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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
ASSOCIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO RIO GRANDE DO SUL – AMPRS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita junto
ao CNPJ/MF sob o nº 87.027.595/0001-57, com sede na Av.
Aureliano de Figueiredo Pinto, 501, Porto Alegre, RS, vem, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador firmatário, ut instrumento de mandato em anexo (Doc. 01),
impetrar o presente
MANDADO DE SEGURANÇA
COLETIVO PREVENTIVO (com pedido liminar)
contra atos que se encontram na iminência de serem praticados pelo Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul, pelo Diretor-Presidente do Instituto de Previdência do
Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS e pelo Diretor de Previdência do Instituto de Previdência do Estado do Rio
Grande do Sul-IPE/RS, sendo que a primeira autoridade impetrada integra a estrutura do Estado do Rio Grande do Sul e as demais integram a estrutura da autarquia estadual
Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul-IPE/RS, fazendo-o com fulcro no Artigo 5°, LXIX, da CF/88, e na Lei n° 12.016/09, com base nos fundamentos de fato e de
direito que passa a expor:
I. DOS FATOS:
A Impetrante possui, consoante se depreende de seu estatuto
(Doc. 02), dentre suas finalidades institucionais, a função de “representar seus
associados, judicial e extrajudicialmente, na defesa de seus direitos e interesses,
perante qualquer instância administrativa ou jurisdicional, independentemente de
autorização de assembleia”.
2
De acordo com o entendimento da autoridade impetrada, que
através da Resolução IPE/RS nº 416/2017 (Doc. 03) regulamentou o Art. 5º, da
Lei Complementar/RS nº 14.967/2016 (Doc. 04), estaria vedada a percepção
cumulativa do benefício de pensão por morte com outra pensão por morte, pensão
especial, vencimento, remuneração, salário, soldo, proventos de inatividade,
subsídio ou com qualquer outra espécie remuneratória, dos ocupantes de cargos,
funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional,
dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos,
bem como dos militares.
Segundo o entendimento da Administração, a vedação de
percepção cumulativa deve observar, como limite único, o subsídio mensal dos
Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
Importante esclarecer, desde já, que o presente Mandado de
Segurança Coletivo Preventivo não visa à declaração direta da
inconstitucionalidade da Resolução IPE/RS nº 416/2017 e/ou do Art. 5º, da Lei
Complementar/RS nº 14.967/2016. Isso não seria juridicamente viável, seja pelo
sistema atual de controle de constitucionalidade das leis, seja em face enunciado
da Súmula 266, do STF.
Endereça-se o presente writ contra os atos administrativos que
se encontram na iminência de aplicar tais preceitos, os quais hão de ser
incidentalmente declarados inconstitucionais, evitando-se que as Associadas da
Impetrante sofram indevidamente o denominado “estorno teto constitucional”, a que
se refere o Art. 4º, da Resolução IPE/RS nº 416/2017.
3
No caso específico dos autos, objetiva-se prevenir e, se for o
caso, reparar a violação o direito líquido e certo de Associadas da Impetrante,
legitimando-se, pois, o emprego do presente Mandado de Segurança.
Em se tratando de Mandado de Segurança Preventivo, ainda
não há propriamente um ato administrativo a ser impugnado, mas, sim, um justo
receio de sua consumação, de acordo com o já anunciado na Resolução nº
416/2017, publicado no Diário Oficial do dia 18/05/2017, já em vigor:
Esclareça-se que o endereçamento do presente Mandado de
Segurança menciona como autoridade impetrada, de um lado, o Exmo. Sr.
4
Governador do Estado do Rio Grande do Sul, porquanto claramente se trata de
autoridade administrativa dotada de poder decisório sobre temas referentes a
questão que se faz objeto da presente demanda, nos termos de precedentes deste
colendo Órgão Especial (v.g. 70.066.912.254 e 70.066.247.156). De outro, o
endereçamento do writ em desfavor do Diretor-Presidente e do Diretor de
Previdência do IPE/RS, fundamenta-se, respectivamente, no Art. 13, da Lei
Estadual 12.395/2005 c/c Art. 12, do Decreto 47.420/2010, e no Art. 16 da Lei
Estadual 12.395/2005 c/c Art. 21, do Decreto 47.420/2010.
