98
Caro amigo: Se você gostou do livro e tem condições de comprá-lo, faça-o pois assim estará ajudando a instituição de caridade, para a qual os direitos autorais da obra foram cedidos. Muita paz e que Jesus o abençoe.

Luz do Mundo - [Amélia Rodrigues].pdf

Embed Size (px)

Citation preview

  • Caro amigo: Se voc gostou do livro e tem condies de compr-lo, faa-o pois assim estar ajudando a instituio de caridade, para a qual os direitos autorais da obra foram cedidos. Muita paz e que Jesus o abenoe.

  • 2

    INDICE

    ANTELGIO......................................................................................................3 1 - BOA NOVA ..................................................................................................6 2 - A ESTRELA DE BELM..............................................................................8 3 - O REINO DIFERENTE ..............................................................................11 4 - A REGRA DE OURO .................................................................................14 5 - ENSINA-NOS A ORAR..............................................................................18 6 - E LE DORMIA......................................................................................22 7 - PO DA VIDA ............................................................................................27 8 - PESCADOR DE HOMENS........................................................................32 9 - LUZ DO MUNDO .......................................................................................36 10 - O LEGADO DA TOLERNCIA ................................................................40 11 - MULTIDO DE SOFRIMENTOS.............................................................43 12 - EPHPHATHA ABRE-TE!.....................................................................46 13 - ATIRE A PRIMEIRA PEDRA ...................................................................49 14 - ORDENA, SOMENTE..............................................................................53 15 - SEGUIR JESUS.......................................................................................57 16 - O ESPERADO .........................................................................................61 17 - SEMEADORES GALILEUS.....................................................................64 18 -SERVO DE TODOS..................................................................................69 19 - UM VOLTOU S......................................................................................73 20 - 0 C0NS0LAD0R.......................................................................................77 21 - O CANTOR E A CANO.......................................................................81 22 - TOMAR A CRUZ......................................................................................86 23 - BALIZAS DE LUZ.....................................................................................90 24 - NEM PRISO NEM MORTE... ................................................................93 25 - A CURA REAL .........................................................................................96

  • 3

    ANTELGIO Hoje como nos dias do passado o homem sofre as mesmas necessidades, diferenciadas pelas circunstncias de tempo e condicionamentos de tcnica. Toda vez que se tenta, porm, uma atualizao das palavras augustas de Jesus surgem, naturalmente, crticos apressados que se referem ao Cristianismo como uma Doutrina passadista, que esteve a servio das religies e foi superado pelas realidades da cultura hodierna. Jesus para eles "pode ter existido" no tendo, porm, outra significao seno aquela que se atribui aos agitadores de todos os tempos, que buscaram "fermentar as massas humanas", tentando o ideal da fraternidade entre as criaturas. Seus feitos e Suas palavras so considerados exclusivamente do ponto de vista sociolgico, negando-se-lhes quaisquer outras decorrncias que ressumbrem odores e realidades transcendentes. Reacionrios do dogmatismo religioso anatematizam, igualmente dogmticos, todo esforo que objetive um estudo consolador, resultante da mensagem do Galileu Incomparvel que inaugurou o primado do Esprito, falando uma linguagem sempre nova e atuante em todos os tempos. Lamentavelmente no so tais pensadores o resultado das experincias tecnicistas ou consequncia da filosofia cnica destes dias. Sempre estiveram presentes na Histria, deixando pegadas bem expressivas do ceticismo a que se aferraram, amargos e amargantes. Diz-se que o papa Urbano VIII, cientificado da desencarnao do cardeal Richelieu, aps alguma reflexo, exclamara: "Se existe um Deus, o cardeal ter de responder por muitas coisas. Se no existe, safou-se de boa." No entanto, foi Urbano VIII o responsvel pela guerra dos 30 anos, consequncia natural da Contra--Reforma. . . O homem dos nossos dias, no entanto, semelhana dos homens de Israel do pretrito, tm necessidade de Deus e por isso Jesus inadivel questo de encontro ou reencontro individual. Transitam em roupas juvenis os espritos novos e dizem-se decepcionados com os ancestrais, procurando formar comunidades onde o amor deixe de ser comrcio e a esperana se transforme em paz. Amargurados e inexperientes, porm, enveredam pelos caminhos das emoes e sensaes inusitadas, tentando experincias paranormais por processos da ilicitude, derrapando conseqiientemente em lamentveis conbios com obsesses aparvalhantes que os dilaceram, afastando-os do amor e da paz eles que somente experimentaram oprbrio e desprezo dos outros, desprezando-se a si

  • 4

    mesmos, assim retornando s condies do primarismo humano, com mais instinto do que cerebrao... Os adultos super confortados transformaram-se em observadores inconscientes dos dramas gerais, negligentes quanto ao prprio destino, esperando ensejo de refocilarem e apagar-se num nada que lhes seria o tudo, o aniquilamento da forma e da conscincia. Os mais velhos, aferrados s convices hereditrias, acreditam seja tarde demais para uma reviso espiritual da vida, como se nunca fosse tarde para aprender ou recomear... Os que se acreditam melhor aquinhoados intelectual e culturalmente apreciam o impacto decorrente do choque das geraes e sorriem como se se encontrassem num campo de batalha em que sobreviver o mais forte e o mais apto, a quem, vencedor, pretendem aliar-se... E a convulso prossegue. Tudo porque Jesus continua desconhecido.

    * * * Os problemas sociais, morais e polticos de hoje diferem pouco daqueles que agitavam os dias em que viveu Jesus conosco. A super-densidade da populao, as tcnicas de comunicao esmagando o esprito humano por acmulo de informaes, produzem exausto. Busca-se tudo para solucionar a problemtica externa, enquanto o homem prossegue sozinho, em incgnita ainda. E Jesus continua ignorado. Israel soberba do pretrito est hoje simbolicamente com dimenses gigantescas, fazendo-se representar pelas grandes Naes adoradoras do deus Moloch e do bezerro de ouro. Rabinos odientos e fariseus impiedosos, saduceus astutos e samaritanos detestados, galileus humildes, e levitas arbitrrios multiplicam-se nestas horas, envergando roupagem diversa e ocultos sob nomenclatura estranha. .. O homem chegou lua mas no penetrou o mago do prprio ser. Sempre mais fcil a incurso para fora e a soluo simplista de conquistar os outros por mais confortadora e de melhor retribuio externa, do que a ingente conquista interior sobre si mesmo. Solucionam-se na atualidade intrincadas questes da tcnica; a alucinao em torno do infinitamente pequeno como do infinitamente grande, gerou a necessidade da criao de crebros eletrnicos para a fixao de dados e a operao de clculos me-

  • 5

    cnicos quase impossveis de realizados pela mente humana, no tempo necessrio ao acionamento dos reatores agentes das supervelocidades ou cuja vigncia de respostas indispensveis agitao e celeridade destes dias em que se desenvolvem as atuais conjunturas conquanto transitrias com as suas perspectivas sombrias, quanto nefastas, no poderiam ser atendidas com preciso. Porque Jesus prossegue desconhecido. le, no entanto, a soluo, a melhor soluo para os intricados quesitos da angstia universal. Retorna esfera humana, exatamente no momento ciclpico das necessidades, conforme prometera. Antes fora precedido por uma pliade de pensadores e artistas que embelezaram a Terra, e, ento, inaugurou um perodo de paz e fraternidade, dobrando a cerviz do Imprio Romano tolerncia e ao martrio, retificando os conceitos ticos vigentes. Nestes dias, volta sob a mesma augusta companhia daqueles que lhe prepararam a senda, ampliando enormemente os conceitos de liberdade, de paz, de justia e de amor conquanto ainda no vividos por todos para que na condio de Consolador atenda a todas as necessidades e faa secar as nascentes de todas as dores que teimam em perdurar. Ontem cantava a Verdade e a vivia no bucolismo de uma doce Galilia afvel, verde, e a Natureza fz-se-lhe um outro Evangelho o da beleza e da poesia que vertiam da paisagem que emoldurava Suas palavras e Seus seguidores. Hoje penetra as mentes e os coraes transformando-se no Amigo Divino que mantm colquio com os que O amam e desejam reencontr-Lo, no obstante o longnquo caminho por onde seguem. . .

    * * * Este livro, narrando e repetindo as mensagens do Senhor s Suas gentes simples e sofridas do passado, um convite, uma tentativa de entretecer um colquio com os que sofrem, apresentando-lhes Jesus, o Incondicional Benfeitor, que permanece aguardando por ns. Nada traz de novo que j no se haja dito. Recorda, revive, atualiza feitos e palavras, cicia em musicalidade fraterna as expresses que conseguiram impregnar os sculos e no desapareceram, ora reapresentadas pelo pensamento kardequiano, encar-regado de erigir o templo novo da fraternidade universal, delimitando as fronteiras do Reino de Deus, indimensionais como o prprio universo, que, no entanto, comea no corao, na alma do homem atribulado de todos os tempos.

    Amlia Rodrigues Salvador, 25 de janeiro de 1971.

  • 6

    1 - BOA NOVA A histria da Boa Nova a epopia do homem atormentado buscando as fontes inexaurveis da Divina Misericrdia e recebendo a linfa refrescante da paz, que vem sorvendo lentamente atravs dos dois ltimos milnios. Por enquanto, condicionado s circunstncias da prpria necessidade, no tem sabido valer-se do gral asseado da abnegao e a toma em vasilhames impregnados de sujidades que impedem a absoro total e lenificadora do refrigrio de que se faz instrumento. Seguindo Jesus, o Amigo Excelente, no tem sabido o homem abandonar a estreiteza das limitaes ideolgicas em torno das quais circunvaga, para buscar os horizontes ilimitados da solidariedade onde se pode realizar e adquirir plenitude. Asfixiado pela volpia dos gozos imediatos, e suserano das paixes reluta no momento de abdicar as velhas acomodaes derrotistas, plasmando o esforo nobre da sublimao dos ideais. Confundido pelas ideologias estranhas de classes e naes, padronizando direitos e deveres conforme os preconceitos que vitaliza estoicamente, aferra-se ao mundo conquanto o conhecimento comprove a invalidade da estrutura das chamadas realidades objetivas. Por isso amargura-se, demorando lamentavelmente vinculado aos hbitos anestesiantes nos quais se amolenta e envilece, surpreendendo-se com a morte e desesperando-se, odiando o sofrimento e fomentando-o, fugindo ao medo e espalhando-o, experimentando a prpria alucinao justiando-o. No entanto, a Boa Nova em sua epopia representa a histria do homem atormentado que bate s portas dos cus, ansiosamente, e recebe a resposta da esperana e do amor, atendendo-o generosamente. Por toda parte a figura do Singular Galileu era um raio de luz na noite dos apelos humanos, clareando por dentro as necessidades gerais. Combatido a Seu tempo no aceito hoje, ainda, pela falsa cultura que entroniza o crime e desdenha a honra, arrazoando contra o amor, por meio de despeito azedo, por identificar na vitria que os desconsiderados pelo mundo conseguem em si mesmo, como sendo Sua derrota ante o malogro das suas aspiraes. .. . E a epopeia do Cristo canta com toda a pujana. A est no dia-a-dia a representao das vidas que a Sua Vida levantou. Repontam em abundncia as existncias que le soergueu e no incessante re nascer das mesmas aflies como reflorescimento das velhas rvores da angstia, parecem aguardar o Jardineiro doutrora... Aqui esto embrulhadas na dor as aflitas mes vivas em evocao de Naim, rogando ajuda com as almas em frangalhos, desesperanadas; vestida? de iluso, derrapando na ociosidade alucinada, virgens loucas desfilam em contnuo cortejo de insensatez

