adaptar às formas

de vida que realmente contemplem as maiores necessidades e realizações. De

acordo com Bauman (2013a, p. 52),

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Os jovens são vistos como encargo social [...] não estão mais incluídos no discurso sobre a promessa de um futuro melhor. Em lugar disso, agora são considerados parte de uma população dispensável, cuja presença ameaça evocar memórias coletivas reprimidas da responsabilidade dos adultos.

Pode-se dizer que isso se dá na medida em que a indústria cultural

apresenta uma nova performance com espaços de lazer, de cultura e de

entretenimento que acompanham a passagem do século XIX ao XX. Dentro

dessa avaliação, há uma distância necessária para que se avalie a forte

influência exercida pela “cultura de massa” sobre o comportamento juvenil.

Evidenciam-se espaços sociais que respondem aos anseios juvenis e

completam algumas lacunas que separam os jovens do mundo adulto.

O entretenimento e a busca de lazer durante o século XX proporcionou

aos jovens muitas possibilidades, pois eles se tornaram o grupo social mais

atuante nos esportes, ouvinte de rádio, ligaram-se aos programas televisivos,

frequência em cinema, compradores de revistas de grande circulação (muitas

das quais versando sobre a própria indústria do lazer), público de bailes,

danceterias, entre outros.

Os indivíduos que possuem uma caderneta de poupança e nenhum cartão de crédito são vistos como um desafio para as artes do marketing: “terras virgens” clamando pela exploração lucrativa uma vez cultivadas (ou seja, incluídas no jogo dos empréstimos), não se pode mais permitir que escapem, que entrem “neutralidade”. Quem quiser quitar inteiramente seus débitos antes do prazo deve pagar pesados encargos. (BAUMAN, 2010, p. 15).

As formas de entretenimento criadas, tornam-se, uma das grandes

atrações que envolvem além do espaço de socialização, um novo padrão de

consumo e comportamento, podendo-se dizer que os jovens são os grandes

responsáveis por esse processo, como fomentadores preteridos nas diversas

formas de consumo apresentadas pela indústria cultural de forma a instigação

de novos padrões comportamentais e de socialização na juventude.

A escola exerce seu papel de intermediadora da passagem do jovem à

fase adulta, nela estão contidas diversas orientações que preparam os jovens

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para a fase adulta e ao mesmo tempo possui o aspecto de organizador e

controlador do tempo, que perpassa necessariamente por uma hierarquização

de vigilância e punição.

Essa expansão de possibilidades, altera de forma considerável o que se

entende por modalidade juvenil, nesse sentido, as escola favoreceu uma

formação que se adequasse a um polimento da disciplina da mente e do

corpol, obtendo como pressuposto principal a educação, fruto do

Renascimento, que provocara um passo para a modernidade. A modernidade

trouxe um novo olhar para à juventude, pois começou a ser considerada uma

fase perigosa, exposta a alterações físicas e psicológicas e, por esse motivo,

digna de ser avaliada, vigiada e controlada.

Várias análises e observações começam a ser realizadas, focando o

comportamento dos indivíduos e as fases de maturação e transformação

apoiados pelas ciências médicas e psicológicas. Esse novo olhar permite

entender que, em determinadas épocas, cada indivíduo passará por algumas

mudanças biológicas, psicológicas e sociais com as contribuições das ciências

modernas. Dentro dessa dinâmica, o jovem passará por uma fase de

maturação e socialização, adaptando-o a um convívio integrado na sociedade

moderna.

As mudanças no cenário moderno começam a ser expressivas, as fases

de transformações concebidas por pesquisadores da área concretizam-se por

meio de definições que são deliberadas, no final do século XIX e início do

século XX, pela psicologia, como determinados conceitos de juventude, e isso

acaba por se tornar referência por meio de outras ciências modernas,

impetrando esse público como objeto de estudo.

Essa fase da juventude passa por um rearranjo de formas de

comportamento instável e rebelde e, na maioria das vezes, não compreensível

ao adulto e aos próprios jovens, mas, como mencionado, se trata de uma fase

que deve ser modificada para um estágio mais seguro, com uma identidade

mais solidificada, ou seja, em busca da almejada maturidade.

Esse questionamento é um pouco antigo e requer uma atenção

redobrada, no que se refere aos resultados. Espera-se muito e nada, ao

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mesmo tempo, dos adolescentes, por se tratar de uma fase de transição, mas

concomitantemente, talvez, não se crie condições necessárias para que os

jovens, dentro desse dinamismo, sejam contemplados em seus mais diversos

interesses e necessidades.

Lembrar que a “juventude” é um conceito construído histórica e culturalmente já é lugar-comum. As definições sobre “o que é ser jovem?”, “quem e até quando pode ser considerado jovem?” tem mudado no tempo e são sempre diferentes nas diversas culturas e espaços sociais. (NOVAES, 2006, p. 105).

A psicologia atual, junto com outras ciências, contribuiu com a análise

comportamental da juventude em relação à percepção e construção da

identidade juvenis, dentro de um contexto social e histórico, que requerem uma

devida atenção frente às definições de funções e de papéis da juventude em

detrimento a algumas formas de comportamento desviantes.

A sociedade capitalista industrial apresenta entre suas características

referentes à juventude, um caráter de vigilância e de disciplinaridade entre a

sua infância e a idade adulta, por outro lado, faz-se necessário falar da

juventude como um direito social. Essa fase de transição que requer alguns

cuidados e orientações específicas, deve ser garantida nesse período do

desenvolvimento humano. Para que se entenda o comportamento juvenil é

necessário que, acompanhado dessas relações, se compreenda o cenário

social, econômico e político.

Através de um cenário de grandes diferenciações e oportunidades, a

aplicação dos direitos nem sempre são compatíveis. Dentro da dinâmica

apresentada pela sociedade moderna, denota-se um discurso elaborado que

representa igualdade, mas que se traduz em grandes e significativas diferenças

sociais. A sociedade capitalista industrial organiza-se de forma a garantir uma

padronização da juventude e, sobretudo, no que implica aos direitos humanos.

Muito foi investido ao longo dos anos em áreas distintas da ciência com o

objetivo de entender o comportamento juvenil. Entendendo que esse espaço de

produção de conhecimento visava compreender valores considerados

incompatíveis com a sociedade moderna.

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Uma das características da modernidade foi a avaliar as diferentes faixas

etárias, que implica em estabelecer critérios científicos, jurídicos e criminais

para os estágios da vida, com a intenção de organização das idades. A

modernidade ocidental realizou uma crescente institucionalização do curso da

vida, cuja instituição e ação mais visíveis foram o Estado e a escolarização.

Dentro dessas mudanças, torna-se imprescindível não mencionar o aspecto

econômico, pois passa de uma economia familiar para uma economia de

mercado.

Através de novas aplicações e busca de compreensão cientifica das

idades a escola adentra como peça fundamental, uma vez que delimitam as

idades e os conteúdos programados sem levarem em consideração as

aptidões e competências individuais, dando ênfase à padronização das grades

curriculares. Essas fases de transição para a vida adulta são analisadas de

forma criteriosa. O século XIX criou um número maior de gradações na

passagem dos indivíduos para a fase adulta. Por outro lado, o século XX

oportuniza dar sequência no processo de gradação, estabelecendo, de forma

criteriosa, o tempo de transição da fase adulta, mas, no entanto, através da

necessidade da família.

Com efeito, a questão da inserção do jovem no mercado de trabalho é um dos mais frequentes motivos de conflitos entre pais e filhos, tanto nas famílias mais pobres quanto nas famílias de classe média. Hoje, nas relações familiares, a inserção no mundo do trabalho tem um peso semelhante ao que a questão sexual, sobretudo para as mulheres, obteve nas gerações passadas. Os conflitos que aumentam em casa são aqueles relacionados à área do trabalho, no presente ou no futuro. (NOVAES, 2006, p. 105).

As Instituições criadas nesse período preocupam-se em apresentar um

amparo aos indivíduos imaturos e diagnosticados em sua fragilidade ou em

instituições que visavam reforçar o potencial desses jovens tais como, as

instituições escolares, as ciências modernas, o direito, o Estado e o mundo do

trabalho industrial.

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Avaliar o mundo juvenil requer um cuidado especial devido à

complexidade do cenário em que ele está envolvido. Segundo Deleuze e

Guattari (2008) há duas formas de interpretação sobre a realidade que orienta

e distingue os jovens: “O espaço estriado e o espaço liso”. O espaço estriado é

configurado como espaço da ordem, do limite, das regras. Por outro lado, o

espaço liso representa o nomadismo, espaço de novas sensibilidades e

realidades (ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006).

Essa nova performance juvenil pode significar muita coisa, uma vez que,

no primeiro momento, essa transição ocorria em espaços rígidos e com

determinações e funcionalidades anteriores. Por outro lado, os novos perfis

juvenis nem sempre se enquadram na proposta cultural local, regional ou

nacional. As estruturas sociais são cada vez mais fluidas, por esse motivo os

jovens não conseguem estabelecer projetos bem fundamentados, isso

influencia a instabilidade, os projetos pouco duradouros, as incertezas, as

relações efêmeras, entre outros.

Segundo José Machado Pais (2006 apud ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006, p.

09)1, “[...] os jovens tendem a tudo relativizar: desde o valor dos diplomas até

as seguranças de emprego”. E essa postura tem uma razão de ser, pois o

diploma não é uma garantia de um bom emprego e, ao mesmo tempo, não

garante a certeza de uma estabilidade econômica. Outras relações são

também influenciadas por essa dinâmica social. As relações de namoro e

paquera são efêmeras, tornando-se muito comum iniciar e terminar um

relacionamento e na semana posterior desfilar com novos parceiros(as), sem

grandes cobranças e constrangimentos.

O destaque é dado aos jovens que aos finais de semana criam e recriam

possibilidades de passeio, aventuras que lhes garantam, entre os pares, um

certo destaque e apreciação. Quanto ao futuro e casamento, muitos se apoiam

na ideia de que uma vez que surjam as incompatibilidades, resta a alternativa

do divórcio.

1 José Machado Pais é um cientista social e professor universitário português. É graduado em

economia e doutor em sociologia pelo Instituto Universitário de Lisboa, onde leciona desde 1978 <https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Machado_Pais>.

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Os jovens enfrentam o grande desafio de pensar e sonhar o futuro, mas

isso não é garantia de algo concreto e sólido, pois ao mesmo tempo em que se

abrem sonhos e possibilidades, não há como prever ou garantir um cenário que

seja favorável às próprias aptidões e individualidades que os caracterizam.

Mencionar sobre projetos implica em, também, compartilhar lacunas que nem

sempre são preenchidas conforme se espera.

Entre alguns jovens surge, então, uma forte orientação em relação ao presente, já que o futuro fracassa em oferecer possibilidades de concretização das aspirações que em relação a ele se desenham. (ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006, p. 10).

Outrora era comum, através das gerações passadas, vislumbrar projetos

seguros e a longo prazo, ocorre que hoje há uma grande necessidade de

estabelecer elementos que correspondam de imediato nas relações. Dessa

forma, muitos jovens buscam alternativas de aventura que possam instigar os

desejos, através das excitações cotidianas, dos esportes radicais, do consumo

de drogas e de aventuras sexuais. Nestas aventuras celebram-se as

sensibilidades das culturas jovens (ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006).

Os recursos utilizados pela juventude são os mais diversos, muitas

vezes com o objetivo de transcender às situações habituais e monótonas nessa

fase. Parcela significativa de jovens considera o cenário cotidiano pouco

atrativo e monótono, no entanto, esses mesmos jovens sentem-se mais

atraídos a uma vida arriscada e perigosa, como se observa em algumas

declarações: “Gosto de me colocar a prova fazendo algumas coisas

arriscadas”; sou capaz de assumir riscos só para me divertir”, entre outras

declarações (ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006, p. 11). O correr o risco, dentro do

cenário juvenil, pode ter outras formas de interpretação, uma vez que a

transgressão torna-se parte de confrontos com a mesmice e com as formas de

relação padronizadas.

Pensar sobre o futuro é pensar sobre incertezas e riscos, que não são

compatíveis à própria idade. Desse modo, nesse cenário pode ser destacado o

“mundo virtual”, pois permite aos jovens e adolescentes a criação de um

espaço representativo em que não são passivos diante das situações, mas

interagem, opinam, socializam, desafiam-se mutuamente através dos jogos e

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criam uma identidade individual e coletiva, visto que, nesse espaço é permitido

a criação de grupos interativos e dinâmicos com identidades próprias. Talvez, o

grande desafio seja aliar as aventuras virtuais com as aspirações que se

traduzem na vida prática cotidiana.

Estas representações podem ser personificadas das mais diversas

formas, obtendo como representação alguns estilos musicais, como o rap, que

cultiva um estilo de denúncia contra as injustiças e desigualdades, através de

expressões e melodias que representam a voz coletiva. Algumas tribos

destacam-se pela ousadia em desafiar as regras e normas predeterminadas. O

espaço escolar, em muitos casos, é visto como espaço de concentração de

obrigações e deveres pouco atrativo aos jovens. Assim, uma forma de

compreender as tendências das novas gerações são as possibilidades criadas

de reconhecimento, participação, interação e de uma certa autonomia mediante

as diversas situações.

A busca pela identidade juvenil perpassa por uma análise social, cultural

e econômica que pode favorecer uma maior compreensão desse fenômeno e

de como se caracteriza em cada sociedade em que se encontra. A partir dessa

busca, observa-se que não se pode definir uma só forma de juventude, mas

sim, pensarmos em juventudes, para que possamos, diante de vários quadros

de análise, contribuir para um olhar mais amplo sobre as diversas formas de

caracterização, projeção e identidade juvenis.

Entre os destaques dessas informações, vale denotar a influência dos

grupos, a leitura e a interpretação da juventude no contexto atual, e de que

forma essa dinâmica social interfere e agrega na vida desse público.

No século XVI, esse era um critério de cunho científico e correspondia

também a um sentimento popular e comum de vida. Hoje em dia não

possuímos mais tal sentimento de vida: consideramos a vida como um

fenômeno biológico, como uma situação da sociedade. Segundo Sibioni:

[...] é a vida para exprimir ao mesmo tempo nossa resignação e nossa convicção de que existe, fora do biológico e do sociológico, algo que não tem nome, mas que nos comove, que procuramos nas notícias e nos jornais, ou sobre o qual podemos afirmar “isto tem vida”. A vida torna-se então, um

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drama, que nos faz transcender o tédio do cotidiano. (2002, p. 35).

Dentro do dinamismo contemporâneo, denota-se que não pode haver um

único modelo de juventude, pois as diferenças sociais e oportunidades de

acesso a uma qualidade de vida são questionáveis, o que implica em visões e

posturas diferentes das do jovem em relação ao seu entorno. Os desafios são

significativos, pois existem diversas rotulações, representações e imagens que

determinam o modo de ser do jovem, mesmo que essas apresentações não

compreenda todas as formas de manifestação juvenis.

A sociedade constrói uma imagem dos jovens, atribui a eles caráter e funções, impõe-lhes regras e valores e constata com angústia os elementos de desagregação associados a esse período de mudança, os elementos de conflito e as resistências, inseridos nos processos de integração e reprodução social. (LEVI, 1996, p. 34).

2.1 OS JOVENS DE HOJE, CONTEXTOS, DIFERENÇAS E TRAJETÓRIAS

OS JOVENS DE HOJE: MEDO DE SOBRAR, MEDO DE MORRER

Entre os maiores medos apontados estão a cultura da violência (medo

da morte) e as perspectivas referentes ao futuro no que tange à ênfase dada

por meio das relações midiáticas. Portanto, ao se tratar de futuro,

prioritariamente, adentra a discussão sobre as possibilidades reduzidas do

mercado de trabalho. O medo do futuro está muito relacionado também, a

antecipação da angústia de sobrar e não obter resultados que sejam

satisfatórios a uma vida com uma qualidade básica de existência (NOVAES,

2006, p. 110).

De acordo com Novaes, são muitos os medos nessa área: “medo de não

estudar e não conseguir emprego”, “medo de conseguir emprego e depois

perdê-lo” e “medo de ficar desempregado”. Vale ressaltar que essa

insegurança não se encontra reduzida a uma classe social, mas a todas elas.

O medo e a falta de uma perspectiva sólida para o futuro abrange vários níveis

sociais.

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Com esforço cheguei ao segundo grau completo... nós fomos ver um estágio, chegamos lá tinha advogado, psicólogo, tudo o que você possa imaginar... Aí a gente fala: Nossa! O que a gente está fazendo aqui? Me sinto perdida. Tenho medo do futuro (ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006, p. 110).

Dentro dessa dinâmica observa-se que o estudo aplicado não se torna

garantia da efetivação e inserção no mercado de trabalho, diferente das

gerações anteriores que criavam expectativas mais seguras em relação ao

futuro. Essa insegurança juvenil pode ser compreendida pela pouca mobilidade

social do país.

O medo da morte adentra à discussão juvenil, sobretudo os que

vivenciam as grandes metrópoles e acompanham os desafios urbanos de

relacionamento, de intolerância e os gargalos no trânsito, que provocam um

grande descompasso social. Mesmo aqueles que nunca sofreram de forma

direta a violência, temem a agressão, o assalto e a morte precoce.

Historicamente já fora demonstrado que falar da juventude sempre esteve

ligado à quebra de regras, aventuras e atividades mais ousadas, isso se atesta

porque teoricamente o jovem está mais distante da morte do que seus pares.

É interessante denotar que ao mesmo tempo em que há o

prolongamento da vida por meio de novas técnicas e investimentos na

medicina, paradoxalmente, por outro lado, existe a angústia da precocidade da

morte juvenil, como, por exemplo, através da violência urbana. Em entrevista

realizada com alguns jovens do Rio de Janeiro, fica evidente essa

vulnerabilidade por meio das seguintes declarações: “Eles têm medo de bala

perdida”, “da polícia”, do aumento da violência”, de o tráfico de drogas dominar

tudo”, “de ser preso sem motivo”, “de ser violentada”, “de tiro”, “de ser

espancada e enterrada viva”, “de violência e injustiça” (ALMEIDA; EUGÊNIO,

2006, p. 111).

Como se pode observar, os dramas sociais impactam de forma

significativa as relações entre os jovens e, consequentemente, suas

perspectivas. Não se pode pensar nas dificuldades inerentes aos jovens sem

antes conhecer o contexto ao qual estão inseridos.

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2.2 FABRICAÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE

DESAFIOS DOS PROJETOS JUVENIS

Pensar nos grandes desafios aos quais os jovens estão envolvidos

requer uma atenção redobrada em vários sentidos e aspectos sociais. As

perspectivas quanto ao futuro mudaram de forma substancial, de modo que

algumas décadas atrás, observava-se que os planos relacionados ao futuro

encontravam-se bem determinados, de forma antecipada sabia-se a ocupação

exercida por cada um e com quem se uniriam através do matrimônio. No que

se refere à formação da família, segundo dados apresentados por Damon

(2009, p. 23) uma grande parcela está rejeitando ou adiando o casamento.

Por outro lado, alguns jovens saúdam essas transformações e

conseguem detectar nelas, reais e plausíveis possibilidades, pois, traz em si a

ambição, o desejo de conquistar o espaço, de alguma forma se sentir útil e

desenvolver com eficácia seu projeto vital. Mas nem todos se enquadram

nessa dinâmica. Diante das múltiplas escolhas que devem ser feitas, sentem-

se pressionados sobre as importantes decisões que serão necessárias à vida

adulta.

A falta de comprometimento quanto ao futuro abrange vários fatores,

entre eles estão a insegurança e a falta de planejamento que solidifique seus

projetos, sonhos e perspectivas. Segundo Damon “[...] grande parcela dos

jovens de hoje hesita em se comprometer com quaisquer papéis que definam a

vida adulta, como o de pai, trabalhadores, cônjuges ou cidadãos” (2009, p. 23).

Esse adiamento para cumprimento de responsabilidades tem sido observado

em vários países, como os Estados Unidos e Japão por exemplo, em que se

constata que “jovens” com a idade média de 30 anos, ainda residem com os

pais, sem estarem casados e, em alguns casos, desempregados.

Entre os milhões de punidos, há centenas de milhares de jovens que acreditavam, ou não tinham escolha senão comportar-se como se acreditassem, que o espaço no topo é ilimitado, que só precisam de um diploma universitário para ali entrar; e que, uma vez lá dentro, o pagamento dos empréstimos tomados ao longo do percurso seria ridiculamente

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fácil, considerando-se a nova credibilidade creditícia que acompanha esse endereço privilegiado. Agora se defrontam, como única alternativa, com a expectativa de preencher inumeráveis propostas de emprego infinitamente longo; e com a aceitação de serviços precários e sem futuro, quilômetros abaixo do topo. (BAUMAN, 2013a, p. 42).

Esse desconforto concernente ao futuro gera grandes preocupações em

pais e educadores, pois sentem a necessidade de orientar positivamente os

jovens, no entanto, sem descuidarem dos desafios presentes na atualidade.

Mediante esse cenário desconfortável, alguns pais até ironizam o momento,

classificando-o como “bumerangue”, ou seja, os filhos saem de casa por um

espaço de tempo, muitas vezes breve, e logo retornam à origem, justamente

pela velocidade e necessidade de adequação ao mercado, nem sempre

compatíveis a todo público juvenil. Há um lado positivo, esse prolongamento

por parte de alguns jovens, pois, em um primeiro momento, denota-se uma

maior proximidade e abertura para temas diversos, diferente das gerações

anteriores.

Se não gostamos de um emprego, abandonamos, porque o pior que pode acontecer é voltarmos a morar com os pais. Não há estigma [...], nada daria mais prazer às nossas mães do que preparar nosso prato preferido. Outra jovem adulta, de 24 anos, concorda: Creio que os pais precisam se sentir necessários, e é por isso que, sendo eu muito independente, eles ficam tão animados quando peço um favor. (DAMON, 2009, p. 26).

Por parte de alguns pais, parece ser muito interessante os filhos

estarem de alguma forma próximos a eles, no entanto, de ambas as partes há

o desejo de uma certa independência natural inserida nesse processo de

maturação, que está inerente à dinâmica existencial. Segundo Wiliam Damon

apresenta na referida citação, baseado em algumas teorias, esse período

transitório da puberdade finaliza-se com a fase de comprometimento com os

papéis sociais adultos, de pais, cônjuges, trabalhadores e cidadãos.

Dentro desse período de transição, torna-se imprescindível uma

orientação por parte de pais e educadores com o intuito de alargar o

discernimento e as possibilidades da vida futura para os jovens.

