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MECANISMO DE DANO POR FADIGA E A PREVENÇÃO DE FALHA EM COMPÓSITOS DE PRFV RAIMUNDO CARLOS SILVERIO FREIRE JÚNIOR UFRN – CCET – PDCEM Campus Universitário – Lagoa Nova Natal – RN – CEP: 59072-970 Tel./Fax: (84) 215-3826 E-mail: [email protected] EVE MARIA FREIRE DE AQUINO UFRN-DEM/PPGEM - Centro de Tecnologia Campus Universitário - Lagoa Nova Natal - RN - CEP: 59072 - 970 Tel/Fax: 0(xx)84 215 3768 E-mail: [email protected] Resumo. Este trabalho tem como objetivo a realização do monitoramento do dano formado em compostos laminados durante o ensaio de fadiga, mostrando as etapas de formação e propagação de dano para três tipos de carregamentos cíclicos: o compressivo, o trativo e o alternado. Este estudo foi desenvolvido para duas configurações do laminado, incluindo a variação do número de camadas. Os laminados são constituídos de resinas de poliéster ortoftálicas reforçadas com fibras de vidro/E (PRFV). As mesmas se apresentam na forma de mantas de fibras curtas e tecido têxtil cruzado. Como ensaios preliminares, foram realizados os ensaios de densidade e calcinação e os ensaios mecânicos de tração e compressão uniaxiais. Em seguida foram feitos os ensaios de fadiga à tração (R=0.1), à compressão (R=10) e fadiga axial alternada (R=–1), todos com variação da tensão máxima. A partir dos resultados obtidos, percebeu-se que para carregamentos cíclicos trativos a formação e propagação do dano ocorrem de modo semelhante à outros trabalhos encontrados na literatura. Porém para a fadiga alternada e compressiva o dano apresentou características peculiares. Além disso, a partir da análise do dano formado durante o ensaio de fadiga observa-se que dos dois laminados analisados o que possui simetria na distribuição das suas camadas apresentou um dano menos intenso e conseqüentemente uma melhor resistência à fadiga.

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MECANISMO DE DANO POR FADIGA E A PREVENÇÃO DE FALHA EM COMPÓSITOS DE PRFV

RAIMUNDO CARLOS SILVERIO FREIRE JÚNIOR

UFRN – CCET – PDCEM

Campus Universitário – Lagoa Nova

Natal – RN – CEP: 59072-970

Tel./Fax: (84) 215-3826

E-mail: [email protected]

EVE MARIA FREIRE DE AQUINO

UFRN-DEM/PPGEM - Centro de Tecnologia

Campus Universitário - Lagoa Nova

Natal - RN - CEP: 59072 - 970

Tel/Fax: 0(xx)84 215 3768

E-mail: [email protected]

Resumo. Este trabalho tem como objetivo a realização do monitoramento do dano formado em compostos laminados

durante o ensaio de fadiga, mostrando as etapas de formação e propagação de dano para três tipos de carregamentos

cíclicos: o compressivo, o trativo e o alternado. Este estudo foi desenvolvido para duas configurações do laminado,

incluindo a variação do número de camadas. Os laminados são constituídos de resinas de poliéster ortoftálicas reforçadas

com fibras de vidro/E (PRFV). As mesmas se apresentam na forma de mantas de fibras curtas e tecido têxtil cruzado.

Como ensaios preliminares, foram realizados os ensaios de densidade e calcinação e os ensaios mecânicos de tração e

compressão uniaxiais. Em seguida foram feitos os ensaios de fadiga à tração (R=0.1), à compressão (R=10) e fadiga

axial alternada (R=–1), todos com variação da tensão máxima. A partir dos resultados obtidos, percebeu-se que para

carregamentos cíclicos trativos a formação e propagação do dano ocorrem de modo semelhante à outros trabalhos

encontrados na literatura. Porém para a fadiga alternada e compressiva o dano apresentou características peculiares.

Além disso, a partir da análise do dano formado durante o ensaio de fadiga observa-se que dos dois laminados analisados

o que possui simetria na distribuição das suas camadas apresentou um dano menos intenso e conseqüentemente uma

melhor resistência à fadiga.

