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Ministério Público do Estado da Paraíba Manual de Atuação Criminal_Novo Formato_21,5 x 15.pmd 10/6/2011, 16:29 1

Manual Criminal

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  • Ministrio Pblico doEstado da Paraba

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  • 2011

    MANUAL DE ATUAOFUNCIONAL

    PROMOTORES CRIMINAISDAS EXECUES PENAISDO PROCESSO PENAL EM GERALDA FASE PR-PROCESSUAL E DO

    TRIBUNAL DO JRI

    Ministrio Pblico doEstado da Paraba

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  • MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DA PARABAPROCURADORIA-GERAL DE JUSTIACENTRO DE APOIO OPERACIONAL S PROMOTORIAS DE JUSTIA CRIMINAIS EDAS EXECUES PENAIS

    PROCURADOR-GERAL DE JUSTIAOswaldo Trigueiro do Valle Filho

    1 SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIANelson Antnio Cavalcante Lemos

    2 SUBPROCURADOR-GERAL DE JUSTIAKtia Rejane Medeiros Lira Lucena

    SECRETRIO-GERALBertrand de Arajo Asfora

    COORDENADOR DO PLANEJAMENTO ESTRATGICOAdrio Nobre Leite

    GESTOR DO PROJETOAlcides Orlando de Moura Jansen

    COORDENADOR DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL S PROMOTORIAS DE JUSTIACRIMINAIS E DAS EXECUES PENAISGuilherme Costa Cmara Promotor de JustiaColaborao: Jos Guilherme Lemos Promotor de Justia

    Mrcio Gondim do Nascimento - Promotor de Justia

    DIRETOR DO CEAFJos Raimundo de Lima

    COORDENADORA DO CEAFCristiana Ferreira M.Cabral de Vasconcellos

    NORMALIZAOChristianne Maria Wanderley Leite - CRB-15/0033Nigria Pereira da Silva Gomes - CRB-15/0193

    REVISO GRAMATICALProf. Francelino Soares de Souza

    PROJETO GRFICO E DIAGRAMAOGeraldo Alves Flr - DRT 5152/98Joo Gomes Damasceno Filho - DRT 3982/01

    IMPRESSOGrfica Santa Marta

    P221M Paraba. Ministrio Pblico do Estado da. Manual de atuao funcional Criminal: processo penal em geral, da fase pr- processual e do Tribunal do Jri. - Joo Pessoa: MPPB/PGJ, CAOP Criminal, 2011. 161p.

    1.Ministrio Pblico processo penal execuo penal - Paraba I. Ttulo

    CDU 347.963:343.152(813.3)

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  • SUMRIO

    PREFCIO .................................................................. 11

    APRESENTAO E SISTEMTICA ...................................... 13

    MISSO DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTO-RIAS CRIMINAIS E DA EXECUO PENAL ............................ 15

    PARTE I - DA FASE PR-PROCESSUAL ................................ 17

    CAPTULO 1: COMUNICAO DE CRIME ............................. 171.1 DO RECEBIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS .......................... 171.1.1 Comunicao de crime de ao pblica incondicio-nada: providncia em caso de comunicao verbal ............. 171.1.2 Comunicao de crime de ao pblica: providnciaem caso de comunicao escrita ..................................... 181.1.3 Requisio para instaurao de Inqurito Policial:requesitos .................................................................. 181.1.4 Comunicao de crime de ao pblica: providnciaem caso de encontrar-se prefigurada a existncia de justacausa ........................................................................ 181.1.5 Comunicao annima de crime de ao penal pblica 191.1.5.1 Cognio espontnea de infrao penal: providncias . 221.1.6 Prova substancialmente nova em inqurito policial ouprocedimento administrativo investigatrio arquivado ......... 22

    CAPTULO 2: DO INQURITO POLICIAL .............................. 242.1 CONSIDERAES GERAIS ............................................ 242.2 HIPTESE DE IPM ENVIADO JUSTIA COMUM ESTADUAL .... 252.3 DEVOLUO DO INQURITO AUTORIDADE POLICIAL PARADILIGNCIAS IMPRESCINDVEIS: PODER REQUISITRIO DO MINIS-TRIO PBLICO ............................................................ 262.4. DILIGNCIAS NO INDISPENSVEIS ............................... 272.5 PRINCPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AO PENAL E NECESSI-DADE DE REALIZAO DE DILIGNCIAS IMPRESCINDVEIS COMVISTAS IDENTIFICAO DE OUTROS AGENTES ..................... 29

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  • 2.6 REALIZAO DE DILIGNCIAS AUTNOMAS PELO MINISTRIOPBLICO ..................................................................... 312.7 REQUISIO DE DILIGNCIAS COMPLEMENTARES COMINDICIADO PRESO .......................................................... 322.8 DA ANLISE DO PEDIDO DE DILAO DE PRAZO FORMULADOPELA AUTORIDADE POLICIAL ............................................. 332.9 DO RESPEITO AOS DIREITOS DAS VTIMAS DE CRIME ........... 332.10 DO ZELO PARA COM AS PROVAS REPETVEIS (EM ULTERIORAUDINCIA CONTRADITRIA) CONSTANTES DO INQURITO OUPROCEDIMENTO INVESTIGATIVO PREPARATRIO ..................... 352.11 DO CONTROLE DO PRAZO DE CONCLUSO DO INQURITOPOLICIAL .................................................................... 36

    CAPTULO 3:DO EXAME DE CORPO DE DELITO E OUTRASPERCIAS .................................................................... 373.1 NOS EXAMES DE CORPO DE DELITO E DEMAIS PERCIASCUMPRIR .................................................................. 37

    CAPTULO 4:DO PEDIDO DE QUEBRA DE SIGILO ..............484.1 DA NECESSIDADE DE FUNDAMENTAO DO PEDIDO E DOZELO PARA COM A PRESERVAO DO SIGILO DAS INFORMAESOBTIDAS ..................................................................... 48

    CAPTULO 5: DA PRISO EM FLAGRANTE E DA REPRESEN-TAO PELA PRISO PREVENTIVA OU TEMPORRIA ............. 505.1 AO EXAMINAR A REGULARIDADE DO AUTO DE PRISO EMFLAGRANTE DELITO OBSERVAR .............................................5.2 DAS PRECAUES E PROVIDNCIAS RELACIONADAS SDEMAIS CUSTDIAS CAUTELARES ....................................... 50

    CAPTULO 6: ATUAO DO MINISTRIO PBLICO NOSCRIMES PRATICADOS COM VIOLNCIA DOMSTICA EFAMILIAR CONTRA A MULHER LEI N 11.340/2006 (LEIMARIA DA PENHA) ........................................................ 526.1 CONSIDERAES PRELIMINARES.................................... 526.2 DESTINAO DA LEI N 11.340/2006 ............................. 556.3 AUDINCIA PRELIMINAR.............................................. 586.4 NO COMPARECIMENTO DA OFENDIDA AUDINCIAPRELIMINAR ................................................................ 61

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  • 6.5 INSTITUTOS DESPENALIZADORES: SUSPENSO CONDICIONALDO PROCESSO E TRANSAO PENAL. INAPLICABILIDADE ........... 616.6 MEDIDAS PROTETIVAS ................................................ 636.7 PRISO PREVENTIVA .................................................. 636.8 COMUNICADO DE PRISO EM FLAGRANTE........................ 646.9 PROCEDIMENTO ....................................................... 646.10 A LEI MARIA DA PENHA E AS IMUNIDADES PENAIS(ABSOLUTAS E RELATIVAS) REFERENTES AOS CRIMES CONTRA OPATRIMNIO ................................................................ 65

    CAPTULO 7: PROCEDIMENTO INVESTIGATRIO INSTAURADONO MBITO DO MINISTRIO PBLICO: INVESTIGAESCRIMINAIS CONDUZIDAS DIRETAMENTE POR PROMOTORES OUPELO PROCURADOR-GERAL DE JUSTIA ............................ 667.1 DA DEFINIO E FINALIDADE ....................................... 667.2 DA INSTAURAO DO PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO......... 707.2.1 Verificao prvia de existncia de inqurito j instru-mentalizado ou ao penal em curso sobre idntico fato ...... 707.2.2 Realizao de diligncias preliminares instauraode procedimento administrativo criminal .......................... 707.2.3 Dispensa de expedio de requisio para abertura deinqurito policial ......................................................... 717.2.4 Dos requisitos fundantes para a abertura de procedi-mento administrativo criminal pelo Ministrio Pblico .......... 717.2.5 Prazo para providncias relacionadas ao recebimentode informao relacionada com a prtica de fato delituoso ... 727.2.6 Da instaurao de procedimento administrativocriminal ..................................................................... 737.2.7 Atribuio para expedio e requisitos mnimos daportaria que instaura procedimento administrativo criminal .. 737.2.8 Aditamento da portaria ......................................... 737.2.9 Concorrncia de atribuies para instaurao deprocedimento administrativo criminal: deslinde ................. 747.2.10 Do secretariado: designao e atribuies ............... 747.2.11 Comunicao ao Procurador-Geral de Justia ........... 747.3 DA INSTRUO ........................................................ 757.3.1 Providncias relevantes ........................................ 757.3.2 Fixao de prazo para cumprimento de requisies ... 75

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  • 7.3.3 Da notificao para comparecimento: requisitos ......... 757.3.4 Do despacho de identificao e imputao ftica pessoa do investigado ................................................... 777.3.5 Possibilidade de o investigado apresentar informaese requerer diligncias................................................... 777.3.6 Da oitiva do investigado ........................................ 787.3.7 Da deprecao de diligncias ................................. 787.3.8 providncias em diligncia subordinada prolao deprvia autorizao judicial ............................................ 787.4. DA PUBLICIDADE ..................................................... 797.4.1 Do horizonte de ressonncia nsito publicidade ........ 797.4.2 Exigncia de prvia autorizao do Presidente doProcedimento investigativo............................................ 797.4.3 Da fundamentada decretao do sigilo ..................... 797.5 DA CONCLUSO E DO ARQUIVAMENTO ............................ 807.5.1 Prazo para a concluso das investigaes .................. 807.5.2 Da comunicao da concluso do procedimento: inciodo dies a quo para oferecimento de denncia ou emissode postulao de arquivamento dos autos ......................... 807.5.3 Promoo de arquivamento do procedimento investi-gatrio ...................................................................... 807.5.4 Comunicao da vtima de crime do pleito ministerialde arquivamento ......................................................... 817.5.5 Desarquivamento do procedimento investigatriocriminal ..................................................................... 817.6 JURISPRUDNCIA SOBRE O TEMA .................................. 817.6.1 Julgados do STF .................................................. 817.6.2 julgados do STJ ................................................... 867.7. MODELO DE PORTARIA DE ABERTURA DE PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO DE INVESTIGAO ................................... 89

    PARTE II - DO PROCEDIMENTO DO JRI ............................. 90

    1 BREVES LINHAS ......................................................... 90

    2 DENNCIA ............................................................... 902.1. REQUISITOS DA INICIAL (ART. 41 DO CPP)....................... 912.2. REQUERIMENTOS ESPECFICOS .................................... 94

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  • 2.3. CAUSAS DE REJEIO DA DENNCIA OU QUEIXA (ART. 395,REDAO DA LEI N 11.719/08) ........................................ 96

    3 DO SUMRIO DA CULPA: JUDICIUM ACUSATIONIS (DA ACUSA-O E DA INSTRUO PRELIMINAR ARTS. 406/421 DO CPP) ... 973.1 CITAO DO ACUSADO............................................... 983.2 RESPOSTA DO ACUSADO (ART. 406, 3) ....................... 1023.3 OITIVA DA ACUSAO (ART. 409) ................................. 1033.4 AUDINCIA DE INSTRUO E JULGAMENTO (ART. 410 E 411) 1033.5 ALEGAES FINAIS (ART. 411, 4) ............................. 104

