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TERCEIRO MANUSCRITO

TERCEIRO MANUSCRITO Karl Marxndice: Propriedade Privada e TrabalhoPropriedade Privada e ComunismoNecessidades, Produo e Diviso do TrabalhoDinheiroCrtica da Filosofia Dialtica e Geral de Hegel

Propriedade Privada e Trabalho

(1) ad pgina XXXVI. A essncia subjetiva da propriedade privada, a propriedade privada como atividade em si mesma, como sujeito, como pessoa, trabalho. evidente, portanto, que s a Economia Poltica que reconheceu o trabalho por princpio (Adam Smith) e que no mais viu na propriedade privada unicamente uma condio extrnseca ao homem, pode ser considerada tanto um produto do dinamismo real e expanso da propriedade privada [1], um produto da indstria moderna, quanto uma fora que acelerou e exaltou o dinamismo e o desenvolvimento da industria e tornou-a uma potncia no plano da conscincia.

Assim, em vista dessa economia poltica esclarecida que descobriu a essncia subjetiva da riqueza dentro da estrutura da propriedade privada, os partidrios do sistema monetrio e do mercantilismo, para quem a propriedade privada uma entidade puramente objetiva para o homem, no fetichistas e catlicos. Engels est certo, por isso, de chamar Adam Smith o Lutero da Economia Poltica. Assim como Lutero reconheceu a religio e a f como a essncia do mundo real, e por essa razo assumiu uma posio adversa ao paganismo cristo; assim como ele anulou a religiosidade externa ao mesmo passo que fazia da religiosidade a essncia interior do homem; assim como ele negou a distino entre sacerdote e leigo porque transferiu o sacerdcio para o corao do leigo; tambm a riqueza extrnseca ao homem e dele independente (s podendo, pois, ser adquirida e conservada de fora) anulada. Isso quer dizer, sua objetividade externa e indiferente anulada pelo fato de a propriedade privada ser incorporada ao prprio homem, e de ser o prprio homem reconhecido como sua essncia. Mas, como resultado, o prprio homem levado para a esfera da propriedade privada, exatamente como, com Lutero, levado para a da religio. Sob o disfarce de reconhecer o homem, a economia poltica, cujo princpio o trabalho, leva sua lgica concluso a negao do homem. O prprio homem no mais uma condio da tenso externa com a substncia externa da propriedade privada; ele prprio se converteu na entidade oprimida por tenses, que a da propriedade privada. O que era anteriormente um fenmeno de ser extrnseco a si mesmo, uma manifestao extrnseca real do homem, transformou-se, agora no ato de objetivao, de alienao. Esta economia poltica parece, por conseguinte, a princpio, reconhecer o homem com sua independncia, sua atividade pessoal, etc. Ela incorpora a propriedade privada essncia mesma do homem, e no mais, portanto, condicionada pelas caractersticas locais ou nacionais da propriedade privada considerada como existente fora dela mesma. Ela manifesta uma atividade cosmopolita, universal, que destri todos os limites e todos os vnculos, reputando-se a si mesma como a nica orientao, a nica universalidade, o nico limite e o nico vnculo. Em seu desenvolvimento ulterior, contudo, v-se obrigada a rejeitar essa hipocrisia e a mostrar-se em todo o seu cinismo. Faz isso, sem qualquer considerao pelas contradies aparentes a que sua doutrina conduz, revelando por uma outra maneira unilateral, e por isso com maior lgica e clareza, que o trabalho a nica essncia da riqueza, e demonstrando que essa doutrina, ao contrrio da concepo original, tem conseqncias daninhas ao homem. Finalmente, ela aplica o golpe de morte renda da terra, aquela ltima forma individual e natural da propriedade privada e fonte de riqueza existente independentemente do movimento do trabalho que foi a expresso da propriedade feudal, mas tornou-se inteiramente sua expresso econmica e no mais consegue oferecer qualquer resistncia economia poltica. (A Escola de Ricardo.)

No s o cinismo da Economia Poltica aumenta a partir de Smith, passando por Say, Ricardo, Mill, etc., uma vez que para este ltimo as conseqncias da industria se afiguraram cada vez mais ampliadas e contraditrias; sob um ponto de vista positivo elas tornaram-se mais alienadas, e mais conscientemente alienadas, do homem, em comparao com suas predecessoras. Isso somente porque sua cincia se expande com maior lgica e verdade. Posto que eles fazem a propriedade privada em sua forma ativa formar o tema, e posto que ao mesmo tempo fazem o homem como no-entidade tornar-se uma entidade, a contradio na realidade corresponde inteiramente essncia contraditria por eles aceita como princpio. A realidade dividida (II) da indstria est longe de refutar, antes confirma, seu princpio de autodiviso. Seu princpio, com efeito, o princpio dessa diviso.

A doutrina fisiocrtica de Quesnay constitui a transio do sistema mercantilista para Adam Smith. A Fisiocracia , em seu sentido direto, a decomposio econmica da propriedade feudal, mas, por essa razo, da mesma forma direta a transformao econmica, o restabelecimento, desta mesma propriedade feudal, com a diferena de sua linguagem no ser mais feudal porm econmica. Toda a riqueza se reduz a terra e cultivo (agricultura). A terra ainda no e capital, mas sim um modo particular de existncia de capital, cujo valor se diz residir em sua particularidade natural, da qual provm; a terra, no obstante, um elemento natural e universal, ao passo que o sistema mercantilista s encarava os metais preciosos como riquezas. O objeto da riqueza, sua matria, por esse motivo recebeu sua mxima universalidade dentro dos limites naturais - uma vez que tambm, como natureza, riqueza diretamente objetiva. E s pelo trabalho, pela agricultura, que a terra existe para o homem. Conseqentemente, a essncia subjetiva da riqueza j est transferida para o trabalho. Mas, simultaneamente, a agricultura e o nico trabalho produtivo. O trabalho, pois, ainda no assumiu sua universalidade e sua forma abstrata; ele ainda se acha unido a um elemento particular da natureza como sendo a sua matria, e s reconhecido em um modo especial de existncia determinado pela natureza. O trabalho ainda, apenas, uma alienao determinada e especfica do homem, e seu produto tambm concebido como parte determinada da riqueza devida mais natureza do que ao trabalho propriamente dito. A terra ainda vista como algo existente naturalmente e sem levar em conta o homem, e no ainda como capital, isto , como fator do trabalho. Pelo contrario, a terra parece ser um fator da natureza. Porm, desde que o fetichismo da antiga riqueza externa, existente somente como objeto, foi reduzido a um elemento natural bastante simples, e desde que sua essncia foi em parte, e de certa maneira, reconhecida em sua existncia, subjetiva, realizou-se o necessrio progresso ao identificar-se a natureza universal da riqueza e ao elevar o trabalho sua forma absoluta, ou seja, em abstrato, ao princpio. Demonstra-se, contra os fisiocratas, que, sob o ponto de vista econmico (i. , sob o nico ponto de vista vlido), a agricultura no difere de qualquer outra indstria, no sendo, por conseguinte, um gnero especfico de trabalho, ligado a um elemento particular, ou a uma manifestao particular do trabalho, mas o trabalho em geral que e a essncia da riqueza.

A aristocracia nega a riqueza especfica, externa, puramente objetiva, ao declarar que o trabalho essncia dela. Para os fisiocratas, entretanto, o trabalho , antes de mais nada, apenas a essncia subjetiva da propriedade imobiliria. (eles partem daquele tipo de propriedade que aparece historicamente como o predominantemente reconhecido.) Simplesmente convertem a propriedade imobiliria em homem alienado. Anulam seu carter feudal ao declarar ser a indstria (agricultura) a essncia, mas rejeitam o mundo industrial e aceitam o sistema feudal ao declarar que a agricultura e a nica indstria.

evidente que quando a essncia subjetiva - indstria em oposio a propriedade agrria, indstria formando-se a si mesma como tal - percebida, ela inclui a oposio dentro de si mesma. Pois, assim como a indstria incorpora a propriedade agrria por ela desbancada, sua essncia subjetiva abarca a desta.

A propriedade agrria (ou imobiliria) a primeira forma de propriedade privada, e a indstria aparece pela primeira vez na histria simplesmente em oposio a ela, como uma forma particular de propriedade privada (ou melhor, como o escravo libertado da propriedade agrria); essa seqncia se repete no estudo cientfico da essncia subjetiva da propriedade privada, e o trabalho aparece, a princpio, apenas como trabalho agrcola, mas depois estabelece-se como trabalho em geral.

(III) Toda riqueza transformou-se em riqueza industrial, a riqueza do trabalho e a indstria trabalho concretizado; exatamente como o sistema fabril a essncia concretizada da indstria (i. , do trabalho) e o capital industrial a forma objetiva concretizada da propriedade privada. Assim, vemos que s nesta etapa que a propriedade privada pode consolidar seu domnio sobre o homem e tornar-se, em sua forma mais genrica, uma potncia na histria mundial.

Propriedade Privada e Comunismo

ad pgina XXXIX. Todavia, a anttese entre a no-posse de propriedade (*) e propriedade ainda uma anttese indeterminada, no concebida em sua referncia ativa s relaes intrnsecas, no concebidas ainda como uma contra dio, desde que no compreendida como uma anttese entre trabalho e capital. Mesmo sem a expanso evoluda da propriedade privada, p. ex., na Roma antiga, na Turquia, etc., esta anttese pode ser expressa em uma forma primitiva. Nesta forma, ela no aparece ainda como estabelecida pela prpria propriedade privada. O trabalho, porm, a essncia subjetiva da propriedade privada como excluso de propriedade, e o capital, trabalho objetivo como excluso de trabalho, constituem propriedade privada como a relao ampliada da contradio e, pois, uma relao dinmica que tende a resolver-se.

