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Manual de Introdução à Cetraria Um primeiro olhar sobre o mundo da caça com aves de presa… APF, 2012

Manual de Introdução à Cetraria - apfalcoaria.org de... · 5 4. UMA BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA A cetraria é uma das formas de caça mais antiga do mundo, provavelmente com quatro

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Manual de Introdução à

Cetraria Um primeiro olhar sobre o mundo da caça com aves de presa…

APF, 2012

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Documento elaborado por:

Associação Portuguesa de Falcoaria

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Conteúdo

0. AS NOSSAS BOAS-VINDAS .............................................................................................................................. 3

1. PORQUE ESCREVEMOS ESTE MANUAL? .......................................................................................................... 3

2.QUAL A NOSSA RESPONSABILIDADE PARA COM A CETRARIA?...................................................................... 4

3. O QUE É A CETRARIA? ................................................................................................................................... 4

4. UMA BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA ............................................................................................................ 5

5. SITUAÇÃO DA CETRARIA A NÍVEL MUNDIAL NA ATUALIDADE .................................................................... 8

6. QUER MESMO SER CETREIRO? ........................................................................................................................ 8

7. NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................................................ 8

8. CUSTOS E TEMPO NECESSÁRIO ..................................................................................................................... 10

9. EQUIPAMENTOS ........................................................................................................................................... 10

10. PROCEDIMENTO PARA O INICIANTE NA CETRARIA .................................................................................. 15

11. ALGUNS LIVROS RECOMENDADOS............................................................................................................. 16

12. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE AVES DE PRESA UTILIZADAS NA CETRARIA ........................................................ 17

13. ENQUADRAMENTO LEGAL DA CETRARIA EM PORTUGAL ......................................................................... 17

14. COMO AJUDAR A CETRARIA SE PERCEBER QUE NÃO TEM CONDIÇÕES PARA A PRÁTICA? ........................ 18

15. CRÉDITOS E AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. 19

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0. AS NOSSAS BOAS-VINDAS

Bem-vindo! A Associação Portuguesa de Falcoaria dá-lhe as boas vindas ao mundo da Cetraria (muitas vezes também designada por falcoaria). Se o leitor não conhece bem esta arte aconselhamo-lo a ler este pequeno manual introdutório. Este manual NÃO pretende ser um livro de iniciação, é antes uma pequena apresentação do mundo da Cetraria que, esperamos, possa ajudar o leitor na sua descoberta.

1. PORQUE ESCREVEMOS ESTE MANUAL?

Este manual serve de introdução ao mundo da cetraria para aqueles leitores que desejam conhecer esta atividade e quem sabe vir a praticá-la. Como o leitor irá perceber, ao ler as páginas que se seguem, apelamos a que o aspirante a cetreiro/cetreira e aqueles que se iniciam nesta arte tenham uma atitude responsável em todos os momentos da sua relação com esta arte de caça. Fazemos este apelo porque sabemos as dificuldades que um aspirante ou iniciado na cetraria pode encontrar e queremos que as evitem ou, pelo menos, estejam preparados para as enfrentar. Com frequência temos conhecimento de pessoas que se deparam com problemas sérios depois de adquirem a sua primeira ave. Geralmente contactam-nos porque aconteceu algo que não esperavam, porque algo correu mal, ou porque subitamente perceberam que não têm a experiência ou espírito de sacrifício necessário para praticas esta atividade. Acreditamos que uma melhor preparação, pesquisa e estudo pode ajudar a minimizar ou evitar este tipo de situações.

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2.QUAL A NOSSA RESPONSABILIDADE PARA COM A CETRARIA?

