Laudo Psicológico e Tutela Jurisdicional

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Laudo Psicológico e Tutela Jurisdicional escrito por JULIO CESAR GALVES GOMES MOSQUEIRO MANGINI

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  • LAUDO PSICOLGICO E A TUTELA JURISDICIONAL

    JULIO CESAR GALVES GOMES MOSQUEIRO MANGINI

    So Paulo

    2014

    Artigo apresentado ao Centro Universitrio das Faculdades Metropolitanas Unidas para obteno do ttulo de

    Bacharel em Psicologia, sob a orientao dos professores Dr. Roberto Evangelista e Dra. Catalina Kaneta, aprovado em

    07/05/2014.

    Advogado, formado em Direito pelo Centro Universitrio das Faculdades Metropolitanas Unidas; Psicanalista,

    formado pelo Instituto Brasileiro de Cincias e Psicanalise; Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitrio das

    Faculdades Metropolitanas Unidas; Ps Graduado, Lato Sensu, com o ttulo de especialista em Docncia no Ensino

    superior pelo Centro de Pesquisa e Ps Graduao das Faculdades Metropolitanas Unidas; Ps Graduando, Lato Sensu,

    para obteno de ttulo de especialista em Psicologia Jurdica pela Uni So Paulo

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  • RESUMO

    O laudo psicolgico o principal documento emitido pelo psiclogo que atua nas demandas

    jurdicas. A falta de observncia na confeco desse documento traz prejuzos indescritveis

    no s aos envolvidos no litigio, como causa danos tambm ao psiclogo, que corre o risco de

    ser denunciado ao CRP (Conselho Regional de Psicologia) e penalizado, como tambm traz

    dano ao Poder Judicirio e, consequentemente, toda sociedade. Esse trabalho revisou a

    literatura com o fim de fomentar o debate acerca do laudo psicolgico, levando em

    considerao os fenmenos acerca da formao do psiclogo e suas vicissitudes, bem como

    de uma anlise referencial terica sobre a atuao do psiclogo jurdico, ramo relativamente

    novo para a Psicologia. Sobre essa atuao cabe destaque as avaliaes psicolgicas, que

    antecedem e subsidiam os laudos, e seu principal elemento: os testes psicolgicos. So

    levantadas algumas questes para fomento e aprimoramento da prtica profissional do

    psiclogo no contexto jurdico, to importante na melhoria da dinmica jurisdicional.

    Palavras-chave: Laudos psicolgicos, avaliao psicolgica, testes psicolgicos, formao do

    psiclogo.

    ABSTRACT

    The psychological report is the main document issued by a psychologist who works in the

    legal demands . Failure to heed the writing of this document brings untold damage not only to

    those involved in the dispute , also causes damage to the psychologist who runs the risk of

    being denounced and penalized , the judiciary and consequently the whole society. This paper

    reviewed the literature in order to stimulate debate about the psychological report, taking into

    account the phenomena about the training of psychologists and their vicissitudes , as well as a

    new theoretical framework for analyzing the performance of legal psychologist relating to

    branch psychology . About this performance fits highlight the psychological assessments , and

    prior reports and subsidize its main element : the psychological tests . Some questions for

    promotion and enhancement of the psychologist in the legal context as important in

    improving the judicial dynamics are raised.

    Keywords: Psychological Reports, psychological assessment, psychological testing, training

    of psychologists.

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  • Conhea todas as teorias, domine

    todas as tcnicas, mas ao tocar

    uma alma humana, seja apenas

    outra alma humana.

    Carl Gustav Jung

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  • INTRODUO

    A Psicologia Jurdica, ramo relativamente novo da Psicologia, ocupou um importante espao

    social ao se colocar como pilar cientfico busca da justia, como afirmou Evangelista

    (2000), desde o comeo desse sculo a Psicologia tem servido como parmetro para resolver

    questes em que o campo do Direito no consegue encontrar soluo por si s. Tais como

    disputa de guarda de filhos, regulamentao de convivncia de menores, interdio civil,

    anlise de dano moral e de sanidade, entre outros. A Psicologia requerida pelo Poder

