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Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

Livro Desenvolvendo a cia Cominicativa Unidade-1

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Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

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Sebastião J. Votre

Vinícius C. Pereira

José C. Gonçalves

Desenvolvendo a competência comunicativa

em gêneros da escrita acadêmica

Niterói, RJ - 2010UFF/PROAC/NEAMI

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Copyright © 2009 by Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves

Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense

Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - Niterói, RJ - Brasil

Tel.: (21) 2629-5287 - Fax: (21) 2629- 5288 - http://www.editora.uff.br - E-mail: [email protected]

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

Normalização: Danúzia da Rocha de Paula

Edição de texto e revisão: Icléia Freixinho

Capa e projeto gráfi co: Marcos Antonio de Jesus

Supervisão gráfi ca: Káthia M. P. Macedo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V972 Votre, Sebastião J.; Pereira, Vinícius C.; Gonçalves, José C.

Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica/Sebastião

Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves/Niterói: EdUFF, 2009.

94 p.; il. 29,7 cm – (Apoio ao aluno calouro, livro-texto 1).

inclui bibliografi as.

ISBN 978-85-228-0531-0

1. Manuais 2. Aprendizagem I. Título II. Série.

CDD 808.02

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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Renato de Souza Bravo

Silvia Maria Baeta Cavalcanti

Tania de Vasconcellos

Editora fi liada à

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Sumário

Introdução ........................................................................7

Unidade 1 Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas ....................... 9

Unidade 2 Coesão textual ..................................................................21

Unidade 3Coerência textual ...............................................................32

Unidade 4Argumentação ...................................................................41

Unidade 5Fichamento, resumo e resenha ...............................................53

Unidade 6Relatório e projeto .............................................................63

Unidade 7Artigo científico e monografia de conclusão de curso .....................75

Unidade 8O domínio da norma-padrão ..................................................81

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Introdução

Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-

dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para

a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical,

vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.

O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase

nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização

textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma

e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que

escolhemos.

Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos,

atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-

jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com

argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.

Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-

diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-

to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório,

para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.

Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-

tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se

analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no

meio universitário.

Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar

os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-

vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para

o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade

e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.

Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos

textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são

coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.

Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma

cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você

executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo

que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.

Então? Mãos à obra?

Um abraço,

Os autores

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Unidade 1

Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas

Apresentando a unidade

Bem-vindo! Você está iniciando o seu curso de análise e produção de texto acadêmi-co. Neste curso você vai aprender primei-

ro a reconhecer e depois a produzir os diversos gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai aprender olhando, examinando, entendendo e depois redigindo os diversos textos que circu-lam no mundo acadê-mico. Como já dizia Confúcio (151 a.C.): “O que eu ouço, eu es-queço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo.”

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. compreender a noção de tipo textual e de gênero textual;2. reconhecer os tipos textuais ex-positivo e argumentativo;3. identificar tipos e funções dos parágrafos;4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará-grafos.

Conhecendo os gêneros textuais

De acordo com os Parâme-tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín-gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na vida real, inserida numa moldura comunicativa de interlocutores e intenções. Assim, dependen-do do tipo e do teor da informação que quere-mos comunicar, utilizamos gêneros diferentes, geralmente convencionados em sociedade.

Perceba, por exemplo, que a finalidade deste manual é diferente da de um jornal, em-bora ambos sejam agrupados em uma categoria

maior, de textos informativos. Tal diferença nos objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do interlocutor (quem ouve ou lê) implica também diferenças na estruturação do texto e na organi-zação da informação. Veja que, por ser um mate-rial didático, este texto que você está lendo tem características muito próprias, como uma lin-guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente e apresentar informações que são lidas e descar-tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-te já há novas notícias –, tende a ser um texto muito mais breve. Além disso, a maior parte das reportagens de um jornal têm caráter narrativo, isto é, verbos que indicam ação, personagens, narrador etc. Já este manual tem caráter expo-sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa ideias abstratas de modo lógico.

Como você pode perceber, existem inúme-ros gêneros textuais com os quais convivemos, dentro e fora da universidade. Neste manual, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe a seguir os fatores que determinam as caracte-rísticas de forma e conteúdo de cada um desses gêneros:

Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-cas, do ponto de vista cultural, social, político e econômico, bem como aos graus de conheci-mento compartilhado entre o produtor e o re-ceptor dos textos, no momento da produção e recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-ção oral face a face, nos textos de escrita aca-dêmica o produtor e o leitor geralmente estão situados em diferentes momentos e é, portanto, necessário explicitar as informações básicas para contextualizar a informação.

