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MÚSICA E LITERATURA: PARCEIRAS NA APRENDIZAGEM INTEGRADA DO SENSO ESTÉTICO COM A FORMAÇÃO

SOCIOCULTURALE CIDADÃ

AUTORA: Rosangela de Anhaia1

ORIENTADOR: Ubirajara Araujo Moreira2

Resumo: Este artigo é fruto da intervenção pedagógica na turma de 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Estadual Major Vespasiano Carneiro de Mello, no município de Castro, Paraná. A intervenção teve sua gênese na percepção da professora PDE de que, muitas vezes, os alunos ainda não gostam de ler e, portanto, não conseguem compreender, tampouco identificar as ideias implícitas no texto literário e nas letras de músicas. O artigo apresenta o resultado final da implementação pedagógica na referida escola durante a nossa permanência no Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná (PDE) 2012-2013. Por meio de textos e estudos oportunizaram-se aos alunos, através da música e poesia (literatura), momentos de leitura, reflexões, debates. As atividades desenvolvidas levaram os alunos ao desenvolvimento da sensibilidade estética, da imaginação, da criatividade, da comunicação, da criticidade tornando-os mais sensíveis e conscientes em termos de questões pessoais e socioculturais. Sabe-se que quando se refere às diretrizes que norteiam o currículo do Ensino Médio, a lei preconiza que o mesmo “destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a Língua Portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania” (BRASIL, 1999, p. 62, grifo nosso). O contato com a produção literária de artistas contemporâneos, ou seja, poemas e músicas, explorando variadas nuanças de suas composições, levou os alunos a desenvolverem a compreensão da historicidade das obras artísticas, enfim, foi uma oportunidade de enriquecimento cultural. Palavras-chave: Literatura. Poesia. Música. Cidadania.

1 Introdução

É preciso ler isto, não com os olhos, mas com a memória e a imaginação.

Machado de Assis

1 Formada em Letras Português pela UEPG, professora de Língua Portuguesa no Colégio Estadual Major Vespasiano Carneiro de Mello, no município de Castro, Paraná. 2 Doutorado em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP - 2000), Mestrado em Letras, Área de Teoria da Literatura, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Campus de Curitiba (1984), e Graduação em Letras Português/Francês pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) - Campus de Curitiba (1976). Professor Adjunto da Universidade Esta-dual de Ponta Grossa, PR (UEPG), onde leciona desde 1991, lotado no Departamento de Letras Ver-náculas. Docente no Curso de Graduação e de Especialização da mesma Instituição, ministra as disciplinas de Teoria Literária, Crítica Literária, Literatura Brasileira e Metodologia do Ensino de Lite-ratura. Membro do Conselho Editorial da revista UniLetras, da UEPG. Poeta bissexto, co-autor de três livros de poesia.

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A literatura envolve a razão, a memória e a emoção. Sua natureza foge ao

padrão característico da maioria dos textos em circulação social. A literatura seduz e

desperta o sonho, a fantasia, o imaginário do leitor, ela é pensamento e arte.

Dessa forma, a literatura é uma poderosa ferramenta para a formação de

leitores, pois, segundo Pennac (2008), é um ato de criação permanente. É por meio

dela que podemos vivenciar emoções, promover a imaginação, a curiosidade, as

ideias. A literatura é a arte da palavra escrita, que explora todas as suas

potencialidades de comunicação e expressão e é capaz de transpor limites de tempo

e espaço.

O texto literário rompe com a realidade concreta e histórica, é autossuficiente.

A literatura leva o leitor a participar da construção de informações, tornando-o sujeito

de sua própria história e partícipe da história da humanidade. A leitura literária pode

contribuir para que o leitor perceba melhor o mundo e, assim, modifique o seu

comportamento social. A riqueza polissêmica da literatura é um campo de plena

liberdade para o leitor, o que não ocorre em outros textos. Paradoxalmente, por

apresentar um mundo esquemático e pouco determinado, a obra literária acaba por

fornecer ao leitor um universo muito mais carregado de informações, porque o leva a

participar da construção de sua própria realidade.

Por isso, defendemos que a leitura literária precisa ser ensinada, mediada,

compartilhada e desenvolvida na escola. Essa instituição tem o reconhecimento

social de ser um dos espaços privilegiados para se desenvolver nas crianças e

jovens a cultura da leitura literária.

Todavia, despertar o interesse e o prazer dos alunos pela leitura literária não

deve ser de forma imposta, pois, segundo Pennac (2008, p.13), “o verbo ler não

suporta verbo imperativo”. Dessa forma, a atividade da leitura deve estar imbuída de

prazer, sedução e satisfação. Por isso defendemos a importância de o professor

desenvolver práticas de leitura literária em sala de aula que sejam motivadoras

atrativas, descontraídas.

Este artigo apresenta os resultados das discussões produzidas durante a

intervenção pedagógica por meio do Caderno Temático, criado como uma

ferramenta para facilitar o trabalho pedagógico no tocante ao ensino de literatura no

Ensino Médio.

Optamos pela poesia e pela letra de música por considerarmos valiosas

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parceiras no processo de uma aprendizagem significativa que contemple o

desenvolvimento do senso estético e artístico dos alunos em conexão com a sua

formação sociocultural e cidadã. O Caderno Pedagógico contemplou textos literários

e letras de canções que fizeram e fazem parte da memória da história das lutas

sociais do povo brasileiro, como “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo

Vandré; “Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso; “Dois e dois: quatro”, de Ferreira

Gullar; “Cidadão”, de Zé Ramalho; “O Operário em Construção”, de Vinícius de

Moraes; “Procissão”, de Gilberto Gil, e “Romaria”, de Carlos Drummond de Andrade.

