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Ramiro Moura Tavares Tyszka Relatório de Estágio Curricular Realizado na Foz Tropicana, Parque das Aves (Foz do Iguaçu/PR) e no Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas do Sul (CETAS/PUCPR/IBAMA) Curitiba 2010

Medidas de contenção física5

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Ramiro Moura Tavares Tyszka

Relatório de Estágio Curricular Realizado na Foz Tropicana, Parque das Aves

(Foz do Iguaçu/PR) e no Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas do

Sul (CETAS/PUCPR/IBAMA)

Curitiba

2010

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Trabalho apresentado para conclusão do

Curso de Medicina Veterinária da

Universidade Federal do Paraná

Supervisor: Prof. Rogério Ribas Lange

Orientadores: MV. Mathias Dislich

MV, MSc. Grazielle Soresini

Ramiro Moura Tavares Tyszka

Relatório de Estágio Curricular

Área: Medicina de Animais Selvagens

Curitiba

2010

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Dedico este trabalho a todos os interessados.

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Agradecimentos

Primeiramente agradeço a minha família, que me deu apoio em todas as etapas

do meu curso, me aturando durante os momentos de estresse, me empurrando

nos momentos de desespero e comemorando nos momentos de alegria. Obrigado

minha mãe Clio, meu irmão Pietro e meu pai Marcos.

Obrigado a Luana Bicudo, que esteve mais próxima de mim do que qualquer outra

pessoa durante estes cinco anos de aprendizado, e que juntos vencemos essa

etapa da vida.

Professor Rogério R. Lange, sempre sendo “O” Professor, concedeu a mim mais

de 200% do meu aprendizado sobre Medicina de Animais Selvagens, me dando

oportunidades e razões para aprender. Obrigado por responder todas minhas

perguntas que fiz ao longo destes anos, tenho certeza que haverá mais, obrigado

por me orientar no trabalho de Iniciação Científica, e obrigado por ser o nosso

Fowler Brasileiro.

Mathias Dislich eu agradeço por tudo que aprendi com você, sua dedicação ao

trabalho me incentivou ainda mais a tornar-me um profissional de qualidade.

Mathias é um Veterinário que lhe ensina muito mais do que Medicina Veterinária,

ele lhe ensina fotografia, Excel e Access (Bertoli R. S., 2009).

Page 5: Medidas de contenção física5

Grazielle Soresini, mesmo tendo aprendido milhares de informações com você,

mesmo você me dando oportunidade para praticar milhares de tarefas, o que mais

aprendi de você foi o amor ao trabalho. Juro que a partir desde momento dedicarei

minhas forças a amar o meu trabalho da mesma forma que você o faz. Obrigado.

Obrigado Marina Figueiredo por tanto ter me ensinado e me ajudado durante

minha estadia no CETAS, obrigado Preta e Paulo por terem me deixado ajudá-los

na ausência das veterinárias. E obrigado funcionários do Parque das Aves:

Adriana, Amarildo, Dona Amélia, Francisco (obrigado em dobro ao senhor),

Giovane, Mariana, Seu Mário, Paulinho, Vanderlei e Yara.

E... Muitíssimo obrigado aos meus amigos, que sempre me deram apoio para eu

me dedicar à faculdade, em momentos que eu tinha que escolher entre estudar ou

festejar, assistir consultas ou ir a um churrasco. Obrigado por sempre me

respeitarem e nunca se esquecerem de mim. Prometo que tudo valerá a pena a

nós todos.

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“A vida não examinada não vale a pena ser vivida.”

Socrates

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SUMÁRIO

SUMÁRIO.............................................................................................................. vi

LISTA DE FIGURAS............................................................................................. vii

LISTA DE GRÁFICOS........................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS............................................................................................. xi

RESUMO............................................................................................................... xii

1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 14

2. OBJETIVOS................................................................................................ 15

2.1 OBJETIVOS GERAIS................................................................................. 15

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................... 15

3. RELATÓRIO DOS ESTÁGIOS................................................................... 16

3.1 FOZ TROPICANA, PARQUE DAS AVES.................................................. 16

3.1.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL........................................................................... 16

3.1.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................... 20

3.1.3 DISCUSSÃO............................................................................................... 31

3.2 CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SELVAGENS DE TIJUCAS DO SUL

– PUCPR – IBAMA................................................................................................ 42

3.2.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL........................................................................... 42

3.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................................... 47

3.2.3 DISCUSSÃO............................................................................................... 52

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 58

5. CASOS CLÍNICOS..................................................................................... 62

5.1 CASO CLÍNICO I........................................................................................ 62

5.1.1 HISTÓRICO................................................................................................ 62

5.1.2 DISCUSSÃO............................................................................................... 67

5.1.3 SOBRE A ESPÉCIE................................................................................... 68

5.1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 69

5.2 CASO CLÍNICO II...................................................................................... 75

5.2.1 HISTÓRICO................................................................................................ 75

5.2.2 DISCUSSÃO............................................................................................... 79

5.2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 81

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 87

7. Anexos....................................................................................................... 90

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Mapa esquemático do Parque das Aves.

FIGURA 2 – Sonda metálica para alimentação de aves.

FIGURA 3 - Mensuração do microhematócrito com tubos oriundos da África do

Sul.

FIGURA 4 – Indução anestésica de um gerbil (Meriones unguiculatus) usando

isoflurano.

FIGURA 5 – Animais do internamento sendo expostos a luz solar.

FIGURA 6 – Microhematócrito do tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus).

FIGURA 7 – Rodenticida encontrado no solo do recinto “Floresta” ao lado da

armadilha.

FIGURA 8 – Aspecto do animal no momento se sua chegada ao hospital

veterinário

FIGURA 9 – Sinais de hemorragia na cavidade oral de um tucano-de-bico-verde

(Ramphastus dicolorus) após ingestão de rodenticida.

FIGURA 10 – Cavidade oral de um tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus)

intoxicado com rodenticida, um dia após o tratamento com vitamina K.

FIGURA 11 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).

FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de

antibiograma de um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).

FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de

antibiograma de um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).

FIGURA 13 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus), após

debridagem do local.

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FIGURA 14 – Abertura da cavidade oral de um cágado-de-barbicha (Phrynops

geoffroanus) com o uso de um especulo, para alimentação forçada.

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Distribuição das atividades desenvolvidas pelo Setor Veterinário na

Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

GRÁFICO 2 – Exames complementares realizados na Foz Tropicana, Parque das

Aves durante o mês de julho de 2010.

GRÁFICO 3 – Relação entre número de internamentos e número de avaliações

anuais realizadas na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de

2010.

GRÁFICO 4 – Relação entre tucanos (Ramphastus sp.) e o total de animais

internados no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o

mês de julho em 2010.

GRÁFICO 5 - Relação entre as diferentes espécies de tucanos internados no

hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho

em 2010.

GRÁFICO 6 – Proporção entre a ordem das enfermidades dos animais internados

no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho

em 2010.

GRÁFICO 7 – Proporção entre machos e fêmeas usados para coleta de materiais

para exames complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves no mês de

julho de 2010.

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x

GRÁFICO 8 – Espécies usadas para coleta de amostras para exames

complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho de

2010.

GRÁFICO 9 – Locais usados para coleta de amostras microbiológicas dos animais

da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.

GRÁFICO 10 – Percentagem das amostras colhidas em meio de cultura BHI e em

selenito na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

GRÁFICO 11 – Casuística de animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul,

PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.

GRÁFICO 12 – Relação entre os casos referentes a traumas dos animais tratados

no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.

GRÁFICO 13 – Relação entre os casos de doenças nutricionais referentes aos

animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto

de 2010.

GRÁFICO 14 – Relação entre os casos de doenças parasitárias referentes aos

animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto

de 2010.

GRÁFICO 15 – Número de animais por espécie recebidos no CETAS de Tijucas

do Sul, PUCPR, IBAMA no mês de agosto de 2010.

GRÁFICO 16 – Número de solturas de animais por espécie, realizadas pelo

CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, em agosto de 2010.

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xi

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Animais presentes no internamento do hospital veterinário da Foz

Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

TABELA 2 - Programação referente aos dias em que fizeram o censo em cada um

dos recintos da Foz Tropicana, Parque das Aves, em 2010.

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RESUMO

A Medicina de Animais Selvagens por si só já possui uma grande variedade

de áreas em que um médico veterinário pode atuar. Visando abranger uma gama

maior das especialidades dentro da Medicina de Animais Selvagens, acompanhei

a rotina como estagiário de duas entidades distintas, o Parque das Aves e o

Centro de Triagem de Animais Selvagens (CETAS) de Tijucas do Sul. Com o

objetivo de aprimorar meus conhecimentos neste ramo da Medicina Veterinária,

pratiquei o exercício da profissão durante o período de 5 de julho até 31 de agosto

de 2010. Nestas condições tive a oportunidade de aprender sobre a medicina

profilática desenvolvida no Parque das Aves, e a medicina curativa tão praticada

no CETAS. Ao longo dos meus estágios acompanhei diversos casos clínicos, e

neste trabalho apresento os mais interessantes, buscando atualidades na

literatura, a fim de fornecer informações valiosas ao que venham estudá-lo.

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade apresentar as atividades

desenvolvidas durante meu estágio curricular no Parque das Aves no período de 5

a 30 de julho e no Centro de Triagem de Animais Selvagens – PUCPR nos dias 1

a 31 de agosto de 2010.

Buscando um aprimoramento mais rico sobre medicina de animais

selvagens, escolhi dois locais para estágio que apresentassem qualidades

complementares. O Parque das Aves é conhecido por desenvolver uma profilaxia

superior, mantendo um plantel saudável ao longo de anos. Já o CETAS de Tijucas

do Sul, tem sua fama por ser um exemplo entre os Centros de Triagem de todo o

Brasil, com sua avançada técnica curativa. Juntando esses dois pontos, uma

medicina profilática com uma curativa, pude complementar meu aprendizado,

tornando-me um profissional mais completo e apto a ser aceito no mercado de

trabalho.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVOS GERAIS

Aprimorar os conhecimentos das áreas de clínica médica e cirúrgica,

profilaxia e manejo de animais selvagens.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Aprender sobre o exercício da profissão de um médico veterinário em um

zoológico e em um centro de triagem de animais selvagens. Praticar as

habilidades requeridas por um médico veterinário de qualidade. Aprender sobre

medicina preventiva e medicina curativa.

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3. RELATÓRIO DOS ESTÁGIOS

3.1 FOZ TROPICANA, PARQUE DAS AVES

3.1.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL

O Parque das Aves é um zoológico que tem como principal característica a

exposição de aves ao público. Em 1994 o parque foi criado por um admirador de

aves, Dennis Croukamp, e por sua esposa Anna Croukamp. Ele apresenta uma

área de 16 hectares, sendo que oito deles são destinados a visitação e o restante

é considerado uma área de proteção ambiental. Entretanto os próprios recintos

são construídos de forma a alterar pouco o ambiente em que se encontram, de

modo que se fossem desfeitos, a mata tornar-se-ia próxima a nativa rapidamente.

Como zoológico o parque segue fielmente o tripé que rege os zoológicos,

dedicando-se a: conservação da natureza, educação ambiental e lazer. O parque

conta com uma equipe destinada a recepcionar escolas e os acompanhar durante

o passeio promovendo uma educação ambiental de qualidade. Também realiza

pesquisas na área de conservação, e estuda, executa e participa de projetos que

envolvem conservação animal.

Os principais objetivos do parque são: educar os visitantes do parque

quanto ao respeito à natureza de forma a despertar a consciência ambiental,

desenvolver projetos e pesquisas na área de conservação ambiental, reproduzir

animais em cativeiro, em especial os ameaçados de extinção e expor os animais a

fim de arrecadar dinheiro para futuros investimentos no próprio parque.

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Para o funcionamento adequado do parque, ele conta com diversas

instalações, como: hospital veterinário, cozinha, depósito de alimentos, área

interna, sala de necropsias, quarentena, recintos e a oficina.

O hospital veterinário apresenta um internamento, um ambulatório, um

laboratório, uma sala de esterilização, um depósito de materiais de limpeza, um

depósito de materiais hospitalares, um banheiro, uma sala de incubação e uma

para filhotes. O internamento apresenta diversas gaiolas para abrigar animais

enfermos. O ambulatório se localiza junto com o escritório do veterinário, e contém

a maioria dos materiais necessários para o dia-a-dia do veterinário, além de um

equipamento de anestesia inalatória com isoflurano, um Vetscan®, aparelho

usado para exame bioquímico do sangue e uma geladeira usada para armazenar

medicamentos, meios de cultura e kits de identificação de bactérias. O laboratório

é usado tanto para laboratório clínico, microbiológico e parasitológico. Ele contém

uma estufa microbiológica, um microscópio, e diversos kits para coloração de

lâminas. Na sala de ovos há uma série de incubadoras para os diversos tamanhos

de ovos, além de balança para pesagem de ovos.

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FIGURA 1 – Mapa esquemático do Parque das Aves

(Retirado do site oficial do Parque das Aves, www.parquedasaves.com.br)

A cozinha é onde são preparados os alimentos dos animais. Nela trabalha

uma funcionária permanente junto com mais uma funcionária da limpeza, que

muda a cada dia. O depósito de alimentos armazena as rações usadas na

alimentação das diversas espécies.

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Na área interna há 16 recintos extras, os quais são usados para alojar

animais excedentes, ou animais problema, que por algum motivo, como brigas,

agressão a visitantes ou por estarem em tratamento, não podem permanecer nos

seus recintos de origem. O biotério do parque se localiza nesta área, e há espaço

para criação de ratos, e para alojar coelhos, galinhas e grilos que são comprados

quando necessário. Além disto, animais mansos, usados no entretenimento de

turistas, são alojados na área interna. Também há a cozinha de preparo de

alimentos para seres humanos e o refeitório para funcionários do parque.

A sala de necropsias fica isolada das demais instalações, e apresenta uma

mesa para realização das necropsias, um freezer comum para armazenar

cadáveres, e um local destino ao armazenamento de amostras histológicas.

A quarentena fica em um local distante do hospital veterinário, e possuí três

recintos pequenos para alojar animais recém chegados no parque. O período que

os animais ficam na quarentena é de cerca de 30 dias, e no decorrer desses dias

são feitos exames físicos e complementares a fim de avaliar a condição sanitária

dos animais. Além desta função, no Parque das Aves, a quarentena tem uma

função importantíssima de acostumar os animais a uma nova dieta, pois nunca se

deve soltar um animal em um recinto coletivo sem que este esteja habituado a

alimentar-se do alimento disponibilizado para ele.

Os recintos do Parque das Aves foram construídos de forma a alterar pouco

o ambiente a sua volta, deixando-os o mais natural possível. Assim mesmo os oito

hectares destinados a visitação continuam a preservar boa parte do ambiente

natural da região.

