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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO COLEGIADO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO LUCIANA SILVA DA COSTA A PRÁTICA JORNALÍSTICA LOCAL NO ZiGNOW – MICROPORTAL DE ENTRETENIMENTO DE A TARDE ON LINE Salvador 2004

LUCIANA SILVA DA COSTA - facom.ufba.br · A PRÁTICA JORNALÍSTICA LOCAL NO ZiGNOW – MICROPORTAL ... Prof. Elias Machado Salvador 2004 . COSTA, ... Arte&Foto, Auto&Moto, Caderno

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE COMUNICAÇÃO

COLEGIADO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO

LUCIANA SILVA DA COSTA

A PRÁTICA JORNALÍSTICA LOCAL NO ZiGNOW – MICROPORTAL DE ENTRETENIMENTO DE A TARDE ON LINE

Salvador 2004

LUCIANA SILVA DA COSTA

A PRÁTICA JORNALÍSTICA LOCAL DO ZiGNOW – MICROPORTAL DE ENTRETENIMENTO DE A TARDE ON LINE

Monografia apresentada ao Curso de graduação em

Comunicação com habilitação em Jornalismo,

Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da

Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Elias Machado

Salvador 2004

COSTA, Luciana Silva da. A prática jornalística local no ZiGNOW: microportal de A Tarde On Line. 2004. 61 p. Monografia (Graduação em

Comunicação Social – Jornalismo) – Faculdade de Comunicação, Universidade

Federal da Bahia, Salvador.

“Nada existe de permanente,

a não ser a mudança.”

(Heráclito)

AGRADECIMENTOS

Aos dois principais pilares da minha vida: a minha mãe, Lúcia, e Deus.

À minha família, pela atenção, carinho, torcida e apoio nas minhas decisões.

À todos os meus colegas e amigos, especialmente à Eliane, Tharsila, Danilo e

Amanda, que, ao longo da jornada, acreditaram na minha capacidade de vencer.

Ao meu orientador, Elias Machado, pelo rigor, paciência e determinação na minha

escalada do conhecimento.

Aos professores e funcionários da Facom, pelo auxílio e respeito dispensados na

minha passagem pela faculdade.

Aos profissionais e ex-profissionais de A Tarde On Line, especialmente Eugênio

Afonso, Ana Cláudia Cavalcante, Patrícia Moreira Alves e Thiago Fernandes, pela

valiosa e essencial contribuição ao meu trabalho.

À você, leitor, para quem a obra é especialmente dedicada.

RESUMO

A presente monografia é requisito parcial para conclusão de curso de Comunicação com habilitação em Jornalismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA). O objeto de estudo escolhido é o ZiGNOW, sítio Web de entretenimento localizado no portal A Tarde On Line. O objetivo principal do trabalho é verificar como ocorre a produção da notícia em um veículo on-line, considerando o ambiente de trabalho no qual estão inseridos os profissionais, a organização do trabalho jornalístico para o meio digital e a atuação dos repórteres na Internet. Na revisão bibliográfica para a construção do referencial teórico sobre a prática jornalística on-line e pesquisa de campo composta por análise do sítio e visita à redação, com observação e levantamento de dados da prática jornalística da equipe e entrevistas, foi comprovado que, apesar da falta de conhecimento adequado para atuar no ciberespaço e da escassez de recursos tecnológicos e multimidiáticos para a construção das páginas, a equipe do ZiGNOW consegue evoluir parcialmente na produção de conteúdo ao adotar a descentralização do processo produtivo e a quebrar a rigidez de funções exercidas nos meios tradicionais.

Palavras-chaves: jornalismo on-line, Internet, prática jornalística, ZiGNOW.

ABSTRACT

The monograph presented is one of the requisites of the Journalism Communications majoring final work from Universidade Federal da Bahia (UFBA). The object of this study is ZiGNOW, an entertainment website of A Tarde On Line journalistic portal from Bahia, Brazil. The main target of this paper is to verify how news production occurs in the site, considering it as an exclusively on-line communication vehicle. The work also considers the newsroom professionals are inserted, the journalistic production’s organization for digital environments and journalists active work. Bibliographic revision about the journalistic practice for web environment and practical research composed by the site analysis, the observing of newsroom work and interviews, brought up the updating process through local sites, the discentralized production way, the tendence to converge contents produced in distincted areas and the need of deeper knowledge from all the professionals involved in production and releasing of journalistic content for the internet. Keywords: online journalism, Internet, journalistic knowledge, ZiGNOW.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1 Capítulo I – A ESTAMPA DO ZiGNOW 2. O Ambiente do ZiGNOW ......................................................................... 9 2.1. Influência da estrutura física na produção jornalística ............................. 11 2.2. A equipe e as equipes do ZiGNOW...........................................................14 2.2.1 Núcleo central de produção ..................................................................... 16 2.2.2 O rizoma da produção ............................................................................. 18 2.2.2.1. Repórteres ............................................................................................. 19 2.2.2.2. Suporte técnico ...................................................................................... 21 Capítulo II – MODO DE PRODUÇÃO 3. Mudanças no Processo de Produção .................................................. 24 3.1. Divisão de tarefas ..................................................................................... 24 3.2. Produção descentralizada ........................................................................ 25 3.3. O ponto local dentro do ambiente global .................................................. 27 3.3.1. Predominância dos fatos locais ................................................................ 27 3.3.2. A informação pontual ............................................................................... 29 3.3.3. A “ilustralização” dos fatos ....................................................................... 30 3.4. O ZiGNOW como revista eletrônica ......................................................... 31 4. O Modelo Tradicional como Predominante nas Técnicas de Apuração para o ZiGNOW ............................................................................ 36

a. Roteiro .................................................................................................. 41 b. Coberturas ............................................................................................ 42 c. Qual é a Boa? ...................................................................................... 42 d. Perfil ..................................................................................................... 43 e. Entrevista ............................................................................................. 43 f. Zignews ................................................................................................ 44

Capítulo III – A INFORMAÇÃO NO ZIGNOW 5. As Inversões na Gestão da Informação ..................................................... 47 5.1. Profissionais de informática dominam a administração da informação ............................................................................................... 48 5.2. A intranet como acessório do ZiGNOW ........................................................ 49 5.3. O ZiGNOW como conteúdo restrito de A Tarde On Line .............................. 51 5.4. O modelo de negócio do ZiGNOW ................................................................ 52 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 61 APÊNDICE ........................................................................................................... 64

LISTA DE FIGURAS

1. Figura 2.1 – Perfil da equipe ............................................................................ 15

2. Figura 2.2. – Origem dos colaboradores .......................................................... 19

3. Figura 2.3 – Jornada de Trabalho/Remuneração ............................................ 20

4. Figura 3.1 – Origem das matérias ................................................................... 28

5. Figura 3.2 – Tipos de matérias ........................................................................ 29

6. Figura 3.3 – Produção de imagem/texto ......................................................... 31

7. Figura 3.4 – Temporalidade das matérias ........................................................ 33

5. Figura 3.5 – Produção por data ....................................................................... 34

6. Figura 4.1 – Meios mais utilizados .................................................................. 38

1

1. INTRODUÇÃO

Ao longo dos últimos quatro séculos, mesmo sem ser determinante, a

incorporação de novas tecnologias pelas organizações jornalísticas contribuiu para

diferenciações na forma e no conteúdo da notícia. Com o aperfeiçoamento da

imprensa por Johann Gutemberg em 1455, por exemplo, a informação, antes

transmitida através de manuscritos, passou a ser disseminada com mais facilidade

para um grande número de pessoas (DEFLEUR, 1997). De Wolk (2001:2) lembra

que o avanço tecnológico na era industrial teve imenso efeito nas comunicações

em geral e no jornalismo em particular através do poder da imprensa, do telégrafo,

da fotografia, do radio e da televisão.

A partir da década de 50, nos EUA, o computador começa a ser utilizado

nas redações1. Na década de 70, é criada a era do CAR (Computer Assisted

Reporting ou Reportagem Assistida por Computador). No âmbito técnico, o linotipo

foi sendo substituído pelos programas eletrônicos, os corretores ortográficos

presentes em programas de edição de texto assumiram o papel do revisor e o

repórter se tornou responsável também por outras funções, como pauta, produção

e edição.

Com o surgimento da World Wide Web (WWW) em 1995, potencializa-se a

disseminação da informação via redes digitais, devido à configuração do

ciberespaço como um ambiente potencialmente ilimitado2. Essa característica

possibilita a divulgação de conteúdo com um baixo custo de investimento e um

maior alcance de público (ou, no caso da Internet, usuários), já que as páginas da

rede mundial de computadores podem ser criadas, gerenciadas, distribuídas e

acessadas por qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta apenas com um

1 A primeira utilização do computador nas redações jornalísticas aconteceu nos EUA em 1952, para agilizar a apuração dos resultados das eleições para presidente (DEFLEUR, 1997: 37-39). 2 Em abril de 2004, o Google <www.google.com>, um dos maiores serviços de busca do mundo, realizava pesquisas em cerca de 4,3 bilhões de páginas da Web.

2

microcomputador, um modem e uma linha telefônica (STOPA et alli, 2000). Nesse

contexto, se, por um lado, o jornalista encontra-se em meio à multiplicidade de

recursos e fontes presentes no ciberespaço (KNIGHT, 2000), podendo cobrir

eventos e manter contato com especialistas em potencial em poucas horas

(REDDICK&KING, 1995), por outro lado, a concorrência entre as empresas

aumenta o que exige das empresas o fornecimento de conteúdo exclusivo em

seus sítios3 para atraírem a atenção dos usuários.

Um exemplo dessa tendência é o ZiGNOW, sítio jornalístico especializado

em lazer, cultura e entretenimento, pertencente ao portal A Tarde On Line4, do

grupo jornalístico baiano A Tarde5. Lançado em dezembro de 1999 em parceria

com a empresa de Internet StarMedia, o objeto de estudo deste trabalho passou

por três modelos de produção de conteúdo. O primeiro possuía como propósito

inicial ser um portal que reunisse informações interessantes sobre o roteiro cultural

de Salvador e das principais cidades do interior baiano para um público-alvo de

baianos e turistas que pretendem conhecer melhor ou visitar a Bahia6. Os canais

existentes no microportal eram Alimentação, Eventos, Serviços, Turismo,

Carnafest, Dicas, ZigCards e Cinema On Line7. Em janeiro de 2000, o microportal

começou a realizar coberturas de festas e shows em Salvador, apresentando

3 Com a necessidade de produção de conteúdo exclusivo para a Internet, uma tendência seguida por parte dos veículos jornalísticos na rede mundial de computadores foi a transformação dos próprios sítios em portais, muitos deles voltados essencialmente para o público local. Ver BARBOSA, 2001. 4 Em abril de 2004, somado ao ZiGNOW, o A Tarde On Line possuía também como canais exclusivos on-line Saúde, Cineinsite, Teviaqui, Empregos e Mercado, Fórum Lixo&Cidadania, Qualidade de Vida e Especiais, em conjunto com os conteúdos das editorias da versão impressa, que são: Arte&Foto, Auto&Moto, Caderno 2, Cultural, Dez!, Economia, Empregos, Esportes, Informática, Internacional, Local, Municípios, Nacional, Opinião, Polícia, Política, Rural, Shopping, Televisão (Revista da TV), Turismo e Vestibular (este último como suplemento especial). 5 O grupo A Tarde teve início em 1913, com o lançamento do jornal impresso que circulava em Salvador no turno vespertino, tendo como presidente o jornalista Ernesto Simões Filho. Hoje, além da versão impressa, o A Tarde possui a rádio 104FM, o portal A Tarde On Line, o provedor de acesso à Internet com o mesmo nome do portal, e a Agência A Tarde. 6 EREMKIN, Tânia. Curta o Verão baiano no Zignow. A Tarde, Salvador, dez. 1999. Seção Informática. Disponível em <http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=12&ano=1999 &id_materia=129686>. Acesso em: 1 abr. 2004. 7 Idem.

3

como destaque a divulgação de fotos de artistas e público presentes nos eventos.

A característica de seção de colunismo social para jovens8 do portal A Tarde On

Line, seguindo uma tendência registrada nessa época nos portais locais, pelo

menos em Salvador, era complementada pelo fato de o texto estar configurado

como um acessório para as fotos, assim como as dicas culturais presentes no

sítio. Nessa época, a equipe, composta por dois estagiários em Jornalismo e dois

webmasters9, trabalhava em conjunto com toda a equipe de A Tarde On Line

(jornalistas, estagiários e profissionais em informática), no setor do provedor de

acesso localizado no andar térreo da empresa. A supervisão do sítio era feita pelo

coordenador do A Tarde On Line, o analista de sistemas Humberto Saback10.

No segundo, com a criação da Central de Dados e Informações (CDI) em

maio de 2000, a equipe de conteúdo da versão on-line de A Tarde passa para o

primeiro andar do prédio, trabalhando no mesmo local que os jornalistas do

veículo impresso. A equipe de informática da empresa é transferida para o sexto

andar, assim como a equipe do ZiGNOW. Em agosto de 2000, com a

reformulação geral do portal A Tarde On Line11, o ZiGNOW passa para a segunda

versão com algumas remodelações, privilegiando ainda mais as coberturas de

festas e shows em Salvador. Nessa época, o canal Cinema On Line já havia sido

transformado no microportal Cineinsite.

No terceiro, com a definição de um editor específico para o ZiGNOW, em

dezembro de 2000, ocorre a diversificação e o aprofundamento da cobertura dos

assuntos, assim como a mudança da equipe para o CDI. O sítio passa a noticiar

também outras manifestações culturais, em diferentes abordagens, passando a

8 Termo utilizado pela autora para designar o objetivo do canal, que era a cobertura e divulgação das festas e shows realizados em Salvador, com público predominantemente jovem, com destaque para as fotos. 9 A Tarde On Line lança portal de verão. A Tarde, Salvador, jan. 2000. Seção Informática. Disponível em <http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=01&ano=2000&id_materia=186043>. Acesso em: 1 abr. 2004. 10 Entrevista realizada pela autora com a analista de projetos Web de A Tarde On Line, Ana Carolina Casais, em 20.09.2003. Ver Apêndice III, p. 10. 11 Portal A Tarde ganha formato mais moderno. A Tarde, Salvador, ago. 2000. Seção Local. Disponível em <http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=08&ano=2000&id_materia=234>. Acesso em: 1 abr. 2004.

4

contar mais sistematicamente com o trabalho de eventuais colaboradores12. O fato

possibilita, que o ZiGNOW chegasse à sua terceira versão, distribuindo o próprio

conteúdo em dez canais distintos, de acordo com as necessidades dos usuários:

“Cadastro”, “Promoções”, “Roteiro”, “Coberturas”, “Qual é a Boa?”, “Perfil”,

“Entrevista”, “Zignews”, “Solte o Verbo” e “Namoro Bahia”. O perfil dos usuários

que acessam o sítio é de pessoas entre 20 e 30 anos, estudantes, e que gostam

de freqüentar eventos culturais realizados em Salvador. Na primeira quinzena de

setembro de 2003, o ZiGNOW registrava uma média de três mil acessos diários,

com pico nas segundas e terças-feiras, quando são divulgadas as matérias de

coberturas de shows realizados no final de semana13.

Nesta monografia, pretende-se compreender melhor as especificidades da

prática jornalística realizada no ZiGNOW através do estudo da produção realizada

pela equipe do sítio e o contexto no qual os profissionais do microportal estão

inseridos, considerando o sítio de entretenimento como um produto jornalístico

voltado exclusivamente para o ciberespaço. A realização deste trabalho aconteceu

em três fases. Primeiramente, foram realizadas leituras sobre as particularidades

da prática jornalística on-line com o objetivo de conhecer, com o surgimento da

Internet, as mudanças no processo produtivo do jornalismo ao longo das etapas

de produção, busca e apuração dos fatos. A segunda etapa, composta por

pesquisa de campo, consistiu em uma análise do microportal de entretenimento,

de caráter exploratório, durante o período de 1º a 7 de junho de 2003, na tentativa

de identificar as características do sítio quanto à produção, tipo e abordagem dos

assuntos. Neste procedimento, foi feita uma descrição do ZiGNOW, identificando

particularidades presentes em cada seção do sítio e levantando dados

quantitativos sobre os tipos de textos (notas, matérias e reportagem, com fotos) e

origem dos fatos (local, nacional ou internacional). A etapa foi complementada

com o acompanhamento da produção da equipe do microportal, realizada na

redação do A Tarde On Line entre os dias 14 e 18 de julho de 2003, para observar

12 Entrevista realizada pela autora com o editor do ZiGNOW, Eugênio Afonso, em 20.08.2003. Ver Apêndice II, p. 6. 13 CASAIS, Ana Carolina. Entrevista à autora op. cit. Apêndice III, p. 9.

5

e compreender de perto o processo produtivo da equipe. No local, foi aplicado um

questionário aos repórteres para obtenção de dados qualitativos e quantitativos

sobre a produção jornalística, assim como a realização de posteriores entrevistas

com ex-repórteres, colaboradores, o ex-coordenador da CDI, Marcos Venâncio, o

então editor do sítio, Eugênio Afonso, a analista de projetos Web de A Tarde, Ana

Carolina Casais, e com o ex-coordenador de A Tarde On Line, Humberto Saback,

estas três últimas entrevistas incluídas nos apêndices. A terceira etapa foi

composta pela análise dos dados e identificação das técnicas utilizadas pelos

profissionais do ZiGNOW a partir da observação do sítio, do contexto de produção

e a luz das teorias estudadas durante a revisão da bibliografia. Devido ao período

escolhido e pelo fato de a Internet ser um meio bastante dinâmico, alguns

aspectos do sítio encontram-se hoje modificados14, mas isso não chega a

comprometer nosso estudo, que acaba por realizar um mapeamento de um

determinado produto em um certo momento da história do jornalismo digital

baiano, ainda que diferente do produto final oferecido atualmente aos usuários em

abril de 200415.

A monografia está dividida em três capítulos. O Capítulo 1 trata da história

do ZiGNOW, apontando as fases do sítio e a mudança no conteúdo a partir da

definição do editor e do modo de produção, realizado inicialmente com o suporte

técnico da empresa e, atualmente, feito parcialmente em conjunto com os

repórteres do A Tarde On Line e do jornal A Tarde (impresso). O perfil

apresentado pela equipe revela profissionais que aprendem na prática diária da

redação as habilidades básicas necessárias para o desempenho da atividade

jornalística no ciberespaço. No período analisado, o grupo A Tarde já demonstrava

14 No mês de conclusão deste trabalho (abril/2004), o canal Namoro Bahia já havia sido excluído do sítio, o canal Qual é a Boa? teve o nome modificado para ZiG iN Dica e dois dos repórteres haviam saído da equipe-núcleo (ver assunto no Capítulo 2) do ZiGNOW. 15 Abril de 2004.

6

indícios de integração (convergência) entre o trabalho dos jornalistas dos meios

impresso e eletrônico16.

