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2 TÉCHNE 150 | SETEMBRO DE 2009 ARTIGO Envie artigo para: [email protected]. O texto não deve ultrapassar o limite de 15 mil caracteres (com espaço). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG Durabilidade e proteção do concreto armado O primeiro indício do uso do con- creto armado no mundo ocorreu em 1850 na França por Jean-Louis Lambot. Isso significa que o concreto armado é um material ou sistema es- trutural relativamente “jovem”, com menos de 200 anos de existência, porém, a maioria das pessoas que o utilizam não tem consciência disso. A origem do concreto armado foi totalmente intuitiva e empírica. Nesse contexto, é compreensível que não se tenha pensado cuidadosamente na du- rabilidade dos materiais envolvidos. Contudo, pode-se dizer que a união desses dois materiais (aço + concreto) contou com um pouco de sorte para alcançar a grande aplica- ção que tem nos dias atuais. Isso por- que, felizmente, os coeficientes de expansão térmica dos dois materiais são similares e porque o aço dentro do concreto encontra-se em um meio altamente alcalino devido à forma- ção de cal, e esse meio com pH acima de 12 faz com que o aço não corroa. A menos que haja a presença de íons despassivantes ou redução do pH de- vido ao ataque por CO 2 , por exem- plo. Pode-se dizer que foi sorte, por- que essa teoria não era conhecida quando Lambot resolveu confeccio- nar os seus barcos. Marcelo Henrique Farias de Medeiros Prof. Dr. do Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná [email protected] Paulo Helene Prof. Dr. do Departamento de Engenharia Civil, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo Proteção de superfície no contexto da durabilidade do concreto armado Pensar em durabilidade do concre- to é algo extremamente novo. Há pou- cas décadas, esse assunto não era consi- derado um ponto de grande importân- cia. Existia uma impressão geral (tanto do meio técnico quanto do usuário) que o concreto armado tinha durabili- dade tão extrema que esse não era um ponto a se preocupar. Infelizmente a experiência mostrou o contrário, e há alguns anos a durabili- dade do concreto tem sido um dos as- suntos mais estudados na área de mate- riais de construção civil. Isso é reflexo do impacto econômico que os serviços de reparo e manutenção de edificações têm tomado em diversos países, como muito bem ilustrado na tabela 1. Dentro do tema durabilidade do concreto armado, existem várias linhas de pesquisa, passando pela dosagem ra- cional do concreto, uso de adições po- zolânicas, escória de alto forno, fibras, polímeros, entre outros. Contudo, todas essas aplicações são inerentes ao uso em estruturas novas (dosagem do concreto a ser empregado em uma edificação a ser construída). Nesse contexto, a proteção superficial do concreto figura como uma alternativa que pode ser usada em estru- turas novas e em estruturas antigas (tra- balhos de manutenção). Essa versatilida- de é uma das principais vantagens dessa ferramenta de elevação da durabilidade do concreto armado. Porém, é impor- tante ter em mente que nenhuma solu- ção é composta só por vantagens. No caso da proteção superficial, é de suma importância ter em mente que a durabi- lidade do sistema de proteção é muito inferior à do concreto que está sendo protegido. Isso significa que para manter o grau de proteção do sistema é necessá- rio que ele seja renovado de tempos em tempos, e esse período varia bastante em função da qualidade e do tipo do produ- to de proteção empregado. Tipos de sistemas de proteção de superfície Os materiais de proteção superfi- cial para concreto podem ser classifi- cados em formadores de película, hi- Tabela 1 – GASTOS COM REPARO E MANUTENÇÃO EM ALGUNS PAÍSES (UEDA, TAKEWAKA, 2007). País Gastos com construções novas Gastos com manutenção e reparo Gastos totais com construção França 85,6 bilhões de euros (52%) 79,6 bilhões de euros (48%) 165,2 bilhões de euros (100%) Alemanha 99,7 bilhões de euros (50%) 99,0 bilhões de euros (50%) 198,7 bilhões de euros (100%) Itália 58,6 bilhões de euros (43%) 76,8 bilhões de euros (57%) 135,4 bilhões de euros (100%) Reino Unido 60,7 bilhões de pounds (50%) 61,2 bilhões de pounds (50%) 121,9 bilhões de pounds (100%) Observação: Todos os dados se referem ao ano de 2004, exceto no caso da Itália que se refere ao ano de 2002.

