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N°1 - 2013 Um chefe francês no Pré Catelan do Rio MARION COTILLARD cheia de graça imperdíveis do ano p.60 Paul Bocuse e Guy Savoy celebram a culinária francesa p.28 Esses narizes trabalham sob medida p.18 VISTO DO BRASIL 8 874913 658410 EXEMPLAIRE OFFERT 5,99$

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Rendez-vous en France. Confira as novidades mais relevantes da França.

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Page 1: Le Point

N°1 - 2013

Um chefe francês

no Pré Catelan

do Rio

MARION COTILLARD

cheia de graçaimperdíveis

do anop.60

Paul Bocuse e Guy Savoy celebram a culinária francesa

p.28

Esses narizes trabalham sob medida

p.18

VISTO DO BRASIL

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SUMÁRIO

SUMÁRIO

COVER STORY

P.8MARION CHEIA DE GRAÇA

VISTO DO BRASIL

P.16UM CHEFE FRANCÊS

NO PRÉ CATELAN DO RIO

MODA E ARTESANATO

P.18ESSES NARIZES TRABALHAM SOB MEDIDA

P.22OS PERFUMES MÍTICOS

P.24O PERFUME PARA OS

PRINCIPIANTES

P.25PAPEL AROMÁTICO

P.26A CIRE TRUDONÀ LUZ DO TEMPO

P.27PINEL&PINEL

O HOMEM COM DEDOS DE OURO

GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

P.28PAUL BOCUSE E GUY SAVOY CELEBRAM

A CULINÁRIA FRANCESA

P.32TODO UM QUEIJO

P.36PASSEIO EM VERSAILLES

P.38HOTÉIS LITERÁRIOS

PORTFOLIO

P.40IMAGINE A FRANÇA

A VIAGEM FANTÁSTICAPOR MAIA FLORE

CULTURA E AGENDA

P.46O HOMEM QUE NARRA

A GRANDE GUERRA

P.50PIERRE HUYGHE, O EXPLORADOR

DA ARTE CONTEMPORÂNEA

P.52A HISTÓRIA GANHA

VIDA NO PUY DU FOU

P.54GRANDE SACADA

P.56A FORTUNA DE PARIS

P.58ARLES, SOB O SOL DE VAN GOGH

P.60FEIRAS, EXPOSIÇÕES E FESTIVAIS

IMPERDÍVEIS DO ANO

PRÁTICO

P.6410 BOAS RAZÕES PARA VIR À FRANÇA

P.8 P.16 P.46

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Não há estrelas sem o ritual das estre-las divulgando um trabalho: 40 minutos, nem um a mais, na suíte de um hotel, assessor de imprensa com o cronômetro à mão, incon-

táveis cafezinhos, colegas impacientes, serviço de segurança discretamente vigilante… Marion Cotillard está em “Blood Ties”, o filme nova-iorquino do seu companheiro Guillaume Canet. Ela também está ao lado de Joachin Phoenix em “The Immigrant”, novo filme de James Gray, como imigrante polonesa de coração generoso que a mal-dade dos homens tenta quebrar em pedaços. É que a iniciante de “Taxi” inspira agora os melhores cineastas, de James Gray a Christopher Nolan, e hoje atua com Caprio-Depp-Phoenix-De Niro – cuja reputação excede sensivelmente aquela de Sami Naceri. Esperamos em um belo endereço da rue Saint-Honoré. Finalmente a atriz aparece: fina, muito fina. Com a sua já lendária pinta no centro da testa e olhos azuis penetrantes. Um perfume de “fama” paira em torno da elegante atriz, muito bem vestida com um pequeno e comportado vestido.

Então, a glória é doce?Marion Cotillard : A glória? Mas nada tenho como reflexão a oferecer sobre a minha glória! O que me

faz feliz é poder trabalhar com pessoas que admiro e me inspiram, participando de projetos que me ensinam um pouco sobre o ser humano, porque o que eu gosto de fazer é saber como funcionamos...

Mas James Grey que lhe escolheu para se lembrar de Renée Falconetti na Joana d’Arc de Dreyer, isso representa algo após Taxi!Mas sabe que estar gravando Taxi, para mim era algo importantíssimo! Era uma loucura ter acesso a este sonho chamado cinema…

Mas como os seus pais eram comedi-antes, a ideia de sê-lo também já não existia?O meu pai era mímico. Não sei: sempre achei mila-groso poder fazer o que sonhava. Desde “La Môme”, desde o Oscar, você percorreu um caminho consid-erável… Às vezes você tem a sensa-ção de ser ultrapassada pelos acontecimentos?Ah, os “acontecimentos”! É certo que sempre quis estar envolvida em grandes projetos, dar vontade nos gênios de me utilizarem como massa bbb

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Le Point • Rendez - vous en France

MARION CHEIA DE

GRAÇADesde o seu Oscar por “La Môme”, a francesa está em alta em Hollywood.

Em “The Immigrant”, de James Gray, ela atua com Joachin Phoenix. Encontro.Entrevista gravada por Jean-Paul Enthoven e Christophe Ono-dit-Biot

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bbb de modelar, mais ou menos dócil, para ilustrar as histórias saídas das suas imaginações. A partir disso, tudo aconteceu. James Gray conta que em “The Immigrant”, você levou o profissionalismo ao ponto de falar polonês com sotaque alemão, pois a sua heroína chega da Silésia – onde se fala alemão…Exatamente, mas isso é normal para mim: para a mocinha que eu era, o cinema tinha tal magia e sonho, que eu sempre pensei que se tivesse a sorte de nele ocupar um posto, daria tudo de mim a estabbb profissão… Em relação à minha imigrante polonesa, eu tinha que saber tudo sobre ela antes de encarná-la: o seu passado, sua família, as suas dores, sua voz, suas esperanças… Como representar uma polonesa sem me informar sobre a Polônia? Sempre tive um profundo desejo de explorar ao máximo o material que me entregam. Ela vem da Silésia e deve, portanto, falar polonês com sotaque alemão. Então, eu adoto o sotaque alemão… Neste momento, Marion fecha os punhos. Cruza e descruza as suas pernas com uma rapidez pudica que em nada lem-bra Sharon Stone. No fundo, ela faz questão de martelar o seu credo: o talento, a sorte, lógico que contam – mas a serie-

dade, a dedicação absoluta, isso é a maior garantia. Em todo caso, é algo própria da atriz, o seu amuleto, a sua religião. É fácil de compreender ser essa mensagem que ela quer passar. Verdade seja dita: quem ousaria não crer em suas palavras?

Em “Blood Ties”, você interpreta uma prostituta italiana… Em “The Immigrant”, você é uma prostituta polonesa… e isso bem no momento em que a prostituição volta a ser debatida na França. De que lado você está?O problema é que, no mundo atual, a prostituição gan-hou contornos que a torna bem diferente da “mais antiga das profissões”… Agora, há máfias, tráfico globalizado de mulheres, redes organizadas e criminosas… Estamos a anos-luz da imagem romanesca que se havia aprendido a tolerar ou até mesmo a apreciar, em Maupassant, Zola ou Toulouse-Lautrec… Em meu filme, eu desempenho o papel de uma prostituta, certamente submetida por um quase carcereiro, mas mesmo assim capaz de fugir, de escolher… e isso nada tem a ver com as pobres garotas do Leste europeu ou da África de quem são arrancados os passaportes, as quais são drogadas e que são posicionadas na entrada das vias marginais de Paris ou em casas de prostituição… bbb

1975Nascimento no:

30 de setembro em Paris

1994Primeiro lugar no

Conservatório.

1998Lily Bertineau no

filme Taxi

2007Oscar de atriz em

La Môme

AS SUAS DATAS

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bbb Está claro: Marion Cotillard não está nem do lado dos autores da petição, nem do lado das feministas defensoras da culpabilidade, preferindo manter em seu próprio ter-ritório, tolerante e lúcida, bondosa, mas não inocente. Ela passa então a outros assuntos: a medicina alternativa, a sabedoria das plantas ou do seu amigo Pierre Rabhi, a eco-logia (neste aspecto, Marion é uma verdadeira militante), a meditação – à qual ela tenta reservar uma hora diária. Marion detesta as dores, as energias negativas e cultiva a preocupação com o próximo. O seu Evangelho a obriga. Não se deve brincar com isso.  Quais são os seus livros de cabeceira?Neste momento, estou lendo Maud Fontenoy, “Ras-le-bol des écolos” e, sobretudo, um livre fascinante, “L’instant de la guérison”, cujo nome do autor esqueci. Este livro, destinado àqueles que dedicam a sua vida a curar pessoas, explora, nos humanos, o “biochoque” que será o ponto de partida das doenças das quais eles sofrerão e morrerão mais tarde. Estes temas me fascinam… É inclu-sive por isso que sou atriz… Tentar entender o que ocorre na cabeça e no corpo de indivíduos diferentes de mim… Para conhecer a si próprio, você aconselharia a meditação ou a psicanálise?Depende da pessoa. Com a meditação, é feita uma lim-

peza, a gente se esvazia e se renova. É uma limpeza do interior de si que às vezes não é suficiente. É excelente, mas pode não bastar – e a consulta junto a um psiquiatra torna-se então um complemento bem eficaz… Você já teve consultas deste tipo?Sim, um pouco… Em alguns momentos da minha vida, senti necessidade de um olhar externo, de uma ajuda de fora para entender quem eu era e que estava fazendo… Há em cada um de nós, várias identidades possíveis e é bom fazer de tudo para que elas vivam em harmonia…

Você diz que o que lhe interessa na profissão de atriz é compreender a mecânica humana. Todos os comportamentos humanos lhe parecem passíveis de explicação? Uma defensora do jihad que vai se explodir em um ônibus cheio de crianças?Eu penso que uma criança chegada a esta Terra tem von-tade de viver e de descobrir a vida e se ele se explode um dia em um ônibus cheio de crianças, há necessariamente uma explicação. Eventualmente, isso pode ter origem no ven-tre da mãe, às terríveis vibrações que ela possa ter sentido e que forjaram a sua personalidade antes de vir à Terra… Não se nasce espontaneamente com algo de diabólico… Mas isso é apenas a minha opinião. bbb

um restauranteClaude Colliot, 40

rue des Blancs-Manteaux. O meu amigo chef que considero um

gênio.

Os seus endereços

A baia de Arcachon

tornada minha terra adotiva

graças a Guillaume (Canet, NDLR) que lá

me levou pela primeira vez.

Descobri um lugar magnífico, total-mente preservado.

A área verde La coulée verte

em Paris, da qual encontro um

equivalente em Nova Iorque na High line.

A ponte Le Pont des Arts

pela explosão de amor dada por essa

ponte coberta pelos cadeados

dos apaixonados. Dizem que se

tornaram pesados demais… O peso do

amor… Seria uma pena todo esse

amor ir por água abaixo… Pensando bem, o Rio Sena se

encheria de amor…

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bbb Você também entende por que algumas atrizes, como aquelas de “La Vie d’Adèle”, tenham se rebelado contra o diretor porque ele teria ido longe demais no que queria extrair delas?Aqui estamos falando de duas atrizes que são, em minha opinião, prodígios. Jovens que podem realmente ir bem longe. Finalmente, eu não sei se realmente eu quero saber o que ocorre durante o trabalho quando, definitivamente, o resultado foi tão vibrante e mágico… É realmente necessário expor a mecânica?

E, no entanto, Léa Seydoux e Adèle Exarchopolos o fizeram…Elas somente foram honestas… Talvez não devessem, mas é tão complicado! Quando uma atriz não diz nada, é acusada de estar tergiversando, e quando diz além da conta é acusada de indecente... Sim, há diretores que me pediram coisas que iam além dos limites do respeito e, de qualquer forma, sabemos mais ou menos onde estamos pisando… Agora, há também este sistema de entrevistas que se sucedem, a milhares de quilômetros da gente… É algo que não se fica sabendo e onde a menor declaração vira uma bola de neve… o “buzz”, como se diz… Não resta dúvida: os maiores de Hollywood a disputam. Marion ainda não está na “List” (reservada às atrizes super

“bankables”, de Sandra Bullock a Jennifer Aniston), mas não está muito longe disso. Marion teria então se tornado americana? O que lhe caracteriza como francesa? Às vezes eu tiro férias… estou brincando, mas é verdade!  Com o distanciamento americano, como você vê a França hoje?Para mim, é este país maravilhoso onde, quando estou em uma loja, sou atendida pelo mesmo vendedor da vez ante-rior… Em Los Angeles ou Nova Iorque os vendedores mudam o tempo todo… E mais seriamente?Mais seriamente, digamos que a França continua a ser um país que valoriza a inteligência. E isso é maravilhoso, esta inteligência, este espírito crítico, esta independência de cada um – embora eventualmente isso prenda as pessoas em posturas complicadas… Como se, em função de ter-mos atingido a excelência em várias áreas, ficássemos presos aos nossos êxitos, com certa condescendência, sem ver que o mundo avança à nossa volta. A América é mais simples, brutal e eficaz…

Se tivesse que fazer uma lista comparativa dos méritos e defeitos…Os Americanos têm a vantagem prodigiosa de saberem viver em conjunto. Eles são todos diferentes, mas se acei-tam enquanto tais. Sempre que há um duro golpe, pode v

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A França continua a ser para

mim o país da inteligência. E isso é maravilhoso, esta inteligência, este espírito crítico, esta independência de cada um – embora eventualmente isso prenda as pessoas em posturas complicadas…

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ter certeza que darão provas de extrema solidariedade. Dito isso, tampouco sou inocente: neste país solidário, também existem pessoas que desaparecem em meio à indiferença generalizada… Fora isso, eles têm outros defeitos, não é?Certamente! Lá é a rentabilidade que dá o ritmo e, dessa forma, todo mundo tem medo de não ser suficientemente “rentável”… Este medo é notado em todos os níveis da sociedade. Medo de não ter suficiente desempenho, medo de perder o seu emprego… e isso cria um clima ins-tável que, com o tempo, pode causar inquietação. Você às vezes tem medo?Na realidade, tenho medo desde que nasci. E desde então tudo me causa medo neste mundo em que a lógica é tão destrutiva… Não se trata de um medo “profissional”, mas “existencial”… A pobreza, a miséria generalizada, o nosso modo de vida baseado em um consumo frenético, tudo isso é aterrorizante. E, acredite, não sou catastrófica, sou realista. Ainda mais que um mínimo de bom senso seria capaz de reparar este desastre ecológico e humano tão previsível… Mas há todos aqueles que pensam que o homem não tem qualquer impacto sobre o que está ocor-rendo e que, para mim, fazem parte da catástrofe…

Que papel ocupa o dinheiro em sua vida?Por sorte, fui criada por pais conscienciosos. Nunca me faltou nada, mas conheço o preço das coisas. Agora,

D a e s q u e r d a par a a direita“The Immigrant” de James Gay (2013)“La Môme” de O. D a h a n ( 2 0 0 7 )“ B l o o d T i e s ” d e G u i l l a u m e C a n e t ( 2 0 1 3 )

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embora tenha rendimentos amplamente suficientes, eu devo muito à educação que recebi, e o fato de ganhar muito bem, incomparável ao que ganhavam os meus pais, não me parece normal. Eu até que lido bem com isso, não acha? Lembro-me de uma conversa com a minha amiga Penélope Cruz sobre as gravações de “Nine”: lembráva-mos juntas dos períodos mais difíceis da nossa vida como atrizes e nos sentíamos “culpadas” com o nosso sucesso e pelas vantagens que o acompanham. Pois bem, eu, sinto-me ainda “culpada” - mesmo trabalhando diariamente e não roubando nada de ninguém. A

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Le Point • Rendez - vous en France

Page 9: Le Point

VISTO DO BRASIL

Servindo iguarias como pérolas de caipirinha, com sagu de mandioca marinado no drinque mais brasileiro de todos, o chef Roland Villard criou o menu “Viagem Gastronômica à Amazônia”, um dos mais saborosos laços de

união entre o Brasil e a França.Por Bruno Agostini (Brasil)

UM CHEFE FRANCÊS NO PRÉ CATELAN DO RIO

roland villard

Empanado de costela de javali em sauté levemente defumado, tagliolini perfumado de trufas

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Cresci brincando na cozinha com a minha mãe, e comecei a minha carreira aos 16 anos, quando estudei na escola técnica de gastronomia. Lá aprendi a metodologia e tive a minha formação

básica. Depois, procurei bons restaurantes para trabalhar e aí pude aprender a psicologia do trabalho na gastrono-mia, a rotina de uma cozinha, e tive a oportunidade de trabalhar com bons chefs que me permitiram crescer, como Paul Bocuse e Gaston Lenôtre. Antes de chegar ao Brasil, em 1997, já havia trabalhado por 10 anos na França e também algum tempo na Costa do Marfim, na África. Logo depois, vim para o Brasil e fui trabalhar no Sofitel, com a missão de renovar a cozinha do Le Pré Catelan. Dentro do seu escritório envidraçado, dentro da cozinha do Le Pré Catelan, ele recebe comensais para jantares exclusivos servidos na mesa de quatro lugares com vista para o movimento do fogão principal, obser-vando o trabalho de uma equipe que prepara as receitas com surpreendente calma. Nas paredes, fotos com perso-nalidades, como Pelé, Paul Bocuse e François Miterrand, além de condecorações, como a concedida pela Academia de Culinária Francesa, e as várias premiações que o restau-rante já recebeu.

