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Araçatuba Jean Oliveira [email protected] LITERATURA A professora Maria Rosa Dias, de Araçatuba, é uma mulher forte que extravasa tudo o que sente e pen- sa por meio da palavra escrita. Em poesias, crônicas e letras de música, diz ao mundo tudo o que guarda e cativa no peito e na mente. O resultado desta explo- são é uma literatura marcante. A garota que recém saiu da faculdade e da adolescência, pois tem apenas 24 anos, ecoa em suas obras todos os medos e os amores de quem está descobrin- do os sabores da vida. "No ato de escrever, você li- da com seus medos, fantasmas, inseguranças e falhas. Consegue, assim, superar seus defeitos e me- lhorar aos poucos. É um trabalho árduo, delicioso e terapêutico", comenta ela, que participou re- centemente de duas coletâneas da Academia Araçatubense de Le- tras e publica artigos esporádicos na Folha da Região . Ao falar sobre sua poesia, Maria Rosa diz que seu tema principal é o ultrarromantismo, pois se inspira "enormemente" em Álvares de Azevedo. Junta a isso a influência do pré-modernis- ta Augusto dos Anjos e do simbo- lista Cruz e Souza. Para fazer suas crônicas, a professora bebe na fonte de sua musa inspiradora, que é Clarice Lispector. Assim como a escritora famosa nacionalmente, a araçatu- bense costuma ser intimista. Foca nas impressões e nos aprendiza- dos de suas experiências pessoais. "Ainda não consegui redigir con- tos, pois não tive criatividade sufi- ciente para tal, mas quem sabe um dia não chego lá?" MÚSICA Quando é convidada para fa- lar de suas letras de música, Ma- ria Rosa se mostra mais eclética. Afirma que suas inspirações são diversas. Elas abraçam desde a li- teratura (Álvares de Azevedo, principalmente), até os músicos como a Alanis Morissette, Sisters Of Mercy, Peter Murphy, Mellis- sa Auf der Maur, Roxette e Siou- xsie and The Banshees. Ela con- segue fundir mundos opostos e coloca esta composição em uma linha melódica do Post-Punk dos anos 80, onde se calca o início do Rock Gótico atual. DESCOBERTA Maria Rosa narra que o ato de escrever foi um processo natu- ral em sua vida. Conta que desde pequena sempre quis se envolver no meio artístico, e tentava, já aos 7 ou 8 anos, escrever roteiros de cinema. Diz que foi "um fracasso". Porém, quando tinha 12 anos, graças à sua curiosidade ar- tística, começou a compor letras de músicas. Mais tarde, com 15 anos, partiu para as artes cênicas e foi fazer teatro. "Já nessa épo- ca, descobri que era poetisa, pois comecei a escrever meus primei- ros versos". As crônicas começaram a surgir mais recentemente. Quan- do tinha 20 anos e estava no pri- meiro ano do curso de Letras, co- meçou a escrevê-las, graças à mi- nha enorme paixão pela Clarice Lispector, e também devido à vontade de ir além das poesias e letras de músicas. EROTISMO A menina que está se tornan- do escritora “gente grande” tem flertado, ultimamente, também com o erotismo em suas obras. Por meio do seu espaço no site Recanto das Letras (recantodasletras.uol. com.br), ela tem publicado poesias com temática mais íntima. "Na verdade, tenho pouquís- simas poesias eróticas, essa é uma parte muito escassa do meu trabalho, embora seja bem inten- sa", diz ela. Maria Rosa considera que o erotismo é algo inerente ao ser humano, um traço natural que temos nós mesmos, e, por is- so, procura escrever sobre ele de modo poético, sem vulgaridades e palavras de baixo calão. Ela nunca recitou poema erótico seu, pois se sente tímida diante deles. "Por conta disso, não sei como o público reagiria, mas posso supor que alguns se chocariam, devido ao falso pudor de que é proibido falar sobre ero- tismo e sexo", analisa ela, que também considera o fato de que outros leitores gostariam, talvez por se identificarem com a te- mática ou com o próprio conteú- do dos poemas, que ela define co- mo romântico-eróticos. A força das O apoio dos membros da Academia Araçatubense de Le- tras foi fundamental para a soli- dificação do trabalho da escrito- ra Maria Rosa Dias. Ela conta que, quando ain- da estudava em uma das esco- las estaduais da cidade, nunca teve coragem para mostrar seus escritos. Ela só começou a partilhar com professores e amigos o que escrevia quando ingressou no curso pré-vestibular. Nessa épo- ca, relembra, seu maior incenti- vador foi o professor Mário Cé- sar Rodrigues, que é um dos membros da Academia Araçatu- bense de Letras. Já na época da faculdade, quem mais a motivou para con- tinuar com seu trabalho de escri- tora e deu dicas foi o professor e acadêmico Tito Damazo. "Já minha família é o que sempre me manteve forte em meus ideais de escritora, pois sempre me apoiou e me incentivou a mostrar meu trabalho a outras pessoas", ressalta ela, que hoje faz parte do grupo experimental da Academia. PALESTRA Maria Rosa não tem recla- mado sobre o reconhecimento do seu trabalho. Diz que recen- temente tem tido bastante sorte nesse aspecto. "Vejo que a cidade tem crescido muito nesse aspecto, e que existe curiosidade das pes- soas em conhecer escritores que sejam de Araçatuba". Ela conta que atestou essa curiosidade quando recentemen- te ministrou uma palestra em uma faculdade da cidade duran- te a 2ª Semana de Literatura. "Tanto os alunos quanto os pro- fessores foram muito receptivos e atenciosos comigo." J.O. Apoio de membros da academia de letras foi fundamental, diz escritora Maria Rosa não descarta a possibilidade de vir a escrever contos palavras Para a araçatubense Maria Rosa Dias, escrever é uma forma de lidar com medos e inseguranças; com poesias inspiradas em Clarice Lispector, ela considera a escrita um trabalho “árduo, delicioso e terapêutico” Paulo Gonçalves/Folha da Região - 27/10/2010 D1 Araçatuba, sábado, 30 de outubro de 2010