INTRODUÇÃO

Durante a utilização de um composto laminado, o mesmo pode ser submetido à ação de vários tipos de

carregamentos (e dentre eles carregamentos cíclicos) e, devido a isto, originar a formação de danos internos como

fissuração na matriz, ruptura de fibra, delaminações e microflambagem [1-2]. Com o aparecimento destes tipos de danos

ocorre uma diminuição nas propriedades mecânicas do laminado, de modo que, torna-se importante o estudo da

formação e propagação destes danos para se ter uma idéia melhor da vida útil destes materiais.

Segundo vários autores [3-7], o motivo pelo qual um laminado rompe por fadiga está diretamente relacionado à

formação e propagação do dano durante sua vida útil e isto ocorre devido ao dano diminuir as propriedades mecânicas do

material até o ponto que o mesmo não suporta mais o carregamento que lhe foi fornecido.

Para explicar este fenômeno Reifsnider [3] criou um diagrama que demonstra os passos na formação e

propagação do dano à fadiga. A princípio ocorre a formação de fissuras transversais no laminado e o crescente aumento

da quantidade de fissuras com o aumento do número de ciclos, porém após um determinado número de ciclos ocorre a

saturação na formação das fissuras transversais, esta saturação foi chamada por Reifsnider de CDS (characteristic

damage state). Em seguida, ocorre o início da delaminação e sua propagação até que o laminado não possua mais

resistência mecânica suficiente para suportar o carregamento ocasionando a ruptura de fibra e a fratura total do laminado.

Além de Reifsnider, Gamstedt [8] também desenvolveu um modelo de formação e propagação de dano para

laminados que possuem fibras transversais em relação ao sentido de aplicação da carga. Este autor considerou que a

interface fibra/matriz destas fibras transversais é a região de maior susceptibilidade a formação de danos no laminado, e

esta formação de dano ocorreria de modo diferente na tração e na compressão. Ainda segundo este trabalho, a aplicação

de cargas alternadas diminuiria de modo bastante significativo à vida útil do laminado, devido a uma combinação da

desaderência fibra/matriz na tração e na compressão aumentando o número de fissuras no laminado e conseqüentemente

diminuindo a resistência do mesmo.

Este trabalho tem como objetivo analisar a formação e propagação do dano durante o ensaio de fadiga de dois

compostos laminados, um possuindo simetria na distribuição de suas camadas e o outro não. Estes laminados são

constituídos de resina de poliéster ortoftálica reforçada com fibras de vidro/E em forma de manta de fibras curtas e

tecido têxtil cruzado. Os ensaios de fadiga uniaxial foram realizados, para valores de R= –1, R=0.1 e R=10, e diferentes

intensidades da tensão máxima aplicada (R é definido como a razão de fadiga, que é o valor da tensão mínima dividido

pela tensão máxima aplicada). Todos os ensaios foram realizados com amplitude de tensão constante durante o ensaio de

cada corpo de prova e o com o número de ciclos de falha dentro da faixa de fadiga de alto ciclo, ou seja acima de 103

ciclos. Além dos ensaios de fadiga realizou-se ensaios de tração uniaxial e compressão uniaxial para a determinação das

tensões últimas do laminado.

PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

Os laminados utilizados neste trabalho foram confeccionados pelo processo de laminação manual em forma de

placas de 1 m2, nos quais utilizou-se como matéria prima a resina de poliéster insaturada ortoftálica e o reforço de

mantas de fibras curtas (5 cm, 450 g/m2) e tecidos têxteis cruzados (450 g/m2) de fibra de vidro/E. Desse modo, foram

fabricadas duas placas, uma com 10 e a outra com 12 camadas, com espessura de 7 e 10 mm, respectivamente e com as

seguintes configurações.

[ ][ ] )( camadas 12 de laminado do ãoConfiguraç M/T/M/T/M/T/M/M/T/M/T/M

)( camadas 10 de laminado do ãoConfiguraç M/T/M/T/M s

C12C10

Os símbolos M e T são referentes à manta e tecido têxtil cruzado de fibra de vidro E, respectivamente. O

símbolo s é referente à simetria do laminado, observando-se que o laminado C10 é simétrico e o C12 não apresenta

simetria com relação à distribuição de suas camadas. Os mesmos são utilizados na fabricação de reservatórios industriais

de grande porte.