ad ibidem. A substituio do auto-alheamento segue a mesma marcha do auto-alheamento. A propriedade privada primeiro considerada somente em seu aspecto objetivo, mas considerado o trabalho como sua essncia. Sua maneira de existir, portanto, o capital, que necessrio abolir, "como tal". (Proudhon.) Ou, ento, a forma especfica de trabalho (trabalho que levado a um nvel comum, subdividido e, por isso, no-livre) visto como a fonte da nocividade da propriedade privada e de sua alienao em relao ao homem. Fourier, de acordo com os Fisiocratas, encara o trabalho agrcola como sendo, no mnimo, o tipo exemplar de trabalho. Saint-Simon assevera, pelo contrrio, ser o trabalho industrial, como tal, a essncia do trabalho, e em conseqncia pleiteia o papel exclusivo dos industriais e um melhoramento da situao dos operrios. Finalmente, o comunismo e a expresso positiva da abolio da propriedade privada e, em primeiro lugar, da propriedade privada universal. Entendendo essa relao em seu aspecto universal, o comunismo (1) em sua primeira forma, apenas a generalizao e concretizao dessa relao. Como tal, ele aparece numa forma dupla; a ascendncia da propriedade material avulta de tal maneira que visa a destruir tudo que for incapaz de ser possudo por todos como propriedade privada. Ele quer abolir o talento, etc., pela fora. A posse fsica imediata parece-lhe a nica meta da vida e da existncia. O papel do trabalhador no abolido, mas ampliado a todos os homens. A relao da propriedade privada continua a ser a da comunidade com o mundo das coisas. Por fim, essa tendncia a opor a propriedade privada em geral propriedade privada expressa de maneira animal; o casamento (que incontestavelmente a forma de propriedade privada exclusiva) posto em contraste com a comunidade das mulheres, em que estas se tornam comunais e propriedade comum. Pode-se dizer que essa idia de comunidade das mulheres o segredo de Polichinelo desse comunismo inteiramente vulgar e irrefletido. Assim como as mulheres tero de passar do matrimnio para a prostituio universal, igualmente todo o mundo das riquezas (i. , o mundo objetivo do homem) ter de passar da relao de casamento exclusivo com o proprietrio particular para a de prostituio universal com a comunidade. Esse comunismo, que nega a personalidade do homem em todos os setores, somente a expresso lgica da propriedade privada, que essa negao. A inveja universal estabelecendo-se como uma potncia apenas uma forma camuflada de cupidez que se reinstaura e satisfaz de maneira diferente. Os pensamentos de toda propriedade privada individual so, pelo menos, dirigidos contra qualquer propriedade privada mais abastada, sob a forma de inveja e do desejo de reduzir tudo a um nvel comum; destarte, essa inveja e nivelamento por baixo constituem, de fato, a essncia da competio. O comunismo vulgar apenas o paroxismo de tal inveja e nivelamento por baixo, baseado em um mnimo preconcebido. Quo pouco essa eliminao da propriedade privada representa uma apropriao genuna demonstrado pela negao abstrata de todo o mundo da cultura e da civilizao, e pelo retorno simplicidade inatural (IV) do pobre e indigente que no s ainda no ultrapassou a propriedade privada, mas nem ainda a atingiu.

A comunidade s uma comunidade de trabalho e de igualdade de salrios pagos pelo capital comunal, pela comunidade como capitalista universal. Os dois aspectos da relao so elevados a uma suposta universalidade; o trabalho como uma situao em que todos so colocados, e o capital como a universalidade e poder admitidos na comunidade.

Na relao com a mulher, como presa e serva da luxria comunal, manifesta-se a infinita degradao em que o homem existe para si mesmo; pois o segredo dessa relao encontra sua expresso inequvoca, inconteste, franca e patente na relao do homem com a mulher e na maneira pela qual se concebe a relao direta e natural da espcie. A relao imediata, natural e necessria de ser humano como ser humano tambm a relao do homem com a mulher. Nesta relao natural da espcie, a relao do homem com a natureza diretamente sua relao com o homem, e sua relao com o homem diretamente sua relao com a natureza, com sua prpria funo natural. Portanto, nessa relao se revela sensorialmente, reduzida a um fato observvel, at que ponto a natureza humana se tornou natureza para o homem e a natureza se tornou natureza humana para ele. Dessa relao, pode-se estimar todo o nvel de evoluo do homem. Conclui-se, do carter dessa relao, at que ponto o homem se tornou, e se entende assim, um ser-espcie, um ser humano. A relao do homem com a mulher a mais natural de ser humano com ser humano. Ela indica, por conseguinte, at que ponto o comportamento natural do homem se tornou humano, e at que ponto sua essncia humana se tornou uma essncia natural para ele, at que ponto sua natureza humana se tornou natureza para ele. Tambm mostra at que ponto as necessidades do homem se tornaram necessidades humanas e, conseqentemente, at que ponto a outra pessoa, como pessoa, se tornou uma de suas necessidades, e at que ponto ele , em sua existncia individual, ao mesmo tempo um ser social. A primeira anulao positiva da propriedade privada, o comunismo vulgar, , portanto, apenas uma forma fenomenal da infmia da propriedade privada representando-se como comunidade positiva.

(2) O comunismo (a) ainda poltico em sua natureza, democrtico ou desptico; (b) com a abolio do Estado, mas ainda incompleto e influenciado pela propriedade privada, isto , pela alienao do homem. Em ambas as formas, o comunismo j se d conta de ser a reintegrao do homem, seu retorno a si mesmo, o repdio da auto-alienao do homem. Porm, como ainda no aprendeu a natureza positiva da propriedade privada, ou a natureza humana das necessidades, ainda se acha cativo e contaminado pela propriedade privada. Compreendeu bem o conceito, mas no a essncia.

(3) O comunismo a abolio positiva da propriedade privada, da auto-alienao humana e, pois, a verdadeira apropriao da natureza humana atravs do e para o homem. ele , portanto, o retorno do homem a si mesmo como um ser social, isto , realmente humano, um regresso completo e consciente que assimila toda a riqueza da evoluo prece dente. O comunismo como um naturalismo plenamente desenvolvido humanismo e como humanismo plenamente desenvolvido naturalismo. a resoluo definitiva do antagonismo entre o homem e a natureza, e entre o homem e seu semelhante. a verdadeira soluo do conflito entre existncia e essncia, entre objetificao e auto-afirmao, entre liberdade e necessidade, entre indivduo e espcie. a resposta ao enigma da Histria e tem conhecimento disso.

(V) Assim, todo o desenvolvimento histrico, tanto a gnese real do comunismo (o nascimento de sua existncia emprica) quanto sua conscincia pensante, e seu processo entendido e consciente de vir-a-ser; ao passo que o outro, o comunismo ainda no desenvolvido procura, em certas formas histricas contrarias a propriedade privada, uma justificao baseada no que j existe e, com esse fito, arranca de seu contexto elementos isolados desse desenvolvimento (Cabet e Villegardelle destacam-se entre os que se dedicam a esse passatempo), apresentando-os como provas de seu pedigree histrico. Ao faz-lo ele deixa claro que, de longe, a mor parte desse desenvolvimento contradiz suas prprias afirmaes e que, se jamais existiu, sua existncia pretrita refuta sua pretenso a entidade essencial.

fcil entender a necessidade que leva todo movimento revolucionrio a encontrar sua base emprica, assim como a terica, na evoluo da propriedade privada e, mais precisamente, do sistema econmico.

Essa propriedade privada material, diretamente perceptvel, a expresso material e sensria da vida humana alienada. Seu movimento produo e consumo - e a manifestao sensria do movimento de toda a produo anterior, i. , a realizao ou realidade do homem. A religio, a famlia, o Estado, o Direito, a moral, a cincia, a arte, etc., so apenas formas particulares de produo e enquadram-se em sua lei geral. A substituio positiva da propriedade privada como apropriao da vida humana, portanto, a substituio de toda alienao, e o retorno do homem, da religio, do Estado, da famlia, etc., para sua vida humana, i., social. A alienao religiosa como tal, ocorre somente no campo da conscincia, na vida interior do homem, mas a alienao econmica e a da vida real, e por isso, sua substituio afeta ambos os aspectos. Est claro, a evoluo em diferentes naes tem incio diferente, conforme a vida efetiva e estabelecida das pessoas esteja mais vinculada ao reino da mente ou ao mundo exterior, seja mais uma vida real ou ideal. O comunismo comea onde comea o atesmo (Owens), mas o atesmo de incio est bem longe de ser comunismo; de fato, ele , na maior parte, ainda uma abstrao. Assim, a filantropia do atesmo , a princpio, unicamente uma filantropia filosfica abstrata, enquanto a do comunismo desde logo real e orientada e voltada para a ao.

Vimos como, na suposio da propriedade privada ter sido positivamente revogada, o homem produz o homem, a si mesmo e a outros homens; como o objeto que a atividade direta de sua personalidade, ao mesmo tempo a existncia dele para outros homens e a destes para ele. Analogamente, o material do trabalho e o prprio homem como sujeito so o ponto de partida, bem como o resultado, desse movimento (e porque deve haver esse ponto de partida, a propriedade privada uma necessidade histrica). Por conseguinte, o carter social e o carter universal de todo o movimento; da mesma forma que a sociedade produz o homem como homem, tambm ela produzida por ele. A atividade e o esprito so sociais em seu contedo, assim como em sua origem; eles so atividade social e esprito social. O significado humano da natureza s existe para o homem social, porque s neste caso a natureza um lao com outros homens, a base de sua existncia para outros e da existncia destes para ele. S, ento, a natureza e a base da prpria experincia humana dele e um elemento vital da realidade humana. A existncia natural do homem tornou-se, com isso, sua existncia humana, e a prpria natureza tornou-se humana para ele. Logo, a sociedade a unio efetiva do homem com a natureza, a verdadeira ressurreio da natureza, o naturalismo realizado do homem e o humanismo realizado da natureza.

(VI) A atividade social e o esprito social no existem apenas, de forma alguma, sob a forma de atividade ou espirito que sela diretamente comunal. Sem embargo, a atividade e o esprito comunais, i. , atividade e esprito que se exprimem e confirmam diretamente em associao real com outros homens, ocorrem sempre onde essa expresso direta de sociabilidade brote do contedo da atividade ou corresponda natureza do esprito.

Ainda quando realizo trabalho cientifico, etc., uma atividade que raramente posso conduzir em associao direta com outros homens, efetuo um ato social, por ser humano. No s o material de minha atividade - como a prpria lngua que o pensador utiliza - que me dado como um produto social. Minha prpria existncia uma atividade social. Por essa razo, o que eu prprio produzo, o fao para a sociedade, e com a conscincia de agir como um ser social.

Minha conscincia universal apenas a forma terica daquela cuja forma viva a comunidade real, a entidade social, embora no presente essa conscincia universal seja uma abstrao da vida real e oposta a esta como uma inimiga. Por isso que a atividade de minha conscincia universal como tal minha existncia terica como um ser social.

Acima de tudo, mister evitar conceber a "sociedade" uma vez mais como uma abstrao com que se defronta o indivduo. O indivduo o ser social. A manifestao da vida dele - ainda quando no aparea diretamente sob a forma de manifestao comunal, realizada em associao com outros homens - , por conseguinte, uma manifestao e afirmao de vida social. A vida humana individual e a vida-espcie no so coisas diferentes, conquanto o modo de existncia da vida individual seja um modo mais especifico ou mais geral da vida-espcie, ou da vida-espcie seja um modo mais especfico ou mais geral da vida individual.

Em sua conscincia como espcie, o homem confirma sua verdadeira vida social, e reproduz sua existncia real em pensamento; reciprocamente, a vida-espcie confirma-se na conscincia como espcie e existe por si mesma em sua universalidade como ser pensante. Embora o homem seja um indivduo original, e justamente esta particularidade que o torna um indivduo, um ser comunal realmente individual - ele igualmente o conjunto, o conjunto ideal, a existncia subjetiva da sociedade como imaginada e vivenciada. Ele existe na realidade como a representao e o verdadeiro espirito da existncia social, e como a soma da manifestao humana da vida.

Pensar e ser so deveras distintos, mas tambm formam uma unidade. A morte parece ser uma impiedosa vitria da espcie sobre o indivduo e contradizer sua unidade; porm, o indivduo em particular apenas um determinado ente-espcie, e, como tal, mortal.

