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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BLOGS LITERÁRIOS
Comunicação alternativa como instrumento de formar opiniões
Por: Raquel Araujo Pereira de Sousa
Orientador
Prof. Nelson Magalhães
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO A
UTORAL
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
BLOGS LITERÁRIOS
Comunicação alternativa como instrumento de formar opiniões
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Transmidia: Gestão em
Mídias Sociais
Por: Raquel Araujo Pereira de Sousa
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AGRADECIMENTOS
A Deus e Nossa Senhora das Graças, por abençoarem meus caminhos e por terem me trazido até esta pós-graduação. Aos meus pais, por sempre investirem na minha educação e por não duvidarem do meu caminho no jornalismo. Ao Bruno José Brandão Guarisco pela paciência e incentivo não apenas nos momentos em que precisava escrever este trabalho, mas ao longo destes cinco anos Às amizades que nunca pensei que conseguiria fazer através de um simples blog literário. Foram vocês que me inspiraram a fazer esta pós-graduação e, consequentemente, este projeto monográfico.
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DEDICATÓRIA
Aos meus avós: Therezinha Araujo Silva Pereira e Hélio Silva Pereira (in memorian). Por me inspirarem e nunca duvidarem da minha capacidade.
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RESUMO
Esta monografia irá abordar a presença dos blogs literários na internet como um espaço concreto de divulgação do trabalho dos seus autores, caracterizados como um importante espaço de comunicação. Diante da argumentação exposta, este trabalho pretende considerar a relação entre o alcance dos blogs literários - impulsionados pelo advento da internet - e o publico leitor em uma tentativa de esclarecer o papel dos blogueiros literários como formadores de opinião através de uma mídia alternativa.
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SUMÁRIO
Introdução 07 Capítulo Um: O Surgimento dos Blogs e a sua utilização como meio de comunicação 12 Capítulo Dois: Um mergulho nos blogs literários 19
Capítulo Três Psychobooks e Garota it na influência dos leitores 27 Conclusão 35 Bibliografia 40
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Introdução:
Foi no final da década de 60, mais especificamente em 1969, que a internet
surgiu para fins militares. Na época a tecnologia era uma rede nacional de
computadores que apenas se comunicavam em caso de ameaça de guerra. Mas
foi apenas em 1995 que a internet se popularizou no Brasil. De lá para cá o
acesso tornou-se mais simples, mais prático e, principalmente, mais democrático.
O espaço virtual é um agente libertador. Nele não há padrões dos meios de
comunicação como a televisão, o rádio ou o jornal, que, por excelência, seguem
uma linha editorial proposta pela própria empresa. A natureza da Internet, livre
do processo de hierarquização e de controle, leva o homem a optar por seus
próprios caminhos, sendo assim, cada individuo é capaz de acessar e consumir o
que bem lhe interessar.
Hoje, a internet transcende os objetivos militares no inicio de sua criação e se
mantém como um elemento fundamental da comunicação, a partir do momento
em que se torna uma tecnologia que marca a pós modernidade.
Após um período em que a internet se viu envolta de uma intensa
produção de home pages, sites, chats online, o ciberespaço atual comporta um
novo perfil de internautas que estão cada vez mais aptos e disponíveis para
fazerem as suas próprias interações. O novo internauta é aquele que interage e
quer interagir com o público geral da rede. Com isso, surgem páginas com uma
linguagem mais acessível, principalmente para aqueles que querem se comunicar.
É o caso dos blogs. Eles são suportes que facilitam a entrada e a circulação de um
número considerável de pessoas no espaço virtual.
Hoje, com as mídias de função pós-massiva, a ação midiática se dá nos
espaços eletrônicos do ciberespaço: como os blogs e as redes sociais, onde o
consumo, produção e envio de informação fomentam as discussões e a troca de
opiniões.
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Quem acessa a internet desde meados do ano de 2003, encontra um novo
Universo: os weblogs, ou simplesmente blogs. Eles são registros pessoais onde
todo o tipo de assuntos é explorado. Os weblogs podem então ser destacados
como um novo canal comunicacional que se alastrou rapidamente a ponto de
ajudar na democratização de debates e discursos sobre variados temas e questões,
ou seja, instaurou-se como mais uma prática comum e cotidiana no ciberespaço.
Os blogs fazem parte da Web 2.0, termo utilizado para descrever a
segunda geração da World Wide Web, o que reforça o conceito de troca de
informações e colaboração dos internautas com os sites e serviços virtuais,
tornando o ambiente on-line mais dinâmico. Neles há uma constante participação
e colaboração fazendo do formato de páginas do blog, algo mais dinâmico e
funcional.
Antes tidos como diários virtuais, atualmente os blogs constituem um
espaço de diálogo e interação entre o blogueiro e o publico leitor. Este espaço de
armazenamento de opiniões funciona com características próprias de estrutura:
layout exclusivo, atualizações frequentes, linha cronológica. Mas,
principalmente, os blogs literários são também um espaço de debate onde o dono
daquela página expõe a sua opinião e espera que o outro também partilhe seu
posicionamento.
Os blogs literários tem o desejo de escrever e serem lidos. Eles são, de
forma geral, direcionados a um publico concreto e presente de leitores que tem
sede de conhecer novos livros.
Os blogs surgem como mecanismos de atualização prática, que se baseiam no
sistema de micro-conteúdos e na atualização quase que diária dos mesmos.
Nestes espaços é permitindo, ainda, os comentários, meio por onde há o diálogo
entre blogueiro e o leitor.
No caso dos blogs literários, objeto de estudo desta monografia, a sua
popularização começou em meados do ano de 2010 através de blogueiros como
Melina Souza, Tatiana Feltrim e Pam Gonçalves (esta última será um dos objetos
9
de estudos da monografia). Através de uma linguagem fácil e com resenhas de
livros direcionados ao publico infanto juvenil, elas ganharam espaço e, hoje em
dia, estas blogueiras são referencia não apenas para os leitores, mas para os
outros blogs literários que surgiram a seguir.
O blog, em sua essência de diário virtual, tem repercussão na
contemporaneidade por ser produto e (re)produtor daqueles que se encontram na
rede e se comunicam através dela. O blog é capaz de tocar o outro através de uma
narrativa particular, sejam crônicas, histórias, fotos, poesias, ou resenhas
literárias, como será o caso a ser estudado neste artigo.
No caso dos blogs literários, através das resenhas e opiniões a cerca dos
livros lidos, os blogueiros conseguem expor seus sentimentos sobre a leitura e
ainda influenciam quem está do outro lado da tela. Resenhas positivas ajudam na
compra do livro e na popularização do título junto aos jovens. Resenhas
negativas podem fazem o leitor repensar a compra.
