34
1 AINA BASSETTO BILLI EDISON P. A. GONÇALVES A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física. FACULDADES INTEGRADAS DE AMPARO AMPARO 2005

Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

  • Upload
    ainani

  • View
    1.811

  • Download
    0

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Monografia Graduação Educação FísicaAINA BASSETTO BILLIEDISON P. A. GONÇALVES

Citation preview

Page 1: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

1

AINA BASSETTO BILLI

EDISON P. A. GONÇALVES

A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino

Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física.

FACULDADES INTEGRADAS DE AMPARO

AMPARO

2005

Page 2: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

2

AINA BASSETTO BILLI 4504307

EDISON P. A. GONÇALVES 4504291

A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino

Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física.

Trabalho apresentado às Faculdades

Integradas de Amparo como

exigência parcial da disciplina

Seminário de Monografia.

Orientadora Prof.ª Ms. Luciana de Castro Bidutte

FACULDADES INTEGRADAS DE AMPARO

AMPARO

2005

Page 3: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

3

FACULDADES INTEGRADAS DE AMPARO

Aina Bassetto Billi 4504307

Edison P. A. Gonçalves 4504291

Educação Física

A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino

Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

O presente trabalho, constituído de 33 folhas,

após análise, recebeu

O seguinte parecer: ( ) aprovado ( ) reprovado

Orientadora Prof.ª Ms. Luciana de Castro Bidutte

18 de Novembro de 2005.

_______________________________

Prof.ª Ms.Luciana de Castro Bidutte

Page 4: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

4

Dedicamos esse estudo aos nossos familiares, professores e

amigos pela compreensão de tanto tempo despendido e

pelo auxílio para a conclusão do mesmo. Dedicamos ainda

aos leitores que se interessam pelo assunto e esperamos

que dele tirem proveito.

Page 5: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

5

Agradecemos em primeiro lugar ao meu parceiro pelo

empenho, dedicação e principalmente compreensão. Aos

amigos que nos acompanham e à aqueles que estão

ausentes. Para todos os autores que colaboraram para que

este estudo fosse realizado. E a nossa orientadora Luciana

de C. Bidutte que nos acompanhou com muita dedicação e

a todos os professores que nos ajudaram para nossa

formação acadêmica.

Page 6: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

6

“Como educadores, reafirmamos que faz parte da nossa

competência, (ou deveria!), estarmos atento aos cuidados

referentes à corporeidade de nossos alunos, afim de

respeitarmos suas individualidades, fornecendo uma

pratica alternativa, que fuja doas padrões mecanicistas,

valorizando os movimentos naturais, favorecendo a

reflexão do seu próprio movimento permitindo-lhes

perceberem-se e refletirem como agentes dessa expressão.

Portanto, parece-nos interessantes que comecemos essa

reanálise a partir dessa corporeidade.”

Heleise F.F.R. Oliveira

Page 7: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

7

Resumo

A percepção corporal refere-se à capacidade do desenvolvimento da criança em

descriminar com exatidão suas partes corporais. O objetivo desse estudo é realizar uma

revisão bibliográfica que aborda a influência da consciência corporal de crianças do ensino

fundamental de 1ª a 4ª série no seu desenvolvimento motor, definir o que é consciência

corporal e identificar a colaboração da consciência corporal em relação à coordenação

motora. A metodologia utilizada é a revisão bibliográfica em livros, periódicos e sites da

internet sobre o tema consciência corporal e o aspecto motor, abordando os conceitos e

definições voltados a esse assunto. Os resultados indicaram que para se ter consciência

corporal, é necessário estar consciente de suas limitações, capacidades e saber conviver

com elas. É descobrir-se no prazer e desprazer do toque e do movimento. Enfim, é

aprofundar no seu interior e descobrir-se também como um corpo. Os movimentos são

importantes tanto para o desenvolvimento intelectual como para a evolução da espécie

humana. Para concluir, verificamos que é imprescindível a consciência corporal para o

desenvolvimento motor e para não tratarmos o corpo como um simples objeto. Futuras

pesquisas devem ser realizadas para abordar outros aspectos, como o psicológico, e ainda

em outros estágios do desenvolvimento que possa relacionar alguma atividade física

específica ou até mesmo a realização de pesquisas de campo, o que colaboraria ainda mais

para fundamentar os resultados desse estudo.

Palavra-Chave: consciência corporal, desenvolvimento motor, educação física.

Page 8: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

8

Abstract

The corporal perception mentions the capacity to it of the development of the child in

acquitting with exactness its corporal parts. The objective of this study is to carry through a

bibliographical revision that approaches the influence of the corporal conscience of

children of the basic education of 1ª to 4ª series in its motor development, to define what it

is corporal conscience and to identify the contribution of the corporal conscience in relation

to the motor coordination. The used methodology is the bibliographical revision in books,

periodic and sites of the InterNet on the subject corporal conscience and the motor aspect,

approaching the concepts and definitions directed to this subject. The results had indicated

that to have corporal conscience, are necessary to be conscientious of its limitations,

capacities and to know to coexist them. It is to uncover in the pleasure and displeasure of

the touch and the movement. At last, it is to go deep its interior and to also uncover

themselves as a body. The movements are important in such a way for the intellectual

development as for the evolution of the species human being. To conclude, we verify that

the corporal conscience for the motor development is essential and not to treat the body as a

simple object. Future research must be carried through to approach other aspects, as the

psychological one, and still in other periods of training of the development that can relate

some specific physical activity even though or the accomplishment of field research, what it

would collaborate still more to base the results of this study.