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Há dois tipos de recintos no parque: um deles são os recintos fechados,

comuns em outros zoológicos, e o outro são os recintos de imersão. Os recintos

de imersão foram construídos de forma a permitir a entrada dos visitantes,

oferecendo um maior contato com os animais. Eles apresentam um corredor de

segurança que dificulta a fuga de animais, e uma trilha que deve ser seguida pelos

visitantes, para que os animais ainda tenham a opção de manterem-se longe das

pessoas e abrigados. Nesses recintos só encontramos animais selecionados, que

suportem a presença do homem, e que não sejam agressivos.

A oficina do parque, muito bem desenvolvida, de modo que todos os

reparos e construções de recintos sejam feitos por funcionários do próprio parque,

sem a necessidade de trabalho terceirizado. Dessa forma qualquer situação de

risco pode ser corrigida com rapidez e eficiência, uma vez que os funcionários são

muito bem treinados.

Além disto, há as instalações referentes à administração do parque, a

lanchonete, a loja e uma área destinada á educação ambiental. Mas ainda há uma

estrutura importante no parque, que é o filtro biológico. Este dispositivo utiliza

materiais para filtragem e luz ultravioleta, o que permite que a água dos recintos

permaneça limpa e transparente por um tempo prolongado. Entretanto a limpeza

dos recintos continua a ser feita com bastante regularidade.

3.1.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Durante minha estada no Parque das Aves, minhas atividades começavam

às 8 horas da manhã indo até as 12 horas, quando fazíamos um intervalo para o

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almoço. Após isto às 13 horas eu retornava as atividades, porem na maioria dos

dias eu acompanhava o MV Mathias em atividades nos laboratórios. Às 17 horas

meu serviço acabava, entretanto muitas vezes eu permanecia por mais tempo,

com a autorização do Mathias, para ajudá-lo no serviço pendente. Eu me alojei no

Hotel Otto, que ficava numa boa localização e tinha transporte fácil até o Parque.

O transporte era pago pelo próprio Parque, assim como o café da manhã e o

almoço. O jantar eu costumava fazer na lanchonete do Parque, pois eu tinha um

desconto de 20% nos produtos ali vendidos.

As atividades desenvolvidas pelos estagiários eram basicamente:

medicar animais, fazer ronda pelos recintos, acompanhar os diferentes setores do

Parque, realizar e interpretar exames complementares, realizar exames físicos nos

animais dos recintos e realizar necropsias. Durante o estágio, tive oportunidade de

acompanhar o censo anual que tinha como objetivo confirmar o número das

anilhas e dos microchips dos animais, fazer a microchipagem dos animais ainda

não microchipados, avaliar a necessidade de coleta de sangue para sexagem e

fazer um exame físico dos animais. Ao decorrer da minha permanência no Parque

distribuí as atividades de acordo com o GRÁFICO 1.

A primeira atividade do dia era medicar os animais internados, o que

deveria ser feito o mais cedo possível. Durante meu estágio presenciei 22 animais

internados. Incluindo os animais que já estavam internados antes e os que foram

internados durante minha estadia. Os animais internados estão demonstrados na

TABELA 1. A medicação era feita tanto pelo veterinário quanto pelo estagiário, e

em muitas vezes o estagiário era acompanhado apenas pela auxiliar do

veterinário, que fazia a contenção dos animais. As agulhas e as seringas eram

Page 22: Medidas de contenção física5

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reutilizadas e reutilizadas nos mesmos animais. Concomitantemente com as

medicações era feita a alimentação forçada nos animais que a requeriam. A

alimentação forçada era preparada com ração para filhotes da Alcon®, e era

fornecida por meio de uma sonda para aves (FIGURA 2). Os principais animais

que recebiam tal alimentação eram os tucanos-de-bico-verde e a principal

orientação dada pelo veterinário do Parque era de se o animal regurgitasse

durante a alimentação, a contenção física deveria ser cessada o mais rápido

possível, para evitar que houvesse aspiração do alimento, levando a iatrogenia.

GRÁFICO 1 – Distribuição das atividades desenvolvidas pelo Setor Veterinário na Foz

Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

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FIGURA 2 – Sonda metálica para alimentação de aves.

(foto retirada do site http://www.ortovet.com.br/catalogo/loja_tipo2.php?cat_id=43&pro_id=1017, no dia 18 de setembro de 2010)

Durante o período de estágio três animais que estiveram internados e

necessitaram sofrer contenção química. Para isto foi usado isoflurano tanto para

indução quanto para manutenção. Os procedimentos foram uma redução e

imobilização de uma fratura e duas suturas de feridas causadas por brigas no

recinto. Além disto, houve mais um caso em que um animal que foi anestesiado

para se fazer exame físico, coleta de material para exames laboratoriais e

microchipagem (sagui-de-tufo-preto – Callithrix penicillata)

Com o término das medicações, o veterinário junto do estagiário fazia uma

ronda por todo o parque, observando todos os animais em busca de

anormalidades que requeressem intervenção.

Em seguida da ronda, voltávamos ao setor de veterinária e ou nos

preparávamos para fazer o censo anual juntamente com o exame físico dos

animais, ou realizávamos os exames complementares.

O censo anual é realizado para manter o controle do plantel. Como dito

anteriormente, eram conferido às identificações dos animais, realizado a

identificação e a coleta de sangue para sexagem quando pendentes e realizado o

exame físico e a vermifugação de todos os animais. Durante o censo capturamos

Page 24: Medidas de contenção física5

24

cerca de 313 animais, dentre eles aves, répteis e mamíferos. Inicialmente a minha

função era de preparar os medicamentos e organizar a coleta de materiais para

exames complementares. À medida que fui ganhando confiança do veterinário

comecei a aplicar as medicações eu mesmo, enquanto que os tratadores

realizavam a captura e a contenção física dos animais.

A vermifugação era feita ou com levamisol (Ripercol®), ou com febendazole

(Panacur®), variando de acordo com a experiência do veterinário. O levamisol é

preparado usando um produto na concentração de 7,5%, diluído em nove partes

de ringer com lactato, de modo que a dose usada para a maioria das espécies de

aves fica de 1 mL/kg. Por ser um agente com risco tóxico, essa diluição torna o

medicamento torna-se mais seguro. O febendazole por si só já é usado na mesma

dose de 1 mL/kg.

Quando a equipe estava bem treinada, eu e o Mathias cuidávamos

integralmente das medicações, eu as preparando e administrando, e ele

supervisionando e fazendo o exame físico, enquanto que a assistente se

encarregava de identificar as amostras coletadas e, quando necessário, ela

também ajudava na contenção dos animais.

Para os procedimentos do censo todos usavam equipamentos de proteção

individual (EPIs), de acordo com o tipo de animais a serem capturados, como por

exemplo, luvas de couro para Psitaciformes e óculos de proteção para aves com

bico pontiagudo.

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TABELA 1 – Animais presentes no internamento do hospital veterinário da Foz

Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010. Data Espécie Queixa Principal Ordem da Enfermidade

09/05/10 Phoenicopterus ruber

roseus

Apatia Indeterminada

20/05/10 Aratinga leucophtalma Lesão ocular Traumática

04/06/10 Ramphastuc tucanus Apatia Infecciosa

06/06/10 Amazona vinacea Lesão em digito Traumática

11/06/10 Eudocimus ruber Queimadura Traumática

12/06/10 Guarouba guarouba Agressão Traumática

14/06/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa

22/06/10 Ara chloropterus Tumor cavidade oral Inflamatória

23/06/10 Dendrocygna vicuata Perda de peso Indeterminada

30/06/10 Ramphastus dicolorus Apatia Parasitária

01/07/10 Boa constrictor Lesão tegumentar Traumática

07/07/10 Chauna torquata Lesão (perfuração) Traumática

08/07/10 Penelope supercilliaris Fratura em tarso Traumática

11/07/10 Pionopsitta pileata Lesão em digito Traumática

14/07/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa

17/07/10 Ramphastus dicolorus Capillaria Parasitária

19/07/10 Ramphastus dicolorus Enterite Infecciosa

19/07/10 Ramphastus dicolorus Perda de peso Parasitária

20/07/10 Ramphastus dicolorus Edema conjuntival Toxigênica

27/07/10 Gutera pucherani Apatia Infecciosa

27/07/10 Crax faciolata Agressão Traumática

29/07/10 Guarouba guarouba Agressão Traumática

Page 26: Medidas de contenção física5

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A rotina de captura dos animais para o censo seguiu conforme a TABELA

2. Houve um grande intervalo sem capturas entre os dias 20 e 26, devido às férias

que foram tiradas pelo veterinário durante estes dias. Em sua ausência quem

assumia o setor de veterinária era a sua folguista, a veterinária Katrin. Nesse

período só houve captura no dia 26 com a presença da veterinária, e nos demais

não houve captura. Durante esses dias eu acompanhei mais os tratadores em

seus setores, buscando aprender mais sobre as espécies, sobre manejo e

alimentação dos animais.

Os exames complementares eram basicamente: hemograma, bioquímica

sanguínea, esfregaço sanguíneo, sorologia, exame bacteriológico e citológico de

fezes, de zaragatoas de cloaca e exame histológico. A rotina de exames

complementares está demonstrada no GRÁFICO 2.

TABELA 2 - Programação referente aos dias em que fizeram o censo em cada um dos

recintos da Foz Tropicana, Parque das Aves, em 2010.

Data Recinto Data Recinto

05/07 Extras 15/07 Viveirão

06/07 Árvore da Vida 16/07 Pantanal

07/07 Ameaçados 19/07 Savana e emas

08/07 Floresta 20/07 Tucanos e mutuns

10/07 Araras e papagaios 26/07 Isolamento e entrada

11/07 Urubu-rei 27/07 Extras

12/07 Gralha e periquitos 30/07 Répteis

14/07 Asiático 31/07 Flamingos

Page 27: Medidas de contenção física5

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FIGURA 2 - Colheita de sangue de um grou-demoiselle (Anthropoides virgo), com contenção

física com uso de EPIs.

Os exames hematológicos eram feitos o mais rápido possível. O esfregaço

era realizado logo quando o sangue era coletado, antes de se misturar com

qualquer anticoagulante, já que as seringas usadas para colheita não eram

heparinizadas. Em seguida o sangue era depositado em um frasco contendo

heparina, e em seguida homogeneizado, tomando o devido cuidado para evitar

hemólise.

O hematócrito era feito pela técnica do microhematócrito, porém os tubos

usados para tal eram diferentes dos convencionais, pois estes vieram da África do

Sul, como pode ser visto na FIGURA 3. Os seis tubos eram mensurados,

avaliando a percentagem de células vermelhas por uma regra de três, e para se

Page 28: Medidas de contenção física5

28

obter um resultado era feito a média entre os seis tubos, calculando também o

desvio padrão, para saber se a amostra era valida ou não.

GRÁFICO 2 – Exames complementares realizados na Foz Tropicana, Parque das Aves durante

o mês de julho de 2010.

O esfregaço sanguíneo era secado com secador de cabelo para acelerar o

processo, e corado ou pela técnica de panótipo, ou pela de Giemsa e Grimwald.

Pelo esfregaço era feita a contagem de leucócitos por estimativa, e em seguida

era realizada a contagem diferencial.

Para se obter o perfil bioquímico era usado um equipamento especializado

chamado Vetscan®. Com esse equipamento uma pequena quantidade de sangue

fornece o melhor perfil bioquímico de acordo com a espécie animal em 15

minutos.

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FIGURA 3 - Mensuração do microhematócrito com tubos oriundos da África do Sul.

(Foto de Mathias Dislich)

O soro dos animais era armazenado para serem enviados a laboratórios

especializados para exames sorológicos.

Já exames citológicos de fezes e de material de cloaca colhido com

zaragatoas eram realizados no próprio laboratório do parque e eram corados ou

por método de panótipo ou por Giemsa e Grimwald.

Também eram realizados exames diretos das fezes dos animais, como

forma de avaliação do nível de parasitismo.

A coloração de gram era a usada para os exames bacteriológicos. Além

disso, o laboratório do Parque disponha de equipamento para realizar cultura

bacteriana. Portanto grande parte da nossa rotina se destinava a esta etapa dos

exames complementares, como pode ser visto no GRÁFICO 2. O laboratório

dispunha de diversos meios de cultura. Os mais usados eram o de Selenito e do

de BHI como meios líquidos, e o Agar Sangue e o Agar SS para o isolamento de

colônias.

Page 30: Medidas de contenção física5

30

Para identificação das bactérias o laboratório usava Kits especializados

(BACTRAY®), que testam a capacidade das bactérias de degradar diferentes

substâncias, e a partir da combinação de positivos e negativos para os diferentes

testes, e com o uso de um software, se obtém as espécies de bactérias mais

prováveis.

Durante meu estágio presenciei seis necropsias, como pode ser visto no

GRÁFICO 1. Os animais necropsiados foram uma perdiz (Rhynchotus rufescens),

um flamingo-africano (Phoenicopterus ruber roseus), um quero-quero (Vanellus

chilensis), uma iguana (Iguana iguana), um pássaro-preto (Gnorimopsar chopi) e

um marreco-mandarim (Aix galericulata). Nas necropsias todos os órgãos eram

pesados e fotografados e era colhido material para exames histológicos, que eram

mantidos conservados para posterior envio a algum laboratório especializado ou

para alguma universidade. Alguns materiais eram colhidos para exames de

microscopia eletrônica, e eram devidamente conservados para este fim.

Sobre os manejos reprodutivos foram poucas as situações que presenciei,

já que no mês de julho os animais ainda não haviam entrado no período

reprodutivo. A sala de incubação foi usada para incubar dois ovos de tachã

(Chauna torquata), e houve também a postura de urubus-rei (Sarcoramphus

papa).

Além disto, houve outras tarefas pertinentes ao estagiário, como

acompanhar os tratadores em seus setores, acompanhar as atividades na cozinha

para aprender sobre a alimentação de cada espécie e o biotério.

Outra atividade importante realizada diariamente no Parque das Aves é

uma reunião antes do almoço, em que estão presentes o veterinário e seu

Page 31: Medidas de contenção física5

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estagiário, os biólogos, a diretora do parque e sua secretária, e todos os

tratadores. Nesta reunião são discutidos todos os episódios e as observações

importantes, sobre todos os recintos, sobre manejos de animais e sobre as tarefas

de cada dia.

3.1.3 DISCUSSÃO

Avaliando o GRÁFICO 1 podemos perceber qual é o enfoque que o

veterinário tem no seu trabalho. 52% das atividades são voltadas para os exames

complementares, que visam obter rapidamente informações sobre os animais, a

fim de identificar os problemas em um estágio inicial das enfermidades. Isto pode

ser considerado uma medida profilática, já que tanto animais doentes quanto os

saudáveis passam por esse processo. O segundo ponto de maior enfoque do

veterinário foi o exame físico anual com 44% do total de atividades, mostrando

mais uma atividade profilática, de modo a conhecer o seu plantel, a fim de

identificar situações que exijam intervenção veterinária. Muitas vezes nesses

exames físicos identificamos problemas mais generalizados, que podem indicar

algum erro de manejo, como um recinto ou alimentação inapropriada. O numero

de internamentos é incrivelmente menor que o de ações profiláticas, sendo este

apenas 3% do total. Este 3% representa 22 animais, o que quando comparado

com os 313 animais que foram examinados durante o censo percebemos mais

ainda tal importância, como pode ser visto no GRÁFICO 3.