Lugar: Designa o lugar físico da produção e recepção dos textos (escola, escritório, casa, empresa, mídia), bem como a posição social do produtor e do receptor na interação (aluno, em-pregado, redator, jornalista, professor, cliente, amigo). Você, quando escrever um texto acadê-mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-pel social diferentes dos lugares físicos e sociais dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.

Objetivo da interação: Qual o efeito que o seu texto deve e espera produzir no recep-tor, isto é, para que serve o texto? Quando você escreve um texto, quais são as suas intenções? Será que a sua intenção comunicativa vai ser igual à interpretação do seu possível leitor?

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10 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Canal: Que canal é utilizado para a intera-ção entre o produtor e o receptor do texto: pa-pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon-ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras palavras, qual o meio que você vai utilizar para a transmissão da mensagem?

Grau de formalidade da situação: A conju-gação dos quatro fatores acima vai determinar o grau de formalidade da situação. Numa interação face a face entre amigos, num bate-papo, o nível de formalidade é bem baixo. Uma interação face a face num julgamento no tribunal vai ser muito mais formal. Igualmente, um gênero de escrita acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado entre colegas de trabalho.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Leia atentamente o texto abaixo e respon-

da às seguintes perguntas:1. Que informações sobre a realidade brasileira esse texto recupera?2. A quem se destina o texto? Quais são as carac-terísticas que evidenciam o destinatário?3. Que conhecimentos são necessários para que o leitor compreenda as informações subentendi-das no texto?4. A que gênero esse texto pertence? Quais são as características principais da composição des-se gênero?

“É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, diz Lula, em SC

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (26) no aeroporto de Navegantes, em San-ta Catarina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele re-tornou a Brasília por volta das 17h15.

O presidente sobrevoou as cidades de Ita-jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região em que as pessoas passam mais da metade do ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina, temos que pedir a Deus para parar de chover.”

Lula assinou, nesta quarta, uma medi-da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-dar na recuperação de estradas, casas e para ações da Defesa Civil e das Forças Armadas. O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-tarina, mas também outros estados que venham a sofrer com as fortes chuvas previstas para o verão.

Luciana Rossetto

Conhecendo os tipos textuais

Os diferentes tipos textuais não são mutuamente exclusivos. De forma geral, um gênero textual é composto de vários tipos textuais, dependendo das diferentes funções que o autor quer atingir. No exemplo usado na Ativi-dade 1, pode-se notar que o gênero notícia utiliza-se de estruturas narrativas, para contar o que foi feito pelo presidente Lula, e de estruturas descri-tivas, para descrever a situação das cidades nas enchentes e algumas medidas implementadas para tentar resolver o problema. Como vários tipos de organização textual podem ocorrer em um mesmo gênero, busca-se caracterizar o seu modo de organização predominante. Assim, no exemplo acima, o modo de organização textual predominante é o narrativo, com verbos usados geralmente no pretérito perfeito, como se vê no seguinte trecho da notícia:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (26) no aeroporto de Navegantes, em Santa Cata-rina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele retornou a Brasília por volta das 17h15.

No restante do texto, vários verbos na terceira pessoa do pretérito perfeito também ocorrem, como: sobrevoou e assinou. Pode-se afirmar então que o gênero notícia utiliza-se pre-dominantemente do modo de organização narra-tivo para relatar os fatos ocorridos.

Os tipos textuais são caracterizados pelas sequências linguísticas predominantes (esco-lhas de palavras, estruturas gramaticais, tempos verbais, relações lógicas).

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11Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

Portanto, os gêneros textuais podem se constituir em diversos tipos textuais, que pos-

suem finalidades específicas, conforme vemos abaixo:

TIPOS TEXTUAIS FINALIDADE

Descritivo Caracterizar a paisagem, o ambiente, as pessoas e os objetos.

Narrativo Contar fatos reais ou imaginários ou relatar acontecimentos que ocorreram em determinado lugar e tempo, envolvendo os participantes em ação e movi-mento no transcorrer do tempo.

Expositivo Apresentar informações sobre assuntos, idealmente de forma isenta e impes-soal. Expor ideias, pensamentos, doutrinas, teses, argumentos e contra-argu-mentos. Envolve refletir, explicar, avaliar, conceituar, analisar, informar.

