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MODELAGEM COMO METODOLOGIA DE APRESENTAÇÃO DA MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS
Ricardo Miguel Druchak (Professor PDE/2016)
Angelo Miguel Malaquias
(Professor Orientador/Unicentro – PR.) RESUMO O presente artigo é resultado da implementação do projeto desenvolvido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/2016, no Colégio Estadual Professor Mario Evaldo Morski – EFMN, na cidade de Pinhão-PR.. Teve como objetivo a apresentação da modelagem matemática como metodologia de ensino de matemática para os anos iniciais do ensino fundamental. O público alvo foi uma turma de 4º ano, do Curso de Formação de Docentes dos Anos Iniciais. Durante o projeto, com a realização de uma pesquisa no município de Pinhão-PR, sobre a situação do profissional professor, os alunos envolvidos tiveram a oportunidade de vivenciar a modelagem matemática para futuramente ter condições de aplicá-la como metodologia de ensino em suas aulas, uma vez que este tipo de abordagem permite o ensino de matemática de forma interessante, motivadora e contextualizada, próxima do cotidiano dos alunos. Palavras chaves: Matemática; Modelagem; Anos iniciais; Metodologia.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, grande parte dos profissionais que atuam no ensino de
matemática para os anos iniciais do ensino fundamental possuem formação
em pedagogia ou são formados em nível médio no Curso de Formação de
Docentes da Educação Infantil.
Nota-se que em cursos de Pedagogia, os quais são responsáveis pela
formação de professores que atuam principalmente nos anos do ensino
fundamental, normalmente, são poucas as disciplinas destinadas ao estudo
de conteúdos de matemática. As investigações de Curi (2004), Zimer (2008),
Santos (2009) e Almeida (2009) apud Costa (2013, p.10) mostraram que em
cursos de Pedagogia é dado maior importância para a didática e metodologia
do que para os conteúdos específicos.
Uma reflexão sobre as discussões e observações levantadas pelos
pesquisadores citados permite observar que é de extrema importância pensar
também na forma de conduzir o ensino de matemática no Curso de Formação
de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais. Afinal, assim como na
graduação em Pedagogia, a formação dos alunos do Curso de Formação de
Docentes tem pouca ênfase na disciplina de matemática, voltada para o
ensino dos anos iniciais. O que demonstra uma necessidade de repensar a
forma de ensinar matemática, de maneira que envolva não apenas uma
metodologia interessante, mas também a aquisição de conhecimentos
matemáticos.
A modelagem matemática tem sido uma tendência para o
desenvolvimento de atividades multidisciplinares, contextualizadas e
interessantes com a qual é possível trabalhar muitos conteúdos de
matemática, em diversos níveis, algo que justifica a escolha da modelagem
matemática como metodologia de ensino para se trabalhar com alunos do
Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil.
O presente trabalho teve por objetivo a utilização da modelagem
matemática como metodologia de apresentação da matemática nos anos
iniciais, apontando esta metodologia como um possível caminho para se
ensinar matemática nas escolas, de forma motivadora e próxima do cotidiano
dos alunos. O presente artigo traz o relato de uma experiência de aplicação
da modelagem matemática com uma turma de alunos concluintes do Curso
de Formação de Docentes dos Anos Iniciais, no Colégio Estadual Professor
Mario Evaldo Morski – EFMN, na cidade de Pinhão-PR., no primeiro
semestre de 2017. Os participantes tiveram a oportunidade de vivenciar as
etapas necessárias para a realização de um trabalho de modelagem
matemática, para que futuramente tenham condições de desenvolver
atividades semelhantes com seus futuros alunos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Diante da atual situação em que se encontra a educação em nosso país,
com escolas sem infraestrutura, professores com pouca ou nenhuma formação
continuada, descompromisso e falta de interesse de muitos alunos, é difícil
identificar qual a principal falha na educação, que dificulta o aprendizado e faz
com que muitos alunos não aprendam o básico de matemática. No entanto,
cabe aos professores começar, dentro das escolas, a corrigir possíveis erros
de formação já nos anos iniciais, para que o conhecimento possa ser
construído gradativamente sem o comprometimento da série seguinte.
