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Redacçom O obscuro mundo do negócio do jogo nom limita os seus interesses na Galiza a casinos, hotéis ou ao ganho das famosas "slot-machi- ne", essas máquinas conhecidas popularmente como "traga- perras", que tantas famílias ten- hem levado à ruína. Algumhas empresas muito conhecidas deste sector, como Cirsa ou Recreativos Franco, estám a ser investigadas em vários países, e continuam a usar a nossa terra para branquear importantes quantias de dinheiro de procedência muito duvidosa. No Estado espanhol, pesquisas do juiz Baltasar Garzón também ten- hem atingido responsáveis por estas firmas, sem ter ousado o magistrado, no entanto, chegar ao fundo desta trama, que poderia salpicar o próprio PSOE. PÁGINA 8 novas da Número 25, Dezembro de 2004 BNG veta Orçamentos Gerais do Estado Junta quer vulnerar protocolo de Quioto Somente nacionalismo contesta planos da SEPI CIG denuncia campanha de Greenpeace Deslocalizaçons poderám destruir 12.000 empregos na Galiza Agravamento da perseguiçom política em Sada "As mobilizaçons contra a Cámara som dirigidas pola própria empresa, nom por trabalhadores de ENCE" Miguel A. Fernández Lores, presidente da Cámara Municipal de Ponte Vedra Venezuela, umha nova esperança por J. A. Corral Iglesias 25 número Centros sociais proliferam na Galiza Máquinas de lavar dinheiro Redacçom A menos de dous meses do prometido referendo da Constituiçom Europeia, NOVAS DA GALIZA publica neste número a primeira parte de umha interessante análise da carta constitucional do prestigioso especialista em política internacional Carlos Taibo. O autor, mesmo recon- hecendo que ao redor deste processo nom deve esperar-se um debate franco e aberto, debruça-se sobre a génese e a letra do texto, ao qual a pro- paganda oficial reservou o cometido de resolver os pro- blemas que ainda nom solu- cionárom as constituiçons dos Estados-membro PÁGINA 10 Redacçom Se a Gentalha do Pichel, como já foi anunciado, abri- rá as portas do seu local social no próximo mês de Fevereiro na capital galega, sete das oito cidades do País contarám já com espaço físi- co para a promoçom da lín- gua e da cultura nacionais. Mas estas iniciativas cidadás nom som apenas o lugar de encontro de muitos vizinhos e vizinhas das nossas urbes; som, também, a porta aberta ao espalhamento por toda a Galiza de um projecto que nom deixa de receber o suporte de numerosos colec- tivos sociais e culturais. PÁGINA 6 Análise de Carlos Taibo: “Constituiçom sem Povo” Atreu e a Esmorga abrem as portas na Corunha e Ourense

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Redacçom

O obscuro mundo do negócio dojogo nom limita os seus interessesna Galiza a casinos, hotéis ou aoganho das famosas "slot-machi-ne", essas máquinas conhecidaspopularmente como "traga-perras", que tantas famílias ten-hem levado à ruína. Algumhasempresas muito conhecidas destesector, como Cirsa ou RecreativosFranco, estám a ser investigadasem vários países, e continuam ausar a nossa terra para branquearimportantes quantias de dinheirode procedência muito duvidosa.No Estado espanhol, pesquisas dojuiz Baltasar Garzón também ten-hem atingido responsáveis porestas firmas, sem ter ousado omagistrado, no entanto, chegar aofundo desta trama, que poderiasalpicar o próprio PSOE.

PÁGINA 8

novas daNúmero 25, Dezembro de 2004

BNG vetaOrçamentosGeraisdo Estado

Junta quer vulnerarprotocolo deQuioto

Somentenacionalismocontesta planosda SEPI

CIG denunciacampanha deGreenpeace

Deslocalizaçonspoderám destruir12.000 empregosna Galiza

Agravamentoda perseguiçompolítica em Sada

"As mobilizaçonscontra a Cámarasom dirigidas pola própria empresa,nom por trabalhadores de ENCE"

Miguel A. Fernández Lores,presidente da CámaraMunicipal de Ponte Vedra

Venezuela, umhanova esperança

por J. A. Corral Iglesias

25número

Centros sociais proliferam na Galiza

Máquinas de lavar dinheiro

Redacçom

A menos de dous meses doprometido referendo daConstituiçom Europeia,NOVAS DA GALIZA publicaneste número a primeira partede umha interessante análiseda carta constitucional doprestigioso especialista empolítica internacional CarlosTaibo. O autor, mesmo recon-hecendo que ao redor desteprocesso nom deve esperar-seum debate franco e aberto,debruça-se sobre a génese e aletra do texto, ao qual a pro-paganda oficial reservou ocometido de resolver os pro-blemas que ainda nom solu-cionárom as constituiçons dosEstados-membro

PÁGINA 10

Redacçom

Se a Gentalha do Pichel ,como já foi anunciado, abri-rá as portas do seu localsocial no próximo mês deFevereiro na capital galega,sete das oito cidades do Paíscontarám já com espaço físi-co para a promoçom da lín-gua e da cultura nacionais.Mas estas iniciativas cidadásnom som apenas o lugar deencontro de muitos vizinhose vizinhas das nossas urbes;som, também, a porta abertaao espalhamento por toda aGaliza de um projecto quenom deixa de receber osuporte de numerosos colec-tivos sociais e culturais.

PÁGINA 6

Análise deCarlos Taibo:“Constituiçomsem Povo”

Atreu e a Esmorga abrem as portas na Corunha e Ourense

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segunda

Editora: Minho Media S.L.

Director: Ramom Gonçalves

Redactor-chefe: Carlos Barros G.

Conselho de Redacçom: MartaSalgueiro, Antom Santos, Antón Álvarez, Ivám Garcia, Alonso Vidal,Xiana Árias, Sole Rei

Colaboraçons: Maurício Castro,Inácio Gomes, Davide Loimil, JoámCarlos Ánsia, Santiago Alba Rico,Kiko Neves, José R. Pichel, RamomPinheiro, Carlos Taibo, IgnacioRamonet, Ramón Chao,GermámHermida, João Aveledo, AdelaFigueroa e Carlos Taibo

Fotografia: Arquivo NGZ

Humor Gráfico: Suso Sanmartin,Pepe Carreiro, Pestinho +1,Xosé Lois Hermo, Gonzalo Vilas,Aduaneiros sem fronteiras

Publicidade: 639 146 523

Correcçom lingüística:

Eduardo Sanches Maragoto

Imagem Corporativa: Paulo Rico

Desenho gráfico e maquetaçom:

Miguel Garcia e Carlos Barros

NOVAS DA GALIZA

Apartado 106927080 Lugo - GalizaTel: 639 146 [email protected]

As opinions expressas nos artigos nomrepresentam necessariamente a posi-çom do periódico. Os artigos som delivre reproduçom respeitando a orto-grafia e citando procedência. É proibi-do outro tipo de reproduçom sem auto-rizaçom expressa do grupo editor.

A informaçom continua periodicamenteno portal www.galizalivre.org

Fecho de Ediçom: 15.12.04

2 segunda Dezembro 2004 novas da galiza

Venezuela, umha nova esperançaJosé Alberte Corral Iglesias

Muito poderíamos escrever sobre aactual Venezuela, mas paracompreendermos a curta história

da V República Bolivariana, achoimprescindível tratar certos aspectos damesma: A energia é o bem de bens. Sem ela nompode existir nem actividade económica nema sociedade de consumo tal como hoje seconhece nos Estados metropolitanosdominantes do planeta. Em conseqüência,estes Estados estám obrigados a exercer oseu poder militar e político para controlaremas fontes primárias da energia.A guerra é um dos mecanismos para levar acabo este domínio. Ora bem, a guerra hojetem diferentes intensidades e existemdiferentes maneiras de levá-las a cabo. Aschamadas, por estrategistas militares,guerras de quarta geraçom ou guerrasmodernas tenhem entre os seus váriosvectores dous especialmente salientáveis: ouso dos media como ferramenta para aguerra psicológica e a inexistência de lindesentre a guerra e a paz. Assim, as actividadescivis e militares ficam diluídas. Pois bem,todos estes elementos operam na contra-revoluçom venezuelana, propiciada polaembaixada norte-americana em Caracas,tendo sido o anterior embaixador, Shapiro,um verdadeiro experto em guerra suja. Neste jogo mortal devemos incluir tanto oatentado contra o fiscal Danilo Anderson,responsável pola investigaçom do Golpe deEstado de 12 de Abril, como o assassinatode seis militares e umha engenheira dePDVSA na raia colombiana, semesquecermos o assassínio de mais de oitentalíderes camponeses vitimados polospistoleiros pagos pola oligarquia agrária.Aguardamos que a resposta da V Repúblicavenezuelana, prometida polo Presidente,seja contundente, para assim nom ficaremimpunes estes massacres, já que se esperaum incremento das acçons terroristas depoisdo fracasso de Rumsfeld e Uribe, em Quito,que tentavam criar um corpo de exércitolatino-americano para combaterem as forçasguerrilheiras colombianas.Depois do Referendo Revogatório de 15 deAgosto, 59% de votantes afirmou acontinuidade do Presidente Chávez e nosarrabaldes populares esta porcentagemsuperou 70%. Quando este resultado foiassumido polos organismos internacionais oCardeal venezuelano, Rosálio Castillo Lara,ex-membro da cúria romana, ousou injuriare difamar o povo humilde com esta mentira:“Davam 60 dólares às pessoas pobres paraque votassem no Presidente”, e continuou abufar lume ideológico golpista. Eis de novo