O trabalho colaborativo e a participação online, características marcantes
nestes blogs, são fundamentais para o sucesso e para o reconhecimento dos
mesmos. É necessário que exista muita interatividade entre os participantes
através de uma efetiva comunicação online, construção de pesquisas, descobertas
de novos desafios e soluções. O amplo alcance dos blogs literários ajuda na
divulgação da leitura e favorece esta interatividade através dos comentários sobre
as resenhas postadas.
Um fato singular sobre os blogs é que, ao contrário do que se possa
pensar, eles não são uma via de mão única quando se diz respeito à escrita sobre
a própria vida, ou sobre aquele conteúdo específico. Beirando estas páginas se
formam verdadeiras comunidades de amigos virtuais e reais. E, por virtual,
entende-se como aquilo que é apenas delimitado pela separação entre conhecidos
que estão em cidades distantes. A proximidade que se cria através dos blogs é
impressionante. As comunidades podem ser detectáveis pelos links responsáveis
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por interligar as páginas entre si, e pela intensidade de comentários, pode-se ver
que é possível conquistar leitores regulares.
Nesta monografia quero mostrar o papel da blogosfera dentro da internet
de hoje. Com os inúmeros recursos e aplicativos tecnológicos disponíveis
atualmente, o blog é apenas mais uma ferramenta. Porém, ainda assim, ele tem o
seu valor e agrega milhares de usuários. A pesquisa quer mostrar o trabalho dos
blogueiros literários que, além de todos os seus afazeres usuais, se dedicam a
chamada “blogosfera literária” em busca da partilha de informações sobre livros.
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Capítulo Um: O Surgimento dos Blogs e a sua utilização
como meio de comunicação
Como uma ferramenta necessária nessa nova etapa da literatura ocidental,
a internet, como um novo meio para a manifestação e popularização da escrita,
vem novamente, mudar as sociedades e, com isso, as formas do homem se
relacionar com as praticas literárias daí advindas. Na contemporaneidade,
medidas pelo computador, as técnicas de escrever, produzir sentido, assim como
transmiti-lo e recebê-lo sofrem adaptação de um método de comunicação
eletrônica essencialmente digital. As mudanças geradas por esse processo,
provocam efeitos estéticos e culturais que se refletem nas manifestações literárias
que, nas telas dos computadores, continuam demandando leitura e interpretação,
mas com características diferenciadas de narrativas que surgem com a internet e
são praticadas no universo online.
Na internet é possível encontrar um grande leque de produtos e serviços,
englobando, cada vez mais as diferentes culturas, o que confirma o modelo de
meio de comunicação proposto por Pierre Lévy do “todos-todos”, e abrange a
possibilidade qualquer produzir e publicar conteúdo na rede.
Tomadas isoladamente, as telas dos computadores são hoje revolucionários espaços multimídia, nos quais podemos escrever ou ler textos, expor ou ver fotos e outros tipos de imagem, ouvir arquivos de áudio, assistir a vídeos, etc. As telas dos computadores operam também uma transformação radical em uma área que, ao longo dos últimos séculos, se tornou central na nossa experiência cotidiana: a da escrita/ leitura. (ZAGO, Gabriela Silva, 2010 p 34)
Segundo Pierre Lévy o virtual não se opõe ao real, mas sim ao atual.
Virtual é o que existe em potência e não em ato. Para o autor, virtualizar é
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sinônimo de problematizar, ou seja, questionar é um processo na hora da criação
de um conteúdo. Neste sentido pode-se afirmar que um ambiente virtual é um
espaço fecundo de significação onde as pessoas e os objetos técnicos interagem
entre si de forma a potencializar a construção de conhecimentos, logo a
aprendizagem..
Web se refere à rede, no sentido de entrelaçamento, navegação na Internet,
e logo, a registro e conexão. O programador Peter Merholz foi o primeiro a
abreviar web log para blog, segundo Thompson (2006, internet).
Sem dúvidas a internet é um meio de comunicação interpessoal, que não
ocorre somente em um sentido. Através de características do sistema
hipertextual, a internet permite que a audiência acesse o conteúdo da sua
preferência e determine quando e quais informações deseja receber. A internet
veio para revolucionar o processo comunicacional. O formato emissor –
mensagem- receptor é substituído para um meio onde todos se comunicam da
mesma forma. Na rede, o usuário é, ao mesmo tempo, o manipulador e a própria
mensagem (ROCHA, Paula Jung, 2013)
Diante da contemporaneidade, os suportes digitais de comunicação é que
dão uma nova configuração da escrita e da leitura. No caso da veiculação
literária, tema de estudo deste projeto, não é a primeira vez que ocorre uma
alteração neste tipo de suporte. No século XIX, auge da idade moderna, época
em que se popularizou o folhetim, também houve uma ruptura na forma da
escrita. Os jornais impressos, naquele momento, figuraram como novos espaços
mediadores para a publicação de textos literários. No início da segunda década
do século XXI, nesse período que entendemos como contemporaneidade, a
internet entra em cena com grande força também para democratizar a
informação e, portanto, o acesso à literatura também. É o que acontece com os
blogs.
Na internet, grande parte da informação circula por escrito. São, portanto,
muitos os espaços textuais que nela existem com os mais diferentes propósitos. É
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neste contexto que o blog se insere. Ele é, por definição, um espaço de novas
possibilidades textuais geradas através da conexão mundial entre os
computadores.
Cada vez mais popular na internet graças ao seu formato simples e fácil, o
blog é um formato de publicação inteiramente online que tem destaque por ser
dinâmico e poder servir para diversas frentes como sites pessoais, notícias,
publicação de textos, etc. Os blogs nada mais são que diários online. O dicionário
MarketingTerms.com define blog como uma publicação frequente e cronológica
de pensamentos pessoais e de links da web. O blog é uma ferramenta hibrida que
consegue misturar acontecimentos pessoais, chegando até mesmo a fatos
corporativos
Analisando a sua funcionalidade, o blog se diferencia de todas as outras
formas de relacionamento virtual pela sua dinamicidade e interação possibilitadas
pela facilidade de acesso e de atualização. Analistas e usuários da grande rede
consideram o blog uma nova forma (barata e prática) de comunicação e
relacionamento virtual. É muito fácil criar um blog e por isso muitos internautas
acabam usando blogs. Há quem considere o blog como o futuro da publicação de
escritos pessoais, ou até mesmo, a versão on-line de uma renascença digital,
dado o potencial que enxergam nesta ferramenta.
Há aqueles que conceituam o blog como um laboratório de escritos criativos, cujo principal objetivo é ofere- cer à comunidade de escritores e leitores um local virtual onde possam se encontrar e interagir, trocando experiências, moti- vações, ideias e informações sobre temas de mútuo interesse. Poderia, assim, ser considerado, pois, uma incubadora de co- munidades. (ALVES, Gilvani e SMITH, Patricia, 2009 p 45)
Qualquer pessoa pode ter o seu próprio blog, dar a sua opinião sobre o que
lhe convir, assim como tecer comentários sobre os mais variados assuntos. Para
isso basta ter um computador com acesso a internet. Esta tarefa ainda pode ser
facilitada pela atualização da página onde não é necessário ter nenhum
conhecimento profundo de HTML. O layout é simples e as ferramentas,
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adaptáveis. O espaço de liberdade no que diz respeito à troca de ideias parece ser
total.