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A reflexão feita pelos jovens não está se estendendo a decisões que os

mobilizem em prol de suas perspectivas, pois, a indecisão e a confusão entram

em disputa com os objetivos mais claros, ou seja, o que prevalece é a

ambivalência comparada à determinação. O processo de maturação e o

prolongamento da fase de decisões não devem ser entendidos de forma

negativa, no entanto, deve-se articular ou criar elementos que contribuam para

essa fase considerada de suma importância para os adventos futuros.

Devido ao número de informações, os jovens possuem consciência de

que terão a necessidade de realizar essa transição, contudo, podem surgir dois

tipos de sentimentos, o de incapacidade e ansiedade mediante os desafios ou

de tentativa de superação e êxito em suas escolhas. Como notado por Wiliam

Damon2, após quase uma década estudando o comportamento juvenil, há uma

significativa diferença entre os jovens que possuem um projeto vital e os que

não o possui. Aqueles que mesmo prematuramente demonstram um desejo por

uma determinada profissão e se projetam nela, desafiam-se mais, e

experienciam outras coisas. Por outro lado, os jovens que não possuem ao

menos um ideal de vida, sentem-se em zigue-zague, possuem muitas

dificuldades e não evoluem o que poderiam evoluir.

As expectativas e atitudes com relação ao trabalho, emprego e desemprego são dimensão privilegiada para aprender a crise e a mutação das referências culturais entre os jovens. O modelo cultural da sociedade industrial se caracteriza pela centralidade da ética do trabalho. Além disso, o mercado de trabalho é o campo que exerce mais diretamente as coerções materiais e simbólicas da competição. Examinando os “modos de gestão de si”, pudemos constatar que para numerosos jovens, a experiência ou inexperiência do mercado de trabalho constitui momento decisivo da sua redefinição identitária. Aliás caracteriza-se o modelo central de trabalho da sociedade industrial, a ética do rendimento que está no cerne desse modelo. (BAJOIT; FRANSSEN, 2007, p. 93).

2 Nascido em Brockton, Massachusetts é professor de Educação da Stanford Graduate School

of Education, Diretor do Centro de Stanford da Adolescência, e pesquisador sênior da Universidade de Stanford's Hoover Institution da Guerra, Revolução e Paz. Ele é um dos principais pesquisadores do mundo sobre o desenvolvimento de propósito na vida, e autor do livro amplamente influente The Path to Purpose <http://www.wikipeetia.org/Wiliam_Damon>.

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Seligman3 chama de “felicidade autêntica aquela que supera a

superficialidade das relações e requerem um algo mais, superando o

hedonismo e as formas de prazer individualistas” (2002 apud DAMON, 2009, p.

31). Essa falta de perspectiva pode resultar em lacunas de ideias, justamente

por não superarem alguns desafios que lhes são propostos e que dificultam um

processo natural de maturação. Desesperam-se na falta de sentido de suas

atividades diárias.

Outro ponto que pode e deve ser observado são as condições de

reflexão e aprofundamento que os pais podem oferecer, ao mostrar o cenário

em que os jovens poderão atuar. No entanto, isso requer uma estrutura

psíquica, emocional, de leitura e de discernimento de mundo que favoreça as

melhores condições de desenvolvimento para os jovens. Mas, sabe-se que se

trata de um grupo específico de jovens, com condição financeira diferente.

Por trás de muitas escolhas, também podemos denotar a influência

exercida pelos pais para determinada profissão, em que alguns casos não

correspondem ao anseio de futuro do próprio filho. Isso pode gerar um

desgaste significativo na postura do filho, uma vez que, ele não consegue se

projetar nas escolhas antecipadas de seus pais.

Esse é um tema de extrema relevância para a compreensão das atitudes

juvenis, visto que alguns estudos evidenciam os resultados não satisfatórios de

jovens que se encontram profundamente magoados por não encontrarem

respostas para si mesmos e, por este motivo, são vitimados por algumas

doenças, tais como: “perturbação do sono, distúrbios alimentares, raiva

incontrolável, isolamento social, disfunção sexual, abuso de drogas, entre

outros” (DAMON, 2009, p. 34).

Em uma crônica realizada pelo jornal The New York Times, uma autora

de livros sobre educação, “Laura Pappano” (2007 apud DAMON, 2009, p. 35),

descreve que denominaram um grupo de adolescentes do Ensino Médio de os

“incríveis”, que experienciaram vários desafios interessantes e que ao

chegarem na universidade, sentiram-se frustrados com os poucos estímulos

3 Martin Seligman nascido em 12 de agosto de 1942, é psicólogo estadunidense, professor da

Universidade da Pensilvânia, Ex-Presidente da Associação Americana de Psicologia e autor de contribuição significativa na área de psicologia positiva.

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presentes na vida universitária, desmotivando-os a criarem novas perspectivas

e ideais. “Um estudante do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)

reage a isso gastando seu tempo com polo aquático, frisbee, surfe e tevê.”

(DAMON, 2009, p. 35).

Um retrato desse perfil de estudantes pode ser compreendido pelo fato

de que alguns desses jovens são desafiados de forma considerável no período

de formação escolar, de modo que um dos dilemas é manter o desafio em fase

crescente, com o intuito de explorar ao máximo as habilidades e

potencialidades. A falta de estímulos na vida universitária pode estar

camuflando algo anterior. De acordo com estes dados, entende-se que há uma

necessidade de gerar elementos para a criação de projetos vitais para os

estudantes, pois, uma vez que se encontram inseridos em seus sonhos e

objetivos maiores, a universidade passa a ser uma oportunidade eficaz para a

realização de suas metas.

A falta de oportunizar projetos e atividades relacionados ao futuro,

dificulta o sentido mais pleno de pertencimento a algum projeto, resultando em

um grupo de jovens que parece caminhar sem um projeto definido e, muitas

vezes, apresentando comportamentos autodestrutivos. Dados de 2004, do

Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, apontam

que há um grande número de suicídios entre jovens e que este número

aumentou em 8%, o que representa o maior número em mais de quinze anos.

Alguns coordenadores da área acadêmica, atribuem esse fato, parcialmente,

ao excessivo número de trabalhos que os estudantes são responsáveis por

administrar.

A tematização da juventude pela ótica do “problema social” é histórica e já foi assinalada por muitos autores: a juventude só se torna um objeto de atenção quando representa ameaça de ruptura com a continuidade social: ameaça para si própria ou para a sociedade. Seja porque o indivíduo jovem se desvia do seu caminho em direção à integração social por problemas localizados no próprio indivíduo ou nas instituições encarregadas de sua socialização ou ainda por anomalia do próprio sistema social, seja porque um grupo ou movimento juvenil propõe ou produz transformações na ordem social ou

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ainda porque uma geração ameace romper com a transmissão da herança cultural. (ABRAMO, 2005, p. 79).

Para essa mesma análise, há outros pontos de vista que devem ser

levados em consideração, ao defenderem que o número excessivo de

atividades não é o responsável pelo número excessivo de jovens estressados,

pois as atividades devem contribuir para o crescimento e desenvolvimento das

aptidões e habilidades mediante alguns desafios propostos.

Segundo os especialistas Schneider e Stevenson (2000 apud DAMON,

2009, p. 36), os meios de comunicação e o senso comum, muitas vezes

apontam os jovens como hedonistas, que só querem curtir, no entanto,

observa-se que muitos possuem ambições. Talvez, o que falta é o

direcionamento necessário para as chances reais de desenvolvimento e

aplicação desses sonhos iniciais se concretizarem. A carência dessas

perspectivas reduz os sonhos e acaba por deixar os estudantes alienados, sem

uma leitura de mundo que favoreça um direcionamento de seus objetivos.

Um documentário de 2005 (Public Broadcasting Service) Declinig by degrees, mostra a desilusão e o ócio difundido hoje entre os estudantes das universidades. O documentário exibe estudantes dormindo durante as aulas, gazeteando, indo às festas várias noites na semana, e em muitos casos, levando os quatro anos de “estudo” da faculdade na base do álcool. (DAMON, 2009, p. 37).

O documentário teve a intenção de evidenciar de forma crítica a prática

do cotidiano universitário (faixa etária de 18 a 24 anos), e os resultados foram

surpreendentes. Os jovens assistidos demonstraram simpatia e resultados

satisfatórios nas avaliações, mesmo aqueles que não se dedicavam

habitualmente, ou raramente abriam o livro, mantinham resultados medianos. E

não se trata de um público qualquer, mas de jovens com possibilidades

econômicas e sociais elevadas, que poderiam se considerar privilegiados

mediante às possibilidades reais de realização de seus projetos. No entanto,

um dos maiores desafios refere-se à lacuna de projetos vitais.

A juventude é colocada hoje, em grande parte, como um mito. A

valorização e mitização dos padrões dos comportamentos tidos como típicos

do grupo juvenil são uma característica do mundo ocidental moderno (ANJOS,

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1999). As experiências adquiridas pelos jovens através da interação social é

quem determinará a performance ou as próprias escolhas que posteriormente

definirão suas respectivas vidas. Por esse e outros motivos, uma definição

quantitativa dessa faixa etária pode trazer um percentual negativo significativo,

pois, não é possível abarcar todas as variáveis que esse público destaca.

A caracterização da juventude se estabelece através das diversas

formas de relacionamento no trabalho, na escola e no ambiente familiar.

Através desse cenário há de gerar um nível maior de maturidade que deve se

estender até a fase adulta. No continente ocidental, criou-se uma separação

entre a fase inicial da infância e a fase adulta. Outrora, na época medieval, não

havia a separação entre as faixas etárias (passagem da infância à vida adulta).

Dentro desse contexto juvenil, denota-se padrões ou rótulos que

determinam ou caracterizam a forma de ser jovem, através dos vestuários, das

linguagens e dos grupos, podendo ser acrescentado hoje, o uso das novas

tecnologias de comunicação, que permitem a navegação através das redes

sociais que favorecem ou dinamizam grupos de interação e de linguagem

virtual. Dentro do contexto brasileiro, mais do que de uma inserção profissional,

há o desafio da mobilidade das estruturas sociais, que pode, a curto ou longo

prazo, incluir os jovens nessa peregrinação rumo à maturidade pessoal e

espiritual, ou retirar deles, a capacidade de mobilização de inclusão no cenário

social, educacional e econômico.

[...] a juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atribuídos. (GROPPO, 2000, p. 7-8).

A formatação do que é ser jovem perpassa pelo processo de

identificação e pertencimento a um grupo ou grupos sociais, mas para essa

inserção são necessários vários elementos, entre eles a capacitação escolar,

uma mobilidade urbana que favoreça o deslocamento para as regiões centrais,

onde se concentra a fluidez econômica. O processo de automação favorece

alguns aspectos sociais, mas, por outro lado, pode ser um demarcador da

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exclusão de um público juvenil abdicado de oportunidades que proporcionem

uma participação concreta no mercado e em seus benefícios.

Os padrões culturais estabelecidos previamente pela sociedade moderna

induzem a juventude a buscar se enquadrar nas propostas com a intenção de

se adaptar às condições propostas. A educação deve contribuir com a

capacidade de leitura do mundo e de consciência do meio em que se encontra,

de modo que a juventude sinta-se parte do cenário cultural, econômico e

político em que se encontra.

A educação, e particularmente a escola, devem levar os educandos a se tornarem cidadãos conscientes e críticos. Embora seja esse o objetivo, raramente o vemos concretizado. As dificuldades econômicas e sociais que provocam ruptura na história de um jovem, tornam maiores as dificuldades com relação a sua inserção na escola. (MARTINS, 2005, p. 40).

A partir dessas informações, denota-se que há uma grande dificuldade

dentro desse panorama cultural que traz algumas prerrogativas, tais como,

visões apresentadas pelos diversos veículos de comunicação, onde se destaca

a presença juvenil como uma das responsáveis pela indiferença política,

violência, expansão das drogas, hedonismo, desinteresse pelas questões

públicas, entre outras atribuições negativas.

2.3 O CONCEITO DE JOVEM A PARTIR DO MODELO ECONÔMICO

JOVENS SEM COMPROMISSO?

A apatia dos jovens e o pouco envolvimento recorrente nas dimensões

sociais envolvem um olhar mais apurado sobre a realidade. Kenneth Keniston

(1965 apud DAMON, 2009, p. 38)4, no ano de 1965, escreveu sobre um grupo

de estudantes da Harvard University, dos Estados Unidos, que se demonstrava

indiferente às questões sociais, políticas e econômicas do momento vigente.

Mas, segundo Keniston, a alienação desse grupo era fruto da própria ideologia

do grupo, que escolheu permanecer sem compromisso.

4 Kenneth Keniston Andrew W. Mellon é Professor Emérito da cátedra de Desenvolvimento

Humano, do Programa de Ciência, Tecnologia e Sociedade do Instituto de Tecnologia de Massachusetts <http://web.mit.edu/sts/people/keniston.html>.

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Diferente de outras décadas, em que mediante uma ação de indiferença

era monitorada por elementos ideológicos que pareciam sustentar a ação, os

níveis de descomprometimento não estão relacionados a uma ideologia

específica, como outrora, mas no que se refere a uma lacuna. Não se trata de

uma revolta ou rejeição de algo, e sim, na verdade, trata-se de uma ausência

de algo, ou seja, uma espécie de espaço lacunar.

O público juvenil requer uma atenção especial, ele deve ser dignamente

observado, visto que, essa falta de motivação e de determinação por algo, fora

entendido por alguns especialistas como Jeffrey Arnett (2004), que, em seu

livro “O despertar do adulto”, a denomina de revolução silenciosa. Uma vez que

os comprometimentos não se adequam a essa realidade, esse fenômeno

passa a integrar um estágio chamado de adolescência prolongada (Apud

DAMON, 2009, p. 39)5. E esse prolongamento da fase juvenil é visto de forma

positiva, porque entende-se que essa prorrogação do “adolescente adulto”

permite aos mesmos um amadurecimento dos seus próprios projetos de acordo

com suas potencialidades e talentos.

Segundo Arnett, ao interpretar o cotidiano dos jovens norte-americanos,

“[...] ser jovem é experimentar entusiasmo quanto incertezas, possibilidades mil

e confusão, novas liberdades e novos medos” (2004 apud DAMON, 2009, p.

39). No entanto, um determinado otimismo referente ao futuro, infelizmente não

pode ser aplicado a todos os jovens, há uma parcela considerável que não está

inserida numa perspectiva razoavelmente qualitativa.

Esse alto nível de expectativa contribui para um amadurecimento na vida

dos jovens, levando-os a progredir em diversas dimensões, referentes tanto ao

público que tem condições financeiras privilegiadas quanto ao que não tem.

Denota-se, de certa forma, grandes expectativas, com a premente necessidade

de orientação, de reflexão e de que se criem condições para que se efetive os

seus projetos.

5 Jeffrey Jensen Arnett recebeu seu PhD da Universidade de Virgínia, e fez três anos de

trabalho de pós-doutorado na Universidade de Chicago. A partir de 1992-1998 foi Professor Associado do Departamento de Desenvolvimento Humano e Estudos da Família na Universidade de Missouri. Ele tem sido Visiting Scholar na Universidade de Stanford e na Universidade de Maryland <http://www.jeffreyarnett.com/about.htm>.

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A juventude moderna apresenta marcas do período pós-guerra, entre as

quais se destaca as figuras de guerras, referências de soldados combatentes

que trocavam a vida segura pela defesa da pátria e o bem-estar da nação.

Esse fato forçou o estabelecimento de novos paradigmas que reforçassem

outras ideologias para as novas gerações, principalmente diante das

transformações econômicas e políticas presentes. Os elementos novos criados

foram totalmente integrados ao meio social sob a forma de inovações no

vestuário, na música, nos hábitos e no linguajar (CAZZAROTTO, 1985).

Ao invés da ideologia voltada para a defesa da pátria, modifica-se a

dinâmica, direcionando-a para uma cultura da moda, com destaque para as

vestes que caracterizavam um novo jeito de ser jovem, ou seja, há um

deslocamento de um período de angústia absorvido pelas grandes guerras,

para um cenário voltado à música e às linguagens e tendências focadas nesse

público. Essa dinâmica de consumo caracteriza uma forma de ser jovem, uma

vez que alguns objetos tornam-se referência, tais como um determinado tênis,

ou o vestuário que se mostra como destaque de uma determinada marca,

acolhida e apresentada ao público como padrão de descolamento ou

elegância.

Somente a partir dos meados do século XX a juventude passa a se constituir como um problema para a sociedade. Sua presença inicial como categoria social vai surgir na Europa por meio de movimentos de jovens delinquentes, contestadores, excêntricos, que se rebelavam contra a ordem estabelecida, pela música, arte, nos modos de vida (SIBIONI, 2002, p. 57).

No contexto da América Latina, devido às mudanças no sistema

econômico, a década de 1960 corrobora para que a juventude crie

mobilizações contrárias ao modelo vigente e organize grupos para mediar

manifestações e críticas, com o objetivo de transformar o cenário em que se

encontrava. As classificações proporcionadas à juventude não ocorrem de

forma neutra, pois, os jovens, através dos diversos veículos de comunicação

que contemplam a modernidade, ao receberem as informações, podem criar

condições ou não para seguir as tendências, no entanto, isso pode variar muito

em relação aos diversos grupos existentes.

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A juventude possui um encanto muito grande pelas imagens

preestabelecidas pelos meios de comunicação. Há uma supervalorização na

sociedade moderna por uma “cultura do rejuvenescimento”, nesse sentido,

destaca-se todos os elementos que conferem vigor e vitalidade. Com essa

cultura preponderante, torna-se necessário, por meio dos valores educacionais,

reforçar entre os jovens para que não se esqueçam da dimensão histórica e

dos valores transmitidos entre as gerações, como patrimônio e preservação de

uma história bem fundamentada, com o intuito de estabelecer um futuro

próspero. Sem a visualização do passado, torna-se vazia toda espécie de

projeção futura.

Através de uma transição idealizada pela cultura moderna, o jovem

possui uma tendência a se questionar sobre valores e, ao mesmo tempo,

estabelecer conexões sobre o que se pretende a longo prazo. Sem um

discernimento e entendimento do passado histórico, há um enfraquecimento

natural de sua raiz, o que pode impedir que ele trace planos mais bem

fundamentados.

De um modo geral, pode-se dizer que a “juventude” tem estado presente, tanto na opinião pública como no pensamento acadêmico, como uma categoria propícia para simbolizar os dilemas da contemporaneidade. A juventude vista como categoria geracional que substitui a atual, aparece como retrato projetivo da sociedade. Nesse sentido, condensa as angústias, os medos, assim como as esperanças, em relação às tendências sociais percebidas no presente e aos rumos que essas tendências imprimem para a conformação social futura. (ABRAMO, 2005, p. 79).

O processo de transição de uma cultura familiar para o que o autor

Eisenstadt define como sociedade universalista, pode gerar um grande

impacto, pois, a seu ver:

[...] na cultura familiar, há o aspecto solidário típico do sistema de parentesco, e na sociedade universalista não há

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recompensas aos detentores dos papéis distribuídos”. A convivência entre indivíduos da mesma idade, na transição das relações determinadas pelo parentesco às relações dadas pela solidariedade global, supre as tensões dessa passagem. (Apud GROPPO, 2000, p. 39).

A indústria cultural apresenta uma nova performance com espaços de

lazer, cultura e entretenimento que acompanham a passagem do século XIX ao

XX. A cultura de massa supervaloriza o lazer e o consumo, e se tornam

essenciais para a vida em uma nova sociedade, direcionando assim, as

pessoas ao consumo, ao qual se determina uma nova perspectiva social.

Desse modo, evidencia-se ou aproxima-se de espaços sociais que

correspondam a alguns anseios juvenis e completem algumas lacunas que

separam os jovens do mundo adulto.

A cultura de massa é um dos principais instrumentos para a manutenção do sistema capitalista. Ela seria responsável por aprofundar a falta de autonomia da razão, influenciando o pensamento das pessoas com ideias, preconceitos, valores, desejos e comportamentos que garantiriam a hegemonia do sistema econômico vigente [...] (MELANI, 2014, p. 51).

As escolas favoreceram uma formação que se adequasse a um

polimento da moral, inserindo a educação como foco principal. Contudo, a

modernidade trouxe novos questionamentos sobre a juventude, que começou a

ser considerada uma fase perigosa, digna de ser avaliada, vigiada e

controlada.

Esse novo olhar permite entender que, em determinadas épocas, cada

indivíduo passará por algumas mudanças biológicas, psicológicas e sociais,

principalmente com as contribuições das ciências modernas. Dentro dessa

dinâmica, o jovem passará por uma fase de aprimoramento na socialização e

ao mesmo tempo será instigado a maturação, adaptando-se, dessa forma, a

um convívio integrado na sociedade moderna.

Mas se a sociedade moderna é igualitária, na realidade das relações sociais, da distribuição geopolítica de forças, da divisão internacional do trabalho, das diferenças da cultura, etnia, gênero, etc., ela é desigual e diferenciada. (GROPPO, 2000, p. 72-73).

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Entre alguns jovens surge, então, uma forte orientação em relação ao

presente, ou seja, as relações podem ser efêmeras e imediatas, uma vez que o

futuro fracassa em oferecer possibilidades de concretização das aspirações

que se desenham para eles.

Ao privilegiar o foco de nossa atenção sobre os jovens como emblemas dos problemas sociais, muitas vezes não conseguimos enxergá-los e entendê-los propriamente; e, como consequência, nos livrar de uma postura de desqualificação da sua atuação como sujeitos (ABRAMO, 2005, p. 89).

2.4 QUAL É A IMPORTÂNCIA DE UM PROJETO VITAL PARA A VIDA DOS

JOVENS?

Os projetos vitais não se limitam apenas a um “projeto isolado”, sua

configuração tem uma representação muito expressiva pessoal e socialmente.

O cenário atual possui grandes desafios a serem superados, nesse sentido,

nada como ter jovens com projetos que vislumbrem novas possibilidades para

o bem comum.

Dentro desse quadro, vale ressaltar que um projeto vital pressupõe um

questionamento sobre as questões mais sólidas, como os interesses pessoais

e a importância de uma escolha, ou seja, o despertar de uma razão mais

profunda para os objetivos e motivos imediatos que orientam a vida cotidiana.

Desejos de curto prazo vêm e vão. Um jovem pode desejar uma boa nota em uma prova, uma namorada, o mais recente Playstation do mercado, uma oportunidade no time de basquete ou entrar em uma faculdade prestigiada. Todos esses são desejos, refletem objetivos imediatos que podem ou não ter significado em longo prazo. Um projeto vital, ao contrário, é um fim em si mesmo. (DAMON, 2009, p. 43).