a macabra simbiose de interesses naAmérica Latina entre o Estado Vaticano e osEstados Unidos da América do Norte contratoda a acçom emancipadora das classespopulares e do povo no seu conjunto, comojá antes tinha acontecido no Chile, naArgentina, na Nicarágua, no Peru, etc.Após as eleiçons daquele domingo 31 deOutubro, o povo venezuelano mostrou denovo a sua vontade de mudar tudo aquiloque cheirasse à IV República, que é omesmo que dizer corrupçom e engano queperdurárom durante meio século. Vinte dasvinte e duas Governaçons e a AlcaldiaMaior de Caracas fôrom ganhas poloscandidatos apoiados polo “chavismo”, e aestas devemos acrescentar duzentas esetenta alcaldias das trezentas e trinta equatro que componhem Venezuela. Estagrande vitória das classes popularesvenezuelanas foi possível graças àsorganizaçons vicinais, que conseguíromderrotar os meios de comunicaçom privadosfazendo umha política ao pé dasnecessidades reais, tangíveis e políticas dosmoradores e moradoras dos bairros maiscarenciados. Do outro lado, nesta guerra permanente, aluita psicológica tem umha importánciafulcral como factor da estratégia militar.Toda a guerra tem como objectivo final ocontrolo dos recursos do país. Para isto seriapreciso mudar a conduta da populaçom elograr o seu alinhamento com a oligarquia.A mudança dos três componentes daatitude: o intelectual (o que se pensa dealgumha cousa), o emocional (o que sesente de algumha cousa) e a conduta (o quese fai com respeito a algumha cousa) seriaimprescindível para obterem esse resultado.As operaçons psicológicas estámplanificadas e dirigidas tanto à gente amigaou inimiga como aos órgaos decisórios dopaís, para influírem nas suas atitudes econdutas.Há anos que os meios de comunicaçomprivados na Venezuela tentam criar umhaatitude de rejeitamento face ao Presidente eà Revoluçom Bolivariana através daimplantaçom de ideias com a técnica dealagar o discernir da cidadania, repetindo asconsignas até esmagar a lucidez daspessoas: «Chávez é um assassino», «Chávezé castro-comunista» (componenteintelectual); associando a imagem deChávez com cenas nojentas de forma a gerarumha resposta condicionada de desprezodiante de qualquer representaçompresidencial (componente emocional). Osmeios de comunicaçom dirigem a condutade parte da populaçom (componente

condutiva) com convites para fazer“trancazos”, “guarimbas”, etc. Felizmente,por enquanto, estes mecanismos nomtenhem conseguido derrubar a Revoluçomvenezuelana. Ora bem, nem tudo é vitoria no ProcessoBolivariano: a corrupçom, a ineficiência e asabotagem estám presentes no porta-avions–assim denomina o analista político AramAhoroniam o processo chavista. Muitaspessoas subírom nele sem conhecerem bemo rumo e agora tentam desviá-lo. E de factopodemos afirmar que excepto a derrotapolítica dos “amos do vale”, a históriaencontra-se trancada na Venezuela. Ossalários som pequenos. Ter ou nom tertrabalho depende da vontade decontrataçom por parte do patronato, comoem qualquer outro país, e este mesmopatronato hoje está a ter benefícios comohavia muito tempo nom arrecadava. E porcima nom existe um sistema fiscal eficaz eprogressivo. No entanto, é verdade queexiste um incremento das rendas nommonetárias nas classes trabalhadoras:Escolas Bolivarianas, Unidades Sanitárias,Planos de Alfabetizaçom e deAprendizagem de Ofícios, RefeitóriosPopulares e Mercados Populares –onde osprodutos básicos som a baixo preço. Estasiniciativas constituem um aumento de bem-estar como nunca antes tinham conhecidoestas classes populares: eis o cerne do apoioa esta Revoluçom que objectivamente asbeneficia. Fique claro, nom obstante, que oimportante é levar a cabo a consigna dadapolo próprio Chávez: «se quigermos findarcom a pobreza, demos o poder aos pobres».

Xaquín Rubido, biólogo

Bater na mesma pedra

Já passárom dous anos desde acatástrofe do Prestige e a per-gunta que nos fazemos conti-nua a ser a mesma: se voltassea acontecer agora um acidentesemelhante, que se passaria?Fôrom tomadas as medidas deprevençom e de protecçomnecessárias para ficarem prote-gidas as nossas costas?Existe um axioma básico quediz respeito à segurançaambiental que afirma que sequeremos enfrentar um deter-minado risco, devemos dotar-nos dos meios de protecçomnecessários, devendo ser essesmeios quantitativa e qualitati-vamente proporcionais àimportáncia e à freqüênciacom que se apresenta o risco.Hoje -dous anos depois- jápossuímos o Primeiro Plano deContingências por poluiçommarinha das rias galegas, ela-borado pola Conselharia daPesca e Assuntos Marítimos.Mas este plano apresenta um"pequeno" problema: aindanom dispom de meios mate-riais avondo nem dotaçom depessoal especializado, e a baselogística onde se vai armaze-nar o material está por cons-truir. Em resumo, trata-se deum artefacto burocrático-pro-pagandístico que nasceu -háum ano- com o Decreto438/2003 como Plano Básicode Contingências, e com ocompromisso explícito de rea-lizar exercícios de treinamentocada três meses, mas porenquanto nom foi feito nem oprimeiro. Os rebocadores con-tinuam a ser os mesmos de hádous anos -tam velhos e tamprivados como entom-, tantoos de SASEMAR como os daJunta; as únicas novidadessom dous barcos rebocadorespolivalentes, de média potên-cia, de SASEMAR, dos quaissó um é para a Galiza, e maisdous navios polivalentespequenos da Junta. Quer dizer,continuamos sem rebocadorespotentes e sem navios antipo-luiçom, continuamos semmeios públicos de salvamento.Também carecemos de centrosde armazenamento de material

de protecçom distribuídosestrategicamente -em funçomdo risco- pola nossa costa e depessoal especializado quepoda usar com rapidez e eficá-cia esse material. Ficoudemonstrado que o fundamen-tal é actuar com rapidez nomar para se evitar a afectaçomda linha de costa e, para isso,som precisos meios marítimosde actuaçom.O dispositivo de afastamentodo tránsito (DST) de Fisterracarece de cobertura satelitáriae de meios de vigiláncia aéreose marítimos que permitam fis-calizar, inspeccionar e sancio-nar no alto mar. A cobertura doDST e do radar deve ser alar-gada para assim cobrir toda acosta galega; cumpre seremresolvidos os problemas dassombras radioeléctricas doVHF e garantidas as comuni-caçons em galego com umhacentral de emergências.Cumpre construir helicópterosmodernos de salvamento marí-timo e deixar de pagar essassubstanciosas contas às empre-sas privadas.Tudo isto e muito mais poderí-amos escrever sobre os meiosde protecçom de que carece-mos. Mas no terreno da pre-vençom, a situaçom nom estámelhor. Sabemos da baixaqualidade do tráfego marítimo:barcos velhos, a maioria sobbandeiras de conveniênciacom tripulaçom de escassa for-maçom. E, ainda que se tomas-sem por parte da UniomEuropeia algumhas tímidasmedidas para a implantaçom

