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Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil sociodemográfico no século XXI Jóice de Oliveira Santos Domeniconi (IFCH/NEPO/UNICAMP, SP, Brasil) Rosana Baeninger (NEPO/UNICAMP, SP, Brasil) Natália Belmonte Demétrio (NEPO/UNICAMP,SP, Brasil) 1. Introdução O atual panorama das migrações internacionais para o Brasil apresenta desafios teórico-metodológicos fundamentais à compreensão de um processo complexo e heterogêneo, especialmente, em um contexto de migrações sul-sul (BAENINGER, 2018). As análises e explicações teóricas precisam contemplar a diversidade crescente de sentidos, temporalidades e composições populacionais dos diferentes grupos migrantes presentes no país, uma ampla gama de modalidades migratórias em curso (WENDEN, 2001) e suas conexões transnacionais (DE HAAS, 2010) que reverberam nas sociedades de origem, destino e trânsito e ultrapassam as fronteiras nacionais (GUARNIZO et al, 2003). Buscou-se construir um perfil sociodemográfico da migração africana no país e de sua inserção laboral no mercado formal, elementos fundamentais à compreensão das mudanças observadas na dinâmica dessa migração no século XXI (DIAS, LOBO, 2012). Para tanto, foram utilizados registros administrativos da Polícia Federal disponibilizados pelo Observatório das Migrações (OBMigra), para uma análise da composição populacional e da distribuição espacial desses fluxos, e do Ministério do Trabalho, para aprender a rotatividade dos imigrantes no mercado formal. 2. Africanos no Brasil no contexto das relações Sul-Sul: algumas considerações As desigualdades estruturadas no âmbito da divisão internacional do trabalho ganham novos contornos no momento atual (HARVEY, 1991; SASSEN, 1998). Por um lado, a organização de uma cadeia transnacional de valorização financeira reitera antigas centralidades, alçando os principais centros de acumulação do mundo à condição de cidades globais especializadas na gestão e coordenação dos investimentos (SASSEN, 1998). Por outro, o desenvolvimento tecnológico e a constituição dos mercados globais encurtaram distâncias, adensaram as redes de conexão entre lugares e

Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil ... · internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007)

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Migrações transnacionais da África para o Brasil:

perfil sociodemográfico no século XXI

Jóice de Oliveira Santos Domeniconi (IFCH/NEPO/UNICAMP, SP, Brasil)

Rosana Baeninger (NEPO/UNICAMP, SP, Brasil)

Natália Belmonte Demétrio (NEPO/UNICAMP,SP, Brasil)

1. Introdução

O atual panorama das migrações internacionais para o Brasil apresenta desafios

teórico-metodológicos fundamentais à compreensão de um processo complexo e

heterogêneo, especialmente, em um contexto de migrações sul-sul (BAENINGER,

2018). As análises e explicações teóricas precisam contemplar a diversidade crescente

de sentidos, temporalidades e composições populacionais dos diferentes grupos

migrantes presentes no país, uma ampla gama de modalidades migratórias em curso

(WENDEN, 2001) e suas conexões transnacionais (DE HAAS, 2010) que reverberam

nas sociedades de origem, destino e trânsito e ultrapassam as fronteiras nacionais

(GUARNIZO et al, 2003).

Buscou-se construir um perfil sociodemográfico da migração africana no país e

de sua inserção laboral no mercado formal, elementos fundamentais à compreensão das

mudanças observadas na dinâmica dessa migração no século XXI (DIAS, LOBO,

2012). Para tanto, foram utilizados registros administrativos da Polícia Federal

disponibilizados pelo Observatório das Migrações (OBMigra), para uma análise da

composição populacional e da distribuição espacial desses fluxos, e do Ministério do

Trabalho, para aprender a rotatividade dos imigrantes no mercado formal.

2. Africanos no Brasil no contexto das relações Sul-Sul: algumas considerações

As desigualdades estruturadas no âmbito da divisão internacional do trabalho

ganham novos contornos no momento atual (HARVEY, 1991; SASSEN, 1998). Por um

lado, a organização de uma cadeia transnacional de valorização financeira reitera

antigas centralidades, alçando os principais centros de acumulação do mundo à

condição de cidades globais especializadas na gestão e coordenação dos investimentos

(SASSEN, 1998). Por outro, o desenvolvimento tecnológico e a constituição dos

mercados globais encurtaram distâncias, adensaram as redes de conexão entre lugares e

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países e fortaleceram novas frentes de crescimento econômico (HARVEY, 1991;

SASSEN, 1998; SANTOS, 2013), responsáveis por redesenhar o equilíbrio global de

poder (MANRIQUE, 2012).

No bojo da reestruturação produtiva conduzida pelo capital financeiro

(HARVEY, 1991; SASSEN, 1998), o final do século XX e começo do XXI marcam a

paulatina desindustrialização dos países desenvolvidos conjuntamente ao fortalecimento

das atividades industriais nos chamados países emergentes (MANRIQUE, 2012). Nesse

condição, a China, em especial, transforma-se na principal fábrica do mundo e numa

voraz consumidora de matérias-primas, historicamente produzidas no Sul Global

(MANRIQUE, 2012). Por essa razão, o efeito China tem relações diretas no aumento

das relações comerciais Sul-Sul (MANRIQUE, 2012) e na emergência da chamada

‘agroinflação’ (BREDOW; LÉLIS; CUNHA, 2016). Na condição de um dos maiores

produtores de commodities do mundo, o Brasil passou por acelerado crescimento

econômico, entre 2002 e 2014 (BREDOW; LÉLIS; CUNHA, 2016), com

desdobramentos importantes quanto à dinâmica de sua política externa (MANRIQUE,

2012; VISENTINI, 2010).

Segundo Visentini (2010), a virada para o Sul (MANRIQUE, 2012) fez do

continente africano um dos protagonistas nas relações exteriores brasileiras, fenômeno

potencializado pela existência de laços coloniais e acordos bilaterais que datam dos anos

1960 (VISENTINI, 2010). Além do Programa de Estudantes Convênio para graduação e

pós-graduação (PEC-G e PEC-PG), com atuação importante nos países africanos

falantes de língua portuguesa (GUSMÃO, 2012), a presença brasileira na África se fez

através da ação tanto de estatais - como a Petrobrás e a Embrapa - quanto via capitais

privados, os quais atuaram principalmente no ramo de fabricação de cimento e de

remédio, construção de ferrovias, exploração de carvão, exportação de aparelhos

celulares, montagem de ônibus, venda de máquinas de coletar lixo, entre outros

(VISENTINI, 2010).