O Capítulo 2 aborda o modo de produção do ZiGNOW, tendo como base o

processo produtivo realizado pela equipe e as técnicas de apuração utilizadas pela

equipe do sítio. Neste capítulo, trata-se das particularidades do processo de

produção, estruturado a partir da divisão de tarefas por afinidade dos repórteres

ao assunto a ser abordado. Verifica-se que os repórteres on-line agregam diversas

funções na produção diária de conteúdo, da pauta à disponibilização das matérias

no ciberespaço. Percebemos também que o ZiGNOW configura-se como uma

espécie de epicentro da cobertura local do portal A Tarde On Line. Um total de

89% dos assuntos presentes nas páginas do microportal são fatos locais. As

imagens reforçam a identificação dos usuários com o canal de entretenimento,

com 60% do conteúdo composto por fotos. Com o mapeamento das técnicas de

apuração utilizadas pela equipe do ZiGNOW, descobriu-se que as técnicas

utilizadas mesclam procedimentos tradicionais com estratégias desenvolvidas no

ciberespaço. Ou seja, a equipe do ZiGNOW mescla o uso de técnicas tradicionais,

como contatos telefônicos, releases enviados à redação e outros veículos de

comunicação com o uso de recursos exclusivamente oferecidos na Internet, como

o uso de e-mails e ferramentas de pesquisa17.

O Capítulo 3 esboça uma apresentação do que seria a gestão da

informação dentro do ZiGNOW, considerando o aspecto como elemento essencial

na produção de notícias para a Web. Numa breve análise, o microportal apresenta

como aspectos da gestão da informação em uma empresa jornalística que produz

16 Em outubro de 2003, a empresa A Tarde inicia uma reformulação estrutural no A Tarde On Line. Através da iniciativa da nova coordenadora da redação on-line, Luciana Moherdaui, a empresa passa a incentivar a integração do trabalho dos profissionais dos meios impresso e para a Internet. Desde então, a redação não contava mais com divisórias que separavam as atividades dos profissionais dos dois meios, a cobertura realizada para o jornal on-line passou a ser inserida nas reuniões de pauta, repórteres do impresso dão flashes das notícias para o A Tarde On Line e o portal conta com hiperlink para a rádio 104FM, que teve toda estrutura transferida do bairro de Brotas para a sede da empresa, na Av. Tancredo Neves (A Tardinha, 2004, pp. 4-5). 17 A partir da década de 90, diversas obras foram publicadas com o objetivo de orientar os jornalistas na produção de notícias para o meio on-line, incluindo técnicas de apuração para o ciberespaço. Para este trabalho, foram vistos DEFLEUR, 1997; REDDICK&KING, 1995; PAUL, 1999; CALLAHAN, 1999; DE WOLK, 2001; e RADFORD et alli, 2001.

7

conteúdo para a Internet18 o domínio de profissionais de informática na

organização da informação, a falta de incentivo na utilização da intranet da

redação, a circulação das informações do ZiGNOW restrita apenas ao portal de A

Tarde e a falta de um modelo de negócio específico para o sítio.

Neste trabalho, evitou-se falar sobre a deontologia da prática jornalística on-

line, ou mais comumente (e equivocadamente) conhecida como ética na Internet,

devido à própria complexidade do tema. Em seu estudo sobre deontologia no

ciberespaço, Elias Machado (2003:113-135) destaca a dificuldade de conceituar e

definir um conjunto de práticas a serem adotadas pelos jornalistas na rede mundial

de computadores, devido à questão ser pouco discutida nas empresas e no

próprio ambiente acadêmico, e a defasagem entre as abordagens tradicionais da

ética jornalística e a realidade da nova prática profissional. Para efeito de registro

neste trabalho, um aspecto no ZiGNOW que merece ser tratado como mais

detalhe em futuros estudos é a utilização e manipulação de fotografias sem a

licença dos autores, assim como a falta de crédito e legenda das fotos e a revisão

de textos após publicação no sítio.

18 A gestão da informação pode ser vista com maiores detalhes em QUINN, 2003. Referência completa no final deste trabalho.

8

Capítulo I A ESTAMPA DO ZiGNOW

9

2. O AMBIENTE DO ZiGNOW

Com o processo de consolidação da Internet no Brasil e no mundo, refletido

no crescente número de acessos e páginas disponíveis na rede mundial de

computadores, o jornalismo on-line começa a apresentar novas características ou

fases, nas quais alguns veículos deixam de ser modelos com base apenas na

transposição de conteúdos da versão impressa para a produção de conteúdos

exclusivos para a Internet, na tentativa de atraírem a atenção dos usuários diante

da infinidade de informações presentes na rede19. O ZiGNOW pode ser

considerado um exemplo de como sítios jornalísticos, em sua maioria oriundos de

similares impressos, iniciam a transformação em portais on-line que possuem,

além das informações jornalísticas, páginas com conteúdos não-jornalísticos,

relação com conteúdos produzidos por outras equipes (externas ao sítio) e, em

alguns casos, integração de provedores de acesso com disponibilização de

conteúdos20, como é o caso do portal A Tarde On Line.

As mudanças na produção jornalística com o advento da Internet, através

da possibilidade oferecida pela rede mundial de computadores de agregar

recursos presentes em outros meios na maneira de contar um fato, podem ser

comprovadas na própria estrutura da notícia, que deve acompanhar a

característica multimídia da Internet (DE WOLK, 2001). Nesse sentido, os

repórteres do ZiGNOW passam então a incorporar no processo produtivo,

juntamente com a produção, a apuração e a edição, noções de design da página e

possibilidade de recursos a serem utilizados no relato dos fatos, obtendo como

resultado uma cobertura mais ampla e contextualizada. Nas páginas do sítio, a

19 O histórico sobre o jornalismo online no Brasil pode ser visto em QUADROS, C. I., 2002, MOHERDAUI, L., 2000 e STOPA, A. et alli, 2000. 20 SILVA JR (2000:79-80) e BARBOSA (2000:04).

10

notícia era construída basicamente utilizando recursos de texto, fotografia e

interação com os usuários através de hiperlinks, e-mail e enquetes.

Os recursos utilizados para a produção de conteúdos revelam o grau de

investimento realizado pela empresa no desenvolvimento do próprio jornal on-line.

Na época do surgimento do ZiGNOW, além de fotos e textos, os repórteres

contavam com transmissão de vídeos de festividades, a exemplo do Carnaval

baiano, e promoção de sessões de bate-papo com artistas, em que era

possibilitado ao usuário a navegação pelas páginas vendo as imagens e

interagindo com os artistas, assim como encontrar som e texto agregados em uma

mesma página21. No período de 1º a 7 de junho de 2003, os únicos recursos

utilizados pelos repórteres na construção da notícia foram os hiperlinks, presentes

nas matérias e a interatividade com os usuários por meio de enquetes,

comentários, mensagens e atribuição de notas pelo público do evento coberto pelo

sítio. O recurso do vídeo havia sido suspenso devido a um defeito no equipamento

que não foi solucionado até a conclusão deste trabalho pela empresa, e as

sessões de bate-papo foram desativadas pelo elevado tempo e produção

dispensados pela equipe22.

Além das mensagens e da atribuição de notas para os eventos, a garantia

de interatividade entre o ZiGNOW e os usuários era realizada através de alguns

recursos oferecidos nas páginas, como a indicação do canal de entretenimento

para uma outra pessoa por e-mail ou da colocação do endereço do sítio na lista de

endereços favoritos do usuário. No ZiGNOW estão disponíveis serviço de busca

para matérias e agenda de eventos a serem realizados na cidade, por artista,

data, local ou preço, assim como links para matérias já produzidas sobre um

determinado assunto ou complementos para essas matérias. Em todas as páginas

existe, ao lado direito, uma coluna intitulada “O que está rolando”, com chamadas

para matérias de outras seções do sítio jornalístico.

21 A Tarde On Line lança página de verão. A Tarde, Salvador, 19 jan. 2000. Seção Informática. Disponível em <http://www.atarde.com.br/materia.php3?mes=01&ano=2000&id_materia=186043>. Acesso em: 1 abr. 2004. 22 CASAIS, Ana Carolina. Entrevista à autora op. cit, Apêndice III, p. 10.

11

Com esta breve descrição do ZiGNOW, podemos perceber que o

microportal possui diversas áreas a serem cobertas pelos jornalistas, necessitando

uma produção relativamente intensa de matérias23. Uma das maneiras de

compreender melhor como os jornalistas fazem a apuração dos fatos para o

ZiGNOW é conhecer o ambiente no qual estão inseridos e o perfil dos

profissionais que compõem a equipe do sítio. Estes dois aspectos serão vistos

com maiores detalhes a seguir.

2.1. Influência da estrutura física na produção jornalística

Na observação do ZiGNOW, chama a atenção a influência da estrutura

física no processo de produção jornalística on-line. Desde o lançamento, o

trabalho no microportal era realizado em conjunto entre os repórteres e os

profissionais de informática envolvidos no provedor A Tarde On Line, enquanto os

jornalistas da versão impressa do grupo desenvolviam as atividades no primeiro

andar. No período em que dividiram o setor com os repórteres do ZiGNOW, os

profissionais de informática acabaram envolvendo-se diretamente na produção de

conteúdo para o sítio, possuindo como supervisor o coordenador da versão on-line

de A Tarde na época, o analista de sistemas Humberto Saback24. Os técnicos e

analistas em desenvolvimento Web da empresa jornalística respondiam

predominantemente pela atualização do conteúdo do microportal e, em muitos

casos, realizavam parte da produção jornalística do ZiGNOW, como o

agendamento de entrevistas e produção das sessões de bate-papo para o sítio. O

resultado dessa prática eram páginas com pouco conteúdo textual atualizado,

onde as atenções eram dispensadas às fotos e imagens produzidas para o sítio25.

Com a definição de um editor exclusivo em dezembro de 2000, o ZiGNOW

começa a apresentar mudanças na estrutura física, refletidas no próprio conteúdo

23 No sentido apresentado neste parágrafo, matéria refere-se a qualquer tipo de texto jornalístico, seja ele nota, matéria (notícia) ou reportagem. 24 CASAIS, Ana Carolina. Entrevista à autora op. cit, Apêndice III, p. 10. 25 Idem.

12

do sítio. A equipe passa a trabalhar definitivamente no primeiro andar, dividindo o

espaço com os outros jornalistas do meio on-line e do impresso. No primeiro

andar, a redação do canal de entretenimento foi inserida na Central de Dados e

Informações (CDI), setor onde era produzido todo o conteúdo on-line de A Tarde26.

Dentro da CDI trabalhavam as equipes do A Tarde On Line, do Cineinsite e do

ZiGNOW, juntamente com o Alô Redação, setor responsável por receber

informações dos leitores para elaboração de pautas. No mesmo andar funcionava

a redação da versão impressa do jornal, o setor de fotografia e a presidência. O

setor de desenvolvimento Web da empresa segue localizado no sexto andar do

prédio. Com a mudança de setores, a estrutura do ZiGNOW acaba dividindo-se

em conteúdo (jornalistas) e suporte (profissionais de informática).

Para o então editor Eugênio Afonso, a mudança de espaço físico dos

repórteres do ZIGNOW significava a facilidade do trabalho direto na redação, já

que o mesmo também coordenava a produção do A Tarde On Line, fazendo com

que a equipe tivesse contato direto com os outros jornalistas dos meios on-line e

impresso. No entanto, a configuração do espaço físico no primeiro andar não

propiciava essa integração entre os profissionais de meios diferentes, já que a CDI

era separada da redação do jornal impresso através de uma divisória. O ex-

coordenador de conteúdo de A Tarde On Line, Marcos Venâncio, conta que houve

uma certa resistência da equipe do veículo impresso relativa à presença da equipe

on-line, devido ao sentimento de perda da exclusividade do conteúdo produzido,

que era copiado com a disponibilização de A Tarde para a Internet27. A empresa,

então, perdia produtividade por não desenvolver amplamente a convergência e a

cooperação do trabalho entre profissionais de meios diferentes, defendido por

Stephen Quinn (2003) como o modelo mais adequado para as empresas

26 Assim como a divisória, a CDI deixa de existir em outubro de 2003, com o início das mudanças estruturais em A Tarde. 27 VENÂNCIO, Marcos. Entrevista realizada à autora por comunicador instantâneo em 12.04.2004.

13

jornalísticas28 por possibilitar uma apuração e disponibilização dos fatos para os

leitores/usuários com maior rapidez e eficiência.

A mudança no espaço físico acarretou definitivamente aos repórteres a

atualização como mais uma atribuição a ser realizada na prática jornalística diária.

As modificações a serem realizadas nas páginas tornaram-se menos freqüentes,

já que os profissionais de informática não mais dividiam o espaço físico com os

repórteres – anteriormente, as reivindicações poderiam ser vistas, discutidas e

atendidas mais fácil e freqüentemente por ambas as partes. A comunicação entre

esses dois pilares ficaram restritas aos contatos telefônicos ou por meio de

comunicadores instantâneos, como conta Eugênio Afonso:

Quando surgem problemas, nós nos comunicamos por telefone ou por

ICQ. Por exemplo, quando uma foto está disponibilizada de forma errada

ou possui uma falha, a equipe liga imediatamente. Geralmente, falo com

Carol (Ana Carolina Casais) e ela conserta na hora. As falhas não

chegam a prejudicar, mas nós estávamos querendo dar uma nova cara

ao ZiG, mexer um pouco na diagramação e no visual. Estamos

encontrando dificuldades porque, como os técnicos estão sempre

atarefados, não têm encontrado tempo para se dedicarem ao ZiGNOW

(AFONSO, 2003).

Mesmo sob um contexto desfavorável de integração do trabalho jornalístico,

o ZiGNOW acaba convergindo informações de meios diferentes, utilizando

matérias produzidas por outros canais e cadernos impressos, o que contribui para

a diversificação do conteúdo do microportal. Em contrapartida, o conteúdo do

microportal é utilizado com maior freqüência apenas pelo portal A Tarde On Line

(onde o sítio está hospedado), tendo raras inserções no veículo impresso. No

ZiGNOW, as matérias do Cineinsite são disponibilizadas através de chamadas e

hiperlinks pelo canal de entretenimento para compor a seção Zignews Cinema. Do

meio impresso, são utilizadas matérias do Caderno 2 e Caderno Dez!. Essa

28 O autor afirma que no jornalismo múltiplo praticado atualmente, a palavra-chave no processo produtivo das redações deve ser a convergência, que seria a possibilidade dos jornalistas desenvolverem bem o trabalho da equipe em qualquer meio. Para isso, os jornalistas devem adotar as novas ferramentas para contar melhor as histórias (QUINN, 2002, capítulo 3).

14

diversificação na produção do conteúdo, aliado ao próprio histórico do ZiGNOW

em necessitar do trabalho de profissionais em áreas e veículos distintos,

começando pelo então editor que coordenava também o A Tarde On Line, resulta

em uma equipe mais ampla do que os profissionais específicos do sítio de

entretenimento.

2.2. A equipe e as equipes do ZiGNOW

Desde o lançamento, o ZiGNOW possui uma equipe própria, que passou de

dois repórteres e dois webmasters para três repórteres e um editor específico, em

dezembro de 2000. No primeiro ano, o microportal já começava a contar com o

trabalho dos colaboradores, ou seja, jornalistas e estagiários de outras seções da

versão impressa e on-line de A Tarde e os profissionais de informática que, além

da produção, eram responsáveis pela disponibilização das matérias no canal de

entretenimento29. Em junho de 2003, 15 colaboradores30 (alguns deles eventuais)

atuavam no ZiGNOW.

No caso do microportal, o primeiro ponto era identificar quem trabalhava

exclusivamente para o canal de entretenimento e quem trabalhava pontualmente

para o sítio. Nesse sentido, concluímos que seria de interesse identificar a

regularidade do trabalho dos colaboradores. Verificamos que apesar de

semanalmente o sítio possuir matérias de colaboradores, o trabalho de 70% deles

era realizado eventualmente, de acordo com o tempo disponível e com as

necessidades do sítio em cobrir diversos assuntos em um mesmo período. Um

segundo ponto interessante descoberto foi que a equipe do Cineinsite acaba se

tornando também parte da equipe do ZiGNOW. As matérias que compõem a

seção Zignews Cinema pertencem ao microportal de cinema e são

29 CASAIS, Ana Carolina. Entrevista à autora op. cit., Apêndice III, p. 10. 30 Define-se aqui colaborador como o profissional que, mesmo sem regularidade ou vínculo empregatício direto contribui para a produção de conteúdos do microportal. Este parece ser um dos aspectos que muda na relação das publicações com os profissionais.

15

disponibilizadas aos usuários através de hiperlinks para o Cineinsite31. Sendo

assim, a equipe do microportal possui o seguinte perfil:

Figura 2.1 – Os integrantes envolvidos na produção do ZiGNOW acabam sendo divididos

em equipe núcleo (profissionais específicos ao sítio) e colaboradores (profissionais que

eventualmente atuam no sítio).

Uma análise mais aprofundada revela que o ZiGNOW apresenta uma

complexificação do processo de produção. A equipe do sítio é muito mais ampla

do que os quatro integrantes da equipe original. Sendo assim, pode-se afirmar que

o canal de entretenimento funciona, ao menos em parte, de forma

descentralizada, como um rizoma, possuindo duas categorias no que diz respeito

às pessoas envolvidas: uma equipe-núcleo ou fixa, com o papel de organizar e

distribuir a informação através do sítio, e os colaboradores, que ajudam a

alimentar o canal de entretenimento com informações a serem processadas

posteriormente pela equipe fixa. Para compreender melhor esse aspecto, passa-

se agora a analisar os integrantes dessas categorias.

31 A editora do Cineinsite, Ludmila Carvalho, conta que os hiperlinks do ZiGNOW para o sítio de cinema foram estabelecidos para que o microportal de cinema pudesse ter uma visibilidade maior junto aos usuários do portal A Tarde On Line e do ZiGNOW. Entrevista concedida pessoalmente à autora em 5 abr. 2004.

Perfil da equipe

21%

79%

NúcleoColaboradores

16

2.2.1. Núcleo central de produção

Como já foi dito anteriormente, a equipe que trabalha exclusivamente para

o ZiGNOW32 é composta por três repórteres e um editor, este sendo o único

jornalista profissional da equipe. A carga horária de trabalho do editor é de sete

horas diárias, durante seis dias da semana, das 14 às 21 horas. Além de ser

responsável pelo sítio, o editor também produz, eventualmente, matérias para o

canal de entretenimento.

Os repórteres são estagiários da empresa e estudantes de Jornalismo, que

possuem faixa etária entre 20 e 30 anos e rotina de trabalho de cinco horas

semanais, durante seis dias da semana. A remuneração recebida é de R$300. A

jornada de trabalho é ajustada quando a matéria é produzida fora do horário de

trabalho (das 8 às 13 horas ou das 13 às 19 horas). Quando estendem a jornada

de trabalho, é negociada uma folga com a coordenação da Central de Dados e

Informações. Todos atuam dentro da própria CDI, sendo que um repórter do

ZiGNOW e dois colaboradores trabalham no turno da manhã, e o restante, à

tarde33.