Mestrado Artigo 1 Proteção Superficial Experimental Laboratório

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aula de proteção superficial cosntrução civil

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  • 2 Tchne 150 | seTembro de 2009

    artigoEnvie artigo para: [email protected]. O texto no deve ultrapassar o limitede 15 mil caracteres (com espao). Fotos devem ser encaminhadas separadamente em JPG

    Durabilidade e proteo do concreto armadoO primeiro indcio do uso do con-creto armado no mundo ocorreu em 1850 na Frana por Jean-Louis Lambot. Isso significa que o concreto armado um material ou sistema es-trutural relativamente jovem, com menos de 200 anos de existncia, porm, a maioria das pessoas que o utilizam no tem conscincia disso.

    A origem do concreto armado foi totalmente intuitiva e emprica. Nesse contexto, compreensvel que no se tenha pensado cuidadosamente na du-rabilidade dos materiais envolvidos.

    Contudo, pode-se dizer que a unio desses dois materiais (ao + concreto) contou com um pouco de sorte para alcanar a grande aplica-o que tem nos dias atuais. Isso por-que, felizmente, os coeficientes de expanso trmica dos dois materiais so similares e porque o ao dentro do concreto encontra-se em um meio altamente alcalino devido forma-o de cal, e esse meio com pH acima de 12 faz com que o ao no corroa. A menos que haja a presena de ons despassivantes ou reduo do pH de-vido ao ataque por CO2, por exem-plo. Pode-se dizer que foi sorte, por-que essa teoria no era conhecida quando Lambot resolveu confeccio-nar os seus barcos.

    Marcelo Henrique Farias de Medeiros Prof. Dr. do Departamento de Construo

    Civil, Universidade Federal do [email protected]

    Paulo HeleneProf. Dr. do Departamento de

    Engenharia Civil, Escola Politcnica, Universidade de So Paulo

    Proteo de superfcie no contexto da durabilidade do concreto armado

    Pensar em durabilidade do concre-to algo extremamente novo. H pou-cas dcadas, esse assunto no era consi-derado um ponto de grande importn-cia. Existia uma impresso geral (tanto do meio tcnico quanto do usu rio) que o concreto armado tinha durabili-dade to extrema que esse no era um ponto a se preocupar.

    Infelizmente a experincia mostrou o contrrio, e h alguns anos a durabili-dade do concreto tem sido um dos as-suntos mais estudados na rea de mate-riais de construo civil. Isso reflexo do impacto econmico que os servios de reparo e manuteno de edificaes tm tomado em diversos pases, como muito bem ilustrado na tabela 1.

    Dentro do tema durabilidade do concreto armado, existem vrias linhas

    de pesquisa, passando pela dosagem ra-cional do concreto, uso de adies po-zolnicas, escria de alto forno, fibras, polmeros, entre outros. Contudo, todas essas aplicaes so inerentes ao uso em estruturas novas (dosagem do concreto a ser empregado em uma edificao a ser construda). Nesse contexto, a proteo superficial do concreto figura como uma alternativa que pode ser usada em estru-turas novas e em estruturas antigas (tra-balhos de manuteno). Essa versatilida-de uma das principais vantagens dessa ferramenta de elevao da durabilidade do concreto armado. Porm, impor-tante ter em mente que nenhuma solu-o composta s por vantagens. No caso da proteo superficial, de suma importncia ter em mente que a durabi-lidade do sistema de proteo muito inferior do concreto que est sendo protegido. Isso significa que para manter o grau de proteo do sistema necess-rio que ele seja renovado de tempos em tempos, e esse perodo varia bastante em funo da qualidade e do tipo do produ-to de proteo empregado.

