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Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, organizadores. Design Renato Rizzaro

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Memóriado Setor Elétrico

na Região Sul

OrganizadoresSÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S E MA R I A JO S É RE I S

PesquisadorasAN E L I E S E NAC K E E NE U S A MA R I A S E N S BL O E M E R

ColaboradoresCL Á U D I O JO S É DA L L A BE N E T TA, LU I S AI RT O N FE R R E T, FR E D E R I C O RE I C H M A N N

NE T O, GI L B E RT O VA L E N T E CA N A L I E SE B A S T I Ã O BE R L I N C K BR I T O

Participação EspecialJO R N A L I S TA S: CL Á U D I O PR I S C O PA R A Í S O E FÁ B I O MA F R A F I G U E I R E D O

Auxiliares de PesquisaCÁ T I A WE B E R E LU C I A N O B O R N H O L D T

2 0 0 2

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Memóriado Setor Elétrico

na Região Sul

OrganizadoresSÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S E MA R I A JO S É RE I S

PesquisadorasAN E L I E S E NAC K E E NE U S A MA R I A S E N S BL O E M E R

ColaboradoresCL Á U D I O JO S É DA L L A BE N E T TA, LU I S AI RT O N FE R R E T, FR E D E R I C O RE I C H M A N N

NE T O, GI L B E RT O VA L E N T E CA N A L I E SE B A S T I Ã O BE R L I N C K BR I T O

Participação EspecialJO R N A L I S TA S: CL Á U D I O PR I S C O PA R A Í S O E FÁ B I O MA F R A F I G U E I R E D O

Auxiliares de PesquisaCÁ T I A WE B E R E LU C I A N O B O R N H O L D T

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Page 8: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, Organizadores

© 2002 • Sílvio Coelho dos Santos et al.

Design: Renato Rizzaro

Revisão: Renato Tapado

Capa e folha de rosto: lâmpada utilizada na iluminação pública em Florianópolis, 1910.

Foto: Renato Rizzaro

Primeira guarda: locomóveis da Usina Térmica Curitiba, 1892. Acervo: Museu da Copel.

Última guarda: experimento de captação eólica em Bom Jardim da Serra, iniciativa da Celesc, 2002.

Acervo: Celesc

Catalogação na Fonte pela Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina

M533 Memória do Setor Elétrico na Região Sul / organizadores Sílvio Coelho dos Santose Maria José Reis. - Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002.240 p.: il., fotos.

Inclui bibliografia.

1. Energia elétrica - Brasil, Sul - História. 2. Energia elétrica - Fotografias.I. Santos, Sílvio Coelho dos. II. Reis, Maria José.

CDU:621.31

Universidade Federal de Santa Catarina

Rodolfo Joaquim Pinto da Luz - ReitorLúcio José Botelho - Vice-Reitor

Editora da UFSCAlcides Buss - Diretor Executivo

Conselho EditorialRossana Pacheco da Costa Proença (Presidente)

José Isaac PilatiLuiz Teixeira do Vale PereiraMaria Juracy Toneli Siqueira

Sérgio Fernando Torres de FreitasTânia Regina Oliveira Ramos

Vera Lúcia Bazzo

Campus Universitário – TrindadeCaixa Postal 476

88010-970 - Florianópolis - SCFones: (48) 331 9408, 331 9605 e 331 9686

Fax: (48) 331 [email protected]

www.editora.ufsc.br

A P O I O

P A T R O C Í N I O

Universidade Federal de Santa Catarina

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Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, Organizadores

© 2002 • Sílvio Coelho dos Santos et al.

Design: Renato Rizzaro

Revisão: Renato Tapado

Capa e folha de rosto: lâmpada utilizada na iluminação pública em Florianópolis, 1910.

Foto: Renato Rizzaro

Primeira guarda: locomóveis da Usina Térmica Curitiba, 1892. Acervo: Museu da Copel.

Última guarda: experimento de captação eólica em Bom Jardim da Serra, iniciativa da Celesc, 2002.

Acervo: Celesc

Catalogação na Fonte pela Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina

M533 Memória do Setor Elétrico na Região Sul / organizadores Sílvio Coelho dos Santose Maria José Reis. - Florianópolis: Ed. da UFSC, 2002.240 p.: il., fotos.

Inclui bibliografia.

1. Energia elétrica - Brasil, Sul - História. 2. Energia elétrica - Fotografias.I. Santos, Sílvio Coelho dos. II. Reis, Maria José.

CDU:621.31

Universidade Federal de Santa Catarina

Rodolfo Joaquim Pinto da Luz - ReitorLúcio José Botelho - Vice-Reitor

Editora da UFSCAlcides Buss - Diretor Executivo

Conselho EditorialRossana Pacheco da Costa Proença (Presidente)

José Isaac PilatiLuiz Teixeira do Vale PereiraMaria Juracy Toneli Siqueira

Sérgio Fernando Torres de FreitasTânia Regina Oliveira Ramos

Vera Lúcia Bazzo

Campus Universitário – TrindadeCaixa Postal 476

88010-970 - Florianópolis - SCFones: (48) 331 9408, 331 9605 e 331 9686

Fax: (48) 331 [email protected]

www.editora.ufsc.br

A P O I O

P A T R O C Í N I O

Universidade Federal de Santa Catarina

Page 10: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Apresentação

A energia elétrica chega no contexto da modernidade

A história da eletricidade no SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS

Empreendimentos pioneiros na produção de energia elétricaMARIA JOSÉ REIS, NEUSA MARIA SENS BLOEMER E ANELIESE NACKE

A eletricidade como suporte da modernidade no cotidianoMARIA JOSÉ REIS E NEUSA MARIA SENS BLOEMER

O setor elétrico no cenário dos PlanosNacionais de Desenvolvimento

A Eletrobrás e suas subsidiárias: projetos termo e hidrelétricos no SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS

A definição e a importância do Projeto UruguaiGILBERTO VALENTE CANALI

Itaipu: um megaprojetoCLÁUDIO JOSÉ DALLA BENETTA

A CEEE e sua trajetória históricaLUIS AIRTON FERRET

A Celesc: da instalação aos dias atuaisSEBASTIÃO BERLINCK BRITO

A Copel: origem e perfil atualFREDERICO REICHMANN NETO

O setor elétrico no limiar de um novo milênio

A importância estratégica do setor elétrico no cenário da Região SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS E ANELIESE NACKE

A energia elétrica na Região Sul no contexto da privatizaçãoMARIA JOSÉ REIS E NEUSA MARIA SENS BLOEMER

O papel da Eletrosul como empresa de transmissão num sistema interligadoCLÁUDIO PRISCO PARAÍSO E FÁBIO MAFRA FIGUEIREDO

9

19

31

77

99

111

131

147

167

185

205

213

227

Agradecimentos especiais são devidos às seguintes pessoas e instituições, que facilitaramo acesso às informações e à documentação fotográfica selecionada.

Acires Dias, Departamento de Engenharia Mecânica, UFSC; Ademar CamposBindé, Ijuí, RS; Airton Laufer Junior, Curitiba; Amilcar Barum, UCPEL, Pelotas,RS; Anna Lindner von Pichler e Elfride Anrain Lindner, Joaçaba, SC; ArquivoPúblico de Florianópolis; Assessoria de Comunicação Empresarial da Tractebel,Florianópolis; Bernadete Aued, TMT, UFSC; Biblioteca Pública Neiva MariaCostella, Chapecó, SC; Cassiana Lícia de Lacerda e Roberson Maurício CaldeiraNunes, Diretoria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Fundação Culturalde Curitiba (DPHAC/FCC); Centro de Organização da Memória do Oeste deSanta Catarina (CEOM), Chapecó, SC; Cláudia de Souza Sommer, Museu daEletricidade da CEEE, Porto Alegre; Claudinei Moreira Ramos, FundaçãoPatrimônio Histórico da Energia de São Paulo; Daniel Ferreira e Honória PachecoAndrade, Museu de Energia da Copel, Curitiba; Danilo Thiago de Castro e Marlide Oliveira Ramos Grass, Museu Thiago de Castro, Lages, SC; Departamento deMarketing, Celesc, Florianópolis; Eli Maria Bellani e Maria do Carmo Machado,UNOESC, Chapecó, SC; Eliana Bahia, Instituto Histórico e Geográfico de SantaCatarina (IHG-SC); Enedy Padilha da Rosa, Arquivo Histórico Doutor WaldemarRupp, Campos Novos, SC; Erlo Adolfo Endruweit, DEMEI, Ijuí, RS; Fábio Verçoza,Centro Cultural Usina do Gasômetro, Porto Alegre; Fátima Regina Ricardo, LaercioFaria, Maria Stela Homem, Ronaldo Canali e Tomires Cardoso, Eletrosul,Florianópolis; Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU);Gisela A. Batistela e Ângela Costa, NEPI, UFSC; Günter Axt, Diretoria deAtividades Culturais, Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; HélioTeixeira, Departamento de Comunicação Social, Itaipu Binacional; João EduardoMoritz, Florianópolis; Jocélia Loyola de Oliveira Gomes, Universidade Estadual dePonta Grossa, PR; José Henrique Vilela, LabGeop/UFSC; José Isacc Pilatti,Departamento de Direito, UFSC; Lindolfo Zimmer e Roberto José Bittencourt,Diretoria de Marketing, Copel, Curitiba; Luciana Araújo Rocha Hyczy, Cia. Forçae Luz do Oeste, Guarapuava, PR; Luiz Alberto Santos Rodrigues (Beto Negrão),Assessoria de Comunicação Social, CEEE, Porto Alegre; Luiz Carlos Alves, Museuda Universidade Federal do Paraná, Paranaguá; Marcos Schwab, Presidente daFundação Itaipu-BR de Previdência e Assistência Social; Maria Lígia da CostaValente Canali, Florianópolis; Marilza Elizardo Brito e Solange Balbi CerveiraReis, Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, RJ; Mirian Rezini Nutti, Divisãode Meio Ambiente, Eletrobrás, RJ; Museu José Joaquim Felizardo, Porto Alegre;Naida Menezes, Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre;Ruth Vieira Nunes, Centro de Convivência Cultural, UNISUL; Saburo Migamoto,Studium Photos, Joinville; Sergio Colle e Ricardo Rüther, Labsolar, UFSC; SergioSchmitz, Departamento de História, UFSC; Silvia Mariza Marchiorato, MuseuParanaense, Curitiba; Sonia Ferraro Dorta e Rodrigo Furlan Alves, EFLUL,Urussanga, SC; Sueli Vanzuita Petry, Arquivo Histórico José Ferreira da Silva,Blumenau, SC; Telmo Lauro Müller, Museu Histórico Visconde de São Leopoldo,RS; Terezinha Fernandes da Rosa, Arquivo Histórico de Joinville, SC; TerezinhaWeber, Procuradoria Geral de Justiça, Florianópolis; Virgínia Ana Zimmermann,Aumeri Machado e Mercedes Maria Vieira da Silva, Biblioteca Pública do Estadode Santa Catarina; Waldir Fausto Gil, Florianópolis.

S U M Á R I O

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Apresentação

A energia elétrica chega no contexto da modernidade

A história da eletricidade no SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS

Empreendimentos pioneiros na produção de energia elétricaMARIA JOSÉ REIS, NEUSA MARIA SENS BLOEMER E ANELIESE NACKE

A eletricidade como suporte da modernidade no cotidianoMARIA JOSÉ REIS E NEUSA MARIA SENS BLOEMER

O setor elétrico no cenário dos PlanosNacionais de Desenvolvimento

A Eletrobrás e suas subsidiárias: projetos termo e hidrelétricos no SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS

A definição e a importância do Projeto UruguaiGILBERTO VALENTE CANALI

Itaipu: um megaprojetoCLÁUDIO JOSÉ DALLA BENETTA

A CEEE e sua trajetória históricaLUIS AIRTON FERRET

A Celesc: da instalação aos dias atuaisSEBASTIÃO BERLINCK BRITO

A Copel: origem e perfil atualFREDERICO REICHMANN NETO

O setor elétrico no limiar de um novo milênio

A importância estratégica do setor elétrico no cenário da Região SulSÍLVIO COELHO DOS SANTOS E ANELIESE NACKE

A energia elétrica na Região Sul no contexto da privatizaçãoMARIA JOSÉ REIS E NEUSA MARIA SENS BLOEMER

O papel da Eletrosul como empresa de transmissão num sistema interligadoCLÁUDIO PRISCO PARAÍSO E FÁBIO MAFRA FIGUEIREDO

9

19

31

77

99

111

131

147

167

185

205

213

227

Agradecimentos especiais são devidos às seguintes pessoas e instituições, que facilitaramo acesso às informações e à documentação fotográfica selecionada.

Acires Dias, Departamento de Engenharia Mecânica, UFSC; Ademar CamposBindé, Ijuí, RS; Airton Laufer Junior, Curitiba; Amilcar Barum, UCPEL, Pelotas,RS; Anna Lindner von Pichler e Elfride Anrain Lindner, Joaçaba, SC; ArquivoPúblico de Florianópolis; Assessoria de Comunicação Empresarial da Tractebel,Florianópolis; Bernadete Aued, TMT, UFSC; Biblioteca Pública Neiva MariaCostella, Chapecó, SC; Cassiana Lícia de Lacerda e Roberson Maurício CaldeiraNunes, Diretoria do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Fundação Culturalde Curitiba (DPHAC/FCC); Centro de Organização da Memória do Oeste deSanta Catarina (CEOM), Chapecó, SC; Cláudia de Souza Sommer, Museu daEletricidade da CEEE, Porto Alegre; Claudinei Moreira Ramos, FundaçãoPatrimônio Histórico da Energia de São Paulo; Daniel Ferreira e Honória PachecoAndrade, Museu de Energia da Copel, Curitiba; Danilo Thiago de Castro e Marlide Oliveira Ramos Grass, Museu Thiago de Castro, Lages, SC; Departamento deMarketing, Celesc, Florianópolis; Eli Maria Bellani e Maria do Carmo Machado,UNOESC, Chapecó, SC; Eliana Bahia, Instituto Histórico e Geográfico de SantaCatarina (IHG-SC); Enedy Padilha da Rosa, Arquivo Histórico Doutor WaldemarRupp, Campos Novos, SC; Erlo Adolfo Endruweit, DEMEI, Ijuí, RS; Fábio Verçoza,Centro Cultural Usina do Gasômetro, Porto Alegre; Fátima Regina Ricardo, LaercioFaria, Maria Stela Homem, Ronaldo Canali e Tomires Cardoso, Eletrosul,Florianópolis; Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (FAPEU);Gisela A. Batistela e Ângela Costa, NEPI, UFSC; Günter Axt, Diretoria deAtividades Culturais, Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; HélioTeixeira, Departamento de Comunicação Social, Itaipu Binacional; João EduardoMoritz, Florianópolis; Jocélia Loyola de Oliveira Gomes, Universidade Estadual dePonta Grossa, PR; José Henrique Vilela, LabGeop/UFSC; José Isacc Pilatti,Departamento de Direito, UFSC; Lindolfo Zimmer e Roberto José Bittencourt,Diretoria de Marketing, Copel, Curitiba; Luciana Araújo Rocha Hyczy, Cia. Forçae Luz do Oeste, Guarapuava, PR; Luiz Alberto Santos Rodrigues (Beto Negrão),Assessoria de Comunicação Social, CEEE, Porto Alegre; Luiz Carlos Alves, Museuda Universidade Federal do Paraná, Paranaguá; Marcos Schwab, Presidente daFundação Itaipu-BR de Previdência e Assistência Social; Maria Lígia da CostaValente Canali, Florianópolis; Marilza Elizardo Brito e Solange Balbi CerveiraReis, Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, RJ; Mirian Rezini Nutti, Divisãode Meio Ambiente, Eletrobrás, RJ; Museu José Joaquim Felizardo, Porto Alegre;Naida Menezes, Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, Porto Alegre;Ruth Vieira Nunes, Centro de Convivência Cultural, UNISUL; Saburo Migamoto,Studium Photos, Joinville; Sergio Colle e Ricardo Rüther, Labsolar, UFSC; SergioSchmitz, Departamento de História, UFSC; Silvia Mariza Marchiorato, MuseuParanaense, Curitiba; Sonia Ferraro Dorta e Rodrigo Furlan Alves, EFLUL,Urussanga, SC; Sueli Vanzuita Petry, Arquivo Histórico José Ferreira da Silva,Blumenau, SC; Telmo Lauro Müller, Museu Histórico Visconde de São Leopoldo,RS; Terezinha Fernandes da Rosa, Arquivo Histórico de Joinville, SC; TerezinhaWeber, Procuradoria Geral de Justiça, Florianópolis; Virgínia Ana Zimmermann,Aumeri Machado e Mercedes Maria Vieira da Silva, Biblioteca Pública do Estadode Santa Catarina; Waldir Fausto Gil, Florianópolis.

S U M Á R I O

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N Na história da humanidade, a eletricidade se materializoucomo tecnologia disponível a partir das últimas décadas doséculo XIX. Produto do esforço combinado da ciência e datecnologia, aos poucos se transformou numa valiosamercadoria destinada a diferentes usos. Representava,simultaneamente, progresso e civilização, tanto por ser umanova alternativa de energia para as indústrias que cresciamem número e em produção, quanto pela abertura de novascondições para a ocupação dos espaços urbanos, graças aosusos da iluminação pública e privada. Fábricas, ruas e áreasde lazer se ampliaram. O perfil das cidades mudou. Nasresidências particulares e nos edifícios públicos a iluminaçãoe diferentes aparelhos elétricos trouxeram conforto e deramasas ao imaginário social. A energia elétrica era o novo íconeda modernidade, com enorme utilidade prática e um fortepotencial de sedução, fascinando o povo e as elites.

Este livro-álbum tem como objetivo a reconstituição damemória do setor elétrico na Região Sul do Brasil, através daidentificação dos principais eventos que determinaram osurgimento dos primeiros empreendimentos termo ehidrelétricos. Destaca, ainda, o entusiasmo com que foram

A P R E S E N T A Ç Ã O

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N Na história da humanidade, a eletricidade se materializoucomo tecnologia disponível a partir das últimas décadas doséculo XIX. Produto do esforço combinado da ciência e datecnologia, aos poucos se transformou numa valiosamercadoria destinada a diferentes usos. Representava,simultaneamente, progresso e civilização, tanto por ser umanova alternativa de energia para as indústrias que cresciamem número e em produção, quanto pela abertura de novascondições para a ocupação dos espaços urbanos, graças aosusos da iluminação pública e privada. Fábricas, ruas e áreasde lazer se ampliaram. O perfil das cidades mudou. Nasresidências particulares e nos edifícios públicos a iluminaçãoe diferentes aparelhos elétricos trouxeram conforto e deramasas ao imaginário social. A energia elétrica era o novo íconeda modernidade, com enorme utilidade prática e um fortepotencial de sedução, fascinando o povo e as elites.

Este livro-álbum tem como objetivo a reconstituição damemória do setor elétrico na Região Sul do Brasil, através daidentificação dos principais eventos que determinaram osurgimento dos primeiros empreendimentos termo ehidrelétricos. Destaca, ainda, o entusiasmo com que foram

A P R E S E N T A Ç Ã O

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reclamados pela sociedade; no descaso e na inadequação doatendimento às questões socioambientais decorrentes sobretudoda implantação de usinas de maior porte.

Constituída em três partes, com doze capítulos, esta obraassocia textos e fotos de maneira a permitir ao leitor acompreensão da trajetória do setor elétrico, em diferentesespaços e momentos históricos. Na primeira parte, intitulada“A energia elétrica chega no contexto da modernidade”,procurou-se ressaltar os episódios mais significativos, bem comoos empreendimentos pioneiros e o papel exercido pelaeletricidade no cotidiano social, no período compreendidoaproximadamente entre 1880 e 1950. Na segunda parte,denominada “O setor elétrico no cenário dos Planos Nacionaisde Desenvolvimento”, são enfatizadas as intervenções doEstado que levaram à criação de uma legislação disciplinadora;à implantação do Ministério de Minas e Energia, da Eletrobráse de suas subsidiárias, além das empresas estaduais de energia,da Itaipu Binacional e de dezenas de usinas termo ouhidrelétricas. Na terceira parte, designada “O setor elétricono limiar de um novo milênio”, dá-se atenção às indefiniçõesgovernamentais quanto à privatização em tempos do presente;destacam-se as reorientações vivenciadas pelas companhiasestaduais de energia e a emergência das novas empresasprivadas de geração e de distribuição; e ressalta-se o papel daEletrosul como empresa de transmissão. Além disso, enfatiza-se a necessidade de se diversificar a matriz energética,essencialmente hidráulica, e de se manter objetivos clarosquanto à regulação do setor, no contexto da crescenteprivatização.

Esta obra não poderia ter sido concretizada se não setivesse contado com o decidido apoio do Prof. RodolfoJoaquim Pinto da Luz, Reitor da Universidade Federal de

recebidos os serviços de eletricidade pela população e ressaltaas dificuldades para a definição de políticas públicas nesseestratégico setor da economia.

Empreendedores pioneiros preocupados com odesenvolvimento de suas indústrias, ou de suas cidades,seduzidos por essa nova fonte de energia, fizeraminvestimentos e materializaram usinas e redes de distribuiçãotanto nas capitais, como no interior. As empresas deeletricidade foram, gradativamente, aprimorando técnicas eampliando as possibilidades de utilização dessa energia, aponto de torná-la um valioso e indispensável bem deconsumo. Aos poucos o potencial dos consumidores foi sedefinindo, provocando o interesse de empresas quepretendiam controlar esse novo mercado. Em muitos casosas pioneiras e pequenas iniciativas locais foram açambarcadaspelo capital internacional, o que levou a um lento processode definição de ações governamentais para garantir os nemsempre claros interesses nacionais. Simultaneamente, o Paísfoi adquirindo competência para construir usinas cada vezmais complexas, em termos de tecnologia e de investimentos,consolidando a indústria da produção de energia elétrica. Aengenharia das barragens, as linhas de transmissão a longasdistâncias, a construção de equipamentos pesados, comoconseqüência de ações planejadas do setor elétrico,permitiram chegar ao potencial instalado de que dispomosatualmente.

Desafios e dificuldades do setor elétrico foram enfrentadoscom erros e acertos, registrando-se avanços e conquistas notóriase indiscutíveis. Não faltaram, no entanto, percalços revelados,por exemplo, no descompasso em certos períodos entre a ofertade energia elétrica e as demandas da população; nas indecisõesdos detentores do poder para assumirem a aprovação de projetos

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reclamados pela sociedade; no descaso e na inadequação doatendimento às questões socioambientais decorrentes sobretudoda implantação de usinas de maior porte.

Constituída em três partes, com doze capítulos, esta obraassocia textos e fotos de maneira a permitir ao leitor acompreensão da trajetória do setor elétrico, em diferentesespaços e momentos históricos. Na primeira parte, intitulada“A energia elétrica chega no contexto da modernidade”,procurou-se ressaltar os episódios mais significativos, bem comoos empreendimentos pioneiros e o papel exercido pelaeletricidade no cotidiano social, no período compreendidoaproximadamente entre 1880 e 1950. Na segunda parte,denominada “O setor elétrico no cenário dos Planos Nacionaisde Desenvolvimento”, são enfatizadas as intervenções doEstado que levaram à criação de uma legislação disciplinadora;à implantação do Ministério de Minas e Energia, da Eletrobráse de suas subsidiárias, além das empresas estaduais de energia,da Itaipu Binacional e de dezenas de usinas termo ouhidrelétricas. Na terceira parte, designada “O setor elétricono limiar de um novo milênio”, dá-se atenção às indefiniçõesgovernamentais quanto à privatização em tempos do presente;destacam-se as reorientações vivenciadas pelas companhiasestaduais de energia e a emergência das novas empresasprivadas de geração e de distribuição; e ressalta-se o papel daEletrosul como empresa de transmissão. Além disso, enfatiza-se a necessidade de se diversificar a matriz energética,essencialmente hidráulica, e de se manter objetivos clarosquanto à regulação do setor, no contexto da crescenteprivatização.

Esta obra não poderia ter sido concretizada se não setivesse contado com o decidido apoio do Prof. RodolfoJoaquim Pinto da Luz, Reitor da Universidade Federal de

recebidos os serviços de eletricidade pela população e ressaltaas dificuldades para a definição de políticas públicas nesseestratégico setor da economia.

Empreendedores pioneiros preocupados com odesenvolvimento de suas indústrias, ou de suas cidades,seduzidos por essa nova fonte de energia, fizeraminvestimentos e materializaram usinas e redes de distribuiçãotanto nas capitais, como no interior. As empresas deeletricidade foram, gradativamente, aprimorando técnicas eampliando as possibilidades de utilização dessa energia, aponto de torná-la um valioso e indispensável bem deconsumo. Aos poucos o potencial dos consumidores foi sedefinindo, provocando o interesse de empresas quepretendiam controlar esse novo mercado. Em muitos casosas pioneiras e pequenas iniciativas locais foram açambarcadaspelo capital internacional, o que levou a um lento processode definição de ações governamentais para garantir os nemsempre claros interesses nacionais. Simultaneamente, o Paísfoi adquirindo competência para construir usinas cada vezmais complexas, em termos de tecnologia e de investimentos,consolidando a indústria da produção de energia elétrica. Aengenharia das barragens, as linhas de transmissão a longasdistâncias, a construção de equipamentos pesados, comoconseqüência de ações planejadas do setor elétrico,permitiram chegar ao potencial instalado de que dispomosatualmente.

Desafios e dificuldades do setor elétrico foram enfrentadoscom erros e acertos, registrando-se avanços e conquistas notóriase indiscutíveis. Não faltaram, no entanto, percalços revelados,por exemplo, no descompasso em certos períodos entre a ofertade energia elétrica e as demandas da população; nas indecisõesdos detentores do poder para assumirem a aprovação de projetos

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A energia elétricachega no contexto

da modernidade

P A R T E 1

SÍLVIO COELHO DOS SANTOS E MARIA JOSÉ REIS

Organizadores

Santa Catarina; do Prof. Carlos Fernando Miguez, DiretorExecutivo da Fundação de Amparo à Pesquisa e ExtensãoUniversitária (FAPEU), UFSC; do Prof. Alcides Buss, Diretorda Editora da UFSC; do Dr. Cláudio Ávila da Silva,inicialmente como Presidente da Eletrosul e, depois, comoPresidente da Eletrobrás; do Engº Manoel Arlindo ZaroniTorres, Diretor Presidente da Tractebel Energia S.A.; do Sr.Francisco Küster, à época Presidente das Centrais Elétricasde Santa Catarina (Celesc); do Engº Altino Ventura Filho,atual Presidente da Eletrobrás, e do Dr. Nereu Ramos Neto,Diretor Financeiro da mesma empresa. Também seriaimpossível concretizar o projeto se não contássemos com acooperação de um expressivo número de pessoas, a maioriadetentoras de acervos documentais, fotográficos oubibliográficos, bem como de instituições, as quais foramarroladas com todo o mérito numa página especial, naabertura deste livro. Cabe destacar também o esforço denossos colaboradores convidados e de nossos colegas deequipe e auxiliares, sempre incansáveis para se chegar aosresultados propostos. A todos os nossos agradecimentos e acerteza de que valeu a pena o esforço.

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A energia elétricachega no contexto

da modernidade

P A R T E 1

SÍLVIO COELHO DOS SANTOS E MARIA JOSÉ REIS

Organizadores

Santa Catarina; do Prof. Carlos Fernando Miguez, DiretorExecutivo da Fundação de Amparo à Pesquisa e ExtensãoUniversitária (FAPEU), UFSC; do Prof. Alcides Buss, Diretorda Editora da UFSC; do Dr. Cláudio Ávila da Silva,inicialmente como Presidente da Eletrosul e, depois, comoPresidente da Eletrobrás; do Engº Manoel Arlindo ZaroniTorres, Diretor Presidente da Tractebel Energia S.A.; do Sr.Francisco Küster, à época Presidente das Centrais Elétricasde Santa Catarina (Celesc); do Engº Altino Ventura Filho,atual Presidente da Eletrobrás, e do Dr. Nereu Ramos Neto,Diretor Financeiro da mesma empresa. Também seriaimpossível concretizar o projeto se não contássemos com acooperação de um expressivo número de pessoas, a maioriadetentoras de acervos documentais, fotográficos oubibliográficos, bem como de instituições, as quais foramarroladas com todo o mérito numa página especial, naabertura deste livro. Cabe destacar também o esforço denossos colaboradores convidados e de nossos colegas deequipe e auxiliares, sempre incansáveis para se chegar aosresultados propostos. A todos os nossos agradecimentos e acerteza de que valeu a pena o esforço.

Page 18: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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N No século XIX a humanidade testemunhou grandes mudançastecnológicas. As estradas de ferro e o trem aproximaram cidades emercados. A velocidade permitida pela máquina a vapor materializoua realização de sonhos inimagináveis, como bem descreveu Júlio Verneem seu clássico da literatura infanto-juvenil, A volta ao mundo emoitenta dias (1873). O telégrafo, a fotografia, o telefone, o navio avapor e a energia elétrica têm destaque nesse amplo conjunto deinovações. Os países que dominavam as antigas áreas coloniais, lideradospela Inglaterra, mantinham crescente produção industrial. Asconcentrações urbanas, ampliadas pela presença das fábricas,vivenciavam quadros de riqueza e miséria. Em Filadélfia, Londres, Parise Viena grandes exposições procuravam colocar o público em contatocom máquinas, produtos industriais, mercados e regiões remotas, alémde tecnologia de ponta. O capitalismo se afirmava, exacerbandocontradições sociais e perspectivas de riquezas crescentes.

Entre 1820 e 1870 os trabalhos de Hans Christian Oersted, André-Marie Ampère, Michael Faraday e James Clerk Maxwel, entre outros,desvendaram o eletromagnetismo e definiram uma teoria explicativa daeletricidade. O célebre Tratado sobre eletricidade e magnetismo, deMaxwel, foi editado em 1873. O homem estava começando a conquistarde forma consciente novas fronteiras, em particular relacionadas ao seucrescente domínio sobre o ecúmeno terrestre. A ciência e a tecnologiaconquistavam espaços. O laboratório e a fábrica se aproximavam.Novidades e mudanças tornavam-se constantes, ampliando expectativasde progresso e de bem-estar no novo século que estava chegando.

I N T R O D U Ç Ã O

Usina Hidrelétrica Municipal de Rio Santana,Francisco Beltrão (PR) década de 50.

Acervo: Família Nacke.

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N No século XIX a humanidade testemunhou grandes mudançastecnológicas. As estradas de ferro e o trem aproximaram cidades emercados. A velocidade permitida pela máquina a vapor materializoua realização de sonhos inimagináveis, como bem descreveu Júlio Verneem seu clássico da literatura infanto-juvenil, A volta ao mundo emoitenta dias (1873). O telégrafo, a fotografia, o telefone, o navio avapor e a energia elétrica têm destaque nesse amplo conjunto deinovações. Os países que dominavam as antigas áreas coloniais, lideradospela Inglaterra, mantinham crescente produção industrial. Asconcentrações urbanas, ampliadas pela presença das fábricas,vivenciavam quadros de riqueza e miséria. Em Filadélfia, Londres, Parise Viena grandes exposições procuravam colocar o público em contatocom máquinas, produtos industriais, mercados e regiões remotas, alémde tecnologia de ponta. O capitalismo se afirmava, exacerbandocontradições sociais e perspectivas de riquezas crescentes.

Entre 1820 e 1870 os trabalhos de Hans Christian Oersted, André-Marie Ampère, Michael Faraday e James Clerk Maxwel, entre outros,desvendaram o eletromagnetismo e definiram uma teoria explicativa daeletricidade. O célebre Tratado sobre eletricidade e magnetismo, deMaxwel, foi editado em 1873. O homem estava começando a conquistarde forma consciente novas fronteiras, em particular relacionadas ao seucrescente domínio sobre o ecúmeno terrestre. A ciência e a tecnologiaconquistavam espaços. O laboratório e a fábrica se aproximavam.Novidades e mudanças tornavam-se constantes, ampliando expectativasde progresso e de bem-estar no novo século que estava chegando.

I N T R O D U Ç Ã O

Usina Hidrelétrica Municipal de Rio Santana,Francisco Beltrão (PR) década de 50.

Acervo: Família Nacke.

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O imperador Pedro II (1840-1889) foi um entusiasta das exposiçõese das inovações que nelas eram apresentadas. Na exposiçãocomemorativa ao centenário de Filadélfia (1876), o imperador, ao ladodo presidente Grant, participou do ato simbólico de acionamento daenergia elétrica na “sala de máquinas”. Teve oportunidade, também,de conversar por telefone com Graham Bell, que fazia a apresentaçãode seu revolucionário invento. Anteriormente, o Brasil marcarapresença nas exposições de Londres (1862), Paris (1867) e Viena (1873).Ainda no Império, o País compareceu, entre outras, às exposições deBuenos Aires (1882), São Petersburgo (1884) e Paris (1889). Osprodutos brasileiros, a maioria de origem agrícola, através do governoe de empresários procuravam marcar presença no mercado que setransnacionalizava. Outrossim, a elite do País costumava enviar seusfilhos para obter formação escolar na Europa. As referidas inovações,pois, não passaram despercebidas a muitos brasileiros que, em certoscasos, assumiram as propostas modernizadoras, tanto tecnológicas,quanto filosóficas. O ideário republicano e o Positivismo são exemplosdessa adesão.

Thomas Edison, o genial inventor da lâmpada incandescentedescartável (1879), instalou com sucesso a iluminação pública em NovaYork, em 1882, alimentada por uma pequena termelétrica. Foi tambémconvidado por D. Pedro II para implantar seus inventos no Brasil. Ouso industrial da eletricidade havia se tornado possível com a invençãodo dínamo pelo engenheiro alemão Werner Siemens (1867). Otransporte da energia em alta tensão e o uso de transformadores e dealternadores foram conquistas quase simultâneas, favorecendo adisseminação da iluminação pública e a de consumo doméstico eindustrial nas principais cidades do planeta. Jamais uma tecnologia haviatido aceitação coletiva com tanta rapidez como aconteceu com aeletricidade.

No Brasil a primeira demonstração de iluminação elétrica ocorreuno Rio de Janeiro, em 1879, quando da inauguração da estação centralda Estrada de Ferro D. Pedro II. A seguir, em 1883, o imperadorinaugurou em Campos (RJ) a primeira rede de iluminação pública,alimentada por uma máquina a vapor. Nesse mesmo ano ocorreu aprimeira experiência de geração hidrelétrica em Diamantina (MG),quando uma pequena usina foi instalada no Ribeirão do Inferno poruma empresa interessada na exploração de diamantes. Em 1887 foi

Desde tempos imemoriais o ser humano descobriu a importânciado fogo para se aquecer, cozinhar e iluminar a escuridão da noite. Nosacampamentos uma fogueira a tudo atendia. Posteriormente, nascidades, os archotes feitos com ramos secos e breu iluminavam oscaminhos daqueles que precisavam sair às ruas. No interior das casas etemplos, além de tochas acesas em pontos estratégicos, velas de sebo efios de algodão imersos em pequenos vasilhames com azeite, chamadoslanternas, lâmpadas ou lamparinas, garantiam precária iluminação. Aescuridão da noite era temida, pois não raro abrigava perigos e todasorte de violência. Aos poucos as populações das áreas urbanas exigirama iluminação pública. Lampiões alimentados a óleo começaram a serutilizados. A captura de baleias tornou-se um bom negócio, razão, porexemplo, da instalação na Região Sul do Brasil de diversas armaçõesdestinadas à produção de óleo. Com o decorrer do tempo em muitoslugares se passou também a utilizar o querosene e o gás.

Acendedores de lampiões. Porto Alegre.Acervo: Museu de Comunicação Social

Hipólito José da Costa.

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O imperador Pedro II (1840-1889) foi um entusiasta das exposiçõese das inovações que nelas eram apresentadas. Na exposiçãocomemorativa ao centenário de Filadélfia (1876), o imperador, ao ladodo presidente Grant, participou do ato simbólico de acionamento daenergia elétrica na “sala de máquinas”. Teve oportunidade, também,de conversar por telefone com Graham Bell, que fazia a apresentaçãode seu revolucionário invento. Anteriormente, o Brasil marcarapresença nas exposições de Londres (1862), Paris (1867) e Viena (1873).Ainda no Império, o País compareceu, entre outras, às exposições deBuenos Aires (1882), São Petersburgo (1884) e Paris (1889). Osprodutos brasileiros, a maioria de origem agrícola, através do governoe de empresários procuravam marcar presença no mercado que setransnacionalizava. Outrossim, a elite do País costumava enviar seusfilhos para obter formação escolar na Europa. As referidas inovações,pois, não passaram despercebidas a muitos brasileiros que, em certoscasos, assumiram as propostas modernizadoras, tanto tecnológicas,quanto filosóficas. O ideário republicano e o Positivismo são exemplosdessa adesão.

Thomas Edison, o genial inventor da lâmpada incandescentedescartável (1879), instalou com sucesso a iluminação pública em NovaYork, em 1882, alimentada por uma pequena termelétrica. Foi tambémconvidado por D. Pedro II para implantar seus inventos no Brasil. Ouso industrial da eletricidade havia se tornado possível com a invençãodo dínamo pelo engenheiro alemão Werner Siemens (1867). Otransporte da energia em alta tensão e o uso de transformadores e dealternadores foram conquistas quase simultâneas, favorecendo adisseminação da iluminação pública e a de consumo doméstico eindustrial nas principais cidades do planeta. Jamais uma tecnologia haviatido aceitação coletiva com tanta rapidez como aconteceu com aeletricidade.

No Brasil a primeira demonstração de iluminação elétrica ocorreuno Rio de Janeiro, em 1879, quando da inauguração da estação centralda Estrada de Ferro D. Pedro II. A seguir, em 1883, o imperadorinaugurou em Campos (RJ) a primeira rede de iluminação pública,alimentada por uma máquina a vapor. Nesse mesmo ano ocorreu aprimeira experiência de geração hidrelétrica em Diamantina (MG),quando uma pequena usina foi instalada no Ribeirão do Inferno poruma empresa interessada na exploração de diamantes. Em 1887 foi

Desde tempos imemoriais o ser humano descobriu a importânciado fogo para se aquecer, cozinhar e iluminar a escuridão da noite. Nosacampamentos uma fogueira a tudo atendia. Posteriormente, nascidades, os archotes feitos com ramos secos e breu iluminavam oscaminhos daqueles que precisavam sair às ruas. No interior das casas etemplos, além de tochas acesas em pontos estratégicos, velas de sebo efios de algodão imersos em pequenos vasilhames com azeite, chamadoslanternas, lâmpadas ou lamparinas, garantiam precária iluminação. Aescuridão da noite era temida, pois não raro abrigava perigos e todasorte de violência. Aos poucos as populações das áreas urbanas exigirama iluminação pública. Lampiões alimentados a óleo começaram a serutilizados. A captura de baleias tornou-se um bom negócio, razão, porexemplo, da instalação na Região Sul do Brasil de diversas armaçõesdestinadas à produção de óleo. Com o decorrer do tempo em muitoslugares se passou também a utilizar o querosene e o gás.

Acendedores de lampiões. Porto Alegre.Acervo: Museu de Comunicação Social

Hipólito José da Costa.

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N Nos Estados sulinos a energia elétrica chegou primeiro em PortoAlegre. A iniciativa de dotar a capital do Rio Grande do Sul com ummoderno sistema de iluminação pública foi dos franceses AimableJouvin, cônsul e representante comercial, e S. Dernuit, engenheiro querepresentava a empresa francesa Gramme. Os dois criaram, em 1887,a Cia. Fiat Lux. Uma usina termelétrica, alimentada a lenha, foiinstalada próxima à área portuária, junto à cidade. Em pouco tempoalgumas ruas do centro passaram a contar com a novidade. Novidadeque também chegou na capital do Paraná logo em seguida, com aimplantação de uma pequena termelétrica em 1889. A iluminaçãoelétrica em Curitiba foi iniciativa da Companhia de Água e Luz doEstado de São Paulo, que havia obtido a concessão municipal (1892).Em seguida (1898) o empresário José Hauer assumiu a concessão do

serviço de iluminação e instalou a usina deCapanema.

Rapidamente outras cidades começarama contar com serviços semelhantes, entre elasBagé, Santa Maria, Pelotas e Uruguaiana, noRio Grande do Sul; Florianópolis, Joinville eBlumenau, em Santa Catarina; Paranaguá,Ponta Grossa e Guarapuava, no Paraná. Asiniciativas eram principalmente deempresários locais; às vezes de investidoresestrangeiros; e, mais raramente, de governosmunicipais ou estaduais.

C A P Í T U L O 1

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

A história da eletricidade no Sul

criada no Rio de Janeiro a Companhia de Força e Luz, que teve curtaexistência. São Paulo começou a contar com a energia elétrica em 1889,quando se inaugurou a usina termelétrica Água Branca. Também nesseano entrou em operação aquela que é considerada a primeira usinahidrelétrica do País e da América do Sul, denominada Marmelos,localizada no rio Paraibuna, em Juiz de Fora (MG).

A prática da iluminação das cidades através de lampiões a óleo oua gás começou, assim, a desaparecer. Uma personagem de EricoVerissimo, em Incidente em Antares (1997, p. 26), entretanto,testemunha que alguma resistência houve: “[...] o avô de vocês viviamuito bem se alumiando com lâmpada de óleo de peixe e vela de sebo.A máquina mais complicada que ele conhecia era o monjolo. Pra mim,lampião de querosene ou acetilene já é luxo demais. Ninguém meconvence de mandar botar na minha casa a tal luz elétrica. Dizem queesse negócio dá choque, pode até matar uma pessoa”.

A iluminação de casas, de ruas e, pouco depois, o uso da eletricidadeem linhas de bonde, que facilitava o transporte urbano, asseguravam oretorno dos investimentos realizados pelos primeiros concessionários.

Mas a pouca oferta de energia elétrica, de início, limitou seu usopara fins industriais, obrigando, em muitos casos, os próprios empresáriosa construir suas usinas, termo ou hidrelétricas. A implantação delocomóveis e de pequenos geradores foi uma alternativa tambémadotada.

Nos finais do século XIX, com a chegada da eletricidade, as cidadese as fábricas ganharam dimensões até então inimagináveis. O ideárioda modernidade aos poucos foi sendo assumido pela população, sequiosade poder aderir às conquistas tecnológicas que, na forma dos maisdiferentes utensílios domésticos, meios de comunicação, máquinas edivertimentos, começavam a chegar ao mercado.

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N Nos Estados sulinos a energia elétrica chegou primeiro em PortoAlegre. A iniciativa de dotar a capital do Rio Grande do Sul com ummoderno sistema de iluminação pública foi dos franceses AimableJouvin, cônsul e representante comercial, e S. Dernuit, engenheiro querepresentava a empresa francesa Gramme. Os dois criaram, em 1887,a Cia. Fiat Lux. Uma usina termelétrica, alimentada a lenha, foiinstalada próxima à área portuária, junto à cidade. Em pouco tempoalgumas ruas do centro passaram a contar com a novidade. Novidadeque também chegou na capital do Paraná logo em seguida, com aimplantação de uma pequena termelétrica em 1889. A iluminaçãoelétrica em Curitiba foi iniciativa da Companhia de Água e Luz doEstado de São Paulo, que havia obtido a concessão municipal (1892).Em seguida (1898) o empresário José Hauer assumiu a concessão do

serviço de iluminação e instalou a usina deCapanema.

Rapidamente outras cidades começarama contar com serviços semelhantes, entre elasBagé, Santa Maria, Pelotas e Uruguaiana, noRio Grande do Sul; Florianópolis, Joinville eBlumenau, em Santa Catarina; Paranaguá,Ponta Grossa e Guarapuava, no Paraná. Asiniciativas eram principalmente deempresários locais; às vezes de investidoresestrangeiros; e, mais raramente, de governosmunicipais ou estaduais.

C A P Í T U L O 1

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

A história da eletricidade no Sul

criada no Rio de Janeiro a Companhia de Força e Luz, que teve curtaexistência. São Paulo começou a contar com a energia elétrica em 1889,quando se inaugurou a usina termelétrica Água Branca. Também nesseano entrou em operação aquela que é considerada a primeira usinahidrelétrica do País e da América do Sul, denominada Marmelos,localizada no rio Paraibuna, em Juiz de Fora (MG).

A prática da iluminação das cidades através de lampiões a óleo oua gás começou, assim, a desaparecer. Uma personagem de EricoVerissimo, em Incidente em Antares (1997, p. 26), entretanto,testemunha que alguma resistência houve: “[...] o avô de vocês viviamuito bem se alumiando com lâmpada de óleo de peixe e vela de sebo.A máquina mais complicada que ele conhecia era o monjolo. Pra mim,lampião de querosene ou acetilene já é luxo demais. Ninguém meconvence de mandar botar na minha casa a tal luz elétrica. Dizem queesse negócio dá choque, pode até matar uma pessoa”.

A iluminação de casas, de ruas e, pouco depois, o uso da eletricidadeem linhas de bonde, que facilitava o transporte urbano, asseguravam oretorno dos investimentos realizados pelos primeiros concessionários.

Mas a pouca oferta de energia elétrica, de início, limitou seu usopara fins industriais, obrigando, em muitos casos, os próprios empresáriosa construir suas usinas, termo ou hidrelétricas. A implantação delocomóveis e de pequenos geradores foi uma alternativa tambémadotada.

Nos finais do século XIX, com a chegada da eletricidade, as cidadese as fábricas ganharam dimensões até então inimagináveis. O ideárioda modernidade aos poucos foi sendo assumido pela população, sequiosade poder aderir às conquistas tecnológicas que, na forma dos maisdiferentes utensílios domésticos, meios de comunicação, máquinas edivertimentos, começavam a chegar ao mercado.

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instalado um processo inicial de industrialização e de atividadescomerciais de significativa importância. A produção agropecuária, aextração de erva-mate, a mineração do carvão e a exploração dosrecursos florestais, além do comércio, haviam possibilitado a uma parcelada população acumular parte do excedente econômico. Algunsempreendedores emergiram nesse cenário, implantando indústrias quetinham mercado certo para seus produtos, como tecidos, ferramentas,móveis e máquinas, em cidades como São Leopoldo, Novo Hamburgoe Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul; e em Joinville, Blumenau eTubarão, em Santa Catarina.

Em cidades como Pelotas, Bagé e Santa Maria (RS); Lages e CamposNovos (SC); e em Paranaguá, Guarapuava e Ponta Grossa (PR), cujaseconomias eram centradas nas atividades agropecuárias, no comércioou na exploração florestal, as elites locais também dispunham derecursos financeiros, além de motivação social e econômica, paraaspirarem usufruir dos benefícios da eletricidade. Assim, além dascapitais, emergem demandas crescentes por energia elétrica emdiferentes localidades. Muitas das indústrias trataram de resolverisoladamente suas necessidades de energia, implantando pequenasusinas. Outras passaram a participar de projetos com vistas aoatendimento de demandas mais amplas, tendo quase sempre aparticipação das administrações municipais como cedentes dasconcessões. Surgem, dessa forma, diferentes iniciativas, consolidadasatravés de empresas voltadas para a produção e distribuição de “luz eforça”, num número significativo de cidades.

Convém ainda lembrar que, além da iluminação pública e privada,num primeiro momento a eletricidade foi utilizada como espetáculo,razão de seu uso em feiras, inaugurações de edifícios públicos e parques.

Mas, aos poucos, o potencial da nova tecnologia foi despertandomúltiplos interesses, entre eles os de grandes empresas quetentavam monopolizar o setor, provocando amplas discussõespúblicas. Numa extensão dos acontecimentos internacionaisapós a Primeira Guerra Mundial, na década de vinte, o Brasilvivenciou vários movimentos sociais e militares. Assim, umacorrente nacionalista foi se formando em defesa dos interessesdo País, em oposição aos avanços realizados pelas empresasestrangeiras, que já haviam se instalado principalmente noRio de Janeiro e em São Paulo.

Motivados pelo forte espírito federativo da Constituição de 1891,recém-promulgada, Estados e municípios entendiam que deveriamestabelecer autonomamente concessões às empresas interessadas nainstalação de usinas geradoras e de distribuição dos serviços deiluminação. Aliás, em muitas cidades as administrações locais já eramresponsáveis pela iluminação pública, fosse ela mantida a óleo de peixe,a querosene ou a gás. Contratos de concessão desse tipo de serviçotambém existiam. Assim, sob a égide principalmente dos municípios asiniciativas privadas para implantar usinas e distribuir energia elétricase multiplicaram.

As primeiras hidrelétricas foram implantadas logo no início do novoséculo, entre elas as usinas de Piraí, em Joinville (1909), e a de Maroim,localizada próxima a Florianópolis (1910), ambas em Santa Catarina;a de Serra do Prata, que alimentava Paranaguá (1910), e a de Pitangui,próxima a Ponta Grossa, (1911), no Paraná; e a de Passo Fundo,instalada no noroeste do Rio Grande do Sul (1912).

Para compreender por que no Rio Grande do Sul e no Paraná amaioria das primeiras usinas implantadas foram termelétricas, énecessário lembrar que a máquina a vapor, denominada locomóvel, jávinha sendo utilizada para movimentar o maquinário de serrarias, deindústrias de beneficiamento de erva-mate e de produção deequipamentos. A invenção de Matthew Boulton, ocorrida em 1777,havia provocado na Europa a Primeira Revolução Industrial,substituindo a força humana e a tração animal. Sua tecnologia erasimples e fácil de ser dominada, além de sua operação ser bastanteeconômica. A geração de energia pelo locomóvel foi conseqüência douso do dínamo, permitindo a iluminação e facilitando o trabalhonoturno. As fornalhas eram alimentadas com resíduos de madeira,abundantes em toda a Região Sul, o que não implicava novos custos.A instalação desse equipamento numa indústria significava, além doincremento da produção, uma reorientação do ritmo da mão-de-obra.A máquina começava a impor ao homem novas regras, adianteconsagradas na linha de montagem criada por Henry Ford. Montarlocomóveis para gerar exclusivamente energia foi, portanto, uma práticaque não tardou, e que perdurou, em áreas mais remotas, até boa partedo século XX.

Também é preciso perceber o contexto econômico presente nosEstados do Sul. No limiar do século XX, em algumas cidades, estava

Locomóvel instalado em uma olaria,no início do século XX.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Página anterior, transporte de umlocomóvel no interior do Rio Grande

do Sul, no final do século XIX.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

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instalado um processo inicial de industrialização e de atividadescomerciais de significativa importância. A produção agropecuária, aextração de erva-mate, a mineração do carvão e a exploração dosrecursos florestais, além do comércio, haviam possibilitado a uma parcelada população acumular parte do excedente econômico. Algunsempreendedores emergiram nesse cenário, implantando indústrias quetinham mercado certo para seus produtos, como tecidos, ferramentas,móveis e máquinas, em cidades como São Leopoldo, Novo Hamburgoe Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul; e em Joinville, Blumenau eTubarão, em Santa Catarina.

Em cidades como Pelotas, Bagé e Santa Maria (RS); Lages e CamposNovos (SC); e em Paranaguá, Guarapuava e Ponta Grossa (PR), cujaseconomias eram centradas nas atividades agropecuárias, no comércioou na exploração florestal, as elites locais também dispunham derecursos financeiros, além de motivação social e econômica, paraaspirarem usufruir dos benefícios da eletricidade. Assim, além dascapitais, emergem demandas crescentes por energia elétrica emdiferentes localidades. Muitas das indústrias trataram de resolverisoladamente suas necessidades de energia, implantando pequenasusinas. Outras passaram a participar de projetos com vistas aoatendimento de demandas mais amplas, tendo quase sempre aparticipação das administrações municipais como cedentes dasconcessões. Surgem, dessa forma, diferentes iniciativas, consolidadasatravés de empresas voltadas para a produção e distribuição de “luz eforça”, num número significativo de cidades.

Convém ainda lembrar que, além da iluminação pública e privada,num primeiro momento a eletricidade foi utilizada como espetáculo,razão de seu uso em feiras, inaugurações de edifícios públicos e parques.

Mas, aos poucos, o potencial da nova tecnologia foi despertandomúltiplos interesses, entre eles os de grandes empresas quetentavam monopolizar o setor, provocando amplas discussõespúblicas. Numa extensão dos acontecimentos internacionaisapós a Primeira Guerra Mundial, na década de vinte, o Brasilvivenciou vários movimentos sociais e militares. Assim, umacorrente nacionalista foi se formando em defesa dos interessesdo País, em oposição aos avanços realizados pelas empresasestrangeiras, que já haviam se instalado principalmente noRio de Janeiro e em São Paulo.

Motivados pelo forte espírito federativo da Constituição de 1891,recém-promulgada, Estados e municípios entendiam que deveriamestabelecer autonomamente concessões às empresas interessadas nainstalação de usinas geradoras e de distribuição dos serviços deiluminação. Aliás, em muitas cidades as administrações locais já eramresponsáveis pela iluminação pública, fosse ela mantida a óleo de peixe,a querosene ou a gás. Contratos de concessão desse tipo de serviçotambém existiam. Assim, sob a égide principalmente dos municípios asiniciativas privadas para implantar usinas e distribuir energia elétricase multiplicaram.

As primeiras hidrelétricas foram implantadas logo no início do novoséculo, entre elas as usinas de Piraí, em Joinville (1909), e a de Maroim,localizada próxima a Florianópolis (1910), ambas em Santa Catarina;a de Serra do Prata, que alimentava Paranaguá (1910), e a de Pitangui,próxima a Ponta Grossa, (1911), no Paraná; e a de Passo Fundo,instalada no noroeste do Rio Grande do Sul (1912).

Para compreender por que no Rio Grande do Sul e no Paraná amaioria das primeiras usinas implantadas foram termelétricas, énecessário lembrar que a máquina a vapor, denominada locomóvel, jávinha sendo utilizada para movimentar o maquinário de serrarias, deindústrias de beneficiamento de erva-mate e de produção deequipamentos. A invenção de Matthew Boulton, ocorrida em 1777,havia provocado na Europa a Primeira Revolução Industrial,substituindo a força humana e a tração animal. Sua tecnologia erasimples e fácil de ser dominada, além de sua operação ser bastanteeconômica. A geração de energia pelo locomóvel foi conseqüência douso do dínamo, permitindo a iluminação e facilitando o trabalhonoturno. As fornalhas eram alimentadas com resíduos de madeira,abundantes em toda a Região Sul, o que não implicava novos custos.A instalação desse equipamento numa indústria significava, além doincremento da produção, uma reorientação do ritmo da mão-de-obra.A máquina começava a impor ao homem novas regras, adianteconsagradas na linha de montagem criada por Henry Ford. Montarlocomóveis para gerar exclusivamente energia foi, portanto, uma práticaque não tardou, e que perdurou, em áreas mais remotas, até boa partedo século XX.

Também é preciso perceber o contexto econômico presente nosEstados do Sul. No limiar do século XX, em algumas cidades, estava

Locomóvel instalado em uma olaria,no início do século XX.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Página anterior, transporte de umlocomóvel no interior do Rio Grande

do Sul, no final do século XIX.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

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No Paraná, ainda em 1910, a TheSouth Brazilian Railways CompanyLimited, com sede em Portland, nosEstados Unidos, integrante do grupoliderado por Percival Farquhar, quetinha o controle da estrada de ferroSão Paulo-Rio Grande, adquiriu aEmpresa de Eletricidade de Curitiba.Na década de vinte a empresa foivendida para a Amforp, mudando suarazão social para Companhia de Luze Força do Paraná. Os espaços domonopólio se estendiam. Assim, asduas maiores concentrações urbanasdo Sul, Porto Alegre e Curitiba,

tornaram-se objeto do interesse de empresas estrangeiras e a elas foramsubmetidas.

Deve-se destacar, ainda, que a Empresa de Eletricidade AlexandreSchlemm e, depois, a Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A., cujassedes estavam no Estado de Santa Catarina, atendiam o Sul do Paraná(União da Vitória, Rio Negro, Lapa). A região de Ponta Grossa,incluindo Castro e outras cidades vizinhas, era abastecida pelaCompanhia Prada de Eletricidade, que tinha sede em São Paulo. AEmpresa Elétrica de Londrina atendia também parte das cidadespróximas. Outras aglomerações urbanas localizadas no norte paranaenseeram atendidas pela Companhia Hidrelétrica do Paranapanema, quetinha sede em São Paulo. Em Guarapuava a empresa Força e Luz doOeste iniciou suas atividades em 1910, persistindo até o presente. Nascidades mais isoladas, às vezes, iniciativas locais atendiam às demandasexistentes.

Em Santa Catarina o governo estadual outorgou concessão para aempresa Simmond e Willianson explorar a distribuição da energia geradana Usina de Maroim (1910). No norte do Estado empresários locais jáhaviam criado a Empresa Joinvillense de Eletricidade, que construiu aUsina Hidrelétrica (UHE) Piraí, inaugurada em 1909. No final dosanos vinte, durante o governo de Adolfo Konder, a concessão foitransferida para a Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A., que tinhaa maior parte de seu capital integrado pelas firmas alemãs Allgemeine

Em Porto Alegre (RS), a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG), sucessora da Fiat Lux (1923), foi em 1928adquirida pelo grupo American & Foreign Power Co. (Amforp), quepertencia à Electric Bond and Share Corporation (Ebasco). Estaempresa norte-americana estendeu seus interesses para a AméricaLatina a partir dos anos vinte, incorporando diversas concessões. Em1928 o grupo Amforp, além de adquirir as duas empresas que abasteciamPorto Alegre, absorveu também a única termelétrica que havia sidoimplantada pelo governo da capital gaúcha. Obteve, ainda, outrasconcessões no interior do Estado.

As usinas de Bagé e Santa Maria eram controladas por capitaisargentinos. A termelétrica que abastecia a cidade de Rio Grande erade propriedade da Cie. Française du Port, que também detinha aconcessão dos serviços portuários da cidade. As usinas de São Gabriele a de Alegrete eram controladas pela Bromberg e Cia., uma empresacomercial de Porto Alegre, que também participou da implantação deoutras usinas. Em Pelotas o serviço de energia elétrica foi implantadoem 1912 pela Rio Grandense Light and Power Syndicate Limited, decapital anglo-argentino.

Sede da Bromberg em Porto Alegre.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

Usina Hidrelétrica de Maroim, São José(SC), instalada em 1910.

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No Paraná, ainda em 1910, a TheSouth Brazilian Railways CompanyLimited, com sede em Portland, nosEstados Unidos, integrante do grupoliderado por Percival Farquhar, quetinha o controle da estrada de ferroSão Paulo-Rio Grande, adquiriu aEmpresa de Eletricidade de Curitiba.Na década de vinte a empresa foivendida para a Amforp, mudando suarazão social para Companhia de Luze Força do Paraná. Os espaços domonopólio se estendiam. Assim, asduas maiores concentrações urbanasdo Sul, Porto Alegre e Curitiba,

tornaram-se objeto do interesse de empresas estrangeiras e a elas foramsubmetidas.

Deve-se destacar, ainda, que a Empresa de Eletricidade AlexandreSchlemm e, depois, a Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A., cujassedes estavam no Estado de Santa Catarina, atendiam o Sul do Paraná(União da Vitória, Rio Negro, Lapa). A região de Ponta Grossa,incluindo Castro e outras cidades vizinhas, era abastecida pelaCompanhia Prada de Eletricidade, que tinha sede em São Paulo. AEmpresa Elétrica de Londrina atendia também parte das cidadespróximas. Outras aglomerações urbanas localizadas no norte paranaenseeram atendidas pela Companhia Hidrelétrica do Paranapanema, quetinha sede em São Paulo. Em Guarapuava a empresa Força e Luz doOeste iniciou suas atividades em 1910, persistindo até o presente. Nascidades mais isoladas, às vezes, iniciativas locais atendiam às demandasexistentes.

Em Santa Catarina o governo estadual outorgou concessão para aempresa Simmond e Willianson explorar a distribuição da energia geradana Usina de Maroim (1910). No norte do Estado empresários locais jáhaviam criado a Empresa Joinvillense de Eletricidade, que construiu aUsina Hidrelétrica (UHE) Piraí, inaugurada em 1909. No final dosanos vinte, durante o governo de Adolfo Konder, a concessão foitransferida para a Empresa Sul Brasileira de Eletricidade S.A., que tinhaa maior parte de seu capital integrado pelas firmas alemãs Allgemeine

Em Porto Alegre (RS), a Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG), sucessora da Fiat Lux (1923), foi em 1928adquirida pelo grupo American & Foreign Power Co. (Amforp), quepertencia à Electric Bond and Share Corporation (Ebasco). Estaempresa norte-americana estendeu seus interesses para a AméricaLatina a partir dos anos vinte, incorporando diversas concessões. Em1928 o grupo Amforp, além de adquirir as duas empresas que abasteciamPorto Alegre, absorveu também a única termelétrica que havia sidoimplantada pelo governo da capital gaúcha. Obteve, ainda, outrasconcessões no interior do Estado.

As usinas de Bagé e Santa Maria eram controladas por capitaisargentinos. A termelétrica que abastecia a cidade de Rio Grande erade propriedade da Cie. Française du Port, que também detinha aconcessão dos serviços portuários da cidade. As usinas de São Gabriele a de Alegrete eram controladas pela Bromberg e Cia., uma empresacomercial de Porto Alegre, que também participou da implantação deoutras usinas. Em Pelotas o serviço de energia elétrica foi implantadoem 1912 pela Rio Grandense Light and Power Syndicate Limited, decapital anglo-argentino.

Sede da Bromberg em Porto Alegre.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

Usina Hidrelétrica de Maroim, São José(SC), instalada em 1910.

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à Presidência da República, deu-se um novo passo na direção dacentralização e da normatização. Apesar das críticas e da rejeição desegmentos comprometidos com as empresas estrangeiras, o novo Códigoe as iniciativas subseqüentes abriram perspectivas para o País consolidarestratégias de expansão do setor elétrico, numa resposta objetiva àscrescentes demandas.

A Constituição de 1934, em seu Art. 5o, também explicitou que“[...] compete privativamente à União [...]” legislar sobre“[...] mineração, metalurgia, águas, energia elétrica [...]”(item J), admitindo, no parágrafo 3o, do mesmo Artigo, que“As leis estaduais [...] poderão, atendendo às peculiaridadeslocais, suprir lacunas ou deficiências da legislação federal,sem dispensar as exigências desta”. Outros pontosreenfatizaram os dispositivos do Código de Águas, tais comoo Art. 119, declarando que o “[...] aproveitamento industrialdas minas [...], bem como das águas e da energia hidráulica,ainda que de propriedade privada, depende da autorização

ou concessão federal, na forma da lei [...]”; e o Art. 12, das DisposiçõesTransitórias, determinando que “Os particulares ou empresas que aotempo da promulgação desta Constituição explorarem a indústria daenergia hidrelétrica ou de mineração ficarão sujeitos às normas deregulamentação que forem consagradas na lei federal, procedendo-se,para este efeito, à revisão dos contratos existentes”. Todas essasiniciativas, em âmbito federal, demonstravam a vontade política donovo governo de intervir no setor, centralizando as decisões sobre aprodução e o fornecimento de energia elétrica.

A Constituição outorgada à nação por Getúlio Vargas, em 1937,manteve os dispositivos da Constituição de 34 sobre a competênciaprivativa da União de legislar sobre a energia hidráulica (item XIV,Art. 16), detalhando, no item XV, também a atribuição para procederà “[...] unificação e estandardização dos estabelecimentos e instalaçõeselétricas, bem como as medidas de segurança a serem adotadas nasindústrias de produção de energia elétrica, (e) o regime das linhaspara correntes de alta tensão, quando as mesmas transponham oslimites de um Estado”.

Vale ressaltar que, no início dos anos trinta, o Rio Grande do Sulapresentava o terceiro parque industrial do País. A produçãoagropecuária e industrial havia assegurado ao Estado sulino uma posição

termelétricas instaladas no País,entre 1883 e 1999. Embora nemtodas as usinas tivessem atendidoàs determinações governamentaisde registro, é possível ter uma idéiabastante razoável sobre o númerode usinas instaladas. Assim, o RioGrande do Sul teve registradas 72usinas, das quais 43 hidrelétricas e29 termelétricas; o Paraná teve 73,sendo 43 hidrelétricas e 30termelétricas; e Santa Catarina,29, sendo 25 hidre létr icas equatro termelétricas.

No referido inventário cada umadessas usinas é objeto de informa-ções adicionais, relativas ahistórico, coordenadas geográficase l o c a l i z a ç ã o , c o n c e s s õ e s ,ampliações e situação quanto àcondição de ativa ou inativa.

Elektrizitaets-Gesellschaft (AEG) e Siemens & Sukert. Esta novaempresa projetou e construiu a UHE Bracinho, inaugurada em 1931.Ao término da Segunda Guerra Mundial e no cenário das restriçõessofridas pelos descendentes de alemães, a Sul Brasileira foinacionalizada. Seu patrimônio foi inicialmente incorporado aos bensda União e, depois, transferido para o Governo de Santa Catarina.

Outras empresas se constituíram por iniciativas locais, respaldadas,às vezes, pelos governos municipais. Assim, poderíamos destacar aEmpresa de Eletricidade Salto, criada em Blumenau, em 1915; a Forçae Luz de Lages, criada em 1917; e a Força e Luz de Urussanga Ltda.,organizada também em 1917, mas constituída com tal razão socialsomente em 1944.

Nos finais dos anos vinte, as principais cidades dos Estados do Sulcontavam com energia elétrica. No Rio Grande do Sul e no Paraná ageração era centrada na termoeletricidade. Nas cidades de menor porteiniciativas locais davam curso à instalação de locomóveis, de pequenashidrelétricas e de geradores a óleo combustível. Nas áreas rurais a energianão se fazia presente. Os sistemas de distribuição eram locais ouregionais. Não havia nada que se aproximasse do sistema interligadoque conhecemos hoje. Esta situação impunha l imitações fortes acada uma das empresas, caracterizadas pela precariedade dos serviçosoferecidos. Os cortes (apagões) eram freqüentes, gerando inúmerasreclamações às empresas e críticas aos governantes.

É neste contexto que se começa a discutir a necessidade de umdisciplinamento do setor, através da ação do Governo Federal. Ascondições políticas dessa intervenção, porém, só vão ser favoráveis apartir de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder, derrubando achamada “Velha República.”

Em 1933 foi instalado o Departamento Nacional de ProduçãoMineral (DNPM), contando com uma Divisão de Águas (depois,Serviço), que foi criada para tratar da exploração da energia elétrica,concessões, etc. A seguir foi implantado o Código de Águas, através deato do “Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidosdo Brasil” (Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934). Definiram-se,assim, pela primeira vez regras a serem observadas pelas empresashidrelétricas, estimulando-se os Estados a organizar serviços técnicos eadministrativos pertinentes ao setor. Em 1940, com a instalação doConselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), subordinado

Com o surgimento do Código deÁguas (1934) e da Divisão deÁguas do Departamento Nacionald e P r o d u ç ã o M i n e r a l(transformada mais adiante noDepartamento de Águas e EnergiaElétrica – DNAEE), o GovernoFederal passou a exercer umcontrole mais efetivo sobre asusinas que já estavam instaladas esobre aquelas que iriam se instalar.A Divisão de Águas, e depois oDNAEE, mantiveram um registropara essas usinas, discriminandosua localização, empresa respon-sável, potência instalada e data doinício de operação. É com basenessas informações que o Centroda Memória da Eletricidade noBrasil dispõe de um inventários o b r e a s h i d r e l é t r i c a s e

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à Presidência da República, deu-se um novo passo na direção dacentralização e da normatização. Apesar das críticas e da rejeição desegmentos comprometidos com as empresas estrangeiras, o novo Códigoe as iniciativas subseqüentes abriram perspectivas para o País consolidarestratégias de expansão do setor elétrico, numa resposta objetiva àscrescentes demandas.

A Constituição de 1934, em seu Art. 5o, também explicitou que“[...] compete privativamente à União [...]” legislar sobre“[...] mineração, metalurgia, águas, energia elétrica [...]”(item J), admitindo, no parágrafo 3o, do mesmo Artigo, que“As leis estaduais [...] poderão, atendendo às peculiaridadeslocais, suprir lacunas ou deficiências da legislação federal,sem dispensar as exigências desta”. Outros pontosreenfatizaram os dispositivos do Código de Águas, tais comoo Art. 119, declarando que o “[...] aproveitamento industrialdas minas [...], bem como das águas e da energia hidráulica,ainda que de propriedade privada, depende da autorização

ou concessão federal, na forma da lei [...]”; e o Art. 12, das DisposiçõesTransitórias, determinando que “Os particulares ou empresas que aotempo da promulgação desta Constituição explorarem a indústria daenergia hidrelétrica ou de mineração ficarão sujeitos às normas deregulamentação que forem consagradas na lei federal, procedendo-se,para este efeito, à revisão dos contratos existentes”. Todas essasiniciativas, em âmbito federal, demonstravam a vontade política donovo governo de intervir no setor, centralizando as decisões sobre aprodução e o fornecimento de energia elétrica.

A Constituição outorgada à nação por Getúlio Vargas, em 1937,manteve os dispositivos da Constituição de 34 sobre a competênciaprivativa da União de legislar sobre a energia hidráulica (item XIV,Art. 16), detalhando, no item XV, também a atribuição para procederà “[...] unificação e estandardização dos estabelecimentos e instalaçõeselétricas, bem como as medidas de segurança a serem adotadas nasindústrias de produção de energia elétrica, (e) o regime das linhaspara correntes de alta tensão, quando as mesmas transponham oslimites de um Estado”.

Vale ressaltar que, no início dos anos trinta, o Rio Grande do Sulapresentava o terceiro parque industrial do País. A produçãoagropecuária e industrial havia assegurado ao Estado sulino uma posição

termelétricas instaladas no País,entre 1883 e 1999. Embora nemtodas as usinas tivessem atendidoàs determinações governamentaisde registro, é possível ter uma idéiabastante razoável sobre o númerode usinas instaladas. Assim, o RioGrande do Sul teve registradas 72usinas, das quais 43 hidrelétricas e29 termelétricas; o Paraná teve 73,sendo 43 hidrelétricas e 30termelétricas; e Santa Catarina,29, sendo 25 hidre létr icas equatro termelétricas.

No referido inventário cada umadessas usinas é objeto de informa-ções adicionais, relativas ahistórico, coordenadas geográficase l o c a l i z a ç ã o , c o n c e s s õ e s ,ampliações e situação quanto àcondição de ativa ou inativa.

Elektrizitaets-Gesellschaft (AEG) e Siemens & Sukert. Esta novaempresa projetou e construiu a UHE Bracinho, inaugurada em 1931.Ao término da Segunda Guerra Mundial e no cenário das restriçõessofridas pelos descendentes de alemães, a Sul Brasileira foinacionalizada. Seu patrimônio foi inicialmente incorporado aos bensda União e, depois, transferido para o Governo de Santa Catarina.

Outras empresas se constituíram por iniciativas locais, respaldadas,às vezes, pelos governos municipais. Assim, poderíamos destacar aEmpresa de Eletricidade Salto, criada em Blumenau, em 1915; a Forçae Luz de Lages, criada em 1917; e a Força e Luz de Urussanga Ltda.,organizada também em 1917, mas constituída com tal razão socialsomente em 1944.

Nos finais dos anos vinte, as principais cidades dos Estados do Sulcontavam com energia elétrica. No Rio Grande do Sul e no Paraná ageração era centrada na termoeletricidade. Nas cidades de menor porteiniciativas locais davam curso à instalação de locomóveis, de pequenashidrelétricas e de geradores a óleo combustível. Nas áreas rurais a energianão se fazia presente. Os sistemas de distribuição eram locais ouregionais. Não havia nada que se aproximasse do sistema interligadoque conhecemos hoje. Esta situação impunha l imitações fortes acada uma das empresas, caracterizadas pela precariedade dos serviçosoferecidos. Os cortes (apagões) eram freqüentes, gerando inúmerasreclamações às empresas e críticas aos governantes.

É neste contexto que se começa a discutir a necessidade de umdisciplinamento do setor, através da ação do Governo Federal. Ascondições políticas dessa intervenção, porém, só vão ser favoráveis apartir de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder, derrubando achamada “Velha República.”

Em 1933 foi instalado o Departamento Nacional de ProduçãoMineral (DNPM), contando com uma Divisão de Águas (depois,Serviço), que foi criada para tratar da exploração da energia elétrica,concessões, etc. A seguir foi implantado o Código de Águas, através deato do “Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidosdo Brasil” (Decreto nº 24.643, de 10 de julho de 1934). Definiram-se,assim, pela primeira vez regras a serem observadas pelas empresashidrelétricas, estimulando-se os Estados a organizar serviços técnicos eadministrativos pertinentes ao setor. Em 1940, com a instalação doConselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), subordinado

Com o surgimento do Código deÁguas (1934) e da Divisão deÁguas do Departamento Nacionald e P r o d u ç ã o M i n e r a l(transformada mais adiante noDepartamento de Águas e EnergiaElétrica – DNAEE), o GovernoFederal passou a exercer umcontrole mais efetivo sobre asusinas que já estavam instaladas esobre aquelas que iriam se instalar.A Divisão de Águas, e depois oDNAEE, mantiveram um registropara essas usinas, discriminandosua localização, empresa respon-sável, potência instalada e data doinício de operação. É com basenessas informações que o Centroda Memória da Eletricidade noBrasil dispõe de um inventários o b r e a s h i d r e l é t r i c a s e

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Diante da crescente reivindicação dos municípios para a ampliaçãoe melhoria dos sistemas de abastecimento de energia, em 1943 o governodo Rio Grande do Sul decidiu criar a Comissão Estadual de EnergiaElétrica (CEEE). Dois anos depois, em 1945, essa Comissão apresentavaum Plano de Eletrificação, que se consagrou como a primeira iniciativade planejamento do setor elétrico do País. Os passos para a intervençãodo Estado no setor estavam dados. Em 1959 a CEERG foi encampadaatravés de indenização simbólica pelo governo do Rio Grande do Sul.Cinco anos depois, numa controvertida decisão, o processo deencampação foi revertido pelo governo federal, que assumiu opagamento do patrimônio da empresa.

O Paraná elaborou o primeiro plano hidrelétrico em 1948, atravésde seu Departamento de Águas e Energia Elétrica. Projetou-se aconstrução de cinco hidrelétricas de médio porte, nas bacias dos riosIguaçu e Paranapanema. Outras usinas hidrelétricas de menor porteforam também definidas. O cenário estava sendo montado para aemergência da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel),em 1954.

Em Santa Catarina o governo criou a Comissão de Energia Elétricaem 1951. O levantamento do potencial instalado, os estudos sobrepossibilidades de interligação dos diferentes sistemas e a definição daplanificação do setor foram as principais iniciativas da Comissão, até1955, quando se constituiu a empresa Centrais Elétricas de SantaCatarina (Celesc).

Também o processo de intervenção federal no setor elétrico estavatomando forma definitiva. Em 1943 foi criada no âmbito do CNAEEuma comissão para elaborar o Plano Nacional de Eletrificação(concluído em 1946), que propunha a instalação de diversas usinashidrelétricas de pequeno e médio portes. Duas missões norte-americanas, a primeira chefiada por Morris Cooke (1942), e a segundaconhecida como “Missão Abbink” (1949), tiveram importância nadefinição de prioridades e de estratégias. As sugestões de interligaçãodos diferentes sistemas e de aproveitamento preferencial do potencialhidráulico foram destacadas como opções importantes e aceitas. Asindicações referentes à implantação de pequenas e médias hidrelétricas,através de empresas privadas, porém, não prevaleceram no modelo queaos poucos tomava forma definitiva. As divergências entre os detentoresdo poder se acentuaram. O grupo privatista acabou perdendo espaço

de destaque no contexto econômico do País. Assim a demanda porenergia elétrica era crescente. A Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG), pertencente à Amforp, única concessionária emPorto Alegre, não investia em novos projetos que eram necessáriospara garantir a ampliação do potencial instalado. Caxias do Sul, SãoLeopoldo e Novo Hamburgo também se ressentiam da falta de umabastecimento satisfatório. Nos Estados do Paraná e de Santa Catarinaa situação não era diferente. O racionamento se fez presente, e aexpansão industrial ficou comprometida. Este quadro se agravou comas necessidades impostas ao País pela ocorrência da Segunda GuerraMundial (1939-45).

Tal situação, evidente, não era desconhecida por Getúlio Vargas esua equipe de governo. Apesar de muitas ambigüidades nas açõesgovernamentais federais, o fato é que a Revolução de Trinta havia criadopara o País novas condições de modernização. A implantação da Cia.Siderúrgica de Volta Redonda, os estímulos à industrialização e odisciplinamento das relações trabalhistas, por exemplo, não podem seresquecidos nesse processo.

Inauguração da Usina da Toca,em 1930, com a presença de

Getúlio Vargas e autoridades locais.Acervo: Museu Histórico Visconde

de São Leopoldo (RS).

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Diante da crescente reivindicação dos municípios para a ampliaçãoe melhoria dos sistemas de abastecimento de energia, em 1943 o governodo Rio Grande do Sul decidiu criar a Comissão Estadual de EnergiaElétrica (CEEE). Dois anos depois, em 1945, essa Comissão apresentavaum Plano de Eletrificação, que se consagrou como a primeira iniciativade planejamento do setor elétrico do País. Os passos para a intervençãodo Estado no setor estavam dados. Em 1959 a CEERG foi encampadaatravés de indenização simbólica pelo governo do Rio Grande do Sul.Cinco anos depois, numa controvertida decisão, o processo deencampação foi revertido pelo governo federal, que assumiu opagamento do patrimônio da empresa.

O Paraná elaborou o primeiro plano hidrelétrico em 1948, atravésde seu Departamento de Águas e Energia Elétrica. Projetou-se aconstrução de cinco hidrelétricas de médio porte, nas bacias dos riosIguaçu e Paranapanema. Outras usinas hidrelétricas de menor porteforam também definidas. O cenário estava sendo montado para aemergência da Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel),em 1954.

Em Santa Catarina o governo criou a Comissão de Energia Elétricaem 1951. O levantamento do potencial instalado, os estudos sobrepossibilidades de interligação dos diferentes sistemas e a definição daplanificação do setor foram as principais iniciativas da Comissão, até1955, quando se constituiu a empresa Centrais Elétricas de SantaCatarina (Celesc).

Também o processo de intervenção federal no setor elétrico estavatomando forma definitiva. Em 1943 foi criada no âmbito do CNAEEuma comissão para elaborar o Plano Nacional de Eletrificação(concluído em 1946), que propunha a instalação de diversas usinashidrelétricas de pequeno e médio portes. Duas missões norte-americanas, a primeira chefiada por Morris Cooke (1942), e a segundaconhecida como “Missão Abbink” (1949), tiveram importância nadefinição de prioridades e de estratégias. As sugestões de interligaçãodos diferentes sistemas e de aproveitamento preferencial do potencialhidráulico foram destacadas como opções importantes e aceitas. Asindicações referentes à implantação de pequenas e médias hidrelétricas,através de empresas privadas, porém, não prevaleceram no modelo queaos poucos tomava forma definitiva. As divergências entre os detentoresdo poder se acentuaram. O grupo privatista acabou perdendo espaço

de destaque no contexto econômico do País. Assim a demanda porenergia elétrica era crescente. A Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense (CEERG), pertencente à Amforp, única concessionária emPorto Alegre, não investia em novos projetos que eram necessáriospara garantir a ampliação do potencial instalado. Caxias do Sul, SãoLeopoldo e Novo Hamburgo também se ressentiam da falta de umabastecimento satisfatório. Nos Estados do Paraná e de Santa Catarinaa situação não era diferente. O racionamento se fez presente, e aexpansão industrial ficou comprometida. Este quadro se agravou comas necessidades impostas ao País pela ocorrência da Segunda GuerraMundial (1939-45).

Tal situação, evidente, não era desconhecida por Getúlio Vargas esua equipe de governo. Apesar de muitas ambigüidades nas açõesgovernamentais federais, o fato é que a Revolução de Trinta havia criadopara o País novas condições de modernização. A implantação da Cia.Siderúrgica de Volta Redonda, os estímulos à industrialização e odisciplinamento das relações trabalhistas, por exemplo, não podem seresquecidos nesse processo.

Inauguração da Usina da Toca,em 1930, com a presença de

Getúlio Vargas e autoridades locais.Acervo: Museu Histórico Visconde

de São Leopoldo (RS).

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AA produção de energia elétrica nos Estados sulinos, dos finais doséculo XIX até a primeira metade do século XX, ocorreu através dediferentes ritmos e especificidades, tanto na perspectiva interestadual,quanto no interior de cada uma dessas unidades da federação, emparticular, intimanente vinculados às condições econômicas e políticasregionais e locais. Neste capítulo focalizaremos empreendimentospioneiros destinados à produção de energia elétrica nos três Estados,em um quadro, portanto, bastante diversificado. Assim, foramigualmente considerados pioneiros empreendimentos que sedestacaram, entre outros motivos, por marcarem o início da oferta deenergia elétrica para além das capitais estaduais; pela exploração denovas fontes de energia; pela expressiva capacidade de energia oferecidaquando de sua instalação; por outros usos da eletricidade gerada emrelação à utilização inicial, ou pelo seu caráter público, em contrastecom uma maioria de iniciativas de caráter privado.

C A P Í T U L O 2

Empreendimentos pioneiros naprodução de energia elétrica

MA R I A JO S É RE I S

N E U S A MA R I A SE N S B L O E M E R

AN E L I E S E NA C K E

Alguns empreendimentos pioneirosno Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre (RS), a primeira capital da Região Sul a contarcom energia elétrica, a Sociedade Fiat Lux, empresa pioneira nofornecimento de energia no Estado do Rio Grande do Sul, obteve daCâmara Municipal, em junho de l887, a permissão para a iluminação

R E F E R Ê N C I A S

AXT, Günter. A Indústria de Energia Elétrica no Rio Grande do Sul. Dos primórdios à formação daEmpresa Pública (1887-1959). 1995. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia eCiências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

____. Gênese do Estado burocrático-burguês no Rio Grande do Sul (1889-1929). 2001. Tese(Doutorado em História) – Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas, Universidade de São Paulo. São Paulo.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1891. In: CAMPANHOLE, Adriano;CAMPANHOLE, Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11 ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1934. In: CAMPANHOLE, Adriano;CAMPANHOLE, Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11 ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1937. In: CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE,Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1946. In: CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE,Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

BRASIL. Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934. Institui o Código das Águas.CENTRO DE MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. Banco de Imagens.

Usinas de Energia Elétrica no Brasil (1883-1999). São Paulo: Sonopress Rimo, 2000. 1 CD-ROM.____. 500 Anos - Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro, 2000.DIAS, Renato Feliciano (Coord.). Notas sobre o racionamento de energia elétrica no Brasil (1940-1980).

Rio de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1996.____. Panorama do Setor de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro: Centro da Memória da

Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1988.FELICIDADE, Norma; MARTINS, Rodrigo C.; LEME, Alessandro A. Uso e gestão dos recursos hídricos no

Brasil. São Carlos, SP: RIMA, 2001.HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: a modernidade naselva. São Paulo: Cia das Letras, 1988.VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. 47 ed. São Paulo: Globo, 1997.VIANA, Aurélio. Hidrelétricas e meio ambiente. Rio de Janeiro: Centro Ecumênico de Documentação e

Informação, 1989. (Série Documento 3).

em relação aos nacionalistas, que defendiam a intervenção crescentedo Estado, quando, em 1948, o governo federal instalou a Cia.Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Pouco mais adiante, no iníciodos anos sessenta, consolidou-se essa intervenção com a criação doMinistério de Minas e Energia (1961) e, no ano seguinte, da Eletrobrás.

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AA produção de energia elétrica nos Estados sulinos, dos finais doséculo XIX até a primeira metade do século XX, ocorreu através dediferentes ritmos e especificidades, tanto na perspectiva interestadual,quanto no interior de cada uma dessas unidades da federação, emparticular, intimanente vinculados às condições econômicas e políticasregionais e locais. Neste capítulo focalizaremos empreendimentospioneiros destinados à produção de energia elétrica nos três Estados,em um quadro, portanto, bastante diversificado. Assim, foramigualmente considerados pioneiros empreendimentos que sedestacaram, entre outros motivos, por marcarem o início da oferta deenergia elétrica para além das capitais estaduais; pela exploração denovas fontes de energia; pela expressiva capacidade de energia oferecidaquando de sua instalação; por outros usos da eletricidade gerada emrelação à utilização inicial, ou pelo seu caráter público, em contrastecom uma maioria de iniciativas de caráter privado.

C A P Í T U L O 2

Empreendimentos pioneiros naprodução de energia elétrica

MA R I A JO S É RE I S

N E U S A MA R I A SE N S B L O E M E R

AN E L I E S E NA C K E

Alguns empreendimentos pioneirosno Rio Grande do Sul

Em Porto Alegre (RS), a primeira capital da Região Sul a contarcom energia elétrica, a Sociedade Fiat Lux, empresa pioneira nofornecimento de energia no Estado do Rio Grande do Sul, obteve daCâmara Municipal, em junho de l887, a permissão para a iluminação

R E F E R Ê N C I A S

AXT, Günter. A Indústria de Energia Elétrica no Rio Grande do Sul. Dos primórdios à formação daEmpresa Pública (1887-1959). 1995. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia eCiências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

____. Gênese do Estado burocrático-burguês no Rio Grande do Sul (1889-1929). 2001. Tese(Doutorado em História) – Departamento de História, Faculdade de Filosofia, Letras e CiênciasHumanas, Universidade de São Paulo. São Paulo.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1891. In: CAMPANHOLE, Adriano;CAMPANHOLE, Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11 ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, 1934. In: CAMPANHOLE, Adriano;CAMPANHOLE, Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11 ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1937. In: CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE,Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

____. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, 1946. In: CAMPANHOLE, Adriano; CAMPANHOLE,Hilton Lobo (Comp.). Constituição do Brasil. 11. ed. São Paulo: Atlas, 1994.

BRASIL. Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934. Institui o Código das Águas.CENTRO DE MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. Banco de Imagens.

Usinas de Energia Elétrica no Brasil (1883-1999). São Paulo: Sonopress Rimo, 2000. 1 CD-ROM.____. 500 Anos - Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro, 2000.DIAS, Renato Feliciano (Coord.). Notas sobre o racionamento de energia elétrica no Brasil (1940-1980).

Rio de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1996.____. Panorama do Setor de Energia Elétrica no Brasil. Rio de Janeiro: Centro da Memória da

Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1988.FELICIDADE, Norma; MARTINS, Rodrigo C.; LEME, Alessandro A. Uso e gestão dos recursos hídricos no

Brasil. São Carlos, SP: RIMA, 2001.HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: a modernidade naselva. São Paulo: Cia das Letras, 1988.VERISSIMO, Erico. Incidente em Antares. 47 ed. São Paulo: Globo, 1997.VIANA, Aurélio. Hidrelétricas e meio ambiente. Rio de Janeiro: Centro Ecumênico de Documentação e

Informação, 1989. (Série Documento 3).

em relação aos nacionalistas, que defendiam a intervenção crescentedo Estado, quando, em 1948, o governo federal instalou a Cia.Hidrelétrica do São Francisco (CHESF). Pouco mais adiante, no iníciodos anos sessenta, consolidou-se essa intervenção com a criação doMinistério de Minas e Energia (1961) e, no ano seguinte, da Eletrobrás.