Keywords: corporal conscience, motor development, physical educatio

Page 9: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

9

Sumário

Introdução .................................................................................................................10

Objetivos ..................................................................................................................13

Capítulo 1: Conceitos e Definições sobre Consciência Corporal .............................14

Capítulo 2: Fases do Desenvolvimento Motor de 7 a 10 anos .................................19

Capítulo 3: A Consciência Corporal referente ao Aspecto Motor ...........................25

Conclusão .................................................................................................................29

Referências ...............................................................................................................31

Page 10: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

10

Introdução

Nessa pesquisa vamos abordar o assunto “Consciência Corporal”, como um meio de

apresentar o direcionamento de nosso problema. A consciência corporal está ligada

diretamente ao desenvolvimento motor? Quais elementos podem colaborar para o

desenvolvimento dessa consciência? O que a falta deles podem ocasionar?

Diante das discussões realizadas na sala de aula, em relação às alunas das aulas de

aprendizado de natação para adultos, observamos que existe uma certa dificuldade em

responder ao estímulo verbal para a execução de um movimento corporal. Outro aspecto

que percebemos foram às dificuldades em relação ao toque para a demonstração desse

mesmo movimento, que se mostrou mais difícil, pelo fato de não estarem acostumadas ao

estímulo tátil.

Com base nestas questões, surgiu a pergunta: Como se desenvolve um indivíduo

que em sua infância indica apresentar uma falta de consciência do seu corpo no aspecto da

coordenação motora? Dessa falta de consciência, uma pessoa pode crescer com problemas

de coordenação ou até mesmo a assimilação de movimentos apresentados a ele?

A partir desses questionamentos direcionamos nossa pesquisa ao estágio operatório-

concreto (7 a 11 anos - segundo a teoria de Piaget), pois a criança raciocina logicamente

sobre eventos concretos e consegue classificar objetos de seu mundo em vários ambientes,

desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem e casualidade, sendo capaz de

relacionar diferentes aspectos, o que facilita o conhecimento do seu próprio corpo.

Portanto, a realização desse trabalho é importante para verificarmos se a criança

pode melhorar sua coordenação motora e tomada de consciência e ainda, transferir o

conhecimento das aulas para a vida.

Hoje, sabemos que não devemos trabalhar apenas o corpo de forma intensa. Mesmo

assim ainda encontramos muitos professores que exercem essa forma de trabalho, com o

objetivo principal de trabalhar somente o corpo, o que colabora para deixarem de lado os

aspectos cognitivo, afetivo e a formação de um cidadão. Na realidade, o norte de um

professor deve ser as interrogações e não as respostas, independente do aspecto a ser

trabalhado.

Page 11: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

11

O desenvolvimento moral do indivíduo é produto das relações entre afetividade e

racionalidade e é nesse contexto da cultura corporal na qual a intensidade e a qualidade

desses estados afetivos, que foram experimentados corporalmente nas práticas da cultura de

movimento que afetam as atitudes e as decisões racionais. A vivência de sensações,

emoções e sentimentos de satisfação configuram um desafio à racionalidade.

“Uma aula pode ser constituída também de conversas; de jogos de concentração,

com pouquíssimos movimentos; e de momentos de ausência quase absoluta de movimentos,

como o que ocorre, por exemplo, em certas atividades de relaxamento, de percepção

corporal e de meditação. O „fazer nada‟ é uma prática de difícil aprendizagem, mas de

fundamental importância nos dias em que a pressa, angústia e ansiedade caracterizam o

cotidiano de boa parte das pessoas” (FREIRE & SCAGLIA, 2003, p.100).

Montagu, uma especialista em fisiologia e anatomia humana se dedicou aos estudos

de como a experiência tátil ou sua ausência afetaria o desenvolvimento do comportamento

humano. A cientista indica que nos tornamos prisioneiros de um universo de palavras

impessoais, sem toque, sem sabor e sem gosto. As palavras ocupam o lugar da experiência

que passam a ser declarações ao invés de demonstrações de envolvimento, isto é, diz com

as palavras o que não se expressa com gestos (NAVARRO, 1999).

Durante a revisão bibliográfica (FREIRE & SCAGLIA, 2003, NAVARRO, 1999,

LADEIRA & DARIDO, 2003) verificamos que o assunto é muito abordado pela ciência,

principalmente em investigações que focam a capacidade do corpo de um indivíduo,

nomeadamente em crianças. O conhecimento sobre o próprio corpo, relacionado à

fisiologia, pode representar o suporte também para o jovem entender-se ao entrar neste

processo de transformação chamado adolescência1.

A consciência corporal não se define apenas em conhecer ou dominar o corpo, e sim

saber que „somos um corpo‟ e que temos nossas atitudes corporais. A partir desse ponto de

vista, observamos que é necessário tratarmos o aluno como um ser, um sujeito e não um

objeto.

1 Adolescência. Fase característica do ser humano, onde ocorre o desenvolvimento biopsicossocial da pessoa. Nesta fase,

além das transformações biológicas (mudanças das características de um corpo infantil para um corpo adulto), o indivíduo

estrutura os traços finais de sua personalidade e identidade. (D‟ÁVILA, 1998, p. 27)

Page 12: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

12

Um indivíduo que não tem consciência da capacidade motora de seu corpo e por

não saber qual é o seu limite, pode sentir medo ou até mesmo vergonha de executar

qualquer atividade em público. É pela conscientização corporal que o indivíduo possibilita

o conhecimento desses limites, o que permitirá verbalizá-los e promover o desenvolvimento

da capacidade de ultrapassá-los.

No primeiro momento abordaremos os conceitos e definições sobre o assunto a ser

tratado na pesquisa.

No segundo momento iremos referenciar sobre o desenvolvimento motor de

crianças de 07 a 10 anos do ensino fundamental e salientar o desenvolvimento psicomotor,

cognitivo e afetivo.

No terceiro capítulo temos as pesquisas sobre o assunto relacionadas à consciência

corporal em referência ao aspecto motor.

O trabalho será desenvolvido por meio da realização de uma discussão entre as

teorias, os autores e as pesquisas sobre o tema.

