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MUDANÇAS TECNOLÓGICAS GLOBAIS E SUAS IMPLICAÇÕES
SENGE-RS12/09/2018
Clélio Campolina DinizProfessor Emérito da UFMG
Estrutura da apresentação
1. Fundamentos históricos e teóricos dos processos de inovação e o papel da ciência e tecnologia;
2. O contexto mundial atual de ciência, tecnologia, inovação e expansão produtiva;
3. A posição relativa do Brasil e a urgência da combinação das políticas macroeconômica, educacional, científica e tecnológica.
1. Fundamentos históricos e teóricos dos processos de inovação• Smith e a divisão do trabalho. Do artesanato à manufatura;• Ricardo e o princípio das vantagens comparativas VS. sistema de
maquinaria e ganho de produtividade;• Marx e o desenvolvimento das forças produtivas. A base da acumulação;• Schumpeter e o conceito de inovação;• Kondratiev e os ciclos econômicos longos;• A escola neo-shumpeteriana e a generalização dos estudos sobre ciência,
tecnologia e inovação;• O tardio reconhecimento do casamento da ciência com a tecnologia;• O papel da ciência, da tecnologia e da organização institucional nos
processos de inovação e competição.
Ondas longas da expansão capitalista - Ciclos de Kontratiev
• 1º Kontratiev (1789-1849) – Têxtil – Reino Unido;• 2º Kontratiev (1849-1896) – Ferrovia/siderurgia/carvão – Europa e
EUA;• 3º Kontratiev (1896-1930) – Eletricidade, química, motor de
combustão interna – Europa (Alemanha) e EUA;• 4º Kontratiev (1930-1990) – Automotiva, petróleo, petroquímica –
Europa, Japão e EUA;• 5º Kontratiev (1990- ) – TICs – EUA e mundo.
O 6º Kontratiev – Século XXI
• Continuação TICs, Bios, Nanos e sua realimentação cruzada; • Internet das coisas, impressão em 3D, novos materiais, engenharia de precisão,
automação, robotização, inteligência artificial, genética clínica;• Megaparadígmas energético e ambiental;• Múltiplas trajetórias; interdisciplinaridade; multidisciplinaridade; transdisciplinaridade. O
paradoxo da disrupção e da convergência;• Esses são temas anunciados. O desconhecido está sendo criado;• Riscos e oportunidades;• Impactos ambientais, sociais e políticos;• Onde?• Ocidente X Oriente;• Posição relativa do Sul Global e do Brasil.
Gastos brutos em P&D - PPP(participação relativa)
Estados Unidos26%
China19%
Japão9%
Alemanha6%
Coreia do Sul4%
Índia3%
França3%
Rússia3%
Reino Unido2%
Brasil2%
Outros23%
2. O contexto mundial atual de ciência, tecnologia, inovação e expansão produtiva
Gasto em P&D como porcentagem do PIB (PPP)
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50
Brasil
China
Estados Unidos
Áustria
Suíça
Alemanha
Dinamarca
Suécia
Japão
Finlândia
Israel
Coreia do Sul
0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 350.000 400.000
BélgicaTaiwanPolônia
BrasilSuíça
Coreia do SulSuéciaÍndia
HolandaAustráliaEspanha
RússiaItália
CanadáChina
FrançaAlemanha
JapãoReino Unido
EUA
2000
0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000
SuéciaTurquiaPolônia
SuílaIrã
HolandaBrasil
Coreia do SulRússia
EspanhaAustrália
CanadáFrança
ItáliaJapãoÍndia
AlemanhaReino Unido
ChinaEUA
2017
Ranking da produção científica em número de artigos
Fonte: Scimago Journal and Country Rank
O tamanho do círculo reflete o montante de gasto com P&D
Gasto com P&D em proporção do PIB
Núm
ero
de c
ient
ista
s po
r 100