Cada vez que um cetreiro sai com a sua ave para caçar não é apenas responsável pelos seus atos e pela sua ave. Transporta, também, a responsabilidade de representar a história da cetraria e de zelar pelo seu futuro. Os cetreiros/cetreiros são, na verdade, representantes de uma arte muito antiga – hoje Património Cultural da Humanidade1 – que teve origem muito antes do nosso nascimento e que esperamos seja praticada muito depois da nossa partida. Se não formos capazes de praticar esta arte de uma forma adequada e de garantir o seu futuro através de uma atitude responsável, então, não devemos considerar-nos cetreiros e será preferível não praticarmos esta arte diretamente.

Deter uma ave de presa não tem qualquer semelhança a deter um animal de estimação. O objetivo da cetraria é completamente diferente, é preciso muito mais preparação, conhecimento e experiencia antes de estarmos “prontos” para dar os primeiros passos.

Esperamos que ao chegar ao fim deste manual o leitor tenha compreendido melhor aquilo que a cetraria realmente é! Esperamos, também, que tenha entendido melhor a dedicação, tempo e despesa que a Arte da Cetraria exige!

3. O QUE É A CETRARIA?

Para muitas pessoas a primeira vez que tomam contacto com a “cetraria” acontece quando vêm uma demonstração com aves de presa, quando lêem um artigo numa revista ou quando vêm um documentário que envolve aves de presa treinadas. No entanto isto NÃO é Cetraria!

CETRARIA É A ARTE DE CAÇAR ESPÉCIES SELVAGENS COM UMA AVE DE PRESA TREINADA.

Nesta definição a palavra CAÇAR, faz toda a diferença. O objetivo da Cetraria e a sua razão de ser é a caça!

1Oficialmente reconhecida pela UNESCO – 16 de Novembro de 2010.

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4. UMA BREVE ABORDAGEM HISTÓRICA

A cetraria é uma das formas de caça mais antiga do mundo, provavelmente com quatro mil anos de idade. A origem desta arte perde-se no tempo, no entanto pensa-se que terá tido início nas planícies eurasiáticas. O primeiro homem a praticar a Cetraria terá sido, provavelmente, um caçador ou pastor que capturou um falcão após observar que estes seguiam os rebanhos de gado em voo antecipando que alguma ave fosse inadvertidamente levantada. Ainda hoje, em muitos locais do mundo, os falcões selvagens seguem rebanhos na tentativa de beneficiar das presas que estes levantam. O que começou como uma forma de conseguir alimento evoluiu, com o tempo, e tornou-se numa atividade de caça muito ligada ao lazer. Podemos considerar as aves de presa como um dos primeiros animais a ser treinado pelo homem, provavelmente partilhando a história da humanidade há tanto tempo como o cavalo.

Até ao final do Século XVII a história de muitos países está repleta de referências à Cetraria; os falcões eram considerados como símbolos de poder e influência, enquanto os açores eram utilizados pelo “cozinheiro” para ajudar a “encher a panela”. Estas referências podem ser encontradas em livros, quadros, brasões. Estas aves eram até utilizadas como pagamento de resgates ou como pagamento de rendas de terra. A idade média representa a idade dourada da cetraria.

No entanto, no final do Século XVII a arma de fogo começa a ganhar adeptos e a cetraria passa a ser considerada, apenas, uma atividade recreativa associada à aristocracia, era conhecida como o “Desporto dos Reis”. A nobreza abastada era a única com tempo livre suficiente e acesso a terrenos propícios para este tipo de caça. Na sociedade atual, em que as pessoas têm cada vez mais tempo livre tem havido um aumento crescente do interesse por esta forma de caça, interesse esse que tem sido acompanhado por evoluções relevantes para esta atividade, como o aparecimento da telemetria enquanto forma de recuperar aves perdidas – há quem considere que a atualidade representa uma nova “idade dourada” para a cetraria mundial. O aumento dramático da população no Século XX, em conjunto com a revolução agrícola, contribuiu para que muitas espécies de aves de presa sofressem um grande decréscimo nas suas populações. Inicialmente devido a um período de perseguição às aves de presa e depois pelo aumento da utilização de pesticidas agrícolas, particularmente os semelhantes ao DDT. As aves de presa, o último elo da cadeia alimentar, acumulam este tipo de produtos no seu corpo, causando a produção de ovos com uma casca muito fina, que não resistiam ao período de incubação, ou simplesmente à infertilidade. A aprovação de

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legislação específica e restritiva para o uso destes pesticidas nos países desenvolvidos levou a que as espécies mais afetadas conseguissem recuperar.

