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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO CONRADO HERINGER DITTMAR APLICAÇÃO DE CONCEITOS DO MODELO DE PRODUÇÃO ENXUTA NA MANUTENÇÃO DE MOTORES DE TRAÇÃO DA FERROVIA OURO PRETO - MG 2013 UFOP - CETEC - UEMG

Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

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Trabalho de conclusão de Especialização em Gestão da Manutenção.

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Page 1: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO ESCOLA DE MINAS

REDE TEMÁTICA EM ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE MANUTENÇÃO

CONRADO HERINGER DITTMAR

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DO MODELO DE PRODUÇÃO ENXUTA NA MANUTENÇÃO DE

MOTORES DE TRAÇÃO DA FERROVIA

OURO PRETO - MG 2013

UFOP - CETEC - UEMG

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CONRADO HERINGER DITTMAR [email protected]

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DO MODELO DE PRODUÇÃO ENXUTA NA MANUTENÇÃO DE

MOTORES DE TRAÇÃO DA FERROVIA

Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Engenharia de Manutenção da Universidade Federal de Ouro Preto / REDEMAT como requisito para a obtenção do título de especialista em Engenharia de Manutenção

Professor orientador: Eurycibiades Barra Rosa, Doutor

OURO PRETO – MG

2013

Page 3: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

CONRADO HERINGER DITTMAR

APLICAÇÃO DE CONCEITOS DO MODELO DE PRODUÇÃO ENXUTA NA MANUTENÇÃO DE

MOTORES DE TRAÇÃO DA FERROVIA

Monografia aprovada em ____ de _______________ de _____ como requisito parcial para de grau em Engenharia de Manutenção pela Universidade Federal de Ouro Preto

BANCA EXAMINADORA

___________________ ___________________ ___________________

Page 4: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo avaliar a aplicabilidade de conceitos do Sistema

de Produção Enxuta, ou Sistema Toyota de Produção, à manutenção de motores

de tração de locomotivas da Estrada de Ferro Vitória à Minas. Nesse sentido, é

desenvolvido um estudo de caso na Oficina de Componentes de Locomotivas,

em Vitória – ES. Porém, os resultados obtidos podem ser extrapolados a outros

processos de manutenção da unidade ou para outras ferrovias do grupo. O

estudo é apresentado em três etapas: a primeira etapa consiste em atividades

preliminares como revisão bibliográfica a respeito da história dos processos de

produção, passando pelo modelo de Produção Artesanal, a Produção em Massa,

chegando ao surgimento da Produção Enxuta, bem como seus conceitos

principais; a segunda etapa aborda a aplicabilidade dos conceitos abordados na

etapa anterior; a terceira etapa avalia os resultados obtidos por meio dos

conceitos aplicados e os seus benefícios para o processo de manutenção de

motores de tração.

Palavras chaves: Manutenção. Motores de tração. Sistema de Produção Enxuta.

Sistema Toyota de Produção. Sete tipos de perdas.

Page 5: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

ABSTRACT

Aims to assess the applicability of the concepts of Lean Production System, or Toyota

Production System, to the locomotive’s traction motors to the railway Vitória-Minas, Brazil.

Accordingly, a case study is developed at the Locomotives’ Backshop, in the city of Vitoria.

However, the results can be extrapolated to other maintenance processes at the same unit or

other railways. The study is presented in three stages: the first one consists of preliminary

activities such as literature review of the history of the production processes, through model

Artisanal Production, Mass Production, reaching the emergence of Lean Production and its

concepts. The second step addresses the applicability of the concepts covered in the previous

step. The third step assesses the results obtained through the concepts applied and its benefits

to the process of maintaining traction motors.

Keywords: Maintenance. Traction motors. Lean Production System. Toyota Production

System. Seven types of losses.

Page 6: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CCQ – Círculo Controle de Qualidade

EFVM – Estrada de Ferro Vitória Minas

GE – General Electric

GM – General Motors

GACOG – Oficina de Componentes de Locomotivas

GALEG – Oficina de Locomotivas da EFVM

IBM – Sistema Informatizado de Manutenção

JIT – Just In Time

PDCA – Plan due Check Act (Metodologia para Melhoria Contínua)

SPT – Sistema Toyota de Produção

TPS – Toyota Production System

Page 7: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Diferença entre produção puxada e produção empurrada.................................21

Figura 2 - Simbologia do mapeamento de fluxo de valor..................................................23

Figura 3 - Exemplo de diagrama de fluxo de valor............................................................24

Figura 4 - Motor de Tração CC..........................................................................................26

Figura 5 - Estator................................................................................................................27

Figura 6 - Bobina de excitação...........................................................................................27

Figura 7 - Bobina de comutação........................................................................................28

Figura 8 - Porta-escovas.....................................................................................................28

Figura 9 - Escovas..............................................................................................................28

Figura 10 - Rotor..................................................................................................................29

Figura 11 - Pinhão e engrenagem.........................................................................................29

Figura 12 - Diagrama de Fluxo de Valores GALEG...........................................................35

Figura 13 - Participante preparando lote de produto. Célula de produção definida e com

informação visual para reposição de materiais. ..................................................................... 39

Figura 14 - Atividade da célula com procedimento e informação visual para reposição de

materiais .............................................................................................................................. 40

Figura 15 - Prática da atividade de fixação dos palitos sobre o tabuleiro ......................... 401

Figura 16 - Painel de ferramentas na célula de reparo de estatores. ................................. 413

Figura 17 - Estojo de castanhas ..................................................................................... 423

Figura 18 - Caixas de parafusos de motores disponibilizados na própria bancada de montagem

de motores...............................................................................................................44

Figura 19 - Produção mensal de motores em 2012 ......................................................... 434

Figura 20 - Histograma de produção mensal de motores em 2012. ................................ 435

Figura 21 - Comparativo mensal entre estoque de motores e demanda ........................... 446

Figura 22 - Kanban de estatores...........................................................................................50

Figura 23 - Incidência de retrabalhos de motores de tração.................................................51

Page 8: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

1.1 Formulação do Problema ...................................................................................... 1

1.2 Justificativa ............................................................................................................ 4

1.3 Objetivos ............................................................................................................... 4

1.3.1 Geral ................................................................................................................. 4

1.3.2 Específicos ....................................................................................................... 5

1.4 Estrutura do Trabalho........................................................................................... 5

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................... 6

2.1 A origem dos modelos de produção ...................................................................... 6

2.1.1 A Produção Artesanal ....................................................................................... 6

2.1.2 A Produção em Massa ...................................................................................... 7

2.1.3 A dificuldade japonesa .................................................................................... 11

2.2 O sistema de Produção Enxuta........................................................................... 13

2.2.1 Identificando os desperdícios ......................................................................... 14

2.2.2 Takt Time ....................................................................................................... 16

2.2.3 Kanban .......................................................................................................... 17

2.2.4 Qualidade total (jidoka) ................................................................................ 17

2.2.5 Melhoria Contínua (kaizen) ............................................................................ 18

2.2.6 5S ................................................................................................................... 19

2.2.7 Just In Time (JIT) ........................................................................................... 20

2.2.8 Fluxo de Valor ................................................................................................ 22

2.2.9 O Motor de Tração ......................................................................................... 26

3 METODOLOGIA .......................................................................................................... 30

3.1. Tipo de pesquisa ................................................................................................... 30

3.1.1 Aos objetivos ................................................................................................. 30

3.2. Materiais e Métodos ............................................................................................. 30

3.3. Variáveis e Indicadores ....................................................................................... 31

3.4. Instrumento de coleta de dados ........................................................................... 31

3.4.1 Análise documental ....................................................................................... 31

3.4.2 Observação direta .......................................................................................... 31

3.5. Tabulação de dados ............................................................................................. 32

3.6. Considerações finais do capítulo ......................................................................... 32

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 33

4.1. O processo de manutenção de motores de tração ............................................... 33

Page 9: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

4.2. Diagrama de fluxo de valores .............................................................................. 35

4.2.1 Etapa de maior tempo de ciclo ........................................................................ 36

4.2.2 Limpeza do pinhão ......................................................................................... 37

4.2.3 Áreas com estoques elevados de materiais ...................................................... 37

4.3. A iniciação ao pensamento enxuto ...................................................................... 38

4.3.1 Produção de sacos de doces ........................................................................... 38

4.3.2 Dinâmica dos palitos ...................................................................................... 39

4.4. A melhoria contínua (kaizen) ............................................................................... 40

4.5. A utilização do 5S como ferramenta de aumento de produtividade .................. 41

4.6. A definição do ritmo de produção (takt time) ...................................................... 43

4.7. Gestão visual de materiais (Kanban) ................................................................... 47

4.8. A Qualidade Total na manutenção de motores de tração (jidoka) ..................... 48

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 52

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Page 11: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

1

1 I N T R O D U Ç Ã O

Neste capítulo é apresentada a importância do tema e o problema a ser analisado,

contextualizando seus aspectos na rotina da oficina estudada e nos modelos de produção

utilizados atualmente nas indústrias. Dentre estes modelos são introduzidos de forma breve

alguns conceitos sobre a Produção Enxuta nos quais este trabalho se transcorrerá. Também é

delimitada a abrangência e o roteiro desta monografia. Em outras palavras, encontram-se aqui

a formulação do problema, a justificativa para o tema, os objetivos e a estrutura do trabalho.

A Oficina de Locomotivas da Estrada de Ferro Vitória à Minas (EFVM) da companhia

mineradora Vale está localizada dentro do Complexo de Tubarão. Este complexo, por sua vez,

é uma grande zona portuária na divisa dos municípios de Vitória e Serra, no Espírito Santo, que

concentra as atividades portuárias, pelotização, manutenção de ferrovias e seus respectivos

centros administrativos.

Essa oficina é responsável pelas manutenções preventivas e corretivas da frota de locomotivas,

composta por 320 máquinas dividida entre dois fabricantes principais: GE e GM. (GALEG,

2012)

Adjacente à Oficina de Locomotivas encontra-se instalada a Oficina de Componentes de

Locomotivas, responsável por atender a demanda de manutenção de componentes como

motores diesel, geradores, compressores, turbinas e motores de tração, dentre outros. Trabalham

atualmente nesta oficina 113 empregados próprios, 07 estagiários e 34 terceiros. (GACOG,

2012)

O foco deste trabalho é a manutenção de motores de tração, que é o componente responsável

por gerar a força motriz da locomotiva. Os modelos principais de locomotivas da EFVM

utilizam 08 motores de tração que podem ser GE ou GM, dependendo do fabricante da

locomotiva.

1.1 Formulação do Problema

Nas últimas décadas o conceito de manutenção em várias empresas passou de “um mal

necessário” para uma “função estratégica”. O que propiciou esta mudança de conceito foi a

Page 12: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

2

aplicação de ferramentas da qualidade, preocupação com aspectos de segurança e ambientais,

necessidade de redução de custos e aumento da produtividade (XENOS, 2004).

Kardec et Al (2007) definem a missão atual de manutenção como:

Garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender um processo de produção ou de serviço, com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custo adequados.

A Oficina de Componentes de Locomotivas da EFVM tem buscado aplicar esses conceitos

contemporâneos de manutenção. Entretanto, entende que há espaços para melhorias à medida

que problemas que impactam na produtividade, na disponibilidade, no custeio, na segurança e

no meio ambiente são identificados. Alguns desses problemas já são evidentes e carecem de

uma análise, conforme os fatos a serem apresentados a seguir.