Um projeto vital pode ser alterado ao longo de alguns anos, mas,

normalmente duram o suficiente para a efetivação de atividades sustentadas e

bem orientadas, ou seja, não se prende ao superficial, mas, organiza-se de

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forma crescente. Um propósito pode organizar uma vida inteira, concedendo-

lhe não apenas significado, mas também, inspiração e motivação para o

aprendizado contínuo e para a sua realização pessoal.

2.5 CULTURA DE PROJETOS VITAIS

Essa busca por um projeto vital para os jovens requer muitos fatores,

dentre eles, o apoio familiar, os próprios interesses pessoais, além da forte

influência do contexto cultural em que estão inseridos. As decisões para

projetos nesse nível perpassam, necessariamente, por uma decisão interior,

que irá refletir na vida coletiva. Os adultos que estão inseridos nessa dinâmica

juvenil, também padecem, pois, as orientações preestabelecidas não garantem

que os jovens seguirão a risco os conselhos e determinações.

A qualidade é fundamental para o desenvolvimento desses jovens, mas

a sociedade exerce uma influência significativa sobre as decisões e escolhas.

O entorno deve ser favorável, ou seja, ele deve contribuir para o entusiasmo,

para a esperança e para as necessidades que são inerentes a projetos que

sejam significativos para a vida dos jovens.

Nem todos têm a mesma oportunidade, isso requer um olhar

diferenciado sobre os mesmos. Para o desenvolvimento de projetos vitais é

imprescindível que os jovens sejam acompanhados, orientados e que se crie

condições reais para que se expandam em suas metas e objetivos. Sabe-se

que em sociedades diferentes há um número significativo de jovens que não

tem pais, ou que não possui apoio dos pais, e que se encontra em situações

que significam mais o aspecto da sobrevivência do que o contrário.

Entre alguns jovens surge, então, uma forte orientação em relação ao presente, já que o futuro fracassa em oferecer possibilidades de concretização de aspirações que em relação a ele se desenham. Nestes casos, os projetos de futuro encontram-se relativamente ausentes. Ou, existindo, são de curto prazo. O importante é viver o dia-a-dia. (PAIS, 2006, p. 10).

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Um dos grandes problemas consiste em relacionar a não elaboração de

projetos consistentes em retornos negativos para a própria sociedade, ou seja,

o investimento inadequado na própria estrutura jovem impede avanços e ao

mesmo tempo, prejudica o bom convívio e empreendimentos sociais. Além dos

projetos governamentais, estaduais e municipais, é imprescindível a

fomentação de profissionais que orientem e apoiem a vida dos jovens e de

suas respectivas famílias.

Dentro dos projetos que intermediam a vida da juventude, não pode

deixar de ser mencionado o aspecto da infância e quais são os elementos

utilizados para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. A sociedade

em que a criança está inserida transmite mensagens que contribuem para a

internalização de valores e de motivações para determinados fins.

O olhar para as crianças deve ser cuidadosamente feito, pois, tem sido

muito comum as mensagens que incidem mais no aspecto negativo do que no

positivo. Por outro lado, há que se ter cuidado com a chamada superproteção

por parte de pais e educadores, visto que, corre-se mais risco de treinamento

para o isolamento de conflitos do que para o enfrentamento. Uma certa

pesquisa, realizada nos Estados Unidos, em 2007, apontava que quase todos

os brinquedos perigosos foram retirados dos parquinhos, e brincadeiras como

pega-pega e queimada foram retiradas, pois eram consideradas prejudiciais.

O grande problema dessa postura é a seguinte: denota-se um número

cada vez maior de antecipações de patologias infantis, que devem ser

valorizadas, mas, também devemos entender até que ponto essas lacunas

estão sendo bem interpretadas e compreendidas de forma adequada. O rótulo

de incapaz, por si só pode se tornar uma profecia, uma vez que as crianças

têm aguda consciência de como são avaliadas, e baseiam sua autoimagem,

em grande parte, pelo que os outros enxergam nelas.

Não se deve desmotivar as crianças diante dos desafios que serão

necessários encarar, pois, como são muito perspicazes, podem interpretar ou

internalizar na própria existência o sentimento de incapacidade e ineficácia.

Quanto mais se proporciona espaço para as crianças, mais condições estamos

dando para que ela acredite em si mesma e potencialize suas ações. Essa

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referência à fase infantil é fundamental para que fique evidente que ao se tratar

de adolescentes e jovens em seus projetos vitais, torna-se imprescindível falar

sobre a estrutura que precede a formação, ou seja, quais elementos e quais

instrumentos estão sendo desenvolvidos para que os jovens se desenvolvam

com um olhar positivo sobre si mesmos e sintam-se parte importante do

processo de maturação cidadã a qual são chamados. No capítulo seguinte,

pretende-se destacar o Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de

Campinas-SP, através da análise da sua proposta pedagógica, metodológica e

de que forma oportunizar, através do “Programa de Bolsas de Estudo”, a

inserção de adolescentes advindos sobretudo das regiões mais vulneráveis de

Campinas.

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3 COLÉGIO LICEU SALESIANO NOSSA SENHORA AUXILIADORA DE

CAMPINAS-SP

O colégio Liceu tornou-se símbolo da educação escolar em Campinas.

Há 115 anos esta Instituição vem se transformando, caminhando lado a lado

com a evolução dos métodos de ensino-aprendizagem. Esse olhar diferenciado

é herança de Dom Bosco, que semeou caridade, simplicidade, entusiasmo,

motivação, respeito, diálogo e, principalmente, amor. Devido à importância

desses 115 anos de história, marcados pela sabedoria de Dom Bosco, será

realizado um concurso entre os educandos desta escola, para que se conheça

mais profundamente a trajetória desse monumento do saber. A seguir, há

alguns trechos de textos retirados do livro “Arcadas do tempo: o Liceu tece 100

anos de história”, que compõem uma coletânea que servirá de base para a

produção textual.

3.1 DOM BOSCO

Conhecido como “santo dos jovens”, São João Bosco, Dom Bosco,

nasceu no dia 16 de agosto de 1815, no pequeno vilarejo dos “Becchi”, no

Piemonte, Norte da Itália. Ficou órfão de pai aos dois anos de idade, sendo,

portanto, criado por sua mãe, Margarida Occhiena. Aos nove anos teve um

sonho, que guiou toda uma trajetória da sua vida: cuidar da juventude

Centro Cultural Fonte: Milena Quilici Masson

Entrada central do Colégio Fonte: Milena Quilici Masson

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abandonada e pobre. Nascido na roça, foi estudar na cidade e para se

sustentar trabalhou como carpinteiro, alfaiate, ferreiro e garçom.

O tempo passou, e vendo a cidade cheia de crianças que hoje

denominamos em situação de risco, decidiu se dedicar a elas. Em 1841, foi

ordenado padre e começou a reuni-las aos domingos para instruí-las. Cinco

anos depois, mesmo com enormes dificuldades, conseguiu abrir o seu primeiro

Oratório, na periferia de Valdocco. Lá, os meninos tinham alojamento, recebiam

comida e afeto, estudavam e aprendiam uma profissão. Em 1859, com os

religiosos e educadores que atuavam no Oratório, fundou a Sociedade de São

Francisco de Sales, a Congregação Salesiana. Posteriormente, em 1872, junto

com Maria Domingas Mazzarello (Santa Maria Mazzarello), criou o Instituto das

Filhas de Maria Auxiliadora e, em 1869, fundou a Associação dos Salesianos

Cooperadores.

Dom Bosco é um santo considerado patrimônio da educação, e o

Sistema Preventivo pode ser aplicado a todas as situações educativas que

envolvam crianças e jovens. O carisma salesiano presente nas escolas,

paróquias, obras sociais, oratórios, universidades, cujo projeto educacional

adota o Sistema Preventivo de Dom Bosco, está presente mesmo em países

de culto não católico, como regiões da Ásia, entre elas o Oriente Médio.

3.2 SALESIANOS NO BRASIL

A Congregação Salesiana está presente no Brasil há 126 anos. Sua

chegada é decorrente da imigração italiana, que teve o intuito de atender aos

filhos dos imigrantes que se instalavam no país. Como o carisma salesiano é

totalmente voltado à educação, os imigrantes queriam garantir que a educação

de seus filhos pudesse manter o mesmo padrão que tinha na Itália, e assim, a

cidade de Niterói-RJ foi a primeira a instituir um Colégio Salesiano, àquela

época, no modelo de internato. Hoje, o carisma salesiano está em todo o

território nacional, sendo que suas principais escolas formam a Rede Salesiana

de Escolas (RSE), com mais de 100 estabelecimentos e cerca de 80 mil

alunos. Também há a Rede Salesiana de Ação Social (RESAS), obra social

salesiana que atende mais de um milhão de crianças e jovens em situação de

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vulnerabilidade no país. As obras salesianas contam com parcerias privadas e

públicas e anualmente colocam no mercado de trabalho mais de 300 mil jovens

que cursam o ensino profissionalizante.

Dom Bosco foi um homem visionário, grande articulador político e

religioso e sempre trabalhou em prol da juventude. Chegou a profetizar o

surgimento de uma grande cidade (Brasília), onde há um santuário dedicado ao

santo. Sua profecia chegou a detalhes do lugar onde seria construída, inclusive

com precisão de datas. Por isso, Dom Bosco é copadroeiro de Brasília, junto

com a Nossa Senhora Aparecida.

A Família Salesiana, assim chamada por Dom Bosco, está presente em

diversas frentes na sociedade e conta com um número expressivo de ex-alunos

proeminentes. Entre eles destacam-se políticos, grandes empresários, atores,

escritores, atletas, artistas, jornalistas e ministros de Estado. É quase

impossível elencar as personalidades que passaram pela educação católica

nas Escolas e Obras Salesianas. Onde há um salesiano há uma presença

marcante e diferenciada de acolhimento, de afeto e de alegria, sempre

perseguindo uma máxima do fundador em formar “bons cristãos e honestos

cidadãos”.

Hoje, o Liceu, de roupagem nova, está fazendo uma releitura do Sistema

Educativo de Dom Bosco, que se reconhece pródigo em bênçãos, agradece a

Deus por essa trajetória e se destaca através de uma filosofia voltada para a

formação humana integral.

3.3 PROJETO PEDAGÓGICO

No desempenho de sua missão educativo-filosófica, o Colégio Liceu

Nossa Senhora Auxiliadora alicerça-se nos princípios do evangelho, na

pedagogia de Dom Bosco e nas exigências de humanismo integral, viabilizando

o escalonamento de valores às gerações de educandos, nesse atual momento.

A partir desta preposição, o colégio tem por fins: ser uma Comunidade

Educativa, permeada pelo espírito de liberdade responsável e de solidariedade

fraterna, cujos fundamentos estão no encontro de pessoas, no respeito pelo

pluralismo de dons e pela originalidade de cada um; ser uma comunidade

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aberta ao diálogo e à democratização da cultura e, ao mesmo tempo, atuar

pautado por sua identidade católica, fundamentada nos princípios educativos-

pastorais de Dom Bosco, através do testemunho da mensagem cristã e

abertura ecumênica, na procura da verdade, do bem e da justiça. Estas

finalidades estão assentadas em pressupostos filosóficos e pedagógicos bem

definidos.

3.4 CARISMA SALESIANO

Dentro da dinâmica juvenil, vale ressaltar o significado da presença de

Dom Bosco entre os jovens através da proposta e da filosofia de trabalho

salesianos.

O olhar e empatia de Dom Bosco possuía um olhar definido, pretendia

alcançar a juventude em sua integralidade. Desse modo, o legado deixado por

seu fundador pretende dinamizar e alcançar as mais profundas realidades,

onde os jovens encontravam-se. O diferencial desse carisma é a capacidade

de interpelar esse público destinado a uma nova concepção e percepção da

existência.

Uma vez acolhidos dentro de uma dinâmica social excludente, os jovens

que adentram o espaço salesiano, diagnostica que não são considerados

números, são tratados com respeito e procuram fazer a diferença no convívio,

a fim de que percebam em si mesmos, os valores que lhes são peculiares. Nos

últimos decênios do século XX, deu-se uma profunda “revolução silenciosa” do

pensamento, que acentuou o pluralismo, a diferença, o relativismo e o

subjetivismo, e que foi chamada de “Pós-moderna”, por ter entrado em crise a

visão “moderna” do homem, centro do universo e construtor do seu destino, por

meio da ciência, da técnica, da economia e da política (NANNI, 2014, p. 26).

As mudanças históricas implicam em grandes transformações sociais,

principalmente no que tange aos valores e à ética de uma determinada

sociedade. Esses valores “modernos” podem camuflar as verdadeiras

necessidades juvenis, substituindo um caráter duradouro de princípios e

valores, por ações que proporcionem benefícios imediatos, o que implica, não

raras vezes, em desilusões e perdas de perspectivas concretas de existência.

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Hoje, muita informação das novas gerações acontecem nos não lugares,

isto é, na turma dos colegas, “gozando a vida”, com amigos, nos encontros,

nos fins de semana, na praça, na esquina, no bar, na balada, no estádio,

navegando na internet, no Facebook, entre outros (NANNI, 2014, p. 26).

3.5 ACESSIBILIDADE DE BOLSAS DE ESTUDO NO COLÉGIO LICEU NOSSA SENHORA AUXILIADORA DE CAMPINAS-SP

Pretende-se nesse tópico, após um breve histórico do Colégio Liceu

Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP, desenvolver uma abordagem

sobre a inserção de alguns jovens mediante Bolsa de Estudo, oferecida através

da Instituição a alunos do Ensino Fundamental e Médio. O programa

desenvolvido pretende acolher jovens das diversas áreas da região, com a

intenção de ampliar as oportunidades culturais e acadêmicas e potencializar as

capacidades individuais.

Ao tratar desse sistema, torna-se imprescindível elencar as formulações

e regras necessárias para essa inserção, uma vez que espaços privilegiados

como os já apresentados, requerem uma organização, pois, a demanda é

consideravelmente alta. O programa de Bolsa de Estudo tem por finalidade

propiciar ao aluno, com comprovada situação de vulnerabilidade social,

oportunidade a um ensino de qualidade.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, no capítulo IV (Do

direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer), orienta-se que:

A criança e o adolescente têm direito à educação, visando o pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

I- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II- Direito de ser respeitado por seus educadores; III- Direito de contestar critérios avaliativos, podendo

recorrer às instâncias escolares superiores; IV- Direito de organização e participação em

entidades estudantis; V- Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua

residência. Parágrafo único: É direito dos pais ou responsáveis ter

ciência do processo pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. (ARTIGO 53, 1990).

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Diante desse processo, pretende-se investigar os casos de Bolsas de

Estudo concedidas aos alunos do Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de

Campinas-SP, e de que modo isso impacta positivamente ou negativamente as

condições históricas, sociais, econômicas e afetivas desses educandos

contemplados no Programa.

Sabe-se de antemão que esses jovens sonham com uma possível

ascensão social, conferindo, dessa forma, um resgate da dignidade, ampliando

de forma considerável a perspectiva de futuro.

Enquanto mudanças tecnológicas fazem com que o ser humano avance,

cresça e se desenvolva, outras mudanças podem representar sérias crises

para as pessoas, que são obrigadas a viver em condições totalmente adversas

e, às vezes, sub-humanas, como a pobreza, miséria, preconceitos de todos os

tipos, fome, negligência e doença. Uma lista de inumeráveis fatores, eventos e

situações pelas quais passam as crianças, adolescentes e adultos faz parte

destas mudanças. Nos que ainda estão em desenvolvimento, quais os

impactos destas situações/condições para a vida atual e futura?

Pesquisas do Instituto de política econômica aplicada (Ipea) apontam

que nos anos de 2000 a 2010, cresceu aproximadamente 708 mil o número de

jovens entre 15 e 29 anos que não trabalhavam, nem estudavam e nem

procuravam ocupação (Geração “Nem, Nem”). Segundo os dados coletados

demonstram, 8 milhões de jovens estavam nessa condição em 2000 (16,9% da

população).

Diante desse quadro numérico, pode-se denotar os grandes desafios

que advêm de uma estrutura cultural, política e econômica que resulta, muitas

vezes, em falta de oportunidades mediante um número expressivo de jovens

que atinge a fase universitária e de inserção no mercado de trabalho. Se por

um lado cresceu o número de jovens denominados “Nem, Nem”, isso acaba

por refletir nos índices da População Economicamente Ativa (PEA). Esses

dados apontam que esse número tem se reduzido significativamente na

população masculina, atingindo 8,8 milhões em 2010.

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Um dos grandes problemas apresentados por esse panorama

econômico, é que ele adentra numa discussão que deve ser mais bem

elaborada sobre as perspectivas presentes e futuras de nossos jovens.

É importante salientar alguns aspectos que nos permitem fazer leituras

das inquietudes, angústias e esperanças que estão no cenário da juventude.

Independente da classe social a qual esteja inserida, a juventude como

atualmente as denominamos, sempre foram fruto de constantes

questionamentos. A década de 60 provocou no cenário mundial, muitas

mudanças que interferiram diretamente nas relações econômicas, políticas e

culturais. Após a Segunda Guerra Mundial, engendrada pelo capitalismo,

muitos países da Europa obtiveram oportunidades para uma significativa

ascensão, diferente dos países de Terceiro Mundo, incluindo a América Latina.

Com a ascensão do capitalismo e das revoluções industriais, ocorre uma

transformação no contexto juvenil. Em relação ao mercado de trabalho, os

jovens ocupam um espaço que é bem acirrado. Dentro dessa dinâmica de um

contingente expressivo, esse público é caracterizado como público consumidor

de valorização ao sistema vigente.

Essa nova dinâmica de inserção juvenil em alguns países da Europa,

transformou consideravelmente as relações, forçando, de certa forma, o

mercado a rever suas relações com o mercado juvenil. Em outros países, como

o Brasil, começa uma forte influência do mercado internacional, através da

inserção do rock e do blue jeans.

Essa inversão da lógica fora provocada por um nível grande de

repressão à liberdade juvenil, de expressão de ideias e de valores, entre

outros.

Havia nesta contestação uma nova “cara jovem”, um sentido de

contestação irrestrito, cuja máxima era atrelada à negação de valores vigentes.

Essa negação era representada por diferentes formas e expressões, iniciando

pela expressão irreverente e desafiadora: cabelos compridos, roupa suja,

música estridente, pés descalços e blue jeans.

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É necessário, portanto, entender os mecanismos utilizados dentro de um

período determinado e o que isso acarretou para as futuras gerações em vários

níveis: econômicos, políticos, sociais e culturais.

Objetiva-se através dessa análise histórica, compreender os dados

diversos para ampliar a discussão sobre os efeitos no âmbito da educação,

referente às oportunidades concedidas aos jovens, sobretudo os que se

encontram à margem do sistema.

Dentro dessa dinâmica educacional, pretende-se destacar a inserção

dos jovens bolsistas dentro do Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de

Campinas-SP, avaliando, dessa forma, os efeitos positivos e negativos sobre a

vida do educando. Para essa análise, pretende-se a busca de dados fornecidos

pela escola determinada, utilizando parâmetros jurídicos e ao mesmo tempo, o

entendimento da filosofia de acolhimento adotada pela escola, mediante o

público denominado de bolsistas.

Dentro da perspectiva do edital, a escola pretendida apresenta o

Programa de Bolsas de Estudo com a finalidade de propiciar ao aluno, com

comprovada situação de vulnerabilidade social, oportunidade a um ensino de

qualidade. Por esse motivo, existem alguns critérios determinados que são

obrigatórios para a Concessão de Bolsas de Estudo Assistenciais:

a) a análise de vulnerabilidade socioeconômica do aluno abrange a

verificação da situação de seu grupo familiar;

b) para alunos novos serão oferecidas bolsas de estudo para Educação

Fundamental I e II (1º ao 9º ano) e de acordo com a disponibilidade do

Colégio;

c) a bolsa de estudo tem vigência para o ano letivo de 2015;

d) o período de estudo será conforme disponibilidade de vagas (manhã

ou tarde).

A Bolsa de Estudo Filantrópica não se constitui em direito adquirido,

podendo ser cancelada a qualquer tempo, desde que constatada a veracidade

das informações e/ou o aluno bolsista descumpra o Regimento Interno do

Colégio Liceu.

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O benefício das bolsas parciais sobre o valor das prestações mensais

não terá caráter retroativo, isto é, não incidirá sobre eventuais prestações

mensais vencidas ou já pagas do ano letivo.

Será automaticamente desclassificado o estudante que descumprir

quaisquer obrigações expostas em cada etapa deste Edital.

Os critérios aqui definidos são obrigatórios e eliminatórios para

concessão de Bolsa de Estudo Filantrópica.

A Instituição não se responsabiliza por inscrições não concluídas.

Não será permitido alterar as informações prestadas no Formulário de

Inscrição, uma vez preenchido e entregue, os mesmos servirão de base para

análise de documentos.

3.6 RESPONSABILIDADES DO SETOR DE SERVIÇO SOCIAL

a) prestar esclarecimento aos candidatos;

b) monitorar, receber, conferir, organizar, registrar e guardar a documen-

tação pertinente ao Setor;

c) realizar entrevistas sociais, se necessário visitas domiciliares;

d) aferir as informações relativas ao perfil socioeconômico do candidato;

e) emitir relatório final do processo;

f) avaliar e acompanhar os bolsistas, por meio de observação periódica,

que abrangerá o exame do seu desempenho e frequência, a

adimplência (bolsa parcial) e outros fatores julgados relevantes.

A Bolsa de Estudo constitui benefício não restituível concedido em

forma de gratuidade de 100% (cem por cento) e 50% (cinquenta por cento) do

valor da anuidade do ano, o candidato que atenda aos critérios

preestabelecidos na Lei 12.101/2009, Decreto 7.237/2010, na Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional, e ainda, de acordo com orientações do

Ministério da Educação:

I. Possua renda bruta mensal per capita familiar: a) Não superior a 1,5 (um e meio) salários mínimos para concessão de Bolsa de Estudo no valor integral da anuidade. b) Não superior a 03 (três) salários mínimos para concessão de Bolsa de Estudo no valor parcial (50%) do valor da anuidade.

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II. Tenha sido aprovado. III. Não estar em atraso no pagamento do acordo financeiro eventualmente firmado junto ao Departamento de Contas a Receber. (LDB, 2010).

O processo seletivo é feito com base na vulnerabilidade socioeconômica

do candidato, considerando-se:

a) renda familiar per capita;

b) número de integrantes do grupo familiar;

c) patrimônio do grupo familiar;

d) ocorrência de doença crônica;

e) gastos com educação básica;

f) tipo de moradia;

g) proximidade da residência;

h) outros fatores relevantes que possam influir no processo.