Argumentativo Convencer, influenciar, persuadir as pessoas para realizar ações e alcançar objetivos. Consiste no emprego de provas, justificativas, com o objetivo de apoiar ou refutar teses. Envolve raciocínio para provar ou negar proposições.

Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas para uso e regulação de comportamentos.

Dialogal Interagir, por meio de troca interpessoal de ideias, sentimentos e informações sobre diferentes temas.

No meio acadêmico, podem ser encontra-dos todos os tipos textuais, concretizados em gêneros textuais diferentes. Um relatório, por exemplo, utiliza-se de características descriti-vas, para avaliar algo. A metodologia encontra-da em um artigo, por sua vez, é predominan-temente narrativa, pois apresenta a sucessão dos passos adotados por um pesquisador na condução de seu estudo. Um resumo é um texto expositivo, em que se apresentam, de forma im-pessoal, as informações presentes em um outro texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma tese defendida acerca de determinado assun-to, possui características predominantemente argumentativas. Este manual, como os demais materiais didáticos, além do caráter obviamen-te expositivo, tem também uma feição injunti-va, na medida em que ensina como proceder na escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da vida universitária, como a arguição, por exem-plo, estão intimamente ligados ao tipo textual chamado dialogal, em que a interação locutor-interlocutor é primordial.

Veja a seguir outros gêneros discursivos do domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral da comunicação.

Modalidade escrita: temos artigos cien-

tíficos, relatórios científicos, notas de aula, di-ários de campo, teses, dissertações, monogra-

fias, artigos de divulgação científica, resumos de artigos, de livros, de conferências, resenhas, comentários, projetos, manuais de ensino, bi-bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários, bibliografias comentadas, índices remissivos, glossários etc.

Modalidade oral: palestras, conferências, debates, entrevistas, seminários, apresentações em congressos, arguições etc.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-

são e horizonte de investimento em carteiras imunizadas: uma análise sob a perspectiva das entidades de previdência complementar”, retira-do da READ – Revista Eletrônica de Administra-ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o modo de organização textual nele predominan-te? Justifique suas respostas.

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12 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

Dimensão e horizonte de investimento em carteiras imunizadas: uma análise sob a perspectiva das entidades de previdência complementar

O termo imunização denota a construção de uma carteira de títulos de forma a torná-la imune a variações nas taxas de juros. No caso das entida-des de previdência complementar, o objetivo da imunização é distribuir os recebimentos interme-diários e finais dos ativos de acordo com o fluxo de pagamentos dos benefícios. Em geral, quanto maior a classe de alterações na estrutura a termo das taxas de juros, mais restritivo se torna o mo-delo. O artigo busca comparar o desempenho de modelos de gestão de risco de taxa de juros que, baseados em alternativas distintas de programa-ção matemática, objetivam garantir o pagamento do fluxo futuro de benefícios. Embora exista uma vasta literatura sobre o aspecto estatístico e so-bre o significado econômico dos modelos de imu-nização, o artigo inova ao prover uma análise de-talhada do desempenho comparado dos modelos, sob três perspectivas complementares: o método escolhido, a dimensionalidade e, ainda, o horizon-te de investimento. A análise permite concluir que os modelos de imunização tradicional, quando examinados sob a ótica conjunta da redução do risco, das restrições impostas à formatação da carteira e dos custos de transação associados, são mais eficientes, no médio e longo prazo, que os modelos multidimensionais de gestão do risco de taxa de juros, os quais se mostram superiores apenas na gestão restrita ao curto prazo.

Sérgio Jurandyr Machado - IBMEC-SPAntonio Carlos Figueiredo Pinto - PUC-RJ

Conhecendo a estrutura do parágrafo

Na primeira parte desta unida-de, você aprendeu a diferenciar tipos e gêneros tex-tuais, e como essas categorias se combinam na hora de produzir um texto. Assim, nossa preocupação ini-cial era a macroestrutura textual, isto é, a compreen- são da estruturação geral dos textos acadêmicos.

A partir de agora, voltamos nossas aten-ções para a microestrutura textual, ou seja, as partes menores que compõem um texto. Para efeitos didáticos, vamos trabalhar com uma uni-dade conhecida por todos os alunos: o parágrafo.