Diante do relatado, com o escopo de prevenir a iminente
violação de direito líquido e certo dos associados da entidade Impetrante é que o
presente writ de índole coletiva é impetrado, o qual é fundamentado pelos
argumentos a seguir esposados.
II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA IMPETRAÇÃO:
Vários são os fundamentos que escoram a pretensão da
Impetrante, os quais serão invocados de modo sucessivo e articulado.
O cerne da controvérsia trazida nos autos consiste em saber se
o abate-teto, decorrente da aplicação do Art. 37, XI, da CF/88, reproduzido na Lei
Complementar/RS nº 14.967/2016 e na Resolução nº 416/2017 deve incidir
individualmente sobre os valores recebidos pelas Associadas da Impetrante ou
sobre o somatório de ambos os benefícios.
De início, há de ser salientado que o Art. 5º, da Lei
Complementar/RS nº 14.967/2016, em nada inovou no ordenamento jurídico
Pátrio, porquanto tal dispositivo é a reprodução parcial do Art. 37, XI, da
Constituição Federal:
5
Lei Complementar/RS nº 14.967/2016:
Art. 5º. A percepção cumulativa do benefício
pensão por morte com subsídio, vencimentos,
salários, proventos de inatividade ou outra
espécie remuneratória deverá observar, em
qualquer caso, o limite único estabelecido no
art. 33, § 7º, da Constituição do Estado, para
fins de observância do disposto no art. 37, § 12,
da Constituição Federal.
Constituição Federal
Art. 37. (...)
XI - a remuneração e o subsídio dos ocupantes
de cargos, funções e empregos públicos da
administração direta, autárquica e
fundacional, dos membros de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, dos detentores de
mandato eletivo e dos demais agentes políticos
e os proventos, pensões ou outra espécie
remuneratória, percebidos cumulativamente ou
não, incluídas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, não poderão exceder
o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como
limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e
nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio
mensal do Governador no âmbito do Poder
Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais
e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o
subsídio dos Desembargadores do Tribunal de
Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e
cinco centésimos por cento do subsídio mensal,
em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal
Federal, no âmbito do Poder Judiciário,
aplicável este limite aos membros do Ministério
Público, aos Procuradores e aos Defensores
Públicos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41, 19.12.2003)
Verifica-se, pois, que a legislação estadual, ainda que de forma
mais concisa, reproduz a norma constitucional.
Ocorre que, e este é um dos argumentos centrais do presente
Mandado de Segurança, quanto à interpretação a ser dada ao referido Art. 37, XI,
da CF, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, em sua composição plenária, teve a
oportunidade de se manifestar no sentido de que OS PROVENTOS DECORRENTES
DO EXERCÍCIO DE CARGO PÚBLICO E A PENSÃO POR MORTE DEVEM SER
INDIVIDUALMENTE CONSIDERADOS:
6
“AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE SEGURANÇA. TETO
CONSTITUCIONAL. ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE
APOSENTADORIA COM VALORES DE PENSÃO POR MORTE DE
CÔNJUGE. FATOS GERADORES DIVERSOS. REPERCUSÃO GERAL DA
MATÉRIA RECONHECIDA NO RE 602.584/DF, PENDENTE DE
JULGAMENTO. LESÃO À ECONOMIA PÚBLICA NÃO EVIDENCIADA.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (Ag. Reg. na
Suspensão de Segurança nº 5.017/SP, Plenário do Supremo Tribunal
Federal, julgado em 19/08/2015)
Do acórdão proferido no Ag. Reg. na Suspensão de Segurança
nº 5.017/SP, cuja ementa foi acima colacionada, a Impetrante pede vênia para
transcrever trecho da fundamentação do voto, o qual é aqui invocado para
subsidiar a impetração:
“A Procuradoria-Geral da República reconheceu a competência do Supremo
Tribunal Federal para o julgamento do pedido, e opinou pelo indeferimento
da suspensão, nos seguintes termos:
Transparece do texto constitucional que o teto aplica-se a parcelas de
natureza remuneratória, ou seja, aos valores pagos ao servidor como
contraprestação pelos serviços prestados à Administração.