do duplo casco, melhoria nasinspecçons, etc., os assuntosprincipais subjacentes ao teci-do económico, que sustenta aexistência de umha frota comdeficiências crónicas, nomfôrom abordados com medidaslegislativas que atalhem o pro-blema de raíz.Porque o tema da responsabili-dade civil, por exemplo, nomse resolve incrementando ofundo do FIDAC, que, comosabemos, nom aborda nem areparaçom ambiental nem asdanificaçons posteriores, enem sequer a totalidade doscustos imediatos de enfrentarcatástrofes da importáncia doPrestige. É necessário estabe-lecer a responsabilidade plenae ILIMITADA de toda acadeia do transporte marítimo:propriedade do navio, fretado-res e armadores, assegurado-ras, empresas proprietárias damercadoria, classificadoras eEstado do pavilhom, para quesejam tomadas a sério as medi-das de segurança e o respeitoao ambiente. No dia que seestabelecer um sistema destetipo ao nível da OMI estare-mos no bom caminho, mas porenquanto nem sequer isto épossível ao nível da UE.Assuntos da importáncia daresponsabilidade penal deriva-da dos despejos poluentes, afiscalizaçom internacional dasgrandes máfias económicasque operam impunemente nosparaísos fiscais ou o desleixocom que som tratadas as gran-des empresas europeias pro-prietarias de umha boa parte da

frota mercante abandeiradasob pavilhons de conveniên-cia, ficam sempre no tinteiro:será por acaso?Vivemos numha sociedadecada vez mais hipócrita e con-vivemos com a hipocrisia doestamento político que -salvohonrosas excepçons- praticaumha dupla linguagem: o quese afirma quando se está naoposiçom ou diante de umacontecimento de granderepercusom social e o que sefai quando se tenhem respon-sabilidades de governo.Estamos vivendo isto com aatitude do PSOE quanto aosorçamentos do Estado para2005, ao ficar marginalizada aGaliza nas grandes questonspendentes, tanto no referente àsegurança marítima como narestauraçom ambiental donosso litoral. Nom é precisodizer que o PP fai outro tantonos orçamentos da Galiza.A situaçom de deterioroambiental e produtivo das nos-sas costas é hoje umha realida-de que -por parte daAdministraçom- só é perspec-tivada de um ponto de vistaregulador, reduzindo asextracçons e fomentando osdesmanches e a reconversomdo sector, mas nom somenfrentados os problemas quecausa esse deterioro ambientalcom a conseguinte dimi-nuiçom na produçom: o sanea-mento integral das rias, o con-trolo dos despejos industriais,o controlo dos despejos aosrios e a protecçom das nossascostas frente às marés negras.É fundamental a persistênciano tempo desse movimentosocial -Nunca Mais- do qualtodos e todas nos sentimos par-tícipes e com o qual todos etodas nos identificamos a partirde umha ampla diversidade deideários e realidades; é funda-mental para erguermos a vozda consciência deste povo, paraalumiarmos o nosso caminho epara lembrarmos a quem tem opoder que, ainda que -muitasvezes- nos enganem com assuas propagandas, nom nosenganam os seus factos.

O primeiro Plano de Contingências por poluiçom marinha das rias galegas aindanom dispom de meios materiais avondo nem dotaçom de pessoal especializado

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editorialDezembro 2004novas da galiza 3

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Oemprego político e partidário da corrupçom émoeda corrente entre as democracias formais,

que no caso galego padecemos sob o sinistroformato espanhol da monarquia borbónica. Assim,por um lado, tornou-se habitual assistirmos acerimónias mediáticas e propagandísticas–pontuais e perfeitamente limitadas no tempo-destinadas a erosionar certos sectores do podermergulhados na luita polo reparto do boloinstitucional. Mas por outro lado, da mesmamaneira, temos de nos afazer a presenciar acessaçom súbita desse bombardeamento, quandonovos destaques mais frescos e vendíveis ocupam aprimeira manchete informativa. Esta informaçommedida, dosificada e, em definitivo, tímida por seencontrar tutelada polas exigências do poder, é aque Novas da Galiza quer ultrapassar no númeroque hoje lês, para apontar a verdadeira gravidadedo problema.

Há provas que revelam, com toda a sua crueza,que a corrupçom nom é um simples

acontecimento esporádico ligado a certos nomespróprios ou à limitada engrenagem de umha rede deobscuras personagens. É, polo contrário, umharealidade permanente que aninha no cerne domodelo económico vigente. Quanto a isto, éesclarecedora a vitalidade do mundo dobranqueamento de dinheiro e do tráfico de drogas.Partindo de um exemplo aparentemente restrito,como é a presença de poderosas empresas do jogonalgumhas comarcas costeiras do sul do País, asmesmas que a economia da turistificaçom inundade casinos e hotéis de luxo, é perfeitamentepossível tracejarmos umha completa geografia deumha rede criminal em pleno desenvolvimento quereina sem nenhum entrave.

Umha vez mais, som os organismos oficiais,pola calada e procurando inutilmente a maior

das cautelas, os que confirmam as teses que a nossainvestigaçom desentranha: o Departamento deAlfándegas da Agência Tributária espanholareconheceu há apenas um ano que a fraude fiscaldetectada por branqueamento de dinheiro tinhacrescido mais de 60%. Por sua vez, com grandeclaridade, um programa de estudo multidisciplinardependente da UNESCO (programa MOST, nassuas siglas em inglês), afirmava que o aumentovertiginoso da actividade criminosa no planeta eraexplicável à luz das novas possibilidades abertaspola liberalizaçom dos mercados e amundializaçom da economia. E ainda, aassociaçom ATTAC, especializada na fiscalizaçomdo fluxo de capitais, denunciava porpropagandística e insufuciente a lei sobremovimentos de capitais aprovada em 2003 nocongresso espanhol, lei que, na prática, consagrapola via institucional a actividade ilegal legalizadae assegura a sobrevivência de actividades apoiadasnum mesto tecido de cumplicidades políticas,institucionais, policiais e jurídicas.

Ocaso do sector do jogo é paradigmático:beneficiado por umha legislaçom de Fazenda

condescendente com a acumulaçom descontroladade fortunas; blindado no seu núcleo duro perante alei; impunes os seus níveis mais elevados peranteumha justiça que só aplica o seu zelo repressivocom as classes populares; e talvez pior, relacionadopoliticamente com forças que, por muito que hajaquem se esqueça, por causa de um penoso sentidodo realpolitik, engordárom o pior capitalismomafioso sob as bandeiras do progressismo e daesquerda que ainda continuam a enganar.

editorialGLOBALIZAÇOM CRIMINOSA

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"Elas somos todas"

Marcha Mundial das Mulheresorganiza campanha contra aviolência de género atéNovembro de 2005

Primeiros passospara umha escola

em galego

A iniciativa atrai a atençom decada vez mais pessoas

A Cogarro volta aRaia Seca

A Coordenadora Galega deRoteiros homenageia a vizin-hança de Cambedo

"Se quigermosfindar com a

pobreza, demos opoder aos pobres"

Venezuela como esperança, porJ.A. Corral

A nossa memóriahistórica musical

A revista galega de históriaMurguia resgata do esquecimentoo nosso passado musical

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4 notícias Dezembro 2004 novas da galiza

notíciasA Junta da Galiza reclama mais generosidade a Madrid para preservar o nível de poluiçom das centrais térmicas

Centrais das Pontes e Meiramavulneram Protocolo de QuiotoRedacçom

A aplicaçom do Protocolo deQuioto na Galiza tem reavi-vado nas últimas semanas odebate sobre o modelo dedesenvolvimento do País.Entre as possíveis conse-qüências da sua aplicaçomestariam o encerramento dascentrais termoeléctricas dasPontes e Meirama. Estasfábricas, que contárom com aoposiçom cidadá desde omomento mesmo da instala-çom, produzem, junto com atérmica de Sabom (Arteijo),que utiliza fuelóleo comocombustível, 60% da energiaeléctrica gerada na Galiza e41% do CO2 lançado para aatmosfera no nosso país.Quase metade desta electrici-dade (46%) é exportada eproduz importantes ganhospara as proprietárias UniomFenosa e Endesa. A soberania espanholaimpom-se também nestamatéria. Segundo Quioto,som os governos estatais osencarregados de assignar ovolume de emissom de gasesprodutores do efeito de estufapara cada empresa ou territó-rio. Levando em conta oacordo internacional, o

Conselho de Ministros espan-hol aprovava em Novembro oPlano Nacional (sic) deAsignaçons 2005-2007(PNA), a aplicar desde o dia1. É este documento que estáno centro da polémica, umhavez que, à vista das conse-qüências apontadas, a admi-nistraçom da Junta reivindi-cava um tratamento maisgeneroso de Madrid com asempresas localizadas no País,sendo-lhes assignadas maio-res quotas de produçom deCO2.A protecçom dos interessesde Endesa e Uniom Fenosafala de desenvolvimento eco-nómico, progresso e postosde trabalho. Segundo umrelatório elaborado polaadministraçom e enviado aMadrid para modificar oPNA, 999 empregos directosnas térmicas das Pontes eMeirama, 1.786 nas minas e6.255 postos de trabalho indi-rectos desapareceriam se seaplicasse à letra o documen-to, agoirando um incrementodo desemprego galego de 5.6pontos. Aliás, a Junta "alerta"para a possibilidade de que ascompanhias venham a sus-pender investimentos porvalor de 409 milhons no

nosso país.O governo municipal do BNGdas Pontes agia como valedorde Endesa, avançando com ahipotética desapariçom deempregos e consideraçons decarácter local. Por enquanto,

só ambientalistas e a forma-çom independentista NÓS-Unidade Popular se manifes-tárom inequivocamente afavor do encerramento dascentrais térmicas instaladasna Galiza.