    Judicirio indicar a verdade ou a melhor deciso a ser tomada pelo magistrado e demais

    operadores do Direito. Ainda que o juiz no esteja adstrito ao laudo do perito, este vem sendo

    de maneira substancial utilizado como determinante nas decises judiciais, segundo Shine

    (2003) so rarssimas excees em que as decises so a contra senso da indicao do perito

    psiclogo, portanto h que se dispensar a importncia devida a confeco desse documento, j

    que ele tido como indicador da verdade. Tornando extremamente nocivo se o laudo no

    atender aos seus princpios ticos, cientficos e tcnicos. Primeiramente devemos entender que

    o laudo o resultado de um processo de avaliao psicolgica e a ela deve estar articulado

    (GUZZO & PASQUALI 2001), portanto para que haja um laudo fidedigno mister que se

    atenha a validade terica na avaliao psicolgica, nessa linha de pensamento Villemor-

    Amaral (2008) defende que Um grande desafio atualmente, na rea da avaliao psicolgica,

    comprovar a validade de certos procedimentos diagnsticos face ao imperativo tico de se

    chegar a concluses confiveis, fidedignas e, sobretudo, teis, apoiadas em metodologias

    cientficas atuais (p. 99). Para se superar esse desafio fundamental que se tenha

    profissionais formados adequadamente para o desempenho da profisso, o que no vem

    ocorrendo no Brasil, segundo Paula, Pereira & Nascimento (2007) que defenderam que:

    A Psicologia cercada de diversos desafios que podem ser relacionados,

    principalmente, com a formao, com a sua construo como cincia, com as suas

    tcnicas de avaliao e de interveno e com os aspectos ticos relacionados

    pesquisa e atuao profissional. Refletir sobre a formao dos psiclogos

    relevante, uma vez que ela afeta a qualidade dos servios prestados pelos

    profissionais. (pp. 33)

    Portanto devemos considerar que o problema do laudo psicolgico e, consequentemente, da

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  • interveno do profissional da psicologia nas dinmicas judiciais inicia se na formao do

    psiclogo, passando pela definio do papel desse profissional nessa dinmica e se encerrando

    nos limites e procedimentos da profisso-cincia nessa rea.

    Em relao ao alcance da Psicologia quanto a determinao da verdade ou do certo ou errado

    nas dinmicas judiciais, entendemos que a crtica que Foucault (1961) fez quanto ao

    totalitarismo do saber sobre a loucura em relao a psicanlise, poderia ser a pedra angular

    para reflexes sobre a falsa ideia do suposto saber do psiclogo quanto as demandas

    colocadas ele, tornando se um vis periculoso socialmente se esse saber no se respaldar na

    teoria e tcnica, consequentemente, reconhecendo suas limitaes e sua relativa

    miserabilidade.

    1 O PROBLEMA

    1.1 FORMAO DO PSICLOGO

    Segundo Esteves (2008) as trs concepes de Universidade, sendo elas a liberal, a de

    investigao e a de servios, foram afrontadas pelos novos moldes em que se fez potencializar

    os conflitos e contradies antes superados. Com a massificao do ensino superior,

    fenmenos se chocam e se contradizem, como a mercantilizao da educao versus a

    contribuio essencial para humanizao dos seres humanos. (p. 102) Esteves emerge

    questes trazidas por Hannah (1957) sobre o conflito educacional entre o ser e saber fazer (p.

    499). Esteves diz

    Contudo, foroso reconhecer que a sociedade parece reclamar dois tipos de

    produtos bem diferenciados: a formao de quadros meramente executivos que

    actuam de acordo com conhecimentos consagrados (e que inexoravelmente se

    desactualizaro em prazos cada vez mais curtos) e a formao de quadros criativos,

    capazes de inventar solues novas para problemas existentes ou que venham a

    existir. A massificao do ensino superior que se verificou j num certo nmero de

    sociedades fez avultar a primeira destas tendncias, ao mesmo tempo que sistemas

    cada vez mais sofisticados e pressionantes de avaliao vo identificando como

    centros de excelncia, aqueles que respondem segunda das exigncias acima

    mencionadas.(p. 103)

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  • Portanto h que se preservar o ensino com o desenvolvimento de conhecimentos especficos

    da profisso articulado ao desenvolvimento concomitante do senso crtico, capaz de

    proporcionar ao profissional, condies de exercer plenamente a profisso, atualizando se e

    tendo condies de aplicar a teoria e a tcnica aos casos concretos e especficos que sua

    atuao exige.