Nem todas as evoluções humanas têm sido negativas para as aves de presa e hoje muitas espécies usadas na cetraria estão a prosperar nos seus habitats naturais. Os falcões peregrinos (falco peregrinus) e falcões lanários (falco biarmicus) alimentam-se do grande número de rolas que resultam de um aumento da produção de cereal, além disso utilizam os grandes edifícios urbanos para nidificar. Muitos accipiters, como os gaviões, também estão a beneficiar do aumento de populações urbanas de rolas e estão a começar nidificar em jardins suburbanos (realidade muito presente no Reino Unido e EUA).

É interessante notar que muita da energia utilizada na Cetraria pelos entusiastas desta atividade está também a ser canalizada para a conservação. Uma das iniciativas mais notáveis teve lugar nos EUA onde um grupo de conservacionistas e cetreiros fundaram o “Peregrine Fund” que foi pioneiro na cria em cativeiro do falcão peregrino para libertação na natureza. Nos anos 60, o falcão peregrino foi dado como extinto em várias áreas do Este dos EUA devido à influência do DDT. Graças à ação do Peregrine Fund os falcões peregrinos foram reintroduzidos nesses habitats e estão a prosperar na atualidade. Em 1999 o falcão peregrino foi considerado como espécie não ameaçada nos EUA – Um caso impar de sucesso na história da conservação da natureza. Sucessos similares foram conseguidos por cetreiros (ou com a participação dos mesmos) na recuperação do Peneireiro das Ilhas Maurícias; na restauração de uma população nidificando de Açores no Reino Unido. Atualmente existem diversos projetos de conservação em curso, como a restauração de uma população de falcões peregrinos nidificando em árvores no Norte da Europa.

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5. SITUAÇÃO DA CETRARIA A NÍVEL MUNDIAL NA ATUALIDADE

A Arte da Cetraria é praticada em diversos países do mundo e foi recentemente considera pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade graças a um esforço sustentado de diversas associações de cetreiros a nível mundial. Para compreender melhor a dimensão da Cetraria a nível mundial encorajamos o leitor a consultar o site da IAF (International Association for Falconry) em: www.iaf.org. A IAF representa atualmente 70 associações nacionais de Cetraria de mais de 48 países. Mundialmente representa cerca de 28.500 cetreiros.

6. QUER MESMO SER CETREIRO?

O leitor considera-se um aspirante a cetreiro? Acolhemos o seu interesse pela cetraria e valorizamo-lo, no entanto, pedimos-lhe que antes de se comprometer com esta atividade, que pense se sabe o que envolve ser cetreiro? A cetraria é um verdadeiro estilo de vida, isto porque implica um compromisso pessoal total para com a ave de presa uma vez que esta depende inteiramente do cetreiro para assegurar as suas necessidades básicas e o seu bem-estar. Além do compromisso do cetreiro este deve lembrar-se que, para praticar a Cetraria, precisará também de comprometer a sua família, amigos e tempo livre. (Nota: Uma ave de presa é um compromisso constante, mesmo durante o período de férias) Por essa razão pedimos-lhe que seja completamente sincero consigo mesmo antes de tomar a responsabilidade de deter um animal ao qual pode induzir dano ou mesmo tirar a vida por não ter compreendido adequadamente o que ave necessita ou o esforço que está subjacente a esta arte. Não queremos ofender o leitor, ou considera-lo inapto, porque obviamente se lê estas páginas tem um interesse genuíno pelas aves de presa, mas queremos que pense sobre se deve perseguir esse interesse através da prática da cetraria ou se deve faze-lo por outras formas. Se ao ler este manual compreender que a cetraria não é para si, esperamos conseguir indicar-lhe como pode perseguir o seu interesse por estas aves e simultaneamente assegurar que as mesmas continuam a sobreviver neste planeta que partilhamos.

