Luta Ecológica 1981-1990

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Colectânea de artigos publicados em jornais e boletins diversos

Citation preview

T. BRAGA

LUTA ECOLGICA

1981-1990

Ponta Delgada

NDICEIntroduo .......................................................................................... Armamento Nuclear na Terceira ........................................................ Mar dos Aores, cemitrio de resduos radioactivos....................... Combate poluio sonora, tarefa urgente!........................................ Portugal prepara-se para utilizar os cemitrios atmicos do Atlntico?........................................................................ Baleias! Eliminada a Ameaa de Extino?........................................ De como eles se vestem de verde ou as cambalhotas que so obrigados a dar ...................................................................... Por que razo os Amigos da Terra esto lutando pelas baleias?......................................................................... Aores: Toninhas Continuam Protegidas pela Lei.............................. Fbrica de Cimento e Poluio........................................................... Tropa? No Obrigado!........................................................................ Ecologia.............................................................................................. A Propsito de Chernobyl: Energia Nuclear? Sim, muito obrigado!.......................................................................... Jardim Antnio Borges: Botnico ou Zoolgico?............................... Caa Baleia: Alguns dados Histricos............................................. Grutas- Um Patrimnio Natural que Urge Defender.......................... Reserva de Recreio da Lagoa do Congro, Por que No?.................... Em Defesa da rvore Ipilipil ou Leucaena, a rvore Milagrosa ............................................................................ Carta aberta ao Amigo da Terra Humberto Furtado Costa ................. Eucaliptomania, Universidade e Partidos Polticos............................ Patrimnio Espeleolgico dos Aores Riqueza ainda por explorar............................................................................... 5 7 8 9 11 13 15 17 19 20 21 22 24 26 27 31 33 34 35 36 38

3

2008 Impresso e Acabamentos EGA - Empresa Grfica Aoreana, Lda. Rua Manuel Augusto Amaral, 5 9500-222 Ponta Delgada

INTRODUO

Nesta publicao apresenta-se uma colectnea de vinte e um textos publicados em diversos jornais, sobretudo regionais, e boletins de associaes de defesa do ambiente, ao longo de vinte e um anos. Embora muitos dos textos tenham perdido actualidade, optmos por no fazer qualquer actualizao. Infelizmente muitos outros, como os referentes energia nuclear/ resduos radioactivos, continuam a estar na ordem do dia, visto que, com a actual crise dos combustveis fsseis e com a alegao de que aquela forma de energia no produtora de dixido de carbono, h fortes presses a nvel nacional e internacional para o relanamento do nuclear.

Pico da Pedra, 29 de Junho de 2008

5

Luta Ecolgica 1981-1990 Armamento Nuclear na TerceiraH dias alertava, num artigo sado neste jornal, para os perigos que adviriam para todos ns se quem nos governa autorizasse a instalao de armas nucleares no nosso territrio. Neste pequeno artigo, irei divulgar algumas das concluses (s as que nos dizem respeito) de um estudo sobre questes militares da autoria de Alberto Santos, doutor em Sociologia, antigo professor no Instituto de Cincias Sociais e Polticas de Lisboa, editado pela Fundao para os Estudos de Defesa Nacional de Frana, presidida pelo General Enri de Bordas. A dado passo do seu trabalho, podemos ler: Na Terceira, os americanos aumentaram consideravelmente o porto da Vila da Praia da Vitria a fim de que pudesse receber os submarinos nucleares Polaris- Poseidon e mais adiante ... no porto da Vila da Praia da Vitria e ao largo do arquiplago estacionam os submarinos nucleares do tipo Trident e Poseidon. Que consequncias podero advir da presena de tais submarinos nas nossas costas? Pesquisas realizadas pelo centro de estudos tecnolgicos do Japo revelaram que a radioactividade subia de 30 a 40% em Okinava quando o navio nuclear norte-americano Long-Beach estacionava na base de White Beach. E o que representa este aumento de radioactividade para o meio ambiente, isto , para o solo, o ar e o mar? Sabemos que as radiaes atmicas atacam as clulas de todos os seres vivos, plantas, animais, ou o homem, provocando uma srie de doenas que podero ir no caso de um indivduo, desde uma queimadura de pele at morte em poucos dias por doena de radiao, passando por leucemia ou cancro de pulmo. Sabe-se, tambm, que, no homem e nos restantes animais, as clulas mais sensveis s radiaes so as clulas reprodutoras, que podem sofrer importantes mutaes. Isto pode originar o aumento do nmero de abortos e de partos prematuros, nascimentos de seres defeituosos e at modificaes permanentes nas espcies. A simples presena destes submarinos constitui j de si um perigo para todos ns pois no existem meios, quer humanos, quer tcnicos que garantam o mnimo de segurana em caso de acidente dos vrios enge-

7

T. Braganhos nucleares quer sejam blicos quer no. Este perigo agravado se se confirmar a existncia de depsitos de armamento nuclear como se pode deduzir do trabalho que venho citando, pois a dado passo, podemos ler: ...Outros silos de armas nucleares parecem estar instalados na Base bem como no interior da ilha Terceira, logo em caso de um conflito nuclear s nos espera a destruio. Existindo de facto armas nucleares em territrio portugus (no passado dia 2, o jornal A Unio, num artigo intitulado Armas atmicas em Portugal por acordo secreto com os E.U., tambm levantava esta hiptese), tanto os nossos governantes, como os partidos da oposio tm conhecimentto de tal facto sendo, portanto, uma verdadeira hipocrisia tanto as declaraes que tanta tinta tm feito correr na nossa imprensa, como os projectos de lei que tm sido apresentados na Assembleia da Repblica.(Publicado no jornal Dirio Insular, 4 de Julho de 1981)

Mar dos Aores, cemitrio de resduos radioactivosOs pricipais problemas levantados pela utilizao da energia nuclear situam-se a dois nveis: as consequncias directas que resultam dessa mesma utilizao, com todos os perigos a ela inerentes dadas as actuais limitaes nos conhecimentos, tanto na previso dos riscos como na manuteno propriamente dita das centrais e os problemas subjectivos, essencialmente polticos, que o uso deste tipo de energia permite levantar. Neste artigo abordarei, apenas, o problema do armazenamento dos resduos radioactivos o qual se insere no primeiro tipo de consequncias atrs mencionadas. Sabe-se que uma central nuclear de 1000 MW produz, anualmente, tantos resduos radioactivos como mil bombas de Hiroxima... bvio que os resduos radioactivos, com nveis de radioactividade perigosos durante centenas e mesmo milhares de anos, no podem estar em contacto com o meio ambiente, sob pena de constituirem uma terrvel ameaa a todas as formas de vida. Tm, pois, de ser guardados em recipientes absolutamente estanques e armazenados em determinados locais durante todo esse tempo. Que fazer, ento, com esses resduos?

8

Luta Ecolgica 1981-1990A primeira soluo foi fazer imergir esses resduos ao largo das costas do Atlntico e do Pacfico. assim que, a 500 km a Oeste do Cabo Finisterra , ou seja a meio caminho entre a Pennsula Ibrica e os Aores, h sete cemitrios de resduos radioactivos onde so lanados os resduos da laborao de 40 centrais nucleares europeias. Sabendo que a Corrente do Golfo que passa na zona do cemitrio se dirige na direco dos Aores e que ao encontrar a cordilheira submarina do nosso arquiplago a corrente divide-se em duas, perdendo velocidade, fazendo com que, em caso de alguma rotura, eventuais partculas radioactivas tendam a depositar-se nas nossas guas. Que consequncias podero advir, para ns aorianos, da existncia de tais cemitrios no Atlntico? Hoje, o problema do armazenamento dos resduos radioactivos continua por resolver. Fazer contentores mais seguros, de modo a que aps 20 000 ou mais anos permaneam intactos, algo que ultrapassa as garantias mais optimistas que a cincia e a tecnologia actuais podem fornecer. A agravar a situao, o comandante Cousteau, especialista internacionalmente respeitado, revelou que os contentores em que os resduos so envolvidos rebentam no fundo do mar, espalhando partculas radioactivas em redor. No caso dos contentores lanados recentemente no Atlntico, os ecologistas afirmam que j vo em mau estado. A riqueza, insuficientemente explorada, dos nossos mares est, pois, em risco de ser contaminada, e em risco estamos todos ns, pois como se sabe, o mal radioactivo vai-se acumulando ao longo da nossa cadeia alimentar que, ao chegar ao homem, poder trazer nveis j muito elevados de radioactividade, com evidentes prejuzos para a nossa sade (hipteses de cancros, leucemias, modificaes genticas nas geraes futuras, etc.).(Publicado no jornal Aoriano Oriental, 19 de Julho de 1981)

Combate poluio sonora, tarefa urgente!Embora no seja tarefa fcil definir o que se entende por poluio sonora, podemos classificar de poluentes todos os sons que provocam reaces negativas (sons desagradveis, perturbadores e at dolorosos). Mas

