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Divisão climática de Portugal
Autor(es): Morais, J. Custódio de
Publicado por: Museu Mineralógico e Geológico
URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37968
Accessed : 7-Nov-2021 03:45:47
digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt
PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO
N.° 27
Memóriase Notícias
C O I M B R AT I P O G R A F I A D A A T L Â N T I D A
1950
DAUNIVERSIDADE DE COIMBRA
Divisão climática de Portugal
Divisão antiga
Em 1946 (1) publicámos um trabalho sobre o clima de Portugal, onde apresentámos um quadro com as várias divisões até aí propostas, juntando a nossa divisão pelos índices do meteorologista americano Tornthwaite.
Êste autor, aproveitando os valores médios mensais de precipitações e temperatura, valores há muito medidos por toda a parte, estabeleceu quatro índices para cada região :
1.° índice de eficiência de precipitação, conforme os tipos de vegetação natural, (floresta húmida, floresta, pastagem, estepa, deserto).
2.° Atendendo ao carácter cíclico anual dos elementos meteorológicos, estabeleceu subdivisões, conforme a humidade é abundante ou deficiente no verão ou no inverno.
3.° índice de eficiência de temperatura.4.° índice de percentagem da concentração da eficiência
de temperatura no verão.Aproveitando os elementos meteorológicos fornecidos pelo
Serviço Meteorológico Nacional organizámos um quadro e um mapa com as divisões climáticas de Portugal.
Por qualquer processo de divisão usado se vê que há diferenças entre o N. e o S. do País : a N. há mais variedade de tipos, pois contrapõe-se a costa marítima às regiões altas, mais húmidas, e ao interior de regiões secas, já de influências continentais, com o carácter mediterrâneo.
Na parte S., a menor quantidade de chuva e o fraco relevo, criam uma grande homogeneidade, sendo difícil estabelecer linhas divisórias, pois ficam muito arbitrárias.
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No N. a passagem das regiões baixas às altas é, na escala da carta, fácil de marcar. Depois do ar húmido, vindo do mar, galgar as montanhas, já pouca chuva dá. Estes factos bastam para marcar diferenças.
No S., se há diferença entre a costa mais húmida e de menor variação de temperatura e o interior, de carácter continental, a passagem é lenta, excepto no Algarve onde a topografia cria condições ligeiramente diferentes.
Divisão moderna
Na Geographical Review (2) de Janeiro de 1948 o citado autor apresenta uma nova base de classificação de climas, que considera mais racional que as anteriores, fundada ainda nos valores mensais, médios, de temperatura e precipitação.
Nota o autor que tem faltado o estudo da evaporação não só da água do solo, mas ainda a medida da água que as plantas transportam para a atmosfera.
A evaporação que em geral se regista, não é a do solo, mas a quantidade de água que se evapora dum vaso aberto, com ela, e que é naturalmente muito superior à que se evapora do solo.
O citado autor criou para esta evaporação em conjunto, o termo evapotranspiração.
Considera um clima húmido, não aquele em que chove bastante, mas aquele em que a evapotranspiração é menor do que a quantidade de água caída. Do mesmo modo um clima seco é aquele em que as precipitações não chegam para as necessidades da evapotranspiração.
Define-se geralmente como seca ou estiagem um período de dias consecutivos sem chuva.
Assim, na Inglaterra, torna-se como seca o período de 15 dias seguidos, em nenhum dos quais houve mais de 2,5 mm. de chuva.
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Outra definição diz que há seca quando a precipitação anual (ou mensal) e 75% (ou 60%) da normal.
E evidente, diz o autor, que se não deve definir a seca deste modo, sem atender à água necessária. A seca não começa quando deixa de chover, mas quando o solo já não tem a água necessária às plantas. Uma deficiência de 50% numa região de chuva abundante, e em excesso, não é tão prejudicial como a mesma deficiência numa região onde a precipitação é a indispensável à agricultura.
Devemos agora notar que, embora estas observações sejam muito exactas, aquelas definições têm de ser utilizadas, pois não há ainda medidas para a água necessária ; e, em geral, a vegetação é escolhida pelo homem conforme o clima local, e portanto adaptada à média, e assim, um desvio desta média, não anda muito longe da água necessária.
Como as causas desta evapotranspiração variam ao longo do ano, há nesta grandeza elementos para uma divisão climática.