    4 IMPRONNCIA (ART. 414 DO CPP) ................................ 106

    5 DESCLASSIFICAO (ART. 419 DO CPP) ......................... 107

    6 ABSOLVIO SUMRIA (ART. 415 DO CPP)...................... 109

    7 PRONNCIA (ART 413 DO CPP) .................................... 110

    8 DESAFORAMENTO (ART. 427/428 DO CPP) ..................... 113

    9 JUDICIUM CAUSAE OU JUZO DA CAUSA (ARTS. 422/497DO CPP) ................................................................... 114

    10 JULGAMENTO EM PLENRIO...................................... 11510.1. INSTALAO DA SESSO ........................................ .11510.2. FORMAO DO CONSELHO DE SENTENA .................... 11710.3. INSTRUO EM PLENRIO ....................................... 11810.4. DEBATES (ARTS. 476/481 DO CPP) ............................ 11910.5. JULGAMENTO ...................................................... 12010.6. QUESITAO ....................................................... 12010.7. SENTENA (492/496 DO CPP) ................................. .121

    REFERNCIAS ............................................................. 123

    ANEXO A - Enunciados dos Juizados Especiais Criminal doFonaje - Frim Nacional dos Juizados Especiais .................... 145

    ANEXO B - Enunciados Esparsos da 2 Cmara Criminal deCoordenao e Reviso do Ministrio Pblico Federal .............. 158

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    Diante de tantos desafios e diversos temas relevantes, a atua-o do Ministrio Pblico ganha traos significativos de complexi-dade. A sociedade de massa gerou conflitos os mais variados e den-sos. So muitas as atividades do Ministrio Pblico, em diversoscampos e reas to distintas. A carga de demandas enseja sempremaior preparo, sob diversos matizes. A exigncia social envolve anecessidade de um tempo de resposta cada vez menor.

    Frente a essa realidade, em setembro de 2010, a imensa maio-ria dos que fazem o Ministrio Pblico da Paraba se reuniu paradiscutir em profundidade questes institucionais, no primeiro Work-shop de Alinhamento Estratgico, ocasio em que ficou muito nti-da a pretenso da classe no sentido da atuao ministerial de formaintegrada e uniforme, de tal modo que esse anseio passou a figurarcomo objetivo transversal em nosso Mapa Estratgico.

    Um dos projetos imaginados para comear a garantir a concreti-zao dessa ideia coletiva foi o de disponibilizar aos que fazem aInstituio Ministerial esta coleo de MANUAIS DE ATUAO FUNCIO-NAL, com o pensamento de minimizar esforos e, sobretudo, reduziro tempo empreendido no trabalho de cada um. Na verdade, o mate-rial produzido tem o papel de facilitar o contato mais direto e rpidocom questes enfrentadas no dia a dia, induzindo prticas otimiza-das que auxiliem as nossas rotinas, transmitindo sociedade a seg-urana jurdica de que falamos a mesma lngua, do litoral ao serto,materializando, enfim, o primeiro dos nossos princpios institucionaisque o da UNIDADE como est escrito na Carta da Nao.

    Mas, claro que no s isso. O desafio que se lana ao MinistrioPblico enorme. preciso a introduo e o desenvolvimento demecanismos que permitam o fortalecimento da Instituio. Os mem-bros do Ministrio Pblico so fortes pela dimenso profundamentetransformadora que se encontra na essncia das funes constitu-cionais a eles confiadas. Mas, sero mais fortes com uma perspec-tiva de maior integrao, e por isso os Manuais buscam tambmesse vis espontneo de alinhamento integrativo.

    PREFCIO

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  • No entanto, os caminhos apontados so puramente sugestivos.No trazem tambm a exausto dos temas apresentados. Os Cen-tros de Apoio Operacional tm a misso de conduzir a concretizaoe o aprimoramento dos conhecimentos especficos agora estabeleci-dos. Como um primeiro passo de suporte e orientao, os Manuaisdevem obrigatoriamente passar por aperfeioamentos e evoluesnaturais de entendimento.

    Fica a certeza maior de contribuio inicial a uma jornada in-cansvel de maior efetividade. A responsabilidade coletiva. Odesafio de todos.

    OSWALDO TRIGUEIRO DO VALLE FILHOProcurador-Geral de Justia

    ALCIDES ORLANDO DE MOURA JANSENCorregedor-Geral do Ministrio Pblico

    Gestor do Projeto

    ADRIO NOBRE LEITEPromotor de Justia

    Coordenador do Planejamento Estratgico

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    APRESENTAO E SISTEMTICA1

    O presente Manual vem a prelo com a ntida intencionalidade depromover, merc esforo de sistematizao de um feixe de diretrizes,uma maior uniformizao dos atos e procedimentos que constituem ohorizonte de sentido da atuao funcional do Ministrio Pblico paraibanonas searas criminal e da execuo penal, fazendo-o, porm, semveleidade de exaurimento dos temas nele tratados ou ftua presunode rgida vinculatividade.

    Subjaz, portanto, e meridiano, uma hialina compreenso que umaatuao coesiva e uniforme se presta eficazmente ao atingimento dosfins sociais e de justia que corporizam a slida matriz constitucionalem que se encontra constelada a Instituio do Ministrio Pblico. Umatal compreenso das coisas, de inegvel bondade e justeza, noantagoniza de modo algum, bem de ver, com o nobre princpio daindependncia funcional.

    O proporem-se diretivas de atuao e o ofertarem-se veredasregradas por marcos doutrinrios e jurisprudenciais valoradosobjetivamente como em relao de harmonia com metas institucionaisrevestidas de eticidade no contendem, em hiptese alguma, com aresponsvel liberdade de manifestao dos agentes ministeriais.Presta-se, opostamente, ao aguamento dos juzos e ao meditadoenquadramento das questes praxialmente vivenciadas, servindo,outrossim, ao instante em que franqueia intervenes assemelhadas(ou aproximativamente uniformes) na realidade delitual, para conter oureduzir atuaes ocasionalmente carregadas de subjetivismos, estas,porque excessivamente personalistas, qui perigosamente prximasdo desnorte institucional.

    No convm, finalmente, mas no por ltimo, deslembrar mormente em tempos de criminalidade pandmica (quadra histricaem que sentimentos de justiamento, mas no de Justia!, tendem aproliferar) que o Ministrio Pblico no um acusador sistemtico.

    No processo penal, a singular e aparentemente ambgua posio departe imparcial ostentada pelo rgo de acusao no autoriza a

    1Organizao e sistematizao: Guilherme Costa Cmara (Coordenador do CAOP-Crim); Co-laborao: Promotores de Justia criminais, Doutores Jos Guilherme Lemos (Cap. 5, infra)e Mrcio Gondim do Nascimento (Parte II, infra).

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    confeco de alegaes finais epidrmicas e acriticamente chaceladorasdo juzo primeiro de acusao plasmado na denncia-crime. dizer,ocasionalmente, aquelas se podem entremostrar sustentadas em frmulassacramentais vazias de contedo; pior: sem qualquer lastro ou fundamentona realidade emprica vertida nos autos, j que mecanicamente orientadasa dar como provado e certo o que no ficou sequer indiciariamentedemonstrado, esquecendo-se de que a parte ex adverso nem semprepode dispor de uma defesa tcnica competente e bem remunerada.

    Sem embargo, se quizer ser parte verdadeiramente imparcial epromotora de Justia real, o Ministrio Pblico, que no sacrifica aJustia em nome da Segurana, no pode prestar-se a funcionar qualmero rgo de referendao ou carimbagem da seleo criminaldiuturnamente realizada pela Polcia.

    azado lembrar que a origem, a dbil condio econmica, ofentipo dominante da populao carcerria brasileira, isso estcriminologicamente demonstrado, atesta, saciedade e exausto, aopo preferencial do direito penal pelas classes subalternas. E oMinistrio Pblico, esse intransigente defensor da sociedade, no podedeixar, em momento algum, de ter presentes tais dados emprico-sociais se no quiser contribuir to-s para massacrar o homemconcreto e real no altar abstrato da defesa social, sem com isso, todavia,em nada contribuir para aumentar a proteo da sociedade.

    Por ltimo, mas no menos importante, cumpre assinalar que opresente volume abordou, mais pormenorizadamente, a fase preliminarou das investigaes (etapa primeira da persecuo criminal). Deveras,como se sabe, j se encontra no Senado projeto de lei (PLS 156/2009),que estabelece uma ampla e profunda reforma no Cdigo de ProcessoPenal, razo pela qual este primeiro tomo do Manual de AtuaoFuncional no incursionar em temas nsitos fase processual dapersecutio criminis, ressalvada uma importante abordagem, de cartersobretudo doutrinrio, pertinente novssima sistemtica do Tribunaldo Jri, introduzida, como se sabe, pela Lei no. 11.719/08.

    Guilherme Costa CmaraPromotor de Justia Coordenador

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    MISSO DO CENTRO DE APOIO OPERACIONAL

    DAS PROMOTORIAS CRIMINAIS E

    DA EXECUO PENAL

    Como rgo auxiliar da atividade funcional, cumpre ao CAOP-CRIM executar atividades impulsionadoras da poltica institucional,relacionadas especificamente esfera da atuao criminal, mximecom o escopo de contribuir para o desempenho otimizado dePromotores e Procuradores de Justia no exerccio de suas funes,permitindo-lhes uma articulao de respostas mais adequadas e geispara os problemas contemporneos, concorrendo, outrossim,proativamente, para uma desenvolta intercesso do Ministrio Pblicono tecido social, bem como para o fortalecimento de uma atuaoministerial integrada, coordenada e uniforme nesta complexa zonada realidade.

    Ningum desconhece que o mbito criminal, mormente numaquadra histrica marcada por uma alarmante expanso dacriminosidade, comparece como um relevantssimo espao deinterveno social do Ministrio Pblico, a ter lugar atravs daconstruo e efetivao de polticas institucionais voltadas no apenaspara uma adequada e oportuna reao desviao, como tambm e com no menos intenso zelo a uma antecipao eficaz a condutastico-socialmente desvaliosas, a exigir, j para uma maiorresolutividade dessas polticas de enfrentamento, conteno epreveno (quer da micro, quer da macroconflituosidade) umaintensificao do dilogo com a sociedade e um continuado fomentode parcerias interinstitucionais orientadas consolidao de umapoltica criminal pacificadora.

    Com isso, no entanto, no se disse tudo. que a exatacognoscibilidade e precisa compreenso das atividades e rotinasassociadas sobretudo a uma interveno antecipadora e controladorado delito (determinadas a desacuar o cidado e a pacificar acomunidade), em suas linhas essenciais, fica fundamentalmente a

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    depender da estruturao de um conceito ou delineao nocional deMinistrio Pblico criminal que ultrapasse e transcenda aunidimensional e incompleta atuao tradicional: centrada naatividade persecutria judicializada.

    Com isso, fica tambm estabilizado que uma noo operatria de acentuado alcance prtico-jurdico das funes e atividadesque cumprem ao CAOP-CRIM desenvolver para render ensejo consolidao de aes e estratgias vocacionadas a dar plenocumprimento aos objetivos coletivamente consensuados (de atuarno combate ao crime organizado, conter a criminalidade violenta,intensificar aes pacificadoras, acompanhar a execuo da pena ea ressocializao do apenado, bem como de dar cumprimento misso constitucionalmente fixada de controle externo da atividadepolicial) reclama, fundamentalmente, uma cristalinaconsciencializao da transversalidade (ou do carter longitudinal)tanto das metodologias a empregar, como do prprio papel que aoMinistrio Pblico criminal socialmente comprometido cumpredesempenhar.