7. NOÇÕES GERAIS Um interesse genuíno pelas aves de presa e pela sua conservação é um pré-requisito para se ser cetreiro. Os cetreiros devem apoiar os princípios da conservação da Natureza e do uso sustentável dos recursos naturais.

Muitas pessoas interessam-se por esta arte depois de terem visto uma exibição com aves de presa, um documentário na TV ou ter lido um artigo sobre cetraria, mas muito poucas pessoas conseguem compreender o esforço, tempo e custos envolvidos na prática desta forma de caça. Estes “retratos” da cetraria são pouco fiéis à realidade e muitas vezes levam a que pessoas tomem a decisão de entrar nesta atividade sem saberem, com veracidade, o que a mesma envolve.

Muitos cetreiros e organizações que os representam desencorajam os aspirantes até que estes provem ter paixão e espírito de sacrifício suficiente. As aves de presa são parte fundamental da biodiversidade do nosso planeta e a prática da cetraria permite uma relação privilegiada com esse património natural e

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intocado. A prática da cetraria é vista pela maioria dos cetreiros como um privilégio pela relação que permite com este património natural. Um aspirante a cetreiro que não tenha os conhecimentos necessários para praticar a cetraria de forma adequada pode, apenas porque teve uma paixão passageira por esta atividade, contribuir para o seu descrédito.

Os cetreiros acreditam no princípio de que “a ave está em primeiro lugar” e por essa razão muitas vezes são relutantes em ajudar um iniciante até que este prove a sua paixão e compromisso. Muitas vezes os aspirantes são recebidos de forma pouco entusiasta porque, simplesmente, parecem não compreender o privilégio que a relação com uma ave de presa representa e o quão importante é para os cetreiros.

Para poder praticar esta forma de caça adequadamente o aspirante a cetreiro deve informar-se atempadamente, isto significa ler livros sobre cetraria e aves de presa e fazer esforços persistentes para aprender os fundamentos desta arte, isto ANTES de obter uma ave. Esperamos que observem este conselho antes de adquirirem uma ave.

Se acredita que o seu interesse pela cetraria é mais que superficial e está disposto a estudar esta arte antes de ter uma ave está no bom caminho.

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8. CUSTOS E TEMPO NECESSÁRIO

Antes de praticar esta atividade deve ter em conta o custo da mesma, que a nível financeiro quer a nível de tempo. A cetraria não pode ser praticada apenas “ocasionalmente”, é um compromisso a tempo inteiro e isso torna-a muito exigente em termos de tempo. Uma ave de presa necessita, PELO MENOS, de uma hora de dedicação diariamente, 365 dias por ano. O treino de uma ave juvenil, nunca antes familiarizada com o cetreiro, exige ainda mais tempo. Se não tiver este tipo de disponibilidade recomendamos que não se envolva na cetraria até ter melhores condições. Financeiramente não é uma atividade apenas para elites, mas exige algum esforço financeiro que os aspirantes a cetreiro devem ter em conta desde logo. Alguns dos custos que terão de ser considerados antes de adquirir uma ave serão:

a) Livros de Cetraria e outro material de aprendizagem b) Construção de um local “fechado” – conhecido por muda – para albergar e proteger a ave das

inclemências do tempo e de potenciais perigos. Estes locais são construídos de forma específica e as dimensões dependem da ave em questão.

