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20 POEMAS , 20 VIDAS O AMOR . MARTA MANSO – 10’F

Marta Manso - O Amor

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INACABADO - Marta Manso, 10.º ano, n.º21, turma F, Escola Artística António Arroio - Disciplina de Português - Professora Eli

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20 POEMAS , 20 VIDAS

O AMOR . MARTA MANSO – 10’F

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O tema do meu trabalho é o amor.

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O amor é uma companhia O amor é uma companhia. Já não sei andar só pelos caminhos, Porque já não posso andar só. Um pensamento visível faz-me andar mais depressa E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo. Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo. E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar. Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas. Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela. Todo eu sou qualquer força que me abandona. Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio. Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)

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Meu coração tardou Meu coração tardou. Meu coração Talvez se houvesse amor nunca tardasse; Mas, visto que, se o houve, houve em vão, Tanto faz que o amor houvesse ou não. Tardou. Antes, de inútil, acabasse. Meu coração postiço e contrafeito Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido, Talvez, num rasgo natural de eleito, Seu próprio ser do nada houvesse feito, E a sua própria essência conseguido. Mas não. Nunca nem eu nem coração Fomos mais que um vestígio de passagem Entre um anseio vão e um sonho vão. Parceiros em prestidigitação, Caímos ambos pelo alçapão. Foi esta a nossa vida e a nossa viagem. Fernando Pessoa

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Eu e Ela

Cobertos de folhagem, na verdura, O teu braço ao redor do meu pescoço, O teu fato sem ter um só destroço, O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa, Sobre um banco de mármore assentados. Na sombra dos arbustos, que abraçados, Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos, Sem gozos sensuais, sem más idéias,

Esquecendo para sempre as nossas ceias, E a loucura dos vinhos atrevidos. Nós teremos então sobre os joelhos

Um livro que nos diga muitas cousas Dos mistérios que estão para além das lousas,

Onde havemos de entrar antes de velhos. Outras vezes buscando distração,

Leremos bons romances galhofeiros, Gozaremos assim dias inteiro, Formando unicamente um coração.

Beatos ou apagãos, via à paxá, Nós leremos, aceita este meu voto, O Flos-Sanctorum místico e devoto

E o laxo Cavaleiro de Faublas... Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde

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Lágrimas Ela chorava muito e muito, aos cantos, Frenética, com gestos desabridos; Nos cabelos, em ânsias desprendidos Brilhavam como pérolas os prantos. Ele, o amante, sereno como os santos, Deitado no sofá, pés aquecidos, Ao sentir-lhe os soluços consumidos, Sorria-se cantando alegres cantos. E dizia-lhe então, de olhos enxutos: - "Tu pareces nascida da rajada, "Tens despeitos raivosos, resolutos: "Chora, chora, mulher arrenegada; "Lagrimeja por esses aquedutos... -"Quero um banho tomar de água salgada.“ Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde

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O Teu Olhar Passam no teu olhar nobres cortejos, Frotas, pendões ao vento sobranceiros, Lindos versos de antigos romanceiros, Céus do Oriente, em brasa, como beijos, Mares onde não cabem teus desejos; Passam no teu olhar mundos inteiros, Todo um povo de heróis e marinheiros, Lanças nuas em rútilos lampejos; Passam lendas e sonhos e milagres! Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres, Em centelhas de crença e de certeza! E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim, Amor, julgo trazer dentro de mim Um pedaço da terra portuguesa! Florbela Espanca, in A Mensageira das Violetas

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Amar! Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar... Florbela Espanca, in Charneca em Flor

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Beleza Vem do amor a Beleza, Como a luz vem da chama. É lei da natureza: Queres ser bela? - ama. Formas de encantar, Na tela o pincel As pode pintar; No bronze o buril As sabe gravar; E estátua gentil Fazer o cinzel Da pedra mais dura... Mas Beleza é isso? - Não; só formosura. Sorrindo entre dores Ao filho que adora Inda antes de o ver - Qual sorri a aurora Chorando nas flores Que estão por nascer – A mãe é a mais bela das obras de Deus. Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus Lhe ateia essa chama de luz cristalina: É a luz divina Que nunca mudou, É luz... é a Beleza Em toda a pureza Que Deus a criou. Almeida Garrett, in Folhas Caídas