Prodígio No Brasil desde 1997, Roland é um sujeito tranquilo, que passa isso para os seus assistentes. Tranquilo, mas ao mesmo tempo inquieto, que não para de criar. Hoje, em cartaz no restaurante, há vários cardápios. O menu amazônico é uma jornada em dez etapas que passeia por diversos ingredientes brasileiros, que fez da costeleta de tambaqui servida com purê defumado de babata baroa e uma espécie de molho roti perfumado com tomilho em uma das receitas mais emblemáticas do país. Usando bom humor, criatividade e técnica apurada, o chef lançou este ano o Menu À L´Envers, o cardápio ao inverso, que brinca com os pratos, transformando mil folhas (de mousse de queijo parmesão e cogumelos mari-nados) e madeleine (de tomate e manjericão com bava-roise de couve-flor e vieiras) em entradas e terrine (de fondant de chocolate e avelã com sorvete de caramelo) e carpaccio (de manga com nougat glacé) em sobremesas. No menu à la carte, um repertório de receitas que podem seguir a escola culinária tradicional francesa, com escar-gots em conchas com manteiga de salsa e côte de boeuf , sauce béarnaise et pommes pont neuf; ou continuar a exploração de ingredientes brasileiros combinados a clás-sicos da terra natal do chef, como foie gras com geleia de goiabada cascão e magret de canard com molho agridoce de vinho tinto e bolinhos de aipim com coxa de pato con-feitado. Ali dentro se vive as melhores experiências gas-tronômicas do Brasil. No salão com decoração moderna e despojada os melhores lugares estão junto à janela, com vista discreta para a praia de Copacabana, a mais famosa do país. A

Costel de tambaqui com mousse de batata baroa defumada e molho de tomilho

Um clássico do chef. Costeletas de tambaqui grelhadas servidas com um molho escuro, uma espécie de roti com redução do caldo de cozimento

de aves, perfumado com tomilho. Para acompanhar, um copinho de purê de batata baroa, chamada de mandioquinha.

Talharim negra com espaguete de pupunha, vieiras grelhadas, molho bisque Aqui o chef mistura Itália, Brasil e França. Sobre um molho bisque aromático de sabor suave, Roland serve um talharim negro com tinta de lula cozido al dente, com vieiras grelhadas e uma espécie de espaguete de palmito pupunha laminado e levemente cozido, parecendo uma massa fresca

À LA CARTE

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Le Point • Rendez - vous en France

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ESSES NARIZES TRABALHAM SOB

MEDIDAÚnico. Cada vez mais pessoas adotam uma fragrância exclusiva.

MODA E ARTESANATO

Francis Kurkdjian, que cria fragrâncias sob medida há mais de onze anos.www.franciskurdjian.com

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POR MARINE DE LA HORIE

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Vontade de sair do óbvio da perfumaria clássica? Então, por que não pedir a um perfumista de prestígio para criar uma fragrância só para você? Nada mais exclusivo e íntimo que um cheiro

só seu e cuja fórmula lhe pertença. Tal encomenda parti-cular, em forma de essência, pode igualmente ser reedi-tada a seu bel-prazer. Essa exclusividade é um pequeno luxo que alguns grandes nomes da perfumaria propõem a seus clientes. “Muitas vezes, um pedido de perfume sob medida corresponde a um evento particular na vida, a uma mudança pessoal. Constitui ao mesmo tempo uma celebração e uma forma de renascimento”, explica Francis Kurkdjian, o criador, entre outros, do Le Mâle, no mer-cado do “sob medida” há onze anos.

Perfume feticheO princípio da fragrância sob medida é tentar refletir a nossa personalidade. Diz a mim a que cheiras e te direi quem és! Os perfumistas tornam-se assim psicólogos. Recebem cada cliente por longas horas para conversar sobre os cheiros que marcaram a sua infância ou momen-tos-chave da vida. Mais do que um capricho ou uma vontade de se destacar, encomendar um perfume só para si faz parte de uma experiência sensorial. Trata-se de uma viagem iniciática, convocando as emoções através das lembranças e dos cheiros que marcaram a memória. Tal experiência tem as suas consequências. “Quando crio um perfume, nunca esqueço que ele será a fragrância fetiche da pessoa que o usará, esse cheiro representando na sua ausência a sua fan-tasia olfativa”, reconhece Mathilde Laurent, a genial per-fumista da Cartier. Em Paris, no 13 da rue de la Paix, está o Salão dos perfumes Cartier, um lugar ideal para essas joias olfativas encrustadas com ouro como peças de alta joalheria. Ali, Mathilde Laurent, que também trabalhou para a Guerlain, inventa essências para os seus clientes exclusivos há mais de cinco anos. Nunca mais do que oito por ano e a fórmula é transmissível às gerações futuras. Mas como fazem os perfumistas para capturarem as lem-branças e emoções e transcrevê-las em um perfume? O primeiro encontro serve para esboçar os contornos olfativos básicos. Em geral, o cliente vai até o perfumista que escolheu. Porém, Francis Kurkdjian, após um pri-meiro contato telefônico, prefere deslocar-se com todo esse equipamento - a “caixa de perfumes”, que parece um laboratório móvel – até a casa do seu cliente, para que esse se sinta à vontade por estar no seu ambiente. Então, o perfumista baseia-se nas declarações do seu cliente para elaborar a fragrância dos seus sonhos. “O perfume reativa e expressa a memória e as emoções. Os clientes falam dos seus gostos, da sua relação com os cheiros. Voltamos mui-tas vezes para muito longe, para a infância. É muito emo-cionante. Eis toda a magia do perfume, essa forma invisível que origina tantas emoções”, afirma o criador do seu primeiro best-seller com apenas 25 anos.

Não é preciso ser um especialista para se lançar nessa aventura. Ao impregnar-se deles e fazer-lhes respirar uma ou outra matéria-prima em tiras de papel – ao fazer-lhes descobrir as grandes famílias de perfumes (florais, orien-tal, chipres, etc.) –, o perfumista pode conceber um per-fume em harmonia com o seu caráter ou com as suas mais íntimas lembranças. Chega então o momento em que o perfumista se transforma em alquimista para traduzir, em forma de cheiro, as confidências do seu cliente.

Alta costuraNa Guerlain, o perfume sob medida é uma tradição da casa. O seu fundador, Pierre Guerlain, imaginou uma fragrância dedicada à Imperatriz Eugénie. Muitas cabeças coroadas provaram esse supremo prestígio. “Os artistas também caíram na tentação; citaremos Balzac, que pediu um perfume para estimular a sua inspiração enquanto escrevia ‘César Birotteau’. E também Baudelaire e Joséphine Baker”, conta Sylvaine Delacourte, diretora do desenvolvimento de perfumes. Guerlain reata os laços com o gênero. As “encomendas especiais” assemelham-se a uma forma de alta costura do perfume, que desvendaria a “cor da alma” e seria registrada de forma vitalícia nos arquivos da empresa. Após encontro com Sylvaine Delacourte, para fazer o cliente viajar em sua bbb

"o perfume sob medida é um

segredo que se leva consigo"

ÉCRIN CARTIER

Mathilde Laurent

Mathilde Laurent,

perfumista da Cartier.

Cartier, 13 rue de la paix

www.cartier.fr

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Le Point • Rendez - vous en France

Page 13: Le Point

bbb memória e resgatar os cheiros e sabores positivos marcantes da sua vida, o cliente é desvendado através dos cheiros que deram forma à sua existência. “Trabalho atu-almente em um perfume encomendado por dois canadia-nos. O desejo é conseguir um perfume de casal, um talismã olfativo para selar o seu amor. Bela ideia, porém difícil desafio! É preciso encontrar um denominador comum entre os gostos do cavalheiro e da sua dama”, explica Sylvaine Delacourte. Em seguida, Thierry Wasser, o perfumista da casa, desen-volve a fragrância. Muitas vezes é necessário um ano para ter o precioso néctar em sua versão definitiva. Depois, a fragrância é apresentada em um frasco de cristal de Baccarat com 500ml, acompanhado por 20 frascos menores. Com um total de 2 litros de Eau de Parfum, os mais loucos por perfume podem se satisfazer durante ao menos 5 anos... Na Inglaterra, existe uma verdadeira pai-xão por esses perfumes únicos e “feitos à mão”. Lyn Harris, criadora da Miller Harris, uma inglesa que adquiriu expe-riência em Grasse, a capital da perfumaria francesa, recebe os seus clientes em sua loja-ateliê, situada em Notting Hill/Londres. Em seu laboratório, encontram-se centenas de minúsculos frascos – as bases do trabalho sob medida – cheios de matérias-primas. Só se tem uma von-tade: abri-los para sentir o cheiro de cada um. “Um per-fume permanece muito pessoal: escolher uma fragrância, o jeito de usá-la... sem esquecer os sentimentos e as sensa-ções que proporciona”, afirma a inspiradíssima Lyn Harris, que não hesita em passar um dia inteiro com os seus clientes para ter o melhor retrato olfativo possível, em função das afinidades com diversas matérias-primas da sua “biblioteca” de cheiros. Afinal, essa Eau de Parfum sob medida, altamente concentrada, é entregue em bbb

Thierry Wasser, r e n o m a d o pe rfumista da Guerlain, onde os frascos para o s p e r f u m e s sob medida são f e i to s à m ão .

Guerlain, 68 avenue des

champs Elysées, www.guerlain.fr

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MODA E ARTESANATO

Page 14: Le Point

bbb um frasco gravado à mão. Lyn Harris pode usar essa fragrância em produtos corporais ou velas perfumadas.

Alto luxoA jovem inglesa também ficou conhecida por ter criado um perfume para Jane Birkin. Um trabalho paciente, pois Jane queria reunir nessa fragrância cheiros com o ar da sua varanda, os velhos livros da sua biblioteca, o musgo de carvalho do campo inglês e a lembrança de Gainsbourg. Desse encontro nasceu a fragrância “L’Air de rien”.Evidentemente, tal luxo tem um custo: entre 10.000 e 35.000 euros. Porém, após ter conhecido todos os clássi-cos da perfumaria e explorado as marcas menos conheci-das, os amantes dos perfumes que queiram usar a mais singular das fragrâncias podem ser tentados por essa experiência. Para o perfumista é uma incrível aventura imaginar a “trilha olfativa” de uma vida. Aqui ele pode expressar todas as facetas do seu talento. Eis o sonho de qualquer perfumista: conseguir tocar as emoções de um desconhe-cido e fazer emergir lembranças através da fragrância obtida. Quando se trata de sentimentos dos quais o cliente nem tinha consciência, o perfumista imagina ser meio bruxo... A

Como reconhecer um perfume mítico? Vendas em alta? Estrela mundial da campanha publicitária ? Pelos milhões de euros da sua propaganda? O que transforma uma fragrância em

nome atemporal é primeiramente a composição. Imaginadas no século passado ou mais recentemente, as fragrâncias famosas nasceram de uma bela emoção, uma história de amor, uma obsessão ou da vontade dos seus criadores em quebrar os códigos. Arpège conta a história do amor de Jeanne Lanvin pela sua filha. Jicky narra a fixação quase erótica de Aimé Guerlain por uma jovem inglesa. Angel traduz a vontade de Thierry Mugler em reencontrar os sabores da sua infância. Por terem criado a surpresa, apostado na sedução ou tido a audácia de chocar, esses perfumes atravessaram as déca-das graças a uma aura durável e um poder único: saber se transformar em reservatórios infinitos de imaginário e sedução. A

OS PERFUMES MÍTICOS Respirar o seu tempo e capturar a essência de uma época, eis o segredo dos perfumes míticos.

POR FABRICE LÉONARD

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MODA E ARTESANATO

Lyn Harris passou longas horas com Jane

Birkin para elaborar um perfume sob

medida.

Page 15: Le Point

L'Heure bleue Guerlain

criação: 1912, por Jacques Guerlain.

O seu sucesso? Sem dúvida, deve-se à sua fragrância de rosa, íris,

violeta e baunilha, imediatamente

identificável. Deve-se também às estrelas que escolheram esse grande

perfume. Assim, até encontrar o perfumista

Frédéric Malle, Catherine Deneuve permaneceu fiel ao elixir centenário.

N°5 Chanelcriação: 1921, por Ernest Beaux.

“Eu não quero apenas rosa ou lírio-dos-vales, eu

quero um perfume composto”, exigiu

Gabrielle Chanel no momento da criação do

que se tornaria o N°5. Como de costume, a modista quebrou os códigos ao tornar

ultrapassado o conceito do soliflore, a saber, uma

fragrância construída em torno de uma nota só. Ademais, em uma época

em que os frascos e as denominações eram

muito trabalhados, Mademoiselle Chanel

imaginou um frasco de design sóbrio, no rótulo

do qual apenas colocou um número. Quando, em

1957, Marilyn Monroe declarou que dormia nua

com algumas gotas do precioso elixir, a lenda

estava a caminho.

Trésor Lancômecriação: 1990,

por Sophia Grosjman.

Referência absoluta da feminilidade, um tesouro

que muitos adoraram descobrir para envolve-

rem-se em fortes sensações. As suas notas

de rosas e as estrelas que o encarnaram

(Isabella Rossellini, Kate Winslet e ultimamente

Penelope Cruz), estão na origem de sua perene

aura sensual.

Opium Yves Saint

Laurentcriação: 1977,

por Jean-Louis Sieuzac.

Um nome iconoclasta no intuito de chocar e viciar,

um slogan publicitário original, a interpretar no sentido figurado – “Para

aquelas que se entregam a Yves Saint Laurent”:

desde o início, a audácia estava presente. Com Opium, um perfume

oriental e voluptuoso oferecido às mulheres

pelo modista como uma proposta indecente e subversiva, Yves Saint Laurent criou um best

seller mundial cujo sucesso nunca falhou.

Eau sauvage Christian Dior

criação: 1966, por Edmond Roudnitska.

Elegância, vigor cítrico único, raspas aromáticas refrescantes, valorizados por um frasco emblemá-

tico, eis um clássico masculino usado por várias estrelas. Hoje, é uma imagem de Alain Delon, registrada por Jean-Marie Périer em

1966, que encarna sua perenidade.