(...)
Esclareça-se que a referência constitucional aos proventos e pensões
como submetidos ao limite remuneratório há que ser compreendida como
restrita às situações em que seja possível a identificação do vínculo
jurídico entre o servidor e o Estado. Não é o que ocorre na espécie,
relativa a pensão instituída pelo falecido esposo da interessada.
Esse entendimento, aliás, justifica-se também pela própria finalidade do
teto constitucional, voltado à garantia da isonomia e da moralidade na
Administração, em nada afetadas, a toda evidência, pelo pagamento de
valor pecuniário decorrente de título distinto de qualquer liame
funcional da servidora com o Poder Público.
Na ocasião do julgamento do Recurso Especial Eleitoral 25.129/GO, pelo
Tribunal Superior Eleitoral, assentou o Ministro AYRES BRITTO:
(...)
4. Bem vistas as coisas, acompanho a conclusão do Ministro relator. É
que a pretensão da União, ora recorrente, esbarra no entendimento do
Tribunal Superior Eleitoral de que, no cálculo do limite remuneratório
constitucional a ser aplicado na percepção cumulativa de subsídios,
remuneração ou proventos, com pensão decorrente de falecimento de
cônjuge ou companheiro, as verbas deverão ser consideradas
individualmente, por se originarem em fatos geradores diversos, inclusive
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aquelas pagas pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS,
viabilizadas restituições das retenções anteriormente efetivadas (grifei PA
n° 19.458/DF, rel. Min. Cezar Peluso). Em outras palavras, na linha da
jurisprudência desta Corte Eleitoral, não há óbice algum a que a soma
dos valores percebidos a título de pensão por morte e de aposentadoria
ultrapasse o teto constitucional, ainda que seja paga pela mesma pessoa
jurídica de direito público.
5. Convergentemente, é como entende o Conselho Nacional de Justiça,
bem como o Tribunal de Contas da União, respectivamente in verbis:
Art. 2º Estão sujeitas aos tetos remuneratórios previstos no art. 1º as
seguintes verbas:
(...)
Parágrafo único. Para efeito de percepção cumulativa de subsídios,
remuneração ou proventos, juntamente com pensão decorrente de
falecimento de cônjuge ou companheira(o) observar-se-á o limite fixado
na Constituição Federal como teto remuneratório, hipótese em que
deverão ser considerados individualmente. (Parágrafo acrescentado pela
Resolução n° 42 - DJ 14.09.2007)’ (grifei - artigo 2º da Resolução n°
14/2006). Consulta. Percepção simultânea de benefício de pensão com
remuneração de cargo efetivo ou em comissão e de benefício de pensão
com proventos de inatividade. Conhecimento. Resposta no sentido de que
não incide o teto constitucional sobre o montante resultante da
acumulação de benefício de pensão com remuneração de cargo efetivo ou
em comissão, e sobre o montante resultante da acumulação do benefício
de pensão com proventos da inatividade, em face do que dispõem os arts.
37. XI (redação dada pela Emenda Constitucional n ° 41/2003) e 40. § 11.
da Constituição Federal (redação dada pela Emenda Constitucional n°
20/1998). Ciência da deliberação à autoridade consulente. Arquivamento
(grifei Consulta n° 2.079/2005, rel. Min. Ubiratan Aguiar).
