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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO. QUALIFICAÇÃO AUTOR + ADVOGADOS, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR com fundamento no artigo 5º, LXIX da Constituição Federal e Artigo 1º e 7º, III da Lei 12.016/09 contra ato coator praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil, pertencente ao órgão da Secretaria da Receita Federal do Brasil, ligada a União Federal, pessoa jurídica de direito público, com sede na Avenida Alameda Santos, 647, 15º Andar, Cerqueira César, São Paulo SP, CEP: 01419001, e-mail [email protected], pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. I - FATOS Trata-se de processo de arrolamento realizado pela Receita Federal do Brasil, em razão de auto de infração emanado pela autoridade indicada, por suposta divergências com relação à base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Física do impetrante. A Receita Federal realizou procedimento administrativo prévio, e lavrou sem antes findar o julgamento de processo administrativo interposto pelo autor, o mencionado auto de infração.

MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO COM PEDIDO DE … · mandado de seguranÇa repressivo com pedido de medida liminar com fundamento no artigo 5º, LXIX da Constituição Federal e

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA JUSTIÇA FEDERAL

DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO.

QUALIFICAÇÃO AUTOR + ADVOGADOS, impetrar

MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO COM PEDIDO DE MEDIDA LIMINAR

com fundamento no artigo 5º, LXIX da Constituição Federal e Artigo 1º e 7º, III da Lei

12.016/09 contra ato coator praticado pelo Delegado da Receita Federal do Brasil,

pertencente ao órgão da Secretaria da Receita Federal do Brasil, ligada a União Federal,

pessoa jurídica de direito público, com sede na Avenida Alameda Santos, 647, 15º Andar,

Cerqueira César, São Paulo – SP, CEP: 01419001, e-mail

[email protected], pelos motivos de fato e de direito a seguir

aduzidos.

I - FATOS

Trata-se de processo de arrolamento realizado pela Receita Federal do

Brasil, em razão de auto de infração emanado pela autoridade indicada, por suposta

divergências com relação à base de cálculo do Imposto de Renda Pessoa Física do

impetrante.

A Receita Federal realizou procedimento administrativo prévio, e lavrou

sem antes findar o julgamento de processo administrativo interposto pelo autor, o

mencionado auto de infração.

Sem qualquer comunicação prévia ao impetrante, efetivou em seu

conjunto patrimonial notação de arrolamento, para que todas as vendas de bens sejam

comunicadas à autoridade fiscal para posterior efetivação da venda com a imediata

substituição do bem arrolado.

Tal medida perdura desde 2014, contudo, o impetrante da presente

demanda só veio a tomar ciência dos fatos agora em idos de 07.2017, pois recentemente

através de requerimento de matrícula atualizada de um dos imóveis junto ao cartório

de registro, identificou a notação de arrolamento.

Inconformado com tal medida busca amparo através desse juízo para

que seu direito líquido e certo possa ser garantido.

II – DO CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE DO MANDADO DE SEGURANÇA

Conforme o artigo 5º, LXIX da Constituição Federal, é cabível o Mandado

de Segurança para proteger direito líquido e certo, entendido aquele em que se

pretende discutir violação a Direito garantido pelo ordenamento jurídico vigente,

conforme interpretação da Sumula 625 do STF.

A presente demanda visa garantir unicamente o exercício do direito do

impetrante que foi violado pela Fazenda Pública pelo não respeito aos procedimentos

formais definidos em lei como se demonstrará a seguir. O caso em tela se comprovará

com a apresentação de documentos que se encontram anexos ao Mandado de

Segurança, não sendo necessário qualquer outra dilação probatória.

A lei 12.016/09 prevê em seu artigo 23 que o prazo decadencial de 120

dias contar-se-á a partir da data de ciência do ato coator, que no presente caso, ocorreu

em 06.07.2017 em razão de pedido para expedição junto ao cartório de uma matrícula

de imóvel atualizada. Por isso, totalmente TEMPESTIVO, conforme preceitua a

legislação.