Este método de classificação de climas é considerado pelo seu autor como mais racional, e muito superior aos métodos antigos, pois diz que, embora nos valores de precipitação ou de evapotranspiração não haja pontos de variação brusca (break-points) mas ambos decorram continuamente, há na combinação destes elementos esses pontos notáveis.
E claro que a evapotranspiração não é em muitos casos um fenómeno natural ou real, mas unicamente potencial. Se não há humidade no solo também não há evaporação dele, nem as plantas podem transpirar.
Este novo elemento é o limite da quantidade de água que passaria à atmosfera, se a houvesse. Depende pois sobretudo da temperatura do lugar e da cobertura vegetal.
Quanto a este último aspecto, note-se que ele tem sido estudado pelos botânicos, e, segundo o autor, desde que a zona das raízes das plantas está bem fornecida de água, a quantidade que transpira duma área completamente coberta depende mais da energia solar recebida pela superfície e da sua consequente temperatura, do que da natureza das plantas.
Os geólogos americanos da Geological Survey publicaram recentemente um extenso trabalho (3) «Use of water by bottom-land vegetation in Lower Safford Valley Arizona» sobre a evaporação de água pelas plantas arbustivas que ocupam grande parte da região, água que se perde para a atmosfera, . uma vez que tais arbustos não são aproveitados.
Fazendo este estudo por meia dúzia de processos chegaram à conclusão que, nesta região de clima árido e suave (chuvas anuais 23 cm.), e ocupando as plantas o solo na sua máxima quantidade, a tramagueira (tamarix gallica) consome perto de 220 cm. de água.
O choupo (populas fremonti) consome cerca de 180 cm. etc.Concluem daqui que, para poupar água, e preferível des
truir esta vegetação e substituí-la por ervas.Nesta ordem de ideias nota que há uma estreita relação
entre as temperaturas medias mensais (corrigidas do comprimento do dia, ao longo dos meses do ano) e a evapotranspira- ção potencial.
Com os quadros e gráficos do autor (1) calculamos para os nossos 12 principais postos meteorológicos este novo elemento, obtendo os valores que constam do quadro seguinte, onde na l.a coluna figura este elemento, em milímetros, na 2.a a chuva caída, na 3.a o excesso da água caída (incluindo neve), acima da necessária, e na 4.a a falta de água, isto é, os valores da l.a menos os da 2.a coluna.
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(1) A relação entre a temperatura média mensal t e a evapotranspiração potencial e é expressa pela fórmula
em que c e a são coeficientes variáveis com o clima.
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Vê-se neste quadro, o que aliás já todos sabemos, que chove demasiado no inverno, e de menos no verão. Daqui a necessidade de regas especialmente nos climas mediterrâneos.
As plantas aguentam-se ainda algum tempo depois de acabarem as chuvas, pois extraem do solo a água necessária. Supõe o dito autor que, embora a quantidade de água armazenada varie bastante com a natureza do solo, e desde que a camada de solo não seja muito delgada, e desde que as plantas já tenham desenvolvido o seu sistema radicular, poderemos supor que para o seu amadurecimento elas necessitam ainda de 10 cm. de água.
Na fig. 1 com os gráficos de 4 estações vê-se o excesso de chuva no inverno, e até que época chegam os 10 cm. de água armazenada. Daí em diante é necessário recorrer à rega. Depois, nota o autor que é necessário urmazenar no solo aqueles 10 cm., e a água só começa a ser excessiva depois disso. É claro que as coisas passam-se assim quando a água que chove é quase completamente absorvida pela terra, pois, em geral, grande parte da água corre imediatamente à superfície, sobretudo nos aguaceiros.
Assim, em Montalegre, só no princípio de Julho será necessária a rega, e só no princípio de Novembro a água começa a ser em excesso.
Na mesma figura vão indicados os meses necessários para a terra fazer o seu armazenamento de/10 cm.
Devemos ainda notar que nem tpua a água caída além da necessitada imediatamente, e da que é preciso para o armazenamento, fica perdida, pois uma parte dela vai preencher os armazéns subterrâneos mais profundos, onde as raízes não chegam, armazéns donde o homem a vai buscar para regas, indo outra parte surgir mais além nas fontes.
Modernamente até se armazena em albufeiras grande parte da água que seria perdida à superfície, sistema que vai regular o regime dos rios onde elas se instalam.