c) Reserva de um local ao ar livre – conhecido como jardim – onde a ave possa ser colocada de forma segura e onde possa aproveitar o bom tempo;

d) Poleiro para a ave, de formato e tamanho adequado; luva; balança e restante equipamento necessário ao manusear da ave;

e) Telemetria – equipamento de rádio utilizado para localizar uma ave perdida. Deve ser uma prioridade para todas as espécies de aves de presa;

f) Alimento para ave, de qualidade e tipo específico consoante a espécie de ave de presa, respetivo local para ser armazenado e congelado;

g) A compra da ave em si; h) Despesas relacionadas com cuidados veterinários; i) Despesas relacionadas com a caça, como pagamento de direitos de caça em Zonas de Caça, etc; j) Despesas relacionadas com as viagens/carro; k) A lista contínua

9. EQUIPAMENTOS As aves de Cetraria não se devem manter em gaiolas, ou jaulas, dado que partiriam rémiges e retrizes (penas das asas e cauda) e feririam as ceras dos bicos contra as grades ou redes. Mantêm-se nas "mudas" e no "jardim":

Mudas: dizem-se as casas onde permanecem as aves de presa. Pois aí são mantidas durante toda a época da muda das penas, enquanto fora dessa época são habitualmente colocadas no "jardim" de onde ao fim do dia são recolhidas às "mudas" para pernoitar.

Jardim: terreno relvado onde durante o dia permanecem, repousam e tomam banho as aves de Cetraria.

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Algum do equipamento necessário para a prática da Cetraria:

Caparão: capuz de coiro para cobrir a cabeça das aves de Cetraria, tapando-lhes a visibilidade a fim de se manterem tranquilas. Ajusta-se e alarga-se ou fecha-se e abre-se na altura do pescoço, na parte da nuca, por meio de correias denominadas "serradouros". Cada caparão deve ser feito à medida da ave que o irá usar para não lhe causar desconforto ou ferir.

Piós: correias de tamanho variável consoante a espécie (tradicionalmente de couro). São colocadas em volta dos "tarsos” das aves caçadoras, para as sujeitar ao punho ou, em ligação com o "tornel" e a "avessada", aos "arcos" e aos "bancos". Existem vários modelos, alguns mais tradicionais e outros mais modernos (Quando a ave de Cetraria está aparelhada com suas "piós", seus "malhos" e "cascavéis", diz-se estar "guarnecida";

Cascavéis: guizos típicos de bom som que, presos aos ou tarsos das aves de cetraria, permitem mais facilmente localizá-las entre arvoredo, matos, ervas altas. São presos aos “tarsos” das aves pelos “Malhos” (pequenas correias de couro)

Tornel: pequeno duplo-anel metálico com eixo, para ligar as "pios" à "avessada", facilitando o destorcer. (Ao conjunto das "piós", do "tornel" e da "avessada" dá-se o nome de "peias"

Avessada: correia com cerca de metro e meio a dois metros de comprimento, de coiro curtido a cromo (ou mais modernas as de nylon) para, em ligação com as "pios" por meio do "tornel", sujeitar as aves caçadoras aos “arcos" e aos "bancos";

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Fiador: cordel longo, de 15 a 20 metros, de boa consistência para assegurar os primeiros voos ao punho sem perigo de extravio da ave;

Banco: plataforma que simula uma superfície plana, com haste inferior, que se crava no solo arrelvado do "jardim", para repouso das aves de Cetraria, ao ar livre;

Arco: poleiro recomendado para aves de baixo voo. Como o próprio nome indica em formato arqueado com local protegido para a ave poder poisar.

