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III Seminário Linguagem e Identidades: múltiplos olhares 1 PATRIMÔNIO CULTURAL E RELAÇÕES DE PODER: Estratégias discursivas e conflitos na cena do patrimônio cultural 1 . César Roberto Castro Chaves 2 Alexandre Fernandes Corrêa 3 Resumo: O estudo trata da construção discursiva e ideológica inerentes aos programas de educação patrimonial, analisando suas eficácias e contradições em termos de política cultural no bairro do Desterro. Tem-se como foco especial um cotidiano tenso em conflitos internos e externos à comunidade, principalmente em relação ao poder público, devido os imperativos deste na gestão do patrimônio histórico e cultural de São Luís/MA. Palavras chave: Patrimônio, Discurso, Educação, Conflito, Poder. Abstract: The study deals with the ideological and discursive construction of cultural heritage education programs, analyzing their effectiveness and contradictions in terms of cultural policy in the neighborhood of the Desterro. The main focus of analysis are the internal and external conflicts in the community, especially in relation to the federal 1 Artigo referente a pesquisa de mestrado em andamento no Programa de Pós- Graduação Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (PGCult/UFMA). 2 Mestrando em Cultura e Sociedade (PGCult/UFMA). 3 Professor Associado II do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação Cultura e Sociedade. Coordenador do CRISOL- Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais: www.crisol-gpec.com.br .

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PATRIMÔNIO CULTURAL E RELAÇÕES DE PODER:

Estratégias discursivas e conflitos na cena do patrimônio cultural1.

César Roberto Castro Chaves2

Alexandre Fernandes Corrêa3

Resumo: O estudo trata da construção discursiva e ideológica inerentes aos programas de educação patrimonial, analisando suas eficácias e contradições em termos de política cultural no bairro do Desterro. Tem-se como foco especial um cotidiano tenso em conflitos internos e externos à comunidade, principalmente em relação ao poder público, devido os imperativos deste na gestão do patrimônio histórico e cultural de São Luís/MA.

Palavras chave: Patrimônio, Discurso, Educação, Conflito, Poder.

Abstract: The study deals with the ideological and discursive construction of cultural heritage education programs, analyzing their effectiveness and contradictions in terms of cultural policy in the neighborhood of the Desterro. The main focus of analysis are the internal and external conflicts in the community, especially in relation to the federal government (IPHAN/MinC), because of the imperatives in the management of historical and cultural heritage of São Luís/MA.

Keywords: Heritage, Culture, Conflict, Power.

1Artigo referente a pesquisa de mestrado em andamento no Programa de Pós-Graduação Mestrado Interdisciplinar em Cultura e Sociedade (PGCult/UFMA).

2 Mestrando em Cultura e Sociedade (PGCult/UFMA).

3 Professor Associado II do Departamento de Sociologia e Antropologia e do Programa de Pós-Graduação Cultura e Sociedade. Coordenador do CRISOL-Grupo de Pesquisas e Estudos Culturais: www.crisol-gpec.com.br.

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1 A TEATRALIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO

A idéia de patrimônio tal como é concebida na contemporaneidade, constitui-se

em uma invenção moderna a partir do contexto da construção dos estados nacionais

burgueses ocidentais pós-revolução francesa, e que tem sido universalizado como se

sempre existisse, estabelecendo o que (CANCLINI, 2003) denomina de cumplicidade

social, restringindo-se a restauradores, arqueólogos, e outros especialistas do passado,

negando e omitindo os usos sociais do patrimônio.

Consistindo ainda em uma:

[...] prática característica dos estados modernos que, através de determinados agentes, recrutados entre os intelectuais, e com base em instrumentos jurídicos específicos, delimitam um conjunto de bens no espaço público (FONSECA, 2005, p. 21).

Embora a construção social do conceito moderno de patrimônio histórico

constitua uma invenção moderna, suas raízes remontam a antiguidade e ao período

medieval. Ao período Quattrocento, denominação cunhada por (CHOAY, 2001), sendo a

partir deste período que de fato se assumiu o distanciamento histórico entre o patrimônio

clássico, inicialmente constituído por monumentos, objetos e edifícios históricos e o

mundo moderno e contemporâneo.