.000
Posição relativa dos países em P&D
EUA14%
Alemanha10%
Japão10%
França6%
Reino Unido5%China
5%Itália4%
Hong Kong4%
Canadá4%
Holanda3%
Outros35%
2000
China17%
Alemanha10%
EUA9%
Japão5%
Hong Kong4%
Coreia do Sul4%
França4%
Itália3%
Holanda3%
Reino Unido3%
Outros38%
2016
Participação relativa nas exportações de manufaturas
Fonte: World Trade Organization Statistics Database (Time Series on international trade)
Participação relativa na produção manufatureira
EUA23%
Japão13%
Alemanha8%
China*7%
Itália4%
Reino Unido
4%
França4%
Coreia do Sul3%
Canadá3%
Espanha2%
México2%
Brasil2%
Outros países25%
2000
China 25%
EUA18%
Japão8%
Alemanha6%
Coreia do Sul
Índia3%
Itália2%
França2%
Reino Unido2%
Brasil2%
Indonésia2%
México1%
Outros países26%
2016
Fonte: United Nations Statistics Division (National Accounts Official Country Data)
A crise estrutural do capitalismo e a luta pela reindustrialização do ocidente
A visão de Schumpeter (1943);A proposta reformista de Mannheim (1951);O intervalo social-democrata e os trinta gloriosos anos;A crise pós-1970:
O desmoronamento do acordo de Bretton Woods;Inflação e déficit público;Consenso de Washington e políticas neoliberais;Concentração da renda e da riqueza;A ascensão dos movimentos conservadores.
As múltiplas interpretações das crises contemporâneas (Beck, Streeck, Wallerstein, Hewitt, Harvey, Varoufakis, Stiglitz, Krugman, Piketty).
O desafio asiático e a luta pela reindustrialização do Ocidente desenvolvido
• A perda de participação relativa da Europa e dos EUA na produção e nas exportações manufatureiras;
• Tomada de consciência do fenômeno asiático (China, Japão, Coréia do Sul, Índia, Taiwan, Singapura, Hong-Kong, Malásia, Vietnam etc.);
• Os diagnósticos da UNIDO, OECD, UNCTAD;• A resposta do Ocidente Industrializado• Manufacturing USA
• A redução do emprego manufatureiro de 17 para 12 milhões de pessoas entre 2000 e 2010 nos EUA;• O déficit na balança comercial manufatureira, inclusive de produtos de alta tecnologia;• Programa de reindustrialização de Obama com a criação de 15 institutos articulando academia, sistema
empresarial e políticas públicas. 14 em funcionamento, sendo 8 ligados ao Departamento de Defesa.
• Factories for the Future da União Europeia – tentativa fracassada• A crise europeia e os programas de recuperação industrial
individualizados;• Indústria 4.0 da Alemanha (digitalização generalizada);• Catapultas na Inglaterra;• Os programas dos pequenos países: Finlândia, Suécia, Áustria, Bélgica,
Dinamarca, Holanda.
• Os riscos políticos e sociais do gnosticismo científico e tecnológico.
3. A posição relativa do Brasil
• O atraso histórico. Dependência colonial. A tardia criação de universidades;• Debilidade da burguesia nacional e o nascimento tardio da indústria;• O caráter dependente da industrialização brasileira;• O esforço científico: a criação do CNPQ, CAPES, expansão universitária;• A expansão industrial do pós II Guerra e a desnacionalização;• Casos de sucesso: SISTEMA ENERGÉTICO, EMBRAPA, EMBRAER, PETROBRÁS;• O paradoxo recente entre as políticas de ciência e tecnologia e a política
macroeconômica: • Expansão universitária e científica, política de financiamento;• A orientação da política macroeconômica.
• Os processos de desindustrialização e desnacionalização.