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    PARTE I - DA FASE PR-PROCESSUAL

    CAPTULO 1:

    1 DA COMUNICAO DE CRIME

    1.1 DO RECEBIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS

    1.1.1 Comunicao de crime de ao pblica incondicionada:providncia em caso de comunicao verbal

    Ao receber comunicao verbal de crime perseguvel medianteao penal pblica, cumpre averiguar, como medida preliminar, seh inqurito policial instaurado ou peas informativas j autuadasversantes sobre o mesmo fato noticiado. Se negativo o resultado dapesquisa, convir qualificar o noticiante2, reduzir a termo as suasdeclaraes3 e, subsecutivamente, as remeter autoridade policial,fazendo-as acompanhar de expediente requisitrio de instauraodo inqurito policial.

    2 Reza a doutrina que (...) A informao da existncia de infrao penal usualmentedenominada de notitia criminis, que, evidncia, no tem qualquer exigncia de forma,seno a indicao de elementos mnimos para a constatao do fato. Normalmente, taisinfraes so noticiadas pela prpria vtima e/ou familiares, o que poder ocorrer tantopor meio de depoimentos verbais que sero reduzidos a termo (...) quanto pela remessade peas de informao (depoimento escrito, documentos, correspondncias etc.) auto-ridade policial ou ao Ministrio Pblico e, s vezes, ao prprio Poder Judicirio. V. OLIVEI-RA, Eugnio Pacelli de; FISCHER, Douglas. Comentrios ao Cdigo de processo penal e suajurisprudncia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 20.

    3 Fazendo consignar a expressa manifestao de vontade da vtima ou de seu representantelegal em ver investigados e processados os eventuais autores do delito quando se cuidar decrime cuja procedibilidade da ao respectiva se condiciona representao daquela.

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    1.1.2 Comunicao de crime de ao pblica: providncia emcaso de comunicao escrita

    Se a comunicao de crime realizar-se por meio documental(carta, processo administrativo, certido, sindicncia, dentre out-ros), tomada a providncia preliminar acima descrita, redirecionar,se for o caso, as ditas peas autoridade policial, acompanhadas deexpediente requisitrio de instaurao de inqurito policial ou delavratura de termo circunstanciado.

    1.1.3 Requisio para instaurao de inqurito policial: requi-sitos

    Ao requisitar abertura de inqurito policial, cumpre expor sucin-tamente o fato, nominar a vtima e qualificar, se possvel, o conjec-turado autor do fato delituoso, discriminando pormenorizadamenteas diligncias que entender pertinentes investigao.

    1.1.4 Comunicao de crime de ao pblica: providncia emcaso de encontrar-se prefigurada a existncia de justa causa

    Na hiptese de a delatio criminis qualificada fazer-se acompan-har de elementos configuradores da existncia de justa causa paraa ao penal, isto , prova da materialidade e elementos indiciriosda autoria, encontrando-se suficientemente identificado o supostoautor, cumpre, formada a opinio delicti, propor diretamente aao penal, na dimenso em que o inqurito policial, pese emboravia de regra relevante para a elucidao do fato delituoso, no umprocedimento administrativo indispensvel.

    Como se sabe, a dispensabilidade configura uma peculiar ca-racterstica do inqurito policial, logo no ele fase obrigatria dapersecuo penal extraprocessual. Com efeito, o inqurito policial, sem dvida, um importante procedimento informativo prelimi-nar persecuo penal in juditio, todavia no lhe sempre im-prescindvel. Tal inteleco subjaz prpria anlise interpretativa

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    do art. 124c\c o art. 39, 5 5, do CPP. Tambm voga no sentido docarter dispensvel do inqurito policial, a jurisprudncia do pretrioexcelso, verbis:

    (...) Se o titular da ao penal entende que hindcios mnimos de autoria e materialidade dos fa-tos tidos como criminosos, ele pode oferecer adenncia antes de concludas as investigaes. Aescolha do momento de oferecer a denncia prer-rogativa sua. 2. O relatrio policial, assim como oprprio inqurito que ele arremata, no pea in-dispensvel para o oferecimento de denncia (...).(STF. Inq. 2245, Rel.: Min. JOAQUIM BARBOSA, Tri-bunal Pleno, pub. 09.11.2007 DJ, pp. 00038. Ement.Vol. 002298-01, pp. 00001).

    1.1.5 Comunicao annima de crime de ao penal pblica

    Ao receber notcia annima - delatio criminis inqualificada - daprtica de infrao de ao pblica curial abster-se quer de for-mular apressurada requisio de instaurao de inqurito policial,quer de instaurar de imediato procedimento investigativo autno-mo, cumprindo proceder, se possvel, prvia tomada do depoi-mento da vtima (ou de seu representante legal, bem como deeventuais testemunhas indicadas) com vistas a certificar-se o agenteministerial da fidedignidade do fato apocrifamente comunicado.

    4 O inqurito policial acompanhar a denncia ou queixa, sempre que servir de base a umaou a outra.

    5 O rgo do Ministrio Pblico dispensar o inqurito, se com a representao foremoferecidos elementos que o habilitem a promover a ao penal, e, neste caso, oferecer adenncia no prazo de quinze dias. (Itlico nosso)

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    A delao annima no deve, pois, ser repelida sem mais6, mor-mente quando a informao indicar a existncia de estado flagran-cial (situaes de emergncia, como e.g., o socorro vtima)7, emque o esclarecimento do fato apresenta-se, pela prpria naturezadas coisas, impositivo. Sem embargo, o acolhimento preliminar dedelao annima exige tendo-se em mira a vedao constitucionaldo anonimato (art. 5. IV, CF) redobrada cautela, orientada, so-bretudo, a testar a existncia de um mnimo contedo de veros-similhana na comunicao que se apresente coberta pelo vu daanonimidade. Fundamental nesta direo, julgados dos ColendosSTJ e STF:

    (...) Ainda que com reservas, a denncia annima admitida em nosso ordenamento jurdico, sendoconsiderada apta a deflagrar procedimentos de ave-riguao, como o inqurito policial, conforme con-tenham ou no elementos informativos idneos su-ficientes, e desde que observadas as devidas cau-telas no que diz respeito identidade do investiga-do. Precedentes do STJ (...). (STJ. HC 44649/SP,Rel. Min. LAURITA VAZ, 5. Turma, DJ 08-10-2007,p. 322).

    No nulo o inqurito policial instaurado a partir dapriso em flagrante dos acusados, ainda que a au-toridade policial tenha tomado conhecimento prviodos fatos por meio de denncia annima. (HC 90.178,

    6 Em sentido convergente, o Enunciado n 24, da 2. Cmara Criminal de Coordenao eReviso do Ministrio Pblico Federal: A notitia criminis annima apta a desencadearinvestigao penal sempre que contiver elementos concretos que apontem para a ocorrn-cia de crime.

    7 Nessa linha de desenvolvimento argumentativo, a avisada doutrina de OLIVEIRA; FISCHER,In: Comentrios ao Cdigo de processo penal, op. cit., p. 21, que tambm aludem, eventu-alidade de a notcia apcrifa apontar para a existncia de elementos de materialcomprobatrio da notcias e/ou de pessoas que estejam em condies de atestar sua vera-cidade, com a respectiva indicao de lugar e identificao, outorgando assim condiesde avaliar a pertinncia e relevncia dos fatos para uma possvel investigao criminal.

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    Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 2-2-2010,Segunda Turma, DJE de 26-3-2010).

    (...) os escritos annimos no podem justificar, spor si, desde que isoladamente considerados, a ime-diata instaurao da persecutio criminis, eis quepeas apcrifas no podem ser incorporadas, for-malmente, ao processo, salvo quando tais documen-tos forem produzidos pelo acusado, ou, ainda, quandoconstiturem, eles prprios, o corpo de delito (comosucede com bilhetes de resgate no delito de extorsomediante sequestro, ou como ocorre com cartas queevidenciem a prtica de crimes contra a honra, ouque corporifiquem o delito de ameaa ou que mate-rializem o crimen falsi, p. ex.). Nada impede, contu-do, que o Poder Pblico (...) provocado por delaoannima tal como ressaltado por Nelson Hungria,na lio cuja passagem reproduzi em meu voto adotemedidas informais destinadas a apurar, previamente,em averiguao sumria, com prudncia e discrio,a possvel ocorrncia de eventual situao de ilici-tude penal, desde que o faa com o objetivo de con-ferir a verossimilhana dos fatos nela denunciados,em ordem a promover, ento, em caso positivo, aformal instaurao da persecutio criminis, manten-do-se, assim, completa desvinculao desse proce-dimento estatal em relao s peas apcrifas. (Inq1.957, Rel. Min. Carlos Velloso, voto do Min. Celso deMello, julgamento em 11-5-2005, Plenrio, DJ de 11-11-2005. No mesmo sentido: HC 95.244, Rel. Min.Dias Toffoli, julgamento em 23-3-2010, Primeira Tur-ma, DJE de 30-4-2010; HC 84.827, Rel. Min. MarcoAurlio, julgamento em 7-8-2007, Primeira Turma,DJ de 23-11-2007. Vide: HC 90.178, 260 Rel. Min.Cezar Peluso, julgamento em 2-2-2010, Segunda Tur-ma, DJE de 26- 3-2010).

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    1.1.5.1 Cognio espontnea de infrao penal: providncias

    Na hiptese de cognio espontnea de infrao penal divulga-da em veculo de comunicao social, no requisitar prontamentea instaurao de inqurito policial nem instaurar procedimentoadministrativo de investigao. Convm, primeiramente, por me-dida de cautela, colher, sempre que possvel, o depoimento davtima ou de seu representante legal acerca da autenticidade danotcia.

    1.1.6 Prova substancialmente nova em inqurito policial ou pro-cedimento administrativo investigatrio arquivado

    Ao ingressar na esfera de conhecimento do Promotor de JustiaCriminal notcia de prova nova adscrita a fato delituoso objeto deinqurito policial ou procedimento administrativo investigatrio jarquivado, competir-lhe- pugnar pelo apensamento desta queles,com simultneo pedido de vista para o efeito de proceder ao exameda sua relevncia para a revalorao do conjunto probatrio jcristalizado nos autos. A permanecer inalterado o panorama pro-batrio prova no substancialmente nova tocar ao Promotorpronunciar-se no sentido da manuteno do arquivamento.

    Se, opostamente, mostrar-se a prova acrescida relevante para oconjunto de evidncias previamente existentes, convir requerer,fundamentadamente, o desarquivamento do inqurito policial ou doprocedimento administrativo investigatrio 8, para o efeito de dar-se prossecuo s investigaes pertinentes; por outra margem, se,porventura, com a simples interseo da prova nova ao acervo indi-cirio preexistente, restar demonstrada, estreme de dvidas, a ex-istncia de justa causa, instar movimentar-se desde logo compe-tente ao penal.

    8 Providenciando imediata comunicao ao Procurador-Geral de Justia (v. o art. 5. daResoluo n. 13, do Conselho Nacional do Ministrio Pblico, de 02 de outubro de 2006).