Todavia, no contexto contemporâneo as políticas patrimonialistas adquirem forte

atuação sobre o debate acerca das nacionalidades nascentes (na gestão do simbólico e do

nacional), buscando re-criar (e/ou reforçar) a identidade coletiva construída histórica e

socialmente por um intenso processo de mediação simbólica (ORTIZ, 1998). Quadro este

em que os intelectuais sempre tiveram grande papel de destaque, num contexto macro de

tentativas de construção das grandes narrativas fundadoras das identidades nacionais

(ANDERSON, 2008), exercendo assim papel fundamental nas políticas ocidentais de

cultura e patrimônio.

Ao analisar o processo de construção do patrimônio nacional brasileiro

(FONSECA, 2005) teceu comentários importantes sobre a importância da mediação na

construção dos patrimônios. Nesse texto, a autora aponta para o fato de não ter havido

grande participação social e popular na história da preservação, salvo alguns momentos de

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interesse pontual por partes de grupos sociais específicos4, residindo nesse aspecto uma das

maiores dificuldades para o êxito de qualquer política de preservação no país.

A partir desta linha de pensamento, o problema sociológico interessante consiste

em avaliar e medir o alcance social limitado da produção dos patrimônios. Num cenário

social onde, de um lado, encontra-se uma minoria intelectualizada que decide o que é

patrimônio, amparado em legislação protecionista e em critérios técnicos estabelecidos

pelos peritos5 do patrimônio (GIDDENS, 1991); de outro, encontram-se instâncias sociais

mais populares ausentes de tais processos simbólicos constitutivos, num contexto de

ausência de mediação entre os interesses do Estado e os da sociedade civil, com grande

dificuldade de organização política.

É perceptível, por este viés, a identificação de um caráter arbitrário, porém

jurídico e legal, no processo histórico e vigente da preservação em âmbito nacional,

embora esta realidade seja também a de outros países, haja vista que o modelo

preservacionista implantado no mundo ocidental segue a mesma lógica, qual seja a da não

participação social, da homogeneização e ocultação do conflito (JEUDY, 2005).

A tal maquinaria patrimonial, estabelecida na sociedade ocidental moderna e

caracterizada por (JEUDY, 2005) no livro Espelhos da Cidade, impôs-se de modo

hegemônico. Diante de tais dispositivos patrimoniais, segundo Canclini constituído pelo

“conjunto de bens e práticas tradicionais que nos identificam como nação ou como povo é

apreciado como um dom, algo que recebemos do passado com tal prestígio simbólico que

não cabe discuti-lo” (2003, p. 160), resta-nos apenas preservá-lo, restaurá-lo e dinfundi-lo,

como se o mesmo sempre existisse e tivesse seu valor perene.

A partir desta conjuntura de cumplicidade social (CANCLINI, 2003) tornam-se

necessárias críticas que não se colocam no objetivo de negar o valor historicamente

4 Em “patrimônio, negociação e conflito”, (GILBERTO VELHO, 2006) relata sua experiência enquanto relator de um dos caos mais emblemáticos de tombamento no Brasil ocorrido no ano de 1984, o tombamento do terreiro de candomblé Casa Branca, em Salvador, Bahia. Sendo por meio deste controverso acontecimento que pela primeira vez que a tradição afro-brasileira obtinha o reconhecimento oficial do Estado Nacional. Fato este ocorrido em meio a um ambiente social bastante divido em relação ao referido tombamento, mas que devido às inúmeras pressões por parte de estudiosos e setores da sociedade ligados a causa da cultura afro-brasileira, foi inscrito na lista do patrimônio nacional, abrindo caminho inclusive para que outros bens e manifestações de cunho não elitista pudessem também seguir o mesmo caminho, constituindo-se assim também patrimônio do ponto de vista institucional.

5 Giddens (1991) afirma que o sistema de peritos é um tipo de mecanismo de desencaixe intrinsecamente envolvido no processo ativo do desenvolvimento das instituições sociais modernas. No qual “por sistema de peritos quero me referir a sistemas de excelência técnica ou competência profissional que organizam grandes áreas dos ambientes material e social em que vivemos hoje” (GIDDENS, 1991, p. 35).

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conferido ao patrimônio – valor este praticamente inquestionável devido a conformidade

que se criou sobre o tema patrimônio na contemporaneidade, (principal ponto favorável do

processo de preservação nacional) – mas no sentido de transformação das representações

socialmente construídas que fazem do patrimônio algo inquestionável, que não leva em

conta os valores social, práticos e de uso, por parte das pessoas cotidianamente

estabelecidas e sem condições de expressarem sua visão do processo.