Pour un homme Caron

criação: 1934, por Ernest Daltroff e Michel Morsetti.

Anos 30: revolução nas fragrâncias masculinas.

A lavanda, até então associada a colônias,

entra na composição de uma fragrância

masculina. Caron feminiza o homem sem o

trair. E o perfume se tornaria lenda em 1972,

quando Serge Gainsbourg e Jane Birkin afirmaram: “Eu não sou

considerado um homem bonito. Porém, veem-me como um homem cheio de sedução. O que faz o meu charme, a minha arma secreta: Pour un

homme de Caron”.

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Le Point • Rendez - vous en France

Fragrânciaslendárias

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O que são exatamente as famo-sas notas de cabeça, coração e fundo?Frédéric Malle: Os perfumes são “pirâmides de evaporação”. Podemos concebê-los como foguetes com diversos andares, onde as notas de saída – as mais voláteis –precedem as notas de coração, estas últimas, por sua vez, mais voláteis que as notas de fundo.

Qual seria a diferença entre Eau de Cologne, Eau de Toilette e Eau de Parfum?A Eau de Cologne é uma estrutura olfativa muito volátil e leve, principalmente baseada em notas cítricas e agrestes (como sálvia e ale-crim). A Eau de Toilette é menos concentrada do que a Eau de Parfum ou os extratos.

O seu uso tem evoluído?A Eau de Toilette era aplicada com splash. Certas pessoas a aplicavam com uma luva de

banho. Os extratos eram aplicados com as pon-tas dos dedos. Hoje esses gestos desapareceram com as mudanças na postura comercial do produto.

Quais são as matérias de síntese usadas pelos perfumistas?Há dois tipos. As reconstituições sintéticas da natureza, indispensáveis quando se quer repro-duzir a sua fragrância. O segundo tipo é cons-tituído por produtos mais abstratos, os quais acrescentam novos cheiros à paleta do perfu-mista, como uma nova cor ao arco-íris ou uma matéria nova. Sem notas sintéticas, a perfuma-ria moderna não existiria.

Questão prática: onde se deve perfumar?Onde quiser! Na pele, de preferência. Do meu ponto de vista, gosto da ideia de Mademoiselle Chanel, que dizia: “Perfume-se onde queira ser beijado!”.

Onde armazenar o seu perfume para melhor conservá-lo?Na geladeira, longe da luz, em um lugar fresco e ao abrigo das variações de temperatura. O que realmente não se pode fazer: guardá-lo perto de uma janela ou sob uma lâmpada.

Quais os lugares-comuns a serem evitados?Os perfumes de cor muito escura podem man-char as roupas claras: é bastante raro. Algumas Eau de Cologne (com notas de hespéridée) contêm substâncias fototóxicas: hoje, as maté-rias-primas são tratadas para que os perfumes não manchem mais a pele no sol.

Frédéric Malle,37 rue de Grenelle,Paris, France.www.fredericmalle.com A

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MODA E ARTESANATO

O PERFUME PARA OS

PRINCIPIANTESAs sete verdades de Frédéric Malle, editor de perfumes.

ENTREVISTADO POR MARINE DE LA HORIE

O nosso especialista não é um perfumista como os outros. Ele nasceu em meio aos perfumes. O seu avô fundou o departamento de perfumes da Christian Dior e a sua mãe lhe sucedeu. Embora Frédéric tenha se aperfeiçoado nessa arte, o seu maior prazer hoje consiste em reunir os perfumistas que admira e dar-lhes carta branca para imaginar fragrân-cias. Ele tornou-se, há pouco mais de dez anos, editor de perfumes. Um pouco como um agente literário, ele recruta em sua equipe olfativa diferentes talentos da perfumaria internacional, como Jean-Claude Ellena, Pierre Bourdon ou Olivia Giacobetti. “Publico-os para propor uma escrita diferente. Cada vez mais deprimidos, os perfumistas

queixam-se por não poderem mais trabalhar como antigamente, por terem apenas que reproduzir cópias de cópias. Hoje em dia, o pessoal do marketing pede a esses artistas para deixarem de lado a sua criatividade e desenvolverem perfumes que seriam o menor denominador comum dos gostos do momento”, admite esse maestro dos cheiros, atualmente habitante de Nova Iorque. A sua mais nova mania: editar jovens talentos. “Hoje, o mercado não dá mais oportunidade aos jovens para criarem obras-primas e realmente se expressarem. Os produtos são por demais adulterados”, lamenta Frédéric Malle. As edições de perfumes de Frédéric Malle são pequenas joias encontradas em suas lojas.

As colunas de cheiro de Frédéric Malle

Page 17: Le Point

Na pequena rue Morel, em Montrouge p a ira um p erf ume do Oriente . Proustiana, a fragrância desperta lem-branças da antiga casa e saudades de lugares distantes. Os vapores de bauni-

lha, rosas e almíscar misturam-se no ar gelado do antigo subúrbio parisiense. Em uma oficina de alvenaria é onde se fabrica o Papel Aromático da Armênia, único incenso de papel. O tempo parece ter parado nesta manufatura cujas janelas permanecem abertas no verão ou no inverno.

Um savoir-faire único O ar deve circular nas instalações para proporcionar a secagem das grandes folhas de mata-borrão que se arqueiam sobre tabuleiros metálicos. Em breve elas esta-rão impregnadas de uma mistura marrom e odorífera com receita imutável desde 1888. O principal ingrediente é o benjoim, também conhecido como Incenso de Java, uma resina naturalmente perfumada, utilizada como incenso em igrejas ortodoxas. O principal segredo de fabricação é o tempo. São necessários mais de três meses para fabricar um pequeno bloco com 36 pequenas bandas as quais serão queimadas uma a uma, dobradas em forma de acordeão.

Um empreendimento familiar O negócio continua familiar, inclusive, no que se refere aos membros da empresa. Uma dentre eles representa a terceira geração fiel à empresa atualmente dirigida por Mireille Schvartz. Ela é neta do industrial Henri Rivier, quem inventou o precioso papel com o seu amigo Auguste Ponsot. É sempre no porão da casa de campo do engenhoso vovô que são confeccionadas as misturas. A neta do ilustre engenheiro viu-se, quase a contragosto, à frente da empresa. Sendo uma mãe de família que não havia jamais trabalhado antes, ela saiu-se muito bem. Em 1995, 200.000 blocos foram produzidos nas oficinas e, atualmente, a empresa fabrica, mesmo sem conseguir atender toda a demanda, mais de 2,5 milhões de blocos ao ano… ou seja, 108 milhões de folhinhas. Simplesmente, ela mecanizou algumas operações passíveis de sê-lo, desenvolveu ações de marketing junto a alguns revende-dores e a clientela retornou, mais apaixonada que nunca por este papel tão especial.

Os ateliês raramente estão abertosao público. Maiores informações:www.papierdarmenie.fr A

PAPEL AROMÁTICO

A cantora Régine já as cantou, as mitológicas pequenas bandas de papel de Armênia estão de volta.

POR CLÉMENT PÉTREAULT

AROMÁTICOA cantora Régine já as cantou, as mitológicas pequenas bandas A cantora Régine já as cantou, as mitológicas pequenas bandas

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Le Point • Rendez�-�vous en France

Após 118 anos sem alterar a receita nem criar novos p r o d u t o s , a empresa Papier d’Arménie soli-citou a Francis Kurkdjian para criar uma fra-grância espe-cial para o Ano da Armênia. Gra-ças a ele, o papel existe agora em formato de vela... Esse novo pro-duto evoca os sutis perfumes de cedro, canela, sálvia e lavanda.“O Papel de Armê-nia é um produto que atravessou o tempo sem mudar. Sempre se busca tudo reinventar, porém, nele tudo está presente: um pequeno pedaço de papel trans-formado em um luxo acessível. E essa história já dura 130 anos”.

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MODA E ARTESANATO

Em 1643, um comer-c i a n t e c h a m a d o Claude Trudon deixa a sua região natal e vai para Paris. Abre o seu

pequeno estabelecimento na rue Saint-Honoré, perto da igreja Saint-Roch. Em sua mercearia ele também vendia produtos feitos a partir de cera artesanal, fornecendo aos seus clientes velas para a iluminação doméstica e círios para a paróquia vizinha que até hoje os utiliza.

Success storyEm pouquíssimo tempo, a Trudon adquiriu notoriedade local, pois a cera das suas velas sempre foi de ótima qualidade. Vale lembrar que a pequena manufatura familiar orgu-lhava-se por utilizar as melhores safras das colmeias do reino. Mais tarde, a casa adotaria como lema “Deo regique laborant” (“elas [as abelhas] trabalham para Deus e para o rei”, em latim), o que valeria ao mestre Trudon tornar-se um nobre. Cuidadosamente coletada, a cera é

clarificada com água em abundância para eliminar as impurezas. E para confeccionar pavios que ofereçam combustão duradoura, limpa e regu-lar – sem estalos ou fumaça, um pequeno luxo para a época –, a Trudon importa os mais finos e exó-ticos algodões. Esta instituição sem-pre cultivou um misterioso e inalterável savoir-faire. Composta de matérias-primas vegetais, a pasta para vela apresenta uma mistura ún i ca , m i s c í ve l a o p er f um e . Rapidamente, a casa Trudon se tor-

Diretorinspirado

J u l ie n P r u vo s t está novamente à frente desta insti-tuição francesa.

A CIRE TRUDONÀ LUZ DO TEMPO

Fornecedor o� cial de Louis XIV, a marca de velas Cire Trudon atravessou os séculos sem se consumir.POR MARINE DE LA HORIE

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Naquele dia de 1998, Fred Pinel estava muito inspirado quando decidiu jogar tudo para o alto – na ocasião, o seu tra-balho com publicidade – para se lançar na marroquinaria de luxo. O que desen-

cadeou esta reviravolta? Esse insaciável perfeccionista estava desmontando o baú de estimação da sua avó quando veio o “estalo”. Autodidata, este quarentão aficio-nado por bricolagem decidiu então revisitar o refinado mundo do luxo. Porém, salpicando as suas realizações com uma boa dose de humor e impertinência.

Criaçõesatemporais Fred Pinel começou imagi-nando charuteiras em pre-ciosos couros exóticos e ultra coloridos. Uma coleção com um toque lúdico que revolu-cionou o gênero. Os repre-sentantes de uma concept store parisiense imediata-mente identif icaram o potencial fashion deste novo talento, distribuindo os seus esplêndidos e luminosos acessórios em suas lojas. Foi em 2004 que nasceu a pri-meira mala-baú Bike, capaz

de comportar uma bicicleta dobrável Brompton. Dentre as suas inovadoras criações, encontra-se o baú para bonsai com irrigação integrada! Além do Arcade 80’s, um moderno jukebox de couro com caixas acústicas de 1.800 watts.

a arte do luxoEm seu ateliê em Montmartre, montado em uma antiga padaria, Fred Pinel produz as suas encomendas especiais, tão luxuosas quanto descoladas. Cada peça é fabricada sob medida, na mais pura tradição dos métiers de arte. Com peles exóticas cobrindo todo espectro de tonalida-des, os seus baús tanto são talhados no álamo quanto produzidos em fibra de carbono ou titânio. Pinel mostra o seu talento junto a particulares e a grandes marcas. Como em sua colaboração com a Bang & Olufsen no projeto do baú Soprano, na produção de um kit Piquenique para a Krug e no Just 23, criado para os 23 pares de Nike Air de Michael Jordan.

Made in Paris Pode-se admirar estes artigos na nova butique parisiense, na rue Royale. Como o magnífico porte-cartões de cré-dito batizado Hublot. “Faço os artigos sob medida, de forma desmedida, pelo prazer do olhar”. Um gênio a ser seguido de perto!

22, rue Royale, Paris 8e,www.pineletpinel.com. A

PINEL&PINELO HOMEM COM DEDOS DE OURO

Revirar os códigos da alta marroquinaria na França,através de criações contemporâneas e cheias de cor.

POR MARINE DE LA HORIE

Fre d Pinel e o seu famoso baú pa r a B o n s a i , c o m i r r i g a -ção integrada.

naria fornecedor oficial de Versailles. As suas criações acabam por seduzir todas as personalidades da aristocra-cia e o clero europeu. A manufatura sobreviveu à Revolução Francesa e continuaria a prosperar após a che-gada da eletricidade aos lares.Ela permanece um orgulho para a indústria francesa, conquistando medalhas de ouro na Exposição Universal. Ainda hoje, os maiores nomes solicitam-na quando se trata de adquirir velas perfumadas. De

2007 a 2010, o talentoso e poliva-lente Ramdane Touhami contribui para fazer da Cire Trudon uma casa moderna, imaginando novas linhas e renovando a imagem do especia-lista em derivados da cera. Hoje, Julien Pruvost está à frente da instituição. Devem-se a ele novida-des como a coleção dos contos ou a vela Calabre.

www.ciretrudon.com e (+33)01.43.26.46.50. A

know-howÉ na região fran-cesa do Perche que são fabri-cadas as velas Trudon. Aqui, um busto com a efí-gie de Napoleão.

Page 20: Le Point

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Rendez-vous en France : Yannick Alléno afirma que a culinária francesa não ocupa mais o primeiro plano; Alain Ducasse e Alain Passard sustentam que ela jamais esteve tão bem. Qual a sua opinião a esse respeito?Paul Bocuse : Já estou alcançando certa idade [87 anos, nota da redação] que me impõe tentar ficar acima da polê-mica, caso ela exista. De qualquer forma, como dizem os meus colegas de métier, não se pode ter a mesma filosofia quando se está à frente das cozinhas de um Hotel de tipo Palace que quando se é um chef dono de restaurante. É muito bom que existam opiniões diferentes.Guy Savoy : Sobretudo, é Yannick que não mais está no centro das atenções, após ter deixado o comando do Meurice. Agora mais seriamente, é preciso ser muito pes-simista para sustentar tal discurso. Eis um comporta-mento tipicamente francês. E, no entanto, em dezembro

PAUL BOCUSE E GUY SAVOY CELEBRAM

A CULINÁRIA FRANCESA Após Ducasse e Passard, os dois chefes 3 estrelas homenageiam a nossa gastronomia.

"a culinária francesa não está mais na vanguarda"

yannick aleno

POLÊMICA

TESTEMUNHOS RECOLHIDOS POR THIBAUT DANANCHER

GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

de 2011, Yannick dizia “estar farto de ouvir que a gastro-nomia francesa estava morta”. Que constância! Thomas Keller, Gordon Ramsay, Massimo Bottura, René Redzepi, Alex Atala, Tom Kitchin, tantos grandes chefs aprenderam a arte em nosso país. Quando voltaram aos seus países de origem para “montarem as suas respectivas mesas”, eles reinterpretaram a gastronomia francesa sem-pre lhe rendendo o devido tributo. Eles invariavelmente afirmam que tiveram o “estalo” em território francês. Justamente graças à França onde tantos homens e mulhe-res decidiram seguir a carreira de cozinheiros.

Ao ouvir os senhores, aparentemente,a culinária francesa nunca estevetão bem... Paul Bocuse : É justamente o caso, não é? Eu observo a existência cada vez maior de apaixonados por ela, vindos de todas as partes. Os numerosos programas televisivos

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Le Point • Rendez - vous en France

sobre o tema, assim como o concurso mundial de culiná-ria Bocuse d’or que revela desde 1987 os talentos de chefs originários dos quatro cantos do planeta, contribuem para estimular essa paixão. É isso que me importa.Guy Savoy : Em janeiro, acabamos de conquistar o Bocuse d’or e o Campeonato Mundial de confeitaria. Teria como estar melhor que isso? Temos percorridos um passado de vários séculos de História. A UNESCO, inclusive, não errou ao classificar, ao final de 2010, a refei-ção gastronômica dos franceses como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Além disso, possuímos casas com alma. Prefiro utilizar a palavra “casa”, pois detesto o termo “restaurante”. A casa Troisgros, a casa Haeberlin, a casa Brochot, a casa Frachot… Que diversidade!