    Tipos de sistemas de proteo de superfcie

    Os materiais de proteo superfi-cial para concreto podem ser classifi-cados em formadores de pelcula, hi-

    Tabela 1 GasTOs cOm rEParO E manuTEnO Em alGuns PasEs (uEDa, TakEwaka, 2007).

    Pas Gastos com construes novas Gastos com manuteno e reparo Gastos totais com construoFrana 85,6 bilhes de euros (52%) 79,6 bilhes de euros (48%) 165,2 bilhes de euros (100%)

    Alemanha 99,7 bilhes de euros (50%) 99,0 bilhes de euros (50%) 198,7 bilhes de euros (100%)Itlia 58,6 bilhes de euros (43%) 76,8 bilhes de euros (57%) 135,4 bilhes de euros (100%)

    Reino Unido 60,7 bilhes de pounds (50%) 61,2 bilhes de pounds (50%) 121,9 bilhes de pounds (100%)Observao: Todos os dados se referem ao ano de 2004, exceto no caso da Itlia que se refere ao ano de 2002.

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    drofugantes de superfcie (de poro aberto) e bloqueadores de poros, como representado na figura 1.

    (a) Formadores de pelcula: podem ser divididos em tintas e vernizes. Tinta uma composio lquida pigmentada que se converte em uma pelcula slida aps sua aplicao em uma camada delgada. As tintas so formuladas a par-tir de quatro componentes bsicos, sendo eles resinas, solventes, pigmentos e aditivos. J os vernizes so constitu-dos apenas por resinas, solventes e adi-tivos. Pela ausncia de pigmentos, no apresentam cor e geralmente tm dura-bilidade inferior das tintas.

    (b) Bloqueadores de poros: so produtos compostos por silicatos, que penetram nos poros superficiais e rea-gem com a portlandita formando um produto semelhante ao C-S-H. O sili-cato de sdio o produto mais usado para esse fim.

    De acordo com Thompson et al. (1997), a reao apresentada na equa-o 1 representa o que acontece quan-do a soluo de silicato de sdio pene-tra nos poros do concreto.

    Na2SiO3 + yH2O + xCa(OH)2 xCaO . SiO2 . yH2O + 2NaOH equao 1

    Desse modo, esse tratamento forma uma camada menos porosa na superfcie da pea de concreto alteran-do a sua penetrao de gua. Alm disso, esse sistema de proteo no al-tera a aparncia da superfcie do con-creto, sendo uma opo a ser conside-rada nos casos em que alguma exign-cia arquitetnica probe a mudana esttica da superfcie do concreto.

    (c) Hidrofugantes de superfcie: entre os procedimentos para proteger superfcies de concreto, as impregna-es hidrfugas so as que menos in-terferem no aspecto das mesmas. Seu principal efeito consiste em impedir ou dificultar a absoro de gua do concreto. Na prtica, atualmente se utilizam silanos, siloxanos oligomri-cos e misturas desses dois compostos.

    Os silanos so hidrorrepelentes incolores conhecidos quimicamente como alquiltrialcoxisilano. Possuem pequena estrutura molecular (di-

    metro de 1,0 x 10-6 a 1,5 x 10-6 mm), permitindo-lhe penetrar eficiente-mente mesmo em substratos pouco permeveis. So vendidos em con-centrao relativamente alta (de um modo geral 20%) e reagem quimica-mente com materiais base de slica ou alumina. Por ter estrutura mole-cular to reduzida, so muito volteis (Batista, 1998).

    Os siloxanos so hidrorrepelentes incolores, quimicamente conhecidos como alquilalcoxisiloxanos. Possuem estrutura molecular relativamente grande em relao aos silanos (dime-tro de 1,5 x 10-6 a 7,5 x 10-6 mm) e, por isso, tm menor poder de penetrao. Porm, seu poder de penetrao sufi-ciente para estabelecer uma excelente e durvel condio de hidrorrepelncia, pela reao qumica com materiais que contenham slica ou alumina (Ba-tista, 1998).

