25
A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Divisão climática de Portugal Autor(es): Morais, J. Custódio de Publicado por: Museu Mineralógico e Geológico URL persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37968 Accessed : 7-Nov-2021 03:45:47 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de

acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)

documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s)

título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do

respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito

de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste

documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

Divisão climática de Portugal

Autor(es): Morais, J. Custódio de

Publicado por: Museu Mineralógico e Geológico

URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37968

Accessed : 7-Nov-2021 03:45:47

digitalis.uc.ptimpactum.uc.pt

Page 2: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO

N.° 27

Memóriase Notícias

C O I M B R AT I P O G R A F I A D A A T L Â N T I D A

1950

DAUNIVERSIDADE DE COIMBRA

Page 3: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Divisão climática de Portugal

Divisão antiga

Em 1946 (1) publicámos um trabalho sobre o clima de Por­tugal, onde apresentámos um quadro com as várias divisões até aí propostas, juntando a nossa divisão pelos índices do meteorologista americano Tornthwaite.

Êste autor, aproveitando os valores médios mensais de pre­cipitações e temperatura, valores há muito medidos por toda a parte, estabeleceu quatro índices para cada região :

1.° índice de eficiência de precipitação, conforme os tipos de vegetação natural, (floresta húmida, floresta, pastagem, estepa, deserto).

2.° Atendendo ao carácter cíclico anual dos elementos meteorológicos, estabeleceu subdivisões, conforme a humidade é abundante ou deficiente no verão ou no inverno.

3.° índice de eficiência de temperatura.4.° índice de percentagem da concentração da eficiência

de temperatura no verão.Aproveitando os elementos meteorológicos fornecidos pelo

Serviço Meteorológico Nacional organizámos um quadro e um mapa com as divisões climáticas de Portugal.

Por qualquer processo de divisão usado se vê que há dife­renças entre o N. e o S. do País : a N. há mais variedade de tipos, pois contrapõe-se a costa marítima às regiões altas, mais húmidas, e ao interior de regiões secas, já de influências con­tinentais, com o carácter mediterrâneo.

Na parte S., a menor quantidade de chuva e o fraco relevo, criam uma grande homogeneidade, sendo difícil estabelecer linhas divisórias, pois ficam muito arbitrárias.

Page 4: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

102

No N. a passagem das regiões baixas às altas é, na escala da carta, fácil de marcar. Depois do ar húmido, vindo do mar, galgar as montanhas, já pouca chuva dá. Estes factos bastam para marcar diferenças.

No S., se há diferença entre a costa mais húmida e de menor variação de temperatura e o interior, de carácter conti­nental, a passagem é lenta, excepto no Algarve onde a topo­grafia cria condições ligeiramente diferentes.

Divisão moderna

Na Geographical Review (2) de Janeiro de 1948 o citado autor apresenta uma nova base de classificação de climas, que considera mais racional que as anteriores, fundada ainda nos valores mensais, médios, de temperatura e precipitação.

Nota o autor que tem faltado o estudo da evaporação não só da água do solo, mas ainda a medida da água que as plan­tas transportam para a atmosfera.

A evaporação que em geral se regista, não é a do solo, mas a quantidade de água que se evapora dum vaso aberto, com ela, e que é naturalmente muito superior à que se evapora do solo.

O citado autor criou para esta evaporação em conjunto, o termo evapotranspiração.

Considera um clima húmido, não aquele em que chove bas­tante, mas aquele em que a evapotranspiração é menor do que a quantidade de água caída. Do mesmo modo um clima seco é aquele em que as precipitações não chegam para as necessi­dades da evapotranspiração.

Define-se geralmente como seca ou estiagem um período de dias consecutivos sem chuva.

Assim, na Inglaterra, torna-se como seca o período de 15 dias seguidos, em nenhum dos quais houve mais de 2,5 mm. de chuva.