Com esta proposta objetivamos oportunizar aos alunos momentos de leitura,

reflexões e debates com práticas que desenvolvessem a sensibilidade estética, a

imaginação, a criatividade, a comunicação, a criticidade, visando à formação de um

educando mais sensível e consciente em termos de questões pessoais e

socioculturais. Buscamos ainda criar oportunidades de enriquecimento cultural para

os estudantes, oportunizando-lhes conhecerem artistas brasileiros contemporâneos

do campo da literatura e da música, bem como estimular análises comparativas

entre poemas e letras de canções, seja em relação aos aspectos técnicos, e/ou

temáticos, e/ou ideológicos, oportunizando a descoberta e o debate sobre possíveis

convergências e divergências entre os textos e suas relações com a realidade

individual e social.

A música e a literatura estão permanentemente presentes no contexto

escolar, de uma forma ou de outra, e podem ser potencializadas como valiosas

parceiras no processo de uma aprendizagem significativa que contemple o

desenvolvimento do senso estético e artístico dos alunos em conexão com a sua

formação sociocultural e cidadã.

Como se sabe, esses são alguns dos objetivos fundamentais da Educação no

Brasil, conforme proposto na sua lei maior, a Lei nº 9.394, das Diretrizes e Bases da

Educação Nacional, que no seu artigo 2º afirma que “A educação [...] tem por

finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício

da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1999, p. 49-50, grifo

nosso); sendo que seu ensino será ministrado segundo alguns princípios

norteadores, entre os quais a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a

cultura, o pensamento, a arte e o saber” (idem). A mesma lei, no seu artigo 27,

orienta que os conteúdos curriculares da Educação Básica devem observar algumas

diretrizes, entre as quais: “a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos

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direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”

(BRASIL, 1999, p. 59). E especificamente quando se refere às diretrizes que

nortearão o currículo do Ensino Médio, a lei preconiza que o mesmo “destacará a

educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e

das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a

língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e

exercício da cidadania” (BRASIL, 1999, p. 62, grifo nosso).

Fica evidente, portanto, o especial interesse voltado para a formação

sociocultural e cidadã do aluno, bem como para o desenvolvimento de seu senso

estético nas relações com o mundo das artes.

Ora, sabe-se que a literatura é uma arte que se envolve profundamente com

a realidade humana, na sua dimensão pessoal e social, representando, através de

diferentes configurações estéticas, as mais variadas situações psicoexistenciais e

socioculturais das pessoas e dos grupos sociais. Tais representações, configuradas

nas várias modalidades de seus três grandes gêneros – a poesia, a prosa ficcional

e o teatro –, encenam as múltiplas emoções, sentimentos, valores e interesses

entrechocando-se num jogo permanente e tensional. Seja, por exemplo, a sátira

social ou o lirismo amoroso da poesia de um Gregório de Matos, lá no século XVII,

nos primórdios de nossa literatura, seja a crítica social contemporânea e a lírica

amorosa ou existencialista da poesia de um Drummond ou de um Ferreira Gullar,

seja ainda a exposição da podridão moral e das relações trágicas de uma sociedade

burguesa nas peças de um Nelson Rodrigues, passando, nos século XIX, pelos

poemas amorosos ou revoltados dos românticos, pelo lirismo amoroso e poesia

social de Castro Alves, pelos romances realistas de Machado de Assis, com sua fina

ironia corroendo a estrutura sociocultural do final do Império ou provocando a

perplexa e amarga reflexão sobre o indivíduo e a existência.

Por sua vez, a observação mais ou menos atenta das letras de inúmeras

canções dos nossos compositores, de diferentes épocas, estilos e gêneros, pode

constatar, ao lado do lirismo amoroso em suas variadas manifestações, o lirismo

social, que tematiza as mais diversificadas situações sociais, culturais e mesmo

políticas do nosso povo e de nossa cultura, ao longo de seu processo histórico.

Basta que lembremos o lirismo social de um Noel Rosa, muitas vezes mesclado

sutilmente com o seu lirismo amoroso, assim como se pode facilmente constatar o

comprometimento sociocultural e até mesmo político em letras de canções de um

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Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, para citar apenas três dentre os

expoentes contemporâneos da riquíssima música popular brasileira. Nesta

perspectiva, pode-se assumir a proposta de Nelson Barros da Costa (2001),

segundo quem, em sua tese A produção do discurso lítero-musical brasileiro, é

admissível a hipótese de que tal discurso conquistou ou vem conquistando, na

realidade sociocultural brasileira mais recente:

o papel de discurso constituinte, no sentido explicitado por Maingueneau, que o define como o discurso que: dá sentido aos atos da coletividade, consistindo numa forma de vida articuladora da consciência coletiva a indicar modos de sentir, de pensar e de interpretar os fatos sócio-culturais; estabelece um archéion, ou seja, determina um corpo de enunciadores consagrados e elabora uma memória para si e para a sociedade; constitui-se tematizando sua própria constituição, pretendendo ao mesmo tempo constituir-se para os outros (auto e heteroconstituição) e dizendo-se ligado a uma Fonte legitimante (a Beleza, a Verdade, Deus etc.); usa a palavra de outros discursos constituintes para legitimar sua palavra e definir seu lugar no interdiscurso. (COSTA, 2001, p. 9-10, grifo do autor).

E, sem dúvida, tais características podem ser também aplicadas ao discurso

literário. O que nos interessou nesta proposta pedagógica, mais especificamente, foi

o discurso da poesia brasileira contemporânea, entendida cronologicamente

desde a década de 1920, com o início do Movimento Modernista.

E é interessante observar que a música e a literatura – principalmente a

poesia –, ao que parece, são ligadas por algumas fortes afinidades, embora talvez

nem sempre tais ligações tenham sido assim tão intensas. A música e a literatura

mantêm correspondência entre si, certa simbiose, estreita ligação, digamos uma

relação entre o melos (do grego: som) e o logos (do grego: palavra, discurso), certo

parentesco na área da semiótica, a ciência geral de todos os sistemas de signos,

que, segundo o linguista suíço Saussure, “estuda a vida dos signos no seio da vida

social” (JAPIASSÚ, 2006, p. 249), sabendo-se que há, entre elas, elementos

comuns nas frases, cadência, período, acentos, tema, motivo, métrica e ritmo.