A proliferação dessas conexões globais intensificou a produção das condições

materiais e subjetivas necessárias à construção da migração como fenômeno social

(SASSEN, 2010), desdobrando-se em uma multiplicidade de modalidades migratórias

(WENDEN, 2001): estudantes, trabalhadores de empresas multinacionais, missionários

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religiosos e refugiados (GUSMÃO, 2012). Essa variedade de tipos de migração

desafiam os paradigmas convencionais (GUSMÃO, 2012), rompem com as explicações

fundamentadas nos fatores de expulsão e atração (SASSEN, 1992), inserindo-se no

arcabouço teórico das migrações transnacionais Sul-Sul (BAENINGER, 2014;

PHELPS, 2014).

De acordo com Phelps (2014), o recente aumento dos fluxos Sul-Sul deve-se

também às políticas migratórias cada vez mais restritivas do Norte Global. Para o autor,

a alta seletividade imposta pela legislação de tais países faz das migrações Sul-Sul

menos seletivas e mais temporárias, haja vista o destino desejado permanecer no Norte.

As contribuições de Phelps (2014), somadas à discussão proposta por Gusmão (2012),

reiteram a extrema diversidade da migração Brasil-África e a necessidade de

abordagens que reforcem essas diversas faces (GUSMÃO, 2012). Ao destacar a

dimensão espacial como recurso fundamental à apreensão das várias conexões escalares

da migração (GUARNIZO et al, 2013; GLICK SCHILLER, 2007), o transnacionalismo

avança por reconstruir os processos migratórias contemporâneos como fenômeno

eminentemente heterogêneo e multifacetado (BAENIGNER, 2014).

Ademais, na condição de perspectiva crítica ao nacionalismo metodológico, esse

aporte ilumina o conjunto de relações sociais que, estruturadas no âmbito da divisão

internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do

indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007). Desde esse olhar, as migrações transnacionais

(BAENINGER, 2014) assumem a diversidade de lógicas e modalidades migratórias, os

conflitos entre os interesses do Estado-Nação e das corporações, o encurtamento das

distâncias material e subjetiva entre os lugares, as contradições entre agência e estrutura,

micro e macro, a questão das remessas, das identidades entre dois países, da não-

integração ou da incorporação parcial do migrante (BAENINGER; 2014; GLICK

SCHILLER, 2007; SASSEN, 2010; GUARNIZO et al, 2013).

À luz desses referenciais, os imigrantes africanos no Brasil (GUSMÃO, 2012)

compartilham das especificidades das migrações transnacionais Sul-Sul (BAENINGER,

2014; PHELPS, 2014), emergindo como processo social que expressa claramente o que

Basso (2003 apud BAENINGER; PERES, 2017, p.125) identifica como periféricos na

periferia: “um movimento geopolítico transnacional em que à periferia do capital

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dirigir-se-ão, cada vez mais, os fluxos dos países periféricos”. Ancorado nessa

bibliografia, o presente trabalho discute a migração transnacional africana em território

brasileiro em suas múltiplas modalidades (WENDEN, 2001): estudantes (GUSMÃO,

2012), sacerdotes, trabalhadores qualificados (DOMENICONI; BAENINGER, 2016),

mulheres (PERES, 2018), crianças, refugiados e solicitantes (BAENINGER, 2017b).

A partir da análise dos registros administrativos da Política Federal e do

Ministério do Trabalho, esse trabalho avança na construção de indicadores que reforçam

as transformação e metamorfoses dos fluxos. Embora insuficientes à compreensão das

complexidades que perpassam o fenômeno (GUSMÃO, 2012), a metodologia utilizada

abre uma ampla agenda de pesquisa: questões de família, gênero e geração, contradições

na inserção laboral, novas estratégias de entrada e permanência no país, além das

migrações internas das migrações internacionais.

3. O uso dos registros administrativos na análise das imigrações internacionais

A intensidade das mudanças, dos sentidos e das modalidades migratórias

(WENDEN, 2001) que perpassam o fluxo de africanos no Brasil requer a exploração de

fontes alternativas ao censo demográfico, cuja periodicidade não acompanha as rápidas

recomposições do fenômeno (BAENINGER et al, 2017). Por essa razão, o uso de

registros administrativos tem crescido significativamente, a despeito dos problemas de

coleta, sistematização, atualização e divulgação dessas bases. Dentre os principais

registros utilizados no estudo das migrações internacionais, destacam-se o Sistema

Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE) da Política Federal e a Relação Anual de

Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho (BAENINGER et al, 2017).

Os registros da Política Federal, produzidos no âmbito do Sistema de

Cadastramento de Registro de Estrangeiro (SINCRE) e disponibilizados pelo

Observatório das Migrações (OBMigra), contemplam todos os imigrantes internacionais

com Registro Nacional de Estrangeiro (RNE). Por permitir desagregação a nível

municipal, identificação dos amparos legais que garantem a permanência dos/das

imigrantes no país, local de nascimento, tipo de visto, data de entrada e unidade da

federação de ingresso, entre outras variáveis, essa fonte será amplamente explorada na

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pesquisa. Vale destacar que não constam nessa base os indocumentados1 e os

solicitantes de refúgio2. A essa limitação somam-se os problemas de preenchimento da

informação, grande quantidade de perguntas sem respostas e a não compatibilidade da

variável Ocupação com classificações reconhecidas internacionalmente, a exemplo da

Classificação Brasileira de Ocupação (BAENINGER et al, 2017).

Já os registros administrativos do Ministério do Trabalho (Relação Anual de

Informações Sociais e Cadastro de Empregados e Desempregados) derivam das

declarações obrigatórias que empresas registradas no Cadastro Nacional de Pessoas

Jurídicas (CNPJ) fazem anualmente junto ao sistema eletrônico do Ministério do

Trabalho brasileiro. A base contempla todos os registros de trabalho no mercado formal

em 31 de dezembro do ano de referência. As informações disponíveis apresentam

periodicidade anual e abrangência nacional, sendo possível desagregá-las até o nível

municipal. Por sua compatibilização com a Classificação Brasileira de Ocupação e

periodicidade, tais fontes se destacam como principal fonte de informação sobre

dinâmica do mercado de trabalho formal brasileiro. Dentre as limitações observadas

nota-se que: há possibilidade de dupla-contagem do trabalhador que apresente mais de

um registro de trabalho ativo; a não abrangência do mercado de trabalho autônomo e

informal e possíveis erros de preenchimento do formulário online (BAENINGER et al,

2017).

Juntas, essas fontes de informação possibilitam um melhor acompanhamento

dos principais fluxos imigratórios para o Brasil, sobretudo no período intercensitário.

Por essa razão, são amplamente exploradas nesse trabalho.

