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Porto Alegre, RS
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a mulher, o judaísmo e o século 21
Carta do rebe de LubavitCh
Setembro de 1964 - brooklyn, n.y.
ela tem um dever com a sociedade de ser um agente
positivo e ativo para aperfeiçoar seu ambiente. e todos
têm a capacidade de fazê-lo, pelo menos em certo grau.
Se o exposto acima é verdadeiro a respeito de qualquer
ser humano, há um aspecto adicional e essencial no seu
caso, como judeu.
Considere: o povo judeu, cada membro dele, tem
sempre se achado na situação ímpar de ser uma
pequena minoria entre as nações, muitas das quais não
eram amigáveis e frequentemente eram hostis. Nessa
circunstância desfavorável, a sobrevivência judaica tem
sido sempre um problema e um desafio.
Consequentemente, essa situação acarreta um dever
especial e sagrado para cada judeu, homem e mulher,
a fazer o máximo para fortalecer e assegurar a
SaudaçõeS e BênçãoS,
Com referência à sua dúvida sobre ter escolhido o
caminho certo etc., confio que você sabe os princípios
básicos de nossos sábios, de abençoada memória,
que o essencial é o ato que leva ao resultado prático.
Similarmente, no seu caso, se você tomou o caminho
certo ou não, vai depender de como você utiliza sua
graduação: se a faz em direção ao bem e ao sagrado,
usando-a para iluminar seu ambiente – isso provará que
está no caminho certo.
Por outro lado, se suas qualificações e capacidades não
forem utilizadas dessa forma, ou forem usadas em outra
direção, a conclusão inevitável, com o devido respeito,
será que então não é o caminho certo. uma pessoa
não pode ser um observador passivo em seu ambiente
e sociedade, para não mencionar um fator negativo.
sobrevivência
judaica
sobrevivência judaica. entretanto, um judeu não deveria
olhar esse dever simplesmente como uma obrigação,
mas sim vê-lo como sua missão privilegiada e divina
neste mundo, através da qual o judeu atinge a plenitude.
além disso, não é algo que possa ser deixado à escolha
do judeu, pois sua única escolha é se ele deseja ou não
cumprir seu dever. Mas, aquilo que é seu dever sagrado
não é uma escolha sua, pois nasceu judeu. e tendo
nascido judeu, chega a este mundo com um rico legado,
que o equipa com capacidades especiais, privilégios
especiais e obrigações especiais. Não tem o direito de
argumentar dizendo que não foi consultado etc., pois
seja esse argumento válido ou não, de forma alguma
muda a realidade, da mesma maneira que a realidade
para todo homem é que, visto como alguém que recebe
da sociedade uma variedade de benefícios positivos, é
obrigado a compensar a sociedade com seus melhores
esforços. retrucar dizendo que essas obrigações lhe
foram impostas sem o seu consentimento, não serve
como desculpa para esquivar-se às responsabilidades.
Sinto-me no dever de adicionar mais um aspecto. a
sobrevivência de nosso povo judeu e o impacto que
isso tem em cada indivíduo, não é algo que deva ainda
ser investigado e experimentado. o povo judeu é um
dos mais antigos do mundo, e sua longa história como
nação tem passado incólume por muitas condições
e circunstâncias, a maioria desfavoráveis, conforme
mencionado acima. Se alguém deseja saber o segredo
da sobrevivência judaica sob circunstâncias que
obliteraram nações maiores e mais poderosas, deve
aplicar os mesmos métodos científicos que em outros
casos. em outras palavras, é necessário encontrar o
fator ou fatores comuns em todos os vários períodos da
história judaica, o que teria que ser considerado como
a base da sobrevivência judaica. Se forem encontrados
dois ou três fatores, devemos questionar se todos foram
indispensáveis à sobrevivência, ou talvez apenas um ou
dois teriam sido suficientes. Porém, se apenas um fator
comum for encontrado, então não pode haver dúvida
de que essa é a única base da sobrevivência. isso, como
mencionado acima, é a abordagem científica e não um
problema de falta de fé. além disso, como em todos
os campos da ciência, não importa se alguém entende
ou não as descobertas científicas. de fato, em ciências
mais exatas, os fatos e fenômenos reais são primeiro
verificados, somente então uma explicação científica é
procurada.
voltando à longa história de nosso povo por um período
de 35 séculos, vê-se que há apenas um fator que tem
preservado a identidade e sobrevivência judaicas
durante os vários períodos de nossa história. esse fator
não foi o idioma ou país, nem qualquer dos fatores que
são normalmente associados com nacionalidade e
nacionalismo, pois em todas essas coisas têm ocorrido
mudanças radicais de um período a outro, como
qualquer um que esteja familiarizado com a história
judaica sabe. o único fator, e enfatizando, o único fator,
que tem preservado nosso povo judeu através das
eras, sob todos os tipos de circunstâncias, tem sido o
cumprimento das mitsvot na vida cotidiana, como a
observância do Shabat, vestir tefilin e a educação de
torá ministrada às nossas crianças. essas e todas as
outras mitsvot já estão incorporadas na torá e têm sido
cumpridas pelos judeus desde a outorga da torá no
Monte Sinai, e têm sido observadas da mesma maneira
no decorrer dos séculos, sem mudanças.
uma prova adicional de que esse é o “segredo” da
sobrevivência judaica, se alguma prova mais se
faz necessária, é o fato de que sempre têm havido
dissidentes. a própria torá relata que imediatamente
após a outorga da torá no Monte Sinai, houve os
adoradores do bezerro de ouro. Similarmente, através
do período dos Juízes, Profetas e reis, bem como no
período pós-bíblico do Segundo beit hamikdash, e mais
tarde. esses dissidentes tentaram tomar outro rumo, à
parte do judaísmo tradicional, mas nunca puderam se
enraizar dentro do povo judeu. até mesmo esses que
se desviaram acabaram por perceber seu equívoco e
retornaram ao aprisco da observância da torá e mitsvot,
ou então foram completamente assimilados entre as
nações do mundo, sem ter mais nada a ver com o povo
judeu, menos ainda com a sobrevivência judaica.
baseado no fundamento de que o principal é a ação,
como foi citado antes, quero expor a conclusão prática
dos pensamentos expressados nessa carta. isto é, que
independentemente de como sua vida diária expressou-
se no passado, é meu dever, visto que estabelecemos
contato entre nós, mostrar-lhe que seu dever consigo
mesmo, com o que o cerca e com nosso povo judeu
como um todo, é ordenar sua vida em total concordância
com a torá e mitsvot na conduta diária.
desnecessário dizer que entendo que tais mudanças
acarretam dificuldades e a desistência de várias coisas,
mas certamente é um pequeno sacrifício em relação ao
enorme privilégio de cumprir uma obrigação sagrada
com nosso povo, em adição à sua obrigação com a
comunidade judaica na qual vive com sua família. Possa
d’us garantir que você tenha boas novas a dizer sobre
tudo que foi discutido acima.
Com estima e bênçãos,
habitamos um mundo povoado por ambos os gêneros, cada qual
com seu propósito, suas respectivas potencialidades, habilidades
e meios de expressão. No entanto, as pessoas ainda encontram
dificuldade em definir a participação e contribuição do público
feminino contemporâneo. a tendência no último meio século era
de escalar a causa feminista pela inclusão da mulher em uma
sociedade estruturada e gerenciada pelos homens, onde o êxito
é calculado na medida em que mulheres assumiram posturas e
posições masculinas.
a torá sempre valorizou a mulher nos seus próprios termos e enalteceu a sua influência na sociedade
encarregando ela da formação das futuras gerações. Lembramos das matriarcas do povo judeu como
modelos e a personificação das virtudes femininas. a nossa esperança com a Lubavitch Magazine deste
ano é de provocar um olhar objetivo e aberto sobre a participação da mulher atual no judaísmo, sabendo
que o escopo desta publicação não permite uma abordagem de todas as suas facetas. Serão muito bem
recebidos os comentários e observações de nossos leitores a respeito das questões abordadas.
Prestamos uma homenagem singela em nossas páginas sobre a operação borda de Proteção, em israel,
aos que deram as suas vidas para proteger o nosso povo e estendemos condolências às suas queridas
famílias, das quais fazemos parte.
desejamos que as luzes de Chanucá em 5775 se espalhem e iluminem mentes e corações, casas e ruas,
culturas e povos e que sejamos merecedores da revelação de Mashiach já. Feliz Chanucá!
luBaVITchM a G a Z i N e
Rabino Mendel Liberow
editorial
rabiNo: Mendel Liberow
PreSideNte: Leandro Kolodny
viCe-PreSideNte: renato Stifelman
1° SeCretÁrio: roberto Schotkis
2° SeCretÁrio: Newton birman
1° teSoureiro: James Kravetz
2° teSoureiro: Jacob burd
dir. adMiNiStrativo: Julio Katz
dir. aSSiSteNte: ricardo Sondermann
dir. de PatriMÔNio: daniel ruwel
aSSuNtoS reLiGioSoS:
Julio ratzkowski
dir. de reLaÇÕeS: Sidney ochman
dir. de SÓCioS : Gilberto raskin
Sede: Sinagoga beit Lubavich -
rua Felipe Camarão, 748.
Fone: 3335.1264 - www.chabadpoa.org
CNPJ: 03712761/0001-64
ConSelHo edItorIAl:
Mimi Liberow e rivka Liberow
ProdUÇÃo edItorIAl e
dIAGrAmAÇÃo:
verde design de Conteúdo
Paulo Maia - Mtb 14.228
ProJeto GrÁFICo:
emílio r. Martins
CorreÇÃo textUAl:
Cíntia Motta
ImPreSSÃo: odisséia
tIrAGem: 4.000
Foto CAPA: Loorana
diStribuiÇÃo Gratuita
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deliciosos pratos de nosso chef em um ambiente
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Lubavitch magazine 14
16
64
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30
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Um pelo outro
Paza caminho
Contido na semente
Já era, e agora?
escolha ou dever
Além do esforço
A mulher sem terra
Go home!
oPeraÇÃo borda de
ProteÇÃo
CoMPortaMeNtoa MuLher No JudaíSMo
a MuLher No JudaíSMo
a MuLher No JudaíSMo
a MuLher No JudaíSMo
CoMPortaMeNto
vida e SoCiedade
34A divisória que
não exclui
a MuLher No JudaíSMoíNdIce
Lubavitch magazine 15
Sirva-se, por favor
nos bastidores
73eu, que estava lá
67 76
74
68
8070
78
82
o poder do 1
Valoressem fronteiras
tudo chega ao mesmo endereço
regando com lágrimas
A chamada silenciosa
o encontro que ficou para sempre
oPeraÇÃo borda de
ProteÇÃo
PerSoNaGeNS da
hiStÓria JudaiCa
PerSoNaGeNS da
hiStÓria JudaiCa
oPeraÇÃo borda de
ProteÇÃo
PerSoNaGeNS da
hiStoria JudaiCa
oPeraÇÃo borda de
ProteÇÃo
PerSoNaGeNS da
hiStoria JudaiCa
oPeraÇÃo borda de
ProteÇÃo
reLatoS
1
86minhas esperas e
esperanças
reLatoS
Lubavitch magazine 16
eu nunca vou esquecer como me senti no dia em
que meu professor de sociologia fez a alegação de
que não há absolutamente nenhuma diferença entre
homens e mulheres. olhei à minha volta, chocada com
a proposição, e ponderei se alguém sentiu o mesmo.
durante a maior parte do semestre, ele enfatizou
repetidas vezes que todas as distinções entre pessoas
de diferentes raças, posições geográficas ou habitats
não faziam sentido, e que foi apenas a sociedade que
insistiu que realmente havia diferenças.
talvez ele estivesse certo, achamos. talvez nós
realmente nos entregássemos à sociedade com suas
definições e seu desejo de criar separações. talvez fosse
racismo afirmar que, de modo geral, os homens negros
são mais altos que homens asiáticos. e machista sentir
que homens são fisicamente mais fortes que mulheres.
Mas então, certo dia, quando não pude mais resistir, eu
tive que fazer uma pergunta. Se fôssemos realmente
iguais, quero dizer, praticamente idênticos, então por
que mulheres nascem com um ventre e a capacidade
de carregar e ter filhos, e os homens não? e se as
diferenças físicas são tão claramente evidentes e
incontestáveis, então como poderia ser tão absurdo
supor que, talvez, ao lado dessas diferenças físicas
existam diferenças emocionais, psicológicas ou
espirituais também?
acho que a minha pergunta só serviu para enfurecer o
meu professor, que não podia acreditar que eu ainda
era tão ignorante ao ponto de atribuir às diferenças
físicas algo mais do que o físico. Mas para mim, essa
pergunta foi um ponto decisivo na minha vida. Se eu
tinha habilidades e capacidades que os homens não
têm, eu precisava descobrir o poder daqueles aspectos
em mim, por que eu os possuía e o que significavam.
embora a ideia do meu professor de que uma mulher
poderosa era alguém que dificilmente poderia ser
distinguida de um homem, eu queria celebrar as
diferenças inerentes aos gêneros, em vez de diminuí-
los. e eu não apenas queria desvendar os mistérios
do que significava ser uma mulher, mas ainda mais
importante, o que significa ser uma mulher judia.
e assim a minha jornada começou. . . eu iniciei a minha
busca com a primeira mulher na torá. o nome dela
é Chava, em hebraico conhecida como “eva”. ela é
Um pelo outro
a MuLher No JudaíSMo
Por SArA eStHer CrISPe
Lubavitch magazine 17
referida como “a mãe de toda a vida” e
foi criada logo após o primeiro homem,
adão, no sexto dia da Criação, pouco
antes do Shabat. Seu propósito era
de ser um “eizer kenegdo”, que pode
ser traduzido de duas maneiras: ou
“uma companheira para ele” ou “uma
companheira contra ele”.
os sábios explicam que em um
relacionamento há momentos em
que é mais importante dar apoio ao
seu cônjuge e estar ao seu lado e há
outros em que a ajuda necessária
requer contrariar seus desejos e suas
opiniões. o objetivo é saber quando
cada posição é apropriada.
Parece, então, que uma mulher foi
criada com o único propósito de ajudar
um homem. Pode-se perguntar: “a
definição de ser uma mulher judia
é apenas em termos de sua relação
com outros?” e, na prática, como isso
seria feito? a resposta óbvia seria:
casar e ter filhos.
No entanto, encontramos algo
fascinante. Na lei da torá, uma mulher
não é obrigada a fazer nenhum dos
dois. ela não tem nenhum requisito
legal que o exija. Mas o homem tem.
ele é obrigado tanto a casar como ter
filhos. É subentendido que ele não
pode fazer isso sem uma mulher que
seja sua esposa e mãe de seus filhos,
mas ela não é obrigada a fazê-lo.
Lubavitch magazine 18
então, a única maneira para ele poder cumprir suas
responsabilidades é se a mulher estiver disposta a
ajudá-lo ao preencher esses papéis.
de acordo com a filosofia cabalística, os seres humanos
foram criados em duas categorias, homens e mulheres.