Banho: denomina-se o recipiente com água fresca e límpida; sempre à disposição das aves caçadoras, no "jardim", para se beberem e se banharem;

Balança: indispensável para o registo diário do peso da ave. Com ela aferimos da condição corporal da ave e da quantidade e qualidade de alimento a administrar;

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Luva: de forma tradicional, com borla de coiro no ângulo inferior do canhão, o cetreiro leva-a na mão esquerda, se destro;

Rol: negaça para chamar do alto os Falcões em voo. É normalmente convencionado em coiro. Tradicionalmente em cada face exterior é colocado um par de asas de ave. Contem dois "atadores" que prenderão a carne de "encarnar" o "rol". O "rol" é volteado - ou "rolado" - no ar, enquanto se vai chamando o Falcão que deverá então fazer-se a ele, consentindo-se-lhe, por prémio, que saboreie umas picadas ali atadas. Para aves de baixo voo é usada uma variação do rol, o trenó, que é arrasto no chão. É muitas vezes revestido de pele de lebre ou de coelho, contendo igualmente "atadores" para "encarnar";

Bornal: bolsa de coiro, de pendurar a tiracolo, de forma típica da Cetraria, também para transportar utensílios e alimentação para a ave e, inclusivamente, para o seu cetreiro. Existem versões mais modernas em materiais laváveis;

Telemetria: a maior revolução aos métodos milenares da cetraria. Consiste num conjunto constituído por emissor e recetor sendo o primeiro de construção ligeira que permite ser transportado pela ave. O emissor emite um sinal que é captado pelo recetor dando ao cetreiro a direção onde a ave se encontra.

Também a considerar:

Alimento: deve apostar-se em alimento de qualidade para que a ave esteja saudável. A alimentação deve ser a mais variada e completa possível e adaptada à espécie de ave de presa em causa. Entende-se por alimentação completa a utilização de várias partes do animal/presa. Isto porque todas (pele,

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osso, etc.) detêm a sua função no bom funcionamento do organismo e/ou saúde da ave. Todo o alimento fornecido à ave deve ser cru, fresco, devendo ser o mais possível semelhante ao que teria na natureza, e se possível recém-morto.

Veterinário: As consultas nunca devem ser “adiadas” ao mínimo sinal de doença. Em caso de dúvidas deve-se contactar de imediato um veterinário para obter aconselhamento de um especialista e em caso de ser necessário, levar a ave para observação.

10. SERÁ QUE DEVO SER CETREIRO?

Depois de observar alguns dos custos e dificuldades inerentes à prática da Cetraria devemos perguntar-nos: “Estou talhado para ser cetreiro?” Para responder a esta questão devemos ver primeiro aquilo que a Cetraria NÃO é:

Caçar muitas presas: A caça com uma ave treinada não é um método muito eficaz de caça quando comparado com métodos mais modernos. Mesmo a melhor das aves de presa falha mais frequentemente do que as vezes em que tem sucesso. Em muitas saídas de caça não chegam sequer a fazer presa. Qualquer pessoa interessada em capturar muitas peças de caça deve dedicar-se a outro método que não a cetraria;

Ter um animal de estimação exótico: Todos os cetreiros formam um elo muito forte com as suas aves e este é um é um elemento importante e mesmo essencial a esta atividade. No entanto, a verdadeira cetraria transcende largamente esta relação pois o seu enfoque está na caça. As aves de cetraria NÃO são animais de estimação nem podem ser tratadas como tal;

Impressionar os amigos: A cetraria não é um método exótico de impressionar os amigos. Este tipo de conduta não tem qualquer lugar na cetraria;

Ter uma ave para fins comerciais ou mesmo educacionais: apesar de ser legítimas as atividades remuneradas com aves de presa e aquelas com propósitos educacionais, estas não devem se encaradas como cetraria por não se relacionarem com a caça.

Se o leitor possuía alguma das motivações acima descritas para praticar a cetraria pedimos-lhe que reconsidere as suas intenções para bem desta arte. Então o que é a Cetraria: Treinar uma ave de presa para caçar presas selvagens na presença do Homem: Isto é Cetraria. Poucas coisas se podem comparar ao voo de uma ave de presa quando esta persegue uma presa. Uma ave de presa adequadamente treinada fará um esforço extraordinário para capturar a sua presa e por sua vez a presa usará de todas as táticas que conhece para evitar a captura. É esta “relação” primitiva e natural entre predador e presa em completa natureza que fascina os cetreiros há milhares de anos. A captura de presa é de importância relativa quando comparada com o desenrolar e a beleza do lance. Apesar de criadas em cativeiro atualmente as aves de presa possuem ainda instintos naturais completamente intactos. Por essa razão e porque as aves não consideram o Homem um aliado natural é necessário muito esforço e dedicação para demonstrar à ave que podemos ajuda-la na caça. A cetraria é um método de caça e como tal exige que o cetreiro se esforce em dar oportunidades de caça regulares à sua ave (tipicamente várias vezes por semana).