(TORRES, 2009, p. b69).

Ressalta-se ainda que muitos termos de música foram adotados pela

literatura, e a música, por sua vez, adotou alguns de literatura, numa fecunda inter-

relação. Num resumo histórico dessas relações, Joaquim Aguiar assim esclarece em

seu livro A poesia da canção (1993):

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Reza a tradição que a música e a poesia nasceram juntas. De fato, a palavra “lírica”, de onde vem a expressão “poema lírico”, significava originalmente certo tipo de composição literária feita para ser cantada fazendo-se acompanhar por instrumento de corda, de preferência a lira. Durante muito tempo a poesia foi destinada à voz e ao ouvido. Seria necessário esperar pela Idade Moderna para que a invenção da imprensa, e com ela o triunfo da escrita, acentuasse a distinção entre música e poesia. A partir do século XVI a lírica foi abandonando o canto para se destinar, cada vez mais, à leitura silenciosa. Entretanto, mesmo separado da música, o poema continuou preservando traços daquela antiga união. [...] são fartas as alusões que a arte poética faz à arte musical. Se a separação de poetas e músicos dividiu a história de um gênero e outro, a poesia não abandonou de vez a música tanto quanto a música não abandonou de vez a poesia. (AGUIAR, 1993, p. 10).

A intenção da intervenção foi, numa perspectiva político-pedagógica,

promover uma abordagem da música e da literatura como elementos que podem

contribuir para um aperfeiçoamento do senso artístico dos alunos integradamente

com o desenvolvimento de uma maior percepção e consciência das questões

ideológicas envolvidas na realidade sociocultural. A escolha tem como motivo o

incentivo à leitura literária junto a uma parcela da juventude, pois a intervenção visou

alunos da 3ª série do Ensino Médio e membros dos Grêmios Estudantis do

município de Castro, crendo que muitos deles já tinham certo domínio da leitura de

textos literários e de letras de canções e da compreensão ideológica desse tipo de

textos.

Levou-se em consideração, também, que tanto a música quanto a literatura,

duas modalidades de arte, funcionam de forma atraente como meios de transmissão

de ideias, sentimentos, interesses, atitudes e valores, seja de ordem individual como

coletiva. Sabe-se que os poemas e as letras de música tematizam situações as mais

diversas e controvertidas da sociedade brasileira contemporânea, realidade na qual

os educandos estão inseridos e em relação à qual os educadores devem contribuir

para que desenvolvam sua capacidade de observação, seu senso crítico, sua

construção como cidadãos e com potencial de agirem como sujeitos

transformadores da realidade.

É importante considerar que professores e alunos estão inseridos na

sociedade, vivem em comunidades, convivem com familiares, amigos, têm contato

diário com diversas pessoas, recebem informações e são influenciados por elas,

seja tecnológica, educacional, religiosa e política, são, pois, veículos de novas ideias

que podem influenciar e se reconhecerem como multiplicadores dessas e, assim,

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transformar o meio em que vivem. Acredita-se que, por meio de estratégias

adequadas, a música e a literatura podem ser abordadas junto aos jovens nessa

perspectiva comprometida com a melhoria dos indivíduos e da sociedade.

2. Fundamentação teórica

Alguns elementos são fundamentais para que compreendamos a importância

da música e da literatura na vida das pessoas e dos grupos sociais e, consequente-

mente, entendamos a relevância de suas conexões no âmbito educacional, na pers-

pectiva desta proposta de intervenção pedagógica.

2.1 Música

A música sempre esteve, e está, presente na vida do ser humano.

Historiadores, antropólogos e arqueólogos apresentam algumas hipóteses sobre as

suas origens e formas primitivas, muito possivelmente na Pré-História, talvez em

volta das fogueiras junto às quais se contavam as histórias das caçadas.

Como seria este contato natural do ser humano com os sons? Procuremos

imaginar a busca da identificação dos diversos sons, como o canto dos pássaros, os

grunhidos e gritos dos animais, além da ação da natureza, no estrondo do trovão, o

barulho da água, das cachoeiras, o sopro do vento nas folhagens e outros. Se ainda

hoje nos maravilhamos com estes sons, imaginemos os primeiros seres humanos.

O som da voz foi o primeiro instrumento (quem sabe o assobio também?)

utilizado para expressar esta gama de sons com que o ser humano entrava em

contato, e assim a imitação foi à primeira forma artística, tentativa de se reproduzir o

que se ouvia, e que se torna uma ajuda para a construção vocal do ser humano,

indo da imitação para a verbalização, dos sons guturais para sons mais elaborados.

Depois, ou mesmo concomitantemente, a sensação de produzir sons e ritmos

batendo partes de seu corpo – mãos batendo palmas, batidas dos pés... – e os mais

variados objetos: pedra com pedra, madeira com madeira, ossos, couro e o que

mais estivesse à mão, surgindo os primitivos instrumentos musicais de percussão e

de sopro e as primeiras manifestações de dança.

Essas execuções, que podem ter sido descobertas e prazer pessoais

inicialmente, ganharam dimensão social, como descoberta e execução coletiva

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também, com os sons ganhando certo tipo de organização e caráter simbólico para a

comunidade, sendo objeto de ensino e transmissão, com valor de herança cultural.

Muitos dos sons e danças vão sendo associados miticamente a fenômenos e

seres religiosos, tanto que povos como os maoris diziam que o universo fora

formado por uma palavra evocada por deus; e os hindus também dizem que foi o

Om3, considerado o som criador, que também originou o universo. (BIACA et al.,

2006, p. 76-77). Na tradição judaico-cristã também se menciona que Deus criou o

mundo através de sua palavra e que soprou nas narinas do homem dando lhe vida;

em outras culturas há relatos também de que seus deuses se utilizaram de sons

criadores.