Informações do autor Thompson (2006) constatam que o primeiro blog,
cujo nome era Links.net, foi criado por um estudante em 1997. De lá para cá são
quase 20 anos de muita evolução tecnológica e, claro, ampliação do público alvo,
no caso aqueles que acessam o conteúdo dos blogs, e também dos blogueiros
interessados em compartilhar algum conhecimento.
Em sua origem, os blogs eram filtros de conteúdos veiculados na internet,
consistindo, basicamente, em links e dicas sobre outros websites. Ou seja, havia
pouca dinâmica entre o receptor e o emissor. Até o ano de 1999, o número de
blogs existentes não era significativo, os diários virtuais tinham uma
representatividade modesta e estavam longe de atingir a popularidade que tem
hoje em dia. O grande boom dos blogs se deu a partir de 2000 quando surgiu a
primeira ferramenta de criação, mais tarde chegou Blogger como mais um
facilitador.
O Blog pode ser considerado um diário eletrônico onde as pessoas criam
conteúdos diversificados na internet. Do ponto de vista da sua forma, o blog se
confunde com o conceito de web page ou site pessoais construídos na web.
Porém, com uma principal diferença: o que o distingue de um site convencional é
a facilidade com que se pode fazer registros para a sua atualização, o que o torna
muito mais dinâmico do que os sites convencionais.
Contudo, desde o inicio, os blogs tiveram funções semelhantes no sentido
de expressar os sentimentos e opiniões de seus respectivos donos. O que mudou
neste tempo foi a quantidade de interação entre cada um dos lados. Os blogs
podem ser caracterizados como uma ferramenta dentro de uma relação temporal,
tendo em vista a data e o horário exibidos no post no momento da postagem.
Mas, ao mesmo tempo, o texto do blog é eternizado, uma vez que, materializado
pelos suportes (da escrita, da internet), ele também pode ser facilmente apagado,
modificado e, até mesmo, copiado.
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Hoje, os blogs são um verdadeiro sistema que engloba uma variedade de
conteúdos postados e atualizados sistematicamente. Talvez seja este o motivo por
trás da grande popularização destes diários virtuais.
A interatividade proporcionada pelos blogs é tamanha, que, além de os
leitores interagirem com o próprio autor do blog, eles interagem uns com os
outros, pois a caixa de comentários oportuniza discussões e ainda serve como
vitrine para divulgação de outros blogs. Ou seja, o blog, nada mais é que uma
imensa rede de interação e divulgação. Ações que se dão na e pela escrita, um
caso à parte no cenário da enunciação, previsto por Benveniste: “Seria preciso
também distinguir a enunciação falada da enunciação escrita. Esta se situa em
dois planos: o que escreve se enuncia ao escrever e, no interior da sua escrita, ele
faz os indivíduos se enunciarem” (1989, p. 90).
A quantidade de usuários é comprovada pelos números divulgados no site
Technorati - que pesquisa dados relacionados a blogs - de outubro de 2006,
afirmam que, na época, existiam cerca de 57 milhões de blogs. O mesmo site
ressalta que a blogosfera dobra de tamanho a cada seis meses e meio. Ainda em
seu relatório sobre o Estado da Blogosfera, (Sifry -2006) aponta que 18,6
postagens são feitas a cada segundo. Technorati mostra que a maioria dos blogs
se enquadra no gênero pessoal. A cada dia são criados entre 8 mil e 17 mil novos
blogs. A cada segundo, três blogs são atualizados, o que mostra o alto grau de
participação ativa nestas páginas.
Especificamente no Brasil a estimativa, em agosto de 2002 era de 170 mil
usuários de blogs. Em entrevista veiculada pela internet (Cashel, 2002). Evan
Williams, um dos criadores do Blogger, afirmou que por dia há uma média de
dois mil novos usuários na blogosfera.
Os textos dos blogs podem ser curtos, longos, fragmentados, sequenciais.
Podem usar o complemento de fotos, ilustrações próprias do autor (ou não),
podcasts, vídeos, notícias, etc. Quanto ao gênero, o blog pode ser jornalístico,
artístico, político, cultural, esportivo. Também pode ser autobiográfico, reflexivo,
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humorístico e, claro, literário. Muitos blogs acabam mixando um pouco de cada
um destes gêneros, aumentando, assim, o alcance do publico interessado no
conteúdo. Interatividade é condição de existir dentro da chamada blogosfera.
Visitando frequentemente as páginas, o leitor acaba se familiarizando com o
estilo de seus autores e com as temáticas recorrentes publicadas no blog em
questão.
Para o autor Recuero (2003) os blogs são versões mais dinâmicas que os
demais sites disponíveis na internet, além disto, eles recebem a mesma variedade
de criticas que os sites “profissionais”. Os blogs são, portanto, meios de
comunicação, sim. A criação de um blog/espaço virtual não determina se ele será
mantido de forma individual (apenas um dono) ou de forma coletiva (uma equipe
responsável pela atualização do mesmo), assim como não influencia se o mesmo
servirá para interesses lúdicos ou comerciais.
Porém, deve-se atentar para algumas características típicas de um blog
pessoal. Primeiramente, servidor gratuito, podendo ser Wordpress ou
Blogger.com. O blog pessoal não é guiado por objetivos e estratégias bem
definidas. Pelo contrário, as principais motivações que despertam o blogueiro são
o prazer de expressar-se e de interagir com os demais, o que é o caso dos blogs
literários. Um blog voltado para a literatura é apenas um dos segmentos de blogs
existentes pela rede. Neste caso, eles se dedicam a postar assuntos referentes à
literatura, podendo ser resenhas, críticas notícias etc. Porém, nem sempre estes
blogs se caracterizam pela espontaneidade e sinceridade. Um blog pessoal pode
ser assinado por uma identidade fictícia, por exemplo, de um blogueiro.
Os blogs podem ser caracterizados, portanto, dentro de relação temporal
síncrona, ou seja, constituída na simultaneidade temporal entre o que é escrito e o
que é veiculado na rede. As marcações do dia e da hora exata do evento textual,
indicadas de modo automático pelo programa, apontam para um duplo caráter na
atividade de reformulação dessa escrita. Ao mesmo tempo que o texto do blog é
eternizado porque materializado pelos suportes (da escrita, da internet), ele é,
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também, extremamente fugaz, porque é prontamente substituído ou apagado do
espaço de sua circulação.