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    A necessidade de prova nova para a reabertura de investigaoj arquivada mediante deciso que, de regra 9, no faz coisa julga-da material (deciso rebus sic standibus) matria sobre a qualno grassa dissdio jurisprudencial. ver a jurisprudncia de nossostribunais:

    PROCESSUAL PENAL. INQURITO POLICIAL. DE-SARQUIVAMENTO. NOVAS PROVAS. INEXISTNCIA.FALTA DE JUSTA CAUSA. TRANCAMENTO DA AOPENAL. Uma vez arquivado o inqurito policial, arequerimento do Ministrio Pblico, por falta decondies para o oferecimento da denncia e con-sequente ajuizamento da ao penal, apenas a ex-istncia de provas novas, suscetvel de ensejarseu desarquivamento. No presente caso, inexistesequer notcia de novas provas, alm daquelas queserviram de base promoo pelo arquivamento.Writ concedido para que se tranque a ao penal n0693001008134-9. (STJ. Recurso Ordinrio em Ha-beas Corpus. RHC 14130 MG 2003/0026911-6;Relator: Ministro PAULO MEDINA; julgamento: 14/05/2003; SEXTA TURMA; publicao: DJ 16.06.2003,p. 410).Arquivado o inqurito policial, por despacho do juiz,a requerimento do Promotor de Justia, no pode aao penal ser iniciada, sem novas provas. (Smu-la 524, do STF).

    9 Far, porm, coisa julgada material a deciso de arquivamento fundamentada na atipicidadedo fato noticiado. Entendendo que o reconhecimento de causa excludente de antijuridicidade(estrito cumprimento do dever legal) no faz coisa julgada material (STF, HC 95.211, Rel. Min.Crmen Lcia, julgamento em 10-3-2009, Primeira Turma, ver o Informativo 538).

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    CAPTULO 2:

    2 DO INQURITO POLICIAL

    2.1 CONSIDERAES GERAIS

    Ao receber autos de inqurito policial cumpre atentar que estaro membro do Parquet a desempenhar, dentre outras, a funo defiscal da atividade de investigao realizada pela Polcia, dever re-gulamentado pela Resoluo n 20 do CNMP, de 28 de maio de 200710.

    A outro tanto, ao deparar-se com irregularidades no processa-mento do autos de inqurito, deve o Promotor cuidar de sua ade-quao aos moldes legais e regulamentares como, por exemplo,exigir a correta numerao e rubrica das pginas, ao influxo defixar a responsabilidade pela eventual supresso de pginas ou in-formaes dos autos.

    Acresce timbrar que, para o fim de fomentar a melhoria dosservios policiais, poder o Promotor de Justia expedir re-comendaes, fixando prazo razovel para a adoo das providn-cias cabveis. Sem embargo, em que pese a funo fiscalizadoradesenvolvida, no lhe toca exercer funo de rgo correicional, demodo que lhe cumprir abster-se de repreender a Autoridade Poli-cial nos autos do inqurito. Ergo, as falhas funcionais que tenhamaptido para comprometer o bom andamento das investigaes de-vem ser objeto de comunicao Corregedoria competente ou Secretaria de Segurana e Defesa Social, merc expediente instru-do com cpia dos documentos consubstanciadores da falta funcionalou disciplinar detectada.

    J em hipteses de maior gravidade e urgncia, deve o Promo-tor solicitar Chefia do Parquet que robustea o pleito ministerialde providncias apresentado aos rgos administrativos e correicio-nais da Polcia, visando obteno de resultado mais clere e satis-fatrio.

    10 Sobre o poder de o rgo do Ministrio Pblico realizar investigaes criminais autnomas,ver o Captulo VII, infra.

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    Tambm dever do Promotor de Justia fiscalizar, nos autos deinqurito policial, inqurito policial militar, autos de priso em fla-grante ou qualquer outro expediente ou documento de naturezapersecutria penal, a destinao de armas, valores, substncias en-torpecentes, veculos e objetos apreendidos, assim como tambmdeve fiscalizar o cumprimento de mandados de priso, requisies edemais medidas determinadas quer pelo prprio Parquet, quer pelorgo do Judicirio, sem permitir-se negligenciar a fiscalizao daobservncia dos prazos, inclusive.

    Ao Promotor de Justia incumbir instaurar procedimento ad-ministrativo investigatrio sempre que observar indcios mnimos daprtica de ilcito penal perpetrado no exerccio da atividade policial.De outro lado, na hiptese de falecer-lhe atribuio para apurar taisilcitos, dever comunicar o fato ao Promotor natural, fazendo-lheencaminhar os elementos indicirio que dispuser consigo.

    2.2 HIPTESE DE IPM ENVIADO JUSTIA COMUM ESTADUAL

    Com o recebimento de inqurito policial militar, remetido emfuno do reconhecimento da incompetncia da Justia Militar, avultaaveriguar se h j inqurito policial comum ou ao penal em trmitepor idntico fato com vistas a, subsecutivamente, diligenciar a real-izao das seguintes providncias11:

    a) requerer, constatada a existncia de inqurito, o apensamen-to de ambas as peas investigatrias, para oportuno exame conjun-to;

    b) requerer, se ao penal houver, o apensamento do inquritopolicial militar aos autos respectivos, promovendo, se necessrio, oaditamento da denncia;

    11 De sublinhar que impender, no que compatvel for, observar procedimento anlogo quandohouver o Promotor recepcionado inqurito policial comum proveniente de outro rgo doMinistrio Pblico ou de Juzo diverso daquele em que funciona.

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    c) inverificada a existncia de inqurito policial ou de ao penal,caber escandir o IPM como um inqurito policial comum, com poste-rior oferecimento de denncia ou pedido de arquivamento ao Juizou, quando imprescindveis, fixar atempada e motivadamente real-izao de novas diligncias, que podem ser objeto de requisio Polcia Civil ou prpria Polcia Militar;

    d) na hiptese de constatar-se a existncia de inqurito policial versando sobre o mesmo fato j arquivado, requerer que lhe se-jam apensados os autos do IPM e, concomitantemente, pugnar porabertura de vista para exame da prova acrescida. Se aps detidaanlise das ditas peas ficar demonstrada a existncia de provanova substanciadora de justa causa para a ativao de ao penal,oferecer denncia; ou, opostamente, se as evidncias adesivas nopermitirem descortinar a presena de justa causa ativao pro-cessual, pronunciar-se pela manuteno do arquivamento do inquri-to, agora com eficcia extensvel aos autos apensados;

    e) provocar, logo de sada, o conflito de atribuies se divergirdos fundamentos que ensejaram a remessa do IPM Justia comumestadual.

    2.3 DEVOLUO DO INQURITO AUTORIDADE POLICIAL PARA DILI-GNCIAS IMPRESCINDVEIS: PODER REQUISITRIO DO MINISTRIOPBLICO

    A devoluo de inquritos autoridade policial tem carter ex-cepcional, logo s dever ter lugar (sem desateno aos prazosprescricionais) quando as diligncias complementares forem perti-nentes e estritamente necessrias ao oferecimento de denncia.Destarte, a promoo de devoluo com vistas ao imprescindvel referentes, pois, caracterizao da autoria, da materialidade dainfrao, bem como da ajustada tipificao da conduta perfazi-mento da investigao dever especificar, objetiva e fundamenta-damente, as diligncias a serem cumpridas, estabelecendo-se prazorazovel para sua cabal realizao.

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    Sobre o tema, trazemos colao recente julgado:

    APELAO CRIMINAL. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.PRELIMINAR. CERCEAMENTO DE DEFESA. INEXISTN-CIA. ARMA NO APREENDIDA. PRESCINDIBILIDADE.CORRUPO DE MENORES. I. Caso o Parquet entendater elementos suficientes, poder oferecer a denn-cia, sem necessidade de novas diligncias. Essa interpretao correta do art. 16 do CPP. O MinistrioPblico no poder requerer a devoluo do inqurito autoridade policial, seno paranovas diligncias, imprescindveis ao oferecimentoda denncia. II. Irrelevante a apreenso da armapara a caracterizao da causa de aumento do artigo157, 2, inc. I, do Cdigo Penal, quando provas ro-bustas so hbeis a demonstrar a incidncia. III. Odesconhecimento da menoridade do comparsa deveser provado pelo ru. No basta a interpretao detur-pada das informaes prestadas no interrogatrio.lV. Apelo desprovido. (TJDF. Rec. 2007.09.1.022554-5; Ac. 490.172; Primeira Turma Criminal; Rel DesSandra de Santis; DJDFTE 28/03/2011; pg. 205).

    2.4 DILIGNCIAS NO INDISPENSVEIS

    Se as diligncias faltantes no se revestirem da nota de im-prescindibilidade para a propositura da ao penal, impende ofere-cer prontamente denncia-crime e requer-las por ocasio do ofere-cimento da pea acusatria exordial; ou, se entender pertinente,requisitar a realizao daquelas em autos de inqurito policial com-plementar.

    Sublinhe-se que a realizao de diligncias policiais, a requer-imento do Ministrio Pblico, aps o oferecimento da denncia,com a amplexao de novos termos de depoimentos aos autos daao penal, no importa, por si s, em maltrato ao principio do

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    contraditrio, salvo se sobrevier condenao com suporte em taisdepoimentos, e no tiverem eles sido repetidos em juzo. Emsentido convergente, importante julgado da lavra do STJ:

    EMENTA: RHC. PROCESSUAL PENAL. DENNCIA QUEDESCREVE CRIME EM TESE, NOS TERMOS DO ART.41 DO CPP. INPCIA. AUSNCIA DE JUSTA CAUSA.TRANCAMENTO DA AO PENAL. DILIGNCIAS POLI-CIAIS PROBATRIAS APS O OFERECIMENTO DADENNCIA. POSSIBILIDADE DE REQUISIO PELO MP.Em sede de habeas corpus, conforme entendimentopretoriano, somente vivel o trancamento de aopenal por falta de justa causa quando, prontamente,desponta a inocncia do acusado, a atipicidade daconduta ou se acha extinta a punibilidade, circun-stncias no evidenciadas na espcie. In casu, adenncia atende aos requisitos do art. 41 do CPP enarra, com todos os elementos indispensveis, aexistncia de crime em tese, de modo a permitiro pleno exerccio do contraditrio e da ampla defe-sa. A realizao de diligncias policiais pro-batrias, a requerimento do Ministrio Pblico,aps o oferecimento da denncia, no implica, porsi s, ofensa ao princpio do contraditrio, o quesomente ocorrer se a sentena final vier a imporcondenao com base naquelas provas, sem a suarepetio em juzo. Precedente pertinente. Recur-so desprovido. (Recurso Ordinrio em Habeas Cor-pus n 11.003 GO 2001/0007271-2; RELATOR :MINISTRO JOS ARNALDO DA FONSECA. Julgamen-to em 28 de junho de 2001).

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    2.5 PRINCPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AO PENAL E NECESSIDADEDE REALIZAO DE DILIGNCIAS IMPRESCINDVEIS COM VISTAS IDEN-TIFICAO DE OUTROS AGENTES

    Se houver concurso de agentes, e alguns deles no estiverem iden-tificados, oportuno oferecer denncia to s em face daqueles jidentificados e requisitar a realizao, em autos complementares, dediligncias direcionadas identificao dos demais, inexistindo, emcaso tal, violao do princpio da obrigatoriedade da ao penal.

    Se tornada conhecida a identidade dos demais agentes, aditar adenncia para o efeito de inseri-los na ao penal, desde que omomento processual o permita.

    Curial destacar que a melhor doutrina tem entendido, peseno se tratar de tema pacificado, que a regra da indivisibili-dade da ao penal privada (art. 48, do CPP) no se projetasobre a ao penal pblica, regida esta que pelo princpio daobrigatoriedade 12.