É importante salientar que este modelo de preservação herdado dos europeus,

sobretudo dos franceses, vem sofrendo muitas pressões quanto aos seus efeitos negativos.

Como exemplos, temos a intensificação do turismo, reduzindo o patrimônio à condição de

mercadoria; os elevados custos de manutenção dos imóveis tombados; a inadequação aos

usos atuais; e a paralisação de outros grandes projetos de organização do espaço urbano

(CHOAY, 2001).

A teatralização do patrimônio, que de acordo com (CANCLINI, 2003) nos força a

simular a substância fundadora de nossas essências, constitui grande esforço de forjar uma

origem que dá sentido as nossas identidades, em relação à qual deveríamos atuar no

presente como forma de não perdermos nossas origens frente ao mundo moderno

capitalista. Este modelo de construções identitárias nacionais, pautado na legitimação

patrimonial frente aos usos sociais do patrimônio confere uma estetização exagerada aos

sítios históricos, dá a eles uma embalagem culturalizada, com fins de transformá-lo em

produto cultural pronto para ser consumido no mercado cultural de bens simbólicos6.

Fenômeno este que faz com que inúmeros investimentos imobiliários sejam alocados para

estes espaços de lazer e consumo, gerando uma pressão sobre populações locais não

privilegiadas, que tendem a ser excluídas do processo de gestão do patrimônio e também

do espaço social no qual vivem (CHOAY, 2001).

6 Para Sá da Nova “(...) a lógica cultural pós-moderna configura e é configurada pela sociedade contemporânea. Esta lógica dialética potencializa a fragmentação da realidade, a superficialização do pensamento e dos produtos culturais, contextualizando a sociedade do consumo enquanto uma prática cultural, com reflexo, consolidação e maturação da vitória do mercado e da pragmática capitalista, sobre a produção da vida e da cultura, nos moldes da alta modernidade”, na qual “o espetáculo é o momento em que a mercadoria ocupou totalmente a vida social” (2007, p. 59). Ainda para o mesmo autor, “a sociedade contemporânea, apesar de cultivar arqueologicamente o passado, perdeu a capacidade de conhecê-lo. Vive o “presente perpétuo” de um cotidiano marcado pela superficialidade de seus conceitos e valores, pelo caráter descartável de suas produções e pelo estímulo consumista de uma identidade estável”. “A sociedade do consumo como prática cultural constitui-se, assim, na sociabilidade dos valores efêmeros e descartáveis, orientada na novidade repetitiva do cotidiano, consolidando a circularidade do consumo, tão vital para a saúde do sistema produtivo. Em um mercado de bens materiais e simbólicos, a própria constituição dos bens materiais enquanto objeto de consumo exige a vestimenta simbólica da marca, do marketing” (2007, p. 62).

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O conservadorismo patrimonialista para se legitimar, precisa converter a cultura

em natureza, torná-la natural como um dom. Sendo a educação, dita patrimonial, o palco

fundamental para o a teatralização do patrimônio. Pois é na escola e nos espaços sociais

informes de educação que se transmitem os saberes sobre os bens que constituem os

acervos patrimoniais, inculcando assim conteúdos conceituais do ensino sobre o

patrimônio, valor este que tem estimulado ao longo das duas últimas décadas uma gama de

políticas e programas de educação patrimonial por parte dos órgãos de preservação

(CANCLINI, 2003).

2 A PATRIMONIALIZAÇÃO E SUAS CONTRADIÇÕES IDENTITÁRIAS

Os indivíduos pertencentes a grupos sociais menos favorecidos, não raro, são

considerados pessoas desprovidas de recursos que possam promover sua organização

política e a conseqüente participação ativa neste processo. Esse discurso tem legitimado o

trabalho dos intelectuais a serviço do Estado, em períodos distintos da histórica recente

nacional, consolidando assim o projeto inacabado de construção da identidade nacional, no

qual o patrimônio sempre teve um lugar central.

Nesse processo, ainda segundo (FONSECA, 2005), reside o que a autora chama

caráter contraditório da promoção da cidadania, isto é, ao mesmo tempo em que se

legitimou o compromisso político e intelectualizado de construção de uma nação brasileira,

a sociedade foi excluída, de modo geral, do desejo da promoção da cidadania pelas

políticas de cultura e patrimônio.