III – DO MÉRITO

1 – DO ARROLAMENTO SEM CUMPRIR OS REQUISITOS FORMAIS OBRIGATÓRIOS.

Determina a lei 9.532/97 no artigo 64 que o arrolamento de bens, será

realizado, sempre que:

Artigo 64: A autoridade fiscal competente procederá ao

arrolamento de bens e direitos do sujeito passivo sempre que o

valor dos créditos tributários de sua responsabilidade for

superior a trinta por cento do seu patrimônio conhecido. (grifos

nossos).

Em seu parágrafo 3º do mesmo diploma legal a legislação determina um

procedimento formal para consumação do ato, vejamos:

§ 3º A partir da data da notificação do ato de arrolamento,

mediante entrega de cópia do respectivo termo, o proprietário

dos bens e direitos arrolados, ao transferi-los, aliená-los ou

onerá-los, deve comunicar o fato à unidade do órgão fazendário

que jurisdiciona o domicílio tributário do sujeito passivo. (grifos

nossos).

Conforme pode se destacar o direito ao arrolamento se presume, a plena

ciência do autor, para que notificado do ato, possa inclusive opor medidas as quais

pretendam discutir o feito. A legitimidade de tal ato, portanto, só pode ser garantida

com o cumprimento rigoroso das formalidades exigidas em lei, caso contrário estaremos

diante da nulidade dos atos administrativos.

Não obstante o Supremo Tribunal Federal já ter se posicionado pela

possibilidade da própria administração pública anular seus atos, através da edição da

Sumula 473, o Poder Judiciário, se provocado, deve sim identificado o vício formal

promover também sua imediata nulidade, com efeitos retroativos, vejamos:

ADMINISTRATIVO. ATO ADMINISTRATIVO. ANULAÇÃO. TEORIA

DAS NULIDADES DO ATOS ADMINISTRATIVOS.

PRESCRIÇÃO. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA

N.º 211/STJ. MILITAR. PROMOÇÃO. INVIABILIDADE.

PROCESSO ADMINISTRATIVO ANULADO POR VÍCIO FORMAL E

NÃO SUBSTANCIAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.

SUCUMBÊNCIA MÍNIMA. SÚMULA N.º 07/STJ. 3. No sistema de

nulidades dos atos administrativos, é uníssono o entendimento

na doutrina e na jurisprudência de que, havendo vício nos

requisitos de validade do ato administrativo – competência,

finalidade, forma, motivo e objeto – deve ser reconhecida a

nulidade absoluta do ato, impondo a restauração do status

quo ante. (STJ RESP 200501905178 RESP - RECURSO ESPECIAL –

798283. Quinta Turma. Relatora: Laurita Vaz. DJE

DATA:17/12/2010)

A Receita Federal, por vezes, edita instruções normativas para detalhar

as formalidades de seus atos, e criou a IN 1565/2015 de 11.05 de 2015 que revogou

expressamente (artigo 22) a Instrução até então vigente que regulava as regras para tal

ato, qual seja, IN 1171/2001 .

Logo, em seu artigo 1º que trata sobre a matéria, reitera que o ato de

arrolamento deve ser efetuado com observância as disposições da referida norma.

No artigo 7º da Instrução Normativa, temos:

Art. 7º O arrolamento será procedido por AFRFB sempre que for

constatada a existência de Créditos Tributários superiores aos

limites mencionados no caput do art. 2º.

§ 1º O sujeito passivo será cientificado do arrolamento por meio do Termo de Arrolamento de Bens e Direitos, lavrado por AFRFB.

Ora, a formalidade exigida para tal procedimento são dois:

A) Existência de Créditos Tributários superiores aos limites

fixados em lei.

B) Cientificação do Sujeito Passivo do arrolamento por

meio específico, qual seja o Termo de Arrolamento de Bens

e Direitos.

Esses requisitos visam proteger a legalidade do ato praticado pela

Autoridade, bem como garantir ao contribuinte o devido processo legal e contraditório

garantidos pelo diploma constitucional.

Conforme já dito, o ato de arrolamento presume crédito tributário.