Apesar de a Oficina de Componentes de Locomotivas da EFVM possuir uma linha de

manutenção de motores de tração com uma equipe de empregados próprios, alguns serviços

especializados ou atividades mais complexas são enviados para recuperação externa (empresas

contratadas). Estes recuperadores externos queixam-se das oscilações de demanda, pois em

determinados meses sofrem de ociosidade de suas linhas enquanto em outros não possuem

capacidade para atender.

Além disto, dentro da oficina chama a atenção o aspecto visual, onde algumas células parecem

possuir excesso de quantidade de materiais, enquanto outras queixam-se de falta. Em ocasiões

de falta pode haver atraso na disponibilização de motores de tração, podendo até impactar na

disponibilização de locomotivas para a ferrovia.

A manutenção de motores de tração na Oficina de Componentes da EFVM pode ser considerada

um processo produtivo, uma vez que transforma insumos em produtos (TUBINO, 2009):

motores de tração a sofrerem manutenção preventiva ou corretiva e tornam-se motores

renovados, aptos a desempenhar trabalho nas locomotivas sob determinada especificação de

confiabilidade. Além disto, a manutenção destes motores segue um planejamento de entregas

que se desdobra em programação e que, por sua vez, é acompanhado e controlado de acordo

com regras da companhia. Na manutenção, a área que controla estas tarefas é o PPCM (ou

simplesmente PCM) – Planejamento, Programação e Controle da Manutenção – que é uma

analogia ao PPCP (ou PCP) – Planejamento, Programação e Controle da Produção.

Page 13: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

3

Nos capítulos adiante será visto que, atualmente, dois modelos de produção são adotados pelas

indústrias: a Produção em Massa e a Produção Enxuta (Lean Manufacturing).

O primeiro, resultado de uma revolução sobre o processo de produção artesanal, pautado pela

padronização e intercambialidade de peças, alto grau de especialização das atividades das

células de produção, possibilitando a repetibilidade dos produtos acabados e foi aplicado a

primeira vez por Henry Ford em sua linha de montagem de automóveis em 1908. Embora seja

o mais utilizado atualmente, é muito criticado por seu alto grau de especialização das células,

o que torna as atividades monótonas e pouco estimula os operários nas melhorias do processo,

e pela baixa eficiência na aplicação de recursos (WOMAK, 1990).

Já o modelo de Produção Enxuta vem ganhando espaço nas linhas de produção modernas

naquilo em que o modelo de Produção em Massa é criticado. Descende do modelo elaborado

por Ford. Este foi observado e analisado pelos japoneses no pós-guerra e adaptado à realidade

japonesa das indústrias automotivas: escassez de recursos e empregados com elevado grau de

instrução, que não se satisfaziam em serem deixados à margem do processo de melhoria da

produção nem se submetiam a serem relegados às tarefas monótonas e repetitivas. Nasceu na

Toyota durante a década de 1950 e tem o avanço de controle do mercado sobre as indústrias

automotivas americanas como vitrine de sua eficiência. (WOMAK, 1990).

O sistema de Produção Enxuta, ou Sistema Toyota, consiste na eliminação dos desperdícios –

as conhecidas sete perdas (CARDOSO et Al, 2007):

• Superprodução;

• Processamento exagerado ou incorreto de informações;

• Movimentos desnecessários;

• Transportes desnecessários;

• Excesso de estoque;

• Defeitos;

• Tempo de espera.

Para reduzir as perdas, utiliza-se de ferramentas (CARDOSO et Al, 2007):

• Just in Time: material disponível no tempo e na quantidade corretos;

• Kaizen: melhoria contínua dos processos;

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4

• Kanban: controle visual e intuitivo de materiais.

Dessa forma, diante do contexto tem-se a seguinte problemática.

Como a aplicação do conceito de Produção Enxuta à manutenção de motores de

tração da EFVM pode contribuir para a melhoria do processo?

1.2 Justif icativa

O estudo tem por finalidade apresentar uma alternativa ao modelo de produção atual empregado

na manutenção de motores de tração da EFVM de modo a responder a pergunta anterior.

Serão analisados em particular conceitos do modelo de Produção Enxuta, ainda que não em

toda sua abrangência, porém com possíveis ganhos imediatos e com a intenção de iniciar uma

nova cultura de produção dentro da oficina.

Segundo Wilson (2010), o Sistema de Produção Enxuta pode proporcionar:

• Menor utilização de material;

• Menor necessidade de investimentos para aumento de produção;

• Menor utilização de estoques;

• Uso mais eficiente do espaço físico;

• Menor necessidade de mão-de-obra.

Ainda, espera-se com esse modelo um fluxo de recursos e previsibilidade característicos que

reduzem visivelmente as incertezas e o caos típico de plantas de manufatura. Porém, acima de

tudo, espera-se que o modo de pensar das pessoas envolvidas se torne mais “enxuto”, dado que

as pessoas trabalham mais confiantes, com maior facilidade e mais estimuladas dentro de um

ambiente de produção enxuta (WILSON, 2010).

1.3 Objetivos

1.3.1 Geral

Avaliar a possibilidade de aplicação de conceitos do modelo de Produção Enxuta na

manutenção de Motores de Tração da EFVM com o intuito de verificar possíveis melhorias do

processo.

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5

1.3.2 Específicos

• Realizar uma revisão bibliográfica sobre o tema;

• Mapear o processo atual de manutenção de motores de tração;

• Sugerir aplicação de conceitos do sistema de produção proposto;

• Identificar as possíveis melhorias.

1.4 Estrutura do Trabalho

O trabalho será dividido em 4 capítulos e apresenta-se conforme a estrutura a seguir:

No primeiro capítulo são apresentados a formulação do problema, a justificativa para a

realização do trabalho e seus objetivos geral e específico.

O segundo capítulo trata da fundamentação teórica dos conceitos e teorias à respeito do modelo

de Produção Enxuta. Também é apresentada sucintamente a constituição de um motor de tração.

O terceiro capítulo apresenta o processo metodológico adotado na pesquisa, bem como as

ferramentas utilizadas para a coleta de dados que são partes essenciais na obtenção dos

resultados.

No quarto capítulo são relatadas as discussões e resultados encontrados a partir da coleta de

dados. Além disso, são propostas melhorias no planejamento da manutenção dos motores de

tração.

O quinto capítulo encerra o trabalho com as conclusões e recomendações.

Page 16: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

6

2 R E V I S Ã O B I B L I O G R Á F I C A

A revisão bibliográfica tem por objetivo propiciar a base conceitual na qual o trabalho é

alicerçado. Neste capítulo são apresentadas de maneira detalhada a história dos modelos de

produção e a evolução dos meios produtivos até o estágio e contexto onde surgiu a Produção

Enxuta. Na sequência, apresentam-se as ferramentas que sustentam este modelo de produção.

Ao final, de maneira resumida, são apresentados ao leitor os aspectos funcional e construtivos

do motor de tração de locomotiva.

2.1 A origem dos modelos de produção

Os métodos de produção utilizados hoje – a Produção em Massa e a Produção Enxuta –

nasceram na indústria automotiva. Por este motivo, será feita uma breve contextualização

histórica destes modelos.

2.1.1 A Produção Artesanal

Nos anos de 1880, Paris se destacava mundialmente pela produção de automóveis. Porém, de

uma forma diferente da qual conhecemos hoje. Pessoas de grande poder aquisitivo iam à cidade

provenientes de várias partes do mundo encomendar seus automóveis em pequenas oficinas

construtoras de carros (WOMAK, 1990).

Um destes construtores se destacava pela preferência de seus clientes no início da década de

1890: a oficina da P&L - Panhard e Levassor. Seus operários eram altamente habilidosos no

trabalho com metais e extremamente cuidados na montagem manual dos carros. Ainda, estes

trabalhadores eram bastante conhecedores dos princípios de projetos mecânicos, bem como dos

materiais utilizados. Muitos destes eram donos de lojas ou oficinas fornecedoras de peças e

materiais, contratados pela P&L para montar nos automóveis peças ou componentes específicos

(WOMAK, 1990).

Panhard e Lavassor, fundadores da empresa, eram os responsáveis por manter contato com os

clientes e determinar as especificações dos veículos por estes encomendados. Entretanto, o

desenho de muitas peças ainda permanecia à cargo dos fornecedores de peças (WOMAK,

1990).

Page 17: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

7

Não havia, como é conhecido hoje, produção repetida de um determinado modelo de veículo.

Se a empresa tentasse produzir dois carros idênticos provavelmente não obteria êxito, pois não

havia padronização de medidas entre os fornecedores e montadores. Por este motivo, os

operários necessitavam ser altamente qualificados para corrigir as imperfeições decorridas

desta despadronização e corrigir as folgas entre as peças. Além disto, por esta razão, na eventual

produção de veículos semelhantes o custo unitário para se produzir 10 unidades ou 200 unidades

não se alteraria significativamente (WOMAK, 1990).

Este modelo é considerado como Produção Artesanal e suas características podem ser

resumidas em (WOMAK, 1990):

• A força de trabalho era altamente habilidosa em projeto, operação de máquinas e ajustes

de montagem. A maioria dos trabalhadores podia evoluir de aprendizes a profissionais

de alto grau de conhecimento diversificado, capazes inclusive de abrir suas próprias

oficinas;

• A organização era extremamente descentralizada, apesar de geralmente estar

concentrada em uma única cidade. A maioria das peças e dos projetos do veículo era

proveniente de pequenas oficinas. O trabalho era coordenado por um empresário

responsável pelo contato entre todos os envolvidos: trabalhadores, fornecedores e

clientes;

• Uso de ferramentas e maquinários básicos de torneamento, furação e soldagem de

materiais;

• Um baixo volume de produção: menos de 1000 unidades ao ano e poucos eram

produzidos com o mesmo projeto (15 ou menos). Mesmo entre esses 15, nem mesmo

dois eram exatamente iguais.

Então, Henry Ford, nos Estados Unidos, idealizou uma nova maneira de produzir veículos,

superando os problemas da Produção Artesanal, reduzindo consideravelmente os custos e

aumentando a qualidade final do produto. Esse novo modelo foi por ele denominado Produção

em Massa (WOMAK, 1990).

2.1.2 A Produção em Massa

Em 1908 o projeto Ford T foi o vigésimo desenvolvido dentro de um período de 5 anos. Com

este projeto Ford alcançou o que almejava: um carro projetado para manufatura e um produto

de fácil utilização pelos clientes. Basicamente, poderia de dirigido e feito manutenção por

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8

ninguém menos que o proprietário. Ou seja, não havia necessidade de um motorista e um

mecânico para a maioria das situações (WOMAK, 1990).

O ponto chave da Produção em Massa não é o movimento contínuo da linha de montagem. É,

entretanto, a total intercambialidade de peças e a simplicidade de montar umas às outras. Para

isto, Ford necessitou elaborar a padronização das peças utilizadas no veículo (WOMAK, 1990).

Estas características unidas possibilitou a Ford uma grande vantagem sobre seus concorrentes

e eliminou a necessidade de aplicação de mão-de-obra altamente especializada na confecção de

instalação das peças na linha de montagem (WOMAK, 1990).

Pouco antes da implantação da Produção em Massa o ciclo médio de atividade de um operador

(tempo em que este operador repetia a sua tarefa) era de 514 minutos. Após conseguir a

intercambialidade de peças esse tempo reduziu para 2.3 minutos (WOMAK, 1990).

É necessário lembrar que na Produção Artesanal um operador era responsável por uma grande

quantidade de tarefas de montar e ajustar as peças, podendo tomar várias jornadas de trabalho

até ter seu serviço concluído. Ford dividiu as responsabilidades de cada operador em tarefas

menores, permitindo-lhes uma maior familiaridade com a sua etapa de produção e, com isto,

maior rapidez na execução (WOMAK, 1990).