Foram realizados ensaios preliminares de densidade volumétrica e de calcinação nos dois laminados,

necessários à obtenção dos percentuais de fibras, resina e vazios. Os resultados são mostrados na Tabela (1). A partir

destes resultados percebe-se que os dois laminados possuem praticamente os mesmos percentuais de fibras, resina e

vazios. Desse modo, pode-se considerar que qualquer variação nas propriedades mecânicas e no mecanismo de formação

do dano entre eles, será somente em conseqüência da variação da sua configuração, já que se mantém constantes a

orientação das fibras (tecido cruzado) com relação ao carregamento aplicado.

Para o corte das placas utilizou-se um disco de corte diamantado (DIFER D252), de forma a evitar um possível

"arranque" de fibras ou qualquer outro tipo de dano nos corpos de prova. As dimensões dos corpos de prova para o

ensaio de tração uniaxial foram retiradas da norma ASTM D 3039 [9], e as dimensões dos corpos de prova de

compressão e fadiga uniaxial (R = 10, R = -1 e R = 0.1) foram inspiradas no trabalho de Mandell [10]. De modo que,

todos os corpos de prova foram feitos de forma retangular em um mesmo sentido do laminado com as seguintes

dimensões: 200 x 25 mm para os ensaios de tração e fadiga uniaxiais, e 100 x 25 mm para os ensaios de compressão

uniaxial. Os comprimentos úteis (gage) são de 127 mm para os corpos de prova de tração e fadiga uniaxiais com R = 0.1,

40 mm para os corpos de prova de fadiga com R = -1 e R = 10 e de 35 mm para os corpos de prova de compressão

uniaxial.

Para os ensaios de tração uniaxial utilizou-se uma máquina de Tração Universal Mecânica PAVITEST, com

uma velocidade de deslocamento de 1 mm/min. Os ensaios de compressão foram realizados em uma máquina MTS-810

servo-hidráulica, utilizando-se uma velocidade de deslocamento de 1 mm/min. Foram utilizados 5 corpos de prova na

realização de cada ensaio estático. Os resultados destes ensaios encontram-se na Tabela 2.

A partir destes resultados, percebe-se que os valores das tensões últimas e módulos elásticos dos dois laminados

são bastante próximos e que a maior diferença percentual entre os dois está no modulo de elasticidade à compressão

(variação percentual de 11 %). Isto demonstra que os dois laminados possuem uma resistência a esforços estáticos

bastante próximos.

Os ensaios de fadiga foram feitos em uma máquina MTS servo-hidráulica, utilizando-se uma freqüência de 5 Hz

com comportamento senoidal e razões de fadiga R = 0.1, R = –1 e R = 10. Para a obtenção da curva S-N fez-se

primeiramente um ensaio com tensão máxima a 60 % do valor de tensão última do laminado (para R = 0.1 e R = –1

utilizou-se a tensão última à tração e para R = 10 utilizou-se a tensão última à compressão) e a partir deste resultado

escolheu-se os valores de tensão máxima dos outros ensaios. Os ensaios foram feitos de modo que os valores do número

de ciclos de falha ficassem entre 103 e 106 ciclos, caracterizando dessa forma a fadiga de alto ciclo. Para cada valor de

tensão máxima escolhido, utilizou-se 3 corpos de prova, totalizando 87 corpos de prova na conclusão dos ensaios. Todos

os ensaios foram feitos a temperatura ambiente (25 °C) e com umidade relativa do ar a 50 %.

Para o acompanhamento do dano durante os ensaios de fadiga, utilizou-se o seguinte procedimento; anotou-se o

valor de número de ciclos na qual não se percebia mais o aumento de trincas transversais no laminado (estado de

saturação) e o valor de número de ciclos na qual se percebia o aparecimento da delaminação no laminado. Além desta

forma de controle de dano, utilizou-se uma máquina fotográfica digital Kodak – Dc215 de resolução de 1100 x 900

pontos para a análise da formação e propagação do dano ao longo da espessura do laminado (bordos livres), tirando-se

fotos durante todo o ensaio.

RESULTADOS

Para um melhor entendimento do mecanismo de dano, a análise da fratura será descrita para cada tipo de razão

de fadiga utilizado (R = 0.1, R = -1 e R = 10), para as duas configurações analisadas. Esta divisão foi feita devido aos

diferentes tipos de formação e propagação do dano encontrados dependendo da razão de fadiga utilizada.