A metodologia utilizada nessa pesquisa é a revisão bibliográfica em livros,

periódicos e sites da internet sobre o tema consciência corporal e o aspecto motor

abordando os conceitos e definições voltados a esse assunto.

O objetivo desse trabalho é realizar um estudo sobre a influência da consciência

corporal da criança no seu desenvolvimento motor. Portanto, definir o que é consciência

corporal, os elementos essenciais para tal e identificar a colaboração da consciência

corporal em relação à coordenação motora.

Page 13: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

13

Objetivos

Objetivo Geral:

Realizar uma revisão bibliográfica que aborda a influência da consciência corporal

das crianças de 1ª a 4ª série do ensino fundamental no seu desenvolvimento motor.

Objetivos Específicos:

Definir o que é consciência corporal.

Identificar a colaboração da consciência corporal em relação à coordenação

motora.

Page 14: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

14

CAPÍTULO 1

CONCEITOS E DEFINIÇÕES SOBRE CONSCIÊNCIA

CORPORAL

Page 15: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

15

Visamos neste capítulo informar os conceitos e definições encontradas sobre o

tema, para facilitar o entendimento do assunto nessa pesquisa.

Justamente por isso queremos mostrar que para se chegar a uma consciência

corporal é necessário passar por um processo de conscientização, onde o movimento

consciente é realizado até tornar-se inconsciente. Para se ter consciência corporal é

necessário “... reconhecer as infinitas possibilidades de movimentar-se, saber dosar a

energia adequada e suficiente para cada movimento, sem desgaste desnecessário,

contraindo quando a sua situação pedir, mas voltando ao normal e descontraindo;(...) É

estar ciente de suas limitações e potencialidades e conviver bem com elas. É descobrir o

prazer ou desprazer do toque e do movimento, (...) É, enfim, o despertar para reconhecer-

se como um corpo, (...) aprofundar o conhecimento de si próprio” SOUZA (1992, apud

D‟ÁVILA, 1998, p.18). O toque é fundamental a partir do nascimento e no decorrer de

nossas vidas, mas para entender melhor precisamos saber o que é toque. Segundo Aurélio

(1995) o tocar nada mais é que um contato físico. Para D‟ávila (1998) o tato é a relação

superficial e periférica da pele e o contato seria a passagem consciente do limite visível do

nosso corpo. Keating (1997) ressalta que a teoria da estimulação pelo toque físico, que não

é só agradável, é absolutamente necessário para o nosso bem-estar físico e emocional. O

toque faz nos sentirmos melhores com nós mesmos e com o ambiente a nossa volta. A

mesma autora afirma que o toque oferece um efeito positivo sobre o desenvolvimento da

linguagem e sobre o Q.I. (quociente de inteligência) das crianças e ainda provoca mudanças

fisiológicas mensuráveis em quem toca e em quem é tocado.

Para isso é necessário que haja consciência, ou seja, conhecimento, noção, idéia do

que ele significa para mim e como o tenho, seria ele corporal? Seria essa consciência

corporal apenas a noção sobre o seu corpo ou ter conhecimento sobre o que ele é capaz?

Segundo Stoke & Harf (1987) é apenas através da expressão corporal que poderemos saber

como estão às sensações, emoções e sentimentos do ser humano para integrar outras

linguagens. “A linguagem é considerada a capacidade humana de articular significados

coletivos e compartilhá-los em sistemas arbitrários de representação, que variam de

acordo com as necessidades e experiências da vida em sociedade” (LADEIRA &

DARIDO, 2003, p.26). Portanto, a criança aprende a fazer uso das expressões corporais no

ambiente que ele se encontra, seja ele dentro ou fora da escola. Para um melhor

Page 16: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

16

entendimento dessa expressão, é preciso saber interpretar as informações e ter percepção. É

o processo que nos faz organizar novas informações com as já armazenadas, conforme

afirma Gallahue & Ozmum (2003). A percepção corporal refere-se à capacidade do

desenvolvimento da criança, em descriminar com exatidão suas partes corporais. “O

desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da

vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as

necessidades do ambiente” (GALLAHUE & OZMUM, 2003, p.3). Por outro lado, o

crescimento como nos mostra Guedes & Guedes (2002), equivale às alterações físicas nas

dimensões do corpo todo, ou em partes que se relacionam ao tempo de vida.

Na perspectiva da reflexão da cultura corporal a expressão corporal é uma

linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa

ser transmitido e assimilado pelos alunos da escola. A sua ausência impede que o homem e

a realidade sejam entendidos dentro de uma visão de totalidade (LADEIRA & DARIDO,

2003).

Para os profissionais de Educação Física e os estudiosos que estudam a consciência

corporal a corporeidade está se tornando uma linguagem presente. Essa corporeidade

garante uma imagem ao indivíduo e apresenta o corpo como sendo uma parte de uma

totalidade - alma e corpo. Ao falar da corporeidade, significa elaborar uma imagem do

indivíduo com novas visões, novos traços, sem abandonar a idéia anterior, mas sim fazer

com que ela seja mais expressiva, original e humana (SANTIN, 1994). A corporeidade

engloba o movimento em uma totalidade, compreende não só o ato motor, mas toda a ação

do indivíduo que expressa os sentimentos através do gesto mecânico, não sendo então

somente o corpo que participa da ação, mas o indivíduo como um todo, que age e se

movimenta (BRUEL, 1990). É através do corpo que esse movimento é exteriorizado. Esse

mesmo autor se utiliza à idéia de Piaget, que mostra que o pensar e o agir estão

interligados, uma vez que quanto mais respostas motoras o corpo receber e elaborar irá

refletir com a sua ação e criar novos movimentos e ações motoras que conseqüentemente

receberá novos conhecimentos e informações. Para Santin (1987), “o corpo e seus

movimentos estão sempre no centro de toda e qualquer manifestação e possibilidade

expressiva.” (p.51)

Page 17: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

17

Feldenkrais (1977) afirma que o conhecimento de si próprio é melhorado através do

movimento pelo fato de estar relacionado com o sistema nervoso. Portanto, não é possível

perceber, sentir ou pensar sem as ações do cérebro. As dificuldades de movimento

destroem, mudam a auto-estima e levam o individuo a ter comportamentos que influenciam

no seu desenvolvimento e nas suas tendências naturais. É mais fácil aprender e reconhecer

a qualidade do movimento do que os fatores que se ligam ao sentimento ou ao pensamento,

pelo fato das pessoas não estarem acostumadas a evitar essas emoções (Feldenkrais, 1988).