Porém, houve ganhos diretos. Com a intercambialidade foi eliminada a necessidade de ajustes

na instalação de uma peça em outra. Outra mudança fundamental que proporcionou a redução

no ciclo das atividades foi levar as peças até o operador, evitando que este precisasse deslocar

em busca das peças necessárias (WOMAK, 1990).

Outra mudança nesse modelo foi a utilização de uma linha de montagem móvel. Ford concluiu

que mesmo o deslocamento de poucos metros de um operador toma tempo. Com isto, o ciclo

médio dos operadores reduziu de 2,3 minutos para 1,9 minutos. Outro efeito desta mudança foi

a redução da força humana necessária para a montagem de um veículo.

Estas mudanças possibilitaram no auge da produção do Modelo T – 2 milhões de unidades por

ano – que uma unidade custasse 1/3 do valor comparado com as unidades produzidas antes de

se alcançar a intercambialidade de peças (WOMAK, 1990).

Page 19: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

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A Produção em Massa também trouxe a intercambialidade de mão-de-obra. Com a diminuição

da complexidade da montagem do Modelo T e a divisão de tarefas levadas ao extremo, cabia

ao operador dominar a técnica de montar poucas peças, realizando poucos movimentos. Não

era sua tarefa requisitar materiais, buscar ferramentas, reparar equipamentos, inspecionar a

qualidade e nem mesmo compreender o que realizavam os seus colegas em postos de trabalhos

próximos. Muitas vezes, nem era necessário dominar o idioma inglês, o que era um fato comum

na Detroit do início dos anos 1900 (WOMAK, 1990).

Assim, o operador necessitava apenas de alguns minutos de treinamento para estar apto a

realizar suas atividades. Como resultado, esse operador se tornou substituível, assim como as

peças de um carro (WOMAK, 1990).

No início da produção do Modelo T, Ford adquiria motores e chassis dos irmãos Dodge e os

outros materiais de diversos fornecedores. Em 1915, entretanto, consolidou todas estas funções

num único local dentro de sua empresa– o Complexo de Rouge, em Detroit. Essa integração foi

idealizada por Ford com o intuito de obter reduções de custos de peças, ao realizar a produção

própria, e aumentar a confiabilidade no fornecimento e na qualidade dos materiais (WOMAK,

1990).

No entanto, com a total integração no Complexo de Rouge, Ford começou a enfrentar efeitos

colaterais. A intenção era produzir em Rouge veículos para fornecimento em escala mundial.

Isto provocou nos governos a implantação de barreiras comerciais. Também houve problemas

logísticos que dificultavam a expedição dos veículos para determinadas regiões. O resultado

disto foi que em 1926 já havia linhas de montagens em 36 cidades americanas e em 19 países

ao redor do mundo (WOMAK, 1990).

Ford também inovou no uso de maquinários para fabricar suas peças. Tornou estas máquinas

mais ágeis e com menor tempo de setup (ajustes diferenciados de acordo com a característica

da peça a ser produzida) (WOMAK, 1990).

Em 1923 o Modelo T alcançou a marca de 2.1 milhões de unidades, feito que só seria realizado

novamente anos mais tarde pelo VW Fusca. O veículo da Ford contava com nove variações,

sempre com os mesmos chassis e peças mecânicas. O sucesso principalmente se pautava no

baixo custo. Também contavam favoravelmente a durabilidade e a facilidade de se realizar

manutenções. Caso o motor falhasse, muitas das vezes era possível consertá-lo consultando o

Page 20: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

10

manual com a metodologia de perguntas e respostas para se encontrar a falha e a solução

(WOMAK, 1990).

No início dos anos de 1920, outra empresa automotiva norte-americana nasceu e deu a sua

contribuição ao sistema de Produção em Massa. Originária da fusão de uma dúzia de pequenas

fábricas automotivas a General Motors (GM), liderada por Alfred Sloan, encontrou na

padronização a chave para unificar os diferentes projetos herdados das antigas empresas

(WOMAK, 1990).

Sloan também criou pequenas subsidiárias para fabricação de peças que eram geridas com

grande grau de independência, diferente de Ford que passava por dificuldades para controlar de

modo centralizado suas unidades de fornecimento (WOMAK, 1990).

Um dos grandes trunfos da GM, entretanto, foi a oferta para o mercado de cinco modelos

diferentes de carros, desde modelos mais econômicos (Chevrolet) até os mais caros e luxuosos

(Cadillac), possibilitando uma generosa abrangência de clientes com diferentes capacidades

financeiras. Entretanto, não abriu mão da padronização, uma vez que muitas das peças eram

intercambiáveis entre modelos diferentes (WOMAK, 1990).

Além disto, a cada ano a GM oferecia novidades aos clientes com mudanças de aparência ou

acessórios: transmissão automática, ar-condicionado e rádio, como exemplo (WOMAK, 1990).

Entretanto, nada mudou na ideia instituída por Ford, em que os empregados eram comparáveis

com peças substituíveis no sistema de produção. Assim, a situação no chão de fábrica nessas

empresas começou a se degradar (WOMAK, 1990).

Na verdade, o turnover (termo utilizado mundialmente para designar a renovação de

trabalhadores numa empresa) não era visto como problema e a eficiência da produção era tão

alta em relação aos concorrentes que não adotavam o sistema de Produção em Massa que, se

necessário, era possível dobrar os salários dos empregados ao mesmo tempo em que o custo

final do produto diminuía. Por algum tempo esta prática salarial funcionava, o turnover

diminuía, e os empregados começavam a se imaginar no emprego de uma vida toda (WOMAK,

1990).

Entretanto, após atingir certo patamar, os empregados logo se encontravam em situação de

estagnação, e por consequente insatisfação, uma vez que não havia um horizonte muito extenso

Page 21: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

11

para empregados pouco qualificados no chão-de-fábrica. Eventos de crise financeira, como a

Grande Depressão de 1929, levavam os empregadores a demitir os empregados de salários mais

altos e substituí-los sem grandes impactos por novos empregados a um custo salarial mais baixo

(WOMAK, 1990).

Também havia preferência entre os empregados por determinados postos de trabalho, embora

não houvesse expressiva diferença salarial para quem os ocupasse dos demais. Assim, logo a

prioridade para esses postos de trabalho eram de acordo com o tempo de serviço, e não a

competência. Ao mesmo tempo em que aumentavam as tensões no chão de fábrica, regras mais

severas eram impostas aos trabalhadores, o que gerava mais o clima interno da empresa e

reduzia a eficiência (WOMAK, 1990).

O ano de 1955 pode ser considerado o auge da Produção em Massa. Foi o primeiro ano em que

foram vendidos mais de 7 milhões de veículos ao mercado norte-americano. As três grandes

empresas automotivas – Ford, GM e Chrysler – possuíam 95% da fatia do mercado e apenas

seis modelos eram detentores de 80% de todas as unidades vendidas. Todos os vestígios da

Produção Artesanal foram eliminados nos Estados Unidos (WOMAK, 1990).

Entretanto, foi também o ano em que as empresas norte-americanas começaram a perder

mercado. A maior razão para isto está no fato de que outras empresas ao redor do mundo

tornaram-se competitivas ao adotar a Produção em Massa. Ao final dos anos 1950 as empresas

Volkswagen, Renault e Fiat possuíam um volume de produção compatível às empresas de

Detroit. E a insatisfação com a falta de perspectiva dos empregados europeus também começou

a se tornar evidente. Nas fábricas europeias a insatisfação com o trabalho era tamanha que umas

das principais reinvindicações sindicais foi a redução da jornada de trabalho (WOMAK, 1990).

Esta insatisfação nas fábricas ao redor do mundo poderia continuar se um novo modelo de

produção não tivesse emergido. A importância deste novo modelo era tamanha que os criadores

da então revolucionária Produção em Massa – os norte-americanos – necessitaram voltar os

olhos para o que acontecia no Japão. Esse modelo criado pelos japoneses foi então nomeado de

Produção Enxuta (WOMAK, 1990).

2.1.3 A dificuldade japonesa

A Toyota é considerada a mais japonesa das empresas automotivas japonesas. Está localizada

na cidade de Nagoya, no interior da ilha principal do Japão, afastada da grande metrópole de

Page 22: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

12

Tóquio (WOMAK, 1990). Ainda hoje a Toyota é tida como a empresa modelo em eficiência e

alta qualidade em produção de veículos no mundo (WILSON, 2010). Todavia, esta reputação

não existia no início da companhia.

Durante a primavera de 1950, um jovem engenheiro japonês – Eiji Toyoda – realizou uma

peregrinação dentro do Complexo de Rouge (Ford), em Detroit. Ele possuía conhecimento de

produção de veículos no Japão (WOMAK, 1990).

Sua família fundou em 1937 a Companhia de Motores Toyota. Na década seguinte, o governo

militar japonês, contando com a experiência da empresa em produzir carros de passeio, induziu-

a a produzir caminhões para os esforços de guerra – com um sistema de produção que se

assemelhava à artesanal. Ao final de 1949, dado o cenário de recessão da economia pós-guerra

japonesa, a Toyota foi forçada a reduzir a maior parte de sua força de trabalho (WOMAK,

1990).

Em treze anos de produção de veículos a Toyota produziu 2.685 automóveis, enquanto o

Complexo da Ford em Rouge alcançava 7.000 unidades num único dia (WOMAK, 1990).

Após examinar cada processo no Complexo de Rouge, a maior e mais eficiente planta de

produção do mundo à época, Enji reportou à cúpula da Toyota que havia possibilidades de

melhorar o sistema de produção da Ford (WOMAK, 1990).

Além disto, Enji Toyoda e outro renomado engenheiro da empresa, Taiichi Ohno, concluíram

por uma série de razões que o Sistema de Produção em Massa em seu país não obteria êxito por

uma série de fatores que os diferenciava da realidade ocidental (WOMAK, 1990):

• O mercado doméstico era pequeno e demandava uma grande variedade de modelos de

veículos: carros de luxo para o governo, caminhões para transporte de mercadorias,

caminhonetes para os pequenos produtores rurais e carros pequenos para uso pessoal

nas cidades;

• A força de trabalho japonesa não estava disposta a ser tradada como custo variável, ou

ainda, peça de reposição nas linhas de produção. Ao contrário dos países ocidentais com

a indústria desenvolvida, o Japão não recebia levas de imigrantes dispostos a condições

de empregabilidade muitas vezes inferiores aos trabalhadores nativos. Além disto, a

ocupação de seu território no pós-guerra pelos americanos trouxe uma legislação

Page 23: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

13

trabalhista bastante restritiva para os empregadores e, em contrapartida, favorável aos

empregados nas negociações sindicais;

• A guerra devastou o Japão economicamente e o fluxo de capital estrangeiro não era

suficiente para proporcionar ao país a importação dos últimos avanços tecnológicos

ocidentais;

• Os países ocidentais já possuíam processos completos de produção de veículos e

estavam ansiosos por estabelecer suas operações no Japão. Também, estavam prontos

para defender seus mercados de uma possível exportação de produtos japoneses.

Este último motivo levou o governo japonês a proibir investimentos estrangeiros na fabricação

de veículos e a impor barreiras protecionistas contra a importação. Isto incentivou alguns

empresários japoneses a entrarem no ramo da indústria automobilística. Todavia, o governo

japonês tinha outros planos. O Ministério de Comércio Exterior do Japão entendia que, para

entrar no mercado internacional de veículos, era necessário que as empresas automotivas se

fundissem para coibir uma danosa competição interna e favorecer a produção da variedade de

veículos da qual o mercado japonês carecia. E o sistema de produção a ser adotado deveria ser

a Produção em Massa para competir com as grandes empresas ocidentais (WOMAK, 1990).