Ligado à existência, o som nos dá a ideia de movimento, de força dinâmica,

pois onde há som há movimento: nos mitos de criação, no momento de cada ato

criador, há um som emitido, seja de trovão, gritos, sons da mata, criando assim uma

sequência musical relacionada com o mistério da origem da vida; aos sons foram se

juntando os instrumentos, e desta sonoridade vai surgindo a música. A música nada

mais é que uma junção de sons, ritmos, melodias produzidas pelo homem para

representar, transmitir e perpetuar suas ideias e cultura, criando-se uma verdadeira

identidade musical da comunidade.

Percebemos que a musicalidade está presente no relacionamento entre a

mãe e o bebê: antes do nascimento a criança recebe estímulos sonoros,

principalmente da voz materna, e sabe-se que certos sons e melodias cantaroladas

pela mãe têm efeito imediato na criança. A musicalidade da voz nas cantigas de

ninar tem um caráter peculiar, pois manifesta uma forma de carinho para o bebê que

vai nascer ou para o recém-nascido, e as canções estimulam a predisposição

musical da criança.

Musicistas e psicólogos dizem que cada ser tem um som interior. Uma criança

estimulada terá um melhor aprendizado musical, e se seu ambiente lhe proporcionar

mais sonoridade, saberá escolher os ritmos que mais lhe agradam.

Podemos afirmar que hoje, no campo da educação, a música pode se tornar

um fator importante no aprimoramento dos educandos. Como apontam Barbosa e 3 Om: é o símbolo mais importante para o hinduísmo e também para o budismo. É o som primordial, o som criador a partir do qual tudo se manifesta. O Om é a reunião de todos os sons. O som Om pode representar a trindade dos deuses da criação (Bhrama, Vishnu e Shiva). Crê-se que esta sílaba sa-grada seja a semente de todos os mantras (palavras ou sons poderosos e divinos). O som Om seria o único eterno, em que o passado, o presente e o futuro coexistem. (BIACA et al, 2006, p. 76-77).

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Torchi (2006):

A música se apresenta com um dos aspectos da arte, que tem contribuído decisivamente, no processo educativo, visto que proporciona o bem-estar, a socialização, a dignidade e a integração do ser humano, estimulando a criatividade dos educandos. Não é privilégio de poucos nem são necessárias técnicas aperfeiçoadas para produzi-la, pois nós somos a música e ela está por todos os lados. (BARBOSA; TORCHI, 2006, p. 126).

A música, com letra ou só instrumental, e nos seus mais variados gêneros, é

uma arte que está inserida na maioria das situações individuais e de convivência

social de todas as pessoas, propriamente. No rádio, na televisão (basta citar as

trilhas das novelas e os programas de calouros...), na Internet, nos cds, no celular,

no MP3, no iPod, nas áreas de lazer, desde a cantiga de roda às baladas, dos

desafios entre repentistas aos shows e festivais, nas comemorações e festividades

sociais, cívicas, esportivas, tradicionais (Festa de São João e Carnaval, por

exemplo) e religiosas (músicas gospel, padres-cantores...), nos filmes e no teatro,

nas propagandas que, aliás, às vezes nos chamam mais a atenção pela música

tocada do que pela mensagem...

Na música com letra, das canções populares ao Hino Nacional (cantado nas

cerimônias desportivas, por exemplo...), é importante considerar a força que ela

representa na veiculação de ideias, sentimentos, valores, atitudes. E várias

pesquisas têm confirmado, há tempo, que a música representa a primeira ou uma

das primeiras opções de lazer entre jovens e adolescentes.

Dada a sua ancestralidade na história do gênero humano, a sua presença

marcante nos grupos sociais e a forte influência que exerce sobre os educandos,

fica mais do que evidente a sua importância no processo educativo. E é neste

sentido que se pretende abordá-la no presente Projeto, em conexão com a literatura,

mais especificamente com a poesia, dada a grande proximidade que esta tem com a

letra das canções.

2.2 Literatura

Sabe-se como em nossa cultura, nas últimas décadas, a aprendizagem da

leitura cresceu na consideração de grande parte da população. Seja a criança que já

nos seus primeiros anos inicia sua escolaridade, seja o adulto que tardiamente

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busca sua alfabetização, maravilhando-se com as descobertas que a leitura lhe

proporciona, o fato é que o domínio da escrita e, principalmente, da leitura abre as

portas para uma das mais ricas experiências humanas no vasto campo do

conhecimento, além de ser um importante meio de integração social e de exercício

da cidadania.

A leitura leva o aluno ao mundo das letras, ao contato com as revistas, jornais,

livros suportes textuais e outras práticas sociais relacionadas ao letramento, e aí é

que entra o importante papel do professor, que irá direcionar o educando por este

caminho, estimulando-lhe o gosto pela leitura e consequentemente pelo mundo do

conhecimento. Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua

Portuguesa (SEED, 2008), é papel da escola oportunizar os alunos a práticas

diferenciadas de leitura, de escrita e de oralidade, objetivando a interação.

Nesse contexto amplo do universo da leitura insere-se o texto literário, sob a

forma de poemas, contos, crônicas, romances... e com cujo contato o leitor é

provocado em seu senso estético e no seu gosto pelo entretenimento, tocado em

seus sentimentos e emoções, desafiado em sua imaginação, enriquecido com novas

experiências humanas sob as mais diferentes formas de ficcionalização.

Uma forma de se compreender a literatura é valer-se da leitura como

ferramenta que faz com que o aluno aos pouco vá descobrindo e identificando os

traços característicos de cada época literária e dos respectivos escritores – seus

temas, de caráter psicológico ou sociocultural, os problemas que focalizam, e as

soluções ou impasses, que representam em suas obras, bem como a linguagem que

constroem na elaboração dos seus escritos.

A esse tipo de leitura pode se associar a perspectiva semiótica e dialógica de

descoberta das vozes que se cruzam no texto, e levar o leitor à busca de outros

textos que dialoguem com ele, numa complexa e dinâmica trama de vozes que

multiplicam visões plurais sobre o mundo ficcional e sua projeção sobre a realidade

individual e social.

