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www.neomondo.org.br NEOMON DO UM OLHAR CONSCIENTE Ano 6 - Nº 49 - Julho/Agosto 2012 Viva a diversidade! RIO+20, Exemplar de ASSINANTE Venda Proibida R$8,00 Especial Síntese Completa Festival de Cannes Grandes ideias Carbo Expo – Mercado de carbono: Rumo à fragmentação 28 26 32 06

Neomondo 49

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NeoMoNdoum olhar conscienteAno 6 - Nº 49 - Julho/Agosto 2012

Viva a diversidade!RIO+20,

Exem

plar

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Proi

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R$8,00

EspecialSíntese Completa

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Festival de Cannes Grandes ideias

Carbo Expo – Mercado de carbono:Rumo à fragmentação

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neo mondo - maio 2008 2

Nosso futuro depende do que fazemos hoje. Por isso, a CAIXA se orgulha de ter sido parceira da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Lá, foram discutidos temas, práticas e ideias para que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade caminhem juntos. Um passo fundamental para um futuro melhor para todo o planeta.

QUANDO AS SÃO , A NATUREZA TAMBÉM A .CAIXA. PARCEIRA DA RIO+20.

www.rio20.gov.br caixa.gov.brSAC CAIXA: 0800 726 0101 (informações, reclamações, sugestões e elogios)

Para pessoas com defi ciência auditiva ou de fala: 0800 726 2492Ouvidoria: 0800 725 7474

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3neo mondo - maio 2008

Nosso futuro depende do que fazemos hoje. Por isso, a CAIXA se orgulha de ter sido parceira da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Lá, foram discutidos temas, práticas e ideias para que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade caminhem juntos. Um passo fundamental para um futuro melhor para todo o planeta.

QUANDO AS SÃO , A NATUREZA TAMBÉM A .CAIXA. PARCEIRA DA RIO+20.

www.rio20.gov.br caixa.gov.brSAC CAIXA: 0800 726 0101 (informações, reclamações, sugestões e elogios)

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EspEcial Rio+20 Objetividade alternativasociedade civil amplia alcance de seus projetos

Diretor Responsável: Oscar Lopes LuizDiretor de Redação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586)Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Marcio Thamos, Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci, Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly Martins, Pedro Henrique Passos e Vinicius ZambranaRedação: Gabriel Arcanjo Nogueira (MTB 16.586), Rosane Araujo (MTB 38.300) e Antônio Marmo (MTB 10.585)Estagiário: Bruno MolineroRevisão: Instituto Neo MondoDiretora de Arte: Renata Ariane RosaProjeto Gráfico: Instituto Neo Mondo

Capa: fotomontagem Renata, com fotos ABr.Tradução: Efex Idiomas – Tel.: 55 11 8346-9437Diretor de Relações Internacionais: Vinicius ZambranaDiretor Jurídico: Dr.Erick Rodrigues Ferreira de Melo e Silva

Correspondência: Instituto Neo MondoRua Antônio Cardoso Franco nº 250, Casa Branca – Santo André – SPCep: 09015-530

Para falar com a Neo Mondo:[email protected]@[email protected]

Para anunciar: [email protected]. (11) 2669-0945 / 8234-4344 / 7987-1331

Presidente do Instituto Neo Mondo:[email protected]

Expediente PublicaçãoA Revista Neo Mondo é uma publicação do Instituto Neo Mondo, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), pelo Ministério da Justiça – processo MJ nº 08071.018087/2007-24.

Tiragem mensal de 70 mil exemplares com distribuição nacional gratuita e assinaturas.

Os artigos e informes publicitários não representam necessariamente a posição da revista e são de total responsabilidade de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.

04 neo mondo - Julho/agosto 2012

cUlTURa

EspEcial Rio+20 Seções

Firulas ambientais; iniciativas pontuais evento decepciona na tomada de decisões oficiais

José Goldemberg caminhamos anestesiados para a rio+20”

Artigo Thiago Garcia e Gabriela Nakano educomunicação

30 Article - Natascha Trenepohl carbon market: towards Fragmentation

Artigo Natascha Trennepohl mercado de carbono: rumo a fragmentação

REpoRTs in English

FLIP – Uma década de debate literário homenagem a carlos Drummond de andrade

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EspEcial Rio+20

Prefeitos fixam compromissosmeta de emissão de gases é estipulada

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EspEcial Rio+20 22Camila T. Bertoldo - Correspondente na Itália crise vista como oportunidadeEspEcial Rio+20

Coisas que eu vihumberto mesquita

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Artigo Rafael Pimentel Lopes lições do maior festival de ideias do planeta

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Bruno Molinero – Correspondente na Espanha) selva de pedra?

mEio ambiEnTE Artigo Ricardo RibeiroDesenvolvimento sustentável promove competitividade

Artigo Márcio Thamos mitologia clássica

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5neo mondo - Julho 2008

w

Um olhar consciente

InstitutoInstituto

NeoMondo

NeoMondo

Tripé capenga

A Rio+20, se serviu para alguma

coisa, foi mostrar que o tripé da

sustentabilidade – ser ambien-

talmente correto, causando o menor

impacto possível ao meio ambiente;

socialmente justo e economicamente

viável - está capenga por falta de metas,

prazos e compromissos assumidos pelas

pessoas que se revestem de autoridade.

Atento observador dessa Conferência

da ONU confidenciou a NEO MONDO

que nem Cristo, do alto do Corcovado,

se sentiu em casa ante a carência de

resultados alcançados e teria preferido

fechar os olhos ante o que se desenrolava

notadamente na Cúpula da Terra, como

também é chamado o evento.

O sentimento de frustração não se dá,

a nosso ver, por falta de aviso, vindo de

gente abalizada, como o professor José

Goldemberg (ver Perfil da edição Maio-

Junho em neomondo.org.br). NEO MONDO

circulou na Rio+20 e teve esgotados todos

os exemplares da edição impressa.

Desde nossas primeiras edições, ao

longo de mais de 4 anos, temos ouvido

especialistas de diversas áreas sobre os

caminhos da desejada sustentabilidade.

Aqui nos reportamos a uma dessas

edições (número 17, Dezembro de 2008),

em que Miriam Duailibi, especialista em

Educação Ambiental e Educação para a

Sustentabilidade, assegurava que cabe

aos brasileiros construir a sua utopia,

lembrando que sustentabilidade é

sobrevivência. E conclamava “a sociedade

civil ... a tomar as rédeas da situação,

pressionando os políticos a fazer a

parte deles, ao criar políticas públicas

ambientalmente responsáveis e fiscalizar

para que a boa legislação ambiental

brasileira seja cumprida”.

Entendemos que a sociedade civil

foi a estrela que brilhou na Rio+20.

Pessoas vindas de ONGs, tribos

indígenas, artistas, mulheres, jovens,

ambientalistas, entre outros grupos, se

instalaram como puderam na Cúpula

dos Povos, expuseram suas ideias

de modo claro, às vezes até mesmo

visceral, organizaram manifestações

e criaram sua carta de propostas.

Não houve dessa vez alguém que

sobressaísse por si só.

Já não se pode dizer o mesmo do lado

oficial. E, se uma das críticas mais

severas ao que se decidiu na Cúpula da

Terra foi a da falta de ousadia, temos

de lembrar que faltou esse atributo

a governantes mundiais (entre esses,

por sinal, há quem até hoje não tenha

aderido nem mesmo ao protocolo de

Kyoto) que não ousaram sequer vir

debater com seus pares as questões

ambientais e se envolver para que

medidas ousadas fossem tomadas para

melhorar a qualidade de vida no

e do planeta.

Por outro lado, uma das desculpas para

se chegar a fixar metas, compromissos

e prazos para tornar a Rio+20 mais

objetiva foi a da crise europeia, como

se a Europa fosse mais importante que

o planeta.

Não podemos concordar nem nos

acomodar com esse estado de coisas. E

fazemos da nossa cobertura da Rio+20

o subsídio para que nos empenhemos

cada vez mais para que o olhar consciente

de nosso slogan se traduza na cobrança

de dias melhores para todos.

Tenha uma ótima leitura.

Oscar Lopes Luiz

Presidente do Instituto Neo [email protected]

Editorial

neo mondo - Julho/agosto 2012 05

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Firulas ambientais;

Conferência da ONU revela-se evento em que a

sociedade civil sobressai, em sua diversidade, mas

pouco se avança na tomada de decisões oficiais

Gabriel Arcanjo Nogueira*

ambientalistas, indígenas, artistas, mulhe-res e outros grupos sociopolíticos, deixou claro, na carta “a rio+20 que nós não Queremos”, seu contraponto ao texto final da conferência, “o Futuro que Queremos”, apreciado pelas delegações de 193 países membros e assinado por 94 chefes de es-tado ou de governo.

também chamada de cúpula da ter-ra, faltou objetividade e sobraram firulas ambientais na tentativa de agradar aos signatários do documento oficial. ao me-nos se percebeu, durante a rio+20, por onde passaram 50 mil visitantes, uma ou outra iniciativa que leva em conta que “a terra geme em dores de parto” (lema da conferência nacional dos Bipos do Bra-

* com informações de agência Brasil, jornais o estado de s. Paulo, Folha de s. Paulo, Diário de s. Paulo e revista Veja. Fotos: agência Brasil

Dessa vez não houve acordos ou protocolos de maior impacto –ainda que retórico. não apareceu

quem se possa apontar como a grande es-trela do evento. a conferência das nações unidas sobre Desenvolvimento sustentá-vel, mais conhecida como rio+20, de 13 a 22 de junho, foi sim marcada por polê-micas, encontros e desencontros sobre o texto final, debates paralelos e manifesta-ções sociais. estas foram da condenação do código Florestal à marcha Global da cúpula dos Povos, passando pelo protesto de mulheres e pela marcha da maconha.

se alguma estrela brilhou, foi a mar-cante presença da sociedade civil. Demo-craticamente representada em grupos de

06 neo mondo - Julho/agosto 2012

especial - Rio+20

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iniciativas pontuais

neo mondo - Julho/agosto 2012 07

sil, numa de suas campanhas da Frater-nidade), como se quisesse recompor-se dos estragos causados pela civilização. ironicamente, a três dias do término da conferência, noticiou-se a morte da últi-ma tartaruga gigante do mundo.

Perdeu-se tempo precioso até os di-plomatas – Brasil à frente – chegarem ao rascunho do documento que foi levado aos mandatários. não nos parece razoá-vel que, após séculos de ações nocivas ao meio ambiente, ainda seja tão complicado saber o que tem de ser feito para melho-rar a qualidade de vida no e do planeta. A Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, reuniu variedade de segmentos...

... a exemplo de indígenas que deram um colorido e significado especiais ao evento

Cúpula da Terra começou tensa, apesar das exortações do secretário-geral da ONU, no discurso inaugural dele, logo após a fala da presidente Dilma

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08 neo mondo - Julho/agosto 2012

Cúpula começa tensaa reunião dos governantes começou no

dia 20, precedida de um esforço da diplo-macia brasileira ao tomar a frente na ela-boração do texto oficial da conferência. o ministro das relações exteriores, antonio Patriota, e equipe viraram a noite e foram madrugada adentro para dar forma final ao documento, que corria o risco de não ficar pronto a tempo em vista de impasses entre os representantes das delegações.

o que não impediu que o secretário-geral da onu, Ban Ki-moon, classificasse o conteúdo do documento oficial de pouco ambicioso. aí estaríamos diante do impas-se intransponível.

Ban não estava sozinho nessa crítica, mesmo relevando que “é preciso entender que as negociações foram difíceis e lentas devido a ideias conflitantes”. Para o secre-tário, a conferência não seria o fim, mas o início de compromissos entre países.

Diplomatas e ativistas de onGs tam-bém criticaram o Brasil por liderar a ne-gociação de um texto fraco demais, ao procurar conciliar posições e acelerar o processo, que levou à retirada ou redução de pontos de conflito que eram tidos como essenciais para que a conferência resul-tasse mais forte.

entre os pontos criticados dois deles foram destacados pelo presidente francês, François hollande: a não transformação do Programa das nações unidas para o meio ambiente (Pnuma) em agência autônoma e a ausência de novos mecanismos de finan-ciamento. um terceiro ponto foi a derruba-da, por pressão do Vaticano e de países em desenvolvimento, do parágrafo que falava dos direitos reprodutivos femininos.

estávamos então apenas no primeiro dia da conferência de cúpula. na abertura dos tra-balhos, a presidente Dilma rousseff ressaltou que “o texto aprovado consagra avanços im-portantes”, entre eles a inclusão dos conceitos de erradicação da pobreza e da igualdade racial. o embaixador luiz alberto Figueiredo, se-cretário-executivo da comissão nacional para a rio+20, foi incisivo ao rebater as críticas. “não se pode exigir ambição de ação se não existe ambição de financiamento. Quem exi-ge ambição de ação e não põe dinheiro sobre a mesa está sendo pelo menos incoerente”, disse referindo-se à omissão de países ricos.

De nada adiantou, por exemplo, o secre-tário-geral da onu, que discursou em segui-da à fala da presidente Dilma, ter exortado os líderes mundiais para “a hora de nos elevar-mos sobre interesses nacionais estreitos, de olharmos além dos interesses estabelecidos

desse ou daquele grupo. É hora de agirmos com uma visão mais ampla e de longo prazo”.

ou mesmo ter ele próprio esclarecido que “nomeei o desenvolvimento sustentá-vel minha prioridade número 1. Fizemos progressos significativos. agora é o mo-mento de um grande passo final”.

esse passo final, para o sul-coreano, sig-nificaria “compromisso e ação. agora é a hora para a ação. não vamos pedir a nossos filhos e netos que realizem uma rio+40 ou rio+60”.

Países desenvolvidos, porém, não concordaram, entre outros aspectos, em pagar sozinhos a conta da conversão para uma economia verde. eles entendem que Brasil, china e Índia, ao insistir no âmbito do G-77 para que os países ricos assumam esse compromisso, se esquecem de que eles mesmos já alcançaram certo grau de posteridade que lhes permitiria contribuir financeiramente também.

É fácil concluir que a cúpula da terra começou tensa.

Brasil pressiona, e ONU recuano discurso inaugural da rio+20 a

presidente Dilma havia comemorado o consenso obtido ao documento final (mes-mo porque se não houvesse consenso entre os representantes dos 193 países, a conferência não se viabilizaria), ressaltan-do que “o custo da inação será maior que outras medidas necessárias, por mais que essas provoquem resistências e se reve-lem politicamente trabalhosas”, sugerindo que “resultados novos exigem novas práti-cas” e que, por isso, “não basta manter as conquistas do passado”; e lamentando que “a promessa de financiamento do mundo desenvolvido para o mundo em desenvol-

especial - Rio+20

Ban Ki-moon e Dilma: cumprimentos protocolares, mas discordância nas avaliações do documento final

Embaixador Figueiredo não perdoou a incoerência de quem pede avanços, mas não põe dinheiro na mesa

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vimento com vistas à adaptação e mitiga-ção ainda não se materializou”.