A Toyota, a Nissan e outras empresas japonesas, entretanto, desafiaram o governo japonês e

tomaram ações para produzir por completo uma nova variedade de modelos de veículos. Taiichi

Ohno, Engenheiro Chefe de Produção da Toyota, logo percebeu que as ferramentas de produção

em massa adotadas pelas maiores empresas automotivas do mundo não lhes trariam o êxito para

essa estratégia. Ohno concluiu que seria necessária uma nova abordagem para o sistema de

produção na Toyota (WOMAK, 1990).

2.2 O sistema de Produção Enxuta

Conforme afirmado anteriormente, a Toyota é considerada mundialmente a empresa modelo

em eficiência de produção e em qualidade de seus veículos (WILSON, 2010).

Alguns números atuais dão sustentação a este fato e também expressam a transformação pela

qual a empresa passou nas últimas 6 décadas e que em abril de 2007 levou a empresa à liderança

de mercado mundial na categoria (EXAME, 2007):

Toyota GM

Valor de Mercado U$ 219 bi U$ 18

Page 24: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

14

Veículos produzidos 1º trim

2007 2,35 mi 2,26 mi

Faturamento em 2006 U$ 179 bi U$ 207 bi

Resultado em 2006 U$ 12 bi - U$ 2 bi

Tabela 1: Comparativo de resultados entre Toyota e GM Fonte: Revista Exame Ed. 892 Ano 41 – nº 08 – 9/5/2007

Estes resultados são frutos do sistema de produção desenvolvido pela Toyota, denominado de

Produção Enxuta. Podem-se encontrar na literatura outros nomes, os quais referem-se sempre

ao mesmo sistema de produção (WILSON, 2010):

• Sistema de Produção Toyota (SPT);

• Lean Manufaturing;

• Lean;

Para compreender como a Toyota alcançou este resultado é necessário entender os conceitos do

sistema de produção por ela desenvolvido.

2.2.1 Identificando os desperdícios

Um dos conceitos do SPT é o de Valor Agregado, e que pode ser explicado por ser “as

características do produto as quais o cliente esteja disposto a pagar”. Normalmente, para o

cliente, quanto menor o preço melhor. Para que o preço do produto seja compatível com a

vontade do cliente é necessário, antes de tudo, uma alta eficiência no processo de produção.

Desta forma, a ineficiência é sinônimo de desperdício na produção (DALA, 2006).

Pela definição clássica, A Produção Enxuta (SPT) é um sistema de produção que é um sistema

de controle de quantidades, baseado no fundamento de qualidade, no qual a meta é a redução

de custos, o que significa a absoluta eliminação de desperdícios. Ohno definiu sete categorias

de desperdícios encontradas dentro do processo produtivo (WILSON, 2010):

Superprodução

Este é o mais grave de todos os desperdícios, uma vez que pode agravar os outros seis tipos de

desperdício. Um volume produzido além da demanda necessita ser transportado, estocado,

inspecionado e, provavelmente, também apresentará peças defeituosas. Além de ser a produção

Page 25: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

15

de um volume que não será comercializado é também a produção muito antecipada de algo

(WILSON, 2010).

Normalmente a superprodução é proveniente da etapa do planejamento da produção. É

planejada uma produção extra para cobrir provável quantidade de produtos defeituosos. Para

atender este excesso de produção, é também efetuada uma compra superior de insumos

decorrente do refugo de certa quantidade de peças devido a problemas de qualidades. E para

corrigir os produtos defeituosos, é planejada a aplicação de mão-de-obra (WILSON, 2010).

Então, por que não atacar os problemas de qualidade ao invés de planejar o excesso de

produção?

Espera

Significa trabalhadores que não estejam produzindo por algum motivo. Pode ser desde

pequenas esperas decorrentes de linhas desbalanceadas quanto a esperas maiores por falta de

material ou falhas de equipamentos (WILSON, 2010).

Transporte

É a perda de eficiência por materiais se movendo e não agregando valor. Pode ser entre etapas

de produção, entre linhas e na expedição para o cliente (WILSON, 2010).

Excesso de processamento

Este é o desperdício de processar o produto além da necessidade do cliente. Engenheiros que

elaboram especificações além das necessidades criam este desperdício logo na etapa de projeto

do produto. Excesso de controle de informações e equipamentos com baixa capacidade de

processamento também geram este desperdício (WILSON, 2010).

Movimentação

É a movimentação desnecessária de pessoas, seja ao redor do produto que esteja sendo

produzido, em busca de materiais ou ferramentas. Normalmente esse tipo de desperdício passa

Page 26: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

16

despercebido, uma vez que pessoas se movimentando parecem estar ocupadas. Entretanto, a

questão é se elas estão ou não agregando valor ao produto (WILSON, 2010).

Estoque

O TPS combate o estoque, pois é recurso adquirido ou processado parado. Qualquer tipo de

estoque é desperdício, a menos que se transforme diretamente em vendas (WILSON, 2010).

Fazer peças defeituosas

Normalmente nomeada de “refugo”. Porém, Ohno nomeou-a de “fazer peças defeituosas”, pois

se trata de recursos e esforços empreendidos para produzir uma peça sem valor agregado.

A seguir serão vistos os conceitos e ferramentas utilizados no TPS para combater os

desperdícios no processo de produção (WILSON, 2010).

2.2.2 Takt Time

Uma das características da Produção Enxuta é a previsibilidade. Todo o sistema produtivo é

envolvido de modo a possibilitar uma produção ritmada, ou seja, o fornecimento de um

determinado volume de produção dentro de um espaço de tempo pré-determinado (WILSON,

2010).

O Takt Time é o ritmo de produção que, por sua vez, é a taxa de demanda do consumidor. Para

que o sistema de produção seja equilibrado e não existam postos de trabalho sobrecarregados,

enquanto outros estejam ociosos, também é necessário que a produção seja feita conforme o

takt (GEORGE, 2005).

O conceito do takt determina o compromisso de entrega do produto para o cliente. Também é

referência para que não haja excesso de produção ou tempos de espera na linha de montagem

(WILSON, 2010).

O cálculo do takt é simples e é feito pela divisão entre o tempo de produção disponível pela

quantidade de produto demandada. Ao final será obtido uma taxa entre tempo (segundos,

minutos, horas etc) por unidade (WILSON, 2010).

���� ���� = �� � ��� ���� ��� �������

������� �� ������ (2)

Page 27: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

17

No entanto, o conceito de takt é difícil de ser aplicado a produções com alta variação de

demanda como, por exemplo, fabricantes de aparelhos de ar-condicionado ou produtos

altamente personalizados. Porém, mesmo nestas condições, se o planejador de produção junto

com o vendedor garantirem a previsibilidade de entrega com um prazo baixo possivelmente a

empresa ganhará vantagem perante seus concorrentes e a possibilidade de conseguir mais

vendas futuras (WILSON, 2010).

2.2.3 Kanban

O TPS é um sistema de produção puxada que prega a eliminação de estoques finais e

intermediários. Em outras palavras, a produção ocorre à mesma taxa da demanda do cliente.

Para que isto ocorra, a Toyota empregou uma sistemática visual de controle e disponibilização

de materiais onde no momento em que há o consumo de uma determinada quantidade de

materiais é deflagrado o sinal para o repositor ou para o operador da célula sequente repor o

material faltante (WILSON, 2010).

Um sistema kanban deve ser utilizado quando (GEORGE, 2005):

• A utilização de determinados itens é repetitiva;

• A demanda destes itens é relativamente constante (baixa variação);

• A falta destes materiais trazem grande impacto no acordo de nível de serviço para com

o cliente.

O kanban pode ser trabalhado com níveis de máximo e mínimo de reposição de estoques, com

o auxílio de um código de cores, de acordo com o nível atual e a urgência de ressuprimento.

Também é possível fazer circular cartas que representam a necessidade de reposição de

estoques (WILSON, 2010).

Um dos fundamentos do kanban é o de que nenhuma peça defeituosa deve passar para a próxima

etapa de produção. Antes, é melhor que se pare a produção para analise e tratativa do problema

do que incorrer no erro de permitir a passagem de peças defeituosas, o que acarretarão em

retrabalhos e problemas de qualidade (WILSON, 2010).

2.2.4 Qualidade total (jidoka)

Dentre as mais variadas técnicas, o Jidoka ou Autonomação é considerado uma das que

revolucionou o conceito de qualidade total. Segundo Wilson (2010), tal técnica de inspeção é

Page 28: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

18

feita por pessoas e máquinas que se utilizam do sistema poka-yoke (sistema a prova de erros),

que previne antecipadamente os acidentes isolando materiais defeituosos e/ou eliminando

qualquer anormalidade no processo e fluxo de produção.

Por vezes, interrompe-se a linha de produção para que defeitos sejam acertados e materiais

defeituosos eliminados. Assim, chega-se mais perto de garantir a alta qualidade dos produtos

que saem da linha.

Alguns dos benefícios que podem ser levantados com a aplicação do Jidoka (LUCI, 2012) :

• Evitar a disseminação de más práticas;

• Não produzir produtos defeituosos;

• Adicionar o juízo humano em equipamentos automatizados;

• Minimizar a baixa qualidade;

• Tornar o processo mais dependente;

• Identificar os problemas claramente para que se cumpra o Kaizen (técnica a ser tratada

mais à frente);

• Dar ao operador a responsabilidade e autoridade para parar a produção quando

necessário;

• Prevenir falha nos equipamentos;

• Conferir alta qualidade aos produtos, com o aprimoramento da produção.

Vale destacar que atualmente existem operadores cuja função exclusiva é a de monitorar a

ocorrência de falhas. Espera-se que com o aprimoramento da mão de obra, cada operador de

máquina seja multifuncional, capaz de ele mesmo trabalhar com várias máquinas, em diferentes

processos, sendo o responsável pela vigilância na ocorrência de falhas e produções defeituosas

(KOSAKA, 2008).

2.2.5 Melhoria Contínua (kaizen)

O Kaizen é um conceito voltado ao aprimoramento do processo através de uma série de

pequenas correções e adaptações ao longo da linha. Sua aplicação vai além do simples conserto

de falhas, e sim demonstra a atitude proativa de melhorar cada vez mais todos os processos

ligados à produção. Ou seja, o aprimoramento envolve desde os equipamentos e procedimentos,

Page 29: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

19

até o treinamento de funcionários e também o desenvolvimento de outras técnicas, como:

Jidoka, Kanban, 5S etc.

De acordo com Egoshi (2006),

(...) Kaizen é um todo processo integrado de TQC – Total Quality Control

de aprimoramento contínuo, que é a essência da Administração Japonesa. E

os japoneses dão importância tanto a esse processo integrado, quanto ao

resultado que se busca – o meio é tão importante quanto o fim. É tão

importante fazer bem feito (eficiência) quanto obter o resultado

certo (eficácia). Como disse certa vez Osho, grande promotor do auto-

conhecimento, “a jornada é o próprio objetivo!”. Ou seja, o segredo do

resultado positivo está em trabalhar bem o processo que gera resultado.

Ora, o resultado é uma coisa estática e o processo é toda uma vida

dinâmica de trabalho colaborativo entre pessoas usufruindo e

compartilhando coisas, que deve ser muito bem vivido. Para os japoneses

é isso aí: é muito importante ganhar dinheiro, mas trabalhando e vivendo

de forma mais satisfatória possível, unindo o útil ao agradável – afinal,

passamos mais de um terço de nossas vidas trabalhando. Esta é a essência da

Administração Japonesa chamada Kaizen: buscar ao mesmo tempo

resultado e processo em busca desse resultado.