6. Penso que tal entendimento é o que melhor reflete a própria natureza
jurídica da pensão por morte, destinada, como sabido, a assegurar tanto
quanto possível a continuidade dos ganhos mensais de um dado núcleo
familiar. Impedindo acentuados desfalques, portanto, no padrão de
rendimentos a que se habituara um dado núcleo doméstico. Núcleo
doméstico para cuja sustentação econômicofinanceira habitual
concorria, de fato, o ganho mensal da pessoa que veio a falecer. Donde
a compreensão de que investimentos, dívidas e despesas normalmente
programadas a partir da renda global doméstica ficariam severamente
comprometidos com o desfalque dos ganhos mensais do membro
familiar falecido. Somando-se, então, e por modo perverso, a definitiva
perda afetiva de tal membro e a queda do padrão de vida dos familiares
remanescentes.”
8
O teto constitucional, portanto, deve incidir em separado sobre
os proventos de aposentadoria/remuneração e de pensão porque são benefícios de
origens e naturezas diversas.
Da norma disposta no Art. 37, XI e do Art. 40, caput e § 11,
ambos da Constituição Federal, extrai-se o significado de que a previdência do
servidor público tem caráter contributivo, inclusive prevendo contribuição dos
inativos para o sistema.
Deste caráter contributivo, como já salientou o CONSELHO
NACIONAL DE JUSTIÇA, decorre que a pensão por morte é direito legítimo do
beneficiário, na medida em que o cônjuge falecido e o aposentado/ativo
contribuíram/contribuem para o sistema. Confira-se:
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. REGIME PREVIDENCIÁRIO. PERCEPÇÃO
CONJUNTA, POR MAGISTRADO OU SERVIDOR, DE PENSÃO E
REMUNERAÇÃO, SUBSÍDIO OU PROVENTO. HIPÓTESE
EXCEPCIONAL QUE NÃO SE SUBMETE À DISCIPLINA INSCRITA NO
INCISO XI DO ART. 37 DA CF. Diante da natureza contributiva do regime
previdenciário da Administração Pública (art. 40 da CF), a pensão por morte
regularmente instituída constitui direito legítimo do beneficiário, pouco
importando a existência concomitante ou pregressa de vínculo funcional
entre este e a Administração Pública. Deve, por isso, ser preservada a
percepção simultânea de pensão com outras espécies remuneratórias,
observando-se, contudo, sobre qualquer dessas espécies remuneratórias, o
teto máximo previsto no Texto Constitucional (art. 37, inciso XI). (PP/CNJ nº
445, Relator Conselheiro DOUGLAS ALENCAR RODRIGUES, DJ
7/7/2006).
Na mesma esteira já se manifestou o SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA, nos autos do Recurso em Mandado de Segurança nº 30.880, que:
“A imposição de teto ao somatório da aposentadoria com a pensão por
morte, em se tratando de regime contributivo, insisto, implica inegável
enriquecimento indevido dos cofres públicos.
9
Há aqui um aspecto de segurança jurídica a ser observado.
O servidor contribui ao longo de toda a sua carreira para o sistema
previdenciário na justa expectativa de que será amparado em sua velhice
ou na de que sua família será amparada na sua ausência. Não me parece
legítimo que o Estado se aproprie dessas contribuições porque elas
merecem a retribuição esperada(...)”
De outro lado, além dos fundamentos acima invocados,
somam-se outros para subsidiar a concessão da segurança.
Refira-se, neste particular, o recentíssimo julgamento do
Supremo Tribunal Federal, nos autos do RE 602.043, com Repercussão Geral.
In verbis:
“Decisão: O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, vencido
o Ministro Edson Fachin, apreciando o tema 384 da repercussão geral,
negou provimento ao recurso e fixou a seguinte tese de repercussão geral:
"NOS CASOS AUTORIZADOS CONSTITUCIONALMENTE DE
ACUMULAÇÃO DE CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES, A
INCIDÊNCIA DO ART. 37, INCISO XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
PRESSUPÕE CONSIDERAÇÃO DE CADA UM DOS VÍNCULOS
FORMALIZADOS, AFASTADA A OBSERVÂNCIA DO TETO
REMUNERATÓRIO QUANTO AO SOMATÓRIO DOS GANHOS DO
AGENTE PÚBLICO". Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia.