De seu discurso à prática o governo brasileiro manifestou irritação de maneira “pouco suave” , segundo apurou o estadão junto a fontes diplomáticas, pelas críticas do secretário-geral da onu ao documento final. o que fez Ban recuar, no segundo dia da conferência de cúpula, ao convocar a im-prensa do País para uma entrevista coletiva.

o sul-coreano reconheceu, dessa vez posi-tivamente, como num passe de mágica, não só o desempenho da presidente e da diplomacia brasileira, mas também o texto da conferência. “seria justo que a população brasileira soubes-se o quão importante foi a contribuição que o Brasil teve para o sucesso da rio+20”, afrmou. não sem agradecer “a liderança visionária da presidente Dilma rousseff e sua equipe”.

mais que isso, elogiou o texto da confe-rência, classificando-o como “documento fi-nal que contém pacotes amplos, ambiciosos e práticos para o desenvolvimento susten-tável, garantindo os três pilares dos nossos objetivos: equidade social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental”.

recuo em que não foi, porém, seguido pelas onGs e outros segmentos. a timi-dez do documento final é visão quase unâ-nime, variando apenas o grau da crítica, como se verá nas duas matérias a seguir.

o clima de desconforto era evidente dos dois lados. na onu, prevaleceu a visão de que a diplomacia brasileira conseguira um grande feito ao fechar em três dias um do-cumento que consumira meses de debates entre países em que as discordâncias foram a tônica. Já no itamaraty, em que pese ter visto reconhecido seu trabalho, a percepção era de que seria impossível ter resolvido um

número tão grande de questões sem reduzir a substância e a ambição do texto.

situação que talvez pudesse ter sido evitada se a rio+20 fosse realizada em pe-ríodo de economia internacional em alta (2007), conforme havia sugerido o então presidente lula, e não em meio à pior crise econômica desde a década de 1930.

além do que, acredita-se, a maneira como o Brasil conduziu a costura do docu-mento não teria sido a mais adequada. entre os países da união europeia (ue), os mais in-satisfeitos com o documento final foram tam-bém os mais críticos à atuação da diplomacia brasileira, por ter acelerado a negociação.

“estávamos prontos para nos engajar em negociações também em nível minis-terial”, disse Janez Potocnik, comissário europeu para o meio ambiente e principal negociador da ue na rio+20. um outro negociador europeu, que preferiu o anoni-mato, foi mais direto: “isso era para ser um documento da onu, e não do Brasil”.

o presidente da comissão europeia, órgão executivo da ue, José manuel Durão Barroso, negou, porém, que a crise econômica na europa seja a responsável pelo enfraqueci-mento do documento final, ao lembrar:

“a europa sempre defendeu uma ambi-ção maior... portanto, é preciso pensar não só no caminho até o rio, mas agora a par-tir do rio”. Para o português, que defen-de “mais ambição no futuro”, isso significa “uma urgência ainda maior, com ação deci-dida, para a economia verde e o desenvolvi-mento sustentável na luta contra a pobreza”.

Barroso lamentou pelo conceito de eco-nomia verde não ter saído mais fortalecido da rio+20, bem como pela não transforma-ção do Pnuma em agência especializada.

AMBiENTAlMENTE COrrETOs?

Menos mal que houve quem aproveitasse a Rio+20 para anunciar iniciativas que bem poderiam ser seguidas pelos demais participantes.

A toda-poderosa Fifa, espécie de ONU do futebol, enviou à Conferência seu diretor de Responsabilidade Social, Fede-rico Addiechi, com uma série de planos sustentáveis para a Copa de 2014. Serão US$ 40 milhões destinados à sustenta-bilidade, no intuito da organização de compensar as emissões de CO2 durante o Mundial no Brasil. Além disso, 10 dos 12 estádios-sede dos jogos são construí-dos, de acordo com a entidade máxima do futebol, dentro dos padrões interna-cionais de sustentabilidade. O de Brasília, por exemplo, terá a maior estrutura de captação de energia solar do país (serão 9 mil painéis solares), e em Belo Horizon-te o Mineirão deve captar e armazenar 6 milhões de litros de águas pluviais.

O presidente francês, François Hollande, raridade na Rio+20 entre chefes de gover-no do primeiro time, defendeu a criação de um imposto sobre transações finan-ceiras para financiar o desenvolvimento sustentável e o combate à pobreza, bem como a transformação do Pnuma em agência especial da ONU. “Precisamos lutar pelo acesso à água e à energia”, destacou Hollande, que espera ver esse imposto concretizado já em 2013.

O ator Edward Norton, por sua vez, sur-preendeu ao revelar o seu lado ambien-talmente correto de embaixador da ONU para assuntos de biodiversidade. Ele par-ticipou de painéis sobre economia verde e seus benefícios para a fauna e a flora. Com base em sua experiência no Quênia em projeto conservacionista, bem como em ONG voltada à construção de casas ecológicas nos EUA, Norton defende que cientistas se aproximem mais das pessoas comuns e que se invista na responsabilida-de comunitária. “Não existe conservação sem participação nem responsabilidade das pessoas”, ponderou.

Já a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em sua meteórica passagem pela Conferência, revelou que seu país participa de um programa de energia limpa para a África com uma contribuição inicial de US$ 20 mlihões. Hillary disse que conta na empreitada com instituições financeiras de porte, que permitirão sanar as dificuldades do continente, no qual apenas 1 em cada 4 domicílios dispõe de energia e 600 milhões estão excluídos desse benefício.

neo mondo - Julho/agosto 2012 09

Barroso, da Comissão Europeia, negou que a crise no continente tenha sido empecilho para que o documento final fosse ambicioso

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ONGs não se limitam a promover debates e protestos ou a participar da carta

assinada por personalidades, mas também ampliam o alcance de seus projetos

Gabriel Arcanjo Nogueira*

em 21 de junho estava pronta a carta “a rio+20 que não Queremos”, entregue ao secretário-geral da onu, Ban Ki-moon, no dia seguinte, o do encerramento da conferência. um dia antes, a avenida rio Branco, no centro da cidade maravilhosa, havia sido ocupada pela maior das mani-festações realizadas: a marcha Global.

estimada pela polícia de 15 mil a 20 mil pessoas e pelos organizadores em 50

* com informações da agência Brasil, jornais Folha de s. Paulo e o estado de s. Paulo.

10 neo mondo - Julho/agosto 2012

especial - Rio+20

mil, a multidão composta por ecologistas, quilombolas, sem-teto, sem-terra, feminis-tas, homossexuais, professores em greve, hare-krishnas, evangélicos, entre outros, era um viva à diversidade e um não à “eco-nomia verde” e “em defesa dos bens co-muns e dos direitos dos povos”.

o código Florestal, como aprovado re-centemente e com veto apenas parcial da presidente Dilma, foi um do alvos dos pro-

Houve de tudo um pouco na rio+20 – e até muito, na forma de protestos –, por iniciativa da cú-

pula dos Povos em momentos paralelos ao evento oficial, no riocentro. e houve tam-bém onGs que aproveitaram a oportuni-dade, rara pela afluência de tanta gente in-teressada em sustentabilidade, para fechar negócios, falar de seus projetos e mesmo promover a expansão nacional deles.

aBr

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neo mondo - Julho/agosto 2012 11

testos, e performances nudistas serviram de alternativa à “gritaria das passeatas”, segundo um dos integrantes do grupo.

o alarido típico em cenários dessa natureza não impediu que onGs praticas-sem a objetividade alternativa, que faltou na dose certa aos trâmites oficiais da con-ferência. neo monDo traz com exclusi-vidade um desses momentos (ler “Projeto oásis...”), notável por nos permitir ver que é possível fazer a agenda ambiental avan-çar naquele tipo de trabalho que podemos classificar como o “das formiguinhas”.

segundo o secretário-geral da onu para a rio+20, sha Zukang, foram firma-dos cerca de 700 compromissos voluntá-rios entre onGs, empresas, governos e universidades num montante de investi-mentos de us$ 513 bilhões nos próximos 10 anos. Projetos de restauração de áreas,

consultorias, captação de recursos e apoio financeiro estão entre as especialidades contempladas em parcerias firmadas.

Críticas sem recuoas onGs não economizaram em crí-

ticas ao documento final da conferência e, ao contrário do dirigente da onu, não recuaram um milímetro em sua avaliação. seus representantes classificaram o texto de “aguado”, sem apresentar metas claras, bem como formas de financiamento de ações, e ter ficado aquém do texto elabora-do na eco 92, conferência que vinculou o desenvolvimento ao meio ambiente. eles acompanharam as discussões do texto fi-nal por meio do major Group onGs e por especialistas da área ambiental.

em sua apresentação na noite de 19 de junho, no aterro do Flamengo, durante

a cúpula dos Povos, ao lado de represen-tantes de organizações como Greenpeace, WWF e oxfam, o coordenador do Vitae civilis, aron Belinky, disse que para conse-guir o consenso uma série de questões polê-micas foi varrida “para debaixo do tapete”, sem resolvê-las. “achamos que essa é uma estratégia arriscada, que coloca o resultado à frente do que deveria ser encarado.”

Para Belinky, o melhor era ter deixado claro que certos pontos não tinham o apoio dos negociadores. “se não tem consenso, que fique claro que não tem consenso. Que não se faça um documento aguado, que todo mundo concorda porque não faz diferença nenhu-ma”, criticou o diretor, sem pontuar os itens que poderiam ter obtido maior avanço.

o professor da universidade de são Paulo (usP), Wagner costa ribeiro, que teve acesso à versão do texto final e participou da

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avaliação apresentada pelo Fórum Brasileiro de onGs e movimentos sociais para o meio ambiente e o Desenvolvimento (Fboms) na cúpula, disse que a consolidação do docu-mento, acordado por 193 delegações, foi for-çada e reflete a insatisfação de várias partes.

“É uma festa onde todo mundo sai descontente”, comentou ribeiro. elabo-rar o consenso a partir da insatisfação não me parece algo importante. o que vi realmente não é estimulante porque não cria metas ou vínculos ou quem vai pagar a conta”, acrescentou.

ao comparar o documento da eco 92 com o texto da rio+20, o professor culpou o cenário internacional, de crise financei-ra, pela falta de grandes avanços. ele tam-bém citou a reunião do G20 (que se reali-zou no méxico, paralelamente à rio+20), as eleições na Grécia e até a eurocopa (campeonato de seleções europeias de fu-tebol). “não diria que foi pior, mas que não

teve o mesmo nível de ousadia”, avaliou.os especialistas também criticaram a

onu pela pequena abertura à participação da sociedade na conferência. “É um espaço limi-tado, de dois ou três minutos de fala, nos ma-jor Groups. ou seja, pequenas intervenções em meio a uma burocracia que não permite o avanço de uma proposta democrática”, desta-cou o representante do Vitae civilis.

“Colapso de governança”as onGs e outros segmentos sociais

não se ativeram, porém, à simples crítica. elaboraram a carta “a rio+20 que não Queremos”, assinada por personalidades e entregue ao secretário-geral da onu no encerramento da conferência.

severn suzuki foi uma das que soma-ram suas críticas às já mencionadas, para não deixar dúvidas de que a menina que impressionou o mundo em 1992, agora mãe aos 32 anos, mantém a coerência.

ao se referir ao texto final da cúpula, ba-teu forte, quando falou no riocentro:

“essa declaração, a menos que tenhamos nela uma reintegração da democracia, será prova de um colpaso na governança mun-dial”, discursou na apresentação da carta.

ex-chefes de estado também pressio-naram – em vão – para que os atuais líde-res mundiais fizessem alguma mudança, para melhor, no texto oficial. entres os ex-governantes, Fernando henrique cardoso, Gro Brundtland, da noruega, e mary ro-binson, da irlanda, integrantes do grupo ‘the elders”.

Para robinson, há “uma falha de lide-rança”. Brundtland alertou que “... limiares ambientais são rompidos, trazendo o ris-co de danos irreversíveis tanto a ecossis-temas quanto a comunidades humanas”. e Fhc se queixou do peso menor dado à proteção ambiental em relação a inclusão social e crescimento.

especial - Rio+20

Projeto Oásis tem alcance nacional e chega ao Vale do Paraíbaa Fundação Grupo Boticário de Prote-

ção à natureza lançou no dia 19 de junho a expansão nacional do Projeto oásis, ini-ciativa de pagamento por serviços ambien-tais (Psa) que a partir daí é configurável a qualquer município do Brasil. tudo muito bem planejado, a começar do evento para-lelo promovido pela Fundação com o tema “arranjos institucionais para projetos de Pagamento por serviços ambientais na américa latina e no Brasil”.

De resultados já comprovados desde 2006, ao premiar financeiramente proprie-tários particulares de terra que conservam

suas áreas naturais e de mananciais, e que adotam práticas conservacionistas de uso do solo, a Fundação Grupo Boticário de-senvolveu em 2011 um novo modelo de Psa, lançado agora na rio+20.

“nosso objetivo é que o Projeto oásis ganhe escala nacional e, por isso, foi cria-do esse novo modelo que tem como dife-rencial a possibilidade de ser configurável a qualquer município do Brasil”, explica a diretora-executiva da Fundação Grupo Bo-ticário, malu nunes.

menos de um mês após a rio+20, ocorreu a primeira replicação da expansão

nacional do Projeto oásis com a assinatura do termo de cooperação com a Prefeitura de são José dos campos (sP) para apoio à sua implementação nesse município do Vale do Paraíba.

o oásis está implantado em são Pau-lo (sP), apucarana (Pr), são Bento do sul (sc) e Brumadinho (mG), totalizando mais de 200 proprietários contratados e 2 mil hectares de áreas naturais protegidas.

em são José dos campos estão pre-vistas ações em preservação e conserva-ção de serviços ecossistêmicos, como pro-dução de água, proteção e manutenção

12 neo mondo - Julho/agosto 2012

FHC, com Mary Robinson, da Irlanda, e Gro Brundtland, da Noruega: críticas à falha de liderança e danos irreversíveis

Severn Suzuki mantém a coerência e a veemência, passados 20 anos

Divulgação/cno (comitê nacional de organização)

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da biodiversidade, estabilidade do solo contra erosões, purificação do ar, confor-to térmico da área urbana, beleza cênica, controle de enchentes, controle natural de pragas e produção de alimentos.

De acordo com o secretário municipal de meio ambiente, andré miragaia, a im-plementação do Projeto oásis na cidade é muito importante. “estamos muito hon-rados e confiantes com a celebração desta parceria. É uma soma de forças. a experti-se de instituições como a Fundação Grupo Boticário, que tem casos de sucesso na im-plantação do Psa em diversas regiões do país, será fundamental para nos ajudar a estruturar e gerir o programa em são José dos campos, beneficiando o proprietário rural que preservar os serviços ecossistê-micos, e como consequência, toda a socie-dade”, ressalta.

a implantação do programa de Psa em são José dos campos depende de um arranjo institucional que envolverá outros parceiros. eles poderão oferecer recursos técnicos e operacionais para via-bilizar a recuperação de áreas, a exemplo da Fundação Grupo Boticário por meio do Projeto oásis. além disso, há o objetivo de formar um fundo, no qual empresas, poder público e outras instituições pos-sam destinar recursos financeiros que serão utilizados para remunerar proprie-tários rurais pelos serviços ambientais promovidos por suas propriedades.

segundo Paulo Valadares, secretário-executivo da associação corredor ecoló-gico, que também é parceira do programa de Psa em são José dos campos, a im-plantação do pagamento por serviços am-bientais vem agregar valor para um bem natural que até então é ignorado pela so-ciedade. “a criação de um fundo auditá-

vel e com diretrizes bem constituídas é um ponto fundamental para levarmos o projeto para empresas parceiras, garan-tindo transparência e legitimidade nesse processo”, afirma.

ao estimular a conservação de áreas de vegetação nativa e sua biodiversida-de, a produção de água, a adoção de boas práticas de conservação e uso do solo, bem como o incremento de renda aos proprietários de terra envolvidos, em diferentes regiões do país, “a Fundação Grupo Boticário espera contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos habi-tantes das regiões beneficiadas por meio de uma alternativa de conservação que coloca o próprio produtor rural à frente do processo”, destaca sua diretora-exe-cutiva, malu nunes.

Nova metodologiao coordenador de estratégias de con-

servação da Fundação, andré Ferretti, explica que todo projeto de Psa, para po-der ser colocado em prática, tem que ter minimamente um arranjo institucional (conjunto de instituições que atuem dire-tamente na gestão do projeto) e as fontes de financiamento. contudo, ao longo dos anos em que desenvolveu o Projeto oásis e participou de discussões sobre Psa, a Fundação Grupo Boticário percebeu que também havia outros dois gargalos que inviabilizavam a implantação efetiva des-sas iniciativas: um deles era a definição do valor dos serviços ambientais e quan-to seria pago aos participantes do proje-to; outra dificuldade era a gestão em si do projeto (como definir áreas prioritárias e critérios de seleção de propriedades, mo-delo de contrato, monitoramento dos re-sultados, entre outros).