Page 5: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

103

Outra definição diz que há seca quando a precipitação anual (ou mensal) e 75% (ou 60%) da normal.

E evidente, diz o autor, que se não deve definir a seca deste modo, sem atender à água necessária. A seca não começa quando deixa de chover, mas quando o solo já não tem a água necessária às plantas. Uma deficiência de 50% numa região de chuva abundante, e em excesso, não é tão prejudicial como a mesma deficiência numa região onde a precipitação é a indis­pensável à agricultura.

Devemos agora notar que, embora estas observações sejam muito exactas, aquelas definições têm de ser utilizadas, pois não há ainda medidas para a água necessária ; e, em geral, a vegetação é escolhida pelo homem conforme o clima local, e portanto adaptada à média, e assim, um desvio desta média, não anda muito longe da água necessária.

Como as causas desta evapotranspiração variam ao longo do ano, há nesta grandeza elementos para uma divisão climá­tica.

Este método de classificação de climas é considerado pelo seu autor como mais racional, e muito superior aos métodos antigos, pois diz que, embora nos valores de precipitação ou de evapotranspiração não haja pontos de variação brusca (break-points) mas ambos decorram continuamente, há na com­binação destes elementos esses pontos notáveis.

E claro que a evapotranspiração não é em muitos casos um fenómeno natural ou real, mas unicamente potencial. Se não há humidade no solo também não há evaporação dele, nem as plantas podem transpirar.

Este novo elemento é o limite da quantidade de água que passaria à atmosfera, se a houvesse. Depende pois sobretudo da temperatura do lugar e da cobertura vegetal.

Quanto a este último aspecto, note-se que ele tem sido estudado pelos botânicos, e, segundo o autor, desde que a zona das raízes das plantas está bem fornecida de água, a quantidade que transpira duma área completamente coberta depende mais da energia solar recebida pela superfície e da sua consequente temperatura, do que da natureza das plantas.

Page 6: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Os geólogos americanos da Geological Survey publicaram recentemente um extenso trabalho (3) «Use of water by bot­tom-land vegetation in Lower Safford Valley Arizona» sobre a evaporação de água pelas plantas arbustivas que ocupam grande parte da região, água que se perde para a atmosfera, . uma vez que tais arbustos não são aproveitados.

Fazendo este estudo por meia dúzia de processos chega­ram à conclusão que, nesta região de clima árido e suave (chuvas anuais 23 cm.), e ocupando as plantas o solo na sua máxima quantidade, a tramagueira (tamarix gallica) consome perto de 220 cm. de água.

O choupo (populas fremonti) consome cerca de 180 cm. etc.Concluem daqui que, para poupar água, e preferível des­

truir esta vegetação e substituí-la por ervas.Nesta ordem de ideias nota que há uma estreita relação

entre as temperaturas medias mensais (corrigidas do compri­mento do dia, ao longo dos meses do ano) e a evapotranspira- ção potencial.

Com os quadros e gráficos do autor (1) calculamos para os nossos 12 principais postos meteorológicos este novo elemento, obtendo os valores que constam do quadro seguinte, onde na l.a coluna figura este elemento, em milímetros, na 2.a a chuva caída, na 3.a o excesso da água caída (incluindo neve), acima da necessária, e na 4.a a falta de água, isto é, os valores da l.a menos os da 2.a coluna.

104

(1) A relação entre a temperatura média mensal t e a evapotranspiração potencial e é expressa pela fórmula

em que c e a são coeficientes variáveis com o clima.

Page 7: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 8: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

106

Vê-se neste quadro, o que aliás já todos sabemos, que chove demasiado no inverno, e de menos no verão. Daqui a necessidade de regas especialmente nos climas mediter­râneos.

