Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
6ª TEMPORADA DE MÚSICA DA PARQUES DE SINTRA | 6 TH PARQUES DE SINTRA MUSIC SEASON
Salão Nobre / 21:00
Março ‘20
PROGRAMAS DE SALA
1 P
ROGRAMA = 1 ÁRVORE
1 PR O G R A M = 1 T R EE
2
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Com vista à redução do impacto ambiental da sua Temporada de Música, a Parques de Sintra passará a disponibilizar os programas de sala dos concertos reunidos numa única edição por cada ciclo.Estas edições estarão disponíveis gratuitamente, na sua versão digital, através do site da Parques de Sintra.A versão impressa será vendida por um preço simbólico e representará o compromisso, por parte da Parques de Sintra, de plantação de uma árvore por cada programa de sala vendido.
1 PROGRAMA = 1 ÁRVORE
1 P R O G R A M = 1 T REE
1
APRESENTAÇÃO DO CICLO
AGENDA
CONCERTOS06/03 || Carta Branca a Vasco Dantas – Portugal e Alemanha por Schumann e Vianna da Motta
07/03 || Carta Branca a Vasco Dantas – Dois quintetos, dois mundos
13&14/03 || Entre França e Alemanha: leituras da geração Romântica
20/03 || Debussy e Tchaikovsky – Dois compositores e uma benfeitora
21/03 || Crepúsculos românticos russos
27&28/03 || Retratos intimistas de Johannes Brahms
INFORMAÇÕES ÚTEIS
3-710-1113-78
13
19
27
55
616780
2
PSM
L | L
uís
Dua
rte
3
Com o ciclo “Serões Musicais no Palácio da Pena”, a Parques de Sintra dá início à 6ª Temporada de Música, organizada em parceria com o Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal – Divino Sospiro e com direção artística de Massimo Mazzeo.Através da sua Temporada de Música, a Parques de Sintra tem vindo a proporcionar ao público a experiência da memória imaterial dos três Palácios Nacionais sob sua gestão – Pena, Sintra e Queluz – através da música que animou estes monumentos nas épocas áureas das respetivas vivências. Ano após ano, com o ciclo “Serões Musicais no Palácio da Pena”, revivem-se, no fim do inverno, os saraus intimistas de música romântica que soaram no Salão Nobre deste palácio durante a segunda metade do séc. XIX. No início do verão, o ciclo “Reencontros – Memórias Musicais no Palácio de Sintra” faz despertar a música medieval e renascentista que, ao longo de quase oito séculos, ecoou neste Paço Real durante o período estival. Por fim, no ocaso do outono e antes do período invernal de recolhimento, invoca-se o esplendor setecentista nas “Noites de Queluz”.Acompanhando a cadência anual das estações, a Temporada de Música da Parques de Sintra conta a história da Música a par da dos três Palácios Nacionais que acolhem cada um dos ciclos que a integram, através das interpretações dos artistas convidados, entre os quais se contam muitos dos mais conceituados intérpretes especializados na música destas épocas.
PARQUES DE SINTRA – MONTE DA LUA
4
PSM
L | L
uís
Dua
rte
PSM
L | L
uís
Dua
rte
5
Podemos questionar-nos sobre qual será a função da arte na sociedade atual, de que serve alongarmo-nos na contemplação da beleza num mundo que procura, cada vez mais, o útil. A resposta vem de dentro do homem, da necessidade fisiológica de usar as suas exigências como um trampolim para a mente. O que nos conduz à história da criação musical é verdadeiramente o resultado de um grandioso volteio do pensamento humano.Olhando para as nossas raízes e para o passado e, em simultâneo, com os olhos postos na contemporaneidade, a temporada de música de 2020, que decorre de março a novembro, intercala produções e convidados nacionais e internacionais, propondo obras do repertório sagrado e profano, da Renascença ao início do século XX, com o objetivo de colocar os espaços, a memória histórica dos palácios de Sintra e os protagonistas da sua cultura musical em constante diálogo com os grandes compositores de música da Europa Ocidental e do Mediterrâneo, assim como, com algumas “divagações” dos mundos mais distantes, que podem ser geograficamente, ou modestamente, distantes de nós e do nosso conhecimento. Obras de Schumann, Reinecke, Rey Colaço, Dvorak, Vianna da Motta, Liszt, Mendelssohn, Debussy, Tchaikovsky, Brahms, Rachmaninov, Ortiz, Arauxo, Saint-Colombe, Marais, Matteo da Perugia, Gabrieli, Schütz, Grandi, Stradella, Mozart, Bach, Beethoven, Haydn, Clementi, Bomtempo, são apenas algumas das peças do caleidoscópio que se desdobram ao longo de um período de mais de 500 anos que a temporada vai abraçando.Os intérpretes convidados para esta temporada, uma vez mais, apresentam-se aos nossos olhos, e mais ainda aos nossos ouvidos, como um Olimpo: Jordi Savall, Pino de Vittorio, La Fonte Musica, Concerto Scirocco, Sara Mingardo, Vasco Dantas, Nuno de Sousa, Quarteto de Matosinhos, João Paulo Santos, Andreas Staier, Núria Rial, Andrea de Carlo, Ensemble Mare Nostrum, Concerto Campestre, Divino Sospiro, Roberta Mameli, Coro Gulbenkian, Michel Corboz, Rinaldo Alessandrini, Laura Pontecorvo, João Reis, Juan Sancho, José
6
Maria lo Monaco, Le Concert de l’Hostel Dieu, Stefania Neonato são um exército iluminado, formado por artistas de uma excelência absoluta, alguns dos quais encontraram, nas últimas décadas, um lugar inalienável no coração e na vida de muitos amantes da música mundial.Ao mesmo tempo, o nosso estudo e trabalho de investigação continuam, de forma ininterrupta, na recuperação da nossa herança intelectual e na sua identificação histórica e cultural. A Serenata “La contesa delle stagioni”, única sobrevivente das 15 Serenatas do grande compositor Domenico Scarlatti, foi escrita há exatamente 300 anos, por ocasião do aniversário de Maria Ana de Áustria, rainha de Portugal, tendo sido apresentada pela primeira vez, em Lisboa, a 7 de setembro de 1720. Esta obra é um dos arquétipos de um género, a Serenata, que em Portugal teve um desenvolvimento praticamente incomparável com outros estados da Europa, e que encontrou, no Palácio Nacional de Queluz, o seu lugar de eleição e valor inestimável.Esta edição da Temporada de Música é resultado de um debate frutífero e constante de inteligência e conhecimento interdisciplinares e concentra o propósito, espero que bem-sucedido, de conjugar conceção, criatividade e inovação, com a devoção à tradição de lugares físicos ou intelectuais e à sua História, através da redescoberta e aprimoramento dos protagonistas do contexto musical de hoje, no constante serviço de respeito à arte suprema que nos chegou do passado.A verdade é que nos encontramos em constante procura, nunca alcançando a meta. O beijo da musa é o único objetivo, pois a Arte não é um acessório bonito, mas o cordão umbilical que nos conecta ao divino e tranquiliza a nossa humanidade. A arte guia-nos e estimula-nos a alcançar uma certa realização íntima. É o espelho em que devemos olhar-nos. A tentação de evitar esse confronto obriga-nos, por vezes, a abordar a arte como algo meramente estético ou popular e, com muita frequência, aqueles que abordam a música de forma superficial e alienada não têm a perceção do que significa
7
trazer ao público uma ópera, ao invés de uma sinfonia. Eu desejo que o público cresça com música, feliz. A música é fundamental para todo o ser humano e jamais poderíamos viver sem ela: o filósofo alemão Friedrich Nietzsche chegou a escrever que a existência privada da música seria um erro. Ela é uma linguagem própria da alma que chega diretamente ao coração das pessoas e nos rodeia em todos os lugares e em todos os momentos.No mundo musical de amanhã, haverá uma multidão de apaixonados da música que a ouvirá com a mente aberta e desprendidos de restrições.Diz-se frequentemente que a arte está ao alcance de todos, mas não é para todos. Eu discordo e acho mais correto dizer que a arte, e principalmente a música, está ao alcance de todos aqueles que desejam desafiar-se a si próprios através dela.
MASSIMO MAZZEODireção Artística
8
PSM
L | L
uís
Dua
rte
9
10
MARÇO ‘20Salão Nobre / 21:00
06 SEXTA-FEIRA
VASCO DANTAS (piano) Carta Branca a Vasco Dantas – Portugal e Alemanha por Schumann e Vianna da Motta
07 SÁBADO
VASCO DANTAS (piano) QUARTETO DE CORDAS DE MATOSINHOSCarta Branca a Vasco Dantas – Dois quintetos, dois mundos
13&14 SEXTA-FEIRA E SÁBADO
CÁTIA MORESO (mezzo-soprano)
JOÃO RODRIGUES (tenor)
ANTÓNIO FIGUEIREDO (violino)
IRENE LIMA (violoncelo)
JOÃO PAULO SANTOS (piano)
Entre França e Alemanha: leituras da geração Romântica
11
20 SEXTA-FEIRA
QUARTETO TEJODebussy e Tchaikovsky – Dois compositores e uma benfeitora
21 SÁBADO
NUNO VENTURA DE SOUSA (piano)
Crepúsculos românticos russos
27&28 SEXTA-FEIRA E SÁBADO
SARA MINGARDO (alto)
MAURIZIO PACIARIELLO (piano)
LUCA SANZÒ (violeta)
Retratos intimistas de Johannes Brahms
12
PSM
L | L
uís
Dua
rte
13
06/03 SEXTA-FEIRA || 21:00
Carta Branca a Vasco Dantas – Portugal e Alemanha por Schumann e Vianna da Motta
VASCO DANTAS || piano
PROGRAMA
Robert Schumann (1810-1856)• Cenas Infantis (Kinderszenen), op.15
1. De Povos e Terras Distantes (Von fremden Ländern und Menschen)2. História Curiosa (Kuriose Geschichte)3. Cabra Cega (Hasche-Mann)4. Criança que Suplica (Bittendes Kind)5. Felicidade Plena (Glückes genug)6. Acontecimento Sério (Wichtige Begebenheit)7. Sonho (Träumerei)8. À Lareira (Am Kamin)9. Cavalinho de Madeira (Ritter vom Steckenpferd)10. Um Pouco Sério (Fast zu ernst)11. Fazer Medo (Fürchtenmachen)12. A Criança Adormece (Kind im Einschlummern)13. O Poeta Fala (Der Dichter spricht)
Carl Reinecke (1824-1910)• Transcrições de Canções de Schumann
1. A Nogueira (Der Nussbaum), Allegretto2. Tu és como uma Flor (Du bist wie eine Blume), Lento3. A Flor de Lótus (Die Lotosblume), Lento ma non troppo4. Minha Rosa (Meine Rose), Lento5. Dedicatória (Widmung), Allegro animato6. Canção de um Ferreiro (Lied eines Schmiedes), Molto moderato
- intervalo -
14
José Vianna da Motta (1868-1948)• Cenas Portuguesas, op. 9
1. Cantiga d’Amor2. Chula3. Valsa Caprichosa
Alexandre Rey Colaço (1854-1928)• Fados para Piano
N.º 3, Hylário (referência ao fado de Coimbra, dedicado ao seu discípulo Eduardo Burnay), ModeratoN.º 4, Corrido, AllegrettoN.º 7, Tenho fome não de pão, AllegrettoN.º 8, Molto lento
O primeiro programa que proponho inclui obras de compositores
portugueses e alemães dos séculos XIX e XX, enquadrando-se na perfeição
neste salão emblemático do Palácio da Pena. Contempla obras com
inspiração vocal, especificamente, Fados para piano de três compositores
portugueses (Alexandre Rey Colaço, Óscar da Silva e Eduardo Burnay)
e Lieder de Schumann, transcritas para piano solo pelo compositor alemão
Carl Reinecke, que nunca foram publicadas e serão possivelmente uma
estreia em recital, em Portugal. O programa será complementado com duas
obras representativas da identidade musical da época em Portugal
e na Alemanha: as Cenas Infantis de Schumann e as Cenas Portuguesas
de Vianna da Motta.
VASCO DANTAS
15
PORTUGAL E ALEMANHA À LUZ DE SCHUMANN E VIANNA DA MOTTA
É a partir do segundo terço do século XIX que o fado deixa o ‘bas-fonds’ lisboeta
pela acção de alguns aristocratas boémios (como o conde de Vimioso, 1817-
65, amante da Severa, 1820-46), começando desse modo o seu percurso em
direcção à “boa sociedade”. A fama póstuma da Severa, a incorporação do
género no teatro de revista e um clima geral de interesse novo pela cultura
popular-tradicional contribuirão para a sua popularização junto da burguesia. Daí
até à aparição de versões de fados para piano, destinadas à música doméstica,
em ambiente familiar ou de salão, foi um passo. É nesse âmbito que devemos
enquadrar os nove fados que o pianista, pedagogo e também compositor
Alexandre Rey Colaço (1854-1928) escreveu nos anos 90 do século XIX.
Os que hoje ouvimos são o n.º 3 (fado Hilário, da tradição coimbrã),
n.º 4 (fado corrido, tradicionalmente também bailado, que veio a tornar-se
uma das três matrizes do fado de Lisboa), n.º 7 (breve e de escrita bastante
simples, usando uma conhecida melodia) e n.º 8, um fado menor (outra das
matrizes do fado de Lisboa) indicado ‘Molto Lento – Allegretto’, num sombrio
mi bemol menor. As datas são: c. 1895 (nos. 3 e 4) e 1899 (7 e 8). São típicas
criações de música de salão (ou até com propósito pedagógico), sendo de
assinalar o respeito pela linha do canto e pelo estilo interpretativo próprio do
género, procurando reproduzir os efeitos, quer da voz, quer dos instrumentos
acompanhadores, numa escrita que sabe, por outro lado, tirar partido das
possibilidades do piano.
Saído da canção popular alemã (‘Volkslied’), o ‘Lied’ tornar-se-ia ao longo do
século XIX num género nacional dos países alemães, cultivado em todas as
casas onde se tocasse música. A ubiquidade do piano no século XIX fez que
muita música que adquiria certa popularidade aparecesse depois em reduções,
transcrições ou arranjos para piano, inclusive ‘Lieder’. Exemplo famoso é desde
logo o de Liszt, que transcreveu cerca de 50 ‘Lieder’
de Schubert e 12 de Schumann. O autor que nos ocupa é Carl Reinecke (1824-
1910), figura central da vida musical de Leipzig na segunda metade
do século XIX. Reinecke foi aluno de Schumann e de Mendelssohn
no Conservatório de Leipzig, estabelecendo sinceras relações de amizade com
ambos. Datam logo da década de 40 as suas primeiras transcrições
de ‘Lieder’ de Schumann (faria mais de 30, no total), que mereceram
os maiores elogios do compositor. Dos seis ‘Lieder’ que hoje ouvimos,
16
os quatro que provêm da colecção ‘Myrthen, op. 25’ (de 1840) contam-se
entre as mais belas criações de Schumann neste domínio. Os outros dois
(o suave ‘Meine Rose’ e o mais vigoroso ‘Lied eines Schmiedes’) provêm
dos ‘6 poemas de Nikolaus von Lenau, op. 90’ (de 1850).