9

T. Bragaaqui surge uma questo: no poder um mesmo som ser considerado agradvel para determinada pessoa e perturbador para outra? Entretanto, possvel lidar-se com padres bastantes objectivos. No difcil medir-se o volume dos sons, mais difcil chegar-se concluso de quais sejam os limites aceitveis para a sade humana. Apesar de ser necessrio ter em conta a distncia a que a pessoa se encontra do gerador do barulho e o tempo de exposio a este, considera-se que o ouvido humano no pode tolerar mais do que 120 decibis. Embora a poluio sonora no seja, para ns Aorianos, o mais grave problema do ponto de vista ecolgico, , no entanto, fcil compreender-se que ela um dos grandes males da nossa civilizao e urgente que as populaes se consciencializem de que do rudo advm inmeras consequncias para a sade, sendo mesmo uma das principais causa da falta desta nas grandes cidades. A chamada revoluo industrial e a chamada vida moderna ocasionou uma intensificao quase incontrolvel da produo de novos rudos, cada vez mais numerosos e cada vez mais perturbadores do equilbrio psicossomtico. Numa cidade como numa fbrica, como em qualquer outro meio ambiente de vida ou de trabalho, os chamados rudos de fundo podem atingir valores em decibis que perturbam, alteram e modificam irreversivelmente as condies do nosso equilbrio psicossomtico, portanto a nossa sade. Os novos meios de transporte, no esquecendo os avies que produzem habitualmente para cima de 150 decibis, o que insuportvel, as novas mquinas, toda uma utensilagem domstica e pblica a mais variada, constituem fontes de rudos permanentes que se entrechocam e se potencializam, levando a generalidade das pessoas fadiga, ao mal-estar, ao nervosismo, insnia, s perturbaes do equilbrio, diminuio acelerada da capacidade de deciso. Digamos ento que conduz alienao e ao embrutecimento das pessoas. Conduz pela mesma razo, e pelo mesmo mecanismo, ao aumento da agressividade da intolerncia, da degradao do convvio social normal e sereno, conduz finalmente, por um fenmeno de excitao permanente, ao embotamento do chamado eu moral das pessoas. Portanto, fisiologicamente o caminho para a surdez, psicologicamente o caminho para o desequilbrio psicossomtico, para a excitao permanente, para a agressividade, para a neurose, para a depresso, para

10

Luta Ecolgica 1981-1990o aniquilamento do individuo, sob todos os aspectos considerado. (1) Alm das consequncias atrs apontadas, acrescentaramos uma, talvez a mais alarmante, que a possibilidade do ritmo cardaco do feto ser acelerado por barulhos a que a prpria me parece ter-se tornado tolerante. Eliminar a poluio praticamente impossvel, j que existir poluir. Contudo, combater a poluio excessiva necessrio e, mesmo, imprescindvel, caso se queira preservar a vida no planeta. A 15 de Setembro, do ano transacto, foi criado, pelo Governo Regional, um grupo de trabalho com o objectivo de estudar medidas tendentes ao combate poluio sonora, proveniente de estabelecimentos industriais, de veculos a motor, de estabelecimentos comerciais e de locais de diverso pblica (2). Sabendo-se que a poluio sonora, de fcil controlo tecnolgico, esperamos que sejam acertadas, e que no fiquem pelo papel, as deliberaes do referido grupo de trabalho. Alertamos, por ltimo, a opinio pblica para a existncia de falsas campanhas: as que procuram responsabilizar, pelos males, igualmente todos os cidados, as que localizam erroneamente as causas, as que apontam solues que so pouco mais do que simples paleativos.(1) (2)

- in Problema da Sade texto do Dr. Rocha Barbosa. - In Boletim n 1 da Direco Regional da Comunicao Social. (Publicado no jornal Dirio Insular em 27 de Maro de 1982)

Portugal prepara-se para utilizar os cemitrios atmicos do Atlntico?Se ganha a ditadura do Plutnio e permitirmos a militarizao das energias doces, corremos o risco de caminhar at ao ano 2000 como nmeros programados nos computadores, como cifras de consumo para indstrias alimentares, como crebros vazios submetidos linguagem alienante dos meios audiovisuais (Santi Vilanova). A imprensa aoriana, a maioria dos partidos polticos com actividade na regio e o prprio Governo Regional, no h muito tempo, tomaram posio contra o lanamento de resduos radioactivos nos cemitrios atmicos situados a 600 milhas do nosso arquiplago.

11

T. Braga de estranhar, no entanto, a atitude do Governo Central que no tomou qualquer posio sobre o caso. Pelo que nos dado conhecer, s o PPM, atravs de Gonalo Ribeiro Teles, manifestou a sua concordncia com a resoluo aprovada pelo Governo Regional do Aores. Mas, concerteza, nada far, habituado que est a engolir elefantes vivos (no verdade, senhor Ferreira do Amaral?). A que ser devido tal silncio? que j vem de longe a inteno de optar pela via nuclear no nosso pas. Em 1975, a E. D. P., num Encontro Nacional de Poltica Energtica, apontava para uma opo nuclear a curto prazo. Em 1976, o Primeiro-Ministro de ento, Mrio Soares, prometeu a elaborao de um Livro Branco sobre a opo nuclear, opo esta advogada pelo seu Ministro da Indstria e Tecnologia Walter Rosa. Em 16 e 17 de Maro de 1977, a E. D. P. volta carga promovendo um seminrio com o ttulo: Informao sobre Problemas Energticos que constou, num total de nove pontos, de seis ligados a problemas de uma possvel opo nuclear. Mais recentemente, nos dias 11, 12 e 13 de Outubro, realizou-se em Lisboa um Simpsio sobre o Nuclear promovido pelos construtores franceses de centrais, Framatome, Alsthom e Comega que esto em melhores condies, segundo tcnicos do sector, do que os canadianos que entram na corrida aps acordos econmicos firmados entre o Primeiro Ministro portugus, Francisco Pinto Balsemo e o chefe do governo federal canadiano, Pierre Elliot Trudeau. A culminar todos estes estudos, conversaes e acordos, o governo central parece disposto a aprovar um Plano Energtico Nacional que prev a construo de um mximo de onze e um mnimo de seis centrais nucleares at ao ano 2000. Perante tal atitude urge reforar o movimento anti-nuclear no nosso pas e na regio, antes mesmo que o continente portugus esteja infestado de centrais nucleares, fbricas de reprocessamento, etc. e que o governo central decida despejar os detritos das nossas centrais no Atlntico. tempo de agir. necessrio lutar contra o nuclear. o problema mais importante do sculo, o resto no passa de um pormenor, estamos diante da morte da civilizao (Lanza Del Vasto).

(Publicado no jornal Dirio Insular, 12 de Novembro de 1982)

12

Luta Ecolgica 1981-1990 Baleias! Eliminada a ameaa de extino?Sabemos que, na Terra, houve mamutes, dinossauros, etc., mas nunca os vimos. As baleias, que j tivemos oportunidade (e facilidade) de ver, no so ainda um animal extinto. Mas se o massacre, de que so vtimas, continuar, apesar de a Comisso Baleeira Internacional (IWC) ter proibido a sua caa a partir de 1985, a ameaa de extino de algumas espcies importantes de baleias continua latente. Sabe-se que, desde o sculo XVIII, os nossos mares foram palco de capturas por parte de veleiros americanos. Entre ns, a indstria baleeira s comeou a ser explorada a partir de 1886, em So Miguel (desconhecemos se a nvel dos Aores) por iniciativa do Sr. Amncio Jlio Cabral. A caa baleia, na Regio, aps ter sido incrementada, neste momento est condenada a desaparecer por si, felizmente, sem trazer grandes problemas economia regional, como poderemos ver adiante. Das 13 baleeiras existentes em 1974, hoje apenas restam sete: cinco no Pico, uma no Faial e uma nas Flores. A pesca da baleia, entre ns, continua a ser feita de um modo que se pode considerar primitivo. Embora tal mtodo no permita grandes capturas como o permite a utilizao de mtodos sofisticados, , sem sombra de dvidas, uma das formas mais cruis de matar um animal. Com efeito, s ao fim de 2 a 5 horas de agonia e sofrimento a baleia morre. Como j foi referido pela imprensa, a Comisso Baleeira Internacional decidiu proibir, a partir do prximo ms de Outubro, a utilizao dos chamados arpes frios, utilizados tambm pelos nossos pescadores, que provocam uma morte lenta e dolorosa e recomendou que na caa baleia sejam utilizados explosivos de modo a que a morte seja rpida. Ir tal deciso ser acatada? Esperamos que, no mais breve espao de tempo, o Governo Regional tome as medidas adequadas. Do ponto de vista econmico, as razes para a continuao do massacre das baleias so inexistentes. Para todos os produtos extrados das baleias existem substitutos sintticos, a preos mais compensadores. Hoje, dos cachalotes capturados nos Aores extrai-se leo de fraca qualidade e de difcil venda. Existem na Regio 800 toneladas de leo espera (at quando) de melhores preos.

13

T. BragaSabendo-se que so, apenas, sete os pases que podem comprar o leo aoriano sem correrem o risco de infringirem as posies que tm tomado no seio da IWC, quem estar interessado em comprar o nosso leo? No dizer de Z Lima e Grald Le Grand, em artigo publicado na revista SOBREVIVER, o verdadeiro lucro o resultado do trfico ilegal dos dentes de cachalote. O que faz lembrar o sinistro destino dos elefantes africanos, massacrados para que os turistas de todo o mundo pudessem ter direito ao seu souvenirzinho. No que toca ao nmero de pessoas ligadas ao sector, podemos acrescentar que to diminuto que, facilmente, podero ser encaminhadas para outras actividades tambm lucrativas. O jornal Aoriano Oriental de 5 de Junho de 1981, num artigo publicado a propsito do Dia Mundial do Ambiente, referia-se s possibilidades de reciclagem da indstria baleeira, citando a dado passo; A MAIOR PARTE DAS EMBARCAES UTILIZADAS NA CAA BALEIA, PODEM SER EMPREGUES IMEDIATAMENTE NOUTRAS FORMAS DE PESCA. AS USINAS DE TRATAMENTO DE CACHALOTES SO TODAS MUITO VELHAS (apenas uma funciona realmente) E A SUA TRANSFORMAO URGENTE. SERIA MUITO MAIS TIL PARA A REGIO MONTAR USINAS DE TRATAMENTO DE PEIXE DO QUE RENOVAR UMA INDSTRIA QUE DESAPARECER DENTRO DE 10 OU 15 ANOS, LOGO QUE NO HAJAM MAIS BALEIAS. E ISTO NUMA ALTURA EM QUE SE DESENVOLVE O SECTOR DAS PESCAS NA REGIO O DESENVOLVIMENTO TURSTICO DOS AORES EST NA SUA JUVENTUDE E AS BALEIAS PODEM CONTRIBUIR PARA O SEU SURTO. NO H MUITAS REGIES DO MUNDO ONDE SE POSSA ENCONTRAR AS BALEIAS, FOTOGRAF-LAS E OUVI-LAS CANTAR. O EXEMPLO DA FLRIDA E DO SEU ARQUIPLAGO DO HAWAI MOSTRA QUE TAL ACTIVIDADE PROCURADA E RENTVEL Esperamos que o Governo Regional cumpra o que vem expresso no Plano a Mdio Prazo (1981/84), nomeadamente o objectivo em que se prope a defesa das espcies animais e a recuperao de sistemas com vista preservao das espcies em vias de extino. urgente comear-se, desde j, a pensar na reciclagem da indstria baleeira, para que em 1985 Portugal no esteja includo na lista dos pa-

