7
EDIÇÃO PRETO E BRANCO •2016 MANIFESTO

Manifesto Feira Plana 4

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A Feira Plana convidou para a edição Preto e Branco dois escritores para escreverem um manifesto sobre o tema, Clarice Reistchul e Bruno Galan.

Citation preview

EDIÇÃO PRETO E BRANCO •2016

MANIFESTO

BRANCOpor Bruno Galan

PRETOpor Clarice Reichstul

— — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — —

MANIFESTO

Pretura preta, lava mais preto ou mais branco? Na minha casa quem sempre lavou foi preto, mesmo lavando branco. Na minha casa, na minha rua, na minha cidade. Preto lavando branco. Cândida no pano de chão e sabão de coco pra quarar os brancos mais delicados.

Alvo fácil, o branco clama por manutenção constante de seu status de branco.

BRANCO por Bruno Galan

PRETO por Clarice Reichstul

Preto não, é negro, né? Temos que demonstrar respeito, mesmo quando no fundo escuro que pulsa lá dentro achamos eles todos macacos. Mas dizer que é macaco não é educado. Afinal, somos todos macacos. Macacos com medo. Baratas têm medo do detefon, mulher tem medo do homem, preto tem medo de polícia – por que, né? O pai tem medo que sua filha case com um homem negro. A mãe tem medo que seu filho case com uma mulher preta (no caso da mulher, categoria inferior, é chamar de preta mesmo, ninguém dá bola). A Regina Duarte também tem medo, mas suspeito que o medo dela seja puro teatro.

Um risco, um amassado, um corte já fere esse tom inalcançável. Já tinge. Traça.Sai do almejado alvejado.

Saponáceos. Barthes:“...os pós são elementos separadores: o seu papel ideal consiste em libertar o objeto da sua imperfeição circunstancial: “expulsa-se” a sujeira, mas esta não morre; na propaganda visual de Omo, a sujeira é representada por um pequeno inimigo débil e negro que foge apavorado da roupa limpa e suja, sob a simples ameaça do julgamento de Omo.”

A publicidade vem para ‘limpar’. Até os termos são carregados. “Denegrir”.Branco Sai Preto Fica. Dia de branco.

BRANCO por Bruno Galan

PRETO por Clarice Reichstul

Sujeira no ponto de vista da folha branca é a arte. Escalas de cinza, Threshold.Impressão sobre o assunto. Opinião. Visão. Quer que eu desenhe?Preto no branco. O que se imprime em jornal tende a ser verdade pra muitas pessoas.Clarear a mente. Imprimir sua marca. Marcar.Colocar o que você acha no papel.Brancas nuvens, Negro Blues.Itamar 4 ever. Vinicius da cabeça branca.Deu branco.

Mandar para a impressora.Page setup.Black and White.

Para branco perfeito, apenas o preto perfeito de um sapato engraxado, um café passado ou mesmo torrado e moído, 100% arábica. Opa, arábica não, que é coisa de extremista.

Ponto preto no branco, pontilhado e retícula, e se fosse inversa? E se no papel preto eu escrevesse em branco, se o globo ocular fosse preto e as pupilas brancas, se todos nós fossemos Tchupwalas na terra de Tchup, e se como Kahani a terra não girasse, e se o que dizemos com palavras hostis virasse realidade – e se tudo fosse escancarado e posto às claras? Talvez já esteja. Talvez – isso é o mais provável – eu não veja.

BRANCO por Bruno Galan

PRETO por Clarice Reichstul

FEIRA PLANAEdição Preto e Branco 2016•Publicações independentes,fictícias, guerrilheiras e zineswww.feiraplana.org•Realização Bia Bittencourt e Carlos IssaEdição+ Design Guilherme FalcãoTradução Jonathan GallRevisão Melina Cardoso

Este zine-manifesto foi impresso a laser sobre papel sulfite 90g/m2. Tipografia utilizada Replica–Mono de NORM (Suíça, 2010).

— — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — — —

MANIFESTO

PATROCÍNIO

— — — — — — — — — — — — — — — — —

REALIZAÇÃO

— — — — — — — — — — — — — — — — —

EDIÇÃO PRETO E BRANCO •2016

MANIFESTO