Plenário, 27.4.2017.”
Considerando que o acórdão ainda não foi publicado, a
Impetrante pede vênia para colacionar o INFORMATIVO STF Nº 862, relativo ao
referido RE 602.043/RG:
“Acumulação de cargo público e ‘teto’ remuneratório
Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos,
empregos e funções, a incidência do art. 37, XI (1), da Constituição Federal
(CF) pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados,
afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos
ganhos do agente público.
10
Com base nesse entendimento, o Plenário, em julgamento conjunto e por
maioria, negou provimento a recursos extraordinários e reconheceu a
inconstitucionalidade da expressão “percebidos cumulativamente ou não”
contida no art. 1º da Emenda Constitucional (EC) 41/2003, que alterou a
redação do art. 37, XI, da CF, considerada interpretação que englobe
situações jurídicas a revelarem acumulação de cargos autorizada
constitucionalmente.
Além disso, declarou a inconstitucionalidade do art. 9º da EC 41/2003 (2),
para afastar definitivamente o art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias (ADCT) (3), por já ter surtido efeitos na fase de transformação
dos sistemas constitucionais — Cartas de 1967/1969 e 1988 —, excluída a
abrangência a ponto de fulminar direito adquirido.
No caso, os acórdãos recorridos revelaram duas conclusões principais: a)
nas acumulações compatíveis com o texto constitucional, o que auferido em
cada um dos vínculos não deve ultrapassar o teto constitucional; e b)
situações remuneratórias consolidadas antes do advento da EC 41/2003 não
podem ser atingidas, observadas as garantias do direito adquirido e da
irredutibilidade de vencimentos, porque oponíveis ao poder constituinte
derivado.
O Colegiado afirmou que a solução da controvérsia pressupõe interpretação
capaz de compatibilizar os dispositivos constitucionais em jogo, no que
aludem ao acúmulo de cargos públicos e das respectivas remunerações,
incluídos os vencimentos e proventos decorrentes da aposentadoria,
considerados os preceitos atinentes ao direito adquirido (CF, art. 5º, XXXVI)
e à irredutibilidade de vencimentos (CF, art. 37, XV).
Ressaltou que a percepção somada de remunerações relativas a cargos
acumuláveis, ainda que acima, no cômputo global, do patamar máximo, não
interfere nos objetivos que inspiram o texto constitucional. As situações
alcançadas pelo art. 37, XI, da CF são aquelas nas quais o servidor obtém
ganhos desproporcionais, observadas as atribuições dos cargos públicos
ocupados. Admitida a incidência do limitador em cada uma das matrículas,
descabe declarar prejuízo à dimensão ética da norma, porquanto mantida a
compatibilidade exigida entre trabalho e remuneração.
Assentou que as possibilidades que a CF abre em favor de hipóteses de
acumulação de cargos não são para benefício do servidor, mas da
coletividade. Assim, o disposto no art. 37, XI, da CF, relativamente ao teto,
não pode servir de desestímulo ao exercício das relevantes funções
mencionadas no inciso XVI (4) dele constante, repercutindo, até mesmo, no
campo da eficiência administrativa.
11
Frisou que a incidência do limitador, considerado o somatório dos ganhos,
ensejaria enriquecimento sem causa do Poder Público, pois viabiliza
retribuição pecuniária inferior ao que se tem como razoável, presentes as
atribuições específicas dos vínculos isoladamente considerados e respectivas
remunerações. Ademais, essa situação poderá potencializar situações
contrárias ao princípio da isonomia, já que poderia conferir tratamento
desigual entre servidores públicos que exerçam idênticas funções. O preceito
concernente à acumulação preconiza que ela é remunerada, não admitindo
a gratuidade, ainda que parcial, dos serviços prestados, observado o art. 1º
da CF, no que evidencia, como fundamento da República, a proteção dos
valores sociais do trabalho.