No internamento, tivemos uma grande variedade de animais, como pode

ser visto na TABELA 1. Entretanto houve uma incidencia maior de tucanos.como

Page 32: Medidas de contenção física5

32

podemos ver no GRÁFICO 4. Entre os tucanos o de maior importância foi o

tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus), sendo estes sete casos num total

de oito. O GRÁFICO 5 contém as informações sobre os tucanos.

GRÁFICO 3 - Relação entre número de internamentos e número de avaliações anuais

realizadas na Foz Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

De acordo com o GRÁFICO 6 percebemos que o maior número de casos

foi o de lesões traumáticas, seguido de o de doenças infecciosas. Isto mostra mais

uma vez a importância das medidas profiláticas adotadas pelo veterinpario do

Parque. A maior incidencia de casos de trauma se deve a alta concentração dos

animais nos recintos, pois assim os animais tem menos espaço para voar e se

abrigar. Muitos casos desses ocorrem durante o período de chuva e frio, pois os

animais dominantes não permitem que os mais fracos se abriguem, e muitas

vezes acabam atacando e causando lesões nos oprimidos. Outro ponto que levou

a uma grande quantidade de traumas no mês de julho foi a captura dos animais

para o censo, pois em alguns momentos os animais se machucavam durante as

contenções físicas.

Page 33: Medidas de contenção física5

33

A baixa ocorrencia de doenças infecciosas e parasitárias é o reflexo de uma

profilaxia de qualidade, com a vermifugação dos animais regularmente, e com o

procedimento de quarentena dos animais recem chegados. A vermifugação

periódica é feita de uma maneira diferente para cada espécie, sendo que a

intensidade pode variar de três em três meses até dois em dois anos. A

quarentena no parque das aves tem uma importância maior do que só uma

barreira sanitária, pois é nesse local que eles acostumam os animais a uma nova

dieta. Não é recomendado soltar um animal em um recinto sem que este esteja

abituado a se alimentar do alimento fornecido.

GRÁFICO 4 – Relação entre tucanos (Ramphastus sp.) e o total de animais internados no

hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.

GRÁFICO 5 – Relação entre as diferentes espécies de tucanos internados no hospital

veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.

No internamento tive a oportunidade de treinar a aplicação de

medicamentos e a realização de alimentação forçada. Foram poucas, mas

também tive a oportunidade de treinar a contenção física dos animais internados.

Page 34: Medidas de contenção física5

34

As seringas eram reutilizadas como foi dito anteriormente, o que com

certeza aumentava a pressão sofrida pelos animais.

GRÁFICO 6 – Proporção entre a ordem das enfermidades dos animais internados internados

no hospital veterinário da Foz Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.

As seringas eram reutilizadas como foi dito anteriormente, o que com

certeza aumentava a pressão sofrida pelos animais.

Durante as medicações dos animais tive oportunidade de discutir vários

casos e diferentes formas de tratamento com o veterinário, o que me rendeu muita

informação extra. Muitas vezes fazíamos comparativos com o que outros

veterinários faziam, e quando havia discordância entre as informações nós

estudávamos em livros, que pertenciam ao Parque, e na maioria das vezes

chegávamos a conclusões importantes, mudando até a nossa forma de pensar.

A experiência do veterinário sobre o tratamento dos animais era

extremamente valiosa, e muitas vezes os protocolos eram diferentes dos citados

em livros, e mesmo assim víamos um ótimo resultado em muitos dos animais,

como no tratamento de tucanos com capilariose, em que os animais são tratados

com febendazole (Panacur®), na dose de 50 mg/kg, PO, BID, por cinco dias,

repetindo o tratamento após 15 dias. E em seguida são tratados com Levamisol

(Ripercol®) na dose de 7,5 mg/kg SC SID por um dia.

Page 35: Medidas de contenção física5

35

O internamento esteve lotado por vários dias, e alguns animais tiveram que

terminar o seu tratamento no próprio recinto. Entretanto este foi um episódio raro,

pois não é comum tantos animais adoecerem ao mesmo tempo no Parque das

Aves.

A ronda era um ótimo momento para discutir diversos assuntos com o

veterinário, muitas vezes assunto não relacionados à medicina veterinária, mas

muitos deles eram importantes para o crescimento profissional. Mas o principal

ponto positivo das rondas era aprender a avaliar a necessidade de intervenção

veterinária. Isto é uma questão de vivência e treinamento, olhar para um recinto e

saber o que há de errado, aprender as diferentes posturas e diferentes

comportamentos dos animais, tanto quando estão sadios quanto quando estão

enfermos. A ronda também foi importante para aprender sobre a biologia dos

animais, como a forma de alimentação, por exemplo, os guarás (Eudocimus

ruber), que precisam receber água junto com os peixes para que estes possam

mergulhá-los e então ingeri-los.

O censo foi uma das melhores oportunidades que tive, pois conheci a forma

de contenção das diferentes espécies, assim como as melhores vias de

administração de fármacos. Pratiquei muito a aplicação de remédios,

principalmente pela via subcutânea e a via oral, com o uso do levamisol e do

febendazole, respectivamente. Entretanto foram poucas as vezes que eu

efetivamente pratiquei a contenção física dos animais, o que para mim foi uma

insatisfação. Mas isto ocorreu dessa forma, pois no Parque das Aves, é função

dos tratadores fazer a contenção física, por mais que seja função do veterinário

ensiná-los. Outro ponto positivo do censo foi a pratica do trabalho em equipe.

Page 36: Medidas de contenção física5

36

Toda a equipe do Parque era muito bem treinada, e eu tive a oportunidade de

aprender a sua forma de trabalho, o que com certeza me ajudou muito a crescer

profissionalmente.

Foi durante o censo que a maioria das amostras para exames

complementares foi coletada, e nesses momentos tive a oportunidade de aprender

a forma e os materiais a serem coletados das diferentes espécies.

Os exames complementares são um dos pontos mais fortes do Parque das

Aves. O veterinário responsável é um profissional muito entendido nessa área, e

que com o objetivo de centralizar as informações sobre os animais e de tornar a

obtenção dos resultados mais rápida, passou a realizar os exames

complementares em suas próprias instalações.

Diversos animais foram usados para se obter as amostras, e estes eram

escolhidos de acordo com a vontade do veterinário. Ele buscava conhecer melhor

o seu plantel. Isto é de extrema importância, pois como estamos falando de

animais selvagens, não há valores de referência sobre a maioria deles. Logo o

veterinário esta criando um banco de dados de grande valia. Assim quando algum

animal estiver internado, os resultados dos seus exames complementares podem

ser comparados aos dos animais sadios que ele já havia obtido anteriormente. Os

exames foram realizados em uma proporção maior em animais do gênero

feminino, como podemos ver no GRÁFICO 7. É possível que este resultado tenha

ocorrido devido ao grande numero de flamingos-africanos (Phoenicopterus ruber

roseus) do sexo feminino que foram usados para obtenção das amostras e o único

motivo pelo qual as fêmeas foram escolhidas foi para padronizar a amostra.

Page 37: Medidas de contenção física5

37

Como podemos ver no GRÁFICO 8 os flamingos representaram 15% do

total de amostras coletadas, deixando-os como a terceira espécie mais coletada,

seguido das jacutingas (Aburria jacutinga) em segundo e dos guarás (Eudocimus

ruber) em primeiro.

Com relação aos exames hematológicos, aprendi mais sobre a

interpretação resultados. Não pratiquei nenhuma coleta de sangue, o que foi

descontentador e nenhum esfregaço sanguíneo. Porém aprendi a interpretá-los,

inclusive com o avançado aparelho Vetscan®. Esse aparelho com certeza é de

ótima valia para o Parque, entretanto cada exame requer o uso de um disco

próprio para o equipamento, e cada disco apresenta um valor monetário

consideravelmente alto.

No Parque a coloração de lâminas de esfregaço sanguíneo, citológico, de

gram de fezes e de cloaca na maioria das vezes é feita pela técnica auxiliar do

veterinário, mas mesmo assim tive oportunidade de praticar várias vezes à

confecção das lâminas. Fiquei contente quando percebi que as minhas maiores

dificuldades na interpretação dos exames eram as mesmas sofridas pelo

veterinário, porém em menor escala.

GRÁFICO 7 – Proporção entre machos e fêmeas usados para coleta de materiais para exames

complementares na Foz Tropicana, Parque das Aves no mês de julho de 2010.

Page 38: Medidas de contenção física5

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GRÁFICO 8 – Espécies usadas para coleta de amostras para exames complementares na Foz

Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho de 2010.

As amostras biológicas, ou seja, para exames microbiológicos, eram

usadas principalmente para a identificação das bactérias. As amostras eram

coletadas principalmente da cloaca de animais sadios, como podemos ver no

GRÁFICO 9. A percentagem de amostras de lesões foi bem baixa devido a baixa

incidencia de lesões, e as de necrópsias deram um valor que quando comparado

aos de cloaca torna-se baixo, entretanto a maioria dos órgãos que continuam

alguma alteração nas necrópsias eram usados para colheita de amostras

biológicas.

Nas necrópsias as amostras eram obtidas esquentando uma lamina

de bisturi, encostando a lamina sobre a superfície do órgão, incisando a superfície

e em seguida introduzindo a zaragatoa no corte. As amostras eram coletadas o

mais rápido possível, a fim de minimizar a contaminação. A maioria das amostras

foram semeadas primeiramente em meio de cultura selenito (82% das amostras)

como podemos ver no GRÁFICO 10 e em seguida eram repicadas ou em agar

Page 39: Medidas de contenção física5

39

sangue ou em agar SS. A combinação de selenito com o agar SS é uma ótima

ferramenta para isolar a bactéria do gênero Salmonella sp.. Isto mostra a

procupação do veterinário com a salmonelose em seu plantel, com razão pois a

salmonela é patogênica para todas as aves.

GRÁFICO 9 – Locais usados para coleta de amostras microbiológicas dos animais da Foz

Tropicana, Parque das Aves, durante o mês de julho em 2010.

Gráfico 10 – Percentagem das amostras colhidas em meio de cultura BHI e em selenito na Foz

Tropicana, Parque das Aves durante o mês de julho de 2010.

Nos exames de fezes tive oportunidade de aprender sobre alguns ovos de

parasitas, principalmente sobre capilaria, que é extremamente comum em

tucanos-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus). Como a maioria dos nosso

internados eram tucanos-de-bico-verde (GRÁFICOS 4 e 5), todos os exames de

fezes que fiz nessas espécies deram positivo para capilaria. A interpretação do

Gram de fezes tambem foi um ótimo aprendizado para min, e com o auxilio do

Page 40: Medidas de contenção física5

40

veterinário em poucos dias já adqueri experiência necessária para diagnósticar

casos não muito complexos.

As necrópsias eram realizadas meticulosamente, o que me deu bastante

oportunidade para conhecer diversas peculiaridades sobre as espécies e sobre

patologia. Tive oportunidade de realizar eu mesmo duas das necrópsias. Os

materiais coletados para histologia ficavam armazenados na própria sala, e fazia

algum tempo que o veterinários não os enviava para algum laboratório

especializado. Isto é um ponto negativo, pois para um local que preza tanto pela

profilaxia o laudo de um exame histologico de um animal do plantel é muito

valioso, pois sabendo exatamente o que o animal apresentava facilita a prevenção

nos demais da mesma espécie.

As férias tiradas pelo veterinário durante meu estágio foram inicialmente

desanimadoras, pois eu estaria perdendo tempo de aprendizado. Entretanto

durante esse periodo aprendi sobre diversos assuntos, principalmente com os

tratadores, os quais eu acompanhei mais de perto no decorrer desses dias. O

principal ponto que aprendi foi sobre o convivio das pessoas em um zoológico,

como por exemplo a relação que os funcionários tem com os veterinários. E mais

uma vez tive oportunidade de ver como a equipe do Parque das Aves é bem

treinada, pois todos sabiam com clareza suas funções e as funções de cada

pessoa, de modo que todos sabiam a quem se dirigir e como se dirigir quando

havia interperies no cotidiano do Parque.

As reuniões realizadas diariamente com os tratadores do parque foram

extremamente importantes, pois dessa forma os cordenadores do parque

conseguem manter-se informados sobre todos os ocorridos, além de que os

Page 41: Medidas de contenção física5

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próprios tratadores sentem-se mais valorizados por estarem sendo ouvidos e

tambem sentem-se com uma responsabilidade maior sobre o seu setor.

Page 42: Medidas de contenção física5

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3.2 CENTRO DE TRIAGEM DE ANIMAIS SELVAGENS DE TIJUCAS DO

SUL – PUCPR – IBAMA

3.2.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL

Um Centro de Triagem de Animais Selvagens é um local destinado a

recepcionar, triar e tratar os animais selvagens resgatados ou apreendidos pelos

órgãos fiscalizadores, assim como, receber animais selvagens de particulares que

os estavam mantendo em cativeiro, como animais de estimação.

Os animais recebidos são identificados e registrados, tanto sobre o próprio

animal quanto ao local de origem deste. Após isto eles são examinados, e

alojados de acordo com a sua necessidade. Se houver necessidade de tratamento

o animal é alojado no internamento do CETAS, estando hígido é encaminhado à

quarentena, onde é alimentado e mantido sob observação.

Caso os animais apreendidos não estejam na lista de animais ameaçados

de extinção, eles devem ser encaminhados a zoológicos, criadouros ou centros de

pesquisa registrados no IBAMA. A soltura pode também ser um destino, as

solturas devem ser feitas preferencialmente vinculadas a programas específicos

para este fim. Caso eles estejam na lista de espécies ameaçadas de extinção

cada animal deve ser avaliado caso a caso para decidir o seu destino.

A quantidade de viveiros que um CETAS necessita ter é relativa à

quantidade e variedade das espécies que os órgãos fiscalizadores costumam

encontrar na região onde o Centro está instalado.

Para que um CETAS funcione a contento, precisa dispor em seu quadro de

pessoal, no mínimo, um biólogo, um médico-veterinário e tratadores, pois são

Page 43: Medidas de contenção física5

43

atividades complexas e requerem bastante conhecimento de quem às

desempenha.

Os Centros de Triagem são apoiados e supervisionados pelo IBAMA por

meio de termos de cooperação técnica normalmente pertencem às instituições

científicas, jardins zoológicos, empresas privadas, fundações e secretarias

estaduais ou municipais.

Por trata-se de empreendimento oneroso e que lida diretamente com vida,

as suas atividades não podem ser interrompidas repentinamente por falta de

recursos. Dessa forma, os CETAS normalmente são vinculados às pessoas

jurídicas ou a órgãos de governo.

O CETAS de Tijucas do Sul é mantido pela Pontifícia Universidade Católica

do Paraná (PUCPR), e foi inalgurado em junho de 1999, por meio de um acordo

entre a PUCPR, a Instituição Filantrópica Sergius Erdelyi e o IBAMA.