4. Os registros administrativos da Polícia Federal: uma análise do Sistema

Nacional de Cadastros e Registros de Estrangeiros (SINCRE)

As informações da Tabela 1 corroboram o incremento da imigração

internacional no Brasil, com uma taxa de crescimento de emissão de Registro Nacional

de Estrangeiro (RNE) de 11%, entre 2000 e 2016. Em se tratando dos africanos,

1 É importante destacar o crescente acesso à documentação na dinamização dos fluxos migratórios

internacionais recentes para o Brasil (FERNANDES et al, 2014). Seja em função de acordos bilaterais,

das concessões especiais de visto (como o visto de ajuda humanitária conferido aos haitianos), ou das

garantias previstas a todos os solicitantes de refúgio, Fernandes et al (2014) pontuam a diminuição

considerável de imigrantes internacionais em situação de indocumentação. 2 O estoque de solicitações de refúgio a espera de julgamento no Comitê Nacional para Refugiados, em

2017, era próximo a 86 mil pedidos. Informação disponível em: http://www.acnur.org/portugues/wp-

content/uploads/2018/04/refugio-em-numeros_1104.pdf. Acesso 30/5/2018.

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verifica-se mais de 45 mil registros efetuados nesse período e um ritmo de crescimento

de quase 9,5% a.a. (Tabela 1).

Tabela 1. Registros de africanos e total de registros de imigrantes internacionais (Registro Nacional

de Estrangeiro – RNE) no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo ano de registro Ano Total de registros Registros de africanos %

2000 23.337 1.180 5,1

2001 20.819 790 3,8

2002 21.882 965 4,4

2003 25.838 992 3,8

2004 27.415 1.210 4,4

2005 33.421 1.614 4,8

2006 45.223 1.760 3,9

2007 39.802 1.772 4,5

2008 40.397 2.084 5,2

2009 88.439 5.365 6,1

2010 55.461 2.700 4,9

2011 76.463 2.853 3,7

2012 102.280 3.540 3,5

2013 114.065 3.567 3,1

2014 99.542 4.157 4,2

2015 114.473 5.630 4,9

2016 125.465 4.949 3,9

Total 1.054.322 45.128 4,3

Taxa geométrica de crescimento dos

registros entre 2000 e 2016 (em %

a.a.)

11,1 9,4

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

O crescimento paulatino e sustentado desses registros tem no ano de 2009 um

pico destoante (Gráfico 1). Esse aumento pode refletir o efeito de resoluções normativas

voltadas à facilitação de acesso à documentação (FERNANDES et al, 2014). A

diminuição no volume de registros entre 2015 e 2016, por sua vez, não necessariamente

representa arrefecimento do fluxo (Gráfico 1). Ao contrário, pode espelhar a

importância crescente de solicitantes de refúgio na composição do fluxo (BAENINGER

et al, 2018; BAENINGER, 2017b).

Gráfico 1. Imigrantes africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no Brasil,

entre 2000 e 2016, segundo ano de registro

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Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

O Mapa 1 e a Tabela 2 evidenciam a extrema diversidade de países desses

imigrantes: mais de 50 Estados-Nacionais diferentes. Angola constitui o principal fluxo,

com quase 13.500 imigrantes registrados no período, o que representa 30% do total de

registros (Tabela 2). Outros países importantes são: Cabo Verde, Guiné-Bissau,

Moçambique, Nigéria, África do Sul, Senegal, República Demográfica do Congo,

Marrocos e Egito. Vale registrar o significativo crescimento de países que, no ano 2000,

quase não apareciam no SINCRE, como Maruício, Benin e Costa do Marfim (Tabela 2).

Mapa 1. Imigrantes africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no

Brasil, entre 2000 e 2016, segundo país de nascimento

1.180790 965 992

1.2101.614 1.760 1.772

2.084

5.365

2.700 2.853

3.540 3.567

4.157

5.630

4.949

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

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Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

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Tabela 2. Registros de africanos e total de registros de imigrantes internacionais (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no Brasil, entre 2000

e 2016, segundo ano de registro e principais países de nascimento

Países da África 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Total

Taxa geométrica

de crescimento

entre 2000 e 2016

(em % a.a.)

Angola 557 248 280 259 315 403 546 541 610 1.437 957 1.040 1.110 1.177 1.063 1.627 1.328 13.498 5,6

Cabo verde 138 110 116 128 152 152 249 329 348 437 255 186 260 305 331 320 222 4.038 3,0

Guine Bissau 34 63 90 97 100 171 176 114 253 665 305 192 279 233 383 420 452 4.027 17,6

Moçambique 50 55 85 110 132 166 134 130 144 316 272 303 335 425 469 388 295 3.809 11,7

Nigéria 61 37 67 87 92 170 121 124 88 655 127 180 247 159 230 535 487 3.467 13,9

Republica da África do Sul 40 66 58 52 79 101 133 122 184 244 185 235 260 306 201 210 130 2.606 7,6

Senegal 27 9 15 11 17 47 16 16 16 609 29 24 33 33 327 419 269 1.917 15,5

Rep Democrática do Congo 10 15 5 16 15 20 36 24 52 88 49 69 93 146 133 372 298 1.441 23,6

Marrocos 38 30 31 42 46 44 38 54 41 112 56 84 88 93 100 179 170 1.246 9,8

Republica Árabe do Egito 16 28 26 21 28 33 42 30 53 86 56 63 222 120 77 166 173 1.240 16,0

Gana 16 4 10 14 16 13 8 10 15 94 29 25 29 40 120 133 335 911 20,9

Republica do congo 15 6 14 9 8 20 36 30 69 138 87 98 43 40 22 41 51 727 7,9

Camarões 7 3 9 6 7 20 24 26 24 76 39 36 60 68 44 71 77 597 16,2

São Tome e Príncipe 7 1 17 8 37 74 21 27 16 52 28 38 38 21 57 59 34 535 10,4

Argélia 16 13 16 19 26 26 22 26 14 33 27 28 56 44 57 68 36 527 5,2

Tunísia 7 1 5 7 9 15 14 26 11 22 22 35 32 48 41 83 64 442 14,8

Benin 2 0 1 1 2 1 3 4 8 10 6 20 70 39 102 70 87 426 26,6

Quênia 14 8 26 9 22 14 18 22 18 23 26 25 24 16 29 39 26 359 3,9

Costa do marfim 6 6 6 11 10 9 11 18 13 29 25 12 30 22 29 45 39 321 12,4

Mauricio 0 1 2 0 2 3 1 2 10 6 4 27 51 32 90 33 10 274 ..