Qual teria sido a intenção do legislador quando da determinação de tal

requisito? Nada mais, do que a legitimidade de um crédito tributário definitivamente

constituído para que assim, possa garantir a solvência do devedor, até que os atos

subsequentes ao intento da cobrança possam ser realizados, como, inscrição em Dívida

Ativa, emissão de Certidão, para consequente Execução Fiscal.

O presente crédito tributário realizado por procedimento administrativo

da Receita Federal ainda está em fase de discussão administrativa, conforme o Processo

Administrativo número: XXXXX, que aguarda até a presente impetração, decisão da

autoridade Administrativa que desde 2014, não se manifesta, conforme poderá ser

comprovado através do “Extrato do Processo Administrativo”, folhas 01.

O que se discute com relação ao crédito é exatamente a base de cálculo

do auto de infração lavrado, que daria conforme rigor posto na Instrução Normativa e

na legislação vigente, a legalidade do ato.

Vejamos que houve a declaração do Imposto de Renda devido, com suas

respectivas retenções, porém segundo a autoridade, não foram suficientes para quitar

a obrigação tributária.

Mas qual seria esse valor devido? Ainda não se sabe, em razão de

discussão administrativa.

A Jurisprudência dos Tribunais já harmonizou entendimento, que valores

inferiores aos limites impostos em lei não podem ser objeto de arrolamento, senão,

vejamos:

DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. MANDADO DE

SEGURANÇA. ARROLAMENTO DE BENS. ARTIGO 64 DA LEI Nº. 9.532/97.

LEGALIDADE DA MEDIDA. CASO CONCRETO. RECONHECIMENTO DA

DECADÊNCIA PARCIAL NA ESFERA ADMINISTRATIVA. CRÉDITO

TRIBUTÁRIO REMANESCENTE DE VALOR INFERIOR A 30% DO

PATRIMÔNIO CONHECIDO. AUSÊNCIA DE UM DOS REQUISITOS LEGAIS.

CANCELAMENTO DO ARROLAMENTO DE BENS. CONCESSÃO PARCIAL

DA SEGURANÇA. SENTENÇA CONFIRMADA. 4. No caso dos autos,

considerando como patrimônio conhecido os bens relacionados no

arrolamento, no total de R$ 5.937.105,09, o percentual de 30%

corresponde a R$ 1.781.131,52, de modo que sendo o crédito tributário

remanescente de valor inferior (R$ 1.046.000,00), de fato, não mais

subsiste os requisitos do artigo 64 da Lei nº 9.432/97, que, frise-se,

exige, simultaneamente, que o valor do crédito tributário seja superior

a 30% do patrimônio conhecido do contribuinte e que o débito fiscal

seja de valor superior a R$ 500.000,00. TRF-3 - APELAÇÃO EM

MANDADO DE SEGURANÇA : AMS 10620 SP 2008.61.10.010620-1.

15.07.2010. (Grifos nossos)

O valor mencionado pelo acórdão acima não está mais vigente, pois hoje é de R$ 2 milhões de reais, conforme a Instrução Normativa 1.565/2015 em seu artigo 2º, inciso II.

Ora, se os valores ainda estão sendo submetidos a exame da própria autoridade, que desde 2014 não consegue chegar a nenhum veredito, demonstra uma AUSÊNCIA DE CERTEZA com relação ao valor exato do crédito a que se pretende constituir definitivamente.

Não se pode aplicar uma presunção de legitimidade e veracidade com relação ao ato antecipatório de inventário dos bens com a justificativa de omissão de valores, pois a possível omissão de receita do devedor ou é provada com trânsito em julgado em âmbito administrativo, ou deve ser desconsiderada, pois não se coaduna permitir presunção sobre essa matéria.

Se a matéria objeto do auto de infração é exatamente sobre o valor utilizado como presunção de renda, e se a Receita Federal não pode fazer o arrolamento de qualquer contribuinte, com débitos inferiores a R$2 milhões de reais, não faz sentido que o contribuinte que teve bens arrolados abaixo desse montante seja obrigado a ter seus bens mantidos nessa situação.