A partir do estudo sobre as bases históricas formadoras do modelo

preservacionista nacional, percebemos que a necessidade de criação de uma identidade

nacional brasileira foi sedimentada por forte presença do Estado. Senda que nessa trama

política os intelectuais tiveram suma importância na mediação simbólica, contribuindo,

muitas vezes indiretamente, para produzir profundas disparidades em termos de

identificação plural da sociedade com o patrimônio nacional; dominado por uma visão

originalmente barroca, aristocrática e católica.

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A maioria da população brasileira não participou ativamente do projeto de gestão

oficial da identidade nacional, não se vendo reconhecida no chamado processo de

reflexividade7 do patrimônio (JEUDY, 2005). Tal configuração produziu um profundo

afastamento das camadas sociais subalternas em relação ao cenário cultural

patrimonializado, em virtude do projeto de construção da identidade nacional ter sido

conduzido por intelectuais comprometidos com o stablishment, estando desconectados da

plurivocidade do social como um todo. Circunstâncias que propiciaram o afloramento de

um sentimento de estranhamento das pessoas em relação aos sítios históricos, o que não

ocorre com a cultura popular nacional. Este ponto revela a contradição intrínseca aos

programas de educação patrimonial, que ao invocarem o repetido refrão do reforço do

“sentimento de pertencimento” ocultam o fato de que a maioria da população brasileira não

se reconhece “positivamente” (na sua auto-estima) nos acervos “tombados” pela política

oficial do Estado Nacional brasileiro.

O que percebemos é que após décadas de investimentos em patrimonialização e

construção da grande narrativa da identidade nacional, os patrimônios parecem mais

constituir símbolos identitários abstratos e restritos a uma minoria cultural elitizada,

colocando a grande maioria do povo brasileiro à margem do processo de constituição do

chamado “patrimônio nacional”.

Todo esse contexto de silenciamento das camadas sociais populares em nível da

criação de uma identidade nacional reflexiva fez com que as pessoas constituíssem em suas

representações uma idéia de passado remoto, algumas vezes reminiscente, outras vezes

fantasmagórico, descolado da realidade cotidiana das pessoas8 (GIDDENS, 1991), onde

imperam os espíritos de sobrevivência, de modernização e de desenvolvimento.

7 Para Jeudy as estratégias da conservação caracterizam-se por um processo de reflexividade que lhes dá sentido e finalidade. A significação contemporânea do conceito de patrimônio cultural vem de uma reduplicação museográfica do mundo. Para que exista patrimônio reconhecível, é preciso que ele possa ser gerado, que uma sociedade se veja o espelho de si mesma, que considere seus locais, seus objetos, seus monumentos reflexos inteligíveis de sua história, de sua cultura. É preciso que uma sociedade opere uma reduplicação espetacular que lhe permita fazer de seus objetos e de seus territórios um meio permanente de especulação sobre o futuro (JEUDY, 2005, p. 19).

8 “O advento da modernidade arranca crescentemente o espaço do tempo fomentando relações entre outros “ausentes”, localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face. Em condições de modernidade, o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico: isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais bem distantes deles. O que estrutura o local não é simplesmente o que está presente na cena; a “forma visível” do local oculta as relações distantes que determinam sua natureza” (GIDDENS, 1991, p. 27).

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A problemática do patrimônio e da preservação, apesar de todos os investimentos

públicos desde a década de 1930, aparece como marginal nos debates políticos e,

conseqüentemente, nas políticas públicas de cultura. Diante de tal contexto, incrivelmente

as pesquisas nas ciências sociais são incipientes diante de uma problemática social tão

aguda e conflituosa, o que tem motivado o avanço de pesquisas já desenvolvidas em São

Luís no campo do patrimônio histórico e cultural.

A maioria das pesquisas relacionadas ao tema faz alusão primordialmente à

construção histórico-social do patrimônio, a aspectos políticos e discursivos, omitindo a

dimensão social do conflito, tão inerente ao processo de patrimonialização e que permeia a

discussão no âmbito social.

O conflito é, dessa forma, silenciado pelo tradicionalismo preservacionista

(CANCLINI, 2003) que impera nas políticas públicas de patrimônio e pela mediação

simbólica dos intelectuais (ORTIZ, 1998) no processo de constituição da identidade

brasileira. O que por sua vez faz prevalecer o consenso, a homogeneização e a

conformidade social por meio da desarticulação dos movimentos sociais. Atores sociais

estes que poderiam atuar no interstício do conflito, buscando a construção de um espaço de

mediação dos dilemas na cena patrimonialista.