As plantas aguentam-se ainda algum tempo depois de acabarem as chuvas, pois extraem do solo a água necessária. Supõe o dito autor que, embora a quantidade de água arma­zenada varie bastante com a natureza do solo, e desde que a camada de solo não seja muito delgada, e desde que as plan­tas já tenham desenvolvido o seu sistema radicular, poderemos supor que para o seu amadurecimento elas necessitam ainda de 10 cm. de água.

Na fig. 1 com os gráficos de 4 estações vê-se o excesso de chuva no inverno, e até que época chegam os 10 cm. de água armazenada. Daí em diante é necessário recorrer à rega. Depois, nota o autor que é necessário urmazenar no solo aqueles 10 cm., e a água só começa a ser excessiva depois disso. É claro que as coisas passam-se assim quando a água que chove é quase completamente absorvida pela terra, pois, em geral, grande parte da água corre imediatamente à super­fície, sobretudo nos aguaceiros.

Assim, em Montalegre, só no princípio de Julho será neces­sária a rega, e só no princípio de Novembro a água começa a ser em excesso.

Na mesma figura vão indicados os meses necessários para a terra fazer o seu armazenamento de/10 cm.

Devemos ainda notar que nem tpua a água caída além da necessitada imediatamente, e da que é preciso para o arma­zenamento, fica perdida, pois uma parte dela vai preencher os armazéns subterrâneos mais profundos, onde as raízes não chegam, armazéns donde o homem a vai buscar para regas, indo outra parte surgir mais além nas fontes.

Modernamente até se armazena em albufeiras grande parte da água que seria perdida à superfície, sistema que vai regu­lar o regime dos rios onde elas se instalam.

Só é em excesso aquela que vai directamente para o mar.

Page 9: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 10: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Em Moncorvo, região de séca, já no fim de Abril se equi­libra a água caída com a necessária, e no fim de Junho está esgotada a reserva de 10 cm. Será necessária a rega até ao fim de Setembro, se o homem não escolher culturas que ama­dureçam antes, ou que tenham raízes profundas, como a vinha.

Também na Régua ou em Vila Real se vê que no fim de Junho está esgotada a reserva de água, pelo que será neces­sário regar até ao fim de Setembro. Como é sabido é esta a região do Vinho do Porto, e o que as uvas mais precisam é irradiação solar muito intensa e prolongada (1).

No Alentejo (Evora, Beja, Campo Maior e Moura) também no fim de Junho está esgotada a reserva, e nestes últimos locais será necessário ter, para regas, mais de 40 cm. de água, querendo ter o solo em produção.

Em Faro, região das mais áridas do País, já no fim de Maio está esgotada a reserva do solo, e, para rega, será necessário obter até ao fim de Outubro, 48 cm. de água.

Vê-se assim como é possível, por estudos desta ordem, conhecer as regiões onde é mais necessária a água de regas, e saber se cai água que chegue para elas, procurando armaze- ná-la quando chove em excesso.

O autor apresenta cartas dos Estados Unidos mostrando a distribuição da evapotranspiração média anual, da deficiência de água, e do excesso dela.

Na nossa fig. 2 apresentamos uma carta de Portugal com a distribuição da evapotranspiração anual, em cm., aprovei­tando ao todo 43 postos. No Norte é fácil de traçar esta carta, pois tendo os valores calculados para os vários postos obtemos aquelas curvas seguindo aproximadamente as isotér­micas anuais; já no Sul o traçado é mais incerto.

Acolá esta grandeza é inferior a 70 nas partes altas, e supe­rior a 70 nas baixas, só atingindo 80 no Alto Douro, região de características mediterrâneas.

No Sul atinge o valor 80 na faixa costeira e na parte oriental, onde o clima tem características análogas.

Nota ainda aquele autor que o excesso de água, assim calculado, é da mesma ordem de grandeza que a água que

108

Page 11: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 12: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

corre à superfície (runoff) e que há muitos anos se mede nos Estados Unidos.

Chama ainda a atenção para a necessidade contínua destes estudos, corrigindo-se talvez a sua fórmula que liga a evapo­transpiração com a temperatura.