A esse respeito já decidiu o Eg. Tribunal Regional Federal da 3ª Região:

TRIBUTÁRIO.MANDADO DE SEGURANÇA. REMESSA OFICIAL. ARROLAMENTO ADMINISTRATIVO. ART. 64 DA LEI 9.532/97. ALTERAÇÃO DO VALOR MÍNIMO PELO DECRETO 7.573/11. REVISÃO. POSSIBILIDADE. 1. Antes do Decreto 7.573/11, o arrolamento de bens estabelecido pelo art. 64 da Lei 9.532/97 exigia que o débito fosse superior a R$500.000,00 (quinhentos mil reais) e a 30% (trinta por cento) do patrimônio conhecido do devedor. Após o referido Decreto, o valor mínimo para a realização do arrolamento passou a ser de R$2.000.000,00 (dois milhões de reais). 2. Assim, a discussão cinge-se pela possibilidade de cancelamento de arrolamentos já efetuados sob a égide da legislação anterior em face do novo patamar estabelecido. 3. O arrolamento administrativo, de iniciativa da autoridade fiscal, possui natureza meramente cautelar. De acordo com essa natureza,

adotou-se critério político para determinar o valor do débito que ensejaria a necessidade de arrolamento administrativo com a finalidade de acompanhar o patrimônio do devedor e garantir os créditos tributários. 4. Com a mudança do valor, entende-se que não é mais preciso garantir pelo arrolamento créditos inferiores a esse novo montante. Assim, é razoável que os arrolamentos administrativos promovidos anteriormente sejam revistos. 5. Ademais, permitir a manutenção de arrolamentos e situações em que os débitos são inferiores ao patamar atualmente exigido para a medida acabaria por violar o princípio da isonomia tributária, nos termos do artigo 150, II da Constituição. Com efeito, a não revisão dos arrolamentos já efetuados para adequação aos novos patamares, ensejaria a existência de situações dispares, já que alguns devedores teriam seu patrimônio sujeito ao arrolamento, enquanto que outros, com débitos do mesmo valor ou até mesmo três vezes superiores àquele, não sofreriam a medida. 6. Remessa oficial improvida. (REOMS 00065823820114036102, Desembargadora Federal Consuelo Yoshida, TRF 3 – Sexta Turma, e-DJF 3 Judicial 1 Data: 09/08/2012).

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. ARROLAMENTO ADMINISTRATIVO. ART. 64 DA LEI 9.532/97. ALTERAÇÃO DO VALOR MÍNIMO. REVISÃO. POSSIBILIDADE. 3. Restou comprovado que o valor do débito à época da impetração era inferior a R$ 2.000,000 (dois milhões de reais), não subsistindo, portanto, um dos requisitos legais autorizadores do arrolamento de bens, haja vista o novo limite imposto pelo Decreto n.º 7.573/2011, sendo de rigor, destarte, a sua desconstituição. 4. Não pode a IN RFB 1.206/11 manter arrolamentos cujos requisitos foram alterados por lei superveniente.5. Apelação provida. AMS 1299 SP 0001299-97.2012.4.03.6102, SEXTA TURMA - 21 de Março de 2013, DESEMBARGADORA FEDERAL CONSUELO YOSHIDA

Ora, se não se sabe ao certo o valor do auto de infração, que repita-se, está desde 2014 aguardando reanálise, por parte da Autoridade Coatora, demonstra que o contribuinte está enfrentando legítima ilegalidade do ato praticado, pois valores não superiores ao novo montante definido pela legislação não podem ser objeto de arrolamento.

IV - DO FLAGRANTE CERCEAMENTO DE DEFESA

Esgotada a comprovação do descumprimento do primeiro requisito para

justificar o arrolamento, outro requisito posto pela lei é a cientificação do sujeito

passivo, o que também não foi respeitado pela autoridade, que abusando do seu

exercício da competência tributária, se limita a simplesmente notificar os órgãos de

registro exigindo imediatamente o arrolamento de tais bens. Seria legítima tal conduta?