  • 7

    esquecidas da responsabilidade, embriagando-se para logo tombarem sonolentas nos resvaladouros do erro, perdendo os noivos, quando chegam; os onzenrios que preferem a algaravia cambial e o sonido expressivo dos valores que perseguem, em detrimento da jia de alto preo, que merece adquiri-rida com o resultado arrecadado pela venda de todas as pequenas jias, porque esto desatentos perdem a mais preciosa: a paz interior; interrogantes os prncipes da cincia e da filosofia, indagando e indagando sempre, sem reflexionar, fixados aos compndios tradicionais e aos conceitos dbios a que se aferram, so surpreendidos pela desencarnao para constatarem, arrependidos, tardiamente... Rareiam os novos centuries cuja f rutila nos olhos e clareia por dentro, prosternando-se ante le para esperar a cura do servo e consegui-la, ou da mulher siro-fencia cujo ardor deu-lhe intrepidez para tocar-lhe as vestes e arrancar-lhe "a virtude" da sade; ou a obsidiada de Magdala que rompeu em definitivo a noite interior para que a Sua luz a in-cendiasse por dentro, haurindo n'le o combustvel que a manteria em claridade contnua at a vitria final. le, no entanto, continua esperando. Sua voz utiliza para ensinar a singeleza de um gro de mostarda, de redes a secarem ao sol, de peixes e varas verdes, de uma figueira brava, de talentos, de prolas, de fermento, conhecidas de todos essas expresses, arrancadas da experincia diria de cada um, como lio sempre nova, abrindo clareiras de sabedoria na floresta dos conceitos complexos e inexpressivos que no conduzem a mente atormentada a lugar nenhum. A Boa Nova ressuma esperana, pois a histria do homem angustiado, batendo e Jesus respondendo, em forma de socorro lenificador incessante, como a ddiva de Deus para a libertao do ser.

  • 8

    2 - A ESTRELA DE BELM Cristos decididos e sinceramente interessados na elucidao do fenmeno que produziu a estrela de Belm, semelhana dos investigadores materialistas ho recorrido, atravs da Histria, a matemticos e astrnomos capacitados, ansiosos por uma resposta perfeitamente lgica e racional sobre o inusitado aparecimento do astro a que se referem os escritores evanglicos. E de quando em quando fiis s pesquisas feitas nos mapas celestes, aqueles estudiosos tentam traar diretrizes que clarifiquem, em definitivo, o insuspeito acontecimento, na noite santa em que ocorreu o Natal de Jesus, e posterior-mente vista pelos Magos do Oriente, que por ela foram guiados. Segundo alguns observadores, fora o Cometa de Halley que naquele dia e quele perodo fazia-se visvel por toda a Galilia e parte oriental do pas. Para outros era uma conjuno oportuna de astros que produziram refrao na atmosfera, incidindo o facho luminoso sobre a manjedoura singela, que le dignificou com o Seu nascimento. Conquanto possamos admitir uma ou outra hiptese, Jesus , em sntese, a constelao dos astros divinos ergastulados temporariamente na forma humana para conviver com os homens, deixando pela atmosfera envolvente do Planeta o rastro luminescente da sua imerso, como mensagem de advertncia reveladora. Rei Divino e no obstante, submeteu-se s conjunturas da transitria convivncia humana para, sublime, lecionar humildade. Construtor da Terra todavia, deixou-se experimentar pelas circunstncias ocasionais do ministrio entre as criaturas, para ensinar a grandeza da renncia. Legislador Sublime entretanto, aquiesceu sofrer as imposies da ignorncia religiosa de Israel e os padres arbitrrios da poltica do Imprio Romano, facultando-se a deciso no jogo odioso da tica vulgar, a fim de que se cumprissem as Leis e os Profetas, na integridade das previses n'le, todo amor! Em toda a Sua jornada, semelhana de astro que se arrebenta em luz na imensido escura da noite, clareou os destinos dos homens, como obreiro infatigvel, acendendo lmpadas de esperana nos corpos alquebrados e nos tecidos gastos das almas, pelas constries das paixes esmagadoras de todos os tempos. Misturou-se caterva dos que viviam Sua hora e caminhou com os ps da aflio, sem permitir-se consumir ou contaminar pelas querelas mesquinhas, pelas imposies tradicionais ou pelas suspeitas manifestaes da idiossincrasia a que se aferravam os que O cercavam continuamente. Por um minuto sequer no se rebelou contra a miserabilidade que defrontava em toda a parte... Arquiteto das estrelas dobrou-se, sereno, na marcenaria humilde para que o po fosse honrado com o suor da Sua face e a estrutura da Nova Humanidade pudesse alicerar-se no trabalho edificante, que a mola mestra do progresso e da felicidade humana. Mantendo incessante quo ininterrupto contato com o Pai e servindo pela aquiescncia dos

  • 9

    anjos que se Lhe submetiam, dialogou, pulcro, demoradamente, com os Espritos das sombras, abrindo-lhes os ouvidos e acendendo a luz nos seus olhos apagados, com a inteireza moral das Suas conquistas incomparveis. Antes, todavia, de descer aos homens, fz que Avatares do Seu Reino viessem ampliar as dimenses das fronteiras terrenas, preparando o solo do futuro. E eles floresceram como superior manifestao da vida, ora na ndia, disseminando o reencarnacionismo e perfumando com toda uma filosofia de paz e renncia os continentes dos espritos; ora na China, empreendendo os audaciosos vos da poltica sob as bases seguras da famlia, no lar e na sociedade, de modo a traduzir a porvindoura fraternidade entre os homens, com inequvoca fora de amor e respeito ao dever; ora no Egito, rescendendo os sutis aromas da Imortalidade, nos santurios dos Templos e na intimidade das Escolas de Iniciao, mantendo acesas as flamas da verdade, mediante as comunicaes entre os dois planos da vida; ora na Caldia ou na Prsia favorecendo com a esperana milhares de vidas estioladas sob o clangor da guerra; ora na Hlade ou em Roma criando a conceituao da beleza, da justia, da legislao equilibrada e do ideal do bem. Assim tambm por Israel, que por longos sculos de dor se f z depositria da Mensagem do Deus nico, transitaram esses Embaixadores Sublimes, irrigando com a linfa preciosa decorrente do intercmbio espiritual os solos crestados dos espritos sofridos, a fim de que le prprio viesse oportunamente imolar-se, para ensinar libertao total das limitaes fsicas e da opresso do barro humano.. . Por isso, todos os Seus feitos empalidecem ante os Seus ditos, pois que as realizaes no corpo so menores do que a vitalizao da alma, em considerando que ningum jamais vivera conforme le o fazia, transformando-se, le prprio, no caminho por onde deveriam rumar todos os homens na direo da Vida e da Verdade, que em suma le representava na Terra. Mesmo assim, quando contemplava com lgrimas as dores do porvir do mundo e via o homem imerso na fragilidade do corpo carnal prometeu voltar, atravs do Consolador, que seria o liame perene de unio com le at o fim dos tempos. . . O mergulho que comeou em Belm no terminou no Glgota, nem desapareceu aps a viso da Jerusalm Libertada, que o vidente de Patmos preludiou. . . Em Jesus, o Heri Invencvel, que na Sua grandeza superou a astcia de Cambises, rei dos persas, a violncia de Alexandre Magno, da Macednia, a audcia de Cipio, o africano, e a estratgia de Jlio Csar, o divino Imperador, as armas foram a mansido e o amor, a abnegao e a misericrdia, entretecendo com esses fios de luz a tnica nupcial do noivado intrmino com a Humanidade de todos os tempos, pela qual espera desde o princpio, at o instante da boda sublime, para a reunio numa grande famlia, em pleno reinado da paz! A viagem fora longa para aquele casal, principalmente para aquela mulher grvida, durante quatro ou cinco dias, sacudida pelo trote da montaria... Sucederam-se abismos e montes, subidas e descidas, quase s portas da. Cidade Santa,

  • 10

    chegando por fim a Belm.. . . . . E em pleno fastgio do Imprio Romano, indicado por uma estrela, anunciado pelos anjos, nasceu Jesus! Antes, e desde ento, a Sua vida dever ser examinada, em "esprito e verdade", para ser compreendida e penetrada pelos olhos imateriais, os nicos capazes de vislumbrar o Seu Reino.

    * * * Seja qual fr a hiptese respeitvel sobre a estrela de Belm, a unio dos Espritos de Luz que mantinham o intercmbio entre as duas Esferas formou um facho poderoso que indicava o lugar da tradio, em que le deveria comear o ministrio entre os homens. ... Pastores e reis magos, todos videntes, convidados pelas Entidades Celestes, seguiram-na, cada um a seu turno, enquanto os cantores sublimes, proclamavam: "Glria a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens de boa vontade!"

  • 11

    3 - O REINO DIFERENTE "Que estranho e enigmtico era aquele Rabi! pensava Tiago, atormentado, em contnuos cismares. verdade que O amava, todavia, por mais profundo como era aquele amor, no conseguia compreend-Lo. A sua mensagem penetrava as almas e as Suas atitudes de retido conseguiam impression--lo de forma irreversvel. Malgrado as dificuldades em que se debatia, sentia a grandeza do poema de amor que le cantava nas praias e com que arrebatava as multides. Receava, porm, que a Palavra no se demorasse por muitos anos como le desejava. Afinal, era necessrio recorrer aos nobres e aos poderosos para granjear os favores humanos. As rdeas do poder permaneceram sempre em todos os tempos nas poucas mos da fora. E estas somente se faziam benignas em relao aos que agradavam as posies dos mandatrios. O Rabi era integrrimo e bom, no obstante se recusasse sistematicamente subservincia, evitando mesmo oferecer aos poderosos essas homenagens to do agrado dos que desfrutam as situaes de privilgio. No poucas vezes, fora le acusado pelos Fariseus de no serem encontrados entre os Seus seguidores um prncipe sequer, um doutor da Lei, algum que fosse alguma coisa. . . E tinham razo, foroso era diz-lo. E a verdade que sempre le se encontrava cercado pelas multides dos desgraados, os mal-cheirosos.. . "Indubitavelmente, considerava, magoado no ntimo, fazia-se mister assistir os sofredores, os enfermos, os carregados de problemas a fim de alivi-los. .. Viver, todavia, exclusivamente envolvido pelos leprosos, escrofulosos, paralticos, surdos, mudos, cegos, endemoninhados, no era atitude correta.. . Alm disso, colimando as dificuldades em quase desacato s autoridades se permitia o Mestre a convivncia com as meretrizes e os bandidos, os cobradores de impostos sempre detestados! mantendo largas e cordiais tertlias com eles, dividindo o po, repartindo o peixe em repastos amigveis e fraternos.. . "No, aquela no era uma atitude prpria arrematava o discpulo zeloso mas invigilante. Na Terra somos obrigados considerava, preocupado, a viver segundo os padres tradicionais. Como remover os velhos bices, sem lhes sofrer as consequncias? Que Reino seria, ento, o a que le se referia e se propunha? Por acaso um paraso para mendigos e desventurados? No conseguia ele mesmo sopitar o desagrado ante as pstulas virulentas; nauseava-o a viso cavernosa da lepra, nos tecidos humanos gastos. . . Detestava os pecadores e, nesse particular, era severo : a Lei deveria ser cumprida com toda a austeridade a que se reportava o Tora cada erro recebendo a necessria punio. "Diria ao Mestre, sim, na primeira oportunidade, quanto aos seus pensamentos, s suas conjecturas!" Em clara manh perfumada, enquanto jornadeavam entre Cafarnaum e Magdala, o discpulo interessado na fcil implantao do Reino de Deus entre os homens da Terra

  • 12

    resolveu, confabulando com o Amigo Divino, apresentar-Lhe as suas dvidas. Rabi! falou algo constrangido Faz algum tempo, encontro-me angustiado

    por dolorosas interrogaes.

