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livro de administração 1

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE DO TOCANTINS

ReitorHumberto Luiz Falcão Coelho

Vice-ReitorLívio William Reis de Carvalho

Pró-Reitor de GraduaçãoGalileu Marcos Guarenghi

Pró-Reitor de Pós-Graduação e ExtensãoClaudemir Andreaci

Pró-Reitora de PesquisaAntônia Custódia Pedreira

Pró-Reitora de Administração e FinançasMaria Valdênia Rodrigues Noleto

Diretor de EaD e Tecnologias EducacionaisMarcelo Liberato

Coordenador PedagógicoGeraldo da Silva GomesCoordenador do CursoAndré Pugliese da Silva

Fundação Universidade do Tocantins (UNITINS)F981p Administração / Fundação Universidade do Tocantins; EADCON.

Palmas: Editora Educon, 2008. 222 p.: il.

Nota: Caderno de Conteúdo e Atividades 1º período de Administração (apostila)

1. Administradores – Formação. 2. Administração – Estudo e Ensino. I. EADCON. II. Título.

CDD 37822. ed.

Ficha Catalográfica elaborada pela UNITINS. Bibliotecária – Rozangela Martins da Silva CRB2/1019

Direitos desta edição reservados à UNITINS.É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da UNITINS.

Teoria Geral da Administração .......................................................................5

Aula 1 – Administração: história, atualidades e perspectivas ...................................... 11

Aula 2 – Perspectiva Clássica: Administração Científica ............................................. 23

Aula 3 – Perspectiva Clássica: Teoria Clássica .......................................................... 37

Aula 4 – Perspectiva Clássica: Teoria da Burocracia .................................................. 49

Aula 5 – Perspectiva Humanística: Escola das Relações Humanas ............................... 59

Aula 6 – Perspectiva Humanística: Escola Comportamental ......................................... 77

Aula 7 – Perspectiva Moderna: Teoria dos Sistemas e Teoria Contigencial .................... 91

Instituições de Direito Público e Privado .....................................................111

Aula 1 – O que é Direito? ..................................................................................... 117

Aula 2 – Fontes do Direito .................................................................................... 131

Aula 3 – Ramos do Direito Privado: Direito Civil ...................................................... 147

Aula 4 – Ramos do Direito Público: Direito Constitucional e Administrativo ................. 165

Aula 5 – Ramos do Direito Público: Direito Penal e outros ......................................... 187

Aula 6 – Sistema judiciário e Direito Processual ...................................................... 199

Aula 7 – Ramos do Direito Metaindividual: Direito Ambiental e do Consumidor .......... 211

Sumário

Créd

itos

EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos Acadêmicos1ª versão: André Pugliese Jonas Berger2ª versão: André Pugliese Jonas Berger Joran Júnior

Coordenação EditorialMaria Lourdes F. G. Aires

Assessoria EditorialDarlene Teixeira Castro

Assessoria Produção GráficaKatia Gomes da Silva

Revisão Didático-PedagógicaFrancisco Gilson Rebouças Pôrto Junior

Revisão Lingüístico-TextualIvan Cupertino Dutra

Revisão DigitalLeonardo Valadão Nunes Torres

Projeto GráficoDouglas Donizeti SoaresIrenides TeixeiraKatia Gomes da Silva

IlustraçãoGeuvar S. de Oliveira

CapaIgor Flávio Souza

EQUIPE FAEL

Coordenação EditorialLeociléa Aparecida Vieira

Assessoria EditorialWilliam Marlos da Costa

RevisãoJuliana Camargo HorningLisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e DiagramaçãoDenise Pires PierinKátia Cristina Oliveira dos SantosRodrigo SantosSandro NiemiczWilliam Marlos da Costa

Apr

esen

taçã

o

Sejam todos bem-vindos. É muito bom tê-los conosco neste grande desafio. Você que escolheu a Administração como profissão deve estar cheio de expecta-tivas em relação ao nosso curso. Esta disciplina é sua primeira referência em termos de administração, nosso primeiro contato com as teorias que servem de base para a gestão das empresas nos dias de hoje.

Começaremos com um panorama geral da Administração, conceituando questões fundamentais para que haja um ótimo entendimento das teorias que virão no decorrer do semestre. Em seguida nos aprofundaremos em cada uma das abordagens da Administração, desde a clássica até a perspectiva moderna. Em cada uma das teorias serão apresentadas as críticas e contribui-ções que forneceram as bases para a construção e consolidação da Ciência da Administração.

Nestes estudos, muitos conceitos serão agregados até a formação de uma visão mais contemporânea da Administração. Você perceberá que cada uma delas, em seu tempo, trouxe contribuições fantásticas para nossa ciência.

Para nós, professores, o mais importante de tudo é que você possa iden-tificar, em sua organização ou em empresas com as quais você se relaciona como cliente, muitos dos traços e abordagens que estudaremos aqui. É exata-mente isso! O sucesso de nossa disciplina dependerá da observação minuciosa das práticas existentes, primeiro critério para que, juntamente com o conheci-mento que adquirimos com as teorias, possamos transformar a realidade de nossas organizações.

Temos certeza de que você está embarcando nessa de corpo e alma, assim como nós. Por isso temos certeza que o sucesso virá. Boa sorte para nós!

Prof. André Pugliese

Prof. Jonas Berger

Prof. Joran Junior

Plan

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Ens

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EMENTA

Conceitos básicos de Administração e organização. Antecedentes históricos. Abordagens: Clássica, Humanística, Neoclássica, Estruturalista, Comportamental, Sistêmica e Contingencial da Administração.

OBJETIVOS

Apresentar ao aluno o conceito de organização e sua relação com •o processo administrativo, além de uma primeira noção do processo administrativo e suas funções.

Descrever as principais contribuições teóricas e práticas para a •formação do conhecimento administrativo.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Histórico, evolução e perspectivas contemporâneas da Administração•

Conceitos básicos sobre Administração•

Estudo da Perspectiva Clássica: Administração Científica e Teoria •Clássica

Estudo da Perspectiva Humanística: Escola das Relações Humanas e •Comportamental

Estudo da Perspectiva Moderna: Teoria Sistêmica e Contigencial•

Principais críticas e conclusões das abordagens da Administração•

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 9

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. São Paulo: Makron Books, 2000.

______. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. São Paulo: Makron Books, 2003.

MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração: da Escola Científica à competitividade em economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da Administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

KWASNICKA, Eunice Lakava. Teoria Geral da Administração: uma síntese. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Introdução à Administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 11

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

conhecer os aspectos históricos que originaram o pensamento adminis-•

trativo e a Administração;

entender a Administração e as perspectivas para os profissionais •

da área.

Pré-requisitos

Para que você atinja os objetivos propostos, é necessário que você procure

conhecer o funcionamento de uma organização. Isso não será complicado,

pois na pior das hipóteses, você poderá relacionar os conceitos desta aula

com a realidade da sua própria casa, as atribuições de cada membro da

família e de seus empregados. A escola que você já freqüentou e freqüenta, a

igreja, o clube e tantas outras instituições se caracterizam como organizações.

Procure olhar de jeito diferente e busque entender que todas essas empresas

e negócios só funcionam se houver uma organização que envolve pessoas,

estratégias, pessoas, recursos, equipamentos e clientes.

Introdução

Vivemos em uma sociedade composta por atividades voltadas para a

produção de bens (produtos) ou para a prestação de serviços (serviços espe-

cializados). Para Chiavenato (2003, p. 2) todas as atividades devem ser

planejadas, coordenadas, dirigidas e controladas dentro de organizações, não

é mesmo? E em todas as organizações observaremos a existência de pessoas

e outros recursos materiais, financeiros, físicos, tecnológicos e mercadológicos.

Aula 1Administração: história,

atualidades e perspectivas

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

12 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

As pessoas dependem das organizações e estas dependem do trabalho das pessoas. Se você trabalha, consegue estabelecer bem esta relação.

Chiavenato (2003, p. 2) também reforça que as pessoas nascem, crescem, aprendem, vivem, trabalham, divertem-se, são tratadas e morrem dentro das organizações. Porém, cada organização possui características particulares, sendo muito diferentes em sua essência, em seu tamanho, em sua cultura e até mesmo em seus objetivos. Assim sendo temos dois tipos de organizações:

Organizações Lucrativas – empresas.

Organizações não-lucrativas – exército, igrejas, serviços públicos, entidades filantró-picas, organizações não-governamentais, etc.

Todas as organizações devem ser administradas, e isto é fácil para você observar e entender. De acordo com a natureza, tamanho e complexidade de suas operações, haverá formas diferentes de administrá-las.

Podemos dizer, então, que a Administração é a condução racional das ativi-dades de uma organização rumo aos seus objetivos, seja ela lucrativa ou não.

Como já vimos, a Administração trata do planejamento, da organização (estruturação), da direção e do controle de todas as atividades diferenciadas pela divisão de trabalho que ocorram em uma organização (CHIAVENATO, 2003, p. 2). Assim, a Administração é imprescindível para a existência, sobre-vivência e sucesso das organizações. Sem a Administração, as organizações jamais teriam condições de existir e crescer.

As funções destacadas no parágrafo anterior (planejamento, organização, direção e controle) constituem o processo administrativo. Em uma de nossas próximas aulas veremos, por meio dos estudos de Fayol, onde este conceito originou-se.

Vamos observar melhor essas funções?

1. PLANEJAMENTO 2. ORGANIzAçãO

Estabelecer objetivos e missãoExaminar as alternativasDeterminar as necessidades de recursosCriar estratégias para o alcance dos objetivos

Desenhar cargos e tarefas específicasCriar estrutura organizacionalDefinir posições de staffCoordenar as atividades de trabalhoEstabelecer políticas e procedimentosDefinir a alocação de recursos

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 13

3. DIREçãO 4. CONTROLEConduzir e motivar os empregados na reali-zação das metas organizacionaisEstabelecer comunicação com os trabalhadoresApresentar solução nos conflitosGerenciar mudanças

Medir o desempenhoEstabelecer comparação do desem-penho com os padrõesTomar as ações necessárias para melhoria do desempenho

1.1 A Teoria Geral da Administração

A Teoria Geral da Administração é o campo do conhecimento humano que se ocupa do estudo da Administração em geral, não se preocupando onde ela seja aplicada, se nas organizações lucrativas (empresas) ou se nas organiza-ções não-lucrativas, ou seja,

[...] a Administração revela-se, nos dias de hoje, como uma área do conhecimento humano impregnada de complexidades e desafios. O profissional que utiliza a Administração como meio de vida, pode trabalhar nos mais variados níveis de uma organização: desde o nível hierárquico de supervisão elementar até o nível de dirigente máximo da organização. Pode trabalhar nas diversas especializa-ções da Administração: seja a Administração da Produção (dos bens ou dos serviços prestados pela organização), Administração Financeira, ou Administração de Recursos Humanos, Administração Mercadológica ou ainda a Administração Geral. Em cada nível e em cada especialização da Administração, as situações são muito diferentes (CHIAVENATO, 2003, p. 2).

As organizações são muito diversificadas e diferenciadas, cada uma possuindo características que as diferenciam umas das outras, mesmo em segmentos de atividades similares. Para Chiavenato (2003, p. 2), não há duas organizações iguais, assim como não existem duas pessoas idênticas. Cada organização tem objetivos próprios, ramo de atividade específico, dirigentes e o seu pessoal. Cada uma tem problemas internos e sofre com alterações no ambiente externo, tem seu mercado, sua situação financeira, sua tecnologia, seus recursos básicos, sua ideologia e política de negócios, etc.

Inúmeras são as variáveis que interferem no resultado da gestão. Toda vez que uma organização pretende admitir um executivo em seu quadro administra-tivo, os candidatos são submetidos a uma infinidade de testes e de entrevistas que procuram investigar em profundidade seus conhecimentos, suas características de personalidade, seu passado profissional, sua formação escolar, seus ante-cedentes morais, seu sucesso ou fracasso em determinadas atividades e outras coisas mais. Talvez até sua situação conjugal ou sua estabilidade emocional.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

14 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Hoje, o que é importante, são os resultados gerados pelo gestor ou cola-borador na organização. Muitas vezes, um excelente currículo ou formação não revela a capacidade de liderar, gerenciar e mobilizar as pessoas para os resultados que são esperados.

Quais são as habilidades necessárias para que o administrador possa trabalhar com sucesso?

Essa é uma questão imprescindível em nossa profissão, pois as habilidades que relacionaremos a seguir são de fundamental importância para os adminis-tradores. Vamos ver?

Segundo Faria (2002, p. 2), para atingir a eficácia no processo adminis-trativo, três tipos de habilidades se impõem: técnica, humana e conceitual. O autor as define como:

habilidade técnica: a utilização de conhecimentos, métodos, técnicas e equipamentos para a consecução de tarefas específicas;habilidade humana: habilidade de compreender as atitudes e motivações dos empregados, trabalhar com eles e aplicar os princípios de liderança;habilidade conceitual: habilidade de compreender os problemas e objetivos da organização global e ajustar o comportamento das pessoas dentro da empresa.

Quanto mais elevado for o nível do colaborador na organização, menores serão as necessidades da utilização das suas habilidades técnicas. Porém aumentam as necessidades de ampliação da visão da organização como um todo, ou seja, aumenta a necessidade de ampliação da sua habilidade concei-tual. Os níveis inferiores requerem considerável habilidade técnica dos supervi-sores para lidar com os problemas operacionais e concretos da organização.

A combinação dessas habilidades é importante para o administrador.

1.1.1 Classificação dos níveis

a) Estratégico: corresponde à alta administração, pois determina os objetivos de longo prazo e a direção para a organização como um todo. Temos neste nível o presidente, vice-presidentes e diretores.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 15

b) Tático: corresponde à média administração, pois coordena e decide que produtos ou serviços serão produzidos. Neste nível temos a gerência.

c) Operacional: corresponde à supervisão, pois coordena a execução das tarefas de todo o pessoal operacional. É onde acontecem as atividades da empresa propriamente ditas, onde o pessoal põe a mão na massa.

A Teoria Geral da Administração se propõe a desenvolver a habilidade conceitual, embora não deixe de lado as habilidades humanas e técnicas. Em outros termos, propõe-se a desenvolver a capacidade de pensar, definir situações organizacionais complexas, diagnosticar e propor soluções. Este é também o nosso objetivo fundamental: propiciar condições para que você adquira tais competências, tornando-se um administrador eficaz.

1.2 A Administração e suas perspectivas

Para entender a Administração e suas perspectivas, o pesquisador Chiavenato (2003, p. 10) assevera que

em uma época de complexidades, mudanças e incertezas como a que atravessamos hoje, a Administração tornou-se uma das mais importantes áreas da atividade humana. Vivemos em uma civilização em que predominam as organizações e na qual o esforço cooperativo do homem é a base fundamental da sociedade. E a tarefa básica da Administração é fazer as coisas por meio das pessoas de maneira eficiente e eficaz. [...] O avanço tecnológico e o desenvolvimento do conheci-mento humano, por si apenas, não produzem efeitos se a quali-dade da administração efetuada sobre os grupos organizados de pessoas não permitir uma aplicação efetiva dos recursos humanos e materiais.

Peter Drucker (2004), autor neoclássico, afirma que não existem países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, mas países que sabem administrar a tecnologia e os recursos disponíveis, de um lado, e países que ainda não o sabem, de outro. Em outros termos, existem países administrados e países subadministrados. O mesmo ocorre com as organizações.

Chiavenato (2003, p. 10) destaca ainda que

o trabalho do administrador em qualquer organização – seja ele um supervisor de primeira linha ou o dirigente máximo da organização – é essencialmente o mesmo. Não há uma distinção básica entre diretores, gerentes, chefes ou super-visores e administradores. Qualquer que seja a posição ou o nível que ocupe, o administrador alcança resultados pela efetiva cooperação dos subordinados.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

16 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Por isso veremos adiante o quanto é importante a presença e o trabalho dos líderes.

1.3 Conteúdo e objeto de estudo da Administração

Sobre o conteúdo e o objeto de estudo da Administração, Chiavenato (2003, p. 11) destaca que

a palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência) e significa aquele que realiza uma função abaixo do comando de outros, isto é, aquele que presta um serviço a outro. No entanto, a palavra administração sofreu uma profunda transformação em seu signi-ficado original. A tarefa da Administração passou a ser a de interpretar os objetivos propostos pela organização e transfor-má-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos de maneira mais adequada à situação e garantir a competitividade em um mundo de negó-cios altamente concorrencial e complexo. A Administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos organizacionais.

Conforme pode ser visto na citação, administrar é um processo que engloba várias etapas voltadas para um fim comum: atingir os objetivos propostos pela organização. Planejamento, organização, direção e controle são ações inerentes ao processo administrativo.

1.4 O estudo atual da Teoria Geral da Administração

Conforme Chiavenato (2003, p. 13), a Teoria Geral da Administração mostra o efeito acumulativo das diversas teorias com contribuições e enfoques diferen-ciados. Cada teoria administrativa surgiu como uma resposta aos problemas empresariais da época, apresentando soluções específicas para tais problemas. De certo modo, todas as teorias administrativas também podem ser aplicadas às situações atuais, dependendo da conjuntura e da realidade de cada caso.

Assim na medida em que administração se defronta com novas situações que surgem no decorrer do tempo, as ferramentas e os conceitos vão sendo reformatados para tornarem-se aplicáveis. Por isso, no decorrer de nossos estudos, é importante que você estabeleça paralelos entre as teorias e as si tuações vislumbradas na organização onde você atua. Com esta relação teoria-prática, ficará muito fácil o entendimento de nosso conteúdo, além de ser extremamente prazeroso sentirmos nossa evolução profissional.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 17

1.5 A Administração na sociedade moderna

Cada organização, cada empresa requer que decisões sejam tomadas. Necessita também da coordenação de múltiplas atividades, da condução de pessoas, da avaliação do desempenho dirigido e dos objetivos previamente determinados, da obtenção e alocação de recursos, etc. Sobre a Administração na sociedade moderna, Chiavenato (2003, p. 13) salienta que

numerosas atividades administrativas desempenhadas por vários administradores, orientadas para áreas e problemas específicos, precisam ser realizadas e coordenadas de maneira integrada e coesa em cada organização ou empresa. Como o administrador não é executor, mas o responsável pelo trabalho das pessoas a ele subordinadas, ele não pode cometer erros ou arriscar apelando para estratagemas de ensaio e erro, já que isso implicaria conduzir seus subordinados pelo caminho menos indicado. O administrador é um profissional cuja formação é ampla e variada: precisa conhecer disciplinas heterogêneas (como Matemática, Direito, Psicologia, Sociologia, Estatística, etc.).

Daí o caráter multi/interdisciplinar de nosso curso; o administrador precisa lidar com pessoas (que executam tarefas ou planejam, organizam, controlam, assessoram, pesquisam, etc.) que lhe são subordinadas, estão no mesmo nível ou acima dele; precisa estar atento aos eventos passados e presentes, bem como às previsões futuras; precisa lidar com eventos internos (localizados dentro da empresa) e externos (localizados no ambiente que envolve externamente a empresa). O administrador é um agente – não só de condução, mas também de mudança e de transformação das empresas, levando-as a novos rumos, novos processos, novos objetivos, novas estratégias, novas tecnologias e novos pata-mares. Conseqüentemente, as pessoas envolvidas nesse processo transformam-se em cidadãos capazes de situar-se nesse ambiente extremamente dinâmico.

1.6 Perspectivas futuras da Administração

Nos próximos anos, o mundo verá o fim gradativo da forma organizacional de hoje (a organização burocrática) e o surgimento de novas arquiteturas orga-nizacionais adequadas às novas demandas da era pós-industrial. As fraquezas da organização burocrática, segundo Chiavenato (2003, p. 15-16), serão os germes dos futuros sistemas organizacionais e, dessa forma, vários fatores deverão provocar profundos impactos sobre as organizações e empresas. A seguir, veja alguns desses impactos.

Mudanças rápidas e inesperadas• : a aceleração e o acesso à infor-mação favorecerão o desenvolvimento de novos comportamentos e

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

18 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

exigências dos consumidores o que, por sua vez, demandará novas e crescentes necessidades que as atuais organizações poderão não ter condições de atender.

Crescimento das organizações• : na medida em que a organização cresce, os problemas e os desafios também se ampliam, exigindo o desenvolvimento de novas habilidades, conhecimentos e atitudes dos administradores. Assim, o administrador especialista amplia suas competências e se transforma em um generalista, com estofo para enfrentar os desafios do mundo globalizado.

Concorrência mais aguda• : o produto ou serviço que tenha quali-dade e diferencial será o mais procurado. As empresas terão que se esforçar para concorrer nesse mercado baseado em novas formas de oferta, novas tecnologias, novos produtos e serviços de primeiro mundo.

Sofisticação de tecnologia• : a tecnologia oferecerá a liberação do esforço humano focado na tarefa para o planejamento, a renovação, o acompanhamento, a integração e a motivação das pessoas.

Globalização da economia e internacionalização dos negócios• : a internacionalização das empresas, favorecida pela globalização da economia, torna a competitividade mundial. Empresas chinesas, por exemplo, poderão competir diretamente com produtos e serviços fabricados e ofertados aí na sua cidade. Quais serão as vantagens competitivas das empresas brasileiras? Esse será o grande desafio do administrador, criar e manter vantagens competitivas.

Visibilidade maior das organizações• : com a expansão das empresas e os novos recursos tecnológicos, principalmente com os novos formatos das mídias, a exposição aumentou de uma forma exponencial. Podemos dizer que estamos vivendo a revolução do olhar, onde a avaliação e a crítica permeiam instantaneamente as ações e os resul-tados das empresas.

1.7 O Administrador como agente de mudanças

Finalmente, o administrador deve estar focalizado no futuro e assim poder estruturar sua empresa para enfrentar os desafios que surgem, seja por meio de “novas” tecnologias, “novas” condições sociais e culturais, novos produtos e

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 19

serviços. Além disso deve pensar globalmente (ver o mundo) e agir localmente (atuar na empresa). Para levar sua empresa à excelência, o administrador deve ter espírito empreendedor, aceitar desafios, assumir riscos e possuir um senso de inconformismo sistemático.

Para concluir, é importante que você tenha acompanhado o desenvolvi-mento histórico da administração, tenha consolidado o conhecimento sobre as habilidades necessárias ao administrador, que tenha conhecido o conteúdo e o estado atual da Teoria Geral da Administração. Se você fez o percurso ante-riormente citado, você está apto para compreender as perspectivas de futuro na Administração e o administrador como um agente de mudanças.

Síntese da aula

Nesta aula, vimos a importância da Administração e como ela está presente em todos os momentos de nossas vidas. Vimos, também, algumas das habilidades imprescindíveis para os administradores, que constante-mente convivem com situações extremamente complexas. Outro aspecto importante é a identificação e a diferenciação dos níveis da organização e suas respectivas atribuições. Finalizamos o tema traçando um perfil atual da profissão e as necessidades de adequação à nova realidade do mundo das empresas.

Atividades

1. Sobre as perspectivas futuras da Administração, assinale V para as alter-nativas verdadeiras e F para as alternativas falsas.

a) ( ) No mundo dos cibernegócios as organizações tornam-se menos visíveis pelos clientes e para a sociedade.

b) ( ) Para levar sua empresa à excelência, o administrador deve ter espírito empreendedor, aceitar desafios, assumir riscos e possuir um senso de inconformismo sistemático.

c) ( ) O desenvolvimento dos produtos ou serviços exigirá menores investimentos em pesquisa e desenvolvimento para enfrentar o mercado.

d) ( ) Nos próximos anos, o mundo verá o fim gradativo da forma orga-nizacional de hoje (a organização burocrática) e o surgimento de novas arquiteturas organizacionais adequadas às novas demandas da era pós-industrial.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

20 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

2. Os níveis que envolvem a organização são:

a) tático, operacional e pessoal;

b) tático, estratégico e relacional;

c) estratégico, operacional e tático;

d) nenhuma das alternativas.

3. Por que o administrador deve ser considerado um gestor de mudanças? Redija suas percepções em um texto dissertativo de 15 linhas.

4. Quais os principais cuidados que o administrador deve ter a partir do aumento da visibilidade e exposição das empresas com o advento das “novas” tecnologias e mídias?

Comentário das atividades

Na atividade 1, as alternativas consideradas verdadeiras e falsas são, respectivamente: a) F – as organizações tornam-se mais visíveis devido a facili-dade no acesso às informações; b) V – lembre-se que estas são apenas algumas das habilidades e atitudes de um administrador; c) F – o desenvolvimento dos produtos e serviços exigirá mais esforços, pois devem ser mais personalizados e customizados ao gosto do cliente; d) V – as empresas tendem a serem mais humanizadas e flexíveis.

Na atividade 2, os níveis que envolvem a organização são o estratégico, tático e operacional. Portanto, a alternativa (c) está correta. As palavras “pessoal” e “relacional” não têm relação nenhuma com os níveis organizacionais.

Para responder à atividade 3, considere que o gestor deve ter disposição para aprender, descobrir e inovar sempre! Sair do quadrado e ampliar a percepção é condição básica para criar diferencial em uma realidade que procura não só atender às expectativas das pessoas, mas superá-las. Imagine: se o administrador não for uma pessoa que estrapole a visão e os limites, como vai aceitar e estimular o processo de mudança?

Na atividade 4, os novos recursos midiáticos e tecnológicos como a internet, câmeras, webcams, postcads, celulares e outros equipamentos oportunizam e geram a exposição acelerada de pessoas e empresas. A partir dessa reali-dade, os administradores precisarão estar atentos as suas ofertas e às formas de entregar produtos e serviços. Tudo isso vai garantir ou não a preferência e a recomendação dos clientes.

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 21

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. São Paulo: Makron Books, 2000.

______. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. São Paulo: 2004.

DRUCKER, Peter. Peter Drucker na prática. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade em economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

Na próxima aula

Entraremos de cabeça nas teorias administrativas e conheceremos o Pai da Administração – Frederick Winslow Taylor. A partir de seus estudos, começa-remos a enxergar a administração como ciência, daí o tema de nossa próxima aula: Administração Científica. Vamos lá!

Anotações

AUlA 1 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

22 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 23

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

conhecer a importância dos estudos de Taylor e Ford para a •Administração;

entender a contribuição da Administração Científica para o desenvol-•vimento da Administração contemporânea.

Pré-requisitos

Para que você atinja os objetivos de aprendizado desta aula é fundamental que você perceba o mecanismo de funcionamento e gestão das empresas comer-ciais, industriais ou prestadoras de serviços, escolas, igrejas e outras instituições que estão inseridas na sua comunidade. Estas experiências devem ter sido viven-ciadas por você ou por pessoas do seu círculo de relacionamento e serão impor-tantes para co-relacionar com as técnicas e ações próprias da administração.

Introdução

Sejam bem-vindos novamente! Nesta aula, vamos viajar no tempo, volta-remos ao início do século XX, ou seja, há mais de cem anos, para conhecer os primeiros estudos sobre a administração.

Para entendermos como a administração se transformou em ciência, devemos conhecer os estudos de um famoso engenheiro que revolucionou a gestão das empresas. Sabe quem é ele?

2.1 Frederick Winslow Taylor

Este homem, muito importante para a área de Administração, nasceu na Filadélfia, Estados Unidos, oriundo de uma família com valores muitíssimo rígidos, e

Aula 2Perspectiva Clássica:

Administração Científica

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

24 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

teve como base educacional a disciplina, o trabalho e a poupança. Começou traba-lhando como operário, em 1878, chegando finalmente ao cargo de engenheiro, em 1885. Sua maior preocupação era eliminar o desperdício das indústrias, acre-ditando assim contribuir para o aumento de seus níveis de produtividade. Desde o princípio, sua preocupação residia nas tarefas, por isso focava tanto a busca de aplicação de métodos científicos a problemas da administração. Queria obser-vá-los e medi-los. Tenho certeza de que você, no seu dia-a-dia, enfrenta diversos problemas, não e mesmo? Já parou para estudá-los, medindo-os, quantificando-os, detalhando-os? Reside aí a fundamental importância dos estudos de Taylor, e por isso ele é considerado o pai da Administração Científica.

Vamos ver as suas contribuições?

2.2 Princípios de Taylor

Taylor tornou-se engenheiro-chefe da Midvale Steel Company e lá entrou em contato, pela primeira vez, com os problemas da administração. Ele percebeu que os responsáveis pela administração posicionavam-se como seres superiores, arrogantes e prepotentes. Percebeu também que, na verdade, eram os trabalhadores que moviam as fábricas, fazendo com que as organizações alcançassem seus objetivos.

Seus estudos iniciaram-se efetivamente em 1895, sendo publicados neste período e republicados em 1911 (Princípios da Administração Científica). Esta obra é até hoje considerada uma obra-prima da Administração, até mesmo por seu pioneirismo. Ele queria, prioritariamente, tratar a questão do tempo. Queria melhorar o manuseio da matéria-prima e o tempo-base de cada operação, e para isso precisava identificar as características físicas para o que podemos chamar de “operário padrão”.

Em outra empresa onde atuou como consultor – a Bethlehem Steel Company – Taylor pôde desenvolver melhor os seus estudos, que foram importantes e se refletem até hoje em muitos aspectos da gestão de nossas organizações.

Para ele, são considerados fundamentais para a administração:

o conceito de especialização;•

a eliminação de elementos e movimentos desnecessários.•

Os dois aspectos mencionados anteriormente poderiam levar a um aumento da produtividade, segundo ele, e são fatores preponderantes para o aumento da eficiência da produção.

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 25

Segundo Betram M. Gross, citado por Silva (2001), o sistema criado por Taylor se caracterizava por cinco aspectos:

a) análise do trabalho – buscar a melhor maneira de execução o trabalho no menor tempo possível;

b) padronização das ferramentas – harmonizar os métodos de execução, uniformizar as ações;

c) selecionar e treinar os trabalhadores – com base nas aptidões e na idéia de que cada pessoa deve executar tarefas para as quais revele maior pendor ou inclinação;

d) supervisão e planejamento – distinguir planejamento de execução;

e) pagamento por produção – recompensar os operários que tivessem uma produção além do estabelecido.

Os cinco aspectos propostos, se executados corretamente, levariam a orga-nização a uma maior eficiência em seus processos produtivos, e isso represen-taria maiores ganhos para a empresa. Você concorda? Tenho certeza de que sim, principalmente porque, na maioria das empresas, esses conceitos são empregados até hoje. Vamos em frente!

Para continuarmos a nossa trajetória, separaremos os estudos de Taylor. Vamos dividi-los em primeiro e segundo períodos.

2.2.1 Primeiro Período

Os estudos de Taylor começaram no “chão da fábrica”, onde o pessoal põe a mão na massa literalmente. Em seu primeiro livro, Administração de Oficinas (1903), ele demonstra a sua principal preocupação: a que envolve as técnicas de racionalização do trabalho dos operários, pelo estudo dos tempos e dos movimentos.

O trabalho dos operários era analisado pacientemente, e suas tarefas eram decompostas, detalhadas. Desta forma, acreditava-se que os processos poderiam ser aperfeiçoados e executados de forma mais racional, e que a produtividade poderia, assim, aumentar.

Outra análise importante deste primeiro período baseou-se na produtivi-dade individual dos operários. Taylor verificou que, se um operário com boa disposição para o trabalho percebesse que receberia o mesmo montante de dinheiro que os outros, mesmo que produzisse mais, esse fato faria com que

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

26 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

ele se acomodasse, gerando desmotivação e, sobretudo, queda na produtivi-dade. Percebeu, assim, de que os operários que produzissem mais mereceriam receber um adicional de remuneração.

2.2.2 Segundo Período

O marco do segundo período é o livro Princípios de Administração Científica, de 1911, no qual Taylor defende e conclui que a racionalização do trabalho dos operários deveria ser seguida de uma estruturação geral da empresa, pois dessa forma todos os seus princípios poderiam ser aplicados.

Taylor identificou três fatores que considerou como os grandes responsá-veis pelos problemas das indústrias. Vamos ver quais foram eles?

A vadiagem dos operários que, para evitar redução em seus salários, •reduziam a produção.

Desconhecimento da gerência, que não sabia quais as rotinas de trabalho, •além de ignorar o tempo necessário para a realização dos mesmos.

Falta de uniformidade das técnicas, que dificultava a padronização •dos processos e uma melhoria nos controles.

Gerência Científica: 75% análise e 25% bom senso.

2.3 A Ciência da Administração

Taylor acreditava que as organizações e a administração deveriam ser tratadas de forma científica. Até então, havia muita improvisação nas orga-nizações, e isso acarretava sérios problemas às empresas, além de muitos prejuízos aos empresários. Para ele, as ações deveriam ser planejadas e o empirismo deveria dar lugar ao cientificismo.

Quais aspectos dos estudos de Taylor têm ligação com essa perspectiva científica? Vamos entender melhor?

Segundo Chiavenato (2000), os principais méritos de Taylor estão ligados à metodologia empregada, tais como:

análise dos tempos e movimentos;•

estabelecimento de padrões precisos de execução;•

treinamento do operário;•

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 27

especialização do pessoal, inclusive a direção;•

criação do planejamento.•

Ainda segundo Chiavenato (2000), para entendermos a Administração como ciência, podemos relacionar os seguintes aspectos:

ciência em lugar de empirismo;•

harmonia em lugar de discórdia;•

cooperação e não individualismo;•

rendimento máximo, em vez de produção resumida;•

desenvolvimento de cada homem.•

Podemos citar como fator importante para esta análise a identidade de interesses, quanto maior a prosperidade do patrão, maior deverá ser a pros-peridade dos empregados, e isso deveria ficar claro para todos, pois assim haveria evolução.

2.4 Organização Racional do Trabalho (ORT)

Taylor, conforme aborda Chiavenato (2003, p. 56) verificou que os operários aprendiam a maneira de executar as tarefas do trabalho por meio da observação dos companheiros que estavam envolvidos na produção. Notou que isso levava a diferentes métodos para fazer a mesma tarefa e uma grande variedade de instrumentos e ferramentas diferentes em cada fase da operação ou atividade. Como há sempre um método mais rápido e um instrumento mais adequado que outro, esses métodos e instrumentos melhores podem ser encontrados e aperfeiçoados por meio de uma análise científica e um acurado estudo de tempos e movimentos, em vez de ficar a critério pessoal de cada operário. Com base nisso, poderíamos repensar como as tarefas e as atividades são desenvolvidas na empresa em que você trabalha. Pense nisso!

Essa tentativa de substituir métodos empíricos e rudimentares pelos métodos científicos recebeu o nome de Organização Racional do Trabalho (ORT).

Segundo Chiavenato (2003, p. 57), a Organização Racional do Trabalho se fundamenta nos seguintes aspectos:

1. análise do trabalho e do estudo dos tempos e movimentos;

2. estudo da fadiga humana;

3. divisão do trabalho e especialização do operário;

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28 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

4. desenho de cargos e de tarefas;

5. incentivos salariais e prêmios de produção;

6. conceito de homo economicus;

7. condições ambientais de trabalho, como iluminação, conforto etc;

8. padronização de métodos e de máquinas;

9. supervisão funcional.

Vamos detalhá-los?

2.4.1 Estudo dos tempos e movimentos e análise do trabalho

A base para a racionalização do trabalho dos operários era o estudo de tempos e movimentos (motion-time study). O trabalho é executado de forma mais objetiva e mais econômica por meio da análise do trabalho, isto é, da divisão e detalhamento de todos os movimentos necessários a cada operação executada pelos trabalhadores. Observando repetida e atenciosamente a execução de cada tarefa dos operários, Taylor viu a possibilidade de desmembrar cada tarefa e cada operação em uma série ordenada de movimentos simples, simplificados.

Os movimentos desnecessários eram eliminados, enquanto os movimentos úteis eram simplificados, racionalizados ou conectados a outros movimentos para proporcionar economia de tempo e de esforço aos operários. A essa análise do trabalho seguia-se o estudo dos tempos e movimentos, ou seja, a determinação do tempo médio que um operário comum levaria para a execução da tarefa, por meio da utilização do cronômetro.

A esse tempo médio eram adicionados os tempos elementares e mortos (esperas, tempos de saída do operário da linha para suas necessidades pessoais, etc.) para resultar o chamado tempo-padrão, o tempo ideal. Com isso, padro-nizava-se o método de trabalho e o tempo destinado a sua execução. Método

é a maneira de se fazer algo para obter um determinado resultado. O estudo dos tempos e movimentos permite a racionalização do método de trabalho do operário e a fixação dos tempos-padrão para execução das tarefas.

Segundo Chiavenato (2003, p. 57), a ORT traz outras vantagens adicionais:

1. eliminação do desperdício de esforço humano e dos movimentos inúteis;

2. racionalização da seleção e adaptação dos operários à tarefa;

3. facilidade no treinamento dos operários e melhoria da eficiência e rendimento da produção pela especialização das atividades;

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 29

4. distribuição uniforme do trabalho para que não haja períodos de falta ou excesso de trabalho;

5. definição de métodos e estabelecimento de normas para a execução do trabalho;

6. estabelecimento de uma base uniforme para salários eqüitativos e prêmios de produção.

2.4.2 Estudo da fadiga humana

O estudo dos movimentos humanos tem três objetivos:

1. evitar movimentos inúteis na execução de uma tarefa;

2. execução econômica dos movimentos úteis do ponto de vista fisiológico;

3. seriação apropriada aos movimentos (princípios de economia de movimentos).

O estudo dos movimentos baseia-se na anatomia e na fisiologia humana. Gilbreth (outro importante colaborador de Taylor) efetuou estudos estatísticos e não-fisiológicos (pois era engenheiro) sobre os efeitos da fadiga na produtivi-dade do operário. Verificou que a fadiga predispõe o trabalhador para a dimi-nuição da produtividade e qualidade do trabalho; perda de tempo; aumento da rotatividade de pessoal; doenças e acidentes e diminuição da capacidade de esforços. Em suma, a fadiga é um redutor de eficiência.

2.4.3 Homo Economicus

Você verá que, em todas as Teorias que estudaremos, teremos uma concepção de Homem, que retrata algumas de suas características e, sobre-tudo, a forma como era visto pela Administração. Vamos em frente!

Na Administração Científica, a sua concepção é Homo Economicus. Significa dizer que as pessoas são influenciadas apenas por recompensas sala-riais e materiais. Os operários não trabalham porque gostam, mas para poder satisfazer suas necessidades. Esse era o entendimento da época.

Segundo Motta e Vasconcelos (2002), podemos caracterizar o Homo Economicus da seguinte forma:

ser humano considerado previsível e controlável, egoísta e utilitarista •em seus propósitos;

ser humano visto como otimizando suas ações após pesar todas as •alternativas possíveis;

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

30 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

racionalidade absoluta;•

incentivos monetários.•

2.4.4 Condições de trabalho

Em seus estudos, Taylor concluiu também que os métodos e os incentivos salariais são importantes, mas não o único caminho para se alcançar a efici-ência. Verificou que um conjunto de condições possibilitaria ganhos de produ-tividade. Vamos ver alguns exemplos:

os instrumentos e ferramentas de trabalho devem ser adequados ao uso;•

o posicionamento das máquinas e equipamentos devem estar em •conformidade;

o ambiente físico deve ser adequado (ventilação, iluminação, ruídos, etc.).•

2.4.5 Padronização

Dentro dos estudos da Organização Racional do Trabalho, além de esta-belecer a necessidade da divisão do trabalho, da padronização de métodos e processos e de ter operários especializados para cada função, Taylor enfatizou a importância da padronização das máquinas, dos equipamentos, instrumentos e ferramentas para que houvesse diminuição da variação dos produtos fabricados. Dessa forma, também seriam eliminados os desperdícios. Imagine se hoje em dia as indústrias não fabricassem uniformemente os seus produtos. Já pensou?

2.4.6 Supervisão funcional

Para Taylor, não bastava apenas especializar o operário. Se não houvesse também supervisores especializados, com autoridade para comandar os operá-rios, não haveria boa produtividade.

Segundo Chiavenato (2003, p. 62), supervisão funcional nada mais é do que a existência de diversos supervisores, cada qual especializado em deter-minada área e que tem autoridade funcional (relativa somente a sua especiali-dade) sobre os mesmos subordinados.

2.5 Princípios da Administração Científica

Segundo Taylor, a gerência das organizações deveria atuar sob nova reali-dade. Novas atribuições e responsabilidades se faziam necessárias dentro da nova perspectiva da Administração. Em linhas gerais, podemos descrevê-las em quatro princípios fundamentais:

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 31

a) princípio do planejamento: o empirismo deveria dar lugar à aplicação de métodos científicos;

b) princípio do preparo: os trabalhadores deveriam ser selecionados com base em suas aptidões e adequados às atividades por meio de prepa-ração e treinamento;

c) princípio de controle: o trabalho deveria ser analisado, verificando-se o cumprimento das tarefas de acordo com as normas e planos previstos;

d) princípio da execução: as atribuições e atividades deveriam ser distri-buídas de forma a proporcionar que o trabalho fosse executado de forma disciplinada.

Os estudos de Taylor influenciaram muita gente. Devemos destacar um empre-endedor que, ao apropriar-se de alguns estudos de Taylor, conseguiu desenvolver sua indústria, incorporando novas e eficazes práticas de produção. Sabe quem é ele? Seus carros circulam até hoje pelas ruas em todo o mundo? Vamos ver.

2.6 Henry Ford (1863-1947)

É, certamente, o mais conhecido de todos os precursores da Administração Científica. Ford iniciou sua vida como um mecânico. Projetou um novo modelo de carro e, em 1899, fundou sua primeira fábrica de automóveis.

Em 1903, fundou a Ford Motor Co. Qual era a sua idéia? Popularizar um produto antes confeccionado artesanalmente e destinado a milionários, ou seja, vender carros a preços populares, com assistência técnica garan-tida, revolucionando a estratégia comercial da época. Entre 1905 e 1910, promoveu a grande inovação do século XX: a produção em massa (até hoje as indústrias utilizam o mesmo conceito).

Para Silva (2002, p. 129), embora não tenha inventado o automóvel nem mesmo a linha de montagem, inovou na forma de organizar o trabalho: sua meta era a elaboração do maior número de produtos acabados, com maior garantia de qualidade e pelo menor custo possível. Esta inovação teve maior impacto sobre a maneira de viver do homem do que muitas das maiores inven-ções do passado da humanidade.

Em 1913, conforme destaca Chiavenato (2003, p. 65) já fabricava 800 carros por dia. Em 1914, repartiu com seus empregados uma parte do controle acionário da empresa, coisa impensada até então. Estabeleceu o salário mínimo de cinco dólares por dia e jornada diária de oito horas. Na época, a jornada

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

32 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

variava entre dez e doze horas. Em 1926, já tinha 88 fábricas e empregava 150.000 pessoas, fabricando 2.000.000 carros por ano. Utilizou um sistema de concentração horizontal por meio de uma cadeia de distribuição comercial própria. Fez uma das maiores fortunas do mundo pelo constante aperfeiçoa-mento de seus métodos e processos.

A racionalização da produção proporcionou a linha de montagem, que permite a produção em série. Na produção em série ou em massa, o produto é padronizado, bem como o maquinário, material, mão-de-obra e o desenho também, o que proporciona um custo mínimo.

Segundo Chiavenato (2004, p. 65), a condição-chave da produção em massa é a simplicidade. Três aspectos suportam o sistema:

a) a progressão do produto por meio do processo produtivo é planejada, ordenada e contínua;

b) o trabalho é entregue ao trabalhador em vez de deixá-lo com a inicia-tiva de ir buscá-lo;

c) as operações são analisadas em seus elementos constituintes.

2.7 Princípios básicos de Ford

Ford adotou três princípios básicos, que segundo Chiavenato (2003) são:

1. princípio da intensificação: diminui o tempo de duração com o empre-gado imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colo-cação do produto no mercado;

2. princípio de economicidade: consiste em reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação, fazendo com que o automóvel fosse pago à empresa antes de vencido o prazo de pagamento da matéria-prima adquirida e dos salários. A velocidade da produção deve ser rápida;

3. princípio da produtividade: aumentar a capacidade de produção do homem no mesmo período (produtividade) por meio da especia-lização e linha de montagem. Operário ganha mais, o empresário maior produção.

Para concluir, Chiavenato (2004, p. 66) faz uma referência a Henry Ford muito interessante, baseando-se na publicação de Stuart Crainer de 1998, intitulada Key Management Ideas: Thinkers that Changed the Management World, de 1998, onde tratava-o como um gênio do Marketing:

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 33

Ford teve uma incrível intuição de marketing: concluiu que o mundo estava preparado para um carro financeiramente acessível. Em seguida, buscou as técnicas de produção em massa como a única forma de viabilizá-lo. Então definiu o preço de venda e desafiou a organização a fazer com que os custos fossem suficientemente baixos para garantir aquele preço. Assim, deu ao mercado o que ele queria: modelos simples e acessíveis. O problema pipocou três décadas depois, quando os outros fabricantes – incluindo a GM – começaram a acrescentar opcionais aos carros, enquanto Ford continuava fabricando os mesmos modelos simples, básicos e de uma só cor: preta. O gênio de marketing perdeu a percepção e a noção daquilo que os clientes passaram a aspirar.

Na citação observe que a genialidade de um momento pode ser suplan-tada pelo comodismo ou pela falta de foco. Quando os concorrentes perce-beram que Ford havia satisfeito apenas uma das necessidades dos clientes, eles criaram novas necessidades e novos meios de satisfação.

Para concluir, chamamos a atenção para o estudo da perspectiva clássica da Administração. Essa perspectiva, que tem um foco eminentemente científico, organiza-se em torno dos trabalhos de Taylor e Ford.

Síntese da aula

Nesta aula, iniciamos os nossos estudos sobre as teorias administra-tivas. Para começarmos com o pé direito, conhecemos as idéias do Pai da Administração e estudamos o início do cientificismo nas questões relativas às organizações. Tenho certeza de que você percebeu que esses estudos têm uma influência danada nas empresas até os dias de hoje, não é?

Também conhecemos os pioneiros estudos científicos sobre a Administração, por meio do trabalho de uma das figuras mais importantes de seu tempo, Taylor. Vimos o sistema criado por ele no qual aspectos como a análise do trabalho, a padronização de ferramentas, a seleção e o treinamento dos trabalhadores, a supervisão e o planejamento e o pagamento baseado na produtividade foram implementados.

Percebemos claramente a divisão dos estudos de Taylor (dois períodos) e a importância da Organização Racional do Trabalho para o aumento da eficiência da empresa.

Por fim, mencionamos alguns estudiosos que contribuíram para o desenvol-vimento da Administração como ciência, destacando a importância de Henry Ford que, com seus métodos revolucionários, transformou o processo produtivo das indústrias, influenciando-os até os dias de hoje.

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

34 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Atividades

1. Assinale (V) para as alternativas consideradas verdadeiras ou (F) para as alternativas consideradas falsas.

Constituem métodos e ferramentas de trabalho introduzidas por Taylor para aumentar a produção:

a) ( ) pagar salários maiores aos operários que produzem mais;

b) ( ) não padronizar processos que permitam muito controle das operações;

c) ( ) selecionar cientificamente os empregados alocando-os em cargos e condições de trabalho adequadas;

d) ( ) racionalizar o trabalho do operário, estudando o tempo e movimentos;

e) ( ) incentivar a criatividade e a iniciativa do operário na execução de suas tarefas.

2. A racionalização da produção, concebida por Ford, proporcionou a linha de montagem, a produção em série ou em massa, e três foram os princí-pios adotados por ele:

a) Princípio da Intensificação

b) Princípio da Economicidade

c) Princípio da Produtividade

Associe-os às assertivas a seguir.