Enfatizou que o ordenamento constitucional permite que os ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) acumulem as suas funções com aquelas
inerentes ao Tribunal Superior Eleitoral (CF, art. 119), sendo ilógico supor
que se imponha o exercício simultâneo, sem a correspondente contrapartida
remuneratória. Da mesma forma, os arts. 95, parágrafo único, I, e 128, § 5º,
II, “d”, da CF veiculam regras quanto ao exercício do magistério por juízes
e promotores de justiça, de maneira que não se pode cogitar, presente o
critério sistemático de interpretação, de trabalho não remunerado ou por
valores inferiores aos auferidos por servidores que desempenham, sem
acumulação, o mesmo ofício. Idêntica orientação há de ser observada no
tocante às demais circunstâncias constitucionais de acumulação de cargos,
empregos e funções públicas, alusivas a vencimento, subsídio, remuneração
oriunda do exercício de cargos em comissão, proventos e pensões, ainda que
os vínculos digam respeito a diferentes entes federativos.
Consignou que consubstancia direito e garantia individual o acúmulo tal
como estabelecido no inciso XVI do art. 37 da CF, a encerrar a prestação de
serviços com a consequente remuneração, ante os diversos cargos
contemplados, gerando situação jurídica na qual os valores devem ser
recebidos na totalidade.
O teto remuneratório não pode atingir, a partir de critérios introduzidos por
emendas constitucionais, situações consolidadas, observadas as regras
preexistentes, porque vedado o confisco de direitos regularmente
incorporados ao patrimônio do servidor público ativo ou inativo (CF, arts.
5º, XXXVI, e 37, XV).
Essa óptica deve ser adotada quanto às ECs 19/1998 e 41/2003, no que
incluíram a expressão “percebidos cumulativamente ou não” ao inciso XI do
art. 37 da CF.
Cabe idêntica conclusão quanto ao art. 40, § 11, da CF, sob pena de criar
situação desigual entre ativos e inativos, contrariando preceitos de
envergadura maior, entre os quais a isonomia, a proteção dos valores sociais
12
do trabalho — expressamente elencada como fundamento da República —, o
direito adquirido e a irredutibilidade de vencimentos.
As aludidas previsões limitadoras, a serem levadas às últimas consequências,
além de distantes da razoável noção de teto, no que conduz, presente
acumulação autorizada pela CF, ao cotejo individualizado, fonte a fonte,
conflitam com a rigidez constitucional decorrente do art. 60, § 4º, IV, nela
contido.(...)”
Ora, se o STF entendeu que em casos de cargos acumuláveis
legitimamente, o teto previsto no Art. 37, XI, da CF há de ser considerada
separadamente, por vínculo funcional, maior razão ainda no caso de acumulação
de pensão com proventos ou remuneração. Isso porque se o STF considera tetos
separados em casos de contraprestações pecuniárias de mesma natureza, com
maior razão há de fazê-lo em relação a verbas de índole diversa.
Desta forma, voltando-se as atenções para o caso dos autos, é
plenamente legítimo e constitucional o isolamento dos valores percebidos a títulos
distintos, fazendo incidir individualmente o teto constitucional.
A interpretação que deve ser extraída do Art. 37, XI e do Art.
40, § 11, ambos da CF/88, do Art. 5º, da Lei Complementar/RS nº 14.967/2016 e
da Resolução 416/2017 é no sentido de que, para efeito da incidência do teto
remuneratório, o abate-teto deve considerar cada benefício individualmente, e não
o somatório de ambos.
III. DA LIMINAR:
Requer a Associação Impetrante seja, nos termos do disposto
no Artigo 7°, III, da Lei n° 12.016/09, deferida liminarmente a tutela de urgência
para que, em caráter preventivo, seja expedido mandamento para que ocorra o
isolamento dos valores percebidos a títulos distintos, fazendo incidir
13
individualmente o teto constitucional, mantendo-se a situação fática existente até
a entrada em vigor da Resolução nº 416/2017.