Redacçom

Os planos da SEPI fôrom con-testados numha manifestaçomque percorreu as ruas de Ferrolno passado dia 16 deDezembro, organizada polaPlataforma Galega em Defesado Naval e boicotada polos sin-dicatos espanhóis CCOO eUGT. No acto foi reivindicadaumha soluçom à crise queestám a padecer os estaleiros deIZAR.Na Plataforma Galega emDefesa do Naval consideramque a passagem da indústria de

Fene para a empresa militar"nom é umha opçom estável".Também criticam a atitude deCCOO e UGT, por se teremrecusado a participar na mani-festaçom convocada por estecolectivo, acusando estes sindi-catos de "cumplicidade com oGoverno espanhol", e responsa-bilizando-os polas conseqüên-cias negativas para Trás-Ancosda reconversom de 1984. Por sua vez, o presidente daCámara Municipal de Fene, onacionalista Xosé MaríaRivera, assegurou que para aUGT e CCOO "nom importa

nada a Galiza e menos os tra-balhadores", indicando que aspré-reformas previstas nos pla-nos da SEPI "deixam numhaboa situaçom algumha gente,mas, polo contrário, som elimi-nados postos de trabalho". O porta-voz nacional do BNG,Anxo Quintana, advertiu que aSEPI e os sindicatos espanhóis"estám a cometer dous erros",ao entenderem que a crise deIzar só é um problema laborale nom social e "por nom teremem conta que o naval é umsector estratégico para aGaliza". O líder do BNG

salientou a necessidade de quese mantenha na ria ferrolanaum complexo de construçomnaval civil e militar.

Somente nacionalismo contestaplanos da SEPI para o Naval

NGZBoa parte da militáncia daAssembleia da MocidadeIndependentista reuniu-se nolocal social A Esmorga deOurense para realizar o encontrobianual em que se debatem eratificam as principais linhasestratégicas e tácticas a seguir noseu trabalho quotidiano. Em sen-tido contrário ao acontecido emocasions anteriores, em que umcerto continuísmo era a nota pre-dominante, a assembleia dosdias 27 e 28 de Novembro carac-terizou-se por certos reajusta-mentos salientáveis: no planoorganizativo, a AMI deixou de seconsiderar a organizaçom damocidade de todo o MLNG parase apresentar como "organiza-çom de quadros juvenis" que tra-balhará socialmente no seio deiniciativas mais amplas.Também neste sentido, e após aanálise das recentes desavençasno campo independentista, opróprio Movimento nom é consi-derado como um espaço de inter-dependência, "mas de coincidên-cia", sem que nenhuma organiza-çom política seja reconhecida deforma prioritária. Quanto à linhaideológico-política, a formaçomjuvenil vincou na sua lealdade aoque considera o "independentis-mo revolucionário", entendidocomo corrente de seu que apostaem vias políticas próprias e enfa-tiza a "necessidade da estratégiade tensom social para avançarno processo político". A dinámi-ca de intervençom social járeferida há-se de concretizar,para a AMI, no trabalho em proldos centros sociais alternativos,da criaçom de um tecido asso-ciativo, cultural e desportivojuvenil, e na implicaçom mili-tante preferente nos ámbitos dalíngua e do trabalho.

AMI quer fortalecermovimentojuvenil galego

VI ASSEMBLEIA NACIONAL

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notíciasDezembro 2004novas da galiza 5

Sob a legenda "Elas somos todas" o feminismo galego reivindicou umha lei integral galega contra a violência de género

Marcha Mundial das Mulheres realizarácampanha contra a Violência Sexual atéNovembro de 2005Redacçom

As associaçons e colectivos demulheres, junto a milhares de pes-soas de todo o País, comemorá-rom o Dia Internacional contra aViolência Machista em Vigo. A 27de Novembro, umha manifesta-çom nacional percorreu as princi-pais ruas da cidade olívica sob alegenda "Elas somos todas". Estamobilizaçom foi o ponto deencontro das acçons que durantetoda essa semana se desenvolvê-rom nas diferentes comarcas gale-gas. No comunicado final desteencontro, Eva Salgado, em nomeda Coordenadora Galega daMarcha Mundial das Mulhereslembrou as últimas vítimas gale-gas da violência de género, nome-ando Maria do Carmo Casal eSara Alonso, assassinadas naGaliza. Mas também foi lembradoque "os agressores e maltratadoresodeiam e podem matar, mas nomsom os únicos responsáveis.Perpetuar e fomentar a divisom degéneros é manter a ideia da nossasuposta inferioridade". O feminis-mo galego também pujo de mani-festo que a Lei proposta pologoverno espanhol do PSOEsupom um avanço nalguns aspec-tos, "mas nom é suficiente, já quesomente contou com a participa-çom das associaçons de mulheresde ámbito estatal, esquecendo asdiferentes realidades das naçons".O movimento feminista galegoestá a reivindicar a elaboraçom deumha lei integral galega contra aviolência machista, cujo rascunhojá está a ser ultimado. O dia 25 deNovembro também serviu parapôr de manifesto que a

Constituiçom europeia levada areferendo no próximo mês deFevereiro "nom menciona a vio-lência contra as mulheres especifi-camente, que é igual que nomreconhecer a existência damesma".Mas na semana do 25 deNovembro outras localidadesgalegas também fôrom protago-nistas. Em Vigo, houvo umha con-centraçom diante do Marco, com aprojecçom num edifício de umaudiovisual elaborado polas mul-heres da cidade. Em Ourense, paraalém da concentraçom, realizou-se um acto simbólico e reivindica-tivo na Praça do Ferro, e poste-riormente, no Museu Municipal,um recital poético, com música,imagem, cartazes internacionais eperformance. Em Ferrol, instalou-se umha carpa multi-activa naPraça de Armas, com exposiçons eaudiovisuais, e elaborou-se umtecido que recolhe ideias, frases esentimentos. Em Ferrol também

se realizou, simbolicamente, um"muro do patriarcado". As mulhe-res da Costa da Morte realizáromumhas jornadas sobre violência navila de Cee, organizadas porBuserana.Na Corunha realizou-se umhamostra de fotografia e música nolocal da associaçom AlexandreBóveda, assim como a projecçomdo filme "Señorita Desaparecida".Em Ponte Vedra elaborou-se umestendal reivindicativo com acolaboraçom de centros escolares. Em Compostela fijo-se um tapetegigante que cobriu a Praça doObradoiro. Também o colectivoMulheres Transgredindo realizouumha acçom nas ruas compostela-nas que se plasmou na publicaçomde um almanaque que contém osmotivos para as mulheres saírempara a rua cada um dos meses doano. Entretanto, em Ponte Areias,a Assembleia de Mulheres doCondado denunciou que "a imen-sa maioria dos concelhos e das

instituiçons autonómicas e estataiscarece das verbas orçamentáriasnecessárias para combater a vio-lência machista; porém, anual-mente contribuem com quantiasmilionárias ao financiamento daIgreja católica, e ano após anosom incrementadas as despesasmilitares". O Dia Internacionalpara a Eliminaçom da Violênciacontra a Mulher comemora oassassinato das irmás Mirabal em1960 polo regime de Trujillo naRepública Dominicana. No ano2000 surgiu a ideia da MarchaMundial das Mulheres, e naPrimavera de 2004 a Galiza foi aanfitrioa da marcha a nível inter-nacional. Este ano, o dia 25 deNovembro foi o ponto de partidada Campanha contra a ViolênciaSexual lançada polo ColectivoPaz e Desmilitarizaçom daMarcha Mundial das Mulheres,que se prolongará durante todo oano até o próximo dia 25 deNovembro, em 2005.