No processo, os documentos reunidos serão utilizados para comprovar

as informações necessárias, havendo número de candidatos superior ao

número de bolsas disponíveis, estes serão incluídos em Lista de Espera, desde

que apresentem perfil socioeconômico, para atendimento posterior, caso o

aluno desista ou se transfira do Colégio.

3.7 CONDIÇÕES IMPEDITIVAS DA CONCESSÃO E DA MANUTENÇÃO DA

BOLSA DE ESTUDO

Além de atender, obrigatoriamente, às condições exigidas para a

seleção, o responsável pelo candidato à bolsa, assim como o bolsista, não

poderão incorrer nas seguintes condições:

a) descumprir os prazos estabelecidos neste documento;

b) prestar informação falsa ou apresentar documento inidôneo;

c) não apresentar carência socioeconômica;

d) deixar de comunicar alteração da realidade socioeconômica do grupo

familiar que descaracterize a condição de beneficiário da assistência

educacional;

e) não efetivar a matrícula no período letivo do curso;

f) apresentar rendimento escolar insuficiente;

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g) estar inadimplente com a anuidade escolar do Colégio Liceu

Salesiano;

h) desistir ou se transferir do Colégio Liceu Salesiano;

i) recusa ou oposição de obstáculos à realização de visita domiciliar a

qualquer tempo;

j) não assinatura do termo de Concessão de Bolsa de Estudo, no prazo

fixado.

Essas informações apresentadas retratam o perfil que se pretende dos

ingressos à bolsa. Como se pode observar os critérios são exigentes e

requerem do candidato junto a família, os pré-requisitos básicos para o

processo seletivo da Bolsa de Estudo. Dentro desse panorama apresentado, a

pesquisa pretende entender um pouco o universo desse público mencionado, e

através dessa sondagem apresentar os pontos positivos e negativos da

inserção em um cenário econômico e social privilegiado. A escola pesquisada

apresenta um número de 164 alunos bolsistas (100%) e 216 alunos bolsistas

(50% de desconto). O aspecto familiar é muito importante, e segundo Joel C.

Rodrigues e Sérgio Martinho de Souza Bosco, compreende-se a concepção de

família extensiva, aquela formada pelos pais e parentes biológicos, por

afinidades e membros da comunidade.

O objetivo principal é o fortalecimento do núcleo familiar e comunitário no

cuidado com os jovens pela complexidade das relações que permeiam a vida

cotidiana moderna, através de entrevistas e pesquisas que norteiam a vida do

educando advindo das regiões menos favorecidas da região de Campinas-SP.

No capítulo seguinte procura-se evidenciar a influência exercida pelo

sistema neoliberal na sondagem das formas de exclusão e nas relações

humanas, e de que forma o sistema vigente contribui para eliminar, de forma

discreta, a fonte de esperança humana.

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4 O CAPITALISMO NEOLIBERAL COMO FONTE DE DESESPERANÇA

HUMANA

O mundo atual é regido pelas normas econômicas do capitalismo liberal,

mais precisamente, pela nova interpretação desse sistema, evidenciada a partir

da segunda metade do século XX: o neoliberalismo.

A doutrina neoliberal na economia é uma readequação das ideias liberais

clássicas, iniciadas no século XVIII com Adam Smith (1983) que, com seu livro,

“A riqueza das nações”, expôs sua teoria, prezando pela liberdade de comércio

entre os países e propondo uma sociedade em que os interesses individuais e

egoístas conduziriam a uma harmonização das necessidades coletivas, em

vista de uma suposta “mão invisível” que proporcionaria a satisfação dos

desejos pessoais e, assim, de todos os cidadãos. Essa “mão-invisível”

representa a personificação dessa suposta adequação coletiva de atitudes

egoístas de cada indivíduo. Trata-se de certa “entidade” suprassensível que se

encarregaria de alocar, para o bem comum, os interesses dispersos na

sociedade.

Com a globalização e a modernização da produção, o pensamento

econômico liberal assumiu uma nova roupagem, preservando os preceitos

clássicos, contudo, numa versão muito mais radicalizada, considerando-se a

absolutização das leis do mercado praticada, principalmente, a partir dos anos

90. A essa nova roupagem liberal, nesse novo contexto social e histórico, dá-se

o nome de neoliberalismo.

O principal autor neoliberal é o norte americano Milton Friedman,

expoente principal da escola de Chicago, onde essa nova concepção

econômica, baseada no monetarismo, galgou mais seguidores. Em sua

principal obra, “Capitalismo e Liberdade”, Friedman (1984) defende a liberdade

de comércio, o fim do protecionismo estatal e a ausência de qualquer

intervenção do Estado na economia, reduzindo-o a funções mínimas, mais

estritamente, de segurança pública e nacional.

O neoliberalismo manifesta-se com políticas de ajuste e arrocho que

põem o crescimento econômico e a distribuição de renda sob a tutela de

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indicadores monetários e não voltados para o pleno desenvolvimento dos

homens. Além disso, restringe a intervenção do Estado até despojá-lo da

responsabilidade de garantir os bens necessários que todo cidadão precisa e

merece. Para esse modelo econômico, mesmo as questões sociais mais

latentes, como educação, saúde e previdência social devem ficar à mercê das

forças de mercado, em que cada indivíduo seria responsável pelos seus

próprios benefícios.

Essas medidas ficam evidenciadas com o crescente processo de

privatização e desestatização ocorrido durante toda a década de 90, na

América Latina. Pouco a pouco, as grandes empresas públicas do continente

foram passando das mãos do Estado para a iniciativa privada. Em menos de

15 anos, privatizou-se de tudo: mineradoras, bancos, empresas de

telecomunicações e até rodovias. O estado vai gradualmente, saindo da

economia e se restringindo a questões administrativas e de segurança pública.

Outra medida neoliberal é a abertura irrestrita das fronteiras para o

comércio, assim como para capitais e fluxos financeiros, deixando sem

proteção os pequenos produtores. No âmbito das leis do trabalho, o

neoliberalismo preza pela livre negociação entre patrões e empregados e pela

revogação de quaisquer benefícios ou encargos trabalhistas que não sejam

regidos pela liberdade do mercado.

No Brasil, as políticas neoliberais começaram a ser dotadas a partir do

início dos anos 90, ainda no governo Collor, quando as importações foram

favorecidas por isenções e fim de subsídios internos. Todavia, foi com

Fernando Henrique Cardoso, primeiramente Ministro da Fazenda (em 1993) e

posteriormente Presidente da República (1995 a 2002), que o neoliberalismo

ganhou fôlego e se instalou como sistema.

4.1 CONSEQUÊNCIAS DAS MEDIDAS NEOLIBERAIS

Não se pode deixar de apresentar os inegáveis benefícios que as

medidas de cunho neoliberal trouxeram à economia, principalmente no Brasil.

Os mecanismos de mercado contribuíram para elevar a oferta de bens e

serviços de maior qualidade e preço. A inflação, grande temor da população na

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década de 80, foi, enfim, estabilizada. O aparelho estatal foi enxugado e

remodelado com o programa de desestatização e privatizações. Criou-se uma

consciência fiscal mais eficaz, principalmente em relação aos gastos públicos,

e estreitou os laços comerciais entre os países do mundo. Entretanto, a

implantação das políticas neoliberais também teve consequências negativas e

do ponto de vista social, propiciou, aos países subdesenvolvidos, resultados

muito negativos.

Os resultados desses programas refletem claramente a disparidade

existente entre os interesses neoliberais, em relação aos benefícios e às

pessoas. Ao mesmo tempo em que se retira o Estado da economia, deixando,

cada vez mais, que a iniciativa privada se encarregue de organizar setores

antes regidos por órgãos públicos, como escolas, hospitais e aposentadorias,

sem oferecer oportunidades para que todos tenham empregos e salários

suficientes para aderirem a tais oportunidades.

Com a liberalização do comércio entre as nações, abriu-se no terceiro

mundo, espaço para a importação de bens de consumo de outros países. Esse

fato ocasionou o fechamento de muitas indústrias e de pequenas e médias

empresas nos países menos preparados para esse choque. Ou se

modernizavam, tornando-se mais eficientes e competitivas, ou, simplesmente,

essas empresas deixavam de existir. Por conseguinte, o desemprego alcançou

números alarmantes nesses locais. No Brasil, não foi diferente.

Gráfico 1: Índice de desemprego no Brasil por regiões

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Fonte: IBGE – Infográfico elaborado em 07/05/2015.

Também derivada da implantação das políticas neoliberais e em

decorrência do desemprego, elevou-se, acentuadamente, a violência nos

países emergentes. Além disso, o neoliberalismo aprofundou o “fosso social”

existente na América Latina, uma vez que, ao invés de distribuir renda,

concentrou ainda mais, aumentando as condições de injustiça e desigualdade

entre os homens. Em linhas gerais, o neoliberalismo aumenta os níveis de crise

social, na medida em que redireciona a finalidade da economia do bem comum

para a manutenção do sistema de mercado. O bem-estar da população cede

espaço ao equilíbrio das forças de mercado.

Conforme os Gráficos 1 e 2, ao mesmo tempo em que o neoliberalismo

permite a liberalização do comércio e a adequação da economia à realidade da

globalização, lança às margens do consumo e do mercado uma multidão de

pessoas, que passa a sobreviver no submundo da realidade, seja na

informalidade ou no crime.

Gráfico 2: Índice de condição de vulnerabilidade no Brasil

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Fonte: IBGE/CENSO 2010.

Grafico 3

4.2 A ESPERANÇA HUMANA E O NEOLIBERALISMO

Entendida como atitude de espera e força que nutre a vida humana, a

esperança entra em sério risco com o advento do neoliberalismo.

Comprometida por medidas que colocam o mercado como entidade máxima,

em detrimento da qualidade de vida da população, o sentimento de espera por

dias melhores e a confiança na retomada do bem-estar social agonizam.

A esperança dos homens e mulheres atingidos pelas medidas

neoliberais padece, seja nas filas por um emprego nas grandes capitais, seja

nas péssimas condições dos hospitais públicos ou na fragilidade do sistema

educacional sucateado e ineficiente.

Entretanto, nenhum mal contribui tanto para a desesperança das

pessoas como o flagelo da fome e da falta de oportunidades a ela ligadas,

como a inserção e participação na vida escolar. Por onde passa, a nuvem

neoliberal deixa para trás um rastro de miséria e desnutrição, não favorecendo

à boa distribuição dos alimentos entre os seres humanos.

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O homem do mundo neoliberal vê-se pressionado a sobreviver numa

realidade em que a competitividade preza pela qualidade, mas, ao mesmo

tempo, não oferece condições para que esta última seja distribuída a todos. No

neoliberalismo, “quem pode mais, chora menos”, e os que não podem são

considerados como sacrifícios necessários para a manutenção do sistema.

Vale ressaltar que esses “sacrifícios necessários”, como, por exemplo,

os 40 milhões de miseráveis de um país como o Brasil, segundo as

concepções neoliberais, não são entendidos como uma anomalia do sistema,

mas sim, uma condição para o seu pleno funcionamento. Na desesperança de

muitos, o neoliberalismo favorece o privilégio de alguns.

Decorrente disso, observa-se que, por aumentar o desequilíbrio social,

seja por meio do desemprego, da violência, da falta de condições básicas de

saúde, habitação e educação e, na pior situação, com a fome, o neoliberalismo

contribui invariavelmente para o declínio da esperança das pessoas que vivem

à margem do mercado, na medida em que retira destas a expectativa de dias

melhores. O amanhã para os que vivem sob o jugo da desigualdade torna-se

sempre cinzento e sem confiança. Não há espaço para sonhos, pois sempre ao

acordar, a triste realidade do desemprego, da violência e da fome suprime a

força de se esperar pelo alvorecer.

Entretanto, dentro desse quadro de desesperança, a filosofia pode

contribuir para a transformação social, fato que pode ser constatado através do

pensamento ético de Adela Cortina e Emílio Martínez:

A palavra ética vem do grego ethos, originalmente tinha o sentido de “morada”, “lugar em que se vive” e posteriormente significou “caráter”, “modo de ser” que se vai adquirindo durante a vida. O termo moral procede do latim mores que originariamente significava “costume” e em seguida passou a significar “modo de ser”, “caráter”. Portanto, as duas palavras têm um sentido quase idêntico. (2005, p. 3).

Falar de compromisso ético no cenário político e econômico ao qual nos

encontramos não é uma tarefa fácil, nesse sentido, a busca por embasamentos

que possam responder às necessidades vigentes necessita de uma

fundamentação teórica para análise.

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Diante de um cenário com forte apelo para o individualismo, as

contribuições para a vida em sociedade perpassam, necessariamente, por

valores e contravalores que orientam a vida cidadã. A era tecnológica

proporciona novas relações entre os jovens e seus pares, forçando-os, muitas

vezes, a se adequarem a uma forma de comportamento que exige um nível

financeiro que acompanhe as inovações e apelos publicitários. Dentro dessa

dinâmica, a validação de ações nobres que contemplem o universo

adolescente acaba sendo bastante questionável.

Ao falar de ética e moral, torna-se imprescindível contextualizar o cenário

e as questões relacionadas a esse público juvenil. As questões que envolvem o

agir humano perpassam, necessariamente, por alguns critérios que envolvem

as particularidades humanas e as suas escolhas. Ao abarcar o universo

adolescente, procura-se entender as novas performances que configuram a

rotatividade de ideias e valores que correspondam a essa faixa etária.

É de fácil observação os impactos experienciados por essa geração nos

quesitos de responsabilidade e envolvimento em construções coletivas. Os

games provocam nos jovens e em seus pares, vários desejos, entre eles, o

sentido de pertença a grupos, bem como a interatividade com os mesmos. No

entanto, aliado a essa dinâmica, encontra-se os desafios para a inserção de

uma grande parcela desses jovens no acesso e nas possibilidades aos

instrumentos de inovações tecnológicas.

Essa mudança ou inversão de valores é extremamente agressiva para

essa faixa etária, uma vez que encontram-se em uma fase de suas vidas que

requer a absorção de valores que possam ser transformados em ações

coletivas e benéficas no ambiente em que se encontram.

Para Horkheimer e Adorno, diante da hegemonia econômica e do

poderio da indústria cultural, o indivíduo se encolhe e se adapta à realidade

social, que aparece como algo natural e imutável, e não como uma criação

humana. A adaptação do indivíduo à sociedade industrial e de consumo é, em

certa medida, a anulação de seus interesses e desejos íntimos, que não podem

ser alcançados nessa sociedade. Inconscientemente o indivíduo abdica de sua

vontade e assume a vontade coletiva do sistema (MELANI, 2014, p. 52).

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Talvez, um dos grandes desafios que podem ser atribuídos a essa

ruptura ou transição de valores, refere-se às necessidades que são

despertadas através dos grandes mecanismos midiáticos, com destaque para a

supervalorização do ter em detrimento do ser. Esses valores apresentados

como dogmas, sobretudo às novas gerações, impedem a criação de

habilidades e competências que dialoguem com as mais profundas

necessidades de realização coletivas entre seus pares.

Cria-se uma grande vulnerabilidade entre as pessoas, com destaque aos

adolescentes, porque se:

[...] na sociedade de consumo uma pessoa é somente aquilo que tem, sua identidade está sempre ameaçada, já que existe a possibilidade de perder todas as coisas que adquiriu e, com isso, também aquilo que ela é. Dito de outro modo, o indivíduo pode a qualquer momento deixar de ser o que é e se transformar em nada ou ninguém (MELANI, 2014, p. 73).

No capítulo seguinte, procura se evidenciar os níveis de vulnerabilidade

social presentes no país, com destaque para a região de Campinas, os medos

e inseguranças dos adolescentes, e a caracterização dos jovens considerados

à margem, bem como aspectos da vulnerabilidade, tais como juventude,

violência e vulnerabilidade social, e dados educacionais referentes à população

de Campinas.

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5 JUVENTUDE E VULNERABILIDADE SOCIAL

Falar da juventude é mostrar um pouco a sua complexidade e, ao

mesmo tempo, distinguir as diferenças que lhes são peculiares. Para definir ou

mencionar a juventude é preciso adentrar à cultura local e visualizar o que se

apresenta em cada localidade, bem como para descrever a realidade social e

econômica a qual os jovens fazem parte é de extrema importância um olhar

apurado sobre o seu entorno.

Zygmunt Bauman reconhece a transitoriedade de algumas práticas de

consumo. Para ele, os consumidores estão sempre ávidos de novas atrações e

logo enfastiados com as atrações já obtidas (BAUMAN, 1999, p. 92). Dentre o

público adolescente, destaca-se a necessidade de consumo entre seus pares

como afirmação da identidade e garantia de uma posição confortável no grupo

onde se encontra. As propagandas publicitárias que visam o público

adolescente, acabam sempre por induzir ao consumo de forma desmedida, o

que fortalece a crença de que o nível de socialização depende exclusivamente

da compatibilidade de bens materiais.

O ideal é que todos os jovens pudessem abarcar as mesmas

oportunidades, no entanto, há o recorte utilizado pelas diferenças sociais que

se tornam expressivas nas atividades a serem realizadas. Para que haja a

inserção dos jovens, por exemplo, nas universidades, para a escolha de uma

carreira, torna-se imprescindível o apoio e investimento financeiro dos pais.

O aspecto do gênero e do racismo são fundamentais para que se

compreenda como é sutil as separações e como isso impacta as possibilidades

reais dos jovens sonharem e se projetarem. Nas atividades remuneradas, ao

serem analisados os mesmos ofícios, as estatísticas apontam o nível inferior de

salários das meninas se comparado ao dos meninos. O quadro complica-se

ainda mais, se for mulher, pobre e negra, pois o índice de dificuldades aumenta

de forma significativa, se comparado, por exemplo, ao homem e branco, no que

se refere às oportunidades que podem ser adquiridas socialmente.

Para a maioria da juventude brasileira que vive nas grandes cidades, há ainda um outro critério de diferenciação: o local de moradia. O endereço faz a diferença: abona ou desabona,

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amplia ou restringe acessos. Para as gerações passadas esse critério poderia ser apenas uma expressão da estratificação social, um indicador de renda ou pertencimento de classe. (NOVAES, 2006, p. 106).

Outro aspecto importante que deve ser destacado é quanto à moradia, já

que isso determina consideravelmente as chances de inserção desses jovens

na convivência social, e ao mesmo tempo, traz um caráter excludente, pois,

dependendo da região, há o estigma da violência e da corrupção, além de que

há favelas, moradias sem o mínimo de estrutura, proliferação do tráfico e

utilização de drogas, ou seja, todos estes elementos contribuem de forma

expressiva para a marginalização e rotulação de que essas pessoas estão

inaptas ao exercício coerente da cidadania e da inserção no mercado de

trabalho.

Um dos maiores problemas vislumbrados adentra nos critérios de

seletividade. Uma vez que o jovem habita nesses espaços acima mencionados,

carrega a marca de que é, também, bandido em potencial, e que pode

encontrar dificuldade no trato formal com as pessoas e pode se comprometer

com a disciplina de horários e frequência, uma vez que convive

constantemente com conflitos de rua, confrontos com a polícia e encontra

dificuldade, por exemplo, para se deslocar até o local de trabalho.

Como essa questão da criminalização por endereço é muito frequente,

alguns jovens começaram a encontrar alternativas para superar esse desafio.

Uma das formas encontradas é a substituição de endereços, através de

parentes ou amigos que residem em locais considerados menos violentos ou

que possuem uma razoável estrutura, dessa forma, superam inicialmente um

dos primeiros obstáculos apresentados na entrevista.

Hoje, certos endereços trazem consigo o estigma das áreas urbanas subjugadas pela violência e pela corrupção dos traficantes e da polícia - chamadas de favelas, subúrbios, vilas, periferias, morros, conjuntos habitacionais, comunidades. Ao preconceito e à discriminação de classe, gênero e cor adicionam-se o preconceito e “a discriminação por endereço”. (NOVAES, 2006, p. 106).

Como se pode notar, não são pequenos os desafios que os jovens

encontram para assumirem o seu papel social, sua identidade, superação de si

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mesmo no espaço onde residem, busca pela dignidade mediante uma carreira

de estudos, ou inserção no mercado de trabalho com o objetivo de contribuir

nas despesas familiares e conseguirem alcançar o tão sonhado status social

divulgado e absolutizado pelos padrões sociais impostos.

Dentro dessa dinâmica há os jovens oriundos das cidades e também, os

advindos das áreas rurais, que, estão habituados a uma forma de vida que se

diferencia, por exemplo, dos jovens da cidade, desde as pequenas às grandes

coisas. Isso também pode resultar em desigualdades sociais, pois, na prática

cotidiana, pode haver o desprezo de alguns valores próprios do campo em

detrimento de valores dos jovens da cidade, que, muitas vezes, se consideram

superior pelos moldes que a cidade considerada “civilizada” apresenta.

E como agregar esses jovens em espaços que possam contribuir com a

formação da identidade e, ao mesmo tempo, gerar nos mesmos, o sentimento

de pertença, de coletividade, de parcerias e de interação em uma sociedade

tão diversificada e desafiante. Em pesquisas recentes com jovens indagados

sobre as Instituições que mais possuem sentido em suas trajetórias, a que se

destaca é a escolar, por marcar o espaço de troca, de socialização e de

interesses comuns, ou seja, o jovem que não se encontra nesse espaço, por

motivos diversos, pode ser enquadrado em uma perspectiva de exclusão.

Através das trocas, denota-se que os mesmos sabem da importância

dos estudos, no entanto, sentem uma séria dificuldade em trazer os conteúdos

aprendidos para a vida cotidiana. É muito comum sentirem-se inferiores, por

pertencerem a uma camada social que precisa cotidianamente encontrar

elementos para a própria sobrevivência, diferente dos considerados

privilegiados, que estudam em bons colégios e, teoricamente, obterão um

futuro mais garantido, uma vez que no presente há quem possa investir em

suas aptidões e dons. Quanto à importância dos estudos, uma parcela

significativa compreende que cursar a fase do Ensino Fundamental e Médio,

faz parte de um processo indispensável como mecanismo para o futuro, no

entanto, esses mesmos possuem consciência de que o processo de formação

inicial não é garantia segura de emprego.

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Ao serem indagados, nas pesquisas, sobre as “instituições sociais” em que mais confiam, os jovens citam sempre a escola. São muitos os que se ressentem de não ter ficado mais tempo na escola, vista como um bom lugar para se fazer amigos e integrante da sociabilidade que caracteriza a condição juvenil. Nesse sentido, estar prematuramente fora da escola é sempre uma marca de exclusão social. (NOVAES, 2006, p. 107).