I. ( ) Redução do estoque na linha de produção, proporcionando à empresa o recebimento do comprador do automóvel antes de vencer o prazo de pagamento da matéria-prima e salários.

II. ( ) Aumento da capacidade de produção no mesmo período devido à especialização e linha de montagem.

III. ( ) Diminuição do tempo de duração com a utilização imediata dos equipamentos, matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado.

3. Quais as vantagens do Estudo de Tempos e Movimentos?

4. Quais as características do Homo Economicus?

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 35

Comentário das atividadesNa atividade 1, baseando-se no conteúdo desta aula, você deve identificar

quais características o sistema de Taylor tinha como alicerce. Temos certeza de que com essa atividade você vai qualificar cada vez mais o seu conhecimento sobre esta teoria. Nessa atividade as alternativas Verdadeiras e Falsas são, respectivamente: a) V; b) F; c) V; d) V; e) F.

Na atividade 2, cada um dos princípios de Ford teve sua importância, sendo que dois deles – produtividade e intensificação - referem-se ao tempo, e um – economicidade – ao fator matéria. A seqüência correta das alternativas é: I) b; II) c; e III) a, respectivamente.

Na atividade 3, segundo Chiavenato, as principais vantagens são: elimi-nação do desperdício de esforço humano e dos movimentos inúteis; raciona-lização da seleção e adaptação dos operários à tarefa; facilidade no treina-mento dos operários e melhoria da eficiência e rendimento da produção pela especialização das atividades; distribuição uniforme do trabalho para que não haja períodos de falta ou excesso de trabalho; definição de métodos e estabe-lecimento de normas para a execução do trabalho; estabelecimento de uma base uniforme para salários eqüitativos e prêmios de produção.

Já na atividade 4, segundo Chiavenato, as principais características são: ser humano considerado previsível e controlável, egoísta e utilitarista em seus propósitos; a) ser humano visto como otimizando suas ações após pesar todas as alternativas possíveis; b) racionalidade absoluta; c) incentivos monetários.

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. São Paulo: Makron Books, 2000.

______. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. São Paulo: Makron Books, 2004.

Drucker, Peter. Peter Drucker na prática. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria Geral da Administração: da escola científica à competitividade em economia globalizada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

Na próxima aulaNa próxima aula, vamos mergulhar na Teoria Clássica da Administração,

com os estudos de Henri Fayol, os princípios e as funções básicas da empresa. Aproveite para descobrir o que é o POC3!

AUlA 2 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

36 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Anotações

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 37

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

identificar as funções da empresa e do administrador, segundo Fayol;•

compreender a importância dos 14 princípios de Fayol para a estru-•turação da empresa.

Pré-requisitos

Para você acompanhar bem esta aula é interessante que tenha enten-dido os conceitos expostos nas aulas 1 e 2, onde buscou-se construir uma base de entendimento sobre o que é a administração e a importância da administração científica. Agora veremos a evolução e continuidade destas teorias.

Introdução

Nesta aula, veremos as funções básicas da empresa, segundo Fayol, e as funções do administrador. Vamos ver que, apesar do tempo que se passou, essas características ainda podem ser vistas nas empresas nos dias de hoje.

Enquanto Taylor e outros engenheiros estudavam as empresas com foco em seus processos produtivos, e desenvolviam a Administração Cientifica nos Estados Unidos, surgia em 1916, na França, a Teoria Clássica da Administração. Se a Administração Científica se caracterizava pela ênfase nas tarefas realizadas pelos operários, a Teoria Clássica se fundamentava na análise da estrutura que a organização deveria possuir para ser eficiente e alcançar seus objetivos. Na realidade, o objetivo de ambas teorias era o mesmo: a busca da eficiência das organizações.

Aula 3Perspectiva Clássica: Teoria

Clássica

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

38 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Enquanto para a Administração Cientifica essa eficiência era alcançada por meio da racionalização do trabalho do operário e no somatório das efici-ências individuais, na Teoria Clássica, ao contrário, partia-se do todo organiza-cional e da sua estrutura. Para garantir eficiência, todas as partes envolvidas, fossem elas órgãos (como departamentos, por exemplo) ou pessoas (como ocupantes de cargos e executores de tarefas) deveriam integrar-se.

Saímos da análise das tarefas – microabordagem e partimos para uma análise mais ampla, estrutural. Pronto para mais essa viagem no tempo? Primeiro, vamos conhecer o personagem principal desta Teoria, Henri Fayol. Todos a postos?

3.1 Henry Fayol

Henry Fayol (1841-1925), o fundador da Teoria Clássica, nasceu em Constantinopla e faleceu em Paris, vivendo as conseqüências da Revolução Industrial e, mais tarde, da Primeira Guerra Mundial. Formou-se em enge-nharia de minas, entrou para uma empresa metalúrgica e carbonífera onde fez sua carreira. Fayol expôs sua Teoria de Administração no livro Administration Industrielle et Générale, publicado em 1916, nove anos antes de sua morte.

Vamos entender melhor seus estudos? Uma parte importante são as funções básicas da empresa. Veja se você não encontra similaridades com a em que você trabalha, ou com as quais se relaciona.

3.2 As funções básicas da empresa - Fayol

a) Funções técnicas: produção, fabricação ou transformação de bens ou serviços da empresa.

b) Funções comerciais: compra, venda, permutação ou troca.

c) Funções financeiras: procura e gestão de capitais.

d) Funções de segurança: proteção e preservação da propriedade, dos bens e das pessoas.

e) Funções contábeis: inventários, registros, balanços, custos, controles e estatísticas.

f) Funções administrativas: integração das outras cinco funções, por meio do planejamento (previsão), organização, comando, coordenação e controle.

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 39

Alega Fayol que

nenhuma das cinco funções essenciais precedentes tem o encargo de formular o programa de ação geral da empresa, de constituir o seu corpo social, de coordenar os esforços e de harmonizar os atos. Essas atribuições constituem outra função, designada pelo nome de Administração (FAYOL, citado por CHIAVENATO, 2003 p. 80).

A visão de Fayol sobre as funções básicas da empresa é considerada por muitos ultrapassada, mas na prática devem ser contextualizadas histo-ricamente, para uma análise mais adequada. Hoje, as funções recebem o nome de áreas da administração: as funções administrativas recebem o nome de administração geral; as funções técnicas, o nome de área de produção, manufatura ou operações; as funções comerciais, de área de vendas/marketing. As funções de segurança passam para um nível mais baixo. Depois surgiu a área de recursos humanos ou gestão de pessoas. Na prática, não houve muita mudança, mas uma ampliação do escopo e das ações planejadas e executadas em cada uma das áreas. Vamos aprofundar o conceito de Administração?

3.3 Conceito de Administração

Fayol define administração como a realização das atividades adminis-trativas, que segundo ele são: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. As funções administrativas envolvem os elementos da Administração, isto é, as funções do administrador. Para você lembrar facilmente, aí vai um macete: POC3.

a) Prever: tentativa de visualização do futuro e a conseqüente definição de planos de ação (esta função configura-se a base da função de planejamento);

b) Organizar: conjugar o duplo organismo da empresa - material e social, transformando o plano em ação efetiva;

c) Comandar: dirigir e orientar os empregados para que as tarefas sejam executadas;

d) Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços das pessoas;

e) Controlar: verificar aspectos que permitam que tudo ocorra segundo regras estabelecidas e as ordens dadas pelo comando.

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

40 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

São esses os elementos da Administração que constituem o chamado processo administrativo, sendo localizáveis e visualizáveis no trabalho do admi-nistrador de qualquer nível hierárquico ou área de atividade da empresa como atividades administrativas essenciais, básicas. Falando em níveis hierárquicos, veremos a seguir que, em cada nível, as funções administrativas – POC3 – são aplicadas em diferentes graus. Vamos entender isso melhor?

3.4 Proporcionalidade das funções administrativas

Para Fayol, citado por Chiavenato (2003, p. 82), o exercício das funções administrativas é proporcional ao nível hierárquico ocupado pelo trabalhador, ou seja, ela se reparte por todos os níveis da hierarquia da empresa e não é privativa da alta cúpula. Em outros termos, a função administrativa não está somente na área estratégica da organização, mas está presente em todos os seus níveis hierárquicos, de forma proporcional.

Desta forma percebe-se que, à medida que se desce na escala hierárquica, mais aumenta a proporção das outras funções da empresa, à medida que se sobe na escala hierárquica, mais aumenta a extensão e o volume das funções admi-nistrativas. Para facilitar esta importante análise, vejamos o quadro a seguir.

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 82).

Como vimos até aqui, os estudos de Fayol são muitíssimo atuais. Veremos a seguir alguns princípios que nortearam os estudos de Fayol e que são apli-cados e facilmente visualizados em muitas organizações ainda hoje, respei-tando algumas pequenas alterações e diferenças de adaptação temporais.

O que você entende por princípio? Não lembra início, começo, a base de algo, os fundamentos que garantem sustentação a algo? Fayol definiu 14 princí-pios fundamentais necessários à gestão eficiente das organizações. Vejamos.

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 41

3.5 Princípios gerais de Administração para Fayol

A Administração baseia-se em leis e princípios, como qualquer outra ciência. Fayol definiu os “princípios gerais” da Administração, tendo como referência alguns conceitos utilizados e desenvolvidos por outros autores de sua época.

Ele adota a denominação princípio, buscando afastar a idéia de rigidez, indicando nas entrelinhas que tudo em termos de Administração exige análise, ponderação e bom senso. De qualquer modo, os princípios são universais, atemporais, circunstanciais e flexíveis. Vamos ver quais são esses princípios?

3.5.1 Os 14 princípios gerais da Administração – Fayol

Segundo Fayol, citado por Chiavenato (2003, p. 83), os 14 princípios gerais da administração são:

divisão do trabalho• : consiste na especialização de tarefas e das pessoas para aumentar a eficiência;

autoridade e responsabilidade• : autoridade é o direito de dar ordens e o poder de esperar obediência. A responsabilidade é uma conse-qüência natural da autoridade e significa o dever de prestar contas. Ambas devem estar equilibradas entre si;

disciplina• : depende da obediência, aplicação, energia, comporta-mento e respeito aos acordos estabelecidos;

unidade de comando• : cada empregado deve receber ordens de um superior. É o principio da autoridade única;

unidade de direção• : uma cabeça e um plano para cada conjunto de atividades que tenham o mesmo objetivo;

subordinação dos interesses individuais aos gerais• : os interesses gerais da empresa devem sobrepor-se aos interesses particulares das pessoas;

remuneração do pessoal• : deve haver justa e garantida satisfação para os empregados e para a organização em termos de retribuição;

centralização• : refere-se à concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização;

cadeia escalar• : é a linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo – princípio do comando;

ordem• : um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. É a ordem material e humana;

eqüidade• : amabilidade e justiça para alcançar a lealdade do pessoal;

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

42 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

estabilidade do pessoal• : a rotatividade do pessoal é prejudicial para a eficiência da organização. Quanto mais tempo uma pessoa perma-necer no cargo, tanto melhor para a empresa;

iniciativa• : a capacidade de visualizar um plano e assegurar pessoal-mente o seu sucesso;

espírito de equipe• : a harmonia e a união entre as pessoas são grandes forças para a organização.

A Teoria Clássica tem por característica um enfoque prescritivo e normativo, pois indica e detalha quais os elementos da administração (funções do admi-nistrador), e quais os princípios gerais que o administrador deve adotar em suas ações, pressupondo assim, a eficiência em seus processos e atividades.

3.6 Divisão do trabalho e especialização

A organização se caracteriza por uma divisão de trabalho claramente defi-nida. “A divisão do trabalho constitui a base da organização; na verdade é a própria razão da organização” (GULICK, citado por CHIAVENATO, 2003, p. 85). A divisão do trabalho conduz à especialização e à diferenciação das tarefas. Enquanto a Administração Científica tinha como preocupação a divisão do trabalho no nível do operário, dividindo as atividades ou tarefas, a Teoria Clássica se preocupava com a divisão no nível dos órgãos que compõem a orga-nização, isto é, com os departamentos, seções, unidades, etc., e essa divisão pode correr em duas direções, que segundo Chiavenato (2003, p. 85), são:

a) verticalmente: segundo os níveis de autoridade e responsabilidade, defi-nindo os diferentes escalões. Esses níveis aumentam à medida que se sobe na hierarquia da organização. É a hierarquia que define a graduação das responsabilidades, conforme os diferentes graus de autoridade. Daí a denominação “autoridade de linha” para significar a autoridade de comando e hierárquica de um superior sobre um subordinado;

b) horizontalmente: segundo os diferentes tipos de atividades da organização (como na especialização de Fayol ou no principio de homogeneidade de Gulick). Em um mesmo nível hierárquico, cada departamento ou seção passa a ser responsável por uma atividade específica e própria.

A divisão do trabalho no sentido horizontal, que assegura homogeneidade e equilíbrio, é chamada de departamentalização; refere-se à especialização horizontal da organização. A homogeneidade na organização é obtida quando são reunidos, na mesma unidade, todos os que estiverem executando o mesmo

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 43

trabalho, pelo mesmo processo, para a mesma clientela, no mesmo lugar. Qualquer um desses quatro fatores – função, processo, clientela, localização – proporciona, respectivamente, departamentalização por função, por processo, por clientela ou por localização geográfica. A idéia básica era de que quanto mais departamentalizada a organização tanto mais eficiente ela será.

3.7 Críticas à Teoria Clássica da Administração

A Teoria Clássica sempre foi alvo de críticas, o que certamente auxilia na compreensão de seus aspectos básicos e nos leva a reflexões importantes sobre o desenvolvimento da ciência da Administração. Respeitar a perspectiva histórica é um dos nossos grandes desafios, pois assim podemos enaltecer e observar criteriosamente as contribuições dadas por Fayol.

Segundo Chiavenato (2003, p. 88-90), dentre as muitas críticas, podemos destacar as que estão listadas a seguir.

a) Abordagem simplificada da organização formal – de modo geral, os autores clássicos da Administração a concebem em termos lógicos, rígidos e formais, sem levar em conta os aspectos sociais que perpassam a reali-zação de seus processos. A organização informal (que veremos adiante) não é contemplada, e os aspectos formais são os únicos a serem consi-derados em sua análise, pressupondo e ressaltando os esquemas lógicos pré-estabelecidos que baseiam a criação e o desenvolvimento das organi-zações. A visão, portanto, é prescritiva e normativa, mas de qualquer modo é uma evolução pensar em termos de estrutura, não mais apenas em termos das tarefas, como na Administração Científica de Taylor. A figura a seguir ilustra bem este aspecto. Vejamos.

Fonte: Chiavenato (2003, p. 89).

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

44 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

b) Ausência de trabalhos experimentais – um dos objetivos de Fayol, em sua Teoria Clássica, era elaborar uma Ciência de Administração na qual o empirismo e a improvisação seriam substituídos por técnicas científicas. De maneira efetiva, os princípios adotados pelos autores clássicos baseiam-se na observação e no senso comum, e em particular, o método de Fayol era empírico e concreto, baseado na experiência direta e no pragmatismo, não possuindo, portanto, provas.

c) Racionalismo extremo na concepção de Administração – novamente faz-se aqui referência aos autores clássicos, que se preocupavam com a apresen-tação racional e lógica, mas detinham-se pouco na busca pela clareza das idéias apresentadas, o que no caso da Teoria Clássica de Fayol configu-ra-se como uma meia-verdade, já que conseguimos observar com clareza a aplicação de seus conteúdos nas organizações.

d) “Teoria da Máquina” – a Teoria Clássica também é comumente chamada de Teoria da Máquina pelo fato de considerar a organização focalizando-a como um conjunto de ações meramente mecânicas, ou seja, como uma máquina. Esta perspectiva mecanicista tem a divisão do trabalho como seu sustentáculo.

e) Abordagem incompleta da organização – como acontece na análise crítica da Administração Científica, a preocupação da Teoria Clássica baseou-se apenas nos aspectos formais da organização, não contemplando seus aspectos informais. É preciso indicar que os problemas humanos da orga-nização eram levados em consideração, mas não existia um tratamento sistemático da relação entre pessoas, grupos informais, conflitos e os processos decisórios nas organizações.

f) Abordagem de sistema fechado – como a Administração Científica, a Teoria Clássica também trata a organização como um sistema composto de variáveis perfeitamente conhecidas e previsíveis. Sabemos hoje – e é preciso novamente considerar a época desses estudos – que a organi-zação está em constante troca com o ambiente em que se insere, ou seja, a organização é, na prática um sistema aberto.

Apesar de todas as análises críticas sobre a Teoria Clássica, ela é, com certeza, a melhor abordagem a ser aplicada aos iniciantes dos estudos da admi-nistração. A sua visão simples (o que não significa simplificada) da administração permite uma boa visualização de vários aspectos imprescindíveis ao bom enten-dimento do assunto. Como vivemos em uma era de intensas mudanças, pode parecer que seus estudos não se configuram em análises que podem ser utilizadas

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 45

nos dias de hoje, mas suas referências basearam-se na estabilidade vigente à época. A compreensão desta teoria é imprescindível para o entendimento da moderna administração. É imprescindível a sua formação profissional.

3.8 Taylor e Fayol – análise comparativa e complementar

As análises e estudos da Administração Científica de Taylor e da Teoria Clássica, de Fayol, são cronologicamente concorrentes e foram desenvolvidas respectivamente nos Estados Unidos e na Europa, mais precisamente na França. Apesar disso, e considerando a estrutura de telecomunicações da época, que certamente dificultava o acesso à informação e ao conhecimento, é como se os dois homens criassem, simultaneamente, teorias que se complementavam, e que ajudaram a formar o movimento inicial da Administração, vista como ciência.

Segundo Silva (2001, p. 153), até Fayol, os problemas da administração concentravam-se nas indústrias, nos processos produtivos e, conseqüentemente, na busca pela produtividade. A partir de seus estudos, o foco de observações e os estudos voltam-se à direção geral da empresa. A observação não fica mais restrita às oficinas, ao “chão-de-fábrica”, a organização passa a ser conside-rada em sua totalidade. É justamente nesse aspecto que reside a principal contri-buição de Fayol – mostrar como processos administrativos complexos podem ser separados em áreas interdependentes de responsabilidade ou de funções.

Existia à época, ao compararmos as duas teorias, uma perspectiva de seu direcionamento em termos de análise: a Administração Científica baseava sua análise no operário, em uma visão de baixo para cima (bottom-up), onde estudava-se cientificamente o trabalho humano e o trabalho da máquina.

Fayol, em contrapartida, direcionou seus esforços a partir da análise do trabalho dos dirigentes da empresa, ou seja, em uma visão de “cima para baixo” (top down).

Walther, citado por Silva (2001, p. 153), menciona que o grande mérito de Taylor foi o de ter sido o primeiro a tomar em consideração séria o fator humano como elemento principal da produção, submetendo-o a um estudo muito profundo. Fayol, como vimos, parte da chefia ou direção, e não do operário.

Para concluir, é importante observar que tanto o Taylorismo quanto o Fayolismo apresentam-se como soluções para o problema da força humana. Taylor estudava as condições técnicas do trabalho, enquanto Fayol se preo-cupava com a administração da empresa. Percebe-se, então, que não são

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

46 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

estudos antagônicos, contrários, um complementa o outro, especialmente pelas perspectivas (bottom-up e top-down).

No quadro a seguir, de forma sintética, visualizamos os caminhos e obje-tivos das duas teorias.

Fonte: Silva (2001, p.154).

Com o quadro, esperamos que você tenha compreendido as diferenças fundamentais entre as duas teorias, em ter o foco desses dois autores clássicos Taylor e Fayol.

Para concluir, é importante você ter sistematizado as características da Teoria Clássica da Administração. Essa teoria se organiza a partir dos estudos de Henry Fayol e as funções básicas da empresa, principalmente.

Fayol focava seus estudos na separação dos processos administrativos, enquanto Taylor cuidava dos processos produtivos.

Síntese da aula

Nesta aula, vimos os estudos de outra proeminente figura para os adminis-tradores e para a Administração – Henri Fayol. Vimos as funções da empresa e as funções do administrador e, neste caso, analisamos, também, a propor-cionalidade destas funções em relação ao nível hierárquico ocupado pelos trabalhadores de uma organização.

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 47

Atividades

1. Henry Fayol definiu em sua obra Administration Industrielle et Générale as funções básicas da empresa, as quais sejam:

a) funções técnicas, comerciais, financeiras, contábeis, materiais e marketing;

b) funções comerciais, administrativas, segurança, recursos humanos e financeiras;

c) funções financeiras, produtivas, comerciais, recursos humanos, contá-beis e administrativas;

d) funções técnicas, comerciais, financeiras, contábeis, de segurança e administrativas.

2. Fayol define o ato de administrar como: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar, portanto, estas são as funções do administrador. Você consegue fazer a correspondência entre as funções e seu signifi-cado? Identifique-as preenchendo as lacunas:

a) ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos: _______________;

b) visualizar o futuro e traçar o programa de ação: _______________;

c) constituir o duplo organismo material e social da empresa: __________ _______________;

d) verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas: _______________;

e) dirigir e orientar o pessoal: _______________.

3. Para Fayol, a organização abrange o estabelecimento da estrutura e da forma, sendo, portanto, dinâmica e limitada. A preocupação com a estrutura e com a forma de organização marca a essência da Administração Científica.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

4. Para a Teoria Clássica, a estrutura organizacional é analisada de cima para baixo (da direção para a execução) e do topo para as partes (da síntese para a análise), ao contrário da abordagem da Administração Científica.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

AUlA 3 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

48 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Comentário das atividades

Tenho certeza de que você respondeu com tranqüilidade às atividades 1 e 2, não é? Se foi tranqüilo, com certeza você já consegue identificar bem as funções da empresa e do administrador. Olha a dica - POC3

– esta é para lembrar as suas funções, administrador!!! Em relação às questões 3 e 4, Novamente creio que não foi difícil, não é mesmo? Deu para diferenciar bem a Administração Científica e a Teoria Clássica com esses exercícios, não é? Viu também como seus estudos se complementam? É isso aí!!!

Comentando mais especificamente as questões, temos, na primeira, o reforço das funções da empresa, que são as mencionadas na alternativa (d). Na segunda atividade, buscamos ressaltar as funções do administrador, segundo Fayol, para as quais usamos o macete POC3 , lembra? A seqüência correta das funções é: coordenar, prever, organizar, controlar e comandar.

Para a terceira e quarta atividades, é importante que você tenha em mente as diferentes análises formuladas nas teorias de Taylor e Fayol. Fayol focava o “chão de fábrica”? Isso era com Taylor. Lembra-se dos termos top-down e bottom-up? Fayol analisava a organização a partir de uma perspectiva top-down, ou seja, de cima para baixo, do todo para as partes.

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula

Veremos a Teoria da Burocracia. Ela é muito importante pois demonstra uma característica fundamental para a Administração: a multidisciplinaridade. Explico: a Administração incorpora os estudos de um famoso sociólogo alemão – Max Weber, para discutir a sua estrutura.

Anotações

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 49

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

identificar os principais aspectos da Teoria Burocrática, a partir de •seus estudos básicos;

reconhecer a necessidade de burocratização das organizações e os •cuidados que o gestor deve ter para que não surjam as disfunções da Burocracia.

Pré-requisitos

Na construção da Administração, várias escolas de pensamentos influen-ciaram com seus conceitos e teorias. Nesta aula é importante você já ter estu-dado e compreendido a perspectiva clássica da Administração que vimos nas aulas anteriores. É importante perceber as contribuições, evoluções e críticas de cada escola de pensamento, para que você tenha uma compreensão lógica e um entendimento claro dessas teorias.

Introdução

A Burocracia, a Administração Científica e a Teoria Clássica da Administração compõem a tríade que completa a perspectiva clássica da Administração. Nos três casos, a análise nos leva à observação de estruturas mecanicistas, mas com trajetórias e variáveis independentes.

As críticas feitas à Teoria Clássica (mecanicismo) e à Teoria das Relações Humanas (que veremos em nossa próxima aula), indicavam a falta de uma teoria mais sólida e abrangente, e que pudesse orientar o trabalho do admi-nistrador. O sociólogo alemão Max Weber, com seus estudos, serviu de inspi-ração para uma nova teoria da organização.

Aula 4Perspectiva Clássica: Teoria da

Burocracia

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

50 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Segundo Silva (2001, p. 160), do ponto de vista da perspectiva clássica, uma organização é a estrutura de relacionamentos, poder, objetivos, papéis, atividades, comunicações e outros fatores que existem quando pessoas traba-lham juntas. Como mencionamos, Max Weber é a nossa referência teórica neste momento. Vamos conhecê-lo um pouco melhor?

4.1 Max Weber

Max Weber (1864-1920) foi um sociólogo alemão que desenvolveu estudos nos quais analisava as grandes organizações da época, chamando-as de Burocracias. Outro foco importante de seus estudos foi a estrutura da auto-ridade, que veremos adiante.

Foi professor universitário por quase toda a vida. Na universidade adquiriu e desenvolveu sua sólida formação em áreas como História, Literatura, Psicologia, Teologia, Filosofia e Filologia. Analisando a “geografia” dos estudos sobre a administração, percebemos certos lapsos de tempo entre o desenvolvimento de seus estudos (como os estudos de Fayol, na Europa) e a sua efetiva imple-mentação nos Estados Unidos, que emergia fortemente como potência econô-mica. Os trabalhos de Weber, portanto, permaneceram sem reconhecimento nos Estados Unidos até a década de 1940.

Quanto mais as organizações cresciam em tamanho e complexidade, maior a busca por teorias mais completas. Nesse sentido apontou-se para Max Weber, e o seu modelo burocrático de organização. Cronologicamente, os estudos e trabalhos de Taylor, Fayol e Weber foram paralelos, o que, certa-mente, auxiliou o desenvolvimento da ciência da Administração.

Vamos conhecer de forma mais aprofundada esses estudos?

4.2 A origem da Burocracia

A Burocracia é um modelo de organização humana fundamentado na racionalidade, isto é, em uma eficaz adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos. E qual o objetivo desta racionalidade? Garantir a máxima efici-ência possível no alcance desses objetivos.

Fundamentalmente, as concepções da Burocracia foram influenciadas por análises da administração pública, que se constituía como o campo lógico de aplicação de tais idéias e concepções. É importante ressaltarmos que em todos os tipos de atividades administrativas a Burocracia faz-se necessária. Sei que talvez você, influenciado por definições usuais, e pelo senso comum, ache esta

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 51

afirmação equivocada, mas ao final de nossa aula, terá um perfeito entendi-mento do que isso significa. Vamos em frente? Qual era mesmo a formação de Weber? Sociólogo, muito bem! Assim sendo, iniciou seus estudos a partir da análise dos tipos de sociedade existentes. Vamos entender isso?

4.3 Tipos de sociedade

Em seus estudos, Weber identificou três diferentes tipos de sociedade. Vamos conhecê-las!

Segundo Chiavenato (2003, p. 258), Weber distinguiu a sociedade desta forma:

sociedade tradicional• – em que características predominantes são o patriarcalismo e o patrimonialismo, que podem ser vistos em famílias, clãs e sociedades medievais;

sociedade carismática• – as características desse tipo de sociedade são o misticismo, o personalismo como vimos em grupos revolucionários, nos partidos políticos, etc.;

sociedade legal, racional ou burocrática • – normas impessoais, racio-nalismo e critérios são a base deste tipo de sociedade. Temos como exemplo os Estados modernos, exércitos e grandes corporações.

E aí vem a aplicação destes conceitos nas empresas. De forma análoga, as relações sociais baseiam-se no tipo de autoridade empregada nos relacio-namentos. Vejamos!

4.4 Tipos de autoridade

A cada tipo de sociedade corresponde, para Weber, um tipo de autori-dade. “Autoridade significa a probabilidade de que um comando ou ordem específica seja obedecido” (WEBER, citado por CHIAVENATO, 2003, p. 259). A autoridade representa o poder oficializado. Poder implica poten-cial para exercer influência sobre as outras pessoas. Poder significa, para Weber, a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra qualquer forma de resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade. O poder, portanto, é a possibilidade de imposição de arbítrio por parte de uma pessoa sobre a conduta das outras. A autoridade proporciona o poder: a recíproca nem sempre é verdadeira, pois depende da legitimidade.

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

52 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

A legitimidade é o motivo que explica por que um determinado número de pessoas obedece às ordens de alguém, conferindo-lhe poder. A autoridade é legítima quando é aceita (CHIAVENATO, 2003). Weber estabelece uma tipo-logia de autoridade, baseando-se não nos tipos de poder utilizados, mas nas fontes e tipos de legitimidade aplicados. Ele aponta três tipos de autoridades legítimas, com características similares às das sociedades:

autoridade tradicional• : os subordinados aceitam as ordens dos supe-riores como justificadas porque essa sempre foi a maneira pela qual as coisas foram feitas. O domínio patriarcal do pai de família, do chefe do clã, configura-se como o tipo mais puro de autoridade tradicional;

autoridade carismática• : os subordinados aceitam as ordens do supe-rior como justificadas pela influência da personalidade e da liderança do superior com o qual se identificam. Carisma é um termo usado ante-riormente com sentido religioso, significando o dom gratuito de Deus, estado de graça, etc. Weber e outros usaram o termo com o sentido de uma qualidade extraordinária e indefinível de uma pessoa. Não pode ser delegado, nem recebido em herança, como o tradicional. O líder se impõe por possuir habilidades mágicas, revelações de heroísmo ou poder mental de locução e não devido a sua posição ou hierarquia;

autoridade legal, racional ou burocrática• : quando os subordinados aceitam as ordens dos superiores como justificadas porque concordam com um conjunto de preceitos ou normas que consideram legítimos. É o tipo de autoridade técnica, meritocrática. A obediência não se relaciona às pessoas, por suas qualidades pessoais excepcionais ou pela tradição, mas a um conjunto de regras e regulamentos legais previamente estabe-lecidos. Na dominação legal, o aparato administrativo é a Burocracia.

4.5 Características da Burocracia segundo Weber

Popularmente, o termo Burocracia é entendido como algo que atrapalha ou dificulta a vida dos clientes em relação aos produtos/serviços prestados por uma empresa ou organização onde o papelório se multiplica, onde há fila, demora e carimbos mil, impedindo soluções rápidas ou eficientes. Nós costu-mamos dar o nome de Burocracia aos defeitos das organizações (disfunções) e não à organização em si. O conceito de Burocracia para Max Weber é exata-mente o contrário. A Burocracia é o exemplo de organização eficiente. Para conseguir eficiência, a Burocracia detalha como as coisas devem ser feitas. Por

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 53

isso fizemos menção anterior ao termo, em senso comum. Aqui, nosso objetivo e quebrar este paradigma, esta lógica.

Segundo Max Weber, citado por Chiavenato (2003, p. 262), a Burocracia tem as características que você vê a seguir.

1. Caráter legal das normas e regulamentos: a organização é regida por normas e regulamentos estabelecidos previamente, por escrito.

2. Caráter formal das comunicações: a organização é ligada por comuni-cações escritas. As regras, decisões e ações administrativas são formu-ladas e escritas.

3. Caráter racional e divisão do trabalho: caracteriza-se por uma sistemá-tica divisão do trabalho. A divisão do trabalho atende a uma raciona-lidade, isto é, ela é adequada aos objetivos a serem atingidos.

4. Impessoalidade nas relações: a distribuição das atividades é feita impessoalmente, ou seja, em termos de cargos e funções e não de pessoas envolvidas.

5. Hierarquia da autoridade: cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. Nenhum cargo fica sem controle ou supervisão.

6. Rotinas e procedimentos padronizados: a Burocracia é uma organi-zação que fixa as regras e normas técnicas para o desempenho de cada cargo. O ocupante de um cargo – o funcionário – não faz o que quer, mas o que a Burocracia impõe que ele faça.

7. Competência técnica e meritocracia: a Burocracia é uma organização na qual a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica e não em preferências pessoais. A admissão, transferência e promoção dos funcionários são baseadas em critérios válidos para toda a organização, de avaliação e classificação, e não em critérios particulares e arbitrários.

8. Especialização da Administração: a Burocracia é uma organização que se baseia na separação entre a propriedade e a Administração. Os membros do corpo administrativo estão separados da propriedade dos meios de produção. O dirigente não é necessariamente o dono do negócio ou grande acionista da organização, mas um profissional que se especializa em gerir a organização.

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

54 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

9. Profissionalização dos participantes: a Burocracia é uma organização que se caracteriza pela profissionalização dos participantes.

10. Completa previsibilidade do funcionamento: pressuposição de que o comportamento dos trabalhadores é perfeitamente previsível: todos os funcionários deverão comportar-se de acordo com as normas e regu-lamentos. Tudo na Burocracia é estabelecido para prever todas as ocorrências e rotinizar sua execução, para que a máxima eficiência do sistema seja plenamente alcançada. Weber não previu nenhuma variação no comportamento humano dentro da organização. A Burocracia assenta-se em uma visão padronizada do comportamento humano. Ele não considera a organização informal, ela aparece como fator de imprevisibilidade das Burocracias, pois o sistema social racional puro de Weber pressupõe que as reações e o comportamento humano sejam perfeitamente previsíveis.

4.6 Vantagens da Burocracia

Weber viu inúmeras razões para explicar o avanço da Burocracia sobre as outras formas de associação. As vantagens da Burocracia, para Weber, citado por Chiavenato (2003, p. 266), são:

a) racionalidade em relação ao alcance dos objetivos propostos pela organização;

b) precisão na definição dos cargos e operações, pelo conhecimento exato das atribuições e deveres;

c) rapidez nas decisões, pois cada um sabe o que deve ser feito e por quem, as ordens e papéis tramitam por meio de canais previamente estabelecidos;

d) univocidade de interpretação garantida pela regulamentação especí-fica e escrita. Por outro lado, a informação é discreta, pois é fornecida apenas a quem interessa, a quem deve recebê-la;

e) uniformidade de rotinas e procedimentos que favorecem a padroni-zação, a conseqüente redução de custos e erros, pois as rotinas são definidas por escrito;

f) continuidade da organização por meio da substituição do pessoal que é afastado. Além disso, os critérios de seleção e escolha do pessoal baseiam-se na capacidade, na competência técnica, na meritocracia;

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 55

g) redução do atrito entre as pessoas, pois todos conhecem suas atribuições e quais são os limites entre suas responsabilidades e as dos outros;

h) constância, pois os mesmos tipos de decisão devem ser tomados em circunstâncias similares;

i) confiabilidade, pois o negócio é conduzido por meio de regras pré-definidas e conhecidas, e os casos similares são tratados da mesma forma. As decisões são previsíveis e o processo decisório é despersonalizado;

j) benefícios para as pessoas na organização, pois a hierarquia é forma-lizada, o trabalho é dividido entre as pessoas de maneira ordenada, as pessoas são treinadas para se tornarem especialistas, podendo encarreirar-se na organização em função de seu mérito. Além disso, o trabalho é profissionalizado, o nepotismo é evitado e as condições de trabalho favorecem a moralidade econômica e dificultam a corrupção.

4.7 Disfunções da Burocracia

As disfunções da Burocracia são os efeitos não previstos por Weber, e são características apresentadas por organizações que fazem aplicação inade-quada dos princípios burocráticos. No quadro a seguir, conceituamos algumas características da Burocracia e seu contraponto, as disfunções.

As disfunções da Burocracia, e a comparação com seus aspectos formais, segundo Chiavenato (2003, p. 269), são as que aparecem no quadro a seguir.

CARACTERíSTICAS DA BuROCRACIA DISFuNçõES DA BuROCRACIA

1. Caráter legal das normas

2. Caráter formal das comunicações3. Divisão do trabalho4. Impessoalidade no relacionamento5. Hierarquização da autoridade6. Rotinas e procedimentos7. Competência técnica e mérito8. Especialização da administração9. Profissionalização

1. Internalização das normas2. Excesso de formalismo e papelório3. Resistência a mudanças4. Despersonalização do relacionamento5. Categorização do relacionamento6. Superconformidade7. Exibição de sinais de autoridade8. Dificuldades com clientes

Previsibilidade do funcionamento Imprevisibilidade do funcionamento

Para concluir, o que deu para perceber nesta aula? Creio que você tenha desmistificado o termo Burocracia. O que nós criticamos e estigmatizamos

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

56 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

como o que emperra e dificulta o bom funcionamento das organizações não é exatamente a Burocracia, e sim suas disfunções.

Creio que este esclarecimento seja útil para que você entenda a necessidade de burocratizarmos as organizações, mas de forma adequada, com medida.

Síntese da aula

Nesta aula, vimos a importância da Teoria da Burocracia e seus princípios para a Administração. Vimos as características, as vantagens e as disfunções da Burocracia, que são os resultados indesejados, provenientes da aplicação inadequada dos princípios inicialmente propostos por Max Weber.

Você estudou também a origem da Burocracia, os tipos de sociedade (tradi-cional, carismática e burocrática), os tipos de autoridade (tradicional, carismática e burocrática), as características, as vantagens e as definições da Burocracia.

Atividades

1. A Burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na meca-nicidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficácia possível no alcance desses objetivos.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

2. A legitimidade é o motivo que explica porque um determinado número de pessoas obedece às ordens de alguém, conferindo-lhe poder. A autori-dade é legítima quando é aceita.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

3. Assinale a alternativa correta. Weber viu inúmeras razões para explicar o avanço da Burocracia sobre as outras formas de associação. As vantagens da Burocracia, para ele, são:

a) racionalidade, univocidade de interpretação, uniformidade de rotinas e incentivos sociais aos trabalhadores;

b) continuidade da organização, definição precisa de cargos e operação e duplicidade de interpretação devido às comunicações formais;

c) rapidez nas decisões, confiabilidade, centralização de autoridade, multiplicidade de comando e escalões hierárquicos;

d) confiabilidade, constância, racionalidade e redução de atrito entre as pessoas.

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 57

4. Qual das afirmações a seguir não é uma disfunção da Burocracia?

a) Exagerado apego aos regulamentos.

b) Resistência às mudanças.

c) Impessoalidade no relacionamento.

d) Racionalidade nas decisões.

Comentário das atividades

Na atividade 1, você deve ter percebido que a afirmação é falsa, pois a Burocracia é um modelo de organização humana fundamentado na racionali-dade e não mecanicidade. Já na atividade 2, a afirmação é verdadeira; pois a aceitação da autoridade, advinda da legitimidade, auxilia a organização a racionalizar o seu processo decisório.

Na atividade 3, a alternativa correta é a letra (d). Outras vantagens são a precisão dos cargos e operações, a rapidez nas decisões, a univocidade de inter-pretação, a uniformidade de rotinas, a continuidade da organização e os benefícios para as pessoas. Já as alternativas (a), (b) e (c) são erradas porque contemplam, no mínimo, uma característica não prevista no modelo burocrático de Weber.

Na última atividade, para finalizarmos o entendimento sobre a Burocracia, indicamos afirmações relacionadas às disfunções da Burocracia. A racionalidade é um dos objetivos esperados, portanto a alternativa correta é a (d). Todas as outras afirmações configuram-se como características da Burocracia, e não disfunções.

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula

Você deve ter reparado que agora começamos a falar sobre a importância das pessoas. A partir de agora, começaremos a nos preocupar com as decor-rências de tais estudos e as aplicabilidades e relações com nossas organizações. Vamos em frente!

AUlA 4 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

58 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Anotações

AUlA 5 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 59

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

compreender a mudança da Teoria Administrativa, da ênfase nas •tarefas e estruturas para a ênfase nas pessoas, por meio da influ-ência da psicologia industrial e das contribuições da experiência de Hawthorne;

conhecer as decorrências da Teoria das Relações Humanas, enfati-•zando a motivação, a liderança e as comunicações.

Pré-requisitos

Para melhor acompanhar esta aula é necessário que tenha compreendido bem os conceitos e conteúdos abordados anteriormente, tendo a capacidade de relacionar as ênfases de cada teoria, desde Taylor (tarefa), Fayol (estrutura) e Weber (autoridade), bem como suas contribuições para o desenvolvimento da Administração. Estes conhecimentos são importantes, pois são a base, a história e parte da evolução da administração. Nesta aula perceberemos que a ênfase se transferiu para as pessoas que fazem parte da organização.

Introdução

A Abordagem Humanística nasce por volta de 1930 como um movimento de oposição à Teoria Clássica que era vista, principalmente pelos trabalhadores e sindicalistas da época, como exploradora e desumana. Ela traz consigo uma verdadeira revolução para a administração: a ênfase passa da tarefa ou estru-tura para o foco nas pessoas. A máquina, a sistemática de trabalho e a organi-zação formal dão lugar aos aspectos comportamentais, sociais e psicológicos das pessoas em seu ambiente de trabalho.

Aula 5Perspectiva Humanística:

Escola das Relações Humanas

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Estudiosos como Mary Parker Follet, Robert Owen, Oliver Sheldon e Chester Irving Barnard são os precursores da Teoria das Relações Humanas com suas importantes experiências que serviram como uma preparação para a implan-tação dos ideais da Escola Humanística ou das Relações Humanas.

Fatores como enfraquecimento do sindicalismo, a expansão da filosofia do Humanismo Industrial e as experiências de Hawthorne motivam o movi-mento. Em especial as experiências de Hawthorne, conduzidas por Elton Mayo a partir de 1923, sobre o comportamento humano e suas relações com o trabalho, foram decisivas para consolidar esta escola de pensamento.

As decorrências de todo este movimento e suas contribuições mudaram a forma de lidar com as pessoas e a própria linguagem nas organizações que passaram a estudar e adotar estratégias a partir da motivação, liderança, comunicação, a descoberta da organização informal e o estudo da dinâmica de grupo. Deixa-se de lado o mecanicismo e racionalização do trabalho e passa-se a enxergar o homem como um ser social que é influenciado pelo meio e tem necessidades básicas que precisam ser satisfeitas. Depois desta breve introdução, você já deve estar ansioso para sugar mais este conhecimento. Então não perca tempo, mergulhe fundo!!!

5.1 Teorias de Transição

São teorias que, apesar de defenderem princípios clássicos, já constavam críticas, revisões e reformulações que se transformaram na base para o advento da Teoria das Relações Humanas. Estes autores são classificados como autores de transição entre o classicismo e o humanismo. Na tabela a seguir obser-vam-se algumas contribuições destes autores.

Tabela 1 – Autores das Teorias Transitivas

AuTORES ANO PRINCIPAIS CONTRIBuIçõESHugo Munsterberg

(1863-1916)Foi o introdutor da psicologia aplicada nas organiza-ções e do uso de testes de seleção de pessoal.

Ordway Tead

(1860-1933)Foi o pioneiro a tratar da liderança democrática na administração.

Mary Parker Follet

(1868-1933)

Introduz a Lei da Situação: é a situação concreta que deve determinar o que é certo e o que é errado. Toda decisão é um momento de um processo e se torna impor-tante conhecer o contexto desse processo.

Chester Barnard

(1886-1961)

Introduziu a teoria da cooperação na organização. Como as pessoas têm limitações pessoais – biológicas, físicas e psicológicas – elas precisam superá-las por meio do trabalho conjunto.

Fonte: Chiavenato (2003, p. 98).

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Mary Follett (1868-1933) se destaca antecipando muitos dos conceitos e conclusões da experiência de Hawthorne, que estudaremos mais adiante. Uma das suas teorias é o Princípio do Grupo. Segundo Silva (2001, p. 187), citando Follet, “a verdade individual é a verdade do grupo” e que “o homem não pode ter direitos fora da sociedade ou independente da sociedade ou contra a sociedade”. A autora também formula A Lei da Situação, em que acredita que a situação concreta é que governa as ordens e a atenção que as pessoas darão a estas ordens, ou seja, os elementos subjetivos, tais como a vontade pessoal da liderança, devem ser afastados do processo de decisão e que a situação é que deve estabelecer o que é certo e o que é errado.

Chester Barnard (1886-1961) também merece destaque por sua teoria A Natureza do Sistema Social Cooperativo, onde enxergava a organização formal como um sistema cooperativo em que as pessoas só funcionam em conjunto com outras pessoas, em uma interação de relacionamentos sociais. Também esta-beleceu as funções básicas do executivo em três categorias: prover um sistema de comunicação, promover a garantia dos esforços pessoais, para estabelecer uma relação cooperativa e formular e definir objetivos da organização. Estas teorias abriram espaço para grandes discussões acerca do comportamento humano dentro das organizações e, aliadas às contribuições de Elton Mayo, consolidaram o movimento das Relações Humanas. Conheçamos agora um pouco deste autor revolucionário?

5.2 Elton Mayo (1880-1949)

De acordo com Silva (2001, p. 201), Mayo nasceu em Adelaide, na Austrália, foi um psicólogo que trabalhou a maior parte de sua vida na Harvard Business School, e certamente foi o mais importante incentivador e protagonista da Teoria das Relações Humanas. Mayo foi o responsável pela coordenação e realização da experiência de Hawthorne – detalhada a seguir – que desenca-deou uma série de descobertas sobre o comportamento humano no trabalho. Realizou quatro estudos importantes entre 1923 e 1944.

O primeiro desses estudos foi desenvolvido em uma fábrica de tecidos na Filadélfia, onde ocorria uma intensa troca de funcionários que se demons-travam tristes e deprimidos. Mayo acreditava que isto estava relacionado à fadiga, então, estabeleceu períodos de descanso ao longo do dia, o que não provocou grandes resultados. Houve significativa mudança no comportamento dos operários quando eles passaram a participar da decisão de estabelecer os períodos mais convenientes ao descanso.

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O segundo estudo desenvolvido foi à experiência na fábrica de Hawthorne. Mas esta será melhor detalhada a seguir.

O terceiro estudo se desenvolveu em três indústrias metalúrgicas, em uma cidade da costa ocidental dos Estados Unidos, em que ocorria um alto índice de absenteísmo (falta de participação, de envolvimento efetivo), exceto em uma. Mayo descobriu que, nesta, o grupo tinha sua reputação valorizada, em conseqüência de treinamento dos chefes feito muito tempo antes, no sentido de preservar a dignidade pessoal do empregado e respeitá-los.

A quarta pesquisa foi realizada em uma fábrica de aviões, em 1944, no sul da Califórnia, em que se constatava alta rotatividade da mão-de-obra – chamamos isto de turn-over. Mayo verificou que destacava-se um grupo com espírito de equipe criado pelos gerentes, que motivavam a solidariedade com os demais participantes do grupo.

O livro Problemas humanos de uma civilização industrial, do próprio Mayo, é considerado a bíblia deste movimento, e foi publicado em 1933.

Vamos estudar melhor essa Teoria?

5.3 A experiência de Hawthorne: desenvolvimento, conclusões e contribuições

Estes experimentos foram realizados na fábrica de equipamentos e compo-nentes telefônicos, Western Eletric Co, no bairro de Hawthorne, em Chicago e são de extrema importância na teoria das organizações, por diversas razões. Primeiro, porque é a partir desses estudos que os teóricos das organizações começaram a aprender como o trabalho de grupos, as atitudes e as necessi-dades dos empregados afetavam sua motivação e comportamento. Segundo, porque o programa pesquisou e mostrou a enorme complexidade do problema da produção em relação à eficiência (produtividade).