    Desse modo, os silanos, siloxanos e substncias similares penetram nos poros do concreto e formam uma ca-mada hidrfuga que dificulta a pene-trao de gua na forma lquida (que pode ingressar contaminada com clo-retos), mas permite que o vapor de gua entre e saia do concreto deixando que o mesmo respire (Broomfield, 1997).

    Efeitos dos sistemas de proteo sobre o concreto armadoNa absoro de gua

    Um dos principais efeitos de um sistema de proteo superficial para concreto armado a restrio ao in-gresso de gua no material. O concreto um material naturalmente hidrfilo, ou seja, tem elevada afinidade com a gua. O resultado disso que quando a gua entra em contato com a superfcie do concreto, esta absorvida quase ins-tantaneamente, dependendo do teor de umidade do concreto. A proteo de superfcie muda essa condio, seja pela transformao do comportamento hi-drfilo para hidrfugo, seja pelo tam-ponamento dos poros da camada mais externa ou pelo isolamento da superf-cie do concreto do meio externo.

    O efeito dos diferentes grupos de tratamento de superfcie foi recente-mente estudado e a figura 2 mostra uma viso geral da capacidade de re-duo desses sistemas de proteo su-perficial na absoro de gua por capi-laridade. Nessa ilustrao, fica notria

    Figura 1 Grupos de tratamentos de superfcie para concreto: (a) formadores de pelcula (b) bloqueadores de poros (c) hidrofugantes de superfcie

    (a) Formadores de pelcula (b) Bloqueadores de poros (c) Hidrofugantes de superfcie

    (a) (b) (c)

    Fonte: adaptado de Bentur et al., 1997

    Figura 1 Grupos de tratamentos de superfcie para concreto

    Figura 2 Absoro de gua por suco capilar (kg/m2) para concreto de referncia e concreto protegido

    0.0

    1.0

    2.0

    3.0

    4.0

    5.0

    6.0

    7.0

    8.0

    0 5 10 15 20 25 30 Dias

    Fonte: Medeiros 2008

    Referncia

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    Absoro de gua por suco capilar para concreto de referncia e concreto protegido

    Abso

    ro

    (kg/

    m)

    (a) Formadores de pelcula (b) Bloqueadores de poros (c) Hidrofugantes de superfcie

    (a) (b) (c)

    Fonte: adaptado de Bentur et al., 1997

    Figura 1 Grupos de tratamentos de superfcie para concreto

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    a r T i G O

    Na termodinmica da corrosoA termodinmica do processo de

    corroso est diretamente relaciona-da com o tempo para que haja a des-passivao das armaduras, ou seja, o incio do processo de corroso, muito conhecido como o perodo de inicia-o. O tempo desde a execuo de uma edificao at o final do perodo de iniciao o tempo de vida til de servio de uma estrutura.

    Estudos de corroso acelerada foram recentemente desenvolvidos em laboratrio para investigar a in-flun cia dos sistemas de proteo de superfcie na elevao do tempo para que haja o incio da corroso de arma-duras no concreto armado. A figura 4 mostra o resultado desse trabalho e demonstra que a despassivao das armaduras muito influenciada pela proteo de superfcie. Isso porque o monitoramento do potencial de cor-roso em corpos de prova de concreto armado indicaram despassivao do ao (incio da corroso) aps 280 dias de exposio soluo com 5% de NaCl, enquanto o mesmo no ocor-reu em nenhum dos casos de concreto com proteo superficial aplicada.

    importante esclarecer que os va-lores de potencial de corroso esto relacionados com a probabilidade de o fenmeno da corroso estar ocorren-do, no significando maior ou menor velocidade de corroso, assunto que ser tratado no item que segue.