Page 36: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Usina de Ijuí, instalada em 1923.Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Usina de Ijuí, instalada em 1923.Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Page 37: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Usina de Ijuí, instalada em 1923.Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Usina de Ijuí, instalada em 1923.Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Page 38: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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iluminadas a gás, assumiu a instalação de uma nova termelétrica,localizada na rua Voluntários da Pátria, esquina com Coronel Vicente.Inaugurada em agosto de l908, a usina municipal acrescentava 300kW à potência de energia elétrica disponível no município.

Nesse mesmo ano foi instalada na capital gaúcha a CompanhiaForça e Luz Porto-Alegrense, destinada, de modo especial, a fornecerserviços de bondes elétricos. Sua usina térmica, a mais potenteconstruída até então no Rio Grande do Sul, foi localizada também naVoluntários da Pátria, produzindo 700 kW, contando com uma chaminéde 47 m, a maior da cidade à época4.

Ao final da primeira década do século XX, Porto Alegre dispunhade um potencial de energia elétrica de cerca de 1.700 kW, distribuídospelas três usinas que operavam na cidade. A despeito de sucessivasampliações das usinas, em meados da década seguinte a demanda deenergia elétrica por parte da população da capital gaúcha era maiorque a oferta disponível5. O município contava com apenas 5.168 kW,em grande parte sob o controle da Companhia de Energia Elétrica RioGrandense (CEERG).

Foi nesse cenário que, em novembro de l928, ocorreu a inauguração,em Porto Alegre, de sua maior termelétrica, a Usina do Gasômetro,sendo conhecida, também, como Usina Termelétrica Ponta da Cadeia6.Instalada pela CEERG junto à Volta do Gasômetro, em terrenoconquistado ao rio Guaíba, quando de sua inauguração disponibilizava10.000 kW, fornecidos por dois grupos geradores Oerlikon. Em l938,devido a sucessivas ampliações que duplicaram sua potência inicial,era apontada como a termelétrica mais potente do País7.

Importante marco na arquitetura industrial no Rio Grande do Sul,com características neoclássicas, a Usina do Gasômetro dispunha de umaárea de cerca de 3.000 m², destinados a abrigar caldeiras e turbinas, alémda torre e das demais construções. Dispunha, ainda, pela proximidadecom o rio, de cais próprio, que facilitava o desembarque do carvão,transportado em chatas, de onde era conduzido em caçambas porelevadores verticais até a esteira distribuidora, que alimentava os silos.

Como lembra Meira8, a história dessa Usina também se inscrevena história dos movimentos em defesa da qualidade de vida na cidade.Sua chaminé, com mais de cem metros de altura, foi construída em1937, devido aos protestos da população contra a fuligem provocadapela queima de carvão na produção de eletricidade.

“A fuligem da Uzina

A parte oeste da cidade estávivendo dias de verdadeirosupplicio com a poeira negraque chaminé da uzina daEnergia Elétrica vem expellindonestes ultimos dias. Innumerossão os casos de pharingite quese registrarem naquellapopulosa zona da capital doEstado.

A imprensa se tem feito ecodas queixas continuas dosmoradores das proximidadesdaquella dependencia dapoderosa empreza ‘yankee’. [...]O que é indubitável é que asaúde de uma parte dapopulação não pode continuar,como até aqui, a mercê dasconveniencias da EnergiaElétrica.” (Jornal Corrêio doPovo, 24 de abril de 1931).

pública em algumas ruas do centro da cidade. A instalação de lâmpadaspara particulares foi iniciada em dezembro deste mesmo ano. Suatermelétrica, ao entrar em operação, dispunha de um gerador de l60kW, cuja capacidade, após sucessivas ampliações, atingiu, em l914, cercade 600 kW1 .

A Fiat Lux recebeu autorização para a exploração dos serviçoselétricos em todos os municípios rio-grandenses, em abril de l889,através da Lei nº l.785, promulgada pelo Presidente da Província,Joaquim Galdino Pimentel. Contudo, o não-cumprimento da cláusulaque estabelecia que os serviços deveriam ser iniciados no prazo de doisanos, nas cidades, e de quatro anos, nas vilas, fez com que essaconcessão, salvo em relação a Porto Alegre, ficasse sem efeito2 . Poroutro lado, no final da primeira década de sua atuação odescontentamento popular com os serviços da Companhia provocou aintervenção dos poderes municipais, limitando a concessão ao perímetrocentral da cidade. Segundo o termo de limitação da zona de privilégioda Companhia, a exploração ficava restrita às “Rua Cel. Vicente, RuaSenhor dos Passos, Praça Dom Feliciano, Rua Duque de Caxias até àsmargens do Guaíba, e por este até a esquina da Rua Cel. Vicente”3.

A municipalidade de Porto Alegre, preocupada também com ailuminação pública dos bairros, já que outras ruas do centro eram

Usina Municipal de Porto Alegre,instalada em 1908.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Page 39: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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iluminadas a gás, assumiu a instalação de uma nova termelétrica,localizada na rua Voluntários da Pátria, esquina com Coronel Vicente.Inaugurada em agosto de l908, a usina municipal acrescentava 300kW à potência de energia elétrica disponível no município.

Nesse mesmo ano foi instalada na capital gaúcha a CompanhiaForça e Luz Porto-Alegrense, destinada, de modo especial, a fornecerserviços de bondes elétricos. Sua usina térmica, a mais potenteconstruída até então no Rio Grande do Sul, foi localizada também naVoluntários da Pátria, produzindo 700 kW, contando com uma chaminéde 47 m, a maior da cidade à época4.

Ao final da primeira década do século XX, Porto Alegre dispunhade um potencial de energia elétrica de cerca de 1.700 kW, distribuídospelas três usinas que operavam na cidade. A despeito de sucessivasampliações das usinas, em meados da década seguinte a demanda deenergia elétrica por parte da população da capital gaúcha era maiorque a oferta disponível5. O município contava com apenas 5.168 kW,em grande parte sob o controle da Companhia de Energia Elétrica RioGrandense (CEERG).

Foi nesse cenário que, em novembro de l928, ocorreu a inauguração,em Porto Alegre, de sua maior termelétrica, a Usina do Gasômetro,sendo conhecida, também, como Usina Termelétrica Ponta da Cadeia6.Instalada pela CEERG junto à Volta do Gasômetro, em terrenoconquistado ao rio Guaíba, quando de sua inauguração disponibilizava10.000 kW, fornecidos por dois grupos geradores Oerlikon. Em l938,devido a sucessivas ampliações que duplicaram sua potência inicial,era apontada como a termelétrica mais potente do País7.

Importante marco na arquitetura industrial no Rio Grande do Sul,com características neoclássicas, a Usina do Gasômetro dispunha de umaárea de cerca de 3.000 m², destinados a abrigar caldeiras e turbinas, alémda torre e das demais construções. Dispunha, ainda, pela proximidadecom o rio, de cais próprio, que facilitava o desembarque do carvão,transportado em chatas, de onde era conduzido em caçambas porelevadores verticais até a esteira distribuidora, que alimentava os silos.

Como lembra Meira8, a história dessa Usina também se inscrevena história dos movimentos em defesa da qualidade de vida na cidade.Sua chaminé, com mais de cem metros de altura, foi construída em1937, devido aos protestos da população contra a fuligem provocadapela queima de carvão na produção de eletricidade.

“A fuligem da Uzina

A parte oeste da cidade estávivendo dias de verdadeirosupplicio com a poeira negraque chaminé da uzina daEnergia Elétrica vem expellindonestes ultimos dias. Innumerossão os casos de pharingite quese registrarem naquellapopulosa zona da capital doEstado.

A imprensa se tem feito ecodas queixas continuas dosmoradores das proximidadesdaquella dependencia dapoderosa empreza ‘yankee’. [...]O que é indubitável é que asaúde de uma parte dapopulação não pode continuar,como até aqui, a mercê dasconveniencias da EnergiaElétrica.” (Jornal Corrêio doPovo, 24 de abril de 1931).

pública em algumas ruas do centro da cidade. A instalação de lâmpadaspara particulares foi iniciada em dezembro deste mesmo ano. Suatermelétrica, ao entrar em operação, dispunha de um gerador de l60kW, cuja capacidade, após sucessivas ampliações, atingiu, em l914, cercade 600 kW1 .

A Fiat Lux recebeu autorização para a exploração dos serviçoselétricos em todos os municípios rio-grandenses, em abril de l889,através da Lei nº l.785, promulgada pelo Presidente da Província,Joaquim Galdino Pimentel. Contudo, o não-cumprimento da cláusulaque estabelecia que os serviços deveriam ser iniciados no prazo de doisanos, nas cidades, e de quatro anos, nas vilas, fez com que essaconcessão, salvo em relação a Porto Alegre, ficasse sem efeito2 . Poroutro lado, no final da primeira década de sua atuação odescontentamento popular com os serviços da Companhia provocou aintervenção dos poderes municipais, limitando a concessão ao perímetrocentral da cidade. Segundo o termo de limitação da zona de privilégioda Companhia, a exploração ficava restrita às “Rua Cel. Vicente, RuaSenhor dos Passos, Praça Dom Feliciano, Rua Duque de Caxias até àsmargens do Guaíba, e por este até a esquina da Rua Cel. Vicente”3.

A municipalidade de Porto Alegre, preocupada também com ailuminação pública dos bairros, já que outras ruas do centro eram

Usina Municipal de Porto Alegre,instalada em 1908.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Page 40: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Serviços de energia elétrica foram instalados em outras nove cidadesgaúchas ao longo da primeira década do novo século: Jaguarão, eml901; Uruguaiana, em l904; São Gabriel, Rio Grande e Livramento,em l905; Santa Cruz, em l906; Alegrete e Santa Vitória do Palmar, eml908, e São Pedro, em l9109 .

Em Uruguaiana, em l903, por iniciativa de um engenheiro eletricistaargentino que mobilizou empresários locais, foi criada a SociedadeAnônima Luz Elétrica Uruguaiense, responsável pela instalação de umausina termelétrica em julho de l904. Além de se responsabilizar pelailuminação pública e particular, foi a primeira empresa de eletricidadeno Rio Grande do Sul a fornecer energia para fins industriais, e a maiordo interior do Estado até l910. Instalada às margens do rio Uruguai, ausina fornecia 600 kW, utilizando-se de equipamentos italianos,importados através de Buenos Aires10 .

Encampada pela CEEE eml964, a Usina do Gasômetro foidesativada em l970. Em l982 foitombada pelo PatrimônioHistórico e Cultural domunicípio e, em l983, pelo doEstado. Depois de ser pensadacomo abrigo para diferentes tiposde atividades, entre as quais ummuseu do trabalho e uma escolade formação de mão-de-obra, foidestinada, em l994, a abrigar umgrandioso Centro Cultural.Como tal, apresenta, atualmente, auditórios, salas de exposições, localpara feiras e eventos diversos, lojas de produtos culturais, cinema, teatro,terraço panorâmico, além de um expressivo memorial da usina.

No interior do Rio Grande do Sul, por sua vez, o fornecimento deenergia elétrica contou com a iniciativa de capitalistas gaúchos,mediante concessão municipal, ainda no final do século XIX. Duasusinas termelétricas foram instaladas em l899, uma delas na cidade deBagé, e a outra em Santa Maria.

Portanto, no início do século XX, três cidades gaúchas dispunhamde serviços de eletricidade, totalizando cerca de 500 kW, fornecidospor duas empresas: em Porto Alegre, a Fiat Lux, e na região daCampanha, a Buxton, Guilayn e Cia., empresa argentina que seexpandia no Rio Grande do Sul.

Iluminação da Praça MarechalDeodoro, Porto Alegre.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Bonde elétrico trafegandoem Porto Alegre, na década de vinte.

Foto: Virgílio Calegari.Acervo: Museu José Joaquim Felizardo.

Locomóveis da Bromberg em umaexposição agropecuária.

Porto Alegre, 1910.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

Page 41: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Serviços de energia elétrica foram instalados em outras nove cidadesgaúchas ao longo da primeira década do novo século: Jaguarão, eml901; Uruguaiana, em l904; São Gabriel, Rio Grande e Livramento,em l905; Santa Cruz, em l906; Alegrete e Santa Vitória do Palmar, eml908, e São Pedro, em l9109 .

Em Uruguaiana, em l903, por iniciativa de um engenheiro eletricistaargentino que mobilizou empresários locais, foi criada a SociedadeAnônima Luz Elétrica Uruguaiense, responsável pela instalação de umausina termelétrica em julho de l904. Além de se responsabilizar pelailuminação pública e particular, foi a primeira empresa de eletricidadeno Rio Grande do Sul a fornecer energia para fins industriais, e a maiordo interior do Estado até l910. Instalada às margens do rio Uruguai, ausina fornecia 600 kW, utilizando-se de equipamentos italianos,importados através de Buenos Aires10 .

Encampada pela CEEE eml964, a Usina do Gasômetro foidesativada em l970. Em l982 foitombada pelo PatrimônioHistórico e Cultural domunicípio e, em l983, pelo doEstado. Depois de ser pensadacomo abrigo para diferentes tiposde atividades, entre as quais ummuseu do trabalho e uma escolade formação de mão-de-obra, foidestinada, em l994, a abrigar umgrandioso Centro Cultural.Como tal, apresenta, atualmente, auditórios, salas de exposições, localpara feiras e eventos diversos, lojas de produtos culturais, cinema, teatro,terraço panorâmico, além de um expressivo memorial da usina.

No interior do Rio Grande do Sul, por sua vez, o fornecimento deenergia elétrica contou com a iniciativa de capitalistas gaúchos,mediante concessão municipal, ainda no final do século XIX. Duasusinas termelétricas foram instaladas em l899, uma delas na cidade deBagé, e a outra em Santa Maria.

Portanto, no início do século XX, três cidades gaúchas dispunhamde serviços de eletricidade, totalizando cerca de 500 kW, fornecidospor duas empresas: em Porto Alegre, a Fiat Lux, e na região daCampanha, a Buxton, Guilayn e Cia., empresa argentina que seexpandia no Rio Grande do Sul.

Iluminação da Praça MarechalDeodoro, Porto Alegre.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Bonde elétrico trafegandoem Porto Alegre, na década de vinte.

Foto: Virgílio Calegari.Acervo: Museu José Joaquim Felizardo.

Locomóveis da Bromberg em umaexposição agropecuária.

Porto Alegre, 1910.Acervo: Arquivo Histórico do Estado

do Rio Grande do Sul.

Page 42: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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grupos geradores de 425 kW, alimentados por turbinas especialmenteadaptadas para o consumo de carvão nacional. Quanto aos serviços detransporte, foram colocados à disposição da população cinco carroselétricos, que circulavam entre a Praça da República, a Estrada de Ferroe o Porto, tendo sido esta frota ampliada em l92214 .

A capacidade geradora da Rio Grandense foi sucessivamenteampliada, atingindo, em l927, 2.200 kW,parte consumida com a iluminaçãopública e particular, e parte destinada àprodução industrial e à circulação dosbondes.

Nos finais da década de vinte,entretanto, a imprensa local apontava amá qualidade dos serviços daconcessionária de energia, atribuída àscláusulas contratuais defasadas que amunicipalidade se negava a rever. Forçaspolíticas locais apelavam para a revisão docontrato, condição imposta pelaCompanhia Brasileira de Força Elétrica(CBFE), do Grupo Amforp, para aaquisição das ações da Rio Grandense, oque veio a ocorrer posteriormente15 .

Até l910 a energia elétrica produzidano Estado do Rio Grande do Sul era

proveniente de centrais termelétricas. Em dezembro de l911 foi assinadoum contrato entre a Prefeitura Municipal de Passo Fundo e a empresaBromberg e Companhia para a construção da primeira usina hidrelétricado Estado, considerada a maior nesta modalidade até duas décadasapós sua instalação16 .

Os equipamentos da usina foram financiados por meio de umempréstimo realizado pela municipalidade de Passo Fundo, através deum banco alemão, com agência em Porto Alegre. Instalada no RioTaquari, contava com dois grupos de geradores de l64 kW cada, sendoo primeiro composto por turbina Voith e gerador Siemens, e o segundopor turbina Gordon e gerador ND17 .

Em l919 a Usina Hidrelétrica Velha Passo Fundo, como ficouconhecida, teve 400 HP de aumento em sua capacidade instalada. Em

Em l909 o contrato de concessão municipal de energia foitransferido para a empresa B. M. Barbará. Essa empresa se dedicava aatividades comerciais, financeiras e de navegação fluvial, emUruguaiana, além de manter escritórios em Porto Alegre e no Rio deJaneiro. Três anos após ter assumido a referida concessão, a B. M.Barbará ampliou as instalações da termelétrica de Uruguaiana, passandoa fornecer 847 kW11 .

Sua concessão foi transferida, eml927, para a Cia. Geral de Luz e Forçae, em l930, novo contrato foi assinadocom a Companhia Sul Americana deServiços Públicos, empresa argentina,consorciada ao capital inglês. Essaempresa, que também se expandia nointerior do Rio Grande do Sul,realizou consideráveis investimentosna ampliação da potência instaladade energia em Uruguaiana,explorando os serviços de eletricidadena cidade, até l955, oportunidade emque foram encampados pela CEEE12 .

Em Pelotas, em maio de l912, aIntendência Municipal contratou aRio Grandense Light and PowerSyndicate Limited, a mais importanteempresa de eletricidade no interior do Estado, para fornecer energiaelétrica à cidade. Esta empresa mantinha associação com o capital inglês,através da Buxton, Guilayn & Cia. Além de assumir a prestação dosserviços, tanto da iluminação pública e privada, quanto do tráfego debondes elétricos, a empresa dedicava-se à importação dos mais variadosprodutos, tais como materiais para a construção civil, chá, óleo, trigo,vinhos, queijos, ao mesmo tempo em que procedia principalmente àexportação de arroz, erva-mate e madeiras13 .

Os serviços de fornecimento de iluminação prestados pela Rio-Grandense foram inaugurados em junho de l914, e os de bondeselétricos, em outubro de l915. Quando de sua instalação, a usinatermelétrica e os depósitos de carros e oficinas ocupavam duas quadrasda cidade, junto à Praça Constituição. Foram instalados, de início, dois

Dependências da Bromberg,em Porto Alegre.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Antiga sede da Rio Grandense, empresaresponsável pela instalação da primeiratermelétrica de Pelotas (RS), em 1914.

Foto: Luciano Bornholdt, 2001.

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grupos geradores de 425 kW, alimentados por turbinas especialmenteadaptadas para o consumo de carvão nacional. Quanto aos serviços detransporte, foram colocados à disposição da população cinco carroselétricos, que circulavam entre a Praça da República, a Estrada de Ferroe o Porto, tendo sido esta frota ampliada em l92214 .

A capacidade geradora da Rio Grandense foi sucessivamenteampliada, atingindo, em l927, 2.200 kW,parte consumida com a iluminaçãopública e particular, e parte destinada àprodução industrial e à circulação dosbondes.

Nos finais da década de vinte,entretanto, a imprensa local apontava amá qualidade dos serviços daconcessionária de energia, atribuída àscláusulas contratuais defasadas que amunicipalidade se negava a rever. Forçaspolíticas locais apelavam para a revisão docontrato, condição imposta pelaCompanhia Brasileira de Força Elétrica(CBFE), do Grupo Amforp, para aaquisição das ações da Rio Grandense, oque veio a ocorrer posteriormente15 .

Até l910 a energia elétrica produzidano Estado do Rio Grande do Sul era

proveniente de centrais termelétricas. Em dezembro de l911 foi assinadoum contrato entre a Prefeitura Municipal de Passo Fundo e a empresaBromberg e Companhia para a construção da primeira usina hidrelétricado Estado, considerada a maior nesta modalidade até duas décadasapós sua instalação16 .

Os equipamentos da usina foram financiados por meio de umempréstimo realizado pela municipalidade de Passo Fundo, através deum banco alemão, com agência em Porto Alegre. Instalada no RioTaquari, contava com dois grupos de geradores de l64 kW cada, sendoo primeiro composto por turbina Voith e gerador Siemens, e o segundopor turbina Gordon e gerador ND17 .

Em l919 a Usina Hidrelétrica Velha Passo Fundo, como ficouconhecida, teve 400 HP de aumento em sua capacidade instalada. Em

Em l909 o contrato de concessão municipal de energia foitransferido para a empresa B. M. Barbará. Essa empresa se dedicava aatividades comerciais, financeiras e de navegação fluvial, emUruguaiana, além de manter escritórios em Porto Alegre e no Rio deJaneiro. Três anos após ter assumido a referida concessão, a B. M.Barbará ampliou as instalações da termelétrica de Uruguaiana, passandoa fornecer 847 kW11 .

Sua concessão foi transferida, eml927, para a Cia. Geral de Luz e Forçae, em l930, novo contrato foi assinadocom a Companhia Sul Americana deServiços Públicos, empresa argentina,consorciada ao capital inglês. Essaempresa, que também se expandia nointerior do Rio Grande do Sul,realizou consideráveis investimentosna ampliação da potência instaladade energia em Uruguaiana,explorando os serviços de eletricidadena cidade, até l955, oportunidade emque foram encampados pela CEEE12 .

Em Pelotas, em maio de l912, aIntendência Municipal contratou aRio Grandense Light and PowerSyndicate Limited, a mais importanteempresa de eletricidade no interior do Estado, para fornecer energiaelétrica à cidade. Esta empresa mantinha associação com o capital inglês,através da Buxton, Guilayn & Cia. Além de assumir a prestação dosserviços, tanto da iluminação pública e privada, quanto do tráfego debondes elétricos, a empresa dedicava-se à importação dos mais variadosprodutos, tais como materiais para a construção civil, chá, óleo, trigo,vinhos, queijos, ao mesmo tempo em que procedia principalmente àexportação de arroz, erva-mate e madeiras13 .

Os serviços de fornecimento de iluminação prestados pela Rio-Grandense foram inaugurados em junho de l914, e os de bondeselétricos, em outubro de l915. Quando de sua instalação, a usinatermelétrica e os depósitos de carros e oficinas ocupavam duas quadrasda cidade, junto à Praça Constituição. Foram instalados, de início, dois

Dependências da Bromberg,em Porto Alegre.

Acervo: Arquivo Histórico do Estadodo Rio Grande do Sul.

Antiga sede da Rio Grandense, empresaresponsável pela instalação da primeiratermelétrica de Pelotas (RS), em 1914.

Foto: Luciano Bornholdt, 2001.

Page 44: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

l955 foi desativada, permanecendo até aquela oportunidade sob ocontrole da Prefeitura do município.

A municipalidade de São Leopoldo, que em l913 havia instaladosua primeira hidrelétrica, inaugurou em l930 a Usina Hidrelétrica daToca. A iniciativa de solicitar ao governo do Estado a concessão parasua instalação partiu do intendente municipal, Mansueto Bernardi.Localizada no rio Santa Cruz, no vizinho município de São Franciscode Paula, essa hidrelétrica custou pesados investimentos financeiros,obtidos no mercado externo de capitais. Até meados de l950 essa usinaera a maior hidrelétrica implantada no Rio Grande do Sul18 .

A Usina da Toca foi constituída por uma pequena barragem, com75 m de comprimento e 75 m de raio, um canal adutor de 196 m e duasunidades geradoras de 544 kW cada uma, com turbinas de fabricaçãoEscher, do tipo Francis, e de geradores AEG19.

Além da ampliação do atendimento à iluminação pública e privada,a Usina da Toca tinha como principal objetivo abastecer as indústrias,não apenas do município de São Leopoldo, mas de três outrosmunicípios vizinhos. Como as tarifas de energia praticadas em PortoAlegre representavam o dobro das vigentes em São Leopoldo, algumasindústrias aí se fixaram, reforçando consideravelmente seudesenvolvimento industrial20 . Explica-se, deste modo, o investimentono Projeto Toca, que se destacava, à época, por suas dimensões eimportância, tanto local, quanto regional. Encampada pela CEEE eml947, esta usina permanece em funcionamento até os dias atuais.

“A Uzina hydro-elétrica da Toca

Foi inaugurada officialmente,no dia 25 de julho p. findo, amaior uzina hydro-elétrica doEstado, situada na queda daToca, formada pelo rio SantaCruz, no município de SãoFrancisco de Paula de Cima daSerra. Coube ao município deSão Leopoldo o mérito darealização de tão vultosoempreendimento, destinado aimpulsionar extraordinaria-mente o progresso de uma dasregiões mais férteis e indus-triosas do Estado.

Para comemorar condigna-mente a chegada da primeiraleva de imigrantes germanicosneste Estado, factores directose indirectos de grande parte denossa actual grandeza, nenhummeio mais adequado que ainauguração de um empre-endimento dessa ordem, tãoestreitamente vinculado com otrabalho e, pois, com oprogresso e o futuro do nossoEstado” (Revista do Globo,anno II, 9 de agosto de 1930).

Usina da Toca instaladapela municipalidade deSão Leopoldo, em 1930.

Acervo: Museu Histórico Viscondede São Leopoldo (RS).

Page 45: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

l955 foi desativada, permanecendo até aquela oportunidade sob ocontrole da Prefeitura do município.

A municipalidade de São Leopoldo, que em l913 havia instaladosua primeira hidrelétrica, inaugurou em l930 a Usina Hidrelétrica daToca. A iniciativa de solicitar ao governo do Estado a concessão parasua instalação partiu do intendente municipal, Mansueto Bernardi.Localizada no rio Santa Cruz, no vizinho município de São Franciscode Paula, essa hidrelétrica custou pesados investimentos financeiros,obtidos no mercado externo de capitais. Até meados de l950 essa usinaera a maior hidrelétrica implantada no Rio Grande do Sul18 .

A Usina da Toca foi constituída por uma pequena barragem, com75 m de comprimento e 75 m de raio, um canal adutor de 196 m e duasunidades geradoras de 544 kW cada uma, com turbinas de fabricaçãoEscher, do tipo Francis, e de geradores AEG19.

Além da ampliação do atendimento à iluminação pública e privada,a Usina da Toca tinha como principal objetivo abastecer as indústrias,não apenas do município de São Leopoldo, mas de três outrosmunicípios vizinhos. Como as tarifas de energia praticadas em PortoAlegre representavam o dobro das vigentes em São Leopoldo, algumasindústrias aí se fixaram, reforçando consideravelmente seudesenvolvimento industrial20 . Explica-se, deste modo, o investimentono Projeto Toca, que se destacava, à época, por suas dimensões eimportância, tanto local, quanto regional. Encampada pela CEEE eml947, esta usina permanece em funcionamento até os dias atuais.

“A Uzina hydro-elétrica da Toca

Foi inaugurada officialmente,no dia 25 de julho p. findo, amaior uzina hydro-elétrica doEstado, situada na queda daToca, formada pelo rio SantaCruz, no município de SãoFrancisco de Paula de Cima daSerra. Coube ao município deSão Leopoldo o mérito darealização de tão vultosoempreendimento, destinado aimpulsionar extraordinaria-mente o progresso de uma dasregiões mais férteis e indus-triosas do Estado.

Para comemorar condigna-mente a chegada da primeiraleva de imigrantes germanicosneste Estado, factores directose indirectos de grande parte denossa actual grandeza, nenhummeio mais adequado que ainauguração de um empre-endimento dessa ordem, tãoestreitamente vinculado com otrabalho e, pois, com oprogresso e o futuro do nossoEstado” (Revista do Globo,anno II, 9 de agosto de 1930).

Usina da Toca instaladapela municipalidade deSão Leopoldo, em 1930.

Acervo: Museu Histórico Viscondede São Leopoldo (RS).

Page 46: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Alguns empreendimentos pioneirosem Santa Catarina

A primeira iniciativa para produzir energia elétrica em SantaCatarina ocorreu em Joinville, em 1897, quando o engenheiroGustavo Probst, da empresa Telegrafenbaustalt Siemens & Halske,de Berlim, (Alemanha), examinou a viabilidade de aproveitamentohidrelétrico do Salto Piraí-Pitanga, situado em um local conhecidopor Rancho das Pedras, distante aproximadamente 20 km da sededo município. Formou-se, assim, a empresa Sociedade por Açõesde Luz e Força, supervisionada pelo Conselho Municipal, queestabeleceu algumas restrições à empresa alemã representada porGustavo Probst. Esta empresa não aceitou as exigências do Conselhoe se afastou das negociações, dadas as divergências de interessesentre grupos políticos locais.

Abaixo, almoço na Usina de Piraí,Joinville (SC), década de vinte.

Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Ao lado, Usina de Piraí, inauguradaem 1908, em Joinville (SC).

Acervo: Celesc.

Page 47: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Alguns empreendimentos pioneirosem Santa Catarina

A primeira iniciativa para produzir energia elétrica em SantaCatarina ocorreu em Joinville, em 1897, quando o engenheiroGustavo Probst, da empresa Telegrafenbaustalt Siemens & Halske,de Berlim, (Alemanha), examinou a viabilidade de aproveitamentohidrelétrico do Salto Piraí-Pitanga, situado em um local conhecidopor Rancho das Pedras, distante aproximadamente 20 km da sededo município. Formou-se, assim, a empresa Sociedade por Açõesde Luz e Força, supervisionada pelo Conselho Municipal, queestabeleceu algumas restrições à empresa alemã representada porGustavo Probst. Esta empresa não aceitou as exigências do Conselhoe se afastou das negociações, dadas as divergências de interessesentre grupos políticos locais.

Abaixo, almoço na Usina de Piraí,Joinville (SC), década de vinte.

Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Ao lado, Usina de Piraí, inauguradaem 1908, em Joinville (SC).

Acervo: Celesc.

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Foi sem dúvida o desenvolvimento econômico do norte do Estadoque determinou a ampliação da produção de energia elétrica. Assim,em 1931, a hidrelétrica de Bracinho, localizada no rio do mesmo nome,no município de Guaramirim, distante 65 km de Joinville, foi inauguradacom potência de 2.450 kW24. Em 1949 a Empresul implantou nessahidrelétrica duas turbinas tipo Pelton, fabricadas pela Escher Wysse,ampliando o fornecimento de energia elétrica. No projeto de ampliaçãoconstavam, também, a construção de uma barragem de represamentoe um túnel para conduzir as águas do rio do Júlio para a bacia do rioBracinho, aumentando, assim, a sua potência. Inicialmente, a produçãode energia desta hidrelétrica concorria com a produção da usina dePiraí25.

No contexto da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial,o patrimônio dos sócios alemães na Empresul foi encampado peloGoverno Federal. Este patrimônio foi transferido pela Lei nº 290, de15 de junho de 194826 , para o governo de Santa Catarina, que oincorporou à Celesc.

A história da energia elétrica em Blumenau tem como referência oano de 1897, quando a Câmara Municipal autorizou a Superintendênciaa abrir concorrência para a contratação dos serviços de iluminação dacidade27. Essa história foi permeada pela atuação persistente doimigrante alemão Peter Christian Feddersen, que desde os anos de 1882/83 vinha chamando a atenção de alguns círculos financeiros daAlemanha para o florescente Estado de Santa Catarina28.

Peter Christian Feddersen, que viria a se tornar posteriormentedeputado estadual, participou, em 1908, de uma conferência em Berlimcom um grupo de diretores de bancos. Nesta ocasião garantiu parcelados recursos para a construção da Usina Salto.

Em 1905, pela resolução municipal nº 105, de 24 de dezembro, oConselho concedeu a Etienne Douat, ou à empresa que viesse aorganizar, o “privilégio para explorar a iluminação elétrica e a locaçãode força motora, por meio de instalação hidro-elétrica e a transmissãoaérea durante o prazo de 25 anos”21. Posteriormente, esta concessãofoi vendida para os empresários brasileiros Domingos Rodrigues da NovaJúnior, Alexandre Schlemm e Olímpio Nóbrega de Oliveira,exportadores de erva-mate. Em 1907 esses empresários organizaram aEmpreza Joinvillense de Electricidade, que passou a ter, depois, adenominação de Empresa Joinvillense de Eletricidade – Luz e Força deOliveira, Rodrigues & Schlemm. Continuaram, porém, os contatos coma Alemanha através da contratação da firma Allgemeine Elektrizitaets-Gesellschaft (AEG), para o fornecimento de equipamentos,representada no Brasil pela comercial Behrend, Schmidt & Cia.,instalada no Rio de Janeiro22.

Em 14 de fevereiro de 1909 foram inauguradas a usina de energiaelétrica em Joinville, com 400 kW de potência, e a iluminação públicada cidade. A água para a usina de Piraí foi captada diretamente do riohomônimo. Posteriormente, em 1914, esta usina foi interligada com ausina do Rio Vermelho.

Por escritura pública, devidamente autorizada pelo ConselhoMunicipal em 31 de outubro de 1928, a Prefeitura de Joinville deuconcessão à Companhia Sul Americana de Eletricidade, que tinha aparticipação majoritária das firmas A. E. G. e Siemens & Siebert, parao fornecimento de energia elétrica ao município de Joinville.

Em abril de 1929 foi constituída a Empresa Sul Brasileira deEletricidade S.A. (Empresul), com sede em Joinville, com a

incorporação de bens e direitos de concessão dealgumas empresas de eletricidade que até entãooperavam no norte do Estado: Empresa deEletricidade Jaraguá Ltda., de Jaraguá do Sul;Empresa Luz e Força de São Bento, sob a razãosocial de Henrique Moeller & Cia.; Empresa deElectricidade Luz e Telefones de Mafra, Itaiópolise Rio Negro, sob a firma de Nicolau Bley Netto;Empresa de Eletricidade Tijuquense Ltda., de

Tijucas. Finalmente, em outubro de 1929, a Empresa Joinvillense deEletricidade Luz e Força de Joinville também foi incorporada23.

“Previno aos srs. assignantesda Empreza ‘Luz e Força’ destacidade, que estou autorizadopela Empreza para fazer ainstallação da illuminação nassuas casas peço dirigirem-se àminha officina no porto destadesta cidade, onde pronpta-mente serão attendidos einteirados das despesas dainstallação”. (Carlos Benack, In.:Gazeta de Joinville, 9 de janeirode 1909).

Usina de Bracinho, Joinville (SC),em operação desde 1935.

Acervo: Celesc.

Ace

rvo:

Cel

esc.

Page 49: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

44

Foi sem dúvida o desenvolvimento econômico do norte do Estadoque determinou a ampliação da produção de energia elétrica. Assim,em 1931, a hidrelétrica de Bracinho, localizada no rio do mesmo nome,no município de Guaramirim, distante 65 km de Joinville, foi inauguradacom potência de 2.450 kW24. Em 1949 a Empresul implantou nessahidrelétrica duas turbinas tipo Pelton, fabricadas pela Escher Wysse,ampliando o fornecimento de energia elétrica. No projeto de ampliaçãoconstavam, também, a construção de uma barragem de represamentoe um túnel para conduzir as águas do rio do Júlio para a bacia do rioBracinho, aumentando, assim, a sua potência. Inicialmente, a produçãode energia desta hidrelétrica concorria com a produção da usina dePiraí25.

No contexto da participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial,o patrimônio dos sócios alemães na Empresul foi encampado peloGoverno Federal. Este patrimônio foi transferido pela Lei nº 290, de15 de junho de 194826 , para o governo de Santa Catarina, que oincorporou à Celesc.

A história da energia elétrica em Blumenau tem como referência oano de 1897, quando a Câmara Municipal autorizou a Superintendênciaa abrir concorrência para a contratação dos serviços de iluminação dacidade27. Essa história foi permeada pela atuação persistente doimigrante alemão Peter Christian Feddersen, que desde os anos de 1882/83 vinha chamando a atenção de alguns círculos financeiros daAlemanha para o florescente Estado de Santa Catarina28.

Peter Christian Feddersen, que viria a se tornar posteriormentedeputado estadual, participou, em 1908, de uma conferência em Berlimcom um grupo de diretores de bancos. Nesta ocasião garantiu parcelados recursos para a construção da Usina Salto.

Em 1905, pela resolução municipal nº 105, de 24 de dezembro, oConselho concedeu a Etienne Douat, ou à empresa que viesse aorganizar, o “privilégio para explorar a iluminação elétrica e a locaçãode força motora, por meio de instalação hidro-elétrica e a transmissãoaérea durante o prazo de 25 anos”21. Posteriormente, esta concessãofoi vendida para os empresários brasileiros Domingos Rodrigues da NovaJúnior, Alexandre Schlemm e Olímpio Nóbrega de Oliveira,exportadores de erva-mate. Em 1907 esses empresários organizaram aEmpreza Joinvillense de Electricidade, que passou a ter, depois, adenominação de Empresa Joinvillense de Eletricidade – Luz e Força deOliveira, Rodrigues & Schlemm. Continuaram, porém, os contatos coma Alemanha através da contratação da firma Allgemeine Elektrizitaets-Gesellschaft (AEG), para o fornecimento de equipamentos,representada no Brasil pela comercial Behrend, Schmidt & Cia.,instalada no Rio de Janeiro22.

Em 14 de fevereiro de 1909 foram inauguradas a usina de energiaelétrica em Joinville, com 400 kW de potência, e a iluminação públicada cidade. A água para a usina de Piraí foi captada diretamente do riohomônimo. Posteriormente, em 1914, esta usina foi interligada com ausina do Rio Vermelho.

Por escritura pública, devidamente autorizada pelo ConselhoMunicipal em 31 de outubro de 1928, a Prefeitura de Joinville deuconcessão à Companhia Sul Americana de Eletricidade, que tinha aparticipação majoritária das firmas A. E. G. e Siemens & Siebert, parao fornecimento de energia elétrica ao município de Joinville.

Em abril de 1929 foi constituída a Empresa Sul Brasileira deEletricidade S.A. (Empresul), com sede em Joinville, com a

incorporação de bens e direitos de concessão dealgumas empresas de eletricidade que até entãooperavam no norte do Estado: Empresa deEletricidade Jaraguá Ltda., de Jaraguá do Sul;Empresa Luz e Força de São Bento, sob a razãosocial de Henrique Moeller & Cia.; Empresa deElectricidade Luz e Telefones de Mafra, Itaiópolise Rio Negro, sob a firma de Nicolau Bley Netto;Empresa de Eletricidade Tijuquense Ltda., de

Tijucas. Finalmente, em outubro de 1929, a Empresa Joinvillense deEletricidade Luz e Força de Joinville também foi incorporada23.

“Previno aos srs. assignantesda Empreza ‘Luz e Força’ destacidade, que estou autorizadopela Empreza para fazer ainstallação da illuminação nassuas casas peço dirigirem-se àminha officina no porto destadesta cidade, onde pronpta-mente serão attendidos einteirados das despesas dainstallação”. (Carlos Benack, In.:Gazeta de Joinville, 9 de janeirode 1909).

Usina de Bracinho, Joinville (SC),em operação desde 1935.

Acervo: Celesc.

Ace

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Hoepcke Irmão & Cia. e Caixa Agrícola Cooperativa de Blumenautornaram-se as maiores acionistas da Empresa Força e Luz SantaCatarina S.A. Em abril de 1929 na Usina Salto foi acionada uma terceiramáquina, ampliando a sua potência em 2.080 kW. Em 1966 a UsinaSalto foi incorporada pela Celesc, mas continua operando atualmente,com seus geradores originais, sendo considerada uma das mais antigasem atividade.

Preocupado com a modernização do Estado deSanta Catarina e, em particular, com os usos daeletricidade, o governador Gustavo Richardestabeleceu em 1906 a primeira regulamentaçãopara a instalação de linhas de transmissão.Objetivava fixar normas de segurança ediretrizes, para resguardar direitos da populaçãolocal, por onde passassem tais linhas.

Diferentemente de outros municípioscatarinenses, os serviços de luz e força deFlorianópolis não eram municipais, porque o própriomunicípio os havia transferido para o Estado, apósamplas discussões jurídicas30.

Em 1907 o governo estadual concedeu à empresa luso-inglesaSimmond & Saldanha a autorização para a construção da usina Maroim,destinada a fornecer energia elétrica para a capital. Para responsabilizar-se pela produção desta energia foram contratados, em 19 de novembrode 1909, os engenheiros Edward Simmonds e Adriano Saldanha. Entreas obras contratadas constava a construção de um prédio, no bairro doEstreito, para abrigar os transformadores de tensão, que transmitiriama energia à capital. Constava dessas obras, ainda, a implementação deum cabo submarino no canal entre a Ilha de Santa Catarina e oContinente, devido à preocupação com os fortes ventos do Sul e compossíveis faíscas elétricas que pudessem danificar o sistema detransmissão.

Situada em terras adquiridas pelo governo do Estado, a cachoeirado rio Imaruí, localizada no município de São José, propiciou a forçamotora para o funcionamento da usina do Maroim.

Inauguraram-se, assim, em 25 de setembro de 1910 a iluminaçãopública da capital e os serviços de água e luz, arrendados aos engenheirosEdward Simmonds e John Willianson por 35 anos31. Este contrato foi

“Em 1838, a Câmara Municipalde Florianópolis, começa a terpreocupação com a falta deiluminação pública. Ruas comburacos exigiam que quemquisesse sair à noite deveria levarum criado para acompanhá-loscom luz.” (AMARAL, 1986).

Em 18 de abril de 1912 o governo municipal autorizou a concessãoda construção da Usina Salto à firma Bromberg, Hacker & Cia. Estecontrato, porém, deveria respeitar a concessão previamenteestabelecida, em 31 de outubro de 1910, ao empresário FredericoGuilherme Busch, que adquirira por 25 anos o privilégio de distribuiçãode luz e força no perímetro urbano de Blumenau29.

Em 1º de maio de 1915 entrou em funcionamento a Usina Salto,ativada com duas turbinas e respectivos geradores, com capacidadecada um de 1.750 kVA. As dificuldades financeiras pelas quais passavaa Empresa de Eletricidade Salto levaram os seus responsáveis a constituiruma sociedade anônima que, assumindo os encargos da concessão etornando-se proprietária dos bens já existentes, pudesse levar a cabo ogrande empreendimento.

Entretanto, a Usina Salto não prosperou como esperavam seusidealizadores, e os proprietários Bromberg, Hacker & Cia., PeterChristian Feddersen, Paul Zimmermann e Carl Jensen venderam partedo empreendimento para um grupo financeiro de São Paulo que criou,em 20 de maio de 1920, a Empresa Força e Luz Santa Catarina. Aempresa se consolidou rapidamente, ampliando, inclusive, suas linhasde transmissão até os municípios de Itajaí, Brusque e Indaial.

Discordâncias ocorridas entre os acionistas paulistas eblumenauenses, entretanto, levaram os últimos a assumir o controleda Empresa Força e Luz Santa Catarina S.A. em 1924, sediando-a emBlumenau. Lideradas por um grupo de empresários catarinenses, asindústrias Hering & Cia., Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S.A.,

Usina do Salto, instalada em 1920,em Blumenau (SC).

Acervo: Arquivo HistóricoJosé Ferreira da Silva.

Retrato de Gustavo Richard, 1910.Acervo: Celesc.

Página seguinte: Usina de Maroim,inaugurada em 1910, em São José (SC).

Acervo: Celesc.

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Hoepcke Irmão & Cia. e Caixa Agrícola Cooperativa de Blumenautornaram-se as maiores acionistas da Empresa Força e Luz SantaCatarina S.A. Em abril de 1929 na Usina Salto foi acionada uma terceiramáquina, ampliando a sua potência em 2.080 kW. Em 1966 a UsinaSalto foi incorporada pela Celesc, mas continua operando atualmente,com seus geradores originais, sendo considerada uma das mais antigasem atividade.

Preocupado com a modernização do Estado deSanta Catarina e, em particular, com os usos daeletricidade, o governador Gustavo Richardestabeleceu em 1906 a primeira regulamentaçãopara a instalação de linhas de transmissão.Objetivava fixar normas de segurança ediretrizes, para resguardar direitos da populaçãolocal, por onde passassem tais linhas.

Diferentemente de outros municípioscatarinenses, os serviços de luz e força deFlorianópolis não eram municipais, porque o própriomunicípio os havia transferido para o Estado, apósamplas discussões jurídicas30.

Em 1907 o governo estadual concedeu à empresa luso-inglesaSimmond & Saldanha a autorização para a construção da usina Maroim,destinada a fornecer energia elétrica para a capital. Para responsabilizar-se pela produção desta energia foram contratados, em 19 de novembrode 1909, os engenheiros Edward Simmonds e Adriano Saldanha. Entreas obras contratadas constava a construção de um prédio, no bairro doEstreito, para abrigar os transformadores de tensão, que transmitiriama energia à capital. Constava dessas obras, ainda, a implementação deum cabo submarino no canal entre a Ilha de Santa Catarina e oContinente, devido à preocupação com os fortes ventos do Sul e compossíveis faíscas elétricas que pudessem danificar o sistema detransmissão.

Situada em terras adquiridas pelo governo do Estado, a cachoeirado rio Imaruí, localizada no município de São José, propiciou a forçamotora para o funcionamento da usina do Maroim.

Inauguraram-se, assim, em 25 de setembro de 1910 a iluminaçãopública da capital e os serviços de água e luz, arrendados aos engenheirosEdward Simmonds e John Willianson por 35 anos31. Este contrato foi

“Em 1838, a Câmara Municipalde Florianópolis, começa a terpreocupação com a falta deiluminação pública. Ruas comburacos exigiam que quemquisesse sair à noite deveria levarum criado para acompanhá-loscom luz.” (AMARAL, 1986).

Em 18 de abril de 1912 o governo municipal autorizou a concessãoda construção da Usina Salto à firma Bromberg, Hacker & Cia. Estecontrato, porém, deveria respeitar a concessão previamenteestabelecida, em 31 de outubro de 1910, ao empresário FredericoGuilherme Busch, que adquirira por 25 anos o privilégio de distribuiçãode luz e força no perímetro urbano de Blumenau29.

Em 1º de maio de 1915 entrou em funcionamento a Usina Salto,ativada com duas turbinas e respectivos geradores, com capacidadecada um de 1.750 kVA. As dificuldades financeiras pelas quais passavaa Empresa de Eletricidade Salto levaram os seus responsáveis a constituiruma sociedade anônima que, assumindo os encargos da concessão etornando-se proprietária dos bens já existentes, pudesse levar a cabo ogrande empreendimento.

Entretanto, a Usina Salto não prosperou como esperavam seusidealizadores, e os proprietários Bromberg, Hacker & Cia., PeterChristian Feddersen, Paul Zimmermann e Carl Jensen venderam partedo empreendimento para um grupo financeiro de São Paulo que criou,em 20 de maio de 1920, a Empresa Força e Luz Santa Catarina. Aempresa se consolidou rapidamente, ampliando, inclusive, suas linhasde transmissão até os municípios de Itajaí, Brusque e Indaial.

Discordâncias ocorridas entre os acionistas paulistas eblumenauenses, entretanto, levaram os últimos a assumir o controleda Empresa Força e Luz Santa Catarina S.A. em 1924, sediando-a emBlumenau. Lideradas por um grupo de empresários catarinenses, asindústrias Hering & Cia., Fábrica de Tecidos Carlos Renaux S.A.,

Usina do Salto, instalada em 1920,em Blumenau (SC).

Acervo: Arquivo HistóricoJosé Ferreira da Silva.

Retrato de Gustavo Richard, 1910.Acervo: Celesc.

Página seguinte: Usina de Maroim,inaugurada em 1910, em São José (SC).

Acervo: Celesc.

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contestado por opositores do governo Richard, que viramirregularidades as mais diversas nesta concessão32.

A usina do Maroim foi implantada com três turbinas de 250 kWcada uma, tendo funcionado com seu maquinário originalaproximadamente por 65 anos, sendo desativada em 1972.

Em 9 de dezembro de 1955 criou-se, através do Decreto Estadual nº21, a Empresa Luz e Força de Florianópolis S.A. (Elffa), que tinha porobjetivo construir e explorar os sistemas de produção, transmissão edistribuição de energia elétrica na região da grande Florianópolis. À épocaa Elffa, através da energia gerada pela usina Maroim e de um geradorinstalado no Largo Fagundes, atendia apenas às necessidades do centro dacidade, não contando os bairros periféricos com iluminação pública. Umaparte da energia consumida em Florianópolis, na década de cinqüenta, eraoriunda da Sociedade Termelétrica de Capivari S.A. (Sotelca), quepertencia à Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), instalada no município deTubarão. A distribuição dessa energia era feita pela Elffa33.

A luz elétrica chegou ao Planalto Serrano, na cidade de Lages, naprimeira década do século XX, quando o alemão José Suiter construiuuma pequena usina hidrelétrica. Esta fornecia energia para a sua oficinamecânica, para algumas residências e para o Teatro Municipal de Lages,onde também funcionava um cinema. A pequena usina estava localizadaà margem esquerda do rio Carahá, próximo à sede do município, o quefacilitava a extensão de uma linha elétrica até o centro da cidade. Estausina funcionava com duas turbinas de fabricação alemã, com poucorendimento em conseqüência da fraca queda d’água, que sofria variaçõesderivadas da vazante do rio nas diferentes épocas do ano.

Acima, da esquerda para a direita:

Visitação de autoridades ao local da obrada Usina de Maroim, São José (SC),

em 1910. Acervo: Celesc.

Tubulação condutora de águada Usina de Maroim, São José (SC).

Acervo: Celesc.

Equipamentos da Usina de Maroimque forneceu energia para

Florianópolis, até 1972.Acervo: Celesc.

Ao lado, iluminação públicada Praça XV de Novembro,

centro de Florianópolis, 1910.Acervo: Celesc.

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contestado por opositores do governo Richard, que viramirregularidades as mais diversas nesta concessão32.

A usina do Maroim foi implantada com três turbinas de 250 kWcada uma, tendo funcionado com seu maquinário originalaproximadamente por 65 anos, sendo desativada em 1972.

Em 9 de dezembro de 1955 criou-se, através do Decreto Estadual nº21, a Empresa Luz e Força de Florianópolis S.A. (Elffa), que tinha porobjetivo construir e explorar os sistemas de produção, transmissão edistribuição de energia elétrica na região da grande Florianópolis. À épocaa Elffa, através da energia gerada pela usina Maroim e de um geradorinstalado no Largo Fagundes, atendia apenas às necessidades do centro dacidade, não contando os bairros periféricos com iluminação pública. Umaparte da energia consumida em Florianópolis, na década de cinqüenta, eraoriunda da Sociedade Termelétrica de Capivari S.A. (Sotelca), quepertencia à Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), instalada no município deTubarão. A distribuição dessa energia era feita pela Elffa33.

A luz elétrica chegou ao Planalto Serrano, na cidade de Lages, naprimeira década do século XX, quando o alemão José Suiter construiuuma pequena usina hidrelétrica. Esta fornecia energia para a sua oficinamecânica, para algumas residências e para o Teatro Municipal de Lages,onde também funcionava um cinema. A pequena usina estava localizadaà margem esquerda do rio Carahá, próximo à sede do município, o quefacilitava a extensão de uma linha elétrica até o centro da cidade. Estausina funcionava com duas turbinas de fabricação alemã, com poucorendimento em conseqüência da fraca queda d’água, que sofria variaçõesderivadas da vazante do rio nas diferentes épocas do ano.

Acima, da esquerda para a direita:

Visitação de autoridades ao local da obrada Usina de Maroim, São José (SC),

em 1910. Acervo: Celesc.

Tubulação condutora de águada Usina de Maroim, São José (SC).

Acervo: Celesc.

Equipamentos da Usina de Maroimque forneceu energia para

Florianópolis, até 1972.Acervo: Celesc.

Ao lado, iluminação públicada Praça XV de Novembro,

centro de Florianópolis, 1910.Acervo: Celesc.

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A construção de umanova usina foi iniciada em1914 pelo blumenauenseGuilherme Busch, queobtivera em 11 de outubrode 1916 a concessão daexploração, geração e

distribuição de energia em Lages, por um período de 30 anos34.Em primeiro de novembro de 1917 inaugurou-se a iluminação

pública em Lages. Por tratar-se de um empreendimento que exigiaconstante aplicação de recursos financeiros, em 1925 FredericoGuilherme Busch desistiu da concessão e a vendeu para DomingosBarbara Valente. O novo proprietário fundou uma sociedade anônimatendo como seus maiores acionistas os próprios filhos, criando a EmpresaForça e Luz de Lages35. Em 1944 a Empresa Força e Luz integrou-se àCia. Catarinense de Força e Luz S.A. (Cosel), que ampliou suacapacidade geradora com a instalação de novos equipamentos na usinaCaveiras36.

A usina do rio Caveiras havia entrado em operação em 1920, emlocal que favorecia a formação de uma bacia de acumulação, permitindoa instalação de dois geradores, com 560 kW e 480 kW de potência,movidos por turbinas do tipo Francis. O projeto de construção foielaborado pela firma Henrique Kotzias & Filho, e a montagem dosequipamentos eletromecânicos ficou a cargo da empresa Brown Boveri.Na década de cinqüenta os acionistas da Empresa Força e Luz de Lagesvenderam a maior parte das suas ações à empresa estatal Celesc. Ausina Caveiras passou para o patrimônio da Celesc em 1965, e éresponsável, hoje, pelo fornecimento de cerca de 5% da energia elétricaconsumida no município37.

No sul do Estado, em 1916, o Conselho Municipal concedeu aosr. João Schneider o direito de explorar, pelo período de 20 anos, aenergia elétrica no distrito de Urussanga. Pelo contrato osuperintendente se comprometia a pagar ao contratado para que estese responsabilizasse pela colocação de 20 lâmpadas de 50 velas na PraçaAnita Garibaldi, as quais deveriam ficar acesas até as 24 horas38.

Em janeiro de 1917 foi inaugurado o fornecimento de energiaelétrica, tendo como base uma pequena usina, instalada no rioUrussanga, em uma queda de um metro e meio de altura, com turbina

“A inauguração da energiaelétrica em Lages foi marcadapela iluminação com centenas delâmpadas, instaladas em umgrande arco de madeira no finalda rua 15 de novembro, naentrada da praça do Mercado,destacando-se neste as datas de1771, ano de fundação da vila, e1917, da inauguração da luze l é t r i c a . ” ( J o rna l Cor re ioLageano, 1999).

Acima, Casa de força da UsinaSalto Caveiras, tendo à frente

seus funcionários. Lages, 1920.Acervo: Museu Thiago de Castro.

Ao lado, inauguração da luz elétricaem Lages (SC), em 1917.Acervo: Museu Histórico

Thiago de Castro.

Page 57: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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A construção de umanova usina foi iniciada em1914 pelo blumenauenseGuilherme Busch, queobtivera em 11 de outubrode 1916 a concessão daexploração, geração e

distribuição de energia em Lages, por um período de 30 anos34.Em primeiro de novembro de 1917 inaugurou-se a iluminação

pública em Lages. Por tratar-se de um empreendimento que exigiaconstante aplicação de recursos financeiros, em 1925 FredericoGuilherme Busch desistiu da concessão e a vendeu para DomingosBarbara Valente. O novo proprietário fundou uma sociedade anônimatendo como seus maiores acionistas os próprios filhos, criando a EmpresaForça e Luz de Lages35. Em 1944 a Empresa Força e Luz integrou-se àCia. Catarinense de Força e Luz S.A. (Cosel), que ampliou suacapacidade geradora com a instalação de novos equipamentos na usinaCaveiras36.

A usina do rio Caveiras havia entrado em operação em 1920, emlocal que favorecia a formação de uma bacia de acumulação, permitindoa instalação de dois geradores, com 560 kW e 480 kW de potência,movidos por turbinas do tipo Francis. O projeto de construção foielaborado pela firma Henrique Kotzias & Filho, e a montagem dosequipamentos eletromecânicos ficou a cargo da empresa Brown Boveri.Na década de cinqüenta os acionistas da Empresa Força e Luz de Lagesvenderam a maior parte das suas ações à empresa estatal Celesc. Ausina Caveiras passou para o patrimônio da Celesc em 1965, e éresponsável, hoje, pelo fornecimento de cerca de 5% da energia elétricaconsumida no município37.

No sul do Estado, em 1916, o Conselho Municipal concedeu aosr. João Schneider o direito de explorar, pelo período de 20 anos, aenergia elétrica no distrito de Urussanga. Pelo contrato osuperintendente se comprometia a pagar ao contratado para que estese responsabilizasse pela colocação de 20 lâmpadas de 50 velas na PraçaAnita Garibaldi, as quais deveriam ficar acesas até as 24 horas38.

Em janeiro de 1917 foi inaugurado o fornecimento de energiaelétrica, tendo como base uma pequena usina, instalada no rioUrussanga, em uma queda de um metro e meio de altura, com turbina

“A inauguração da energiaelétrica em Lages foi marcadapela iluminação com centenas delâmpadas, instaladas em umgrande arco de madeira no finalda rua 15 de novembro, naentrada da praça do Mercado,destacando-se neste as datas de1771, ano de fundação da vila, e1917, da inauguração da luze l é t r i c a . ” ( J o rna l Cor re ioLageano, 1999).

Acima, Casa de força da UsinaSalto Caveiras, tendo à frente

seus funcionários. Lages, 1920.Acervo: Museu Thiago de Castro.

Ao lado, inauguração da luz elétricaem Lages (SC), em 1917.Acervo: Museu Histórico

Thiago de Castro.

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problema da energia para o seu próprio cinema e para uso de poucasresidências da cidade.

Em 1946 constatou-se que a expansão da rede vinha diminuindo apotência instalada, tornando-se o atendimento à populaçãoinsatisfatório. A precariedade do sistema e a freqüente falta de energiafizeram com que alguns empresários e comerciantes solicitassem, em1947, ao engenheiro Hans Wirz estudos técnicos e orçamentários paraa implantação de uma nova usina que pudesse atender à crescentedemanda.

Foram os empresários Arlindo e Augusto Barella que, havendoalugado o cinema da cidade, tomaram a iniciativa de levantar recursospara a construção de uma usina de maior porte. Diante da falta decapital financeiro, criaram, em 13 de agosto de 1949, a empresa Forçae Luz Chapecó S.A.42. Nesta empreitada contaram com a participaçãode Antonio Morandini e João Batista Zeca e de todos os consumidoresda cidade. Esses passaram a ser acionistas da referida empresa,possibilitando, assim, assegurar os recursos a serem investidos na novausina. Os investimentos eram, portanto, oriundos da própriacomunidade, não havendo participação do poder público43.

De posse dos recursos arrecadados a empresa contratou oengenheiro paulista Alfredo Tarli para fazer outros levantamentosnecessários e a avaliação das condições técnicas. Optou-se por construira usina na localidade denominada Engenho Braun, utilizando as águasdo lajeado São José. Ali foi instalada uma turbina com capacidade de400 HP. Esta hidrelétrica, com potência de 380 kW, atendeu àsnecessidades do município até 1974, quando foi desativada. O lagooriginal dessa usina foi transformado em reservatório para fornecimentode água para a cidade, que passou a ser administrado pela CompanhiaCatarinense de Águas e Saneamento (Casan).

Uma outra usina localizada no rio Tigre, denominada usinaGuatambu, foi construída em 1965 para atender à demanda energéticade Chapecó e adjacências.

Ainda no oeste do Estado duas usinas foram construídas emJoaçaba, por iniciativa do empresário austríaco, ali estabelecido desde1935, Francisco Lindner. Esse empresário implementou odesenvolvimento industrial na região, fabricando equipamentos paraserrarias como locomóveis e serras-fitas, além de trilhadeiras e pequenasturbinas hidráulicas para a produção de energia elétrica.

fabricada por Benjamim Bianchini, acoplada a um dínamo AEG de 9,5kW, com linha de transmissão de 230 volts. Neste mesmo ano aconcessão foi transferida para Antonio Ferraro e Angelo AntonioNichele. Mas somente em 17 de agosto de 1944 esses empresáriosfundaram a Empresa Força e Luz de Urussanga Ltda. (Eflul), com oobjetivo de produzir e distribuir energia elétrica para esta cidade. Aautorização para funcionar como empresa de energia elétrica foi obtidaem 5 de setembro de 1945, através de Decreto-Lei nº 19.573 do governofederal39. Esta empresa passou por várias administrações, mas continuasendo tipicamente familiar, no presente, em sua terceira geração deacionistas.

A partir de 1944/45, quando a Companhia Siderúrgica Nacionalpassou a estimular o aproveitamento do carvão-vapor, através da usinatérmica de Capivari, a pequena usina de Urussanga foi desativada. Acidade de Urussanga foi a primeira a receber energia elétrica produzidapela usina de Capivari, localizada no município de Tubarão. Contudo,a distribuição da energia para o município de Urussanga e adjacênciascontinuou sendo realizada pela Empresa Força e Luz de Urussanga Ltda.(Eflul). Atualmente, esta empresa atua como uma das três empresascatarinenses distribuidoras de energia fornecida pela Celesc.

No oeste catarinense o acordo entre os Estados de Santa Catarinae Paraná sobre os limites de seus territórios, em 1916, viabilizou odesenvolvimento da região. Como afirma Mamigonian40 , os serviçosde eletricidade surgiram principalmente através da iniciativa dasempresas industriais nascentes, obrigadas a produzir sua própriaeletricidade. Somente em 1943, entretanto, se instalou a primeira usinahidrelétrica, em Chapecó, com capacidade de 36 kW de potência, poriniciativa de Aquiles Tomazelli41. O empresário buscava solucionar o

Iluminação pública na cidadede Chapecó (SC), década de cinqüenta.

Foto: Vitorino Zolet.

Página seguinte, construção da Usina doPery, em Curitibanos (SC), no final

da década de cinqüenta.Acervo: Celesc.

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problema da energia para o seu próprio cinema e para uso de poucasresidências da cidade.

Em 1946 constatou-se que a expansão da rede vinha diminuindo apotência instalada, tornando-se o atendimento à populaçãoinsatisfatório. A precariedade do sistema e a freqüente falta de energiafizeram com que alguns empresários e comerciantes solicitassem, em1947, ao engenheiro Hans Wirz estudos técnicos e orçamentários paraa implantação de uma nova usina que pudesse atender à crescentedemanda.

Foram os empresários Arlindo e Augusto Barella que, havendoalugado o cinema da cidade, tomaram a iniciativa de levantar recursospara a construção de uma usina de maior porte. Diante da falta decapital financeiro, criaram, em 13 de agosto de 1949, a empresa Forçae Luz Chapecó S.A.42. Nesta empreitada contaram com a participaçãode Antonio Morandini e João Batista Zeca e de todos os consumidoresda cidade. Esses passaram a ser acionistas da referida empresa,possibilitando, assim, assegurar os recursos a serem investidos na novausina. Os investimentos eram, portanto, oriundos da própriacomunidade, não havendo participação do poder público43.

De posse dos recursos arrecadados a empresa contratou oengenheiro paulista Alfredo Tarli para fazer outros levantamentosnecessários e a avaliação das condições técnicas. Optou-se por construira usina na localidade denominada Engenho Braun, utilizando as águasdo lajeado São José. Ali foi instalada uma turbina com capacidade de400 HP. Esta hidrelétrica, com potência de 380 kW, atendeu àsnecessidades do município até 1974, quando foi desativada. O lagooriginal dessa usina foi transformado em reservatório para fornecimentode água para a cidade, que passou a ser administrado pela CompanhiaCatarinense de Águas e Saneamento (Casan).

Uma outra usina localizada no rio Tigre, denominada usinaGuatambu, foi construída em 1965 para atender à demanda energéticade Chapecó e adjacências.

Ainda no oeste do Estado duas usinas foram construídas emJoaçaba, por iniciativa do empresário austríaco, ali estabelecido desde1935, Francisco Lindner. Esse empresário implementou odesenvolvimento industrial na região, fabricando equipamentos paraserrarias como locomóveis e serras-fitas, além de trilhadeiras e pequenasturbinas hidráulicas para a produção de energia elétrica.

fabricada por Benjamim Bianchini, acoplada a um dínamo AEG de 9,5kW, com linha de transmissão de 230 volts. Neste mesmo ano aconcessão foi transferida para Antonio Ferraro e Angelo AntonioNichele. Mas somente em 17 de agosto de 1944 esses empresáriosfundaram a Empresa Força e Luz de Urussanga Ltda. (Eflul), com oobjetivo de produzir e distribuir energia elétrica para esta cidade. Aautorização para funcionar como empresa de energia elétrica foi obtidaem 5 de setembro de 1945, através de Decreto-Lei nº 19.573 do governofederal39. Esta empresa passou por várias administrações, mas continuasendo tipicamente familiar, no presente, em sua terceira geração deacionistas.

A partir de 1944/45, quando a Companhia Siderúrgica Nacionalpassou a estimular o aproveitamento do carvão-vapor, através da usinatérmica de Capivari, a pequena usina de Urussanga foi desativada. Acidade de Urussanga foi a primeira a receber energia elétrica produzidapela usina de Capivari, localizada no município de Tubarão. Contudo,a distribuição da energia para o município de Urussanga e adjacênciascontinuou sendo realizada pela Empresa Força e Luz de Urussanga Ltda.(Eflul). Atualmente, esta empresa atua como uma das três empresascatarinenses distribuidoras de energia fornecida pela Celesc.

No oeste catarinense o acordo entre os Estados de Santa Catarinae Paraná sobre os limites de seus territórios, em 1916, viabilizou odesenvolvimento da região. Como afirma Mamigonian40 , os serviçosde eletricidade surgiram principalmente através da iniciativa dasempresas industriais nascentes, obrigadas a produzir sua própriaeletricidade. Somente em 1943, entretanto, se instalou a primeira usinahidrelétrica, em Chapecó, com capacidade de 36 kW de potência, poriniciativa de Aquiles Tomazelli41. O empresário buscava solucionar o

Iluminação pública na cidadede Chapecó (SC), década de cinqüenta.

Foto: Vitorino Zolet.

Página seguinte, construção da Usina doPery, em Curitibanos (SC), no final

da década de cinqüenta.Acervo: Celesc.

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Em 1949 Francisco Lindner adquiriu uma pequenausina instalada no rio do Peixe, situada na localidade deBom Retiro, hoje município de Luzerna, denominada SãoFrancisco. Por ser uma usina de baixa potência, deimediato construiu uma represa assentando pedras eelevando o nível do rio em três metros, formando, assim,um reservatório de água que permitiu instalar uma turbinacom rendimento de 100 HP. Em 1952 a pequena usina foidestruída por uma grande enchente. Ao recuperá-la, oempresário dobrou a altura da barragem, reforçando ospontos fracos com concreto. A maior queda d’águapossibilitou instalar duas turbinas que produziam 200 kW.Atualmente essa mesma usina produz 450 kW44.

Em 20 de setembro de 1954, através do decretonº 36.197, a empresa Francisco Lindner & Cia. Ltda. recebeuautorização do governo federal para funcionar como empresa deenergia elétrica, ficando obrigada a satisfazer integralmente asexigências do Código de Águas.

Posteriormente, esse mesmo empresário sentiu necessidade deampliar a produção de energia para uso em suas empresas. Obteve dogoverno federal a concessão, através do Decreto nº 38.172 de 31 deoutubro de 1955, para aproveitamento de energia hidráulica de umdesnível no rio do Peixe, no distrito de Luzerna. Construiu, então, umasegunda usina conhecida por Santa Ana, localizada também no rio doPeixe, aproximadamente mil e quinhentos metros acima da anterior,com potência de 250 kW. Atualmente encontra-se em fase derepotenciação, projetada para chegar a 500 kW. As duas usinas emfuncionamento possibilitaram fornecer, por alguns anos, a energiaconsumida por treze localidades próximas da sede do município deJoaçaba.

Em 1968, com sua expansão, a Celesc assumiu o fornecimento e adistribuição de energia na região, encampando todas as linhas detransmissão. Contudo, as empresas Lindner continuaram produzindoe consumindo de forma autônoma sua própria energia, através deconcessões obtidas junto ao Ministério de Minas e Energia. Atualmente,na cidade de Joaçaba estão instaladas linhas de transmissão em ambosos lados das ruas, sendo uma de propriedade da empresa privada Lindner,e a outra da empresa estatal Celesc.

Instalações da Empresa Lindner,em Joaçaba (SC), fabricantede turbinas e locomóveis.Acervo: Família Lindner.

Destruição de parte da barragem da Usina São Francisco pela enchente do rio do Peixe, Joaçaba (SC), em 1952.Acervo: Família Lindner.

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Em 1949 Francisco Lindner adquiriu uma pequenausina instalada no rio do Peixe, situada na localidade deBom Retiro, hoje município de Luzerna, denominada SãoFrancisco. Por ser uma usina de baixa potência, deimediato construiu uma represa assentando pedras eelevando o nível do rio em três metros, formando, assim,um reservatório de água que permitiu instalar uma turbinacom rendimento de 100 HP. Em 1952 a pequena usina foidestruída por uma grande enchente. Ao recuperá-la, oempresário dobrou a altura da barragem, reforçando ospontos fracos com concreto. A maior queda d’águapossibilitou instalar duas turbinas que produziam 200 kW.Atualmente essa mesma usina produz 450 kW44.

Em 20 de setembro de 1954, através do decretonº 36.197, a empresa Francisco Lindner & Cia. Ltda. recebeuautorização do governo federal para funcionar como empresa deenergia elétrica, ficando obrigada a satisfazer integralmente asexigências do Código de Águas.

Posteriormente, esse mesmo empresário sentiu necessidade deampliar a produção de energia para uso em suas empresas. Obteve dogoverno federal a concessão, através do Decreto nº 38.172 de 31 deoutubro de 1955, para aproveitamento de energia hidráulica de umdesnível no rio do Peixe, no distrito de Luzerna. Construiu, então, umasegunda usina conhecida por Santa Ana, localizada também no rio doPeixe, aproximadamente mil e quinhentos metros acima da anterior,com potência de 250 kW. Atualmente encontra-se em fase derepotenciação, projetada para chegar a 500 kW. As duas usinas emfuncionamento possibilitaram fornecer, por alguns anos, a energiaconsumida por treze localidades próximas da sede do município deJoaçaba.

Em 1968, com sua expansão, a Celesc assumiu o fornecimento e adistribuição de energia na região, encampando todas as linhas detransmissão. Contudo, as empresas Lindner continuaram produzindoe consumindo de forma autônoma sua própria energia, através deconcessões obtidas junto ao Ministério de Minas e Energia. Atualmente,na cidade de Joaçaba estão instaladas linhas de transmissão em ambosos lados das ruas, sendo uma de propriedade da empresa privada Lindner,e a outra da empresa estatal Celesc.

Instalações da Empresa Lindner,em Joaçaba (SC), fabricantede turbinas e locomóveis.Acervo: Família Lindner.

Destruição de parte da barragem da Usina São Francisco pela enchente do rio do Peixe, Joaçaba (SC), em 1952.Acervo: Família Lindner.

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Alguns empreendimentos pioneiros no Paraná

No Paraná a iluminação pública por eletricidade teve início em1892, quando entrou em operação, em Curitiba, uma das mais antigastermelétricas do País45 . De fato, o interesse do poder público local emprover a cidade de energia elétrica remonta a 1883, quando a CâmaraMunicipal contratou a implantação de sistema de iluminação porenergia elétrica na cidade.

A concretização do projeto, contudo, só ocorreu em 1890, com aassinatura de contrato entre o Presidente da Intendência Municipal deCuritiba, Vicente Machado, e Antonio Manoel Bueno de Andrade,engenheiro, representante da Companhia Água e Luz de São Paulo. Deacordo com esse contrato, a “Estação Central de Distribuição de luzelétrica deve comportar desde logo, a capacidade de cincoenta mil wolts(50.000), correspondente á força iluminativa de onze mil velas [...]”.

A usina termelétrica, construída sob a direção do engenheiroLeopoldo Starck, foi localizada em terreno próximo da antiga estaçãoferroviária, atrás do então Congresso Estadual, hoje Câmara Municipalde Curitiba. Dispunha de duas unidades a vapor, fabricadas emBudapeste (Hungria), que produziam 4.270 HP de força, consumindo200 metros cúbicos de lenha por dia46 . Somente em outubro de 1892,cerca de dois anos após a assinatura do contrato, a empresaconcessionária disponibilizou o serviço de iluminação elétrica emalgumas ruas centrais da cidade, edifícios públicos e residências.

Em maio de 1898 o empresário José Hauer adquiriua concessão do serviço de iluminação de Curitiba.

Sua empresa, a José Hauer & Filhos, projetandoa ampliação da oferta de energia para a capital,iniciou no mesmo ano a construção da UsinaTermelétrica Curitiba, também conhecida porCapanema. A nova usina, montada por HansHacker, foi localizada na Avenida Capanema,às margens do rio Belém, onde hoje se encontra

a Estação Rodoferroviária. Quando da suainauguração, em 1901, dispunha de dois grupos

geradores de 200 HP, da marca Siemens & Halske.Em 1904, com a instalação de um terceiro gerador de potência igual

Ao lado, retrato de Joseph Hauer Senior. Acima, bonde elétrico em Curitiba, cujo serviço teve início em 1912. Acervo: DPHAC/FCC.

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Alguns empreendimentos pioneiros no Paraná

No Paraná a iluminação pública por eletricidade teve início em1892, quando entrou em operação, em Curitiba, uma das mais antigastermelétricas do País45 . De fato, o interesse do poder público local emprover a cidade de energia elétrica remonta a 1883, quando a CâmaraMunicipal contratou a implantação de sistema de iluminação porenergia elétrica na cidade.

A concretização do projeto, contudo, só ocorreu em 1890, com aassinatura de contrato entre o Presidente da Intendência Municipal deCuritiba, Vicente Machado, e Antonio Manoel Bueno de Andrade,engenheiro, representante da Companhia Água e Luz de São Paulo. Deacordo com esse contrato, a “Estação Central de Distribuição de luzelétrica deve comportar desde logo, a capacidade de cincoenta mil wolts(50.000), correspondente á força iluminativa de onze mil velas [...]”.

A usina termelétrica, construída sob a direção do engenheiroLeopoldo Starck, foi localizada em terreno próximo da antiga estaçãoferroviária, atrás do então Congresso Estadual, hoje Câmara Municipalde Curitiba. Dispunha de duas unidades a vapor, fabricadas emBudapeste (Hungria), que produziam 4.270 HP de força, consumindo200 metros cúbicos de lenha por dia46 . Somente em outubro de 1892,cerca de dois anos após a assinatura do contrato, a empresaconcessionária disponibilizou o serviço de iluminação elétrica emalgumas ruas centrais da cidade, edifícios públicos e residências.

Em maio de 1898 o empresário José Hauer adquiriua concessão do serviço de iluminação de Curitiba.

Sua empresa, a José Hauer & Filhos, projetandoa ampliação da oferta de energia para a capital,iniciou no mesmo ano a construção da UsinaTermelétrica Curitiba, também conhecida porCapanema. A nova usina, montada por HansHacker, foi localizada na Avenida Capanema,às margens do rio Belém, onde hoje se encontra

a Estação Rodoferroviária. Quando da suainauguração, em 1901, dispunha de dois grupos

geradores de 200 HP, da marca Siemens & Halske.Em 1904, com a instalação de um terceiro gerador de potência igual

Ao lado, retrato de Joseph Hauer Senior. Acima, bonde elétrico em Curitiba, cujo serviço teve início em 1912. Acervo: DPHAC/FCC.

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energia vivido pela capital, pois a South Brazilian Railways CompanyLimited não havia realizado os investimentos necessários paraacompanhar o crescimento da cidade e o conseqüente incremento nademanda de energia.

A construção de uma hidrelétrica já era cogitada desde 1913, comose depreende da Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo pelopresidente do Estado, Carlos Cavalcante de Albuquerque, na qualassinalava o desinteresse da South em explorar a força hidráulica dasquedas do Cainganga, no rio Iguaçu, apesar de previsto no contratoem vigência. Neste mesmo ano o engenheiro Carlos Gillieron realizouestudo do Salto do Inferno ou Salto Grande do Capivari. Com basenesses dados a prefeitura de Curitiba adquiriu o grupo de quedas deágua do rio Capivari, bem como os terrenos adjacentes, com o propósitode viabilizar um futuro aproveitamento hidrelétrico (Decreto nº 13,de 9 de janeiro de 1926).

Apesar dos estudos do rio Capivari, a CFLP considerou viável aimplantação da usina no rio São João, município de São José dos Pinhais,na vertente oriental da Serra do Mar. A Usina Chaminé, como foidenominada, construída sob a responsabilidade do americano HowellLewis Fry, foi considerada “o primeiro grande projeto hidrelétrico doestado”48 . Quando de sua inauguração em 1931 apresentava potênciade 8.000 kW49.

Em 1943 o Decreto nº 13.995 autorizou a elevação da potêncianominal da usina para 12.000 kW, mas esta só foi atingida em 1946,quando o Decreto nº 21.135 “[...] autorizou um aumento provisóriode dois metros na altura da barragem original, a fim de criar acumulaçãosuficiente para a utilização da potência total [...]”50. Em agosto domesmo ano foi instalada a terceira unidade geradora, de 4.000 kW,composta de turbina fornecida por The Baldwin Locomotive Works ede gerador fabricado pela International General Electric Company.

A ampliação realizada visava a assegurar o fornecimento de energiaàs empresas de maior porte localizadas na região, tais como a Companhiade Cimentos Portland, do Paraná; a fábrica de Veículos Militares doExército Brasileiro; o Frigorífico do Estado do Paraná; e a oficina dereparos da Rede de Viação Paraná – Santa Catarina51.

No final da década de quarenta, tendo em vista a instalação deuma quarta unidade geradora de 4.000 kW, a empresa concessionáriaconstruiu uma nova barragem na localidade de Voçoroca, a 12 km do

“Voçoroca, em reforma,vira deserto

‘Mister Fry’, como eraconhecido, deixou relatóriosmuito precisos sobre oandamento da obra, registrando,por exemplo, a compra decimento de boa qualidade, aconservação das estradas e osdeslizamentos de terra [...] Fryfalava em seu relatório da‘dificuldade em conseguir mão-de-obra qualificada, em geralimigrantes muito disputados poroutras grandes obras da época,como as rodovias Curitiba – SãoPaulo e as ferrovias Curitiba –Guarapuava e Paraná – SãoPaulo’ [....]” (Andreas Adriano.Jornal O Estado do Paraná, 30de abril de 1995).

à dos anteriores, sua capacidade foi ampliada para 298 kW47.Nesse ínterim, em 1903, a responsabilidade sobre os serviços de

água, esgoto e iluminação da capital foi transferida para o governoestadual, através da Lei nº 506 de 2 de abril de 1903, tendo em vista asdificuldades da municipalidade em arcar com os seus custos.

Ainda em 1904 o contrato de concessão para a exploração e ofornecimento de energia elétrica passou para a Empresa de Eletricidadede Curitiba, controlada por Hauer Júnior & Companhia. Em outubrode 1910 a concessão e a empresa foram adquiridas pelo empresáriofrancês Edouard Fontaine de Laveley, que em dezembro do mesmo anoas transferiu para a South Brazilian Railways Company Limited.

Em 1928 o governo do Paraná, insatisfeito com a atuação destaempresa, aprovou a transferência da concessão para a Companhia Forçae Luz do Paraná S.A. (CFLP), subsidiária do grupo Amforp. A novaconcessionária concretizou o antigo projeto do poder público deconstruir uma hidrelétrica para solucionar o problema da escassez de

Usina Termelétrica de Curitiba, 1901.Acervo: Museu de Energia, Copel.

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energia vivido pela capital, pois a South Brazilian Railways CompanyLimited não havia realizado os investimentos necessários paraacompanhar o crescimento da cidade e o conseqüente incremento nademanda de energia.

A construção de uma hidrelétrica já era cogitada desde 1913, comose depreende da Mensagem dirigida ao Congresso Legislativo pelopresidente do Estado, Carlos Cavalcante de Albuquerque, na qualassinalava o desinteresse da South em explorar a força hidráulica dasquedas do Cainganga, no rio Iguaçu, apesar de previsto no contratoem vigência. Neste mesmo ano o engenheiro Carlos Gillieron realizouestudo do Salto do Inferno ou Salto Grande do Capivari. Com basenesses dados a prefeitura de Curitiba adquiriu o grupo de quedas deágua do rio Capivari, bem como os terrenos adjacentes, com o propósitode viabilizar um futuro aproveitamento hidrelétrico (Decreto nº 13,de 9 de janeiro de 1926).

Apesar dos estudos do rio Capivari, a CFLP considerou viável aimplantação da usina no rio São João, município de São José dos Pinhais,na vertente oriental da Serra do Mar. A Usina Chaminé, como foidenominada, construída sob a responsabilidade do americano HowellLewis Fry, foi considerada “o primeiro grande projeto hidrelétrico doestado”48 . Quando de sua inauguração em 1931 apresentava potênciade 8.000 kW49.

Em 1943 o Decreto nº 13.995 autorizou a elevação da potêncianominal da usina para 12.000 kW, mas esta só foi atingida em 1946,quando o Decreto nº 21.135 “[...] autorizou um aumento provisóriode dois metros na altura da barragem original, a fim de criar acumulaçãosuficiente para a utilização da potência total [...]”50. Em agosto domesmo ano foi instalada a terceira unidade geradora, de 4.000 kW,composta de turbina fornecida por The Baldwin Locomotive Works ede gerador fabricado pela International General Electric Company.

A ampliação realizada visava a assegurar o fornecimento de energiaàs empresas de maior porte localizadas na região, tais como a Companhiade Cimentos Portland, do Paraná; a fábrica de Veículos Militares doExército Brasileiro; o Frigorífico do Estado do Paraná; e a oficina dereparos da Rede de Viação Paraná – Santa Catarina51.

No final da década de quarenta, tendo em vista a instalação deuma quarta unidade geradora de 4.000 kW, a empresa concessionáriaconstruiu uma nova barragem na localidade de Voçoroca, a 12 km do

“Voçoroca, em reforma,vira deserto

‘Mister Fry’, como eraconhecido, deixou relatóriosmuito precisos sobre oandamento da obra, registrando,por exemplo, a compra decimento de boa qualidade, aconservação das estradas e osdeslizamentos de terra [...] Fryfalava em seu relatório da‘dificuldade em conseguir mão-de-obra qualificada, em geralimigrantes muito disputados poroutras grandes obras da época,como as rodovias Curitiba – SãoPaulo e as ferrovias Curitiba –Guarapuava e Paraná – SãoPaulo’ [....]” (Andreas Adriano.Jornal O Estado do Paraná, 30de abril de 1995).

à dos anteriores, sua capacidade foi ampliada para 298 kW47.Nesse ínterim, em 1903, a responsabilidade sobre os serviços de

água, esgoto e iluminação da capital foi transferida para o governoestadual, através da Lei nº 506 de 2 de abril de 1903, tendo em vista asdificuldades da municipalidade em arcar com os seus custos.

Ainda em 1904 o contrato de concessão para a exploração e ofornecimento de energia elétrica passou para a Empresa de Eletricidadede Curitiba, controlada por Hauer Júnior & Companhia. Em outubrode 1910 a concessão e a empresa foram adquiridas pelo empresáriofrancês Edouard Fontaine de Laveley, que em dezembro do mesmo anoas transferiu para a South Brazilian Railways Company Limited.

Em 1928 o governo do Paraná, insatisfeito com a atuação destaempresa, aprovou a transferência da concessão para a Companhia Forçae Luz do Paraná S.A. (CFLP), subsidiária do grupo Amforp. A novaconcessionária concretizou o antigo projeto do poder público deconstruir uma hidrelétrica para solucionar o problema da escassez de

Usina Termelétrica de Curitiba, 1901.Acervo: Museu de Energia, Copel.

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aproveitamento original. Com essas alterações a capacidade de geraçãoda UHE Chaminé atingiu 16.000 kW, em 1952. 52

As sucessivas ampliações da usina não impediram que a capitalsofresse racionamento de energia nos anos de 1950 e 1951. Paraminimizar o problema a concessionária instalou, emergencialmente,seis grupos geradores a diesel, com capacidade de 1.000 kW cada um53 .Em 1954 foram instalados mais três grupos geradores com a mesmapotência dos anteriores, que só vieram a ser desativados em 1971.

Após a iniciativa pioneira em Curitiba, até 1908, outras cidadesdo Estado – Rio Negro, Paranaguá, Ponta Grossa, Antonina, Araucária,União da Vitória e Foz do Iguaçu – implantaram sistemas de geraçãode energia, a maioria baseados em termelétricas. Já no final da segundadécada do século XX, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE), existia no Estado um potencial de geração de6.715 kW.

Em Ponta Grossa a primeira usina termelétrica da cidade,inaugurada em maio de 1905, foi construída pela Empresa Guimarães& Eriksen, vencedora da concorrência deflagrada pelo município paraa instalação do serviço de força e luz na cidade. No ano seguinte, e sobnova razão social (Goulin & Ericksen), foi instalada a hidrelétrica dorio Verde, com potência aproximada de 40 HP. Essa usina representa,segundo a bibliografia disponível, a primeira experiência de geraçãohidráulica do Estado54 .

No final da primeira década do século XX a precariedade nofornecimento e os altos custos da energia elétrica fornecida à cidademotivavam reclamações constantes. O descontentamento popular,amplamente registrado pela imprensa local, resultou na apreciação pelaCâmara Municipal, em março de 1909, de um documento com 83assinaturas solicitando a criação de uma comissão de peritos paraavaliação técnica e administrativa da concessionária.

No mesmo ano a Câmara Municipal decretou a encampação daempresa pela Prefeitura Municipal. Após a realização de concorrência,assumiu a concessão a empresa Martins & Carvalho, responsável pelaconstrução da hidrelétrica de Pitangui, considerada à época uma“grandiosa obra de engenharia”55.

A hidrelétrica foi construída na margem esquerda do rio Pitangui,no local denominado Cachoeira. O projeto previa a instalação de trêsunidades de geração, com um total de 450 kW. Em julho de 1911,

“Aos 7 dias do mês de maio de1905 (após a inauguração dailluminação electrica que tevelugar na usina) nesta cidade dePonta Grossa, em a sala desessões da Camara Municipal,presentes [...] e registrar nosannaes da Camara a data dainauguração da illuminaçãoelectrica d’esta cidade [...].

Sendo enthusiasticamenteapplaudido pelo auditório, comuma calorosa salva de palmas aosom do Hymno nacional, que foiouvido de pé, e ao astrugir denumerosos foguetes [...]brilhante peça oratória analogaa solemnidade conservou oauditório por longo temposuspenso num estado defelicidade [...] o representante doClub Literário, Gremio MusicalLyra dos Campos e CirculoSocialista Leão Tolstoi, queimprovisando belissimo discursocom referencia ao assumptomagno da sessão, disse que alémda luz electrica, a luz material,falta tratar-se ainda de uma luzmais poderosa e fecunda: a luzda instrucção... [...].” (Livro Atasdo ano de 1902/1907 da CâmaraMunicipal de Ponta Grossa).Apud LANGE, 1998, p. 201-202.