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10. PROCEDIMENTO PARA O INICIANTE NA CETRARIA

Antes de adquirir a sua primeira ave o iniciante deve, idealmente, passar algum tempo com um cetreiro com experiência para perceber, na prática, o que implica esta atividade. O mais provável é que rapidamente perceba que a Cetraria pode ser considerada um verdadeiro: Estilo de vida! Este tipo de contacto prévio pode também considerar-se um recurso valioso quando o iniciante adquirir a sua primeira ave e necessitar de aconselhamento ou ajuda prática. Apesar de ser benéfico este tipo de contactos com cetreiros em atividade o mesmo nem sempre é possível devido ao reduzido número de cetreiros existentes e ao tempo que a cetraria acaba por ocupar nas suas vidas. Assim o iniciante deve munir-se de informação de qualidade, como são alguns livros de iniciação (ver Capitulo 11). A Internet constitui também um recurso valioso mas frequentemente com demasiada informação para o iniciante, pelo que aconselhamos cautela na quantidade de informação que se obtém por esta fonte. O esquema seguinte reflete o percurso aconselhado pela APF para a iniciação dos interessado na prática da Cetraria. Pensamos que este percurso dotará os interessados da preparação mínima que um iniciado deve ter antes de adquirir a sua ave. A aprendizagem de um cetreiro e a sua constante necessidade de preparação nunca terminam. Lembre-se que não existem: “perguntas estúpidas” – se tem uma questão coloque-a e assegure o bem-estar da sua ave. Se não lhe for possível encontrar ajuda de um cetreiro assegure-se que lê o suficiente para compreender os procedimentos básicos em cetraria antes de adquirir a ave.

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11. ALGUNS LIVROS RECOMENDADOS Existe uma vasta lista de livros de Cetraria, no entanto o iniciado é aconselhado a compreender primeiro

os princípios básicos desta actividade antes de tentar compreender algumas técnicas mais avançadas e

complexas, alguns dos livros que recomendamos para o cetreiro que se inicia são:

CRESPO, Carlos (2013) –Falcoaria – Arte Real.

CTT

FOX, Nick (1999) - Understanding the Bird of

Prey

PARRY, Jones (1994) – Training Birds of Prey

LA FUENTE, Félix (1984). El arte de

cetreria

GLASIER, Philiph (1987). Falconry and Hawking;

FOX, Nick - Bird of Prey Management Series

CEBALLOS, Javier (2011). Manual Básico y Ético de

Cetrería – Download Gratuito em

http://www.mcu.es/

Adquira UM livro e estude-o convenientemente, depois complemente essa informação com outros livros

e/ou outro tipo de informação como a presente em DVD’s e na Internet. Lembre-se: demasiada

informação pode ser tão prejudicial como pouca informação!

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12. PRINCIPAIS ESPÉCIES DE AVES DE PRESA UTILIZADAS NA CETRARIA

A escolha da ave por parte do cetreiro deve ser feita tendo como base a legislação em vigor e as presas existentes no local de caça a que têm acesso. As aves da família dos búteos são muitas vezes aconselhadas como aves para iniciantes pois são resistentes e podem ser caçadoras muito eficientes e versáteis, ajustando-se a um vasto leque de presas. Além disso também apresentam alguma “facilidade” de manejo em relação a outras espécies. Para melhor compreensão do tipo de aves utilizadas e formas de caça que as mesmas empreendem consulte o quadro abaixo:

Tipo de Lance

Como ocorrem Terreno necessário

Aves utilizadas

Baixo-voo

Lances em que ave persegue as suas

presas voando perto do solo em voo direto

Podem caçar na maior parte dos tipos de

terrenos

Accipiters:

Açor

Gavião Búteos:

Búteos de Harris,

Búteo de Cauda Ruiva

Altanaria

Lances em que a ave ganha altura antes da presa ser levantada e

depois a tenta capturar em voo

Necessitam de zonas abertas, com pouco coberto vegetal para

caçar

Falcões:

Falcão Peregrino

Falcão Sacre,

Falcão Lanário

Seja qual for a ave escolhida o iniciado deve lembrar-se que “A ave está em primeiro lugar” e como tal o seu bem-estar deve ser assegurado em todos os momentos.

13. ENQUADRAMENTO LEGAL DA CETRARIA EM PORTUGAL

A prática da cetraria enquadra-se na legislação que regula a prática da caça em Portugal. Por esta razão para poder praticar a cetraria o iniciado deve conhecer a legislação que regula esta prática. A mesma pode ser consultada detalhadamente no site do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. Para simplificar a APF disponibiliza aos seus associados uma compilação dos documentos mais relevantes dos documentos que regulam esta atividade. Para fornecer uma primeiro vislumbre aos interessados apresentamos aqui os documentos necessários à prática da cetraria segundo a regulamentação atualmente existente:

Bilhete de Identidade ou equivalente;

Autorização escrita do representante legal (se menor);

Carta de Caçador com a especificação cetreiro;

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Licença de Caça;

Seguro de Caça;

Registo da ave no Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade

Licença dos cães (caso cace com um). Informamos também que a aquisição de uma ave de presa deve ser feita a criadores legalmente reconhecidos para tal e que forneçam a documentação que comprove que aquele exemplar foi criado em cativeiro. A compra em países da União Europeia é permitida sempre que as aves sejam criadas em cativeiro e detenham a respetiva documentação. A aquisição de aves de presa por outros fins é ilegal em Portugal. Se encontrar uma ave de presa na natureza ou lhe for entregue uma ave proveniente do seu meio natural deve informar as autoridades imediatamente e entregar a ave num centro de recuperação habilitado para tal.

14. COMO AJUDAR A CETRARIA SE PERCEBER QUE NÃO TEM CONDIÇÕES PARA

A PRÁTICA? Quer o leitor venha a tornar-se um cetreiro, ou não, esperamos que continue com um interesse saudável pelas aves de presa, pela cetraria e pela conservação das aves de presa. Neste momento as aves de presa necessitam de ajuda em alguns cenários concretos e várias organizações não-governamentais necessitam

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de apoio (financeiro ou como voluntariado) para continuar a desenvolver as suas ações. Neste âmbito convidamos todos os interessados em cetraria (caso a pratiquem ou não) a participar ativamente junto das instituições nacionais e internacionais que promovem ações de proteção de aves de presa no seu meio natural. Este tipo de intervenção é da maior importância e deve ser apoiado por todos os que realmente se interessam pela cetraria.

15. CRÉDITOS E AGRADECIMENTOS

O presente manual foi compilado como base nos manuais disponibilizados pela SAFA (South African Falconry Association) e IFF (International Falconry Forum). O mesmo foi redigido e adaptado por Pedro Afonso com revisão de Gonçalo Abreu. Agradecemos a todos os que contribuíram com material fotográfico para o mesmo, nomeadamente: Capa: Pedro Santos Pagina 3: Pedro Santos Pagina 7: Gonçalo Abreu Pagina 9: Gonçalo Abreu Pagina 11 (3): Gonçalo Abreu Pagina 13 (2): Gonçalo Abreu Pagina 13 (3): Paula Pereira Pagina 13 (4): Gonçalo Abreu Pagina 18: Manuel Cascalheira