As ‘Cenas de Infância’ são uma das obras para piano mais famosas de
Schumann, amadas desde sempre por pianistas e público. Elas datam de
1838 e tiveram como primeiro destinatário, evidentemente, Clara Wieck.
Com perfeita unidade anímica, sucedem-se 13 curtas peças (com a famosa
‘Träumerei’ colocada bem no centro do ciclo) que são obras-primas da
miniatura musical e que no seu todo têm por propósito – algo de pioneiro na
altura – relatar/evocar o que poderia ser um dia inteiro na vida de uma criança
pequena. Dia, esse, que é captado em todos os seus cambiantes
e com doses equivalentes de poesia e de acuidade por Robert Schumann.
Já as ‘Cenas Portuguezas, op. 9’, de José Vianna da Motta, são uma das várias
facetas por que o compositor, fixado embora em Berlim, intentou com um
propósito quase programático criar uma música culta de carácter nacional.
Elas foram escritas em Portugal, em Junho-Julho de 1893: Vianna da Motta,
então com 25 anos, visitava pela primeira vez o país que deixara quase 11
anos antes. Foi essa estada um período muito profícuo, seja em termos da
sua afirmação (quase instantânea) como grande artista-intérprete, seja em
termos criativos, já que escreveu (ou completou) várias obras durante a sua
permanência cá, nelas se destacando a ‘Sinfonia em lá M, ‘à Pátria’’, de 1894.
Constituem este ‘opus 9’ três peças: uma ‘Cantiga d’amor’, uma ‘Chula’
(dedicada a Bernardo Valentim Moreira de Sá) e uma ‘Valsa caprichosa’.
A primeira usa uma melodia muito simples para elaborar uma ‘peça de
carácter’ de concerto. A segunda peça remete mais para a música da dança
popular ‘chula’, típica do Minho (de onde era natural o dedicatário) e da região
do Douro. A última peça filia-se no modelo da valsa de salão francesa, fazendo
aparecer uma melodia ‘popular’ como tema secundário. Em todas elas fica
patente o refinamento pianístico do autor, bem como o conhecimento dos
modelos de Schubert, Chopin, Liszt, Schumann e Brahms.
BERNARDO MARIANOMusicólogo
BIOGRAFIA
VASCO DANTAS || piano
Nascido em 1992, completou a Licenciatura em Música com classificação “1ª classe e distinção” no London Royal College of Music, sob a orientação pianística de Dmitri Alexeev e Niel Immelman, estudando também direção orquestral com Peter Stark e Natalia Luis-Bassa. Terminou o Mestrado em Performance com nota máxima, sob a orientação de Heribert Koch, na Universidade de Münster, onde foi aceite para Doutoramento “Konzertexamen”.Vasco já obteve mais de 50 prémios em concursos internacionais em diversos países.Em 2019, estreou-se com um recital a solo no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Em 2017, fez a sua estreia na Rússia interpretando o Concerto n.º 4 de Beethoven com a Kremlin Chamber Orchestra, na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky de Moscovo. Em 2016 estreou-se com orquestra na Alemanha, atuando com a Jülich Sinfonieorchester e a Junges Sinfonieorchester Aachen, tendo executado o Concerto n.º 2 de Rachmaninoff. Em 2015, estreou-se no continente asiático, interpretando o Concerto n.º 1 de Franz Liszt com a Hong Kong Symphonia, no Hong Kong City Hall Concert Hall. Em 2014, estreou-se no continente americano tocando a solo com a Orquestra Sinfónica do Espírito Santo, em Vitória – Brasil, o Concerto no.2 de D. Shostakovich. Em 2013, estreou-se em Portugal, atuando com a Orquestra Sinfónica do Porto (Casa da Música). Em janeiro de 2011 fez a sua estreia como pianista solista na “Sala Suggia” da Casa da Música, com o recital de abertura do Ciclo de Piano EDP 2011.
18
PSM
L | L
uís
Dua
rte
19
PROGRAMA
Antonín Dvorák (1841-1904)• Quinteto para piano n.º 2, em Lá Maior, op. 81
1. Allegro, ma non tanto2. Dumka: Andante con moto3. Scherzo ‘Furiant’: Molto vivace4. Allegro
Reynaldo Hahn (1874-1947)• Quinteto para piano, em Fá sustenido menor, op. 67
1. Molto agitato e con fuoco2. Andante (non troppo lento)3. Allegretto grazioso
07/03 SÁBADO || 21:00
Carta Branca a Vasco Dantas – Dois quintetos, dois mundos
VASCO DANTAS || piano
QUARTETO DE CORDAS DE MATOSINHOSVITOR VIEIRA || violinoJUAN CARLOS MAGGIORANI || violinoJORGE ALVES || violetaMARCO PEREIRA || violoncelo
20
Neste segundo concerto serão apresentados dois Quintetos para Piano,
de compositores distintos. O Quinteto n.º 2 do compositor checo
Antonín Dvorak, está entre os quintetos para piano mais famosos e mais
frequentemente interpretados nas salas de concerto por todo o mundo.
Já o quinteto em Fá sustenido menor do compositor venezuelano,
naturalizado francês, Reynaldo Hahn, é raramente ouvido, não obstante
a sua altíssima qualidade artística, e será uma óptima surpresa para
o público dos Serões Musicais do Palácio da Pena.
VASCO DANTAS
21
DOIS QUINTETOS, DOIS MUNDOS
O quinteto que junta o piano a um quarteto de cordas é uma criação do
Romantismo, apesar dos precedentes de Boccherini1. Pelo que se pode dizer
que foi Schumann, com o seu famoso ‘opus 44’ (de 1842) que fundou o
género, ao qual Brahms daria notável seguimento com o igualmente célebre
Quinteto em fá menor, op. 34, de 1864. Oito anos depois, Dvorák “ensaia-
se” no género (o seu opus 5), mas o resultado não o convence e 15 anos
hão-de passar antes que o compositor, aí já na maturidade e plena ‘maîtrise’
do seu estilo, regresse a esta combinação instrumental. O resultado, dessa
vez, é uma obra-prima que ombreia de pleno direito com as criações dos
seus colegas germânicos. Nos usuais quatro andamentos, destacamos os
andamentos interiores, que tomam os nomes de ‘Dumka’ e de ‘Furiant’:
a primeira remete para uma forma narrativa recitada tipicamente eslava,
ao passo que a segunda designa uma forma de dança checa, em ‘tempo’
rápido, aqui adaptada ao formato clássico ‘Scherzo’-Trio. A ‘Dumka’ é de
uma beleza irreal: ela organiza-se numa forma palindrómica ABACABA,
em que A é o tema da ‘dumka’ propriamente dito (nocturno, misterioso
e lendário), B é uma “contrapartida” mais jovial e solar, sem deixar de ser
lírico; e C (mais breve) é um impetuoso e febril ‘Vivace’. Já o ‘Furiant’ tem
no Trio (‘poco tranquillo’) um momento surpreendente: a aparição de uma
breve secção (nas cordas) em coral religioso. Dvorák lembrar-se-á dele no 4.º
andamento, pouco antes de encetar a irresistível ‘Coda’ (secção conclusiva):
um momento de pura magia!
França conhece a partir do meio do século XIX (época de Napoleão III)
um verdadeiro renascimento da sua música de câmara, “alimentado” pelos
exemplos de além-Reno (mormente Mendelssohn e Schumann). Esse
florescimento mais se acentua a partir de 1871, aí porém tingido de um
ideário nacionalista resultante da derrota ante a Prússia (1870-71) e que
pretendia uma criação musical que deveria ser fértil, sim, mas de matriz
reconhecivelmente francesa, isto é, que não reproduzisse/prolongasse os
modelos germânicos e afirmasse uma ‘maneira’ francesa distinta. Essa via
própria tem o seu primeiro apogeu com César Franck (1822-90), não por
1 Boccherini escreveu dois conjuntos de seis quintetos para esta combinação instrumental, editados, respectivamente, em 1797 e 1799.
22
acaso também o autor do primeiro grande Quinteto com piano da escola
francesa, datado de 1879.
Quando Reynaldo Hahn, que, enquanto criança prodígio, se afirmara como
pianista e compositor (peças para piano e ‘mélodies’, sobretudo) em Paris desde
a década de 80, se lança na composição de um Quinteto para piano e cordas,
o mundo mudou por completo: a ‘Belle Époque’ é uma memória e a França
transpira alegria de viver em reacção à mortandade geral que foi o preço que
custou a recente vitória na I Guerra Mundial. Hahn vai saber adaptar-se aos
novos tempos, nomeadamente recentrando a sua produção para géneros mais
ligeiros, como o teatro musical e a opereta (e aí obterá sucessos), mas ele
é claramente um homem de uma sensibilidade de outra época. Aquela época
imortalizada num vasto romance pelo homem de quem foi amante, primeiro,
e o amigo mais chegado, depois e sempre: Marcel Proust. Quando Hahn
escrevia o seu Quinteto, Proust afadigava-se para terminar ‘À la recherche du
temps perdu’, ele que sabia não lhe restar muito tempo mais de vida. E de facto,
quando o Quinteto estreia, em Paris, a 28 de Novembro de 1922, escassos
dez dias haviam passado desde o falecimento, nessa cidade, de Marcel Proust.
Podemos imaginar o estado de espírito do compositor nesse momento...
Hahn, professor na École Normale de Musique desde 1920, poderá
ter-se sentido encorajado pelo exemplo de Gabriel Fauré, então já figura
reverencial da música francesa, que aos 76 anos assinara o seu segundo
Quinteto com piano, editado nesse mesmo ano (1921) por Durand.
Retomando o que acima escrevíamos, também neste Quinteto é sensível esse
“balanço” do compositor ente épocas: os andamentos 1 e 2 estão claramente
voltados para a aludida ‘Belle Époque’: no primeiro, certamente por imperativos
formais e de equilíbrio, pressente-se a influência de um Mendelssohn, ao passo
que o ‘Andante, non troppo lento’ é (a exemplo do andamento correspondente
em Dvorák) o coração emocional da obra: uma alternância serena entre um
tema pesaroso e lamentoso e outro mais lírico e luminoso, só turvada por
aparições do intervalo de trítono, até que no final o tema primeiro recebe
do segundo o apaziguamento necessário para se dar ao silêncio. Por fim, no
‘Allegretto grazioso’ somos como que transportados para o tempo presente,
ou, pelo menos, a forma como Hahn o pressentia nessa altura.
BERNARDO MARIANOMusicólogo
23
PSM
L | L
uís
Dua
rte
24
BIOGRAFIAS
VASCO DANTAS || piano
Nascido em 1992, completou a Licenciatura em Música com classificação “1ª classe e distinção” no London Royal College of Music, sob a orientação pianística de Dmitri Alexeev e Niel Immelman, estudando também direção orquestral com Peter Stark e Natalia Luis-Bassa. Terminou o Mestrado em Performance com nota máxima, sob a orientação de Heribert Koch, na Universidade de Münster, onde foi aceite para Doutoramento “Konzertexamen”.Vasco já obteve mais de 50 prémios em concursos internacionais em diversos países.Em 2019, estreou-se com um recital a solo no Carnegie Hall, em Nova Iorque. Em 2017, fez a sua estreia na Rússia interpretando o Concerto n.º 4 de Beethoven com a Kremlin Chamber Orchestra, na Grande Sala do Conservatório Tchaikovsky de Moscovo. Em 2016 estreou-se com orquestra na Alemanha, atuando com a Jülich Sinfonieorchester e a Junges Sinfonieorchester Aachen, tendo executado o Concerto n.º 2 de Rachmaninoff. Em 2015, estreou-se no continente asiático, interpretando o Concerto n.º 1 de Franz Liszt com a Hong Kong Symphonia, no Hong Kong City Hall Concert Hall. Em 2014, estreou-se no continente americano tocando a solo com a Orquestra Sinfónica do Espírito Santo, em Vitória – Brasil, o Concerto no.2 de D. Shostakovich. Em 2013, estreou-se em Portugal, atuando com a Orquestra Sinfónica do Porto (Casa da Música). Em janeiro de 2011 fez a sua estreia como pianista solista na “Sala Suggia” da Casa da Música, com o recital de abertura do Ciclo de Piano EDP 2011.
25
BIOGRAFIAS
QUARTETO DE CORDAS DE MATOSINHOS
Aclamado como um “caso singular de excelência no panorama musical português” (Diana Ferreira, Público, 2010), o Quarteto de Cordas de Matosinhos (QCM) foi criado pela Câmara Municipal de Matosinhos através de um concurso público. Desde 2008, é residente desta cidade, onde desenvolve uma temporada regular de concertos.Na temporada de 2014-15, o QCM foi escolhido como um dos ECHO Rising Stars, apresentando-se assim em algumas das mais importantes salas de concerto europeias, como o Barbican em Londres, o Concertgebouw em Amesterdão, ou o Musikverein em Viena. O QCM apresenta-se também regularmente nas maiores salas de concerto portuguesas, como a Casa da Música, a Fundação Calouste Gulbenkian e o CCB, e colabora com alguns dos mais destacados músicos portugueses.Desde a sua criação, o QCM assumiu um forte compromisso com o repertório português para quarteto de cordas, interpretando muitas obras menos conhecidas e abraçando novas obras de compositores contemporâneos: o QCM estreou já mais de 25 novas obras. Tem também vindo a interpretar em Matosinhos o grande repertório para quarteto de cordas: as obras completas de Mozart e Mendelssohn foram já apresentadas, estando em curso as integrais de Haydn, Beethoven e Shostakovich.O QCM e os seus membros foram reconhecidos com prémios nos mais importantes concursos musicais nacionais, como o Prémio Jovens Músicos da RDP e o Concurso Internacional de Música de Câmara “Cidade de Alcobaça”. O QCM realizou formação especializada no Instituto Internacional de Música de Cámara de Madrid, onde estudou com Rainer Schmidt (violinista do Quarteto Hagen), além de trabalhar em masterclasses com membros de grandes quartetos de cordas, como Alban Berg, Lasalle , Emerson, Melos , Vermeer, Kopelman e Talich.