14

Luta Ecolgica 1981-1990ses responsveis pelo extermnio das baleias. Apesar do regozijo com que foi recebida, pelos ecologistas, a proposta apresentada pelas Seyshelles proibindo a partir de 1985 toda a caa comercial da baleia, pensamos que tal medida poder funcionar como arma de dois gumes, j que no foi aceite por unanimidade. Segundo o EXPRESSO de 31 de Julho de 1982, AO APROVAREM A PROIBIO TOTAL DA CAA DA BALEIA A A PARTIR DE 1985, OS PASES DA ICW PODERO TER, DE FACTO, COLOCADO UM TRAVO NO EXTERMNIO DO MAIOR ANIMAL VIVO DA TERRA. MAS, AO MESMO TEMPO, PODERO TER ABERTO CAMINHO A QUE AS MAIORES POTNCIAS BALEEIRAS SE DESOBRIGUEM DAS DECISES DA COMISSO E PASSEM A EXERCER A CAA SEM QUALQUER CONTROLO INTERNACIONAL. E, NESSE CASO, SEM OUTRO TRAVO A ESSA PRTICA QUE O DAS HABITUAIS CONDENAES VERBAIS, NO PODERIAM ESTAR EM MAIOR RISCO OS POUCOS MILHARES DE BALEIAS QUE AINDA HOJE EXISTEM ESPALHADAS PELOS MARES.(Publicado no boletim Prilo, n 1, Primavera de 1983)

De como eles se vestem de verde ou as cambalhotas que so obrigados a darCom a chegada da Primavera os campos tornam-se verdes. Durante as pr-campanhas e campanhas eleitorais os partidos polticos, da situao e da oposio, so prdigos em promessas e mais promessas; procuram, assim, impingir o seu produto falsificado (estragado quase sempre) atravs de todos os mtodos publicitrios, desde os mais sofisticados aos ilegais e fraudulentos. Nos ltimos tempos, talvez devido ao cada vez maior nmero de cidados eleitores (e no s) despertos para as questes ecolgicas, os partidos polticos vestem-se de verde. Reclamando-se da Ecologia, no nosso pas, existem dois pequenos partidos: O Partido Popular Monrquico e Os Verdes. Se o primeiro est desmascarado, perante a opinio pblica, devido sua participao nos vrios governos da Aliana Democrtica, onde nunca se fartou de engolir elefantes vivos, o segundo, ao utilizar uma lingua-

15

T. Bragagem diferente, ao apresentar-se como um partido/movimento e ao usar (abusivamente) uma sigla que a de um movimento legalizado aps o 25 de Abril de 1974 pode tornar-se perigoso j que poder induzir em erro alguns eleitores que pensando votar verde estaro a votar vermelho. Quanto a ns, trata-se de uma manobra do Partido Comunista Portugus que, tal como todos os outros partidos, mais no pretende do que recuperar o movimento ecolgico impedindo o crescimento de um movimento ecologista alternativo e independente. Mas vamos ao objectivo principal deste artigo. Como do conhecimento de todos os terceirenses, a Cmara Municipal de Angra do Herosmo decidiu encerrar as furnas de gua e do Cabrito. Tal deciso foi contestada por vrias entidades entre elas, o recm-legalizado, grupo Luta Ecolgica que na devida altura apresentou alternativas concretas para o aproveitamento da gua sem ter de recorrer ao encerramento das grutas e construo da clebre escada de caracol. Mas, adiante (j agora, agradecamos que se informasse o pblico da verba que se vai esbanjar na dita) a Cmara Municipal mantm a sua: ou grutas ou gua. A Assembleia Municipal rejeita uma proposta do deputado socialista Dr. Dionsio de Sousa. Assunto encerrado. Qual no foi o nosso espanto, passados poucos dias o Sr. Presidente da Cmara anuncia que o processo da Furna do Cabrito iria ser revisto e a 18 do corrente ms o Dirio Insular noticia que os deputados do PSD, pela Terceira, iro apresentar na Assembleia Regional uma proposta de Decreto Regional com vista a proteger as grutas e zonas de interesse vulcnico e vegetal da ilha. Sinceramente, no entendemos a que se deve tal cambalhota. Como diz o povo: quando a esmola muita at o santo desconfia Que manobra ou manobras esto a tramar os nossos governantes? Ter sido uma jogada de antecipao ao Partido Socialista? Ser uma jogada inserida na pr campanha eleitoral, altura em que a caa ao voto j est aberta? Bem, em relao a ns estejam descansados. De c no levam nada. Consideramos os partidos polticos actuais demasiado subjugados por uma ideologia envelhecida, demasiado obcecados pelo poder (que no queremos, no nos serve para nada), demasiado politiqueiros para terem em conta as reivindicaes urgentes do ecologismo.(Publicado no jornal A Unio, em 23 de Maro de 1983)

16

Luta Ecolgica 1981-1990 Por que razo os Amigos da Terra esto lutando pelas baleias?Mais de uma vez j me pronunciei contra a caa baleia. As razes so vrias e entre elas destacarei: 1- O perigo de extino da espcie. No globo, segundo estimativas feitas por vrios cientistas, a populao distribui-se do seguinte modo: P. Inicial Atlntico Norte Pacfico Norte Este 200.000 Oeste 340.000 Hemisfrio Sul 600.000 P. Actual Entre 20 e 38.000 Entre 120 e 150.000 200.000 380.000

Se verdade que os mtodos artesanais com que o cachalote sempre foi caado nos Aores, s por si no pem em causa a espcie, no menos verdade que o maior problema existente actualmente sem dvida a CAA BALEIA NOS AORES em virtude de no respeitar a legislao proveniente da Comisso Baleeira Internacional que probe desde Outubro de 1982 a utilizao de arpes frios e que fixou a cota para a caa ao cachalote, no Atlntico Norte, em zero, bem como probe os baleeiros piratas e a insistncia do Japo e da URSS em manterem a sua caa. Felizmente a caa baleia nos Aores j no constitui qualquer tipo de ameaa para a preservao da espcie pois, nos ltimos anos, a actividade tem decrescido, sendo praticamente nula no corrente ano. TEMOS PENA, ISSO SIM, SE NO SOUBERMOS (OU QUISERMOS) RECICLAR AS SUAS INFRAESTRUTURAS E FAZER O APROVEITAMENTO TURSTICO DA ACTIVIDADE. 2- Do ponto de vista econmico, as razes para a continuao da caa baleia nos Aores so inexistentes. Para todos os produtos extrados das baleias existem substitutos sintticos a preos mais compensadores. Existem, na Regio, 1000 toneladas de leo (cerca de 40.000 contos)

17

T. Bragaeternamente espera de serem exportados. Para onde, se os produtos derivados do cachalote esto proibidos de serem comercializados pela conveno Sobre o Comercio Internacional das Espcies da Fauna e Flora Ameaadas de Extino (CITES). O verdadeiro lucro resulta do trfico dos dentes do cachalote. Valer a pena matar cada ano centenas (se a caa for incrementada) dos mais impressionantes seres vivos da Terra para que os turistas (sem aspas ou com elas) tenham o direito ao seu souvenirzinho? Tendo em conta o que atrs apontei, e o facto de a caa baleia ficar mundialmente proibida pela Comisso Baleeira Internacional a partir de 1985, consideramos ser muito mais til para os Aores investir em novas unidades de tratamento de peixe do que renovar uma indstria artesanal decadente que acabar por desaparecer muito em breve. Por outro lado, numa altura em que o desenvolvimento turstico da Regio est na sua juventude, as baleias podero de certa forma contribuir para o seu incremento. O que se faz nos Estados Unidos da Amrica, neste campo, merece ser tomado em conta.O Whaling Museum de New-Bedford, onde podem ser observados vrios aspectos da actividade baleeira mundial, com uma pequena loja de recordaes e livraria recheada de vrias obras sobre a vida dos cetceos, a caa baleia e sua proteco, as excurses em barcos de porte mdio, para a observao, filmagem e fotografia de baleias nas cidades de Plymouth e Provincetown so exemplos a seguir pelos responsveis pelo tursmo na Regio. O Dec Lei n 263/81, de 3 de Setembro, probe a pesca, a captura ou abate das baleias na zona costeira e na zona exclusiva continental. Na Madeira j no se pratica a caa baleia. Porque razo h quem pretenda ainda reactivar a actividade nos Aores? Aps a escrita deste texto tive conhecimento, atravs do Jornal da Praia, de 26 de Setembro de 1983, de que o Governo Regional deliberara prestar auxlio financeiro exportao do leo de baleia, mediante a garantia de modernizao do equipamento fabril por parte da empresa que faz a explorao do sector. Com que objectivos? Sinceramente, no d para entender(Publicado no boletim Prilo, n 2, Maro de 1984)