    Efeito na cintica da corrosoCintica da corroso nada mais

    do que a velocidade das reaes que compem o processo. Ou seja, estan-do a estrutura com o processo de corroso j instalado, importante obter informaes sobre a velocida-de do progresso da deteriorao por corroso, que tem relao direta com a resistividade eltrica do concreto. Desse modo, plenamente fcil de entender que uma estrutura com o processo de corroso de armaduras em progresso pode estar corroendo a diferentes velocidades em funo da resistividade do concreto do substra-to, ou seja, da quantidade de eletrli-to nos poros do concreto.

    Figura 3 Coeficiente de difuso de cloretos (cm2/s) para concreto de referncia e concreto protegido

    Figura 4 Potencial de corroso (mV) para concreto de referncia e concreto protegido

    100%8,08E-09

    17%1,34E-09

    27%2,21E-9

    5%3,71E-10

    33%2,66E-09

    8%6,56E-10

    12%9,91E-10

    Sistemas de proteo

    Fonte: Medeiros, 2008

    Figura 3 Coeficiente de difuso de cloretos para concreto de referncia e concreto protegido

    D (c

    m/

    s)

    Referncia

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    Fonte: Medeiros, 2008

    Referncia

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    Figura 4 Potencial de corroso para concreto de referncia e concreto protegido

    0 28 56 84 112 140 168 196 224 252 280 Dias

    E cor

    r (m

    V)

    0-50

    -100-150-200-250-300-350-400-450-500

    Baixa probabilidade de corroso (10%)

    Faixa de incerteza

    Alta probabilidade de corroso (90%)

    a alta capacidade de reduo do in-gresso de gua para o interior do con-creto, devendo-se enfatizar que a capa-cidade de reduo da absoro bas-tante varivel entre os produtos testa-dos, que esto todos disponveis no mercado para a proteo de estruturas de concreto armado. Alm disso, fcil perceber que a eficincia desses pro-dutos no depende apenas do tipo de material, uma vez que o desempenho apresentado pelos dois acrlicos e pelos dois hidrofugantes (siliano/siloxanos) foram bastante diferentes.

    Na penetrao de cloretosOutro efeito importante dos siste-

    mas de proteo de superfcie a redu-o do coeficiente de difuso de clore-

    tos, ou seja, reduo da velocidade de contaminao da estrutura quando submetida a ambientes influenciados pela proximidade em relao ao mar (Medeiros; Helene, 2008).

    Os dados apresentados na figura 3 mostram o potencial de reduo do coe ficiente de difuso de cloretos oca-sionado pelos sistemas de proteo. Esses resultados indicam que o coefi-ciente de difuso de cloretos pode ser reduzido para valores que representam entre 5% e 33% em relao ao concre-to sem proteo, dependendo do siste-ma de proteo empregado. Isso se re-flete em uma elevao considervel do tempo de vida til de servio de uma estrutura de concreto armado que sofra ess tipo de interveno.

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    O efeito da proteo de superfcie, em uma estrutura que est corroendo, exatamente de desacelerar a corroso de armaduras pela restrio do ingres-so de gua para o interior do concreto, ou seja, aumento da resistividade. A figura 5 evidencia a eficcia de alguns sistemas de proteo de superfcie quando aplicadas sobre uma estrutura de concreto armado contaminada com 1% de cloretos em relao massa de cimento. Nesse caso, os corpos de prova contaminados (concreto de re-ferncia e protegidos) foram submeti-dos estabilizao em diferentes nveis de umidade relativa do ar. Verificou-se que a velocidade de corroso aumen-tou drasticamente para umidade rela-tiva acima de 80%, enquanto no caso do concreto protegido a velocidade de corroso se manteve baixa mesmo acima de 90%.

    Devo proteger? Que material devo especificar?

    Os resultados usados para ilustrar os itens anteriores no deixam dvida sobre a eficcia do emprego de siste-mas de proteo de superfcie na ele-vao da vida til das estruturas de concreto armado. Uma boa forma de mostrar o reflexo que esses materiais podem ter na elevao da vida til do concreto armado o uso das leis de Fick da difuso de cloretos juntamente com a funo erro de Gauss para a es-timativa do tempo de vida til em fun-o do cobrimento adotado em proje-to ou encontrado na obra a ser recupe-rada. Esse tipo de raciocnio est re-presentado na figura 6, cujo processo de clculo est detalhado em Medeiros (2008). importante enfatizar que a estimativa de vida til representada na figura 6 se refere ao caso em que o agente agressivo principal o ataque por ons cloretos e a sua penetrao ocorre por difuso.

