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Leandro Campos Alves. Metáforas da vida. Primeira Edição. Poesias e Crônicas. 2015

Metáforas da vida. · dado por Deus o nosso livro da vida, que traz nele o nosso caminho, a nossa índole, enfim, a nossa própria vida na Terra. Podemo-nos fazer nossas escolhas

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Leandro Campos Alves.

Metáforas da vida. Primeira Edição.

Poesias e Crônicas.

2015

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Leandro Campos Alves.

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Metáforas da vida.

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Diagramação e Capa:

Leandro Campos Alves

http://www.escritor-leandro-campos-alves.com/

https://pt-br.facebook.com/escritorleandroalves

https://plus.google.com/102197220554470500971

Revisão:

Rosilene Alessandra de Souza Alves.

Todos os direitos são reservados. Publicado de acordo

com original registrado e averbado na biblioteca nacional.

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de

qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico,

inclusive por meio de processos xerográficos, sem permissão

expressa do autor (Lei número 9.610, de 19.02.98).

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Metáforas da vida.

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Reflexão:

Um dia, nós nascemos para o mundo e nunca

imaginamos os caminhos que Deus preparou para as nossas

vidas.

Em caminhos tortuosos e batalhas para sobrevivência,

crescemos alimentando sonhos e pensamentos, então nós

traçamos o nosso possível Destino.

Mas que Destino é este?

Destino traçados em pensamentos, porém antes mesmo

de nascermos já se torna contraditório sua existência, pois nos é

dado por Deus o nosso livro da vida, que traz nele o nosso

caminho, a nossa índole, enfim, a nossa própria vida na Terra.

Podemo-nos fazer nossas escolhas para andar sobre estas

ordens divinas, mas com certeza, nós a cumpriremos a risca,

mesmo que seja através do amor ou da dor.

Algumas pessoas acreditam em destino, outros na força

do pensamento, e existem aqueles que acreditam no fruto do

trabalho. Eu resumo todas estas forças em minha vida apenas

em um nome.

Deus.

A Ele agradeço o meu caminho e ofereço mais este

trabalho.

São os meus sonhos, meus pensamentos, “o tudo e o

nada”, mas com certeza o trabalho da minha vida que surge

novamente para humanidade.

Agradeço também a todos os meus amigos e familiares.

Em especial a minha parceira de caminhada que está

sempre ao meu lado, revisando meus textos e minhas obras.

Que Deus esteja com todos.

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Obstáculos se tornam pedregulhos em nossas vidas,

quanto acreditamos no amanhã e regamos nossa esperança com

a força da fé, e o apoio de Deus.

Leandro Campos Alves.

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Metáforas da vida.

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Torre de Babel.

O vento é o nosso polinizador de vidas,

o responsável por levar a vida,

dar a vida,

conduzir a vida.

E com o seu veludo e delicado aconchego,

ele leva sementes e pedalas aos quatro cantos do mundo.

E hoje como vento,

lembro-me dos desbravadores do velho continente.

que em mar revolto,

deixo em seu rastro suas sementes, origens e culturas.

E foram transmissores da herança da torre de Babel,

que por onde passaram,

deixaram sua língua mãe.

Como ato de homenagem a nossa origem,

faço o mesmo caminho,

mas tendo como caravelas, as letras, versos e poemas.

E por elas eu agradeço,

e deixo o meu sincero apresso,

ao velho continente,

e a nação portuguesa,

que deu vida a nossa gente,

e fez nascer este nosso continente.

Meu muito obrigado,

por nos deixar como legado.

A cultura de sua gente.

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As Mãos que Afagam.

São minhas aquelas mãos.

As mãos que afagam o seu sono,

que segura e protege seu tombo.

São minhas aquelas mãos.

As mãos que apoiam seu caminho,

que acalenta seu coração,

que te dá o porto seguro,

mostrando qual é a sua direção.

Filho pequeno ou grande,

são minhas aquelas mãos.

Que te acolhe por onde você ande,

e se fecha em oração,

pedindo pra ti proteção.

São minhas aquelas mãos.

As mãos que lhe dá o pão,

são as mesmas que lhe dá correção.

Deixa-nos também na tristeza profunda,

por corrigir a nossa criação.

São minhas aquelas mãos.

Que a noite te abençoa,

no gesto de devoção;

pedindo a Deus criador,

sua vigília em proteção.

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São minhas aquelas mãos.

Que se une a voz a trovar,

para entoar graças ao pai,

enquanto te ponho a ninar.

Agradecendo com muito amor,

por ser teu protetor.

São minhas aquelas mãos.

Pois se palavras um dia faltar,

são elas que vão lhe mostrar,

que por onde tu andares,

nunca vou deixa de ti amar.

São minhas aquelas mãos.

Que doa a ti toda segurança,

minha eterna criança.

São minhas aquelas mãos...

Poema publicado na antologia:

Além do Olhar.

ISBN: 978-85-8290-025-3

2014.

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Peteca do Destino.

Quando te ganhei,

esposei em meus lábios o sorriso.

E da surpresa da vida,

então chorei.

Alegria em ter-lhe em minhas mãos,

logo o seu feltro abriu.

O aroma de sua juventude exalou-se pelo ar.

E suas firmes cerdas eu pus a admirar.

Com imenso cuidado,

fui impulsionando os primeiros tapas.

Pondo-a em movimento suavemente,

a minha pequena peteca.

Que tão majestosamente,

cortava o ar lentamente.

O tempo foi se passando,

o cansaço junto a ele chegando.

Logo os golpes foram se fortificando.

As cerdas macias e firmes,

foram se deformando.

O cheiro de novo acabou,

e a fúria dos tapas,

deformou e a maltratou.

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Metáforas da vida.

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Com a cólera do tempo,

em um golpe certeiro,

fui carrasco daquele brinquedo.

Ceifei-lhe as penas de seu corpo.

Deixando espalhado ao chão,

o tempo de sua duração.

E da minha podre ação.

Em um único jogo,

admirei, adorei e maltratei,

a minha pequena peteca.

Enfim lhe pus a sentença,

de enterrá-la longe de minha nobre presença.

Suas partes foram transpostas,

para o cemitério do lixo.

E ali ficaram então expostas,

para seu destino final.

Metáfora tão igual,

A nossa reles vida mortal.

Somos como tal,

a peteca do destino.

Nascemos com cheiro único,

e com choro de menino.

Mas os tapas do destino,

transforma-nos de menino,

para homens feitos,

alegres ou sofridos.

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Logo nossa pele se encrua,

os traços de nosso algoz,

faz-se em nossa face,

deixando marca de nossa idade,

e da nossa verdadeira realidade.

O destino faz de nossa vida,

sua peteca então.

E no final do tempo de nossa duração,

arqueará o bater de nosso coração.

Transpondo a sua sentença,

do final de nossa vida então.

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Metáforas da vida.

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Celeiro de Minas.

Cravada no seio de Minas,

entre as montanhas da Mantiqueira,

fica minha pequena cidade,

com toda sua diversidade.

Mesmo trazendo neste livro,

a minha filosofia interior,

não posso deixar de mencionar,

o celeiro de cultura,

que flora na minha pequena cidade,

isso eu digo e mostro a pura realidade,

desta minha Liberdade.

Num espaço tão pequeno,

talvez não encontremos tantos escritores,

pintores ou compositores,

Como também vários oradores.

Que em verso declaramos,

o amor por este espaço,

que nos une em um só laço,

que pode ser e sangue ou amizade,

ou quem sabe,

de uma longa fraternidade,

a este pequeno território,

que eu apresento neste oratório.

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Sigo em traços estes versos,

fazendo aqui justa homenagem,

aos que nasceram em minha Liberdade.

Celeiro da mata mineira,

digo com a autoridade,

daqueles que ainda estão aqui,

ou que retornaram ao pai,

mas que nos deixaram versos para eternidade.

Autores, Poetas, Artistas e Pintores.

Não me lembrarei de todos,

mas do meu convívio,

faço justa homenagem,

a todos que tiveram a coragem,

de arriscar neste meio,

sem temer as criticas,

daqueles que vivem na libertinagem.

Lembro-me de Maria Ângela,

muitos não a conheceram,

partiu ainda jovem senhora,

mas que a ela recordo agora.

Poetisa e boêmia,

deixou-nos cheio de saudade.

Admirável pintora,

foi na escola também nossa diretora.

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Dos que foram bem me lembro,

de meu amigo José Nilton,

companheiro e aventureiro,

mas nunca forasteiro.

Por Varginha foi adoto,

até uma rua seu nome foi dado,

ao contrário de nossa cidade,

que em algumas vezes foi tão criticado.

Entro agora na homenagem,

dos vivos amigos escritores.

Pois começo a falar,

de uma amiga que aprendi admirar.

" Letícia de Barros" esta é a poetisa,

que muitas vezes nos dispusemos,

em discussões e conflitos,

em nossa adolescência.

Mal sabia eu do futuro,

e do laço do destino absurdo,

Éramos confrontantes,

mas hoje da literatura somos amantes.

A ela me retrato,

a minha amiga,

deixo este relato.

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Digo agora com ressalva,

da poetisa Deuseli Campos,

que ainda pequenina,

declarou em seu poema,

sua dor pela seca do sertão,

como se fosse uma pequena oração,

esta foi sua primeira consagração.

Desta eu poderia escrever em verso e prosa,

toda sua vida,

mas me contenho na modéstia,

em reter meus sentimentos,

pois eu digo que muitos sabem de nossa vida,

pois trato aqui de minha irmã querida.

Liberdade não só cria os autores,

mas também é celeiro de pintores.

Mostro os passos do meu amigo Deny Carvalho,

de Zé Alvinho e tantos outros,

que em tela em gravite o a óleo,

enche-nos de ternura,

ao ver as suas pinturas.

Celeiro da zona da mata,

minha cidade que se fortalece,

e aos poucos desabrocha e cresce,

na cultura de seus autores e escritores.

filhos desta terra amada,

e por nós admirada e repeitada.

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Metáforas da vida.

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Por isso a estes aqui apontados,

deixo meu respeito e meu afago,

em nome da nossa cultura,

homenageio-os neste verso,

não só a estes conhecidos,

mas também aqueles desconhecidos.

Este poema foi redigido dia 31 de março de 2011, e hoje

nos deixou na saudade, prematuramente a nossa amiga Poetisa

Letícia de Barros.

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Louco Carrossel.

A vida é como um carrossel.

Louco carrossel.

Com o nosso nascimento adquirimos direito ao seu passe.

Embarcamos neste brinquedo com o nosso primeiro choro.

E na roda da vida, aprendemos amar, alimentar e caminhar neste

labirinto do destino.

Mas algumas vezes o caminho nos surpreende.

Como em um blecaute, o carrossel ameaça algumas vezes a

parar, porém em outras voltas seguintes, ele se põe rapidamente

a girar.

Carrossel da vida.

Louco carrossel.

Algumas pedras em seu caminho, o faz trepidar.

Deixando-nos cambaleando em seu lombo, como se fôssemos

cair.

Mas com desejo pela vida, seguramos firmes no destino, e como

crianças esperançosas deste carrossel nós não queremos apear.

Da morte sempre tentamos escapar.

As voltas podem ser longas, como nossas lembranças do

passado.

Mas podem andar rápido demais, como nossos momentos

de felicidades.

Mas quem diria?

Somos deste carrossel, meros passageiros, construindo nossa

história.

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Metáforas da vida.

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A idade nos bate à porta.

Amadurecemos e envelhecemos.

Mas o carrossel ainda se põe a girar.

Carrossel da vida.

Louco carrossel.

Ontem ainda era uma criança vivendo num mundo de utopias e

alegrias,

as utopias quase não existem mais.

Mas quem diria?

Ainda sentimos a tal alegria.

Um dia sei que o carrossel irá parar talvez por uma quebra

repentina, que poderá ceifar a nossa vida prematuramente.

Ou quem sabe pela longevidade de nossa própria idade.

Que o fará girar até seu envelhecimento, deixando-o parar

lentamente.

Que mal lubrificado seu ruído anuncia o suspiro de sua

despedida, levando consigo a nossa humilde vida.

Carrossel da vida.

Louco carrossel.

Quero em sua sela, deixar a minha história.

Mesmo que seja por minha humilde oratória.

Ou através dos amigos e familiares.

Que contarão nossa história de vida,

mesmo que ela não seja tão comprida.

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Carrossel da vida.

Louco Carrossel.

Em seu lombo ainda queremos ficar,

viver e muito amar.

Por isso a todos vamos saudar.

Abraçar e admirar.

Procurando no destino da vida,

o nosso lugar encontrar.

Antes que a dama da noite chegue,

e não nos deixe mais sonhar.

Carrossel da Vida.

Louco carrossel.

Como neste carrossel da vida, lembro-me de um menino

que eu conheci em minha juventude, que encaixa bem neste

texto.

Na minha juventude em plena sala de aula vivenciei um

diálogo alterado de um professor, afirmando que o jovem amigo

tinha que viver entre os índios, pois se nem falar ele sabia

direito, quem diria escrever alguma coisa?

O professor ainda fez questão de completar falando que

lugar de quem não escreve certo é em aldeia indígena, pois lá

todos são analfabetos mesmo e praticamente selvagens.