18

Luta Ecolgica 1981-1990 Aores: Toninhas Continuam Protegidas pela LeiPor volta de 1840, comeou a ser explorada na ilha de So Miguel a indstria de azeite de peixe, utilizado na iluminao pblica, em grande escala, por ser muito econmico. As quelmas eram utilizadas pelos pescadores de P. Delgada e Rabo de Peixe e as toninhas (golfinhos) pelos de Vila Franca do Campo e Lagoa. O padre e historiador Ernesto Ferreira diz-nos que os pescadores de Vila Franca apanhavam em cada poca de 1 000 a 1 100 indivduos, nmero que em 1863 subiu a cerca de 3 000. Com o emprego progressivo do petrleo e da electricidade, o uso do azeite de peixe foi decrescendo e por consequncia diminuiu a captura dos peixes que o produziam. Acabada a referida indstria as toninhas continuaram a ser usadas, em pequena escala, na alimentao e como isco para a pesca. Em 1983, a Assembleia Regional dos Aores, com a aprovao do Decreto Legislativo Regional n2/83/A, decide proibir a captura e comercializao de pequenos cetceos (golfinhos e toninhas) nas guas dos Aores. Em 1984, o deputado Emlio Porto, alegando ser necessrio repor a verdade histrica e tradicional desta terra, prope a revogao do decreto em vigor. A Comisso para os Assuntos Polticos e Administrativos da Assembleia Regional fica-se pelo meio termo e aprova a seguinte alterao: durante os cinco primeiros meses do ano autorizada a captura, apenas para consumo dos pescadores. Esta atitude foi logo contestada pelas mais diversas entidades e associaes ecologistas, tanto nacionais como estrangeiras. Entre elas destacamos a posio assumida por Francisco Reiner e Manuel Eduardo dos Santos, do Museu do Mar de Cascais; a de um grupo de jovens do Faial que, segundo nos consta, numa manh conseguiu um milhar de assinaturas de apoio a uma moo em defesa das toninhas que foi entregue na Assembleia Regional, em Junho, em cartas enviadas ao Parlamento, ecologistas e associaes de defesa da fauna martima da Europa condenam a matana de golfinhos nos mares dos Aores e, por ltimo, a posio do Ncleo dos Aores dos Amigos da Terra, quer atravs de comunicados de imprensa, quer atravs de cartas enviadas ao Presidente da Assembleia Regional.

19

T. BragaResultado da presso exercida e do facto, segundo cremos, de uma parte (a maioria?) dos deputados ser contrria a qualquer alterao, o assunto caiu no esquecimento no chegando a ser debatido no Parlamento Aoriano na presente legislatura. A proibio continua pois em vigor e esperamos que o novo Parlamento, a eleger em Outubro, a mantenha.(Publicado no boletim Zimbro, n 2, Outubro de 1984)

Fbrica de Cimento e PoluioO homem industrial do mundo de hoje como um touro solta numa loja de porcelana, com a simples diferena que um touro, com metade da informao acerca das propriedades da loia que ns temos acerca dos sistemas ecolgicos, tentaria provavelmente adaptar o seu comportamento ao seu ambiente, em vez de fazer o inverso. Pelo contrrio, o Homo sapiens industrialis est disposto a adpatar a si a loja de porcelanas e, portanto, fixou-se no objectivo de a reduzir a cacos no mais curto perodo de tempo possvel (The Ecologist). Qualquer um de ns, ao passar pelo Livramento, j observou que, nas vizinhanas da fbrica de cimento, a paisagem perdeu as belas cores e est tingida de cinzento: os telhados, as rvores, as terras encontram-se cobertas por uma pelcula, com maior ou menor espessura, de poeira de cimento. E isto no nos deve fazer esquecer que uma parte, no desprezvel, a das partculas de menores dimenses levada pelos ventos para distncias mais afastadas da fbrica, constituindo esta uma das principais responsveis pela presena de silicatos na atmosfera. Para alm de inundarem os arredores de poeiras de silicatos, as cimenteiras so responsveis pela emisso, entre outros, do dixido de enxofre e de xidos de azoto, que conjuntamente com os xidos de carbono, os aldeidos e os hidrocarbonetos gasosos libertados pela combusto incompleta dos hidrocarbonetos lquidos, so as principais matrias primas da poluio atmosfrica. O estabelecimento de indstrias do tipo poluente junto de centros urbanos constituiu um imperativo econmico e financeiro durante o sc.

20

Luta Ecolgica 1981-1990XIX e na primeira metade do sc. XX, hoje constitui para as populaes um srio risco para a sade. Com efeito, se um complexo industrial ligado a um aglomerado urbano uma fonte de lucro para o industrial, para uma colectividade implica um conjunto de despesas difceis de calcular, em virtude do considervel nmero de parmetros que entram em jogo quando se trata de avaliar os perigos resultantes da poluio atmosfrica. O que sabemos, e que deveria ter sido tomado em conta quando se pensou em ampliar a Fbrica do Livramento, que a poluio do ar, no s perigosa para a sade por contribuir para o desenvolvimento de doenas crnicas como enfisemas, bronquites, outras perturbaes digestivas, mas tambm uma ameaa para o prprio ambiente pelos efeitos nocivos na agricultura, pecuria, edifcios, armaes metlicas, etc.. Hoje, a tendncia de criar zonas industriais que agrupem as fbricas longe dos bairros residenciais e com o mximo de equipamentos colectivos, sendo do ponto de vista do ambiente, a melhor forma de rentabilizar as instalaes de tratamento, pblicas ou privadas. A unica soluo, para o caso a que nos vimos referindo, ser a mudana das instalaes da referida indstria. Alis, seria a melhor prenda que o Governo Regional poderia dar aos jovens dos Aores, neste Ano Internacional da Juventude, por intermdio das crianas, jovens e populao do Livramento.(Publicado no jornal Aoriano Oriental, no dia 17 de Julho de 1985)

Tropa? No Obrigado!Toda a propaganda a favor da guerra proibida por lei (Pacto Internacional de Direitos Cvicos e Polticos, Artigo 20, 16/12/1966). O servio militar cada vez menos surge na nossa vida como algo de muito natural e normal. Que significado tem, para ns, o ir para a tropa? Cada vez menos a tropa o modo dos jovens viajarem, conhecerem novas caras, fazerem amigos e viverem independentes da famlia. A tropa aparece sim, como uma espcie de espada caindo na nossa juventude e dividindo-a, cortando-a: um emprego, estudos, qualificao profissional, realizao pessoal, vida familiar, etc..

21

T. BragaDiz-se que bom ir para a tropa, para se saber o que a vida, l que se fazem homens! Mas, o que se faz para tal? Marchar, fazer exerccios fsicos, aprender a ter um inimigo e o que h a fazer mat-lo com uma arma que sabemos manejar. Engraxar as botas, esquerdo direito, nada de poltica, cumprir sempre as ordens dos superiores, cumprir e calar. Nunca dialogar porque isso emperra a ordem de comando e o dilogo o caos, no prprio do homem. Ser homem tambm bater a pala, ter um cabelo que no o nosso, entrar e sair fardado e vejam s tratar outros homens por meu...lidar com outros sem nome nem histria como que a provar que o servilismo da idade mdia modelo para fazer homens do sculo XX. Num mundo em crescente e permanente esprito de dio, violncia e guerra qualquer jovem pode recusar-se a servir de carne para canho ou elemento colaboracionista na destruio da humanidade, declarando-se objector de conscincia. A objeco de conscincia um direito pessoal, natural, de no acatar uma lei, de no cumprir uma ordem ou de no prestar determinado servio (como por exemplo, o servio militar) por imperiosas razes de conscincia. Este direito reconhecido pela Constituio da Repblica Portuguesa e pela Resoluo n 337 da Assembleia Consultiva do Conselho da Europa, de 21 de Junho de 1967. Recusar a tropa, numa altura em que a sobrevivncia da humanidade exige a criao de uma dinmica pacifista dos povos, capaz de deter a loucura da escalada armamentista que pode desembocar numa catstrofe nuclear, no ser cobarde ou anti-patriota, sim um verdadeiro acto de coerncia ecolgica.(Publicado no boletim Zimbro, n 5, Outubro de 1985)

EcologiaO anncio pelo movimento ecologista Greenpeace de uma futura actuao nos Aores para estudar a dimenso da caa baleia foi pretexto, para alguma imprensa regional, lanar uma srie de calnias acerca daquela prestigiada organizao. O matutino Aoreano Oriental, jornal que em tempos apoiava claramente o movimento separatista (FLA- Frente de Libertao dos Aores)