Roland De Wolk (2001) lembra que, ao perfil de um jornalista on-line, deve

ser agregado o conhecimento e domínio do meio34. Os novos repórteres-

estagiários que chegavam ao ZiGNOW, seja através de disciplinas de jornalismo

digital abordadas na universidade ou pela própria experiência na utilização do

ciberespaço, acabavam tendo uma visão um pouco melhor da Internet e de como

utilizá-la. A prática diária da redação auxiliava os repórteres a desenvolver

aspectos jornalísticos e técnicos do sítio. Na análise dos questionários, foi

revelado que os repórteres do ZiGNOW são pessoas que possuem razoável

32 Refere-se ao período da pesquisa de campo na redação, realizada no período de 14 a 18 de julho de 2003. 33 Fato registrado na pesquisa de campo à redação, no período de 14 a 18 de julho de 2003. 34 Para atuar na Internet, o jornalista deve procurar aprender a tecnologia da World Wide Web (WWW), dentre eles aspectos como design das páginas, linguagem de programação da Internet (no caso do ZiGNOW, o Hipertext Markup Language – HTML), recursos e ferramentas oferecidas pela rede mundial de computadores. Ver em DE WOLK, 2001, capítulos 1 e 2.

17

conhecimento do meio (66%) (DEFLEUR, 1997; PAUL, 1999; DE WOLK, 2001;

QUINN, 2002), todos sabem o básico de linguagem de programação para Internet

(pois utilizam alguns comandos de HTML para disponibilizar matérias no sítio), e

manipulam os equipamentos técnicos como câmeras digitais, programas de

tratamento de imagens como o Photoshop e utilização de hiperlinks em matérias,

quando necessário.

O próprio De Wolk (2000) ressalta o nível de manipulação das ferramentas

técnicas, que agiliza o processo de apuração da notícia para a Internet. Isso

porque, como foi observado em visita à redação do ZiGNOW, o repórter on-line

converge funções em sua prática jornalística diária, responsabilizando-se pela

pauta, produção, apuração, redação, imagem, edição, revisão, design e

disponibilização da informação para a página eletrônica. Um exemplo disso é que

os repórteres que conheciam melhor o funcionamento das ferramentas técnicas e

da Internet conseguiam realizar o trabalho mais rapidamente do que os colegas

que possuíam nível menor de conhecimento. No modo de produção da equipe,

assunto a ser tratado no próximo capítulo, esses repórteres “técnicos” eram os

que mais realizavam o serviço de design e disponibilização das matérias na rede.

O editor Eugênio Afonso revela que detinha baixo nível de formação e

conhecimento para atuação no meio Web. Sendo assim, o conhecimento de como

desenvolver o trabalho na rede mundial de computadores veio com a prática

diária, através da resolução de problemas e da chegada dos novos repórteres,

que já utilizavam a Internet em condições prévias ao trabalho no sítio.

Eu não tinha muita experiência com o on-line. Quando vim, aprendi na

raça, no trabalho, tanto que esta questão de programação, de linguagem,

eu não sei, não domino. Eu consigo lidar bem com o meu trabalho.

Quando eu entrei eles explicaram: “olha, as matérias são feitas assim,

disponibiliza assado...”, e cada dia a gente aprende um recurso novo, na

prática. Mas realmente eu não tenho teoria sobre isso. Internet só veio ter

pulso no Brasil a partir de 1995 e eu me formei em 96, imagine então.

(AFONSO, 2003)

18

Se considerado o nível de conhecimento para o trabalho voltado para o

ciberespaço, com todas as possibilidades oferecidas pelo meio on-line, a equipe-

núcleo do ZiGNOW revela uma inversão na estrutura hierárquica em relação ao

trabalho jornalístico on-line. O editor, apesar de ser jornalista profissional e estar

ocupando o cargo de chefia, apresenta, em alguns casos, nível de conhecimento

da Internet inferior a repórteres da equipe. O fato reflete o comportamento das

empresas e dos próprios jornalistas de desenvolver a atividade jornalística on-line

através da prática e do conhecimento desenvolvidos nos meios tradicionais.

A descontinuidade da equipe – os estagiários são dispensados quando

terminam o período estipulado no contrato de estágio ou quando obtém a

graduação em Jornalismo – pode se constituir em mais uma barreira na evolução

da prática e, conseqüentemente, da qualidade do conteúdo do microportal. A

constante substituição de membros da equipe (exceto o editor) dificulta o

desenvolvimento de novos aspectos dentro do sítio, que perde a experiência da

prática do processo produtivo realizada pelos repórteres mais antigos e que

poderia facilitar a inclusão de novos elementos e/ou recursos dentro do

microportal. Até abril de 2004, período da apresentação deste trabalho, não foi

registrada contratação de graduados em Jornalismo para atuar no ZiGNOW35.

2.2.2. O rizoma da produção

A complexificação da produção em um veículo on-line pode ser

comprovada no ZiGNOW através do trabalho realizado pelos colaboradores do

sítio. Somada à equipe fixa, o microportal possui 15 colaboradores, divididos em

repórteres, ou seja, estagiários ou jornalistas que trabalham em outras seções do

A Tarde (a exemplo do Plantão de A Tarde On Line e o Alô Redação), e o suporte

técnico do sítio, composto por cinco profissionais de informática do grupo

jornalístico. As especificidades dos colaboradores serão definidos a seguir.

35 Da equipe original existente na pesquisa de campo na redação, apenas um repórter estagiário, juntamente com um produtor cultural, permaneciam no ZiGNOW em abril de 2004. Um repórter foi deslocado para a equipe do Caderno Dez! e o outro, juntamente com o editor, deixaram a empresa.

19

2.2.2.1. Repórteres

O ZiGNOW possui dez repórteres que colaboram semanalmente para o

sítio. Três desses repórteres pertencem à equipe do microportal Cineinsite,

especializado em cinema; quatro atuam no A Tarde On Line; e três são

integrantes do Alô Redação. Dois desses colaboradores são jornalistas

profissionais e oito possuem o mesmo perfil dos repórteres do ZiGNOW, ou seja,

estudantes de Jornalismo e estagiários da empresa, com faixa etária de 20 a 30

anos.

Figura 2.2 – O maior número de colaboradores trabalham no A Tarde On Line, seguindo a

prática realizada no período inicial do ZiGNOW de contar com a colaboração dos

profissionais do portal jornalístico na produção de conteúdo.

A jornada de trabalho dos colaboradores que são estagiários é a mesma

dos estagiários do ZiGNOW, com 5 horas diárias durante seis dias na semana.

Quatro deles trabalham pela manhã e o restante, à tarde. Como pertencem a outro

setor da empresa, o trabalho é realizado fora do expediente (exceto para a equipe

do Cineinsite), sem qualquer ônus para a empresa. A remuneração recebida pelos

estagiários também é de 240 reais. Cerca de 60% deles consideram possuir bom

conhecimento do meio.

Origem dos colaboradores

30%

40%

30%CineinsiteA Tarde On LineAlô Redação

20

Figura 2.3 – Assim como na equipe-núcleo do ZiGNOW, a maioria dos estagiários

trabalham no turno vespertino e possuem remuneração de 1 a 3 salários mínimos.

Os jornalistas profissionais têm uma carga de trabalho de sete horas

diárias, também durante seis dias da semana, com remuneração mensal de Hum

mil e 200 reais36. Um é responsável pelo Cineinsite, no turno da manhã, e o outro

pertence ao A Tarde On Line, com atuação no turno vespertino. Ambos possuem

ótimo conhecimento do meio e um deles já foi repórter do microportal de

entretenimento.

A produção de conteúdo dos colaboradores não possui a mesma

sistematização realizada pelos repórteres do ZiGNOW – exceto para a equipe do

Cineinsite, que possui um sistema próprio de produção para o microportal de

cinema. Os principais fatores observados na pesquisa de campo que determinam

a participação dos colaboradores na produção são: 1) o interesse em produzir

matérias sobre lazer e entretenimento, tema de identificação dos repórteres; 2)

oportunidade em aprender/exercitar a produção de notícias para o meio on-line; e

3) disponibilidade de tempo para produção das matérias, devido ao fato de os

repórteres possuírem outras funções dentro da Central de Dados e Informações (A

Tarde On Line e Alô Redação). As sugestões de pauta são originadas tanto pelo

editor, quanto pelos próprios colaboradores. O prazo de entrega das matérias

pode se tornar mais flexível de acordo com a atualidade do assunto abordado.

36 A informação foi obtida com os repórteres no período analisado.

Jornada de trabalho/Remuneração

0 5 10

1

24 a 6

salários mínimos

1 a 3 salários mínimos

1 - Estagiários2 - Jornalistas

MatutinoVespertino

21

2.2.2.2. Suporte técnico

O suporte técnico do grupo A Tarde, mais especificamente cinco analistas

de desenvolvimento, suporte e projetos Web da empresa, acabam tornando-se

também parte integrante da equipe do ZiGNOW. Somado ao fato de terem

auxiliado na concepção do sítio e a equipe do microportal e de terem iniciado os

trabalhos dividindo o mesmo espaço físico, no primeiro ano de funcionamento, os

profissionais de informática também realizavam a atualização das páginas e,

freqüentemente, produziam conteúdo para o ZiGNOW. Com a mudança da equipe

para o CDI, o suporte técnico passou a atuar apenas na resolução de problemas e

realização de modificações nas páginas, quando necessário. A categorização do

trabalho da equipe de informática do grupo A Tarde como colaboradores do

ZIGNOW ocorre pelo fato desses profissionais não trabalharem exclusivamente

para o microportal, estando responsáveis por todo o conteúdo on-line do grupo

jornalístico.

A partir da adoção de uma nova forma de pensar a estrutura organizacional

de uma empresa e/ou publicação jornalística para a Web, em lugar da estrutura

inicial simples e pouco rígida quando da criação do microportal, o ambiente do

ZiGNOW foi gradativa e empiricamente se tornando mais complexo a partir das

atribuições mais específicas atribuídas aos integrantes da equipe. A mudança do

setor de informática (provedor) para dividir o ambiente da redação impressa,

assim como a definição de um jornalista para a edição de uma publicação on-line

revela a evolução do A Tarde para o que Quinn (2003) e De Wolk (2000)

defendem como alguns dos fatores para o desenvolvimento da prática jornalística

multimídia. A liberdade de participação dos colaboradores, presente no ZiGNOW,

é defendida pelo diretor de notícias da CNN.com, John Buston, que afirma: “... é

impossível guiar uma redação como uma operação militar. Você tem que dar a

própria liberdade das pessoas e obter disso trabalho” (QUINN, 2003:38). Até aqui

foi visto como se estrutura o processo de produção do ZiGNOW. No próximo

capítulo será visto como permanece evidente a necessidade de uma melhor

sistematização da produção de cada integrante da equipe do sítio, que se fosse

22

melhor normatizada contribuiria para distribuir de forma mais homogênea a

atualização e para o aumento da qualidade do conteúdo do microportal de

entretenimento.

23

Capítulo II MODO DE PRODUÇÃO

24

3. MUDANÇAS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO

Como já foi visto no capítulo anterior, depois das reformulações nos

modelos de produção ao longo dos quatro anos de funcionamento, o ZiGNOW

apresenta hoje um sistema de trabalho em equipe com base em dois principais

fatores: a divisão de tarefas entre os integrantes da equipe e a produção

descentralizada, que ultrapassa o limite rígido das editorias encontrado nos

modelos de produção jornalística nos meios tradicionais. Neste capítulo, serão

tratados agora os pontos mais evidentes destas mudanças.

3.1. Divisão de tarefas

Na divisão de tarefas, cada repórter e colaborador é responsável por todas

as etapas de construção da notícia, desde a elaboração da pauta, sugerida ao

editor, a apuração, o contato direto com as fontes, o texto e as fotos para

ilustração da matéria, assim como define De Wolk (2000:111): “O discurso tão

propagado da convergência dos meios evidencia por si mesmo a convergência de

muitas funções que você próprio deve assumir”37. A exemplo dos repórteres on-

line, o diferencial dos profissionais do ZiGNOW é que, além dessas atribuições,

possuem a função de disponibilizar as matérias para o sítio, fazendo um revisão

prévia e finalização de detalhes na matéria, como a edição das imagens. O editor

é responsável por fazer a supervisão do conteúdo, que é disponibilizado em

definitivo no canal de entretenimento.

Até maio de 2003, a equipe trabalhava seguindo o sistema utilizado no meio

impresso, ou seja, através de editorias. Cada repórter ficava responsabilizado por

uma função dentro do sítio, no qual um dos integrantes respondia pela fotografia,

o segundo fazia as coberturas e o terceiro fazia os ajustes finais na matéria e

37 Citação original em inglês. Livre tradução da autora.

25

disponibilizava-a nas páginas. Desde então, a divisão de tarefas é definida através

de dois principais pontos: 1) da divisão do assunto de interesse do repórter e do

colaborador dentro dos temas abordados pelo ZiGNOW – teatro, cinema, música,

artes plásticas e comportamento e 2) da habilidade do profissional na manipulação

das ferramentas técnicas para a produção de notícias. Em pesquisa de campo na

redação do ZiGNOW, foi constatado o que De Wolk (2000) define como sendo o

perfil multimediático necessário a um jornalista que trabalhe em um ambiente on-

line. Neste aspecto, foi visto que o jornalista escolhe uma pauta e desenvolve

todas as etapas do processo da produção à construção da notícia, desde o

contato com as fontes até a disponibilização do conteúdo produzido por ele e por

outros repórteres e colaboradores do sítio38.

3.2. Produção descentralizada

Através da divisão de tarefas, o ZiGNOW apresenta como segundo aspecto

a produção descentralizada. O sítio possui o seu conteúdo complementado com

textos de colaboradores, que são convidados pelo editor a participar do processo

de produção do ZiGNOW. Os colaboradores, em relação aos repórteres, possuem

uma liberdade maior para sugerir assuntos e obter prazos para a entrega, que é

feito de acordo com o tempo disponível entre outras atividades realizadas,

inclusive dentro do jornal. O ZiGNOW apresenta como aspecto interessante a

integração com conteúdos de outros meios dentro do jornal A Tarde, seja por meio

do A Tarde On Line, com a utilização de matérias do Cineinsite quando refere-se à

notícias de cinema, ou da própria versão impressa de A Tarde, com matérias

oriundas do Caderno 2 ou do Caderno Dez!, especializados em cultura e

comportamento. Essa prática auxilia na rapidez e diversificação dos conteúdos

dentro do microportal.

38 Roland De Wolk (2001) afirma que os jornalistas no meio on-line estão desenvolvendo cada vez mais as funções de repórter, editor e produtor. “Em resumo, todos os empregos que talvez você cobice, despreze ou desempenhe serão todos seus no mesmo estágio” (DE WOLK, 2001:111). Citação original em inglês. Livre tradução da autora.

26

O ZiGNOW também possui, ainda que timidamente, características de

produção fora dos limites da redação. Os repórteres da equipe, assim como os

colaboradores, podem produzir e construir os textos fora do ambiente físico do

sítio. Freqüentemente, os textos são escritos em casa e enviados à redação por e-

mail. Um dos repórteres e o editor fazem atualizações do conteúdo do sítio

(disponibilização das matérias) da própria casa. Isso porque a atualização do

ZiGNOW pode ser feita em qualquer lugar que possua um terminal conectado à

rede mundial de computadores, pois a página de administração do sítio está

disponibilizada na Internet39. O acesso é feito através de um login (username ou

nome do usuário) e uma senha, mesmo sistema utilizado no acesso de e-mails e

intranet.

Elias Machado (2000) destaca que a tendência de produção realizada fora

do ambiente físico da redação deve ser desenvolvida através da racionalização

das práticas produtivas nos meios multimidiáticos. Assim como o que ocorre no

ZiGNOW, o autor ressalta que as empresas jornalísticas seguem com a função de

ser o espaço de trabalho dos jornalistas no qual, somente em casos excepcionais,

os profissionais realizam o trabalho em casa. No entanto, a configuração do

trabalho jornalístico no ciberespaço traz como mudança o próprio conceito do

ambiente onde trabalham os jornalistas. “A redação tende a deixar de ocupar um

espaço central único de encontro de todos os profissionais para configurar-se

somente como um espaço virtual de onde é feita a gestão, hierarquização e

edição da notícia40” (MACHADO, 2000:238). As mudanças também são

estendidas à função do jornalista que, para o autor, não é mais apenas um mero

repórter que entra em contato com as fontes. Na produção de notícias para a

Internet, o profissional também está envolvido com a organização e seleção de

notícias oriundas das agências noticiosas, encontradas em bases de dados,

veiculadas no rádio e na TV e recebidas pelo correio eletrônico. Essa prática

possibilita seguir uma das características do ambiente on-line, que é a atualização

constante do conteúdo.

40 Citação original em espanhol. Livre tradução da autora.

27

No caso do ZiGNOW, o processo de produção segue as características dos

processos realizados pelos meios tradicionais. O trabalho concentrado dentro do

ambiente físico da redação é a primeira delas. A justificativa do editor Eugênio

Afonso é de que o contato pessoal ainda é importante, acreditando que, na

redação, os repórteres encontram um ambiente mais propício para a produção por

estarem em contato com outros profissionais e terem à disposição os recursos

materiais (jornal, TV, telefone, Internet, equipamentos digitais)41.

A equipe também constrói a rotina de produção diária. As segundas-feiras

são reservadas para atualização das páginas com o material produzido no final de

semana, composto pelas coberturas de shows ou outros eventos artísticos. A

reunião de pauta é feita às segundas-feiras ou, na falta de tempo, às terças-feiras.

Até às sextas-feiras, o tempo é reservado para resolução de pendências de textos

para disponibilização no sítio, produção, apuração e edição do conteúdo. Para os

finais de semana é adotado o sistema de rodízio no qual, pelo menos, um repórter

é dispensado e os outros fazem cobertura dos eventos.

As reuniões de pauta são compostas pelo editor e os três repórteres do

ZiGNOW, nas quais são definidos os assuntos a serem abordados na semana,

essencialmente eventos que estão acontecendo ou vão acontecer naquele

período na cidade, e atribuição das pautas aos repórteres. Os colaboradores dão

sugestões de eventos ou assuntos que eles podem produzir naquela semana,

assim como o editor sugere que algum deles faça matérias sobre determinado

assunto levantado na reunião de pauta, que não poderá ser coberto pelos

repórteres devido à falta de tempo.

3.3. O ponto local dentro do ambiente global

3.3.1. Predominância dos fatos locais

41 AFONSO, Eugênio. Entrevista à autora op. cit.

28

Em uma análise do ZiGNOW no período de 1º a 7 de junho de 2003, foram

registrados 120 textos entre notas, reportagens e matérias42, e 81 fotos. Como

pode ser comprovado no gráfico abaixo, o ZiGNOW possui a característica de

revista eletrônica, por possuir a maior parte de seu conteúdo (disponibilizado em

chamadas nas páginas), matérias que foram produzidas em um período anterior

ao escolhido para a análise deste trabalho. Como produto do grupo A Tarde

voltado para o público baiano, mais precisamente de Salvador ou turistas que

chegam à cidade, o ZiGNOW possui cobertura de fatos predominantemente

locais.