Ferretti: “proprietários incentivados a práticas conservacionistas”

Malu: “projeto configurável a qualquer município”

Em São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), a beleza cênica está entre os componentes das ações de preservação e conservação do Projeto Oásis

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CONCEiTOs dA CúpUlA dA TErrA

• EconomiaVerde - no contexto de desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza, definida apenas como ferramenta possível, sem fixar regras

• Oceanos - fica para 2014 a discussão sobre o desenvolvimento de um plano de resgate das águas em alto-mar

• pobreza - considerada o maior desafio do mundo, mas sem definição de novas formas de financiamento para erradicá-la

• Biodiversidade - colocada nas áreas temáticas, apenas reafirmando compromissos de conferências anteriores e no âmbito da Convenção da Biodiversidade Biológica

“ciente dessas dificuldades existen-tes no Brasil e em função da crescente demanda pelo Projeto oásis, a Fundação Grupo Boticário identificou a oportunida-de de criar um novo modelo do Projeto oásis que contribuísse para suprir essas necessidades”, afirma Ferretti. Por isso, em 2011, a instituição desenvolveu um modelo inédito de cálculo de pagamento por serviços ambientais (Psa) e que foi lançado em junho.

a nova metodologia contempla uma fórmula de cálculo padrão para a valo-ração ambiental das propriedades. “a valoração é o processo em que se esta-belece o preço dos serviços ambientais prestados. a metodologia do Projeto oá-sis não tem como objetivo, puramente, a valoração do serviço ambiental, mas sim incentivar os proprietários rurais a modificarem a maneira de uso da terra quando essas não estiverem em conso-nância com as práticas conservacionis-tas”, destaca Ferretti.

a fórmula-padrão do novo cálculo considera o tamanho da área a ser contra-tada (que inclui a área natural e a área em restauração) e o custo de oportunidade (a renda que a área a ser contratada poderia gerar caso fosse utilizada para produção agropecuária). também integra o cálculo a soma de notas de avaliação da proprie-dade em relação à conservação das áreas naturais (como conectividade entre as áreas naturais dentro e fora da proprieda-de), aos recursos hídricos (como presença

de nascentes preservadas), à produção agropecuária (como existência de agri-cultura orgânica certificada) e à proteção (como ter alguma ação de fiscalização para proteção da área natural).

“essa fórmula pode ser configurada a diferentes realidades, pois leva em con-sideração a área de implantação, ecossis-temas abrangidos, características social e econômica dos atores envolvidos, ex-pectativas dos compradores do serviço ambiental e/ou financiadores do projeto, além das questões pertinentes ao execu-tor do projeto”, diz Ferretti.

além de uma nova fórmula de cál-culo, foi desenvolvido um sistema infor-matizado de gerenciamento online que auxilia as instituições parceiras a pla-nejar e estruturar seus projetos locais, definir o cálculo de valoração ambiental, selecionar proprietários, monitorar e avaliar os resultados.

a Fundação Grupo Boticário repassa gratuitamente a metodologia do Projeto oásis e o sistema de gerenciamento para as entidades – prefeituras, comitês de ba-cias hidrográficas, consórcios, empresas, onGs, entre outras – que se comprome-tam a implantar o projeto em parceria com a instituição. a Fundação atua como parceira técnica, orientando e acompa-nhando o processo de implementação. cabe aos executores buscar fontes finan-ciadoras para viabilizar o projeto e fazer o pagamento das premiações financeiras aos proprietários de terras.

especial - Rio+20

lACUNAs ApONTAdAs pElAs ONGs

• Economia Verde - não há um “mapa do caminho” claro indicando como será feita a transição para uma economia sustentável; caiu do texto sob pressão do G 77

• Oceanos - não saiu a decisão de lançar um acordo para proteger o alto-mar, como esperado; decisão foi adiada sob pressão de EUA e Venezuela

• dinheiro - não há compromisso financeiro para financiar as ações de desenvolvimento sustentável. O documento não pede claramente o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis

• Mulheres - a menção aos direitos reprodutivos femininos foi cortada do texto por pressão do Vaticano, do Chile e de países árabes

Fonte: Folha de s. Paulo

Fonte: O estado de s. Paulo

Fundação Grupo Boticário foi uma das ONGs que debateu a sério práticas socioambientais com seleto grupo de especialistas

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neo mondo - setembro 2008 A

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Meta é evitar a emissão de 1,3 bilhão de toneladas de gases causadores do efeito estufa

até 2030; 248 milhões das quais já em 2020 Gabriel Arcanjo Nogueira*

emissão de 1,3 bilhão de toneladas de poluentes até 2030. trata-se de poten-cial, segundo os mandatários, que su-pera o que méxico e canadá poluíram juntos em 2008.

* com informações da agência Brasil, do jornal o estado de s. Paulo e assessorias de imprensa. Fotos agência Brasil

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especial - Rio+20

até 2020 as maiores cidades do mundo terão reduzido em até 248 milhões de tone-ladas as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com os prefeitos de nova York, michael Bloomberg, e do rio de Janeiro,

A cúpula dos Prefeitos saiu-se me-lhor que suas similares, ao ser palco do anúncio, já no dia 19

de junho, da meta acertada pelo grupo c-40, com 59 integrantes, de evitar a

PREFEITOS fixam compromissos

PREFEITOS fixam compromissos

Eduardo Paes (terceiro à esquerda): “A cidade se sente obrigada a cumprir os desafios assumidos aqui.

O Rio será guardião desse compromisso”

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eduardo Paes, durante o encontro anual desses governantes.

Paes afirmou que o compromisso do c-40 não é apenas uma carta de intenções, mas sim um desafio assumido pelos muni-cípios. “a cidade se sente obrigada a cum-prir os desafios assumidos aqui. o rio será guardião desse desafio.”

“as megacidades já estão implemen-tando estratégias de redução de gases de efeito estufa. todas as cidades do c-40 têm programas. não esperamos os gover-nos nacionais tomarem a dianteira e apro-varem recursos”, disse Bloomberg, que é também o presidente do grupo. ele citou nova York como exemplo e disse que a ci-dade reduziu as emissões de gases de efei-to estufa em 13% nos últimos cinco anos.

pArCEriAs sUsTENTáVEisBloomberg também anunciou o lança-

mento de uma parceria com o Banco mun-dial, de criar um site com as melhores práticas entre as cidades do c-40, além de identificar similaridades entre políticas, estratégias de fi-nanciamento e parcerias sustentáveis.

a reunião dos prefeitos começou no dia 18 de junho no Forte de copacabana, na zona sul do rio, e durou todo o dia se-guinte, paralelamente aos demais traba-lhos na rio+20.

em 2011 esse grupo de cidades res-pondeu por 20% do Produto interno Bruto (PiB) global ou us$ 13 trilhões. essas cida-des também são as que mais poluem no planeta e detêm 14% das emissões globais de gases de efeito estufa. a previsão é de que, se nada for feito, em 2030 essas cida-des produzirão 2,3 bilhões de toneladas de emissões de poluentes.

o c-40 foi criado em 2005 e reúne as maiores cidades do mundo com o objetivo de criar ações locais sustentáveis por meio de troca de experiências, assistência técni-ca e parcerias.

piONEirisMO CAriOCAem sintonia com esse compromisso

assumido em fórum tão categorizado o rio de Janeiro, no início de 2013, será a primeira cidade do hemisfério sul a ter um sistema de monitoramento da emissão de gases de efeito estufa (Gee) e já agora, em 2012, deve superar a sua meta de reduzir a emissão de poluentes em 8%, aproximan-do-se de 9% no ano.

Quem garante é a assessoria de impren-sa da secretaria municipal de meio ambien-te (smac), órgão central do sistema munici-pal de Gestão ambiental. ao lembrar que a

PREFEITOS fixam compromissos

Prefeitura carioca participa desde a fundação desse notável conselho de governantes, que é o c-40, a smac adianta que até 2020 as cidades que integram o grupo já estarão com suas emissões de Gee em torno de 45% do previsto para aquela data.

“CidAdE dE pONTA”Definindo-se como “a grande articu-

ladora deste processo”, por ser “hoje uma cidade de ponta na tecnologia de combate ao aquecimento global, com sua Política de mudanças climáticas que estabeleceu me-tas de reduções, o rio foi a primeira cidade da américa latina a atualizar o inventário de Gee”.

a secretaria vê como seu maior legado a mobilização e conscientização da socie-dade civil, para atingir seus objetivos. Para isso conta com 45 mil pessoas comprome-tidas com a sustentabilidade.

em termos práticos, dos bairros moni-torados na cidade, o centro, são cristóvão e copacabana apresentam os melhores ní-veis de qualidade do ar. e, de forma regu-lar, os bairros de irajá e campo Grande são constantemente monitorados. o que é fei-to pela Prefeitura no seu centro de opera-ções, que permite o acompanhamento per-manente da qualidade do ar em tempo real. são diversos pontos fixos de monitora-mento e um móvel, espalhados pela cida-de, que possibilitam chegar a esses índices e acompanhá-los, levando-se em conta que servem tanto para medir a qualidade do ar quanto para subsidiar políticas públi-cas socioambientais.

Bloomberg, de Nova York e presidente do grupo, à frente dos governos nacionais

Prefeitos de megacidades buscam implementar estratégias antipoluidoras e firmam parceria com o BID para identificar similaridades

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especial - Rio+20

DECIsãO DETERMINA AGENDA PELO MUNDO

a decisão dessas metrópoles, tomada na rio+20, vai ser determinante na adoção de práticas sustentáveis no mundo. a ava-liação é de iêda novais, diretora da KPmG no Brasil, empresa de consultoria interna-cional. “esse tipo de acordo é que vai fazer com que a questão da sustentabilidade nas grandes cidades venha a tomar forma, a partir de agora, para atender às exigências futuras das populações”, disse em meados de julho ao falar de projeto brasileiro da área de energia, classificado entre os 10 mais inovadores de infraestrutura urbana.

Para ela, tais práticas determinarão o surgimento de novas “fronteiras” entre cidades, regiões e países, que ultrapassa-rão a questão geográfica. “as cidades vão competir entre si economicamente e na geração de empregos. as cidades susten-táveis têm melhor clima para atrair in-vestimentos e oferecer mais qualidade de vida às pessoas.”

a lista dos 10 melhores consta do re-latório global infraestrutura 100: cidades mundiais, apresentado pela KPmG na cú-pula das cidades do mundo, em cingapu-ra, no início de julho.

Cidades do futuroo relatório mostra como projetos

pioneiros na área da infraestrutura po-dem fazer diferença, contribuindo para o surgimento das chamadas cidades do

futuro, locais onde as pessoas querem morar e trabalhar. o Brasil aparece com 10 entre os 100 projetos selecionados, metade das iniciativas apresentadas pela américa do sul.

considerado um dos 10 mais rele-vantes do mundo, o projeto cidade in-teligente Búzios foi incluído na categoria infraestrutura de energia urbana e, de acordo com a publicação, responde a um dos maiores desafios do século 21, que é o desenvolvimento da infraestrutura ur-bana sustentável.

os outros projetos inspiradores lis-tados no relatório são os de acesso pelo lado leste, da cidade de nova York, na categoria mobilidade urbana; corredor industrial Delhi-mumbai, na Índia, em conectividade global; Desenvolvimento regional de oresund, Dinamarca e suécia, sobre recuperação urbana; universidade Princess nora Bint abdulrahman para mulheres, de riad, capital da arábia sau-dita, que trata de educação; royal london hospital, de londres, sobre saúde; Planta de Dessalinização tuas ii, de cingapura, relativo à água; cidade ecológica de tian-jin, tianjin, da china, sobre cidades novas e ampliadas; sistema de esgoto em túneis Profundos, de Kranji para changi, de cin-gapura, que trata de reciclagem e gerencia-mento de resíduos; e Projeto de cabo do Briocs, da África do sul e ilhas maurício, sobre infraestrutura de comunicações.

Nova fronteirasegundo a diretora da KPmG no

Brasil, a questão da sustentabilidade foi determinante na escolha dos melhores projetos mundiais de infraestrutura ur-bana, que são modelos para serem copia-dos em outras cidades e regiões. “o fun-damental é trazer projetos que ajudem os países a ter boas práticas. ter um mo-delo.” Para ela, muitas vezes, o que falta às cidades é uma metodologia que pos-sa ser adotada localmente, por meio de parcerias público-privadas (PPPs), com financiamentos diversos. “esses projetos podem criar uma nova fronteira, em ter-mos de gestão das cidades”, disse.

esta foi a segunda edição do relatório sobre infraestrutura nas cidades mundiais. na primeira, divulgada no ano passado, o Brasil entrou com 6 projetos – um deles, o

do trem de alta velocidade, que ligará rio de Janeiro e são Paulo, apareceu também entre as 10 principais iniciativas globais. De acordo com iêda, a edição deste ano in-cluiu projetos “mais encorpados” do Brasil, alguns vinculados a megaeventos esporti-vos como a copa do mundo de 2014 e os Jogos olímpicos de 2016.

Para a diretora da KPmG no Brasil, o objetivo de todos os projetos selecionados é gerar benefícios para as populações. os países que têm práticas de infraestrutura mais desenvolvidas foram selecionados em todas as regiões do mundo.

os demais projetos brasileiros sele-cionados na publicação deste ano foram a modernização do hospital do subúrbio e o Projeto integrado de Gestão de Água e saúde, na Bahia; o centro de operações rio da iBm, o corredor de transporte cole-tivo transolímpica, o Porto maravilha, e o Parque olímpico, todos no rio de Janeiro; a primeira parceria público-privada (PPP) do país para a construção e operação de escolas, em Belo horizonte; a linha 4 do metrô de são Paulo; e o embraport, maior terminal privado multiuso do Brasil, no Porto de santos, em são Paulo.

mais que competir entre si, porém, as ci-dades precisam é aprender umas com as ou-tras quando se trata de melhorar a qualidade de vida das pessoas com as boas práticas ambientais. Que o diga o exemplo londrino.

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Iêda, da KPMG: investimentos garantidos e qualidade de vida

A edição 2012 do relatório traz projetos “mais encorpados”

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a mais cosmopolita das capitais, lon-dres merece ouro, prata e bronze na moda-lidade meio ambiente por se apresentar ao mundo como modelo e guia do que é pos-sível ser feito em medidas sustentáveis que servem de inspiração para quem se candidate a promover futuros megaeventos esportivos.

a avaliação é do Programa das nações unidas para o meio ambiente (Pnuma), às vésperas da abertura dos 30º. Jogos olím-picos da era moderna, que no fechamento desta edição estavam em sua segunda se-mana de competições.

coube a achim steiner, subsecretário-geral da onu e diretor-executivo do Pnuma, aprovar as medidas de sustentabilidade ao conferir in loco os preparativos finais para os jogos olímpi-cos e paraolímpicos de verão de 2012.

o oK de steiner ultrapassa os limites da excelência do estádio olímpico, dos ginásios poliesportivos e das raias olímpicas, supera o desempenho e os recordes dos atletas e con-templa a restauração de um rio e a limpeza de zona portuária histórica, constituindo-se num dos principais legados às futuras cida-des-sede, rio de Janeiro à frente na expecta-tiva das próximas olimpíadas em 2016.

“Jogos olímpicos representam desafios e oportunidades únicas em termos de ele-var o nível do terceiro pilar das olimpía-das — o meio ambiente, que se soma ao esporte e à cultura —, e londres não é exceção”, disse steiner em visita ao Parque olímpico londrino.

“esse conjunto de lições aprendidas, que remete à cooperação do Pnuma com o comi-tê olímpico internacional desde meados da década de 1990, serve como modelo e guia para cada cidade-sede sucessora e, ainda, para outros megaeventos como a copa do mundo da Fifa”, avaliou steiner ao se unir com caroline spelman, secretária de esta-do para assuntos rurais, de meio ambiente e alimentação do reino unido, durante uma caminhada em torno do local.