    Nesse mesmo diapaso o direito pretoriano, verbis:

    O princpio da indivisibilidade no se aplica ao pe-nal pblica. Da a possibilidade de aditamento da denn-cia quando, a partir de novas diligncias, sobrevieremprovas suficientes para novas acusaes. (HC 96.700.Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 17-3-2009, Segun-da Turma, DJE de 14-8-2009.). No mesmo sentido: HC93.524, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 19-8-2008, Primeira Turma, DJE de 31-10-2008.RECURSO ORDINRIO EM HABEAS CORPUS. ESTE-

    12 Nesse sentido, vincando que a regra da indivisibilidade da ao penal aplica-se apenas saes privadas, posto que nas aes pblicas, o princpio da obrigatoriedade j impe quea ao seja proposta contra todos, j que, estar obrigado ao, estar obrigado aocontra todos aqueles que se acredita autores do fato, OLIVEIRA, Eugnio Pacelli de;FISCHER, Douglas. Comentrios ao Cdigo de processo penal, op. cit., p. 111.

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    LIONATO (DEZ VEZES) E QUADRILHA OUBANDO. ADITAMENTO DA DENNCIA. AUSNCIA DENOVO MANDADO DE CITAO. ARGUIDA NULIDADEDO FEITO. INEXISTNCIA. RU CITADO NA AUDIN-CIA DE INQUIRIO DE TESTEMUNHA, NA PRESENADE SEU DEFENSOR. AUSNCIA DE CONSTRANGIMEN-TO ILEGAL. ALEGADA INOBSERVNCIA DA LEI N.11.719/2008. MATRIA NO APRECIADA PELO TRI-BUNAL DE ORIGEM. SUPRESSO DE INSTNCIA. 1. Atese de nulidade do feito no procede, tendo emvista que, aps oferecido o aditamento da denn-cia, foi o ru devidamente citado na audincia deinquirio de testemunha, inclusive com a aberturade prazo para a manifestao da defesa. Desse modo,desnecessria a realizao de nova citao por man-dado, j que inequvoca a cincia do acusado sobreos novos fatos que lhe foram atribudos. Aplicvel,portanto, o disposto no art. 572, inciso II, do Cdi-go de Processo Penal. 2. No tendo sido demonstra-da a existncia do prejuzo efetivamente sofrido,deve prevalecer o disposto no art. 563 do Cdigo deProcesso Penal, que consagra, na Lei Processual p-tria, o princpio do pas de nullit sans grief. 3. OTribunal a quo no se manifestou sobre a arguidainobservncia da Lei n. 11.719/2008. O exame daalegao, nessa oportunidade, configuraria vedadasupresso de instncia. Precedente. 4. Recurso par-cialmente conhecido e, nessa extenso,desprovido. (STJ. RHC 25.512. Proc. 2009/0034006-4; SC; Quinta Turma; Rel Min Laurita Hilrio Vaz;Julg. 03/03/2011; DJE 28/03/2011).

    Se invivel o aditamento, remanesce a possibilidade de ofereceroutra denncia contra os coautores ou partcipes identificados nosautos complementares, sempre atentando para as regras de fix-ao da competncia.

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    2.6 REALIZAO DE DILIGNCIAS AUTNOMAS PELO MINISTRIOPBLICO

    Analisar se as diligncias de fato imprescindveis ao oferecimen-to da denncia podem ser realizadas diretamente pelo prprio Mi-nistrio Pblico, mediante exercitao das prerrogativas legais econstitucionais 13.

    Reza a jurisprudncia do colendo STJ:

    Ementa: 1. A Constituio Federal preceituou acercado poder requisitrio do Ministrio Pblico para quepudesse exercer, da melhor forma possvel, as suasatribuies de dominus litis e a defesa da ordemjurdica, do regime democrtico e dos interessessociais e individuais indisponveis. 2. Ressalte-seque o referido poder conferido ao Parquet, no im-pede o requerimento de diligncias ao Poder Ju-dicirio, desde que demonstre a incapacidade de suarealizao por meios prprios. Precedente. 3. Nahiptese vertente, o Ministrio Pblico requereu aoJuzo, na fase do Inqurito Policial, a oitiva de trsvtimas e a juntada de laudo pericial pela autori-dade policial, sem sequer ter havido de sua partequalquer ato para a sua realizao ou ainda demon-strado existir empecilho ou dificuldade para tanto.No se vislumbra, assim, a obrigatoriedade do de-ferimento de tais diligncias pelo Magistrado, umavez que poderiam ter sido requisitadas pelo prpriorgo ministerial, nos termos da atribuio que lhe prevista pela prpria legislao. (STJ. Resp664.984-RS. Rel. Min. Paulo Medina, 6. Turma, DJ01.03.2004, p. 198). itlico nosso.

    13 Para maiores detalhes sobre o tema das investigaes ministeriais autnomas, ver o Cap-tulo 7, infra.

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    2.7 REQUISIO DE DILIGNCIAS COMPLEMENTARES COM INDICIADOPRESO

    condizente com os prazos reduzidos dos inquritos em quehaja indiciado preso abster-se em devolv-los autoridade policial.Cumprir, em hiptese tal, quando evidenciada a justa causa, ofer-ecer prontamente denncia-crime e requisitar mediante promooavulsa, o cumprimento das diligncias faltantes em autos comple-mentares.

    Se a devoluo dos autos de inqurito policial para que se cum-pram novas diligncias revelar-se imperiosa, verificar quer a ne-cessidade de colocao do indiciado em liberdade, com o relaxa-mento da priso em flagrante, quer a possibilidade de decretaoda priso temporria.

    Pese embora a recomendao supra, se as diligncias so im-prescindveis e complexa a matria investigada, bem como se grandefor o nmero de investigados, nem sempre haver constrangimentoilegal, devendo-se, em casos tais, atentar-se para o princpio darazoabilidade, consoante tem-se manifestado a jurisprudncia na-cional:

    LIBERDADE PROVISRIA INDEFERIDA. CONSTRANGI-MENTO ILEGAL. INSUCESSO. DECISO JUSTIFICADANOS ELEMENTOS DO ARTIGO 312 DO CPP. GARANTIADA ORDEM PBLICA E CONVENINCIA DA INSTRUOCRIMINAL. No h constrangimento ilegal a ser repa-rado se a deciso que indeferiu a liberdade provisriaest baseada na garantia da ordem pblica e con-venincia da instruo criminal, mormente quandoh apontamentos de que as testemunhas do feitoesto sendo ameaadas. 2- EXCESSO DE PRAZO PARAO TRMINO DO INQURITO POLICIAL. CONSTRANGI-MENTO ILEGAL NO CONFIGURADO. DILIGNCIAS REQUERIDAS PELO MINISTRIO PBLI-

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    CO. PRINCPIO DA RAZOABILIDADE. Em regra, mes-mo no sendo prorrogvel, o razovel extrapola-mento do prazo previsto no artigo 10 do CPP parao trmino do inqurito policial para ru preso (10dias) no configura constrangimento ilegal se a de-mora razovel na concluso do procedimento in-vestigatrio vem da necessidade de diligncias im-prescindveis, mormente quando a causa com-plexa e o nmero de indiciados grande (princpioda razoabilidade). ORDEM DENEGADA. (TJGO. HC25860-94.2011.8.09.0000. Itapirapu; Rel. Des.Leandro Crispim; DJGO 14/03/2011. p. 402). Itli-co nosso.

    2.8 DA ANLISE DO PEDIDO DE DILAO DE PRAZO FORMULADOPELA AUTORIDADE POLICIAL

    Caber, imprimindo especial ateno aos prazos prescricionais,averiguar a pertinncia e adequao das diligncias complementar-es ainda no realizadas e, se couber, na mesma promoo emordem a coartar o recorrente retorno dos autos do inqurito policial determinar, de modo fundamentado, a realizao das dilignciasque entender relevantes para a investigao e que no tenham sidopostuladas espontaneamente pela autoridade policial, velando sem-pre pelo cumprimento dos prazos para o encerramento do procedi-mento investigativo preliminar estabelecidos pela legislao.

    2.9 DO RESPEITO AOS DIREITOS DAS VTIMAS DE CRIME

    Na hiptese de concluso de inqurito policial versante sobre prticade crime de ao penal de iniciativa privada, faz-se curial requererao juiz a notificao da vtima para que esta possa, se o desejar,exercer o direito de queixa, evitando-se o decurso, in albis, do prazodecadencial.

    Velar para que os dados de vtimas e testemunhas protegidas,

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    coligidos pela autoridade policial, no se venham a tornar parteconstituinte dos termos de oitiva e demais peas dos autos, os quaisdevem permanecer em sigilo nos termos da lei 14.

    Cabe pr em evidncia que, aps um longo perodode ostracismo, a vtima de crime comea lentam-ente a ressurgir no cenrio das legislaes mun-diais. Sem embargo, ressalvada a Lei dos juiza-dos especiais criminais (que enseja possibilidadede uma reparao endoprocessual dos danos) e achamada Lei Maria da Penha, no se tem obser-vado um real interesse do legislador pela sortedas vtimas de crime. E uma tal incria observ-vel tambm nos demais poderes pblicos con-trasta fortemente com o fenmeno da prevaln-cia da vitimizao, verificvel principalmente nospases em desenvolvimento, descendente, bemde ver, alis no h segredo nem mistrio, de umaincontrolada hipertrofia da criminalidade, sobre-tudo violenta, que pases como o Brasil tm viven-ciado nas ltimas trs dcadas. Por tudo isso, cabeao Promotor Criminal ter especial zelo e atenopara com a vtima de crime 15, mormente a vtimapertencente s classes desamparadas 16, buscan-do ento reforar merc, e.g., adequada e atem-pada comunicao de atos relevantes para a de-fesa de seus interesses reparatrios (dano ex

    14 Art. 7., IV, da Lei 9.807, de 13 de julho de 1999.

    15 Vendo-a no apenas como mera fonte de prova, mas tambm, principalmente, como pessoaem circunstancial estado de hipossuficincia.

    16 Fiscalizar, nesse desiderato, o cumprimento do disposto no 5o do art. 201, do CPP: Se ojuiz entender necessrio, poder encaminhar o ofendido para atendimento multidisciplinar,especialmente nas reas psicossocial, de assistncia jurdica e de sade, a expensas doofensor ou do Estado.

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    delicto) estratgias poltico-criminais orienta-das a dar concreo s mudanas exigidas peladura realidade emprica 17.

    Observar, sempre com um olhar proativo, dentro de umaperspectiva propriamente intraprocessual (mas que por analogia,no que couber, no s pode como deve ser empregue j na fasepreliminar da investigao criminal), o disposto nos pargrafos 2.e 3., do art. 201, do CPP, abaixo reproduzidos, fora j de suasintrnsecas relevncias para a vtima de crime:

    2o O ofendido ser comunicado dos atos proces-suais relativos ao ingresso e sada do acusado dapriso, designao de data para audincia e sen-tena e respectivos acrdos que a mantenham oumodifiquem. 3o As comunicaes ao ofendido devero ser fei-tas no endereo por ele indicado, admitindo-se, poropo do ofendido, o uso de meio eletrnico.

    2.10 DO ZELO PARA COM AS PROVAS REPETVEIS (EM ULTERIORAUDINCIA CONTRADITRIA) CONSTANTES DO INQURITO OUPROCEDIMENTO INVESTIGATIVO PREPARATRIO

    dever zelar, tendo sobretudo presente a forte mobilidade dapopulao brasileira, para que a autoridade policial ressalvada ahiptese de vtima ou testemunha protegida faa constar, nostermos de oitiva do declarante ou depoente, os respectivos en-dereos residencial e de trabalho, telefones, assim como a indi-cao do (s) nome(s), telefone (s) e endereo (s) de pessoa(s) paracontato, em ordem a obstar-se eventual descarte da prova pessoal,com inegvel repercusso negativa no arsenal probatrio.