Apesar de não ter fins mercadológicos, um blog pessoal pode também
construir uma reputação de excelência, tanto quanto um blog profissional.
Exemplos concretos são os blogs Psycobooks e Garota It, que serão analisados ao
longo deste projeto. O blogueiro pode obter altos índices nas estatísticas de
visualização de internautas interessados nos livros que resenha, por exemplo.
Talvez seja por esse motivo que o blog venha se tornando cada vez mais
popular e poderoso. Lemos (2002) nos leva ao início do mundo dos blogs.
Segundo o autor, o termo weblog, posteriormente reduzido para blog, foi criado
por John Barger, editor do site Robot Wisdom, no ano de 1997. Um weblog é
uma página da web onde um weblogger, também chamado de blogger
(blogueiro), registra por escrito aquilo que quer comunicar. Conforme teoriza o
autor citado, o espaço virtual é um agente libertador, ou seja, ele não segue os
padrões dos demais meios de comunicação como a televisão, o rádio ou o jornal,
que são essencialmente estão atrelados a uma editorialização. A natureza da
Internet, livre do processo de hierarquização e de controle, leva o internauta,
principalmente o jovem, a optar por seus próprios caminhos, divulgá-los a quem
se interessar e, principalmente, induz ao compartilhamento de conteúdo.
Em média, um blog é criado a cada segundo, todos os dias, e 13,7 milhões
de blogueiros continuam a atualizar seus blogs três meses após a sua criação. São
registrados 1,2 milhões de novos posts a cada dia, uma média de 50 milhões por
hora. Os blogs são também apontados como novo sistema de publicação e
exploração de mídia. Eles já formaram até conglomerados de comunicação,
como o norte-americano Gawker Media, que controla diários como o Gizmodo,
Kotaku e Wonkette. No Brasil, os grandes jornais já possuem seus blogs escritos
por uma equipe de jornalistas, como, por exemplo, o blog do Ricardo Noblat ou
da Patrícia Kogut.
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Claro que com as novas ferramentas e tecnologias que surgem na internet
como o Twitter e Facebook, a tendência é que o uso dos blogs diminua, uma vez
que toda a rede social mais atual vira uma espécie de febre. Mas os blogs
continuam ativos mesmo após tanto tempo. O próprio Twitter se considera um
“microblog”, buscando inspiração naquele que já existia há mais tempo. O blog é
uma fonte importante de informações para os internautas de todo o mundo. Este,
nada mais é, que um espaço onde palavras, imagens, indicação de links e a
organização de tudo isso tem grande suporte da linguagem para existir e,
consequentemente, neste contexto, a postagens que o dono do Blog faz para
serem lidas e comentadas pelos visitantes.
Na opinião do autor Recuero (2003) os blogs são versões mais dinâmicas
que os web sites pessoais e recebem as mesmas críticas destes últimos. É bem
verdade que o que está na internet é sujeito as mais diversas opiniões, sejam elas
positivas ou negativas. Os blogs não são isentos destas criticas, nem sempre
construtivas.
Podemos dizer, então que a partir do momento em que as tecnologias
digitais geram manifestações de escritas diversas na internet o romance, como
representante do gênero narrativo, também ganha um novo espaço para a sua
popularização, uma vez que gêneros como os vlogs criam canais de
experimentação literária, que podem não ser canônicas, mas que resgatam a
possibilidade metodológica nascida com o folhetim.
Nesse caso, é a internet que dentro da contemporaneidade, confere
visibilidade à fórmula base do romance e cria uma nova presença no espetáculo
da vida intima e privada, sendo o canal por meio do qual as pessoas constituem a
massa de leitores.
A análise dos dois blogs selecionados para estudo neste trabalho visa
entender suas potencialidades como mecanismo de comunicação dentro da
internet; entender o que faz um anônimo expor-se com tanta facilidade em seu
espaço levantar os motivos que unem determinados blogueiros em comunidades,
19
que, muitas vezes carregam características claras de rede social, como a
solidariedade, a participação, a intenção de pertencer a um grupo e até mesmo a
incluir blogueiros nas comunidades já existentes.
É o que veremos nos próximos capítulos:
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Capitulo Dois: Um mergulho nos blogs literários
Segundo a empresa de tráfego online Sysomos, o país aparece em quarto
lugar em termos de numero de blogueiros. O Brasil responde por 4,19% do total,
logo à frente do Canadá, que vem em quinto com 3,93%, e logo atrás do Japão,
que tem 4,88%. Em primeiro lugar isolado está os Estados Unidos, com 29,22%.
O Reino Unido vem em segundo, com 6,75%.
É possível notar, principalmente nos últimos dez anos, o surgimento de
verdadeiros nichos online de cultura. Assim podemos considerar os sites
especializados em música, teatro, cinema, fotografia, pintura e diversas
manifestações artísticas, incluindo o objeto de estudo deste artigo, a literatura.
Ao criar o blog, o autor procura estabelecer e anunciar a que veio em seus
primeiros posts. Porém, com o tempo, as origens vão se perdendo e se
misturando às novas aspirações.
O espaço virtual é um agente libertador, porque não segue os padrões dos
meios de comunicação como a televisão, o rádio ou o jornal, que são
essencialmente meios de censura e de poder político. A natureza da Internet, livre
do processo de hierarquização e de controle, leva o homem a optar por seus
próprios caminhos, divulgá-los a quem se interessar e, principalmente, induz ao
compartilhamento dos sentidos.
A tela do computador como suporte textual permite que qualquer pessoa com
acesso a internet possa publicar textos livremente e sem mediações. E esta
mesma tela permite que o escritor peça a colaboração do leitor que pode agora
intervir no próprio conteúdo do texto. A tela e a internet fazem surgir espaços
textuais públicos – como os fóruns de discussão, as famosas salas de bate papo,
os espaços de trocas instantâneas de mensagem, tão comuns até o inicio dos anos
2000.
Segundo o autor Lucas Guedes, em sua tese “Portal Cronópios: uma
análise da produção literária contemporânea na internet” atribui o aparecimento
21
de novos críticos literários no meio digital à quase extinção dos espaços
destinados à critica de arte, sobretudo de literatura, nos principais jornais
impressos, a (r)evolução tecnológico-digital.
Afirmar que existem mudanças na literatura acarretadas pelo avanço das
tecnologias de informação e produção midiática não significa dizer que exista
uma literatura de internet. O que há, de fato, são novas práticas literárias, como
propõe Heloísa Buarque de Hollanda:
Diante do assédio dos fluxos de informação e da popularização das tecnologias digitais, a resposta é atual desenvoltura da palavra que avança segura neste novo espaço público e sua disseminação geopolítica. Ela vem discreta como a mídia primeira dos blogs – pessoais e literários -, e logo se expande sem aviso prévio, por práticas literárias que inovam remixando linguagens, gêneros e suportes. (...). A palavra pirateada, hackeada, explorando as novas possibilidades tecnológicas dos ipods e podcasts, buscando a expressão visual, as formas dramatizadas, trabalhando fronteiras imprecisas, expandindo seu potencial de arte pública. (HOLLANDA, Heloisa Buarque, 2012)
A relevância das práticas literárias na internet está justamente ligada à
contemplação da relação de uso da rede como um mecanismo que diminui a
distância entre leitor e escritor, à medida que a interação mediada pelo
computador pode gerar relações mais complexas do ponto de vista social,
alterando as formas de ler e escrever.