Apropriemo-nos da conceituação de Antonio Candido (1972, apud SEED,

2008, p. 57-58), quando diz que a literatura é a arte que transforma/humaniza tanto o

homem quanto a sociedade, e atribui a ela três funções: psicológica, formadora e

social. A primeira faz com que o leitor tenha momento de fuga da realidade,

causando uma identificação com a situação vivenciada na leitura, além de provocar

a reflexão. A segunda age como instrumento de educação e formação usando a

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realidade refletida nos textos. E a terceira retrata para o leitor a sociedade e suas

representações, apresentando o lado humano e social.

Na perspectiva da intervenção, cabem ainda aqui as palavras de Antonio

Candido quando se refere à função humanizadora da literatura:

Entendo aqui por humanização [...] o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o sendo da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensíveis e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CANDIDO, 1995, p. 249).

E isso se torna possível graças à sensibilidade especial dos escritores em

captar as mais diferentes situações da alma humana e da vida social, plasmando-as

numa linguagem artística que é ao mesmo tempo expressão e comunicação. Freud,

o pioneiro na investigação dos segredos da alma humana, não dispensava as

contribuições da literatura. Nas palavras do fundador da psicanálise:

Os poetas e romancistas são aliados preciosos, e seu testemunho deve ser tido em alta estima, pois eles conhecem, entre o céu e a terra, muitas coisas com as quais nossa sabedoria escolar não poderia sequer sonhar. Eles são para nós, que não passamos de homens vulgares, mestres no conhecimento da alma, pois se banham em fontes que ainda não se tornaram acessíveis à ciência. (Apud PRAXEDES, 2002)

O período que foi trabalhado nesta intervenção pedagógica abarca o

Modernismo e a Literatura Contemporânea. São quase cem anos de história, ao

longo do quais importantes eventos marcaram a vida do mundo, que viveu duas

grandes guerras e passou por profundas mudanças sociais, econômicas, políticas,

culturais e artísticas. Do Modernismo às manifestações literárias dos dias atuais,

sabe-se o quanto os eventos internacionais e nacionais influenciaram os nossos

escritores, seja da prosa ficcional em seus romances, contos e crônicas, seja do

teatro nas suas variadas formas, seja na poesia em suas diferentes representações

e linguagens.

Assim, riquíssimos elementos referentes à dinâmica da vida social brasileira,

às tensas relações de poder, aos embates ideológicos e políticos, à luta pelos

direitos humanos, à construção duma cultura plural, às questões religiosas e éticas,

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ao aprofundamento da consciência do indivíduo, ao fortalecimento dos conceitos de

cidadania e participação sociopolítica – estão representados nas mais diferentes

formas nos textos literários produzidos no Modernismo a na literatura

Contemporânea.

É fundamental que a escola contribua para que o educando se achegue à

literatura, essa importante fonte, não só de valioso entretenimento e prazer estético,

mas também de conhecimento da vida nacional, em seus múltiplos aspectos, para

que ele amplie seus horizontes, afine seu senso crítico e desenvolva atitudes de

engajamento cidadão.

2.3 Música e literatura

Sabemos que tanto a música quanto a literatura, por seu próprio caráter de

ser arte, funcionam de forma atraente e prazerosa como meios de transmissão de

ideias, sentimentos, interesses, atitudes e valores, seja de ordem individual como

coletiva. Sabemos também que tanto os poemas como as letras de música tratam de

situações as mais diversas e controvertidas da sociedade brasileira contemporânea,

realidade na qual os educandos estão inseridos e em relação à qual a escola deve

contribuir para que desenvolvam sua capacidade de observação, seu senso crítico,

sua construção como cidadãos e com potencial de agirem como sujeitos

transformadores da realidade. As Diretrizes Curriculares da Educação Básica -

Língua Portuguesa (2008, p. 27):

A interdisciplinaridade é uma questão epistemológica e está na abordagem teórica e conceitual dada ao conteúdo em estudo, concretizando-se na arti-culação das disciplinas cujos conceitos, teorias e práticas enriquecem a compreensão desse conteúdo. [...] explicita-se que as disciplinas escolares não são herméticas, fechadas em si, mas a partir de suas especialidades, chamam umas ás outras e, em conjunto, ampliam a abordagem dos conte-údos de modo que se busque, cada vez mais, a totalidade, numa prática pedagógica que leve em conta as dimensões científica, filosófica e artística do conhecimento.

Dessa forma, trabalhou-se com a música e a literatura para oportunizar aos

alunos uma maior sensibilização estética, maior compreensão e adequada aprecia-

ção das artes e, ao mesmo tempo, pudessem ampliar seus horizontes socioculturais,

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seu senso crítico e suas atitudes de efetiva participação na comunidade, na perspec-

tiva de uma transformação e melhoria tanto pessoal como social.

3 A intervenção nas turmas de 3ª série do ensino médio

Como esta proposta de intervenção pedagógica na Escola objetivou-se

desenvolver, com os alunos da 3ª série do Ensino Médio e Membros dos Grêmios

Estudantis do Colégio Major Vespasiano Carneiro de Mello, do município de Castro,

PR, atividades com literatura (poemas) e música (letras), que privilegiassem a

leitura, a compreensão, a interpretação e a produção escrita de textos

argumentativos.

As atividades foram desenvolvidas nos espaços do colégio, isto é, dentro da

sala de aula, e conforme as necessidades elas se estenderam a outras

dependências da escola para que os alunos pudessem perceber, relacionar,

comparar compreender e inferir significados às leituras dos textos propostos e os

fatos do contexto atual.

Para não se tornarem enfadonhos o relato e a discussão que ora se pretende

fazer neste texto, decidiu-se apresentar de forma geral como se processou a

intervenção.

Foram 8 encontros com duração de 4 aulas de cinquenta minutos cada, sendo

que o primeiro encontro destinou-se à organização do grupo que participaria e

apresentação da proposta, bem como do Caderno Temático; 6 encontros foram

dedicados para o desdobramento das atividades com os poemas ou letras das

canções; e o oitavo encontro, o último, ficou destinado para o encerramento e

avaliação da intervenção.