    17 Para uma anlise mais ampla dos problemas que a vtima de crime convoca. In: CMARA,Guilherme Costa. Programa de poltica criminal. Coimbra: Coimbra ed., esp. pp. 330 e ss.

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    No demasia recordar que a nova redao do art. 155, doCPP 18 pe em destaque a impossibilidade de deciso judicial fun-damentada em prova repetvel que no tenha sido renovada du-rante a instruo criminal. E, como no poderia deixar de ser, ajurisprudncia de nossos tribunais tem seguido risca este co-mando normativo. conferir:

    Ementa: I - Ofende a garantia constitucional docontraditrio fundar-se a condenao exclusivamenteem elementos informativos do inqurito policial noratificados em juzo (Informativo-STF no. 366). Incasu, o Tribunal de origem fundamentou sua con-vico somente em depoimento policial, colhido nafase do inqurito policial, e em confisso extrajudi-cial retratada em Juzo, deixando de indicar qualquerprova produzida durante a instruo criminal e, tam-pouco, de mencionar que aludidos elementos foramcorroborados durante a instruo criminal. Ordemconcedida. (STJ, HC, 124.438-ES, Rel. Min. FelixFischer, 5. Turma, Dje 03-08-2009).

    2.11 DO CONTROLE DO PRAZO DE CONCLUSO DO INQURITOPOLICIAL

    Fiscalizar o cumprimento dos prazos de concluso dos inquritosa que deve observncia a autoridade policial, em ordem a no per-mitir sua eternizao, oficiando a Procuradoria-Geral de Justiasempre que constatar a incidncia de prescrio da pretenso puni-tiva atribuvel morosidade na concluso da investigao, para oefeito de comunicao do fato e cobrana de providncias Secre-taria de Segurana e Defesa Social.

    18 Art. 155. O juiz formar sua convico pela livre apreciao da prova produzida emcontraditrio judicial, no podendo fundamentar sua deciso exclusivamente nos elementosinformativos colhidos na investigao, ressalvadas as provas cautelares, no repetveis eantecipadas. (Redao dada pela Lei n 11.690, de 2008).

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    CAPTULO 3:

    3 DO EXAME DE CORPO DE DELITO E OUTRAS PERCIAS

    3 .1 NOS EXAMES DE CORPO DE DELITO E DEMAIS PERCIASCUMPRIR

    I observar, no caso de leso corporal grave, a necessidade derequisitar a realizao de exame complementar, bem como velarpor sua correta motivao, posto que a deficiente fundamentaono que concerne realidade do resultado gravoso, no raro con-statvel em uma monossilbica assertiva quanto sua existncia,no autoriza estabelecer como sendo de natureza grave a lesosuportada pela vtima. Em casos tais, h de requerer-se o adita-mento do laudo pericial e juntada do pronturio mdico de atendi-mento vtima. Veja-se, quanto a isto, a jurisprudncia de nossossindrios:

    EMENTA: APELAO CRIMINAL. LESOCORPORAL GRAVE. AUSNCIA DE EXAME COMPLE-MENTAR. DESCLASSIFICAO. SENTENA MANTIDA.PRESCRIO RECONHECIDA DE OFCIO. 1. O examecomplementar na vtima necessrio para a quali-ficao da leso corporal como grave (art. 129, 1., I, CP), sua ausncia impede a condenao nessamodalidade. 2. Sentena mantida por seus funda-mentos. 3. Prescrio reconhecida de ofcio, unanimidade. (TJPI. ACr 2010.0001.005949-8. Se-gunda Cmara Especializada Criminal; Rel. Des.Joaquim Dias de Santana Filho; DJPI 30/03/2011.p. 7).

    EMENTA: APELAO CRIMINAL. LESO CORPORAL.EXAME COMPLEMENTAR REALIZADO APS O PRAZOPREVISTO NO ARTIGO 168, 2, DO CDIGO DE PRO-CESSO PENAL. IRRELEVNCIA. EXCLUDENTE DE ILI-

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    CITUDE. LEGTIMA DEFESA NO COMPROVADA. AU-TORIA E MATERIALIDADE. PROVAS SUFICIENTES.CONDENAO MANTIDA. RECURSO NO PROVIDO. Oprazo previsto no art. 168, 2, do Cdigo de Pro-cesso Penal no peremptrio, uma vez que comele se pretende apenas resguardar que, com o de-curso do tempo, venham a se perder os elementosnecessrios verificao da existncia de lesesgraves. Mesmo depois de transcorrido o prazo de 30dias previsto no art. 168, 2, do CPP, se existiremelementos que permitam a afirmao da ocorrnciade leses graves em decorrncia da agresso, nadaobsta a que se faa o exame complementar. (TJMG.APCR 0159586-39.2006.8.13.0515. Piumhi; SextaCmara Criminal; Rel. Des. Evandro Lopes CostaTeixeira; Julg. 01/03/2011; DJEMG 23/03/2011).

    II verificar se o laudo complementar se encontra instrudo comfotografia quando a leso corporal grave resultar deformidade per-manente, cumprindo requisit-la sempre que ocorrer dano estticoou assimetria;

    A providncia supra sem dvida alguma relevante, contudo, aqualificadora em causa poder restar demonstrada por outros meiosde prova:

    EMENTA: LESO CORPORAL GRAVE. LEGTIMA DE-FESA PRPRIA. AGENTE QUE, PROVOCADA PELA VTI-MA, PARTE PARA O DESFORO FSICO. EXCLUDENTEINDEMONSTRADA. DEFORMIDADE PERMANENTE. ALE-GADA IMPRESTABILIDADE DA PROVA MATERIAL, FALTA DE FOTOGRARIA DA OFENDIDA. IRRELEVN-CIA. DESCLASSIFICAO INADMISS-VEL, ANTE OSELEMENTOS QUE ATESTAM A GRAVIDADE DA LESO.CONDENAO MANTIDA. APELO IMPROVIDO. No agesob o plio da legtima defesa prpria quem, acei-

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    tando desafio verbal, de forma ab-rupta e despro-porcional agresso inicial, parte para o desforofsico e fere gravemente a vtima. De outra parte, afalta de fotografias da vtima, demonstrando a di-menso da deformidade nela causada, no consti-tui bice ao reconhecimento da qualificadora dadeformidade permanente, evidenciada pelo laudo deexame de corpo de delito e demais percias comple-mentares, e pela prova testemunhal. (TJPB. ACr2004.001000-6. Cajazeiras; Cmara Criminal; Rel.Des. Raphael Carneiro Arnaud; Julg. 18/05/2004;DJPB 29/05/2004).

    III analisar se o laudo necropsial, quando se tratar de homic-dio doloso, est acompanhado de ficha biomtrica da vtima e dediagrama com indicao da localizao dos ferimentos e a suadireo, requisitando, em caso negativo, a complementao doexame para esse fim;

    IV Averiguar se o laudo de exame necroscpico, na hiptese deferimento ocasionado por projtil de arma de fogo, demonstra: a)a existncia de reas de chamuscamento, esfumaamento ou ta-tuagem, quer na pele quer na roupa da vtima; b) os orifcios deingresso e fuga, quando o projtil transfixar o corpo da vtima; c) atrajetria do projtil no corpo do ofendido e os rgos lesados. Emcaso negativo, requisitar a complementao do laudo para o efeitode supri-lo;

    V zelar para que o auto de reconhecimento de pessoas19 ou

    19 Entendendo que o direito ao silncio no autoriza que se recuse validade ao reconhecimen-to de pessoa, bem como que para tal ato pode o acusado, se no comparecer apesar deregularmente intimado ser conduzido coercitivamente, para que a testemunha ou testemu-nhas (e o ofendido) faam ou no a identificao de autoria do delito, OLIVEIRA, EugnioPacelli de; FISCHER, Douglas, Comentrios ao Cdigo de processo penal, op. cit., p.433.

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    coisas se adscreva aos termos do art. 226 do Cdigo de ProcessoPenal 20, requisitando seu refazimento quando inobservados os requi-sitos legais. Na hiptese de revelar-se invivel o reconhecimentopessoal do investigado, requerer que se proceda ao reconhecimentofotogrfico, bem como postular pela juntada aos autos da fotogra-fia objeto do reconhecimento 21;

    VI observar, no caso de restar prejudicado o exame de corpode delito direto, a necessidade de realizao de percia indireta, aconstituir-se a partir de informes mdico-hospitalares ou das de-scries narrativas do ofendido e testemunhas.

    Vejam-se as lies do direito pretoriano:

    APELAO CRIMINAL. LESO CORPORAL LEVE NOMBITO DOMSTICO. AUSNCIA DE MATERIALIDADE.ABSOLVIO MANTIDA. RECURSO NO PROVIDO. I.Quando a infrao deixar vestgios, e assim o ado art. 129 do Cdigo Penal, ser indispensvel oexame de corpo de delito, direto ou indireto. Ausentea materialidade, necessria a absolvio. II. Recur-so no provido. (TJMG. APCR 4080847-65.2007.8.13.0024. Belo Horizonte; Quarta Cma-ra Criminal; Rel. Des. Eduardo Brum; Julg. 02/02/2011; DJEMG 16/02/2011).

    20 Segundo o olhar atento dos tribunais, tem-se que: Reconhecimento de pessoa: sua reali-zao sem observncia do procedimento determinado imperativamente pelo art. 226 doCdigo de processo penal elide sua fora probante e induz falta de justa causa para acondenao que, alm dele e sem sua reiterao em juzo, tambm sem atendimento smesmas formalidades legais, s se apoia em confisso policial retratada (HC n 70.936-2-SP, 1Turma, rel. Min. Seplveda Pertence, j. 8/11/94, DJU de 6/09/96, ementa parcial).

    21 Mas importante atentar que (...) O reconhecimento fotogrfico base da exibio datestemunha da foto do suspeito meio extremamente precrio de informao, ao qual ajurisprudncia s confere valor ancilar de um conjunto de provas juridicamente idneas nomesmo sentido; no basta para tanto a chamada de corru colhida em investigaes policiaise retratada em juzo. (STF. HC n 74.368 Rel. Min. Seplveda Pertence, j. 01/07/1997, DJUde 28/11/1997).

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    APELAO. VIOLNCIA DOMSTICA (ART. 129, 9 C/C. ART. 61, II, F DO CDIGO PENAL). RECURSO DE-FENSIVO. PRELIMINAR. Nulidade do feito em razoda materialidade basear-se em exame de corpo dedelito indireto. Inadmissibilidade. Exame indiretofirmado com base em laudo mdico legvel. In-teligncia do artigo 158 do CPP. Pretendida a ab-solvio por Insuficincia Probatria e pelo perdoda vtima ao acusado. Inadmissibilidade. Autoria eMaterialidade devidamente comprovados. Depoi-mento da vtima, dando conta da agresso sofrida.Vtima que, ao discutir com o ru, sofreu vrios so-cos na cabea, caindo ao solo e perdendo a con-scincia. Exame de corpo de delito que atestou aocorrncia de leso corporal de natureza leve.Agresso presenciada pelo filho da vtima. O per-do da vtima ao ru fato juridicamente irrele-vante, no tornando o fato atpico. Dosimetria. Penabase fixada no mnimo legal. Aumento de 1/6 peloreconhecimento da agravante prevista no artigo 61,II, f (violncia contra a mulher). Inadmissibilidade. Bis in idem. Circunstncias elementares do tipo.Impossibilidade da aplicao da substituio da penaprivativa de liberdade pela restritiva de direitos.Vedao legal expressa. Regime inicial aberto. Con-cedida a suspenso condicional da pena peloprazo de 02 anos. Recurso parcialmenteprovido. (TJSP. APL 0000006-98.2009.8.26.0581;Ac. 4781822; So Manuel; Quarta Cmara de DireitoCriminal; Rel. Des. Salles Abreu; Julg. 21/09/2010;DJESP 11/01/2011).