No entanto, geralmente os textos referem-se a traços
masculinos e femininos, e não declarações sobre
homens e mulheres. isso significa que ambos possuem
características masculinas e
femininas. Geralmente um homem
é predominantemente masculino e
uma mulher predominantemente
feminina. Porém, sempre há
exceções e por isso nem toda
mulher deseja naturalmente o que
é considerada uma propriedade
feminina, e nem o homem uma
propriedade masculina.
as diferenças entre masculino e
feminino são grandes e vastas.
e essas diferenças afetam a
forma como homens e mulheres
pensam, sentem, falam e agem.
as diferenças são de natureza
psicológica, emocional, física,
intelectual e espiritual. e, ao mesmo
tempo em que podemos ser uma
combinação de ambos os traços,
masculinos e femininos, no fim, nós
somos ou homem ou mulher. No entanto, as nossas
diferenças não foram feitas para causar distância
entre nós, mas para nos aproximar, para equilibrar
um ao outro e se conectar, ao se tornar motivos de
celebração, não de separação.
a maior diferença entre um homem e uma mulher,
ou mais apropriadamente, entre o masculino e o
feminino, pode ser vista nas primeiras duas qualidades
intelectuais de um ser humano. a filosofia Chassídica
ensina que existem três propriedades intelectuais,
juntamente com sete propriedades emocionais. a
primeira das propriedades é a de chochmá, traduzida
livremente como “sabedoria”, que é um princípio
masculino. Chochmá é descrita como o conceber
de uma ideia. Fisicamente falando, é comparada à
semente de um homem. É o começo de toda a vida,
a fundação. Sem ela, nada é capaz de existir e, assim
como uma semente enterrada, é invisível a olho nu.
ela não tem forma nem sentido.
ainda não. ela tem potencial, um
potencial incrível, mas ela não pode
se desenvolver, crescer ou formar-
se por si só.
a próxima propriedade, a de
biná, é feminina. Livremente
traduzida como “entendimento”,
a biná é o desejo de se unir a
sabedoria e dar-lhe sentido. É o
processo de formação, o vínculo,
o desenvolvimento. em um
exemplo físico, biná é a gravidez.
ela literalmente abriga a semente
e, em seguida, faz com que cresça,
se desenvolva e se forme, até que
esteja pronta para nascer e existir
por si só.
É a biná que recebe o potencial da
semente e a cultiva, tornando-a
algo tangível e significativo. É uma
situação em que cada um é dependente do outro para
criar uma realidade. a semente não pode se tornar
qualquer coisa por si só. da mesma forma, sem a
semente, biná não pode criar nada, pois não lhe foi dada
a matéria prima com a qual trabalhar. espiritualmente,
a mulher também tem a propriedade masculina de
chochmá, assim como o homem tem a propriedade
feminina de biná. Mas na prática, uma mulher não
pode produzir sementes, e um homem não pode dar
à luz. a criação física de um bebê é a representação
aS diFereNÇaS eNtre
MaSCuLiNo e FeMiNiNo
aFetaM a ForMa CoMo hoMeNS
e MuLhereS PeNSaM, SeNteM,
FaLaM e aGeM.
a MuLher No JudaíSMo
Lubavitch magazine 19
mais profunda e eterna do amor e da união entre
homem e mulher. É o melhor dos dois mundos e é a
representação do futuro, a realização do potencial de
seu pai e sua mãe.
Fisicamente, os órgãos reprodutivos de uma mulher
são internos, ao passo que no homem são externos.
essa capacidade de internalizar e desenvolver dentro
de si é, mais uma vez, entendida como uma questão
além do meramente físico. uma das indicações mais
claras disso é a diferença entre as obrigações judaicas
de homens e mulheres. as mitsvot que o homem é
incumbido a cumprir são designadas em um tempo
determinado, como também são externas e físicas. Por
exemplo, o homem usa kipá, tefillin, talit, lembrando-o
sempre que d’us está acima, e a sua obrigação de
cumprir os 613 mandamentos. outro exemplo é o dever
do homem rezar três vezes ao dia em um minyan, um
grupo de dez homens. em essência, tudo isso significa
que outras pessoas possam testemunhar se o homem
está cumprindo ou não as suas obrigações.
os preceitos da mulher, no entanto, são particulares e
internos. Quase todos são realizados dentro de casa;
em alguns casos, ninguém além dela está ciente do
fato. um exemplo disso é manter uma cozinha casher;
a mulher conta com a total confiança de seu marido
e família. talvez o exemplo mais pungente disso seja
em relação às leis de pureza familiar e imersão no
banho ritual da Micvê. essas leis, que são consideradas
a fundação do casamento, dos filhos e da casa, estão
completamente entregues à sua confiança. Sua palavra
cria uma nova realidade, e a sua palavra deve ser
confiável.
Portanto, ao contrário do masculino - que é o aspecto
externo do nosso eu e pode ser visto por outras
pessoas - o feminino é completamente interno, não
envolvendo mais ninguém, entregue a ela apenas.
Considerando que as propriedades masculinas são
externas, o homem necessita maior retificação. ao
contrário de uma mulher, a ele não é dado esse mesmo
tempo e oportunidade para reflexão, interiorização e
contemplação. este é o processo feminino de biná, em
hebraico bein, “entre” o que está em sua mente e o que
emerge através de sua ação. essa é a fase da gravidez,
o meio-termo da concepção e do nascimento. e esse é
o tempo do desenvolvimento e da retificação.
Por essa razão, nos é ensinado que, assim como a
mulher precisa do homem para a concepção, o homem
precisa da mulher para a gestação, o desenvolvimento.
essa não é apenas uma realidade física, mas espiritual
também.
É por isso que a torá afirma que uma mulher exemplar
é aquela que “ossá retzon ba’alah”, uma frase em
hebraico que tem algumas camadas de tradução. a
primeira é: “ela faz a vontade de seu marido.” Mas, em
hebraico, o verbo ossá pode ser traduzido tanto como
“fazer” ou “formar”. assim, a frase pode ser entendida
também como a mulher é quem “forma (ou seja,
determina) a vontade de seu marido”.
Mas, nenhuma dessas possibilidades é muito saudável
em um relacionamento. Se um parceiro é obrigado a
fazer a vontade do outro, sem nenhuma participação,
isso não é uma relação; é uma ditadura. da mesma
forma, se um determina a vontade do outro, isso
implica que não há nenhuma troca de comunicação ou
equilíbrio entre os dois, uma vez que um decide pelo
outro. a principal diferença entre os dois é apenas
quem é que manda - o homem ou a mulher - sendo
que ambos são problemáticos.
isso nos traz de volta ao início da nossa discussão,
o significado de “eizer kenegdo”. Será a mulher
uma companheira para ele, ou contra ele? Quando
traduzimos ossá como “fazer” ou “formar”, ela é o
oposto dele. os ensinamentos Chassídicos esclarecem
o significado dessa palavra. rashi, o proeminente
comentarista talmúdico revela que o termo ossá,
quando usado na torá tem outro significado, que é
“corrigir.” a retificação é o equilíbrio entre “fazer” e
“formar”. ou seja, quando uma mulher está usando
LubavitCh MaGaZiNe 19
Lubavitch magazine 20
LH-0195-14 - Revista Lubavitch_AF
sexta-feira, 24 de outubro de 2014 16:48:19
Lubavitch magazine 21
seu potencial de forma adequada, ela é capaz de se
conectar ao seu cônjuge e ajudar a corrigi-lo. através
de sua capacidade de desenvolver, ela pode receber
dele as suas ideias, seus talentos, seu potencial, e
internalizá-los, tornando-se impregnada deles, até que
estejam prontos para nascer de forma pública, externa.
e assim ela se torna uma “eizer kenegdo” adequada,
uma companheira para ele.
Com isso voltamos a um dos
primeiros pontos que foram
levantados: No judaísmo, a mulher
é definida em termos de sua relação
com o homem? a resposta é sim
e não. Se cada ser humano é um
composto de ambos os traços,
masculinos e femininos, então
devemos compreender como essas
duas qualidades extremamente
diferentes podem coexistir e
complementar uma a outra dentro
de cada um de nós, e reconhecer
que os dois devem trabalhar juntos.
isso nos ensina que o verdadeiro
caminho para nos definir, e vir
a compreender e revelar nosso
potencial, é através do foco no
outro. Às vezes, isso é um “outro”
dentro de nós mesmos; às vezes, é
o “outro” fora da gente. Porque cada mulher, solteira
ou casada, com ou sem filhos, é capaz de dar frutos,
é capaz de ser um “eizer kenegdo”. Quando usamos
nossos talentos para criar, através de quaisquer
meios – através da nossa arte, escrita, poesia,
música –cumprimos o mandamento de “ser frutífero e
multiplicar-se”; criar e trazer mais luz a este mundo.
dentro de um casamento, a relação íntima é a nossa
oportunidade de cumprir essa lei, a primeira na torá,
de forma física. Mas, não é apenas cumprida ao dar à
luz filhos, pois infelizmente nem toda mulher consegue.
o Zohar nos ensina que na intimidade de um casal,
almas são criadas. Às vezes, essas almas entram em
um corpo físico, outras vezes elas permanecem na
esfera espiritual, mas mesmo assim são criadas.
e cada vez que criamos, ocorre
um processo de dar e receber.
uma parte de nós deve ser capaz
de abrir mão, soltar, para dar ao
outro; e uma parte deve ser capaz
de se abrir, para receber, aceitar
e nutrir o que foi dado. Quando a
nossa preocupação não é sobre
o que somos obrigados a fazer,
mas sim sobre como podemos
ajudar o outro a cumprir as suas
obrigações, é apenas então que
brilhamos e revelamos a nossa
verdadeira força. Mas temos de
começar olhando para dentro,
através da compreensão de nós
mesmos, nossas forças e as
nossas fraquezas. assim ajudando
a nós mesmos.
e quando reconhecemos que
somos capazes de dar e receber, e que ambos
são papéis muito ativos, somente então podemos
nos alegrar com as qualidades e atributos que são
exclusivamente nossos, como mulheres, e começar a
celebrar o que somos, em vez de competir com quem
não somos.
ao CoNtrÁrio do MaSCuLiNo o FeMiNiNo É
CoMPLetaMeNte iNterNo, NÃo eNvoLveNdo
MaiS NiNGuÉM, eNtreGue a eLa
aPeNaS.
Lubavitch magazine 22
a MuLher No JudaíSMo
o estado de pré-redenção atual do mundo é comparado
em fontes judaicas a um sonho. Sonhos consistem
em uma mistura de acontecimentos desarticulados
em que a verdade e a ilusão estão inexplicavelmente
misturadas. em nenhum lugar a analogia de um sonho é
mais aplicável do que na interação entre os gêneros. a
relação entre homens e mulheres é, e tem sido, caótica,
confusa e contraditória. Nenhum outro domínio da
vida tem os opostos de atração-repulsão, dominância-
submissão, amor-ódio, tão entrelaçados. a questão do
enigma masculino-feminino tem dominado os campos
da psicologia, literatura e agora sociologia e política.
embora muitas soluções impressionantes estejam
sendo propostas, o paradoxo dos gêneros continua
sendo tão intratável como sempre. Nem Freud nem
Friedan fizeram a menor diferença. eles simplesmente
propuseram novos equívocos, desencadeando cascatas
de novas frustrações e problemas sociais. Casamentos
e famílias continuam a falhar, enquanto homens e
mulheres persistem em não entender a si mesmos e
uns aos outros.
Por que as espécies são divididas em dois gêneros?
o que significa ser homem? o que significa ser mulher?
Podemos logo eliminar as explicações biológicas óbvias,
uma vez que essas não são as respostas, e sim outros
aspectos da pergunta. acontece que masculinidade
e feminilidade são construídas no próprio tecido da
existência. originam-se em dois distintos modos de
manifestação divina, a interação da qual compõe o
processo da Criação.
o conceito de criação surgiu como uma consequência da
vontade de d’us de dar e de fazer o bem. obviamente,
a fim de satisfazer o desejo para dar, deve haver alguém
para receber. o problema é, no entanto, que d’us é um
só. Não há nada além d’ele e, portanto, não há ninguém
a quem dar. a solução de d’us para esse problema
é a criação, o surgimento de seres autoconscientes,
aparentemente independentes que estão dissociados de
Seu ser.
isso é provocado por uma diversificação ou uma
particularização da vontade essencial de d’us, o que
resulta em dois modos diferentes de expressão divina
que colaboram entre si para produzir a criação. essas
duas influências aparecem infinitas vezes em diferentes
CoNtido Na
SEMENTEPor yAAkoV brAwer
Lubavitch magazine 23
SEMENTE
formas em toda existência. assim, sempre parece ter dois
de tudo, por exemplo, sol e lua, natural e sobrenatural,
sagrado e profano, finito e infinito etc. além disso, os
“dois” não são apenas diferentes um do outro, eles são
opostos e, portanto, aparentemente incompatíveis uns
com os outros. No entanto, surpreendentemente, eles
são casados e os filhos desse casamento são a criação.
talvez a maneira mais fácil de abordar o papel
desempenhado por essas duas categorias de emanação
divina no processo criativo é examinar outra metáfora
conhecida para a criação, a fala. Conforme consta em
Gênesis, d’us criou o mundo através da fala. embora as
crianças, e muitos adultos, tendam a retratar os vários
componentes do mundo estalando do nada, produtos de
um truque espetacular de magia cósmico, não é isso que
significa a fala divina.
o uso da metáfora antropomórfica na torá, neste caso
a fala, permite-nos abordar ainda que indiretamente, o
fenômeno fundamentalmente inefável da Criação, usando
a linguagem humana como modelo. do vasto leque de
potenciais humanos, a fala é o único que é desprovido
de conteúdo intrínseco. o significado ou o conteúdo da
fala é fornecido por outras faculdades. a faculdade da fala
recebe informações ou revelações de outras partes da
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ober
toar
ti
Lubavitch magazine 24
mente. uma pessoa é capaz de expressar-se em uma
notável variedade de maneiras, a partir das mais altas
percepções intelectuais até as emoções mais intensas.
Sentimentos e pensamentos são gerados constantemente
pela mente e estes produzem um mundo interior rico e
único que revela o pensador a si mesmo. Na verdade,
a atividade da mente e o pensador são realmente uma
realidade inseparável. a pessoa é o seu pensamento.
Poucas pessoas se contentam em viver com os seus
pensamentos, ou seja, consigo mesmos. as pessoas
querem fazer uma diferença, dar de si mesmos. o
problema é a forma de exteriorizar ou concretizar o
espaço interno de autoexpressão de modo que outras
pessoas possam receber.
a resposta óbvia é a linguagem. Pode-se revestir ideias
ou sentimentos em letras e palavras de fala. a faculdade
da linguagem, assim recebe revelações de uma rica
variedade de potenciais criativos e fornece “vestes”, ou
seja, palavras em que as autorrevelações se concretizam
e transformam em algo objetivamente real, que pode ser
apreciado por outros.