A necessidade de prévia cientificação inclusive é requisito para

propositura de recurso, conforme determina o artigo 17 da Instrução Normativa:

Art. 17. É facultado ao sujeito passivo apresentar recurso

administrativo no processo de arrolamento de bens e direitos,

no prazo de 10 (dez) dias contado da data da ciência da decisão

recorrida, nos termos dos arts. 56 a 65 da Lei nº 9.784, de 29 de

janeiro de 1999. (grifos nossos)

Se não há cientificação do devedor, como recorrer?

A Constituição garante a qualquer cidadão em processo administrativo

ou judicial a ampla defesa e o contraditório, para que possa ser apresentado as razões

contrárias ao ato abusivo da autoridade, vejamos:

Art. 5º, LV - aos litigantes, em processo judicial ou

administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o

contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes;

A ausência do devido processo de Intimação, não ocorreu para na

verdade, impedir o devedor de apresentar sua defesa, atuando assim a Receita Federal

com flagrante desrespeito às normas constitucionais, decidindo de forma sumária sem

qualquer notificação, conforme determina a legislação. Vejamos o posicionamento dos

tribunais superiores:

TRIBUTÁRIO. ARROLAMENTO DE BENS. ART. 64 DA LEI

N.º 9.532 DE 1997. DIREITO DE PROPRIEDADE. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA SÓCIOS 135 CTN. AUSÊNCIA DE

NOTIFICAÇÃO. 3. Não há notificação do sócio, acerca do auto

de infração mencionado nos autos, devendo ser cancelado o

arrolamento incidente sobre seus bens imóveis matriculados

sob os números 90.336, 90.367 e 90.368, no Registro de Imóveis

da 1ª Zona de Porto Alegre. (TRF4, APELREEX nº 5025654-

72.2012.404.7100, 1ª Turma, Des. Federal Jorge Antônio

Maurique, por unanimidade, j. em 31/07/2013).

Lícito afirmar, que a prova documental que demonstra a ausência de

cientificação do sujeito passivo está em posse da autoridade administrativa, por isso,

não se pode afastar o cabimento do presente mandado de segurança, pois interpretação

literal da própria lei 12.016/09, que determina em seu artigo 6, §1º,:

§ 1o No caso em que o documento necessário à prova do alegado se ache em repartição ou estabelecimento público ou em poder de autoridade que se recuse a fornecê-lo por certidão ou de terceiro, o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse documento em original ou em cópia autêntica e marcará, para o cumprimento da ordem, o prazo de 10 (dez) dias. O escrivão extrairá cópias do documento para juntá-las à segunda via da petição. (grifos nosso)

Como se pode demonstrar até o momento não houve o cumprimento dos dois requisitos formais exigidos pela legislação constantes inclusive na Instrução Normativa debatida, o que nos resta interpretar a ilegalidade dos atos praticados até então, o que garante ao devedor a imediata liberação dos bens, até que pelo menos sejam cumpridos os requisitos formais exigidos pela legislação.

V - DA ANÁLISE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO

Conforme já descrito nos autos, em razão do Auto de Infração lavrado pela autoridade fiscal, o devedor, tempestivamente propôs recurso para discutir o montante devido, visto que a declaração do Imposto de Renda objeto do arrolamento foi declarado dentro do prazo previsto, porém está sob discussão na repartição recursal uma suposta omissão de receita.

Este presente Mandado de Segurança não se pretende discutir o Processo Administrativo, pois caso seja objeto, conforme determina a Lei 6.830/80 em seu artigo 38, parágrafo único, o devedor estaria renunciando ao direito constitucional de discutir tal manobra do fisco em esfera administrativa, imputando a ele obrigações mais gravosas, como a necessidade de se discutir via judicial, através de pagamento de custas e outros encargos necessários, o que não se deseja.

Artigo 38, Parágrafo Único – Lei 6830/80: A propositura, pelo

contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia

ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do

recurso acaso interposto.

Apenas cabe apresentar que estaríamos nós diante de outro abuso da autoridade fazendária, pois também está sujeita aos Princípios Processuais estampados no Código de Processo Civil, Lei 13.105/15, quais sejam: Razoável Duração do Processo e Celeridade Processual.

