Métron e Tragédia (J. Brandão)

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Métron e Tragédia (J. Brandão)

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Mtron e tragdia (Junito Brando)

Mtron e tragdia (Junito Brando)Na Grcia todas as correntes religiosas confluam para uma bacia comum: sede de conhecimento contemplativo, ; purificao da vontade para receber o divino, ; e libertao desta vida geradora, que se estiola em nascimentos e mortes, para uma vida de imortalidade, . Mas essa mesma sede nostlgica de imortalidade, preconizada pelos mitos naturalistas de divindades de vegetao, que morrem e ressuscitam, divindades essencialmente populares [p.26] (Dioniso sobretudo), chocava-se violentamente com a religio oficial e aristocrtica da plis, cujos deuses olmpicos estavam sempre atentos para esmagar qualquer dmesure, qualquer descomedimento de pobres mortais que aspirassem imortalidade. Os deuses olmpicos sentiam-se ameaados e o Estado tambm, por isso mesmo a imortalidade na Hlade tornou-se uma competioa. Assim se explicam tantos avisos na Grcia antiga, concitando todos moderao: , conhece-te a ti mesmo; , nada em excesso...Ora, os devotos de Dioniso, aps a dana vertiginosa de que se falou, caam semidesfalecidos. Nesse estado, acreditavam sair de si, isto , transformar-se internamente, pelo processo do , xtase. Esse sair de si implicava num mergulho em Dioniso e este no seu adorador pelo processo do , entusiasmo. O homem, simples mortal, , em xtase e entusiasmo, comungando com a imortalidade, tornava-se , vale dizer, um heri, um varo que ultrapassou o , a medida de cada um. Tendo ultrapassado o mtron, o anr , por isso mesmo, um , hipocrites, quer dizer, aquele que responde em xtase e entusiasmo, o ator. Essa ultrapassagem do mtron uma dmesure, uma hybris, , uma violncia feita a si mesmo e aos deuses imortais, o que provoca a nemesis, , o cime divino: o anr, o ator, torna-se mulo dos deuses. A punio imediata: contra o anr lanada ate, , cegueira da razo; tudo o que o hypocrites fizer, realiz-lo-a contra si mesmo (dipo, por exemplo). Mais um passo e fechar-se-o sobre ele as garras da moira, , do destino cego.Esquematizando:

mtron (medida de cada um)

anthropos (simples mortal) ... ultrapassagem (xtase e entusiasmo) ...

anr (hypocrites ator)

hybris (violncia, dmesure)

nemesis (cime divino: castigo pela injustia praticada)

ate (cegueira da razo)

moira (destino cego: punio)

Eis ai o enquadramento trgico: a tragdia s se realiza quando o mtron ultrapassado, no fundo a tragdia grega como encenao religiosa o suplcio do leito de Procrusto contra todas as dmesures, naturalmente sob o enfoque apolneo, uma vez que o deus de Delfos apolinizou a tragdia.BibliografiaBRANDO, Junito. Mtron e tragdia. In: ______. Teatro grego: origem e evoluo. So Paulo: Ars poetica, 1992. p. 25-26.Bibliografia s notas:LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert. A Greek-English Lexicon. Oxford: Clarendon Press, 1940.MARCH, Jenny. Dictionary of classical mythology. London: Cassell & Co, 2001.Nota alfabtica: Junito Brando

Notas numricas: Gustavo Ponciano gnsis: do snscrito, gnrus conhecimento

catarsis

athanasia: vida eterna

desmedida

a A religio do Estado jamais passou de uma espcie de patriotismo e orgulho nacional. Era a bos politiks, a vida poltica. Intocvel, punia com o exlio ou a morte a todos quantos a ameaassem: a morte de Scrates um exemplo bem claro. Os filsofos refugiavam-se na bos teoretiks, a vida contemplativa, a unio com o divino; e o povo, incapaz de metafsica, apropriou-se dos mistrios, onde via e sentia a presena de deuses mais humanos e mais humildes.

gnthi sauton

meden agan

kstasis: deslocamento

enthousiasms: domnio exercido por grande fora, normalmente divina

anthrpos

anr: homem, em oposio a mulher; a deus; a monstros. Homem adulto em oposio ao jovem. Marido. Homem no primor da vida, especialmente o guerreiro

metrn

hypokrits: hypo sob, abaixo; krinein: examinar, decidir, julgar. O que dissimula (ou que apresenta deficincia em) suas faculdades. Ator

deusa grega da runa e insensatez

As Moiras, na mitologia grega, so trs irms: Kloth, Lkesis e tropos. So a representao da fatalidade, ligadas ao destino de homens e divindades. Pela ordem: fia, sorteia e corta o fio da vida

Entidade mitolgica grega que adaptava seus hspedes sua cama: os maiores eram amputados e os menores, esticados para que coubessem no leito