Mais importante ainda é perceber a lógica de funcionamento da patrimonialização,

para entender seu desenvolvimento ambivalente na modernidade, sendo necessário analisar

a estrutura sociocultural de suas contradições sem omitir a questão dos usos sociais do

patrimônio, que, conforme vimos com (CANCLINI, 2003) permanecem ausentes.

2 A DIALÉTICA DO CONFLITO

Sendo o conflito omitido, marginalizado e por vezes criminalizado, constituindo

por vezes caso de polícia, o patrimônio passa a ser “dado”, “naturalizado” e “acabado”,

sem margem de discussão ou mediação social. As pesquisas realizadas cerca de dez anos

pelo Grupo de Pesquisa e Estudos Culturais - CRISOL9 (GPEC/UFMA), sistematicamente

9 Coordenado pelo Professor Dr. Alexandre F. Corrêa, com textos de ensaios sobre o patrimônio cultural e memória social reunidos no livro Patrimônios Bioculturais (2008).

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apontam para a necessidade de questionarmos o caráter contraditório da política federal de

preservação e seus ecos em São Luís/MA e em outras regiões do país (CORRÊA, 2008).

Política que historicamente tem ignorado a participação social e que tem se

pautado excessivamente numa patrimonialização passadista que não considera as

necessidades atuais dos habitantes que moram ou fazem uso do sítio histórico local. Tais

acervos ficam restritos as camadas elitistas e intelectualizadas da sociedade brasileira e

maranhense.

A construção do patrimônio no Brasil deve ser vista de um ponto de vista crítico e

dialético, pois é preciso dar atenção “ao modo como esse objeto tem sido construído e

ideologicamente elaborado por determinados sujeitos sociais, que têm tido, no Brasil, o

monopólio dessa construção” (FONSECA, 2005, p. 28).

O patrimônio histórico e cultural brasileiro tem constituído – além de pasta

municipal, estadual e federal para políticos e intelectuais – coleção de bens “móveis” e

“imóveis”, que desde a década de 1930, tem sido valorado por meio de um intenso

processo de mediação simbólica10, mas que se caracteriza por uma total ausência de

participação social popular.

Para Fonseca o patrimônio nacional é valioso, sem dúvida alguma, mas tem se

tornado “pesado” e “mudo”:

Pesado, não só por sua monumentalidade, pela solidez dos materiais e pelo lugar que ocupa no espaço público. Pesado porque mudo, na medida em que, ao funcionar apenas como símbolo abstrato e distante da nacionalidade, em que um grupo muito reduzido se reconhece, e referido a valores estranhos ao imaginário da grande maioria da população brasileira, o ônus de sua proteção e conservação acaba sendo considerado como um fardo por mentes mais pragmáticas (FONSECA, 2005, p. 26-27).

A autora supracitada levanta muitos questionamentos que inclusive se referem aos

volumosos recursos públicos gastos com o patrimônio11, já que apenas uma pequena parte

10 Ortiz, em sua obra cultura brasileira e identidade nacional, com sua primeira publicação em 1965, faz reflexões acerca dos processos e projetos de construção de uma identidade nacional a partir do fim do século XIX ao período militar brasileiro, levando em conta o caráter político sempre presente, que somado a ausência representativa da sociedade brasileira, não teria passado de um processo histórico de mediação de intelectuais ao longo de décadas, indo das teorias raciológicas de Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues aos intelectuais a serviço do regime militar brasileiro, período chave de sua análise.

11 Segundo Andrés (2006) “O PPRCHSL apresenta hoje um balanço de investimentos da ordem de R$ 225,00 milhões com recursos públicos, na recuperação de uma área histórica que abrange cerca de 1000 edificações tombadas pelo IPHAN, além de outros grandes monumentos isolados, como as antigas fábricas têxteis do século XIX. Mostra ainda como foram as tratativas e os critérios adotados pelo Comitê do Patrimônio Mundial para a sua inclusão na lista da UNESCO”.

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da população brasileira se vê refletida e identificada com os patrimônios nacionais.