A partir dos conceitos e definições citados acima observamos que quando falamos

de movimento corporal, pensamos em um ser humano que vive, sente, experimenta e tem

emoções, pois tudo o que ele irá fazer ou realizar é necessário o movimento. Esse ser, ao

participar num âmbito social, experimenta pelos seus sentidos e aprende por eles. Por meio

desse constante contato ocorre a interação do homem com o mundo onde vive. O indivíduo

se relaciona modificando-o à medida que se expressa através de seus pensamentos, formas

e atitudes, ou melhor, do seu jeito de ser. “Todo movimento, toda brincadeira,

acompanhada por atenção nas sensações corporais, favorece não só o bem-estar físico,

mas também o psíquico, através da melhora da auto-estima, dos relacionamentos inter-

pessoais. A atividade física possibilita o desenvolvimento do ser humano de forma plena,

facilitando-lhe descobertas com seu corpo que possam permear-lhe a existência com

sentido e significado” (RIBEIRO, 2005, p.01).

É a partir do desenvolvimento da consciência corporal que adquirimos os aspectos

que determinam o desenvolvimento humano relacionados aos processos biológicos e sua

relação com o ambiente. Devemos ainda observar, se o aluno se desenvolve pelo processo

competitivo, onde busca avaliar o aluno pelo crescimento dele dentro do grupo, ou pelo

processo comparativo, que visa comparar o desempenho do aluno a execução de qualidade

durante o movimento ou ainda pelo processo cooperativo, que são obtidas através da

cooperação do próprio grupo (MARTINS, 2005). Por qual desses modelos avaliativos ele

está se desenvolvendo? Como o processo de avaliação pode favorecer a localização dentro

do processo de aprendizagem sem excluí-lo desse processo? Se pensarmos na construção

do conhecimento do nosso próprio corpo, como um processo contínuo e não linear, nos

permite afirmar que não sabemos até que ponto esse conhecimento pode ser desenvolvido.

Cruz (2005) nos mostra que o conhecimento está sujeito aos valores culturais e sociais do

Page 18: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

18

tempo em que vivemos, assim como temos influência de outras culturas e da própria mídia.

A consciência corporal é o ato de se identificar com o movimento, com a atividade,

flexibilidade e o relaxamento, pois nas atividades de nossa vida o corpo está sempre

presente. Feldenkrais (1977) explica que ao subir uma escada, estou consciente do que

estou fazendo, mas não tenho consciência de quantos degraus eu subi. Num segundo

momento, executo a mesma ação e presto atenção nos degraus e em mim mesmo, contando-

os. Essa é a diferença entre consciência e percepção. A percepção é a consciência somada

com a noção do que ocorre em uma situação ou em nós, quando estamos conscientes. As

nossas ações são comandadas pela nossa auto-imagem e é influenciada por três fatores:

hereditariedade, educação e auto-educação. As concepções da auto-imagem são diferentes

de um indivíduo para o outro, por isso as diferentes ações existentes em uma mesma

proposta de exercício, envolvem mudanças e não apenas uma substituição de uma ação por

outra. Por isso, as diferenças estão relacionadas em quatro componentes em toda ação:

pensamento, sentimento, sensação e movimento que estão sempre relacionados e

dependentes entre si.

Por isso, como cita Oliveira (1997) a Educação Física não pode ser vista ou

entendida apenas como práticas esportivas ou de condicionamento físico dos alunos, pois

com isso atinge a exclusão, a formação de atletas e não o aspecto sócio-cultural, como

também deveria ser.

Page 19: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

19

CAPÍTULO 2

FASES DA APRENDIZAGEM E DO DESENVOLVIMENTO

MOTOR DE 7 A 10 ANOS

Page 20: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

20

O objeto desse estudo é a aprendizagem e o desenvolvimento motor de crianças de 7

a 10 anos. Assim, consideramos necessário abordar as diferentes características desse

estágio e distinguir onde se insere a importância e a contribuição da consciência corporal.

A aprendizagem motora envolve vários termos chaves como a habilidade,

habilidade motora, movimentos, ações e capacidades. Habilidade é uma tarefa com uma

finalidade específica a ser atingida. Habilidades motoras exigem movimentos voluntários

do corpo e / ou dos membros para atingir o objetivo. Essas habilidades são definidas em:

grossas ou finas que utilizam músculos grandes ou pequenos para produzir uma ação;

discretas onde é necessário haver um início e fim bem definido; as seriadas são uma

seqüência desses movimentos discretos em séries e contínuas que realizam movimentos

repetitivos; fechada ao objeto sobre o qual se age e não muda e aberta quando o objeto

varia durante o desempenho da habilidade.

Os movimentos para a aprendizagem e para o controle motor se referem às

características de comportamento de um membro específico ou de uma combinação de

membros. As ações são respostas a metas que consistem em movimentos do corpo e / ou

dos membros. Uma ação também pode ser definida como uma família de movimentos. Por

outro lado, a capacidade se refere à qualidade geral de um indivíduo para realizar

determinada habilidade motora (MAGILL, 2002).