Origem das matérias

89%

8% 3%

LocalNacionalInternacional

Figura 3.1 – A produção de matérias no ZiGNOW privilegia a produção de matérias de

caráter local, ressaltando a proximidade dos fatos com a realidade do leitor.

A predominância dos fatos locais no conteúdo do ZiGNOW constitui-se

como um paradoxo ao conteúdo apresentado pelo A Tarde On Line, que possui

pouca abordagem de fatos ocorridos em Salvador e no interior da Bahia43. No

estudo acerca dos portais jornalísticos baianos, Elias Machado revela que a pouca

42 A autora deste trabalho considera notas como textos pequenos com, em média, cinco linhas. A matéria possui apenas uma tela de texto, independente do número de parágrafos, e apenas descreve o fato. Já a reportagem possui geralmente duas telas ou mais de texto, interligadas por links, ou ocupar apenas uma tela, desde que o repórter tenha necessitado realizar pesquisas para construção do texto. 43 O trabalho realizado por Machado (2003) teve como objeto de estudo a análise do Plantão de notícias de A Tarde On Line no período de 1º a 7 de julho de 2002. Nos sete dias de análise, foram registradas 661 notas, sendo 103 notícias locais, 11 notícias do interior, 335 notícias nacionais e 169 notícias internacionais. O Plantão de notícias foi o primeiro conteúdo exclusivamente on-line do portal jornalístico baiano (MARCOS, V., 2004, op. cit.).

29

abordagem de notícias locais no A Tarde On Line “é uma das conseqüências do

modelo de produção que, por centrar o foco da cobertura na publicação de

matérias cedidas pelas agências, coloca o conteúdo jornalístico local em plano

secundário” (MACHADO, 2003:82). No caso do ZiGNOW, nota-se que a

descentralização da produção através da agregação do trabalho de colaboradores

e da definição de tarefas contribui para que o microportal possua um conteúdo

voltado para o público baiano, mais precisamente de Salvador.

3.3.2. A informação pontual

Ao considerar apenas a produção feita durante os sete dias em que foi

analisado, pode-se observar que a maior quantidade de textos presentes no

ZiGNOW são notas, presentes nos canais Roteiro e na coluna Hoje, das seções

do canal Zignews. Nesse caso, as notas são disponibilizadas de acordo com o

programa do sítio, onde os repórteres já definem as datas de realização do

evento, e o próprio sistema faz a atualização diária automaticamente.

Tipos de matérias

14%

64%

2%

2%

18%

MatériasNotasReportagemEntrevistaChamadas

Gráfico 3.2 – O tipo de matéria disponibilizada no sítio influi diretamente no tempo de produção

dispensado pelo repórter

30

O gráfico acaba comprovando o perfil do leitor on-line e que serve de

orientação para o planejamento jornalístico na Internet, levantado por Moherdaui

(2000)44:

O que mais chama a atenção dos leitores de notícias na Web é o título

das matérias. Logo em seguida estão as fotos e as chamadas. Conteúdo

e lead se tornam secundários quando o assunto é mídia digital. Os

usuários gastam cerca de 15 a 30 minutos lendo notícias na rede. E

preferem matérias editadas em blocos de textos com hipertexto,

estruturadas em forma de pirâmide invertida (MOHERDAUI, 2000:56).

Ao verificar as notas como texto predominante no ZiGNOW, pode-se

afirmar que o sítio apresenta também uma forte característica de roteiro cultural

para os usuários. As notas, compostas por nome do evento, data, local e preço

(quando necessário) estão presentes na página principal do microportal (seção

Rapidinhas), no canal Roteiro e nas seções do Zignews (ambos detalhados no

próximo capítulo).

3.3.3. A “ilustralização” dos fatos

Mesmo com a diversificação no conteúdo o ZiGNOW segue o propósito

inicial de possuir como destaque as fotos disponibilizadas nas páginas. O sítio de

entretenimento possui maior cobertura fotográfica do que textual, como pode ser

verificado no gráfico abaixo:

44 Para traçar o perfil do usuário que utiliza o ciberespaço, Luciana Moherdaui fez uma pesquisa de campo com aplicação de questionário a 301 estudantes de Comunicação Social do estado de São Paulo. Os resultados podem ser vistos em MOHERDAUI, 2000, pp. 41-53.

31

Produção de imagem/texto

60%

40%FotosTextos

Gráfico 3.3 – Mesmo com a diversificação dos conteúdos do sítio, as fotos seguem predominando

o conteúdo do ZiGNOW, principalmente no canal Coberturas e Qual é a Boa?

A ampla cobertura fotográfica também está associada ao perfil do usuário

da Internet levantado por Moherdaui (2000) ou, neste caso, usuário do ZiGNOW,

com o objetivo de relatar com maiores detalhes o que ocorreu no evento, desde a

presença do artista no palco ao público presente no evento. Ao considerar o

planejamento de notícias para a Internet, aproveitando a possibilidade de recursos

oferecidos pela rede mundial de computadores, o número de fotos poderia ser

menor se a equipe contasse com o recurso do vídeo, que possui um riqueza de

detalhes ainda maior. As fotos estariam presentes como um recurso visual a mais

para o usuário no caso de existirem problemas como ausência do programa de

exibição de vídeo ou baixa velocidade de conexão à Internet.

3.4. O ZiGNOW como revista eletrônica

Os repórteres do ZiGNOW disponibilizam matérias de acordo com um

sistema de publicação concebido pela setor de desenvolvimento Web de A Tarde,

no qual o repórter apenas insere as informações de acordo com o canal a ser

trabalhado. Nesse sistema ou template, em formato de gabarito, estão definidas

toda a disposição gráfica e funcional do sítio – tamanho das fotos, posição do

texto e quantidade de chamadas. O acesso à chamada página de administração

do sítio (ou ADM do site, como é chamado) é feito por meio do programa FTP

32

Explorer. Nas páginas de administração, os repórteres devem cadastrar a matéria

de acordo com o assunto abordado e a seção a ser disponibilizada. Ao colocar o

texto no “gabarito” são inseridos também alguns códigos básicos de HTML para

determinar aspectos como parágrafos, cor e tipo da fonte utilizada, posição da foto

na matéria e hiperlinks, dentre outros. Em alguns canais, os repórteres possuem

liberdade um pouco maior para dispor a matéria de modos diferentes, como

colocar um número maior de fotos, hiperlinks e sons45. Nas mudanças mais

profundas, é necessário entrar em contato com a equipe de desenvolvimento

Web. Um aspecto curioso diz respeito à própria montagem da matéria a ser

disponibilizada na Internet, pois, para saber como a página será vista pelos

usuários, assim como corrigir falhas e fazer ajustes, os repórteres têm que

disponibilizá-la na rede. O processo é feito rapidamente, para que o usuário não

tenha tempo hábil de ver a página sendo construída.

A média de produção semanal dos repórteres e colaboradores é de 1 a 3

matérias e reportagens e 4 a 6 notas. O tempo gasto em uma matéria ou

reportagem, considerando da apuração à disponibilização na Internet e destacado

pela equipe, é de mais de dez horas. A atualização do sítio é feita da mesma

maneira que os portais locais, assim definidos:

“Os portais locais [...] adotaram uma linguagem híbrida, que mescla o

jornalismo diário (fornecem notícias de última hora produzidas pelas suas

equipes ou através do sistema de clipping de notícias) com o semanal

(pois muitas matérias têm uma permanência maior no ar, o que se

aproxima do jornalismo de revista, em mais uma metáfora com o meio

impresso).” (BARBOSA, 2001, p.7)

45 O trabalho de graduação de Admilson Santos (2003) sobre o cenário da música eletrônica na Bahia é um exemplo da liberdade de escolha de temas pelo repórter no ZiGNOW e, principalmente, a visão que o jornalista deve possuir ao construir uma matéria na Internet, considerando os recursos oferecidos pelo meio (DE WOLK, 2001; REDDICK e KING, 1995; PAUL, 1999; MOHERDAUI, 2000; e QUINN, 2002) . O autor, na época repórter do microportal, fez uma série de reportagens para o sítio utilizando como recursos a mudança de hiperlinks à cada página visitada, para orientação da leitura da reportagem pelos usuários, e a disponibilização de canções pertencentes ao gênero abordado para conhecimento daqueles que tivessem acesso às páginas. Disponível em <http://www.zignow.com.br/zignews/ler.php?id_zignews=10281&id_tipo=7>. Acesso em 15.02.2004.

33

O fato é comprovado ao comparar o número de matérias disponibilizadas

aos usuários com o número de matérias produzidas na semana em que foi

analisado:

Temporalidade das matérias

52%48% Antigas

Novas

Figura 3.4. – O conteúdo do ZiGNOW possui como uma das características a

predominância de matérias “antigas” no sítio.

Durante a análise, canais permaneceram com a mesma matéria durante

mais de sete dias (como o caso do Perfil, cuja personalidade abordada foi Gal

Costa. A matéria ficou no canal desde 28 de maio de 2003, data em que foi

disponibilizada). Neste sentido, o ZiGNOW apresenta a característica dos portais

locais, com o misto de atualização diária (a cada dia é disponibilizado algum texto novo) e atualização semanal (com matérias que ficam por mais tempo na rede, a

exemplo do canal “Perfil”). A justificativa do editor, Eugênio Afonso, é de que, como o ZiGNOW possui

uma característica de revista cultural, há matérias que podem ficar disponíveis por

mais tempo. À medida em que as matérias vão sendo cumpridas elas são

imediatamente disponibilizadas. As coberturas têm que entrar

imediatamente, afinal de contas a gente trabalha com o on-line. Essas

matérias entram no mesmo dia que é feita ou no dia seguinte. Quanto

às outras matérias a gente tem uma periodicidade um pouco maior,

porque se você coloca a entrevista em um dia, e no outro dia uma

outra entrevista, não dá tempo de todo mundo ler (AFONSO, 2003).

34

Ao considerar o tempo de produção e apuração das notícias dos repórteres

do ZiGNOW, pode-se comprovar que, apesar da característica da instantaneidade

da Internet, que acaba pressionando os jornalistas a divulgar a notícia o mais

rápido possível46, na visita ao ZiGNOW foi observado que os repórteres não

possuem necessariamente esta pressão, ou seja, a preocupação principal dos

repórteres é a apuração dos fatos e como a notícia será disponibilizada para o

sítio.

A escassez de atualização do ZiGNOW está concentrada nos finais de

semana. Os sábados e domingos são destinados à cobertura dos eventos que

acontecem na cidade e, por isso, não há repórteres na redação para

disponibilização das matérias no microportal47. Apesar da possibilidade que o

próprio ZiGNOW possui da disponibilização de matérias fora do ambiente da

redação, realizado eventualmente pelo editor e um dos repórteres, é no próprio

CDI onde são realizados majoritariamente todo o processo técnico de colocar as

informações na rede48.

Produção por data

21%

12%

10%7%19%

24%

7% 1/6/20032/6/20033/6/20034/6/20035/6/20036/3/20067/6/2003

Figura 3.5 – A maior quantidade de matérias é disponibilizada no ZiGNOW na segunda-feira,

quando são divulgadas as coberturas realizadas no final de semana, e na sexta-feira, quando o

sítio prepara o usuário para o lazer do final de semana. 46 ADGHIRNI, Z. L. Jornalismo online: em busca do tempo real. Trabalho apresentado no XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação. Salvador: Intercom, 1 a 5 set.2002. 47 AFONSO, Eugênio. Entrevista à autora op. cit, Apêndice II, p. 9. 48 Idem.

35

A explicação apresentada pelo editor do ZiGNOW para o problema é de

que, como 78,5% dos repórteres e colaboradores são estagiários, a remuneração

e a carga horária destinadas a eles, menor que a de um jornalista profissional,

acabam influenciando na produção para o sítio. O fato levanta uma possibilidade

que poderia ser adotada pela própria equipe, ou seja, um melhor gerenciamento

da produção, defendido por Machado (2000) e Quinn (2003), resultaria em uma

atualização de modo constante mesmo com a equipe de estagiários, como a

redistribuição do horário dos integrantes envolvidos, e a convergência/

disponibilização de conteúdos do A Tarde On Line e da versão impressa de A

Tarde (já realizado parcialmente pela equipe do microportal).

A configuração do ZiGNOW como portal local (BARBOSA, 2000) é evidente

na cobertura de fatos predominantemente locais produzido pelo microportal na

utilização da informação de proximidade no próprio conteúdo (BARBOSA, 2001),

assim como a atualização mesclada entre o jornalismo diário e o semanal

(BARBOSA, 2000), resultando no que o próprio editor Eugênio Afonso define

como “revista eletrônica”.

Diante do panorama da atualização de conteúdo no ZiGNOW, é necessário

identificar um aspecto que é um dos principais fatores para a produção e possível

agilização do trabalho jornalístico para a Internet. As técnicas de apuração

adotadas pelo jornalista, mesmo nos meios impresso, radiofônico e televisivo,

devem associar as técnicas tradicionais com os diversos recursos eletrônicos

introduzidos nas redações (DEFLEUR, 1999) e os diversos recursos e fontes

disponíveis no ciberespaço (REDDICK&KING, 1995; PAUL, 1999; DE WOLK,

2000; RADFORD et. alli, 2002; MACHADO, 2003). Sendo assim, as técnicas de

apuração adotadas pela equipe do ZiGNOW passam a ser vistas com maiores

detalhes a seguir.

36

4. O MODELO TRADICIONAL COMO PREDOMINANTE NAS TÉCNICAS DE APURAÇÃO PARA O ZiGNOW

Na observação e descrição dos componentes e contexto do ZiGNOW, foi

visto que os repórteres e colaboradores possuem como perfil o conhecimento

básico do meio Web para produção de matérias para a Internet e que este

conhecimento, aliado ao ambiente e instalações físicas em que trabalham,

resultam em uma produção jornalística bastante significativa. O tempo, na

produção do ZiGNOW, é visto como um fator importante, porém o que determina a

atualização do sítio é a qualidade da matéria produzida pelo repórter.

Com as mudanças na estrutura do sítio, resultado da ampliação da

abordagem de temas em lazer e entretenimento, a equipe sente necessidade de

reorganizar e readaptar a prática jornalística para a Internet (QUINN, 2002),

considerando aspectos característicos do meio. Desde o surgimento do ZiGNOW,

os repórteres lidavam com a ausência do fechamento diário, ou seja, os textos

devem ser disponibilizados à medida em que são finalizados, assim como o

desenvolvimento de estratégias para a busca e apuração dos dados, com a

utilização de técnicas de apuração apropriadas que atendam ao objetivo de

oferecer a melhor informação aos usuários. Nessa produção de conteúdo para um

veículo exclusivamente on-line, é necessário saber quais são as técnicas de

apuração utilizadas pelos repórteres e como essas técnicas afetam a produção

(atualização) do sítio.

As técnicas de apuração no jornalismo evoluem de acordo com o meio em

que a notícia é disponibilizada ao público, somadas à tecnologia disponível a ser

utilizada no trabalho diário das redações. Em uma abordagem histórica que vai da

criação do ábaco até a tabulação dos dados no computador, DeFleur (1999:22-39)

ressalta a importância do uso da tecnologia na investigação, apuração e

interpretação dos fatos na construção da notícia. No caso da prática do jornalismo

37

investigativo, a autora mostra que, desde a incorporação das redes nas redações

no final da Segunda Guerra Mundial, os repórteres vêm evoluindo na adoção de

técnicas de apuração de notícias. Além de utilizar as técnicas tradicionais49, os

repórteres passaram a incorporar também as novas tecnologias na apuração dos

fatos, tornando a produção de notícias cada vez mais rápida e eficiente.

O ponto de partida para a identificação das técnicas de apuração é tentar

definir o que se entende por técnica. Ao fazer a distinção entre metodologia e

técnica, DeFleur (1997) traz a seguinte definição:

As técnicas são operações específicas por cada um [jornalistas] para coletar e analisar dados. Na pesquisa em Ciências Sociais, elas consistem em operações de maneira a selecionar provas, utilizando uma escala de atitude, igualando assuntos para um experimento ou calculando a probabilidade de um teste estatístico50. (DEFLEUR, 1997: 211-2)

Nesse sentido, pode-se compreender que a técnica utilizada pelo repórter

depende do conhecimento das ferramentas, do meio jornalístico em que está

inserido e do propósito definido pelo sítio. Como o ZiGNOW possui três fases

evolutivas51, as técnicas de apuração acabam acompanhando todo o processo de

mudanças, tanto no ambiente quanto na própria produção da equipe.

• Primeira fase: A primeira fase do ZiGNOW, como já foi demonstrado

anteriormente, possui como foco apenas a cobertura de eventos realizados em

Salvador, no qual as fotografias são o elemento principal na maneira de contar

o fato aos usuários. Na época do surgimento do ZiGNOW, os repórteres que

foram atuar no sítio eram estagiários do A Tarde On Line, devido ao fato de

possuírem um certo conhecimento do meio e da produção para o meio Web

49 As técnicas tradicionais no jornalismo investigativo são as entrevistas realizadas com fontes oficiais e não-oficiais, dicas fornecidas pelos informantes, documentos e informações vazados ou deixados para trás nos arquivos governamentais, negociação de idéias, raciocínios indutivos e sorte. (DEFLEUR, 1997, pp. 1-2). 50 Citação original em inglês. Livre tradução da autora. 51 Estas fases são aqui definidas como um recurso metodológico para facilitar a compreensão das mudanças sofridas pelo microportal ao longo dos anos. Na prática, os três modelos de produção ainda convivem dentro do ZiGNOW e, dependendo das circunstâncias, um acaba se sobrepondo ao outro.

38

que, até hoje, não é muito distinto da produção realizada para o meio

impresso. Na primeira fase, definida a pauta a partir de releases e de matérias

publicadas no Caderno 2, os repórteres começavam a apuração dos fatos por

meio de contatos telefônicos com os produtores dos eventos. Com eles,

levantavam-se informações mais precisas sobre o evento, como objetivo, dia,

horário, local e preço, e marcavam a cobertura do fato no dia e horário de

realização do mesmo. Os repórteres necessitavam ir até o local para registrar o

evento, com anotações e fotografias dos artistas e público presentes no local.

Figura 4.1 – A Internet predomina como o meio mais utilizado pelos repórteres e colaboradores-

repórteres do ZiGNOW na produção de conteúdo, seguido do jornais/revistas e outros (como

telefone ou contato pessoal). Apesar de estar sempre ligada na Central de Dados e Informações

(CDI), a TV não foi citada como o meio mais utilizado para obter informações.