    O Celeste Companheiro fitou-o com olhos transparentes, penetrando-lhe a alma. Ante aquele gesto carinhoso nenhum segredo permanecia oculto, quedando-se silencioso, aguardando. Como sabes prosseguiu, delicado tambm eu anseio pelo momento da glorificao do Nosso Pai entre os infelizes da Terra. Todavia, creio que, cuidando apenas dessa gente que nos cerca, muito difcil ser conseguir colimar os objetivos a que Te reportas e que todos desejamos. Encorajado pela atitude de cordial simpatia e discreta aceitao da censura por parte do ouvinte, prosseguiu: Conheo pessoas das classes mais favoreci das que se no negariam a contribuir com a sua posio, suas moedas e ttulos, de modo a facilitarem a penetrao dos nossos postulados entre os ancies e os mais representativos membros da nossa raa. Todavia, no se inclinariam eles a aceitar uma comunho com estes que compartem nossos ideais: os proletrios infelizes, a ral sem nome. .. O Mestre, sem traduzir qualquer surpresa ou desagrado, continuou sereno, de passo regular, caminho a fora. A Natureza quela hora da manh derramava ondas de leve perfume campesino pela alameda agradvel que resguardava a vereda. Anseio ver-Te em Jerusalm entre os mais expressivos nomes do povo aprestou-se Tiago, emocionado. Glorificado, passars posteridade entre aqueles filhos de Israel que sero sempre venerados pelas geraes futuras. E como o Senhor prosseguisse discretamente silencioso, indagou, inquieto, o discpulo agitado: No dizes nada, Mestre? Eu gostaria de ouvir Tua opinio. Tenho falado a todos a mesma linguagem acentuou, pausado, o Filho de Deus linguagem de amor e compreenso. Em verdade, as minhas palavras so atos que, inconfundveis, no podem receber interpretao incorreta, nem se ajustam s malvolas conceituaes. No venho para os sos, os felizes, os ditosos, os que j receberam da Terra o seu galardo, as suas reservas de alegria e as suas altas concesses de triunfo, conquanto transitrios. Refletindo no contedo das palavras do discpulo, aduziu, compassivo: Tens toda a razo em ambicionar os xitos que passam ligeiros e podes afervorar-te sua conquista, marchando ao lado dos que se glorificam e dominam.. .

  • 13

    s livre de minha parte para avanares pela rota que desejares. Aqueles, porm, que amam a meu Pai e me servem, f-lo-o ao lado dos atormentados, dos enfermos e desventurados poisque para estes eu vim. Eu sou o Mdico das almas e tenho os braos abertos para todas as dores. O meu corao fonte de reconforto para os que sofrem e o Reino a que me refiro no possui balizas na Terra, nem pode ser compreendido dentro das diretrizes do tradicional humano. Alicera-se sobre dores extenuantes e possivelmente nos holocaustos de muitas vidas. Cimentar-se- no sacrifcio dos que amam e que nada possuindo no receiam perder o que no tm. Silenciou, fitando a estrada que serpenteava na direo da cidade a distncia. Talvez, antecipando no tempo os acontecimentos do futuro, continuou: O Filho do Homem triunfar, sim, em Jerusalm, de maneira inesquecvel e Seu nome passar posteridade.. . Estar le entre os filhos da raa em posio porm mui diversa dos ante passados. Mas isto ser apenas o comeo das dores reservadas aos seguidores do Reino. . . O sol penetrava em fios de ouro pela copa das rvores e chilreava a passarada na ramagem oscilante. O discpulo fz-se, ento, pensativo. O Reino de Deus concluiu o Mestre est dentro de cada um que o deseje. No trabalho externo, antes resultado do excelente labor annimo o sacrificial nas noites de silncio, nos dias de angstia e dor libertadora. Ningum o ver, e esse heri, aquele que o conseguir realizar, no receber aplauso, passando entre os homens desconsiderado, incompreendido, malsinado, todavia em paz consigo mesmo e em harmonia com Deus. .. Eis porque no posso atender s tuas sugestes. Obedeo quele que me enviou, pensando especialmente nas "meretrizes e nos publicanos que levaro a dianteira para o Rei no de Deus", em preferncia a muitos dos homens que aparentemente se encontram vinculados ao meu nome. Calou-se o Mestre. Tiago caiu em pesada reflexo, enquanto caminhava ao Seu lado. Desde ento passou a entender melhor o Reino de Deus, aquele que no tem aparncias externas e que deve ser conquistado com deciso.

    * * * Ainda hoje, diante dos espritos difceis, dos infelizes e dos perturbados, dos perturbadores e pervertidos, a atitude de muitos cristos novos no difere daquela que Tiago, embora bem intencionado, conquanto invigilante, mantinha antes do dilogo esclarecedor.. .

  • 14

    4 - A REGRA DE OURO Durante alguns meses haviam estado ao Seu lado, participando das prelees na Galilia, pela Decpole, Jerusalm e alm Jordo. .. Viram-No atender enfermos de variada espcie, demonstrando invulgar poder sobre os "espritos imundos", que O obedeciam prontamente. Observaram-No em mltiplas situaes e sentiam-se maravilhados com le. Embora alguns houvessem abandonado seus quefazeres para O seguirem, sentiam-se invadidos por dvidas e suspeitas infundadas, certo, porm acautelatrias. Aqule Visionrio falava de um Reino Novo que no conseguiam alcanar nem compreender. "Por que no Israel?! se perguntavam. Longos foram os dias do cativeiro sob o impiedoso jugo de estrangeiros desalmados; terrvel o dio das raas vizinhas; e cruentas as batalhas que aqule povo travara para sobreviver. Novamente o grilho da escravatura disfarava as dilaceraes nos seus corpos e nas suas almas... Por que no conferir a supremacia a Israel, no concerto das Naes?..." Sem dvida, o Seu poder era exercido sobre eles que estavam resolvidos, se necessrio, a imolar-se at sob o Seu comando. Quando, porm, se ausentavam e a Sua presena diminua o facnio neles, sentiam-se fracos, saudosos da vida que levavam antes, re-ceosos da empresa. Conquanto a Sua palavra rutilante e vigorosa lhes casse como chuva contnua sobre terra sedenta, le no dizia tudo. Ensimesmava-se longas horas, quando no desaparecia inmeras vezes, a ss, retornando com a face plida e os olhos que sempre brilhavam como duas gotas de luz, sombreados de dorida tristeza. Relutavam interiormente. Joo, por ser mais jovem, febricitado depois de cada discurso, sonhava com as estrelas e cantava entusiasmado a melodia da mocidade nas cordas da harpa do vento. Tiago, no entanto, seu irmo, amadurecido pelos anos de luta e experimentado em longos exerccios da vida, reflexionava, comparando Seus ditos aos escritos do Tora. Simo e Andr deixaram as redes e seguiram-No ; Levi, que estava sentado na coletoria, convidado, levantou-se e O acompanhou. Depois, da multido escolheu os demais, separando-os para a Sua seara: Felipe, Bartolomeu, Tom, Tadeu, Simo, o Zelotes, Tiago, filho de Alfeu e Judas Iscariotes.. . * * * Escutaram-No h pouco, e a mensagem das bem--aventuranas ecoava docemente nas suas almas. Jamais algum dissera o que le disse e como o disse. Flutuavam no leve ar as nobres expresses e nos rostos aflitos dos ouvintes o contgio sublime da Sua voz realizara inesperadas transformaes. Todas aquelas gentes vieram ao monte para receberem o largo quinho das Suas ddivas e estavam fartas: sorriam, e a esperana salmodiava hinos de paz nos seus coraes

  • 15

    sofridos. Retornavam, agora, aos lares, invadidos pela magia incomum do Seu verbo. Jamais deixariam de ecoar aquelas promessas de vida nas quebradas dos tempos e de repercutirem na acstica das almas. Ali estavam eles, agora, a ss com le. Chamara-os parte e com o acento tocante da Sua poesia, reunira-os em torno da Sua pessoa. As estrelas espiam do engaste sombreado em que tremeluzem no alto e vertem pranto argnteo. O bulioso sacudir das ramagens na aragem que perpassa mistura a Sua s vozes do anoitecer. Flutuando sobre o lago, nele se refletindo, o disco solar no poente de fogo e ouro incendeia a Natureza. O calor esmaece e um magnetismo envolvente domina, superando as manifestaes exteriores. O Estatuto da felicidade foi apresentado e novos artigos como corolrios dos primeiros so aditados. Por fim, embargado pela emoo, o Rabi, com as vestes claras bordadas pelo ouro da refulgncia crepuscular, esclarece: "Tendes ouvido que foi dito: "Amars o teu prximo e aborrecers o teu inimigo". Eu, porm, vos digo: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos de vosso Pai que est nos cus, porque le faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos." (*) "Que ensinamento este?!, interrogam-se no mago da alma surpresa. E reflexionam: "A Lei severa: "olho por olho, dente por dente". A algum que prejudicou, tem o direito a sua vtima de cobrar a sevcia com a mesma intensidade. Como se poder unir o amigo e o inimigo no mesmo abrao1! Ajudar o adversrio qual se le fosse companheiro' eis algo impossvel..." O Mestre os fita enternecido e os embriaga de docilidade. O homem mau, parece dizer, est enfermo e o adversrio infeliz caminha para a loucura. Ser crvel atir-los no fosso de misrias maiores? Descerrando os lbios, indiferente ao surdo cia mor deles, prossegue: "Pois se amardes aos que vos amam, que recompensa tendes? no fazem os publicanos tambm mesmo? se saudardes somente aos vossos irmos que fazeis de especial? no fazem os Gentios tambm o mesmo? sede vs, pois, perfeitos, como vosso Pai Celestial perfeito." (1)

  • 16

    um desafio ousado aquele programa. Esse Estatuto certamente reger o Reino a que le se refere. As lgrimas rebentam nos seus olhos e correi silenciosas pelas faces. As emoes mais sutis os dominam. Amar para adquirir a perfeio. Construir a diferena no ntimo para no serem iguais aos maus. Essa diferena quase um nada e tudo: o amor aos inimigos! A "regra de ouro" para a Humanidade se impe como o fundamento essencial do novo Reino que le vem instalar na Terra. J no h equvocos. Os outros eram reinos levantados sobre os despojos dos vencidos, que se transformavam em adubo fecundante, quando no se faziam veculos de pestes dizimadoras. O forte esmagava o fraco e se apresentava como se fora mais forte. A uzura se armava de ambio e marchava sob o comando da impiedade para dominar. Amar! Amar mesmo os inimigos para instaurar a Era da Misericrdia que precederia a do amor real. Os primeiros artigos do Estatuto apresentado eram preceitos simples, temas de conversas das margens dos lagos e da boca das lavadeiras nos ribeirinhos cantantes. Conviver e amar os adversrios e no lhes resistir por meio da violncia. . . le viveria, durante todo o Seu ministrio, aquela regra. Daria a vida. Cumpriria a Lei.