Segundo Márcio Pochmann “[...] as expectativas de mobilidade social

interferem nas possibilidades de a juventude projetar o futuro” (2004, apud

NOVAES, 2006, p. 108)6. Algumas décadas atrás, haviam vários desafios,

observa-se que os filhos dos ricos, no desenvolver de suas carreiras,

tornavam-se mais ricos, e os filhos dos pobres mais pobres, mas ainda havia

uma discreta mobilidade social, segundo o mesmo autor. Mais recentemente,

os filhos dos ricos não estão se tornando mais ricos que os pais, e os filhos dos

pobres permanecem mais pobres, isso engendra um desestímulo e atinge às

diferentes classes sociais, com a observação de que uma é mais prejudicada

em detrimento de outra. As desigualdades foram se aprofundando, mas havia

uma relativa mobilidade, por outro lado, atualmente o quadro se apresenta

mais engessado quanto às perspectivas de sonho e de futuro.

O nível de escolarização aumentou consideravelmente, no entanto, para

se pressupor que somente a escola é garantia de emprego e inserção no

mercado de trabalho, seria necessário afirmar que há espaços significativos de

emprego para todos os jovens que se apresentam nas entrevistas, ou recém-

formados na universidade, porém, sabe-se que esse quadro de oportunidades

não comporta verdadeiramente todos os jovens e adultos de nosso país.

Dentro dessa dinâmica, ocorrem algumas mudanças no considerado

mercado “informal”, até por ser uma alternativa à falta de oportunidades

explícita no mercado formal. Pochmann aponta que o emprego que mais

cresceu nos últimos doze anos foi o doméstico, a cada dez vagas abertas, três

são de trabalhos domésticos. Isso pode evidenciar uma amostragem dos novos

6 Marcio Pochmann (Venâncio Aires, 19 de abril de 1962) é um economista e político brasileiro.

Filho de Clyde Pochmann e de Lilian Pochmann, formou-se em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1984. Entre 1985 e 1988 concluiu sua pós-graduação em Ciências Políticas e foi supervisor do Escritório Regional do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) no Distrito Federal, além de docente na Universidade Católica de Brasília.

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empregos do futuro, outrora, um ofício considerado de pouca valia, hoje, como

pode se observar, passa por uma outra valorização. Isso também pode estar

ligado a uma substancial participação no mercado de trabalho por parte das

mulheres, que saem de casa ao amanhecer e retornam ao anoitecer. Dessa

forma, cria-se uma necessidade de compartilhar os afazeres domiciliares com

essas contratações. Dados de 2006 apontavam seis milhões de empregos

domésticos.

A segunda ocupação que mais cresceu foi a de vendedor ambulante: a cada dez vagas, duas são de vendedores ambulantes. A terceira ocupação que mais cresceu foi na área de asseio, conservação e limpeza. Possivelmente, nos requisitos para algumas dessas ocupações, inclui-se até o Ensino Médio. (ALMEIDA; EUGÊNIO 2006, p. 108).

O mercado passa por mudanças substanciais que requerem uma

atenção e análise apurada para se compreender o que se espera das novas

mãos de obra. Algumas modalidades de emprego entram necessariamente em

contato com as novas tecnologias, mas não quer dizer que isso representa

mais criatividade ou autonomia, ao contrário, pode representar repetição

constante, sem grandes estímulos para quem as realiza, tal como no call

center, atendimento e consulta telefônica de pequenas ou grandes empresas.

Outra modalidade de emprego seria a de caixas de supermercado em que se

opera a máquina. Mediante o recurso do código de barras, essa atividade

requer ao menos o diploma do Ensino Médio.

Como lembra Pochmann, outrora tínhamos o vendedor nas mercearias,

que além do atendimento, realizava a somatória das contas através de um

papel e caneta, tinha a consciência do conjunto dos produtos, orientava e

falava com as pessoas e, ao término do dia, descrevia com precisão sobre a

vendagem e os produtos que necessitavam ser repostos. Podia não ter um alto

nível de conhecimento acadêmico ou básico de leitura, mas desenvolvia com

precisão e criatividade o seu ofício.

É importante situarmos as discussões sobre a inserção do jovem no

mercado de trabalho e seus desafios. Talvez, uma das grandes preocupações

e que tem tornado os jovens e pais inquietos refere-se à participação e

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inserção dos jovens no mercado de trabalho. Essa esfera deve ser avaliada e

contemplada com seriedade, com o objetivo de criar ferramentas e

mecanismos para a projeção de um futuro mais adequado aos adolescentes.

Essa preocupação pode ser comparada a alguns problemas sociais que

tivemos no passado e ainda se fazem presentes em grandes debates políticos

e sociais, como a luta do reconhecimento social dos negros, dos indígenas, da

inserção das mulheres no mercado de trabalho, entre outros. Essa angústia

abrange várias famílias que são afetadas direta e indiretamente pela

irregularidade econômica, o que acaba por afetar e adiar alguns sonhos e

projetos para seus filhos.

Valeria a pena registrar o número de dispensas que ocorrem anualmente

em nosso país, muitos jovens sentem-se inseguros, pois, até pela imaturidade,

muitos contratos são temporários, o que dificulta realizar planos a longo prazo.

Um dos primeiros pontos a serem observados refere-se ao prolongamento dos

pais no investimento, mediante pagamento de cursos e investimentos em

idiomas, pressupostos básicos para um processo seletivo. Isso proporciona

uma rotatividade, talvez, jamais vista na história mundial, a qual os jovens

necessitam se preparar para esse dinamismo e se organizar para responderem

a esses apelos.

É verdade que cada geração tem sua percentagem de recusados. Há pessoas em cada geração às quais se atribui o status de rejeitado porque a “mudança geracional” tende a trazer algumas alterações significativas nas condições e nas demandas de vida que obrigarão as realidades a se afastar das expectativas implantadas pelas condições anteriores e a desvalorizar as habilidades que costumavam ser desenvolvidas e promovidas. (BAUMAN, 2013a, p. 43).

O choque cultural entre as gerações é muito grande, e a leitura de

mundo do trabalho deve ser revista por parte dos pais, o que não é fácil, pois,

mesmo que tenham enfrentado a sombra do desemprego, essa formatação e

velocidade produtiva é algo inédito. Os desafios são sentidos e experienciados

tanto pelos pais quanto pelos filhos, sendo que o desafio de produtividade em

pouco tempo é uma das marcas das novas oportunidades.

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Dentro dessa dinâmica de choques geracionais, denota-se uma

significativa insegurança por parte de alguns pais, por se tratar de um período

de transição e de mudanças comportamentais e biológicas. Diante desse

fenômeno, apresentar regras e limites para uma sadia convivência entre esse

grupo está entre as mais desafiantes tarefas. Entre os espaços de socialização

que se destacam, a escola aparece entre as prioridades e acaba por evidenciar

a falta de limites e regras, que, muitas vezes, deixa de fortalecer aspectos

importantes da convivência em grupo.

5.1 OS MEDOS E INSEGURANÇAS DOS JOVENS

Para se conhecer os jovens e seu comportamento, é imprescindível que

se analise o contexto ao qual estão localizados, para que se possa

compreender os projetos, as ações, as aspirações e tudo aquilo que está no

entorno do universo juvenil. Há uma grande complexidade que envolve as

questões referentes às alternativas e possibilidades de ascensão dos jovens.

Quase sempre é utilizado o jargão de que a juventude é responsável pelo bom

desenvolvimento do futuro e que em breve, também será responsável pelos

ofícios que, por hora, são efetuados pelos adultos. Mas, qual é a visão desses

jovens em relação a si mesmos e ao sistema vigente, e como o processo de

exclusão pode ser sutil na formatação das pretensões do mercado?

A violência está presente nos meios de comunicação através de

programas que, muitas vezes, incitam a violência e contribuem para uma

propagação que impedem um debate mais profícuo e a busca da origem

desses problemas. As grandes cidades, infelizmente apresentam quase que

diariamente, situações de exposição da vida pessoal e familiar, provocando

uma grande falta de estímulo e insegurança. No que tange ao futuro, as

restrições ao mercado de trabalho também aparecem como divisor de águas,

pois, como já mencionado, uma grande parcela não consegue se projetar de

forma a garantir um futuro mais adequado.

Existem algumas leis formuladas no país que contribuíram para que a

dignidade das pessoas e de seus direitos, assim como os seus deveres,

pudesse ser contemplada. A Constituição de 1988 e o Estatuto da Criança e do

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Adolescente trouxeram grandes contribuições para as necessidades juvenis e

as dimensões que a acompanham, tais como: estrutura básica de

sobrevivência, moradia adequada, direito à educação e saúde, preservação da

identidade e integridade física, entre outros.

No entanto, esse amparo da lei encontra lacunas que impedem a

continuação de alguns projetos. Os programas, de uma forma geral,

desenvolvem suas atividades até os 17 anos, o que delimita a sequência de

alguns ideais e sonhos. A localização é fundamental, pois nela encontram-se

os aspectos culturais, econômicos e históricos, as questões de gênero e

étnicas, que são imprescindíveis ao conhecimento da área.

Os jovens que já trabalham hoje, já trabalharam em muitos lugares, com variados vínculos de emprego e em tempo diferenciado. A geração dos pais, mesmo que também atingida pelo fantasma do desemprego, ainda tem muito a aprender sobre o funcionamento desse mundo do trabalho tão complexo e modificado. Os mais velhos estão sendo desafiados a mudar suas concepções de trabalho e a ampliar o elenco das maneiras possíveis de “estar no mundo”. Os jovens são convidados a reinventar maneiras e sentidos de inserção produtiva. (NOVAES, 2006, p. 109).

Mencionar sobre o fator de inclusão e exclusão necessita de uma

atenção no âmbito sobre a origem, cor da pele, se é negro ou branco,

condições financeiras, e também, há um outro aspecto que são os jovens de

projeto. Para caracterização do local, alguns jovens possuem a sua própria

forma de identificação do local, isso depende muito do interlocutor a que se

dirigem. Quando as informações devem ser transmitidas à Instituições como

ONGs, referem-se ao local como favela x ou y, descrevendo as características

da localização. Por outro lado, quando se trata de um público diversificado,

referem-se ao local como comunidade, com a intenção de diminuir o estigma

que carregam pela localização.

Os projetos abrem para os jovens algumas possibilidades, dentre elas a

não exclusão, o sentimento de pertença, a abertura a novos desafios

profissionais, a consciência étnica, o despertar do senso crítico, que são

condições fundantes para a concretização da cidadania e a construção da

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dignidade. Podem surgir, ao longo desse processo, alguns questionamentos

por parte da sociedade, no sentido das instituições, como as ONGs,

substituírem uma função que caberia a outras esferas federais, estaduais e

municipais. As lacunas deixadas por essas esferas, de certo modo, reforçam a

necessidade de um amparo que possibilite a reconstrução e ampliação da

dignidade das pessoas que vivem em condições de vida inferiores.

Os projetos apresentados por meio de algumas instituições servem de

ponte para uma forma de inclusão, uma vez que muitos desses jovens

encontram-se em condições de vulnerabilidade social.

Em uma localização onde há exposição muito grande à violência, a

acesso às drogas, entre outros, a presença desses órgãos não governamentais

proporciona condições mais favoráveis para que, ao menos, tenham um lugar

como referência para as atividades do cotidiano. De modo que os jovens que

não participam, sabem que possuem um lugar que encontrarão profissionais e

voluntários disponíveis, ao menos, para ouvi-los e com capacitação para

envolvê-los em atividades que despertam interesses e contribuem com a

interação e socialização.

Um outro fator positivo a ser elencado está vinculado à repercussão

desses projetos entre as comunidades, essa sinergia e sintonia contribuem

para a vinculação de novas ideias e a divulgação das diferentes formas de

atividade desenvolvidas.

Um desafio apresentado entre os jovens, já mencionado anteriormente,

diz respeito à questão do trabalho. Diferente dos jovens de classe média, que

podem prorrogar o tempo de manutenção do investimento dos filhos em cursos

preparatórios de idiomas e técnicos-profissionalizantes e em universidades,

esses jovens aqui apontados, por necessidades familiares, materiais e até por

dignidade, necessitam desenvolver alguma atividade remunerada, ainda que

não esteja dentro de suas pretensões. Existe por parte de algumas instituições,

o investimento parcial em Bolsas de Estudo, mas segundo orientações, pede-

se que os jovens ativos no programa desvinculem-se dos chamados trabalhos

informais, o que gera um grande problema, pois, a maioria precisa

necessariamente agregar esses valores à sua própria sobrevivência.

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Uma das grandes preocupações modernas está direcionada à utilização

ou não das novas tecnologias e à aplicação desses recursos no mercado de

trabalho. Fala-se muito sobre a inclusão digital e sua importância para o

entendimento do dinamismo global e imprescindível para acompanhar toda a

evolução desses novos instrumentos e criar condições para que sejam

aplicados nas condições globais. Os recursos aplicados devem ser valorizados,

no entanto, o investimento na cultura e na comunicação é aliado fundamental

para uma boa preparação para a cidadania, e agregar novos conhecimentos

digitais pode ter uma relação mais direta com a inserção dos jovens na vida

prática.

Em relação a hoje e à nossa própria condição, creio que estamos diante de uma situação nova na história, porque temos que ser libertados de uma sociedade rica, poderosa e que funciona relativamente bem... O problema que enfrentamos é a necessidade de nos libertarmos de uma sociedade que desenvolve em grande medida as necessidades materiais e mesmo culturais do homem –uma sociedade que, para usar um slogan, cumpre o que prometeu a uma parte crescente da população. E isso implica que enfrentarmos a libertação aparentemente não conta com uma base de massas. (BAUMAN, 2001, p. 23).

Outro aspecto importante são os grandes questionamentos realizados

sobre a relação entre jovens e criminalidade. As organizações não

governamentais não se limitam apenas a responder sobre a superação da

violência, pois, dessa forma, entende-se que todos os jovens direta ou

indiretamente estão inseridos no crime, e isso não corresponde à verdade.

Retirar das discussões e debates o aspecto da violência, seria como entrar em

uma bolha e esquecer o que se passa ao redor.

Essa discussão não se limita somente a uma esfera, mas a várias

instâncias presentes, entre elas, o poder público, os meios de comunicação, o

combate à corrupção e a valorização da integridade física e dos direitos

humanos. Esse rótulo, muitas vezes anunciado e legitimado por alguns meios

de comunicação, impede que esses mesmos jovens sintam-se parte integrante

de projetos para o bem comum e a cidadania.

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5.2 QUEM SÃO OS JOVENS CONSIDERADOS À MARGEM?

Na década de 1990, o conceito de jovem começa a ser utilizado com o

objetivo de demarcar uma nova interpretação e participação, diferente de

outrora, nesse sentido, ocorre a superação de preconceitos. Os problemas em

torno da sociedade e da reflexão juvenis são bem abrangentes, por isto, a

parceria entre Estado e sociedade civil é imprescindível à análise, para,

inclusive, a resolução de problemas. Essa aproximação deve ser muito bem

feita, reorganizada e dialogada, para que a otimização dos projetos se

concretize.

Entre os desafios a serem analisados e superados, deve ser ressaltada a

necessidade de os jovens de “periferia” serem contemplados nas esferas

públicas. Uma das formas encontradas para a superação do preconceito é uma

construção mediante o break e o grafite denominado hip hop, um estilo musical

que agrega diversos formatos, não é orgânico, mas possui formas diferentes de

representação. O formato dos estilos é resultado de fusões culturais regionais e

globais, que particularizam cada forma de expressão no mesmo segmento.

Diferenças entre cidades grandes e pequenas devem ser levadas em conta para caracterizar matizes da condição juvenil. Certamente as particularidades locais podem atenuar ou acentuar algum dos vários vetores que produzem e/ou reproduzem desigualdades sociais. (NOVAES, 2006, p. 107).

Infelizmente, existem muitos grupos que fazem apologia ao crime e à

violência, seguindo uma ideologia que contraria o bem coletivo, ao qual se

segue um estilo mais agressivo, nas melodias e formas de trabalho, tanto em

âmbito nacional quanto internacional. Por outro lado, aqui no Brasil existem

vários grupos que repercutiram seus projetos mediante uma ideologia de

combate à violência e às drogas, com ênfase na valorização das comunidades

e nos projetos sociais que enfatizem a cidadania e o bem-estar das pessoas de

uma forma mais abrangente. Esses estilos musicais não são isolados de um

contexto cultural, econômico e histórico que provoca o sentimento desse

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público a mudanças de pensamento, estratégias e alternativas diferentes, que

possam contribuir para um crescimento comunitário.

Algo que deve ser salientado dentre as provocações culturais suscitadas

por esses estilos está a demarcação territorial e geográfica, que caracteriza o

rap por exemplo, pois, nas próprias formulações melódicas evidencia-se o valor

da comunidade, as necessidades presentes e as mobilizações que devem ser

garantidas. Como diz Helena Abramo,

Os hips hopers têm uma localização territorial forte, e isso compreende um laço maior com a comunidade. Nas comunidades, fundam “posses”, territórios dentro do território/comunidade, onde se reúnem, informam, se comunicam com outras “posses”, com os “manos e as manas” do hip-hop. (Apud ALMEIDA; EUGÊNIO, 2006, p. 117).

Entre os elementos abordados como forma de reconstrução da

dignidade, socialização e interação com o espaço em que vivem, é

indispensável falar da dimensão da fé e da cultura religiosa, que se fazem

presentes em letras criadas pelos rappers das comunidades. A utilização e

referência a Deus, nesse contexto, não implica necessariamente na relação

direta com a religião, mas segundo algumas pesquisas, surge inclusive como

sinal de esperança, ou segundo algumas gírias utilizadas pelos jovens, “para o

mano não desandar”.

A forma simbólica “Deus”, pode ser compreendida aqui, como uma forma

de superação das grandes injustiças e do descomprometimento social, as

quais esses jovens são vítimas. A adesão nas letras e o reconhecimento de

uma forma superior, fazem parte de um caminhar civilizatório do rap

mencionado.

A presença do rap nas comunidades agrega valores ao espaço local e

reforça a identidade preexistente no local. Além de garantir novos trajetos por

meio das letras criadas, evidencia-se a busca por um cenário diferente, critica-

se a falta de apoio governamental e estabelece entre os seus pares um

comprometimento com o bem comunitário, através de um código de linguagem

que abrange um público muito diversificado, bem como combate o preconceito

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racial e outros tipos de discriminação, suscitando grandes transformações e

podendo ser visto como um local de aprendizado para a interação e

socialização. Criam-se também, novos autores sociais que assumem seus

ofícios diversos, tais como os Mc’s e os Dj’s, que prefiguram novas identidades

e estilos a essas regiões de alto índice de vulnerabilidade.

O hip hop no Brasil criou um espaço muito significativo, já que significou

a retomada de valores da própria cultura local e junto a isso, contribui para a

reconstrução da dignidade, inserção social, valorização familiar, roupas, bem

como para a linguagem, que contribui para a união e a identidade grupal. Como

todo movimento expressivo, há divergências nas organizações internas, o que

é comum, pois, ao se falar da juventude hoje, também implica falar dos jovens

das “periferias”.

Mencionar sobre a juventude é falar sobre um processo histórico

existente, com choques e fusões culturais, valores morais e sociais

internalizados. E uma parcela significativa da juventude acaba por ser vítima

das desigualdades sociais, o que impede um salto qualitativo na empreitada

frente a um futuro promissor.

Com o avanço nas discussões e debates sobre os direitos da juventude,

observa-se que não englobam a totalidade de nossos jovens, nem mesmo a

superação dos preconceitos e discriminações raciais. Mesmo a universalização

dos direitos não fora suficiente para alavancar todas as barreiras referentes ao

preconceito racial, ao gênero e à localização, por este motivo, outras iniciativas

são fundamentais nesse processo, ou seja, pode-se dizer que as relações com

a juventude retratam os desafios presentes da sociedade acompanhados das

indiferenças e desigualdades sociais.

Esse processo de transição da proteção da infância à fase adulta,

perpassa por vários processos, uma vez que os jovens estão localizados em

contextos sociais e históricos diferentes, o que proporciona uma interpretação

de mundo distintas. Há que se pensar que falar dos jovens atualmente,

necessita-se de análises profundas, visto que a velocidade das informações e

transformações é intensa.

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Denota-se um certo avanço em espaços de socialização, além da família

e da escola, fruto também dos avanços nos sistemas de comunicação e na

internet. Um dos pontos positivos do acesso à internet, refere-se às formas de

interação criadas pelos próprios grupos, em níveis e situações diferenciadas. A

internet pode promover o encontro de iguais, estilos, preferências, modalidades

esportivas, gostos musicais, modas femininas e masculinas e interações, que

promovem encontros entre grupos que se afeiçoam em interesses.

Um fator que deve ser observado para uma melhor compreensão dos

anseios e desejos juvenis está direcionado ao narcotráfico, que modifica o

cenário em nível internacional. Não há possibilidades de omitir essa

configuração social, no entanto, há que se buscar alternativas por meio de

investimentos sérios nas áreas culturais e sociais e nas políticas públicas, que

de fato contemplem as diversas necessidades aplicadas à juventude em nosso

país.

Conforme Novaes (2006, p. 120), segundo alguns dados registrados, há

mais de 34 milhões de jovens espalhados no país, ou seja, um número

significativo que precisa ser amparado, cuidado e orientado, desde as questões

básicas como higiene pessoal, respeito às regras estabelecidas, entre outras.

Por meio da arte e da cultura tem-se possibilitado o acesso a novos espaços e

inúmeras mudanças nas configurações das trajetórias pessoais e sociais, tudo

isso com o objetivo de proporcionar novos sonhos para essas realidades.

5.3 ASPECTOS DA VULNERABILIDADE (JUVENTUDE, VIOLÊNCIA E VULNERABILIDADE SOCIAL)

Entre os problemas vivenciados na América Latina, destaca-se a

necessidade de olhar para a juventude. A demanda de jovens é tão grande,

que necessitam de um olhar apurado para as esferas sociais e para as

implicações sobre esse fenômeno. Com o aumento da população juvenil torna-

se imprescindível denotar as mudanças econômicas e as reais oportunidades

que estão sendo aferidas a nossos jovens. Uma parcela muito significativa de

jovens encontra-se em situação precária, que os impedem de experienciar e

vivenciar as relações de cidadania.