(4) Tal e qual a propriedade privada a mera expresso sensorial do fato de o homem ser ao mesmo tempo um fato objetivo para si mesmo e tornar-se um objeto estranho e no-humano para si mesmo; tal e qual sua manifestao de vida tambm sua alienao da vida e sua realizao prpria uma perda da realidade, o aparecimento de uma realidade estranha, assim tambm a revogao positiva da propriedade privada, i. , a apropriao sensorial da essncia humana e da vida humana do homem objetivo e das criaes humanas, pelo e para o homem, no devem ser consideradas exclusivamente na acepo de fruio imediata e exclusiva, ou na de possuir ou ter. O homem apropria seu ser multiforme de maneira global, e portanto como homem integral. Todas as suas relaes humanas com o mundo - ver, ouvir, cheirar, saborear, pensar, observar, sentir, desejar, agir, amar - em suma, todos os rgos de sua individualidade, como rgos que so de forma diretamente comunal (VII), so, em sua ao objetiva (sua ao com relao ao objeto) a apropriao desse objeto, a apropriao da realidade humana. A maneira pela qual eles reagem ao objeto a confirmao da realidade humana. (1) efetividade humana e sofrimento humano, pois o sofrimento, considerado humanamente, uma fruio do eu pelo homem.

A propriedade privada tornou-nos to nscios e parciais que um objeto s e nosso quando o temos, quando existe para ns como capital ou quando diretamente comido, bebido, vestido, habitado, etc., em sntese, utilizado de alguma forma; apesar de a propriedade privada propriamente dita s conceber essas vrias formas de posse como meios de vida e a vida para a qual eles servem como meios ser a vida da propriedade privada - trabalho e criao de capital.

Assim, todos os sentidos fsicos e intelectuais foram substitudos pela simples alienao de todos eles, pelo sentido de ter. O ser humano tinha de ser reduzido a essa pobreza absoluta a fim de poder dar luz toda sua riqueza interior. (Sobre a categoria de ter ver Hess em Einundzwanzig Bogen. )

A anulao da propriedade privada , pois, a emancipao completa de todos os atributos e sentidos humanos. Ela essa emancipao porque esses atributos e sentidos tornaram-se humanos, tanto sob o ponto de vista subjetivo quanto sob o objetivo. O olho tornou-se olho humano quando seu objeto passou a ser um objeto humano, social, criado pelo homem e a este destinado. Os sentidos, portanto, tornaram-se direta mente tericos na prtica. Eles se relacionam com a coisa em ateno a esta, mas a prpria coisa uma relao humana objetiva consigo mesma e com o homem, e vice-versa. (2) A necessidade e a fruio, portanto, perderam seu carter egosta, e a natureza perdeu sua mera utilidade pelo fato de sua utilizao ter-se tornado utilizao humana.

Semelhantemente, os sentidos e os espritos dos outros homens tornaram-se sua prpria apropriao. Logo, alm desses rgos diretos, so constitudos rgos sociais sob a forma de sociedade; por exemplo, a atividade em associao direta com outros tornou-se um rgo para a manifestao da vida e um modo de apropriao da vida humana.

(1) Por conseguinte, ela valia tanto quanto as tendncias da natureza e das atividades humanas.

(2) Na prtica, s posso relacionar-me de maneira humana com uma coisa quando esta se relaciona de maneira humana com o homem.

evidente que o olho humano aprecia as coisas de maneira diferente do olho bruto, no-humano, assim como o ouvido humano diferentemente do ouvido bruto. Conforme vimos, s quando o objeto se torna um objeto humano, ou humanidade objetiva, que o homem no fica perdido nele. Isso somente possvel quando o objeto se torna um objeto social, e quando ele prprio se torna um ser social e a sociedade se torna para ele, nesse objeto, um ser.

Por um lado, s quando a realidade objetiva em toda parte se torna para o homem-em-sociedade a realidade das faculdades humanas, a realidade humana, e portanto a realidade de suas prprias faculdades, que todos os objetos se tornam para ele a objetificao dele prprio. Os objetos, ento, confirmam e realizam a individualidade dele, eles so os objetos dele prprio, i. e, o prprio homem torna-se o objeto. A maneira pela qual esses objetos passam a ser dele, depende da natureza do objeto e da natureza da faculdade correspondente, pois exatamente o carter determinado dessa relao que constitui o modo real especfico de afirmao. O objeto no e o mesmo para o olho que para o ouvido, para o ouvido que para o olho. O carter distintivo de cada faculdade precisamente sua essncia caracterstica e, pois, tambm, o modo caracterstico de sua objetificao, de seu ser objetivamente real, vivo. Portanto, no apenas em pensamento (VIII), mas por intermdio de todos os sentidos que o homem se afirma no mundo objetivo.

Consideremos, a seguir, o aspecto subjetivo. O sentido musical do homem s despertado pela msica. A mais bela musica no tem significado para o ouvido no-musical, no e um objeto para ele, porque meu objeto s pode ser a corroborao de uma de minhas prprias faculdades. Ele s pode existir para mim na medida em que minha faculdade existe por si mesma como capacidade subjetiva, porquanto o significado de um objeto para mim s se estende at onde o sentido se estende (s faz sentido para um sentido adequado). Por essa razo, os sentidos do homem social so diferentes dos do homem no-social. E s por intermdio da riqueza objetivamente desdobrada do ser humano que a riqueza da sensibilidade humana subjetiva (um ouvido musical, um olho sensvel beleza das formas, em suma, sentidos capazes de satisfao humana e que se confirmam como faculdades humanas) cultivada ou criada. Pois no so apenas os cinco sentidos, mas igualmente os chamados sentidos espirituais, os sentidos prticos (desejar, amar, etc.), em suma, a sensibilidade humana e o carter humano dos sentidos, que s podem vingar atravs da existncia de seu objeto, atravs da natureza humanizada. O cultivo dos cinco sentidos a obra de toda a histria anterior. O sentido subserviente s necessidades grosseiras s tem um significado restrito. Para um homem faminto, a forma humana de alimento no existe, mas apenas seu carter abstrato como alimento. Poderia muito bem existir na mais tosca forma, e impossvel afirmar de que modo essa atividade de alimentar-se diferia da dos animais. O homem necessitado, assoberbado de cuidados, no capaz de apreciar o mais belo espetculo. O vendedor de minerais s v seu valor comercial, no sua beleza ou suas caractersticas particulares; ele no possui senso mineralgico. Assim, a objetificao da essncia humana tanto terica quanto praticamente, necessria para humanizar os sentidos humanos, e tambm para criar os sentidos humanos correspondentes a toda a riqueza do ser humano e natural.

Exatamente como no incio a sociedade encontra, graas ao desenvolvimento da propriedade privada com sua riqueza e pobreza (tanto intelectual quanto material), os materiais necessrios para essa evoluo cultural, assim tambm a sociedade plenamente constituda produz o homem em toda a plenitude de seu ser, o homem rico dotado de todos os sen tidos, como uma realidade permanente. E s em um contexto social que subjetivismo e objetivismo, espiritualismo e materialismo, atividade e passividade, deixam de ser antinomias e, assim, deixam de existir como tais antinomias. A resoluo das contradies tericas somente possvel atravs de meios prticos, somente atravs da energia prtica do homem. Sua resoluo no , de forma alguma, portanto, apenas um problema de conhecimentos, mas um problema real da vida, que a filosofia foi incapaz de solucionar exatamente porque viu nele um problema puramente terico.

Pode ser notado que a histria da indstria, e a indstria como existe objetivamente, um livro aberto das faculdades humanas, e uma psicologia humana que pode ser apreendida sensorialmente. Essa histria no foi at aqui concebida com relao natureza humana, mas s sob um ponto de vista utilitrio superficial, desde que na situao de alienao s era vivel conceber faculdades humanas reais e ao da espcie humana sob a forma de existncia humana em geral, como religio, ou como histria em seu aspecto geral, abstrato, como poltica, arte e literatura, etc. A indstria material quotidiana (que pode ser concebida como parte daquela evoluo geral; ou igualmente, a evoluo geral pode ser concebida como parte especfica da industria, visto que toda a atividade humana at agora tem sido trabalho, i. , indstria, atividade auto-alienao) revela-nos, sob a forma de objetos teis sensoriais, de maneira alienada, as faculdades humanas essenciais transformadas em objetos. Nenhuma psicologia para a qual esse livro, i. , parte mais sensivelmente presente e acessvel da Histria, permanea fechado, pode tornar-se uma cincia de verdade com um contedo genuno. Que se deve pensar de uma cincia que se mantm apartada de todo esse enorme campo do trabalho humano e que no se sente sua prpria inadequao, mesmo que essa grande riqueza de atividade humana nada mais signifique para ela seno, qui, o que pode ser expresso na simples expresso - "necessidade", "necessidade comum"?

As cincias naturais desenvolveram uma atividade tremenda e reuniram uma sempre crescente massa de dados. Mas a filosofia tem-se mantido alheia a essas cincias, exatamente como elas o tm feito em relao filosofia. Seu momentneo rapprochement foi somente uma iluso fantasiosa. Havia um desejo de unio, mas faltou o poder para efetiv-la. A prpria historiografia s leva a cincia natural em conta fortuitamente, encarando-a como um fator de esclarecimento, de utilidade prtica e de determinados grandes descobrimentos. A cincia natural, contudo, penetrou mais praticamente na vida humana por intermdio da indstria. Ela transformou a vida humana e preparou a emancipao da humanidade, conquanto seu efeito imediato fosse acentuar a desumanizao do homem. A indstria a relao histrica concreta da natureza, e portanto da cincia natural, com o homem. Se a indstria concebida como a manifestao exotrica das faculdades humanas essenciais, a essncia humana da natureza e a essncia natural do homem tambm podem ser entendidas. A cincia natural, ento, abandonar sua orientao materialista abstrata, ou melhor, idealista, e se tornar a base de uma cincia humana, tal como j se converteu - malgrado de forma alienada - em base da vida humana prtica. Uma base para a vida e outra para a cincia , a priori , uma falsidade. A natureza, como se desenvolve atravs da histria humana, no ato de gnese da sociedade humana, a natureza concreta do homem; assim, a natureza, como se desenvolve por intermdio da indstria, embora de forma alienada, verdadeiramente natureza antropolgica.

A experincia dos sentidos (ver Feuerbach) tem de ser a base de toda cincia. A cincia s cincia genuna quando procede da experincia dos sentidos, nas duas formas de percepo sensorial e necessidade sensria, i. , s quando procede da natureza. O conjunto da Histria uma preparao para o 'homem" tornar-se um objeto da percepo sensorial, e para o desenvolvimento das necessidades humanas (as necessidades do homem como tal). A prpria Histria uma parte real da Histria Natural, do aperfeioamento da natureza at chegar ao homem. A cincia natural algum dia incorporar a cincia do homem, exatamente como a cincia do homem incorporar a cincia natural; haver uma nica cincia.