    * * * Eles quase pertenciam s mesmas famlias. Nascidos e crescidos ali s margens do lago, se conheciam. Andr e Simo, com sobrenome Cephas ou Pedro, eram ambos filhos de Jonas, nascidos em Betsaida, residentes, porm, h muito em Cafarnaum. Joo e Tiago, os "filhos do trovo", como o Senhor os chamava descendiam ,de Zebedeu e Salom, que Lhe foi fiel at o Glgota; Felipe era de Betsaida; Natanael ou Bartolomeu, filho de Ptolomeu, provinha de Cana; Simo, o Zelotes, viera de Canaan; Tom ou Ddimo, por ser gmeo, era descendente de um pescador de Dalmanuta; Tiago, o Moo, Judas Tadeu, seu irmo e Mateus Levi, o ex-publicano, eram filhos de Alfeu e Maria de Cleofas, parenta de Maria, Sua me, nazarenos todos, eram primos afetuosos e passavam como "seus irmos"; e Judas, filho de Simo, originrio de Kerioth, a pequena cidade da extremidade sul de Jud.. . Eis o grupo. Todos galileus, menos Judas. .. Eram os membros que participavam da fundao do Reino e recebiam as Leis que o deveriam reger. Todos seriam irmos, mensageiros, "apstolos" "que so enviados"! O ar perfumado dos longes campos chega e a transparncia colorida do cu em poente

  • 17

    comove. Eles se dobram sobre as prprias necessidades e raciocinam. O Rabi silencia. Reino de Amor! Lanadas suas bases, deveria resistir at os confins dos sculos. Preservando a regra urea do amor, Tiago, o moo, foi arrojado do pinculo do Templo e apedrejado at a morte. .. Bartolomeu, ouvindo nalma a musicalidade do amor, sofreu o martrio e morreu na cruz de cabea para baixo, aps ser esfolado vivo. Judas Tadeu, esparzindo aquele plen de amor, doou a vida na Armnia, sob flechadas cruis. Andr, crucificado, e Felipe, martirizado, permaneceram amando. Simo, o Zelotes, amando, deixou-se crucificar na Prsia em singulares traves.. . Tom, o Ddimo, renovado, crente e amoroso, padeceu o golpe de uma lana, na ndia, oferecendo-Lhe a vida... Tiago teve decepada a cabea, fiel ao amor, na Casa do Caminho... Mateus, tambm, amoroso, consentiu em ser martirizado... Pedro, esfuziante, dominado pelo milagre do amor, permitiu-se crucificar em Roma... O tributo do amor no resistir aos maus! Do grupo hbrido sai a Nova Humanidade a renovar e modificar a Terra. "Amai os vossos inimigos" e doai o bem a quem vos faa o mal enunciara. O Reino de Deus chegara Terra dos homens e confraternizava com eles, em nome do Amor. (*) e (1) Mateus 5: 43 a 48 Nota da Autora espiritual.

  • 18

    5 - ENSINA-NOS A ORAR O planalto da Judia se eleva naquele local a quase 830 metros acima do nvel do mar, sendo ali o seu ponto culminante. Ephrm regio buclica, onde os damasqueiros se arrebentam em flores, se vestem de frutos, e as tulipas se multiplicam em campos verdejantes com a abundncia do sol dourado, cujos poentes se demoram em fmbrias coloridas, contrastando com as sombras das noites em vitria. . . A aldeia de Ephrm ou Efraim um amontoado de casas singelas entre flores silvestres e roseiras variadas, situando-se sobre um largo terrao frtil do planalto rido, onde, no entanto, abundam nascentes cantantes e de cujas bordas se avistam no longo vale que se esconde em baixo das imensas costas talhadas a pique em alcantis, pelo lado do Moab, o tranquilo Jordo e o mar Morto. Dali, a viso dos horizontes um convite meditao, fazendo que o homem se apequene ante a grandeza de Deus. Naquela paisagem tudo so convites s coisas divinas. Nesse plano de exuberante beleza, o Mestre elucida os companheiros fiis, quanto comunho com o Pai. J lhes falara diversas vezes sobre a necessidade da orao e em muitas ocasies deles se apartara para o silncio da prece. Ensimesmado, frequentemente buscava a soledade para a ligao com Deus. atravs desse ministrio ardente e apaixonado.

    * * * Os livros da f ancestral, todos eles, se reportam exaltao do Senhor, mediante o "abrir a boca" da alma e falar aos divinos ouvidos. Aquela ser a ltima primavera que passariam juntos. Os colquios, as lies sero interrompidos, le o sabe. Ministra as ltimas instrues. O Cordeiro inocente logo mais dever marchar na direo do matadouro. Quanto h, no entanto, ainda, a dizer! So "crianas espirituais" aqueles companheiros, bulhentos e sem a noo exata do que lhes ser pedido. O tempo urge! As Suas viglias so maiores e Seus solilquios mais demorados.

    * * * Retornava desse colquio, e a placidez da face denotava a vitalidade haurida no intercmbio com o Pai... Os discpulos aguardam-No com carinho, ansiedade, e inquirem-No quanto melhor forma de orar, como dizer todos os ditos da alma quele que a Vida e que sabe das necessidades de cada um em particular e de todos simultaneamente. . . Havia, sim, em todos, o desejo veemente de aprender com o Rabi, que tantas lies lhes dispensar antes com invulgar sabedoria! a mais eficiente das oraes.

  • 19

    Inquiriam, porm: "se Deus nos conhece e sabe o de que temos maior urgncia, por que se h de Lh'o rogar? Como faz-lo, ento?" "Ensina-nos a orar!" pediu um dos discpulos, amigo devotado. Seus olhos estavam incendiados de luz e nele havia aquela confiana pura da criana que se entrega em total doao e aguarda em tranquilidade enobrecida. O Mestre relanceou o olhar pelas faces expectantes daqueles que O buscavam seguir e desejavam adquirir foras para, no futuro, se entregarem inteiramente ao Evangelho nascente; depois de sentir as nsias que atravs dos tempos estrugiriam nos con-tinuadores da Sua Doutrina, pelos caminhos do futuro, sintetizou as necessidades humanas em sete versos, os mais simples e harmoniosos que os humanos ouvidos jamais escutaram, proferindo a orao dominical. As frases meldicas cantaram delicadas atravs dos Seus lbios como se um coral anglico ao longe modulasse um cantocho de incomparvel melodia, acompanhando suavemente. Uma invocao: "Pai Nosso que ests nos Cus;" (*) Glorificao d'Aqule que a vida da vida, Causa Causica do existir, Natureza da Natureza Nosso Pai! Trs desejos do ser na direo da Vida, aps a referncia sublime ao Doador de Bnos: "Santificado seja o Teu Nome. "Venha a ns o Teu Reino, "Seja feita a Tua vontade, na terra como no cu;" Eloquentes expresses de reconhecimento ao Altssimo; humildade e submisso da alma que ora e se subordina s inexaurveis fontes da Merc Excelsa; entrega total, em confiana ilimitada. Exaltao do Pai nas dimenses imensurveis do Universo; respeito grandeza da Sua Criao, atravs da alta considerao ao Seu Nome; resignao atual diante das Suas determinaes divinas e divina prescincia. Canto de amor e abnegao! Trs rogativas, em que o homem compreende a prpria pequenez e se levanta, splice, confiante, porm, em que lhe no ser negado nada daquilo que solicita: "O po nosso de cada dia, d-nos hoje; "Perdoa-nos as nossas dvidas, assim como perdoamos aos nossos devedores; "No nos deixes cair em tentao, mas livra-nos de todo o mal."

  • 20

    A base da manuteno do corpo o alimento sadio, dirio, equilibrado, tanto quanto a vitalidade do esprito a sintonia com as energias transcendentes d-nos hoje! Sustento para a matria e fora para o esprito, de modo a prosseguir no roteiro de redeno, no qual exercita as experincias evolutivas. Reconhecimento dos erros, equvocos e danos causados a si mesmo e ao prximo perdoa-nos!, ensejando reparao, atravs da oportunidade de refazer e recomear sem desnimo, superando-se e ajudando aos que nos so vtimas como perdoamos aos que nos devem!... Foras para as fraquezas, em forma de misericrdia de acrscimo, multiplicando as construes das clulas e das energias espirituais; reconhecimento das incontveis fragilidades que a cada instante nos sitiam e nos surpreendem livra-nos de todo o mal!

    * * * A musicalidade sublime canta em balada formosa na pauta da Natureza, conduzida pelo vento. A mais singela, a mais completa orao jamais enunciada. H emoes nos espritos que reconhecem a responsabilidade de conduzirem o sublime legado na direo do futuro. A ponte de intercmbio entre os dois planos do mundo est lanada. Transitaro, agora, as foras mantenedoras do equilbrio. "Pedi e dar-se-vos-;" exorou o Pomicultor Divino. "Ensina-nos a orar!" rogara o discpulo ansioso. As viraes daquela hora embalsamam o ar de mil odores sutis e constantes, e h festa nos coraes. O Reino de Deus est, agora, mais prximo. Divisam-se os seus limites e se vislumbram as suas construes... Nenhum abismo, nenhum bice. Vencidas as indecises, os caminhos se abrem, convidativos, oferecendo o intercmbio. Aqueles homens que se levantaro logo mais da insignificncia que os limita e iro avanar no rumo do infinito, doravante, orando, estaro em comunho permanente com o Pai. O homem sobe ao Pai no Cu o Pai desce ao homem na Terra. J no h um dptico.

  • 21

    Do solilquio chega-se ao dilogo. E do dilogo o esprito sai refeito, num grande silncio de paz e vitalidade, exaltando o amor de Deus na potencialidade inexcedvel da orao. "Ensina-nos a orar!" "Pai Nosso que ests nos Cus. . . " (*) Conquanto as divergncias entre os textos de Mateus (6:9-15) e Lucas (11:1-4) preferimos as anotaes do primeiro, embora aquele situasse a preciosa orao, em continuidade ao Sermo do Monte. Assim o fazemos, considerando a mtrica e o ritmo que se observam nas narraes das lnguas semitas e por registrar a omisso de todo um verso nas anotaes de Lucas. Outrossim, tomamos como lugar da ocorrncia as circunvizinhanas da aldeia de Ephrm ou Efraim ao invs do Monte das Oliveiras, conforme a situam diversos exegetas e historiadores escritursticos.

    Nota da Autora espiritual.

  • 22

    6 - E LE DORMIA Duas vezes por ano, janeiro-fevereiro e maro-abril, sobre as guas do mar generoso da Galilia cintilam mais cedo as estrelas. (*) Antes que o poente de ouro desaparea de todo perpassam os suaves favnios enquanto coruscam os astros no firmamento. Aqule mar cercado pelos povoados como conchas brancas nas bordas, piscoso e amado tornar-se-a por todo o sempre o cenrio incomparvel que emolduraria a Sua pessoa na epopia das Boas Novas. Ali, nas claras manhs ou nos entardeceres festivos, a Sua voz musicava com esperana os espritos enfraquecidos nas lutas e os alentava. Milhares de homens, mulheres e crianas naquelas paragens receberam das Suas mos sublimes as fartas concesses da sade, as dadivosas bnos do reconforto. Seus lbios se entreabrindo traaram as inconfundveis diretrizes da legislao do amor o fundamento essencial do Seu Messianato! Mutilados do corpo e da alma, atormentados na forma e na essncia, recorreram vezes incontveis ao Seu concurso e receberam o auxlio lenificador de que careciam. Nas guas plcidas e nas areias encharcadas, estavam sempre ao alcance os barcos para as jornadas s outras terras, ou para poder evadir-se, quando a insacivel avidez do povo teimava por toc-Lo, na nsia incontida de recolher mais auxlios e incessantes socorros...