    VII certificar-se, quando se defrontar com situao de porteilegal de arma, se existe laudo pericial de potencialidade do instru-mento lesivo, promovendo a requisio dessa percia sempre queconstatar sua falta;

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    VIII requisitar, sempre que houver apreenso de armas e mu-nies, os laudos de exames concernentes s seguintes percias:confrontao balstica entre a arma de fogo apreendida e os pro-jteis ou cpsulas recolhidos; confronto balstico entre o projtilextrado do cadver e os coletados na cena do crime, caso do mes-mo calibre nominal ou compatvel, designadamente ao influxo deaveriguar se deflagrados pelo mesmo armamento; confronto entrecpsulas apreendidas in situ, se do mesmo calibre nominal ou com-patvel, para o efeito de avaliar se projetadas pela mesma arma;constatao da potencialidade lesiva dos objetos apreendidos e, quan-do pertinente, sobre a existncia ou no de mancha hematoide,bem como, de impresses digitais;

    IX requisitar, quando apreendida imitao de arma de fogo, aformao de laudo de exame do instrumento, o qual, para o efeitode demonstrao de verossimilhana, dever ser robustecido comfotografias;

    X empenhar-se na realizao do exame de constatao deembriaguez com vistas a reforar a demonstrao da materialidadedelitiva ao defrontar-se com fatualidade que se ajuste descritiva-mente moldura do art. 306 da Lei n 9503/97.

    Tendo em vista a atual moldura redacional do art. 306 do Cdigode Trnsito Brasileiro 22, fora de convir, no admissvel preten-

    22 Pedimos vnia para reproduzir, fora da relevncia deste dispositivo de Lei, o citado art.306, verbis: Conduzir veculo automotor, na via pblica, estando com concentrao de lcoolpor litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influncia de qualqueroutra substncia psicoativa que determine dependncia. Penas - deteno, de seis meses atrs anos, multa e suspenso ou proibio de se obter a permisso ou a habilitao paradirigir veculo automotor. Pargrafo nico. O Poder Executivo federal estipular a equivaln-cia entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterizao do crime tipificadoneste artigo. Tambm merece cita, para uma melhor compreenso sistmica da matria, anorma encaixilhada no art. 277, do mesmo diploma legal: Todo condutor de veculo automotor,envolvido em acidente de trnsito ou que for alvo de fiscalizao de trnsito, sob suspeita dedirigir sob a influncia de lcool ser submetido a testes de alcoolemia, exames clnicos,percia ou outro exame que, por meios tcnicos ou cientficos, em aparelhos homologadospelo CONTRAN, permitam certificar seu estado. Redaes dadas pela Lei n 11.705, de 2008.Cursivas nossas.

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    der-se comprovar a presena da dosagem de lcool no sanguenecessria configurao da embriaguez tpica mediante prova teste-munhal ou pela confisso. que a embriaguez ao volante e emdireito penal no lcito despedir-se do princpio da reserva legal atualmente s franqueada demonstrar-se mediante prova tcnicaou cientfica. Esta compreenso do problema sub studio beneficiade ampla adeso na doutrina ptria. conferir:

    (...) No momento em que o nvel de alcoolemia (6decigramas de lcool por litro de sangue) foi inseri-do como elementar do tipo incriminador tornou-seimprescindvel a comprovao cabal dessa dosagemsob pena de atipicidade da conduta. O nvel de l-cool, por se tratar de medida tcnica, necessita dedemonstrao pericial (...). O certo que a provatestemunhal ser incapaz de suprir o exame de cor-po de delito e qualquer outro exame pericial, queno mea diretamente a concentrao de lcool porlitro de sangue, tornando dbia a presena da ele-mentar de natureza objetiva, imprescindvel para aconfigurao do fato tpico23. grifo nosso.

    E ainda:

    (...) antes da alterao legislativa, para a caracte-rizao do delito bastava a comprovao do estadode embriaguez (a influncia de lcool) apta a im-pedir o condutor de dirigir com segurana viria,independentemente da quantidade da substncia nosangue dele. Essa comprovao do estado deembriaguez poderia ser realizada por exame de do-sagem alcolica no sangue, exame de dosagem al-

    23 Cfr. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislao penal especial. 5. ed. So Paulo:Saraiva, 2010, p. 343 e s. 4v.

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    colica no ar dos pulmes (aferio por meio deetilmetro, vulgarmente, conhecido comobafmetro) ou ainda, no caso de recusa do condu-tor de participar desses exames, por exame clnico(visual) a ser realizado por perito ou testemunhas.Agora, pela nova redao tpica do art. 306 do CTB,a quantidade mnima de lcool no sangue - e no amera influncia pelo lcool - que constitui a ele-mentar do tipo penal, de tal sorte que se no com-provada essa quantidade mnima, no estar demon-strada a tipicidade da conduta. E essa quantidademnima de lcool no sangue s tem como ser verifi-cada, de forma segura e adequada, por meio dosmencionados exames de dosagem alcolica no sangueou de dosagem alcolica no ar pulmonar. Jamais porexame clnico (visual), que pode indicar um estadode embriaguez do condutor, mas nunca a quantidademnima de lcool que ele traz no sangue 24.

    Nesta linha de desenvolvimento argumentativo, no se podeomitir em assinalar que o ilcito-tpico do art. 306 do CTB s seconstitui quando demonstrada a materialidade mediante prova peri-cial, posto que no tm nem o exame clnico, nem a prova teste-munhal aptido para demonstrar, com preciso, o nvel de dosagemalcolica no sangue, afinal exigido pelo tipo em disceptao. De umjeito mais preciso e finalizando: sem materialidade no h o crimede embriaguez ao volante.

    No de prosperar, portanto, a pretenso de considerar supridaa demonstrao do elemento objetivo do tipo por meios outros queno por percia (exames de dosagem alcolica no sangue ou dedosagem alcolica no ar por etilmetro), posto que s ela, fora dadico redacional do art. 306, do CTB, mostra-se capaz de definir aconcentrao de lcool exigida no tipo.

    24 GOMES, Luiz Flvio; MACIEL, Silvio. Crime de embriaguez ao volante e ativismo punitivistado STJ (Parte 2). Disponvel em: . Acesso em: 11 fev. 2011.

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    Singra nesse mesmo norte, recente julgado da rica lavra docolendo STJ:

    EMENTA: RECURSO ESPECIAL. EMBRIAGUEZ AO VO-LANTE. AUSNCIA DE EXAME DE ALCOOLEMIA. AFER-IO DA DOSAGEM QUE DEVE SER SUPERIOR A SEISDECIGRAMAS. NECESSIDADE. ELEMENTAR DO TIPO.1. Antes da edio da Lei n 11.705/08 bastava,para a configurao do delito de embriaguez ao vol-ante, que o agente, sob a influncia de lcool, ex-pusesse a dano potencial a incolumidade de outrem.2. Entretanto, com o advento da referida Lei, inse-riu-se a quantidade mnima exigvel e excluiu-se anecessidade de exposio de dano potencial, delim-itando-se o meio de prova admissvel, ou seja, afigura tpica s se perfaz com a quantificao obje-tiva da concentrao de lcool no sangue o que nose pode presumir. A dosagem etlica, portanto, pas-sou a integrar o tipo penal que exige seja compro-vadamente superior a 6 (seis) decigramas. 3. Essacomprovao, conforme o Decreto n 6.488 de19.6.08, pode ser feita por duas maneiras: examede sangue ou teste em aparelho de ar alveolar pul-monar (etilmetro), este ltimo tambm conhecidocomo bafmetro. 4. Isso no pode, por certo, ense-jar do magistrado a correo das falhas estruturaiscom o objetivo de conferir-lhe efetividade. O DireitoPenal rege-se, antes de tudo, pela estrita legalidadee tipicidade. 5. Assim, para comprovar a embriagu-ez, objetivamente delimitada pelo art. 306 do Cdi-go de Trnsito Brasileiro, indispensvel a provatcnica consubstanciada no teste do bafmetro ouno exame de sangue. 6. Recurso a que se nega provi-mento. REsp 1113360/DF; RECURSO ESPECIAL:2009/0062831-8. Rel. Min. Ministro OG FERNANDES.rgo Julgador: SEXTA TURMA. Data do Julgamen-

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    to: 28/09/2010. Data da Publicao: DJe 18/10/2010) 25. itlico nosso.

    Tambm assim, novel acrdo do Tribunal de Justia do MatoGrosso do Sul:

    EMENTA: HABEAS CORPUS. EMBRIAGUEZ AO VO-LAN-TE. PEDIDO DE TRANCAMENTO DA AO PENAL.INEXISTNCIA DE LAUDO QUE CONFIRMECONCENTRAO DE LCOOL POR LITRO DE SANGUEDO ACUSADO. FALTA DE JUSTA CAUSA DEMONSTRA-DA. ORDEM CONCEDIDA. Para a imputao do delitodisposto no art. 306, do Cdigo de Trnsito Brasileiro,passou-se a estabelecer, com o advento da Lei n11.705/07, a necessidade de constataode concentrao de lcool por litro de sangue igual ousuperior a 6 (seis) decigramas. Consequentemente,inexistindo exame especfico que ateste de formaprecisa a ebriedade do paciente, a conduta narradana exordial resta descaracterizada. (TJMS. HC2011.003563-6/0000-00. Dourados; Segunda TurmaCriminal; Rel. Des. Romero Osme Dias Lopes; DJEMS22/03/2011. p. 45).

    XI Sempre que necessrio requisitar laudo de reconhecimentovisual do local do crime, documentado com fotografias, croqui edescrio da cena delitiva;

    25 Contra, o seguinte excerto de julgado, tambm ele do STJ: A prova da embriaguez aovolante deve ser feita, preferencialmente, por meio de percia (teste de alcoolemiaou de sangue), mas esta pode ser suprida (se impossvel de ser realizada no momento ou emvista da recusa do cidado), pelo exame clnico e, mesmo, pela prova testemunhal, esta, emcasos excepcionais, por exemplo, quando o estado etlico evidente e a prpria conduta nadireo do veculo demonstra o perigo potencial a incolumidade pblica, como ocorreu nocaso concreto. (STJ. RHC 26.432/MT, 5 Turma, Rel. Min. NAPOLEO NUNES MAIA FILHO,DJe de 22/02/2010).

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    XII requisitar exame de DNA orientado a permitir o cotejamen-to entre o material que o indiciado ou a vtima tenham fornecido(ou seus respectivos familiares) e o material coletado na vera cenadelitiva ou no prprio objeto sobre o qual recaiu a conduta delituosa(corpo de delito).

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  • 48

    CAPTULO 4:

    4 DO PEDIDO DE QUEBRA DE SIGILO

    4.1 DA NECESSIDADE DE FUNDAMENTAO DO PEDIDO E DO ZELOPARA COM A PRESERVAO DO SIGILO DAS INFORMAES OBTIDAS

    Sempre que necessrio se fizer, pleitear ao juiz, fundamenta-damente, a obteno de dados bancrios, fiscais e telefnicos,pondo de manifesto a indispensabilidade da diligncia para o efi-caz atingimento do objetivo da investigao, zelando, a outrotanto, pela tomada de precaues para que o acesso s infor-maes, ressalvadas as prerrogativas profissionais, no seja facul-tado a terceiros.