A graduação em Pedagogia e os cursos de Formação de Docentes dos
Anos Iniciais assumem um papel muito importante no processo educacional,
pois são responsáveis pela formação da maioria dos profissionais que atuam
nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Por isso, convém refletir sobre a
formação desses professores. No caso dos pedagogos, por exemplo, observa-
se uma formação, demasiadamente abrangente, generalizada e que exige uma
enorme quantidade de conhecimentos e habilidades. Com isso, muitas vezes, a
formação matemática é deixada em segundo plano, como demonstra o artigo
5º, das Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia (2006, DCNP, p.2).
Quando se analisa a grade curricular da graduação dos cursos de
Pedagogia de diversas instituições de ensino, como: Universidade Estadual
do Paraná, Campus Campo Mourão (UNESPAR/FECILCAM), Universidade
Estadual de Maringá (UEM) e Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO), observa-se que a carga horária destinada a conteúdos
específicos é muito pequena.
Para Carvalho (2008), deveria haver mais espaço nos cursos de
Pedagogia para que ocorressem discussões amplas sobre os conceitos
matemáticos, as dificuldades relacionadas com as questões matemáticas,
bem como, reflexões aprofundadas sobre o fracasso escolar.
Também há outra formação de professores para os anos inicias, que é o
Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental, como define a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, em seu artigo 62:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade Normal. (BRASIL. Ministério da Educação. Lei 9.394, de 24 de dezembro de 1996). (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013)
É para alunos que se formam nesses cursos de nível médio que será
dispensada a atenção neste trabalho, pois mesmo não tendo um número tão
expressivo de profissionais que se formam, em comparação aos que se
graduam em pedagogia, estão presentes em muitas salas de aula, como
professores regentes.
Uma das falhas da educação matemática está na forma com que é
apresentada a disciplina nos anos iniciais, em que muitas vezes o professor
que está iniciando a criança no mundo da matemática não sabe, ou não gosta
da matemática, e muito menos tem uma metodologia que possibilite uma
aprendizagem eficiente de seus alunos. Nessa perspectiva, afirmam Curi e
Pires (2004, p. 11):
Ninguém promove a aprendizagem de um conteúdo que não domina, nem constrói significados que ainda não têm construídos, nem pode promover autonomia de seus alunos se sempre foi dependente de seus professores.
Outro fator relevante são as inúmeras razões que motivam vários
sujeitos a fazer a opção pela graduação em Pedagogia, entre elas, não gostar
de matemática e o curso de Pedagogia ter uma das menores cargas horárias
nessa área. Confrontando com essa concepção, desde há muito tempo Werebe
(1970, p. 212) já afirmava:
A ideia de que o professor primário precisa saber pouco porque ensina noções elementares é falsa. As funções que exerce são complexas e de grande responsabilidade e os papéis sociais que deve desempenhar exigem dele uma visão universal e científica do mundo em que vive e da sociedade a que serve e, por conseguinte, a sua formação deve incluir sólida cultura geral e boa cultura pedagógica.
Diante dessa afirmação de Werebe pode-se fazer uma analogia com o
conhecimento matemático, pois o professor que lecionará nos anos iniciais
deve ter tanto conhecimento, quanto os que ensinam nos demais níveis, além
do conhecimento específico para o trabalho com crianças.
Sendo assim, o enfoque deste trabalho é possibilitar aos alunos do
Curso de Formação de Docentes uma das metodologias de ensino de
matemática, para que ao estagiar ou trabalhar como professores possam
ensinar a matemática de uma forma real, prazerosa e eficiente, desmitificando
a matemática como portadora de conteúdos impossíveis de se aprender. Como
afirma Serrazina (2003, p.68):
O ensino deve apontar para a construção dos conhecimentos das crianças, com vista a encorajá-las a um futuro desenvolvimento, a formação de professores deve desenvolver essas capacidades no futuro professor. [...] Assim, os cursos de formação de professores devem ser organizados de modo a permitir-lhes viver experiências de aprendizagem que se quer que os seus alunos experimentem e que constituam um desafio intelectual. Podemos afirmar que aprender matemática num curso de formação de professores é importante, mas desenvolver uma atitude de investigação e de constante questionamento em matemática é ainda mais importante.
Para que isso ocorra utilizar-se-á a metodologia da modelagem
matemática, na formação desses futuros professores, pois quando se ensina
matemática não se deve pensar que a formação é de futuros matemáticos, mas
na formação como um todo. Essa concepção é defendida por Duval (2003, p.