Usina Chaminé inaugurada em 1931em São José dos Pinhais (PR).

Acervo: Museu de Energia, Copel.

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aproveitamento original. Com essas alterações a capacidade de geraçãoda UHE Chaminé atingiu 16.000 kW, em 1952. 52

As sucessivas ampliações da usina não impediram que a capitalsofresse racionamento de energia nos anos de 1950 e 1951. Paraminimizar o problema a concessionária instalou, emergencialmente,seis grupos geradores a diesel, com capacidade de 1.000 kW cada um53 .Em 1954 foram instalados mais três grupos geradores com a mesmapotência dos anteriores, que só vieram a ser desativados em 1971.

Após a iniciativa pioneira em Curitiba, até 1908, outras cidadesdo Estado – Rio Negro, Paranaguá, Ponta Grossa, Antonina, Araucária,União da Vitória e Foz do Iguaçu – implantaram sistemas de geraçãode energia, a maioria baseados em termelétricas. Já no final da segundadécada do século XX, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE), existia no Estado um potencial de geração de6.715 kW.

Em Ponta Grossa a primeira usina termelétrica da cidade,inaugurada em maio de 1905, foi construída pela Empresa Guimarães& Eriksen, vencedora da concorrência deflagrada pelo município paraa instalação do serviço de força e luz na cidade. No ano seguinte, e sobnova razão social (Goulin & Ericksen), foi instalada a hidrelétrica dorio Verde, com potência aproximada de 40 HP. Essa usina representa,segundo a bibliografia disponível, a primeira experiência de geraçãohidráulica do Estado54 .

No final da primeira década do século XX a precariedade nofornecimento e os altos custos da energia elétrica fornecida à cidademotivavam reclamações constantes. O descontentamento popular,amplamente registrado pela imprensa local, resultou na apreciação pelaCâmara Municipal, em março de 1909, de um documento com 83assinaturas solicitando a criação de uma comissão de peritos paraavaliação técnica e administrativa da concessionária.

No mesmo ano a Câmara Municipal decretou a encampação daempresa pela Prefeitura Municipal. Após a realização de concorrência,assumiu a concessão a empresa Martins & Carvalho, responsável pelaconstrução da hidrelétrica de Pitangui, considerada à época uma“grandiosa obra de engenharia”55.

A hidrelétrica foi construída na margem esquerda do rio Pitangui,no local denominado Cachoeira. O projeto previa a instalação de trêsunidades de geração, com um total de 450 kW. Em julho de 1911,

“Aos 7 dias do mês de maio de1905 (após a inauguração dailluminação electrica que tevelugar na usina) nesta cidade dePonta Grossa, em a sala desessões da Camara Municipal,presentes [...] e registrar nosannaes da Camara a data dainauguração da illuminaçãoelectrica d’esta cidade [...].

Sendo enthusiasticamenteapplaudido pelo auditório, comuma calorosa salva de palmas aosom do Hymno nacional, que foiouvido de pé, e ao astrugir denumerosos foguetes [...]brilhante peça oratória analogaa solemnidade conservou oauditório por longo temposuspenso num estado defelicidade [...] o representante doClub Literário, Gremio MusicalLyra dos Campos e CirculoSocialista Leão Tolstoi, queimprovisando belissimo discursocom referencia ao assumptomagno da sessão, disse que alémda luz electrica, a luz material,falta tratar-se ainda de uma luzmais poderosa e fecunda: a luzda instrucção... [...].” (Livro Atasdo ano de 1902/1907 da CâmaraMunicipal de Ponta Grossa).Apud LANGE, 1998, p. 201-202.

Usina Chaminé inaugurada em 1931em São José dos Pinhais (PR).

Acervo: Museu de Energia, Copel.

Page 70: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Iluminação na Praça Santos, defrontedo prédio da Universidade

do Paraná. Década de 1910.Acervo: DPHAC/FCC.

Bonde elétrico circulandona Av. João Gualberto, Curitiba.

Acervo: DPHAC/FCC.

Acima, canteiro de obrasda Usina Hidrelétrica Chaminé,

Rio São João, 1928.Acervo: Museu da Energia, Copel.

Escritório da empresa Martins& Carvalho, responsável pela

contratação da Usina Pitangui,Ponta Grossa (PR).

Foto de Frederico Lange.Acervo: DPHAC/FCC.

Page 71: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Iluminação na Praça Santos, defrontedo prédio da Universidade

do Paraná. Década de 1910.Acervo: DPHAC/FCC.

Bonde elétrico circulandona Av. João Gualberto, Curitiba.

Acervo: DPHAC/FCC.

Acima, canteiro de obrasda Usina Hidrelétrica Chaminé,

Rio São João, 1928.Acervo: Museu da Energia, Copel.

Escritório da empresa Martins& Carvalho, responsável pela

contratação da Usina Pitangui,Ponta Grossa (PR).

Foto de Frederico Lange.Acervo: DPHAC/FCC.

Page 72: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

6968

detinha a concessão para os serviços de energia elétrica de Paranaguá.A hidrelétrica do tipo fio d’água, instalada por técnicos ingleses, foilocalizada a 19 km da sede do município, utilizando as águas do rioMiranda, canal do Cachoeira e parte do arroio Santa Cruz. Quandoentrou em operação, dispunha de uma unidade geradora de 391 kW,composta de turbina de 693 HP e de gerador de 460 kVA58. Em 1950sua capacidade de geração foi ampliada com o acréscimo de umaunidade geradora de 119 kW e gerador de 285 kVA, que se manteveem funcionamento até 195959.

Inicialmente essa hidrelétrica foi administrada pelo Serviço de Forçae Luz de Paranaguá, órgão do governo estadual. Em seguida suaadministração foi transferida sucessivamente para a Companhia deMelhoramentos Urbanos de Paranaguá, a Companhia deMelhoramentos Paulistas e a Prefeitura de Paranaguá. Em 1959, atravésdo Decreto nº 46.497, o governo estadual, titular da concessão dosserviços de energia elétrica de Paranaguá, transferiu a concessão paraa Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), que desativou ahidrelétrica em 1970. Dois anos após, a usina Serra da Prata, queforneceu eletricidade a Paranaguá por 60 anos, foi vendida pela Copelpara a Indústria Curitibana de Auto-Peças Ltda (ICAP).

Em Guarapuava a primeira usina a fornecer energia elétrica à cidadefoi construída pela Empreza de Eletricidade de Guarapuava, depropriedade de Silvio Colle e Luigi Antônio Ciscato. A concessão foiadquirida de Gabriel L. Branco, vencedor da concorrência deflagradapela Câmara Municipal da cidade em 1909. A pequena usinatermelétrica foi instalada em 1910, em terreno cedido pela Prefeitura,e objetivava a iluminação pública e particular do centro da cidade,tendo inicialmente 80 lâmpadas de 20 velas e uma de arco voltaico60.

Até 1917 a capacidade de geração dessa termelétrica atendeu àdemanda existente. Por volta de 1920 a baixa qualidade dos serviçosprestados pela concessionária motivou a deflagração de campanha naimprensa para a encampação da empresa. Embora houvesse amparolegal para a ação proposta, a Prefeitura não dispunha de capitalfinanceiro para efetivá-la.

Nesse contexto, em abril de 1922 a empresa encaminhou à CâmaraMunicipal proposta de construção de uma hidrelétrica, com 90 kW depotência. Entre a aprovação da proposta, ocorrida no mesmo mês, e aassinatura do contrato, em 28 de novembro de 1922, a empresa foi

quando a obra foi inaugurada, somente a primeira unidade estava emfuncionamento, com potência de 150 kW. As duas outras previstasforam instaladas nos anos seguintes. A usina Pitangui, que continuaem operação, permitiu a desativação da termelétrica e da hidrelétricado Rio Verde, que até então forneciam energia elétrica à cidade.

Até o final da Primeira Guerra Mundial a capacidade de geraçãoda UHE Pitangui atendeu à demanda do município, viabilizandoinclusive a utilização de energia elétrica pelas indústrias locais. Deacordo com notícias da época a disponibilidade de energia aliada à sualocalização foram fatores determinantes do processo deindustrialização56.

Em junho de 1923 a concessão para a exploração do serviço de luze força de Ponta Grossa foi transferida à Companhia Prada deEletricidade S.A. (Prada). Apesar dos investimentos da empresa duranteos 50 anos de atuação no município, a escassez de energia foi a marcadominante. A superação da situação só ocorreu com a intervenção dogoverno estadual, através da implementação, pela Copel, do I ProgramaEstadual de Eletrificação, iniciado em 1961. Mais especificamente,apenas em 1963, com a conclusão do primeiro trecho do anel elétricoque hoje compõe o Sistema Interligado Estadual, ligando a termelétricade Figueira a Ponta Grossa. A usina de Pitangui, incorporada pela Copelem 1974, é a mais antiga unidade do parque gerador da empresa quecontinua em operação57.

Em 1910, no litoral do Estado, foi inaugurada a hidrelétrica Serrada Prata, construída por iniciativa do Governo Estadual, que à época

Da esquerda para a direita:

Casa de força e vista geral da HidrelétricaPitangui, inaugurada em 1911,

em Ponta Grossa (PR).Acervo: Museu da Energia, Copel.

Usina Serra da Prata, Paranaguá (PR),inaugurada em 1910.

Acervo: Museu da Energia, Copel.

Abaixo, serraria da Força e Luz Irati S.A.,1910, Irati (PR).

Acervo: Museu da Energia, Copel.

Page 73: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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detinha a concessão para os serviços de energia elétrica de Paranaguá.A hidrelétrica do tipo fio d’água, instalada por técnicos ingleses, foilocalizada a 19 km da sede do município, utilizando as águas do rioMiranda, canal do Cachoeira e parte do arroio Santa Cruz. Quandoentrou em operação, dispunha de uma unidade geradora de 391 kW,composta de turbina de 693 HP e de gerador de 460 kVA58. Em 1950sua capacidade de geração foi ampliada com o acréscimo de umaunidade geradora de 119 kW e gerador de 285 kVA, que se manteveem funcionamento até 195959.

Inicialmente essa hidrelétrica foi administrada pelo Serviço de Forçae Luz de Paranaguá, órgão do governo estadual. Em seguida suaadministração foi transferida sucessivamente para a Companhia deMelhoramentos Urbanos de Paranaguá, a Companhia deMelhoramentos Paulistas e a Prefeitura de Paranaguá. Em 1959, atravésdo Decreto nº 46.497, o governo estadual, titular da concessão dosserviços de energia elétrica de Paranaguá, transferiu a concessão paraa Companhia Paranaense de Energia Elétrica (Copel), que desativou ahidrelétrica em 1970. Dois anos após, a usina Serra da Prata, queforneceu eletricidade a Paranaguá por 60 anos, foi vendida pela Copelpara a Indústria Curitibana de Auto-Peças Ltda (ICAP).

Em Guarapuava a primeira usina a fornecer energia elétrica à cidadefoi construída pela Empreza de Eletricidade de Guarapuava, depropriedade de Silvio Colle e Luigi Antônio Ciscato. A concessão foiadquirida de Gabriel L. Branco, vencedor da concorrência deflagradapela Câmara Municipal da cidade em 1909. A pequena usinatermelétrica foi instalada em 1910, em terreno cedido pela Prefeitura,e objetivava a iluminação pública e particular do centro da cidade,tendo inicialmente 80 lâmpadas de 20 velas e uma de arco voltaico60.

Até 1917 a capacidade de geração dessa termelétrica atendeu àdemanda existente. Por volta de 1920 a baixa qualidade dos serviçosprestados pela concessionária motivou a deflagração de campanha naimprensa para a encampação da empresa. Embora houvesse amparolegal para a ação proposta, a Prefeitura não dispunha de capitalfinanceiro para efetivá-la.

Nesse contexto, em abril de 1922 a empresa encaminhou à CâmaraMunicipal proposta de construção de uma hidrelétrica, com 90 kW depotência. Entre a aprovação da proposta, ocorrida no mesmo mês, e aassinatura do contrato, em 28 de novembro de 1922, a empresa foi

quando a obra foi inaugurada, somente a primeira unidade estava emfuncionamento, com potência de 150 kW. As duas outras previstasforam instaladas nos anos seguintes. A usina Pitangui, que continuaem operação, permitiu a desativação da termelétrica e da hidrelétricado Rio Verde, que até então forneciam energia elétrica à cidade.

Até o final da Primeira Guerra Mundial a capacidade de geraçãoda UHE Pitangui atendeu à demanda do município, viabilizandoinclusive a utilização de energia elétrica pelas indústrias locais. Deacordo com notícias da época a disponibilidade de energia aliada à sualocalização foram fatores determinantes do processo deindustrialização56.

Em junho de 1923 a concessão para a exploração do serviço de luze força de Ponta Grossa foi transferida à Companhia Prada deEletricidade S.A. (Prada). Apesar dos investimentos da empresa duranteos 50 anos de atuação no município, a escassez de energia foi a marcadominante. A superação da situação só ocorreu com a intervenção dogoverno estadual, através da implementação, pela Copel, do I ProgramaEstadual de Eletrificação, iniciado em 1961. Mais especificamente,apenas em 1963, com a conclusão do primeiro trecho do anel elétricoque hoje compõe o Sistema Interligado Estadual, ligando a termelétricade Figueira a Ponta Grossa. A usina de Pitangui, incorporada pela Copelem 1974, é a mais antiga unidade do parque gerador da empresa quecontinua em operação57.

Em 1910, no litoral do Estado, foi inaugurada a hidrelétrica Serrada Prata, construída por iniciativa do Governo Estadual, que à época

Da esquerda para a direita:

Casa de força e vista geral da HidrelétricaPitangui, inaugurada em 1911,

em Ponta Grossa (PR).Acervo: Museu da Energia, Copel.

Usina Serra da Prata, Paranaguá (PR),inaugurada em 1910.

Acervo: Museu da Energia, Copel.

Abaixo, serraria da Força e Luz Irati S.A.,1910, Irati (PR).

Acervo: Museu da Energia, Copel.

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A usina hidrelétrica municipal de Rio Santana, localizada nomunicípio de Francisco Beltrão, região sudoeste do Paraná, teve suaconstrução iniciada em 1955 por decisão do poder público municipal.A ocupação intensiva da região em que se insere o município resultoude projeto de colonização dirigida, promovida pelo governo federal,através do programa “Marcha para o Oeste” implementado por GetúlioVargas, a partir de 1938. No caso do sudoeste do Paraná, o fato de aárea fazer fronteira com o Paraguai e a Argentina motivou a ação estatal,

dissolvida, assumindo a responsabilidade pela construção Luigi AntonioCiscato, sócio da empresa anterior.

A Usina Hidrelétrica do Jordão, como ficou conhecida, instaladano rio de mesmo nome, foi inaugurada em fevereiro de 1924. Parte domaquinário da usina (um gerador de 100 kVA, sistema trifásico, 3.500volts, 50 ciclos; aparelho para medição, excitador e protetores contradescargas atmosféricas da marca Siemens Schuckert) foi importada daAlemanha, enquanto a turbina – Sistema Francis – e seu regulador, defabricação nacional, foram adquiridos no Rio de Janeiro.

Após a organização de uma nova empresa, denominada Ciscato,Lisbôa e Cia., em 1928, e a assinatura de novo contrato que garantia aexclusividade da exploração dos serviços de força e luz no municípiopor mais 40 anos, foi instalado um segundo grupo gerador com potênciade 200 kVA, que entrou em operação em 1932.

Em 1946 os bens e as instalações da empresa foram transferidos,através da Resolução nº 258/46, para Irmão Schlumberger & Cia. Ltda.Em 1958 esta empresa alterou sua razão social para Companhia Forçae Luz do Oeste (CFLO). Em 1955 a CFLO passou a integrar o GrupoRede – Empresas de Energia Elétrica, constituído por seteconcessionárias sob o controle da holding Denerge61.

Usina Hidrelétrica de Caratuva,Irati (PR), 1933.

Acervo: Museu da Energia, Copel.

Construção do canal da UsinaHidrelétrica Municipal de Rio Santana,

Francisco Beltrão (PR), 1955.Acervo: Família Nacke.

Page 75: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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A usina hidrelétrica municipal de Rio Santana, localizada nomunicípio de Francisco Beltrão, região sudoeste do Paraná, teve suaconstrução iniciada em 1955 por decisão do poder público municipal.A ocupação intensiva da região em que se insere o município resultoude projeto de colonização dirigida, promovida pelo governo federal,através do programa “Marcha para o Oeste” implementado por GetúlioVargas, a partir de 1938. No caso do sudoeste do Paraná, o fato de aárea fazer fronteira com o Paraguai e a Argentina motivou a ação estatal,

dissolvida, assumindo a responsabilidade pela construção Luigi AntonioCiscato, sócio da empresa anterior.

A Usina Hidrelétrica do Jordão, como ficou conhecida, instaladano rio de mesmo nome, foi inaugurada em fevereiro de 1924. Parte domaquinário da usina (um gerador de 100 kVA, sistema trifásico, 3.500volts, 50 ciclos; aparelho para medição, excitador e protetores contradescargas atmosféricas da marca Siemens Schuckert) foi importada daAlemanha, enquanto a turbina – Sistema Francis – e seu regulador, defabricação nacional, foram adquiridos no Rio de Janeiro.

Após a organização de uma nova empresa, denominada Ciscato,Lisbôa e Cia., em 1928, e a assinatura de novo contrato que garantia aexclusividade da exploração dos serviços de força e luz no municípiopor mais 40 anos, foi instalado um segundo grupo gerador com potênciade 200 kVA, que entrou em operação em 1932.

Em 1946 os bens e as instalações da empresa foram transferidos,através da Resolução nº 258/46, para Irmão Schlumberger & Cia. Ltda.Em 1958 esta empresa alterou sua razão social para Companhia Forçae Luz do Oeste (CFLO). Em 1955 a CFLO passou a integrar o GrupoRede – Empresas de Energia Elétrica, constituído por seteconcessionárias sob o controle da holding Denerge61.

Usina Hidrelétrica de Caratuva,Irati (PR), 1933.

Acervo: Museu da Energia, Copel.

Construção do canal da UsinaHidrelétrica Municipal de Rio Santana,

Francisco Beltrão (PR), 1955.Acervo: Família Nacke.

Page 76: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

grandes distâncias entre os mesmos [...]”. Para o recém-criado municípioa oferta de energia elétrica se constituía em condição essencial para apromoção do seu crescimento. Este fato foi determinante para a decisãode construção da hidrelétrica pelo município64.

O investimento que a construção da hidrelétrica exigia,entretanto, ultrapassava a capacidade financeira do município. Asiniciativas encaminhadas pelo executivo local para obter os recursosnecessários, tais como empréstimos junto à Caixa Econômica Estadualou concessão de verba pelo Estado, não se concretizaram. Nesse quadroa decisão foi pela compra dos equipamentos de uma usina que seriadesativada na cidade de Casca (RS). O contrato de compra e venda,assinado em junho de 1955, discriminava, entre outros equipamentos,uma turbina Francis, marca G. Luther A. B. Braunscheweig, e umgerador trifásico de 128 kVA65.

através da criação da Colônia Agrícola Nacional General Osório(Cango), conforme o Decreto nº 12.417, de 12 de maio de 194362 .

A Cango, instalada na atual sede do município em 1948, foiresponsável direta pelo incremento do fluxo migratório de gaúchos ecatarinenses para a região, a partir de 1950. A sede da Companhia,bem como alguns estabelecimentos da cidade, dispunham de energiaelétrica fornecida por motores a diesel e a gasolina, desde a implantaçãoda Cango. Somente em 1952, ano da instalação do município, umprecário sistema de eletrificação urbana foi implantado na cidade63 .

De outro lado, o Plano Hidro-Elétrico Paranaense, proposto em1948, no primeiro governo Moysés Lupion (1947-1950), nãocontemplava a região oeste do Estado, sob a justificativa de que esta“[...] compreende apenas centros isolados [...]”, apresentando “[...]

Construção da Usina HidrelétricaMunicipal de Rio Santana,

Francisco Beltrão (PR), 1955.Acervo: Família Nacke.

Construção da casa de forçae comportas da barragem da Usina

Hidrelétrica Municipal de Rio Santana,Francisco Beltrão (PR).Acervo: Família Nacke.

Foto

: Sôn

ia M

. Nac

ke

Page 77: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

grandes distâncias entre os mesmos [...]”. Para o recém-criado municípioa oferta de energia elétrica se constituía em condição essencial para apromoção do seu crescimento. Este fato foi determinante para a decisãode construção da hidrelétrica pelo município64.

O investimento que a construção da hidrelétrica exigia,entretanto, ultrapassava a capacidade financeira do município. Asiniciativas encaminhadas pelo executivo local para obter os recursosnecessários, tais como empréstimos junto à Caixa Econômica Estadualou concessão de verba pelo Estado, não se concretizaram. Nesse quadroa decisão foi pela compra dos equipamentos de uma usina que seriadesativada na cidade de Casca (RS). O contrato de compra e venda,assinado em junho de 1955, discriminava, entre outros equipamentos,uma turbina Francis, marca G. Luther A. B. Braunscheweig, e umgerador trifásico de 128 kVA65.

através da criação da Colônia Agrícola Nacional General Osório(Cango), conforme o Decreto nº 12.417, de 12 de maio de 194362 .

A Cango, instalada na atual sede do município em 1948, foiresponsável direta pelo incremento do fluxo migratório de gaúchos ecatarinenses para a região, a partir de 1950. A sede da Companhia,bem como alguns estabelecimentos da cidade, dispunham de energiaelétrica fornecida por motores a diesel e a gasolina, desde a implantaçãoda Cango. Somente em 1952, ano da instalação do município, umprecário sistema de eletrificação urbana foi implantado na cidade63 .

De outro lado, o Plano Hidro-Elétrico Paranaense, proposto em1948, no primeiro governo Moysés Lupion (1947-1950), nãocontemplava a região oeste do Estado, sob a justificativa de que esta“[...] compreende apenas centros isolados [...]”, apresentando “[...]

Construção da Usina HidrelétricaMunicipal de Rio Santana,

Francisco Beltrão (PR), 1955.Acervo: Família Nacke.

Construção da casa de forçae comportas da barragem da Usina

Hidrelétrica Municipal de Rio Santana,Francisco Beltrão (PR).Acervo: Família Nacke.

Foto

: Sôn

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35 Entrevista realizada com a sra. Maria Ligia da Costa Valente Canali em 23 de janeiro de 2002.

36 SCHMITZ, op. cit., p. 187.

37 Correio Lageano, 1999, p. 2

38 Panorama da nossa gente, 1999, p. 35.

39 www.eflul.br.

40 MAMIGONIAN, 1972.

41 CORIOLETTI & MACHADO, 1996, p. 8.

42 Jornal A voz de Chapecó, 1949.

43 CORIOLETTI, op cit. p. 14.

44 Entrevista realizada com a sra. Anna Lindner von Pichler em 22 de outubro de 2001.

45 DIAS, 1988, p. 36.

46 Jornal Indústria & Comércio, 1994, p. 3.

47 Ibidem.

48 Ibidem, p. 2.

49Companhia Paranaense de Energia Elétrica, 1990, p. 2.

50 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE.

51 Ibidem.

52 Memória da Eletricidade, p. 117.

53 Gazeta do Povo, 1953, p. 11.

54 LANGE, 1998, p. 204.

55 Jornal O Progresso, 1911.

56 Jornal O Progresso, 1912.

57 SILVA, 1991, p. 303.

58 Jornal Indústria & Comércio, 1994, p. 3.

59 CENTRO DA MÉMÓRIA DA ELETRICIDADE, op. cit.

60 POPLADE & POPLADE, 1998, p. 146.

61 Companhia Força e Luz do Oeste, 1997.

62 GOMES, 1986, p. 16.

63 NACKE, 1998, p. 23.

64 SIQUEIRA, 1994, p. 98.

65 MARTINS, 1986.

R E F E R Ê N C I A S

Em agosto de 1956 o município vendeu a usina que estava emconstrução, no rio Santana, ao governo do Estado do Paraná. A partirdaí o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) assumiu oscustos financeiros e a supervisão da construção da hidrelétrica. Omaquinário da usina de Casca (RS), adquirido pela prefeitura domunicípio, foi instalado provisoriamente, garantindo o fornecimentode energia elétrica à cidade, até 1962. No mesmo local, aproveitandoas obras já realizadas, o DAEE instalou uma unidade geradora de 480kW, constituída de turbina Mescli de 720 HP, acoplada a um geradorStoltz, de 600 kW. Em agosto de 1962, ano em que a usina foiinaugurada, o DAEE se tornou concessionário do aproveitamento.

Em fevereiro de 1971 a UHE Santana foi incorporada pela Copel,que a desativou no mesmo ano em decorrência da entrada emfuncionamento da UHE Chopim. Em 1982 foi vendida pela Copel àINCOPAST – Indústria, Comércio Pasta Mecânica Ltda. Atualmenteessa pequena e histórica hidrelétrica é propriedade da empresa ALCASTdo Brasil Ltda., apresentando uma potência de 600 kW.

1 AXT, l995, p. 34.

2 FRANCO, 1998, p. 148.

3 FRANCO, op. cit., p. 148.

4 AXT, op. cit., p. 41.

5 FRANCO, op. cit., p. 149.

6 MEIRA, 2001, p. 19.

7 AXT, op. cit. p. 84.

8 MEIRA, op. cit. p. 19.

9 AXT, op. cit. p. 36.

10 AGUILAR, l974, p. 3.

11 AXT, op. cit. p. 37.

12 AGUILAR, op. cit., p. 6.

13 ALBUM DE PELOTAS, l922, p. 2.

14 ALMANACH DE PELOTAS, 1916.

15 AXT, op. cit. p. 64.

16 FRANÇA, l973, p. 2.

17 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000, p. 19.

18 BARCELOS, l987, p. 287.

19 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE, ibidem.

20 AXT, op. cit., p. 78.

21 Termo lavrado às folhas 20-22 do livro de Contratos da Superintendência em 26/9/1908.

22 FICKER, 1965, p. 418.

23 FICKER, op. cit., p. 425.

24 SCHMITZ, 1996, p.162.

25 CELESC – Entrevista gravada e transcrita com a senhora Madalena Pinheiro em 1988.

26 Revista Vida, março, nº28/30, p. 94, 1951.

27 KILIAN, 1979, p. 66-67.

28 ENTRES, 1929.

29 Os contratos com a Superintendência de Blumenau e Frederico Guilherme Busch encontram-se no

Arquivo Público José Ferreira da Silva, Blumenau.30

ADUCCI, 1938.31

Relatório apresentado por Dr. Honório Hermetto Carneiro da Cunha ao Sr. Governador do Estado Cel.Gustavo Richard em 1910. Biblioteca Pública do Estado de SC, Florianópolis.

32 Jornal O Dia de 23 de agosto de 1910 na coluna intitulada “O Arrendamento”.

33 AMARAL, 1986, p. 45-46.

34 Contrato celebrado em 11 de outubro de 1916 entre a Superintendência Municipal de Lages e o Sr.

Frederico Guilherme Busch.

N O T A S

Serraria movida a locomóvel pertencenteà Força e Luz Irati, Irati (PR), 1910.Acervo: Museu de Energia, Copel.

Page 79: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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35 Entrevista realizada com a sra. Maria Ligia da Costa Valente Canali em 23 de janeiro de 2002.

36 SCHMITZ, op. cit., p. 187.

37 Correio Lageano, 1999, p. 2

38 Panorama da nossa gente, 1999, p. 35.

39 www.eflul.br.

40 MAMIGONIAN, 1972.

41 CORIOLETTI & MACHADO, 1996, p. 8.

42 Jornal A voz de Chapecó, 1949.

43 CORIOLETTI, op cit. p. 14.

44 Entrevista realizada com a sra. Anna Lindner von Pichler em 22 de outubro de 2001.

45 DIAS, 1988, p. 36.

46 Jornal Indústria & Comércio, 1994, p. 3.

47 Ibidem.

48 Ibidem, p. 2.

49Companhia Paranaense de Energia Elétrica, 1990, p. 2.

50 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE.

51 Ibidem.

52 Memória da Eletricidade, p. 117.

53 Gazeta do Povo, 1953, p. 11.

54 LANGE, 1998, p. 204.

55 Jornal O Progresso, 1911.

56 Jornal O Progresso, 1912.

57 SILVA, 1991, p. 303.

58 Jornal Indústria & Comércio, 1994, p. 3.

59 CENTRO DA MÉMÓRIA DA ELETRICIDADE, op. cit.

60 POPLADE & POPLADE, 1998, p. 146.

61 Companhia Força e Luz do Oeste, 1997.

62 GOMES, 1986, p. 16.

63 NACKE, 1998, p. 23.

64 SIQUEIRA, 1994, p. 98.

65 MARTINS, 1986.

R E F E R Ê N C I A S

Em agosto de 1956 o município vendeu a usina que estava emconstrução, no rio Santana, ao governo do Estado do Paraná. A partirdaí o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) assumiu oscustos financeiros e a supervisão da construção da hidrelétrica. Omaquinário da usina de Casca (RS), adquirido pela prefeitura domunicípio, foi instalado provisoriamente, garantindo o fornecimentode energia elétrica à cidade, até 1962. No mesmo local, aproveitandoas obras já realizadas, o DAEE instalou uma unidade geradora de 480kW, constituída de turbina Mescli de 720 HP, acoplada a um geradorStoltz, de 600 kW. Em agosto de 1962, ano em que a usina foiinaugurada, o DAEE se tornou concessionário do aproveitamento.

Em fevereiro de 1971 a UHE Santana foi incorporada pela Copel,que a desativou no mesmo ano em decorrência da entrada emfuncionamento da UHE Chopim. Em 1982 foi vendida pela Copel àINCOPAST – Indústria, Comércio Pasta Mecânica Ltda. Atualmenteessa pequena e histórica hidrelétrica é propriedade da empresa ALCASTdo Brasil Ltda., apresentando uma potência de 600 kW.

1 AXT, l995, p. 34.

2 FRANCO, 1998, p. 148.

3 FRANCO, op. cit., p. 148.

4 AXT, op. cit., p. 41.

5 FRANCO, op. cit., p. 149.

6 MEIRA, 2001, p. 19.

7 AXT, op. cit. p. 84.

8 MEIRA, op. cit. p. 19.

9 AXT, op. cit. p. 36.

10 AGUILAR, l974, p. 3.

11 AXT, op. cit. p. 37.

12 AGUILAR, op. cit., p. 6.

13 ALBUM DE PELOTAS, l922, p. 2.

14 ALMANACH DE PELOTAS, 1916.

15 AXT, op. cit. p. 64.

16 FRANÇA, l973, p. 2.

17 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL, 2000, p. 19.

18 BARCELOS, l987, p. 287.

19 CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE, ibidem.

20 AXT, op. cit., p. 78.

21 Termo lavrado às folhas 20-22 do livro de Contratos da Superintendência em 26/9/1908.

22 FICKER, 1965, p. 418.

23 FICKER, op. cit., p. 425.

24 SCHMITZ, 1996, p.162.

25 CELESC – Entrevista gravada e transcrita com a senhora Madalena Pinheiro em 1988.

26 Revista Vida, março, nº28/30, p. 94, 1951.

27 KILIAN, 1979, p. 66-67.

28 ENTRES, 1929.

29 Os contratos com a Superintendência de Blumenau e Frederico Guilherme Busch encontram-se no

Arquivo Público José Ferreira da Silva, Blumenau.30

ADUCCI, 1938.31

Relatório apresentado por Dr. Honório Hermetto Carneiro da Cunha ao Sr. Governador do Estado Cel.Gustavo Richard em 1910. Biblioteca Pública do Estado de SC, Florianópolis.

32 Jornal O Dia de 23 de agosto de 1910 na coluna intitulada “O Arrendamento”.

33 AMARAL, 1986, p. 45-46.

34 Contrato celebrado em 11 de outubro de 1916 entre a Superintendência Municipal de Lages e o Sr.

Frederico Guilherme Busch.

N O T A S

Serraria movida a locomóvel pertencenteà Força e Luz Irati, Irati (PR), 1910.Acervo: Museu de Energia, Copel.

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A eletricidade como suporte damodernidade no cotidiano

MA R I A JO S É RE I S

N E U S A MA R I A SE N S B L O E M E R

No Sul do Brasil, desde as últimas décadas do século XIX, as noçõesde progresso e urbanidade se confundem e se aproximam, marcadaspor diferentes inovações tecnológicas, tanto na mecanização daprodução, quanto na dos transportes, das comunicações e do lazer,espelhando a tardia chegada da modernidade e da industrialização.

Neste contexto as inovações dependentes da energia elétricaocupam lugar especial. Como em outras partes do País, a eletricidadefoi utilizada para além da iluminação particular e pública. Uma crescenteinvasão de novidades tecnológicas foi tomando conta dos mercados deconsumo formados pelas massas urbanas, que foram surgindo e se

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por Ângelo Antônio Nichele e Antonio Ferraro ao Juiz de Direito da Comarca de Urussanga.PANORAMA DA NOSSA GENTE. Urussanga: Costa Editorial e Gráfica, ano I, n. 1, 26 maio 1999. Edição

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A eletricidade como suporte damodernidade no cotidiano

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Inauguração da Usina de Maroim,São José (SC), em 1910.

Acervo: Celesc.

Page 82: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Inauguração da Usina do Passode Ajuricaba, em Ijuí, 1959.

Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Inauguração da Usina do Passode Ajuricaba, em Ijuí, 1959.

Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Page 83: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Inauguração da Usina do Passode Ajuricaba, em Ijuí, 1959.

Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Inauguração da Usina do Passode Ajuricaba, em Ijuí, 1959.

Acervo: DEMEI, Ijuí (RS).

Page 84: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

80

expandindo ao longo do século XX. Em um ritmo inicialmente lento, aadesão às novas tecnologias acabou por tornar-se vertiginosa ao findaro século.

A associação entre a eletricidade, o progresso e a urbanidade, nosmoldes dos grandes centros urbanos do início do século passado, ficaevidenciada tanto nos apelos para que fosse garantido acesso a essasinovações, quanto no entusiasmo com que foram recebidas emdiferentes cidades da Região Sul.

Essa associação é retratada na imprensa local, como é o caso daGazeta de Joinville de 13 de fevereiro de 1909: “O dia de amanhã estámarcado para a inauguração oficial da iluminação elétrica desta cidade.Mais uma era grandiosa de progresso marca Joinville [...], que vemprovar que os filhos desta terra, e os que conosco vêm labutar, não sedescuram do nosso engrandecimento, colocando-nos cada vez maisem destaque no avanço progressista do nosso Estado.”

O Diário da Tarde, de Curitiba, do mesmo modo, em 6 de janeirode 1912, afirma:

“Quem viu Curitiba há cinco anos atrás, com a sua pacatez decidade roceira, cujo movimento terminava às oito ou nove horas danoite e hoje a vê com suas casas de diversão regorgitantes até as onzeou doze horas da noite, diariamente, as suas ruas movimentadas e oaumento extraordinário das suas construções repetirá, com certeza, afrase que epigrafa estas linhas: Curitiba progride.”

Em Porto Alegre, é o Correio do Povo que enfatiza a mesma relaçãoentre a disponibilidade de energia elétrica e o progresso, ao destacar,em 22 de novembro de 1931, que “Comparando-se a Porto Alegrehumilde dos bicos de querosene à Porto Alegre opulenta das lâmpadasde Edison é que se pode compreender, nitidamente, todo o surto deseu progresso”.

A euforia pela presença da eletricidade, com todos os significadosque carrega, pode ser medida pelas inúmeras recepções e festas comque é saudada quando da inauguração das primeiras usinas ou dailuminação pública, em diferentes cidades do Sul do País. Taisinaugurações assumem ares de festa e de espetáculo, para os quais acorrea população, sequiosa de participar de tão auspiciosos eventos. EmFlorianópolis o jornal O Dia, de 27 de setembro de 1910, relata que,na inauguração dos serviços de eletricidade, “[...] um fremito deentusiasmo percorreu o organismo de toda a população, apinhada na Iluminação pública na rua do Príncipe, Joinville (SC), l911.

Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Réplica de lampião a gás naCasa Romário Martins, Curitiba.

Foto: Sílvio Coelho dos Santos, 2001.

Luminária pública, antiga, Pelotas (RS).Foto: Luciano Bornholdt, 2001.

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80

expandindo ao longo do século XX. Em um ritmo inicialmente lento, aadesão às novas tecnologias acabou por tornar-se vertiginosa ao findaro século.

A associação entre a eletricidade, o progresso e a urbanidade, nosmoldes dos grandes centros urbanos do início do século passado, ficaevidenciada tanto nos apelos para que fosse garantido acesso a essasinovações, quanto no entusiasmo com que foram recebidas emdiferentes cidades da Região Sul.

Essa associação é retratada na imprensa local, como é o caso daGazeta de Joinville de 13 de fevereiro de 1909: “O dia de amanhã estámarcado para a inauguração oficial da iluminação elétrica desta cidade.Mais uma era grandiosa de progresso marca Joinville [...], que vemprovar que os filhos desta terra, e os que conosco vêm labutar, não sedescuram do nosso engrandecimento, colocando-nos cada vez maisem destaque no avanço progressista do nosso Estado.”

O Diário da Tarde, de Curitiba, do mesmo modo, em 6 de janeirode 1912, afirma:

“Quem viu Curitiba há cinco anos atrás, com a sua pacatez decidade roceira, cujo movimento terminava às oito ou nove horas danoite e hoje a vê com suas casas de diversão regorgitantes até as onzeou doze horas da noite, diariamente, as suas ruas movimentadas e oaumento extraordinário das suas construções repetirá, com certeza, afrase que epigrafa estas linhas: Curitiba progride.”

Em Porto Alegre, é o Correio do Povo que enfatiza a mesma relaçãoentre a disponibilidade de energia elétrica e o progresso, ao destacar,em 22 de novembro de 1931, que “Comparando-se a Porto Alegrehumilde dos bicos de querosene à Porto Alegre opulenta das lâmpadasde Edison é que se pode compreender, nitidamente, todo o surto deseu progresso”.

A euforia pela presença da eletricidade, com todos os significadosque carrega, pode ser medida pelas inúmeras recepções e festas comque é saudada quando da inauguração das primeiras usinas ou dailuminação pública, em diferentes cidades do Sul do País. Taisinaugurações assumem ares de festa e de espetáculo, para os quais acorrea população, sequiosa de participar de tão auspiciosos eventos. EmFlorianópolis o jornal O Dia, de 27 de setembro de 1910, relata que,na inauguração dos serviços de eletricidade, “[...] um fremito deentusiasmo percorreu o organismo de toda a população, apinhada na Iluminação pública na rua do Príncipe, Joinville (SC), l911.

Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Réplica de lampião a gás naCasa Romário Martins, Curitiba.

Foto: Sílvio Coelho dos Santos, 2001.

Luminária pública, antiga, Pelotas (RS).Foto: Luciano Bornholdt, 2001.

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A associação da eletricidade com o progresso e a modernaurbanidade se repetem quando se trata da eletrificação do transporteurbano, através do estabelecimento de bondes elétricos. O mesmoDiário da Tarde, em janeiro de 1912, depois de afirmar que “[...] oprogresso estabeleceu a sua tenda na nossa formosa capital [...]”,acrescenta: “[...] ficaremos livres dos pobres muares que tristementeconduzem os nossos bonds, coitados! Aí vêm os elétricos [...] Entãoveremos a nossa bela capital imitar a linda Paulicéia e a mais lindaCapital da União, em sua atividade febril, que ora já se começa amanifestar.”

Também em Pelotas, no Rio Grande do Sul, acreditava-se que setinha entrado “[...] assombradamente no caminho do progresso [...]”,uma vez que a cidade se preparava, em 1913, “[...] para se transformarnuma cidade com todos os confortos da higiene e da civilização [...].”1

Não tardaria, assim, o acesso à “[...] luz e tração elétrica, que virão daràs nossas ruas um outro aspecto, mais movimentado e ruidoso, pondo-nos ao mesmo tempo em comunicação rápida e direta com os lindos epitorescos arrabaldes da cidade.”2

Vale ressaltar, contudo, que o entusiasmo com que foi acolhida achegada da eletricidade não se limitava, ao que tudo indica, àvalorização pura e simples dos significados apontados. Tinha a ver,também, com razões práticas decorrentes de seus diferentes usos, comoa melhoria nas condições de segurança pública, a maior eficácia nailuminação doméstica em relação às lamparinas e velas ou, ainda, maisconforto e rapidez nos transportes coletivos.

A ênfase na segurança através da iluminação é registrada em jornaislocais, como é o caso do A República, de Curitiba, que protestava, em18 de junho de 1896: “Pelo amor de Deus! Então aqueles postes sãopara inglês ver? Na rua do Serrito, entre as ruas da América e Lava-Pés, reina mais escuridão do que na alma de um assassino nato. E [...]por falar em assassino [...] a gente ao passar por ali nestas noites trágicase pavorosas sente uns diabos de arrepios que, certamente, não são osde um relativo bem estar [...].”

Os bondes elétricos, por sua vez, como aponta Axt3 referindo-se aseus usos em Porto Alegre, assumem particular expressão social comotransporte popular, preenchendo uma função visceral em seu cotidiano,expressão que se repetia em outras cidades sulistas que contavam comesses serviços.

Praça 15 de Novembro, quando duas grandes lâmpadas de arco voltaico,esparsas em torno do jardim, brilhou intensa a luz vivíssima produzidapela eletricidade [...] dando-se então por parte da multidão, umexpontâneo movimento de entusiasmo, que se exteriorizava em ruidososvivas ao sr. Cel. Richard.”

Em Curitiba, o Diário da Tarde de 5 de janeiro de 1910 noticiaque “Ao atravessarmos os umbrais do novo ano foi inaugurada, com apresença de mais de quinhentas pessoas, a iluminação dos focos centraisda Rua Quinze. Inúmeras gerândolas fenderam os ares. Era indescritívela alegria que transparecia em todos os semblantes”.

Iluminação pública naAvenida Mauro Ramos, Florianópolis,

década de cinqüenta.Acervo: Celesc.

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A associação da eletricidade com o progresso e a modernaurbanidade se repetem quando se trata da eletrificação do transporteurbano, através do estabelecimento de bondes elétricos. O mesmoDiário da Tarde, em janeiro de 1912, depois de afirmar que “[...] oprogresso estabeleceu a sua tenda na nossa formosa capital [...]”,acrescenta: “[...] ficaremos livres dos pobres muares que tristementeconduzem os nossos bonds, coitados! Aí vêm os elétricos [...] Entãoveremos a nossa bela capital imitar a linda Paulicéia e a mais lindaCapital da União, em sua atividade febril, que ora já se começa amanifestar.”

Também em Pelotas, no Rio Grande do Sul, acreditava-se que setinha entrado “[...] assombradamente no caminho do progresso [...]”,uma vez que a cidade se preparava, em 1913, “[...] para se transformarnuma cidade com todos os confortos da higiene e da civilização [...].”1

Não tardaria, assim, o acesso à “[...] luz e tração elétrica, que virão daràs nossas ruas um outro aspecto, mais movimentado e ruidoso, pondo-nos ao mesmo tempo em comunicação rápida e direta com os lindos epitorescos arrabaldes da cidade.”2

Vale ressaltar, contudo, que o entusiasmo com que foi acolhida achegada da eletricidade não se limitava, ao que tudo indica, àvalorização pura e simples dos significados apontados. Tinha a ver,também, com razões práticas decorrentes de seus diferentes usos, comoa melhoria nas condições de segurança pública, a maior eficácia nailuminação doméstica em relação às lamparinas e velas ou, ainda, maisconforto e rapidez nos transportes coletivos.

A ênfase na segurança através da iluminação é registrada em jornaislocais, como é o caso do A República, de Curitiba, que protestava, em18 de junho de 1896: “Pelo amor de Deus! Então aqueles postes sãopara inglês ver? Na rua do Serrito, entre as ruas da América e Lava-Pés, reina mais escuridão do que na alma de um assassino nato. E [...]por falar em assassino [...] a gente ao passar por ali nestas noites trágicase pavorosas sente uns diabos de arrepios que, certamente, não são osde um relativo bem estar [...].”

Os bondes elétricos, por sua vez, como aponta Axt3 referindo-se aseus usos em Porto Alegre, assumem particular expressão social comotransporte popular, preenchendo uma função visceral em seu cotidiano,expressão que se repetia em outras cidades sulistas que contavam comesses serviços.

Praça 15 de Novembro, quando duas grandes lâmpadas de arco voltaico,esparsas em torno do jardim, brilhou intensa a luz vivíssima produzidapela eletricidade [...] dando-se então por parte da multidão, umexpontâneo movimento de entusiasmo, que se exteriorizava em ruidososvivas ao sr. Cel. Richard.”

Em Curitiba, o Diário da Tarde de 5 de janeiro de 1910 noticiaque “Ao atravessarmos os umbrais do novo ano foi inaugurada, com apresença de mais de quinhentas pessoas, a iluminação dos focos centraisda Rua Quinze. Inúmeras gerândolas fenderam os ares. Era indescritívela alegria que transparecia em todos os semblantes”.

Iluminação pública naAvenida Mauro Ramos, Florianópolis,

década de cinqüenta.Acervo: Celesc.

Page 88: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Não tardaria, entretanto, que o cinematógrafo ganhasse casaprópria, ao serem instaladas “salas de cinema” ou “salas de projeção”,que se constituíram nos primeiros cinemas propriamente ditos, como oSalão Holetz, depois Cine Bush, em Blumenau (SC), que em março de1906 já contava com luz elétrica no local, fornecida por um geradorpróprio; o Cine Recreio (1906) e o Cine Teatro Renascença (1911),ambos em Ponta Grossa (PR); o Cine Variedades, o Smart Salão, oRecreio Ideal, o Coliseu e o Apollo, instalados em Porto Alegre entre1909 e 1915, bem como o Cine Smart, o Central e o Morgenau,inaugurados em Curitiba no mesmo período.

Nos idos de 1920 foi a vez do rádio. A rigor, como atestam diferentesautores5, o rádio foi, de início, uma aventura de alguns pioneirosvisionários, servindo sobretudo para transmissões musicais, anúncioscomerciais e, mais raramente, para noticiários e comunicados.

A radiodifusão aumentou de importância à medida que diversificousuas programações e que se ampliava o acesso à energia elétrica, o queviria a ocorrer com maior intensidade após a Segunda Guerra Mundial.Sua expansão nos Estados do Sul, como de resto em outras regiões doPaís, só se tornou possível graças à importação de transmissores ereceptores. As primeiras estações de rádio paranaenses, ambas instaladasem Curitiba, foram a Rádio Clube Paranaense (1924) e a RádioMarumby (1946). Também em 1924 foi ao ar a primeira emissora

“Cinema Variedade noTheatro Álvaro de Carvalho

Foi exibida ontem a noite, natela cinematográphica doelegante e confortável ‘CinemaVariedades’ o sensacional FilmR e d e n p ç ã o d e N a n á . Aexplendida orchestra, comosempre, executou magistral-mente sob a batuta do mestreAlvaro Ramos, lindo e escolhidorepertório recebendo calorososaplausos da grande assistência.

Redenção de Naná é um filmque deve ser repetido tal o seuenredo e valor artístico.” (JornalO Estado, 13 de maio de 1915).

Ao entusiasmo pela iluminação pública e pela melhoriados transportes urbanos vem se juntar o fascínio por novasformas de entretenimento e meios de comunicação,representados pelas projeções cinematográficas e peloadvento do rádio.

Periódicos de diferentes cidades do Sul dão conta daocorrência dessas projeções, de início realizadas porexibidores ambulantes, que se apresentavam nas capitais eem cidades interioranas. Posteriormente, apresentadoresinstalavam seus aparelhos de projeção e montavam seus espetáculosem espaços como grandes parques ou teatros. No primeiro caso, umbom exemplo é o Colyseu Curitybano, que abrigava projeçõescinematográficas, outros aparelhos elétricos e engrenagens tais como okalloscopo, destinado a projetar películas fotográficas, de modo similarao cinematógrafo, e o polyphone, precursor do gramofone, “além de serprofusamente iluminado à luz elétrica”4 . Teatros, por seu turno, comoo Hauer (1897) em Curitiba; o Frohsinn, em Blumenau (1900); o teatroSão Pedro, em Porto Alegre (1907); o Renascença em Ponta Grossa(1911); e o Álvaro de Carvalho, em Florianópolis (1915) abriram, assim,suas portas para apresentações de filmes, através do uso decinematógrafos.

Platéia no Cine Mignon,Curitiba, 1916.

Acervo: DPHAC/FCC.

Cine Teatro Coliseu. Rua Voluntáriosda Pátria, 1910, e Cine Teatro Apollo,

Av. Independência, Porto Alegre.Década de vinte.

Acervo: Museu José Joaquim Felizardo.

Foto

: Vir

gílio

Cal

egar

i

Page 89: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Não tardaria, entretanto, que o cinematógrafo ganhasse casaprópria, ao serem instaladas “salas de cinema” ou “salas de projeção”,que se constituíram nos primeiros cinemas propriamente ditos, como oSalão Holetz, depois Cine Bush, em Blumenau (SC), que em março de1906 já contava com luz elétrica no local, fornecida por um geradorpróprio; o Cine Recreio (1906) e o Cine Teatro Renascença (1911),ambos em Ponta Grossa (PR); o Cine Variedades, o Smart Salão, oRecreio Ideal, o Coliseu e o Apollo, instalados em Porto Alegre entre1909 e 1915, bem como o Cine Smart, o Central e o Morgenau,inaugurados em Curitiba no mesmo período.

Nos idos de 1920 foi a vez do rádio. A rigor, como atestam diferentesautores5, o rádio foi, de início, uma aventura de alguns pioneirosvisionários, servindo sobretudo para transmissões musicais, anúncioscomerciais e, mais raramente, para noticiários e comunicados.

A radiodifusão aumentou de importância à medida que diversificousuas programações e que se ampliava o acesso à energia elétrica, o queviria a ocorrer com maior intensidade após a Segunda Guerra Mundial.Sua expansão nos Estados do Sul, como de resto em outras regiões doPaís, só se tornou possível graças à importação de transmissores ereceptores. As primeiras estações de rádio paranaenses, ambas instaladasem Curitiba, foram a Rádio Clube Paranaense (1924) e a RádioMarumby (1946). Também em 1924 foi ao ar a primeira emissora

“Cinema Variedade noTheatro Álvaro de Carvalho

Foi exibida ontem a noite, natela cinematográphica doelegante e confortável ‘CinemaVariedades’ o sensacional FilmR e d e n p ç ã o d e N a n á . Aexplendida orchestra, comosempre, executou magistral-mente sob a batuta do mestreAlvaro Ramos, lindo e escolhidorepertório recebendo calorososaplausos da grande assistência.

Redenção de Naná é um filmque deve ser repetido tal o seuenredo e valor artístico.” (JornalO Estado, 13 de maio de 1915).

Ao entusiasmo pela iluminação pública e pela melhoriados transportes urbanos vem se juntar o fascínio por novasformas de entretenimento e meios de comunicação,representados pelas projeções cinematográficas e peloadvento do rádio.

Periódicos de diferentes cidades do Sul dão conta daocorrência dessas projeções, de início realizadas porexibidores ambulantes, que se apresentavam nas capitais eem cidades interioranas. Posteriormente, apresentadoresinstalavam seus aparelhos de projeção e montavam seus espetáculosem espaços como grandes parques ou teatros. No primeiro caso, umbom exemplo é o Colyseu Curitybano, que abrigava projeçõescinematográficas, outros aparelhos elétricos e engrenagens tais como okalloscopo, destinado a projetar películas fotográficas, de modo similarao cinematógrafo, e o polyphone, precursor do gramofone, “além de serprofusamente iluminado à luz elétrica”4 . Teatros, por seu turno, comoo Hauer (1897) em Curitiba; o Frohsinn, em Blumenau (1900); o teatroSão Pedro, em Porto Alegre (1907); o Renascença em Ponta Grossa(1911); e o Álvaro de Carvalho, em Florianópolis (1915) abriram, assim,suas portas para apresentações de filmes, através do uso decinematógrafos.

Platéia no Cine Mignon,Curitiba, 1916.

Acervo: DPHAC/FCC.

Cine Teatro Coliseu. Rua Voluntáriosda Pátria, 1910, e Cine Teatro Apollo,

Av. Independência, Porto Alegre.Década de vinte.

Acervo: Museu José Joaquim Felizardo.

Foto

: Vir

gílio

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gaúcha, a Rádio Rio Grandense, instalada na cidade de Rio Grande,seguida da Rádio Pelotense, em 1925, e a primeira emissora de PortoAlegre, a Rádio Gaúcha, em 1927. Em Santa Catarina as precursorasforam a Rádio Clube, em Blumenau, instalada em 1931; a Difusora deJoinville, em 1941; a Difusora de Itajaí, em 1942, e a Rádio Guarujá,em Florianópolis, em 1943.

Além dos aparelhos de rádio, no início da década de trinta doséculo XX, começaram a ser oferecidos aparelhos elétricos para usodoméstico, destinados a variados usos, responsáveis por alterações nos

hábitos cotidianos. Aparelhos como ferros de passar roupa, ventiladores,geladeiras, fogões elétricos, aspiradores de pó e máquinas de lavar roupa,de procedência estrangeira, foram postos à venda, comercializados, deinício, pelas próprias empresas que exploravam os sistemas deeletricidade.

Em Curitiba durante toda a década de trinta a Companhia Força eLuz do Paraná fazia propaganda desses produtos6. O mesmo ocorria noRio Grande do Sul e em Santa Catarina, conforme é possível constatarem anúncios publicitários, como na reportagem apresentada pelaRevista do Globo, em 30 de abril de 1929. Noticiando a inauguraçãode uma loja de eletrodomésticos, instalada pela Companhia Brasileirade Força Elétrica, braço da Amforp em Porto Alegre, a reportagemafirmava: “A CBFE, concessionária dos serviços de luz e força nestacapital, inaugurou, em sua sede, à rua dos Andrades, um departamentocomercial para a venda de materiais elétricos”. No discurso deinauguração, proferido pelo porta-voz da empresa, fazia-se alusão ao

Ao lado, improvisando ligação elétricapara transmissão de jogo de futebol,

em Curitiba, 1948.Acervo: DPHAC/FCC.

Detalhes, acervo: Museu de ComunicaçãoSocial Hipólito José da Costa.

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gaúcha, a Rádio Rio Grandense, instalada na cidade de Rio Grande,seguida da Rádio Pelotense, em 1925, e a primeira emissora de PortoAlegre, a Rádio Gaúcha, em 1927. Em Santa Catarina as precursorasforam a Rádio Clube, em Blumenau, instalada em 1931; a Difusora deJoinville, em 1941; a Difusora de Itajaí, em 1942, e a Rádio Guarujá,em Florianópolis, em 1943.

Além dos aparelhos de rádio, no início da década de trinta doséculo XX, começaram a ser oferecidos aparelhos elétricos para usodoméstico, destinados a variados usos, responsáveis por alterações nos

hábitos cotidianos. Aparelhos como ferros de passar roupa, ventiladores,geladeiras, fogões elétricos, aspiradores de pó e máquinas de lavar roupa,de procedência estrangeira, foram postos à venda, comercializados, deinício, pelas próprias empresas que exploravam os sistemas deeletricidade.

Em Curitiba durante toda a década de trinta a Companhia Força eLuz do Paraná fazia propaganda desses produtos6. O mesmo ocorria noRio Grande do Sul e em Santa Catarina, conforme é possível constatarem anúncios publicitários, como na reportagem apresentada pelaRevista do Globo, em 30 de abril de 1929. Noticiando a inauguraçãode uma loja de eletrodomésticos, instalada pela Companhia Brasileirade Força Elétrica, braço da Amforp em Porto Alegre, a reportagemafirmava: “A CBFE, concessionária dos serviços de luz e força nestacapital, inaugurou, em sua sede, à rua dos Andrades, um departamentocomercial para a venda de materiais elétricos”. No discurso deinauguração, proferido pelo porta-voz da empresa, fazia-se alusão ao

Ao lado, improvisando ligação elétricapara transmissão de jogo de futebol,

em Curitiba, 1948.Acervo: DPHAC/FCC.

Detalhes, acervo: Museu de ComunicaçãoSocial Hipólito José da Costa.

Page 92: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Equipamentos elétricos na sala de cirurgia do Hospital da Brigada Militar, Porto Alegre, 1922.Acervo: Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul.

Tombamento de bonde elétrico em protesto popular contra a Companhia Força e Luz, Curitiba, 1931.Acervo: DPHC/FCC.

Page 93: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Equipamentos elétricos na sala de cirurgia do Hospital da Brigada Militar, Porto Alegre, 1922.Acervo: Arquivo Histórico do Estado do Rio Grande do Sul.

Tombamento de bonde elétrico em protesto popular contra a Companhia Força e Luz, Curitiba, 1931.Acervo: DPHC/FCC.

Page 94: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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O Correio do Povo, de 24 de março de 1931, por sua vez, reafirmaa freqüência dos desastres com os bondes elétricos: “[...] raro é o dia emque os carros da poderosa empresa não mandam algum habitante destaterra para o outro mundo, ou, então, para um leito da Santa Casa”.

Por outro lado, inúmeros acidentes com operadores do sistemaelétrico estiveram em destaque, como informa Axt9, na imprensa dacapital gaúcha, especialmente a partir do início da década de 1930.No Correio do Povo de 12 de janeiro de 1930 registra-se que “Têmse repetido ultimamente os acidentes entre trabalhadores da CEERG[...]; não se compreende que empresas cujos serviços exigem pessoalhábil [...] atirem [...] aos azares de um trabalho insidioso pobreshomens ignorantes, sem lhesdar a proteção de capatazescompetentes que os instruam.”

Essas constatações ecríticas tocam em uma questãoessencial, sobretudo nas fasesiniciais da implantação dossistemas elétricos, qual seja, af o r m a ç ã o d e p e s s o a ldevidamente treinado para asdiferentes habilidades e funçõesdemandadas por esses sistemas.Assim é que o jornal ARepública, de Curitiba, em 4de julho de 1912, anuncia a abertura de matrículas para a Escola Práticade Mecânica e Eletricidade, destinada a formar operários eletricistas10.O mesmo ocorre em Porto Alegre, que inicia no Centro TecnológicoParobé um curso sobre eletricidade. Essas iniciativas traduzem não só aproliferação dos usos da energia elétrica, como a afirmação de umanova categoria profissional no mercado de trabalho – a do eletricista.

Outros aspectos, contudo, provocaram manifestações dedescontentamento popular em relação aos serviços de energia elétricadisponíveis nos três Estados do Sul. Entre eles destaca-se ainconformidade com as tarifas praticadas pelas empresas responsáveispor esses serviços. Como o consumo de bens dependentes de energiaelétrica não era para todos, essas tarifas contribuíram para limitar ouimpedir o seu uso por parte da população de baixa renda. Em Porto

uso restrito da eletricidade nas residências, para fins de iluminação,conclamando que “[...] é preciso que este estabelecimento se abra àfreqüência pública, obedecendo ao programa eminentemente civilizadore progressista que a Cia. se traçou, e que está vivamente empenhadaem executar”.

O fascínio com as facilidades e o prazer estético proporcionadospelos diferentes usos da energia elétrica vieram acompanhados, contudo,de resistências, desconfianças e descontentamentos com sua utilização.Esse receio, ainda que pudesse ser explicado pelo medo diante de umanova tecnologia pouco conhecida, ancorava-se, também, no registrode diferentes tipos de falhas e acidentes, envolvendo tanto usuáriosquanto pessoal técnico responsável por serviços de instalação emanutenção.

Referindo-se aos festejos da inauguração da primeira usina elétricade São Gabriel (RS), em 1905, Figueiredo 7 afirma, em relação à reaçãodos populares aos oradores oficiais, que “[...] a assistência ouvia-oscom desconfiança, num misto de entusiasmo e prevenção. O povo haviasido maldosamente prevenido contra o que apregoavam de terrívelperigo, uma instalação elétrica com os fios por toda parte. As lâmpadaseram portadoras da morte [...] caso explodissem ninguém por pertoescapava. Era fatal. Tocar a mão num fio elétrico, Virgem Nossa. Eradas mortes mais horrendas.”

Muito embora referências como essas possam parecer alarmistas efantasiosas, fatos reais, como os ocorridos em diferentes cidades daRegião Sul, demonstram que os receios não eram totalmenteinfundados.

O Diário da Tarde, de Curitiba, noticia em 28 de abril de 1899 8

“[...] que ontem, à rua Assembléia, caiu um fio elétrico à noite. Comoàs 7 horas passasse por ali o homem de cor, Adão, bateu o rosto no fio[...]; tal foi o choque recebido pelo transeunte que foi jogado ao meioda rua. Adão ficou queimado no rosto e nos braços.”

Acidentes com os bondes elétricos foram também freqüentes,vitimando transeuntes, como o registrado pelo Jornal A Federação,de Porto Alegre, no dia 26 de junho de 1930: “A tarde de ontem na Av.S. Raphael, um bonde, colhendo um homem, causou-lhe ferimentosde tal gravidade, que o mesmo faleceu instantaneamente. No correntemês é esta a quarta pessoa vitimada pelo veículos da companhiaamericana que explora os serviços transviarios na capital.”

Instalando poste para iluminação pública em Joinville (SC), década de vinte.Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Manutenção de rede elétrica.Curitiba, 1912.

Acervo: Museu de Energia, Copel.

Page 95: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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O Correio do Povo, de 24 de março de 1931, por sua vez, reafirmaa freqüência dos desastres com os bondes elétricos: “[...] raro é o dia emque os carros da poderosa empresa não mandam algum habitante destaterra para o outro mundo, ou, então, para um leito da Santa Casa”.

Por outro lado, inúmeros acidentes com operadores do sistemaelétrico estiveram em destaque, como informa Axt9, na imprensa dacapital gaúcha, especialmente a partir do início da década de 1930.No Correio do Povo de 12 de janeiro de 1930 registra-se que “Têmse repetido ultimamente os acidentes entre trabalhadores da CEERG[...]; não se compreende que empresas cujos serviços exigem pessoalhábil [...] atirem [...] aos azares de um trabalho insidioso pobreshomens ignorantes, sem lhesdar a proteção de capatazescompetentes que os instruam.”

Essas constatações ecríticas tocam em uma questãoessencial, sobretudo nas fasesiniciais da implantação dossistemas elétricos, qual seja, af o r m a ç ã o d e p e s s o a ldevidamente treinado para asdiferentes habilidades e funçõesdemandadas por esses sistemas.Assim é que o jornal ARepública, de Curitiba, em 4de julho de 1912, anuncia a abertura de matrículas para a Escola Práticade Mecânica e Eletricidade, destinada a formar operários eletricistas10.O mesmo ocorre em Porto Alegre, que inicia no Centro TecnológicoParobé um curso sobre eletricidade. Essas iniciativas traduzem não só aproliferação dos usos da energia elétrica, como a afirmação de umanova categoria profissional no mercado de trabalho – a do eletricista.

Outros aspectos, contudo, provocaram manifestações dedescontentamento popular em relação aos serviços de energia elétricadisponíveis nos três Estados do Sul. Entre eles destaca-se ainconformidade com as tarifas praticadas pelas empresas responsáveispor esses serviços. Como o consumo de bens dependentes de energiaelétrica não era para todos, essas tarifas contribuíram para limitar ouimpedir o seu uso por parte da população de baixa renda. Em Porto

uso restrito da eletricidade nas residências, para fins de iluminação,conclamando que “[...] é preciso que este estabelecimento se abra àfreqüência pública, obedecendo ao programa eminentemente civilizadore progressista que a Cia. se traçou, e que está vivamente empenhadaem executar”.

O fascínio com as facilidades e o prazer estético proporcionadospelos diferentes usos da energia elétrica vieram acompanhados, contudo,de resistências, desconfianças e descontentamentos com sua utilização.Esse receio, ainda que pudesse ser explicado pelo medo diante de umanova tecnologia pouco conhecida, ancorava-se, também, no registrode diferentes tipos de falhas e acidentes, envolvendo tanto usuáriosquanto pessoal técnico responsável por serviços de instalação emanutenção.

Referindo-se aos festejos da inauguração da primeira usina elétricade São Gabriel (RS), em 1905, Figueiredo 7 afirma, em relação à reaçãodos populares aos oradores oficiais, que “[...] a assistência ouvia-oscom desconfiança, num misto de entusiasmo e prevenção. O povo haviasido maldosamente prevenido contra o que apregoavam de terrívelperigo, uma instalação elétrica com os fios por toda parte. As lâmpadaseram portadoras da morte [...] caso explodissem ninguém por pertoescapava. Era fatal. Tocar a mão num fio elétrico, Virgem Nossa. Eradas mortes mais horrendas.”

Muito embora referências como essas possam parecer alarmistas efantasiosas, fatos reais, como os ocorridos em diferentes cidades daRegião Sul, demonstram que os receios não eram totalmenteinfundados.

O Diário da Tarde, de Curitiba, noticia em 28 de abril de 1899 8

“[...] que ontem, à rua Assembléia, caiu um fio elétrico à noite. Comoàs 7 horas passasse por ali o homem de cor, Adão, bateu o rosto no fio[...]; tal foi o choque recebido pelo transeunte que foi jogado ao meioda rua. Adão ficou queimado no rosto e nos braços.”

Acidentes com os bondes elétricos foram também freqüentes,vitimando transeuntes, como o registrado pelo Jornal A Federação,de Porto Alegre, no dia 26 de junho de 1930: “A tarde de ontem na Av.S. Raphael, um bonde, colhendo um homem, causou-lhe ferimentosde tal gravidade, que o mesmo faleceu instantaneamente. No correntemês é esta a quarta pessoa vitimada pelo veículos da companhiaamericana que explora os serviços transviarios na capital.”

Instalando poste para iluminação pública em Joinville (SC), década de vinte.Acervo: Arquivo Histórico de Joinville.

Manutenção de rede elétrica.Curitiba, 1912.

Acervo: Museu de Energia, Copel.

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Alegre eram freqüentes11 as queixas contra os serviços da CEERG porcobrar as mais altas tarifas de energia elétrica do Estado, quase o dobrodas cobradas, por exemplo, em Pelotas. Reclamações similares ocorriamnos demais Estados sulistas. Na cidade de Ponta Grossa consumidoresvoltaram-se contra a atuação da Companhia Prada de Eletricidade.No Diário dos Campos12 de 13 de junho de 1923 comenta-se que “Ainstalação de contadores para substituir o antigo sistema de cobrançapara lâmpadas ou para motores eleva o custo de energia [...] A cobrançada taxa mínima causará ainda mais revolta [...] Um cidadão qualquer,que tenha uma lâmpada de 16 velas em sua casa, teria de pagar apenas6 $réis por mês e no entanto, pela taxa mínima, pagará 14 $réis e mais3$000 réis do contador”. Em Curitiba, como noticia a Gazeta do Povo,em 1º de junho de 193213, os usuários da Companhia de Força e Luz,em reação às altas tarifas praticadas por esta empresa, organizaram umboicote destinado a promover “[...] a mais exagerada economia noconsumo, evitando-se, tanto quanto possível a utilização de luz elétrica,de ferros elétricos, rádios, enfim, de todo e qualquer aparelho que seutilizasse de energia [...].”

Outra freqüente razão de descontentamento em relação aos serviçosde eletricidade teve início a partir dos finais da década de trinta, quandoapareceram os sinais mais evidentes de que a indústria de energia elétricachegava a impasses, entre os quais a insuficiência de oferta para atenderàs demandas do consumo. Manifestações populares neste sentido foramregistradas em jornais de diferentes cidades sulistas, servindo comofonte de pressão para que se iniciasse o processo de intervenção dasadministrações estaduais no setor, originando as respectivas empresasestaduais de energia elétrica.

Contudo, a despeito destes focos de tensão e descontentamentopopular em relação ao fornecimento de energia elétrica, oreconhecimento da verdadeira revolução que seu advento provocouno cotidiano pode ser atestado, desde o início do século passado, emmanifestações como as expressas no jornal A República14 , de Curitiba,de 14 de agosto de 1907: “As preeminentes qualidades da energiaelétrica deram-lhe em pouco tempo ingresso nas maiores e menorescidades e aldeias de todos os países civilizados e em todos os ramos daindústria, influindo sobre esta proveitosamente e transformando-a,de modo que hoje a existência de uma comunidade sem força elétricaé quase impossível.”

“Queixas do Público

A cada dia que passa, mês pormês e ano por ano, o abaste-cimento de energia elétrica àpopulação e à indústria de Ijuítorna-se mais precário. Disto sópode fazer idéia quem mora nestaterra, outrora tão abençoada, emque havia fartura e vida fácil. Hojetudo mudou. As mercadorias deconsumo são caras. Os produtoscoloniais se tornam escassosdevido à seca, e as indústrias vêema sua artéria cortada com odecréscimo de água de nossosrios. A potente usina do rio daPonte, hoje Potiribu, vê-sereduzida a estado de verdadeiramiséria. Pois está impotente amovimentar o parque industrial deIjuí. Atende-o com energia emprestações, uma hora sim, umahora não. O que isto representapara as empresas industriais é fácilde imaginar. É um suicídio lento.”(Jornal Correio Serrano, de 30 dedezembro de 1944) ... ApudBINDÉ, 2000, p. 143.

“Para nós, os operários daindústria, nos causa um grandetranstorno, pois um diatrabalhamos de 6 às 6, isto é, 10½ horas de dia, e no outro diatemos que começar da 1 às 6,40das madrugada, e folgamos umdia. O resultado é que andamosàs tontas de sono, o que resultamenos produção para oempregador e um perigo iminentepara quem trabalha em umacircular ou fita.” (Jornal CorreioSerrano, de 25 de maio de 1949.Apud BINDÉ, 2000, p. 143).

Equipe de transmissão externa da TV Piratini, 1959, Porto Alegre.Acervo: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.

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Alegre eram freqüentes11 as queixas contra os serviços da CEERG porcobrar as mais altas tarifas de energia elétrica do Estado, quase o dobrodas cobradas, por exemplo, em Pelotas. Reclamações similares ocorriamnos demais Estados sulistas. Na cidade de Ponta Grossa consumidoresvoltaram-se contra a atuação da Companhia Prada de Eletricidade.No Diário dos Campos12 de 13 de junho de 1923 comenta-se que “Ainstalação de contadores para substituir o antigo sistema de cobrançapara lâmpadas ou para motores eleva o custo de energia [...] A cobrançada taxa mínima causará ainda mais revolta [...] Um cidadão qualquer,que tenha uma lâmpada de 16 velas em sua casa, teria de pagar apenas6 $réis por mês e no entanto, pela taxa mínima, pagará 14 $réis e mais3$000 réis do contador”. Em Curitiba, como noticia a Gazeta do Povo,em 1º de junho de 193213, os usuários da Companhia de Força e Luz,em reação às altas tarifas praticadas por esta empresa, organizaram umboicote destinado a promover “[...] a mais exagerada economia noconsumo, evitando-se, tanto quanto possível a utilização de luz elétrica,de ferros elétricos, rádios, enfim, de todo e qualquer aparelho que seutilizasse de energia [...].”

Outra freqüente razão de descontentamento em relação aos serviçosde eletricidade teve início a partir dos finais da década de trinta, quandoapareceram os sinais mais evidentes de que a indústria de energia elétricachegava a impasses, entre os quais a insuficiência de oferta para atenderàs demandas do consumo. Manifestações populares neste sentido foramregistradas em jornais de diferentes cidades sulistas, servindo comofonte de pressão para que se iniciasse o processo de intervenção dasadministrações estaduais no setor, originando as respectivas empresasestaduais de energia elétrica.

Contudo, a despeito destes focos de tensão e descontentamentopopular em relação ao fornecimento de energia elétrica, oreconhecimento da verdadeira revolução que seu advento provocouno cotidiano pode ser atestado, desde o início do século passado, emmanifestações como as expressas no jornal A República14 , de Curitiba,de 14 de agosto de 1907: “As preeminentes qualidades da energiaelétrica deram-lhe em pouco tempo ingresso nas maiores e menorescidades e aldeias de todos os países civilizados e em todos os ramos daindústria, influindo sobre esta proveitosamente e transformando-a,de modo que hoje a existência de uma comunidade sem força elétricaé quase impossível.”

“Queixas do Público

A cada dia que passa, mês pormês e ano por ano, o abaste-cimento de energia elétrica àpopulação e à indústria de Ijuítorna-se mais precário. Disto sópode fazer idéia quem mora nestaterra, outrora tão abençoada, emque havia fartura e vida fácil. Hojetudo mudou. As mercadorias deconsumo são caras. Os produtoscoloniais se tornam escassosdevido à seca, e as indústrias vêema sua artéria cortada com odecréscimo de água de nossosrios. A potente usina do rio daPonte, hoje Potiribu, vê-sereduzida a estado de verdadeiramiséria. Pois está impotente amovimentar o parque industrial deIjuí. Atende-o com energia emprestações, uma hora sim, umahora não. O que isto representapara as empresas industriais é fácilde imaginar. É um suicídio lento.”(Jornal Correio Serrano, de 30 dedezembro de 1944) ... ApudBINDÉ, 2000, p. 143.

“Para nós, os operários daindústria, nos causa um grandetranstorno, pois um diatrabalhamos de 6 às 6, isto é, 10½ horas de dia, e no outro diatemos que começar da 1 às 6,40das madrugada, e folgamos umdia. O resultado é que andamosàs tontas de sono, o que resultamenos produção para oempregador e um perigo iminentepara quem trabalha em umacircular ou fita.” (Jornal CorreioSerrano, de 25 de maio de 1949.Apud BINDÉ, 2000, p. 143).

Equipe de transmissão externa da TV Piratini, 1959, Porto Alegre.Acervo: Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa.

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O setor elétricono cenário dos

Planos Nacionais deDesenvolvimento

P A R T E 2

AXT, Günter. A indústria de Energia elétrica no Rio Grande do Sul. Dos primórdios à formação daempresa pública (1887-1959). 1995. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia eCiências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

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BRANDÃO, Angela. A fábrica de ilusão: o espetáculo das máquinas num parque de diversões e amodernização de Curitiba (1905-1913). Curitiba: Fundação Cultural, 1994.

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FIGUEIREDO, Osório S. A primeira usina hidrelétrica de São Gabriel. Informativo CEEE. Porto Alegre,abr. 1975. Mimeografado.

FRANCO, Sérgio da Costa. Porto Alegre: Guia Histórico. 3. ed. Porto Alegre: Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), 1998.

KORMANN, Edith. Blumenau: Arte, cultura e as histórias de sua gente (1850-1985). Blumenau, 1996.4v. Apoio: Fundação Catarinense de Cultura.

LANGE, Francisco L.P. Os Campos Gerais e sua Princesa. Curitiba: Companhia Paranaense de Energia(Copel), 1998.

LAVALLE, Aida M. Germânia-Guaíra: um século de sociedade na memória de Ponta Grossa. PontaGrossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), 1996.

MEDEIROS, Ricardo; VIEIRA, Lúcia Helena. História do rádio em Santa Catarina. Florianópolis: Insular, 1999.PIRES, José Henrique. et al. O cinema em Santa Catarina. Florianópolis: Universidade Federal de Santa

Catarina (UFSC), 1987.ROCHA, Amara Silva de Souza. A sedução da luz: eletrificação e imaginário no Rio de Janeiro da Belle

Époque. Revista da História Regional, v.2, n.2, 1997. Disponível em:<www.rhr.ulpg.br/v2n2/amara.html> Acesso em: 21 abr. 2002.

SILVA, Edson Armando. Conflitos entre a comunidade pontagrossense e a PRADA. In.: SOCIEDADEBRASILEIRA DE PESQUISA HISTÓRICA (SBPH). São Paulo, 1994.

SILVA, Edson Armando (Coord.) O povo faz a História – Ponta Grossa (1920 – 1945). Ponta Grossa,1994. 1v. Relatório de Pesquisa – Departamento de História, Setor de Letras e Ciências Humanas,Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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ALMANACH DE PELOTAS. Pelotas, RS: Diário Popular. 1913.JORNAL A FEDERAÇÃO. Porto Alegre, 30 jun. 1930.JORNAL A REPÚBLICA. Curitiba, 18 jun. 1896.JORNAL CORREIO DO POVO. Porto Alegre, 22 nov. 1931.JORNAL DIÁRIO DA TARDE. 6 jan. 1912.______. Porto Alegre, 12 jan. 1930.______. Porto Alegre, 24 mar. 1931.JORNAL GAZETA DE JOINVILLE. 13 fev. 1909.JORNAL O DIA. Florianópolis, 27 set. 1910.JORNAL O ESTADO. Florianópolis, 13 maio. 1915. Coluna Theatro e Diversões.REVISTA O GLOBO. Porto Alegre, 30 abr. 1929.

1 ALMANACH DE PELOTAS, 1913, p. 47.

2 Ibidem.

3 AXT, 1995, p. 55

4 BRANDÃO, 1994, p. 17.

5 Veja-se, entre outros, DILLENBURG (1990); LAVALLE (1996) e MEDEIROS & VIEIRA (1999).

6 SIQUEIRA. op. cit., p. 73.

7 FIGUEIREDO, 1974, p. 3.

8 Apud SIQUEIRA et al., 1994, p. 42.

9 AXT, 1995, p. 46.

10 SIQUEIRA, et al., op.cit., p. 54.

11 AXT, op.cit., p. 57.

12 Apud SILVA, et al., 1994, p. 139

13 Apud SIQUEIRA, et al., op.cit., p. 66.

14 Ibidem, p. 23.

R E F E R Ê N C I A S

N O T A S

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O setor elétricono cenário dos

Planos Nacionais deDesenvolvimento

P A R T E 2

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1 ALMANACH DE PELOTAS, 1913, p. 47.

2 Ibidem.

3 AXT, 1995, p. 55

4 BRANDÃO, 1994, p. 17.

5 Veja-se, entre outros, DILLENBURG (1990); LAVALLE (1996) e MEDEIROS & VIEIRA (1999).

6 SIQUEIRA. op. cit., p. 73.

7 FIGUEIREDO, 1974, p. 3.

8 Apud SIQUEIRA et al., 1994, p. 42.

9 AXT, 1995, p. 46.

10 SIQUEIRA, et al., op.cit., p. 54.

11 AXT, op.cit., p. 57.

12 Apud SILVA, et al., 1994, p. 139

13 Apud SIQUEIRA, et al., op.cit., p. 66.

14 Ibidem, p. 23.

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N O T A S

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FFoi no segundo governo de Getúlio Vargas (1950-54) que sedesenhou, através da Assessoria Econômica liderada por Rômulo deAlmeida, uma política nacional de energia. O petróleo, o carvão e aenergia elétrica eram os destaques dessa ação governamental. Atravésde diversos projetos de Lei foram propostas, entre outras, a criação deum Fundo Federal de Eletrificação (Lei nº 2.308, de agosto de 1954);de um Plano Nacional de Eletrificação; e a criação das Centrais ElétricasBrasileiras (Eletrobrás). Tais iniciativas, tomadas num cenário políticoadverso à estatização do setor elétrico, transformaram o Congresso noepicentro de acaloradas discussões. O envolvimento de segmentos dasociedade foi significativo, especialmente de grupos identificados coma defesa dos interesses nacionais. Esses atuavam em contraposiçãoàqueles que advogavam o controle do capital privado sobre as empresasde energia elétrica. As posições privatistas, entretanto, estimuladas pelasconcessionárias estrangeiras, dominavam o Congresso. A batalhalegislativa teve diversos lances. O Plano Nacional de Eletrificação jamaisfoi aprovado. Durante cerca de sete anos diferentes manobrasgarantiram o adiamento, pelo Congresso, do exame da proposta decriação da Eletrobrás. Mas a decisão acabou acontecendo.

O Plano de Metas elaborado pelo governo de Juscelino Kubitschekde Oliveira (1956-6l) também consignou a intenção do Estado eminvestir na infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do País. OPlano destacou seis grandes objetivos econômico-sociais, priorizandoos investimentos financeiros nos setores de energia, transportes eindústrias de base. Através de estudos do Conselho de

I N T R O D U Ç Ã O

Solenidade de Criação da Eletrobrás,com a presença do Presidente João Goulart.

Rio de Janeiro, 11/6/1962.Acervo: Memória do Setor Elétrico no Brasil.

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FFoi no segundo governo de Getúlio Vargas (1950-54) que sedesenhou, através da Assessoria Econômica liderada por Rômulo deAlmeida, uma política nacional de energia. O petróleo, o carvão e aenergia elétrica eram os destaques dessa ação governamental. Atravésde diversos projetos de Lei foram propostas, entre outras, a criação deum Fundo Federal de Eletrificação (Lei nº 2.308, de agosto de 1954);de um Plano Nacional de Eletrificação; e a criação das Centrais ElétricasBrasileiras (Eletrobrás). Tais iniciativas, tomadas num cenário políticoadverso à estatização do setor elétrico, transformaram o Congresso noepicentro de acaloradas discussões. O envolvimento de segmentos dasociedade foi significativo, especialmente de grupos identificados coma defesa dos interesses nacionais. Esses atuavam em contraposiçãoàqueles que advogavam o controle do capital privado sobre as empresasde energia elétrica. As posições privatistas, entretanto, estimuladas pelasconcessionárias estrangeiras, dominavam o Congresso. A batalhalegislativa teve diversos lances. O Plano Nacional de Eletrificação jamaisfoi aprovado. Durante cerca de sete anos diferentes manobrasgarantiram o adiamento, pelo Congresso, do exame da proposta decriação da Eletrobrás. Mas a decisão acabou acontecendo.

O Plano de Metas elaborado pelo governo de Juscelino Kubitschekde Oliveira (1956-6l) também consignou a intenção do Estado eminvestir na infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do País. OPlano destacou seis grandes objetivos econômico-sociais, priorizandoos investimentos financeiros nos setores de energia, transportes eindústrias de base. Através de estudos do Conselho de

I N T R O D U Ç Ã O

Solenidade de Criação da Eletrobrás,com a presença do Presidente João Goulart.

Rio de Janeiro, 11/6/1962.Acervo: Memória do Setor Elétrico no Brasil.

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9998

AA Eletrobrás foi constituída com a incumbência de coordenar osetor elétrico brasileiro, técnica, administrativa e financeiramente. Naprática, assumiu as aplicações feitas no setor pelo BNDE e se propôs aatuar como uma holding, incorporando e criando diferentes empresas.Além da Chesf e de Furnas, logo foram implantadas as Centrais Elétricasdo Sul do Brasil S.A. (Eletrosul) e as Centrais Elétricas do Norte doBrasil S.A. (Eletronorte), todas de caráter regional. Duas empresas deâmbito estadual foram também incorporadas, a Light Serviços deEletricidade S.A. e a Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (Escelsa).Houve, ainda, iniciativas para a participação ou para a incorporaçãode diversas outras empresas, todas de menor porte.

O objetivo maior da Eletrobrás, sob a orientação do Ministério deMinas e Energia (MME), era planejar e coordenar as atividades do setorelétrico, promovendo a captação dos recursos financeiros necessáriospara a consecução das metas prioritárias. No âmbito do MME, oDepartamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), criadoem 1965, manteve as atividades de concessão, fiscalização e controledos serviços de eletricidade, antes atribuídas à Divisão de Águas doDepartamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministérioda Agricultura. Atuando como uma holding, a Eletrobrás teve facilidadespara transferir a execução das obras necessárias à expansão da capacidadeinstalada para as empresas subsidiárias, acima referidas, e para outrasque foram sendo associadas. A distribuição de energia, por sua vez, foidelegada às empresas estaduais.

Na prática, apesar de muitos avanços, nem sempre este modelo

C A P Í T U L O 4

A Eletrobrás e suas subsidiárias:projetos termo e hidrelétricos no Sul

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

Desenvolvimento, previu-se que a potência instalada deveria crescerna base de 10% ao ano. Determinava-se, para tanto, a construção denovas centrais geradoras e o aproveitamento, para fins energéticos, docarvão nacional.

A existência da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf),de Furnas, criada como sociedade de economia mista sob o controle doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), e dasCentrais Elétricas de Minas Gerais S.A. (Cemig), como conseqüênciade diferentes intervenções governamentais, foi determinante para acriação do Ministério de Minas e Energia (MME) através da Leinº 3.782, de 22 de julho de 1960. Foram incorporados ao MME oConselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), a ComissãoNacional de Energia Nuclear (CNEN) e o Departamento Nacional deProdução Mineral (DNPM). Este último, através de sua Divisão deÁguas, tinha, até então, as responsabilidades de concessão e fiscalizaçãodas empresas que exploravam a energia elétrica, conforme o previstono Código de Águas (1934).

Foi neste contexto que, em 25 de abril de 1961, depois de longatramitação no Congresso, foi sancionada pelo Presidente Jânio Quadrosa Lei 3.890 A, autorizando a constituição da empresa Centrais ElétricasBrasileiras S.A. (Eletrobrás). Os fatos políticos relacionados à renúnciade Jânio Quadros, contudo, fizeram com que o ato de instalação daempresa somente acontecesse em 11 de junho de 1962, sob a liderançado Presidente João Goulart. Um novo e estratégico passo na definiçãoda intervenção do Estado no setor elétrico estava dado.

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AA Eletrobrás foi constituída com a incumbência de coordenar osetor elétrico brasileiro, técnica, administrativa e financeiramente. Naprática, assumiu as aplicações feitas no setor pelo BNDE e se propôs aatuar como uma holding, incorporando e criando diferentes empresas.Além da Chesf e de Furnas, logo foram implantadas as Centrais Elétricasdo Sul do Brasil S.A. (Eletrosul) e as Centrais Elétricas do Norte doBrasil S.A. (Eletronorte), todas de caráter regional. Duas empresas deâmbito estadual foram também incorporadas, a Light Serviços deEletricidade S.A. e a Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. (Escelsa).Houve, ainda, iniciativas para a participação ou para a incorporaçãode diversas outras empresas, todas de menor porte.

O objetivo maior da Eletrobrás, sob a orientação do Ministério deMinas e Energia (MME), era planejar e coordenar as atividades do setorelétrico, promovendo a captação dos recursos financeiros necessáriospara a consecução das metas prioritárias. No âmbito do MME, oDepartamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE), criadoem 1965, manteve as atividades de concessão, fiscalização e controledos serviços de eletricidade, antes atribuídas à Divisão de Águas doDepartamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), do Ministérioda Agricultura. Atuando como uma holding, a Eletrobrás teve facilidadespara transferir a execução das obras necessárias à expansão da capacidadeinstalada para as empresas subsidiárias, acima referidas, e para outrasque foram sendo associadas. A distribuição de energia, por sua vez, foidelegada às empresas estaduais.