Acçom de denúncia em Compostela da violência machista, organizada polo colectivo Mulheres Transgredindo

NGZNo dia 11 de Dezembro, nosalom de actos do IES Lajeirode Lalim, desenvolvêrom-se asjornadas "Um debate, mil repú-blicas" organizadas polasRedes Escarlata. Nelas,Francisco Sampedro dirigiu odebate "A Violência: irredutí-vel?" e Carme Adán introduziua problemática da "Violênciapatriarcal: mulheres, conheci-

mento e comida". Logo aseguir, realizou-se umha mesaredonda sobre a "esquerdanacionalista en construçom".Nela intervinhérom CarlosMorais, por Nós-UnidadePopular, Mariano Abalo, polaFrente Popular Galega, XoséCozallo, polo PartidoComunista do Povo Galego eBraulio Amaro, polas BasesDemocráticas Galegas.

Redes Escarlata organizajornadas em Lalim

NGZO Senado aprovou emComissom o veto apresentadopolo BNG ao Projecto de Lei dosOrçamentos Gerais do Estado de2005, sendo a primeira vez queprospera na Cámara Alta umhaemenda de totalidade às contaspúblicas. Nesta situaçom, osOrçamentos podem ser devolvi-dos ao Congresso, algo inéditoem 25 anos de actividade parla-

mentar . O BNG afirmou que asContas de 2005 carecem de com-promissos orçamentários pluria-nuais, e nom recolhem os instru-mentos específicos para se favo-recer a convergência da Galizacom a média estatal em termosde bem-estar social. Entre ospedidos do grupo galego, assina-lava-se a necessidade de fundospara um Plano de Emprego e umoutro de Desenvolvimento.

BNG lidera veto aosOrçamentos do Estado

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6 notícias Dezembro 2004 novas da galiza

Corunha e Ourense já tenhemcentros sociais

Novo roteiro da Cogarropola Raia Seca

CIG denuncia Greenpeace por agirconforme a interesses económicos

Redacçom

Com a abertura do Centro SocialAlternativo Atreu na Corunha e AEsmorga em Ourense, a imensamaioria das cidades galegas jácontam com locais em defesa doidioma, dos direitos históricos daGaliza e dos valores alternativos.Tam-só Compostela -onde a asso-ciaçom cultural Gentalha doPichel pensa inaugurar o seu pró-prio espaço nos primeiros mesesdo próximo ano- e Ponferrada -com um tecido social galeguistamuito mais fraco- nom aderíromainda a esta nova iniciativa quedemonstra o seu sucesso nos nos-sos núcleos urbanos.O reintegracionismo tem agora naCorunha o seu espaço, conseguidoapós meses de duro trabalho nareabilitaçom de umha loja no bai-rro de Monte Alto. No Atreu fun-ciona já um serviço de bar combalcom próprio e umha pequenasala de actos. Falta por acondicio-nar, porém, um último quarto ondeserá instalada a biblioteca e ondediversas associaçons da cidaderealizarám as suas reunions.O local foi aberto oficialmente a27 de Novembro com umha festade inauguraçom onde participá-rom, entre outros, o Grupo de

Gaiteiros de Artábria ou a conta-contos Sofia de Lavanhou. A par-ticipaçom de mais de um centenarde pessoas de sectores políticos esociais diversos pujo de manifestoas expectativas que esta nova ini-ciativa está a criar na cidade.Quanto ao calendário de activida-des, tivo o seu ponto de arranquecom umha mesa redonda sobre aconstituiçom europeia em queparticipárom o membro da

Plataforma Galega polo NomRoberto Laxe, o representantecorunhês do BNG Henrique Tello,e o militante da AMI AntomSantos.Em Ourense, apesar de a inaugu-raçom ter demorado mais do pre-visto inicialmente, no fecho destaediçom o local da associaçom cul-tural dava os seus primeiros pas-sos após a festa de abertura no dia11 de Dezembro.

Atreu e A Esmorga começam as suas actividades

Campanha internacional contra o arrasto de profundidade gera conflito com marinheiros galegos

Redacçom

A Coligaçom pola Conservaçomdos Fundos Marinhos está a pro-mover umha campanha internacio-nal contra o arrasto de profundida-de no alto mar. Esta coligaçomargumenta que apesar de nom seter estabelecido por enquantoumha moratória, a própria ONUreconheceu que tem um impactonegativo sobre os fundos marinhose pede umha interrupçom temporalpara se realizarem análises científi-cos nos ecossistemas dos montessubmarinos. Dentro desta campan-ha, o barco MV Esperança, docolectivo Greenpeace, realizouumha expediçom de cinco semanaspolo Atlántico Norte para docume-tar os danos, localizar arrasteirosde profundidade e denunciar asituaçom deles. A referida embar-caçom chegou a 17 de Novembroao porto de Vigo, onde foi organi-

zada umha concentraçom de repul-sa aos pedidos da Coligaçom. Osmarinheiros ali presentes conside-rárom que a organizaçom ambien-talista encontrou em Bruxelas umaliado, e que a sua proposta decriar cinco vedas deixaria os bar-cos do litoral numha complexasituaçom, pois ficariam quase semzonas para pescarem no Cantábriconoroeste.No que a isto diz respeito, XabierAboi, responsável nacional polaCIG-Mar, afirmava para NOVASDA GALIZA que consideram acampanha de "miserável" e acusoua direcçom da Greenpeace de per-seguir embarcaçons galegas, lem-brando a guerra do fletám, de ser-vir os interesses de países dos quaisrecebem importantes subsídios,nomeadamente do Canadá, e duvi-dando do apoio de países como aNoruega e de Gorbachov à cam-panha da Coligaçom. Com respeito

às acçons da Greenpeace conside-rou que "nom se pode chegar a estasituaçom caricata, pois som respei-tados os peixes e nom os marinhei-ros", e defende que o sindicatonom quer umha guerra contra oambientalismo, "nem todos juntosnem todos revoltos: nós nomvamos participar em todo o quefizerem os armadores, seguindointeresses do Partido Popular; sódenunciamos acçons concretascontra os trabalhadores".Por seu turno, os principais colecti-vos ambientalistas galegos consi-derárom absolutamente injustas asacusaçons de "mercenários" contraos interesses galegos dirigidas con-tra a Greenpeace. Defendem que acampanha da Coligaçom é deámbito internacional, é fundamen-tada em argumentos sólidos e nomestá dirigida especificamente con-tra os 40 barcos da frota galega quepraticam este tipo de pesca.

Redacçom

A Cogarro, CoordenadoraGalega de Roteiros, organizouumha nova viagem pola RaiaSeca com o reclamo"Caminhando pola Raia 2004,roteiro dos Povos Promíscuos"durante os dias 18 e 19 deDezembro. Este roteiro tenta,nas palavras da coordenadora,recuperar o contacto entre ospovos do norte e do sul da raiacom Portugal, para restaurar asprofundas raízes comuns, aindahoje vivas, que vinculam ospovos galego e português, assimcomo aprofundar na cultura de

umha das zonas mais esquecidasda Galiza. Para isto, visitárom asterras de Mandim, Lamadarcos,Feces de Cima e San Cibrao, atéo povo promíscuo de Cambedo,caminhando pola raia e visitandoo Castro de Wamba, combinan-do o percurso com umha palestrainformativa sobre o confrontoentre a guerrilha galego-portu-guesa e os exércitos espanhol eportuguês acontecido emCambedo. Finalmente, oferecê-rom umha homenagem aosvizinhos e vizinhas da vila raia-na, no qual contárom com a pre-sença de Amigos da Repúblicade Ourense.

Absolvidas trinta pessoasdenunciadas em SadaRedacçom

As trintas pessoas denunciadaspola Polícia local sadense por"alterarem a ordem pública"numha conferência informativado presidente da Cámara,Ramón Rodríguez Ares, fôromabsolvidas polo Julgado deBetanços.Da Plataforma Cidadá polaDemocracia em Sada e dos par-

tidos da oposiçom entendem quea actuaçom da Polícia Local foi"irregular e partidista", e salien-tam que muitas das pessoasdenunciadas "fôrom identifica-das indevidamente", e mesmonalguns casos "os dados regista-dos eram erróneos". Alguns par-tidos da oposiçom sadenseestám a avaliar a possibilidadede denunciar nos tribunais osresponsáveis por esta acçom.