22

Luta Ecolgica 1981-1990e hoje apoia mais ou menos veladamente o Governo Regional dos Aores que o subsidia, na sua edio de 10 de Setembro de 1985 escrevia o seguinte: Vamos transcrever a crnica sobre o Greenpeace, chamando a ateno dos leitores, e das autoridades aorianas, para alguns aspectos da actividade deste movimento ecolgico cujas conotaes so cada vez mais evidentes e vm merecendo a ateno dos pases ocidentais. certo que o Greenpeace tentou uma aco na Rssia, os maiores caadores de baleias em todo o mundo, mas a pronta reaco das autoridades soviticas levou a organizao a desistir de qualquer actividade no bloco oriental, concentrando os seus esforos ecolgicos no ocidente e quase sempre em reas particularmente sensveis no aspecto estratgico, como foi o caso de Moruroa, onde decorrem experincias militares francesas, e, agora, nos Aores uma rea do Atlntico Norte sempre em foco e onde os Estados Unidos e a Frana dispem de importantes bases, com finalidades diferentes, mas igualmente importantes nos seus objectivos. Resumindo e concluindo, o apoio aco terrorista do Governo de Frana contra o Greenpeace e o convite ao governo portugus para seguir as pegadas dos seus aliados franceses so por demais evidentes. A caa ao cachalote na Regio Autnoma dos Aores acabar definitivamente muito em breve, apesar da Corretora ter anunciado que iria retom-la em So Miguel e do professor Moniz Bettencourt, gerente de uma das armaes baleeiras do Pico, em entrevista RDP- Aores, afirmar-se esperanado que a actividade recomece, embora noutros moldes (sob a forma de cooperativa), nas ilhas do Pico e do Faial, contando para tal com o possvel apoio de alguns elementos do Governo Regional dos Aores naturais daquelas ilhas. Quanto a ns, no havendo razes econmicas nem financeiras para que a actividade prossiga, escasseando mesmo quem esteja disposto a dar continuidade quele tipo de aventura tradicional, resta aproveitar, o mximo possvel, todo o patrimnio das empresas baleeiras e aprofundar o estudo da actividade que foi, e ainda , fonte de inspirao para as mais diversas manifestaes de carcter cultural e at religioso.(Publicado no jornal Combate Operrio, Janeiro de 1986)

23

T. Braga A Propsito de Chernobyl: Energia Nuclear? Sim, muito obrigado!As modernas centrais elctricas atmicas soviticas so as mais inofensivas do ponto de vista ecolgico: o problema da defesa contra a radiao, na U.R.S.S., j foi resolvido. () Observaes feitas ao longo de muitos anos tm evidenciado que as centrais elctricas atmicas no alteram praticamente o estado radioactivo do meio ambiente. Graas aos sistemas de proteco de vrias etapas, mesmo no caso de um desastre na central, no haver fuga de radiaes. Nikolai Tikhonov (chefe do Governo Sovitico, 1983). Muitos so os livros publicados por fanticos, que se dizem ecologistas, a combater a utilizao, de energia nuclear, mesmo para fins pacficos. Esta no , concerteza, a minha opinio. Acho que a utilizao da energia nuclear, quer para fins pacficos quer para blicos contribui, como veremos, para o progresso cientfico e cultural da nossa civilizao. Em virtude de, ainda, estarmos em cima dos acontecimentos no nos referiremos ao que se passou na Unio Sovitica. Confiamos, alis, na sinceridade e abertura dos dirigentes soviticos quanto a um futuro esclarecimento do sucedido. Basta recordarmos a rapidez com que o chamado acidente foi divulgado. Com base no livro A Nuclearizao do Mundo, editado pela Antgona, tentaremos esmagar, de uma vez para sempre (e de que maneira !), alguns dos estafados argumentos contra o nuclear. Um dos argumentos contra o nuclear, consiste em afirmar que as centrais nucleares correm o risco de sofrerem acidentes de consequncias bastante nefastas e como exemplo apontado o que ocorreu em Three Miles Island. Quanto a ns no se tratou de acidente mas, sim, de uma pequena falha resultante de um defeito anatmico comum, alis, no homem da sociedade prnuclear que os malditos ecologistas pretendem perpetuar. Assim, segundo um dos peritos desta infalvel comisso (Comisso de Regulamentao Nuclear), a enfiada de erros humanos que nesse 28 de Maro de 1979 perturbou inoportunamente a central, esse desastroso encadeamento de circunstncias teve por origem a proeminente pana de um dos operadores da central, cujo exorbitante volume ocultou desgraada-

24

Luta Ecolgica 1981-1990mente os mostradores do controle que, se tivessem estado no seu campo de viso teriam indicado a esse operador o disfuncionamento que lhe pertencia remediar. No duvidemos que, munidos destas informaes, os especialistas no se empenhem doravante a calcular os ndices de tolerncia nuclear em matria de curva abdominal, a fim de determinar o perfil ideal do operador nuclear, e seu regime alimentar esperando poder modelar directamente, com a ajuda dos seus colegas geneticistas, a morfologia do HOMO NUCLEARES perfeito. Os ecologistas, cambada de ignorantes, ao defenderem que a energia nuclear poluente mais no fazem do que poluir as mentes dos mais desprevenidos. Aos seus apelos no devemos dar nenhum crdito. A nossa estima e apoio devem cair em pessoas honestas e suficientemente cultas como o , por exemplo, o lente Vladimir Kiriline, Presidente do Comit de Estado para a Cincia e Tcnica e Vice-Presidente do Conselho de Ministros da Unio Sovitica (no sei se j foi substitudo), que afirmou: A energia nuclear parece-nos a melhor resposta para a proteco do meio ambiente. Igual considerao nos merece o ento Primeiro-Ministro de Frana, Raymond Barre, que declarou: O que preciso familiarizar o pblico com a radioactividade ou ento um perito, cujo nome desconhecemos, que a propsito de mariscos pescados nas proximidades de fugas radioactivas de La Hague declarou que estava disposto a com-los durante um ano. Ainda h quem no acredite nesses homens?! Ficaramos com um pequeno excerto do j referido livro que, por si, desmarcar no s os ecologistas como tambm os chamados pacifistas: No possumos ns doravante, graas ao aperfeioamento dessas mesmas tcnicas, armas chamadas bombas de neutres cuja delicadeza na proteco do meio ambiente chega a deixar tudo intacto, tocante solicitude que ousarei qualificar de ecologia no melhor sentido do termo? Deste modo, se por um motivo extraordinrio se produzisse uma guerra antes que a nuclearizao do mundo a tivesse tornado impossvel porque absolutamente intil, como veremos mais adiante no apresentaria em todo o caso nenhum dos traos o seu tanto chocantes, que apresentaram as guerras do passado. Mais uma vez, a aco militar se apresenta como uma anteviso promissora de progresso, destinada a servir a vida civil; pois uma das evidentes superioridades da energia nuclear sobre as que precederam, a ser mesmo quando

25

T. Bragamodifique em profundidade a natureza das coisas, eminentemente respeitadora das aparncias: nada mais discreta que uma radiao. Para ns, aorianos, com tantos desafios para vencer e numa poca em que se caminha para a automizao integral, necessrio que os homens se aproximem cada vez mais da eficcia das mquinas, no ser o peixe radioactivo um excelente leo lubrificante dos robots humanizados e dos homens robotizados?(Publicado no jornal Correio dos Aores, de 8 de Junho de 1986)

Jardim Antnio Borges: Botnico ou Zoolgico?Todo o animal pertencente a uma espcie selvagem tem o direito de viver livre no seu prprio ambiente natural- terrestre, areo ou aquticoe tem o direito de se reproduzir (artigo 4-1 da Declarao Universal dos Direitos do Animal). A ideia do senhor Presidente da Cmara de Ponta Delgada de encher o Jardim Antnio Borges de diversas espcies animais com o objectivo de constituir um plo de atraco para a populao citadina, que passaria a frequentar, com mais assiduidade, aquela zona verde e a gozar os benefcios da advindos, foi colhida sem aparente oposio no meio local. Mas, ser que h, hoje, razes vlidas para a manuteno de animais selvagens em cativeiro. Vejamos alguns argumentos contra tal deplorante prtica: a) Obriga a capturas, algumas em massa, que, para alm de provocarem traumatismos nos animais, constituem uma ameaa para a fauna; b) So vrias as doenas que atingem os animais, pelo simples facto de serem mantidos em cativeiro: afeces digestivas, cutneas, propenso para infeces, stress, etc.; c) Os animais podero, eventualmente, transmitir vrias doenas ao homem: ttano, raiva, febre aftosa, pneumonia, ictercia infecciosa, etc.. Os prprios jardins zoolgicos desempenham um papel educativo muito limitado j que o comportamento dos animais em cativeiro muito diferente do que teriam nos seus territrios. Hoje, aquela funo pode, com vantagem, ser desempenhada pelo cinema e pela televiso. A RTP/Aores

26

Luta Ecolgica 1981-1990tem-nos brindado com excelentes sries sobre a fauna e a flora. Depois de enumerados alguns (haveria muitos mais) aspectos negativos da manuteno de animais selvagens em cativeiro, facilmente se conclui que o Jardim Antnio Borges deveria sofrer todos os melhoramentos possveis e continuar, como at aqui, como jardim botnico. Basta o espectculo degradante que nos dado pelos reclusos que j l esto.(Publicado no jornal Correio dos Aores, em 23 de Janeiro de 1987)

Caa Baleia - alguns dados histricosDatados de 10.000 a.C., foram encontrados na costa portuguesa enormes arpes de pedra, com a mesma configurao dos actuais que s poderiam ter sido utilizados na captura de cetceos. Ossadas de baleia, de 1500 a.C., encontradas nos restos das fundaes originais do Alasca mostraram que os esquims apanhavam cetceos, desde aquela data. Os povos primitivos aproveitavam, sobretudo, os cetceos que encalhavam. Foi a partir do sculo XII, com os bascos, que teve incio a caa organizada. Por essa altura, a diminuio do nmero de baleias francas no golfo da Biscaia levou-os a procur-las mar adentro, tendo chegado Gronelndia e Terra Nova, no sculo XVI. A baleao portuguesa ter-se- iniciado no sculo XIV. No que diz respeito aos Aores, Gaspar Frutuoso refere o aparecimento de baleias no sculo XVI, nas costas da ilha de S. Miguel, do seguinte modo: saem costa desta ilha, algumas vezes, baleias, mais da banda do Norte que do Sul, principalmente na costa do lugar de Rabo de Peixe, onde se acham muitas favas do mar, que dizem ser-lhe agradvel e natural manjar e, posto que muitas sassem somente se aproveita o azeite delas, sem nunca se achar mbar. Outras referncias ao encalhamento de cetceos podemos encontrar nas Saudades da Terra, contudo a seguinte, dizendo respeito a Santa Maria, deveras interessante: onde esta ribeira se mete no mar saiu costa uma baleia, haver perto de 50 anos, de cujos ossos que se pudera fazer uma cabana, em que puderam caber uma dzia de homens, assentados vontade. Por altura de 1602 as tcnicas de caar baleias usadas pelos bascos