Aquele diálogo deixou em um silêncio profundo toda sala

de aula, senti vergonha ao vivenciar aquela situação em plena

adolescência. Período este de nossas vidas que se desponta a

vaidade e namoricos desta idade.

O queimor em meu rosto por aquela situação era grande,

mas como o carrossel, a vida tinha continuar.

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Metáforas da vida.

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Aquele jovem amigo tinha as suas dificuldades, não por

desleixo, mas por um presente do destino que deixou à porta a

tal de dislexia.

O tempo passou, o jovem se fez homem feito, e pela ironia

do destino, o carrossel da vida novamente lhe presenteou.

Ontem sentenciado a passar a vida entre índios e andarilhos

da vida, na volta deste carrossel do destino, as palavras brotaram

em sua vida, os textos tomaram formas e dissertações

respeitáveis, e hoje, vinte poucos anos após, quem poderia

afirmar não ser o destino irônico?

A sentença foi quebrada, e este jovem amigo abençoado

por Deus, encontrou em sua vida o caminho menos provável

para escrever a sua história, e quebrar paradigmas.

Ele se transformou em escritor com obras publicadas,

conhecido no meio literário, respeitado por acadêmicos e

leitores do país e de alguns países latinos americanos. Sua

ascensão firme e constante, baseada na lealdade e na amizade.

Carrossel da vida.

Louco carrossel.

Este jovem senhor, que Deus me deu a prazer de seu

convívio, me mostrou que nada se faz impossível diante das

dificuldades e dos sonhos. Vale apena sonhar e lutar por aquilo

que acreditamos.

A história verídica nos mostra que a vida realmente é um

carrossel, e o destino somos nós que construímos.

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Resposta Divina.

O nosso caminho é penoso e distante,

nosso corpo sente dor e cansaço,

e ao longe enxergamos nosso destino e seguimos viagem.

Muitas vezes,

olhamos para o horizonte de nossas vidas e clamamos ajuda a

Deus.

O sol arde sob nossas cabeças,

clamamos o calor.

Para piorar vem o vento do Norte,

trazendo em seu rastro areia e folhas secas.

Ah! Destino cruel!...

Blasfemamos gritando aos céus.

Onde está tu, Senhor?

O corpo arde,

a pele queima e o nosso destino ainda está longe.

A vida segue e seguimos com ela.

Nossos passos se arrastam pelo chão,

deixando na trilha a mostra de nosso cansaço.

O sol agora se põe entre as nuvens.

Agora não mais arde a pele queimada.

Sinto o frescor da brisa, mas por pouco tempo.

A chuva começa descer das nuvens,

e suas gostas caem sobre meu corpo surrado.

A água se mistura ao pó da viagem,

a poeira se transforma em lama em meu corpo.

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Oh! Senhor!...

Esqueceste-se de mim?

Digo angustiado pela falta de sorte.

Clamo novamente diante do cansaço e da dor.

Ouça Senhor o meu clamor.

Caminho com vento forte batendo às minhas costas,

e com a água fria descendo dos céus.

Ah! Destino cruel.

Ando léguas e horas,

consigo atravessar o meu destino da vida.

Chego irado em casa e clamando a Deus.

Por que me deixaste sofrer?

Durmo salvo e sonho,

digo talvez não...

Não seja sonho esta minha nova visão.

Com o cansaço do destino vejo-me falando com Deus.

Que afaga minha alma e fala baixinho.

Filho meu...

Ouça o que digo e preste atenção.

Quem falou que te deixei sofrer em sua caminhada?

Que não abrandei seu calor,

e retirei sua dor?

Estive sempre contigo.

E você não acreditou,

ainda clamou-me a sua falta de sorte.

Que pela sua pouca fé,

você não viu que ao seu lado Eu estava.

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Seu destino era longo,

quando cansado estava e o meu nome clamou,

suavemente soprei as suas costas,

empurrando-o ao encontro de seu caminho final.

Teve sede e calor,

ordenei as nuvens para cobrir o sol e te dar sombra,

mandei a chuva para matar sua sede e hidratar sua pele.

Novamente o meu nome blasfemou.

Mesmo assim aqui estou,

trazendo a ti todo meu amor,

e assegurando que mesmo não acreditando em minha proteção,

estarei sempre ao seu lado,

meu filho amado.

Reflexão desta Oração.

Algumas vezes em nossas vidas clamamos nossa falta de sorte,

blasfemamos o nome de Deus, porém não sentimos sua

presença.

Quando deparamos com os pedriscos do destino em nosso

caminho, não percebemos que as grandes pedras foram

removidas.

Como o vento que sopra do Norte em nossas costas, ele poderia

estar em sentido contrário, trazendo sua força como obstáculo, e

em seu encalço a areia direto aos nossos olhos.

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Como a chuva que cai no momento certo, refrescando e

hidratando nossa pele surrada pelo sol.

Ela poderia não vir, deixando-nos com sede e calor.

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Algumas vezes na vida, olhamos para o que temos a

ganhar no futuro, e o que ganhamos no passado, porém

esquecemos-nos de olhar para cima ou para dentro de nossos

sentimentos, e ver quem realmente é nosso promissor, para

podermos agradecer as nossas vitórias. Então eu não podia

deixar de referencia as graças conceptas a mim, por esta força

maior, que nos protege, reprime, e nos ama.

Ao nosso Deus eu agradeço na forma do dom por mim

concepto.

Minha Prece ao Senhor.

Nos dias de aflição,

sinto o frio de minha alma,

dentro do meu coração.

Corro para minha humilde canção,

em busca da face do senhor,

para acalentar meu viver,

e deixar mais alegre o meu ser.

Oh! Senhor meu pai,

acolhe-me em sua sombra,

traz-me o puro amor,

retirando de meu peito esta dor.

Tenho sede do saber,

de seus conselhos para minha alma absorver.

Junto ao desejo,

de em Cristo crer.

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Lembro-me de seus ensinamentos,

que a todo instante,

consola os meus lamentos.

Pois oh! Pai eterno...

Cristo cuide dos filhos seus,

e não deixa-nos a mercê dos filisteus.

Busco então sua face Senhor,

clamando o perdão,

na essência de meu puro coração.

Escute o meu clamor,

que sobe aos céus,

em seu louvor.

Pois Pai justo e eterno,

dê-me seu afago,

para tirar este gosto amargo,

daqueles pecados,

que ainda não foram julgados,

por ti oh! Senhor.

Pai eu te peço não só em meu nome,

mas em nome de todos os homens,

que se esqueceu de ti em suas preces.

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Também peço por aqueles incrédulos,

que não te agradecem a vida,

que a nós foi concedida,

pelo seu poder,

que nos fez viver.

Ainda lhe digo,

para estarmos contigo,

e termos seu ombro amigo,

não só em hora de paz e amor,

mas também no conflito e na dor.

Pai em preces eu peço,

e também agradeço,

o conforto cedido por ti o Senhor.

Agradeço não só em meu nome,

mas em nome do mundo inteiro,

e digo oh! Meu companheiro,

sou grato pelo seu imenso amor.

Fazendo de minha alma sua moradia,

deixando-me em sua companhia.

Como em toda oração,

despeço com a grande emoção,

por levar a ti este louvor,

a casa de meu Senhor,

o meu bom pastor.

Poema publicado na antologia:

Nasce um poeta.

ISBN 978-85-64706-46-0

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Metáforas da vida.

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Menção de Despedida. Minha homenagem a poetiza.

Letícia de Barros 1972 a 2014

Hoje a perda bate a porta.

Perda dolorosa.

Perda nobre.

Que dói e vai deixar muita saudade,

a todos os amigos de nossa Liberdade.

A poesia hoje está em luto,

mas os anjos estão em festa.

Para receber a poetisa,

minha nobre amiga Letícia.

Sua vontade de viver,

é o exemplo que temos que ter.

Amiga leal.

Filha amada.

Irmã companheira.

Esposa cúmplice e parceira.

A saudade será eterna.

Mas peço a Deus que derrame todo seu amor,

e dê conforto para abrandar a dor,

a todos os seus familiares.

Pois em fé vos digo...

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Leandro Campos Alves.

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“ Ainda que eu andasse pelo vale da sombra morte,

não temerei mal algum,

pois tu estás comigo,

a tua vara e o teu cajado me consolam”.

Durma em paz amiga,

e que Deus lhe acolha em seus braços,

harpeando sons líricos,

para recebê-la

em sua nova morada.

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TEMPO.

Gostaria de ter o poder sobre o tempo,

tempo saudoso,

tempo virtuoso,

mas cruelmente maldoso.

Ah passado distante da vida real,

presente indiscreto,

e futuro incerto.

Juventude perdida,

num laço da vida,

que me lembro da sua partida.

Ah tempo, Tempo, tempo...

Que na cronologia passa rápido demais,

e nos deixa apenas as lembranças,

nelas as antigas esperanças.

Hoje homem, mulher ou criança,

para nós ontem o tempo passou,

em seu rastro ele nem nos saudou.

Deixando um gosto da vida,

vivida,

porém mal curtida.

Ah tempo que não se tem controle,

carrasco dos homens.

Ao passar por nós,

deixa-nos a melancolia saudosa da nossa juventude.

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31

Com a lembrança dos nossos amigos,

que certamente mais que amigos, irmãos,

companheiros e amores de nossa vida.

Que um dia fizeram parte de nós,

mas que esse tempo algoz,

decepou-nos,

amordaçou-nos,

enterrou em nossas próprias lembranças.

Nossos juramentos de amizades eternas,

feitas ainda quando crianças.

Ah tempo impetuoso.

Em seu caminho segue ceifando suas vitimas,

sem olhar para trás,

deixando o seu sinal tubuloso,

e marcas nas suas frontes,

dos obstáculos da idade,

que não somos capazes de transpô-los,

deixando-nos sequelas.

Das saudades talvez,

ou do passado outra vez...

Ah tempo. Tempo... Tempo...

Poema Publicado na antologia:

Nasce um Poeta.

ISBN 978-85-64706-46-0

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Metáforas da vida.

32

Vida.

Não sei se vivo a vida,

ou se é ela que vive em mim,

sendo apenas minha grande amiga,

ou quem sabe outrora,

minha própria inimiga.

Sou instrumento de seus desejos,

que sendo ela moleca, e sorrateira,

algumas vezes se faz de zombeteira.

Acordo em minutos e vejo,

que também tenho desejos.

Porém a vida corriqueira,

mim leva em seus braços,

deixando meu ser no caminho

de seus entre laços.

Mostrando ser ela,

não só aquela companheira,

mas sim...

Dona de minha reles alma,

sendo a senhora verdadeira,

de minha vida estradeira,

neste mundo abstrato,

de nossos próprios atos.

Vida bem vivida,

ou apenas construída.

Ela tem os seus encantos,

impõe medo aos profanos.

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Mas é ela grande amiga,

e sabe à hora até de nossa partida.

Penso em sonhos hilariantes,

e vejo a vida erguida,

na base de minha história,

que deixo na minha memória.

Penso e reflito firme,

Sou eu que vivo a vida,

ou a vida que vive em mim.

Assim levo o meu viver,

até o fim do meu ser.

Poema publicado na antologia:

Além do Olhar.

ISBN: 978-85-8290-025-3

2014.

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Metáforas da vida.

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Bodas.

Não quero o seu sacrifício,

quero a sua felicidade.

Por isso eu me realizo,

com a nossa cumplicidade.

Digo isso com a certeza,

porque não vejo só a sua beleza.

Temos uma afinidade,

que foge a realidade,

das razões da nossa sociedade.

Nossa amizade é de alma,

e isso me acalma.

Quero muito bem a você,

por isso lhe dedico este poema,

com este belo tema.

Você não é só uma simples mulher,

esposa, mãe ou companheira.

Você é a pessoa,

que escolhi como minha metade,

para toda eternidade.

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35

Por isso além de te amar,

quero deixar em versos meu registro,

o tamanho de nosso amor,

que sobrevive após tantos anos de casados,

sempre juntos e ligados.

Por este forte laço,

deixo este poema,

para ficar eternizado.

Poema publicado na antologia:

Além do Olhar.

ISBN: 978-85-8290-025-3

2014.

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Metáforas da vida.

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Essência Feminina.

Toda mulher é bem mais que esperamos,

não é apenas um belo corpo,

como nós homens a enxergamos.

Por isso é que não as entendemos,

as mulheres que contemplamos.

Por nossa brutalidade,

composta pela nossa falta de sensibilidade.

Nós as olhamos como presas,

esta é a pura realidade,

de nossa natureza.

Mas a mulher na verdade,

quer ser vista por suas qualidades,

e não pela sua sensualidade.

Quando o homem souber,

os segredos que envolvem uma mulher.

Ele terá alcançado,

a alma do desejo da mulher de fato.

Mulher no singular,

expressa a afeição,

que sentimos em nosso coração.

Ela possui a face maternal,

mas sabe também doar seu amor carnal.

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Essência feminina,

mulher que nos domina.

Ao decifrarmos seus enigmas,

notaremos a nossa ignorância,

e como é simples entendê-las,

basta esquecer a nossa arrogância.

Arrogância de homens brutos,

porque não usar a franqueza,

e aceitar que somos xucros,

infelizmente é parte de nossa natureza.