O senhor acredita que a culináriaglobalizou-se?Paul Bocuse : Basta olhar o que ocorre no Instituto Paul-Bocuse, em Ecully, perto de Lyon. Acolhemos 460 alunos de 37 nacionalidades. Essa é a prova que o savoir-faire culinário não tem mais fronteiras, cor de pele ou religião. Após concluírem o nosso curso de administração voltado para hotelaria, restauração e artes culinárias, 86 % dos nossos alunos continuam na profissão, dentre os quais, cerca de 60 % na gastronomia. Não poderia ter sonhado nada melhor quando inaugurei este centro de capacita-ção, em 2002. A França atrai um sem número de chefs estrangeiros que aqui chegam para afinar os seus conhe-cimentos e se familiarizarem com as nossos fundamentos.

Mas a culinária francesa tambémé exportada…Paul Bocuse : Com certeza! Tive a prova quando estive nos EUA, perto de Nova Iorque, pouco tempo atrás. O Culinary Institute of America, uma instituição que recebe 2.800 alunos de todo o mundo, recentemente abriu um restaurante francês que leva o meu nome, The Bocuse Restaurant. Aqui temos a certeza que o patrimô-nio do nosso país está mais vivo que nunca no estrangeiro. Eu defendo a França há mais de meio século e isso ainda vai durar muito.

Portanto, o senhor reconhece quea culinária francesa sempre fez escola no planeta…Paul Bocuse : Quanto a esse aspecto, nunca fui pessi-mista. Portanto, sim, ela vai muito bem, obrigado. Isso perdura há várias centenas de anos! A nossa culinária é a pedra de outras de tantos outros países. Ela é única. É necessário render tributo a Auguste Escoffier, Marie-Antoine Carême, Fernand Point, Eugénie Brazier…

Aprecia-se mais comer bem na França que em outros países?Paul Bocuse : Certamente, isso vem de longa data! Nós conhecemos bem os produtos e apreciamos paladares autênticos. A França reúne um imenso aquário compreen-dendo o Mar Mediterrâneo, o Oceano Atlântico e o Canal da Mancha, além de bbb

Guy Savoy em seu restaurante parisiense, situado rue Troyon, no 17o arrondissement de Paris.

1953Nascimento, dia 24 de

julho, em Nevers.

1980Abre o seu primeiro restaurante na rue

Duret, em Paris.

19811 estrela Michelin.

19852 estrelas Michelin.

1987Mudança do

restaurante para a rue Troyon.

20023 estrelas Michelin,

eleito chef do ano pelos seus pares.

GUY SAVOY

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tos. Essa foi a minha vida. Somos os únicos profissionais a terem um traje distintivo, tenhamos orgulho de vesti-lo todos os dias. Não exageremos para tentar nos diferen-ciar.

Vamos voltar para os fornos... Qual diferença os senhores fazementre a culinária moderna e aculinária tradicional?Paul Bocuse : Para mim, somente existe uma culinária: a boa! Seja ela servida em ambiente contemporâneo ou baseada no século 18, a história é a mesma… O essencial é o amor pelo trabalho bem feito.Guy Savoy : Eu não posso fazer apologia da diversidade e se contra todas as novas formas de culinária. Que cada um desenvolva a arte seguindo a sua própria sensibili-dade. O essencial, uma vez mais, é sentir-se realizado.

Os senhores acreditam que as nossas mesas premiadas com estrelas são quase todas idênticas?Paul Bocuse : De forma alguma. A culinária praticada por Troisgros é oposta àquela de Haeberlin, aquela reali-zada por Ducasse não tem nada em comum com aquela de Robuchon. Busque compará-las todas com aquela de Bocuse, você não encontrará uma única que se assemelhe.Guy Savoy : De fato, de forma alguma! A padronização não existe na França. Cada casa é única. Você ousaria dizer que o Meurice et Michel e Sébastien Bras sejam pareci-dos ? Quais seriam os pontos em comum entre L’Ambroisie e Pierre Gagnaire? Você tem a impressão de encontrar os mesmos pratos no Alain Passard e no relais Bernard Loiseau? Eu não...!

Ao que se assemelha o estiloPaul Bocuse e Guy Savoy?Paul Bocuse : É o mesmo há cinquenta anos! Imutável. Sempre me mantive nesta única linha mestra, do guia culinária de Escoffier, que ainda está muito na moda. Gosto de encontrar generosidade no prato, peças inteiras, ossos e espinhas. As minhas receitas nunca mudaram, quer seja em relação à sopa com trufas pretas VGE, criada para o Elysée em 1975; a salada de lagosta do Maine à

bbb uma fazenda gigante, com as suas aves da região de Bresse, o seu gado charolês… De Norte a Sul, ela possui um pomar infinito, com uma terra de qualidades inigua-láveis. E as suas vinhas são o seu mais belo embaixador. Nunca estivemos tão próximos dos nossos fornecedores. Em nossas regiões, tratamos diretamente com os nossos horticultores, criadores de animais e pescadores… Nenhum outro país pode se orgulhar por ter tamanha diversidade. Nenhuma outra nação pode oferecer isso.Guy Savoy : Quando dava as minhas voltas pelos merca-dos, no início dos anos 1960, não existia senão uma varie-dade de maçãs, a golden, os frangos tinham gosto de peixe e os assados de carne vitela saiam do forno com a metade do seu tamanho. Chegaram a nos prometer que comería-mos pílulas no início dos anos 2000. Observem os tesouros que nos apresentam os horticultores, pescadores, padeiros, charcuteiros, açougueiros, viticultores, chocolateiros… Sem eles, não haveria culinária. O nosso patrimônio é a nossa riqueza.

Os senhores estimam que existaum cardápio ideal?Paul Bocuse : Sim, aquele que o cliente aprecia. Sempre repito: o chef não deve cozinhar para si mesmo, mas para o seu convidado. Como tinha por hábito dizer Van Gogh: como é difícil ser simples. Devemos fazer o possí-vel para que o cliente passe conosco um momento mar-cado por uma degustação especial. Quando chega, isso passa por recebê-lo com um sorriso. Acolher é uma arte, muitos detalhes que fazem toda a diferença. Quando o hóspede deixa o nosso restaurante, é imperioso que queira voltar. É ele quem tem razão e que comanda em nossas casas, não nós. Você pode fazer os mais belos pratos, sem ele, você não é nada e fecha as portas. É necessário ter isso em mente.Guy Savoy : Eles são tão numerosos! Anteontem à noite, por exemplo, era uma fondue de queijo em um velho chalé em uma região montanhesa. Subimos a pé e desce-mos de trenó. Isso mostra perfeitamente que a fondue não bastava e que era preciso acrescentar amigos, uma atmos-fera encantadora e a descida da montanha. Ao meio-dia [6 de fevereiro], foi um almoço com caviar, lagosta, trufas, uma cabeça de robalo, longueirões, uma galinha en vessie e de um suntuoso mille-feuille de baunilha que derretia antes mesmo de ir à boca. Prova que os prazeres da boa mesa são infinitos.

Justamente, haveria coisas que os cozinheiros têm tendência a esquecer?Paul Bocuse : Sim! A primeira dos nossos mandamen-tos: sempre estar com a vestimenta regulamentar. A saber, um sobretudo branco, um avental, um boné ou de um barrete de cozinheiro, de acordo com o posto ocupado, uma calça preta ou uma calça pied-de-poule, assim como meias adequadas, unhas e cabelos cortados, sem esquecer as luvas de borracha para manipular os diferentes produ-

Aprecia-se comer bem na França. Nós conhecemos bem os produtos e apreciamos paladares autênticos. Paul Bocuse

1926Nascimento, no dia 11 de fevereiro, em

Collonges-au-Mont-d’Or.

1958Herda o Auberge du Pont-de-Collonges do

seu pai.

1961Torna-se o melhor

especialista da arte na França.

19653-estrelas no Guia

Michelin.

1987Cria o concurso

Bocuse d’or.

2011Eleito “cozinheiro do século” pelo The

Culinary Institute of America.

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GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

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francesa; o filé de linguado com talharim Fernand Point; o robalo com massa folhada e molho Choron; a carne de ave de Bresse en vessie Mère Fillioux; o bolo Président de Maurice Bernachon…Guy Savoy : Tudo começa assim que o cliente passa pela porta da nossa casa, com o champanhe no aperitivo, em seguida o serviço com pão, manteiga, os canapês, os petis-cos… Toda a dificuldade está nos detalhes. Cada convidado é o centro das atenções. Devemos oferecer pratos “assina-dos”, mas não basta. É preciso se renovar, criar sempre e aperfeiçoar novas receitas. Conservar os pratos que deram prestígio às nossas casas, ao mesmo tempo em que fazemos evoluir os nossos cardápios. Ter o cérebro sempre em ebu-lição, essa é a chave! Não estou lá para ser uma unanimi-dade, porém, é necessário que um número suficientemente importante de clientes se identifique com o estilo que apre-sento: o bem-viver e o bem-estar. Quando vejo mesas ocu-padas às 16:30 ou à 1:00, sou o mais feliz dos homens.

Então a felicidade não se circunscreve à culinária em sentido estrito...Guy Savoy : Não! Ela também passa por um ambiente, sorrisos e sensações. A nossa profissão não se resume à simples função de cozinhar, é a combinação de vários fatores. Sempre repito que sou o presidente-capitão--treinador de uma equipe de rugby: os atacantes estão na cozinha, os demais no salão, cada mesa é uma ação do jogo, sem esquecer os fornecedores, chamados de artesãos da terra e do mar, todos parceiros meus.

Os senhores teriam uma mensagem para enviar aos jovens chefs?Paul Bocuse : Não apenas uma, mas três: trabalhem, tra-balhem, trabalhem…Guy Savoy : Que continuem a ser eles mesmos, conti-nuem a trabalhar como eles sabem fazer, que sejam felizes e satisfaçam os seus convidados! Am

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Le Point • Rendez - vous en France

Paul Bocuse em seu

3-estrelas o Auberge

du Pont-de-Collonges, em Lyon, no dia 8

de março: “O essencial

é o amor pelo trabalho bem

feito.”

Page 24: Le Point

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Le Point • Rendez - vous en France

O MILAGRE FRANCÊS

Dizem que a França é pessimista. Há de entendê-la: a felicidade é tão frágil que chega a ser angustiante e a vida

ensinou que os milagres nem sempre duram. A França é quase um milagre, um festival de cores e culturas. Ela tem de tudo. Os mares, as colinas, as metrópoles, os campos, as ilhas e os picos nevados. Embora os seus habitantes não tenham sempre consciência de viverem em um dos mais belos países do mundo, os visitantes, por sua vez, colocaram a França em primeiro lugar no pódio: trata-se do primeiro destino turístico do planeta. Há de ter alguma razão para isso. Existem pelo menos duas. A primeira é o patrimônio: o castelo de Versailles, o Mont Saint-Michel, Daft Punk, Cézanne, o Citroën 2CV, Marion Cotillard, a Torre Eiffel, a Riviera, Georges Sand, a estação de trem de Perpignan e a Mona Lisa do Louvre.

A segunda razão é a chamada art de vivre: o vinho, o espírito francês, o champanhe, o foie gras, a Provence, Chanel, Yves-Saint-Laurent, o Festival de Cannes, Louis-Vuitton, o brioche, Hermès, o restaurante de Guy Savoy e o sanduíche de presunto com manteiga, o jambon-beurre. Sem esquecer as trezentas e dezessete variedades de queijos. Revista séria, amante da vida, “Le Point” tem um antigo compromisso com o patrimônio e a arte de viver. Eis porque tornou-se lógica a união da imprensa com o órgão de turismo da França, celebrando o primeiro destino turístico do mundo. Perguntar-se-á simplesmente porque foi necessário esperar tanto tempo para se unir em prol desta causa comum.Bem, agora não mais.

Franz-Olivier Giesbert Christian Mantei

Page 25: Le Point

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GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

TODO UMQUEIJO

Com consistência dura ou mole, com casca � orida ou lavada, redondos ou quadrados, bem-vindos ao país dos 350 queijos. Descubra as suas histórias secretas e as suas melhores receitas.

POR GILLES PUDLOWSKI

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Le Point • Rendez - vous en France

O Beaufort, rei dos Alpes“O príncipe dos gruyères”: Brillat-Savarin, assim definia este admirável queijo com gosto dos pastos alpinos. O Beaufort? Uma massa prensada cozida reconhecida pela sua base côncava e pela sua casca de tom laranja. Produzido no vale do Beaufortain, igualmente em Tarentaise, Maurienne e em uma parte do vale de Arly. Em média, são necessários 400 litros de leite para fabricar uma forma de Beaufort medindo até 16 centímetros de espessura e 75 de diâmetro. As raças locais proporcionam de modo limitado (5.000 litros anuais) o leite cru desti-nado a produzir este queijo, detentor do selo AOC desde 1968. Ele é apreciado pelo perfume frutado, pelo sabor relembrando nozes, o aspeto láctico e a textura macia e pelo seu paladar à boca. Maturado durante no mínimo cinco meses ou por bem mais tempo pelos mestres quei-jeiros da região da Savoie, é realmente o rei dos queijos dessa região francesa.

O puro queijo de cabrados PirineusEle continua a ser o tesouro em comum do País Basco e da região do Béarn, mesmo se continue a ser chamado “puro queijo de cabra dos Pirineus”. De massa prensada não cozida, com denominação de origem controlada desde 1980 com a denominação Ossau-Iraty, ele se reivin-dica das terras compreendidas entre o Pico do Midi d’Ossau e a floresta de Iraty. Nesta região, os pastores criam as cabras da raça Manech. A alternância entre um sol abundante e chuvas generosas confere às pastagens a sua riqueza, dando um capim muito perfumado. Queijo muito apreciado sem qualquer acompanhamento, em finas fatias ou com geleia de cerejas pretas ou marmelada.

Suave queijo Brie de MeauxSuave, cremoso, macio, derrete na boca, mas não em demasia. “Rei dos queijos”, assim Talleyrand o apresentou em Viena. “Primeira das sobremesas” para Metternich, fazendo eco ao diplomata e gourmet francês. Inventado na abadia Notre-Dame-de-Jouarre, perto de Meaux, na Idade Média, ele tem o selo AOC desde 1980. Queijo de vaca com massa mole e casca florida, o brie de Meaux é feito em todo o Leste da França. Apreciado pela maciez, pelo gosto relembrando nozes, as combinações, tanto com a trufa, quanto com o champanhe, fazem dele uma companhia ideal. Ele é perfeito para um encontro à mesa com amigos.

O royal ÉpoissesSegundo Brillat-Savarin, é o Rei dos queijos, o favorito de Napoleão que o apreciava com um vinho Chambertin. Ele foi o segundo no concurso de degustação do con-gresso de Viena, organizado por Talleyrand em 1815. Nativo da Côte-d’Or, da localidade que leva o seu nome, o queijo Époisses quase desapareceu nos idos de 1950. E, no entanto, havia 300 propriedades produtoras antes da

Primeira Guerra Mundial. Simone e Robert Berthault salvaram este tesouro em perigo, recuperando as receitas “da vovó” e retomando a sua fabricação. bbb

a sua marca: a sua lateral côncava e sua placa de caseína azul

O BEAUFORT

a sua coloração

naturalmente vermelha e seus aromas típicos

fazem sua reputação.