Na prática, apesar de muitos avanços, nem sempre este modelo

C A P Í T U L O 4

A Eletrobrás e suas subsidiárias:projetos termo e hidrelétricos no Sul

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

Desenvolvimento, previu-se que a potência instalada deveria crescerna base de 10% ao ano. Determinava-se, para tanto, a construção denovas centrais geradoras e o aproveitamento, para fins energéticos, docarvão nacional.

A existência da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf),de Furnas, criada como sociedade de economia mista sob o controle doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), e dasCentrais Elétricas de Minas Gerais S.A. (Cemig), como conseqüênciade diferentes intervenções governamentais, foi determinante para acriação do Ministério de Minas e Energia (MME) através da Leinº 3.782, de 22 de julho de 1960. Foram incorporados ao MME oConselho Nacional de Águas e Energia Elétrica (CNAEE), a ComissãoNacional de Energia Nuclear (CNEN) e o Departamento Nacional deProdução Mineral (DNPM). Este último, através de sua Divisão deÁguas, tinha, até então, as responsabilidades de concessão e fiscalizaçãodas empresas que exploravam a energia elétrica, conforme o previstono Código de Águas (1934).

Foi neste contexto que, em 25 de abril de 1961, depois de longatramitação no Congresso, foi sancionada pelo Presidente Jânio Quadrosa Lei 3.890 A, autorizando a constituição da empresa Centrais ElétricasBrasileiras S.A. (Eletrobrás). Os fatos políticos relacionados à renúnciade Jânio Quadros, contudo, fizeram com que o ato de instalação daempresa somente acontecesse em 11 de junho de 1962, sob a liderançado Presidente João Goulart. Um novo e estratégico passo na definiçãoda intervenção do Estado no setor elétrico estava dado.

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centralizado manteve sua coerência interna. Politicamente, o País viviasob o regime militar, instaurado em 1964, autoritário, rígido ehierarquizado. Isto facilitava a imposição dos planos e decisõesassumidos sem maiores negociações. Mas não poucas pressões políticasfizeram com que algumas empresas estaduais de distribuição iniciassemprojetos de geração de energia; que empresas privadas, com finalidadesde atendimento a demandas de energia elétrica localizadas, fossemconstituídas; que encaminhamentos de interesse da holding não fossemacolhidos nas instâncias superiores de poder.

De qualquer modo, foi a Eletrobrás que adotou e socializou a práticado planejamento de longo prazo no País, decidindo por uma matrizessencialmente hidrelétrica. Também assumiu uma metodologia voltadapara o estudo de bacias hidrográficas, em continuidade aos trabalhosiniciados pelo Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul (Enersul)1,e teve participação decisiva na concretização do projeto da ItaipuBinacional. Da mesma maneira, atendendo a crescentes pressõesapresentadas pelos organismos internacionais de financiamento e porentidades ambientais, nos anos oitenta do século XX passou a valorizara legislação aprovada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente(Conama). Assim, os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e osRelatórios de Impacto Ambiental (RIMA), referentes aos novosempreendimentos hidrelétricos, passaram a ser analisados internamenteatravés do Departamento de Meio Ambiente e pelos setores congêneresdas empresas integrantes da holding, além dos setores específicos daárea ambiental, estaduais ou federais.

Sérios questionamentos referentes ao trato inadequado das questõessociais e ambientais decorrentes da implantação dos projetoshidrelétricos, entretanto, continuaram sem a obtenção das respostasadequadas por parte das subsidiárias responsáveis pela implantação dosempreendimentos. Conflitos e críticas, envolvendo inclusive osorganismos internacionais de financiamento, se fizeram presentes emvários momentos e, em particular, a partir do processo deredemocratização do País. Em termos gerais, porém, deve-se ressaltarque a Eletrobrás traduziu com objetividade a tarefa da intervençãoestatal no setor elétrico, logrando o alcance de metas originalmentenão imaginadas. Entre essas metas destacamos a aquisição decompetência técnico-científica em diferentes áreas de conhecimentoque permitiram ao País alcançar reconhecimento internacional no

Transporte de carvão pela RedeFerroviária Federal S.A., no sul

de Santa Catarina, 1940.Acervo: Centro de Convivência

Cultural, Unisul.

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centralizado manteve sua coerência interna. Politicamente, o País viviasob o regime militar, instaurado em 1964, autoritário, rígido ehierarquizado. Isto facilitava a imposição dos planos e decisõesassumidos sem maiores negociações. Mas não poucas pressões políticasfizeram com que algumas empresas estaduais de distribuição iniciassemprojetos de geração de energia; que empresas privadas, com finalidadesde atendimento a demandas de energia elétrica localizadas, fossemconstituídas; que encaminhamentos de interesse da holding não fossemacolhidos nas instâncias superiores de poder.

De qualquer modo, foi a Eletrobrás que adotou e socializou a práticado planejamento de longo prazo no País, decidindo por uma matrizessencialmente hidrelétrica. Também assumiu uma metodologia voltadapara o estudo de bacias hidrográficas, em continuidade aos trabalhosiniciados pelo Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul (Enersul)1,e teve participação decisiva na concretização do projeto da ItaipuBinacional. Da mesma maneira, atendendo a crescentes pressõesapresentadas pelos organismos internacionais de financiamento e porentidades ambientais, nos anos oitenta do século XX passou a valorizara legislação aprovada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente(Conama). Assim, os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e osRelatórios de Impacto Ambiental (RIMA), referentes aos novosempreendimentos hidrelétricos, passaram a ser analisados internamenteatravés do Departamento de Meio Ambiente e pelos setores congêneresdas empresas integrantes da holding, além dos setores específicos daárea ambiental, estaduais ou federais.

Sérios questionamentos referentes ao trato inadequado das questõessociais e ambientais decorrentes da implantação dos projetoshidrelétricos, entretanto, continuaram sem a obtenção das respostasadequadas por parte das subsidiárias responsáveis pela implantação dosempreendimentos. Conflitos e críticas, envolvendo inclusive osorganismos internacionais de financiamento, se fizeram presentes emvários momentos e, em particular, a partir do processo deredemocratização do País. Em termos gerais, porém, deve-se ressaltarque a Eletrobrás traduziu com objetividade a tarefa da intervençãoestatal no setor elétrico, logrando o alcance de metas originalmentenão imaginadas. Entre essas metas destacamos a aquisição decompetência técnico-científica em diferentes áreas de conhecimentoque permitiram ao País alcançar reconhecimento internacional no

Transporte de carvão pela RedeFerroviária Federal S.A., no sul

de Santa Catarina, 1940.Acervo: Centro de Convivência

Cultural, Unisul.

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domínio da implantação de grandes barragens e na extensão de linhasde transmissão a grandes distâncias. Institutos universitários e empresas,de uma forma ou outra, foram envolvidos nesse processo, comrepercussão na formação e na especialização de centenas de profissionaisuniversitários.

No cenário da Região Sul há muito o governo federal vinha fazendointervenções objetivando o melhor aproveitamento das jazidas de carvãoali existentes. O Plano Nacional do Carvão (Plancarvão), definido aindano governo de Getúlio Vargas (Lei nº 1.886/53), pretendia dar anecessária autonomia ao desenvolvimento do parque siderúrgico deVolta Redonda, melhorando as condições de aproveitamento desteinsumo energético. Para tanto foi criada uma Comissão Executiva doPlancarvão, subordinada diretamente à Presidência da República.

Anteriormente, diferentes usinas termelétricas haviam sidoimplantadas no Sul tendo como combustível carvão, lenha ou óleo,em geral todas de baixa potência. No que se refere ao uso do carvãoenergético, que em alguns casos era importado, experimentos específicosocorreram no Rio Grande do Sul. Ainda nos anos vinte, por exemplo,a termelétrica do Gasômetro foi implantada tendo como referência oconsumo do carvão nacional. Mais adiante, o mesmo aconteceu comas usinas termelétricas (UTE) Candiota I, Charqueadas e Alegrete,que tiveram diferentes incentivos do Plancarvão.

Em Santa Catarina foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)que estimulou o aproveitamento do carvão-vapor, participando dacriação da Sociedade Termelétrica de Capivari S.A. (Sotelca), em 1957.A região litorânea catarinense vivenciava uma crise no fornecimentode energia elétrica. A constituição da Celesc, em 1955, objetivava oincremento, em curto prazo, do potencial instalado. A opção peloaproveitamento do carvão-vapor resultante da produção do carvãometalúrgico, associada aos interesses das empresas mineradoras,apareceu como uma oportuna solução para a falta crônica de energia.A CSN, através de sua subsidiária Serviços de Eletricidade S.A., játinha instalado na localidade de Capivari de Baixo uma pequenatermelétrica (10 MW), objetivando o atendimento de suas necessidadesde beneficiamento do carvão e de suas minas. Esta termelétrica tambématendia ao fornecimento de energia para algumas cidades do sul deSanta Catarina. Constituída a Sotelca, uma linha de transmissão empouco tempo chegou até a capital e, depois, até Joinville. As novas

O carvão nacional e seuaproveitamento energético

As jazidas de carvão mineral doBrasil estão concentradas no RioGrande do Sul, em Santa Catarina eno Paraná. É um carvão de baixaqualidade, com forte teor de enxofree de cinzas, o que tem sido apontadocomo uma das dificuldades para asua exploração intensiva.

Identificadas as primeirasconcentrações em meados doséculo XIX, o carvão nacional tevearautos e investidores como IrineuEvangelista de Souza, o Barão deMauá, e Henrique Lage. Porém,pressões de empresas estrangeiraslevaram sucessivos governos aatitudes de irresponsável descaso.Nos anos trinta, com GetúlioVargas e no cenário da deflagraçãoda Segunda Guerra Mundial,surgiram as primeiras decisõespolíticas voltadas para a suavalorização e aproveitamento.Dificuldades diversas, porém,restringiram as possibilidades doseu uso energético. Somente coma emergência do Plano Nacionaldo Carvão (1953) abriram-seperspectivas para a utilizaçãosistemática desse combustível paragerar energia. As usinas integrantesdo Complexo Jorge Lacerda, no sulde Santa Catarina, entre outras,inserem-se neste contexto.

Atualmente, quando se inten-sificam os esforços para ampliar amatriz energética do País, opotencial representado pelo carvãoemerge como uma das alternativaspossíveis, desde que se definamestratégias para a superação dasquestões socioambientais decor-rentes da sua exploração.Usina Termelétrica S. Jerônimo (RS), que entrou em operação em 1954.

Acervo: Assessoria de Comunicação Social, CEEE.

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domínio da implantação de grandes barragens e na extensão de linhasde transmissão a grandes distâncias. Institutos universitários e empresas,de uma forma ou outra, foram envolvidos nesse processo, comrepercussão na formação e na especialização de centenas de profissionaisuniversitários.

No cenário da Região Sul há muito o governo federal vinha fazendointervenções objetivando o melhor aproveitamento das jazidas de carvãoali existentes. O Plano Nacional do Carvão (Plancarvão), definido aindano governo de Getúlio Vargas (Lei nº 1.886/53), pretendia dar anecessária autonomia ao desenvolvimento do parque siderúrgico deVolta Redonda, melhorando as condições de aproveitamento desteinsumo energético. Para tanto foi criada uma Comissão Executiva doPlancarvão, subordinada diretamente à Presidência da República.

Anteriormente, diferentes usinas termelétricas haviam sidoimplantadas no Sul tendo como combustível carvão, lenha ou óleo,em geral todas de baixa potência. No que se refere ao uso do carvãoenergético, que em alguns casos era importado, experimentos específicosocorreram no Rio Grande do Sul. Ainda nos anos vinte, por exemplo,a termelétrica do Gasômetro foi implantada tendo como referência oconsumo do carvão nacional. Mais adiante, o mesmo aconteceu comas usinas termelétricas (UTE) Candiota I, Charqueadas e Alegrete,que tiveram diferentes incentivos do Plancarvão.

Em Santa Catarina foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)que estimulou o aproveitamento do carvão-vapor, participando dacriação da Sociedade Termelétrica de Capivari S.A. (Sotelca), em 1957.A região litorânea catarinense vivenciava uma crise no fornecimentode energia elétrica. A constituição da Celesc, em 1955, objetivava oincremento, em curto prazo, do potencial instalado. A opção peloaproveitamento do carvão-vapor resultante da produção do carvãometalúrgico, associada aos interesses das empresas mineradoras,apareceu como uma oportuna solução para a falta crônica de energia.A CSN, através de sua subsidiária Serviços de Eletricidade S.A., játinha instalado na localidade de Capivari de Baixo uma pequenatermelétrica (10 MW), objetivando o atendimento de suas necessidadesde beneficiamento do carvão e de suas minas. Esta termelétrica tambématendia ao fornecimento de energia para algumas cidades do sul deSanta Catarina. Constituída a Sotelca, uma linha de transmissão empouco tempo chegou até a capital e, depois, até Joinville. As novas

O carvão nacional e seuaproveitamento energético

As jazidas de carvão mineral doBrasil estão concentradas no RioGrande do Sul, em Santa Catarina eno Paraná. É um carvão de baixaqualidade, com forte teor de enxofree de cinzas, o que tem sido apontadocomo uma das dificuldades para asua exploração intensiva.

Identificadas as primeirasconcentrações em meados doséculo XIX, o carvão nacional tevearautos e investidores como IrineuEvangelista de Souza, o Barão deMauá, e Henrique Lage. Porém,pressões de empresas estrangeiraslevaram sucessivos governos aatitudes de irresponsável descaso.Nos anos trinta, com GetúlioVargas e no cenário da deflagraçãoda Segunda Guerra Mundial,surgiram as primeiras decisõespolíticas voltadas para a suavalorização e aproveitamento.Dificuldades diversas, porém,restringiram as possibilidades doseu uso energético. Somente coma emergência do Plano Nacionaldo Carvão (1953) abriram-seperspectivas para a utilizaçãosistemática desse combustível paragerar energia. As usinas integrantesdo Complexo Jorge Lacerda, no sulde Santa Catarina, entre outras,inserem-se neste contexto.

Atualmente, quando se inten-sificam os esforços para ampliar amatriz energética do País, opotencial representado pelo carvãoemerge como uma das alternativaspossíveis, desde que se definamestratégias para a superação dasquestões socioambientais decor-rentes da sua exploração.Usina Termelétrica S. Jerônimo (RS), que entrou em operação em 1954.

Acervo: Assessoria de Comunicação Social, CEEE.

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unidades geradoras desativada em 1987. Nos anos noventa a Copeltransferiu, por dez anos, para a Companhia Carbonífera de Cambuí ouso das instalações dessa termelétrica.

Não poucas foram as dificuldades relacionadas ao aproveitamentodo carvão nacional. Interesses empresariais conflitantes, indefiniçõesgovernamentais e a não-continuidade das ações trouxeram sucessivasinstabilidades para o setor. Em 1960 foi criada pela Lei nº 3.860/60 aComissão do Plano do Carvão Nacional (CPCAN), em substituição àComissão Executiva do Plancarvão. A partir de 1968 as atribuições daCPCAN foram sendo transferidas para o Conselho Nacional do Petróleo(CNP) e para o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).Em 1975 a Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras(CAEEB) assumiu a comercialização do carvão não coqueificável, até1988, quando ocorreu a extinção do subsídio ao transporte do carvão.Em decorrência dessa descontinuidade política e administrativa osempresários do setor assumiramposições de acomodação, quando nãode descrédito, deixando de investir naampliação e na modernização de suasempresas. As sucessivas crises do setorrepercutiram no aproveitamento docarvão-vapor, bem como tiveramimplicações nas complexas questõesrelacionadas à preservação ambiental.

Não se pode deixar de referir,também, a existência de dezenas deusinas termelétricas alimentadas a óleo combustível, instaladas emdiversos municípios da Região Sul e pertencentes a diferentesempresas. A maioria dessas usinas eram de baixa potência e foraminstaladas, quase sempre, para atender a demandas emergentes.Apesar da rapidez com que os equipamentos dessas usinas erammontados, os custos operacionais eram elevados devido ao preço docombustível, resultando em tarifas pouco atrativas.

Quando foi constituída a Eletrosul, como subsidiária da Eletrobrás,em 1968, sua área de abrangência eram os Estados do Paraná, de SantaCatarina e do Rio Grande do Sul. A autorização para o seufuncionamento ocorreu através do Decreto nº 64.395, de 23 de abrilde 1969. Por esse mesmo Decreto também foi transferida para a Eletrosul

demandas de consumo levaram à ampliação da capacidade instaladapara 12 MW, em 1958. Um pouco mais tarde, a Sotelca colocou emoperação uma segunda unidade geradora. Em 1971 a Sotelca foiincorporada pela Eletrosul. Em 1973 também ocorreu a aquisição, pelaEletrosul, da pequena térmica da empresa Serviços de Eletricidade S.A.

As usinas da Sotelca tomaram o nome de Jorge Lacerda I e II e,depois, com a encampação patrocinada pela Eletrosul, passaram aintegrar o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, com quatro usinas.O potencial instalado, nos finais dos anos noventa, era de 857 MW.Trata-se do maior complexo termelétrico da América do Sul.

No Paraná as jazidas de Cambuí permitiram a implantação da UsinaTermelétrica Figueira (Utelfa), construída por iniciativa do governodo Paraná, a partir de 1954, com incentivos do Plancarvão. Em 1961 aresponsabilidade da execução das obras e da operação da usina foitransferida para a Usina Termelétrica de Figueira S.A., empresasubsidiária da Eletrobrás. Sua instalação ocorreu em 1963, com apotência de 20 MW, que foi ampliada, em 1975, para 30 MW, com oacréscimo de uma terceira unidade geradora.

Transferida para a Copel em 1969, a Utelfa teve uma de suas

Usina Termelétrica Jorge Lacerda,Tubarão (SC), anos setenta.

Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

Foto menor, Usina TermelétricaCapanema, a diesel, que entrou em

operação em 1951, em Curitiba.Acervo: Copel.

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unidades geradoras desativada em 1987. Nos anos noventa a Copeltransferiu, por dez anos, para a Companhia Carbonífera de Cambuí ouso das instalações dessa termelétrica.

Não poucas foram as dificuldades relacionadas ao aproveitamentodo carvão nacional. Interesses empresariais conflitantes, indefiniçõesgovernamentais e a não-continuidade das ações trouxeram sucessivasinstabilidades para o setor. Em 1960 foi criada pela Lei nº 3.860/60 aComissão do Plano do Carvão Nacional (CPCAN), em substituição àComissão Executiva do Plancarvão. A partir de 1968 as atribuições daCPCAN foram sendo transferidas para o Conselho Nacional do Petróleo(CNP) e para o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).Em 1975 a Companhia Auxiliar de Empresas Elétricas Brasileiras(CAEEB) assumiu a comercialização do carvão não coqueificável, até1988, quando ocorreu a extinção do subsídio ao transporte do carvão.Em decorrência dessa descontinuidade política e administrativa osempresários do setor assumiramposições de acomodação, quando nãode descrédito, deixando de investir naampliação e na modernização de suasempresas. As sucessivas crises do setorrepercutiram no aproveitamento docarvão-vapor, bem como tiveramimplicações nas complexas questõesrelacionadas à preservação ambiental.

Não se pode deixar de referir,também, a existência de dezenas deusinas termelétricas alimentadas a óleo combustível, instaladas emdiversos municípios da Região Sul e pertencentes a diferentesempresas. A maioria dessas usinas eram de baixa potência e foraminstaladas, quase sempre, para atender a demandas emergentes.Apesar da rapidez com que os equipamentos dessas usinas erammontados, os custos operacionais eram elevados devido ao preço docombustível, resultando em tarifas pouco atrativas.

Quando foi constituída a Eletrosul, como subsidiária da Eletrobrás,em 1968, sua área de abrangência eram os Estados do Paraná, de SantaCatarina e do Rio Grande do Sul. A autorização para o seufuncionamento ocorreu através do Decreto nº 64.395, de 23 de abrilde 1969. Por esse mesmo Decreto também foi transferida para a Eletrosul

demandas de consumo levaram à ampliação da capacidade instaladapara 12 MW, em 1958. Um pouco mais tarde, a Sotelca colocou emoperação uma segunda unidade geradora. Em 1971 a Sotelca foiincorporada pela Eletrosul. Em 1973 também ocorreu a aquisição, pelaEletrosul, da pequena térmica da empresa Serviços de Eletricidade S.A.

As usinas da Sotelca tomaram o nome de Jorge Lacerda I e II e,depois, com a encampação patrocinada pela Eletrosul, passaram aintegrar o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, com quatro usinas.O potencial instalado, nos finais dos anos noventa, era de 857 MW.Trata-se do maior complexo termelétrico da América do Sul.

No Paraná as jazidas de Cambuí permitiram a implantação da UsinaTermelétrica Figueira (Utelfa), construída por iniciativa do governodo Paraná, a partir de 1954, com incentivos do Plancarvão. Em 1961 aresponsabilidade da execução das obras e da operação da usina foitransferida para a Usina Termelétrica de Figueira S.A., empresasubsidiária da Eletrobrás. Sua instalação ocorreu em 1963, com apotência de 20 MW, que foi ampliada, em 1975, para 30 MW, com oacréscimo de uma terceira unidade geradora.

Transferida para a Copel em 1969, a Utelfa teve uma de suas

Usina Termelétrica Jorge Lacerda,Tubarão (SC), anos setenta.

Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

Foto menor, Usina TermelétricaCapanema, a diesel, que entrou em

operação em 1951, em Curitiba.Acervo: Copel.

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a concessão para o aproveitamento hidrelétrico dos rios Erechim e PassoFundo, da qual era titular a Companhia Estadual de Energia Elétrica(CEEE). A UHE Passo Fundo, cuja casa de máquinas está situada norio Erechim, foi construída pela Eletrosul. Entrou em operação em 1973,tendo a potência de 220 MW.

Como empresa regional, tornou-se a Eletrosul responsável peloplanejamento, pela construção e pela operação de novas usinashidrelétricas, e assumiu diferentes incorporações e participações queeram até então de responsabilidade da Eletrobrás.

Dando continuidade aos estudos referentes ao potencial energéticodas bacias do Paraná/Uruguai, levados inicialmente pelo Enersul, aEletrosul centrou suas atenções no aproveitamento do rio Iguaçu. AUHE de Salto Santiago, com a potência de 1.420 MW, começou a serconstruída em 1975. A primeira unidade geradora entrou em operaçãoem 1980. Em 1998 esta usina passou a integrar as Centrais Geradorasdo Sul do Brasil S.A. (Gerasul).

Ainda no mesmo rio Iguaçu, a Eletrosul obteve a concessão dosestudos para implantação da UHE Salto Osório. A sua construção,porém, foi delegada à Copel, a partir de 1970. Inaugurada em 1976,com 1.078 MW, esta obra contou com recursos financeiros da Eletrobráse do Banco Mundial. Administrada pela Eletrosul, em 1998 esta UHEpassou, igualmente, a integrar o parque gerador da Gerasul.

Num contexto de disputas promovidas pelas empresas estaduaisde energia elétrica para a implantação de novas usinas, a Copel obtevea concessão para a instalação da UHE Governador Bento Munhoz daRocha, ou Foz do Areia, em 1973. Com a potência final de 1.488 MW,sua primeira unidade entrou em operação em 1980. A Eletrobrásparticipou desse empreendimento, fazendo aportes financeiros etécnicos, que de uma forma ou de outra também envolveram a Eletrosul.

Paralelamente, a Eletrosul começou a desenvolver os estudosnecessários à definição do aproveitamento integral da bacia do rioUruguai. Esta proposta, divulgada a partir de 1978, considerava apossibilidade da construção de vinte e dois barramentos, no trechonacional do rio, sendo 19 destinados à implantação de hidrelétricas, etrês necessários para a regularização do fluxo das águas. Definiu-se,também, que eram prioritárias as construções das hidrelétricasMachadinho e Itá.

O denominado Projeto Uruguai, apesar de suas preocupações

Acima e abaixo, Hidrelétrica GovernadorBento Munhoz da Rocha,

ou Foz do Areia, em operaçãono rio Iguaçu (PR), a partir de 1980.

Acervo: Copel.

Ao lado, Hidrelétrica de Segredoinstalada no rio Iguaçu (PR), em 1992.

Acervo: Copel.

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a concessão para o aproveitamento hidrelétrico dos rios Erechim e PassoFundo, da qual era titular a Companhia Estadual de Energia Elétrica(CEEE). A UHE Passo Fundo, cuja casa de máquinas está situada norio Erechim, foi construída pela Eletrosul. Entrou em operação em 1973,tendo a potência de 220 MW.

Como empresa regional, tornou-se a Eletrosul responsável peloplanejamento, pela construção e pela operação de novas usinashidrelétricas, e assumiu diferentes incorporações e participações queeram até então de responsabilidade da Eletrobrás.

Dando continuidade aos estudos referentes ao potencial energéticodas bacias do Paraná/Uruguai, levados inicialmente pelo Enersul, aEletrosul centrou suas atenções no aproveitamento do rio Iguaçu. AUHE de Salto Santiago, com a potência de 1.420 MW, começou a serconstruída em 1975. A primeira unidade geradora entrou em operaçãoem 1980. Em 1998 esta usina passou a integrar as Centrais Geradorasdo Sul do Brasil S.A. (Gerasul).

Ainda no mesmo rio Iguaçu, a Eletrosul obteve a concessão dosestudos para implantação da UHE Salto Osório. A sua construção,porém, foi delegada à Copel, a partir de 1970. Inaugurada em 1976,com 1.078 MW, esta obra contou com recursos financeiros da Eletrobráse do Banco Mundial. Administrada pela Eletrosul, em 1998 esta UHEpassou, igualmente, a integrar o parque gerador da Gerasul.

Num contexto de disputas promovidas pelas empresas estaduaisde energia elétrica para a implantação de novas usinas, a Copel obtevea concessão para a instalação da UHE Governador Bento Munhoz daRocha, ou Foz do Areia, em 1973. Com a potência final de 1.488 MW,sua primeira unidade entrou em operação em 1980. A Eletrobrásparticipou desse empreendimento, fazendo aportes financeiros etécnicos, que de uma forma ou de outra também envolveram a Eletrosul.

Paralelamente, a Eletrosul começou a desenvolver os estudosnecessários à definição do aproveitamento integral da bacia do rioUruguai. Esta proposta, divulgada a partir de 1978, considerava apossibilidade da construção de vinte e dois barramentos, no trechonacional do rio, sendo 19 destinados à implantação de hidrelétricas, etrês necessários para a regularização do fluxo das águas. Definiu-se,também, que eram prioritárias as construções das hidrelétricasMachadinho e Itá.

O denominado Projeto Uruguai, apesar de suas preocupações

Acima e abaixo, Hidrelétrica GovernadorBento Munhoz da Rocha,

ou Foz do Areia, em operaçãono rio Iguaçu (PR), a partir de 1980.

Acervo: Copel.

Ao lado, Hidrelétrica de Segredoinstalada no rio Iguaçu (PR), em 1992.

Acervo: Copel.

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realizou estudos e obteve a concessão para implantar a UHE IlhaGrande, no rio Paraná. Os trabalhos de implantação desta usina, porém,foram interrompidos. O atendimento ao Mato Grosso do Sul se deupelo estabelecimento de novas linhas de transmissão.

Anteriormente, a interligação dos diferentes sistemas passou porcomplexos estudos e negociações relativos à unificação da freqüência,que era diferenciada no Rio Grande do Sul. Este trabalho começou aser definido pela Eletrobrás, elegendo-se a freqüência de 60 Hz. AEletrosul assumiu a sua continuidade, ao mesmo tempo em que sequalificava para a transmissão em longas distâncias. As primeiras linhasde transmissão de 230 kV foram concluídas em 1975, para distribuir aenergia gerada pela UHE Salto Osório. Seguiram-se a construção deoutras linhas estratégicas, interligando os Estados do Sul entre si e aoSudeste. Dezenas de subestações foram construídas. E, maisrecentemente, através de acordos específicos a Eletrosul estendeu linhasde transmissão em direção à Argentina e ao Uruguai, num cenário deintegração energética com países integrantes do Mercosul.

O quadro de pessoal da Eletrosul foi, em sua maior parte,devidamente especializado, objetivando responder às múltiplas funçõesque envolviam estudos preliminares do potencial energético de baciashidrográficas; à definição de prioridades; à eleição de tecnologias e deequipamentos; às questões econômicas, sociais e ambientais; àsestratégias administrativas e políticas, além de rotinas técnicas efuncionais.

A sede da Eletrosul, originalmente localizada em Brasília (DF),começou a ser transferida para a capital de Santa Catarina em 1973.Até 1978, quando foram inauguradas suas instalações centrais, umexpressivo número de servidores técnico-administrativos foi deslocadopara os diferentes empreendimentos incorporados, ou para áreas deinteresse específico. Mas a maior parte foi sediada em Florianópolis.Os impactos decorrentes da presença de cerca de 450 servidores e suasfamílias, com poder aquisitivo relativamente alto, não foram pequenospara os tradicionais residentes. A dinamização urbana da Ilha-capitalhavia se iniciado com a instalação, em 1962, da Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC), à época abrigando um conjunto de setefaculdades e cerca de trezentos professores e servidores. Com a chegadados funcionários da Eletrosul e a simultânea expansão da UFSC a capitalefetivamente vivenciou diferentes mudanças. Ocorreu uma

metodológicas nas áreas ambiental e social, provocou desde o primeiromomento uma série de questionamentos por parte das populaçõespotencialmente atingidas, abrindo caminho para as discussões que hojese travam sobre os impactos sociais decorrentes da implantação dehidrelétricas, no País e no exterior.

A partir de 1980, a Região Geoelétrica Sul, de interesse da Eletrosul,que originalmente envolvia o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grandedo Sul, passou a abarcar também o Estado do Mato Grosso do Sul(Decreto nº 84.589, de 24 de março de 1980). Para atender às novasdemandas decorrentes da expansão de sua área de atuação, a Eletrosul

Manutenção de linhas de transmissãoem Foz do Iguaçu (PR).

Acervo: Copel.

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realizou estudos e obteve a concessão para implantar a UHE IlhaGrande, no rio Paraná. Os trabalhos de implantação desta usina, porém,foram interrompidos. O atendimento ao Mato Grosso do Sul se deupelo estabelecimento de novas linhas de transmissão.

Anteriormente, a interligação dos diferentes sistemas passou porcomplexos estudos e negociações relativos à unificação da freqüência,que era diferenciada no Rio Grande do Sul. Este trabalho começou aser definido pela Eletrobrás, elegendo-se a freqüência de 60 Hz. AEletrosul assumiu a sua continuidade, ao mesmo tempo em que sequalificava para a transmissão em longas distâncias. As primeiras linhasde transmissão de 230 kV foram concluídas em 1975, para distribuir aenergia gerada pela UHE Salto Osório. Seguiram-se a construção deoutras linhas estratégicas, interligando os Estados do Sul entre si e aoSudeste. Dezenas de subestações foram construídas. E, maisrecentemente, através de acordos específicos a Eletrosul estendeu linhasde transmissão em direção à Argentina e ao Uruguai, num cenário deintegração energética com países integrantes do Mercosul.

O quadro de pessoal da Eletrosul foi, em sua maior parte,devidamente especializado, objetivando responder às múltiplas funçõesque envolviam estudos preliminares do potencial energético de baciashidrográficas; à definição de prioridades; à eleição de tecnologias e deequipamentos; às questões econômicas, sociais e ambientais; àsestratégias administrativas e políticas, além de rotinas técnicas efuncionais.

A sede da Eletrosul, originalmente localizada em Brasília (DF),começou a ser transferida para a capital de Santa Catarina em 1973.Até 1978, quando foram inauguradas suas instalações centrais, umexpressivo número de servidores técnico-administrativos foi deslocadopara os diferentes empreendimentos incorporados, ou para áreas deinteresse específico. Mas a maior parte foi sediada em Florianópolis.Os impactos decorrentes da presença de cerca de 450 servidores e suasfamílias, com poder aquisitivo relativamente alto, não foram pequenospara os tradicionais residentes. A dinamização urbana da Ilha-capitalhavia se iniciado com a instalação, em 1962, da Universidade Federalde Santa Catarina (UFSC), à época abrigando um conjunto de setefaculdades e cerca de trezentos professores e servidores. Com a chegadados funcionários da Eletrosul e a simultânea expansão da UFSC a capitalefetivamente vivenciou diferentes mudanças. Ocorreu uma

metodológicas nas áreas ambiental e social, provocou desde o primeiromomento uma série de questionamentos por parte das populaçõespotencialmente atingidas, abrindo caminho para as discussões que hojese travam sobre os impactos sociais decorrentes da implantação dehidrelétricas, no País e no exterior.

A partir de 1980, a Região Geoelétrica Sul, de interesse da Eletrosul,que originalmente envolvia o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grandedo Sul, passou a abarcar também o Estado do Mato Grosso do Sul(Decreto nº 84.589, de 24 de março de 1980). Para atender às novasdemandas decorrentes da expansão de sua área de atuação, a Eletrosul

Manutenção de linhas de transmissãoem Foz do Iguaçu (PR).

Acervo: Copel.

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OC A P Í T U L O 5

A definição e a importânciado Projeto Uruguai

GI L B E RT O VA L E N T E CA N A L I

O aproveitamento do rio Uruguai, com seus principais formadorese afluentes, para a produção de energia elétrica, entrou na mira dosinteressados desde aproximadamente os anos quarenta do séculopassado.

Na segunda metade dos anos cinqüenta a Companhia Estadual deEnergia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul começou a realizar osprimeiros estudos para a construção de uma usina hidrelétrica de vulto,na bacia do Uruguai, no rio Passo Fundo. Em fevereiro de 1959contratou a empresa de consultoria italiana Electroconsult (ELC) parapreparar o estudo de viabilidade técnica e econômica doaproveitamento, incluindo a escolha do local da barragem, da usina edos equipamentos. No mesmo ano foram iniciados os trabalhos depreparação do projeto básico e promovidas negociações com o antigoDepartamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) com vistasa obter sua participação financeira, das quais resultou um acordo, em1963, para a abertura das necessárias licitações.

Aproximadamente nesta mesma época o mesmo DNOS viria adeflagrar os estudos para a implantação de uma usina no rioChapecozinho, afluente do Chapecó, no lado catarinense da bacia dorio Uruguai. Mas tanto a primeira como a segunda passaram a enfrentara competição por recursos financeiros escassos, a cujas fontes recorriamos principais Estados brasileiros.

A partir de 1961, com a implantação da Eletrobrás, foi possível aobtenção de um financiamento internacional que permitiu que serealizasse o levantamento do potencial hidrelétrico das regiões Sudeste

dinamização econômica, que impôs uma reestruturação da zona urbana,especialmente através da incorporação de diferentes áreas até entãotidas como rurais. Uma nova dinâmica se afirmou na cidade, que foimais adiante acentuada por um crescente fluxo turístico, com positivosreflexos nas atividades culturais e no cotidiano social local.

1 Constituído por representantes do Ministério de Minas e Energia, do BIRD, da Eletrobrás, da Comissão

do Plano do Carvão Nacional (CPCAN), da Copel, da Celesc e da CEEE.

CALDEIRA, Jorge. et al. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.CENTRO DE MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. Banco de Imagens.

Usinas de Energia Elétrica no Brasil (1883-1999). São Paulo: Sonopress Rimo, 2000. 1 CD-ROMELETROBRÁS. Diretrizes Ambientais para Usinas Termelétricas a Carvão Mineral Nacional. Rio de

Janeiro, 1990. Relatório Técnico.––––. Diretrizes Ambientais para Usinas Termelétricas a Carvão Mineral Nacional. Rio de Janeiro,

1990. Relatório Técnico.––––. Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico, 1991/1993. Rio de Janeiro, 1991. Relatório

Técnico.––––. A Energia Elétrica no Brasil: da primeira lâmpada à Eletrobrás. Rio de Janeiro: Biblioteca do

Exército, 1977.ELETROSUL. 25 anos de História. Florianópolis, 1993. Relatório da Administração.LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina, dimensões e perspectivas. Florianópolis: [s.n.], 1978.LEITE, Antonio Dias. A energia do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 528.SANTOS, Sílvio Coelho dos. Nova História de Santa Catarina. 4. ed. Florianópolis: Terceiro Milênio, 1995.

R E F E R Ê N C I A S

N O T A

Linhas de transmissão.Avenida das Torres, Curitiba.

Acervo: Copel.

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OC A P Í T U L O 5

A definição e a importânciado Projeto Uruguai

GI L B E RT O VA L E N T E CA N A L I

O aproveitamento do rio Uruguai, com seus principais formadorese afluentes, para a produção de energia elétrica, entrou na mira dosinteressados desde aproximadamente os anos quarenta do séculopassado.

Na segunda metade dos anos cinqüenta a Companhia Estadual deEnergia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul começou a realizar osprimeiros estudos para a construção de uma usina hidrelétrica de vulto,na bacia do Uruguai, no rio Passo Fundo. Em fevereiro de 1959contratou a empresa de consultoria italiana Electroconsult (ELC) parapreparar o estudo de viabilidade técnica e econômica doaproveitamento, incluindo a escolha do local da barragem, da usina edos equipamentos. No mesmo ano foram iniciados os trabalhos depreparação do projeto básico e promovidas negociações com o antigoDepartamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) com vistasa obter sua participação financeira, das quais resultou um acordo, em1963, para a abertura das necessárias licitações.

Aproximadamente nesta mesma época o mesmo DNOS viria adeflagrar os estudos para a implantação de uma usina no rioChapecozinho, afluente do Chapecó, no lado catarinense da bacia dorio Uruguai. Mas tanto a primeira como a segunda passaram a enfrentara competição por recursos financeiros escassos, a cujas fontes recorriamos principais Estados brasileiros.

A partir de 1961, com a implantação da Eletrobrás, foi possível aobtenção de um financiamento internacional que permitiu que serealizasse o levantamento do potencial hidrelétrico das regiões Sudeste

dinamização econômica, que impôs uma reestruturação da zona urbana,especialmente através da incorporação de diferentes áreas até entãotidas como rurais. Uma nova dinâmica se afirmou na cidade, que foimais adiante acentuada por um crescente fluxo turístico, com positivosreflexos nas atividades culturais e no cotidiano social local.

1 Constituído por representantes do Ministério de Minas e Energia, do BIRD, da Eletrobrás, da Comissão

do Plano do Carvão Nacional (CPCAN), da Copel, da Celesc e da CEEE.

CALDEIRA, Jorge. et al. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.CENTRO DE MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. Banco de Imagens.

Usinas de Energia Elétrica no Brasil (1883-1999). São Paulo: Sonopress Rimo, 2000. 1 CD-ROMELETROBRÁS. Diretrizes Ambientais para Usinas Termelétricas a Carvão Mineral Nacional. Rio de

Janeiro, 1990. Relatório Técnico.––––. Diretrizes Ambientais para Usinas Termelétricas a Carvão Mineral Nacional. Rio de Janeiro,

1990. Relatório Técnico.––––. Plano Diretor de Meio Ambiente do Setor Elétrico, 1991/1993. Rio de Janeiro, 1991. Relatório

Técnico.––––. A Energia Elétrica no Brasil: da primeira lâmpada à Eletrobrás. Rio de Janeiro: Biblioteca do

Exército, 1977.ELETROSUL. 25 anos de História. Florianópolis, 1993. Relatório da Administração.LAGO, Paulo Fernando. Santa Catarina, dimensões e perspectivas. Florianópolis: [s.n.], 1978.LEITE, Antonio Dias. A energia do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p. 528.SANTOS, Sílvio Coelho dos. Nova História de Santa Catarina. 4. ed. Florianópolis: Terceiro Milênio, 1995.

R E F E R Ê N C I A S

N O T A

Linhas de transmissão.Avenida das Torres, Curitiba.

Acervo: Copel.

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e Sul do Brasil e seiniciasse um planejamentopara a implantação denovas usinas.

Os estudos de planeja-mento que orientaram odesenvolvimento do setorelétrico, a partir de meados

da década de sessenta, foram realizados por um Consórcio Canadense-Americano-Brasileiro (Canambra), através de iniciativa do Enersul.Esses estudos resultaram num dos maiores levantamentos sistemáticosde potencial hidrelétrico realizados no mundo, e numa proposta deexpansão da capacidade instalada, obedecendo uma ordem seqüencialde implantação dos melhores empreendimentos de geração de energia,segundo um critério primordial de eficiência econômica. Esta propostaincluía a interligação regional das usinas, através de grandes sistemasde transmissão de energia, o que representaria uma mudançafundamental na concepção de novos projetos hidrelétricos e na formade atender à demanda.

A bacia do Uruguai, com topografia montanhosa nas partes alta emédia, em território exclusivamente brasileiro, até a foz do seu tributárioPeperi-Guaçu, que faz a divisa de Santa Catarina e, portanto, de nossoPaís com a Argentina, assim como a sua formação geológica, depredominância ígnea, e uma relativa abundância de água, mostravauma potencialidade considerável para a produção de energiahidrelétrica. Além disto, o trecho em que o curso principal do rioUruguai faz a fronteira entre os dois países apresentava parcelaexpressiva de potencial aproveitável, mas não foi incluído nos estudos,por falta de condições favoráveis ao tratamento bilateral da questão,coisa que já estava acontecendo entre a Argentina e o Uruguai, comvistas ao aproveitamento do potencial existente no trecho final do rio,antes de sua desembocadura1, no estuário do rio da Prata. Somentemuito mais tarde, nos finais da década de setenta, iniciaram-seentendimentos entre o Brasil e a Argentina para realizar o levantamentodo trecho fronteiriço.

Pouco antes do início dos estudos do Canambra na Região Sul, ogoverno do Rio Grande do Sul e o DNOS haviam decidido abrirlicitação para a construção das obras civis de Passo Fundo, as quais

Acima, Hidrelétrica inconclusa,iniciada no rio Chapecozinho (SC).

Foto: Aneliese Nacke, 1990.

Ao lado, vista da UsinaHidrelétrica Passo Fundo (RS).

Acervo: Assessoria de ComunicaçãoEmpresarial da Tractebel.

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e Sul do Brasil e seiniciasse um planejamentopara a implantação denovas usinas.

Os estudos de planeja-mento que orientaram odesenvolvimento do setorelétrico, a partir de meados

da década de sessenta, foram realizados por um Consórcio Canadense-Americano-Brasileiro (Canambra), através de iniciativa do Enersul.Esses estudos resultaram num dos maiores levantamentos sistemáticosde potencial hidrelétrico realizados no mundo, e numa proposta deexpansão da capacidade instalada, obedecendo uma ordem seqüencialde implantação dos melhores empreendimentos de geração de energia,segundo um critério primordial de eficiência econômica. Esta propostaincluía a interligação regional das usinas, através de grandes sistemasde transmissão de energia, o que representaria uma mudançafundamental na concepção de novos projetos hidrelétricos e na formade atender à demanda.

A bacia do Uruguai, com topografia montanhosa nas partes alta emédia, em território exclusivamente brasileiro, até a foz do seu tributárioPeperi-Guaçu, que faz a divisa de Santa Catarina e, portanto, de nossoPaís com a Argentina, assim como a sua formação geológica, depredominância ígnea, e uma relativa abundância de água, mostravauma potencialidade considerável para a produção de energiahidrelétrica. Além disto, o trecho em que o curso principal do rioUruguai faz a fronteira entre os dois países apresentava parcelaexpressiva de potencial aproveitável, mas não foi incluído nos estudos,por falta de condições favoráveis ao tratamento bilateral da questão,coisa que já estava acontecendo entre a Argentina e o Uruguai, comvistas ao aproveitamento do potencial existente no trecho final do rio,antes de sua desembocadura1, no estuário do rio da Prata. Somentemuito mais tarde, nos finais da década de setenta, iniciaram-seentendimentos entre o Brasil e a Argentina para realizar o levantamentodo trecho fronteiriço.

Pouco antes do início dos estudos do Canambra na Região Sul, ogoverno do Rio Grande do Sul e o DNOS haviam decidido abrirlicitação para a construção das obras civis de Passo Fundo, as quais

Acima, Hidrelétrica inconclusa,iniciada no rio Chapecozinho (SC).

Foto: Aneliese Nacke, 1990.

Ao lado, vista da UsinaHidrelétrica Passo Fundo (RS).

Acervo: Assessoria de ComunicaçãoEmpresarial da Tractebel.

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foram efetivamente iniciadas em 1965. Entretanto, devido a restriçõesfinanceiras, não conseguiram manter o cronograma de construção, queprevia sua conclusão em setembro de 1970, e um novo arranjoinstitucional e financeiro acabou por surgir. Vale mencionar que asobras do rio Chapecozinho igualmente tiveram que ser paralisadas,padecendo de pior sorte, já que seguem inconclusas até o presente.

Com a criação da Eletrosul, as atenções se voltaram primeiro parao aproveitamento do rio Iguaçu (PR) e do carvão catarinense. Em 1976,diante da perspectiva de crescimento acelerado do seu mercado e dapossibilidade cada vez maior de intercâmbio de energia elétrica com aregião Sudeste, as atenções se voltaram para a bacia do rio Uruguai.Sob exclusiva coordenação e responsabilidade da Eletrosul foramdesenvolvidos estudos que resultaram num plano de construção de 19novas usinas hidrelétricas2, as quais permitiriam o aproveitamento decerca de 90% do potencial economicamente utilizável, totalizando –incluindo-se a usina de Passo Fundo – uma potência instalada máximada ordem de 9.500 MW, com um investimento equivalente aaproximadamente US$ 10 bilhões.

Para que se tenha uma idéia da relevância destes números, é bomcompará-los à potência de Itaipu, que é de 12.600 MW, compartilhadameio a meio com o Paraguai. Por outro lado, para que se possa avaliaro grande interesse em promover a implantação deste plano, basta dizerque os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul são importadoresde energia. Sob qualquer ângulo, o potencial da bacia do Uruguairepresentava, portanto, uma iniludível e inevitável oportunidade, nãoapenas para os dois Estados, como para toda a região e para o País,integrando o sistema cuja definição acelerou-se na década de 1970.

Efetivamente, o plano sofreu pequenas alterações desde que foiapresentado, em 1979, tendo sido implantadas até o momento as usinasde Passo Fundo, com 220 MW, e de Itá, com 1.450 MW. Encontram-seem fase adiantada de implantação as usinas de Machadinho, com 1.140MW, Quebra-Queixo com 120 MW e Monjolinho com 67 MW. Asusinas de Barra Grande, Campos Novos e Foz do Chapecó encontram-se em início de implantação. As de Pai-Querê foram objeto de concessãorecente pela ANEEL. As demais certamente seguirão o mesmo caminhonos próximos anos. Todas estas usinas têm hoje participação majoritária,quando não exclusiva, de capitais privados.

Construção da Hidrelétrica Itá, rio Uruguai (SC/RS).Foto: María Rosa Catullo.

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foram efetivamente iniciadas em 1965. Entretanto, devido a restriçõesfinanceiras, não conseguiram manter o cronograma de construção, queprevia sua conclusão em setembro de 1970, e um novo arranjoinstitucional e financeiro acabou por surgir. Vale mencionar que asobras do rio Chapecozinho igualmente tiveram que ser paralisadas,padecendo de pior sorte, já que seguem inconclusas até o presente.

Com a criação da Eletrosul, as atenções se voltaram primeiro parao aproveitamento do rio Iguaçu (PR) e do carvão catarinense. Em 1976,diante da perspectiva de crescimento acelerado do seu mercado e dapossibilidade cada vez maior de intercâmbio de energia elétrica com aregião Sudeste, as atenções se voltaram para a bacia do rio Uruguai.Sob exclusiva coordenação e responsabilidade da Eletrosul foramdesenvolvidos estudos que resultaram num plano de construção de 19novas usinas hidrelétricas2, as quais permitiriam o aproveitamento decerca de 90% do potencial economicamente utilizável, totalizando –incluindo-se a usina de Passo Fundo – uma potência instalada máximada ordem de 9.500 MW, com um investimento equivalente aaproximadamente US$ 10 bilhões.

Para que se tenha uma idéia da relevância destes números, é bomcompará-los à potência de Itaipu, que é de 12.600 MW, compartilhadameio a meio com o Paraguai. Por outro lado, para que se possa avaliaro grande interesse em promover a implantação deste plano, basta dizerque os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul são importadoresde energia. Sob qualquer ângulo, o potencial da bacia do Uruguairepresentava, portanto, uma iniludível e inevitável oportunidade, nãoapenas para os dois Estados, como para toda a região e para o País,integrando o sistema cuja definição acelerou-se na década de 1970.

Efetivamente, o plano sofreu pequenas alterações desde que foiapresentado, em 1979, tendo sido implantadas até o momento as usinasde Passo Fundo, com 220 MW, e de Itá, com 1.450 MW. Encontram-seem fase adiantada de implantação as usinas de Machadinho, com 1.140MW, Quebra-Queixo com 120 MW e Monjolinho com 67 MW. Asusinas de Barra Grande, Campos Novos e Foz do Chapecó encontram-se em início de implantação. As de Pai-Querê foram objeto de concessãorecente pela ANEEL. As demais certamente seguirão o mesmo caminhonos próximos anos. Todas estas usinas têm hoje participação majoritária,quando não exclusiva, de capitais privados.

Construção da Hidrelétrica Itá, rio Uruguai (SC/RS).Foto: María Rosa Catullo.

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* Reservatórios de regularização, sem usinas nos locais.Obs.: diversos empreendimentos foram otimizados em estudos posteriores, resultando em algumas

alterações significativas nas configurações propostas. As maiores modificações ocorreram emMachadinho, Campos Novos, Garibaldi e Iraí, este substituído por um novo empreendimento,denominado Foz do Chapecó.

Ordem Reservatório Reservatório Reservatório Potênciacf. custo Cota N.A. (m) Volume (hm³) Área (km²) instalada

(MW)

1 Passo Fundo Passo Fundo 598,0 1.568 149,0 2202 Itá Uruguai 368,0 3.590 160,0 1.3153 Machadinho Uruguai 480,0 4.510 270,0 1.0604 Barra Grande Pelotas 647,0 3.865 102,0 6095 Campos Novos Canoas 624,0 527 15,0 3746 São Roque Canoas 823,0 5.165 320,0 2567 Garibaldi Canoas 732,0 1.945 170,0 3988 B. Pessegueiro Canoas 853,0 1.190 191,0 *9 Itapiranga Uruguai 208,0 113 142,0 93610 Iraí Uruguai 265,0 2.610 179,0 1.11611 P. da Cadeia Pelotas 940,0 1.310 46,0 10412 Pai-Querê Pelotas 797,0 1.742 57,0 28813 Monjolinho Passo Fundo 331,0 9 6,0 7214 Foz Chapecó Chapecó 430,0 870 40,0 18415 Aparecida Chapecó 858,0 1.200 55,5 6416 Abelardo Luz Chapecó 767,0 - 3,3 8417 Nova Erechim Chapecó 335,0 855 56,5 19818 S. Domingos Chapecó 650,0 216 14,4 5519 Quebra-Queixo Chapecó 589,0 643 27,8 16220 Gabiroba Chapecozinho 814,0 317 18,8 *21 Voltão Novo Chapecozinho 542,0 - 1,5 4522 Bom Jesus Chapecozinho 694,0 530 24,9 *23 Xanxerê Chapecozinho 617,0 - 3,4 25

Nome Rio

Usinas Hidrelétricas na bacia do rio Uruguai Perfil do aproveitamento energético do rio Uruguai

Page 121: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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* Reservatórios de regularização, sem usinas nos locais.Obs.: diversos empreendimentos foram otimizados em estudos posteriores, resultando em algumas

alterações significativas nas configurações propostas. As maiores modificações ocorreram emMachadinho, Campos Novos, Garibaldi e Iraí, este substituído por um novo empreendimento,denominado Foz do Chapecó.

Ordem Reservatório Reservatório Reservatório Potênciacf. custo Cota N.A. (m) Volume (hm³) Área (km²) instalada

(MW)

1 Passo Fundo Passo Fundo 598,0 1.568 149,0 2202 Itá Uruguai 368,0 3.590 160,0 1.3153 Machadinho Uruguai 480,0 4.510 270,0 1.0604 Barra Grande Pelotas 647,0 3.865 102,0 6095 Campos Novos Canoas 624,0 527 15,0 3746 São Roque Canoas 823,0 5.165 320,0 2567 Garibaldi Canoas 732,0 1.945 170,0 3988 B. Pessegueiro Canoas 853,0 1.190 191,0 *9 Itapiranga Uruguai 208,0 113 142,0 93610 Iraí Uruguai 265,0 2.610 179,0 1.11611 P. da Cadeia Pelotas 940,0 1.310 46,0 10412 Pai-Querê Pelotas 797,0 1.742 57,0 28813 Monjolinho Passo Fundo 331,0 9 6,0 7214 Foz Chapecó Chapecó 430,0 870 40,0 18415 Aparecida Chapecó 858,0 1.200 55,5 6416 Abelardo Luz Chapecó 767,0 - 3,3 8417 Nova Erechim Chapecó 335,0 855 56,5 19818 S. Domingos Chapecó 650,0 216 14,4 5519 Quebra-Queixo Chapecó 589,0 643 27,8 16220 Gabiroba Chapecozinho 814,0 317 18,8 *21 Voltão Novo Chapecozinho 542,0 - 1,5 4522 Bom Jesus Chapecozinho 694,0 530 24,9 *23 Xanxerê Chapecozinho 617,0 - 3,4 25

Nome Rio

Usinas Hidrelétricas na bacia do rio Uruguai Perfil do aproveitamento energético do rio Uruguai

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Em termos técnicos, no caso de um estudo de uma bacia inteira,como a do rio Uruguai, o aproveitamento do potencial se dá por meioda construção de uma série de barragens, dita em cascata, de modoque o desnível total, entre, por exemplo, a nascente e a desembocadurade um curso d’água, fique subdividido em degraus, cada qualcorrespondendo a uma usina, com a sua respectiva queda e reservatório.

Em todas as usinas estudadas na bacia do rio Uruguai foi propostoeste tipo de solução, e nos estudos do Canambra pouca atenção foidada aos possíveis impactos das obras, porque estas não apresentavamreservatórios com volumes significativos, capazes de regularizar oscaudais naturais a níveis mais elevados de garantia. Na revisão dosestudos a Eletrosul decidiu considerar a possibilidade de aumentarsubstancialmente os volumes úteis dos reservatórios pela elevação deseus níveis máximos, redividindo o desnível total entre as nascentes eo rio Peperi-Guaçu, num menor número de barragens, com maiorvolume de acumulação de água, na expectativa de reduzir o custo médiode aproveitamento e aumentar a energia total produzível e ocorrespondente nível de garantia. Em contrapartida, consciente de quepoderia vir a provocar maiores impactos, decidiu incorporar avaliações

socioeconômicas na comparaçãode alternativas, desenvolvendouma metodologia inovadora,chamando a participar da análiseprofissionais de outras áreas deconhecimento que não apenasde engenharia, como era o casomais comum até então.

Os estudos socioeconômicose físico-territoriais tiveram opropósito de delinear umdiagnóstico relativo às áreasgeográficas que poderiam vir aser afetadas direta ouindiretamente pela formação dosreservatórios e analisar osimpactos decorrentes. Essesestudos compreenderam olevantamento e a análise da

O caráter inovador dos estudossobre a bacia do rio Uruguai

O levantamento sistemático dos recursos energéticos da bacia doUruguai, como foi visto, já tinha sido realizado pelo Canambra,juntamente aos das demais principais bacias da Região Sul, entre 1966e 1969. Nesses estudos prevaleceram critérios e metodologiasexclusivamente das esferas da engenharia e da economia, emborainovadores para a época, tanto em abrangência, como em métodos deanálise, de forma a permitir comparações coerentes e seleção dasmelhores alternativas de aproveitamento dos potenciais, otimizando aprodução de energia aos menores níveis e custos de investimento.

Entretanto, quando retomou o interesse pelo desenvolvimento dopotencial da bacia do Uruguai, a Eletrosul constatou uma série de fatoresmodificadores da conjuntura, determinando a necessidade de promoveruma revisão, levando em conta critérios de análise ainda maisaperfeiçoados. Fundamental importância passariam a assumir os efeitosdas grandes obras sobre o meio ambiente, quer seja do ponto de vista dosimpactos sobre os ecossistemas,quer seja dos impactos sociaiscausados sobre as populaçõesdiretamente afetadas com ainserção das obras, quase sempreexigindo o deslocamentocompulsório de expressivoscontingentes.

Tratava-se, portanto, deencontrar a melhor alternativa deaproveitamento do potencialhidroenergético que causasse omenor impacto, ou que permitissea consideração de medidasmitigadoras, mantendo o custo deprodução de energia abaixodaqueles que se poderia obter dasegunda fonte alternativa maisatraente, tomada como referência.

Vista aérea da Hidrelétrica Machadinho,rio Uruguai (SC/RS), 2001.

Acervo: Tractebel.

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Em termos técnicos, no caso de um estudo de uma bacia inteira,como a do rio Uruguai, o aproveitamento do potencial se dá por meioda construção de uma série de barragens, dita em cascata, de modoque o desnível total, entre, por exemplo, a nascente e a desembocadurade um curso d’água, fique subdividido em degraus, cada qualcorrespondendo a uma usina, com a sua respectiva queda e reservatório.

Em todas as usinas estudadas na bacia do rio Uruguai foi propostoeste tipo de solução, e nos estudos do Canambra pouca atenção foidada aos possíveis impactos das obras, porque estas não apresentavamreservatórios com volumes significativos, capazes de regularizar oscaudais naturais a níveis mais elevados de garantia. Na revisão dosestudos a Eletrosul decidiu considerar a possibilidade de aumentarsubstancialmente os volumes úteis dos reservatórios pela elevação deseus níveis máximos, redividindo o desnível total entre as nascentes eo rio Peperi-Guaçu, num menor número de barragens, com maiorvolume de acumulação de água, na expectativa de reduzir o custo médiode aproveitamento e aumentar a energia total produzível e ocorrespondente nível de garantia. Em contrapartida, consciente de quepoderia vir a provocar maiores impactos, decidiu incorporar avaliações

socioeconômicas na comparaçãode alternativas, desenvolvendouma metodologia inovadora,chamando a participar da análiseprofissionais de outras áreas deconhecimento que não apenasde engenharia, como era o casomais comum até então.

Os estudos socioeconômicose físico-territoriais tiveram opropósito de delinear umdiagnóstico relativo às áreasgeográficas que poderiam vir aser afetadas direta ouindiretamente pela formação dosreservatórios e analisar osimpactos decorrentes. Essesestudos compreenderam olevantamento e a análise da

O caráter inovador dos estudossobre a bacia do rio Uruguai

O levantamento sistemático dos recursos energéticos da bacia doUruguai, como foi visto, já tinha sido realizado pelo Canambra,juntamente aos das demais principais bacias da Região Sul, entre 1966e 1969. Nesses estudos prevaleceram critérios e metodologiasexclusivamente das esferas da engenharia e da economia, emborainovadores para a época, tanto em abrangência, como em métodos deanálise, de forma a permitir comparações coerentes e seleção dasmelhores alternativas de aproveitamento dos potenciais, otimizando aprodução de energia aos menores níveis e custos de investimento.

Entretanto, quando retomou o interesse pelo desenvolvimento dopotencial da bacia do Uruguai, a Eletrosul constatou uma série de fatoresmodificadores da conjuntura, determinando a necessidade de promoveruma revisão, levando em conta critérios de análise ainda maisaperfeiçoados. Fundamental importância passariam a assumir os efeitosdas grandes obras sobre o meio ambiente, quer seja do ponto de vista dosimpactos sobre os ecossistemas,quer seja dos impactos sociaiscausados sobre as populaçõesdiretamente afetadas com ainserção das obras, quase sempreexigindo o deslocamentocompulsório de expressivoscontingentes.

Tratava-se, portanto, deencontrar a melhor alternativa deaproveitamento do potencialhidroenergético que causasse omenor impacto, ou que permitissea consideração de medidasmitigadoras, mantendo o custo deprodução de energia abaixodaqueles que se poderia obter dasegunda fonte alternativa maisatraente, tomada como referência.

Vista aérea da Hidrelétrica Machadinho,rio Uruguai (SC/RS), 2001.

Acervo: Tractebel.

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multidisciplinar que envolveu profissionais da área da engenharia daempresa e das ciências sociais com experiência diversificada, comdestaque para antropólogos, sociólogos, arqueólogos e economistas.

A reação da populaçãoao plano proposto

Apesar do avanço que representou esta metodologia de análise ede tomada de decisão, o plano de aproveitamento do potencial da baciado rio Uruguai não deixou de suscitar intenso questionamento e reaçãoda população da bacia, em especial dos segmentos diretamenteatingidos, e particularmente na área rural. Ao todo, estimava-se quecerca de 36.000 pessoas seriam diretamente afetadas pelas obras, istoé, deveriam ser desalojadas para dar lugar à construção das barragens eformação dos reservatórios, cobrindo uma área total deaproximadamente 1.500 km², distribuída em cerca de 177 municípiosda bacia, nos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

A reação da população da bacia, após a divulgação do plano em1979, progrediu de moderada até uma mobilização generalizada degrupos de protesto contra a construção de qualquer barragem na região.A reação se tornou exacerbada na medida em que se tornavam

conhecidos os efeitos negativosdessas obras. Por outro lado, aempresa empreendedora não semostrava preparada paraapresentar as medidas mitiga-doras ou compensadoras queatenuassem a sensação deinsegurança e perda que sedisseminou entre os segmentosda população que seriamdiretamente atingidos com odeslocamento compulsório.

A primeira fase das reaçõese o início de intenso envolvi-m e n t o d a p o p u l a ç ã o n oprocesso s e c a r a c t e r i z a r a m

infra-estrutura regional, da organização do espaço, dos aspectospopulacionais, do sistema econômico regional, das populações indígenasremanescentes, de sítios arqueológicos e da cobertura vegetal atual.

Ressalte-se que a obrigação legal de realizar estudos de impactoambiental para obras dessa natureza surgiu apenas em 1986, com aregulamentação do licenciamento ambiental, previsto na Lei da PolíticaNacional de Meio Ambiente3.

Os estudos consistiram na montagem de alternativas de subdivisãodo desnível, quantificação e orçamento das obras necessárias, da energiaobtida em cada usina e uma avaliação dos impactos de cada uma,estimados através de indicadores desenvolvidos para esta finalidade.A metodologia adotada, consistia, pois, de uma análise simultânea demúltiplas variáveis, com o objetivo de selecionar a melhor entre asalternativas de subdivisão do desnível e de características das usinas.

Tratava-se de uma metodologia derivada do Método Delphi,desenvolvido para fins de tomada de decisão em estratégias militares,especialmente quando as variáveis não podem ser tratadas através deequações matemáticas que, resolvidas, produzam uma solução quesatisfaça uma série de condições estabelecidas a priori. Antes, talmetodologia requer e implica uma série de análises subjetivas, atravésda ponderação atribuída às repercussões mútuas entre um determinadoconjunto de variáveis, que convergem para um certo nível de consensoentre os avaliadores após algumas rodadas de sucessivas avaliações.Desta forma, supostamente, a metodologia permite reduzir o grau desubjetividade e encontrar uma solução que represente um ótimo aomenos relativo, na opinião consensual dos avaliadores.

Ao todo foram examinados e avaliados 51 locais possíveis deconstrução de barragens, combinados em 16 esquemas, cada qual comcerca de 20 barragens, distribuídas em toda a bacia, tendo resultado aescolha de um destes esquemas como sendo aquele que apresentava acombinação mais aceitável da quantidade de energia produzida, custoe impactos, e que viria a ser adotado como base de um plano de obrasa serem implantadas pela Eletrosul.

Foi a primeira vez que se utilizou tal método para este tipo deproblema, o qual até hoje guarda uma certa dose de ineditismo,precursor de profundas mudanças nos métodos de análise empregadospelo setor elétrico brasileiro para a tomada de decisão na expansão dosistema, especialmente porque dele participou uma equipe

Foto: Sílvio Coelho dos Santos. Manifestação de agricultores às margensdo lago da UHE Itá, julho de 2000.

Foto: Roberto Santos. Acervo: Jornal Diárioda Manhã, Erechim (RS).

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multidisciplinar que envolveu profissionais da área da engenharia daempresa e das ciências sociais com experiência diversificada, comdestaque para antropólogos, sociólogos, arqueólogos e economistas.

A reação da populaçãoao plano proposto

Apesar do avanço que representou esta metodologia de análise ede tomada de decisão, o plano de aproveitamento do potencial da baciado rio Uruguai não deixou de suscitar intenso questionamento e reaçãoda população da bacia, em especial dos segmentos diretamenteatingidos, e particularmente na área rural. Ao todo, estimava-se quecerca de 36.000 pessoas seriam diretamente afetadas pelas obras, istoé, deveriam ser desalojadas para dar lugar à construção das barragens eformação dos reservatórios, cobrindo uma área total deaproximadamente 1.500 km², distribuída em cerca de 177 municípiosda bacia, nos Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.

A reação da população da bacia, após a divulgação do plano em1979, progrediu de moderada até uma mobilização generalizada degrupos de protesto contra a construção de qualquer barragem na região.A reação se tornou exacerbada na medida em que se tornavam

conhecidos os efeitos negativosdessas obras. Por outro lado, aempresa empreendedora não semostrava preparada paraapresentar as medidas mitiga-doras ou compensadoras queatenuassem a sensação deinsegurança e perda que sedisseminou entre os segmentosda população que seriamdiretamente atingidos com odeslocamento compulsório.

A primeira fase das reaçõese o início de intenso envolvi-m e n t o d a p o p u l a ç ã o n oprocesso s e c a r a c t e r i z a r a m

infra-estrutura regional, da organização do espaço, dos aspectospopulacionais, do sistema econômico regional, das populações indígenasremanescentes, de sítios arqueológicos e da cobertura vegetal atual.

Ressalte-se que a obrigação legal de realizar estudos de impactoambiental para obras dessa natureza surgiu apenas em 1986, com aregulamentação do licenciamento ambiental, previsto na Lei da PolíticaNacional de Meio Ambiente3.

Os estudos consistiram na montagem de alternativas de subdivisãodo desnível, quantificação e orçamento das obras necessárias, da energiaobtida em cada usina e uma avaliação dos impactos de cada uma,estimados através de indicadores desenvolvidos para esta finalidade.A metodologia adotada, consistia, pois, de uma análise simultânea demúltiplas variáveis, com o objetivo de selecionar a melhor entre asalternativas de subdivisão do desnível e de características das usinas.

Tratava-se de uma metodologia derivada do Método Delphi,desenvolvido para fins de tomada de decisão em estratégias militares,especialmente quando as variáveis não podem ser tratadas através deequações matemáticas que, resolvidas, produzam uma solução quesatisfaça uma série de condições estabelecidas a priori. Antes, talmetodologia requer e implica uma série de análises subjetivas, atravésda ponderação atribuída às repercussões mútuas entre um determinadoconjunto de variáveis, que convergem para um certo nível de consensoentre os avaliadores após algumas rodadas de sucessivas avaliações.Desta forma, supostamente, a metodologia permite reduzir o grau desubjetividade e encontrar uma solução que represente um ótimo aomenos relativo, na opinião consensual dos avaliadores.

Ao todo foram examinados e avaliados 51 locais possíveis deconstrução de barragens, combinados em 16 esquemas, cada qual comcerca de 20 barragens, distribuídas em toda a bacia, tendo resultado aescolha de um destes esquemas como sendo aquele que apresentava acombinação mais aceitável da quantidade de energia produzida, custoe impactos, e que viria a ser adotado como base de um plano de obrasa serem implantadas pela Eletrosul.

Foi a primeira vez que se utilizou tal método para este tipo deproblema, o qual até hoje guarda uma certa dose de ineditismo,precursor de profundas mudanças nos métodos de análise empregadospelo setor elétrico brasileiro para a tomada de decisão na expansão dosistema, especialmente porque dele participou uma equipe

Foto: Sílvio Coelho dos Santos. Manifestação de agricultores às margensdo lago da UHE Itá, julho de 2000.

Foto: Roberto Santos. Acervo: Jornal Diárioda Manhã, Erechim (RS).

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governamental. Um abaixo-assinado com um milhão de assinaturasfoi levado às autoridades em Brasília, reivindicando o cancelamentodo referido Projeto.

Em 1985, já em regime de governo democrático, o governo federaldecidiu paralisar todas as atividades de campo, com exceção daquelasrelacionadas com a relocação da cidade de Itá. Esta cidade, comaproximadamente dois mil habitantes, viria a ser inundada pelas águasdo reservatório da usina de Itá, até então a segunda obra do plano daEletrosul, a ser executada com pequena defasagem sobre as obras deMachadinho.

Assim sendo, no início de 1986, após intensas conversações, oGoverno Federal propôs a formação de duas comissões formais, umaem Itá e outra em Machadinho, reunindo representantes de todas aspartes envolvidas no conflito, com o objetivo de discutir possíveissoluções mitigadoras dos problemas sociais ocasionados pelas obras enegociar medidas compensadoras.

O principal resultado das reuniões dessas comissões foi a elaboraçãodo “Documento de Acordo entre as Centrais Elétricas do Sul do Brasil(Eletrosul) e a Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB),em relação às Usinas Hidrelétricas de Itá e Machadinho”, assinado,inclusive, pelo então Ministro de Minas e Energia.

Com marchas e contramarchas, vários foram os resultadosconcretos para a população local da bacia do Uruguai, decorrentes,sobretudo, de sua mobilização. Entre eles a responsabilidade dosempreendedores implantarem reassentamentos coletivos, na RegiãoSul, facultados, inclusive, para trabalhadores rurais não proprietáriosdas terras ocupadas; o estabelecimento de uma tomada semestral depreços sobre o valor das terras a serem indenizadas; a constituição deuma comissão paritária, composta por atingidos e funcionários daEletrosul, para tomar decisão sobre casos socialmente atípicos(proprietários rurais mais idosos, doentes, etc.); e a relocalização doschamados “núcleos rurais” (sede de igrejas, escolas, áreas comunitáriasde lazer, etc.). Este foi o processo que se desenvolveu, com um nívelrazoável de satisfação das reivindicações dos atingidos até o presentemomento, e que permitiu a conclusão de Itá em 1999, além doprosseguimento das demais obras.

É interessante, ainda, observar que a mobilização dos atingidosganhou expressão nacional e uma estrutura ramificada por quase todos

po r reivindicação de informações sobre o Projeto, de indenização justae de definição formal a respeito da época em que esta seria paga. Comoalternativa à indenização, o reassentamento em terras de igualfertilidade começou, também, a ser reivindicado. Entretanto, aexperiência brasileira a este respeito não era consistente, havendoexemplos de pendências e disputas judiciais não resolvidas queprejudicavam muito a credibilidade governamental e de seus agentes,no caso a Eletrosul. Esta primeira fase foi marcada, sobretudo pelacriação, em 1979, da Comissão Regional dos Atingidos por Barragens(CRAB), tendo como mediadores as Igrejas Católica e Protestante,sindicatos dos trabalhadores rurais, universidades regionais e políticosda oposição. Esta organização assumiu a função de principalinterlocutora da população atingida com a Eletrosul, embora a empresatenha resistido a tanto, durante algum tempo.

A partir de 1983 a mobilização popular entrou em sua segunda emais radical fase: uma mobilização de larga escala visando a obstar aconstrução das barragens. De modo crescente o movimento ultrapassouas fronteiras da bacia para questionar, em âmbito federal, as decisõesgovernamentais quanto a projetos desta natureza, de modo especial oProjeto Uruguai e a atuação da Eletrosul, vista como um agente

Vista parcial do reassentamentode agricultores, em Chiapeta (RS),

deslocados para a instalaçãoda UHE Itá, 1997.Acervo: Eletrosul.

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governamental. Um abaixo-assinado com um milhão de assinaturasfoi levado às autoridades em Brasília, reivindicando o cancelamentodo referido Projeto.

Em 1985, já em regime de governo democrático, o governo federaldecidiu paralisar todas as atividades de campo, com exceção daquelasrelacionadas com a relocação da cidade de Itá. Esta cidade, comaproximadamente dois mil habitantes, viria a ser inundada pelas águasdo reservatório da usina de Itá, até então a segunda obra do plano daEletrosul, a ser executada com pequena defasagem sobre as obras deMachadinho.

Assim sendo, no início de 1986, após intensas conversações, oGoverno Federal propôs a formação de duas comissões formais, umaem Itá e outra em Machadinho, reunindo representantes de todas aspartes envolvidas no conflito, com o objetivo de discutir possíveissoluções mitigadoras dos problemas sociais ocasionados pelas obras enegociar medidas compensadoras.

O principal resultado das reuniões dessas comissões foi a elaboraçãodo “Documento de Acordo entre as Centrais Elétricas do Sul do Brasil(Eletrosul) e a Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB),em relação às Usinas Hidrelétricas de Itá e Machadinho”, assinado,inclusive, pelo então Ministro de Minas e Energia.

Com marchas e contramarchas, vários foram os resultadosconcretos para a população local da bacia do Uruguai, decorrentes,sobretudo, de sua mobilização. Entre eles a responsabilidade dosempreendedores implantarem reassentamentos coletivos, na RegiãoSul, facultados, inclusive, para trabalhadores rurais não proprietáriosdas terras ocupadas; o estabelecimento de uma tomada semestral depreços sobre o valor das terras a serem indenizadas; a constituição deuma comissão paritária, composta por atingidos e funcionários daEletrosul, para tomar decisão sobre casos socialmente atípicos(proprietários rurais mais idosos, doentes, etc.); e a relocalização doschamados “núcleos rurais” (sede de igrejas, escolas, áreas comunitáriasde lazer, etc.). Este foi o processo que se desenvolveu, com um nívelrazoável de satisfação das reivindicações dos atingidos até o presentemomento, e que permitiu a conclusão de Itá em 1999, além doprosseguimento das demais obras.

É interessante, ainda, observar que a mobilização dos atingidosganhou expressão nacional e uma estrutura ramificada por quase todos

po r reivindicação de informações sobre o Projeto, de indenização justae de definição formal a respeito da época em que esta seria paga. Comoalternativa à indenização, o reassentamento em terras de igualfertilidade começou, também, a ser reivindicado. Entretanto, aexperiência brasileira a este respeito não era consistente, havendoexemplos de pendências e disputas judiciais não resolvidas queprejudicavam muito a credibilidade governamental e de seus agentes,no caso a Eletrosul. Esta primeira fase foi marcada, sobretudo pelacriação, em 1979, da Comissão Regional dos Atingidos por Barragens(CRAB), tendo como mediadores as Igrejas Católica e Protestante,sindicatos dos trabalhadores rurais, universidades regionais e políticosda oposição. Esta organização assumiu a função de principalinterlocutora da população atingida com a Eletrosul, embora a empresatenha resistido a tanto, durante algum tempo.

A partir de 1983 a mobilização popular entrou em sua segunda emais radical fase: uma mobilização de larga escala visando a obstar aconstrução das barragens. De modo crescente o movimento ultrapassouas fronteiras da bacia para questionar, em âmbito federal, as decisõesgovernamentais quanto a projetos desta natureza, de modo especial oProjeto Uruguai e a atuação da Eletrosul, vista como um agente

Vista parcial do reassentamentode agricultores, em Chiapeta (RS),

deslocados para a instalaçãoda UHE Itá, 1997.Acervo: Eletrosul.

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os locais de construção de novas barragens, inclusive para outrasfinalidades que não apenas a geração de energia4. Mais tarde, omovimento, já sob a denominação de Movimento dos Atingidos porBarragens (MAB), ganhou projeção internacional, participando degrupos de pressão contra a construção de barragens5 e contribuindopara a tomada de decisões de repercussão global, como foi o caso doprocesso que culminou com o lançamento do relatório da ComissãoMundial de Barragens, em 19976, sob a égide do Banco Mundial e daUnião Internacional para a Conservação da Natureza, duas instituiçõesde grande poder de influência sobre políticas públicas e sobre a opiniãopública internacional.

Muitas propostas foram elaboradas no sentido de promover ainserção regional das obras de modo a aproveitar o momento de alocaçãointensiva de capitais e ampla mobilização, para assegurar benefícioslocais permanentes, incluindo a melhoria da infra-estrutura local eregional, a recuperação ambiental, a melhoria de práticas agrícolas eoutras medidas concorrentes à promoção social da região. Tais propostas,a rigor, tiveram efeito prático muito limitado porque o setor elétrico,embora assumindo mais do que estava habituado a fazer, consideravaque tais propostas deveriam ser enquadradas em planos multissetoriaisde governo, para que seus custos pudessem ser absorvidos de maneiradiversa à mera incidência que teriam sobre a tarifa da energia a serproduzida, caso ficassem sob sua exclusiva responsabilidade.

Uma revisão crítica

Não resta dúvida que todo o processo de elaboração e implantaçãodo plano de aproveitamento hidroenergético da bacia do Uruguai trouxeuma série de lições muito importantes, sob qualquer ponto de vista.

Para a engenharia nacional, foi marcante o desenvolvimento denova metodologia de análise, na medida em que foi incorporadaformalmente pelo setor elétrico, passando a fazer parte de seus manuaisde orientação para a realização deste tipo de estudo, segundo critériospadronizados e requeridos para a aprovação de novas concessões. Coma privatização do setor, em andamento, provavelmente esta metodologiaserá revisada, mas é de se esperar que a atuação do Estado continue aprevalecer na definição de critérios básicos, através dos mecanismos

Preservação das torres da antiga igreja, atingida pela formação do lago da UHE Itá (SC).Acervo: Foto Gabiatti, Itá, 2001.

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os locais de construção de novas barragens, inclusive para outrasfinalidades que não apenas a geração de energia4. Mais tarde, omovimento, já sob a denominação de Movimento dos Atingidos porBarragens (MAB), ganhou projeção internacional, participando degrupos de pressão contra a construção de barragens5 e contribuindopara a tomada de decisões de repercussão global, como foi o caso doprocesso que culminou com o lançamento do relatório da ComissãoMundial de Barragens, em 19976, sob a égide do Banco Mundial e daUnião Internacional para a Conservação da Natureza, duas instituiçõesde grande poder de influência sobre políticas públicas e sobre a opiniãopública internacional.

Muitas propostas foram elaboradas no sentido de promover ainserção regional das obras de modo a aproveitar o momento de alocaçãointensiva de capitais e ampla mobilização, para assegurar benefícioslocais permanentes, incluindo a melhoria da infra-estrutura local eregional, a recuperação ambiental, a melhoria de práticas agrícolas eoutras medidas concorrentes à promoção social da região. Tais propostas,a rigor, tiveram efeito prático muito limitado porque o setor elétrico,embora assumindo mais do que estava habituado a fazer, consideravaque tais propostas deveriam ser enquadradas em planos multissetoriaisde governo, para que seus custos pudessem ser absorvidos de maneiradiversa à mera incidência que teriam sobre a tarifa da energia a serproduzida, caso ficassem sob sua exclusiva responsabilidade.

Uma revisão crítica

Não resta dúvida que todo o processo de elaboração e implantaçãodo plano de aproveitamento hidroenergético da bacia do Uruguai trouxeuma série de lições muito importantes, sob qualquer ponto de vista.

Para a engenharia nacional, foi marcante o desenvolvimento denova metodologia de análise, na medida em que foi incorporadaformalmente pelo setor elétrico, passando a fazer parte de seus manuaisde orientação para a realização deste tipo de estudo, segundo critériospadronizados e requeridos para a aprovação de novas concessões. Coma privatização do setor, em andamento, provavelmente esta metodologiaserá revisada, mas é de se esperar que a atuação do Estado continue aprevalecer na definição de critérios básicos, através dos mecanismos

Preservação das torres da antiga igreja, atingida pela formação do lago da UHE Itá (SC).Acervo: Foto Gabiatti, Itá, 2001.

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Do ponto de vista dos atingidos, é absolutamente necessário queas populações, em especial quando forçadas ao deslocamento, sejamindenizadas e compensadas de modo que possam continuar a viver, nomínimo nas mesmas condições anteriores, ou se possível, em melhorescondições. É importante que percebam a oportunidade para negociare alcançar tais melhorias. Esta possibilidade passará a ser menos provávelnum ambiente agora privatizado, exigindo maior esforço dosempreendedores para encontrar as formas que conduzam à viabilidadesocial e ambiental dos novos empreendimentos.

Do ponto de vista ambiental, é importante que as obras sejamcercadas dos devidos cuidados, em primeiro lugar para que não causemmaiores impactos que os previstos. Portanto, é necessário que os estudossejam abrangentes e realizados com as melhores informações e técnicasdisponíveis, observando os princípios da prevenção e da precaução,propostos na carta de princípios resultante da Conferência Rio 92, paraa promoção do desenvolvimento sustentável.

O papel do governo, idealmente considerado e razoavelmenteaceito, seria o de mobilizar e organizar as forças vivas do País para asatisfação das necessidades e objetivos da sociedade. De outro lado, ouso racional dos recursos naturais, com uma alocação equânime deônus e benefícios à sociedade como um todo, requer uma habilidademuito especial, se é que isto é de todo possível, para que ao menosessas necessidades e objetivos possam ser traduzidos em critérios eobjetivos de engenharia na concepção de grandes obras de interessepúblico. Na realidade, a percepção da sociedade quanto às suasprioridades em geral está mesclada com, ou mesmo escondida sob, váriosanseios e ansiedades gerados pela própria dinâmica social, nem semprecompreendida a tempo, no âmbito e na escala desejados.

A necessidade de entendimento entre os agentes de governo,formuladores de políticas públicas, e os técnicos tornou-se bastanteevidente após as experiências vividas durante o regime de governoautoritário, quando muitas decisões de grande alcance resultaram deuma concepção tecnocrática do papel do governo. Atualmente seriaimpensável iniciar um projeto com a magnitude do Projeto Uruguaisem abrir espaços para o envolvimento e o julgamento do público nasetapas decisivas. Por outro lado, finalmente, seria também impensávelrestringir a possibilidade de aproveitar recursos naturais de grandepotencial multiplicador do bem-estar social, como é o caso da

de regulação do setor elétrico, sob a responsabilidade da AgênciaNacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Mais do que isto, ainda do ponto de vista do desenvolvimentotecnológico, a construção de obras de grande porte promove a definitivaconsolidação da engenharia de barragens nos dois Estados onde estãosendo implantadas, fomentando o interesse e a fixação de capacitaçãotécnica a ser aproveitada em outros setores do desenvolvimentosocioeconômico.

Não obstante, ficou patente que as obras públicas de granderepercussão e impacto, por mais econômicas e atraentes que sejam,devem ter sua viabilidade sociopolítica e ambiental claramentedemonstrada no momento de tomada de decisões cruciais. Oenvolvimento participativo do público atingido é indispensável, mas oPaís ainda tem um longo aprendizado desta prática, de modo a criarforos formais de discussão construtiva e de tomada de decisãofundamentada em critérios amplamente aceitos a priori. É bom notarque o procedimento de audiências públicas, previsto na legislaçãoambiental, é pouco eficaz, carecendo também de aprimoramento, umavez que não têm caráter decisório e se realizam em geral em fasesdemasiadamente adiantadas do empreendimento, dificultandoalterações de concepção, porventura suscitadas.

A população interessada deve ser informada também dasconseqüências da não construção de uma obra, coisa que leva, em gerala uma ampliação extraordinária do público a ser envolvido, visto que,em se tratando da produção de energia, os benefícios se estendem porum território muitas vezes superior ao da região que deve suportar osimpactos. Medidas mitigadoras e compensadoras devem ser negociadasantecipadamente e registradas formalmente, como meio de quantificá-las, e executadas em escala regional, antes ou no máximo durante aprópria implantação das obras. É de capital importância assegurar ofluxo de recursos financeiros que permita ao empreendedor dar cabodos compromissos firmados nas negociações.

Do ponto de vista regional, a produção de energia deve propiciara internalização de benefícios expressivos, a começar pelaparticipação direta no resultado financeiro, a título de compensaçãoaos municípios e aos Estados, medida que vem sendo praticada desde1991, por força da regulamentação de dispositivo constitucionalassegurador deste direito.

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Do ponto de vista dos atingidos, é absolutamente necessário queas populações, em especial quando forçadas ao deslocamento, sejamindenizadas e compensadas de modo que possam continuar a viver, nomínimo nas mesmas condições anteriores, ou se possível, em melhorescondições. É importante que percebam a oportunidade para negociare alcançar tais melhorias. Esta possibilidade passará a ser menos provávelnum ambiente agora privatizado, exigindo maior esforço dosempreendedores para encontrar as formas que conduzam à viabilidadesocial e ambiental dos novos empreendimentos.

Do ponto de vista ambiental, é importante que as obras sejamcercadas dos devidos cuidados, em primeiro lugar para que não causemmaiores impactos que os previstos. Portanto, é necessário que os estudossejam abrangentes e realizados com as melhores informações e técnicasdisponíveis, observando os princípios da prevenção e da precaução,propostos na carta de princípios resultante da Conferência Rio 92, paraa promoção do desenvolvimento sustentável.

O papel do governo, idealmente considerado e razoavelmenteaceito, seria o de mobilizar e organizar as forças vivas do País para asatisfação das necessidades e objetivos da sociedade. De outro lado, ouso racional dos recursos naturais, com uma alocação equânime deônus e benefícios à sociedade como um todo, requer uma habilidademuito especial, se é que isto é de todo possível, para que ao menosessas necessidades e objetivos possam ser traduzidos em critérios eobjetivos de engenharia na concepção de grandes obras de interessepúblico. Na realidade, a percepção da sociedade quanto às suasprioridades em geral está mesclada com, ou mesmo escondida sob, váriosanseios e ansiedades gerados pela própria dinâmica social, nem semprecompreendida a tempo, no âmbito e na escala desejados.

A necessidade de entendimento entre os agentes de governo,formuladores de políticas públicas, e os técnicos tornou-se bastanteevidente após as experiências vividas durante o regime de governoautoritário, quando muitas decisões de grande alcance resultaram deuma concepção tecnocrática do papel do governo. Atualmente seriaimpensável iniciar um projeto com a magnitude do Projeto Uruguaisem abrir espaços para o envolvimento e o julgamento do público nasetapas decisivas. Por outro lado, finalmente, seria também impensávelrestringir a possibilidade de aproveitar recursos naturais de grandepotencial multiplicador do bem-estar social, como é o caso da

de regulação do setor elétrico, sob a responsabilidade da AgênciaNacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Mais do que isto, ainda do ponto de vista do desenvolvimentotecnológico, a construção de obras de grande porte promove a definitivaconsolidação da engenharia de barragens nos dois Estados onde estãosendo implantadas, fomentando o interesse e a fixação de capacitaçãotécnica a ser aproveitada em outros setores do desenvolvimentosocioeconômico.