27

T. Bragaso introduzidas e utilizadas no Brasil, iniciando-se o chamado ciclo baleeiro do Brasil colonial. A partir de 1614, a caa no Brasil passa a ser controlada directamente pelo reino de Portugal. Por volta de 1644, comea a caa organizada na Nova Inglaterra, utilizando o mtodo de empurrar os animais para a praia. S em 1712 morto o primeiro cachalote ao largo dos Estados Unidos. No ano de 1729 regista-se o invento, pelo Dr. Thiercelim, do sistema de bomb-lance. Em 1750 comea a caa em Newport e Rhode Island, por iniciativa do judeu portugus Aaron Lopes e onze anos depois, faz-se ao mar, nos Estados Unidos o primeiro navio com a capacidade de derreter a gordura a bordo. Em 1765, os Norte-Americanos j caam nos Aores e em Cabo Verde e, em 1744, j chegavam ao Brasil. Segundo capites ingleses, as suas embarcaes, em 1767, colheram nos mares dos Aores cerca de 10.000 barris de leo. Um ofcio dirigido por D. Anto de Almada ao ministro Francisco Xavier de Mendona Furtado, datado de 19 de Julho de 1768, refere a presena nos Aores, no vero daquele ano, de cerca de 200 embarcaes da Nova Inglaterra que conseguiram um rendimento no valor de 800 contos, o que naquela altura era quantia bastante avultada, de tal modo que o referido capito defendia que com eles fosse celebrado um contrato. Por esta altura, j um pequeno nmero de aorianos se dedicava caa baleia, com o objectivo de utilizar o leo na iluminao de suas casas. Em 1784, Dinis Gregrio Melo Castro suplica Rainha para adoptar medidas no sentido de impedir a concorrncia feita pelos estrangeiros aos povos locais. No obteve resposta. A situao dos aorianos era deveras caricata: tendo possibilidade de se bastarem a si prprios com o leo de suas baleias este saa para Inglaterra, sendo eles, por sua vez, obrigados a compr-lo mais caro a negociantes locais que o importavam. Um deles, Nicolau Maria Raposo que o importava do Brasil e que era detentor do monoplio da sua venda nas ilhas foi, em 1788, obrigado, devido proibio de o vender mais caro, ento imposta pela Cmara, a vender o leo que lhe havia custado 59.955 ris a pipa por 48.000 ris. Para proteger a indstria inglesa, o governo portugus criara o exclusivo contrato das baleias, para no se fazerem armaes sedentrias em qualquer parte dos domnios. Essa medida foi anulada pelo alvar de 18 de Maio de 1798.

28

Luta Ecolgica 1981-1990Um dos pases que mais contribuiu para o aperfeioamento das tcnicas da caa baleia foi a Noruega. Em 1851, Svend Foyon, sem dvida o pioneiro da caa e das indstrias da baleia, inventa espingardas que mais tarde foram utilizadas na captura de cetceos e, em 1867, inventa um canho muito semelhante ao utilizado actualmente. Outro noruegus, Christofersen, inventou em 1870, um guincho simples e, em 1894 um guincho duplo e uma mola em espiral. A primeira sociedade para explorar a caa baleia constituda no Faial, em Fevereiro de 1857. Foi armado em baleeira o brigue FrancsAstria. Trs anos mais tarde, a praa da Horta j possua 10 baleeiras e nas Flores, j existia pelo menos uma companhia baleeira, em 1860. Finalmente, no ano de 1862, a 26 de Maio, publicada uma lei com o objectivo de proteger a indstria nacional de pesca da baleia. Na Calheta do Nesquim, ilha do Pico, foi fundada a primeira armao baleeira cujo bote e seus apetrechos foram adquiridos na Amrica pelo Capito Anselmo. Esta ter sido a primeira companhia com botes estabelecidos na ilha, regularmente estruturada e com escritura lavrada na Horta a 28 de Abril de 1876. A lei de 10 de Abril de 1877 vem prorrogar por dez anos as disposies da carta de lei de 1862 e amplia as garantias dadas indstria baleeira. Nove anos depois, publicada uma portaria do Ministrio da Fazenda, de 14 de Abril, que regula a execuo do artigo 5 da lei de 26 de Maio de 1862. No ano de 1885, chegaram a S. Miguel, provenientes do Faial, duas embarcaes destinadas a dar inicio actividade naquela ilha. No ano seguinte, caa-se baleia nos quatro portos da costa Norte de S. Miguel e em Vila Franca do Campo. Segundo Afonso Chaves, em 1888, estavam em actividade, nos Aores, 86 canoas que capturavam por ano em mdia, 3 cachalotes cada uma. Em 1894, ter sido construda a primeira canoa baleeira, nos Aores, e, a partir de 1900, todas as canoas passam a ser construdas c. No ano de 1917, a faina atinge o apogeu como consequncia da guerra e do constante aumento dos derivados do cachalote. Com a paz, a mo-de-obra escasseia face quebra do preo do leo e possibilidade de arranjar empregos mais estveis, menos perigosos e melhor remunerados. A indstria no distrito da Horta passa por uma situao menos boa, de modo que, em 1938, a rivalidade devido utiliza-

29

T. Bragao dos gasolinas e atraso no pagamento das soldadas, faz com que seja pedida a interveno do Estado. Em S. Miguel, no ano de 1936, exploram a actividade trs companhias, uma na Bretanha e duas nas Capelas. Em S. Vicente Ferreira, freguesia vizinha das Capelas, dois anos antes havia sido construda uma fbrica, no lugar dos Poos. Na dcada de 40, baleeiras das Lajes do Pico vieram balear para So Miguel. Manuel Moniz Barreto e Jos de Brum balearam na Bretanha e Manuel Pereira Monteiro Jnior estiveram a balear nas Capelas. Com a 2 Guerra Mundial novo impulso surge e a actividade atinge o auge. A guerra, constituindo um impedimento para o desenvolvimento da indstria, em muitos pases as frotas baleeiras ficaram ancoradas nos seus portos e muitos barcos foram transformados para fins militares, fez com que o nosso leo tivesse uma procura que jamais conheceu. Durante este perodo, o nmero de embarcaes aumenta, as capturas tambm de modo que chegam a representar 12,3% no conjunto das capturas mundiais. A proliferao de armaes era tal que o governo viu-se obrigado a proibir a implantao de outras onde j existisse alguma. Construda a fbrica de Porto Pim, generaliza-se o reboque por lanchas, chegam os primeiros aparelhos de rdio, etc.. O ano de 1941 marca o incio da actividade baleeira na ilha da Madeira. Em 1944, por iniciativa de 17 pases, criada a Comisso Baleeira Internacional (CBI). Na dcada de 60, a montagem de fbricas de conserva de peixe, o incremento da pecuria, a emigrao e as alternativas criadas pela indstria ao leo da baleia, trouxeram dificuldades ao seu escoamento e muitas companhias fecharam. Em 1974, existiam nos Aores apenas 13 baleeiras e 15 lanchas pertencentes a oito sociedades. Em 1981, a directiva europeia 348/81 probe a importao de todos os produtos derivados de cetceos no espao econmico da Comunidade Econmica Europeia. Em Julho de 82, reunidos em Brighton Inglaterra, representantes de 39 pases decidem proibir a caa baleia a partir de 1985. Portugal ratifica a Conveno sobre o Comrcio Internacional das Espcies de Fauna e de Flora Ameaadas de Extino, que inclui o cachalote no anexo I comr-

30

Luta Ecolgica 1981-1990cio estritamente proibido. Em Agosto de 84, ano em que foram capturados 63 cetceos, as armaes baleeiras do Pico e Faial possuam em stock 452 toneladas de leo de cachalote. No primeiro semestre daquele ano, graas a um subsdio de 6$00 por kg, atribudo pelo Governo Regional, foram comercializadas 648 toneladas. Apenas a firma Armaes Baleeiras Reunidas, em S. Roque do Pico, continua a laborar. Em Outubro do mesmo ano, a Corretora divulga a inteno de voltar actividade, com base em S. Miguel, onde possui a fbrica nos Poos, fechada desde 1972. O jornal Correio dos Aores, de 7 de Julho do presente ano, noticia a existncia de um projecto financiado pela Comunidade Europeia atravs das Organizaes Europeias para a Proteco Animal que poder atingir as 55.110 libras e que tem como objectivos investigar a possibilidade de observao das baleias o que poder representar o nascimento de uma nova indstria turstica e seria uma alternativa econmica sua caa. Fernando Wallenstein Teixeira, segundo o Aoriano Oriental, de 13 de Agosto, est a desenvolver esforos no sentido de reiniciar a caa nas Capelas, tendo-se mostrado optimista quanto concretizao daquele seu objectivo. Finalmente a 21 de Agosto, depois de 3 anos de interregno, pescadores das Lajes do Pico caaram um cachalote de 20 toneladas e 15 metros de comprimento, a cerca de 15 milhas da costa.(Publicado no jornal Correio dos Aores, de 23 de Setembro de 1987)

Grutas - Um Patrimnio Natural que Urge DefenderNo passado dia 30 de Janeiro, graas amabilidade do sr. Belchior, tivemos a oportunidade de visitar uma das poucas grutas naturais existentes em So Miguel, que ainda no foram soterradas. Hoje, completamente desprezadas e maltratadas, as grutas naturais foram no sculo passado alvo da visita de estrangeiros ilustres e acarinhadas por quem c vivia. Walter Frederic Walker, membro da Royal Geographical Society, da Society of Biblical Archeology e de outras instituies de carcter cientfico, no seu livro The Azores or Western Islands, publicado em 1886, faz uma descrio minuciosa da gruta existente num