    * * * Nos meses de Ticri e Nisan (1) aquelas guas normalmente serenas, quase sempre mar-esplho, agitam-se de inopino, crescendo suas vagas a alturas desmedidas, sacudidas por ventos inesperados, tormentosos. Nesses perodos os pescadores cuidam de no se adentrar pelas guas traioeiras entre o meio-dia e a meia-noite a fim de se pouparem s surpresas das arremetidas tempestuosas. A mensagem alcanara as fronteiras indimensionais das almas, alastrando-se pelos pases dos homens. De toda parte acorriam os necessitados de todo jaez a buscarem o Seu concurso. hora undcima o cu apresenta-se fulgurante e as guas tranquilas balouam suavemente tocadas por ventos leves e cantantes. Saiamos daqui diz Jesus. Os barcos esto prontos?

  • 23

    Sim, Rabi. Retruca Simo. Devemos atingir a outra margem antes da alvorada, elucida o Amigo Divino. Mas neste perodo relata o velho pescador as tempestades sopram de

    surpresa e colhem os incautos imprevistamente, ameaando-lhes as vidas. No temamos as coisas que promanam de Nosso Pai esclarece Jesus.

    Estou extenuado. Saiamos daqui. Os barcos deslizam sobre as cristas das ondas eriadas a arrebentar-se em renda de espumas. O Rabi toma de um travesseiro, e na popa da barca em que seguem os irmos Boanerges Joo e Tiago procura repouso. A brisa amena e o ar transparente parecem confraternizar com os astros em festa de prata salpicante no alto. Ao longe ficam as praias e Cafarnaum tem os olhos acesos, em candeias vermelhas e lmpadas de barro fumegando... As montanhas se recortam nas sombras em redor das guas no outro lado, desenhando mltiplas imagens grotescas. As cidadezinhas da orla das guas rebrilham distantes com as suas luzes festivas, e de longe chegam canes trazidas pelas vagas... O Mestre dorme em plcida serenidade. Os vultos dos companheiros aparecem e se recortam na noite, prximos, nos outros barcos. Os remos cantam nas guas e os lemes esto seguros com vigor. H uma inocente alegria conquanto algumas mesclas de preocupao. Judas exclama: No ser uma temeridade esta viagem? O Rabi est conosco, portanto, no h problema, redargue Joo. Simo, porm, sabe dos perigos, neste perodo investe o Iscariotes. De fato, se formos colhidos por um vendaval obtempera Simo nossas vidas

    estaro ameaadas. Mas Jesus est conosco insiste Andr.

  • 24

    No entanto, dorme, chasquina Judas enquanto deveria vigiar; isto, para ser fiel s Suas prprias palavras... No temamos. Confiemos. Conclama Joo. A noite est serena e o Pai vela por ns. Contudo, perigoso retruca, mais uma vez, a inquietao de Judas. Rememos prope Pedro, na condio de timoneiro. As terras da Decpole esto vista, desenhadas nas sombras frente. O dia fora exaustivo. Relaciona o jovem Boanerges. O Mestre atendeu agentes de vrias partes que levaro, agora, as notcias. Seus olhos fulguram de alegria. Eu vi um cego abrir os olhos relata com palavras medidas, Simo bar Jonas e as lgrimas cristalinas diziam da emoo incomparvel daquele beneficiado. E o leproso? interroga Tiago Nausean te, estava recurvado e exsudava putrefao. Cambaleando e rouquenho, acercou-se do Mestre. O olhar que o Rabi depositou sobre le, comoveu-me. Vi a palidez no Seu rosto e uma indescritvel tristeza se Lhe desenhou na face. Tocou-o e logo as carnes comearam a agitar-se, a transformar-se todo le ante a minha admirao... Quando o homem saiu exultante, interroguei o Mestre: "Por que, Senhor?" "Por ser enfermo o seu esprito calceta e leviano respondeu, acrescentando: que lhe no acontea nada pior!" "Pior do que a lepra? indaguei. "Sim, redarguiu, a perda da vida espiritual". .. e seguiu adiante. Olhem as nuvens gritou Judas, deixando transparecer um assomo de pavor. Repentinamente as estrelas desaparecem sob nuvens escuras, borrascosas. Sopraram ventos inesperados de vrias direes e o pnico tomou vulto. Os barcos oscilam nas guas a crescerem. Troves espoucam aps relmpagos ligeiros. No clere claro pode-se ver o medo estampado nos homens receosos. . . E le dorme! exclama Andr. Dorme enquanto perecemos! grita Judas. Confiemos! insiste Joo.

  • 25

    O barco no suportar a borrasca relata Simo. Cai a tempestade. As foras em desgoverno sacodem o mar e o tumulto domina a paisagem. Sombras e desgraa em algaravia de horror. Lutam os tits da Naturez Adernam as embarcaes e os viajantes se aparvalham. O Mestre dorme, Deus meu, e ns... desespera-se Judas. Acordem-n'O! Mestre, Mestre! chama Joo, receoso e trmulo pereceremos, se no nos salvares. Se no nos salvares? repete, temeroso e revoltado, Judas. Ter que nos salvar. A idia da viagem perigosa foi le quem a teve. Brame o mar e ululam os ventos. Que tendes? indaga, sereno, o Rabi. Perecemos, Amigo! explica, tmido, o amado.. le se ergue, abre os braos. O relmpago veste-O de claridade de prata e ouro, emoldurando-O, num timo. Calai! Emudecei! A voz supera a gargalhada das foras desconexas da Natureza. Aquietai! O brado arrebenta-se nos longes das praias. Os ventos amainam e as guas desencrespam-se. As estrelas olham com lampejos argnteos e a serenidade bonanosa veste novamente a paisagem. Os sorrisos bailam nos lbios de todos e nova tranquilidade povoa as barcas, que deslizam cantando, ao cortarem as guas, agora calmas. A tentao dissera h pouco por aquelas bocas: No te importas que pereamos? quando indagara Simo, traduzindo as dvidas gerais. No entanto, le ali estava. O tormento interior comeou a crescer naqueles espritos tmidos. E se interrogavam: "Quem este que at o vento e o mar lhe obedecem?" e todavia, viviam com le, mas no O conheciam... Pelo amanhecer os barcos alcanaram as praias e as encostas de Gerasa, na Decpole.

  • 26

    * * * Recordando a tempestade do mar da Galilia, merece que examinemos o mar da nossa alma e a tormenta das paixes que nos aoitam com frequncia inesperada, intempestivamente, enquanto o Cristo, que deveramos trazer internamente, jaz ador-mecido sem que as nossas aes o despertem. Era o ms de Ticri, hora undcima, e no mar calmo; de repente espoucou a tempestade enquanto, plcido, Jesus dormia.. . (*) Mateus 8:23 a 27 Marcos 4:35 a 41 Lucas 8:22 a 25 (1) Setembro . outubro, maro - abril. Outros historiadores informam que a tempestade ocorreu no ms de dezembro. Preferimos situ-la em outubro de 28. Nota da Autora espiritual.

  • 27

    7 - PO DA VIDA

    Saiamos daqui! As notcias da morte de Joo chegaram enriquecidas de detalhes... Jesus tinha necessidade de orar e demorar-se em Soledade com o Pai. A mensagem como gro de trigo feito luz se multiplicava, em farta sementeira por toda a parte. Enfermos desenganados e espritos marcados por fundas desiluses apressavam-se a busc-Lo, depois de escutarem as narrativas empolgadas a Seu respeito. Acorriam sob os panos sombrios das aflies e, ansiosos, O envolviam com as rogativas e lamentos lancinantes. Onde quer que se encontrasse, ao Seu lado estava a multido de mutilados do corpo, da emoo, do esprito... Infatigvel le socorria com amor, abnegado, gentil. Suas mos acionadas pela misericrdia e Seus lbios cantando ternura leniam todas as exulceraes e acenavam esperanas aos magotes numerosos, se multiplicarem incessantemente. Saiamos daqui e atravessemos o mar, para a outra banda falou o Senhor. . . (1)

    * * * A misso dos Reformadores toda aspereza; o sacerdcio do Amor se manifesta em rio de renncias; a doao do Heri da Salvao se apresenta na oferenda da prpria vida. Onde se encontram, a esto as dores e as angstias, os desesperos e os desaires, rogando, aguardando, insaciveis. Era manh de abril. A Primavera espoucava escarlate nas ptalas das anmonas em flor, o campo relvado em matizes brancos se salpicava de atrevidas madressilvas que sobressaam e oscilavam no verde, ao sabor dos ventos leves, brincando a rs-do-cho. O cu azul e transparente parecia confraternizar com o mar tranquilo, aberto aos barcos de velas coloridas. Havia mesmo uma sinfonia discreta na manh formada das onomatopias generosas da Natureza. A barca vence as distncias deslizando com Simo ao comando. A festa dos jbilos sorri nos doze que esto acompanhando o Rabi na barca que entoa melodias nas vagas levemente encrespadas a se deixarem cortar... A multido, na praia, reflexiona, interroga e olha a barca movei no mar azul. Algum sugere a direo que segue a embarcao que conduze o amado Fugitivo. Outrem opina que todos O sigam; surpreend-Lo-o adiante. H uma alegria

  • 28

    espontnea. A mole humana, volumosa, se movimenta. Muitos chegaram de longe e no podem perder a oportunidade. O rumo Bethsaida-Julade, distante pouco menos de dez quilmetros: uma agradvel marcha! O povo se divide em grupos e canta; vence as distncias ; h que encurtar os caminhos e toma a ponte que atravessa o Jordo. O dia espia em luz branda o movimento, a agitao. Quando a barca alcana o ancoradouro da cidade a massa colorida, aguarda. . . O Mestre contempla o povilu. Os olhos de todos n'le se cravam e falam sem palavras. Crianas choram e enfermos lamentam. Alguns sorriem, outros apenas O fitam e se enternecem. .. O Rabi se comove. Todos Lhe requerem o concurso. As aflies humanas, densas, suplicam Sua compaixo e os homens so a Sua paixo. Conquanto desejasse a soledade, ante os que sofrem, se compadece, sorri compassivo, generoso. le compreende aquelas dores, sente-as quase nalma. Apontou um cerro prximo e o galgou. As criaturas O seguiram. Em volta, a vegetao rasteira com giestas em flor e a larga paisagem sob um cu transparente. le comeou a falar e o verbo claro cai nas ai mas, blandicioso e reconfortante, iluminando conscincias, clarificando os ntimos problemas dos espritos inquietos. palavra fluente cala e a sade lhe sai do amor na direo dos padecentes que se refazem em Sua presena, ao Seu contato. O dia avana e a hora est adiantada. Carinhosamente os discpulos O advertem: Despeamos a multido para que as pessoas se possam alimentar, pois este um lugar distante, deserto.. . "Dai-lhes vs de comer" redarguiu o Mestre. Senhor responderam os discpulos preocupados mas todos tm fome e no poderamos comprar-lhes pes suficientes. Se framos adquirir repasto, necessita- ramos de uns duzentos dinheiros para os no deixar totalmente esfaimados. . . So muitos os que aqui estamos. Que temos? inquiriu, tranquilo, Jesus. Nada ou quase nada. Segundo me informaram, um homem trouxe cinco pes de cevada