Não obstante, ficou patente que as obras públicas de granderepercussão e impacto, por mais econômicas e atraentes que sejam,devem ter sua viabilidade sociopolítica e ambiental claramentedemonstrada no momento de tomada de decisões cruciais. Oenvolvimento participativo do público atingido é indispensável, mas oPaís ainda tem um longo aprendizado desta prática, de modo a criarforos formais de discussão construtiva e de tomada de decisãofundamentada em critérios amplamente aceitos a priori. É bom notarque o procedimento de audiências públicas, previsto na legislaçãoambiental, é pouco eficaz, carecendo também de aprimoramento, umavez que não têm caráter decisório e se realizam em geral em fasesdemasiadamente adiantadas do empreendimento, dificultandoalterações de concepção, porventura suscitadas.

A população interessada deve ser informada também dasconseqüências da não construção de uma obra, coisa que leva, em gerala uma ampliação extraordinária do público a ser envolvido, visto que,em se tratando da produção de energia, os benefícios se estendem porum território muitas vezes superior ao da região que deve suportar osimpactos. Medidas mitigadoras e compensadoras devem ser negociadasantecipadamente e registradas formalmente, como meio de quantificá-las, e executadas em escala regional, antes ou no máximo durante aprópria implantação das obras. É de capital importância assegurar ofluxo de recursos financeiros que permita ao empreendedor dar cabodos compromissos firmados nas negociações.

Do ponto de vista regional, a produção de energia deve propiciara internalização de benefícios expressivos, a começar pelaparticipação direta no resultado financeiro, a título de compensaçãoaos municípios e aos Estados, medida que vem sendo praticada desde1991, por força da regulamentação de dispositivo constitucionalassegurador deste direito.

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Estudos do trecho internacional da bacia do rio Uruguai

O aproveitamento dos recursoshídricos do trecho do rioUruguai, limítrofe entre o Brasile a Argentina, reconhecido deinteresse mútuo, resultou emconvênio assinado por seusó r g ã o s c o m p e t e n t e s , aEletrobrás e a Agua y EnergíaEléctrica (AYE), em março de1972. Este convênio se destinavaà realização de estudos dopotencial hidrelétrico e dapossibilidade de promovermúltiplo aproveitamento daságuas do trecho compartilhado.

Os estudos realizadoscobriram o trecho de 725 kmentre a foz do rio Quaraí(fronteira entre o Brasil e oUruguai) e a foz do rio Peperi–Guaçu, permitindo, em 1974,d e f i n i r u m e s q u e m a d eaproveitamento mediante aconstrução de três usinas: SãoPedro, cerca de 18 km amontante da foz do rio Quaraí,com 370 MW; Garabi, logo amontante, com 800 MW; eRoncador, mais a montante,com 1.000 MW.

Além das análises relativas aoaproveitamento do potencialh i d r e l é t r i c o , o s e s t u d o scompreenderam avaliaçõesrelativas à navegação e outrosusos da água. Os estudos den a v e g a ç ã o i n d i c a r a m apossibilidade e a vantagem dedotar a barragem de São Pedrocom eclusas, visando a garantira continuidade da navegação amontante da barragem de Salto

Grande, já construída no trechointernacional entre o Uruguai e aArgentina, abrindo, assim, paraamplas regiões produtorasbrasileiras e argentinas os portosmarítimos do estuário do Prata eo acesso a Porto Alegre, atravésda interligação Ibicuí-Jacuí, hámuito prevista nos planoshidroviários brasileiros.

Em 1980 concluiu-se, emBuenos Aires, o “Tratado para oAproveitamento dos RecursosHídricos Compartilhados dosTrechos Limítrofes do RioUruguai” e de seu afluente, o rioPeperi-Guaçu, entre o Governoda República Federativa do Brasile o Governo da Repúbl icaArgentina, subseqüentementeaprovado pelo CongressoNacional Brasileiro, pelo DecretoLegislativo nº 82, de 1982, epromulgado pelo Presidente daRepúbl ica, pelo Decreto nº88.441, de 29 de junho de 1983.

Os estudos de Garabi tiveramprosseguimento por toda a décadade 1980, concluindo-se um projetobásico e grande parte dosdocumentos de licitação para aimplantação das obras, até que osdois países, já levados pelanecess idade de promovermudanças nos respect ivosmodelos institucionais dos seussetores elétricos, decidiramsuspender as iniciativas e ose s t u d o s d e i m p l a n t a ç ã o ,manifestando a intenção dedelegá-los, oportunamente, àiniciativa privada.

1 Trata-se do aproveitamento binacional de Salto Grande, construído nos anos 1960 e 1970.

2 Além destas, o plano previa a construção de reservatórios de regularização no trecho mais alto dos rios

Canoas e Chapecozinho, totalizando, portanto, 22 novas barragens.3 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.

4 Como é o caso da Barragem do Castanhão, no Estado do Ceará, destinada ao suprimento d’água para

fins agrícolas, industriais e domésticos.5 Em 14 março de 1997 o MAB organizou uma reunião internacional em Curitiba e lançou o Dia

Internacional do Movimento contra a Construção de Barragens.6 World Commission on Dams, 2000.

N O T A S

hidreletricidade, apenas pela incapacidade de desenvolver alternativasque possibilitassem o uso sustentável do recurso, conciliando a amplagama de interesses da sociedade, desde a conservação do ambiente atéa busca de melhores condições de vida.

A importância do Projeto Uruguai pode ser assim inferida, mas éevidente que a sua verdadeira amplitude terá sempre que serpermanentemente reavaliada, para fazer com que os resultados sejam,sempre, globalmente positivos.

Vista aérea da Hidrelétrica Itá, 2001.Acervo: Tractebel.

Page 133: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

129128

Estudos do trecho internacional da bacia do rio Uruguai

O aproveitamento dos recursoshídricos do trecho do rioUruguai, limítrofe entre o Brasile a Argentina, reconhecido deinteresse mútuo, resultou emconvênio assinado por seusó r g ã o s c o m p e t e n t e s , aEletrobrás e a Agua y EnergíaEléctrica (AYE), em março de1972. Este convênio se destinavaà realização de estudos dopotencial hidrelétrico e dapossibilidade de promovermúltiplo aproveitamento daságuas do trecho compartilhado.

Os estudos realizadoscobriram o trecho de 725 kmentre a foz do rio Quaraí(fronteira entre o Brasil e oUruguai) e a foz do rio Peperi–Guaçu, permitindo, em 1974,d e f i n i r u m e s q u e m a d eaproveitamento mediante aconstrução de três usinas: SãoPedro, cerca de 18 km amontante da foz do rio Quaraí,com 370 MW; Garabi, logo amontante, com 800 MW; eRoncador, mais a montante,com 1.000 MW.

Além das análises relativas aoaproveitamento do potencialh i d r e l é t r i c o , o s e s t u d o scompreenderam avaliaçõesrelativas à navegação e outrosusos da água. Os estudos den a v e g a ç ã o i n d i c a r a m apossibilidade e a vantagem dedotar a barragem de São Pedrocom eclusas, visando a garantira continuidade da navegação amontante da barragem de Salto

Grande, já construída no trechointernacional entre o Uruguai e aArgentina, abrindo, assim, paraamplas regiões produtorasbrasileiras e argentinas os portosmarítimos do estuário do Prata eo acesso a Porto Alegre, atravésda interligação Ibicuí-Jacuí, hámuito prevista nos planoshidroviários brasileiros.

Em 1980 concluiu-se, emBuenos Aires, o “Tratado para oAproveitamento dos RecursosHídricos Compartilhados dosTrechos Limítrofes do RioUruguai” e de seu afluente, o rioPeperi-Guaçu, entre o Governoda República Federativa do Brasile o Governo da Repúbl icaArgentina, subseqüentementeaprovado pelo CongressoNacional Brasileiro, pelo DecretoLegislativo nº 82, de 1982, epromulgado pelo Presidente daRepúbl ica, pelo Decreto nº88.441, de 29 de junho de 1983.

Os estudos de Garabi tiveramprosseguimento por toda a décadade 1980, concluindo-se um projetobásico e grande parte dosdocumentos de licitação para aimplantação das obras, até que osdois países, já levados pelanecess idade de promovermudanças nos respect ivosmodelos institucionais dos seussetores elétricos, decidiramsuspender as iniciativas e ose s t u d o s d e i m p l a n t a ç ã o ,manifestando a intenção dedelegá-los, oportunamente, àiniciativa privada.

1 Trata-se do aproveitamento binacional de Salto Grande, construído nos anos 1960 e 1970.

2 Além destas, o plano previa a construção de reservatórios de regularização no trecho mais alto dos rios

Canoas e Chapecozinho, totalizando, portanto, 22 novas barragens.3 Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981.

4 Como é o caso da Barragem do Castanhão, no Estado do Ceará, destinada ao suprimento d’água para

fins agrícolas, industriais e domésticos.5 Em 14 março de 1997 o MAB organizou uma reunião internacional em Curitiba e lançou o Dia

Internacional do Movimento contra a Construção de Barragens.6 World Commission on Dams, 2000.

N O T A S

hidreletricidade, apenas pela incapacidade de desenvolver alternativasque possibilitassem o uso sustentável do recurso, conciliando a amplagama de interesses da sociedade, desde a conservação do ambiente atéa busca de melhores condições de vida.

A importância do Projeto Uruguai pode ser assim inferida, mas éevidente que a sua verdadeira amplitude terá sempre que serpermanentemente reavaliada, para fazer com que os resultados sejam,sempre, globalmente positivos.

Vista aérea da Hidrelétrica Itá, 2001.Acervo: Tractebel.

Page 134: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

EC A P Í T U L O 6

Itaipu: um megaprojetoCL Á U D I O JO S É DA L L A BE N E T TA

Em 1962, quando o governo João Goulart solicitou estudos aoescritório do engenheiro Octávio Marcondes Ferraz para oaproveitamento hidrelétrico de Sete Quedas, o Paraguai protestou. Ademarcação de fronteiras entre o Brasil e o Paraguai, realizada em 1872,após a Guerra da Tríplice Aliança, deixara dúvidas sobre a qual dosdois países pertencia o Salto de Sete Quedas ou Salto del Guairá, comoé chamado no Paraguai. O documento, em português e em espanhol,definia que o território brasileiro, na fronteira com o Paraguai, ia “até”(ou hasta) o Salto de Sete Quedas. Para o Salto ser brasileiro, osparaguaios entendiam faltar o “inclusive”. A proposta de MarcondesFerraz previa uma usina com capacidade de 10 mil megawatts, paraproduzir 67 milhões de megawatts-hora por ano, o que representava,na época, três vezes o consumo do Brasil.

Construção da Hidrelétrica de Itaipu, década de 70.Acervo Itaipu Binacional (PR).

Page 135: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

EC A P Í T U L O 6

Itaipu: um megaprojetoCL Á U D I O JO S É DA L L A BE N E T TA

Em 1962, quando o governo João Goulart solicitou estudos aoescritório do engenheiro Octávio Marcondes Ferraz para oaproveitamento hidrelétrico de Sete Quedas, o Paraguai protestou. Ademarcação de fronteiras entre o Brasil e o Paraguai, realizada em 1872,após a Guerra da Tríplice Aliança, deixara dúvidas sobre a qual dosdois países pertencia o Salto de Sete Quedas ou Salto del Guairá, comoé chamado no Paraguai. O documento, em português e em espanhol,definia que o território brasileiro, na fronteira com o Paraguai, ia “até”(ou hasta) o Salto de Sete Quedas. Para o Salto ser brasileiro, osparaguaios entendiam faltar o “inclusive”. A proposta de MarcondesFerraz previa uma usina com capacidade de 10 mil megawatts, paraproduzir 67 milhões de megawatts-hora por ano, o que representava,na época, três vezes o consumo do Brasil.

Construção da Hidrelétrica de Itaipu, década de 70.Acervo Itaipu Binacional (PR).

Page 136: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

133

Este não era o primeiro estudo para aproveitamento do Salto de SeteQuedas. Desde o começo do século XX houve outros, mas nenhum passouda etapa preliminar. Nem o de Marcondes Ferraz. Neste último caso, devidoà alegação paraguaia de que a fronteira do Brasil ia “até” Sete Quedas ouGuairá, mas não incluía o próprio Salto. Como no Brasil sempre seconsiderara Sete Quedas como integrante do território brasileiro, houvesurpresa com a reação paraguaia. O litígio estava instalado.

Em 1964 o presidente João Goulart sentou-se à mesa para negociarcom o presidente paraguaio, general Alfredo Stroessner. Mas, naquelemesmo ano, Goulart foi derrubado e o governo militar apressou-se emmandar tropas para a zona em litígio, o que levou o Paraguai a pedir oapoio de outros países.

Em 1966 o chanceler brasileiro Juracy Magalhães apresentou aoseu colega paraguaio, Raúl Sapena Pastor, a proposta de construiruma usina binacional cujo reservatório deixaria debaixo d’água a zonaem litígio.

A proposta foi aceita. Com isso, o Brasil retirou o pequenodestacamento militar, e os dois países assinaram a Ata do Iguaçu, naqual ambos concordavam em dividir igualmente “[...] a energia elétricaeventualmente produzida pelos desníveis do Rio Paraná, desde einclusive o Salto Del Guairá ou Salto de Sete Quedas até a boca doRio Iguaçu”.

Em 1967 foi criada a Comissão Mista Brasileiro-Paraguaia, queconcluiu pela contratação de consultores internacionais para os estudossobre a usina, escolhendo o consórcio formado pela InternacionalEngineering Company (IECO), dos Estados Unidos, e a Electroconsult(ELC), da Itália.

Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu em 26 de abril de1973. O documento previa a construção da usina no Rio Paraná e acriação de uma empresa binacional para administrar as obras e,futuramente, gerenciar a produção e a comercialização de energia. Em17 de maio de 1974 foi constituída a entidade Itaipu Binacional e, umano depois, tiveram início as obras.

Itaipu despertou reações na Argentina, que na época disputavacom o Brasil o controle geopolítico da América do Sul. Com a usinahidrelétrica em comum, o Brasil queria estreitar os laços com o Paraguaie reduzir a influência da Argentina. Assim, os argentinos tentaramimpedir a construção de Itaipu, alegando que a navegação no RioMontagem de turbina na UHE de Itaipu.

Acervo: Assessoria de Comunicação Social da Itaipu Binacional.

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Este não era o primeiro estudo para aproveitamento do Salto de SeteQuedas. Desde o começo do século XX houve outros, mas nenhum passouda etapa preliminar. Nem o de Marcondes Ferraz. Neste último caso, devidoà alegação paraguaia de que a fronteira do Brasil ia “até” Sete Quedas ouGuairá, mas não incluía o próprio Salto. Como no Brasil sempre seconsiderara Sete Quedas como integrante do território brasileiro, houvesurpresa com a reação paraguaia. O litígio estava instalado.

Em 1964 o presidente João Goulart sentou-se à mesa para negociarcom o presidente paraguaio, general Alfredo Stroessner. Mas, naquelemesmo ano, Goulart foi derrubado e o governo militar apressou-se emmandar tropas para a zona em litígio, o que levou o Paraguai a pedir oapoio de outros países.

Em 1966 o chanceler brasileiro Juracy Magalhães apresentou aoseu colega paraguaio, Raúl Sapena Pastor, a proposta de construiruma usina binacional cujo reservatório deixaria debaixo d’água a zonaem litígio.

A proposta foi aceita. Com isso, o Brasil retirou o pequenodestacamento militar, e os dois países assinaram a Ata do Iguaçu, naqual ambos concordavam em dividir igualmente “[...] a energia elétricaeventualmente produzida pelos desníveis do Rio Paraná, desde einclusive o Salto Del Guairá ou Salto de Sete Quedas até a boca doRio Iguaçu”.

Em 1967 foi criada a Comissão Mista Brasileiro-Paraguaia, queconcluiu pela contratação de consultores internacionais para os estudossobre a usina, escolhendo o consórcio formado pela InternacionalEngineering Company (IECO), dos Estados Unidos, e a Electroconsult(ELC), da Itália.

Brasil e Paraguai assinaram o Tratado de Itaipu em 26 de abril de1973. O documento previa a construção da usina no Rio Paraná e acriação de uma empresa binacional para administrar as obras e,futuramente, gerenciar a produção e a comercialização de energia. Em17 de maio de 1974 foi constituída a entidade Itaipu Binacional e, umano depois, tiveram início as obras.

Itaipu despertou reações na Argentina, que na época disputavacom o Brasil o controle geopolítico da América do Sul. Com a usinahidrelétrica em comum, o Brasil queria estreitar os laços com o Paraguaie reduzir a influência da Argentina. Assim, os argentinos tentaramimpedir a construção de Itaipu, alegando que a navegação no RioMontagem de turbina na UHE de Itaipu.

Acervo: Assessoria de Comunicação Social da Itaipu Binacional.

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134

Paraná, em território argentino, poderia ser prejudicada ou controladapelo Brasil.

Os paraguaios se aproveitaram da rivalidade entre os vizinhos paranegociar com os argentinos a construção das usinas Yacyretá e Corpus,também no Rio Paraná. O projeto de Corpus preocupou os técnicosbrasileiros: se sua cota fosse muito elevada, o remanso das águas doreservatório poderia reduzir o desnível aproveitado por Itaipu e, emconseqüência, a sua capacidade de produção.

Só em 1979, quatro anos depois que as obras de Itaipu tinhamcomeçado, é que Brasil, Paraguai e Argentina assinaram o AcordoTripartite, que compatibilizava as hidrelétricas de Itaipu e Corpus, notrecho internacional do Rio Paraná.

Uma obra monumental

A Usina de Itaipu foi um desafio que chegou no momento certopara uma geração de engenheiros e técnicos brasileiros, após váriasiniciativas bem-sucedidas na construção de outras hidrelétricas.

No domínio da construção civil, Itaipu atingiu um índice denacionalização de 100%, considerando o parceiro brasileiro. As obrascivis foram executadas por dois consórcios, um formado por cincoempresas brasileiras e outro por seis firmas do país vizinho.

Na área de fabricação e montagem dos equipamentos, o índice denacionalização nunca foi inferior a 85%. As unidades geradoras(turbinas e geradores) foram adquiridas de um consórcio de seisempresas brasileiras, seis européias e uma paraguaia.

Para a montagem dos equipamentos permanentes, foi contratadoum consórcio que reunia oito firmas brasileiras e uma paraguaia. Comisso, Itaipu transferiu para o Paraguai considerável acervo de tecnologia,enquanto no Brasil provocou um avanço tecnológico muito grande naárea de construção de barragens e de montagem de equipamentos detoda a ordem.

A Hidrelétrica de Itaipu foi construída em Foz do Iguaçu, nolado brasileiro, e em Hernandarias, no Paraguai. Está localizada nomédio rio Paraná, a cerca de dez quilômetros a montante da suaconfluência com o rio Iguaçu.

O aproveitamento hidrelétrico consiste num conjunto de barragensItaipu, detalhe da

construção da barragem.Acervo: Itaipu Binacional.

Page 139: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Paraná, em território argentino, poderia ser prejudicada ou controladapelo Brasil.

Os paraguaios se aproveitaram da rivalidade entre os vizinhos paranegociar com os argentinos a construção das usinas Yacyretá e Corpus,também no Rio Paraná. O projeto de Corpus preocupou os técnicosbrasileiros: se sua cota fosse muito elevada, o remanso das águas doreservatório poderia reduzir o desnível aproveitado por Itaipu e, emconseqüência, a sua capacidade de produção.

Só em 1979, quatro anos depois que as obras de Itaipu tinhamcomeçado, é que Brasil, Paraguai e Argentina assinaram o AcordoTripartite, que compatibilizava as hidrelétricas de Itaipu e Corpus, notrecho internacional do Rio Paraná.

Uma obra monumental

A Usina de Itaipu foi um desafio que chegou no momento certopara uma geração de engenheiros e técnicos brasileiros, após váriasiniciativas bem-sucedidas na construção de outras hidrelétricas.

No domínio da construção civil, Itaipu atingiu um índice denacionalização de 100%, considerando o parceiro brasileiro. As obrascivis foram executadas por dois consórcios, um formado por cincoempresas brasileiras e outro por seis firmas do país vizinho.

Na área de fabricação e montagem dos equipamentos, o índice denacionalização nunca foi inferior a 85%. As unidades geradoras(turbinas e geradores) foram adquiridas de um consórcio de seisempresas brasileiras, seis européias e uma paraguaia.

Para a montagem dos equipamentos permanentes, foi contratadoum consórcio que reunia oito firmas brasileiras e uma paraguaia. Comisso, Itaipu transferiu para o Paraguai considerável acervo de tecnologia,enquanto no Brasil provocou um avanço tecnológico muito grande naárea de construção de barragens e de montagem de equipamentos detoda a ordem.

A Hidrelétrica de Itaipu foi construída em Foz do Iguaçu, nolado brasileiro, e em Hernandarias, no Paraguai. Está localizada nomédio rio Paraná, a cerca de dez quilômetros a montante da suaconfluência com o rio Iguaçu.

O aproveitamento hidrelétrico consiste num conjunto de barragensItaipu, detalhe da

construção da barragem.Acervo: Itaipu Binacional.

Page 140: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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de diferentes tipos, com altura máxima de 196 metros, cuja crista seprolonga por oito km, numa cota de elevação de 225 metros sobre onível do mar. O reservatório se estende por 170 km, desde a barragematé a cidade de Guairá onde, antes, se situava Sete Quedas, e possuiuma área de 1.350 km². Quando cheio, o reservatório armazena 29bilhões de metros cúbicos de água.

A potência instalada é de 12.600 MW, representada por umconjunto de 18 unidades geradoras, nove em 50 Hz e nove em 60 Hz.Em 2004, com a conclusão das obras de instalação de mais duas unidadesgeradoras, a capacidade instalada da usina passará para 14.000 MW.

Para permitir a construção da barragem principal da usina, o rio Paranáfoi desviado para um canal na margem esquerda, com aproximadamentedois km de comprimento. Este canal foi aberto em 32 meses.

Os estudos hidrológicos feitos na fase do projeto calcularam que aenchente máxima, na área de Itaipu, atingiria uma vazão de 62.200metros cúbicos por segundo, o que deu origem à construção de um dosmaiores vertedouros do mundo.

A barragem principal de Itaipu utiliza o tipo gravidade aliviada,com duas células de contrafortes, coroadas por um bloco monolíticode 34 m de largura. As barragens laterais são de gravidade, emcontraforte. Foram também construídas barragens de terra em ambasas margens, e na margem esquerda uma barragem de enrocamento.

As unidades geradoras eram as mais avançadas tecnologicamentena época do projeto. Os geradores foram projetados com o seuresfriamento estatórico a água, tecnologia até então pouco usual.

O sistema de transmissão utilizou tecnologia inédita no mundo.Em território brasileiro optou-se pela corrente alternada 60 Hz, natensão de 765 kV, e em +/- 600 kV, corrente contínua.

De 5 de maio de 1984, quando sua primeira unidade geradoraentrou em operação, até 7 de junho de 2001, Itaipu completou aprodução acumulada de 1 bilhão de megawatts-hora (MWh), energiasuficiente para suprir o consumo de energia elétrica de todo o planetapor 29 dias.

A Itaipu é considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno,conforme pesquisa da Sociedade Americana de Engenharia Civil.

O orçamento anual de Itaipu atinge aproximadamente US$ 2,2bilhões. Esses recursos são utilizados para pagar suas despesas de custeio– o que inclui o pagamento de royalties ao Brasil e ao Paraguai, e asItaipu em construção.

Acervo: Itaipu Binacional.

Page 141: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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de diferentes tipos, com altura máxima de 196 metros, cuja crista seprolonga por oito km, numa cota de elevação de 225 metros sobre onível do mar. O reservatório se estende por 170 km, desde a barragematé a cidade de Guairá onde, antes, se situava Sete Quedas, e possuiuma área de 1.350 km². Quando cheio, o reservatório armazena 29bilhões de metros cúbicos de água.

A potência instalada é de 12.600 MW, representada por umconjunto de 18 unidades geradoras, nove em 50 Hz e nove em 60 Hz.Em 2004, com a conclusão das obras de instalação de mais duas unidadesgeradoras, a capacidade instalada da usina passará para 14.000 MW.

Para permitir a construção da barragem principal da usina, o rio Paranáfoi desviado para um canal na margem esquerda, com aproximadamentedois km de comprimento. Este canal foi aberto em 32 meses.

Os estudos hidrológicos feitos na fase do projeto calcularam que aenchente máxima, na área de Itaipu, atingiria uma vazão de 62.200metros cúbicos por segundo, o que deu origem à construção de um dosmaiores vertedouros do mundo.

A barragem principal de Itaipu utiliza o tipo gravidade aliviada,com duas células de contrafortes, coroadas por um bloco monolíticode 34 m de largura. As barragens laterais são de gravidade, emcontraforte. Foram também construídas barragens de terra em ambasas margens, e na margem esquerda uma barragem de enrocamento.

As unidades geradoras eram as mais avançadas tecnologicamentena época do projeto. Os geradores foram projetados com o seuresfriamento estatórico a água, tecnologia até então pouco usual.

O sistema de transmissão utilizou tecnologia inédita no mundo.Em território brasileiro optou-se pela corrente alternada 60 Hz, natensão de 765 kV, e em +/- 600 kV, corrente contínua.

De 5 de maio de 1984, quando sua primeira unidade geradoraentrou em operação, até 7 de junho de 2001, Itaipu completou aprodução acumulada de 1 bilhão de megawatts-hora (MWh), energiasuficiente para suprir o consumo de energia elétrica de todo o planetapor 29 dias.

A Itaipu é considerada uma das sete maravilhas do mundo moderno,conforme pesquisa da Sociedade Americana de Engenharia Civil.

O orçamento anual de Itaipu atinge aproximadamente US$ 2,2bilhões. Esses recursos são utilizados para pagar suas despesas de custeio– o que inclui o pagamento de royalties ao Brasil e ao Paraguai, e asItaipu em construção.

Acervo: Itaipu Binacional.

Page 142: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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dívidas junto à Eletrobrás pelos empréstimos e financiamentos para asua implantação.

A entidade mantém 3.300 empregados, dos quais cerca de 1.500no lado brasileiro e 1.800 na margem paraguaia, que trabalham nausina e nos escritórios em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, na regiãode fronteira; em Curitiba (PR); e em Assunção (Paraguai). E ainda,em pequeno número, no escritório de representação que mantém emBrasília (DF).

Meio ambiente

Itaipu foi projetada numa época em que a preocupação ambiental,no Brasil, estava ainda em seus primórdios. Mesmo assim, já em 1975,três anos antes de formar o reservatório, Itaipu implementava as açõesprevistas em seu Plano Básico para a Conservação do Meio Ambiente.

Desde os primeiros monitoramentos, inventários e ações paraatenuar os impactos ambientais causados pela criação do reservatório,a empresa vem mantendo sob controle todo o reservatório e sua faixade proteção, o que inclui cuidados com a água, a flora, a fauna e com aquestão sanitária das populações da área de influência do Lago de Itaipu.

A qualidade da água – primeiro do rio, depois do reservatório – foimonitorada de forma praticamente ininterrupta, desde 1977. Com ocuidado permanente, a água do reservatório encontra-se dentro doslimites aceitos para os mais diversos usos.

O Decreto federal nº 83.225, de 1º de março de 1979, delimitou asáreas de terra necessárias à formação do reservatório e incluiu umafaixa adicional, na margem brasileira, considerada de preservaçãopermanente. A margem paraguaia também é protegida pela legislaçãodaquele país.

Além dessa faixa de proteção, que se estende por 2.919 km, emambas as margens, com largura média de 200 metros, também foramcriadas reservas e refúgios biológicos, que totalizam cerca de 100 milhectares de áreas protegidas. Na margem brasileira, onde a vegetaçãonativa já havia sido completamente alterada em função do processo decolonização do oeste paranaense, a faixa de proteção foi reflorestadacom o plantio, até 2001, de aproximadamente 19 bilhões de mudas deespécies variadas.

Vista aérea da megabarragem de Itaipu.Acervo: Itaipu Binacional.

UHE Itaipu - detalhe da barragem.Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

Page 143: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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dívidas junto à Eletrobrás pelos empréstimos e financiamentos para asua implantação.

A entidade mantém 3.300 empregados, dos quais cerca de 1.500no lado brasileiro e 1.800 na margem paraguaia, que trabalham nausina e nos escritórios em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, na regiãode fronteira; em Curitiba (PR); e em Assunção (Paraguai). E ainda,em pequeno número, no escritório de representação que mantém emBrasília (DF).

Meio ambiente

Itaipu foi projetada numa época em que a preocupação ambiental,no Brasil, estava ainda em seus primórdios. Mesmo assim, já em 1975,três anos antes de formar o reservatório, Itaipu implementava as açõesprevistas em seu Plano Básico para a Conservação do Meio Ambiente.

Desde os primeiros monitoramentos, inventários e ações paraatenuar os impactos ambientais causados pela criação do reservatório,a empresa vem mantendo sob controle todo o reservatório e sua faixade proteção, o que inclui cuidados com a água, a flora, a fauna e com aquestão sanitária das populações da área de influência do Lago de Itaipu.

A qualidade da água – primeiro do rio, depois do reservatório – foimonitorada de forma praticamente ininterrupta, desde 1977. Com ocuidado permanente, a água do reservatório encontra-se dentro doslimites aceitos para os mais diversos usos.

O Decreto federal nº 83.225, de 1º de março de 1979, delimitou asáreas de terra necessárias à formação do reservatório e incluiu umafaixa adicional, na margem brasileira, considerada de preservaçãopermanente. A margem paraguaia também é protegida pela legislaçãodaquele país.

Além dessa faixa de proteção, que se estende por 2.919 km, emambas as margens, com largura média de 200 metros, também foramcriadas reservas e refúgios biológicos, que totalizam cerca de 100 milhectares de áreas protegidas. Na margem brasileira, onde a vegetaçãonativa já havia sido completamente alterada em função do processo decolonização do oeste paranaense, a faixa de proteção foi reflorestadacom o plantio, até 2001, de aproximadamente 19 bilhões de mudas deespécies variadas.

Vista aérea da megabarragem de Itaipu.Acervo: Itaipu Binacional.

UHE Itaipu - detalhe da barragem.Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

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141140

Para assentamentos do Paraná foram relocadas 401 famílias, numtotal de 2.390 pessoas, em glebas nos municípios de Arapoti, São Joséda Boa Vista e Toledo.

Na Bahia, 72 famílias (399 pessoas) foram reassentadas no projetoSerra do Ramalho, em Bom Jesus da Lapa. Em projetos localizados emPedro Peixoto, Humaitá e Boa Esperança, no Acre, foram reassentadas191 famílias, num total de 1.193 pessoas.

Para relocar os agricultores Itaipu utilizou 136 ônibus e 219caminhões. Além das propriedades rurais e urbanas, Itaipu indenizouainda 42 templos religiosos e 95 escolas, além de cemitérios. Os restosmortais de 1.090 pessoas tiveram que ser transladados dos cemitériosatingidos para outros, situados nos mesmos municípios de origem.

Vale ressaltar, contudo, que o processo de desapropriação dasfamílias rurais das áreas requisitadas para a instalação de Itaipu, iniciadoem 1977, provocou a reação organizada dos agricultores, dando origemao “Movimento Justiça e Terra”. Esse Movimento, iniciado em 1978,sobretudo através da mediação da Comissão Pastoral da Terra (CPT),além de garantir o atendimento de algumas das reivindicações dosagricultores, serviu de exemplo a outras populações locais atingidaspela implantação de hidrelétricas, de modo especial os agricultores dabacia do rio Uruguai.

Itaipu teve também que resolver o problema de uma comunidadeindígena que ocupava uma área do futuro reservatório. Às margens dorio Paraná, na foz do rio Ocoí, um agrupamento indígena vivia da pesca,agricultura e de pequenos serviços nas propriedades vizinhas. Eram 19famílias do grupo Avá-Guarani, que ocupavam uma área de 30 hectares.Itaipu procurou a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que cadastrouos índios, iniciando-se um longo processo para atingir a relocação.

Depois de muitas negociações, os indígenas foram reassentadosnuma área à beira do lago, de aproximadamente 250 hectares. Acomunidade indígena, no entanto, considerou a área muito pequena einiciou uma intensa e sistemática campanha reivindicatória para obteruma área maior. Só em 7 de março de 1997 houve uma solução aceitável.Itaipu adquiriu uma nova área, de 1.744 hectares, e ali foramreassentados, pela Funai, cerca de 300 índios. Esta experiência continuaa ser monitorada por técnicos da Itaipu, da Funai e da Prefeitura deDiamante do Oeste.

O primeiro inventário dos animais existentes na área que seriaposteriormente inundada começou em 1977. Durante o enchimento,foram resgatados cerca de 30 mil animais, que foram soltos nas reservase refúgios biológicos. Espécies raras ou ameaçadas de extinção sãoreproduzidas em criadouros, em ambas as margens.

Desapropriações e relocações

Para garantir a área necessária ao reservatório, que soma 1.350quilômetros quadrados, foram desapropriadas 8.519 propriedades,sendo 6.913 rurais e 1.606 urbanas, onde moravam cerca de 40 milpessoas. Das áreas desapropriadas, apenas 16 foram adquiridasjudicialmente. O valor total das indenizações chegou a 208,6 milhõesde dólares.

Itaipu acompanhou o fluxo migratório dos expropriados. Estetrabalho mostrou que cerca de 86% deles ficaram no Paraná, enquantocerca de 9% foram para o Mato Grosso do Sul. Veja no quadro abaixoo destino dessas pessoas:

Paraná 86,29%Rio Grande do Sul 0,76%Santa Catarina 1,16%São Paulo 0,18%Mato Grosso do Sul 8,89%Minas Gerais 0,09%Bahia 0,35%Pará 0,31%Rondônia 0,76%Amazonas 0,18%Paraguai 1,03%

Além das desapropriações, Itaipu teve que reassentar cerca dequatro mil pequenos proprietários, arrendatários e posseiros. Emconjunto com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(INCRA), esses agricultores foram relocados para áreas no Paraná, naBahia e no Acre, de acordo com a escolha que fizeram, depois deconhecer os projetos de assentamentos existentes.

Indígenas Avá-Guarani atingidospela formação do lago de Itaipu,

assentados na área do Ocoí,São Miguel do Iguaçu (PR).

Foto: Sílvio Coelho dos Santos, 1994.

Mulheres e crianças Avá-Guaraniacampadas reivindicando novo

reassentamento. Refúgio BiológicoBela Vista, da Itaipu, Foz do Iguaçu (PR).

Foto: Cátia Weber, 1995.

Page 145: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

141140

Para assentamentos do Paraná foram relocadas 401 famílias, numtotal de 2.390 pessoas, em glebas nos municípios de Arapoti, São Joséda Boa Vista e Toledo.

Na Bahia, 72 famílias (399 pessoas) foram reassentadas no projetoSerra do Ramalho, em Bom Jesus da Lapa. Em projetos localizados emPedro Peixoto, Humaitá e Boa Esperança, no Acre, foram reassentadas191 famílias, num total de 1.193 pessoas.

Para relocar os agricultores Itaipu utilizou 136 ônibus e 219caminhões. Além das propriedades rurais e urbanas, Itaipu indenizouainda 42 templos religiosos e 95 escolas, além de cemitérios. Os restosmortais de 1.090 pessoas tiveram que ser transladados dos cemitériosatingidos para outros, situados nos mesmos municípios de origem.

Vale ressaltar, contudo, que o processo de desapropriação dasfamílias rurais das áreas requisitadas para a instalação de Itaipu, iniciadoem 1977, provocou a reação organizada dos agricultores, dando origemao “Movimento Justiça e Terra”. Esse Movimento, iniciado em 1978,sobretudo através da mediação da Comissão Pastoral da Terra (CPT),além de garantir o atendimento de algumas das reivindicações dosagricultores, serviu de exemplo a outras populações locais atingidaspela implantação de hidrelétricas, de modo especial os agricultores dabacia do rio Uruguai.

Itaipu teve também que resolver o problema de uma comunidadeindígena que ocupava uma área do futuro reservatório. Às margens dorio Paraná, na foz do rio Ocoí, um agrupamento indígena vivia da pesca,agricultura e de pequenos serviços nas propriedades vizinhas. Eram 19famílias do grupo Avá-Guarani, que ocupavam uma área de 30 hectares.Itaipu procurou a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), que cadastrouos índios, iniciando-se um longo processo para atingir a relocação.

Depois de muitas negociações, os indígenas foram reassentadosnuma área à beira do lago, de aproximadamente 250 hectares. Acomunidade indígena, no entanto, considerou a área muito pequena einiciou uma intensa e sistemática campanha reivindicatória para obteruma área maior. Só em 7 de março de 1997 houve uma solução aceitável.Itaipu adquiriu uma nova área, de 1.744 hectares, e ali foramreassentados, pela Funai, cerca de 300 índios. Esta experiência continuaa ser monitorada por técnicos da Itaipu, da Funai e da Prefeitura deDiamante do Oeste.

O primeiro inventário dos animais existentes na área que seriaposteriormente inundada começou em 1977. Durante o enchimento,foram resgatados cerca de 30 mil animais, que foram soltos nas reservase refúgios biológicos. Espécies raras ou ameaçadas de extinção sãoreproduzidas em criadouros, em ambas as margens.

Desapropriações e relocações

Para garantir a área necessária ao reservatório, que soma 1.350quilômetros quadrados, foram desapropriadas 8.519 propriedades,sendo 6.913 rurais e 1.606 urbanas, onde moravam cerca de 40 milpessoas. Das áreas desapropriadas, apenas 16 foram adquiridasjudicialmente. O valor total das indenizações chegou a 208,6 milhõesde dólares.

Itaipu acompanhou o fluxo migratório dos expropriados. Estetrabalho mostrou que cerca de 86% deles ficaram no Paraná, enquantocerca de 9% foram para o Mato Grosso do Sul. Veja no quadro abaixoo destino dessas pessoas:

Paraná 86,29%Rio Grande do Sul 0,76%Santa Catarina 1,16%São Paulo 0,18%Mato Grosso do Sul 8,89%Minas Gerais 0,09%Bahia 0,35%Pará 0,31%Rondônia 0,76%Amazonas 0,18%Paraguai 1,03%

Além das desapropriações, Itaipu teve que reassentar cerca dequatro mil pequenos proprietários, arrendatários e posseiros. Emconjunto com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária(INCRA), esses agricultores foram relocados para áreas no Paraná, naBahia e no Acre, de acordo com a escolha que fizeram, depois deconhecer os projetos de assentamentos existentes.

Indígenas Avá-Guarani atingidospela formação do lago de Itaipu,

assentados na área do Ocoí,São Miguel do Iguaçu (PR).

Foto: Sílvio Coelho dos Santos, 1994.

Mulheres e crianças Avá-Guaraniacampadas reivindicando novo

reassentamento. Refúgio BiológicoBela Vista, da Itaipu, Foz do Iguaçu (PR).

Foto: Cátia Weber, 1995.

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uma das mais importantes atrações turísticas do Brasil. Desde 1977,quando foi aberta à visitação pública, ainda na fase de obras, a usina deItaipu foi visitada, até o final de 2001, por mais de 11 milhões de pessoasde 165 países. Em média, 1.500 turistas visitam a usina, diariamente.A maior parte (75%) das visitas é feita pelo lado brasileiro da usina.

Na margem brasileira, o maior número de visitantes de Itaipu,depois de brasileiros e argentinos, tem como origem a Alemanha (maisde 200 mil de 1977 até 2001); a Espanha (150 mil); os Estados Unidos(120 mil); a França, a Itália, o Japão e o Uruguai (de cada um dessespaíses Itaipu recebeu cerca de 90 mil turistas). Ainda pelo lado brasileiro,visitaram a usina 70 mil chilenos e 60 mil suíços, entre outros.

Desde o ano 2000, além da usina, foi oferecida ao visitante aopção de conhecer também o Ecomuseu de Itaipu, que mantém emseu acervo exemplares da fauna e da flora regionais, documentoshistóricos do Oeste do Paraná e materiais utilizados pelos antigospovos que habitavam a região.

O turista que vem a Foz do Iguaçu pode, numa mesma viagem,conhecer uma das maravilhas da natureza – as Cataratas do Iguaçu –,e uma das sete maravilhas construídas pelo homem moderno – Itaipu.

CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. 500 anos - EnergiaElétrica no Brasil. Rio de Janeiro, 2000.

COTRIM, John Reginald. Notas sobre os antecedentes da criação de Itaipu Binacional. Rio de Janeiro:Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1999. Colaboração dePaulo Azevedo Romano.

DEBERNARDI, Enzo. Apuntes para la Historia Política de Itaipu. Paraguai: Continua, 1996.MONTEIRO, Nilson. Itaipu: a luz. 2. ed. Curitiba: Itaipu Binacional, 2000.SCHWAB, Marcos Antônio; SILVEIRA, José Ricardo; MARENDA, Luiz Dalmi. Itaipu – Um

empreendimento binacional de sucesso. In: CONGRESSO SOBRE APROVEITAMENTO E GESTÃODE RECURSOS HÍDRICOS EM PAÍSES DE IDIOMA PORTUGUÊS, 1., 2000, Rio de Janeiro. Anais... Riode Janeiro, 2000.

R E F E R Ê N C I A S

Perspectivas

Itaipu paga ao Brasil e ao Paraguai royalties em proporção à energiagerada, como forma de compensação pelas terras inundadas na formaçãodo reservatório. Esse tipo de benefício foi inovador na legislação doBrasil e do Paraguai.

De 1985 até 2023, ano em que poderão ser renegociados algunsaspectos do Tratado, o montante total previsto para o pagamento deroyalties a ambos os países se situará próximo a US$ 11 bilhões, valorequivalente ao investimento direto feito no empreendimento.

Itaipu continuará sendo fundamental para o Brasil e para o Paraguaiao longo dos próximos dez anos, mesmo perdendo importância relativano mercado de energia brasileiro. O atual diretor técnico executivo daItaipu, Altino Ventura Filho, calcula que a participação da usina nomercado brasileiro, que hoje é de 25%, ainda será de aproximadamente16% em 2010.

Nos últimos cinco anos, até 2000, a produção de Itaipu se manteveem torno de 90 milhões de megawatts-hora/ano. Com a entrada emoperação de mais duas unidades geradoras de 700 megawatts cada uma,a partir de 2004, a produção média poderá chegar a 95 milhões demegawatts-hora/ano.

As novas unidades permitirão também alterar o contrato de Itaipucom os mercados brasileiro e paraguaio, que se baseia na demanda dosdois países. Pelo contrato a usina deve gerar 10.787 megawatts médios.Em 2004 serão mais 1.400 megawatts médios, que representam oatendimento a uma cidade de quase quatro milhões de habitantes.

O aumento na produção de Itaipu será possível também com o fimdas limitações na transmissão. A troca de energia entre o Sul e o Sudestepassará a ser feita por novas linhas, como a Bateias-Ibiúna (entreCuritiba e São Paulo), liberando as linhas de Furnas para o transporteexclusivo da energia de Itaipu.

Quando se fala em aumento de produção, a hidrologia é a grandevariável a ser considerada. O histórico das vazões, no entanto, permiteprever que, além de ampliar sua geração do patamar de 90 milhões deMWh para 95 milhões de MWh, em anos excepcionais a usina poderápassar dos 100 milhões de megawatts-hora. “Chegaremos à casa dostrês dígitos”, afirma o diretor técnico executivo da Itaipu.

Além de sua importância no mercado de energia, Itaipu é também

Com capacidade instalada de12.600 megawatts (MW), Itaipuproduziu no ano 2000 cerca de93,4 milhões de megawatts-hora (MWh), energia suficientepara abastecer um quarto domercado de energia elétrica doBrasil e 89% do consumoparaguaio. Este ano foi iniciadaa instalação de mais duasunidades geradoras, queaumentarão o total para 20unidades. Com elas, acapacidade instalada da usinapassará para 14.000 MW, em2004. O investimento nas novasunidades equivale a cerca de US$200 milhões.

Com apenas uma das 18unidades geradoras atuais seriapossível abastecer uma cidadecom 1,5 milhão de habitantes,como Curitiba, por exemplo. OsEstados do Paraná, de SantaCatarina e do Rio Grande do Sulpoderiam ser abastecidos, aomesmo tempo, por 12 unidades.

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uma das mais importantes atrações turísticas do Brasil. Desde 1977,quando foi aberta à visitação pública, ainda na fase de obras, a usina deItaipu foi visitada, até o final de 2001, por mais de 11 milhões de pessoasde 165 países. Em média, 1.500 turistas visitam a usina, diariamente.A maior parte (75%) das visitas é feita pelo lado brasileiro da usina.

Na margem brasileira, o maior número de visitantes de Itaipu,depois de brasileiros e argentinos, tem como origem a Alemanha (maisde 200 mil de 1977 até 2001); a Espanha (150 mil); os Estados Unidos(120 mil); a França, a Itália, o Japão e o Uruguai (de cada um dessespaíses Itaipu recebeu cerca de 90 mil turistas). Ainda pelo lado brasileiro,visitaram a usina 70 mil chilenos e 60 mil suíços, entre outros.

Desde o ano 2000, além da usina, foi oferecida ao visitante aopção de conhecer também o Ecomuseu de Itaipu, que mantém emseu acervo exemplares da fauna e da flora regionais, documentoshistóricos do Oeste do Paraná e materiais utilizados pelos antigospovos que habitavam a região.

O turista que vem a Foz do Iguaçu pode, numa mesma viagem,conhecer uma das maravilhas da natureza – as Cataratas do Iguaçu –,e uma das sete maravilhas construídas pelo homem moderno – Itaipu.

CENTRO DA MEMÓRIA DA ELETRICIDADE NO BRASIL – MEMÓRIA DA ELETRICIDADE. 500 anos - EnergiaElétrica no Brasil. Rio de Janeiro, 2000.

COTRIM, John Reginald. Notas sobre os antecedentes da criação de Itaipu Binacional. Rio de Janeiro:Centro da Memória da Eletricidade no Brasil – Memória da Eletricidade, 1999. Colaboração dePaulo Azevedo Romano.

DEBERNARDI, Enzo. Apuntes para la Historia Política de Itaipu. Paraguai: Continua, 1996.MONTEIRO, Nilson. Itaipu: a luz. 2. ed. Curitiba: Itaipu Binacional, 2000.SCHWAB, Marcos Antônio; SILVEIRA, José Ricardo; MARENDA, Luiz Dalmi. Itaipu – Um

empreendimento binacional de sucesso. In: CONGRESSO SOBRE APROVEITAMENTO E GESTÃODE RECURSOS HÍDRICOS EM PAÍSES DE IDIOMA PORTUGUÊS, 1., 2000, Rio de Janeiro. Anais... Riode Janeiro, 2000.

R E F E R Ê N C I A S

Perspectivas

Itaipu paga ao Brasil e ao Paraguai royalties em proporção à energiagerada, como forma de compensação pelas terras inundadas na formaçãodo reservatório. Esse tipo de benefício foi inovador na legislação doBrasil e do Paraguai.

De 1985 até 2023, ano em que poderão ser renegociados algunsaspectos do Tratado, o montante total previsto para o pagamento deroyalties a ambos os países se situará próximo a US$ 11 bilhões, valorequivalente ao investimento direto feito no empreendimento.

Itaipu continuará sendo fundamental para o Brasil e para o Paraguaiao longo dos próximos dez anos, mesmo perdendo importância relativano mercado de energia brasileiro. O atual diretor técnico executivo daItaipu, Altino Ventura Filho, calcula que a participação da usina nomercado brasileiro, que hoje é de 25%, ainda será de aproximadamente16% em 2010.

Nos últimos cinco anos, até 2000, a produção de Itaipu se manteveem torno de 90 milhões de megawatts-hora/ano. Com a entrada emoperação de mais duas unidades geradoras de 700 megawatts cada uma,a partir de 2004, a produção média poderá chegar a 95 milhões demegawatts-hora/ano.

As novas unidades permitirão também alterar o contrato de Itaipucom os mercados brasileiro e paraguaio, que se baseia na demanda dosdois países. Pelo contrato a usina deve gerar 10.787 megawatts médios.Em 2004 serão mais 1.400 megawatts médios, que representam oatendimento a uma cidade de quase quatro milhões de habitantes.

O aumento na produção de Itaipu será possível também com o fimdas limitações na transmissão. A troca de energia entre o Sul e o Sudestepassará a ser feita por novas linhas, como a Bateias-Ibiúna (entreCuritiba e São Paulo), liberando as linhas de Furnas para o transporteexclusivo da energia de Itaipu.

Quando se fala em aumento de produção, a hidrologia é a grandevariável a ser considerada. O histórico das vazões, no entanto, permiteprever que, além de ampliar sua geração do patamar de 90 milhões deMWh para 95 milhões de MWh, em anos excepcionais a usina poderápassar dos 100 milhões de megawatts-hora. “Chegaremos à casa dostrês dígitos”, afirma o diretor técnico executivo da Itaipu.

Além de sua importância no mercado de energia, Itaipu é também

Com capacidade instalada de12.600 megawatts (MW), Itaipuproduziu no ano 2000 cerca de93,4 milhões de megawatts-hora (MWh), energia suficientepara abastecer um quarto domercado de energia elétrica doBrasil e 89% do consumoparaguaio. Este ano foi iniciadaa instalação de mais duasunidades geradoras, queaumentarão o total para 20unidades. Com elas, acapacidade instalada da usinapassará para 14.000 MW, em2004. O investimento nas novasunidades equivale a cerca de US$200 milhões.

Com apenas uma das 18unidades geradoras atuais seriapossível abastecer uma cidadecom 1,5 milhão de habitantes,como Curitiba, por exemplo. OsEstados do Paraná, de SantaCatarina e do Rio Grande do Sulpoderiam ser abastecidos, aomesmo tempo, por 12 unidades.

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anunciado para a tomada dadecisão final, ao ponto de ameaçaratrasos no cronograma das obras,que, já em 1977, prosseguiamrapidamente.

Nas palavras de EnzoDebernardi, Diretor Geralparaguaio da entidade ItaipuBinacional e um dos principaisinterlocutores no governoparaguaio, enquanto o Brasil sepreocupava com a questão sob aótica técnico-econômica, oParaguai se via obrigado a levar emconta muitos outros fatores. Aopção de manter seu sistema em50 Hz significaria, indireta masmuito claramente, a outorga deuma vantagem à Argentina, tantosob a forma de facilidades decolocação de seus produtosindustriais no mercado paraguaio,quanto para a construção deYaciretá e Corpus, assim como paraa interconexão elétrica entre osdois países. Além disto, sob oponto de vista geopolítico, tão emvoga naquela época, esta opçãodaria a entender uma inclinação,quase uma aliança, para com aArgentina e uma conseqüentederrota diplomática para o Brasil,tanto mais grave porque ambos ospaíses se defrontavam com umadivergência manifesta. Era difícilsaber, afirma ele, se a Argentinaconsideraria, valorizaria eagradeceria esse gesto e em quemedida. Mas, por outro lado, aopção de mudar a freqüencia doPaís para 60 Hz seria interpretadapela Argentina no sentidodesfavorável, de tal modo que asantes mencionadas vantagens set o r n a r i a m d e s v a n t a g e n s .“Quienquiera que se inclinarahacia la frecuencia de 60 Hertz se

arriesgaba a ser violentamenteacusado de entreguista al Brasil,casi como si fuese um traidor a lapatria. Curiosamente, no seopinaba lo mismo respecto de los50 Hertz y la Argentina.”

Finalmente, em 10 de dezembrode 1977, quase dois anos após oinício das negociações, em decisãopessoal do presidente ErnestoGeisel, que parece ter seconstituído em um dos maisinfelizes episódios para adiplomacia brasileira, o Brasilcomunicou ao Paraguai queadotaria a solução que pareciamais adequada, consideradas ascircunstâncias, ou seja, a metadedos 18 geradores em 60 Hz e aoutra metade em 50 Hz, quecorrespondia à alternativaindicada pelo governo paraguaio.

Desta forma o Brasil seriaobrigado a adquirir a energiaparaguaia em 50 Hz e convertê-lapara 60 Hz, o que engendrou umsistema de alta tecnologia para aépoca. A solução final consistiunum sistema em que a energia aser adquirida do Paraguai, emcorrente alternada de 50 Hz, seriaconvertida para corrente contínua,numa estação conversora a serconstruída em Foz do Iguaçu, nolado brasileiro, e assim transmitidaa Tijuco Preto em São Paulo, ondeseria reconvertida em correntealternada em 60 Hz e distribuídaao sistema brasileiro.

Esta configuração, que operadesde 1984, sem maiores proble-mas, custou ao Brasil um mon-tante muitas vezes superior ao queteria custado a conversão de todoo sistema paraguaio para 60 Hz.

(Gilberto Valente Canali)

50 Hz ou 60 Hz? Uma decisão geopolítica, em detrimentode maior vantagem técnico-econômica

A produção, a transmissão e autilização da energia elétrica sãotradicionalmente feitas emcorrente alternada à freqüência de50 ou 60 Hz (Hertz ou ciclos porsegundos). A maioria dos paísesdas Américas adotou sistemaselétricos em 60 Hz, com poucase x c e ç õ e s c o m o Argentina,Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia eGuiana Francesa, que adotaramsistemas em 50 Hz, seguindo amaioria dos países europeus. NoBrasil, a ausência de uma políticapara o Setor Elétrico até os anos1960 permitiu que os Estados deCeará, Pernambuco, Rio de Janeiroe Rio Grande do Sul tivessemsistemas em 50 Hz, enquanto oresto do País, em 60 Hz, operandoisolamente.

Embora não haja qualquervantagem a favor de um ou outro,os sistemas que operam adiferentes freqüências não podemser interligados diretamente, tendosido esta a principal razão pela qualo governo federal decidiu, em 1964(Lei nº 4.454, de novembro de1964), uniformizar a freqüência detodos os sistemas que operavamisoladamente em 50 ou 60 Hz,adotando esta última como padrãopara todo o País.

Esta medida permitiu umarápida expansão das interconexõesentre usinas geradoras e sistemasde transmissão e distribuição, comgrandes vantagens técnicas eeconômicas para o desenvol-vimento do País. Embora parecessemuito distante, irreal mesmo, umapossível interconexão com ospaíses vizinhos, a opção brasileira

por 60 Hz revelou-se, mais tarde,desvantajosa, sob este aspecto, namedida em que avançavam asnegociações com o Paraguai, apartir de 1966, com vistas àconstrução de Itaipu, no rioParaná, e com a Argentina, a partirde 1978, com vistas ao desenvolvi-mento do projeto de Garabi, no rioUruguai.

A história de Itaipu registraepisódios de tensão nas relaçõesdiplomáticas entre os dois paísesempreendedores, pois era precisodecidir como seria produzida etransformada a imensa quanti-dade de energia daquela usina,que seria a maior do mundo, a sercompartilhada igualmente pelosdois países. Ao Brasil, compradorpreferencial da energia que nãofosse consumida pelo Paraguai,interessava que a usina fosseprojetada para produzir somenteem 60 Hz, já que seria a soluçãomenos onerosa, ainda que fossenecessário converter todo osistema paraguaio de 50 Hz para60 Hz. Mas o Paraguai, queestudava paralelamente aconstrução de outras usinas –Corpus e Yaciretá – com aArgentina, viu-se pressionado aresistir, inclusive pela oposiçãointerna ao governo, que via o riscode um indesejável incômodo quea medida causaria aos consu-midores, além de um inaceitávelatrelamento imposto pelointeresse do Brasil. Tal resistência,que provocou a impaciência dogoverno brasileiro, prolongou-sepor vários meses além do prazoque o governo paraguaio havia

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anunciado para a tomada dadecisão final, ao ponto de ameaçaratrasos no cronograma das obras,que, já em 1977, prosseguiamrapidamente.

Nas palavras de EnzoDebernardi, Diretor Geralparaguaio da entidade ItaipuBinacional e um dos principaisinterlocutores no governoparaguaio, enquanto o Brasil sepreocupava com a questão sob aótica técnico-econômica, oParaguai se via obrigado a levar emconta muitos outros fatores. Aopção de manter seu sistema em50 Hz significaria, indireta masmuito claramente, a outorga deuma vantagem à Argentina, tantosob a forma de facilidades decolocação de seus produtosindustriais no mercado paraguaio,quanto para a construção deYaciretá e Corpus, assim como paraa interconexão elétrica entre osdois países. Além disto, sob oponto de vista geopolítico, tão emvoga naquela época, esta opçãodaria a entender uma inclinação,quase uma aliança, para com aArgentina e uma conseqüentederrota diplomática para o Brasil,tanto mais grave porque ambos ospaíses se defrontavam com umadivergência manifesta. Era difícilsaber, afirma ele, se a Argentinaconsideraria, valorizaria eagradeceria esse gesto e em quemedida. Mas, por outro lado, aopção de mudar a freqüencia doPaís para 60 Hz seria interpretadapela Argentina no sentidodesfavorável, de tal modo que asantes mencionadas vantagens set o r n a r i a m d e s v a n t a g e n s .“Quienquiera que se inclinarahacia la frecuencia de 60 Hertz se

arriesgaba a ser violentamenteacusado de entreguista al Brasil,casi como si fuese um traidor a lapatria. Curiosamente, no seopinaba lo mismo respecto de los50 Hertz y la Argentina.”

Finalmente, em 10 de dezembrode 1977, quase dois anos após oinício das negociações, em decisãopessoal do presidente ErnestoGeisel, que parece ter seconstituído em um dos maisinfelizes episódios para adiplomacia brasileira, o Brasilcomunicou ao Paraguai queadotaria a solução que pareciamais adequada, consideradas ascircunstâncias, ou seja, a metadedos 18 geradores em 60 Hz e aoutra metade em 50 Hz, quecorrespondia à alternativaindicada pelo governo paraguaio.

Desta forma o Brasil seriaobrigado a adquirir a energiaparaguaia em 50 Hz e convertê-lapara 60 Hz, o que engendrou umsistema de alta tecnologia para aépoca. A solução final consistiunum sistema em que a energia aser adquirida do Paraguai, emcorrente alternada de 50 Hz, seriaconvertida para corrente contínua,numa estação conversora a serconstruída em Foz do Iguaçu, nolado brasileiro, e assim transmitidaa Tijuco Preto em São Paulo, ondeseria reconvertida em correntealternada em 60 Hz e distribuídaao sistema brasileiro.

Esta configuração, que operadesde 1984, sem maiores proble-mas, custou ao Brasil um mon-tante muitas vezes superior ao queteria custado a conversão de todoo sistema paraguaio para 60 Hz.

(Gilberto Valente Canali)

50 Hz ou 60 Hz? Uma decisão geopolítica, em detrimentode maior vantagem técnico-econômica

A produção, a transmissão e autilização da energia elétrica sãotradicionalmente feitas emcorrente alternada à freqüência de50 ou 60 Hz (Hertz ou ciclos porsegundos). A maioria dos paísesdas Américas adotou sistemaselétricos em 60 Hz, com poucase x c e ç õ e s c o m o Argentina,Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia eGuiana Francesa, que adotaramsistemas em 50 Hz, seguindo amaioria dos países europeus. NoBrasil, a ausência de uma políticapara o Setor Elétrico até os anos1960 permitiu que os Estados deCeará, Pernambuco, Rio de Janeiroe Rio Grande do Sul tivessemsistemas em 50 Hz, enquanto oresto do País, em 60 Hz, operandoisolamente.

Embora não haja qualquervantagem a favor de um ou outro,os sistemas que operam adiferentes freqüências não podemser interligados diretamente, tendosido esta a principal razão pela qualo governo federal decidiu, em 1964(Lei nº 4.454, de novembro de1964), uniformizar a freqüência detodos os sistemas que operavamisoladamente em 50 ou 60 Hz,adotando esta última como padrãopara todo o País.

Esta medida permitiu umarápida expansão das interconexõesentre usinas geradoras e sistemasde transmissão e distribuição, comgrandes vantagens técnicas eeconômicas para o desenvol-vimento do País. Embora parecessemuito distante, irreal mesmo, umapossível interconexão com ospaíses vizinhos, a opção brasileira

por 60 Hz revelou-se, mais tarde,desvantajosa, sob este aspecto, namedida em que avançavam asnegociações com o Paraguai, apartir de 1966, com vistas àconstrução de Itaipu, no rioParaná, e com a Argentina, a partirde 1978, com vistas ao desenvolvi-mento do projeto de Garabi, no rioUruguai.

A história de Itaipu registraepisódios de tensão nas relaçõesdiplomáticas entre os dois paísesempreendedores, pois era precisodecidir como seria produzida etransformada a imensa quanti-dade de energia daquela usina,que seria a maior do mundo, a sercompartilhada igualmente pelosdois países. Ao Brasil, compradorpreferencial da energia que nãofosse consumida pelo Paraguai,interessava que a usina fosseprojetada para produzir somenteem 60 Hz, já que seria a soluçãomenos onerosa, ainda que fossenecessário converter todo osistema paraguaio de 50 Hz para60 Hz. Mas o Paraguai, queestudava paralelamente aconstrução de outras usinas –Corpus e Yaciretá – com aArgentina, viu-se pressionado aresistir, inclusive pela oposiçãointerna ao governo, que via o riscode um indesejável incômodo quea medida causaria aos consu-midores, além de um inaceitávelatrelamento imposto pelointeresse do Brasil. Tal resistência,que provocou a impaciência dogoverno brasileiro, prolongou-sepor vários meses além do prazoque o governo paraguaio havia

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A CEEE e sua trajetória históricaLU I S AI RT O N FE R R E T

No Rio Grande do Sul, quando foi criada a Comissão Estadual deEnergia Elétrica (CEEE), em 1943, somente os centros urbanos maisdesenvolvidos contavam com serviços públicos de energia elétrica depadrão técnico aceitável.

Com a criação da CEEE o governo objetivava planejar e exploraros potenciais hidrelétricos em conexão com as reservas carboníferas eintegrar os esforços para a eletrificação dos municípios. Para tanto,estabeleceu o Plano de Eletrificação do Rio Grande do Sul, cujaexecução foi projetada em três etapas.

Quando a CEEE iniciou suas atividades a capacidade instalada emtodo o Rio Grande do Sul era de 70.000 kW, dos quais 24.600 kWencontravam-se instalados na Usina do Gasômetro, localizada em PortoAlegre, e atendiam aos municípios de Porto Alegre e Canoas.

Inicialmente subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios deObras Públicas, no decorrer dos anos a CEEE passou por váriasmudanças. Em 1952 foi transformada em autarquia e assim continuouaté 1963, quando se tornou uma Sociedade de Economia Mista, com adesignação de Companhia Estadual de Energia Elétrica, conservandoa sigla CEEE. A partir de então passou a controlar os serviços de geração,transmissão e distribuição de energia elétrica no Estado do Rio Grandedo Sul até 1997, quando sofreu nova reestruturação societária epatrimonial, mantendo as atividades dos segmentos de geraçãohidrelétrica e transmissão (rede básica) e a distribuição na região sul-sudeste do Estado do Rio Grande do Sul.

O Plano de Eletrificação do Estado, aprovado pelo governo federal

Hidrelétrica Bugres,que entrou em operação em 1952,

em São Francisco de Paula (RS).Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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NC A P Í T U L O 7

A CEEE e sua trajetória históricaLU I S AI RT O N FE R R E T

No Rio Grande do Sul, quando foi criada a Comissão Estadual deEnergia Elétrica (CEEE), em 1943, somente os centros urbanos maisdesenvolvidos contavam com serviços públicos de energia elétrica depadrão técnico aceitável.

Com a criação da CEEE o governo objetivava planejar e exploraros potenciais hidrelétricos em conexão com as reservas carboníferas eintegrar os esforços para a eletrificação dos municípios. Para tanto,estabeleceu o Plano de Eletrificação do Rio Grande do Sul, cujaexecução foi projetada em três etapas.

Quando a CEEE iniciou suas atividades a capacidade instalada emtodo o Rio Grande do Sul era de 70.000 kW, dos quais 24.600 kWencontravam-se instalados na Usina do Gasômetro, localizada em PortoAlegre, e atendiam aos municípios de Porto Alegre e Canoas.

Inicialmente subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios deObras Públicas, no decorrer dos anos a CEEE passou por váriasmudanças. Em 1952 foi transformada em autarquia e assim continuouaté 1963, quando se tornou uma Sociedade de Economia Mista, com adesignação de Companhia Estadual de Energia Elétrica, conservandoa sigla CEEE. A partir de então passou a controlar os serviços de geração,transmissão e distribuição de energia elétrica no Estado do Rio Grandedo Sul até 1997, quando sofreu nova reestruturação societária epatrimonial, mantendo as atividades dos segmentos de geraçãohidrelétrica e transmissão (rede básica) e a distribuição na região sul-sudeste do Estado do Rio Grande do Sul.

O Plano de Eletrificação do Estado, aprovado pelo governo federal

Hidrelétrica Bugres,que entrou em operação em 1952,

em São Francisco de Paula (RS).Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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possível cobrir grande parte da região norte do Estado, através de linhasde curta extensão e com menores exigências técnicas e financeiras.Assim, desenvolveram-se de modo uniforme mercados regionais, quemais tarde justificaram, por sua importância, serem atendidos por linhasde transmissão mais longas.

Paralelamente a esse trabalho pioneiro, a CEEE iniciou umprograma de encampações dos serviços de energia elétrica existentesnas áreas atendidas pela primeira etapa, a fim de melhorar e ampliar asrespectivas instalações. Com esta finalidade e em obediência à legislaçãofederal específica sobre a matéria, a CEEE procedeu ao tombamentodos bens patrimoniais dos serviços de eletricidade, tanto particulares,quanto das prefeituras.

A seguir, sempre dentro dos limites dos recursos financeirosdisponíveis e na medida em que os próprios concessionários pleiteavama transferência dos seus serviços à CEEE, a comissão procurou ultimaras encampações, cuidando dos casos de maior urgência e mais próximosdos locais onde já operava.

A princípio houve necessidade de extenso trabalho de divulgação.Essa tarefa buscava a compreensão dos concessionários e dos usuáriospara o problema dos tombamentos que iam sendo executados,esclarecendo-os sobre o espírito da legislação federal e sobre ospropósitos da CEEE de melhorar e ampliar os serviços, e nãosimplesmente absorvê-los.

Ao findar a primeira etapa do Plano de Eletrificação, em 1954, oRio Grande do Sul contava com cerca de 130.000 kW instalados. Istorepresentava um acréscimo percentual de 85% em oito anos deconstruções, ou seja, uma taxa incremental média de 11% ao ano. Doacréscimo de 60.000 kW couberam à CEEE mais de 50.000 kW. Emmeados de 1950, antes, portanto, de concluída totalmente a primeiraetapa do Plano, a CEEE encaminhou ao governo do Estado amplajustificativa técnica, econômica e financeira para lançamento de suasegunda etapa.

Previa-se, nesta nova etapa, a construção de centrais de maiorporte que poderiam atender aos mercados através de sistemas detransmissão mais longos, então já economicamente justificáveis. Emsua versão final foi planejado para se elevar em 140% a potênciainstalada, abrangendo inicialmente um total de 120.000 kW, que foramposteriormente ampliados para 170.000 kW.

em 1945, em caráter pioneiro em todo o País, previa o fornecimento deenergia elétrica à base do preço de custo e com tarifa uniforme emtodo o território do Rio Grande do Sul.

A falta de recursos técnicos e financeiros iniciais e a grandedeficiência de energia então constatada em todas as regiões do Estadoevidenciaram a necessidade de priorizar as obras de construção maissimples e rápidas, que integraram uma primeira etapa do Plano.

Ficariam para uma segunda etapa as obras de portes médio e grande,adequadas às necessidades do Estado para um período mais dilatado e,paralelamente, à formação e ampliação de um corpo administrativo etécnico especializado. Outras etapas seriam lançadas de acordo com asexigências do mercado de energia, e na medida em que não houvesselimitações de ordem financeira.

A primeira etapa do Plano de Eletrificação previa um acréscimode cerca de 40.000 kW, ou seja, 60% da capacidade até então existenteem todo o Estado, potência esta que seria instalada entre 1946 e 1954.Este acréscimo de 40.000 kW foi distribuído em 16 pequenas usinas,das quais as maiores foram a hidrelétrica de Bugres, com 11.000 kW, aprimeira etapa da termelétrica de São Jerônimo, com 10.000 kW, e adiesel elétrica de Porto Alegre, com 7.000 kW.

Em setembro de 1948 entrava em operação a primeira usinainteiramente projetada e construída pela CEEE, a hidrelétrica de Passodo Inferno, de 1.500 kW, destinada a reforçar o fornecimento de energiaàs áreas industriais de São Leopoldo e Caxias.

A Usina diesel-elétrica de Porto Alegre foi instalada em 1949 edestinava-se a reforçar o sistema da capital e de Canoas, onde eraconcessionária a Companhia Energia Elétrica Rio Grandense (CEERG),subsidiária da American & Foreign Power Co. (Amforp).

Além das obras acima, que obedeciam à planificação geral inicial,durante a primeira etapa do Plano de Eletrificação a CEEE providencioua instalação de aproximadamente 10.000 kW em usinas diesel deemergência, a fim de reforçar o fornecimento de energia elétrica emvários pontos do Estado, atendidos por particulares ou pelas prefeituras.

Apesar de a CEEE ter sido criada para resolver em especial a deficiênciade energia no interior do Estado, em 1953 teve que antecipar obras parasocorrer a capital, onde foi implantada a subestação da Vila IAPI, atravésda qual a CEERG passou a receber energia fornecida pela CEEE.

Com as realizações da primeira etapa do Plano de Eletrificação foi

Hidrelétrica Passo do Inferno,inaugurada em 1948,

em São Francisco de Paula (RS).Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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possível cobrir grande parte da região norte do Estado, através de linhasde curta extensão e com menores exigências técnicas e financeiras.Assim, desenvolveram-se de modo uniforme mercados regionais, quemais tarde justificaram, por sua importância, serem atendidos por linhasde transmissão mais longas.

Paralelamente a esse trabalho pioneiro, a CEEE iniciou umprograma de encampações dos serviços de energia elétrica existentesnas áreas atendidas pela primeira etapa, a fim de melhorar e ampliar asrespectivas instalações. Com esta finalidade e em obediência à legislaçãofederal específica sobre a matéria, a CEEE procedeu ao tombamentodos bens patrimoniais dos serviços de eletricidade, tanto particulares,quanto das prefeituras.

A seguir, sempre dentro dos limites dos recursos financeirosdisponíveis e na medida em que os próprios concessionários pleiteavama transferência dos seus serviços à CEEE, a comissão procurou ultimaras encampações, cuidando dos casos de maior urgência e mais próximosdos locais onde já operava.

A princípio houve necessidade de extenso trabalho de divulgação.Essa tarefa buscava a compreensão dos concessionários e dos usuáriospara o problema dos tombamentos que iam sendo executados,esclarecendo-os sobre o espírito da legislação federal e sobre ospropósitos da CEEE de melhorar e ampliar os serviços, e nãosimplesmente absorvê-los.

Ao findar a primeira etapa do Plano de Eletrificação, em 1954, oRio Grande do Sul contava com cerca de 130.000 kW instalados. Istorepresentava um acréscimo percentual de 85% em oito anos deconstruções, ou seja, uma taxa incremental média de 11% ao ano. Doacréscimo de 60.000 kW couberam à CEEE mais de 50.000 kW. Emmeados de 1950, antes, portanto, de concluída totalmente a primeiraetapa do Plano, a CEEE encaminhou ao governo do Estado amplajustificativa técnica, econômica e financeira para lançamento de suasegunda etapa.

Previa-se, nesta nova etapa, a construção de centrais de maiorporte que poderiam atender aos mercados através de sistemas detransmissão mais longos, então já economicamente justificáveis. Emsua versão final foi planejado para se elevar em 140% a potênciainstalada, abrangendo inicialmente um total de 120.000 kW, que foramposteriormente ampliados para 170.000 kW.

em 1945, em caráter pioneiro em todo o País, previa o fornecimento deenergia elétrica à base do preço de custo e com tarifa uniforme emtodo o território do Rio Grande do Sul.

A falta de recursos técnicos e financeiros iniciais e a grandedeficiência de energia então constatada em todas as regiões do Estadoevidenciaram a necessidade de priorizar as obras de construção maissimples e rápidas, que integraram uma primeira etapa do Plano.

Ficariam para uma segunda etapa as obras de portes médio e grande,adequadas às necessidades do Estado para um período mais dilatado e,paralelamente, à formação e ampliação de um corpo administrativo etécnico especializado. Outras etapas seriam lançadas de acordo com asexigências do mercado de energia, e na medida em que não houvesselimitações de ordem financeira.

A primeira etapa do Plano de Eletrificação previa um acréscimode cerca de 40.000 kW, ou seja, 60% da capacidade até então existenteem todo o Estado, potência esta que seria instalada entre 1946 e 1954.Este acréscimo de 40.000 kW foi distribuído em 16 pequenas usinas,das quais as maiores foram a hidrelétrica de Bugres, com 11.000 kW, aprimeira etapa da termelétrica de São Jerônimo, com 10.000 kW, e adiesel elétrica de Porto Alegre, com 7.000 kW.

Em setembro de 1948 entrava em operação a primeira usinainteiramente projetada e construída pela CEEE, a hidrelétrica de Passodo Inferno, de 1.500 kW, destinada a reforçar o fornecimento de energiaàs áreas industriais de São Leopoldo e Caxias.

A Usina diesel-elétrica de Porto Alegre foi instalada em 1949 edestinava-se a reforçar o sistema da capital e de Canoas, onde eraconcessionária a Companhia Energia Elétrica Rio Grandense (CEERG),subsidiária da American & Foreign Power Co. (Amforp).

Além das obras acima, que obedeciam à planificação geral inicial,durante a primeira etapa do Plano de Eletrificação a CEEE providencioua instalação de aproximadamente 10.000 kW em usinas diesel deemergência, a fim de reforçar o fornecimento de energia elétrica emvários pontos do Estado, atendidos por particulares ou pelas prefeituras.

Apesar de a CEEE ter sido criada para resolver em especial a deficiênciade energia no interior do Estado, em 1953 teve que antecipar obras parasocorrer a capital, onde foi implantada a subestação da Vila IAPI, atravésda qual a CEERG passou a receber energia fornecida pela CEEE.

Com as realizações da primeira etapa do Plano de Eletrificação foi

Hidrelétrica Passo do Inferno,inaugurada em 1948,

em São Francisco de Paula (RS).Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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total de 42.000 kW. Localizada a jusante da usina de Bugres, instaladana primeira etapa, a usina de Canastra aproveitaria as mesmas águasdaquela usina, e sua energia seria transmitida para a área mais populosado Rio Grande do Sul, junto à capital.

A termelétrica de São Jerônimo, que já na primeira etapa havia sidoprojetada para ter sua potência duplicada, recebeu mais uma unidade de10.000 kW, elevando-se assim a sua capacidade para 20.000 kW.

Na região sul do Rio Grande a CEEE havia inicialmente planejadoaproveitar as jazidas de carvão da localidade de Hulha Negra parainstalar uma central termelétrica que complementaria a então planejadacentral hidrelétrica do Paredão, no rio Camaquã.

Entretanto, o governo federal, através do Departamento Nacionalde Estradas de Ferro (DNEF), interessado em eletrificar a estrada deferro Rio Grande-Bagé-Torquato Severo, tomou a iniciativa deaproveitar a jazida de Candiota, que se mostrou mais conveniente porsuas maiores reservas.

De comum acordo com o governo federal, a CEEE resolveu, então,ampliar para 20.000 kW a potência prevista para a central de CandiotaI, a qual poderia, deste modo, atender não somente aos objetivos doDNEF, como também promover a eletrificação da região sul do Estado.

Foi assim que a central de Candiota I, embora iniciativa do governofederal, passou a integrar também a segunda etapa do Plano deEletrificação. Sua construção, excluídas linhas e subestações, ficou acargo do DNEF, que recebeu toda a colaboração da CEEE, encarregadada conclusão das obras no último ano e meio de sua construção.

Além destas centrais de maior porte, a segunda etapa previa, ainda,a implantação de aproximadamente mais 20.000 kW, distribuídos empequenas usinas hidro e termelétricas, das quais a mais importante eraa hidrelétrica de Ernestina, com 4.000 kW, cujo reservatórioregularizaria as descargas de estiagens do rio Jacuí.

Apesar de o planejamento inicial desta etapa quase duplicar apotência instalada, e diante das vultosas somas requeridas paraconcretizar o programa, a CEEE decidiu instalar mais 50.000 kW,no início da década de cinqüenta do século XX, consubstanciadosna terceira unidade geradora da central do Jacuí e na segundaunidade geradora da central de Canastra. Com essas iniciativas acapacidade prevista para segunda etapa do Plano de Eletrificaçãoaumentou para 170.000 kW.

A programação inicial de 120.000 kW estava representadaprincipalmente pelas hidrelétricas do Jacuí e de Canastra e pelastermelétricas de São Jerônimo (complementação) e de Candiota.

A UHE do Jacuí, embora projetada para a capacidade final de150.000 kW, distribuída em seis grupos geradores, contaria na segundaetapa do Plano com apenas dois grupos, totalizando 50.000 kW.Localizada no centro geográfico do Estado, sua energia seria distribuídapor um sistema radial de linhas de 138.000 V, de modo a interligar osmercados regionais criados na primeira etapa, trazendo energia inclusiveaté a região da capital do Estado.

Na UHE de Canastra foi instalado, de início, apenas um geradorde 21.000 kW, embora tenha sido projetada para fornecer a potência

Hidrelétrica Jacuí,instalada no rio homônimo,

que entrou em operação em 1962.Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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total de 42.000 kW. Localizada a jusante da usina de Bugres, instaladana primeira etapa, a usina de Canastra aproveitaria as mesmas águasdaquela usina, e sua energia seria transmitida para a área mais populosado Rio Grande do Sul, junto à capital.

A termelétrica de São Jerônimo, que já na primeira etapa havia sidoprojetada para ter sua potência duplicada, recebeu mais uma unidade de10.000 kW, elevando-se assim a sua capacidade para 20.000 kW.

Na região sul do Rio Grande a CEEE havia inicialmente planejadoaproveitar as jazidas de carvão da localidade de Hulha Negra parainstalar uma central termelétrica que complementaria a então planejadacentral hidrelétrica do Paredão, no rio Camaquã.

Entretanto, o governo federal, através do Departamento Nacionalde Estradas de Ferro (DNEF), interessado em eletrificar a estrada deferro Rio Grande-Bagé-Torquato Severo, tomou a iniciativa deaproveitar a jazida de Candiota, que se mostrou mais conveniente porsuas maiores reservas.

De comum acordo com o governo federal, a CEEE resolveu, então,ampliar para 20.000 kW a potência prevista para a central de CandiotaI, a qual poderia, deste modo, atender não somente aos objetivos doDNEF, como também promover a eletrificação da região sul do Estado.

Foi assim que a central de Candiota I, embora iniciativa do governofederal, passou a integrar também a segunda etapa do Plano deEletrificação. Sua construção, excluídas linhas e subestações, ficou acargo do DNEF, que recebeu toda a colaboração da CEEE, encarregadada conclusão das obras no último ano e meio de sua construção.

Além destas centrais de maior porte, a segunda etapa previa, ainda,a implantação de aproximadamente mais 20.000 kW, distribuídos empequenas usinas hidro e termelétricas, das quais a mais importante eraa hidrelétrica de Ernestina, com 4.000 kW, cujo reservatórioregularizaria as descargas de estiagens do rio Jacuí.

Apesar de o planejamento inicial desta etapa quase duplicar apotência instalada, e diante das vultosas somas requeridas paraconcretizar o programa, a CEEE decidiu instalar mais 50.000 kW,no início da década de cinqüenta do século XX, consubstanciadosna terceira unidade geradora da central do Jacuí e na segundaunidade geradora da central de Canastra. Com essas iniciativas acapacidade prevista para segunda etapa do Plano de Eletrificaçãoaumentou para 170.000 kW.

A programação inicial de 120.000 kW estava representadaprincipalmente pelas hidrelétricas do Jacuí e de Canastra e pelastermelétricas de São Jerônimo (complementação) e de Candiota.

A UHE do Jacuí, embora projetada para a capacidade final de150.000 kW, distribuída em seis grupos geradores, contaria na segundaetapa do Plano com apenas dois grupos, totalizando 50.000 kW.Localizada no centro geográfico do Estado, sua energia seria distribuídapor um sistema radial de linhas de 138.000 V, de modo a interligar osmercados regionais criados na primeira etapa, trazendo energia inclusiveaté a região da capital do Estado.

Na UHE de Canastra foi instalado, de início, apenas um geradorde 21.000 kW, embora tenha sido projetada para fornecer a potência

Hidrelétrica Jacuí,instalada no rio homônimo,

que entrou em operação em 1962.Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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As propostas iniciais relativas à terceira etapa sofreram, entretanto,profundas alterações. Durante a década de cinqüenta as dificuldades paraobtenção de recursos financeiros em moeda nacional, tanto em âmbitoestadual quanto federal, obrigaram à reformulação do programa original.

Como conseqüência, obras importantes como as das centrais deCanastra e a segunda etapa da central Jacuí atrasaram, determinandocrises de energia difíceis de serem contornadas. Foi nesta fase que vieramse superpor outras iniciativas no campo da geração de energia elétricaque, levadas adiante sem o controle da CEEE, passaram, no entanto, ainfluir em seu planejamento.

Assim, o então Consórcio Administrador das Empresas deMineração (Cadem) obteve do governo federal a concessão paraimplantar, junto à jazida carbonífera de Charqueadas, uma centraltermelétrica com capacidade inicial de 54.000 kW e final de 72.000kW, cuja energia seria fornecida à CEEE. Esta central, iniciada em1956, foi instalada na mesma área da central de São Jerônimo,tornando desaconselhável a prevista ampliação desta última usina,em mais 25.000 kW.

Vista geral e interiorda Hidrelétrica Canastra,

instalada em Taquara (RS), em 1956.Fotos: Luiz Antonio Ferreira.

Acervo: CEEE.

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As propostas iniciais relativas à terceira etapa sofreram, entretanto,profundas alterações. Durante a década de cinqüenta as dificuldades paraobtenção de recursos financeiros em moeda nacional, tanto em âmbitoestadual quanto federal, obrigaram à reformulação do programa original.

Como conseqüência, obras importantes como as das centrais deCanastra e a segunda etapa da central Jacuí atrasaram, determinandocrises de energia difíceis de serem contornadas. Foi nesta fase que vieramse superpor outras iniciativas no campo da geração de energia elétricaque, levadas adiante sem o controle da CEEE, passaram, no entanto, ainfluir em seu planejamento.

Assim, o então Consórcio Administrador das Empresas deMineração (Cadem) obteve do governo federal a concessão paraimplantar, junto à jazida carbonífera de Charqueadas, uma centraltermelétrica com capacidade inicial de 54.000 kW e final de 72.000kW, cuja energia seria fornecida à CEEE. Esta central, iniciada em1956, foi instalada na mesma área da central de São Jerônimo,tornando desaconselhável a prevista ampliação desta última usina,em mais 25.000 kW.

Vista geral e interiorda Hidrelétrica Canastra,

instalada em Taquara (RS), em 1956.Fotos: Luiz Antonio Ferreira.

Acervo: CEEE.

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154

Entretanto, a mesma falta de recursos que atingira a CEEE e quedificultava o prosseguimento do Plano de Eletrificação também atingiuo Cadem e, em conseqüência, ocorreu um grande atraso na finalizaçãodas obras da central de Charqueadas. O governo viu-se, assim, com oproblema do prosseguimento simultâneo de duas obras de grande porte,como as de Jacuí e Charqueadas, disputando os exíguos recursosdisponíveis na mesma área federal. O rápido crescimento do mercadoconsumidor de energia fazia prever severo racionamento em todo oEstado, diante da impossibilidade de cumprir os cronogramas das duasobras principais em andamento.

Em maio de 1959 o governador Leonel Brizola assinou o Decretonº 10.466, que permitiu a encampação do acervo da Companhia deEnergia Elétrica Rio Grandense (CEERG), concessionária dos serviçosde energia elétrica em Porto Alegre e Canoas, mediante a qual a velhaUsina Termelétrica do Gasômetro passou a pertencer à CEEE.

Em fins deste mesmo ano a Termelétrica Charqueadas S.A.(Termochar), empresa constituída para construir a usina de mesmonome, recebeu substancial auxílio federal do Banco de DesenvolvimentoEconômico (BNDE), então gestor do Fundo Federal de Eletrificação.O novo aporte de capital permitiu o prosseguimento das obras da centralde Charqueadas, que entrou em funcionamento em janeiro de 1962,com um grupo gerador de 18.000 kW.

Neste mesmo período a CEEE recebeu oferta para comprar oequipamento completo de uma usina térmica de 24.000 kW, oportunapara enfrentar a crise de energia que se esboçava, e que constituiria aNova Usina Termelétrica de Porto Alegre (Nutepa). Entretanto, porvárias razões, as obras da Nutepa sofreram atraso, tendo sido concluídassomente em 1969.

Paralelamente, a CEEE, também com recursos do BNDE, conseguiuconcluir, em fins de 1962, as obras da primeira etapa da central doJacuí, integrantes da segunda etapa do Plano de Eletrificação.

Ainda em fins da década de cinqüenta, o governo, preocupadocom o desenvolvimento econômico da região oeste, determinou à CEEEa implantação de uma central termelétrica de 66.000 kW, a qual seriainteiramente custeada pelo governo, com recursos extras aos do Planode Eletrificação. Nasceu, assim, a Termelétrica de Alegrete, localizadaem município de mesmo nome, e cuja energia seria distribuída paraquatorze municípios, através de um sistema de 1.000 km de linhas de

Sala de caldeiras da TermelétricaSão Jerônimo, instalada em 1962, (RS).

Acervo: Assessoria de Comunicação Social da CEEE.

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Entretanto, a mesma falta de recursos que atingira a CEEE e quedificultava o prosseguimento do Plano de Eletrificação também atingiuo Cadem e, em conseqüência, ocorreu um grande atraso na finalizaçãodas obras da central de Charqueadas. O governo viu-se, assim, com oproblema do prosseguimento simultâneo de duas obras de grande porte,como as de Jacuí e Charqueadas, disputando os exíguos recursosdisponíveis na mesma área federal. O rápido crescimento do mercadoconsumidor de energia fazia prever severo racionamento em todo oEstado, diante da impossibilidade de cumprir os cronogramas das duasobras principais em andamento.

Em maio de 1959 o governador Leonel Brizola assinou o Decretonº 10.466, que permitiu a encampação do acervo da Companhia deEnergia Elétrica Rio Grandense (CEERG), concessionária dos serviçosde energia elétrica em Porto Alegre e Canoas, mediante a qual a velhaUsina Termelétrica do Gasômetro passou a pertencer à CEEE.

Em fins deste mesmo ano a Termelétrica Charqueadas S.A.(Termochar), empresa constituída para construir a usina de mesmonome, recebeu substancial auxílio federal do Banco de DesenvolvimentoEconômico (BNDE), então gestor do Fundo Federal de Eletrificação.O novo aporte de capital permitiu o prosseguimento das obras da centralde Charqueadas, que entrou em funcionamento em janeiro de 1962,com um grupo gerador de 18.000 kW.