É preciso que compreendamos cada pará-grafo como um pequeno texto, o qual deve ter sua estrutura reconhecida. Inicialmente, vamos observar alguns exemplos de parágrafos bem construídos e proceder a sua análise:

Lula repassa terras da União a Roraima e diz que está pagando dívida

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva as-sinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hec-tares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima. O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suíça (41,2 mil quilômetros quadrados).

Segundo Lula, o governo está pagando uma “dívida” que tem com Roraima desde a “celeuma da reserva indígena Raposa Serra do Sol”. O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espé-cie de recompensa por ter perdido parte do seu território por causa da demarcação da reserva indígena.

[...] (Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília)

O trecho acima, retirado de uma notícia, é composto por dois parágrafos. Analisando-se cada um deles, vemos que são compostos por mais de uma frase. Tal fato nos sugere não escre-ver parágrafos de uma única frase enorme, pois isso dificulta a compreensão do leitor. Para que a leitura seja fácil e agradável, os sinais de pon-tuação devem estar devidamente empregados e as frases devem ter um tamanho razoável.

Atente para a seleção das frases empre-gadas em cada parágrafo. No primeiro deles há uma frase principal, que o resume e apresenta a ideia central: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hectares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima”. A essa frase ini-cial, chamamos de frase-tópico.

A frase-tópico é, geralmente, a primeira frase do parágrafo. Sua função é expor de forma resumida a ideia geral, que será desenvolvida nas outras frases. Observe agora o segundo pe-ríodo do parágrafo: “O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suí-ça (41,2 mil quilômetros quadrados)”. Essa frase

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desenvolve a frase-tópico na medida em que dá informações complementares acerca do repasse mencionado na frase anterior.

Analisemos agora o segundo parágrafo, cuja frase-tópico é: “Segundo Lula, o governo está pagando uma ‘dívida’ que tem com Rorai-ma desde a ‘celeuma da reserva indígena Rapo-sa Serra do Sol’”. Tal frase apresenta como ideia principal do parágrafo a opinião do presidente diante da questão da reserva indígena. Porém, é bom complementar a frase-tópico, para que o texto se torne mais coeso e informativo. O au-tor desenvolveu essa frase principal com uma relação de oposição, ao escrever: “O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espécie de recompensa por ter perdido parte do seu território por cau-sa da demarcação da reserva indígena”. O autor do texto poderia inclusive iniciar esse segundo período por um conectivo que expressasse opo-sição, como porém, contudo, todavia etc.

Veja ainda que há muitas formas de desen-volver a ideia central fixada e exposta na frase-tópico: definições, enumerações, comparações, contrastes, razões, análise, exemplos, fatos, estatísticas, citações, ilustrações, evidências e contraevidências da ideia apresentada na frase-tópico. As frases de suporte fornecem as dife-rentes especificações que explicam, delimitam, reforçam, contradizem ou expandem a ideia cen-tral exposta na frase-tópico.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Algumas das frases-tópico seguintes di-

zem respeito a conhecimento compartilhado na cultura local e nacional, de modo que podem ser desenvolvidas imediatamente após a leitura das mesmas. Outras supõem conhecimento especia-lizado e só podem ser aprofundadas após con-sulta a fontes de informação. Comecemos pelo primeiro grupo. Leia-as e escreva parágrafos que com elas se iniciem, acrescentando frases de su-porte/desenvolvimento.

1. Meus dois professores são totalmente diferentes em aparência, comportamento e per-sonalidade.

2. O futebol está se tornando popular nos Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-mento, das regras e das habilidades envolvidas.

3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa.

Já as frases-tópico seguintes fazem afirma-ções acerca de assuntos mais especializados, de modo que você deve buscar algumas informa-ções sobre eles antes de tentar desenvolvê-las.

4. Astronomia é uma ciência fascinante.5. A adaptação animal é imprescindível

para a sobrevivência das espécies.6. A intensa miscigenação teve importan-

tes consequências para a formação do povo brasileiro.

Na seção anterior, vimos como um pará-grafo se constitui em linhas gerais: uma frase-tópico e frases de suporte, podendo ainda haver uma frase de conclusão. Da mesma forma, um ensaio, uma redação, um artigo científico ou um texto expositivo ou argumentativo também têm essa estrutura de três partes: um parágrafo in-trodutório, parágrafos de suporte e um parágra-fo de conclusão.