26
PSM
L | L
uís
Dua
rte
27
PROGRAMA
Franz Liszt (1811-1886)• Enfant si j’étais roi (Victor Hugo)• Soneto III (Petrarca)• La tombe et la rose (Victor Hugo)• Loreley (Heinrich Heine)
Felix Mendelssohn (1809-1847)• Lied ohne Worte, op. 109 | violoncelo e piano
Stephen Heller (1813-1888) / Heinrich Ernst (1812-1865)• Abschied, n.º 4, de “Pensées fugitives”, op. 30 | violino e piano
Felix Mendelssohn (1809-1847)• Suleika, op. 34, nº 4 (Johann Wolfgang von Goethe
/ Marianne Willemer)• Schilflied, op. 71, n.º 3 (Nicolaus Lenau)• Neue Liebe, op. 19, n.º 4 (Heinrich Heine)• Auf Flügeln des Gesanges, op. 34, n.º 2 (Heinrich Heine)
Robert Schumann (1810-1856)• Unterm Fenster, op. 34, n.º 3 (Robert Burns)• Liebhabers Ständchen, op. 34, n. 2 (Robert Burns)
13&14/03 SEXTA-FEIRA e SÁBADO || 21:00
Entre França e Alemanha: leituras da geração Romântica
CÁTIA MORESO || mezzo-sopranoJOÃO RODRIGUES || tenorANTÓNIO FIGUEIREDO || violinoIRENE LIMA || violonceloJOÃO PAULO SANTOS || piano
28
- intervalo -
João Guilherme Daddi (1813-1887))• Larghetto, de “Morceau de Salon” | violino, violoncelo, piano
Hector Berlioz (1803-1869)• La captive (Victor Hugo) | voz, violoncelo, piano
Félicien David (1810- 1876)• Le nuage (Edouard Plouvier)• Un amour dans les nuages (Marc Constantin)
Théodore Gouvy (1819-1898)• De “40 Poésies de Ronsard”:
Que dites-vous, que faites-vous, mignonneÀ MargueriteDu grand Turc je n’ai souci
Ludwig Spohr (1784-1859)• Erlkönig (Johann Wolfgang von Goethe) | voz, violino, piano
Camille Saint-Saëns (1835-1921)• Le soir (Marceline Desbordes-Valmore)
Charles Gounod (1818-1893)• Par une belle nuit (Comte de Ségur) | duetos com piano
Ludwig van Beethoven (1770-1827)• Seus lindos olhos | dueto com acompanhamento de trio
29
ENTRE FRANÇA E ALEMANHA: LEITURAS DA GERAÇÃO ROMÂNTICA
Em 1810, a baronesa Germaine de Staël-Holstein, que ficou na história como
Madame de Staël, publicou um ensaio intitulado De l’Allemagne. Conversadora
espirituosa e brilhante, cultivando uma imagem extravagante, Staël participou
activamente da vida política e intelectual do seu tempo. Esteve presente nos
Estados Gerais da França revolucionária e aquando da Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão, em 1789. Juntamente com o escritor e político
Benjamin Constant, destacou-se na oposição a Bonaparte. No exílio, privou
de perto com Friedrich e Dorothea Schlegel, Wieland, Goethe e Schiller. De
l’Allemagne é uma reflexão sobre a filosofia, a cultura e as artes que se tinham
desenvolvido, à sombra do Iluminismo, no lado oriental do Reno, procurando
interessar os franceses pela cultura dos seus vizinhos teutónicos. Apesar dos
esforços da censura imperial para destruir a primeira edição, o propósito da
autora foi cumprido e os ventos do Romantismo alemão começaram a fazer-se
sentir para cá da margem ocidental do Reno.
Por esses anos nasce também aquela que, na música, é chamada a “geração
romântica” – Mendelssohn, Chopin, Schumann e Liszt – um grupo de
compositores que viveria maioritariamente entre várias cidades alemãs e
Paris. Nestes ambientes circularam também músicos que são hoje menos
conhecidos, como Félicien David, Stephen Heller ou Théodor Gouvy. Outros,
cujas obras integram o programa deste concerto, foram percursores ou
continuadores dos vários Romantismos. Mas, mesmo entre os mais célebres,
há que distinguir diferentes posicionamentos face a este movimento: se
Mendelssohn assumiu a herança do Classicismo e do ambiente musical
luterano, se Chopin olhou sempre a música como algo artesanal e se
refugiou no intimismo dos salões parisienses, Schumann encarnou de forma
intensa as múltiplas facetas do Romantismo alemão (nomeadamente na sua
íntima ligação à literatura) e Liszt – o mais longevo dos quatro – pôde viver
uma sucessão de experiências que vão do virtuosismo instrumental à criação
do poema sinfónico, do nacionalismo húngaro ao misticismo católico. Para
quase todos eles foi central a relação entre música e palavra. Até Chopin,
o que menos se sentiu atraído por esse problema, nos legou uma vintena
de canções, todas em língua polaca, num gesto revelador da sua sempre viva
nostalgia pela pátria distante.
30
Um importante filão poético explorado desde o pré-romantismo é o que –
seguindo as ideias de Herder – se reporta ao universo da cultura popular. Nele
podemos enquadrar as canções oriundas de diferentes países que Beethoven
harmonizou e arranjou (WoO 158a), entre as quais se conta a modinha
portuguesa “Seus lindos olhos”. Também Schumann escreveu, em 1840, um
conjunto de duetos (op. 34) sobre textos de Robert Burns, poeta escocês pioneiro
do movimento romântico. Tanto Burns como o seu tradutor alemão, Wilhelm
Gerhard, se interessaram pela poesia popular, efectuando recolhas e adaptações.
Outra inesgotável fonte de inspiração foram os textos dos grandes poetas
alemães. Esta nova poesia confrontava os sentimentos individuais com um
conjunto de poderosas forças externas, como a natureza, a história ou
a sociedade. Aspirava simultaneamente ao heroico e grandioso mas também
ao íntimo. E desde finais de setecentos que os poemas de Goethe vinham
constituindo um sustentáculo para o Lied. Em alguns deles, como o célebre
Erlkönig, é possível traçar uma genealogia de leituras musicais. Talvez por isso, o
violinista e compositor alemão Ludwig Spohr só se decidiu a abordá-lo no final
da sua vida e optou por integrá-lo num ciclo de canções com violino obbligato
(op. 154), atribuindo ao violino a representação da voz sedutora do Rei dos
Álamos. Liszt, por seu turno, iniciou-se na composição de canções em Itália, em
finais da década de 1830 (musicando sonetos de Petrarca), mas só em Weimar
atingiria a maturidade neste género, através de uma ampla liberdade melódica
e uma arrojada exploração do campo harmónico, como se pode apreciar em
Loreley, sobre texto de Heinrich Heine, o poeta que viveria os seus últimos anos
em Paris, assumindo-se como um medidor entre as culturas alemã e francesa.
Já Mendelssohn, apesar de partir do mesmo universo poético, permaneceu fiel aos
modelos de compositores da geração anterior, como Reichardt e Zelter, limitando
o piano ao papel de acompanhador. Paradoxalmente, é ele quem melhor transpõe
para o domínio da música instrumental o espírito da canção, dando origem aos
Lieder ohne Worte (Canções sem Palavras): pequenos conjuntos de peças líricas,
vários deles incluindo uma barcarola, publicados pela primeira vez em Londres,
em 1832. E esse lirismo é transversal a outras peças de carácter como as Pensées
fugitives op. 30, de Heller, escritas em colaboração com o violinista morávio
Heinrich Ernst, ou ao Morceau de Salon do português João Guilherme Daddi.
Em França, a relação entre música e palavra foi cultivada a partir do velho
romance. Mas a florescente poesia romântica francesa, com Victor Hugo
31
como figura central, irá fornecer aos compositores – até ao final de oitocentos
– um rico campo de experiências que conduzirão ao aparecimento da mais
sofisticada mélodie. Escrita sobre um texto extraído de Les Orientales de Hugo
– em cujo prefácio o poeta reivindica os privilégios da liberdade na arte –
La captive, de Berlioz, é uma das últimas obras resultantes da estadia deste
compositor em Itália (1832). A versão original da peça, para meio-soprano e
piano, foi logo em seguida transformada noutra, para voz, violoncelo e piano
e, mais tarde, com acompanhamento orquestral. E, ao longo deste percurso,
a peça passa de simples canção estrófica com uma melodia de recorte
requintado a obra significativamente mais expressiva.
O filão orientalista atingiria o seu cume com Félicien David que, na fase inicial
da sua carreira, viu na canção um meio para divulgar a sensualidade musical
que encontrara no Médio Oriente, onde vivera na década de 1830, com um
pequeno grupo de saint-simonianos. Todavia, as canções que compôs após o
sucesso da ode-sinfónica Le désert (1844) estão já distantes desse universo. E
se Gounod e Saint-Saëns podem ser considerados seus herdeiros, o percurso
de Théodore Gouvy estabelece uma ponte efectiva entre as culturas francesa
e a germânica. Nascido no Sarre, sob dominação prussiana, estudou em Paris
e viveu em várias cidades alemãs. Naturalizou-se francês, mas a sua obra
foi sempre mais acarinhada na Alemanha. Todavia, no campo da canção
manifestou um particular interesse pela poesia francesa, redescobrindo autores
do Renascimento, como Ronsard.
Desta variedade de leituras românticas se percebe que, apesar dos esforços de
Madame de Staël, a força das diferentes tradições culturais teve um impacto
significativo no modo como franceses e alemães encaram o género canção.
No entanto, é sabido que a difusão dos Lieder de Schubert foi, em parte,
responsável pela transformação do romance em mélodie, género que era,
por vezes, designado “romance alemão”. E se Gouvy pode ser visto como um
compositor que faz a ponte entre estas duas culturas, é em Liszt, o protótipo
do músico cosmopolita, que mais se sente a dualidade entre a cultura alemã
– que era a sua de origem e que ele irá revisitar a partir da cidade em que
Goethe e Schiller tinham vivido – e a francesa, na qual havia crescido.
LUÍSA CYMBRON Musicóloga
32
ENFANT! SI J’ÉTAIS ROI | CRIANÇA, SE REI EU FOSSETexto: Victor Hugo
Enfant! Si j’étais roi, je donnerais l’empire,Et mon char, et mon sceptre, et mon peuple à genoux,Et ma couronne d’or, et mes bains de porphyre,Et mes flottes, à qui la mer ne peut suffire,Pour un regard de vous!
Si j’étais Dieu, la terre et l’air avec les ondes,Les anges, les démons courbés devant ma loi,Et le profond chaos aux entrailles fécondes,L’éternité, l’espace, et les cieux, et les mondes,Pour un baiser de toi!
Criança, se rei eu fosse, daria o império,E o meu carro, e o meu cetro, e o meu povo ajoelhado,E a minha coroa de ouro e os meus banhos de pórfiro,E as minhas frotas que o mar não contém,Por um olhar vosso!
Se Deus eu fosse, a terra e o ar com as ondas,Os anjos, os demónios curvados perante a minha lei,E o profundo caos nas entranhas fecundas,A eternidade, o espaço e os céus e os mundos,Por um beijo teu!
SONETO III | SONETO IIITexto: Petrarca
I’ vidi in terra angelici costumi,E celesti bellezze al mondo sole;Tal che di rimembrar mi giova, e dole:Che quant’io miro, par sogni, ombre, e fumi.
E vidi lagrimar que’ duo bei lumi,Ch’han fatto mille volte invidia al sole;Ed udì’ sospirando dir paroleChe farian gir i monti, e stare i fiumi.
Amor! Senno! Valor, Pietate, e DogliaFacean piangendo un più dolce concentoD’ogni altro, che nel mondo udir si soglia.
Ed era ‘l cielo all’armonia s’intentoChe non si vedea in ramo mover foglia.Tanta dolcezza avea pien l’aer e ‘l vento.
E na terra pude ver qualidades angelicaisE celestes belezas, sem par neste mundo;E recordar me alegra e entristece,E tudo em comparação parece sonho, sombra ou névoa.
E vi chorar aquelas duas belas chamasQue o sol inveja mil vezes;E ouvi palavras suspiradasCapazes de mover montanhas e imobilizar os astros.
Amor, Razão, Virtude, Piedade e DorFaziam chorando um som mais doceQue qualquer outro ouvido neste mundo.
E o céu estava tão absorto nessa harmoniaQue nem folha ou ramo se moviamDe tal modo o ar e o vento eram suaves.
TEXTOS CANTADOS
33
LA TOMBE ET LA ROSE | O TÚMULO E A ROSATexto: Victor Hugo
La tombe dit à la rose:- Des pleurs dont l’aube t’arroseQue fais-tu, fleur des amours?La rose dit à la tombe:- Que fais-tu de ce qui tombeDans ton gouffre ouvert toujours?
La rose dit: - Tombeau sombre,De ces pleurs je fais dans l’ombreUn parfum d’ambre et de miel.La tombe dit: - Fleur plaintive,De chaque âme qui m’arriveJe fais un ange du ciel !
Dizia o túmulo à rosa:- Das lágrimas que a manhã sobre ti derramaQue fazes tu, flor dos amores?Dizia a rosa ao túmulo:- Que fazes tu do que caiEm ti, abismo sempre aberto?
Respondeu a rosa: - Sombrio túmulo,Com essas lágrimas faço, na sombra,Um perfume de âmbar e de mel.Respondeu o túmulo: - Flor dos lamentos,De cada alma que a mim chegaFaço um anjo do céu!
DIE LORELEY | A LORELEYTexto: Heinrich Heine
Ich weiß nicht, was soll‘s bedeuten,Daß ich so traurig bin;Ein Märchen aus alten Zeiten,Das kommt mir nicht aus dem Sinn.
Die Luft ist kühl und es dunkelt,Und ruhig fließt der Rhein;Der Gipfel des Berges funkeltIm Abendsonnenschein.
Die schönste Jungfrau sitzetDort oben wunderbar,Ihr goldnes Geschmeide blitzetSie kämmt ihr goldenes Haar.
Sie kämmt es mit goldenem KammeUnd singt ein Lied dabei;Das hat eine wundersame,Gewaltige Melodei.
Não sei o que pode querer dizerEu estar tão triste;Um conto de outros temposNão me sai da cabeça.
O ar está fresco e anoitece,O Reno corre calmamente;Os raios do sol que se põeFazem brilhar o cume das montanhas.
Lá no alto está sentadaA mais bela donzela,As suas joias douradas brilham,Penteia os seus cabelos de ouro.
Penteia-os com um pente douradoEnquanto canta uma canção;Uma canção com uma melodiaPoderosa, encantadora.
34
Den Schiffer im kleinen SchiffeErgreift es mit wildem Weh;Er schaut nicht die Felsenriffe,Er schaut nur hinauf in die Höh’.
Ich glaube, die Wellen verschlingenAm Ende Schiffer und Kahn;Und das hat mit ihrem SingenDie Lorelei gethan.
O pescador no seu pequeno batelAo ouvi-la estremece de dor;Não repara nos rochedos,Apenas olha para as alturas.