Para a classificação dos climas usa, como dissemos, dois índices: o da humidade e o da temperatura.

O índice da humidade exprime a relação (x 100) entre o excesso de água e a água necessária à evapotranspiração; o índice de aridez exprime a relação do déficit de água para o mesmo denominador, isto e,

110

Para tomar em consideração, simultâneamente, estes dois índices imagina um outro («moisture index»)

que justifica pelo facto das raizes das plantas vivazes irem mais longe buscar a água necessária, diminuindo assim para 6 décimos a influência do índice de aridez.

Com o índice Ih como ordenada, e o índice Ia como abcissa fizemos o gráfico da fig. 3. Os climas com o mesmo Im ficam ao longo das diagonais.

Destas diagonais traçamos as que separam faixas que representam o mesmo clima, e cujo nome figura ao lado.

As linhas de separação com o mesmo índice Im são:

Page 13: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 14: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

No quadro adiante publicado vão marcados os postos do País, distinguindo-se os 12 fundamentais com pequenos qua­drados.

Atendendo à maneira como estão distribuidos os postos e supondo que está representado todo o País, vê-se : 1) que é bastante arbitrária a separação entre B1 e B2, 2) que é mais importante a separação entre B1 e C2, 3) que é igualmente arbi­trária entre C1 e C2.

Tal arbitrariedade aparece sempre em classificação de fenó­menos naturais.

Isto aplicado à carta de Portugal (fig. 4) mostra:1) que só Coimbra e Caldas de Monchique ocupam a área B2,

isto é, são um pouco mais húmidas que as terras da área B1.Não valerá a pena estabelecer uma secção só para estas

duas estações? Vale, porque Coimbra, representando uma área grande, mostra, comparada com o interior, também baixo, (Castelo Branco) 11a mesma latitude, um clima mais húmido.

2) que há uma separação real entre a parte menos húmida do S. e a parte mais húmida do N. (excluindo os altos).

3) que a separação entre a costa da metade S. e o interior correspondente é bastante arbitrária, como já fizemos notar.

Na carta de Portugal vão indicadas as áreas que corres­pondem aos vários índices.

Para se ter uma ideia da incerteza destes limites, os quais acompanham naturalmente os valores médios da temperatura e precipitações, veja-se o seguinte facto:

Pelos valores de Faro relativos ao período de 1901 a 1930 a área D que lhe corresponde é um pouco maior do que a figu­rada, e pelos valores deduzidos de 1931 a 48 esta cidade fica na área C. Tal facto resulta da temperatura média dos meses de verão nos dois períodos ser diferente. Assim, em Agosto dá respectivamente valores 24°,1 e 21°,4.

Para os outros meses a diferença é menor.Para Tavira o período 1931 a 48 dá a característica C1,

mas não registamos no mapa este valor.Para um mapa definitivo convinha usar o mesmo período

para todos os postos, o que não é, por enquanto, possível.

112

Page 15: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 16: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra
Page 17: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

115

Como o valor do índice da humidade varia ao longo do ano, de estação para estação, o autor estabeleceu, como já fez na sua classificação anterior, um novo subíndice.

(1) Verão abrange toda a época em que há deficiência de água e não só os 3 meses Jun. Jul. Ag.

Page 18: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Quase todos os postos portugueses estão na categoria $2, isto é, grande falta de água no verão, e excesso dela no inverno.

Numa divisão climática de Portugel pouco interessa este índice, porque além dos altos do Caramulo e das Penhas Dou­radas (Serra da Estrela) só acima do Porto há uma faixa cos­teira 8, abrangendo Braga e Viana. Porisso não o representa­mos, simplificando assim a carta.

O outro indica que o autor usa, o da eficiência termal, é também a evapotranspiração potencial.