Outros países 119 87 88 85 97 115 112 99 107 239 120 160 231 232 342 385 376 2.994 7,46

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

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Com relação aos principais amparos legais que garantem o direito de residência

no Brasil, o mais recorrente diz respeito à concessão de visto temporário para

estudantes: 17.346 registros (38,4% do total) efetuados entre 2000 e 2016 estão

respaldados por esse dispositivo jurídico (Quadro 1). Em seguida, estão as diferentes

legislações que garantem a reunificação familiar, anistia aos indocumentados3,

permissão de residência para cientistas, professores ou técnicos e missionários

religiosos (Quadro 1). Esses diferentes amparos legais iluminam a pluralidade de

situações envolvendo a migração africana no Brasil e, portanto, ajudam na construção

de suas diferentes modalidades migratórias (WENDEN, 2001).

Quadro 1. Imigrantes africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro - RNE)

no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo principais amparos legais

Amparo Legal Descrição do Amparo Legal Total de

registros

Artigo 13, item IV da

Lei 6.815 (Estatuto do

Estrangeiro), de 1980

Define a concessão de visto temporário ao estrangeiro que pretenda vir ao

Brasil na condição de estudante 17.346

Resolução Normativa

nº 108, de 12 de

fevereiro de 2014

Dispõe sobre a concessão de visto temporário ou permanente e permanência

definitiva a título de reunião familiar. 5.045

Artigo 75 da Lei 6.815

(Estatuto do

Estrangeiro), de 1980

Define a não possibilidade de expulsão do território nacional quando o

estrangeiro tiver: a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou

separado, de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido celebrado

há mais de 5 (cinco) anos; ou b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja

sob sua guarda e dele dependa economicamente.

4.895

Lei nº 11.961 de 02 de

Julho de 2009

Dispõe sobre a residência provisória para o estrangeiro em situação irregular

no território nacional e dá outras providências 2.697

Lei 9.474, de 22 de

julho de 1999

Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de

1951, e determina outras providências. 1.777

Resolução Normativa

nº36, de 28 de

setembro de 1998

Concessão de visto temporário ou permanente a título de reunião familiar aos

dependentes legais de cidadão brasileiro ou de estrangeiro residente

temporário ou permanente no País, maior de 21 anos.

1.492

Resolução Normativa

nº 27, de 25 de

novembro de 1998

Disciplina a avaliação de situações especiais e casos omissos pelo Conselho

Nacional de Imigração 1.415

Resolução Normativa

nº36, de 28 de stembro

de 1999

Concessão de visto temporário ou permanente a título de reunião familiar aos

dependentes legais de cidadão brasileiro ou de estrangeiro residente

temporário ou permanente no País, maior de 21 anos.

895

Artigo 13, item V da

Lei 6.815 (Estatuto do

Estrangeiro), de 1980

Define a concessão de visto temporário ao estrangeiro que pretenda vir ao

Brasil na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra

categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro

845

Resolução Normativa

nº 39, de 28 de

setembro de 1999

Dispõe sobre a concessão de visto para ministros de confissão religiosa ou

membro de instituição de vida consagrada ou confessional, e de congregação

ou ordem religiosa que venha ao País para prestação de serviços de assistência

religiosa ou na condição de estudante

654

Portaria MJ nº 526 de

12/05/1995

Institui modelo único de Cédula de Identidade para Estrangeiro, determina o

recadastramento dos estrangeiros residentes no País e dá outras providências 433

Resolução Normativa

Nº 06, de 21 de Agosto

de 1997

Concessão de permanência definitiva a asilados ou refugiados e suas famílias 403

3 A anistia concedida em 2009 beneficiou mais de 2.500 africanos em situação irregular no Brasil

(Quadro 1). Isso explica o salto no número de registros para esse ano, conforme apontado no Gráfico 1.

Page 11: Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil ... · internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007)

11

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

Sobre o tipo de visto concedido, verifica-se relativa diminuição da proporção de

vistos permanentes e aumento relativo dos vistos temporários, até 2014 (Gráfico 2). Em

2015 e 2016, tal situação é invertida, conjuntamente à emergência do tipo de visto

‘outros’. Sobretudo em 2009, com a alei de anistia (Quadro1), tem-se o aumento da

proporção de vistos provisórios (Gráfico 2).

Gráfico 2. Proporção de imigrantes africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro

– RNE) no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo ano de registro e tipo de visto

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

A informação de ocupação reitera a centralidade dos estudantes no total de

registros (Tabela 3). O volume considerável de ocupação não classificada e sem

ocupação pode ser indicador da crescente precarização das relações de trabalho. Por

outro lado, os registros de diretores, gerentes ou proprietários, professores e médicos

evidenciam também a migração qualificada (DOMENICONI; BAENIGNER, 2016)

como modalidade migratória de destaque (Tabela 3).

No tocante à composição por idade e sexo, é evidente a maior participação de

homens entre os 25 e 40 anos (Figura 1). Para os anos de 2015 e 2016, nota-se aumento

na proporção de crianças (Figura 1), o que pode representar os efeitos da reunificação

familiar.

Figura 1. Imigrantes africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no Brasil,

entre 2000 a 2014, 2015 e 2016, segundo idade e sexo

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Outros

Fronteiriço

Provisório

Temporário

Permanente

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12

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

Page 13: Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil ... · internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007)

Tabela 3. Registros de imigrante africanos (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo ano de registro e

ocupação

Ocupação 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Total

Estudante 434 367 464 442 560 779 839 949 1.208 2.180 1.550 1.474 1.652 1.612 1.928 1.892 1.548 19.878

Outra ocupação não classificada 54 29 37 42 51 55 61 68 75 539 161 259 204 262 319 627 601 3.444

Vendedor ou empregado de casa

comercial 91 17 19 28 36 44 30 31 19 453 54 43 107 86 140 357 319 1.874

Oficial 17 4 16 8 17 37 29 51 99 193 132 160 374 244 242 146 93 1.862

Diretor, gerente ou proprietário 62 45 54 61 82 123 124 119 100 174 80 94 110 93 72 177 133 1.703

Sacerdote 48 32 33 52 60 53 64 71 49 74 61 68 100 122 147 161 137 1.332

Professor 49 33 50 38 57 67 72 50 50 170 46 44 75 93 138 125 111 1.268

Sem ocupação 7 5 8 5 8 5 25 13 14 58 30 35 100 141 101 320 339 1.214

Prendas domesticas ( lides do lar ) 58 42 54 43 50 59 64 65 53 105 79 65 54 57 31 108 85 1.072