* Segunda fase: Com as mudanças no modelo de produção, resultando em um

maior aprofundamento e diversificação dos textos, os repórteres necessitaram

readaptar a prática jornalística às novas exigências do ZiGNOW, adicionando

algumas técnicas de apuração para a realização do trabalho jornalístico. O

primeiro ponto é a realização de pesquisas para melhor contextualizar uma

assunto abordado no sítio, através de outros meios. Em vez de ser apenas um

meio, a Internet passa a ser também ferramenta e fonte de informação para a

equipe. A pesquisa de assuntos é realizada por meio de mecanismos de busca (o

Google e o Yahoo! são as ferramentas mais utilizadas pelos repórteres), em

conjunto com o e-mail. No primeiro caso, os jornalistas procuram visitar páginas

Meios mais utilizados

0%

0%

49%

38%

13%RádioTVInternetJornais/RevistasOutros

39

na rede na busca de dados textuais ou visuais para complementar os dados da

notícia ou mesmo construir a notícia, como no caso da seção Perfil, que veremos

mais adiante. No caso do e-mail, a equipe pode receber mensagens que se

transformam em assuntos para pautas, releases de eventos e até mesmo

entrevistas com as fontes onde, neste último caso, é feito previamente um contato

telefônico.

Na busca da informação, o primeiro aspecto a ser apurado no assunto a ser

abordado pelo repórter diz respeito às fontes que ele deve entrar em contato.

Nesse aspecto, podemos encontrar uma complexificação na definição do tipo de

fonte utilizada pelo jornalista. No ZiGNOW, pode-se definir como fontes oficiais os

próprios artistas e personalidades baianos, os assessores de imprensa e

produtores desses artistas ou de eventos culturais de Salvador. Na categoria de

fontes não-oficiais, estariam os usuários do sítio, os meios jornalísticos (mais

precisamente o Caderno 2 e os programas jornalísticos televisivos) e a Internet.

As fontes utilizadas com maior freqüência para a realização das matérias são as

fontes oficiais, pois o sítio conserva como característica principal ser um espaço

de divulgação da cultura e entretenimento local, nos quais artistas e

personalidades voltam à natureza apresentada pelos outros meios de ocupar

posição de destaque no cenário cultural da Bahia.

* Terceira fase: O acesso à cada tipo de fonte no processo de apuração

jornalística é diferenciada. No caso das fontes oficiais, as informações podem ser

acessadas diretamente por entrevistas, envio de releases à redação, contatos

telefônicos com artistas e produtores, e-mail e páginas oficiais das personalidades.

No caso das fontes não-oficiais, a acessibilidade é mais fácil para os repórteres,

devido à interatividade possibilitada pela Internet (onde os usuários podem efetuar

a comunicação com a equipe através do próprio sítio) e o alcance dos meios

tradicionais. A complexificação pode ser comprovada pelo acesso facilitado às

fontes com a utilização da Internet. Isso porque os próprios artistas, conhecidos ou

não do público podem, utilizando a rede mundial de computadores, disponibilizar

páginas divulgando as próprias informações, muitas vezes direcionadas aos

40

jornalistas nas chamadas “salas de imprensa”52. Se, por um lado, possibilitam aos

repórteres do ZiGNOW acesso à fontes diversificadas, por outro lado pode se

constituir em uma dificuldade no momento da apuração, devido à gama de

informações que são disponibilizadas ao mesmo tempo.

É interessante observar que a Internet, quando utilizada como fonte de

informação para os repórteres do ZiGNOW, possui o caráter de instrumento para o

repórter encontrar outras fontes de informação. Neste caso, as páginas mais

acessadas são as de caráter jornalístico e de entretenimento (mais precisamente

páginas oficiais de artistas, personalidades e eventos). Os repórteres são

desprovidos de orientações de como utilizar as informações presentes na rede,

assim como a adoção de critérios para analisar a confiabilidade das informações

disponibilizadas nas páginas53. No entanto, os repórteres acessam mais de um

sítio sobre um determinado assunto, o que pode minimizar a dúvida quanto à

qualidade da informação disponibilizada aos usuários no produto final.

O veículo impresso, ou seja, o Caderno 2 do jornal A Tarde, é utilizado

como fonte de informação dos eventos que acontecem na cidade. Neste caderno,

os repórteres verificam o roteiro cultural e retiram informações para pautas,

matérias e notas produzidas para o sítio. No ambiente do CDI, todos os

repórteres, inclusive a equipe do ZiGNOW, estão conectados à internet todo o

tempo em que alimentam o conteúdo on-line do portal A Tarde. Na sala há uma

TV, que permanece ligada em todos os horários em que está sendo exibido algum

telejornal.

Para verificar melhor o uso das técnicas de apuração no ZiGNOW, foram

analisados os canais do sítio e como essas técnicas são aplicadas de acordo com

as especificidades de cada canal. Apesar de possuir dez canais, serão analisados

aqui apenas seis deles, por considerar que as seções Cadastro, Promoções e 52 Para um aprofundamento deste assunto, ver BUENO, W.S. Fala, jornalista. São Paulo, 2001. Disponível em <http://www.comunicaçãoempresarial.com.br/pesquisafaleconoscojornalista.htm> Acesso em 13 abr.2002. 53 Para consulta e utilização de informações presentes na Internet, o jornalista deve seguir alguns critérios para garantir a confiabilidade das informações, que podem ser vistos em guias de Internet para jornalistas, a exemplo de DEFLEUR, 1997, PAUL, 1999, RADFORD et. alli, 2001; e CALLAHAN, 2001.

41

Solte o Verbo! (mensagens e recados dos usuários) não possuem textos

jornalísticos, ou seja, não necessitam de apuração, e o canal Namoro Bahia por

ser um outro microportal dentro de A Tarde On Line, especializado em encontros

amorosos, que era produzido por uma empresa terceirizada, sem possuir também

material jornalístico.

4.1. Roteiro

A seção Roteiro é constituída por um calendário de eventos realizados na

cidade para o mês corrente, bastando para o usuário clicar o dia desejado para

saber quais as apresentações que ocorrerão na cidade, com informações sobre o

evento, local e preço. Os eventos estão divididos em Festa&Show, Teatro&Dança

e Curso&Exposição. Se preferir, o usuário pode fazer a busca por artista, local,

gênero e/ou preço.

Para a produção das notas da seção, os repórteres fazem a apuração,

freqüentemente, a partir das informações divulgadas no roteiro e matérias

produzidas pela equipe do Caderno 2, da versão impressa do jornal, releases e e-

mails enviados à redação. Os repórteres dão uma nova redação à informação,

adequando-a ao perfil do ZiGNOW. A atualização acontece diariamente apenas

quanto ao tópico Festa&Shows. Os outros tópicos, Teatro e Outros (referente a

outros tipos de eventos), são atualizados, pelo menos, uma vez a cada semana.

Esse procedimento é tomado pelo repórteres devido à própria programação do

ZiGNOW, onde os repórteres podem inserir a informação com as datas dos

eventos a serem realizados no mês corrente, e o próprio programa vai realizando

a atualização automaticamente, de acordo com o dia. É a única seção que

dispensa a produção de colaboradores.

42

4.2. Coberturas

A seção Coberturas é composta por fotos e descrição dos eventos de maior

destaque ocorridos em Salvador, podendo o usuário fazer uma busca por festa

(nome do evento), e atribuir uma nota para o evento. A página eletrônica informa a

nota geral dada pelos usuários.

Na apuração de notícias para esta seção, o repórter procura saber quais os

eventos acontecerão na cidade por meio de divulgação realizada em outros meios

(principalmente jornal impresso), de releases enviados à redação do jornal ou

mesmo de dicas de outras fontes. Ao saber do evento e da proximidade da data

de realização, ele entra em contato com a fonte (empresário ou produção do

evento) para saber mais informações, assim como pedir autorização para realizar

a cobertura. No dia e horário do evento, o repórter vai até o local e faz a cobertura

fotográfica e posteriomente textual do evento.

4.3. Qual é a Boa?

Esta é a seção responsável pelas dicas culturais sobre exposições, locais

ou culinárias interessantes em Salvador. O usuário pode enviar um comentário

opinando sobre o assunto abordado. Por ser uma seção onde trata

especificamente de eventos que não se encaixam nas seções Música,

Teatro&Dança, Cinema e Mais Notícias, a exemplo de exposições, o repórter

procura saber, novamente através de divulgação em outros meios, releases ou

dicas fornecidas por outras fontes, informações sobre os eventos ou atividades

que estão acontecendo na cidade. O repórter vai até o local, procura a fonte

responsável pelo evento, obtém as informações e registra imagens do evento, que

depois serão disponibilizadas no sítio.

43

4.4. Perfil

Nesta seção é realizada uma descrição sobre fatos interessantes da vida ou

carreira de algum artista que esteja em destaque no país. O usuário pode acessar

o perfil de outros artistas apresentados na seção. Nela, os repórteres utilizam

maior quantidade de informações extraídas da Internet. Para isso, os repórteres

costumam utilizar as ferramentas de busca, como o Google e o Yahoo!, para fazer

pesquisas e obter mais informações sobre a personalidade da semana. É comum

os repórteres utilizarem arquivos de publicações on-line ou sítios oficiais das

personalidades, se existir, para redigir o texto e extrair imagens do artista. Quando

encontram dificuldades em encontrar informações sobre determinada pessoa

famosa, os repórteres entram em contato com a assessoria de imprensa da

personalidade em questão.

4.5. Entrevista

Seção específica para entrevistas com personalidades e artistas baianos ou

artistas nacionais que estão em visita à cidade. O usuário também pode ver a

relação de todas as matérias. Na produção de conteúdo para esta seção, o

repórter entra em contato diretamente com a fonte ou assessoria desta e marca

uma entrevista, que pode ser realizada pessoalmente, por telefone ou por e-mail.

Quando a entrevista é realizada pessoalmente, o próprio repórter registra as

imagens do entrevistado. Nos outros casos, o repórter entra em contato com a

assessoria ou com o próprio artista e recebe as fotos por e-mail. O arquivo do

jornal é procurado pelos repórteres quando não conseguem obter imagens pelos

meios já citados, e as fotos são utilizadas de acordo com a disponibilidade da

imagem do artista no arquivo.

44

4.6. Zignews

Aqui localizam-se as notícias sobre os destaques do que está acontecendo

na música, cinema e teatro, além de outros assuntos como comportamento,

sugestões e diversos. Divide-se em Cinema, Música, Teatro&Dança e Mais

Notícias. Por ser uma seção que se desdobra em outras quatro subseções, o

Zignews tem as suas especifidades de apuração de acordo com cada subseção.

As informações para as matérias do Zignews Música, Teatro&Dança e Mais

Notícias são obtidas basicamente pelas informações de outros meios, releases e

outras fontes, ligadas ao evento, para obter dados e redigir a matéria. As fotos são

produzidas pelos próprios repórteres ou enviados à redação pela assessoria de

imprensa ou pessoas responsáveis pela divulgação do evento. No caso do

“Zignews Música”, as informações também são obtidas na Internet, com pesquisas

a sítios especializados em música ou informações das agências de notícias. No

“Zignews Cinema”, as matérias disponibilizadas aos usuários são produzidas

exclusivamente pela equipe do Cineinsite, que também utiliza a Internet para

aprofundar as informações sobre as produções cinematográficas.

Nota-se, então, que os repórteres desenvolvem e aplicam as técnicas de

apuração de acordo com as especificidades de cada canal. Em alguns casos,

como as matérias da seção Perfil ou de eventuais matérias de outros canais, é

interessante observar como o ciberespaço pode se configurar como uma fonte de

informação para os jornalistas, onde todo o processo de apuração, desde a pauta

até a disponibilização da informação, pode ser realizado dentro dos limites da rede

(MACHADO, 2001:6).

O modo de produção de notícias do ZiGNOW apresenta, então, aspectos

que fazem refletir sobre a prática jornalística para a Internet, como a divisão de

tarefas através da afinidade dos profissionais com os assuntos a serem

abordados, assim como a descentralização da produção, que ultrapassa os limites

da equipe exclusiva da publicação on-line. O conteúdo local abordado nas páginas

do microportal acaba revelando-se como um exemplo da importância destas

45

informações dentro dos portais jornalísticos, por atrair a atenção dos usuários

utilizando um dos critérios de noticiabilidade, que é a proximidade da informação.

Essa atração dos usuários pelo ZiGNOW pode ser comprovada na própria

diversificação dos assuntos abordados pelo sítio ao longo do tempo em que está

disponível no ciberespaço, o que resultou também na modificação estrutural da

equipe e das técnicas adotadas pelos repórteres na apuração dos fatos, que

mescla as técnicas tradicionais com os recursos advindos das novas tecnologias e

do desenvolvimento do ciberespaço. A escassez de atualização do sítio nos finais

de semana e de recursos técnicos necessários à uma publicação on-line limitam

as possibilidades do ZiGNOW de realização de coberturas mais amplas e que

explorassem os recursos que a Web oferece. Nesse ponto, é necessário verificar

o modelo de gestão da informação adotado para a viabilização do microportal, o

que será abordado com mais detalhes no capítulo seguinte.

46

Capítulo III A INFORMAÇÃO NO ZiGNOW

47

5. AS INVERSÕES DA GESTÃO DA INFORMAÇÃO

No jornalismo praticado atualmente, que convive com a multiplicação das

fontes e a produção de conteúdos cada vez mais descentralizada, principalmente

a partir da disseminação social da Internet, Stephen Quinn (2002) defende a

racionalização do processo de produção de notícias depende da elaboração de

uma política de gestão da informação dentro das redações. Isso porque a era da

informação envolve toda a equipe – jornalistas e editores executivos – na

necessidade de trabalhar com o conhecimento, definido como “o resultado de um

refinamento e contextualização das informações, de forma que leitores e

observadores encontrem algo mais útil na hora de tomar decisões ou que poupe-

lhes tempo e dinheiro”54 (QUINN, 2002). Neste sentido, o autor afirma que a

gestão do conhecimento é importante para os grupos midiáticos, que para

competir na era da informação, devem se transformar em organizações que

devem possuir a informação como foco das ações.

Neste sentido, as empresas jornalísticas precisam investir na própria equipe

para conseguir realizar um trabalho de qualidade e referência. O primeiro passo a

ser dado é, justamente, saber como trafegar no excesso de informação e, neste

aspecto, o jornalista é o profissional mais indicado para realizar essa ação, já que

lida diretamente com a informação. É importante reiterar aqui que os jornalistas

necessitam conhecer o meio e as novas tecnologias, para que consigam obter um

número maior de dados, assim como afirma Katherine Fulton: “eles (os jornalistas)

trabalharão também na reinterpretação de velhos valores para uma nova era”

(FULTON, apud. em QUINN, 2002).

Alguns pontos principais para o desenvolvimento da gestão da informação

nas redações digitais, defendida por Quinn (2002), já foram apresentados na

análise do ZiGNOW, como a convergência de conteúdo e a redefinição da

54 Citação original em inglês. Livre tradução da autora.

48

estrutura da redação. Este capítulo destaca mais quatro pontos da gestão da

informação encontrados no microportal, que são a administração do conteúdo, a

utilização da intranet, a circulação da informação e o modelo de negócio do

ZiGNOW.

5.1. Profissionais de informática dominam a administração da informação Apesar da lógica atual de descentralização das informações e até mesmo

das redações, é necessário que a gestão da informação seja feita com um número

restrito de pessoas, para garantir uma padronização na disponibilização das

informações. Durante o período estudado se verificou que toda a administração do

conteúdo do ZiGNOW era realizada pelos analistas de desenvolvimento Web de A

Tarde On Line. A responsável por esta área na empresa, Ana Carolina Casais

disse que esse procedimento é tomado para garantir que o produto e a informação

disponibilizada no sítio sejam melhor acessados tanto pelos usuários quanto pelos

próprios jornalistas55:

As páginas são definidas através de templates, moldes, onde o repórter

só se preocupa com a questão do texto, pois o sistema faz o resto para

ele. Isso facilita muito para a questão técnica, banco de dados e tudo o

mais. Imagine milhares de páginas, a arrumação disso no servidor, é uma

loucura (CASAIS, 2003).

Com este modo de administração da informação do ZiGNOW, os próprios

repórteres são norteados na organização do conteúdo nas páginas e na

conseqüente disponibilização na página na rede. Ou seja, para facilitar o acesso

ao conteúdo do ZiGNOW, desde o surgimento, a equipe deve, antes de montar a

página de informação, cadastrar a matéria no serviço de administração do sítio,

fornecendo todas as informações necessárias (assunto, título da matéria e data de

disponibilização da página) para uma posterior consulta ou busca no ZiGNOW. No

entanto, deve-se ter um cuidado especial quanto à disponibilização das

55 CASAIS, A. C. Entrevista à autora op. cit., Anexo III, p. 13.

49

informações do ZiGNOW, pois um pequeno erro na administração do conteúdo

pode acarretar sérios problemas na estrutura do sítio, como o excesso de

informações desatualizadas que podem surgir em uma determinada seção. Pode

ocorrer também problemas na própria estrutura do sítio que dificulta o acesso às

informações pelo usuário. Como foi observado na análise do ZiGNOW, o

mecanismo de busca da seção Roteiro não mostra resultados quando o usuário

tenta acessar um evento por preço ou local.

5.2. A intranet como acessório no ZiGNOW

Inicialmente utilizada nas grandes empresas, a intranet tornou-se essencial

ao trabalho jornalístico como uma base de dados, ou seja, uma forma de

armazenar e disponibilizar informações de um modo mais organizado, prático e

rápido para a produção de notícias. Em linhas gerais, é definida como uma rede

que funciona nos mesmos moldes da Internet, porém as informações são voltadas

exclusivamente para o âmbito interno de uma empresa. Este tipo de rede

funciona, então, como um mecanismo onde estariam concentradas as principais

informações para a realização do trabalho jornalístico56.

Com o uso da intranet, o repórter possui maior autonomia na produção de

notícias, com a liberdade de buscar e sugerir pautas e produzir a própria matéria.

Este tipo de rede também facilita o controle da produção de matérias, o

fechamento da edição, maior integração da equipe através da comunicação com

os integrantes em qualquer lugar em que estejam e, principalmente, torna mais

rápida a publicação da notícia.

A principal vantagem da intranet é a habilidade para obter uma

inteligência coletiva na redação. As melhores e mais vitais intranets são

56 A intranet jornalística deve seguir às necessidades da redação. Basicamente, a ferramenta deve possuir contatos categorizados das fontes (por exemplo, em seções ou editorias como nacional, internacional, educação, lazer, esportes, local) e páginas de fácil navegação. Um exemplo de como construir uma intranet jornalística pode ser visto em Building Intranets, do European Journalism Centre <http://www.ejc.nl/jr/intra/mainintranet.html>. Acesso em 15.04.2004.

50

aquelas que permitem a contribuição de todos da redação de boas fontes

encontradas ao longo do caminho57 (PAUL, 1999:146).

Ao contrário do que é recomendado para a arquitetura da informação de

uma intranet jornalística, no qual é importante a assessoria de um arquivologista

ou bliblioteconomista para a organização dos dados (MACHADO, 2000), assim

como a orientação dada pelo jornalista ao webdesign para a montagem da

estrutura mostrando exatamente qual o objetivo da rede e como fazer dela um

instrumento de fácil utilização na redação, o A Tarde possui uma intranet montada

pelos profissionais de informática para utilização da redação impressa e do A

Tarde On Line. A rede interna é acessada através do nome de usuário utilizado

pelos repórteres e uma senha.