Através da escrita publicada nos blogs, o ser humano tem mais uma
oportunidade de colocar-se diante do outro. O desejo de ser visto através das
palavras é o desejo de deixar algo de si para o sempre e a internet é a ferramenta
ideal para isso, uma vez que tudo fica armazenado dentro de seu imenso poder de
armazenamento. O homem existe na e pela linguagem. Ele se registra e, por que
não, se oficializa na e pela escrita. Para isso, carrega documentos, compara
assinaturas, escreve a próprio punho. O homem não quer ser anônimo: quer tocar
o outro, para existir através dele. O homem é inteiro linguagem.
22
Por isso, o ponto em que queremos chegar é mostrar que criar, manter e
divulgar um blog vai além do simples exibicionismo. Escrever sobre si ou
escrever o que se pensa, ainda que seja sobre um conteúdo literário e tornar este
pensamento público, está intrinsecamente relacionado a uma atitude enunciativa.
Os portais de internet são mecanismos de difusão e que terminam por
alterar a própria estrutura clássica do texto, da mesma forma que um filme feito
para televisão é distinto de um feito para cinema, de uma noticia de jornal se
distingue de um livroreportagem. Essa alteração vem agregar no dinamismo do
site.
A chamada convergência dos meios de comunicação, nesse sentido vem
operando em pelo menos duas vias, a da produção em que se insere a linguagem
e a da distribuição, na qual o ciberespaço é um agente aglutinador de varias
mídias – o livro, o jornal, o rádio e a televisão – ou uma hipermídia, que, no
mundo virtual, encontra um canal a mais para a sua representação.
No que diz respeito às praticas literárias atuais, estudos recentes
comprovam o surgimento do que seriam formatos próprios da narrativa nos
meios digitais baseados, principalmente, na hipermídia. Como assim? Nesse
contexto citado acima, a internet é presente através do seu uso cada vez mais
crescente. A chamada realidade virtual suscita inúmeras questões e gera reflexões
por todo o mundo, oferecendo inúmeras possibilidades de um autor, por
exemplo, transformar-se em personagem, interagir com outros autores e leitores e
distanciar-se de suas próprias características e da sua própria identidade. Por
outro lado, oferece também a possibilidade de que o autor seja ele mesmo e se
expresse como quiser. É o que acontece com os blogs. O autor pode ser aquilo
que bem entender e falar do que quiser.
Os blogs são exemplos de narrativa contemporânea, uma vez que
representam um espaço de expressão inteiramente original que possibilita a
manifestação dos estados de consciência e reflexão do autor e narrador do blog,
além de estabelecer uma interatividade deste com o leitor. É dentro deste
23
ciberespaço “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos
computadores e das memórias dos computadores”(LÉVY, 1999) que
circunscreve esse novo lugar de circulação da escrita que, ao mesmo tempo de
que potencializa, lhe confere novas versões, as quais apenas recebem legitimação
enquanto fenômeno próprio do contexto contemporâneo.
Uma pesquisa realizada pelo site Verbeat
(www.verbeat.org/pesquisablogosferabrasil) entre 10 e 25 de novembro de 2005
registrou dados colhidos entre os próprios blogueiros. Dentro de um questionário
com 64 questões, foi possível esclarecer melhor sobre o significado e a função
dos blogs. Destacam-se as seguintes respostas:
Você acha que blog é...:
Diversão/Entretenimento 489 70,2%
Imprensa Alternativa 428 61,4%
Suporte de informação 398 57,1%
Diário Virtual 359 51,5%
As perguntas eram de múltipla escolha e, conforme observado nos
resultados, a classificação de um blog como “diário virtual” ocupa apenas a
quarta categoria mais mencionada entre os participantes. A diversidade e, ao
mesmo tempo, a proximidade de menções entre as quatro primeiras categorias
aponta o caminho para uma nova definição de blog: espaço personalizado, plural
e interativo.
Outras questões da pesquisa trazem dados importantes para a construção
do conceito:
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Motivações para ler blogs: A maioria dos respondentes considera que
Diversão/entretenimento é a categoria que melhor representa a motivação para ler
blogs.
O que leva a acompanhar determinado blog: A maioria dos
respondentes considera que Temática é a categoria que melhor representa o que
leva o leitor a acompanhar determinado blog. A opção Relação próxima com o
autor ficou em segundo lugar.
Motivações para escrever/manter um blog: Registrar ideias e
pensamentos que tenho foi a resposta mais mencionada, seguida por Divulgar
livremente minha produção artística. Manter amigos informados sobre minha
vida ficou em terceiro lugar, com larga diferença em relação ao primeiro.
Entre as temáticas abordadas pelos blogs, o primeiro lugar ficou para
textos reflexivos e ideias soltas. Blogs literários ocupam a sétima colocação, com
6,2% do total.
Ideias soltas/introspecções 469 17,3%
Relatos/comentários sobre a minha vida/dia-a-dia 386 14,2%
Crítica e opinião sobre cultura 327 12,1%
Humor 245 9,0%
Costumes 237 8,7%
Internet/blogs 236 8,7%
Literatura (crítica e opinião) 169 6,2%
Divulgação da minha produção literária 156 5,8%
Política e economia 154 5,7%
Trabalho 123 4,5%
25
Esporte 54 2,0%
Religião 54 2,0%
Sexo 53 1,9%
Colégio / pesquisas e estudos acadêmicos 33 1,2%
Games 16 0,6%
Essa pesquisa permite entendermos a extensão do que se tornou o blog nos
dias de hoje. Ele não deve ser apenas classificado como um diário virtual. Tais
considerações subestimam a capacidade dialógica dos blogs. Eles são um espaço
fundamentalmente de escrita.
Além disso, os blogs contam com a internet, fator essencial que aproxima
as esferas da criação e da recepção, diminuindo o intervalo temporal e espacial
que separava o momento de produção do autor e o de atividade do leitor, no caso
dos livros, por exemplo. Essa dinamização deriva das modificações no circuito
produção – distribuição -circulação.