Por ser o único local no estado do Paraná autorizado pelo IBAMA para

receber animais selvagens, o CETAS de Tijucas do Sul, recebe animais oriundos

de todo o estado, trazidos por órgãos fiscalizadores, ou por outras autoridades,

como no caso da Ecovia, um órgão responsável pela integridade e pelo bom

funcionamento de diversas rodovias do estado do Paraná. Além disto, muitos

animais são trazidos por proprietários, que os mantinham em cativeiro.

A finalidade do CETAS é receber animais apreendidos e encaminhá-los as

instituições credenciadas, colaborando, desta forma com a conservação da fauna

no Estado do Paraná. Este Centro possibilita aos alunos de Medicina Veterinária,

Zootecnia e Biologia uma experiência prática com atividades de conservação da

natureza.

Page 44: Medidas de contenção física5

44

Nele trabalham duas veterinárias, sendo uma a responsável pelo CETAS e

a outra participa do um programa de residência em medicina de animais

selvagens. Além disto, há um biólogo responsável, e mais três tratadores.

O CETAS de Tijucas do Sul, basicamente apresenta como estrutura física,

uma recepção, um internamento, um ambulatório, um depósito junto com um

biotério, os recintos da quarentena, e outros recintos. Além de uma cozinha com

depósito de alimentos e banheiros para os funcionários. Dentro do terreno ainda

há a casa de um funcionário, que além de tratador dos animais, exerce a função

de caseiro.

Na recepção são feitos os recebimentos dos animais, sua identificação e

seu cadastramento. Todas as fichas clínicas e ofícios ficam guardados neste local.

O internamento é uma sala com prateleiras como suporte para gaiolas. Nele

há armários com rações para algumas aves, e com materiais usados na

manutenção e no manejo dos animais, como por exemplo, folhas de jornal. Há

uma pia aonde é feita a limpeza de materiais e a desinfecção das mãos em casos

de procedimentos cirúrgicos.

No ambulatório há os armários onde se guardam todos os medicamentos,

além de materiais usados no dia-a-dia, como equipamentos de contenção,

medicamentos para manejo de feridas, imobilização, anestésicos e etc. Há uma

mesa para a manipulação dos animais, e uma balança. Neste local ficam também

alguns animais internados que precisem de uma atenção especial, como por

exemplo, aquecimento artificial.

No setor de internamento também há as dependências especialmente

planejadas para o internamento dos répteis. Esta é uma sala isolada das demais,

Page 45: Medidas de contenção física5

45

isto se justifica pelas altas cargas bacterianas que os répteis apresentam em sua

superfície, e também devido às exigências especiais características do grupo

como o conforto térmico, nela há um aquecedor, e materiais para desinfecção,

como anti-sépticos.

Os recintos da quarentena ficam todos em um corredor, isolados das outras

instalações e são um total de 14 unidades. Cada um deles apresenta sua própria

área de manejo. Ultimamente esses recintos são usados para manutenção de

animais que ainda não foram destinados, mas que já não precisariam permanecer

em quarentena, o que causa uma superlotação do local.

Há uma serie de recintos extras, como o dos carcarás, o dos jabutis, o dos

tigres d’água que no momento só contém animais da espécie exótica (Trachemys

elegans), duas piscinas usadas como recintos para testudinos aquáticos nativos.

Ainda há um local com recintos para rapinantes, num total de cinco viveiros.

Porém devido à alta lotação, há mamíferos precariamente alojados em alguns

desses recintos. Também existem os recintos abertos, que são sete no total, e

abrigam animais como veados e cachorros-do-mato que se estressam com a

presença do ser humano.

O biotério fica junto ao depósito, onde estão guardadas ferramentas,

sacolas de lixo, caixas e gaiolas. Basicamente os animais criados no biotério são

ratos e porquinhos-da-índia.

Na cozinha há uma área para limpeza de potes usados para alimentar os

animais, um local para o preparo de alimentos, uma sala com geladeiras e um

depósito de frutas e rações.

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3.2.2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Durante o estágio no Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas

do Sul, PUCPR, estive alojado nas dependências do PROAÇÃO, um projeto que

presta serviços a comunidade de Tijucas do Sul, associado à PUCPR. O estágio

durou do dia 1 a 31 de agosto de 2010 e tinha início às 8 horas da manhã, com

um intervalo de 1 hora para o almoço que se iniciava às 12 horas e terminava as

13. As atividades eram retomadas às 13 horas e terminavam às 17 horas, quando

eu era levado até o alojamento novamente. Por morar em Curitiba, nos finais de

semana eu tinha a opção de voltar para minha casa.

A primeira atividade do dia era administrar medicamentos aos animais

internados. Prioritariamente os antibióticos eram administrados, já que estes

devem seguir rigorosamente o horário, e em seguida eram tratados os outros

animais. Os outros animais eram tratados com suplementos nutricionais, Vitamina

A e complexos vitamínicos, tratamento de feridas, alimentação forçada ou apenas

com auxílio, e reavaliação. Após isto os répteis eram medicados e em seguida

alimentados, lembrando que a medicação com antibióticos era feita a cada dois

dias nos répteis, nas segunda, quartas e sextas-feiras. Os répteis eram tratados

principalmente com antibióticos e suplementação de cálcio. Em seguida era feita a

medicação dos animais que recebiam medicação uma vez por semana, como por

exemplo, antiparasitários, Vitamina A intramuscular e decanoato de haloperidol

(Haldol®).

Após o término das medicações não havia uma rotina estabelecida para

cada dia. As tarefas eram determinadas pela veterinária responsável e pela

residente do CETAS. Tais tarefas variavam entre, limpeza de gaiolas e recintos;

Page 47: Medidas de contenção física5

47

alimentação individual de alguns animais, organização do ambulatório, dos

documentos da recepção, manejo, captura ou tratamento individual de alguns

animais, organização do depósito, confecção de dardos e gaiolas/caixas,

observação dos animais e vermifugação.

Houve três procedimentos cirúrgicos durante meu estágio, sendo duas

castrações de macacos-pregos e uma amputação de cauda de um sagui-de-tufo-

branco (Callithrx jacchus).

Todas as quintas-feiras, os animais que necessitassem de exames

complementares eram encaminhados para o Hospital Veterinário da PUCPR no

campus de São José dos Pinhais. Nesses dias fiquei sozinho com os funcionários

no CETAS, cuidando das medicações dos animais. Entretanto na minha ultima

semana me foi permitido que fosse acompanhar os animais no Hospital

Veterinário. Neste dia a veterinária responsável pelo CETAS cuidou das

medicações e eu e a residente fomos para o Hospital. Junto com os exames

complementares as quintas-feiras são usadas para atender animais selvagens ou

não convencionais. Neste dia atendemos um gerbil que foi atacado por um gato, e

estava com necrose da ponta da cauda. O animal foi anestesiado com isoflurano e

realizamos a amputação da cauda no ambulatório de odontologia. Neste dia

realizamos apenas exames radiográficos de uma coruja-do-mato, uma coruja-

orelhuda, um periquito-maracanã, dois jabutis, um bem-te-vi e um sagui-de-tufo-

branco.

Page 48: Medidas de contenção física5

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FIGURA 4 – Indução anestésica de um gerbil (Meriones unguiculatus) usando isoflurano.

O manejo dos animais era necessário em diferentes situações: alguns

requeriam manejo para a troca de caixas ou gaiolas, para limpeza e alimentação

do animal, como no caso de um ratão-do-banhado. Outros precisavam de manejo

devido a brigas nos recintos, logo era preciso formar novos grupos, com a

pretensão de cessar os ataques, como no caso dos macacos-prego.

Como foi supracitado, o ratão-do-banhado precisava ser removido da sua

caixa, e transferido para outra, que já estava limpa e com alimento no seu interior.

Assim nós podíamos limpar a outra caixa, e deixá-la pronta para o uso no dia

seguinte. A troca das caixas era feita colocando uma em frente à outra, abrindo as

duas tampas e incentivando o animal a passar de uma para a outra. Tal animal

Page 49: Medidas de contenção física5

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havia sido capturado no recinto, por estar sofrendo de uma infestação por

carrapatos.

Os macacos-prego, além de brigarem, houve a chegada de mais indivíduos,

e também havia outro animal que estava sendo mantido isolado dos demais por

ter sido atacado e ferido na cauda. Os macacos foram capturados com puçás, um

a um, foram vermifugados, com levamisol (Ripercol®) injetável e com Fipronil

tópico (Frontline®). A nova disposição dos animais nos três recintos de macacos

foi feita desmanchando grupos de animais agressivos, e trocando todos os

animais possíveis do seu recinto original, para que este não se sentisse dono do

território.

Também foram manejados dois bugios, que foram colocados em gaiolas

pequenas, por uma semana, para vagar o seu recinto original para um filhote de

tamanduá-mirim, que não estava se alimentando por estresse causado pela sua

gaiola de tamanho inadequado.

Alem disto quatro quatis foram manejados para que realizássemos a

vermifugação com Drontal®, pela via oral e pesagem Outro animal que tentamos o

manejo foi uma capivara, mas após várias tentativas insatisfatórias de captura, em

um dia de muito calor, desistimos de prosseguir, com medo que o animal sofresse

maiores danos, como por exemplo, uma hipertermia.

Os tucanos-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus) foram capturados e

vermifugados com Drontal®, para prepará-los para uma transferência.

As serpentes venenosas também foram manejadas, para que pudéssemos

realizar sua alimentação. Elas eram retiradas de suas caixas com equipamento

especializado, com o tratador Paulo usando EPIs, e eram colocadas em um balde

Page 50: Medidas de contenção física5

50

com tampa, para que fizéssemos a limpeza da caixa. Em seguida colocávamos

um rato para cada serpente, e devolvíamos o réptil para seu local de origem.

Os demais répteis internados eram manejados para que tomassem banho

de sol sempre que possível.

Os animais do internamento eram constantemente manejados, seja para as

medicações, como já foi dito anteriormente, seja para troca de gaiolas, de poleiros

e de comedouros e bebedouros. Além disto, uma vez por semana nós os

levávamos para o gramado para que eles pudessem tomar banho de sol, como

pode ser visto na FIGURA 5.

Todos os papagaios do CETAS também foram manejados, para reorganizá-los de

forma a dividi-los melhor entre os recintos, evitando assim uma superlotação.

Concomitantemente com o manejo fizemos a vermifugação com Drontal®.

No penúltimo dia do meu estágio 174 aves dos recintos 1 e 2 foram

capturados e colocados em caixas para serem soltos no dia seguinte. Entre essas

aves estavam 12 espécies diferentes. Outros animais que também foram soltos

durante o estágio foram 12 aves de rapina e um gato-do-mato. Eles foram soltos

em um local escolhido pelos técnicos do CETAS.

Page 51: Medidas de contenção física5

51

FIGURA 5 – Animais do internamento sendo expostos a luz solar.

Outra atividade que ficou sob meus cuidados em alguns momentos era o de

ensinar e de supervisionar os alunos estagiários da PUCPR, do curso de Medicina

Veterinária.

Quando chegavam animais trazidos ou por órgãos competentes ou por

doação por proprietários, os estagiários tinham que ajudar no exame físico dos

animais. Durante o mês de agosto de 2010 foram trazidos 47 animais.

Durante meu estágio houve uma atividade extra no meu primeiro dia. Neste

dia um grupo de pesquisadores do curso de Medicina Veterinária da Universidade

Federal do Paraná fez uma visita ao CETAS, para realizar diversos exames

oftálmicos nas corujas e nos carcarás ali alojados. Os exames realizados foram:

Page 52: Medidas de contenção física5

52

Teste Lacrimal de Schirmer, tonometria com o uso do Tonopen®, teste de

sensibilidade da córnea, paquimetria, biometria dos olhos e fundoscopia quando

possível.

3.2.3 DISCUSSÃO

A medicação dos animais era feita como primeira atividade do dia para

respeitar os horários dos medicamentos, principalmente dos antibióticos. Durante

esta etapa do dia tive oportunidade de treinar diversas habilidades, como captura

de animais engaiolados, contenção de aves, répteis e mamíferos, administração

oral, subcutâneo, intramuscular, tópica e oftálmica, e avaliação dos animais por

exame físico. Além disto, aprendi sobre diversos protocolos de tratamento, assim

como sinais clínicos, diagnóstico e sobre a alimentação dos diversos animais.

Aprendi também sobre as diferentes espécies animais e seus nomes vulgares,

sobre o método de preenchimento de fichas de um CETAS, que é diferenciado

devido à grande casuística do local e a não necessidade de estar reportando os

achados dos animais a um proprietário.

Como eu havia voltado do meu estágio no Parque das Aves, eu já tinha

pratica em manejo e contenção de aves, e como a maioria dos casos no CETAS

eram desse tipo de animal, não foi preciso que as veterinárias se preocupassem

tanto em me ensinar. Isto com certeza favoreceu a minha adaptação as práticas

do local, e também acelerou grande parte dos procedimentos em que participei.

Page 53: Medidas de contenção física5

53

De acordo com o GRÁFICO 11 a maior parte dos animais tratados

apresentava enfermidade traumática, com um total de 26 casos (41%), sendo que

em segundo lugar houve um empate entre doenças parasitárias e nutricionais,

cada uma delas com 13 casos (21%). No total foram tratados 63 animais. Das

afecções traumáticas 17 dos 26 casos (65%), foram tratadas com procedimentos

ortopédicos, e o restante, nove casos (35%) foi necessário apenas o tratamento

de feridas, como pode ser visto no GRÁFICO 12.

GRÁFICO 11 – Casuística de animais tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR,

IBAMA, no mês de agosto de 2010.

Entre as doenças nutricionais, se destacaram a hipovitaminose A, com sete

dos 13 casos (54%), a doença osteometabólica com quatro casos (31%) e os

outros dois casos (15%) foram apenas de ou alimentação forçada ou alimentação

supervisionada.

Comparando os casos de doenças parasitárias, quase o total se encaixou

em algum tipo de sarna, representando 92% dos casos (12), Além disto, houve

apenas um caso (8%) de uma infestação por carrapatos.

Durante os manejos dos diversos animais, tive uma maior chance de

praticar a captura e contenção de animais nos recintos, com o uso de puçás e

Page 54: Medidas de contenção física5

54

luvas de couro. Tal pratica exige tanto conhecimento técnico, como força e

reflexos, e com estes procedimentos percebi em mim mesmo uma melhora ao

decorrer do tempo.

GRÁFICO 12 – Relação entre os casos referentes a traumas dos animais tratados no

CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.

GRÁFICO 13 – Relação entre os casos de doenças nutricionais referentes aos animais

tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010.

Page 55: Medidas de contenção física5

55

GRÁFICO 14 – Relação entre os casos de doenças parasitárias referentes aos animais

tratados no CETAS de Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, no mês de agosto de 2010..

Durante o manejo dos macacos-prego, treinei apenas a captura com

uso de puçás. A contenção física após a captura também ficava nas mãos do

tratador, e o meu serviço durante este procedimento era de tratar feridas e aplicar

levamisol (Ripercol®) e fipronil (Frontline®).

Na captura dos papagaios pude praticar a captura dos animais, a

contenção física e a administração de medicamentos por via oral, já que os

vermifugamos com o uso de Drontal®.