PARqUE OLíMPICO DE LONDREs, ExEMPLO DE sUsTENTABILIDADE

árEA E riO rECUpErAdOs “a limpeza de uma antiga área industrial

em londres, a restauração das águas e do ha-bitat no rio lea, o tratamento ecológico das cadeias de abastecimento, o baixo consumo de energia desde a concepção até a constru-ção do estádio e a utilização de estruturas temporárias para reduzir as emissões, estão entre as ações que podem ajudar a inspirar os organizadores das olimpíadas do rio de 2016 e além”, disse steiner.

Já spelman garantiu que a sustenta-bilidade sempre esteve no centro da dis-puta para sediar os Jogos olímpicos e Pa-raolímpicos de 2012. tanto que, afirmou, londres 2012 representa “os jogos mais verdes da história”.

“estamos empenhados em construir um futuro para todos, onde o ambiente natu-ral não é apenas protegido, mas também va-lorizado como um patrimônio nacional”, disse. “estamos muito satisfeitos por ter es-tabelecido novos padrões de desenvolvi-mento sustentável e por mostrar a experiên-cia e criatividade de empresas britânicas no fornecimento de uma olimpíada verde, tão bem recebida pelo achim steiner.”

MEdidAs CONTEMplAM FAUNA, FlOrA E áGUA

O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Londres destacou, em relatório, as medidas tomadas que fizeram, no seu entender, a capital inglesa oferecer ao mundo os jogos mais sustentáveis da história. Entre elas:

• O Parque Olímpico foi criado em uma área antes contaminada por atividade industrial e fornece novos habitats para a vida selvagem, bem como a diminuição significativa de inundação;

• O estádio Olímpico e Paraolímpico mais sustentável da história foi concluído a tempo, com a reutilização de tubos de gás em grande parte da sua construção;

• As Olimpíadas e Paraolimpídas de Londres 2012 são as primeiras a medir a pegada de carbono ao longo de todo o projeto;

• As Olimpíadas e Paraolimpídas de Londres 2012 são as primeiras a se comprometer a não destinar lixo a aterros, tendo reutilizado ou reciclado 98% do lixo na fase de demolições e 99% na construção do Parque Olímpico;

• Londres 2012 se comprometeu a promover viagens a pé e de bicicleta, bem como o uso de transportes públicos, entre habitantes de Londres e turistas;

• Londres 2012 também está utilizando um novo guia de avaliação de sustentabilidade desenvolvido pela Global Reporting Initiative, que foi co-fundada pelo Pnuma.

Fonte: Pnuma

Steiner, do Pnuma (C), em visita ao Parque Olímpico, destaca a harmonia dos 3 pilares dos Jogos: meio ambiente, esporte e cultura

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L evar à sociedade a discussão sobre o ambiente, a sustentabilidade e o fu-turo do planeta foi, certamente, um

grande feito da conferência da onu sobre Desenvolvimento sustentável, a rio+20, realizada em junho, no rio de Janeiro. muito se questionou quanto aos resulta-dos obtidos com a conferência e a timidez propositiva da participação dos chefes de estado reunidos em torno da questão da sustentabilidade – uma cobrança, sem sombra de dúvidas, pertinente. no cam-po das ideias, a conferência propriamente dita contribuiu pouco. mas a sociedade civil deu uma grande lição de cidadania e

participação, através dos eventos paralelos como a cúpula dos Povos, fóruns, exposi-ções e protestos.

entre os eventos paralelos, o Pier mauá concentrou a participação de empre-sas, onGs e instituições de ensino, com o intuito de divulgar suas ações no âmbito da sustentabilidade. entre os estandes – e o alarde das empresas em querer mostrar o quanto estão preocupadas com o futuro do planeta – viram-se ações e discussões extremamente inovadoras e propositivas. o navio do Greenpeace com o “Barco es-cola”, as oficinas e apresentações artísticas chamavam atenção para o local, especial-

mente das crianças. apresentações de trabalhos, fóruns e debates ocorriam nos estandes, e a educomunicação foi uma das propostas que se destacou entre ideias ali discutidas.

a prática educomunicativa e sua es-treita relação com a educação ambiental, este foi o tema levantado pela escola de comunicações e artes da universidade de são Paulo em sua participação no “stand da usP na rio+20”, divulgando a edu-comunicação como uma nova proposta de abordagem da educação ambiental. o destaque dado ao tema propiciou à eca, que inicialmente apresentava a proposta

Educomunicaçãofoi destaque na Rio+20 por levar uma nova

proposta de abordagem da educação ambientalDivulgação

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Thiago Garcia

juntamente com demais trabalhos da uni-versidade, um estande próprio com uma finalidade: apresentar e discutir a educo-municação e como ela pode construir uma mobilização dos diferentes segmentos po-pulacionais em torno de propostas como a construção de uma sociedade sustentável.

a educomunicação é uma nova área de trabalho, que utiliza a comunicação e seus instrumentos para desenvolver práti-cas educativas e cidadãs criando um novo campo de conhecimento que envolve as tecnologias da informação e a gestão com-partilhada dos processos e relações. no ensino, a educomunicação é uma ferra-

menta para tornar a informação e o conhe-cimento socioambiental acessível, adotan-do princípios e valores como do consumo consciente, desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente.

tornar a produção e difusão do conheci-mento socioambiental acessível às comuni-dades em áreas de preservação já é uma das ações previstas pelo Programa nacional de educação ambiental (Pronea), que promo-ve educomunicação como política pública.

além das pesquisas em nível de pós-graduação e dos projetos realizados, a uni-versidade oferece à sociedade uma grande contribuição através da licenciatura em educomunicação, que tem como meta formar profissionais capacitados a agir no âmbito da interface comunicação e edu-cação. a educomunicação não é, todavia, uma criação da universidade. ela é antes de mais nada a sistematização de uma prática, que foi fruto do movimento lati-no-americano de resistência dos anos 50, 60, 70 para o direito à informação e que hoje pode ser implementada em diferen-tes ambientes (escolas, centros de cultura, setores governamentais, onGs, veículos de comunicação, entre outros).

segundo o professor ismar soares, coordenador da licenciatura em educo-municação da eca-usP: “ao sistematizar essas práticas, o objetivo é garantir que es-sas iniciativas ocupem um espaço efetivo na sociedade, beneficiando o maior núme-ro possível de pessoas. o momento atual é de garantir que essas experiências, que tiveram as onGs como pioneiras e que vem conquistando muitos resultados, se transformem em políticas públicas, como ocorreu com Pronea”.

o Programa nacional de educação am-biental e agricultura Familiar objetiva algu-mas ações, como o mapeamento das boas práticas e disseminação por meio de víde-os, assim como o apoio a editais para regis-tro de experiências em diversas linguagens.

o ministério do meio ambiente tam-bém prevê a qualificação e ampliação da abordagem da mídia com relação às unida-des de conservação, estimulando a amplia-ção de processos educomunicativos relacio-nados com a temática.

há também no Plano nacional de resí-duos sólidos, a proposta da implementação de uma estratégia nacional de comunicação e educação ambiental em resíduos sólidos, com mapeamento de experiências e defini-ção de estratégias de educação ambiental e comunicação social. ou seja, há muito traba-lho e um grande desafio pela frente.

Thiago Muniz Garcia e Gabriela Caroline Nakano foram

os representantes da Escola de Comunicações e Artes e do Núcleo de

Comunicação e Educação da USP na Rio+20, sob coordenação do Professor Ismar de

Oliveira Soares, coordenador da Licenciatura em Educomunicação da ECA-USP.

neo mondo - Julho/agosto 2012 21

Gabriela Nakano

Para além das críticas, que não foram poucas, há um mérito inquestionável da rio+20 que foi o de colocar o Brasil e o mundo em torno de uma reflexão: o fu-turo que queremos e o que podemos fazer para mudar a situação atual. com os olhos do mundo voltados para o Brasil, que será sede da próxima copa do mundo, da pró-xima olimpíada e que, naquele momento, discutia este futuro que queremos para o planeta, a repercussão das atividades pro-positivas e das discussões em torno de novas ideias – como a educomunicação – mostrou que a sociedade exige ações ino-vadoras e mais claras no âmbito da preser-vação ambiental.

O navio do Greenpeace esteve entre as atrações no megaevento...

... que contou com o estande da UsP e suas propostas inovadoras...

... além da criatividade da sociedade civil com a mais legítima lição de cidadania

Divulgação

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Especial - Rio+20

Especialistas europeus avaliam as possibilidades de recuperação econômica a partir de propostas sustentáveis elaboradas na Rio+20Camila Turriani Bertoldo, de Viareggio (Itália),Especial para NEO MONDO

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C omo conciliar o desenvolvimento econômico-social à preservação am-biental? a questão foi proposta pela

primeira vez na conferência organizada pelas

CRISE vista como

nações unidas em 1972 em estocolmo, inicia-tiva pioneira para tentar organizar as relações entre o homem e o meio ambiente. Quarenta anos depois, a interrogação ainda é a mesma.

no contexto atual de crise mundial, em particular de elevada recessão em grande parte da europa, questiona-se sobre as pos-sibilidades de pensar em um crescimento

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23 neo mondo - Julho/agosto 2012

sustentável, com as questões ecológicas no centro das atenções, e ao mesmo tempo re-cuperar o sistema econômico.

a conferência organizada pela onu no rio de Janeiro, em junho, a rio+20, tentou dar algumas respostas ao mobi-lizar governos, sociedade civil, bancos e setores privados, entre outros seg-mentos. ao final do evento, quase 700 compromissos foram voluntariamente assumidos representando centenas de bilhões de dólares.

a questão econômico-financeira, entre-tanto, é que está no centro do debate na eu-ropa. o desenvolvimento sustentável requer fundos de investimento que, no momento, são difíceis de encontrar. neo monDo ouviu es-pecialistas na França e na itália, empenhados em entender as implicações que a conjuntura internacional proporciona a ponto de, quem sabe, fazer da crise oportunidades de crescer

com equilíbrio. a crise seria um freio à susten-tabilidade para uns, mas para outros um novo modelo baseado na economia verde constitui-ria a solução para a recuperação econômica.

christian de Perthuis, professor de econo-mia da universidade de Paris-Dauphine, que dedica sua investigação científica à economia do clima e ao crescimento verde, entende que os objetivos da rio+20 não poderão ser alcan-çados seguindo as regras atuais. “temos de encontrar novas alavancas de gestão de riscos e financiamento. uma das melhores manei-ras seria introduzir um preço do carbono em nível internacional que permita encontrar no-vas fontes de financiamento.”

esta é a tese que defende em seu mais recente livro et si le changement climatique nous aidait à sortir de la cri-se?, escrito em parceria com anaïs Del-bosc (le cavalier Bleu éditions, 2012), ainda sem tradução no Brasil.

Perthuis defende preço global do carbono que proporcione novas fontes

de financiamento, estimadas em mais de 100 bilhões de euros

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24 neo mondo - Julho/agosto 2012

Especial - Rio+20

iMpOrTâNCiA dOs lEilõEsPerthuis entende que tais ambições

poderiam ser conciliadas a um sistema fiscal ambiental ou um mercado de licen-ças com um sistema de leilões. na europa, explica, o leilão de licenças de co2 pode-rá representar uma soma na ordem de 30 bilhões a 40 bilhões de euros que permiti-riam recuperar os estados.

“estes mecanismos, se introduzidos numa esfera internacional, poderão atin-gir valores superiores a 100 bilhões de euros. os chineses parecem ter entendido isso: no quadro do 12o. plano quinquenal eles testarão diversos sistemas de merca-do de carbono doméstico”, conta.

na visão de Francesco morace, soció-logo, professor na universidade Bocconi de milão e presidente da Future concept lab (empresa de pesquisa de mercado com filial no Brasil), a crise é sem dúvida um fator de estímulo ao desenvolvimento sustentável. “um empresa que não pensa em termos de sustentabilidade no futuro próximo não terá nenhuma possibilidade de sobreviver”, diz.

ACElErAdOr x CONTENçãOPara morace, a crise coloca em evidência

a contradição do sistema – empresarial, in-dustrial e financeiro – devido justamente à falta de sustentabilidade dos modelos atuais de mercado. “Vejo a crise como um acelerador dos valores da sustentabilidade”, comenta.

Já o presidente da organização italiana Fundação para o Desenvolvimento sustentá-vel, edo ronchi, acredita que a recessão, seja da finança pública seja dos investimentos pri-vados, incidirá negativamente sobre as pers-pectivas da economia verde na europa.

a empresa pública europeia vive sob o impacto de um grande corte, procurando-se

reduzir os gastos públicos em todas as di-reções para conter o débito. Portanto, para ronchi, esta contenção reduz a capacidade de os estados europeus investirem em pes-quisas e melhorar suas políticas verdes.

“o custo do dinheiro é alto, os bancos têm maior dificuldade em conceder crédi-tos, e o viés da green economy requer ino-vação e investimentos. algumas atividades como a energia renovável, que neste ano ainda teve um forte crescimento, poderão seguir adiante da mesma forma; mas, em geral, será a recessão a condicionar as pos-síveis evoluções em matéria green na euro-pa. Por ora, é tudo muito incerto”, avalia.

FiNANCiAMENTOs iNOVAdOrEsalain trannoy, economista, diretor

de estudos da escola de altos estudos em ciências sociais (ehess), em marselha, e membro do conselho econômico para o Desenvolvimento sustentável (ceDD) francês, diz que a realização dos objetivos da rio+20 seria possível, apesar da cri-se, se se considerassem financiamentos inovadores, tais como um imposto sobre operações financeiras em escala mundial, uma taxa sobre passagens aéreas, ou seja, a emissão de rendimentos constantes para financiar investimentos em energia reno-vável e economia energética.

ele acredita que estamos ante “uma das deficiências do acordo do rio de Janeiro”, visto que “este aspecto não foi abordado. a crise financeira pesou sobre o acordo do rio, na medida em que a europa, que sempre esteve na vanguarda da questão do aquecimento global, recuou por estar muito preocupada com seus problemas internos”.

segundo trannoy, a ambição de uma ação ambiental e a exigência de uma res-

tauração das contas públicas e da compe-titividade são objetivos que estão longe de ser contraditórios.

ele argumenta: “os dois objetivos po-dem ser parcialmente compatíveis e vou ci-tar dois exemplos de como isso é possível. em muitos países, certo número de subsí-dios pagos pelos estados financia ativida-des poluentes, por exemplo, na agricultura. Dando um fim a esta prática, contribuir-se-ia para restaurar as contas públicas e a re-tomar práticas mais respeitosas à natureza. a questão do financiamento da Previdência social é um dos principais problemas que dificultam a recuperação das contas públi-cas. em vez de obter o financiamento para a seguridade social, principalmente por meio de um imposto sobre os rendimentos do trabalho e, em menor medida, por um imposto sobre rendimentos de capital em alguns países, seria mais justo que parte do financiamento viesse de um imposto sobre as emissões de co2 e sobre as atividades poluentes em geral”.

Trannoy propõe fim de subsídios a atividades agrícolas poluidoras e

criação de imposto sobre emissão de CO² e demais poluentes

Ronchi: com alto custo do dinheiro e recessão da finança pública e de investimentos privados condicionando a evolução da economia verde, prevalece a incerteza

Div

ulga

ção

‘NOssA páTriA’ A pEriGO

Estima-se que até 2050 a população mundial passe de sete a nove bilhões de pessoas, o que implicará uma crescente demanda de energia e recursos naturais. As questões da Rio+20 constituem um desafio importante para o bem-estar das gerações futuras. Como diz o etólogo italiano Danilo Mainardi, a ecologia ensina que o mundo é a nossa pátria.

Pena que esteja a perigo, segundo números alarmantes da ONU:• o mundo tem hoje 7 bilhões de pessoas – em 2050, seremos 9 bilhões;

• uma em cada cinco pessoas – 1,4 bilhão – vive atualmente com 1,25 dólar ou menos por dia;

• 1,5 bilhão de pessoas no mundo todo não têm acesso a eletricidade;

• 2,5 bilhões não dispõem de vaso sanitário;

• cerca de 1 bilhão passam fome todo dia;

• a emissão de gases de efeito estufa está em alta, e mais de 1/3 de to-das as espécies conhecidas poderá desaparecer se as mudanças climáticas continuarem sendo ignoradas.