O ÉPOISSE

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GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

bbb Atividade perpetuada pelo seu filho Jean. Porém, o Époisses da casa Berthaut, responsável pela revenda Marie-Anne Cantin em Paris, continua a possuir um vivo aroma floral e frutado, uma massa fina, lisa, delicada, com casca de tonalidade laranja. A sua lavagem com água e com o destilado Marc de Borgonha contribui para este poderoso aroma. Jean oferece outras variedades, utili-zando o leite das vacas locais e com uma conclusão da maturação precisa e forte, como o trou du cru, o affidélice

maturado com vinho chablis, o aisy cendré e o soumain-train. O Époisses tem o selo AOC desde 1991.

O queijo Fourme de MontbrisonPrimo da Fourme de Ambert, ele compartilhou com este uma AOC, antes de obter a sua AOC em 2002. A Fourme de Montbrison é uma massa de cor creme e azu-lada, não prensada, não cozida, com casca de tom laranja. O nome vem de forma, que se transformou em “four-maige” e, em seguida, “fromage” [queijo]. Produzido nos Departamentos de Loire e de Puy-de-Dôme, ele vem das áreas altas da província de Forez. Maturado, no mínimo, por 32 dias, vai muito bem com vinho suave ou Porto.

Saint-nectaire,puro produto da terra No século 17, o marechal Sennecterre divulgou este queijo na mesa de Louis XIV. Este último o apreciou e trouxe carregamentos das montanhas da Auvergne. Esta massa guardou o seu lado natural e o gosto marcante. Desde 1996, o produto tem selo de origem. A sua produ-ção cobre 50 comunas do Departamento de Puy-de-Dôme e 19 do Departamento de Cantal , nas comunidades de Artense e Cézallier, onde 90% dos pro-dutores têm pastos nativos. Distinguem-se o Saint-nectaire da fazenda, fabricado com leite cru integral, do Saint-nectaire industrializado, que pode ser tratado ter-micamente e padronizado em sua concentração de gor-dura. O primeiro tem uma etiqueta verde oval, o segundo uma etiqueta verde quadrada. A

menos fermentada que a irmã ambert,

deve ser conhecida com

urgência.

a forma de mont- brison

à esquerda, o saint-nectaire com gosto de terra. à direita, o agradável brie de meaux

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Le Point • Rendez - vous en France

GRATINADO DE QUEIJO BRIE DE MEAUX E BATATAS CHARLOTTE

Para 4 pessoasA 1 generoso pedaço de brie de Meaux

A 1 kg de batatas Charlotte A 150 g de toucinho A 120 g de cebolas A creme de leite líquido

A 1 colher de azeite.Cozer as batatas com casca. Refogar no azeite o

toucinho e as cebolas em fatias. Descascar as batatas e cortar em rodelas. Na saladeira, misturar

batatas, toucinho e cebolas. Despejar tudo na assadeira para gratinar, em uma camada bem igual.

Dispor o brie em fatias. Derramar um véu de creme de leite. Pré-aquecer o forno a 220 °C

(Termostato 7). Assar por 20 minutos, acrescentar pimenta do reino moída na hora.

Servir com salada.

LAGOSTA GRATINADA AO ÉPOISSES

Para 4 pessoasA 1/2 unidade de Époisses A 4 lagostas A 150 g de manteiga A 1 pitada de páprica A sal A pimenta.Levar ao forno pré-aquecido a 210° (termostato 7). Abrir as lagostas em dois no comprimento. Salgar e apimentar, dispô-las em uma forma, c/ a carne para o

alto. Assar por 8 min. Retirar a casca do Époisses. Na retirada do forno, salpicar a lagosta com pedaços de Époisses. Enfornar novamente sob o grill por 5

min., observando se o Époisses adquiriu uma bela cor dourada. Derreter a manteiga em fogo brando. Clareá-la e dourá-la. Deixar resfriar um pouco e

acrescentar a páprica e servir.

CREMOSO DE FOURME DE MONTBRISON

RECEITA DE STÉPHANE LAURIER Para 4 pessoas

A 100 g de queijo Fourme de Montbrison A 250 g de batatas A 50 g de creme de leite integral A 12 finas fatias de pão grelhado

esfregados em alho A 5 cl de cerveja branca A 1 dente de alho A sal e pimenta moída na hora. Cozer as batatas descascadas na água salgada c/ o alho. Amassar as batatas, aquecê-las c/ um pouco da água de cozimento, incorporar o creme de leite

e o queijo Fourme de Montbrison, cortado em finas lâminas. Acrescentar um pouco de cerveja branca até obter uma consistência sedosa. Servir quente com pão grelhado e raspado com alho.

Truffade ao Saint-nectaire Para 6 pessoas

A 4 colheres de sopa de azeite de oliva A 1 kg de batatas A pimenta do reino moída

na hora A 400 g de Saint-nectaire.Descascar as batatas, levá-las à água e cortá-las em finas rodelas. Retirar a casca do queijo. Cortar o queijo em pequenos dados. Escorrer as batatas. Derramar o azeite na frigideira e, assim que esquentar, acrescentar as batatas. Misturar

regularmente, acrescentar a pimenta e cozinhar por 20 min. Assim que as batatas estiverem douradas e

cozidas, acrescentar o queijo, deixar derreter em fogo brando, mexendo regularmente.

Servir o quanto antes.

CROZETS AO BEAUFORTPara 4 pessoas

A 250 g de quadradinhos de massa crozet A 100 g de Beaufort A 20 cl de caldo de galinha

A 100 g de manteiga A sal A pimenta.Cozer os crozets c/ água fervente e salgada por 40

min. Dispor a metade dos crozets cozidos na assadeira de preparo. Recobrir com a metade do

Beaufort raspado e, em seguida, com o restante dos crozets. Aquecer a manteiga até que ela adquira

uma bela cor dourada. Derramar esta manteiga e o caldo de galinha nos crozets. Concluir recobrindo

com o restante do Beaufort raspado e levar ao forno pré-aquecido por 15 minutos.

ABOBRINHAS RECHEADAS COM QUEIJO DE CABRA

Para 5 pessoas A 5 abobrinhas A 500 g de puro queijo de cabra

dos Pirineus A 2 ovos 100 g de espinafre A folhas de manjericão A 30 cl de molho de tomate A farinha de rosca A sal e pimenta moída na hora.Grelhar o espinafre e as abobrinhas por 3 minutos. Cortar as abobrinhas em dois, no comprimento e

retirar o miolo. Raspar e misturar o queijo de cabra com os ovos batidos. Moer o espinafre e as folhas de manjericão. Acrescentar ao queijo. Misturar

bem. Rechear as abobrinhas como queijo. Salpicar com a farinha de rosca e, em

seguida, levar ao forno a 240 °C por 30 min. Servir.

AS RECEITASNa culinária, os queijos revelam um sabor generoso

e uma textura untuosa. Seleção.

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GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

PASSEIO EM VERSAILLES

Fortalecida pelo seu passado de prestígio, a cidade associa velhas pedras e modernidade.POR VALÉRIE PEIFFER

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A r e f o r m a d o hospital Royal Richaud, con-d u z i d a p o r J e a n - M i c h e l W i l m o t t e ,mescla sabia-mente história e modernidade

O paisagista Michel Desvigne

projetou o reordenamento

espacial do reservatório de

água Gobert.Ébem verdade que a cidadela real está à frente de um dos mais vastos espaços pro-tegidos pelo patrimônio de França (166 hectares). Nada fácil de se projetar para o f uturo e entrar na mo dern idade.

Atualmente, ela sonha em se impor como a primeira cidade que levará em conta a dimensão ecológica. Igualmente, a primeira que proporcionará um urbanismo mais suave e equilibrado.

Novos espaços Raros são os canteiros de obras em Versailles que não ofe-reçam uma nova área verde aberta ao público. O mais emblemático é a reconstituição do caminho Le Nôtre. Fruto de uma cooperação entre o castelo e a municipali-dade, este novo passeio arborizado de 3,2 quilômetros é margeado por 582 carvalhos. Sobretudo, esse grande caminho permite aos Versalheses reconquistarem uma parte do território da sua cidade, até então inacessível. “Esse prolongamento vegetal da cidade é igualmente a primeira etapa de uma rede de 40 quilômetros de ciclovias que programamos para a nossa região Versailles Grand Parc”, comemora o seu presidente, François de Mazières.Unir natureza e arquitetura, antigo e moderno: tal é o fio condutor que levou a conceber a reforma do antigo hos-pital Royal Richaud, com conclusão para o final de 2014. Com esta reforma capitaneada pelo arquiteto Jean-Michel Wilmotte, o bairro de Notre-Dame ganha um pequeno sopro de modernismo. Distante do pastiche, a nova moradia estudantil exibe belos conjuntos que res-peitam as antigas edificações. Projetados pelos paisagistas François Neveux e Bernard Rouyer, os três novos jardins, bem no centro do projeto, abrirão passagens para pedes-tres e ciclistas. “Quis fazer deste lugar em ruínas um lugar vivo, explica o Prefeito. Pois, para 2030, imagino Versailles na continuidade do que é hoje e também como um polo de dinamismo.”

Uma cidade jardim Do outro lado da cidade, ao final da avenue de Sceaux, o ordenamento do reservatório de água Gobert confirma o projeto de uma cidade-jardin. Obra do paisagista Michel Desvigne, esse parque público visa “criar um pulmão verde no prolongamento do polo multimodal da estação Chantiers”. Dentre as melhorias, a via reservada para pedestres e ciclistas, associada aos diferentes passeios, pos-sibilitará novas ligações entre os bairros Saint-Louis e Chantiers. Abaixo da superfície, encontramos um imenso antigo espaço comercial cuja estrutura de ferro o Prefeito decidiu preservar. “Será o coração do bairro, nota François de Mazières. Gostaria que ele participasse do desenvolvimento turístico e cultural de Versailles.” Menos amplos, os jardins respondem às mesmas intenções. “Esse novo lugar é uma passagem para interligar o castelo e o bairro Saint-Louis, além de ser uma área para a respiração da cidade”, confirma o projetista Nicolas Gilsoul que salienta: “O jardim do século 21 é ecologicamente cor-reto e deve servir como suporte pedagógico destinado às crianças.”Sobretudo, a cidade espera fazer desse lugar um importante ponto turístico. Pois um dos grandes desafios de Versailles consiste em incitar os turistas visitantes do castelo a igualmente permanecerem na cidade. Embora muitos duvidem da pertinência de um projeto e criti-quem o seu elevadíssimo custo, todos concordam em dizer que é urgente que a cidade não se reduza unica-mente ao seu castelo. A

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Cabourg: Para o lado de ProustPor muito tempo, o do Grand Hotel de Cabourg foi con-siderado como um mausoléu. Plantado entre a sua imensa praia de areia desolada na maré baixa e a praça central, ele aparentava parado no tempo. Gérard Sagnes, o diretor, reconhece: os clientes do hotel são tão apegados a ele que fica difícil até de trocar uma simples maçaneta de porta. Inclusive, estas últimas foram preservadas por ocasião das reformas de dois andares de aposentos. Embora as cores escolhidas tenham primado pela audácia, o espírito das instalações foi respeitado. O piso térreo, renascido com um azul que por vezes substitui o azul dos céus da Normandia, coloca em evidência os lustres de época. E, para o brunch dominical, os habitués reservam com ante-cedência de uma semana para serem acomodados perto

GASTRONOMIA E HOSPEDAGEM

HOTÉIS LITERÁRIOSChiques ou simples, familiares ou impessoais, lugares de residência ou refúgios para se escrever,

a sua história é um romance.POR CLAIRE MEYNIAL E GILLES PUDLOWSKI

do vão envidraçado do restaurante do Grand Hotel, que não mais se chama Le Balbec. Entretanto, a sombra de Marcel Proust ainda está presente. O magistral autor hospedou-se regularmente de 1907 a 1914. Os lugares em que foram ambientados trechos da obra “Em busca do tempo perdido” continuam presentes e o lanche prous-tiano ainda oferece chá e madeleines. Grand Hotel de Cabourg, passeio Marcel-Proust/jardins do Casino. Quartos a partir de 135 € com cama de casal. Pacote City Experience: 2 noites para casal, a partir de 326 €. 02.31.91.01.79, www.accorhotels.com, www.mgallery.com.

“ S a b e n d o q u e h av i a e m C a b o u r g u m h ot e l , o m a is confortável de todo o litoral, fui até ele. Desde que estou aqui, posso me levan-tar e sair todos os dias, o que não acontecia há seis anos.” E s s a s l i n h a s escr itas par a Mme de Caraman--Chiman durante o verão de 1907 marcam o início de numeras esta-dias estivais no G r a n d e H ot e l d e C a b o u r g

MARCEL PROUST

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das e o jet-set. Proust e Guitry frequentaram-no, além de Edouard VII, a quem uma suíte no quinto andar é agora dedicada. Na sua construção, em 1907, foi “o mais belo hotel da Europa”. Após um incêndio nos anos 1950, tor-nou-se, após muitas obras e investimentos, um grande e moderno hotel capaz de preservar o seu charme Art Nouveau e a sua alma de outrora. Hoje fechado para reformas, a reabertura está prevista para julho de 2014. www.evianresort.com

A Riviera: O lugar dos VIP Com os pés n’água, no caminho do cabo de Antibes, em Juan-les-Pins, o Hotel Belles Rives, 100% Art Déco, pos-sui este leve toque de modernidade que o protege do perigo kitsch. As suas linhas contemporâneas, as cores calorosas e esta indescritível elegância são muito aprecia-das. O Bistrô de Eric Houard, no Hotel Juana, oferece uma culinária de feira inventiva e mediterrânea, tal como o tartare de scampi com manga e kiwi. Lugares de predi-leção para celebridades, tais como Francis Scott Fitzgerald, Pablo Picasso, Josephine Baker, Edith Piaf, Miles Davis, Django Reinhardt, Isabella Rossellini e George Clooney. Who else?Belles Rives, diárias a partir de 171 euros do lado voltado para o continente e 306 euros com vista para o mar. 04.93.61.02.79, www.bellesrives.com A

Evian: O retorno às origens de Edouard VII A neblina esconde Lausanne, a água do lago é de um azul turvo. A cor do céu é igual ao azul do lago. O olhar sobre esta extensão plana é garantia de paz. Diz-se que ele dá “moleza”. Ficar com “a moleza do lago”, é o espírito de Evian. Basta um passeio ao longo dos cais, uma parada em um dos mais belos golfes da França, uma volta na monta-nha rumo a Abondance ou La Chapelle, onde os irmãos Trincaz acolhem no restaurante Clarines. Com lotação máxima entre julho e agosto, Evian encontra-se quase vazia no restante do ano, embora receba visitantes de um dia, japoneses em busca do panorama dos cumes, ou mais demorados, ingleses amantes de golfe, italianos, parisien-ses, habitantes de Lyon e de Genebra, amantes da tranqui-lidade ou ainda suíços de toda parte. Sem esquecer os amantes de música clássica que vêm escutar os concertos em uma espécie de casa rústica russa de grandes propor-ções, erguida em homenagem ao padrinho do festival, Rostropovitch, nem tampouco os curistas adeptos da retomada da boa forma. Entre banhos de lama, algas, jatos d’águas termais, aqui se pratica o bem-viver. Na cidade, um centro de “crenoterapia” adota tratamentos com águas minerais. Todo mundo bebe o precioso líquido, a mais chique água mineral sem gás dos EUA. O parque hoteleiro, por sua vez, renovou-se, a exemplo do Royal. Este “castelo” local costumava acolher as cabeças coroa-

À esquerda: salão do res-

taurante hotel royal, à direita:

hotel belles rives

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PORTFOLIO

IMAGINE A FRANÇA A VIAGEM FANTÁSTICA

POR MAIA FLOREMaia Flore percorreu as estradas da França, lançando o seu olhar sobre as atrações culturais � ancesas.