Indicadores de desindustrialização e desnacionalização
Desempenho da indústria brasileira e penetração das importações
Setores de atividade Crescimento acumulado, 2004-2013
Penetração das Importações
Saldo Comercial sobre a Produção
Produção Demanda doméstica 2003 2013 2003 2013
Baixa e média-baixa tecnologia 23,6 38 5,9 13,6 9,9 -0,5
Alta e média-alta tecnologia 53,1 94,4 25,2 41,2 -10,9 -40,8
Indústria de trnasformação 33,9 60,4 13,5 26,8 2,7 -16,5
Fonte: MORCEIRO, 2016 (dados selecionados)
As contradições entre a política científica e tecnológica e a política acroeconômica• O esforço científico
• A ampliação da capacitação de recursos humanos: matrículas de graduação subiram de 2694 no ano 2000 para mais de 7 milhões em 2016; titulação de mestres, 17mil para 40mil; titulação de doutores, de 5mil para 17mil;
• Número de artigos científicos subiu de 14mil para 68mil;• Reuni, Prouni, FIES, IFETs, a expansão das universidades
federais; INCT´s• A generalização das políticas industriais: altos custos com
pequenos resultados:• Funtec, CT-infra, PITCE, Brasil Maior, PDP, Inova Auto, Lei
do Bem, Inova Empresa, Lei da Informática, financiamentos subsidiados, desoneração fiscal etc.
413.916,85.887,7
5.709.646,7
254.319,4
1.889.626,4
Incentivos e renúncia fiscal
Importação de equipamentos para pesquisa pelo CNPq
Isenção ou redução de impostos de importação
Lei de Informática
Lei de informática Zona Franca
Lei do Bem
• O desajuste das políticas cambial e monetária;
• Capital estrangeiro sem condicionante de internalização de pesquisa;
• O boom das commodities e a doença holandesa.
Balança Comercial 1997-2014
-4,0
-66,7
62,8
-80,0
-60,0
-40,0
-20,0
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Brazil - Trade Balance (USD billion), 1997-2014
Total Manufacturing sector and others Natural Resources (raw materials and NR-intensive manufactures)
Condicionantes para o sucesso da política de educação, ciência e tecnologia
• Educação básica e profissionalizante como fundamentos para odesenvolvimento econômico e social e para o aumento daprodutividade;
• Ciência como base para o desenvolvimento tecnológico e para ainovação;
• Base produtiva estrangeira como obstáculo à passagem da ciência paraa tecnologia e inovação (condicionar internalização da pesquisa);
• A dificuldade de articulação das Universidades e instituições depesquisa com o sistema produtivo (a proposta das Plataformas deConhecimento).
Requisitos para a viabilidade de uma nova política econômica para o desenvolvimento e de seu componente educação, ciência, tecnologia e inovação: Planejamento e coordenação1. Projeto de Nação com planejamento de médio e longo prazos;
• Objetivos, metas e meios, com definição de prioridades;2. Uma nova politica industrial e sua compatibilização com o planejamento geral,
com as políticas macroeconômica e com as demais politicas setoriais e temáticas
• Adequação das politicas cambial, monetária, tributária e de comércio exterior• Integração do plano de CT&I ao plano geral;
3. Definição de setores prioritários e articulação entre ciência, sistema empresarial e políticas públicas, na linha das Plataformas de Conhecimento –
4. O papel central do DI: instrumentação, bens de capital e equipamentos –coração da indústria e da autonomia tecnológica;
5. Apoio às instituições de modernização tecnológica (SENAI, EMBRAPII);6. Metas escalonadas de aumento do gasto em P&D como % do PIB;7. Condicionar capital estrangeiro a internalizar pesquisa;
8. Estimular o capital privado nacional a investir em P&D como base para inovação;
9. Monitorar e avaliar as diferentes politicas de incentivos;10. Apoio à big science e à mobilidade de pesquisadores estrangeiros;11. Projetos especiais de médio e longo prazos para as grandes
fronteiras (Amazônia verde e Amazônia azul);12. Redução dos entraves burocráticos e melhoria do ambiente de
negócios;13. Avanço da educação básica e profissionalizante;14. Melhoria da infraestrutura.