Neste mesmo período a CEEE recebeu oferta para comprar oequipamento completo de uma usina térmica de 24.000 kW, oportunapara enfrentar a crise de energia que se esboçava, e que constituiria aNova Usina Termelétrica de Porto Alegre (Nutepa). Entretanto, porvárias razões, as obras da Nutepa sofreram atraso, tendo sido concluídassomente em 1969.

Paralelamente, a CEEE, também com recursos do BNDE, conseguiuconcluir, em fins de 1962, as obras da primeira etapa da central doJacuí, integrantes da segunda etapa do Plano de Eletrificação.

Ainda em fins da década de cinqüenta, o governo, preocupadocom o desenvolvimento econômico da região oeste, determinou à CEEEa implantação de uma central termelétrica de 66.000 kW, a qual seriainteiramente custeada pelo governo, com recursos extras aos do Planode Eletrificação. Nasceu, assim, a Termelétrica de Alegrete, localizadaem município de mesmo nome, e cuja energia seria distribuída paraquatorze municípios, através de um sistema de 1.000 km de linhas de

Sala de caldeiras da TermelétricaSão Jerônimo, instalada em 1962, (RS).

Acervo: Assessoria de Comunicação Social da CEEE.

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transmissão de 69 kV, por meio do qual seriam interconectadas as usinasisoladas existentes. Na realidade, os encargos de implantação destacentral e de seu extenso sistema de transmissão, não integrantes doPlano de Eletrificação, acabaram ficando com a CEEE.

A central de Alegrete, constituída de dois grupos geradores de33.000 kW cada, utilizando óleo combustível, foi inaugurada emsetembro de 1968. Em 1974 esta termelétrica foi encampada pela União,permanecendo com a Eletrosul a responsabilidade de sua operação. Oseu sistema de transmissão foi transferido para a CEEE.

Finalmente, com recursos próprios e com a ajuda do governofederal, através do BNDE, a CEEE concluiu, em meados de 1968, asegunda etapa da central Jacuí, acrescentando assim mais 75.000 kWao seu parque gerador.

Durante o desenvolvimento da terceira etapa do seu Plano deEletrificação, a CEEE, a fim de reforçar rapidamente o fornecimentolocal de energia com baixos investimentos, instalou em todo o Estadopequenos e médios grupos geradores diesel-elétricos, os quais em grandeparte evitaram que a crise de energia atingisse maiores proporções.

Em 1969 a CEEE adquiriu da Rio Light/Serviços de EletricidadeS.A. a usina termelétrica flutuante Piraquê, de 25.000 kW, que entrouem funcionamento junto à Nutepa. Também a Termochar colocou emoperação a quarta unidade da central de Charqueadas, com 18.000kW, completando a potência total instalada de 72.000 kW.

Desta forma, foram adicionados mais 43.000 kW aos sistemas doEstado que podem ser, por extensão, considerados integrantes da terceiraetapa do Plano de Eletrificação. Chegou-se, assim, em 1969, a 565.000kW de capacidade efetiva no Rio Grande do Sul.

Os estudos do Enersule a instalação das usinasde maior porte

A partir de 1966 o Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul(Enersul), através do Canambra, realizou um detalhado inventário dasbacias dos rios Iguaçu e Uruguai e um reconhecimento geral dos demaisrios do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina, além das

Hidrelétrica Ernestina, que entrou em operação em 1953, em Passo Fundo (RS).Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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transmissão de 69 kV, por meio do qual seriam interconectadas as usinasisoladas existentes. Na realidade, os encargos de implantação destacentral e de seu extenso sistema de transmissão, não integrantes doPlano de Eletrificação, acabaram ficando com a CEEE.

A central de Alegrete, constituída de dois grupos geradores de33.000 kW cada, utilizando óleo combustível, foi inaugurada emsetembro de 1968. Em 1974 esta termelétrica foi encampada pela União,permanecendo com a Eletrosul a responsabilidade de sua operação. Oseu sistema de transmissão foi transferido para a CEEE.

Finalmente, com recursos próprios e com a ajuda do governofederal, através do BNDE, a CEEE concluiu, em meados de 1968, asegunda etapa da central Jacuí, acrescentando assim mais 75.000 kWao seu parque gerador.

Durante o desenvolvimento da terceira etapa do seu Plano deEletrificação, a CEEE, a fim de reforçar rapidamente o fornecimentolocal de energia com baixos investimentos, instalou em todo o Estadopequenos e médios grupos geradores diesel-elétricos, os quais em grandeparte evitaram que a crise de energia atingisse maiores proporções.

Em 1969 a CEEE adquiriu da Rio Light/Serviços de EletricidadeS.A. a usina termelétrica flutuante Piraquê, de 25.000 kW, que entrouem funcionamento junto à Nutepa. Também a Termochar colocou emoperação a quarta unidade da central de Charqueadas, com 18.000kW, completando a potência total instalada de 72.000 kW.

Desta forma, foram adicionados mais 43.000 kW aos sistemas doEstado que podem ser, por extensão, considerados integrantes da terceiraetapa do Plano de Eletrificação. Chegou-se, assim, em 1969, a 565.000kW de capacidade efetiva no Rio Grande do Sul.

Os estudos do Enersule a instalação das usinasde maior porte

A partir de 1966 o Comitê de Estudos Energéticos da Região Sul(Enersul), através do Canambra, realizou um detalhado inventário dasbacias dos rios Iguaçu e Uruguai e um reconhecimento geral dos demaisrios do Rio Grande do Sul, do Paraná e de Santa Catarina, além das

Hidrelétrica Ernestina, que entrou em operação em 1953, em Passo Fundo (RS).Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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reservas carboníferas do Sul do Brasil, definindo seu potencial energéticoe planejando sua eficiente utilização.

Concluídos em 1969, esses estudos, no caso do Rio Grande do Sul,contemplavam dois locais no rio Jacuí – Itaúba e Dona Francisca – queapresentavam a vantagem de se beneficiarem com a regularizaçãopropiciada pelos reservatórios já existentes a montante: Ernestina, PassoReal e Jacuí.

A CEEE contribuiu para o Enersul com seus estudos e projetos jáexecutados, ao mesmo tempo em que passou a adaptar sua programaçãoao referido Comitê. Os estudos conduziram, no campo hidrelétrico, àseleção, como prioritários, dos aproveitamentos de Passo Real, Itaúbae Dona Francisca, no rio Jacuí, e Passo Fundo, no rio de mesmo nome.Na área termelétrica elegeu-se a Central Candiota II. O relatório finalapresentou um plano energético até 1980, bem como um programapara a progressiva mudança de freqüência, no Rio Grande do Sul, de50 para 60 Hz.

Posteriormente, de 1977 a 1979, a Eletrosul, em conjunto com aempresa de consultoria Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores(CNEC), revisou o referido plano, propondo uma nova alternativa com22 aproveitamentos na bacia do rio Uruguai, totalizando 9.500 MWde potência instalada.

No início dos anos 1970 o consumo de energia elétrica no RioGrande do Sul crescia a uma média de 15% ao ano, e no primeirosemestre de 1974 chegou a 17 % em relação a igual período de 1973.Para garantir o abastecimento do mercado, usinas de maior porte foramplanejadas e implantadas. A usina de Passo Fundo, que teve suas obraspassadas à responsabilidade da Eletrosul, em conseqüência de protocoloassinado em 1968 entre a Eletrobrás, o governo do Estado do Rio Grandedo Sul e a CEEE, entrou em operação em 1973, com duas unidades de110 MW de potência, totalizando 220 MW.

A usina de Passo Real entrou em operação em 1973. Localizadano município de Salto do Jacuí, a 12 km a montante da Barragem MaiaFilho (que forma o reservatório da usina de Jacuí), com potência efetivaatual de 156 MW, tem um reservatório de 225 km² de área.

A usina termelétrica Candiota II fase A, ou Presidente Médici –Fase A (UPME – Fase A) – entrou em operação em 1974, com duasunidades de 63 MW de potência, totalizando 126 MW.

A UPME – Fase B entrou em operação em 1986, com duas

Hidrelétrica Itaúba, localizada entreos municípios de Arroio do Tigre

e Júlio de Castilhos (RS),inaugurada em 1978.

Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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reservas carboníferas do Sul do Brasil, definindo seu potencial energéticoe planejando sua eficiente utilização.

Concluídos em 1969, esses estudos, no caso do Rio Grande do Sul,contemplavam dois locais no rio Jacuí – Itaúba e Dona Francisca – queapresentavam a vantagem de se beneficiarem com a regularizaçãopropiciada pelos reservatórios já existentes a montante: Ernestina, PassoReal e Jacuí.

A CEEE contribuiu para o Enersul com seus estudos e projetos jáexecutados, ao mesmo tempo em que passou a adaptar sua programaçãoao referido Comitê. Os estudos conduziram, no campo hidrelétrico, àseleção, como prioritários, dos aproveitamentos de Passo Real, Itaúbae Dona Francisca, no rio Jacuí, e Passo Fundo, no rio de mesmo nome.Na área termelétrica elegeu-se a Central Candiota II. O relatório finalapresentou um plano energético até 1980, bem como um programapara a progressiva mudança de freqüência, no Rio Grande do Sul, de50 para 60 Hz.

Posteriormente, de 1977 a 1979, a Eletrosul, em conjunto com aempresa de consultoria Consórcio Nacional de Engenheiros Consultores(CNEC), revisou o referido plano, propondo uma nova alternativa com22 aproveitamentos na bacia do rio Uruguai, totalizando 9.500 MWde potência instalada.

No início dos anos 1970 o consumo de energia elétrica no RioGrande do Sul crescia a uma média de 15% ao ano, e no primeirosemestre de 1974 chegou a 17 % em relação a igual período de 1973.Para garantir o abastecimento do mercado, usinas de maior porte foramplanejadas e implantadas. A usina de Passo Fundo, que teve suas obraspassadas à responsabilidade da Eletrosul, em conseqüência de protocoloassinado em 1968 entre a Eletrobrás, o governo do Estado do Rio Grandedo Sul e a CEEE, entrou em operação em 1973, com duas unidades de110 MW de potência, totalizando 220 MW.

A usina de Passo Real entrou em operação em 1973. Localizadano município de Salto do Jacuí, a 12 km a montante da Barragem MaiaFilho (que forma o reservatório da usina de Jacuí), com potência efetivaatual de 156 MW, tem um reservatório de 225 km² de área.

A usina termelétrica Candiota II fase A, ou Presidente Médici –Fase A (UPME – Fase A) – entrou em operação em 1974, com duasunidades de 63 MW de potência, totalizando 126 MW.

A UPME – Fase B entrou em operação em 1986, com duas

Hidrelétrica Itaúba, localizada entreos municípios de Arroio do Tigre

e Júlio de Castilhos (RS),inaugurada em 1978.

Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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quais duas seriam vendidas), duas de geração (térmica e hídrica), euma de transmissão.

Após o leilão das duas distribuidoras, em outubro de 1997, aempresa Rio Grande Energia S.A. (RGE) passou a atender a regiãonorte-nordeste do Estado, e a empresa AES Sul Distribuidora Gaúchade Energia S.A. passou a prestar serviços à região centro-oeste.

A federalizaçãodas usinas termelétricas

Negociações havidas entre o governo do Estado do Rio Grande doSul e o governo federal, no âmbito da renegociação das dívidas doEstado, resultaram na celebração de contrato, em abril de 1998, noqual o controle acionário da empresa de geração térmica criada com areestruturação da CEEE, a Companhia de Geração Termelétrica(CGTEE), foi transferido para a União.

O parque gerador da CGTEE é composto pelas termelétricasPresidente Médici (UPME), Nutepa e São Jerônimo, perfazendo umtotal de 490 MW. A usina Candiota III, primeira unidade que foicontratada junto à empresa francesa Alsthon Atlantique, em 1981, foifederalizada, passando para o governo federal a responsabilidade peloempreendimento.

Projetada para ser implantada próxima à usina Presidente Médici(446 MW), em Candiota (RS), e utilizar o carvão produzido pelaCompanhia Rio Grandense de Mineração (CRM), controlada pelogoverno estadual, a usina Candiota III – primeira unidade (335 MW)teve o canteiro de obras implantado e parte de seus equipamentosfabricados no exterior, mas os esforços da CEEE para prosseguir naexecução esbarraram na ausência de recursos, e houve a paralisaçãodo projeto em 1983.

Atualmente, após sua reestruturação, a CEEE permanece com asatividades de geração hidrelétrica, transmissão (rede básica) edistribuição de energia elétrica na região sul-sudeste do Rio Grandedo Sul.

unidades de 160 MW de potência, totalizando 320 MW.A usina de Itaúba, o penúltimo aproveitamento de maior porte a

entrar em operação no rio Jacuí, iniciou sua operação em 1978, com aprimeira unidade de 125 MW. Em 1979 passou a operar com as demaistrês unidades. Localizada no município de Pinhal Grande, tem umapotência efetiva de 500 MW e um reservatório de 13,8 km² de área.

A usina de Dona Francisca, com 125 MW, localizada no municípiode Nova Palma, entrou em operação em 2000, fruto de uma parceriaentre a CEEE e outras empresas públicas e privadas que viabilizou aconclusão do empreendimento já sob a égide do novo modelo do setorelétrico, ou seja, da privatização.

A UTE Jacuí I, com potência de 350 MW, tendo como combustívelo carvão mineral, localizada no município de Charqueadas, a 50 km dePorto Alegre, teve sua construção iniciada pela Eletrosul em 1985.Mas suas obras foram paralisadas.

Em 2000 entrou em operação a primeira usina do Rio Grande doSul utilizando como combustível o gás natural proveniente da Argentina– a UTE Uruguaiana, com 600 MW de potência, empreendimento dogrupo norte-americano The AES Corporation.

Reestruturação societáriae venda de parte da CEEE

Em meados da década de noventa o modelo institucional do setorelétrico, caracterizado por forte perfil estatal e pela existência demonopólios regionais na prestação dos serviços públicos, foi modificado.O novo modelo do setor elétrico adotou a tese da desverticalização, ouseja, a separação das empresas nas áreas de geração, transmissão,distribuição e comercialização, e a retomada dos investimentos por meiode capitais privados.

No Rio Grande do Sul o primeiro passo foi a adoção do Programade Reforma do Estado, viabilizado pela Lei nº 10.607, de 28 de dezembrode 1995, que abriu os caminhos para a busca de recursos privados nainfra-estrutura.

O trabalho de avaliação e modelagem do setor elétrico gaúchopropôs a divisão da CEEE em seis empresas, três de distribuição (das

Página anterior, Hidrelétrica DonaFrancisca, localizada em Nova Palma (RS),

que entrou em operação em 2000.Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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quais duas seriam vendidas), duas de geração (térmica e hídrica), euma de transmissão.

Após o leilão das duas distribuidoras, em outubro de 1997, aempresa Rio Grande Energia S.A. (RGE) passou a atender a regiãonorte-nordeste do Estado, e a empresa AES Sul Distribuidora Gaúchade Energia S.A. passou a prestar serviços à região centro-oeste.

A federalizaçãodas usinas termelétricas

Negociações havidas entre o governo do Estado do Rio Grande doSul e o governo federal, no âmbito da renegociação das dívidas doEstado, resultaram na celebração de contrato, em abril de 1998, noqual o controle acionário da empresa de geração térmica criada com areestruturação da CEEE, a Companhia de Geração Termelétrica(CGTEE), foi transferido para a União.

O parque gerador da CGTEE é composto pelas termelétricasPresidente Médici (UPME), Nutepa e São Jerônimo, perfazendo umtotal de 490 MW. A usina Candiota III, primeira unidade que foicontratada junto à empresa francesa Alsthon Atlantique, em 1981, foifederalizada, passando para o governo federal a responsabilidade peloempreendimento.

Projetada para ser implantada próxima à usina Presidente Médici(446 MW), em Candiota (RS), e utilizar o carvão produzido pelaCompanhia Rio Grandense de Mineração (CRM), controlada pelogoverno estadual, a usina Candiota III – primeira unidade (335 MW)teve o canteiro de obras implantado e parte de seus equipamentosfabricados no exterior, mas os esforços da CEEE para prosseguir naexecução esbarraram na ausência de recursos, e houve a paralisaçãodo projeto em 1983.

Atualmente, após sua reestruturação, a CEEE permanece com asatividades de geração hidrelétrica, transmissão (rede básica) edistribuição de energia elétrica na região sul-sudeste do Rio Grandedo Sul.

unidades de 160 MW de potência, totalizando 320 MW.A usina de Itaúba, o penúltimo aproveitamento de maior porte a

entrar em operação no rio Jacuí, iniciou sua operação em 1978, com aprimeira unidade de 125 MW. Em 1979 passou a operar com as demaistrês unidades. Localizada no município de Pinhal Grande, tem umapotência efetiva de 500 MW e um reservatório de 13,8 km² de área.

A usina de Dona Francisca, com 125 MW, localizada no municípiode Nova Palma, entrou em operação em 2000, fruto de uma parceriaentre a CEEE e outras empresas públicas e privadas que viabilizou aconclusão do empreendimento já sob a égide do novo modelo do setorelétrico, ou seja, da privatização.

A UTE Jacuí I, com potência de 350 MW, tendo como combustívelo carvão mineral, localizada no município de Charqueadas, a 50 km dePorto Alegre, teve sua construção iniciada pela Eletrosul em 1985.Mas suas obras foram paralisadas.

Em 2000 entrou em operação a primeira usina do Rio Grande doSul utilizando como combustível o gás natural proveniente da Argentina– a UTE Uruguaiana, com 600 MW de potência, empreendimento dogrupo norte-americano The AES Corporation.

Reestruturação societáriae venda de parte da CEEE

Em meados da década de noventa o modelo institucional do setorelétrico, caracterizado por forte perfil estatal e pela existência demonopólios regionais na prestação dos serviços públicos, foi modificado.O novo modelo do setor elétrico adotou a tese da desverticalização, ouseja, a separação das empresas nas áreas de geração, transmissão,distribuição e comercialização, e a retomada dos investimentos por meiode capitais privados.

No Rio Grande do Sul o primeiro passo foi a adoção do Programade Reforma do Estado, viabilizado pela Lei nº 10.607, de 28 de dezembrode 1995, que abriu os caminhos para a busca de recursos privados nainfra-estrutura.

O trabalho de avaliação e modelagem do setor elétrico gaúchopropôs a divisão da CEEE em seis empresas, três de distribuição (das

Página anterior, Hidrelétrica DonaFrancisca, localizada em Nova Palma (RS),

que entrou em operação em 2000.Foto: Luiz Antonio Ferreira. Acervo: CEEE.

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1 www.ceee.com.br/institucional/ceeehoje.asp

BOMBASSARO, Dumara M. Energia Elétrica no Rio Grande do Sul: da Fiat Lux em 1988 à CEEE em1963. 1992. Monografia (Bacharelado em História) – Pontifícia Universidade Católica do RioGrande do Sul. Porto Alegre.

COMISSÃO ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Usinas do Plano de Eletrificação do RS. Rio Grande doSul: [s.n.], 1951.

COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA (CEEE). Estudo de expansão da capacidade geradorada CEEE (1969-1978). Porto Alegre, 1969.

______.UTPM B: Situação das obras em junho de 1981. Porto Alegre, 1981.______. Relatório de Gestão 1995-1998. Porto Alegre, 1999.______. Relatório de Gestão 2000. Porto Alegre, 2001.COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA DO RIO GRANDE DO SUL (CEEE). História da CEEE.

Disponível em: http://www.ceee.com.br> Acesso em: jan./ fev. 2002.______. Disponível em: <http://www.ceee.com.br/institucional/ceeehoje.asp> Acesso em: 5 fev. 2002.ELETROSUL. Eletrosul e o futuro no ano dez. Florianópolis, 1978.CENTRAIS ELÉTRICAS DO SUL DO BRASIL (ELETROSUL) E CONSELHO NACIONAL DE ENGENHEIROS

CONSULTORES (CNEC). Estudo de Inventário Hidroenergético da bacia do rio Uruguai-Sumário. Florianópolis, 1981.

COMITÊ DE ESTUDOS ENERGÉTICOS DA REGIÃO SUL (ENERSUL). Estudos Energéticos da Região Sul doBrasil. Curitiba: Comitê Coordenador de Estudos. Nov. 1969.

FERRET, L. A.; LEÃO, L. A. Pequenas e médias centrais hidrelétricas no Estado do Rio Grande do Sul.In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE PMCH, 2, 2000, Canela, RS. Anais... Canela, RS: [s.n.], 2000.

RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual n. 1.744, de 20 de fevereiro de 1952.

CEEE – Geração, Transmissão e Distribuição1

Usinas Potência efetiva15 910,6 MW

Rede Básica Conexões TotalSubstações 39 11 50Potência Instalada 6.016,76 MVA 613,61 MVA 6.620,37 MVALinhas de Transmissão 4.399,30 km 985,03 km 5.384,33 km

Número de Consumidores Número deAtendidos Municípios Atendidos

1.213.063 (dez/2000) 6.130 GWh (ano 2000) 69

Mercado

N O T A

R E F E R Ê N C I A S

Usina Termelétrica Presidente Médici I e II,localizada em Bagé (RS).

Foto: Fernando Cesar Vieira.Acervo: CEEE.

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1 www.ceee.com.br/institucional/ceeehoje.asp

BOMBASSARO, Dumara M. Energia Elétrica no Rio Grande do Sul: da Fiat Lux em 1988 à CEEE em1963. 1992. Monografia (Bacharelado em História) – Pontifícia Universidade Católica do RioGrande do Sul. Porto Alegre.

COMISSÃO ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Usinas do Plano de Eletrificação do RS. Rio Grande doSul: [s.n.], 1951.

COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA (CEEE). Estudo de expansão da capacidade geradorada CEEE (1969-1978). Porto Alegre, 1969.

______.UTPM B: Situação das obras em junho de 1981. Porto Alegre, 1981.______. Relatório de Gestão 1995-1998. Porto Alegre, 1999.______. Relatório de Gestão 2000. Porto Alegre, 2001.COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA DO RIO GRANDE DO SUL (CEEE). História da CEEE.

Disponível em: http://www.ceee.com.br> Acesso em: jan./ fev. 2002.______. Disponível em: <http://www.ceee.com.br/institucional/ceeehoje.asp> Acesso em: 5 fev. 2002.ELETROSUL. Eletrosul e o futuro no ano dez. Florianópolis, 1978.CENTRAIS ELÉTRICAS DO SUL DO BRASIL (ELETROSUL) E CONSELHO NACIONAL DE ENGENHEIROS

CONSULTORES (CNEC). Estudo de Inventário Hidroenergético da bacia do rio Uruguai-Sumário. Florianópolis, 1981.

COMITÊ DE ESTUDOS ENERGÉTICOS DA REGIÃO SUL (ENERSUL). Estudos Energéticos da Região Sul doBrasil. Curitiba: Comitê Coordenador de Estudos. Nov. 1969.

FERRET, L. A.; LEÃO, L. A. Pequenas e médias centrais hidrelétricas no Estado do Rio Grande do Sul.In: SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE PMCH, 2, 2000, Canela, RS. Anais... Canela, RS: [s.n.], 2000.

RIO GRANDE DO SUL. Lei Estadual n. 1.744, de 20 de fevereiro de 1952.

CEEE – Geração, Transmissão e Distribuição1

Usinas Potência efetiva15 910,6 MW

Rede Básica Conexões TotalSubstações 39 11 50Potência Instalada 6.016,76 MVA 613,61 MVA 6.620,37 MVALinhas de Transmissão 4.399,30 km 985,03 km 5.384,33 km

Número de Consumidores Número deAtendidos Municípios Atendidos

1.213.063 (dez/2000) 6.130 GWh (ano 2000) 69

Mercado

N O T A

R E F E R Ê N C I A S

Usina Termelétrica Presidente Médici I e II,localizada em Bagé (RS).

Foto: Fernando Cesar Vieira.Acervo: CEEE.

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AC A P Í T U L O 8

A Celesc: da instalação aos dias atuaisSE B A S T I Ã O B E R L I N C K BR I T O

Ao ser constituída, em 1955, a empresa Centrais Elétricas de SantaCatarina S.A. (Celesc) não significou uma tentativa isolada ou umesforço solitário no tempo. Pelo contrário, o estudo da administraçãopública brasileira revela que a década de 1950 foi aquela quecaracterizou a deflagração, em grande escala, da intervenção do Estadona economia, com o incremento da criação de empresas comparticipação acionária do Poder Público.

A ampla discussão sobre a necessidade de ampliação de importantesatividades básicas e essenciais à nação, entre elas a energia elétrica,defluiu para a constituição da sociedade de economia mista, que foi aprimeira forma de atuação do chamado Estado empresário. Naconformação jurídica segue-se a instituição da empresa pública, paradepois, numa sucessão cronológica, abrigarem-se ambas sob adesignação genérica de empresas estatais.

A Celesc figurou na linha de frente das sociedades de economiamista – sendo uma das primeiras no País –, acompanhando, desta forma,o nacionalismo econômico então emergente.

Propunha-se o intervencionismo estatal brasileiro a implantar, demodo significativo, as atividades industriais como insumosindispensáveis à formação da infra-estrutura que alicerçaria a expansãoeconômica que se delineava.

Objetivando produzir, transmitir e distribuir energia elétrica numEstado que dependia fundamentalmente desses serviços, a Celesc desdelogo se alçou ao patamar das grandes empresas brasileiras, alinhando-se no conjunto daquelas instituições que, pelos nítidos objetivos sociais,

A Companhia Estadual deEnergia Elétrica (CEEE), empresapública do Rio Grande do Sul,completou 59 anos dia 1º defevereiro de 2002. Desde o ano de1943, quando então recebia onome de Comissão Estadual deEnergia Elétrica, a empresa tem seidentificado com o própriodesenvolvimento gaúcho, sendohoje uma das maiores empresas doEstado, com um faturamentoanual de aproximadamente umbilhão de reais e atendendodiretamente mais de 1,27 milhãode consumidores em 72municípios gaúchos.

A história registra que a situaçãoda energia elétrica, nos primeirosanos da década de quarenta, erabastante crítica. Nessa época, apósàs 23 horas, por exemplo, ofornecimento de energia erasuspenso às residências. Parareverter essa situação e abastecero mercado gaúcho que cresciarapidamente, a Companhiainiciou, em 1944, a construção deuma série de usinas hidrelétricasno Estado. A usina Passo doInferno, em São Francisco de Paula,inaugurada em 1948, foi aprimeira das quinze hidrelétricasque a CEEE possui hoje. A últimausina hidrelétrica no Estado – DonaFrancisca – entrou em operaçãoem 2001 e foi construída em

parceria com a iniciativa privada.Ela está localizada junto ao maiorcomplexo de geração hidrelétricado Estado, integrado pelas usinasErnestina, Passo Real, Jacuí eItaúba.

No ano de 1952 a CEEE foitransformada em autarquia,permanecendo com essaconstituição até dezembro de1963, quando se tornou Sociedadede Economia Mista, com adesignação de CompanhiaEstadual de Energia Elétrica. ACEEE é responsável pela totalidadeda geração, da transmissão e dadistribuição de energia elétrica emtodo o território gaúcho, até o anode 1997, quando ocorreu oprocesso parcial de privatização naempresa. Na ocasião, dois terçosda área de distribuição foramtransferidos ao capital privado, ea geração térmica foi federalizada.

O patrimônio da empresa, hoje,é de R$ 2,080 bilhões. Seu parqueenergético é constituído por 15usinas hidrelétricas, com potênciainstalada de 910,6 megawatts(MW); 52 subestações comcapacidade de 6.102,9 megavolts-ampère (MVA) e seis milquilômetros de linhas detransmissão.

(CEEE - Assessoria de Comuni-cação Social)

CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica do RS

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AC A P Í T U L O 8

A Celesc: da instalação aos dias atuaisSE B A S T I Ã O B E R L I N C K BR I T O

Ao ser constituída, em 1955, a empresa Centrais Elétricas de SantaCatarina S.A. (Celesc) não significou uma tentativa isolada ou umesforço solitário no tempo. Pelo contrário, o estudo da administraçãopública brasileira revela que a década de 1950 foi aquela quecaracterizou a deflagração, em grande escala, da intervenção do Estadona economia, com o incremento da criação de empresas comparticipação acionária do Poder Público.

A ampla discussão sobre a necessidade de ampliação de importantesatividades básicas e essenciais à nação, entre elas a energia elétrica,defluiu para a constituição da sociedade de economia mista, que foi aprimeira forma de atuação do chamado Estado empresário. Naconformação jurídica segue-se a instituição da empresa pública, paradepois, numa sucessão cronológica, abrigarem-se ambas sob adesignação genérica de empresas estatais.

A Celesc figurou na linha de frente das sociedades de economiamista – sendo uma das primeiras no País –, acompanhando, desta forma,o nacionalismo econômico então emergente.

Propunha-se o intervencionismo estatal brasileiro a implantar, demodo significativo, as atividades industriais como insumosindispensáveis à formação da infra-estrutura que alicerçaria a expansãoeconômica que se delineava.

Objetivando produzir, transmitir e distribuir energia elétrica numEstado que dependia fundamentalmente desses serviços, a Celesc desdelogo se alçou ao patamar das grandes empresas brasileiras, alinhando-se no conjunto daquelas instituições que, pelos nítidos objetivos sociais,

A Companhia Estadual deEnergia Elétrica (CEEE), empresapública do Rio Grande do Sul,completou 59 anos dia 1º defevereiro de 2002. Desde o ano de1943, quando então recebia onome de Comissão Estadual deEnergia Elétrica, a empresa tem seidentificado com o própriodesenvolvimento gaúcho, sendohoje uma das maiores empresas doEstado, com um faturamentoanual de aproximadamente umbilhão de reais e atendendodiretamente mais de 1,27 milhãode consumidores em 72municípios gaúchos.

A história registra que a situaçãoda energia elétrica, nos primeirosanos da década de quarenta, erabastante crítica. Nessa época, apósàs 23 horas, por exemplo, ofornecimento de energia erasuspenso às residências. Parareverter essa situação e abastecero mercado gaúcho que cresciarapidamente, a Companhiainiciou, em 1944, a construção deuma série de usinas hidrelétricasno Estado. A usina Passo doInferno, em São Francisco de Paula,inaugurada em 1948, foi aprimeira das quinze hidrelétricasque a CEEE possui hoje. A últimausina hidrelétrica no Estado – DonaFrancisca – entrou em operaçãoem 2001 e foi construída em

parceria com a iniciativa privada.Ela está localizada junto ao maiorcomplexo de geração hidrelétricado Estado, integrado pelas usinasErnestina, Passo Real, Jacuí eItaúba.

No ano de 1952 a CEEE foitransformada em autarquia,permanecendo com essaconstituição até dezembro de1963, quando se tornou Sociedadede Economia Mista, com adesignação de CompanhiaEstadual de Energia Elétrica. ACEEE é responsável pela totalidadeda geração, da transmissão e dadistribuição de energia elétrica emtodo o território gaúcho, até o anode 1997, quando ocorreu oprocesso parcial de privatização naempresa. Na ocasião, dois terçosda área de distribuição foramtransferidos ao capital privado, ea geração térmica foi federalizada.

O patrimônio da empresa, hoje,é de R$ 2,080 bilhões. Seu parqueenergético é constituído por 15usinas hidrelétricas, com potênciainstalada de 910,6 megawatts(MW); 52 subestações comcapacidade de 6.102,9 megavolts-ampère (MVA) e seis milquilômetros de linhas detransmissão.

(CEEE - Assessoria de Comuni-cação Social)

CEEE – Companhia Estadual de Energia Elétrica do RS

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foram e são indissociáveis do processo de desenvolvimento.O Plano de Obras e Equipamentos, formulando diretivas e metas

para o desenvolvimento de Santa Catarina, centrou seus objetivos naagricultura, na saúde, na educação, em estradas e na energia elétrica.A prioridade se evidenciava para a área de estradas de rodagem, querequisitava 45% dos recursos previstos, vindo em segundo lugar a energiaelétrica, com 35%.

Numa única frase, a justificativa que acompanhava o Plano deObras e Equipamentos apresentado à Assembléia Legislativa em 1955indicava a situação a que se propunha resolver: “A deficiência deprodução de energia elétrica é sentida em todo o Estado de SantaCatarina. Mesmo nas regiões em que é mais abundante, o racionamentoé freqüente. É um dos pontos de estrangulamento da economiacatarinense, que urge corrigir”.

Para equacionar tal situação o plano previu a construção de usinashidrelétricas em todo o Estado, que somariam a potência total de193.770 kW, assim distribuídas:

Essas usinas foram orçadas em 1,6 bilhão de cruzeiros, mais o custodas linhas de transmissão respectivas, estimadas em 190 milhões decruzeiros.

O governador Irineu Bornhausen (1951-1956) tinha em menteum projeto de viabilização dessas usinas, o qual pressupunha aparticipação do Estado e dos investidores locais interessados na suaconstrução, como se verifica no texto abaixo, retirado também da

Região Usina Potência

Chapecó Chapecozinho 7. 370 kW

Joaçaba Estreito do Rio Uruguai 40.000 kW

Bacia do Itajaí e Planalto de Lages Canoas 72.400 kW

Planalto de Canoinhas e litoral Cubatão 20.000 kWde São Francisco

Litoral de Florianópolis Garcia (2 usinas) 24.000 kW

Litoral de Laguna Termelétrica de Tubarão 30.000 kW

T o t a l 193.770 kW

Construção da barragemda Hidrelétrica Garcia,

em Angelina (SC), 1957.Foto: Waldir Fausto Gil.

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foram e são indissociáveis do processo de desenvolvimento.O Plano de Obras e Equipamentos, formulando diretivas e metas

para o desenvolvimento de Santa Catarina, centrou seus objetivos naagricultura, na saúde, na educação, em estradas e na energia elétrica.A prioridade se evidenciava para a área de estradas de rodagem, querequisitava 45% dos recursos previstos, vindo em segundo lugar a energiaelétrica, com 35%.

Numa única frase, a justificativa que acompanhava o Plano deObras e Equipamentos apresentado à Assembléia Legislativa em 1955indicava a situação a que se propunha resolver: “A deficiência deprodução de energia elétrica é sentida em todo o Estado de SantaCatarina. Mesmo nas regiões em que é mais abundante, o racionamentoé freqüente. É um dos pontos de estrangulamento da economiacatarinense, que urge corrigir”.

Para equacionar tal situação o plano previu a construção de usinashidrelétricas em todo o Estado, que somariam a potência total de193.770 kW, assim distribuídas:

Essas usinas foram orçadas em 1,6 bilhão de cruzeiros, mais o custodas linhas de transmissão respectivas, estimadas em 190 milhões decruzeiros.

O governador Irineu Bornhausen (1951-1956) tinha em menteum projeto de viabilização dessas usinas, o qual pressupunha aparticipação do Estado e dos investidores locais interessados na suaconstrução, como se verifica no texto abaixo, retirado também da

Região Usina Potência

Chapecó Chapecozinho 7. 370 kW

Joaçaba Estreito do Rio Uruguai 40.000 kW

Bacia do Itajaí e Planalto de Lages Canoas 72.400 kW

Planalto de Canoinhas e litoral Cubatão 20.000 kWde São Francisco

Litoral de Florianópolis Garcia (2 usinas) 24.000 kW

Litoral de Laguna Termelétrica de Tubarão 30.000 kW

T o t a l 193.770 kW

Construção da barragemda Hidrelétrica Garcia,

em Angelina (SC), 1957.Foto: Waldir Fausto Gil.

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sobre os pontos que considerava vulneráveis do projeto proposto pelogoverno do partido da União Democrática Nacional (UDN).

Atacava, de modo especial, a parte em que o projeto asseguravagarantia de dividendo máximo, permitido por lei, com o espírito deincentivar investidores particulares.

Reproduzimos matéria elaborada pelo jornalista citado epublicada pelo jornal O Estado, de 27 de maio de 1955:

“O Plano prevê a organização de algumas sociedades deeconomia mista – uma ou seis – que, em nome do Governo, mas nointeresse próprio, exercerão a posse, usufruirão as vantagens dacaptação, transformação e comercialização da energia de fontehidráulica, em todo o Estado. Se essas mistas não derem lucro aosacionistas particulares, diz o artigo 7º do projeto do SenhorGovernador, o Tesouro do Estado, lançando mão do dinheiro dopovo, suprirá, até o máximo de 10%.”

mensagem que submeteu à Assembléia Legislativa, propondo o Planode Obras e Equipamentos:

“Os recursos do plano estudado não podem, evidentemente,atender a todos os gastos com as construções das usinas programadas.

Tratando-se, porém, de iniciativa industrial que produzirá renda,será organizada, para cada usina, sociedade de economia mista, emque o Estado entrará, para a constituição do capital, com as dotaçõesaqui consignadas.

A fim de facilitar a execução do plano e estimular investimentosparticulares nas sociedades a se organizarem, está prevista a construçãodas usinas em etapas, a primeira das quais com recursos exclusivos doPlano de Obras e Equipamentos. Somente as pequenas usinas serãoconstruídas de uma só vez.”

Ao descortinar um conjunto de hidrelétricas cobrindo quase todoo Estado, o plano revelava preocupação com o Vale do Itajaí e com oPlanalto Norte. Entendia, no primeiro caso, que a usina do Canoas,destinada a suprir de energia elétrica o Vale do Itajaí e as cidades deLages, Curitibanos e São Joaquim, seria de difícil construção,requerendo obras de grande vulto.

Quanto à região de Joinville, o plano mencionava o poucoconhecimento sobre o regime do rio Cubatão, assim como da bacia dorio Itapocu, no qual havia a disposição de aproveitar 18.000 kW.

O plano se fixou, a partir desta consideração, na idéia de solucionaro problema daquelas regiões utilizando a linha de transmissão Capivari– Jaraguá, que transportaria para o Vale do Itajaí e Joinville os 15.000kW que seriam produzidos na Usina Garcia, considerada de rápidaconstrução, e mais o excedente do fornecimento à região deFlorianópolis da energia termelétrica provinda do sul do Estado.Estimava-se transferir para as regiões críticas citadas o volume de 20.000kW, o que resolveria suas necessidades momentâneas até que oaproveitamento do Itapocu ficasse definido.

Conquanto refletisse, como já afirmamos, uma tendênciarenovadora que se operava na máquina estatal brasileira, não foi pacíficaa criação da primeira sociedade de economia mista catarinense, que seconsubstanciaria na Lei nº 1.365 de 4 de novembro de 1955.

Os fatores determinantes foram de ordem política. O jornal OEstado, a vanguarda do Partido Social Democrático (PSD) sob ocomando do brilhante jornalista Rubens de Arruda Ramos, investia

Acima, deputados estatuais visitam asobras da Hidrelétrica Garcia, em 1957.

Ao lado, autoridades estaduais visitama instalação dos transformadores

da Usina Rio dos Cedros,instalada em 1949.

Fotos: Waldir Fausto Gil.

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sobre os pontos que considerava vulneráveis do projeto proposto pelogoverno do partido da União Democrática Nacional (UDN).

Atacava, de modo especial, a parte em que o projeto asseguravagarantia de dividendo máximo, permitido por lei, com o espírito deincentivar investidores particulares.

Reproduzimos matéria elaborada pelo jornalista citado epublicada pelo jornal O Estado, de 27 de maio de 1955:

“O Plano prevê a organização de algumas sociedades deeconomia mista – uma ou seis – que, em nome do Governo, mas nointeresse próprio, exercerão a posse, usufruirão as vantagens dacaptação, transformação e comercialização da energia de fontehidráulica, em todo o Estado. Se essas mistas não derem lucro aosacionistas particulares, diz o artigo 7º do projeto do SenhorGovernador, o Tesouro do Estado, lançando mão do dinheiro dopovo, suprirá, até o máximo de 10%.”

mensagem que submeteu à Assembléia Legislativa, propondo o Planode Obras e Equipamentos:

“Os recursos do plano estudado não podem, evidentemente,atender a todos os gastos com as construções das usinas programadas.

Tratando-se, porém, de iniciativa industrial que produzirá renda,será organizada, para cada usina, sociedade de economia mista, emque o Estado entrará, para a constituição do capital, com as dotaçõesaqui consignadas.

A fim de facilitar a execução do plano e estimular investimentosparticulares nas sociedades a se organizarem, está prevista a construçãodas usinas em etapas, a primeira das quais com recursos exclusivos doPlano de Obras e Equipamentos. Somente as pequenas usinas serãoconstruídas de uma só vez.”

Ao descortinar um conjunto de hidrelétricas cobrindo quase todoo Estado, o plano revelava preocupação com o Vale do Itajaí e com oPlanalto Norte. Entendia, no primeiro caso, que a usina do Canoas,destinada a suprir de energia elétrica o Vale do Itajaí e as cidades deLages, Curitibanos e São Joaquim, seria de difícil construção,requerendo obras de grande vulto.

Quanto à região de Joinville, o plano mencionava o poucoconhecimento sobre o regime do rio Cubatão, assim como da bacia dorio Itapocu, no qual havia a disposição de aproveitar 18.000 kW.

O plano se fixou, a partir desta consideração, na idéia de solucionaro problema daquelas regiões utilizando a linha de transmissão Capivari– Jaraguá, que transportaria para o Vale do Itajaí e Joinville os 15.000kW que seriam produzidos na Usina Garcia, considerada de rápidaconstrução, e mais o excedente do fornecimento à região deFlorianópolis da energia termelétrica provinda do sul do Estado.Estimava-se transferir para as regiões críticas citadas o volume de 20.000kW, o que resolveria suas necessidades momentâneas até que oaproveitamento do Itapocu ficasse definido.

Conquanto refletisse, como já afirmamos, uma tendênciarenovadora que se operava na máquina estatal brasileira, não foi pacíficaa criação da primeira sociedade de economia mista catarinense, que seconsubstanciaria na Lei nº 1.365 de 4 de novembro de 1955.

Os fatores determinantes foram de ordem política. O jornal OEstado, a vanguarda do Partido Social Democrático (PSD) sob ocomando do brilhante jornalista Rubens de Arruda Ramos, investia

Acima, deputados estatuais visitam asobras da Hidrelétrica Garcia, em 1957.

Ao lado, autoridades estaduais visitama instalação dos transformadores

da Usina Rio dos Cedros,instalada em 1949.

Fotos: Waldir Fausto Gil.

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“As mistas, que oSenhor Governador pre-tende para os acionistasprivados, oferecerão oslucros máximos, aindaquando totalmente defi-citárias.”

A liderança dogoverno na AssembléiaLegislativa, refutando taisargumentos, esclareceuque o dividendo máximoseria instituído como

estratégia para atrair capitais privados e como forma de compensar asimobilizações a serem realizadas, para restituição quando finda aconcessão. Discorreu, neste sentido, sobre a legislação à época aplicávelàs empresas de eletricidade, que proibia a reavaliação dos seus ativos,os quais deveriam ser mantidos em serviço sob os custos históricos,sendo remunerados de maneira insuficiente.

Sobrepostos os percalços que se ofereceram à tramitação legislativa,o Plano de Obras e Equipamentos tornava-se realidade,corporificando-se na referida Lei nº 1.365, a qual, entre outras medidas,autorizava o Poder Executivo a “[...] promover, na forma da legislaçãovigente, a constituição de sociedades por ações, destinadas a planejar,construir e explorar sistemas de produção, transmissão e distribuiçãode energia elétrica no Estado de Santa Catarina, operando diretamenteou através de subsidiárias, ou empresas a que se associar.”

A partir desta autorização legal, o governador Irineu Bornhausenassinou, em 9 de dezembro de 1955, dois decretos. O Decreto nº 21,instituindo a Empresa de Luz e Força de Florianópolis S.A. (Elffa),para desenvolver os serviços de eletricidade na área de influência domunicípio de Florianópolis. E o Decreto nº 22, criando a Celesc,atribuindo a esta o mesmo encargo, mas em âmbito estadual, fixandoos pressupostos e requisitos indispensáveis à sua constituição e ao seufuncionamento. As linhas gerais desses pressupostos e requisitos eramos seguintes:

a) o capital da Empresa seria investido na subscrição decompanhias de âmbito regional, que se tornariam suas subsidiárias;

Interior da casa de forçada Usina Bracinho, instalada em Joinville

(SC), em 1932. Acervo: Celesc.

Hidrelétrica Governador Celso Ramos, que entrou em operação em 1963,no município de Faxinal dos Guedes (SC).

Acervo: Celesc.

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“As mistas, que oSenhor Governador pre-tende para os acionistasprivados, oferecerão oslucros máximos, aindaquando totalmente defi-citárias.”

A liderança dogoverno na AssembléiaLegislativa, refutando taisargumentos, esclareceuque o dividendo máximoseria instituído como

estratégia para atrair capitais privados e como forma de compensar asimobilizações a serem realizadas, para restituição quando finda aconcessão. Discorreu, neste sentido, sobre a legislação à época aplicávelàs empresas de eletricidade, que proibia a reavaliação dos seus ativos,os quais deveriam ser mantidos em serviço sob os custos históricos,sendo remunerados de maneira insuficiente.

Sobrepostos os percalços que se ofereceram à tramitação legislativa,o Plano de Obras e Equipamentos tornava-se realidade,corporificando-se na referida Lei nº 1.365, a qual, entre outras medidas,autorizava o Poder Executivo a “[...] promover, na forma da legislaçãovigente, a constituição de sociedades por ações, destinadas a planejar,construir e explorar sistemas de produção, transmissão e distribuiçãode energia elétrica no Estado de Santa Catarina, operando diretamenteou através de subsidiárias, ou empresas a que se associar.”

A partir desta autorização legal, o governador Irineu Bornhausenassinou, em 9 de dezembro de 1955, dois decretos. O Decreto nº 21,instituindo a Empresa de Luz e Força de Florianópolis S.A. (Elffa),para desenvolver os serviços de eletricidade na área de influência domunicípio de Florianópolis. E o Decreto nº 22, criando a Celesc,atribuindo a esta o mesmo encargo, mas em âmbito estadual, fixandoos pressupostos e requisitos indispensáveis à sua constituição e ao seufuncionamento. As linhas gerais desses pressupostos e requisitos eramos seguintes:

a) o capital da Empresa seria investido na subscrição decompanhias de âmbito regional, que se tornariam suas subsidiárias;

Interior da casa de forçada Usina Bracinho, instalada em Joinville

(SC), em 1932. Acervo: Celesc.

Hidrelétrica Governador Celso Ramos, que entrou em operação em 1963,no município de Faxinal dos Guedes (SC).

Acervo: Celesc.

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b) o Estado transferiria para a nova sociedade todas as ações deque dispunha ou viesse a dispor em companhias dedicadas àprodução, à transmissão e à distribuição de energia elétrica;

c) a Celesc deveria prestar às suas subsidiárias assistência técnica,contábil, jurídica, financeira e administrativa, diretamente ouatravés de firmas especialmente contratadas;

d) o prazo de duração estabelecido foi de 50 anos, prorrogável;e) capital de duzentos milhões de cruzeiros, dividido em duzentas

mil ações ordinárias nominativas, e o Estado de Santa Catarinateria a participação obrigatória de 51%; o Tesouro Estadual,para atender ao fim colimado, ficava autorizado a dispor dosbens e direitos alienáveis e relacionados com a produção, atransmissão e a distribuição de energia elétrica, uma vez que osinvestimentos até então realizados para o suprimento e adistribuição de energia elétrica a Florianópolis, por sua condiçãode capital, pertenciam ao Estado de Santa Catarina;

f) a empresa disporia, além do Conselho Fiscal, com funçõesfiscalizadoras, de um Conselho Consultivo, este figurando comoórgão auxiliar da Diretoria, composto de sete membros;

g) o Estado se dispunha a oferecer as garantias necessárias aosempréstimos tomados no Exterior e assegurava à Celesc o direitode promover as desapropriações do seu interesse.

Além das duas datas que referimos, a primeira autorizando, e asegunda efetivamente criando a Celesc, os nascedouros históricos daempresa revelam duas outras também da maior significação. A primeiradelas, 11 de abril de 1956, quando foi editado o Decreto nº 39.015, pelopresidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, autorizando-a a funcionarcomo empresa de energia elétrica. A segunda, em 4 de agosto de 1956,dia em que ocorreu a efetiva instalação da empresa, através da AssembléiaGeral que demarcou a transição entre a fase de constituição, nos seusaspectos políticos e legais, e a de organização interna.

Em ordem cronológica, no entanto, já em 31 de julho de 1956realizara-se a primeira reunião de Diretoria, quando foram estabelecidasas providências que deveriam ser adotadas e as datas que necessitavamser cumpridas para a realização do capital subscrito, uma vez que, emtermos estritamente jurídicos, a empresa existia, inclusive, com a suaDiretoria eleita e empossada, desde a data referida. Assim, a Celesc seconsolidava como empresa.Hidrelétrica Rio do Peixe, instalada em Videira (SC), 1958.

Acervo: Celesc.

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b) o Estado transferiria para a nova sociedade todas as ações deque dispunha ou viesse a dispor em companhias dedicadas àprodução, à transmissão e à distribuição de energia elétrica;

c) a Celesc deveria prestar às suas subsidiárias assistência técnica,contábil, jurídica, financeira e administrativa, diretamente ouatravés de firmas especialmente contratadas;

d) o prazo de duração estabelecido foi de 50 anos, prorrogável;e) capital de duzentos milhões de cruzeiros, dividido em duzentas

mil ações ordinárias nominativas, e o Estado de Santa Catarinateria a participação obrigatória de 51%; o Tesouro Estadual,para atender ao fim colimado, ficava autorizado a dispor dosbens e direitos alienáveis e relacionados com a produção, atransmissão e a distribuição de energia elétrica, uma vez que osinvestimentos até então realizados para o suprimento e adistribuição de energia elétrica a Florianópolis, por sua condiçãode capital, pertenciam ao Estado de Santa Catarina;

f) a empresa disporia, além do Conselho Fiscal, com funçõesfiscalizadoras, de um Conselho Consultivo, este figurando comoórgão auxiliar da Diretoria, composto de sete membros;

g) o Estado se dispunha a oferecer as garantias necessárias aosempréstimos tomados no Exterior e assegurava à Celesc o direitode promover as desapropriações do seu interesse.

Além das duas datas que referimos, a primeira autorizando, e asegunda efetivamente criando a Celesc, os nascedouros históricos daempresa revelam duas outras também da maior significação. A primeiradelas, 11 de abril de 1956, quando foi editado o Decreto nº 39.015, pelopresidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, autorizando-a a funcionarcomo empresa de energia elétrica. A segunda, em 4 de agosto de 1956,dia em que ocorreu a efetiva instalação da empresa, através da AssembléiaGeral que demarcou a transição entre a fase de constituição, nos seusaspectos políticos e legais, e a de organização interna.

Em ordem cronológica, no entanto, já em 31 de julho de 1956realizara-se a primeira reunião de Diretoria, quando foram estabelecidasas providências que deveriam ser adotadas e as datas que necessitavamser cumpridas para a realização do capital subscrito, uma vez que, emtermos estritamente jurídicos, a empresa existia, inclusive, com a suaDiretoria eleita e empossada, desde a data referida. Assim, a Celesc seconsolidava como empresa.Hidrelétrica Rio do Peixe, instalada em Videira (SC), 1958.

Acervo: Celesc.

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em razão do qual as obras seriam imediatamente iniciadas, mesmo antesda constituição legal da nova empresa, que foi constituída a seguir, soba razão social de Companhia Serrana de Eletricidade (Cosel).

Novos recursos se faziam necessários, e o governador Celso Ramosfoi buscá-los junto ao Banco Internacional de Desenvolvimento (BID),tentando viabilizá-los sob a forma de um empréstimo parainvestimentos. O BID exigiu como condição essencial para a concessãodo empréstimo que a Celesc se transformasse de empresa investidoraem produtora e operadora de sistemas elétricos, situação que foiconsumada na data de 27 de dezembro de 1963, quando as suas setesubsidiárias foram incorporadas. O capital da Celesc, em decorrência,da incorporação das subsidiárias, foi elevado para 5,5 bilhões decruzeiros.

Enquanto esta transformação se processava, as gestões catarinensesobtinham o encaminhamento de Mensagem do Sr. Presidente daRepública ao Congresso Nacional, solicitando abertura de créditoespecial para investimentos no setor elétrico. A Celesc foi contempladana mensagem com 1,1 bilhão de cruzeiros para aplicação nas seguintesobras: barragem de regularização da Usina Palmeiras; Usina Garcia;linha de transmissão (LT) Tubarão – Lages – Joaçaba; LT Ilhota –Blumenau – Indaial – Ibirama – Rio do Sul; e a LT Garcia –Florianópolis.

As decisões tomadas, assim como o tempo, consolidavam umagrande empresa, destinada a transformar – como transformou – aeconomia estadual. O sonho de seus idealizadores, sendo missãogratificante e de esperanças, transformou-se num objeto em comunhãode milhares de catarinenses.

O capital inicial foi formado com parte em dinheiro, parte com osbens integrantes da Linha de Transmissão Capivari – Florianópolis e,finalmente, pela transferência das ações que o Estado detinha na Elffae na Empresa Sul Brasileira de Eletricidade (Empresul), com sede nacapital e na cidade de Joinville, respectivamente.

Estas foram as subsidiárias originais, às quais se somariam outras,na proporção em que a Celesc foi ampliando sua atuação e seexpandindo por todo o Estado de Santa Catarina. Em sua concepçãooriginal, portanto, era a holding de um grupo de empresas regionais.

A Assembléia Geral Extraordinária de 6 de fevereiro de 1958autorizou a Diretoria a subscrever capital majoritário na empresa Forçae Luz Videira S.A. (Videluz), bem como a prestar aval de 1,5 milhão decruzeiros, em empréstimo que aquela empresa contraíra junto ao Bancodo Brasil S.A.

A Assembléia Geral Extraordinária ocorrida no início de agostode 1961 autorizou a subscrição de 75 milhões de cruzeiros no capitalda Companhia Oeste Catarinense de Eletricidade (Ciaoeste), com sedeem Concórdia.

Em fevereiro de 1962 foi autorizada a participação na CompanhiaPery de Eletricidade (Cipel), sediada em Curitibanos.

Já no mês de abril do mesmo ano a Assembléia Geral dos Acionistastomou duas outras importantes decisões: autorizou a Celesc a tornar-se acionista majoritária no capital da Empresa Força e Luz SantaCatarina S.A., como forma de viabilizar a construção da UsinaPalmeiras, projeto que já se encontrava em execução pela Força e Luz,como era conhecida a empresa blumenauense. A participação acionáriafoi estabelecida em 220 milhões de cruzeiros cumprindo protocolofirmado entre as respectivas diretorias, com o que foi resolvido oabastecimento energético ao Vale do Itajaí.

A deliberação acima referida também possibilitou que a Celesc secompusesse com a Companhia Catarinense Força e Luz – sediada nacidade de Lages – e constituísse uma nova empresa destinada a produzire a transmitir energia elétrica no Planalto Serrano. Convencionou-seque a concessionária existente subscreveria capital na empresa a sercriada, mediante a integralização dos bens que estavam vinculados àconcessão que já explorava. A Celesc subscreveria o mínimo de 51%,mais precisamente 51 milhões de cruzeiros, destinados aoaproveitamento energético do rio Caveiras, sendo firmado protocolo

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em razão do qual as obras seriam imediatamente iniciadas, mesmo antesda constituição legal da nova empresa, que foi constituída a seguir, soba razão social de Companhia Serrana de Eletricidade (Cosel).

Novos recursos se faziam necessários, e o governador Celso Ramosfoi buscá-los junto ao Banco Internacional de Desenvolvimento (BID),tentando viabilizá-los sob a forma de um empréstimo parainvestimentos. O BID exigiu como condição essencial para a concessãodo empréstimo que a Celesc se transformasse de empresa investidoraem produtora e operadora de sistemas elétricos, situação que foiconsumada na data de 27 de dezembro de 1963, quando as suas setesubsidiárias foram incorporadas. O capital da Celesc, em decorrência,da incorporação das subsidiárias, foi elevado para 5,5 bilhões decruzeiros.

Enquanto esta transformação se processava, as gestões catarinensesobtinham o encaminhamento de Mensagem do Sr. Presidente daRepública ao Congresso Nacional, solicitando abertura de créditoespecial para investimentos no setor elétrico. A Celesc foi contempladana mensagem com 1,1 bilhão de cruzeiros para aplicação nas seguintesobras: barragem de regularização da Usina Palmeiras; Usina Garcia;linha de transmissão (LT) Tubarão – Lages – Joaçaba; LT Ilhota –Blumenau – Indaial – Ibirama – Rio do Sul; e a LT Garcia –Florianópolis.

As decisões tomadas, assim como o tempo, consolidavam umagrande empresa, destinada a transformar – como transformou – aeconomia estadual. O sonho de seus idealizadores, sendo missãogratificante e de esperanças, transformou-se num objeto em comunhãode milhares de catarinenses.

O capital inicial foi formado com parte em dinheiro, parte com osbens integrantes da Linha de Transmissão Capivari – Florianópolis e,finalmente, pela transferência das ações que o Estado detinha na Elffae na Empresa Sul Brasileira de Eletricidade (Empresul), com sede nacapital e na cidade de Joinville, respectivamente.

Estas foram as subsidiárias originais, às quais se somariam outras,na proporção em que a Celesc foi ampliando sua atuação e seexpandindo por todo o Estado de Santa Catarina. Em sua concepçãooriginal, portanto, era a holding de um grupo de empresas regionais.

A Assembléia Geral Extraordinária de 6 de fevereiro de 1958autorizou a Diretoria a subscrever capital majoritário na empresa Forçae Luz Videira S.A. (Videluz), bem como a prestar aval de 1,5 milhão decruzeiros, em empréstimo que aquela empresa contraíra junto ao Bancodo Brasil S.A.

A Assembléia Geral Extraordinária ocorrida no início de agostode 1961 autorizou a subscrição de 75 milhões de cruzeiros no capitalda Companhia Oeste Catarinense de Eletricidade (Ciaoeste), com sedeem Concórdia.

Em fevereiro de 1962 foi autorizada a participação na CompanhiaPery de Eletricidade (Cipel), sediada em Curitibanos.

Já no mês de abril do mesmo ano a Assembléia Geral dos Acionistastomou duas outras importantes decisões: autorizou a Celesc a tornar-se acionista majoritária no capital da Empresa Força e Luz SantaCatarina S.A., como forma de viabilizar a construção da UsinaPalmeiras, projeto que já se encontrava em execução pela Força e Luz,como era conhecida a empresa blumenauense. A participação acionáriafoi estabelecida em 220 milhões de cruzeiros cumprindo protocolofirmado entre as respectivas diretorias, com o que foi resolvido oabastecimento energético ao Vale do Itajaí.

A deliberação acima referida também possibilitou que a Celesc secompusesse com a Companhia Catarinense Força e Luz – sediada nacidade de Lages – e constituísse uma nova empresa destinada a produzire a transmitir energia elétrica no Planalto Serrano. Convencionou-seque a concessionária existente subscreveria capital na empresa a sercriada, mediante a integralização dos bens que estavam vinculados àconcessão que já explorava. A Celesc subscreveria o mínimo de 51%,mais precisamente 51 milhões de cruzeiros, destinados aoaproveitamento energético do rio Caveiras, sendo firmado protocolo

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são destinados a cobrir assentenças contra a Celesc. Porforça do corporativismo, ninguémtestemunha a favor da empresa econtra algum colega de trabalho.Essa cultura é explicável, masinaceitável. De janeiro de 1999, atéhoje, tivemos que desembolsar R$37 milhões em ações trabalhistas.É muito dinheiro.

Por outro lado, é preciso dotara Celesc de agilidade para quepossa competir em igualdade decondições, mesmo entre asprivatizadas. Agora, é urgentedefinirmos a nossa área deatuação: temos uma gigantescainfra-estrutura que serve àatividade-fim da empresa, masque, em parte, está ociosa. Só emlinhas de distribuição,subtransmissão e transmissão,temos 90 mil quilômetros. Estepatrimônio pode nosproporcionar um rendimentoextraordinário. Precisamosagregar valor e criar novosnegócios, como telecomuni-cações. Temos 1,19 milhões depostes, 1,80 milhões de clientese uma estrutura do tamanho doEstado de Santa Catarina. Asáreas de negócios têm que seauto-sustentar, a atividade dedistribuição não pode bancar ageração, e assim por diante. Poristo, já temos a permissão daAssembléia Legislat iva paracindir a Celesc tradicional e criara Celesc Geração e a CelescTelecomunicações.

Antigamente, antes da desver-

ticalização das empresas, as tarifaseram generosas, remuneravam odesperdício. Hoje, não é maisassim. A ANEEL, órgão reguladordo setor elétrico nacional, estáapertando cada vez mais asdistribuidoras. Antes, os clienteseram cativos, mas a partir de 2003todos serão livres, poderãocomprar energia de quem tiver ospreços mais convenientes. E nósqueremos ter condições decompetir. E o que é competir? Éter qualidade nos serviços, bomatendimento, procurar a satisfaçãodo cliente. Nos moldes atuais, aCelesc tem problemas estruturaispara atingir estes objetivos.

O novo modelo vai flexibilizartudo. Por exemplo: a gestão daempresa será essencialmentetécnica, profissionalizada. É o fimda ingerência político-partidária,uma contribuição definitiva paraa salvação da empresa.

• De quem a Celesc adquireenergia?

Da Gerasul, de Itaipu e umpouco da Copel. Geramos emnossas 12 pequenas usinassomente 3% da energia quedistribuímos. Aqui é bom que sediga que, por força da renovaçãodos contratos iniciais com aANEEL, a cada ano nós perdemos25% de energia barata, que temosque comprar no mercado pelodobro do preço. Esse é outroproblema que o governo federaltambém precisa rever.

• E quais são as perspectivas deincremento de geração de energiaalternativa?

Após um exaustivo trabalho delevantamento do potencial, játemos três locais escolhidos paraa instalação de parques eólicos:Laguna, Água Doce e Bom Jardimda Serra. Em relação à energiafotovoltáica, nosso grandeprograma, em andamento, é oatendimento a mais de 80 escolasisoladas por todo o Estado. Elasestão longe das redes conven-cionais e se torna mais baratoinstalar painéis de captação solarem cada unidade. Ainda temosprojetos de biomassa, co-geraçãoe aproveitamento do bagaço decana-de-açúcar.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 28de setembro de 2001, porCláudio Prisco Paraíso e FábioMafra Figueiredo)

Entrevista com FranciscoKüster, à época presidente daCelesc

• Como ocorreu a reorientaçãodo setor elétrico brasileiro, natransição do estatal para oprivado?

O perfil do setor elétriconacional, nestes últimos anos,mudou radicalmente. Como opoder público perdeu a suacapacidade de investimento numsetor vital e que demanda altosinvestimentos, o processo deprivatização ganhou oxigênio. NoBrasil, como em alguns outrospaíses, este processo foi meioatropelado, tanto que tenho sériasdúvidas sobre a eficácia daprivatização por inteiro do setor.

Hoje, das 62 empresas dedistribuição de energia elétricaexistentes no País, nada menosque 56 passaram do controlepúblico para o privado. Faltamapenas seis, entre elas a Copel, doParaná, a CELG, de Goiás, e a CEEE,do Rio Grande do Sul.

Eu só permaneço no comandoda Celesc porque o governadortambém não quer privatizar aestatal catarinense. Entendo queé uma temeridade privatizar 100%da distribuição de energia no Paísporque o investidor prioriza olucro. Ele quer o retorno garantidodo investimento, principalmentese o capital for estrangeiro. Ele nãoassume compromisso com osaspectos sociais, o que é uma das

características mais marcantes, epositivas, das estatais.

Eu acho que o modelo quedesverticaliza o setor, concebidoatropeladamente no Brasil, precisade uma profunda revisão. Temcoisas absurdas, que podem levá-lo à falência. Tomemos comoexemplo o caso de um órgãocriado pelo novo modelo, oMercado Atacadista de Energia(MAE). Graças a Deus ele foiextinto recentemente peloPresidente da República, pois nosestava levando à falência. Ospreços praticados pelo MAE emcertas regiões do País estavamquebrando as distribuidoras. Ogoverno federal entendeu, emtempo, que é preciso domesticarum pouco este monstro selvagemchamado mercado spot. Paraagravar, o mercado de energiaelétrica passou a ter umavinculação muito forte com ocâmbio, com o dólar.

Levanto a tese da necessidade deum grande debate no setor, comrevisão ampla das posturasaplicadas. A capacidade instaladano Brasil chega a 70 mil MW, mastemos o desafio de gerar, por ano,um acréscimo em torno de 3.500a 4.000 MW. Em termos deinvestimentos, este plus repre-senta R$ 6 bilhões por ano. Émuito dinheiro para um Estadodescapitalizado arcar sozinho.Mas entregar tudo também nãodá bons resultados. É um jogocomplicado.

• E quanto ao novo modelo degestão da Celesc: segue osmesmos moldes da cisão daEletrosul?

O que vai acontecer na Celescnão lembra em nada o queaconteceu com a Eletrosul. ACelesc não será privatizada, oque aconteceu com a geração daEletrosul.

A Celesc hoje enfrenta umarealidade cruel, pois a competiçãoentre as distribuidoras, a maioriaprivada, é violenta. Nossa naturezapública funciona também comoalgema. Muitas vezes, por força dalei, ficamos com as mãos atadas,sem condições de responder comagilidade à demanda do mercado.Em muitos casos, a empresa sesente engessada.

O corpo técnico da Celesc, se porum lado adquiriu competência aolongo dos anos, também seacostumou a um estilo que hojenão é mais aceito pela sociedade.Não vejo muito empenho emaumentar a produtividade, porexemplo. É preciso um choquenesta situação que, às vezes, beirao acomodamento. É preciso, noentanto, que eu reafirme que nãosou contra a estabilidade dosempregados, apesar dos riscos deacomodação dos beneficiados.

Existe um outro problema, quereputo muito grave na Celesc: éo passivo trabalhista. Quandocheguei à Presidência, fiqueiespantado e seriamente preocu-pado pelo volume de recursos que

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são destinados a cobrir assentenças contra a Celesc. Porforça do corporativismo, ninguémtestemunha a favor da empresa econtra algum colega de trabalho.Essa cultura é explicável, masinaceitável. De janeiro de 1999, atéhoje, tivemos que desembolsar R$37 milhões em ações trabalhistas.É muito dinheiro.

Por outro lado, é preciso dotara Celesc de agilidade para quepossa competir em igualdade decondições, mesmo entre asprivatizadas. Agora, é urgentedefinirmos a nossa área deatuação: temos uma gigantescainfra-estrutura que serve àatividade-fim da empresa, masque, em parte, está ociosa. Só emlinhas de distribuição,subtransmissão e transmissão,temos 90 mil quilômetros. Estepatrimônio pode nosproporcionar um rendimentoextraordinário. Precisamosagregar valor e criar novosnegócios, como telecomuni-cações. Temos 1,19 milhões depostes, 1,80 milhões de clientese uma estrutura do tamanho doEstado de Santa Catarina. Asáreas de negócios têm que seauto-sustentar, a atividade dedistribuição não pode bancar ageração, e assim por diante. Poristo, já temos a permissão daAssembléia Legislat iva paracindir a Celesc tradicional e criara Celesc Geração e a CelescTelecomunicações.

Antigamente, antes da desver-

ticalização das empresas, as tarifaseram generosas, remuneravam odesperdício. Hoje, não é maisassim. A ANEEL, órgão reguladordo setor elétrico nacional, estáapertando cada vez mais asdistribuidoras. Antes, os clienteseram cativos, mas a partir de 2003todos serão livres, poderãocomprar energia de quem tiver ospreços mais convenientes. E nósqueremos ter condições decompetir. E o que é competir? Éter qualidade nos serviços, bomatendimento, procurar a satisfaçãodo cliente. Nos moldes atuais, aCelesc tem problemas estruturaispara atingir estes objetivos.

O novo modelo vai flexibilizartudo. Por exemplo: a gestão daempresa será essencialmentetécnica, profissionalizada. É o fimda ingerência político-partidária,uma contribuição definitiva paraa salvação da empresa.

• De quem a Celesc adquireenergia?

Da Gerasul, de Itaipu e umpouco da Copel. Geramos emnossas 12 pequenas usinassomente 3% da energia quedistribuímos. Aqui é bom que sediga que, por força da renovaçãodos contratos iniciais com aANEEL, a cada ano nós perdemos25% de energia barata, que temosque comprar no mercado pelodobro do preço. Esse é outroproblema que o governo federaltambém precisa rever.

• E quais são as perspectivas deincremento de geração de energiaalternativa?

Após um exaustivo trabalho delevantamento do potencial, játemos três locais escolhidos paraa instalação de parques eólicos:Laguna, Água Doce e Bom Jardimda Serra. Em relação à energiafotovoltáica, nosso grandeprograma, em andamento, é oatendimento a mais de 80 escolasisoladas por todo o Estado. Elasestão longe das redes conven-cionais e se torna mais baratoinstalar painéis de captação solarem cada unidade. Ainda temosprojetos de biomassa, co-geraçãoe aproveitamento do bagaço decana-de-açúcar.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 28de setembro de 2001, porCláudio Prisco Paraíso e FábioMafra Figueiredo)

Entrevista com FranciscoKüster, à época presidente daCelesc

• Como ocorreu a reorientaçãodo setor elétrico brasileiro, natransição do estatal para oprivado?

O perfil do setor elétriconacional, nestes últimos anos,mudou radicalmente. Como opoder público perdeu a suacapacidade de investimento numsetor vital e que demanda altosinvestimentos, o processo deprivatização ganhou oxigênio. NoBrasil, como em alguns outrospaíses, este processo foi meioatropelado, tanto que tenho sériasdúvidas sobre a eficácia daprivatização por inteiro do setor.

Hoje, das 62 empresas dedistribuição de energia elétricaexistentes no País, nada menosque 56 passaram do controlepúblico para o privado. Faltamapenas seis, entre elas a Copel, doParaná, a CELG, de Goiás, e a CEEE,do Rio Grande do Sul.

Eu só permaneço no comandoda Celesc porque o governadortambém não quer privatizar aestatal catarinense. Entendo queé uma temeridade privatizar 100%da distribuição de energia no Paísporque o investidor prioriza olucro. Ele quer o retorno garantidodo investimento, principalmentese o capital for estrangeiro. Ele nãoassume compromisso com osaspectos sociais, o que é uma das

características mais marcantes, epositivas, das estatais.

Eu acho que o modelo quedesverticaliza o setor, concebidoatropeladamente no Brasil, precisade uma profunda revisão. Temcoisas absurdas, que podem levá-lo à falência. Tomemos comoexemplo o caso de um órgãocriado pelo novo modelo, oMercado Atacadista de Energia(MAE). Graças a Deus ele foiextinto recentemente peloPresidente da República, pois nosestava levando à falência. Ospreços praticados pelo MAE emcertas regiões do País estavamquebrando as distribuidoras. Ogoverno federal entendeu, emtempo, que é preciso domesticarum pouco este monstro selvagemchamado mercado spot. Paraagravar, o mercado de energiaelétrica passou a ter umavinculação muito forte com ocâmbio, com o dólar.

Levanto a tese da necessidade deum grande debate no setor, comrevisão ampla das posturasaplicadas. A capacidade instaladano Brasil chega a 70 mil MW, mastemos o desafio de gerar, por ano,um acréscimo em torno de 3.500a 4.000 MW. Em termos deinvestimentos, este plus repre-senta R$ 6 bilhões por ano. Émuito dinheiro para um Estadodescapitalizado arcar sozinho.Mas entregar tudo também nãodá bons resultados. É um jogocomplicado.

• E quanto ao novo modelo degestão da Celesc: segue osmesmos moldes da cisão daEletrosul?

O que vai acontecer na Celescnão lembra em nada o queaconteceu com a Eletrosul. ACelesc não será privatizada, oque aconteceu com a geração daEletrosul.

A Celesc hoje enfrenta umarealidade cruel, pois a competiçãoentre as distribuidoras, a maioriaprivada, é violenta. Nossa naturezapública funciona também comoalgema. Muitas vezes, por força dalei, ficamos com as mãos atadas,sem condições de responder comagilidade à demanda do mercado.Em muitos casos, a empresa sesente engessada.

O corpo técnico da Celesc, se porum lado adquiriu competência aolongo dos anos, também seacostumou a um estilo que hojenão é mais aceito pela sociedade.Não vejo muito empenho emaumentar a produtividade, porexemplo. É preciso um choquenesta situação que, às vezes, beirao acomodamento. É preciso, noentanto, que eu reafirme que nãosou contra a estabilidade dosempregados, apesar dos riscos deacomodação dos beneficiados.

Existe um outro problema, quereputo muito grave na Celesc: éo passivo trabalhista. Quandocheguei à Presidência, fiqueiespantado e seriamente preocu-pado pelo volume de recursos que

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substituída pelo vislumbre de uma política tarifária nacional e pelagarantia de direitos ao utilizador dos serviços concedidos.

Entre esses pressupostos e antecedentes, estabelecidos pela normajurídica superior, adveio a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, àqual se seguiu a Medida Provisória nº 1.017, de 8 de junho de 1995, ea legislação subseqüente, instituindo nova estrutura legal e regulamentarsobre concessões e permissões de serviços públicos.

Vale salientar, também, além das duas leis acima citadas, a Lei nº9.427, de 25 de dezembro de 1996, que instituiu a ANEEL e acrescentounovas disposições sobre o regime das concessões.

Criou-se, enfim, um novo ordenamento para o setor elétricobrasileiro, modificando em profundidade o regime que se consolidara apartir do Código de Águas e da Constituição de 1934.

Portanto, foi sob o atual balizamento constitucional que a Leinº 9.247/96, reproduzida pela de nº 9.648, de 27 de maio de 1998,que se dispôs ser condição implícita ao regime financeiro e à atuaçãodas concessionárias de eletricidade a “[...] apropriação de ganhosde eficiência empresarial e da competitividade[...]” (inciso IV doartigo nº 14).

Ao indicar, neste sucinto relato, as modificações marcantes queocorreram na estruturação constitucional e na legislação básicareguladora da atividade das concessionárias dos serviços públicosde energia elétrica, pretendemos registrar que os caminhos a trilharsão substancialmente diversos daqueles que foram antes percorridospela Celesc.

O regime anterior das imunidades e isenções tributárias, comamplos e permanentes recursos de capital – além de outras garantiasque remontam à fase do pioneirismo da eletricidade – cedeu lugar aoda luta pela sobrevivência. Isto exige das concessionárias de eletricidadeestatais uma atuação pautada em rígidos parâmetros de eficiênciaempresarial e competitividade.

É adequado afirmar, assim, que o setor elétrico brasileiro acha-seenvolvido num contexto que se caracteriza pela incerteza daremuneração tarifária proporcionada pelo poder concedente e pelacrescente necessidade de comprimir custos, ampliar o atendimento àscomunidades, aprimorar mecanismos gerais de gestão, além de darprioridade a atividades correlatas, ou mesmo laterais.

Este novo quadro constitucional, disciplinando as concessões e a

A Celesc no seu estágio atual

A Constituição de 1998, especialmente no Título VII – da OrdemEconômica e Financeira – Capítulo dos Princípios Gerais da AtividadeEconômica, introduziu profundas alterações no regime jurídico dasempresas estatais brasileiras, concessionárias de serviços públicos deenergia elétrica.

Revelou-se de extremo prejuízo para as referidas concessionárias,de modo particular, a extinção do Imposto Único sobre Energia Elétrica(IUEE), – embora arrecadado até dezembro de 1993, por força dedisposição constitucional transitória – e a sua substituição pelo Impostode Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A supressão do IUEE sobre energia elétrica retirou das empresasestatais de eletricidade milhões de dólares anuais, sendo de enfatizarque algumas delas tinham no citado tributo a única fonte certa deinvestimento de capital.

O impacto na Celesc pode ser avaliado por um único dado: nosseus cinco últimos anos de arrecadação, o IUEE proporcionou ao capitalda Celesc 4,5 milhões de dólares.

Cabe considerar, também, que as concessões, até a Constituiçãode 1988, eram outorgadas livremente pelo poder concedente, sendocaracterizadas por imunidades e isenções tributárias, que estavamdevidamente transpostas para a legislação ordinária que normatizava aatuação das concessionárias de eletricidade.

Além de onerá-las com forte tributação, a Constituição de 1988impôs o regime de licitações para o deferimento de novas concessões,procedimento de caráter administrativo que passou a ser obrigatório,também, para todas as suas compras e contratações, não obstante aexigência de terem que atuar nas mesmas condições das empresasprivadas, com as quais devem competir em caráter de igualdade (artigosnº 173 e nº 175).

De outra parte, a Carta de 1988 listou como fundamentos essenciaisda concessão: “[...] direitos dos usuários, política tarifária e obrigaçãode manter serviço adequado.”

Suprimiu, com tal formulação, a “[...] plena garantia do equilíbrioeconômico financeiro das concessões [...]”, expressamente asseguradapelo artigo nº 167 da Constituição Federal de 1967, confirmada noAto Complementar de 1969. A justa remuneração das tarifas foi

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substituída pelo vislumbre de uma política tarifária nacional e pelagarantia de direitos ao utilizador dos serviços concedidos.

Entre esses pressupostos e antecedentes, estabelecidos pela normajurídica superior, adveio a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, àqual se seguiu a Medida Provisória nº 1.017, de 8 de junho de 1995, ea legislação subseqüente, instituindo nova estrutura legal e regulamentarsobre concessões e permissões de serviços públicos.

Vale salientar, também, além das duas leis acima citadas, a Lei nº9.427, de 25 de dezembro de 1996, que instituiu a ANEEL e acrescentounovas disposições sobre o regime das concessões.

Criou-se, enfim, um novo ordenamento para o setor elétricobrasileiro, modificando em profundidade o regime que se consolidara apartir do Código de Águas e da Constituição de 1934.

Portanto, foi sob o atual balizamento constitucional que a Leinº 9.247/96, reproduzida pela de nº 9.648, de 27 de maio de 1998,que se dispôs ser condição implícita ao regime financeiro e à atuaçãodas concessionárias de eletricidade a “[...] apropriação de ganhosde eficiência empresarial e da competitividade[...]” (inciso IV doartigo nº 14).

Ao indicar, neste sucinto relato, as modificações marcantes queocorreram na estruturação constitucional e na legislação básicareguladora da atividade das concessionárias dos serviços públicosde energia elétrica, pretendemos registrar que os caminhos a trilharsão substancialmente diversos daqueles que foram antes percorridospela Celesc.

O regime anterior das imunidades e isenções tributárias, comamplos e permanentes recursos de capital – além de outras garantiasque remontam à fase do pioneirismo da eletricidade – cedeu lugar aoda luta pela sobrevivência. Isto exige das concessionárias de eletricidadeestatais uma atuação pautada em rígidos parâmetros de eficiênciaempresarial e competitividade.

É adequado afirmar, assim, que o setor elétrico brasileiro acha-seenvolvido num contexto que se caracteriza pela incerteza daremuneração tarifária proporcionada pelo poder concedente e pelacrescente necessidade de comprimir custos, ampliar o atendimento àscomunidades, aprimorar mecanismos gerais de gestão, além de darprioridade a atividades correlatas, ou mesmo laterais.

Este novo quadro constitucional, disciplinando as concessões e a

A Celesc no seu estágio atual

A Constituição de 1998, especialmente no Título VII – da OrdemEconômica e Financeira – Capítulo dos Princípios Gerais da AtividadeEconômica, introduziu profundas alterações no regime jurídico dasempresas estatais brasileiras, concessionárias de serviços públicos deenergia elétrica.

Revelou-se de extremo prejuízo para as referidas concessionárias,de modo particular, a extinção do Imposto Único sobre Energia Elétrica(IUEE), – embora arrecadado até dezembro de 1993, por força dedisposição constitucional transitória – e a sua substituição pelo Impostode Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

A supressão do IUEE sobre energia elétrica retirou das empresasestatais de eletricidade milhões de dólares anuais, sendo de enfatizarque algumas delas tinham no citado tributo a única fonte certa deinvestimento de capital.

O impacto na Celesc pode ser avaliado por um único dado: nosseus cinco últimos anos de arrecadação, o IUEE proporcionou ao capitalda Celesc 4,5 milhões de dólares.

Cabe considerar, também, que as concessões, até a Constituiçãode 1988, eram outorgadas livremente pelo poder concedente, sendocaracterizadas por imunidades e isenções tributárias, que estavamdevidamente transpostas para a legislação ordinária que normatizava aatuação das concessionárias de eletricidade.

Além de onerá-las com forte tributação, a Constituição de 1988impôs o regime de licitações para o deferimento de novas concessões,procedimento de caráter administrativo que passou a ser obrigatório,também, para todas as suas compras e contratações, não obstante aexigência de terem que atuar nas mesmas condições das empresasprivadas, com as quais devem competir em caráter de igualdade (artigosnº 173 e nº 175).

De outra parte, a Carta de 1988 listou como fundamentos essenciaisda concessão: “[...] direitos dos usuários, política tarifária e obrigaçãode manter serviço adequado.”

Suprimiu, com tal formulação, a “[...] plena garantia do equilíbrioeconômico financeiro das concessões [...]”, expressamente asseguradapelo artigo nº 167 da Constituição Federal de 1967, confirmada noAto Complementar de 1969. A justa remuneração das tarifas foi

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através do qual os investidores estabelecerão as condições sob as quaisaportarão seus capitais na empresa – e o Contrato de Gestão, quedisciplinará o comando diretivo e gerencial, segundo metas previamenteestabelecidas e rigidamente controladas.

A administração superior da Celesc deverá ser composta não sópela expressão do capital, segundo a sua concepção original, passandoa congregar outras representações como a dos empregados e a dosconsumidores (estes, nas suas várias classes), além dos sóciosminoritários. As representações descritas terão posição preponderantena composição do Conselho de Administração que, por sua vez, seráampliado em suas funções de fiscalização e comando da empresa.

BRITO, Sebastião Berlinki. História da Celesc. Florianópolis, 2000. Manuscrito.CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA CATARINA (CELESC). Livros de Atas das Assembléias Gerais. Florianópolis.______. Livros de Atas das Reuniões da Diretoria. JORNAL O ESTADO. Florianópolis. 27 maio, 1955.

R E F E R Ê N C I A S

atividade das empresas de energia elétrica no País, teve influência diretana renovação do contrato de concessão da Celesc. Foi exigida pelopoder concedente (representado pela ANEEL) a separação dos ativosde geração e distribuição, para atender a formulações da política dedesverticalização posta em prática pelo governo federal nas renovaçõesde concessões.

Essa contingência de natureza contratual e as dificuldadesoperacionais caracterizadas pela falta de geração própria de energia ede recursos de capital impuseram à Celesc a necessidade de formularum modelo capaz de substituir aquelas deficiências, permitindo atenderao seu grande mercado com a desenvoltura e a qualidade quecaracterizaram seu trabalho nos últimos 45 anos.

A credibilidade do governador Esperidião Amin fez convergir paraa discussão os diversos setores catarinenses interessados na matéria,num processo aberto à participação das formulações mais díspares, aofim do que foi elaborado um novo modelo estrutural e de gestão para aCelesc.

O Projeto encaminhado à Assembléia Legislativa, que nele inseriuapenas duas emendas – uma delas vetada quando da sançãogovernamental –, transformou-se na Lei nº 15.130, de 16 de janeiro de2002, que “Autoriza o Chefe do Poder Executivo do Estado de SantaCatarina a promover a reorganização administrativa, técnica e societáriada Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A., dispõe sobre o Acordode Acionistas e sobre o Contrato de Gestão da Centrais Elétricas deSanta Catarina S.A. – Celesc – e suas subsidiárias e adota outrasprovidências.”

A Celesc deverá ser submetida ao processo legal de cisão, com aseparação dos seus ativos de geração e de distribuição, e este agregaráa área de comercialização. Restarão como entidades públicas a CelescS.A. (encarregada da distribuição e da comercialização de energiaelétrica) e a Celesc Geração S.A., nas quais o Estado de Santa Catarinaparticipará como sócio majoritário.

Por outro lado, a Celesc participará com capital minoritário emempresa de telecomunicações a ser constituída e conduzida sob ospadrões do direito e da administração privada, utilizando o acervorepresentado por linhas e redes de energia elétrica também para atransmissão de dados.

O novo modelo Celesc pressupõe um Acordo de Acionistas –

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através do qual os investidores estabelecerão as condições sob as quaisaportarão seus capitais na empresa – e o Contrato de Gestão, quedisciplinará o comando diretivo e gerencial, segundo metas previamenteestabelecidas e rigidamente controladas.

A administração superior da Celesc deverá ser composta não sópela expressão do capital, segundo a sua concepção original, passandoa congregar outras representações como a dos empregados e a dosconsumidores (estes, nas suas várias classes), além dos sóciosminoritários. As representações descritas terão posição preponderantena composição do Conselho de Administração que, por sua vez, seráampliado em suas funções de fiscalização e comando da empresa.

BRITO, Sebastião Berlinki. História da Celesc. Florianópolis, 2000. Manuscrito.CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA CATARINA (CELESC). Livros de Atas das Assembléias Gerais. Florianópolis.______. Livros de Atas das Reuniões da Diretoria. JORNAL O ESTADO. Florianópolis. 27 maio, 1955.

R E F E R Ê N C I A S

atividade das empresas de energia elétrica no País, teve influência diretana renovação do contrato de concessão da Celesc. Foi exigida pelopoder concedente (representado pela ANEEL) a separação dos ativosde geração e distribuição, para atender a formulações da política dedesverticalização posta em prática pelo governo federal nas renovaçõesde concessões.

Essa contingência de natureza contratual e as dificuldadesoperacionais caracterizadas pela falta de geração própria de energia ede recursos de capital impuseram à Celesc a necessidade de formularum modelo capaz de substituir aquelas deficiências, permitindo atenderao seu grande mercado com a desenvoltura e a qualidade quecaracterizaram seu trabalho nos últimos 45 anos.

A credibilidade do governador Esperidião Amin fez convergir paraa discussão os diversos setores catarinenses interessados na matéria,num processo aberto à participação das formulações mais díspares, aofim do que foi elaborado um novo modelo estrutural e de gestão para aCelesc.

O Projeto encaminhado à Assembléia Legislativa, que nele inseriuapenas duas emendas – uma delas vetada quando da sançãogovernamental –, transformou-se na Lei nº 15.130, de 16 de janeiro de2002, que “Autoriza o Chefe do Poder Executivo do Estado de SantaCatarina a promover a reorganização administrativa, técnica e societáriada Centrais Elétricas de Santa Catarina S.A., dispõe sobre o Acordode Acionistas e sobre o Contrato de Gestão da Centrais Elétricas deSanta Catarina S.A. – Celesc – e suas subsidiárias e adota outrasprovidências.”