  • 29

    e dois peixes. Mas, que so?... Trazei-os e mandai que o povo se sente em grupos. Ali estavam quase cinco mil ouvintes e aflitos que se recobravam com o Seu hlito de transcendente poder. L em baixo estavam o mar em espelho colossal, no rumo do oriente, mais ao longe a cidade ribeirinha e branca em claros e verdes: Cafarnaum; ao sul o casario de Magdala, avanando sobre as guas, nos outeiros, Tiberade entre bosques espessos em cons-trues de pedras; Corazim nas montanhas, encravada como uma rosa alvinitente. As altas cordilheiras com a fmbria diluda no claro do dia se destacam no cenrio formoso. Ergueu as mos e orou em silncio. O murmrio do povo calou a boca da aflio. Levemente plido pareceu transfigurar-se. Tomou os pes e os peixes partiu-os e repartiu-os, ante os olhos atnitos dos mais prximos e estes se foram repartindo e multiplicando como semente, que fecundada, se desdobra em espigas ricas sob o milagre da terra, fazendo-se toda uma seara. . . (2) Todos se acercam alegremente e cestos so apresentados; enchem-nos e repartem a messe com o povo que se nutre at ao enfartamento. . . .. . E sobra o suficiente para encher mais alcofas com o que resta, excedente, abundoso. (*)

    * * * Salve, Rei de Israel! grita uma voz. Conduze-nos conquista de Jerusalm! clama outra. Seguiremos contigo! Aleluias explodem, espontneas. Os discpulos exultam e O envolvem com inexcedvel carinho, excessiva emotividade, numa ternura sem palavras, extravasante. Os olhos do Mestre se nublam. Faz-se mais plido e os lbios tremem como se sofresse uma dor surda, forte. O ar acolhe a exaltao da massa convulsionada pelo espetculo de h pouco e referta de alimento pelos Seus poderes. Na febricidade geral, os companheiros percebem-No afastando-se, refugiando-se por detrs das sebes, nas sinuosidades das pedras. Felipe O busca e chama: Deixa-me a ss. le fala, triste; uma ordem e uma splica.

  • 30

    A multido se dispersa, os discpulos descem o monte. O ar est morno. Eles retornam barca e volvem a Cafarnaum... . . . L O encontram.

    * * * "Eu sou o po da Vida! "Este po no mata a fome. "O po que sou farta para todo o sempre.. . "Credes porque vos alimentastes. "O po que vos possa dar nunca mais vos permitir a fome." "Trabalhai no pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dar; porque sobre le o Pai, que , Deus imprimiu o seu selo. "A obra de Deus esta, que creais naquele que le enviou. "Eu sou o po da vida: o que vem a mim, de modo algum ter fome e o que cr em mim, nunca, jamais ter sede. "Tudo o que o Pai me d, vir a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lanarei fora; porque eu desci do cu no para fazer a minha vontade, mas a vontade Daquele que me enviou. "A vontade daquele que me enviou esta: que eu nada perca de tudo o que le me tem dado. ... "Pois esta a vontade de meu Pai: que todo o que v o Filho do Homem e Nele cr tenha a vid a . . . . " Po da vida! Este po o de todo dia transitrio; aquele que le d perene, suprime as necessidades, todas as necessidades... O mundo O busca e os homens O querem, mas desejam este po transitrio do monte, no aquele, o da vida, que tambm foi oferecido no monte. Este, o do estmago, sim, pedem e querem hoje os homens. Aqule, o da vida talvez, depois; no, no sabem quando o querem os homens. Era abril, em festa de Primavera. le o Po da Vida. Em soledade com o Pai e a multido. A multido na Primavera e o Po da Vida em todas as Estaes

  • 31

    (1) Mateus 14:13 a 21 Marcos 6:30 a 44 Lucas 9:10 a 17

    Joo 6: 1 a 14 - Notas da Autora espiritual. (2) Vide "A Gnese", de Allan Kardec, Captulo XV. Item 48 a 51. Optamos pelo estudo

    segundo a narrao dos Evangelistas.

    (3) Joo 6:27, 29, 35, 37 a 40. Nota da Autora espiritual.

    (*) Santo Agostinho estudando a "Multiplicao dos pes", interrogava: "Quem que alimenta o universo, seno Aqule que, dum punhado de sementes, faz nascer as searas? O mesmo poder que, de alguns gros, faz germinar o trigo, nas Suas mos multiplica os pes. Porque o poder pertencia a Cristo, e esses cinco pes so como as sementes que no foram lanadas terra, mas que foram multiplicadas por Aqule que fz at a prpria terra." Nota da Autora espiritual. .

  • 32

    8 - PESCADOR DE HOMENS Aqule fim de maio estava ardente, fenmeno comum naquela quadra do ano. Logo o Astro-Rei fazia incidir diretamente o seu facho de luz, e calor asfixiante atormentava, desafiador. Ao longe, as encostas do Galaad, com revrberos de cobre luzido vencendo as brumas secas, so muralhas naturais e altaneiras na paisagem fronteiria ao Lago. quela hora, porm, soprava uma brisa amena, diluindo as nvoas da madrugada, enquanto albatrozes e pelicanos se demoram sobre as pedras negras que se adentram pelas guas piscosas com reflexos de prata. O recorte curvo da praia estava apinhado pela mole ansiosa, que a acorrera desde cedo, para ouvi-Lo e rogar-Lhe a bno do socorro para as mltiplas aflies de que se via possuda. Nos dias anteriores aquela voz ecoara pelas regies ribeirinhas como um canto de esperana, em cuja melodia as concesses do amor divino eram moduladas em convites amenos que chegaram aos ouvidos dos homens sofredores. Todos, portanto, necessitados e curiosos, desejavam v-Lo de perto e receberam o benefcio que Suas mos esparziam em abundncia. A Natureza estava calma e as ansiedades vibravam nos coraes.

    * * * A noite fora longa e infrutfera. Eles estiveram por todas as horas a atirar as redes e recolh-las vazias. As guas generosas tambm tinham seus caprichos. Aquela era uma noite de cansao e desaire. Sem luar os barcos encalhavam nos bancos de areia e todo o esforo daqueles homens ofegantes redundara improfcuo. Retornavam aos penates do dia, corpos modos, olhos ardendo, modorrentos e mal humorados... O magote humano na praia parecia um borro colorido e mvel, contrastando com as areias alvas. Duas barcas foram deixadas vazias e as redes comearam a ser distendidas nas varas de sustentao da praia. "Apertado pela multido que ouvia a palavra de Deus..." (*) .. . Entrando numa delas em que se encontrava Simo, o seu proprietrio, falou, um pouco mais ao povo expectante.

  • 33

    Seu verbo de luz clarificava as conscincias inquietas e asserenava os espritos em turbulncia. Sua silhueta de braos abertos bordada de ouro no contraste com o dia fulgurante, parecia a de uma ave sublime que estivesse prestes a alar vo buscando rumos ignotos. Havia n'le um poderoso magnetismo que Lhe acompanhava as palavras conhecidas e comuns, encadeadas como outrem jamais antes as enunciara, e que tocava com estranho e vigoroso poder balsamizante. Algumas penetravam como punhais; outras rociavam como perfume precioso de lavanda no ar . . . Depois de haver consolado o povo que O buscara, voltou-se para Simo e disse: "Faze-te ao largo e lana as redes para a pesca." Mas retornamos de l, agora, Senhor, sem nada conseguir. No recalcitres, Simo. A barca desliza cantando sobre a crista das ondas levemente encrespadas, e, ao ritmo do vento que perpassa e inflama as velas coloridas, se distncia, avanando com celeridade. Recolhe os panos ordena, gentil, e atira as redes. A estivemos, Amigo elucida o pescador e tentamos at o cansao; nossos esforos redundaram inteis. "Porm, sobre a tua palavra, lanarei as redes." As redes imensas em forma de tarrafas circulares, com chumbos amarrados s pontas, se abrem no ar em leque formoso e batem sobre as guas, mergulhando as malhas resistentes, desenroladas dos braos vigorosos que as sustinham. Logo puxadas se apresentam abarrotadas, quase arrebentando a tecedura forte. O espanto, a algaravia e a exploso de jbilos dos homens espoucam em alacridade infantil. A carga abundante levantada para bordo e a barca prxima chamada, aos gritos, em socorro...

    * * * Na popa, recortando o disco solar esfuziante, o Mestre contempla aqueles homens de alma infantil, crestados pelas lutas dirias, inundados de alegria, emocionados at o pranto. "Sim, ama-os medita o Desconhecido Mestre. Viera ter com eles para que pudessem ascender ao Pai. Ser-lhe-ia necessrio sofr-los, dar-se em totalidade de oferenda, caminhar ao lado deles, assisti-los e perdo-los sempre. Sim, amava-os!"

  • 34

    Longe, neles, estavam as ansiedades espirituais. Desprovidos, por enquanto, de entendimentos, se atiravam vidos ao dia-a-dia, na pesca, na conquista do po.. . Seria necessrio dilatar-lhes a percepo, ampliar-lhes os horizontes... Simo ergueu os olhos midos e fitou-O. Ouvira-O antes e O acompanhara desde Bthabara, de volta de Jerusalm, mas no entendera tudo quanto le falara. Explodindo de emoo inesperada, baldoou o homem do mar: "Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador", e prorrompeu em

    pranto espontneo. A confisso ingnua, a alma desnudada, o corao ardente falavam daquele timoneiro que amava o mar e nele encontrava a segurana e a vida. O plncton que chegava trazido pelas correntes subterrneas do Jordo, ali favorecia a piscosidade das guas e le conhecia aquelas correntezas e os mistrios do Lago que era seu bero e o amigo com quem confidenciava nas noites longas e doridas de soledade... "Aqule homem, no entanto, donde o conhecia? refletiu num timo, vencido pela fora daquela voz que ordenava sem impor e ningum desconsiderava, e daquela face. . . le lhe parecia to fraco e era to forte! No sendo um pescador, como soubera e pudera tanto?!" "Simo, no temas: de ora em diante serspescador de homens." A mensagem ecoou na sua alma, em linguagem singular; pescador, sim, o era. "Pescador de homens!", que seria ? Tranquilizou-se, porm. Toda uma festa de sons dominou-o e le fremiu ao peso de desconhecidas vibraes. Desejou recusar, dizer da pequenez e miserabilidade, no pde faz-lo. Imobilizado naquele momento que parecia uma eternidade ausncia do tempo e anulamento do espao sentiu-se impossibilitado de cingi-Lo ou postar-se-Lhe aos ps. A garganta seca, estreitada, estrangulou-lhe a voz. Chorou, e, no ntimo, reflexionou: sabes o que fazes, Senhor!

    * * * As notcias alcanam as praias. H uma revoada de inusitada alegria em todos coraes. Novos grupos afluem. As carpas estremecem, ainda, em reflexos automticos e o contentamento se generaliza. Pedro, Joo, Tiago e Andr que participaram mais de perto do acontecimento

  • 35

    experimentam, todavia, desconhecido pressentimento, que os seguir desde ento... No poderiam definir o que lhes passava, Relancearam o olhar em volta, e encontraram o Rabi, afastado, que fitava aquele amado Lago de Genesar, enquanto o ar pesado do dia vitorioso abafava. Pescador de homens!

    * * * Desde ento, abandonaram tudo, mesmo o mar amigo, e avanaram na direo do porvir sob o Seu comando, e depois foram conduzidos por Simo a "pescar homens". (*) Lucas 5: 1 a 11

    Nota da Autora espiritual.