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A situação de vulnerabilidade engendra vários problemas, entre eles a

exposição à violência e outros mecanismos que podem servir, em um primeiro

momento, para a demonstração de um reconhecimento ou identidade. As

condições em que alguns jovens encontram-se, podem contribuir muito para o

aspecto da violência e exposição ao mundo das drogas e dos crimes. Um dos

fatores agravantes dessa dimensão é a não possibilidade de um investimento

qualitativo nas áreas de educação, saúde, cultura e lazer, fatores

preponderantes para a conscientização da cidadania e do sentido de pertença

social.

A situação de vulnerabilidade na América Latina começa a ser

demarcada, sobretudo no final do século XIX, período em que o aumento da

pobreza e da concentração de renda resultou em uma distribuição desigual,

pois a grande maioria fica exposta à fome, ao desemprego e à violência.

Segundo dados da CEPAL, “[...] ao final dos anos 90, a pobreza na América

latina afetava 35% dos domicílios, enquanto a indigência ou pobreza extrema

alcançava 14%” (1999).

A vida e a inserção social da juventude exigem dos órgãos principais, o

empenho e a dedicação necessários para que se abarquem as necessidades e

criem condições estruturais, visando o bem integral da juventude. O livro

“Adolescentes e jovens em ação” revela expressivos dados referentes à

violência. O Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do

Delito e Tratamento do Delinquente (ILANUD)7 realizou uma pesquisa entre

junho de 2000 e abril de 2001, com 2.100 adolescentes acusados da prática de

ato infracional na capital paulista, utilizando uma amostra de adolescentes

acusados da prática de ato infracional, ou seja, ainda não sentenciados,

possibilitando traçar um perfil mais realista do adolescente em conflito com a

Lei, em que apenas 1,4% era acusado da prática de homicídio, contra 14,7%

encontrados na pesquisa citada anteriormente.

Estimativas da Divisão de População das Nações Unidas para 2010

(calculadas pela média geométrica para os períodos 2005-2010 e 2010-2015),

possibilitam estudos comparativos de alguns indicadores demográficos do 7<http://www.bv.fapesp.br/pt/instituicao/1471/instituto-latino-americano-das-nacoes-unidas-

para-prevencao-do-delito-e-tratamento-do-deliquente-ilanud>.

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Brasil com algumas áreas específicas. A comparação do número de anos que

uma pessoa esperaria viver ao nascer – indicador muito utilizado para verificar

o nível de desenvolvimento dos países – mostra que as pessoas que nascem

na América do Norte têm a possibilidade de viver pelo menos até os 79,7 anos

de idade, enquanto aquelas que nascem na África têm uma expectativa de vida

de apenas 55 anos, o que acarreta uma diferença de, aproximadamente, 25

anos. Segundo estimativas das Nações Unidas, o Brasil situa-se em torno de

72,9 anos de esperança de vida ao nascer, conforme pode ser averiguado no

Gráfico 3.

Gráfico 3: Esperança de vida ao nascer, segundo a América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia, Europa, Oceania e Brasil – 2010

Fonte: ONU, Divisão da população, Database, 2010.

Ainda segundo as Nações Unidas, em relação à mortalidade infantil –

indicador também muito utilizado para aferir os níveis de desenvolvimento

econômico e social dos países –, no continente americano, a América do Norte

se sobressai com a menor taxa, 5,6 óbitos por cada 1.000 nascidos vivos. O

Brasil com 21,8‰, ainda apresenta uma taxa ligeiramente superior à da

América Latina, com 20,3‰, conforme dados do Gráfico 4 apresentado a

seguir:

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Gráfico 4: Taxa de mortalidade infantil segundo a América Latina e Caribe, América do Norte, Ásia, África, Europa e Oceania – 2010

Fonte: ONU, Divisão da população, Database, 2010.

Na faixa etária de 6 a 14 anos, é possível dizer que, desde meados da

década de 1990, praticamente todas as crianças brasileiras já estavam

frequentando escola. O Gráfico 5 apresenta a situação do segmento etário

posterior, constituído por adolescentes de 15 a 17 anos. A proporção é menos

favorável para essa faixa etária, pois, em 2009, a taxa alcançou 85,2% daquele

contingente. É importante mencionar que foi somente a partir de 2007 que o

segmento populacional das crianças de 6 anos foi incorporado à faixa de

ensino obrigatória, que até então compreendia dos 7 aos 14 anos de idade.

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Gráfico 5:Taxa de frequência bruta e estabelecimento de ensino da

população residente, segundo os grupos de idade – Brasil – 1999/2009

Fonte IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999/2009.

Observa-se que a escolarização dos jovens de 15 a 17 anos de idade no

nível médio não está universalizada. Houve uma melhora em relação à 1999,

mas ainda cerca de metade deles estava no nível adequado em 2009, para sua

faixa etária. Este indicador para os adolescentes residentes na Região

Nordeste revela uma grande disparidade nacional, pois, em 2009, somente

39,2% estavam no nível médio, não chegando a atingir os 42,1% alcançados

pelos adolescentes residentes na Região Sudeste, em 1999, como pode ser

averiguado abaixo no Gráfico 6.

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Gráfico 6 : Taxa de escolarização líquida dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade, segundo as Grandes Regiões – 1999/2009

Fonte IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999/2009.

A baixa escolarização líquida dos adolescentes vem como decorrência

dos atrasos ocorridos no Ensino Fundamental. É fato constatado que a maioria

das crianças brasileiras ingressa nesse ciclo sem antes ter cursado o Ensino

Pré-Escolar, o que acarreta, no início do processo, um atraso em média de dois

anos. Basta analisar o número médio de anos de estudo concluídos pelas

crianças de 10 a 14 anos de idade. No período de 1999 a 2009 houve uma

redução no progresso, conforme os dados do Gráfico 7 apresentados a seguir:

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Gráfico 7: Média de anos de estudo das crianças de 10 a 14 anos de idade, segundo a idade – Brasil – 1999/2009

Fonte IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999/2009.

Para complementar a análise da situação de escolarização, no que se

refere às pessoas de 18 a 24 anos de idade que têm 11 anos de estudo,

procurou-se verificar se esse grupo continuava a frequentar escola. Os

resultados mostraram que somente 5,4% daqueles que haviam obtido esse

nível de escolaridade permaneciam na escola em 2009. Cerca de 15,1% dos

jovens desta faixa etária apresentavam 11 anos ou mais de estudo, dentre os

quais 10,7% continuavam os estudos. É importante dizer que, em 2009, a

maioria dos estudantes de 18 a 24 anos ainda frequentava nível de ensino

abaixo do recomendado para a sua faixa etária. Contudo, de 1999 a 2009,

houve uma melhora, com decréscimo na frequência ao Ensino Fundamental e

ao Ensino Médio, e aumento na frequência ao nível superior, conforme

apontam os dados contidos no Gráfico 8.

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Gráfico 8 : Distribuição dos estudantes de 18 a 24 anos de idade, segundo o nível de ensino frequentado – Brasil – 1999/2009

Fonte IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999/2009.

Outro aspecto importante a ser mencionado são os dados sobre o

analfabetismo no Brasil. A taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou

mais de idade baixou de 13,3% em 1999, para 9,7% em 2009, correspondendo

a um contingente de 14,1 milhões de pessoas. As principais características

desse grupo são as seguintes: 32,9% das pessoas analfabetas têm 60 anos ou

mais de idade; 10,2% são pessoas de cor preta e 58,8% pardas; 52,2%

residem na Região Nordeste; e o fenômeno ocorre em 16,4% das pessoas que

vivem com meio salário mínimo de renda familiar per capita. Quando se

observa o analfabetismo por grupos etários, verifica-se uma redução entre as

pessoas de até 39 anos de idade, de 1999 a 2009.

Nota-se também que, no referido grupo, as mulheres são mais

alfabetizadas do que os homens. Contudo, os maiores decréscimos foram

registrados na faixa etária de 15 a 24 anos: para os homens, esse declínio foi

de 7,2 pontos percentuais, e para as mulheres, de 3,9 pontos percentuais. O

peso relativo dos idosos no conjunto dos analfabetos no período em análise

cresceu, passando de 34,4% para 42,6%. As diferenças entre homens e

mulheres acentuam-se nesse segmento etário, devido à sobrevida das

mulheres, como pode ser constatado no Gráfico 9.

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Gráfico 9 : Distribuição percentual das pessoas de 15 anos ou mais de idade, analfabetas, por sexo, segundo os grupos de idade – Brasil –

1999/2009

Fonte IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – 1999/2009.

5.4 DADOS EDUCACIONAIS REFERENTES À POPULAÇÃO DE CAMPINAS

5.4.1 JUVENTUDE

A proporção de crianças e de jovens frequentando ou tendo completado

determinados ciclos indica a situação da educação entre a população em idade

escolar do estado e compõe o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

(IDHM), que além da educação, também é composto pela longevidade e renda.

No município de Campinas, a proporção de crianças de 5 a 6 anos na escola é

de 93,61%, em 2010. No mesmo ano, a proporção de crianças de 11 a 13 anos

frequentando os anos finais do Ensino Fundamental é de 87,20%; a proporção

de jovens de 15 a 17 anos com Ensino Fundamental completo é de 69,52%; e

a proporção de jovens de 18 a 20 anos com Ensino Médio completo é de

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53,20%. Entre 1991 e 2010, essas proporções aumentaram, respectivamente,

em 55,17 pontos percentuais, 27,83 pontos percentuais, 33,91 pontos

percentuais e 30,68 pontos percentuais.

O IDHM de Campinas foi de 0,805, em 2010, o que situa esse município

na faixa de Desenvolvimento Humano Muito Alto (IDHM entre 0,800 e 1,0). A

dimensão que mais contribui para o IDHM desse município é a longevidade,

com índice de 0,860, seguida da renda, com índice de 0,829, e da educação,

com índice de 0,731.

Entre 2000 e 2010, a população de Campinas cresceu a uma taxa média

anual de 1,09%, enquanto no Brasil essa taxa foi de 1,17%, no mesmo período.

Nesta década, a taxa de urbanização do município passou de 98,33% para

98,28%. Em 2010 viviam no município 1.080.113 pessoas.

Tabela 1: IDH MUNICIPAL E SEUS COMPONENTES – CAMPINAS/SP

IDHM e componentes 1991 2000 2010

IDHM – Educação 0,408 0,614 0,731

% de 18 anos ou mais com Ensino Fundamental completo 44,77 56,84 67,71

% de 5 a 6 anos frequentando a escola 38,44 71,63 93,61

% de 11 a 13 anos frequentando os anos finais do Ensino Fundamental 59,37 77,75 87,2

% de 15 a 17 anos com Ensino Fundamental completo 35,61 62,42 69,52

% de 18 a 20 anos com Ensino Médio completo 22,52 43,92 53,2

IDHM – Longevidade 0,746 0,801 0,86

Esperança de vida ao nascer (em anos) 69,74 73,07 76,59

IDHM – Renda 0,775 0,808 0,829

Renda per capita (em R$) 995,2 1.223,77 1.390,83 Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

Entre 1991 e 2000, a população do município cresceu a uma taxa média

anual de 1,51%. Na UF, essa taxa foi de 1,78%, enquanto no Brasil foi de

1,63%, no mesmo período. Na década, a taxa de urbanização do município

passou de 97,39% para 98,33%.

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Tabela 2 : POPULAÇÃO TOTAL, POR GÊNERO, RURAL-URBANA – CAMPINAS/SP

População total, por gênero, rural/urbana – Campinas/SP

População População

(1991)

% do Total

(1991)

População

(2000)

% do Total

(2000)

População

(2010)

% do Total

(2010)

População

total 846.737 100,00 969.396 100,00 1.080.113 100,00

Homens 415.745 49,10 472.175 48,71 520.865 48,22

Mulheres 430.992 50,90 497.221 51,29 559.248 51,78

Urbana 824.616 97,39 953.218 98,33 1.061.540 98,28

Rural 22.121 2,61 16.178 1,67 18.573 1,72

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

Gráfico 10 : Fluxo escolar por faixa etária – Campinas/SP – 1991/2000/2010

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

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Gráfico 11: Fluxo escolar por faixa etária – Campinas/SP – 2010

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

Em 2010, 89,28% da população de 6 a 17 anos do município estavam

cursando o Ensino Básico regular com até dois anos de defasagem idade-

série. Em 2000 eram 87,93% e em 1991 eram 79,75%. Dos jovens adultos de

18 a 24 anos, 21,46% estavam cursando o Ensino Superior em 2010. Em 2000

eram 15,74% e em 1991 eram 10,24%.

O indicador “Expectativa de Anos de Estudo” também sintetiza a

frequência escolar da população em idade escolar. Mais precisamente, indica o

número de anos de estudo que uma criança que inicia a vida escolar no ano de

referência deverá completar ao atingir a idade de 18 anos.

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Gráfico 12: Escolaridade da população de 25 anos ou mais 1991/2000/2010

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

A renda per capita média de Campinas cresceu 39,76% nas últimas duas

décadas, passando de R$ 995,15, em 1991, para R$ 1.223,77, em 2000, e

para R$ 1.390,83, em 2010. Isso equivale a uma taxa média anual de

crescimento nesse período de 1,78%. A taxa média anual de crescimento foi de

2,32%, entre 1991 e 2000, e 1,29%, entre 2000 e 2010. A proporção de

pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00

(agosto de 2010), passou de 5,48%, em 1991, para 6,24%, em 2000, e para

3,16%, em 2010. A evolução da desigualdade de renda em ambos os períodos

pode ser descrita através do Índice de Gini, que passou de 0,53, em 1991, para

0,57, em 2000, e para 0,56, em 2010.

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Tabela 3: RENDA, POBREZA E DESIGUALDADE – CAMPINAS/SP (1991/2000/2010)

Renda, Pobreza e Desigualdade – Campinas/SP

Ano 1991 2000 2010

Renda per capita (em R$) 995,2 1.223,77 1.390,83

% de extremamente pobres 0,99 1,52 1,06

% de pobres 5,48 6,24 3,16

Índice de Gini 0,53 0,57 0,56 Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

Gráfico 13: Distribuição da renda por quintos da população

(ordenada segundo a renda domiciliar per capita) – 1991/2000/2010

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

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99

Gráfico 14: Composição da população de 18 anos ou mais de idade – 2010

Fonte: PNUD, Ipea e FJP

Entre 2000 e 2010, a taxa de atividade da população de 18 anos ou mais

(ou seja, o percentual dessa população que era economicamente ativa) passou

de 68,99%, em 2000, para 68,73%, em 2010. Ao mesmo tempo, sua taxa de

desocupação (ou seja, o percentual da população economicamente ativa que

estava desocupada) passou de 14,58%, em 2000, para 6,25%, em 2010.

Tabela 4: OCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO DE 18 ANOS OU MAIS – CAMPINAS/SP

Ocupação da população de 18 anos ou mais – Campinas/SP 2000 2010

Taxa de atividade 68,99 68,73

Taxa de desocupação 14,58 6,25

Grau de formalização dos ocupados – 18 anos ou mais 70,97 77,69

Nível educacional dos ocupados

% dos ocupados com Ensino Fundamental completo 66,52 75,29

% dos ocupados com Ensino Médio completo 48,19 57,98

Rendimento médio

% dos ocupados com rendimento de até 1 salário mínimo 12,8 6,98

% dos ocupados com rendimento de até 2 salários mínimos 45,98 48,94

% dos ocupados com rendimento de até 5 salários mínimos 77,12 80,49 Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

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Em 2010, das pessoas ocupadas na faixa etária de 18 anos ou mais, do

município, 1,13% trabalhava no setor agropecuário, 0,16% na indústria

extrativa, 12,07% na indústria de transformação, 5,96% no setor de construção,

0,96% nos setores de utilidade pública, 14,74% no comércio e 53,43% no setor

de serviços.

Tabela 5 : INDICADORES DE HABITAÇÃO – CAMPINAS/SP

Indicadores de Habitação – Campinas/SP

Ano 1991 2000 2010

% da população em domicílios com água encanada 96,05 97,73 99,42

% da população em domicílios com energia elétrica 99,40 99,89 99,98

% da população em domicílios com coleta de lixo. * Somente para população urbana.

96,33 98,70 99,81

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

Tabela 6: VULNERABILIDADE SOCIAL (FAMÍLIA, TRABALHO E RENDA E

CONDIÇÃO DE MORADIA) – CAMPINAS/SP

Vulnerabilidade Social – Campinas/SP

Crianças e Jovens 1991 2000 2010

Mortalidade infantil 23,60 18,06 11,81

% de crianças de 0 a 5 anos fora da escola - 72,27 44,00

% de crianças de 6 a 14 anos fora da escola 13,27 5,17 4,05

% de pessoas de 15 a 24 anos que não estudam, não trabalham e são vulneráveis, na população dessa faixa

- 7,07 4,92

% de mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos 1,69 2,71 1,85

Taxa de atividade – 10 a 14 anos - 5,55 4,86

Família

% de mães chefes de família sem Ensino Fundamental e com filho menor, no total de mães chefes de família

8,28 9,32 10,72

% de vulneráveis e dependentes de idosos 0,90 1,04 0,83

% de crianças com até 14 anos de idade que têm renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 70,00 mensais

1,77 3,02 2,30

Trabalho e Renda

% de vulneráveis à pobreza 17,46 18,34 11,39

% de pessoas de 18 anos ou mais sem o Ensino Fundamental completo e em ocupação informal

- 31,33 21,66

Condição de Moradia

% da população em domicílios com banheiro e água encanada

94,02 97,26 97,30

Fonte: PNUD, Ipea e FJP.

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6 A METODOLOGIA E A ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa qualitativa foi direcionada para a coleta e análise dos dados,

com o intuito de verificar as motivações e hipóteses levantadas no início dessa

dissertação. Como o principal instrumento, no caso da pesquisa qualitativa, é o

próprio docente e sua relação com os alunos, teve-se o cuidado em identificar

os dados da forma mais fidedigna, mas sem anular a subjetividade,

correspondente à pesquisa qualitativa. Segundo Flick:

Ao contrário da investigação quantitativa, os métodos qualitativos encaram a interação do investigador com o campo e os seus membros como parte explícita da produção do saber, em lugar de a excluírem a todo o custo, como variável interveniente. A subjetividade do investigador e dos sujeitos estudados faz parte do processo de investigação. (2005, p. 6).

O instrumento escolhido para a coleta de dados pode ser enquadrada

como uma das estratégias da pesquisa qualitativa empregada, uma das

grandes vantagens é que se estabelece uma interação entre pesquisador e

pesquisado. Segundo Flick:

Com a utilização específica de um guia da entrevista, que reúne questão e estímulos narrativos, é possível coletar dados biográficos com relação a um determinado problema. Essa entrevista caracteriza-se por três critérios centrais: centralização do problema, ou seja, a “orientação do pesquisador para um problema social relevante”. (2005, p. 100).

A pesquisa aqui discutida, de cunho qualitativo, desenvolveu-se no

Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP, por um período de

trinta dias, contemplando o primeiro semestre de 2015, englobando o uso de

instrumentos pautados na observação e na conversação, como questionário

exploratório e entrevista com perguntas abertas (BELTRAN, 2014).

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Ao se tratar de pesquisa qualitativa, Flick assevera que a mesma “[...] é

orientada para a análise de casos concretos em sua particularidade temporal e

local, partindo das expressões e atividades das pessoas em seus contextos

locais” (2005, p. 28). Diferencia-se por ter como foco de análise os contextos

cotidianos, nos quais os fenômenos humanos ocorrem, focando-se com os

significados, perspectivas e compreensões atribuídas pelos sujeitos a esses

contextos, destacando-se o processo de construção do conhecimento, teórico,

dentre outros, que podem daí advir para todos os envolvidos. Essa experiência

pode agregar o inusitado, o estabelecimento de relações de confiança entre os

participantes e o entrevistador, o interesse em “descobrir” os sentidos que os

jovens atribuem à vida, aos comportamentos, bem como o profundo respeito

moral que isso requer, que, na realidade, devem ser intrínsecos a essa linha

investigativa. A metodologia empregada para a coleta de dados não pode ser,

dessa forma, interpretada de forma independente, mas incorporada ao

processo.

Segundo Laville e Dionne (1999), mesmo que o questionário seja um dos

instrumentos de sondagem, o seu uso não está limitado a essa única estratégia

de pesquisa, nem restrito à pesquisa quantitativa, mas pode compor outras

modalidades investigativas de pesquisa, no caso, no que se refere à vivência e

às formas de socialização.

Os questionários exploratórios foram feitos com o intuito de mais bem

conhecer os “aprendentes” e suas concepções sobre a leitura de mundo e de si

mesmos e verificar quais são os possíveis impactos sociais e educacionais em

suas trajetórias na Instituição.

Primeiramente, para a realização da coleta de dados foi requerida a

autorização do Padre e Diretor Fernando Campane Vidal, para que obtivesse

contato com os educandos pretendidos para a formulação da pesquisa. Os

participantes foram alunos do Ensino Fundamental II, nos anos respectivos do

6º ao 9º ano, do primeiro semestre de 2015, totalizando o número de 13

entrevistados. Vale salientar que todos são alunos do entrevistador.

Os alunos pré-selecionados adentram como sujeitos da pesquisa que

tem como ponto de confluência o Auxílio Bolsa de 100%, atribuído pela

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Instituição, a qual conta com uma Assistente Social que realiza uma análise do

perfil socioeconômico dos sujeitos inscritos.

O contato foi realizado, a priori, por meio de um questionário

exploratório8 com o intuito de melhor entender o contexto familiar ao qual estão

inseridos. As perguntas foram estruturadas de forma a percorrer a dinâmica e a

valorização familiar. Em seguida, parte-se das informações sobre o que julgam

mais importante em suas vivências e quais são as pessoas que compartilham

seus sentimentos. Dentro desta proposta, foi realizada uma sondagem sobre

as pessoas que os entrevistados julgam como referências. Posteriormente,

indaga-se as maiores dificuldades vivenciadas, as perspectivas de futuro e as

formas de realizações pessoais. E para finalizar a pesquisa, foram aferidas

questões relacionadas aos impactos das modas juvenis, à existência ou

lacunas de valores e às formas de violência identificadas pela juventude.

Esta entrevista9 deu-se por meio de ligações telefônicas com a adesão

dos pais dos respectivos educandos, cuja durabilidade calculada foi entorno de

20 a 25 minutos por entrevistado. As questões abertas e voltadas para a

vivência educacional foram previamente elaboradas com a finalidade de

direcionar a conversa e possibilitar, ao entrevistado, a liberdade de melhor

compreensão, entendimento e posicionamento diante das indagações.