Esta é a nossa fraqueza.

Mulher só quer...

Ser amada.

Contemplada.

Cuidada.

E admiradas.

Mas jamais maltratas.

Essência feminina,

isso me atrai e domina...

Poema publicado na antologia:

Além do Olhar.

ISBN: 978-85-8290-025-3

2014.

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Metáforas da vida.

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Nostalgia

Hoje sinto Saudades...

A nostalgia tomou conta de mim, ao olhar uma criança

inocentemente brincando na rua, correndo de um lado para o

outro ao redor da bicicleta de seu amiguinho.

Esta criança me arremeteu aos meus quatro anos ou pouco

mais.

O menino peralta e obediente corria com os passinhos curtos

da liberdade me dando a certeza de que ele estava com os passos

do aprender a correr.

Em sua alegria e perseguição a bicicleta de seu amigo, o

menino era supervisionado por sua avó.

Minhas lágrimas rolaram a minha face queimada pelo sol e

pelo tempo, e meu coração ficou pequeno diante da saudade e

das lembranças.

Voltei na lembrança da minha infância.

Saudades do tempo que nada tinha que preocupar ou pensar,

onde a única obrigação era acordar cedo para brincar e comer.

Saudades do tempo que ficou pra trás.

Lembro-me do amanhecer de meus sonhos, despertados pelo

beijo materno e o aroma do café quentinho vindo da cozinha.

A que café...

Pão com manteiga natural e café com leite, até do leite que

pouco gostava hoje me deu saudades.

Após o café eu corria para o quintal, meu quintal de alegrias,

meu parque encantado de diversão.

Naquela época lembro-me de meus pais ainda jovens que

lutavam para vencerem, e traziam o amor aos filhos com afago e

beijos.

Saudades que me aperta o peito e me leva à infância.

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Infância que eu e meus irmãos ficávamos protegidos do

mundo, e vivíamos no mundo da infância, no mundo encantado

de nossas imaginações. Não precisávamos de muito para

viajar em nossas brincadeiras.

Uma batata e quatro palitos viravam vacas e boizinhos.

Uma lata de sardinha vazia virava um belo caminhão trucado,

e porque não nos lembrarmos da lata de “tomate elefante”, que

depois de descartada por nossa mãe, virava uma bola de futebol,

coitado de nossos dedos e calçados!...

A saudade que me embriaga na solidão da noite...

Com frutos de café, tínhamos ovelhas e carneiros, todos

coloridos e de tamanhos diversos. Cada um tinha sua fazenda, e

aquela lata de sardinha virava um caminhão de boi, que

carregava nossas criações de uma fazendinha a outra.

Mas as distâncias de nossas fazendas eram longas, na mesma

proporção de nossos sonhos.

Lembro-me do caminhãozinho de sardinha viajando pelas

estradas no terreiro de terra, ou subindo nas mesmas feitas no

barranco que ficava ao fundo de nosso quintal.

Éramos belos construtores e engenheiros dos sonhos.

A que saudades...

Naquela época eu sentia o aroma da juventude de meus pais.

Imagina, hoje não sinto nem mesmo o aroma de minha

própria juventude!...

O passado nos deixou suas marcas, e minha infância apenas

as lembranças.

Ah! Se eu pudesse parar o tempo naquela época e eternizar

minha infância.

Parar o tempo no exato momento em que estaríamos

protegidos debaixo das asas de nossos pais, e sentindo o abraço

amigo e protetor de meus irmãos.

Quantas saudades, que ternura!

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Metáforas da vida.

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Uma simples criança fez nascer a lembrança que há tempos

estava escondido em meus pensamentos.

Hoje não posso dizer que os sentimentos fraternos da infância

acabaram com a maturidade, sei que os sentimentos existem,

porém tenho a certeza também que o passado enterrou na nossa

infância a inocência de nosso mundo colorido.

Ah! Maturidade maldita...

Ah! Maturidade cruel...

Maturidade que acabou com nossos sonhos e projetos.

Maturidade que mata o tempo e faz nossa vida passar, sem

mesmo vê-la chegar.

Ah! Saudade!

“Saudade do colo de mãe”.

“Saudade do abraço de pai”.

“Saudade de sentir o calor fraterno nas noites frias de inverno,

todos debaixo do mesmo cobertor, comendo pipoca e vendo

tevê”.

Saudades...

Saudades de embrearmos naquele mundo que hoje não existe

mais...

Saudade de brincar com aquele menino que me trouxe estas

lembranças, como se tivesse sua idade.

Simplesmente Saudade...

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Carta a Humanidade.

Algumas vezes apontamos as falhas dos outros.

Mas que falhas?

Se não conseguimos encontrar as nossas próprias.

Somos errantes sim!

Mas devemos aprender com nossos erros, e não lhes ocultar nas

sombras dos outros.

A vida é mesmo engraçada.

Ou quem sabe irônica?

Não sentimos remorso nenhum e nem dor, ao tocarmos na ferida

de um amigo.

Porém, escondemos as nossas feridas aos olhares da sociedade

para que não sejas tocada.

Humanos!

Quem somos nós?

Juízes outrora Deuses, capazes de julgar e considerarmos

perfeitos.

Humanos!...

Quem nós somos?

Quando sentimos ameaçados, esbravejamos, encantoamos em

nossos medos.

Mas na contramão do amor.

Quando ameaçamos o próximo, crescemos na embacia da

retidão.

Será que somos o espelho da justiça?

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Metáforas da vida.

42

Humanos!

Como amamos?

Se amar é apontar as falhas do próximo,

esquecemos que é o próximo que nos ama.

Humanos!...

Sois justos?...

São Deuses?...

Sois perfeitos?...

Humanos!...

Quem nós somos?

A dor que hoje tu levas ao amigo,

poderá ser a mesma dor que sentiras,

quando este mesmo amigo lhe der o conforto de seu amor.

Humanos!...

Quem nós somos?...

Poema publicado na antologia:

Nasce um Poeta.

ISBN 978-85-64706-46-0

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43

Acróstico para Álvares de Azevedo.

Alma de poeta,

Livre como uma criança.

Viveu no Rio de Janeiro

Álvares de Azevedo.

Romancista, poeta e cronista,

Eis que morreu cedo.

Saudoso menino Paulista.

Deixou vários poemas e manuscritos,

E só uma por ele preparada para ser publicada.

Após sua morte nasceu a “Lira dos vinte anos”.

Zanzando em seu cavalo um tombo levou.

E após a uma cirurgia sem anestesia.

Visivelmente ele se desfaleceu.

E com seus vinte anos, Azevedo morreu.

Dedico a este grande poeta,

Os versos acrósticos aqui redigidos.

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Metáforas da vida.

44

O Sol e a Lua, amantes perfeitos.

A névoa do amanhecer arde a pele dos homens e ofusca a

visão do dia.

No passar dos minutos, os raios solares vem quebrando esta

frigidez e, embrenhado entre as montanhas quebra o frio do

rastro da noite.

O Sol vem de manso clareando o dia e aquecendo a terra,

mesmo sendo nosso astro rei, ele guarda sua tristeza pela

distância de sua amada, afastando do seu redor qualquer

companhia celestial, isolando-se no celeste azul do dia, mas nos

brinda com o calor de seu corpo.

Algumas vezes o Sol lamenta e deixa suas lágrimas caírem

ao chão, entretanto para não mostrar sua tristeza, ele se abranda

e tampa seu rosto com a lírica tristeza cinzenta das nuvens.

Companhias estas que raras vezes ele admite no feltro celeste de

seu manto.

As suas lágrimas descem em formas de gotas de chuvas,

porém mesmo triste o Sol nos abraça com o seu calor e a sua

claridade.

Ao cair do dia, para presentear sua amada e mostrar seu

amor eterno, o astro rei brônzea o céu com sua cor tonalizada,

de saudade e paixão.

Amor por alguém que nunca viu.

Amor que o faz ficar acordado em noites árticas, tomando a

noite pelo dia, na forma de presentear sua amada, pelo descanso

do Sol da meia-noite.

Por sua vez, sua amada retribui o seu imenso amor, se

sacrificando algumas vezes ao tomar seu brilho e calor, pelo

eclipse diurno.

Seus braços nunca se encontram e tornam-se amantes de

sonhos.

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45

A escuridão veste o corpo celeste, que ao invadir

tristonhamente o céu, a dama da noite se anuncia com seu brilho

ofuscante, tornando-a amada e amante, que quebra o frio da

vida, trazendo aos amantes humanos o exemplo do calor do

amor.

Amor este que não se pode doar ao seu amado.

Mas abraçando a donzela da noite amada, o céu reveste

astros e planetas com focos luminares pequenos, pois seus

brilhos não podem ofuscar a mais bela amante, a rainha do

corpo celeste noturno.

E na contraposição do frio e da tristeza que a noite traz, os

homens se encantam pelo amor erudito dos astros, e por mesmo

diante de tão crua realidade, inspira e aquece o amor eterno.

Lua e Sol se amam.

Enquanto o Sol aquece a terra, para deixar o calor

atravessar a noite e aquecer sua amada.

Da mesma forma, a lua muitas vezes se enche de luz, com a

intenção de atravessar o dia e encontrar seu amado. Deixando-

nos vê-la nua ao nascerem os primeiros raios de seu amante no

horizonte matinal.

A lua timidamente ao oriente, enquanto seu amante nasce

robustamente no ocidente.

Dois astros amantes, que aquece nossos corpos e nossos

corações.

Mas totalmente em lados opostos.

O Sol nos mostra o calor de nossos corpos, o astro que nos

dá a vida.

Enquanto a Lua nos traz o calor dos amantes, mesmo na

escuridão e na fria brisa de suas noites, são nelas, que a

humanidade se entrelaça no queimor da paixão.

Dois amantes, dois astros, dois amores impossíveis.

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Metáforas da vida.

46

Que tem seus desejos complementados, nos braços dos

homens.

O romance nasce através dos olhares perdidos, dos afagos

recebidos e das palavras bem ditas.

Como o Sol, astro forte e masculino que nos abraça e

aquece com seu calor maestrino do universo, a Lua por sua

sensibilidade feminina nos reflete seu amor e embeleza as noites

frias de outono, completando-se um ao outro.

Que seria do dia sem a noite, ou da noite sem o dia?

Como o romance entre Romeu e Julieta, a metáfora do

amor que mesmo que o mundo se acabe, eles se abraçarão em

única explosão de sentimentos. E assim, a noite e o dia se

tornarão o breu do nada, o breu do fim, o breu de um romance

relâmpago, a vida em seu apogeu.

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47

Pétalas de Outono.

Ao ver-te.

Meu peito sucumbiu à paixão.

Ao falar-te.

Aumentou o palpitar deste pobre coração.

Seu cheiro suave abraçou-me,

Você carinhosamente envolveu-me.

Senti por ti o desejo aumentar minha emoção.

Minha vida então a pus em suas mãos.

Perpetuei-te e admirei-te.

Com zelo a ti entreguei-me.

E ao amor então cedemo-nos.

Se mil vidas eu tivesse,

Mil vidas eu te daria.

E você novamente eu amaria.

Como as raras pétalas de Outono.

O amor que se perpetua hoje é raro.

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Metáforas da vida.

48

Perda.

A noite desce no horizonte,

e faz-me ver como sinto sua falta.

Eu procuro em minhas lembranças,

o vestígio do nosso amor.

Mas qual amor?

Se lhe magoei, humilhei e lhe deixei.

Naquele dia vi suas lágrimas clamarem meu carinho,

o meu abraço e meu calor.

Senti você suplicar um pouquinho só do nosso amor.

Porém não me importei com a sua dor.

Ignorei seus sentimentos,

dei-lhe as costas e parti,

e hoje aqui estou com meu lamento.

Abraçado com a noite solitária,

embriagando-me de saudades.

Pela falta da minha cara metade.

O tempo passa e não te esqueço,

dói-me a perda, mas eu mereço.

Não dei o devido valor,

ao tamanho do nosso amor.

À noite e as farras,

os colegas e os bares.

Foram a minha perdição e sentença.

Perdoe-me por fazê-la sofrer.

Hoje sei que fui seu carrasco,

e mereço ter como companhia,

a solidão das noites frias.

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Reflexão.

Nós nos perdemos em nossos pensamentos,

relembrando muitos momentos,

quem sabe apenas por saudades,

ou em busca de nossas felicidades.

Confuso nós lembramo-nos do passado,

família, amigos e amores eternos.

Que aperta nossos peitos cansados,

pela lembrança de nosso passado.

Porém devemo-nos lembrar,

que o presente por Deus nos foi dado.

E a vida nós devemos celebrar,

e nossas famílias e amigos abraçar.

Por sermos por eles amados,

até mesmo podemos dizer,

que por eles somos admirados.

A nossa alegria está no agora,

o futuro amanhã será nosso passado,

e a morte poderá estar ao nosso lado,

na qual um dia a encontraremos de fato.

Então por que viver desolado,

com saudades do tempo errado,

e deixar nossa vida passar,

sem amar quem vive ao nosso lado?

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Metáforas da vida.