Acho que no fim da história as ondas Acabam por engolir pescador e embarcação;E foi isto que, com a sua canção,A Lorelei fez.
SULEIKA | SULEIKATexto: Johann Wolfgang von Goethe / Marianne Willemer
Ach, um deine feuchten Schwingen,West, wie sehr ich dich beneide:Denn du kannst ihm Kunde bringenWas ich in der Trennung leide!
Die Bewegung deiner FlügelWeckt im Busen stilles Sehnen:Blumen, Auen, Wald und HügelStehn bei deinem Hauch in Tränen.
Doch dein mildes, sanftes WehenKühlt die wunden Augenlider;Ach, für Leid müsst‘ ich vergehenHofft‘ ich nicht zu sehn ihn wieder.
Eile denn zu meinem LiebenSpreche sanft zu seinem Herzen;Doch vermeid ihn zu betrübenUnd verbirg ihm meine Schmerzen.
Sag ihm, aber sag’s bescheiden:Seine Liebe sei mein Leben,Freudiges Gefühl von beidenWird mir seine Nähe geben.
Ah, como invejo as tuas húmidas asas,Vento do oeste:Tu podes levar-lhe novasDo meu sofrimento nesta separação!
O movimento das tuas asasDesperta no peito um discreto desejo:Flores, campos, bosques e montesChoram com o teu sopro.
Mas o teu suave, doce movimentoTambém seca as magoadas pálpebras;Ah, morreria de dorSe não tivesse esperança de o voltar a ver.
Corre então para o meu amorFala docemente ao seu coração;Mas evita perturbá-loE esconde-lhe os meus tormentos.
Diz-lhe, mas diz-lhe claramente,Que o seu Amor é a minha Vida,Uma feliz sensação de ambosSó a sua presença me poderá dar.
35
SCHILFLIED | CANÇÃO DO CANAVIALTexto: Nicolaus Lenau
Auf dem Teich, den regungslosen,weilt des Mondes holder Glanz,flechtend seine bleichen Rosenin des Schilfes grünen Kranz.
Hirsche wandeln dort am Hügel,blicken durch die Nacht empor;manchmal regt sich das Geflügelträumerisch im tiefen Rohr.
Weinend muss mein Blick sich senken;durch die tiefste Seele gehtmir ein süsses Deingedenken,wie ein stilles Nachtgebet.
No imóvel lago reflete-se O doce brilho da lua,Tecendo as suas pálidas rosasNa verde coroa do canavial.
No pequeno monte passam veadosQue contemplam a noite;Por vezes ouvem-se asasPor entre as densas canas.
E eu baixo o meu olhar, chorando;No fundo da minha alma passaUm doce pensamento sobre ti,Como uma oração noturna.
NEUE LIEBE | AMOR NOVOTexto: Heinrich Heine
In dem Mondenschein im Wald,Sah ich jüngst die Elfen reiten;Ihre Hörner hört ich klingen,Ihre Glöckchen hört ich läuten.
Ihre weißen Rößlein trugenGüldnes Hirschgeweih und flogenRasch dahin, wie wilde SchwäneKam es durch die Luft gezogen.
Lächelnd nickte mir die Köngin,Lächelnd, im Vorüberreuten.Galt das meiner neuen Liebe,Oder soll es Tod bedeuten?
No bosque, ao luar,Há pouco vi os elfos cavalgar;Ouvi as suas trompas tocar,Ouvi os seus sinos soar.
Os seus corcéis tinhamHastes douradas e voavamVelozmente, como cisnes selvagensAtravés dos ares.
A rainha sorrindo acenou-meAo passar.Foi por causa do meu novo amorOu significará a minha morte?
36
AUF FLÜGELN DES GESANGES | NAS ASAS DO MEU CANTOTexto: Heinrich Heine
Auf Flügeln des Gesanges,Herzliebchen, trag ich dich fort,Fort nach den Fluren des Ganges,Dort weiß ich den schönsten Ort;
Dort liegt ein rotblühender GartenIm stillen Mondenschein,Die Lotosblumen erwartenIhr trautes Schwesterlein.
Die Veilchen kichern und kosen,Und schaun nach den Sternen empor,Heimlich erzählen die RosenSich duftende Märchen ins Ohr.
Es hüpfen herbei und lauschenDie frommen, klugen Gazelln,Und in der Ferne rauschenDes heiligen Stromes Well’n.
Dort wollen wir niedersinkenUnter dem Palmenbaum,Und Liebe und Ruhe trinken,Und träumen seligen Traum.
Nas asas do meu canto,Minha querida, vou-te levar,Levar até às margens do Ganges,Onde conheço o mais belo lugar.
Lá se encontra um jardim floridoNa calma luz do luar.As flores de lótusEsperam pela sua querida irmã.
As violetas sussurram e segredamE contemplam lá no alto as estrelas,Secretamente as rosas contamHistórias perfumadas umas às outras.
Pulam e aproximam-sePuras, espertas gazelas,E ao longe ouvem-se correrAs sagradas águas do rio.
E lá nos repousaremosDebaixo das palmeirasE beber amor e paz,Sonhando sonhos celestiais.
37
Wer ist vor meiner Kammerthür?“Ich bin es!”Geh, schier’ dich fort! was suchst du hier?“Gar Süßes!”Du kommst im Dunkeln, wie ein Dieb.“So fang mich!”Du hast mich wohl ein wenig lieb?“Von Herzen!”
Und öffnet’ ich nach deinem Sinn“O öffne!”Da wär ja Schlaf und Ruhe hin;“Laß hin sein!”Ein Tauber du im Taubenschlag?“Beim Täubchen!”Du girrtest bis zum hellen Tag?“Wohl möglich!”
Nein! nimmer lass’ ich dich herein!“Thu’s dennoch!”Du stelltest wohl dich täglich ein?“Mit Freuden!”Wie keck du bist und was du wagst!“So darf ich?”Daß du’s nur keiner Seele sagst!“Gewiß nicht!”
Quem está à minha porta?“Sou eu!”Vai-te embora! Que queres tu?“Alguma doçura!”Vens na sombra como um ladrão.“Então prende-me!”Gostas pelo menos um bocadinho de mim?“De todo o coração!”
E se, como queres, te abrir a porta“Sim, abre!”Vou perder o meu sono e a minha paz;“Deixa lá!”Um pombo num pombal?“Junto da sua pombinha!”A arrulhar até amanhecer?“É bem possível!”
Não! nunca te deixarei entrar!“Não faças isso!”E vais voltar todos os dias?“Com prazer!”Como és ousado e atrevido!“Então posso?”Desde que não digas a ninguém!“Claro que não!”
UNTERM FENSTER | DEBAIXO DA JANELATexto: Robert Burns
38
LIEBHABER‘S STÄNDCHEN | A SERENATA DO AMOROSOTexto: Robert Burns
Wachst Du noch, Liebchen? Gruß und Kuß!Dein Liebster naht im Regenguß.Ihm lähmet Liebe Hand und Fuß;Er möchte so gern zu seinem Schatz.
Wenn’s draußen noch so stürmisch ist,ich kenne junger Burschen List.Geh hin, woher du kommen bist.Ich lasse dich nicht ein.
O lass mich ein die eine Nacht,Die eine, die eine Nacht,Die Liebe ist’s, die glücklich macht!
Horch, wie die Wetterfahnen wehn!Sieh, wie die Sternlein untergehn!Laß mich nicht hier im Regen stehn,mach auf, mach auf dein Kämmerlein!Der Sturm nicht, der in Nächten droht,bringt irrem Wandrer größre Not,als einem Mädchen jung und rotder Männer süße Schmeichelei’n.
Wehrest du, Liebchen, mir solche Huld,so tötet mich die Ungeduld,und meines frühen Todes Schuldtrifft dich allein, ja dich allein.
Das Vöglein auch, das singt und fliegt,von Vogelstellers List besiegt,zuletzt in böse Schlingen fällt,ruft: o traue nicht dem Schein!
Nein, nein, nein, nein, ich öffne nicht!Wenn’s draussen noch so stürmisch ist,Ich sag’ es dir, die eine Nacht,Ich lasse dich nicht ein.
Meu amor, estás acordada? Então boa noite!O teu apaixonado está debaixo de chuva.O amor paralisa os meus pés e mãos;Queria tanto ir para junto de ti.
Sei como chove aí fora,E como são manhosos os rapazes.Volta para onde vieste.Não te deixo entrar.
Deixa-me entrar só esta noite,Só esta, esta noite apenas.É só amor e ele traz felicidade!
Ouve como os cataventos se agitam!Vê como as estrelas se afogam!Não me deixes aqui à chuva.Abre, abre o teu quartinho!A tempestade, que na noite ameaça,Não traz tantos perigos ao viajanteQuanto a uma jovem raparigaAs lisonjas de um homem.
Se me negares, querida, esta graça,Será a impaciência a matar-me,E a minha morte prematuraSerá apenas tua culpa.
O passarinho que canta e voa,Enganado pelo caçadorAcaba por cair na sua redeDizendo: não te fies nas aparências!
Não, não, não te abro a portaPor muito mau que esteja o tempo aí fora,É o que te digo esta noite,Não te deixo entrar.
39
Si je n’étais captive,J’aimerais ce pays,Et cette mer plaintive,Et ces champs de maïs,Et ces astres sans nombre,Si le long du mur sombreN’étincelait dans l’ombreLe sabre des spahis.
Je ne suis point tartarePour qu’un eunuque noirM’accorde ma guitare,Me tienne mon miroir.Bien loin de ces Sodomes,Au pays dont nous sommes,Avec les jeunes hommesOn peut parler le soir.
Pourtant j’aime une riveOù jamais des hiversLe souffle froid n’arrivePar les vitraux ouverts.L’été, la pluie est chaude,L’insecte vert qui rôdeLuit, vivant émeraude,Sous les brins d’herbe verts.
Mais surtout, quand la briseMe touche en voltigeant,La nuit, j’aime être assise,Être assise en songeant,L’œil sur la mer profonde,Tandis que, pâle et blonde,La lune ouvre dans l’ondeSon éventail d’argent.
Se não estivesse presaAté gostaria desta terraE deste mar que se lamenta,E destes campos de milho,E destes astros inumeráveis,Não fora ao longo deste muroNa sombra brilharemOs sabres dos spahis.
Como não sou de raça tártaraOs negros eunucosNão me afinam a guitarra,Não me seguram no espelho.Longe desta Sodoma,No país em que nasciPoderia ao entardecerFalar com os jovens.
E no entanto gosto destas margensOnde nem no invernoO vento frio sopraPor entre os vidros abertos.No verão, a chuva é quente,Os insetos verdes que nos rodeiamBrilham como vivas esmeraldas,Sobre as verdes ervas.
Mas sobretudo, quando a brisaMe toca rodopiandoÀ noite, gosto de me sentar,De me sentar e sonharContemplando o profundo mar,Enquanto, pálida e clara,A lua abre sobre as águasO seu leque de prata.
LA CAPTIVE | A CATIVAVictor Hugo
40
Où vas-tu, blanc nuageQui seras loin demain,Le sais-tu, blanche image,De tout désir humain?Dans l’éther que tu voilesN’es-tu pas amoureuxEt jaloux d’une étoileQue tu caches à nos yeux?
N’es-tu pas, blanc nuage,Formé de tous les pleursQue la terrestre plageRépand sur ses douleurs?Avec cette couronneDes cœurs las de souffrir,Porte au Dieu qui pardonneLes pleurs du repentir!
Ainsi je suis la traceDu nuage changeant,Qui sème dans l’espaceFleur de gaze et d’argent...Puis, un instant je rêveA tous nos vœux perdus;Quand mon front se relèveLe nuage n’est plus!
Sabes tu para onde vais, branca nuvem,Que amanhã já longe estarás,Alva imagemDos desejos humanos?No céu que encobresNão estarás apaixonadaPor uma estrelaQue escondes à nossa vista?
Não serás formada, branca nuvem,Por todas as lágrimasQue a terraDerrama sobre as suas dores?E com esta coroaDos corações cansados de sofrerLevas ao Deus que perdoaO choro do arrependimento!
Assim sigo o rastoDa nuvem que se transforma,Que semeia no espaçoUma flor de gaze e prata…E, por um instante sonhoDe todos os juramentos desfeitos;E quanto volto a erguer a cabeçaA nuvem já desapareceu!
LE NUAGE | A NUVEMEdouard Plouvier
41
Adieu mes jours heureux,Mon ange aimé s’envole aux cieux!Hélas! sur son aile azuréeC’est une étoile qui s’enfuit,Car aujourd’hui le malheur luit,Je perds une fille adorée!
Le Ciel en sa bonté profonde,L’a mise un jour sur mon chemin,Mais comme le cristal de l’onde,Elle a passé sans lendemain.
Dors doucement dans les nuagesAvec les anges du Seigneur!Souvent au milieu des oragesMon âme ira trouver ton cœur,La seulement est le bonheur!
Attends-moi ! près de toi,Calme et sans effroi,Dans tes yeux radieuxJe verrai les cieux!
Adeus, dias de felicidade,O meu anjo adorado subiu aos céus!Ai de mim! com as suas asas azuladasÉ uma estrela que foge,Pois hoje a infelicidade nasceu,Perdi uma filha que adorava!
O Céu, na sua imensa bondade,A pôs no meu caminho,Mas, como as ondas cristalinas,Despareceu sem futuro.
Dorme suavemente entre as nuvensJunto aos anjos do Senhor!Muitas vezes, por entre tempestades,A minha alma irá procurar o teu coração.Pois só aí está a felicidade!
Espera por mim! junto a ti,Calmo e sem medo,Nos teus olhos radiososPoderei ver os céus!
UN AMOUR DANS LES NUAGES | UM AMOR POR ENTRE AS NUVENSTexto: Marc Constantin
Que dites-vous, que faites-vous, mignonne?Que songez-vous ? ne pensez-vous à moi?Avez-vous point souci de mon émoi,Et du tourment que votre orgueil me donne?
Que dizes, que fazes, minha linda?Em que pensas? não é em mim?Não te preocupa a minha inquietaçãoE o tormento que me provoca o teu orgulho?
QUE DITES-VOUS, QUE FAITES-VOUS, MIGNONNE? | QUE DIZES, QUE FAZES, MINHA LINDA?Texto: Pierre de Ronsard
42
De votre amour mon âme rayonne,En vous j’espère, comme en vous je croisJe vous entends absente, absente je vous voisEt mon penser d’autre amour ne résonne.
J’ai vos beautés, vos grâces et vos yeuxGravés en moi, et j’erre en mille lieux,Où je vous vis danser, parler et rire.
Je vous tiens mienne, et pourtant ne suis mien:En vous seule, en vous mon âme respire,Vous mes yeux, mon cœur, et mon malheur et mon bien.