O conteúdo é dividido entre Agenda A Tarde On Line, Agenda Redação On

Line, Lista de Ramais e Suporte, sendo que as duas primeiras seções são listas

de contatos com números telefônicos, data de aniversário, e-mail e nº de ICQ. A

lista de ramais traz os nomes e ramais dos profissionais e seções da empresa. A

seção com maior conteúdo é Suporte, que possui informações da importância da

intranet, como utilizar e realizar as atualizações (possibilitada a qualquer pessoa

que tenha acesso à intranet) e como solucionar os problemas técnicos da internet

ou do computador.

Devido possivelmente à própria arquitetura da informação da intranet de A

Tarde, cujas informações eram disponibilizadas como uma agenda eletrônica de

contatos, não há uma cultura dos próprios repórteres58 do ZiGNOW na utilização

da ferramenta, como foi comprovada na pesquisa de campo à CDI. Os

profissionais, então, perdem a ajuda de uma ferramenta que possibilita uma maior

autonomia ao repórter na produção de notícias, tendo a liberdade de buscar e

sugerir pautas e produzir a própria matéria. Este tipo de rede também facilita o

controle da produção de matérias, o fechamento da edição, maior integração da

equipe através da comunicação com os integrantes em qualquer lugar em que

estejam e, principalmente, torna mais rápida a publicação da notícia. Com a falta 57 Citação original em inglês. Livre tradução da autora. 58 VENÂNCIO, M. Entrevista à autora op. cit.

51

de utilização, a intranet de A Tarde torna-se precária e ineficiente pela falta de

atualização das informações, essencial para a eficiência da ferramenta (PAUL,

1999).

5.3. O ZiGNOW como componente restrito do A Tarde On Line

Uma das possibilidades que a Internet pode trazer às empresas e aos

usuários é a disponibilização da informação em vários formatos e/ou serviços,

expandindo ainda mais a circulação das informações. Atualmente, é oferecido aos

usuários serviços como o WAP (Wireless Application Protocol), que possibilita ter

acesso às notícias através do aparelho celular, os boletins de notícias através de

e-mails (A Tarde News) e a própria integração de conteúdos entre veículos

diferentes dentro de uma mesma empresa. Stephen Quinn (2002) exemplifica que

grandes empresas de comunicação espalhadas pelo mundo já adotaram essa

prática de integrar conteúdos produzidos para rádio, TV, impresso e Internet nos

produtos jornalísticos.

No caso do ZiGNOW, essa prática ainda não é incentivada pelo grupo A

Tarde. Por exemplo, as informações do canal de entretenimento circulam

estritamente na Internet, no endereço eletrônico <www.zignow.com.br>. Por ser

integrante do portal jornalístico do grupo, o sítio é apresentado na versão on-line

de A Tarde como um dos canais, podendo ser acessado também através de

chamadas na primeira página do portal. Ocasionalmente, uma matéria do sítio

pode estar presente na versão impressa do jornal, mais precisamente no caderno

de Informática de A Tarde. O serviço de WAP do grupo dá acesso apenas ao

plantão de notícias divulgadas no A Tarde On Line, no Cineinsite e no A Tarde

News, que não possui chamadas para o conteúdo do microportal. O próprio editor,

Eugênio Afonso, levanta esse tipo de questão:

Também há outra dificuldade no jornal, nos outros setores, que não há um trabalho de divulgação [do ZiGNOW] no A Tarde On Line. Ou seja, as pessoas acabam sabendo por obra do acaso. Você não vê no próprio jornal impresso uma propaganda do site, não anuncia, então o ZiGNOW

52

está sendo conhecido assim, na batalha mesmo, na rua, nas matérias, nas coberturas, na curiosidade, no que é feito”59.

Outro aspecto a ser ressaltado no ZiGNOW é o fato de o conteúdo ser

totalmente acessível ao usuário, exigindo cadastro apenas para participação em

promoções existentes no microportal. No caso do Cineinsite, o acesso ao

conteúdo é autorizado somente após o usuário preencher um cadastro gratuito. E

no A Tarde On Line, o conteúdo é parcialmente restrito, devendo o usuário efetuar

a assinatura do portal para ter acesso a todas as páginas disponíveis.

5.4. O modelo de negócio do ZiGNOW

Em toda e qualquer empresa, antes de ser concretizado um projeto, é

realizado um estudo da viabilidade estrutural e econômica do produto.

Curiosamente, percebe-se que o ZiGNOW não possui um modelo de negócio

próprio, desenvolvido pelo grupo A Tarde. Toda a viabilização do sítio é feita

através da publicidade comercializada para o portal A Tarde On Line, do qual o

ZiGNOW ocupa função de canal de entretenimento. A hipótese levantada através

das entrevistas realizadas com os profissionais envolvidos na criação e produção

do microportal60 revela que a manutenção e viabilização do microportal é realizada

inadequadamente pela empresa jornalística, no sentido de uma falta de

comercialização do produto produzido dentro da organização. No período anterior

ao lançamento do ZiGNOW, em dezembro de 1999, os responsáveis pelo A Tarde

On Line, Humberto Saback e Antonio Severino, buscaram uma parceria junto ao

StarMedia, uma das maiores empresas de informática da América Latina, para dar

suporte ao empreendimento. A parceria foi fechada pelo interesse de ambas as

partes em agregar conteúdo local aos seus portais, numa tendência da época de

atrair a atenção dos usuários para os próprios sítios61. Os equipamentos utilizados 59 AFONSO, Eugênio. Entrevista à autora op. cit, Apêndice I, p. 5. 60 O ex-coordenador-geral de A Tarde On Line e atual coordenador de Negócios e Internet de A Tarde, Fernando Severino, recusou-se a falar com a autora semanas antes da entrega deste trabalho. 61 SABACK, H. Entrevista à autora por e-mail, Apêndice D, p. 14.

53

inicialmente (notebook, câmeras, tripé e placa de digitalização de imagem) foram

conseguidos através de empréstimo ou parcerias com outras empresas. Do

próprio grupo, o investimento exclusivo ao sítio era feito através de recurso de

pessoal, com a contratação de estagiários para atuar somente no microportal. O

próprio editor do ZiGNOW , Eugênio Afonso, identifica o problema da seguinte

forma:

Um problema que eu vejo no site é que ele não tem publicidade, não tem divulgação. No começo era um horror, ninguém nunca tinha ouvido falar. Hoje, muita gente já conhece. Essa divulgação tem sido feita por nós mesmos, com nosso trabalho, indo aos lugares, fazendo as coberturas nos shows, nas peças de teatro, no boca-a-boca. Gostaria que o jornal impresso fizesse mais divulgação do site, seja numa notinha, com as matérias que a gente tem ou dando o endereço. Às vezes saem matérias no Caderno 2, é feita uma pequena chamada, mas não é sempre. Eu acho que falta mais trabalho de marketing do jornal. Os problemas técnicos que existem são cada vez menores e sempre que surgem conseguimos contornar com facilidade aqui dentro62.

Sendo assim, a falta de um modelo de negócio para o ZiGNOW

impossibilita a expansão de investimentos para o sítio e que seriam necessários

para um maior número de recursos a serem utilizados pela equipe e

disponibilizado nas páginas, com conseqüente aumento do número que é bastante

razoável de acesso de usuários.

Nesta rápida análise, a gestão da informação no ZiGNOW revela-se

extremamente curiosa, pelo fato do sítio ter evoluído desde o lançamento,

inclusive no número de pessoas envolvidas na produção de conteúdos, como uma

contradição aos investimentos realizados pelo grupo A Tarde, que privilegia

maximiza pouco o conteúdo produzido pelo microportal dentro dos demais

espaços geridos pela empresa. Alguns aspectos demonstram uma certa evolução,

como a existência, mesmo que embrionária, de uma intranet. No entanto, é

necessário que a empresa tenha uma visão mais clara e aprofundada sobre a

natureza das organizações jornalísticas no ciberespaço para que seja

desenvolvido um modelo de negócios viável que permita a melhora permanente

62 AFONSO, E. Entrevista à autora op. cit., Apêndice I, p. 5.

54

da infra-estrutura disponível e que uma equipe de profissionais qualificados possa

ser contratada de forma permanente.

55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

56

O MODELO PRÓPRIO DENTRO DE UMA ESTRUTURA TRADICIONAL

O advento da Internet, na década de 90, estimulou o desenvolvimento de

novos empreendimentos e o lançamentos de produtos jornalísticos diferenciados

para o ciberespaço. Na análise do ZiGNOW identificamos que, em contraponto ao

profissional que realizava um trabalho quase individual dentro da redação e que

possuía como funções básicas a apuração do fato, redação e edição do texto, os

repórteres deste microportal agregam diversas funções na produção de notícias

para o ciberespaço, tornando-se responsáveis por todas as etapas do processo

produtivo, da pauta à disponibilização do conteúdo na rede. Nesse aspecto,

verificamos que, para trabalhar no ZiGNOW, o profissional necessita agregar aos

conhecimentos jornalísticos noções de informática (design de página, linguagem

de programação, produção e tratamento de imagens e gestão da informação,

dentre outros aspectos) para produção de conteúdo jornalístico no ciberespaço.

A multiplicidade ou convergência de funções do jornalista do ZiGNOW

ocorre, em parte, pela própria característica do ambiente on-line em possibilitar a

utilização de diversos recursos em uma mesma página para o relato da notícia,

como a utilização de vídeos, fotos, texto, hiperlinks e interatividade com os

usuários e, em parte, devido a crise econômica vivida pelas empresas

jornalísticas, o que principalmente a partir da década de 90, acarretou uma

redução cada vez maior no número de profissionais dentro das redações, como

pôde ser comprovado no ZiGNOW com a equipe sendo composta na maioria por

estagiários. A opção da empresa em contratar os estagiários que já possuem

conhecimento da prática para o veículo em vez de profissionais formados acaba

dificultando o desenvolvimento de novos aspectos na produção do conteúdo. A

cada novo estagiário que chega à redação todo trabalho de adaptação à prática

no microportal recomeça do zero.

57

Como afirma Stephen Quinn (2002), para racionalizar o processo de

produção, aumentando a produção em escala, o jornalismo praticado na Internet,

de caráter multimidiático, deve aproveitar os conteúdos produzidos em diferentes

empresas de um grupo - TV, rádio e jornal impresso – que podem ser difundidas

ao mesmo tempo distintas plataformas. No período da análise deste trabalho, o

ZiGNOW incorporava a convergência de conteúdo em suas páginas, com a

utilização de matérias publicadas no Caderno 2 e Caderno Dez!. A grande

dificuldade constatada inicialmente na produção de conteúdos, com a dissociação

dos meios on-line e impresso inclusive no ambiente físico, está sendo dissipada

com a realização, desde outubro de 2003, da integração de mídias dentro de A

Tarde, processo coordenado pela jornalista Luciana Moherdaui, que assumiu a

editoria de A Tarde On Line. Essa integração possivelmente resultará no futuro em

uma melhor e maior quantidade de informação a ser disponibilizada aos usuários

do ZiGNOW.

Mesmo mantendo uma forte influência do modo de produção dos meios

tradicionais, o modelo de produção adotado pelo ZiGNOW trabalha a partir da

divisão de tarefas com base na afinidade do repórter com o assunto a ser

abordado, diferentemente da definição de atribuições através de habilidades

técnicas (como fotografia, pauta, reportagem, edição e diagramação). A

descentralização da produção também é outro aspecto a ser ressaltado,

incorporando o que Machado (2001) afirma como a necessidade de utilização do

trabalho de colaboradores para produção de conteúdo no ciberespaço.

Nas três fases pelas quais passou, o ZiGNOW diversifica a abordagem dos

assuntos, concomitantemente com as próprias mudanças na equipe e no espaço

físico de trabalho. É interessante notar que a transferência dos repórteres do setor

de suporte técnico para trabalharem junto aos jornalistas na redação resultou em

uma abordagem mais ampla e jornalística sobre o lazer e entretenimento em

Salvador, no qual o predomínio das coberturas (divulgação de fotos e relato das

festas) dá espaço também a outros assuntos dentro do microportal, a exemplo do

teatro, dança, artes plásticas e comportamento. O objetivo inicial de ser uma fonte

de informações turísticas e de lazer de todo o estado da Bahia foi modificado de

58

forma que o microportal passou a priorizar a cobertura local, com abordagem dos

eventos culturais que acontecem em Salvador. Ao identificar que a maioria das

matérias publicadas tem a cidade de Salvador como foco nosso estudo comprova

a tendência dos portais jornalísticos on-line de tentar atrair a atenção dos usuários

através da informação de proximidade (BARBOSA, 2001).

No que diz respeito à apuração dos fatos constatou-se que o repórter no

ZiGNOW precisou desenvolver técnicas para utilização da gama de informações

presentes na Internet da melhor maneira possível. Para isso, foram incorporados

ao processo produtivo do microportal algumas ferramentas existentes na rede

mundial de computadores que facilitam profundamente o trabalho do jornalista na

busca pela informação, principalmente o e-mail, o comunicador instantâneo e os

serviços de busca. Pela própria forma primária de disponibilização da informação

e pela falta de conhecimento mais aprofundado sobre a utilização da intranet,

como espaço para a gestão da informação nas organizações jornalísticas no

ciberespaço, verificou-se que a intranet do ZiGNOW, que poderia ser uma

ferramenta essencial para a apuração dos fatos e gestão da informação publicada

pelo microportal, acaba sendo pouco ou nada utilizada pelos repórteres.

Ao final deste trabalho, a primeira constatação revela que, apesar das

dificuldades encontradas na produção de conteúdo jornalístico do microportal, o

ZiGNOW possui atualização das páginas que segue o modelo dos portais locais

(BARBOSA, 2001), mesclando atualização diária apresentado pelos jornais,

através de seções como Rapidinhas e Roteiro, tanto quanto atualização semanal

realizada por revistas, a exemplo do canal Perfil. Essa característica é resultado

do modelo de produção adotado pelo microportal, que conta com a participação de

colaboradores e que ultrapassa os limites da equipe-núcleo. A integração de

conteúdos realizada pelo sítio também demonstra uma evolução no modo de fazer

jornalístico on-line, pois aproveita a produção realizada por diferentes meios para

diversificar o conteúdo do canal de entretenimento.

A segunda constatação, sobre a prática jornalística no ZiGNOW, aponta à

necessidade de haver uma melhor sistematização do trabalho jornalístico para a

Internet, com uma melhor gerenciamento de recursos humanos, físicos e dos

59

processos produtivos do microportal. Um melhor conhecimento e aprofundamento

da natureza da produção de conteúdo jornalístico para a rede mundial de

computadores daria mais subsídios para encontrar soluções adequadas aos

problemas encontrados pelo ZiGNOW, como a falta de conhecimento

especializado sobre as especificadades do jornalismo digital, declarado pelos

próprios repórteres na pesquisa de campo; da inexistência de um modelo de

negócio que privilegie o próprio produto dentro da estratégia comercial do portal A

Tarde Online; da restrita circulação das informações produzidas pelo microportal

nas demais plataformas da organização jornalística, o que prejudica diretamente a

elaboração de um plano específico de negócios para o microportal; o que resulta

na conseqüente falta de recursos para a aprimoramento do conteúdo oferecido

pelo ZiGNOW.

Ao longo deste trabalho, pôde-se perceber que, por ser ainda um produto

novo, o ZiGNOW necessita desenvolver de modelos de produção mais adaptados

aos interesses da publicação e que maximizem tanto as limitações dos

profissionais e quanto os recursos disponibilizados pela empresa. Mesmo sabendo

que estamos em uma fase de transição e que ainda não existe um modelo de

jornalismo on-line a ser seguido (PALÁCIOS, 2003), acreditamos que algumas

tendências, já identificadas em estudos pioneiros tanto no Brasil quanto em outros

países, revelam que o jornalismo torna-se cada vez mais multimídia com a

integração de conteúdos de diversos meios, tradicionais ou não, fazendo com que

cada vez mais o jornalista tenha como foco de trabalho não mais o meio onde vai

atuar, mas o tipo de conteúdo que será produzido para disponibilização em

qualquer tipo de plataforma.

Mesmo identificados ao longo do período de estudo, devido ao curto espaço

de tempo destinado aos projetos de conclusão de curso, alguns pontos

interessantes não puderam ser abordados com maior profundidade neste trabalho,

como a relação entre o público e o ZiGNOW, a formação do repórter para a

atuação no ciberespaço, os dilemas deontológicos vividos pelos profissionais do

microportal e a produção realizada pela equipe do Cineinsite, que serviria como

efeito comparativo ao sítio de entretenimento. Esperamos no futuro, possivelmente

60

no mestrado, desenvolver estes tópicos e estaríamos plenamente satisfeitos se o

nosso trabalho pudesse servir como estímulo a outros pesquisadores para que

possam vir a contemplar com a devida atenção estas questões em futuras

pesquisas sobre o jornalismo digital baiano.

61

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63

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64

APÊNDICE

APÊNDICE I – Entrevista com Eugênio Afonso (15.05.2003) .............................. 1

APÊNDICE II – Entrevista com Eugênio Afonso (20.09.2003) .............................. 4

APÊNDICE III – Entrevista com Ana Carolina Casais (20.09.2003) ..................... 9

APÊNDICE IV – Entrevista com Humberto Saback (13.04.2004) ........................ 12

APÊNDICE V – Questionário aplicado aos repórteres ......................................... 14

1

EUGÊNIO AFONSO (Editor do ZiGNOW) – 1ª ENTREVISTA (15.05.2003)

Como está dividido o ZiGNOW? Eugênio Afonso – Na redação, ficamos eu e os outros repórteres responsáveis pelo conteúdo. No sexto andar ficam o pessoal de design e os programadores. E foi sempre assim? Eugênio Afonso - Quando eu vim trabalhar no A Tarde, o ZiGNOW era feito no sexto andar. Foi pedido então para a equipe de estagiários descer, porque eu iria editar e todos deveriam ficar juntos. A gente que é do conteúdo, que é jornalista, trabalha com jornalista, junto do pessoal impresso, tem que ficar na redação. Qual é o objetivo do ZiGNOW? Eugênio Afonso – Acho que o ZiGNOW, neste período em que estou editando, tem passado por algumas transformações que não sei se o público está percebendo. Quando o site foi passado para mim possuía basicamente cobertura de shows. Era um site mal editado, sem revisão, mal escrito, gente que não era jornalista e escrevia porque havia uma certa urgência em colocar isso no ar, a equipe era pequena, por uma necessidade mais básica, mesmo. Assim que eu passei a editar o site, tentei ter essa preocupação. Eu não gostava muito da linha editorial de cobertura de festas, achava muito “vazia”. Então, começamos a dar uma nova conduta ao site e nos preocupar também com outras coisas além da cobertura. A própria cobertura hoje tem uma outra conotação. Antes era muita cobertura de axé, de alta sociedade, só pra ter a fotografia da moçada no site. Pode cobertura de axé, inclusive porque é o que dá mais acesso ao site, mas pode fazer também uma cobertura de uma festa que seja interessante, de música, de espetáculos de teatro, de shows, de festas de aniversário, coisa que não se fazia tanto antes. Quando a gente tem uma cobertura nova que faz uma chamada para o A Tarde On Line, o acesso é sempre maior neste dia. O ZiGNOW hoje tem mais cara de revista eletrônica. Como é realizada a produção das matérias? Há reunião de pauta, fechamento? Eugênio Afonso – Sim. Nós fazemos uma reunião de pauta semanal, onde trazemos assuntos que estão acontecendo e que pertencem à linha editorial do site, e discute-se entre nós o que vai ser feito e quem vai fazer. Geralmente fazemos a reunião na segunda-feira, que é quando a semana está começando, para saber como vai ser a produção da semana. Na medida em que as matérias vão sendo cumpridas, elas são disponibilizadas no site. Não há um dia certo para as atualizações. A segunda-feira geralmente tem mudanças por causa das coberturas do final de semana, que têm que entrar no mesmo dia em que acontece ou no dia seguinte. Nos outros canais a periodicidade é um pouco maior. No caso do Perfil e da Entrevista, por exemplo, o conteúdo não deve ficar mais do que uma semana. Se você coloca a entrevista em um dia, e no outro dia uma outra entrevista, não dá tempo das pessoas lerem. Qual é o público-alvo do sítio? Eugênio Afonso - Eu acredito que deve possuir entre os 18 e 25 anos. Infelizmente não tenho pesquisa nesta área para te dizer isso. A gente pode ter uma idéia pelas enquetes feitas no site, pelo tipo de público que se cadastra.