Linguagem, então, é um ato milagroso de criação em que
uma iluminação da alma, por assim dizer, é separada da
sua fonte e recebe uma vida independente. Não só pode
essa faísca da alma sobreviver à sua origem, mas a sua
influência pode ser superior ao imaginado pelo autor.
o ponto essencial é que a linguagem é composta por
dois elementos distintos. a “alma” da linguagem, o seu
conteúdo, consiste de revelações abstratas e não verbais
das faculdades intelectuais e emotivas. o “corpo” da
linguagem consiste de palavras, roupas tangíveis em que
a “alma” pode se manifestar. Linguagem, então, é um
produto da sinergia entre duas funções necessariamente
distintas. o poder de revelar o que está escondido nas
faculdades intelectuais e emocionais da mente ou da
alma é o componente masculino. o poder de receber
iluminações de potenciais da alma e de concretizá-los é o
aspecto feminino da linguagem.
Para compreender melhor a natureza e o significado de
“homem” e “mulher”, devemos considerar outra analogia,
complementar à da linguagem. Suponha que você tem
um querido amigo que aprecia imensamente a beleza da
cerejeira na primavera. devido à sua grande amizade por
esse amigo, você envia no seu aniversário o caroço de
uma cereja que você acabou de comer.
Seu raciocínio faz sentido. o caroço contém todas as
características, componentes e possíveis cenários de
desenvolvimento de uma árvore de cereja do brotar até
morrer. tudo está lá: raízes, galhos, flores, cerejas e mais
caroços de cereja. É um pacote de informação perfeito e
completo. No entanto não é provável que agrade o seu
amigo.
o raciocínio dele também faz sentido. você de fato não
lhe deu nada, ou melhor, nada palpável. a cerejeira,
com suas flores, é apenas uma possibilidade latente
dentro do caroço. É puro potencial. a fim de libertar as
inúmeras revelações contidas no caroço da cereja, é
preciso fazer uma coisa muito estranha; deve-se enterrá-
lo na terra. a terra não contém nenhuma informação. É,
no entanto, capaz de receber toda e qualquer revelação
diversificada do mundo vegetal (sementes) e dotá-las
MaSCuLiNidade e FeMiNiLidade oriGiNaM eM doiS diStiNtoS ModoS de MaNiFeStaÇÃo
diviNa, a iNteraÇÃo da QuaL CoMPÕe o ProCeSSo da CriaÇÃo.
a MuLher No JudaíSMo
Lubavitch magazine 25
a natureza do elemento feminino reflete a sua origem.
ela se mantém em silêncio e imóvel, à espera de receber
possibilidades. essa característica feminina tem sido
muitas vezes mal interpretada como passividade ou
submissão decorrente de fraqueza. a extrema visão de
seu papel, embora popular e politicamente correta, é a de
uma vítima, condicionada pela necessidade masculina de
dominar. essa percepção é superficial, egoísta e errada,
como deve ser óbvio a partir da análise anterior.
talvez possamos apreciar melhor esse ponto fazendo um
paralelo com o Conselho de Pesquisa Médica do Canadá
- MrC. ele, embora possua esse nome, não faz pesquisa
médica, não gera teorias e não faz nenhum experimento.
No entanto, como a principal agência de financiamento
do governo, o MrC é o poder máximo ao decidir quais
pesquisas biomédicas serão realizadas no Canadá. Seus
responsáveis sentam calmamente, esperando por ideias.
as ideias vêm dos cientistas. Cientistas borbulham com
especulações, hipóteses e projetos experimentais. No
entanto, mesmo a proposta inovadora mais brilhante
conjurada pelo cientista mais ilustre é apenas um sonho
não realizado, um potencial frustrado sem o financiamento
necessário. assim, os cientistas buscam agressivamente
o MrC. o MrC, no entanto, não procura os cientistas. Sua
função é receber possibilidades (pedidos de subvenção) e
tornar as que aprovam em realidade, fornecendo o apoio
necessário. Como não há ciência médica sem o MrC, a
contribuição dessa agência dificilmente pode ser descrita
como fraca ou passiva.
Podemos levar essa analogia um pouco mais adiante.
Sendo que o MrC tem o poder de transformar qualquer
formulação teórica em realidade, ele deve agir com
extrema vigilância ao decidir quais propostas aceitar. Não
é por acaso que os painéis do MrC são compostos das
melhores mentes científicas no Canadá.
a necessidade de discernimento, inteligência e cautela
se aplica a todas as expressões do elemento criativo
feminino, incluindo as próprias mulheres. o papel central
das influências masculinas e femininas no processo de
com realidade objetiva. a terra pode desenvolver uma
cebola tão facilmente como uma banana, um repolho tão
prontamente como uma orquídea.
Mãe terra, então, assim como o aspecto feminino da
linguagem, é um receptor. ela não tem nada de si própria.
isso, à primeira vista, poderia ser entendido como uma
deficiência. No entanto, a razão pela qual o elemento
criativo feminino carece de propriedades definitivas
é porque sua fonte é ilimitada e transcendente. a
proveniência da fala, por exemplo, é a essência da alma
intelectual. em contraste, as várias revelações do intelecto
ou emoção que informam e animam a fala (elementos
do gênero masculino) são originárias de faculdades
específicas que nada mais são do que derivados limitados
ou emanações da essência da alma. a faculdade da
inteligência só pode produzir inteligência, enquanto a fala
pode desenvolver qualquer coisa: inteligência, estupidez,
amor, ódio etc.
assim, a contribuição para o processo criativo
de elementos masculinos e femininos difere
consideravelmente. o componente masculino fornece
informações ou iluminação, o produto de um atributo
específico. o componente feminino fornece a energia
essencial para traduzir a iluminação na criação objetiva.
É um poder ilimitado, refletindo a raiz do componente
criativo feminino na essência do Criador (ao contrário de
um de Seus atributos).
a natureza da relação entre essas duas forças
fundamentais é determinada pelas suas características
definitivas. assim, é o elemento masculino que é atraído
para, e busca ativamente, o elemento feminino. ele é
repleto de possibilidades com as quais ele não pode
fazer nada. uma vez que ele é um aspecto particular
do desejo de d’us de dar, sua própria essência reflete
essa intenção. Consequentemente, o elemento criativo
masculino procura o elemento feminino. ela, estando
arraigada na infinita vontade de d’us, participa do poder
criador infinito de d’us e, portanto, pode transformar o
potencial do masculino em realidade.
LubavitCh MaGaZiNe 25
Lubavitch magazine 26
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Lubavitch magazine 27
criação pode levar a um grave equívoco. É fundamental
ter em mente que esses dois modos não são poderes
autônomos, e sim emanações da mesma, e na verdade
a única realidade. Não é por nada que a oração de “adon
olam” enfatiza o fato de que “ele é um, e não dois ...”.
Considerando que os elementos masculinos e femininos
são enraizados na unicidade de d’us, eles são, antes de
sua evolução como modos separados, uma essência.
isso é aludido na literatura do Midrásh, que descreve
o ser humano primordial como um único indivíduo
composto de aspectos masculinos e femininos. os
dois elementos foram posteriormente separados,
dando origem ao homem e a mulher. assim, quando o
elemento masculino, sob qualquer forma e em qualquer
nível de existência encontra e “se casa” com sua
contraparte feminina, a unidade original é restabelecida.
Casamento, por conseguinte, não é uma união de dois
indivíduos diferentes, mas sim uma reunião das duas
metades de um único ser.
isso não é, no entanto, apenas um retorno ao estado
inicial. a dissociação original de dois elementos um do
outro permite a cada um desenvolver e expressar os
seus próprios potenciais. assim, quando eles finalmente
são reunidos, cada um é dotado de qualidades
específicas e únicas necessárias para realizar o milagre
da criação.
agora que temos uma ideia da natureza, origem e
comportamento dos dois elementos criativos primordiais
podemos aplicar essa informação para a relação entre
homens e mulheres. uma vez que tudo o que existe é
o produto da interação entre o masculino e as forças
criativas femininas, esses dois modos são onipresentes.
No entanto, o objetivo final da criação deste mundo
material, e tudo que há nele, são homens e mulheres.
Na verdade, a intenção principal de d’us é que homens
e mulheres utilizem suas respectivas competências para
criar divindade na terra.
em outras palavras, a interação máxima entre o modo
masculino e feminino é destinada a ser realizada
por nós, vivendo e concretizando a vontade divina
conforme estabelecido na torá. Nós, então, somos
responsáveis por transformar o mundo em uma “nova”
criação, cumprindo assim a intenção original de d’us.
Quando contemplado nesse contexto, muitos aspectos
da vida judaica que tenham sido sujeitos a críticas
podem ser compreendidos e apreciados. a família judia,
então, é fundamental para alcançar o objetivo final da
Criação. É essa a entidade que está destinada a realizar
a vontade de d’us, que é sinônimo de Sua torá. o noivo
traz para o casamento uma capacidade de revelar a
divindade. o dote da noiva é a força de concretizar
essas revelações divinas. Juntos, eles são capazes
de revelar a essência de d’us, uma realização que vai
trazer alegria abundante para o seu Criador, para si,
para o povo judeu, e de fato para o mundo.
adaptado de “the Loving Friends”.
a iNteraÇÃo MÁxiMa eNtre o Modo MaSCuLiNo e FeMiNiNo É deStiNada a Ser reaLiZada Por
NÓS, viveNdo e CoNCretiZaNdo a voNtade diviNa CoNForMe eStabeLeCido Na torÁ.
Lubavitch magazine 28
a MuLher No JudaíSMo
escolha ou deVer?
LubavitCh MaGaZiNe 28
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alon
cici
Lubavitch magazine 29
Por que o Judaísmo não oferece às mulheres a opção de
participar dos rituais religiosos limitados aos homens,
como minian, tefilin etc?
Na verdade, a questão é mais ampla: ou você acredita
que o Judaísmo é concedido por d’us ou acredita que
é feito pelo homem. Seja como for, não há sentido em
as mulheres fazerem o que os homens fazem. Se o
Judaísmo é dado por d’us, então suas leis são absolutas e
não podem ser mudadas. e não deveriam ser mudadas,
porque d’us sabe o que está fazendo. Se o Judaísmo
afirma que os homens colocam talit e leem a torá, e as
mulheres não, isso não é discriminação ou injustiça. ao
contrário, recebemos diferentes papéis porque d’us –
que criou homens e mulheres diferentemente – sabe o
que cada um precisa para sua realização espiritual. d’us
não é machista.
outros dizem que o Judaísmo é feito pelo homem e,
portanto, suas leis são mutáveis. Segundo essa opinião,
seria justo presumir que o Judaísmo discrimina as
mulheres, porque as regras foram feitas por homens
que viveram muito tempo antes que se ouvisse um grito
pelos direitos da mulher. todas as culturas antigas eram
injustas e opressoras, portanto, por que um Judaísmo
feito pelo homem seria diferente?
Porém, se esse de fato é o caso, por que as mulheres
desejariam adotar práticas que foram planejadas por
homens misóginos há três mil anos? as mulheres
realmente se realizam imitando práticas masculinas?
isso parece insultar as mulheres, em vez de libertá-las.
essas práticas são divinamente ordenadas e devem
continuar como sempre foram ou são invenções
humanas e devem ser substituídas?
eu acredito que o Judaísmo é divino. Não precisa de
atualização. Precisa que nós nos aprofundemos ainda
mais no sentido de encontrar sua mensagem para o
nosso tempo.
entendemos então que a torá é divina, mas será que
não resta espaço para escolhas individuais? temos
que definir as palavras, escolha e mitsvá. Literalmente,
mitsvá significa mandamento, removendo-o da
liberdade de opção. Quem for incumbido pela mitsvá
é obrigado a observá-la, como também é responsável
por negligenciá-la. Por definição, escolha e mitsvá são
antitéticos, um equiparado a opção, o outro além de
opção. eu não tenho nenhuma “escolha” no que diz
respeito ao uso de tefilin; é exigido de mim.
Se eu posso aceitar ou rejeitar uma ação específica, não
é um dever, mesmo se eu escolher aceitá-la. em última
análise, se sou eu quem decide; não é um mandamento.
Nós não estamos brincando com palavras ou semântica,
mas trabalhando com ideias e são elas que fazem com
que os seres humanos sejam humanos.
No conceito da torá o homem tem liberdade de
tomar decisões morais, de “escolher o bem ou o mal”,
de observar ou violar mitsvot. escolha e liberdade
consistem na decisão de aceitar ou fugir do dever, não
na liberdade em defini-lo, definindo “bom” e “mal”.
Não somos livres para dizer: “o assassinato não é um
pecado”. Não devemos confundir “consigo” com “tenho
permissão”. Podemos pecar, mas não devemos.
Somos abençoados por viver em uma geração na
qual as mulheres recebem toda a oportunidade para
descobrir por si mesmas aquilo que o Judaísmo tem a
oferecer. Que a voz feminina do judaísmo seja escutada,
pois o mundo precisa agora mais do que nunca.
adaptado das obras de aron Moss e Zalman i. Posner
Lubavitch magazine 30
a MuLher No JudaíSMo
Por ZAlmAn I. PoSner
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Lubavitch magazine 31
o assunto gera curiosidade, opiniões, mudanças e
muito debate, mas a pergunta é muito simples: qual
é o lugar da mulher no judaísmo? essa questão pode
ser vista de forma mais ampla. Se nos questionarmos
qual a instituição central na vida judaica, logo se pensa
na sinagoga – afinal, toda semana passamos algumas
horas lá. Mas, ironicamente, a vivência do nosso povo
ao longo dos milênios, mostra uma realidade diferente.
Não é a sinagoga e nem o centro comunitário, não
é o colégio judaico e nem a dança israeli, não é a
arrecadação de fundos e nem a “defesa” de ameaças,
mas sim a casa, a família. assim como o coração é
o íntimo do indivíduo, podemos chamar a família, o
coração da comunidade.
Quem é a pessoa fundamental na família, em casa?
Quem cria o astral do lar, para ser mais do que um hostel
lanchonete? Quem tem a influência mais profunda sobre
os filhos, especialmente durante os anos de formação?
Quem decide e geralmente implementa as observâncias
judaicas seguidas na casa? Claro, certamente é ela.
assim, a contribuição singular para tornar a casa mais
importante do que a sinagoga, é da mulher, da mãe. e o
que nós, judeus ocidentais, fizemos? esvaziamos a casa
de qualquer vestígio de judaísmo, sem deixar nada que
possa distinguir o lar judaico de outro que não seja. Nós
simplesmente roubamos a mulher judia de sua função,
destruindo o lar judaico. Soa muito mal, não é? Sim.
e seu consolo é que agora ela é contada no minyan,
agora ela pode ter uma aliyá na torá, agora ela pode
ser um rabino ou um cantor. Nas palavras de um velho
ditado ídiche, “se não fosse a minha corcunda eu iria rir
também”.
a mulher judia tem algumas sérias acusações a fazer.