Análise do Dano Durante o Ensaio de Fadiga para R = 0.1

A partir da análise da formação e propagação do dano nos laminados, a prevenção de falha, ou mais

precisamente, o início de qualquer tipo de dano no material, pode ser melhor definido através da idealização do

Diagrama de Formação e Propagação do Dano (DFPD), para todas as razões de fadiga estudadas. A figura 1 mostra o

DFPD para os laminados C10 e C12 com R = 0.1. Pelos resultados encontrados, pode-se definir os passos (ou etapas)

para formação e propagação de dano:

1) Formação de fissuras transversais em toda área útil dos corpos de prova (bordo livre e largura) até a sua saturação.

2) Formação e propagação de delaminações iniciadas pela união das fissuras transversais.

3) Ruptura de fibra seguido da fratura final dos corpos de prova (esta ultima etapa é a curva S-N).

Analisando-se o DFPD da figura 1, percebe-se que os resultados aqui apresentados, condizem com os

resultados obtidos por Reifsnider [3] que registrou os mesmos passos para a formação e propagação do dano em

laminados unidirecionais.

Analisando os diagramas (a) e (b) na figura 1 percebe-se que o laminado C12 (figura 1b) apresenta uma

saturação de fissuras abaixo de 104 ciclos, enquanto que o laminado C10 (figura 1a) registra uma saturação acima de 104

ciclos para os mesmos valores de tensão máxima (σmax) aplicada. Em conseqüência disso, o laminado C12 inicia o

processo de delaminação mais prematuramente se comparado ao laminado C10. Isso faz com que o laminado C10 tenha

uma maior resistência a fadiga do que o laminado C12 conforme pode ser percebido na mesma figura, demonstrando

assim a importância da análise do ponto de saturação de fissuras transversais para se obter um melhor diagnóstico da

vida útil do laminado composto.

O motivo pelo qual seria necessário um número de ciclos maior para a ocorrência de saturação de fissuras

transversais no laminado C10, pode estar relacionado com a simetria deste laminado, pois, devido a esta simetria, o

mesmo possui uma melhor distribuição de tensões internas [11]. Isto retardaria a saturação de fissuras transversais, já

que iriam existir menos pontos de concentração de tensões dificultando, assim, a formação destas fissuras.

Outra característica interessante encontrada no laminado C12, e que pode também se aplicar ao fato da sua

menor resistência à fadiga quando comparado ao laminado C10, é com relação ao fenômeno da delaminação, pois,

enquanto o laminado C10 sempre iniciava sua delaminação nas camadas internas do laminado, o laminado C12 iniciava

sua delaminação preferencialmente nas camadas externas. Este fato chegou ao ponto da ocorrência da ruptura de uma das

camadas mais externas do laminado C12 (este tipo de ruptura não ocorreu no laminado C10) antes de sua ruptura final,

conforme é ilustrado na figura 2.

Análise do Dano Durante o Ensaio de Fadiga para R = -1

Mostra-se na figura 3(a) e 3(b) os DFPD dos laminados C10 e C12, respectivamente, para R = -1. Na análise

dos dados observa-se que os passos para a formação e propagação de dano nestes laminado foram os seguintes:

1) Formação de fissuras transversais no corpo de prova.

2) Início de delaminação nos bordos livres e posterior propagação ao longo da largura do corpo de prova.

3) Saturação das fissuras transversais.

4) Continuação da formação e propagação de delaminações no corpo de prova.

5) Ruptura de fibra com posterior fratura final do corpo de prova.

Analisando-se estes diagramas, percebe-se a ocorrência de um fato novo durante o ensaio que foi o início da

delaminação, antes da saturação das fissuras transversais. A ocorrência desta, parece estar relacionada ao tipo de carga

aplicada ao laminado, pois com a razão de fadiga sendo R = -1, o laminado sofre carregamento alternado (tração e

compressão) dando inicio, prematuramente, a formação da delaminação. Desse modo. é importante analisar com mais

atenção o tipo de carga aplicada na formação e propagação do dano no laminado submetido à fadiga.