Assim, as chances de o processo e seus elementos se tornarem obsoletos ou de apresentarem

falhas e danos são diminuídas drasticamente, não possuindo espaço para prosperar. Além do

que o equilíbrio alcançado com o funcionamento adequado de todos os elementos no processo

faz do Kaizen um dos conceitos indispensáveis para uma produção frutífera e de alta qualidade.

2.2.6 5S

Ao continuar nos conceitos de Qualidade Total, não poderia deixar de ser abordado o conceito

dos 5S. Tal programa é baseado na aplicação de 5 sensos que, em harmonia, melhoram a

eficiência através da colocação dos elementos do ambiente de maneira adequada, organizada.

São eles (EGOSHI, 2006):

• Seiton (arrumação e ordenação) – Manter o que é necessário, de forma ordenada, para que possa ficar de fácil alcance de quem necessitar, eliminando-se o desperdício de tempo para encontrá-lo;

• Seiri (evitar o desnecessário) – Separação clara e em ordem do que é necessário, deixando o desnecessário em local apartado para não atrapalhar a rotina do empregado. Lembrando-se que

Page 30: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

20

o desnecessário para um empregado pode ser necessário para outro, por isso vale a atitude de guardá-lo em local apartado, pois numa próxima separação ele pode vir a se tornar necessário;

• Seiso (limpeza) – Manutenção de um ambiente limpo e arejado, de forma que a sujeira não contribua para uma má qualidade na produção;

• Seiketsu (higiene) – Manutenção da limpeza, ordem e arrumação, de forma a existir sempre um ambiente agradável a quem nele convive;

• Shitsuke (disciplina) – É o senso que arremata os demais: manutenção de um padrão do que foi determinado nos outros sensos, de forma a disciplinar os envolvidos, criando neles o hábito de manter a qualidade dos 5S.

Na empresa, os 5S mostra aos empregados que, por menor que seja a ação, ela é importante

para a execução de um trabalho eficiente. Assim, as melhorias que eles fazem, mesmo que

pequenas, auxiliam na melhora do seu próprio serviço. Além disso, as pessoas podem ser

chamadas a participar do brainstorming de ideias sobre quais ações de 5S devem ser

implementadas na empresa, motivando desde quem faz a limpeza até a diretoria a auxiliar na

melhora do ambiente em que trabalha.

2.2.7 Just In Time (JIT)

O Sistema de Produção Toyota, enquanto sistema de produção enxuta, inovou ainda mais com

a aplicação do conceito Just In Time (JIT). O JIT nada mais é que o atendimento ao pedido do

que deva ser comprado, transportado ou produzido no momento exato, de forma a entregar o

produto ou serviço imediatamente ao consumidor, seja ele final ou intermediário. A ideia que

os japoneses tiveram foi a de atender imediatamente o consumidor sempre que necessário,

deixando-se de se produzir em grandes quantidades, de modo a evitar o desperdício e a perda

da qualidade. Assim, a forma de produção do sistema não é empurrada, e sim puxada:

O JIT é uma técnica de produção puxada na qual todos os outputs são feitos

no momento certo, na quantidade exata e no local correto.Por sua vez,

a produção puxada é uma técnica de gestão contrária ao pensamento de

fabricar, estocar e depois vender. Nela, montam-se os produtos de uma forma

muito rápida, começando a produzi-los momentos antes da data em que os

mesmos devem ser entregues e concluindo-os apenas no dia exato. Ou seja,

vende, produz e não armazena. (FREIRE, 2009)

Page 31: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

21

Figura 1 - Diferença entre produção puxada e produção empurrada. Fonte: FREIRE, 2009.

Com isso, a empresa objetiva produzir o mais ajustado possível, de modo a não possuir altos

estoques tanto de matéria-prima. Desta forma, os custos de produção diminuem e o trabalho

de qualidade no produto tende a ser mais acurado.

Em relação aos objetivos que o JIT prima, segundo Alves, 2002:

A meta do JIT é desenvolver um sistema que permita a um fabricante

ter somente os materiais, equipamentos e pessoas necessários a cada

tarefa. Para se conseguir esta meta, é preciso, na maioria dos casos,

trabalhar sobre seis objetivos básicos:

1. Integrar e otimizar cada etapa do processo de manufatura.

2. Produzir produtos de qualidade.

3. Reduzir os custos de produção.

4. Produzir somente em função da demanda.

5. Desenvolver flexibilidade de produção.

6. Manter os compromissos assumidos com clientes e fornecedores.

Além disso, a organização precisa treinar seus funcionários para trabalhar nessa nova

sistemática, de forma a disseminar o JIT. Enquanto agentes de execução, os funcionários devem

se utilizar do JIT para, ao longo do seu trabalho: evitar desperdícios e primar pela qualidade

dos produtos dentro da linha de produção.

Page 32: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

22

O JIT é muito mais que uma mera ferramenta para otimizar o sistema de produção. Ele permite

à empresa trabalhar seu planejamento estratégico, de modo a atender aos anseios de seus

consumidores (intermediários e finais) de forma imediata, e de alta qualidade. Assim, o JIT

figura como um diferencial na empresa, permitindo ampliar sua participação e solidez da marca

no mercado.

2.2.8 Fluxo de Valor

Anteriormente já foi abordado o conceito de valor agregado e o conceito de desperdício. Uma

das ferramentas empregadas no sistema de produção enxuta é o “mapa de fluxo de valor”, que

tem por objetivo identificar a eficiência do processo como um todo.

Trata-se de um mapeamento passo a passo do processo de produção, levantando as etapas que

agregam valor, as que não agregam, mas são importantes e, por fim, as que não agregam e que

devem ser tratadas (BUIAR e LUZ, 2004).

Page 33: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

23

Figura 2 - Simbologia do mapeamento de fluxo de valor.

Fonte: ALVES e MENEZES (2009).

Page 34: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

24

Figura 3 - Exemplo de diagrama de fluxo de valor.

Fonte: ALVES e MENEZES (2009). George (2005) define um roteiro para elaboração de um mapa de fluxo de valor:

1. Determinar qual produto ou serviço a ser mapeado: deve ainda possuir as

seguintes características:

• Possuir alta volume e custos representativos;

• Ser importante para a companhia;

• Possuir grande importância para o cliente.

2. Desenhar o fluxo de processo:

• Rever a simbologia do mapeamento de processo;

• Começar pelo final do processo com o produto ou serviço entregue ao cliente

e, então, continuar no sentido oposto ao fluxo do processo;

• Identificar as atividades principais;

• Posicionar as atividades em sequencia no mapa.

3. Adicionar o fluxo de materiais:

• Simbolizar a movimentação de materiais;

• Ajuntar materiais que possuam o mesmo fluxo;

• Mapear os subprocessos;

• Incluir as etapas de inspeção de entrada de materiais e etapas de testes;

• Adicionar os fornecedores no início do processo;

Page 35: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

25

4. Adicionar o fluxo de informações:

• Mapear o fluxo de informações entre as atividades;

• Evidenciar as ordens de produção associadas às peças em processo;

• Evidenciar a programação e o rastreamento de como as peças são movidas no

processo;

• Evidenciar como o processo se comunica com os fornecedores e clientes;

• Evidenciar como a informação é gerida (meios eletrônico, manual, fisicamente

etc).

5. Coletar os dados e conectar a simbologia no mapa:

• Observar presencialmente a realidade do processo;

• Gatilhos – o que faz com que cada etapa se inicie;

• Tempos de setup e de processamento (tempo/unidade);

• Takt time;

• Percentual de perdas - peças defeituosas;

• Quantidade de pessoas;

• Tempos de paradas (motivos que impedem que as pessoas atinjam a sua

produtividade máxima como paradas de máquinas, computadores,

indisponibilidade de materiais, falta de informações etc);

• Material em processo;

• Tamanho dos lotes;

6. Adicionar o tempo de processo e tempo de entrega ao mapa:

• Considerar esperas (tempo de filas);

• Tempo de processamento (valor agregado);

• Tempo de setup.

7. Conferir o mapa:

• De preferência com o auxílio de pessoas que não participaram do mapeamento,

mas que conhecem o processo;

• Envolver clientes e fornecedores;

• Fazer alterações quando necessárias e analisar o resultado final com as pessoas

que trabalham no processo.

Buiar e Luz (2004) consideram que com o mapeamento de fluxo de valor é possível:

• visualizar além dos processos individuais;

Page 36: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

26

• identificar o desperdício e suas fontes.;

• Fornecer uma linguagem compreensível para tratar os processos de manufatura;

• Facilitar a tomada de decisões sobre melhorias do fluxo produtivo;

• Aproximar conceitos e técnicas de produção enxuta, ajudando a evitar a utilização de

ferramentas isoladas;

• Formar uma base para o plano de implantação da produção enxuta;

• Apresentar a relação entre o fluxo de informação e o fluxo de material;

• Descrever, em detalhes, qual é o caminho para a unidade produtiva operar em fluxo.

Pode ser uma boa ferramenta de mapeamento do processo atual, de análise dos gargalos e

perdas de processos e para desenhar qual o fluxo de produção enxuta a ser alcançado após as

medidas de eliminação de desperdícios (ALVES e MENEZES, 2009).

2.2.9 O Motor de Tração

O objetivo desta seção é mostrar de forma sucinta a constituição de um motor de tração de

locomotivas para oferecer o entendimento básico e, desta maneira, facilitar a compreensão do

processo de manutenção. Não será abordado o funcionamento técnico. Para este caso, caso

necessário, é sugerido uma pesquisa na literatura técnica no que concerne à máquinas elétricas

rotativas de corrente contínua.

Figura 4 - Motor de Tração CC

Fonte: BORBA, 2008.

Conforme mencionado acima, o motor de tração é uma máquina elétrica rotativa de corrente

contínua, capaz de converter energia elétrica em motriz e vice-e-versa. É o responsável na

locomotiva por fornecer esforço trator aos rodeiros, o que possibilita o tracionamento da

composição ferroviária. Porém, o maquinista pode convertê-lo em gerador, normalmente no

Page 37: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

27

caso de necessidade de frenagem da composição, uma vez que nesta configuração a energia

elétrica é dissipada em bancos de resistência na própria locomotiva (BORBA, 2008).

O motor de tração é formado por várias partes. Entretanto, normalmente é generalizado em duas

partes principais (CAVAZZONI, 2008):

• Estator: é a parte estática e coloquialmente também é chamado de “carcaça”;

• Rotor: é a parte girante e também pode ser chamado de “armadura”.

O estator é a estrutura de sustentação de todo o motor. Em seu interior são encontradas 04

bobinas de excitação, 04 bobinas de comutação e 04 porta-escovas (contendo duas escovas

cada) dispostos simetricamente. Na parte exterior é possível observar os cabos de ligação e,

dependendo do modelo, mancais e capas de mancais (CAVAZZONI, 2008).

Figura 5 - Estator.

Fonte: BORBA, 2008.

Figura 6 - Bobina de excitação.

Fonte: BORBA, 2008.

Page 38: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

28

Figura 7 - Bobina de comutação.

Fonte: BORBA, 2008.

Figura 8 - Porta-escovas

Fonte: BORBA, 2008.

Figura 9 - Escovas.

Fonte: BORBA, 2008.

O rotor é composto por um eixo, onde é fixado o pacote laminado. Este é constituído de ranhuras

por onde se alojam as bobinas rotóricas. Numa das pontas do eixo é instalado o comutador, que

é composto por barras metálicas e são as terminações elétricas das bobinas rotóricas

(CAVAZZONI, 2008). As barras farão contato com as escovas. Na outra ponta do eixo é

instalado o pinhão, que é a engrenagem pela qual a força motriz será transferida à engrenagem

do rodeiro (BORBA, 2008).