O homem o objeto direto da cincia natural, porque a natureza diretamente perceptvel para o homem experincia sensorial. Sua prpria experincia sensorial s existe como a outra pessoa que lhe diretamente apresentada de maneira sensorial. Sua prpria experincia sensorial s existe como experincia sensorial humana atravs da outra pessoa. Mas, a natureza o objeto direto da cincia do homem. O primeiro objeto para o homem - o prprio homem - a natureza, a experincia sensorial; e as faculdades humanas sensrias em particular, que s podem encontrar realizao objetiva em objetos naturais, s podem alcanar o conhecimento prprio na cincia do ser natural. O prprio elemento do pensamento, o elemento da manifestao viva do pensamento, a linguagem, de natureza sensorial. A realidade social da natureza e cincia natural humana ou cincia natural do homem, so expresses idnticas.

A partir daqui, ver-se- como, em lugar da riqueza e pobreza da Economia Poltica, teremos o homem rico e a plenitude da necessidade humana. O homem rico , ao mesmo tempo, aquele que precisa de um complexo de manifestaes humanas da vida, e cuja prpria auto-realizao existe como uma necessidade interior, como uma carncia. No s a riqueza como tambm a pobreza do homem, adquire, em uma perspectiva socialista, o significado humano, e portanto social. A pobreza o vinculo passivo que leva o homem a experimentar uma carncia da mxima riqueza, a outra pessoa. O mpeto da entidade objetiva dentro de mim, a rotura sensorial de minha atividade vital, a paixo que aqui se torna a atividade de meu ser.

(5) Um ser no se encara a si mesmo como independente a menos que seja seu prprio senhor, e ele s seu prprio senhor quando deve sua existncia a si mesmo. Um homem que vive pelo favor de outro, considera-se um ser dependente. Mas, eu vivo completamente por favor de outra pessoa quando lhe devo no apenas a continuao de minha vida, como igualmente sua criao; quando ele a origem dela. Minha vida tem forosamente uma causa assim extrnseca quando no de minha prpria criao. A idia de criao, pois, difcil de eliminar da conscincia popular. Essa conscincia e incapaz de conceber a natureza e o homem existindo por sua prpria conta, pois tal existncia contraria todos os fatos tangveis da vida prtica.

A idia da criao da Terra recebeu srio golpe da cincia da geogenia, i. , da cincia que descreve a formao e o desenvolvimento da Terra como um processo de gerao espontnea. Generatio aequivoca (gerao espontnea) a nica refutao prtica da teoria da criao.

fcil, todavia, deveras, dizer a um indivduo em particular do que Aristteles disse: voc foi gerado por seu pai e sua me, e conseqentemente foi o coito de dois seres humanos, um ato da espcie humana, que produziu o ser humano. V-se, pois, que mesmo em um sentido fsico o homem deve sua existncia ao homem. Por conseguinte, no basta ter em mente apenas um dos dois aspectos, a progresso infinita e perguntar a seguir: quem gerou meu pai e meu av? Tambm se tem de ter em vista o movimento circular, perceptvel nessa progresso, segundo o qual o homem, no ato da gerao, reproduz-se a si mesmo: destarte, o homem sempre permanece como sujeito. Mas, responder-se-: admito esse movimento circular, mas em troca voc deve aceitar a progresso, que leva ainda mais adiante ao ponto onde eu pergunto: quem criou o primeiro homem e a natureza como um todo? S posso responder: sua pergunta , em si mesma, um produto da abstrao. Pergunte a si mesmo como chegou a essa pergunta. Pergunte-se se sua pergunta no nasce de um ponto de vista a que eu no posso responder por que ele deturpado. Pergunte-se se essa progresso existe como tal para o pensamento racional. Se voc indaga acerca da criao da natureza e do homem, voc est abstraindo estes. Voc os supe no-existentes e quer que eu demonstre que eles existem. Replico: desista de sua abstrao e ao mesmo tempo voc abandonar sua pergunta. Ou ento, se voc quer manter sua abstrao, seja coerente, e se pensa no homem e na natureza como no-existentes (XI) pense tambm em voc como no-existente, pois voc tambm homem e natureza. No pense nem formule quaisquer perguntas, pois logo que voc o faz sua abstrao da existncia da natureza e do homem se torna sem sentido. Ou ser voc to egosta que concebe tudo como no-existente, mas quer que voc exista?

Voc pode retrucar: no quero conceber a inexistncia da natureza, etc.; s lhe pergunto acerca do ato de criao dela, tal como indago do anatomista sobre a formao dos ossos, etc.

Como, no entanto, para o socialista, o conjunto do que se chama histria mundial nada mais que a criao do homem pelo trabalho humano, e a emergncia da natureza para o homem, ele, portanto, tem a prova evidente e irrefutvel de sua autocriao, de suas prprias origens. Uma vez que a essncia do homem e da natureza, o homem como um ser natural e a natureza como uma realidade humana, se tenha tornado evidente na vida prtica, na experincia sensorial, a busca de um ser estranho, um ser acima do homem e da natureza (busca essa que uma confisso da irrealidade do homem e da natureza) torna-se praticamente impossvel. O atesmo, como negao desse irrealismo, no mais faz sentido, pois ele uma negao de Deus e procura afirmar, por essa negao, a existncia do homem. O socialismo dispensa esse mtodo assim to circundante; ele parte da percepo terica e prtica sensorial do homem e da natureza como seres essenciais. autoconscincia positiva humana, no mais uma autoconscincia alcanada graas negao da religio; exatamente como a vida real do homem positiva e no mais alcanada graas negao da propriedade privada, por meio do comunismo. O comunismo a fase de negao da negao e , por conseguinte, para a prxima etapa da evoluo histrica, um fator real e necessrio na emancipao e reabilitao do homem. O comunismo a forma necessria e o princpio dinmico do futuro imediato, mas o comunismo no em si mesmo a meta da evoluo humana - a forma da sociedade humana.

Necessidades, Produo e diviso do trabalho

(XIV) (7) Vimos que a importncia deve ser atribuda, em uma perspectiva socialista, riqueza das necessidades humanas, e conseqentemente tambm a um novo sistema de produo e a um novo objeto de produo. Uma nova manifestao das foras humanas e um novo enriquecimento do ser humano. Dentro do sistema da propriedade privada, ela tem o significado diametralmente oposto. Cada homem especula sobre a criao de uma nova necessidade no outro a fim de obrig-lo a um novo sacrifcio, coloc-lo sob nova dependncia, e induzi-lo a um novo tipo de prazer e, em conseqncia, runa econmica. Todos procuram estabelecer um poder estranho sobre os outros, para com isso encontrar a satisfao de suas prprias necessidades egostas. Com a massa de objetos, por conseguinte, cresce tambm o reino de entidades estranhas a que o homem se v submetido. Cada novo produto uma nova potencialidade de mtua fraude e roubo. O homem torna-se cada vez mais pobre como homem; ele tem necessidade crescente de dinheiro para poder apossar-se do ser hostil. O poder de seu dinheiro diminui na razo direta do aumento do volume da produo, i. , sua necessidade cresce com o poder crescente do dinheiro. A necessidade de dinheiro , pois, a necessidade real criada pela economia moderna, e a nica necessidade por esta criada. A quantidade de dinheiro torna-se cada vez mais sua nica qualidade importante. Assim como ele reduz toda entidade a sua abstrao, tambm se reduz a si mesmo, em seu prprio desenvolvimento, a uma entidade quantitativa. Excesso e imoderao passam a ser seu verdadeiro padro. Isso demonstrado subjetivamente, em parte pelo fato de a expanso da produo e das necessidades tornar-se uma subservincia engenhosa e sempre calculista a apetites desumanos, depravados, antinaturais e imaginrios. A propriedade privada no sabe como transformar a necessidade bruta em necessidade humana; seu idealismo fantasia, capricho e iluso. Nenhum eunuco lisonjeia a seu tirano de forma mais desavergonhada nem procura por meios mais infames estimular seu apetite embotado, a fim de granjear algum favor, do que o eunuco da indstria, o homem de empresa, a fim de adquirir algumas moedas de prata ou de atrair o ouro da bolsa de seu amado prximo. (Todo produto uma isca por meio da qual o indivduo tenta engodar a essncia da outra pessoa, o dinheiro desta. Toda necessidade real ou potencial uma fraqueza que atrair o passarinho para o visgo. A explorao universal da vida humana em comunidade. Como toda imperfeio do homem um vnculo com o cu, um ponto em que seu corao acessvel ao sacerdote, assim tambm toda necessidade material uma oportunidade para a gente aproximar-se do prximo, com uma atitude amistosa, e dizer: "Caro amigo, dar-lhe-ei aquilo de que voc precisa, mas voc conhece a conditio sine qua non . Voc sabe qual tinta tem de usar para entregar-se a mim. Eu o trapacearei ao proporcionar-lhe satisfao.") O homem de empresa concorda com os mais depravados caprichos de seu prximo, desempenha o papel de alcoviteiro entre eles e suas necessidades, desperta apetites mrbidos, nele, e presta ateno a cada fraqueza a fim de, posteriormente, reivindicar a remunerao por esse servio de amor.

Essa alienao em parte mostrada pelo fato de o requinte das necessidades e dos meios de satisfaz-las produzir, como correspondente, uma selvajaria bestial, uma simplicidade completa, primitiva e abstrata das necessidades; ou melhor, simplesmente reproduzir-se no sentido oposto. Para o trabalha dor, at a necessidade de ar fresco deixa de ser uma necessidade. O homem volta novamente a morar em cavernas, mas agora envenenado pelo ar pestilento da civilizao. O trabalhador s tem um direito precrio a habit-las, pois elas se transformaram em residncias estranhas que de repente podem no estar mais disponveis, ou de que ele pode ser despejado se no pagar o aluguel. Ele tem de pagar por esse sepulcro. A residncia cheia de luz que Prometeu, em squilo, indica como uma das grandes ddivas por meio das quais converteu selvagens em homens, deixa de existir para o trabalhador. Luz, ar, e a mais singela limpeza animal deixam de ser necessidades humanas. A imundcie, essa corrupo e putrefao que corre pelos esgotos da civilizao (isto deve ser tomado literalmente), torna-se o elemento em que o homem vive. Negligncia total e antinatural, a natureza putrefata, passa a ser o elemento em que ele vive. Nenhum de seus sentidos sobrevive, seja sob forma humana, seja mesmo em forma no-humana, animal. Os processos (e instrumentos) mais grosseiros de trabalho humano reaparecem; assim, o moinho acionado pelos ps dos escravos romanos tornou-se o modo de produo e o modo de existncia de muitos operrios ingleses. No basta que o homem perca suas necessidades humanas; at as necessidades animais desaparecem. Os irlandeses no mais tm nenhuma necessidade seno a de comer - comer batatas, e ainda assim s da pior espcie, batatas bolorentas. Mas a Frana e a Inglaterra j possuem em toda cidade industrial uma pequena Irlanda. Selvagens e animais podem, ao menos, satisfazer suas necessidades de caar, fazer exerccio e ter companheiros. A simplificao da maquinaria e do trabalho, porm, utilizada para fazer operrios dos que ainda esto crescendo, que ainda esto imaturos, crianas, enquanto o prprio operrio converteu-se em uma criana desatendida de qualquer cuidado. A maquinaria adaptada fraqueza do ser humano, de modo a transformar o fraco ser humano em mquina.