O parágrafo de introdução

A principal característica de um parágrafo de introdução é a presença da tese, ideia central do texto. Em um texto expositivo, a tese é uma informação principal, ampla, dentro da qual há uma série de outras informações que serão apre-sentadas nos parágrafos subsequentes. Em um texto argumentativo, a tese é o ponto de vista que o autor defende, inserido em um tema mais amplo, o qual também deve ficar claro logo no primeiro parágrafo.

É de suma importância que a tese seja apresentada com clareza, pois isso facilita a lei-tura do texto, bem como sua escrita, visto que impede que você fuja ao tema. Ao longo do texto, tente sempre que possível remeter o que escreve nos demais parágrafos à tese, afinal tal estratégia garante unidade, coesão e coerência ao texto.

Há mais de uma maneira de redigir um pa-rágrafo introdutório, embora este deva sempre situar o tema geral do texto e a tese. A seguir, va-mos analisar diferentes parágrafos de introdução redigidos acerca do mesmo tema: o crescimento

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14 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

da violência na contemporaneidade. Atente para os diferentes recursos usados em cada parágra-fo e perceba que uma mesma temática pode ser introduzida de diferentes maneiras. Com a práti-ca, você logo selecionará as estratégias com que se sente mais à vontade.

1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in-

trodução, apresenta-se primeiramente

a tese e logo a seguir enumeram-se os

argumentos que serão desenvolvidos

ao longo do texto (cada um desses ar-

gumentos corresponderá a cada um dos

parágrafos de desenvolvimento subse-

quentes). Veja o exemplo abaixo:

É indiscutível que a violência cresce de forma exponencial nos dias de hoje, como não cessam de informar os meios de comunicação. Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui-tetura urbana, como a construção de grades por toda a parte, em uma tentativa de prender a si, já que o assustador Outro não cabe por inteiro na cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, com a popularização do ofício de “segurança” e a quase extinção de profissões que exigem con-fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo vendedor de porta em porta, que hoje não ganha mais do que um grito repelente por trás do “olho-mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos outros fenômenos que nos escapam na discussão da violência, geralmente suscitada por tragédias veiculadas na mídia.

Nesse caso, a primeira frase do parágrafo é também a tese do texto (ponto de vista princi-pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois exemplos que serão explorados em detalhe nos próximos dois parágrafos de desenvolvimento. Por fim, veja que a frase de conclusão (última do parágrafo) serviu para retomar e resumir as ideias anteriormente apresentadas, às quais se somou um dado novo: a predominância de tra-gédias no discurso midiático sobre violência. Tenha sempre em mente que uma frase de con-clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o que foi dito antes, deve conter alguma informa-ção nova, que justifique sua existência. Do con-trário, o texto torna-se repetitivo.

2. Definição – Nesse tipo de introdução,

antes de se apresentar a tese, faz-se

uma ambientação, isto é, uma afirmação

inicial que situa a tese no tema geral ao

qual pertence. Como no exemplo abai-

xo, a ambientação pode ser a definição

de um conceito-chave para a argumen-

tação acerca do tema proposto.

Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-trangimento físico ou moral exercido sobre al-guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”. Tal definição explicita uma faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-são moral. Do mesmo modo como a agressão fí-sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e a injúria deixam sequelas para sempre, devendo haver, portanto, preocupação social no combate a esse problema.

3. Questionamento(s) – A ambientação

pode também ser composta por per-

guntas que convidem o leitor à reflexão

acerca do tema. No entanto, tome o cui-

dado de, após essas perguntas, afirmar

sua tese. Não deixe também de respon-

der a todas as perguntas ao longo de

seu texto.

Medidas punitivas são o suficiente para coibir o aumento da violência? A história já pro-vou que não. Assim como o senso comum tem cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor do que remediar”, estudos provam que países que investiram em educação tiveram reduções mais significativas de índices de violência do que aqueles que destinaram sua verba à construção de presídios.

4. Citação – A ambientação também

pode apresentar uma citação de alguém

famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr

entre aspas uma fala que não é propria-

mente sua. Tal recurso tem a vantagem

de se valer da autoridade do discurso

alheio, que pode ser posto em diálogo

com o seu.

“A não-violência absoluta é a ausência absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-posição para tudo o que vive. É o amor na sua perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa

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15Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

e consciente, o que deve se dar em todas as situa-ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a despeito das evidentes dificuldades para que isso se efetive.