No caso em análise, percebe-se que as condições necessárias à
concessão do pleito liminar encontram-se implementadas.
A plausibilidade das alegações, espera-se, decorre dos
argumentos esposados na presente demanda, da documentação que a aparelha
(prova pré-constituída) e do posicionamento jurisprudencial retratado.
Outrossim, em razão do caráter alimentar da verba discutida
nos presentes autos, deve ser considerado em prol da Impetrante e de suas
Associadas o fato de que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a repercussão
geral da matéria no RE 602.584/DF, pendente de julgamento, conforme ementa:
“TETO REMUNERATÓRIO INCIDÊNCIA SOBRE O MONTANTE
DECORRENTE DA ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS DE
APOSENTADORIA E PENSÃO ARTIGO 37, INCISO XI, DA CARTA
FEDERAL E ARTIGOS 8º E 9º DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº
41/2003. Possui repercussão geral a controvérsia sobre a possibilidade de,
ante o mesmo credor, existir a distinção do que recebido, para efeito do teto
remuneratório, presentes as rubricas proventos e pensão, a teor do artigo 37,
inciso XI, da Carta da República e dos artigos 8º e 9º da Emenda
Constitucional nº 41/2003.”. (RE nº 602.584, Rel. Min. MARCO AURÉLIO,
DJe de 25.2.2011)
O risco de não se tutelar a pretensão liminar da Impetrante
afigura-se igualmente evidente, no sentido de que se relegar tal asseguração
somente para quando do julgamento meritório acarretará, além da manutenção da
violação do direito líquido e certo, dada a natureza alimentar dos proventos em
questão, há a possibilidade de dano inverso, porquanto reduzirá a renda da
unidade familiar, com comprometimento severo do padrão de vida da família.
14
Estes, portanto, os fundamentos da impetração.
IV. DOS PEDIDOS:
DIANTE DO EXPOSTO, requer a Impetrante:
a) seja, nos termos do Artigo 7°, III, da Lei n° 12.016/09, inaldita altera parte, deferida a
liminar para, em sede de tutela preventiva, ser mantida a situação fática existente até a
entrada em vigor da Resolução IPE/RS nº 416/2017 – sem redução da pensão –, mediante
a expedição de mandamento para que ocorra o isolamento dos valores percebidos a títulos
distintos, fazendo incidir individualmente o teto constitucional sobre cada rubrica, até o
julgamento final de mérito;
b) sejam notificadas as autoridades impetradas para apresentarem as informações que
julgarem necessárias para a elucidação do presente writ, nos termos do Artigo 7°, I, da Lei
n° 12.016/2009;
c) seja notificado o órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada –
Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos do Art. 7º, II, da Lei nº
12.016/2009;
d) seja intimado o ínclito representante do Ministério Público Estadual para que se manifeste,
nos termos do Art. 12, da Lei n° 12.016/2009;
e) por fim, que seja concedida a ordem para os efeitos de, declarando-se que o Art. 37, XI, da
CF/88 incide separada e individualmente nas pensões e nas outras parcelas percebidas a
títulos de proventos ou remuneração/subsídio, ser determinado que as autoridades
impetradas se abstenham de promover quaisquer cortes ou estornos a título de teto
remuneratório em decorrência de percepção simultânea de pensão ou outras parcelas
dotadas de natureza diversa (proventos, remunerações, subsídios etc).
Atribui-se à causa, para fins fiscais, o valor simbólico de R$ 10.000,00.
Termos pelos quais,
Requer e espera deferimento. Porto Alegre, 19 de maio de 2017.
RAFAEL DA CÁS MAFFINI BRUNO ROSSO ZINELLI
OAB/RS N° 44.404 OAB/RS 76.332