O fato de o aumento das necessidades e dos meios de satisfaz-las resultar em uma falta de atendimento das necessidades e meios de satisfaz-las, demonstrado de vrias maneiras pelo economista (e pelo capitalista; com efeito, sempre a homens de negcios empricos que nos referimos quando falamos de economistas, que so sua auto-revelao e existncia cientfica). Primeiramente, reduzindo as necessidades do trabalhador s mseras exigncias ditadas pela manuteno de sua existncia fsica, e reduzindo a atividade dele aos movimentos mecnicos mais abstratos, o economista assevera que o homem no tem necessidade de atividade ou prazer alm daquelas; e no entanto declara ser esse gnero de vida um gnero humano de vida. Em segundo lugar, aceitando como padro geral de vida (geral por ser aplicado massa dos homens) a vida mais pobre que se possa conceber; ele transformar o trabalhador em um ser destitudo de sentidos e necessidades, assim como transforma a atividade dele em uma abstrao pura de toda atividade. Assim, todo o luxo da classe trabalhadora parece-lhe condenvel, e tudo que ultrapasse a mais abstrata exigncia (quer se trate de uma satisfao passiva ou uma manifestao de atividade pessoal) encarada como luxo. A Economia Poltica, a cincia da riqueza, portanto, ao mesmo tempo, a cincia da renncia, da privao e da poupana, que de fato consegue privar o homem de ar fresco e de atividade fsica. A cincia de uma indstria maravilhosa , concomitantemente, a cincia do ascetismo. Seu verdadeiro ideal o sovina, asctico porm usurrio, e o escravo asctico porm produtivo. Seu ideal moral trabalhador que leva uma parte do salrio para a caixa econmica. Chegou mesmo a achar uma arte servil para corporificar essa idia favorita, que foi apresentada de forma sentimental no palco. Assim, a despeito de sua aparncia mundana e sequiosa de prazeres, ela uma cincia verdadeiramente moralista, a mais moralista de todas as cincias. Sua tese principal a renncia vida e s necessidades humanas. Quanto menos se comer, beber, comprar livros, for ao teatro ou a bailes, ou ao botequim, e quanto menos se pensar, amar, doutrinar, cantar, pintar, esgrimir, etc., tanto mais se poder economizar e maior se tornar o tesouro imune ferrugem e s traas - o capital. Quanto menos se for, quanto menos se exprimir nossa vida, tanto mais se ter, tanto maior ser nossa vida alienada e maior ser a economia de nosso ser alienado. Tudo o que o economista tira da gente sob a forma de vida e humanidade, devolve sob a de dinheiro e riqueza. E tudo que no se pode fazer, o dinheiro pode fazer para a gente; pode-se comer, beber, ir ao baile e ao teatro. Ele pode adquirir arte, saber, tesouros histricos, poder poltico; e pode-se viajar. Ele pode apropriar todas essas coisas para a gente, pode comprar tudo; ele a verdadeira opulncia. Mas, apesar de poder fazer tudo isso, ele s quer criar a si mesmo, e comprar a. si mesmo, pois tudo mais se lhe submete. Quando se possui o dono, tambm se possui o servo, e ningum precisa do servo do dono. Dessa maneira, todas as paixes e atividades tm de ser submersas na avareza. O trabalhador deve ter apenas o que lhe necessrio para desejar viver, e deve desejar viver para ter isso.

verdade que apareceu certa controvrsia no campo da Economia Poltica. Alguns economistas (Lauderdale, Malthus, etc) advogam o luxo e condenam a poupana, enquanto outros (Ricardo, Say, etc.), advogam a poupana e condenam o luxo. Mas, os primeiros admitem que desejam luxo a fim de criar trabalho, i. , poupana absoluta, ao passo que os ltimos admitem que advogam a poupana a fim de criar a riqueza, i. , luxo. Os primeiros tm a idia romntica de que a avareza no deve determinar por si s o consumo dos ricos, e contradizem suas prprias leis ao representar a prodigalidade como sendo um meio direto de enriquecer; seus opositores, ento, demonstram com grande mincia e convico, que a prodigalidade diminui ao invs de aumentar minhas posses. O segundo grupo hipcrita, ao no admitir que so o capricho e a fantasia que determinam a produo. Esquecem-se das "necessidades requintadas", e que sem consumo no haveria produo. Esquecem-se de que, atravs da competio, a produo tem de tornar-se sempre mais universal e luxuosa, que o uso que determina o valor das coisas e que o uso funo da moda. Eles querem que a produo seja limitada a "coisas teis", mas esquecem que a produo de um nmero excessivo de coisas teis resulta em muitas pessoas inteis. Ambos os lados esquecem que prodigalidade e parcimnia, luxo e abstinncia, riqueza e pobreza, so equivalentes.

No se tem de ser abstinente apenas na satisfao de nossos sentidos diretos, como comer, etc., mas tambm em nossa participao em interesses gerais, nossa compaixo, confiana, etc., se se deseja ser econmico e evitar arruinar-se devido a iluses.

Tudo o que se possui deve ser tornado venal, i. , til. Suponhamos que eu pergunte ao economista: estou agindo de acordo com as leis econmicas se ganhar dinheiro com a venda de meu corpo, prostituindo-o concupiscncia de outra pessoa (na Frana, os operrios chamam prostituio de suas esposas e filhas a ensima hora de trabalho, o que literalmente verdadeiro); ou se eu vender meu amigo aos marroquinos (e a venda direta de homens ocorre em todos os pases civilizados sob a forma de alistamento nas foras armadas)? Ele responder: voc no est agindo contra as minhas leis, mas tem de levar em conta o que a Prima Moral e a Prima Religio tm a dizer. Minha moralidade e religio econmicas nada tm a objetar, porm Mas, a quem se deve dar crdito, ao economista ou ao moralista? A moral da economia poltica ganho, trabalho, parcimnia e sobriedade - no entanto, a economia poltica promete satisfazer minhas necessidades. A economia poltica da moral a riqueza de uma boa conscincia, virtude, etc., mas como posso ser virtuoso se no estiver vivo e como posso ter uma boa conscincia se no me der conta de nada? A natureza da alienao subentende que cada esfera aplica uma norma diferente e contraditria, que a Moral no aplica a mesma norma que a Economia Poltica, etc., porque cada uma delas uma alienao particular do homem; (XVII) cada uma est concentrada em uma rea especfica de atividade alienada e, por sua vez, acha-se alienada da outra.

assim que M. Michel Chevalier censura Ricardo por no levar em conta a Moral. Mas Ricardo deixa a Economia Poltica falar sua lngua prpria; no se deve conden-lo se essa lngua no a da Moral. M. Chevalier ignora a Economia Poltica, ao preocupar-se unicamente com a Moral, mas ignora de fato e necessariamente a Moral quando se preocupa com a Economia Poltica; pois o reflexo desta naquela arbitrrio e acidental, carecendo, assim, de qualquer base ou carter cientfico, uma mera impostura, ou ento essencial e s pode ser ento uma relao entre as leis econmicas e a Moral. Se no existe uma relao assim, pode Ricardo ser chamado responsabilidade? Outrossim, a anttese entre Moral e Economia Poltica em si mesma apenas aparente; h uma anttese e igualmente no h anttese. A Economia Poltica exprime sua prpria maneira, as leis morais.

A ausncia de exigncias, como princpio da economia poltica, atestada da forma mais chocante em sua teoria da populao. H homens em demasia. A prpria existncia do homem puro luxo, e se o trabalhador for "moralizado" , ele ser econmico ao procriar. (Mill sugere louvor pblico aos que se mostrarem abstmios nas relaes sexuais, e condenao pblica aos que pequem contra a esterilidade do matrimnio. No essa a doutrina moral do ascetismo?) A produo de homens afigura-se uma desgraa pblica.

O significado da produo com relao aos ricos revelado no que tem para os pobres. No alto, sua manifestao sempre requintada, disfarada, ambgua, uma aparncia; nas camadas inferiores, ela crua, franca, sem rodeios, uma realidade. A necessidade spera do trabalhador fonte de muito maior lucro do que a necessidade requintada do abastado. As moradias em pores de Londres do mais aos senhorios do que os palcios, i. , elas constituem maior riqueza no que toca ao senhorio e, assim, em termos econmicos, maior riqueza social.

Assim como a indstria se reflete no refinamento das necessidades, tambm o faz em sua rudeza, e na rudeza delas produzida artificialmente, cuja verdadeira alma a auto-estupefao, a satisfao ilusria das necessidades, uma civilizao dentro da barbrie grosseira da necessidade. As tavernas inglesas, so, portanto, representaes simblicas da propriedade privada. Seu luxo desmascara a relao real do luxo industrial e da riqueza com o homem. Elas so, pois, adequadamente, o nico divertimento dominical do povo, pelo menos tratado com brandura pela polcia inglesa.

J vimos como o economista estabelece a unidade do trabalho e do capital de vrias maneiras: (1) o capital trabalho acumulado; (2) a finalidade do capital dentro da produo - em parte a reproduo do capital com lucro, em parte o capital como matria-prima (material do trabalho), em par te o capital como ele mesmo um instrumento de trabalho (a mquina capital fixo, que idntico ao trabalho) - trabalho produtivo; (3) o trabalho capital; (4) os salrios fazem parte dos custos do capital; (5) para o trabalhador, o trabalho a reproduo de seu capital-vida; (6) para o capitalista, o trabalho um fator na atividade de seu capital.

Por fim, (7) o economista pressupe a unio original de capital e trabalho como unio de capitalista e trabalhador. Essa a situao paradisaca original. Como esses dois fatores (XIX), tal como se fossem duas pessoas, avanam para a garganta do outro, , para o economista, um acontecimento fortuito que por isso pode ser explicado apenas pelas circunstncias exteriores (ver Mill).

As naes ainda estonteadas pelo fulgor fsico de metais preciosos e, por isso, ainda fetichistas do dinheiro metlico, no so ainda naes financeiras plenamente desenvolvidas. Com pare-se a Frana com a Inglaterra. A medida em que a soluo de um problema terico incumbe prtica, e conseguida pela prtica, e a medida em que a prtica correta a condio para uma teoria verdica e positiva, demonstrada, por exemplo, no caso do fetichismo. A percepo sensorial de um fetichista difere da de um grego porque sua existncia sensorial diferente. A hostilidade abstrata entre sentidos e esprito inevitvel enquanto o sentido humano para a natureza, ou o significado humano da natureza, e conseqentemente o sentido natural do homem, no tiver sido produzido por meio do trabalho do prprio homem.