    Para especificar um sistema de pro-teo superficial no se deve ter como base apenas a sua eficincia isolada-mente. de extrema importncia que se tenha em conta a capacidade de manter essa caracterstica ao longo do tempo. Um sistema pode ser muito efi-caz em barrar o ingresso de gua e de

    Figura 5 Velocidade de corroso (A/cm2) para concreto de referncia e concreto protegido

    Fonte: Medeiros, 2008

    Referncia

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    Figura 5 Velocidade de corroso para concreto de referncia e concreto protegido

    1.00.90.80.70.60.50.40.30.30.20.10.0

    Nvel de corrosomoderado

    Nvel de corrosobaixo

    Nvel de corrosodesprezvel

    50 60 70 80 90 100

    i corr

    (mic

    roA/

    cm)

    cloretos, contudo, no apresentar boa resistncia radiao UV. Num caso como esse, um sistema um pouco menos eficiente quanto capacidade de barrar a gua e cloretos que tenha uma maior resistncia a esse tipo de radiao pode ser mais interessante, se o caso en-volver a exposio ao sol. Desse modo, fundamental analisar a eficincia em conjunto com a durabilidade do siste-ma de proteo superficial.

    primordial que o especificador esteja ciente das condies de servio a que os materiais estaro submetidos. Isso ir evitar a ocorrncia de certas incompatibilidades e consequncias indesejveis. Por exemplo: o verniz

    acrlico base solvente, apesar de ser um excelente material de acabamento, se aplicado sem um primer adequado, escurece a superfcie, uma vez que incompatvel com a alcalinidade do concreto. A especificao de um verniz epoxdico para reas externas pode ser trgica, caso receba incidncia solar, pois o produto se degrada com a inci-dncia dos raios ultravioleta. , porm, um dos melhores em resistncia a ata-ques qumicos, podendo ser ampla-mente utilizado em ambientes indus-triais. Deve-se tomar cuidado tambm na especificao do verniz poliureta-no, j que existem dois tipos: o arom-tico e o aliftico, este ltimo bicompo-

    Fonte: Medeiros, 2008

    Referncia

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    Figura 6 Vida til estimada x cobrimentopara concreto de referncia e concreto protegido

    1 10 100 anos

    10

    1

    Limite crtico de Cl-= 0,4% (em relao massa de cimento)/Cs = 1,8

    Cobr

    imen

    to (

    cm)

    Figura 6 Vida til estimada (anos) X cobrimento (cm) para concreto de referncia e concreto protegido

  • 6 Tchne 150 | seTembro de 2009

    a r T i G O

    nente e resistente aos raios solares, podendo ser usado em superfcies ex-ternas. Portanto, nunca se deve especi-ficar um poliuretano aromtico para tratamento de superfcies externas su-jeitas ao solar.

    Uma forma muito til de racioci-nar em termos de proteo de superf-cie foi proposta na tese de doutorado de Medeiros (2008), em que a prote-o convertida em termos de cobri-mento equivalente, que consiste em quantos centmetros de cobrimento equivale uma demo de um determi-nado sistema de proteo. A figura 7 serve como resultado ilustrativo da avaliao feita por Medeiros (2008).

    importante enfatizar que a expe-rincia e qualificao do profissional conta muito na hora de especificar algum tipo de proteo de superfcie para o concreto armado. importan-te estar atento a todas as variveis en-volvidas no sistema a ser recuperado, tais como: se a estrutura j est conta-minada com cloretos; se vai estar ex-posta radiao U.V.; se existe exposi-o gua diretamente; se o mecanis-mo de penetrao de gua envolve suco capilar ou permeabilidade; se existem outros mecanismos de degra-dao, tais como: carbonatao, ata-que por sulfatos, chuva cida, ataque

    por micro-organismos e outros; con-dies de acesso; custo da proteo; facilidade de manuteno; ganho de vida til proporcionado.