A minha alma resplandece com o teu amor,Em ti espero. Em ti creio,Oiço-te quando estás ausente, e apesar de ausente te vejo.O meu pensamento só vibra com o teu amor.
A tua beleza, graça e olhosEm mim estão gravados e erro pelos locaisEm que te vi dançar, falar e rir.
Tenho-te por minha e no entanto não me pertenço:Só em ti a minha alma respira,Tu és os meus olhos, o meu coração e a minha desgraça e a monha felicidade.
En mon âme n’est écriteLa Rose, ni autre fleur;C’est toi, belle Marguerite,Dont je porte cette couleur.C’est toi, belle Marguerite,Qui possèdes mon cœur.
N’es-tu celle dont les yeuxOnt surprisPar un regard gracieuxMes esprits?Ta sœur, fille d’élite,N’est cause de ma douleur,C’est toi, belle Marguerite,Qui causes ma pâleur.
Na minha alma não tem lugarA Rosa, nem qualquer outra flor.És tu, bela Margarida,A cor que eu ostento.És tu, bela Margarida,Que possuis o meu coração.
Não foram os teus olhosQue surpreenderamCom um olhar graciosoOs meus pensamentos?A tua irmã, flor de elite,Não é culpada da minha dor.És tu, bela Margarida,A causa da minha palidez.
À MARGUERITTE | PARA MARGARIDATexto: Pierre de Ronsard
43
Du grand Turc je n’ai souci,Ni du grand Tartare aussi;L’or ne maîtrise ma vie,Aux Rois je ne porte envie;
Je n’ai souci que d’aimerMoi-même et me parfumerEt qu’une couronneDe fleurs le chef m’environne.
Le soin de ce jour me point,Du demain je n’en ai point.Et qui, bons Dieux! pourrait connaîtreSi un lendemain doit être?
Vulcain, en faveur de moi,Je te prie, dépêche-toiDe me tourner une tasse,Qui de profondeur surpasse
Celle de Nestor;Et je ne veux pas qu’elle soit d’or,Sans plus, fais-la-moi de chêne,Ou de lierre, ou de frêne.
Ne me grave point dedansPlastrons, morions, ni armes:Qu’ai-je souci des alarmes,Des assauts et des combats?
Aussi ne m’y grave pasNi le soleil, ni la lune,Ni le jour, ni la nuit brune,Ni les astres radieux:
Não me interessa o Grão-Turco,Nem o Grão-Tártaro;O ouro não manda na minha vida,E não invejo os Reis.
Apenas quero amorPor mim próprio e me perfumarE que uma coroaDe flores me cinja a cabeça.
Interessa-me o dia de hoje,O amanhã não, de todo.Pois quem, ó Deuses; poderá saberSe existe um amanhã?
Vulcano, em minha honra,Peço-te, depressa,Forja-me um cáliceQue seja mais fundo
Que o de Nestor;E não quero que ela seja em ouro,Fá-la antes de carvalho,De hera ou de freixo.
E dentro não gravesArmas nem troféus:Que me interessam os alarmesDos assaltos e dos combates?
E também não gravesNem o sol nem a lua,Nem o dia, nem a noite escura,Nem os astros resplandecentes:
DU GRAND TURC JE N’AI SOUCI | NÃO ME INTERESSA O GRÃO-TURCOTexto: Pierre de Ronsard
44
Mais peins-moi, je te supplie,D’une treille le repli;Peins une vigne avec des grappes de raisins;
Peins-y des fouleurs de vins,Le nez et la rouge trogneD’un Silène et d’un ivrogne.
Mas reproduz, peço-te,O contorno de uma latada,E uma vinha com cachos de uva;
Retrata o pisar do vinho,E o nariz e a carantonha vermelhaDum Sileno e de um bêbado.
Wer reitet so spät durch Nacht und Wind?Es ist der Vater mit seinem Kind;Er hat den Knaben wohl in dem Arm,Er faßt ihn sicher, er hält ihn warm.
Mein Sohn, was birgst du so scheu dein Gesicht? –Siehst, Vater, du den Erlkönig nicht?Den Erlenkönig mit Kron’ und Schweif?Mein Sohn, es ist ein Nebelstreif. –
“Du liebes Kind, komm, geh mit mir!Gar schöne Spiele spiel’ ich mit dir;Viel bunte Blumen sind am Strand;Mein Mutter hat manch’ güldnes Gewand.”
Mein Vater, mein Vater, und hörst du nicht,Was Erlenkönig mir heimlich verspricht?-Sei ruhig, bleibe ruhig, mein Kind;In dürren Blättern säuselt der Wind. –
Quem cavalga tão tarde por entre a noite e o vento?É o pai com o seu filho;Ele tem o rapaz nos seus braços,Segura-o firmemente e mantem-no quente.
Meu filho, porque escondes medroso a tua cara? – Meu pai, não vês o Rei dos Álamos?O Rei dos Álamos com a sua coroa e manto?Meu filho é apenas o nevoeiro. –
“Querido menino, vem comigo!Vou brincar contigo lindos jogos;A margem está coberta de lindas flores;E a minha mãe tem vestes resplandecentes.”
Meu pai, meu pai, e não ouves tuO que o Rei dos Álamos em segredo me promete?Está calmo, fica calmo, meu filho;É o vento por entre as folhas secas. –
ERLKÖNIG | O REI DOS ÁLAMOSTexto: Johann Wolfgang von Goethe
45
“Willst, feiner Knabe, du mit mir gehn?Meine Töchter sollen dich warten schön;Meine Töchter führen den nächtlichen Reihn,Und wiegen und tanzen und singen dich ein.”
Mein Vater, mein Vater, und siehst du nicht dortErlkönigs Töchter am düstern Ort? -Mein Sohn, mein Sohn, ich seh’ es genau;Es scheinen die alten Weiden so grau. -
“Ich liebe dich, mich reizt deine schöne Gestalt;Und bist du nicht willig, so brauch’ ich Gewalt.” -Mein Vater, mein Vater, jetzt faßt er mich an!Erlkönig hat mir ein Leids gethan! -
Dem Vater grauset’s, er reitet geschwind,Er hält im Arme das ächzende Kind,Erreicht den Hof mit Mühe und Noth;In seinen Armen das Kind war todt.
“Queres vir comigo, lindo rapaz?As minhas filhas estão à tua espera;Elas conduzem as danças noturnas,E vão embalar-te, dançando e cantando.”
Meu pai, meu pai, e não vês aliAs filhas do Rei naquele ermo? – Meu filho, meu filho, claro que vejo;Os velhos salgueiros parecem tão sinistros. –
“Gosto de ti, agrada-me a tua bela figura;E se não vieres de livre vontade vou usar a minha força.”Meu pai, meu pai, ele está a agarrar-me!O Rei dos Álamos magoou-me! –
O pai assusta-se e cavalga veloz,Segura nos seus braços o rapaz que geme,Com dificuldade consegue chegar à quinta;Nos seus braços a criança está morta.
46
Le soir descend sur la colline;La montagne au loin brille encor;La fraîcheur sereine et divineS’exhale des nuages d’or.
D’où vient le bonheur qu’on respire?D’où vient cette étrange douceur?D’où vient qu’il n’est pas de martyreQui ne cède au soir enchanteur?
Le lac, sur son eau transparenteQue ride à peine un souffle pur,Laisse glisser la barque erranteQui se mire dans son azur.
D’où vient qu’au suave murmure,Au doux balancement des eaux,Il n’est pas de douleur qui dure,Et que l’oubli succède aux maux?
Lorsqu’au souffle des nuits prochainesOn vogue sur le lac profond,D’où vient qu’on ne sent plus ses chaînesEt qu’en désirs l’âme se fond?
C’est que sur l’eau, dans le silence,Fuyant chaumières et palais,L’esquif emporte une espérance:Celle de n’aborder jamais!
C’est que, dans l’azur de ses voiles,La nuit porte un espoir divin:Celui d’un jour semé d’étoilesDont l’aurore croîtra sans fin!
A noite desce sobre a colina;Ao longe a montanha ainda brilha;Uma frescura serena e divinaEmana das nuvens douradas.
De onde vem esta felicidade que se respira?De onde esta estranha doçura?Porque não haverá martírioQue não se desvaneça perante a encantadora noite?
O lago nas suas águas transparentes,Apenas levemente enrugadas pelo puro vento,Deixa a barca errante deslizarRefletindo-se no seu azul.
Porque será que perante este murmúrioPerante este doce baloiçar das águas,Não há dor que perdureE que o esquecimento sucede aos tormentos?
Porque será que, nestas noites,Vogando sobre o profundo lago Não sentimos as nossas amarrasE que a nossa alma se desfaz em desejos?
É porque sobre a água, em silêncio,Fugindo cabanas e palácios,A embarcação só tem uma esperança:Nunca ancorar!
É porque, por entre velas azuladas,A noite tem uma divina esperança:A de um dia semeado de estrelasCuja aurora nunca terá fim!
LE SOIR | A NOITETexto: Marceline Desbordes-Valmore
47
Les fleurs dorment sur la prairie,La nuit est claire, viens, ma sœur!Du soir et de la rêverieGoutons ensemble la douceur!
Viens! la lune mystérieuseMonte dans l’ombre pour mieux voir,Et nous regarde, curieuse,Par-dessus le grand pin noir!
Vois-tu comme tout est tranquilleAux bois, aux champs et dans le cielOn dirait que l’heure immobileS’arrête en son cours éternel,
Et que voyant la nuit si belleLe temps, las de voler,Replie un moment sa grande aileEt s’oublie à la contempler!
L’homme s’en va! les vents effacentLa faible empreinte de ses pas!Les spectateurs changent et passentLe spectacle ne change pas!
Mais sur son char la nuit s’avanceC’est l’heure noire du sommeilViens, ma sœur, et dans l’espéranceAllons attendre le soleil!
As flores dormem nos prados,A noite está clara, vem, minha irmã!Juntos, vamos saborear a doçuraDa noite e dos sonhos!
Vem! a lua misteriosaJá se ergue por entre as sombras para ver melhor,E curiosa, nos espiaPor sobre o grande pinheiro negro!
Repara como tudo está tranquiloNos bosques, nos campos e no céu.Dir-se-ia que as horas imóveisSuspenderam o seu eterno percurso,
E que, vendo uma noite tão bela,Cansado de voar, o tempoFechou a sua grande asaE parou para contemplar!
O homem passa! os ventos apagamAs ténues marcas dos seus passos!Os espectadores mudam e passamO espetáculo é sempre o mesmo!
Mas no seu carro a noite avançaÉ a escura hora do sono.Vem minha irmã, e esperançososVamos esperar pelo sol!
PAR UNE BELLE NUIT | UMA BELA NOITETexto: Comte de Ségur
48
Seus lindos olhosMal que me viramCrucis feriramMeu coração.Se Amor protegeA chama nossa,Talvez se mova A compaixão.
Vir pode um dia,Dia d’encanto,Qu’em que o prantoVertido em vão.Se Amor alentaEsta esperançaEm paz descansaMeu coração.
SEUS LINDOS OLHOSTexto popular português
Tradução: João Paulo Santos
49
CÁTIA MORESO || meio-soprano
Estudou na Guildhall School of Music and Drama, em Londres, onde obteve a licenciatura em canto e mestrado (Curso de Ópera) como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Esteve também no National Opera Studio. O seu repertório de ópera inclui, entre outros, Lucia, em “La gazza ladra”, Dorabella, em “Così fan tutte”, Jocasta, em “OEdipus Rex”, Ježibaba, em “Rusalka”, Suzuki, em “Madama Butterfly”, Maddalena, em “Rigoletto”, Eboli, em “Don Carlo”, La cieca, em “La Gioconda”, Giano, em “Il Trionfo d’Amore”, Dianora e Elisa, em “La Spinalba”, Madame de Croissy, em “Dialogues des Carmélites”, Carmella, em “La vida breve de Falla” (Tanglewood), Carmen, Santuzza, em “Cavalleria Rusticana” e Mrs. Quickly, em “Falstaff”. Em concerto, foi solista, entre outros, em “A Child of our Time”, “Requiem” de Verdi, Duruflé, Mozart e Bomtempo, “Stabat Mater” e “Magnificat” de Pergolesi, “Magnificat”, Oratórios de Natal e Páscoa e “Paixão segundo São João” de Bach, “Stabat Mater” e “Petite messe solennelle” de Rossini, “Elijah” de Mendelssohn, “Messiah” de Händel, “L’Enfance du Christ” de Berlioz e “Nona Sinfonia” de Beethoven.
BIOGRAFIAS
50
JOÃO RODRIGUES || tenor
Nasceu em Lisboa, integrou os elencos de “Porgy and Bess”, “Die Meistersinger von Nürnberg”, “Parsifal”, “Le Vin Herbè”, “Il Matrimonio Segreto”, “Così fanTutte”, “Die Zauberflöte”, “Susana”, “A Floresta”, “A Vingança da Cigana”, “Raphael Reviens”, “Francesca da Rimini”, “Salome”, “Bataclan”, “Jerusalém”, “Paint me”, “L’Arco di Sant’Anna”, “Tição Negro”, “Inês de Castro”.Cantou com várias orquestras do panorama nacional, estreou obras de E. Carrapatoso, N. Côrte-Real, V. Mendonça, L. Tinoco, e efetuou concertos com os pianistas N. Vieira de Almeida, J. Paulo Santos, J. Crisóstomo, N. Lopes, F. Sassetti.Estudou canto na Escola Artística de Música do Conservatório Nacional, com F. Amaro, na Escola Superior de Música de Lisboa com L. Madureira, H. Pina Manique e E. Saque. Realizou aperfeiçoamento com J. Lourenço.
ANTÓNIO FIGUEIREDO || violino
Obteve o Diploma de Pós Graduação da Royal Academy of Music em 1996 na classe do professor Eric Gruenberg.É membro da Orquestra Sinfónica Portuguesa do Teatro Nacional de São Carlos desde 1997. Participou vários anos na Orquestra de Jovens da Comunidade Europeia, trabalhando com vários maestros de renome, como: Carlo Maria Giulini, Mstislav Rostropovitch, Bernard Haitink, Vladimir Ashkenazy, entre outros.É laureado no Prémio Jovens músicos na edição 1989, 1º prémio na categoria de violino e é o concertino principal da Orquestra Sinfonietta de Lisboa.António Figueiredo é, ainda, um dos membros fundadores do quarteto Vianna da Motta.Desde 2015 que tem sido convidado para integrar a Orquestra Internacional de Itália.