Arquiteto 34 31 41 29 35 57 68 35 46 73 53 103 109 121 75 0 0 910

Profissional liberal 13 14 6 8 11 19 15 14 17 316 31 28 62 117 35 66 55 827

Medico 11 17 14 21 23 35 36 33 57 48 50 53 48 72 46 53 48 665

Pedreiro 40 5 5 8 5 3 8 3 6 75 15 22 22 35 92 140 106 590

Economista 17 15 14 19 20 32 19 13 21 34 22 21 34 30 26 94 61 492

Mecânico 26 12 5 5 5 10 19 16 8 53 10 12 50 32 51 85 85 484

Barbeiro 2 2 2 11 7 18 12 9 8 97 17 23 24 25 22 77 93 449

Menor (criança, não estudante ) 12 12 14 9 16 17 19 15 30 27 22 30 26 28 23 84 48 432

Aposentado 9 7 12 16 23 36 32 24 31 40 28 33 20 23 18 40 25 417

Dependente de titular 2 2 1 3 7 10 20 22 40 35 23 35 42 54 45 40 32 413

Cozinheiro 14 2 3 9 2 4 10 3 7 52 10 6 29 18 21 91 89 370

Bolsista 2 3 1 1 1 10 5 11 11 32 13 24 32 26 113 50 31 366

Outras ocupações 178 94 112 134 134 141 189 157 135 537 213 221 266 276 472 897 910 5.066

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

Page 14: Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil ... · internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007)

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Em se tratando do município de residência no Brasil declarado no registro, entre

2000 e 2016, observa-se o espraiamento e a consolidação de novos espaços da migração

africana em território brasileiro (Figura 2). O fortalecimento dessas espacialidades

ocorre, sobretudo no eixo Centro-Sul – Goiás, sul de Minas Gerais, São Paulo, Rio de

Janeiro e os estados do Sul –, mas se sobressaem ainda as capitais do Nordeste, em

especial Fortaleza (Figura 2). Em linhas gerais, essas informações levantam a discussão

dos novos rumos da migração no país, o reforço dos espaços produtivos no interior e a

migração interna das migrações internacionais (BAENINGER et al, 2018).

Mapa 2. Imigrante africanos registrados (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no

Brasil, entre 2000 e 2016, segundo ano de registro e município de residência

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

O incremente da imigração na Região Norte, ainda que modesto, pode ser

representativo das transformações nas dinâmicas migratórias de suas fronteiras

(BAENINGER, 2018b). Conforme indica a Tabela 4, o aumento das entradas nesses

estados é significativo, em especial no Acre. Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa

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Catarina também evidenciam essas mudanças. Segundo Baeninger (2018b, p.464), a

consolidação do Brasil na rota das migrações transnacionais favoreceu a emergência de

novos espaços da migração Sul-Sul nas fronteiras brasileiras, cuja estruturação

apresenta “um forte componente vinculado às redes de coiotes e travessias de migrantes

internacionais”. Esse fenômeno suscita, portanto, o debate em torno das novas

estratégias de ingresso e permanência documentada no país, estando bastante associado

às solicitações de refúgio (BAENINGER, 2018).

Tabela 4. Registros de imigrantes africanos (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE)

no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo ano do registro e Unidade da Federação de

entrada

Fonte: Sistema Nacional de Cadastros e Registros (SINCRE), OBMigra. Tabulações Observatório das

Migrações em São Paulo- NEPO/UNICAMP.

5. Os registros administrativos do mercado de trabalho formal: Relação

Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Previdência

Social (RAIS-MTPS)

Tabela 4

UF de ingresso 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 0 1 0 0 0 1

Acre 0 0 0 1 0 0 2 3 0 4 0 0 2 2 48 235 78

Amazonas 1 1 1 1 2 0 1 0 2 6 4 0 6 6 8 6 12

Rondônia 0 1 1 1 0 1 4 1 1 11 2 1 3 1 5 10 9

Pará 2 3 3 2 4 3 3 1 3 3 6 0 1 9 73 9 12

Amapá 1 0 1 0 1 0 1 1 1 7 2 5 21 1 0 3 0

Norte 4 5 6 5 7 4 11 6 7 32 16 6 34 19 134 263 112

Maranhão 3 1 1 0 0 0 0 2 1 2 0 2 2 0 0 0 0

Ceará 30 31 146 171 171 271 307 404 548 1.326 488 370 489 497 665 633 508

Rio Grande do Norte 0 5 4 1 11 32 24 16 10 35 9 10 14 29 12 23 35

Paraíba 18 6 4 2 3 7 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1

Pernambuco 27 20 17 31 29 21 32 28 59 65 45 39 48 73 76 89 107

Alagoas 0 2 0 0 0 0 0 1 3 3 0 0 7 1 1 1 0

Sergipe 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0

Bahia 4 11 9 11 17 21 27 18 26 65 32 38 60 44 46 43 38

Nordeste 82 76 181 216 231 352 390 469 647 1.497 574 459 621 644 800 791 689

Minas Gerais 3 2 3 2 2 2 1 0 5 28 18 14 24 24 35 37 37

Espírito Santo 2 1 1 0 0 0 4 1 1 6 2 0 0 2 2 1 1

Rio de Janeiro 680 342 348 285 364 450 582 552 603 1.438 794 776 929 927 689 981 751

São Paulo 366 302 384 428 549 713 684 631 697 2.146 1.181 1.482 1.794 1.805 2.202 3.298 3.123

Sudeste 1.051 647 736 715 915 1.165 1.271 1.184 1.306 3.618 1.995 2.272 2.747 2.758 2.928 4.317 3.912

Paraná 36 49 30 39 39 68 71 100 73 128 53 40 44 36 36 56 46

Santa Catarina 0 1 0 1 1 1 0 0 0 19 2 1 3 3 12 13 12

Rio Grande do Sul 5 7 9 8 10 13 12 7 16 21 22 20 36 47 144 72 70

Sul 41 57 39 48 50 82 83 107 89 168 77 61 83 86 192 141 128

Mato Grosso do Sul 2 2 2 7 1 7 2 3 6 15 8 12 15 16 35 27 28

Mato Grosso 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2 3 0 1 2 1 1

Distrito Federal 0 3 1 1 6 4 3 3 29 35 28 40 40 43 66 90 79

Centro Oeste 2 5 3 8 7 11 5 6 35 50 38 55 55 60 103 118 108

Registros de imigrantes africanos (Registro Nacional de Estrangeiro – RNE) no Brasil, entre 2000 e 2016, segundo

ano do registro e Unidade da Federação de Entrada

Page 17: Migrações transnacionais da África para o Brasil: perfil ... · internacional do trabalho, se reconfiguram em nível do Estado, da localidade e do indivíduo (GLICK SCHILLER, 2007)

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No tocante a informações da RAIS, a tabela abaixo apresenta as informações

relativas aos vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal brasileiro para

imigrantes internacionais segundo suas nacionalidades, continentes e grande região de

origem para os anos de 2011, 2014 e 2017. Como apresentado ao longo da proposição

teórica, observa-se, inicialmente, a crescente participação relativa e absoluta dos países

do “sul global”4 no mercado formal de trabalho do país, bem como a diversificação de

suas origens e composição populacional (BAENINGER, 2018). Esse grupo de países

em 2011 representava 56,8% ou 36.765 dos 64.711 vínculos para imigrantes com

contrato de trabalho formal no Brasil. Passaram, em 2014, para 68,3% ou 81.501 dos

119.312 e alcançaram a marca de 76,6% em 2017, com 96.268 dos 125.690 vínculos

ativos de trabalho (Tabela 5).