31

T. Bragacampo da Rua Formosa, hoje secadores da Fabrica de Tabaco Micaelense, na Rua de Lisboa e d-nos uma explicao acerca da formao das grutas em regies vulcnicas: A teoria, segundo Sir. Charles Lyel, que foram produzidas pelo endurecimento da lava durante o escape de grandes volumes de fluidos elsticos que so frequentemente expelidos, durante muitos dias seguidos depois da crise da erupo terminar. Robin Bryans no seu livro The Azores, publicado no incio da dcada de 60, tambm se refere ao Algar da Rua de Lisboa e mais recentemente o dr. Willian Halliday, membro da Western Speleological Survey, dos Estados Unidos da Amrica, que o visitou em 1980, refere-se quela gruta nos seguintes termos: para alm da parte baixa, a gruta torna-se mais ampla e tem caractersticas que mostram a forma como a lava correu atravs dela com, apenas, um pouco de trabalho seria possvel reabrir e ampliar uma das duas entradas (agora fechadas) para que os visitantes e estudantes compreendessem como a vossa bela ilha se formou Na minha estimativa o comprimento da gruta de cerca de 400 metros at obstruo final. Soterradas, a servir de esgoto ou de lixeira, as grutas alm de constiturem um n importante de explicao cientfica do nosso meio natural so parte integrante do patrimnio paisagstico (neste caso subterrneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos ns, em particular pelas entidades responsveis, no caso presente a Cmara Municipal de Ponta Delgada e a Delegao de Turismo, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, serem integradas no roteiro turstico. A inventariao, defesa e divulgao do patrimnio espeleolgico existente em S. Miguel uma das actividades que um grupo de associados dos Amigos da Terra/Aores pretende levar a cabo este ano. Para a concretizao daquele seu objectivo precisam da colaborao das mais diversas entidades pblicas e privadas e j pediram o apoio a espelelogos estrangeiros e Associao de Explorao Espeleolgica Os Montanheiros, da ilha Terceira. Apelamos a todas as pessoas que tenham conhecimento da existncia de grutas naturais e a todos os interessados na sua explorao o favor de entraram em contacto connosco.(Publicado no jornal Dirio dos Aores, 2 de Fevereiro de 1988, com a colaborao de George Hayes)

32

Luta Ecolgica 1981-1990 Reserva de recreio da Lagoa do Congro, por que no?Um dos desafios com que se debate a Regio o do desenvolvimento turstico. O desenvolvimento turstico uma arma de dois gumes: pode ser um estmulo para a conservao e proteco dos recursos de uma regio, mas tambm, e muito frequentemente, a falta de planeamento, a ganncia, a presso comercial e uma falta de viso levam construo em stios que arrunam as belezas naturais. As ilhas dos Aores constituem um local privilegiado para o desenvolvimento de um turismo cultural e ambiental, tendo por base o conhecimento da histria, da arte e dos modos de vida do seu povo, bem como a explorao das suas paisagens, o seu vulcanismo, fauna e flora raras e especficas. Vila Franca tem que optar por um turismo de qualidade. Este concelho possui um grande nmero de recursos, como praias, paisagens, montanhas, reservas naturais, locais histricos, monumentos, o seu museu, etc. e s na procura de uma alternativa ao turismo de massas atravs de novas vias mais individualizantes, especficas, descentralizadas, sazonalmente distribudas ao longo do ano, que possvel no destruir as belezas que possumos. Como vilafranquense e AMIGO DA TERRA, queria aproveitar a oportunidade para apresentar, aos responsveis autrquicos deste concelho, a seguinte sugesto: a zona das Lagoas do Congro e dos Nenfares pela sua singularidade e localizao possui caractersticas que fazem dela um local procurado por quem precisa de sossego e enorme interesse turstico pelo que merece ser enquadrada no Patrimnio Natural e Paisagstico da Regio, com a categoria de Reserva de Recreio. Tomei conhecimento, pela imprensa da inteno da Cmara Municipal de Ponta Delgada (ser engano?) em melhorar os acessos Lagoa do Congro e construir um miradouro. Relativamente ao primeiro ponto, estou perfeitamente de acordo, desde que o objectivo no seja o de permitir o trnsito a veculos automveis, o que na minha opinio dever ser expressamente proibido, por ser perturbador do descanso e da tranquilidade de quem foge da balbrdia do dia a dia. Quanto ao segundo ponto, discordo completamente pois um miradouro naquele local, para alm da descaracterizao da paisagem, no serve ao desenvolvimento do tu-

33

T. Bragarismo concelhio j que transforma aquele local em mero ponto de passagem. Criada a reserva, nas suas imediaes, possivelmente na antiga casa de campo, deveriam ser construdas todas as infra-estruturas necessrias e a partir delas, no Vero, poderiam ser organizados circuitos pedestres destinados a todos os interessados, turistas ou no. E h muito por onde escolher, desde percursos pequenos com possibilidade de visita a pequenas mas muito belas lagoas nos arredores (ex: a Lagoa do Areeiro, a Lagoa do Pico da Lagoinha, etc.), at percursos mais longos, como um passeio at Lagoa de So Brs ou at ao Pico da Vela, donde se avista a Lagoa do Fogo.(Publicado no jornal Correio dos Aores, 23 de Junho de 1988)

Em defesa da rvore Ipilipil ou Leucaena, a rvore milagreO ipilipil, planta nativa das florestas de chuva centro-americanas, uma rvore de grande utilidade como combustvel, alimento e forragem. De crescimento muito rpido, algumas variedades atingem mais de 18 metros em cinco anos. A rvore milagre, sobretudo para os pases do chamado Terceiro Mundo, onde a desflorestao e o empobrecimento do solo atingem grandes propores, pode ser utilizada como lenha para aquecimento e como combustvel em centrais elctricas, o que j acontece nas Filipinas e noutros pases. Segundo John Hubbel o gado delicia-se com as folhas de leucaena da mesma forma que uma criana delira com um chocolate e plantada em associao com outras culturas (em fileiras alternadas) estimula o crescimento de outras espcies. As folhas do ipilipil (de que uma das espcies a Leucaena leucaena) podem ser usadas pelo homem em saladas e sopas e as sementes depois de torradas e modas podem substituir o caf. Nos viveiros dos Servicos Florestais, nas Furnas, tivemos a oportunidade de observar pequenas plantas obtidas a partir de sementes vindas dos Estados Unidos da Amrica para a EDA que, segundo o Aoreano Oriental de 1de Novembro de 1987, estava a investigar a possibilidade do seu aproveitamento para a produo de energia a partir de caldeiras a lenha.

34

Luta Ecolgica 1981-1990Mas, como no h bela sem seno, a rvore milagre, para alm de no se adaptar a solos cidos, se no for controlada tode tornar-se numa terrvel praga de consequncias imprevisveis, o que j acontece no Hawai e no Japo, onde os seus efeitos so j devastadores, em especial para a floresta autctone e as suas folhas, muito ricas em protenas, contm uma substncia txica, pelo que o seu uso (nunca abuso) dever ser feito em quantidades limitadas e em mistura com outros alimentos.(Publicado no jornal Correio dos Aores, 5 de Maro de 1989)

Carta aberta ao Amigo da Terra Humberto Furtado CostaCaro amigo, Escrevo-te porque, apesar de teres partido, sei que gostas de andar a par com o que se vai passando por c. A poltica agrcola regional no se alterou muito desde a altura em que escreveste no Aoriano Oriental (25/3/87) um artigo a propsito do Dia da rvore. Continuamos a ter um Secretrio da Pecuria e das Touradas e a agricultura no h maneira de deixar de ser apenas vacas e erva. Continua-se a arrotear a torto e a direito, at parece que querem transformar estas ilhas em campos de futebol, em locais sem a mnima aptido para a pastagem. O Pico da gua est, neste momento, a ser arredondado com uma catarpiller, depois de terem cortado a mata e largado (?) fogo aos troncos e lenha que l ficou. Coitados dos bombeiros que tm de acudir a tanto fogo posto! Ser mais um arroteamento para daqui a alguns anos estar coberto de silvado, como muitos outros que bem conheces na zona do Monte Escuro e noutros locais. J andavas bastante doente quando surgiu mais um problema para os nossos agricultores. Probe-se o vinho de cheiro, fala-se em outras castas e em apoios reconverso das vinhas, mas de concreto s palavras. Penso que ests de acordo comigo, o vinho de cheiro mais prejudicial sade do que o outro, mas tenho as minhas dvidas se relativamente ao vinho a martelo que por a se vende. Como se diz na minha terra, Vila Franca do Campo, probe-se o nosso vinho mas continua-se a deixar entrar o que feito com ps e gua do Rio Tejo. Enfim, mais um problema

35

T. Bragaa juntar a tantos outros Infelizmente para todos ns, o artigo que escreveste continua a ser actual no que diz respeito s Reservas Naturais que continuam a s-lo apenas no papel. Na Reserva Natural da Lagoa do Fogo prosseguem os incndios e a rapina de leivas, apesar deste ano j termos alertado a Secretaria Regional do Turismo e Ambiente por mais de uma vez. Est quase como a Serra Devassa que continua a ser devassada diariamente. Sabias que j corre pelas cabeas de alguns iluminados c da terra recuperar o que a PEPOM destruiu atravs da plantao de eucaliptos? Esta nem lembraria ao diabo! A propsito de eucaliptos, sabias que as empresas de celulose j c esto prontas a tudo comprar, inclusive homens para procederem a plantaes em locais menos prprios e que no Pico j compraram terrenos no valor de um milho de contos? No te cheguei a enviar a legislao que disciplina a plantao de espcies de crescimento rpido. No me parece m, mas como as outras: permite algumas fugas e tem de ser aplicada no acredito que o seja enquanto no for criado um sistema de vigilncia eficaz. Por ltimo, peo desculpa por discordar do que me disseste em Outubro passado, antes de partires para Lisboa, para te submeteres a uma interveno cirrgica. Na altura, dizias-me que nunca mais irias passear connosco, que nunca mais subirias o Pico da Vara. verdade que a tua viagem no tem regresso, mas podes estar certo, estars sempre connosco em todas as regies, visitas de estudo e escaladas ao Pico da Vara. At breve,Publicado no jornal Correio dos Aores, 26 de Agosto de 1989