11):
[...] o objetivo do ensino da matemática, em formação inicial, não é nem formar futuros matemáticos, nem dar aos alunos instrumentos que só lhes serão eventualmente úteis muito mais tarde, e sim contribuir para o desenvolvimento geral de suas capacidades de raciocínio, de análise e de visualização.
Alguns autores como Franchi (1993), Kitchen e Williams (1993),
Biembengut (1999) Galbraith e Clatworthy (1990), Bassanezi (1994),
Biembengut (1990), Borba, Meneghetti e Hermini (1997, 1999), pensam a
possibilidade de aplicação da modelagem matemática de formas diferenciadas,
que podem ser sintetizadas segundo Barbosa (2003) de três formas.
A primeira forma de modelagem é aquela em que o professor apresenta
a situação problema já previamente definida por ele e cabe ao educando a
resolução, que será acompanhada pelo professor, o qual fornecerá todas as
informações que os educandos acharem necessário para a resolução, uma
aplicação de Franchi (1993), Kitchen e Williams (1993).
Uma segunda forma de modelagem é o professor definir a situação
problema e auxiliar os educandos, mas cabe a eles a função de buscar as
informações necessárias e assim encontrar a solução. Nessa situação os
alunos precisam extrapolar o ambiente da sala de aula e necessitarão de um
tempo maior para realizar a resolução do problema. Essa aplicação foi
realizada por Biembengut (1999) e Galbraith e Clatworthy (1990).
Finalmente, numa terceira situação, o tema a ser estudado é escolhido
pelo educando, o qual extrai do seu cotidiano e cabe a ele buscar as
informações e resolver o problema. O professor passa a ser um mediador,
dando maior autonomia ao educando. Neste caso, o desenvolvimento pode
exigir um tempo maior, além disso, pode o tema escolhido perpassar por várias
áreas do conhecimento. Essa aplicação é desenvolvida e descrita por
Bassanezi (1994a, 1994b), Biembengut (1990), Borba, Meneghetti e Hermini
(1997, 1999).
A terceira possibilidade ou “caso”, como Barbosa (2003) prefere chamar
junto com a definição de D’Ambrosio, nortearão o desenvolvimento deste
projeto, pois se acredita que essa metodologia está de acordo com o que se
pretende atingir junto aos educandos, que é uma aprendizagem significativa,
com a construção a assimilação de conceitos matemáticos, tendo esta como
um caminho para a resolução de problemas do dia a dia.
Para D’ambrosio (1986, p. 27), Modelagem Matemática, “é um processo
muito rico de encarar situações e culmina com a solução efetiva do problema
real e não com a simples resolução formal de um problema artificial”.
Dentre os muitos autores, é fundamental destacar alguns de grande
relevância, que auxiliarão na fundamentação deste trabalho. Entre eles,
Biembengut e Hein (2000, p.12) que definem Modelagem Matemática como
“uma arte, ao formular, resolver e elaborar expressões que valham não apenas
para uma situação particular, mas que também sirvam posteriormente para
outras aplicações”.
Bassanezi (2004), afirma:
A Modelagem Matemática, “consiste na arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real”. (p.16) Modelagem matemática é um processo dinâmico utilizado para obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual (p. 24).
No entender de Chaves e Espírito Santo (2004)
Modelagem Matemática é um processo que transforma, uma situação/questão escrita na linguagem corrente e/ou proposta pela realidade, em linguagem simbólica da matemática, fazendo aparecer um modelo matemático que, por ser uma representação significativa do real, se analisado e interpretado segundo as teorias matemáticas, devolve informações interessantes para a realidade que se está questionando. (p. 579).
Júnior e Espírito Santo (2004),
A modelagem oferece uma maneira de colocar a aplicabilidade da Matemática em situações do cotidiano, no currículo escolar em conjunto com o tratamento formal que é predominante no modelo tradicional. Esta ligação da Matemática escolar com a Matemática da vida cotidiana do aluno faz um papel importante no processo de escolarização do indivíduo, pois dá sentido ao conteúdo estudado, facilitando sua aprendizagem e tornando-a mais significativa (p. 78).
Por último, mas não menos importante, tem-se a definição de BURAK:
A Modelagem Matemática constitui-se em um conjunto de procedimentos cujo objetivo é construir um paralelo para tentar explicar, matematicamente, os fenômenos presentes no cotidiano do ser humano, ajudando-o a fazer predições e a tomar decisões. (BURAK, 1992, apud BRANDT, BURAK, KLUBER, 2010, p. 35).