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À esquerda: Le Miroir d’Eau, Bordeaux. Acima: O Pico do Midi. À direita: Cúpula Charvin, Pico do Midi. Abaixo: O MuCEM, Marselha

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PORTFOLIOPORTFOLIO

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De esquerda p/ a direita, do alto p/ baixo : A Estação Saint Sauveur / lille3000, Lille. O Château Royal d'amboise. O Museu Lalique, Wingen-sur-Moder. Le Pont du Gard. A Igreja de Notre-Dame-la-Grande, Poitiers. As Termas do Mont Dore, cidade das águas de Auvergne. O mundo subterrâneo em Ardèche

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Da esquerda p/ a direita, do alto p/ baixo: O Château Royal de Blois. Nantes, L'absence, de l'Atelier Van Lieshout, visto por Maïa Flore. Le Château de Beauregard, Cellettes. O Château du Clos Lucé, Amboise. O Museu Fabre, Aglomeração urbana de Montpellier

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PORTFOLIO

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A França, com seus tesouros culturais, é um formidável campo de jogos para uma artista

tão imaginativa e elegante quanto Maïa Flore. Ainda nos lembramos das suas imagens de Belas Adormecidas suspensas sobre a terra por uma nuvem, que lhe valeram ser projetada para a linha de frente do cenário artístico. Ela faz parte de uma nova geração, e o que é interessante, participa de uma nova fotografia, 100% digital, onde a imagem é fabricada logo após a sua captura, onde a pós-produção (os retoques) contribui para o resultado final tanto quanto a captura da imagem em si. Isso cai como uma luva à artista que, primeiramente, monta os cenários e desenha as suas fotos, antes de voltar para o mundo real e ficar atrás do aparelho. Para lançar um olhar diferente sobre um país rico do seu passado, Maïa Flore reencanta os cenários, sendo ela própria um pouco mágica, e efetua este fantástico Tour de France em 66 dias, indo suavemente de um extremo a outro do território. Diante da sua teleobjetiva, revelam-se 25 sítios patrimoniais, vivos e grandiosos. Castelos, museus, igrejas, grutas, parques, bosques… são colocados em cena e nos fazem sentir convidados. “Ter as chaves de um castelo, isso nos enche de ideias”, confessa ela. O que é belo, nesses jogos visuais que ela inventa em cada lugar no qual a inspiração a visita de modo diferente, é que Maïa Flore não visita, mas “reencontra” os lugares. Cada proposta visual é uma experiência: do absurdo, do jogo, do mistério… ou senão da luz, da Natureza, da aventura. Ao final, um sentimento de liberdade comunicativa dá a todos uma vontade incrível de participar e de unir-se ao círculo encantado.

POR MARTINE RAVACHE

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Le Point • Rendez - vous en France

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CULTURA E AGENDA

O HOMEM QUE NARRA A GRANDE GUERRA

Desenhista obsessivo, Tardi descreve a Primeira Grande Guerra com precisão cirúrgica.POR ROMAIN BRETHES

jacques tardi, um homem livre, filho

de veterano de guerra

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tiras da "putain de guerre" tomo 2

1917- 1918-1919

Evidentemente, há Les carnets de guerre, de Louis Barthas, ou ainda “Glória Feita de Sangue”, hino antimilitarista de Stanley Kubrick e Kirk Douglas, sem esquecer As Cruzes de Madeira de Roland Dorgelès,

homenagem aos soldados anônimos da carnificina e que quase arrematou, em 1919, o prêmio Goncourt ao mais pacífico À Sombra das Raparigas em Flor de Proust. Mas, hoje, para realmente conhecer o que foi o indescritível, é necessário ler as histórias em quadrinhos de Jacques Tardi. Aquele que hoje é, com Enki Bilal, o maior dese-nhista francês vivo e fez da Grande Guerra a sua matéria--prima predileta, investigando o horror, examinando os sacrifícios, as covardias, os absurdos que deram os contor-nos da primeira tragédia do século XX.

O observador É um testemunho a um só tempo direto e indireto que vai embalar – traumatizar? – o imaginário do jovem Jacques: aquele do seu avô Paul Tardi, originário da Córsega, antigo “poilu”* da Primeira Guerra Mundial. Entretanto, este último jamais o havia confidenciado, a não ser à sua esposa, estimando que não valia à pena contar a sua his-tória, pois segundo as palavras do seu próprio neto, “nin-guém poderia compreender o que os poilus [peludos] haviam sofrido.” Portanto, coube à vovó Tardi transmitir a história. Enquanto outras crianças da mesma idade adormecem com os contos de Andersen ou de Perrault, Jacques Tardi tem pesadelos com as lembranças deste avô: “À noite, eu penetrava no campo dos seus horrores”, diz no preâmbulo de uma das histórias que compõem a sua obra-prima, C’était la guerre des tranchées. Um exem-plo entre outros? Um soldado retornando da sua desagra-dável obrigação e, para evitar uma rajada de balas, cai literalmente sobre o ventre de um cadáver alemão. Em seguida, em Lady Macbeth das trincheiras, ele vai se lavar freneticamente as mãos em um charco duvidoso para evi-tar a gangrena e se limpar da tragédia da qual, contra a sua própria vontade, ele é ator. Mas o que interessa a Jacques Tardi não é o trabalho de historiador, que consiste em voltar-se para as causas sociológicas, políticas ou econô-micas da Grande Guerra. Por sua vez, Tardi prefere o status de testemunha ou observador engajado, o qual descreveria a guerra “como se ele tivesse dela participado”, para retomar a expressão de Jean-Louis Vissière. Com a ajuda do seu amigo Jean-Pierre Verney, um dos maiores especialistas do período e cuja coleção única sobre a Primeira Guerra Mundial está exposta no Museu da Grande Guerra do Pays de Maux, Tardi tem uma preocu-pação obstinada com os detalhes: número de botões no sobretudo de um soldado, disposição do tribunal que julga e condena os supostos desertores, composição dos pelotões de execução, nada escapa à vigilância do dese-nhista. Pois, o cotidiano de indivíduos sacrificados em

1917“ Jamais chef n’eut un plus grand pouvoir que le généralissime de 1914 !

Et jamais chef ne répondit aussi peu aux espérances fondées sur lui.”

Lieutenant colonel sbreveté) MELOT dans La Vérité sur la guerre.

“ L’expérience a fait ses preuvesu la victoire est certaineu je vous en donne l’assuranceu

l’ennemi l’apprendra à ses dépens.” Le 15 décembre 1916u NIVELLEu le nouveau généralissime.

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prol de uma causa que lhes é totalmente estranha está no cerne do projeto do artista. Em Tardi, poder-se-ia sentir o medo, o fedor da morte, a sujeira e o desespero. bbba

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CULTURA E AGENDA

bbb Ao serviço dos desconhecidos O horror vivido por esses homens, aos quais Tardi não busca de forma alguma transformar em heróis, nunca se apresenta de forma tão brutal quanto ele surge em vidas mornas e anônimas, as quais poderiam ser as nossas. E o desenhista lhe confere um enquadramento à sua justa medida. Muito embora empregue o colorido (especial-mente na sua série fetiche, Adèle Blanc-Sec), Tardi é antes de tudo um mestre do preto e branco que evoca tanto as gravuras sobre madeira de inspiração anarquista de Félix Vallotton, quanto os desenhos satíricos e graves do pró-prio mestre de Tardi, o ilustrador e antigo poilu Gus Bofa. O preto e branco oferece uma suave dureza às suas pran-chetas, juntamente com uma impressão de pesadelo, a imagem deste soldado andando pelas ruínas de um vila-rejo e cujo olhar alucinado se fixa sobre um cavalo cortado em dois, pendurado a uma árvore. Uma experiência que não deixa de relembrar aquela de Otto Dix, que transcre-

1914 - 1915 - 1916TARDI VERNEY

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Pois durante anos, dez

anos ao menos, sonhei que devia atravessar por sobre casas em ruína, através de corredores pelos quais era quase impossível passar. Otto Dix

veria as suas lembranças de soldado da Guerra nas cin-quenta águas-fortes da série Der Krieg: “Na juventude, as pessoas não se dão conta em absoluto do quanto se fica marcado. Pois durante anos, dez anos ao menos, sonhei que devia atravessar por sobre casas em ruínas, por corre-dores pelos quais era quase impossível passar. As ruínas estavam sempre presentes em meus sonhos...” Ao final, por mais estranho que possa parecer, a Guerra de 1914-1918 somente diz respeito de forma direta, em Tardi, a algumas obras no seio de uma obra pletórica que percorre os períodos mais vergonhosos da nossa história. Porém, elas se confundem neste ponto com o seu autor e a sua história familiar e a verdade nelas se revela de forma tão crua que elas representam, de certa forma, no momento em que não resta mais nenhum poilu em vida, as porta--vozes desses mortos pela pátria, os quais tiveram a sua juventude e o seu futuro arrancados, sem serem consultados.

"putain de guerre" Edições

Casterman. tomo 1 1914-1915-1916 e

tomo 2 1917-1918-1919. a guerra de

14/18 vista por um soldado francês

ordinário.

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Não existe um único caminho para alcan-çar o sucesso internacional na arte con-temporânea. Para tanto, alguns utilizam a midiatização, o sexo, o dinheiro, as imagens da morte ou o brilho dos dia-

mantes. Há uma pessoa que ao invés disso brinca, à sua maneira, com um bernardo-eremita, um cachorro ou um pinguim albino. E, no entanto, é um artista muito sério. Ele recusa a mercantilização exagerada da arte, conten-tando-se, quando expõe em sua galeria, simplesmente em mostrar um filme em tela grande. Alguém que, no momento daqueles ateliês que se assemelham àqueles, pletóricos, do Renascimento, atua com um único, ou no máximo dois assistentes. Alguém que também assina de bom grado peças com outros artistas, pois não se trata de

CULTURA E AGENDA

PIERRE HUYGHE, O EXPLORADOR DA ARTE

CONTEMPORÂNEATrata-se atualmente de um dos artistas franceses de maior reconhecimento no cenário

Por Judith Benhamou-Huet

um fetichista, como ele próprio diz, do “quanto a mim, eu...”. É um francês de carreira internacional que vive de forma comum em New York, mas que, em 2013, tornou--se novamente um parisiense por uma boa razão: ele é o tema de uma retrospectiva no Centro Pompidou que se estenderá até janeiro de 2014. Ele se chama Pierre Huyghe e tem 51 anos. Bom rapaz, sorriso largo. Se ele não é midi-ático, isso é de propósito. Conseguir uma entrevista com ele: difícil. Conseguir respostas sem uma enxurrada de palavras obscuras durante uma entrevista: ainda mais difícil. E, no entanto, no círculo dos iniciados da arte con-temporânea mundial ele é considerado muito impor-tante, sendo muito estimado. Inclusive, depois de Paris, a retrospectiva do Centro Pompidou seguirá para Colônia e, em seguida, para Los Angeles.

pierre huyghe, fascinado pela vida, faz nascer

obras de arte

zoodram4, 2011. ecossistema

marinho vivo, aquário, máscara em resina da musa adormecida (1910)

de constantin brancusi.

134,6x99,1x76,2 cm. coleção ishikawa,

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acima: untitled, 2011-2012. abaixo:

colony collapse, 2012, performance,

julho 2012, les arènes d'arles. a way in untitled, 2012. time keeper,

1999, intervenção mural in situ.

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Le Point • Rendez - vous en France

Um artista reconhecido Pierre Huyghe é uma estrela da arte contemporânea mun-dial. A própria palavra o faria fugir, mas é fato. Em 2001, representou a França na Bienal de Veneza. Resultado: receberia o “prêmio especial” da mais prestigiada manifes-tação consagrada à arte contemporânea. Em 2002, foi o Guggenheim Museum, com o seu “Hugo Boss prize”, que o condecorou permitindo-lhe expor no museu de Nova Iorque. Em 2010, foi premiado com o Contemporary artist award, do Smithonian American Art Museum. Um reconhecimento por parte da vanguarda dos curadores de exposições. Em 2012, participou de uma manifestação dentre as mais aguardadas do planeta: a Documenta, rea-lizada na cidade alemã de Cassel. Às suas premiações, poderíamos acrescentar o fato de ser colecionado por célebres amantes da arte, como Eli Broad (fundador da Kaufman & Broad) ou François Pinault, empresário fran-cês que abriu em Veneza uma famosa fundação dedicada à arte. A fim de entender quem é este artista, era preciso questioná-lo sobre a sua iniciação artística ou como ele entrara em contato com a criação artística? Na realizada, em sua família não havia interesse pela arte. Em Chevreuse, bem no meio do pátio da sua escola havia uma escultura. “Eu brincava com este objeto. Escondia-me atrás. Era abstrato. Intrigava-me e tinha uma força qual-quer. Os alunos se reuniam ao redor”. Esta obra era assi-nada por uma artista desconhecida, Parvine Curie. Huyghe é de natureza fiel… Assim, esta escultura foi a primeira peça exibida em sua exposição no Centre Pompidou. Uma obra fundadora. Huyghe, apaixonado desde a infância pela biologia, tornou-se artista. Ao final das contas, é um fascinado pela vida que faz nascer os obras de arte. Como em Chevreuse, em torno da escultura da sua infância…

Um artista plástico Utópico Em 1994, o seu vídeo “dévoler” contava como, em um supermercado, ele ia recolocar nas prateleiras aquilo que comprara, resposta ao pedido do Primeiro-Ministro fran-cês, Édouard Balladur, solicitando a todos para consumi-rem. Em 2005, organizou uma expedição à Antártica, em busca de um pinguim albino, o que acabou gerando um filme. Em 2009, filmaria em Paris, no museu desativado das Artes e Tradições Populares, situações espontâneas criadas por pessoas por ele convidadas. Sexo, dança, hip-nose… Em 2012, mostraria em Londres um bernardo--eremita que se alojava na réplica de uma escultura, um bronze de Brancusi. Em Paris, na retrospectiva do Centre Pompidou, podia-se ver um cachorro perambulando com toda a liberdade. Para a curadora da exposição, Emma Lavigne, a mensagem era clara: “é uma referência aos cachorros da da arte, como os dos quadros de Velásquez”. Contando, em suplemento, com a própria vida. Pierre Huyghe é um biólogo da arte contemporânea. O grande operador do encontro entre a vida e a arte. A

a journey that wasn't double negative, 14

outubro 2005. evento wollman ice rink, central

park, new york, estados unidos. projeto do public artfund em colaboração com o whitney museum of

american art para a bienal de whitney, 2006.

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CULTURA E AGENDA

A HISTÓRIA GANHA VIDA NO PUY DU FOU

Sem atrações nem montanhas russas, em 2012 esse parque temático foi premiado como melhor parque de diversões no mundo. Vocês não acreditam nos especialistas? Venham viver essa experiência junto aos visitantes que enchem a cada ano esse parque da região da Vendée.

Por Ilia Kalinov (Rússia)

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Le Point • Rendez - vous en France

O “Puy du Fou”, instalado em 50 hectares da região rural da Vendée, não é um parque comum. Mesmo assim, tornou--se o quarto parque temático mais visi-tado da Europa. Não há brinquedos,

mas alguns “grandes espetáculos” de cerca de meia hora. As encenações têm origem na história e na literatura fran-cesas da Antiguidade (“O Signo do Triunfo”) até o século XVII (“Mosqueteiro de Richelieu”), passando pela Idade Média (“Vikings”, “Baile dos Pássaros Fantasmas” e “O Segredo da Lança”). Os espetáculos são constantemente renovados. Assim, “Cavaleiros da Távola Redonda”, dedi-cado ao Rei Arthur, é uma novidade de 2013.