Patrimônios estes que formam uma suposta identidade nacional, que em muitos aspectos

diverge e/ou ignora as memórias coletivas e cotidianas que formam a riquíssima

pluralidade cultural brasileira. Existe, portanto, uma imensa distância entre as tradições

culturais brasileiras e as identidades coletivas nacionais, impondo sérios limites à política

patrimonial nacional.

Neste sentido, a dimensão do conflito12 (SIMMEL, 2006) é velada em detrimento

da conformidade imposta, preponderante e imperativa nos discursos oficiais; geralmente

desconectados das práticas sociais cotidianas inerentes à cena patrimonial. Na qual a

participação social ou qualquer tipo de posicionamento divergente aos paradigmas oficiais

são desconsiderados, assim como as apropriações e identificações que as ditas pessoas

comuns fazem do patrimônio, homogeneizando e criando uma espécie de tabula rasa na

cena do patrimônio de modo a não revelar as desigualdades e conflitos em prol da

cumplicidade social (CANCLINI, 2003).

3 POR UM USO SOCIAL DO PATRIMÔNIO

A dialética que funda a perspectiva do distanciamento/estranhamento social, em

relação ao patrimônio, se deve, em grande parte, ao próprio processo histórico que o

constituiu. No qual a participação social sempre foi negligenciada, principalmente nos

momentos históricos antidemocráticos em que se consolidou o pensamento

preservacionista brasileiro.

Canclini aponta para uma possível teoria social do patrimônio, no sentido de se

repensarem os usos sociais contraditórios do patrimônio cultural, que para este autor é:

[...] dissimulado sob o idealismo que o vê como expressão o gênio criador coletivo, o humanismo que lhe atribui a missão d reconciliar as divisões “em um plano superior”, os ritos que o protegem em recintos sagrados? As evidências de que o patrimônio é um dos cenários fundamentais para a produção do valor, da identidade e da distinção dos setores hegemônicos modernos sugerem recorrer a teorias sociais que

12 Para Simmel (2006, p. 70), “[...] esse mundo da sociabilidade, o único em que é possível haver democracia sem atritos entre iguais, é um mundo artificial, construído a partir de seres que desejam produzir exclusivamente entre si mesmos essa interação pura que não seja desequilibrada por nenhuma tensão material”.

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pensaram essas questões de um modo menos complacente (CANCLINI, 2003, p. 193-194).

Diante do caráter antidemocrático do preservacionismo cultural nacional, é cada

vez mais difícil ocultar a reiterada ausência da participação popular nas políticas culturais,

tal é a falta de interesse dos peritos pelas dimensões sociais e cotidianas que são

construídas socialmente a partir do patrimônio.

A preservação segue em todo o mundo a mesma lógica, apesar de os conjuntos

não terem as mesmas características, pois “trazem a imagem de uma museografia interna

da cidade” (JEUDY, 2007). Lógica na qual, na prática, ocorre a expulsão das pessoas para

restauração seguida de estetização (gentrification) a fim de que as classes mais abastadas

possam ali se instalar, como pode ser percebido na fala de um morador do bairro do

Desterro, quando perguntado acerca do processo de revitalização urbana em São Luís/MA,

e de suas condições de vida atuais.

De lá pra cá eu vejo que não melhorou muita coisa, eu tinha a impressão que eles iam revitalizar a área do Centro Histórico e dar condições para as pessoas que residiam ali, mas foi o contrário, ficou só no discurso. Neste processo muitas famílias foram desmembradas, existem filhos que moram aqui e pais que moram no Anjo da Guarda e outras que os pais moram aqui e os filhos tiveram que procurar outro lugar, etc. O que hoje resta ai é cortiço, “cabeça de porco” mesmo. Daqui pra frente o que vem é pior ainda, se não fizeram antes agora que não vão fazer mesmo. Hoje o que tem mais é gringo aqui, gente de toda nacionalidade, coisa de uns dez anos pra cá, pois antes eles não tinham interesse. Na Rua do Giz tem uma casa de um dinamarquês que é um espetáculo, tem até piscina, ele aluga para eventos, etc. antes, na época da antiga ZBM lá era um cabaré brabo, muito movimentado. Depois de um bom tempo que o cabaré faliu, venderam para esse gringo de porta fechada com o pessoal morando dentro. Daí foi feita uma negociação com pessoal que morava lá, o dono foi dando certas quantias para uns e outros até que saíram todos (Entrevista com morador e ex-membro fundador da Associação dos Moradores do C.H de São Luís)

As falas do morador ex-membro fundador da Associação de Moradores do

Centro Histórico de São Luís, reflete bem um profundo descontentamento dos moradores

em relação à chamada revitalização do espaço urbano antigo (Centro Histórico). A maioria

dos moradores, desde o início do processo, já abandonou os antigos casarões e/ou foi

retirada durante o processo de revitalização, cedendo lugar a empreendimentos públicos e

privados, sobretudo ligados aos órgãos de cultura e turismo.