“eu sei hebraico tanto quanto o meu marido, e muito
mais. eu frequento os serviços religiosos mais que ele.
ele não coloca tefilin e eu também não. ele não usa o talit
e eu também não. ele nunca estuda torá e eu também
não. então, porque ele é mais do que eu? Mas, quando
vamos para a sinagoga, ele é o tal.” Que sentido faz
isso? então, qual é a resposta para as suas alegações?
em vez de incentivar o marido a ir à sinagoga, colocar
talit e tefilin e estudar a torá, a resposta à sua queixa
perfeitamente justificada foi de contá-la no minian,
aceitar que ela use talit e tefilin e desempenhe um papel
importante na sinagoga. Com isso ela seria importante.
É questionável pensar que o prestígio das mulheres tem
sido enaltecido. o prestígio do minian não foi, já que
nem os homens nem as mulheres parecem se importar
em frequentar os serviços. isso, eu suspeito, é o
verdadeiro problema, o declínio do status do minian, do
tefilin, ser chamado à torá e assim por diante. homens
claramente não dão a mínima para nenhum deles. em
sua magnanimidade eles consentem em conceder
esses “privilégios” para as mulheres, honra essa que
os homens têm rejeitado facilmente. a concessão de
igualdade ou escolha em assuntos sem valor e sem
sentido nada acrescenta para as mulheres.
temos abandonado o slogan “a casa é o centro da vida
judaica”. assim, destruímos a função da mulher e em
troca lhe damos um brinde: que ela seja um rabino, um
cantor, contada no minyan de alto status para o qual
não se consegue dez homens para participar, que use
um talit e tefilin que um homem só usaria quando não
consegue evitá-lo. Nós criamos uma nova sociedade
“sem-terra”, a da mulher judia. e independente do que
uma pessoa possa ter, se ela não tiver uma casa, diz o
talmud, algo está faltando em sua humanidade.
Mas o que é, em última análise, o lugar da mulher
na vida judaica? em várias ocasiões perguntei a
grupos de mulheres religiosas, qual proporção da vida
religiosa de seus maridos acontece na sinagoga, e qual
em casa. diga-se de passagem, que esses homens
frequentam a sinagoga todas as manhãs e todas as
noites, religiosamente, é claro, e passam lá horas
Lubavitch magazine 32
Chanucávivenciando milagres.
Xandel Weinstein & Família
Que cada um encontre o seu.
Lubavitch magazine 33
regularmente em estudo. Sugeri 60% em casa. elas
ficaram indignadas, 90% em casa! então, essas horas
diárias de preces e estudo são apenas 10 por cento.
Qualquer sugestão de que ela poderia invejar o homem
por seu papel superior seria rejeitado.
É amplamente aceito que o principal âmbito da religião
é no interior da pessoa, o coração, os sentimentos, a
alma, em vez do visível, o externo, o público. essas
mulheres sabem o que é importante para o judeu,
homem e mulher, e que o particular prevalece sobre o
público. e é isso que elas mantêm para si, o interior, o
pessoal. esse é o lugar da mulher na vida judaica.
Macho e fêmea, homem e mulher. essas palavras
descrevem indivíduos, mas também um relacionamento.
o masculino não existe sem o feminino, assim como
suas funções também existem em relacionamento.
Quando a mulher judia vê os homens no seu meio – pai,
marido, irmãos, filhos – cumprindo o papel do homem
judeu, ela não tem problema algum em identificar e
valorizar seu papel como uma mulher judia. ela não tem
dúvidas sobre sua importância.
a relação sinagoga/casa e sua centralidade comparativa
também não estão em questão. ela e os homens da sua
família sabem muito bem onde é o “mundo real”, e é
onde as pessoas vivem, na casa. Nenhum de nós, pelo
que eu saiba, mora na sinagoga. Mas é absolutamente
crucial que esta área da vida judaica, a família/casa,
seja uma realidade, não um símbolo. esse é o desafio
do judeu contemporâneo, da comunidade judaica atual.
ignorar ou fugir do problema, passar a bola até que ela
pare em lugar nenhum, não é opção.
há um pressuposto aqui, que o judaísmo não é uma
consideração periférica ou secundária. aqui está o
problema. Se outros cálculos transcendem o judaísmo
na tomada de decisões e na formulação de valores,
como acontece tantas vezes, então temos um
judaísmo truncado. então, a pergunta “qual é o lugar
da mulher no judaísmo?”, deve ser reformulada para
qual “o lugar da mulher em um judaísmo periférico?”.
tentativas de dar “cidadania de primeira classe” para
as mulheres, significa oferecer o serviço de primeira
classe em um judaísmo de classe econômica. difícil
tornar isso significante. Podemos enfrentar esse desafio
em seus próprios termos, mas devemos estar sempre
conscientes da base de toda a questão.
Nesse contexto podemos começar a entender como foi
sábia a campanha do rebe de Lubavitch promovendo o
acendimento das velas de Shabat. o rebe sabia que a
luz da mulher precisaria ser acesa para levar sua família
de volta ao lar, para que pudesse lembrar-se daquilo
que é importante na vida judaica. a mulher judia precisa
ser lembrada de que no Judaísmo seu lar vem primeiro;
e ela está sempre na primeira classe.
a CoNtribuiÇÃo úNiCa Para torNar a CaSa uMa iNStituiÇÃo MaiS iMPortaNte do Que a
SiNaGoGa É da MuLher, da MÃe.
Lubavitch magazine 34
a MuLher No JudaíSMo
a divisóriaque não exclui
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eerla
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Lubavitch magazine 35
rabino, essa insistência da exclusão por gênero
já durou demais. o que pode ter sido bom para a
antiga babilônia e europa medieval não vai rolar
no mundo de hoje da equivalência e igualdade.
Começando com a sinagoga, quanto tempo mais
vai durar o clube do bolinha?
rafael.
Meu caro,
todas as práticas judaicas têm seus motivos simples,
bem como explicações mais profundas e espirituais.
um benefício óbvio dos assentos separados na sinagoga
é que isso ajuda a assegurar que o foco principal seja
na prece e não no gênero oposto. Não há dúvida que
agimos de maneira diferente em um público misto e
em um do mesmo gênero. Não há nada de errado com
isso. É bom e saudável que sejamos atraídos uns pelos
outros, mas durante as preces não deveríamos tentar
impressionar ninguém, exceto d’us.
além disso, uma sinagoga deve ser um local
aconchegante e receptivo. Ninguém deve se
sentir deixado de fora. Muitos solteiros sentem-se
desconfortáveis em uma função ou evento no qual todos
parecem estar com um parceiro, exceto eles. Ninguém
deveria sentir-se dessa maneira numa sinagoga.
Quando homens e mulheres se sentam separadamente,
não há discriminação entre solteiros e casais, e sempre
haverá a chance de os solteiros se conhecerem depois,
no Kidush.
Porém, a questão é mais profunda. homens e mulheres
são seres bastante diferentes. Não apenas fisicamente.
Nossos processos de raciocínio, estados emocionais e
psicologia são distintos. isso porque nossas almas são
diferentes – elas vêm de fontes complementares, mas
opostas.
Para as mulheres, as emoções fluem espontaneamente,
enquanto os homens têm dificuldade com isso. toda a
modalidade da prece é uma expressão feminina. os
homens não gostam de chorar, admitir desamparo,
expor seu “eu” interior e discutir as suas verdadeiras
necessidades. essas são coisas que geralmente
associamos com mulheres. e, a propósito, os homens
têm mais receio ainda quando há mulheres por perto.
assim, as diretrizes da prece têm de criar um contexto
em que os homens possam fazer tudo isso.
uma metáfora ilustrativa poderia ser um vestiário.
Quando homens e mulheres trocam de roupa, é
necessária uma separação. e quando homens e
mulheres se despem espiritualmente, também há
uma vulnerabilidade e uma intimidade que precisam
ser resguardadas e protegidas. Portanto, a separação
– conhecida como mechitzá que separa homens e
mulheres na sinagoga – é necessária.
Certamente, se estamos assistindo a um show, ou
até a uma apresentação importante e significativa,
poderíamos nos sentir bem sentando juntos. Mas,
quando estamos verdadeiramente nos despindo em
prece – louvando, pedindo e agradecendo em reverência
e humildade – nossa alma está nua. e a sinagoga, com
sua cortina cerrada, é um “vestiário”. Só que estamos
trocando algo mais profundo que nossas roupas.
a experiência da prece deve ser uma oportunidade para
sentir o seu íntimo eu, de comunicar-se com sua alma.
homens e mulheres precisam de espaço uns dos outros
para ajudá-los a ficarem sintonizados com seu ser mais
elevado. ironicamente, é sentando separadamente para
a prece que somos capazes de nos unir em outras áreas
de nossas vidas; porque é somente quando as energias
feminina e masculina florescem que somos completos
como indivíduos, como famílias e como comunidade.
adaptado das obras de aron Moss, david Nessenoff e
tzvi Freeman .
Lubavitch magazine 42
CoMPortaMeNto
Já era,
E AGORA? Por Aron moSS
CoMPortaMeNtoalém do esforço
LubavitCh MaGaZiNe 42
Lubavitch magazine 43
Pergunta:
o que está feito está feito. Fiz um aborto anos atrás.
Fiz isso para evitar a vergonha, mas sinto-me coberta
de culpa. embora eu não possa reverter o que foi feito,
existe alguma maneira de aliviar o fardo que estou
carregando? Posso de alguma forma consertar isso?
estou condenada a uma vida inteira sentindo culpa?
resposta:
a culpa é para a alma aquilo que a dor é para o corpo. a
dor em si não é algo bom, mas tem um propósito positivo.
alerta você sobre um problema que necessita de ação, e
a faz procurar sua fonte para aliviá-la.
a culpa também serve a um propósito positivo. a culpa
que nos devora é sem sentido. Porém, a culpa também
pode ser usada como um catalisador para tornar a pessoa
melhor, quando nos alerta a reconhecermos os erros que
cometemos, assumir responsabilidade por eles e não
culpar os outros – mesmo que os outros tenham uma
parcela de culpa – e então resolver melhorar por causa
da experiência. devemos transformar os sentimentos
negativos para que possam nos impelir a fazer o bem.
No caso de alguém que fez um aborto, talvez uma
maneira de canalizar a culpa em algo positivo seja entrar
em um projeto que cuide de crianças abandonadas ou
indesejadas. o melhor, na verdade, seria adotar uma
criança assim, mas isso nem sempre é possível. aqui
estão algumas sugestões: trabalhe como voluntária ou
doe dinheiro a um orfanato; torne-se uma “grande irmã”
para uma criança que precisa de apoio extra; ou ajude um
amigo ou membro da família que esteja criando os filhos
com dificuldades, como uma mãe solteira ou alguém que
tenha uma doença grave.
a culpa cria um vácuo na alma. Preencha esse vácuo
com algo significativo. redirecione sua energia a um
novo empreendimento que beneficie alguém com
necessidades. dessa maneira você não apenas alivia
sua culpa, como a transforma em uma força para o bem.
você não pode trazer de volta o potencial que foi perdido.
Não deixe que a culpa a paralise por mais tempo. Peça
perdão a d’us. então transforme a sua culpa em um
trampolim para ações positivas. Faça daquilo que foi um
capítulo negativo em sua vida a introdução para um novo,
um capítulo direcionado para amor e vida.
E AGORA?
© k
enfo
tos
Lubavitch magazine 44
além do esforço
Lubavitch magazine 45
Se realmente confiamos em d’us, por que trabalhar
para ganhar o sustento?
Se ficarmos sentados esperando o dinheiro cair do céu,
isso não significa fé – significa falta de fé. esse tipo de
atitude significa que estou basicamente dizendo: se o
dinheiro cai do céu, é de d’us; porém, se o dinheiro é
ganho por meio de investimentos inteligentes ou trabalho
duro, d’us não o fez, fui eu que fiz. eu limitei d’us
relegando Seus poderes ao sobrenatural. estou dizendo
que quando eu faço alguma coisa da maneira natural, eu
a fiz por mim mesmo; d’us nada teve a ver com isso.
o Judaísmo diz o contrário: aquele que realmente acredita
é aquele que trabalha, mas sabe que o sucesso ou falha
de seus esforços não está em suas mãos, mas nas mãos
de d’us. Nossos esforços são o recipiente, mas é d’us
que preenche o recipiente com Sua bênção.
essa filosofia é tanto libertadora quanto exigente. ela nos
liberta de preocupações com o resultado – que está nas
mãos de d’us. Porém, coloca o ônus sobre nós – temos
que fazer o trabalho para que d’us nos dê Sua bênção.
isso não se aplica apenas a ganhar o sustento, mas em
todas as áreas do esforço humano. Quer estejamos
procurando nossa alma gêmea, a cura para uma doença
ou sendo atacados por um inimigo, não esperamos que
d’us faça um milagre. Nós nos levantamos e fazemos
o que precisa ser feito, sabendo o tempo todo que o
sucesso de nossas ações vem do alto.
em última análise, quando fazemos o esforço, mas damos
o crédito a d’us, até nós podemos fazer milagres.
Por Aron moSS
CoMPortaMeNto
além do esforço
LubavitCh MaGaZiNe 45
Lubavitch magazine 46
FeStividadeS
a comemoração foi realizada na praça Sílvio ughini, em
dezembro de 2013, com a presença do prefeito José
Fortunati. No evento foi lançada a Lubavitch Magazine e
os convidados saborearam sushis kasher do Sushi drive. chanucá
11
Créditos: Léo Platcheck e tuti Flores
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a festa aconteceu no hotel Laghetto viverone Moinhos, em março.
durante o almoço foi feita a leitura da Meguilá. a ocasião contou ainda
com atividades especiais para as crianças. Purim
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Créditos: tuti Flores
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queijos em maio o hotel Laghetto viverone Moinhos recebeu mais de 120
pessoas em comemoração ao Lag baomer. o evento contou com a
apresentação de vídeo sobre israel e um buffet de queijos e vinhos. e vinhosCréditos: alex do amaral bandeira
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selichote insPiração
o evento, realizado em setembro, é uma preparação ao ano
Novo Judaico e contou com mais de 200 presentes. durante
a comemoração o jovem pianista Marcelo ratzkowski tocou
canções tradicionais para os convidados. Á meia-noite foi
realizada a reza de Selichot.
Créditos: alex do amaral bandeira
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vida e SoCiedade
Go Home!Por Por dAVId neSenoFF
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era o início de maio de 2010 e eu estava sentado à
mesa em meu escritório em casa olhando para a tela do
computador. eu tinha sido um rabino conservador por
20 anos, mas todos nós temos o nosso momento, ou
momentos, em que avaliamos a vida e refletimos sobre
o nosso propósito, quando nos fazemos essas grandes
questões: o que eu realmente quero fazer? o que é
importante para mim? o que vou realizar no meu futuro?
enquanto contemplamos esses pensamentos profundos
podemos até começar a pensar que estamos perto de
uma resposta. Nesses momentos é tão difícil lembrar que
a história já foi escrita.
a terra de israel estava em minha mente. Minha esposa
Nancy e eu tínhamos retornado recentemente de lá; e
eu chorei no avião. estou com vergonha de dar detalhes,
mas sempre ao sair, eu choro.
decidi que queria fazer alguma coisa por israel. Gostaria
de fazer clipes de vídeo de judeus que falam sobre o país.
eu perguntaria: “tens algum comentário sobre israel?”, e
eles diriam o quanto eles gostam da espiritualidade, ou
do falafel, ou da arqueologia, ou das praias. Pensei em
colocar os comentários pró-israel no meu site, e pronto,
todo mundo iria assistir. todos os males e preconceitos
seriam corrigidos.