    Especificamente sobre a catstrofe que a contempornea formao inadequada do psiclogo

    no Brasil Mello e Patto (IN PATTO org. 2012) afirmam que:

    O que certamente encanta muitos desses profissionais mal formados intelectual e

    profissionalmente o poder de dizer sobre o ntimo das pessoas que lhes

    socialmente outorgado e considerado o nico discurso competente para esse fim.

    Inebriados por essa autorizao, muitos deles sentem-se livres para dizer o que

    entendem, certos da impunidade. Essa suposta competncia indiscutvel advm da

    crena de que as cincias humanas produzem conhecimentos acima de qualquer

    suspeita, garantidos por mtodos de pesquisa que se dizem objetivos e neutros.

    Poder que, para no ser questionado, no pode ouvir crtica filosfica quanto ao

    conceito hegemnico de cientificidade e no pode admitir que, em uma sociedade

    dividida, h concepes geradas pela Psicologia, que tm em seu cerne

    compromissos polticos conservadores ou seja, que participam das relaes de

    poder ao justificarem a explorao e a desigualdade inerentes ao modo de produo

    em vigor. (pp. 19)

    Ao consenso da afirmao anterior e contrariando a alnea b do artigo 1. do Cdigo de tica

    Profissional do Psiclogo, muito desses profissionais aceitam, de forma leviana, antitica e

    inconsequente, participar de demandas sem estarem preparadas elas, tendo uma atuao

    muito aqum do que a Psicologia pode oferecer, demonstrando sequer ter conscincia da

    importncia social que seu trabalho produz, decidindo sobre vidas e, na maioria das vezes,

    ignorando o item 2.1 da resoluo do CFP N. 007/2003, ensejando e perpetuando a

    segregao, a violao dos direitos humanos e a manuteno de estruturas de dominao e

    violncia atravs da chancela de um pseudoconhecimento fundamentado pela condio de ser

    psiclogo.

    Impreterivelmente isso nos leva a questionar fenmenos como a atuao do psiclogo no

    sistema jurisdicional; avaliaes psicolgicas e laudos psicolgicos, levando-nos ao cerne da

    questo, que a formao desse profissional, Mello & Patto (2012) afirmam que, apesar de

    antiga, a crtica filosfica de teorias da Psicologia tidas como puramente ideolgica, que

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  • visam fundamentar e perpetuar uma sociedade injusta, no so contempladas na maioria dos

    cursos superiores de formao de psiclogos que:

    ... cada vez mais, limitam-se ao fornecimento de algumas receitas tcnicas de

    avaliao psicolgica e de psicoterapia, sem qualquer ateno para uma formao

    intelectual dos psiclogos que lhes permita pensar o prprio pensamento da

    Psicologia que lhes ensinada (pp.19).

    Diante disso h que se fomentar o debate sobre a formao do psiclogo, com o intuito de

    avanar nas questes acerca da prtica profissional de um modo geral e principalmente, ao

    que nos propomos discutir, nas intervenes que subsidiam a demanda jurisdicional e,

    consequentemente, decidem sobre as vidas das pessoas envolvidas.

    Para tanto mister que se amplie o debate sobre os fenmenos da massificao e da

    mercantilizao do ensino superior, que priorizam o saber fazer em detrimento a formao

    crtica necessria as diversas profisses humanistas que ensejam o ser (ARENDT, 1957).