Maria rosa dias

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Page 1: Maria rosa dias

Araçatuba

Jean Oliveira

[email protected]

LITERATURA

Aprofessora Maria RosaDias, de Araçatuba, éuma mulher forte que

extravasa tudo o que sente e pen-sa por meio da palavra escrita.Em poesias, crônicas e letras demúsica, diz ao mundo tudo oque guarda e cativa no peito e namente. O resultado desta explo-são é uma literatura marcante.

A garota que recém saiu dafaculdade e da adolescência, poistem apenas 24 anos, ecoa emsuas obras todos os medos e osamores de quem está descobrin-do os sabores da vida.

"No ato de escrever, você li-da com seus medos, fantasmas,inseguranças e falhas. Consegue,assim, superar seus defeitos e me-lhorar aos poucos. É um trabalhoárduo, delicioso e terapêutico",comenta ela, que participou re-centemente de duas coletâneasda Academia Araçatubense de Le-tras e publica artigos esporádicosna Folha da Região .

Ao falar sobre sua poesia,Maria Rosa diz que seu temaprincipal é o ultrarromantismo,pois se inspira "enormemente"em Álvares de Azevedo. Junta aisso a influência do pré-modernis-ta Augusto dos Anjos e do simbo-lista Cruz e Souza.

Para fazer suas crônicas, aprofessora bebe na fonte de suamusa inspiradora, que é ClariceLispector. Assim como a escritorafamosa nacionalmente, a araçatu-bense costuma ser intimista. Focanas impressões e nos aprendiza-dos de suas experiências pessoais."Ainda não consegui redigir con-tos, pois não tive criatividade sufi-ciente para tal, mas quem sabeum dia não chego lá?"

MÚSICAQuando é convidada para fa-

lar de suas letras de música, Ma-

ria Rosa se mostra mais eclética.Afirma que suas inspirações sãodiversas. Elas abraçam desde a li-teratura (Álvares de Azevedo,principalmente), até os músicos

como a Alanis Morissette, SistersOf Mercy, Peter Murphy, Mellis-sa Auf der Maur, Roxette e Siou-xsie and The Banshees. Ela con-segue fundir mundos opostos ecoloca esta composição em umalinha melódica do Post-Punk dosanos 80, onde se calca o iníciodo Rock Gótico atual.