Page 39: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

29

Figura 10 - Rotor.

Fonte: BORBA, 2008.

Figura 11 - Pinhão e engrenagem.

Fonte: BORBA, 2008.

Page 40: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

30

3 M E T O D O L O G I A

Neste capítulo serão apresentados o tipo de pesquisa científica e o método com que os dados

serão dispostos e estudados.

3.1. Tipo de pesquisa

3.1.1 Aos objetivos

A metodologia utilizada para o desenvolvimento do trabalho constitui em pesquisas

exploratórias, pois envolve um levantamento bibliográfico e um estudo de caso, e visam prover

para o pesquisador um maior conhecimento sobre o tema.

Segundo Gil (2002), as pesquisas exploratórias:

(...) têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explicito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.

A análise dos dados deste trabalho será efetuada pelo método quantitativo, através de dados

apurados durante o trabalho.

Conforme Moresi (2003), a pesquisa quantitativa:

considera que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e analisálas. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão, etc.).

Todos os dados levantados, bem como a profunda pesquisa bibliográfica, forneceram a base

necessária para o desenvolvimento deste trabalho.

3.2. Materiais e Métodos

Para a realização do trabalho serão utilizados dados históricos de produção de motores de tração

e observação em loco do processo de manutenção.

Os dados serão trabalhados confrontando com os conceitos abordados na pesquisa bibliográfica

e, quando necessários, utilizadas ferramentas estatísticas.

Page 41: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

31

Quanto ao procedimento para a pesquisa será lançado mão de interações com os personagens

do processo de produção de motores de tração para obtenção de dados e experimentos para

adoção de possíveis melhorias, caracterizando-se como “pesquisa-ação” (MORESI, 2003).

3.3. Variáveis e Indicadores

Produção de Motores de Tração • Entradas por unidade de tempo;

• Saídas por unidade de tempo;

• Quantidade de materiais nas células de

manutenção;

• Custo da manutenção.

3.4. Instrumento de coleta de dados

No presente trabalho a coleta de dados se dará principalmente por meio de dois instrumentos

que serão apresentados na sequência, de acordo com a característica das informações:

3.4.1 Análise documental

Segundo Moresi (2003, p.36), a análise documental é:

realizada em documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas: registros, anais, regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais, filmes, microfilmes, fotografias, vídeo-tape, informações em disquete, diários, cartas pessoais a outros.

Visto que a oficina detém dados históricos de demanda, produção e qualidade, este instrumento

será utilizado em grande parte do trabalho.

3.4.2 Observação direta

Este instrumento é o que emprega os sentidos para a obtenção de dados (MORESI, 2003).

Serão adotados os seguintes tipos de observação direta:

• Observação não-participante: o pesquisador presencia os fatos, mas não participa;

• Observação individual: realizada pelo pesquisador;

• Observação em equipe: feita em grupo de pessoas;

• Observação na vida real: registro de dados à medida que os fatos ocorrem.

Page 42: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

32

3.5. Tabulação de dados

Serão analisados dados registrados em documentos e sistemas informatizados da manutenção,

como planilhas de demanda de planejamento, indicadores e registros de Ordens de Serviços do

Sistema Máximo de Manutenção (IBM), que é o sistema informatizado utilizado atualmente

pela oficina para gerenciar suas atividades de manutenção.

Na sequência, os dados poderão passar por uma análise estatística, de acordo com a

característica da informação que se deseja obter, e transformados em gráficos ou tabelas que

facilitem a compreensão.

A organização dos dados será feita utilizando as ferramentas de informática de conhecimento

do público acadêmico, como o MS Word, MS Excel e MS Powerpoint.

3.6. Considerações f inais do capítulo

Neste capítulo foram apresentadas as ferramentas utilizadas para a concretização desta

pesquisa, cujos instrumentos escolhidos estão de acordo com o objeto proposto.

No capítulo seguinte, serão apresentadas as análises dos resultados relativos à aplicação dos

conceitos explorados no Capítulo 2 à realidade da manutenção de motores de tração na oficina

em questão.

Page 43: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

33

4 R E S U L T A D O S E D I S C U S S Õ E S

Neste capítulo são apresentadas algumas informações referentes às características do

processo de manutenção de motores de tração da EFVM e da oficina em que este trabalho foi

realizado. Em seguida, são apresentados o desenvolvimento da pesquisa e as análises dos

dados coletados.

4.1. O processo de manutenção de motores de tração

A manutenção dos motores de tração inicia-se no momento em que é identificada a necessidade

de troca do componente na locomotiva. Esta necessidade pode ser por manutenção corretiva ou

por “oportunidade”.

É dita por “oportunidade” a prática de analisar a vida do motor de tração (o período desde a

última manutenção) no momento em que a locomotiva passe por alguma manutenção relevante

(revisão de 01 ano ou manutenção pesada de 05 ou 06 anos). Caso o motor esteja com a vida

superior a 2,9 anos (tempo de vida estimada para motores na EFVM), o motor é retirado da

locomotiva.

O motor de tração é então transportado para a área de limpeza de peças, na Oficina de

Componentes, onde é retirado o excesso de graxa no pinhão. Depois é encaminhado para a

seção de diagnóstico de motor de tração, onde são efetuados testes elétricos e mecânicos para

se determinar quais os tipos de manutenção serão efetuados no motor, que podem ser desde

qualificação básica até recuperação externa para serviços mais pesados.

Após diagnosticado, o motor é então desmontado e encaminhado para a limpeza de peças para

lavagem, onde são retiradas as sujeiras das peças. Os rotores e estatores que foram

diagnosticados para recuperação externa são estocados na área ou no armazém, onde

aguardarão programação e transporte. Uma vez na oficina de recuperação externa, que é

terceirizada, estas peças passarão por manutenções pesadas e básicas, como usinagem de

estator, troca de bobinas, troca de cabos, troca de pacote laminado, troca das bobinas do rotor,

troca do comutador, reisolamento e testes finais. O nível de serviços acordados em contrato

com os recuperadores externos exige um grau de qualidade suficiente para que estas peças

possam retornar ao final do processo de manutenção da Oficina de Componentes e montados.

Entretanto, ao retornarem, estas peças são testadas e conferidas antes de serem inseridas

novamente no fluxo de recuperação e montagem.

Page 44: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

34

Já as peças de qualificação básica, que não necessitam de recuperação externa, são enviadas

para as áreas internas de acordo com as suas características: célula de recuperação de rotores,

célula de recuperação de estatores, usinagem de rotores, célula de qualificação de rolamentos e

impregnação de resina isolante. Ao final de cada um destes subprocessos, as peças são testadas

eletricamente e mecanicamente antes de serem disponibilizadas para a montagem final.

Finalmente, na última etapa da manutenção, os conjuntos são montados, o pinhão é aplicado e

efetuado o último teste antes do retorno do motor de tração à célula de truques para posterior

instalação na locomotiva.

Alguns testes e processos merecem detalhamento para facilitar a compreensão.

• Hi-pot: teste elétrico onde se verifica a qualidade da isolação elétrica em relação à

massa. O objetivo é identificar motores propensos a aterrar em funcionamento na

locomotiva, o que pode gerar parada e até reboque;

• Rebaixamento de mica: garantir que a mica que isola as lâminas do comutador

possuam a medida correta;

• Surge-teste: teste elétrico que examina a qualidade da isolação entre as espiras das

bobinas do rotor. É aplicado um surto de alta-tensão nas bobinas e então é analisada a

forma de onda num osciloscópio. Esta deve obedecer um padrão pré-determinado;

• Impregnador: equipamento onde as peças elétricas são mergulhadas em resina

isolante, submetidas a pressões positivas e negativas para depois serem direcionadas à

estufa, onde passarão por um processo de cura.

Page 45: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

35

4.2. Diagrama de fluxo de valores

Figura 12 – Diagrama de Fluxo de Valores Fonte: Observação do processo de produção da GACOG, 2012.

Page 46: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

36

Utilizando o Diagrama de Fluxo de Valores é possível depreender várias informações úteis

sobre o processo estudado. A seguir serão apresentados alguns exemplos do que foi possível

extrair neste estudo de caso:

4.2.1 Etapa de maior tempo de ciclo

A etapa de impregnação de estatores e armaduras consome 11:30 horas. A câmara de

impregnação pode receber até 04 armaduras ou estatores ao mesmo tempo e efetuar o processo

de vácuo e pressão dentro de 2 horas. Porém, são necessárias 8 horas para a cura da resina.

Pode-se considerar que as etapas de movimentação e preparação consomem mais 01:30 h, o

que ao final resulta nas 11:30 horas.

O turno de trabalho da oficina é das 08 às 17h. Durante este período, como será visto

posteriormente no cálculo do Takt Time, o período produtivo soma 06 h. Assim, é possível dizer

que o material que passar por essa etapa levou praticamente 02 dias úteis. Há relatos de que o

processo de montagem de motores frequentemente apresenta paradas de produção por falta de

material impregnado, uma vez que qualquer imprevisto no processo de impregnação pode

elevar ainda mais este ciclo.

O maior tempo nesse processo – a cura da resina - é resultado de uma característica físico-

química e pouco pode se fazer para se obter algum ganho de tempo nessa etapa. A engenharia,

em projetos futuros além da conclusão deste trabalho, poderá desenvolver novos tipos de resina

ou processos que sejam mais céleres. A gerência também poderá analisar a possibilidade de

adoção de uma escala especial de trabalho para esta célula. Entretanto, para fins deste trabalho,

optou-se para o dimensionamento de um estoque de materiais que minimize as ineficiências

deste processo.

Também no cálculo do Takt Time será visto que a produção diária de motores estará

estabelecida na quantidade de 03 unidades. Assim, para o caso de qualquer falha que resulte na

não-produção de 03 estatores e 03 armaduras por dia foi dimensionado o estoque de 06 estatores

mais 06 armaduras antes da etapa de montagem, resultando num estoque de dois dias. A falta

destes itens acarreta diretamente na perda de produção.

Page 47: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

37

4.2.2 Limpeza do pinhão

Atualmente a limpeza do pinhão, que vem da oficina de locomotivas impregnado de graxa, leva

70 minutos de mão-de-obra. Trata-se de uma limpeza feita com água, produto químico, esponja

e uma espátula.

No entanto, é possível obter ganhos nesta atividade. Em 2012 foi testada na oficina uma

máquina de jateamento com gelo seco (CO2) com a qual foi possível executar a mesma atividade

em 5 minutos e com maior qualidade. Essa máquina ficou em funcionamento durante

aproximadamente 6 meses e necessitou ser paralisada dado o custo do insumo gelo seco.

Atualmente está em curso um estudo de viabilidade para obtenção desse insumo a valores

menores. Dependendo do resultado do estudo, a limpeza com gelo seco poderá ser utilizada em

outras partes do motor de tração, com possíveis ganhos de tempo de ciclo nas etapas de limpeza.

4.2.3 Áreas com estoques elevados de materiais

É possível observar que em determinadas áreas são encontrados estoques de materiais que

chamam a atenção. Por exemplo, antes da limpeza de pinhão é possível encontrar 29 motores

GE. Isto representa uma produção de 9,7 dias.

Outra área é o diagnóstico de motor de tração. Aguardam para entrar nessa etapa da produção

27 motores. Ou a produção equivalente a 9 dias.

Curiosamente não faltam motores para realização das manutenções de locomotivas, o que leva

a crer que exista excesso de material disponível. Uma possível explicação para este fenômeno

é o aumento da vida útil dos motores de tração, que nos últimos anos passou de uma média de

2,5 anos para 2,9 anos e, consequentemente, uma menor necessidade de trocas.