2

Como os usuários podem participar do ZiGNOW? Eugênio Afonso – Ele participa através das enquetes. Há um tempo atrás a gente fez um canal para quem quisesse escrever poesias e mandar para nós publicarmos, e recebemos um monte de poesias. Em abril fizemos um fórum e abrimos para crônicas. Nós selecionamos o material e disponibilizamos no site. O público participa desta forma. E quem é a equipe do ZiGNOW hoje? Eugênio Afonso – Antigamente havia o estagiário que fazia as coberturas, que era uma pessoa que gostava de eventos noturnos, havia uma pessoa que cobria teatro e outra que cobria música. As outras coisas todos faziam um pouco. Com a saída do estagiário de Coberturas, me reuni com os demais e decidimos que não ficaria assim tão definido. Eles queriam fazer de tudo, não queriam ficar limitados à música e ao teatro. Então todos fazem cobertura agora. Teatro fica mais ou menos a cargo de um estagiário, que é profissional da área. O Qual é a Boa? já possui outro responsável. No entanto, as funções não estão fechadas. Os repórteres abordam o assunto por opção, até porque eles não são formados, eles querem ter experiência nessas áreas. Por exemplo, não temos um fotógrafo. Quando eles fazem coberturas eles fotografam, usam uma câmera digital, que é fácil de mexer, tratam as fotos e disponibilizam no site. Tudo isso é feito aqui na redação. Por que um formado em Jornalismo não pode continuar trabalhando no sítio? Ele não pode ficar porque, a partir do momento em que a pessoa se forma, ela tem que ser contratada e ganhar como um jornalista, e a empresa não está contratando no momento. Sendo assim, temos trabalhado com estagiários. Quando se formam, têm que sair. Qual é o horário de trabalho da equipe? Como funciona a produção? A equipe do ZiGNOW trabalha à tarde ou à noite, se tiver uma cobertura. O expediente dos estagiários é de cinco horas. Eu sou o único jornalista da equipe. Nós dividimos as funções. A edição final, o responsável pelo site sou eu. Mas, quando estou com uma matéria no A Tarde On Line e estou sem tempo, peço para que eles revisem e disponibilizem. É um trabalho de equipe. Quem faz as mudanças no ZiGNOW? Eugênio Afonso - As mudanças são solicitações minhas como editor e da equipe. Como o site tinha muita cobertura e era pobre de conteúdo, as outras pessoas que vinham trabalhar ficavam queixosas, meio desanimadas. Também pelo próprio perfil, pelo tipo de jornalismo que eu me interesso, naturalmente fui criando as pautas e dando uma outra cara ao ZiGNOW. Houve uma briga inicialmente, porque o suporte técnico queria que o site continuasse aquela coisa de só cobertura, porque é o que dava acesso e que vendia. Como a gente estava produzindo e editando a parte de conteúdo, seguimos o caminho como queríamos. Quando eles perceberam a nova linha editorial e que todos queriam seguir esse rumo, eles permitiram. Teve uma série de mudanças, inclusive físicas mesmo. Em algumas matérias de música, em comentários de CD, se você entrar pode encontrar link para a música. E link para a música a gente tem até uma certa dificuldade de fazer, porque depende do pessoal de programação e eles complicam de vez em quando. Quando as coisas são feitas só por nós aqui entra mais rápido, mas se depende deles... porque eles também não fazem só o ZiGNOW, eles têm toda a parte on-line do jornal, da empresa. Nós queremos ter música, mais imagens, trabalhar com vídeos, tudo que o meio permite.

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Como é a relação do ZiGNOW com os outros setores de A Tarde? Há algum tipo de colaboração? Eugênio Afonso – O ZiGNOW é muito independente. A relação dele com a redação do impresso é, praticamente, nenhuma. Há jornalistas da redação impressa que nem sabem que o site existe, então a proximidade é só física. Já com o A Tarde On Line há uma pequena ligação. As matérias que estão no A Tarde On Line são matérias do impresso, porque a grande maioria dos jornais on-line, não só na Bahia ou no Brasil, mas no mundo é ainda a transposição do impresso e a atualização durante o dia. Se você for na versão on-line agora, vai encontrar uma série de matérias que sairá amanhã no impresso. E quem está no impresso está preocupado com o trabalho dele, não tem uma comunicação, não tem interesse pelo ZiGNOW, não fazem matérias para o site, não colaboram e nem pensam em colaborar. Quais são as dificuldades de se trabalhar com o jornalismo on-line? Eugênio Afonso – Eu não tinha muita experiência com on-line quando vim, então aprendi na raça, no trabalho. A questão de linguagem de programação não domino. Quando entrei eles explicaram: “olha, as matérias são feitas assim, disponibiliza assado...”. Mas, realmente, eu não tenho teoria sobre isso. Internet só veio ter pulso no Brasil a partir de 1995, e eu me formei em 96, imagine então. Os estagiários novos que entram já possuem menos dificuldades e me orientam muitas vezes. Acredito que eles dominam hoje muito mais o meio do que eu, com esse negócio de ICQ, e-mail e outras ferramentas que são fantásticas. Uma dificuldade diz respeito à equipe, que é super reduzida, poderíamos fazer um site muito mais dinâmico, interessante com mais pessoas. O jornal não tem carro disponível para a equipe. Eu gostaria de ser só editor do ZiGNOW, dedicar mais tempo ao site e fazer dele muito melhor. As empresas de comunicação estão em crise. Por fim, não há um trabalho de divulgação no A Tarde On Line, ou seja, as pessoas acabam sabendo por obra do acaso. Qual seria o ideal de um ZiGNOW? Eugênio Afonso – O ideal de um ZiGNOW seria mais música para se ouvir, mais links, mais animação, talvez até mais fotografias, mais textos de todos aqueles itens, dar uma cara nova todos os dias. Gostaria que fosse mais dinâmico e ele não o é por uma questão de infra-estrutura. Participar mais das atividades culturais da cidade, com patrocínio e parceria, o que não é difícil. Por exemplo, às vezes, gasta-se muito tempo na produção de uma matéria. Se tivesse uma equipe que cuidasse da produção, outra que fosse atrás das parcerias seria ótimo, mas não tem. Não posso tirar uma pessoa da equipe para fazer isso porque o site vai ficar mais capenga ainda.

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EUGÊNIO AFONSO (Editor ZiGNOW) – 2ª ENTREVISTA (20.09.2003)

Como foi o início no ZiGNOW? Eugênio Afonso - Eu comecei a atuar no A Tarde On Line. Uns dois meses depois, passei a editar o ZiGNOW que, até então, não tinha um editor. A edição ficava com o pessoal da Central de Dados e Informações (CDI). Marcos Venâncio, que era coordenador do A Tarde On Line, era responsável pelo conteúdo. Então trouxemos a equipe para o primeiro andar. Na época, Marcos pediu para que os jornalistas descessem porque eu seria o editor e a equipe ficaria mais próxima. Entrei aqui em dezembro de 2000, o site ia fazer um ano e era muito pautado em cima das coberturas. O ZiGNOW possuía qualquer texto, era uma coisa muito desorganizada. Depois é que ele foi se ajustando. Qual é a relação do ZIGNOW com a equipe de informática? Eugênio Afonso - Quando eu cheguei aqui, há uns três anos atrás, o ZiGNOW era feito no sexto andar, inclusive com os jornalistas. Ele foi criado meio às pressas, não sei bem. Quando eu assumi a edição, a equipe desceu para a gente ficar trabalhando junto aqui, no primeiro andar. Então ficou o pessoal de conteúdo no primeiro andar e o pessoal de design técnico e suporte no sexto andar. A relação entre a gente é cordial, tranqüila, mas é um pouco distante fisicamente, apesar de estarmos no mesmo prédio. A gente só se vê quando precisa um do outro, mas não tem reunião. Por exemplo, se eu quiser fazer algumas reformas no site que dependem deles, eu vou lá em cima, eles descem, a gente tenta ver o que pode ser feito. Fora isso não, até porque eles no sexto andar não cuidam só do A Tarde On Line ou do ZiGNOW, tem uma série de projetos novos que A Tarde vai lançar ou até projetos que eles mesmos estão desenvolvendo. Como são resolvidos os problemas técnicos do sítio? Eugênio Afonso - Quando surgem problemas, nós nos comunicamos por telefone ou por ICQ. Por exemplo, a foto está entrando errado, está dando uma falha, a gente liga imediatamente, geralmente eu falo com Carol (Ana Carolina Casais, analista de projetos Web de A Tarde) e ela conserta na mesma hora. As falhas não chegam a prejudicar mas, por exemplo, a gente estava querendo dar uma nova cara ao ZiG, mexer um pouco na diagramação e no visual. No entanto, estamos encontrando dificuldades porque, como os técnicos estão sempre atarefados, não têm encontrado um tempo para se dedicarem ao site. Estão previstas mudanças para o ZiGNOW? Quais? Eugênio Afonso - Estamos pensando várias coisas para o ZiGNOW. Por exemplo, mais mobilidade na primeira página, em mantê-la mais limpa. Nós queríamos que a matéria mais nova fosse colocada na parte superior da página, não importa se ela é música, cinema ou teatro. O site teria mais mobilidade porque, quando você abre a página, você não vê a tela do ZiGNOW inteira. Às vezes, uma matéria nova, do dia, está lá embaixo e você tem que puxar a barra de rolagem para ver. Já apresentamos o projeto, o suporte técnico aprovou, achou bom, mas não faz porque há uma série de coisas a serem realizadas em A Tarde. Não podemos realizar essas mudanças sozinhos porque não é uma questão jornalística. Thiago (Fernandes, um dos repórteres do sítio) até entende um pouco desse ofício mas, como foi o suporte técnico que criou o site, não há permissão para mexer sem autorização.

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Qual é a opinião dos usuários sobre o sítio? Eugênio Afonso - Não tenho recebido muitas reclamações sobre o site com relação à questão da mudança. Às vezes recebemos sugestões de pauta, os usuários dizem que não conseguiram abrir uma foto para enviar, problema logo solucionado. Esse tipo de reclamação têm diminuído, no começo havia mais. Como esses problemas são mais técnicos, são encaminhados para o pessoal do suporte. Você tem sido pressionado em relação ao número de acessos do sítio? Eugênio Afonso - No começo, havia aquela coisa de dizer que estava caindo, quando ainda havia um pouco de embate entre nós e o pessoal de informática sobre o conteúdo. Agora, eu tenho trabalhado com bastante tranqüilidade neste aspecto. As pautas são completamente livres, não tenho sofrido nenhum tipo de pressão. Em uma outra entrevista, você afirmou sobre os problemas da falta de pessoal. Como esse fato prejudica o sítio? Eugênio Afonso - O ideal seria que a gente tivesse a mesma movimentação que acontece durante a semana, que tivéssemos mais acessos. No entanto, o jornal não está contratando, a equipe é essa e o pessoal precisa folgar. Às vezes, no sábado, os repórteres vão fazer matéria na rua mas não voltam para a redação, pois o tempo deles é gasto no trabalho. Quando voltam não dá mais tempo para disponibilizar a matéria, o que é feito só no dia seguinte ou, às vezes, na segunda-feira. Então, de certa forma, o site não é muito modificado. Para que houvesse uma movimentação no site deveria ter mais gente para trabalhar, fora isso eu não vejo muito como fazer essa atualização. Quais seriam os maiores problemas do ZiGNOW hoje? Eugênio Afonso - Um problema que eu vejo no site é que ele não tem publicidade, não tem divulgação. No começo era um horror, ninguém nunca tinha ouvido falar. Hoje a situação é diferente. Essa divulgação tem sido feita por nós mesmos, com nosso trabalho, indo aos lugares, com as coberturas nos shows, nas peças de teatro, no boca-a-boca. Gostaria que o jornal impresso fizesse mais divulgação do site, seja uma nota sobre as matérias que nós temos ou informando o endereço. Às vezes saem matérias no Caderno 2, é feita uma chamadinha, mas não acontece sempre. Eu acho que falta mais trabalho de marketing do jornal. Os problemas técnicos que existem são cada vez menores e sempre que surgem conseguimos contornar com facilidade na equipe. Como lida com as limitações do ZiGNOW? Eugênio Afonso - Nós vamos mudar. Estamos aguardando o pessoal do sexto andar abrir espaço para o ZiGNOW. O projeto de dar mobilidade, de possuir a primeira página mais limpa, fazer o site mais moderno, mudar a cor que é meio forte, nós vamos fazer. É uma questão de tempo. O projeto já está feito, conversamos como pessoal do sexto andar e está andando. Se eles demorarem a gente volta a pressionar. Está previsto também mais recursos audiovisuais, nós queremos colocar áudio, como antes. Quando fazíamos comentários de CD’s, nós colocávamos um link para duas músicas do CD, e isto não está sendo mais feito. Queremos trabalhar com vídeo, fazer chat, colocar áudio, tudo isso está no projeto, mas depende da parte técnica.

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Como a equipe de informática reagiu às reivindicações? Eugênio Afonso - Inicialmente eles vêem o projeto, acham interessante, mudam uma questão ou outra e acham que pode ser feito. Mas há outros projetos antes e o ZiGNOW tem que ficar na fila. O site possui algum incentivo junto à diretoria do jornal? Eugênio Afonso - Não, a diretoria não lida diretamente com o ZiGNOW. Ela sabe que o ZIGNOW foi criado inicialmente para fazer coberturas e, depois que passou para a minha mão se transformou em uma revista eletrônica. Quem procura saber sobre o andamento de todos os setores do jornal é a publicidade. Daí é que a diretoria intervém. Houve um caso em que colocamos inocentemente o nome de uma loja e eles alertaram. Eu até gostaria que eles prestassem mais atenção ao site. Como você vê a questão da equipe ser formada por estagiários? Eugênio Afonso - Para mim, os estagiários que tenho são considerados jornalistas, tem a parte teórica da faculdade e a prática daqui, do dia-a-dia. Só falta mesmo ter o diploma. Eu adoraria contratá-los quando eles se formassem, mas o jornal não está contratando no momento. A questão não é nem pelo fato de serem estagiários, mas terem a remuneração de estagiários. Eles trabalham menos horas do que eu, por exemplo, mas não são remunerados como jornalistas, acabam não tendo a mesma responsabilidade que eu tenho. Acho que o site poderia ser muito melhor se eu tivesse, pelo menos, estagiários com salário de jornalistas e que eu pudesse me dedicar apenas ao ZiGNOW. O ZiGNOW utiliza conteúdo de outros veículos de A Tarde? Eugênio Afonso – Há um ou dois anos atrás, quando chegava um dia de sufoco e não tinha uma matéria sobre um evento importante, usávamos a mesma matéria do Caderno 2. Já há um bom tempo que não fazemos isso, ou seja, só tem material lá dentro produzido pelo site. Eu me orgulho disso porque, apesar de ser uma equipe reduzida, conseguimos produzir conteúdo próprio. No final de semana em que o pessoal está folgando ou fazendo matérias de rua e tem menos gente na redação, por exemplo, não há tempo de mexer no ZiGNOW. Eu tenho o cuidado de tirar do site coisas que já estão vencidas, mas não há condição de colocar uma matéria nova. Como deixamos de utilizar freqüentemente matérias do Caderno 2, o que a equipe tem feito no final de semana é, infelizmente, deixar o site como está. O sítio pode ser alimentado fora da redação. Isso é incentivado junto aos repórteres? Eugênio Afonso - Ana Cláudia (repórter do ZiGNOW) não sei nem se tem computador em casa. Ela tem dois filhos, é estagiária, acho que tem outro trabalho, então é complicado ela trabalhar em casa. Thiago (Fernandes, repórter do ZiGNOW) é mais livre, tem computador em casa, lida com as ferramentas de informática de uma forma geral. Às vezes ele faz uma cobertura na sexta-feira ou, quando ele tem que trabalhar no final de semana, faz a atualização em casa mesmo. Agora, para entrar na adm tem que ter o login, senha individual e o provedor A Tarde On Line. Às vezes, eu também abro o ZiGNOW em casa, entro na adm e faço modificações. No entanto, só quando eu necessito mesmo entro na adm em casa. Eu acho que já trabalho tantas horas aqui no jornal... também necessito de saúde, de lazer, até para desempenhar melhor a função. Então, não dá para levar o trabalho para casa. Os repórteres podem fazer a atualização de casa, mas acabam vindo para a redação porque a gente precisa fazer reunião de pauta, sentar para conversar, discutir, cobrar... O

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convívio pessoal ainda é importante. Você trabalha no final de semana em casa apenas para não precisar aparecer por aqui, porque final de semana é plantão, é folga, mas durante a semana o trabalho é na redação. Aqui tem a televisão ligada o tempo inteiro, os jornais para ler, a equipe fica mais informada. Eu acho o ambiente aqui mais propício. Por que as mudanças na programação do sítio não podem ser feitas pelas própria equipe? Eugênio Afonso - Acho que facilitaria muito. Thiago é um jornalista que sabe mexer em sites, ele já ensinou várias coisas como colocar foto no meio do texto, a mexer no destaque rotativo da primeira página, a usar os templates e colocar papel de parede. No entanto, ele não tem autorização. Já falei várias vezes com Carol que Thiago sabe mexer no site, mas ela disse que não pode. Se tivéssemos maior intimidade com as questões técnicas da informática, com linguagem, seria fantástico. Se você sabe lidar com o Photoshop, tratar foto, isso torna muito mais fácil, rápido e dinâmico o trabalho. A Internet precisa ser dinâmica pois, com o slogan do “tempo real”, você pode divulgar as coisas enquanto elas estão acontecendo. O ideal seria que nós fizéssemos a cobertura e que duas horas depois ela estivesse no ar. Mas aí depois vem uma série de fatores, acaba o horário de trabalho da pessoa, tem que ir para casa, só trabalha à tarde. Mas dá para fazer uma cobertura e voltar para colocar logo no ar, se tiver uma boa infra-estrutura. Nós do ZiGNOW não temos nem carro, dependemos do carro da redação, enfim, coisas que acabam influenciando e dificultando o trabalho. A Internet enfrenta muitos problemas de ordem ética. Como você vê esta questão, e como isso é aplicado ao ZiGNOW? Eugênio Afonso - A Internet é gigantesca, tem os éticos e os não-éticos. Acontece que quando você se habitua à Internet como um usuário, você descobre onde é que tem ética. Problemas éticos com o ZiGNOW não me lembro de nenhum grave. Talvez uma foto que a gente tenha utilizado, que tenha captado em algum site alheio, o dono da foto reclamou os direitos autorais, eu acho que uma vez já houve isso, mas nem lembro claramente. Geralmente os textos e as fotos são feitos por nós e, quando usamos fotos que não são nossas, geralmente elas são livres na Internet. Fotos de agências que a gente tem parceria, que elas permitem que você use. Nós já usamos fotos de outros sites, é um hábito que se tem, porque ainda não há uma exigência muito grande quanto aos direitos autorais na Internet. O ideal seria não usar mas, por exemplo, no perfil de Sandy, que é uma garota que canta, que todo mundo gosta e que vamos contar como ela é, tem que pegar a foto do site oficial da artista. Não temos foto digital de Sandy, a não ser que a gente pegue no arquivo do jornal. No entanto, as fotos do arquivo do jornal são pouco aproveitáveis, quando você vai digitalizar não ficam boas, e pegando da Internet é muito mais prático. Se houver reclamação, tiramos. Se a gente está utilizando a foto sem pagar os direitos autorais do dono da foto e a pessoa vê que é sério, que é jornalístico, então não se incomoda. No caso do Perfil, por exemplo, deixo os repórteres livres para fazer a varredura. Só quero que não seja uma cópia, que eles pesquisem e façam o texto com as informações que eles conseguiram. Internet está aí para isso, para você pesquisar, pois é a melhor ferramenta de pesquisa que existe. Os textos não são copiados, ou se são copiados eu nunca descobri.