  • 36

    9 - LUZ DO MUNDO "Se pecador, no sei. Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo." (*) A frase lhe escorreu dos lbios cantantes modulada nas vibraes dos sorrisos. E era um desafio. Respondendo ardilosa indagao dos intrpretes da Lei, dos fariseus, superava qualquer astcia com as soberanas argumentaes da Verdade. Aqueles olhos, at h pouco apagados, agora, transparentes e iluminados, viam. No se acostumaram sequer ainda com a contemplao da paisagem: os detalhes se perdiam na exuberncia de cores e na diversidade das formas. O Astro-Rei irizando com mil matizes, dantes jamais sonhados, fulgurava solto no cu claro, imenso, inimaginvel para le. A alegria de todas as coisas em festa num banquete deslumbrante para aquela viso que sofrera os longos, demorados anos de escurido... Tudo em mensagem de encantamento. O homem, o ser humano, no entanto, lhe parecia muito triste naquele concerto de belezas indescritveis: a folha, a flor, a gramnea verde, o vetusto arvoredo, a tnica marron-esverdeada-escura dos montes altaneiros ao longe, a alegria da face das crianas e os pesados crepes invisveis sobre o rosto dos homens. Sim, fora um nado-cego. Criado na cegueira do mundo identificava todos os rudos e as formas que seus dedos geis apalpavam, compondo modelos que a mente, no entanto, no podia conceber. A realidade lhe penetrava, exigindo novas conceituaes. Passavam os anos e a sua dor se fixava nas carnes do desespero ntimo, como cravos de ira e mgoa. A escudela de esmola nas mos e a voz lamentosa em rogativa. Aqule caminho entre a piscina do Enviado e o seu lar de pobreza, fizera-o e o refizera quantas vezes! A esperana se apagara de sua vida, anulando quase o sonho de felicidade. .. e vivia.

    * * * A piscina de Silo se tornara famosa desde os dias do profeta Isaas, que elogiara as suas guas. Aquelas linfas atravessavam grande distncia, em canal rasgado abrupto na rocha viva, desde os tempos de Ezequias. H muito, infelizes e enfermos lhe buscavam, esperanosos, o mergulho, guardando esperanas de refazimento. As guas cantantes se renovavam e as massas de enfermos se multiplicavam. Aqule outubro estava j ardente e o p pairava no ar morno do dia sem ventos refrescantes.

  • 37

    As estradas estavam movimentadas pois que as Festas logo mais comeariam em Jerusalm, dadivosas. le deixara as paragens da querida Galilia para, transpondo as fronteiras, atingir a Judia onde sabia estarem reservadas muitas dores.. . Os companheiros seguiam-No animados, desejosos de penetrar-Lhe todas as lies e integralmente o ministrio, que, s vezes, lhes parecia complexo demais para suas mentes desacostumadas a incurses mais profundas no raciocnio. Deslumbravam-se sempre, logicavam raramente. O po que dos Seus lbios caa na boca dos seus coraes se apresentava em algumas circunstncias azedo, desagradvel. Estar com le era vibrar de felicidade e sofrer de ansiedades incontrolveis. le era capaz de tudo, e o demonstrara vezes sem conta. No entanto, falava tambm do Pai, e das Suas dores, lutas e a paixo. . . A que paixo, se referia, no O compreendiam. Era sbado! A Judia, semelhana da Galilia e talvez mais zelosa, era ufana em manter as exigncias da forma, da aparncia. Guardar o dia de descanso era mais importante do que se guardar das paixes. Invariavelmente, o israelita, ali, era considerado pela maneira como observava o "Dia do Senhor" e, todavia, muitas convenincias podiam modificar o prprio Estatuto que se deveria cumprir risca. "Mestre, quem pecou para que este homem nascesse cego? le ou seus pais?" A interrogao dos companheiros se fundamentava. As enfermidades graves so resgates de crimes que passaram sem punio, no corrigidos, ocultos. . . Sabia-se que o homem o como procedeu em vida anterior e que cada um se faz o construtor do edifcio da prpria vida. Cada corpo, cada estado de emoo e de esprito, a felicidade ou a desdita so elaboraes prprias, seno deste, de um avatar anterior. Logo, a interrogao oportuna. O Mestre fitou o homem de olhos em trevas e se apiedou. "Nem le, nem seus pais pecaram elucidou com eloquncia o Amigo Divino. Mas isto se deu para que as obras de Deus nele sejam manifestadas." Os homens crianas espirituais na maioria desejam a f que penetra pelos olhos e exigem fatos que no podem entender. O milagre ou derrogao das leis naturais os atrae pelo maravilhoso. Raros se aprofundam em descobrir fora da aparncia a mecnica da sua execuo. Era necessrio, portanto, atender a esses homens, ingnuos que facilmente se fazem maus, ignorantes que se podem revelar bons. Sem dbitos, sem culpas, aquele homem, por amor escolhera a provao da cegueira para que o seu Senhor pudesse ser conhecido, revelado, sem modificar as Leis da Justia. H um estranho silncio entre os que contemplam o cego e fitam o Galileu

  • 38

    Sublime. "Cuspiu sobre o p" e fz uma singular pomada que aplicou nos olhos fechados do cego, e disse: "Vai lavar-te no tanque de Silo."

    * * * "Lavei-me e comecei a enxergar" narrou o homem aos que o investigavam, colricos. Conheces esse homem? No. Onde se encontra agora? No sei. Que te fz le? J disse: "Aqule homem, chamado Jesus, fz lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: vai a Silo e lava-te; fui, lavei-me e fiquei vendo." E nasceste cego? Sim, todos aqui me conhecem. Uns diziam que era outrem, comigo parecido; no, sou eu mesmo. A ira espuma veneno e a astcia tece a rede das ciladas. Os pais do ex-cego temeram e, tremendo, mandaram que o interrogassem outra vez. Podemos expulsar-te e aos teus da Sinagoga. Eu sei. le um pecador, pois curou num sbado; no vem de Deus, porque desrespeita as Leis de Deus. . . No sei, no sei. "Se um pecador no sei.Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo." " necessrio que faamos a obra do que me enviou, enquanto dia; vem a noite, quando ningum pode trabalhar. Estando eu no mundo, sou a luz domundo." Aqule homem fora lanado fora. Testemunhara a verdade. Preferira o abandone . mentira e o desamparo

  • 39

    iluso. Era cego e agora via e via corretamente. "Crs tu no Filho do Homem?" Interrogou-lhe Jesus ao reencontr-lo. Quem le Senhor, para que eu creia nele' "J o viste, e le quem fala contigo." "Creio, Senhor." (1) Teus olhos vem o Esperado. Rejubila-te. Vs e compreendes. A Natureza parece cantar a msica da sus alegria. O Rabi se alegra, tambm, e fala: "Eu vim a este mundo para um juzo, a finde que os que no vem, vejam; e os que vem se tornem cegos." H duas cegueiras: a dos olhos do corpo e a do esprito. le se d irigiu aos Seus e lhes falou da Sua ligao com o Pai e da cegueira dos que vendo no enxergam porque no distinguem as sombras da luz... Ainda agora os cegos piores no distinguem. Quem pecou? perguntam. O esprito andarilho das estradas do Infinito, seguindo na direo do Amanh, sofrendo em paz e pacincia se recupera e ressarce. Renascer e recomear a vida para se libertar. A luz clareia e penetra, espancando as trevas. Muitos preferem a ignorncia para no carregar a luz da responsabilidade. Jesus a luz do mundo. ... Era um cego de nascena e, no entanto, viu. ... Era outubro e junto ao Templo, prximo piscina de Silo, luz do sol ardente, le se fz a luz do mundo, desde ento, at sempre. Luz do Mundo! (*) Joo 9: 1 a 41. Nota da Autora espiritual. (1) Uma antiga lenda de Provence, na Frana, narra que o nado-cego curado seria mais tarde o Santo Restituto . Nota da Autora espiritual.

  • 40

    10 - O LEGADO DA TOLERNCIA A perene madrugada inebriava aquelas vidas. Dias assinalados pela apoteose da esperana, inundados de amor, em que a cornucpia da misericrdia derramava bnos em abundncia, constituam uma quadra que jamais a Terra experimentara nos seus fastos passados ou voltaria a gozar no futuro... A paisagem dos coraes cada vez se multiplicava pela presena dos aflitos e angustiados que se atropelavam na expectativa de fruir os resultados felizes daqueles momentos, que, talvez, fossem interrompidos logo mais... As conjunturas da poltica dominante e ignominiosa do usurpador estrangeiro produziam sulcos de revolta no solo das almas, e os bajuladores armavam ciladas nas bocas torpes dos representantes da comunidade, procurando pr a perder o Pomicultor Sublime Onde le surgia, semelhana de radiosa luz, atraa necessitados do corpo e da alma. Suas sementes de amor eram espalhadas fartamente em tentativas constantes de futura fecundao abenoada. Os convidados ao colgio da fraternidade, que conviviam na Sua intimidade, armazenavam os gros da vida, aprimorando a terra ntima do esprito para fecund-los oportunamente. No compreendiam, porm, em toda a magnitude a grandeza da Mensagem que le espalhava em fortuna farta. Assim, repontavam cimes em forma de zelo exacerbado, queixas injustificveis, todas essas bagatelas da pequenez humana na plancie das paixes, sem foras para superarem os bices, galgando por fim o planalto da compreenso geral. A Boa Nova seguia triunfalmente e muitos que dela se beneficiavam saam a comunicar a outros coraes o milagre da sua claridade lenificadora. As narraes exaltadas competiam com os dios que explodiam resultantes do despeito gratuito dos comensais da politicagem religiosa e da administrao ingrata.

    * * * Senhor, eis que encontramos um homem pelo caminho que curava em Teu Nome, expulsando Espritos infelizes, revelou, expedito, Joo, retornando de pequena viagem. (*) E que fizeste? Inquiriu Jesus. Repreendemo-lo protestou o discpulo inexperiente. Expusemos que le no tinha o direito de usar o Teu nome, pois que no privava contigo, no formava no grupo dos nossos. E fi-lo, defendendo os nossos objetivos para que os propsitos de elevao em que nos empenhamos no se entorpeam atravs de pessoas incapazes de imprimir prpria vida a excelncia da lio que nostransmite.