Comparando-se os dois DFPD da figuras 3, verifica-se que tanto o início da delaminação quanto a saturação das

fissuras transversais ocorreram em um número de ciclos menor no laminado C12 (entre 500 e 104 ciclos) (figura 3b) se

comparado ao laminado C10 (entre 103 e 105 ciclos) (figura 3a), considerando o mesmo valor de tensão máxima

aplicada. Resumindo, novamente o laminado C12 iniciou sua formação e propagação da delaminação prematuramente

comparado ao laminado C10 e, em conseqüência disso, teve sua resistência à fadiga diminuída.

O motivo pelo qual seria necessário um número de ciclos maior para o laminado C10 atingir a saturação de

fissuras transversais e início de delaminação, pode estar relacionado com a simetria deste laminado, pelas razões já

colocadas em análise anterior [11]. Isto retardaria a saturação de fissuras transversais, e além disso dificultaria a

formação de delaminações, principalmente nas camadas externas do laminado. Para melhor demonstrar este fato, ilustra-

se na figura 4 uma série de fotografias tiradas durante o ensaio de fadiga de um laminado C10, para uma tensão máxima

(σmax) aplicada de 69 MPa e número de ciclos de ruptura (N0) de 4400 ciclos. O símbolo N demonstra o número de

ciclos no qual foi tirada a fotografia.

De acordo com a figura 4, as delaminações ocorreram nas camadas internas do laminado. Este tipo de

ocorrência foi similar para todos os corpos de prova analisados do laminado C10, porém este fato não foi encontrado no

laminado C12. No caso do laminado C12 as delaminações ocorreram de modo totalmente aleatório, formando-se tanto

nas camadas internas do laminado quanto nas camadas externas. Como exemplo, mostra-se na figura 5 a seqüência de

dano ocorrido no laminado C12 ensaiado com razão de fadiga (R) igual a -1, a tensão máxima (σmax) de 46 MPa e o

número de ciclos de ruptura (N0) de 17500 ciclos.

Para comparar o fenômeno da delaminação ocorrida nos dois laminados pode-se utilizar as figuras 5 e a 6, que

demonstram as seqüências de dano ocorridas nestes dois laminados utilizando-se R = -1 e a mesma tensão máxima

aplicada, σmax = 46 MPa. Pelo monitoramento percebe-se que para um percentual de 28 % de vida útil para C12 e 33 %

para C10 (valores que podem ser considerados próximos) o laminado C12 já apresenta uma grande quantidade de

delaminações, enquanto que o laminado C10 encontra-se pouco delaminado. Além disso, comparando-se as fotografias

tiradas a 57 % de vida útil do laminado C12 e 60 % de vida útil do laminado C10, percebe-se que o laminado C10

praticamente só possui delaminações nas suas camadas internas, enquanto que o laminado C12 possui delaminações em

quase todas as suas camadas. Isto demonstra o quanto a simetria do material (no caso do laminado C10) é importante na

formação e na propagação do dano durante a fadiga nos laminados e, conseqüentemente, na resistência à fadiga dos

mesmos.

Análise do Dano Durante o Ensaio de Fadiga para R = 10

Mostra-se na figura 7 os Diagramas de Formação e Propagação do Dano (DFPD) nos laminados C10 e C12,

respectivamente, para R = 10. Os passos para a formação e propagação de dano nestes laminados foram os seguintes:

1) Início de formação de delaminação nos bordos livres dos corpos de prova.

2) Propagação das delaminações ao longo da largura dos corpos de prova.

3) Ruptura de fibra seguido da fratura final do corpo de prova.

Analisando-se os corpos de prova, percebe-se que, para este tipo de razão de fadiga (R = 10) não foi observado

a presença, durante o ensaio, de fissuras transversais nos laminados. Este fenômeno pode ser atribuído ao tipo de

carregamento cíclico aplicado ser essencialmente compressivo, de modo que, sem a atuação de tensões trativas, a ruptura

da matriz se apresentou de modo pouco intenso e em etapas mais próximas à fratura final do laminado. Novamente,

percebe-se a importância do tipo de carga cíclica aplicada ao laminado na formação e na propagação do dano no mesmo.

Comparando-se os DFPD da figura 7, percebe-se que para os mesmos valores de tensão máxima aplicada (entre

99.6 e 132.8 MPa), o laminado C12 possui um início de formação de delaminação mais prematuro (entre 400 e 10300

ciclos) se comparado ao laminado C10 (entre 2100 e 90000 ciclos). Em conseqüência disto, registra-se uma menor vida

útil para o laminado C12. Estes resultados demonstram, novamente, a importância da simetria do laminado para a melhor

distribuição de tensões internas e melhor resistência à fadiga do mesmo.