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O ambiente institucionalmente patrimonializado do bairro do Desterro e Centro

Histórico de São Luís tem sido alvo e palco de inúmeros embates e conflitos no seio da

comunidade com os representantes de órgãos públicos de preservação, devido às

incompatibilidades de renda dos moradores com o padrão juridicamente estabelecido para

a preservação. O que tem provocado, em grande parte, o abandono de muitos imóveis ou a

realização de obras com portas fechadas, sem que o poder público tome consciência –

nestes casos sendo resolvidos judicialmente quando descobertos, como o caso retratado na

fala de outro morador, que se segue:

Se eu tivesse condições abandonava o prédio e deixava para eles, para virar um cabide de bandidagem, de bandidos, pois aqui no Centro Histórico é só o que acontece. Pois o abandono de casas tem feito com que se instalassem aqui drogados, bandidos e assaltantes em nosso bairro. Sendo que a justiça não vê isso, vendo apenas o lado do IPHAN. Não sei mais o que fazer em uma situação dessas! Moro aqui porque sou pobre, se tivesse condições não morava no Desterro nunca, pois é uma área em que ninguém é dono de nada, pois não podemos fazer melhorias. Agora me diga: qual o cidadão que tem sua casa e não quer fazer melhorias, para melhorar sua condição de vida? Isto sem depender do governo e sem pedir. Sou um cidadão que pago meus impostos, trabalho, daí o governo só tira de mim e não me dá nada? Ainda quer minha casa? Estas considerações é que queria que a justiça tomasse conhecimento! (Morador do Desterro).

Diante do ambiente aparentemente calmo e bucólico do Desterro existe um

universo social bastante tenso, formado por um conjunto de moradores que se enfrentam

entre si, e que enfrentam o poder público, transgredindo as normas legais e jurídicas da

preservação – em nome do que chamam de direito a permanecer no seu lugar de moradia,

de acordo com suas regras e conveniências, sem que haja qualquer tipo de entre-lugar neste

conflito perene; como também podemos ver na fala que se segue:

Com relação a todas as proibições que o IPHAN nos impõe, eu penso que o tempo todo vai haver esta briga, pois a lei não nos deixa mexer em nada. Agora mesmo já tem duas casas embargadas no bairro, e ela disse que ia derrubar a casa dele de qualquer jeito, é vereador de Matinha, ele conseguiu adiar a decisão. Aqui é a maior confusão até pra mexer num azulejo (Entrevista com morador e ex-membro fundador da associação dos moradores do C.H de São Luís)

Os enfrentamentos são uma constante no Desterro devido às divergências e

posicionamentos adversos de diferentes grupos da comunidade; apesar de ser muito

desorganizada politicamente. Fica claro que algum nível de organização poderia ser

promovida e/ou proporcionada com alguma facilidade, pelo próprio poder público, e/ou

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por organizações não governamentais; contudo, quando o assunto é patrimônio, qualquer

palavra sobre a possibilidade de se organizar a comunidade, causa todo tipo de suspeita e

embaraço.

Outro complicador para a efetivação dos usos sociais e democráticos do

patrimônio reside na própria base legal da lei preservacionista (Decreto Lei n. 25/1937),

quando sabemos que a justiça brasileira é cara e dispendiosa. Assim pessoas de origem

social menos favorecida não têm condições de arcar com os elevados custos de

manutenção e restauração destes imóveis; como fica evidente, na fala a seguir:

A Prefeitura é quem regula o uso do solo urbano, somente uma política municipal de fortalecimento deste mesmo solo urbano é que vai fazer com este se torne atraente. [...] atraente que eu falo é no sentido econômico, de ficar um espaço caro, um espaço que seja disputado, um espaço que as pessoas queiram realmente morar. Porque o que está acontecendo é que ninguém quer morar no centro. Os planos que se colocam são para a habitação de função social, ou seja, pessoas de baixíssima renda que vão ser alocados nesse espaço. Mas essas pessoas não vão ter renda suficiente para manter esses imóveis. Pois são imóveis caros na sua manutenção (CHAVES, 2008. Entrevista concedida por Kátia Bogéa, 09/2008).