5. Sequência de frases nominais – Um

recurso interessante para iniciar um

texto é fazer uma enumeração de frases

nominais (sem verbo), separando-as

por ponto final. Por ser um recurso di-

ferente, isso chama a atenção do leitor.

Como sempre, a presença da tese logo

após essa ambientação é fundamental.

Bala perdida. Sequestro-relâmpago. Falsa blitz. Basta abrir o jornal ou ligar a televisão para se ouvir mais uma notícia de crime no país. A me-nos que medidas conscienciosas sejam tomadas para o combate dessa realidade hostil, o quadro tende a se tornar cada vez pior.

6. Exposição do ponto de vista oposto

– Você pode também iniciar seu texto

enunciando um ponto de vista contrá-

rio ao seu, na ambientação. Em segui-

da, você deve usar um conectivo que

expresse oposição de ideias (PORÉM,

NO ENTANTO, CONTUDO, TODAVIA

etc.) e apresentar sua própria tese,

provando ser ela mais acertada do que

o posicionamento anteriormente men-

cionado.

Há quem diga que basta instituir a pena de morte para que haja reduções bruscas nos índices da violência. No entanto, esse é um po-sicionamento por demais simplista, que acredita na solução de um problema de dimensões eco-nômicas, sociais e políticas, que assola todo o país, por meio de uma simples resolução jurídi-ca. Na verdade, alteração alguma na lei é sufi-ciente sem que medidas preventivas, as quais culminem na redução das desigualdades sociais, sejam tomadas.

7. Alusão histórica – Antes de apresen-

tar sua tese, você pode lançar mão de

uma ambientação que a situe historica-

mente, apresentando, brevemente, os

antecedentes históricos que confirmam

seu ponto de vista.

Ao falarmos sobre violência, alguns discur-sos apontam-na como sendo uma problemática contemporânea. Porém, a história do descobri-mento e da colonização do Brasil é marcada por uma violência que muitas vezes esquecemos: o massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma profunda e atenta essa mortandade que está no início da história escrita sobre o país, podemos não só compreender o passado da nossa forma-ção, mas entender também a violência presente, em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-ta, e pensar em intervenções que combatam esse problema nos dias de hoje.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4Do texto a seguir, retirou-se o primeiro

parágrafo. Com base nos demais parágrafos, re-dija pelo menos três versões para a introdução, utilizando diferentes técnicas estudadas nesta unidade:

Crítico de cinema: profissão em extinção?

[...]O “New York Times” dedica-se a tentar en-

tender a perda de importância dos jornais – e o crescimento da influência dos blogs – no proces-so de divulgação dos filmes pelos grandes estú-dios. O sinal mais aparente deste fenômeno – im-portante pelo volume de recursos que Hollywood movimenta em marketing – é que os jornais con-tribuem cada vez menos com aquelas publicida-des repletas de frases retiradas de críticas.

Uma das mais antigas ferramentas de marke-ting de um filme, a citação tirada de uma crítica de cinema (coisas como “eletrizante” “imperdí-vel”, “muito engraçado”, “ri do início ao fim”) já foi motivo de muita polêmica. Há alguns anos, descobriu-se que um estúdio, a Sony, havia publi-cado um anúncio com uma frase inventada, dita por um crítico que não existia. Também é comum tirar palavras ou frases de contexto, mudando

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16 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

o sentido do que o crítico quis dizer para realçar qualidades inexistentes de um filme.

O que inquieta o “New York Times” agora é o fato de que os grandes estúdios de Hollywood preferem recorrer a críticas publicadas em blogs do que em jornais. Escreve o diário:

“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Internet em busca de frases para usar em publi-cidade porque há uma variedade muito grande de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa. Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação a alguns gêneros de filmes”.

Em outras palavras, raciocina o “New York Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e blogs porque eles tratam os filmes de forma mais generosa e complacente que os jornais. O gran-de diário americano está, evidentemente, fazen-do uma generalização injusta, já que há também muitos críticos em jornais que funcionam mais como “animadores de torcida” do que, propria-mente, como analistas sérios e isentos.

Em todo caso, dois entrevistados do jor-nal reforçam a tendência de recorrer a sites e blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi-chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores críticos de cinema e a maioria das boas críticas são encontradas online”.