Na época, eu estava usando o meu site, rabbiLive.
com, para transmitir serviços religiosos para os soldados
judeus americanos no afeganistão, no iraque e em porta-
aviões, e também para alguns judeus muito preguiçosos
em boca raton, Flórida. achei que isso seria o melhor
lugar para postar meus clipes do falafel de israel. Gostaria
de empurrar esse botão mágico “vídeo viral” no meu
teclado e ajudar as relações públicas de israel no mundo.
enquanto isso, meu filho adolescente, adam Natan, estava
em seu quarto, também ocupado (nós o chamamos de
adam Natan, porque ele foi o primeiro homem no lado
da minha esposa em 90 anos). ele tem o seu próprio
site para adolescentes conhecerem e discutirem temas
judaicos. ele é um jovem bastante notável - foi para
Washington por si próprio e transmitiu toda a conferência
aiPaC ao vivo em seu site.
No mesmo mês, adam contatou a Casa branca e pediu
para participar da celebração de Chanucá oferecida pelo
presidente, no próximo dezembro (de algum jeito ele
sabe como entrar em contato com as pessoas certas).
Perguntaram se ele estava confuso: “tem certeza que
você quer dizer a festa de Chanucá e não a celebração
da herança judaica no fim do mês?”. “ah, a celebração
da herança judaica”, ele respondeu (é um momento
de orgulho para pais quando nossos filhos aprendem o
poder de uma mentira branca). a assessoria de imprensa
da Casa branca teve a gentileza de fornecer credenciais
de imprensa para adam, seu amigo daniel Landau e eu.
tirei um tempo da minha agenda lotada de contemplar a
minha vida e fui com os dois adolescentes comemorar o
Mês da herança Judaica com o presidente. talvez esse
fosse um bom lugar para encontrar um grupo de judeus
para minha pergunta “tens algum comentário sobre
israel?” e colocar um holofote sobre a minha preciosa
terra natal. No dia 27 de maio de 2010, eu estava na
sala de imprensa da Casa branca com o meu celular,
ligando para toda e qualquer pessoa que eu conhecia,
me exibindo, “você nunca vai adivinhar onde estou”.
de repente vi o ex-presidente bill Clinton passar. todos
correram para a porta quando ele passou. ele nos
cumprimentou rapidamente enquanto caminhava e eu
me virei para a pessoa ao meu lado e disse: “esse é o
bill Clinton”. o homem respondeu: “eu sei. eu sou Joe
biden”.
Participamos da primeira conferência de imprensa do
presidente obama em 10 meses, no Salão Leste da Casa
branca. o tema foi o vazamento de petróleo no Golfo.
Nós três tínhamos perguntas brilhantes preparadas para
fazer caso fôssemos chamados, mas infelizmente, não
tivemos essa sorte. o salão estava lotado de repórteres
experientes do mundo todo e apenas a um punhado foi
dada a honra de fazer uma pergunta. helen thomas,
diretora de imprensa da Casa branca, foi uma deles.
após a sessão tínhamos uma hora até a celebração da
Lubavitch magazine 60
herança Judaica. Pensamos em sair do complexo da
Casa branca para um pequeno passeio. À medida que nos
dirigíamos à porta notei que helen thomas caminhava
em nossa direção. estávamos prestes a cruzar. eu dei
ao meu filho e seu amigo um rápido resumo: “ela é uma
das repórteres mais famosas do mundo e tem atuado
na Casa branca desde os tempos de eisenhower e
Kennedy”. ela era o único membro da imprensa a ter um
assento próprio designado na primeira fila, no centro, na
sala de imprensa da Casa branca. ela era uma jornalista
por 60 anos, eu era um jornalista por 60 segundos. achei
que era hora de nos conhecermos. então a paramos e
trocamos gentilezas. Minhas câmeras estavam na Casa
branca, mas eu tinha uma mini câmera de vídeo comigo
e comecei a filmar. ela olhou diretamente para a lente
e deu alguns conselhos graciosos sobre o jornalismo:
“você sempre vai manter as pessoas informadas e você
vai sempre continuar aprendendo”.
eu estava esperando o final do dia para largar a minha
pergunta sobre israel para os convidados da celebração
judaica, mas algo me fez começar um pouco mais cedo.
“tens algum comentário sobre israel?”, falei à helen.
Providência divina. o Criador-Mestre dessa história, e de
todas as histórias, colocou em minha câmera o trecho de
vídeo que ajudaria israel e mudaria a minha vida. “diga a
eles para darem o fora da Palestina”, disse ela.
Se eu estivesse em um beco de Nova York e um skinhead
me dissesse isso, ia dar porrada. Mas estávamos na
Casa branca, ela tinha 89 anos e, se você já viu a minha
foto, eu sou o skinhead. Foi tudo muito confuso. então
eu decidi ser jornalista e lhe perguntei: “Para aonde eles
devem ir?”. “Para casa”, ela falou. “onde é a casa deles?”,
eu perguntei.
“a Polônia e a alemanha”, ela disse.
de volta para casa, para a Polônia e alemanha. Quem
me dera poder voltar para os shtetelach e shtiebelach da
Polônia. a cidade dos meus avós, drobnin, onde na sexta-
feira à noite o cheiro de chalá sem dúvida permeava a
cidade, e as velas brilhavam nas janelas de cada casa.
eu gostaria de poder voltar. Mas não tem um shtetl, uma
vela, ou um judeu sequer ainda lá. os antissemitas os
apagaram.
Nós voltamos para Nova York com esse vídeo. Liguei
para um escritor do jornal the Jewish Week e lhe contei
o que aconteceu. ele falou apenas duas palavras: “No
story”. eu senti antissemitismo no gramado da Casa
branca e agora eu experimentei apatia judaica secular,
em Nova York.
eu queria postar o vídeo imediatamente no meu site.
Mas, mesmo se você for um Ceo bilionário, com jato
particular e milhares de funcionários, você precisa
contratar um adolescente para descobrir como colocar
algo em um site. eu precisava do meu filho para postar
o vídeo e, infelizmente, ele estava amarrado com provas
finais e autoescola. uma semana inteira se passou e o
vídeo ficou na minha câmera.
Providência divina. algo aconteceu no oriente Médio
nessa semana. isso trouxe israel para as manchetes. em
31 de maio de 2010, soldados israelenses embarcaram
para averiguar alguns barcos que insistiram em desafiar
o bloqueio de segurança da Faixa de Gaza. os “pacifistas”
em um dos barcos bateram nos israelenses com hastes
de metal e os atacaram com facas. vários dos ativistas
foram baleados durante o confronto.
o mundo inteiro estava contra israel. helen thomas
estava na Casa branca, poucos centímetros à frente
do presidente, diante de toda a imprensa internacional,
e disse: “Foi um massacre deliberado por israel contra
ativistas da paz em alto mar”.
Naquela noite, meu filho tinha algum tempo. Nós
postamos o vídeo em torno das duas horas da madrugada
de sexta-feira. repassamos para algumas pessoas,
incluindo o blogueiro judeu Jeff dunetz, editor do blog
“Yid With Lid”. Meu filho viajou no fim de semana para
um Shabaton juvenil.
depois do Shabat liguei o computador para ver se
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alguém tinha assistido ao vídeo. eram mais de 700 mil
visualizações. No domingo se tornou viral, alcançando os
milhões.
No momento em que as notícias da flotilha alimentavam
os pontos de vista poluídos de pessoas anti-israel e
antissemitas, o meu vídeo limpou o ar. helen thomas foi
forçada a se demitir em vergonha, seu coautor e agentes
literários a abandonaram. ela foi banida da Casa branca;
seu nome foi retirado do lugar na primeira fila e de vários
prêmios em todo o país.
Cada meio de comunicação no mundo se dirigiu a mim,
o bom, o mau e o feio. recebi mais de 25 mil e-mails
de ódio e ameaça. a polícia e agências privadas se
envolveram. todos queriam saber sobre o cara por trás
da câmera. Minha caixa de entrada foi inundada com
toda a imprensa internacional pedindo uma entrevista.
Sentado em frente ao computador no quarto do meu filho,
com o papel de parede de bola de futebol e a pequena
mesa, eu estava sobrecarregado. eu pensei que esse
seria um bom momento para uma Providência divina.
então o telefone tocou. era ari Fleischer, o secretário de
imprensa do ex-presidente bush, da Casa branca. ele me
aconselhou a manifestar uma mensagem definitiva. era
importante que eu soubesse qual era a mensagem que
eu queria transmitir ao mundo.
Meu filho chegou da escola e eu lhe contei que ari
Fleischer tinha ligado. Meu filho disse: “eu sei. Fui eu que
falei para ele te ligar” (quem é esse garoto?). ele falou:
“Pai, tu pode falar com qualquer pessoa no mundo. Para
quem queres que eu ligue para te aconselhar sobre
o que a nossa mensagem deve ser?”. eu pensei por
um momento e disse um nome. Logo o meu filho me
entregou o telefone para falar com elie Wiesel.
Conforme o conselho de ari, eu perguntei: “Professor
Wiesel, qual é a minha mensagem para o mundo?”. ele
disse que tinha lido no jornal que eu frequento o Chabad
todas as manhãs e ele sugeriu que eu procurasse saber
o que o rebe gostaria que eu dissesse. eu não sabia o
que me deixava mais confuso e surpreso: que elie Wiesel
me aconselhou a descobrir o que o rebe de Lubavitch
gostaria que eu dissesse, ou que eu estava agora em um
mundo surreal, onde elie Wiesel estava lendo sobre qual
minian eu frequento, tomando o seu café da manhã.
Liguei para o meu rabino Chabad e lhe disse que elie
Wiesel havia me aconselhado a descobrir o que o rebe
gostaria que eu dissesse. “ok, vamos descobrir”, disse
ele, sem qualquer hesitação. Contatamos um renomado
rabino Chabad, uma pessoa que conheceu o rebe e tem
um grande conhecimento de seus ensinamentos, bem
como da política mundial e da mídia. Perguntamos a
ele o que achava que seria a mensagem do rebe nessa
situação.
“Se você tem um amigo e você não o vê por um tempo,
ele ainda é seu amigo. Mas, se você não o vir por 50
anos, você não tem como saber com certeza se ele ainda
é seu amigo”, disse ele. “agora, se o seu filho vai embora
por pouco tempo, ou se o seu filho vai embora por meses
e até mesmo anos, ele ainda será seu filho. e se d’us
não o permita, você não vê o seu filho por 50 anos, ele
continua sendo seu filho. Nós não somos amigos de israel.
QueM Me dera voLtar Para a Cidade doS MeuS avÓS,
drobNiN, oNde Na Sexta-Feira À Noite o Cheiro de
ChaLÁ PerMeava a Cidade, e aS veLaS briLhavaM NaS
JaNeLaS de Cada CaSa.
Lubavitch magazine 62
Lubavitch magazine 63
Nós somos os filhos de israel. estávamos afastados por
algumas centenas de anos no egito, milhares de anos na
Pérsia, na espanha, na américa do Norte. estávamos
longe por alguns anos em auschwitz. Mas nós ainda
somos os filhos de israel. israel e os filhos de israel são
um. Não importa onde ou quando você nasceu e vive, ou
que língua você fala. Somos sempre os filhos de israel.
Nós e israel existimos um pelo outro; foi dado por d’us.
o judeu andando na rua em Nova York, independente de
saber ou se preocupar com israel, está vivo por causa de
israel, e israel existe por causa dele.”
dois dias depois, eu estava no programa “reliable
Sources” da CNN com howard Kurtz. Não lembro o que
ele me perguntou, mas eu sei que a resposta foi de que
os Filhos de israel e a terra de israel são um só e é isso
que helen thomas e aqueles que querem deslegitimar
israel estão negando. dois meses depois eu atravessei
os estados unidos com o meu filho, entrevistando todos,
desde Jackie Mason até o Grande dragão da KKK para
um documentário sobre o antissemitismo e o ódio (o filme
estreou mais tarde no Simon Wiesenthal Center Museum
of tolerance).
ao voltar para casa fui convidado para ser o orador
principal no simpósio inaugural da universidade de Yale
sobre antissemitismo global. antes da minha fala, o
presidente do simpósio, professor Charles asher Small,
fez uma pausa para explicar para a plateia de professores
do mundo todo porque eu era o orador principal. ele
explicou que nunca assiste televisão, mas um dia ele foi
visitar seus pais e por acaso estava passando o programa
“reliable Sources” da CNN. ele me ouviu dizer que “os
filhos de israel e a terra de israel são um. Nós e israel
existimos um pelo outro; foi dado por d’us”. ele disse que
essas palavras fizeram com que ele me convidasse para
falar, pois essas palavras precisavam ser escutadas na
universidade de Yale por todos os professores reunidos.
Providência divina. helen thomas disse: “vá pra casa”.
e eu fui. depois de ser um rabino conservador por mais
de 20 anos, viajei para casa, para as minhas raízes. e a
minha família também. No ano passado, meu filho adam
estudou na Yeshiva Mayanot de Chabad em Jerusalém
e este ano ele está estudando no rabbinical College of
america, em Morristown, New Jersey. Na festa de
Sucot, ele construiu sucót no Guatemala com o programa
Merkos Shlichus. em Pessach entregou matzót e realizou
um Seder para os judeus no interior de Cuba.
Minha filha Shira está estudando em Nova York no instituto
Machon Chana de estudos Judaicos para Mulheres e, se
d’us quiser, ela vai estudar em um seminário Chabad em
Montreal no próximo ano. Minha esposa e eu estamos
muito orgulhosos de nossos filhos.
eu não só fui para casa; fui a 100 casas. tenho viajado e
falado em mais de 100 Chabad houses em todo o mundo.
a partir do Chabad house de Sydney e Melbourne para
Manchester e Liverpool, de boca para boston, de Fairfield
a Flamingo à Nova Jersey, eu tenho sido inspirado e eu
tenho, graças a d’us, inspirado outros também.
Cada vez que eu conto a minha história ofereço minhas
conclusões sobre a forma de combater o antissemitismo.
eu digo ao meu público que o caminho para combater
o antijudaico é fazendo o judaísmo. Faça torá. Faça
mitzvot. Faça Shabat. Faça casher. eu sei que isso é o
que o rebe quer que eu diga.
a Providência divina me levou da Casa branca para mais
de 100 Chabad houses. há mais de 4.900 para visitar;
cada uma me traz mais perto de casa.
adaptado de um artigo na N’shei Chabad Newsletter, uma revista
para mulheres judias de todo o mundo.
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Por Aron moSS
de aprender como fazer guerra”. em um mundo que
via a guerra como um fato inevitável da vida, a religião
judaica introduziu um novo conceito radical: que a guerra
é, em última análise, indesejável e a paz é o estado ideal
de se alcançar.