Entretanto, o que de fato é algo positivo, acaba por trazer um efeito colateral indesejado. Essa

quantidade de motores não possui espaço físico adequado para ser armazenado. Muitos dos

motores aguardam ao tempo, sujeitos a intempéries climáticas. Assim, sofrem deterioração de

seu material, impossibilitando o reaproveitamento de algumas peças.

Já está em andamento um mapeamento dos motores e suas condições. A intenção é

disponibiliza-los a outras ferrovias do grupo ou, em último caso, a venda.

Page 48: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

38

4.3. A iniciação ao pensamento enxuto

Uma etapa essencial no processo de adoção de uma produção enxuta é a criação de uma cultura

enxuta. Conforme visto no item 1.2, é esperado que ao decorrer desse processo sejam

alcançadas as seguintes características no processo produtivo:

• Menor utilização de material;

• Menor necessidade de investimentos para aumento de produção;

• Menor utilização de estoques;

• Uso mais eficiente do espaço físico;

• Menor necessidade de mão-de-obra;

Para alcançar aplicar essas ideias foi importante envolver as pessoas que de uma maneira ou

outra se envolvem no processo de motor de tração. Para isto, foram desenvolvidos alguns jogos

que ilustrassem a lógica da produção enxuta.

4.3.1 Produção de sacos de doces

Este jogo emula a produção de sacos de doces que deveriam ser entregues de acordo com a

necessidade dos clientes. Havia sete tipos de doces diferentes a serem embalados e

despachados. Foram feitas três rodadas de produção, com alguns conceitos sendo apresentados

gradualmente e registrando o tempo de produção e a quantidade de material na linha.

Na primeira rodada foram disponibilizados doces, embalagens e fitas de fechamento à vontade,

com pedidos determinando quais os tipos de doces a serem entregues ao cliente final e uma

equipe de produção limitada em 5 pessoas. O leiaute da linha era fixo.

Na segunda rodada, com o mesmo número de pessoas, foram introduzidas padronizações onde

se dividiam as atividades em células com atividades pré-definidas e estoques intermediários

limitados e com reposição de materiais. O leiaute permanecia inalterado.

Na terceira e última rodada, também contando com 5 pessoas, agregaram-se os conceitos de

kanban e melhorias contínuas. Foi aberta a possibilidade de alterar os métodos determinados

nos procedimentos da segunda etapa e modificação de leiaute.

Page 49: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

39

Com isto, os participantes puderam observar ao final do jogo uma evolução na linha de

produção, com utilização eficiente de materiais (menor necessidade de estoques), uso racional

de espaço físico, com um procedimento de produção melhorado e, que tudo isso, conduziu a

uma maior produtividade.

Alguns participantes comentaram que o essencial não é ter muito material disponível para a

produção, mas sim a quantidade adequada no momento certo.

Figura 13 - Participante preparando lote de produto. Célula de produção definida e com informação visual para reposição de materiais. Fonte: Acervo próprio.

Figura 14 - Atividade da célula com procedimento e informação visual para reposição de materiais Fonte: Acervo próprio.

4.3.2 Dinâmica dos palitos

A dinâmica tem por objetivo melhorar o ciclo de produção de determinada atividade por meio

da melhoria contínua, padronização e treinamento da atividade. A atividade consiste de, em

grupo, fixar 64 palitos sobre um tabuleiro quadrado com furos dispostos num alinhamento 8 x

8.

Primeiramente, é solicitado a cada pessoa fixar de maneira livre os palitos e os tempos são

cronometrados e registrados. Ao final da rodada os tempos são divulgados e os grupos são

demandados em melhorar o tempo médio da atividade.

Naturalmente as pessoas tentarão estudar e copiar o método adotado pelo participante mais

rápido. Também são estudadas formas de superar o melhor tempo registrado, tais como

comparar a utilização de somente uma mão ou as duas de maneira simultânea, a sequência de

fixação e ritmo. Então, a melhor metodologia é escolhida, padronizada e os participantes são

estimulados a treinar.

Page 50: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

40

Depois, é feita uma competição entre os grupos para determinar qual finaliza a atividade em

menor tempo e com a melhor qualidade. Normalmente é vista uma melhoria de tempo, em

média, da ordem de 75 segundos para 55 segundos o ciclo.

Finalmente, juntam-se as pessoas e é feita uma reflexão sobre a atividade na qual geralmente é

mencionada a importância da observação e da adoção de melhorias do processo, da

padronização da atividade e do treinamento das pessoas.

Figura 15 - Prática da atividade de fixação dos palitos sobre o tabuleiro Fonte: Equipe de produção enxuta EFVM

4.4. A melhoria contínua (kaizen)

A prática da melhoria contínua já é muito difundida nos processos da EFVM. Programas como

Yellow Belt, Green Belt e Círculos de Controle da Qualidade (CCQ) existem nesse meio há

alguns anos. Por exemplo, todo ano no mês de outubro é realizada na Oficina de Componentes

o Congresso Interno de CCQ, onde grupos formados em sua maioria por executantes

apresentam seus trabalhos de “PDCA Completo” ou “Ver e Agir”, competindo entre si pela

Qualidade e resultados obtidos, para ao final ser eleito um vencedor que irá representar a

gerência no Congresso da Diretoria.

Em 2012 o grupo vencedor apresentou um trabalho no qual obteve redução de tempo e

minimização de riscos operacionais na tarefa de prensagem das tampas de motores de tração.

Além dos programas formais de melhoria contínua, os executantes são estimulados por seus

supervisores a desenvolver melhorias simples nos processos. Essas melhorias são incorporadas

aos procedimentos e divulgadas nas reuniões gerenciais, onde também recebem muito destaque.

Por exemplo, em 2013 foi apresentada uma melhoria na etapa de prensagem de terminais dos

cabos de motores de tração. Inicialmente, para a execução da atividade eram necessárias duas

pessoas: uma para segurar o cabo com o terminal e outra para operar a prensa hidráulica. A

melhoria propiciou que uma única pessoa realize a atividade, segurando o cabo e controlando

a prensa hidráulica com um pedal.

Page 51: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

41

Um novo incentivo para a realização de melhorias dentro da oficina está em andamento. Dentro

da proposta de implementação da produção enxuta, a liderança encomendou um painel para

exposição das melhorias numa das áreas de maior visibilidade na oficina. As pessoas

responsáveis pelas melhorias ganharão destaque especial pelas suas contribuições.

4.5. A utilização do 5S como ferramenta de aumento de produtividade

A oficina já participa há vários anos de programas corporativos de 5S, onde área é avaliada

durante as auditorias e pontuada conforme o desempenho nos 5 sensos. Entretanto, segundo o

comentário de algumas pessoas, foi a primeira vez na qual a ferramenta ganhou foco em

produtividade.

Com essa mudança de foco começou-se a organizar as células para que as ferramentas fossem

localizadas mais rapidamente e para que as anormalidades do processo fossem identificadas no

menor tempo possível. Nesse sentido, passou-se a utilizar painéis de ferramentas ou

organizadores dentro das células de manutenção, conforme mostrado nas imagens a seguir.

Figura 16 - Painel de ferramentas na célula de reparo de estatores.

Fonte: Acervo próprio.

Page 52: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

42

Figura 17 - Estojo de castanhas

Fonte: Acervo próprio. Também houve melhorias nas quais procurou-se aproximar os recursos dos operadores, como

a confecção de suportes para caixinhas de parafusos na própria bancada de montagem de

motores. Antes disto, era necessário que a pessoa que executa a tarefa se deslocasse a um

armário que dista 3 metros de distância para pegar estas peças. Pode não parecer muito, mas o

sistema de produção enxuta prega que qualquer desperdício deve ser combatido. Ao se

considerar uma produção mensal de 62 motores, ao final do ano está sendo evitado um

deslocamento aproximado de 4.500 metros.

Figura 18 - Caixas de parafusos de motores disponibilizados na própria bancada de montagem de motores

Fonte: Acervo próprio.

Page 53: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

43

4.6. A definição do ritmo de produção (takt time)

Por meio do gráfico a seguir é possível observar que no ano de 2012 a produção de motores de

tração variou significativamente no decorrer dos meses. Comparando os meses de abril e junho

houve uma diferença de 42 motores, o que significou diferença de 139%.

Figura 19 - Produção mensal de motores em 2012 Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

85756555453525

6

5

4

3

2

1

0

Quantidade de Motores

Fre

qu

ên

cia

6

11

22

Histograma: quantidade de produção de motores mensal em 2012

Figura 20 - Histograma de produção mensal de motores em 2012.

Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

Page 54: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

44

Considerando que durante todo o ano de 2012 a diferença entre a demanda e a produção real

foi de apenas 02 motores. Esta variação tampouco ocasionou impacto na manutenção de

locomotivas. Na realidade, a flutuação foi fruto de ajustes da quantidade de motores de tração

disponíveis para troca, cuja quantidade ideal é tida como 38 motores pela Oficina de

Locomotivas. No gráfico a seguir, é possível ver que em 2012 a demanda mensal de produção

variou de 31 a 74 motores, enquanto o estoque médio diário de motores prontos variou de 12 a

81.

Figura 21 - Comparativo mensal entre estoque de motores e demanda

Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

A flutuação da produção de motores de tração é um fenômeno indesejado e que afeta toda a

cadeia produtiva. Abaixo serão relatados alguns efeitos dessa variação:

• Mão-de-obra interna de manutenção: ao se produzir a demanda de pico

obrigatoriamente é levantada a questão de que nos meses de baixa produção há uma

ociosidade de mão-de-obra que não está sendo exigida na sua capacidade máxima ou se

coloca em dúvida a qualidade da manutenção;

• Fornecedores externos: a variação obriga os fornecedores, tanto de materiais quanto

os de serviços, a possuírem uma capacidade de adaptação. De fato, houve relato de

queixas de fornecedores quanto a ociosidade nos meses de baixa ou falta de capacidade

produtiva nos períodos de pico. A ociosidade é um problema crítico, principalmente

para empresas de menores estruturas, pois estas se veem na obrigação de dispensar mão-

de-obra especializada nos períodos desfavoráveis e, quando a situação é revertida, é

53

68

8178

34 32 3237

45

20 20

12

66 66 65

31 32

73 74

54

38

66

41

61

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Estoque X Demanda de Produção 2012

Estoque Demanda

Page 55: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

45

praticamente impossível contratar e treinar novos funcionários em tempo hábil. Este é

um problema que também poderia ocorrer na mão-de-obra primária da oficina estudada;

• Cliente: a falta de cadência no recebimento de motores de tração recuperados cria um

efeito colateral de solicitar um número extra de motores “por precaução”, o que gera

estoques em excesso. Quando chega a este nível, então é demandada uma quantidade

menor de motores pelo simples fato de não haver espaço físico para armazenar motores

recuperados. E desta maneira um ciclo vicioso é criado.

Além da variação mensal, também ocorria uma flutuação diária de entrega de motores.

Observou-se que a entrega semanal de motores normalmente ocorria nas quintas-feiras e sextas-

feiras. A manutenção normalmente era feita em lotes de 08 motores, desde a célula de

diagnóstico até a montagem. Uma das razões pelas quais a Oficina de Locomotivas trabalha

com um pulmão de motores é este intervalo de dias pelos quais não recebe motores recuperados

da Oficina de Componentes.

Conforme foi visto no tópico 2.2.1, a superprodução e o estoque são fenômenos relacionados

entre as 7 perdas do processo produtivo a serem combatidas dentro da metodologia da Produção

Enxuta.

Para que se pudesse trabalhar a demanda de manutenções de motores de uma maneira mais

estável para o ano de 2013 as áreas de Planejamento das oficinas de locomotivas e componentes

foram envolvidas e proposta uma metodologia que utilizasse ferramentas simples de análise

estatística.