Os estudos de Hawthorne, que se desenvolveram de 1924 a 1932, foram divididos em quatro fases ou experiências, conforme veremos a seguir.

a) Primeira fase – os estudos da iluminação. Formaram-se dois grupos de operários que faziam tarefas similares e em condições idênticas. Um desses grupos (observação) trabalhava sob intensidade de luz vari-ável, enquanto o outro grupo (controle) tinha intensidade constante. Pretendia-se saber se o efeito da iluminação tinha relação com a produ-tividade dos operários. Os observadores não encontraram correlação

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 63

direta entre as variáveis, mas verificaram, desapontados, a existência de uma variável complicada de se isolar, denominada fator psicológico. Os operários reagiam à experiência de acordo com seus conceitos pessoais, ou seja, eles viam-se na obrigação de produzir mais quando a intensidade de iluminação aumentava, ao contrário, de quando diminuía. Comprovou-se a predominância do fator psicológico sobre o fator fisiológico: a eficiência dos operários é afetada por condições psicológicas. A partir disso, os pesquisadores eliminaram esta fase da experiência, por acreditar que os estudos poderiam ser atrapalhados.

b) Segunda fase – os estudos da sala de teste (1927). Foi criado um grupo de observação (ou grupo experimental): cinco moças montavam os relés, enquanto uma sexta operária fornecia as peças para abastecer o trabalho. O equipamento de trabalho era idêntico ao utilizado no departamento, apenas incluindo um plano inclinado com um contador de peças que marcava a produção em fita perfurada. A produção foi o índice de comparação entre o grupo experimental (sujeito a mudanças nas condições de trabalho) e o grupo de controle (trabalho em condi-ções constantes).

O grupo experimental tinha um supervisor, como no grupo de controle, além de um observador que permanecia na sala e observava o trabalho e assegurava o espírito de cooperação das moças. Elas foram convidadas para participar na pesquisa e esclarecidas quanto aos seus objetivos: determinar o efeito de certas mudanças nas condi-ções de trabalho (períodos de descanso, lanches, redução no horário de trabalho, etc.). A pesquisa com o grupo experimental foi dividida em 12 períodos, conforme tabela a seguir.

Tabela 2 – Períodos e observações da pesquisa de Hawthorne

Nº OBSERVAçõES

1ºEstabelecimento da capacidade produtiva (2.400 unidades semanais por força) que passou a ser comparada com a dos demais períodos.

2ºO grupo experimental foi isolado na sala de provas, mantendo-se as condições e o horário de trabalho normais e medindo-se o ritmo de produção. Verificou-se o efeito da mudança de local de trabalho.

Modificou-se o sistema de pagamento. No grupo de controle havia o pagamento por tarefas em grupo. Os grupos eram numerosos – compostos e as variações de produção de cada moça eram diluídas na produção e não se refletiam no salário individual. No grupo expe-rimental, como ele era pequeno, os esforços individuais repercutiam diretamente no salário. Verificou-se aumento de produção.

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Nº OBSERVAçõES

Marca o início da introdução de mudanças no trabalho; um intervalo de cinco minutos de descanso no período da manhã e outro igual no período da tarde. Verificou-se novo aumento de produção.

5ºOs intervalos de descanso foram aumentados para dez minutos cada, verificando-se novo aumento de produção.

6ºIntroduziram-se três intervalos de cinco minutos na manhã e três à tarde. A produção não aumentou, havendo queixas das moças quanto à quebra do ritmo de trabalho.

7ºVoltou-se a dois intervalos de dez minutos, em cada período, servindo-se um lanche leve. A produção aumentou novamente.

Foram mantidas as mesmas condições do período anterior, e o grupo experimental passou a trabalhar até às 16h30min e não até as 17 horas, como o grupo de controle. Houve acentuado aumento da produção.

9ºO grupo experimental passou a trabalhar até as 16 horas. A produção permaneceu estacionária.

10ºO grupo experimental voltou a trabalhar até as 17 horas, como no 7º. A produção aumentou bastante.

11ºEstabeleceu-se a semana de cinco dias, com sábado livre. A produção diária do grupo experimental continuou a subir.

12º

Voltou-se às mesmas condições do 3º período, tirando-se todos os benefícios dados, com o assentimento das moças. Esse período, último e decisivo, durou 12 semanas. Inesperadamente a produção atingiu um índice jamais alcançado anteriormente (3.000 unidades semanais por moça).

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 103-104).

A experiência trouxe as seguintes conclusões:

as moças gostavam de trabalhar na sala de provas porque era •divertido e a supervisão branda (ao contrário da supervisão de controle rígido na sala de montagem) permitia trabalhar com liber-dade e menor ansiedade;

havia um ambiente sem pressões, no qual a conversa era permi-•tida, o que aumentava a satisfação no trabalho;

não havia temor ao supervisor, pois esse funcionava como •orientador;

houve um desenvolvimento social do grupo experimental. As moças •faziam amizade entre si e tornaram-se uma equipe;

o grupo desenvolveu objetivos comuns, como o de aumentar o ritmo •de produção, embora fosse solicitado a trabalhar normalmente.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 65

c) Terceira fase – o programa de entrevistas. Preocupados com a dife-rença de atitudes entre as moças do grupo experimental e as do grupo de controle, os pesquisadores se afastaram do objetivo inicial de verificar as condições físicas de trabalho e passaram a se fixar no estudo das relações humanas no trabalho. Assim, em 1928, iniciou-se o Programa de Entrevistas (Interviewing Program) com os empre-gados para conhecer suas atitudes e sentimentos, ouvir suas opiniões quanto ao trabalho e tratamento que recebiam, bem como ouvir suges-tões a respeito do treinamento dos supervisores. O programa obteve bons resultados e, em função disso, foi criada a Divisão de Pesquisas Industriais para ampliar o programa de entrevistas e entrevistar anual-mente todos os empregados. Para uma empresa com mais de 40.000 empregados, o plano se revelou ambicioso. Entre 1928 e 1930 foram entrevistados cerca de 21.126 empregados. Em 1931, adotou-se a técnica da entrevista não diretiva, que permitia que os operários falassem livremente, sem que o entrevistador desviasse o assunto ou tentasse impor um roteiro prévio.

d) Quarta fase – os estudos da sala de observação de montagem de terminais. Para analisar a relação entre a Organização Informal e a Organização Formal da Fábrica, foi escolhido um grupo experimental para trabalhar em uma sala especial com condições de trabalho idênticas às do departamento. Um observador na sala e um entre-vistador entrevistaram o grupo. Sistema de pagamento baseado na produção do grupo: o salário só poderia ser maior se a produção total aumentasse. O observador pôde notar que os operários dentro da sala usavam uma porção de artimanhas – logo que os operários montavam o que julgavam ser a sua produção normal, reduziam seu ritmo de trabalho. Os operários passaram a apresentar certa unifor-midade de sentimentos e solidariedade grupal. O grupo desenvolveu métodos para assegurar suas atitudes pressionando os mais rápidos para estabilizarem sua produção por meio de punições simbólicas.

5.4 Conclusões e contribuições da experiência de Hawthorne

Produtividade x integração social, comportamento social dos empregados, recompensas e sanções sociais, grupos informais, relações humanas, impor-tância do conteúdo do cargo e aspectos emocionais foram algumas das princi-pais temáticas pesquisadas e que resultaram nas seguintes contribuições:

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a) nível de produção resultante da integração social. O nível de produção não é determinado pela capacidade física ou fisiológica do empregado, mas por normas sociais e expectativas grupais. Quanto maior a integração social do grupo, maior a disposição para trabalhar;

b) comportamento social dos empregados. Os trabalhadores não agem/reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de grupos. Portanto, a administração não pode tratar os empregados um a um, mas sim como membros de grupos e sujeitos às influências sociais desses grupos;

c) recompensas e sanções sociais. Para a Teoria das Relações Humanas, a motivação econômica é secundária na determinação do rendi-mento do trabalhador, as pessoas são motivadas pela necessidade de reconhecimento, de aprovação social e participação nas ativi-dades dos grupos sociais nos quais convivem. Daí o conceito de homem social;

d) grupos informais. Enquanto os clássicos se preocupavam com aspectos formais da organização como autoridade, responsabilidade, especiali-zação, etc., os humanistas se concentravam nos aspectos informais da organização como grupos informais, comportamento social, crenças, atitude e expectativa, motivação, etc.;

e) relações humanas. As relações humanas são as ações e atitudes desenvolvidas a partir dos contatos entre pessoas e grupos. Cada pessoa possui uma personalidade própria e diferenciada que influi no comportamento e atitudes de outras pessoas;

f) importância do conteúdo do cargo. A especialização não é a maneira mais eficiente de divisão de trabalho. Trabalhos simples e repetitivos tornam-se monótonos e maçantes afetando negativamente a atitude do trabalhador e reduzindo a sua satisfação e eficiência;

g) ênfase nos aspectos emocionais. Os elementos emocionais não plane-jados e irracionais do comportamento humano merecem atenção espe-cial da Teoria das Relações Humanas.

O comportamento humano passou a ser objeto de estudo e desencadeou em uma série de pesquisas sobre a motivação, a liderança, a comunicação, a influência da organização informal e a dinâmica de grupo.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 67

5.5 Decorrência da Teoria das Relações Humanas

A abordagem humanística trouxe um olhar diferenciado para os traba-lhadores das organizações vendo-os como criaturas sociais, dotadas de senti-mentos, desejos e temores. Essa abordagem afirma que o comportamento humano é uma conseqüência de uma combinação de vários fatores motivacio-nais. As pessoas têm necessidades de diversos níveis que só são alcançadas na interação social, ou seja, por meio do grupo social a que estão ligadas.

5.5.1 A motivação humana

Chiavenato (2003, p. 117) cita que Kurt Lewin, um importante psicólogo da época, estudou o comportamento dos grupos e criou a Teoria do Campo que, segundo ele, o comportamento acontece em função ou resultado da inte-ração entre a pessoa e o meio ambiente que a rodeia. De acordo com Lewin, toda necessidade cria um estado de tensão no indivíduo e uma predisposição à ação. Satisfeita esta necessidade cria-se outra e assim por diante. Caso esta necessidade não seja satisfeita, cria-se um conflito ou uma frustração.

a) Necessidades humanas básicas. A compreensão da motivação das pessoas indica o conhecimento das suas necessidades. A Teoria das Relações Humanas, por meio de seus estudos, constatou a existência de necessidades humanas básicas. As necessidades motivam o comporta-mento humano, dando-lhe direção, norteando os seus passos. Que necessi-dades são essas? Veja no quadro a seguir.

Tabela 3 – Necessidades Humanas Básicas

a) Necessidades Fisiológicas: são as necessidades primárias, vitais, relacio-nadas com a sobrevivência do indivíduo. São inatas e instintivas, exigindo satisfação cíclica, periódica. As principais necessidades fisiológicas são as de alimentação, sono, atividade física, satisfação sexual, abrigo e proteção contra os elementos e de segurança física contra os perigos.

b) Necessidades Psicológicas: são necessidades secundárias e exclusivas do homem. São adquiridas por meio de nosso aprendizado, representando um padrão mais elevado e complexo de necessidades. São raramente satisfeitas em sua totalidade. O homem procura sempre satisfações de graus mais elevados. As principais necessidades psicológicas são as de segurança íntima, de participação, autoconfiança e afeição.

c) Necessidade de Auto-realização: são as necessidades de grau mais elevado. Decorrem da educação e da cultura das pessoas. Obviamente também são raramente satisfeitas em sua plenitude, pois o homem vai procurando maiores satisfações e estabelecendo metas cada vez maiores, mais sofisticadas. A necessidade de auto-realização é a síntese, a junção de todas as outras necessidades.

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 118).

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b) Ciclo motivacional, frustação e compensação. A motivação é o impulso que leva o indivíduo a um comportamento que vise a satisfazer uma ou mais necessidades (já falamos um pouco sobre isso). Daí advém o conceito de Ciclo Motivacional. O Homem permanece em estado de equilíbrio psicológico até que um estímulo quebre este equilíbrio, criando uma necessidade qualquer. Essa necessidade provoca um estado de tensão em substituição ao estado de equilíbrio anterior. A tensão leva, obrigatoriamente, a um comportamento ou ação para alcançar a satis-fação dessa necessidade. Quando a necessidade é satisfeita, retorna-se a seu estado de equilíbrio inicial até que outro estímulo sobrevenha.

Quando uma necessidade não é satisfeita dentro de algum tempo razoável, ela passa a ser um motivo frustrado. A frustração pode levar à agressividade, reações de ordem emocional ou também alie-nação e apatia.

5.5.2 Liderança

Enquanto a Teoria Clássica enfatizava a autoridade formal, considerando a chefia dos níveis hierárquicos superiores, a experiência de Hawthorne demons-trou a existência de líderes informais que comandavam os grupos, auxiliando os operários na coesão grupal. Conforme Chiavenato (2003) podemos classi-ficar os tipos de liderança como:

um fenômeno de influência interpessoal• : liderança é a influencia inter-pessoal exercida em uma situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana, para a consecução de um ou mais objetivos específicos. Ela é decorrente dos relacionamentos entre as pessoas em uma determinada estrutura social. Nada tem a ver com os traços pessoais de personalidade do líder. É uma força psicológica, uma transação interpessoal na qual uma pessoa age de modo a modificar o comportamento de outra;

um processo de redução da incerteza de um grupo• : liderança é um processo contínuo de escolha que permite à empresa caminhar em direção a sua meta, apesar de todas as perturbações internas e externas. O grupo tende a escolher como líder uma pessoa que pode lhe dar maior assistência e orientação (que escolha ou ajude o grupo a escolher os rumos e as melhores soluções para seus problemas) para que alcance seus objetivos;

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uma relação funcional entre líder e subordinados• : liderança é uma função das necessidades existentes em uma determinada situação e consiste em uma relação entre um indivíduo e um grupo. Esse conceito repousa em uma relação funcional em que um líder é perce-bido por um grupo como possuidor ou controlador dos meios para a satisfação de suas necessidades. O líder surge como um meio para a consecução dos objetivos desejados por um grupo. Indica o rumo para as pessoas;

um processo em função do líder, dos seguidores e de variáveis da •situação: liderança é o processo de exercer influência sobre pessoas ou grupos nos esforços para realização de objetivos em uma determi-nada situação. A liderança depende da conjugação de características pessoais do líder, dos subordinados e da situação que os envolve.

5.5.2.1 Teorias sobre liderança

A liderança constitui um dos temas mais estudados e pesquisados nas últimas décadas, e você certamente já viu livros, filmes e outras formas de abordagem desse fenômeno. Várias teorias sobre a liderança acompa-nharam o desenvolvimento da teoria administrativa e sua evolução passa pela evolução dos líderes e suas competências. Como demonstrado a seguir, as teorias sobre liderança podem ser classificadas em três grupos, segundo Faria (2002, p. 61).

a) Teoria de traços de personalidade. É a mais antiga das teorias sobre a liderança. Baseia-se na idéia de que o líder possui uma característica que o distingue dos demais, a partir de alguns traços, que são:

físicos – energia, aparência pessoal, estatura e peso;•

intelectuais – adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e •autoconfiança;

sociais – cooperação, habilidades interpessoais e habilidades •administrativas;

relacionados com a tarefa – impulso de realização, persistência •e iniciativa.

b) Teorias sobre estilos de liderança. Essas teorias estudam a liderança com base no comportamento do líder em relação aos subordinados. Se, no primeiro caso, o conceito baseia-se no que o líder é, neste,

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refere-se àquilo que ele faz. A teoria mais conhecida de estilo de comportamentos é a dos três estilos de liderança: autoritária, liberal e democrática de White e Lippitt. Os operários que tinham líderes auto-cráticos apresentavam a maior quantidade de trabalho produzido. Sob a liderança liberal não se saíram bem quanto à quantidade e quanto à qualidade. Com a liderança democrática, os grupos apre-sentaram um bom nível de produção, como observado, em que a liderança autocrática regia os trabalhos, mas apesar disso, com uma qualidade de trabalho superior.

O líder utiliza quase que obrigatoriamente os três mecanismos de lide-rança, dependendo da situação em que se encontra, das pessoas e da tarefa a ser executada. O líder ora manda que ordens sejam cumpridas, ora consulta os subordinados antes de decidir algo. A chave do sucesso é saber a hora e a maneira mais adequada de agir.

5.5.3 Comunicação

Conforme Chiavenato (2003, p. 128), a comunicação constitui um dos processos fundamentais da experiência humana e da organização social. É uma atividade administrativa que tem dois propósitos principais:

a) proporcionar inform ação e compreensão necessária para que as pessoas possam se conduzir em suas tarefas;

b) proporcionar as atitudes que promovam a motivação, a cooperação e a satisfação nos cargos.

Para a Teoria das Relações Humanas a comunicação é um fenômeno social e é importante instrumento de relacionamento e de entendimento das razões de tomada de decisões das organizações.

5.5.4 A organização informal

Ao conjunto de interações e relacionamentos que se estabelecem entre as pessoas denomina-se organização informal (FARIA, 2002, p. 64). Para melhor compreensão, é necessário pensarmos na composição formal da organização, que tem sua estrutura organizacional composta de órgãos, cargos, relações funcionais, níveis hierárquicos, etc. O comportamento dos grupos sociais está condicionado a dois tipos de organização: a formal ou racional e a organi-zação informal ou natural.

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A organização formal é conduzida pelas normas da instituição, pela lei, por uma política de gestão, e pelas especificações e padrões sugeridos para que os objetivos possam ser alcançados (esses padrões podem ser modificados pela empresa). A organização formal tem um caráter essencialmente lógico e extremamente racional.

A organização informal, por outro lado, possui uma característica forte, a espontaneidade. A organização informal concretiza-se nos usos e costumes, nas tradições, nos ideais e nas normas sociais que cada componente da orga-nização traz consigo. Traduz-se por meio de atitudes e disposições baseadas na opinião e no sentimento.

Segundo Chiavenato (2003, p. 131), a organização informal apresenta as seguintes características:

a) relação de coesão ou de antagonismo – as pessoas em associação com outras, situadas em diferentes níveis de setores da empresa, criam relações pessoais de simpatia (de identificação);

b) status – os indivíduos interagem em grupos informais, dentro dos quais cada um, independentemente de sua posição na organização formal, adquire certa posição social ou status em função do seu papel, parti-cipação e integração na vida do grupo;

c) colaboração espontânea – a organização informal é um reflexo de colabo-ração espontânea que pode e deve ser aplicado a favor da empresa;

d) a possibilidade da oposição à organização informal – quando não bem entendida ou manipulada inadequadamente, a organização informal pode se desenvolver em oposição à organização formal e em desarmonia com os objetivos da empresa;

e) padrões de relações e atitudes – os grupos informais desenvolvem, espontaneamente, padrões de relações e atitudes aceitos e assimi-lados pelas pessoas, pois são interesses e aspirações do grupo;

f) mudanças de níveis e alterações dos grupos informais – as pessoas participam de vários grupos informais pelas relações funcionais que mantêm com outras pessoas em outros níveis e setores da empresa;

g) a organização informal transcende a organização formal – a orga-nização informal é feita por interações e relações espontâneas, cuja duração e natureza superam as interações e relações formais.

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Há uma grande diferença, não é mesmo? Você já deve ter percebido, em sua empresa, o funcionamento desses dois tipos de organização. A partir desta aula, você tem uma compreensão mais clara de como se dá o funcio-namento harmonioso de uma organização, a partir da interação social.

5.6 Críticas à Teoria das Relações Humanas

Apesar das suas importantes contribuições, a Teoria das Relações Humanas entrou em declínio, a partir dos anos 50, e foi duramente criticada. Faria (2002, p. 70-71) relaciona, a seguir, as principais críticas:

a) oposição cerrada à Teoria Clássica – tudo aquilo que esta preconi-zava, a Teoria das Relações Humanas negava;

b) inadequada visualização dos problemas das relações industriais – a Teoria das Relações Humanas receberam uma interpretação inade-quada e distorcida; em alguns aspectos a experiência de Hawthorne foi insegura, artificial e mesmo tendenciosa;

c) concepção ingênua e romântica do operário – “um trabalhador feliz, produtivo e integrado no ambiente de trabalho”, esta era a visão que os autores faziam; comprovou-se depois, que nem sempre isso ocorreu;

d) limitação no campo experimental – o ambiente foi o mesmo das teorias anteriores: a fábrica; o comércio, os bancos, os hospitais, as universidades, etc., não foram alvo de pesquisas. Logo, os resul-tados foram limitados;

e) parcialidade nas conclusões – os aspectos informais são colocados em um plano superior e os formais relegados a um plano bem inferior;

f) ênfase nos grupos informais – a coesão grupal é colocada como fundamental para a produtividade; entretanto, pesquisas têm demons-trado não ser isto uma verdade, podendo até ocorrer o inverso;

g) enfoque manipulativo das Relações Humanas – no fundo, a Escola de Relações Humanas favoreceu à Administração; “ela desen-volveu uma sutil estratégia de enganar os operários, fazendo-os trabalhar mais e exigir menos”; segundo alguns estudiosos, esta manipulação visava a modificar o comportamento do empregado em favor da Administração.

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5.7 Teoria Clássica x Teoria das Relações Humanas

Tabela 4 – Quadro Comparativo: Teoria Clássica x Teoria das Relações Humanas

CARACTERíSTICAS TEORIA CLÁSSICA TEORIA DAS RELAçõES HuMANASEstrutura Mecanicista, impessoal. A organização é um sistema social.Comportamento na Organização

Produto de regras e regulamentos.

Produto de sentimentos e atitudes.

Foco

No trabalho e nas necessidades eco nô micas dos trabalhadores.

Nos pequenos grupos e nas quali-dades humanas e emocionais dos empregados.

Ênfase

Pessoas tentam maxi-mizar recompensas; ênfase na ordem e na racionalidade.

Ênfase na segurança pessoal e nas necessidades sociais dos traba-lhadores para alcance das metas organizacionais.

ResultadosAlienação no trabalho, insatisfação.

Empregados felizes tentando produzir mais.

Fonte: Adaptado de Silva (2001, p. 212).

Dessa forma concluímos que a perspectiva humanística transformou os conceitos até então vigentes da Teoria Clássica, enfocando muito mais as necessidades humanas e entendendo o comportamento das pessoas dentro das organizações a partir de experimentos e análises efetuados por diversos autores, conforme constatamos. Apesar das críticas e oposições recebidas a Teoria das Relações Humanas foi uma escola de pensamento que influenciou todo um contexto de uma época e até hoje é base para o entendimento da gestão de pessoas e das empresas.

Síntese da aula

Nesta aula, você teve a oportunidade de conhecer uma nova perspec-tiva da administração que, em oposição à Teoria Clássica, coloca o foco nas pessoas e não mais nas tarefas e/ou estruturas. Este movimento teve sua base construída por meio das teorias da transição que trouxeram os primeiros estudos sobre o comportamento humano, os grupos e a interação social.

Em seguida, as experiências de Hawthorne consolidam o movimento das Relações Humanas, compreendendo como o trabalho em grupo, suas atitudes e necessidades afetam a motivação e comportamento das pessoas e, conse-qüentemente, a produtividade era determinada por estes fatores. A motivação, a liderança, a comunicação e o grupo informal passam a receber grande importância. Esses estudos, apesar de bastante criticados, foram também muito badalados e difundidos na época.

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Atividades

1. Quais as principais contribuições das teorias de Mary Follett e Chester Barnard, que embasaram o advento da Teoria das Relações Humanas? Elabore um texto dissertativo de 20 linhas com suas percepções.

2. As conclusões da Experiência de Hawthorne são:

I. produtividade x integração social;

II. comportamento social dos empregados;

III. recompensas e sanções econômicas;

IV. grupos informais;

V. relações Humanas;

VI. importância do conteúdo do cargo;

VII. aspectos formais.

Assinale a alternativa correta.

a) I, II, V e VII estão falsas

b) todas estão falsas

c) I, II, IV, V estão corretos

d) todas estão incorretas

3. A teoria mais conhecida que explica a liderança por meio de estilo de comportamentos refere-se a três estilos: autoritária, liberal e democrática (White e Lippitt). Associe-as: (A) Autocrática – (B) Democrático – (C) Liberal

( ) Ênfase no líder e nos subordinados. As diretrizes são debatidas e deci-didas pelo grupo, estimulado e assistido pelo líder. O próprio grupo esboça as providências e as técnicas para atingir o alvo.

( ) Ênfase nos subordinados. Há liberdade completa para as decisões grupais ou individuais, com participação mínima do líder.

( ) A ênfase é centrada no líder. Ele fixa as diretrizes, sem nenhuma participação do grupo, determina providências e as técnicas para a execução das tarefas.

4. De acordo com o conteúdo desta aula, relacione os aspectos de moti-vação, liderança, comunicação e de grupo informal com os quais a empresa em que você trabalha (ou alguma do seu conhecimento) utiliza/aplica.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 75

Comentário das atividades

Essas atividades serão bastante úteis para reforçar e consolidar todo o conhecimento sobre a Perspectiva Humanística da Administração. Na ativi-dade 1, você deve resgatar um pouco do histórico das teorias de transição, destacando os principais autores e suas contribuições para o desenvolvi-mento e expansão da Teoria das Relações Humanas.

Na atividade 2, a alternativa (b) é a correta, pois estes aspectos foram objeto de estudo e conclusões nesta teoria. Já as outras alterna-tivas, naturalmente estão incorretas, pois tratam de aspectos trabalhados na Teoria Clássica.

Em relação à atividade 3 a seqüência correta é: (b), (c), (a). As próprias respostas justificam os conceitos de liderança autocrática, demo-crática e liberal.

Já na atividade 4, você deve levar em conta uma empresa do seu conhe-cimento e responder a alguns questionamentos, do tipo: como as pessoas são motivadas nessa empresa? Que tipo de liderança existe? Como se dá o processo de comunicação? De que forma o grupo informal age e como é percebido e gerenciado pela liderança?

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

FARIA, José Carlos. Administração: introdução ao estudo. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula

Veremos que os conceitos sobre o comportamento humano, principal-mente sobre a motivação e liderança, foram ampliados e fundamentaram uma nova perspectiva na história da Administração: o Comportamentalismo. Antes de passar para a próxima página, certifique-se de que já detém todos os conhecimentos aqui expostos. Aproveite, releia e estude muito. E agora, está pronto? Então siga em frente e sucesso!!!

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76 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Anotações

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 77

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

identificar os principais estudos e contribuições da Teoria •Comportamental no campo do comportamento humano, da motivação e da liderança;

relacionar as teorias, com a realidade atual das empresas, iden-•tificando sua importância e prática em benefício das pessoas e da própria organização.

Pré-requisitos

Para você ter um melhor aproveitamento nesta aula é fundamental que tenha compreendido os conteúdos apresentados nas aulas anteriores, e princi-palmente, os que estão relacionados com a Teoria das Relações Humanas, pois formam a base conceitual para a construção desta nova temática. É importante que você consiga fazer uma relação das teorias, para perceber a seqüência histórica e os fatos que transformaram o que hoje entendemos como teoria e prática da Administração. Vamos lá, então!!!

Introdução

A Escola Comportamental ou Behaviorista é um desdobramento da Teoria das Relações Humanas e surge no final da década de 1940. A ênfase também é nas pessoas, mas em um contexto organizacional muito mais amplo, no qual se deixam de lado as concepções ingênuas e românticas da Teoria das Relações Humanas e a ênfase excessiva nas tarefas e na estrutura da Teoria Clássica. Valorizam-se o comportamento humano e a motivação.

Aula 6Perspectiva Humanística:

Escola Comportamental

Behaviorista do termo em inglês behavior, que significa comportamento.

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78 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

A Teoria Comportamental da Administração tem o seu início com Kurt Lewin, Herbert Alexander Simon, Chester Barnard, Douglas McGregor, Rensis Likert, Chris Argyris que são autores importantíssimos dessa teoria. No campo da motivação humana, salientam-se Abraham Maslow, Frederick Herzberg, Clayton Alderfer, David C. McClelland, Victor Vroom, Stacy Adams, Skinner.

6.1 Dinâmica de grupo e suas características

Kurt Lewin (1890-1947), doutor em psicologia, nascido na Alemanha, foi uma das personalidades que marcaram a transição das relações humanas para o novo movimento da psicologia industrial, ou seja, a aplicação da ciência psicológica dentro das empresas.

Segundo Lewin, citado por Silva (2001, p. 218), o grupo é composto por um número restrito de pessoas (geralmente menos de sete), que gozam de livre interação durante um determinado período e se caracterizam pela solida-riedade, continuidade e duração da associação, tamanho, papel e natureza das tarefas do grupo, objetivos e produção grupal, autonomia e acomodação dentro da organização.

A formação do grupo se dá a partir do que se denomina consenso interpessoal, ou seja, o que se tem de comum entre os membros do grupo em termos de objetivos e os meios de alcançá-los resulta em solidariedade grupal. Esta solidariedade é determinada pela: interação, localização (proxi-midade entre as pessoas), interesse comum (elementos que constituem a força motivadora na coesão grupal), tamanho do grupo e a comunicação (para reduzir as tensões).

Silva (2001, p. 218) revela que, uma vez formados, esses grupos se estru-turam, controlam o comportamento dos seus participantes, tendem a resistir a mudanças e produzem líderes. E assevera que apesar das vantagens consta-tadas no trabalho de grupo, convém não perder de vista que a coesão pode funcionar em sentido oposto ao desejado pela administração da empresa, a ponto de influenciar as pessoas no sentido de diminuir a produção, fixar metas inferiores às previstas, produzir resistência à mudança ou sua aceitação.

Depois dos trabalhos de Kurt Lewin os estudiosos enfatizam os pequenos grupos e sua relação com a supervisão. Os estudos são divididos em duas cate-gorias: os autores que dão ênfase aos aspectos sociológicos (Chester Barnard, Herbert Simon e Philip Selznick) e os que enfatizam os aspectos psicológicos (Elton Mayo, Chris Argyris e Amitai Etzioni).

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 79

Então surge o comportamentalismo como um novo modelo de pesquisa, procurando deixar as idéias preconcebidas da dinâmica de grupo e desen-volver uma visão analítica e experimental. Será que isso vai dar certo? Vejamos então como se aplicou a ciência psicológica às organizações.

6.2 Origens da Teoria Comportamental

Segundo Chiavenato (2003, p. 328), a Teoria Comportamental é funda-mentada em alguns acontecimentos: oposição definitiva à Teoria das Relações Humanas; desdobramento da Teoria das Relações Humanas, com a qual se mostra eminentemente crítica e severa; crítica à Teoria Clássica; incorpo-ração da Sociologia da Burocracia; e a publicação dos trabalhos de Herbert Alexander Simon, que se destaca na tentativa de desenvolver uma ciência do comportamento humano isenta da consideração de valores.

Simon é bastante influenciado por Chester Barnard e cria o conceito de “homem satisfatório”, em que procurava demonstrar que o objetivo da adminis-tração não deveria ser maximizar a atividade e sim estabelecer uma estratégia ou “curso de ação” muito bom. Por isso, rejeita os fundamentos da racionali-dade, da teoria dos jogos e do processo decisório estatístico.

Observa-se neste momento que há um deslocamento da experiência cientí-fica racional para os aspectos subjetivos e pessoais do ser humano.

6.3 Novas proposições sobre a motivação humana

Na aula anterior, já estudamos sobre a motivação, lembra-se? Mas para explicar o comportamento organizacional, a Teoria Comportamental funda-menta-se no comportamento individual das pessoas. Para explicar como as pessoas se comportam, estuda-se a motivação humana, surgindo diversos olhares sobre a questão. Os autores dessas teorias verificaram que o adminis-trador precisa conhecer as necessidades humanas para melhor compreender o seu comportamento e utilizar a motivação como um excelente meio para melhorar a qualidade de vida das pessoas (colaboradores, empreendedores, parceiros, fornecedores, clientes, etc.) nas organizações. Analisemos agora algumas das principais linhas teóricas sobre a motivação.

6.3.1 Hierarquia das Necessidades de Maslow

A Teoria da Hierarquia das Necessidades de Abraham H. Maslow (1908-1970) é uma das mais conhecidas teorias sobre motivação no estudo da admi-

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

80 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

nistração e do comportamento organizacional. Esse autor propôs que as neces-sidades básicas sejam estruturadas em uma hierarquia de predominância e probabilidade de surgimento, com ascendência gradativa. Maslow estabeleceu sua teoria baseada na afirmação de que os indivíduos se comportam para suprir suas necessidades mais imediatas, que estão priorizadas na escala a seguir.

Tabela 5 – Hierarquia das Necessidades, segundo Maslow

Necessidades Fisiológicas

Intervalos de descanso; conforto físico; horário de trabalho razoável; alimentação, sono, desejo sexual, etc.

Necessidades de Segurança

Condições seguras de trabalho; remuneração e benefícios; esta-bilidade no emprego; proteção contra doenças e perigos, etc.

Necessidades Sociais

Amizade e colegas; interação com clientes; gerente amigável; aceitação pelo grupo.

Necessidade de Estima

Responsabilidade por resultados; orgulho e reconhecimento; promoções.

Necessidades de Auto-realização

Trabalho criativo e desafiante; diversidade e autonomia; partici-pação nas decisões.

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 329-330).

As necessidades humanas variam conforme o indivíduo, e não queira comparar suas neces-

sidades com as de seus colegas, pois é trabalho quase-perdido. A intensidade das

necessidades e sua manifestação são variadas e obedecem às diferenças

individuais entre as pessoas. Apesar disso, a Teoria da Hierarquia de Necessidades de Maslow se

fundamenta nos aspectos que você vê na figura ao lado.

a) é necessário satisfazer as necessidades dos níveis inferiores, pois somente quando este nível se encontra satisfeito é que o nível imedia-tamente mais elevado surge na pessoa. Em outros termos, quando uma necessidade é satisfeita, ela deixa de ser motivadora de comporta-mento, dando oportunidade a outra que mais elevada se manifeste;

b) nem todas as pessoas têm todas as necessidades propostas na pirâ-mide satisfeitas;

c) quando as necessidades mais baixas estão satisfeitas, as neces-sidades localizadas nos níveis mais elevados passam a dominar o comportamento;

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 81

d) a frustração ou a possibilidade de frustração da satisfação de certas neces-sidades passa a ser considerada uma ameaça psicológica. Essa ameaça produz as reações gerais de emergência no comportamento humano.

6.3.2 Teoria dos Dois Fatores de Herzberg

Frederick Herzberg (1923-2000) formulou essa teoria para explicar o comportamento das pessoas no trabalho. Para ele, existem dois fatores que influenciam o comportamento das pessoas: fatores higiênicos e fatores motiva-cionais. Esses dois fatores são independentes e responsáveis pela satisfação profissional das pessoas. São totalmente desligados e distintos dos fatores responsáveis pela insatisfação profissional. O oposto da satisfação profissional não é a insatisfação, mas ausência de satisfação profissional.

A Teoria dos Dois Fatores de Herzberg pressupõe os seguintes aspectos: a satisfação no cargo depende dos fatores motivacionais ou satisfacientes: o conteúdo ou atividades desafiantes e estimulantes do cargo desempenhado pela pessoa; e a insatisfação no cargo depende dos fatores higiênicos ou insa-tisfacientes: o ambiente de trabalho, salário, benefícios recebidos, supervisão, colegas e contexto geral que envolve o cargo ocupado.

6.3.3 Teoria ERC

Desenvolvida por Clayton Alderfer esta teoria é considerada uma variação da teoria de Maslow. Estabelece apenas três níveis de necessidades.

a) Necessidades de existência (E) – o desejo de bem-estar fisiológico e material.

b) Necessidades de relacionamento (R) – o desejo de satisfação das rela-ções interpessoais.

c) Necessidades de Crescimento (C) – o desejo de crescimento continuado e desenvolvimento pessoal.

Alderfer define um componente denominado frustação-regressão para a situação em que o indivíduo não consegue satisfazer uma necessidade de nível mais alto, então se frustra e retorna ativando o nível anterior.

6.3.4 Teoria x e Teoria Y

Douglas M. McGregor (1906-1964) compara dois estilos opostos e antagô-nicos de administrar: de um lado, um estilo baseado na teoria tradicional, mecani-cista e pragmática (a que deu o nome de Teoria X), e, de outro, um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento humano (Teoria Y).

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82 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

A Teoria X é a concepção tradicional de administração. Baseia-se em convicções errôneas sobre o comportamento humano. Segundo Chiavenato (2003, p. 337), são estas:

a) o homem é indolente e preguiçoso por natureza;

b) falta-lhe ambição;

c) o homem é egocêntrico e seus objetivos pessoais opõem-se, em geral, aos objetivos da organização;

d) resiste às mudanças;

e) a sua dependência torna-o incapaz de autocontrole e autodisciplina.

A Teoria X reflete um estilo de administração duro, rígido e autocrático. As pessoas são visualizadas como meros recursos ou meios de produção. Para a Teoria X, a administração caracteriza-se pelos seguintes aspectos:

a) a administração deve promover a organização dos recursos da empresa no interesse exclusivo de seus objetivos econômicos;

b) a administração é um processo de dirigir os esforços das pessoas, incentivá-las, controlar suas ações e modificar o seu comportamento para atender às necessidades da empresa;

c) as pessoas devem ser persuadidas, recompensadas, punidas, coagidas e controladas;

d) as suas atividades devem ser padronizadas e dirigidas em função dos objetivos da empresa;

e) a remuneração é um meio de recompensa para o bom trabalhador, e punição para o empregado que não se dedique suficientemente à realização de sua tarefa.

Vejamos agora os aspectos da Teoria Y. É a moderna concepção de admi-nistração de acordo com a Teoria Comportamental. De acordo com Chiavenato (2003, p. 338), baseia-se em idéias e estudos, sem preconceitos, a respeito da natureza humana, tais como:

a) as pessoas não têm desprazer inerente de trabalhar;

b) as pessoas não são passivas ou resistentes às necessidades da empresa;

c) as pessoas têm motivação, potencial de desenvolvimento, padrões de comportamento adequados e capacidade para assumir responsabilidades;

d) o homem médio aprende sob certas condições a aceitar, mas também a procurar responsabilidade.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 83

A Teoria Y desenvolve um estilo de administração aberto, dinâmico e democrático, por meio do qual administrar torna-se um processo de criar opor-tunidades, liberar potenciais, remover obstáculos, encorajar o crescimento individual e proporcionar orientação quanto a objetivos. A administração, segundo a Teoria Y, caracteriza-se pelos seguintes aspectos: a motivação, o potencial de desenvolvimento, a capacidade de assumir responsabilidade, de dirigir o comportamento para os objetivos da empresa, todos esses fatores estão presentes nas pessoas; a tarefa essencial da administração é criar condi-ções organizacionais e métodos de operação por meio dos quais as pessoas possam atingir seus objetivos pessoais, dirigindo seus próprios esforços em direção aos objetivos da empresa.

Para McGregor, a Teoria Y é aplicada nas empresas por um estilo de direção baseado em medidas inovadoras e humanistas, a saber:

a) descentralização das decisões e delegação de responsabilidade;

b) ampliação do cargo para maior significado do trabalho;

c) participação nas decisões e administração;

d) auto-avaliação e desempenho.

A seguir, demonstram-se as principais relações entre a Teoria X e Y.

Tabela 6 – Relação entre a Teoria X e a Teoria Y

TEORIA X TEORIA Y

Controle intenso de autoridade.Autocontrole e autodireção para o empregado.

Centralização de autoridade. Descentralização de autoridade.

Planejamento feito pela gerência.Participação da chefia e dos empregados, compreendendo suas responsabilidades.

Satisfação das necessidades sociais fora da empresa.

Realização pessoal e social fora e na própria empresa.

A chefia avalia o desempenho do operário.

A chefia auxilia o empregado, que se auto-avalia, vendo suas falhas.

Administrar corretamente é o mesmo que controlar o empregado tanto quanto possível, não lhe deixando tempo sequer para relacionar-se social e particularmente.

Administração correta deve dispor de meios que permitam liberar potenciais dos empregados, encorajá-los no cres-cimento e orientá-los na remoção de obstáculos.

Fonte: Chiavenato (2004, p. 339).

Como vimos, esta teoria estabelece dois estilos de administração total-mente diversos um do outro. Você já consegue visualizar e fazer uma relação com os estilos de gestão das atuais empresas? Que estilo você vai adotar

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84 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

quando se tornar um administrador? Calma, vamos ver mais algumas teorias sobre a motivação e estilos de liderança, antes de decidir-se.

6.3.5 Perfis Organizacionais de Likert

Rensis Likert (1903-1981), outro importante autor dessa teoria, propõe uma classificação de sistemas de administração, definindo quatro perfis orga-nizacionais. A própria nomenclatura explica o tipo de gestão. Vejamos.

Sistema 1 – Autoritário Coercitivo• . Mão-de-obra intensiva e tecnologia rudimentar; pessoal de pouca qualificação e educação (empresas de construção civil ou industrial).

Sistema 2 – Autoritário Benevolente• . Tecnologia mais apurada e mão-de-obra mais especializada; coerção para manter o controle sobre o comportamento das pessoas (áreas de produção e montagens de empresas industriais, escritórios de fábricas, etc.).

Sistema 3 – Consultivo• . Áreas administrativas mais organizadas e avan-çadas em termos de relações com empregados (bancos e financeiras).

Sistema 4 – Participativo• . Sofisticada tecnologia e pessoal altamente especializado (empresas de serviços de propaganda, consultoria em engenharia e em administração).

6.3.6 Teoria da Realização

David C. McClelland (1917-1998) percebeu que algumas pessoas têm um desejo intenso de realização enquanto outras não se interessam pelo assunto. A partir disso, desenvolveu a Teoria das Necessidades Adquiridas, as quais são aprendidas e socialmente adquiridas por meio da interação com o meio ambiente. Classifica em três categorias:

a) necessidades de realização: o indivíduo tem necessidade do desafio para alcançar sua realização pessoal ou sucesso profissional. Estas pessoas têm as seguintes características: gostam de assumir respon-sabilidades, correr riscos calculados, metas moderadas e não são motivadas pelo dinheiro;

b) necessidades de Afeição. é uma necessidade social de estabelecer vínculos mais estreitos entre as pessoas, de evitar conflitos e fazer fortes amizades. Estes indivíduos são motivados pelos cargos que requerem uma interação freqüente com os colegas de trabalho;

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 85

c) necessidades de Poder. determinadas pessoas que têm necessidade de dominar, gerir cargos e influenciar para alcançarem os seus obje-tivos. Gostam de liderar, tomar decisões, estabelecer metas e estar à frente das atividades.

6.3.7 Outras Teorias da Motivação

Até aqui tivemos a oportunidade de conhecer um pouco de algumas teorias motivacionais. O foco destes estudos está em buscar “o que” motiva o comportamento e, por isso são consideradas, segundo Silva (2001) teorias de conteúdo. Demonstraremos agora, de forma resumida, as teorias de processo, cujo foco se encontra em “como” o comportamento é motivado.

Tabela 7 – Teoria de Conteúdo – Motivação

TEORIAS/AuTORES PRINCIPAIS RESuLTADOS

Teoria da Espectação – Victor Vroom

As pessoas são tomadoras de decisões, escolhem dentre várias alternativas, selecionando aquela que aparece como a mais desejável no momento. A motivação depende da situação enfrentada pelas pessoas e como ela satisfaz seus desejos. Baseia-se nos conceitos de Valência – são as preferências que as pessoas têm por vários resultados ou incentivos que estão potencialmente disponíveis para elas; Expectativa – refere-se ao relacionamento percebido entre um dado nível de esforço e um dado nível de desem-penho; e Instrumentalidade – refere-se ao relacionamento entre desempenho e recompensa.

Teoria da Eqüidade – Stacy Adams

É baseada no fenômeno da comparação social aplicada no local de trabalho. Quando um indivíduo avalia as recompensas recebidas em relação às suas contribuições (esforços) e compara com o que os outros receberam. Se perceber uma disfunção (iniqüidade), o indivíduo é moti-vado a atuar no sentido de remover o desconforto e resta-belecer um senso de equilíbrio (equidade).

Teoria do Reforço – B. F. Skinner

Baseia-se no estímulo-resposta, ou seja, dependendo do estímulo que se recebe do ambiente externo, ocorre uma resposta. Propõe que o reforço pode controlar o comporta-mento, ou seja, basta identificar os comportamentos dese-jáveis e estimulá-los pelo reforço positivo (recompensa pelo alto desempenho), bem como os indesejáveis que deverão ser estimulados pelo reforço negativo (comportamentos que evitem conseqüências desfavoráveis).

Fonte: Adaptado de Chiavenato (2003, p. 240-249).

Todas as teorias que vimos sobre a motivação são importantes e úteis à administração, mas qual a melhor, a mais completa, a que poderíamos adotar

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

86 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

em nossas empresas? A combinação com aspectos das diversas teorias é uma alternativa coerente, visto que o ser humano é um indivíduo complexo e vive em um ambiente dinâmico em que não é possível enquadrá-lo em uma única teoria que responda a todas as possibilidades e circunstâncias. Por isso é importante conhecer a fundo todas estas teorias e aplicá-las conforme o ambiente e a realidade das pessoas e das organizações.

6.4 Críticas à Teoria Comportamental

É indiscutível a contribuição que a Teoria Comportamental trouxe para a Administração, renovando os seus conceitos e buscando o conhecimento do comportamento humano para oferecer maior qualidade de vida às pessoas. Assim mesmo, foi alvo de críticas que destacamos a seguir, conforme discorre Chiavenato (2003, p. 359-362).

a) Ênfase nas pessoas. A Teoria Comportamental marca definitivamente a transferência da ênfase na estrutura organizacional para a ênfase nas pessoas. Contudo, os comportamentalistas pecam pela “psico-logização” de certos aspectos organizacionais como a Teoria das Decisões, onde rotulam os indivíduos como “racionais” e “não-racio-nais”, “eficientes” e “não-eficientes”, “satisfeitos e não satisfeitos”. Isto se tornou um exagero passível de críticas.

b) Abordagem mais descritiva e menos prescritiva. Os behavioristas preo-cupam-se mais em explicar e descrever as características do compor-tamento organizacional do que em construir modelos e princípios de aplicação prática.

c) Profunda reformulação na filosofia administrativa. Os comportamentalistas mostram um novo conceito democrático e humano de “colaboração-con-senso” e de “equalização de poder”, privilegiando as organizações demo-cráticas, menos estruturadas hierarquicamente e menos autocráticas.

d) Dimensões bipolares da Teoria Comportamental. Os principais temas da Teoria Comportamental são bipolares, como: análise teórica x empírica (prática e teoria juntos); análise macro x micro (organização global e indivíduo); organização formal e informal; análise cognitiva x afetiva (razão e emoção).

e) A relatividade das Teorias de Motivação. As teorias de motivação apresen-tadas por Maslow e Herzberg são relativas e não absolutas, mas contribuíram de forma efetiva para a Teoria Geral da Administração (TGA).

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 87

f) Influência das ciências do comportamento sobre a Administração. A Teoria Comportamental mostra a mais profunda influência das ciências do comportamento na Administração, seja por meio de novos conceitos sobre o homem e suas motivações ou sobre a organização e seus objetivos.

g) A organização como um sistema de decisões. A Teoria das Decisões refere-se mais aos efeitos dos processos formais, deixando de lado os processos interpessoais que não estão incluídos na organização formal.

h) Análise organizacional a partir do comportamento. Há autores cuja preocupação centra-se no indivíduo, suas predisposições, reações e personalidade dentro do panorama organizacional. Há os que consi-deram a organização como um meio de proporcionar à pessoa uma série de recompensas e oferecer o mais alto nível de motivação. Há também os que consideram a organização como um conjunto de pessoas comprometidas em um contínuo processo de decisões.

i) Visão Tendenciosa. Também incorreu no equívoco de padronizar as suas proposições não levando em conta as diferenças individuais de personalidade das pessoas. Tanto os aspectos subjetivos como as dife-rentes interpretações pessoais da realidade foram desprezadas.

Para concluir, parafraseando Chiavenato (2003), podemos dizer que “a contribuição da Teoria Comportamental é importante, definitiva e inarredável”, pois marca e transforma profundamente o pensamento dos teóricos da adminis-tração e conseqüentemente a maneira de se administrar, saindo de um enfoque mecanicista, totalmente racional e estrutural para uma ênfase nas pessoas e no modo como se comportam a partir de determinados fatores motivacionais. Desta forma propõe aos administradores que conheçam melhor os mecanismos da motivação para poder gerir com mais eficiência as organizações a partir do entendimento das necessidades das pessoas.