Sabotam IV SemanaGalega do Empreendedor

Ciclo de cinema em Trás-Ancos

Redacçom

Estudantes da Universidade deCompostela sabotárom com tintavermelha na passada quinta-feiraa exposiçom da IV SemanaGalega do Empreendedor, orga-nizada pola Universidade e aJunta da Galiza. Segundo ocolectivo estudantil AGIR, aexposiçom fai parte da estratégiade irrupçom de interesses finan-ceiros e de empresas no ensinouniversitário galego. Situada naFaculdade de Ciências

Económicas e ADE deCompostela, os expositores debancos e empresas levárom,entre o dia 31 de Novembro e 3de Dezembro, os interesses dediversos agentes capitalistas aoseio de umha instituiçom públicaacadémica, sem mais justifica-çom que favorecer os seus finslucrativos e especulativos sobrea comunidade universitária. Aentidade estudantil da esquerdaindependentista difundiu umcomunicado de rejeiçom à referi-da exposiçom.

Redacçom

O colectivo Opaí!!, impulsio-nador desde há meses de umprojecto de rádio livre paraTrás-Ancos, Rádio Filispim,continua com as suas activida-des na capital da comarca. Coma colaboraçom do AteneuFerrolano, que cedeu as suasinstalaçons, a associaçom cul-tural encetou o mês de

Dezembro com a organizaçomde um ciclo de cinema que deucomeço no dia 7 de Dezembrocom o filme A Mighty Wind eque continuará durante as pri-meiras semanas das festas doNatal. A maior parte do cicloserá dedicado a PeterGreenaway e Michael Nyman,mais umha tentativa de alimen-tar umha dinámica culturalalternativa na cidade de Ferrol.

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reportagemDezembro 2004novas da galiza 7

Marta Salgueiro

Nos últimos tempos foi cunhado umnovo nome para umha velha práticacapitalista: a deslocalizaçom, querdizer, produzir onde seja mais rentá-vel, sem se ter em conta a estrutu-raçom do País, nem a classe trabal-hadora nem o bem comum ou obenefício social. Nem mais nemmenos, isso que sempre foi capitalis-mo nu e cru. Um processo que naGaliza já destruiu 5.000 empregosem Ourense, com a fugida deRoberto Verino e AdolfoDomínguez para Marrocos. Um pro-cesso que também ameaça com eli-minar mais 7.000 postos de trabalhono sector das conserveiras, onde amaioria das empregadas som mulhe-res. A isto deve somar-se o encerra-mento de Valeo em Ourense, comproposta de compra de sindicalistase jornalistas, e Itatel nas Pontes ouAvigan em Ponte Areias. Enquantoisto acontece, o governo do PP naGaliza implementa a política do sub-sídio às multinacionais, esquecendoa promoçom dos recursos endóge-nos das comarcas do País.

As conservas e o têxtilEm Janeiro de 2005 a UniomEuropeia eliminará as barreiras deimportaçom no têxtil. Um dos sec-tores mais importantes na Galiza,onde já se experimentou um impor-tante declínio no emprego desde oano 2002. Na comarca de Ourense,chegárom a contabilizar-se 200obradoiros de costura para abasteceras grandes marcas europeias. Nestesmomentos, só a empresa SociedadeTêxtil Lonia, com marcas comoPurificación Garcia ou CarolinaHerrera, continua em Ourense. Osempresários Roberto Verino eAdolfo Domínguez, que duranteanos estivérom a receber enormessubvençons por parte da Junta daGaliza, transferírom as suas fábricasde Verim e Sam Cibrao das Vinhaspara Marrocos. Esta decisom, emprol da produtividade a baixo custo,significou a perda de 5.000 postos

de trabalho na comarca.Galiza é o terceiro país do mundoem produçom de conservas depoisda Tailándia e dos EUA. Um sectorque já viveu também o processo dedeslocalizaçom, e no qual corremperigo na actualidade 7.000 empre-gos, nomeadamente femininos.Este é um sector que conta naGaliza com 63 empresas e dáemprego a 13.000 pessoas, consi-derado o motor económico dascomarcas da Arouça, Barbança eBergantinhos. Destas comarcas, jáfugírom empresas como Escuris,Jealsa ou Calvo, que transferíromos fornos de atum para a AméricaLatina polo mesmo critério de pro-duçom a baixo custo. Foi o primei-ro dos passos a dar por parte destasgrandes empresas que tenhem pla-nificado a curto prazo a transferên-cia total das fábricas para aAmérica do Sul. Esta deslocali-zaçom suporia a perda na Galiza decerca de 7.000 empregos. Aliás,nestes momentos, as empresas jáestám a importar 25% da matériaprima para a conserva, e sendoassim, na Galiza praticamente só seenlata. Se se tomar a decisom datransferência total destes núcleosprodutivos, a Galiza poderá pres-cindir de metade do pessoal empre-gado, a maioria mulheres.

Italtel, Valeo, AviganA fábrica ourensana de Valeo, queelabora elementos electrónicos ecablagens para veículos que fabricao grupo PSA Peugeot-Citroën emVigo, fecha as portas deixando mais258 desempregados, numha comar-ca como Ourense, muito castigadapolo desemprego e, conseqüente-mente, pola emigraçom. A transna-cional francesa, que conta comoutra fábrica no Porrinho, planifi-cou a sua partida depois de ter rece-bido substanciosas subvençonspúblicas. Valeo era antes Labauto,cujos trabalhadores protagonizaramumha das lutas sociais mais activasde Ourense. A antiga fábricaCitroën desparece definitivamenteda comarca e os seus terrenos somvendidos numha operaçom alta-mente especulativa. A empresadurou o que durárom os subsídiosda Junta. A transnacional francesajustificou a sua partida à procura demenores custos de mao-de-obra ede ausência de direitos sindicas.Umha operaçom que já se via vir hádous anos. A multinacional apresen-tara um relatório de fecho em 2003no qual recomendava a "bonifi-caçom" de sindicalistas e jornalistaspara o fecho da fábrica ourensana.O Comité de empresa, onde a UGTé maioritária no caso de Ourense,

torna-a mais viável, diz este relató-rio, que a do Porrinho, onde o comi-té é formado maioritariamente "porum sindicato regional muito maisradical", em referência à CIG. Apontar ainda que Valeo conta hámais de um ano com um centro decablagens no interior do centropenitenciário de Teixeiro, onde dis-pom de todos os locais da prisom,com a excepçom de um pequenoobradoiro de carpintaria. A pro-duçom vai destinada à Citroën emVigo e à exportaçom paraInglaterra. Os presos cobram 360euros por mês. Valeo conta tambémcom subcontratas na prisom dePereiro de Aguiar e a Cooperativade Integraçom Cigana Janela, onde66 pessoas trabalham por muitomenos do salário mínimo e semdireitos sindicais.Italtel é umha fábrica de compo-nentes electrónicos das Pontes, decapital Italiano. Tem prevista a datade encerramento no dia 31 deDezembro. Esta empresa recebeuumha subvençom a fundo perdidode um milhom de euros, o quesupujo 15% do investimento totalde capital. Umha empresa que res-ponde ao mesmo padrom deactuaçom que Valeo. Recebeu osubsídio e agora parte para outroslugares onde a produçom fica maisbarata. Itatel, aliás, está a levaradiante umha campanha para acele-rar o ritmo do processo produtivo,para entregar, no fim deste ano2004, um lote de 4.000 descodifica-dores à operadora Auna. Nom deixade ser paradoxal que a empresa ace-lere a produçom quando pensa des-pedir o pessoal empregado. Avigan apresentou já no julgado umexpediente de falência que afecta 75operários. A empresa, situada emPonte Areias, tem 32% das acçonsem maos da Junta da Galiza. AFiscalia do Supremo Tribunal deJustiça da Galiza tem já em seupoder a denúncia para esclarecer asresponsabilidades da Administraçomda Junta da situaçom de crise quevive a empresa.