Para uma melhor compreensão das respostas, nomearam-se os

participantes de forma cronológica, de um a treze alunos, atribuídos pela ordem

dos respectivos anos, de forma decrescente. Foram coletados dados

demográficos de caracterização pessoal que constam a seguir, com objetivo de

melhor detalhar o perfil de cada participante.

Tabela 7: DADOS ESPECÍFICOS DOS PARTICIPANTES DO QUESTIONÁRIO E DA ENTREVISTA

Aluno Ano Sexo Idade Tempo de

Inserção na Escola

A1 9º Feminino 14 anos 09 anos

8 Apêndice A.

9 Apêndice B.

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A2 9º Feminino 14 anos 03 anos

A3 9º Masculino 14 anos 01 ano e meio

A4 9º Masculino 14 anos 04 anos

A5 1º ano do Ensino

Médio

Masculino 15 anos 04 anos

A6 8º Feminino 13 anos 03 anos

A7 8º Feminino 13 anos 07 anos

A8 8º Feminino 13 anos 08 anos

A9 8º Feminino 13 anos 03 anos

A10 7º Feminino 12 anos 04 anos

A11 6º Feminino 11 anos 04 anos

A12 6º Feminino 11 anos 03 anos

A13 5º Feminino 10 anos 05 anos

As perguntas eram abertas para conter elementos diversificados em

cada resposta. A intenção foi destacar proporcionalmente as respostas que

mais apareceram no questionário interativo com os alunos. Inicialmente,

planejou-se o questionário exploratório, baseado na observação cotidiana

dentro e fora da sala de aula, fundamentando-se em alguns autores que

retratam a experiência juvenil no cenário educacional regional e nacional,

possibilitando agregar elementos teóricos que favorecessem uma maior

compreensão das diversas inquietações, sonhos, esperanças e motivações da

juventude inserida na Instituição educacional referida, bem como possibilitou a

constatação de quais foram os maiores benefícios experienciados pelos

mesmos na vida familiar, pessoal e social.

Na sequência, apresenta-se o questionário exploratório e as respectivas

respostas que contribuíram para evidenciar o perfil dos educandos, bem como

suas relações interpessoais, familiares e escolares, assim formulado:

1) 1 Como se concretiza o relacionamento com sua família? Faça um

comentário.

A1: Meu relacionamento familiar é muito bacana, meus pais são jovens e legais,

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isso facilita muito nossa relação porque eles adentram com facilidade no

meu mundo, inclusive com ideias parecidas.

A2: Legal, gosto bastante, mas, as vezes, há discussões, mas na maior parte do

tempo nos damos bem.

A3: Me sinto bem em relação à família, não participo de eventos familiares e não

faço questão, o convívio com eles é bem pequeno.

A4: Sinto muito amor, existem as dificuldades temporárias, mas são muitos

amigos e dispostos a aconselhar.

A5: Minha família é muito legal, existe parceria... (pausa), embora há alguns

desencontros, mas temos o hábito de superarmos juntos.

A6: Minha família é legal, amo todos eles, existem alguns desafios, como

desavenças. Às vezes, a minha mãe se irrita com facilidade, falta a

compreensão em alguns momentos.

A7: Considero minha família maravilhosa (pais), um presente de Deus, quanto

aos demais parentes paternos e maternos, não há convívio.

A8: Com minha mãe tenho todo apoio, é minha confidente.

A9:

Sinto muito apoio dos meus pais, as relações e trocas são muito positivas e

dialogo muito com meus pais.

A10: Minha família é muito bacana e temos bastante diálogo.

A11: Me sinto muito bem no ambiente familiar.

A12: Minha família me auxilia em todos os momentos.

A13: Minha família é muito especial em minha vida.

2) 1 Qual é o valor que sua família tem para sua vida?

A1: Sempre me ensinaram muito sobre educação, respeitar a si mesmo e os

mais velhos, isso considero o maior valor que atribuo a minha família.

A2: Amor que recebemos, e isso contribui para um crescimento integral em

minha vida.

A3: Além do reforço aos estudos, nada mais.

A4: Religiosidade e os valores transmitidos são essenciais em minha vida.

A5: Amor como maior motivo de união.

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A6: Sempre ajudamos uns aos outros nos diversos desafios.

A7: Deus, com certeza o mais importante.

A8: Hum... (pausa), pode pular essa questão?

A9: Relação de fidelidade, apoio e momentos prazerosos em família.

A10: Amor entre a gente e um relacionamento legal.

A11: Amor e muita vontade de ajudar um ao outro.

A12: Amor um pelo outro.

A13: Amor e me ajudam a cuidar da saúde para viver melhor.

3) 1 Destaque informações sobre o que considera mais importante em sua

vida hoje.

A1: A convivência familiar como destaque e os amigos para desabafar os

principais problemas.

A2: Estudos, amigos e família.

A3: Estudos e internet.

A4: Bem, deixa eu pensar..., religiosidade dos pais e os valores de amizade.

A5: Família, Deus, estudos e amigos.

A6: A família.

A7: A religião em primeiro lugar.

A8: Busca de um foco, ter disciplina e felicidade.

A9: Amizades, família, alegria nas menores coisas e em momentos pequenos.

A10: Família, amigos e a escola porque nos prepara melhor para o futuro.

A11: Amizade, escola e família.

A12: Família.

A13: Saúde, estudos e família.

4) 1 Existe alguma pessoa em especial a qual você partilha seus problemas,

alegrias e tristezas?

A1: Melhores amigos, pais e avós.

A2: A minha irmã principalmente, mas também com meus pais e amigos.

A3: Com ninguém e amigos às vezes.

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A4: Família e amigos.

A5: Pais e amigos.

A6: Minha mãe, principalmente a minha irmã.

A7: Compartilho com Deus e com meus pais.

A8: Amigos.

A9: Minha mãe.

A10: Amigos e meus pais.

A11: Mãe e amigos.

A12: Com os amigos.

A13: Meus pais e avós, pois, sempre posso partilhar os meus problemas.

5) 1 Quais são as pessoas que julga ser referência para sua vida?

A1: Tenho como maior modelo meu pai, pela maneira dedicada e empenhada

como encara a vida e uma escritora norte-americana Joanne Kathleen

Rowling (série Harry Potter), porque em várias etapas de sua vida, muitas

pessoas diziam que ela nunca conseguiria, mas por ter se dedicado muito,

superou todos os obstáculos, por esse motivo tenho uma admiração grande

por ela.

A2: Meus pais, uma professora do Ensino Fundamental I e Chico Xavier.

A3: Grandes pensadores que fizeram a diferença para a humanidade e um

blogguer, Fabio Brazza.

A4: Meus pais, pelos bons valores que transmitem.

A5: Não tenho nenhuma referência.

A6: (Pausa) Não tenho nenhuma referência.

A7: Minha mãe, e maior referência Jesus Cristo.

A8: Uma youtuber, Helen Anderson (Britânica), que compartilha temas diversos

e que curto muito.

A9: Pais (como modelo), por reforçarem a educação e tenho padrinhos e

madrinhas sensacionais (risos)...

A10: Meus pais, pois são ótimas pessoas, e como uma liderança feminina,

Malala.

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A11: Minha irmã mais velha.

A12: Meu irmão e meus pais.

A13: Minha avó, pois, desde a separação dos meus pais, ela praticamente

assumiu a paternidade/maternidade e sempre cuidou de mim com muita

atenção e carinho. Moro com meu pai e vejo minha mãe no final de semana.

6) 1 Quais são as maiores dificuldades que encontra em sua vida como

jovem?

A1: Aceitação social, na maioria das vezes por grupos pequenos que acabam

por rotular formas de comportamento.

A2: Exclusão das pessoas e amigos.

A3: Estudar é um grande desafio.

A4: Na escola um desafio que sinto... (pausa), são os valores de alguns colegas

que são diferentes dos meus e gosto muito de videogame, isso me tira um

pouco do ritmo de organização e estudos.

A5: Sentimentos nessa fase adolescente que nem sempre... conseguimos

controlar.

A6: Organização do tempo (risos).

A7: Amizade, em minha vida nunca tive grandes amizades... (pausa), acho que é

por conta da minha personalidade, talvez...

A8: Aceitação das diferenças entre as pessoas.

A9: Tenho grande dificuldade em manter os valores cristãos no cotidiano, por

influência muitas vezes das drogas, sensualidade. Sair da zona de conforto,

considero um desafio em minha vida e ao mesmo tempo manter a própria

identidade.

A10: Segurança pessoal e pública, nem sempre me sinto segura ao andar nas

ruas.

A11: Educação e religião.

A12: Ah (risos e pausa), acho que não tenho dificuldades.

A13: Na maioria das vezes pelos problemas da minha casa, principalmente na

relação da minha mãe com meu pai e quando vejo meu pai bravo com os

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serviços da empresa onde ele trabalha.

7) 1 O que você espera para a sua vida em nível de futuro? Quais são seus

grandes ideais?

A1: Penso em minha vida não só na realização financeira que é bom (risos), por

esse motivo me sinto em contradição, porque sou muito bom em exatas, isso

me levaria, por exemplo, para o campo da engenharia, mas meu maior

sonho é ser uma boa escritora, sou apaixonada por leitura.

A2: Me formar, passar em uma grande faculdade, construir uma família e não

perder as amizades construídas na adolescência.

A3: Quero ser um “designer de games”.

A4: Manter os bons valores e ser honesto sempre.

A5: Cursar uma faculdade, ter uma família e uma condição estável de vida.

A6: Cursar uma faculdade boa e aprender a tocar piano.

A7: Realizar o sonho de Deus em minha vida e construir uma boa família.

A8: Morar em outro país e construir uma vida boa e estável.

A9: Construir uma família com embasamento nos meus próprios valores

familiares. Alcançar uma carreira, quem sabe na política (risos), acho que

tenho perfil, e conhecer novas pessoas.

A10: Me formar em medicina, viajar com amigos e pais, conquistar um bom futuro

e não me deixar influenciar pelas coisas negativas da vida.

A11: Ser professora de História.

A12: Ser professora do colégio Liceu.

A13: Passar na faculdade, ir bem na escola, e um dos maiores sonhos é que a

vida da minha avó (cuidadora), seja prolongada por muito e muito tempo

(risos e pausa), ela sempre cuidou muito de mim.

8) 1 O que julga ser importante para que a juventude se realize na

modernidade?

A1: Não se importar com o que dizem a seu próprio respeito, assumir a própria

identidade e os próprios valores.

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A2: Diversões, entretenimento, estudos para avançar na vida e boas amizades.

A3: Depende da pessoa (momento de pausa), precisa de motivação e algo para

se espelhar.

A4: Acredito que seja o aspecto da religião, para buscar um sentido mais

profundo para a própria vida.

A5: Uma boa convivência entre amigos.

A6: Ter uma boa família, amigos e escola.

A7: Relação com Deus, considero extremamente importante.

A8: Amizade como uma forma de superar a solidão.

A9: Aceitar a si mesmo, não perder a própria identidade e viver intensamente as

coisas pequenas da vida.

A10: É necessário ter cabeça boa, não se deixar levar pelas más influências e ter

sempre apoio da família.

A11: Bem essa... (pausa), não estou conseguindo responder.

A12: Estudo, apoio dos amigos e uma boa família.

A13: Ter muita responsabilidade, participar de festas e sempre estar

acompanhado de boas influências.

9) 1 Qual é na sua opinião uma das mais impactantes modas juvenis no

contexto onde habita?

A1: Considero a música como valor fundamental para a juventude, pois existem

vários estilos que acabam correspondendo às expectativas dos diversos

grupos juvenis.

A2: Deixa eu pensar (momento de pausa), bom: celular, videogame, computador,

músicas e livros.

A3: Resgate das coisas antigas, acho que é isso... (pausa).

A4: Paquera, ficar, fazer amizades e a onda de games.

A5: Estar conectado nas redes sociais, baladas e viagens para fora do país.

A6: Dar um rolê, festas, eventos, atividades em geral.

A7: Baladinhas, drogas, busca por popularidade, fama e status.

A8: Diversão, saidinhas de casa e paqueras.

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A9: Amizade, como grande referência da juventude, porque faz muita diferença

em nossas vidas.

A10: Redes sociais, celular e músicas que a juventude gosta de ouvir.

A11: Ter boas amizades.

A12: Jogos de videogame.

A13: Baladinhas e festas.

10) 1 Em sua opinião, existe algum valor que falta à juventude hoje?

A1: Educação com os mais velhos, aceitar que nós, como jovens, não sabemos

de tudo, tenho essa dificuldade (risos), e quando passa o tempo,

percebemos que vale a pensa sempre escutar os mais experientes.

A2: Olha, essa eu não consigo responder... sei lá!

A3: Respeito.

A4: A falta de tolerância atrapalha o convívio social, e a falta de honestidade.

A5: Respeito e amor ao próximo.

A6: Respeito e ser verdadeiro.

A7: Respeito, valores familiares e a religião.

A8: Respeito.

A9: Conhecimento do outro de verdade, além da aparência, pois supera, dessa

forma, a superficialidade.

A10: Diálogo com os familiares, a religião e a balada.

A11: Respeitar as regras e agir com mais consciência.

A12: Não sei...

A13: Bondade, sair menos para as baladas eu acho... e ter mais responsabilidade.

11) 1 Descreva um pouco sobre a relação entre violência e juventude.

A1: Aspecto das drogas, acaba por influenciar bastante a violência. Querer

agradar a determinados grupos, muitas vezes pelo próprio embalo da

“amizade”. E o bullying, ocorre na minha opinião por inveja e comparação

entre o melhor e pior.

A2: Normalmente, na minha opinião, isso acontece por conta do forte

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consumismo, influência de más companhias e a busca de algo a mais para a

satisfação de outras necessidades, acho que é isso.

A3: Consumismo, rivalidade e busca de poder.

A4: Traição, namoro e um dos maiores problemas, com certeza, são as drogas.

A5: Inveja e relacionamentos conturbados.

A6: A influência das drogas e a busca de uma maior popularidade.

A7: Consumo exagerado, provoca, na minha opinião, a violência e a onda de

criminalidade.

A8: Raiva contida, que resulta em pequenas e grandes agressividades.

A9: Preconceito, julgar as pessoas e o bullying.

A10: Disputa por poder no local onde nos encontramos, inveja e paquerinhas,

podem gerar grandes problemas... (pausa), penso que seja isso.

A11: Essa... (risos), achei um pouco difícil de responder.

A12: Pouca tolerância e pouca convivência com boas pessoas.

A13: Más companhias que acabam influenciando o caminho negativo, como

drogas, álcool e bebidas.

Seguem as entrevistas referentes à vida escolar, à perspectivas de

futuros e aos desafios presentes na vivência da juventude abordada.

12) O que você espera da escola para seu futuro?

A1: Espero poder obter sucesso em minha vida.

A2: Bons conteúdos, aprender mais sobre a vida, ser responsável e reforçar os

valores aprendidos em casa.

A3: O Ensino Fundamental, ser tão bom quanto o Ensino Médio e Superior.

A4: Que o conhecimento adquirido possa ser útil para minha vida no futuro.

A5: Conhecimento da história do mundo, atualizar informações e ter visão para

uma vida futura.

A6: Ensinar os valores e conhecimentos para a vida futura.

A7: Melhorar a educação pública, porque é a base da relação com a sociedade.

A8: A escola e os professores são muito bons, por isso espero exercer uma

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atividade que não seja corriqueira e rotineira.

A9: Formação bacana, valores transmitidos muito importantes e uma melhor

preparação para a vida em sociedade.

A10: Educação e possibilidade de evolução em minha vida.

A11: Ter uma boa educação e progredir na vida.

A12: Aprender um bom conteúdo na escola, e no futuro cursar uma boa

faculdade.

A13: Espero passar de ano e que as crianças zelem, com mais cuidado, os

espaços da escola.

13) Por que você começou a estudar no colégio Liceu?

A1: Quando meus pais adquiriram uma condição financeira melhor, optaram pelo

colégio por conta da educação católica e dos valores atribuídos, desse

modo, apostaram na educação.

A2: Meus pais queriam uma escola que pudesse valorizar a família e a religião.

A3: Ter a oportunidade de ascender socialmente.

A4: Meus pais queriam muito que estudasse no Liceu, por conta das

transmissões de valores e, por outro lado, meu pai conhecia o diretor

financeiro, isso facilitou a minha entrada no colégio e consegui uma bolsa de

estudo.

A5: Vontade e sonhos dos meus pais, por ter um ensino bom, e ao mesmo

tempo porque eles não tiveram essa oportunidade na vida e gostariam que

eu e minha irmã tivéssemos.

A6: Por ser uma boa escola, a escolha dos pais, porque mesmo morando em

outra cidade, ouvia falar muito bem do colégio.

A7: Por ser uma escola que proporciona uma boa capacitação para o futuro e a

valorização da família e da religião.

A8: Por meus pais gostarem muito do ambiente e da proposta.

A9: A Escola anterior a qual estudava foi fechada, e o Liceu era um colégio que

meus pais desejavam que eu e minha irmã estudássemos.

A10: Por conta da religião e por saber que segundo meus pais, teria uma boa

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convivência.

A11: Por conta da religião e das boas amizades.

A12: Antes estudava em colégio público, e com esforço minha família conseguiu

colocar eu e meu irmão no Liceu.

A13: Meu pai já trabalhava na UNISAL, isso facilitou muito a minha vinda para o colégio.

14) Qual o período de tempo que está no colégio?

A1: Fazem 09 anos.

A2: Fazem 03 anos.

A3: Faz 01 ano e meio.

A4: Fazem 04 anos.

A5: Fazem 04 anos.

A6: Fazem 03 anos.

A7: Fazem 07 anos.

A8: Fazem 08 anos.

A9: Fazem 03 anos.

A10: Fazem 04 anos.

A11: Fazem 04 anos.

A12: Fazem 03 anos.

A13: Fazem 05 anos.

15) O que você encontra de importante na formação do colégio?

A1: Os valores religiosos e os valores da vida transmitidos, relacionados com a

nossa vida prática e cotidiana.

A2: A proximidade com os alunos... não é uma escola que trata a gente como

número e sim como pessoas únicas.

A3: Respeito, compaixão, a relação entre as pessoas é muito boa.

A4: Incentivo à dedicação no estudo e disciplina.

A5: Curto muito a pastoral, espaço que dá para descansar no intervalo e tocar

violão que adoro.

A6: Preciso pensar... (pausa), pode pular a questão?

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A7: A grande valorização da família.

A8: Ensinam entender a sociedade e ter um olhar mais aprofundado para as

coisas.

A9: Valores cristãos, amor, e bem-estar dos alunos, como Dom Bosco propunha

em sua missão.

A10: Valorização e o cuidado com a família.

A11: Educação, solidariedade e boas amizades.

A12: Eles (profissionais da escola), fazem a gente se sentir bem no ambiente.

A13: Bondade, livros que tratam dos cuidados ambientais e de coisas muito

importantes para nossas vidas.

16) O que você mais gosta do colégio?

A1: Ensino forte, espaço físico, aulas extracurriculares, biblioteca, midiateca,

possibilidade de realizar vários trabalhos entre eles, filmagens nos diversos

espaços do colégio.

A2: Espaço físico, as quadras, os professores atentos e o respeito dos

funcionários em geral.

A3: Corpo docente e o espaço físico.

A4: Da galera como um todo, espaço físico e me sinto em casa por conta dos

valores transmitidos.

A5: Na maioria das vezes sim, no começo, por ser novo, me sentia reprimido,

havia uma garota na sala que colocava medo em todos e não respeitava os

limites das pessoas, hoje está tranquilo (risos).

A6: Curto muito o espaço e os professores.

A7: As aulas e os professores.

A8: Espaço físico.

A9: Professores, amigos e o ambiente escolar favorece a boa convivência.

A10: Dos professores.

A11: Dos professores.

A12: Do coliseu e das quadras.

A13: Do ensino e dos professores que são muito bacanas.

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17) Como você se sente no espaço do colégio? Se sente acolhida e

respeitada, por exemplo?

A1: Pelos professores, funcionários e amigos sim, no entanto, tenho algumas

dificuldades com alguns grupos formados na sala.

A2: Os coordenadores e professores nos tratam muito bem, mas nem todos os

alunos agem com respeito.

A3: Sim, principalmente pelos professores.

A4: No começo sofria com as atitudes de alguns colegas, depois, a coordenação

e professores me ajudaram a entender que muitas coisas eram brincadeiras

e formas de enturmar com os grupos. Hoje considero um problema

superado.

A5: Dificuldades... (pausa), nenhuma, gostaria de viajar e conhecer outros

lugares como a maioria faz, mas valorizo as experiências deles e não crio

obstáculos para convivência.

A6: Sim, sinto muito.

A7: Sim, muito bem acolhida.

A8: Sim, muito bem acolhida, mesmo muitas vezes não participando muito em

sala, mas sempre estou atento ao que os professorem dizem.

A9: Tenho um ótimo relacionamento, tenho facilidade em me adaptar.

A10: Bem acolhida, sente-se bem no ambiente.

A11: Me sinto muito bem acompanhada.

A12: Me sinto muito bem.

A13: Gosto muito dos professores e me sinto segura com os funcionários do

colégio.

18) Existem algumas dificuldades que você encontra no colégio?

A1: Sim, como falei anteriormente, com alguns grupos (panelinhas), mas adotei

uma filosofia própria de não mais me importar, mas sim com aquelas

pessoas que verdadeiramente se preocupam comigo. Muitas vezes me senti

desprezada, pelos valores de alguns grupos, não pela minha capacidade

intelectual, mas sim pelo aspecto financeiro, por não poder viajar para

alguns países como uma boa parte assim o fazem.

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A2: Algumas matérias são mais difíceis para aprender e a postura arrogante de

alguns colegas, na forma, muitas vezes, como nos tratam.

A3: Nunca aconteceu, mesmo sendo novo, fui tentando me adaptar aos poucos.

E o fato de colegas poder fazerem experiências fora do país, acho bacana,

porque posso aprender e adquirir informações com eles.

A4: Não tenho problemas de notas, vou bem (risos), mas o aspecto financeiro é

bem diferente. Existem muitos colegas que vivem situações que não posso

viver, isso, às vezes, incomoda um pouco.

A5: De modo geral, tranquilo.

A6: Número de tarefas para a casa e a pontualidade exigida. Já presenciei

algumas situações em que alguns alunos selecionavam amizades por

questões financeiras, algo desagradável.