Só é em excesso aquela que vai directamente para o mar.
Em Moncorvo, região de séca, já no fim de Abril se equilibra a água caída com a necessária, e no fim de Junho está esgotada a reserva de 10 cm. Será necessária a rega até ao fim de Setembro, se o homem não escolher culturas que amadureçam antes, ou que tenham raízes profundas, como a vinha.
Também na Régua ou em Vila Real se vê que no fim de Junho está esgotada a reserva de água, pelo que será necessário regar até ao fim de Setembro. Como é sabido é esta a região do Vinho do Porto, e o que as uvas mais precisam é irradiação solar muito intensa e prolongada (1).
No Alentejo (Evora, Beja, Campo Maior e Moura) também no fim de Junho está esgotada a reserva, e nestes últimos locais será necessário ter, para regas, mais de 40 cm. de água, querendo ter o solo em produção.
Em Faro, região das mais áridas do País, já no fim de Maio está esgotada a reserva do solo, e, para rega, será necessário obter até ao fim de Outubro, 48 cm. de água.
Vê-se assim como é possível, por estudos desta ordem, conhecer as regiões onde é mais necessária a água de regas, e saber se cai água que chegue para elas, procurando armaze- ná-la quando chove em excesso.
O autor apresenta cartas dos Estados Unidos mostrando a distribuição da evapotranspiração média anual, da deficiência de água, e do excesso dela.
Na nossa fig. 2 apresentamos uma carta de Portugal com a distribuição da evapotranspiração anual, em cm., aproveitando ao todo 43 postos. No Norte é fácil de traçar esta carta, pois tendo os valores calculados para os vários postos obtemos aquelas curvas seguindo aproximadamente as isotérmicas anuais; já no Sul o traçado é mais incerto.
Acolá esta grandeza é inferior a 70 nas partes altas, e superior a 70 nas baixas, só atingindo 80 no Alto Douro, região de características mediterrâneas.
No Sul atinge o valor 80 na faixa costeira e na parte oriental, onde o clima tem características análogas.
Nota ainda aquele autor que o excesso de água, assim calculado, é da mesma ordem de grandeza que a água que
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corre à superfície (runoff) e que há muitos anos se mede nos Estados Unidos.
Chama ainda a atenção para a necessidade contínua destes estudos, corrigindo-se talvez a sua fórmula que liga a evapotranspiração com a temperatura.
Para a classificação dos climas usa, como dissemos, dois índices: o da humidade e o da temperatura.
O índice da humidade exprime a relação (x 100) entre o excesso de água e a água necessária à evapotranspiração; o índice de aridez exprime a relação do déficit de água para o mesmo denominador, isto e,
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Para tomar em consideração, simultâneamente, estes dois índices imagina um outro («moisture index»)
que justifica pelo facto das raizes das plantas vivazes irem mais longe buscar a água necessária, diminuindo assim para 6 décimos a influência do índice de aridez.
Com o índice Ih como ordenada, e o índice Ia como abcissa fizemos o gráfico da fig. 3. Os climas com o mesmo Im ficam ao longo das diagonais.
Destas diagonais traçamos as que separam faixas que representam o mesmo clima, e cujo nome figura ao lado.
As linhas de separação com o mesmo índice Im são:
No quadro adiante publicado vão marcados os postos do País, distinguindo-se os 12 fundamentais com pequenos quadrados.
Atendendo à maneira como estão distribuidos os postos e supondo que está representado todo o País, vê-se : 1) que é bastante arbitrária a separação entre B1 e B2, 2) que é mais importante a separação entre B1 e C2, 3) que é igualmente arbitrária entre C1 e C2.
Tal arbitrariedade aparece sempre em classificação de fenómenos naturais.
Isto aplicado à carta de Portugal (fig. 4) mostra:1) que só Coimbra e Caldas de Monchique ocupam a área B2,
isto é, são um pouco mais húmidas que as terras da área B1.Não valerá a pena estabelecer uma secção só para estas
duas estações? Vale, porque Coimbra, representando uma área grande, mostra, comparada com o interior, também baixo, (Castelo Branco) 11a mesma latitude, um clima mais húmido.
2) que há uma separação real entre a parte menos húmida do S. e a parte mais húmida do N. (excluindo os altos).
3) que a separação entre a costa da metade S. e o interior correspondente é bastante arbitrária, como já fizemos notar.