Síntese da aula

Nesta aula, vimos a importância da Teoria Comportamentalista para a gestão das organizações. Entender o comportamento é fundamental na relação da empresa com seus clientes e, sobretudo, no comprometimento dos membros da organização para o alcance dos objetivos. Conhecemos novas e variadas propostas acerca da motivação, como as de Maslow e Herzberg, que determinam sobremaneira a gestão de pessoas nas empresas. Também visualizamos os estilos de liderança e sistemas organizacionais que podem

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88 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

ir do mais coercitivo, autoritário ao consultivo e participativo demonstrados na teoria de Likert. Este panorama nos remete à realidade vivenciada pelas empresas atualmente, onde percebemos diversos estilos e estratégias que os empresários utilizam para gerir suas organizações. Alguns de forma intuitiva e empírica, outros baseados nas teorias e há ainda, os que são mistos na forma de gerenciar. E você? Como definirá seu estilo de liderança? De que forma estas teorias podem contribuir? Aproveite e reflita!!!

Atividades

1. Na Teoria da Hierarquia das Necessidades, Maslow propôs que as neces-sidades básicas sejam estruturadas em uma hierarquia de predominância e probabilidade de surgimento. Será que você possui o entendimento sobre essas necessidades? Prove, associando-as:

a) Necessidades Fisiológicas

b) Necessidades de Segurança

c) Necessidades Sociais

d) Necessidade de Estima

e) Necessidades de Auto-realização

( ) Condições seguras de trabalho; remuneração e benefícios; estabili-dade no emprego.

( ) Responsabilidade por resultados; orgulho e reconhecimento; promoções.

( ) Intervalos de descanso; conforto físico; horário de trabalho razoável.

( ) Trabalho criativo e desafiante; diversidade e autonomia; participação nas decisões.

( ) Amizade e colegas; interação com clientes; gerente amigável.

2. Relacione a Teoria da Hierarquia das Necessidades de Maslow com a Teoria dos Fatores Higiênicos e Motivacionais de Herzberg, identificando suas semelhanças e diferenças.

3. Faça uma análise de uma empresa do seu conhecimento e veja quais estra-tégias motivacionais que aplica a seus colaboradores. Relacione-as com as teorias “X” e “Y” de McGregor.

4. Agora, com o exemplo da empresa citada, verifique qual o estilo de liderança exercido, de acordo com a Teoria de Likert, ou seja, autoritário coercitivo, autoritário benevolente, consultivo ou participativo. Justifique sua resposta.

AUlA 6 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 89

Comentário das atividadesNa atividade 1, dá-se ênfase à Teoria da Hierarquia das Necessidades de

Maslow, na qual o indivíduo tem níveis de necessidades que partem dos mais básicos (necessidades fisiológicas, segurança e social) para os mais complexos (auto-estima e auto-realização). A resposta correta é a seguinte seqüência: (b), (d), (a), (e) e (c).

A atividade 2 instiga uma análise comparativa entre a teoria de Maslow e Herzberg, na qual as necessidades fisiológicas, de segurança e sociais equi-valem aos fatores higiênicos e as necessidades de estima e auto-realização são equivalentes aos fatores motivacionais. Quanto às diferenças podemos citar que a ênfase na Teoria de Maslow é de caráter descritivo e há uma seqüência nas necessidades. Enquanto na Teoria de Herzberg é prescritiva e não há uma seqüência no arranjo das necessidades.

Na atividade 3 busca-se fazer uma relação das teorias estudadas com a prática das empresas de hoje. Nos aspectos motivacionais pode-se verificar fatores como as recompensas e reconhecimentos oferecidos pelas empresas (prêmios, viagens, bônus, gratificações, etc.).

Quanto aos estilos de lideranças requeridos na atividade 4, de acordo com a análise que você fez da empresa, pode-se observar se há uma predomi-nância, no comportamento do líder, de características mais coercitivas, autori-tárias, consultivas ou participativos, conforme a teoria de Likert.

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

______. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. São Paulo: Elsevier, 2004.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

Na próxima aula

Conheceremos uma nova abordagem teórica da Administração, a Perspectiva Moderna, que envolve a Teoria dos Sistemas e a Teoria Contigencial. Mas antes de seguir adiante, reflita sobre os conhecimentos adquiridos nesta aula e confira, para saber se já está consolidado. Caso não esteja, faça uma revisão. Aproveite!!! Releia, estude e experimente!

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Anotações

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Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

relacionar a Teoria de Sistemas com o funcionamento das organizações, •identificando as características dos sistemas abertos e fechados;

identificar os principais conceitos da Teoria Contingencial e a importância da •análise do ambiente e do modelo de motivação do Homem Complexo.

Pré-requisitosSerá importante, para que você possa melhor acompanhar a aula, ter

um conhecimento consolidado sobre as teorias apresentadas anteriormente, desde a perspectiva Clássica da Administração (Teoria Clássica e Teoria da Burocracia) até a perspectiva Humanista (Teoria das Relações Humanas e Teoria Comportamental), percebendo suas inter-relações, convergências, diver-gências, transformações e evoluções ao longo da história. Estes temas foram vistos nas aulas anteriores. Chegamos agora a uma visão sistêmica e contigen-cial: a organização como um organismo dependente do trabalho, eficiência, integração de vários sistemas e influenciada pelo ambiente. Que sistemas são esses? Que fatores deste ambiente afetam a empresa? Vamos ver? Então prepare sua bagagem de conhecimentos que vamos partir!!!

IntroduçãoEm todos os estudos sobre a administração das empresas, buscava-se

conhecer e compreender de que forma as organizações eram estruturadas e isso trouxe muitas contribuições para o alcance da eficiência. Em determinado momento, começaram a desenvolver teorias imaginado-as como sistemas. Os primeiros estudos com esse enfoque foram feitos por Norbert Wiener (1864-1964). Wiener foi matemático e pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e desenvolveu o escopo da cibernética.

Aula 7Perspectiva Moderna: Teoria dos

Sistemas e Teoria Contigencial

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92 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Anthony Stafford Beer, um inglês excêntrico, nascido em 1926, foi quem transformou a cibernética em instrumento prático da Administração. Em seu livro Cibernetics and Management (1959), definiu a cibernética como a ciência da organização eficaz. Sua tese fundamental afirma que as organizações são como pessoas: têm um “cérebro” e um sistema nervoso central. Segundo o autor, muitos dos problemas empresariais repousam na incompreensão do funcionamento de seus sistemas.

A Teoria de Sistemas é baseada no tripé: ciência de sistema – a exploração científica de todos e da totalidade, tecnologia de sistema – técnicas, modelos e abordagens matemáticas de engenharia de sistemas e na filosofia de sistema – a reorientação do pensamento e visão do mundo. A partir destes estudos a Administração se torna mensurável, quantitativa, tecnológica e sistêmica.

Em seguida, surge a Teoria Contigencial como um desenvolvimento da Teoria de Sistemas, ampliando os conceitos de ambiente e fatores influenciadores que diferenciam e especificam a organização em função das situações e circunstân-cias em que se encontra a empresa. Estabelece que situações diferentes exigem práticas diferentes e sugere a utilização das teorias tradicionais, humanísticas, comportamentais e de sistema separadamente ou combinadas para as soluções organizacionais.

Chagamos aos tempos atuais de complexidade, competitividade, criativi-dade e muita tecnologia. Será possível ainda administrar como na era clás-sica? Analise estas novas teorias, reflita e responda. Vamos em frente!!!

7.1 A origem da Teoria Geral dos Sistemas

Segundo Silva (2001, p. 350), a solução de problemas, nos dias de hoje, exige um grande enfoque para sistemas, ou seja, um entendimento mais amplo do que ocorre na organização e ao seu redor. A visão do problema como um todo é denominada visão sistêmica, um ponto de vista holístico. Por volta de 1940, Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972), um biólogo alemão, iniciou o movimento de volta ao pensamento aristotélico.

A Teoria Geral dos Sistemas, segundo o próprio Bertalanffy, tem por finalidade identificar as propriedades, princípios e leis características dos sistemas em geral, independentemente de suas características particulares, da natureza dos elementos que o compõem e das relações existentes entre estes elementos. De acordo com o autor, existem certos modelos ou sistemas que, independentemente de sua especificidade, são aplicáveis a qualquer área

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de conhecimento. Tais modelos impulsionariam uma tendência em direção a teorias generalizadas.

Bertalanffy propõe uma nova teoria cientifica, a Teoria Geral de Sistemas, que tem princípios semelhantes aos que governam sistemas biológicos. Esses princípios gerais são idéias vinculadas ao desenvolvimento e ao surgimento da automação e da cibernética, que vimos anteriormente.

Silva (2001) ensina que um sistema pode ser definido como o “conjunto de elementos interativos e relacionados cada um ao seu ambiente de modo a formar um todo”.

Para entendermos a Teoria de Sistemas e sua difusão, Chiavenato (2003, p. 474) propõe duas características obrigatórias aos sistemas:

a) funcionalismo: embora esta palavra apresente várias conotações, fundamentalmente o termo dá ênfase a sistemas de relacionamento e à unificação das partes e dos subsistemas em um todo funcional. O funcionalismo procura ver nos sistemas suas partes componentes, realçando que cada elemento tem uma função a desempenhar no sistema mais amplo;

b) holismo: um conceito estreitamente relacionado ao do funcionalismo. É a concepção de que todos os sistemas se compõem de subsistemas e seus elementos estão inter-relacionados. Jan Christian Snuts citado por Chiavenato (2003, p. 475), afirma que holismo é a tese que sustenta que as totalidades representam mais do que a soma das partes.

Com a Teoria Geral de Sistemas, começamos a perceber uma mudança no ponto de vista e na concepção dos aspectos referentes às organizações. Assim, abandonamos o entendimento da organização em que apenas obser-vávamos as suas particularidades, que podemos chamar de visão atomística, de átomo, pequena, pormenorizada, e partimos para a análise e conceituação da organização como um sistema complexo de variáveis, tornando-se cada vez mais importante na sua análise e compreensão como algo muito mais complexo. Assim temos a visão holística, totalizada, ampla.

Idalberto Chiavenato, em seu livro Introdução à Teoria Geral da Administração, menciona um “painel”, no qual podemos identificar vários conceitos de sistemas.

Sistema é um conjunto de elementos em interação recíproca.•

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94 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Sistema é um conjunto de partes reunidas que se relacionam entre si •formando uma totalidade.

Sistema é um conjunto de elementos interdependentes, cujo resultado •final é maior do que a soma dos resultados que esses elementos teriam, caso operassem de maneira isolada.

Sistema é um conjunto de unidades combinadas que formam um todo •organizado cujas características são diferentes das características das unidades.

Sistema é um todo organizado; um conjunto de combinação de coisas •ou partes, formando um todo complexo ou unitário orientado para uma finalidade.

7.2 Principais conceitos, características e parâmetros dos sistemas

Segundo Faria (2002, p. 134), devemos fazer uma distinção quanto à natureza dos sistemas, que podem ser: abertos – quando existe relação com o ambiente, ou fechados – herméticos, sem influência ambiental.

Assim sendo, é extremamente importante para a teoria da organização que esteja bem definida a classificação das organizações em sistemas fechados ou abertos. Um sistema fechado é aquele que não realiza intercâmbio com o seu meio externo, tendendo necessariamente para um progressivo caos interno, desintegração e morte. Nas teorias anteriores da Administração, a organização era independente, não analisava o que acontecia a sua volta, focando a estrutura, tarefas e relações internas formais, sem referência alguma ao ambiente externo. Já o sistema aberto “pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação e interdependência, constituindo um todo sinérgico (o todo é maior do que a soma das partes), orientado para determinados propósitos e em permanente relação de interdependência com o ambiente” (NASCIMENTO, citado por CHIAVENATO, 2003, p. 477).

A perspectiva de sistema aberto, Faria (2002, p. 135) define-o como aquele que interage com o ambiente, adaptando-se às mudanças ambientais. O sistema aberto compete com outros sistemas, o que não ocorre com o sistema fechado. O sistema fechado é autônomo, excluído e isolado do mundo, sem receber suas influências. No caso específico das empresas, existe interação com o seu meio ambiente (concorrentes, fornecedores, clientes, etc.) e outros agentes externos, influindo e recebendo as influências desse ambiente.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 95

7.2.1 Hierarquia de Sistemas

Poucos autores deram importância e aprofundaram-se no entendimento de

quão difusos são os sistemas e de que forma contribuem para a criação de dificul-

dades que nos perturbam, e de como o termo sistema abrange uma vasta ampli-

tude do nosso universo, desde o físico até o organizacional. Kenneth Bouding

citado por Silva (2001, p. 354) fez uma classificação dos sistemas presentes

em nosso universo, distribuindo-os da forma como você verá a seguir.

Tabela 8 – Hierarquia de nove níveis de sistemas

I. Sistemas de estrutura estática – poderiam ser chamados como o nível das estruturas.

II. Sistemas dinâmicos simples – com movimentos predeterminados e necessá-rios. Poderiam ser chamados como o nível do determinismo.

III. Sistemas cibernéticos – que poderiam receber o nome de nível do termos-tato, pois são auto-reguláveis na manutenção do equilíbrio.

IV. Sistemas abertos – referem-se ao nível em que a vida começa a se diferen-ciar da não-vida e poderiam ser chamados o nível da célula. São estruturas automantidas.

V. Sistemas genético-sociais – exemplificados pela planta e que dominam o mundo empírico dos botânicos. Apresentam divisão de trabalho entre as partes, células, etc.

VI. Sistemas animais – caracterizam-se pela mobilidade, aumento, comporta-mento teleológico e autoconsciência.

VII. Sistemas humanos – vêem o ser humano, individualmente considerado, como um sistema provido de autoconsciência e capaz de utilizar a linguagem e o simbolismo.

VIII. Sistemas sociais – têm por base uma organização humana, na qual se tomam em consideração o conteúdo e o sentido das mensagens, a natureza e as dimensões dos sistemas de valores, a transmutação das imagens em registros históricos, as simbolizações da arte, da música e da poesia e a complexa gama das emoções humanas.

IX. Sistemas transcendentais – são os sistemas supremos e absolutos, desconhe-cíveis, aos quais não é possível escapar, mas que também apresentariam estrutura e relacionamento sistemático.

Fonte: Silva (2001, p. 354).

7.2.2 Características dos Sistemas

Silva (2001, p. 355) relaciona características comuns das organizações. Nas organizações vistas como sistemas abertos, podemos identificar as seguintes:

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96 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

a) o ciclo de eventos: toda organização se engaja em um ciclo de eventos que envolvem a importação, a transformação e a expor-tação de energia. O uso do termo energia, aqui, reflete a influ-ência da Teoria Geral de Sistemas como concebida nas ciências biológicas e está relacionado com a organização das coisas vivas. Para uma empresa de negócios, a energia toma a forma de recursos humanos, recursos financeiros, materiais e equipamentos, e produtos/serviços elaborados;

b) a entropia negativa: uma segunda característica das organizações como sistemas abertos é que elas importam mais energia do que exportam. Essa característica é chamada, às vezes, de entropia nega-tiva, o que simplesmente significa que um sistema aberto, para sobre-viver ou crescer, deve absorver mais energia do que liberar. Para uma empresa de negócios, uma ilustração óbvia da entropia negativa é a lucratividade a longo prazo; mas isto se refere a todas as formas de energia e não só aos recursos financeiros;

c) o processamento da informação: é a terceira característica de um sistema aberto, que processa para escolher que informações serão permitidas dentro do sistema, para a armazenagem e interpretação das informações e para decidir sobre as respostas para a infor-mação analisada. Uma vez que a capacidade de processamento da informação de qualquer sistema é limitada, os sistemas devem ter processos de codificação que selecionem as informações entrantes. As organizações não podem processar todas as informações dispo-níveis no seu ambiente;

d) o crescimento e a manutenção: uma quarta característica dos sistemas abertos é que eles apresentam ambas tendências de crescimento e manutenção, isto é, existem forças nos sistemas que favorecem a estabilidade e resistem à mudança, mas também existem forças, nos sistemas abertos, que favorecem a mudança e procuram oportunidades para inovação, renovação e crescimento. O sistema aberto está em contínua interação com o seu ambiente e alcança um “estado estável” ou “equilíbrio dinâmico”, enquanto ainda mantém a capacidade de trabalho ou a energia de transformação. O balanceamento ao longo do tempo das tendências de crescimento e da manutenção serve para manter o caráter básico do sistema;

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e) eqüifinalidade: é a característica que define que um sistema aberto pode alcançar o mesmo estado final, a partir de diferentes condições iniciais e por meio de uma variedade de caminhos. A eqüifinalidade destaca a flexibilidade na seleção dos meios que serão utilizados para alcançar os fins. A eqüifinalidade cria uma relação das metas com os métodos.

Para que tenhamos uma melhor visão e entendimento da organização como um sistema aberto, veja o esquema demonstrativo a seguir. Dois aspectos são importantes nessa abordagem: o comportamento independente e a aber-tura aos insumos ambientais.

Organização como sistema aberto e dinâmico

Fonte: Katz e Kahn citados por Silva, (2001, p. 358).

Os sistemas organizacionais podem ser ainda divididos em três níveis:

a) técnico: parcelamento de tarefas;

b) organizacional: coordenação do parcelamento das tarefas;

c) institucional: responsável pelo relacionamento entre a organização e o meio ambiente.

7.2.3 Parâmetros dos sistemas

Segundo Faria (2002, p. 134), os sistemas são caracterizados por seus parâmetros, e estes são constantes arbitrárias, caracterizadas por suas proprie-dades. Essa colocação deve-se ao fato de o sistema ser um processo em marcha, em movimento conforme a figura a seguir. Os parâmetros são: entrada ou insumo (input); processamento (throughput); saída ou resultado (output); retro-ação ou retroalimentação (feedback); ambiente.

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Esquema: Sistema como processo

Fonte: Faria (2002, p. 135).

É isso aí. Fechamos a Teoria de Sistemas. Tenho certeza de que ficou claro para você a importância desta teoria. É só lembrarmos de alguns sistemas que nos cercam no dia-a-dia, para fechar: sistema nervoso, sistema de transporte, sistema de televisão, etc. Agora analisemos a Teoria Contingencial, suas carac-terísticas e contribuições para a Administração.

7.3 Teoria Contigencial

A Teoria da Contingência enfatiza que não há nada de absoluto nas orga-nizações ou na teoria administrativa, tudo é relativo, tudo depende (entendeu agora a dica do fim da aula anterior, né!). O reconhecimento, diagnóstico e adaptação à situação são certamente relevantes para a abordagem contin-gencial, porém não são suficientes, pois é importante conhecermos as relações funcionais entre o ambiente externo e as práticas administrativas.

7.3.1 As origens da Teoria Contingencial

A Teoria da Contingência nasceu a partir de pesquisas feitas para identificar os melhores modelos de estruturas organizacionais para alguns tipos de segmentos de atividade. A estrutura de uma organização e o seu funcionamento dependem da interface com o ambiente externo, estando à mercê de determinados aconte-cimentos que podem configurar-se como ameaças, mas também como oportuni-dades, se for o caso, não havendo uma única e melhor forma de organizar.

De acordo com Idalberto Chiavenato (2003, p. 504) e Vasconcelos (2002, p. 214), as pesquisas que embasaram a Teoria Contingencial foram: os estudos de Woodward, as pesquisas de Burns e Stalker, os estudos de Lawrence e Lorsch, a pesquisa de Chandler e a Teoria da Universidade de Aston. A seguir detalharemos estas teorias. Prepare-se para mergulhar nestes estudos.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 99

7.3.2 Tecnologia e estrutura segundo Joan Woodward e Perrow

Os estudos da socióloga industrial inglesa, Joan Woodward são compa-rados aos estudos de Hawthorne em termos de importância para o movimento da Teoria Contigencial e na sua contribuição para a Administração passar a levar em conta o papel da tecnologia na gestão das empresas.

Esta pesquisa, também chamada de determinismo tecnológico, abrangeu cerca de 100 empresas, com média de 100 empregados e foi classificada em três tipos distintos de sistemas de produção, conforme Silva (2001, p. 368):

a) unitário e de pequenos lotes – em que a produção era baseada nos pedidos da empresa, tendo somente o marketing como primeira atividade;

b) grande quantidade e produção em massa – em que os programas de produção não eram diretamente dependentes dos pedidos da empresa;

c) processo contínuo – em que a importância de manter um mercado signi-ficava que o marketing era a atividade central e crítica. Estes estudos sofreram reestruturações, entre 1958 e 1965, que influenciaram os seus resultados.

Tinha como premissa básica que as empresas que mais investiam em tecno-logia tendiam a ser mais desenvolvidas e de maior sucesso, ou seja, de acordo com a adaptação da tecnologia e estrutura empregada na organização.

Estes estudos foram ampliados e melhorados por Charles Perrow, que atri-buiu duas dimensões importantes da tecnologia: a extensão para a qual a tarefa do trabalho é previsível ou variável; e a extensão para a qual a tecno-logia pode ser analisada.

A variabilidade está relacionada com o número de casos excepcionais ou imprevisíveis e à extensão em que os problemas são conhecidos em um sistema de produção. Já a análise da tecnologia se refere à medida em que as atividades são desmembradas e altamente específicas, e à extensão em que os problemas podem ser resolvidos de maneira conhecida ou pelo uso dos proce-dimentos de rotina (SILVA, 2001, p. 370). Perrow atribui a previsibilidade e análise da tecnologia em função do tipo de tecnologia que se emprega.

7.3.3 Pesquisa de Burns e Stalker

Dois sociólogos industriais pesquisaram vinte indústrias inglesas para veri-ficar a relação existente entre as práticas administrativas e o ambiente externo dessas indústrias. Classificaram as indústrias pesquisadas em dois tipos: orga-

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nizações “mecanísticas” e “orgânicas”. No quadro a seguir, observe como se diferenciam as organizações mecanísticas e orgânicas.

Tabela 9 – Organizações Mecanísticas x Organizações Orgânicas

ORGANIzAçõES MECANíSTICAS ORGANIzAçõES ORGâNICASEstrutura burocrática assentada em minuciosa divisão do trabalho Estruturas flexíveis com pouca

divisão de trabalhoCargos ocupados por especialistas com atribuições perfeitamente definidasAltamente centralizadas, as decisões são tomadas nos níveis superiores da empresa

Amplitude de controle do supervisor mais amplaHierarquia rígida baseada no comando

Sistema simples de controle Maior confiança nas comunicações

Predomínio da interação vertical entre superior-subordinadoAmplitude de controle do superior mais estreita

Ênfase nos princípios da Teoria das Relações Humanas

Maior confiança nas regras e procedimentos formaisÊnfase nos princípios da Teoria ClássicaFonte: Adaptado de Silva (2001, p. 372).

7.3.4 Ambiente e estrutura segundo Lawrence e Lorsch

Segundo Chiavenato (2003, p. 508) e Silva (2001, p. 375), ambiente é tudo aquilo que envolve uma organização. Esta, como um sistema aberto, interage com o ambiente no qual está inserida e dele recebe influência. O ambiente pode ser analisado em dois segmentos – o ambiente geral e o ambiente de tarefa. Ambiente geral é constituído por um conjunto de condições, que afetam direta ou indireta-mente as organizações, as principais são:

a) condições tecnológicas: as organizações precisam adaptar-se à tecno-logia para não perder a sua competitividade;

b) condições legais: leis de caráter comercial, trabalhista, fiscal, civil, etc., que constituem elementos normativos para a vida das organizações;

c) condições políticas: são decisões e definições políticas tomadas em nível federal, estadual, municipal que influenciam as organizações;

d) condições econômicas: a inflação, a balança de pagamentos do país, a distribuição de renda interna, que não passam sem exercer influên-cias nas organizações;

e) condições demográficas: população, etnia, religião, distribuição geográfica, determinam as características do mercado atual e o futuro das organizações;

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 101

f) condições ecológicas: poluição, clima, transportes, comunicações, intercâmbio entre seres vivos e seu meio ambiente;

g) condições culturais: a própria cultura de um povo penetra nas organizações.

Ambiente de tarefa é o mais próximo de cada organização, do qual extrai as suas entradas e no qual depositam as suas saídas. Também podemos dividir em outros segmentos: fornecedores de entradas - de todos os tipos de recursos que uma organização necessita para trabalhar, recursos materiais, financeiros, humanos, etc.; clientes ou usuários - consumidores das saídas da organização; concorrente – disputa com outras organizações; e entidades reguladoras – sindicatos, associações de classe, órgãos regulamentares do governo, órgãos protetores do consumidor.

7.3.5 Pesquisa de Chandler – estratégia e estrutura

O historiador Alfred Chandler fez uma pesquisa, em 1962, sobre a evolução das grandes empresas. Procurou relacionar as mudanças estrutu-rais das organizações com a estratégia de negócios, por meio de um estudo extenso das empresas Du Pont, General Motors, Standar Oil e Sears Roebuck. Escolheu essas quatro organizações por serem inovadoras na criação de uma estrutura bem sucedida para administrar uma grande e complexa empresa. Chandler identificou que as grandes organizações passaram por um processo histórico com quatro fases distintas: acumulação de recursos, racionalização do uso dos recursos, continuação do crescimento e racionalização do uso de recursos em expansão.

a) Acumulação de recursos: nessa fase após a Guerra da Secessão Americana (1865), devido ao rápido crescimento das cidades, a maioria das empresas preferiram ampliar suas instalações de produção a organizar uma rede de distribuição. A preocupação com as matérias-primas favoreceu o crescimento dos órgãos de compra e a aquisição de empresas fornecedoras, caracterizando o controle por “integração vertical” que permitiu o aparecimento da economia de escala.

b) Racionalização do uso de recursos: as novas empresas verticalmente integradas tornaram-se grandes e precisavam ser organizadas, pois havia o acúmulo de recursos (instalações e pessoal) mais do que o necessário. Os lucros dependeriam da racionalização da empresa e sua estrutura deveria ser adequada às oscilações do mercado; em outros termos, deveriam se preocupar com o planejamento

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102 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

(produção e entrega); organização (departamentos) e coordenação (fabricação x engenharia, desenho do produto x comercialização, compras x fabricação).

c) Continuação do crescimento: a reorganização das empresas possibilitou um aumento de eficiência nas vendas, compras, produção e distribuição, fazendo os custos diminuírem. No entanto, o mercado foi se tornando saturado, provocando a redução dos lucros, das oportunidades de dimi-nuírem ainda mais os custos. Em conseqüência, essa situação obrigou as empresas a procurarem novos mercados e novos produtos, ou seja, a opção pela diversificação. Daí as mudanças na estrutura organizacional para agasalhar novos departamentos como Pesquisa e Desenvolvimento, Engenharia de Produto e Desenho Industrial.

d) Racionalização do uso de recursos em expansão: nesta fase, as empresas enfatizaram estratégias que conciliassem novas linhas de produto e novos mercados. A demanda era por uma estrutura que atendesse à complexidade crescente de produtos e operações, levando, portanto, a um desenho divisional departamentalizado. Daí a necessidade de racionalizar a aplicação dos recursos em expansão, do planejamento a longo prazo, da administração para os objetivos e avaliação de desem-penho de cada divisão. De um lado, a descentralização das operações e, de outro, a centralização de controles administrativos. Em resumo: diferentes ambientes levam as empresas a adotarem novas estratégias e as novas estratégias exigem diferentes estruturas organizacionais para que possam ser implementadas com eficiência e eficácia.

7.3.6 Os estudos da Universidade de Astons – estrutura e tamanho

A pesquisa da Universidade de Astons consiste em estabelecer uma relação entre o tamanho das organizações e seu nível de formalização, especiali-zação, padronização e centralização. Busca responder a questionamentos do tipo: organizações deveriam ser mais burocráticas à medida que crescem? Ou para que tamanhos de organizações as características burocráticas são mais adequadas? Silva (2001, p. 380) afirma que

[...] a equipe de Aston concluiu que a tecnologia é somente um dos fatores que influenciam a estrutura administrativa. Os estudiosos observaram que a tecnologia afeta aqueles aspectos da estrutura administrativa que estão próximos do fluxo de trabalho. Em orga-nizações pequenas, tais como as estudadas por Woodward, a estrutura geral será mais influenciada pela tecnologia; entretanto,

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 103

em organizações grandes, o tamanho se torna crítico na determi-nação do nível de Burocracia. Isto é semelhante aos argumentos dos teóricos do “tamanho” em relação ao nível da estrutura.

Os estudiosos de Aston, concluíram que quanto maior a organização, maior a associação entre mais Burocracia e desempenho superior. Já nas pequenas empresas, os melhores desempenhos estão com as empresas de gestão mais informal.

7.4 A organização e seus níveis

Para Chiavenato (2003, p. 524) e Silva (2001, p. 384), as organizações, frente aos desafios externos e internos, diferenciam-se nos três níveis organizacionais.

a) Nível Institucional – habilidade estratégica: é aquele em que interage o nível estratégico com o ambiente. É ele o responsável direto e oficial para fazer leituras dos sinais ambientais externos à organização, interpretá-los e gerar planejamentos para ela com relação a eles. É interessante perceber que o ambiente, por si, não apresenta senão oportunidades e ameaças para as empresas que com ele se relacionam, mas nem sempre (ou quase nunca) as empresas identificam como tais a dinâmica ambiental.

Neste ponto, surge o conceito de incerteza, o qual identifica a inabi-lidade das organizações em reagirem eficaz e eficientemente quando defrontadas com a instabilidade do ambiente. Assim, por exemplo, aquilo que potencialmente apontaria boas oportunidades de negócio para a empresa pode não receber tratamento adequado por parte desta, significando, muitas vezes, perder-se lugar confortável no “trem da História”; ou, ainda pior, a organização pode interpretar de forma errônea movimentos externos e, conseqüentemente, incorrer em séria ameaça a sua estrutura. Portanto, é o nível organizacional chamado de “institucional” o que lida diretamente com a incerteza - por ele gerada - e o que precisa dar uma rápida resposta estratégica.

b) Nível Intermediário – habilidade tática: também chamado “nível mediador” assume a função de adequar as elucubrações do nível insti-tucional à realidade da organização, transferindo ao próximo nível, o operacional, a responsabilidade direta pela implementação das idéias. De um lado, faz contato com situação de extrema instabilidade - quando interage com o nível institucional - e, de outro, com protocolos, sobretudo, rígidos e previsíveis - quando faz interface com o nível operacional.

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104 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

c) Nível Operacional – habilidade técnica: responsável pela execução cotidiana das tarefas e operações organizacionais, acontece em ambiente de baixa instabilidade devido às contingências ambientais, mas faz face, em contraponto, à grande mobilidade tecnológica.

7.5 O Homem Complexo

Para Chiavenato (2003, p. 537), a Teoria Contingencial propõe uma concepção contingencial em que visualiza o homem como um sistema complexo de valores, percepções, características pessoais e necessidade. Na realidade, o homem não é somente complexo, mas variável, tem muitas motivações, que se encontram dispostas em certa hierarquia e sujeitas a mudanças de situação para situação e de momento para momento. Três são os enfoques básicos de conhecimento do homem:

o homem é um ser transacional • – não só recebe insumos do ambiente e reage aos mesmos, mas também é proativo, antecipando-se e, muitas vezes provocando as mudanças ambientais;

o homem tem um comportamento dirigido para objetivos • – é capaz de ter objetivos e aspirações e de aplicar grandes doses de esforço para alcançá-los;

os sistemas individuais não são estáticos • – as percepções do individuo sofrem alterações à medida que filtram informações para dentro e para fora, permitindo a manutenção do sistema individual e a apren-dizagem por meio de novas experiências.

7.6 O Modelo Contingencial da Motivação

É baseado em uma estrutura uniforme, hierárquica e universal de neces-sidades por teorias que rejeitam idéias preconcebidas e reconhecem tanto diferenças individuais quanto diferentes situações em que podem ocorrer. Para Chiavenato (2003), a produtividade individual depende de três forças básicas que atuam dentro do indivíduo:

expectativas• : são os objetivos individuais e a força do desejo de atingi-los;

recompensas• : é a relação percebida entre produtividade e alcance dos objetivos individuais;

relações entre expectativas e recompensa• : é a capacidade percebida de aumentar a produtividade para satisfazer suas expectativas com as recompensas.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 105

A harmonia entre as expectativas e as recompensas é a chave para que os níveis de motivação mantenham-se elevados. Como você poderia trabalhar isso em sua organização? Boa reflexão.

7.7 Visões de Contingências x Visões de Sistemas

Segundo Silva (2001, p. 391), a Teoria de Sistemas, especialmente focando os sistemas abertos, nos quais são enfatizados os insumos e trocas do/para o ambiente, está muito próxima da Teoria Contingencial.

Gigch, citado por Silva (2001, p. 391), observa que, quando aplicada à análise organizacional, a Teoria Geral de Sistemas procura ligar as visões comportamentais às mecanísticas, em que se considera a organização como um “todo” integrado.

A Teoria Contingencial, em contrapartida, é mais pragmática e aplicável à teoria da administração e à prática. Ambas teorias concorrem na percepção e identificação da importância do ambiente externo e na necessidade de visualização das relações das partes com o todo.

Ainda segundo Silva (2001), a abordagem das contingências pode inte-grar tanto as abordagens tradicionais quanto as abordagens de sistemas, em uma maneira conceitualmente suave, e provê uma estrutura conceitual que relaciona todas as abordagens anteriores à situação do ambiente.

Como vimos, é necessário reconhecermos a visão de sistemas e a teoria contingencial como complementares, como no caso da Administração Científica da Teoria Clássica.

7.8 Críticas e contribuições da Teoria Contigencial

A visão de contingências enfatiza, segundo Silva (2001, p. 392), que o desempenho organizacional é dependente do grau em que a estrutura da organização combina com as contingências predominantes.

Conforme Silva (2001, p. 393), as críticas, dificuldades e limitações à Teoria das Contingências geralmente se relacionam a sete aspectos principais. Veja, a seguir, quais são eles.

a) Relacionamento casual – relacionamento entre estrutura (variável inter-veniente), e desempenho (variável dependente).

b) Desempenho organizacional – noção que o desempenho está relacio-nado à adaptação entre os componentes da organização.

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106 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

c) Variáveis independentes – o suposto estado de independência das variáveis contingenciais, como dado pelos membros das organiza-ções, é discutível.

d) Contingências múltiplas – diferentes padrões de fatores contingenciais têm implicações distintas para o desenho organizacional.

e) Mudança planejada – os modelos de organizações falham na ênfase das conseqüências não previstas da mudança planejada.

f) Fatores de poder – a estrutura organizacional não é necessariamente determinada apenas por condições situacionais impessoais, mas também pelo que se denomina “fatores de poder”.

g) Velocidade da mudança organizacional – as organizações operam sob constantes mudanças, não podendo, mesmo que desejassem, alterar a sua estrutura formal a todo o momento.

Para concluir, é importante dizer que as teorias aqui estudadas, bem como todas as anteriores, compõem um escopo generalista da Administração, cada qual com seus aspectos, qualidades e limitações. O mais importante é identificar em cada uma delas as bases para uma eficiente análise das organizações, a partir do entendimento de suas estru-turas basilares e históricas.

Síntese da aula

Nesta aula, vimos alguns dos princípios da Teoria de Sistemas. A partir de várias definições, podemos contemplar a importância da percepção das influências externas na gestão das organizações. A visão – antes atomística, restritiva, passa a ser agora holística, ampliada, global.

Estudamos a diferença fundamental entre os sistemas abertos e fechados e de que forma isso implica melhorias na gestão, até mesmo em sua sobre-vivência. Com os parâmetros dos sistemas, vimos como se dá o fluxo de processamento e o aprendizado em relação aos resultados obtidos. Vamos para a próxima!

Também vimos de que forma o ambiente exerce forte influência na gestão das organizações, e que tipo de estrutura organizacional consegue uma adap-tação mais “tranqüila” neste complexo mundo. Falando em complexidade, vimos o conceito de homem dessa teoria: o homem complexo.

AUlA 7 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 107

Atividades

1. A solução de problemas, nos dias de hoje, exige um grande enfoque para sistemas, mais do que a obsessão de aprofundamento do problema particular em questão, isso significa olhar o problema sob uma perspectiva muito mais ampla, ou seja, sob o ponto de vista de sistemas, um ponto de vista holístico.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

2. Com a Teoria Geral de Sistemas começamos a perceber uma mudança no ponto de vista e na concepção dos aspectos referentes às orga-nizações. Assim, abandonamos o entendimento da organização em que apenas observávamos as suas particularidades, e passamos a enxergar a totalidade que representa mais do que a soma das partes. Isto chama funcionalismo.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

3. O sistema aberto “pode ser compreendido como um conjunto de partes em constante interação e interdependência, constituindo um todo sinér-gico (o todo é maior do que a soma das partes), orientado para deter-minados propósitos e em permanente relação de interdependência com o ambiente”.

( ) Verdadeiro ( ) Falso

4. Nas organizações vistas como sistemas abertos podemos identificar algumas características em comum. Será que você possui o entendi-mento sobre elas? Prove, associando-as.

a) ciclo de eventos

b) entropia negativa

c) eqüifinalidade

d) equilíbrio dinâmico

( ) É a característica que define que um sistema aberto pode alcançar o mesmo estado final, a partir de diferentes condições iniciais e por meio de uma variedade de caminhos.

( ) O balanceamento, ao longo do tempo, das tendências de crescimento e da manutenção serve para manter o caráter básico do sistema.

AUlA 7 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

108 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

( ) Absorção de energia maior do que liberação, visando à sobrevivência ou crescimento organizacional.

( ) Processo que envolve a importação, a transformação e a exportação de energia (recursos humanos, recursos financeiros, materiais e equi-pamentos, e produtos / serviços).

5. A Pesquisa de Burns e Stalker, dois sociólogos industriais que verificavam a relação existente entre as práticas administrativas e o ambiente externo das indústrias, classificou as indústrias pesquisadas em dois tipos: organi-zações “mecanísticas” e “orgânicas”. Você consegue distinguir as caracte-rísticas de uma ou de outra? Vamos ver? Informe (m) para a Mecanísticas e (o) para Orgânicas.

( ) Estrutura Burocrática assentada em minuciosa divisão do trabalho.

( ) Maior confiança nas regras e procedimentos formais.

( ) Amplitude de controle do supervisor mais ampla.

( ) Hierarquia rígida, baseada no comando.

( ) Maior confiança nas comunicações.

Comentário das atividades

Na atividade 1, a afirmação é verdadeira, pois existem diversos fatores que influenciam no surgimento de um problema dentro da empresa. Assim o líder dever ter um olhar holístico e sistêmico, percebendo essas interferências.

Na atividade 2, a afirmação é falsa, visto que este conceito se refere ao Holismo. O funcionalismo procura ver nos sistemas suas partes componentes, realçando que cada elemento tem uma função a desempenhar no sistema mais amplo.

Já na atividade 3, a afirmação é verdadeira e a própria resposta justifica o conceito de sistema aberto. Quanto a atividade 4, a seqüência correta é (c), (d), (b) e (a). Os conceitos podem ser justificados nas próprias respostas. Na atividade 5, a seqüência correta é (m), (m), (o), (m) e (o). As empresas com características mecanísticas têm estruturas mais burocráticas, com uma divisão do trabalho minuciosa e está baseada na Teoria Clássica. Já as empresas com características orgânicas têm uma estrutura mais flexível e com pouca divisão de trabalho, o supervisor tem uma amplitude de controle mais ampla e há maior confiança nas comunicações, que é focada na Teoria das Relações Humanas.

AUlA 7 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 109

ReferênciasCHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

FARIA, José Carlos. Administração: introdução ao estudo. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 1997.

SILVA, Reinaldo Oliveira da. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001.

Anotações

AUlA 7 • TEORIA GERAl DA ADMINISTRAÇÃO

110 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Créd

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EQUIPE UNITINS

Organização de Conteúdos AcadêmicosAline Salles Ângela Issa Haonat

Coordenação EditorialMaria Lourdes F. G. Aires

Assessoria EditorialDarlene Teixeira Castro

Assessoria Produção Gráfica Katia Gomes da Silva

Revisão Didático-PedagógicaMarilda Piccolo

Revisão Lingüístico-TextualIvan Cupertino Dutra

Revisão DigitalDouglas Donizeti Soares

Projeto GráficoDouglas Donizeti SoaresIrenides TeixeiraKatia Gomes da Silva

IlustraçãoGeuvar S. de Oliveira

CapaIgor Flávio Souza

EQUIPE FAEL

Coordenação EditorialLeociléa Aparecida Vieira

Assessoria EditorialWilliam Marlos da Costa

RevisãoJuliana Camargo HorningLisiane Marcele dos Santos

Programação Visual e DiagramaçãoDenise Pires PierinKátia Cristina Oliveira dos SantosRodrigo SantosSandro NiemiczWilliam Marlos da Costa

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Caro estudante,

O Direito é uma disciplina que desperta inquietações várias nos estudiosos da matéria e, especialmente, a quem ele se destina, que somos todos nós. O Direito é, assim, inerente à sociedade, uma vez que o homem é um ser social.

Este caderno de conteúdos e atividades pretende apresentar e desen-volver, noções introdutórias para a compreensão do fenômeno jurídico, bem como apresentar-lhes conceitos e institutos fundamentais de ramos do Direito que são importantes a sua área de atuação. Com isso, iremos lhe possibilitar mais instrumentos e suportes teóricos e práticos para seu desenvolvimento, lembrando que você terá contato mais aprofundado com alguns ramos especí-ficos do Direito no decorrer do curso.

Para isso iniciamos trabalhando conceitos e história do Direito (aula 1), em seguida, conheceremos as fontes de onde se originam o Direito e como as normas podem ser aplicadas (aula 2).

Depois passamos para uma abordagem mais prática e voltada às necessi-dades instrumentais dos cursos de Administração e Ciências Contábeis, traba-lhando separadamente os ramos do Direito, apresentando noções gerais e os temas mais importantes às áreas a que este Caderno é dirigido.

Veremos então um pouco de Direito Civil na aula 3. As próximas 3 aulas são dirigidas ao Direto Público, respectivamente Direito Constitucional e Administrativo (aula 4), Direito Penal e outros ramos (aula 5) e Direito Processual e o sistema judiciário brasileiro (aula 6). Por fim, a aula 7 vai trabalhar com o Direito Ambiental e do Consumidor, como representantes do ramo do Direito meta individual.

Com isso, você perceberá as interfaces da sua formação com a área jurí-dica e a importância deste conhecimento para o seu futuro profissional.

Estude, pesquise em várias fontes, discuta, reflita. Esse é o caminho correto para aprender Direito. Bons estudos!

Profª. Aline Salles

Profª. Ângela Issa Haonat

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Ens

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EMENTA

Direito: origem e conceito. Direito Positivo e elementos do Direito. Direito Público: Direito Constitucional, formas de governo, os três poderes. Novas tendências do Direito Público. Direito Administrativo. Direito Civil. Direito Processual. A empresa no Direito do Trabalho e na lei brasileira.

OBJETIVOS

Conhecer os conceitos, a história e as fontes do Direito.•

Saber os limites da aplicação da lei ao caso concreto.•

Identificar os principais conceitos e institutos dos ramos que compõem •o Direito.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Noções introdutórias de Direito•

Ramos do Direito (público, privado e metaindividual)•

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

FERRAZ JUNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003a.

MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 115

REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BOBBIO, N. Teoria do ordenamento jurídico. 6. ed. Brasília: UNB, 1995.

CASTRO, F. L. de. História do Direito: geral e Brasil. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004.

DIMOULIS, Dimitri. Manual de introdução ao estudo do Direito. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

DOWER, N. G. B. Instituições de Direito público e privado. 11. ed. São Paulo: Nelpa, 2002.

FÜHRER, M. C. A.; MILARÉ, E. Manual de Direito público e privado. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

KÜMPEL, Vítor Frederico. Introdução ao estudo do Direito: Lei de Introdução ao Código Civil e Hermenêutica Jurídica. São Paulo: Método, 2007.

NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

RÁO, Vicente. O Direito e a vida dos direitos. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

REALE, Miguel. Teoria tridimensional do Direito. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.

SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2005.

VAZ, A. R. Introdução ao Direito. Curitiba: Juruá, 2007.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 117

Aula 1O que é Direito?

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

definir o que é Direito;•

conhecer as teorias do direito enquanto ciência.•

Pré-requisitos

Para que você atinja os objetivos propostos, é necessário que você converse com seus amigos e vizinhos sobre o Direito, para que identifique as diversas idéias e definições possíveis para essa palavra. Depois, elabore uma definição de Direito, pois a partir das suas concepções poderemos avançar e construir novos conhecimentos.

Introdução

A todo momento, deparamo-nos com direitos e deveres. Temos direito à educação, à saúde, ao trabalho digno. Por exemplo: a nossa Constituição Federal de 1988 afirma, no preâmbulo:

nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e indivi-duais [...] promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (grifo nosso).

Percebemos, portanto, que o Direito está presente em todas as relações sociais, nas leis e na vida cotidiana. Mas o que é Direito? A que nos referimos quando pensamos em Direito? O Direito é uma ciência? Há outras ciências que estudam o Direito? É o que vamos procurar responder nessa aula.

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

118 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

1.1 Definições de Direito

Podemos definir o Direito sob dois aspectos: um etimológico, que estuda a origem da palavra; e um real, que define o direito a partir das experiências vivenciadas pelo homem.

1.2 Significado etimológico

A palavra “direito” origina-se do latim rectum (reto) ou directum (direito), que significa “o que é conforme a régua”, ou seja, o que é reto, direito, linear, correto.

Porém, antes do surgimento da expressão directum, surgiu o prefixo latino jus, do qual derivam diversas palavras ligadas ao direito em nosso ordena-mento: jurídico, judiciário, judicial, jurisprudência, etc. A doutrina diverge quanto à origem desse prefixo. Observe a tabela a seguir:

JusJussum Justum

Mandar, ordenar Aquilo que é justo, conforme a justiçaJus

Yú YósVínculo comum (jugo, cônjuge) Justiça, santidade, divino, bomFonte: Montoro (2005, p. 52).

Apesar dessas correntes serem divergentes, apresentando diversas origens para a palavra “direito”, devemos observar que ambas são latinas, o que nos revela a grande influência do Direito Romano sobre o Direito Moderno, inclu-sive sobre o ordenamento jurídico brasileiro.

Observe, também, que todas as correntes ligam o Direito às idéias de bondade, justiça e divindade, acrescentando a ele a força, o poder de ordenar.

Você observará que o estudo da etimologia da palavra “direito” contri-buirá para a formação do seu significado real.

1.3 Significado real

A origem etimológica da palavra “direito” revela seus vários aspectos. Mas não o define de acordo com o nosso dia-a-dia. A palavra “direito” não identifica apenas uma realidade, mas várias, e todas elas são distintas. Vários doutrinadores já defniram, cada um a sua maneira, o Direito. Ferraz Jr. (2003, p. 31) afirma que o Direito

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 119

corresponde a uma certa atitude, uma forma de pensar, uma maneira de referir-se às instituições humanas em termos ideais. Trata-se de uma exigência do senso comum, profundamente arraigada, no sentido de que aquelas instituições de governo dos homens e de suas relações simbolizem um sonho, uma projeção ideal, dentro de cujos limites funcionam certos princí-pios, com independência dos indivíduos.

Reale (1999, p. 1) define o conceito como sendo

o direito é lei e ordem, isto é, um conjunto de regras obrigató-rias que garantem a convivência social graças ao estabeleci-mento de limites à ação de cada um de seus membros. Assim sendo, quem age de conformidade com essas regras compor-ta-se direito; quem não o faz, age torto (grifo nosso).