A7: Alguns anos atrás, meu pai foi me buscar na saída das aulas. Ele trabalha

com carros e nessa ocasião, foi me buscar com um carro antigo e velho. Por

muito tempo os colegas zombaram de mim, por esse episódio. Infelizmente

reprovei um ano, e não me senti amparado pelos amigos, ao contrário, me

senti até exclusa.

A8: Assimilação da matéria, muitas vezes, sinto a necessidade de aulas práticas,

ao contrário, tenho dificuldade em aprender.

A9: Tenho dificuldades em organizar meu cronograma de estudos, outra

dificuldade é manter a minha identidade e valores contra, muitas vezes, a

futilidade, sensualização, imaturidade, e uma mentalidade muito voltada para

“pegação” e quantos carinhas você já beijou... (pausa), isso me incomoda

bastante.

A10: Uma dificuldade específica na disciplina de Geografia. Em relação às

viagens que os colegas fazem, acho legal eles comentarem para aumentar o

meu conhecimento e cultura.

A11: Às vezes, o que me incomoda é a falta de educação de alguns poucos

alunos.

A12: Não.

A13: Não.

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19) Há alguma dificuldade encontrada com os professores do colégio?

A1: Não encontro dificuldade porque a maioria utiliza bem os recursos

eletrônicos disponibilizados, isso favorece muito a aprendizagem.

A2: Algumas vezes, quando se irritam com a disciplina em sala, acho que não

deveriam gritar com todos, mas somente com aqueles que quebram as

regras.

A3: Tenho uma boa relação, todos tentam cumprir o que está programado.

A4: Não tenho dificuldades, porque sou bem disciplinado.

A5: De modo geral, tranquilo.

A6: Não, tenho um bom relacionamento com todos.

A7: Tenho um bom relacionamento, mas só não me sinto à vontade quando os

professores fazem chamada oral para falar sobre algum conteúdo.

A8: Às vezes, a forma de aplicação do conteúdo, mas são muito bons e

competentes.

A9: Nenhuma em específica, somente, às vezes, a forma de aplicação de alguns

conteúdos.

A10: Não tenho nenhuma dificuldade.

A11: Não tenho nenhuma dificuldade.

A12: Não tenho nenhuma dificuldade.

A13: Não tenho nenhuma dificuldade.

20) Relate os maiores problemas que a juventude brasileira encontra nas

escolas brasileiras.

A1: Não entrar nos caminhos errados, não deixar se influenciar por falsas

amizades. Na minha opinião, principalmente nas escolas públicas carecem

de estímulos para os educadores e para os alunos.

A2: Estrutura das escolas públicas, professores sem vontade e os valores que

transmitem são desmotivadores.

A3: Venho da escola pública e posso dizer que os maiores problemas são a

socialização, a valorização dos professores e, na maioria, os alunos não se

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sentem apoiados e nem motivados.

A4: Acredito que falte disciplina e, na maioria das vezes, os alunos nas escolas

públicas são bastante indiferentes ao conteúdo e à escola.

A5: Drogas e má influência dos mais velhos.

A6: Questão do bullying e a falta de comunicação entre aluno e professor.

A7: Falta de conteúdo e respeito entre alunos e professores.

A8: O preconceito por julgar as pessoas pelo rótulo, e não pelo que elas são de

verdade.

A9: Violência, uma educação de baixa qualidade nas escolas públicas, estrutura

e o pouco aproveitamento dos conteúdos abordados.

A10: As más influências, conversas paralelas, agressões físicas e verbais.

A11: Penso que um dos maiores problemas seja... (pausa), a violência.

A12: Violência.

A13: As drogas influenciam muito no comportamento dos jovens.

Através dos dados coletados do questionário exploratório e da entrevista

aplicada aos alunos do Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de

Campinas-SP aqui descritos, foi possível encontrar os principais valores que

fundamentam e norteiam a filosofia salesiana e as profundas experiências

vividas no cotidiano do colégio.

Pode-se observar uma concordância e as formas de aproximação entre

os relatos apresentados com os grandes problemas que ameaçam a vida da

juventude, da humanidade e da sociedade como um todo.

6.1 OS RESULTADOS SOB A ÓTICA DA EDUCAÇÃO SOCIOCOMUNITÁRIA

A ação de educar e educar-se pode ser considerada como algo

ininterrupto, que está intimamente ligado às vivências e às conexões

estabelecidas, às quais o sujeito se expõe. Entende-se que educar “Não é

moldar o educando para certo conformismo, mas amadurecê-lo, armá-lo (ou

desarmá-lo) para a descoberta de si mesmo e em sua interação com os outros,

numa convergência de responsabilidades” (RIBEIRO JR., 2006, p. 34).

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No que tange à Educação Sociocomunitária, destaca-se a importância e

a valorização dos sujeitos em análise, ou seja, superar uma visão cristalizada

do ser humano como um objeto descartável e entender a amplitude de seus

valores. Segundo Gomes (2008), a Educação Sociocomunitária relaciona-se à

prática educativa salesiana, que se baseia nas diretrizes deixadas por Dom

Bosco e apresenta uma preocupação diante da formação da pessoa humana.

O foco da pesquisa em evidência relaciona-se com a conceituação da

Educação Sociocomunitária, por meio de uma visão integral e não fragmentada

dos sujeitos em análise, segundo aponta Caro10:

A construção da educação social em nosso país está condicionada à nossa própria história, e seu campo de intervenção é o espaço sociocomunitário. Enfim, essa educação é determinada por duas características distintas: seu âmbito social e seu âmbito pedagógico. (2006, p. 30).

Uma educação pensada socialmente e atuante, por meio da ação

educativa, pode favorecer a mobilização social. A compreensão da diversidade

dos grupos humanos pode auxiliar a melhor compreensão do que ocorre no

entorno do sujeito, impulsionando a educação como ação transformadora. O

caminho para uma educação que visa à transformação social, passa pela

amplitude das concepções e leitura de mundo, e a reflexão sobre isso, é

penoso, mas se faz indispensável para a atual sociedade capitalista e

neoliberal.

De acordo com os instrumentos utilizados pela pesquisa qualitativa, a

modalidade escolhida foi: questionário exploratório e as entrevistas com os

aprendentes bolsistas da Instituição Salesiana em análise. O cruzamento dos

dados, num panorama geral, reafirma a ideia de que é por meio de uma

averiguação mais aprofundada dos sujeitos analisados, que foi possível

10

Orientadora da pesquisa vigente: possui doutorado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (2003), mestrado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1997) e graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (1978). Atualmente é docente permanente do Mestrado em Educação e docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Unidade de Americana. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Social, atuando principalmente nos seguintes temas: educador social, educação social, adolescência em risco, formação do educador social e educação sociocomunitária.

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detectar as contradições desembocadas pelo sistema neoliberal e comprovar

que o programa assistencial da instituição pode, em meio a grandes desafios,

promover e possibilitar a realização de novas perspectivas dentro do sistema

vigente.

As questões relevantes a aspectos sobre a vida relacional, incluindo as

pessoas de referência, de maior importância e as que se destacam em níveis

de confiabilidade, são os membros da família. Isso fortalece a conceituação no

que se refere à Educação Sociocomunitária, que é movida por um olhar

transformador, possui como pressuposto teórico e prático a mobilização e as

formas de valorização humana, bem como o contexto em que estão inseridos.

Azevedo aponta que:

A educação de cada um e de todos, ao longo de toda a vida e com a vida, só é possível no quadro destas dinâmicas sociocomunitárias fundadas, em síntese, no encontro, no reconhecimento, na cooperação e no compromisso pessoal e social. (2010, p. 1).

No entanto, o aluno 3 (A3), no que se refere às questões de 1 a 4,

diferencia-se na forma de valorizar as relações familiares e encontrar nelas a

referência para sua vivência, como, por exemplo, quando indagado sobre o

valor que a família representa: “Além do reforço aos estudos, nada mais”.

Percebe-se assim, que há uma grande diversidade na relação de empatia entre

os membros de convivência, essa proximidade pretendida pode, em

determinadas fases de transição, não corresponder aos anseios que

satisfaçam as inquietações juvenis.

O perfil dos jovens modernos difere-se de forma significativa nos

quesitos valores e referências de vida. Dentre as principais citações realizadas

pelos aprendentes na questão 5, observa-se a grande influência das redes

sociais e da literatura em destaque no mercado juvenil, tais como apontados

pelos alunos A1, A3 e A8 com as seguintes personalidades: Joanne Kathleen

Rowling, Fabio Brazza e Helen Anderson.

Denota-se, por parte de alguns jovens, a grande ansiedade em busca de

uma identidade que seja aceita entre os diversos grupos presentes nas

relações socioeducativas. Muitas vezes, preferem se isolar, omitir informações

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ou optar pelo enfrentamento de valores que não condizem com o

embasamento familiar recebido, tal como a aluna 9 (A9) destaca em relação à

questão 6, quando indagada sobre a dificuldade encontrada em sua vida como

jovem: “Tenho grande dificuldade em manter os valores cristãos no cotidiano,

por influência, muitas vezes, das drogas, sensualidade. Sair da zona de

conforto, considero um desafio em minha vida e, ao mesmo tempo, manter a

própria identidade”.

O desejo juvenil em se realizar no futuro de maneira que responda aos

seus anseios, conforme verificado nas questões 7 e 8, supera uma visão

estereotipada e demarcada da juventude em seu conjunto, pois, muitas vezes,

esse público é rotulado como irresponsável, inconsequente e indiferente ao seu

entorno. Mas as respostas dos alunos A1, A4, A9 e A10 destacam-se por

apresentar posições que estão além do perímetro preestabelecido socialmente,

como apontaram os aprendentes A4: “Manter os bons valores e ser honesto

sempre”; A1: “[...] assumir a própria identidade e os próprios valores”; A10: “[...]

não me deixar influenciar pelas coisas negativas da vida”; A9: “Aceitar a si

mesmo, não perder a própria identidade e viver intensamente as coisas

pequenas da vida”.

Em relação à percepção dos jovens em relação aos valores atribuídos

socialmente, prevaleceu a ideia da falta de limites e do respeito em relação ao

outro. Dentro desse panorama apresentado na questão 10, observa-se que

possibilita ampliar as consequências causadas pela falta desse valor por eles

apontado. A questão 11 evidencia que essa desconstrução valorativa favorece

a abertura para outras problemáticas indicadas pelos próprios sujeitos da

pesquisa, com enfoque para a acessibilidade das drogas no cenário juvenil.

Por essa razão Gomes propõe que:

A Educação Sociocomunitária é, assim, numa primeira visão, o estudo de uma tática pela qual a comunidade intencionalmente busca mudar algo na sociedade por meio de processos educativos (2008, p. 7).

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Essa educação voltada para a sociedade, que permite olhar o jovem não

como um número e sim como agente de sua própria história, possibilita que o

mesmo vislumbre um potencial transformador.

Dentre as questões apresentadas, vale salientar a de número 13, em

que os entrevistados, em sua maioria, destacam a importância da inserção no

Colégio Liceu Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas-SP como fator

primordial para a busca de conhecimento e ascensão social. Fica evidente o

anseio em traçar metas que possibilitem a realização de sonhos e a garantia de

um futuro próspero. Tal como A3 aponta: "Ter a oportunidade de ascender

socialmente”.

Denota-se que a sociedade vigente tem sido demarcada por fortes

valores individualistas e consumistas, o que contrapõe consideravelmente um

olhar que favoreça as relações solidárias. Nesse sentido, observa-se que a

opção pelo Colégio Salesiano foi influenciada pela caracterização de sua

filosofia religiosa e humanitária, como é evidenciado nas respostas da questão

13. Segundo Soffner e Sandrini (2012, p. 1), “A pedagogia de Dom Bosco é

centrada na razão, na religião e no afeto, que buscava na democracia a justa

organização social”.

A filosofia salesiana tem como característica seguir a pedagogia de Dom

Bosco, que ao olhar para a juventude, tentava desvendar seus maiores

potenciais e, ao mesmo tempo, propiciar aos envolvidos o sentimento de

valorização de si mesmos e a busca por ideais e perspectivas que

correspondessem aos seus anseios. Desse modo, os educadores salesianos,

nesse contexto, são extensão do carisma de Dom Bosco e permitem, através

de suas ações pedagógicas, um maior envolvimento com os alunos, como

apontado nas respostas da questão 15, como a entrevistada A2 evidencia: “A

proximidade com os alunos... não é uma escola que trata a gente como número

e sim como pessoas únicas”. Como Kant (2001, p. 78) afirma, “Age de tal modo

que trates a humanidade tanto na tua pessoa como na pessoa de todo outro,

ao mesmo tempo, como um fim e jamais como um meio”.

O cenário educacional salesiano visa estabelecer relações harmoniosas

e que favoreçam as trocas de experiências, vivências diversas tais como as

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apresentadas no programa de Bolsas de Estudo intermediadas pela assistência

social do Colégio, que visa proporcionar aos assistidos, a interatividade com o

cenário cultural e social diferenciado e àqueles não bolsistas, oportunizar

outras formas de socialização. Mas há nesse cenário grandes desafios a serem

superados, isso se evidencia através dos choques culturais com determinados

grupos de alunos que não absorveram integralmente a proposta salesiana de

alteridade, ou seja, tratar as pessoas de modo a se sentirem parte integrante

de suas histórias, sem reproduzir a dinâmica mercadológica de exclusão, de

seletividade e de descarte.

O posicionamento de alguns alunos torna-se explícito por meio das

respostas da questão 17, que apontam algumas dificuldades experienciadas,

sobretudo nos quesitos de respeito e acolhimento nas relações dos bolsistas

com os demais alunos. Fica evidente nas falas dos alunos A1, A2 e A4: “[...]

tenho algumas dificuldades com alguns grupos formados na sala”; “Os

coordenadores e professores nos tratam muito bem, mas nem todos os alunos

agem com respeito”; “No começo sofria com atitudes de alguns colegas”.

Para Bissoto, uma resposta à problemática apresentada anteriormente

pode ser superada ou amenizada mediante a Educação Sociocomunitária:

A Educação Sociocomunitária, antes do que mais uma subdivisão ou uma especialização da educação, deve ser entendida como um processo: aquele de escuta – e assim de trazer à tona, de favorecer a emersão – das diferentes vozes que compõem as múltiplas educações, que vão nos configurando – construindo a nossa subjetividade – enquanto vamos sendo inseridos nas malhas de relações sociais, que constituem o viver. A escuta atenta destas vozes, ou colocá-las em diálogo, levantando a discussão de suas contradições e ideologias, é fundamental para que tenhamos uma tessitura da realidade mais crítica e emancipatória. É por meio desta discussão que a educação para a autonomia é possível. (BISSOTTO, 2012, p. 93).

Entende-se que o processo educacional não está pronto, mas necessita

de um contínuo investimento em todas as esferas humanas, a fim de que esse

mesmo indivíduo, contemplado em sua individualidade e necessidade,

responda aos apelos da sociedade de forma criativa e com espírito

colaborativo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O contexto educacional brasileiro está permeado de grandes desafios,

observa-se em várias regiões do país grandes lacunas e vulnerabilidades

juvenis que impedem os mesmos de crescerem de forma digna e com

oportunidades que respondam às suas necessidades psíquicas, sociais e

espirituais. Dentro da dinâmica dos capítulos, fora abordada críticas ao

capitalismo neoliberal, presente nas ações governamentais e responsável por

gerar grandes problemas sociais, com destaque para o índice crescente de

desemprego, que gera vulnerabilidade social e falta de perspectivas de vida.

Com um olhar mais voltado para a região de Campinas, essa vulnerabilidade

pode atingir e impactar a dimensão educacional na vida de alguns jovens.

Esse olhar social permite entender como que diretamente atinge as

oportunidades de crescimento coletivo e individual. O contexto moderno

marcado por tensões, também marca profundamente a vida e a história da

humanidade em nossos dias. Contudo, o viver humano exige e requer

esperança.

Os valores de mercado começam a ter prioridade e acabam por incidir

diretamente nos valores vitais do ser humano. Isso gera uma profunda

mudança na vida das pessoas e nas relações entre os seres humanos,

sobretudo na juventude. Essa insegurança contribui para grandes angústias

dos seres humanos como um todo, e da juventude em especial, sujeito dessa

pesquisa, que muitas vezes se encontra sem esperança. Seus conhecimentos,

suas forças, ou crenças quase já não são suficientes para acreditar que a

realidade possa ser pensada e organizada de forma distinta da atual.

Uma das alternativas que a modernidade utiliza para suprir a angústia

existencial é a possibilidade de usufruir do sistema capitalista, que apresenta

como sua principal máxima, o consumismo como o grande potencializador das

formas de superação humanas. Ao trazer essa reflexão estrutural e econômica

para a dimensão educacional, denota-se que há grandes desafios a serem

enfrentados.

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A proposta salesiana tem como sua principal meta, não tratar os jovens

de forma simplesmente quantitativa, mas estabelecer formas de

relacionamento que criem nos educandos a possibilidade de internalizar

valores e ações que os mobilizem para transformações pessoais e sociais de

grande impacto, e oportunizar olhares que transcendam um paradigma

hedonista e particularista.

O questionário desenvolvido com os alunos selecionados anteriormente,

cujo perfil conta com Bolsa de Estudo de 100% no Colégio Liceu Nossa

Senhora Auxiliadora de Campinas-SP, pretende entender qual o impacto dessa

inserção na vida do estudante e da sua família, bem como a importância da

estrutura espacial e social para a elevação de seus ganhos educativos no

contexto escolar.

Desse modo, as relações de sociabilidade permitidas pela escola são

fundamentais para que os jovens possam interagir positivamente com a

sociedade. Bairros pouco atrativos e que não propiciem condições adequadas

para a inserção na escola podem contribuir para o aumento de indicadores

sociais negativos.

Mas, jovens advindos de contextos familiares com inúmeros problemas

sociais, que podem ser identificados pelo baixo nível educacional dos adultos,

elevados índices de desemprego, pouca estrutura física da residência,

dificilmente podem competir em condições de igualdade com jovens oriundos

de contextos sociais com níveis educacionais elevados dos adultos, baixas

taxas de desemprego e residência com boa estrutura física.

Não se trata de uma situação de determinismo social, ou seja, não se

afirma que bastam os jovens residirem em tais espaços conturbados, que

certamente suas oportunidades de ascensão social serão diminuídas, mas, no

entanto, afirmamos que podem ser prejudicadas dada a diminuição de ativos.

Jovens sem um aporte de recursos materiais e imateriais da família e da

sociedade terão que enfrentar a dura realidade do mercado de trabalho mais

cedo, e provavelmente, dada a realidade da vida nas grandes cidades, não

conseguem ter níveis educacionais elevados.

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Dentro dessa dinâmica, a inserção desses jovens no Colégio Liceu pode

abrir maiores possibilidades, a longo prazo, em suas vidas, por serem

contemplados com o processo de Bolsa Integral, ou seja, baseado nos

princípios de Dom Bosco, os jovens podem resgatar a dignidade e se conectar

com a esperança de uma vida mais prazerosa e com boas perspectivas.

É muito comum ouvirmos a seguinte frase: “esperamos que o inverno

não seja tão rigoroso”, ou então, “esperamos que a população colabore com a

coleta seletiva”, ou “espero um dia vencer na vida”. Em todas estas citações,

recorre-se ao uso da palavra esperança no sentido de realização, seja

climática, social ou pessoal. Cada pessoa espera, por assim dizer, um bem,

algo que lhe dê felicidade ou complete sua existência. Esperar é, nesse

contexto, sair-se bem, dar-se bem, no que se refere a si mesmo. Esperar é

aguardar um final feliz.

Para o conhecimento coletivo comum, não é preciso aguardar até o fim

da vida para obter um final feliz. Na linguagem humana, o sentido usual da

palavra “esperança” está mais ligado a uma realização concreta na própria

realidade em que se vive. Trata-se da própria realização enquanto pessoa. A

vida tem sua própria esperança. É diante deste conceito de esperança,

enquanto atitude de espera em relação à vida, que se fundamenta essa

interação ativa com os alunos entrevistados, para que possamos entender seus

sonhos, anseios e como se identificam com o colégio ao qual estão inseridos.

A partir desse novo paradigma, esperança pode ser aqui concebida,

como a força propulsora da vida humana, ou melhor, aquilo que nutre o sentido

da existência. O homem, nesse sentido, passa a ser compreendido como o

“ser-que-se-torna”. Alguém que “realiza” e, além de tudo, sente-se impelido a

construir sua própria realidade. A atitude de espera, de expectativa por algo a

se realizar. Porém, esse “esperar” está vinculado a uma ação interior de busca

por aquilo que se almeja.

A partir disso, ao se deixar interpelar pelos rostos dos alunos

contemplados nessa pesquisa, que estão inseridos, muitas vezes, em

contextos mais vulneráveis de Campinas, trazem em si a “esperança” de uma

mobilização social e a expectativa de uma identidade que possa ser respeitada

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e valorizada. Essa é a base e o sentido de ser da educação, independente dos

desafios do contexto e das intervenções que possa sofrer. Tudo isso parece

utopia, mas para quem é educador, é condição para continuar acreditando no

grande significado que a palavra “Educação” corresponde.

“Que os jovens não sejam amados, mas que eles próprios saibam que são

amados...” (Dom Bosco)

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APÊNDICE A – Questionário referente aos aspectos familiares

1) Como se concretiza o relacionamento com sua família? Faça um

comentário.

2) Qual é o valor que sua família tem para sua vida?

3) Destaque informações sobre o que considera mais importante em sua vida

hoje.

4) Existe alguma especial a qual você partilha seus problemas, alegrias e

tristezas?

5) Quais são as pessoas que julga ser referência para sua vida?

6) Quais são as maiores dificuldades que encontra em sua vida como jovem?

7) O que você espera para a sua vida em nível de futuro? Quais são seus

grandes ideais?

8) O que julga ser importante para que a juventude se realize na

modernidade?

9) Qual é na sua opinião uma das mais impactantes modas juvenis no

contexto onde habita?

10) Em sua opinião, existe algum valor que falta a juventude hoje?

11) Descreva um pouco sobre a relação entre violência e juventude.

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APÊNDICE B – Questionário referente aos aspectos escolares

1) O que você espera da escola para seu futuro?

2) Por que você começou a estudar no colégio Liceu?

3) Qual o período de tempo que está no colégio?

4) O que você encontra de importante na formação do colégio?

5) O que você mais gosta do colégio?

6) Como você sente no espaço do colégio? Se sente acolhida e respeitada

por exemplo?

7) Existem algumas dificuldades que você encontra no colégio?

8) Há alguma dificuldade encontrada com os professores do colégio?

9) Relate os maiores problemas que a juventude brasileira encontra nas

escolas brasileiras.