A igualdade nada mais que o alemo "Ich-Ich", traduzido para a forma francesa, i. , poltica. A igualdade como base do comunismo uma fundao poltica e a mesma de quando os alemes apiam sobre ela o fato de conceberem o homem como autoconscincia universal. Est claro, a transcendncia da alienao sempre provm da forma de alienao que a fora dominante; na Alemanha, autoconscincia; na Frana, igualdade, por causa da poltica; na Inglaterra, a necessidade real, material, auto-suficiente, prtica. Proudhon deve ser apreciado e criticado sob este ponto de vista.

Se agora caracterizarmos o prprio comunismo (pois, como negao da negao, como a apropriao da existncia humana que medeia entre uma e outra por meio da negao da propriedade privada no a posio verdadeira, originada por si mesma, mas antes, uma que parte da propriedade privada) [2]... a alienao da vida humana continua e uma alienao bem maior continua quanto mais a gente tem conscincia disso) s pode ser realizada pelo estabelecimento do comunismo. A fim de revogar a idia de propriedade privada bastam as idias comunistas, mas necessria atividade comunista genuna no sentido de revogar a propriedade privada real. A Histria produzir, e a evoluo que j em pensamento reconhecemos como autotranscendente na realidade implicar em um processo severo e prolongado. Temos, entretanto, de consider-lo um avano, pois obtivemos previamente uma noo da natureza limitada e do alvo da evoluo histrica e podemos ver para alm dela.

Quando artesos comunistas formam associaes, o ensino e a propaganda so seus primeiros objetivos. Mas, sua prpria associao cria uma necessidade nova - a necessidade da sociedade - o que parecia ser um meio torna-se um fim. Os resultados mais notveis desse fato prtico podem ser vistos quando operrios socialistas franceses se renem. Fumar, comer e beber no mais so meios de congregar pessoas. A sociedade, a associao, o divertimento tendo tambm como fito a sociedade, suficiente para eles; a fraternidade do homem no frase vazia, mas uma realidade, e a nobreza do homem resplandece sobre ns vindo de seus corpos fatigados.

(XX) Quando a Economia Poltica afirma que a oferta e a procura sempre se equilibram, esquece imediatamente sua prpria tese (a teoria da populao) de que a oferta de homens sempre excede a procura, e conseqentemente, que a desproporo entre oferta e procura mais chocantemente expressa no fim essencial da produo - a existncia do homem.

O grau at o qual o dinheiro, que tem a aparncia de um meio, o poder real e o nico fim, e em geral o grau at que o meio que me assegura a existncia e posse do ser objetivo estranho um fim em si mesmo, podem ser vistos no fato da propriedade agrria onde a terra a fonte da vida, e cavalo e espada onde estes so os verdadeiros meios de vida, so tambm reconhecidos como os verdadeiros poderes polticos. Na Idade Mdia, um estado torna-se emancipado quando tem o direito de levar espada. Entre povos nmades, o cavalo que torna livre o homem, fazendo-o membro da comunidade.

Dissemos, acima, que o homem est regressando habitao da caverna, mas numa forma alienada e maligna. O selvagem em sua caverna (um elemento natural que lhe livremente oferecido para uso e proteo) no se sente um estranho; pelo contrrio, sente-se to em casa quanto um peixe na gua. Mas, a habitao do pobre num poro uma habitao hostil, "um poder estranho, constrangedor, que s se entrega em troca de suor e sangue". Ele no pode consider-la como seu lar, como um lugar onde afinal possa dizer "aqui estou em casa". Pelo contrrio, ele se encontra na casa de outra pessoa, a casa de um estranho que est sua espera diariamente e o despeja se no pagar o aluguel. Ele tambm se d conta do contraste entre sua prpria morada e uma residncia humana, como as que existem naquele outro mundo, o paraso dos ricos.

A alienao evidente no s no fato de meu meio de vida pertencer a outrem, de meus desejos serem a posse inatingvel de outrem, mas de tudo ser algo diferente de si mesmo, de minha atividade ser outra coisa qualquer, e, por fim (e isso tambm ocorre com o capitalista), de um poder desumano mandar em tudo. H uma espcie de riqueza que inativa, prdiga e devotada ao prazer, cujo beneficirio se comporta como um indivduo efmero de atividade sem propsito, que encara o trabalho escravo dos outros, sangue e suor humanos, como a presa de sua cupidez e v a humanidade, e a si mesmo, como um ser suprfluo e votado ao sacrifcio. Assim, ele adquire um desprezo pela humanidade, expresso na forma de arrogncia e de malbaratamento de recursos que poderiam sustentar cem vidas humanas, e tambm na forma da iluso infame de que sua extravagncia irrefreada e interminvel consumo improdutivo condio indispensvel ao trabalho e subsistncia de outros. Ele v a realizao dos poderes essenciais do homem apenas como a realizao de sua prpria vida desordenada, de seus caprichos e de suas idias inconstantes e bizarras. Tal riqueza, contudo, que v a riqueza somente como um meio, como algo a ser consumido, e que , portanto, tanto senhora como escrava, generosa como mesquinha, caprichosa, presunosa, vaidosa, refinada, culta e espirituosa, ainda no descobriu a riqueza como uma fora inteiramente estranha, mas v nela seu prprio poder e fruio antes que riqueza... meta final. [2]

(XXI) .... e a fulgente iluso acerca da natureza da riqueza, produzida por sua estonteante aparncia fsica, defrontada pelo industrial trabalhador, sbrio, econmico e prosaico, que est esclarecido a respeito da natureza da riqueza e que, embora incrementando a amplitude da vida regalada do outro e lisonjeando-o com seus produtos (pois seus produtos so outros tantos ignbeis mimos para os apetites do perdulrio), sabe como apropriar para si mesmo, da nica maneira til, os poderes decadentes do outro. Malgrado, portanto, a riqueza industrial parea primeira vista ser o produto de riqueza prdiga e fantstica, no obstante despoja o ltimo de maneira ativa por seu prprio desenvolvimento. A queda da taxa de juros uma conseqncia necessria da evoluo industrial. Assim, os recursos do arrendatrio esbanjador minguam proporcionalmente ao aumento dos meios e oportunidades de divertimento. Ele se v obrigado, seja a consumir seu capital e arruinar-se, seja a tornar-se ele prprio um industrial... Por outro lado, h um aumento constante da renda da terra no decorrer do progresso industrial, mas consoante j vimos deve chegar uma hora em que a propriedade imobiliria, como qualquer outra forma de propriedade, recai na categoria de capital que se reproduz por meio do lucro - e isso resultado do mesmo progresso industrial. Assim, o perdulrio proprietrio de terras tem de entregar seu capital e arruinar-se, ou ento tornar-se um rendeiro de sua prpria propriedade - um industrial agrcola.

O declnio da taxa de juros (que Proudhon considera como abolio do capital e uma tendncia para a socializao do capital) , pois, antes um sintoma direto da vitria completa do capital ativo sobre a riqueza prdiga, i. , a transformao de toda propriedade privada em capital industrial. a vitria completa da propriedade privada sobre suas qualidades aparentemente humanas, e a submisso total do dono da propriedade essncia da propriedade privada - o trabalho. evidente que o capitalista industrial tambm tem seus prazeres. Ele no retorna absolutamente a uma simplicidade antinatural em suas necessidades, mas sua fruio somente questo secundria; recreao subordinada produo, e, assim, um divertimento calculado, econmico, pois ele anota seus prazeres como um desembolso de capital e o que esbanja no deve ser mais do que pode ser substitudo com lucros pela reproduo do capital. Destarte, o divertimento fica subordinado ao capital e o indivduo amante de prazeres e sujeito ao acumulador de capital, enquanto outrora ocorria o contrrio. A queda da taxa de juros , por conseguinte, um mero sintoma de abolio do capital, na medida em que um sintoma de seu crescente domnio e alienao que acelera sua prpria abolio. De maneira geral, essa e a nica maneira pela qual o que existe afirma seu contrrio.

A disputa entre economistas a respeito de luxo e poupana, portanto, apenas uma disputa entre a economia poltica que se deu bem conta da natureza da riqueza e a que ainda est sobrecarregada com recordaes romnticas, anti-industriais. Nenhum dos lados, entretanto, sabe como expressar o assunto da disputa em termos simples, ou capaz, por conseguinte, de resolver a pendenga.

Alm disso, a renda da terra, qua renda da terra, foi posta abaixo, pois contra a argumentao dos Fisiocratas de ser o dono da terra o 'nico produtor legtimo, a economia moderna demonstra, antes, que o dono da terra como tal o nico arrendatrio completamente improdutivo. A agricultura um negcio do capitalista, que emprega seu capital nela quando pode contar com uma taxa de lucro normal. A afirmao dos Fisiocratas de que a propriedade agrria, como nica propriedade produtiva, devia ser a nica a pagar impostos e, em conseqncia, ser a nica a aprov-los e a participar dos negcios pblicos, transformada na convico oposta de que os impostos sobre o arrendamento da terra so os nicos impostos sobre um rendimento improdutivo e, assim, os nicos no nocivos ao produto nacional. Est claro que sob este ponto de vista, nenhum privilgio poltico para os proprietrios de terras decorre de sua situao como principais contribuintes de impostos.

Tudo o que Proudhon concebe como um movimento do trabalho contra o capital somente o movimento do trabalho sob a forma de capital, de capital industrial contra o que no consumido como capital, i. , industrialmente. E a esse movimento segue seu caminho triunfante, o caminho da vitria do capital industrial. Ver-se- que s quando o trabalho concebido como a essncia da propriedade privada que podem ser analisadas as caractersticas reais do movimento econmico propriamente dito.

A sociedade, como vista pelo economista, a sociedade civil, em que cada indivduo uma totalidade de necessidades e apenas existe para outra pessoa, como esta existe para ele, na medida em que cada um um meio para o outro. O economista (como a poltica em seus direitos do homem) reduz tudo ao homem, i. , ao indivduo, a quem ele despoja de todas as caractersticas com o fito de classific-lo como capitalista ou como trabalhador.

A diviso do trabalho a expresso econmica do carter social do trabalho no quadro da alienao. Ou, visto ser o trabalho apenas uma expresso da atividade humana no quadro da alienao, de atividade vital como alienao da vida, a diviso do trabalho nada mais que a instituio alienada da atividade humana como uma real atividade da espcie ou a atividade do homem como um ente-espcie.

Os economistas mostram-se muito confusos e contradizem-se a si mesmos acerca da natureza da diviso do trabalho (que, naturalmente, tem de ser olhada como uma fora motivadora principal na produo da riqueza desde que o trabalho reconhecido como a essncia da propriedade privada), i. , acerca da forma alienada da atividade humana como atividade da espcie.