Div

ulga

ção

Page 25: Neomondo 49

neo mondo - setembro 2008 A25Neo Mondo - Julho 2008

Boa Notícia para o Leitor e o ANUNCIANTE

NEO MONDO acaba de receber a chancela da Lei Rouanet - Lei Federal de Incentivo à Cultura (Nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991), conforme número Pronac 111052.

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Atenciosamente,

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Presidente do InstitutoPublisher da Revista

Um olhar consciente

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Page 26: Neomondo 49

26 neo mondo - Julho/agosto 2012

T erminado o evento rio+20, os bra-sileiros que se interessam, agora com muito vigor, já que a grande

maioria se diz preocupada com questões ambientais, fazem a pergunta. o que serviu e para quem serviu esse encontro internacional que pretendia discutir os problemas do planeta? o governo e a onu afirmam que o conclave foi muito provei-toso e trouxe resultados proveitosos.

Para nós que estamos acostumados a cobrir acontecimentos importantes, a rio+20 não passou de uma grande farsa, toda montada para enganar pessoas envol-vidas por essa aura de esperança por me-lhores dias para o mundo em que vivemos.

então, vamos aos fatos. a começar pela cúpula dos Povos montada num ater-ro, que outrora foi praia e que o homem criminosamente roubou da natureza. ali, os promotores da rio+20 resolveram agru-par todos os movimentos voltados para questões ambientais. Venderam stands e agruparam empresas muitas delas que par-ticipam da ideia ambiental apenas como pano de fundo, e que fazem parte daquele grupo da “mentira ecológica”.

havia também movimentos engajados nos verdadeiros projetos ambientais, al-guns deles fora do “perímetro pago” e que montaram suas tendas ou barracas impro-visadas para divulgar seus projetos.

os índios se espalharam pela cidade e foram agrupados em compartimentos dife-renciados tais como parques, praças ou colô-nias e até pátios de instituições. o importante

wCoisas que eu vi

riO+20: uma grande farsa

para os organizadores da rio+20 era afastar qualquer possibilidade de contato dos movi-mentos contrários àqueles que estavam no palco principal do encontro. mas voltemos à cúpula dos Povos, nome pomposo e que não correspondia à verdade dos fatos. uma desorganização total. Dois dias antes da inau-guração do evento, os coordenadores da cú-pula não tinham mapa, nem localização dos stands, e alegavam a doença de uma arquiteta como desculpa para a imensa falha. e no dia do seu início o barro se espalhava pelo espaço devido às chuvas, e quem quisesse participar teria de arrumar um jeito, misturando-se com vendedores ambulantes e também com aque-las figuras grotescas que se utilizam desses momentos para aparecer em cena, banheiros montados em banheiros químicos mal cuida-dos e sempre muito sujos.

o objetivo estava sendo alcançado: di-ficultar aqui, pra não atrapalhar lá no palco oficial. e os movimentos que se resolves-sem sozinhos. nessa hora, pensamos como vai ser a organização da copa do mundo daqui a dois anos e os Jogos olímpicos da-qui a quatro anos, porque muitos dos jogos do mundial serão realizados fora do eixo rio-são Paulo onde naturalmente a estru-tura hoteleira, hospitalar e de transportes é menos ruim. a rio+20 é um espelho para nos projetar esse futuro. Pois bem. o palco estava montado. a cidade com um policia-mento que chegava a assustar, o trânsito infernal, até porque os movimentos margi-nalizados começaram a conversar entre si e resolveram montar protestos no centro

da cidade como forma de se fazer ouvir. aí, a confusão foi total. ninguém se enten-dia, e os soldados da segurança resolveram dar uma mão aos homens do trânsito e a confusão ficou mais aguda. a cidade viveu momentos de verdadeira balbúrdia provo-cando reações de revolta da população. era feriado, ou ponto facultativo, e as pesso-as que ficaram no rio resolveram curtir a cidade e a festa ecológica, mas elas só ti-nham acesso aos eventos paralelos. lá, no palanque oficial do rio centro, somente as autoridades oficiais e a mídia oficial, diga-se rede Globo. até mesmo os moradores da vizinhança para entrar nas imediações teriam de mostrar as provas de residência.

a pequena imprensa e a mídia que tem como foco, as questões ambientais ficaram de fora, sem espaço, sem poder transmitir qualquer informação. Percebe-se que a cida-de ficou dividida em dois polos. De um lado aqueles que queriam participar, e que tinham certamente muito a dizer, e que ficaram es-palhados e dispersos nos cantos do rio, e o outro no palco oficial da rio centro onde diri-gentes não muito preocupados com decisões sobre questões ambientais se agruparam para dizer ao mundo que estavam preocupados com a pobreza, com o analfabetismo e com as condições sub-humanas em que vivem de-terminadas populações, e para dizer também que a defesa do meio ambiente era muito im-portante, mas em nenhum momento disse-ram o que fazer, nem como fazer.

o documento final da rio+20 fala de maneira tênue e abstrata sobre a necessi-

aBr

Pessoas envolvidas pela aura da esperança foram enganadas pela grande comédia em que se transformou o evento

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27neo mondo - Juljo/agosto 2012

Jornalista, Escritor e Editorialista.Apresentador de TV e Rádio.

Humberto Mesquitastephan hale. “Faltou visão e capacidade para encontrar caminhos e o texto final so-bre oceanos foi piorado em relação à versão anterior. não se decidiu nada sobre a biodi-versidade marinha, em áreas além da juris-dição nacional e o texto só diz que vamos esperar até 2015 para tomar uma decisão”.

a rio+20 foi um fracasso épico segundo esses representantes de entidades defenso-ras dos mares. miko schwartzman lembrou que os mares são o ecossistema menos pro-tegido do mundo e que os estados unidos, Japão, rússia, canadá e Venezuela, países que têm na pesca uma atividade econômica, recusaram-se a assinar qualquer documento que implicasse na mudança de comporta-mento em relação às questões marinhas “a Venezuela teve uma conversão repentina ao capitalismo” – ironizou matthew Gian-ni, consultor de políticas da coalisão pela conservação do alto mar. “ É como trocar as cadeiras de lugar no deck do titanic” – disse Kumi naidoo, diretor-executivo da Greenpe-ace sobre a rio+20.

o que encontramos nesse encontro foi a constatação de que as corporações poluidoras e aquelas que destroem o meio ambiente ain-da mandam no mundo e decidem o caminho a ser seguido, um caminho onde a ambição está acima de qualquer preço. “a onu não está representando os interesses dos povos na medida em que os atores que causaram a crise são os mesmos que propõem as so-luções” – disse Darci Frigo, ativista brasileiro dos Direitos humanos. até mesmo a chan-celer angela merkel não veio, não viu, mas não gostou e manifestou sua decepção com os resultados da rio+20, expressando que os resultados não estão à altura do que teria sido necessário. e o presidente do equador rafael correa disse que a rio+20 foi um fracasso e classificou a declaração final como lírica.

tudo continua igual e os países que mais poluem continuam mantendo posições esdrúxulas e subjugando o resto da humani-

dade aos seus padrões de comportamento. as multinacionais falam uma coisa e atuam diferentemente, continuando a envenenar o planeta. até a igreja se decepcionou com a rio+20 porque o Vaticano, de forma con-fusa, projetou discussões sobre a adoção de políticas para a reprodução humana, que não entrou na pauta dos trabalhos ou se entrou ninguém tomou conhecimento.

a grande verdade é que o mundo con-tinua brincando do “faz de conta”. não bastam as grandes catástrofes, os tsuna-mis, as inundações, maremotos e terre-motos, nem as inconstâncias climáticas, as respostas constantes e os alertas que a natureza tem dado ao homem.

a ambição desenfreada do ser huma-no ainda está presente até o dia em que ele se aperceber que certo são os pensamen-tos indígenas: “um dia a terra vai adoecer. os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão seu espírito.

mas vão recuperá-lo para ensinar o ho-mem branco a reverenciar a sagrada terra.

aí então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição”. Quando a última árvore tiver caído. Quando o último rio tiver secado Quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come.

dade de preservar o meio ambiente e com-bater a pobreza. num planeta vitimado pelos crimes ambientais e em meio a uma crise econômica sem precedentes, os 191 lideres reunidos no rio de Janeiro apenas repetiram promessas feitas há 20 anos, adiando decisões que o mundo apontava como urgentes, e o documento de 53 pá-ginas fixou 2015 como a nova meta em favor da sustentabilidade global.

enquanto isso, a cúpula dos Povos or-ganizada pela sociedade civil com a coorde-nação incompetente da onu e que teve a participação de 50 mil ativistas, indígenas, estudantes e religiosos fervia desordena-damente e protestava contra o “cenário de mentira e desilusões”, e no seu texto final disse que a rio+20 repetiu o livro falho de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocam a crise global. Para não dizer que a rio+20 foi um fiasco total poderíamos enumerar um lado positivo que foi o encontro dos movimentos na cú-pula dos Povos e que podem agregá-los em futuras manifestações em favor do planeta. a grande maioria dos participantes só teve palavras de críticas ao malogrado encontro. Foi tudo uma grande comédia da qual par-ticiparam representantes de 191 países do mundo inteiro.

a imprensa internacional deu des-taque ao fracasso e deu mais ênfase aos movimentos paralelos nascidos na cúpu-la dos Povos. a mídia nacional só falou quando cinquenta mil pessoas resolveram protestar no centro do rio de Janeiro.

os ativistas, de um modo geral, falam em “decepcionante e vergonhoso encontro de gente sem vontade de mudar”. “não há prazos, não há medidas, não temos nenhu-ma garantia de nada”, – disse shoron Bur-row, que representa milhões de membros da chamada confederação sindical inter-nacional. “a rio+20 deveria ser um ponto de virada não houve sinais disso” – disse

aBr

Manifestações de toda ordem chegaram a reunir 50 mil ativistas que tomaram ruas centrais do Rio de Janeiro

Page 28: Neomondo 49

neo mondo - Julho/agosto 201228

A maior feira internacional de mer-cado de carbono aconteceu entre os dias 30 de maio e 01 de junho

na cidade de colônia, alemanha. Diversos temas foram abordados durante o evento, mas os que receberam maior destaque fo-ram as discussões em torno do valor atu-al dos créditos de carbono e os mercados paralelos que estão se desenvolvendo em outros países.

o valor dos créditos de carbono é in-fluenciado por diversos fatores e atualmente está abaixo das expectativas. além de um excedente de permissões existente no mer-cado europeu, causado em parte pela crise econômica e pela diminuição na produção, a

falta de ambição em termos de metas de re-dução de emissões de gases de efeito estufa (Gee) também contribui para um mercado com mais oferta do que demanda. essa situ-ação desestimula o investimento em novas tecnologias, pois acaba sendo muito mais barato comprar créditos do que investir in-ternamente em redução de emissões.

o mercado de carbono europeu continua ligado às negociações internacionais no âm-bito das nações unidas, não apenas por ter sua origem no Protocolo de Quioto, mas tam-bém em razão das correntes discussões sobre o segundo período do Protocolo, reformas no mecanismo de Desenvolvimento limpo e criação de novos mecanismos de mercado.

no entanto, além das ações em âmbito internacional, iniciativas nacionais ganham cada vez mais força. nesse contexto, é im-portante o diálogo entre diferentes atores, tanto do governo quanto da iniciativa pri-vada. a secretária executiva da convenção-Quadro das nações unidas sobre mudanças climáticas (unFccc), christiana Figueres, esteve presente na carbon expo e enfati-zou que a adoção de medidas de combate às mudanças climáticas é uma corrida para ser executada em conjunto entre iniciativas nacionais e internacionais. Figueres ressal-tou que os países tem sido perseverantes e ainda acrescentou que “o impossível não existe - é só uma questão de atitude”.

De fato, apesar das negociações inter-nacionais para um novo acordo climático estarem evoluindo a passos lentos, diver-sos países, entre eles o Brasil, já assumiram compromissos nacionais voluntários para reduzirem suas emissões de Gee. alguns países, inclusive, já adotaram legislações es-pecíficas para lidarem com os desafios das mudanças climáticas, como é o caso do Brasil e do méxico. outros países, por sua vez, já estabeleceram regulações internas para o de-senvolvimento de seus próprios mercados de carbono, como é o caso da austrália, da nova Zelândia, dos estados unidos (no estado da califórnia) e do canadá (na província de Qué-bec). esses novos mercados devem entrar em funcionamento entre 2013 e 2015.

além desses países, Brasil e china tam-bém foram destaques na feira com a apre-sentação de planos de implementação de no-vos mercados em seus territórios. o rio de Janeiro, por exemplo, foi representado por suzana Kahn, subsecretaria estadual de eco-nomia Verde, em uma sessão para discutir desafios e oportunidades no design e na im-plementação desses novos mercados. Kahn mencionou as características do mercado de emissões a ser criado pelo governo do rio, cujas regras seriam divulgadas durante a rio+20, bem como estudos sendo realizados pelo governo federal para a implementação de um mercado nacional até 2018. ao se ter

Mercado de carbono: Rumo à fragmentação

Participantes tiveram a oportunidade de discutir projetos e tendências do mercado

Mesa-redonda com Christiana Figueres, secretária-executiva da UnFCCC

Page 29: Neomondo 49

Natascha Trennepohl

Correspondente especial de Berlim – Alemanha

o rio de Janeiro como projeto piloto, a ideia central é que a experiência adquirida com esse sistema possa ser usada no futuro por outros estados brasileiros e possa, inclusive, auxiliar o desenvolvimento de um mercado nacional. Vale lembrar que a própria lei insti-tuidora da Política nacional sobre mudança do clima faz referência direta ao desenvolvi-mento do mercado Brasileiro de redução de emissões. outra iniciativa brasileira que foi mencionada durante a carbon expo 2012 foi a criação da Bolsa Verde do rio de Janei-ro. a BV rio é uma bolsa para a negociação de ativos ambientais que vai transacionar créditos florestais e de carbono.

em razão dessa fragmentação do mer-cado de carbono com diversos sistemas emergindo e cada qual com suas próprias regras, nesta edição da carbon expo mui-tos debates e eventos paralelos discutiram

os desafios relacionados com a ligação de futuros mercados e a viabilidade de se ter a longo prazo um mercado de carbono global. caso a ligação entre os mercados aconteça, é certo que a harmonização de regras depois que instrumentos tão complexos como mer-cados de carbono já estão implementados pode ser bem mais complicada e demorada.

as discussões atuais deixam bem claro que a estrutura do mercado de carbono mu-dou bastante e é muito mais fragmentada. a própria regulação do mercado europeu já so-freu significativas alterações desde a sua cria-ção em 2005 e muitas mudanças ainda devem acontecer. De fato, o uso de mecanismos de mercado como instrumentos de política am-biental vem crescendo e se diversificando, re-querendo dos profissionais um conhecimento cada vez maior dos diferentes sistemas para poderem identificar as oportunidades.

Apesar da crise econômica e das incertezas em torno do futuro do mercado de carbono, a Carbon Expo teve aproximadamente 2.500 participantes de diferentes partes do mundo. Além de ser uma plataforma de negócios para pessoas e empresas que estão diretamente envolvidas com o mercado de carbono, a feira também promove seminários, workshops e sessões paralelas nas quais os participantes recebem informações atualizadas sobre o mercado e as tendências. A feira possui uma área ampla para expositores e a edição deste ano contou com 199 expositores de 67 países. A próxima edição da feira acontecerá em 2013 na cidade de Barcelona, Espanha. Em 2014 a feira volta a ser realizada na Alemanha.