Tabela 5. Vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal brasileiro para

imigrantes internacionais, segundo regiões, continentes e nacionalidades5, 2011, 2014 e

2017

Nacionalidade Vínculos ativos para o Total de Imigrantes

2011 2014 2017

Países do Sul 36.765 81.501 96.268

América do Sul e Caribe 30.695 66.498 79.697

Argentina 5.932 7.832 7.124

Boliviana 4.793 7.243 5.912

Chilena 4.459 4.494 3.556

Colombiana 424 1.480 2.137

Equatoriana 108 227 294

Haitiana 519 23.993 36.172

Paraguaia 3.813 7.119 8.225

Peruana 857 2.833 3.569

Uruguaia 3.637 4.203 4.044

Venezuelana 335 634 2.711

Outras Latino-Americanas 5.818 6.440 5.953

África 1.170 5.098 7.887

Angolana 366 626 1.880

Congolesa 40 225 595

Ganesa 148 312

Senegalesa 207 718

Sul-Africana 263 502 478

Outras Africanas 501 3.390 3.904

Ásia 4.900 9.905 8.684

Bengalesa 3.504 2.725

Chinesa 3.413 2.927 3.430

Coreana 606 1.420 765

Indiana 88 284 364

Paquistanesa 20 201 204

4 ONU (2017) 5 São apresentadas todas as nacionalidades discriminadas na Relação Anual de Informações Sociais do

Ministério do Trabalho.

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Outras Asiáticas 773 1.569 1.196

Países do Norte 25.429 30.295 23.287

América do Norte 2.539 2.953 2.203

Canadense 303 400 342

Norte-Americana 2.236 2.553 1.861

Ásia 2.140 2.727 2.604

Japonesa 2.140 2.727 2.604

Europa 20.750 24.615 18.480

Alemã 1.901 2.015 1.570

Belga 345 368 253

Britânica 896 922 625

Espanhola 2.192 3.093 2.080

Francesa 1.834 2.411 1.924

Italiana 2.461 3.116 2.528

Portuguesa 9.213 10.770 7.902

Russa 120 207 222

Suíça 384 390 309

Outras Europeias 1.404 1.323 1.067

Outras 2.517 7.516 6.135

Total 64.711 119.312 125.690

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011, 2014 e 2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

Tal crescimento esteve relacionado, especialmente, ao aumento no número de

registros de trabalho para imigrantes de nacionalidade haitiana, que em 2011 eram 519 e

em 2014 passaram para 23.993, mas também, a uma maior inserção de imigrantes da

Ásia e da África no mercado formal brasileiro. Entre os países asiáticos destacam-se os

chineses, bengaleses e coreanos. Entre os vínculos de trabalho para chineses e coreanos,

cabe observar sua variação no período considerado, visto que, ao contrário da maior

parte das nacionalidades, sua inserção no mercado formal de trabalho apresentou uma

queda de 2011 a 2014 e uma posterior retomada no triênio seguinte. Muito relacionada

às mudanças na econômica global e nacional, sobretudo, devido a um período de

contração do mercado de trabalho brasileiro.

Em contraposição os imigrantes africanos apresentaram uma crescente inserção

laboral formal no país, pois contabilizavam 1.170 registros em 2011, 5.098 em 2014 e

alcançaram o patamar de 7.887 vínculos ativos ao final do ano de 2017 (Tabela 5).

Ressaltam-se os imigrantes angolanos, congolês, ganeses e senegaleses, os quais, ainda

que não discriminados no início do período, têm aumentado crescentemente sua

inserção laboral no mercado brasileiro, especialmente entre 2014 e 2017.

Cabe ponderar, porém, que, no que diz respeito aos países do “norte global” é

possível apreender uma mudança na tendência de crescente inserção laboral dos

europeus, norte-americanos e japoneses (Tabela 5). Esse cenário mostrou-se mais

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intenso, sobretudo, para portugueses e espanhóis, que apresentaram uma perda

expressiva em termos absolutos em sua participação, sendo que os portugueses

passaram de 9.213 em 2011, para 10.770 em 2014 e decaíram para 7.902 vínculos em

2017. Enquanto para os espanhóis essa mudança foi de 2.192 em 2011, para 3.093 em

2014 e 2.080 vínculos ativos em 2017. Nota-se que a queda observada na inserção

laboral de espanhóis em 2017 decaiu a níveis inferiores aos de 2011.

A RAIS nos permite analisar ainda, de forma discriminada o sexo dos imigrantes

inseridos no mercado formal de trabalho brasileiro. A partir disso, o Gráfico 3 apresenta

essas informações de acordo com as nacionalidades dos imigrantes para o período de

2011 a 2017. É possível perceber uma predominância dos registros de trabalho para

imigrantes homens nas diferentes nacionalidades consideradas, entre elas angolana,

congolesa, ganesa, senegalesa, sul-africana e outras. No entanto, há um crescimento

absoluto em todas as nacionalidades consideradas para ambos os sexos de 2011 e 2017,

ainda que a variação relativa não demonstre ser significativa. Predominam entre os

africanos os vínculos ativos de angolanos e angolanas, os quais representavam em 2011

aproximadamente 42,8% dos 1.170 registros e em 2016 já eram mais de 50% dos 7.406

vínculos ativos para imigrantes africanos.

Gráfico 3. Participação dos vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal para

imigrantes internacionais africanos, segundo nacionalidade e sexo, Brasil, 2011-2017

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

Não se deve desconsiderar o importante número de vínculos de imigrantes do

continente africano que não se encontram discriminados na base e fazem parte de

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20

“outras nacionalidades africanas”. A inicial ausência de dados (anteriores a 2011) e

posterior crescimento nos registros laborais para esse grupo de imigrantes é em si um

fenômeno expressivo do que tange mudanças no perfil, na composição e nas relações

sociais e políticas estabelecidas pelos africanos no Brasil.