A Celesc deverá ser submetida ao processo legal de cisão, com aseparação dos seus ativos de geração e de distribuição, e este agregaráa área de comercialização. Restarão como entidades públicas a CelescS.A. (encarregada da distribuição e da comercialização de energiaelétrica) e a Celesc Geração S.A., nas quais o Estado de Santa Catarinaparticipará como sócio majoritário.

Por outro lado, a Celesc participará com capital minoritário emempresa de telecomunicações a ser constituída e conduzida sob ospadrões do direito e da administração privada, utilizando o acervorepresentado por linhas e redes de energia elétrica também para atransmissão de dados.

O novo modelo Celesc pressupõe um Acordo de Acionistas –

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OC A P Í T U L O 9

A Copel: origem e perfil atualFR E D E R I C O R E I C H M A N N N E T O

O crescimento econômico do Paraná, após a Segunda GuerraMundial, aqueceu a demanda de energia elétrica, exigindo um aumentosignificativo da sua oferta.

Com o intuito de equacionar o desafio que se vislumbrava, ogoverno do Paraná instalou o Serviço de Energia Elétrica do Estado,em 1947, subordinado à Secretaria de Viação e Obras Públicas,reconhecido no ano seguinte como órgão auxiliar do Conselho Nacionalde Águas e Energia Elétrica. Ainda em 1948 o referido Serviço deEnergia Elétrica ganhou autonomia administrativo-financeira passandoa denominar-se Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).Uma das primeiras iniciativas do DAEE foi a proposição do PlanoHidrelétrico Paranaense, inspirado no Plano Nacional de Eletrificação.

A grande dificuldade de viabilizar o Plano estava na obtenção derecursos externos, captados somente em 1953, quando se constituiu oFundo de Eletrificação e a Taxa de Eletrificação do Estado.

Um ano mais tarde o governador Bento Munhoz da Rocha Nettopercebeu que a produção de eletricidade clamava por uma organizaçãomais ágil e eficiente do que aquela disponível na esfera do serviçopúblico. Assim, em 26 de outubro de 1954 foi criada a CompanhiaParanaense de Energia Elétrica (Copel), que recebeu autorização dogoverno federal para atuar como concessionária de energia elétrica em27 de maio de 1955. Na condição de sociedade de economia mista, seucapital era composto por ações, das quais 86% pertenciam ao governodo Estado e ao governo federal, através da Eletrobrás. Algumasprefeituras municipais, instituições diversas e pessoas físicas eram

Hidrelétrica Segredo, instaladano rio Iguaçu, entre os

municípios de Mangueirinhae Pinhão (PR), que entrou em

operação em 1992.Acervo: Copel.

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A Copel: origem e perfil atualFR E D E R I C O R E I C H M A N N N E T O

O crescimento econômico do Paraná, após a Segunda GuerraMundial, aqueceu a demanda de energia elétrica, exigindo um aumentosignificativo da sua oferta.

Com o intuito de equacionar o desafio que se vislumbrava, ogoverno do Paraná instalou o Serviço de Energia Elétrica do Estado,em 1947, subordinado à Secretaria de Viação e Obras Públicas,reconhecido no ano seguinte como órgão auxiliar do Conselho Nacionalde Águas e Energia Elétrica. Ainda em 1948 o referido Serviço deEnergia Elétrica ganhou autonomia administrativo-financeira passandoa denominar-se Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE).Uma das primeiras iniciativas do DAEE foi a proposição do PlanoHidrelétrico Paranaense, inspirado no Plano Nacional de Eletrificação.

A grande dificuldade de viabilizar o Plano estava na obtenção derecursos externos, captados somente em 1953, quando se constituiu oFundo de Eletrificação e a Taxa de Eletrificação do Estado.

Um ano mais tarde o governador Bento Munhoz da Rocha Nettopercebeu que a produção de eletricidade clamava por uma organizaçãomais ágil e eficiente do que aquela disponível na esfera do serviçopúblico. Assim, em 26 de outubro de 1954 foi criada a CompanhiaParanaense de Energia Elétrica (Copel), que recebeu autorização dogoverno federal para atuar como concessionária de energia elétrica em27 de maio de 1955. Na condição de sociedade de economia mista, seucapital era composto por ações, das quais 86% pertenciam ao governodo Estado e ao governo federal, através da Eletrobrás. Algumasprefeituras municipais, instituições diversas e pessoas físicas eram

Hidrelétrica Segredo, instaladano rio Iguaçu, entre os

municípios de Mangueirinhae Pinhão (PR), que entrou em

operação em 1992.Acervo: Copel.

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os acionistas minoritários. Pouco depois, em 1956, a Copel recebeua incumbência de centralizar todas as ações governamentais deplanejamento, construção e exploração da energia elétrica e serviçoscorrelatos no âmbito do Estado do Paraná, através do DecretoEstadual nº 1.412.

Inicialmente, a Copel instalou sua sede na cidade de Maringá,localizada na nova fronteira agrícola do Estado, região carente de energiaelétrica, apesar da sua pujança. Desde a sua criação, até o ano de 1960,a empresa passou por um período de estruturação organizacionalquando, então, iniciou um programa de obras fundamentais para ocumprimento dos objetivos básicos de uma empresa concessionária deenergia elétrica. Duas providências foram fundamentais para a expansãodo sistema elétrico do Estado: a constituição da Companhia deDesenvolvimento do Paraná (Codepar), posteriormente Banco deDesenvolvimento do Paraná (Badep); e o imposto que abasteceu oFundo de Desenvolvimento do Estado e que permitiu o início de todasas obras que até hoje constituem a base do sistema elétrico do Paraná.

Em 1961 o governador Ney Braga nomeou, como presidente daCopel, o professor Pedro Viriato Parigot de Souza, com a missão deorganizar o sistema elétrico do Paraná. Na ocasião, a empresa atendiasomente a 14 localidades com potência instalada que mal chegava aos10.000 kW, e com apenas 140 km de linhas mal construídas esubestações absolutamente precárias. Além de o consumo per capitaser muito baixo, o território paranaense era predominantementesuprido por pequenas térmicas a diesel, pertencentes às prefeiturasmunicipais. Os sistemas maiores funcionavam isoladamente ou eramuma extensão do sistema elétrico paulista, caso do Norte Pioneiro eda região de Londrina.

O engenheiro Arturo Andreoli, que mais tarde também foipresidente da empresa, fez o seguinte comentário: “Eu mesmo, em 1956,morando ao lado da atual Catedral de Maringá, portanto no centro dacidade, tinha em minha residência um pequeno gerador diesel-elétrico,pois os motores da Copel eram absolutamente imprevisíveis.”

Muitos, entre os mais antigos funcionários da empresa estatal deenergia – incluindo os chefes da Companhia –, passaram por situaçõesde perigo e até de comicidade. Arturo Andreoli lembra que umengenheiro da empresa responsável pelo atendimento da cidade deParanaguá, não vendo outra saída numa situação de motim por causa

Ao lado, Hidrelétrica São Jorge, instalada em Ponta Grossa (PR),que entrou em operação em 1945.

Acervo: Copel.

Abaixo, Hidrelétrica Júlio de Mesquita, ou Foz do Chopim,instalada em Dois Vizinhos (PR) e inaugurada em 1970.

Acervo: Copel.

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os acionistas minoritários. Pouco depois, em 1956, a Copel recebeua incumbência de centralizar todas as ações governamentais deplanejamento, construção e exploração da energia elétrica e serviçoscorrelatos no âmbito do Estado do Paraná, através do DecretoEstadual nº 1.412.

Inicialmente, a Copel instalou sua sede na cidade de Maringá,localizada na nova fronteira agrícola do Estado, região carente de energiaelétrica, apesar da sua pujança. Desde a sua criação, até o ano de 1960,a empresa passou por um período de estruturação organizacionalquando, então, iniciou um programa de obras fundamentais para ocumprimento dos objetivos básicos de uma empresa concessionária deenergia elétrica. Duas providências foram fundamentais para a expansãodo sistema elétrico do Estado: a constituição da Companhia deDesenvolvimento do Paraná (Codepar), posteriormente Banco deDesenvolvimento do Paraná (Badep); e o imposto que abasteceu oFundo de Desenvolvimento do Estado e que permitiu o início de todasas obras que até hoje constituem a base do sistema elétrico do Paraná.

Em 1961 o governador Ney Braga nomeou, como presidente daCopel, o professor Pedro Viriato Parigot de Souza, com a missão deorganizar o sistema elétrico do Paraná. Na ocasião, a empresa atendiasomente a 14 localidades com potência instalada que mal chegava aos10.000 kW, e com apenas 140 km de linhas mal construídas esubestações absolutamente precárias. Além de o consumo per capitaser muito baixo, o território paranaense era predominantementesuprido por pequenas térmicas a diesel, pertencentes às prefeiturasmunicipais. Os sistemas maiores funcionavam isoladamente ou eramuma extensão do sistema elétrico paulista, caso do Norte Pioneiro eda região de Londrina.

O engenheiro Arturo Andreoli, que mais tarde também foipresidente da empresa, fez o seguinte comentário: “Eu mesmo, em 1956,morando ao lado da atual Catedral de Maringá, portanto no centro dacidade, tinha em minha residência um pequeno gerador diesel-elétrico,pois os motores da Copel eram absolutamente imprevisíveis.”

Muitos, entre os mais antigos funcionários da empresa estatal deenergia – incluindo os chefes da Companhia –, passaram por situaçõesde perigo e até de comicidade. Arturo Andreoli lembra que umengenheiro da empresa responsável pelo atendimento da cidade deParanaguá, não vendo outra saída numa situação de motim por causa

Ao lado, Hidrelétrica São Jorge, instalada em Ponta Grossa (PR),que entrou em operação em 1945.

Acervo: Copel.

Abaixo, Hidrelétrica Júlio de Mesquita, ou Foz do Chopim,instalada em Dois Vizinhos (PR) e inaugurada em 1970.

Acervo: Copel.

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Iguaçu, e autorização para a construção da termelétrica de Figueira.Com isso a Copel dispunha das concessões necessárias para aimplementação do Plano de Expansão da empresa. A interligação dossistemas Norte-Sul, através das linhas de transmissão, garantia aestabilização da energia em todas as zonas de influência, podendo umausina compensar a deficiência hídrica de outra.

Encontrar uma solução definitiva para o abastecimento de energiaelétrica em larga escala foi o grande desafio para a empresa durante adécada de sessenta do século XX. O complexo hidrelétrico Capivari-Cachoeira, no sudeste do Estado, e a construção da Usina Termelétricade Figueira, no nordeste, atendiam temporariamente a suas metas.

Com o intuito de viabilizar os projetos, duas empresas subsidiáriasforam criadas. A primeira, denominada Central Elétrica Capivari-Cachoeira S.A. (Eletrocap), e a segunda, Usina Termelétrica deFigueira S.A. (Utelfa).

Ainda na década de sessenta a Copel construiu a Usina Hidrelétrica

da falta de eletricidade da cidade, foi esconder-se numa “casa detolerância”.

É bem provável que grande parte do sucesso da Copel tenha sidoconseqüência da visão de Parigot de Souza, que soube manter à distânciaos interesses políticos imediatistas da sua gestão, muitas vezes com aameaça da própria demissão. Não se pode deixar de mencionar oaprimoramento contínuo que ele exigia de todo o corpo funcional1.

Foi na sua administração que a Copel firmou com o Paraguai oprimeiro contrato internacional de aquisição de energia elétrica de quese tem notícia no Brasil. Este instrumento possibilitou àquele país umfinanciamento externo junto ao Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID) para a construção da Hidrelétrica de Acaray.

Como sociedade de economia mista, a Copel priorizava investimentosem obras com rentabilidade econômica. Todavia, como trabalhava comum produto de utilidade pública, muitas vezes assumia obras deficitáriasreclamadas pela população de regiões carentes, cuja falta da eletricidadepoderia ocasionar problemas de ordem social e política.

Coube à Copel, portanto, a responsabilidade pela construção dosgrandes sistemas hidrelétricos previstos no Plano de Eletrificação doParaná. Essas obras representavam soluções definitivas aos problemasde energia elétrica do Estado. Obtiveram-se, assim, as concessões dosrios São João e Mourão, Tibagi, Capivari e Cachoeira, alto e baixo

Hidrelétrica Três Bocas,instalada em Londrina (PR),

que entrou em operação em 1943.Acervo: Copel.

Vista geral da Hidrelétrica Mourão I,instalada em Campo Mourão (PR),que entrou em operação em 1964.

Acervo: Copel.

Iluminação pública em Maringá (PR).Acervo: Copel.

Acervo: Museu de Energia, Copel.

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Iguaçu, e autorização para a construção da termelétrica de Figueira.Com isso a Copel dispunha das concessões necessárias para aimplementação do Plano de Expansão da empresa. A interligação dossistemas Norte-Sul, através das linhas de transmissão, garantia aestabilização da energia em todas as zonas de influência, podendo umausina compensar a deficiência hídrica de outra.

Encontrar uma solução definitiva para o abastecimento de energiaelétrica em larga escala foi o grande desafio para a empresa durante adécada de sessenta do século XX. O complexo hidrelétrico Capivari-Cachoeira, no sudeste do Estado, e a construção da Usina Termelétricade Figueira, no nordeste, atendiam temporariamente a suas metas.

Com o intuito de viabilizar os projetos, duas empresas subsidiáriasforam criadas. A primeira, denominada Central Elétrica Capivari-Cachoeira S.A. (Eletrocap), e a segunda, Usina Termelétrica deFigueira S.A. (Utelfa).

Ainda na década de sessenta a Copel construiu a Usina Hidrelétrica

da falta de eletricidade da cidade, foi esconder-se numa “casa detolerância”.

É bem provável que grande parte do sucesso da Copel tenha sidoconseqüência da visão de Parigot de Souza, que soube manter à distânciaos interesses políticos imediatistas da sua gestão, muitas vezes com aameaça da própria demissão. Não se pode deixar de mencionar oaprimoramento contínuo que ele exigia de todo o corpo funcional1.

Foi na sua administração que a Copel firmou com o Paraguai oprimeiro contrato internacional de aquisição de energia elétrica de quese tem notícia no Brasil. Este instrumento possibilitou àquele país umfinanciamento externo junto ao Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID) para a construção da Hidrelétrica de Acaray.

Como sociedade de economia mista, a Copel priorizava investimentosem obras com rentabilidade econômica. Todavia, como trabalhava comum produto de utilidade pública, muitas vezes assumia obras deficitáriasreclamadas pela população de regiões carentes, cuja falta da eletricidadepoderia ocasionar problemas de ordem social e política.

Coube à Copel, portanto, a responsabilidade pela construção dosgrandes sistemas hidrelétricos previstos no Plano de Eletrificação doParaná. Essas obras representavam soluções definitivas aos problemasde energia elétrica do Estado. Obtiveram-se, assim, as concessões dosrios São João e Mourão, Tibagi, Capivari e Cachoeira, alto e baixo

Hidrelétrica Três Bocas,instalada em Londrina (PR),

que entrou em operação em 1943.Acervo: Copel.

Vista geral da Hidrelétrica Mourão I,instalada em Campo Mourão (PR),que entrou em operação em 1964.

Acervo: Copel.

Iluminação pública em Maringá (PR).Acervo: Copel.

Acervo: Museu de Energia, Copel.

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de Salto Grande do Iguaçu, que favoreceu dezoito municípios do suldo Estado. Na região central, próximo à Cidade de Campo Mourão, foiinaugurada a Usina Hidrelétrica de Campo Mourão. Para atender àdemanda por energia elétrica dos contingentes populacionais que sefixaram no sudoeste do Estado, atraídos por projeto de colonizaçãoimplementado pelo governo brasileiro ainda na década de quarenta,foi construída a Usina Hidrelétrica de Chopim I, próxima às cidadesde Pato Branco e Francisco Beltrão.

Em 1971 foi implementado o I Programa de Eletrificação doGoverno do Estado, visando ao atendimento global das necessidadesde energia elétrica, que previa a interligação gradativa de todo o Paranáe conexão interestadual com outros sistemas. Arturo Andreoli, à épocao presidente da Copel, dá o seguinte depoimento sobre a situação:

“Pela primeira vez percebi a importância de um sistema detransmissão. Na realidade não era o que se generalizou por muito tempono setor, ou seja, apenas um elo imprescindível entre uma centralgeradora e um determinado centro de consumo, mas um sistemaverdadeiro de transmissão, concebido em anel para atendimentoracional de todo o Estado.”

Outra área que mereceu atenção da empresa foi a de distribuiçãode energia. Sobre este aspecto comentou Andreoli:

“Lembro do esforço que se fez naqueles anos para atender todos osmunicípios paranaenses [...].Centenas de circuitos de distribuição,

milhares de postes de concretoe transformadores dedistribuição foram sendoimplantados por todo o Estadode modo que, quando deixei aempresa, todos os municípiosestavam ligados ao sistemaCopel.”

A partir da década desetenta o governo federal iniciou

o processo de encampação das empresas privadas e de transferênciadas respectivas concessões para as empresas estaduais. Entre os anosde 1973 e 1974 a Copel encampou as principais concessionárias dedistribuição de eletricidade. A hidrelétrica do Vale do Ivaí, em janeirode 1972; a Companhia Força e Luz do Paraná, em setembro de 1973,

Barragem da Usina Apucaraninha, instalada na área indígena Apucaraninha (PR).Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

No detalhe, casa de força da Hidrelétrica Apucaraninha (PR).Acervo: Copel.

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de Salto Grande do Iguaçu, que favoreceu dezoito municípios do suldo Estado. Na região central, próximo à Cidade de Campo Mourão, foiinaugurada a Usina Hidrelétrica de Campo Mourão. Para atender àdemanda por energia elétrica dos contingentes populacionais que sefixaram no sudoeste do Estado, atraídos por projeto de colonizaçãoimplementado pelo governo brasileiro ainda na década de quarenta,foi construída a Usina Hidrelétrica de Chopim I, próxima às cidadesde Pato Branco e Francisco Beltrão.

Em 1971 foi implementado o I Programa de Eletrificação doGoverno do Estado, visando ao atendimento global das necessidadesde energia elétrica, que previa a interligação gradativa de todo o Paranáe conexão interestadual com outros sistemas. Arturo Andreoli, à épocao presidente da Copel, dá o seguinte depoimento sobre a situação:

“Pela primeira vez percebi a importância de um sistema detransmissão. Na realidade não era o que se generalizou por muito tempono setor, ou seja, apenas um elo imprescindível entre uma centralgeradora e um determinado centro de consumo, mas um sistemaverdadeiro de transmissão, concebido em anel para atendimentoracional de todo o Estado.”

Outra área que mereceu atenção da empresa foi a de distribuiçãode energia. Sobre este aspecto comentou Andreoli:

“Lembro do esforço que se fez naqueles anos para atender todos osmunicípios paranaenses [...].Centenas de circuitos de distribuição,

milhares de postes de concretoe transformadores dedistribuição foram sendoimplantados por todo o Estadode modo que, quando deixei aempresa, todos os municípiosestavam ligados ao sistemaCopel.”

A partir da década desetenta o governo federal iniciou

o processo de encampação das empresas privadas e de transferênciadas respectivas concessões para as empresas estaduais. Entre os anosde 1973 e 1974 a Copel encampou as principais concessionárias dedistribuição de eletricidade. A hidrelétrica do Vale do Ivaí, em janeirode 1972; a Companhia Força e Luz do Paraná, em setembro de 1973,

Barragem da Usina Apucaraninha, instalada na área indígena Apucaraninha (PR).Foto: Sílvio Coelho dos Santos.

No detalhe, casa de força da Hidrelétrica Apucaraninha (PR).Acervo: Copel.

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a utilização plena dos sistemas das duas regiões, que já estavamparcialmente interligadas, sem, contudo, atender satisfatoriamente àcapacidade da demanda. Cresceram as inquietações por causa dasperspectivas desfavoráveis quanto à disponibilidade de energia. Em maiode 1978 o racionamento já atingia as ruas de Curitiba. Diante de umcenário que requeria cuidados, a Copel patrocinou uma campanha cujoslogan era “Poupe água. Apague a luz”. A situação provocou a aceleraçãodas obras da Hidrelétrica de Foz do Areia.

Em 1979 a Copel já era a maior empresa do Estado do Paraná, com800 localidades atendidas e 21.000 km de linhas de transmissão quecobriam todas as regiões. Atendia aproximadamente 800.000consumidores, dos quais 16.000 eram indústrias.

A melhoria da qualidade e da oferta de eletricidade mediante anéiselétricos possibilitou o desenvolvimento dos pólos industriais deCuritiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá e Cascavel.

Em 1980 foi inaugurada a hidrelétrica de Foz do Areia, com quatrounidades geradoras de 418 MW, até então as maiores do Brasil. Com aoperação de Foz do Areia a geração própria da Copel atingiu 2,9 bilhõesde kW, contra 1,9 bilhões do ano anterior. Neste período houve noEstado um intenso crescimento do mercado de energia, exigindo maisesforços para atender à demanda. Foram elaborados novos projetos,destacando-se o início da obra da Hidrelétrica de Segredo e a concessãopara construção da Hidrelétrica de Salto Caxias. Uma conquistasignificativa, considerando-se a posição anteriormente mantida pelogoverno federal.

O Programa Especial de Eletrificação Rural executou, entre 1978/81, 30.000 ligações em todo o Estado. No mesmo período a Copelcomemorou a sua milionésima ligação e, mediante a incorporação daCompanhia Hidrelétrica Paranapanema (CHEP), expandiu oatendimento direto ao Norte Pioneiro.

Com o apoio do governo federal teve início a construção da UHEde Segredo, cuja conclusão inicialmente estava prevista para 1988. Asgrandes enchentes que ocorreram no Paraná, em 1983, trouxeram paraa empresa altos prejuízos financeiros. As inundações causaram gravesdanos a usinas, linhas de transmissão, subestações e redes dedistribuição, além da redução da receita. Naquele momento ganhourealce um programa de conservação de energia. Às dificuldades locaissomou-se a crise econômica generalizada no País. A maxidesvalorização

que atendia a região metropolitana de Curitiba; a Companhia Pradade Eletricidade, que atendia a região de Ponta Grossa, e a Empresa deEletricidade Alexandre Schlemm, que atendia União da Vitória (PR)e Porto União (SC), em outubro de 1973; e finalmente a EmpresaElétrica de Londrina S.A., em junho de 1974.

Daí em diante a expansão da demanda de energia elétrica no Estadofoi superior à média do País, um bom indicativo de crescimentoeconômico e do sucesso das estratégias governamentais. Beneficiadapela situação, a Copel dedicava-se à programação e ao planejamentode novas obras de geração e de transmissão.

Com a experiência adquirida em obras de grande porte a empresavislumbrou oportunidades de geração em larga escala na baciahidrográfica do rio Iguaçu. Contudo, esta proposta desagradava ogoverno federal. Em 1969 a empresa solicitou à União autorização paraconstruir a Usina Hidrelétrica de Salto Osório. No entanto, a concessãofoi outorgada à Eletrosul, sob a alegação de que aquela energia serviriaaos três Estados do Sul. A fim de manter seu corpo técnico, a Copelfirmou convênio com a Eletrosul para administrar a construção daquelahidrelétrica. A usina foi concluída e entregue à Eletrosul em 1976. Opresidente da Copel propunha que cada Estado da federação tivesse asua empresa de energia e que as tarefas relacionadas ao gerenciamentodos sistemas e seu planejamento fossem asseguradas por comitêscoordenados pela Eletrobrás. Evitar-se-ia, assim, o aumento de custosresultante do paralelismo administrativo e operacional da união comos Estados.

Não aceitando a argumentação da Copel, o governo federalconcedeu a Hidrelétrica de Salto Santiago, também localizada no RioIguaçu, à Eletrosul. Em suas memórias Andreoli lembra do fato com oseguinte pronunciamento2: “Nos foi, então, prometida a usina de SaltoSantiago, cuja concessão também foi anos mais tarde repassada àEletrosul, ficando para nós a vaga promessa de um aproveitamento atéentão desconhecido, denominado Foz do Rio Areia, com potênciaestimada em 500 MW [...].”

A própria concessão de Foz do Areia foi enormementedificultada pela Eletrobrás, mas a diretoria da Copel conseguiuvencer as barreiras políticas e burocráticas impostas pela holding dosetor elétrico, realizando a obra.

A estiagem que assolou o Sul e o Sudeste do Brasil, em 1977, exigiu

Hidrelétrica Salto Caxias,instalada no rio Iguaçu (PR),

que entrou em operação em 1998.Acervo: Copel.

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a utilização plena dos sistemas das duas regiões, que já estavamparcialmente interligadas, sem, contudo, atender satisfatoriamente àcapacidade da demanda. Cresceram as inquietações por causa dasperspectivas desfavoráveis quanto à disponibilidade de energia. Em maiode 1978 o racionamento já atingia as ruas de Curitiba. Diante de umcenário que requeria cuidados, a Copel patrocinou uma campanha cujoslogan era “Poupe água. Apague a luz”. A situação provocou a aceleraçãodas obras da Hidrelétrica de Foz do Areia.

Em 1979 a Copel já era a maior empresa do Estado do Paraná, com800 localidades atendidas e 21.000 km de linhas de transmissão quecobriam todas as regiões. Atendia aproximadamente 800.000consumidores, dos quais 16.000 eram indústrias.

A melhoria da qualidade e da oferta de eletricidade mediante anéiselétricos possibilitou o desenvolvimento dos pólos industriais deCuritiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá e Cascavel.

Em 1980 foi inaugurada a hidrelétrica de Foz do Areia, com quatrounidades geradoras de 418 MW, até então as maiores do Brasil. Com aoperação de Foz do Areia a geração própria da Copel atingiu 2,9 bilhõesde kW, contra 1,9 bilhões do ano anterior. Neste período houve noEstado um intenso crescimento do mercado de energia, exigindo maisesforços para atender à demanda. Foram elaborados novos projetos,destacando-se o início da obra da Hidrelétrica de Segredo e a concessãopara construção da Hidrelétrica de Salto Caxias. Uma conquistasignificativa, considerando-se a posição anteriormente mantida pelogoverno federal.

O Programa Especial de Eletrificação Rural executou, entre 1978/81, 30.000 ligações em todo o Estado. No mesmo período a Copelcomemorou a sua milionésima ligação e, mediante a incorporação daCompanhia Hidrelétrica Paranapanema (CHEP), expandiu oatendimento direto ao Norte Pioneiro.

Com o apoio do governo federal teve início a construção da UHEde Segredo, cuja conclusão inicialmente estava prevista para 1988. Asgrandes enchentes que ocorreram no Paraná, em 1983, trouxeram paraa empresa altos prejuízos financeiros. As inundações causaram gravesdanos a usinas, linhas de transmissão, subestações e redes dedistribuição, além da redução da receita. Naquele momento ganhourealce um programa de conservação de energia. Às dificuldades locaissomou-se a crise econômica generalizada no País. A maxidesvalorização

que atendia a região metropolitana de Curitiba; a Companhia Pradade Eletricidade, que atendia a região de Ponta Grossa, e a Empresa deEletricidade Alexandre Schlemm, que atendia União da Vitória (PR)e Porto União (SC), em outubro de 1973; e finalmente a EmpresaElétrica de Londrina S.A., em junho de 1974.

Daí em diante a expansão da demanda de energia elétrica no Estadofoi superior à média do País, um bom indicativo de crescimentoeconômico e do sucesso das estratégias governamentais. Beneficiadapela situação, a Copel dedicava-se à programação e ao planejamentode novas obras de geração e de transmissão.

Com a experiência adquirida em obras de grande porte a empresavislumbrou oportunidades de geração em larga escala na baciahidrográfica do rio Iguaçu. Contudo, esta proposta desagradava ogoverno federal. Em 1969 a empresa solicitou à União autorização paraconstruir a Usina Hidrelétrica de Salto Osório. No entanto, a concessãofoi outorgada à Eletrosul, sob a alegação de que aquela energia serviriaaos três Estados do Sul. A fim de manter seu corpo técnico, a Copelfirmou convênio com a Eletrosul para administrar a construção daquelahidrelétrica. A usina foi concluída e entregue à Eletrosul em 1976. Opresidente da Copel propunha que cada Estado da federação tivesse asua empresa de energia e que as tarefas relacionadas ao gerenciamentodos sistemas e seu planejamento fossem asseguradas por comitêscoordenados pela Eletrobrás. Evitar-se-ia, assim, o aumento de custosresultante do paralelismo administrativo e operacional da união comos Estados.

Não aceitando a argumentação da Copel, o governo federalconcedeu a Hidrelétrica de Salto Santiago, também localizada no RioIguaçu, à Eletrosul. Em suas memórias Andreoli lembra do fato com oseguinte pronunciamento2: “Nos foi, então, prometida a usina de SaltoSantiago, cuja concessão também foi anos mais tarde repassada àEletrosul, ficando para nós a vaga promessa de um aproveitamento atéentão desconhecido, denominado Foz do Rio Areia, com potênciaestimada em 500 MW [...].”

A própria concessão de Foz do Areia foi enormementedificultada pela Eletrobrás, mas a diretoria da Copel conseguiuvencer as barreiras políticas e burocráticas impostas pela holding dosetor elétrico, realizando a obra.

A estiagem que assolou o Sul e o Sudeste do Brasil, em 1977, exigiu

Hidrelétrica Salto Caxias,instalada no rio Iguaçu (PR),

que entrou em operação em 1998.Acervo: Copel.

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uma multi-utility, com novos negócios nas áreas de telecomunicação,serviços, internet, saneamento e firmando parcerias em novos projetosde geração, inclusive de fontes alternativas de energia.

Em 2001 o governo do Estado decidiu que venderia o seu controleacionário da Copel. Assim, em janeiro, foi publicadoo edital de licitação na modalidade de ConcorrênciaInternacional, visando à contratação de empresas,ou consórcio de empresas, para desenvolver oprocesso de desestatização. Em maio o contrato comos consultores foi assinado. Em julho foi realizada umareformulação jurídico-administrativa quetransformou a empresa numa holding com cincosubsidiárias integrais, quais sejam: Copel GeraçãoS.A.; Copel Distribuição S.A.; Copel TransmissãoS.A.; Copel Telecomunicações S.A. e CopelParticipações S.A.

Em junho de 2001 foi aberta a Sala deInformações (Data Room), na mesma época em quea crise financeira da Argentina se agravava,comprometendo o risco Brasil na economia mundial.No mesmo mês a Copel foi proclamada – pela segundavez em três anos – a melhor distribuidora deeletricidade do Brasil, arrematando o prêmio Abrade2001.

No dia 6 de setembro de 2001 foi publicado oedital de desestatização com o anúncio do preçomínimo. No dia 11 daquele mês aconteceram osatentados às torres gêmeas de Nova York (WordTrade Center), fato que mudou o perfil da economiamundial, agravando a crise que se instalavagradativamente. No início de outubro a Copelrecebeu o prêmio de melhor empresa de eletricidadeda América Latina. O prêmio foi entregue emcerimônia promovida pela revista Global Finance,

também na cidade de Nova York. Onze grupos empresariais fizeraminscrição para acessarem o Data Room. Contudo, somente três se pré-qualificaram para o processo licitatório, e nenhum depositou as garantiasdo dia do leilão (30 de outubro). Marcada nova data, 6 de novembro,

cambial foi um duro golpe para as finanças públicas. Apesar dasdificuldades enfrentadas no período por todas as empresas do País, eparticularmente pelas concessionárias de energia elétrica, a Copelconseguiu manter em dia todos os seus compromissos, conduzindo umaracional política de pessoal.

Mesmo com as sérias dificuldades encontradas, um novo programade eletrificação rural foi implementado na metade da década de oitenta.Denominado “Clic Rural”, resultou num acréscimo de 32,5% no totalde propriedades eletrificadas do Estado. Os resultados positivosestenderam o programa para as regiões metropolitanas das grandescidades, com o nome de “Clic Urbano”. Para a manutenção destes doisprogramas foram utilizados recursos de financiamentos externos(nacionais e internacionais), enquanto para a continuidade daconstrução da obra de Segredo a Copel empregou recursos próprios.

Ao final da década de oitenta a empresa enfrentava problemasjudiciais com uma das licitantes do contrato principal da UHE de Segredo.O enorme esforço canalizado para não parar a obra fez com que a Copelfechasse o ano de 1989 com balanço negativo, mantendo, no entanto, aqualidade dos seus serviços. Visando a superar as dificuldades de captaçãode recursos para as obras de Segredo, no início da década de noventa foilançado o “Programa de Pré-venda de Energia da Usina de Segredo”.Inédito no País, visava a atrair a participação de capital privado para osetor elétrico em troca de garantias contra o racionamento de energia.Na mesma ocasião os programas de eletrificação rural e urbana passarama denominar-se “Força Rural” e “Força Comunitária”. Em 29 de setembrode 1992 a usina de Segredo foi finalmente inaugurada, reduzindo adependência paranaense da eletricidade gerada em outros Estados. Em1993 foram concluídos os projetos da UHE de Salto Caxias, que entrouem operação em dezembro de 1998, denotando assim um novo avançona geração de energia elétrica, com conseqüências positivas nodesenvolvimento do Estado do Paraná.

Em 1994 a Copel abriu o capital tendo suas ações negociadas nasbolsas de valores brasileiras, em especial na Bovespa. Em 1997 a empresafez uma emissão primária de ações preferenciais no mercado nacionale internacional, concentrando a emissão internacional na Bolsa deValores de Nova York, quando foram emitidos 31,9 bilhões de ações,totalizando 575 milhões de dólares.

A partir de 1998 a empresa diversificou sua atuação tornando-se

Ao lado, canteiro de obras e vista aéreada UHE Salto Caxias (PR).

Interior da casa de forçada UHE Salto Caxias (PR).

Acervo: Copel.

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uma multi-utility, com novos negócios nas áreas de telecomunicação,serviços, internet, saneamento e firmando parcerias em novos projetosde geração, inclusive de fontes alternativas de energia.

Em 2001 o governo do Estado decidiu que venderia o seu controleacionário da Copel. Assim, em janeiro, foi publicadoo edital de licitação na modalidade de ConcorrênciaInternacional, visando à contratação de empresas,ou consórcio de empresas, para desenvolver oprocesso de desestatização. Em maio o contrato comos consultores foi assinado. Em julho foi realizada umareformulação jurídico-administrativa quetransformou a empresa numa holding com cincosubsidiárias integrais, quais sejam: Copel GeraçãoS.A.; Copel Distribuição S.A.; Copel TransmissãoS.A.; Copel Telecomunicações S.A. e CopelParticipações S.A.

Em junho de 2001 foi aberta a Sala deInformações (Data Room), na mesma época em quea crise financeira da Argentina se agravava,comprometendo o risco Brasil na economia mundial.No mesmo mês a Copel foi proclamada – pela segundavez em três anos – a melhor distribuidora deeletricidade do Brasil, arrematando o prêmio Abrade2001.

No dia 6 de setembro de 2001 foi publicado oedital de desestatização com o anúncio do preçomínimo. No dia 11 daquele mês aconteceram osatentados às torres gêmeas de Nova York (WordTrade Center), fato que mudou o perfil da economiamundial, agravando a crise que se instalavagradativamente. No início de outubro a Copelrecebeu o prêmio de melhor empresa de eletricidadeda América Latina. O prêmio foi entregue emcerimônia promovida pela revista Global Finance,

também na cidade de Nova York. Onze grupos empresariais fizeraminscrição para acessarem o Data Room. Contudo, somente três se pré-qualificaram para o processo licitatório, e nenhum depositou as garantiasdo dia do leilão (30 de outubro). Marcada nova data, 6 de novembro,

cambial foi um duro golpe para as finanças públicas. Apesar dasdificuldades enfrentadas no período por todas as empresas do País, eparticularmente pelas concessionárias de energia elétrica, a Copelconseguiu manter em dia todos os seus compromissos, conduzindo umaracional política de pessoal.

Mesmo com as sérias dificuldades encontradas, um novo programade eletrificação rural foi implementado na metade da década de oitenta.Denominado “Clic Rural”, resultou num acréscimo de 32,5% no totalde propriedades eletrificadas do Estado. Os resultados positivosestenderam o programa para as regiões metropolitanas das grandescidades, com o nome de “Clic Urbano”. Para a manutenção destes doisprogramas foram utilizados recursos de financiamentos externos(nacionais e internacionais), enquanto para a continuidade daconstrução da obra de Segredo a Copel empregou recursos próprios.

Ao final da década de oitenta a empresa enfrentava problemasjudiciais com uma das licitantes do contrato principal da UHE de Segredo.O enorme esforço canalizado para não parar a obra fez com que a Copelfechasse o ano de 1989 com balanço negativo, mantendo, no entanto, aqualidade dos seus serviços. Visando a superar as dificuldades de captaçãode recursos para as obras de Segredo, no início da década de noventa foilançado o “Programa de Pré-venda de Energia da Usina de Segredo”.Inédito no País, visava a atrair a participação de capital privado para osetor elétrico em troca de garantias contra o racionamento de energia.Na mesma ocasião os programas de eletrificação rural e urbana passarama denominar-se “Força Rural” e “Força Comunitária”. Em 29 de setembrode 1992 a usina de Segredo foi finalmente inaugurada, reduzindo adependência paranaense da eletricidade gerada em outros Estados. Em1993 foram concluídos os projetos da UHE de Salto Caxias, que entrouem operação em dezembro de 1998, denotando assim um novo avançona geração de energia elétrica, com conseqüências positivas nodesenvolvimento do Estado do Paraná.

Em 1994 a Copel abriu o capital tendo suas ações negociadas nasbolsas de valores brasileiras, em especial na Bovespa. Em 1997 a empresafez uma emissão primária de ações preferenciais no mercado nacionale internacional, concentrando a emissão internacional na Bolsa deValores de Nova York, quando foram emitidos 31,9 bilhões de ações,totalizando 575 milhões de dólares.

A partir de 1998 a empresa diversificou sua atuação tornando-se

Ao lado, canteiro de obras e vista aéreada UHE Salto Caxias (PR).

Interior da casa de forçada UHE Salto Caxias (PR).

Acervo: Copel.

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197196

1Cabe ressaltar que Francisco Gomide, presidente da empresa durante a década de 1980, também

afirmou a mesma coisa.2 Embora as memórias de Arturo Andreoli ainda não tenham sido publicadas, o autor foi autorizado a

citá-las a partir de sua versão original.

ANDREOLI, Arturo. Pedro Viriato Parigot de Souza: lembranças. Curitiba: Companhia Paranaense deEnergia (COPEL), 1994.

______. A história de energia elétrica no Estado do Paraná. In: COMPANHIA PARANAENSE DEENERGIA (COPEL). Histórico. Curitiba: No prelo.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). Conheça a história da Copel. Disponível em: <htpp://www.copel.com/conheça a copel> Acesso em: 15 out. 2001.

ELETROBRÁS. Florestamento e piscicultura no Paraná. Revista de Energia Elétrica, out./dez. 1975.FOZ do Areia: integração do potencial hidráulico ao processo de desenvolvimento nacional. Construção

pesada, ano 9, n. 102, jul. 1979.GOMIDE, Francisco Luiz Sibut. Entrevista concedida a Frederico Reichmann Neto. Curitiba, 5 nov. 2001.GAZETA DO POVO. Curitiba, 30 out. 2001.INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO. História; instituições associadas;

organograma e parceiros. Disponível em: <htpp://www.lactec.org.br/ > Acesso em: 1 nov. 2001.REICHMANN NETO, Frederico. Inter-relação entre a Copel e o meio ambiente. Curitiba: Companhia

Paranaense de Energia (Copel), 1988.SIQUEIRA, Márcia D. et al. Um século de eletricidade no Paraná. Curitiba: Universidade Federal do

Paraná (UFPR), 1994.

Nível de Tensão Km de Nº de Potência(kV) Linhas Subestações (MVA)

34,5 e 13,8 153.307 228 1.22269 1.138 29 1.666

138 4.012 66 3.817230 1.437 21 6.506500 160 5 6.072Total 160.054 349 19.283

Copel: Geração, Linhas e Subestações

PotênciaInstalada (MW)

Gov. Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia) 1.676Gov. Ney A. de Barros Braga (Segredo) 1.260Salto Caxias 1.240Gov. Parigot de Souza (Capivari – Cachoeira) 260Guaricana 36Chaminé 18Outras 39Termelétricas 20Total 4.549

Hid

re

lét

ric

as

Unidades Geradoras

R E F E R Ê N C I A S

N O T A S

A Copel, em poucas linhas

A Companhia Paranaense deEnergia (Copel), fundada em1954, e, portando, com quasemeio século de existência,consolidou-se como uma dasmaiores, melhores e maiseficientes empresas de energiado País.

Sua estrutura contempla oatendimento direto a quase trêsmilhões de clientes, parquegerador próprio com 4.549 MWde potênc ia , s i s t ema detransmissão com 6.763 km delinhas e 122 substações, esistemas de distribuição com155.073 km de linhas e 232subestações.

É a única empresa brasileirado setor listada na Bolsa deValores de Nova York (NYSE).

Atenta aos novos cenários enovas oportunidades que seabrem no mercado, a Copel vemse modernizando estrutural-mente com o objetivo dea m p l i a r s e u p o d e r d ecompetição.

Assim, encontra-se organiza-cionalmente estruturada emcinco subsidiárias integrais: a)Copel Geração S.A., CopelTransmissão S.A. e CopelDistribuição S.A., voltadas,respectivamente, para os nichostradicionais de geração,transmissão e distribuição deenergia; b) Copel Telecomu-nicações S.A.; c) Copel Parti-cipações S.A., a qual seconcentra no estabelecimentode parcerias em diversosnegócios: gás canalizado,comercialização de energia,água e saneamento, prestaçãode serviços de engenharia, nassuas diversas especializações,pesquisa e desenvolvimento,entre outros. (Luiz FernandoLeone Vianna, Diretor deRelações Institucionais - Copel)

novamente não aconteceram os depósitos exigidos no edital de licitação.Em janeiro de 2002 o governo do Estado do Paraná decidiu que a

desestatização da Copel deixava de ser estrategicamente atrativa paraos interesses do Estado, razão pela qual o processo foi definitivamenteencerrado, diante das circunstâncias do cenário internacional e dasnovas normas estabelecidas pelo governo federal para o setor elétrico.

Vista parcial do reassentamentode agricultores desalojados

para a instalação da UHE Salto Caxias (PR).Acervo: Copel.

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1Cabe ressaltar que Francisco Gomide, presidente da empresa durante a década de 1980, também

afirmou a mesma coisa.2 Embora as memórias de Arturo Andreoli ainda não tenham sido publicadas, o autor foi autorizado a

citá-las a partir de sua versão original.

ANDREOLI, Arturo. Pedro Viriato Parigot de Souza: lembranças. Curitiba: Companhia Paranaense deEnergia (COPEL), 1994.

______. A história de energia elétrica no Estado do Paraná. In: COMPANHIA PARANAENSE DEENERGIA (COPEL). Histórico. Curitiba: No prelo.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). Conheça a história da Copel. Disponível em: <htpp://www.copel.com/conheça a copel> Acesso em: 15 out. 2001.

ELETROBRÁS. Florestamento e piscicultura no Paraná. Revista de Energia Elétrica, out./dez. 1975.FOZ do Areia: integração do potencial hidráulico ao processo de desenvolvimento nacional. Construção

pesada, ano 9, n. 102, jul. 1979.GOMIDE, Francisco Luiz Sibut. Entrevista concedida a Frederico Reichmann Neto. Curitiba, 5 nov. 2001.GAZETA DO POVO. Curitiba, 30 out. 2001.INSTITUTO DE TECNOLOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO. História; instituições associadas;

organograma e parceiros. Disponível em: <htpp://www.lactec.org.br/ > Acesso em: 1 nov. 2001.REICHMANN NETO, Frederico. Inter-relação entre a Copel e o meio ambiente. Curitiba: Companhia

Paranaense de Energia (Copel), 1988.SIQUEIRA, Márcia D. et al. Um século de eletricidade no Paraná. Curitiba: Universidade Federal do

Paraná (UFPR), 1994.

Nível de Tensão Km de Nº de Potência(kV) Linhas Subestações (MVA)

34,5 e 13,8 153.307 228 1.22269 1.138 29 1.666

138 4.012 66 3.817230 1.437 21 6.506500 160 5 6.072Total 160.054 349 19.283

Copel: Geração, Linhas e Subestações

PotênciaInstalada (MW)

Gov. Bento Munhoz da Rocha Netto (Foz do Areia) 1.676Gov. Ney A. de Barros Braga (Segredo) 1.260Salto Caxias 1.240Gov. Parigot de Souza (Capivari – Cachoeira) 260Guaricana 36Chaminé 18Outras 39Termelétricas 20Total 4.549

Hid

re

lét

ric

as

Unidades Geradoras

R E F E R Ê N C I A S

N O T A S

A Copel, em poucas linhas

A Companhia Paranaense deEnergia (Copel), fundada em1954, e, portando, com quasemeio século de existência,consolidou-se como uma dasmaiores, melhores e maiseficientes empresas de energiado País.

Sua estrutura contempla oatendimento direto a quase trêsmilhões de clientes, parquegerador próprio com 4.549 MWde potênc ia , s i s t ema detransmissão com 6.763 km delinhas e 122 substações, esistemas de distribuição com155.073 km de linhas e 232subestações.

É a única empresa brasileirado setor listada na Bolsa deValores de Nova York (NYSE).

Atenta aos novos cenários enovas oportunidades que seabrem no mercado, a Copel vemse modernizando estrutural-mente com o objetivo dea m p l i a r s e u p o d e r d ecompetição.

Assim, encontra-se organiza-cionalmente estruturada emcinco subsidiárias integrais: a)Copel Geração S.A., CopelTransmissão S.A. e CopelDistribuição S.A., voltadas,respectivamente, para os nichostradicionais de geração,transmissão e distribuição deenergia; b) Copel Telecomu-nicações S.A.; c) Copel Parti-cipações S.A., a qual seconcentra no estabelecimentode parcerias em diversosnegócios: gás canalizado,comercialização de energia,água e saneamento, prestaçãode serviços de engenharia, nassuas diversas especializações,pesquisa e desenvolvimento,entre outros. (Luiz FernandoLeone Vianna, Diretor deRelações Institucionais - Copel)

novamente não aconteceram os depósitos exigidos no edital de licitação.Em janeiro de 2002 o governo do Estado do Paraná decidiu que a

desestatização da Copel deixava de ser estrategicamente atrativa paraos interesses do Estado, razão pela qual o processo foi definitivamenteencerrado, diante das circunstâncias do cenário internacional e dasnovas normas estabelecidas pelo governo federal para o setor elétrico.

Vista parcial do reassentamentode agricultores desalojados

para a instalação da UHE Salto Caxias (PR).Acervo: Copel.

Page 202: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

O setor elétricono limiar de um

novo milênio

P A R T E 3

Page 203: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

O setor elétricono limiar de um

novo milênio

P A R T E 3

Page 204: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

201

NNos anos oitenta do século XX o setor elétrico começou a vivenciarnova reorientação organizacional. A Eletrobrás sofria dificuldadescrescentes para exercer seu papel de holding, especialmente devido aofato de ser cada vez mais difícil conseguir financiamentos no exterior.As disputas exercidas pelas empresas estaduais para ampliar suasconcessões na área da geração também cresceram. A reordenaçãoeconômica mundial avançava, impondo diferentes limitações àsempresas estatais. O cenário da privatização do setor começava a serdesenhado. De forma quase ostensiva, o País foi se submetendo às regrasde mercado, que tendiam para a globalização e para o esvaziamento dopapel do Estado como promotor de empresas estatais.

A Constituição de 1988 impôs um revés inesperado à Eletrobrás,ao impedir a continuidade da cobrança do Imposto Único sobre EnergiaElétrica (IUEE), base do Fundo Federal de Eletrificação (FEE), criadoem 1954 (CF art. nº 155, 3º). O fluxo permanente de recursosfinanceiros para a holding, suas subsidiárias e empresas estaduais deenergia estava cortado, trazendo em médio prazo problemas financeirosinsanáveis. Provavelmente, a proibição constitucional não foisuficientemente discutida, nem tampouco seus efeitos foramdevidamente percebidos à época. O BNDES (antes BNDE), grandealiado que participara de quase todos os projetos da Eletrobrás, tambémpassou a orientar seus investimentos em favor da privatização. Oenfraquecimento do monopólio estatal, porém, estava decidido. Tudoseria questão de tempo.

Nos anos noventa aceleraram-se as iniciativas de privatização do

I N T R O D U Ç Ã O

Experimento de energia solarno campus da Universidade Federal

de Santa Catarina.Acervo: Labsolar-UFSC.

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201

NNos anos oitenta do século XX o setor elétrico começou a vivenciarnova reorientação organizacional. A Eletrobrás sofria dificuldadescrescentes para exercer seu papel de holding, especialmente devido aofato de ser cada vez mais difícil conseguir financiamentos no exterior.As disputas exercidas pelas empresas estaduais para ampliar suasconcessões na área da geração também cresceram. A reordenaçãoeconômica mundial avançava, impondo diferentes limitações àsempresas estatais. O cenário da privatização do setor começava a serdesenhado. De forma quase ostensiva, o País foi se submetendo às regrasde mercado, que tendiam para a globalização e para o esvaziamento dopapel do Estado como promotor de empresas estatais.

A Constituição de 1988 impôs um revés inesperado à Eletrobrás,ao impedir a continuidade da cobrança do Imposto Único sobre EnergiaElétrica (IUEE), base do Fundo Federal de Eletrificação (FEE), criadoem 1954 (CF art. nº 155, 3º). O fluxo permanente de recursosfinanceiros para a holding, suas subsidiárias e empresas estaduais deenergia estava cortado, trazendo em médio prazo problemas financeirosinsanáveis. Provavelmente, a proibição constitucional não foisuficientemente discutida, nem tampouco seus efeitos foramdevidamente percebidos à época. O BNDES (antes BNDE), grandealiado que participara de quase todos os projetos da Eletrobrás, tambémpassou a orientar seus investimentos em favor da privatização. Oenfraquecimento do monopólio estatal, porém, estava decidido. Tudoseria questão de tempo.

Nos anos noventa aceleraram-se as iniciativas de privatização do

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Experimento de energia solarno campus da Universidade Federal

de Santa Catarina.Acervo: Labsolar-UFSC.

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203202

falta de linha de transmissão e ao constante crescimento da demanda,o potencial do sistema começou a ser utilizado sem reservas. A crise daescassez de energia não se fez esperar, colocando o País na dependênciada abundância de chuvas. Novos dilemas surgiram. Uma revisão damatriz energética se impôs, privilegiando-se projetos termelétricos agás. O racionamento tornou-se uma realidade, junto com alteraçõestarifárias. Simultaneamente, a modelagem do processo de privatizaçãodo setor elétrico sofreu diversas revisões críticas, tendendo para acentuara necessidade do aporte de capitais para projetos novos, queefetivamente garantissem a ampliação acelerada do sistema de geraçãoe permitissem a implantação de novas linhas de transmissão. No âmbitoda GCE foram estabelecidas orientações no sentido da abreviação dasanálises pertinentes às questões ambientais ligadas aosempreendimentos considerados estratégicos para a superação da criseenergética, até então reguladas pelas Resoluções do Conama. No iníciode 2002 uma nova revisão do modelo foi anunciada pela GCE, acabandocom o Mercado Atacadista de Energia (MAE) e desacelerando oprocesso de privatização, entre outras medidas. Trata-se de umatentativa, um tanto tardia, de revitalização do papel do Estado no SetorElétrico, priorizando projetos e investimentos.

Resta saber se o governo terá condições de efetivamente exerceros papéis que lhe são atribuídos, concretizando em curto prazo novosprojetos de geração e de transmissão e dirimindo inevitáveis conflitosde interesse das empresas do setor entre si, e entre elas e osconsumidores. Tudo isto no cenário de uma sociedade que cada vezmais amplia suas complexidades, aumenta suas demandas e seconscientiza sobre seus direitos e sobre suas perspectivas de futuro.

setor elétrico. A falta de investimentos para dar seguimento àimplantação de diferentes hidrelétricas no País, previstas nos Planos2000, 2010 e 2020, e suas revisões, elaboradas diligentemente pelaEletrobrás, associadas à crescente demanda por energia, faziam preveruma crise de abastecimento sem precedentes. O País estava numasituação de risco para dar continuidade aos seus planos de expansãoeconômica. Tornou-se inevitável, pois, a aceitação da modelagem doprocesso de privatização, que contemplava a atração de investimentosexternos e estimulava a formação de consórcios nacionais, visando àimplantação de novas hidrelétricas e, eventualmente, de termelétricas.As empresas integrantes da holding foram orientadas no sentido debuscar parceiros privados para dar andamento a projetos que estavamparalisados por falta de recursos financeiros. Também surgiraminiciativas para a reorganização interna dessas empresas, a partir daredefinição de suas atividades essenciais e da redução do número deseus colaboradores. As cisões tornaram-se freqüentes, reordenandoespecialmente os setores de geração e de transmissão. As empresasestaduais de energia começaram a conviver com processos similares.

Quase no final dos anos noventa na Região Sul a Eletrosul sofreuum processo de divisão, dando origem às Centrais Geradoras do Sul doBrasil S.A. (Gerasul) e à Empresa Transmissora de Energia Elétrica doSul do Brasil S.A. (Eletrosul). A seguir, a Gerasul foi privatizada, sendoadquirida pelo grupo belga Tractebel, Electricity & Gas International.

Para entender esse quadro há que se ter claro o contexto econômicointernacional, centrado nas políticas de globalização, fundamentadasnuma nova versão do liberalismo econômico. As atribuições do governoforam redirecionadas para o exercício do controle das diferentesempresas que passaram, ou estão passando, a atuar no setor elétrico. AAgência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Operador Nacionaldo Sistema (ONS) e a Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE),que popularmente foi conhecida como o “ministério do apagão”, são,entre outras, algumas dessas novas agências reguladorasgovernamentais. O modelo estatal, centralizado e verticalizado deadministração e de planejamento do setor elétrico, com avanços erecuos, está desaparecendo.

Havendo falta de investimentos para a implantação de novashidrelétricas, ou termelétricas, bem como para a ampliação dasexistentes, conforme definido nos planos da Eletrobrás, associado à

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falta de linha de transmissão e ao constante crescimento da demanda,o potencial do sistema começou a ser utilizado sem reservas. A crise daescassez de energia não se fez esperar, colocando o País na dependênciada abundância de chuvas. Novos dilemas surgiram. Uma revisão damatriz energética se impôs, privilegiando-se projetos termelétricos agás. O racionamento tornou-se uma realidade, junto com alteraçõestarifárias. Simultaneamente, a modelagem do processo de privatizaçãodo setor elétrico sofreu diversas revisões críticas, tendendo para acentuara necessidade do aporte de capitais para projetos novos, queefetivamente garantissem a ampliação acelerada do sistema de geraçãoe permitissem a implantação de novas linhas de transmissão. No âmbitoda GCE foram estabelecidas orientações no sentido da abreviação dasanálises pertinentes às questões ambientais ligadas aosempreendimentos considerados estratégicos para a superação da criseenergética, até então reguladas pelas Resoluções do Conama. No iníciode 2002 uma nova revisão do modelo foi anunciada pela GCE, acabandocom o Mercado Atacadista de Energia (MAE) e desacelerando oprocesso de privatização, entre outras medidas. Trata-se de umatentativa, um tanto tardia, de revitalização do papel do Estado no SetorElétrico, priorizando projetos e investimentos.

Resta saber se o governo terá condições de efetivamente exerceros papéis que lhe são atribuídos, concretizando em curto prazo novosprojetos de geração e de transmissão e dirimindo inevitáveis conflitosde interesse das empresas do setor entre si, e entre elas e osconsumidores. Tudo isto no cenário de uma sociedade que cada vezmais amplia suas complexidades, aumenta suas demandas e seconscientiza sobre seus direitos e sobre suas perspectivas de futuro.

setor elétrico. A falta de investimentos para dar seguimento àimplantação de diferentes hidrelétricas no País, previstas nos Planos2000, 2010 e 2020, e suas revisões, elaboradas diligentemente pelaEletrobrás, associadas à crescente demanda por energia, faziam preveruma crise de abastecimento sem precedentes. O País estava numasituação de risco para dar continuidade aos seus planos de expansãoeconômica. Tornou-se inevitável, pois, a aceitação da modelagem doprocesso de privatização, que contemplava a atração de investimentosexternos e estimulava a formação de consórcios nacionais, visando àimplantação de novas hidrelétricas e, eventualmente, de termelétricas.As empresas integrantes da holding foram orientadas no sentido debuscar parceiros privados para dar andamento a projetos que estavamparalisados por falta de recursos financeiros. Também surgiraminiciativas para a reorganização interna dessas empresas, a partir daredefinição de suas atividades essenciais e da redução do número deseus colaboradores. As cisões tornaram-se freqüentes, reordenandoespecialmente os setores de geração e de transmissão. As empresasestaduais de energia começaram a conviver com processos similares.

Quase no final dos anos noventa na Região Sul a Eletrosul sofreuum processo de divisão, dando origem às Centrais Geradoras do Sul doBrasil S.A. (Gerasul) e à Empresa Transmissora de Energia Elétrica doSul do Brasil S.A. (Eletrosul). A seguir, a Gerasul foi privatizada, sendoadquirida pelo grupo belga Tractebel, Electricity & Gas International.

Para entender esse quadro há que se ter claro o contexto econômicointernacional, centrado nas políticas de globalização, fundamentadasnuma nova versão do liberalismo econômico. As atribuições do governoforam redirecionadas para o exercício do controle das diferentesempresas que passaram, ou estão passando, a atuar no setor elétrico. AAgência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Operador Nacionaldo Sistema (ONS) e a Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE),que popularmente foi conhecida como o “ministério do apagão”, são,entre outras, algumas dessas novas agências reguladorasgovernamentais. O modelo estatal, centralizado e verticalizado deadministração e de planejamento do setor elétrico, com avanços erecuos, está desaparecendo.

Havendo falta de investimentos para a implantação de novashidrelétricas, ou termelétricas, bem como para a ampliação dasexistentes, conforme definido nos planos da Eletrobrás, associado à

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AC A P Í T U L O 10

A importância estratégica do setorelétrico no cenário da Região Sul

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

AN E L I E S E NA C K E

A realidade socioeconômica dos Estados do Sul não pode sercompreendida sem a existência de um eficaz sistema de produção e dedistribuição de energia elétrica. Este sistema começou, como vimos,com as iniciativas essencialmente locais de alguns pioneiros. Passoudepois a atrair os interesses de empresas e de capitais estrangeiros queaproveitavam a flexibilidade permitida pela legislação, essencialmentemunicipal e estadual. Com o passar do tempo, o governo centralcomeçou a intervir diretamente nesse estratégico setor da economia,criando uma legislação reguladora das concessões e, adiante, no cenáriode políticas centralizadoras, implantando o Ministério de Minas eEnergia e a Eletrobrás. No âmbito dos Estados surgiram as empresasestaduais de energia elétrica, que assumiram a hercúlea tarefa deimplantar sistemas de distribuição integrados nos espaços urbanos erurais, além de fazerem investimentos também na área da geração.

Foi assim que, a partir dos anos sessenta do século XX, a energiaelétrica começou a ser disponibilizada de maneira crescente nos Estadosdo Sul. Essa infra-estrutura começou a garantir a expansão econômica,em todos os seus segmentos. É evidente que estamos falando de umprocesso, no qual nem tudo ocorreu de forma harmônica e igualitária.A eletrificação rural, por exemplo, só foi considerada prioritária muitomais tarde. De outra parte, na implantação dos primeiros projetoshidrelétricos e termelétricos de maior porte não foi dada maior atençãoàs suas conseqüências negativas, especialmente em termos sociais eambientais. Os denominados “alagados” pela implantação da UHEPasso Real, no Rio Grande do Sul, nos anos sessenta, exemplificam

Usina Hidrelétrica Passo Real (RS),vista parcial.

Entrou em operação em 1973.Foto: Luis Antonio Ferreira.

Acervo: CEEE.

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AC A P Í T U L O 10

A importância estratégica do setorelétrico no cenário da Região Sul

SÍ LV I O CO E L H O D O S SA N T O S

AN E L I E S E NA C K E

A realidade socioeconômica dos Estados do Sul não pode sercompreendida sem a existência de um eficaz sistema de produção e dedistribuição de energia elétrica. Este sistema começou, como vimos,com as iniciativas essencialmente locais de alguns pioneiros. Passoudepois a atrair os interesses de empresas e de capitais estrangeiros queaproveitavam a flexibilidade permitida pela legislação, essencialmentemunicipal e estadual. Com o passar do tempo, o governo centralcomeçou a intervir diretamente nesse estratégico setor da economia,criando uma legislação reguladora das concessões e, adiante, no cenáriode políticas centralizadoras, implantando o Ministério de Minas eEnergia e a Eletrobrás. No âmbito dos Estados surgiram as empresasestaduais de energia elétrica, que assumiram a hercúlea tarefa deimplantar sistemas de distribuição integrados nos espaços urbanos erurais, além de fazerem investimentos também na área da geração.

Foi assim que, a partir dos anos sessenta do século XX, a energiaelétrica começou a ser disponibilizada de maneira crescente nos Estadosdo Sul. Essa infra-estrutura começou a garantir a expansão econômica,em todos os seus segmentos. É evidente que estamos falando de umprocesso, no qual nem tudo ocorreu de forma harmônica e igualitária.A eletrificação rural, por exemplo, só foi considerada prioritária muitomais tarde. De outra parte, na implantação dos primeiros projetoshidrelétricos e termelétricos de maior porte não foi dada maior atençãoàs suas conseqüências negativas, especialmente em termos sociais eambientais. Os denominados “alagados” pela implantação da UHEPasso Real, no Rio Grande do Sul, nos anos sessenta, exemplificam

Usina Hidrelétrica Passo Real (RS),vista parcial.

Entrou em operação em 1973.Foto: Luis Antonio Ferreira.

Acervo: CEEE.

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que necessitam permanente atenção e monitoramento.A Região Sul do Brasil, formada pelos Estados do Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul, tem uma área de 577.214 km², distribuídaem 1.159 municípios. Sua população, pelo censo de 2000, era de25.089.783 habitantes, dos quais 80,94% vivem em áreas urbanas. Ocrescimento populacional da região foi acentuado: em 1900 contavacom 1.796.495 habitantes, eqüivalendo a 10,30% da população do País.Em 1940 o número de habitantes havia saltado para 5.735.305; em1960 atingiu 11.892.107; em 1980 chegava aos 19.380.126 deresidentes. Em 2000 os sulistas representavam cerca de 14,79% dapopulação total do País. No cenário nacional a região é reconhecidapor suas potencialidades econômicas. Em 1998 o Produto Interno Bruto(PIB) atingiu 159,679 bilhões de reais, o segundo maior do País. Arenda per capita anual, no mesmo ano, foi de R$ 6.611,00.

No ano de 1999 havia na Região Sul cerca de 984.583 empresas,representando 23,5% do total existente no País. O número deestabelecimentos rurais, em 1995, era de 1.003.180. O Índice deDesenvolvimento Humano (IDH) mais elevado do País, em 1996, erao do Rio Grande do Sul, seguido de perto por Santa Catarina e peloParaná, revelando condições sanitárias e expectativas de vida bastanterazoáveis.

Contando com expressiva diversidade étnica, com diferentestradições culturais, a Região Sul possui recursos naturais de importância,ressaltando-se o carvão mineral, o potencial de suas bacias hidrográficas,os recursos marinhos e florestais. É grande produtora de soja, milho etrigo; de papel e celulose; de frutas de clima temperado; e de café.Ocupa, também, posição de destaque como produtora de laticínios, decarnes, de frangos e de suínos; na produção de veículos, de motoreselétricos, de máquinas agrícolas e industriais, de eletrodomésticos e detecidos além da prestação de serviços. No cenário das exportaçõesnacionais os Estados do Sul aparecem, em 1999, nas seguintes posições:Rio Grande do Sul, US$ 4,9 bilhões; Paraná, US$ 3,9 bilhões; SantaCatarina, US$ 2,5 bilhões, que representaram em conjunto 23,9% dasexportações do País.

É neste contexto que se devem entender as diferentes iniciativasgovernamentais e privadas para dotar a região com uma infra-estruturade serviços, envolvendo eletrificação, estradas, portos, aeroportos ecomunicações, bem como as crescentes pressões comunitárias para a

bem a questão. As legítimas reclamações dos atingidos pela formaçãodo lago dessa hidrelétrica foram consideradas equivocadas, pois setratava de um projeto de interesse do Estado. O mesmo aconteceucom os expropriados pela implantação da Itaipu Binacional. Os planosde reassentamento das populações atingidas e a legislação de proteçãoambiental surgiram bem mais recentemente, e ainda não estãototalmente assimilados pelas empresas estatais e privadas do setorelétrico. Nesse sentido, a formulação do Projeto Uruguai pela Eletrosul,nos finais dos anos setenta, teve um papel pedagógico. De um lado,pela primeira vez se desenhou o aproveitamento integral do potencialenergético de uma bacia hidrográfica. De outro, motivou o surgimentoda Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB), queestabeleceu novos parâmetros de organização da população afetada ede encaminhamento de suas reivindicações.

Deve-se considerar que a implantação de projetos hidrelétricosimplica a existência de múltiplos atores sociais e de diferentes interessespolíticos, econômicos e empresariais. Não se trata só de desafios deengenharia, nem tampouco do domínio de novas tecnologias. Cadaprojeto tem sempre sua especificidade. Mas, em comum, todosapresentam problemas de intervenção na natureza e na vida daspopulações locais ribeirinhas. Tais constatações são, hoje, reconhecidasinternacionalmente, e necessitam ser cada vez mais internalizadas portodos quantos têm participação nos processos de tomada de decisãoreferentes à implantação de novos empreendimentos. Não bastaconsiderar os projetos hidrelétricos como de interesse da melhoria daqualidade de vida da maioria da população de um Estado ou de umaregião. É preciso assegurar àqueles que são prejudicados por tais projetos,devido à desapropriação de suas propriedades, por seu reassentamentoforçado, por perda de empregos e de relações de vizinhança, entre outrosefeitos negativos, que tenham efetiva oportunidade de reconstituíremsuas condições de vida, em termos socioculturais e econômicos. Omesmo vale para as questões ambientais, que têm tido normalmenteum tratamento superficial e não plenamente satisfatório. Um bomexemplo é a falta de solução adequada, até o momento, para garantir acirculação das espécies de peixes que necessitam subir os rios pararealizar a desova, a conhecida piracema. É necessário, pois, ter claroque os projetos hidrelétricos que tanto têm permitido a expansãoeconômica da sociedade como um todo também têm faces sombrias

Montagem de linha de transmissãono Rio Grande do Sul.

Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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que necessitam permanente atenção e monitoramento.A Região Sul do Brasil, formada pelos Estados do Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul, tem uma área de 577.214 km², distribuídaem 1.159 municípios. Sua população, pelo censo de 2000, era de25.089.783 habitantes, dos quais 80,94% vivem em áreas urbanas. Ocrescimento populacional da região foi acentuado: em 1900 contavacom 1.796.495 habitantes, eqüivalendo a 10,30% da população do País.Em 1940 o número de habitantes havia saltado para 5.735.305; em1960 atingiu 11.892.107; em 1980 chegava aos 19.380.126 deresidentes. Em 2000 os sulistas representavam cerca de 14,79% dapopulação total do País. No cenário nacional a região é reconhecidapor suas potencialidades econômicas. Em 1998 o Produto Interno Bruto(PIB) atingiu 159,679 bilhões de reais, o segundo maior do País. Arenda per capita anual, no mesmo ano, foi de R$ 6.611,00.

No ano de 1999 havia na Região Sul cerca de 984.583 empresas,representando 23,5% do total existente no País. O número deestabelecimentos rurais, em 1995, era de 1.003.180. O Índice deDesenvolvimento Humano (IDH) mais elevado do País, em 1996, erao do Rio Grande do Sul, seguido de perto por Santa Catarina e peloParaná, revelando condições sanitárias e expectativas de vida bastanterazoáveis.

Contando com expressiva diversidade étnica, com diferentestradições culturais, a Região Sul possui recursos naturais de importância,ressaltando-se o carvão mineral, o potencial de suas bacias hidrográficas,os recursos marinhos e florestais. É grande produtora de soja, milho etrigo; de papel e celulose; de frutas de clima temperado; e de café.Ocupa, também, posição de destaque como produtora de laticínios, decarnes, de frangos e de suínos; na produção de veículos, de motoreselétricos, de máquinas agrícolas e industriais, de eletrodomésticos e detecidos além da prestação de serviços. No cenário das exportaçõesnacionais os Estados do Sul aparecem, em 1999, nas seguintes posições:Rio Grande do Sul, US$ 4,9 bilhões; Paraná, US$ 3,9 bilhões; SantaCatarina, US$ 2,5 bilhões, que representaram em conjunto 23,9% dasexportações do País.

É neste contexto que se devem entender as diferentes iniciativasgovernamentais e privadas para dotar a região com uma infra-estruturade serviços, envolvendo eletrificação, estradas, portos, aeroportos ecomunicações, bem como as crescentes pressões comunitárias para a

bem a questão. As legítimas reclamações dos atingidos pela formaçãodo lago dessa hidrelétrica foram consideradas equivocadas, pois setratava de um projeto de interesse do Estado. O mesmo aconteceucom os expropriados pela implantação da Itaipu Binacional. Os planosde reassentamento das populações atingidas e a legislação de proteçãoambiental surgiram bem mais recentemente, e ainda não estãototalmente assimilados pelas empresas estatais e privadas do setorelétrico. Nesse sentido, a formulação do Projeto Uruguai pela Eletrosul,nos finais dos anos setenta, teve um papel pedagógico. De um lado,pela primeira vez se desenhou o aproveitamento integral do potencialenergético de uma bacia hidrográfica. De outro, motivou o surgimentoda Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB), queestabeleceu novos parâmetros de organização da população afetada ede encaminhamento de suas reivindicações.

Deve-se considerar que a implantação de projetos hidrelétricosimplica a existência de múltiplos atores sociais e de diferentes interessespolíticos, econômicos e empresariais. Não se trata só de desafios deengenharia, nem tampouco do domínio de novas tecnologias. Cadaprojeto tem sempre sua especificidade. Mas, em comum, todosapresentam problemas de intervenção na natureza e na vida daspopulações locais ribeirinhas. Tais constatações são, hoje, reconhecidasinternacionalmente, e necessitam ser cada vez mais internalizadas portodos quantos têm participação nos processos de tomada de decisãoreferentes à implantação de novos empreendimentos. Não bastaconsiderar os projetos hidrelétricos como de interesse da melhoria daqualidade de vida da maioria da população de um Estado ou de umaregião. É preciso assegurar àqueles que são prejudicados por tais projetos,devido à desapropriação de suas propriedades, por seu reassentamentoforçado, por perda de empregos e de relações de vizinhança, entre outrosefeitos negativos, que tenham efetiva oportunidade de reconstituíremsuas condições de vida, em termos socioculturais e econômicos. Omesmo vale para as questões ambientais, que têm tido normalmenteum tratamento superficial e não plenamente satisfatório. Um bomexemplo é a falta de solução adequada, até o momento, para garantir acirculação das espécies de peixes que necessitam subir os rios pararealizar a desova, a conhecida piracema. É necessário, pois, ter claroque os projetos hidrelétricos que tanto têm permitido a expansãoeconômica da sociedade como um todo também têm faces sombrias

Montagem de linha de transmissãono Rio Grande do Sul.

Foto: Beto Negrão. Acervo: CEEE.

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sua permanente ampliação. É impossível, pois, imaginar a Região Sulsem a existência dessa base material que é a energia elétrica,indispensável para a concretização dos mais diferentes projetoseconômicos, sociais ou culturais, além de garantia de conforto e debem-estar às populações dos conglomerados urbanos e rurais.

No novo cenário das privatizações que estão em andamento nosetor elétrico cabe ressaltar que o potencial hidrelétrico da Região Sulestá em fase final de aproveitamento. Os últimos projetos de importânciaestão sendo implantados nas bacias do Uruguai (RS/SC) e do Tibagi(PR). Há disponível o potencial representado pelo carvão mineral, cujasjazidas são significativas para a geração térmica, desde que superado oproblema ambiental. No contexto do aproveitamento do gás bolivianohá esforços governamentais para a implantação privada de termelétricasque consumiriam este combustível. Já está instalada a UTE Uruguaiana,de capital privado, aproveitando o gás originário da Argentina. Há,também, programas de repotenciação e modernização visando aoaumento da capacidade instalada de algumas usinas, bem como novasexperiências de geração térmica por célula a combustível e pelautilização da biomassa, além do aproveitamento das fontes de energiasolar e eólica. A diversificação da matriz energética, pois, implicatambém o crescente investimento em pesquisas de fontes alternativas,além da conscientização da sociedade sobre questões como eficiênciaenergética e proteção ambiental.

Vale enfatizar, ainda, o papel dos setores públicos envolvidos naquestão energética, seja definindo políticas, seja decidindo sobre novosempreendimentos. A energia elétrica cada vez mais deve sercompreendida como um bem público, em cujo setor as intervençõesdos governos federal e estaduais, com ou sem a participação desegmentos privados, devem sempre visar ao interesse da sociedade. Esteparece ser o maior desafio neste momento de mudança do modelo dosetor elétrico.

Imagem de satélite do rio Iguaçu (PR),destacando os lagos das hidrelétricas

Foz da Areia e Segredo.Acervo: Copel.

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sua permanente ampliação. É impossível, pois, imaginar a Região Sulsem a existência dessa base material que é a energia elétrica,indispensável para a concretização dos mais diferentes projetoseconômicos, sociais ou culturais, além de garantia de conforto e debem-estar às populações dos conglomerados urbanos e rurais.

No novo cenário das privatizações que estão em andamento nosetor elétrico cabe ressaltar que o potencial hidrelétrico da Região Sulestá em fase final de aproveitamento. Os últimos projetos de importânciaestão sendo implantados nas bacias do Uruguai (RS/SC) e do Tibagi(PR). Há disponível o potencial representado pelo carvão mineral, cujasjazidas são significativas para a geração térmica, desde que superado oproblema ambiental. No contexto do aproveitamento do gás bolivianohá esforços governamentais para a implantação privada de termelétricasque consumiriam este combustível. Já está instalada a UTE Uruguaiana,de capital privado, aproveitando o gás originário da Argentina. Há,também, programas de repotenciação e modernização visando aoaumento da capacidade instalada de algumas usinas, bem como novasexperiências de geração térmica por célula a combustível e pelautilização da biomassa, além do aproveitamento das fontes de energiasolar e eólica. A diversificação da matriz energética, pois, implicatambém o crescente investimento em pesquisas de fontes alternativas,além da conscientização da sociedade sobre questões como eficiênciaenergética e proteção ambiental.

Vale enfatizar, ainda, o papel dos setores públicos envolvidos naquestão energética, seja definindo políticas, seja decidindo sobre novosempreendimentos. A energia elétrica cada vez mais deve sercompreendida como um bem público, em cujo setor as intervençõesdos governos federal e estaduais, com ou sem a participação desegmentos privados, devem sempre visar ao interesse da sociedade. Esteparece ser o maior desafio neste momento de mudança do modelo dosetor elétrico.

Imagem de satélite do rio Iguaçu (PR),destacando os lagos das hidrelétricas

Foz da Areia e Segredo.Acervo: Copel.

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Entrevista com Cláudio Ávilada Silva, à época Presidente daEletrobrás

• Quais as novas orientações nosetor energético?

Nesse momento nós vivemostambém uma fase de transição domodelo. Em 1995 previa-se aprivatização da geração e datransmissão de todo o sistemafederal. Este processo foi retardado,entre outros motivos, em função doracionamento de energia, que dirigiutodo o foco do governo na busca doaumento da oferta e da diminuiçãodo consumo.

O que o governo procurou fazerfoi incrementar a parceria com osetor privado, para aumentar osinvestimentos em geração,transmissão e distribuição. Dequalquer forma, foi umaoportunidade para reavaliar oprograma de privatização – verificaro que estava caminhando bem e oque precisava ser modificado. Sabe-se, também, que muitos pontos naregulamentação do setor precisamser concluídos, coisa que faremosem 2002, e a privatização será umadecisão do próximo governo. Dequalquer forma, uma coisa ficoumuito clara: a necessidade de uniresforços para dar conta dos altosinvestimentos que o setor requer.E está claro que o governo sozinhonão dispõe destes recursos.

• Nesse momento de crise crescea importância dessa parceria como setor privado?

Sem dúvida, acentuaram-se emmuito a importância e anecessidade de incrementar essaparceria. A Eletrobrás, porexemplo, está participando deinvestimentos em geração etransmissão em parceria com osetor privado. Participamos def o r m a m i n o r i t á r i a , m a sviabilizando os investimentoscomplementares aos projetos e ocumprimento de seus prazos.Como todo momento de crise, essetambém permitiu a reflexão eapontou o caminho do incrementodas parcerias como o maisadequado.

O papel a ser cumprido pelaEletrobrás é apoiar os projetos,viabilizá-los e, depois de suamaturação, retirar-se para apoiaroutras iniciativas, isto é, assumindoo papel de fomentador.

• E nesse papel a Eletrobráscontinua estatal?

No programa inicial estavaprevista a venda de toda a partede geração. Na distribuição, aEletrobrás ainda mantém algumasempresas que foram federalizadas,no Norte e no Nordeste, mas quetambém estão incluídas no planode privatização futuro. As partesde geração e transmissão aindasão majoritariamente estatais.Resta à Eletrobrás o papel decomercializadora de energianuclear, que constitucionalmenteé energia do Governo, mais aenergia de Itaipu – somos donosde 50%, do sistema de transmissãobrasileiro – e, como disse

anteriormente, o apoio a projetoscom participação minoritária. Avenda dos ativos de geração deFurnas, Eletronorte e Chesf estásob análise nesse momento, e avenda efetiva deve ficar para opróximo governo. Portanto, umagrande parte da Eletrobrás temque continuar estatal e aprofundaras parcerias com o setor privado.

• Qual é a situação atual da criseenergética no Brasil?

A situação do Nordeste era amais preocupante mas, assimcomo no Sudeste, a primeiragrande reação foi a participaçãoda sociedade. Isto permitiu quetivéssemos uma manutenção nosníveis dos reservatórios. Aliado aisso, o programa emergencialestabelecido pelo governo prevêa entrada de quase 20 mil MW atéo fim de 2003, com usinastérmicas, hidrelétricas e linhas detransmissão novas no sistema. Asavaliações recentes apontam parauma situação mais confortável, ejá podemos falar no fim doracionamento a partir de 1º demarço, pela elevação dos níveisdos reservatórios acima doprevisto.

• O clima tem ajudado?

Não podemos reclamar. Mastambém não podemos dependerdele. O sistema brasileiro, combase na hidreletricidade, tem noregime de chuvas um fator muitoimportante, mas é precisoinvestimentos e diversificação da

matriz energética para termosgarantias. Ganham importância aía geração térmica e as fontes deenergia alternativas.

• E quais são as perspectivas demudança na matriz energética?

A crise mostrou que precisamosdiversificar e também fazer novosinvestimentos. É inegável que aenergia mais barata é ahidrelétrica. É inegável tambémque essa é nossa vocação natural.Temos ainda um potencial de maisde 200 mil megawatts a seremexplorados – nenhum outro paístem essa potencialidade. Noentanto, temos que entender queprecisamos de alternativas dereserva que atendam à sociedadeem um momento de diminuição deoferta hidráulica. Para isto temosa oferta do carvão catarinense edo Rio Grande do Sul, que somammais de 32 bilhões de toneladas.É um produto nosso, negociadoem real, que gera empregos eprecisa de investimentos no setortermelétrico. As fontes com gásnatural, biomassa, além da energiaeólica e a solar, entre outrasrenováveis, também devem teruma participação importantenesse processo.

• A crise teve impacto no setorprodutivo brasileiro?

As projeções davam conta de umgrande impacto, como adesaceleração da economia,reflexos no PIB, mas, felizmente,isso não ocorreu da forma prevista.

No entanto, a crise trouxe liçõesvaliosas, e uma delas é a daimportância da infra-estrutura daenergia elétrica para o crescimentodo País. A crise não estátotalmente superada, mas ocaminho para superação estácorreto, e todos os esforços devemser feitos nesse sentido.

• No novo quadro, qual é opapel da ANEEL?

É um papel fundamental. O maisurgente é concluir, com aparticipação de todos, a regula-mentação que ainda falta ao setorelétrico. Isto representa asegurança para novos investi-mentos. Esta regulamentaçãorepresenta também a proteção aoconsumidor final – que não deveter seus gastos com energiaaumentados de forma exorbitante.

Tem ainda o importante papel defiscalização. Isto para ocumprimento de prazos das obrase serviços prestados, agilidade nolançamento de novos projetos degeração e transmissão de energiacapazes de sustentar nossodesenvolvimento. Portanto, éessencial que a ANEEL tenhacondições de executar seutrabalho, que o tempo e aexperiência se encarregarão defortalecer.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 22de outubro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fabio MafraFigueiredo)

Page 215: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Entrevista com Cláudio Ávilada Silva, à época Presidente daEletrobrás

• Quais as novas orientações nosetor energético?

Nesse momento nós vivemostambém uma fase de transição domodelo. Em 1995 previa-se aprivatização da geração e datransmissão de todo o sistemafederal. Este processo foi retardado,entre outros motivos, em função doracionamento de energia, que dirigiutodo o foco do governo na busca doaumento da oferta e da diminuiçãodo consumo.

O que o governo procurou fazerfoi incrementar a parceria com osetor privado, para aumentar osinvestimentos em geração,transmissão e distribuição. Dequalquer forma, foi umaoportunidade para reavaliar oprograma de privatização – verificaro que estava caminhando bem e oque precisava ser modificado. Sabe-se, também, que muitos pontos naregulamentação do setor precisamser concluídos, coisa que faremosem 2002, e a privatização será umadecisão do próximo governo. Dequalquer forma, uma coisa ficoumuito clara: a necessidade de uniresforços para dar conta dos altosinvestimentos que o setor requer.E está claro que o governo sozinhonão dispõe destes recursos.

• Nesse momento de crise crescea importância dessa parceria como setor privado?

Sem dúvida, acentuaram-se emmuito a importância e anecessidade de incrementar essaparceria. A Eletrobrás, porexemplo, está participando deinvestimentos em geração etransmissão em parceria com osetor privado. Participamos def o r m a m i n o r i t á r i a , m a sviabilizando os investimentoscomplementares aos projetos e ocumprimento de seus prazos.Como todo momento de crise, essetambém permitiu a reflexão eapontou o caminho do incrementodas parcerias como o maisadequado.

O papel a ser cumprido pelaEletrobrás é apoiar os projetos,viabilizá-los e, depois de suamaturação, retirar-se para apoiaroutras iniciativas, isto é, assumindoo papel de fomentador.

• E nesse papel a Eletrobráscontinua estatal?

No programa inicial estavaprevista a venda de toda a partede geração. Na distribuição, aEletrobrás ainda mantém algumasempresas que foram federalizadas,no Norte e no Nordeste, mas quetambém estão incluídas no planode privatização futuro. As partesde geração e transmissão aindasão majoritariamente estatais.Resta à Eletrobrás o papel decomercializadora de energianuclear, que constitucionalmenteé energia do Governo, mais aenergia de Itaipu – somos donosde 50%, do sistema de transmissãobrasileiro – e, como disse

anteriormente, o apoio a projetoscom participação minoritária. Avenda dos ativos de geração deFurnas, Eletronorte e Chesf estásob análise nesse momento, e avenda efetiva deve ficar para opróximo governo. Portanto, umagrande parte da Eletrobrás temque continuar estatal e aprofundaras parcerias com o setor privado.

• Qual é a situação atual da criseenergética no Brasil?

A situação do Nordeste era amais preocupante mas, assimcomo no Sudeste, a primeiragrande reação foi a participaçãoda sociedade. Isto permitiu quetivéssemos uma manutenção nosníveis dos reservatórios. Aliado aisso, o programa emergencialestabelecido pelo governo prevêa entrada de quase 20 mil MW atéo fim de 2003, com usinastérmicas, hidrelétricas e linhas detransmissão novas no sistema. Asavaliações recentes apontam parauma situação mais confortável, ejá podemos falar no fim doracionamento a partir de 1º demarço, pela elevação dos níveisdos reservatórios acima doprevisto.

• O clima tem ajudado?

Não podemos reclamar. Mastambém não podemos dependerdele. O sistema brasileiro, combase na hidreletricidade, tem noregime de chuvas um fator muitoimportante, mas é precisoinvestimentos e diversificação da

matriz energética para termosgarantias. Ganham importância aía geração térmica e as fontes deenergia alternativas.

• E quais são as perspectivas demudança na matriz energética?

A crise mostrou que precisamosdiversificar e também fazer novosinvestimentos. É inegável que aenergia mais barata é ahidrelétrica. É inegável tambémque essa é nossa vocação natural.Temos ainda um potencial de maisde 200 mil megawatts a seremexplorados – nenhum outro paístem essa potencialidade. Noentanto, temos que entender queprecisamos de alternativas dereserva que atendam à sociedadeem um momento de diminuição deoferta hidráulica. Para isto temosa oferta do carvão catarinense edo Rio Grande do Sul, que somammais de 32 bilhões de toneladas.É um produto nosso, negociadoem real, que gera empregos eprecisa de investimentos no setortermelétrico. As fontes com gásnatural, biomassa, além da energiaeólica e a solar, entre outrasrenováveis, também devem teruma participação importantenesse processo.

• A crise teve impacto no setorprodutivo brasileiro?

As projeções davam conta de umgrande impacto, como adesaceleração da economia,reflexos no PIB, mas, felizmente,isso não ocorreu da forma prevista.

No entanto, a crise trouxe liçõesvaliosas, e uma delas é a daimportância da infra-estrutura daenergia elétrica para o crescimentodo País. A crise não estátotalmente superada, mas ocaminho para superação estácorreto, e todos os esforços devemser feitos nesse sentido.

• No novo quadro, qual é opapel da ANEEL?

É um papel fundamental. O maisurgente é concluir, com aparticipação de todos, a regula-mentação que ainda falta ao setorelétrico. Isto representa asegurança para novos investi-mentos. Esta regulamentaçãorepresenta também a proteção aoconsumidor final – que não deveter seus gastos com energiaaumentados de forma exorbitante.