Com a internet, o papel desses agentes é reduzido e até suprimido, pois o
que ocorre, no caso de escritores que usam o artefato do blog como canal de
comunicação, de fato é a fusão do autor, do editor, do tipógrafo, do distribuidor e
do livreiro. E ao estabelecer essa relação direta entre obra e público se sem a
interferência das tradicionais etapas de produção, distribuição e circulação do
livro, a independência do autor é posta em destaque, uma vez que ele pode
controlar todo o processo de edição de sua própria obra, além de deter maior
autonomia criativa. Além disso, outros blogs literários ainda podem ajudar na
divulgação do trabalho deste autor, como no caso dos nossos objetos de estudo,
os blogs Psychobooks e Garota It- Pâm Gonçalves.
26
Ambos se constituem como um canal de divulgação para autores e
editoras e serão o objeto de estudo deste trabalho.
Os blogs denominados literários, ou cujo assunto principal é sobre
literatura, são aqueles que, em sua maioria, trazem artigos de opinião e/ou
indicações sobre livros, transcrevem trechos de determinadas obras e os associam
a diversos links do ciberespaço, apresentam criticas sobre livros ou autores,
fazem entrevistas com autores, além de darem dicas de uma melhor compreensão
de textos. Ainda existem aqueles que publicam textos originais, contos, crônicas
ou poesias. Ou, como é o caso dos blogs a serem estudados, existem também
aqueles que mesclam todas as redes sociais disponíveis na internet para compor
um blog transmídia. Ou seja, eles utilizam, além do recurso do texto, fotos,
vídeos do youtube, publicações no facebook, etc.
Dentro da Web é possível encontrar um “outro literário” que, embora se
aproxime, ao mesmo tempo se distancia dos moldes já pré definidos. Os blogs
manifestam esta literatura que tende à universalidade e permite que qualquer um
possa entrar na rede.
A cada dia aumenta mais o número de blogueiros profissionais e
semiprofissionais ou amadores que estão criando, através de seus blogs, novas
experiências de mídia e de práticas literárias, produzindo, de maneiras
diferenciadas, uma nova forma de demonstrar subjetividade, redesenhando
limites que antes pareciam bastante nítidos, tais como o público e o privado, o
íntimo e o social.
Esses fenômenos parecem recriar um hábito cuja sentença de morte já tinha sido decretada, que teve seu auge nos séculos XVII e XIX e estava fortemente vinculado à sensibilidade da época: a paciente e minuciosa “escrita de si” nos diários íntimos. A intenção é focalizar um aspecto especialmente significativo das novas “narrativas do eu”: sendo expostas aos milhões de olhos que tem acesso à mídia, as confissões cotidianas dos autores revelam uma peculiar inscrição na fronteira entre o extremamente privado e o absolutamente público. Intui-se uma subversão das fronteiras que costumavam separar essas duas esferas no
27
mundo moderno, junto a importantes mutações nos tipos de subjetividades que germinavam nos cenários assim delimitados, com fortes abalos nas noções de interioridade, intimidade e privacidade (SIBILA, 2003 p1)
Quem é, enfim, esse sujeito que se configura através do blog? Que busca o
outro na interatividade dos links, nos comentários de visitantes e na exposição
em si? Internet é linguagem, é feita de eu e tu, é feita de sujeitos apropriando-se
da língua para existir. Há um eu dizendo eu dentro do blog, transformando em
enunciação a própria vida e esperando que um tu se pronuncie diante dela. É o
que veremos a seguir com a análise de caso dos blogs selecionados para o estudo
neste artigo.
28
Capitulo Três: Psychobooks e Garota it na influência dos
leitores
Os blogs literários nada mais são que canais de comunição entre o
blogueiro-autor e o leitor. Neles são postadas notícias do mundo literário, como
lançamentos de novos livros, notícias editorais e, claro, resenhas. São estas
resenhas que irão ajudar a promover o livro/autor em questão e, ao mesmo
tempo, informam o leitor do blog sobre a qualidade do livro em questão. Claro
que a opinião do blogueiro não é universal, mas, quando levado em consideração
o embasamento da resenha critica e a popularidade do blog, o alcance das
opiniões podem ser bem elevados.
Em um blog, tudo reflete o sujeito. As cores, as fontes, as imagens, os
links e, principalmente, os textos. Tudo são marcas da sua presença dentro
daquele pequeno site. Pequenos detalhes podem fazer uma grande diferença.
Como apontam Amaral, Recuero e Montardo:
No mesmo sentido, Trammell e Keshelashvili (2005), apesar de reconhecer que o blog é, muitas vezes, definido a partir de sua estrutura, discutem que, a partir de sua vocação midiática, o blog é uma personalização de seu autor que é expressa a partir de suas escolhas de publicação. Mesmo os blogs que não são especificamente opinativos contêm na sua escolha de links, de textos para publicar etc., seu autor espelhado nessas escolhas. A partir da compreensão do blog como um espaço pessoal, ele é também compreendido como uma escrita íntima. (AMARAL, 2009, p. 35).
29
Ambos os blogs em questão, a serem estudados nesta monografia, tem
uma fama considerável dentro da blogosfera. Ambos foram criados em 2010 e
mantém uma média de mais de mil e quinhentos acessos diários.
Foto retirada do site www.pamgoncalves.com.br
30
Foto retirada do site www.psychobooks.com.br
Avaliando inicialmente os layouts, percebemos que o site Garota It passou
por uma grande reformulação, passando de um nome fictício para o nome da
própria dona. Essa opção faz com que o blog seja ainda mais pessoal e tire o foco
central no debate sobre livros. Em seu layout, a Pâmela opta pelas cores claras: o
azul com o branco dão uma aparecia agradável ao site. O titulo tem o fundo em
outras cores, chamando a atenção para o novo nome do site, nada mais que justo,
uma vez que o blog sofreu uma mudança de nome e de domínio. Esta opção é
importante para sinalizar para o público a diferença.
O domínio, aliás, (.com.br) de ambos os sites é uma opção interessante.
Eles saem de um domínio “publico” por assim dizer, o final .blogspot.com.br
(comum a diversos outros blogs) e ingressam em um domínio exclusivo, que
nenhum outro blog tem. Esta opção, além de dar mais destaque para o site,
auxilia nas pesquisas do Google e compõe um diferencial atrativo para empresas
que, por ventura queiram investir nestes sites. O que inicialmente era um blog,
ganha status de site oficial.
Percebemos também que o site Pâm Gonçalves aposta nos slides rotativos
no auxilio da divulgação dos postss. Esta é uma opção interessante para dar
destaques a matérias antigas onde o leitor precisaria descer a barra de rolagem
para ter acesso a ela. Neste caso, o slide faz o trabalho por si e mostra o que de
mais interessante o site tem.
Anteriormente o site da Pâmela, quando ainda era Garota It, tinha
destaque por suas resenhas. Eventualmente a blogueira apostava em vídeos no
youtube. Hoje em dia a situação se inverteu e, apesar de haver um site fixo, ela
aposta no vlog, seu canal literário, para falar com os leitores. Claro que o apelo
da imagem é sempre maior que meras palavras. O canal da Pâm no Youtube tem
quase 70 mil inscritos e seus vídeos tem uma média de 12 mil visualizações.