    Consideraes finais importante que a indstria da

    construo civil juntamente com o usurio veja sua edificao como algo que necessita de manutenes peri-dicas e a proteo de superfcie uma ferramenta que pode e deve ser usada nos trabalhos de manuteno. per-feitamente aceito que o dono de um carro troque suas velas, leo, lave, faa balanceamento dos pneus e etc. exa-tamente esse conceito que precisa ser estendido para as edificaes, o usu-rio precisa se conscientizar que uma edificao no um bem eterno e sua durabilidade vai ser maior ou menor em funo da manuteno realizada ao longo da sua vida til.

    No caso de uma estrutura de con-creto armado, a proteo de superfcie tem influncia nos dois estgios da vida til da estrutura (Iniciao e Pro-pagao), como resume a tabela 2.

    No se pode esquecer que a eficin-cia de uma proteo superficial dimi-nuda ao longo do tempo de exposio ao meio ambiente. Desse modo, o ca-minho do sucesso para os produtos de

    proteo superficial para concreto est no estabelecimento de um programa de manuteno, considerando que cada material tem uma vida til limita-da, necessitando de renovao para ga-rantir o nvel de proteo requerido.

    Alm disso, importante enfatizar que a escolha do material a ser especi-ficado precisa estar baseada em dados tcnicos e cientficos, alm de expe-rin cias anteriores. O profissional pre-cisa ter conscincia das vantagens e desvantagens de cada sistema de pro-teo para especific-lo adequada-mente e de forma compatvel com o tipo e grau de exposio em que a edi-ficao esteja inserida.

    Tabela 2 EFEiTO Da PrOTEO X PErODO Da viDa Til mais inFluEnciaDO (mEDEirOs, 2008)

    Efeito da proteo de superfcie Perodo da vida til mais influenciadoRestrio ao ingresso de agentes

    agressivosIniciao (obras novas)

    Reduo da umidade interna Propagao (obras antigas)

    Sistemas de proteo

    Fonte: Medeiros, 2008

    Figura 7 Cobrimento equivalente dos sistemas de proteo

    Acrlico (A)

    Acrlico (B)

    Poliuretano

    Hidrofugante (1)

    Hidrofugante (2)

    Silicato

    1614121086420C

    obrim

    ento

    Equ

    ival

    ente

    da

    Pro

    te

    o (c

    m)

    CS = 1,8 %Ccrit. = 0,40 % em rel. a massa de cim.

    Figura 7 Cobrimento equivalente dos sistemas de proteo

    lEia mais

    Perfeitos Hidrorrepelentes para Toda Situao. M. Batista; Revista Recuperar, v. 23, 1998.Steel Corrosion in Concrete Fundamentals and Civil Engineering Practice. A. Bentur; S. Diamond; N. S. Berke. London: E and FN SPON, 1997. Corrosion of Steel in Concrete Understanding, investigation and repair. J. P. Broomfield. Londres: E & FN Spon, 1997.Contribuio ao Estudo da Durabilidade de Concretos com Proteo Superficial Frente Ao de ons Cloretos. M. H. F. Medeiros. Tese (Doutorado) Escola Politcnica, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2008.Efficacy of Surface Hydrophobic Agents in Reducing Water and Chloride Ion Penetration in Concrete. M. Medeiros; P. Helene. Materials and Structures, v. 41,n.1, p. 59-71, 2008.Characterization of silicate sealers on concrete. J. L. Thompson; M. R. Silsbee; P. M. Gill; B. E. Scheetz. Cement and Concrete Research, v. 27, n. 10, p. 1561-1567, 1997.Performance-based Standard Specifications for Maintenance and Repair of Concrete Structures in Japan. T. Ueda; K. Takewaka. Structural Engineering International, v. 4, p. 359-366, 2007.