Tem ainda o importante papel defiscalização. Isto para ocumprimento de prazos das obrase serviços prestados, agilidade nolançamento de novos projetos degeração e transmissão de energiacapazes de sustentar nossodesenvolvimento. Portanto, éessencial que a ANEEL tenhacondições de executar seutrabalho, que o tempo e aexperiência se encarregarão defortalecer.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 22de outubro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fabio MafraFigueiredo)

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NC A P Í T U L O 11

A energia elétrica na Região Sul nocontexto da privatização

MA R I A JO S É RE I S

NE U S A MA R I A SE N S BL O E M E R

Nos anos 1990, com a aceleração do processo de privatização, novosagentes passaram a atuar no sistema de energia elétrica na Região Sul.O processo de reorganização da Eletrosul em 1997, já referido, deuorigem às Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A. (Gerasul) e àEmpresa Transmissora de Energia Elétrica do Sul do Brasil S.A.(Eletrosul).

Logo em seguida, a Gerasul foi levada a leilão, sendo adquiridapela Tractebel, Electricity & Gas Internacional (Tractebel), que temsua sede na Bélgica. A Gerasul, com o patrimônio adquirido, tornou-se a maior empresa privada de energia elétrica do País, cuja capacidadede produção representa 7% da eletricidade gerada no Brasil e 50% deenergia da Região Sul1.

Deste modo, a Gerasul passou a ser responsável pelos seteempreendimentos de produção de energia elétrica que faziam parte dopatrimônio da Eletrosul.

A Gerasul: perfil atual

Em 2002 a Gerasul alterou seu nome para Tractebel Energia S.A.,mantendo o controle sobre sete empreendimentos de porte na produçãode energia elétrica. Quatro desses empreendimentos são usinashidrelétricas: a de Salto Osório e a de Salto Santiago, no Paraná; a dePasso Fundo, no Rio Grande do Sul, e a de Itá, entre o Rio Grande doSul e Santa Catarina, totalizando 4.276 MW de potencial instalado.Três são termelétricas: as usinas de Alegrete e Charqueadas, no RioUsina Termelétrica Charqueadas (RS).

Acervo: Tractebel.

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NC A P Í T U L O 11

A energia elétrica na Região Sul nocontexto da privatização

MA R I A JO S É RE I S

NE U S A MA R I A SE N S BL O E M E R

Nos anos 1990, com a aceleração do processo de privatização, novosagentes passaram a atuar no sistema de energia elétrica na Região Sul.O processo de reorganização da Eletrosul em 1997, já referido, deuorigem às Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A. (Gerasul) e àEmpresa Transmissora de Energia Elétrica do Sul do Brasil S.A.(Eletrosul).

Logo em seguida, a Gerasul foi levada a leilão, sendo adquiridapela Tractebel, Electricity & Gas Internacional (Tractebel), que temsua sede na Bélgica. A Gerasul, com o patrimônio adquirido, tornou-se a maior empresa privada de energia elétrica do País, cuja capacidadede produção representa 7% da eletricidade gerada no Brasil e 50% deenergia da Região Sul1.

Deste modo, a Gerasul passou a ser responsável pelos seteempreendimentos de produção de energia elétrica que faziam parte dopatrimônio da Eletrosul.

A Gerasul: perfil atual

Em 2002 a Gerasul alterou seu nome para Tractebel Energia S.A.,mantendo o controle sobre sete empreendimentos de porte na produçãode energia elétrica. Quatro desses empreendimentos são usinashidrelétricas: a de Salto Osório e a de Salto Santiago, no Paraná; a dePasso Fundo, no Rio Grande do Sul, e a de Itá, entre o Rio Grande doSul e Santa Catarina, totalizando 4.276 MW de potencial instalado.Três são termelétricas: as usinas de Alegrete e Charqueadas, no RioUsina Termelétrica Charqueadas (RS).

Acervo: Tractebel.

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Grande do Sul, além do Complexo Jorge Lacerda, em Santa Catarina,que possuem 995 MW instalados.

A partir de 1998 a capacidade de geração própria da Gerasul foiampliada em 40%, passando de 3.719 MW para 5.271 MW. A empresaexpandiu sua atuação centradamente no Sul do País. Atualmente,porém, além das usinas nessa região, possui empreendimentos nosEstados de Goiás e do Mato Grosso do Sul, participando, inclusive, nodesenvolvimento de projetos de co-geração de energia na regiãoSudeste.

Na Região Sul a Gerasul participa em diferentes consórciosdestinados à instalação de novos empreendimentos. São eles a UsinaHidrelétrica Machadinho, localizada entre os municípios de Piratuba(SC) e Maximiliano de Almeida (RS), com a capacidade de geraçãode 1.140 MW, e a Usina Termelétrica Jacuí, localizada no município deCharqueadas (RS), que terá capacidade de geração de 350 MW2.

No que diz respeito aos aspectos ambientais, a Gerasul desenvolve,em relação às termelétricas, convênios com a Universidade do Sul deSanta Catarina (Unisul), com a Fundação de Ciência e Tecnologia daSecretaria de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e com aUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)3. Esses convênios têmcomo meta o desenvolvimento de programas de monitoramentosistemático das emissões atmosféricas e líquidas assim como o impactodessas emissões na qualidade do ar e dos cursos d’água na área deinfluência de suas usinas.

Para a gestão ambiental nas hidrelétricas, a Gerasul mantémconvênios com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ecom o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com a Empresa deAssistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) e com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para a execução domonitoramento ambiental dos lagos das usinas e suas adjacências.

Ao mesmo tempo, a companhia, dando continuidade aos projetosdesenvolvidos pela Eletrosul, foi responsável pela instalação de parteda população rural atingida pela UHE Itá, atendendo a todos os projetosprevistos e responsabilizando-se, também, pela assistência técnica aosassentados.

Além do reassentamento integral da sede do município de Itá, nototal foram removidas das áreas atingidas pela implantação da UHE

Itá 4.139 famílias rurais, das quais 3.260 receberam indenizaçãofinanceira; 458 tiveram acesso a cartas de crédito, modalidade quepermitiria viabilizar o reassentamento individual das famíliasbeneficiadas; 370 foram reassentadas coletivamente em setereassentamentos instalados pelos empreendedores em áreas distribuídasnos três Estados sulinos; 72 foram assentadas individualmente, em áreasremanescentes, nos próprios municípios parcialmente alagados4. Foram,igualmente, relocados 35 núcleos rurais, que sediavam igrejas, escolas,cemitérios, salões de festas e instalações esportivas.

Acima, vista parcial do complexotermelétrico Jorge Lacerda.

Acervo: Tractebel.

Ao lado, Usina Hidrelétrica Salto Osório (RS).Acervo: Tractebel.

Page 219: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

214

Grande do Sul, além do Complexo Jorge Lacerda, em Santa Catarina,que possuem 995 MW instalados.

A partir de 1998 a capacidade de geração própria da Gerasul foiampliada em 40%, passando de 3.719 MW para 5.271 MW. A empresaexpandiu sua atuação centradamente no Sul do País. Atualmente,porém, além das usinas nessa região, possui empreendimentos nosEstados de Goiás e do Mato Grosso do Sul, participando, inclusive, nodesenvolvimento de projetos de co-geração de energia na regiãoSudeste.

Na Região Sul a Gerasul participa em diferentes consórciosdestinados à instalação de novos empreendimentos. São eles a UsinaHidrelétrica Machadinho, localizada entre os municípios de Piratuba(SC) e Maximiliano de Almeida (RS), com a capacidade de geraçãode 1.140 MW, e a Usina Termelétrica Jacuí, localizada no município deCharqueadas (RS), que terá capacidade de geração de 350 MW2.

No que diz respeito aos aspectos ambientais, a Gerasul desenvolve,em relação às termelétricas, convênios com a Universidade do Sul deSanta Catarina (Unisul), com a Fundação de Ciência e Tecnologia daSecretaria de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e com aUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)3. Esses convênios têmcomo meta o desenvolvimento de programas de monitoramentosistemático das emissões atmosféricas e líquidas assim como o impactodessas emissões na qualidade do ar e dos cursos d’água na área deinfluência de suas usinas.

Para a gestão ambiental nas hidrelétricas, a Gerasul mantémconvênios com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ecom o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com a Empresa deAssistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) e com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para a execução domonitoramento ambiental dos lagos das usinas e suas adjacências.

Ao mesmo tempo, a companhia, dando continuidade aos projetosdesenvolvidos pela Eletrosul, foi responsável pela instalação de parteda população rural atingida pela UHE Itá, atendendo a todos os projetosprevistos e responsabilizando-se, também, pela assistência técnica aosassentados.

Além do reassentamento integral da sede do município de Itá, nototal foram removidas das áreas atingidas pela implantação da UHE

Itá 4.139 famílias rurais, das quais 3.260 receberam indenizaçãofinanceira; 458 tiveram acesso a cartas de crédito, modalidade quepermitiria viabilizar o reassentamento individual das famíliasbeneficiadas; 370 foram reassentadas coletivamente em setereassentamentos instalados pelos empreendedores em áreas distribuídasnos três Estados sulinos; 72 foram assentadas individualmente, em áreasremanescentes, nos próprios municípios parcialmente alagados4. Foram,igualmente, relocados 35 núcleos rurais, que sediavam igrejas, escolas,cemitérios, salões de festas e instalações esportivas.

Acima, vista parcial do complexotermelétrico Jorge Lacerda.

Acervo: Tractebel.

Ao lado, Usina Hidrelétrica Salto Osório (RS).Acervo: Tractebel.

Page 220: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Entrevista com Manoel ArlindoZaroni Torres, Presidente daGerasul.

• No novo modelo no setorelétrico qual é a participação daGerasul?

A Gerasul nasceu em 1998, coma cisão da parte de geração daEletrosul. A Gerasul foi compradaem 15 de setembro, num leilão dabolsa de valores do Rio de Janeiro,pela Tractebel.

Nós somos a maior empresageradora privada do País. Estamosinves t i ndo e c r e s cendo , erespondemos por 7% de toda aenergia gerada no Brasil e por 50%do mercado da Região Sul.

• Como está o quadro da criseenergética no País?

O Sul está fora do racionamento,graças a investimentos como orealizado na Usina Hidrelétrica Itá,com 1.450 MW, com custo daordem de U$ 1 bilhão. A Gerasulpossui um parque produtivodiversificado que conta com usinastermelétricas no Sul e no Sudeste,e hidrelétricas no Sul e, num futurobem próximo, também noSudeste, com a entrada emoperação da hidrelétrica de CanaBrava. Em junho deste ano aGerasul inaugurou a primeiratermelétrica que utiliza o gás dogasoduto Bolívia-Brasil, a UsinaWilliam Arjona, em CampoGrande. O desempenho dessasusinas garantiu ao Sul manter o

seu suprimento de energia eminorar a situação do Sudeste.Vale lembrar que o Sul poderiaminorar ainda mais a situação doSudeste, caso as restrições detransmissão entre as duas regiõesnão fossem tão severas. Para queno futuro o setor não dependaexclusivamente da quantidade dechuvas, é essencial uma maiorintensidade em novosinvestimentos.

• A crise acabou forçando aentrada de novos projetos. Elesestão vindo?

Estão acontecendo muitosleilões, mas os investimentos aindanão estão ocorrendo no nívelconsiderado ideal para fazer frenteao crescimento da demanda. Istoporque usinas são investimentosde longa maturação e sãointensivas em capital. Outroproblema é que o mercadoatacadista não está funcionando.Até o momento as compras deenergia realizadas sem contratosnão foram liqüidadas, o que inibeo investidor a tomar suas decisões.

• O fato de a matriz energéticaestar quase exclusivamentebaseada na hidreletricidade é umfator agravador da crise?

Não. Se nós tivéssemos feito osinves t imentos necessár ios ,construído mais hidrelétricas emais linhas de transmissão, nãoteríamos a crise. É evidente que oaumento da capacidade térmica

tem o seu lado positivo, permiteque se diversifique a matriz,busque outros combustíveis deboa qualidade, como o gásnatural, mas isso tem um preço.Na minha opinião, o setor elétricobrasileiro, por ser predominan-temente hidrelétrico, é privile-giado, pois não dependemospraticamente de divisas. Nóstemos estrutura, temos engenha-ria civil de qualidade e temos rios.Nossa diversidade hidrológica éúnica no mundo.

• E o setor de transmissão, queestá nas mãos do governo, estáfuncionando bem?

O s i n v e s t i m e n t o s e s t ã oatrasados. Hoje, nós temos váriasusinas térmicas paradas no Sul,que poderiam mandar energiapara o Sudeste. Mas no momentoestá inviável o transporte dessaenergia de forma segura por faltade linhas, e acabamos pagandomais caro por isso. No novoambiente, a transmissão é oelemento viabilizador da compe-tição no mercado e deveria andarna frente para puxar a geração, enão correr atrás, como estáacontecendo.

• Mas a transição do públicopara o privado está sendo benéficapara o País?

Sem dúvida. Veja que essa é umadecisão política do governo, queorientou a aplicação de seusrecursos para outros setores. O

setor privado está investindo alto,concluindo obras em temporecorde. Infelizmente o processode desregulamentação do setorparou em função da crise, tendosido retomado pela Câmara deGestão da Crise de Energia Elétrica.

• Quais as perpectivas deexpansão da Gerasul?

Nós crescemos muito. Vamoscrescer em 2002 aproximada-mente 5%. Se comparar aocrescimento do Produto InternoBruto (PIB), esse número éfantástico. Estamos concluindo ahidrelétrica de Cana Brava, emGoiás, com investimento de U$300 milhões. A Gerasul temparticipação de 17% na UsinaHidrelétrica Machadinho. Alémdisso, concluímos em 2001 aWilliam Arjona e estamosampliando-a. Estamos fazendo umestudo com resíduos urbanos, umprojeto de utilização de biomassapara geração de energia em Lages(SC), além de uma série de outrosprojetos.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 2 denovembro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fábio MafraFigueiredo)

Edifício sede da Tractebelem Florianópolis.

Page 221: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

Entrevista com Manoel ArlindoZaroni Torres, Presidente daGerasul.

• No novo modelo no setorelétrico qual é a participação daGerasul?

A Gerasul nasceu em 1998, coma cisão da parte de geração daEletrosul. A Gerasul foi compradaem 15 de setembro, num leilão dabolsa de valores do Rio de Janeiro,pela Tractebel.

Nós somos a maior empresageradora privada do País. Estamosinves t i ndo e c r e s cendo , erespondemos por 7% de toda aenergia gerada no Brasil e por 50%do mercado da Região Sul.

• Como está o quadro da criseenergética no País?

O Sul está fora do racionamento,graças a investimentos como orealizado na Usina Hidrelétrica Itá,com 1.450 MW, com custo daordem de U$ 1 bilhão. A Gerasulpossui um parque produtivodiversificado que conta com usinastermelétricas no Sul e no Sudeste,e hidrelétricas no Sul e, num futurobem próximo, também noSudeste, com a entrada emoperação da hidrelétrica de CanaBrava. Em junho deste ano aGerasul inaugurou a primeiratermelétrica que utiliza o gás dogasoduto Bolívia-Brasil, a UsinaWilliam Arjona, em CampoGrande. O desempenho dessasusinas garantiu ao Sul manter o

seu suprimento de energia eminorar a situação do Sudeste.Vale lembrar que o Sul poderiaminorar ainda mais a situação doSudeste, caso as restrições detransmissão entre as duas regiõesnão fossem tão severas. Para queno futuro o setor não dependaexclusivamente da quantidade dechuvas, é essencial uma maiorintensidade em novosinvestimentos.

• A crise acabou forçando aentrada de novos projetos. Elesestão vindo?

Estão acontecendo muitosleilões, mas os investimentos aindanão estão ocorrendo no nívelconsiderado ideal para fazer frenteao crescimento da demanda. Istoporque usinas são investimentosde longa maturação e sãointensivas em capital. Outroproblema é que o mercadoatacadista não está funcionando.Até o momento as compras deenergia realizadas sem contratosnão foram liqüidadas, o que inibeo investidor a tomar suas decisões.

• O fato de a matriz energéticaestar quase exclusivamentebaseada na hidreletricidade é umfator agravador da crise?

Não. Se nós tivéssemos feito osinves t imentos necessár ios ,construído mais hidrelétricas emais linhas de transmissão, nãoteríamos a crise. É evidente que oaumento da capacidade térmica

tem o seu lado positivo, permiteque se diversifique a matriz,busque outros combustíveis deboa qualidade, como o gásnatural, mas isso tem um preço.Na minha opinião, o setor elétricobrasileiro, por ser predominan-temente hidrelétrico, é privile-giado, pois não dependemospraticamente de divisas. Nóstemos estrutura, temos engenha-ria civil de qualidade e temos rios.Nossa diversidade hidrológica éúnica no mundo.

• E o setor de transmissão, queestá nas mãos do governo, estáfuncionando bem?

O s i n v e s t i m e n t o s e s t ã oatrasados. Hoje, nós temos váriasusinas térmicas paradas no Sul,que poderiam mandar energiapara o Sudeste. Mas no momentoestá inviável o transporte dessaenergia de forma segura por faltade linhas, e acabamos pagandomais caro por isso. No novoambiente, a transmissão é oelemento viabilizador da compe-tição no mercado e deveria andarna frente para puxar a geração, enão correr atrás, como estáacontecendo.

• Mas a transição do públicopara o privado está sendo benéficapara o País?

Sem dúvida. Veja que essa é umadecisão política do governo, queorientou a aplicação de seusrecursos para outros setores. O

setor privado está investindo alto,concluindo obras em temporecorde. Infelizmente o processode desregulamentação do setorparou em função da crise, tendosido retomado pela Câmara deGestão da Crise de Energia Elétrica.

• Quais as perpectivas deexpansão da Gerasul?

Nós crescemos muito. Vamoscrescer em 2002 aproximada-mente 5%. Se comparar aocrescimento do Produto InternoBruto (PIB), esse número éfantástico. Estamos concluindo ahidrelétrica de Cana Brava, emGoiás, com investimento de U$300 milhões. A Gerasul temparticipação de 17% na UsinaHidrelétrica Machadinho. Alémdisso, concluímos em 2001 aWilliam Arjona e estamosampliando-a. Estamos fazendo umestudo com resíduos urbanos, umprojeto de utilização de biomassapara geração de energia em Lages(SC), além de uma série de outrosprojetos.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 2 denovembro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fábio MafraFigueiredo)

Edifício sede da Tractebelem Florianópolis.

Page 222: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Reorientações nas empresasestaduais de energia: CEEE,Celesc e Copel 5

Depois da sua reestruturação, a CEEE remanescente permaneceucom as atividades dos segmentos de geração hidrelétrica, transmissão(rede básica) e distribuição na regiões sul-sudeste do Estado do RioGrande do Sul.

A empresa tem, no momento, um parque gerador constituído por15 usinas, que totalizam uma potência efetiva de 910,6 MW, 50% dosquais direcionados ao atendimento do mercado de sua própria área deconcessão e os restantes destinados ao suprimento das demaisconcessionárias do Rio Grande do Sul.

Quanto à transmissão, a CEEE opera a rede básica, que compreende41 subestações com potência instalada de 5.518,9 MVA e 4.393,22km de redes. As instalações de conexão são constituídas de dezsubestações, com potência instalada de 584 MW e 985,03 km de linhas.

Além de conservação, melhorias e modernização de unidadesexistentes, a CEEE tem investido em parcerias para novosempreendimentos de geração, implantação e ampliação de subestações,de linhas de transmissão e distribuição. Atualmente, a Companhia estáparticipando em consórcios para explorar os potenciais hidrelétricosdas bacias dos rios Uruguai, Taquari-Antas e Jacuí, bem como da UsinaTermelétrica Gaúcha, a gás natural, e pequenas centrais termelétricasa biomassa.

Na bacia do rio Uruguai a empresa participa do consórcioresponsável pela instalação das usinas hidrelétricas Machadinho (1.140MW) e Foz do Chapecó (855 MW), localizadas no rio Uruguai, e na deCampos Novos, localizada no rio Canoas (SC), com potência de 880MW.

Na bacia do rio Jacuí a CEEE participa do consórcio responsávelpela instalação da usina hidrelétrica Dona Francisca. Esta usina estásituada no médio curso do rio Jacuí, tendo a potência de 125 MW.

Em consórcio com a companhia paulista de Força e Luz e com aempresa Desenvix S.A., a CEEE será responsável também pelaconstrução do Complexo Energético do Rio das Antas (CERAN),

constituído pelas usinas Castro Alves (130 MW), Monte Claro (130MW) e 14 de Julho (100 MW), localizadas no rio das Antas entre osmunicípios de Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Pádua, Nova Romado Sul e Cotiporã.

Paralelamente, foram desenvolvidos pela empresa estudos para aretomada da pequena usina hidrelétrica Furnas do Segredo, obrainiciada pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento(DNOS) e interrompida em 1967. Esta usina está localizada no rioJaguari na divisa dos municípios de Jaguari e Jari.

Com a implementação do projeto da Usina Termelétrica deUruguaiana, foram iniciados pela Sul Gás os estudos para a construçãodo gasoduto Uruguaiana/Porto Alegre visando ao atendimento de umausina de grande porte a gás natural. Localizada no Pólo Petroquímicode Triunfo, a 60 km de Porto Alegre, essa usina terá um potencial de480 MW.

Em parceria com a Companhia Geral de Distribuição Elétrica(CGDE), empresa portuguesa e com interveniência da Secretaria deEnergia, Minas e Comunicações (SEMC), a CEEE realiza estudosrelativos à viabilidade técnico-econômica e ambiental da utilização dabiomassa (resíduos de madeira e casca de arroz), com vistas àimplantação de novas usinas, que poderão produzir cerca de 100 MW.

A CEEE e a SEMC apóiam, também, estudos para a instalação deestações de medição de ventos, visando a colocar em operação 12estações fornecedoras de energia eólica, através da formação deconsórcio com diversas empresas privadas.

Em relação à energia e ao meio ambiente, vários são os programasdesenvolvidos pela CEEE. Entre esses programas destacam-se os deEducação Ambiental; Gestão de Resíduos; Reciclagem e Recuperaçãode Óleo Isolante utilizado pela própria empresa; Viveiros e Hortos deProteção; Recuperação de Áreas Mineradas; criação de um ParqueEstadual e de uma Estação de Piscicultura. Nos projetos hidrelétricos aempresa tem contemplado os aspectos ambientais em todas as fases deinstalação e operação das usinas. Através do uso múltiplo de seusreservatórios, a CEEE busca conciliar a utilização para fins energéticoscom os demais interesses das populações locais.

Preocupada, também, com a memória da produção de energiaelétrica, a CEEE mantém o Museu da Eletricidade do Rio Grande doSul (MERGS), órgão vinculado à sua Assessoria de ComunicaçãoAcervo: Celesc.

Acervo: CEEE.

Page 223: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Reorientações nas empresasestaduais de energia: CEEE,Celesc e Copel 5

Depois da sua reestruturação, a CEEE remanescente permaneceucom as atividades dos segmentos de geração hidrelétrica, transmissão(rede básica) e distribuição na regiões sul-sudeste do Estado do RioGrande do Sul.

A empresa tem, no momento, um parque gerador constituído por15 usinas, que totalizam uma potência efetiva de 910,6 MW, 50% dosquais direcionados ao atendimento do mercado de sua própria área deconcessão e os restantes destinados ao suprimento das demaisconcessionárias do Rio Grande do Sul.

Quanto à transmissão, a CEEE opera a rede básica, que compreende41 subestações com potência instalada de 5.518,9 MVA e 4.393,22km de redes. As instalações de conexão são constituídas de dezsubestações, com potência instalada de 584 MW e 985,03 km de linhas.

Além de conservação, melhorias e modernização de unidadesexistentes, a CEEE tem investido em parcerias para novosempreendimentos de geração, implantação e ampliação de subestações,de linhas de transmissão e distribuição. Atualmente, a Companhia estáparticipando em consórcios para explorar os potenciais hidrelétricosdas bacias dos rios Uruguai, Taquari-Antas e Jacuí, bem como da UsinaTermelétrica Gaúcha, a gás natural, e pequenas centrais termelétricasa biomassa.

Na bacia do rio Uruguai a empresa participa do consórcioresponsável pela instalação das usinas hidrelétricas Machadinho (1.140MW) e Foz do Chapecó (855 MW), localizadas no rio Uruguai, e na deCampos Novos, localizada no rio Canoas (SC), com potência de 880MW.

Na bacia do rio Jacuí a CEEE participa do consórcio responsávelpela instalação da usina hidrelétrica Dona Francisca. Esta usina estásituada no médio curso do rio Jacuí, tendo a potência de 125 MW.

Em consórcio com a companhia paulista de Força e Luz e com aempresa Desenvix S.A., a CEEE será responsável também pelaconstrução do Complexo Energético do Rio das Antas (CERAN),

constituído pelas usinas Castro Alves (130 MW), Monte Claro (130MW) e 14 de Julho (100 MW), localizadas no rio das Antas entre osmunicípios de Bento Gonçalves, Veranópolis, Nova Pádua, Nova Romado Sul e Cotiporã.

Paralelamente, foram desenvolvidos pela empresa estudos para aretomada da pequena usina hidrelétrica Furnas do Segredo, obrainiciada pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento(DNOS) e interrompida em 1967. Esta usina está localizada no rioJaguari na divisa dos municípios de Jaguari e Jari.

Com a implementação do projeto da Usina Termelétrica deUruguaiana, foram iniciados pela Sul Gás os estudos para a construçãodo gasoduto Uruguaiana/Porto Alegre visando ao atendimento de umausina de grande porte a gás natural. Localizada no Pólo Petroquímicode Triunfo, a 60 km de Porto Alegre, essa usina terá um potencial de480 MW.

Em parceria com a Companhia Geral de Distribuição Elétrica(CGDE), empresa portuguesa e com interveniência da Secretaria deEnergia, Minas e Comunicações (SEMC), a CEEE realiza estudosrelativos à viabilidade técnico-econômica e ambiental da utilização dabiomassa (resíduos de madeira e casca de arroz), com vistas àimplantação de novas usinas, que poderão produzir cerca de 100 MW.

A CEEE e a SEMC apóiam, também, estudos para a instalação deestações de medição de ventos, visando a colocar em operação 12estações fornecedoras de energia eólica, através da formação deconsórcio com diversas empresas privadas.

Em relação à energia e ao meio ambiente, vários são os programasdesenvolvidos pela CEEE. Entre esses programas destacam-se os deEducação Ambiental; Gestão de Resíduos; Reciclagem e Recuperaçãode Óleo Isolante utilizado pela própria empresa; Viveiros e Hortos deProteção; Recuperação de Áreas Mineradas; criação de um ParqueEstadual e de uma Estação de Piscicultura. Nos projetos hidrelétricos aempresa tem contemplado os aspectos ambientais em todas as fases deinstalação e operação das usinas. Através do uso múltiplo de seusreservatórios, a CEEE busca conciliar a utilização para fins energéticoscom os demais interesses das populações locais.

Preocupada, também, com a memória da produção de energiaelétrica, a CEEE mantém o Museu da Eletricidade do Rio Grande doSul (MERGS), órgão vinculado à sua Assessoria de ComunicaçãoAcervo: Celesc.

Acervo: CEEE.

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Social. Suas dependências apresentam, além de uma exposiçãopermanente, salas de pesquisa, de projeção de vídeo e uma videotecacom documentários históricos sobre a energia elétrica no Estado6.

A Celesc, através da Lei nº 12.130 de 16 de janeiro de 2002, passoupor uma remodelagem organizacional. No processo de reorganizaçãoforam criadas empresas independentes, sob a forma de subsidiáriasintegrais: a Celesc Geração S.A.; a Celesc Telecomunicações S.A.; e aCelesc S.A., responsável pela distribuição e comercialização da energiaelétrica em todo o Estado de Santa Catarina.

O parque gerador da Celesc conta com 12 pequenas usinas elétricasque geram um total de 79,2 MW. A distribuição de energia é realizadaatravés de 92 subestações com potência instalada de 3.970 MVA,através de 3.741 Km de rede elétrica e 2.617 Km de rede física7.

Além das 12 hidrelétricas sob administração da Celesc, háaproximadamente 70 outras usinas no Estado, a maior parte delaspertencente a empresas privadas que usam a eletricidade gerada paraconsumo próprio8.

Numa política de privatização e de compartilhamento em novosempreendimentos a Celesc está investindo também na participação nosjá referidos consórcios destinados à instalação da UHE Campos Novos,que deverá disponibilizar 880 MW; da UHE Machadinho, cuja potênciatotal instalada será de 1.140 MW; da UHE Dona Francisca, com potencialde 125 MW, em operação no Rio Grande do Sul desde 2000.

Do mesmo modo, a empresa tem investido na exploração derecursos naturais como fontes alternativas de energia elétrica. Emparceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, a Celescimplantou sistemas para medição de radiação solar com o objetivo deverificar o potencial do Estado na geração de energia elétrica a partirdesta fonte. Sistemas fotovoltaicos foram instalados na Ilha de Guarás,em parceria com o Ministério de Minas e Energia; e no Forte da Ilha deRatones, através de parceria com o mesmo Ministério e com aUniversidade Federal de Santa Catarina. Sistemas solares fotovoltaicosestão sendo instalados também em escolas do interior do Estado.

Um sistema de 27 estações anemométricas foi instalado pelacompanhia, com a finalidade de inventariar o potencial eólico para aprodução de energia elétrica em todo o Estado. Três regiões foramapontadas com condições técnicas e econômicas para a implantaçãodessas usinas. Em 2001 a Celesc e a Wobben Windpower estabeleceram

Página anterior, energia solar em usona Ilha de Ratones, Florianópolis.

Acervo: Labsolar, UFSC.Experimento de uso de energia solar realizado pela Copel. Ilha de Ararapira (PR).

Acervo: Copel.

Page 227: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Social. Suas dependências apresentam, além de uma exposiçãopermanente, salas de pesquisa, de projeção de vídeo e uma videotecacom documentários históricos sobre a energia elétrica no Estado6.

A Celesc, através da Lei nº 12.130 de 16 de janeiro de 2002, passoupor uma remodelagem organizacional. No processo de reorganizaçãoforam criadas empresas independentes, sob a forma de subsidiáriasintegrais: a Celesc Geração S.A.; a Celesc Telecomunicações S.A.; e aCelesc S.A., responsável pela distribuição e comercialização da energiaelétrica em todo o Estado de Santa Catarina.

O parque gerador da Celesc conta com 12 pequenas usinas elétricasque geram um total de 79,2 MW. A distribuição de energia é realizadaatravés de 92 subestações com potência instalada de 3.970 MVA,através de 3.741 Km de rede elétrica e 2.617 Km de rede física7.

Além das 12 hidrelétricas sob administração da Celesc, háaproximadamente 70 outras usinas no Estado, a maior parte delaspertencente a empresas privadas que usam a eletricidade gerada paraconsumo próprio8.

Numa política de privatização e de compartilhamento em novosempreendimentos a Celesc está investindo também na participação nosjá referidos consórcios destinados à instalação da UHE Campos Novos,que deverá disponibilizar 880 MW; da UHE Machadinho, cuja potênciatotal instalada será de 1.140 MW; da UHE Dona Francisca, com potencialde 125 MW, em operação no Rio Grande do Sul desde 2000.

Do mesmo modo, a empresa tem investido na exploração derecursos naturais como fontes alternativas de energia elétrica. Emparceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, a Celescimplantou sistemas para medição de radiação solar com o objetivo deverificar o potencial do Estado na geração de energia elétrica a partirdesta fonte. Sistemas fotovoltaicos foram instalados na Ilha de Guarás,em parceria com o Ministério de Minas e Energia; e no Forte da Ilha deRatones, através de parceria com o mesmo Ministério e com aUniversidade Federal de Santa Catarina. Sistemas solares fotovoltaicosestão sendo instalados também em escolas do interior do Estado.

Um sistema de 27 estações anemométricas foi instalado pelacompanhia, com a finalidade de inventariar o potencial eólico para aprodução de energia elétrica em todo o Estado. Três regiões foramapontadas com condições técnicas e econômicas para a implantaçãodessas usinas. Em 2001 a Celesc e a Wobben Windpower estabeleceram

Página anterior, energia solar em usona Ilha de Ratones, Florianópolis.

Acervo: Labsolar, UFSC.Experimento de uso de energia solar realizado pela Copel. Ilha de Ararapira (PR).

Acervo: Copel.

Page 228: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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parceria para construir parques eólicos em Laguna, Água Doce e BomJardim da Serra, com a previsão de fornecer um total de 12,6 MW apartir de meados de 2002.

A Celesc incorporou a preocupação com o meio ambiente atravésde diferentes programas ambientais, como o de Gestão de Resíduos; oPrograma de Descontaminação de Lâmpadas; o Programa de Coletade Papel Reciclável; o Programa de Tratamento de Bifenilas Policloradas,entre os quais estão os óleos usados em transformadores e capacitadores,e o Projeto de Proteção ao João de Barro, objetivando reduzir o númerode desligamentos e evitar a morte desses pássaros. Além desses projetos,a Empresa criou a Estação Ecológica do Bracinho, localizada entre osmunicípios de Schroeder e Joinville, com os objetivos de realizar pesquisabásica e aplicada e desenvolver a educação ambiental.

A Celesc tem a intenção de transformar a UHE Maroim, cuja casade máquinas por si só é um monumento arquitetônico, em um Museu.Tal iniciativa, se concretizada, certamente trará reflexos bastantepositivos, tanto no contexto da preservação da memória regional,quanto para a ampliação das alternativas para o ensino e o lazer naárea da Grande Florianópolis.

A Copel, a partir de julho de 2001, foi submetida a um processo dedesmembramento, passando a formar um grupo com cinco empresas,atuando nas áreas de geração, transmissão, distribuição, participaçõese telecomunicações.

A companhia tem, atualmente, um parque gerador constituído por16 usinas hidrelétricas, totalizando 4.529 MW de potência instalada,além de duas termelétricas que geram, em conjunto, 20 MW.

A transmissão de energia é realizada através de 349 subestações,com potência instalada de 19.283 MVA e 160.054 km de rede.

Além da manutenção e da modernização de suas unidades degeração e transmissão, a Copel tem, igualmente, investido naparticipação em consórcios para a realização de novosempreendimentos.

A Copel começou a atentar para a importância das questõesambientais no início da década de setenta do século XX. Durante aconstrução da Hidrelétrica de Foz do Chopim foram desenvolvidos osprimeiros projetos de reflorestamento com espécies nativas e exóticase o cultivo experimental de peixes.

Com a regulamentação do Sistema Nacional de Meio Ambiente,

no início da década de oitenta, as ações ambientais foram incorporadasao cotidiano da empresa. Foram desenvolvidos, a partir daí, programasde experimentos com espécies florestais; estudos e levantamentosictiológicos; manejo ambiental integrado; criação de estações ecológicase de parque ambiental. Os estudos botânicos e faunísticos têm sidodesenvolvidos pela empresa em parceria com diferentes instituiçõesuniversitárias.

A Copel tem igualmenteinvestido no levantamento deformas alternativas de energia.Em relação à energia eólica, foiinventariado o potencialenergético do Estado eelaborado, em parceria com aEmpresa Woblen Windpower, oProjeto Eólico de Palmas, com2,5 MW de potência instalada.

Várias experiências foramtambém realizadas utilizando aenergia solar, permitindo aeletrificação de comunidadeslitorâneas e rurais e a eletrificação de parques estaduais.

Através de convênio com o Instituto de Tecnologia para oDesenvolvimento (Lactec-UFPR), a Copel mantém, ainda, ofornecimento de energia elétrica através de células a combustível,sistema que consiste no aproveitamento do hidrogênio, contido emcombustíveis como o gás natural, em combinação com o oxigênioextraído do próprio ar.

Com a obra da Hidrelétrica de Segredo a Companhia realizouprojetos de reassentamento de agricultores familiares, experiência quefoi aperfeiçoada na Hidrelétrica de Salto Caxias. Esses projetos foramapresentados em diferentes eventos internacionais, sendo oreassentamento dos agricultores de Salto Caxias considerado, por umacomissão da FAO, como a melhor experiência mundial em projetosdessa natureza.

A Copel, preocupada com a preservação da memória daeletricidade, mantém em Curitiba o Museu da Energia e, em Irati, juntoa parte das instalações da empresa, funciona o Museu de Demonstração

Depoimento

Desde 1997 a Rio GrandeEnergia – RGE é responsável peladistribuição de energia elétricanas regiões do norte do RioGrande do Sul. Nos 254municípios em que atua, aempresa atende a um milhão declientes, representando aproxi-madamente 3,4 milhões dehabitantes.

Distribuir energia comqualidade e confiabilidade sãoatribuições essenciais da RGE.Para tanto, a empresa vemrealizando fortes investimentosno seu sistema elétrico,disponibilizando capacidadesuficiente para atender àexpansão do mercado e garantiro conforto e a qualidade de vidados seus clientes.

A RGE continuará dire-cionando todas as ações nosentido de aliar a qualidade e aconfiabilidade de seus serviçosao desenvolvimento econômicoe social das comunidades ondeatua. Nós temos um compro-misso com os nossos clientes quenão se limita à distribuição deenergia elétrica. Queremos serpeça fundamental no desenvol-vimento do Estado e de seupovo. (Sidney Simonaggio,Presidente da RGE)

Geração de energiapor célula a combustível.

Acervo: Copel.

Page 229: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

225224

parceria para construir parques eólicos em Laguna, Água Doce e BomJardim da Serra, com a previsão de fornecer um total de 12,6 MW apartir de meados de 2002.

A Celesc incorporou a preocupação com o meio ambiente atravésde diferentes programas ambientais, como o de Gestão de Resíduos; oPrograma de Descontaminação de Lâmpadas; o Programa de Coletade Papel Reciclável; o Programa de Tratamento de Bifenilas Policloradas,entre os quais estão os óleos usados em transformadores e capacitadores,e o Projeto de Proteção ao João de Barro, objetivando reduzir o númerode desligamentos e evitar a morte desses pássaros. Além desses projetos,a Empresa criou a Estação Ecológica do Bracinho, localizada entre osmunicípios de Schroeder e Joinville, com os objetivos de realizar pesquisabásica e aplicada e desenvolver a educação ambiental.

A Celesc tem a intenção de transformar a UHE Maroim, cuja casade máquinas por si só é um monumento arquitetônico, em um Museu.Tal iniciativa, se concretizada, certamente trará reflexos bastantepositivos, tanto no contexto da preservação da memória regional,quanto para a ampliação das alternativas para o ensino e o lazer naárea da Grande Florianópolis.

A Copel, a partir de julho de 2001, foi submetida a um processo dedesmembramento, passando a formar um grupo com cinco empresas,atuando nas áreas de geração, transmissão, distribuição, participaçõese telecomunicações.

A companhia tem, atualmente, um parque gerador constituído por16 usinas hidrelétricas, totalizando 4.529 MW de potência instalada,além de duas termelétricas que geram, em conjunto, 20 MW.

A transmissão de energia é realizada através de 349 subestações,com potência instalada de 19.283 MVA e 160.054 km de rede.

Além da manutenção e da modernização de suas unidades degeração e transmissão, a Copel tem, igualmente, investido naparticipação em consórcios para a realização de novosempreendimentos.

A Copel começou a atentar para a importância das questõesambientais no início da década de setenta do século XX. Durante aconstrução da Hidrelétrica de Foz do Chopim foram desenvolvidos osprimeiros projetos de reflorestamento com espécies nativas e exóticase o cultivo experimental de peixes.

Com a regulamentação do Sistema Nacional de Meio Ambiente,

no início da década de oitenta, as ações ambientais foram incorporadasao cotidiano da empresa. Foram desenvolvidos, a partir daí, programasde experimentos com espécies florestais; estudos e levantamentosictiológicos; manejo ambiental integrado; criação de estações ecológicase de parque ambiental. Os estudos botânicos e faunísticos têm sidodesenvolvidos pela empresa em parceria com diferentes instituiçõesuniversitárias.

A Copel tem igualmenteinvestido no levantamento deformas alternativas de energia.Em relação à energia eólica, foiinventariado o potencialenergético do Estado eelaborado, em parceria com aEmpresa Woblen Windpower, oProjeto Eólico de Palmas, com2,5 MW de potência instalada.

Várias experiências foramtambém realizadas utilizando aenergia solar, permitindo aeletrificação de comunidadeslitorâneas e rurais e a eletrificação de parques estaduais.

Através de convênio com o Instituto de Tecnologia para oDesenvolvimento (Lactec-UFPR), a Copel mantém, ainda, ofornecimento de energia elétrica através de células a combustível,sistema que consiste no aproveitamento do hidrogênio, contido emcombustíveis como o gás natural, em combinação com o oxigênioextraído do próprio ar.

Com a obra da Hidrelétrica de Segredo a Companhia realizouprojetos de reassentamento de agricultores familiares, experiência quefoi aperfeiçoada na Hidrelétrica de Salto Caxias. Esses projetos foramapresentados em diferentes eventos internacionais, sendo oreassentamento dos agricultores de Salto Caxias considerado, por umacomissão da FAO, como a melhor experiência mundial em projetosdessa natureza.

A Copel, preocupada com a preservação da memória daeletricidade, mantém em Curitiba o Museu da Energia e, em Irati, juntoa parte das instalações da empresa, funciona o Museu de Demonstração

Depoimento

Desde 1997 a Rio GrandeEnergia – RGE é responsável peladistribuição de energia elétricanas regiões do norte do RioGrande do Sul. Nos 254municípios em que atua, aempresa atende a um milhão declientes, representando aproxi-madamente 3,4 milhões dehabitantes.

Distribuir energia comqualidade e confiabilidade sãoatribuições essenciais da RGE.Para tanto, a empresa vemrealizando fortes investimentosno seu sistema elétrico,disponibilizando capacidadesuficiente para atender àexpansão do mercado e garantiro conforto e a qualidade de vidados seus clientes.

A RGE continuará dire-cionando todas as ações nosentido de aliar a qualidade e aconfiabilidade de seus serviçosao desenvolvimento econômicoe social das comunidades ondeatua. Nós temos um compro-misso com os nossos clientes quenão se limita à distribuição deenergia elétrica. Queremos serpeça fundamental no desenvol-vimento do Estado e de seupovo. (Sidney Simonaggio,Presidente da RGE)

Geração de energiapor célula a combustível.

Acervo: Copel.

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227226

1 Gerasul. Relatório Anual 2000 e informações do Setor de Comunicação Social da empresa.

2 Jornal Gazeta Mercantil, 26 de dezembro de 2001, p. A-6

3 www.copel.com.br.

4 Gerasul, 2001.

5 Este tópico tem por base dados fornecidos pelos autores dos Capítulos 7, 8 e 9, respectivamente, Luis

Airton Ferret (CEEE), Sebastião Berlinck Brito (Celesc) e Frederico Reichmann Neto (Copel).6 www.ceee.com.br.

7 Informação fornecida pelo Departamento de Planejamento de Sistemas (Celesc).

8 Jornal Gazeta Mercantil de 21 de junho de 2001, ano III, nº 801, p.1.

9 www.ceee.com.br.

CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA CATARINA S.A. (CELESC). Quem somos: histórico. Disponível em:<http://www.celesc.com.br>. Acessado em: mar. 2002.

COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA DO RIO GRANDE DO SUL (CEEE). História da CEEE.Disponível em: <http://www.ceee.com.br>. Acessado em: mar. 2002.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). Conheça a história da Copel. Disponível em: <htpp://www.copel.com/conheça a copel>. Acessado em: mar. 2002.

TRACTEBEL ENERGIA (GERASUL). Quem somos. Disponível em: <http://www.gerasul.com.br>.Acessado em: abr. 2002.

R E F E R Ê N C I A S

N O T A S

Usina Garatuva. Além disto, em Guarapuava funciona o MuseuRegional do Iguaçu, localizado próximo à UHE Segredo, que tem suasexposições voltadas para a preservação ambiental.

No contexto da privatização, além dos consórcios nos quais estãoenvolvidas as empresas acima referidas, novos empreendedores privadostêm assumido os projetos de instalação e transmissão de energia elétricanos Estados do Sul. Entre esses consórcios, vale destacar os responsáveispela implantação de hidrelétricas no vale do rio Uruguai. Este é o casoda hidrelétrica Quebra Queixo em construção com 120 MW, cujoconsórcio é liderado pela empresa Queiroz-Galvão, e o da UHE BarraGrande, sendo iniciada com 680 MW, liderado pelas empresasVotorantim, Bradesco e Camargo Correia (VBC)9.

Compreende-se, assim, que os papéis das agências oficiais deregulação têm importância mais do que estratégica. A operacionalizaçãodo sistema, na totalidade, implica compreender sua complexidade,mantendo sua coerência interna e sua capacidade de auto-sustentaçãoeconômica sem, contudo, deixar de assegurar à população serviços dequalidade, associados a tarifas justas. C

C A P Í T U L O 12

O papel da Eletrosul como empresa detransmissão num sistema interligado

CL Á U D I O PR I S C O PA R A Í S O

FÁ B I O MA F R A FI G U E I R E D O

Com a reestruturação do setor elétrico brasileiro iniciada na décadade noventa do século XX, os serviços de energia elétrica foram divididosem seus segmentos principais: geração, transmissão, distribuição ecomercialização.

A partir deste momento o Estado se afastou de sua condição deempreendedor, passando a assumir o papel de regulador, essencialmenteatravés da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Estaautarquia, sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas eEnergia, tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, atransmissão, a distribuição e a comercialização de energia elétrica, emconformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. Tambémganhou grande importância a necessária compatibilização doaproveitamento energético dos cursos de água com a política nacionalde recursos hídricos, recém-adotada pelo País.

Além da ANEEL, complementam a constituição do arcabouçojurídico institucional do Setor Elétrico Brasileiro os seguintesorganismos:

– Operador Nacional do Sistema (ONS), entidade de direitoprivado que atua mediante autorização da ANEEL. Executa asatividades de coordenação e controle da operação da geração etransmissão do sistema interligado nacional;

– Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE), criada com oobjetivo de centralizar as decisões referentes à recente crise de energia;

– Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de

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1 Gerasul. Relatório Anual 2000 e informações do Setor de Comunicação Social da empresa.

2 Jornal Gazeta Mercantil, 26 de dezembro de 2001, p. A-6

3 www.copel.com.br.

4 Gerasul, 2001.

5 Este tópico tem por base dados fornecidos pelos autores dos Capítulos 7, 8 e 9, respectivamente, Luis

Airton Ferret (CEEE), Sebastião Berlinck Brito (Celesc) e Frederico Reichmann Neto (Copel).6 www.ceee.com.br.

7 Informação fornecida pelo Departamento de Planejamento de Sistemas (Celesc).

8 Jornal Gazeta Mercantil de 21 de junho de 2001, ano III, nº 801, p.1.

9 www.ceee.com.br.

CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA CATARINA S.A. (CELESC). Quem somos: histórico. Disponível em:<http://www.celesc.com.br>. Acessado em: mar. 2002.

COMPANHIA ESTADUAL DE ENERGIA ELÉTRICA DO RIO GRANDE DO SUL (CEEE). História da CEEE.Disponível em: <http://www.ceee.com.br>. Acessado em: mar. 2002.

COMPANHIA PARANAENSE DE ENERGIA (COPEL). Conheça a história da Copel. Disponível em: <htpp://www.copel.com/conheça a copel>. Acessado em: mar. 2002.

TRACTEBEL ENERGIA (GERASUL). Quem somos. Disponível em: <http://www.gerasul.com.br>.Acessado em: abr. 2002.

R E F E R Ê N C I A S

N O T A S

Usina Garatuva. Além disto, em Guarapuava funciona o MuseuRegional do Iguaçu, localizado próximo à UHE Segredo, que tem suasexposições voltadas para a preservação ambiental.

No contexto da privatização, além dos consórcios nos quais estãoenvolvidas as empresas acima referidas, novos empreendedores privadostêm assumido os projetos de instalação e transmissão de energia elétricanos Estados do Sul. Entre esses consórcios, vale destacar os responsáveispela implantação de hidrelétricas no vale do rio Uruguai. Este é o casoda hidrelétrica Quebra Queixo em construção com 120 MW, cujoconsórcio é liderado pela empresa Queiroz-Galvão, e o da UHE BarraGrande, sendo iniciada com 680 MW, liderado pelas empresasVotorantim, Bradesco e Camargo Correia (VBC)9.

Compreende-se, assim, que os papéis das agências oficiais deregulação têm importância mais do que estratégica. A operacionalizaçãodo sistema, na totalidade, implica compreender sua complexidade,mantendo sua coerência interna e sua capacidade de auto-sustentaçãoeconômica sem, contudo, deixar de assegurar à população serviços dequalidade, associados a tarifas justas. C

C A P Í T U L O 12

O papel da Eletrosul como empresa detransmissão num sistema interligado

CL Á U D I O PR I S C O PA R A Í S O

FÁ B I O MA F R A FI G U E I R E D O

Com a reestruturação do setor elétrico brasileiro iniciada na décadade noventa do século XX, os serviços de energia elétrica foram divididosem seus segmentos principais: geração, transmissão, distribuição ecomercialização.

A partir deste momento o Estado se afastou de sua condição deempreendedor, passando a assumir o papel de regulador, essencialmenteatravés da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Estaautarquia, sob regime especial, vinculada ao Ministério de Minas eEnergia, tem a finalidade de regular e fiscalizar a produção, atransmissão, a distribuição e a comercialização de energia elétrica, emconformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. Tambémganhou grande importância a necessária compatibilização doaproveitamento energético dos cursos de água com a política nacionalde recursos hídricos, recém-adotada pelo País.

Além da ANEEL, complementam a constituição do arcabouçojurídico institucional do Setor Elétrico Brasileiro os seguintesorganismos:

– Operador Nacional do Sistema (ONS), entidade de direitoprivado que atua mediante autorização da ANEEL. Executa asatividades de coordenação e controle da operação da geração etransmissão do sistema interligado nacional;

– Câmara de Gestão da Crise de Energia (GCE), criada com oobjetivo de centralizar as decisões referentes à recente crise de energia;

– Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), órgão de

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assessoramento do Presidente da República para a formulação depolíticas e diretrizes de energia. Esse conselho tem a função principalde promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos doPaís, preservando o interesse nacional e ampliando a competitividadedo País no mercado internacional;

– Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE), onde asatividades de geração e de comercialização de energia elétrica, inclusivesua importação e exportação, deverão ser exercidas em carátercompetitivo, assegurando aos agentes econômicos interessados o livreacesso ao sistema de transmissão e distribuição, mediante o pagamentodos encargos correspondentes. Durante a recente crise de energia foiproposta a desativação do MAE;

– Programa Nacional de Desestatização (PND), que tem comoobjetivo fundamental reordenar a posição estratégica do Estado naeconomia, transferindo à iniciativa privada atividades anteriormenteexploradas pelo poder público.

Dentro deste contexto, a atividade de transmissão passa a serexercida exclusivamente mediante concessão, precedida de licitação.Todos os reforços das instalações existentes serão de responsabilidadeda concessionária proprietária da instalação, mediante autorização daANEEL.

As instalações e os equipamentos integrantes da Rede Básica deTransmissão serão disponibilizados ao ONS, mediante Contrato dePrestação de Serviços de Transmissão, subordinando-se às ações decoordenação e operação.

As demais instalações de transmissão serão disponibilizadasdiretamente aos acessantes interessados, contra pagamento de encargos,através de celebração de contratos de conexão. É assegurado otratamento não discriminatório a todos os usuários dos sistemas detransmissão e de distribuição, mas sempre preservando a utilizaçãoracional dos sistemas. O repasse de energia elétrica gerada pela ItaipuBinacional será objeto de contratos específicos celebrados diretamenteentre os concessionários e autorizados com Furnas e Eletrosul.

Para conectar-se às instalações de transmissão os acessantes deverãocelebrar Contrato de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT) comas concessionárias detentoras das instalações, com a interveniência doONS, definindo, entre outras condições, os requisitos técnicos eoperacionais do ponto de conexão.

Montando linha de transmissão.UHE Machadinho (RS/SC).

Acervo: Foto Gabiatti.

Projeto dirigido a alunos do EnsinoFundamental, destacando a importância

da conservação de energia elétrica.

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assessoramento do Presidente da República para a formulação depolíticas e diretrizes de energia. Esse conselho tem a função principalde promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos doPaís, preservando o interesse nacional e ampliando a competitividadedo País no mercado internacional;

– Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE), onde asatividades de geração e de comercialização de energia elétrica, inclusivesua importação e exportação, deverão ser exercidas em carátercompetitivo, assegurando aos agentes econômicos interessados o livreacesso ao sistema de transmissão e distribuição, mediante o pagamentodos encargos correspondentes. Durante a recente crise de energia foiproposta a desativação do MAE;

– Programa Nacional de Desestatização (PND), que tem comoobjetivo fundamental reordenar a posição estratégica do Estado naeconomia, transferindo à iniciativa privada atividades anteriormenteexploradas pelo poder público.

Dentro deste contexto, a atividade de transmissão passa a serexercida exclusivamente mediante concessão, precedida de licitação.Todos os reforços das instalações existentes serão de responsabilidadeda concessionária proprietária da instalação, mediante autorização daANEEL.

As instalações e os equipamentos integrantes da Rede Básica deTransmissão serão disponibilizados ao ONS, mediante Contrato dePrestação de Serviços de Transmissão, subordinando-se às ações decoordenação e operação.

As demais instalações de transmissão serão disponibilizadasdiretamente aos acessantes interessados, contra pagamento de encargos,através de celebração de contratos de conexão. É assegurado otratamento não discriminatório a todos os usuários dos sistemas detransmissão e de distribuição, mas sempre preservando a utilizaçãoracional dos sistemas. O repasse de energia elétrica gerada pela ItaipuBinacional será objeto de contratos específicos celebrados diretamenteentre os concessionários e autorizados com Furnas e Eletrosul.

Para conectar-se às instalações de transmissão os acessantes deverãocelebrar Contrato de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT) comas concessionárias detentoras das instalações, com a interveniência doONS, definindo, entre outras condições, os requisitos técnicos eoperacionais do ponto de conexão.

Montando linha de transmissão.UHE Machadinho (RS/SC).

Acervo: Foto Gabiatti.

Projeto dirigido a alunos do EnsinoFundamental, destacando a importância

da conservação de energia elétrica.

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A Empresa Transmissora de Energia Elétrica do Sul do Brasil S.A.(Eletrosul) atua neste contexto desde o final de 1997, exclusivamenteno segmento de transmissão de energia. Essa nova empresa nasceu dacisão dos ativos de geração e transmissão da antiga Eletrosul. Foi tambémessa cisão que deu origem às Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A.(Gerasul), que já nasceu de acordo com os preceitos do novo modelodo Setor Elétrico Brasileiro.

Entre as principais funções do sistema de transmissão da Eletrosulestão: promover a integração dos mercados consumidores de energiaelétrica; garantir o livre acesso de consumidores e produtores, criandocondições para que ocorra competição; possibilitar a otimizaçãoenergética; viabilizar a importação de energia elétrica dos demais paísesdo Mercosul; e manter a qualidade da energia nos pontos de suprimento.

Esse papel é estratégico, uma vez que a Região Sul é uma das maisfortes geradoras de energia do País, tanto hidráulica quanto térmica, ea estatal deve atuar como uma facilitadora do acesso dessa energia aosgrandes mercados nacionais, como o Sudeste, uma região onde oconsumo é bastante superior.

O Subsistema Sul (Região Sul mais Mato Grosso do Sul), áreaonde estão localizados os investimentos da Eletrosul, abriga umcontingente populacional da ordem de 27 milhões de habitantes(IBGE), em 2000, e responde por 19% do Produto Interno Bruto (PIB)nacional, e 17% do mercado de energia elétrica do País.

A capacidade instalada de geração de energia elétrica na referidaárea é de 24.874 MW, sendo 2.727 MW térmica e 22.147 MWhidráulica, incluídos 12.600 MW de Itaipu.

O consumo total de energia elétrica no ano de 2000 foi da ordemde 56 mil GWh, tendo expandido 7,2%. Esse crescimento foi superiorao verificado em 1999, que ficou em 5,5%. No mesmo período observa-se que o mercado nacional cresceu 4,6%. No ano em referência ademanda máxima integralizada em uma hora do Subsistema Sulalcançou 9,51 MWh/h, registrada em julho de 2000, sendo 8,4%superior ao valor ocorrido em 1999.

Além dessas funções, a transmissão no novo modelo assume o papelde induzir e viabilizar o livre mercado, e também de aumentar a energiagarantida do sistema interligado, ao propiciar o aproveitamento dasdiversidades hidrológicas regionais.

Para o perfeito desempenho de suas funções a empresa conta com

uma infra-estrutura composta por 19 mil torres, 65 mil quilômetros decabos, 8.575 quilômetros de linhas de transmissão, além de 29subestações e uma conversora de freqüência, totalizando umacapacidade de transformação de aproximadamente 12.000 MVA.

A sólida estrutura operacional e financeira da Eletrosul a credenciaa participar no novo ambiente do setor elétrico brasileiro, onde a

competição tem tido um aspecto preponderante, em condiçõesde vencer todos os desafios a ela impostos, contribuindo de

forma decisiva para o desenvolvimento econômicoe social da área onde atua.

Sistema de Transmissãoda área de atuação

da Eletrosul, 2002-2003.Fonte: Eletrosul

Page 235: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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A Empresa Transmissora de Energia Elétrica do Sul do Brasil S.A.(Eletrosul) atua neste contexto desde o final de 1997, exclusivamenteno segmento de transmissão de energia. Essa nova empresa nasceu dacisão dos ativos de geração e transmissão da antiga Eletrosul. Foi tambémessa cisão que deu origem às Centrais Geradoras do Sul do Brasil S.A.(Gerasul), que já nasceu de acordo com os preceitos do novo modelodo Setor Elétrico Brasileiro.

Entre as principais funções do sistema de transmissão da Eletrosulestão: promover a integração dos mercados consumidores de energiaelétrica; garantir o livre acesso de consumidores e produtores, criandocondições para que ocorra competição; possibilitar a otimizaçãoenergética; viabilizar a importação de energia elétrica dos demais paísesdo Mercosul; e manter a qualidade da energia nos pontos de suprimento.

Esse papel é estratégico, uma vez que a Região Sul é uma das maisfortes geradoras de energia do País, tanto hidráulica quanto térmica, ea estatal deve atuar como uma facilitadora do acesso dessa energia aosgrandes mercados nacionais, como o Sudeste, uma região onde oconsumo é bastante superior.

O Subsistema Sul (Região Sul mais Mato Grosso do Sul), áreaonde estão localizados os investimentos da Eletrosul, abriga umcontingente populacional da ordem de 27 milhões de habitantes(IBGE), em 2000, e responde por 19% do Produto Interno Bruto (PIB)nacional, e 17% do mercado de energia elétrica do País.

A capacidade instalada de geração de energia elétrica na referidaárea é de 24.874 MW, sendo 2.727 MW térmica e 22.147 MWhidráulica, incluídos 12.600 MW de Itaipu.

O consumo total de energia elétrica no ano de 2000 foi da ordemde 56 mil GWh, tendo expandido 7,2%. Esse crescimento foi superiorao verificado em 1999, que ficou em 5,5%. No mesmo período observa-se que o mercado nacional cresceu 4,6%. No ano em referência ademanda máxima integralizada em uma hora do Subsistema Sulalcançou 9,51 MWh/h, registrada em julho de 2000, sendo 8,4%superior ao valor ocorrido em 1999.

Além dessas funções, a transmissão no novo modelo assume o papelde induzir e viabilizar o livre mercado, e também de aumentar a energiagarantida do sistema interligado, ao propiciar o aproveitamento dasdiversidades hidrológicas regionais.

Para o perfeito desempenho de suas funções a empresa conta com

uma infra-estrutura composta por 19 mil torres, 65 mil quilômetros decabos, 8.575 quilômetros de linhas de transmissão, além de 29subestações e uma conversora de freqüência, totalizando umacapacidade de transformação de aproximadamente 12.000 MVA.

A sólida estrutura operacional e financeira da Eletrosul a credenciaa participar no novo ambiente do setor elétrico brasileiro, onde a

competição tem tido um aspecto preponderante, em condiçõesde vencer todos os desafios a ela impostos, contribuindo de

forma decisiva para o desenvolvimento econômicoe social da área onde atua.

Sistema de Transmissãoda área de atuação

da Eletrosul, 2002-2003.Fonte: Eletrosul

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Entrevista com João PauloKleinübing, então Presidente daEletrosul.

• Quais as novas orientaçõespo l í t i cas no se to r e l é t r i cobrasileiro?

Do ponto de vista do modelo, oque menos importa é se ele vai serprivado ou público, e em que parteserá privado ou público. O modelotem que valer, não importa paraquem seja o proprietário da ação,não importa para quem seja odono da empresa. O modelopropõe segmentar as atividades degeração, transmissão, distribuiçãoe comercialização. Você encontrana transmissão e na distribuiçãomonopólios naturais, onde acompetição é menor e a regulaçãodeve ser maior. Na geração e natransmissão há uma maiorpossibilidade de ocorrência decompetição e, portanto, umanecessidade menor de regulação.Alguns atores não podem fazerdeterminadas atividadesconjuntas, como é o caso daEletrosul. Como transmissores, nãopodemos comercializar, nãopodemos gerar, só podemos fazero serviço de transmissão. Osdefensores da empresa públicacostumam atacar as desverti-calizações como primeiro passopara a privatização. Eu acho queisso não é verdade. Eu acho que adesverticalização é uma neces-sidade do modelo, e ela melhorao modelo. O sistema sueco é muito

parecido com o nosso. Lá omodelo é 100% estatal. Mas hádiversos atores, todos sob ocontrole do Estado. Mas os atoresexistem independentemente, enão numa só empresa.

• Foi essa necessidade dedesverticalização que levou à cisãoda Eletrosul?

Foi. O processo da Eletrosul foicom base nisso. O transmissor e ogerador foram separados, e ogoverno federal achou por bem terum gerador privado. Agora, essadesverticalização, do ponto devista do modelo, teria ocorrido dequalquer forma. A Gerasul poderiater continuado pública, mas nãojunto com a Eletrosul. Por quê?Porque o transmissor, de certaforma, é um garantidor dacompetição. Além das funçõesclássicas da transmissão, que sãointegrar mercados consumidores;otimizar recursos naturais, elatambém tem o papel de garantir acompetição. Se a Eletrosul fossegeradora, ou comercializadora, euiria levar em consideração outrosinteresses da minha empresa, nãonecessariamente a integração totaldos mercados. Como transmissor,não: o nosso papel é garantir acompetição, principalmente nageração.

• Essa foi a importância de aEletrosul ter se mantido estatal etransmissora?

Não só a Eletrosul, mas uma sériede outras empresas.

• Quais são as perspectivasde surgimento de energiasalternativas?

Boas, e o Brasil está explorandotodas elas. Hoje, 93% da energiaelétrica brasileira vem da água,aproximadamente 3% do carvão,quase 2% nuclear, e 1% diesel eoutras fontes, grosso modo. Mascom certeza precisamos ampliara participação de outras fontes,principalmente térmicas, comoo gás, e mais o carvão, no casodo Sul.

• No contexto de crise a RegiãoSul é privilegiada em relação aoresto do País?

Do ponto de vista da matriz, sevocê considerar só o Sul, comonós temos aqui a termelétricaJorge Lacerda, entre outras, aparticipação da energia térmicacresce consideravelmente. Mascomo nós trabalhamos comsistema interligado, a energiapertence ao País. Eu acho que nóstemos que melhorar a participaçãode outras fontes, sim, nãopodemos ficar dependendoapenas da água. O Brasil é um paísabençoado pela quantidade derecursos hídricos que tem. Aenergia hidráulica é mais barata,sempre foi e sempre será, mas emtermos mundiais, 40% da energiado mundo vem do carvão, que é

muito mais caro que a energiahidrelétrica, porque o resto domundo não tem a mesmacondição de rios que o Brasil tem.A vocação hídrica do Brasil é clara.Mas nós temos que ter umequilíbrio com outras fontes quegarantam uma otimização dosnossos recursos e que garanta onível de risco hidrológico queesteja adequado ao País.

• Quais são as perspectivas parao fim da crise energética brasileira?

A crise não foi tão grave quantose esperava, mas a administraçãodessa crise foi feita de formaadequada. Nós chegamos a essacrise por três fatores, entre eles achuva. Está certo, mas seriasimplista demais colocar a culpa nachuva. Houve números desfavo-ráveis que fizeram a crise estourarnaquele momento. Se você pegara fatura de mais longo prazo, secomprova. Houve uma redução deinvestimentos, que só foramretomados em 1995, 1996,coincidindo com a entrada dosetor privado que, de formainequívoca, tem mais condições deinvestir do que o poder público.Houve um aumento de consumo,com o próprio crescimento donosso País. Mas, sem dúvida, ofator determinante disso foi o dovolume de investimentos. Comosão investimentos de longamaturação, e como nós tivemosnos primeiros cinco anos dadécada de noventa um volume

muito aquém do necessário, sócomeçando a recuperar isso apartir de 1995, os resultados sóagora estão acontecendo. E asolução da crise é realmenteinvestir.

• Nós já conseguimos controlara situação?

O pior já passou.

• E Santa Catarina no processode geração?

Em sete anos nós devemos estargerando 7.000 MW. Hoje nósgeramos 2.600 MW, considerandoItá e Machadinho, que estão nadivisa, com apenas metade dageração. 7.600 MW é o consumode todo Sul do País. Só SantaCatarina vai gerar todo o consumodo Sul, somando aí o complexoJorge Lacerda. Hoje Santa Catarinajá é auto-suficiente em geração deenergia e será um dos grandesprodutores do País.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 5 deoutubro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fábio MafraFigueiredo)

Page 237: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

232

Entrevista com João PauloKleinübing, então Presidente daEletrosul.

• Quais as novas orientaçõespo l í t i cas no se to r e l é t r i cobrasileiro?

Do ponto de vista do modelo, oque menos importa é se ele vai serprivado ou público, e em que parteserá privado ou público. O modelotem que valer, não importa paraquem seja o proprietário da ação,não importa para quem seja odono da empresa. O modelopropõe segmentar as atividades degeração, transmissão, distribuiçãoe comercialização. Você encontrana transmissão e na distribuiçãomonopólios naturais, onde acompetição é menor e a regulaçãodeve ser maior. Na geração e natransmissão há uma maiorpossibilidade de ocorrência decompetição e, portanto, umanecessidade menor de regulação.Alguns atores não podem fazerdeterminadas atividadesconjuntas, como é o caso daEletrosul. Como transmissores, nãopodemos comercializar, nãopodemos gerar, só podemos fazero serviço de transmissão. Osdefensores da empresa públicacostumam atacar as desverti-calizações como primeiro passopara a privatização. Eu acho queisso não é verdade. Eu acho que adesverticalização é uma neces-sidade do modelo, e ela melhorao modelo. O sistema sueco é muito

parecido com o nosso. Lá omodelo é 100% estatal. Mas hádiversos atores, todos sob ocontrole do Estado. Mas os atoresexistem independentemente, enão numa só empresa.

• Foi essa necessidade dedesverticalização que levou à cisãoda Eletrosul?

Foi. O processo da Eletrosul foicom base nisso. O transmissor e ogerador foram separados, e ogoverno federal achou por bem terum gerador privado. Agora, essadesverticalização, do ponto devista do modelo, teria ocorrido dequalquer forma. A Gerasul poderiater continuado pública, mas nãojunto com a Eletrosul. Por quê?Porque o transmissor, de certaforma, é um garantidor dacompetição. Além das funçõesclássicas da transmissão, que sãointegrar mercados consumidores;otimizar recursos naturais, elatambém tem o papel de garantir acompetição. Se a Eletrosul fossegeradora, ou comercializadora, euiria levar em consideração outrosinteresses da minha empresa, nãonecessariamente a integração totaldos mercados. Como transmissor,não: o nosso papel é garantir acompetição, principalmente nageração.

• Essa foi a importância de aEletrosul ter se mantido estatal etransmissora?

Não só a Eletrosul, mas uma sériede outras empresas.

• Quais são as perspectivasde surgimento de energiasalternativas?

Boas, e o Brasil está explorandotodas elas. Hoje, 93% da energiaelétrica brasileira vem da água,aproximadamente 3% do carvão,quase 2% nuclear, e 1% diesel eoutras fontes, grosso modo. Mascom certeza precisamos ampliara participação de outras fontes,principalmente térmicas, comoo gás, e mais o carvão, no casodo Sul.

• No contexto de crise a RegiãoSul é privilegiada em relação aoresto do País?

Do ponto de vista da matriz, sevocê considerar só o Sul, comonós temos aqui a termelétricaJorge Lacerda, entre outras, aparticipação da energia térmicacresce consideravelmente. Mascomo nós trabalhamos comsistema interligado, a energiapertence ao País. Eu acho que nóstemos que melhorar a participaçãode outras fontes, sim, nãopodemos ficar dependendoapenas da água. O Brasil é um paísabençoado pela quantidade derecursos hídricos que tem. Aenergia hidráulica é mais barata,sempre foi e sempre será, mas emtermos mundiais, 40% da energiado mundo vem do carvão, que é

muito mais caro que a energiahidrelétrica, porque o resto domundo não tem a mesmacondição de rios que o Brasil tem.A vocação hídrica do Brasil é clara.Mas nós temos que ter umequilíbrio com outras fontes quegarantam uma otimização dosnossos recursos e que garanta onível de risco hidrológico queesteja adequado ao País.

• Quais são as perspectivas parao fim da crise energética brasileira?

A crise não foi tão grave quantose esperava, mas a administraçãodessa crise foi feita de formaadequada. Nós chegamos a essacrise por três fatores, entre eles achuva. Está certo, mas seriasimplista demais colocar a culpa nachuva. Houve números desfavo-ráveis que fizeram a crise estourarnaquele momento. Se você pegara fatura de mais longo prazo, secomprova. Houve uma redução deinvestimentos, que só foramretomados em 1995, 1996,coincidindo com a entrada dosetor privado que, de formainequívoca, tem mais condições deinvestir do que o poder público.Houve um aumento de consumo,com o próprio crescimento donosso País. Mas, sem dúvida, ofator determinante disso foi o dovolume de investimentos. Comosão investimentos de longamaturação, e como nós tivemosnos primeiros cinco anos dadécada de noventa um volume

muito aquém do necessário, sócomeçando a recuperar isso apartir de 1995, os resultados sóagora estão acontecendo. E asolução da crise é realmenteinvestir.

• Nós já conseguimos controlara situação?

O pior já passou.

• E Santa Catarina no processode geração?

Em sete anos nós devemos estargerando 7.000 MW. Hoje nósgeramos 2.600 MW, considerandoItá e Machadinho, que estão nadivisa, com apenas metade dageração. 7.600 MW é o consumode todo Sul do País. Só SantaCatarina vai gerar todo o consumodo Sul, somando aí o complexoJorge Lacerda. Hoje Santa Catarinajá é auto-suficiente em geração deenergia e será um dos grandesprodutores do País.

(Entrevista revisada e autorizadapara publicação. Realizada em 5 deoutubro de 2001 por CláudioPrisco Paraíso e Fábio MafraFigueiredo)

Page 238: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

A história da humanidade podeser vista como a história

do domínio de diferentes fontesde energia. Nesta perspectiva,a energia elétrica emerge comouma excepcional conquista do

ser humano nos últimos 125 anos.Conquista que transformou

tanto a base produtiva, quanto avida cotidiana, dando suporte

às mais sofisticadas manifestaçõesda cultura em quase todas

as sociedades humanas. No Brasil,e na Região Sul em particular,

a energia elétrica foi e continuaráa ser uma fonte estratégicapara o processo produtivo,

para nossa segurança, nossoconforto e a continuidade

do modo de vida que conhecemos.

Page 239: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

A história da humanidade podeser vista como a história

do domínio de diferentes fontesde energia. Nesta perspectiva,a energia elétrica emerge comouma excepcional conquista do

ser humano nos últimos 125 anos.Conquista que transformou

tanto a base produtiva, quanto avida cotidiana, dando suporte

às mais sofisticadas manifestaçõesda cultura em quase todas

as sociedades humanas. No Brasil,e na Região Sul em particular,

a energia elétrica foi e continuaráa ser uma fonte estratégicapara o processo produtivo,

para nossa segurança, nossoconforto e a continuidade

do modo de vida que conhecemos.

Page 240: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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Perfil dos Autores

O R G A N I Z A D O R E S

Sílvio Coelho dos Santos – Antropólogo, Professor Emérito da UFSC ePesquisador Sênior do CNPq. Foi Presidente da Associação Brasileira deAntropologia e Secretário Regional da Sociedade Brasileira para o Progressoda Ciência (SBPC). Publicou dezenas de artigos e livros, destacando-se Ín-dios e brancos no Sul do Brasil (2a ed., Movimento, 1986); Nova históriade Santa Catarina (4a ed., Terceiro Milênio, 1998); Os índios Xokleng –memória visual (Editora da UFSC/ Univali, 1997). Coordena o Núcleo deEstudos de Povos Indígenas (Nepi/UFSC) e desenvolve o projeto“Hidrelétricas, Privatizações e os Povos Indígenas no âmbito do Mercosul”,com o patrocínio do CNPq.

Maria José Reis – Antropóloga, professora Adjunta IV, aposentada (UFSC).É professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia(UFSC) e professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Tem realizadopesquisas e participado de consultorias tendo como foco os desdobramentossocioambientais e políticos da instalação de usinas hidrelétricas, sobretudoem relação a pequenos produtores rurais, resultando em vários artigospublicados em diferentes periódicos e em coletâneas, entre as quaisAntropología y grandes proyectos en el Mercosur [Balazote, A; Catullo,M. R.; Radovich. J. C. (Org.). La Plata: Ed. Minerva, 2001]; e, Hidrelétricas epopulações locais [REIS, M. J. e BLOEMER, N. M. S. (Org.) Florianópolis:Cidade Futura/Editora da UFSC, 2001].

P E S Q U I S A D O R A S

Aneliese Nacke – Antropóloga, professora Adjunta IV do Departamentode Antropologia da UFSC, integra o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas(Nepi/UFSC). Tem realizado pesquisas e participado de consultorias sobrepovos indígenas no Sul do País, voltadas, de modo especial, para asconseqüências socioambientais da instalação de hidrelétricas em terrasindígenas, que resultaram em várias artigos publicados em periódicosnacionais e internacionais e em coletâneas, entre as quais O cerco está sefechando [Hébette, J. (Org.). Petrópolis; Rio de Janeiro; Belém: Vozes; Fase;Naea, 1991].

Neusa Maria Sens Bloemer – Antropóloga, professora Adjunta IV,aposentada (UFSC). Atualmente é professora na Universidade do Vale doItajaí (Univali), colabora no Programa de Pós-Graduação em AntropologiaSocial, UFSC, e integra o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas da UFSC.Tem desenvolvido pesquisas e participado de consultorias sobre efeitossociais da implantação de hidrelétricas, tanto no caso de populaçõesindígenas, quanto de pequenos produtores rurais. Publicou vários artigos

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Perfil dos Autores

O R G A N I Z A D O R E S

Sílvio Coelho dos Santos – Antropólogo, Professor Emérito da UFSC ePesquisador Sênior do CNPq. Foi Presidente da Associação Brasileira deAntropologia e Secretário Regional da Sociedade Brasileira para o Progressoda Ciência (SBPC). Publicou dezenas de artigos e livros, destacando-se Ín-dios e brancos no Sul do Brasil (2a ed., Movimento, 1986); Nova históriade Santa Catarina (4a ed., Terceiro Milênio, 1998); Os índios Xokleng –memória visual (Editora da UFSC/ Univali, 1997). Coordena o Núcleo deEstudos de Povos Indígenas (Nepi/UFSC) e desenvolve o projeto“Hidrelétricas, Privatizações e os Povos Indígenas no âmbito do Mercosul”,com o patrocínio do CNPq.

Maria José Reis – Antropóloga, professora Adjunta IV, aposentada (UFSC).É professora Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia(UFSC) e professora da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Tem realizadopesquisas e participado de consultorias tendo como foco os desdobramentossocioambientais e políticos da instalação de usinas hidrelétricas, sobretudoem relação a pequenos produtores rurais, resultando em vários artigospublicados em diferentes periódicos e em coletâneas, entre as quaisAntropología y grandes proyectos en el Mercosur [Balazote, A; Catullo,M. R.; Radovich. J. C. (Org.). La Plata: Ed. Minerva, 2001]; e, Hidrelétricas epopulações locais [REIS, M. J. e BLOEMER, N. M. S. (Org.) Florianópolis:Cidade Futura/Editora da UFSC, 2001].

P E S Q U I S A D O R A S

Aneliese Nacke – Antropóloga, professora Adjunta IV do Departamentode Antropologia da UFSC, integra o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas(Nepi/UFSC). Tem realizado pesquisas e participado de consultorias sobrepovos indígenas no Sul do País, voltadas, de modo especial, para asconseqüências socioambientais da instalação de hidrelétricas em terrasindígenas, que resultaram em várias artigos publicados em periódicosnacionais e internacionais e em coletâneas, entre as quais O cerco está sefechando [Hébette, J. (Org.). Petrópolis; Rio de Janeiro; Belém: Vozes; Fase;Naea, 1991].

Neusa Maria Sens Bloemer – Antropóloga, professora Adjunta IV,aposentada (UFSC). Atualmente é professora na Universidade do Vale doItajaí (Univali), colabora no Programa de Pós-Graduação em AntropologiaSocial, UFSC, e integra o Núcleo de Estudos de Povos Indígenas da UFSC.Tem desenvolvido pesquisas e participado de consultorias sobre efeitossociais da implantação de hidrelétricas, tanto no caso de populaçõesindígenas, quanto de pequenos produtores rurais. Publicou vários artigos

Page 242: Memória do Setor Elétrico na Região Sul

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e o livro Brava gente brasileira: migrantes italianos e caboclos nos Camposde Lages [Editora Cidade Futura, 2000]; e, Hidrelétricas e populaçõeslocais [REIS, M. J. e BLOEMER, N. M. S. (Org.) Florianópolis: Cidade Futura/Editora da UFSC, 2001].

C O L A B O R A D O R E S

Cláudio José Dalla Benetta – Formado em Comunicação Social pelaUniversidade Católica do Paraná em 1977. Trabalhou em vários órgãos decomunicação do Estado, como as TVs Paranaenses e TV Iguaçu, e os jornaisDiário do Paraná, Correio de Notícias, O Estado do Paraná e Tribuna doParaná, todos em Curitiba. Atua no setor de Comunicação Social da ItaipuBinacional desde 1988.

Frederico Reichmann Neto – Engenheiro Florestal pela Faculdade deFlorestas da Universidade Federal do Paraná em 1972. Especialista emAgroindústria e Desenvolvimento Industrial pela Graduate School, UnitedStates Department of Agriculture, Washington D.C., USA. Mestre emCiências Florestais e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, ambospela Universidade Federal do Paraná. Assessor de Meio Ambiente daCompanhia Paranaense de Energia (Copel), Coordenador do ComitêSocioambiental do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos doMME. Consultor ad-hoc da Fundação Boticário de Conservação da Natureza.

Gilberto Valente Canali – Engenheiro Civil pela Universidade Federal doRio Grande do Sul, em 1966, e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direitode Curitiba, em 2000. Atua nas áreas de engenharia e planejamento derecursos hídricos, barragens e meio ambiente. No setor elétrico, trabalhouna Eletrosul, onde exerceu por vários anos a Chefia do Departamento deEngenharia de Geração, e na Itaipu Binacional, como Superintendente deMeio Ambiente. Foi Professor de Obras Hidráulicas na UFSC e Presidenteda Associação Brasileira de Recursos Hídricos. Atualmente é consultorindependente, com atividades no Brasil e no exterior.

Luis Airton Ferret – Engenheiro Mecânico, graduado em 1982 pelaUniversidade Federal de Santa Maria (RS) e pós-graduado em GestãoEmpresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2000. Desde 1985 éfuncionário da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), onde atuouem empreendimentos termelétricos e estudos de Inventário, Viabilidade eProjeto Básico de Aproveitamentos Hidrelétricos. Atualmente desempenhaatividades de planejamento, estudos e projetos de aproveitamentoshidrelétricos, de engenharia e meio ambiente.

P A R T I C I P A Ç Ã O E S P E C I A L

Cláudio Prisco Paraíso – Exerce o Jornalismo desde 1980. Começou nojornal O Estado, como repórter, passando depois a cobrir a área de política.Em 1985 foi repórter especial do Jornal de Santa Catarina. Em 1986 passoua atuar como analista político do Diário Catarinense, da RBS TV, da ItapemaFM e da CBN Diário, veículos onde permaneceu até maio de 1997. Voltou àmídia impressa em 1999, atuando no Jornal A Notícia e depois em O Estado.Atua também como comentarista político no SBT.

Fábio Mafra Figueiredo – Jornalista, graduado pela Univali (Itajaí-SC) epós-graduando em “Estudos do Jornalismo”, na UFSC. Trabalhou no jornalO Estado, como repórter e editor, e atuou no Diário Catarinense. Editoudois livros, jornais e outras publicações. Atualmente é Gerente de Jornalismodo SBT em Florianópolis.

A U X I L I A R E S D E P E S Q U I S A

Cátia Weber – Bacharel em Ciências Sociais pela UFSC e Especialista emHistória Social no Ensino Fundamental e Médio pela Udesc. Foi bolsista deIniciação Científica (CNPq) no projeto integrado: “Indigenismo Oficial,Lideranças e Exploração do Meio Ambiente em Áreas Indígenas”, UFSC, noperíodo de 1993 a 1996; e bolsista de Aperfeiçoamento de Pesquisa (CNPq)no projeto integrado: “Hidrelétricas, Privatizações e os Indígenas no Sul doBrasil”, UFSC, entre 1996 e 1998. Participou como Auxiliar de Pesquisa noProjeto: “Estudo Etnográfico da Usina Hidrelétrica Machadinho”, viabilizadopela FAPEU/UFSC, de junho a dezembro de 1998.

Luciano Bornholdt – Bacharel em Ciências Sociais pela UFSC e mestrandodo curso de Antropologia Social também na UFSC. Foi bolsista de IniciaçãoCientífica – CNPq no projeto “Hidrelétricas, Privatizações e os PovosIndígenas no Âmbito do Mercosul”. Realizou diversas exposiçõesfotográficas sobre a temática indígena. Realiza atualmente pesquisa sobrereprodução social de famílias rurais e grandes projetos de desenvolvimento.

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e o livro Brava gente brasileira: migrantes italianos e caboclos nos Camposde Lages [Editora Cidade Futura, 2000]; e, Hidrelétricas e populaçõeslocais [REIS, M. J. e BLOEMER, N. M. S. (Org.) Florianópolis: Cidade Futura/Editora da UFSC, 2001].

C O L A B O R A D O R E S

Cláudio José Dalla Benetta – Formado em Comunicação Social pelaUniversidade Católica do Paraná em 1977. Trabalhou em vários órgãos decomunicação do Estado, como as TVs Paranaenses e TV Iguaçu, e os jornaisDiário do Paraná, Correio de Notícias, O Estado do Paraná e Tribuna doParaná, todos em Curitiba. Atua no setor de Comunicação Social da ItaipuBinacional desde 1988.

Frederico Reichmann Neto – Engenheiro Florestal pela Faculdade deFlorestas da Universidade Federal do Paraná em 1972. Especialista emAgroindústria e Desenvolvimento Industrial pela Graduate School, UnitedStates Department of Agriculture, Washington D.C., USA. Mestre emCiências Florestais e Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, ambospela Universidade Federal do Paraná. Assessor de Meio Ambiente daCompanhia Paranaense de Energia (Copel), Coordenador do ComitêSocioambiental do Planejamento da Expansão dos Sistemas Elétricos doMME. Consultor ad-hoc da Fundação Boticário de Conservação da Natureza.

Gilberto Valente Canali – Engenheiro Civil pela Universidade Federal doRio Grande do Sul, em 1966, e Bacharel em Direito pela Faculdade de Direitode Curitiba, em 2000. Atua nas áreas de engenharia e planejamento derecursos hídricos, barragens e meio ambiente. No setor elétrico, trabalhouna Eletrosul, onde exerceu por vários anos a Chefia do Departamento deEngenharia de Geração, e na Itaipu Binacional, como Superintendente deMeio Ambiente. Foi Professor de Obras Hidráulicas na UFSC e Presidenteda Associação Brasileira de Recursos Hídricos. Atualmente é consultorindependente, com atividades no Brasil e no exterior.

Luis Airton Ferret – Engenheiro Mecânico, graduado em 1982 pelaUniversidade Federal de Santa Maria (RS) e pós-graduado em GestãoEmpresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2000. Desde 1985 éfuncionário da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), onde atuouem empreendimentos termelétricos e estudos de Inventário, Viabilidade eProjeto Básico de Aproveitamentos Hidrelétricos. Atualmente desempenhaatividades de planejamento, estudos e projetos de aproveitamentoshidrelétricos, de engenharia e meio ambiente.

P A R T I C I P A Ç Ã O E S P E C I A L

Cláudio Prisco Paraíso – Exerce o Jornalismo desde 1980. Começou nojornal O Estado, como repórter, passando depois a cobrir a área de política.Em 1985 foi repórter especial do Jornal de Santa Catarina. Em 1986 passoua atuar como analista político do Diário Catarinense, da RBS TV, da ItapemaFM e da CBN Diário, veículos onde permaneceu até maio de 1997. Voltou àmídia impressa em 1999, atuando no Jornal A Notícia e depois em O Estado.Atua também como comentarista político no SBT.

Fábio Mafra Figueiredo – Jornalista, graduado pela Univali (Itajaí-SC) epós-graduando em “Estudos do Jornalismo”, na UFSC. Trabalhou no jornalO Estado, como repórter e editor, e atuou no Diário Catarinense. Editoudois livros, jornais e outras publicações. Atualmente é Gerente de Jornalismodo SBT em Florianópolis.

A U X I L I A R E S D E P E S Q U I S A

Cátia Weber – Bacharel em Ciências Sociais pela UFSC e Especialista emHistória Social no Ensino Fundamental e Médio pela Udesc. Foi bolsista deIniciação Científica (CNPq) no projeto integrado: “Indigenismo Oficial,Lideranças e Exploração do Meio Ambiente em Áreas Indígenas”, UFSC, noperíodo de 1993 a 1996; e bolsista de Aperfeiçoamento de Pesquisa (CNPq)no projeto integrado: “Hidrelétricas, Privatizações e os Indígenas no Sul doBrasil”, UFSC, entre 1996 e 1998. Participou como Auxiliar de Pesquisa noProjeto: “Estudo Etnográfico da Usina Hidrelétrica Machadinho”, viabilizadopela FAPEU/UFSC, de junho a dezembro de 1998.

Luciano Bornholdt – Bacharel em Ciências Sociais pela UFSC e mestrandodo curso de Antropologia Social também na UFSC. Foi bolsista de IniciaçãoCientífica – CNPq no projeto “Hidrelétricas, Privatizações e os PovosIndígenas no Âmbito do Mercosul”. Realizou diversas exposiçõesfotográficas sobre a temática indígena. Realiza atualmente pesquisa sobrereprodução social de famílias rurais e grandes projetos de desenvolvimento.

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