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Rosa sem Espinhos Para todos tens carinhos, A ninguém mostras rigor! Que rosa és tu sem espinhos? Ai, que não te entendo, flor! Se a borboleta vaidosa A desdém te vai beijar, O mais que lhe fazes, rosa, É sorrir e é corar. E quando a sonsa da abelha, Tão modesta em seu zumbir, Te diz: «Ó rosa vermelha, » Bem me podes acudir: » Deixa do cálix divino » Uma gota só libar... » Deixa, é néctar peregrino, » Mel que eu não sei fabricar ...» Tu de lástima rendida, De maldita compaixão, Tu à súplica atrevida Sabes tu dizer que não? Tanta lástima e carinhos, Tanto dó, nenhum rigor! És rosa e não tens espinhos! Ai !, que não te entendo, flor. Almeida Garrett, in Folhas Caídas

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Visão (A J. M. Eça de Queiroz)

Eu vi o Amor — mas nos seus olhos baços Nada sorria já: só fixo e lento Morava agora ali um pensamento De dor sem trégua e de íntimos cansaços. Pairava, como espectro, nos espaços, Todo envolto n'um nimbo pardacento... Na atitude convulsa do tormento, Torcia e retorcia os magros braços... E arrancava das asas destroçadas A uma e uma as penas maculadas, Soltando a espaços um soluço fundo, Soluço de ódio e raiva impenitentes... E do fantasma as lágrimas ardentes Caíam lentamente sobre o mundo! Antero de Quental, in Sonetos

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Impossível Nós podemos viver alegremente, Sem que venham com fórmulas legais, Unir as nossas mãos, eternamente, As mãos sacerdotais. Eu posso ver os ombros teus desnudos, Palpá-los, contemplar-lhes a brancura, E até beijar teus olhos tão ramudos, Cor de azeitona escura. Eu posso, se quiser, cheio de manha, Sondar, quando vestida, pra dar fé, A tua camisinha de bretanha, Ornada de crochet. Posso sentir-te em fogo, escandescida, De faces cor-de-rosa e vermelhão, Junto a mim, com langor, entredormida, Nas noites de verão. Eu posso, com valor que nada teme, Contigo preparar lautos festins, E ajudar-te a fazer o leite-creme, E os mélicos pudins. Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo, Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac, Hinos de amor, vestidos de veludo,

E botas de duraque

E até posso com ar de rei, que o sou! Dar-te cautelas brancas, minha rola, Da grande loteria que passou, Da boa, da espanhola, Já vês, pois, que podemos viver juntos, Nos mesmos aposentos confortáveis, Comer dos mesmos bolos e presuntos, E rir dos miseráveis. Nós podemos, nós dois, por nossa sina, Quando o Sol é mais rúbido e escarlate, Beber na mesma chávena da China, O nosso chocolate. E podemos até, noites amadas! Dormir juntos dum modo galhofeiro, Com as nossas cabeças repousadas, No mesmo travesseiro. Posso ser teu amigo até à morte, Sumamente amigo! Mas por lei, Ligar a minha sorte à tua sorte, Eu nunca poderei! Eu posso amar-te como o Dante amou, Seguir-te sempre como a luz ao raio, Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou, Lá essa é que eu não caio! Cesário Verde, in O Livro de Cesário Verde

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Eu e Ela Cobertos de folhagem, na verdura, O teu braço ao redor do meu pescoço, O teu fato sem ter um só destroço, O meu braço apertando-te a cintura; Num mimoso jardim, ó pomba mansa, Sobre um banco de mármore assentados. Na sombra dos arbustos, que abraçados, Beijarão meigamente a tua trança. Nós havemos de estar ambos unidos, Sem gozos sensuais, sem más idéias, Esquecendo para sempre as nossas ceias, E a loucura dos vinhos atrevidos. Nós teremos então sobre os joelhos Um livro que nos diga muitas cousas Dos mistérios que estão para além das lousas, Onde havemos de entrar antes de velhos. Outras vezes buscando distração, Leremos bons romances galhofeiros, Gozaremos assim dias inteiro, Formando unicamente um coração. Beatos ou apagãos, via à paxá, Nós leremos, aceita este meu voto, O Flos-Sanctorum místico e devoto E o laxo Cavaleiro de Faublas... Cesário Verde, in 'ivro de Cesário Verde