51
IRENE LIMA || violoncelo
Natural de Lisboa, iniciou os estudos musicais com Adriana de Vecchi e Fernando Costa na Fundação Musical dos Amigos das Crianças. Estudou em Paris com André Navarra e Philippe Muller. Apresentou-se a solo com orquestra e em formações de câmara em vários países, designadamente, Espanha, França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Itália, Brasil e Macau. É de referir a sua atuação com a Orquestra Sinfónica da RTL, com a qual executou o “Concerto de Câmara com Violoncelo obligato”, de Fernando Lopes-Graça, que lhe valeu elogiosa crítica, assim como atuações a solo com a Orquestra Sinfónica de Macau e a Sinfonia de Varsóvia, entre outras. Forma um duo com o pianista João Paulo Santos.Gravou para a EMI Classics a “Sonata para Violoncelo e Piano”, de Luís de Freitas Branco, e um disco com obras de Vivaldi, Boccherini e Bréval. É atualmente Primeiro Violoncelo da Orquestra Sinfónica Portuguesa, lugar que ocupou igualmente na Orquestra do Teatro Real de Liège e na Orquestra do Teatro Nacional de São Carlos. Leciona Música de Câmara na Escola Superior de Música de Lisboa.Apresenta-se regularmente em diversos festivais internacionais e temporadas de concertos, como o Festival Internacional EUROPAMÚSICA, em Itália, ou a Festa da Música, e com pianistas como Bruno Canino, Tânia Achot, Jorge Moyano, Roberto Arosio, Sónia Rubinsky. Filipe de Sousa e Alexandre Delgado dedicaram-lhe obras para violoncelo solo.
52
JOÃO PAULO SANTOS || piano
Nascido em Lisboa em 1959, concluiu o curso superior de Piano no Conservatório Nacional desta cidade na classe de Adriano Jordão. Trabalhou, ainda, com Helena Costa, Joana Silva, Constança Capdeville, Lola Aragón e Elizabeth Grümmer. Como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, aperfeiçoou-se em Paris com Aldo Ciccolini (1979-84). A sua carreira atravessa os últimos 43 anos da história do Teatro Nacional de São Carlos, onde principiou como correpetidor (1976). Seguiu-se o cargo de Maestro Titular do Coro (1990-2004); desempenha atualmente as funções de Diretor de Estudos Musicais e Diretor Musical de Cena. Estreou-se na direção musical em 1990 com “The Bear” (W. Walton), encenada por Luís Miguel Cintra, para a RTP. Tem dirigido óperas para crianças (Menotti, Britten, Henze e Respighi), musicais (Sondheim), concertos e óperas nas principais salas nacionais. Estreou em Portugal, entre outras, as óperas “Renard” (Stravinski), “Hanjo” (Hosokawa), “Pollicino” (Henze), “Albert Herring” (Britten), “Neues vom Tage” (Hindemith), “Le Vin Herbé” (Martin) e “The English Cat” (Henze) cuja direção musical ganhou o Prémio Acarte 2000. Destacam-se, ainda, as estreias absolutas que fez de obras de Chagas Rosa, Pinho Vargas, Eurico Carrapatoso e Clotilde Rosa. A recuperação e reposição do património musical nacional ocupam um lugar significativo na sua carreira, sendo responsável pelas áreas de investigação, edição e interpretação de obras dos séculos XIX e XX. São exemplos as óperas “Serrana”, “Dona Branca”, “Lauriane” e “O espadachim do outeiro”, que já foram encenadas no Teatro Nacional de São Carlos e no Centro Cultural Olga Cadaval. Fez inúmeras gravações para a RTP e gravou discos com um repertório diverso. Colabora como consultor ou na direção musical em espetáculos de prosa encenados por João Lourenço e Luís Miguel Cintra.
53
PSM
L | L
uís
Dua
rte
54
PSM
L | L
uís
Dua
rte
55
PROGRAMA
Claude Debussy (1862-1918)• Quarteto de Cordas em Sol menor, L. 85, op. 10
I. Animé et très décidéII. Assez vif et bien rythméIII. Andantino, doucement expressifIV. Très modéré – En animant peu à peu – Très mouvementé et avec passion
Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893)• Quarteto de Cordas nº1, em Ré Maior, op. 11
I. Moderato e sempliceII. Andante cantabileIII. Scherzo. Allegro non tanto e con fuocoIV. Finale. Allegro giusto – Allegro vivace
20/03 SEXTA-FEIRA || 21:00
Debussy e Tchaikovsky – Dois compositores e uma benfeitora
QUARTETO TEJO ANDRÉ GAIO PEREIRA || violino TOMÁS SOARES || violino SOFIA SILVA SOUSA || violaBEATRIZ RAIMUNDO || violonceloPrémio Jovens Músicos 2019 /// 1º Lugar na categoria de Música de Câmara - Nível Superior
Young Musicians Award 2019 /// 1st Prize in the Chamber Music category - Higher Level
56
DOIS COMPOSITORES UNIDOS PELA MESMA BENFEITORA
Não consta que Tchaikovsky e Debussy se tenham alguma vez encontrado,
mas uma época houve em que cada um ouviu falar do outro e inclusive leu
música do outro: foi entre 1880 e 1882, quando Achille de Bussy (assim
rezava o seu nome nessa altura) privou vários meses em cada um desses
anos com Nadezhda von Meck (1831-94) e sua família. Ora esta senhora
era uma entusiasta ‘de primeira hora’ de Tchaikovsky e, através de Nikolay
Rubintein e Iosif Kotek, iniciara em 1877 uma relação epistolar com
o compositor, “reforçada” por uma bolsa anual que visava permitir
a Tchaikovsky dedicar-se a 100% à composição2.
É pois óbvio que o jovem Achille (tem ainda 17 anos quando primeiro se
apresenta diante da senhora, em Interlaken, na Suíça), ao entrar neste
‘meio’, fosse confrontado com a música de Tchaikovsky: Nadezhda pedia-
lhe amiúde que a tocasse ao piano, fosse a solo, fosse a 4 mãos com ela,
e Debussy fez, a seu pedido, uma redução para piano de três danças do
‘Lago dos Cisnes’ que ela mandou editar por Jurgenson (Moscovo). Já
Tchaikovsky ouviu falar do jovem francês através dos relatos que dele
Nadezhda fazia nas suas cartas – ela dizendo-lhe inclusivé que Debussy
apreciava muito a sua música (se tal é fidedigno, Debussy alteraria
radicalmente a sua opinião mais tarde…) –, mas também o russo conheceu
algo mais de Debussy: a dada altura, a sua amiga enviou-lhe a ‘Danse
bohémienne’ para que ele emitisse uma apreciação, o que Tchaikovsky fez
de facto numa das cartas seguintes3.
Esta época fica situada a meio entre a composição do Quarteto de
Tchaikovsky e o de Debussy. Curioso é que ambos os escreveram com
a mesma idade: Tchaikovsky tinha 30 anos quando escreveu o seu 1.º
Quarteto e Debussy terminou o seu por alturas do 31.º aniversário, em
Agosto de 1893. Mas enquanto o russo dedicou pouco mais de um mês
ao trabalho de composição, Debussy “arrastou” o seu por quase um ano4,
tendo-lhe sido particularmente árduo o 4.º andamento. A estreia ocorreria
2 Nos 13 anos e meio que durou a ligação, eles nunca se falaram e só se viram por três vezes (a distância foi condição imposta por ela)!
3 A opinião de Tchaikovsky foi bastante desfavorável.4 Pela mesma época, Debussy trabalhava no ‘Prélude à l’après-midi d’un faune’, outra obra de morosa
gestação, que estrearia em 1894 e estabeleceria a sua fama. É caso para dizer: ‘uma revolução de cada vez’!
57
a 29 de Dezembro de 1893, num concerto da Société Nationale de
Musique, em Paris, pelo Quarteto Ysaÿe, dedicatários da obra.
Não havia, então ainda, muitos exemplos de quartetos de cordas franceses,
mas por outro lado estava ainda fresca na memória a estreia triunfal, em
Abril de 1890, do Quarteto de César Franck, um momento marcante na
música de câmara francesa. Essa obra seria editada em 1892 e quem sabe
se tal terá encorajado Debussy a lançar-se em empresa semelhante, já que
é em 1892 que ele inicia a obra...
Este Quarteto contém aspectos bastante singulares no quadro da produção
de Debussy, porque ‘clássicos’ (ou tradicionais): é a sua única obra com
indicação de tonalidade e número de opus, tem quatro andamentos
diferenciados e caracterizados de acordo com a tradição, eles seguem além
disso esquemas formais clássicos, e há até a adopção dos procedimentos
cíclicos (e de derivação motívica) que eram a imagem de marca do estilo
de Franck. Mas é evidente a preocupação por uma obra sólida, coesa
e rica de referências internas. E é engraçado como os ‘pizzicati’ do 2.º
andamento lembram o Tchaikovsky da 4.ª Sinfonia; ou certos momentos
desse andamento prenunciem Shostakovitch; ou o neoclassicismo ‘avant la
lettre’ de certas passagens do andamento lento.
Já o Quarteto de Tchaikovsky ocupa no repertório russo um lugar análogo
ao de Franck em França: é o primeiro grande quarteto de cordas da escola
russa5. Não deixa por esse facto de ser notável a perfeição de inspiração
e acabamento da obra – aliás, o próprio compositor muito pouca música
de câmara escrevera até então! Igualmente a celeridade com que ele
a escreveu, como acima aludimos, e a circunstância muito prática que
determinou a sua composição: um concerto com obras suas, que lhe fora
sugerido como meio de se apresentar aos ‘connoisseurs’ de Moscovo6. Esse
concerto deu-se no final de Março de 1871, na Sala Pequena da Sociedade
dos Nobres, na referida cidade, tendo o Quarteto n.º 1 obtido um sucesso
imediato e que nunca esmoreceu, com particular ênfase para o ‘Andante
cantabile’. E forçoso é constatar que se verifica nesta obra uma síntese feliz
5 Anteriores a esse, apenas ensaios incipientes de Mikhail Glinka.6 Tchaikovsky era professor do Conservatório de Moscovo desde a respectiva criação, em 1866.
58
de influências (Beethoven e Schubert, antes de mais), de ‘russismos’ (seja
a faceta mais expansiva, seja a mais interiorizada dessa ‘fonte’ cultural),
assim como da própria técnica (bem reconhecível) de Tchaikovsky, cuja
natureza eminentemente sinfónica o compositor soube dosear com
criteriosa sabedoria.
BERNARDO MARIANOMusicólogo
59
BIOGRAFIA
QUARTETO TEJO
O Quarteto Tejo teve origem nas margens do rio que lhe dá o nome, em Belém, após quatro músicos residentes no estrangeiro se terem encontrado num curso de aperfeiçoamento e tocado em conjunto. O entusiasmo por abordar a música sem barreiras formais e por experimentar diferentes sentimentos e ideias em união, levou-os a formalizar o quarteto. Desde a sua formação, em dezembro de 2018, o ensemble já se apresentou em Lisboa, Porto e Castelo Branco. Em abril de 2019, foi um dos grupos selecionados para a residência artística em West Dean College, Inglaterra, onde recebeu instrução intensiva do Quarteto Chilingirian. Outros mentores que orientam o quarteto são os professores Paul Wakabayashi e Paulo Gaio Lima.Em julho do mesmo ano, o grupo obteve o 1º Prémio no Prémio Jovens Músicos, categoria de Música de Câmara - Nível Superior, o que propulsionou a agenda de concertos.Nesta temporada, o quarteto já se apresentou na Temporada de Música em S. Roque no ciclo “Ouvidos para a Música”, com Martim Sousa Tavares, viajou até Viseu para recital e masterclasses no Conservatório Regional de Música, e tocou na Fundação Calouste Gulbenkian como participante do Festival Jovens Músicos. A presente temporada contará, ainda com concertos no Palácio da Ajuda, no Palácio Nacional da Pena, na Casa da Música, no Festival Estoril Lisboa e no Festival Internacional da Póvoa de Varzim, entre outros.
60
PSM
L | L
uís
Dua
rte
61
PROGRAMA
Nikolai Medtner (1879-1951)• Sonata Reminiscenza em Lá menor, op. 38, n.º 1
Sergei Rachmaninoff (1873-1943)• Etudes-tableaux, op. 39
n.º 1 em Dó menor, Allegro agitaton.º 2 em Lá menor, Lenton.º 3 em Fá sustenido menor, Allegro molton.º 4 em Si menor, Allegro assain.º 5 em Mi bemol menor, Appassionaton.º 6 em Lá menor, Allegron.º 7 em Dó menor, Lento lugubren.º 8 em Ré menor, Allegro moderaton.º 9 em Ré Maior, Allegro moderato: Tempo di Marcia
21/03 SÁBADO || 21:00
Crepúsculos românticos russos
NUNO VENTURA DE SOUSA || piano
62
CREPÚSCULOS ROMÂNTICOS RUSSOS
As obras dos opp. 38-40 são das últimas que Nikolay Medtner escreve na Rússia.
Trata-se de três ciclos intitulados ‘Melodias esquecidas’ e agrupando no total 19
peças (8+5+6). Os 2.º e 3.º ciclos datam de 1918-20, ao passo que o 1.º ciclo, que
abre com a presente sonata, foi iniciado em 1916 e só seria terminado em 1922.
Na verdade, Medtner estreou uma versão primitiva desse ciclo (sem os actuais
nos. 4 e 5 e com uma ordenação diferente) a 28 de Janeiro de 1921, em Moscovo.
Nove meses depois, no final de Outubro, com a Guerra Civil a aproximar-se do fim
e a vitória bolchevique cada vez mais clara, Medtner e sua mulher decidem-se pela
emigração: embarcam para Stettin (actual Szczecin, Polónia), daí seguindo para
Berlim, onde residirão até 1923. Passam depois a Paris e, a partir de 1935, Londres.
A primeira edição dos três ciclos das ‘Melodias esquecidas’ (1922 para os nos.1 e 3;
1923 para o n.º 2) data já portanto do período pós-emigração.
A ‘Sonata reminiscenza’ organiza-se num único bloco, divisível em várias
secções, numa interpretação pessoal da forma-sonata. Ela abre com o ‘tema da
reminiscência’ (‘Allegretto tranquillo/Andantino con moto’, indicado ‘piano’ e
‘semplice’), que reaparecerá sensivelmente a meio e, depois, a concluir a obra.
Ele é no fundo o único elemento imutável num intricado tecido motívico e
polifónico sujeito a constante derivação e metamorfose (assim gerando novos
motivos) e no qual ressaltam 2 grupos temáticos principais: um, indutor de
movimento, que aparece logo após a “reminiscência” inaugural e outro (indicado
‘Svegliando’) que surge após a 2.ª enunciação da mesma e que é, digamos, o
polo instável. Um e outro são sujeitos a desenvolvimentos autónomos, antes de
serem combinados num desenvolvimento terminal que termina num clímax. A
‘ponte’ que segue traz enfim a cristalização dos contrastes, abrindo assim a porta
à tranquila reaparição final da ‘reminiscência’.