    1.2 PAPEL DA PSICOLOGIA NO PODER JUDICIRIO

    relativamente recente o modelo da dinmica jurisdicional tal qual conhecemos, pois foi a

    partir da Revoluo Francesa, da instituio do Estado Democrtico de Direito e da tripartio

    dos Poderes que surgiu a obrigatoriedade da exposio da motivao e da fundamentao das

    decises judiciais, sendo esses institutos imprescindveis manuteno da democracia

    (SOUZA 2005). Em nosso Ordenamento jurdico essa obrigatoriedade esta positivada na

    Constituio Federal:

    Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, dispor sobre

    o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princpios:

    ... IX - todos os julgamentos dos rgos do Poder Judicirio sero pblicos, e

    fundamentadas todas as

    decises, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presena, em determinados

    atos, s prprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a

    preservao do direito intimidade do interessado no sigilo no prejudique o

    interesse pblico informao;

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  • X - as decises administrativas dos tribunais sero motivadas e em sesso pblica,

    sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;

    Segundo Souza (2005), A motivao, operao lgico-psicolgica do juiz, deve se apresentar

    como justificao das circunstncias fticas e jurdicas e determinar a individualizao

    axiolgica das razes de decidir., ou seja, deve o magistrado, alm de demonstrar em quais

    normas jurdicas sua deciso encontra abrigo, indicar tambm qual a dinmica cognitiva que o

    levou a articular o caso concreto com a norma. Partindo desse princpio, h que se considerar

    que o magistrado por si s, normalmente, no teria segurana tcnica para fundamentar

    decises em relao s demandas que envolvam questes psquicas e ou de habilidades

    psicomotoras como tutela, curatela, exerccio de parentalidade e da plenitude do exerccio dos

    direitos civis, por isso necessria a interlocuo subsidiaria da Psicologia ao Direito,

    entretanto, dessa premissa nasce o vis da Psicologia ocupando um espao que no lhe

    pertence, ou do psiclogo ocupando o espao da angustia, que originalmente do juiz

    (ALBUQUERQUE, 2005), que seja, o psiclogo decidindo pelo juiz. Essa situao coibida

    pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) em diversas atuaes, sendo essa prtica proibida

    de forma objetiva na Resoluo 008/2010, mais especificamente em seu artigo 7:

    Em seu relatrio, o psiclogo perito apresentar indicativos pertinentes sua

    investigao que possam diretamente subsidiar o Juiz na solicitao realizada,

    reconhecendo os limites legais de sua atuao profissional, sem adentrar nas

    decises, que so exclusivas s atribuies dos magistrados.

    Portanto a atuao do psiclogo na dinmica jurisdicional deve ser de subsidio s decises

    dos magistrados, mas deve se tomar o mximo de cuidado para que essa atuao no

    extrapole os limites ticos. Esse subsidio deve se dar por aes descritas por diversos tericos

    que trataram o assunto como Evangelista (2000), Lago & Bandeira (2009), Costa, Penso,

    Legnani & Sudbrack (2009) e Shine (2009). Que delimitaram princpios bsicos para aes

    como a avaliao psicolgica, emisso de pareceres, laudos entre outros documentos que

    tambm so regulamentados pela Resoluo do CFP n. 007/2003.

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  • 1.3 AVALIAO PSICOLGICA E TESTES PSICOLGICOS

    Dentre as praticas do psiclogo na dinmica jurisdicional a que mais se destaca a avaliao

    psicolgica, segundo Lago & Bandeira (2009) representa 25% das requisies profissionais,

    sendo a maior demanda no campo jurdico ao psiclogo (p. 300). A avaliao psicolgica

    uma das reas mais antigas da psicologia (PRIMI 2010). Sendo a avaliao o ato de avaliar,

    de apurar, de mensurar algo, a partir de um rigor tcnico, consequentemente a seu

    surgimento, durante o perodo de guerra, ocorreu o desenvolvimento dos testes psicolgicos e

    da psicometria, usada na seleo de soldados para combate na guerra. (ANASTASI &

    URBINA, 2000) Nessa dinmica a avaliao ganhou rumo prprio, muitas vezes confundido

    como um caminho independente da clnica e entendido erroneamente como tendo unicamente

    o objetivo de criar instrumentos e tcnicas de investigao (PRIMI, 2010), que em outro

    momento ressaltou esse aspecto:

    A avaliao psicolgica geralmente entendida como uma rea aplicada, tcnica de

    produo de instrumentos para o psiclogo, viso certamente simplista da rea. A

    avaliao psicolgica no simplesmente uma rea tcnica produtora de ferramentas

    profissionais, mas sim a rea da psicologia responsvel pela operacionalizao das

    teorias psicolgicas em eventos observveis. Com isso, ela fomenta a observao

    sistemtica de eventos psicolgicos, abrindo os caminhos para a integrao terica e

    pratica. Ela permite que as teorias possam ser testadas, eventualmente aprimoradas,

    contribuindo para a evoluo do conhecimento na psicologia. Portanto, a avaliao

    na psicologia uma rea fundamental de integrao entre cincia e profisso. Disso

    decorre que o avano da avaliao psicolgica no um avano simplesmente do

    funcionamento psicolgico. (Primi, 2003 in Pimi 2010 p. 25-26)

    Diante disso conclumos que no h que se falar em Avaliao Psicolgica, sem essa estar

    respaldada e ao mesmo tempo respaldando teoria e tcnica, sendo isso um consenso, a duvida

    nesse processo em relao a obrigatoriedade do uso de testes psicolgicos para a validao

    da avaliao psicolgica no contexto judicial. Leite (1977 in ANASTASI 1968) afirma que a

    prpria Psicologia muitas vezes confundida com a aplicao de testes, chegando

    absurdamente alguns a afirmarem que sem esse procedimento o psiclogo seria incapaz de

    qualquer afirmao cientfica sobre comportamento (p. IX). Essa falcia decorre da viso de

    cincia positivista, j superada no meio cientfico, entretanto, se devemos nos preocupar com

    o reducionismo da avaliao em testagem psicolgica, por outro lado devemos tambm

    observar que a relativizao de teorias e de tcnicas psicolgicas no procedimento avaliativo,

    divorciado de um rigor mnimo que considere as condies scio histricas, a cognio e

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  • outros fatores relevantes Psicologia, um risco interveno psicolgica na dinmica

    jurisdicional. Portanto, conclui se que quando necessrio o uso de testes fundamental

    considerar que o procedimento de testagem psicolgica deve ser considerado realidade

    brasileira, utilizando se de instrumentos regulamentados para nossa sociedade e para os fins

    propostos, para tanto mister ter uma maior compreenso do que seja teste psicolgico, para

    Anastasi e Urbina (2000):

    Teste psicolgico essencialmente uma medida objetiva e padronizada de uma

    amostra de comportamento. Os testes psicolgicos so como os testes de qualquer

    outra cincia, na medida em que so feitas observaes sobre uma amostra pequena,

    mas cuidadosamente escolhida do comportamento de um indivduo. (p. 18-19)

    Shine (2003) afirma a importncia dos testes psicolgicos, como um instrumento para o

    diagnostico psicolgico na demanda jurisdicional, como tambm no levantamento de indcios

    quanto as questes psquicas, como necessidades, defesas psicolgicas e prejuzos psquicos

    (p. 183), porm deve se considerar os resultados a partir da tica de toda a dinmica do caso

    em questo, no reduzindo o resultado da avaliao ao simples resultado do teste. No entanto

    Shine (2003) levanta a questo das criticas quanto a utilizao dos testes em avaliaes

    judiciais, devendo esse fenmeno ser analisado com o olhar dos princpios jurdicos

    relacionados a ampla defesa e do contraditrio, sendo predominante as criticas em relao ao

    uso inapropriado do teste em questo, por isso deve se ater a especificidade do instrumento

    psicolgico ao caso em concreto (p. 184). Portanto o uso de teste psicolgico pode ser

    utilizado a fim de subsidiar a avaliao psicolgica no contexto jurdico e, consequentemente,

    contribuir para o laudo, no entanto cuidados bsicos devem ser observados como a escolha do

    instrumento mais conveniente; a correta aplicao e interpretao; a utilizao de outras

    informaes ou fatores que corroborem com os resultados obtidos, ou seja, o no

    reducionismo da avaliao psicolgica em aplicao de teste psicolgico, no entanto esse

    instrumento no indispensvel, j que pode se encontrar outros instrumentais tcnicos to ou

    mais eficazes que o teste psicolgico.