Os artigos 4º e 6º da presente norma materializa tais princípios ao determinar necessidade do julgamento do mérito ser realizada dentro de um prazo razoável, bem como os sujeitos do processo devem cooperar entre si para se obtenha, em prazo razoável decisão do mérito justa e efetiva.

É incompreensível que um processo administrativo esteja sob análise da autoridade administrativa desde 2014. Na verdade, o que pretende a autoridade fiscal é manter tais bens arrolados sem justificativa legal por prazo além do razoável e proporcional.

Não se pode aguardar a vontade da autoridade fiscal em retificar o auto de infração para que posteriormente, possa ser dispensado o arrolamento, pois, o que nos parece, que tal demora exigindo a guarda dos bens por arrolamento, demonstra uma condição de ação, ou seja, para se avaliar o recurso interposto pelo autor, pretende se ver garantido o valor da dívida por meio de arrolamento.

Essa manobra intentada pela autoridade fiscal é totalmente inconstitucional, por previsão expressa através do enunciado da Sumula Vinculante 21 do STF:

É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para

admissibilidade de recurso administrativo.” (grifei, negritei)

A demora do Fisco em julgar o processo, mantendo assim, como garantia o arrolamento é uma forma indireta de não cumprimento do verbete sumular, demonstrando total ilegalidade.

O que se pretende com a demora no julgamento do processo administrativo, que encontra-se parado perante a autoridade administrativa desde 2014, e o arrolamento é na verdade, proteger por meio de caução o presente recurso, o que por vezes, inclusive por Súmula Vinculante, já foi rejeitada essa tentativa abusiva da autoridade, vejamos:

PROCESSO CIVIL – TRIBUTÁRIO – DEPÓSITO PRÉVIO OU ARROLAMENTO DE BENS COMO REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ADMINISTRATIVO – O PLENO DO STF CONSIDEROU INCONSTITUCIONAIS OS PARÁGRAFOS 1º E 2º DO ART. 126 DA LEI N. 8.213/1991, COM REDAÇÃO DADA PELA MEDIDA PROVISÓRIA N. 1608 – 14/1998 – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA. 1. A espécie de arrolamento em discussão nos autos, inserida no Decreto 70.235 /72, trata de uma forma alternativa de garantia de instância. Ou seja, para ter o seu recurso admitido diante de decisão desfavorável em processo administrativo, é necessário que o contribuinte disponibilize bens de sua propriedade com a finalidade de garantir a exigência fiscal imputada. 2. O Pleno do Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 390.513 /SP, de Relatoria do Ministro Março Aurélio, modificou o entendimento até então pacificado do STJ, e declarou, por maioria de votos, a inconstitucionalidade dos §§ 1º e 2º da Lei n. 8.213 /1991 com redação dada pela Medida Provisória n. 1608 -14/1998, convertida na Lei n. 9.639 , de 25 de maio de 1998. 3. "O acesso à via administrativa, para discussão de tributo não pode ser condicionado ao depósito da parte ou da integralidade do montante questionado, porquanto possua referida imposição o condão de ferir o princípio da ampla defesa, ao criar óbice ao seu exercício" (AARESP n. 200501006220, Rel. Ministro Humberto Martins, 2a Turma do STJ, DJ, 26/11/2007 PG: 00154). 4. Apelação da União e remessa oficial não providas. 5. Peças liberadas pelo Relator, em 16/07/2012, para publicação do acórdão.

Com base nos fatos já narrados, o direito se mostra violado ao exigir por mais de 03 anos um arrolamento de bens, sem qualquer decisão administrativa que pudesse reconhecer ou não o auto de infração lavrado, fazendo com que os trâmites processuais de possível execução pudessem ser realizados para garantia de solvência do devedor. Como permitir tal medida perdurar de forma perpétua, como está sendo praticada, sem qualquer medida judicial lícita de constrição de bens.