A intervenção exigiu que, previamente, se produzisse um Caderno Temático.

Tal ferramenta pedagógica contemplou 6 atividades, sendo elas:

• Atividade 1 – Leitura e interpretação da letra da canção “Pra não dizer que

não falei das flores”, de Geraldo Vandré.

• Atividade 2 – Leitura e interpretação da letra da canção “Cidadão”, de Zé

Ramalho.

• Atividade 3 – Leitura e interpretação do poema “O Operário em Construção”, de

Vinicius de Moraes.

• Atividade 4 – Leitura e interpretação da letra da canção “Alegria, Alegria” de

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Caetano Veloso.

• Atividade 5 – Leitura e interpretação da letra do poema “Dois e dois:

quatro” de Ferreira Gullar.

• Atividade 6 – Leitura e interpretação da letra da canção “Procissão”, de

Gilberto Gil, relacionada com o poema “Romaria”, de Carlos Drummond de

Andrade.

Cada atividade compreendeu 6 momentos ou passos fundamentais para o

desenvolvimento do trabalho. São eles:

• 1º Momento: Levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos a res-

peito do título da canção ou do poema. • 2º Momento: Leitura do texto escrito na íntegra.

• 3º Momento: Atividades de interpretação e compreensão do texto.

• 4º Momento: Conhecendo o poeta, o compositor ou o cantor.

• 5º Momento – Vídeo ou alguma imagem relacionada com a temática da

canção ou do poema.

• 6º Momento: Produção textual.

As atividades propostas objetivaram levar os alunos a perceberem a

historicidade da obra de arte, aqui no caso, a letra da canção ou o poema.

O 1º momento da aula iniciava-se colocando o título da música ou do poema no

quadro negro, e seguia-se para o levantamento dos conhecimentos prévios que os alunos tinham

sobre o assunto em questão. Nele ia-se também fazendo com que os alunos fossem

falando, expondo o que sabiam ou não sabiam ou tinham dúvidas, como por

exemplo: O que sugere a frase Pra não dizer que não falei das flores?; O que é ser

cidadão? ; O que você entende por sociedade? O que significa operar? O que é ser

operário? O que é construir? O que lembra Alegria, Alegria? Lembra felicidade?

Lembra sorrisos? Que mais te lembra alegria? O que te faz sentir alegria? O que nos

vem à memória com o título: “Dois e dois: quatro”; O que vem a ser uma

“Procissão”? Alguém já participou de uma procissão? Onde é comum essa prática?

Iniciar pelo título permitiu instigá-los a se posicionarem sobre os gêneros

musicais da atualidade e, de certa forma, relacionar e fazer comparação entre as

temáticas das músicas que se ouve hoje com as do passado.

De acordo com Solé (1998) para que uma pessoa possa se envolver em uma

atividade de leitura é necessário que sinta que é capaz de ler, de compreender o

texto que tem em mãos, tanto de forma autônoma quanto contando com a ajuda de

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outros mais experientes que atuam com suporte e recurso.

É momento que os alunos vão ganhando segurança, confiança e se arriscam

a dizer alguma coisa, se sentem capazes de fazer previsões e inferem significados

por dedução ou por conhecimento do assunto.

Segundo Solé (1998), para formar leitores autônomos, capazes de enfrentar

de forma inteligente textos de índole muito diversa, na maioria das vezes diferentes

dos utilizados durante a instrução, o professor precisa se utilizar de estratégias

cognitivas que possibilitem ao alunado esse adentrar no texto de forma mais familiar,

com domínio, com conhecimento do assunto a ser tratado. As falas dos alunos

confirmam o exposto pela referida autora.

“Acho que o poema vai falar de flores, se elas são bonitas ou não”. (aluno I) “Ser cidadão pra mim é saber cobrar os seus direitos; não deixar que os outros te roubem”. (aluno M) “Pra mim sociedade é quando a gente vive num lugar que tem mais gente; pode ser também a união das pessoas que vivem e lutam por alguma coisa”. (aluno A) “ Ser operário é trabalhar numa fábrica ou numa indústria”. (aluno C) “Construir é quando nós fazemos alguma coisa, pode ser uma casa, sei lá, tem tantas coisas que pode ser construído”. (aluno D) “A palavra lembra Alegria significa que estamos felizes contente com alguma coisa”. (aluno B) “Ah! Felicidade é quando estamos contente porque tudo está dando certo, daí a gente fica feliz”. (alunos F) “Eu fico feliz quando tenho dinheiro, por exemplo; quando não estou doente...”. (aluno A) “Dois e dois: quatro é uma conta de mais”. (aluno D) “Procissão tem na igreja católica, quando é dia de um santo importante,o padre faz procissão e as pessoas vão rezando para dar tudo certo”. (aluno F)

A fala dos alunos revelou que os alunos desconheciam as músicas que

seriam trabalhadas na intervenção. Essa precariedade de conhecimento das

músicas que fizeram parte da história brasileira nos incitou ainda mais a continuar

indagando e levando-os a pensar mais sobre a importância deles conhecerem e

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participarem de atos de cidadania.

Vasconcellos (1999) afirma que para construir um conhecimento novo, o

sujeito precisa recorrer a representações mentais prévias relativas ao objeto, bem

como ter capacidade de operar com essas representações e transformá-las, criá-las.

Para ele o conhecimento novo se constrói no sujeito a partir do seu conhecimento

anterior/prévio/antigo (seja para ampliar ou negar, superando). Começamos a

conhecer “deformando” o objeto adaptando-o aos nossos esquemas mentais

representativos. O conhecimento anterior do aluno não pode ser desprezado, pois o

novo vai ser construído a partir do existente, a não ser que entendamos que o

conhecimento vai ser transmitido e depositado na cabeça do aluno de acordo com

aquilo que falamos.