Na carta de Portugal vão indicadas as áreas que correspondem aos vários índices.
Para se ter uma ideia da incerteza destes limites, os quais acompanham naturalmente os valores médios da temperatura e precipitações, veja-se o seguinte facto:
Pelos valores de Faro relativos ao período de 1901 a 1930 a área D que lhe corresponde é um pouco maior do que a figurada, e pelos valores deduzidos de 1931 a 48 esta cidade fica na área C. Tal facto resulta da temperatura média dos meses de verão nos dois períodos ser diferente. Assim, em Agosto dá respectivamente valores 24°,1 e 21°,4.
Para os outros meses a diferença é menor.Para Tavira o período 1931 a 48 dá a característica C1,
mas não registamos no mapa este valor.Para um mapa definitivo convinha usar o mesmo período
para todos os postos, o que não é, por enquanto, possível.
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Como o valor do índice da humidade varia ao longo do ano, de estação para estação, o autor estabeleceu, como já fez na sua classificação anterior, um novo subíndice.
(1) Verão abrange toda a época em que há deficiência de água e não só os 3 meses Jun. Jul. Ag.
Quase todos os postos portugueses estão na categoria $2, isto é, grande falta de água no verão, e excesso dela no inverno.
Numa divisão climática de Portugel pouco interessa este índice, porque além dos altos do Caramulo e das Penhas Douradas (Serra da Estrela) só acima do Porto há uma faixa costeira 8, abrangendo Braga e Viana. Porisso não o representamos, simplificando assim a carta.
O outro indica que o autor usa, o da eficiência termal, é também a evapotranspiração potencial.
Admitindo que nas regiões equatoriais, onde a temperatura média anual é 23°, se estabelece o limite entre os climas meso- termais e megatermais, e sendo no equador (nesta temperatura) a evapotranspiração 114 cm., e estabelecendo os outros limites para valores abaixo destes, em progressão geométrica de razão 2, obtém-se os limites;
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Em Portugal quase só há os índices meso termais B'1, B2', a não ser em Campo Maior, Moura e Caldas de Monchique onde este índice sai fora deste tipo.
B'1 fica nos altos do N., ficando a parte mais baixa, a começar na metade inferior do vale do Douro, e todo o S. do País com B'2, excepto junto à fronteira.
Tudo vai indicado na carta junta.Analogamente ao que fez com o índice da humidade tam
bém aqui estabeleceu subíndices de eficiência termal, que exprimem a concentração daquele índice nos 3 meses de verão, para o que basta ver a sua percentagem para o ano.
Partindo da ideia que no equador a evapotranspiração está regularmente distribuída durante o ano, e portanto a concentração é 25 %, e que nas regiões polares só no verão há evaporação, e portanto 100 %, faz corresponder aos limites já determinados, as percentagens seguintes :
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Casos há em que a percentagem obtida não cai nos intervalos correspondentes ao do índice de eficiência termal, como acontece em Portugal.
Por exemplo, Coimbra tem uma concentração 43%, e cai porisso no tipo a', ao passo que pelo índice de eficiência termal (76,5) devia cair no b'2.
Esta anomalia resulta de Portugal estar situado numa zona de influência marítima.
Tal anomalia pode ser aproveitada para ver onde é que o clima corresponde à latitude.
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Temos quase sempre estas anomalias no tipo de concentração no verão, e esta está, em geral, três graus da escala (a última coluna do quadro da pág. 18 e 19) abaixo do normal, o que resulta da invasão de massas de ar fresco e húmido vindo do mar.
Só na zona interior, esta influência e fraca, e os valores da concentração são sensivelmente os normais; aquelas diferenças Δ são 0, ou 1 ou 2; são as áreas de clima continental mediterrâneo de Gaussen.
Com estes elementos elaboramos a carta junta, onde se notam, em geral dois índices, havendo apenas um terceiro em dois casos.
1) Como quase todos os postos são do tipo s2 (grande excesso de chuva no inverno) dispensamo-nos de escrever este índice, e só indicamos com s (moderado excesso de água no inverno) os postos de Viana, Braga, S.a do Pilar, Penhas Douradas e Caramulo.