Com a capivara, por mais que ela não tenha sido capturada, aprendi

sobre a forma de captura com rede, em que uma pessoa arma a rede e os demais

conduzem o animal na direção da armadilha. Mas o maior aprendizado que tive foi

sobre o momento certo de se parar a perseguição ao animal, o que se não for

respeitado, pode ocasionar a morte do animal.

Os quatis exigiram mais de mim para a sua captura e contenção,

mas isto ocorreu, pois como era já na minha ultima semana de estágio eu já

estava mais confiante e mais confiável, portanto me permiti participar mais

ativamente do procedimento.

Page 56: Medidas de contenção física5

56

Durante o mês de agosto, recebemos 47 animais vindos de

apreensões ou doações, seguindo a distribuição mostrada no GRÁFICO 15.

Comparado com o histórico de recebimento do CETAS o mês de agosto teve uma

baixa quantidade de recebimentos. Os animais recebidos em maio número foram

gambás, mas isto só ocorreu, pois em um dia chegaram sete filhotes de gambá,

todos mortos, logo isto não deve ser usado para estudar a casuística de

recebimentos. Em seguida dos gambás há uma maior quantidade de canários-da-

terra e de coleirinhos, o que realmente condiz com o histórico de recebimentos,

mostrando um maior número de passeriformes.

GRÁFICO 15 – Número de animais por espécie recebidos no CETAS de Tijucas do Sul,

PUCPR, IBAMA no mês de agosto de 2010.

Durante o mês de agosto fizemos soltura de 187 animais,

distribuídos como mostra o GRÁFICO 16. A enorme quantidade de canários da

terra que foram soltos condiz com a quantidade desses animais que chegam ao

CETAS todos os meses, como vimos anteriormente no GRÁFICO 15 essa espécie

foi a segunda que mais chegou nesse mês.

Page 57: Medidas de contenção física5

57

A visita realizada pelos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná

foi muito interessante, pois o CETAS apresenta uma enorme quantia de animais

disponíveis para o uso em pesquisa, e que muitas vezes é negligenciada. Dessa

forma os animais passaram a ter uma utilidade maior do que apenas esperar por

uma transferência, o que, muitas vezes, nunca acontece.

Sobre o funcionamento de um CETAS percebi o quanto demorado e

burocrático os processos podem ser. Muitos animais que tinham condições de

serem soltos, precisaram esperar a autorização do IBAMA para tal, e no decorrer

deste tempo ou morreram ou adoeceram devido à precariedade da manutenção

no cativeiro, caso ocorrido com um tatu.

GRÁFICO 16 – Número de solturas de animais por espécie, realizadas pelo CETAS de

Tijucas do Sul, PUCPR, IBAMA, em agosto de 2010.

Page 58: Medidas de contenção física5

58

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Primeiramente escolhi o estágio no Parque das Aves, pois ele tem fama de

ser um zoológico exemplo para todo o Brasil, e por ter uma medicina preventiva

excepcional. Isto me chamou muito a atenção visto que eu nunca tinha estagiado

em um zoológico antes, e que a minha área de conhecimento mais fraco era a de

medicina preventiva.

O estágio cumpriu todos os seus objetivos, superando-os de maneira

surpreendente. Aprendi muito mais do que apenas medicina preventiva! Os

conhecimentos clínicos do veterinário do Parque são extraordinários, alem de ser

uma pessoal muito acessível, o que me fez ficar a vontade para tirar muitas

dúvidas, e discutir muitos assuntos, inclusive, expressar a minha opinião mesmo

quando esta era contrária a do próprio veterinário. E mesmos nestes casos eu fui

ouvido e levado em consideração.

Senti falta de praticar alguns procedimentos como a colheita de sangue, e a

contenção física dos animais, porém concordo que tais procedimentos não são

totalmente apropriados a um estagiário, visto que o Parque é uma entidade

privada com fins lucrativos. Sobre a contenção física dos animais acredito que se

o estagiário expressar essa vontade isto lhe será permitido, mas na maioria das

vezes as funções que tivemos a oportunidade de exercer quando os animais

precisam ser contidos foram mais interessantes do que a própria contenção.

A experiência que adquiri, mesmo nos assuntos não diretamente

relacionados com veterinária, foi além das minhas expectativas. Dessa forma senti

que com o término do estágio eu havia crescido muito tanto profissionalmente

Page 59: Medidas de contenção física5

59

como pessoalmente, tornando-me uma pessoa mais habilitada a exercer minha

futura profissão, mais confiante e mais contente comigo mesmo.

Após o início do estágio no CETAS percebi que este seria um pouco

diferente do que o previsto por mim. Inicialmente eu acreditava que aprenderia

sobre a teoria da clínica médica e cirúrgica, e também que praticaria, mas me

surpreendi quando percebi que eu já possuía o conhecimento de grande parte da

teoria. Dessa forma o estágio foi mais proveitoso no sentido do treino das minhas

habilidades práticas, e também no reforço da teoria dos procedimentos.

Ainda assim tive oportunidade de aprender diversos protocolos

diferentes dos que eu já havia presenciado, e em alguns casos, como em

ortopedia, protocolos com indicações opostas ao que eu conhecia.

O ponto principal no meu aprendizado durante o estágio foi o do

funcionamento de um CETAS, já que esta entidade é umas das únicas que unem

todos os locais de trabalho. O trabalho em um CETAS é diferente de qualquer

outro local, pois nossos esforços são para tratar animais enfermos para habilitá-los

para solturas ou destiná-los para zoológicos. Todos os animais devem estar

saudáveis para que isto seja possível, o que represente grande responsabilidade.

Além destas considerações, acredito que o CETAS deveria ter autonomia para

decidir sobre a solturas dos animais, pois os profissionais mais qualificados para a

decisão sobre a capacidade ou não do animal sobreviver em vida livre são os

próprios veterinários do CETAS. Problemas podem ocorrer quanto ao local de

soltura, mas isto também seria levado em consideração pelos profissionais, e em

muitos casos sabe-se exatamente o local onde o animal foi capturado. Quando

não, o CETAS e o IBAMA deveriam agir em conjunto para tornar as solturas dos

Page 60: Medidas de contenção física5

60

animais mais rápidas para evitar possíveis mortes devido à manutenção do

cativeiro.

Com este estágio me senti mais preparado para trabalhar com animais

selvagens, pois vi o quanto é possível fazer pelos animais, mesmo quando

trabalhamos em condições não ideais.

Desde a seleção e a escolha dos locais para meu estágio, o objetivo foi

buscar lugares complementares não somente entre si, mas que também

agregassem experiências e conhecimento a minha formação. Pude perceber que

tal objetivo foi atingido com eficiência. O CETAS e o Parque das Aves são lugares

diferentes, que trabalham com áreas complementares da Medicina de Animais

Selvagens. Os pontos comuns entre os dois estágios, principalmente a clínica de

aves, também foram proveitosos, visto que a realidade enfrentada nos dois

lugares é completamente diferente. Enquanto em um lugar nós dispúnhamos de

uma quantidade enorme de ferramentas, que nos permitiam aprofundar com

eficiência cada um dos casos clínicos; o outro apresentava uma estrutura muito

menos sofisticada. Isto abiu portas para o uso de técnicas diferenciadas, que

permitam atendimentos de qualidade mesmo com a precariedade de recursos.

Vale lembrar que tal precariedade só se é percebida quando comparada ao outro

local, que realmente possui uma estrutura a cima da média, pois quando

comparada a lugares habituais, como por exemplo, o Hospital Veterinário da

Universidade Federal do Paraná, não é observado tanta diferença. Portanto eu me

senti completamente à vontade atuando em um lugar como o CETAS. Por outro

lado, no Parque das Aves, aprendi diversas informações teóricas novas,

Page 61: Medidas de contenção física5

61

principalmente sobre profilaxia e o funcionamento de um zoológico. Informações

que faltavam a minha formação profissional, no CETAS eu pratiquei diversas

atividades que eu aprendi ao longo desses cinco anos do Curso de Medicina

Veterinária, e fiquei contente ao perceber que as executava com certa eficiência.

Há uma grande semelhança entre os dois locais. Os dois apresentam

casuística muito grande e uma serie de atividades que exigem a presença de um

médico veterinário. E tais lugares só se sustentam em cima de apenas um

veterinário, o Mathias Dislich no Parque das Aves e a Grazielle Soresini no

CETAS. Os dois se dedicam praticamente em tempo integral ao seu trabalho, e

muitas vezes trabalham em suas próprias casas para cumprir com o total de

tarefas que seu trabalho exige. Portanto a qualidade do atendimento médico

veterinário dos dois locais só se mantém por causa dessa determinação e

dedicação elogiável dos dois profissionais. No CETAS há o programa de

residência em medicina de animais selvagens, o que com certeza ajuda muito

para o melhor desempenho do atendimento, mas no caso do Parque das Aves

não há mais ninguém que possa colaborar, portanto acredito que o ideal seria

mais um veterinário trabalhando com conjunto com o Mathias. Muitas vezes o

convênio com universidades consegue ajudar com grande eficiência o

desempenho de lugares como esses.

Dessa forma sinto que após esses estágios estou mais preparado para o

mercado de trabalho, menos inseguro e mais confiante em minhas habilidades e

conhecimentos.

Page 62: Medidas de contenção física5

62

5. CASOS CLÍNICOS

5.1 CASO CLÍNICO I

Nome Científico: Ramphastus dicolorus Nome Popular: tucano-de-bico-verde Local: Foz Tropicana, Parque das Aves

5.1.1 HISTÓRICO

O animal foi encontrado no solo do recinto “Floresta”, que é um recinto de

imersão, pelo tratador responsável por este setor, com aumento de volume nas

pálpebras do olho direito. Foi trazido até o hospital veterinário, onde foi

examinado. Durante o exame físico notou-se edema palpebral no olho direito,

sangue no fundo do saco conjuntival, sangue na cavidade oral e uma estrutura

azulada na conjuntiva. Fora isso o animal apresentava-se alerta e com bom

escore corporal.

Foi colhido sangue da veia jugular direita, e notou-se que este estava com

baixa viscosidade. Os seguintes exames complementares foram efetuados:

esfregaço sanguíneo, microhematócrito e exame bioquímico com o Vetscan®.

No microhematócrito observou-se um valor de 14,1%, mostrando uma

anemia considerável, como vemos na FIGURA 6. No esfregaço sanguíneo foi

possível observar uma grande quantidade de eritrócitos jovens e seus

precursores, característico de uma anemia regenerativa. Os parâmetros do

Vetscan® foram os seguintes:

Page 63: Medidas de contenção física5

63

AST = 262

BA = <35

CK = 3948

UA = 3,3

GLU = 443

CA++ = 9,7

PHOS = 2,9

TP = 2,7

ALB = 1,4

GLOB = 1,4

Considerando o histórico, considerou-se como diagnóstico diferencial:

hemorragia por trauma, intoxicação por rodenticida ou alguma enfermidade que

promovesse hemólise. Porém como o não havia evidências de hemólise, esta

possibilidade foi descartada.

Uma avaliação minuciosa do recinto animal revelou pequena quantidade de

iscas rodenticidas no solo próximo a armadilhas para ratos. No total eram cinco

armadilhas no recinto e em três delas havia fragmentos do veneno no chão, como

mostra a FIGURA 7.

Page 64: Medidas de contenção física5

64

FIGURA 6 – Microhematócrito do tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus). Foto de

Mathias Dislich

O animal foi tratado com Vitamina K, na dose 2.2 mg/kg intramuscular,

resultando em 0,5 mL (já que a ave pesava 373g) e pela grande quantidade do

medicamento ele foi administrado em dois lugares diferentes do peito do animal.

Além disto a ave também foi tratada com 0,07 mL de cetoprofeno 1%, IM, SID;

0,15 mL enrofloxacina 2,5%, IM, BID e Epitezan® (Allergan) . Ao longo do dia, o

edema palpebral direito diminuiu, entretanto houve um aumento em menor escala

na pálpebra do olho esquerdo do animal. Um dia após o início do tratamento o

edema palpebral havia diminuído consideravelmente, não havia mais sangue na

cavidade oral e o animal continuava alerta. No local da aplicação da Vitamina K

havia dois grandes hematomas, e foi cessado o tratamento com este

medicamento após a segunda dose.

Page 65: Medidas de contenção física5

65

FIGURA 7 – Rodenticida encontrado no solo do recinto “Floresta” ao lado da armadilha.

FIGURA 8 – Aspecto do animal no momento se sua chegada ao hospital veterinário

Page 66: Medidas de contenção física5

66

FIGURA 9 – Sinais de hemorragia na cavidade oral de um tucano-de-bico-verde

(Ramphastus dicolorus) após ingestão de rodenticida.

FIGURA 10 – Cavidade oral de um tucano-de-bico-verde (Ramphastus dicolorus)

intoxicado com rodenticida, um dia após o tratamento com vitamina K.

Page 67: Medidas de contenção física5

67

Conclui-se que o animal havia ingerido uma quantidade considerável de

rodenticida.

Após o término do tratamento o animal não apresentou mais sinais de

hemorragias, porém este desenvolveu um desequilíbrio gastrintestinal, mostrando

sinais de enterite bacteriana e capilariose. Este episódio pode ser justificado como

decorrência de queda da imunidade, tornando exacerbado o parasitismo que se

encontrava equilibrado com as condições orgânicas do paciente até então.

5.1.2 DISCUSSÃO

A quantidade de veneno encontrado no solo do recinto não aparentava ser

uma quantidade suficiente para que o animal sofresse uma intoxicação aguda,

portanto é possível concluir que o animal vinha ingerindo o veneno há vários dias.

Entretanto a toxicidade depende do principio ativo do veneno e já que a isca era

de cor azulada acredita-se que o veneno seja feito de warfarina, que é um

composto da cumarina de baixa toxicidade. Para que a warfarina cause sinais

clínicos nos animais é preciso que ocorra uma ingestão crônica, de 1 a 2

mg/kg/dia (MURPHY, 1975). Como o veneno foi encontrado no chão próximo a

duas das cinco armadilhas do recinto é possível que a ingestão tenha sido de uma

maior quantidade vinda das varias armadilhas ou uma ingestão crônica.

Como ranfastídeos tem o hábito de alimentar-se de pequenos animais

(SICK, 1995), ainda há a possibilidade de a ave ter ingerido algum animal que

estivesse carreando o veneno consigo, entretanto sabe-se que a quantidade

carregada por um pequeno animal não é o suficiente para intoxicar uma ave do

tamanho de um tucano.