2010 2011

Volume(MteqCO

2)

Valor (M$US)Volume

(MteqCO2)

Valor (M$US)

Transação de cotas

EUA 6,789 133,598 7,853 147,848

AAU 62 628 47 318

RMU - - 4 12

NZU 7 101 27 351

RGGI 210 458 120 249

CCA - - 4 63

Outros 94 151 26 40

Subtotal 7,162 134,935 8,081 148,881

Mercados spot e secundário de compensações de Quioto

CERs secundários 1,260 20,453 1,734 22,333

ERUs secundários 6 94 76 780

Outros 10 90 12 137

Subtotal 1,275 20,637 1,822 23,250

Transação de projetos (mercados primários)

CREs primários pré-2013 124 1,458 91 990

ERUs primários pós-2012 100 1,217 173 1,990

ERU primário 41 530 28 339

Mercado voluntário 69 414 87 569

Subtotal 334 3,620 378 3,889

TOTAL 8,772 159,191 10,281 176,020

Fontes: Banco Mundial, Forest Trends-Ecosystem Marketplace para base de dados sobre o mercado voluntário e Thomson Reuters Point Carbon para os dados sobre as cotas da Califórnia.

Subtotais e Totais podem não corresponder devido a arredondamentos.

Mercado de Carbono: visão geral, volumes e valores, calendário 2010-2011

Mantendo a tradição dos últimos anos, o Banco Mundial lançou durante a Carbon Expo a nova edição 2012 do relatório “Estado e Tendências do Mercado de Carbono”. De acordo com o relatório, o valor total do mercado de carbono cresceu 11% no ano passado, tendo sido negociados 176 bilhões de dólares e mais de 10 bilhões de toneladas de CO2e. Confira os valores transacionados em 2010 e 2011 na tabela:

Natascha TrennepohlAdvogada e consultora ambiental

Mestre em Direito Ambiental (UFSC)Doutoranda na

Humboldt Universität (HU) em Berlim.E-mail: [email protected]

*foi membro da delegação brasileira que esteve na COP 15.

neo mondo - Julho/agosto 2012 29

Fotos: Koelnmesse

Profissionais de diferentes setores se encontra-ram na nona edição da feira na Alemanha

Page 30: Neomondo 49

neo mondo - July/august 201230

T he largest international trade fair for the carbon market took pla-ce between 30 may and 1 June in

cologne, Germany. several issues were raised during the event, but those who re-ceived greater emphasis were the discus-sions around the current value of carbon credits and the parallel markets are deve-loping in other countries.

the value of carbon credits is influen-ced by several factors and is currently be-low expectations. in addition to an exis-ting surplus of allowances in the european market, caused in part by the economic crisis and the decrease in production, the lack of ambition in terms of targets, for

reducing emissions of greenhouse gases (GhGs), also contributes to a market with more supply than demand. this situation discourages investment in new technolo-gies, it becomes much cheaper to buy cre-dits than to invest in reducing emissions domestically.

the eu carbon market is still connec-ted to the international negotiations un-der the united nations, not only because it have its origins in the Kyoto Protocol, but also because of the current discus-sions on the second period of the Proto-col, the reforms in the clean Development mechanism and the creation of new ma-rket mechanisms.

however, in addition to international actions, national initiatives are getting stronger. in this context, there is a im-portant dialogue between different ac-tors, both government and from private enterprise. the executive secretary of the united nations Framework convention on climate change, christiana Figueres, was present at the carbon expo and em-phasized that the adoption of measures to combat climate change is a race to be performed jointly by national and in-ternational initiatives. Figueres stressed that countries have been persevering and added that „there is no such thing to the impossible - it‘s just a matter of attitude“.

in fact, while negotiations for a new international climate agreement are pro-gressing at a slow pace, several countries, including Brazil, have already made vo-luntary commitments to reduce national GhG emissions. some countries even have adopted specific legislation to deal with the challenges of climate change, such as Brazil and mexico. other countries, in turn, have established internal regulations for the development of their own carbon markets, such as australia, new Zealand, the united states (in the state of califor-nia) and canada (the province of Quebec). these new markets should become opera-tional between 2013 and 2015.

Besides those countries, Brazil and china were also featured at the fair with a presentation of implementation plans for new markets in their territories. rio de Janeiro, for example, was represented by suzana Kahn, state assistant secretary of “Green economy”, in a session to discuss challenges and opportunities in the design and implementation of these new markets. Kahn noted the characteristics of the ma-rket to be created by rio’s government, whose rules would be published during the rio +20, as the studies being conducted by the federal government to make pos-sible the implementation of the national market by 2018. By having rio de Janeiro

Carbon Market: Towards Fragmentation

Participants had the opportunity to discuss projects and market trends

Roundtable with Christiana Figueres,executive secretary of the UnFCCC

Page 31: Neomondo 49

Natascha Trennepohl

Special CorrespondentBerlin - Germany

as a pilot project, the key idea is that the experience gained with this system can be used in future by other Brazilian states and can even assist in the development of a na-tional market. remember that the very law that created the national Policy on climate change makes direct reference to the deve-lopment of the Brazilian emissions reduc-tion market. another Brazilian initiative mentioned during the carbon expo 2012 was the creation of the Green stock of rio de Janeiro. the rio Gs (Green stock) is a exchange stock for the negotiation of envi-ronmental assets that will transact forestry and carbon credits.

Because of this fragmentation of the carbon market, with several emerging sys-tems, and each one of them with their own rules, in this issue of carbon expo many debates and side events discussed the chal-

lenges associated with the connection of future markets and the viability of having a long-term global carbon market. if the connection between the markets happen, it is certain that the harmonization of ru-les after instruments as complex as carbon markets are already in place can be more complicated and time consuming.

the current discussions make it clear that the structure of the carbon market has changed considerably and are much more fragmented. the regulation itself of the european market has chance signifi-cant since its inception in 2005 and many changes will happen. in fact, the use of market mechanisms as instruments of en-vironmental policy has been growing and diversifying, requiring professional know-ledge of the growing of different systems in order to identify opportunities.

Despite the economic crisis and the uncertainties surrounding the future of carbon markets, Carbon Expo had approximately 2,500 participants from different parts of the world. Besides being a platform for business people and companies who are directly involved in the carbon market. The fair also organizes seminars, workshops and parallel sessions in which participants receive updated information about the market and trends. The fair has a wide area for exhibitors and this year featured 199 exhibi-tors from 67 countries. The next edition of the fair held in 2013 in Barcelona, Spain. In 2014 the fair should be held back in Germany.

2010 2011

Volume(MteqCO

2)

Valor (M$US)Volume

(MteqCO2)

Valor (M$US)

Transação de cotas

EUA 6,789 133,598 7,853 147,848

AAU 62 628 47 318

RMU - - 4 12

NZU 7 101 27 351

RGGI 210 458 120 249

CCA - - 4 63

Outros 94 151 26 40

Subtotal 7,162 134,935 8,081 148,881

Mercados spot e secundário de compensações de Quioto

CERs secundários 1,260 20,453 1,734 22,333

ERUs secundários 6 94 76 780

Outros 10 90 12 137

Subtotal 1,275 20,637 1,822 23,250

Transação de projetos (mercados primários)

CREs primários pré-2013 124 1,458 91 990

ERUs primários pós-2012 100 1,217 173 1,990

ERU primário 41 530 28 339

Mercado voluntário 69 414 87 569

Subtotal 334 3,620 378 3,889

TOTAL 8,772 159,191 10,281 176,020

Fontes: Banco Mundial, Forest Trends-Ecosystem Marketplace para base de dados sobre o mercado voluntário e Thomson Reuters Point Carbon para os dados sobre as cotas da Califórnia.

Subtotais e Totais podem não corresponder devido a arredondamentos.

Carbon Market: An Overview, volumes and values , calendar 2010-2011

Keeping the tradition of recent years, the World Bank launched during the Carbon Expo 2012 the new edition of the report „ State and Trends of the Carbon Market 2012”. According to the report, the total carbon market grew 11% last year, having been traded 176 billion and more than 10 billion tons of CO2e. Check the values traded between 2010 and 2011 in the table:

neo mondo - July/august 2012 31

Photograph: Koelnmesse

Profissionais de diferentes setores se encontra-ram na nona edição da feira na Alemanha

Natascha TrennepohlAttorney and environmental consultant

Master of Environmental Law (UFSC)PhD student at Humboldt University in

BerlinE-mail: [email protected]

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P ara muita gente, o símbolo para uma grande ideia já não é mais a lâmpada acesa. É um leão. mais

especificamente um leão de cannes, na França, onde acontece todos os anos o maior Festival internacional de criativi-dade do mundo, premiando as melhores ideias com estatuetas do rei da floresta.

se o mercado é uma selva, nada me-lhor do que leões para representarem as grandes ideias. com a concorrência feroz que existe em praticamente todos os ra-mos de atividade, ter ideias fortes e cora-josas é questão de sobrevivência. a edição de 2012 do Festival de cannes comprovou isso mais uma vez.

uma das primeiras grandes lições do Festival é a de que grandes ideias podem vir de qualquer parte do planeta, indepen-dentemente de qualquer indicador do país de origem. em um mundo conectado e com rápido acesso a uma incrível quantidade de informações e referências, há uma crescen-

te democratização do processo criativo. hoje o lugar de origem de uma ideia

é um simples detalhe. empresas e marcas são cada dia mais cosmopolitas, fazendo com que o país de origem de um produto seja menos relevante para o consumidor. a empresa criadora do jogo angry Birds não se apresenta como uma empresa finlande-sa de entretenimento, mas simplesmente como uma empresa de entretenimento. É o que observa um dos palestrantes em cannes, Fredrik härén, autor do livro um mundo. uma empresa.

mais importante do que a origem da ideia, é a velocidade com que ela se es-palha e o nível de engajamento que ela gera. com o fenômeno das redes sociais é possível medir o impacto de uma ideia em tempo real. o que antes precisaria de dias ou semanas para ser avaliado, agora precisa de horas ou minutos. o jornal in-glês the Guardian, bastante premiado no festival de cannes neste ano, ilustra essa

realidade de forma brilhante com um co-mercial que mostra como seria a história dos “três porquinhos“ nos dias de hoje. no filme, a conhecida história ganha ares dramáticos e um roteiro frenético, onde os três porquinhos geram participação ativa da população no desenrolar dos fatos e di-videm a opinião pública, sendo considera-dos vilões por alguns e vítimas por outros.

o poder da conectividade em tempo real foi o tema central da apresentação so-bre o twitter no Festival. Para o twitter, a missão principal da plataforma é trazer o usuário para mais perto dos fatos, oferecen-do uma “cadeira na fileira da frente“ diante dos eventos. através de tweets, todo mun-do passa a ser uma fonte de informação em potencial, valorizando os mais diver-sos pontos de vista e aumentando a velo-cidade e a transparência no relato dos fa-tos. o impacto do twitter na indústria das comunicações foi reconhecido com um dos grandes prêmios do Festival, o de homem

Os leões da criatividade:lições do maior Festival de Ideias do planeta

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Palais des Festivals em Cannes na França

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em outra parte do mundo. e mais: além de dar uma coca-cola para o mundo, o consu-midor ainda pode gravar uma mensagem que será exibida quando a outra pessoa ganhar a lata de refrigerante da máquina.

casos como o Projeto rebrief do Goo-gle lab sugerem que a criatividade deve ser prioridade em toda e qualquer empresa, e não apenas em agências de publicidade ou outras indústrias tradicionalmente cria-tivas. a gigante Kraft Foods, por exem-plo, não mede esforços para manter o seu próprio laboratório de inovação. mesmo sendo uma grande multinacional, a empre-sa ressalta a importância de se manter um espírito de startup, reunindo talentos de di-versas áreas para solucionarem problemas e colaborarem em projetos experimentais.

colaboração foi uma palavra-chave em cannes. com o domínio das redes sociais, fica evidente o potencial para a co-criação de produtos e serviços, bem como para a mobi-lização de todos no sentido de ajudar entida-des que visam promover desenvolvimento social em diferentes partes do globo.

o Festival de cannes também mos-trou que uma grande ideia transcende gerações. mesmo com a chegada de novas tecnologias, um conceito baseado em uma verdade humana universal mantém a sua força. Para comprovar isso, o Google lab criou o Projeto rebrief, onde o desafio foi adaptar clássicos da propaganda para o mundo digital.

De autoria do cineasta Doug Pray, o documentário do Projeto rebrief é inspi-rador. o Google lab convidou criadores de campanhas bem-sucedidas nos anos 60, já aposentados, para sentarem com criativos da nova geração e traduzirem a mensagem da campanha clássica para as ferramentas de comunicação de hoje.

o resultado surpreendeu a todos. uma das campanhas recriadas foi a da coca-cola, sendo inclusive premiada com leão no Festival de cannes em 2012. a campa-nha original, veiculada nos anos 60, mos-tra um belo coral no topo da montanha, composto por pessoas das mais diferentes origens e raças. a letra do coral resume a ideia, dizendo: “eu quero dar uma coca-cola para o mundo.“

a versão digital desse conceito usou a tecnologia atual para realizar o desejo daqueles que cantavam no coral: dar um coca-cola para o mundo. a coca-cola disponibilizou máquinas especiais para o refrigerante em vários países. ao invés de comprar apenas para si, a máquina passou a dar ao consumidor a possibilidade de comprar uma lata para outra pessoa retirar

Rafael Pimentel Lopes

Correspondente especial na Alemanha

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de mídia do ano, conferido a Jack Dorsey, criador e co-fundador da rede social.

as discussões sobre as redes sociais destacaram o impacto daqueles que são frequentemente temas de conversa e campeões de seguidores na internet: as celebridades. com os canais online, os fãs se aproximaram ainda mais de seus ído-los, aumentando a influência e o efeito multiplicador das personalidades. o Fes-tival contou com a presença de alguns desses grandes fenômenos, entre eles a cantora selena Gomez, o lutador George saint-Pierre, o grupo pop coreano 2ne1 e o ex-jogador ronaldo – que falou como o Brasil está se preparando para a copa do mundo e para as olimpíadas.

apesar do surgimento contínuo de novas tecnologias que impulsionam ain-da mais a velocidade das mudanças, mui-tas vezes o progresso está exatamente em resgatar o que ficou perdido no pas-sado. É o que mostra o grande vencedor do Festival de cannes na categoria filme: a animação para a rede de restaurantes chipotle. o comercial campeão, chama-do de De volta para o começo, mostra um fazendeiro e o aumento desenfreado da sua produção de carne suína, levando ao extremo confinamento dos animais e a processos pouco sustentáveis. no final do filme, ao observar seu impacto ambiental, o fazendeiro toma a decisão de voltar atrás e restabelecer as práticas sustentáveis de quando era apenas um pequeno produtor.

Ronaldo, um dos Fenômenos presentes no Festival que premia os melhores

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Jack Dorsey recebe o prêmio “Media Person of the Year”

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a fundação Bill & melinda Gates apro-veitou os criativos presentes no Festival e ofereceu u$ 100.000 para quem tivesse uma ideia que realmente ajudasse a vencer seu grande desafio: mobilizar as pessoas que não doam para instituições beneficen-tes por acreditarem que o dinheiro não é bem empregado, ou pior, que é desviado. a história de sucesso da fundação Gates comprova que é possível conseguir grandes resultados através de doações, desenvol-vendo programas contra a fome, tratamen-to contra aiDs e vacinas para crianças em áreas remotas.

outra fundação que marcou presen-ça em cannes foi a de Bill clinton, re-presentada pelo próprio ex-presidente, que foi ao Festival a convite do grupo aBc, a maior holding de agências de comunicação do Brasil e da america la-tina. clinton destacou que vivemos um momento de muitas possibilidades e que gostaria de ter vinte anos novamen-te para ver o que vai acontecer. Para o ex-presidente americano, é bom saber que hoje com as novas ferramentas de comunicação, as pessoas comuns têm muito mais condições de provocar mu-danças do que antes.

no entanto, para ser um agente ca-talisador das mudanças que o nosso planeta precisa, não basta ter acessos às novas tecnologias e ferramentas de co-municação. ter uma ideia ainda é funda-mental. Você pode até imaginar que com o volume de informações disponíveis em questão de segundos, ter ideias hoje em dia seja tarefa mais fácil. mas se por um lado existe mais input, por outro se exi-ge muito mais capacidade de digerir as informações, o que não necessariamen-te facilita o processo criativo. Daí a im-portância de celebrar as grandes ideias com os leões do Festival internacional da criatividade em cannes. o esforço de criar e implementar uma ideia merece ser reconhecido e aplaudido.

afinal, grandes ideias fazem toda a diferença.

e com os grandes desafios que o pla-neta enfrenta e vai enfrentar, vamos pre-cisar cada vez mais delas. Que venham novos leões.