Sabemos que o arrolamento de bens, não pode ser confundido com o procedimento cautelar de bens, que seria pela leitura literal da norma (Lei 8.397/1992), que em seu artigo 4º determina como efeitos a imediata indisponibilidade dos bens do requerido até o limite da satisfação da obrigação. Contudo, para tal manobra, seria necessário autorização do juízo mediante a comprovação pela autoridade fiscal dos requisitos cumulativos expostos na lei já citada.

A medida cautelar fiscal, quando antecipatória, como é o arrolamento de bens, ou seja, uma natureza antecipatória a execução, ela será concedida, devendo a Fazenda Pública obrigatoriamente em no máximo 60 dias realizar a Execução Fiscal. Como podemos aceitar que uma medida preparatória, como é o arrolamento possa perdurar por 03 anos, sem qualquer movimentação processual, como diligências ou dilações probatórias?

Se a cautelar com autorização judicial, que representa a indisponibilidade dos bens, tem prazo máximo de duração, como permitir que um mero arrolamento administrativo, que apesar de não possuir natureza de indisponibilidade, mas que de fato, representa um constrangimento ilegal ao suposto devedor, possa ser realizada sem prazo determinado? Inaceitável tal conduta!.

VI – DO CANCELAMENTO DO ARROLAMENTO DE BENS

A Instrução Normativa prevê as hipóteses e condições que o procedimento de arrolamento prévio de bens possam vir a ser cancelados:

Art. 9º, IN 1565/2015: O órgão de registro público onde os bens e direitos estiverem arrolados poderá cancelar a averbação do arrolamento, mediante solicitação do contribuinte, acompanhada da cópia do protocolo da comunicação prevista no caput do art. 8º, no prazo de 30 (trinta) dias contado da data do protocolo do pedido no órgão de registro.

Conforme pode se ver na leitura do artigo exposto acima, a manobra ilegal do presente caso, poderia pelo que parece ser cancelada por próprio requerimento do contribuinte junto a autoridade fiscal, ou seja, se reconhece que apesar de expressa previsão legal do arrolamento, quando a intenção do ato ultrapassa a legitimidade, que a princípio deveria ser apenas a garantia de solvência do devedor, mas passa a ser flagrante restrição de fato de alienação de bens e direitos, poderá ser por simples requerimento objeto de cancelamento.

A publicidade atribuída ao arrolamento leva ao conhecimento de todos a existência do crédito tributário, (que no presente caso, ainda não se sabe ser legítimo ou não), o seu montante e a relação entre este e o patrimônio do sujeito passivo autuado, trazendo sérias restrições ao direito de propriedade, anteriores a qualquer procedimento contraditório. Cria uma indisponibilidade de fato, porque, torna praticamente impossível a alienação de bens, afrontando a garantia constitucional segundo a qual ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.

Configuram ainda hipóteses de cancelamento do arrolamento, a ordem judicial, vejamos:

Art. 14, IN 1565/2015. Configuram, ainda, hipóteses de cancelamento do arrolamento:

V - a ordem judicial;

Em razão da ilegalidade da medida antecipatória com duração desproporcional há mais de 3 anos, demonstrando ILEGÍTIMA CAUÇÃO, sem qualquer comunicação prévia, e sem se saber ao certo o valor do Auto de Infração, levanta a análise que o pedido do devedor não seria suficiente para garantir o exercício do direito, e por isso, leva o autor a requerer judicialmente o cancelamento, provocando este douto juízo.

Possivelmente, a Receita Federal continuará abusando do seu direito de inventário prévio, com rigor ao cumprimento da legislação vigente, e não autorizará o respectivo cancelamento, por isso, se faz necessário o pedido judicial.

VII – DA MEDIDA LIMINAR

O Artigo 7º, III da Lei 12.016/09 determina os requisitos para concessão da medida liminar: fumus boni iuris e periculum in mora.

O Fumus boni iuris está comprovado em razão da ilegalidade dos atos praticados pela autoridade Fazendária, pois apesar de constitucional o direito do arrolamento, é devido o cumprimento obrigatório das formalidades impostas pela lei e pela Instrução Normativa, qual seja o valor do Crédito Tributário ser superior ao mínimo fixado pela legislação, e que represente simultaneamente a 30% do valor dos bens conhecidos do devedor, bem como a cientificação do devedor para que possa exercer seus direitos constitucionais de contraditório e ampla defesa.