Amigos de toda a vida foram Medtner e Rakhmaninov. Quando Medtner
deixou a Rússia, já há 3 anos que Rakhmaninov se fixara em Nova Iorque
e já quase 4 haviam passado desde que deixara a Rússia, três dias antes do
Natal de 1917. Generoso como sempre foi, Rakhmaninov muito fez em prol
do amigo, ajudando-o financeiramente e esforçando-se para lhe arranjar
concertos e digressões, mas o temperamento de Medtner, por demais
reservado, nunca se adaptou ao ritmo e exigências da vida de concertista que,
pelo contrário, Rakhmaninov abraçou.
63
A par dos ‘Prelúdios’ e das (mais tardias) ‘Variações de Corelli’, os ‘Études-
Tableaux’ são as obras para piano solo mais conhecidas e frequentadas de
Rakhmaninov. Eles surgiram em dois cadernos: opus 33, com seis, escritos no
Verão de 1911, em Ivanovka7; e op. 39, com nove, escritos na grande maioria em
Moscovo, em Setembro-Outubro de 1916 e em Fevereiro de 1917 – a respectiva
conclusão coincidindo, portanto, com a revolução em Petrogrado que levou à
abdicação do czar e ao fim da monarquia. Se repararmos que no op. 39 só o
‘Estudo’ final (‘et pour cause’…) está em tonalidade maior, perceberemos algo do
estado de espírito do compositor nesse sombrio período.
A designação ‘Estudo-Quadro’ ilustra bem o propósito de Rakhmaninov ao
escrever estas peças: há por um lado o desafio técnico que cada um deles
constitui, mas existe outrossim uma certa atmosfera, um certo ambiente ou
“cenário” (que Rakhamaninov ciosamente mantinha no abstracto) que cada
intérprete é convidado a descobrir/recriar.8 Esta opção de Rakhmaninov tem algo
de muito anti-impressionista e é engraçado que por esta altura, Paul Klee e Vassili
Kandinsky faziam correspondências abstractas entre a pintura e a música…
Quando escutamos atentamente estas obras, percebemos o muito que une
Rakhmaninov e Medtner: ambos formidáveis pianistas e um mesmo gosto pela
economia de meios, pela expressão concisa e por estruturas sólidas e compactas.
A diferença no universo sonoro explica-a em boa medida a diferença das
respectivas personalidades (e do ‘génio’…), enquanto homens e enquanto pianistas.
Nestas nove “jóias”, refiramos a “sombra” longínqua de Chopin nos nos. 1 e 5;
a presença do motivo do ‘Dies Irae’ (típico do compositor) no n.º 2; a bizarra,
porque robusta e vigorosa, ‘Gavotte’ do n.º 4; o contraste marcado dos dois
elementos temáticos do n.º 6; o carácter pesado e lamentoso do n.º 7, talvez
o mais enigmático do conjunto; o percurso emocional ascensional do n.º 8;
por fim, a fusão do marcial, do arrebatado e do cavalheiresco no n.º 9.
BERNARDO MARIANOMusicólogo
7 Propriedade rural de Rakhmaninov (na verdade, da família da sua mulher), situada na província de Tambov, de que o compositor muito gostava e onde escreveu numerosas obras.
8 A única excepção está numa carta, datada de 2/1/1930, enviada por Rakhmaninov a Ottorino Respighi e onde ele explica as imagens que presidiram a 4 dos Estudos-Quadro, op. 39: n.º 2: mar e gaivotas; n.º 6: história do Capuchinho Vermelho e do lobo; n.º 7: marcha (fúnebre), coro, chuva e sinos; n.º 9: feira com laivos de marcha oriental.
64
BIOGRAFIA
NUNO VENTURA DE SOUSA || piano
Nasceu no Porto em 1996 e iniciou os seus estudos de piano na classe da professora Maria José Souza Guedes, no Conservatório de Música do Porto, com quem terminou o curso, em 2014, com classificação máxima. Foi admitido na Escola Superior de Música de Hannover e na Universidade do Norte do Texas, escolhendo esta última para prosseguir os seus estudos com o Professor Vladimir Viardo. Depois de se graduar nesta escola em 2017, encontra-se atualmente a realizar o mestrado em performance na Universidade de Música e Artes de Performance de Viena com o conceituado Professor Jan Jiracek von Arnim.Nuno Ventura de Sousa obteve mais de cinco dezenas de prémios em concursos nacionais e internacionais em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Sérvia, Montenegro e Estados Unidos, destacando-se os 1os Prémios no Concurso Santa Cecília (Portugal), no Concurso Antón García Abril (Espanha) e no Concurso Internacional “Manja” (Montenegro), os 2os Prémios no Concurso “César Franck” (Bélgica) e no concurso Manhattan (Nova Yorque, em ex-aequo). Venceu, ainda, o Prémio “CMP/Casa da Música”, o Prémio “CMP/Orquestra do Norte”, a “Bolsa BPI” (Portugal) e a bolsa “Isabel Scionti” (Estados Unidos).Realizou numerosos recitais em diversas salas da Europa, EUA e Japão. Destaca-se a abertura do Ciclo de Piano EDP de 2016 e 2019, na Casa da Música do Porto, e os recitais na Fundação Engenheiro António de Almeida. Participou em masterclasses orientadas por professores de renome, tais como Dmitri Bashkirov, Arie Vardi, Andrei Diev, Alexander Tutunov, Nikolai Medvedev e Logan Skelton. Recebeu, ainda, conselhos de Gabriel Sanchez, Artur Pizarro, Lovro Pogorelich e Boris Kraljevic.
65
BIOGRAFIA
PSM
L | L
uís
Dua
rte
66
PSM
L | L
uís
Dua
rte
PSM
L | L
uís
Dua
rte
67
PROGRAMA
Johannes Brahms (1833-1897)• Sonata para viola e piano, em Fá menor, op. 120, n.º 1
Allegro appassionatoAndante un poco adagioAllegretto graziosoVivace
• Quatro LiederWie Melodien zieht es mir, op. 105, n.º 1Immer leiser wird mein Schlummer, op. 105, n.º 2Ständchen, op. 106, n.º 1Von ewiger Liebe, op.43, n.º 1
• Fantasias, op. 116n.º 1. Capriccion.º 2. Intermezzon.º3. Capriccio
• Zwei Gesänge, op. 91, para voz, viola e pianon.º1. Gestillte Sehnsuchtn.º2. Geistliches Wiegenlied
27&28/03 SEXTA-FEIRA e SÁBADO || 21:00
Retratos intimistas de Johannes Brahms
SARA MINGARDO || altoMAURIZIO PACIARIELLO || pianoLUCA SANZÒ || violeta
68
RETRATOS INTIMISTAS DE JOHANNES BRAHMS
O programa desta noite, reunindo seis ‘Lieder’ e duas obras instrumentais/de
câmara da sua última fase criativa, permite desenhar os traços dominantes
da personalidade (humana e artística) de Johannes Brahms.
No caso das duas Sonatas, op. 120, é sobejamente conhecida a dívida que
a sua origem e concretização têm para com a figura do clarinetista Richard
Mühlfeld (1856-1907). Foi para ele que Brahms escreveu em 1894 este par
de obras, mas quando as deu a editar no ano seguinte, permitiu a possibilidade
de o clarinete ser trocado pela viola de arco. A Sonata em fá menor tem um
1.º andamento em forma-sonata, com um ‘motto’ (apresentado logo de início
pelo piano, em oitavas), um tema principal no clarinete, uma ideia secundária
derivada do ‘motto’ e um tema secundário mais ‘agitato’. Na ‘coda’, indicada
‘Sostenuto ed espressivo’, regressa o ‘motto’, que o clarinete por fim apazigua
fechando-o em fá maior. O ‘Andante un poco adagio’ mantém o fá menor e
é um soberbo exemplo da máxima poesia atingida com desarmante economia
e simplicidade de meios. O ‘Allegretto grazioso’ (láb M) é uma infusão sadia de
rusticidade, num ‘Ländler’ bem disposto, tendo no centro um ‘Trio’ escorreito.
O ‘Vivace’ conclusivo (já em fá M) é uma maravilha de construção motívica,
com uma variedade de atmosferas, que vão do gracioso ao brincalhão e da
intensidade calma àqueloutra resfolegante. O final é simples, solar e alegre.
De 1892 são as sete ‘Fantasias, op. 116’. Elas inauguram a série soberba de
peças curtas para piano (20 no total), agrupadas sob os opp. 116-119
(de 1892-93), as últimas “pérolas” de Brahms para o piano solo. A criação
destas obras está intimamente ligada aos verões muito aprazíveis que Brahms
passou em Bad Ischl9, uma estância de veraneio muito elegante e frequentada
pela boa sociedade vienense do tempo, incluindo a família imperial.
O op. 116 agrupa quatro ‘Intermezzi’ (nos. 2, 4, 5 e 6) e três ‘Capricci’
(nos. 1, 3 e 7), aquelas peças mais meditativas, estas peças mais vigorosas.
O primeiro ‘Capriccio’, em ré menor, está indicado ‘Presto energico’ e é de
carácter trágico. Já o segundo ‘Capriccio’ (n.º 3) é um ‘Allegro passionato’
em sol menor, de escrita escandida, com um ‘Poco meno allegro’ central
de um fervor hínico. Entre eles está o primeiro dos ‘Intermezzi’, um belíssimo
9 Estância situada a leste de Salzburgo, no Salzkammergut.
69
‘Andante’ (em 3/4) em lá menor, com uma mais desanuviada secção
‘Non troppo presto’ em 3/8. Com o seu carácter contrastante, ‘Capricci’
e ‘Intermezzi’ permitem, pela sua complementaridade, reter a quintessência do
estilo pianístico de Brahms e pressentir a profundidade emocional que nelas
encerrou um compositor no Outono da sua vida.
‘Wie Melodien zieht es mir’ e ‘Immer leiser wird mein Schlummer’ são as
canções que abrem o conjunto de cinco agrupadas mais tarde sob o númerop
de ‘opus’ 105 e foram escritas no Verão de 1886, que Brahms passou em Thun
(Suíça). É provável que Brahms as tenha escrito tendo em mente a voz de
contralto de Hermine Spies (1857-93), uma das cantoras que mais admirou e
que frequentemente acompanhava em recital. Ouviram-se pela primeira vez,
respectivamente, em Viena, em 1887 e em Berlim, em 1888, aqui por Amalie
Joachim (ver abaixo).
Igualmente de 1886 é ‘Ständchen’. Nesta serenata (os efeitos da cítara/
guitarra estão lá), três estudantes cantam e tocam à amada de um deles, a
qual, mesmo dormindo, recebe nos sonhos os sons da bela canção que lhe
entra janela adentro...
‘Von ewiger Liebe’ é um dos ‘Lieder’ mais famosos de Brahms e data de 1864.
Um narrador, descrito o cenário – num campo arborizado, ao anoitecer – relata
a dúvida de um rapaz ante o amor da namorada e a profissão de fé desta no
amor que os une…
Por fim, os dois ‘Lieder’ op. 91 continuam uma tradição inaugurada por Schubert
no ‘Lied’ intitulado ‘Der Hirt auf dem Felsen’, juntando aí ao habitual piano
também um clarinete. Aqui a junção faz-se com a viola. ‘Gestillte Sehnsucht’ e
‘Geistliches Wiegenlied’ foram compostos para o casal Joseph Joachim (o famoso
violinista, 1831-1907) e Amalie Joachim (Schneeweiss de solteira, contralto, 1839-
99), ambos grandes amigos de Brahms, em dois momentos bem diferentes da vida
deles: a canção de embalar em 1863, por ocasião das suas núpcias; e a outra em
1884, para tentar apaziguar o seu casamento10. Elas foram publicadas em 1884,
por Simrock (o editor habitual de Brahms) e ouvidas em primeira audição pública
em Janeiro de 1885, em Krefeld, com o compositor ao piano.
BERNARDO MARIANOMusicólogo
10 a tentativa de Brahms seria infrutífera, pois eles separar-se-iam nesse mesmo ano…
70
WIE MELODIEN ZIEHT ES | MELODIAS, SUAVEMENTETexto: Klaus Groth
Wie Melodien zieht esMir leise durch den Sinn,Wie Frühlingsblumen blüht es,Und schwebt wie Duft dahin.
Doch kommt das Wort und faßt esUnd führt es vor das Aug’,Wie Nebelgrau erblaßt esUnd schwindet wie ein Hauch.
Und dennoch ruht im ReimeVerborgen wohl ein Duft,Den mild aus stillem KeimeEin feuchtes Auge ruft.
Melodias suavementeDeslizam na minh’alma;Como flores de primavera florescemPairando como uma fragrância no ar.
Mas então vem a palavra e prende-asPondo-as à frente dos olhos;Numa neblina cinzenta as empalideceFazendo-as desaparecer como um sopro.
E contudo está escondidaNa rima uma fragrância,Que a partir d’um calmo rebento É invocada por um olho húmido.
IMMER LEISER WIRD MEIN SCHLUMMER | CADA VEZ É MAIS LEVE O MEU SONOTexto: Hermann Lingg
Immer leiser wird mein Schlummer,Nur wie Schleier liegt mein KummerZitternd über mir.Oft im Traume hör’ ich dichRufen drauß vor meiner Tür:Niemand wacht und öffnet dir,Ich erwach’ und weine bitterlich.
Ja, ich werde sterben müssen,Eine Andre wirst du küssen,Wenn ich bleich und kalt.Eh’ die Maienlüfte wehen,Eh’ die Drossel singt im Wald:Willst du einmal noch mich sehen,Komm, o komme bald!
Cada vez é mais leve o meu sono;Como um véu, o meu desgostoEstremece sobre mim.Muitas vezes em sonhos oiço-teChamar do lado de fora da minha porta;Mas ninguém está acordado para ta abrir,Eu desperto e choro amargamente.
Sim, terei de morrer;Um outro irás tu beijar,Quando eu estiver pálido e frio.Antes que as brisas de Maio soprem,Antes que o tordo cante no bosque:Queres tu uma vez mais ver-me,Vem, oh, vem depressa!
TEXTOS CANTADOS
71
STÄNDCHEN | SERENATATexto: Franz Kugler
Der Mond steht über dem Berge,So recht für verliebte Leut’;Im Garten rieselt ein Brunnen,Sonst Stille weit und breit.
Neben der Mauer im Schatten,Da stehn der Studenten drei,Mit Flöt’ und Geig’ und Zither,Und singen und spielen dabei.
Die Klänge schleichen der SchönstenSacht in den Traum hinein,sie schaut den blonden Geliebtenund lispelt: „Vergiß nicht mein!“
A lua eleva-se por cima da montanha,Tão apropriada para pessoas apaixonadas.No jardim corre uma fonte;De resto, silêncio por toda a parte.