Rafael Pimentel LopesFormado em Comunicação Social pela ESPM-SPe em Criação Publicitária pela Miami Ad School

rafael Pimentel lopesFormado em comunicação social pela esPm-sP e em criação Publicitária pela miami ad school

Bill Clinton, à frente da Fundação que leva o seu nome, desejaria ter 20 anos a menos

Grandes ideias fazem toda a diferença e merecem a estatueta do leão, num mercado que é uma selva

Aproximadamente 11 mil participantes de mais de 90 países

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F or many, the symbol for a great idea is no longer the light lamp. It’s a lion. More specifically the lion

from Cannes, France, where it happens every year the biggest International Fes-tival of Creativity in the world, rewar-ding the best ideas with statues of the king of the forest.

If the market is a jungle, nothing bet-ter than lions to represent the great ide-as. With fierce competition that exists in practically all branches of activity, be strong and courageous ideas is a matter of survival. The 2012 edition of the Cannes Film Festival proved it once again.

One of the first great lessons of the Festival is that great ideas can come from anywhere in the world, regardless of any indication of country of origin. In a con-nected world and with quick access to an incredible amount of information and re-ferences, there is an increasing democrati-zation of the creative process.

Today the place of origin of an idea is a simple detail. Companies and brands are increasingly cosmopolitan, making the country of origin of a product less impor-tant to the customer. The creator of Angry Birds game is not presented as a Finnish entertainment, but simply as an entertain-ment company.

It notes that one of the speakers in Cannes, Fredrik Haren, author of “One World. A company “. More important than the origin of the idea, is the speed with which it spreads and the level of engagement it generates. With the social networking phenomenon is possible to measure the impact of an idea in real time. Rather, it would need days or weeks to be assessed now requires hours or minutes. The English newspaper The Guardian, much prized at Cannes this year, illustra-tes this reality brilliantly with a commer-cial that shows what the story of “three little pigs” today.

In the film, the familiar story gets air and a dramatic script frenzy, where three little pigs generate active partici-pation of the population in the course of events and divide public opinion, being considered by some villains, and victims by others.

The power of real-time connectivity was the central theme of the presenta-tion on the Twitter Festival. For Twitter, the primary mission of the platform is to bring the user closer to the facts, offering a “chair in the front row” before the event even begins. Through tweets, everyone becomes a potential source of informa-tion, highlighting the most diverse points of view and increasing the speed and transparency in reporting the facts. The impact of Twitter in the communications industry was recognized as one of the gre-at prizes of the Festival, the Media Man of the Year, awarded to Jack Dorsey, creator and co-founder of social networking.

The lions of creativity:lessons of the largest Festival of Ideas on the planet

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Palais des Festivals in Cannes in France

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to the world, consumers can even re-cord a message that appears when the other person that win the can of soda from the machine.

Cases like Google Lab Project Rebrief suggest that creativity should be a prio-rity in any company, not just in adver-tising agencies or other traditional cre-ative industries. The giant Kraft Foods, for example, strives to maintain its own laboratory for innovation. Although a large multinational, the company em-phasizes the importance of maintaining a spirit of startup, talents from different areas to solve problems and collaborate on experimental projects.

Collaboration was a key word in Cannes. With the field of social ne-tworks, it is clear the potential for co-creating products and services, as well as the mobilization of all entities in hel-ping to promote social development in different parts of the globe.

nologies, a concept based on a universal human truth maintains its strength. To prove this, Google has created the De-sign Lab Rebrief, where the challenge was to adapt traditional advertising to the digital world.

Authored by filmmaker Doug Pray, the documentary Project Rebrief is ins-piring. Google Lab invited creators of successful campaigns in 60 years, now retired, to sit with the new creative gene-ration and translate the message of classic communication tools of today.

The result surprised everyone. A campaign has been recreated from Coca-cola, including being awarded with the Lion at Cannes in 2012. The original campaign, broadcast in 60 ye-ars, shows a beautiful coral at the top of the mountain, composed of people from different backgrounds and races. The letter of Coral summarizes the idea, saying: “I want to give a Coca-Cola to the world.” The digital version of this concept used current technology to fulfill the desire of those who sang in the choir: take a Coca-Cola to the world. The Coca-Cola has released spe-cial machines for the refrigerant in se-veral countries. Instead of buying just for you, the machine started to give the consumer the ability to buy a can for another retreat in another part of the world. Plus, besides giving a Coca-Cola

Rafael Pimentel Lopes

Special German Correspondent

Neo Mondo - July/August 2012

Discussions about social networks highlights the impact of those who are often topics of conversation and cham-pions of followers on the Internet: the celebrities. With online channels, fans even closer to their idols, increasing the influence and leverage personalities. The Festival was attended by some of these great phenomena, among them the sin-ger Selena Gomez, the fighter George St. Pierre, the Korean pop group 2NE1 and former player Ronaldo - who spoke as Brazil is preparing for the World Cup and for the Olympics.

Despite the continuous emergen-ce of new technologies that drive even more the speed of change, progress is often exactly rescue what was lost in the past. This is shown by the big win-ner at the Cannes Film Festival in the category movie: the animation for the restaurant chain Chipotle. The commer-cial champion, called “Back to the begin-ning,” shows a farmer and uncontrolled increase of its pork production, leading to extreme confinement of animals and unsustainable processes. At the end of the film, noting its environmental im-pact, the farmer decides to go back and re-establish sustainable practices when it was just a small producer.

The Cannes Film Festival also sho-wed that a great idea transcends genera-tions. Even with the arrival of new tech-

Ronaldo, one of the phenomena present in the festival that awards the best

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Jack Dorsey receives award “Media Person of the Year”

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The Bill & Melinda Gates took the creative gifts in the Festival and offered $ 100,000 to anyone who had an idea that really help to overcome his grea-test challenge: to mobilize people who do not donate to charities because they believe that money it’s not well spent, or worse, that is diverted.

The success story of Gates Founda-tion shows that you can achieve great results through grants, developing pro-grams against hunger, and treatment for AIDS vaccines to children in remote areas. Another foundation that was pre-sent in Cannes was to Bill Clinton, re-presented by the former president, who was the Festival at the invitation of the ABC group, the largest holding of com-munications agencies in Brazil and Latin America. Clinton said that we live in a time of many possibilities and would like to have twenty years again to see what will happen. For the former Ame-rican president, it is good to know that today with the new communication to-ols, ordinary people are much more able make a difference than before.

However, to be a catalyst of chan-ge that our planet needs, not just have access to new technologies and com-munication tools. Having an idea is still crucial. You can even imagine that with the volume of information available in seconds, get ideas today is easier. But on the one hand there is more input on the other it requires much more ability to digest the information, which does not necessarily facilitate the creative pro-cess. Hence the importance of celebra-ting the great ideas with Lions Interna-tional Festival of Creativity in Cannes. The effort to create and implement an idea should be recognized and applau-ded. After all, great ideas make all the difference. And with the great challen-ges facing the planet and will face, we need more of them. Bring new lions.

Rafael Pimentel LopesFormado em Comunicação Social pela ESPM-SPe em Criação Publicitária pela Miami Ad School

Rafael Pimentel LopesFormado em Comunicação Social pela ESPM-SP e em Criação Publicitária pela Miami Ad School

Bill Clinton, ahead of the Foundation that bears his name, would have 20 years less

Great ideas make all the difference and deserve the lion figurine, a market is a jungle

Approximately 11 thousand participants from over 90 countries

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neo mondo - outubro 2008 A

A coleção “Bullying Não É Brincadeira” conta com seis livros que abordam questões sobre o preconceito, a diversidade e a inclusão com uma linguagem simples, sensível e divertida. As personagens são cachorrinhos que passam por situações semelhantes àquelas que as crianças vivenciam nas escolas. Traz ilustrações adequadas à faixa etária de 5 a 8 anos, ensinando os pequenos a aceitarem as diferenças para que possam agir com respeito desde a infância. Os textos são da escritora e pedagoga Silmara Rascalha Casadei, com ilustrações de Ricardo Girotto.

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O público recorde – cerca de 25 mil pessoas – e a ausência de polê-micas, presentes nas edições an-

teriores, marcaram a décima edição da Flip, que aconteceu de 4 a 8 de julho. o homena-geado deste ano foi carlos Drummond de andrade, poeta morto em 1987 e que com-pletaria 110 anos em outubro. a exposição “Faces de Drummond” trouxe as diferentes nuances de seu trabalho, expressadas em textos divididos em módulos cronológico-temáticos, como “o Provinciano cosmo-polita” ou “o Funcionário Gauche”. Drum-mond também foi tema de diversas mesas realizadas durante a festa de eventos espe-ciais como a cavalgada cultural, que reuniu 16 cavaleiros vindos de itabira, a cidade de origem do autor. a cavalgada percorreu grande parte de estrada real, antigo cami-nho por onde o ouro das minas Gerais era trazido para ser levado à europa, partindo do porto de Paraty.

após a chegada dos cavaleiros, houve declamação de poemas por crianças ita-biranas que estudam a obra do escritor. um grupo de lavadeiras ainda apresentou músicas folclóricas tradicionalmente en-toadas durante a lavagem das roupas nos rios de minas Gerais. a delegação da cida-de somou mais de 100 pessoas, incluindo o prefeito João izael Querino coelho que,

Uma década de debates literários

juntamente com o prefeito de Paraty, José carlos Porto neto, e com Pedro Drum-mond, neto do poeta, descerrou uma placa com o poema confidência do itabirano.

mas, é claro, o foco da Flip não foi só Drummond. a festa contou, como sempre, com muitas presenças ilustres. um dos auto-res mais esperados foi o inglês ian mciwan, ganhador de inúmeros prêmios literários, incluindo o prestigiado Booker Prize e o Whi-tbread award. seu romance serena foi lança-do mundialmente durante a Flip e só depois sairá nos países de língua inglesa. trata-se de uma história de espionagem com reviravol-tas que prometem surpreender. na festa, ian dividiu a mesa literária com outro nome de peso da programação: a escritora norte-ameri-cana Jennifer egan, ganhadora do Pulitzer em 2011, com a Visita cruel do tempo. sua obra o torreão, lançada nos estados unidos em 2006, chegou ao público brasileiro recente-mente e conta a história de um nova-iorquino viciado em internet que vai à república tche-ca ajudar um primo a transformar em hotel um castelo que comprou.

com diversos pontos de vista seme-lhantes, entre eles a defesa da manipu-lação do leitor por parte dos romancis-tas, a conversa entre os dois autores durante a mesa literária fluiu sem di-vergências ou polêmicas e até com tro-

Cultura

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Com homenagem a Carlos Drummond de Andrade, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) completou dez anosRosane Araujo

cas de elogios, o que para muitos tor-nou a atração morna.

outro nome muito aguardado, o norte-americano Jonathan Franzen, autor da cole-tânea de artigos e ensaios como ficar sozinho e do romance tremor, protagonizou uma apresentação sem muito brilho. seu compor-tamento, considerado por muitos como ex-cêntrico, acabou recebendo mais destaque do que as ideias apresentadas durante a mesa.

a política foi um dos temas centrais da mesa comandada pelos poetas árabes adonis, autor de Poemas, recém-lançado no Brasil, e amin maalouf , criador de o mundo em Desajuste. a Primavera Árabe e o relacionamento do governo de Barack obama com os países da região foram al-guns dos assuntos abordados pela dupla.

Questões políticas também foram o centro da conversa entre o ex-deputado Fernando Gabeira e o ex-secretário de se-gurança Pública do rio de Janeiro luiz edu-ardo soares. eles falaram sobre as diversas formas de autoritarismo possíveis. sobrou até para a presidente Dilma rousseff.

outros participantes brasileiros que de-ram o que falar foram os cartunistas laerte e angeli. eles divertiram a plateia falando sobre os limites do humor no Brasil, como lidam com a opinião dos leitores, o futuro da arte de desenhar, entre outros temas.

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Uma década de debates literários

Dois dos pontos mais comentados do evento, porém, aconteceram somen-te no último dia da festa. a mesa “entre Fronteiras”, que contou com o russo Gary shteyngart e o inglês hanif Kureishi, teve como temas centrais o humor e o sexo na literatura. a leitura feita pelo poeta carli-to azevedo de um poema inédito que fez para carlos Drummond de andrade, o homenageado da festa, deixou o público emocionado.

e a Flip 2012 encerrou com a mesa “li-vro de cabeceira”, quando alguns autores leram trechos de suas obras preferidas.

Para a edição de 2013, a curadoria do jornalista miguel conde será mantida e o provável homenageado será o alagoano Graciliano ramos, autor de Vidas secas e morto em 1953. apesar de alguns críticos levantarem a necessidade de reformulação da festa, que estaria ficando desgastada, mudanças radicais no formato foram des-cartadas pela idealizadora do evento, liz calder: “É hora de repensar a Festa, esta-mos abertos a novas ideias, mas ainda não existe nada de concreto. o formato das mesas deverá continuar o mesmo”.

os fãs de literatura certamente aguar-darão ansiosos pela nova Flip. a expecta-tiva é que ela continue dando o que falar e, é claro, muito o que ler.

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Na mesa “Los Amigos” os cartunistas Laerte e Angeli falam da profissão de maneira divertida

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O conceito de selva de pedra está prestes a ganhar um novo signi-ficado. se depender de uma série

de empresas espanholas do ramo da cons-trução civil, em vez de remeter a um hori-zonte cinzento onde prédios oprimem pes-soas, a selva de pedra vai se aproximar cada vez mais das verdadeiras florestas. Desde o ano passado, essas empresas investem em tecnologias que fazem ruas, prédios e calçadas trabalharem de forma semelhante a uma árvore: absorvendo poluentes do ar.

o processo tem um nome científico sé-rio: fotocatálise. Porém, é bem fácil de ser

Selva de Pedra?

compreendido. assim como a fotossínte-se das plantas, que, por meio da luz solar, absorve co2 do ar, a fotocatálise também utiliza o sol para absorver outros tipos de poluentes, como por exemplo os compostos à base de nitrogênio e enxofre, responsáveis pela chuva ácida. a tecnologia é aplicada a ci-mentos e a tintas, que, uma vez nas cidades, ajudam a combater a poluição atmosférica.

a partir de uma reação química que transforma a energia solar em energia química, os produtos com fotocatáli-se conseguem transformar uma grande quantidade de poluentes em substâncias

Meio Ambiente

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Empresas espanholas investem em tecnologia que faz ruas, prédios e calçadas absorverem poluentes do ar

Bruno Molinero, de Palma de Mallorca (Espanha),Especial para NEO MONDO

inertes, ou seja, que não agridem o meio ambiente. ideal para grandes cidades, os materiais que fazem a fotocatálise absor-vem principalmente os compostos à base de nitrogênio, que são produzidos pelos veículos e pela indústria.

“Já é possível pensar em prédios intei-ros e até avenidas com a tecnologia da fo-tocatálise. uma vez que essas construções absorvam os poluentes das grandes cida-des, elas terão praticamente a mesma fun-ção ambiental de um parque”, diz Fabian remautt, presidente da associação ibérica de Fotocatálise.

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neo mondo - setembro 2008 A

a associação tem como objetivo criar o que eles chamam de “ilha fotoca-talítica”. a ideia é criar no meio de uma grande metrópole um lugar onde se possa respirar um ar puro, sem qualquer rastro de poluentes. isso pode ser feito a partir da aplicação da tecnologia em painéis na frente dos prédios, com materiais espe-ciais no topo dos edifícios e até no asfalto de ruas e calçadas (veja todas as possibili-dades no quadro).