50

O passado foi o tempo lembrado,

o futuro até foi citado,

porém devemos viver o presente,

vivendo ele intensamente e amando eternamente,

para que no amanhã saudemos novamente,

este tal passado,

que por nós sempre é recordado.

Até mesmo considerado melhor que o presente citado,

este tal tempo passado...

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Leandro Campos Alves.

51

Caminhante da Paz.

Eu sou um caminhante desta vida,

o que leva a palavra amiga,

que conforta o aflito,

e acalma o seu conflito.

Mas eu sou,

o andante sem destino,

o amigo que está contigo,

que conforta o seu amor ferido.

Eu sou,

a parte do tempo perdido,

a conciliação do amor rompido,

escuta o que eu digo,

eu sempre a quero comigo.

Mas eu sou,

aquele que você não vê,

mesmo assim em mim você crê,

pois sou a essência de seu viver.

Sou a sua prova vencida,

e o verdadeiro sentido da vida.

Pois eu sou,

aquele que lhe traz conforto,

aquele que escuta o seu lamento,

que rogaste neste exato momento.

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Metáforas da vida.

52

Sou o destino das escrituras,

o juiz justo desta sentença,

para o pecado da demência,

e o perdão para o inocente,

deste mundo decadente.

Sou aquele que lhe ama,

mas não se engana,

desta palavra de amor,

pois sou dele o único semeador.

Sou simplesmente a essência,

da vida ou da morte,

também sou aquele que dará clemência,

pela sua obediência,

meu filho e filha querida.

Recebam agora as minhas bênçãos,

em forma desta oração,

que abrandou seu coração,

neste momento de reflexão.

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53

O que é o amor?

Dizem que amar é sentir o palpitar galopante do coração do

parceiro na hora do apogeu.

O apogeu do clímax da paixão.

Com os corpos suados,

lábios molhados,

as pernas bambas,

e a respiração descompassada,

e nossa alma descansada.

Mas ao contrário do que diz o coração,

amar não é apenas sexo.

Luxuria, cheiro e tesão.

Quando ficamos a bailar nos braços um do outro,

em caricias e afagos melados,

jogando roupas e palavras para todos os lados.

Imaginamos que estamos amando.

Porém ao sair daquele momento,

e deixar o prazer acalmar,

o coração diminuir seu palpitar,

e as palavras calarem.

E espaço para nossa razão começar a falar.

Compreendemos que muitas vezes apenas viramos para o lado e

dormimos,

ou quem sabe nem isso...

Apenas ignoramos nossos sentimentos e saímos.

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Metáforas da vida.

54

Vestimos peça a peça a roupa que ficou espalhada pelo chão,

sem lembrarmos-nos da paixão,

dos beijos e abraços.

Deixamos a parceira sem ver o que sente seu coração.

Saciado pelo ato,

de amar ou do pecado.

Damos as costas e partimos,

e isso é um fato.

Quanto o amor nasce o tesão morre.

Mas e com o desejo, o que ocorre?

O que é o amor?

Palavras, luxúria, desejo ou excitação.

Ou apenas momentos de prazer,

entre a relação dos seres humanos.

Que se esquece de sentir o que fala o coração.

A relação passa em minutos,

o êxtase dura apenas alguns segundos.

E o amor?

Será que é apenas uma tapinha na bunda,

um beijo corrido,

e um até amanhã que nunca chega?

Desejo, amor, sexo ou paixão,

quiçá podemos dizer?

Que é parte da própria desilusão?

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55

A marca do desejo mostrado na cama,

lençóis desarrumados,

corpos despreparados,

roupas penduradas e espalhadas.

E nossos sentimentos dês-ritmados.

E no amanhã o desencontro,

sexo apenas sexo.

Este é o amor que hoje vivemos?

Ou sempre foi assim,

e nunca percebemos?

Amor, o que é o amor?

Meu peito arde de dor,

minha razão dormente me ignora,

mas sei,

que amar é mais que podemos dar.

Amar é o complemento da excitação.

É o conjunto da paixão.

É o sentimento morto no passado,

que acho necessário,

tê-lo no peito ao acordar.

Do lado da mulher,

que um dia me fez sonhar,

chorar, sorrir e amar.

Amar, apenas Amar...

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Metáforas da vida.

56

Valores.

Meu peito arde.

Arde pela vida confusa,

pelos amores conturbados,

pelos valores trocados.

Meu peito arde.

Pela desilusão,

pela falsa paixão.

Ou quem sabe?

Arde pela minha própria agonia,

ao ver o mundo se perdendo,

e tudo se corrompendo.

Valores hoje são trocados,

o que um dia foi certo,

hoje vejo que é errado.

Por outro lado,

o errado é infame,

parece normal e aplausível,

certo e compreensivo.

Mundo de desencontros,

mundo de sonhos perdidos,

mundo de amores trocados,

mundo que não conheço mais.

Será que o amor significa ódio?

E odiar é o mesmo que amar?

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57

Hoje desabafo nas letras,

desabafo em lágrimas,

desabafo em minha solidão.

Meu peito arde.

Meus sonhos morrem,

e o mundo continua seu ciclo.

Porém onde estão os valores da vida?

Valores que estão morrendo pela evolução do homem,

valores são sepultados e com eles,

a alegria parte.

Meu peito hoje está em luto,

meus sonhos mortos pelos valores do mundo.

Minhas lágrimas caem pela falta da boêmia.

Mas ainda acredito que os valores renascerão,

e descobriremos o verdadeiro sentido de amar.

E dos galanteios a corte dos amores,

a serem conquistados com ramalhete de flores.

Mas hoje meu peito arde...

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Metáforas da vida.

58

Não tenha medo de seus projetos, Seja o construtor de sua própria história.

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A Viagem.

A vida é um mar de alegria, diga-se de passagem: ainda

mais quando estamos acompanhados por pessoas extrovertidas

que carregam em sua natureza a alegria de viver, pelo qual tudo

é motivo de piadas.

Eu tenho o prazer de ter em meu convívio uma destas

pessoas, que só me faz rir com suas artimanhas e contos de

passagens por ele vividas.

Para mostrar como as coisas acontecem, contarei um

causo que começou durante uma viagem de passeio.

Eram minhas férias, e algumas vezes eu acompanhava-o

em alguns leilões agropecuários. Porém outras vezes estávamos

na roça com nossas famílias, à beira do fogão à lenha, tomando

uns aperitivos, “cachaça Mineira mesmo”, e comendo angu com

torresmo.

Mas voltando à viagem, logo nos primeiros raios de sol,

ouvi seu andar pelo corredor da casa de minha mãe em direção

ao meu quarto, e no meio da cozinha ele trovou meu nome.

___Acorda!! Já está na hora do almoço.

Isso às seis horas da manhã.

Quis tomar um café, mas ele me avisou que nós

buscaríamos outro amigo no sítio de seus pais e lá tomaríamos

café. Logo que chagamos ele foi à beira do fogão à lenha e

começou a esquentar a comida, nesta hora eu já estava varado de

fome.

Enquanto seu amigo acordava, ele me deu um prato

fundo e chamou para comer.

Acreditem, sete horas da manhã e ele estava comendo

arroz com feijão e carne de porco na gordura, com a fome que

eu estava acompanhei-o naquele banquete.

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Metáforas da vida.

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Eu já estava satisfeito e achei que ele já tinha terminado,

quando este amigo me avisou que rebateria a fome com um

prato de macarrão.

Neste meio tempo juntou-se a nós um senhor de idade

meio avançada, que nos acompanharia durante aquela viagem.

Todos de barriga cheia, pé na estrada.

O ¨papo¨ corria solto na viagem, entre uma conversa e

outra, saia um piada e um conto, quando o assunto tomou um ar

de seriedade, pois aquele senhor avisou-nos que tinha comprado

uma fazenda, que ficava no percurso do nosso caminho, e

combinamos de passar por ela para conhecê-la.

A estrada era cheia de curvas, aclives e declives, quanto

deparamos com uma longa reta, e à margem direita da estrada,

uma fazenda com terra que se perdia no horizonte.

Neste momento aquele senhor pediu para meu amigo

parar o carro, pois ele estava apertado e queria mijar.

Ao encostar o carro descemos os três, mas cada um

virado para um lado, quando ouvimos um longo suspiro de

nosso amigo.

____ Aaaaaahhhhh!... Como é bom mijar no que é da

gente.

Fiquei surpreso, realmente era uma bela fazenda aquelas

terras, e agora sabíamos a quem pertencia.

Então perguntamos em coro.

___ A fazenda do senhor é aqui, parabéns, uma bela

terra.

Rindo ouvimos sua resposta e nossa tréplica.

___ A fazenda não é minha.

___Mas o senhor mesmo acabou de falar “como é bom

mijar no que é da gente”.

___Rsrsrs, pois é!...

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___ Acabei de mijar na minha botina. Na minha idade

não conseguimos mais mijar para frente, completou nosso

companheiro de viagem.

A vida é feita de pequenas passagens, basta sabermos

tirar aproveito delas.

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A História do “Bata ti Bata tá.”

A história do “bata ti bata tá” aconteceu na década de

setenta.

Seu protagonista era uma criança com muita maturidade

apesar de seus seis anos de idade. Ele parecia um homenzinho.

Suas brincadeiras deste muito novo eram maduras e seus amigos

eram na maior parte todos senhores de idade avançada, talvez

por este fato este jovem tenha adquirido uma educação

primorosa para sua idade.

Seu nome era Giovane.

Um dia ele estava brincando no quintal de sua casa, e

normalmente suas brincadeiras eram muito silenciosas, mal se

ouvia seus tropeços, deixando ali reinar a quietude e a paz

naquelas tardes.

Enquanto Giovane brincava sozinho, Virginia sua mãe,

cuidava de Léo seu irmão mais novo, mas repentinamente todo

aquele silêncio foi quebrado pelos pequenos passos a galope que

indicavam a corrida desenfreada de Giovane.

Virginia ao ouvir seus passos olhou para trás e viu

entrando pela cozinha o pequenino com os olhos estatelados,

dizendo:

___ Mamãe! Mamãe! O “bata ti bata tá” não quer

parar! Ajuda mamãe!

Virginia assustada tentou entender que história era aquela

de “bata ti bata tá”.

Ela nunca tinha escudado este termo até então.

Giovane muito assustado tornou a pedir ajuda por mais

duas vezes, sempre mostrando com o dedinho indicador à

direção da garagem.

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Foi então que percebendo que sua mãe não o entendia,

Giovane pegou-a pela mão e a conduziu até o jipe que estava na

garagem, mostrando-a o limpador do para brisas que estava

ligado.

Não era preciso mais nenhuma explicação, eis que se

mostra a origem daquele termo. “Bata ti Bata tá”.

Virginia escutou que ao deslizar suas palhetas do

limpador de para-brisas no vidro seco fazia o barulho, bata ti

bata tá.

Depois daquela tarde tenho por mim descoberto, que as

palhetas que limpam o vidro dos carros, não chamam mais

limpadores, e sim, “Bata ti Bata tá”.

Copla do romance Instinto de Sobrevivência.

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O Causo da Pescaria.

Peço licença para contar um causo a vocês.

Um causo real, que aconteceu comigo mesmo,

imaginam?

Mas antes quero defender as sogras do país, pois que

fama ruim elas “pegaram”, coitadas!...

São pessoas maravilhosas que não merecem a fama que

levam, e defendo-as por amor mesmo, pois sogra é uma pessoa

amiga, amada, companheira e conselheira. Não tenho vergonha

de declarar a minha paixão por elas. Imaginem que amo de

paixão a sogra de minha esposa.

Mas falando em sogra vou contar o causo acontecido

comigo.

Dizem que existem pessoas friccionadas em pescarias, e

isso eu “agaranto”, pois aqui em casa temos dois, ou para ser

franco digo um, pois o outro passou do ponto de friccionado,

para um fanático ele não serve.

Os dois são.

O meu sogro e meu menino mais velho.

Imaginem que meu menino, quanto era “piquititinho” já

era apaixonado por uma pescaria, se eu achasse na rua uma poça

d’água, e arrumasse uma vara de pescar para ele, com certeza

ele ficaria o dia inteiro tentando pescar algum peixe.

Ah! Coitadinho!...

Mas digo que ele ficaria sem nenhum problema na maior

alegria e não se chatearia momento algum por estar pescando

ali, em uma poça d’água sem peixe.

Mas pesando bem... Ele arrumaria uma briga danada

comigo sim, mas na hora de tirá-lo daquela pescaria.

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Para ver como são doidos pelo esporte da pescaria, mas

só pelo esporte mesmo, pois nunca vi meu menino comer um

peixe, ele não gosta.

Isso porque meu filho era ainda novinho, agora imagina

o fanatismo do meu sogro.

Um dia aconteceu uma história engraçada aqui em casa.

Havia três meses que não nos víamos, e ele veio nos

visitar, chegando em nossa casa no cair da tarde de sexta-feira.

Quando o carro parou em frente à nossa casa, minha

sogra desceu toda alegrinha morrendo de saudades,

cumprimentando a todos. Meu sogro também todo alegre, assim

que pôs os pés para fora do carro, falou:

-- Vamos pescar?

Meu menino pulou no colo dele e já queria entrar no

carro para ir pescar, porém a noite já estava caindo e foi um

custo tirar esta ideia da cabeça do menino.