2) Como Portugal fica sujeito à influência marítima só nos postos perto da fronteira esta influência ó pequena, ficando assim com o carácter continental. Para tais postos escrevemos o índice da concentração da eficiência termal, índice que permite distinguir estes dos postos da mesma latitude, mas mais perto da costa.
De contrário, Castelo Branco, no interior, e Marinha Grande, junto da costa ficariam com os mesmos índices, e assim distinguem-se pela existência do último índice que marca o predomínio da influência continental.
Do mesmo modo Santarém e Portalegre distinguem-se por haver neste último posto, apesar do seu elevado índice de humidade (48 contra 36 de Santarém, resultado da sua altitude de 500m) já influência continental; Δ = 3 para Santarém e A = 2 para Portalegre.
Se tivéssemos escrito sempre este último índice haveria a separação em áreas mais pequenas.
Tal facto não só complicaria a carta devido à dificuldade de marcar limites, mas daria a impressão duma carta minuciosa, o que não é verdade.
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Ela foi executada sobre dados que são ainda pouco homogéneos. Os dos postos principais referem-se ao período de 1901 a 1930, mas os outros chegam às vezes a abranger um período de meia dúzia de anos, e referem-se (no Sul do Alentejo) a época que chegam até 1948, e é sabido que nos últimos anos o clima não é o normal.
Não sendo Portugal muito montanhoso, especialmente no Sul, é natural que o clima passe por todos os graus sucessivos quando comparamos 2 postos. Assim, se em Vidago há o índice Bi, e em Montalegre o índice B4, haverá entre estes dois postos os índices B3 e B2) que se não indicam na carta, por falta de postos.
Por todas estas razões a carta é unicamente uma tentativa de divisão climática segundo estes novos índices.
Atribuimos à região do Douro internacional a caracterís- tiea D pelos elementos que nos foram fornecidos pelo ilustre meteorologo espanhol Grarcia Lorente.
E notável o facto, há muito acentuado, de haver em Portugal tão grande variedade de índices (14 contando só 2 índices), apesar da sua pequena extensão.
Comparação dos métodos de classificação climática
Como já dissemos, esta classificação não é feita sobre o tipo da vegetação natural, como foi a que 0 autor apresentou há anos, mas é antes fundada em fenómenos mais simples, como a evaporação e a transpiração.
Por isso o seu autor a considera racional.O autor, aproveitando só os dois elementos, temperatura e
precepitações estabelece um método de classificação que pode ser usado quase por toda a parte, pois estes elementos são observados há muitos anos e são ao mesmo tempo o resultado doutros elementos.
O nosso estudo sobre o vento em Portugal (1) mostrou que 0 verão predomina o rumo NW, excepto na região de Campo
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Maior que o tem W, e na costa do Algarve oriental, em que predomina o SW. Como ó, em cada estação, o vento que produz a maior ou menor temperatura, resulta daqueles rumos a aridez das regiões indicadas.
No inverno os ventos são mais irregulares, e a sua resultante e menor, predominando o rumo N. (excepto nos altos da Serra da Estrela), pelo que temos ainda a influência dos ventos de NE ou E, vindos do interior da Península.
Outro elemento importante é a irradiação solar (1) estreitamente ligada à nebulosidade, e no mesmo estudo mostramos que por ela se separa o N. do S. de Portugal, porque no N a fracção do dia em que o sol, estando acima do horizonte, se vê, e manda radiação directamente para o solo, anda por 50 a 55°/o, sendo os valores mais baixos junto à costa.
No S. este valor anda de 60 a 70°/o, tendo o valor mais alto no interior das planícies alentejanas, junto à fronteira.
Yê-se pois que tomando, como e costume, só os valores da temperatura e precepitações, tomamos os elementos principais.
Têm sido várias as divisões climáticas apresentadas, quer de Portugal, quer do globo todo.
O que se procura com tais divisões?Como o homem é, afinal, a medida de todas as coisas—já
o disseram os gregos — procura-se, combinando de diferentes modos os valores medidos dos vários elementos, obter uma divisão que corresponda à nossa sensibilidade, quando transportados para os vários meios.