“O desenvolvimento motor é uma alteração contínua no comportamento motor ao

longo do ciclo da vida. Pode ser estudado tanto como um processo quanto como um

produto. Como processo, o desenvolvimento motor envolve as necessidades biológicas

subjacentes, ambientais e ocupacionais, que influenciam o desempenho motor e as

habilidades motoras dos indivíduos desde o período neonatal até a velhice. Como produto,

o desenvolvimento motor pode ser considerado como descritivo ou normativo, sendo

analisado por fases (período neonatal, infância, adolescência e idade adulta)”

(GALLAHUE & OZMUM, 2003, p.22). A visão estanque do comportamento humano pode

ser classificada em área de comportamento: psicomotor, cognitivo e afetivo; período de

desenvolvimento: pré-natal, neo-natal, primeira infância, infância, adolescência, idade

adulta, meia-idade e velhice. Os fatores de influência são: os de tarefa, biológicos e

ambientais. Portanto, o desenvolvimento é um processo permanente que se inicia na

concepção e termina somente na morte do indivíduo.

Page 21: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

21

Os mesmos autores ainda realizam uma análise operacional da causa do

desenvolvimento motor em 3 momentos: individual - hereditariedade, biológica, natureza e

fatores intrínsecos; ambiente - experiência, aprendizado, encorajamento, fatores intrínsecos

e tarefa - fatores físicos e mecânicos.

Como dito anteriormente a área de comportamento se divide em 3 partes:

Área psicomotora, que está relacionada aos processos de alteração, estabilização e

de regressão na estrutura física e na função neuromuscular. O mesmo autor afirma que

nessa área está inserido o desempenho motor (desenvolvimento da capacidade) para buscar

e agrupar os componentes da aptidão física entre eles, a força muscular, flexibilidade e a

resistência muscular e aeróbia. Nessa área as habilidades motoras (desenvolvimento das

capacidades de movimento) se encontram em três categorias: locomoção, estabilização e

manipulação. O movimento locomotor envolve os movimentos de mudanças na localização

do corpo de um ponto fixo na superfície como, por exemplo, pular, caminhar, correr, saltar

um obstáculo etc. O movimento estabilizador tem como objetivo a manutenção de se

equilibrar em uma situação de equilíbrio incomum. Por outro lado, o movimento

manipulativo pode ser um movimento de manipulação motora rudimentar e refinado, uma

vez que a manipulação motora rudimentar envolve a aplicação ou recepção de força em

objetos tais como: arremessar, apanhar, chutar, prender e rebater. Por fim, o movimento de

manipulação motora refinado envolve os músculos do punho e dedos, como: costurar,

cortar com tesouras e digitar. A partir daí verificamos que grande número de movimentos

envolve a combinação das categorias locomoção, manipulação e estabilização.

A área cognitiva visa o comportamento motor que envolve uma relação funcional

com uma interação recíproca entre a mente e o corpo. O termo motor-perceptivo significa

qualquer movimento de um ato voluntário apoiado em dados sensoriais para significar a

importante influência que as disposições sensoriais e o processo perceptivo têm sobre a

atividade motora.

A área afetiva envolve os sentimentos e as emoções aplicadas ao indivíduo por meio

do movimento, sendo de grande interesse a confiança motora do indivíduo em satisfazer as

exigências das tarefas motoras. É por meio do auto-conceito que o indivíduo, através do

movimento, avalia o seu próprio valor e a socialização cultural é estabelecida pelo nível de

interação social entre os indivíduos e os níveis mais sofisticados de funcionamento.

Page 22: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

22

Os estágios de desenvolvimento da criança segundo Piaget, em relação às áreas

citadas, se divide em sensório-motor (0 a 2 anos), nesta fase o bebê constrói o significado

do seu mundo pela coordenação de experiências sensoriais com movimento; pré-operatório

(2 a 7 anos) onde a criança pequena demonstra crescente pensamento simbólico pela

ligação de seu mundo com palavras e imagens; operatório-concreto (7 a 11 anos), a criança

raciocina logicamente sobre eventos concretos e consegue classificar objetos de seu mundo

em vários ambientes e; operatório-formal (12 anos em diante) o adolescente é capaz de

raciocinar logicamente e de maneira mais abstrata e idealista (GALLAHUE & OZMUN,

2003).

Nesta pesquisa iremos considerar o estágio operatório-concreto, pelo fato de a

criança já saber definir entre aparência e realidade, enxergar soluções alternativas e usar

regras no raciocínio.

A criança entende alterações de forma, ordem, número e posição. Neste estágio as

percepções são parciais para a formação de um todo, uma vez que estas percepções são

mais precisas e utilizam a atividade para entender o seu mundo físico e social.

“A habilidade de diferenciar as partes do corpo e de obter maior entendimento da

natureza dele ocorre em três áreas. A primeira é o conhecimento das partes do corpo ser

capaz de localizar precisamente as partes do corpo em si mesmo e em outras pessoas. A

segunda é o conhecimento do que as partes do corpo podem fazer. Isso se refere ao

reconhecimento, em desenvolvimento na criança, de como o corpo desempenha um ato

específico. A terceira é o conhecimento de como fazer as partes do corpo se movimentarem

eficientemente. Isto refere-se à habilidade de reorganizar as partes do corpo para um ato

motor particular e desempenhar uma tarefa motora. A imagem corporal está relacionada à

imagem interna que a criança tem de seu corpo e o ponto até o qual essa imagem

corresponde à realidade. A auto percepção da altura, do peso, da forma e de certas

características individuais afeta o modo como nos comparamos aos outros” (GALLAHUE

& OZMUN, 2003, p. 368). Neste momento a criança passa da fase motora fundamental

(estágio maduro) para a fase motora especializada (estágio transitório). Este estágio

transitório é um período em que as crianças combinam e aplicam habilidades motoras

fundamentais ao desempenho de habilidades especializadas. As crianças, pais e professores

descobrem estes padrões motores e as percepções mais refinadas. Dentro desse conceito, há

Page 23: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

23

três tipos de percepções, sendo elas: a percepção espacial que consiste em conhecer o

quanto espaço o corpo ocupa e a habilidade de projetar o corpo efetivamente no meio; a

percepção direcional onde as crianças são capazes de dimensionar os objetos do meio,

através da lateralidade e direcionalidade e; a percepção temporal que está relacionada à

aquisição de uma estrutura temporal em paralelo com a desenvoltura da percepção espacial.