Admitindo que nas regiões equatoriais, onde a temperatura média anual é 23°, se estabelece o limite entre os climas meso- termais e megatermais, e sendo no equador (nesta temperatura) a evapotranspiração 114 cm., e estabelecendo os outros limites para valores abaixo destes, em progressão geométrica de razão 2, obtém-se os limites;

116

Em Portugal quase só há os índices meso termais B'1, B2', a não ser em Campo Maior, Moura e Caldas de Monchique onde este índice sai fora deste tipo.

B'1 fica nos altos do N., ficando a parte mais baixa, a come­çar na metade inferior do vale do Douro, e todo o S. do País com B'2, excepto junto à fronteira.

Page 19: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Tudo vai indicado na carta junta.Analogamente ao que fez com o índice da humidade tam­

bém aqui estabeleceu subíndices de eficiência termal, que exprimem a concentração daquele índice nos 3 meses de verão, para o que basta ver a sua percentagem para o ano.

Partindo da ideia que no equador a evapotranspiração está regularmente distribuída durante o ano, e portanto a concen­tração é 25 %, e que nas regiões polares só no verão há eva­poração, e portanto 100 %, faz corresponder aos limites já determinados, as percentagens seguintes :

117

Casos há em que a percentagem obtida não cai nos inter­valos correspondentes ao do índice de eficiência termal, como acontece em Portugal.

Por exemplo, Coimbra tem uma concentração 43%, e cai porisso no tipo a', ao passo que pelo índice de eficiência ter­mal (76,5) devia cair no b'2.

Esta anomalia resulta de Portugal estar situado numa zona de influência marítima.

Tal anomalia pode ser aproveitada para ver onde é que o clima corresponde à latitude.

Page 20: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

118

Temos quase sempre estas anomalias no tipo de concen­tração no verão, e esta está, em geral, três graus da escala (a última coluna do quadro da pág. 18 e 19) abaixo do normal, o que resulta da invasão de massas de ar fresco e húmido vindo do mar.

Só na zona interior, esta influência e fraca, e os valores da concentração são sensivelmente os normais; aquelas diferen­ças Δ são 0, ou 1 ou 2; são as áreas de clima continental mediterrâneo de Gaussen.

Com estes elementos elaboramos a carta junta, onde se notam, em geral dois índices, havendo apenas um terceiro em dois casos.

1) Como quase todos os postos são do tipo s2 (grande excesso de chuva no inverno) dispensamo-nos de escrever este índice, e só indicamos com s (moderado excesso de água no inverno) os postos de Viana, Braga, S.a do Pilar, Penhas Douradas e Caramulo.

2) Como Portugal fica sujeito à influência marítima só nos postos perto da fronteira esta influência ó pequena, ficando assim com o carácter continental. Para tais postos escrevemos o índice da concentração da eficiência termal, índice que permite distinguir estes dos postos da mesma latitude, mas mais perto da costa.

De contrário, Castelo Branco, no interior, e Marinha Grande, junto da costa ficariam com os mesmos índices, e assim distinguem-se pela existência do último índice que marca o predomínio da influência continental.

Do mesmo modo Santarém e Portalegre distinguem-se por haver neste último posto, apesar do seu elevado índice de humidade (48 contra 36 de Santarém, resultado da sua altitude de 500m) já influência continental; Δ = 3 para Santa­rém e A = 2 para Portalegre.

Se tivéssemos escrito sempre este último índice haveria a separação em áreas mais pequenas.

Tal facto não só complicaria a carta devido à dificuldade de marcar limites, mas daria a impressão duma carta minuciosa, o que não é verdade.

Page 21: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

119

Ela foi executada sobre dados que são ainda pouco homo­géneos. Os dos postos principais referem-se ao período de 1901 a 1930, mas os outros chegam às vezes a abranger um período de meia dúzia de anos, e referem-se (no Sul do Alentejo) a época que chegam até 1948, e é sabido que nos últimos anos o clima não é o normal.