Paulo Freire (2004), o grande educador brasileiro, enfatiza que o professor

precisa tirar o aluno da situação bancária de educação. Aquela em que os

conteúdos são depositados na sala de aula pelo professor e depois sacados com

juros e correções, através da avaliação. Nesse tipo de educação o aluno recebe os

conhecimentos e os devolve ao professor. Assim, ele estuda por causa do professor

e não para aprender.

O 2º Momento, o trabalho com a leitura, foi considerado por nós muito

importante porque o aluno pode entrar em contato com o texto escrito. Nesse

momento, foi distribuído um exemplar do texto impresso aos alunos e orientados

para que procedessem individualmente à leitura silenciosa.

Esse é o momento chamado por Solé (1998) de Durante a Leitura. Ele ficou

destinado à leitura na íntegra das canções e dos poemas, que, de acordo com Solé,

é um momento que leva o leitor a criar estratégias leitoras que o auxiliam na

construção da interpretação do texto que se está lendo. É, portanto, durante a leitura

que o leitor vai checando se as previsões realizadas anteriormente se confirmam ou

não no texto.

O 3º Momento serviu para darmos início às atividades de interpretação e

compreensão do texto. Nesse momento, demos prosseguimento à aula fazendo novos

questionamentos de interpretação aos alunos sobre o texto em questão. Tais

questões permitiram o aluno fazer uma exegese do texto e assim compreender com

maior clareza a temática apresentada. Nesse momento, foi possível perceber a visão

dos alunos em relação aos temas discutidos nos textos.

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Nesse tipo de trabalho julgamos importante a seleção das obras, o cuidado

em selecionar obras que tenham uma proximidade temática, porque é durante o

processo que o aluno irá se alimentando das discussões, revendo posicionamentos

e até mesmo mudando seu ponto de vista, agora mais sustentado pelo que dizem os

textos, pela cultura das épocas, pelas lutas, pelos fatos históricos pela compreensão

de momentos que marcaram a história do país e que muitas vezes os jovens não

conhecem porque os meios de comunicação não têm interesse em mostrar esse tipo

de cultura. Isso pode ser revelado na fala dos alunos:

“Antigamente os compositores se preocupavam com o que estava acontecendo no país, hoje são poucos os que falam coisas importantes. As letras de hoje só incitam o sexo”. (aluno A).

“Hoje os carinhas não estão muito preocupados com as coisas do país. Os jovens hoje são menos comprometidos com a política. A música para fazer sucesso precisa falar de sexo, malandragem e coisas desse tipo, daí todo mundo gosta”. (aluno B). “Nossa, hoje as letras das músicas são bem diferentes, não falam assim, só falam besteiras”. (aluno C). “Às vezes as letras não são interessantes, mas o ritmo e bom, chama a atenção das pessoas, geralmente os cantores fazem uma coreografia que mexe com a sensuali-dade, às vezes é bem pornográfica, daí o povo vai ao delírio, principalmente as me-ninas”. (aluno D).

Os alunos começaram a perceber a diferença entre as letras da atualidade

com a do passado. Alguns até se arriscaram dizer que elas eram maravilhosas, tra-

zem mensagens lindas, diferentes das atuais que só falam besteiras e não dizem

nada. “As letras são escritas sobre assuntos que falam de sexo, ou coisa parecida. Daí colocam um ritmo que permite as dançarinas fazer um rebolado de forma sensual que excita os homens, é uma loucura. As vezes as letras não dizem nada, só ensi-nam os jovens a mostrar o corpo”. (aluno E) “Eu não conhecia o significado dessas letras. Achava muito chato, sem graça. Agora que to vendo que elas falam de coisas interessantes para o país”. (aluno F) “Eu já tinha ouvido essa música, mas não gostei, achei sem graça, só agora percebo o quanto ela é interessante, porque fala de uma época muito diferente da nossa ho-je. Hoje os jovens não estão nem aí com essas coisas. Veja a Anita está fazendo o maior sucesso com uma música que não diz nada, mas a todo mundo canta e deli-ram com o quebra dela, ela tem um rebolado que deixa os homens bem loucos”. (a-luno G)

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“Ninguém quer saber de coisa séria, querem só bagunça. A gente só se preocupa com o ritmo, nem pensa na letra”. (aluno H)

Esse desconhecimento ou estranhamento, das contribuições dos composito-

res e poetas escolhidos para este trabalho, é resultado de uma mentalidade voltada

para o consumismo, empobrecimento da cultura do país.

O 4º Momento foi muito enriquecedor, pois foi o momento em que os alunos

puderam conhecer os compositores e cantores de uma época de luta em que os au-

tores, compositores e cantores não faziam esse trabalho visando apenas o lucro,

ganhar dinheiro, criavam para contribuir de forma cidadã ao país do qual se orgulha-

vam, como foi Geraldo Vandré, que fazia parte do grupo que usava a música como

instrumento de crítica política e social, intitulado “Canção de Protesto”. Havia na mú-

sica popular brasileira tendências da resistência à ditadura.

“Hoje é muito difícil de ver os jovens se unindo e indo para a luta como esses carinhas aí”. (aluno M) “Tem ainda alguns cantores que fazem rap que criticam os políticos isso é bem legal”.