A área de planejamento de manutenções analisou dentre todas as locomotivas com manutenções

relevantes em 2013 quais possuíam motores de tração com a vida característica vencida e somou

com a média histórica de manutenções corretivas. Chegou-se ao número de 744 motores, o que

resulta, em média, 62 motores/mês.

Em termos comparativos, a produção de 2012 resultou em 677 motores, cujas análises

estatísticas seguem:

• Média: 55,58 unidades

• Moda: 66 unidades

• Mediana: 63 unidades

Page 56: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

46

• Desvio padrão: 15,87 unidades

A equipe concluiu que seria possível adotar a média de 62 motores / mês como padrão para o

ano de 2013. De fato o número não representa um desafio para a manutenção, uma vez que é

ainda abaixo da moda de 2012 – que foi a demanda mais frequente nesse ano – e, por outro

modo, é muito próximo à mediana de 63 unidades.

Tendo como premissa a produção mensal de 62 motores, é necessário definir a quantidade diária

e a cadência de entrega dos motores, ou seja, o Takt Time. Primeiramente, é necessário

compreender a rotina da equipe de manutenção de motores que atualmente trabalha no período

administrativo, das 08:00 às 17:00 horas, durante os dias úteis. Abaixo é apresentada a rotina

típica diária da equipe:

Início Fim Duração

Chegada na oficina 08:00 08:30 00:30

Diálogo de segurança 08:30 08:45 00:15

Ginástica laboral 08:45 09:00 00:15

Período produtivo manhã 09:00 12:30 03:30

Almoço 12:30 13:30 01:00

Período produtivo tarde 13:30 16:00 02:30

Parada 5S e compensação de atrasos 16:00 16:45 00:45

Saída da oficina 16:45 17:00 00:15

Tabela 2- Jornada de trabalho da oficina Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

Com o quadro acima verifica-se que os períodos produtivos somam 06 horas diárias e será esse

tempo o utilizado para se calcular o Takt Time. Convencionou-se, para efeito deste parâmetro

de produção, que um mês típico possua 20 dias úteis. Assim, num mês, considerou-se 120 horas

produtivas.

���� ���� = �� � ��� ���� ��� ��������� (� ! �)

������� �� #������ ($ )= 1,93 ℎ*+�, ~ 2 ℎ*+�, (2)

Em palavras, o resultado acima significa que a cada duas horas de produção um motor de tração

deve ser disponibilizado para o cliente. Definiu-se, assim, o seguinte agendamento diário de

produção:

Início Fim

Motor 1 09:00 11:00

Motor 2 11:00 14:00

Motor 3 14:00 16:00

Page 57: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

47

Tabela 3 - Definição dos horários de entrega de motores Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

É importante lembrar que durante o mês a produção de motores pode ser interrompida

temporariamente devido a eventos como reuniões, treinamentos ou atrasos não programados.

Tendo definido este Takt Time é importante que as interrupções sejam negociadas e, quando

possível, programadas de maneira a impactar o mínimo possível a produção. Mas cabe lembrar

que o período diário das 16:00 às 16:45 horas são reservados para compensações e organização,

somando 15 horas por mês.

Desde dezembro de 2012 o Takt Time definido tem sido adotado e os primeiros resultados serão

apresentados e analisados no capítulo 5.

4.7. Gestão visual de materiais (Kanban)

Tendo sido estabelecido no processo de manutenção de motores de tração uma demanda

constante (previsível), e sendo fundamental a entrega de produtos acabados (motores

recuperados) ao processo posterior (manutenção de locomotivas), o Kanban torna-se uma

ferramenta bastante útil para a garantia do ritmo de produção.

Neste estudo de caso, até o momento da conclusão deste trabalho, escolheu-se a área mais crítica

do processo como piloto da ferramenta. Como visto anteriormente no diagrama de fluxo de

valores, a impregnação é a etapa mais crítica do processo e é fornecedora da célula de montagem

de motores (final de processo). Justamente na interface das células criou-se um kanban de

estatores e armaduras como ferramenta de gestão visual da disponibilidade destes materiais

impregnados.

A ideia é garantir a montagem de motores, informando quando a disponibilidade de materiais

está segura (verde), em atenção (amarelo) ou crítica (vermelho). Também é uma maneira de

evitar o acúmulo de materiais desnecessários, ou seja, quando o nível verde está completo não

há necessidade de se disponibilizar mais. Por outro modo, quando o nível vermelho é alcançado

um atendimento rápido é necessário sob risco de parada da produção.

Page 58: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

48

Figura 22 - Kanban de estatores de MT

Fonte: Acervo próprio, 2012.

4.8. A Qualidade Total na manutenção de motores de tração (j idoka)

Desde 2009 existe na oficina uma equipe nomeada “Confiabilidade” que é responsável pela

qualidade técnica dos componentes recuperados. O objetivo da equipe é contribuir para o

aumento da disponibilidade de locomotivas para a frota atuando de modo a reduzir a incidência

de falhas de componentes.

Aliada a esta equipe, encontram-se as equipes de manutenção que possuem metas de

confiabilidade de componentes. Ambas equipes possuem dois tipos de metas de confiabilidade

de componentes:

• Garantia: 09 tipos de componentes principais, dentre eles o motor de tração, não devem

desempenhar suas funções na locomotiva durante um período mínimo de 01 ano sem falhas. De

outro modo, há penalização na meta;

• Retrabalho: todos os componentes recuperados devem desempenhar suas funções na locomotiva

sem falhas dentro de um período mínimo de 23 dias após a instalação, também havendo

penalização caso essa premissa não seja respeitada.

Todas as falhas de componentes que incidem nestas metas são analisadas para se encontrar a

causa raiz e tomar as ações de bloqueio necessárias. Nesse processo é comum utilizar-se de

ferramentas como o PDCA, diagrama de causa e efeito, 5 por quês etc. Essas análises geraram

com o decorrer do tempo um banco de dados que, em conjunto com os manuais de locomotivas

e literatura diversa contribuíram para elaboração de procedimentos operacionais.

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49

Figura 23 - Incidência de retrabalhos de motores de tração. Fonte: Relatório de Produção da GACOG, 2012.

Cabe às pessoas de execução realizar a manutenção de acordo com os procedimentos e atuar

junto à equipe de confiabilidade nos casos de alterações técnicas do processo. Os executantes

são sujeitos a auditorias sistemáticas de desempenho.

A equipe de confiabilidade é responsável por auditar o recebimento dos materiais mais críticos

de componentes de acordo com especificações técnicas e um cadastro de fabricantes

homologados. Em caso de não-conformidade, é feito um trabalho de correção e prevenção dos

fabricantes e áreas de suprimentos.

Entende-se que o processo de Qualidade da Oficina de Componentes encontra-se num estado

mais avançado de maturidade frente aos outros aspectos da produção enxuta. Também entende-

se que enquanto houverem falhas de componentes existam oportunidades de melhoria de

produção, uma vez que “fazer peças defeituosas” é uma das 7 perdas a serem combatidas no

processo de produção enxuta. Entretanto, sendo um processo mais detalhado tecnicamente e já

alcançado patamares mais estáveis de qualidade, sugere-se um estudo à parte para o

aprimoramento deste processo.

Page 60: Lean Manufacturing - Manutenção de Motores de Tração

50

5 C O N C L U S Ã O

Este capítulo conclui o trabalho confrontando a pergunta inicial do primeiro capítulo com os

conceitos e análises efetuados nos capítulos seguintes, tendo como cenário a rotina da Oficina

de Componentes de Locomotivas.

Nesta etapa do trabalho volta-se à pergunta inicial apresentada no primeiro capítulo:

Como a aplicação do conceito de Produção Enxuta à manutenção de motores de tração

da EFVM pode contribuir para a melhoria do processo?

Questiona-se, então, se este trabalho responde esta pergunta problema. Conforme visto na

revisão bibliográfica, a Produção Enxuta busca a melhoria do processo por meio da diminuição

das perdas. Dentre as sete perdas, foram expostas as seguintes iniciativas para a melhoria da

manutenção de motores:

1. Superprodução: com a definição do Takt Time para entregas de motores de tração,

tendo como base a necessidade anual, o processo ganhou previsibilidade. Assim, a

produção tem ocorrido em ritmo semelhante ao da necessidade e percebe-se que já é

possível trabalhar com um estoque reduzido de motores acabados. As oscilações de

motores prontos em estoque diminuíram e os ajustes de produção também. Os recursos

são utilizados com maior estabilidade e os recuperadores externos estarão menos

sujeitos a variações de demanda. O estoque de materiais e as áreas de suprimentos

também ganharão com a estabilidade de demanda, podendo reduzir seus estoques de

segurança;

2. Espera: com a análise do Diagrama de Fluxo de Valor foi possível identificar o maior

gargalo de produção, que é o processo de impregnação. Paradas na etapa de

impregnação podem impactar diretamente a montagem e, por consequência, a entrega

de motores acabados. Para evitar o tempo de espera por materiais impregnados, duas

ações estão em andamento. A primeira é a criação de um KanBan na entrada da célula

de montagem de motores contendo 6 armaduras e 6 estatores, ou seja, dois dias de

produção. A segunda é a possível mudança do turno dos operadores da célula de

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impregnação, que passarão de uma jornada de 8 horas para 12 horas. Desta maneira,

será possível executar o processo dentro de um único dia;

3. Transporte: a movimentação de motores de tração entre as oficinas e o impregnador

atualmente é realizado por empilhadeira. Atualmente existem apenas duas pessoas

habilitadas para operar as empilhadeiras, o que gera espera em algumas células. Já

encontra-se em processo de compra dois carros elétricos de transporte que poderão ser

operados por qualquer executante, o que diminuirá o tempo de espera;

4. Movimentações: conforme apresentado no item 4.5, utilizou-se dos sensos do 5S para

aumentar a produtividade no intuito de aproximar as ferramentas e materiais dos

executantes, diminuindo as movimentações de pessoas;

5. Excesso de processamento: da mesma forma, aplicou-se o 5S para que as ferramentas

fossem localizadas de maneira mais rápida, evitando que o executante gaste tempo

procurando o que precisa numa caixa de ferramentas desorganizada;

6. Estoque: no item 4.2.2 foi exemplificada uma situação na qual o excesso de materiais

resulta numa situação indesejada: materiais sem espaço para serem armazenados,

sofrendo deterioração por intempéries climáticas, encarecendo o processo de

manutenção pelo fato de se possuir além da necessidade. Esses materiais em excesso

serão disponibilizados a outras ferrovias do grupo;

7. Fazer peças defeituosas: no item 4.7 exemplificou-se a forma com que a oficina já

possui uma rotina com foco na qualidade do produto e combate às falhas.

Estes exemplos não atestam que o processo de manutenção de motores de tração pela Oficina

de Componentes de Locomotivas da EFVM seja um processo enxuto, embora este não tenha

sido o objetivo do presente trabalho. Entretanto, mostram que a aplicação dos conceitos de

produção enxuta à manutenção de motores de tração por meio da observação do processo

podem sim contribuir para a sua melhoria.

Percebe-se que a estruturação destas iniciativas tem contribuído para a criação de uma

“mentalidade enxuta” entre todos os níveis de produção, tornando possível estabelecer uma

produção mais previsível, confiável e com menos recursos. Entende-se que a Produção Enxuta

é um sistema vivo, gradual, pautado no conceito de melhoria contínua. Assim, espera-se que

este trabalho possa ter contribuído para o início de uma maneira diferente de se fazer

manutenção de motores de tração, pautado na eliminação de desperdícios.

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52

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