Ainda, Venosa (2005, p. 32) conceitua Direito como

uma realidade histórica, é um dado contínuo, provém da expe-riência. Só há uma história e só pode haver uma acumulação de experiência valorativa na sociedade. Não existe Direito fora da sociedade.

Observe por essas definições que o Direito é bastante complexo. Por esse motivo, diversos autores constumam destrinchar essas definições. Montoro (2005, p. 33) propõe uma divisão bastante interessante, analisando-o em cinco aspectos principais: como norma, como faculdade, como justo, como ciência e como fato social. Vejamos cada um desses aspectos.

a) O Direito como norma: o Direito é a lei, é a regra social obrigatória. Assim, se dissermos “o direito nos permite contratar”, estamos relacio-nando-o a uma norma, uma sentença que nos permite ou não praticar determinado ato.

b) O Direito como faculdade: expressa o poder que o Estado possui para legislar. Ou ainda, a liberdade do indivíduo de exigir ou não o cumpri-mento de um direito seu por outro. Montoro (2005, p. 60) afirma que “cada um desses direitos é uma prerrogativa ou uma faculdade de agir”. Assim, quando dizemos: “o Estado tem direito de legislar”, estamos reve-lando a liberdade que o Estado possui de criar leis, a fim de organizar a convivência em sociedade. Quando uma pessoa exige o cumprimento de um contrato de locação, por exemplo, também está exercendo seu “direito-faculdade”.

c) O Direito como justo: por esse aspecto vimos o Direito ligado ao devido (justiça objetiva), bem como o Direito em conformidade com a justiça (justiça subjetiva). Montoro (2005, p. 61) afirma que o direito-justo

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

120 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

objetivo é “aquele bem devido a uma pessoa por exigência da justiça. Nesse sentido, o direito à vida é devido a todo homem”. Já o direito justo subjetivo seria ligado a uma qualidade do indivíduo, em confor-midade com a justiça. Assim, condenar um louco por determinado ato praticado por ele é um ato “injusto”.

Hoje, podemos observar uma tendência em se considerar “o direito como justo”, como definição fundamental da palavra “direito” pois, como afirma Gurvitch, “as normas jurídicas podem ser mais ou menos perfeitas, mas não serão ‘direito’ se não estiverem orientadas no sentido da realização da justiça”.

d) O Direito como ciência: o Direito também significa ciência, uma vez que se propõe a estudar, com metodologia e rigor científico, os aspectos e fenômenos sociais que dão origem ao surgimento do direito como norma. Assim, o direito como ciência tem a finalidade de investigar e estudar as normas jurídicas situando-as no tempo e no espaço. Ou, como ensina Venosa (2005, p. 34):

Direito é ciência do ‘deve ser’ que se projeta necessariamente no plano da experiência. Para cada um receber o que é seu, o Direito é coercível, isto é, imposto à sociedade por meio de normas de conduta.

e) O Direito como fato social: por fim, o direito é um fenômeno da vida cole-tiva, já que é um dos setores da vida social, ao lado dos fatos econômicos, sociais, culturais, etc. Este é o primeiro aspecto do direito a surgir, uma vez que para organizar as relações humanas sempre se fez necessária a existência de regras de conduta, ainda que primitivas. Mas esse foi o último aspecto a ser estudado com rigor científico.

Observe a importância de se considerar a opinião de um doutrinador, pois ele influencia, consideravelmente, a definição da norma jurídica. Venosa (2005, p. 34) é adepto desta corrente. Ele afirma que o direito:

refere-se sempre ao todo social como garantia de coexistência. Realizar o Direito é realizar a sociedade como comunidade concreta, que não se reduz a um conglomerado amorfo de indivíduos, mas forma uma ordem de cooperação, uma comu-nhão de fins que precisa ser ordenada. Daí porque só existir Direito em sociedade.

Modernamente, o estudo da Sociologia Jurídica vem ganhando força pela adesão de inúmeros juristas a esta disciplina.

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 121

1.4 História e Direito

É certo que conhecendo o passado podemos entender melhor o presente para intervir com mais sabedoria na construção do futuro. Nesta aula vamos realizar uma incursão pela História do Direito Mundial, apresentando alguns dos seus principais momentos e leis, e focando especialmente naquelas que influenciaram ou formaram o Direito pátrio. A partir daí, esperamos que seja mais fácil compreender a realidade jurídica brasileira que será apresentada nesta disciplina.

A História é uma ciência que busca conhecer e compreender o passado. Uma vez que é impossível reconstituir ou reviver exatamente o que já acon-teceu, a História sempre será parcial, lacunar, representando um ponto de vista sobre o momento analisado.

O Direito é um fenômeno que pode ser encontrado dentro de todas as sociedades, mesmo as mais primitivas, desde os tempos mais remotos. É claro que nas sociedades mais primitivas o Direito não se apresentava tal qual nós o conhecemos hoje, como produto estatal, cuja principal expressão é a lei.

Na Pré-História e nas sociedades arcaicas, o Direito é oral e essencial-mente baseado nos costumes, e aparece junto com outras normas de organi-zação social, como a moral, a tradição, a religião ou a autoridade. Apesar da variedade de tipos e complexidades, esses agrupamentos humanos têm como ponto comum o fato de não apresentarem escrita, mas a existência de regras sobre relações de família e propriedade parecem estar sempre presentes (CASTRO, 2004, p. 7).

a) Direito na antiguidade

O aparecimento da escrita entre as sociedades egípcia e mesopotâmica, por volta de 4000 a.C., iniciou efetivamente a História da Humanidade e desde então, cerca de 2100 a.C., já podemos encontrar leis escritas, como as leis de Ur-Nammu e o Código de Hamurábi. O famoso Código de Hamurábi (1750, a.C.) foi escrito em uma pedra preservada até hoje no Museu do Louvre, na França. Tem 262 artigos, e reconhecia a Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, como parâmetro para estabelecer as penas, além de expressar preocupações sociais, como o amparo de órfãos e a defesa do consumidor.

Outros povos também desenvolviam seus Direitos, como o povo hebreu e as leis de Moisés (os 10 Mandamentos e o Pentateuco, os 5 primeiros livros da Bíblia), os povos hindus e seu Código de Manu.

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

122 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

A cultura e a filosofia grega muito contribuíram para o Direito, na medida que instituíram um espaço público (pólis) onde se discutiam questões públicas e de justiça. Contribuiu para a desvinculação do Direito com o divino ou a tradição, colocando o homem como centro das reflexões.

b) Direito romano

Ainda na Antiguidade devemos nos referir ao povo que mais contribuiu para a evolução do Direito (inclusive o brasileiro): os romanos. Roma, fundada desde 753 a.C., pelos míticos Rômulo e Remo, transformou-se em um império que dominou quase toda a Europa do séc. VI d.C., quando a parte ocidental caiu sob a invasão de povos bárbaros.

O Direito romano pode ser dividido em três períodos:

Arcaico (da fundação ao séc. II a.C.): caracteriza-se pelo formalismo, •rigidez e ritualidade; era exclusivo para romanos. A principal reali-zação do período foi a Lei das XII Tábuas. A Lei das XII Tábuas: criada em 450 a.C., fruto da luta da plebe romana por igualdade frente aos patrícios. Tornou escritas leis costumeiras e, apesar de cair rapida-mente em desuso, foi considerada durante todo o período do Direito Romano como sua principal fonte (CASTRO, 2004, p. 85).

Clássico (séc. II a.C. a III d.C.): foi o período auge do Direito Romano, •e da expansão do Império. Passa a reger questões entre romanos e não-romanos, graças ao desenvolvimento do Direito pretoriano, ou hono-rário. Os pretores, (magistrados eleitos responsáveis pela administração da justiça, estabeleciam os parâmetros para os juízes, cidadãos do povo, julgarem as contendas) e os jurisconsultos (estudiosos do Direito) “adquirindo maior poder de modificar as regras existentes, puderam revolucionar constantemente o Direito” (CASTRO, 2004, p. 85).

Pós-clássico (séc. III a VI d.C.): centralização do poder nas mãos do •imperador, cristianização e lento declínio do Império, com sua divisão ao final do séc. IV em Roma Ocidental e Oriental. O Direito não apre-sentou grandes inovações além de tentativas de codificação, o que só foi possível efetivamente com Justiniano, imperador de Roma Oriental, com a criação do Corpus Iuris Civilis. O Corpus Iuris Civilis busca resgatar o Direito clássico romano e compõe-se de 4 livros: o Codex (coleção de Constituições imperiais), o Digesto (seleção das obras dos jurisconsultos), as Institutas (manual de estudo de Direito) e as Novelas

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 123

(leis do próprio Justiniano). A morte de Justiniano marca o fim defini-tivo do Império romano.

O Direito romano influenciou significativamente o Direito português e, poste-riormente, o brasileiro, em todas as áreas, em especial a do Direito privado no que se refere às obrigações, contratos, direitos reais (posse e propriedade) e direito de família.

c) Direito no Medievo

A Idade Média, muitas vezes chamada de “Idade das Trevas”, é um período muito rico para o Direito. Ela pode ser dividida em Alta (séc. V a XI) e Baixa (séc. XI a XV) Idade Média.

Fora da Europa, no Oriente Médio, logo no séc. VII o mundo assistirá ao nascimento de uma nova religião que terá grande e rápido crescimento: o Islamismo. Seus princípios e regras são rígidos, e estão apresentados no seu livro sagrado, que é, ao mesmo tempo, um código de leis para seus seguidores: o Corão. O sistema de Direito muçulmano é original e se desenvolve até hoje em amplas regiões do globo, com maior ou menor influência das instituições modernas. O Corão ou Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos, revelado a Maomé em 622. É composto por 114 suras ou capítulos que anunciam o juízo final e prescrevem regras morais, religiosas e jurídicas.

As invasões bárbaras na Europa passam a desestabilizar o Império Romano e, junto com outros fatores, provocam a sua queda. A partir daí acontece uma fragmentação do território e do poder, bem como a ruralização da sociedade, formando o sistema conhecido como Feudalismo, que vai perdurar por todo o Medievo e caracterizar este período na Europa. O Feudalismo é o sistema social que vigorou durante toda a Idade Média européia, com variável intensi-dade, onde o dono da terra, o senhor feudal, se ligava ao servo por laços de vassalagem, que implicavam deveres de obediência e lealdade.

Durante toda a Alta Idade Média, encontramos o Direito europeu desestru-turado e eminentemente costumeiro e local. Neste período, a Igreja Católica está se expandindo e se organizando até que ela, já na Baixa Idade Média, centralizada, torna-se a instituição mais importante deste momento. Junto à Igreja, nascerão as Universidades e os cursos de Direito.

É ela que vai construir um novo sistema de Direito, o Direito Canônico, com influências do Direito Romano, que vai gerar umas das passagens mais nefastas da nossa História: a Inquisição. A Inquisição foi o tribunal criado pela

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124 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Igreja Católica a partir do séc. XIII pra combater os hereges, que eram todos aqueles que ousavam discordar de seus dogmas, suas verdades indiscutíveis. Teve seu período áureo em Portugal entre os séc. XVI e meados do XVIII, mas só foi oficialmente extinta em 1821.

A Inquisição, apesar dos horrores cometidos pelo uso oficial da tortura, apresentou grande avanço no que se refere ao processo. Isso acontece por terminar com os ordálios (que eram formas de provas irracionais, como andar em brasa ou sofrer afogamento) e estabelecer o uso de provas racionais (como os testemunhos, documentos e, principalmente, a confissão) e uma maior orga-nização das etapas processuais, além de tornar o processo escrito.

Paralelo a isto, na Inglaterra, a partir do séc. XI, começa a se desenvolver outro sistema de Direito chamado Common Law, conhecido como Direito Inglês, que nasceu como um direito ligado ao Rei e comum a todo o território para cuidar dos interesses públicos (enquanto os interesses privados continu-avam a ser discutidos dentro do âmbito do feudo). Este sistema jurídico que até hoje rege países diversos como os EUA, o Japão, a Índia, além da própria Grã-Bretanha, teve pouca contribuição romana, e por isso apresenta caracterís-ticas bem diferentes da nossa realidade. A sua característica mais importante e também nossa maior diferença é que aquele é um direito de base costumeira cuja principal fonte são os precedentes, as decisões judiciais e não as leis.

d) Direito e Idade Moderna

A Idade Moderna se inicia com grandes eventos: as navegações e a “descoberta” da América, a Reforma Protestante, o Renascimento, ao mesmo tempo em que a Europa volta a se estruturar urbana, comercial e politicamente. Os reis, em aliança com os senhores feudais e a burguesia nascente, vão fortalecer seu poder, tornando o poder político centralizado e superior a todos os demais, formando as Monarquias Absolutistas. Nasce a noção de Estado-nação moderno, que agrega três elementos: território, povo e soberania.

Ou seja, dentro de determinado território “autônomo”, independente, a sociedade, as pessoas que ali se encontram devem obediência às regras emanadas pelo poder político do Estado, neste momento totalmente nas mãos do Rei, senhor absoluto, sem qualquer limite ao seu poder. Nenhum outro poder, como o poder da família ou da Igreja, pode ir contra ou se sobrepor às normas estatais. Desta maneira, o Direito passa a ser de âmbito nacional e se restringe basicamente às leis feitas pelo Estado, tal qual encontramos hoje.

AUlA 1 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 125

e) Direito contemporâneo

As Revoluções burguesas marcam o início da Idade Contemporânea. As vantagens concedidas à nobreza e clero, bem como a constante majoração de impostos, fez com que EUA e França, ao final do séc. XVIII, tivessem movimentos contra o Absolutismo e a ausência de limites do Estado frente aos direitos do cidadão. Estes dois países vão implantar uma República, uma forma de Estado cujo acesso ao poder central é decidido pelo povo, direta ou indiretamente.

A Idade Contemporânea vai criar o Estado de Direito, que é aquele cujo exercício do poder político é limitado pelas leis. Inaugura-se a época das Constituições, como instrumentos de limitação do poder e de garantias indivi-duais (em especial a liberdade, a igualdade e a propriedade).

A independência dos EUA, livrando-se da Inglaterra, por meio da Declaração dos Direitos da Virgínia, influenciou diretamente toda uma onda de independência das colônias americanas, dentre as quais o Brasil. A Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão, feita em 1789, põe fim ao Absolutismo Francês objetivando assegurar, a todos, aqueles direitos considerados “natu-rais”. Note-se, no entanto, que a igualdade reclamada na Declaração não se estendia às mulheres.

Além da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a Revolução Francesa também deixou de herança outro tipo de documento legal que mostra sua importância até os dias atuais: o Código, que no seu sentido moderno se refere a um conjunto sistematizado de leis sobre um ramo do Direito, tornando-o de mais fácil acesso e conhecimento.

Já no século XX, após a humanidade assistir às atrocidades da I e II Guerras Mundiais, inicia-se a construção de um sistema e de um direito internacional que garantam e promovam os direitos fundamentais da pessoa humana. Isto acontece com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) e a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que é ainda hoje o principal documento jurídico que influencia até mesmo o Direito de países não-signatários. Aprovado pela ONU em 1948, a Declaração é formada por 30 artigos que retratam um esforço comum para resgatar e resguardar a dignidade humana. Ela marca o início de uma série de declarações e convenções internacionais sobre temas específicos de Direitos Humanos.

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126 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

1.5 História do Direito brasileiro

O Brasil só aparece no cenário mundial já na Idade Moderna e, mesmo assim, como colônia de Portugal. Nesta situação, o Direito era totalmente submisso à metrópole, tendo como base legal durante todo este período as Ordenações reais portuguesas, além de leis extraordinárias, criadas para reger as colônias (alvarás, regimentos, cartas de foral). Era uma reunião de leis já existentes para melhor organização do reino, feitas a pedido dos reis portu-gueses que dão nome a elas. Foram três Ordenações: as Afonsinas (1446), Manuelinas (1521) e Filipinas (1603). Quando uma era feita, a anterior deixava de ter validade. As ordenações eram divididas em 5 livros: 1. Administração e cargos públicos, 2. Direito eclesiástico, 3. Direito processual civil, 4. Direito civil, 5. Direito penal e processual penal.

Após nossa independência de Portugal, em 1822, o Brasil torna-se uma Monarquia, diferentemente de todas as demais colônias americanas que se tornam Repúblicas, mas adere, quase que de imediato, ao modelo de governo constitucionalista, fazendo sua primeira Constituição (outorgada, imposta) em 1824. Apesar de professar as idéias das revoluções burguesas, o Estado e o Direito brasileiro continuaram aceitando a escravidão, contrariando os princí-pios de igualdade e liberdade. Esta situação só vai terminar um ano antes do fim da monarquia, em 1889.

Após a transformação do Brasil em República, podemos encontrar mais cinco Constituições em nossa história, além da Constituição Federal de 1988, vigente até hoje. São elas:

Constituição de 1891 – corresponde ao período conhecido como •“República do Café-com-Leite” devido ao predomínio político e econô-mico de São Paulo e Minas, apoiado sobre o poder dos governadores e coronéis, chefes políticos locais. Institui o presidencialismo e o fede-ralismo (autonomia para os Estados).

Constituição de 1934 – é a primeira Constituição da Era Vargas •(1930-1945) e se caracteriza por assegurar os primeiros direitos trabalhistas e começar uma maior profissionalização da Administração Pública, com a exigência de concursos públicos.

Constituição de 1937 – também da Era Vargas, é uma constituição •imposta devido a um golpe de estado. Mantêm os direitos trabalhistas, mas torna-se mais centralizadora e anti-democrática.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 127

Constituição de 1946 – fruto de um período de redemocratização do •Brasil (pós-Era Vargas), trouxe maior autonomia ao Poder Judiciário.

Constituição de 1967 – criada pela Ditadura Militar, em pouco difere •da Constituição de 1946, exceto pela subtração dos pontos demo-cráticos e inserção de amplos poderes ao Executivo. Em 1969, a Emenda Constitucional n.º 1 (conhecida como Constituição de 1969), aumentou ainda mais aqueles poderes do Executivo e suprimiu alguns do Legislativo e Judiciário.

A Constituição de 1988 foi fruto da redemocratização no Brasil, iniciada de fato em 1985. Seus principais pontos serão objeto de estudo mais adiante nesta disciplina.

Assim, vimos que o Direito pode ser compreendido sob vários aspectos, todos eles fruto da experiência histórica de um povo.

Síntese da aula

Vimos, nesta aula, que o Direito pode ser definido pelo aspecto etimoló-gico, considerando-se a origem da palavra, e pelo aspecto real, considerando a influência dele em nosso cotidiano. Este último é complexo, já que pode ser visto sob cinco prismas (Direito enquanto justiça, lei, faculdade, fato social e ciência), diversos entre si, mas que se complementam. Vimos nesta aula que o Direito se manifesta em toda e qualquer sociedade, e que suas características variam de acordo com o tempo e o grupo humano dentro do qual ele se desen-volve. Conhecemos algumas das suas principais expressões legais e suas contri-buições ao Direito nacional. Por fim, fizemos um breve passeio pela História do Direito brasileiro por meio das Ordenações e de suas Constituições.

Atividades

1. Sobre a definição etimológica do direito, marque a alternativa correta.

a) O conhecimento da origem da palavra direito em nada auxilia no seu estudo.

b) Não há qualquer divergência entre os doutrinadores: a palavra direito surge da expressão grega jus, que significa “justiça”.

c) A origem da palavra direito remete a uma origem latina, o que demonstra a grande influência do Direito Romano sobre nosso orde-namento jurídico.

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128 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

d) O direito não possui um estudo da origem etimológica da palavra, de modo que não sabemos de onde surgiu a palavra.

2. Pesquise, em obras jurídicas de Introdução ao Estudo do Direito, o conceito de direito e identifique a qual dos cinco aspectos reais que estudamos que elas pertencem.

3. Quais os documentos jurídicos importantes na História vistos nesta aula? Escolha um deles para descrevê-lo melhor e analise no que ele pode ter contribuído, ou não, para o Direito ou sociedade atual. Depois, socialize com seus colegas.

4. Por que o texto afirma que a Idade Média não foi a “Idade das Trevas“ para o Direito? Você concorda com ele? Justifique em um texto de até 10 linhas.

5. Relacione a coluna da esquerda com a da direita:

I. Povos primitivos

II. Mesopotâmia

III. Grécia

IV. Islã

( ) Vários “códigos” de leis, destacando-se o Código de Hamurábi.

( ) Povos sem escrita, diversidade de direitos.

( ) Legou a idéia de espaço público e reflexões sobre a justiça.

( ) Religião baseada na lei dada pelo Corão.

A seqüência correta é:

a) II, I, III, IV

b) I, III, II, IV

c) II, IV, I, III

d) IV, I, III, II

Comentário das atividades

Na atividade 1, você identificou o significado da palavra direito e pôde perceber a relação existente entre direito e linguagem. O exercício proposto teve a finalidade de demonstrar a importância de se conhecer a etimologia e os pontos em comum das várias correntes existentes sobre a palavra direito. A alternativa correta no exercício proposto é a letra (c), que relaciona o quanto a origem da palavra direito remete a uma origem latina, demonstrando a influência do Direito Romano sobre nosso ordenamento jurídico. As demais alternativas estão erradas posto que se colocam exatamente na contramão da relação entre o direito e a linguagem.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 129

Na atividade 2, além das questões pertinentes à etimologia, você deve ter percebido a dificuldade de se conceituar o Direito. Neste exercício, propu-semos que você pesquisasse acepções da palavra direito como: norma, facul-dade, justiça, ciência e fato social. Após a identificação dos diferentes signifi-cados, pense em um exemplo ilustrativo para cada uma das acepções. Temos certeza de que isso facilitará essa atividade e sua aprendizagem.

Na atividade 3, as principais leis estão listadas no texto. Você elegeu a que lhe pareceu mais interessante e tentou encontrar pontos de semelhança com a nossa realidade? Você pode consultar o sítio: <http://www.dhnet.org.br> para ajudá-lo. Sobre as constituições da história do Brasil, acesse: <http://www.presidencia.gov.br>, no link Legislação.

Na atividade 4, você percebeu que durante a Idade Média podemos encontrar vários acontecimentos ligados ao Direito, como o nascimento do Direito Muçulmano, Canônico e Inglês, além da criação dos cursos de Direito e a própria Inquisição, assim você percebeu que não foi uma época de pouquís-simas criações.

Na atividade 5, vê-se que os povos primitivos têm em comum a ausência de escrita e o direito costumeiro próprio de cada um. Já na Idade Antiga, a Mesopotâmia inicia a escrita e deixa como legado vários “códigos”, como o de Hamurábi, enquanto a Grécia inaugura a Antiguidade Clássica, trazendo reflexões sobre o espaço público e a justiça. Já no Medievo, é fundada a religião muçulmana, baseando-se na lei dada pelo Corão, assim a resposta correta é a letra (a).

Ao realizar as atividades, você conseguiu alcançar os objetivos que foram propostos para esta aula de definir o que é direito e conhecer as teorias do direito enquanto ciência.

Referências CASTRO, F. L. de. História do Direito: geral e Brasil. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004.

DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

FERRAZ JUNIOR, T. S. Introdução ao estudo do Direito. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MONTORO, A. F. Introdução à ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

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130 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

NADER, P. Introdução ao estudo do Direito. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

NUNES, R. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

REALE, M. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

VENOSA, S. de S. Direito Civil: parte geral. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

Na próxima aula

Conheceremos as fontes do Direito e como as normas são aplicadas no caso concreto.

Anotações

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 131

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

reconhecer as fontes do Direito;•

conhecer os limites para a aplicação da norma jurídica ao caso •

concreto.

Pré-requisitos

Para que você atinja os objetivos propostos, releia, na aula 01, os possí-

veis conceitos de Direito, a fim de perceber como ele é formado, pois este será

o tema desta aula.

Introdução

Nesta aula, você vai conhecer as fontes do Direito, ou seja, de onde ele

se origina. Depois de conhecer as espécies de fonte e como elas se classi-

ficam, você vai perceber que o ordenamento jurídico de uma sociedade não

é imutável, dada a sua evolução. E as leis (como fontes primárias do direito

escrito), devem ser modificadas e novas normas estabelecidas.

Conheceremos, então, como as normas jurídicas são feitas e como se

classificam. Depois disto surge para nós uma nova preocupação: como e

quando a norma jurídica será aplicada? A norma jurídica será aplicada

de acordo com os limites impostos a ela. Assim temos o limite “tempo”, que

corresponde ao tempo de duração daquela lei; “espaço”, ligado à idéia

de território, ou seja, o local onde a lei vigorará; “matéria”, com relação

ao tipo de lei a que se refere, a qual assunto; e “pessoa”, que determina

a quem se dirige a lei.

Aula 2Fontes do Direito

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132 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

2.1 Fontes do Direito

Fontes do Direito designam o local de onde o Direito se origina. “Fonte”, do latim fons ou fontis, significa “nascente de água”. Trata-se de uma expressão metafórica, como bem observa Du Pasquier citado por Nader (2005, p. 141).

Nunes (2005, p. 71) completa essa idéia afirmando que a “fonte é revela-dora do que estava oculto, daquilo que ainda não havia surgido, uma vez que é exatamente o ponto de passagem do oculto ao visível”. Assim podemos afirmar que a fonte do direito é sua origem, sua procedência, o que forma sua base.

2.2 Espécies de fontes do direito

Os autores não são unânimes ao classifcar as fontes do Direito. Existem várias classificações para as fontes do direito, mas as maiores divergências relacionam-se à discussão sobre o fato de a doutrina, da jurisprudência e dos princípios, consistirem, ou não, em fonte jurídica. Adotamos aqui a posição que eles integram as fontes do Direito. Contudo você é livre para adotar clas-sificação diversa da mencionada, que considere conveniente a partir do seu ponto de vista.

Nunes (2005, p. 72) as divide em fontes estatais e não-estatais. Nader (2005, p. 141), por exemplo, divide as fontes do Direito em históricas, formais e materiais. Já Reale (1998, p. 139) afirma que a divisão de fontes em mate-riais e formais está totalmente equivocada, “tornando-se indispensável empre-garmos o termo fonte do direito para indicar apenas os processos de produção de normas jurídicas”. Para ele, a classificação correta fundamenta-se na relação entre o direito e o poder:

(...) quatro são as fontes de direito, porque quatro são as formas de poder: o processo legislativo, expressão do Poder Legislativo; a jurisdição, que corresponde ao Poder Judiciário; os usos e costumes jurídicos, que exprimem o poder social, ou seja, o poder decisório anônimo do povo; e, finalmente, a fonte negocial, expressão do poder negocial ou da autonomia da vontade (grifo nosso).

Você poderá adotar a classificação que considerar conveniente a partir do seu ponto de vista. Apontamos a importância da classificação da professora Maria Helena Diniz (2006, p. 283-331), que traz ampla classificação, assim considerando: (I) fontes materiais (fontes de produção do direito positivo) (II) fontes formais – estatais: (legislação, jurisprudência e Convenção Internacional)

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 133

e (III) fonte formal não-estatal (costumes, doutrina, poder negocial, poder normativo dos grupos sociais), formando assim uma das mais completas fontes de classificação.

Para fins deste estudo, no entanto, optamos por uma mais singela classifi-cação, que apresentamos a seguir.

a) Fontes formais e fontes materiais

Fontes formais “são os meios de expressão do Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se conhe-cidas” (NADER, 2005, p. 142). O fenômeno jurídico somente será considerado “fonte” se ele possuir o poder de “criar” o direito. Assim, a lei, o decreto, o regulamento, o costume e a jurisprudência são fontes formais, porque dão à regra o caráter de direito positivo e obrigatório.

Fontes materiais são os conflitos que surgem na sociedade. É a socie-dade, como centro das relações de vida, que fornece ao legislador os elementos necessários à formação das regras jurídicas (NADER, 2005, p. 142). Assim, são fontes materiais os valores inseridos no campo jurí-dico e a realidade social, porque não possuem o poder direto de criar a norma jurídica, mas norteiam e justificam a sua criação.

b) Fontes estatais e fontes não-estatais

Fontes estatais são as que nascem do Estado. São a lei, a jurispru-dência e a súmula vinculante.

Fontes não estatais são as que provem do particular ou da sociedade diretamente, como o costume jurídico e a doutrina.

2.3 Fontes estatais do Direito

a) As Leis

A lei “é a forma moderna de produção do Direito Positivo” (NADER, 2005, p. 146). É a fonte mais importante do Direito, indiscutivelmente, uma vez que é criada por órgãos especiais, constituídos pelo povo, para representar a socie-dade e com a finalidade primordial de elaborar as leis.

Montoro (2005, p. 383) afirma que “é a lei que fixa as linhas fundamen-tais no sistema jurídico e serve de base para a solução da maior parte dos problemas do Direito”.

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134 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Mas “lei” pode ter diversos sentidos. Observe a tabela a seguir:

SENTIDO AMPLíSSIMO SENTIDO AMPLO SENTIDO ESTRITO

Lei é sinônimo de norma jurídica, ou seja, qualquer regra de conduta escrita, ou não-escrita. Assim, o costume também seria uma lei.

Lei é qualquer regra de conduta escrita, não se incluindo aí os costumes e a doutrina. Exemplo: a lei ordinária, o decreto e o regulamento.

Lei é a norma jurídica escrita e aprovada pelo Poder Legislativo. É o preceito comum e obrigatório, emanado do Poder Legislativo, no âmbito de sua competência. Exemplo: lei ordinária, lei complementar, etc.

Fonte: Nader (2005, p. 148).

Como fonte jurídica, consideramos a lei em seu sentido amplo, já que a lei aqui está classificada como fonte estatal, isto é, fonte de direito produzida pelo Estado.

b) A Jurisprudência

Nunes (2005, p. 87) afirma que jurisprudência é o conjunto das deci-sões reiteradas dos tribunais a respeito de um mesmo assunto. Jurisprudência é, então, a “reunião das decisões judiciais, interpretadoras do Direito vigente” (NADER, 2005, p. 171). Montoro (2005, p. 410) ensina que juris-prudência é “o conjunto uniforme e constante de decisões judiciais sobre casos semelhantes”.

Assim, para que tenhamos jurisprudência, é necessário a existência de várias decisões semelhantes sobre o mesmo assunto. Se houver apenas uma decisão sobre uma determinada situação jurídica, não é jurisprudência, uma vez que esta tem como requisito a repetição. É o conjunto dessas decisões que forma a jurisprudência.

c) Súmula Vinculante

A Súmula Vinculante é instituto diverso das súmulas orientadoras editadas pelos Tribunais Superiores. Como explica Kümpel (2007, p. 96), a Súmula Vinculante (cuja competência é exclusiva do Superior Tribunal Federal – STF e restrita apenas à matéria constitucional), foi introduzida com a Emenda Constitucional EC 45/2004, ensejando ao STF sumular e publicar matéria de sua competência que vinculará os demais órgãos do Poder Judiciário, e à Administração Pública direta e indireta em todos os seus níveis. Elas necessitam de 2/3 dos membros do STF na sua aprovação. Como instru-mento novo no ordenamento jurídico, há argumentos favoráveis (desobstrui o Poder Judiciário) e desfavoráveis (o juiz não exerce o seu juízo de valor no caso concreto).

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 135

2.4 Fontes não-estatais

a) Costume jurídico

O costume jurídico é uma norma não-escrita, caracterizada pela prática longa e reiterada de um determinado ato pela sociedade. Mas observe: não confunda o costume jurídico com os costumes de cunho moral, social e reli-gioso (por exemplo: ir à igreja, vestir a roupa da moda, etc.), uma vez que estes não possuem força coercitiva.

Nader (2005, p. 157) conclui que o costume é “uma prática gerada espontaneamente pela forças sociais”. E continua: “a formação do costume é lenta e decorre da necessidade social de fórmulas práticas para resolverem problemas em jogo”.

Essa fonte do Direito tem uma importância histórica, visto que é a mais antiga. Ainda hoje é considerada fonte de Direito, embora seu grau de importância seja ditado pela matéria tratada (ex: o Direito comercial tem o costume como fonte primária) e do sistema jurídico adotado pelo Estado (ex: nos EUA, o sistema jurí-dico é o common law, que se baseia principalmente nos precedentes).

b) A Doutrina

A doutrina também é uma fonte de Direito, uma vez que ela investiga e analisa o ordenamento jurídico de uma determinada sociedade, localizada no tempo e no espaço, de maneira crítica, independente e com rigor científico. Montoro (2005, p. 415) afirma que:

a doutrina é o estudo de caráter científico que os juristas realizam a respeito do direito, seja com o propósito puramente especulativo de conhecimento e sistematização, seja com a finalidade prática de interpretar as normas jurídicas para sua exata aplicação.

Nunes (2005, p. 103) concorda com essa definição, afirmando que doutrina “é o resultado do estudo que pensadores – juristas e filósofos do Direito – fazem a respeito do Direito”. A doutrina contribui sobremaneira não apenas para a elaboração da norma jurídica, mas também para a sua inter-pretação e aplicação.

2.5 Norma Jurídica: conceito

A norma jurídica é a regra criada para regular a conduta social. Montoro (2005, p. 361) afirma que o objetivo da norma jurídica é regular a atividade dos homens em suas relações sociais.

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136 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Norma jurídica é, portanto, gênero, do qual a lei é espécie. Você estudou no começo da aula que a palavra “lei” pode ser vista em sentido amplíssimo. Esse sentido é o da norma jurídica. Mas não é apenas a lei que pode ser vista como espécie de norma jurídica. Além dela, existem também os costumes e a jurisprudência, que você também já analisou.

2.6 Ordenamento Jurídico Brasileiro

O Brasil, assim como outros países latinos (Argentina, México, França, Alemanha, Portugal, Itália, etc.), adota o Sistema Romano-Germânico, que é o sistema codificado. Isso significa que nossas normas são predominantemente escritas e organizadas em códigos (Código Civil, Código de Processo Penal, Código de Defesa do Consumidor, etc.). A maioria dos países ocidentais adota esse sistema. Os Estados Unidos e a Inglaterra adotam o Sistema Anglo-Saxão, que é baseado no Direito Costumeiro ou Consuetudinário.

Mas o que é “sistema”?

Nunes (2005, p. 190) afirma que sistema “é uma construção científica composta por um conjunto de elementos”. Esses elementos são as regras que determinam as relações sociais, formando a sua estrutura. Exemplo: leis, decretos, regulamentos, constituição, costumes jurídicos, jurisprudência, etc.

A estrutura desse sistema é formada pela hierarquia das normas, pela coesão e pela unidade, e a Constituição é sempre a lei maior que determina a validade de todas as outras normas inferiores.

Para Norberto Bobbio, no entanto, a reflexão sobre o ordenamento jurídico foi mais além, trazendo uma compreensão do direito não mais centrada na norma – conforme defende o normativismo – mas centrada no ordenamento, entendido como o sistema, o conjunto das normas de uma determinada ordem jurídica.

A teoria do ordenamento jurídico é uma tentativa de resolver alguns problemas que a teoria da norma não havia conseguido resolver ou havia dado uma resposta insatisfatória, como, v.g., a questão da completude e das antinomias (GASPERIN, 2003).

A teoria do ordenamento jurídico, segundo Bobbio, constitui uma inte-gração com a teoria da norma jurídica. Ele lembra que a palavra Direito também se refere ao sistema de leis. Assim, “enquanto, pela teoria tradi-cional, um ordenamento se compõe de normas jurídicas, na nova perspectiva normas jurídicas são aquelas que venham a fazer parte do ordenamento jurídico” (1995, p. 30).

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 137

2.7 Classificação da Norma Jurídica

Quando se fala nas espécies normativas e sua hierarquia, lembrando a supremacia das leis constitucionais sobre as demais espécies, não se pode deixar de mencionar a alteração advinda com a EC 45/2005, que atribuiu status de norma constitucional aos Tratados Internacionais que versem sobre Direitos Humanos (art. 5°, § 3°), que antes possuíam apenas força de lei ordinária.

QuANTO à HIERARQuIA

ConstitucionaisLeis Complementares e Leis ordináriasLeis delegadasDecretos legislativos e resoluçõesMedidas provisóriasDecretos regulamentaresOutras normas (portarias, atos normativos, etc.)

QuANTO à NATuREzA DE SuAS DISPOSIçõES

Substantivas Quando criam, declaram e definem os direitos, os deveres e as relações jurídicas.

Adjetivas ou processuais

Quando definem a forma de acesso ao Poder Judiciário por meio do processo.

QuANTO à APLICABILIDADE

Auto-aplicáveis As que não necessitam de outra norma que as comple-mentem, podendo serem aplicadas imediatamente.

Dependentes de complementação

As que dependem de outra norma para regulá-las, e declaram isso expressamente em seu conteúdo. Exemplo: art. 5º, XXXII, CF/88: “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” (grifo nosso).

Dependentes de regulamentação

As que determinam sua regulamentação por órgãos específicos do Poder Executivo.

QuANTO à SISTEMATIzAçãO

ConstitucionaisSão as dispostas em um único corpo legislado, elabo-radas por um poder constituinte para controlar e validar todas as outras normas do sistema.

Codificadas As que regulamentam todo um ramo do direito, colocan-do-o em uma única lei. Ex: Código Civil.

Esparsas Aquelas editadas isoladamente, para regular um assunto específico. Ex: Lei do Inquilinato.

ConsolidadasAs que reúnem várias leis esparsas sobre assuntos seme-lhantes em um único corpo legislado. Ex: Consolidação das Leis Trabalhistas.

QuANTO à OBRIGATORIEDADE

De ordem pública As que não podem ser modificadas por convenção entre particulares.

De ordem privada As que permitem as partes estabelecerem regras entre si, de acordo com a vontade das mesmas.

QuANTO à ESFERA DO PODER PÚBLICO DE QuE EMANAM

Federais Quando emanam da esfera Federal.

Estaduais Quando emanam do Estado.

Municipais Quando emanam do Município.

Fonte: Nunes (2005, p. 170-174)

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138 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

As leis (no sentido restrito, emendas constitucionais, leis complementares, ordinárias e delegadas) são feitas a partir de um processo previsto na própria Constituição Federal (art. 59 a 69), conforme veremos a seguir.

2.8 O processo legislativo

Apresentamos a seguir as fases do processo legislativo conforme Nader (2005, p. 149-150). O processo legislativo compreende as seguintes fases: apresentação do projeto, exame pelas comissões, discussão e aprovação, revisão, sanção, promulgação e publicação. Vejamos cada uma delas.

a) Iniciativa da Lei

Esta fase corresponde à apresentação do projeto de lei, que poderá ser feito por qualquer membro ou comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, pelo Presidente da República, pelo Supremo Tribunal Federal, pelos Tribunais Superiores, pelo Procurador-Geral da República e pelos cidadãos (art. 61 da CF/88).

b) Exame pelas comissões técnicas, discussão e aprovação

Após a apresentação do projeto de lei, ele é encaminhado à comissão técnica competente para avaliar se o projeto pode ser levado à votação. Uma vez aprovado, ele é levado à votação em plenário, exigindo-se, para tanto, quorum de presença e de votação, de acordo com a determinação constitucional para cada tipo de lei a ser produ-zida. Na votação, o projeto poderá ser aprovado ou não. Caso não seja aprovado, ele será arquivado.

c) Revisão

Nesta fase, o projeto aprovado por uma das Casas do Congresso será encaminhado à outra Casa para que seja revisto. Se o projeto for aprovado na Casa Revisora, esta o encaminhará para o Presidente da República. Se houver emenda, voltará para a Casa original para nova avaliação e aprovação. E se for rejeitado, será arquivado.

d) Sanção

Uma vez aprovado, o projeto será levado ao Presidente da República, e este poderá sancionar, ou seja, concordar com a lei, ou rejeitar, por meio do veto. Neste caso, o projeto voltará para nova revisão e votação no Congresso, onde o veto poderá ser rejeitado, por maioria absoluta

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 139

dos votos dos membros do Congresso. Nesse caso, o Presidente terá 48 horas para sancioná-la e, não o fazendo, será sancionada pelo Presidente do Senado Federal.

e) Promulgação e Publicação

Se o presidente sanciona a lei, dizemos que ela foi promulgada, isto é, aprovada de forma democrática. Após a promulgação da lei, vem a sua publicação, que é ato indispensável para sua entrada em vigor, uma vez que é este ato que dá conhecimento a todos de que a lei existe e é válida.

2.9 Aplicação das leis no tempo

Uma lei só é aplicável quando se torna obrigatória. Não basta a lei ter sido sancionada. Tem que ter sido publicada. Assim, a publicação da lei é o marco inicial para a aplicação da lei no tempo.

Nunes (2005, p. 198) afirma que “a vigência implica que a norma jurí-dica seja obrigatória, e isso só se dá com a publicação oficial. A promulgação torna a lei existente, mas ainda não obrigatória”.

A Lei de Introdução ao Código Civil, no art. 1º, estabeleceu a seguinte regra: “Salvo disposição em contrário, a lei começa a vigorar em todo o País 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada”.

A regra, portanto, é a de que a lei entra em vigor 45 dias após a data de sua publicação. Por isso a publicação da lei é tão importante. Mas observe que o mesmo artigo determinou “salvo disposição em contrário”. Isso significa que a lei pode estabelecer data diversa da regra para entrada em vigor da lei.

Por exemplo, o princípio constitucional da anterioridade da lei, no Direito Tributário, determina que a lei de matéria tributária somente entrará em vigor no exercício seguinte ao da publicação da Lei. Isto significa que se a lei foi publicada no dia 1º de novembro de 2006, o tributo instituído por ela somente será exigível a partir de 1º de janeiro de 2007. Portanto, neste caso, a lei foi publicada, mas só entrará em vigor no ano seguinte. Daí a importância de se determinar a aplicação da lei no tempo.

A lei é aplicável até o prazo estabelecido por ela ou até que outra lei posterior a revogue.

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140 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

LEIS TEMPORÁRIAS LEIS PERMANENTES

São aquelas instituídas com prazo determinado.

São aquelas que só perdem sua eficácia se forem reformadas por outra lei mais nova. Chamamos esse fenômeno de “revogação”.

Ex: isenção fiscal de ICMS por 10 anos para a insta-lação de uma indústria no Estado.

Leis revogadas são aquelas que perdem sua vali-dade por determinação expressa da lei mais nova publicada.

Total: quando toda a lei é declarada sem efeito (ab-rogação).

Parcial: quando apenas uma parte da lei velha é tornada sem efeito (derrogação). Exemplo: Código Comercial: a 1ª parte foi revogada pela publicação do CCB.

A revogação acontece nas seguintes hipóteses:

a lei posterior expressamente revoga a anterior;•

a lei posterior é incompatível com a lei anterior;•

a lei posterior regulamenta inteiramente matéria disposta na lei anterior.•

2.10 Irretroatividade da Lei

A regra geral é a de que a lei não retroage no tempo, conforme determina

o art. 5º, XXXVI da CF/88. Mas haverá casos em que a lei poderá retroagir,

desde que essa determinação esteja expressa na lei, como acontece com o art.

5º, XL da CF/88: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”.

De acordo com o art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição vigente, a lei não

poderá prejudicar o Direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

Vamos conhecer esses institutos?

DIREITO ADQuIRIDOATO JuRíDICO

PERFEITOCOISA JuLGADA

É aquele que já foi incor-porado no patrimônio da pessoa.

É aquele ato já consumado na época da entrada em vigor da lei nova.

É a decisão judicial da qual já não cabe mais recurso.

2.11 Aplicação da lei no espaço

A aplicação da lei no espaço se refere ao campo de aplicação das normas

jurídicas. Esse campo de aplicação dependerá do ente que a instituiu. Assim,

se a norma em análise tiver sido editada pela União, ela será válida em todo

o território nacional, incluindo-se aí também as ilhas localizadas na extensão

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 141

das águas territoriais, os aviões, navios e embarcações nacionais, áreas de embaixadas e consulados, o subsolo e a atmosfera.

Se a Lei for Estadual, ela será válida somente no território daquele Estado que a instituiu. Assim, uma lei estadual válida no Tocantins não é válida no estado de Goiás. O mesmo vale para as normas municipais.

Mas poderá ocorrer um conflito de aplicação da norma jurídica quando um estrangeiro estabelecer uma relação jurídica com um nacional e vice-versa. Existem dois sistemas para resolver o conflito de normas quanto ao espaço:

SISTEMA DA TERRITORIALIDADE SISTEMA DA EXTRATERRITORIALIDADE

No regime feudal, prevaleceu a idéia de que valia a norma vigente no feudo onde a relação jurídica se estabeleceu. Esse sistema não cabe isoladamente hoje, uma vez que no mundo globalizado não permita o isolamento de um Estado em relação aos demais. Os Estados são interdependentes.

Na época das invasões bárbaras, valia a norma jurídica de acordo com a nacionali-dade do indivíduo que efetuava o negócio jurídico. Como os bárbaros eram povos nômades, não poderiam conviver com o sistema feudal. Mas esse sistema também não cabe isoladamente hoje, uma vez que compromete a soberania nacional e a ordem interna, devido à aplicação constante do direito estrangeiro no território nacional.

O Brasil adota um sistema misto, que mescla esses dois existentes da seguinte forma:

Art. 7º – A lei do país em que está domiciliada a pessoa deter-mina as regras sobre o começo e o fim da personali-dade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

Art. 8º – Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que esti-verem situados.

Art. 9º – Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.

Art. 10 – A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desapare-cido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens (LICC, Decreto-Lei n.º 4.657/1942).

Assim, para regular bens e obrigações, aplica-se o princípio da territo-rialidade, ou seja, valem as normas jurídicas do país onde se encontram os bens ou onde foi estabelecida a obrigação. Para as normas que regulam a personalidade, nome e capacidade das pessoas físicas ou jurídicas, direito de família e sucessão, adota-se o sistema da extraterritorialidade (aplica-se a norma do país onde a pessoa-sujeito da relação jurídica tem seu domicílio).

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

142 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

2.12 Aplicação da lei no tocante à matéria

A questão da aplicação da lei no tocante à matéria diz respeito ao tema, ou seja, ao assunto de que trata a norma. Assim, não podemos aplicar em um conflito de furto, as normas regulamentadoras das relações de comércio, por exemplo. Este “limite” à aplicação da lei não gera maiores conflitos.

2.13 Aplicação da lei referente à pessoa

A aplicação da lei no tocante à pessoa diz respeito à pessoa a quem a lei se refere. Neste caso, a lei pode se dirigir a todas as pessoas indistintamente (normas gerais), ou a um determinado grupo de pessoas em específico (normas especiais), ou ainda, normas que se aplicam a pessoas individualmente deter-minadas (normas individuais).

Exemplo:

Normas gerais• : a Constituição Federal de 1988.

Normas especiais• : aos menores (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Normas individuais• : as estabelecidas entre as partes de um contrato.

Vê-se, portanto, que as normas jurídicas se inserem num ordenamento que oferece parâmetros sob diversos critérios, para nortear sua aplicação no caso concreto.

Síntese da aula

Nesta aula você pôde perceber o quanto às fontes do Direito, tanto as estatais como as não-estatais, são de grande valia para a formação do sistema jurídico de um determinado grupo social, bem como para a sua interpretação e conseqüente aplicação, que são institutos que você estudará na próxima aula. Houve um estudo mais aprofundado sobre a norma jurídica, uma vez que ela é a principal fonte do direito brasileiro.

Vimos ainda as fases do processo legislativo, as etapas para a elabo-ração e criação de uma lei, estudo que você retomará na aula de Direito Constitucional. Por fim, pudemos observar as regras de aplicação das normas no tempo, no espaço, referente à pessoa e à matéria.