Não sendo Portugal muito montanhoso, especialmente no Sul, é natural que o clima passe por todos os graus sucessivos quando comparamos 2 postos. Assim, se em Vidago há o índice Bi, e em Montalegre o índice B4, haverá entre estes dois postos os índices B3 e B2) que se não indicam na carta, por falta de postos.

Por todas estas razões a carta é unicamente uma tentativa de divisão climática segundo estes novos índices.

Atribuimos à região do Douro internacional a caracterís- tiea D pelos elementos que nos foram fornecidos pelo ilustre meteorologo espanhol Grarcia Lorente.

E notável o facto, há muito acentuado, de haver em Portu­gal tão grande variedade de índices (14 contando só 2 índices), apesar da sua pequena extensão.

Comparação dos métodos de classificação climática

Como já dissemos, esta classificação não é feita sobre o tipo da vegetação natural, como foi a que 0 autor apresentou há anos, mas é antes fundada em fenómenos mais simples, como a evaporação e a transpiração.

Por isso o seu autor a considera racional.O autor, aproveitando só os dois elementos, temperatura e

precepitações estabelece um método de classificação que pode ser usado quase por toda a parte, pois estes elementos são observados há muitos anos e são ao mesmo tempo o resultado doutros elementos.

O nosso estudo sobre o vento em Portugal (1) mostrou que 0 verão predomina o rumo NW, excepto na região de Campo

Page 22: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

120

Maior que o tem W, e na costa do Algarve oriental, em que predomina o SW. Como ó, em cada estação, o vento que produz a maior ou menor temperatura, resulta daqueles rumos a aridez das regiões indicadas.

No inverno os ventos são mais irregulares, e a sua resul­tante e menor, predominando o rumo N. (excepto nos altos da Serra da Estrela), pelo que temos ainda a influência dos ven­tos de NE ou E, vindos do interior da Península.

Outro elemento importante é a irradiação solar (1) estrei­tamente ligada à nebulosidade, e no mesmo estudo mostramos que por ela se separa o N. do S. de Portugal, porque no N a fracção do dia em que o sol, estando acima do horizonte, se vê, e manda radiação directamente para o solo, anda por 50 a 55°/o, sendo os valores mais baixos junto à costa.

No S. este valor anda de 60 a 70°/o, tendo o valor mais alto no interior das planícies alentejanas, junto à fron­teira.

Yê-se pois que tomando, como e costume, só os valores da temperatura e precepitações, tomamos os elementos prin­cipais.

Têm sido várias as divisões climáticas apresentadas, quer de Portugal, quer do globo todo.

O que se procura com tais divisões?Como o homem é, afinal, a medida de todas as coisas—já

o disseram os gregos — procura-se, combinando de diferentes modos os valores medidos dos vários elementos, obter uma divisão que corresponda à nossa sensibilidade, quando trans­portados para os vários meios.

O ambiente — atmosfera, sol — actua sobre nós, e sobre o aue nos cerca; umas vezes faz-se a classificação dos climas atendendo especialmente à acção imediata sobre o homem, e então atende-se sobretudo à temperatura e suas variações durante o dia e a noite, e ao longo do ano; outras vezes, como nas classificações de Koppen, de Gaussen, e na antiga de Thornthwaite a planta é, como diz o nosso autor, um ins­trumento meteorológico que integra os vários factores do

Page 23: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

121

clima, e que, com a prática, pode ser lido como se lê um ter- mómetro ou um pluviómetro. No estudo que estamos apre­ciando, diz ainda o autor «a vegetação é considerada como um mecanismo físico, pelo qual a água é transportada do solo para a atmosfera; ela é a máquina de evaporação, do mesmo modo que a nuvem é a máquina de precipi­tação».

Acresce ainda o facto de, num país como Portugal, cul­tivado há tantos séculos, a vegetação ter sido em grande parte modificada pelo homem, destruindo não só as plan­tas inúteis, como até muitas vezes as mediatamente úteis, para só se importar com as que lhe dão um proveito ime­diato.