O Gráfico 4 contribui com a análise proposta ao discriminar, segundo regiões

administrativas no Brasil a participação dos vínculos ativos de trabalho para imigrantes

africanos no total de vínculos de imigrantes. O que permite observar que, ainda que sua

participação relativa seja inferior a 3,5% do total há um processo de mudança em sua

distribuição espacial entre 2011 e 20176. Nota-se, de maneira geral, uma crescente

participação da região sul, especialmente no período de 2013 a 2016, na inserção laboral

formal de imigrantes africanos, acompanhada de perto pela região sudeste. Que, apesar

de ser o centro mais expressivo no início do período perde espaço para o sul entre 2013

e 2016, retomando, minimamente sua participação no patamar de 2,7% dos vínculos

ativos de trabalho para esse grupo em 2017.

Gráfico 4. Participação dos vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal

para imigrantes internacionais africanos no total de vínculos para imigrantes, segundo

Região, Brasil, 2011-2017

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

O estudo da distribuição espacial dos vínculos ativos de imigrantes africanos no

país contribui para a compreensão das diferentes realidades vividas por eles ao se

inserirem na sociedade e no mercado de trabalho brasileiro. A tabela 6 apresenta as

informações relativas aos registros de trabalho para imigrantes africanos por região

administrativa e unidades federativas entre 2011 e 2017.

6Anos para os quais se tem a nacionalidade de imigrantes africanos discriminada.

,00

,500

1,00

1,500

2,00

2,500

3,00

3,500

4,00

4,500

5,00

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Região Norte

Região Nordeste

Região Sudeste

Região Sul

Região Centro-Oeste

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21

Tabela 6. Vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal para imigrantes

internacionais africanos, segundo Região e Unidade Federativa, Brasil, 2011-2017

Região/ Unidade

Federativa

Ano

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Região Norte 28 32 39 40 53 48 52

Rondônia 1 12 5 5 4 5 6

Acre 5 1 1 - 2 2 2

Amazonas 13 6 11 14 21 17 15

Roraima 1 1 1 2 8 5 8

Pará 5 7 7 12 8 8 10

Amapá 2 1 2 3 1 2 2

Tocantins 1 4 12 4 9 9 9

Região Nordeste 41 96 154 235 296 338 339

Maranhão 3 2 9 8 7 6 12

Piauí - - 1 1 4 3 4

Ceará 11 35 75 145 186 218 212

Rio Grande do Norte 3 11 8 14 13 14 16

Paraíba 1 3 6 7 13 11 14

Pernambuco 4 12 20 22 25 28 31

Alagoas 1 4 7 8 11 12 12

Sergipe 3 2 3 2 3 2 4

Bahia 15 27 25 28 34 44 34

Região Sudeste 642 957 1.276 1.860 2.652 3.127 3.642

Minas Gerais 27 33 55 75 135 116 173

Espírito Santo 10 14 16 16 20 25 44

Rio de Janeiro 290 377 398 402 500 526 680

São Paulo 315 533 807 1.367 1.997 2.460 2.745

Região Sul 403 692 1.307 2.651 3.691 3.507 3.472

Paraná 197 314 232 476 641 597 664

Santa Catarina 103 198 341 755 1.007 1.038 1.019

Rio Grande do Sul 103 180 734 1.420 2.043 1.872 1.789

Região Centro-Oeste 56 74 120 312 403 386 382

Mato Grosso do Sul 8 11 18 14 21 25 29

Mato Grosso 6 7 28 108 148 110 116

Goiás 15 17 18 48 58 68 51

Distrito Federal 27 39 56 142 176 183 186

Total 1.170 1.851 2.896 5.098 7.095 7.406 7.887

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

Como discutido anteriormente, a maior parte desses imigrantes encontram-se nas

regiões sudeste e sul, com destaque para os estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio

Grande do Sul. Cabe pontuar que, ainda que São Paulo seja um centro histórico de

inserção da mão de obra imigrante (BALÁN, 1973), outras localidades têm ganhado

espaço relativo na dinâmica migratória local e regional. Mesmo em menor escala, a

presença desses imigrantes em regiões com ou sem um histórico de relações com a

migração internacional demonstra as mudanças nos processos sociais, na diversidade

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dos fluxos em curso, bem como, nas relações geopolíticas estabelecidas pelo país no

plano internacional, tendo em vista sua inserção na divisão internacional do trabalho

(BAENINGER, 2012). Destaca-se, assim, a crescente presença de registros de trabalho

em estados como, Ceará, Mato Grosso, Distrito Federal, entre outros.

Além disso, é possível avaliar ainda três elementos fundamentais à compreensão

dos fluxos migratórios de imigrantes africanos para o Brasil no século XXI, seu nível de

instrução, renda média e os principais setores de inserção ocupacional desses

profissionais. O Gráfico 5 discrimina os vínculos ativos de imigrantes africanos,

respectivamente em 2011 e 2017, segundo nível de instrução nas diferentes regiões do

país. Observa-se que, inicialmente há uma importante participação de imigrantes com o

ensino fundamental incompleto, ensino médio completo e, especialmente na região sul,

de profissionais com o ensino superior completo.

Em 2017 já há, comparativamente, uma mudança na composição geral das

características apresentadas pelos profissionais africanos. Nota-se um crescimento dos

registros de fundamental completo, ensino médio completo e de profissionais com

superior completo (consideradas as diferentes escalas apresentadas). Destaca-se, assim,

a diversidade de níveis de instrução observados nas regiões sudeste e sul do país no que

tange a inserção laboral de imigrantes angolanos, congoleses, senegaleses entre outros.