Atividades

1. Defina fonte do Direito.

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 143

2. Faça um paralelo entre jurisprudência e súmula vinculante.

3. Leia a matéria a seguir, publicada pelo Jornal Gazeta Mercantil de São Paulo, em 5/2/1993, retirada do livro Introdução ao Estudo do Direito de Rizzatto Nunes (2005, p. 222). Ressaltamos que fizemos algumas adequações e adaptações a nossa realidade.

Juiz não autoriza transplante de rim e paciente morre. O comer-ciante CAF precisava de um transplante de rim. O Juiz RBO não autorizou o pedido, alegando falta de regulamentação de uma lei federal. O comerciante morreu. O fato foi comunicado pelo advogado AMJ, que no dia 11 de dezembro último ingressou na 28ª Vara Cível da capital com um pedido de autorização judicial para retirada e transplante de um dos rins do garçom FCS, amigo do comerciante. Agora, o advogado prepara-se para fazer uma representação junto ao Conselho Superior da Magistratura contra o Juiz. AMJ explicou que pela Lei 8.489, de 18 de novembro de 1992, a retirada e transplante de órgãos de pessoas vivas que não possuem parentesco entre si só pode ser realizada mediante autorização judicial. Publicada no dia 20 de novembro, a lei deveria ser regulamentada no prazo máximo de sessenta dias, contados a partir daquela data. A petição, apesar de acompanhada de documentação do Hospital FR informando que só faria o transplante com autorização, foi negada pelo juiz, exatamente sob o argumento de que a lei ainda dependia de regulamentação. [...] segundo ele, no dia 21 de dezembro foi interposto o recurso de apelação e estava sendo reunida a documentação para o ingresso com medida cautelar inominada junto ao Tribunal de Alçada, mas o paciente morreu em 18 de janeiro, um dia antes de esgotado o prazo para regulamen-tação da lei. O Juiz da 28ª Vara Cível confirma que indeferiu a petição inicial por falta de regulamentação da lei e assegura que tomaria novamente esta decisão. “Eu não posso legislar e não havia lei regulamentada. Cabe ao juiz despachar. Ele não é obrigado a deferir ou não deferir um pedido”, argumentou ele, garantindo apenas que fez o despacho no mesmo dia em que deu entrada a petição. RBO ressaltou, ainda, que o advogado podia ter entrado diretamente com um mandado de segurança no Tribunal de Justiça ou no Tribunal de alçada, com decisão em no máximo 24 horas. “Os tribunais existem exatamente para modificar uma decisão do Juiz, caso julguem que ele cometeu um erro”. Quanto à posição do hospital, ele observou que “não se precisa de lei especial para salvar vidas”.

Diante da notícia apresentada, responda:

a) A lei citada na reportagem (Lei n.º 8489/92) estava em vigor quando o pedido foi feito ao juiz?

b) Essa lei era eficaz na época do ocorrido?

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

144 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

c) Se você fosse o Juiz, como você decidiria o caso? Por quê? Observe que para responder a essa pergunta você deve se basear no conteúdo ora estudado.

4. Sobre a aplicação da norma jurídica no tempo, marque a alternativa correta.

a) A lei só pode ser aplicada quando se tornar obrigatória. E isto ocorre no momento do veto ou da sanção pelo Presidente da República.

b) A publicação ocorre sempre três meses depois de sancionada a lei.

c) A retroatividade da lei é exceção, que deve estar prevista expressa-mente, como ocorre no caso do art. 5º, XL, que autoriza a retroativi-dade da norma penal para beneficiar o réu.

d) Conta-se o prazo de vigência da norma a partir da promulgação da lei, e não de sua publicação.

Comentário das atividades

Na atividade 1, você colocou em prática o que estudou na aula sobre fontes do direito vendo que existem classificações distintas conforme o autor da classificação. Para que você tenha firmado a sua própria convicção sobre o que são fontes do direito, deve ter usado a doutrina de mais de um autor, para formar a sua própria definição. O exercício proposto teve a finalidade de fazê-lo compreender que em matéria de ciência de Direito, as respostas não são exatas. Você pode ter se apoiado na classificação do autor que apre-sentou, no seu ponto de vista, a melhor definição e classificação. Lembrou-se também do sentido usual atribuído à palavra “fonte”?

Na atividade 2, você pôde perceber que Súmula Viculante não é sinô-nimo de Jurisprudência. O objetivo do exercício foi que você compreendesse a distinção e ao mesmo tempo a aproximação entre os institutos e que, ao final, pudesse se manifestar sobre a súmula vinculante e o livre convencimento do juiz. Você conseguiu? Parabéns!

Na atividade 3, você deve ter recorrido ao que estudou na aula de fontes do direito a definição de fontes, a sua classificação, a norma jurídica e sua classificação e aplicação. O exercício proposto teve, assim, a finalidade de auxiliá-lo a por em prática o que aprendeu a partir da notícia de uma decisão judicial proferida em sede de Tribunal de Justiça (Acórdão do TJ/SP). Para responder às questões propostas na atividade, você repassou o processo

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 145

legislativo e as regras de aplicação da norma com relação ao tempo para responder às alíneas (a) e (b). Para a alínea (c) reviu a hierarquia das leis e como os princípios se inserem neste contexto para analisar a decisão do juiz e proferir a sua.

Na atividade 4, você aplicou aquilo que estudou sobre as regras de apli-cação do Direito. Para responder ao exercício proposto releu o item sobre o processo legislativo que demonstra a partir de quando a lei entra em vigor, tornando-se obrigatória a todos. Isto acontece no prazo estipulado (em regra 45 dias, ou o que dispuser a lei, sendo a retroatividade, exceção) que começa a ser contado com a publicação, que deve ocorrer logo após sua promul-gação. A promulgação segue à sanção do chefe do Executivo. Assim, a alter-nativa correta é a letra (c).

Ao realizar as atividades você está apto a reconhecer as fontes do Direito e conhecer os limites para a aplicação da norma jurídica ao caso concreto.

Referências BOBBIO, N. Teoria do ordenamento jurídico. 6. ed. Brasília: UNB, 1995.

BRASIL. Constituição (1988): atualizada até EC nº 55, de 20 de setembro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/ Constituiçao.htm>. Acesso em: 7 nov. 2007.

______. Decreto-Lei n.º 4657, de 4 de setembro de 1942 (Lei de Introdução ao Código Civil – LICC). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del4657.htm>. Acesso em: 7 nov. 2007.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

GASPERIN, A. A. T. Síntese comentada à teoria do ordenamento jurídico de Norberto Bobbio. Jus Navigandi, Teresina, v. 9, n. 737, 12 jul. 2005. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6953>. Acesso em: 18 nov. 2007.

KÜMPEL, Vítor Frederico. Introdução ao estudo do Direito: Lei de Introdução ao Código Civil e Hermenêutica Jurídica. São Paulo: Método, 2007.

MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

NADER, P. Introdução ao estudo do Direito. 28. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007.

AUlA 2 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

146 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

Na próxima aula

Na próxima aula vamos estudar as questões atinentes à hermenêutica, interpretação e aplicação do direito.

Anotações

AUlA 3 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 147

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

discutir a divisão do Direito em público, privado e difuso;•

conhecer os diversos ramos de estudo do Direito.•

Pré-requisitos

Para acompanhar bem esta aula é importante que você possa ter compre-endido o que foi estudado até aqui ao longo desta disciplina, especialmente no que se refere ao conceito de direito (aula 1), as normas e o ordenamento jurídico (aula 2), a fim de que você compreenda que a divisão do Direito em áreas tem um cunho mais de organização do conhecimento do que de isola-mento entre as disciplinas.

Introdução

Para as correntes positivistas, o direito se divide em público e privado. Direito Público é o que se liga aos interesses do Estado. Direito Privado é o conjunto de normas que regulamenta as relações entre particulares. Há, no nosso orde-namento, diversas teorias que explicam a relação entre Direito Público e Direito Privado, bem como quais matérias do Direito pertencem a um e a outro.

Atualmente, porém, essa visão dicotômica perde relevância em razão do que leciona Nunes. Ele diz que,

desde que se começou a tomar consciência dos novos direitos sociais que se firmaram com o desenvolvimento das sociedades de massa (especialmente o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental), surgiu um conceito diferente que acabou possibi-litando a elaboração de nova classificação, agora capaz de dar conta dos problemas que os limites entre Direito Privado e Público punham (2005, p. 115).

Aula 3Ramos do Direito Privado:

Direito Civil

AUlA 3 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

148 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Diante do que leciona Nunes (2005, p. 115), a doutrina mais moderna opta assim por utilizar uma classificação tripartite do Direito: Direito Público, Direito Privado e Direito Difuso.

Importante lembrar que a Ciência Jurídica, a Filosofia e a Sociologia Jurídica são ramos do Direito, mas são disciplinas que estudam os fenômenos jurídicos. Nesta aula, estudaremos os ramos que regulamentam os fatos jurí-dicos de interesse privado, e para depois conhecermos os ramos do Direito Público e Metaindividual.

3.1 Disciplinas de Direito Privado

As disciplinas de Direito Privado são o Direito Civil e o Direito Comercial. Aqui veremos noções de Direito Civil, uma vez que você terá uma disciplina específica de Direito Comercial no curso.

3.2 Direito Civil

De acordo com Kümpel (2007, p. 42), o Direito Civil é o ramo por exce-lência do Direito Privado. Contudo, com a complexidade e a evolução das relações sociais, o Direito Civil passou a não mais ser suficiente para regular as situações existentes. Ao que surge então o Direito Comercial. O autor chama porém a atenção para o fato de que mesmo sendo o Direito Civil um ramo do Direito Privado, ele carrega princípios que transcendem o ramo privado (regras hermenêuticas, prescrição e decadência) (KÜMPEL, 2007, p. 42-43).

Nelson Godoy Bassil Dower (2002, p. 193) conceitua o Direito Civil como “o direito dos particulares. É o conjunto de princípios e normas concernentes às atividades dos particulares, desde que não façam parte da relação jurídica estabelecida pela norma jurídica, a figura do empregado como tal”.

Da leitura do conceito fornecido pelo autor, percebe-se que o Direito Civil é o direito que rege a nossa vida, desde as nossas relações familiares até as relações jurídicas que envolvem os negócios jurídicos e, com o advento do novo Código, até mesmo parte do Direito Empresarial.

a) Visão panorâmica do novo Código Civil

O Código Civil (Lei n.º 10.406/2002) que entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003 possui 2.046 artigos, regulando as relações jurídicas entre os particulares. Apresentamos aqui uma visão panorâmica dos temas abordados no novo Código Civil, que se encontra divido em duas partes: parte geral e parte especial.

AUlA 3 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 149

CÓDIGO CIVIL - LEI N.º 10.406/02PARTE GERAL – Arts. 1º a 232

Livro I – Das Pessoas – arts. 1º a 78Das Pessoas NaturaisDas Pessoas JurídicasDo Domicílio

Livro II – Dos Bens – arts. 79 a 103 Das diferentes classes de bens

Livro III – Dos Fatos Jurídicos – arts. 104 a 232

Do negócio jurídicoDos atos jurídicos lícitosDos atos ilícitosDa prescrição e da decadênciaDa prova

PARTE ESPECIAL – Arts. 233 a 2.046

Livro I – Do Direito das Obrigações – arts. 233 a 965

Das modalidades de obrigaçõesDa transmissão das obrigaçõesDo adimplemento e extinção das obrigaçõesDo inadimplemento das obrigaçõesDos contratos em geralDas várias espécies de contratoDos atos unilateraisDos títulos de créditoDa responsabilidade civilDas preferências e privilégios creditórios

Livro II – Do Direito de Empresa – arts. 966 a 1.195

Do empresárioDa sociedadeDa sociedade não-personificadaDa sociedade personificadaDo estabelecimentoDos institutos complementares

Livro III – Do Direito das Coisas – arts. 1.196 a 1.510

Da posseDos direitos reaisDa propriedadeDa superfícieDas servidõesDo usufrutoDo usoDa habitaçãoDo direito do promitente compradorDo penhor, da hipoteca e da anticrese

Livro IV – Do Direito de Família – arts. 1.511 a 1.785

Do direito pessoalDo casamentoDas relações de parentescoDo direito patrimonialDo regime de bens entre os cônjuges Do usufruto e da administração dos bens de filhos menoresDos alimentosDo bem de famíliaDa união estávelDa tutela e da curatela

Livro V – Do Direito das Sucessões – arts. 1.784 a 2.027

Da sucessão em geralDa sucessão legítimaDa sucessão testamentáriaDo inventário e da partilha

Livro VI – Das Disposições Finais e Transitórias – arts. 2.028 a 2.046 Disposições finais e transitórias

AUlA 3 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

150 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Apresentado o quadro geral com os assuntos tratados pelo Código Civil, passamos a tratar especialmente do tema do Livro I da parte geral, que trata das pessoas.

3.3 Pessoas

O próprio Código Civil delineia a diferença entre pessoa natural e pessoa jurí-dica. Ambas são importantes para o nosso estudo. Tanto a pessoa física, os conceitos de personalidade e capacidade, como as pessoas jurídicas e as modalidades em que estas são constituídas. Iniciaremos nosso estudo pelas pessoas naturais.

a) Pessoa natural

Conceito legal de pessoa natural• : Art. 1º CCB Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Pessoa natural• : sinônimo de pessoa física, ser humano. É o termo utilizado para distinguir o homem de outros titulares de direito que o são por processo artificial de ficção jurídica (NERY JUNIOR, 2005, p. 170).

Algumas considerações sobre a pessoa natural• : o direito veda discrimina-ções de raça, cor, sexo, religião, entre outras.

b) Personalidade e capacidade

Da leitura do art. 1º do CC, conclui-se que, para ser pessoa, basta existir. Toda pessoa, de acordo com o que ensina o Professor Carlos Roberto Gonçalves (2003, p. 35), tem aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações (personalidade). O art. 1º, para o Professor, entrelaça os conceitos de personali-dade e de capacidade.

De acordo com os professores Maximiliano e Edis Milaré (2003, p. 225), “capaci-dade civil é a aptidão da pessoa física para exercer direitos e assumir obrigações”.

A capacidade é a medida da personalidade. Existem duas espécies de capacidade:

ESPÉCIES DE CAPACIDADEDE DIREITO – Art. 1º CCCapacidade de aquisição ou gozo de direitos. Não importa a idade da pessoa.Os menores e incapazes possuem apenas capacidade de direito.

DE FATO – Art. 5 º CCCapacidade de exercício de direitos, de exercer, por si só, os atos da vida civil.Capacidade de ação.

c) Começo da personalidade natural

O art. 2º do CC dispõe que “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo o direito do nascituro”. O sistema brasileiro, como a maioria dos sistemas, adota a teoria que a personalidade

AUlA 3 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 151

começa como nascimento com vida; porém, de forma expressa, põe a salvo os direitos do nascituro”, que é o feto quando ainda está no ventre materno.

Para o nascituro existe a expectativa de direito, ou seja, os seus direitos estarão assegurados desde que nasça com vida.

No Direito, a prova do nascimento com vida, implica, principalmente, as questões hereditárias. Assim, se houver dúvidas se uma criança nasceu e morreu em seguida, ou ainda, se a mesma já nasceu morta, pode-se optar pela realização do exame chamado Docimasia Hidrostática de Galeno, que detecta se houve ou não respiração antes da morte, ou seja, se ela nasceu com vida do ventre da mãe, adquirindo, assim, personalidade jurídica.

Concluindo, podemos afirmar que a personalidade natural é um direito inalienável de todas as pessoas, sejam elas dotadas de capacidade plena ou não. A personalidade tem inicio com o nascimento com vida e termina com a morte da pessoa. Por isso a importância de se frisar que personalidade é diferente de capacidade.

PERSONALIDADE ≠ CAPACIDADE

d) Capacidade da pessoa natural

O Código Civil no seu art. 1º dispõe: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, se toda pessoa é capaz de direitos e deveres, isso nos induz a perceber que possuímos duas ordens de capacidade; a capacidade de direitos (inerente a todos) e a capacidade de fato (somente aqueles que a lei permite possam praticar os atos da vida civil por si mesmo). Importante se faz a distinção entre capacidade de direito e capacidade de fato ou de exercício.

Capacidade de direito. A capacidade de direito é inerente a todo ser humano,

seja ele maior, menor, totalmente incapaz ou relativamente capaz. ou seja, todos possuem capacidade de direito, isto é, capacidade de adquirir direitos e de contrair obrigações. Por exemplo, menor de idade pode ser proprietário de uma empresa, ser titular de direito de pensão alimentícia, entre outros.

Capacidade de exercício. Esta é mais restrita. Ou seja, só possui capacidade de exer-cício, que é o mesmo que capacidade para praticar os atos da vida civil, os maiores de dezoito anos. Os menores relativamente incapazes podem praticar atos, desde que assistidos ou representados. A exceção à regra são os menores emancipados.

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152 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

e) Maioridade civil

A maioridade civil ocorre, em regra, aos 18 anos. Contudo, esta maiori-dade pode ser declarada antes nos casos previstos no art. 5º do CC, no seu parágrafo único.

f) Incapacidade

Estudamos no tópico anterior que as pessoas são dotadas de dois tipos de capacidade (capacidade de fato ou de exercício e capacidade de direito). As pessoas que possuem capacidade plena são aquelas que possuem capa-cidade de direito e de exercício. Aquelas que não possuem a capacidade de fato (apenas a de direito que é inerente a todos) são chamadas de inca-pazes. A doutrina faz ainda diferença entre o absolutamente incapaz e o relativamente capaz.

INCAPACIDADE ABSOLuTA ART. 3o DO CC

INCAPACIDADE RELATIVA ART. 4o DO CC

I. os menores de 16 (dezesseis) anos; II. os que, por enfermidade ou defici-

ência mental, não tiverem o neces-sário discernimento para a prática desses atos;

III. os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

I. os maiores de 16 (dezesseis) e menores de 18 (dezoito) anos;

II. os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III. os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV. os pródigos.

A pessoa considerada incapaz não poderá exercer pessoalmente os atos da vida civil, sob pena de esses atos serem considerados nulos ou anuláveis, conforme a espécie de incapacidade.

Maioridade civil

Como regra: 18 anos (Cc 2002)

Excepcionalmente: nos casos previstos no Art. 5º CC

Pela concessão dos pais, ou de um deles;

Pelo casamento;

Pelo exercício de emprego público efetivo;

Pela colação de grau em curso de ensino superior;

Pelo estabelecimento civil ou comercial com economia própria.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 153

Segundo a incapacidade, os atos praticados poderão ser nulos ou anulá-veis, vamos conferir:

Incapacidade absoluta: acarreta a proibição total da prática dos atos da vida civil, sob pena de nulidade. (artigo 166, inciso I, do CC). A incapacidade absoluta deve ser suprida pela representação.

Incapacidade relativa: na incapacidade relativa permite-se a prática dos atos da vida civil, desde que esses atos sejam assistidos por seu representante legal, sob pena de anulabilidade (artigo 171, inciso I, do CC). A incapaci-dade relativa deve ser suprida pela assistência.

Com o advento do novo Código Civil, a capacidade dos índios, que era disciplinada no Código Civil de 1916, passa a ser disciplinada, conforme o parágrafo único do art. 4º do novo CC e pela Lei n.º 6.001/73.

g) Pessoas jurídicas

Segundo lecionam Maximiliano e Edis (2003, p. 226) “pessoa jurídica é a entidade constituída de homens ou bens, com vida, direitos, obrigações e patrimônios próprios”.

As pessoas jurídicas podem ser subdivididas em pessoas jurídicas de direito público interno e externo e pessoas jurídicas de direito privado.

As pessoas jurídicas de direito público externo são os estados estrangeiros e as organizações internacionais. Considera-se pessoa jurídica de direito público interno a União, os Estados-membros, o Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as Autarquias.

As pessoas jurídicas de direito privado são as sociedades, associações e fundações.

PESSOA

JuRíDICA

De Direito Público

Externo Outros Estados Organismos Internacionais

Interno

Administração Direta

União •Estados •Municípios •Df•

AdministraçãoIndireta

Autarquias•Fundações Públicas •Consórcios Públicos •(Associação Pública)

De Direito Privado

AssociaçõesSociedadesFundações Particulares

Fonte: Nunes (2005, p. 140).

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154 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Mas a partir de quando podemos considerar a existência das pessoas jurí-dicas? É o próprio Código Civil que nos fornece a resposta no seu art. 45.

Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

A extinção da pessoa jurídica ocorre por dissolução ou cassação, conforme Dower (2002, p. 215).

A dissolução se dá por conta dos motivos elencados no art. 1.033 do CC e desenvolve-se em três etapas:

averbação da dissolução em registro próprio; (CC, art. 51, §1º);•

liquidação na forma do procedimento das sociedades (CC, art. 51, •§ 2º);

cancelamento da inscrição, após encerrada a liquidação (CC, art. 51, •§ 2º).

A cassação é, ainda segundo o mesmo autor, “a revogação da autori-zação para funcionamento da pessoa jurídica”.

3.4 Fatos e atos jurídicos

Vimos que as pessoas físicas e as pessoas jurídicas são os sujeitos de direito da relação jurídica, que normalmente se origina de um fato jurídico. Assim, podemos considerar que fato jurídico em sentido amplo é todo episódio que provém da natureza ou da ação humana, que possa interessar ao direito. Os fatos jurídicos, como nos ensina o Prof. Rizzatto (2005, p. 146), são acontecimentos por meio dos quais as relações jurídicas nascem, modificam-se e extinguem-se. Assim, para o professor, os fatos jurídicos podem ser divididos em fatos naturais e atos jurídicos. Estes, por sua vez, comportam outra subdivisão que, para melhor visualização, transcrevemos no quadro a seguir:

NASCIMENTO DA RELAçãO

JuRíDICA

FATOS JURÍDICOS

FATOS NATURAISORDINÁRIOS

EXTRAORDINÁRIOS

ATOS JURÍDICOS

ATO LÍCITO

ATO ILÍCITO

ABUSO DO DIREITO

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a) Fatos jurídicos naturais ordinários e extraordinários

Fato jurídico é todo acontecimento que interferem na esfera jurídica do indivíduo. Dentro da esfera dos fatos jurídicos naturais temos ainda a seguinte divisão:

Fatos jurídicos ordinários: “são fatos que advêm de fenômeno natural, independentes da vontade humana, e que produzem efeitos jurídicos.” Saraiva (2003, p. 20) aponta como fatos jurídicos ordinários o nascimento, a morte, a maioridade, o decurso de tempo.

Fatos jurídicos extraordinários: são aqueles que decorrem de caso fortuito ou força maior. Como exemplos de fatos jurídicos extraordinários, podemos citar o raio que atingiu um fio de arame matando as reses que estavam na proximi-dade, a destruição de parte da cidade por causa de um ciclone, entre outros.

b) Atos Jurídicos

Os atos jurídicos, por seu turno, são provenientes da vontade humana, quer ocasionem efeitos jurídicos ou não. Os atos jurídicos podem ser classi-ficados em uma primeira ordem em: atos lícitos e atos ilícitos. Os atos lícitos dividem-se ainda em atos meramente lícitos e negócios jurídicos.

Atos meramente lícitos: Silvio Venosa citado por Saraiva (2003, p. 21), explica que os atos jurídicos meramente lícitos são aqueles que “são praticados pelo homem sem a intenção direta de causar efeitos jurídicos”. São exemplos a pintura sobre tela e a plantação.

Atos ilícitos: o art. 186 do CC dispõe que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

Na esfera do Direito Civil, diferentemente do Direito Penal e do Direito Processual Penal, não existe interesse na punição do culpado, mas apenas em fazer com que este indenize o dano causado. Assim, para o Direito Civil, importa reconhecer a existência do ato ilícito quando esse produzir efeitos contrários ao ordenamento jurídico, ocasionando danos a outrem. Este assunto será abordado com maior profundidade no próximo tema desta aula, a responsabilidade civil.

c) Atos Nulos e Atos Anuláveis

O art. 166 trata dos atos nulos. No caso de nulidade, esta poderá ser argüida a qualquer tempo por qualquer pessoa, pelo Ministério Público e ainda de oficio pelo Juiz, ao tomar conhecimento do fato. O ato nulo não poderá ser convalidado nem ratificado.

O ato anulável é o que sofre de nulidade relativa. Assim, apenas os inte-ressados de forma direta poderão alegar sua anulabilidade. O ato anulável só

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156 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

poderá ser ratificado pelas partes interessadas. Aqui não caberá intervenção do Ministério Público nem do Juiz.

A simulação pode ser considerada, como nos ensinam os Professores Maximiliano e Edis (2003, p. 234), a “realização de um negócio jurídico aparente, que não corresponde à real intenção das partes”. Assim, andou bem o Código Civil, inovando ao considerar a simulação (art. 167 do CC) como ato jurídico nulo.

ATOS NuLOS (166 DO CC) ATOS ANuLÁVEIS (171 DO CC)Celebrado por pessoa absolutamente incapaz. Por incapacidade relativa do agente.Quando for ilícito, impossível ou indetermi-nável o seu objeto.

Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito.Não revestir a forma prescrita em lei.For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade.Tiver por objetivo fraudar lei imperativa.A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

d) Negócios jurídicos

Ainda segundo o mesmo autor, os negócios jurídicos têm lugar quando “existe, por parte do homem, a intenção específica de gerar efeitos jurídicos ao adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos”.

O negócio jurídico requer, de acordo com o art. 104 do CC:

I. agente capaz;

II. objeto lícito;

III. forma prescrita ou não proibida por lei.

Para os referidos autores (2003, p. 231), três figuras ilustram o negócio jurídico: a condição, o termo e o encargo.

CONDIçãO TERMO ENCARGOCláusula inserida no negócio jurídico, referente a evento futuro, do qual dependem os efeitos do ato. Sua ocorrência extingue o ato ou a obrigação, como no caso da proprie-dade fiduciária, que desaparece com o pagamento final do débito.

Funciona como um marco, de um momento ou de um fato, que marca o início (termo inicial) ou o fim (termo final) de um direito, de uma obri-gação, ou de um prazo.

Imposição de fato ou de tarefa aces-sória que se exige como condição de considerar cumprida uma determinada obrigação.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 157

e) Defeitos dos negócios jurídicos

Os defeitos dos atos jurídicos estão disciplinados nos arts. 138 a 165 do Código Civil. O fato de um ato jurídico estar eivado por um desses defeitos, torna-o passível de ser considerado anulável. Os defeitos dos negócios jurí-dicos são o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo, a lesão e a fraude contra credores.

DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JuRíDICOS

ERRO

É a falsa noção sobre alguma coisa. É o mesmo que ignorância ou ausência de conhecimento. Art. 138 – São anuláveis os negócios jurídicos, quando as decla-rações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstân-cias do negócio.

DOLOO dolo é o artifício, o engodo.

Art. 145 – São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

COAÇÃO

Violência física ou moral.

Art. 151 – A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e conside-rável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

ESTADO DE PERIGO

Situação fática (física ou moral) vivida por alguém, ou por pessoa de sua família, que, diante da necessidade de salvar-se, assume obri-gação excessivamente onerosa.

Art. 156 – Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.

LESÃO

Figura semelhante ao estado de perigo.

Art. 157 – Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente neces-sidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

FRAUDE CONTRA CREDORES

O devedor na situação de insolvência, ou na iminência de o ser, desfalca seu patrimônio, alienando ou subtraindo seus bens.

Art. 158 – Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.

3.5 Responsabilidade Civil

Maria Helena Diniz (2000, p. 34) conceitua a responsabilidade civil como

a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesmo praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

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158 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

De acordo com o conceito dado pela autora, podemos deduzir, com clareza, que a ninguém é lícito causar prejuízo a outrem. Todavia, em nosso cotidiano, ocorrem fatos, por nossa vontade ou não, que interferem na esfera de outrem. Quando esses fatos ocorrem em prejuízo dessa pessoa, a lei assegura-lhe o direito de pleitear a indenização proporcional ao ocorrido.

Conhecer os fundamentos da responsabilidade civil é requisito básico para sua compreensão. Para tanto, apresentamos alguns conceitos, como dano, nexo de causalidade, culpa lato sensu, dolo, teoria do risco e teoria da culpa, para facilitar a compreensão do instituto como um todo, bem como elucidar as diferenças entre a responsabilidade subjetiva e responsa-bilidade objetiva.

a) Dano: Diniz (2000, p. 58) define o dano como “a lesão (diminuição ou destruição) que, devido a um certo evento, sofre uma pessoa, contra sua vontade, em qualquer bem ou interesse jurídico, patrimonial ou moral”.

A Constituição Federal reconhece o direito à indenização por danos no art. 5º, inciso V na seguinte forma: “É assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.“ No nosso estudo vamos enfocar o dano material e o dano moral.

Cabe destacar que, atualmente, existe o entendimento pacífico da doutrina e da jurisprudência, no sentido de acolher, nas hipóteses cabíveis, a cumulatividade de danos, ou seja, há casos em que o mesmo evento danoso ocasiona dano material e moral.

Dano material ou patrimonial• : caracteriza-se pela perda de patri-mônio, total ou parcial da vítima. Segundo Diniz (2000, p. 61) pode ser entendido como “Lesão concreta, que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou dete-rioração, total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável”. Esclarece ainda a autora anteriormente mencio-nada que o dano material abrange o dano emergente e o lucro cessante. Mencionando que o dano emergente consiste no que o lesado realmente perdeu e o lucro cessante versa sobre o aumento de patrimônio que teria em tese, porém deixou de ganhar em razão da lesão sofrida.

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Dano moral• : Diniz (2000, p. 80), define o dano moral como “a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo fato lesivo”. A mesma autora reconhece ainda a existência do dano moral direto e do dano moral indireto. Para ela

o dano moral direto consiste na lesão de um interesse que visa à satisfação ou gozo de um bem jurídico extrapatrimo-nial contido nos direitos de personalidade (como a vida, a integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a inti-midade, os sentimentos afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a capacidade, o estado de família).

O dano moral indireto consiste na lesão a um interesse tendente à satis-fação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz um menoscabo a um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca prejuízo a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimo-nial da vítima. Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial. Ex. perda de coisa com valor afetivo, ou seja, de um anel de noivado. É importante ressaltar que tanto a pessoa física como a pessoa jurídica são passíveis de sofrer dano moral.

b) Nexo de Causalidade: A responsabilidade civil está vinculada à existência do nexo causal. Diniz (2000, p. 92) define: “O vínculo entre o prejuízo e a ação designa ‘nexo causal’, de modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua conseqüência previsível”. O nexo de causalidade se caracteriza, portanto, como o liame, a relação, entre o dano e o fato lesivo.

c) Culpa lato sensu: a responsabilidade civil subjetiva é a responsabilidade civil fundada na teoria da culpa lato sensu, ou seja, o fato lesivo ocorre por negligência, imprudência ou imperícia, ou ainda, com dolo. Vamos conhecer cada um desses elementos.

NEGLIGêNCIA IMPRuDêNCIA IMPERíCIA DOLOInobservância e descuido na execução de ato.

Inobser-vância das precauções necessárias.

Falta de habilidade ou experiência reputada necessária para a reali-zação de certas atividades e cuja ausência, por parte do agente, o faz respon-sável pelos danos ou ilícitos penais advenientes.

Em direito civil, manobra ou arti-fício que se inspira em má-fé e leva alguém a induzir outrem à prática de um ato com prejuízo para este.

Fonte: Dicionário Houaiss. Disponível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?>. Acesso em: 1 nov. 2005.

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160 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

3.6 Tipos de responsabilidade civil

a) Responsabilidade contratual e extracontratual

Antes de falar em responsabilidade civil subjetiva e objetiva, importante mencionar a distinção entre a responsabilidade civil contratual e extracontratual.

Responsabilidade civil extracontratual: configura-se como a decorrente de violação legal de um direito subjetivo, sem que haja entre as partes vínculo proveniente de contrato. Quanto ao seu fundamento, poderá se configurar como responsabilidade subjetiva (fundada na culpa) ou objetiva (teoria do risco).Diniz (2000, p. 430) conceitua a responsabilidade extracontratual como:

a responsabilidade extracontratual, delitual ou aquiliana é a resultante de violação legal, ou seja, da lesão de um direito subjetivo, ou melhor, da infração ao dever jurídico geral de abstenção atinente aos direitos reais ou de personalidade, sem que haja nenhum vínculo contratual entre lesante e lesado.

Responsabilidade civil contratual: depende da existência de vínculo contra-tual entre as partes e decorre da inexecução do contrato no todo ou em parte, gerando, para a parte que deu causa à inexecução, o dever de reparar o dano causado. Necessário ainda a ocorrência de um liame de causalidade entre o dano e a inexecução contratual.

b) Responsabilidade civil objetiva e subjetiva

O Código Civil abriga dois sistemas de responsabilidade civil: a subjetiva e a objetiva. A responsabilidade subjetiva configura-se como sistema geral e a responsabilidade objetiva como sistema subsidiário.

ART. 186 CC ART. 927, PARÁGRAFO ÚNICO CCAquele que, por ação ou omissão voluntária, negli-gência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusi-vamente moral, comete ato ilícito.

Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187) causar dano a outrem fica obrigado a repará-lo.Parágrafo Único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos espe-cificados em lei, ou quando a atividade normal-mente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, riscos para o direito de outrem.

Responsabilidade Civil Subjetiva Responsabilidade Civil Objetiva

Responsabilidade subjetiva: a responsabilidade subjetiva é a responsabili-dade fundada na teoria da culpa, como leciona Nelson Nery Júnior (2005, p. 266): A responsabilidade civil subjetiva (art. 186, CC) se funda na teoria da culpa: para que haja o dever de indenizar, é necessária a existência do dano, do nexo de causalidade entre o fato e o dano e a culpa lato sensu (culpa – impru-

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 161

dência, negligência ou imperícia; ou dolo) do agente. Os elementos da responsa-bilidade civil, fundada na teoria da culpa lato sensu, são respectivamente: ação ou omissão culposa ou dolosa; nexo de causalidade e dano. Os três elementos anteriormente referenciados são os elementos que integram a responsabilidade civil subjetiva, donde é necessária a configuração da conduta (ação ou omissão) dolosa, ou culposa, por meio da negligência, imprudência ou imperícia, somada ao nexo de causalidade e ao dano, para caracterizar o dever de indenizar.

Responsabilidade objetiva: a teoria do risco, que caracteriza a responsa-bilidade objetiva, prescinde do primeiro elemento, ou seja, requer-se apenas a existência do nexo de causalidade e do dano, para configurar o dever de indenizar o dano causado. Esta teoria sustenta que

[...] o sujeito é responsável por riscos ou perigos que sua atuação promove, ainda que coloque toda diligência para evitar o dano. Trata-se da denominada teoria do risco criado e do risco benefício. O sujeito obtém vantagens ou benefícios e, em razão dessa atividade, deve indenizar os danos que ocasiona (VENOSA, 2007).

Ou seja, não há aqui discussão sobre culpa ou dolo. Este sistema de responsabilidade surgiu com o próprio desenvolvimento tecnológico, respon-sável por grande número de acidentes. Importante mencionar que, como se trata de sistema excepcional e não geral, requer previsão legal expressa.

No Brasil, o primeiro marco regulatório versando sobre a responsabi-lidade civil objetiva foi o Decreto 2.681, de 7.12.1912, com força de lei, que regulamentou os Transportes Ferroviários. Posteriormente, outras leis e outros Diplomas Legais adotaram também este sistema, como a Constituição Federal, no que se refere à Administração Pública e quanto aos crimes contra o meio ambiente, o Código de Defesa do Consumidor, entre outros. Como esse sistema não é a regra geral, mas sim a exceção, os casos nos quais se aplica a responsabilidade civil objetiva requerem previsão legal expressa.

Vê-se, então, que o Direito Civil é o ramo comum do Direito privado, sendo seus institutos e conceitos básicos irradiados, praticamente, para todas áreas do Direito.

Síntese da aula

Procuramos apresentar os ramos do Direito: Privado, Público e Metaindividual e nesta aula nos concentramos no Direito Privado, em especial o Direito Civil. Demos uma visão panorâmica do Código Civil, estudando em especial as

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162 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

pessoas, na clássica divisão do Direito Civil: pessoas naturais e pessoas jurí-dicas. No estudo das pessoas naturais, abordamos a questão da personalidade e da capacidade. Em relação às pessoas jurídicas, procuramos trazer a classifi-cação dada pelo Código. O tema dos fatos jurídicos reforça a importância do Direito Civil regulando as relações jurídicas entre os particulares. Estudamos as classificações dos fatos jurídicos e como esses interferem na esfera jurídica das pessoas. Estudamos a diferença entre ato jurídico lícito e ilícito. No contexto dos atos lícitos, estudamos ainda os negócios jurídicos e os erros que os tornam anuláveis. Aprendemos que existem dois sistemas de responsabilidade civil: a subjetiva e a objetiva. Os dois sistemas estão abrigados no Código Civil. A responsabilidade subjetiva é a regra geral e a responsabilidade civil objetiva é a exceção e, por isso mesmo, devem estar previstos, de forma expressa, os casos em que se aplica a responsabilidade objetiva. Vimos também que existem dois tipos de dano, material e moral, e que esses podem ocorrer de forma cumu-lativa, gerando o dever de indenizar.

Atividades

1. A seguir você encontra diversos artigos de nosso ordenamento. De acordo com o seu conteúdo, classifique-os em Direito Público e Direito Privado e, ainda, quanto aos diversos ramos do Direito.

a) Art. 2º – São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o executivo e o Judiciário (CF/88).

b) Art. 1º – Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil (CCB).

c) Art. 1º – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal (CP).

d) É garantido o direito de propriedade (art. 5º, XXII, CF/88).

e) Art. 24 – Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requi-sição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo (CPP).

f) Art. 944 – A indenização mede-se pela extensão do dano (CCB).

g) Art. 1º – A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território nacional, conforme as disposições que este Código estabelece (CPC).

h) Art. 168 – Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção. Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa (CP).

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 163

2. A respeito das pessoas jurídicas assinale a alternativa incorreta.

a) As pessoas jurídicas de direito público são civilmente responsáveis pelos atos de seus agentes que nessa qualidade cause danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra causadores do dano, caso haja culpa ou dolo por parte do servidor.

b) Começa a existência legal das pessoas jurídicas de Direito Público com a inscrição do ato constitutivo no registro pertinente.

c) São pessoas jurídicas de Direito externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo Direito Internacional Público.

d) Obrigam a pessoa jurídica os atos dos administradores, exercidos nos limites de seus poderes definidos no ato constitutivo.

3. Analise a incapacidade absoluta e a incapacidade relativa. Trace um paralelo realçando as diferenças entre elas.

4. Quais são os requisitos de validade do negócio jurídico?

5. Uma determinada empresa de avião extraviou a bagagem do passageiro Dr. X, causando-lhe enormes prejuízos. Qual a espécie de responsabili-dade que se aplica ao caso?

a) Responsabilidade objetiva

b) Responsabilidade subjetiva

c) Responsabilidade fundada na culpa

d) Responsabilidade fundada na teoria da culpa

Comentário das atividades

Na atividade 1, você exercitou o que você estudou sobre os ramos do Direito e pôde perceber a distinção entre eles. Você deve ter identificado cada ramo do direito com suas respectivas normas. Assim, apontou primeiro se as normas pertencem ao campo das normas públicas ou privadas. Depois, identificou se elas são normas de Direito Civil, de Direito Penal, de Direito Processual, de Direito Administrativo ou de Direito Constitucional.

Na atividade 2 você teve certeza que a constituição da pessoa jurídica de Direito Público difere da constituição da pessoa jurídica de Direito Privado? Se sim, parabéns, pois a constituição da pessoa jurídica de direito privado observa o disposto no art. 45 do CC, enquanto que a pessoa jurídica de

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164 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

direito público é criada mediante lei, portanto a alternativa correta só pode ser a (b). As demais se excluem, automaticamente.

Na atividade 3, você deve ter percebido que o próprio texto traz as caracte-rísticas da incapacidade relativa e absoluta, como o fato da primeira decorrem atos anuláveis e da segunda, nulos.

Na atividade 4, como pode ser visto no Código Civil, os requisitos de vali-dade do negócio jurídico são: agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não proibida por lei. Mas procure conhecer mais a respeito de cada um deles, na bibliografia indicada.

Na atividade 5 você lembrou dos requisitos das duas teorias? Para a teoria do risco não há necessidade da conduta dolosa ou culposa, basta o nexo e o dano. Já para a teoria da culpa, temos que ter os três elementos, conduta, nexo e dano. A companhia aérea deverá responder pela teoria do risco, conforme o Código de Defesa do Consumidor, portanto a resposta correta é a alternativa (a).

Se você realizou as atividades propostas, com certeza está preparado para discutir a divisão do Direito em Público, Privado e Difuso e conhecer os diversos ramos de estudo do Direito.

Referências DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

DOWER, N. G. B. Instituições de Direito Público e Privado. 11. ed. São Paulo: Nelpa, 2002.

FÜHRER, M. C. A.; MILARÉ, E. Manual de Direito Público e Privado. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

GONÇALVES, C. R. Direito Civil: parte geral. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. (Sinopses Jurídicas)

NERY JUNIOR, N.; NERY, R. M. de A. Código Civil comentado: e legislação extravagante. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

VENOSA, Silvio de S. A responsabilidade objetiva no novo Código Civil. Disponível em: <http://www.societario.com.br/demarest/svrespobjetiva.html>. Acesso em: 29 nov. 2007.

Na próxima aula

Começaremos a ver os ramos do Direito Público, nesse primeiro momento o Direito Constitucional e o Administrativo.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 165

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

refletir sobre os direitos e garantias fundamentais previstos pelo Direito •Constitucional;

identificar conceitos e instituições próprias do Direito Administrativo.•

Pré-requisitos

Vimos na aula anterior que o Direito divide-se em Privado, Público e Metaindividual. Esta aula continua a que a antecedeu, que apresentou o Direito Privado, e por isso é importante estar ciente do que aconteceu ali.

Introdução

Como visto, pertence ao Direito Público os ramos que regem as relações que envolvem o Estado, tutelando interesses gerais com vistas a um fim social. Nesta seara, conheceremos o Direito Constitucional, o Direito Administrativo, o Direito Penal, o Direito Processual além de dar uma rápida passada pelo Direito Financeiro, o Tributário e o Internacional Público. Poderíamos, também, elencar o Direito Militar e o Eleitoral. Nesta aula, iniciaremos os estudos pelo Direito Constitucional e Administrativo, sendo os demais ramos apontados estu-dados nas aulas 5 e 6.

4.1 Direito Constitucional

O Direito Constitucional é o ramo do Direito Público que possui maior interdisciplinaridade com os demais ramos do Direito. Dada à superiori-dade hierárquica das normas constitucionais, os demais ramos do direito devem-lhe observância. Em nosso estudo, vamos tecer algumas conside-

Aula 4Ramos do Direito Público: Direito

Constitucional e Administrativo

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166 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

rações sobre o Direito Constitucional e faremos também uma abordagem panorâmica dos direitos e garantias fundamentais assegurados pela Carta de 1988.

a) Conceito de Direito Constitucional

Freqüentemente, ao falarmos de Direito Constitucional, vamos falar também do objeto do seu estudo que é a Constituição Federal. Deste modo, trataremos do conceito do Direito Constitucional propriamente dito e de Constituição.

O Direito Constitucional pode ser definido como ramo de Direito Público, conforme estudado na classificação dos ramos do direito, e pode ser definido como “o conhecimento sistematizado da organização jurídica fundamental do Estado” (OLIVEIRA, 2005, p. 19).

A Constituição, por seu turno, não é demais lembrar, contém as normas fundamentais de um Estado, e conforme leciona Oliveira (2005, p. 21):

a Constituição é a Lei Fundamental de um Estado e, desse modo, seria então a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas escritas ou costumeiras, que regula as formas do Estado e de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias.

Em uma breve síntese, podemos concluir que a Constituição reúne normas que instituem a organização do Estado.

E, se o objeto de estudo do Direito Constitucional é a Constituição, o objeto desta é justamente estabelecer limites na atuação do Estado sobre os indivíduos.

b) Visão panorâmica da Constituição Federal de 1988

A nossa Constituição Federal (também chamada de Carta Magna) foi promulgada em 05 de outubro de 1988. A despeito de ser uma Constituição rígida, já conta hoje com 47 emendas, o que de certo modo é muito criticado por alguns autores.

Na disciplina de Introdução ao Direito, na aula de Direito Constitucional, nos deteremos apenas no realce dos princípios e direitos e garantias assegurados aos cidadãos, uma vez que eles nos darão o norte da disci-plina. Porém, a título de ilustração, trazemos uma visão panorâmica da Constituição, da forma como os assuntos são ali tratados e distribuídos pelo legislador constituinte.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 167

TÍTULO I - ARTS. 1º a 4º Dos princípios fundamentaisTÍTULO II - ARTS. 5º ao 17 Dos direitos e garantias fundamentaisTÍTULO III - ARTS. 18 a 43 Da organização do EstadoTÍTULO IV - ARTS. 44 a 135 Da organização dos poderesTÍTULO V - ARTS. 136 a 144 Da defesa do Estado e das instituições democráticasTÍTULO VI - ARTS. 145 a 169 Da tributação e do orçamentoTÍTULO VII - ARTS. 170 a 192 Da ordem econômica e financeiraTÍTULO VIII - ARTS. 193 a 232 Da ordem socialTÍTULO IX - ARTS. 233 a 250 Das disposições constitucionais gerais

Passamos então a tratar da parte do Direito Constitucional pertinente a nossa disciplina. No entanto, para tratarmos dos direitos e garantias funda-mentais previstos na Constituição, é necessário contextualizá-los, na história e ainda classificá-los conforme direitos de 1ª, 2ª ou 3ª geração.

Os direitos e garantias fundamentais não surgiram com a Constituição Federal de 1988, mas em outro contexto histórico muito importante e bem anterior a nossa Carta. Remontam mesmo à Magna Carta de João sem Terra, na Inglaterra, em 1215, e à Revolução Francesa de 1789.

Os direitos de primeira, segunda e terceira gerações são também lembrados por Oliveira (2005, p. 99-100) conforme mencionamos a seguir:

DIREITOS DE 1ª GERAçãO

Direitos e garantias individuais e políticos clássicos (liberda des públicas: direito à vida, à liberdade, à expressão e à loco-moção).

DIREITOS DE 2ª GERAçãO

Direitos sociais, econômicos e culturais surgidos no início do século XX (direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência, amparo à doença, à velhice, dentre outros).

DIREITOS DE 3ª GERAçãO

Também chamados de direitos de solidariedade ou fraternidade, englobam um meio ambiente ecologicamente equilibrado, a paz, uma qualidade de vida saudável, a autodeterminação dos povos e outros direitos difusos.

Existem autores que mencionam ainda direitos fundamentais de 4ª geração, conforme menciona Oliveira (2005, p. 100) “Os direitos fundamentais de 4ª geração, também chamados de direito dos povos, são provenientes da última fase da estruturação do Estado Social (Globalização do Estado Neoliberal)” assim, dentre os direitos de 4ª geração, destacam-se: o direito à democracia, à informação, ao pluralismo, ao patrimônio genético, entre outros.

c) Diferença entre direitos e garantias

A rigor poderíamos pensar não haver distinção entre direitos e garan-tias. Contudo, a diferença entre os vocábulos é trabalhada por Oliveira (2005, p. 100).

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168 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Direitos são disposições declaratórias de poder sobre determinados bens e pessoas. Representam por si só certos bens. (...) Garantias, em sentido estrito, são os mecanismos de proteção e de defesa dos direitos. Traduzem-se na garantia de os cidadãos exigirem dos Poderes Públicos a proteção de seus direitos, bem como o reconhecimento dos meios processuais adequados a essa finalidade. Por exemplo: habeas corpus, mandado de segurança, entre outros. São acessórios, estando vinculado aos direitos.

d) Destinatários da proteção constitucional

De acordo com o art. 5º, caput, são destinatários da proteção albergada na Constituição Federal todos os brasileiros e estrangeiros, todas as pessoas físicas e jurídicas. Vamos conferir.