3. IMPLEMENTANDO AÇÕES
Este artigo é resultado de um trabalho desenvolvido com base no
caderno pedagógico elaborado durante o programa de desenvolvimento
educacional – PDE, constituído por duas etapas principais, conceituação e
concepção da modelagem matemática como metodologia de ensino e o
estabelecimento de uma problemática de interesse comum, para ser abordada
por meio da modelagem matemática. A realização desta última etapa,
juntamente com os alunos, é primordial para o sucesso na aprendizagem, pois
trata-se do momento em que podem discutir e expressar opiniões, sendo
participativos na construção do conhecimento. Neste trabalho foram
desenvolvidos oito passos sugeridos no caderno pedagógico, os quais seguem
descritos na forma de momentos.
No primeiro momento aconteceu a apresentação do Projeto de
Intervenção Pedagógica na Escola aos alunos do Curso de Formação de
Docentes, com base na fundamentação teórica deste trabalho. Foram
expostas as discussões já existentes sobre a forma com que os conteúdos
matemáticos são abordados nos anos iniciais do ensino fundamental, no que
se refere à metodologia empregada pelos professores e à formação
acadêmica dos mesmos. A partir desta contextualização iniciou-se a
apresentação da modelagem matemática como uma metodologia inovadora,
diferenciada e motivadora para a abordagem da matemática nos anos iniciais,
que possibilita ao professor ofertar um ensino de matemática próximo da
realidade do educando.
O primeiro momento teve duração de duas aulas de cinquenta minutos,
utilizadas para apresentar o projeto, um vídeo motivacional e definições sobre
modelagem matemática, descritos no caderno pedagógico. A aula culminou
com a realização de questionamentos sobre a fundamentação teórica e
exposição de dúvidas dos alunos, como por exemplo: se a modelagem
poderia ser aplicada em todos os conteúdos matemáticos ou como seria a
abordagem para conteúdos considerados mais teóricos. Em relação a estes
questionamentos, chegou-se ao consenso de que, a abordagem de conteúdos
por meio da modelagem matemática, da maneira como aqui foi tratada, não
nos possibilita definir previamente quais conteúdos serão trabalhados, mas
permite explorar uma grande gama de assuntos que constam no planejamento
anual da turma. A modelagem é uma metodologia a ser utilizada pelo
professor de maneira intercalada com as demais. Em relação aos conteúdos
teóricos, normalmente eles são ferramentas de resolução de problemas
cotidianos, então compete ao professor saber explorar esses conteúdos. Esta
aula encerrou com a tarefa de pensarem em um tema para ser trabalhado em
conjunto e que seria definido em um próximo encontro.
No segundo momento ocorreu a escolha do tema a partir de uma ampla
discussão, motivada pelos questionamentos levantados na aula anterior. Os
temas sugeridos foram: drogas, destinação do lixo doméstico e industrial,
mercado de trabalho, elevação do custo de vida, Enem, vestibular, estágios,
transporte escolar, entre outros. Mas, acabaram por escolher um tema comum
a todos: “professor”, algo perfeitamente justificável, por se tratar de uma turma
de alunos do curso de formação de docentes em nível médio. Este momento
de discussão demorou aproximadamente duas aulas.
No terceiro momento ocorreu uma ampla pesquisa exploratória do tema
escolhido, e diante da dimensão do assunto, optou-se por uma pesquisa
exploratória com divisão em subtemas, salário do professor; demanda de
professores no município de Pinhão-PR; saúde mental e física dos
professores; violência nas escolas municipais de Pinhão-PR; desigualdade,
direitos violados e estágio; e histórico da educação no município. Esses
subtemas foram necessários, diante da problemática da real situação do
professor, em especial, no município de Pinhão, local da implementação do
trabalho desenvolvido no PDE. Para cada um dos subtemas elencados, um
grupo de alunos ficou responsável pela pesquisa, a qual foi compartilhada
com todos os demais em vários momentos. A distribuição dos subtemas foi
com base na afinidade demonstrada por cada grupo, que teve a liberdade de
escolher a forma de pesquisa que mais adequasse ao subtema definido.