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Lágrimas Ela chorava muito e muito, aos cantos, Frenética, com gestos desabridos; Nos cabelos, em ânsias desprendidos Brilhavam como pérolas os prantos. Ele, o amante, sereno como os santos, Deitado no sofá, pés aquecidos, Ao sentir-lhe os soluços consumidos, Sorria-se cantando alegres cantos. E dizia-lhe então, de olhos enxutos: - "Tu pareces nascida da rajada, "Tens despeitos raivosos, resolutos: "Chora, chora, mulher arrenegada; "Lagrimeja por esses aquedutos... -"Quero um banho tomar de água salgada.“ Cesário Verde, in 'ivro de Cesário Verde

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Ternura Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não trai o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da [aurora. Vinicius de Moraes, in Antologia Poética

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Erros meus, má Fortuna, Amor ardente Em minha perdição se conjuraram; Os erros e a Fortuna sobejaram, Que para mim bastava Amor somente. Tudo passei; mas tenho tão presente A grande dor das cousas que passaram, Que já as frequências suas me ensinaram A desejos deixar de ser contente. Errei todo o discurso de meus anos; Dei causa a que a Fortuna castigasse As minhas mal fundadas esperanças. De Amor não vi senão breves enganos. Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse Este meu duro Génio de vinganças! Luís Vaz de Camões, in Sonetos

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Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se e contente; É um cuidar que ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís Vaz de Camões, in Sonetos

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Suspiros inflamados que cantais A tristeza com que eu vivi tão cedo; Eu morro e não vos levo, porque hei medo Que ao passar do Leteo vos percais. Escritos para sempre já ficais Onde vos mostrarão todos co'o dedo, Como exemplo de males; e eu concedo Que para aviso de outros estejais. Em quem, pois, virdes largas esperanças De Amor e da Fortuna (cujos danos Alguns terão por bem-aventuranças), Dizei-lhe que os servistes muitos anos, E que em Fortuna tudo são mudanças, E que em Amor não há senão enganos. Luís Vaz de Camões, in Sonetos

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O Ciúme Entre as tartáreas forjas, sempre acesas, Jaz aos pés do tremendo, estígio nume, O carrancudo, o rábido ciúme, Ensanguentadas as corruptas presas. Traçando o plano de cruéis empresas, Fervendo em ondas de sulfúreo lume, Vibra das fauces o letal cardume De hórridos males, de hórridas tristezas. Pelas terríveis Fúrias instigado, Lá sai do Inferno, e para mim se avança O negro monstro, de áspides toucado. Olhos em brasa de revés me lança; Oh dor! Oh raiva! Oh morte!... Ei-lo a meu lado Ferrando as garras na vipérea trança. Bocage

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Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca, Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto, Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto. De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas Como a poesia ou o amor. (O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído, No papel abandonado) Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes Abraçados contra a morte. Alexandre O’Neill

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O Amor Estou a amar-te como o frio corta os lábios. A arrancar a raiz ao mais diminuto dos rios. A inundar-te de facas, de saliva esperma lume. Estou a rodear de agulhas a boca mais vulnerável A marcar sobre os teus flancos o itinerário da espuma Assim é o amor: mortal e navegável. Eugénio de Andrade, in Obscuro Domínio

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Retrato Ardente Entre os teus lábios é que a loucura acode desce à garganta, invade a água. No teu peito é que o pólen do fogo se junta à nascente, alastra na sombra. Nos teus flancos é que a fonte começa a ser rio de abelhas, rumor de tigre. Da cintura aos joelhos é que a areia queima, o sol é secreto, cego o silêncio. Deita-te comigo. Ilumina meus vidros. Entre lábios e lábios toda a música é minha. Eugénio de Andrade, in Obscuro Domínio

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Eu escolhi o poema Lágrimas , porque todos nós que já sofremos de amor, já derramámos uma única lágrima que seja pela outra pessoa. Queremos sempre tudo para nós e ficamos “cegos”. Cegos, de chegar ao ponto em que não vemos nada nem ninguém onde nos apoiar e por isso choramos.

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Lágrimas Ela chorava muito e muito, aos cantos, Frenética, com gestos desabridos; Nos cabelos, em ânsias desprendidos Brilhavam como pérolas os prantos. Ele, o amante, sereno como os santos, Deitado no sofá, pés aquecidos, Ao sentir-lhe os soluços consumidos, Sorria-se cantando alegres cantos. E dizia-lhe então, de olhos enxutos: - "Tu pareces nascida da rajada, "Tens despeitos raivosos, resolutos: "Chora, chora, mulher arrenegada; "Lagrimeja por esses aquedutos... -"Quero um banho tomar de água salgada.“ Cesário Verde, in Livro de Cesário Verde

Poema que escolhi :

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