“Você conhece o Naldinho, professora? Ela faz rap usando palavras com duplo sentido, provocantes, besteirentas, maliciosas, falam de sexo, as pessoas dizem que é vulgar, mas eu não acho, por exemplo, “O mano foi embora ele sumiu, mandou sua família prá puta que pariu”. Ele se expressa assim, usa gírias e palavras desse tipo. Essa é a cultura do povo de hoje, todo mundo fala besteira. Tem esse parte que diz assim: “A mina me tirando, olhou feio sorriu, Manda essa vaca prá puta que pariu”. (aluno H) “Tem músicas que dá pra percebe que tem muita malandragem dos políticos, das pessoas. Como no rap Fala Sério, de Gabriel “O Pensador”, dá pra vê que ele tá falando dos políticos brasileiros envolvidos na corrupção. São músicas que mostram que o cantor está criticando os políticos, chamando eles de ladrão”. (aluno J)

Esse momento foi muito gratificante, pois os alunos começaram a perceber

que os compositores e cantores por meio de suas canções atacam os políticos brasi-

leiros envolvidos no escândalo como, por exemplo, o escândalo do mensalão, que

ocorreu em 2005, durante o primeiro mandato do governo do presidente Lula. A pa-

lavra “mensalão” passou a ser utilizada para se referir a este escândalo, pois eram

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“comprados” votos de parlamentares. Gabriel, “O Pensador”, vem de uma família de

classe média alta, mas sempre se preocupou com a realidade da população brasilei-

ra, especialmente as menos favorecidas. Suas canções exprimem o descontenta-

mento do rapper com a política e a sociedade no Brasil. As discussões começaram a

ficar mais interessantes porque os alunos perderam o medo de se posicionarem,

discutiram dizendo que as letras da atualidade também fazem crítica duramente al-

guns segmentos da sociedade. Mencionaram que os rappers também fazem, um

meio de protesto. Comentaram que o uso de vocábulos licenciosos, chulos, grotes-

cos, irreverentes, presentes na composição de Naldinho, tem o objetivo de chocar,

de escandalizar, chamar a atenção dos ouvintes para um protesto que, muitas ve-

zes, nem tem razão de ser.

O 5º Momento mostramos sempre alguma coisa a mais para enriquecer as

discussões, os vídeo sobre as canções foram excelentes aliados e chamaram bas-

tante a atenção dos alunos.

Tendo como princípio de que “ouvir é também uma forma de ler”, solicitamos

que os alunos assistissem e prestassem à atenção ao vídeo, que mostrava a ousa-

dia e a sensibilidade dos cantores e autores, ao escreverem e cantarem canções

que marcariam profundamente um período histórico do nosso país. Esses vídeos

estão disponíveis no youtube. Tal momento histórico é muito rico em letras de can-

ções como “Pra não dizer que não falei das flores”, de Vandré, que traz imagens so-

bre a ditadura militar, fato esse que os alunos sabiam muito pouco.

“Porque essa ditadura militar, professora?” “Eu não sei nada sobre a ditadura militar”. “O professor de história falou sobre a ditadura, mas eu não me lembro de quase nada, só sei que o governo impedia as pessoas de saírem as ruas depois das 10 horas”. “E esses jovens conseguiram o que eles queriam?”

É interessante notar que poucos alunos conheciam como era o comportamen-

to e a participação da juventude nas décadas de 1960 e 1970. A liberdade de ex-

pressão não é um assunto que faça parte das discussões entre a maioria dos jo-

vens.

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O 6º Momento ficou destinado à Produção Textual. Neste momento os alunos

foram convidados a escrever um texto dissertativo argumentativo em norma padrão

sobre os temas apresentando propostas de intervenção que respeitasse os direitos

humanos. Pedia-se que selecionassem, organizassem e relacionasse, de forma coe-

rente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

O resultado foi positivo, como podemos perceber nos fragmentos retirados

dos textos produzidos pelos alunos, no término da intervenção:

“À princípio o projeto trouxe algumas músicas e poemas que ajudaram-nos a abrir os olhos para a política, enfim para abrirmos os olhos a tudo que nos rodeia e não aceitarmos ser manipulados por outras pessoas que estão no poder e tem más intenções”. (aluno A) “O jovem tem o poder em suas mãos, pois com o voto podem exigir melhorias para o nosso país, a juventude está com a mente mais aberta para o futuro, pois não estamos mais no tempo da ditadura, temos a liberdade de expressão, hoje com a tecnologia todos podemos nos manifestar e adquirir conhecimentos”. (aluno D) “A valorização e os direitos dos trabalhadores por meio da conscientização dos direitos e deveres”. (aluno G) “Muitos não conseguem emprego devido à falta de estudos e de experiência”. (A) “Viver em liberdade é a pessoa fazer o que quer sem ser mandado por ninguém e ser uma pessoa livre com felicidade amor e paz”. (aluno O) “A liberdade é a coisa mais importante da vida e do ser humano”. (aluno E) “Viver em liberdade é ser consciente e respeitando as leis”. (aluno N) “Ter liberdade é fazer as coisas dentro das normas da sociedade e pensar nas consequências que suas atitudes podem trazer. (aluno L)

Ao findar a intervenção, percebemos que os alunos apresentavam uma

mudança no modo de ver o mundo. Pelas falas aqui apresentadas, demonstram que

compreenderam que os jovens têm liberdade para se expressar, lutar pelos seus

direitos, opinar, criticar o que acontece na sociedade.

A cada geração que passa aumenta a força de vontade das pessoas em lutar

pelo seu país, pela democracia, pelo respeito e pela dignidade, contra qualquer ato

de violência e de repressão. Vemos hoje jovens acomodados, porém não menos

preocupados se comparados aos do passado.

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4 Considerações finais

O projeto levou os alunos a valorizarem um pouco mais as músicas que retra-

tam a cultura brasileira, também ajudou-os a resgatar o gosto pela leitura, hábito que

praticamente os jovens não têm, visto que nos dias de hoje é difícil se ter gosto por

livro com tantas distrações que a TV, o computador, entre outras tecnologias ofere-

cem.

De acordo com os alunos que participaram da intervenção, o projeto teve uma

abordagem interessante e diferente por juntar música e literatura, isso tão inovador e

tão eficaz, pois tornou o aprendizado mais fácil e bem mais divertido. Com essa es-

tratégia de ensino também se conseguiu abranger vários assuntos como, por exem-

plo, a política.

O projeto pode ser considerado importante e necessário por contribuir para o

desenvolvimento da criticidade e o desenvolver da capacidade de reflexão no aluna-

do.

A conclusão é que o projeto funcionou e deve, sim, ser levado adiante e ser

expandido, pois com certeza fará grande diferença nos resultados da educação es-

colar dos jovens estudantes.

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