Judaísmo não é pacifismo. Nós não acreditamos em
assistir de braços cruzados enquanto somos atacados,
mas sempre consideramos a guerra como uma
necessidade lamentável que rezamos para que se torne
obsoleta. isso não é um posicionamento de princípios,
é um artigo de fé. acreditamos que um dia a guerra
vai acabar e fazemos todo o esforço para tornar isso
realidade.
É verdade, a religião tem sido usada por muitos como
um pretexto para a guerra. Mas isso não invalida toda
religião, da mesma maneira que quando fãs de futebol
excessivamente raivosos atacam uns aos outros, não
invalida o jogo de futebol. a abolição do futebol não
faria nada para promover a harmonia, e livrar o mundo
de toda religião não acabará com a guerra. de fato, a
religião ainda oferece o argumento mais forte para a paz
entre as pessoas: de que todos nós fomos criados pelo
mesmo d’us. Que possamos todos viver para presenciar
a transformação dessa crença em verdadeira paz.
eu sou judeu, mas não consigo abraçar o judaísmo
como minha religião. A religião é a causa de todas
as guerras e eu acredito que estaríamos mais
perto da paz mundial sem ela. basta olhar ao redor
do mundo. Será que não seria tudo melhor se não
fosse a religião?
rejeitar o judaísmo porque você acredita na paz mundial
é como se recusar a entrar em um restaurante japonês
porque você gosta de sushi. Simplesmente não faz
sentido. Guerra faz parte da natureza humana, já existia
muito antes de qualquer religião. a paz não. a paz não
é natural à condição humana, tem que ser ensinada. e
isso começou como uma ideia religiosa.
as duas guerras mundiais são prova suficiente de que
as pessoas podem matar sem qualquer justificativa
religiosa. o comunismo e o nazismo rejeitaram a religião
e, no entanto, tinham como objetivo matar milhões de
pessoas. Mas sem religião, o termo “paz mundial” não
teria entrado em nosso léxico. Ciente ou não, o seu
sonho da paz mundial é de inspiração bíblica.
a primeira e mais poderosa visão de paz mundial foi
apresentada à humanidade pelos profetas do antigo
israel. eles previram um tempo em que “uma nação não
levantará a espada contra outra nação, e eles deixarão
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Lubavitch magazine 67
estou me sentindo chateado e inútil em relação
à situação judaica no mundo. Israel está cercado
por inimigos que tentam nos matar, e o mundo
nos demoniza por nos defendermos. A mídia só
aborda o outro lado da história, e o antissemitismo
voltou à moda. estamos completamente em
desvantagem de todos os lados. estou sentado
aqui a quilômetros de distância de Israel, e eu
sinto que não há nada que eu possa fazer para
combater isso.
israel tem uma arma secreta. e nós a estamos vendo
ser usada neste conflito, talvez pela primeira vez. essa
arma é tão poderosa que faz israel impenetrável e o
povo judeu intocável. Nenhum inimigo pode resisti-la
e ninguém mais a possui.
a arma secreta é a união. o povo judeu é um. e isso nos
dá a vantagem sobre os nossos adversários. Quanto
mais unidos nos tornamos, mais forte somos. Judeus,
por natureza, discutem bastante. Com frequência,
nós não concordamos uns com os outros. Mas
neste conflito, houve amplo consenso. os judeus da
diáspora estavam unidos com os judeus de israel. os
numerosos partidos políticos israelenses expressaram
uma só voz, apoiando o governo e o exército de israel.
há uma corrente de solidariedade que tomou conta do
povo judeu como nunca antes.
tudo começou com o sequestro dos três meninos,
quando o povo judeu trancou a respiração e rezou
por seu retorno seguro. todos nós lamentamos sua
perda como uma grande família e nós sentimos o
mesmo sobre cada soldado enviado para a guerra. É
impossível essa união existir entre os nossos inimigos.
o ódio não é uma força unificadora. embora diferentes
facções possam trabalhar juntas em um objetivo
comum, elas não se unem verdadeiramente. Cada um
busca o seu próprio interesse. então, eles continuam
indivíduos isolados contra um povo judeu unido. São
eles que estão em desvantagem, não nós.
1O POder dOPor Aron moSS
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Lubavitch magazine 68
tenho estado muito perturbado desde que escutei
uma gravação da ligação de emergência do menino
sequestrado. ele diz claramente: “eu fui sequestrado”,
mas no outro lado da linha não deram importância. essa
ligação só foi relatada horas mais tarde para o exército,
quando já era tarde demais. eu sei que isso não ajuda, mas
estou chateado que essa chamada foi quase ignorada.
eu realmente não tenho uma pergunta, já que não há
resposta. acho que só quero saber como posso lidar com
a minha indignação.
o povo judeu está de luto. temos vivenciado mais um
daqueles momentos trágicos que nos unem na dor. Não
podemos trazer os meninos de volta à vida. Mas, nós
podemos viver nossas vidas de forma diferente tendo sido
tocados por sua história comovente. Podemos tirar uma
lição daquele telefonema horrível também.
admiramos a coragem e a presença de espírito de um
rapaz de 16 anos de idade para chamar a emergência sob
o nariz de seus captores. e nós estamos chocados com a
resposta dolorosamente lenta para essa ligação. a polícia
está investigando o que deu errado. Mas, para o resto de
nós, talvez possamos fazer a nossa própria investigação
sobre as nossas respostas aos pedidos de ajuda.
ao nosso redor há pessoas necessitadas. Chamam a
nossa atenção, mas será que escutamos? Como pais e
professores, estamos sempre atentos às necessidades
dos nossos filhos? Se eles aprontam, investigamos a
causa?
Como rabinos e líderes comunitários, percebemos
os pedidos de socorro das almas à beira de nossa
comunidade? Como amigos e vizinhos, será que alguma
vez fizemos vista grossa a uma crise em formação?
Nesta era de cada um por si, passamos reto deixando os
outros sofrerem sozinhos? Nós todos temos remorsos -
eu deveria ter visitado aquela pessoa doente antes que
fosse tarde demais; eu deveria ter passado mais tempo
com o meu filho quando tive a oportunidade; eu deveria
ter lido nas entrelinhas e escutado o pedido de ajuda; eu
deveria ter dito alguma coisa; eu deveria ter me oferecido
para ajudar.
vamos resolver que, deste triste momento em diante, não
vamos esperar a crise estourar para reagir. em vez de nos
arrependermos mais tarde, vamos atender ao pedido de
socorro e responder com amor e carinho. aos nossos três
irmãos, eyal, Gilad e Naftali: “escutamos a sua chamada.
Nunca vamos nos esquecer e nunca vamos ficar em
silêncio”.
Achamada silenciosa Por Aron moSS
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Lubavitch magazine 69LubavitCh MaGaZiNe 69
três adolescentes foram sequestrados em israel no mês de junho deste ano e em qualquer sinagoga que se entrasse,
por três semanas, estavam rezando por eles. de Cingapura ao alaska, desde Palm Springs a Sidney, os nomes
desses meninos estavam nos lábios e nos corações daqueles que vinham rezar. os tweets, a whatsapps, os likes no
Facebook vinham de todo o tipo de judeu que se possa imaginar. as pessoas que nunca viveram em israel, talvez
nunca sequer visitaram o local, se importaram. verdadeiramente se importaram.
um povo que tem sido espalhado por todo o mundo durante dois milênios estava rezando por essas crianças,
acendendo velas de Shabat por essas crianças, unidos por essas crianças, porque eles são crianças judias. Porque
somos todos um.
Eyal, Gilad e Naftali
eyal Yifrah hY”d Gilad Sha’er hY”d Naftali Frenkel hY”d
Lubavitch magazine 70
TUDO CHEGA AO MESMO ENDEREÇO Por tZVI FreemAn
oPeraÇÃo borda de ProteÇÃo
Lubavitch magazine 71
o rabino visitou a minha clínica hoje e me pediu
para colocar tefilin. ele disse que era para os
nossos meninos em Gaza. então coloquei. na
sexta-feira minha esposa acendeu velas de Shabat
- algo que ela não faz sempre. ela disse que era
para os nossos meninos em Gaza. de alguma
forma isso fez sentido para
ela. e para mim também.
mas agora eu comecei a
pensar. eu sou um homem
instruído, um médico, e eu
procuro entender as coisas.
Pensando bem, percebi que
eu não tenho uma explicação.
Como funciona esse quebra-
cabeça? Qual é o mecanismo
de causa e efeito? e por que
isso fez sentido para mim
antes de pensar?
Um judeu intrigado.
Caro judeu intrigado,
de fato, um quebra-cabeça é
um bom exemplo. um quebra-
cabeça, onde todas as peças
se conectam para formar uma
unidade. É a mesma coisa com
judeus e mitsvot. Cada um de
nós e todas as nossas mitsvot se
encaixam para formar um todo
único e integral. e cada peça é
necessária.
Sugiro uma metáfora melhor
ainda, algo que você como
médico certamente pode
compreender. Pense no povo
judeu como um único organismo
vivo e assim tudo faz sentido. um ser vivo não é
como uma máquina. Para começar, máquinas são
compostas por peças que originalmente não tinham
nada a ver uma com a outra. uma vez construída, a
máquina ainda é um amontoado de peças. Porém, um
organismo vivo começa como uma única célula que
depois se desdobra em uma criatura complexa de tal
forma que, mesmo quando totalmente desenvolvida e
em funcionamento, mantém a sua singularidade. em
outras palavras, ao contrário de uma máquina, um ser
vivo é um ser único.
em um ser único, a localidade é secundária.
aquilo que acontece em uma parte do ser vivo
muda imediatamente o organismo todo. o mesmo
acontece com o povo judeu. Somos um, essencial e
integralmente. temos um d’us, uma torá, uma história
para contar e um destino a alcançar. Cada um de nós
tem a sua parte e, portanto, todo ato e toda iniciativa,
imediatamente redefine o estado de todo o nosso
povo.
Localidade não faz diferença - não se trata de causa
e efeito. Não é preciso de tempo para o sinal viajar,
ou algum meio para transmiti-lo, e não diminui com o
tempo ou o espaço. o povo judeu se espalhou por todo
o globo, desde abraão até você e eu. Somos todos
uma singularidade irredutível. um judeu cumpre uma
mitzvá e todo o povo é imediatamente enriquecido,
algo que é sentido em cada indivíduo.
isso também responde à sua última pergunta: por
que isso fez sentido antes de pensar? interessante:
eu também pedi para muitos judeus colocarem tefillin,
acenderem as velas de Shabat ou fazerem alguma
outra mitzvá “para os nossos meninos em Gaza”.
Qualquer um que pedi logo aceitou. “Claro, é uma
mitzvá”, respondem. Porque o judeu sente o efeito da
mitzvá e sabe que somos um povo além de tempo e
espaço. Nós somos um. todo o resto é comentário.
TUDO CHEGA AO MESMO ENDEREÇO ©
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Lubavitch magazine 73
então é isso...finalmente em casa. Não que eu seja
poeta, mas escrevi algumas palavras que resumem
este período recente.
eu, que vi eles estirados, heróis e inertes. eu, que
enxuguei com carinho e admiração mãos e rostos.
eu, que encobri meu rosto com uma máscara do trabalho
de rotina. eu, que ouvi os incessantes toques de celular,
gritando do bolso, ansiando por uma resposta.
eu, que sobre o dedo vi a aliança, a circunstância e a
tragédia pressagiei o desenvolver.
eu, que o nome dele escutei, ainda antes que sua amada
família soubesse.
eu, que nos seus bolsos apalpei cartas de amor para
mãe, para esposa, para filhos e filhas.
eu, que as imagens das consequências das batalhas irei
recordar e resguardar na minha mochila.
eu sou quem pede a vocês, por favor, amem, vivam
e desfrutem esta riqueza – a vida! Cada um na sua fé,
afeição, singularidade e imaginação. uma vez que é
concebível que não haverá o amanhã, até mesmo uma
hora a mais é um bônus.
Palavras de um soldado reservista, que serve na unidade de
identificação de Soldados Caídos do dFi, divulgada em redes
sociais após a operação borda de defesa, em agosto de
2014. uma carta curta e dolorosa, onde ele procura transmitir
uma mensagem do conflito.
Eu, que estava lá
oPeraÇÃo borda de ProteÇÃo
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LubavitCh MaGaZiNe 73
Lubavitch magazine 74
PerSoNaGeNS da hiStÓria JudaiCa
Nos Bastidores
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e_be
kka
Lubavitch magazine 75
existe uma torá exterior, uma história de homens e
mulheres, de guerras e maravilhas. e existe uma torá
oculta, segundo antigas tradições, na qual cada palavra
revela sabedoria, beleza e luz insondáveis.
Por fora, as mulheres da torá parecem desempenhar
apenas um papel coadjuvante em um drama dominado
pelos homens. vista de dentro, emerge uma história
de homens influenciados por mulheres poderosas e
criados com valores femininos. uma história que revela
a qualidade interior da feminilidade que transcende a
mente do homem. este é o segredo das palavras da
sabedoria do rei Salomão: “uma mulher de valor é a
coroa do seu marido”. assim como a coroa fica acima
e além da cabeça, também a luz interior da feminilidade
possui uma qualidade essencial, em um local que a
mente não pode atingir.
Vejamos a história de Sara.
a fome na terra de Canaã faz com que avraham e Sara
viajem para o egito. Sara é vista por oficiais do Faraó e,
por causa de sua beleza, ela é levada à força ao palácio.
apenas a intervenção milagrosa de d’us a salva. ela e
avraham se preparam para deixar o país carregados de
riqueza oferecida pelo Faraó, tendo realizado com êxito
a sua missão na terra.
assim que avraham e Sara chegam ao egito, Sara é
referida apenas como “mulher”, sem mencionar o seu
nome.Para entender isso, vamos analisar os dois nomes
de Sara. Seu nome original era Yiská, que na raiz da
palavra significa “fitar”, aludindo ao dom de inspiração
divina que Sara possuía, o que lhe permitia olhar para
o futuro. Yiská também aponta a sua beleza, que atraía
olhares.
Sarai, por outro lado, foi o nome dado a ela por
seu marido avraham, e significa “minha princesa e
superior”. avraham chamou-a Sarai, em deferência às
suas características espirituais superiores, atributos que
em muitos sentidos superou até mesmo sua própria
grandeza espiritual. Mas Sara é vista dessa forma
apenas enquanto eles estavam em Canaã. a partir
do momento que atravessam a fronteira para o egito
moralmente depravado, Sara não é mais reconhecida
por suas qualidades de liderança, seus talentos e suas
capacidades proféticas aguçadas. ela é apenas “a
mulher”.
a diferença entre avraham e a comunidade egípcia era
que, enquanto a civilização egípcia visava as mulheres
apenas pela perspectiva física, ele considerava sua
esposa como Sarai, “minha governanta”, salientando a
verdadeira beleza de sua natureza. a única referência à
sua beleza exterior veio ao estarem prestes a entrar no
egito, quando isso representou uma ameaça para suas
vidas.
avraham não se limitou à perspectiva física. Pelo
contrário, as habilidades proféticas e a comunicação
íntima que Sara tinha com d’us, a tornaram uma
mentora e mestre para avraham. e era só em conjunto
que podiam alcançar sua missão de transmitir ao mundo
seus ideais espirituais.
a história de avraham e Sara desafia nosso sistema
de valores, mesmo nos tempos modernos com tantos
avanços nos direitos da mulher. o que você vê quando
olha para outra pessoa? você vê apenas os seus atributos
físicos exteriores, ou você olha mais profundamente
para ver todo o indivíduo, incluindo a beleza e enorme
profundidade de sua alma divina?
adaptado de “Women of the inner bible” por tzvi Freeman e
“Was avraham the first feminist?” por Chana Weisberg.
