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Modos de lembrar, esquecer e viver: oficina de memória e diversidade cultural Ouro Preto – Julho, 2011 Observação e registro

Modos de lembrar e esquecer 2

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Modos de lembrar, esquecer e viver: oficina de memória e diversidade cultural

Ouro Preto – Julho, 2011

Observação e registro

Equipe:Tatiane Paludetti – Descalvado (SP)

Raimunda Evangelista – Ouro Preto (MG)

Giselle Lucena – Rio Branco (AC)

Onde:Barra – Ouro Preto (MG)

Cida não tem problemas com memória. Sua estratégia para não esquecer é manter suas atividades organizadas em seqüência, para garantir a memorização.

Flores e jardins lembram a sua

infância. Naquela época, sua casa

tinha um quintal com muitas

plantas, onde, enquanto sua mãe

estendia a roupa no varal, ela

brincava e fazia as tarefas da escola.

Maria Aparecida, Cida – 51 anos. Desenvolve trabalhos na área de Educação em Museus.

Sua tática para esquecer é ocupar o seu tempo e sua mente com atividades

divertidas, como assistir a filmes (preferencialmente os “água-com-açucar”),

conversar com amigos (normalmente pessoas mais velhas, com mais experiência e

histórias para contar), fazer crochê...

Glácio Roberto, 51 anos, é proprietário do “Bar do Glácio”, inaugurado em 1964.

Comerciante há muito tempo, Glácio já teve alguns prejuízos por não anotar as vendas e esquecer os pagamentos mensais. Por isso, ele utiliza dois “borradores” para registrar o que não pode esquecer: em um, ele anota as contas diárias; noutro, as contas dos fregueses que pagam mensalmente. Além dele, outros funcionários também utilizam o borrador. Por isso, Glácio confere as anotações com freqüência.

De manhã, cedinho, quando o canário canta, Glácio lembra que é hora de acordar.

Glácio tem dois filhos fãs de futebol. É o esporte que o faz lembrar de suas crianças. Ele também guarda uma lembrança gastronômica: quando faz frio, ele lembra que é dia de comer bambá de couve que o faz lembrar, inclusive, de sua mãe.

Para esquecer, o comerciante diz que a estratégia é fugir da rotina

do dia-a-dia e fazer atividades como ir ao cinema. Se o filho

quiser se esquecer de uma ex-namorada, ele diz: “arruma

outra”!

Memória coletiva: um mural no “Bar do Glácio” presta serviço com lembretes diversos; uma decoração com “cinzeiros

pendurados” serve para lembrar os clientes da lei anti-fumo.

Diogo Alberto, 19 anos, estudante de Farmácia, morador da república “Cruz Vermelha”.

Para não esquecer, Diogo utiliza blocos de anotações, quadro de tarefas, celular e, sem dúvida, os sites das redes sociais que não o lembra de tudo: datas de festas, aniversários, e os amigos (por meio dos álbuns eletrônicos de fotografia).

Quando o almoço na república é strognoff, Diogo lembra de sua mãe, que fazia um strogonoff delicioso. A mochila que carrega o faz lembrar o irmão, o verdadeiro proprietário da bolsa.

É o pagode, em especial o grupo Exaltasamba, que o faz lembrar os seus amigos, que ficaram na cidade Silverânea, sudeste de MG. Passeando na rua, aqui-acolá, acontece de um rosto qualquer o fazer lembrar de algum conhecido da cidade natal.

Ouvir música, concentrar-se nos estudos, jogar bola e encontrar os amigos são as táticas que o estudante tem para esquecer.

Memória coletiva: no canto da sala, um troféu e uma medalha lembram a vitória do time da república num torneio de futsal da cidade; um mural ao

lado do telefone serve para lembretes e recados diversos.

O que Maria não quer esquecer, ela anota na agenda. No entanto, nem sempre sabe onde a agenda está. Rogéria não é muito diferente: toma notas de suas atividades, mas costuma perder as anotações. Na verdade, a estratégia principal das duas é mandar os filhos e esposo as lembrarem de suas tarefas. Sem muitos rituais, o que as ajuda mesmo, é a intuição: “nunca anotei receita nenhuma, aprendi e nunca mais esqueci”, conta Maria.

Maria da Conceição, 65 anos; Rogéria, 30 anos; ambas donas de casa.

Uma boa polenta faz Maria se lembrar de sua mãe; músicas do Roberto Carlos a fazem lembrar as coisas mais bonitas que viveu. A casa da avó de Rogéria, a faz lembrar as travessuras de infância.

Esquecer para Maria não é uma coisa difícil: passear e se divertir é uma boa saída. Já para Rogéria, esquecer é quase impossível, por isso, já fez inclusive tratamento médico. “Os filhos ajudam a pensar em outras coisas e a criar outras memórias”, diz.

Rômulo Zadra, 21 anos, músico e estagiário do Trem da Vale.

Para lembrar, Rômulo utiliza uma agenda e as ferramentas disponíveis no seu notebook: calendário, post-it eletrônico, etc. No entanto, mesmo

anotando tudo, sempre alguma coisa é esquecida.

Toda e qualquer música faz Rômulo

lembrar algo ou alguém. As canções da

dupla Chitãozinho e Xororó, por exemplo, por mais que ele não

goste muito do estilo, o faz lembrar o pai; já

a mãe é lembrada pela obra de título “Mãe”, de Agnaldo Timóteo;

“Emoções” de Roberto Carlos, lembra toda

família de modo geral.

Segundo ele, se tivesse uma música para cada atividade, nunca esqueceria nada. E, se a música é seu principal dispositivo para lembrança, é o silêncio que o faz esquecer.

Memória coletiva: na parede do Vagão Sonoro-Ambiental, do Trem da Vale, uma tabela lembra a escala dos funcionários.

O que Paulo não pode esquecer, ele anota em um caderno ou em sua mão. Quando caminha pela rua e vê alguém bem-vestido, Paulo se lembra de festas. Para esquecer algo, é simples: arrumar diversão – sair com amigos e jogar bola.

Paulo Henrique, 11 anos, estudante.

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