Apesar de simpática, os vídeos dela são um pouco longos, o que pode se tornar
31
cansativo para o público que está assistindo. Mas a recepção é sempre boa,
gerando muitos “likes” no vídeo e também comentários a respeito do livro em
questão.
Reprodução do Youtube
Em uma comparação com a Alba, blogueira do blog Psychobooks, Pámela
é muito nova, tem apenas 24 anos, mas já faz sucesso na internet expondo ao
leitor o que acha dos livros. Se analisarmos seus vídeos ou mesmo seus posts no
blog, muitos são os que comentam falando que gostaram da resenha e que
pretendem ler o livro. No caso de uma resenha negativa, há aqueles que falam
que pensarão duas vezes antes de ler o livro, o que mostra o poder de influência
da blogueira, principalmente nos mais jovens.
32
Aliás, a faixa etária de 16 a 24 anos é a que mais visita o blog da Pam.
Este fato, talvez seja reflexo da pouca idade da autora. A maioria do público que
comenta no blog da Pam são mulheres e sempre nessa faixa etária. A blogueira
também costuma postar sobre livro que atendem a essa faixa etária mais juvenil.
O Blog é um espaço em que palavras, imagens, indicação de links e a
organização de tudo isso tem grande suporte da linguagem para existir e,
consequentemente, neste contexto, as postagens que o dono do Blog faz para
serem lidas e comentadas pelos visitantes.
Ambos os blogs são organizados e fáceis de serem mexidos. Os
mecanismos de busca dentro dos sites ajudam o leitor e também o menu
segmentado na hora de procurar a resenha. A popularidade do site Psychobooks
fez com que ele fosse “comprado”pelo site Bolsa de Mulher e, atualmente, o
Psycho fica hospedado no site. O fato mostra o reconhecimento da blogueira e é
exemplo de que grandes empresas estão sempre acompanhando aquilo que os
internautas buscam.
Hoje, os comentários apontam tanto para o status de se ter um blog
bastante frequentado, quanto servem de termômetro sobre a qualidade dos posts.
É através desta ferramenta que o blogueiro avalia a recepção dos textos entre os
leitores.
Pesquisas têm sistematicamente apontado para o fato de os weblogs valorizarem bastante os comentários recebidos e que essa presença pode ser fundamental para que se continue a postar. Esses apontamentos podem mostrar que os comentários são elementos significativos da cultura dos blogs, e que são, se não essenciais, muito importantes como elementos de motivação para os blogueiros e fundamentais como ferramentas de interação social (Miura e Yamashita, 2007; p 67)
Como ambos os blogs fazem postagens frequentes, o numero de
comentários é variável e, muitas vezes, não reflete o numero de visitações no site
33
ou de visualizações da postagem. Enquanto ambos os blogs possuem postagens
com mais de 20 comentários, outras não ultrapassam a casa dos cinco. O número
é pequeno, o que pode ser interpretado como um déficit no canal de comunicação
entre o blogueiro e o leitor. Mas, ao mesmo tempo, ao constatarmos que o
número de visitações do blog é alto, podemos pensar que, a influência das
blogueiras continua alta. Sendo assim, o número de usuários do blog é alto,
porém, aqueles que interagem são poucos. Percebemos que em ambos os blogs,
os comentários nas resenhas costumam ser maiores.
No que diz respeito a conteúdo, o blog Garota It, atualmente Pam
Gonçalves, é o que tem maior variedade. Além das resenhas, a blogueira posta os
lançamentos do mês das editoras, mostra os livros que ganhou, responde
perguntas dos leitores de uma forma bem dinâmica.
O Psychobooks é feito por uma equipe de blogueiros, todos com mais de
25 anos. O publico leitor também é mais abrangente, pegando até aqueles que
estão na faixa dos 30 anos. O gênero também é menos focado, englobando
homens e mulheres.
Em uma primeira olhada no blog, percebemos o layout de fundo amarelo,
também cor clara e boa de ser lida. Os blogueiros, de uma forma geral, costumam
apostar em cores mais “cleans” porque isto chama a atenção do leitor, que, se vai
passar um tempo lendo os posts daquele blog, com certeza prefere algo que seja
mais suave aos olhos.
O Psycho aposta em um layout com elementos que chamem relacionem a
ideia de livros. Por isso, os personagens de Harry Potter, O Mágico de Oz, Alice,
fazem parte da ilustração. A forma do desenho, em caricatura, contribui para a
fidelização do leitor ao site. Constantemente estas imagens são alteradas, mas
sempre mantendo o mesmo traço dos desenhos. O blog ainda aposta em um
subtítulo interessante: entendemos a sua loucura, que faz menção ao prefixo
“psycho”contido no nome do site.
34
O blog foca principalmente nas resenhas literárias dividas entre as
equipes. Se o blog da Pam sobrevive apenas com a blogueira e dona, o Psycho
aposta em outros três resenhistas para dar conta de todo o conteúdo do blog. Eles
se revezam nas postagens.
Por serem blogs antigos e vistos como referencia na blogosfera, ambos
mantêm parceria com as principais editoras nacionais. A prática da parceria é
algo corriqueiro, conquistado através de um processo seletivo. Ambas as
blogueiras recebem livros gratuitamente para resenha e é aqui que está este
grande intercâmbio que permeia os blogs literários. Através das parcerias, as
blogueiras postam as resenhas daqueles livros que acabaram de serem lançados,
dando assim, visibilidade para as editoras.
Ao mesmo tempo em que divulgam a literatura para os leitores, os blogs
literários também dão esta visibilidade gratuita para as editoras. Um blog com
grande alcance como os Pam Gonçalves e Psychobooks são capazes de atingir
um grande quantidade de pessoas que, através de suas palavras positivas ou
negativas, decidem se vão ou não comprar o livro citado.
Quando um livro é resenhado por estas blogueiras, ele ganha um grande
peso. As palavras constadas em ambos os blogs são consideradas como verdades
e são capazes de influenciar, sim, as pessoas. As editoras se beneficiam desta
visibilidade e apostam nestes blogs que, apesar de não ganharem remuneração
física, ganham livros para resenha. E esta realidade é vista através dos
comentários. Muitos são os que respondem falando que, uma vez que a blogueira
recomendou, ficaram com vontade de ler. É o que podemos ver, por exemplo no
comentário a seguir postado no site da Pâm.
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Retirado do site www.pamgoncalves.com.br
Ou este do blog Psycobooks
Através das imagens, podemos perceber o poder das blogueiras no
momento de influenciar os leitores.
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Conclusão
Analisando ambos os sites percebemos o quanto as blogueiras de hoje
conseguem influenciar o público leitor através de suas resenhas e pontos de vista.