O crescimento da fase tardia da infância, lento e constante estende

aproximadamente dos 6 aos 10 ou 12 anos de idade, sendo caracterizado pelo

aperfeiçoamento de capacidades e habilidades. É o período em que a criança muda do

ambiente protegido do lar para o clima de envolvimento social na escola (ECKERT, 1993).

De acordo com Guedes & Guedes (2002) mostra que existem estudos onde se tem

uma inter-relação entre os aspectos do desenvolvimento, do crescimento, da maturação e da

experiência. O crescimento e o desenvolvimento são empregados de forma indiscriminada

com o mesmo significado. No entanto, esses processos são fenômenos diferentes. Os

mesmos autores indicam que o crescimento corresponde às alterações físicas do corpo e o

desenvolvimento caracteriza-se pelas modificações evolutivas nas funções do organismo. A

maturação é frequentemente utilizado para descrever as mudanças biológicas que ocorrem

sem influência direta de estímulos externos. Nesse aspecto a experiência está relacionada

ao meio ambiente, que pode provocar alterações ou modificar várias características do

desenvolvimento por meio do processo de aprendizagem.

As experiências exercem uma grande influência no processo de desenvolvimento

motor tanto quanto a maturação. “Piaget (1982) demonstrou a importância dos

movimentos no curso do desenvolvimento intelectual do indivíduo .... Laekey (1981) e

Laekey e Lewin (1988) demonstraram a importância dos movimentos na evolução da

espécie humana” (NEIRA, 1999, p. 33). De acordo com as citações acima verificamos que

é necessário identificar a importância da Educação Física e oferecer para nossas crianças

experiências motoras adequadas.

Neira (1999) destaca que o desenvolvimento motor está cada vez mais relacionado

com os outros domínios do desenvolvimento humano, como o cognitivo (conduta

adaptativa e linguagem) e o afetivo-social (conduta pessoal-social), considerando a

maturação, as experiências e principalmente as características individuais. Dentro destas

características, as etapas do desenvolvimento motor nos primeiros seis anos de vida serão

Page 24: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

24

cruciais para a formação da criança enquanto indivíduo. Magill (1984) afirma que “as

experiências que a criança tem durante este período determinarão, em grande extensão,

que tipo de adulto a pessoa se tornará” (p.143). Nesse panorama evidenciamos que há uma

relação entre movimento e personalidade, conforme indica Wallon (1961, apud NEIRA,

1999) o movimento como forma de expressão encontra-se ligado à personalidade. O

homem nada mais é que fruto de suas experiências positivas e negativas, uma vez que o

meio e a resposta dele são fatores determinantes à forma de ser, ao seu caráter e suas

reações.

Page 25: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

25

CAPÍTULO 3

A CONSCIÊNCIA CORPORAL REFERENTE AO ASPECTO

MOTOR

Page 26: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

26

Neste capítulo vamos tratar das pesquisas realizadas em relação à consciência

corporal referente ao aspecto motor.

Segundo GURIEV (1987), a ciência descobriu mecanismos que ligam a consciência

com a atividade orgânica do homem, do cérebro, órgãos da linguagem e do sentido, bem

como em relação à consciência e ao comportamento social do indivíduo.

A evolução da consciência de um indivíduo ocorre de dentro para fora como

também de um reconhecimento do seu eu e vice–versa. O indivíduo ao buscar a consciência

tem seus conflitos e dificuldades minimizadas. O início para ele se enfrentar e aceitar,

tornando-se mais aberto às experiências e com um novo objetivo na vida (COSTA, 1997).

Lallery (1988) indica que as aquisições das faculdades da memória na primeira

infância são mais fáceis de serem registradas, elas constituem a base das próximas

aprendizagens, pelo fato de serem indestrutíveis. As crianças devem poder realizar

experiências, encontrar com o máximo de informações, constituir o seu esquema corporal,

coordenações neuromusculares e por fim saber utilizar o principal instrumento que é o seu

corpo. Esse controle do corpo reúne-se com o controle do espaço-tempo, permite a

construção de um equilíbrio psicológico e possibilita a não dicotomia entre o corpo e a

mente. Os dois aspectos do indivíduo, por se moldarem juntos, mantém constantemente um

fenômeno de “feedback”.

“O corpo e os gestos são fundamentais para a formação geral do ser humano.

Desde que nasce, a criança usa a linguagem corporal para conhecer a si mesma, para

relacionar-se com seus pais, para movimentar-se e descobrir o mundo. Essas descobertas

feitas com o corpo deixam marcas, são aprendizados efetivos, incorporados. Os

movimentos são saberes que adquirimos sem saber, mas que também ficam a nossa

disposição para serem colocados em uso. Quando alguma coisa acontece pela primeira

vez, precisa ser marcante e positiva, para deixar boas recordações, ainda que

inconscientes. O uso do corpo permitirá que essas lembranças sejam prazerosas e a pessoa

vai associar o aprendizado a sensações gostosas” (LEVIN, 2005, p.21).

A consciência é o caminho para se ter um corpo consciente. O homem tem um

corpo integral e é um ser uno denominado de consciência corporal.

Page 27: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

27

Essa consciência corporal é um fator preponderante para um bom desenvolvimento

do caráter e da personalidade, como nos mostra Neira (1999), Magill (1984) e Wallon

(1961).