No sábado de manhã, logo que o sol raiou ouvi passos

dentro de casa, mas como era sábado, resolvi dormir mais um

pouquinho, e deixei para me levantar às oito horas.

Assim que entrei na cozinha para tomar café, vi sobre a

mesa uma tralha de pescaria, acreditam?

Por algum motivo não fiquei surpreso. Meu menino veio

todo alegrinho chamando para ir pescar com eles.

Bem que gosto de pescar, mas em pleno sábado, logo ao

amanhecer, e de certa forma eu já sabia que antes do anoitecer

eles não sairiam da beira do rio.

Pensei em não ir, porém vendo a felicidade no olhar de

meu filho, não tive como negar.

Os dias estavam frios, eram meados do inverno, eu tinha

certeza que se fôssemos ao rio seria um tédio para mim. Pois

não pegaríamos nada. Já que tínhamos que ir pescar, convidei

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meu sogro a ir num pesqueiro, assim o dia ficaria mais

agradável.

Aqui começa a história...

Logo que chegamos ao pesqueiro, às nove da manhã, o

local estava fechado.

Meu sogro então saiu de fininho e logo voltou

acompanhado por um jovem.

Eu conheci o rapaz e não acreditei no que vi, pois meu

sogro descobriu onde morava o dono do pesqueiro, e não perdeu

tempo e foi acordá-lo.

O rapaz com olhar vermelho e rosto inchado abriu o

pesqueiro com alegria e muito cordial. Como eu tinha amizade

com o rapaz, ele quis saber quem era o doido que havia o

acordado, então eu apresentei meu sogro e ficamos ali na

lanchonete conversando e passando o tempo, enquanto meu

sogro e meu filho foram para a beira do lago.

Começaram a chegar pessoas na lanchonete, mas

ninguém estava com intuito de pescar, eu fui até a lagoa, mas

como estava ruim para pescaria, retornei à lanchonete e logo em

meu rastro veio meu sogro indagando ao dono do pesqueiro se

na lagoa teria realmente peixe.

A resposta foi positiva:

__ Tem sim, mas ainda está meio cedo, e neste horário

no frio, eles demoram mesmo um pouquinho para começar a

puxar.

Imaginem falar isso para meu sogro, de pescaria ele sabe

tudo.

Na hora do almoço, eu fui para casa almoçar, mas meu

menino e meu sogro preferiram ficar pescando e comer qualquer

coisa no pesqueiro.

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Já que está ruim mesmo, eu esperei o cair da tardinha

para voltar ao pesqueiro, assim eu pescava um pouquinho e logo

voltaríamos para casa.

Ao entrar no pesqueiro, achei estranho o movimento, o

bar estava lotado, e ao redor da represa somente os dois

pescadores.

Fui até eles e proseamos um pouco, vi que realmente os

peixes deveriam estar com frio mesmo, pois até aquele momento

não havia nem puxado no anzol.

Um senhor de meia idade passou por nós com sua vara

na mão, e andando ao redor da represa tentava também pescar

algum peixe.

Estava esfriando muito e chamei o sogro e o meu menino

para irmos embora, porém meu sogro falou que queria ficar só

mais um pouco, pois a hora de pescar era ao cair da tarde.

Voltei à lanchonete e continuei a conversa agradável

com o dono do estabelecimento. Do local em que eu estava, eu

tinha uma visão privilegiada do local da pesca, pois imaginem

que a lagoa tinha uns cem metros de largura e mais ou menos

uma légua de comprimento.

Logo a noite veio e com ela os dois pescadores se

juntaram a nós, meu menino com olhar brilhante de alegria, e

meu sogro reclamando um “bocado”.

Ele chegou falando ao dono do pesqueiro:

___ Rapaz eu acho que os peixes foram dar um passeio,

pois durante todo dia nem puxar no anzol eles puxaram. Tem

certeza que aí tem peixe?

___Lógico. Respondeu o meu amigo com certo ar de

zombeteiro.

Meu sogro não ficou muito contende com a resposta e

retrucou que apostava que não tinha peixe na lagoa, deveriam

estar todos mortos com o frio.

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Meu amigo afirmou:

___ Peço para o senhor não me chamar de mentiroso,

pois isso eu não sou. Ontem mesmo nós fizemos a despesca do

local, e tenho certeza que após passar a rede na lagoa, eu mesmo

soltei uma tilápia nela, e o senhor não a pescou por falta de

sorte.

Meu sogro fechou a cara e depois começou a rir, acho

que ele queria na realidade era dar uns pescoções no dono do

pesqueiro, imaginem afirmar ter peixe numa lagoa daquele

tamanho e afirmar que tinha uma tilápia apenas!...

Começamos a rir.

Como eu conhecia o dono do pesqueiro e vi sua alegria a

abrir o estabelecimento pela manhã, eu tinha ter percebido que

havia algo de errado, ele fez de propósito aquela pegadinha, no

final começamos a rir.

Bem feito ao meu sogro e para nós, quem mandou

acordar um jovem trabalhador naquele horário.

Na volta para casa, já eram entorno de oito horas da

noite, começamos a rir.

Um peixe era o cardume total da represa...

Se precisarem de um pescador podem procurar outros,

lembram que eles não servem.

Até hoje uma lagoa, represa, rio, ou qualquer lugar que

possa ter peixe, se torna uma área de lazer pesqueira, não

importa se têm milhões de peixe, ou apenas um peixinho

solitário, este é o verdadeiro sentido da pescaria e dos amantes

dela.

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Veneno para ratos.

A vida nos presenteia com algumas pérolas e causos, que

por momentos esquecemos no passado em algum instante no

tempo, mas num piscar de olhos nos lembramos destes

momentos que nos trouxera muita alegria e paz.

Eu lembro-me deste caso que aconteceu num dia como

outro qualquer, era o cair da tarde e o início de uma noite de

verão. Eu e meu futuro cunhado estávamos esperando a Ave

Maria tocar para encontrarmos alguns amigos e jogarmos

conversa fora.

Boa prosa, boa companhia e muito causo acompanharia

nosso “happy hour”.

Para não deixar a conversa vazia e meus amigos leitores

sem saber o que significa tocar Ave Maria irei explicar. Nas

cidades interioranas de nossas Minas Gerais ainda se conserva a

tradição de tocar nos alto falantes das igrejas a Ave Maria ao

cair das dezoito horas em ponto, e como todo bom mineiro, meu

cunhado só toma qualquer bebida que contém álcool depois

deste horário. Mesmo sendo feriado, finais de semana ou festas.

Mas voltando ao causo.

Estávamos numa mercearia que mais parecia um grande

mercado, pois tudo ali se encontrava: tudo mesmo, até pinico de

louça ainda existe lá para vender.

O proprietário daquele recinto era um senhor de seus

setenta anos, forte e altivo, com seus cabelos grisalhos, porém

de poucas palavras. Mesmo sendo amigo daquele senhor que

começo a tratá-lo por Antônio, eu só ouvia sua voz quando lhe

perguntavam alguma coisa.

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Antônio sempre era objetivo e direto em nossas

indagações. Mesmo parecendo ele ser de pouquíssimos amigos,

era um senhor muito querido por todos.

Antônio sempre tinha a sua companhia auxiliando nos

negócios, seu filho caçula, que ao contrário do pai, era muito

falante e extrovertido.

Mas nesta noite em questão, em meio as nossas

conversas, pedidos de cervejas e tira gostos, entravam clientes

na mercearia e saía outros tantos.

Assim foi por longo tempo, mas um em especial nos

chamou a atenção, pois conhecíamos de longas datas e sabíamos

que ele era muito sacana e gostava de aprontar com todos.

Seu nome era João.

Tão logo entrou na mercearia cumprimentando a todos,

nos avisou que ele ensinar-nos-ia a comer carneiro ensopado,

mas esta é outra história que nem sei se terei coragem de contar.

Mas como sabíamos que boa coisa não viria dele,

começamos observá-lo quando ele aproximou-se do balcão para

fazer seu pedido.

Ao cumprimentar seu Antônio, João lhe perguntou se

tinha na mercearia remédio para ratos, pois sua casa esta cheia

deles.

Seu Antônio gentilmente respondeu que sim, porém

tinha ele saber o que tinha os ratos de João, se era dor de

barriga, dor de cabeça ou outra doença.

Achei um pouco de graça desta resposta, João merecia o

trocadilho, mesmo já tendo escutado em outras oportunidades

este dito.

A risada da turma foi geral na mesa em que estávamos,

foi quando João nos olhou e chamou Antônio de bobo, alegando

que além de velho agora ele estava fazendo piadinhas.

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João desta vez com olhar sério afirmou novamente que

ele não queria remédio para seus ratos, e sim, veneno, pois para

falar a verdade os ratos nem seus não eram e sim intrusos de sua

casa.

Antônio buscou na prateleira um frasco plástico e

respondendo a João afirmou que tinha sim.

Antônio pôs o frasco sobre a mesa e pergunto se João

iria levar.

A resposta de João foi imediata.

“Não seu bobo, eu vou trazer meus ratos para comer

aqui...”

Sabíamos que João não sairia da mercearia sem dar seu

troco, foi uma algazarra geral depois daquela resposta e, o

senhor Antônio saiu de fininho deixando seu filho no seu lugar.

Assim vivemos a vida, aproveitando os pequenos

momentos.

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Venda do Sítio.

Peço licença para contar um causo entre dois compadres

amigos.

Causo esse real como tantos outros que relato aqui, esta é

a minha vida, a vida de um jovem caminhante do destino.

Neste causo pela primeira vez, vou relatar a conversa

entre eles.

Um dos compadres é um jovem senhor bem sucedido na

vida, sendo ele um forte pecuarista que desde menino faz

negócios e barganhas, em sua região ele é conhecido por Pedro.

O outro compadre é um senhor de mais idade, que tem

seu sítio alguns hectares de eucalipto plantado, casa e curral

bem montados, além de ter em seu plantel quarenta vacas

leiteiras.

Um belo dia Pedro encontrou seu compadre em uma

estradinha rural de sua cidade. Cordialmente eles se

cumprimentaram e perguntaram de suas famílias

reciprocamente.

Logo após os comprimentos Pedro ouviu seu compadre

lhe pedir conselho, que foi mais ou menos assim:

___Compadre Pedro, eu queria mesmo falar “cocê”, ou

melhor, lhe pedir um conselho amigo.

___ Pode falar compadre.

___ “Ocê lembra do senhor Chiquinho?” Aquele que

mora na “corva”.

___ Conheço sim compadre, por quê?

___ Compadre Pedro, ele me procurou e me ofereceu o

dobro do valor que vale o meu sítio do Queimado, eu levei até

um susto ao ouvir o valor, e estou pensando bem na

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possibilidade de vender, é muito dinheiro, o que o senhor acha

compadre Pedro?

___”Vixi”!... Acho melhor o senhor não vender não, pois

a fama de mau pagador dele é muito grande.

___ Mas compadre Pedro é muito dinheiro, eu nunca

tinha imaginado que minha terra valeria tanto.

___Mas mesmo assim, acho melhor o senhor conversar

com a comadre e pensar bem!

Assim eles se despediram e cada um voltou para seus

fazeres, ressaltando que Pedro morava em uma cidade vizinha,

mas como todo bom boiadeiro, ele é conhecido por toda região.

Os dias passaram e seis meses depois na mesma

estradinha rural, os compadres se encontraram para um conversa

casual.

___ E aí compadre Pedro? Tudo bem com você e sua

família?

___ Graças a Deus sim, e você e a comadre como estão?

___”Estamo bem”.

___Mas falando nisso, foi bom ver o compadre aqui.

Falou Pedro.

___E o sítio na Queimada, o senhor vendeu?

___ Vendi sim compadre Pedro, foi a venda mais bem

feita que eu fiz até hoje. Nunca imaginei vender aquele sítio por

tanto dinheiro.

___ Mas me fala uma coisa aqui compadre, o senhor

Chiquinho pagou direitinho?

___ Este é o único probleminha, ele não me pagou até

hoje, e eu já passei o registro da terra para ele.

___Bem que lhe aconselhei a não vender o sítio

compadre, e agora?

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___ Não tem “poblema” compadre Pedro, receber eu não

recebi, mas vendi bem toda vida o sítio, sou muito esperto

“memo”, não acha compadre Pedro?

Se a situação não fosse real seria no mínimo sarcástica

para Pedro.

Belo negociante esse compadre de Pedro, vocês não

acham?...

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Fraternidade.

A nossa infância marca muito nossas vidas, e agora trago

um pedacinho desta história, um causo que ficou em nossas

memórias, pois éramos quatro irmãos muito unidos, e se alguém

incomodasse um de nós, todos se uniam contra o mesmo.

Tínhamos um acordo entre nós estipulados pela união

fraternal em que preferíamos que nossos amigos nos

machucassem, mas nunca a um de nossos irmãos.

Nós morávamos em uma casa de laje com a fachada para

a rua e em seu terreiro havia um pequeno barranco cuja sua

superfície era de nível com a laje.

Nesta pequena planície existia uma área com um

limoeiro e uma mexeriqueira, todas frutíferas e uma pequena

horta, lugar onde eu e meu irmão cultivávamos alguns legumes.