Já Mike Vollman, presidente de marketing da MGM e United Artists, afirma que vai prefe-rir se basear mais em blogs do que na revista “Time” para promover o remake do filme “Fama”. “A realidade, e lamento dizer isso para você, é que os jovens que vão ao cinema são mais in-fluenciáveis por um blog do que por um crítico de jornal”.

A reportagem, em resumo, confirma as previsões mais pessimistas dos que enxergam na revolução promovida pela nova mídia um si-nal de empobrecimento e decadência cultural. Ainda assim, o próprio “New York Times” reco-nhece que há sites “sérios”, publicando textos sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os jornais ditos de prestígio.

E o Brasil? – algum leitor perguntará. O problema, ainda que em grau menor, até porque a indústria de cinema nacional é minúscula, se comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain-da estamos, pelo que observo, numa etapa ante-rior. Há um crescimento impressionante de sites e

blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda observa com desconfiança, procurando enten-der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-mentação. Em todo caso, é possível observar que alguns produtores já utilizam frases retiradas de sites e blogs para divulgação de seus filmes.

Maurício Stycer

Parágrafos de desenvolvimento

Como quaisquer outros parágrafos, os de desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-ses de suporte e, às vezes, frases de conclusão. O que os difere dos parágrafos de introdução e conclusão é seu caráter menos abrangente e mais específico: enquanto no início e no final do texto dá-se preferência por apresentar ideias gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser marcado por parágrafos de caráter mais deta-lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-rizada, as informações que sustentam a tese do texto. Desse modo, é importante que você evite parágrafos de desenvolvimento extremamente curtos, os quais contenham apenas a apresen-tação de uma ideia. Como o próprio nome já indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-sentando causas, consequências, contrastes etc. Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-dade sobre Coesão, como estabelecer relações desse tipo entre as frases e as orações.

O parágrafo de conclusão

O parágrafo final é a conclusão, uma parte muito importante do seu texto. Concluir um tex-to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar o assunto abordado ao longo dele. Na síntese, você escreve um resumo dos principais assun-tos ou argumentos discutidos no corpo do texto. Outra forma de concluir é reformulando a ideia principal do seu texto em outras palavras. No co-mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista sobre o problema enfocado no texto. Como esse comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é essencial que você redija uma mensagem impor-tante e impactante, que o leitor vá lembrar.

Para que seu texto seja bem-sucedido, não basta que você comece bem e explique com clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja satisfatória, a impressão final do leitor não será boa, o que revela a importância de caprichar na elaboração do último parágrafo.

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17Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

Lembre-se de que, caso você tenha inicia-do seu texto com uma analogia, é interessante que essa mesma analogia seja revisitada na con-clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia com uma pergunta, é interessante que a respos-ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir um exemplo de texto dissertativo em que a con-clusão e a introdução completam-se mutuamen-te, reiterando a tese do autor:

Homem Virtual

A história do homem é marcada por gran-des invenções e acontecimentos que modificam as relações familiares, sociais e internacionais. Transformações essas que não se prendem ex-clusivamente ao passado dos homens descobri-dores do fogo, criadores da roda, aventureiros dos mares, pilares do Renascimento... Os revo-lucionários do século XX inserem-se na História com ferramentas virtuais e o poder da tecla enter.

A atual Revolução Tecnológica é uma transformação sem qualquer precedente na his-tória da humanidade. Enquanto, no passado, as revoluções limitavam-se no espaço e no tempo, ou mesmo nas diferenças culturais, o mundo globalizado de hoje lhes permite percorrer rapi-damente quilômetros de distância sem que mes-mo haja tempo para resistências ideológicas. É dessa facilidade que se extrai a explicação para as repentinas e profundas mudanças nas rela-ções humanas no século XX e especialmente na década de 90.

O computador é a perfeita materializa-ção da Revolução do século XX. Através dele, o homem conecta-se ao mundo, percorre paí-ses, acessa diferentes informações ou diferen-tes ângulos de uma mesma informação, agiliza trabalhos, melhora imagens, cria recursos... transformações desse nível foram muitas vezes vivenciadas pelo homem. Nunca, porém, elas conseguiram atingi-lo paralelamente em sua es-sência, visões, ideologia, prioridades. O mundo tecnológico trouxe também novas fontes de la-zer, menos convivência pessoal, busca incessan-te de novos conhecimentos, necessidade de al-cançá-los rapidamente. Criou um homem quase digital com emoções contidas, experiências vir-tuais, convivência cibernética, família matricial. A velha conversa no botequim deu lugar às salas de bate-papo, a visita vespertina agora é um e-mail, o amigo é o computador.