Page 68: Medidas de contenção física5

68

O animal apresentava uma anemia grave, e a o tratamento foi cessado

após apenas duas dose de vitamina K. Em casos de intoxicação por rodenticida o

tratamento recomendado para aves é de 0,2-2,2 mg/kg IM q4-8h até o animal

estabilizar e após isto o deve ser continuado na mesma dose, q24h por 14 dias

(CARPENTER, et all, 2010). Segundo Marx (2006) e Tiwari (2010), o tratamento

na mesma dosagem deve ser prolongado para até quatro semanas, caso o

rodenticida seja de geração intermediária ou de segunda geração. Não foi utilizado

o tratamento recomendado pela literatura o que pode ter dificultado a recuperação

do animal. É possível que o estresse que esse animal sofreu para se recuperar

sem o tratamento recomendado tenha causado uma deficiência em sua

imunidade, o que explicaria, em parte, o desequilíbrio gastrintestinal. De acordo a

opinião de Mathias Dislich, uma maior proliferação de capilárias no trato

gastrintestinal de tucanos causa lesões nas mucosas abrindo portas de entradas

para agentes bacterianos. E pode ter ocorrido de o animal ainda estar com um

grau importante de deficiência de coagulação, o que pode ter agravado as lesões

causadas inicialmente pelas capilárias.

5.1.3 SOBRE A ESPÉCIE Reino: Animália Classe: Aves Ordem: Piciformes Família: Rhamphastidae Gênero: Ramphastus Espécie: Ramphastus dicolorus

Todas as aves da família Ranfastídea são arborícolas, se restringem ao

Neotrópico e se distribuem do México até a Argentina. São conhecidos por

apresentarem ranfotecas grandes e com cores fortes e chamativas. Sendo assim

Page 69: Medidas de contenção física5

69

tal estrutura apresenta duas funções, uma de proteção contra predadores e rivais

e outra para atrair um companheiro, além de servir para a apreensão de alimento

(SICK, 1997). Outra função recentemente estudada é a de que a ranfoteca dos

tucanos atuam como órgãos termorreguladores (TATTERSALL, et al., 2009).

Os ranfastídeos são aves frugívoras, mas também podem se alimentar de

pequenos animais, como aranhas, cigarras e grilos. Também são conhecidos por

predarem ovos e filhotes de outras aves (HELMUT SICK, 1997).

Esses animais costumam viver em bandos, reúnem-se principalmente à

noite para dormirem. Ao dormir, colocam a cabeça sobre as costas e a cobrem

com as penas do rabo, o qual se levanta de maneira involuntária e sem esforço,

com o relaxamento dos músculos. Eles podem dormir tanto em buracos de troncos

como empoleirados em galhos.

Tucanos formam casais, os quais se alimentam e arrumam as penas um

dos outros. Fazem ninhos em buracos ou fendas já existentes em arvores altas.

Põem de dois a quatro ovos e no caso dos R. vitellinus o período de incubação é

de 18 dias e após terem nascido eles saem do ninho com 25 a 30 dias de vida, em

cativeiro (SICK, 1997).

5.1.4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Aves são animais com grande potencial à ingestão de toxinas por serem

curiosos e acabam tendo interesse em materiais de texturas diferentes, recipientes

e locais diferentes pelo ambiente (HARRISON e DUMONCEAUX, 1994). Dessa

forma é recomendado que o ambiente no qual as aves se encontram sejam

construídos “a prova de aves” para impedir que elas tenham acesso a objetos ou

materiais que causem risco a suas vidas.

Page 70: Medidas de contenção física5

70

O contato ou o consumo de certas substâncias podem levar o animal a uma

intoxicação aguda ou crônica. Além disto, as aves, pela sua fisiologia e tamanho,

são mais susceptíveis a alguns agentes tóxicos, como químicos voláteis e

fumaças (HARRISON e DUMONCEAUX, 1994).

Antigamente eram usados rodenticidas à base de alfanaftliltiouréia (ANTU),

anidrido arsenioso, estricnina, fosfetos metálicos, fósforo branco,

monofluoroacetato (1080), monofluoroacetamida (1081), sais de bário e sais de

tálio, entretanto tais compostos estão proibidos de acordo com a Portaria nº

321/MS/SNVS, de 8 de agosto de 1997. Os compostos permitidos pelo Ministério

da Saúde são compostos orgânicos sintéticos, à base de warfarina e outros

anticoagulantes. Tais anticoagulantes agem interferindo em processos

bioquímicos que envolvem a Vitamina k.

O sistema circulatório é um tecido muito dinâmico, que esta em constante

estado de reparação e regeneração. A hemorragia que ocorre como devido a

causas normais (traumas, processos infecciosos, choques, estresse e etc.)

desencadeia três processos que determinam a coagulação.

A primeira fase é conhecida como fase vascular, em que ocorre contração

ou espasmo da parede vascular, a fim de retardar a saída de sangue do caso

lesado. A segunda, fase plaquetária, ocorre concomitantemente com a primeira,

sendo considerada parte da mesma fase por alguns autores. As plaquetas se

aderem ao endotélio dos casos lesionados formando um tampão ou um trombo de

plaquetas. Além disto, as plaquetas liberam fatores vaso ativos e fatores iniciantes

da coagulação, o que da origem a terceira fase. Durante a terceira fase ocorrem

os mecanismos que transformam o fibrinogênio solúvel em fibrina insolúvel.

Page 71: Medidas de contenção física5

71

Serão abordados apenas os componentes do mecanismo de coagulação

que a sua concentração plasmática é influenciada pela Vitamina K.

Quando a coagulação é iniciada, são desencadeados dois caminhos para

alcançar a hemostasia. A via intrínseca se refere a um processo lento (5-15

minutos), enquanto que a via extrínseca é um processo rápido (10-12 segundos).

As duas vias agem de maneiras diferentes até certo ponto da cascata de

coagulação, quando as duas passam a seguir o mesmo caminho, transformando o

fibrinogênio em fibrina.

As duas vias de coagulação (intrínseca e extrínseca) apresentam durante

seu processo pelo menos um fator que depende de vitamina K para sua síntese,

logo a deficiência ou a inibição da vitamina k interrompe o fluxo da cascata de

coagulação, impedindo a fibrina de ser formada.

Os fatores dependentes de Vitamina K são o fator VII (na via extrínseca), o

fator IX (na via intrínseca) e os fatores X e II (protrombina) (nas duas vias). Esses

fatores são produzidos no fígado e a Vitamina K é essencial para a carboxilação

dos seus ácidos glutâmico residuais. O metabolismo da Vitamina K é

essencialmente no fígado.

Uma enzima muito importante para que seja continuada a síntese de novos

fatores VII, IX, X e da protrombina, é a 2,3 epoxi-redutase de Vitamina K. A ação

dos rodenticidas anticoagulantes é impedir essa enzima de reciclar a vitamina K, o

que causa depleção da forma ativa da vitamina. Quando isto ocorre, é cessada a

carboxilação dos fatores VII, IX, X e da protrombina. Entretanto os fatores

produzidos anteriormente a ação da toxina não sofrem ação alguma e são

capazes de continuar com sua função na cascata de coagulação, até que ocorra

Page 72: Medidas de contenção física5

72

depleção total desses fatores. É nesse momento que as hemorragias começam e

isto pode demorar até cinco dias após a ingestão do veneno. Como o fator VII tem

uma meia-vida de 6,2 horas, a via extrínseca é a primeira a cessar. Nesse caso o

animal já sofre pequenas hemorragias, mas sem presença de sinais clínicos.

Assim o diagnóstico pode ser feito por exames laboratoriais que revelam um

elevado Tempo de Protrombina (PT).

Quando a vida útil do fator IX (via intrínseca) chega ao fim (13.9 horas),

esse caminho também cessa, e é nesse momento que as hemorragias mais sérias

e os sinais clínicos começam a aparecer. Também é possível de se detectar em

exames laboratoriais um elevado Tempo Parcial de Protrombina (PTT).

Como dito anteriormente os rodenticidas anticoagulantes atuam inibindo a

enzima 2,3 epoxi-redutase de Vitamina K que faz a reciclagem da vitamina K.

Entre os compostos usados hoje em dia no combate de roedores estão com

rodenticidas de primeira geração, como principal membro a warfarina e os

rodenticidas de segunda geração, como o Brodifacum.

Warfarina: são formulados como tabletes parafinados (uso em saúde

publica e agrícola) de coloração verde ou azul escuro; pó (agricultura) e iscas de

coloração azul-celeste (uso doméstico). Sua concentração varia de 1,5-10g de

ingrediente ativo por cada quilo de produto formulado.

O brodifacum apresenta-se como iscas de coloração rósea, com uma

concentração de 20-50mg/kg de produto formulado. Concentrações do produto

bromadiolone variam usualmente de 0,005 a 0,05%.

Sobre a farmacocinética desses venenos podemos dizer que a absorção

pela pele é baixa e pelo trato gastrintestinal é rápida e completa, em poucos

Page 73: Medidas de contenção física5

73

minutos depois de ingerida (2-3h). Também podem ser absorvidos por via

respiratória, principalmente, no momento da formulação. Significante absorção

transcutanea de warfarin causou muitos casos de síndrome hemorrágica em

crianças.

Dados do uso como agente terapêutico mostram que o volume de

distribuição é muito pequeno (0,1-0,2L/kg). Liga-se predominantemente (99%) em

albumina sérica e outras proteínas plasmáticas.

A warfarina é metabolizada por enzimas microssomais hepáticas por

oxidação a 6-hidroxiwarfarina e 7-hidroxiwarfarina (ambos anticoagulantes

inativos), e por redução para álcool isomérico (ativo). São conjugados e lançados

na bile, sofrendo reabsorção enteroepática. O brodifacum sofre metabolização

muito lenta, a meia-vida do produto no soro é de 156h ou mais. A meia-vida da

warfarina depois de uma overdose volumosa de 2000mg em um adulto foi de

21,7h. Em outro paciente, com overdose de quantidade desconhecida, foi de 53h.

Atravessam a barreira placentária apresentando risco de hemorragia significativo

para o feto. Uma parte é excretada pelos rins e outra parte pela bile. Menos de 1%

da dose é excretada inalterada na urina, e essencialmente nenhuma warfarina

inalterada é encontrada nas fezes. A excreção urinária corresponde a 16-43% de

uma única dose da droga por um período de seis dias, aparentemente como o

metabólito 7-hidroxi. Têm duração de efeito em torno de 2-7 dias após.

Sobre a farmacodinâmica, A warfarina inibe a atividade da 2,3 epoxi-

redutase de Vitamina K e da quinona redutase de vitamina K resultando de ambos

os efeitos, a inibição de vitamina K. Esta vitamina é um co-fator na síntese dos

fatores da coagulação II, VII, IX e X.

Page 74: Medidas de contenção física5

74

Esses agentes também aumentam a permeabilidade dos capilares

predispondo a hemorragia interna além de causar lesões diretas nos capilares.

Eles aumentam a fragilidade capilar, sendo esse efeito intensificado pela ingestão

de doses repetidas, havendo acúmulo progressivo das lesões bioquímicas. Os

fatores predisponentes para que a intoxicação ocorra são: dieta rica em gorduras,

pois a gordura desfaz o ligamento entre o anticoagulante e a albumina,

aumentando assim a porção livre do veneno. Antibióticoterapia prolongada, pois

isto diminui a produção de vitamina K pelos microorganismos intestinais.

Obstruções biliares e do fígado diminuem a excreção do anticoagulante, além de

comprometer a função de síntese dos fatores de coagulação. Há outras

substancias que desligam o anticoagulante da albumina, como oxyfenbutazona,

fenilbutazona, sulfonamidas e adrenocorticóides. Além de em casos de uremia.

Ácido acetilsalicílico compromete a coagulação.

Os métodos de prevenção dessa intoxicação é basicamente educação do

cliente e do operador das armadilhas.

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75

5.2 CASO CLÍNICO II

Nome Científico: Phrynops geoffroanus Nome Popular: cágado-de-barbicha Local: Centro de Triagem de Animais Selvagens de Tijucas do Sul

5.2.1 HISTÓRICO

O animal já estava alojado no CETAS de Tijuca do Sul em uma piscina de

lona comercial, e estava sendo tratado com 0,3mL de enrofloxacina 10%

intracelomático, 3 mL de fluido para répteis (1/3 de solução fisiológica, 1/3 de

ringer com lactato e 1/3 de glicose a 5%) intracelomático a cada dois dias, e

vitamina A (Arovit®) intramuscular uma vez por semana, devido a uma série de

lesões no casco e na pele. Durante a visita dos pesquisadores da Universidade

Federal do Paraná, percebemos que o animal apresentava certo grau de blefarite

e enoftalmia em ambos os olhos.

Junto com esse animal havia outros, inclusive um cágado-feio (Acantochelys

spixii) que apresentava, em um grau menor, os mesmos sinais de blefarite.

Entretanto o segundo animal veio a óbito antes do início do tratamento.

Durante a visita dos pesquisadores, os oftalmologistas do grupo

recomendaram o uso de Epitezan®, uma pomada oftálmica que contem

cloranfenicol, e realizaram coleta de material microbiológico do saco conjuntival

para cultura e antibiograma.

O tratamento foi iniciado com Epitezan® antes dos resultados dos exames

complementares, realizando a administração da pomada três vezes ao dia e o

animal foi transportado para uma pia dentro da recepção do CETAS. Durante os

primeiros dias não houve melhorada significativa e após uma debridagem do

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76

tecido necrosado das pálpebras percebeu-se a intensidade da inflamação do

tecido, com hiperemia acentuada e um edema considerável. Nesse dia inicio-se

também a instilação de Biamotil-D®, um colírio contendo ciprofloxacina e

dexametasona.

Logo no segundo dia após o tratamento com o colírio houve uma boa

redução do edema, porém o tecido continuou hiperemiado.

O resultado do exame complementar revelou a presença de Aeromonas sp.

Do material coletado do saco conjuntival do animal, o antibiograma informou que a

colônia era sensível a cloranfenicol.

Ao passar dos dias decidiu-se aumentar a dosagem de fluido para 20 mL.

Com duas semanas de tratamento, realizou-se uma debridagem do tecido

necrosado no casco, o que causou um sangramento crônico de algumas partes.

Seguido disso inicio-se também uma terapia de banho em PVPI diluído em água

morna uma vez ao dia.

Após três semanas de tratamento, não havendo melhora significativa do

animal fez-se alimentação forçada com peixe de água-doce congelado, água,

carbonato de Cálcio (Biotec®), complexo B (Bemcomplex®), e com complexo

vitamínico (Aminomix®), todos batidos em um liquidificador. A abertura da

cavidade oral do animal foi realizada com um especulo, e o alimento foi fornecido

através de uma sonda. Feito isso o animal ficou sob observação quanto à

produção de fezes e urina. Nos próximos dias observou-se apenas uma pequena

quantidade de urina sendo eliminada.

No dia seguinte o animal se mostrou mais ativo, porém mesmo nos dias

seguintes não houve melhora clínica. Fora o dia após a alimentação forçada, o

Page 77: Medidas de contenção física5

77

animal foi ficando mais apático com o passar dos dias, mostrando uma não reação

à enfermidade.

FIGURA 11 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).

FIGURA 12 – Coleta de material microbiológico para cultura e teste de antibiograma de

um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus).

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FIGURA 13 – Blefarite em um cágado-de-barbicha (Phrynops geoffroanus), após

debridagem do local.

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79

FIGURA 14 – Abertura da cavidade oral de um cágado-de-barbicha (Phrynops

geoffroanus) com o uso de um especulo, para alimentação forçada.