Política de emprego do governo PPSom os primeiros passos de umprocesso que, se nom mudar apolítica económica do governogalego, se tornará habitual. AJunta subvenciona as multinacio-nais e transnacionais para se insta-larem na Galiza, sem um mínimorequisito que faga repercutir notecido industrial galego os benefí-cios obtidos por estas empresas.Estas firmas justificam a sua parti-da nos custos de produçom.Quanto a isto, na apresentaçomdos orçamentos para 2005 noParlamento Galego, Manuel Fragae o Conselheiro da Economia JoseAntonio Orza, falavam de conteros salários na Galiza para baixaros custos de produçom. Depois daEstremadura, o nosso País registraos salários mais baixos de todo oEstado. No inquérito do segundotrimestre do Instituto Nacional deEstatística assegura-se que os cus-tos salariais já som moderados.Frente ao incremento dos saláriosem Espanha em 2,5%, o nossoPais recolhe apenas 1,4%. Nomparece, pois, que seja o custo sala-rial o que leva à deslocalizaçomdestas empresas na Galiza.A política económica da Juntaconsiste no abandono dos trabal-hadores e trabalhadoras, no prejuí-zo à nossa capacidade produtiva.O governo nom elabora planosintegrais e nom possui, nestesmomentos, nenhum tipo de políti-ca de desenvolvimento comarcalque promova os recursos endóge-nos das comarcas. Favorece, pelocontrário, a instalaçom temporáriade empresas que depois se vamembora, levando com elas osinvestimentos públicos. OGoverno do Partido Popular tam-pouco aposta na Investigaçom +desenvolvimento (I+D). De facto,36% dos investimentos, neste con-ceito, dos orçamentos espanhóis,vam para actividades militares,mas nem tam sequer para investi-gaçom, mas para o financiamentoda construçom militar.

Deslocalizaçom: novo nome paraa prática mais velha do capitalismo5.000 empregos fôrom destruídos em Ourense e nas conservas podem perder-se 7.000

Galiza é o terceiro país do mundo em produçom de conservas. Um sector que também viveu oprocesso de deslocalizaçom, e no qual correm perigo 7.000 empregos, nomeadamente femininos.

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8 investigaçom Dezembro 2004 novas da galiza

Xan de Camorga

Investigaçons levadas a cabo háalguns anos polo jornalista galegoPepe Rei durante a elaboraçom deum relatório sobre o jogo para arevista 'El Globo', do grupo Prisa,dérom um pouco de luz sobre atrama urdida por este sector naGaliza. Umha importante ajuda paraa realizaçom das pesquisas fora ogalego Luis Bustamante, um fun-cionário da UGT que depois de terpassado por outros sindicatos, deucabo da sua vida dentro do seu pró-prio carro, inalando os gases dotubo de escape. Bustamante chegaraa descobrir as conexons entre as"slot-machine", conhecidas popu-larmente como "traga-perras", e onarcotráfico. Nom por acaso, naGaliza, vários dos narcotraficantescolombianos mais afamados inver-tiram e branquearam o seu dinheiroem negócios de jogo. As denúnciasdo sindicalista transcendêrom inclu-sive ao Parlamento da Galiza, ondeos conseguintes pactos entre parti-dos acabárom por silenciar o tema.Na actualidade, empresas líderes nosector do jogo continuam a utilizara nossa terra para 'lavar' ingentesquantidades de dinheiro de, polomenos, duvidosa procedência.Umha delas é a catalá Cirsa. O juizGarzón tem aberta a instruçom251/99 desde o ano 1999 por bran-queamento de dinheiro e tráfico dedrogas contra o seu proprietário,Manuel Lao. A outra grande empre-sa do sector no Estado espanhol,Recreativos Franco, está a serinvestigada, por sua vez, polaPromotoria italiana polos mesmosmotivos. Ao mesmo tempo, em paí-ses como o Brasil ou a Argentina,as autoridades mantenhem tambémsob vigiláncia as actividades deRecreativos Franco e de Cirsa.Ambas as empresas contam comumha grande implantaçom nonosso país. No caso de Cirsa, paraalém de ter milhares de máquinasde jogo espalhadas polo territórionacional, também possui importan-tes casinos como o da Toja ou com-plexos hoteleiros como o de Samil,na cidade de Vigo. O Grande Hotel

Samil é propriedade de HLG(Hotéis Lao Garriga), umha empre-sa em que participam conjuntamen-te Manuel Lao e a família Garriga,accionista de referência da cadeiaHot Hotéis. O propósito da com-panhia foi sempre acolher na cavedo hotel um grande casino, e inclu-sive chegárom a avaliar a possibili-dade de transferir para a cidade olí-vica o da Toja.Com 79 empregados e empregadas,umha facturaçom anual de 5,36milhons de euros e um benefício de312.000, o casino da Toja é um dosmenos rentáveis do Estado espan-hol. Cirsa comprou-o ao BancoPastor no ano 1995. Um anodepois, começa a polémica polatransferência do casino para Vigo,projecto que Cirsa apresenta no ano1999 para construir um outro, demaiores dimensons, no GrandeHotel Samil que permita captarmais clientes portugueses, conco-rrendo assim com os casinos lusos.O plano de transferência nom foiautorizado pola Conselharia daJustiça, Interior e RelaçonsLaborais, ao contar com a opo-siçom do Concelho de Ogrobe.Actualmente, parece que a com-panhia tem arrumada a ideia.Donos do jogoCirsa é, com a madrilena

Recreativos Franco, umha dasempresas que dominam o jogo noEstado espanhol e umha das líderesmundiais do sector graças à explo-raçom de casinos, bingos e máqui-nas de jogo. Estas últimas som asque maiores benefícios produzem,devido a que se encontram espalha-das por toda a parte. Cirsa foi fun-dada a partir do nada por ManuelLao Hernández e o irmao dele,Juan, que já nom pertence à socie-dade; passárom de gerir um bar emTerrassa (Barcelona) a montar umimpério empresarial. Da mesmamaneira que os irmaos Lao procu-rárom o seu esconderijo emTerrassa, ao amparo deConvergència i Unió, os Francoencontrárom no PSOE o guarda-chuva protector, fundamentalmentena cúpula do Ministério do Interiorvinculada aos GAL. Na actualidade, Manuel Lao, atra-vés de Cirsa Bussines Corporation,e os irmaos Franco, através doGrupo Franco, som os verdadeirosamos do jogo no Estado espanhol,ainda que também espalhassem assuas redes a numerosos países,tanto na Europa como na Américado Sul. Das aproximadamente220.000 máquinas de jogo distri-buídas em bares e cafés do Estadoespanhol, Cirsa possui umhas

20.000, pertencendo outras 14.000a Codere, a operadora dos Franco.O negócio das 'slot-machine' movi-menta por ano 1,47 bilions de pese-tas no Estado espanhol.As duas empresas completam ociclo de negócio: desenham e fabri-cam as máquinas, exploram-nas,vendem-nas a terceiros e exportam-nas. A tributaçom fiscal que seassigna às máquinas de jogo é o quepermitiu a estas empresas cresce-rem até se converterem em podero-sas multinacionais do jogo. Estetipo de máquinas tenhem assignadaumha taxa fixa de contribuiçom fis-cal com independência do dinheiroque arrecadam. A diferença entre oestimado pola Fazenda e o que arre-cada a máquina pode multiplicar-sepor quatro. Deste modo, torna-senecessário distrair umha importantequantidade do que arrecada amáquina para nom alertar a ins-pecçom fiscal. Responsáveis polaFazenda rejeitárom instalar conta-dores nas máquinas de jogo para sesaber desta forma quanto dinheiroarrecadavam exactamente, ao con-siderarem melhor para os seus inte-resses que a taxa continuasse a serestimativa.

O suborno como prática habitualCirsa espalhou-se por boa parte doplaneta. Opera em numerosos paí-ses e converteu os subornos numhadas práticas mais habituais, chegan-do a se converterem em lucrativasinversons. Umha destas operaçonsilegais conheceu-se no ano passadopor ocasiom de umha investigaçomaberta na Argentina contra MiguelÁngel Egea, um obscuro persona-gem vinculado à repressom clan-destina da década de 70 e a CarlosMenem desde 1989. Egea tivo quevisitar os tribunais devido a umhaintervençom judiciária realizada nocasino flutuante de Buenos Airesconhecido como 'Barco daFortuna'.A intervençom foi possível graças aum escrito do advogado RicardoMonner Sans, que denunciou aconcessom irregular da licença docasino em Dezembro de 2002. Oreferido documento nom só alude

A empresa catalá Cirsa, umha das companhias líderes no sector do jogo tantoa nível espanhol como mundial e cujo máximo responsável, Manuel Lao, está aser investigado desde 1999 por Baltasar Garzón por tráfico de drogas e

branqueamento de dinheiro, conta com importantes negócios na Galiza. Paraalém de possuir milhares máquinas de jogo disseminadas por todo o país, éproprietária do Casino da Toja e do Grande Hotel Samil de Vigo.