A figura 8 demonstra a formação e a propagação do dano ao longo da espessura (bordo livre) do laminado C12,

para uma tensão máxima (σmax) aplicada de 99.6 MPa com número de ciclos de ruptura (N0) de 38700 ciclos e com razão

de fadiga (R) igual a 10. Por esta figura, percebe-se que o laminado C12 possuiu delaminação na maioria de suas

camadas e, devido a isto, pode-se dizer que este laminado teve uma redução significativa da sua vida útil.

Ainda como fonte ilustrativa do monitoramento do dano, a figura 9 demonstra a formação e a propagação do

dano ao longo da espessura (bordo livre) do laminado C10, para uma tensão máxima (σmax) aplicada de 132.8 MPa com

número de ciclos de ruptura (N0) de 3500 ciclos e com razão de fadiga (R) igual a 10. Por esta figura, percebe-se que o

laminado C10 só possuiu delaminação nas suas camadas mais internas, e, devido a esta menor concentração de

delaminações, pode-se dizer que este laminado teve um aumento significativo da sua vida útil.

Para comparar os resultados do dano obtidos nos dois laminados compostos pode-se utilizar as figuras 9 e 10

que ilustram uma seqüência de fotografias obtidas para R = 10 com a mesma tensão máxima (σmax) de 132.8 MPa

aplicada aos laminados C10 e C12, respectivamente. Em análise aos resultados, observa-se que, para um percentual de

vida a fadiga de 29 % para o laminado C10, o mesmo não possui, praticamente, nenhum tipo de dano formado no

laminado, enquanto que, para um percentual de 34 % do laminado C12 a formação de delaminações é bastante acentuada

para várias camadas do laminado. Este fato pode proporcionar, mais uma vez, ao laminado C12 uma vida útil à fadiga

menor quando comparado à do laminado C10.

CONCLUSÕES

- O monitoramento da fratura para R = 0,1 dos dois laminados demonstrou que os passos de ocorrência de dano nesta

razão de fadiga foram: ocorrência de fissuras transversais até a sua saturação, formação e propagação de delaminações,

ruptura de fibras e fratura final do laminado.

- O monitoramento da fratura para R = -1 dos dois laminados demonstra que os passos de ocorrência de dano nesta razão

de fadiga foram: ocorrência de fissuras transversais, formação e propagação das delaminações, saturação das fissuras

transversais, continuação da formação e propagação das delaminações, ruptura de fibras e fratura final do laminado.

- O monitoramento da fratura para R = 10 dos dois laminados demonstrou que os passos de ocorrência de dano nesta

razão de fadiga foram: formação e propagação de delaminações, ruptura de fibras e fratura final do laminado.

- Demonstra-se pelos resultados obtidos no monitoramento da fratura que o número de ciclos de início da delaminação

para todas as razões de fadiga (R) estudadas está, diretamente, relacionado com a vida útil do laminado. Em outras

palavras, quanto menor o número de ciclos exigidos para o início da delaminação, menor é a resistência à fadiga do

laminado.

- A partir do monitoramento da fratura através de fotos tiradas durante o ensaio, percebeu-se que o laminado C12

possuiu delaminação em, praticamente, todas as camadas e, principalmente, nas camadas externas; enquanto que o

laminado C10 só possuiu delaminação nas camadas internas. A falta de simetria no laminado C12 tem influência direta

neste resultado.

- A idealização dos DFPD possibilita a prevenção da falha ou início do dano, em função da intensidade da tensão

máxima aplicada e o número de ciclos correspondente ao início do dano.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pelo financiamento da bolsa, ao Departamento de Engenharia Mecânica da

UFPB Campus II, pela utilização do MTS e ao CEFET – RN pela utilização do PAVITEST.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Progress in Quasi-Isotropic CFRP Laminates. International Journal of Fatigue, 1999:21:235-242.

[6] Ogihara S, Takeda N, Kobayashi S, Kobayashi A. Effects of Stacking Sequence on Microscopic Fatigue Damage

Development in Quasi-Isotropic CFRP Laminates with Interlaminar-toughened Layers. Composites Science and

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Composites Science and Technology. 1999:59:759-768.