5.2.2 DISCUSSÃO

O animal era mantido em um lugar não próprio, sem aquecimento , junto

com diversos outros animais, alguns também enfermos. Isto aumenta a pressão

que o animal sofre para resistir à doença. Mesmo trocando o animal de ambiente

ele não ficou em um local adequado, ainda que se o animal não tivesse doente

este não estaria sentindo-se confortável. A mudança do ambiente foi realizada

mais para facilitar o manejo do animal, que tinha que ser contido três vezes por

dia, do que para melhorar a sua qualidade de vida.

Page 80: Medidas de contenção física5

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O tratamento indicado pelo oftalmologista com certeza é um tratamento de

eleição para este tipo de infecção, devido à grande experiência do pesquisador, o

que foi comprovado pelo exame de antibiograma.

Já foi observado infecção das pálpebras de serpentes, causada por

Aeromonas sp. carreada por artrópodes parasitas (Ophionyssus natricis) (PARÉ

et. al., 2007), entretanto alguns pesquisadores duvidam deste ocorrido. Mesmo

assim é comum encontrar concomitantemente com infecções das pálpebras,

artrópodes parasitas nessa região. Nesse cágado foi observada a presença de

pequenos artrópodes na sua superfície, mas não se sabe detalhes sobre tais

animais, quanto à espécie, parasitismo ou não, e envolvimento ou não com as

pálpebras.

O tratamento com a pomada não foi feito de maneira correta todas às

vezes. Em algumas situações a pomada era passada na região de fora das

pálpebras, de modo que o principio ativo não conseguia um contato tão intimo com

a conjuntiva do animal. Além disso, havia momentos que o tratamento era

realizado por diversos estagiários do CETAS, e a falta de experiência de alguns

pode ter comprometido o sucesso do tratamento. Também o uso de um colírio

com glicocorticóides foi realizado sem muitos cuidados, pois não foi avaliada a

presença de ulceras de córnea no animal. Se o animal apresentar ulcera de

córnea, essa irá progredir devido ao efeito potencializador que os corticóides

exercem na enzima colagenase produzida por bactérias além de que os

corticóides inibem a regeneração epitelial, a infiltração de células inflamatórias, a

atividade fibroblástica e a regeneração endotelial (SLATTER, 2005).

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O animal não apresentou melhora algum durante um mês de tratamento, o

que em muitos tratamentos de répteis não quer dizer que o animal não esteja

respondendo bem. Há casos de répteis que são tratados por mais de um ano, e às

vezes, mesmo após terem sido “curados” continuam a apresentar alguns sinais

clínicos.

Além de já ser esperada essa falta de melhora clínica em um mês de

tratamento, se este continuar a ser feito da mesma forma é de se esperar que o

animal só venha a piorar, pois para que o animal recupere-se, deve ser fornecido

muito mais do que apenas uma antibióticoterapia correta. Os répteis por serem

ectotérmicos, sofrem muita influência do meio ambiente, e dessa forma se o

ambiente estiver impróprio para a espécie, o animal estará sob estresse e seu

sistema imune não estará funcionando corretamente. De acordo com Montiani et.

al. (2007), blefarites podem estar relacionadas com doenças respiratórias, ou

imunossupressão ou septicemia.

Pensando dessa forma vale à pena discutir sobre o potencial que o CETAS

apresenta de curar um animal dessa forma. Não há um ambiente que forneça ao

animal as condições necessárias para que este mantenha sua homeostase.

Vontade de dar essa qualidade de vida ao animal é o que não falta no CETAS de

Tijucas do Sul, mas infelizmente temos de fazer o que é possível com o que nós

temos.

5.2.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Frye (1991) o ambiente artificial que criamos para mantermos

répteis em cativeiro contribuem para a alta incidência de doenças e injurias a

esses animais. Diversas doenças virais, bacterianas, fúngicas, causadas por

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protozoários e metazoários estão diretamente relacionadas com a negligência à

higiene. Uma variedade de afecções respiratórias, de pele, gastroentéricas

ocorrerão se um animal acostumado a um clima for mantido em outro, como por

exemplo, um animal de ambiente árido mantido em ambiente úmido.

Quando um animal é mantido em um ambiente inadequado podemos dizer

que ele começou a morrer nesse instante. Tal fato irá acontecer, pode demorar

anos, mas a morte desse animal ocorrerá pelo erro de manejo. De acordo com

Frye (1991), esse intervalo entre a captura do animal e a morte pode ser seguido

de períodos de atividade normal pelo animal, mas gradativamente este definha por

uma serie de doenças devido à baixa imunidade. A falta de atenção para a

temperatura do ambiente, o fotoperíodo requerido pelo animal e a dieta são

fatores que mais interferem diretamente na saúde, e conseqüentemente, na

imunidade do animal. Quando se fala em dieta, não falamos apenas do tipo de

alimento em si, mas também falamos na forma de apresentação do alimento.

Portanto o manejo adequado dos répteis é o fator principal para sua

manutenção com saúde, mantendo a imunidade possível de combater afecções

que venham a atormentá-lo durante a estadia em cativeiro.

Para répteis aquáticos (caso do cágado-de-barbicha), a primeira atenção

que devemos ter é com a qualidade da água, pois se ela contiver compostos

nitrogenados e produtos bacterianos em demasia, o casco das tartarugas pode ser

infectado ou ainda o próprio animal pode acabar morrendo. Tartarugas não

apresentam um odor forte, e tal odor significa algum erro de manejo quanto à água

do recinto.

Page 83: Medidas de contenção física5

83

A água deve estar limpa, e para isto há vários métodos, como troca

freqüente da água, remoção de materiais orgânicos e filtros, sejam estes físicos

químicos ou biológicos (veja Mader¹ para uma boa revisão), lembrando que

cágados produzem mais material orgânico em seu ambiente do que peixes. A

água também deve estar com boa aeração, e para isto devem-se usar

equipamentos próprios para este fim.

A temperatura do ambiente é uma ferramenta de extrema importância para

a manutenção de répteis saudáveis. Cada espécie de réptil apresenta a sua faixa

de temperatura de atividade. Tais animais evoluíram de modo que suas enzimas

funcionam com maior eficiência quando dentro dessa faixa de temperatura,

fazendo com que suas reações bioquímicas ocorram de maneira normal. Dessa

forma quando tal temperatura não é respeitada, as reações químicas não ocorrem

com eficiência, o que compromete a saúde do animal. (veja Frye² para mais

detalhes sobre termoregulação)

A umidade do ambiente deve ser respeitada de modo diferente para cada

espécie, assim como o fotoperíodo.

Quando o animal apresenta-se enfermo, devemos intervir, traçando o mais

adequado tratamento para cada situação. Para desenvolvermos o melhor plano

terapêutico devemos nos atentar para as peculiaridades dos répteis.

Segundo Mitchell (2006), os repteis por serem ectotérmicos estão

intimamente ligados ao seu ambiente, e dessa forma sua taxa metabólica e sua

resposta imune variam de acordo com as condições do ambiente. Portanto para

que um protocolo terapêutico obtenha sucesso, é preciso otimizar as condições

ambientais dos répteis.

Page 84: Medidas de contenção física5

84

Durante o tratamento um dos principais fatores a ser considerado é a

temperatura do animal. A temperatura, além de alterar ativamente a imunidade

dos animais, com aumento ou queda da produção de linfócitos e anticorpos

(EVANS, 1963, MITCHEL, 2007), ela altera a farmacocinética das drogas

fornecidas (FRYE, 2007). Logicamente em temperaturas mais próximas do

extremo superior da faixa de temperatura de atividade do animal induzem uma

maior produção de componentes da resposta imune, enquanto que a situação

inversa a produção dos componentes sofre uma queda.

Com o aumenta da temperatura corporal dos répteis, é possível diminuir a

concentração inibitória mínima dos antibióticos, logo é possível de se administrar

os fármacos em doses menores, diminuindo assim a sua toxicidade. Situação

importante em casos que o animal não esteja se alimentando corretamente, e

esteja possivelmente desidratado. Dessa forma é recomendado o uso de

fluidoterapia concomitantemente com a antibioticoterapia.

A resposta imune dos répteis também varia de acordo com o ambiente.

Além da própria temperatura, que acelera as reações bioquímicas aumentando a

produção de leucócitos e de anticorpos, alterações climáticas mais sutis também

têm influencia sobre a imunidade, como quando nas diferentes estações. Diversos

trabalhos mostram que a imunidade, tanto quanto a produção de anticorpos

quanto na produção de linfócitos, é mais eficiente durante o outono e o inverno

(ORIGGI, 2007). O tipo de antígeno também influencia a intensidade que a

resposta imune reage, juntamente com a via de entrada do antígeno (em alguns

casos).

Page 85: Medidas de contenção física5

85

Diversos trabalhos têm mostrado a presença de células semelhantes aos

linfócitos B e T dos mamíferos (ORIGGI, 2007). Os macrófagos e outras células

fagocitárias também estão presentes nos répteis, e muitos autores as têm

estudado quanto a sua capacidade de fagocitose. Até então se mostrou que

catecolaminas em baixa concentração melhoram a atividade fagocitária dessas

células, entretanto quando eu alta concentração a fagocitose é prejudicada. Isto

mostra o quanto o estresse pode influenciar nas defesas do animal contra

patógenos, mesmo em estresses agudos, como em contenções. Outro estudo

mostrou que concentrações muito baixas de succionato de sódio de hidrocortisona

(aproximadamente 0.00005 mg/kg no animal) reduziram consideravelmente a

capacidade fagocitária e a liberação de óxido nítrico. Também se provou que os

hormônios sexuais influenciam inibindo a liberação de nitrito, o que diminui a

atividade citotóxica dos macrófagos.

Os mecanismos inatos de defesa do organismo dos répteis são muito

eficientes, porém uma vez que essa barreira é rompida (como no caso de uma

hipovitaminose A) ocorre uma importante redução na capacidade do animal de se

prevenir contra patógenos.

Em afecções oftálmicas de répteis deve-se suspeitar das mesmas

condições causadoras que vemos em mamíferos e em aves, pois basicamente as

estruturas são muito semelhantes, com exceção das serpentes e alguns lagartos

que não apresentam pálpebras móveis. Portanto os procedimentos diagnósticos,

clínicos e cirúrgicos se diferem muito pouco dos usuais.

A causa mais comum de blefarite em testudinos aquáticos é a

hipovitaminose A (FRYE, 1991, BOYER, 2006, MONTIANI et al, 2007). A

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hipovitaminose A pode predispor o animal a ter infecções nessa região, sendo

necessário juntamente com o tratamento com vitamina A o uso de pomadas

oftálmicas.

Sinais característicos de uma hipovitaminose A em grau avançado são

edema palpebral grave, formação de crostas na rima palpebral, com ceratite

grave, que pode levar o animal a cegueira (MONTIANI et al, 2007). Neste

momento a conjuntiva encontra-se róseo-avermelhada e edematosa. A visão é

essencial para a captura de alimento de alguns testudinos, portando em casos

graves de hipovitaminose A, blefarite ou cegueira, o animal para de se alimentar, o

que agrava mais ainda a sua situação clinica.

De acordo com Frye (1991), outras causas de blefarite são: trauma, corpos

estranhos, infecções, oxyspiroides, e/ou helmintos filarióides ou distúrbios

metabólicos.

As blefarites, assim como em aves, nos répteis podem estar associadas

com uma doença respiratória, ou com imunodepressão ou septicemia.

Segundo Mitchell (2007), já foram desenvolvidas e testadas vacinas para

testudinos contra Aeromonas sóbria, e a mortalidade dos animais vacinados foi

50% menor do que a as não vacinadas.

Page 87: Medidas de contenção física5

87

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Reptile Medicine and Surgery, Mader D. R., 2ª Ed., Canada, Ed. Elsevier

inc., 2006, 1242p..

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Estados Unidos da América, Ed. T.F.H. Publications, 1991, 637p..

3. Boyer T. H., 40 – Turtles, Tortoises and Terrapins, 696-704p., In: Reptile

Medicine and Surgery, Mader D. R., 2ª Ed., Canadá, Ed. Elsevier inc.,

2006, 1242p..

4. Paré J. A., Singler L., Rosenthal K. L., Mader D. R., Microbiology: Fungal

and Bacterial Diseases of Reptiles, 217-238p., In: Reptile Medicine and

Surgery, Mader D. R., 2ª Ed., Canadá, Ed. Elsevier inc., 2006, 1242p..

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Pathology of Reptiles, Jacobson E. R., Ed. Taylor & Francis Group, 2007,

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7. Frye F. L., Antibioticoterapia, 45-67p., In: Grupo Fowler Avanços na

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C., Ed. Fotolaser, 2007, 412p..

8. Montiani F. F., Machado M., Schmidt E. M. S., Oftalmologia de Répteis, 69-

88p., In: Grupo Fowler Avanços na Medicina de Animais Selvagens:

Medicina de Répteis, Vilani R. G. O. C., Ed. Fotolaser, 2007, 412p..

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9. Frye F. L., Doenças Infecciosas – Doenças Fúngicas, por Actinomicetos,

Bacterianas, Rickttsiais e Virais, 89-155p., In: Grupo Fowler Avanços na

Medicina de Animais Selvagens: Medicina de Répteis, Vilani R. G. O.

C., Ed. Fotolaser, 2007, 412p..

10. Sick H. Ornitologia Brasileira, 2ª Ed., p. 479-503, Rio de Janeiro, Nova

Fronteira, 1997, 912p.

11. Marx K. L., Therapeutics Agents, 241-342p. In: Clinical Avian Medicine,

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12. Dumonceaux G., Harrison G. J., 37- Toxins, 1030-1052p., In: Avian

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13. Murphy D. S., Pesticides, 441-442p., In: Toxicology: The Basic Science of

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14. Paulino C. A., Agentes Hemantínicos, Hemostáticos e Anticoagulantes, 289-

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15. Beasley V., Toxicants that Interfere with the Function of Vitamin K,

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16. Itho S. F., Intoxicação por Agrotóxicos, disponível em

http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/modXII.htm.

17. Tiwari R. M., Sinha M. Veterinary Toxicology, Ed. Mehra Offset Press,

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18. Carpenter J. W., Formulário de Animais Exóticos, 3ªEd., Ed. Medvet,

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19. Slatter D., Fundamentos de Oftalmologia Veterinária, 3ªEd., Ed. Rocca,

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20. Portaria nº 321/MS/SNVS, de 8 de agosto de 1, disponível em:

http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/321_97.htm.

21. Glenn J. Tattersall, et al., Heat Exchange from the Toucan Bill Reveals a

Controllable Vascular Thermal Radiator, Science 325, 468 (2009), DOI:

10.1126/science.1175553.