Lubavitch magazine 76
PerSoNaGeNS da hiStÓria JudaiCa
a história do desafio de eliezer é familiar. avraham
enviou eliezer com uma tarefa: “encontrar uma esposa
adequada para o meu filho, isaac”. Como, porém, eliezer
poderia estar seguro de que a mulher que ele escolheu
seria de fato digna dos padrões do patriarca isaac?
Para garantir que ele iria encontrar a jovem, eliezer
pensou em um plano. depois de sua longa viagem, ele
pediria a uma jovem moça um pouco d’água e, se ela
oferecesse água para os camelos dele também, então ela
seria a pessoa certa.
eliezer chegou ao poço junto com seu grupo de homens
hábeis e não parecia ser um coitado e cansado implorando
por bebida. rebeca, filha de betuel, o governante da
Síria, era uma jovem de nobreza, não uma pobre serva
acostumada a puxar água de poços. Mas isso é onde
eliezer foi capaz de obter, precisamente, um vislumbre
das qualidades dela. a partir do momento em que ele
pediu para tomar um gole de seu jarro, sua generosidade
e grandeza irradiaram da maneira mais discreta e
despretensiosa.
rebeca imediatamente deu-lhe para beber e então
ofereceu e tirou água para todos os camelos dele. ela viu
Sirva-se, por favorPor eStHer VIlenkIn
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andr
alis
e
Lubavitch magazine 77
uma oportunidade de fazer uma bondade e rapidamente
começou a trabalhar. ela não questionou se era realmente
necessário; em vez disso, energicamente continuou
enchendo vários bebedouros com água, até que a tarefa
de saciar toda uma manada de camelos sedentos fosse
concluída, enquanto eliezer e seus homens assistiam seu
trabalho sem ajudar. ela teve uma única motivação: de
dar à outra pessoa com bondade. esse intenso desejo de
atender os outros e estar a seu
serviço combinava com o perfil
da família de avraham.
No entanto, à primeira vista,
a conduta de eliezer parece
surpreendente. depois de ver
que rebeca passou em seu
teste, por que ele ficou parado
assistindo ela laboriosamente
enchendo os bebedouros
de água para todos os seus
camelos sozinha? Na verdade,
eliezer considerou isso parte
do teste. existem aqueles
que fazem ofertas generosas,
mas executam um trabalho
inadequado, desistem, ou não
persistem até o fim. há outros
que até fazem o trabalho, mas
apesar de não terem exigências,
eles esperam algum tipo de
compensação ou gratidão.
eliezer continuou observando cuidadosamente para
ver como ela iria realizar essa tarefa difícil. ele queria
confirmar se a oferta de rebeca resultou de um desejo
genuíno de ajudar ou se houve algum outro motivo
subjacente ao seu comportamento. Foi só depois que ela
concluiu o seu trabalho, sem ter quaisquer expectativas
dele, que ele pôde estar absolutamente convencido de
que ela era a esposa ideal.
É mais tarde na história, depois que ela é trazida à tenda
de Sara, que notamos a sua elevação espiritual imensa.
os três milagres da tenda de Sara retomaram com a
chegada de rebeca. Quando ela acendia as velas na
sexta-feira à tarde, em honra ao Shabat, as velas não se
extinguiam no período normal de tempo, permaneciam
milagrosamente acesas até a tarde da sexta-feira
seguinte. o segundo milagre era quando a chalá que
assava para o Shabat se mantinha fresca
durante a semana toda. e devido à sua
meticulosa observância de taharat
hamishpachá (Leis de Pureza Familiar),
a Presença divina pairava sobre sua
tenda na forma de uma nuvem especial.
o desafio e a importância destas mitzvot
não podem ser ressaltados o suficiente;
elas são os alicerces da continuidade
judaica no mais pleno sentido. o relato
de rebeca e o “teste do camelo”
devem ser os exemplos que direcionam
e nos inspiram quanto às nossas
responsabilidades em termos dessas
três mitzvot.
rebeca nos ensina a assumir esse objetivo
de bondade sem limites e a desafiar-nos
com verdadeiro compromisso altruísta.
rebeca nos ensina a tomar iniciativa, a
procurar oportunidades onde podemos
contribuir, a ser proativos e úteis sem
questionar se há outras pessoas ao redor
que poderiam ou deveriam fazer o mesmo.
o baal Shem tov, fundador do movimento chassídico,
nos ensina que uma alma pode vir a este mundo para
70 ou 80 anos com o único propósito de fazer um favor a
outro. essa capacidade de ajudar alguém necessitado era
o que eliezer procurava, pois ele sabia que era o traço
indispensável que iria determinar a candidata a ser uma
verdadeira matriarca da nação judaica.
rebeCa NoS eNSiNa a
aSSuMir eSSe obJetivo de
boNdade SeM LiMiteS e a
deSaFiar-NoS CoM verdadeiro
CoMProMiSSo aLtruíSta.
Lubavitch magazine 78
“raquel começou a dar à luz. Seu trabalho de parto foi
extremamente difícil. ela estava morrendo e ao dar seu
último suspiro, ela chamou a criança ben-oni (filho da
minha tristeza). Seu pai chamou-lhe benjamin. raquel
faleceu e foi sepultada no caminho para efrat, agora
conhecida como belém. Jacó ergueu um monumento
em seu túmulo. este é o monumento que está sobre
o túmulo de raquel até os dias de hoje.” (Gênesis 35:
16-20)
o triste fim de raquel durante o parto, dando a vida por
seu filho recém-nascido, personifica o papel histórico
de raquel, da mãe por excelência que iria sacrificar-se
por seus filhos, até o fim dos tempos.
Por que raquel foi enterrada à beira da estrada, e
não na Caverna de Machpelá em hebron, junto com
os demais ilustres casais (adão e eva, abraão e Sara,
isaac e rebeca, e mais tarde Jacó e Léa)? hebron
não é tão longe de belém. Jacó não podia fazer um
esforço extra para homenagear sua amada esposa e
conceder-lhe a dignidade de um enterro apropriado,
em um lugar de descanso respeitável, ao lado de todos
os Patriarcas e Matriarcas?
Jacó conhecia a essência do caráter de raquel e seu
autossacrifício. Mais do que ninguém, raquel entendia
o mérito espiritual e o prazer de ser enterrada em um
lugar tão abençoado como a Caverna de Machpelá.
em vez disso, raquel prontamente aceitou um enterro
na solidão, ao lado de uma estrada deserta. durante
sua vida, ela abriu mão de sua própria felicidade, a
fim de poupar sua irmã, Léa, de constrangimentos. ela
nem sequer hesitou, embora o casamento de Léa com
Jacó pudesse ter impossibilitado sua própria união com
ele.
depois de tanto sacrifício em sua vida, certamente em
sua morte raquel tinha direito, como a esposa principal
de Jacó, de ser enterrada ao lado de seu marido para
a perpetuidade. Surpreendentemente, porém, raquel
deixa esse privilégio, a fim de ser enterrada à beira
de uma estrada abandonada e deserta. ela faz isso
para o bem de seus filhos, descendentes de Jacó, que
viveriam séculos mais tarde. olhando para o futuro
distante, raquel estava determinada a sacrificar seu
prazer eterno para que seus filhos pudessem passar
por seu túmulo e para que rezasse por eles.
em nenhuma outra ocasião raquel implorou a d’us
ressaltando seu próprio mérito em permitir que Léa se
casasse com seu pretendente. Mas agora, ao suplicar
em prol de seus filhos, raquel implora a d’us que leve
em consideração o seu nobre ato. durante séculos,
ela esperou pacientemente, na solidão absoluta de
uma estrada abandonada, simplesmente para que eles
pudessem encontrar encorajamento ao passarem por
seu túmulo.
Por quê? o que a levou a tamanho sacrifício? Porque
para raquel eles eram seus filhos. Filhos que podem
ter se desviado. Filhos que podem ter caído. Mas, ainda
assim, seus filhos. dignos de amor e compaixão. Com
sua infinita misericórdia e compaixão, ela olhou além
REGANDO COM LÁGRIMAS
PerSoNaGeNS da hiStÓria JudaiCa
LubavitCh MaGaZiNe 78
Lubavitch magazine 79
de suas iniquidades e enxergou a integridade de sua
essência, a bondade inerente e a beleza de suas almas.
até os dias de hoje raquel chora por seus filhos. ela
derrama uma lágrima para cada criança solitária, para
cada jovem ou adulto que sofre. Lágrimas de uma mãe
amorosa, lágrimas que regam as sementes de nossas
almas ressequidas, permitindo-lhes dar frutos: “Suas
almas serão como um jardim regado, e eles não mais
irão pesar”. (Jeremias 31:11)
Podemos nós, mães judias, herdeiras espirituais de
raquel, aprender com o sacrifício de nossa matriarca?
Conseguimos olhar além dos pecados, falhas ou
imperfeições dos outros, e visualizar o que nossa
matriarca viu: filhos de d’us, merecedores de Sua
misericórdia e compaixão? a nossa compaixão - por si
e pelos outros - deixa a mãe raquel dentro de cada um
de nós fazer o seu trabalho, até chegarmos ao nosso
destino, quando “o seu trabalho será recompensado, e
eles voltarão da terra do inimigo. há esperança para o
seu futuro”.
enquanto buscamos no nosso íntimo essa visão, que
foi personificada por nossa Matriarca raquel, temos a
promessa de d’us: “Seus filhos retornarão para suas
fronteiras”.
adaptado das obras “a Mother’s tears” por Simon Jacobson
e “rachel” por Chana Weisberg.
REGANDO COM LÁGRIMAS
© M
ilosz
_G
Lubavitch magazine 80
“José era o governador da terra; ele forneceu comida
para todos os seus habitantes. e os irmãos de José
vieram e prostraram-se diante dele... e José lembrou
dos sonhos que havia sonhado com eles...”
(Gênesis 42: 6-9)
vinte anos antes, José havia tido dois sonhos que
predisseram os eventos daquele dia. No primeiro
sonho: “estávamos atando feixes no campo, quando
de repente o meu feixe se levantou e ficou em pé. e
eis que vossos feixes rodeavam-no e se inclinavam ao
meu feixe.” No segundo, José viu: “o sol, a lua e onze
estrelas se curvando para mim”.
os irmãos de José, que já tinham ciúmes do carinho
especial de seu pai com ele, “o odiavam ainda mais por
seus sonhos e suas palavras”. Jacó estava bem ciente
disso, contudo “ele manteve o assunto em mente,
aguardou e antecipou o seu cumprimento”. (Gênesis 37:
7; rashi)
Para que isso acontecesse, Jacó teve que lamentar
Valores sem Fronteiras
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hung
king
Lubavitch magazine 81
Valores sem Fronteiras
a perda de seu amado filho por 22 anos; José teve
que vivenciar a escravidão e a prisão; e seus irmãos,
remorso e angústia durante o mesmo período. vinte
e dois anos dolorosos para que os filhos de Jacó
pudessem prostrar-se diante do vice-rei do egito que,
sem o conhecimento deles, era o próprio sonhador
que haviam vendido como escravo. Por que era tão
importante que acontecesse essa submissão? Por que
Jacó aguardou e antecipou a realização dos sonhos de
José, apesar de estar ciente da séria animosidade que
isso provocou entre os seus filhos?
abraão, isaac e Jacó eram pastores, como foram os
filhos de Jacó. eles escolheram essa vocação, porque
consideraram a rotina de pastor - uma vida de reclusão,
de convívio com a natureza e com distância do tumulto
e das vaidades da sociedade - mais propícia às suas
buscas espirituais. tendendo suas ovelhas nos vales
e nas colinas de Canaã, eles poderiam virar as costas
para os assuntos mundanos do homem, contemplar a
majestade do Criador e servi-Lo com uma mente clara
e um coração tranquilo.
José era diferente. ele era um homem do mundo, um
“empreendedor fortuito” no comércio e na política.
vendido como escravo, ele logo se tornou gerente
dos negócios de seu mestre. exilado na prisão,
ele prontamente foi promovido ao alto escalão da
administração penitenciária. ele passou a ser vice-rei
do egito, perdendo apenas para o Faraó na nação mais
poderosa do planeta, e único fornecedor de alimentos
para toda a região.
No entanto, nada disso o impressionou. ele se manteve
o mesmo José, que tinha estudado a torá aos pés de
seu pai. escravo, prisioneiro, soberano de milhões,
administrador da riqueza de um império - não fez
diferença alguma: o mesmo José que tinha meditado
nas colinas e vales de Canaã andava pelas ruas do
depravado egito. Seu ser espiritual e moral veio
inteiramente de dentro e não foi afetado em nada pela
sociedade, pelo meio ambiente ou pela ocupação que
exigiu o seu envolvimento 24 horas por dia.
o conflito entre José e seus irmãos foi mais tocante
do que uma perfeita túnica colorida ou mesmo o afeto
de um pai ao seu filho favorito. Foi um conflito entre a
tradição espiritual e uma modernidade mundana, entre
uma comunidade de pastores e um político. os irmãos
não podiam admitir que uma pessoa pudesse levar uma
existência mundana, sem tornar-se mundano, que uma
pessoa possa permanecer com d’us, enquanto habita
os palácios e salões do governo do egito pagão.
durante os primeiros duzentos anos da história judaica, a
cultura do pastor dominou. Mas Jacó sabia que se os seus
descendentes fossem sobreviver ao exílio egípcio – e aos
milênios de futuros exílios: babilônico, grego, romano,
oriental, ocidental, econômico, religioso e cultural que
a história lhes reservava – eles deveriam se manter
subordinados à cultura de José. Se os judeus estão
destinados a passar por inúmeras turbulências sociais
durante os próximos quatro mil anos, e perseverar como
o povo de d’us, eles devem tornar-se sujeitos de José.
o caminho de José era o do desafio. de fato, é possível
garantir a perfeição de algo, sem antes testá-lo até o
seu limite e além? a integridade de José não era a de
um pastor meditando em um pasto tranquilo ou a de
um erudito recluso nas “tendas de estudo”. era uma
integridade que foi levada às prisões e aos palácios do
egito, colidiu com o comércio e a política, mediu forças
com a riqueza e a depravação - e perseverou.
baseado nos ensinamentos do rebe de Lubavitch - Cortesia
de Meaningfullife.com.