Eucaliptomania, Universidade e Partidos PolticosEm Setembro de 1987, o Director Regional dos Recursos Florestais afirmava: as reas cobertas com eucaliptos s tendem a diminuir, ora pela reconverso com outras espcies com mais valor ora pela transformao dos terrenos para outras culturas. Passados dois anos, a espcie nativa da Austrlia (incluindo a Tasmnia) ocupa 50% da superficie arborizada da Terceira, estando uma das plantaes sobre o lenol de gua que abastece

36

Luta Ecolgica 1981-1990a cidade de Angra do Heroismo, no local da Caldeira do Guilherme. No Pico, s a Soporcel j arrendou cerca de trs mil hectares de terras. A um passo de invadir So Miguel, qualquer dia ir cobrir por completo a ilha das Flores. Seria a concretizao do sonho (ou pesadelo?) do deputado comunista que tem assento na Assembleia Regional. Por que motivo, s agora, as empresas de celulose se lembraram de vir colonizar os Aores? Escrevi colonizar pois o seu projecto no apenas introduzir a monocultura intensiva do eucalipto. Preparam-se para controlar a informao e manipular o saber, financiando estudos a efectuar pela Universidade com vista a justificar a introduo do petrleo verde nos Aores. que, como se sabe, nem toda a investigao isenta e embora o seja a sua divulgao poder ser impedida, quando no estiver de acordo com os interesses da empresa que a paga. Concordo com Joo Caninas, do GEOTA, quem em O Jornal de 12/01/90, referiu-se ao facto de a investigao cientifica ao andar a reboque da iniciativa privada no garantir a iseno necessria e fao minhas as palavras do arquitecto Ribeiro Teles que considerou o financiamento da investigao pelas empresas de celulose como a prostituio da investigao e da prpria Universidade. Se a monocultura do eucalipto boa para a Regio Aores, por que motivo as empresas tm necessidade de prometer financiamento a projectos de interesse turstico, recuperar o boi aoriano, construir um parque para a caa ao veado, oferecer dinheiro a intermedirios para o arrendamento ou compra de terrenos, pagar viagens a jornalistas (no viram nem cheiraram os esgotos das fbricas!) e a deputados? A propsito de deputados, no conhecemos nenhuma reaco do partido dito ecologista Os Verdes ao interesse manifestado pelo deputado Valado que acha que nas Flores o eucalipto vai dar vida s suas gentes. Na Romnia, o Nicolau destruia aldeias com o mesmo objectivo... Os militantes ecologistas e todos os amantes e defensores da natureza pouco ou nada tm a esperar de um partido verde-raiado que passa a vida a servir de muleta a outros que esto mais preocupados com o seu umbigo do que os graves problemas ecolgicos que ameaam a humanidade.(Publicado no jornal Aoriano Oriental, 26 de Janeiro de 1990)

37

T. Braga Patrimnio Espeleolgico dos Aores Riqueza ainda por explorarAs grutas naturais so, na sua maioria, abertas em formaes calcrias geralmente escavadas pela gua. Nos Aores, elas so formadas por correntes de lava. Ao escorrer, a zona superficial de lava arrefece e endurece antes da lava subjacente. Quando o jorro de lava cessa pode deixar como que uma casca, formando-se ento um tnel. No arquiplago dos Aores, regio particularmente rica em cavidades vulcnicas foram os MONTANHEIROS, de Angra do Herosmo, os pioneiros na explorao de grutas e algares, sobretudo na ilha Terceira, onde possuem localizadas e exploradas 34, no Pico e em S. Jorge. Em S. Miguel, apesar de vrios entusiastas individualmente ou em grupo se terem dedicado espeleologia, s o ano passado foi iniciada, pelos AMIGOS DOS AORES, uma pesquisa e explorao organizadas tendo por objectivo a inventariao do patrimnio espeleolgico da ilha com vista a abrir caminho a um posterior estudo cientfico e a um desejvel aproveitamento turstico. J Gaspar Frutuoso, ao descrever o litoral de Ponta Delgada, nas Saudades da Terra, nos d notcia de tneis vulcnicos a poente da referida cidade: alm, pouco espao da Fortaleza para loeste est uma ponta que se chama a Ponta dos Algares, porque saem ali dois com suas bocas, por dentro dos quais se caminha grande caminho por baixo da terra, por cujo vo parece que correu ribeira de pedra de biscouto, em outro tempo, no sabido nem visto. Desde os tempos mais remotos as grutas naturais foram percorridas e acarinhadas pelos habitantes destas ilhas e alvo da visita de estrangeiros ilustres. Walter Frederic Walker no seu livro The Azores or Western Island, publicado em 1886 faz uma descrio minuciosa da gruta existente num campo da rua Formosa hoje, secadores da Fbrica de Tabaco Micaelense, na rua de Lisboa. Tal como Fouqu, que descreve um conduto ovalar na ilha Terceira e Hartung que descreveu a Furna da Graciosa e outros algares dos Aores, John Webster, genro de primeiro cnsul americano, Thomas Hickling dedica um captulo do seu livro ao relato de uma excurso a uma caverna situada a cerca de 3 a 4 milhas a noroeste de Ponta Delgada.

38

Luta Ecolgica 1981-1990M. Emygdo da Silva, jornalista continental, no seu trabalho S. Miguel em 1893, considera o Algar da Rua Formosa o mais notvel dos tneis vulcnicos dos Aores embora o de Angra seja tambm interessante pela sua seco, que chega a atingir uma altura de 5 a 6 metros e uma largura de 10. ainda deste ilustre autor que visitou o referido tnel na companhia de Afonso Chaves, o seguinte relato: A abobada do tnel, da qual pendiam grossos e negros estalactites, as paredes laterais que se diriam guarnecidas de lambris muito moldados, e que marcam o tempo das paragens que a lava teve no seu movimento progressivo, as bocas das pequenas galerias que comunicam com esta; aqui e alem um pequeno desabamento indicando que a explorao no isenta de perigo; o solo irregular de uma dureza vtrea, como a do trio do Cavalo, no Vesvio, tudo isto banhado pelo deslumbrante do magnsio, constitui um dos espectculos mais empolgantes e mais grandiosos que o Dante certamente no rejeitaria para fazer passar alguma cena do inferno. A ttulo de curiosidade interessa registar que Andr Thev, historigrafo e cosmgrafo do Rei Henrique III, que teria visitado este arquiplago depois de 1550, fala na sua Cosmographie Universelle, editada em 1575, numa gruta para a parte do setentrio onde encontraram dois monumentos de pedra, cada um dos quais no tinha menos comprimento de doze ps e meio, e de largo quatro e meio. Pura fantasia que ainda em 1962 o escritor Robin Byrans quando esteve nos Aores estava convencido da sua existncia bem como dos monumentos atribudos aos judeus. At h tempo soterradas, a servir de esgoto ou lixeira, as grutas naturais alm de constiturem um n importante de explicao cientfica do nosso meio natural so parte integrante do patrimnio paisagstico (neste caso subterrneo) e como tal deveriam merecer todo o respeito por parte de todos ns, em particular das entidades responsveis pelo turismo e ambiente dos Aores, devendo, depois de efectuados pequenos trabalhos de limpeza, ser integradas nos roteiros tursticos. O bom acolhimento dado, pelos vrios organismos oficiais, s preocupaes e sugestes dos AMIGOS DOS AORES para defesa e salvaguarda do patrimnio espeleolgico leva-nos a concluir que finalmente aquela singular riqueza vai ter um tratamento to digno como o que merece. Embora sejamos de opinio que as grutas naturais devam ser protegidas, no somos contra a sua abertura ao pblico. Defendemos que de-

39

T. Bragaveriam ser aproveitadas turisticamente 2 ou 3 grutas por ilha, sendo a sua abertura feita em moldes diferentes do tradicional. Haveria um grupo de guias que acompanhariam os visitantes como se tratasse de uma expedio espeleolgica. As restantes grutas destinar-se-iam exclusivamente a expedies cientficas. A riqueza espeleolgica dos Aores merece ser estudada cientificamente por equipas constitudas por especialistas dos mais diversos ramos das cincias naturais. No seu trabalho apresentado nas Primeiras Jornadas Atlnticas de Proteco do Meio Ambiente, o Dr. Pedro Omori, um dos membros de expedio cientifica da Universidade da La Laguna que se deslocou aos Aores no passado ms de Julho para estudar a fauna caverncola, escrevia: Era bom que os prprios aorianos fossem quem o fizesse, pelo que sugerimos aos organismos administrativos e Universidade dos Aores a possibilidade de abrir um ramo de investigao naquele sentido. Se no se promove quanto antes viro faz-lo outros e os aorianos perdero a oportunidade de enriquecer por si prprios o conhecimento do seu patrimnio. J em 1862 o grande naturalista Barbosa du Bocage afirmava: tempo de estudarmos por nossas cabeas o que nosso.(Publicado no jornal Correio dos Aores, 9 de Agosto de 1990)

40