A fama ocasionada pela internet é o grande canal responsável por este trabalho,
uma vez que o poder de alcance da grande rede é o que alavanca a influencia
destas pequenas “celebridades da web”.
Claro que o fato do blog ser amplamente visitado, recomendado e ainda
ter um considerável tempo de existência, é outro fator que agrega a popularidade
dentro da web. Os próprios blogueiros tendem a recomendar o trabalho das
meninas pois, uma vez que eles também são leitores, gostam daquilo que vem no
blog delas.
Percebemos também que as editoras se unem a estes blogueiros com o
intuito de usá-los como objeto de divulgação. Uma vez que as resenhas que
aparecem nestes sites ganham também visibilidade.
Percebemos também que a blogosfera representa mais do que simples
diários e páginas virtuais customizadas de noticias pessoais ou segmentadas.
Diante de uma enorme criatividade, originalidade e valor estético, os blogs
atraem mais e mais leitores e conseguem, assim, uma boa visibilidade, além de
comentários. A internet tornou-se uma grande rede para a prática literária.
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Os chamados blogs literários como os analisados neste trabalho são
aqueles que se dedicam a discutir, resenhar, transcrever, criticar ou simplesmente
experimentar a criação literária com todas as possibilidades que o ato de escrever
agrega e cumpre quando associado aos recursos do hipertexto e às
potencialidades do ciberespaço.
Não é preciso ser um pesquisador experiente para perceber que o
computador, por meio das habilidades de leitura e de escrita que exige de seus
usuários, de forma um tanto quanto crescente, vem resgatando e intersificando
em grandes proporções a prática da linguagem verbal escrita, da qual, do século
XIX para cá, vinha perdendo terreno para a comunicação de massa.
Na internet, dentro dos blogs literários, tudo virou um objeto de troca e
divulgação. Através das ferramentas da esfera pública virtual, tais como: grupos
de discussão, e-mail, sessões de bate-papo on-line, conferências, mecanismos de
busca, banco de dados ou os próprios blogs, são facultadas aos escritores e
críticos novas possibilidades, tais como distribuição gratuita, muitas vezes
irrestrita, de informação e divulgação de textos publicados e não publicados no
papel.
Sendo assim, ao disponibilizar espaço para a circulação de textos não
consagrados, como é o caso do blog, a Web pulveriza o poder de triagem e de
sanção literária, permitindo a manifestação de múltiplas práticas com diferentes
valores de literatura. Mesmo quando veicula textos menos emancipadores, o
poder de alcance da internet não reproduz apenas o sistema literário já existente,
mas o desestabiliza ao mesmo tempo, uma vez que é proposto um modo
diferenciado de os sujeitos se relacionarem com a escrita, entretecendo-se nela e
nela constituindo historicidades. É nesse sentido que se torna necessário olhar
para os blogs como uma mídia também literária, e não apenas como uma
confusão biográfica, uma fronteira entre o amador e o escritor, pois conceber
essas ideias é aceitar e patrocinar a hegemonia do livro, tomado como a única
mídia legítima de circular a literatura.
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Vivemos atualmente uma nova cultura, descrita por Lévy (1999) como a
cibercultura. Nos tempos contemporâneos, as novas tecnologias digitais moldam
uma linguagem que nasce e é própria das redes online. E os blogs estão inseridos
exponencialmente neste contexto.
Verificamos que, com os blogs, a experiência de ler e escrever, torna-se
ainda mais ampla, o que dissolve a rigidez fundamental em que se baseia a teoria
literária e as práticas críticas do passado. Neste cenário, então, os links e
hipertextos chamam a atenção para as particularidades das relações entre autores
(no caso das blogueiras citadas) e os leitores virtuais, as quais se desenvolvem
em uma nova condição de espaço/tempo. O leitor, portanto, pode interferir no
funcionamento da narrativa online, colaborar para a sua criação e ainda interagir
de forma efetiva com o autor.
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Anexos 1
Verbetes
Blog: espécie de diário virtual onde o dono posta o assunto de sua
preferência
Web: considerado o espaço na internet
Blogger: servidor de hospedagem do blog
Blogueiros: denominados aqueles que possuem blogs
Blogosfera: conjunto de blogs
Clean: algo que não é poluído, de visualização agradável
Layout: apresentação de fundo de tela de um blog.
Post: Abreviação de postagem
40
Bibliografia
ALVES, Giovani, Mediação Pedagógica em Blog no Ensino Médio, 2009, São Paulo,
2011
AMARAL, Adriana; MONTARDO, Sandra; RECUERO, Raquel. (Orgs.) Blogs:
mapeando um objeto. In: Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação. São
Paulo: Momento Editorial, 2009.
CARNEIRO, Jéssica de Souza. Ler e Escrever Blogs Literários: a narrativa
hipertextual na configuração da webliteratura. 2011.
LEMOS, André. Prefácio. In: AMARAL, Adriana; MONTARDO, Sandra;
RECUERO Raquel. (Orgs.). Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação.
São Paulo: Momento Editorial, 2009.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. Lisboa: Instituto Piaget, 1990.
41
MINCHILLO, Carlos Alberto Cortez. Literatura em rede: tradição e ruptura no
ciberespaço. 2001. 155 f. Dissertação (Mestrado)-Programa de Pós-Graduação
em Teoria e História Literária, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Estudos da Linguagem, 2001, p. 51. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2011..
WEBgrafia
https://www.ufpe.br/nehte/simposio2008/anais/Maria-Leopoldina-Pereira.pdf.
Acessado em: 28 out 2014.
http://www.antroposmoderno.com/antro-version-imprimir.php?id_articulo=1147.
Acesso em 23 jan 2015
http://www.antroposmoderno.com/antro-version-imprimir.php?id_articulo=1147.
Acesso em 23 jan 2015
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4499/1/Blogs-final.pdf.
Acesso em: 10 dez. 2014
42
Biografia Citada
AMARAL, Adriana; MONTARDO, Sandra; RECUERO, Raquel. (Orgs.) Blogs:
mapeando um objeto. In: Blogs.Com: estudos sobre blogs e comunicação. São
Paulo: Momento Editorial, 2009.
PEREIRA, Maria Leopoldina. Blogs Literários Como Gênero do Discurso: uma
contribuição para a formação do leitor/autor. 2º. Simpósio de Hipertexto e
Tecnologias na Educação. 2008.
SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2008
43
ÍNDICE
Folha de Rosto 02 Agradecimento 03 Dedicatória 04 Sumário 05 Introdução 07 Capítulo Um: O Surgimento dos Blogs e a sua utilização como 12 meio de comunicação
Capítulo Dois: Um mergulho nos blogs literários 19 Capítulo Três Psychobooks e Garota it na influência dos leitores 27 Conclusão 35 Anexos 39 Bibliografia 40 WebGrafia 41 Biografia Citada 42