Lubavitch magazine 82
O encOntrO
reLatoS
que ficOu pArA sempre
Lubavitch magazine 83
Meu falecido pai nasceu na Polônia. durante a Segunda
Guerra Mundial sentiu na própria pele todos os tormentos
possíveis e imagináveis do inferno. No decorrer do
conflito ele esteve em vários campos de concentração
e, por último, em auschwitz.
após sobreviver aos
horrores do holocausto
por uma série de milagres,
tornou-se claro para ele que
dificilmente haveria restado
algum membro vivo de sua
grande família. desgastado
física e mentalmente, meu
pai chegou ao campo de
refugiados na Áustria, onde
conheceu a minha mãe, que
como ele é sobrevivente do
holocausto, sem amigos e
familiares. eles casaram e um
ano depois eu nasci. embora
eles ainda fossem refugiados
de guerra (morávamos em
um campo de refugiados e
ainda estávamos longe da
paz e tranquilidade) meu
nascimento trouxe aos
meus pais uma luz e nova
esperança. a nossa família
começou a se reconstruir
sobre as ruínas do terrível
holocausto.
um ano mais tarde imigramos
para os estados unidos e
moramos no east Side, em
Nova York. Meu pai não
pertencia à linha chassídica,
mas era temente a d’us e
sempre foi muito dedicado
O encOntrO a todos os assuntos judaicos. ele não poupou esforços
para me dar uma boa educação judaica e fez questão de
me matricular em escolas de alto nível.
apesar de seus esforços para cultivar em mim o amor
por estudar a torá, eu não estava entre os melhores
alunos nos assuntos judaicos, para dizer o mínimo.
infelizmente eu não me entusiasmava nesses estudos.
enquanto eu tirava notas altas no ensino laico, fracassei
nos estudos religiosos. eu passava o tempo me
divertindo com jogos e brincadeiras. aproveitei o fato
de que meus pais deixavam passar e, na verdade, não
aprendi nada.
Quando ingressei na oitava série, o nível entre os
colegas de minha turma variava muito, mas eu era o
que menos sabia. enquanto alguns conheciam tratados
inteiros do talmud de cor eu sabia um único parágrafo.
embora este fosse um dos parágrafos mais longos
que já vi, era apenas um, e eu o havia decorado como
castigo por uma malandragem que fiz. infelizmente a
situação não mudou ao longo dos meus anos de estudo
em diversas escolas.
No inverno de 1960 fiz bar Mitzvá. Para o meu pai,
era um momento muito emocionante. Quatorze anos
antes, ele não ousava sequer sonhar com isso e, agora,
depois de todas as dificuldades, tendo perdido todos os
familiares, conseguiu com grande esforço estabelecer
uma bela família. agora estava comemorando o bar
Mitzvá de seu primogênito.
a comemoração do meu bar Mitzvá foi em dezembro.
Certa noite, algumas semanas antes da festa, meu pai
me chamou assim que voltou do trabalho e disse que
pretendia me levar ao rebe, a fim de receber uma
benção pela ocasião. ele contou que já tinha marcado
um encontro particular com o rebe de Lubavitch no
brooklyn. Meu pai sempre contava com nostalgia
sobre a vida judaica-chassídica na Polônia de “antes da
guerra”, de modo que fazia sentido realizar essa visita.
embora meu pai não se considerasse um membro do
que ficOu pArA sempre©
wul
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65
Lubavitch magazine 84
Clicou, comprou, chegou.
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60 Anos de Tradição
Lubavitch magazine 85
movimento Chabad-Lubavitch, ele admirava muito a
virtude inerente desse movimento que é enraizado de
amor a todo judeu.
Na noite anterior à visita, eu encontrei um dos meus
amigos que estudou no Chabad e lhe contei sobre a
reunião prevista para o dia seguinte. “você ao menos
sabe qual tratado do talmud estão estudando agora?”,
meu amigo me perguntou provocando. Para minha
surpresa, ele disse que é uma prática comum ter
uma audiência com o rebe antes do bar Mitzvá, que
em reuniões desse tipo, ele se interessava em saber
que matérias estão estudando, e perguntava sobre o
assunto para o rapaz de bar Mitzvá.
No começo eu pensei que ele estava brincando, mas
quando entendi que estava falando sério, meu coração
começou a bater intensamente. de repente, me dei
conta que essa ocasião que deveria dar ao meu pai
fortalecimento e ânimo, poderia causá-lo uma terrível
decepção. Já era tarde da noite e obviamente eu não
poderia vencer tanto material em tão curto prazo.
Quando voltei para casa, reclamei que não estava me
sentindo bem. tentei sugerir delicadamente que talvez
fosse melhor adiar o encontro, mas meu pai me deu
um beijo na testa e disse: “Se precisar, te levamos
numa maca”. eu não tinha humor para piadas. a noite
toda me revirei na cama, minha consciência não me
dava sossego. imaginei o olhar suplicante de meu pai
enquanto o rebe me fazia perguntas, e eu envergonhado
sem saber responder.
o dia seguinte foi para mim uma eternidade. eu estava
muito tenso e meu pai, por sua vez, vibrava com uma
emoção especial. ele chegou do trabalho mais cedo e
se preparou com reverência e antecipação. Morávamos
então no east Side e, apesar de breve, a viagem está
bem gravada na minha memória. No hall meu pai lia
os Salmos e eu me sentei ao seu lado sem conseguir
me conter, esperando impacientemente para que já
seja “depois”. Fomos recebidos pelo rebe quase à
meia-noite. Só mais tarde ficamos sabendo que o rebe
recebia pessoas até o amanhecer.
Quando entramos fiquei ainda mais ansioso. o rebe
estendeu a mão ao meu pai e o convidou a sentar-se
à mesa, mas meu pai preferiu permanecer de pé e, é
claro, eu também fiquei. o rebe conversou com o meu
pai e depois se virou para mim. eu senti seus olhos me
penetrando. o rebe me perguntou que língua eu falava
e respondi que falo ídiche.
então, sem indagar qual tratado do talmud eu estou
estudando o rebe começou a me fazer perguntas. todas
elas eram questões sobre aquele único parágrafo que
eu havia memorizado, como castigo pela brincadeira
que fiz... era um parágrafo especialmente comprido.
o rebe continuou perguntando detalhadamente e eu
fui respondendo com orgulho. respondi a todas as
perguntas como se eu fosse “o gênio do brooklyn”. o
rebe então nos abençoou muito e saímos da sua sala
enquanto seus olhos me acompanhavam.
eu não vi o rosto do meu pai durante o teste, porque
eu estava focado nas perguntas do rebe. Mas, quando
saímos da sala, meu pai não podia esconder a sua
felicidade. ele me levantou e me deu um longo abraço.
ele não falou nada por um bom tempo. eu senti como
as emoções inundaram todos os cantos do seu coração
e encheram-no com sentimentos de alegria, orgulho e
satisfação. Mesmo sem palavras, entendi o seu abraço
como quem dissesse: “eu sabia que você é um gênio
e prodígio, mas não imaginei que fosse para tanto, de
falar livremente com o rebe, sem preparação”.
Quando, de tempos em tempos, eu penso nessa história,
me emociono novamente. Nem tanto pela capacidade
profética do rebe, mas por sua genialidade em amor
ao próximo.
um relato de Chaim Slomnicki, traduzido e adaptado do livro
“abba” de harry Smith.
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60 Anos de Tradição
Lubavitch magazine 86
Não há dúvida que um dos caminhos que nos traz
para a religião é o de nos sentirmos protegidos por
forças e energias que vão além da nossa compreensão
racional ocidental. Com todos os avanços da ciência e
da matemática que sempre nos remetem à divergência
da previsibilidade, ainda sobra espaço para a dúvida da
fé. essa é uma dúvida que se avoluma na medida em
que mais nos instalamos na zona de conforto e mais nos
imaginamos independentes do todo.
Mas é só ter um sinal de alerta, e no caso que vou
descrever, o de saúde, que parece que somos remetidos
ao nosso inconsciente coletivo de pertencimento a um
povo, a uma cultura e a uma religião. Como o sistema
de premiação ou de meritocracia nesses casos se dá
por um julgamento ao qual não temos acesso aos
critérios, nessas horas nos colocamos também na mão
de d’us. aliás, queremos que a mão de d’us também
guie e ilumine quem está nos tratando.
e nesse caso quero falar de outro tratamento. Não
físico, mas de um tratamento espiritual. um conforto e
uma busca de entendimento e aceitação das provações
provocadas pelas doenças. É nesse momento que, além
dos amores terrenos, filiais e afins, entra uma figura, um
personagem, um benfeitor sabido e sábio. o rabino.
Fazendo justiça à tradição de que não é ele o
intermediário dos nossos anseios junto a d’us, mas
o nosso condutor pelo melhor caminho para até ele
chegar, não teremos certezas do resultado, apenas
de estarmos no caminho por nós escolhido. Nada
de previsibilidades. Nada de trocas do tipo você me
dá isto e eu te dou aquilo. Simplesmente fazer a sua
parte, com o coração, com a fé.
então, estando em um hospital, em uma longa
internação, a visita do rabino era aguardada não só
por mim, mas por outras famílias judias que também
estavam passando por momentos de grande aflição. o
rabino, no seu desejo mais puro de que pudéssemos
entender o momento, aceitar a situação, contribuiu
com sua parte na solução e uniu-se a nós como um
verdadeiro membro da família, um verdadeiro amigo.
Minhas esperase esperanças
Por enIo lIndenbAUm
reLatoS
Lubavitch magazine 87
e esperanças
Somou suas orações e pedidos aos nossos. eu fui um dos
abençoados por essas visitas regulares e aguardadas.
uma em especial me encanta até hoje. era rosh hashaná
e eis que surge o meu rabino, com sua longa barba e
um pequeno Shofar, após subir uma longa ladeira até o
hospital em que me encontrava. Maravilhosamente ele
me tocou o Shofar.
Não me esqueço desse som que remete a toda a minha
vida e não posso esquecer a dedicação e a generosidade
desse homem que comentou sobre a minha solidão
naquele momento, e de como ele poderia preencher
parte dela e ainda por cima deixar um resquício do som
de anunciação do ano Novo, da renovação. do seu
mais sincero desejo que eu estivesse inscrito no livro
da vida.
obrigado.
© P
amel
a M
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LILIAN & MEYER JOSEPH NIGRI
NARA & NELSON PACHECO SIROTSKY
PORTOCRED FINANCEIRA
SUPERMARCAS LICENCIAMENTO E GESTÃO
HONRA
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Lubavitch magazine 92
PLATINAISAC TURKIENICZ IN MEMORIAM
LUIZA TURKIENICZ & FAMÍLIA
MAIMÔNIDES DAY HOSPITAL
MELNICK EVEN INCORPORAÇÃO & CONSTRUÇÃO
REDE MASTER DE HOTÉIS
ZAFFARI BOURBON
AGRADECEMOS SEU APOIO AO BEIT LUBAVITCH
Lubavitch magazine 93
RUBICHASKIEL & GUITA SLUD IN MEMORIAM
FAMÍLIA MATONE
LAGHETTO HOTÉIS
LOJAS OTELLO
PORTO ALEGRE CLÍNICAS
SAUL VERAS BOFF & FAMÍLIA
AGRADECEMOS SEU APOIO AO BEIT LUBAVITCH
Lubavitch magazine 94
ABRAHÃO STEINBRUCH IN MEMORIAM
ADUANA MODA MASCULINA
ALBERTO LUÍZ ZAMEL
ARON LEJBA KATZ IN MEMORIAM
BELLA BETTY ZAMEL KATZ
CMK MÁQUINAS E CAFÉS
COLISEU
COTAÇÃO
EDUARDO SUSLIK IGOR & BENO IGOR
IDA LUÍZA KNIJNIK STEINBRUCH IN MEMORIAM
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oURO
Lubavitch magazine 95
oUROIMOBILIÁRIA CRÉDITO REAL
JOSÉ SCHARCANSKY & FAMÍLIA
LUIZ & ELIDA BLATT IN MEMORIAM
MÁRIO ZAMEL IN MEMORIAM
MAURÍCIO ESTROUGO E MÁRCIA ESTROUGO & FAMÍLIA
MIGUEL MELNICK IN MEMORIAM
RENATO & BEATRIZ STIFELMAN E FAMÍLIA
ROBERTO OCHMAN & FAMÍLIA
SARA TORNAIM E MAURO TORNAIM & FAMÍLIA
SZLAMA ZAMEL IN MEMORIAM
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Lubavitch magazine 96
ASPIS E PALMEIRO DA FONTOURA ADVOGADOS ASSOCIADOS
CLÁUDIO & ESTELA BREITMAN
ENEIDA DIAMANTE & FAMÍLIA
FARMÁCIAS PANVEL
GILBERTO RASKIN & FAMÍLIA
JACOB SCHOTKIS IN MEMORIAM
JACQUES & SÍLVIA HELLER
MARLENE IOCHPE KOLODNY IN MEMORIAM
NET
ÓTICA E JOALHERIA SAFIRA
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PRATA
Lubavitch magazine 97
PRATAPEDRO BICHELS PIANOS
RAFAEL BRAUDE CANTERJI & FAMÍLIA
ROSA HERMANN & FAMÍLIA
ROSANE DUBIN WAINBERG IN MEMORIAM
SALOMON ARIA & IVETTE SERRUYA HERC IN MEMORIAM
SET FOMENTO MERCANTIL LTDA.
SPOT AUDITORIA E PESQUISA DE MÍDIA
STB TRIP & TRAVEL
SUSHI DRIVE
UNIAIR SERVIÇOS AÉREOS
XANDEL WEINSTEIN & FAMÍLIA
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Lubavitch magazine 98
BRONZEAPTIDÃO - MEDICINA DE TRABALHO
MAURÍCIO V. SCHOTKIS
BRENO KOR & FAMÍLIA E ILTON KOR
FÁBIO CIPELE & FAMÍLIA
GILBERTO & MONICA SPIGUEL E FILHOS
LE BLANC BEAUTÉ
MARCELO & CERES MALTZ BIN E FAMÍLIA
MILTON BURD & FAMÍLIA
SAUTE M GUS
SÉRGIO RASKIN & FAMÍLIA
YOMACAMA EMPREENDIMENTOS LTDA.
ZENITH ASSET MANAGEMENT
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Lubavitch magazine 99
BRONZEAPTIDÃO - MEDICINA DE TRABALHO
MAURÍCIO V. SCHOTKIS
BRENO KOR & FAMÍLIA E ILTON KOR
FÁBIO CIPELE & FAMÍLIA
GILBERTO & MONICA SPIGUEL E FILHOS
LE BLANC BEAUTÉ
MARCELO & CERES MALTZ BIN E FAMÍLIA
MILTON BURD & FAMÍLIA
SAUTE M GUS
SÉRGIO RASKIN & FAMÍLIA
YOMACAMA EMPREENDIMENTOS LTDA.
ZENITH ASSET MANAGEMENT
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APOIOANDRÉ ZOUVI & FAMÍLIA
DEL TURISTA BRINQUEDOS
DR. MARCOS HERTZ - CARDIOLOGISTA
GILDO & RUTH COIFMAN
GUELCOS WORLD SOLUTIONS
SÉRGIO SCHWARTZ & FAMÍLIA
ANÔNIMO
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Lubavitch magazine 100