A consciência coletiva está expandindo na perspectiva da corporeidade. Muitas

pessoas percebem-se em situações de desafios em todo lugar e buscam meios para

compreender e enfrentar melhor esses desafios. Por outro lado, ainda existem pessoas que

evoluem tanto no lado pessoal como no coletivo em busca de uma vida e um mundo

diferente (GAWAIN, 1993). Portanto, a corporeidade deve ter um significado que traduza

fielmente essa linguagem corporal. É essa expressão da realidade corporal que o corpo fala

(SANTIN, 1994). Para isso, Oliveira (1997), indica que é necessário uma modificação no

indivíduo que possa alterar essa corporeidade por meio da vivência de movimentos com

grande prazer. A soma dessas experiências vividas se constituirá em um conjunto de

hábitos motores e passam para uma ação reflexiva.

Segundo Oliveira (1997) o estudo realizado por Anaruma (1994) verificou que as

aulas práticas estão relacionadas ao prazer, as teóricas ao desprazer e ainda que o corpo se

divide em três dimensões: integrados (corpo e mente estão interligados), fragmentado

(corpo separado de mente) e finalmente para os alienados (corpo perdido de si mesmo).

Para Costa (1997) um indivíduo não pode se tornar consciente do seu corpo, do

próprio interior e finalmente do sistema nervoso central até obter a consciência das

mudanças de sua posição, estabilidade e atitude. Essas mudanças são percebidas com mais

facilidade em relação ao que acontece nos músculos e se torna consciente dos meios

utilizados para poder organizar uma expressão. O indivíduo pode estar consciente do que

aconteceu consigo, mas não consegue definir de fato o que é. Ao ocorrer estes fatores,

houve um novo padrão de organização e não sabe ainda como interpretá-lo. Ao tornar os

fatos familiares, o individuo terá condições de reconhecer a sua causa e perceber os

primeiros sinais do processo.

Baseado na idéia de Claro (1995) constatamos que o profissional deve realizar uma

proposta prática, com um acompanhamento teórico e proporcionar uma maior base e

segurança para uma facilitação da educação da criança referente a cada faixa etária, dentro

de um quadro de desenvolvimento psicomotor normal.

Page 28: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

28

Nessa faixa etária, a criança de 7 a 10 anos vivencia o estágio operatório concreto,

onde há a facilidade do desenvolvimento psíquico pelo fato de estar ingressando no

processo de escolarização, envolvendo a inteligência, a afetividade, as relações e a

individualidade. Outra característica é o convívio social e de interação mais intenso com

seus colegas (DELGADO, 2003).

Ao pesquisar encontramos 3 linhas que mostram como se dá o desenvolvimento do

indivíduo. Essas linhas são: inatismo, do qual sugere que o desenvolvimento é determinado

pelo fator genético, de dentro para fora; empirismo, em que o desenvolvimento é

determinado pelo meio ambiente e; interacionismo que é caracterizado pelo indivíduo que

nasce com a capacidade de aprendizagem, porém a aprendizagem só ocorre quando há

experiências vivenciadas no meio. Essas linhas teóricas seguem tanto para o

desenvolvimento motor, quanto para o desenvolvimento intelectual (DELGADO, 2003;

GALLAHUE & OZMUN, 2003).

A proposta realizada por Neira (1999) para a conscientização corporal da criança

está voltada a trabalhar com os objetivos gerais em cada aula, bem como o esquema

corporal, a estruturação espacial e a orientação temporal. Dentro desses objetivos se

direciona para um objetivo específico que é preparar uma aula em que se trabalham as

habilidades motoras juntamente com as habilidades cognitivas e afetivas por meio da

reflexão. Nesse sentido percebemos que os alunos conhecem as partes do corpo e executam

alguns movimentos. É por meio da conscientização e da realização desses movimentos que

elas podem sentir como essas partes do corpo trabalham.

Page 29: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

29

Conclusão

Durante a leitura das referências (NEIRA, 1999, D‟ÁVILA, 1998, OLIVEIRA,

1997) sobre a pesquisa constatamos que a consciência corporal, a expressão corporal e a

percepção corporal são complementares para um bom desenvolvimento motor das crianças.

A consciência corporal apresenta que é necessário reconhecer as infinitas

possibilidades de movimentar-se e saber controlar esses movimentos. Por meio da

expressão corporal poderemos saber como estão às sensações, emoções e sentimentos do

ser humano. A percepção corporal é a capacidade do indivíduo em descriminar com

exatidão suas partes corporais.

Para ter consciência corporal, é necessário estar consciente de suas limitações,

capacidades e saber conviver com elas. É descobrir-se no prazer e desprazer do toque e do

movimento. Enfim, é aprofundar no seu interior e descobrir-se também como um corpo

Souza (1992, apud D‟ÁVILA,1998).

Na revisão bibliográfica verificamos que o crescimento e o desenvolvimento motor

possuem uma inter-relação, no entanto os conceitos são confundidos. O crescimento

corresponde às alterações físicas do corpo e o desenvolvimento é caracterizado pelas

modificações evolutivas nas funções do organismo (GALLAHUE & OZMUN, 2003).

Neira (1999) nos mostra que os movimentos são importantes tanto para o

desenvolvimento intelectual como para a evolução da espécie humana. Por isso, é

imprescindível a consciência corporal para o desenvolvimento motor, pois até então

tratávamos o corpo como um simples objeto.

Verificamos ainda que essa pesquisa pode colaborar com os profissionais de

Educação Física nos métodos de aula, para a ciência e ainda contribuir para as crianças não

apresentarem inibições no decorrer de sua vida e mostrar que todo ser é capaz de enfrentar

situações adversas. É somente pelo ensino prazeroso que podemos criar a oportunidade

dessa troca constante de conhecimentos corporais.