Compreende-se como todas as classificações de climas são arbitrárias, e a dificuldade está em ver qual a combinação dos elementos medidos, ou a medir, que pode fazer essa classifi­cação.

É claro que estas combinações nos devem permitir fazer divisões que estejam de harmonia com a nossa sensibi­lidade.

Há pois divisões climáticas melhores ou piores, conforme o critério a adoptar, e não há nenhuma absolutamente racio­nal e indiscutível. A que aqui apresentamos parece-nos a melhor das apresentadas até hoje. Falta encontrar-se, como diz o seu autor, um melhor processo para obter a evapotrans- piração potencial.

Clima e solo

O solo, como diz Hugo del Villar, é um produto de um con­junto de factores, entre os quais figuram o subsolo, o clima e a vegetação.

Thorntwaite no seu trabalho de 1931 apresentou o seguinte esquema, com duas dimensões, em que as abcissas são os índi­ces de eficiência de precipitações (P E) e as ordenadas os índices de eficiência de temperatura (T E). A parte que inte­

Page 24: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

No seu ultimo trabalho (1948) nota o autor que os proces­sos que formam o solo estão ligados à falta ou ao excesso de águas.

Embora seja sabido que nas grandes divisões da superfície da Terra, quanto aos solos, o clima predomina na constituição deles, o mesmo se não pode afirmar em áreas mais pequenas, como dentro de Portugal.

Comparando a carta de Hugo del Villar (3), com a nossa carta climática, pode-se ver como, ora predomina um factor — o clima — ora outro — o subsolo.

Assim no NW, onde há mais humidade (AB' ou AB'2) pre­domina o solo de humus ácido, com lavagem de sesquióxidos nos níveis mais altos (N º 2 daquele autor). Nas regiões de clima seco, C1, do Alto Douro, e da parte oriental do Alem- tejo, predomina o solo sialítico intermédio.

Já nas Orlas Mesozoicas, com o subsolo calcáreo e tam­bém solo calcáreo, o dito autor não faz distinção entre a Orla Meridional, mais árida, e a Ocidental. Predomina pois a natu­reza das rochas do subsolo.

ressa a Portugal, com os índices daquela classificação é a seguinte :

122

Page 25: Memórias e Notícias - Universidade de Coimbra

Comunicação apresentada ao Congresso Luso-Espanhol para o Avanço das Ciências, realizado

em Lisboa, em Outubro de 1950

J. Custódio de Morais

BIBLIOGRAFIA

1 — Morais. J, C. — Estudo sobre o clima de Portugal in Publ. do Inst, do Climat. e Hidrol. da Univ. de Coimbra viu 1946.

— Divisões climáticas de Portugal in Mem. e Noticias N.° 19. Publ. do Mus. e Lab. Min. e Geol. da Univ. de Coimbra.

— A radiação solar em Portugal in Mem. e Notícias N.° 13.2 — Thorntwaite. G. W . — The climates of North America in Geographical

Review Oct. 1931.— The climates of the Earth in idem July 1933.— An approach toward a rational classification of climate, in idtm.

Vol. xxxviii n. 1. 1948— Climates and moisture conservation in Annals of the Assoc, of. Am.

Geograph. Jun. 1947.3 — Gatewood, S. J. & in Geol. Survey water supply paper 1103-1950.4 — Del. Villar. E. H. — Los suelos de la Península Luso-Ibérica.

Madrid 1937.

The author has been publishing some papers on the cli­mate of Portugal, and has issued one with the climatic indi­ces of Thornthwaite. Now he applies to Portugal the new indices of the same meteorologist, wich are not based on the study of vegetation but on a simpler phenomenon — potencial evapotranspiration —.

There are no absolutley good climatic divisions, some are better than the others, and the one of Mr. Thornthwaite appears to be the best.

Summary

123