Gráfico 5. Vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal para imigrantes

internacionais africanos, segundo região e nível de instrução, Brasil, 2011 e 2017

0

200

400

600

800

1.000

2011Doutorado

Mestrado

Superior Completo

Superior Incompleto

Médio Completo

Médio Incompleto

Fundamental Completo

Fundamental Incompleto

Analfabeto

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Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

O gráfico 6, por fim, apresenta a distribuição dos vínculos ativos de imigrantes

africanos em 2011 e 2017 de acordo com as regiões do país e os grupos ocupacionais

discriminados. É fundamental considerar que se tratam de proporções estabelecidas a

partir do volume de registros observados para cada região (Tabela 6). Assim,

inicialmente, há uma participação relativa importante dos vínculos ativos de

trabalhadores da produção de bens e serviços industriais I (trabalhadores que lidam mais

com a forma do produto do que com o seu conteúdo físico-químico, "artesãos"), nas

regiões norte (mais de 45% do total de registros), sudeste, sul e centro-oeste. São

expressivos em 2011, também, os vínculos de trabalho para profissionais das ciências e

das artes, sobretudo, no nordeste, centro-oeste, sudeste e norte do país. Ademais há que

e avaliar que, em 2011, mais de 50% dos registros de trabalho ativos diziam respeito aos

trabalhadores da produção de bens e serviços industriais II. (trabalhadores de sistemas

de produção que são ou tendem a ser contínuos: química, siderurgia, dentre outros)

Já para 2017 é possível observar uma maior diversificação na inserção laboral

dos imigrantes africanos nos diferentes grupos ocupacionais considerados para todas as

regiões do país. Cresce relativamente a participação dos vínculos ativos para

trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca na região norte e centro-oeste, bem

como, de trabalhadores dos serviços, vendedores do comércio em lojas e mercados para

todas as regiões do país. Nas regiões nordeste e sudeste, perdem espaço relativo (mas

nem tanto absoluto) os profissionais das ciências e das artes e membros superiores do

poder público, dirigentes de organizações de interesse público, mas ganham os

trabalhadores em serviços de reparação e manutenção, o que seria indicativo de uma

piora nas condições de inserção laboral desses imigrantes, visto que, a maior parte das

0500

1.0001.5002.0002.5003.0003.5004.000

2017 Doutorado

Mestrado

Superior Completo

Superior Incompleto

Médio Completo

Médio Incompleto

Fundamental Completo

Fundamental Incompleto

Analfabeto

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ocupações relacionadas ao trabalho altamente qualificado relacionado à pesquisa,

ciência e tecnologia encontra-se nos grupos com maiores perdas.

Gráfico 6. Vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal para imigrantes

internacionais africanos, segundo região e grandes grupos ocupacionais, Brasil, 2011 e 2017

Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

Finalmente, para a região sul, há uma queda relativa importante nos registros

para trabalhadores da produção de bens e serviços industriais II em comparação com

2011, compensada pela maior inserção de imigrantes nos setores do trabalho em

serviços e comércio e no trabalho da produção de bens e serviços industriais I. A região

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2011Trabalhadores em serviços de

reparação e manutenção

Trabalhadores da produção de bens e

serviços industriais II

Trabalhadores da produção de bens e

serviços industriais I

Trabalhadores agropecuários, florestais

e da pesca

Trabalhadores dos serviços,

vendedores do comércio em lojas e

mercadosTrabalhadores de serviços

administrativos

Técnicos de nível médio

Profissionais das ciências e das artes

Membros superiores do poder público,

dirigentes de organizações de interesse

público

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2017{ñ class}

Trabalhadores em serviços de

reparação e manutenção

Trabalhadores da produção de bens e

serviços industriais II

Trabalhadores da produção de bens e

serviços industriais I

Trabalhadores agropecuários, florestais

e da pesca

Trabalhadores dos serviços, vendedores

do comércio em lojas e mercados

Trabalhadores de serviços

administrativos

Técnicos de nível médio

Profissionais das ciências e das artes

Membros superiores do poder público,

dirigentes de organizações de interesse

público

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centro-oeste, por sua vez, é a que apresenta maior perda de vínculos relacionados à

profissionais das ciências e das artes, com o relativo aumento da inserção nos setores de

trabalho da produção indústria I e II.

Sobre a renda média apresentada pelos imigrantes internacionais africanos em

seu registro de trabalho no mercado formal brasileiro, o Gráfico 7 apresenta dados para

2011 e 2017, segundo regiões administrativas e salário mínimo médio no ano. De

maneira geral é possível notar que em 2011 ainda que predominassem os vínculos de

trabalho de 1,01 a 3,00 salários mínimos, com uma participação superior a 50% no país

todo. Era possível observar uma participação de em média 40% para outros níveis mais

elevados de salários mínimos, especialmente, nas regiões nordeste e sudeste com

participação de níveis de 5,01 a 10,00 SM; 10,01 a 20,00 SM e acima de 20 SM.

Em 2017, porém, os vínculos ativos de trabalho para imigrantes africanos no

grupo “de 1,01 a 3,00 salários mínimos” passam a representar mais de 80% dos

registros nas regiões centro-oeste, sul e sudeste. Uma participação absoluta muito

superior tendo em vista o crescimento na inserção laboral desses imigrantes no mercado

formal entre 2011 e 2017. Desse modo, apenas no norte, mantem-se uma participação

relativa de 30% para grupos de salários superiores a 3 SM, no entanto, com valores

absolutos muito inferiores comparativamente aos vínculos para a região sudeste e sul,

como observado anteriormente.

Gráfico 7. Vínculos de trabalho ativos em 31/12 no mercado formal para imigrantes

internacionais africanos, segundo região e Salário Mínimo (SM) médio, Brasil, 2011 e 2017

0%

20%

40%

60%

80%

100%

2011

{ñ class}

Mais de 20,00

De 10,01 a 20 SM

De 5,01 a 10 SM

De 3,01 a 5 SM

De 1,01 a 3 SM

Até 1 SM

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Fonte: Relação Anual de Informações Sociais, Ministério do Trabalho e Previdência Social (RAIS-

MTPS), 2011-2017. Tabulações Observatório das Migrações em São Paulo-NEPO/UNICAMP-

Fapesp/CNPq.

6. Considerações Finais

Tendo em vista a presença cada vez mais significativa de imigrantes africanos

no Brasil, o artigo procurou apreender as especificidades e heterogeneidades desses

fluxos migratórios tão diversos na contemporaneidade, ainda que a maior parte de seus

movimentos populacionais se dê no âmbito regional (TRIULZI, MCKENZIE, 2013).

Notou-se um aumento significativo da presença de imigrantes africanos de diferentes

nacionalidades no Brasil, não apenas nos grandes centros urbanos e capitais, mas em

municípios do interior de diferentes estados brasileiros (BAENINGER et al, 2017).

Além de um crescimento no número de vínculos de trabalho no mercado formal

especialmente para imigrantes angolanos, senegaleses, ganenses, congoleses e sul-

africanos. No conjunto, os registros administrativos da Polícia Federal e do Ministério

do Trabalho ajudam no acompanhamento das mudanças na dinâmica migratória de

imigrantes africanos para o Brasil, de modo que, o país tem, cada vez mais, se inserido

na rota dessa migração transnacional africana no século XXI.

7. Referências Bibliográficas

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

2017

{ñ class}

Mais de 20,00

De 10,01 a 20 SM

De 5,01 a 10 SM

De 3,01 a 5 SM

De 1,01 a 3 SM

Até 1 SM

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