Perto do muro, nas sombras,Estão três estudantes:Com uma flauta, um violino e uma cítaraE cantam e tocam melodias.
Os sons aproximam-se furtivamente da mais belaE entram suavemente no seu sonho,Ela olha para o amado loiroE segreda: “Não te esqueças de mim!”
72
VON EWIGER LIEBE | DO AMOR ETERNOTexto: Josef Wenzig
Dunkel, wie dunkel in Wald und in Feld!Abend schon ist es, nun schweiget die Welt.
Nirgend noch Licht und nirgend noch Rauch,Ja, und die Lerche sie schweiget nun auch.
Kommt aus dem Dorfe der Bursche heraus,Gibt das Geleit der Geliebten nach Haus,
Führt sie am Weidengebüsche vorbei,Redet so viel und so mancherlei:
„Leidest du Schmach und betrübest du dich, Leidest du Schmach von andern um mich,
Werde die Liebe getrennt so geschwind,Schnell, wie wir früher vereiniget sind.
Scheide mit Regen und scheide mit Wind,Schnell wie wir früher vereiniget sind.“
Spricht das Mägdelein, Mägdelein spricht:„Unsere Liebe sie trennet sich nicht!
Fest ist der Stahl und das Eisen gar sehr,Unsere Liebe ist fester noch mehr.
Eisen und Stahl, man schmiedet sie um,Unsere Liebe, wer wandelt sie um?
Eisen und Stahl, sie können zergehn,Unsere Liebe muß ewig bestehn!“
Escuro, quão escuro na floresta e no campo!Já é noite, o mundo está agora em silêncio.
Em lado nenhum há ainda luz e há ainda fumo,Sim, e a cotovia também está agora calada.
Vem da aldeia o rapaz,Acompanha a amada até casa,
Ele leva-a pelo caminho dos vimieiros,Fala tanto e de tantas coisas:
“Envergonhas-te e perturbas-te,Diante dos outros por causa de mim,
Desfaça-se o amor rapidamenteTão depressa como antes nos juntámos.
Separa-se com chuva e separa-se com vento,Tão depressa como antes nos juntámos.
Diz a donzela, a donzela diz:“O nosso amor, ele não se desfaz!
Sólido é o aço e o ferro muito até;O nosso amor mais sólido ainda é.
Ferro e aço, podem ser forjados,O nosso amor, quem o transforma?
Ferro e aço, podem ser fundidos,O nosso amor tem de existir para sempre!”
73
GESTILLTE SEHNSUCHT | ANSEIO ACALMADOTexto: Friedrich Rückert
In gold’nen Abendschein getauchet,Wie feierlich die Wälder stehn!In leise Stimmen der Vöglein hauchetDes Abendwindes leises Weh’n.Was lispeln die Winde, die Vögelein?Sie lispeln die Welt in Schlummer ein.
Ihr Wünsche, die ihr stets euch regetIm Herzen sonder Rast und Ruh!Du Sehnen, das die Brust beweget,Wann ruhest du, wann schlummerst du?Beim Lispeln der Winde, der Vögelein,Ihr sehnenden Wünsche, wann schlaft ihr ein?
Was kommt gezogen auf Traumesflügeln?Was weht mich an so bang, so hold?Es kommt gezogen von fernen Hügeln,Es kommt auf bebendem Sonnengold.Wohl lispeln die Winde, die Vögelein,Das Sehnen, das Sehnen, es schläft nicht ein.
Ach, wenn nicht mehr in gold’ne FernenMein Geist auf Traumgefieder eilt,Nicht mehr an ewig fernen SternenMit sehnendem Blick mein Auge weilt;Dann lispeln die Winde, die VögeleinMit meinem Sehnen mein Leben ein.
Mergulhado no brilho dourado da tarde,Quão solenes os bosques estão!Em voz baixa o passarinho sussurraA leve brisa da tarde sopra.O que segredam os ventos, os passarinhos?Cantam ao mundo para que adormeça.
Os vossos desejos, que sempre vos agitamO coração sem descanso nem paz!Tu, Anseio, que moves o peitoQuando descansas tu, quando dormes tu?Com o sussurro dos ventos, dos passarinhosVós, desejos ansiosos, quando finalmente adormecereis?
O que me trazem as asas dos sonhos?O que me inquieta de modo tão amável?Chega-me de colinas distantes,Chega-me do sol que estremece dourado.E apesar do sussurro dos ventos, dos passarinhos,O anseio, o anseio, não adormece.
Oh, quando o meu espírito não maisEm distâncias douradas nas asas do sono se precipita,Não mais em estrelas eternamente distantesO meu olhar ansioso se demora; Então sussurram os ventos, os passarinhosOs meus anseios, a minha vida
74
GEISTLICHES WIEGENLIED | CANÇÃO DE EMBALAR RELIGIOSATexto: Emanuel Geibel / Lope de Vega
Die ihr schwebetUm diese PalmenIn Nacht und Wind,Ihr heilgen Engel,Stillet die Wipfel!Es schlummert mein Kind.
Ihr Palmen von BethlehemIm Windesbrausen,Wie mögt ihr heuteSo zornig sausen!O rauscht nicht also!Schweiget, neigetEuch leis und lind;Stillet die Wipfel!Es schlummert mein Kind.
Der HimmelsknabeDuldet Beschwerde,Ach, wie so müd er wardVom Leid der Erde.Ach nun im Schlaf ihmLeise gesänftigtDie Qual zerrinnt,Stillet die Wipfel!Es schlummert mein Kind.
Grimmige KälteSauset hernieder,Womit nur deck ichDes Kindleins Glieder!O all ihr Engel,Die ihr geflügeltWandelt im Wind,Stillet die Wipfel!Es schlummert mein Kind.
Vós que pairaisEm torno destas palmasDe noite e com vento,Vós santos anjos,Silenciai as ramagens!Está a dormir o meu menino.
Vós, palmas de BelémNo soprar do vento,Como querem hoje zunirTão iradamente!Oh, acalmem-se então!Façam silêncio, findemDe forma suave e branda;Silenciai as ramagens!Está a dormir o meu menino.
O menino celestialEstá queixoso,Oh, como está cansadoDo sofrimento da Terra.Oh, agora no sono,Suavemente apaziguado,O tormento dissipa-se-lhe.Silenciai as ramagens!Está a dormir o meu menino.
Um frio terrívelSopra aqui em baixo,Com que hei de cobrirOs membros do pequenino?Todos vós anjos,Que sois alados,Andai no vento,Silenciai ramagens!Está a dormir o meu menino.
Traduções: Hélder Telo (Kennistranslations)
75
SARA MINGARDO || alto
Sara Mingardo é intérprete de um vasto repertório e muito apreciada pelo público. Para além da sua especial e intensa colaboração com o maestro Claudio Abbado, trabalha regularmente com maestros como Rinaldo Alessandrini, Ivor Bolton, Riccardo Chailly, Myung Whun-Chung, Paul Daniel, Sir Colin Davis, Sir John Eliot Gardiner, Emmanuelle Häim, Marc Minkowski, Riccardo Muti, Sir Roger Norrington, Maurizio Pollini, Christophe Rousset, Jordi Savall, Peter Schreier, Kent Nagano, Pierre Boulez, Zubin Mehta, Lorin Maazel, Daniele Gatti e Jeffrey Tate e prestigiadas orquestras internacionais: Berliner Philharmoniker, London Symphony Orchestra, Boston Symphony Orchestra, New York Symphony Orchestra, Detroit Symphony Orchestra, Orcheste Nationalle de France, Les Musiciens du Louvre, Monteverdi Choir e Orchestra, Concerto ltaliano, Les Talens Lyriques e Academia Montis Regalis.Especialmente ativa em concertos, executa um vasto repertório que abrange Pergolesi, Respighi, Bach, Beethoven, Brahms, Dvorak e Mahler. O seu repertório operático inclui obras de Gluck, Monteverdi, Handel, Vivaldi, Rossini, Verdi, Cavalli, Mozart, Donizetti, Schumann e Berlioz.Sara Mingardo estudou com Franco Ghitti no Conservatório Benedetto Marcello de Veneza, sua cidade natal. Vencedora de muitas competições vocais nacionais e internacionais, estreou-se em “II Matrimonio Segreto” (Fidalma) e “La Cenerentola” (papel principal). Em 2001, venceu dois Grammys e, em 2009 foi galardoada pela Associação de Críticos de Música de Itália com o prestigioso “Premio Abbiati”.
BIOGRAFIAS
76
MAURIZIO PACIARIELLO || piano
Maurizio Paciariello frequentou as aulas de Giuseppe Scotese no Conservatorio di Musica S. Cecilia, em Roma, onde obteve o seu diploma com distinção e louvor. Mais tarde, tirou um curso superior sob a orientação de Aldo Ciccolini. Prosseguiu os seus estudos em música de câmara com P. Badura-Skoda na Accademia Chigiana, em Siena, e com N. Brainin na Scuola di Musica di Fiesole.Recebeu um prémio no 47º Concurso Internacional de Música ARD de Munique, em 1998, e estreou-se no Carnegie Hall, em Nova Iorque, em 2003.Dedica-se particularmente ao reportório a solo e de ensemble, dando especial atenção aos instrumentos de época. Atualmente, tem acesso a uma pequena mas representativa seleção de instrumentos de época, onde se incluem uma cópia de um clavicórdio de finais do século XVIII, um fortepiano vienense Haselmann de início do século XIX, um piano francês Boisselot de cerca de 1840 e um piano Bosendorfer de 1885.O seu interesse pelas antigas técnicas de execução musical resultou na realização de projetos ambiciosos, tais como a execução das sonatas completas de Beethoven para violino e pianoforte num piano Broadwood de 1804 (Museum of the American Piano, Nova Iorque) e a sua extraordinária atuação na Capela Paulina, no Palácio do Quirinal, em Roma.Estreou-se na gravação para a editora Inedita com os Concertos de F. Kuhlau e F. Berwald para pianoforte e orquestra, acompanhado pela Sassari Symphonic Orchestra.Para a mesma editora gravou também WoO 4, o Concerto em mi bemol maior, de Beethoven (1784), ganhando a aclamação dos críticos em Itália e internacionalmente. Prosseguiu a sua investigação dos concertos da juventude de Beethoven com o Rondó em si bemol maior e o Concerto em ré maior op.61a, ambos recebidos com grande entusiasmo pelos musicólogos internacionais, tendo sido candidatos ao Grand Prix International du Disque, em Cannes.
77
O sétimo volume de “Beethoven Rarities” (INEDITA), dedicado a uma revisão da versão do manuscrito de 1808 do Concerto op.58 e ao Concerto op.19 com a cadência manuscrita retirada de Kafka Skizzenbuch, recebeu 5 estrelas da Rivista Musica.Produziu um CD dedicado à música para violino e pianoforte do compositor norueguês C. Sinding (ASV), o qual recebeu o elogio da revista Fanfare, BBC News, The Guardian e Daily Telegraph.Gravou as sonatas de Lino Liviabella e Nino Rota para viola e pianoforte com Luca Sanzò, e a obra completa de Ottorino Respighi para violino e pianoforte com Marco Rogliano (TACTUS). O CD (BRILLIANT) das sonatas de Paul Hindemith para viola e piano, em colaboração com Luca Sanzò, recebeu um importante reconhecimento das revistas Gramophone, Fanfare e Musica, bem como de MusicWeb International e Opusklassiek.Na sua crítica na Fanfare às três sonatas de Hindemith para piano (BRILLIANT), James H. North descreve Paciariello como “um Gustav Leonhardt que se tornou um Van Cliburn”.No outono de 2017, foram lançadas as sonatas completas de Beethoven (Complete Piano Sonatas – Da Vinci Records), tocadas por Ugo Casiglia em cópias de instrumentos históricos.O primeiro volume contém as sonatas op.26, 27 e 28; o segundo volume, as sonatas op.10 e op.13.
78
LUCA SANZÒ || violeta
Luca Sanzò, aluno de Bruno Giuranna, desenvolveu uma intensa atividade profissional, repartindo o seu tempo entre concertos, gravações e ensino.Participou em concertos por todo o mundo, enquanto artista convidado de prestigiadas salas de concerto e festivais: Bienal de Música, em Veneza, Festival Musicacustica, em Pequim, EMUFEST, em Roma, Staatsoper, em Estugarda, Festival Synthese, em Burges, Concertgebouw, em Amesterdão, Hercules Saal, em Munique, Metropolitan Museum, em Nova Iorque, e Monaco Electroacoustique, para mencionar apenas alguns.Luca Sanzò interessa-se particularmente pela produção e divulgação de new music, da qual é um respeitado intérprete. Muitos compositores dedicaram-lhe obras e consideram-no uma referência na interpretação de seus trabalhos. É membro do Parco della Musica Contemporanea Ensemble (PMCE) e músico de ensemble residente especializado em música do século XX e música contemporânea no Auditorium Parco della Musica, em Roma. Foi membro fundador do Michelangelo Quartet e é regularmente convidado para atuar com músicos de todo o mundo no festival anual Rome Chamber Music Festival.Foi primeiro viola solista das orquestras do Teatro dell’Opera di Roma, do Teatro Lirico de Cagliari e do ensemble Concerto Italiano.Publicou uma revisão dos 41 Caprichos de Campagnoli para viola solo para a editora Casa Ricordi. É professor de viola no Conservatorio di Musica S. Cecilia de Roma.
79
PSM
L | L
uís
Dua
rte
80
INFORMAÇÕES ÚTEIS
Mais informaçõeswww.parquesdesintra.pt parquesdesintra [email protected] Tel. (+351) 21 923 73 00
Bilhete por concerto: 15€Bilhete Ciclo (6 concertos): 76,50€
Bilhetes à venda nas bilheteiras da Parques de Sintra, online em www.parquesdesintra.pt e em www.blueticket.pt, FNAC, Worten, El Corte Inglés, Altice Arena, Media Markt, lojas ACP, rede PAGAQUI e Postos de Turismo de Sintra e de Cascais.
Coordenadas GPS Palácio Nacional da Pena38º 47’ 16.45’’ N 9º 23’ 15.35’’ W
>6 anos
Após o início do espetáculo a entrada na sala só será permitida no intervalo,
e apenas quando este esteja previsto.
Não será devolvido o valor dos bilhetes por falta de comparência ou atraso.
Alerta-se para o facto do Salão Nobre do Palácio da Pena não ser acessível
a pessoas com mobilidade condicionada e de o percurso desde o local
de estacionamento
de automóveis até à sala do concerto ser de cerca de 15 minutos, a pé.
81
Queremos saber a sua opiniãohttps://tinyurl.com/SMUS2020
Nights at Queluz
MAIO MAY
OUTUBRO – NOVEMBROOCTOBER – NOVEMBER
BREVEMENTECOMING SOON
Bilhetes já à vendaTickets available
Media PartnerOrganização | Organization