O contexto atual é de inexistência de diálogo entre poder público e sociedade;

quando ao assunto é patrimônio histórico e arquitetônico. Quando ocorre o “diálogo”, este

acaba por ser constituído nas bases ideológicas/jurídicas estatais, sem quaisquer tipo de

instrumentos e/ou órgãos de mediação entre os interesses do Estado e os interesses práticos

e atuais de diversos setores sociedade, como das comunidades que habitam estes lugares-

patrimônio. Percebemos as grandes dificuldades que a população tem no sentido de

conquistar a participação efetiva e cidadã, num ambiente social favorável a sua

participação, na construção social democrática das políticas do patrimônio, como está

afinal garantido na Constituição Federal de 1988, no seu Capítulo sobre a Cultura, em que

está inscrito o direito cultural e a cidadania cultural, atualmente apenas figura de retórica

nas falas enunciadas pelos agentes públicos. Estamos muito longe de vislumbrar a

possibilidade de um terceiro espaço, como sugere (BHABHA, 1996), na cena do

patrimônio histórico-cultural; de modo a mediar os conflitos e interesses nos centros

urbanos antigos das grandes cidades brasileiras.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Ao situar esta discussão acerca dos conflitos cotidianos na cena do patrimônio,

faz-se necessário perceber o quanto as políticas de cultura e de patrimônio estão ligadas, na

contemporaneidade, à lógica cultural do capitalismo tardio (JAMESON, 2007). Lógica

esta, responsável por promover a reconversão de bens culturais e simbólicos, antes

cultuados pelos eruditos ou tidos como símbolos identitários no Estado Nação, em

produtos culturais ligados ao processo de mundialização e disputa por afirmação no

cenário internacional dos espaços, principalmente após a intensificação dos investimentos

globais realizados pela indústria turística e hoteleira.

Ao situar o problema em questão, devemos levar em consideração as

complexidades, tensões, conflitos, discursos e transgressões por parte dos moradores e

habitantes dos sítios históricos latino-americanos. Buscando assim (des)naturalizar o

pesado estereótipo de “analfabetos culturais” que justifica e legitima a violência simbólica

(BOURDIEU, 1989) sobre estes sujeitos (historicamente alienados da construção social e

democrática do patrimônio). Processo este que se desenvolve desde os anos heróicos da

preservação na década de 1930 – momento da institucionalização do patrimônio com os

primeiros tombamentos nas cidades históricas mineiras e a conseqüente criação do IPHAN,

em 1937 – até os nossos dias atuais13.

O patrimônio histórico e arquitetônico deveria ser considerado enquanto território

de experiências humanas, espaço social imerso num contexto de múltiplas temporalidades,

no entanto, não raro, estas peculiaridades socioculturais são totalmente ignoradas pelo

poder público. Diante de um quadro político adverso só resta aos indivíduos (moradores e

habitantes desses sítios históricos) disporem de seus próprios dispositivos e mecanismos de

resistência pautados na convivência e na sobrevivência cotidiana (gerenciamento simbólico

público). Tais práticas políticas fundadas na experiência da sociabilidade do dia-a-dia

exigem dos pesquisadores e interessados no tema uma profunda compreensão da complexa

gramática do uso social do espaço de convívio entre os indivíduos que compõem àquela

“comunidade” (CERTEAU, 2007). É através dessa gramática que se estrutura seu universo

de relações simbólicas, no qual, conforme constatado, não se aprecia com facilidade a

interferência do “Outro”; visando assim manter certo estado de “equilíbrio” social

13 Cabe salientar que a novidade da aprovação do programa de registro do patrimônio cultural imaterial brasileiro, inaugurado com o Projeto de Lei n. 3551/2001, em nada modificou esse cenário aqui desenhado, no que se refere mais especificamente as vicissitudes da gestão dos patrimônios arquitetônicos e históricos, regidos pelo Decreto-Lei n. 25/1937.

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estratégico, mas frágil, sempre abalado pelas interferências, coerções, recomendações de

uso, fiscalizações e punições advindas do poder público, responsável pelas políticas

públicas de patrimonialização.

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