Um belo dia, meu irmão chegou em casa trazendo

consigo um amigo e este vinha gritando com ele e gesticulando

muito, como se o chamasse para briga, que logo veio a

acontecer.

Mesmo sendo uma briga de adolescentes, começaram a

ter agressões corporais, e meu irmão por sua vez tentou em

várias vezes escapar, mas as tentativas foram em vão.

Ao longe ouviu meu irmão gritar, fui então ao seu

encontro para ver o que estava acontecendo, foi quando me

deparei com a confusão, sendo ainda pequeno e percebendo que

não adiantaria entrar naquela briga, pedi para o agressor parar

com aquilo, mas meu pedido foi ignorado.

Então decidi que ajudaria meu irmão de alguma forma.

Subi o barranco até a horta e peguei vários limões que

estavam no chão, jogando-os sobre a laje de nossa casa, pois lá

de cima ficaria fácil jogá-los no agressor.

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Tão logo subi na laje, comecei a bombardear o agressor

com as minhas munições, não se errava um limão, todos

pegavam em cheio no alvo.

Mas com tantos acertos, logo percebi que já estavam

acabando, sobrando somente um chuchu que estava entre os

limões.

Sem pestanejar peguei o chuchu e o fiz também de

munição, lancei-o como última esperança de ajudar o meu

irmão.

O tiro foi certeiro como tantos outros e, a briga acabou

em um único golpe, para a minha surpresa só errei o alvo, pois

desta vez acertei em cheio o peito de meu irmão.

O agressor desmanchou-se em risadas estridentes e saiu

caçoando e agradecendo-me, dizendo que nem mesmo ele faria

melhor.

Após passar a dor, eu e meu pobre irmão começamos a

rir daquele acerto.

Ele me pediu que da próxima vez acertasse os limões

nele e deixar o chuchu para seu oponente.

Ou deixá-lo apanhar, pois os golpes doeriam menos do

que aquele chuchu.

Copla do romance Instinto de Sobrevivência.

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O Peralta.

Lembro bem que em minha infância, trabalhávamos

deste muito cedo, cada um em casa tinha seus afazeres, e como

não poderia ser diferente até mesmo meu irmão caçula,

Tiãozinho, tinha as suas obrigações.

Ele ajudava nosso pai no labor de nosso sitio, e o causo

aconteceu num dia que nosso pai não pode ir trabalhar e pediu

ao seu irmão, “nosso tio Francisco”, que fosse em seu lugar.

O dia passou como outro qualquer, mas um fato marcaria

aquela tarde para sempre.

As horas passaram e ao anoitecer meu irmão já havia

chegado e foi estudar, foi quando meu pai ouviu seu outro irmão

e sua cunhada chamá-lo, pois estavam à procura de Francisco,

seu irmão que havia saído cedo para o sítio e até aquele

momento não havia retornado.

Então eles decidiram ir ao sítio para ver o que estava

acontecendo, acreditando que talvez pudesse ser algum animal

doente e provavelmente este era o motivo do atraso.

Estranhamente lá chegando puderam observar ao longe

que as luzes estavam acessas, e as vacas estavam quase todas no

curral parecendo que ainda não tinham sido ordenhadas, pois

elas mugiam e seus bezerros presos nos estábulos replicavam

seus sinais.

Eles passaram entre os animais no curral confirmando

suas suspeitas, pois as vacas ainda não tinham sido ordenhadas,

começaram a chamar por Francisco, que logo na segunda

chamada, respondeu.

Sua voz vinha de dentro do estábulo, porém visualmente

não havia ninguém lá dentro, meu pai desconfiou que seu irmão

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pudesse ter passado mal e caído no silo, então todos se dirigiram

em uma rápida caminhada para o local referido.

Lá chegando viu dentro daquele deposito cilíndrico,

construído verticalmente por uma perfuração no solo com

medidas de aproximadamente quatro metros de diâmetro por

cinco metros de profundidade, a figura de Francisco.

Ele estava muito bem por sinal, só tinha a aparência

furiosa de um animal preso. No momento em que foi

encontrado ele estava sobre um cume de silagem, na qual em

sua tentativa de fuga amontoou-as em um canto, chegando à

altura próxima à abertura da borda do silo.

Eram meados de setembro estes depósitos são feitos para

armazenarem extratos vegetais de milho triturados, que servirão

para alimentação dos animais na época da seca, sendo que à

medida que o trato é tirado o silo vai aprofundando-se ao

encontro de sua base de construção, necessitando muitas vezes

do auxílio de uma escada para entrar no mesmo.

Exatamente por este motivo, meu pai achou estranho

quando viu a escada em descanso na horizontal sobre a

extremidade do silo.

E se seu irmão estava lá dentro, como ele conseguiu tirar

a escada?

Francisco sempre foi um homem humilde, com um forte

caráter e muito honesto, no entanto um tanto explosivo, estava

sempre disponível quando precisassem dele, porém não aceitava

desentendimento por menores que fossem sem questionamento e

réplica, chegando a brigar literalmente por suas ideologias.

Temperamento este por se dizer igual à de seu sobrinho,

que com ele estava.

Meu pai desceu a escada no silo para que Francisco

pudesse ser retirado, então meu pai perguntou a Francisco como

ele conseguiu fazer a artimanha de se prender lá dentro.

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Em fúria Francisco começou a falar sobre o causo,

chamando meu pai pelo nome.

¨ Carlos você tem que corrigir este seu filho, porque ele é

muito bom de serviço e prestativo quando ele quer, porém tem

uma personalidade impossível. Acredita você que eu desci no

silo para encher os balaios de trato, deixando-o aqui do lado de

fora para puxar os mesmos cheios por esta carretilha que fica

fixa no espigão do telhado, isto era entorno das quinze horas,

quando eu menos esperava nos desentendemos feio, eu queria

até dar um corretivo nele. Entretanto quando fui pegar as

ferramentas e encostá-las para subir as escadas, percebi uma

sombra se locomovendo atrás de mim, mas pena que percebi

isto um pouco tarde.

Tiãozinho quando viu que eu ia subir e lhe dar uns

tabefes, ele aproveitou o meu descuido e retirou rapidamente a

escada, ainda por cima falou que estava fazendo aquilo para que

eu pudesse refrescar a cabeça, e que a noite seria uma boa

conselheira.

Achei no início que ele não teria coragem de me deixar

preso aqui, mas com o passar das horas descobri que ele já tinha

até ido embora.

Em certo ponto tenho que admitir que o moleque tenha

caráter e personalidade, apesar de tudo. ¨

No momento que Francisco se encontrava já do lado de

fora, ainda trêmulo com a pele vermelha e ofegante como um

touro, eles tiveram um acesso de risos.

Carlos pediu ao seu irmão desculpas em nome de seu

filho, prometendo-lhe que falaria com Tiãozinho sobre o

assunto, no mesmo tempo que contou outra passagem que

aconteceu no sítio e teve com personagem principal o próprio

filho arteiro.

Copla do Romance Instinto de Sobrevivência.

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Metáforas da vida.

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Pneu em Fuga.

Tínhamos um comércio na década de oitenta, e o causo

que passo a contar agora aconteceu mais ou menos assim.

Meu pai adquiriu uma camionete para seu comércio, e

ela fazia a nossa alegria com o seu temperamento, pois parecia o

veículo ter vida própria e um gênio difícil às vezes.

Um belo dia já à tardinha, meu pai precisou fazer uma

grande entrega, carregando a camionete com sua carga máxima,

me chamando para ir ajudá-lo a entregar a mercadoria e estava

junto de nós um amigo chamado Batista.

Para chegar ao destino desta entrega nós percorreríamos

uma estrada rural, com suas curvas sinuosas, com aclives e

declives normais para uma região montanhosa.

O sol ia se pondo no horizonte deixando a tarde ainda

mais bela, os campos estavam verdejantes, com gados

murmurando sobre as suas pastagens, as seriemas ao longe

repicavam seu cantar anunciando a complementação da beleza

natural da região, que aos olhos dos viajantes das cidades de

pedra, viam-se nestas cenas as verdadeiras obras criadas com

maestria pelas mãos de Deus, para a alegria dos filhos seus.

Com esta paz que nos envolviam, entre uma conversa e

outra, e várias gargalhadas originadas das piadas contadas por

Batista, ultrapassou por nós em grande velocidade uma roda

solitária de carro montada e cheia.

Nós percebemos a presença do objeto sem direção certa,

quando notamos um vulto que passou à direita da camionete, foi

neste momento que Batista comentou...

“___Quem poderia ser o bobo que acabou de perder

aquela roda?”

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E completou falando para irmos atrás dela e pegá-la,

porque algum dia ela poderia nos ser útil ou servir para algum

conhecido, ou quem sabe nós pudéssemos encontrar seu dono.

Ao andar aproximadamente oitenta metros percebemos

que mais cedo do que nós pensássemos, acharíamos o dono

daquela roda.

Ao encostar a camionete com intuito de recolher o objeto

perdido, o surpreendente aconteceu.

Com o contrapeso da carga do veículo nós não notamos

que a roda era da própria camionete que se soltou ao entrar em

um buraco.

Porém ao parar o carro para recolher a roda ás margens

da estrada, o veículo com a falta de inércia admitida com a

velocidade, arriou-se para a direita na parte traseira, foi aí que a

ficha caiu e percebemos que os bobos éramos nós mesmos, e

aquela roda era da nossa camionete.

Anteriormente estávamos rindo da falta de sorte alheia e

não notamos que só havia o nosso veículo naquele trajeto.

Mas nada disso nos tirou a alegria, muito ao contrário,

só aumentava o prazer da vida fazendo de cada caso uma piada a

ser lembrada e contada a todos.

Copla do Romance Instinto de Sobrevivência.

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Camionete Quase Zero.

Na vida muitas pessoas passam pela gente, algumas nos

marcam profundamente em seus gestos e sua forma de viver, e

outros tantos nem percebemos a sua estadia em nossas vidas.

Como aquelas que nos marcam, lembro-me bem do

senhor Sebastião.

Homem honesto de poucas palavras e rígido em suas

decisões, a vida deste senhor muito lhe pregou peças, de um

homem bem sucedido em poucos meses desceu a escada da

necessidade, levando consigo esposa e filhos.

Mas dificuldades nunca lhe impuseram medo, pelo

contrário, pois através delas é que ele se arribava na sociedade

para lutar por melhores dias, e este foi o fato que o levou a viver

uma cena inusitada, na qual fui espectador.

Após tantas lutas e dificuldades, senhor Sebastião e sua

esposa conseguiram montar seu próprio negócio pequeno no

início, mas eram deles.

A loja vendia produtos agrícolas, e em poucos meses

Sebastião levou para trabalhar com ele seu filho Léo e um

amigo da família chamado Batista.

Os dias passaram, e o pequeno mercado estava

crescendo, foi aí que Sebastião sentiu a necessidade de comprar

um veículo para fazerem as entregas, que quase na totalidade

delas eram feitas na zona rural.

O dinheiro era curto, mas o sonho era imenso, então

Sebastião começou a procurar um veículo utilitário para os

negócios.

Com ajuda de alguns amigos ele localizou o que

procurava, e no mesmo dia foi ver o veículo e efetuar a compra.

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Por telefone Sebastião anunciou a compra a seu filho e

esposa, todo alegre parecendo uma criança, explodia de alegria

ao falar sobre o estado de conservação do carro.

Ele anunciou que o carro era quase zero, estava com

ótimo motor e pintura intacta, e ao anoitecer já estaria de volta,

era para todos aguardar a sua chegada para conhecer o carro e

dar a primeira volta com ele.

Eu que já estava ali até aquele momento resolvi esperar

mais um pouco para matar a curiosidade, foi então que ouvi um

barulho estridente se anunciando no início da rua.

Saí do comércio para ver o que era e comigo saíram Léo

e Batista, deparamos com um veículo vindo a alguns metros de

nós, com apenas um farol e de cor azul com uma faixa rosa nas

laterais, começamos a rir e a caçoar do pobre motorista, pois

quem era louco de ter um carro rosa, assim pensamos todos.

À frente da loja tinha uma bifurcação onde a rua dobrava

a direita em uma subida, e o motorista daquele veículo logo

sinalizou que entraria à direita, e assim o fez.

Nossa alegria estava completa, pois o veículo além de

barulhento e da cor um pouco chamativa, parecia um burro

xucro que ninguém poderia domar, pois nos deu a impressão

que ele tinha vida própria ao vê-lo teimando a seguir em frente.

O fato se deu quando seu motorista forçou a

convergência à direita e ironicamente a carroceria do carro se

deslocou em linha reta parando em frente do lugar onde

observávamos aquela hilariante cena.

Não sabíamos se ríamos ou corríamos para ajudar aquele

pobre coitado.

Só que a nossa surpresa maior foi quando vimos sair do

carro a pessoa que estávamos esperando com o carro quase zero,

pois o motorista era o próprio Sebastião, que rindo falou...

É...

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Metáforas da vida.

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O carro é quase zero, faltam apenas alguns pequenos

ajustes vocês não acham!

Copla Romance Instinto de Sobrevivência.

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Pedido de Socorro.

Um dia estava pescando eu, meu irmão mais velho e meu

pai.