Adam Smith [4]: "A diviso do trabalho... no originariamente o efeito de qualquer sabedoria humana... E a conseqncia obrigatria, se bem que muito lenta e gradativa, da propenso a barganhar, trocar e cambiar uma coisa por outra. [Quer essa propenso seja um daqueles princpios originais da natureza humana...] ou quer, como parece mais provvel, seja a conseqncia necessria das faculdades da razo e da fala [no cabe aqui investigar]. comum a todos os homens e no pode ser encontrada em nenhuma outra raa de animais... [Em quase todas as outras raas de animais, o indivduo] quando atinge a maturidade est inteiramente independente... Mas o homem tem oportunidade quase constante para necessitar do auxlio de seus irmos, e em vo que ele esperar obt-lo unicamente da benevolncia deles. mais provvel que seja bem sucedido se puder interessar o egosmo deles em seu favor, mostrando-lhes que ser vantajoso para eles fazer-lhe o que lhes solicita... No nos dirigimos demncia deles, mas a seu egosmo, e nunca falamos de nossas necessidades porm das vantagens deles (pgs. 12-13).

"Como por meio de tratado, de troca e de compra que obtemos de outros a maior parte dos bons ofcios de que mutuamente carecemos, assim tambm essa mesma disposio para negociar que originariamente enseja a diviso do trabalho. Em uma tribo de caadores ou pastores, uma de terminada pessoa faz arcos e flechas, por exemplo, com maior rapidez e percia que qualquer outra. Freqentemente as troca por gado ou carne de veado com seus companheiros, e acaba verificando que dessa maneira pode conseguir mais gado ou carne de veado do que se fosse pessoalmente ao campo para peg-los. Tendo em vista seu interesse prprio, ento, a confeco de arcos e flechas passa a ser seu principal negcio... (pgs. 13-14) .

"A diferena de talentos naturais de homens diferentes... no ... tanto a causa quanto o efeito da diviso do trabalho... Sem a disposio para negociar, trocar e cambiar, cada homem teria que providenciar por si mesmo tudo que desejasse de necessrio e conveniente. Todos teriam de ter... o mesmo trabalho a fazer, e no poderia ter havido essa diferena de ocupao, a nica capaz de dar margem a qualquer diferena grande de talentos (pg. 14).

"Assim como essa distribuio que forma aquela diferena de talentos... entre os homens, tambm ela que torna til tal diferena. Muitas tribos de animais... da mesma espcie recebem da natureza uma diferenciao de ndole muito mais notvel do que, precedendo o costume e a educao, parece ter lugar entre os homens. Por natureza, um filsofo no no temperamento e na inclinao nem a metade diferente de um carregador do que o um mastim de um galgo, ou um galgo de um spaniel, ou este ltimo de um co-pastor. Essas diferentes tribos de animais, contudo, apesar de todas da mesma espcie, so de pouca utilidade uma para a outra. O vigor do mastim (XXVI) no , pelo me nos, assistido seja pela agilidade do galope, seja... Os efeitos desses diferentes temperamentos e talentos, falta de capacidade ou inclinao para trocar e cambiar, no podem ser congregados em um cabedal comum, e em nada contribuem para melhor acomodao e utilidade da espcie. Cada animal continua obrigado a sustentar-se e a defender-se, separada e independentemente, e no obtm qualquer gnero de superioridade dessa variedade de talentos com que a natureza distinguiu seus semelhantes. Entre os homens, pelo contrrio, os mais diversos pendores so de utilidade mtua; os diferentes produtos de seus respectivos talentos, graas inclinao geral para trocar, negociar e cambiar, so reunidos, por assim dizer, em um cabedal comum, onde cada homem pode adquirir qualquer parte da produo dos talentos de outros homens para que tenha aplicao (pgs. 14-15).

"Como a capacidade de trocar que d oportunidade diviso do trabalho, a extenso dessa diviso tem sempre de - ser limitada pela extenso daquela capacidade, ou, por outras palavras, pela extenso do mercado. Quando o mercado muito pequeno, ningum pode encontrar qualquer estmulo para dedicar-se inteiramente a um emprego, por falta de capacidade para cambiar a parte excedente de seu prprio trabalho, acima e alm de seu prprio consumo, por partes anlogas da produo do trabalho de outros homens para que tiver aplicao." (pg. 15).

Num estgio adiantado da sociedade: "Todo homem, pois, vive por meio da troca, ou torna-se, em certa medida. um mercador, e a prpria sociedade alcana o que propriamente uma sociedade comercial" (pg. 20). (Ver Deustutt de Tracy [5]: "A sociedade uma srie de trocas recprocas; o comercio toda a essncia da sociedade.") A acumulao de capital aumenta com a diviso do trabalho e vice-versa. - At aqui falou Adam Smith.

"Se toda famlia produzisse tudo o que consome, a sociedade poderia prosseguir sem que tivesse lugar qualquer espcie de intercmbio. Em nosso estado adiantado de sociedade, a troca, apesar de no ser fundamental, indispensvel." [6] "A diviso do trabalho um hbil desdobramento das capacidades do homem; ela aumenta a produo da sociedade - seu poder e seus prazeres - mas diminui a capacidade de cada pessoa considerada individualmente. A produo no pode ter lugar sem a troca." [7] - Assim falou J. B. Say.

"As faculdades intrnsecas do homem so sua inteligncia e sua capacidade fsica para trabalhar. As oriundas da situao da sociedade consistem na capacidade para repartir o trabalho e distribuir tarefas entre diferentes pessoas e no poder trocar os servios e produtos que constituem os meios de subsistncia. O motivo que impele o homem a dar seus servios a outro o interesse prprio; ele exige uma retribuio pelos servios prestados. O direito propriedade privada exclusiva indispensvel ao estabelecimento das trocas entre os homens... Troca e diviso do trabalho so mutuamente dependentes." [8] - Assim falou Skarbek.

Mill apresenta a troca aperfeioada - o comrcio - como uma conseqncia da diviso do trabalho: "A atuao do homem pode ser reconstituda por elementos muito simples. Ele no pode, com efeito, fazer mais nada se no produzir movimento. Pode aproximar as coisas uma da outra, (XXXVII) e pode separ-las uma da outra: as propriedades da matria desincumbem-se do resto... No emprego do trabalho e da maquinaria, constata-se, amide, que os efeitos podem ser aumentados pela distribuio hbil, pela separao das operaes que tm qualquer tendncia a se obstarem mutuamente, e pela conjugao de todas as operaes que podem ser feitas de modo a auxiliarem-se umas s outras. Como os homens em geral no podem executar muitas operaes diferentes com a mesma rapidez e destreza com que pela prtica aprendem a executar algumas, sempre vantajoso limitar tanto quanto possvel o nmero de operaes impostas a cada um. Para dividir o trabalho, e repartir os esforos dos homens e mquinas, com a mxima vantagem, em muitos casos e necessrio operar em grande escala; por outras palavras, produzir as utilidades em grandes quantidades. E essa vantagem que d existncia s grandes manufaturas, de que umas poucas, instaladas nos locais mais convenientes, freqentemente abastecem no um pas, porm muitos, com a quantidade desejada da utilidade produzida." [9] - Assim falou MilI.

Toda a moderna Economia Poltica, entretanto, est acorde em que a diviso do trabalho e riqueza da produo, a diviso do trabalho e acumulao de capital, determinam-se mutuamente; e tambm que s a propriedade privada livre e autnoma pode produzir a mais eficaz e extensiva diviso do trabalho.

O raciocnio de Adam Smith pode ser sintetizado da seguinte forma: a diviso do trabalho confere a este uma capacidade de produo ilimitada. Ela se origina da propenso a trocar e barganhar, uma propenso especificamente humana que provavelmente no acidental porm determinada pelo uso da razo e da fala. O motivo dos que se empenham nas trocas no a bondade, mas o egosmo. A diversidade dos talentos humanos mais o efeito que a causa da diviso do trabalho, i. , do intercmbio. Ademais, s a ltima que torna til essa diversidade. As qualidades particulares das diferentes tribos dentro de uma espcie animal so naturalmente mais pronunciadas que as diferenas de aptides e atividades dos seres humanos. Mas como os animais no so capazes de estabelecer troca, a diversidade de atributos dos animais da mesma espcie, porm de tribos diferentes, no beneficia qualquer animal individualmente. Os animais so incapazes de combinar as varias qualidades de sua espcie, ou de contribuir para a superioridade e conforto comum da espcie. D-se o contrario com os homens, cujos mais diversos talentos e formas de atividade so teis uns aos outros, porque eles podem reunir seus diferentes produtos em um cabedal comum, de que cada homem pode comprar. Como a diviso do trabalho surge da propenso a trocar, ela se desenvolve e limitada pela extenso da troca, pela extenso do mercado. Em condies adiantadas, todo homem um mercador e a sociedade uma associao comercial. Say encara a troca como acidental e no fundamental. A sociedade poderia existir sem ela. Torna-se indispensvel em um estgio adiantado da sociedade. Todavia, a produo no pode ocorrer sem ela. A diviso do trabalho um meio cmodo e til, um hbil desdobramento das faculdades humanas para a riqueza social, mas diminui a capacidade de cada pessoa considerada individualmente. O ltimo comentrio um progresso da parte de Say.

Skarbek distingue as faculdades inatas individuais do homem, inteligncia e capacidade fsica para trabalhar, das oriundas da sociedade - troca e diviso do trabalho, que se determinam mutuamente. A condio prvia indispensvel da troca, porm, a propriedade privada. Skarbek exprime aqui objetivamente o que dizem Smith, Say, Ricardo, etc., ao designar o egosmo e o interesse prprio como base da troca e o regateio comercial como a forma de troca essencial e adequada.

Mill representa o comrcio como conseqncia da diviso do trabalho. Para ele, a atividade humana reduz-se a movimento mecnico. A diviso do trabalho e o uso de maquinaria promovem a abundncia da produo. A cada indivduo deve ser dada a menor amplitude possvel de operaes. A diviso do trabalho e o uso de maquinaria, por sua vez, exigem a produo em massa da riqueza, i. , de produtos. Essa a razo para a manufatura em larga escala.

(XXXVIII) A considerao da diviso do trabalho e da troca do mximo interesse, posto que so a expresso perceptvel, alienada, da atividade e capacidades humanas como a atividade e as capacidades prprias de uma espcie.

Declarar que a propriedade privada a base da diviso do trabalho e da troca simplesmente afirmar que o trabalho a essncia da propriedade privada; uma afirmao que o economista no pode provar e que desejamos provar para ele. precisamente no fato de a diviso do trabalho e da troca serem manifestaes da propriedade privada que encontramos a prova, primeiro de que a vida humana necessitava da propriedade privada para sua realizao, e, segundo, que ela agora exige a revogao da mesma.

A diviso do trabalho e a troca so os dois fenmenos que levam o economista a gabar o carter social de sua cincia, enquanto, ao mesmo tempo, inconscientemente exprime a natureza contraditria dessa cincia - o estabelecimento da sociedade graas a interesses no-sociais, particulares.