Não somente histórico Porém, é pouco provável que uma simples reconstituição histórica, mesmo de tamanha amplitude, possa atrair tanto público. O segredo do sucesso, cuja trama é relati-vamente simples, reside na ocasião dada aos artistas de encenarem as suas competências em malabarismo, acro-bacia, salto e adestramento. Eles igualmente possuem uma capacidade única para fazer contato com animais selvagens e alguns pássaros. Enquanto isso, as máquinas e os figurinos engenhosos oferecem uma bela performance circense e teatral. Assim o sucesso é garantido, tanto com as crianças quanto junto aos adultos. Nos finais de semana do verão, é apresentado o espetáculo Cinéscénie, o qual deu início à história do parque. Trata-se de um espetá-culo-reconstituição amador, criado por iniciativa de Philippe de Villiers, que conta a movimentada história da região Vendée através da saga da família Maupillier. Essa encenação acontece à noite e possui como único cenário as ruínas do castelo do Puy du Fou, em que evoluem mais de 3.000 artistas. Tal como no início, há 25 anos, todos os artistas são voluntários e oriundos da comunidade local.

Passando pelo Vale do LoirePara chegar ao Puy du Fou a partir de Paris, é possível pegar a rodovia A11. Contudo, o itinerário que passa pelo Vale do Loire é muito mais interessante. Constituindo uma boa opção combinar a visita do par-que com uma viagem através dessa famosa região: os seus majestosos castelos e a movimentada história dessa região da França tornam-se assim mais compreensíveis após a visita do parque.

Orléans é um dos mais importantes centros da França medieval. É neste lugar que alguns Capetianos foram coroados. Também foi palco da primeira importante vitória da Joana d’Arc.

O suntuoso castelo de Chambord constitui o primeiro edifício do estilo renascentista em território francês. Residência de caça do rei François I, o castelo localiza-se no maior parque cercado da Europa, cuja superfície ultrapassa 50 km². Leonardo da Vinci teria participado da criação do projeto de Chambord.

O castelo de Chaumont, cuja história remonta ao século X, recebeu em diferentes épocas eminentes personalidades da história da França, dentre as quais Henri II, a sua esposa Catherine de Médicis e a sua amante Diane de Poitiers. O castelo possui hoje, juntamente com a parte histórica, um jardim permanente onde ocorrem exposições e festivais de jardinagem.

Duas curiosidades esperam o viajante em Amboise: o castelo real de Amboise, cuja imponente massa domina o rio Loire, e outro castelo bem menor, mas não menos interessante, o castelo do Clos Lucé, onde Leonardo da Vinci passou os últimos anos da sua vida.

Tours é uma antiga cidade cuja importância na história da França não pode ser subestimada. Local de peregrinação religiosa em torno do túmulo de São Martinho, Tours tornou-se, nos séculos XV e XVI, o maior centro político do país, pois ali se encontrava, de modo quase permanente, a corte real, contribuindo assim para a expansão e o desenvolvimento da região.

O famoso castelo de Saumur, imortalizado no lendário livro de horas As mui ricas horas do duque de Berry, é uma das mais importantes obras fortificadas da Idade Média e do Renascimento. Foi ali que viveram, do século XI ao século XIV, os reis da França, dentre os quais Philippe Auguste, Saint Louis, Louis Ier d’Anjou e Philippe VI. A

Na prática. O espetáculo

Cinéscénie do Puy du Fou está em

cartaz apenas no verão, de 08 de

junho a 14 de setembro, com

uma hora e quarenta minutos sem intervalo. As

entradas para Cinéscénie devem

ser compradas com antecedên-cia! É impossível comprá-las no dia do espetá-

culo. Entradas a partir de 25 euros para adultos e 17

euros para crianças. As

entradas, incluindo uma

visita ao Grande Parque e o

ingresso do Cinéscénie,

custam 45 euros para adultos e 28

euros para crianças. Por sua

vez, a visita do parque sem o

espetáculo custa 28 e 19 euros

respectivamente. O complexo do parque propõe

diferentes hotéis temáticos nos

estilos romano, gaulês e clássico,

onde se pode pernoitar. Existem

pacotes incluindo a

hospedagem e as entradas do

parque no valor de 49 euros.

HYPERLINK "http://www.puydufou.

com" www.puydufou.com

Caso não houver disponibilidade

nos hotéis do parque, existe

possibilidade de hospedagem

confortável, sem sair do contexto

cultural e histórico: por

exemplo, no castelo de La

Flocelliere, onde o marquês e a

marquesa Vignial recebem os

convidados em sua propriedade

do século XI. www.chateaude

laflocelliere.com

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Roland-Garros é um dos quatro torneios que formam o chamado Grand Slam (ao lado do Open da Austrália, do Torneio de Wimbledon e do US Open), mas é muito mais que um estádio, vai muito

além do tênis e não encanta somente pelas jogadas dos jogadores mais incensados da modalidade. É fora das qua-dras mais concorridas da França inteira que ele também se mostra como um centro de moda e cultura - um local que deve ser visitado quando as raquetes não estão empu-nhadas, quando as arquibancadas estão vazias e silencio-sas, sem os olhos atentos acompanhando uma pequena bola capaz de mudar o destino de muitos.Longe do saibro endeusado por tenistas do mundo todo desde 1928, o lugar batizado com o imponente nome de um dos pioneiros da aviação mundial, que abriga a

CULTURA E AGENDA

GRANDE SACADARoland-Garros é um dos mais endeusados campeonatos de tênis, mas mostra também que o esporte

abarca muito mais do que raquetes e saques.

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Le Point • Rendez - vous en France

Federação de Tênis da França, mantém uma exposição de arte contemporânea e de cartazes de eventos do esporte mostrando que o jogo das raquetes não é feito somente de físico, inclui também bom gosto, cores e desenhos – além de ser uma instituição social, uma reunião social. São pôsteres ricamente povoados por mulheres extrema-mente bem vestidas, preocupadas em verem e serem vistas, como se fizessem questão do farfalhar de suas saias, da imponência de seus chapéus, da riqueza de suas joias e da sutileza de seus gestos – como que disputando um jogo de luxo e poder muito mais importante do que o tênis. Homens sustentando ternos bem cortados e perfeita-mente ajustados aos seus corpos, que dialogam com as mulheres em um jogo de sedução onde cada jogada vale um set inteiro a seu favor. Passear por essa exposição é fazer uma viagem no tempo e ter a certeza de que a memória mantida – especialidade dos franceses – é capaz de tornar um esporte como o tênis não apenas grande, mas também icônico, inesquecível. É a união da arte com a funcionalidade, a comunicação feita com charme, sofisticação e uma pincelada de cor que encanta os visitantes dessa reunião de lembranças sobre raquetes, saques e quadras.

BoquiabertoA grife Lacoste desde cedo entendeu a importância do mise-en-scéne do qual os frequentadores de RG fazem questão de participar e apostou forte no torneio. Não à

toa, seu jacaré de boca aberta está presente em muitas das placas das várias quadras do complexo. É dela também as icônicas roupas usadas pelos e pelas tenistas que pisavam firme dentre as linhas quadradas para suar e serem alçados ao olimpo do tênis. Uniformes de jogadores também podem ser conferidos nas dependências do estádio em dias onde a bola da vez não está no saibro. Além disso, é possível ver fotos de edi-ções passadas que mostram a evolução da moda na pers-pectiva das roupas usadas no tênis – encurtadas a cada ano e ganhando cada vez mais importância no jogo de marke-ting milionário do qual grandes marcas mundiais fazem parte, lutando por um espaço a mais nesta partida. Roland-Garros não é apenas raquetes para lá e para cá, é sacadas geniais de quem quer conquistar um troféu e o público formador de opinião.

É do BrasilEm 1997, brilhou um dos maiores talentos brasileiros deste esporte, Gustavo Kuerten. O primeiro tenista mas-culino brasileiro a vencer um torneio em simples do Grand Slam, antes somente Maria Esther Bueno vencera. Para garantir ao Brasil o inédito título de simples, ele pre-cisou vencer os últimos três campeões do torneio: Thomas Muster (95), Yevgeny Kafelnikov (96) e Sergi Bruguera (93/94). Rumo ao título, o brasileiro perdeu apenas 8 sets. Infelizmente o feito não se repetiu em nenhum outro ano. A

À esquerda: quadra central Philippe Chatrier, e acima: Gustavo Kuerten, vencedor de Roland Garros em 1997

A taça do torneio não fica com o vencedor. Ela é a mesma usada em todos os anos.Quem ganha leva apenas o título e o prêmio em dinheiro – e a estrondosa fama e incomparável respeito de ter sido o melhor dessa disputa.

O estádio não soa ultrapassado e é atual ao ponto de dialogar até mesmo com a música eletrônica.Em 2010, Martin Solveig & Dragonette usaram a quadra mais visada de Paris para gravar o bem humorado videoclipe de “Hello”, com Martin disputando uma partida contra Bob Sinclair.

É possível fazer visitas guiadas por todas as dependências do complexo, passando pela exposição de cartazes, roupas e fotografias da federação francesa de tênis. Rola ainda conferida de perto nos armários usados pelos tenistas com direito a várias e curiosas histórias de bastidores.

Roland-Garros, o homem, foi o primeiro francês a cruzar o Mediterrâneo pelo ar.

Stade Roland Garros, 2 avenue Gordon- Bennett, 75016 Paris. Téléphone +33 1 47 43 48 00E-mail : [email protected]

Curiosi- dades

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La Monnaie de Paris, a casa da moeda fran-cesa, é uma das mais belas instituições de Paris, mas igualmente uma das mais miste-riosas. Ela está atualmente em meio a um grandioso projeto de reformas para melho-

rar a acessibilidade às instalações do prédio, inscrito no patrimônio mundial da UNESCO. Uma série de exposi-

ções está prevista para este ano nas suntuosas salas de recepção da Monnaie que domina o rio Sena e, em setem-bro, Guy Savoy, chefe detentor de três estrelas pelo Guia Michelin, para lá transfere o restaurante do 17o arrondis-sement parisiense que leva o seu nome. Em 2015, será apresentado um suntuoso pátio/jardim e um tesouro escondido da arquitetura, uma casa particular construída

CULTURA E AGENDA

A FORTUNA DE PARISUma das mais antigas empresas do mundo ganha um lifting.

Por Alexander Lobrano (Estados Unidos)

O prédio de la Monnaie de

Paris.

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Le Point • Rendez - vous en France

pelo arquiteto Jules Hardouin-Mansart em 1669 para a família Conti, acessível ao público pela primeira vez após séculos.Entretanto, o que mais vai mais fascinar os visi-tantes será a nova exposição pedagógica que será aberta, em 2015, para apresentar as diferentes atividades sempre em andamento por detrás da elegante fachada da Monnaie, concebida por Jacques-Denis Antoine e cons-truída entre 1767 e 1775. Nas oficinas altamente moni-toradas, uma equipe de artesãos há séculos perpetua a lenda. Somente alguns manipulam as enormes e potentes prensas de moeda, a fim de cunhar as magníficas moedas e medalhas que fazem do governo francês um dos quatro principais fabricantes de moeda do mundo. Hoje, a maior parte das moedas francesas é cunhada no ritmo desenfre-ado de nove milhões de peças ao dia, em uma instalação governamental situada em Pessac, perto de Bordeaux.As especialidades da Monnaie são reveladas quando se visita uma oficina acusticamente isolada, no alto um pátio, em que uma equipe de cunhadores produz as moe-das, os medalhões e as medalhas — a Legião de Honra faz parte das mais prestigiadas produções, assim como as placas, fabricadas na fundição e nas salas de polimento e prensas do pavimento inferior. Essa arte consiste em um extraordinário amálgama entre tecnologias de ponta, tais como a infografia, e trabalho manual, particularmente para criar os complexos moldes em gesso, trabalho ainda efetuado a mão com ferramentas especiais projetadas pelos próprios artesãos.

Uma tradição singular Muitos empregados do estabelecimento, parte do rol das mais antigas empresas do mundo em atividade ininter-rupta, já que fundada pelo neto de Carlos Magno, Charles II “o Careca”, no século 9, estão na instituição há vários anos. “Cada peça na qual eu trabalho é única”, con-fidencia Serge Ceccotti, empregado no seio da oficina de lustração (polimento) há trinta e dois anos, que faz uma pequena pausa no seu trabalho de fabricação de uma peça destinada a recompensar competidores do festival de cinema de Cabourg (além das peças e medalhões, a empresa também fabrica estátuas, bustos e outros objetos destinados ao governo francês e a clientes privados, como a casa Chanel. Atualmente, ela atende a uma encomenda inabitual: a polícia de Paris encomendou a fundição dois falsos Rodin). “Temos orgulho em manter uma tradição ancestral de artesanato e indústria no coração de Paris”, explica o diretor de comunicação da Monnaie de Paris. A vocação da Monnaie consiste em fabricar objetos que além de magníficos são extremamente preciosos, à imagem das instalações.La Monnaie de Paris, 11 quai de Conti, 6ème arrondissement, Paris. www.monnaiedeparis.fr A

O estampador ocupa um posto-chave, extremamente técnico. Ele golpeia os discos de metal, chamados flans, para dar forma aos produtos da Monnaie de Paris (moedas, medalhas, decorações). O estampador prensa o metal uma ou várias vezes com ferramental produzido pelo gravador para lhe dar forma, trabalhando tanto o latão, quanto o cobre, a prata e o ouro. Ele emprega técnicas próprias à Monnaie de Paris, utilizando prensas projetadas pelos engenheiros da Instituição.

O ESTAMPADOR

Histórica profissão especializada perpetuada na Monnaie, o trabalho consiste na decoração do metal: na realidade, o cortador recorta o metal para conferir a cada criação o seu aspecto e a sua harmonia final. Atento em valorizar os materiais nos quais intervém, o cortador da Monnaie de Paris trabalha o metal em todas as suas formas: fundido ou laminado, em cobre, bronze ou ouro... A sua intervenção dá à obra a sua harmonia final, pois ele uniformiza a superfície, suprimindo qualquer imperfeição antes da intervenção do lustrador. O recorte em bronze é frequentemente utilizado em numismática, para a criação do ferramental destinado à estampagem.

O CORTADOR

Os gravadores da Monnaie trabalham no desenho e na fabricação de peças únicas - o ferramental - que possibilitará a edição dos produtos da Monnaie de Paris. Os gravadores da Monnaie intervêm em todos os projetos da Instituição: criação de moedas, medalhas, fundições, decorações, medalhas de pescoço e “medalhas--suvenir”. Os desenhos do ateliê de gravação e o ponto de partida para todas as produções. Este desenho é reproduzido em gesso, oco e ao reverso, por um gravador. O gesso transformado em resina é utilizado na criação das ferramentas de cunhar. O elevadíssimo nível de especialização dos gravadores da Monnaie de Paris possibilita-lhes realizar relevos com ínfimas diferenças de ressalto, criando assim peças de reconhecida expressi-vidade. Em determinadas circunstân-cias, eles executam a sua obra entalhando diretamente a peça. Essa técnica extremamente delicada consiste em esculpir no próprio aço: na dimensão e na forma definitivas. O gravador termina a sua intervenção polindo a sua ferramenta manual-mente. Ele controla a produção durante os primeiros testes.

O GRAVADOR

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CULTURA E AGENDA

ARLES, SOB O SOL DE VAN GOGH

O artista instala-se na cidade em fevereiro de 1888. Nela viveria pouco mais de um ano, produzindo mais de 300 desenhos e pinturas.