Conforme se demonstrou na presente impetração do Mandado de Segurança, que o valor do débito ainda está em discussão administrativa desde 2014, sem qualquer outro procedimento administrativo que pudesse se justificar a tamanha demora, principalmente se tratando como objeto da lavratura, matéria exclusivamente de direito, que deveria, por senso lógico jurídico antecipar o julgamento do feito, pois não é necessário discussão de fato, nem tão pouco nenhum outro meio de prova.

Mas a demora visa constranger o devedor, de ter seus bens notados com inscrição pública de “Bloqueio” por parte da Receita Federal do Brasil, fazendo com que seu direito de dispor sobre o imóvel sofra limitações além daquela que deseja a legislação de unicamente proteger a solvência, dentro de um devido processo legal. O que não aconteceu no presente caso. Está ocorrendo no presente caso, na verdade, cerceamento de defesa, pois não se permitiu o exercício do contraditório e ampla defesa, em razão da ausência de notificação, seja, ela por correio, pessoal ou edital.

Além disso, a demora na análise do processo administrativo somada ao arrolamento, caracteriza uma verdadeira CAUÇÃO ABSOLUTAMENTE ILEGAL, o que já reiteradas vezes os tribunais superiores deflagram a inconstitucionalidade do ato.

Já o periculum in mora está caracterizado pela morosidade do fisco em finalizar a demanda administrativa, inviabilizando de fato o exercício de direito de alienação de propriedade, pois os possíveis compradores, acabam desistindo da compra, ao identificarem a notação na matrícula do imóvel, além do que a demora na concessão do mérito poderá fazer perdurar uma ilegalidade. A condição financeira do autor não pode ser prejudicada na possibilidade de futuras transmissões, por vontade e inércia do Poder Público. Além disso, qualquer matrícula atualizada que o devedor necessita para a continuidade de suas atividades, constará indevidamente a respectiva notação.

VIII – DOS PEDIDOS

Pelos argumentos de fato e de direito já esclarecidos, o impetrante requer-se a Vossa

Excelência:

A – A Concessão da medida liminar, para a suspensão imediata dos efeitos do

arrolamento dos bens em nome do impetrante, pelo preenchimento dos requisitos

conforme o artigo 7º, inciso III da Lei 12.016/09.

B – Notificação da Autoridade Coatora para apresentar esclarecimentos no prazo de 10

(dez) dias.

C – Cientificação da União Federal, na pessoa do seu representante legal, para ingressar

no feito, se assim desejar.

D – Procedência do pedido, garantindo a segurança em definitivo, para cancelar o

arrolamento dos bens, bem e a imediata notificação aos órgãos de registro de bens

móveis (DETRAN) e imóveis para exclusão das notações, em razão do descumprimento

formal dos requisitos expostos pela legislação vigente, que seria a notificação do

devedor, inviabilizando seu direito de exercer o contraditório e ampla defesa, bem

como a ausência de um crédito tributário que represente a insolvência do devedor, em

valor igual ou superior ao novo limite fixados pela legislação, sendo esses dois requisitos

totalmente descumpridos pela autoridade fazendária, artigos 64 da Lei 9.532/97 e

artigos 7º da Instrução Normativa 1565/2005, e também em razão da exigência de

caução unilateral, ilegal e abusiva da Receita Federal, pois não podemos assumir que a

duração de 03 anos de um arrolamento, é uma mera medida preparatória, mas sim uma

verdadeira caução.

E – Oitiva do Ministério Público para manifestar.

F – Condenação da União Federal em custas processuais.

G – Os patronos do impetrante declaram sob as penas da lei que todos os documentos

acostados nesta inicial correspondem ao original.

Dá se a causa do valor de R$ 1.000,00 para fins fiscais, por se tratar de ação, sem proveito

econômico.

Termos em que, Pede Deferimento.

São Paulo, 15.08.2017.