Os fatores que temos de considerar agora so os seguintes: a propenso a trocar - cuja base o egosmo - encarada como a causa do efeito recproco da diviso do trabalho. Say considera a troca como no sendo fundamental para a natureza da sociedade. A riqueza e a produo so explicadas pela diviso do trabalho e pela troca. O empobrecimento e o desnaturamento da atividade individual devido a diviso do trabalho, so admitidos. A troca e a diviso do trabalho so reconhecidas como as fontes da grande diversidade dos talentos humanos, que por sua vez se torna til em decorrncia da troca. Skarbek distingue duas partes nas faculdades produtivas dos homens: 1) as aptides especficas ou habilidades, as individuais e inatas, e a sua inteligncia; 2) as provindas no do indivduo real, mas da sociedade - a diviso do trabalho e a troca. Alm disso, a diviso do trabalho limitada pelo mercado. O trabalho humano simples movimento mecnico; a maior parte feita pelas propriedades materiais dos objetos. O menor nmero possvel de operaes deve ser atribudo a cada indivduo. Fisso do trabalho e concentrao do capital; a nulidade da produo do indivduo e a produo em massa de riqueza. Significado da propriedade privada livre na diviso do trabalho.

Dinheiro

(XLI) Se os sentimentos, paixes, etc. do homem no so meras caractersticas antropolgicas no sentido mais restrito, mas sim afirmaes verdadeiramente ontolgicas do ser (natureza), e se s so realmente afirmadas na medida em que seu objetivo existe como um objeto dos sentidos, ento evidente:

(1) que seu modo de afirmao no e um s e imutvel, mas, antes, que os diversos modos de afirmao constituem o carter distintivo de sua existncia, de sua vida. A maneira pela qual o objeto existe para eles a forma distintiva de sua gratificao;

(2) onde a afirmao sensorial uma anulao direta do objeto em sua forma independente (como ao beber, comer, trabalhar um objeto, etc), esta a afirmao do objeto;

(3) na medida em que o homem, e da tambm seus sentimentos, etc., so humanos, a afirmao do objeto por outra pessoa tambm sua gratificao prpria;

(4) s por meio da indstria evoluda, i. , por meio da propriedade privada, concretiza-se a essncia ontolgica das paixes humanas, em sua totalidade e humanidade; a prpria cincia do homem um produto da autoformao do homem graas atividade prtica;

(5) o significado da propriedade privada - liberta de sua alienao - a existncia de objetos essenciais ao homem, como objetos de divertimento e atividade.

O dinheiro, j que possui a propriedade de comprar tudo, de apropriar objetos para si mesmo, , por conseguinte o object par excellence . O carter universal dessa propriedade corresponde onipotncia do dinheiro, que encarado como um ser onipotente... o dinheiro a proxeneta entre a necessidade e o objeto, entre a vida humana e os meios de subsistncia. Mas, o que serve de medianeiro minha vida tambm serve existncia de outros homens para mim. Ele para mim a outra pessoa.

"Com a breca! pernas, braos peito,Cabea, sexo, aquilo teu;Mas, tudo o que, fresco, aproveito,Ser por isso menos meu?Se podes pagar seis cavalos,As suas foras no governas?Corres por morros, clivos, valos,Qual possuidor de vinte e quatro pernas."(GOETHE, Fausto, Mefistfeles) [10]

Shakespeare em Tmon de Atenas:

"Que isto? Ouro? Ouro amarelo, brilhante, precioso? No, deuses: eu no fao protestos vos. Razes quero, cus azuis! Um pouco disto tornaria o preto branco; o feio, belo; o injusto, justo; o vil, nobre; o velho, novo; o covarde, valente. Mas, oh, deuses! por que isso? isto que , deuses? Isto far com que os vossos sacerdotes e os vossos servos se afastem de vs; isto far arrancar o travesseiro de debaixo das cabeas dos homens fortes. Este escravo amarelo far e desfar religies; abenoar os rprobos; far prestar culto alvacenta lepra; assentar ladres, dando-lhes ttulo, genuflexes e aplauso, no mesmo banco em que se assentam os senadores; isto que faz com que a inconsolvel viuva contraia novas npcias; e com que aquela, que as lceras purulentas e os hospitais tornavam repugnante, fique outra vez perfumada e apetecvel como um dia de abril. Anda c, terra maldita, meretriz, comum a toda a espcie humana, que semeia a desigualdade na turba-malta das naes, vou devolver-te tua verdadeira natureza."

E mais adiante:

" tu, amado regicida; caro divorciador da mtua afeio do filho e do pai; brilhante corruptor dos mais puros leitos do Himeneu! valente Marte! tu, sempre novo, vioso, amado galanteador, cujo brilho faz derreter a virginal neve do colo de Diana! tu, deus visvel, que tornas os impossveis fceis, e fazes como que se beijem! que em todas as lnguas te explicas para todos os fins! tu, pedra de toque dos coraes! trata os homens, teus escravos, como rebeldes, e, pela tua virtude, arremessais a todos em discrdias devoradoras, a fim de que as feras possam ter o mundo por imprio!" [11]

Shakespeare retrata admiravelmente a natureza do dinheiro. Para entend-lo, comecemos interpretando o trecho de Goethe.

O que existe para mim por intermdio do dinheiro, aquilo por que eu posso pagar (i. , que o dinheiro pode comprar), tudo isso sou eu, o possuidor de meu dinheiro. Meu prprio poder to grande quanto o dele. As propriedades do dinheiro so as minhas prprias (do possuidor) propriedades e faculdades. O que eu sou e posso fazer, portanto, no depende absolutamente de minha individualidade. Sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher para mim. Consequentemente, no sou feio, pois o efeito da feira, seu poder de repulsa, anulado pelo dinheiro. Como indivduo sou coxo, mas o dinheiro proporciona-me vinte e quatro pernas; logo, no sou coxo. Sou um homem detestvel, sem princpios, sem escrpulos e estpido, mas o dinheiro acatado e assim tambm o seu possuidor. O dinheiro o bem supremo, e por isso seu possuidor bom. Alm do mais, o dinheiro poupa-me do trabalho de ser desonesto; por conseguinte, sou presumivelmente honesto. Sou estpido, mas como o dinheiro o verdadeiro crebro de tudo, como poder seu possuidor ser estpido? Outrossim, ele pode comprar pessoas talentosas para seu servio e no mais talentoso que os talentosos aquele que pode mandar neles? Eu, que posso ter, mediante o poder do dinheiro, tudo que o corao humano deseja, no possuo ento todas as habilidades humanas? No transforma meu dinheiro, ento, todas as minhas incapacidades em seus contrrios?

Se o dinheiro o lao que me prende vida humana, e a sociedade a mim, e me liga natureza e ao homem, no ele o lao de todos os laos? No ele tambm, portanto, o agente universal da separao? Ele o meio real tanto de separao quanto de unio, a fora galvano-qumica da sociedade.

Shakespeare ressalta particularmente duas propriedades do dinheiro:

(1) ele a divindade visvel, a transformao de todas as qualidades humanas e naturais em seus antnimos, a confuso e inverso universal das coisas; ele converte a incompatibilidade em fraternidade;

(2) ele a meretriz universal, o alcoviteiro universal entre homens e naes.

O poder de inverter e confundir todos os atributos humanos e naturais, de levar os incompatveis a confraternizarem, o poder divino do dinheiro reside em seu carter como a vida espcie alienada e auto-alienadora do homem. Ele a fora alienada da humanidade.

O que sou incapaz de fazer como homem, e, pois, o que todas as minhas faculdades individuais so incapazes de fazer, me possibilitado pelo dinheiro. O dinheiro, por conseguinte, transforma cada uma dessas faculdades em algo que ela no , em seu antnimo.

Se estou com vontade de comer, ou desejo de viajar na diligncia da posta por no ser bastante forte para ir a p, o dinheiro proporciona-me a refeio e a diligncia, i. , ele transforma meus desejos de representaes em realidades, de seres imaginrios em seres reais. Atuando assim como mediador, o dinheiro uma fora genuinamente criadora.

A procura tambm existe para o indivduo sem dinheiro, mas sua procura mera criatura da imaginao, que no tem efeito nem existncia para mim, para um terceiro, para... (XLIII) e que, assim, permanece irreal e sem objeto. A diferena entre a procura efetiva, apoiada pelo dinheiro, e a inefetiva, baseada em minhas necessidades, minha paixo, meu desejo, etc., a diferena entre ser e pensar, entre a representao meramente interior e a representao existente fora de mim mesmo como objeto real.

Se no disponho de dinheiro para viajar, no tenho necessidade - nenhuma necessidade real e auto-realizvel - de viajar. Se tenho vocao para estudar, mas no disponho do dinheiro para isso, ento no tenho vocao, i. , no tenho vocao efetiva, legtima. O dinheiro o meio e poder, externo e universal (no oriundo do homem como homem ou da sociedade humana como sociedade) para mudar a representao em realidade e a realidade em mera representao. Ele transforma faculdades humanas e naturais reais em meras representaes abstratas, i. , imperfeies e torturantes quimeras; e, por outro lado, transforma imperfeies e fantasias reais, faculdades deveras importantes e s existentes na imaginao do indivduo, em faculdades e poderes reais. A esse respeito, portanto, o dinheiro a inverso geral das individualidades, convertendo-as em seus opostos e associando qualidades contraditrias s qualidades delas.

O dinheiro, ento, aparece como uma fora demolidora para o indivduo e para os laos sociais, que alegam ser entidades auto-subsistentes. Ele converte a fidelidade em infidelidade, amor em dio, dio em amor, virtude em vcio, vcio em virtude, servo em senhor, boalidade em inteligncia e inteligncia em boalidade.

Posto que o dinheiro, como conceito existente e ativo do valor, confunde e troca tudo, ele a confuso e transposio universais de todas as coisas, o mundo invertido, a confuso e transposio de todos os atributos naturais e humanos.

Aquele que pode comprar a bravura bravo, malgrado seja covarde. O dinheiro no trocado por uma qualidade particular, uma coisa particular ou uma faculdade humana especifica, porm por todo o mundo objetivo do homem e da natureza. Assim, sob o ponto de vista de seu possuidor, ele troca toda qualidade e objeto por qualquer outro, ainda que sejam contraditrios. Ele a confraternizao dos incomparveis; fora os contrrios a abraarem-se.

Suponhamos que o homem seja homem e que sua relao com o mundo seja humana. Ento, o amor s poder ser trocado por amor, confiana, por confiana, etc. Se se desejar apreciar a arte, ser preciso ser uma pessoa artisticamente educada; se se quiser influenciar outras pessoas, ser mister se ser uma pessoa que realmente exera efeito estimulante e encorajador sobre as outras. Todas as nossas relaes com o homem e com a natureza tero de ser uma expresso especfica, correspondente ao objeto de nossa escolha, de nossa vida individual real. Se voc amar sem atrair amor em troca, i. , se voc no for capaz, pela manifestao de voc mesmo como uma pessoa amvel, fazer-se amado, ento seu amor ser impotente e um infortnio.

Crtica da Folosofia Dialtica e Geral de Hegel

(6) Este talvez seja um ponto apropriado a explicar e substanciar o que foi dito, e a tecer certos comentrios gerais a respeito da dialtica de Hegel, especialmente como se acha exposta na Fenomenologia e na Lgica, e a respeito de sua relao com o moderno movimento crtico.

A crtica alem moderna tem estado to preocupada com o passado, e to tolhida por seu enredamento com o tema, que tinha uma atit