Alguns alunos optaram pela pesquisa de campo, pois muitos dados não
poderiam ser encontrados em uma pesquisa bibliográfica, por ainda serem
desconhecidos no município, como por exemplo, a violência nas escolas de
Pinhão-PR. Diante da dimensão territorial do município, nas pesquisas em
campo, optou-se por uma amostragem estatística. O levantamento sobre a
demanda profissional dos professores no município de Pinhão baseou-se em
dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação. O tema salário teve
como base uma pesquisa com professores do município, e os portais da
transparência, assim como pesquisa comparativa com outros estados e
municípios. Para a temática histórica e de gênero optou-se pela pesquisa
bibliográfica e de campo com professores dos três níveis de ensino. O
subtema saúde mental e física dos professores foi abordado por meio de uma
pesquisa de campo com entrevista nas escolas e comparação de dados
fornecidos pelos professores e pela escola, assim como, dados de outras
regiões. Esse momento teve uma duração de vinte dias em que os alunos
ocupavam seus momentos de folga e contra turno para obterem informações
necessárias, as quais foram apresentadas e discutidas em seis aulas.
No quarto momento, de posse de todos os dados levantados, os alunos
apresentaram pela primeira vez, aos seus colegas de turma, as informações
referentes aos subtemas pesquisados. Este momento foi importante para
observar a necessidade da matemática para entender, comparar e quantificar
as informações obtidas, algo que teve duração de aproximadamente quatro
aulas.
No quinto momento, os alunos partiram para uma discussão do que foi
levantado no intergrupo, para posteriormente pensarem juntos o tema
principal: a real situação do professor no município de Pinhão-PR. Neste
estágio do trabalho foi possível fazer com que os alunos percebessem a
necessidade de utilizar e compreender matemática. Este foi o momento mais
longo do trabalho, com duração de aproximadamente oito aulas, nas quais
foram relembrados e explicados vários conceitos matemáticos, como por
exemplo: noções de estatística, construção e interpretação de gráficos,
porcentagem, regra de três, entre outros. Nota-se que nesta fase de
desenvolvimento da atividade o professor faz a diferença na aprendizagem
matemática do aluno e tem a oportunidade de mostrar que a matemática é
muito útil e não simplesmente uma disciplina difícil, que causa medo e
reprovação.
O sexto momento, que ocorreu em duas aulas, serviu para realizar em
conjunto com os alunos uma análise crítica das informações levantadas,
procurando verificar se as conclusões foram coerentes ou não, dentro do
contexto de estudo. Esta análise ocorreu por meio de uma apresentação em
que todos podiam se expressar a qualquer momento e o professor teve a
função de mediador. Foi quando se observou o quanto os alunos aprenderam
de maneira efetiva, pois as críticas e intervenções durante a apresentação de
seus colegas foram muito maduras, embasadas em conceitos matemáticos,
com domínio do assunto e do tema, além de relatos críticos sobre a atual
situação dos professores no município de Pinhão-PR.
O sétimo momento foi de retomada em que todas as etapas, realizadas
até então, foram relembradas e conceituadas, uma vez para os alunos
envolvidos não se tratou apenas de uma aplicação da metodologia de
modelagem matemática como ferramenta de aprendizagem, eles tiveram a
oportunidade de vivenciar uma experiência com todas as etapas necessárias
e notar o quanto é necessário conhecer e dominá-las, para que futuramente
tenham condições de trabalhar modelagem com seus futuros alunos. Ao
realizar este fechamento e reflexão sobre todo trabalho realizado pode-se
dizer que a maioria dos alunos participantes deste trabalho está apta a aplicar
a modelagem matemática como uma metodologia de ensino.
No oitavo e último momento os alunos realizaram apresentações da
modelagem à comunidade, primeiramente à represente regional do PDE, em
sua visita à implementação do projeto, posteriormente à comunidade escolar,
em um encontro pedagógico, e por fim ao Conselho Municipal de Educação
atendendo ao pedido dos mesmos.