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O que gostaria de acrescentar ao ZiGNOW? Eugênio Afonso - Eu gostaria que o ZiGNOW fosse bem melhor, mas eu acho que o grande fator é tempo para me dedicar à ele. Se eu tivesse tempo integral ele seria muito melhor, teria muito mais novidade todos os dias, porque eu também faria matérias, trabalharia mais, iria mais para a rua. Mesmo com todas essas dificuldades de tempo, de pessoal, eu acho que o ZiGNOW é bom, ele mudou muito, é um site sério, as matérias tentam atingir um público jovem, com uma linguagem mais jovem. Temos acompanhado as estatísticas do site e vemos que os acessos têm crescido a cada mês. E o retorno dos internautas é um retorno bom. A gente tem muita liberdade em pautar, procurando abordar o que vai interessar ao leitor e avaliando também o que é jornalístico. Acho que hoje o site está bem mais interessante, apesar de ainda termos uma marca muito grande das coberturas.

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ANA CAROLINA CASAIS (Analista de Projetos Web A Tarde) Como surgiu o ZiGNOW? Ana Carolina Casais - O ZiGNOW foi criado para ser um site de lazer e de entretenimento. A princípio, começamos com dicas de lazer, coberturas de festas, transmissão de vídeo e tudo o mais. O ZiGNOW já está em sua terceira versão. A primeira foi à rede em janeiro de 1999, depois houve uma reformulação e, nesta terceira, foram agregadas mais coisas, como Teatro, Cinema, Perfil, Entrevistas. Hoje, o ZiGNOW é uma revista cultural. O público dele era mais teen, que ia para uma festa e procurava a sua foto depois, enviava para o amigo. Hoje o site já possui um caráter mais cultural, mais alternativo e tomou um outro caminho, com um outro público. Quem foi o responsável pelo ZiGNOW? Ana Carolina Casais - A pessoa específica que concebeu o ZiGNOW eu não tenho como dizer. Na época, quem comandava o A Tarde On Line era o Humberto Saback. Eu acho que a idéia foi da equipe de A Tarde On Line mesmo de abordar lazer, festa, cobertura pois, naquela época, estava explodindo este tipo de site. Na época que eu entrei o ZiGNOW, o site era a nossa menina dos olhos. A equipe toda trabalhava em torno das coberturas, Carnaval e várias outras coisas. Foi o nosso primeiro site após o A Tarde On Line, depois veio o Cineinsite e outros. Como a equipe de informática concebeu a página? Ana Carolina Casais - O ZiGNOW começou com a linguagem de programação PHP. A gente construía as páginas com as ferramentas gráficas mesmo e ferramentas de edição em HTML. Você receberam as orientações de um jornalista quando montaram a página? Ana Carolina Casais - No primeiro site não, no segundo também não, na terceira versão sim. Já que estávamos criando páginas em que os próprios jornalistas estavam alimentando, eles precisavam estar acompanhando de perto. Na versão que está no ar, foi feita uma equipe de programadores, designers e jornalistas da CDI. Os jornalistas trabalharam junto com a gente e foi desenvolvido como o pessoal de conteúdo queria, não só as páginas mas também a administração, qual é a melhor forma de trabalhar, até puxar uma foto, usar a FTP. Foram essas quatro mãos: a técnica, a programação, o design e o conteúdo. Por que o ZiGNOW não pode ter mais recursos nas páginas, como som e vídeo? Ana Carolina Casais - O ZiGNOW pode ter som e vídeo nas páginas, é uma questão de estrutura. Mas, quando a gente fizer a reformulação, como estamos pretendendo, deverá ter som e vídeo. Esses dois recursos já existem desde o início do site. Sempre fizemos transmissões de Carnaval, o ZiGNOW foi o primeiro site a lançar chat com vídeo e sempre inovou, estando à frente de outros sites de lazer. Há um ou dois anos atrás a gente trazia o artista para cá e ele era filmado. O usuário ficava navegando, vendo o artista e interagindo com ele. O site tem hoje recursos para disponibilizar som e vídeo. Em algumas matérias, nós colocamos o som. O vídeo está meio parado por questões de equipamento, devemos estar comprando equipamentos digitais e colocando o vídeo novamente.

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Onde era produzido o ZiGNOW? Ana Carolina Casais - Era feito todo aqui em cima (sexto andar), depois foi lá para baixo (primeiro andar), e o A Tarde On Line toda produzia a parte de conteúdo. Então, acabava sendo mais fácil porque você estava em contato com o programador, com o designer, com a parte técnica. Do tipo vamos juntar isso aí, coloca no carro e vai. Era uma coisa muito de coração. Quando houve essa separação com o conteúdo do A Tarde On Line, houve uma certa dificuldade pelo grande número de projetos aqui. Vamos voltar com os recursos, a gente está trabalhando para isso. A questão do chat é um trabalho grande, que envolve não só jornalismo mas também produção, porque você entra em contato com artista, tem que preparar todo um banquetezinho, um lanchinho, a sala, então era uma coisa que parava mesmo. Não é uma coisa que a gente descartou, mas a gente precisa ajeitar algumas coisas. Como é a comunicação entre vocês e a equipe do ZiGNOW? Ana Carolina Casais - A comunicação da gente é reunião e muitas vezes via e-mail, telefone, eu desço muito, eles sobem, então é mais ou menos assim. Não tem aquela coisa do dia-a-dia porque estamos no sexto andar e eles estão no primeiro. Como pontos positivos, os jornalistas estão perto da redação, da informação, estão no meio jornalístico. O que dificulta é a distância, aquela coisa da menina dos olhos, de vestir a camisa, diminuiu um pouco, porque não está convivendo com a dificuldade da pessoa. O ZiGNOW já possui uma disposição gráfica pré-definida, ou seja, os repórteres colocam apenas o conteúdo. Há possibilidade das páginas serem modificadas pelos próprios repórteres? Por quê? Ana Carolina Casais - Em alguns aspectos, sim, não apenas no ZiGNOW mas em qualquer site. Em uma atualização dinâmica a gente cria o design, os templates, isso tudo é discutido com o repórter. Saber quem vai alimentar, porque às vezes não é um repórter, também é levado em conta. O que é que a gente vai precisar em uma matéria? Vai precisar de foto, de uma galeria, de áudio, de vídeo, quer dizer, tudo é discutido. Cabe ao design ajeitar pra ajustar da melhor forma. Se fosse liberado para cada um criar uma página, certamente seria uma salada de frutas, seja em cor, disposição e isso afeta a navegação. Então o usuário vai ver num dia uma foto aqui, outro dia alguma coisa lá, caindo no gosto de quem está construindo a matéria, e cada página vai ter uma cara completamente diferente. Não seria uma coisa dinâmica, seria uma coisa estática ter que construir uma página toda vez que for fazer uma matéria. Então, define-se o site através de templates, moldes, onde o repórter só se preocupa com a questão do texto, pois o sistema faz o resto para ele. Isso facilita muito, em vez de estar construindo milhares de páginas, além também da questão técnica, banco de dados e tudo o mais. Imagine milhares de páginas, a arrumação disso no servidor, é uma loucura. O repórter pode mexer hoje em HTML, como deixar o texto em negrito, dar uma cor ou alguma coisa assim. O ZiGNOW hoje pode até colocar uma foto a mais, colocar o link. Quebrar toda a estrutura da página não, ou seja, se quebrou o layout e interferiu na página ou na navegação. Às vezes tem um pedido “ah, a gente queria colocar mais uma coisinha aqui” e a gente dá um jeitinho, mas isso é exceção. A vantagem do pré-definido é que o jornalista não precisa conhecer a linguagem HTML. No caso do ZiGNOW, é necessário apenas o básico da progamação.

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Qual é a média de acessos diários do ZiGNOW? Quando ocorre o maior número de acessos? Ana Carolina Casais - A média do ZiGNOW está em três mil page views diárias. O período do dia com mais acessos varia muito. Já foi discutida alguma vez a mudança da programação do site, para que ele possa ter mais recursos, por exemplo? Ana Carolina Casais - No início, quando foi concebido, não poderia. Todos os pedidos com relação ao design estão anotados. Vamos parar para fazer uma reforma no ZiGNOW, como será o novo formato, qual o público que ele irá atingir, vai mudar muita coisa. Às vezes, há um problema na programação e chamamos o programador para resolver. Estamos migrando o programa de PHP para Java, assim como grande parte do portal.

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ENTREVISTA – HUMBERTO SABACK (Ex-coordenador do A Tarde On Line e um dos criadores do ZiGNOW)

De quem foi a idéia do ZiGNOW? Humberto Saback - A idéia surgiu dos responsáveis pela A Tarde Online, Humberto Saback e Antônio Santana. Quais foram os motivos que levaram à criação do sítio? Humberto Saback - Notamos que as pessoas que vinham a Salvador ou os próprios moradores não tinham como saber as opções da cidade e as de outras cidades turísticas. Assim surgiu a primeiro ZiGNOW como um site/guia de turismo, lazer e entretenimento. Existia algum site semelhante em Salvador na época de criação do ZiGNOW? Humberto Saback - Existia um que propunha algo semelhante que era o portaldacidade, mas que, por falta de recursos, não tinha a quantidade nem a qualidade de informações do jornal A Tarde e nem a capacidade de atualização. Como era composta a equipe inicial do ZiGNOW e qual a função de cada integrante? Humberto Saback - O ZiGNOW era composto basicamente pelo coordenador de Web, um desenvolvedor PHP e um webmaster. Existiam ainda um estagiário de webdesigner posteriormente ampliada para dois ou três, um estagiário de desenvolvimento, um estagiário de jornalismo e um de turismo, mais a equipe técnica do provedor que fazia a parte de cobertura e transmissão de áudio e vídeo. O ZiGNOW já possuía equipe específica? Humberto Saback - Não, a equipe foi criada a partir da demanda do sítio. Onde a equipe trabalhava (setor e andar)? Humberto Saback - A equipe ficava no térreo junto com toda a A Tarde On Line. O ZiGNOW passou por três fases de conteúdo. Como ocorreram as mudanças? Humberto Saback – A primeira mudança aconteceu porque foi visto que as informações estavam muito paradas e seria interessante saber, além do que tinha de bom, o que acontecia na cidade. Então, colocamos as coberturas de festas iniciando pelo Farol Folia. Logo após aconteceu a segunda mudança com conteúdo sobre bandas locais, artistas, teatro... Quem eram os responsáveis pelas mudanças? Humberto Saback - A equipe toda trabalhava como um time e juntos com os coordenadores propúnhamos e elaborávamos as mudanças. O portal foi lançado em parceria com a StarMedia. Como aconteceu essa parceria? Humberto Saback - Meio por acaso através de um e-mail enviado a eles buscando a parceria. Daí surgiu o interesse em ampliar o conteúdo do portal StarMedia com conteúdo local da Bahia.

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Quais os investimentos que A Tarde realizava para a manutenção do ZiGNOW? Humberto Saback - Somente em salários da equipe. Todos os equipamentos para a transmissão, câmera, tripé e placa de digitalização de imagem foi conseguido através de empréstimo ou parcerias. O ZIGNOW possuía publicidade específica? Humberto Saback - A publicidade do ZiGNOW era feita basicamente no jornal, na rádio e no próprio site da A Tarde On Line. As coberturas em vídeo que eram feitas também tinham publicidade interna (no local na cobertura). No início, o site contava com áudio e vídeo, recursos que acabaram ficando cada vez mais escassos. Por quê? Humberto Saback - Essa iniciativa partiu dos coordenadores que buscavam os avanços tecnológicos de ponta. Na época, sem muitos recursos, foi desenvolvida uma solução que utilizava um link de baixa velocidade para a transmissão. Ela foi aperfeiçoada a tal ponto que chegou a precisar apenas de duas linhas telefônicas para essa transmissão. Contudo, com a falta de investimentos da empresa e com a mudança da coordenação da A Tarde On Line, essa busca por novas tecnologias foi abandonada, acabando com esse tipo de recurso no sítio. Como era realizada a comercialização do ZiGNOW? Humberto Saback - Os banners eram comercializados pelos vendedor da A Tarde On Line e da StarMedia através da parceria firmada entre as duas empresas.

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Universidade Federal da Bahia Faculdade de Comunicação Disciplina: COM128 - Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Aluna: Luciana Silva da Costa Professor-Orientador: Elias Machado

QUESTIONÁRIO Nas questões de 1 a 25, marque em negrito apenas uma das repostas: 1) Idade:

( ) Menos de 18 anos ( ) 18 a 22 anos ( ) 23 a 27 anos ( ) 28 a 32 anos ( ) Mais de 32 anos

2) Escolaridade:

( ) Fundamental (1º grau) ( ) Médio (2º grau) ( ) Superior (graduação) ( ) Superior (pós-graduação)

3) Formação profissional:

( ) Estudante de jornalismo ( ) Estudante de outra área ( ) Profissional de jornalismo ( ) Profissional de outra área

4) Cargo que ocupa:

( ) Estagiário ( ) Repórter ( ) Fotógrafo ( ) Editor ( ) Outro. Qual? __________________

5) Carga horária:

( ) 10 horas/semanais ( ) 20 horas/semanais ( ) 30 horas/semanais ( ) 40 horas/semanais

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6) Turno de trabalho:

( ) Matutino ( ) Vespertino ( ) Noturno

7) Remuneração:

( ) Até 1 salário mínimo ( ) De 1 a 3 salários mínimos ( ) De 3 a 5 salários mínimos ( ) De 5 a 7 salários mínimos ( ) Mais de 7 salários mínimos

8) Qual é a sua principal atividade na equipe?

( ) Reportagem ( ) Produção ( ) Edição ( ) Fotografia ( ) Outro. Qual? __________________

9) Quantas matérias, em média, produz por semana?

( ) 1 a 3 matérias ( ) 4 a 6 matérias ( ) 5 a 7 matérias ( ) 8 a 10 matérias ( ) Mais de 12 matérias

10) Quantas reportagens, em média, produz por semana?

( ) 1 a 3 reportagens ( ) 4 a 6 reportagens ( ) 5 a 7 reportagens ( ) 8 a 10 reportagens ( ) Mais de 10 reportagens

11) Quantas notas, em média, produz por semana?

( ) 1 a 3 notas ( ) 4 a 6 notas ( ) 5 a 7 notas ( ) 8 a 10 notas ( ) Mais de 10 notas

12) Qual é o seu nível de conhecimento em informática?

( ) Ótimo ( ) Bom ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Nenhum

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13) Você costuma utilizar a internet como fonte de informação para escrever uma matéria?

( ) Sim ( ) Não

14) Quantas horas, por dia, você utiliza a internet na redação?

( ) Até 1 hora ( ) Até 2 horas ( ) Até 3 horas ( ) Até 4 horas ( ) Mais de 4 horas

15) Quais páginas costuma visitar com maior freqüência para produzir uma matéria? ( ) Jornalísticas ( ) Governamentais ( ) Empresariais ( ) Artísticas ( ) Outras

16) Qual é o meio mais utilizado para busca de assuntos para matérias?

( ) Rádio ( ) TV ( ) Internet ( ) Jornais/Revistas ( ) Outros. Qual? _______________ 17) Quanto tempo leva, em média, da produção à publicação da matéria?

( ) Até 1 hora ( ) De 1 a 4 horas ( ) De 4 a 7 horas ( ) De 7 a 10 horas ( ) Mais de 10 horas

18) Já utilizou alguma informação de outras páginas para colocar na matéria?

( ) Sempre ( ) Freqüentemente ( ) Ás vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

19) Quando utiliza informações de outras páginas, costuma dar o crédito da informação?

( ) Sempre ( ) Freqüentemente ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

17

20) Qual a principal utilização da Internet feita por você?

( ) Pesquisa ( ) E-mails ( ) Entrevistas ( ) Fóruns/bate-papos ( ) Outros

21) Em média, quantos e-mails de usuários/leitores recebe por semana?

( ) De 0 a 3 e-mails ( ) De 4 a 7 e-mails ( ) De 8 a 11 e-mails ( ) De 12 a 15 e-mails ( ) Mais de 15 e-mails

22) Qual é a principal dificuldade enfrentada na produção de matérias para a internet?

( ) Falta de tempo ( ) Falta de conhecimento do meio ( ) Utilização das ferramentas web ( ) Estilo de texto ( ) Outro. Qual? ________________

23) Qual é a freqüência com que você se relaciona com a equipe técnica (informática) do

jornal? ( ) Sempre ( ) Freqüentemente ( ) Às vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

24) Como é a relação com a equipe técnica (informática)?

( ) Ótima ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Ruim ( ) Péssima

25) Onde você faz a maior parte das matérias?

( ) Redação ( ) Casa ( ) Outro local. Qual? ______________________

26) Cite os programas e/ou recursos utilizados para a produção/divulgação das matérias.

Resp: ______________________________________________________________