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ANEXO 1: INSTRUÇÕES AOS AUTORES: REVISTA “ARCHIVES OF

VETERINARY SCIENCE”

Diretrizes para Autores

INSTRUÇÃO AOS AUTORES

O periódico ARCHIVES OF VETERINARY SCIENCE (AVS) é publicado trimestralmente, sob orientação do seu Corpo Editorial, com a finalidade de divulgar artigos completos e de revisão relacionados à ciência animal sobre os temas: clínica, cirurgia e patologia veterinária; sanidade animal e medicina veterinária preventiva; nutrição e alimentação animal; sistemas de produção animal e meio ambiente; reprodução e melhoramento genético animal; tecnologia de alimentos; economia e sociologia rural e métodos de investigação científica. A publicação dos artigos científicos dependerá da observância das normas editoriais e dos pareceres dos consultores “ad hoc”. Todos os pareceres têm caráter sigiloso e imparcial, e os conceitos e/ou patentes emitidos nos artigos, são de inteira responsabilidade dos autores, eximindo-se o periódico de quaisquer danos autorais. A submissão de artigos deve ser feita diretamente na página da revista (www.ser.ufpr.br/veterinary.). Mais informações são fornecidas na seção “Informações sobre a revista”.

APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS

1. Digitação: O artigo com no máximo vinte e cinco páginas deverá ser digitado em folha com tamanho A4 210 x 297 mm, com margens laterais direita, esquerda, superior e inferior de 2,5 cm. As páginas deverão ser numeradas de forma progressiva no canto superior direito. Deverá ser utilizado fonte arial 12 em espaço duplo; em uma coluna. Tabelas e Figuras com legendas serão inseridas diretamente no texto e não em folhas separadas.

2. Identificação dos autores e instituições: Todos os dados referentes a autores ou instituição devem ser inseridos exclusivamente nos metadados no momento da submissão online. Não deve haver nenhuma identificação dos autores no corpo do artigo enviado para a revista. Os autores devem inclusive remover a identificação de autoria do arquivo e da opção Propriedades no Word, garantindo desta forma o critério de sigilo da revista.

3. Tabelas: Devem ser numeradas em algarismo arábico seguido de hífen. O título será inserido na parte superior da tabela em caixa baixa (espaço simples) com ponto final. O recuo da segunda linha deverá ocorrer sob a primeira letra do

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título. (Ex.: Tabela 1 – Título.). As abreviações devem ser descritas em notas no rodapé da tabela. Estas serão referenciadas por números sobrescritos (1,2,3). Quando couber, os cabeçalhos das colunas deverão possuir as unidades de medida. Tanto o título quanto as notas de rodapé devem fazer parte da tabela, inseridos em "linhas de tabela".

4. Figuras: Devem ser numeradas em algarismo arábico seguido de hífen. O título será inserido na parte inferior da figura em caixa baixa (espaço simples) com ponto final. O recuo da segunda linha deverá ocorrer sob a primeira letra do título (Ex.: Figura 1 – Título). As designações das variáveis X e Y devem ter iniciais maiúsculas e unidades entre parênteses. São admitidas apenas figuras em preto-e-branco. Figuras coloridas terão as despesas de clicheria e impressão a cores pagas pelo autor. Nesse caso deverá ser solicitada ao Editor (via ofício) a impressão a cores.

NORMAS EDITORIAIS

Artigo completo - Deverá ser inédito, escrito em idioma português (nomenclatura oficial) ou em inglês. O artigo científico deverá conter os seguintes tópicos: Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract; Key words; Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão; Conclusão; Agradecimento(s) (quando houver); Nota informando aprovação por Comitê de Ética (quando houver); Referências.

Artigo de Revisão - Os artigos de revisão deverão ser digitados seguindo a mesma norma do artigo científico e conter os seguintes tópicos: Título (Português e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract; Key words; Introdução; Desenvolvimento; Conclusão; Agradecimento(s) (quando houver); Referencias. A publicação de artigos de revisão fica condicionada à relevância do tema, mérito científico dos autores e disponibilidade da Revista para publicação de artigos de Revisão.

ESTRUTURA DO ARTIGO

TÍTULO - em português, centralizado na página, e com letras maiúsculas. Logo abaixo, título em inglês, entre parêntesis e centralizado na página, com letras minúsculas e itálicas. Não deve ser precedido do termo título.

RESUMO - no máximo 1800 caracteres incluindo os espaços, em língua portuguesa. As informações devem ser precisas e sumarizar objetivos, material e métodos, resultados e conclusões. O texto deve ser justificado e digitado em

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parágrafo único e espaço duplo. Deve ser precedido do termo “Resumo” em caixa alta e negrito.

PALAVRAS-CHAVE – inseridas abaixo do resumo. Máximo de cinco palavras em letras minúsculas, separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética, retiradas exclusivamente do artigo, não devem fazer parte do título, e alinhado a esquerda. Não deve conter ponto final. Deve ser precedido do termo “Palavras-chave” em caixa baixa e negrito.

ABSTRACT - deve ser redigido em inglês, refletindo fielmente o resumo e com no máximo 1800 caracteres. O texto deve ser justificado e digitado em espaço duplo, em parágrafo único. Deve ser precedido do termo “Abstract” em caixa alta e negrito.

KEY WORDS - inseridas abaixo do abstract. Máximo de cinco palavras em letras minúsculas, separadas por ponto-e-vírgula, em ordem alfabética, retiradas exclusivamente do artigo, não devem fazer parte do título em inglês, e alinhado a esquerda. Não precisam ser traduções exatas das palavras-chave e não deve conter ponto final. Deve ser precedido do termo “Key words” em caixa baixa e negrito.

INTRODUÇÃO – abrange também uma breve revisão de literatura e, ao final, os objetivos. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Introdução” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.

MATERIAL E MÉTODOS - o autor deverá ser preciso na descrição de novas metodologias e adaptações realizadas nas metodologias já consagradas na experimentação animal. Fornecer referência específica original para todos os procedimentos utilizados. Não usar nomes comerciais de produtos. O texto deverá iniciar sob a primeira letra do termo “Material e Métodos” (escrito em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.

RESULTADOS (O item Resultados e o item Discussão podem ser presentados juntos, na forma RESULTADOS e DISCUSSÃO, ou em itens separados)

o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Resultados” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda. Símbolos e unidades devem ser listados conforme os exemplos: Usar 36%, e não 36 % (não usar espaço entre o no e %); Usar 88 kg, e não 88Kg (com espaço entre o no e kg, que deve vir em minúsculo); Usar 42 mL, e não 42 ml (litro deve vir em L maiúsculo, conforme padronização internacional); Usar 25oC, e não 25 oC (sem espaço entre o no e oC ); Usar (P<0,05) e não (p < 0,05); Usar r2 = 0,89 e não r2=0,89; Nas tabelas inserir o valor da probabilidade como “valor de P”; Nas tabelas e texto utilizar média ± desvio padrão (15,0 ± 0,5). Devem ser evitadas abreviações não-consagradas, como por exemplo: “o T3 foi maior que o

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T4, que não diferiu do T5 e do T6”. Este tipo de redação é muito cômodo para o autor, mas é de difícil compreensão para o leitor. Escreva os resultados e apresente suporte com dados. Não seja redundante incluindo os mesmos dados ou resultados em tabelas ou figuras.

DISCUSSÃO - o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Discussão” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda. Apresente a sua interpretação dos seus dados. Mostre a relação entre fatos ou generalizações reveladas pelos seus resultados. Aponte exceções ou aspectos ainda não resolvidos. Mostre como os seus resultados ou interpretações concordam com trabalhos previamente publicados ou discordam deles, mas apresente apenas trabalhos originais, evitando citações de terceiros. Discuta os aspectos teóricos e/ou práticos do seu trabalho. Pequenas especulações podem ser interessantes, porém devem manter relação factual com os seus resultados. Afirmações tais como: "Atualmente nós estamos tentando resolver este problema..." não são aceitas. Referências a "dados não publicados" não são aceitas. Conclua sua discussão com uma curta afirmação sobre a significância dos seus resultados.

CONCLUSÕES - preferencialmente redigir a conclusão em parágrafo único, baseada nos objetivos. Devem se apresentar de forma clara e sem abreviações. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Conclusão” (escrita em caixa alta e negrito), com recuo da primeira linha do parágrafo a 1,0 cm da margem esquerda.

AGRADECIMENTOS - os agradecimentos pelo apoio à pesquisa serão incluídos nesta seção. Seja breve nos seus agradecimentos. Não deve haver agradecimento a autores do trabalho. O texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Agradecimento” (escrita em caixa baixa).

NOTAS INFORMATIVAS - quando for o caso, antes das referências, deverá ser incluído parágrafo com informações e número de protocolo de aprovação da pesquisa pela Comissão de Ética e ou Biossegurança. (quando a Comissão de Ética pertencer à própria instituição onde a pesquisa foi realizada, deverá constar apenas o número do protocolo).

REFERÊNCIAS - o texto deverá iniciar sob a primeira letra da palavra “Referências” (escrita em caixa alta e negrito). Omitir a palavra bibliográficas. Alinhada somente à esquerda. Usar como base as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (NBR 10520 (NB 896) - 08/2002). Devem ser redigidas em página separada e ordenadas alfabeticamente pelo(s) sobrenome(s) do(s) autor(es). Os destaques deverão ser em NEGRITO e os nomes científicos, em ITÁLICO. NÃO ABREVIAR O TÍTULO DOS PERIÓDICOS. Indica-se o(s) autor(es) com entrada pelo último sobrenome seguido do(s) prenome(s) abreviado (s), exceto para nomes de origem espanhola, em que entram os dois últimos sobrenomes. Mencionam-se os autores separados por ponto e vírgula. Digitá-las em espaço simples e formatá-las segundo as seguintes

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instruções: no menu FORMATAR, escolha a opção PARÁGRAFO... ESPAÇAMENTO...ANTES...6 pts.Exemplo de como referenciar:

ARTIGOS DE PERIÓDICOS:

JOCHLE, W.; LAMOND, D.R.; ANDERSEN, A.C. Mestranol as an abortifacient in the bitch. Theriogenology, v.4, n.1, p.1-9, 1975.

Livros e capítulos de livro. Os elementos essenciais são: autor(es), título e subtítulo (se houver), seguidos da expressão "In:", e da referência completa como um todo. No final da referência, deve-se informar a paginação. Quando a editora não é identificada, deve-se indicar a expressão sine nomine, abreviada, entre colchetes [s.n.]. Quando o editor e local não puderem ser indicados na publicação, utilizam-se ambas as expressões, abreviadas, e entre colchetes [S.I.: s.n.].

REFERÊNCIA DE LIVROS (in totum):

BICHARD, S.J.; SHERDING, R.G. Small animal practice. Philadelphia : W.B. Saunders, 1997. 1467 p.

REFERÊNCIA DE PARTES DE LIVROS: (Capítulo com autoria)

SMITH, M. Anestrus, pseudopregnancy and cystic follicles. In: MORROW, D.A. Current Therapy in Theriogenology. 2.ed. Philadelphia : W.B. Saunders, 1986, Cap.x, p.585-586.

REFERÊNCIA DE PARTES DE LIVROS: (Capítulo sem autoria)

COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In____. Sampling techniques. 3.ed. New York : John Willey, 1977. Cap.4., p.72-90.

OBRAS DE RESPONSABILIDADE DE UMA ENTIDADE COLETIVA: A entidade é tida como autora e deve ser escrita por extenso, acompanhada por sua respectiva abreviatura. No texto, é citada somente a abreviatura correspondente. Quando a editora é a mesma instituição responsável pela autoria e já tiver sido mencionada, não é indicada.

ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY - AOAC. Official methods of analysis. 16.ed. Arlington: AOAC International, 1995. 1025p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Sistema de análises estatísticas e genéticas - SAEG. Versão 8.0. Viçosa, MG, 2000. 142p.

REFERÊNCIA DE TESE/DISSERTAÇÃO/MONOGRAFIA:

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BACILA, M. Contribuição ao estudo do metabolismo glicídico em eritrócitos de animais domésticos. 1989. Curitiba, 77f. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Curso de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Paraná.

REFERÊNCIA DE PUBLICAÇÕES EM CONGRESSOS:

KOZICKI, L.E.; SHIBATA, F.K. Perfil de progesterona em vacas leiteiras no período do puerpério, determinado pelo radioimunoensaio (RIA). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, XXIV., 1996, Goiânia. Anais... Goiânia: Sociedade Goiana de Veterinária, 1996, p. 106-107.

RESTLE, J.; SOUZA, E.V.T.; NUCCI, E.P.D. et al. Performance of cattle and buffalo fed with different sources of roughage. In: WORLD BUFFALO CONGRESS, 4., 1994, São Paulo. Proceedings... São Paulo: Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos, 1994. p.301-303.

REFERÊNCIA DE ARTIGOS DE PERIÓDICOS ELETRÔNICOS:Quando se tratar de obras consultadas on-line, são essenciais as informações sobre o endereço eletrônico, apresentado entre os sinais < >, precedido da expressão “Disponível em: xx/xx/xxxx”e a data de acesso do documento, precedida da expressão “Acesso em: xx/xx/xxxx.”

PRADA, F.; MENDONÇA Jr., C. X.; CARCIOFI, A. C. [1998]. Concentração de cobre e molibdênio em algumas plantas forrageiras do Estado do Mato Grosso do Sul. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.35, n.6, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/ Acesso em: 05/09/2000.

MÜELLER, Suzana Pinheiro Machado. A comunicação científica e o movimento de acesso livre ao conhecimento. Ciência da Informação, Brasília, v. 35, n. 2, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652006000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13/05/2007.

REBOLLAR, P.G.; BLAS, C. [2002]. Digestión de la soja integral em ruminantes. Disponível em: http://www.ussoymeal.org/ruminant_s.pdf. Acesso em: 12/10/2002.

SILVA, R.N.; OLIVEIRA, R. [1996]. Os limites pedagógicos do paradigma da qualidade total na educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA URPe, 4., 1996, Recife. Anais eletrônico...Recife: Universidade Federal do Pernambuco, 1996. Disponível em: http://www.propesq.ufpe.br/anais/anais.htm> Acesso em: 21/01/1997.

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CITAÇÃO DE TRABALHOS PUBLICADOS EM CD ROM:Na citação de material bibliográfico publicado em CD ROM, o autor deve proceder como o exemplo abaixo:

EUCLIDES, V.P.B.; MACEDO, M.C.M.; OLIVEIRA, M.P. Avaliação de cultivares de Panicum maximum em pastejo. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36., 1999, Porto Alegre. Anais... São Paulo: Gmosis, 1999, 17par. CD-ROM. Forragicultura. Avaliação com animais. FOR-020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Bases de dados em Ciência e Tecnologia. Brasília, n. 1, 1996. CD-ROM.

E.mail Autor, < e-mail do autor. “Assunto”, Data de postagem, e-mail pessoal, (data da leitura)

Web Site Autor [se conhecido], “Título”(título principal, se aplicável), última data da revisão [se conhecida], < URL (data que foi acessado)

FTPAutor [se conhecido] “Título do documento”(Data da publicação) [se disponível], Endereço FTP (data que foi acessado)

CITAÇÕES NO TEXTO: As citações no texto deverão ser feitas em caixa baixa. Quando se tratar de dois autores, ambos devem ser citados, seguido apenas do ano da publicação; três ou mais autores, citar o sobrenome do primeiro autor seguido de et al. obedecendo aos exemplos abaixo:

Silva e Oliveira (1999)

Schmidt et al. (1999)

(Silva et al., 2000)