Por saber que a consciência corporal e o desenvolvimento motor estão em constante

mudança e pelo fato do ser humano se aprimorar cada vez mais consideramos que futuras

pesquisas sejam realizadas para abordar outros aspectos, como o psicológico, e ainda em

outros estágios do desenvolvimento que possa relacionar alguma atividade física específica

Page 30: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

30

ou até mesmo a realização de pesquisas de campo, o que colaboraria ainda mais para

fundamentar os resultados desse estudo.

Page 31: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

31

Referências

ANARUMA, Silvia Marina. A Representação do Corpo na Escola: um estudo da

sua evolução nos três níveis escolares. Revista Educação: Teoria e Prática, v.2.

n.2. UNESP – Rio Claro, Departamento de Educação, Instituto de Biociências,

UNESP, quadrimestral, 1994.

BRUEL, Maria Rita. O Corpo em Movimento: eixo norteador de uma proposta

curricular. São Cristovão: Motrivivencia, 1990.

CLARO, Edson. Método: Dança - Educação Física. São Paulo: Robe, 1995. 404p.

COSTA, Elaine Melo de Brito. Encontro coma a consciência corporal: trajetórias

profissionais em discussão. Natal: ___, 1997. 256p.

CRUZ, Norval. Consciêcia Corporal. Disponível em :

http://tempolivreceara.vilabol.uol.com.br/menu.html Acesso em : 27 de

Fevereiro de 2005.

D‟ÁVILA, Carolina Machado. Consciência Corporal e Adolescência. Campinas:

Unicamp, 1998. 40p.

DELGADO, Evaldo Inácio. Pilares do Interacionismo:Piaget,Vygotsky,Wallon e

Ferreiro. São Paulo: Erica, 2003. 134p.

ECKERT, Helen M. Desenvolvimento motor. São Paulo: Manole, 1993. 490p.

FERREIRA, Aurélio B. H. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

FELDENKRAIS, Moshe. Consciência pelo movimento. São Paulo: Summus, 1977.

222p.

FELDENKRAIS, Moshe. Vida e movimento. São Paulo: Summus,1988. 195p.

FREIRE, João B. & SCAGLIA, Alcides J. Educação como prática corporal. São

Paulo: Scipione, 2003. 183p.

GALLAHUE, David L. & OZMUN, John C. Compreendendo o Desenvolvimento

Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2003. 641p.

GAWAIN, Shakti. O Caminho da Transformação. São Paulo: Best Seller,1993.

223p.

Page 32: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

32

GUEDES, Dartagnan P. & GUEDES, Joana E. R. P. Crescimento, Composição

corporal e Desempenho Motor de Crianças e Adolescentes. São Paulo: CLR

Balieiro,2002. 362p.

GURIEV, D. V. O enigma da origem da consciência. Rio de Janeiro: Progresso,

1987.

KEATING, Kathleen. A Terapia do abraço. São Paulo: Ed. Pensamento, 1997. 72p.

LADEIRA, Maria Fernanda T. & DARIDO, Suraya C. Educação Física e

Linguagem: algumas considerações iniciais. Motriz, Rio Claro. v.9. n.1. p.25-

32. jan/abr 2003.

LALLERY, H. A memória psicomotora. In: HERMANT, G. O corpo e sua

memória. São Paulo: Manole, 1988. p. 29-34.

LEVIN, Esteban. O corpo ajuda o aluno aprender. In: Revista Nova Escola. São

Paulo: Abril, nº 179, p.20 / 22, Janeiro/Fevereiro 2005.

MARTINS, Caio. Conhecimento sobre o corpo. Disponível em:

http://www.tvebrasil.com.br/salto/cronograma2003/ccm/ccmtxt4.htm Acesso

em: 10 de Abril de 2005.

MAGILL, Richard. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo:

Edgar Blücher, 1984. 273p.

MAGILL, Richard. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo:

Edgard Blücher Ltda, 2002. 369p.

NAVARRO, Regina. O significado do toque. Disponível em:

www.biodanzasp.com.br/toque3.htm Acesso em: 07 de Maio de 2005.

NEIRA, Marcos Garcia. Contribuições de diferentes metodologias de ensino – em

Educação Física – para o processo de desenvolvimento motor. São Paulo, 1999.

232p Tese (Mestrado em Educação) – Universidade de São Paulo. São Paulo.

OLIVEIRA, Heleise F.F.R. A camuflagem do corpo. Piracicaba 1997. 133p. Tese

(Doutorado em Educação) – Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba.

RIBEIRO, Meiriluce. A Atividade Física e o Lúdico. Disponível em :

http://www.conscienciacorporal.com.br Acesso em: 27 de Fevereiro de 2005.

SANTIN, Silvino. Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do

rendimento. Porto Alegre: Edições EST/ESEF, 1994.

SANTIN, Silvino. Educação Física: uma abordagem filosófica de corporeidade.

Injuí: UNIJUÍ, 1987. 127p.

Page 33: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

33

STOKOE, Patrícia & HARF, Ruth. Expressão Corporal na Pré Escola. São Paulo:

Summus, 1987. 148p.

WALLON, Henri. A Evolução Psicológica da Criança. Rio de Janeiro: Editorial

Andes,1961. 220p.

Page 34: Monografia - A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de crianças do Ensino Fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de Educação Física

34

BILLI, Aina Bassetto

GONÇALVES, Edison Pedro Albino

A contribuição da consciência corporal no aspecto motor de

crianças do ensino fundamental de 1ª a 4ª série nas aulas de

educação física. – Amparo, 2005.

33f.

Trabalho de Conclusão de Curso –

Faculdades Integradas de Amparo – Curso de Educação Física

Orientadora: Prof.ª Ms. Luciana de Castro Bidutte

1. Consciência Corporal 2. Desenvolvimento Motor 3.

Educação Física