O ambiente — atmosfera, sol — actua sobre nós, e sobre o aue nos cerca; umas vezes faz-se a classificação dos climas atendendo especialmente à acção imediata sobre o homem, e então atende-se sobretudo à temperatura e suas variações durante o dia e a noite, e ao longo do ano; outras vezes, como nas classificações de Koppen, de Gaussen, e na antiga de Thornthwaite a planta é, como diz o nosso autor, um instrumento meteorológico que integra os vários factores do
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clima, e que, com a prática, pode ser lido como se lê um ter- mómetro ou um pluviómetro. No estudo que estamos apreciando, diz ainda o autor «a vegetação é considerada como um mecanismo físico, pelo qual a água é transportada do solo para a atmosfera; ela é a máquina de evaporação, do mesmo modo que a nuvem é a máquina de precipitação».
Acresce ainda o facto de, num país como Portugal, cultivado há tantos séculos, a vegetação ter sido em grande parte modificada pelo homem, destruindo não só as plantas inúteis, como até muitas vezes as mediatamente úteis, para só se importar com as que lhe dão um proveito imediato.
Compreende-se como todas as classificações de climas são arbitrárias, e a dificuldade está em ver qual a combinação dos elementos medidos, ou a medir, que pode fazer essa classificação.
É claro que estas combinações nos devem permitir fazer divisões que estejam de harmonia com a nossa sensibilidade.
Há pois divisões climáticas melhores ou piores, conforme o critério a adoptar, e não há nenhuma absolutamente racional e indiscutível. A que aqui apresentamos parece-nos a melhor das apresentadas até hoje. Falta encontrar-se, como diz o seu autor, um melhor processo para obter a evapotrans- piração potencial.
Clima e solo
O solo, como diz Hugo del Villar, é um produto de um conjunto de factores, entre os quais figuram o subsolo, o clima e a vegetação.
Thorntwaite no seu trabalho de 1931 apresentou o seguinte esquema, com duas dimensões, em que as abcissas são os índices de eficiência de precipitações (P E) e as ordenadas os índices de eficiência de temperatura (T E). A parte que inte
No seu ultimo trabalho (1948) nota o autor que os processos que formam o solo estão ligados à falta ou ao excesso de águas.
Embora seja sabido que nas grandes divisões da superfície da Terra, quanto aos solos, o clima predomina na constituição deles, o mesmo se não pode afirmar em áreas mais pequenas, como dentro de Portugal.
Comparando a carta de Hugo del Villar (3), com a nossa carta climática, pode-se ver como, ora predomina um factor — o clima — ora outro — o subsolo.
Assim no NW, onde há mais humidade (AB' ou AB'2) predomina o solo de humus ácido, com lavagem de sesquióxidos nos níveis mais altos (N º 2 daquele autor). Nas regiões de clima seco, C1, do Alto Douro, e da parte oriental do Alem- tejo, predomina o solo sialítico intermédio.
Já nas Orlas Mesozoicas, com o subsolo calcáreo e também solo calcáreo, o dito autor não faz distinção entre a Orla Meridional, mais árida, e a Ocidental. Predomina pois a natureza das rochas do subsolo.
ressa a Portugal, com os índices daquela classificação é a seguinte :
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Comunicação apresentada ao Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências, realizado
em Lisboa, em Outubro de 1950
J. Custódio de Morais
BIBLIOGRAFIA
1 — Morais. J, C. — Estudo sobre o clima de Portugal in Publ. do Inst, do Climat. e Hidrol. da Univ. de Coimbra viu 1946.
— Divisões climáticas de Portugal in Mem. e Noticias N.° 19. Publ. do Mus. e Lab. Min. e Geol. da Univ. de Coimbra.
— A radiação solar em Portugal in Mem. e Notícias N.° 13.2 — Thorntwaite. G. W . — The climates of North America in Geographical
Review Oct. 1931.— The climates of the Earth in idem July 1933.— An approach toward a rational classification of climate, in idtm.
Vol. xxxviii n. 1. 1948— Climates and moisture conservation in Annals of the Assoc, of. Am.
Geograph. Jun. 1947.3 — Gatewood, S. J. & in Geol. Survey water supply paper 1103-1950.4 — Del. Villar. E. H. — Los suelos de la Península Luso-Ibérica.
Madrid 1937.
The author has been publishing some papers on the climate of Portugal, and has issued one with the climatic indices of Thornthwaite. Now he applies to Portugal the new indices of the same meteorologist, wich are not based on the study of vegetation but on a simpler phenomenon — potencial evapotranspiration —.
There are no absolutley good climatic divisions, some are better than the others, and the one of Mr. Thornthwaite appears to be the best.
Summary
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