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantin-do-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...].

O art. 5º da Constituição Federal possui 78 incisos; o rol de direitos ali contidos é apenas exemplificativo e não exaustivo. Desta forma, vamos nos deter aos direitos contidos no caput e em alguns dos incisos, sem diminuir a importância dos demais.

e) Direito à vida

A vida é o bem maior e mais importante resguardado pelo Direito. A Constituição protege o direito à vida em vários contextos, ou seja, protege os direitos do nascituro, proíbe a pena de morte e ainda prevê a subsistência dos necessitados. Vamos recapitular algumas passagens.

Proibição da pena de morte: em regra, a pena de morte é proibida no Brasil. Existe apenas em caráter de exceção, nos casos de guerra externa declarada. Assim, não existe a possibilidade de mudança na Constituição Federal para introduzir tal pena, uma vez que o direito à vida é direito individual fundamental e como tal não poderá ser modificado. Deste modo, deverá ser observado o artigo 60, § 4.º, inciso IV, que dispõe sobre a impossibilidade de modificação por emenda dos direitos individuais (cláu-sula pétrea).

Proibição do aborto: a Constituição Federal não se refere especificamente ao aborto. Subtende-se sua proteção a partir da proteção da vida e ainda da

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 169

recepção do previsto no Código Penal (art. 124 a 126) que proíbe o aborto como regra, permitindo sua prática apenas nos casos previstos em lei, a título de exceção.

Proibição da eutanásia: a eutanásia não é permitida no Brasil. Assim, se alguém tira a vida de outrem alegando a impossibilidade de este ser viver por suas próprias forças, seja esta pessoa médico ou não, estará cometendo crime de homicídio.

Garantia da legítima defesa: a legítima defesa funciona em nosso ordena-mento jurídico como excludente de ilicitude; assim, não pode ser considerado como crime o direito da pessoa, quando visa à preservação da sua vida ou da vida de terceiro que esteja em perigo iminente ou atual, conforme art. 23 do Código Penal.

f) Direito à liberdade

A liberdade como princípio constitucional não se refere apenas à liber-dade de locomoção, mas também à liberdade de pensamento, à liberdade de consciência, de crença religiosa e de convicção filosófica ou política.

Nesse sentido, Silva (2006, p. 234) afirma que o direito não trata apenas da liberdade objetiva, que é a liberdade de fazer e de atuar. O certo é falar em “liberdades”, dividindo-as em cinco grupos:

Liberdade da pessoa física• : de locomoção e de circulação.

Liberdade de pensamento• : de opinião, de informação, religiosa, artís-tica, etc.

Liberdade de expressão coletiva• : de reunião, de associação.

Liberdade de ação profissional• : livre escolha e de exercício de trabalho, ofício e profissão.

Liberdade de conteúdo econômico e social• : livre iniciativa, livre comércio, autonomia contratual, de ensino e de trabalho.

g) Direito à igualdade

Todos são iguais perante lei. Porém, algumas vezes, a igualdade no seu sentido formal não é a igualdade ideal. Deste modo, segundo a máxima aristotélica, devemos tratar os desiguais de forma desigual (igualdade mate-rial), como forma de se materializar a justiça de forma mais eqüitativa. Como exemplo da igualdade material pode-se citar a alíquota progressiva do Imposto de Renda.

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170 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Igualdade para brasileiros e estrangeiros: em um primeiro momento, alguém poderá levantar algumas discussões a respeito da proteção dos estran-geiros, tal qual dos brasileiros em solo nacional. Não poderia, porém, ser de modo diverso. A título de exemplificação, como se poderia explicar a situação de duas pessoas, um brasileiro e um estrangeiro, que sofressem um mesmo acidente e, ao brasileiro, fosse dado o direito de acesso à justiça, enquanto ao estrangeiro não se oportunizasse o mesmo direito? Seria deveras injusto.

Igualdade entre homens e mulheres: com o advento da Constituição Federal de 1988 não há que se falar em desigualdade entre homens e mulheres. Alguns dispositivos da CF são claros por si só: (a) o inciso I do artigo 5º, segundo o qual, os homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações; o artigo 7º, inciso XXX, que veda diferenças salariais em razão do sexo, idade, cor ou estado civil do trabalhador. E por último, o artigo 226, § 5º, trouxe a igualdade entre os cônjuges para sede constitucional, revogando os dispositivos infracons-titucionais que instituíam o homem como chefe de família (CC de 1916).

h) Direito à propriedade

O direito à propriedade é reconhecido na Constituição Federal em várias passagens. Com acerto, porém, o reconhecimento ao direito de proprie-dade está atrelado ao do bem comum. Assim, não traz surpresa o fato de a Constituição Federal relativizar o direito de propriedade, quando esta não cumpre a sua função social.

A Constituição Federal faz várias menções ao direito de propriedade, que aqui destacamos a título de ilustração:

Art. 5ºInciso XXII – trata da propriedade em geral.Inciso XXIII – trata da função social da propriedade.Inciso XXIV – trata da desapropriação.Inciso XXVII a XXIX – trata da propriedade artística, literária e científica.

i) Direito à segurança

O direito à segurança, conforme afirma Oliveira (2005, p. 103), afigura-se

como “um conjunto de garantias e de direitos composto por situações, proibi-

ções, limitações e procedimentos destinados a assegurar o exercício e o gozo

de algum direito individual fundamental”. O autor destaca como exemplo:

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 171

j) Princípios extraídos dos incisos do art. 5º da CF

Princípio da legalidade• : a legalidade tem previsão no inciso II do art. 5º: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Princípio da irretroatividade da lei• : art. 5º, XXXVI “a lei não prejudi-cará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Princípio do acesso à justiça• : art. 5º, XXXV “a lei não excluirá da apre-ciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”.

Princípio da vedação a tribunais e juízes de exceção; princípio do juiz •natural: artigo 5º, inciso XXXVII “ não haverá juízo ou tribunal de exceção”. E inciso LIII “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”.

Princípio do Tribunal do Júri• : art. 5º, inciso XXXVIII “é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida”.

Princípio do devido processo legal• : art. 5º, inciso LIV “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.

Princípio do contraditório e da ampla defesa• : art. 5º, LV “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

4.2 Direito Administrativo

a) Conceito

Não existe um consenso entre os autores para conceituar o Direito Administrativo. Contudo, esta é uma característica não só do Direito, mas espe-cialmente do Direito Administrativo, que apresenta muita divergência entre seus

Art. 5º, XI. A casa é o asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou

para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial.

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172 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

doutrinadores, quando se trata de construir conceitos. No entanto, elegemos o conceito de Hely Lopes Meirelles pela tradição da sua obra.

O autor conceituava o Direito Administrativo como “conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades publicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado” (2002, p. 38).

b) Organização da Administração Pública

A organização da Administração Pública ocorre de forma quase que similar em todas as esferas de Poder – União, Estados e Municípios. Podemos tomar como referência o diagrama a seguir que ilustra as entidades que compõem a Administração Pública:

ADMINISTRAçãO PÚBLICADIRETA INDIRETA FUNDACIONAL

Integram a estru-tura constitucional do Estado. Exemplo: União, Estados-membros, Municípios e Distrito Federal.

Autarquias: pessoas jurídicas de •direito público, criadas por lei específica, para realização de atividades descentralizadas do poder que as criou.Entidades empresariais: Pessoas •jurídicas de direito privado, insti-tuídas sob a forma de sociedade de economia mista ou empresa pública, com a finalidade de prestar serviço público que possa ser explorado no modo empresarial. Necessita lei espe-cífica para sua criação.

Pessoas jurídicas de •direito público ou pessoas jurídicas de direito privado, devendo a lei definir a respectiva área de atuação. As fundações, tal qual •as autarquias, pertencem à administração descentralizada.As fundações podem •existir com os mais diversos fins, como: educacionais, culturais, morais e de assistência.

c) Os princípios basilares do Direito Administrativo

Os princípios do Estado brasileiro trazidos pela Constituição de 1988 (art. 1º em especial), bem com os princípios gerais do direito informam e integram, em geral, todos os demais ramos. No entanto, o que o estudo dos princípios tem de especial nessa disciplina é que, diferente daquelas citadas anteriormente, o Direito Administrativo não possui uma codificação. Ele possui apenas uma farta e confusa legislação esparsa, junto com um complexo emaranhado de decisões judiciais, costumes burocráticos e doutrinas conflitantes, aumentando em muito a importância dos princípios na aplicação do direito no âmbito da Administração Pública. Ademais, vários princípios foram enumerados em nível constitucional havendo, inclusive, legislação que dispõe como ilícito os atos

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 173

que atentam contra os princípios da administração pública (art. 11 da lei de improbidade administrativa – Lei 8429/1992).

Uma vez que a Administração Pública deve cuidar dos interesses coletivos, compatibilizando e sem menosprezar os direitos e garantias individuais, Celso Antonio Bandeira de Mello (2002, p. 38) indica os dois princípios fundamen-tais sobre os quais se baseia toda a atuação administrativa:

a supremacia do interesse público sobre o particular• – refere-se à própria condição de sobrevivência da Administração Pública, quando os interesses da coletividade são superiores aos interesses privados e têm a prevalência para serem garantidos e assegurados. Desse princípio decorrem os benefícios que a Administração Pública goza frente aos particulares (como prazos processuais dilatados, foro privi-legiado, entre outros) e sua posição de autoridade, instituindo uma relação hierárquica e vertical com o administrado. Note apenas que essa posição de supremacia somente se justifica na medida do indis-pensável ao interesse público. Hoje o princípio da supremacia do interesse público deve ser entendido de forma moderada, uma vez que os interesses públicos e particulares devem buscar se compatibi-lizar, além da proporcionalidade que deve motivar todos os atos da Administração, como você verá.

a indisponibilidade do interesse público• – implica que ninguém que esteja no exercício da função pública pode dispor livremente conforme sua vontade sobre os bens e interesses resguardados pelo Estado por meio da Administração, pois os têm sob sua guarda e realização (MELLO citado por DI PIETRO, 2006, p. 84).

Desses princípios decorrem os demais, inclusive os resguardados em nível constitucional. Vale ressaltar, no entanto, a dificuldade de se identificar o que é efetivamente o interesse público em cada situação, mas devemos atentar que não há, em regra, contraposição entre interesses individuais e coletivos, e tampouco se confundem esses interesses com os do Estado.

d) Princípios constitucionais da Administração Pública

O rigoroso e detalhado regramento constitucional da Administração Pública brasileira (art. 37 a 41 da CF/1988) é sui generis no direito comparado (que, em regra, deixa esse tema para tratamento infraconstitucional). Assim, logo no caput do art. 37 nos serão apresentados cincos princípios que informam esse ramo do direito.

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174 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Princípio da legalidade • – é decorrente do próprio Estado de Direito com o primado da lei na sociedade. À Administração Pública só é dado fazer o que a lei permite ou obriga, enquanto no âmbito privado o que vale é a autonomia da vontade que prevê que é dado fazer tudo o que a lei não proíbe, como se pode ver no art. 5º, II, da Constituição que afirma que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer nada senão em virtude de lei”.

Princípio da impessoalidade • – há variedade de entendimento a respeito desse princípio. Para alguns (MELLO, 2002, p. 96) refere-se à isonomia, que garante tratamento igual a todos os administrados, sem discrimina-ções, de privilégio ou desfavoráveis. Outros (DI PIETRO, 2006, p. 84; MORAES, 2002, p. 100) o apontam relacionado ao princípio da fina-lidade, que impele o administrador a ter seus atos apenas visando ao fim legal a que ele se destina. Vale ainda lembrar que a impessoali-dade também se relaciona à própria atuação administrativa, que não se liga ao agente, mas à entidade que ele representa (olhe o art. 37, § 1º da CF/1988 para entender melhor essa implicação).

Princípio da moralidade • – relacionado à honestidade, ao decoro, à ética e à boa-fé do administrador. Surge ligado à idéia de desvio de poder, quando “a Administração Pública se utiliza de meios lícitos para atingir finalidades metajurídicas irregulares. A imoralidade estaria da intenção do agente” (DI PIETRO, 2006, p. 92). Atente-se que esse prin-cípio obriga tanto o agente público como o terceiro, particular, que se relaciona com a Administração Pública.

Princípio da publicidade • – prevê a transparência e a ampla divulgação dos atos da Administração, com exceção daqueles cujo sigilo constitui hipótese legal. É um princípio amplamente citado constitucionalmente, em vários momentos (só no art. 5º podemos citar o acesso à infor-mação e o direito ao sigilo profissional – XIV, a publicidade dos atos processuais, só restritos quando necessários à defesa da intimidade ou ao interesse social – LX, entre outros). Vocês vão perceber que em

Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legali-

dade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...].

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 175

muitos casos a publicação dos atos administrativos é condição para a sua validade ou eficácia.

Princípio da eficiência • – inserido pela EC n.º 19/1998, no contexto da reforma administrativa, que também dispôs, na mesma direção, sobre outra forma do servidor público estável perder o cargo, por meio de avaliação de desempenho (art. 41, § 1º, III). Alexandre de Moraes aponta algumas características que compõem esse princípio (2002, p. 109): direcionamento da atividade e dos serviços públicos à efeti-vidade do bem comum, imparcialidade, neutralidade, transparência, participação, eficácia, desburocratização e busca de qualidade.

Além dos princípios expressos no texto constitucional, podemos encontrar outros tantos também muito importantes para a integração e aplicação do Direito Administrativo. Alguns desses podem ser encontrados citados em cons-tituições estaduais e na legislação infraconstitucional, mas outros, aceitos pela doutrina, só podem ser encontrados de forma implícita, quando se leva em conta o todo do Direito Administrativo. Destes, vale citar os princípios da razo-abilidade e da proporcionalidade, em que a Administração deve se pautar em critérios racionais, sensatos e coerentes, fundamentado em concepções sociais dominantes que se consubstanciam em atos adequáveis, compatíveis, justos e proporcionais (adequação entre meios e fins). Esses princípios têm sido muito invocados pelos Tribunais, que os utilizam para limitar a liberdade administrativa no caso concreto e aumentar o controle judicial sobre os atos da Administração Pública.

e) Serviços públicos

Apesar da idéia de serviço público poder ser entendida de diversas maneiras, utilizaremos aqui o que Maria Silvia Di Pietro (2006, p. 114) e Celso Antonio Bandeira de Mello (2002, p. 600) apontam como caracterís-tica: a satisfação concreta e imediata que os serviços públicos devem dar às necessidades sociais e coletivas. Esses serviços, em regra, devem ainda ser prestados pelo Estado, ou por seus delegados, sob regime de direito público.

Se o Estado resolve delegar alguns tipos de serviços públicos para a sua prestação por particular, isso se dará por meio dos instrumentos da concessão, permissão e autorização de serviços públicos em que a Administração passa para o particular explorar o serviço em seu nome, por sua conta e risco. Ou seja, a Administração se mantém com a titularidade do serviço, mas transfere a outro a responsabilidade por sua prestação. Em troca, será remunerado pelo uso

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176 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

do serviço por parte dos usuários. Uma vez que presta o serviço em nome da própria Administração, é claro que se submete ao regime de direito público.

São previstas no art. 175 da CF/1998 (com exceção da autorização) e regidas pela Lei 8987, de 3 de fevereiro de 1995, além da Lei 9074/1995 e as leis de criação das agências reguladoras.

CONCESSãO

Contrato a ser firmado por meio de concorrência, com pessoa jurí-dica ou consórcio de empresas. Deve haver prévia autorização legislativa. O prazo deve ser o suficiente para a amortização do valor do investimento.Atenção: a Lei 11079/2004 instituiu as Parcerias Público-Privadas (PPP) que criaram dois novos tipos de concessão: a patrocinada e a administrativa. São contratos para altos valores (acima de R$ 20.000.000,00) e prazos de 5 a 35 anos.

PERMISSãO

Contrato a ser firmado por meio de licitação, com pessoa física ou jurídica, sem necessidade autorização legislativa. Além disso, pouco difere da concessão de serviço público, mas não pode desapropriar e normalmente o prazo e o vulto do investi-mento é menor.

AuTORIzAçãO

Ato unilateral e precário pelo qual a Administração outorga a parti-cular que se interesse a execução de serviços de interesse coletivo. Como exemplo podemos citar os serviços de táxi, as autorizações de exploração de energia elétrica (art. 7º da Lei 9074/1995).

Ainda podemos citar a terceirização (contratação de terceiros) para realizar serviços de caráter geral em nome da Administração, mediante remu-neração a ser paga pela Administração, por exemplo, coleta de lixo, e a fran-quia (espécie de descentralização por meio do particular, que presta o serviço nos moldes ditados pelo franqueador) dos serviços públicos. No entanto, em ambas, o que se transfere é somente a execução da atividade, ou parte dela, mas a responsabilidade pela sua prestação frente à comunidade continua sendo da Administração.

No que se refere aos direitos dos usuários dos serviços públicos, há previsão na Lei 8987/1995 (Concessões e permissões de serviços públicos), além do Código de Defesa do Consumidor, que incide sempre que a Administração se comporta como fornecedora, e isso vem sendo entendido com relação a serviços públicos prestados a título individual e sob remuneração.

f) Licitação

A CF/1988 traz, em seu art. 37, XXI e outros, a obrigação da Administração Pública direta e indireta só contratar mediante licitação. Entre os vários conceitos de licitação, Di Pietro aponta que ela é

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 177

o procedimento administrativo pelo qual o ente público, no exer-cício da função administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições fixadas no instrumento convoca-tório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a mais conveniente para a celebração do contrato (2006, p. 348).

Dessa definição, podemos apontar que a licitação é uma sucessão orde-nada de fatos e atos da Administração Pública e do licitante, para formar a vontade contratual. Ou seja, há um vínculo direto entre a licitação e o futuro contrato, que será celebrado com o vencedor do certame. Só o que foi licitado pode ser contratado, nos moldes previstos no instrumento convocatório.

A licitação tem duas fases: uma interna (preparatória), e outra fase externa (pública). Na primeira é solicitada a contratação, verificada possibilidade orçamentária, descrito o objeto e autorizado o procedimento. Em situações especiais, devem ser realizadas audiências públicas (art. 39).

A licitação é regra, mas para que haja licitação deve haver possibilidade de competição (viabilidade de disputa e de julgamento objetivo) e vantajo-sidade na sua realização. Por isso, a LLC trouxe suas exceções ao dever de licitar, possibilitando a contratação direta:

inexigibilidade (art. 25): deve haver inviabilidade de disputa, ou seja, singularidade relevante do objeto (bens e serviços) ou unicidade de ofertante. A lista não é exaustiva, já que sempre que a Administração estiver frente a um caso que não seja possível a disputa, deve-se declarar a inexigibilidade.

dispensa (arts. 17 e 24): disputa possível, mas inconveniente ao interesse público. Os casos de dispensa exaustivamente listados. As dispensas do art. 17 referem-se à alie-nação de bens móveis e imóveis (exige autorização legislativa). Já o art. 24 traz uma lista de situações dispensáveis (27 incisos até setembro de 2006), que podem ser clas-sificadas em 4 categorias: em relação ao pequeno valor, a situações excepcionais, ao objeto da licitação e à pessoa (com quem se vai contratar).

Essas exceções devem ser verificadas ainda na fase inicial do processo, pois o procedimento licitatório propriamente dito, que inicia com a confecção do edital, só acontecerá caso não esteja presente nenhuma das excludentes. No entanto, vale ressaltar que a contratação direta é considerada pelo TCU como uma forma de licitação anômala (JUSTEN FILHO, 2005, p. 344), sujei-tando-se, portanto, aos seus princípios e regras, em especial à vantajosidade, à isonomia, à motivação e à publicidade (art. 26). O TCU já decidiu que só

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178 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

as empresas púbicas e sociedades de economia mista que exploram atividade econômica não estão sujeitas ao dever de licitar quando se tratar de suas ativi-dades (GASPARINI, 2004, p. 393).

A fase externa apresenta algumas etapas, que podemos dividir em: edital, habilitação, classificação, homologação e adjudicação. Toda essa fase é pública, sendo apenas as propostas sigilosas. A fase externa é capitaneada pela comissão de licitação composta por 3 membros, sendo pelo menos 2 deles efetivos (art. 51).

As modalidades de licitação são seis e se referem às espécies de procedi-mento. Estão previstas no art. 22 e 23; fora o pregão, que está previsto em lei apartada (Lei 10520/2002). Vejamos:

CONCORRêNCIA

Modalidade mais complexa, aberta a todos que se sujeitarem às condições do edital. É obrigatória para:

compras, serviços, obras e alienações de bens móveis de alto valor (art. •17, § 6o; 23, I e II, c);compra e alienação de bem imóvel (23, § 3• o, exceção no art. 19, III);concessões de direito real de uso (23, § 3• o);licitações internacionais (23, § 3• o, exceção de tomada de preço e convite em casos específicos);registro de preços (art. 15, § 3• o, I, exceção de pregão, art. 11 e 12 da Lei 10520/2002).

TOMADA DE PREçO

Exige registro cadastral (regulado entre os art. 34 e 37) previamente à realização da licitação. Escolhida em função dos valores, previsto no art. 23, I e II, b.

CONVITE

A carta convite é enviada para no mínimo 3 possíveis interessados no objeto da licitação. Os não convidados e cadastrados poderão participar, devendo avisar sobre sua participação com, no mínimo, 24 horas de antecedência. Esta modalidade é escolhida em função dos valores, previsto no art. 23, I e II, a. Pode ser processada por um único servidor, em alguns casos (art. 51, §1o).

PREGãO

Serve para compras e serviços comuns (listados no Decreto 3555/2001), sem limite de valor. Pode acontecer na modalidade presencial ou eletrô-nica. É processada por um servidor pregoeiro e uma equipe de apoio (art. 3o, IV e §1o da Lei de Pregão). O Dec. 5450/2005 estabeleceu que deve ser dada preferência pela modalidade de pregão eletrônico, sempre que possível.

CONCuRSO

Para escolha de trabalho técnico, artístico ou científico, mediante um prêmio. Está disciplinado no art. 52 e seu julgamento por banca de especialistas, no art. 51, § 5o. ATENÇÃO: Esse concurso não deve ser confundido com os concursos públicos para seleção de pessoal.

LEILãO

Destinada à venda de bens móveis inservíveis para a Administração, produtos aprendidos e penhorados, e imóveis, a quem oferecer maior lance. O art. 53 trata da modalidade e prevê que será processada por leiloeiro oficial ou servidor designado.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 179

Depois de iniciada a fase externa da licitação, ainda assim pode ser que a licitação não ocorra. Isso pode acontecer por dois motivos: interesse público ou legalidade (art. 49). No primeiro caso cabe à Administração Pública decidir pela manutenção ou não da licitação em função de conveniência e oportunidade, motivada por fato superveniente. Se ela é interrompida antes do seu término, temos a desistência. Após a adjudicação, mas antes de firmar o contrato, temos a revogação, que gera direito à indenização apenas ao lici-tante vencedor, enquanto a outra abarca todos os licitantes. Esses dois casos de extinção do processo são exclusivas da entidade administrativa. No caso de vício, temos a invalidação ou anulação, que retroage até o ato viciado e não gera direito à indenização, a não ser a terceiros de boa-fé. Pode ser decretada pelo Judiciário. A LLC também traz uma série de tipos penais relacio-nados às licitações e aos contratos (art. 89 a 99), que devem ser processadas por ação penal pública incondicionada.

g) Contratos administrativos

Vencida a etapa da licitação, a Administração deve convocar o licitante vencedor para formalizar o contrato, caso contrário, estará o mesmo liberado de seu compromisso (art. 64). Caso o adjudicatário não atenda ao chamado da Administração Pública, os demais classificados da licitação podem ser convidados a contratar, na ordem homologada, nas mesmas condições da proposta vencedora (art. 64, §2º).

Com relação ao prazo dos contratos, é vedado que seja indeterminado e a regra é que não se deve ultrapassar a vigência do crédito orçamentário (art. 57), sendo possível sua prorrogação, desde que prevista no instrumento convocatório, quando se referir a:

aluguel de equipamentos e utilização de programas de computador •(até 48 meses);

prestação de serviços continuados, que pode ser prorrogado por iguais •e sucessivos períodos (até 60 meses, mais 12, em casos excepcionais);

projetos com produtos contemplados pelo Plano Plurianual (PPA).•

Por fim, ainda com relação ao prazo, é possível a prorrogação dos prazos das etapas contratuais, nos casos previstos no §1º do art. 57, mantidas as demais condições acordadas.

Além do prazo, os contratos administrativos apresentam um conjunto de dispo-sições que colocam a Administração em posição de supremacia frente ao particular.

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180 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

São as cláusulas extravagantes, que caracterizam essa espécie de contrato, diferen-ciando-os dos demais contratos regidos pelo Direito privado, onde essas mesmas cláusulas seriam ali consideradas ilegais ou incomuns. Vejamos quais são elas, no entendimento de Maria Sylvia Di Pietro (2006, p. 274-280).

Exigência de garantia• (art. 56) – a autoridade competente tem a liber-dade para decidir pela exigência ou não da prestação de garantia. Deve haver previsão no edital e não ultrapassar 5% (10% em alguns casos) do valor do contrato e pode se dar em forma de caução, segu-ro-garantia ou fiança bancária, à escolha do contratado.

Alteração unilateral • (art. 58, I e 65, I) – justificado pela finalidade pública, a Administração poder fazer alterações de qualidade e quan-tidade, proporcionado acréscimos ou supressões no objeto inicial até o limite de 25% do valor inicial do contrato (50% para reformas), sendo o contratado obrigado a aceitar, garantida a manutenção do equilíbrio econômico.

Rescisão unilateral • (art. 58, II; 79, I) – por inadimplemento do contra-tado, interesse público, caso fortuito ou força maior. Nos dois últimos casos, a Administração responde pelos prejuízos que causar em função da rescisão.

Fiscalização • (art.58, III e 67) – acompanhar e fiscalizar a execução do contrato não apenas é um poder, mas um dever da Administração, que pode, inclusive, contratar terceiros para subsidiar essa função.

Aplicação de penalidades • (art. 58, IV) – a inexecução parcial ou total do contrato enseja sanções administrativas que estão dispostas no art. 87. São elas:

advertência;•

multa, conforme contrato ou instrumento convocatório e o art. 86;•

suspensão temporária de participação em licitação e impedimento •de contratar com Administração por até 2 anos;

declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a •Administração Pública, enquanto perdurarem os motivos ou se promovida a reabilitação, com o ressarcimento dos prejuízos, após 2 anos da aplicação da sanção. Sua aplicação exclusiva de secretários e ministros.

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 181

Anulação • (art. 59) – provém dos princípios de autotutela e da legali-dade (Aula 2) que dispõem que a Administração deve tornar nulo seus atos eivados de vício, com efeitos retroativos, responsabilizando-se pelos prejuízos causados a terceiros de boa-fé.

Retomada do objeto • (art. 80) – decorre da rescisão unilateral a Administração ter a faculdade de assumir e ocupar bens e serviços, em especial se necessário à continuidade de um serviço público, bem como executar a garantia e reter créditos.

Restrições ao uso da cláusula da exceção do contrato não cumprido• (art. 79, I e XV) – o descumprimento do contrato por parte da Administração não dá o direito ao contratado fazer o mesmo que, por exemplo, deve esperar 90 dias sem receber o pagamento para suspender as atividades. Também se relaciona com a continuidade do serviço público.

h) Responsabilidade civil da Administração Pública

A responsabilidade objetiva está consagrada na CF/1988.

Art. 37, § 6º. As pessoas jurídicas de Direito Público e as de Direito Privado presta-doras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali-dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Para se caracterizar a responsabilidade patrimonial extracontratual da

Administração, já vimos que o componente dano não é necessário. Devemos

procurar pelo dano (patrimonial, que abrange o emergente e os lucros

cessantes; e/ou o dano moral), um ato da Administração e um nexo de causa-

lidade entre eles (que é conexão lógica, entre o ato ou omissão e o dano).

Como excludentes da responsabilidade temos a força maior, o caso fortuito, o

exercício regular de direito pelo agente estatal, a culpa de terceiros e a culpa

exclusiva da vítima, enquanto a culpa concorrente funciona como atenuante

(JUSTEN FILHO, 2005, p. 803).

Quando a Administração indeniza por um dano causado com culpa ou

dolo do servidor, deverá ser movida uma ação de regresso contra o mesmo

para fins de ressarcimento ao erário público.

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

182 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Síntese da aula

Nesta aula, definimos o Direito Constitucional, bem como o seu objeto de estudo, que é a Constituição. Passamos uma visão panorâmica das matérias tratadas na Constituição e nos detivemos nos direitos e garantias fundamentais, especialmente nos princípios ali contidos. Depois vimos que os princípios são dire-trizes que informam os mais variados ramos da Ciência e do Direito e que para o Direito Administrativo, os princípios se revestem de especial importância haja vista a legislação esparsa e os costumes burocráticos, e têm sido fartamente utilizados na jurisprudência. Esses princípios são parte do regime jurídico administrativo, encon-trando-se explícitos ou implícitos no texto constitucional ou infraconstitucional.

Pode ser percebida a grande relação entre o Direito Constitucional e o Administrativo e o papel que ambos desempenham na estruturação do Estado e da sociedade brasileira.

Atividades

1. Estudamos que a Constituição Federal de 1988 protege a vida em várias abordagens, especialmente em alguns incisos do art. 5º. Diante desta afir-mativa, assinale a alternativa correta.

a) A Constituição Federal proibiu totalmente a pena de morte.

b) A Constituição Federal permitiu a pena de morte nos crimes hediondos.

c) A Constituição Federal permitiu excepcionalmente a pena de morte nos casos de guerra externa declarada.

d) A Constituição Federal permitiu excepcionalmente a pena de morte nos crimes dolosos contra a vida.

2. Liste pelo menos dois pontos de aproximação entre os ramos do Direito Constitucional e Administrativo.

3. Relacione o caso com o respectivo princípio que seria (em tese) infringido.

I. Exigência de “carta de recomendação” política para autorizar a utili-zação comercial dos quiosques públicos nas praças.

II. Decisão da construção de um “aeroporto de discos voadores”.

III. Imposição injustificada de uma sanção administrativa de suspensão.

IV. Implementação de uma política pública de saúde centrada apenas no trata-mento de uma doença de grande poder e rapidez de contaminação.

( ) Eficiência ( ) Motivação ( ) Impessoalidade ( ) Razoabilidade

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 183

a) IV, III, I, II

b) II, I, III, IV

c) III, II, IV, I

d) I, IV, II, III

4. Marque Verdadeiro ou Falso a respeito dos serviços públicos prestados por particulares.

I. Nas franquias públicas, cujas mais conhecidas são as dos Correios, o franqueado presta o serviço por sua conta e risco, desde a coleta da correspondência até sua entrega, onde quer que seja.

II. Nos contratos de concessão de serviços públicos não pode ser acor-dado nada relacionado à construção de obra pública, pois esse seria uma outro objeto diverso, que exigiria nova licitação.

III. Assim como no exemplo dos táxis, o transporte urbano coletivo alter-nativo (vans) pode ser todo objeto de autorização, haja vista o inte-resse da Administração em consentir que ofereçam mais opções à população e o particular de prestar o serviço e ficar com o dinheiro das passagens.

IV. Uma grande diferença entre a concessão (energia elétrica) e a tercei-rização (transporte escolar) é quem paga pela prestação do serviço.

São verdadeiras as afirmativas:

a) Apenas I e II

b) Apenas II e III

c) Apenas III e IV

d) Apenas I e IV

Comentário das atividades

Na atividade 1, você deve ter se lembrado de que falamos em várias passagens das formas como a Constituição aborda a proteção à vida. Falamos da recepção do conteúdo do Código Penal e das vezes que menciona de forma expressa esse direito. Para responder à questão, você ter pesquisado o conteúdo do inciso XLVII do art. 5º da Constituição Federal, onde se lê que a Constituição Federal permitiu excepcionalmente a pena de morte nos casos de guerra externa declarada e viu que a resposta correta é a alternativa (c).

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

184 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

As demais alternativas: a) A Constituição Federal proibiu totalmente a pena de morte; b) A Constituição Federal permitiu a pena de morte nos crimes hediondos e d) A Constituição Federal permitiu excepcionalmente a pena de morte nos crimes dolosos contra a vida estão, portanto, equivocadas.

Na atividade 2, além do Direito Constitucional e Administrativo tratarem de questões do Estado, o Direito Administrativo nutre-se do Direito Constitucional que tem um capítulo inteiro dedicado à Administração Pública.

Na atividade 3, você percebeu que o Direito Administrativo está em um momento de intensa mutação desde a CF/1988? Nesse contexto, os princípios assumem especial relevância no desenvolvimento desse ramo do direito, como pode ser percebido nos casos concretos elencados. Uma vez que todos são iguais perante a lei, fere o princípio de impessoalidade exigir uma recomendação polí-tica para acessar um bem público. Da mesma forma, o princípio da razoabili-dade não é atendido quando dinheiro público é destinado para obra cuja fina-lidade não pode ser comprovada ou presumida. Todos têm direito a conhecer a justificativa da imposição de alguma penalidade, inclusive administrativa, o que possibilita exercitar o direito de defesa. Caso isto não ocorra, fere o princípio da motivação. Da mesma forma, pelo princípio da eficiência, a Administração Pública deve ter um planejamento e buscar conseguir a maior eficácia possível com a maior economicidade, o que não acontece quando se atacam só as conse-qüências sem tratar das causas. Portanto, a alternativa (a) é a correta.

Na atividade 4, você deve ter concluído que um particular pode realizar serviço público, mas só na concessão, permissão e autorização ele o faz por conta e risco, sendo pago pelo usuário do serviço. A concessão de serviço público pode ser feita junto com obra pública, se esta for relacionada ao serviço a ser concedido. É sempre a Administração que decide quando é do interesse público delegar ao particular um serviço público, como em auto-rização de táxis e vans. Nos demais tipos de vínculo, a Administração, em regra, repassa somente a execução do serviço, como nos casos do correio, que só recolhem e entregam a correspondência, sendo o serviço de transporte postal ainda feito pela Administração indireta. Na terceirização, quem paga pelo serviço é a Administração, já que a empresa terceirizada trabalha para ela. Assim, a alternativa correta é a letra (c). As atividades lhe proporcio-naram a oportunidade de refletir sobre os direitos e garantias fundamentais previstos pelo Direito Constitucional, bem como identificar conceitos e institui-ções próprias do Direito Administrativo.

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 185

ReferênciasGASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

JUSTEN FILHO, Marçal. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Saraiva, 2005.

OLIVEIRA, E. da S. Elementos de Direito: Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: Premier Máxima, 2005.

SANTOS, A. S. de S. Direito Administrativo. In: ______. Caderno de conteúdos e atividades do curso de fundamentos e práticas judiciárias do sistema EaD/Unitins Interativo. Palmas, TO: Unitins, 2007.

Na próxima aula

Continuaremos trabalhando outros ramos do Direito Público, especialmente o Direito Penal.

Anotações

AUlA 4 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

186 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 187

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

ter uma visão geral sobre o direito Penal, especialmente no que se •

refere aos crimes econômicos e de consumo;

conhecer os campos do Direito Financeiro, Tributário e Internacional.•

Pré-requisitos

Vimos na aula 3 que o Direito divide-se em Privado, Público e

Metaindividual. Esta aula continua a que a antecedeu, que apresentou o

Direito Público, e por isso é importante que você esteja ciente do que acon-

teceu ali para dar prosseguimento ao estudo deste ramo do Direito que

regem as relações que envolvem o Estado, tutelando interesses gerais com

vistas a um fim social.

Introdução

É sabido que o Estado brasileiro é bastante interventor e se ocupa de

amplas áreas sócias. Neste item, conheceremos, então, o Direito Penal, além

de uma rápida passada pelo Direito Financeiro, o Tributário e o Internacional,

mas outros poderiam ser elencados, como o Direito Militar e o Eleitoral.

5.1 Direito Penal

a) Conceito de Direito Penal

De acordo com Victor Eduardo Rios Gonçalves (1999, p. 1), o Direito

Penal é “o ramo do direito público que define as infrações penais, estabele-

cendo as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos infratores”.

Aula 5Ramos do Direito Público:

Direito Penal e outros

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

188 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

b) Legislação Penal vigente no Brasil

Não há dúvidas de que o Código Penal é a legislação penal mais importante que vigora no País. O nosso Código Penal foi promulgado em 1940 (Decreto-Lei n.º 2.848/40), contendo parte geral e parte especial. Em 1984 houve uma alteração na parte geral, que foi modificada pela Lei n.º 7.209/84. Também temos uma série de leis esparsas que visam a coibir os crimes não previstos no Código Penal. Abordaremos algumas em nosso estudo.

A infração penal pode ser considerada como gênero do qual decorrem os crimes ou delitos e as contravenções penais.

O conceito de ambos está contido no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, que além do conceito trata também de diferenciá-los quanto à aplicação da pena.

Art. 1º – Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de

prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

A lei faz distinção pelo critério de gravidade, pois os crimes são os ilícitos com maior grau de gravidade, a julgar pela severidade das penas, e as contra-venções são os ilícitos considerados de menor gravidade, ou seja, os ilícitos, considerados como os quase-delitos.

Aponte-se, no entanto, que após 1995, com a existência da Lei n.º 9.099/95, criou-se o conceito dos crimes de menor potencial ofensivo. O conceito de crimes de menor potencial ofensivo encontra-se disposto no art. 61 da lei n.º 9.099/95. Vamos conferir:

Art. 61 – Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial.

c) Características da Lei Penal

De acordo com Gonçalves (1999, p. 5), a lei penal possui 04 (quatro) características:

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 189

exclusividade• : só a lei penal tem o poder de definir o que é crime e

cominar a respectiva pena;

imperatividade• : significa que a lei penal deve ser imposta a todos, de

forma obrigatória;

generalidade• : a lei penal é valida para todos;

impessoalidade• : a lei penal é construída em abstrato, ou seja, é elabo-

rada para atingir acontecimentos futuros, sendo vedado os tribunais

de exceção.

d) Dos Princípios que norteiam o Direito Penal

Os princípios podem ser considerados a plataforma mínima sobre a qual

se pode elaborar o Direito Penal de um Estado Democrático de Direito. Assim,

elegemos alguns princípios básicos, para o nosso estudo, como o Princípio

da Lesividade, o princípio da Intervenção Mínima, o princípio da Legalidade

(ou da reserva legal, ou da tipicidade), e o princípio da Culpabilidade, sem

contudo, considerar de menor importância outros princípios que norteiam o

Direito Penal, que aqui deixamos de mencionar.

Princípio da lesividade: ao Direito Penal somente interessa a conduta que

implica dano social relevante aos bens jurídicos essenciais à coexistência. A

autorização para submeter as pessoas a sofrimento por meio da intervenção

do Estado no âmbito dos seus direitos somente está justificada nessas circuns-

tâncias. É o princípio que justifica (ou legitima) o Direito Penal; o Direito

Penal somente está legitimado para punir as condutas que implicam dano ou

ameaça significativa aos bens jurídicos essenciais à coexistência. O princípio

da Lesividade visa a coibir a incriminação de atitudes internas, que incri-

minem condutas que não excedam o âmbito do próprio autor, que não afetem

qualquer bem jurídico.

Princípio da legalidade: o art. 5º, inciso II, da Constituição Federal,

preceitua que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma

coisa senão em virtude de lei.” Por este princípio, a lei deve existir antes da

conduta. Só se pune alguém pela prática de crime definido em lei. É neces-

sário que a lei esteja em vigor na data em que o fato foi praticado. Deste

princípio decorrem os princípios da reserva legal e da irretroatividade da

lei penal.

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190 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

PRINCíPIO DA RESERVA LEGALPRINCíPIO DA IRRETROATIVIDADE DA

LEI PENALArt. 5º, inc. XXXIX da CF “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia comi-nação legal”.

Art. 2º do Código Penal (Princípio da Anterioridade da Lei Penal)“Art. 2º – Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.

Princípio da intervenção mínima• : a tutela do Direito Penal somente deve ser invocada em última instância. Ou seja, caso não seja sufi-ciente a aplicação de outras regras do ordenamento jurídico, obser-vando-se assim os princípios da fragmentariedade e da ultima ratio (o princípio da ultima ratio afirma que o Direito Penal deve ocupar-se com a tutela dos bens juridicamente mais relevantes para a sociedade, dada a severidade das suas sanções) que são inerentes ao Direito Penal moderno.

Princípio da culpabilidade• : o princípio da culpabilidade retrata a própria evolução do Direito Penal, na medida em que diversas Constituições Federais o adotam de forma expressa, inclusive a nossa, em várias passagens. Vamos conferir:

Art. 5º, LVII. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

Deste modo, adotamos, em matéria de Direito Penal, a responsabilidade subjetiva, que é a responsabilidade fundada na culpa.

e) Dos Crimes econômicos

Roberto Santiago Ferreira Gullo (2001, p. 3), a despeito da divergência doutrinária quanto ao conceito dos crimes econômicos, define-os como a conduta punível que produz uma ruptura no equilíbrio que deve existir para o desenvol-vimento normal das etapas do feito econômico; ou melhor, a conduta punível que atenta contra a integridade das relações econômicas públicas, privadas ou mistas e que, como conseqüência, ocasiona dano à ordem que rege a atividade econômica ou provoca uma situação da qual pode surgir este dano.

Quando se falava em crimes econômicos, era normal a associação de forma quase automática à idéia de que somente as organizações criminosas cometiam

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 191

esse tipo de crime. Atualmente, embora com objetivos diferentes, as organiza-ções não criminosas estão com muita freqüência no pólo ativo deste crime.

f) Dos crimes econômicos em espécie

Da Lavagem de Dinheiro: os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens estão tipificados no art. 1º da Lei n.º 9.613 de 3 de março de 1998:

Art. 1º – Ocultar o dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimen-tação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indireta-mente, de crime:I – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins; II – de terrorismo e seu financiamento; III – de contrabando ou trafico de armas, munições ou material destinado à sua

produção;IV – de extorsão mediante seqüestro; V – contra a administração pública, inclusive a exigência para si ou para outrem,

direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos;

VI – contra o sistema financeiro nacional;VII – praticado por organização criminosa; VIII – praticado por particular contra a administração estrangeira.

Uma discussão que se coloca é quanto ser o crime de lavagem de dinheiro uma conduta autônoma ou acessória. Na doutrina, porém, prevalece a corrente que considera a lavagem de dinheiro como crime acessório. Para Antonio Sérgio A. de Moraes Pitombo (2003, p. 110-111) a lavagem de dinheiro depende da ocorrência de crime anterior, ou seja, “o existir do delito acessório depende de outro delito principal”. Existe entre eles, segundo o autor, uma aces-soriedade material que impede a tipificação do delito acessório caso inexista o delito principal. Deste modo, o crime de lavagem de dinheiro será sempre considerado como acessório em relação ao crime de tráfico, por exemplo.

Dos crimes contra a Administração Pública: os crimes contra a Administração Pública encontram previsão no Código Penal (arts. 312 a 359) e na legislação especial Lei n.º 8.666/1993, entre outras. Dos crimes contra a Administração Pública, previstos no Código Penal e praticados por funcionários públicos, podem-se destacar:

o peculato doloso;•

o peculato mediante erro de outrem;•

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

192 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

a concussão; •

a corrupção passiva; •

a facilitação de contrabando ou descaminho.•

Dos crimes praticados contra a Administração Pública por particulares, pode-se citar o tráfico de influência e a corrupção ativa:

TRÁFICO DE INFLuêNCIA CORRuPçãO ATIVAArt. 332 – Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Art. 333 – Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Contra a administração da Justiça pode-se citar, entre outros, os seguintes:

o falso testemunho;•

a falsa perícia;•

a corrupção ativa de testemunha, perito, tradutor ou intérprete; •

a exploração de prestígio; •

a violência ou fraude em arrematação judicial.•

Sendo que os dois últimos são respectivamente:

EXPLORAçãO DE PRESTíGIOA VIOLêNCIA Ou FRAuDE EM

ARREMATAçãO JuDICIALArt. 357 – Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha:Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Art. 358 – Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspon-dente à violência.

Dos crimes do colarinho branco: a doutrina brasileira utiliza a expressão “crimes do colarinho branco” para designar os crimes contra a ordem econô-mica. No Brasil, a Lei n.º 7.492/1986, que já nasceu sob críticas, prevê cerca de vinte e três tipos penais e teve como principal objeto cobrir as deficiências da Lei n.º 6.024/1974 que regulava a intervenção e a liquidação extrajudi-cial das instituições financeiras.

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UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 193

Do tráfico: o tráfico é o negócio clandestino, ilícito e ilegal, envolvendo a comer-cialização de substâncias entorpecentes, armas, pessoas (principalmente mulheres e cianças) entre outros. Esta é uma modalidade criminosa, principalmente quando envolve substâncias entorpecentes, armas, órgãos e pessoas, ou ainda, elementos da flora ou da fauna, que evoluiu na mesma proporção da globalização.

As várias modalidades de tráfico estão relacionadas às organizações criminosas e à lavagem de dinheiro. Devido à especialização e ao alto poder de infiltração dessas organizações, que em sua maioria são transnacionais, o tráfico é uma das atividades criminosas mais difíceis de ser combatida. O tráfico desempenha um papel devastador em todos os níveis da sociedade, o que provoca o enfraquecimento do Estado democrático de direito, reduz a segurança no plano individual e coletivo.

Outra conseqüência que advém do tráfico é o enfraquecimento da economia lícita. Ou seja, empresários com atividades lícitas vão hesitar em aplicar seus rendimentos em locais que não ofereçam segurança. Nessas loca-lidades, a tendência é o crescimento das atividades ilícitas e a proliferação das organizações criminosas.

g) Dos crimes contra as relações de consumo

Como já mencionamos no início da aula, o nosso Código Penal não prevê alguns tipos penais que surgiram após sua promulgação e, em especial, os tipos penais que fujam da esfera das relações individuais.

Contudo, com o passar dos anos, surgem novas práticas delituosas que atingem mais que o indivíduo de forma isolada, como por exemplo, os crimes contra a relação de consumo, que atingem toda a coletividade.

O Código de Defesa do Consumidor, Lei n.º 8.078/1990 veio preencher esta lacuna. Mas nem por isso deixou de ser muito criticado, principalmente na esfera do próprio Direito Penal. Essas críticas não são contra a criminalização de condutas que lesem a coletividade, mas se prendem principalmente à falta de técnica legislativa na construção dos tipos penais.

Deste modo, o Código de Defesa do Consumidor trata, nos arts. 61 a 80, das infrações penais das relações de consumo, que dispõe:

Art. 61 – Constituem crimes contra as relações de consumo previstas neste Código, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas

nos artigos seguintes.

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194 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

O Código de Defesa do Consumidor prevê sanções administrativas e penais. Pode-se dizer que a previsão das infrações no âmbito administrativo e no âmbito penal, como foi a opção do legislador brasileiro, veio ao encontro dos princípios contidos na Constituição Federal (arts. 1º, III; 3º, I a V; 5º XXXII, 170, V) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 6º, I e III).

Além disso, não se pode deixar de mencionar que o próprio Código Penal dispõe, embora de forma indireta, sobre a proteção do consumidor, como no caso dos artigos 267 e seguintes, 168 (apropriação indébita), 171 (estelio-nato) e 175 (fraude no comércio). A preocupação do legislador porém não ficou restrita aos Códigos Penal e do Consumidor.