    Em caso de postulao de quebra de sigilos bancrio e telefni-co faz-se curial requerer ao Juiz, que seja parte integrante dadeterminao a ser encaminhada instituio bancria ou em-presa de telefonia, a informao de que a resposta dever obedec-er ao padro (layout) estabelecido nas Metas 04 e 15 da ENCCLA(2008) - Estratgia Nacional de Combate Corrupo e Lavagemde Dinheiro do Ministrio da Justia, j como forma de agilizar aobteno de informaes 26 necessrias ao procedimento investi-gatrio e ao processo judicial.

    Em nenhum hiptese, fundamentar pedido de quebra de sigilo apartir de informao obtida, exclusivamente, merc denunciaoannima. Dito de outro modo, s ser lcito faz-lo se o rompimen-to do lacre do sigilo (bancrio, das comunicaes etc.) no tiver porbase, to somente, denncia annima 27.

    26 Aqui, com rigor, no se cuida propriamente de quebra de sigilo, mas de compartilhamento deinformaes.

    27 Referncias instrutivas no item 1.1.5, supra.

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    EMENTA: HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO.FORMAO DE QUADRILHA OU BANDO. MONITO-RAMENTO TELEFNICO. DENNCIA ANNIMA. NE-CESSIDADE DA MEDIDA DEMONSTRADA. TRANCA-MENTO DA AO PENAL. COAO ILEGAL NOCOMPROVADA. ORDEM DENEGADA. 1) O monito-ramento telefnico foi autorizado, porquenecessria a medida para dar prosseguimento sinvestigaes. 2) Aps o recebimento da denn-cia annima, foi observado que as agncias noapresentavam movimento normal, de modo queno se pode alegar que o monitoramento telefnicofoi autorizado com base somente na denncia ann-ima. 3) O trancamento de ao penal, em temade habeas corpus, possvel somente se o fatofor atpico, se estiver extinta a punibilidade ouse no houver indcios de autoria. 4) Coao ile-gal no comprovada. 5) Ordem denegada. (HC128776 / SP. HABEAS CORPUS 2009/0027990-0;6. Turma; Min Celso Limongi, DJe 04/10/2010).

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    CAPTULO 5:

    5 DA PRISO EM FLAGRANTE E DA REPRESENTAO PELAPRISO PREVENTIVA OU TEMPORRIA

    5.1 AO EXAMINAR A REGULARIDADE DO AUTO DE PRISO EM FLA-GRANTE DELITO OBSERVAR

    I se o custodiando se encontra efetivamente em uma das hip-teses de flagrncia previstas na legislao processual penal; em casonegativo, requerer o relaxamento do flagrante, ou ento, a decre-tao da priso preventiva, desde que presentes os fundamentos epressupostos desta medida cautelar;

    II se as formalidades legais inerentes sua lavratura foramadequadamente cumpridas;

    III se cabvel a concesso de liberdade provisria;

    IV se a fiana concedida est correta, pugnando pelo seu re-foro se necessrio;

    V se houver indcio de abuso de poder na priso em flagrante,requisitar a abertura de inqurito policial; ou, se dispuser de ele-mentos informativos bastantes ativao da ao penal, oferecerprontamente denncia-crime.

    5.2 DAS PRECAUES E PROVIDNCIAS RELACIONADAS S DE-MAIS CUSTDIAS CAUTELARES

    I ao examinar autos de inqurito policial relativo a indiciadossoltos observar se esto presentes os requisitos para decretao dacustdia cautelar preventiva, pugnando por sua decretao, se foro caso;

    II ao representar pela decretao da priso preventiva ou semanifestar favoravelmente representao da Autoridade Policial,

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    deve-se, sempre que possvel, oferecer denncia incontinente, oufaz-lo no lapso temporal mximo de 05 (cinco) dias;

    III na hiptese de representao de custdia preventiva outemporria formulada pela Autoridade Policial, acautelar-se parano corroborar representao pela priso de pessoa no correta-mente individualizada, em ordem a no dar ensejo a ocorrncia deerro quanto pessoa por ocasio do cumprimento do mandado depriso.

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    CAPTULO 6:

    6 ATUAO DO MINISTRIO PBLICO NOS CRIMES PRATICADOSCOM VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER LEIN 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA)28.

    6.1 CONSIDERAES PRELIMINARES

    A Lei n 11.340/2006 estabelece mecanismos para coibir e pre-venir a violncia domstica e familiar contra a mulher, nos termosdo 8o do art. 226 da Constituio Federal, da Conveno sobre aEliminao de Todas as Formas de Violncia contra a Mulher, daConveno Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violn-cia contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificadospela Repblica Federativa do Brasil; dispe sobre a criao dos Juiza-dos de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher; estabelecemedidas de assistncia e proteo s mulheres em situao de vio-lncia domstica e familiar (art. 1).

    EMENTA: PROCESSUAL PENAL HABEAS CORPUS VIO-

    LNCIA DOMSTICA LESO CORPORAL SIMPLES PRATI-

    CADA CONTRA MULHER NO MBITO DOMSTICO PRO-

    TEO DA FAMLIA PROIBIO DE APLICAO DOS DITA-

    MES DA LEI 9.099/1995 AO PENAL PBLICA INCONDI-

    CIONADA ORDEM DENEGADA. 1. A famlia a base da

    sociedade e tem a especial proteo do Estado; a as-

    sistncia famlia ser feita na pessoa de cada um dos

    que a integram, criando mecanismos para coibir a vio-

    lncia no mbito de suas relaes. Inteligncia do arti-

    go 226 da Constituio da Repblica. 2. As famlias que

    se erigem em meio violncia no possuem condies

    de ser base de apoio e desenvolvimento para os seus

    membros, de forma que os filhos da advindos dificil-

    28 Texto (itens 6 a 6.10) da rica lavra do 1. Promotor Criminal da Comarca da Capital, Dr. JosGuilherme Lemos.

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    mente tero condies de conviver sadiamente em so-

    ciedade, da a preocupao do Estado em proteger es-

    pecialmente essa instituio, criando mecanismos, como

    a Lei Maria da Penha, para tal desiderato. 3. Somente o

    procedimento da Lei 9.099/1995 exige representao

    da vtima no crime de leso corporal leve ou culposa

    para a propositura da ao penal. 4. No se aplicam aos

    crimes praticados contra a mulher, no mbito domsti-

    co e familiar, os ditames da Lei 9.099/1995. Inteligncia

    do artigo 41 da Lei 11.340/2006. 5. A leso corporal prat-

    icada contra a mulher no mbito domstico qualifica-

    da por fora do artigo 129, 9 do Cdigo Penal e se

    disciplina segundo as diretrizes desse diploma legal, sendo

    a ao penal pblica incondicionada. 6. Ademais, sua

    nova redao, feita pelo artigo 44 da Lei 11.340/2006,

    impondo pena mxima de trs anos leso corporal

    qualificada, praticada no mbito familiar, probe a uti-

    lizao do procedimento dos Juizados Especiais, afastan-

    do, por mais um motivo, a exigncia de representao

    da vtima. 7. Ordem denegada. (STJ. HC 106805/MS. Re-

    latora Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCA-

    DA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 03/02/2009,

    publicado no DJe 09/03/2009).

    Segundo o artigo 5 da Lei n 11.340/2006, configura violnciadomstica e familiar contra a mulher qualquer ao ou omissobaseada no gnero que lhe cause morte, leso, sofrimento fsico,sexual ou psicolgico e dano moral ou patrimonial, seja no mbitoda unidade domstica, compreendida como o espao de convviopermanente de pessoas, com ou sem vnculo familiar, inclusive asesporadicamente agregadas, seja no mbito da famlia, compreen-dida como a comunidade formada por indivduos que so ou seconsideram aparentados, unidos por laos naturais, por afinidadeou por vontade expressa ou, ainda, em qualquer relao ntima deafeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendi-da, independentemente de coabitao.

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    EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETNCIA. LEIMARIA DA PENHA. RELAO DE NAMORO. DECISO DA3 SEO DO STJ. AFETO E CONVIVNCIA INDEPEN-DENTE DE COABITAO. CARACTERIZAO DE MBI-TO DOMSTICO E FAMILIAR. LEI N 11.340/2006. APLI-CAO. COMPETNCIA DO JUZO DE DIREITO DA 1VARA CRIMINAL.1. Caracteriza violncia domstica,para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisqueragresses fsicas, sexuais ou psicolgicas causadas porhomem em uma mulher com quem tenha convividoem qualquer relao ntima de afeto, independente decoabitao. 2. O namoro uma relao ntima de afe-to que independe de coabitao; portanto, a agressodo namorado contra a namorada, ainda que tenha ces-sado o relacionamento, mas que ocorra em decorrn-cia dele, caracteriza violncia domstica.3. A TerceiraSeo do Superior Tribunal de Justia, ao decidir osconflitos ns. 91980 e 94447, no se posicionou nosentido de que o namoro no foi alcanado pela LeiMaria da Penha, ela decidiu, por maioria, que, naque-les casos concretos, a agresso no decorria do nam-oro.4. A Lei Maria da Penha um exemplo de imple-mentao para a tutela do gnero feminino, devendoser aplicada aos casos em que se encontram as mu-lheres vtimas da violncia domstica e familiar. 5.Conflito conhecido para declarar a competncia do Juzode Direito da 1 Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete-MG. (STJ. CC 96532/MG. Relatora Ministra JANE SIL-VA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), TER-CEIRA SEO, julgado em 05/12/2008, publicado noDJe 19/12/2008).

    Mesmo diante da redao do artigo 5 da Lei Maria da Penha,no deve esta legislao ser aplicada de forma indistinta. So-mente quando pressuponha uma situao de desprestgio, inferi-oridade ou vulnerabilidade da vtima frente ao agressor, de quem

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    a vtima, muitas vezes, depende seja em decorrncia de laosafetivos ou familiar, e ainda por conta do lado financeiro.

    PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETNCIA.JUIZADO DE VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR CON-TRA A MULHER. VARA CRIMINAL. FURTO SIMPLES.ACUSADO QUE SUBTRAI VALORES E PERTENCES DAAV. NO INCIDNCIA DA LEI MARIA DA PENHA. VIO-LNCIA DOMSTICA NO CARACTERIZADA. COM-PETNCIA DO JUZO COMUM. 1. A incidncia da LeiMaria da Penha no deve ser aplicada de forma in-distinta. E sim, somente quando pressuponha umasituao de inferioridade ou vulnerabilidade da vti-ma frente ao agressor. 2. No compete ao Juizadode Violncia Domstica e Familiar processar e jul-gar ao penal instaurada para apurar suposto furtopraticado por neto contra av, quando no demon-strada a relao de hipossuficincia da vtima emrelao ao agente. 3. Conflito de competncia con-hecido para declarar competente o Juzo da VaraCriminal. (TJDF. CC n 20110020018235. RelatorJOO TIMOTEO DE OLIVEIRA, Cmara Criminal, jul-gado em 28/02/2011, DJ 04/03/2011 p. 122).

    6.2 DESTINAO DA LEI N 11.340/2006

    Muito embora haja discusso a este respeito, a corrente quepredomina no sentido de que a Lei n 11.340/2006 se destina,com exclusividade, violncia domstica contra mulher. Existe en-tendimento, minoritrio, que permite a aplicao desta legislaoquando a violncia domstica for contra homem ou mesmos contratransexual.

    EMENTA: CONFLITO DE COMPETNCIA. PENAL.JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUIZ DE DIREITO.CRIME COM VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR CON-

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    TRA MULHER. AGRESSES MTUAS ENTRE NAMO-RADOS SEM CARACTERIZAO DE S