  • 41

    Brilhavam em jbilo os olhos do jovem companheiro, excessivamente zeloso quanto ao futuro do Evangelho nascente. Jesus, porm, fitou-o com infinita bondade, admoestando-o, benigno: Fizeste mal; pois todo aquele que no contra ns por ns. "Se algum em meu nome expulsa Espritos maus, asserenando obsessos e acalmando obsessores, cultivando nas almas o plen da sade que se con verte em pomar de tranquilidade, no poder voltar-se contra ns, depois, assacando calnias e no futuro erguendo-nos acusaes. A palavra de amor moeda de paz para aquisio do continente das almas." E desejando expressar de maneira inolvidvel o significado da tolerncia e da caridade, prosseguiu: O servidor do Evangelho deve fiscalizar com sincera acuidade as nascentes ntimas dos sentimentos de modo a cercear no comeo os adversrios cruis, que so o egosmo e o orgulho, a inveja e o cime com toda a corte de nefandos sequazes. . . Os inimigos de fora no conseguem atingir o homem, seno exteriormente, pois que s alcanam a forma, sem lobrigarem mudar a constituio intrnseca do ser. Vinculado ao ideal superior da vida a que se entrega, o discpulo sincero compreende os que dormem no amolecimento das paixes, desculpa os perseguidores e no receia que outros coraes, tambm, fascinados pela luz da verdade, desejem integrar-se no ldimo ideal da solidariedade a benefcio de todos. Dia vir em que a Mensagem da Boa Nova se espalhar pelos mltiplos campos do mundo em formosa semeadura de abnegao, convocando multides ao ministrio excelso. Irmanados no ideal do servio, todos aqueles que nos no combaterem ajudar-nos-o, contribuindo eficientemente para a colheita dos resultados valiosos. Como se se alongasse pelos confins dos tempos, pressentindo as dores acerbas e as lutas rduas pela implantao do Reino de Deus entre os homens, o Mestre concluiu: Irrompero em catadupas violentas os rios do sofrimento, de quando em quando, arrebentando represas e correndo destruidores com o objetivo de esmagar os que estejam frente, em nome das paixes irrefreveis, ou em caudais contnuas ameaando arrastar os que teimem em suportar-lhes o mpeto. .. Eu estarei vigilante, porm, acima das vicissi-tudes, socorrendo os timoneiros da f e recolhendo os nufragos... No entanto, as desagregaes internas, as disputas intestinas pela supremacia de uns em detrimento de outros, as lutas pela herana, esgrimindo as armas nefastas das guerras surdas e as intrigas sutis, sero mais danosas do que as agresses que procedam do mundo contra o nosso ideal de amor... "Interliguem-se todos aqueles que sonham com a imortalidade, os que me amam, afastando barreiras e derrubando obstculos para que mais rapidamente se implantem as realidades do amor e do perdo no solo das vidas... "Ningum se escandalize nunca, por encontrar fora da grei o mensageiro da sade, o intermedirio do bem, porque aparentemente estejam desvinculados das linhas conhecidas do servio.

  • 42

    "Meu Pai dispe de recursos que nos escapam e como o Autor de tudo e de todos, cumpra cada um irrestritamente com o seu dever, transferindo para le, o Senhor de todos ns, os resultados do nosso trabalho." Silenciou, tranquilo, e uma aragem de confraternizao penetrou melhor nos homens que O escutavam, no reduzido grupo da amizade, como se avaliassem as responsabilidades que lhes cabiam. Face ao dever maior, a tolerncia medida de justo progresso, tradutora das conquistas realizadas pelo discpulo fiel e afervorado da Verdade, no servio redentor. (*) Marcos 9:38 a 42.

    Nota da Autora espiritual.

  • 43

    11 - MULTIDO DE SOFRIMENTOS Sempre estava Jesus cercado pela multido. Entardecia... A multido representava as enfermidades e mazelas que Lhe eram conduzidas pelos magotes humanos, assinalados pela dor. Em todos os tempos o sofrimento a cobrana do pretrito culposo dos atormentados em lapidao benfica para a prpria redeno, em clima de urgncia. A lepra, ingrata e hedionda, procede do esprito que exterioriza a degenerescncia dos tecidos sutis, exsudando as misrias ntimas na faina incessante da purificao. Assim a cegueira e a surdez, a paralisia e a mudez, o cncer e tantos outros suplcios expressam o limite imposto ao devedor na faculdade cujo uso foi mal aplicado, fazendo o ser calceta em si mesmo, carecente de imediata reparao. A falta do rgo ou membro, a desarmonia da faculdade ou funo representam sempre a cobrana que chega em forma de controle e educao, predispondo o ser para a liberdade. E como a dor tem sido a caracterstica da vida humana, Jesus estava sempre cercado pela multido. Eram os atormentados de ontem ora envergando as marcas e manchas do passado, na condio de atormentados atuais, buscando, sequiosos, a gua lustral do Evangelho do Reino, para lavarem as imundcies da imperfeio. Cercado pela multido le abria os braos e descerrava os lbios, socorrendo e falando... A voz modulada em musicalidade divina derramava lies de vida em urgente profilaxia, de modo a que todo aquele que pudesse recuperar-se no tornasse aos erros trnsatos, a fim de no se acumpliciar com o crime, do que decorre sempre mais graves e danosos compromissos. E as mos misericordiosas libertavam das amarras limitadas do padecimento, facultando agilidade e meios de crescimento superior aos beneficiados. A multido buscava-O sempre ansiosa... Dos Seus lbios recolhia prolas em luz, gemas em claridade incomparvel para iluminar a senda de percalos e pedrouos. E das Suas mos recebia o vigor em ddivas de sade, que renovavam as peas gastas e os implementos orgnicos em desconsrto, produzindo o refazimento e a paz. Amava-O a multido; ao menos necessitava d'le avidamente e O seguia.

    * * * Comeava o ministrio entre expectativas e ansiedades. Quantas vezes Israel tivera outros profetas!

  • 44

    Procediam de todos os rinces e se caracterizavam no raro, pela severidade e aspereza dos conceitos que, semelhantes a ltego em brasa punitiva, azorragavam com doestos e ameaavam com longas e penosas correes... H pouco escutara-se a Voz do Batista e a sua figura austera derramava o verbo abrasador, conclamando ao arrependimento e ao aproveitamento da hora, antes que se fizesse tarde. le, porm, Aqule suave Rabi, era a mansuetude e a abnegao. Quando o semblante se Lhe fazia grave, a meiguice e a dor exteriorizavam todo o Seu amor e ao mesmo tempo refletia as Suas esperanas, penetrando no porvir, em cujo curso incessante dos tempos o homem encontraria a paz... Era o ms de Nisan. A tarde caa suave e calma. A notcia da cura da sogra de Simo, cuja febre repreendida pelos Seus lbios se evadira, atraia a multido dos necessitados. Carreados por ventos brandos, aromas sutis balsamizavam a tarde em festa de luz. A praia amiga, referta de esperanas, suspirando nos coraes ansiosos dos homens, ali representava todos os tempos: o ontem e o amanh da dor perseguindo a paz... le aproximou-se e comeou a curar. Luz Divina em sombra densa, Sua aura reativava as foras fracas, recompondo os desgastes e desalinhos dos infelizes. O espetculo da alegria espontnea explodindo, comovia, e a reconstruo da sade ante o olhar esgaseado de surpresa dos comensais do sofrimento, a rearticulao das faculdades psquicas dos antes atormentados, os espritos imundos expulsos pelo Seu magnetismo fascinavam, e, num crescendo, avolumavam-se as emoes Sua volta. .. (*) As vozes extremunhadas dos obsessores desligados das vtimas, gritavam: "Tu s o Filho de Deus!" le, porm, sereno e pulcro, respondia: "Eu vos probo de falar. Afastai-vos daqui . . ." No desabrochar natural das alegrias, uma pausa fz-se espontnea durante o sublime repasto da esperana. le, ento, falou com eloquncia e magnitude: . Todos os males promanam do esprito. Tende tento! "O esprito a fonte gentil e abundante onde nascem a enfermidade e a sade, o destino e o porvir de cada ser, conforme se acumulam nas nascentes os atos que padronizam as futuras necessidades. Enquanto o homem no mergulhar na intimidade_dos seus problemas para solucion-los luz da razo e do amor, no conseguir o lenitivo da

  • 45

    harmonia. "Sois o "sal da Terra". O valor dele mantido enquanto conserva o sabor. "Sois a luz" da oportunidade, enquanto marchardes espargindo bnos e distribuindo esperanas. "Deus, Nosso Pai, o Criador, mas o homem, ascendendo, o autor da sua dita ou desgraa. "Inutilmente buscareis fora a sade se no a mantiverdes retida no mago do esprito, cuja perda se transforma em incessante aflio e maior tormento. "A sade, a seu turno, oportunidade de evoluo e de responsabilidade para com a vida. "Buscai antes o amor e fazei todo o bem possvel, para vos conservardes em paz. O amor a candeia acesa e o bem o combustvel que a mantm. "Pacificai-vos para que vos conduzais em esprito de sabedoria, fazendo longos e proveitosos os vossos dias de jbilo na Terra e felizes, mais tarde, nos Cus." Clara manh. Sua presena apagava a noite sugando-a com beijos de luminosidade libertadora. E por onde andava, l estava a multido aflita e le prosseguia disseminando a sade, por ser o Excelente Mensageiro da Vida. Ao longe o sol declinava, caindo alm dos montes, adornando a paisagem de ouro fulgurante no ar, e todos, tocados pela Sua misericrdia, os antes aflitos, debandaram na direo do lar, deixando a meditar, em profundo recolhimento sob o fulgor das primeiras estrelas, o Filho do Altssimo.. . (*) Lucas 5:40-41. Nota da Autora espiritual.

  • 46

    12 - EPHPHATHA ABRE-TE! Ecoava pelas serranias a bno da cura produzida na mulher canania, qual raio de inesperada luz que atingisse demorada noite que dominava os habitantes de Tiro. Face ao inusitado fenmeno, uma compreenso nova comeou a dilatar o entendimento daquelas gentes ante o fato irretorquvel da divina interferncia, que a todos comovera. Era, porm, mister que le conduzisse a mensagem por toda parte, pois que para isso viera. Deixou, portanto, as alturas da montanha e comeou a descer, buscando as paisagens queridas do Lago como para refazer-se das demoradas fadigas. Na longa jornada frura com os amigos a necessria comunho com o Alto. Todavia, deveria prosseguir no ministrio sublime da sementeira da esperana. Os tecidos gastos que se refaziam ao contato das Suas mos voltariam a disjuntar-se, pois que todos os homens marcham inexoravelmente para o tmulo. Por mais longos e demorados sejam os dias do ser na Terra, cada etapa reencarnatria sempre breve perodo que faculta aprendizagem mas no realiza todo o trabalho de sublimao num s lance. Imprescindvel, portanto, conceder aos homens os instrumentos de libertao definitiva das amarras infelizes para facultar a ascenso dos candidatos em experincias necessrias quo dolorosas. Por essa razo, a palavra de vida tinha regime de urgncia, por transformar-se em fonte de incomparveis benefcios, de cujas consequncias o homem galgaria os degraus superiores, na busca da felicidade e da paz. Vivendo entre os homens permitia-se o Mestre sentimentos que O nivelavam aos companheiros, de modo a fazer-se um igual, conquanto a Sua elevao incomparvel de Sublime Guia e Benfeitor de todos. Cercava-se dos amigos e ofertava-lhes os tesouros incalculveis da esperana na Vida Espiritual, lenindo-lhes todas as aflies e enxugando-lhes os suores pesados com o leno da ternura e os panos da amizade pura. Atendia s rogativas das mes aflitas ante os esquifes dos filhos adormecidos em catalepsia profunda; auscultava os sentimentos de dor e de angstia, tentando diminuir a mgoa e o medo; acudia solicitao infantil; dialogava com os comensais da usura e da delao observando-lhes os abismos ntimos entulhados de treva; remendava corpos di-lacerados, abrindo olhos e ouvidos, desvinculando das criaturas os espritos imundos, mas tudo isto no era o essencial... Sua compaixo socorria, consoladora, as mazelas humanas a fim de sustentar os lutadores e aflitos, no obstante, cuidasse de que cada um dos beneficiados no voltasse aos erros, de modo a se defenderem de males muito maiores. Penetrar nas paisagens das almas e clarific-las; arranc-las do potro do dio e das

  • 47

    algemas do orgulho; quebrar todos os grilhes com o pretrito culposo e fazer brilhar a luz da confiana nova eis . o ministrio maior a que le dava o seu mais expressi