DESCOBERTAMaria Rosa narra que o ato

de escrever foi um processo natu-ral em sua vida. Conta que desdepequena sempre quis se envolverno meio artístico, e tentava, já aos

7 ou 8 anos, escrever roteiros decinema. Diz que foi "um fracasso".

Porém, quando tinha 12anos, graças à sua curiosidade ar-tística, começou a compor letrasde músicas. Mais tarde, com 15anos, partiu para as artes cênicase foi fazer teatro. "Já nessa épo-ca, descobri que era poetisa, poiscomecei a escrever meus primei-ros versos".

As crônicas começaram asurgir mais recentemente. Quan-do tinha 20 anos e estava no pri-meiro ano do curso de Letras, co-meçou a escrevê-las, graças à mi-

nha enorme paixão pela ClariceLispector, e também devido àvontade de ir além das poesias eletras de músicas.

EROTISMOA menina que está se tornan-

do escritora “gente grande” temflertado, ultimamente, tambémcom o erotismo em suas obras.Por meio do seu espaço no siteRecanto das Letras (recantodasletras.uol.

com.br), ela tem publicado poesiascom temática mais íntima.

"Na verdade, tenho pouquís-simas poesias eróticas, essa éuma parte muito escassa do meutrabalho, embora seja bem inten-sa", diz ela. Maria Rosa consideraque o erotismo é algo inerenteao ser humano, um traço naturalque temos nós mesmos, e, por is-so, procura escrever sobre ele demodo poético, sem vulgaridadese palavras de baixo calão.

Ela nunca recitou poemaerótico seu, pois se sente tímidadiante deles. "Por conta disso,não sei como o público reagiria,mas posso supor que alguns sechocariam, devido ao falso pudorde que é proibido falar sobre ero-tismo e sexo", analisa ela, quetambém considera o fato de queoutros leitores gostariam, talvezpor se identificarem com a te-mática ou com o próprio conteú-do dos poemas, que ela define co-mo romântico-eróticos.

A força das

O apoio dos membros daAcademia Araçatubense de Le-tras foi fundamental para a soli-dificação do trabalho da escrito-ra Maria Rosa Dias.

Ela conta que, quando ain-da estudava em uma das esco-las estaduais da cidade, nuncateve coragem para mostrar seusescritos.

Ela só começou a partilharcom professores e amigos o queescrevia quando ingressou no

curso pré-vestibular. Nessa épo-ca, relembra, seu maior incenti-vador foi o professor Mário Cé-sar Rodrigues, que é um dosmembros da Academia Araçatu-bense de Letras.

Já na época da faculdade,quem mais a motivou para con-tinuar com seu trabalho de escri-tora e deu dicas foi o professore acadêmico Tito Damazo. "Jáminha família é o que sempreme manteve forte em meus

ideais de escritora, pois sempreme apoiou e me incentivou amostrar meu trabalho a outraspessoas", ressalta ela, que hojefaz parte do grupo experimentalda Academia.

PALESTRAMaria Rosa não tem recla-

mado sobre o reconhecimentodo seu trabalho. Diz que recen-temente tem tido bastante sortenesse aspecto.

"Vejo que a cidade temcrescido muito nesse aspecto, eque existe curiosidade das pes-soas em conhecer escritores quesejam de Araçatuba".

Ela conta que atestou essacuriosidade quando recentemen-te ministrou uma palestra emuma faculdade da cidade duran-te a 2ª Semana de Literatura."Tanto os alunos quanto os pro-fessores foram muito receptivose atenciosos comigo." J.O.

Apoio de membros da academia deletras foi fundamental, diz escritora

Maria Rosa não

descarta a

possibilidade de

vir a escrever

contos

palavras

Para a araçatubense Maria RosaDias, escrever é uma forma

de lidar com medos

e inseguranças; com poesiasinspiradas em Clarice Lispector,

ela considera a escrita um trabalho“árduo, delicioso e terapêutico”

Paulo Gonçalves/Folha da Região - 27/10/2010

D1 Araçatuba, sábado, 30 de outubro de 2010