As infrações contra a relação de consumo são previstas, ainda, em diversas leis especiais, como a Lei n.º 1.521/1951, que disciplina os crimes contra a economia popular; a Lei n.º 4.591/1964 (arts. 65 e 66), que regula as incor-porações imobiliárias; a lei de locações prediais urbanas, Lei n.º 8.245/91; e a Lei n.º 6.766/79, que regulamenta os loteamentos.

E, finalmente, também disciplinam as infrações contra o consumo, a Lei n.º 8.137/1990, que trata dos crimes de sonegação fiscal; a Lei n.º 8.176/1991 que define os crimes contra a ordem econômica e cria o Sistema de Estoque de Combustíveis.

5.2 Outros ramos do Direito Público

a) Direito Financeiro

Este ramo do Direito Público é uma subdivisão do Direito Administrativo, que se tornou disciplina autônoma devido ao seu crescimento e especificidades. O Direito Fiscal ou Financeiro cuida da regulação das despesas e receitas do Estado, tendo como seu principal instrumento o orçamento público, pautado pelas normas constitucionais que lhe dá as diretrizes e pela Lei 4320/1964 (normas gerais de direito financeiro) e Lei complementar 101/2001 (normas de finanças públicas voltadas à responsabilidade fiscal).

O orçamento hoje é composto de três momentos:

o plano plurianual – que traz as diretrizes para um planejamento orça-•mentário de médio e longo prazo, e dá um norte para os demais docu-mentos orçamentários. Nenhum projeto que ultrapasse o exercício orça-mentário pode ser feito sem sua inclusão no PPA, que vale 4 anos.

a lei de diretrizes orçamentárias – conforme o § 2º do artigo 165 da •Constituição Federal, “a lei de diretrizes orçamentárias compreenderá

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 195

as metas e prioridades da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá sobre as alterações na legis-lação tributária e estabelecerá a política de aplicação das agências finan-ceiras oficiais de fomento”. Tem o objetivo de orientar o orçamento anual.

a lei orçamentária – de periodicidade anual, planeja toda a receita e •despesa do Poder Público (União, Estados e Municípios). Muitas vezes as receitas já estão vinculadas a ações específicas.

É o Executivo que manda o projeto de lei para a votação no Legislativo (as duas casas, na esfera federal) depois de receber as propostas orçamentárias de todos os poderes e entidades que compõem a Administração Pública, direta ou indireta.

b) Direito Tributário

Uma vez que parte substancial das receitas públicas é formada pela arreca-dação de tributos, esse ramo também ganhou autonomia com relação ao Direito Financeiro.

Assim, o Direito Tributário “refere-se às relações entre o Fisco e os contri-buintes, tendo por escopo regular as receitas de caráter compulsório” (DINIZ, 2006, p. 259). Pelo art. 145 da Constituição:

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:

I – impostos;

II – taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;

III – contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

§ 1º – Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tribu-tária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respei-tados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

§ 2º – As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.

Além da disciplina constitucional, a área tributária é disciplinada no Brasil pelo Código Tributário Nacional (Lei 5172/1966), a Lei das Execuções Fiscais (Lei 6830/1980), entre outras normas. Interessante notar que esse ramo do Direito deve ser essencialmente regulado por Lei Complementar.

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196 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

c) Direito Internacional

Este ramo jurídico pode ser dividido entre Público e Privado.

O Direito Internacional Público rege as relações entre Estados e organismos internacionais (como a ONU, OEA, UNESCO). Por tratar com Estados sobe-ranos, não se pode falar aqui em leis stricto sensu, uma vez que não há relação de subordinação entre eles, mas sim de coordenação (DINIZ, 2006, p. 261), sendo as normas consideradas obrigatórias entre as partes são convencio-nais, devendo os Estados adirem de forma voluntária às regras internacionais. Como principais fontes, podemos citar os Tratados que se originam de acordos sobre temas específicos, e os usos e costumes jurídicos internacionais. Em caso de descumprimento de uma norma internacional, quem aplica a sanção é a própria comunidade internacional.

Já o Direito Internacional Privado rege as relações privadas no seio da comunidade internacional (MONTORO, 2005, p. 428). É tido por muitos como ramo do direito privado, por outros como do ramo público e outros ainda como um ramo híbrido por apresentar elementos de ambos. De qualquer forma, o objeto desta disciplina são os conflitos de lei no tempo e no espaço, sendo considerado um direito sobre direito (DINIZ, 2006, p. 263). No Brasil, vale, em regra, a lei do domicílio da pessoa, do lugar onde a coisa está situada, do lugar onde a obrigação foi firmada, sendo a jurisdição brasileira competente nos casos de réus domiciliados no Brasil, ou que seja aqui o cumprimento da obrigação ou o imóvel esteja em solo nacional.

Pode-se perceber que, apesar de o Direito Público ter como sua caracte-rística principal reger as relações que envolvem o Estado, ele tem repercussão direta e imediata sobre a vida de cada um de nós.

Síntese da aula

Na presente aula trabalhamos alguns conceitos básicos do Direito Penal, bem como alguns princípios que lhe dão norte. Optamos, ainda, por apresentar uma visão panorâmica sobre os crimes econômicos, já que eles produzem reflexos negativos na economia, na política e na sociedade em geral. Também apresentamos outros ramos do Direito Público, como o Financeiro, o Internacional e o Tributário.

Atividades

1. Assinale a alternativa correta quanto aos crimes contra as relações de consumo.

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 197

a) Constituem crime apenas as infrações penais contidas no CDC.

b) Constituem crime contra o consumo somente aquelas condutas contidas no Código Penal.

c) Constituem crime contra o consumo as condutas contidas no CCD. sem prejuízo das condutas previstas no Código Penal e de outras leis especiais.

d) O CDC cuidou apenas das infrações administrativas.

2. Podem-se incluir, entre os crimes praticados contra a Administração Pública, as seguintes condutas praticadas por funcionários públicos:

a) peculato doloso, a concussão e a corrupção passiva;

b) peculato doloso, a concussão e a corrupção ativa;

c) o crime de descaminho, a corrupção ativa e a concussão;

d) o tráfico de poderes, a concussão e a corrupção ativa.

3. Disserte, em 10 linhas, sobre o princípio da legalidade como gênero.

4. Revise os objetos e conceitos dos ramos Direito Público que aqui foram tratados e relacione com o curso que você está fazendo.

Comentário das atividades

Na atividade 1, você deve ter se lembrado da opção do legislador no art. 61 do CDC (que inicia um título inteiro sobre infrações penais no Código de Defesa do Consumidor), reproduzido no tópico dos crimes contra as relações de consumo. Lá, você deve ter encontrado a informação que os crimes contra as relações de consumo previstas neste Código não afastam o disposto no Código Penal e leis especiais, as condutas tipificadas nos artigos seguintes. A alternativa correta é a (c).

Para responder à atividade 2, você ficou atento ao fato de que determinadas condutas exigem como sujeito ativo o funcionário público e outras, para se consu-marem, exigem como sujeito ativo o particular? No caso do crime de corrupção, a corrupção ativa visa desviar a correta atuação do agente público, enquanto a corrupção passiva refere-se àquele servidor que se deixar corromper. Todas as alternativas trazem a corrupção ativa, menos a alternativa (a), que é a correta.

Na atividade 3, ao fazer sua dissertação, lembrou-se de que do princípio da legalidade decorrem dois outros princípios básicos do Direito Penal, o da irretroatividade e o da reserva legal? Se sim, seu texto deve tê-los contem-

AUlA 5 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

198 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

plado, além de refletir sobre a importância deste princípio para a garantia dos direitos individuais e para a própria segurança jurídica.

Com relação à atividade 4, tanto o curso de Administração como o de Ciências Contábeis têm forte relação com o Estado, área de que se ocupa o Direito Público, por isso na sua resposta você deve ter refletido sobre o impacto dos orçamentos públicos, dos tributos e das relações internacionais (públicas e privadas) nas atividades para as quais você está estudando. Lembre-se que nas duas áreas do conhecimento, é possível o exercício do profissional tanto no serviço público como na iniciativa privada, e, no primeiro caso, as implicações do Direito Público são muito maiores, sendo uma ferramenta indispensável de trabalho. Ao realizar as atividades você está apto a ter uma visão geral sobre o direito Penal, especialmente sobre os crimes econômicos e de consumo, e dos campos do Direito Financeiro, Tributário e Internacional.

ReferênciasDIAS, J. F.; ANDRADE, M. da C. Problemática geral das infrações contra a economia nacional. In: PODVAL, R. (Org.). Temas de Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

GULLO, R. S. F. Direito Penal Econômico. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2001.

HAONAT, A. I. O aumento da violência urbana como reflexo dos crimes econômicos. São Paulo: Escola Paulista da Magistratura. Monografia de Especialização em Direito Penal, 2003.

MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

PITOMBO, A. S. A. de M. Lavagem de dinheiro: a tipicidade do crime antece-dente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

Na próxima aula

Logo veremos como o Judiciário é composto e alguns conceitos básicos de Direito Processual.

Anotações

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 199

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

conhecer a estrutura do poder judiciário;•

compreender a tramitação dos procedimentos judiciais.•

Pré-requisitos

Se o Direito Processual é um ramo do Direito Público, esta aula continua e complementa as aulas 4 e 5. Os ramos do Direito ali tratados devem ser retomados para contextualizar o tema desta aula, é a partir dessa contextu-alização que você terá uma maior visibilidade da importância dos ramos do direito, o que facilitará sua compreensão da estrutura do poder judiciário.

Introdução

O Estado Democrático de Direito caracteriza-se pela tripartição de poderes – Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. Contudo, no desempenho de sua função jurídica, o Estado necessita de se ater a duas ordens de atividades que, em um primeiro momento, podem parecer distintas, mas que, ao se fazer uma análise aprofundada, verifica-se que estão intima-mente ligadas. São elas a legislação e a jurisdição.

Sob este prisma, a primeira ordem, que é a legislação, estabelece as normas que regulam a vida em sociedade, ditando o que é licito e o que é ilícito, e atribuindo direitos e obrigações.

Contudo, as normas possuem caráter genérico e não se destinam a uma situação em concreto. A segunda ordem, que é a jurisdição, caracteriza-se pela atuação do Estado com o intuito de solucionar os conflitos de interesses, declarando qual é o preceito legal que se aplica ao caso concreto. Esta é a

Aula 6Sistema judiciário e Direito

Processual

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

200 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

função primária do Poder Judiciário: aplicar a lei ao caso concreto. É o que passamos a estudar.

6.1 Do Poder Judiciário

De acordo com a clássica tripartição de poderes de Montesquieu, adotada nos Estados Democráticos de Direito, coexistem de forma independente e harmô-nica e com suas funções reciprocamente indelegáveis os seguintes poderes: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judiciário.

A função precípua do Poder Legislativo é a elaboração da Lei; do Poder Executivo, a conversão da Lei em ato individual e concreto, e a do Poder Judiciário, é a aplicação da Lei ao caso concreto.

a) Da Jurisdição

Definição de jurisdição

Juris + dictio = dizer o direito

Ada Pelegrini Grinover e outros (2001, p. 131) conceituam jurisdição como: “função do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve com justiça.” A jurisdição pode ser compreendida como a expressão do Estado de aplicar o direito abstrato ao caso concreto. É a forma que o poder público tem para dizer o direito, uma vez que chamou para si este poder-dever.

Entre as várias características da jurisdição, Coelho (2004, p. 181-182) destaca as seguintes:

a) imparcialidade do juiz: o juiz como agente ou representante do Estado age de forma imparcial no processo;

b) inércia: a jurisdição necessita ser provocada;c) observância do contraditório: a possibilidade de contrariar,

contradizer, contestar o que foi alegado pela parte contrária;d) coisa julgada e irrevogabilidade dos atos jurisdicionais pelos

outros poderes: a coisa julgada é definida em nosso direito como sendo a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso;

e) instrumental: a jurisdição é o instrumento para a realização do direito material;

f) inafastabilidade ou indeclinabilidade: (art. 5º, XXXV da CF) a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito;

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 201

g) presença do juiz natural: o juiz natural é aquele que se liga ao litígio antes mesmo de sua ocorrência; Sua competência para solucionar determinados tipos de conflitos é previa-mente estabelecida em lei;

h) territorialidade: a atividade de dizer o direito adere a deter-minado território, consoante a idéias de soberania.

Nemo judex sine actore = não há juiz sem autor

Ne procedat judex ex officio = o juiz não deve proceder de ofício

b) Organização do Poder Judiciário

O Poder Judiciário brasileiro é poder independente, como prevê expres-samente o art. 2º da Constituição Federal. Tem por função a administração da Justiça e a garantia da observância do princípio da legalidade, exer-cendo a atividade judicante quando provocado. O Poder Judiciário é tratado no Capítulo III da Constituição Federal, que dispõe sobre a composição e competência de seus diversos órgãos, sobre as garantias da magistratura, sobre sua autonomia administrativa e financeira e sobre as linhas mestras do Estatuto da Magistratura.

Sua composição está elencada no art. 92 da CF, que assim dispõe:

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I – o Supremo Tribunal Federal;

I-A – o Conselho Nacional de Justiça;

II – o Superior Tribunal de Justiça;

III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V – os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI – os Tribunais e Juízes Militares;

VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

Supremo Tribunal Federal (STF): o STF tem a competência de exercer o controle concentrado da constitucionalidade de leis e atos normativos federais e estaduais, de julgar determinadas autoridades federais, como o Presidente da República, em infrações penais, além de outras, elencadas

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

202 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

no art. 102 e 103-A da Constituição Federal, entre as quais o poder de expedir súmulas com efeito vinculante. É composto de 11 Ministros, esco-lhidos entre os cidadãos brasileiros (natos) com mais de 35 anos de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente após apro-vação do Senado.

Conselho Nacional de Justiça (CNJ): a EC n.º 45/2004 criou este Conselho com a competência de controlar a atuação administrativa e financeira do Judiciário e o cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, inclusive cabendo-lhe, entre outras, receber e conhecer as recla-mações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais [...] (CF/1988, art. 103-B, §4º, III). É um órgão administrativo, integrante da própria magistratura formado por 15 membros nomeados pelo presidente, depois de aprovação pelo Senado, com mandato de 2 anos, admitida uma recondução, na forma indicada na CF/1988. O CNJ tem representantes dos órgãos da magistratura e do MP estadual e federal, dos advogados e da sociedade civil, por meio de 2 cidadãos de notável saber jurídico indicados pela Câmara e Senado.

Superior Tribunal de Justiça (STJ): o STJ cumpre o papel de guar-dião da lei federal, recebendo recursos de decisões judiciais que a contrariem. Cabe também a este órgão julgar os crimes comuns prati-cados por governadores e outras autoridades. Suas competências estão descritas no art. 105 da Constituição Federal. É composto de, no mínimo, 33 ministros nomeados pelo Presidente, distribuídos, na razão de 1/3 para cada categoria, entre juízes dos Tribunais Regionais Federais, desembargadores dos Tribunais de Justiça, e advogados e membros do Ministério Público (alternadamente), conforme indicado no art. 104 da CF/1988.

Justiça Federal – Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais: à Justiça Federal cabe julgar as causas em que a União, entidade autár-quica ou empresa pública federal for interessada na condição de autora, ré, assistente ou oponente, exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho, bem como as demais causas previstas no art. 109 da Constituição Federal.

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 203

Aos Tribunais Regionais Federais cabe julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição. Existem hoje cinco Tribunais Regionais Federais no país, cada um englobando um conjunto de estados de determinada região. A Justiça Federal compreende ainda os Juizados Especiais Federais, compostos de juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julga-mento e a execução das causas cíveis de menor complexidade e infra-ções penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a tran-sação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau (Lei 10.259/01).

Justiça do Trabalho – Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Juízes do Trabalho: à Justiça do Trabalho cabe conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e emprega-dores, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumpri-mento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. A competência dos Tribunais Regionais de Trabalho, que hoje são 24 no país, e do Tribunal Superior do Trabalho, composto por 17 Ministros, não são expressamente estabelecidas pela Constituição Federal, o que cabe à lei ordinária.

Justiça Eleitoral – Tribunais e Juízes Eleitorais: à Justiça Eleitoral compete o julgamento de ações envolvendo o pleito eleitoral e sua lisura. A Constituição Federal (art. 118) traz como órgãos da Justiça Eleitoral as juntas e os juízes eleitorais, os Tribunais Regionais Eleitorais (há um na capital de cada estado e no DF) e o Tribunal Superior Eleitoral (mínimo de sete Ministros), remetendo à lei o detalhamento de suas competências. Vale notar que dos órgãos do Poder judiciário, o único que não tem juízes próprios ou exclusivos é a Justiça Eleitoral. Os juízes estaduais cumulam essa função (art. 11 da Lei Orgânica da Magistratura e Código Eleitoral).

Justiça Militar – Tribunais e Juízes Militares: à Justiça Militar da União compete processar e julgar os crimes militares previstos em lei. A Constituição Federal remete à lei o detalhamento das competências dos juízes militares, dos Tribunais Militares (são 12 Circunscrições da Justiça Militar no país) e do Superior Tribunal Militar, que é composto por 15 Ministros.

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204 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

Justiça Estadual – Tribunais e Juízes Estaduais: a Constituição Federal delega aos Estados a competência de organizar sua própria Justiça, sendo definida a competência na Constituição do Estado. A Justiça Estadual compreende um Tribunal de Justiça por Estado, com a competência de analisar recursos das decisões proferidas em 1ª instância estadual, dentre outras. Alguns estados constituem, ao lado do Tribunal de Justiça, Tribunais de Alçada, com competências para causas específicas, determinadas pelas normas da organização judiciária local. A Justiça Estadual compreende também os Juizados Especiais Estaduais, compostos de juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução das causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de 1º grau (Lei 9.099/95).

DA COMPETêNCIA DOS JuIzADOS ESPECIAIS CíVEIS ART. 3º DA LEI 9.099/95

I – Causas que não excedam 40 salários mínimos.II – As causas enumeradas no art. 275, II do CPC:

a) de arrendamento rural e de parceria agrícola;

b) de cobrança ao condômino de quaisquer quantias devidas ao condomínio;

c) de ressarcimento por danos em prédio urbano ou rústico;

d) de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre;

e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados em acidente de veículo ressalvados os casos de processo de execução;

f) de cobrança de honorários dos profissionais liberais, ressalvado o disposto em legislação especial;

g) nos demais casos previstos em lei.III – A ação de despejo para uso próprio.IV – as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no

inciso I deste artigo.

A Constituição Federal prevê ainda a possibilidade de a lei estadual criar a Justiça Militar estadual (em estados onde o efetivo da Polícia Militar seja superior a 20 mil integrantes) com competência para processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei. Também devemos apontar a Justiça de Paz, exercida por cidadãos leigos, com

Tanto a Justiça Militar, como a do Trabalho e a Eleitoral são classificadas como justiça especial.

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 205

a competência para a celebração de casamento e seus atos preparatórios, além de atribuições conciliatórias. Os Juizados especiais e as Justiças de paz não são exclusivas da Justiça Estadual, mas devem ser criados pela União e Estados, conforme o art. 98 da CF/1988.

c) Jurisdição Voluntária e Jurisdição Contenciosa

A jurisdição voluntária é a administração judicial de interesses privados, não havendo decisão de direito aplicado à lide, em substituição à vontade dos interessados. Não existe o efeito da coisa julgada na jurisdição voluntária.

Na jurisdição contenciosa haverá sempre uma decisão do direito aplicado à demanda, em substituição à vontade dos interessados.

JuRISDIçãO CONTENCIOSA JuRISDIçãO VOLuNTÁRIAAtividade jurisdicional Atividade administrativaComposição de litígios Administração pública do direito privadoBilateralidade da causa Unilateralidade da causa

Questionam-se direitos ou obrigaçõesNão se questionam direitos ou obrigações

Faz coisa julgada Não faz coisa julgadaHá revelia Não há revelia

d) Competência

A competência pode ser definida como limite da jurisdição, ou seja, a demarcação da área dentro da qual o juiz vai dizer o direito. Como existe pluralidade de lugares e de juízes, torna-se necessária uma repartição de competência conforme a matéria apreciada, conforme as pessoas, conforme o local e conforme o valor da causa.

Para determinar a competência, alguns critérios devem ser observados: o critério objetivo, o critério territorial e o critério funcional. O critério objetivo se subdivide em competência em razão da matéria, em razão da competência em razão da pessoa e em competência em razão do valor.

DETERMINAçãO DA

COMPETêNCIA

CRITÉRIO OBJETIVO

Em razão da matériaEm razão das pessoasEm razão do valor da causa

CRITÉRIO TERRITORIAL

Pelo domicílio das partes (em regra domicílio do réu – art. 94 CPC)Pela situação da coisa (imóveis)Pelo lugar de certos fatos (reparação de danos por acidente – art. 100, V, “a”)

CRITÉRIO FUNCIONAL

Conforme normas de organização judiciária

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

206 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

e) Principais Aspectos do Direito Processual Civil

O Direito Processual é um ramo do Direito Público. O Direito Processual Civil aplica-se de forma geral na solução dos conflitos que versem sobre matéria não penal. Assim, aplica-se o direito processual civil aos litígios que envolvam matéria civil, tributário, administrativo, comercial, e ainda em outros ramos, ainda que de forma subsidiária.

De acordo com os professores Maximiliano e Edis (2003, p. 196), o processo civil é um actum trium personarum, ou seja, uma relação entre três pessoas, em que um litigante (autor) pede ao Juiz que lhe reconheça ou faça valer um direito contra outra pessoa (que será o réu).

f) Da Petição Inicial

Vimos que a jurisdição é inerte. Quando um determinado conflito se esta-belece entre as partes, para que o Poder Judiciário possa apreciá-lo, deverá primeiro ser provocado. A petição inicial configura-se como o instrumento adequado para iniciar esta provocação, pois é por meio da petição inicial que o autor da ação exterioriza o seu pedido ao juiz. A petição inicial obedece aos requisitos dispostos no art. 282 do Código Processual Civil. A falta de um desses requisitos fará com que o juiz determine a emenda da inicial (a fim de sanar os problemas apresentados) ou ainda a considere como inepta, rejeitando-a sem a análise do mérito.

REQuISITOS DA PETIçãO INICIAL Art. 282 A petição inicial indicará

282, I o juiz ou tribunal, a que é dirigida;

282, II os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;

282, III o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;282, IV o pedido, com as suas especificações;282, V o valor da causa;

282, VI as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;

282, VII o requerimento para a citação do réu.

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 207

g) Da Resposta do Réu

Ao estudar as características da jurisdição, arrolamos entre elas, a obser-vância do contraditório: o réu contra quem a ação foi proposta possui direito de contradizer o alegado pelo autor e, ainda, alegar exceção (de incom-petência, de impedimento e de suspeição) e ainda apresentar reconvenção (Rito Ordinário).

DA RESPOSTA DO RÉuCONTESTAÇÃO Deverá rebater todos os pedidos do autor

EXCEÇÃODe incompetênciaDe impedimentoDe suspeição

RECONVENÇÃO O réu propõe no mesmo processo uma ação contra o autor

MEIOS DE PROVA ADMITIDASDocumentosTestemunhasDeclarações das partesPerícias, outros

A total implicação entre o Direito Processual e o Poder Judiciário justificam que este ramo do Direito seja muitas vezes conhecidos como Direito Judiciário.

Síntese da aula

Apresentamos as principais características do Poder Judiciário, bem como alguns conceitos básicos para a compreensão do processo como um todo – como jurisdição e competência, justiça comum e justiça especial, jurisdição voluntária e contenciosa, entre outros.

Atividades

1. A expressão ne procedat judex ex officio significa:

a) o juiz não pode tomar conhecimento da ação sem a provocação da parte (inércia da jurisdição);

b) o juiz, ao tomar conhecimento do fato, deverá iniciar a ação, indepen-dentemente de provocação das partes;

c) em nome do impulso oficial, o juiz sempre deverá iniciar a ação, qual-quer que seja a sua natureza;

d) dependendo do conflito, será vedada a sua apreciação pelo Poder Judiciário.

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

208 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

2. Assinale a alternativa que não é uma característica da jurisdição contenciosa.

a) Atividade jurisdicional

b) Faz coisa julgada

c) Há unilateralidade de causa

d) Há revelia

3. A Justiça do Trabalho, a Eleitoral e a Militar pertencem a que esfera do Poder Judiciário?

a) Justiça Estadual

b) Justiça Federal

c) Justiça Nacional

d) Justiça Setorial

4. A EC 45/2004 possibilitou ao STF a edição de súmulas vinculantes, e há propostas de estender essa competência ao STJ e TST. Liste pontos positivos e negativos desse instrumento para a Justiça nacional.

Comentários das atividades

A atividade 1, proporcionou a você a oportunidade de perceber que, se a Jurisdição é inerte, para que o juiz tome conhecimento do conflito estabele-cido ele terá que ser provocado, pois é vedado que o mesmo aja de ofício, assim como é proibido que qualquer lesão ou ameaça de lesão de Direito seja afastado da apreciação do Judiciário. Dessa forma a alternativa correta é a letra (a).

Na atividade 2, você deve ter voltado ao quadro comparativo de juris-dição contenciosa e jurisdição voluntária, e lá você pôde perceber que a unila-teralidade de causa é característica da jurisdição graciosa, na qual não há um conflito, enquanto na jurisdição contenciosa vai apresentar bilateralidade de causa. Se você teve essa percepção, com certeza marcou a alternativa (b), como incorreta.

Para realizar a atividade 3, foi importante você ter recordado que apesar de atuarem nos Estados, as justiças trabalhista e eleitoral não estão sob sua estrutura, mas da União, inserindo os órgãos judiciais apontados como parte da Justiça Federal, portanto a alternativa correta é a (b).

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 209

Para realizar a atividade 4, você deve ter estabelecido um diálogo com temas como segurança jurídica, livre convencimento do juiz, celeridade proces-sual, confiança da população no Judiciário, apontando como a súmula vincu-lante mostra-se um avanço para alguns destes temas e um retrocesso para outros. Para auxiliá-lo, você deve ter buscado artigos a respeito na internet, dentre os quais indicamos o do procurador federal Leonardo Vizeu Figueiredo (<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9400>).

As atividades lhe proporcionaram a oportunidade de conhecer a estrutura do poder judiciário e compreender sobre a tramitação dos procedimentos judiciais.

Referências BRASIL. Ministério da Justiça. Diagnóstico do Poder Judiciário. Brasília, 2004. Disponível em: <http://www.mj.gov.br/reforma/pdf/publicacoes/diagnos-tico_web.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2007.

COELHO, F. A. Teoria geral do processo. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004.

FÜHRER, M. C. A.; MILARÉ, E. Manual de Direito Público e Privado. 14. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.

GRINOVER, A. P.; CINTRA, A. C. A.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2001.

Na próxima aula

Você será apresentado ao mais novo ramo do Direito: o Metaindividual, e duas de suas disciplinas, o Direito Ambiental e do Consumidor.

Anotações

AUlA 6 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

210 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

AUlA 7 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

UNITINS • ADMINISTRAÇÃO • 1º PERÍODO 211

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:

conhecer noções básicas de Direito Ambiental;•

entender como funciona o ramo do Direito do Consumidor.•

Pré-requisitos

Relembre a classificação dos ramos do Direito, feita na aula 3, para acom-panhar as especificidades das disciplinas de Direito Transindividual, uma vez que esse é um ramo do Direito recente e esta classificação ainda não goza de unanimidade entre os doutrinadores.

Introdução

Antes de tratar das disciplinas que compõem os Direitos Metaindividuais, são necessárias algumas linhas para explicar a importância desta nova clas-sificação. O Direito Difuso, que é uma espécie de Direito Metaindividual/transindividual comporta nova categoria jurídica pelas suas peculiaridades (seus titulares são pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias fáticas). O conceito legal desta categoria de direitos está previsto no Código de Defesa do Consumidor.

Aula 7Ramos do Direito Metaindividual:

Direito Ambiental e do Consumidor

Art. 81, parágrafo único, I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titu-

lares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

A importância de os Direitos Difusos figurarem como ramo do Direito encontra guarida por sua inserção na Constituição Federal de 1988, que

AUlA 7 • INSTITUIÇõES DE DIREITO PúblIcO E PRIvADO

212 1º PERÍODO • ADMINISTRAÇÃO • UNITINS

cuidou de atribuir a sua defesa ao Ministério Público (art.129, III da CF).

Assim, a classificação tripartite dos ramos do Direito aparece para abrigar aqueles ramos do Direito que não estavam abrigados nem no Direito Público e muito menos no Direito Privado.

Entre as disciplinas que compõem o Direito Difuso, de acordo com Kümpel (2007, p. 39), estão o Direito do Trabalho, o Direito Econômico, o Direito Previdenciário, o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental. Lembrando que aqui também não temos uma classificação unânime. Você encontrará autores que adotam a classificação dicotômica e outros que, mesmo adotando a visão tricotô-mica, fazem uma distribuição diversa dos ramos. Em nossa aula vamos dar ênfase ao Direito do Consumidor e ao Direito Ambiental, uma vez que você verá melhor o Direito do Trabalho e Previdenciário em disciplina específica.

7.1 Direito do Consumidor

A Constituição Federal de 1988 preocupou-se em delegar ao Estado, na forma da lei, a defesa do consumidor como um direito fundamental, uma vez que esta previsão encontra-se inserida entre os incisos do art. 5° (art. 5° XXXII). O legislador constituinte também tratou da proteção do direito do consumidor no Capítulo que trata da Ordem Econômica (art. 170), inserindo-a ali como um dos princípios observáveis.

O Código de Defesa do Consumidor foi erigido a partir da previsão contida nos ADCT (Atos e Disposições Constitucionais Transitórias), que determinava o prazo da sua edição em 180 dias. Contudo, o CDC (Lei n.º 8.078/90), veio apenas dois anos após, sendo publicado em 11 de setembro de 1990, entrando em vigor em 11 de março de 1991, tendo assim um período de vacatio legis de seis meses.

A importância do Direito do Consumidor é hoje indiscutível, vez que muitas relações em nossa vida cotidiana são consideradas relações de consumo. O Direito do Consumidor veio assim regular um sem número de situações injustas, porque não havia separação entre as demandas que envolviam “relação de consumo”, que possuem princípios e rito processual próprio, das demais demandas, que eram solucionadas, antes da entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, pelo Código Civil de 1916).

a) Elementos da relação de consumo

A relação de consumo de acordo com Densa (2005, p. 5), possui três elementos:

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a) elementos subjetivos – partes envolvidas na relação: forne-cedor e consumidor;

b) elementos objetivos – objeto sobre o qual recai a relação jurídica: produtos e serviços;

c) elemento finalístico – traduz a idéia de que o consumidor deve adquirir ou utilizar o produto como destinatário final.

Apresentamos a seguir os conceitos legais de consumidor e de fornecedor, que formam os elementos subjetivos da relação de consumo. Atente que estu-daremos também outras figuras de consumidor previstas no CDC, como o consumidor equiparado (arts. 2°, 17 e 29 do CDC).

b) Elementos Subjetivos

Fornecedor: o art. 3° do CDC conceitua o fornecedor como:

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de

produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Da leitura do artigo pode-se concluir que o fornecedor poderá ser qualquer pessoa (física ou jurídica em qualquer de sua natureza, pública ou privada, nacional ou estrangeira e ainda entes despersonalizados), desde que exerçam atividade econômica e coloquem esses produtos e serviços no mercado. Pode-se assim dizer que é o gênero do qual são espécies: o comerciante, o prestador de serviço e o produtor.

Inicialmente, muitas empresas relutaram em ser alcançadas pelo CDC, na qualidade de fornecedores, como foi o caso das instituições financeiras e o próprio Estado na qualidade de prestador direito ou indireto de serviços públicos. Mas estas questões estão superadas atualmente.

Instituições Financeiras• : o STF decidiu que o CDC aplica-se às institui-ções financeiras nas relações de consumo, quando julgou (06.06.2006) improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 2591, interposta pela Confederação Nacional das Instituições Financeiras (Consif), pondo fim à discussão que perdurava desde 2002.

Estado como prestador de serviços públicos• : o art. 22 do CDC e seu parágrafo único prevêem a obrigação de o Estado e seus

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prestadores ofertarem serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos, sendo que em caso de descum-primento a esta disposição, essas pessoas jurídicas (mesmo que públicas) serão obrigadas a prestá-las, sob pena de reparar os danos causados na forma do CDC (ver art. 22 do CDC que repete o teor do aqui mencionado).

Consumidor: o CDC quis alcançar situações que outrora ficavam a desco-berto nas relações de consumo, porque esta só alcançava determinadas pessoas de forma indireta, e acabou criando além da figura do consumidor, o consumidor por equiparação. De forma que aqui vamos apresentar o consu-midor direito na forma do 2° e o consumidor por equiparação nos arts. 17 e 29 do CDC.

O art. 2° do CDC define o consumidor como “Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como desti-natário final”. Há ainda o consumidor por equiparação.

O parágrafo único do art. 2: “Equipara-se a consumidor a coletividade •de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas rela-ções de consumo”. Esta previsão, de acordo com Densa (2005, p. 12), possibilita que a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, sejam consideradas como consumidores, abrindo ainda ensejo para as ações coletivas protegerem esta coletividade. Cita como exemplo a pessoa que assiste à veiculação de publicidade enganosa, que não necessariamente precisa adquirir qualquer produto, pois a exposição em si já caracteriza a enganosidade.

O art. 17 dispõe que: “Para os efeitos desta seção, equipara-se aos •consumidores, todas as vítimas do evento”. Segundo Densa (2005, p. 13), esse dispositivo faculta às pessoas que não participaram de forma direta na relação de consumo, mas que foram vítimas de um acidente de consumo, pleitear indenização com base nas prerroga-tivas ditadas pelo CDC.

O art. 29 dispõe que “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equi-•param-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas”. O que faculta à coletividade de pessoas pleitear a equiparação de consumidor, sempre que se encon-trarem expostas a praticas comerciais abusivas.

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À vista do que foi exposto, de acordo com Densa (2005, p. 6), pode-se considerar como consumidor: Pessoa física, Pessoa Jurídica e/ou a Coletividade de Pessoas (consumidor por equiparação).

Para Densa (2005, p. 6), apesar do CDC trazer o conceito de consu-midor, o alcance deste conceito é muito discutido na doutrina, que aponta duas correntes: (I) corrente finalista: aquela que entende que a pessoa jurídica é consumidor apenas nos casos em que não adquiriu como produto de insumo; e (II) corrente maximalista: inclui a pessoa jurídica como consumidor desde que tenha adquirido como consumidor final (é mais abrangente).

c) Elementos objetivos

Os elementos objetivos da relação de consumo são constituídos pelo produto e pelo serviço, que são também conceituados pelo CDC:

PRODuTOS SERVIçOSPode ser material ou imaterial, móvel ou imóvel, que possa satisfazer a necessidade do homem.

Excluem-se as relações de trabalho, que no caso são regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e não podem ser consideradas como relação de consumo.

Art. 3º, § 1ºProduto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial”.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das rela-ções de caráter trabalhista.

d) Da Política Nacional de Relações de Consumo

A Política Nacional de Relação de Consumo disciplinada no art. 4º do CDC, assegura o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito a sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. Para isto dispõe nos oito incisos que compõem o artigo, estabelecendo direitos e garantias e a forma em que esses serão atendidos.

e) Da responsabilidade em matéria de consumo

A responsabilidade em matéria de Direito do Consumidor em regra será sempre objetiva (independente de culpa), a não ser que o fornecedor demonstre a culpa exclusiva da vítima ou que não colocou o produto no mercado. A responsabilidade pode ocorrer tanto por vício do produto (simples avaria), ou por fato do produto (quando além do dano no produto em si, houve reflexos deste dano na pessoa do consumidor). A responsabilidade do fornecedor (produtos e serviços) está disciplinada nos arts. 12 a 21 do CDC.

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f) Princípios do Direito do Consumidor

Princípio da Isonomia• : o CDC trata a relação de consumo como uma relação isonômica. Não basta a igualdade formal, é necessário que haja igualdade material entre as partes. O princípio da isonomia está relacionado aos arts. 1º e 5º da Constituição Federal. Além disto, existem várias disposições no CDC que reforçam a igualdade entre as partes. O próprio art. 4°, que trata da Política Nacional das Relações de Consumo, deixa claro essa isonomia. Como exemplo do Princípio da Isonomia aplicado ao Direito do Consumidor na prática, ou seja, no que diz respeito às regras processuais que facilitam o acesso do consumidor à justiça, podemos citar: (I) art. 6º, VIII: a inversão do ônus da prova; e (II) Foro privilegiado – também é outra espécie de facilitação trazida pela isonomia.

Princípio da eqüidade• : o justo nem sempre é o legal. A eqüidade é justamente a aplicação, sempre, do justo. Como exemplo, cita-se a ano de 1999, em que muitas pessoas tinham contratos de leasing em moeda estrangeira e com a alta repentina do dólar, ficaram impossi-bilitadas de saldar suas prestações. A partir do CDC, passou a existir a possibilidade de se entrar com a ação revisional de contrato, com vistas a favorecer a situação do consumidor, nos casos de desequilí-brio entre as prestações ao longo do contrato.

Princípio da boa-fé• : é um princípio e ao mesmo tempo uma cláusula geral. Deve estar presente em toda relação contratual. A boa-fé obje-tiva determina o comportamento médio de lealdade que os contra-tantes devem ter entre si ao contratar. É necessário que a boa-fé se faça presente em todas as fases contratuais: (I) Pré contratual; (II) Na execução do contrato; e (III) Na fase pós contratual.

Não esgotamos aqui os princípios que norteiam o Direito do Consumidor, poderia ainda mencionar o princípio da hipossufiência, da inversão do ônus da prova entre outros. No entanto, nosso objetivo era traçar um delineamento geral sobre este novo ramo do Direito. Passamos à análise do Direito Ambiental.

7.2 Direito Ambiental

Pode-se considerar que o Direito Ambiental é um dos ramos do Direito que vem ganhando relevância nos últimos tempos. Isto se dá por conta da primazia do seu objeto ser o bem-estar e a sadia qualidade de vida do homem. Embora

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distinto dos demais ramos do direito – Direito Civil, Direito Penal e do Direito Administrativo, é importante ressaltar a interdisciplinaridade existente entre eles, já que o Direito Ambiental inova ao prever sanções nas esferas adminis-trativa, civil e criminal. Existe também, interdisciplinariedade com outras áreas de conhecimento, como a biologia, a física e a química, só para citar algumas (HAONAT, 2007, p. 5). Bobbio nos ensina que os direitos nascem quando podem ou quando devem. E o Direito Ambiental não é diferente. Nasce da necessidade do homem construir um mundo melhor para as presentes e futuras gerações (HAONAT, 2007, p. 6).

Fiorillo (2002, p. 11), leciona que a Constituição Federal de 1988 “consagrou de forma nova e importante a existência de um bem que não possui características de bem público e muito menos, privado, voltado à realidade do século XXI, das sociedades de massa (...)”. Esse bem, que chamamos meio ambiente, foi elevado ao status de bem de uso comum de todos por meio do atigo 225 da CF/88.

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi-dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O Direito Ambiental não possui um Código próprio, dada a sua natureza e interdisciplinaridade. Mas, é regido por uma Lei de Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), que foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, a própria Constituição Federal (art. 225 e seus parágrafos), a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98), a Lei da Ação Civil Pública, o Código de Defesa do Consumidor, no tocante às ações coletivas, entre outras leis e Resoluções que disciplinam este ramo do Direito.

A Lei 6.938/81, que dá status de bem autônomo ao meio ambiente ainda em 1981 (foi recepcionada pela CF/88) conceitua o meio ambiente (art. 3°, inciso I) como:

Para os fins previstos nesta lei, entende-se por:I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências

e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

No entanto, pode-se dizer que o conceito legal de meio ambiente não contempla todos os seus elementos, uma vez que não faz referencia aos elementos culturais, artificiais e ao meio ambiente do trabalho, visto que esses elementos também compõem o meio ambiente.

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a) Classificação do meio ambiente

Fiorillo (2002, p. 20-23) cuida da classificação do meio ambiente, escla-recendo que o faz em fins puramente didáticos, uma vez que o meio ambiente é uno, uma vez que é composto por princípios e diretrizes que compõem a Política Nacional do Meio Ambiente. Contudo, admite que para esclarecimento didático pode ser classificado em quatro ângulos: meio ambiente natural que é constituído pelos elementos naturais como a água, o solo, o ar atmosférico, a fauna e a flora, responsáveis pelo equilíbrio entre os seres vivos. Encontra proteção no art. 225, § 1°, I e VII.

Meio ambiente artificial que compreende o espaço urbano construído, que soma tanto o espaço urbano fechado (conjunto de edificações), como o espaço urbano aberto (equipamentos públicos). Encontra proteção nos arts. 225 e 182, além do art. 5° XXIII e 21, XX, todos da CF/88.

Silva, citado por Fiorillo (2002, p. 22), leciona que o meio ambiente cultural “é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico que, embora artificial, em regra, como obra do homem, difere do anterior (...) pelo sentido de valor especial”. Recebe a proteção do art. 216 e 255 da CF/88.

Meio ambiente do Trabalho, que é constituído pelo local no qual as pessoas desempenham suas atividades laborais (remuneradas ou não), cujo equilíbrio é baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes nocivos à saúde do trabalhador. Recebe proteção nos arts. 225 e 200, inc. VIII ambos da CF/88.

b) Responsabilidade em matéria ambiental

O nosso ordenamento jurídico pode ser considerado como um dos mais avançados no quesito de responsabilização em matéria de dano ambiental. A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente inovou ao reconhecer, já em 1981, no seu art. 14 § 1º, a responsabilidade objetiva (que independe de culpa) pelos danos causados ao meio ambiente. Com a Constituição Federal de 1988 (art. 225 § 3º) houve um grande avanço ao se reconhecer o caráter tríplice e independente das responsabilidades na seara cível, administrativa e penal, das pessoas físicas e jurídicas (HAONAT, 2007, p. 208).

O avanço decorrente da responsabilidade ambiental avançou também na área criminal, ao admitir a responsabilidade penal da pessoa jurídica, que via de regra, é quem comete crimes ambientais de conseqüência mais danosa.

Como se viu, apesar da classificação do Direito Metaindividual não ser completamente consensual, ela atende às necessidades da moderna sociedade globalizada, em que os direitos e conflitos extrapolam a esfera privada, sem necessariamente envolver o Estado.

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Síntese da aula

Vimos aqui as noções básicas de algumas disciplinas que compõem o chamado ramo de Direito Difuso, como o Direito do Consumidor e o Direito Ambiental que podem ser considerados uma nova categoria de direitos que atendem e prestam efetividade aos direitos sociais.

Atividades

1. O que justifica a responsabilidade em relação às relações ambientais e de consumo serem objetivas?

2. O Código de Defesa do Consumidor dispõe que o fabricante responde pela reparação dos danos causados ao consumidor pelos defeitos prove-nientes de fabricação:

a) somente se o consumidor provar que o produto estava defeituoso;

b) apenas nos casos de venda à vista;

c) independentemente da existência de culpa;

d) não responde pelos defeitos ocultos.

3. Segundo a doutrina e a jurisprudência dominantes, podem ser conside-rados como consumidores:

a) apenas as pessoas físicas;

b) somente pessoas jurídicas de pequeno porte;

c) pessoas físicas e pessoas jurídicas que adquirem como destinatá-rios finais;

d) pessoa física que adquire produto de outra pessoa física.

4. Marque com V ou F as afirmativas seguintes sobre a responsabilidade em matéria ambiental.

a) ( ) A responsabilidade ambiental alcança apenas pessoas físicas.

b) ( ) A responsabilidade em matéria ambiental recai apenas sobre os danos ambientais na esfera cível.

c) ( ) A responsabilidade em matéria ambiental recaíra nas esferas cível, administrativa e penal independentemente de pessoa física ou jurídica.

d) ( ) A responsabilidade civil em matéria ambiental independe de culpa, sendo que esta apenas será discutida na esfera penal.

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Comentário das atividades

A atividade 1 lhe proporcionou a percepção de que a responsabilidade objetiva decorre da teoria do risco (que você pôde recordar na aula 3), e o alcance das ações (e omissões) e dos benefícios decorrentes das relações consumeristas e ambientais justificam a não-necessidade da culpa para confi-guração da responsabilidade.

Para a atividade 2, se você estudou a responsabilidade do fornecedor quanto à colocação de produtos e serviços no mercado, pôde, com certeza, perceber que essa responsabilidade independe de culpa, à exceção de quando ele provar que não colocou o produto no mercado ou se houve culpa exclusiva da vítima. Lembre-se de que estudamos que a responsabilidade civil pode se dar de forma subjetiva e objetiva. No sistema do CDC, como regra, a respon-sabilidade independe de culpa, portanto fala-se em responsabilidade objetiva. Colocar o ônus da prova para o consumidor, como nos casos de defeito (oculto ou não), e só dar garantia nas vendas à vista, são atitudes contrárias às dispo-sições do CDC, pois deveria ser o contrário. Assim, a alternativa correta da atividade 3 é a letra (c).

Você estudou que quando o Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor, havia muita nebulosidade para se definir quem era o consumidor (Corrente minimalista e maximalista)? Se sim, lembrou-se de que no início não se entendia a pessoa jurídica como consumidor. Esta discussão, porém, ficou para trás, sendo consumidor todo aquele que adquire como destinatário final. O que não se admite como relação de consumo são as relações entre parti-culares, que são regidas pelo Código Civil. Portanto, a alternativa correta da atividade 3 é a assertiva (c).

Para solucionar a atividade 4, você estudou que a responsabilidade ambiental na esfera cível independe da discussão de culpa (responsabilidade objetiva); sendo que a discussão sobre a culpa permanece no âmbito apenas penal, que não admite a responsabilidade objetiva. Com certeza você leu também o art. 225 § 3° da CF/88. Assim você chegou à conclusão que as duas primeiras alternativas estão incorretas. A primeira, por considerar que a responsabilidade ambiental alcança apenas pessoas físicas, enquanto também pode atingir as pessoas jurídicas. A segunda, por considerar que a responsa-bilidade em matéria ambiental recai apenas sobre os danos ambientais na esfera cível, podendo repercutir também nas esferas penal e administrativa. As alternativas corretas: (c) e (d), consideram de acordo com a melhor doutrina

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que a responsabilidade em matéria ambiental atinge as esferas cível, admi-nistrativa e penal de forma concomitante (se for o caso) e independe de ser pessoa física ou jurídica. A última alternativa considera de forma correta que a responsabilidade civil em matéria ambiental independe de culpa, sendo que esta apenas será discutida na esfera penal.

Esperamos que as atividades propostas tenham lhe dado a oportunidade de conhecer noções básicas de Direito Ambiental e entender como funciona o ramo do Direito do Consumidor.

ReferênciasDENSA, R. Direito do consumidor. São Paulo: Atlas, 2005.

DINIZ, M. H. Compêndio de introdução à ciência do Direito. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

FIORILLO, C. A. P. Curso de Direito Ambiental brasileiro. 3. ed. São Paulo: Sarava, 2002.

HAONAT, A. I. O Direito Ambiental em face da qualidade de vida: em busca do trânsito e dos transportes sustentáveis. São Paulo: RCS, 2007.

KÜMPEL, V. F. Introdução ao estudo do Direito: Lei de Introdução ao Código Civil e Hermenêutica Jurídica. São Paulo: Método, 2007.

MONTORO, A. F. Introdução à ciência do Direito. 26. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

NADER, P. Introdução ao estudo do Direito. 25. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

NUNES, R. Manual de introdução ao estudo do Direito. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

Anotações

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