Muitos foram os obstáculos encontrados para realização desse trabalho,
como: a abrangência do tema e a necessidade dos alunos terem ao mesmo
tempo de experimentar a modelagem como agente receptor e serem capazes
de dominar a aplicação da metodologia para sua futura vida profissional, mas
para cada obstáculo ocorreu uma superação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, a matemática surgiu naturalmente e de forma
contextualizada, como um caminho para estudar e descrever os resultados de
uma pesquisa sobre um tema de interesse comum: conhecer a real situação
do profissional “professor” em um município. Com isto, além dos alunos
trabalharem noções de estatística, construção e interpretação de gráficos,
porcentagem, regra de três, entre outros assuntos, tiveram a oportunidade de
contribuir com informações desconhecidas, até então, no município em que
vivem. A seguir, segue uma síntese dos resultados obtidos por cada grupo de
alunos em relação aos subtemas pesquisados por eles.
O subtema salário do professor teve como foco uma comparação do
salário de professores com mais tempo de serviço em relação aos iniciantes
ou estagiários, e o desenrolar dessa discussão levou a comparação também
dos salários de instituições diferentes, assim como de municípios e estados.
Descobriram que é grande a desigualdade, podendo ser superior a sete ou
dez vezes, conforme a comparação realizada. Concluindo que muitos fatores
influenciam nesses salários e um deles é a formação profissional do professor.
A demanda de professores no município de Pinhão foi um assunto
polêmico, desde a coleta de dados até a apresentação, por se tratar de algo
que há muitos anos está em pauta, nas discussões sobre educação no
município. Diante dos dados informados, os alunos concluíram a necessidade
de um novo concurso para a contratação de professores efetivos.
Quanto ao subtema saúde mental e física dos professores, realizou-se
uma pesquisa de campo, em duas escolas do município, escolhidas de
maneira aleatória, mantendo em sigilo os dados de identificação. Concluiu-se
que muitos professores não se dão conta que estão doentes e outros
escondem problemas por sentirem vergonha de estarem doentes, e a
ansiedade é um dos problemas que mais afeta o professor.
Sobre a violência nas escolas de Pinhão, observou-se que ela está mais
direcionada à relação aluno-aluno do que à relação professor-aluno, não
sendo grande a frequência neste último caso.
Desigualdade, direitos violados e estágio foram assuntos abordados por
meio de pesquisa de campo e legislação, sendo muito construtiva, no que se
refere a direito e obrigações dos estagiários, pois muitos não tinham sequer
lido o seu contrato de estágio.
Finalmente, a parte histórica da educação no município foi abordada
com uma pesquisa documental e bibliográfica, descrevendo uma cronologia
da educação. Por outro lado, quando estudado o histórico da educação no
município de Pinhão levantou-se a questão de gênero, a qual teve como
motivação investigar a relação entre o número de professores e professoras
nos diferentes níveis de ensino, com base em dados do município de Pinhão e
da UNICENTRO. Concluiu-se que até o ensino médio, no município de
Pinhão, o número de professoras diminui em relação ao de professores,
quando se aumenta o nível de ensino. Entretanto, ao comparar a situação do
ensino superior, nesse caso, levando em consideração apenas a Unicentro, o
número de professoras vem superando o de professores.
Ao término deste Projeto de Intervenção Pedagógica, ficou claro que a
forma de apresentação da matemática é um fator preponderante no resultado
da aprendizagem, pois o ato de ensinar é uma construção coletiva de quem
ensina e de quem aprende. Assim, só é possível ensinar a quem esteja
desejando aprender e o querer aprender necessita de fato motivador. Diante
disso, a modelagem matemática pode despertar no aluno a vontade de
aprender, por meio do desafio de superar uma problemática real em seu
cotidiano. Outrossim, fica evidente a comprovação de que o ensino da
matemática deve se pautar em conhecimentos concretos e contextualizados
com a realidade do educando, apresentando a matemática desde os anos
iniciais, como uma ferramenta magnífica de superação das problemáticas
cotidianas, e não como o grande problema a ser superado em sua vida
estudantil. Ao trabalhar com modelagem matemática é possível ensinar a
matemática de forma concreta, contextualizada e fazendo parte do cotidiano do
educando.
A opção por realizar esse trabalho com um grupo de alunos do Curso de
Formação de Docentes foi por acreditar que o ensino de matemática pode ser
melhorado com uma atuação eficiente nos anos iniciais do ensino fundamental,
e que isto só pode ser atingido direcionando esforços para a formação
daqueles que atuarão nesse nível, algo que foi objeto desta intervenção, com a
qual se buscou, da melhor forma possível, dar uma pequena contribuição para
que de fato mudanças ocorram.
5. REFERÊNCIAS
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