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  • 1.4 LAUDO PSICOLGICO

    consenso que o laudo psicolgico o relatrio que descreve o resultado da avaliao

    psicolgica (SILVA & ALQUIERI 2011), superado esse entendimento deve se considerar as

    determinaes contidas na Resoluo 007/2003 do CFP, que instaura como alicerce na

    confeco do laudo os princpios ticos, tcnicos e cientficos da profisso (p. 3). Portanto no

    h que se considerar como laudo psicolgico se o documento no estiver adstrito a esses

    princpios, bem como considerar a validade tcnico terica da avaliao psicolgica que ele

    visa fundamentar, remetendo ao ditado popular arvore podre, frutos podres.

    Portanto para a validade do laudo, obrigatoriamente, deve seguir alguns procedimentos, como

    o de ser documento escrito consubstanciado em referencial tcnico-filosfico e cientfico

    adotado pelo psiclogo e nele obrigatoriamente deve constar, pelo menos 5 (cinco) itens:

    Identificao, descrio da demanda, procedimento, anlise e concluso. Da inobservncia

    dessas determinaes, cresce cada vez mais o nmero de denncias contra psiclogos que

    atuam no Poder Judicirio (SHINE, 2009), representando cerca de 20% (vinte por cento) das

    denuncias totais. Mesmo descartando as denncias que no tm embasamento, a no ser o da

    inconformidade com a deciso judicial, ainda assim expressivo o nmero de profissionais

    denunciados por no atenderem os requisitos legais e ticos no momento da elaborao do

    laudo. Nesse sentido Silva e Alchieri, (2011) fizeram um levantamento em que foi constatado

    que a maior parte dos laudos pesquisados no possui a qualidade tcnico-cientfica

    recomendada pelo CFP (p. 533), fatos que merecem o aprofundamento do debate e ateno, j

    que o laudo tem um papel significativo nas decises judiciais (SHINE 2003).

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  • 2 CONCLUSO

    Ao analisar os fenmenos apresentados chegamos a concluso de que h uma profunda

    relao entre uma formao inadequada do psiclogo e a prtica questionvel da Psicologia

    no mbito judicial, sem no entanto esquecer de outros fatores, que no seja pura e

    simplesmente que indiquem a (in)competncia profissional (GUZZO & PASQUALI, 2001),

    considerando a possibilidade de que outros elementos contextuais importantes terem

    contribudo ao resultado final, como as condies de trabalho (SILVA & ALCHIERI, 2011),

    como estrutura, demanda, entre outras. Mas considerar a influncia desses fatores no diminui

    a importncia do cerne da questo que o da formao do psiclogo. Infelizmente a busca

    pela democratizao do ensino superior, por no se dar estrategicamente pautada na busca por

    qualidade pedaggica, mas pautada no ganho financeiro s instituies de ensino superior,

    tendo como efeito a pura massificao do ensino superior que teve sua primeira onda em 1968

    com a reforma do ensino superior (SCHWARTZMAN, S. & DURHAM, 1992) e a segunda

    onda no inicio desse sculo.

    A massificao do ensino superior um fenmeno que causa a degradao das profisses

    atingidas por ela, fato previsto por vrios pedagogos e pesquisadores. Mas no podemos ficar

    refns desse fenmeno, devendo o CFP, os demais Conselhos Regionais de Psicologia e todos

    os profissionais da rea, a busca incessante pela defesa e aprimoramento da Psicologia como

    cincia e profisso, no se furtando as demandas que lhe so impostas, como a da atuao no

    Poder Judicirio. Pois no h que se falar em uma sociedade mais justa se essa sociedade no

    possuir uma dinmica jurisdicional capaz de atender os anseios sociais que h ela recorrem.

    fato que o Poder Judicirio precisa da Psicologia, pela atuao de seus profissionais, para se

    alcanar a paz social, entretanto no deve o psiclogo aceitar a submisso contaminante das

    demandas de interesses mesquinhos, colocando a Psicologia a servio da dominao, da

    explorao, da mentira, da violncia e da injustia. Ao no se distanciar dos princpios ticos,

    filosficos e cientficos que fundamentam a Psicologia, o psiclogo ser capaz de contribuir

    no somente com um caso especifico, mas com o aprimoramento de toda a sociedade,

    contribuindo assim para a efetivao da justia e da paz social.

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  • Referencia Bibliogrficas

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