Entre um peixe e outro, nosso pai nos presenteava com o

conhecimento de uma face fraternal e patriarcal que ainda

desconhecíamos e que se despontava do fundo de sua alma.

Em um exato momento da pescaria nós começamos a

ouvir a voz do pescador misterioso que estava às margens do rio

ao sul.

Pois este pescador ao entrar em combate contra um

peixe, em uma guerrilha entre o homem e o anfíbio,

encontrando-se ambos em territórios diferentes e tendo como elo

somente uma fina corda de nylon, que lhes servia como cabo de

guerra, este começou a gritar motivado pelo contentamento da

captura.

Ao fisgar o peixe em questão, que como um árduo

oponente lutava bravamente para escapar, ele não importou mais

em ficar em silêncio, deixando assim o barulho de seus gritos

ecoarem pelas calhas às margens ribeiras.

Então meu irmão reconheceu que se tratava de Assis,

um adolescente conhecido da família com idade

aproximadamente quatro anos a menos que a minha.

Estranhamente ele estava pescando sozinho, pois não

tinha contigo nenhuma companhia adulta.

Sua voz e seu sotaque eram inconfundíveis, pois havia

neles um leve repicar de sua gagueira.

Assis em sua gritaria anunciava o tamanho de sua presa,

gritando...

¨ Pe... pe... peguei um grande... ¨

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Metáforas da vida.

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¨ Pe... pe... peguei um grande... ¨

Durante um bom tempo se ouvia o barulho das águas

sendo cortadas pelo nylon, esticando-se em confluência das

ondas com o movimentar do peixe, ao mesmo tempo em que se

ouvia Assis.

Nós então paramos com a nossa pescaria, para prestar

mais atenção naquela bagunça que acontecia a poucos metros

dali.

Esta batalha entre o peixe e Assis já durava uns quinze

minutos, quando de repente à voz de Assis foi substituída por

um grande barulho, que indicava ser a queda de alguma matéria

nas águas do rio.

De início imaginava que se tratava do pedaço de um

barranco que havia se soltado das margens, ou até mesmo de um

animal silvestre submergindo nas águas, mas

surpreendentemente o barulho anunciava que chegou ao final

aquele combate.

Combate este que teria somente um vencedor e, pela

lógica seria o homem, mas o improvável aconteceu e o mais

frágil saiu vitorioso, que além do escape teve como troféu a

companhia de seu oponente dentro de seu território.

O peixe pequenino e valente ao escapar levou Assis

consigo.

A origem do barulho ouvido antes era exatamente o

menino caindo no rio, que imediatamente começou a pedir

socorro, pois ele ainda não sabia nadar.

Nós éramos as pessoas mais próximas de Assis e fomos

ao seu auxílio para salvá-lo.

O menino se debatia agarrado aos galhos secos de uma

árvore emersa as águas e gritava pedindo socorro do seu jeito

peculiar...

¨ So...So...Socorro...¨ , ¨ So...So...Socorro...¨.

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Nós assistíamos aquela cena e fomos pegos por um

acesso de risos antes de seu salvamento.

Pedimos para Assis que falasse em carreirinha, só assim

poderíamos sair daquela situação de êxtase e risadas.

Porém só conseguimos retira-lo daquela situação, após

amarra-lo pela cintura com um cipó e trazê-lo até a margem

salvo e molhado, recebendo o seu abraço e agradecimento.

___De,de,de,Deus abençoe vo,vo,vocês.

Copla Romance Instinto de Sobrevivência.

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Metáforas da vida.

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Empréstimo Bancário.

A vida é mesmo engraçada, e muitas vezes reclamamos

de nossas provas e nos esquecemos de lembrar os bons

momentos que ela nos dá.

Todas as minhas crônicas e contos têm na sua origem um

pouco de verdade e das passagens da minha vida e de meus

familiares. Sou uma pessoa de sorte, pois vivo no meio de

pessoas alegres, e eles não desanimam ao depararem com os

obstáculos da vida, e relato um pouquinho desta história para

terem noção como as histórias acontecem.

Há alguns anos atrás em plena mudança política do país,

podemos lembrar de que o governo federal bloqueou todas as

poupanças do país com objetivo de inibir o crescimento da

inflação. E é exatamente neste período de nossa história que

muitos empresários, autônomos e grandes e pequenos

fazendeiros quebraram, e foi neste período que esta história

ocorreu.

Em nossa região não existem grandes latifundiários ou

grandes fazendas, mas existem muitos pecuaristas e pequenos

sitiantes, e esta história aconteceu exatamente com um pequeno

fazendeiro.

Senhor Antônio era um fazendeiro bem sucedido, tirava

na época seus dois mil litros de leite e mantinha na invernada

entorno de duzentas cabeças de boi.

Com a economia fraca, o leite barato e a cada dia os

custos de produção aumentando, o senhor Antônio foi

aconselhado a vender quase todas suas criações e depositar o

valor da venda na poupança, pois o dinheiro especulativo estava

rendendo mais que o produtivo.

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Com os cálculos no papel provando que se o dinheiro de

seu patrimônio realmente estivesse na poupança renderia mais

que sua receita mensal bruta, senhor Antônio não perdeu tempo

e vendeu quase todas suas cabeças de boi e a metade de seu

gado leiteiro. Recebendo o pagamento à vista, ele então

depositou tudo na poupança.

Senhor Antônio tinha certeza de sua liberdade financeira,

a sua alforria da labuta diária do sitio havia acabado naquele dia.

O tempo passou e alguns meses após senhor Antônio

começar a viver de rendas, houve a eleição no país que elegeu

para presidente o candidato Fernando Collor de Melo. A

história começou mudar aqui, pois logo após a posse do

presidente eleito teve como um de seus primeiros atos políticos

para acabar com a inflação, a mudança do nome da moeda com

a exclusão de três zeros e complementando o seu plano

econômico, ele reteve todas as poupança, quase matando o

Senhor Antônio do coração, ao ver que não poderia nem mesmo

retirar seus rendimentos.

A despesa do sitio era alto e os custos de pouca produção

não cobriam seus gasto, a economia do país passava por um

momento delicado da nossa história.

Todos pensavam que aquele período seria uma moratória

curta, pois com a moeda estável e a economia dando seus

primeiros passos à estabilidade, muitos começaram a negociar

em longo prazo com taxas de juros altos, muitas pessoas ainda

não tinham assimilado o que estava acontecendo em nosso país.

Senhor Antônio começou a passar por dificuldades

financeiras, que até então nunca tinha passado. Com a

valorização do gado leiteiro e com poucas economias que

mantinham em sua casa, ele não conseguiria repor nem a metade

de seu rebanho. Senhor Antônio já estava pensando em vender a

fazenda e lagar mão de tudo que gostava.

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Metáforas da vida.

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Foi quando este nosso amigo em comum, que vamos

chamar de Geraldo, soube das dificuldades do compadre e

resolveu ir visita-lo.

Chegando à fazenda já ao cair da tarde, eles começaram

a falar da vida, das dificuldades e da situação que o Senhor

Antônio e sua família estavam passando.

No meio da conversa Geraldo aconselhou o compadre a

fazer um empréstimo bancário, pois mesmo com juros elevados,

ainda existia uma política de financiamento aos pequenos

pecuaristas com juros baixos.

Foi quando Senhor Antônio falou para Geraldo, que ele

já tinha ido ao banco tentar este empréstimo, porém o gerente do

banco lhe pediu garantias, podendo ser as terras ou o gado. Mas

como todos sabem senhor Antônio não possuía mais tantos

animais assim, e sua terra era herança e não tinha registro delas.

“A falta de registro antigamente no interior era muito

comum, pois as heranças passavam de pai para filho com o

poder da palavra e do acordo entre os herdeiros.”

Com isso, não havia outra solução, a não ser vender as

terras.

A conversa estava acontecendo na porta da sala do

casarão, e dali Geraldo enxergava as terras de seu amigo ao

longe, foi daí que Geraldo teve uma ideia mirabolante para

ajudar ao amigo.

Para que o amigo tivesse direito ao empréstimo, ele

deveria dar alguns bens de garantia, e com certeza algum

funcionário do banco iria à fazenda para ver a veracidade do

empréstimo.

Geraldo então começou a contar seu plano:

___ Compadre, eu vou contar-lhe uma coisa, pois acabei

de ter uma ideia que será a salvação do amigo. Daqui da

varanda da casa do amigo, vejo bem a extensão de suas terras, e

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observei que tem muitos cupinzeiros espalhados pelo pasto, e

eles serão a sua salvação.

Incrédulo senhor Antônio não estava entendendo nada

daquela conversa, e como aqueles cupinzeiros iriam ajudá-los a

conseguir o empréstimo bancário.

Será que o Banco aceitaria aqueles cupinzeiros como

garantia bancária?

Mas Geraldo foi logo explicando.

___ Compadre, o banco vai mandar um funcionário aqui

fechar o contrato com o amigo, e sei que ainda tem alguns

nelores no pasto. Então o senhor vai fazer o que eu vou te

explicar: amanhã o compadre vai mandar seus filhos pintar de

cal todos os cupinzeiros, mas principalmente os grandes. Porém

o compadre manda pintar aqueles que estão no último pasto que

daqui avistamos. Logo em seguida, o senhor vai pegar seus bois

e deixá-los fechados naquele pasto, junto dos cupinzeiros

pintados de branco. Vá ao banco e faça o pedido do empréstimo,

porém marque horário para receber o funcionário do banco em

sua casa, mas deixe claro que só no cair da tarde o senhor

poderá recebê-lo para fechar o contrato. Assim quando o

funcionário pedir para ver o gado que estará dando com garantia

para o empréstimo, o senhor mostra os bois no pasto, e se ele

pedir para ver de perto o gado, fale para ele que o compadre vai

pedir para seus meninos buscar no pasto. E avise-o que os bois

são bravos e só conseguem lidar com eles montado em cavalos.

Então peça aos seus meninos para buscarem os bois maiores,

mas não todos, pois tem que deixar alguns no pasto no meio dos

cupinzeiros, para dar a impressão de estarem todos andando.

Meio à contragosto, mas sem alternativa, assim Senhor

Antônio procedeu.

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Metáforas da vida.

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Na semana seguinte tudo estava pronto, os cupinzeiros

pintados e os bois soltos em seu meio que visto de longe dava a

real impressão de estarem todos os animais pastando.

O empréstimo no banco estava tudo quase aprovado,

faltava apenas a avaliação da garantia.

No dia marcado o funcionário da agência bancária

chegou à fazenda e começaram a conversa final do

financiamento.

Geraldo presenciava toda negociação.

Era numa tarde de inverno e estavam todos na varanda

do casarão já começando o cair o dia.

A conversa estava boa e fluindo tudo para o fechamento

do contrato, o funcionário do banco então perguntou sobre o

gado.

Neste momento Senhor Antônio mostrou da varanda o

gado no pasto, eram muitas cabeças que deixou o funcionário do

banco admirado, ao ver um fazendeiro com tanto animais,

solicitar empréstimo para comprar mais bois.

Porém sem malícia na mente, o funcionário do banco

pediu para que o senhor Antônio mandasse buscar alguns bois

para avaliação, pois não seria necessário ver todos, já que ali da

varanda ele já tinha uma noção da quantidade.

Assim tudo foi feito, no curral preso estavam dez

cabeças de nelore, de bom porte e saudável.

Mas o funcionário do banco começou a fazer muitas

perguntas ao senhor Antônio, como por que retirar empréstimo

no banco com um rebanho pronto para venda?

Todas as perguntas eram feitas apenas para efeito de

curiosidade do funcionário.

Geraldo estava acompanhando toda negociação, porém

ele já estava ficando aflito ao ouvir as respostas de seu

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compadre, Geraldo conhecia bem seu amigo e percebeu que

aquele monte de pergunta estava deixando-o nervoso.

Com tantas curiosidades e perguntas recebidas, Senhor

Antônio foi ríspido e direto em sua resposta final, deixando até

mesmo Geraldo de boca aberta.

Assim ele respondeu:

___Aqui seu moço, me deixa te falar uma coisa. O

senhor está vendo aquele morro lá longe e o outro atrás dele.

Pois é, é tudo meu. E o senhor está vendo bem aquele punhado

de ponto branco no pasto. Pois é. São bois como estes presos

no curral. E são todos meus. E o senhor quer saber de uma

coisa. Se seu banco quiser me emprestar o dinheiro bem.

Porém se não quiser, problema de vocês, pois eu vendo meus

bois e junto o dinheiro que preciso.

Geraldo ficou branco ao ouvir seu próprio compadre

falar aquilo, ou era um blefe, ou ele mesmo estava acreditando

em sua própria mentira.

Em fim, algumas vezes a própria mentira de tão bem

fala, que até mesmo o mentiroso acredita na própria mentira.

Para sorte do Senhor Antônio, o jovem bancário pediu desculpas

pelo incômodo e aprovou os cupinzeiros como garantia do

empréstimo.

Assim é a vida, e assim acontecem os fatos e os causos

ao meu redor.

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Metáforas da vida.

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Senhor Bom Jesus do Livramento, a origem da Fé.

Como podemos afirmar que existe apenas uma doutrina que

nos dá as chaves do paraíso?