“uma das principais missões da asso-ciação é criar as ilhas fotocatalíticas nas grandes cidades espanholas e baixar os ní-veis de contaminação urbana. Queremos limpar o ar que todos respiramos para me-lhorar a qualidade de nossas vidas e prote-ger o meio ambiente”, conta.

além de absorver os poluentes, as ilhas fotocatalíticas buscam pagar uma dívida do setor da construção civil com o meio am-biente. só as usinas de cimento, por exem-

plo, são responsáveis por 5% de todas as emissões globais de gás carbônico, um dos agentes do aquecimento global.

uma das maiores produtoras de ci-mento do mundo, a italiana italcementi, já empregou a tecnologia em seu labora-tório, na cidade de Bérgamo. idealizado pelo famoso arquiteto norte-americano richard meier, o novo laboratório não usa apenas o cimento fotocatalítico. há tam-bém 420 painéis fotovoltaicos, vidros que preservam o calor e poços geotérmicos, por exemplo.

isso fez a empresa italiana levar os prêmios “leed Platinum” e “european Green Building award”, que contemplam iniciativas sustentáveis dentro da cons-trução civil. Quanto às grandes cidades, a tecnologia ainda pode demorar um pouco a ser implantada. “mas não é o que espe-ramos. Queremos ver isso em prática o quanto antes”, conta Fabian.

1. Fachada de prédiosa. Adapta Colors: empresa espanhola que fabrica tintas fotocatalíticasb. Ceracasa: fabrica painéis de cerâmica que, aplicados a edifícios, absorvem os poluentes do ar

2. Calçadaa. Breinco Bluefuture: empresa especializada em pavimentos, que possibilita a construção de calçadas fotocatalíticas

3. Tetoa. Icopal: especializada em impermeabilizações, produz lâminas com capacidade de absorver poluentes

4. Qualquer partea. FMC Silicates: produz o OFFNOx, produto que pode fazer parte da fórmula de qualquer produto da construção civil, transformando-o em fotocatalíticob. Zeus Química: fabrica pigmentos fotocatalíticos que podem ser aplicados em qualquer parte

ilHAs pOssÍVEis

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Em um ano em que o tema susten-tabilidade ganhou destaque em praticamente todos os meios de

comunicação, faz-se necessária uma re-flexão no âmbito empresarial sobre uma questão fundamental das ações ligadas a esta área: como fica a competitividade de uma empresa que realmente adota a prática sustentável em toda a sua ple-nitude? o primeiro instinto de algumas companhias pode ser desenvolver e ado-tar alguns princípios sustentáveis apenas para colher as vantagens da comunicação sobre o assunto, agregando valor para sua imagem corporativa.

o que começa a ser percebido (e ga-nha cada vez mais relevância dentro das organizações), entretanto, são os ganhos que as companhias alcançam em termos de produção e, principalmente, compe-titividade em relação ao mercado. re-sumindo: quem utiliza e implementa os conceitos de sustentabilidade desde o

início do planejamento até a negociação final com o consumidor sai na frente na comparação com concorrentes que não adotam estas práticas.

Belo exemplo disso foi a participação maciça de empresas na rio+20. se na eco92 a presença corporativa era relativa-mente tímida, este ano pode-se dizer sem receios que os protagonistas do evento foram as corporações. nos fóruns desti-nados às empresas, todas elas provaram que têm as condições financeiras e, sobre-tudo, o engajamento necessário para fazer a diferença. são elas as responsáveis atual-mente por construir os pilares da susten-tabilidade no Brasil e no mundo.

estamos falando, claro, daquelas que se empenham em ter uma visão comple-ta, tanto do negócio em que atuam quanto do contexto em que estão inseridas. Para fazer o trabalho de maneira correta, é pre-ciso que as companhias envolvam os di-versos públicos que de alguma forma têm

suas rotinas influenciadas pela ação das empresas e entendam, além das suas ne-cessidades, a sua realidade específica.

como exemplo de um trabalho com esta premissa, podemos citar uma ferra-menta para as ações sociais adotadas pela anglo american chamada seat (caixa de Ferramentas de avaliação socioeconômi-ca). trata-se de um sistema de consultas junto a um universo de partes interessa-das: vizinhos, comunidades, fornecedo-res, empregados, prestadores de serviços, segmentos organizados da sociedade, ges-tores públicos e formadores de opinião, entre outros.

a seat é aplicada a cada três anos e complementada com a realização de fóruns de debate e de prestação de con-tas, amplamente divulgados e de parti-cipação aberta a todos os interessados. atualmente, na unidade de negócio ní-quel da anglo american, a seat está em sua terceira aplicação. a ferramenta está

desenvolvimento sustentável promove competitividade

Coordenador de relações com a comunidade, Liomar Vidal, na escola Municipal Professora Maria siqueira Pinto, que foi construída em Bairro Alto com o apoio da Anglo American

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Ricardo Ribeirodisponível para download no website da empresa a todos que se interessarem. ela é reconhecida pelo Banco mundial como uma das melhores práticas e já recebeu prêmios globais de iniciativa corporativa, servindo de benchmarking para outras empresas engajadas com o desenvolvi-mento sustentável.

com base nos resultados detectados na seat, elaboramos o Pec (Plano de engajamento com a comunidade), que identifica necessidades e interesses da comunidade local para dar origem a pro-jetos concretos. um dos pontos essenciais da aplicação da ferramenta é, justamente, esse engajamento de parceiros. o estabe-lecimento de parcerias, seja com onGs, governo ou a comunidade, rende os me-lhores frutos para todos, por vários mo-tivos. um dos principais deles é delegar as atividades a quem possui o know-how específico e as capacidades necessárias à realização de cada grupo de ações plane-jadas. além de mais organizado, o plano elaborado ganha força ao engajar todos em um único trabalho, com objetivos em comum, respeitando limites e agregando valor a todos.

Para ilustrar, podemos apontar a atu-ação da anglo american nos municípios de niquelândia e Barro alto, no estado de Goiás, onde a empresa opera minas e pos-

sui plantas de beneficiamento de níquel. além do investimento em infraestrutura básica, com a construção de hospital, esco-las e centros de aprendizagem industrial, a anglo american possui parcerias com onGs como care Brasil, reprolatina, Ba-rong e agenda Pública. entre os projetos fomentados estão o desenvolvimento dos empreendedores e fornecedores locais, o fortalecimento institucional, iniciativas culturais e educacionais sobre biodiversi-dade, a inclusão de jovens pela música e pelo esporte, além da promoção da saúde sexual e reprodutiva. as conquistas são creditadas a todos que atuam em conjunto para alcançá-las.

Vale ressaltar que esse conceito de sustentabilidade pode e deve permear qualquer empreendimento, seja um pe-queno comércio ou as maiores corpora-ções transnacionais, levando em conta os aspectos ambientais, sociais e, como não poderia deixar de ser, a viabilidade econômica. as empresas podem motivar um impacto positivo nas comunidades em que atuam, gerando emprego, renda e melhorias na infraestrutura, apenas para citar alguns pontos. mas é a boa gestão pública e privada e o engajamento da so-ciedade que permitirão que esse impacto positivo se multiplique e seja fixado em base permanente.

Ricardo Ribeiro Diretor da área de S&SD (Segurança e

Desenvolvimento Sustentável) da Unidade de Negócio Níquel

da Anglo American.

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Marcio Thamos

O todo-poderoso Júpiter não se emendava nunca. era o zeloso pai dos deuses e dos homens,

mas em matéria de fidelidade conjugal não poderia ser tido como modelo. Bas-tava ver um rabo de saia para ficar logo embasbacado. e não se aguentava em si enquanto não tivesse seu desejo satisfei-to. Para tanto, inventava os mais variados truques de sedução.

Por isso, Juno, a rainha dos deuses, se-vera esposa, andava sempre desconfiada. Já não estava disposta a tolerar as escapa-delas do marido. um dia, procurando por ele no céu e vendo que em nenhuma parte se encontrava, não teve dúvida:

— ou muito me engano ou esse farris-ta vai de novo pulando a cerca!

e a deusa, esquadrinhando as terras lá embaixo, reparou que em certo ponto uma névoa escura cobria estranhamente a luz do dia. ora, ora, aquilo era no míni-mo suspeito, e Juno resolveu tirar a prova. sem perder tempo, atravessou os ares e, dissipando as sombras, pousou num bos-que da argólida, na Grécia, onde encon-trou ninguém menos do que o marido ao lado de uma linda vaquinha branca. essa vitela era a ninfa io, que Júpiter, há pou-co perseguira entre o arvoredo. o deus tomara o cuidado de ocultar sua paixão da vista de todos, mas não contava com a astúcia da esposa. ao pressentir a chegada de Juno, transformou de supetão a amante numa bezerra e ficou disfarçando a cara de tacho. a deusa, como se não desconfiasse de nada, elogiou a beleza da vaquinha, per-

guntando de quem era e de onde vinha. e Júpiter, para encurtar o assunto e não se comprometer, diz que a novilha tinha acabado de nascer ali mesmo, espontane-amente gerada pela terra... Juno percebeu que essa conversa era só pra boi dormir e, como quem não quer nada, pediu:

— Você bem que podia me dar essa vaquinha! É tão bonita...

Que fazer? recusar um presente tão simples à própria mulher causaria descon-fianças... o esposo, a contragosto, oferece a bezerra a Juno. mas a deusa mesmo as-sim continua com a pulga atrás da orelha. e a pobre io, sem culpa de nada, passa então a ser vigiada noite e dia pelo pastor argos, a quem Juno a confiou. isso signifi-cava que a moça não teria nunca a chance de escapar, porque esse guarda tinha cem olhos em volta da cabeça, e enquanto cada par de olhos dormia, os restantes estavam sempre acordados e atentos.

Júpiter não pôde mais manter-se à par-te. chamando o deus mensageiro, seu filho mercúrio, o encarrega de livrar-se do vigia e libertar a atormentada io. não há entre os deuses nenhum mais ligeiro e desem-baraçado do que este para se desincumbir de uma tarefa. tão logo recebe o encargo, calça as sandálias aladas e, no instante se-guinte, vencidas as distâncias celestes, ca-minha sobre a terra. assumindo a figura de um pastor, vem tocando a flauta de Pã (que acabara de ser inventada). encantado com o som do instrumento, argos o convi-da para sentar-se junto à sombra. era tudo o que o deus queria. mercúrio foi sopran-

do melodias numa cadência cada vez mais suave e arrastada, esperando que o olhudo pastor adormecesse. os cem olhos foram de fato se fechando, mas algum sempre resistia. então, o deus passou a entreter a sentinela com histórias e mais histórias até que de repente... o último olho do pas-tor se fecha. mercúrio ainda lhe toca as pálpebras com a vara mágica para certifi-car-se de que nenhum olho restava alerta, e de um único golpe corta a cabeça de ar-gos (Juno, recolhendo depois os cem olhos do pastor, os colocou na cauda do pavão, sua ave preferida).

corre agora a vaquinha pelo mundo. e se abala numa carreira desesperada, por-que a deusa atiça atrás dela o moscardo, que lhe vai sapecando o lombo de picadas dolorosas sem parar. até que, chegando às margens do nilo, enfim io encontra a paz, depois que Juno abranda o rancoroso ciú-me. ali então, retomando a figura própria, a ninfa passou a ser cultuada como Ísis, grande deusa do egito..

Doutor em Estudos Literários. Professor de Língua e Literatura Latinas

junto ao Departamento de Linguística da UNESP-FCL/CAr,

credenciado no Programa de Pós-Grad-uação em Estudos Literários da mesma

instituição. Coordenador do Grupo de Pesquisa

LINCEU – Visões da Antiguidade Clássica.E-mail: [email protected]

Mitologia Clássica:a ninfa Io transformada em novilha

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Modo de fazer:

Hidrate a soja com a água, pasta de missô, shoyu, gengibre em pó, chilli em pó, e o sal marinho, reserve.Refogue o alho poró com um pouco de óleo e reserve.Misture todos os ingredientes com a soja hidratada e o alho poró. Modele as almondegas e leve para assar em forno pré-aquecido a 180°c por aproximadamente 30 minutos.Sugestão de consumo: Sirva com molho de sua preferência, por exemplo, ao sugo fica excelente.

espaço Gourmet Villa natural

Ingredientes• 150 gramas de Proteína de soja

texturizada granulada• 350 ml de Água• 1 colher de sopa de Pasta de missô• 1colher de sopa de Shoyu• Gengibre em pó a gosto• Chilli em pó a gosto• 1 colher de chá de Sal marinho• 2 colheres de sopa de Azeitona verde

picadinha• 1 unidade Alho poró picadinho• 100 gramas de Semente de chia• 3 colheres de sopa Farinha branca• 3 colheres de sopa de Farinha integral• 3 colheres de sopa Margarina• 40 ml de Azeite extra-virgem • 1 dente de Alho picadinho

Almondega Vegetariana de chia e proteína de soja texturizada

Alexandra Midori Morita Zanoli

Formada em Educação FísicaPós-graduada em Nutrição Desportiva

Pós-graduada em Ginástica Postural CorretivaProfessora de Yoga

Chef do Villa Natural e Sócia do Villa Natural

S E M E N T E D E C H I AA chia (Salvia Hispanica) é uma semente de propriedades de dar inveja a muitos outros grãos, cultivada em terras mexicanas e colombianas. É inacreditável como tão pequena e de formato oval pode trazer tantos benefícios a saúde, como prevenção de tumores, auxilio nas doenças do coração e redução de peso entre muitos outros.Na antiguidade os maias e astecas já reconheciam seus valores nutritivos, mas foi mal vista pelos espanhóis católicos que proibiram seu plantio, retomando só em 1990. No Brasil é novidade e poucos a conhecem, mas os adeptos a uma culinária mais saudável vem incluindo essa sementinha em suas dietas.Riquíssima em ômega-3, um nutriente que não é produzido pelo organismo e que é encontrado em quantidades notáveis em peixes, ela torna-se essencial na dieta dos vegetarianos. Além disso também é rica em proteínas. Sem contar que o consumo regular de omega-3 auxilia no aumento do bom colesterol o HDL e diminui o ruim o LDL.

Quando a chia entra em contato com a água forma um tipo de gel, pois absorve 12 vezes seu peso em água. Isso no estômago provoca sensação de saciedade auxiliando na redução de peso. Para esta finalidade orienta-se consumi-la meia hora antes das refeições, misturando duas colheres de sopa em um copo de água e consumir imediatamente. Quando o objetivo é a nutrição ela pode ser acrescentada em vitaminas de frutas, saladas, preparações de arroz, feijão, bolinhos e sopas.

Villa Natural restaurante

rua Cel. Ortiz, 726 - V. Assunção - santo André

(11) 2896-0065 - www.villanatural.com.br

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ORGULHO ONTEM,HOJE E SEMPRE.

É ASSIM QUECOMEMORAMOS OS

30 ANOS DA CODEMIN.

RUY DE ARAUJO FERREIRAAnglo American, Brasil

A ANGLO AMERICAN CRESCEU

JUNTO COM NIQUELÂNDIA, EM

GOIÁS. PESSOAS COMO O RUY,

QUE ESTÁ CONOSCO DESDE O

INÍCIO E QUE TEM UM FILHO QUE

TAMBÉM TRABALHA NA ANGLO

AMERICAN, SABEM QUE UMA

EMPRESA DE MINERAÇÃO PODE

LEVAR BENEFÍCIOS A TODA UMA

COMUNIDADE.

TEMOS ORGULHO DO QUE

CONQUISTAMOS JUNTOS E

GOSTARÍAMOS DE AGRADECER A

TODOS OS QUE NOS AJUDARAM

NESSA TRAJETÓRIA.

ESTAMOS PRONTOS PARA

CONSTRUIR EM PARCERIA UM

FUTURO AINDA MELHOR.

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