Por Fan Yiren (China)

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Le Point • Rendez - vous en France

Ainda que haja quem duvide, a sua herança artística permanece viva. Os habitantes de Arles levam uma vida harmoniosamente ligada à sua arte. As obras do pintor baseiam-se no

cotidiano, criando um amálgama perfeito que confere à cidade um caráter singular e um charme eterno.

Seguindo os seus passos As pinturas de Van Gogh estão por toda a cidade. Passeando para descobri-las, tem-se a sensação de estar ao lado dele. Uma dezena de lugares são referências básicas: a place do Forum para o quadro “le café do soir”, a pont de Trinquetaille para “L'escalier do pont de Trinquetaille”, o cais às margens do rio Rhône para “La nuit étoilée”, a sua residência, os jardins que ele frequentava para se repou-sar... Sem esquecer o L'Espace Van Gogh, um centro dedi-cado às suas obras. O local servia como hospital e foi lá onde Van Gogh se tratou após ter cortado um pedaço da sua própria orelha. As instalações do Hôtel-Dieu são encontradas em suas obras.Visitar estes lugares faz reviver a memória do artista. Isso proporciona uma fabulosa relação com o tempo e o espaço, além de fortíssima sensação de proximidade. Nos arredores de Arles, os campos oferecem uma magní-fica paisagem com girassóis de amarelo vivo. Inclusive, são esses mesmos girassóis que são estampados nas toalhas e tecidos.

O maior mercado da região de Provence Aqui existe um pequeno segredo para a felicidade, conhe-cido por todos os habitantes. Na realidade, “segredo” é a

"Terrasse du café le soir "O azul e o amarelo eram as suas cores favoritas. Duas cores contrastantes, uma evocando um espírito tranquilo, a outra um ambiente tumultuoso. Nesta pintura, ele incorporou o céu azul, as sombras do terraço, a luz calorosa vinda do interior e as estrelas cintilantes. A pintura está repleta de tranquilidade, de poesia e de harmonia. O céu azul, a estrada coberta por pedregulhos e a cor amarela testemunham, por sua vez, da felicidade e da vitalidade das pessoas.

palavra certa. Se você desejar ter um belo dia, vá ao mer-cado matinal todas as quartas-feiras e sábados (este último é o mais completo), das 7:30 às 12:00. As frutas e os legumes na Provence apresentam-se em diversas categorias e dão água na boca. Os tomates locais são relativamente grandes com vários g omos. Se a sua aparência não lhe agradar, você poderá optar pelos menores, levando consigo as suas folhas. Nas barra-cas, eles são dispostos por tamanho e pela forma, em uma apresentação cuidada como uma obra de arte. As abobri-nhas são redondas, como uma bola de tênis. Criando equilibrada mistura entre o amarelo e o verde, elas são absolutamente deliciosas.Sem dúvida, o vinho rosé é o produto mais sedutor. O sol brilha através da garrafa, quebrando assim levemente a sombra. As suas tonalidades vão do rosa fosco ao verme-lho pêssego escuro. As possibilidades de cores dão a impressão de se estar saboreando diferentes tipos de prazer e sensações.O macaron é uma sobremesa muito colorida! Docinhos delicadamente preparados e contendo merengue de amêndoas, eles se mantêm orgulhosamente em pé. É comum os franceses compararem os macarons aos seios das jovens, mas atualmente eles mais parecem cavaleiros esperando a revista às tropas. Comparados aos de Paris, os de Provence não são tão pequenos e tão redondos e parecem mais irregulares. É comum ouvir que ao comprar macarons, compra-se raios de sol...O mercado é um lugar fantástico para se conhecer a vida à francesa. Todo mundo sorri e aparenta felicidade. Talvez seja isso o que se chama amor pela vida. Assim, a riqueza está ao alcance de todos. A

Em 21 de fevereiro de 1888, Van Gogh, cansado da vida em Paris, pegou o

trem para Arles. Em sua chegada, ele

ficou impressionado e fascinado pelo

sol radiante do Sul da França e pelas cores reluzentes. Ele tinha o hábito de caminhar ao

longo do rio Rhône e de pintar obras

inspiradas na ponte. Ele observava

minuciosamente os reflexos do céu azul, bem como os

objetos ao redor. Ele soube representar

a transparência e a clareza do rio.

Como Pianorowsky indicou, as pontes, tema recorrente

das suas pinturas, simbolizam a

amizade.

VAN GOGH

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POR NATHALIE LAMOUREUX

CULTURA E AGENDA

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FEIRAS, EXPOSIÇÕES E FESTIVAIS

IMPERDÍVEIS DO ANO

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Desejo de um reiO rali dos belos carros de outrora

Deauville, os destaques americanosA cada primavera e até o outono,

apaixonados e transeuntes podem vagar por mais de mil hectares, percorrendo os mais secretos

recantos dos Jardins do Castelo de Versailles. De cada fonte, de cada bosque, ressoam óperas que fazem

renascer as estátuas de mármore e ouro.

Um novo percurso com partida de Paris para alcançar ao final uma cidade do Sul da França, às margens do Mar Mediterrâneo. Os concorrentes igualmente

disputarão posições em estradas fechadas e circuitos. A edição de 2013 prestou homenagem ao Aston Martin e aos protótipos Porsche.

A próxima edição será dedicada às BMW e aos MINI.

Criado em 1975 por Lionel Chouchan e André Halimi, este festival continua a explorar a vida dos heróis que nos inspiram ou que se assemelham a nós,

contribuindo para a valorização do cinema independente americano

na França.

De março a outubro de 2014 Versailles. www.

chateauversailles-spectacles.fr

AS GRANDES ÁGUAS MUSICAIS

De 7 a 12 de abril de 2014 www.tourauto.com

www.festival-deauville.com

Cérebros em ebuliçãoEssa Davos da inovação reúne pesquisadores, industriais e

políticos para discutir, fazer intercâmbios e compartilhar ideias

sobre o mundo de amanhã. Muitos são os temas abordados: saúde, nutrição, energia, transporte,

mundo digital e, igualmente, gastronomia e arquitetura.

Toulouse 15, 16 e 17 de maio. Centro de Congressos

Pierre-Baudis www.lepoint.fr/futurapolis

Desfiles de alta-costuraOs desfiles de alta-costura

apresentam o savoir-faire dos grandes costureiros, as suas mais extravagantes criações, à margem

das tendências da moda. Eles constituem um momento fantástico para a nata do vestuário feminino.

Paris. De 7 a 10 de julho de 2014 www.modeaparis.com

Aqui tem swingue! O mais antigo e importante, além de uma das melhores premiações

(3 milhões de euros em 2013) dentre os torneios de golfe da Europa

continental. Anualmente, o Aberto da França de golfe reúne os melhores jogadores europeus. Durante quatro

dias, eles se enfrentam no percurso do Albatros, um dos mais belos e

técnicos traçados da França.

Saint-Quentin-en Yvelines. www.alstom.opendefrance.fr

TOUR AUTO OPTIC 2000 O FESTIVAL DO CINEMA AMERICANO

DE DEAUVILLE

FUTURAPOLIS FASHION WEEK DE PARIS

OPEN DA FRANÇA DE GOLFE

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Le Point • Rendez - vous en France

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umbigo da arte contemporânea Ventos e marésPiano e castelo

Em sua 41a edição, sob a prestigiosa nave do Grand Palais, este evento reunirá 182 galerias escolhidas a dedo, dentre as quais, dois terços

serão estrangeiras. Numerosos eventos correlatos serão

igualmente organizados: esculturas no Jardin des Tuileries ou na Place Vendôme, debates, vernissages em

profusão por toda a cidade.

Ponto de encontro das corridas e dos amantes do mar, o salão

náutico de Paris é o momento ideal para se testar os esportes náuticos,

encontrar chefes de embarcação e descobrir os mais belos barcos para

levantar âncora e navegar.

Há 34 anos este festival impôs-se como encontro imperdível dos

amantes de piano. Ele tem como sede o Parque do Castelo de Florans, onde

se apresentam todas as criações: clássicas, contemporâneas... Todos os estilos: jazz, eletrônica... E todos os artistas: os jovens talentos e os maiores intérpretes internacionais.

De 23 a 26 de outubro de 2014 Tarifa: 32 euros. Grand Palais. Avenue Winston Churchill, 75008

Paris. www.grandpalais.fr

FIAC

www.salonnautiqueparis.com

La Roque d’Anthéron (Departamento de Bouches du Rhône)

De 19 de julho a 17 de agosto de 2014 www.festival-piano.com

Olhares e encontrosExposições, estágios, conferências, projeções, esse festival criado em 1969 celebra a fotografia, primeira

prática cultural dos franceses. Vindos dos quatro continentes, os mais talentosos fotógrafos da sua geração oferecem o seu olhar sobre o mundo, bem longe dos estereótipos.

O público descobre um gênero dinâmico e rico.

Arles. De julho a setembro www.rencontres-arles.com

A feira dos colecionadoresOrganizada pelo Sindicato dos

Antiquários, esta feira reúne marchands franceses e estrangeiros,

colecionadores afortunados e amantes conhecedores. Uma seleção

única de objetos de mobiliário, tapeçaria, faianças, pinturas antigas, indo desde as artes

primitivas até a pintura moderna, passando pelo século 18, a Art Déco

ou os anos cinquenta.

De 11 a 21 de setembro de 2014. Grand Palais. Avenue Winston

Churchill, 75008 Paris. www.grandpalais.fr

LE NAUTIC DE PARIS FESTIVAL DE LA ROQUE D'ANTHÉRON

OS ENCONTROS DE ARLES

BIENAL DOS ANTIQUÁRIOS

A aventura de uma noiteDo crepúsculo à aurora, uma dúzia

de horas, Paris canta em louvor à arte e à cultura, acessíveis a todos. Museus abertos ao

público, performances artísticas, instalações efêmeras, fogos de

artifício, esculturas extravagantes, esta manifestação, muitíssimo

apreciada pelos turistas, espalha uma atmosfera onírica na Cidade Luz,

durante apenas uma noite...

No transcorrer de outubro www.paris.fr

NUIT BLANCHEfr

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CULTURA E AGENDA

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Page 55: Le Point

www.normandie-tourisme.fr www.le70e-normandie.fr

De 5 de junho a 21 de agosto de 2014, a Normandia celebrará com muita pompa e emoção o 70°. aniversário do Desembarque e da Batalha de Normandia. Este evento será um momento  único de recolhimento e

comunhão nacional e internacional para a lembrança e divulgação de valores fundamentais. Uma série de comemorações e festividades serão organizadas para marcar esta ocasião.

O tempo, um luxo.A exposição de belos relógios

ocorre em ambiente impregnado de história: o Carrossel do Louvre. A sua marca de fábrica: permitir aos amantes dos belos relógios virem

ao encontro direto das suas marcas prediletas e igualmente

descobrirem novas.

Carrossel do Louvre, Paris. Final de novembro.

www.argusdesmontres.com

A cidade iluminadaLyon não é somente a cidade dos

embutidos. Pioneira na iluminação pública, a cidade de Lyon, ilumina-se

com mil luzes, durante três dias, revelando verdadeiras joias da

arquitetura. Oportunidade única para os turistas desfrutarem

de um passeio noturno, rumo ao encantamento e ao espetáculo.

Lyon Dezembro www.fetedeslumieres.lyon.fr

SALÃO INTERNACIONAL DA RELOJOARIA

DE PRESTÍGIO

A FESTA DAS LUZES

70°. ANIVERSÁRIO DO DESEMBARQUE E DA BATALHA DE NORMANDIA

www.bessin-normandie.com

D-DAY

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Au cœur de l’événement !Bayeux Bessin

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Le Point • Rendez - vous en France

Page 56: Le Point

10 BOAS RAZÕES PARA VIR À FRANÇA

Pelas suas riquezas culturais, suas regiões e a sua gastronomia...Uma seleção para apreciar plenamente a arte de viver à francesa.

POR NATHALIE LAMOUREUX

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PALACESA Le Bristol Paris Palace. 112 rue du Faubourg Saint Honoré. Paris. 01.53.43.43.00. www.lebristolparis.com/fr/bienvenue/

A O hotel do Palais. 1, avenue de l’impératrice. Biarritz. 05.59.41.64.00. www.hotel-du-palais.com

A O Grand-Hotel do Cap-Ferrat Boulevard du Général de Gaulle. Saint-Jean Cap-Ferrat. 04.93.76.50.50. 71. www.grand-hotel-cap-ferrat.com

Page 57: Le Point

Le Point • Rendez - vous en France g

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BUTIQUES DE LUXO Formado pelas avenidas Champs-Elysées,

Montaigne e George V, o “Triãngulo de Ouro” é o ponto alto do luxo da rive droite,

assim como as ruas Saint Honoré, do Faubourg Saint Honoré e a Praça Vendôme.

Rive gauche, as belas encontram-se no bairro de Saint-Germain.

PRAIASA Côte d’Azur de ponta a ponta. Passeio

pelos canteiros dos douaniers (funcioná-rios da Alfândega), revelando um

Mediterrâneo quase original. CRT Côte d’Azur. 04.93.37.78.78, www.cotedaur-tourisme.com.

NOTRE DAME DE PARISSituada na extremidade da Île de la Cité, Notre-Dame é incontestavelmente uma

das mais importantes catedrais góticas da França. Para melhor “abraçar a terra”, o escritor Sylvain Tesson nela passou uma

noite na cúpula.

NATURISMOHotel OZ'Inn. 4 estrelas, na entrada do

vilarejo naturista de Cap de Agde. Decoração contemporânea e ambiente

atípico. www.oz-inn-hotel.com

RESTAURANTES ESTRELADOS DO GUIA MICHELIN

A Mirazur. Moderno, criativo e gastronô-mico. 30 av. Aristide-Briand, Menton. 04 92 41

86 86. www.mirazur.fr A Les Maisons de Bricourt. A melhor mesa da Bretanha.

Cancale. 02 99 89 64 76.www.maisons-de--bricourt.com A Michel Bras. Tudo com finesse e surpresas. Estrada do Aubrac,

Laguiole. 05 65 51 18 20. www.bras.fr

A AIGUILLE DU MIDI Às portas da alta montanha, a 3.842 metros,

o Aiguille du Midi e os seus terraços muito bem equipados oferecem uma vista em

360° sobre todos os Alpes franceses, suíços e italianos. Terraço e restaurante de especialidades da região de Savoie.

www.chamonix.com

A ponte-aqueduto Pont du Gard

A ponte-aqueduto Pont du Gard é uma obra-prima da técnica romana, construída pouco antes da Era Cristã para permitir ao

aqueduto de Nîmes, com extensão de carca de 50 km, atravessar o rio Gardon.

www.pontdugard.fr

MUSEUS INUSITADOS A Museu da Bruxaria. Em Jonchère,

Blancafort. 02 48 73 86 11. www.musee-sor-cellerie.fr A O museu dos saca-rolhas (1.000

exemplares). Domaine de la Citadelle, estrada Cavaillon, Ménerbes, Vaucluse. 04 90 72 41 58. www.domaine-citadelle.com

A Museu gourmand dos legumes esquecidos. Castelo de Belloc. Sadirac.

0556306200.www.alimenthus.com

FOIE GRASMuseu do Foie gras. Propriedade rural familiar especializada na criação de

gansos, onde se descobre a história do foie gras, dos egípcios até os dias de hoje.

Degustação e visita. Frespech. 05.53.41.23.24, www.souleilles-foiegras.com

Page 58: Le Point

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RedaçãoDireção da publicação: Christian Mantei

Direção da redação: Etienne Gernelle / Franck PaillardEditor: Clément Pétreault Coordenação: Marjorie Lemaire-Desbos

Editores dos escritórios no exterior: Anne-Laure Tuncer, Inessa Korotkova, Frédéric Mazenq e Jean-Philippe Pérol

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