Como podemos apontar erros nas doutrinas que não

pertencemos e esquecer-se da balança da justiça? Apontamos os

erros, mas esquecemos das qualidades.

A fé é a única religião existente no mundo.

A fé que temos na vida eterna.

A fé no amor.

A fé em Cristo.

A fé em Deus.

O homem por livre arbítrio divino tem a necessidade de

achar seu lugar no mundo, o lugar que lhe dá a paz, que lhe

mostra a paz.

Por este motivo Jesus Cristo abriu o evangelho da salvação

para todas as Nações, começando pelos seus apóstolos, que

pertenciam a varias etnias. A única exigência que Jesus fez aos

seus escolhidos para levar o evangelho aos quatro cantos do

mundo, é abandonar tudo e segui-lo para com Ele aprender o

Novo Evangelho.

Instituiu os mandamentos em dois, amar a Deus sobre todas

as coisas, e amar ao próximo como a si mesmo.

As outras referências e doutrinas criadas no passar do

tempo e gerações, foram apenas doutrinas para diferenciar

religiões, e convicções pessoais de cada profeta. Digo profeta,

pois cada religião que nasce em cima do evangelho, faz parte de

um projeto maior, com único objetivo. “Rebanhar os filhos de

Deus espalhados no mundo”.

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Todas as doutrinas estão na conformidade de um único

corpo, o corpo da unidade em Deus.

Como possuímos uma diversidade, exatamente esta

diversidade humana, como poderá existir apenas uma doutrina

no mundo, se o próprio Messias escolheu etnias diferentes para

transmitir o evangelho? Assim sendo, o que seria dos filhos de

Deus que não se encontram nela?

Eles ficariam perdidos no mundo ou a mercê da

condenação eterna?

Deus é perfeito em sua onipotência, onipresença e em sua

benevolência. Por isso mandou seu filho ao mundo para nos

trazer seus ensinamentos e abrir o evangelho aos povos que não

são de sua linhagem.

Por isso não devemos apontar falhas ou erros doutrinais nas

instituições religiosas, porém devemos aplaudi-las e reverenciá-

las, por fazerem parte deste projeto maior da evangelização dos

homens.

Todos aqueles que forem ao Pai em nome de seu Filho,

encontra o caminho da paz almejada.

Nesta linha de pensamento Cristão, quero abraçar e

reverenciar um dos maiores movimentos religiosos que conheço

até hoje em nossa região.

O movimento de fé.

O movimento Cristão.

O movimento da evangelização.

Na zona da mata Mineira, exatamente a cento e quarenta

quilômetros de Juiz de Fora, está localizada Liberdade, uma

pequena cidade interiorana, com aproximadamente seis mil

habitantes, que no mês de Setembro acolhe mais de sessenta mil

romeiros, vindos de toda região do país.

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Metáforas da vida.

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Não são turistas, mas Romeiros que buscam o

refortalecimento da fé diante daquele grandioso movimento

religioso.

O Jubileu do Senhor Bom Jesus do Livramento.

Neste período do jubileu o ar de Liberdade muda, a fé

invade e refortalece até mesmo os corações mais duros, não há

como não afirmar que até mesmo fieis de outras doutrinas não

absorve aquele movimento de fé Cristã.

Para terem uma ideia do que é este movimento, vos trago

um pouco da história do surgimento da imagem do Senhor Bom

Jesus do Livramento.

Os mais antigos anciãos do município nos contaram esta

história, que seus pais lhes contaram e que por sua vez, os pais

de seus pais lhes contaram, e assim por algumas gerações. Pois a

imagem data com mais de duzentos anos.

No inicio Liberdade ainda não tinha este nome, era

conhecido por Livramento, um pequeno distrito ainda

pertencente ao município de Baependi.

Naquele período houve um grande incêndio que alastrou

plantações e matas nativas inteiras, não deixando quase nada em

pé.

No arraial da Vargem, numa devassidão coberta de fuligem

de cinzas a única árvore virtuosa que salvou daquele incêndio,

foi um pé de cedro, o cedro do milagre que ficou frondoso na

devassidão de cinzas.

O cedro, o inicio da lenta, o inicio dos milagres a escolha.

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Assim começa a sua história:

A origem da imagem encontra registro apenas em lendas

contadas pelos habitantes da cidade, e do pedaço do tronco do

cedro, que ainda enraizado na terra e na lenda, se tornou o altar

mor da pequena capela que nasceu naquele descampado,

tornando-se um vilarejo e receberia o nome de Vargem da

Imagem.

Segundo a lenda, apareceu no povoado, um velho peregrino

disposto a fazer a imagem de Bom Jesus, satisfazendo o desejo

dos moradores.

Esse peregrino solicitou apenas algumas ferramentas, um

pedaço de madeira para talhar a imagem, e um compartimento

fechado onde pudesse trabalhar sozinho. Ele trabalharia de

portas fechadas e só abriria a porta para receber alimentação,

pois aquele senhor metódico e sistemático só apresentaria a

imagem depois de pronta.

Entre os habitantes foi um presente aquela oferta, muitos

não viam a hora de ter uma imagem que recordasse sua fé, para

outros nem tanto, pois muitos não acreditaram que um senhor de

idade tão avançada e com corpo franzino fosse capaz de

tamanha façanha.

Mas ao peregrino, os habitantes do vilarejo de Livramento

resolveram dar a chance do feito, afinal ele tinha a idade de

ancião, e provavelmente saberia o que estava falando.

Com tudo arrumado e combinado, faltava a matéria-prima,

uma madeira macia e fácil para talhar a imagem, foi então que

todos lembraram do cedro milagroso, e nada mais que justo dar

um final nobre à árvore.

A madeira foi cortada e levada para um barracão que servia

de paiol. Ali aquele senhor foi condicionado ao lado das

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Metáforas da vida.

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ferramentas e do tronco do cedro e foi posto uma cama para o

descanso do peregrino.

Os dias passaram e no inicio o peregrino recebia as

atenções e as alimentações necessárias para sua sobrevivência.

Mas quis o destino ou o poder de Deus, fazer com que todos

esquecessem o peregrino escultor, deixando à mercê da sorte e

da fome.

Como um relâmpago de lembranças, aquela amnésia

coletiva se perdeu e a lembrança do peregrino escultor voltou

com toda força entre os moradores de Livramento. Ocasionando

uma comoção geral, sentimento de dó e preocupação entre os

moradores.

Sem perder mais tempo, os populares foram ao paiol que

estava aquele senhor e começaram por ele chamar, sem obter

nenhuma resposta, tudo lá dentro era silêncio.

A presença da morte estava próxima, o cochicho “ele está

morto, ele está morto”, tomou conta daquele pedaço de chão.

Algumas pessoas que lá estavam resolveram olhar por entre

as frestas do paiol, e se assustaram, pois era certo que aquele

senhor não estava lá, porém no meio do paiol era visível a

presença de um jovem senhor, seminu, com aproximadamente

dois metros de altura.

Todos pediam para ele abrir a porta, porém inerte aos

pedidos, aquele jovem senhor não se movia um milímetro se

quer.

Talvez fosse uma reação movida pelo medo, o medo de

estar no local que não lhe pertencia.

Depois de muito chamar e não obter nenhuma resposta,

ficando claro que não tinha nenhum indício da presença do

velho peregrino, e ao contrário, era certo que ali acuado só

estava àquele jovem senhor, os moradores do povoado

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resolveram arrombar a porta do paiol, pois ela estava trancada

por dentro.

Ao pôr a porta ao chão, o espanto e a comoção foi geral

entre os presentes, muitos choraram ao reconhecer aquele jovem

que ali estava e outros se prostraram ao chão em oração. O

milagre foi concebido em Livramento.

Todos esperavam encontrar aquele idoso senhor ali morto,

porém não tinha nem vestígio dele. As poucas ferramentas que

ele solicitou para talhar uma imagem estavam no chão do paiol.

E aquele jovem senhor, era o milagre em vida.

Aquele vulto inerte aos pedidos feitos anteriormente para

abrir a porta, era o presente de Deus ao povoado de Livramento.

Pois se tratava da Imagem com tamanho natural de Jesus Cristo

em seu flagelo, a imagem da recordação, a imagem da fé, o

milagre entre os homens.

Seus detalhes talhados na imagem surpreenderam a

todos, e surpreende até aos dias de hoje.

A imagem é o tamanho da perfeição, e muito perguntam

até hoje como pode um idoso talhar um tronco com mais de

duzentos quilos com tamanha originalidade, levando em

consideração que suas ferramentas eram arcaicas e

ultrapassadas, e o mistério maior, como o velho escultor pintou

a imagem com as cores naturais humanas, se não tinha este

material com ele, além de cada gota de sangue ser formado por

um pequeno rubi.

Toda esta riqueza de detalhes, o sumiço do velho escultor,

além da porta que estava cerrada por dentro, foi dando a origem

ao mistério, origem da história.

E até hoje corre a lenda pela região, que o escultor da

imagem só poderia ser o carpinteiro José, pai de Jesus Cristo.

Como se tantas histórias não fossem suficientes para dar

base ao mistério da imagem, algumas pessoas maliciosas e sem

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Metáforas da vida.

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respeito a fé, furtaram algumas pedras de rubi, porém no lugar

que o rubi foi surrupiado ao invés de ficar a marca da madeira

raspada como em qualquer obra de arte, no local da retirada da

pedra se criou uma pequena crosta, como se o ferimento se

regenerasse cobrindo com a cicatrização comum aos homens.

E mesmo hoje com a evolução da ciência, se descobriram

que a imagem não poderia durar tanto tempo assim sem se

romper, pois pela posição de seus pés, que se encontram

esculpida na posição de contra passo, o ponto de gravidade da

imagem não possui um vértice sólido, deixando assim todo o

peso da imagem em uma superfície menor que oitenta

centímetros quadrados.

Este é o mistério da fé, a lenda da imagem, o folclore, ou a

história do milagre de Deus naquele vilarejo.

Hoje a cidade mudou o nome por convenções políticas da

emancipação, recebendo assim o nome de Liberdade em

homenagem à praça da liberdade da Capital Mineira, pedido

feito pelo governador da época.

Porém leva na imagem sua origem matriarcal e, no

povoado da Vargem da Imagem as raízes da fé.

Esta história foi percorrendo gerações e territórios, os

milagres pela fé humana a Cristo foram surgindo aos milhares, e

aproximadamente duzentos anos após o feito, a fé daquela

cidade fica inabalada.

Como dizer que apenas uma religião nos leva ao reino dos

céus, diante deste movimento de fé?

Convido a todos a conhecerem a Liberdade e participarem

da grandiosa festa do Jubileu do Senhor Bom Jesus do

Livramento, que acontece todos os anos no dia quatorze de

setembro.

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Leandro Campos Alves.

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Biografia.

Leandro Campos Alves é natural da cidade Mineira de

Liberdade.

Cronista, Poeta e Escritor romancista que desponta na

literatura brasileira.

Publicou em 09/2013 a o romance “Instinto de

Sobrevivência” pelo Clube de Autores e o Ebook pela Editora

Saraiva; participou da Antologia “Além do Olhar” pela Editora

Sucesso em 01/2014; em 27 de fevereiro de 2014 publicou a

nova forma literária de redigir romances, “O Lamento de

José”, pelo Clube de Autores e o Ebook pela Editora Saraiva;

em outubro de 2014 participou da Antologia “Nasce um Poeta”

pela Editora SAMPA.

Foi jurado da segunda amostra de Raízes de poesias em

Aiuruoca MG em 12/2013.

Têm em seu currículo várias entrevistas, entre elas, a do

Divulga Escritor, Conexão Portal PB, Pensando Fora da Caixa,

elaboradas pela Jornalista Shirley M. Cavalcante, de João

Pessoa Paraíba, reeditada na edição especial de natal de 2013,

Revista Literária da Lusofonia - Divulga Escritor, e divulgada

em Portugal.

Em abril de 2014, participou da edição especial

comemorativo de um ano da Revista Literária da Lusofonia -

Divulga Escritor, com artigo sobre o romance Lamento de José.

Participou de uma nova reportagem para Revista Gota

D’água, Edição 10 de Janeiro 2014. Revista circulante para os

funcionários da Companhia de Saneamento do Estado de Minas

Gerais.

Em setembro de 2014, participou da entrevista feita pela

Escritora Roberta Kelly, para o portal Literatura entre Amigos,

São Paulo Capital.

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Metáforas da vida.

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Colaborador de várias comunidades literárias no país e

outras em países latino americanos, integrante e colaborador da

”Social Rearde Writer Artist” no Brasil, Milan e Roma; Recanto

das Letras; Beco dos Poetas e Poetas e Escritores do Amor e da

Paz.

Em Junho de 2014, iniciou os trabalhos como Colunista

do projeto Divulga Escritor, de João Pessoa Paraíba.

Escritor do Clube dos Autores desde 2013, em 2014

firmou contrato com a Editora publique/Saraiva.

Para conhecer o autor acesse os links:

http://www.escritor-leandro-campos-alves.com/

https://pt-br.facebook.com/escritorleandroalves

https://plus.google.com/102197220554470500971

Deixo meu abraço e meus agradecimentos a todos os

amigos e leitores.

Que Deus esteja com todos.