[8] Gamstedt EK, Sjögren BA. Micromechanisms in Tension-Compression Fatigue of Composite Laminates Containing

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[11] Herakovich CT. Mechanics of Fibrous Composites, 1997.

103 104 105 106

60

70

80

90

100

110

(a)

Região de formação e propagação das delaminações

Linha de saturação Fratura Final (Curva S-N)

Região de ocorrência de fissuras transversais

Tens

ão M

áxim

a (M

Pa)

Número de Ciclos

103 104 105 106

60

65

70

75

80

(b)

Região de formaçãoe propagação dasdelaminações

Região de ocorrência de fissuras transversais

Tens

ão M

áxim

a (M

Pa)

Número de Ciclos

Linha de saturação Fratura final

(Curva S-N)

Figura 1. Diagrama de Formação e Propagação do Dano (DFPD) nos laminados (a) C10 e (b) C12 com R = 0.1.

Figura 2. Laminado C12 (σmax = 69 MPa, R = 0,1, número de ciclos N = 18700 ciclos, número de ciclos de ruptura N0=

21200 ciclos).

103 104 105 106

35

40

45

50

55

60

65

70

(a)

Linha de saturação Início da

delaminação Fratura final

Região de formação epropagação da delaminação

Região deocorrência de fissuras transversais

Tens

ão M

áxim

a (M

Pa)

Número de Ciclos

103 104 105 106

35

40

45

50

55

60

65

70

(b) Linha de saturação Início da

delaminação Ruptura total

(Curva S-N)

Região de formação epropagação da delaminação

Região de ocorrência defissuras transversais

Tens

ão M

áxim

a (M

Pa)

Número de Ciclos

Figura 3. Diagrama de Formação e Propagação do Dano (DFPD) no laminado (a) C10 e (b) C12 com R = -1.

Ruptura da camada externa

Figura 4. Seqüência de dano ocorrido no laminado C10 ensaiado com R = -1 (N0 = 4400 ciclos, σmax = 69 MPa) (região

de bordo livre).

Delaminações

Figura 5. Seqüência de dano ocorrido no laminado C12 ensaiado com R = -1 (N0 = 17500 ciclos, σmax = 46 MPa) (região

de bordo livre).

Figura 6. Seqüência do dano ocorrido no laminado C10 ensaiado com R = -1 (N0 = 345200 ciclos, σmax = 46 MPa)

(região de bordo livre).

103 104 105 106

100

110

120

130

140

150

(a)

Início de delaminação Fratura final (Curva S-N)

Região depropagação das delaminações Região

aparentementesem formação de danos

Tens

ão M

áxim

a (M

Pa)

Número de Ciclos

103 104 105 106

90

100

110

120

130

(b)

Início de delaminação Fratura final (Curva S-N)

Região depropagação das delaminações Região

aparentementesem formação de danoTe

nsão

Máx

ima

(MPa

)

Número de Ciclos

Figura 7. Diagrama de Formação e Propagação do Dano (DFPD) no laminado (a) C10 e (b) C12 com R = 10.

Figura 8. Seqüência de dano ocorrido no laminado C12 ensaiado com R = 10 (N0 = 38700 ciclos, σmax = 99.6 MPa).

Figura 9. Seqüência de dano ocorrido no laminado C10 ensaiado com R = 10 (N0 = 3500 ciclos, σmax = 132.8 MPa).

Figura 10. Seqüência de dano ocorrido no laminado C12 ensaiado com R = 10 (N0 = 1460 ciclos, σmax = 132.8 MPa).

Tabela 1. Percentuais em volume de fibras, resina e vazios para as configurações C10 e C12.

Fibra (%) Resina (%) Vazios (%)

Laminado C10 32.8 57.2 9.9

Laminado C12 32.9 57.9 9.1

Tabela 2. Propriedades Mecânicas dos laminados C10 e C12

Laminado C10 Laminado C12

Tensão última à tração (MPa) 116.7 115.3

Tensão última à compressão (MPa) 171.3 181

Modulo de elasticidade à tração (GPa) 4.81 4.5

Modulo de elasticidade à compressão (GPa) 4.27 4.79

Deformação máxima à tração (%) 2.45 2.54

Deformação máxima à compressão (%) 4.07 3.92