É inegável que a tecnologia trouxe vanta-gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-mem a tenha manipulado de tal forma a perder o controle sobre sua criação. Os heróis digitais confundem-se com os vilões, que deletam aos poucos o sentido de humanidade de nossa so-ciedade.

(retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5Do texto a seguir, retirou-se a conclusão.

Com base nos demais parágrafos, redija, pelo menos, duas versões para a conclusão, utilizan-do diferentes técnicas estudadas nesta unidade.

Novos desafios para o planeta (adaptado)

Por Marcelo Barros – Agência de Informa-ção Frei Tito para a América Latina – de São Paulo

Em torno ao dia 05 de junho que a ONU consagra como “dia internacional do meio am-biente”, o mundo inteiro promove uma série de discussões e eventos que durarão toda a semana. De fato, os problemas ambientais se agravam. Hoje, não há quem não se assuste com a frequência e a intensidade de inunda-ções e secas, assim como, em algumas regiões do mundo, terremotos e furacões ganham fúria nunca vista.

Como disse Leonardo Boff na assembleia geral da ONU: “se a crise econômica é preocu-pante, a crise da não-sustentabilidade da Terra se manifesta cada dia mais ameaçadora. Os cien-tistas que seguem o estado do Planeta, especial-mente a Global Foot Print Network, haviam falado do Earth Overshoot Day, isto é, do dia em que se ultrapassarão os limites da Terra. Infelizmente, os dados revelam que, exatamente no dia 23 de setembro de 2008, a Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição dos recursos ne-cessários para as demandas humanas.

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18 Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira e José C. Gonçalves

No momento atual, precisamos de mais de uma Terra para atender à nossa subsistência. Como garantir ainda a sustentabilidade da Ter-ra, já que esta é a premissa para resolver as de-mais crises: a social, a alimentar, a energética e a climática? Agora, não temos uma “arca de Noé” que salve alguns e deixe perecer a todos os de-mais. Como asseverou recentemente, com muita propriedade, o Secretário Geral desta casa, Ban Ki-Moon: “não podemos deixar que o urgente comprometa o essencial”. O urgente é resolver o caos econômico, mas o essencial é garantir a vitalidade e a integridade da Terra.

É importante superar a crise financeira, mas o imprescindível e essencial é como vamos salvar a Casa Comum e a humanidade que é par-te dela. Esta foi a razão pela qual a ONU adotou a resolução sobre o Dia internacional da Mãe Terra (International Mother Earth Day), a ser ce-lebrado no dia 22 de abril de cada ano. Dado o agravamento da situação ambiental da Terra, especialmente o aquecimento global, temos de atuar juntos e rápido. Caso contrário, há o risco de que a Terra possa continuar, mas sem nós” (discurso na ONU – abril de 2009).

Infelizmente, governos e instituições in-ternacionais continuam insistindo no modelo capitalista depredador. Somente o governo ame-ricano destinou este ano mais de US$ 4 trilhões a salvar bancos e multinacionais irresponsáveis que perderam dinheiro no cassino financeiro da imprevisibilidade. Este dinheiro do povo, dado aos ricos, “é um valor 40 vezes maior do que os recursos destinados a combater as mudanças climáticas no mundo e a pobreza” (Le Monde Di-plomatique Brasil, maio de 2009, p. 3). O próprio governo brasileiro advoga que, contra a crise econômica que assola o planeta e também atin-ge o Brasil, a solução será consumir e comprar, porque isso gera empregos e receitas. As conse-quências ecológicas desta escolha não se colo-cam. Menos ainda a questão ética fundamental. Quantos brasileiros podem viver esta febre do consumo? O PNUD do ano passado confirma: 20% das pessoas mais ricas absorvem 82% das riquezas mundiais, enquanto 20% dos mais po-bres têm de se contentar apenas com 1,6% des-ta riqueza que deveria ser comum. Uma ínfima minoria monopoliza o consumo e controla os processos econômicos que implicam a devasta-ção da natureza e uma imensa injustiça social.

[...]

Referências

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RIBEIRO, Jefferson. Lula repassa terras da União a Roraima e diz que está pagando dívida. O GLO-BO, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL975896-5601,00.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

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