Empresas do jogo relacionadas com onarcotráfico branqueiam capitais na Galiza

Cirsa e Recreativos Franco desenham e fabricam as máquinas, exploram-nas, vendem-nas a terceiros e exportam-nas. A tributaçom fiscal que seassigna às máquinas de jogo é o que permitiu a estas empresas crescerem até se converterem em poderosas multinacionais do jogo.

investigaçom

Cirsa, proprietária do Casino da Toja e do Grande Hotel Samil de Vigo, está a ser investigada por Garzón

Este dinheiro, quefoge às fazendas

públicas, e o destinadoa pagamentosde políticos efuncionários, é

canalizado através deumha rede desociedades queaparentam um

tráfico comercialcomo pode ser, por

exemplo, umhaordem de pagamentode vários milhons dedólares pola vendanum determinadopaís de um lote demáquinas de jogo.

Este mesmo circuito éutilizado pola máfia

da droga para evacuaros seus fundos

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9investigaçomDezembro 2004novas da galiza

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ao facto de que o barco onde fun-ciona o casino já nom pode navegarpor causa de tudo o que foi cons-truído em cima dele (já que portan-to estaria a violar a lei), como tam-bém ao obscuro vínculo da socieda-de espanhola Cirsa com a empresaLong Regent SA, propriedade deEgea e Norma Radice, irmá do ex-repressor da ESMA Jorge Radice.O escrito de Monner Sans critica aforma irregular de tramitar o decre-to 600/99 que assinou Menem, 'útil'para a instalaçom do barco, e tam-bém "a forma inicial como o gover-no da cidade de Buenos Aires,entom a cargo de Fernando de laRúa, encarou o tema e a significati-va posiçom ulterior que tem vindo aassumir".Um importante capítulo vincula aempresa do barco (Cirsa SA,Casino de Buenos Aires) com LongRegent SA, que foi constituída por

Egea e Radice. Segundo o escrito,Cirsa, cujo conselheiro delegado éManuel Delgado, "paga importan-tes somas mensais a favor de LongRegent SA por serviços de consul-toria". E agrega: "Dado o que assi-nalou o ofício inicial, quanto àscaracterísticas e trajectórias doslicitantes, cumpre nom esquecer avinculaçom de Miguel Ángel Egeacom organismos de repressom,nem os processos judiciais em quese tem visto envolvido". Um exten-so e detalhado escrito anexo a estanova apresentaçom sustém que"Egea é o factótum do BarcoCasino" e atribui-lhe o carácter de"sócio oculto".

No seguinte número daremos a conhecernovos dados sobre as actividades irregularesde Cirsa e Recreativos Franco. Ainda,analisaremos a recente entrada da multinacionalcatalá numha poderosa construtoraespanhola, graças à mediaçom de dousconhecidos empresários corruptos.Umha das sociedades através da qual se realizam estas operaçons é Qualitat Deu SL, umha empresa catalá que possui umha conta no Banco

Agrícola da Andorra, onde se realizam transferências para vários países com dinheiro originado no tráfico da cocaína distribuída no Estado

Todo este dinheiro, o que foge às fazendaspúblicas e o destinado a pagamentos depolíticos e funcionários, é canalizado atra-vés de umha rede de sociedades que apa-rentam um tráfico comercial como pode ser,por exemplo, umha ordem de pagamento devários milhons de dólares pola venda numdeterminado país de um lote de máquinasde jogo. Este mesmo circuito é o utilizadopola máfia e os cartéis da droga para eva-cuarem os seus fundos para diferentes luga-res do mundo.Tal e como explica o jornalista e escritorJosé Manuel Novoa no livro 'Bancos,Banqueiros, Bandidos', umha das socieda-des através da qual se realizam esta classede operaçons é Qualitat Deu SL, umhaempresa catalá que possui umha conta noBanco Agrícola da Andorra, onde se reali-zam transferências bancárias para váriospaíses com dinheiro originado no tráfico dacocaína distribuída no Estado espanhol.Esta sociedade está inscrita no RegistoMercantil de Gerunda desde o ano 1988,

sendo administradores solidários DomingoTarruella Dalmau e Narcís Ramio Buixeda.As ordens de transferência efectuam-nas osadministradores da firma, seguindo ins-truçons de Carlos Quintero Patiño, e porconta da sociedade colombiana BlazingLtd. Carlos Quintero, considerado branque-ador de dinheiro do narcotráfico e titular emcontas bancárias em mais de 25 paraísosfiscais, é sócio e testa-de-ferro de ManuelLao Hernández, o dono de Cirsa, naColômbia e noutros países.Concretamente, na Colômbia possuem aempresa Winner Group, onde repartem asacçons da seguinte maneira: 50 por centoLeisure and Gaming Group, 25 por centoForum Technology e o restante 25 por centoCarlos Quintero. O objecto social da com-panhia é a importaçom, exploraçom ecomercializaçom de máquinas de jogorecreativas e de sorte, assim como operarem casinos, mesas de 'black jack' e roletas.O seu domicílio é em Santa Fé de Bogotá.Na Colômbia, esta sociedade é proprietária

a cem por cento de mais de 20 empresas. Ascompanhias Leisure and Gaming Group eForum Technology som propriedade deManuel Lao. Esta última é umha sociedadeconstituída na ilha de Man, com um fidu-ciário que representa Manuel Lao, que é overdadeiro titular. Esta dispom de umhaconta no Barclays Bank de Sant Helier, cujoapoderado é Carlos Quintero. A esta conta chegam quantias importantes,procedentes principalmente de sociedadessediadas em paraísos fiscais como Aruba,Baamas, Panamá, Andorra e Miami.Posteriormente, desta mesma conta, vam-serealizando transferências para o BancoGanadeiro de Bogotá (BBVA), ondeWinner Group tem domiciliada umhaconta. Todo um circuito de ida e volta estáorganizado: o dinheiro viaja -metafisica-mente falando- do Banco Agrícola naAndorra até o Barclays Bank na ilha deMan, para dali ir para o Banco Ganadeirona Colômbia. No trajecto de volta, as trans-ferências chegam ao SCH e Caja España, às

contas de International GamingManufacturing SL e International HoldingServices SL, justificando pagos pola vendade máquinas de jogo.Estas e outras muitas operaçons som indí-cios evidentes de transacçons económicasilícitas onde o dinheiro do jogo se fusionacom o do narcotráfico e vam juntos paraparaísos fiscais, acabando por recair naColômbia ou em qualquer outro lugar domundo. Este ir e vir de capitais é o queconsta na já referida instruçom judicial. OJulgado Central de Instruçom número 5 daAudiência Nacional espanhola, cujo titularé Baltasar Garzón, tem aberto o sumário251/99 desde 1999 por branqueamento dedinheiro e tráfico de estupefacientes contraManuel Lao. O processo está só teorica-mente aberto, porque, na prática, está defacto fechado. Vários dos administradoresda sociedade Qualitat Deu fôrom encadea-dos por Garzón, que nom adoptou, noentanto, nenhuma medida restritiva daliberdade contra Manuel Lao.

Como se fai o branqueamento

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10 análise Dezembro 2004 novas da galiza

Carlos Taibo

A literatura especializada formuloujá muitas perguntas em relaçãocom a futura Constituição. Todaselas remetem para questões impor-tantes: estamos diante de umagenuína Constituição ou peranteum híbrido entre uma Constituiçãoe um simples tratado?i Não remetepara esta fórmula o mecanismo deelaboração desenvolvido, que con-firmaria a velha máxima que rezaque "os tratados são assuntos dospríncipes, e não dos povos"?ii Quemodalidade de texto político-legalé este que nasce sem um povo,iii

uma nação e um Estado que lheconfiram sentido? Não obstante, evisto que já dispomos de umamoeda, o euro, sem um Estadoacompanhante, porque não sehaveria de configurar também umaConstituição sem um povo?iv Nãoserá que nos encontramos, noutroterreno, diante de um exemplo visí-vel de fria engenharia legal, que lhedá azos a um maximalismo jurídi-co que afinal o que esconde é umminimalismo político?v Qual estáchamado a ser, em suma, o produ-to final do processo: uma confede-ração, uma federação, um Estadocom vocação unitária, uma fórmu-la de governo transnacional...?

Uma triste sordidezComo não podia ser de outramaneira, a Constituição que nosocupa é portadora de muitas nor-mas que não são nem boas nemmás por si sós. Ainda que seja obri-gado reconhecermos que para che-gar a alguma conclusão firme have-rá que deixar que o tempo passe, épreciso convir que os antecedentesconvidam, como pouco, ao receio.E é que cada vez parece maisurgente resgatar uma discussãorelativa ao que é, antes que aConstituição, a própria UniãoEuropeia. Por palavras de P.Barcellona, "quando o poder estáclaramente nas mãos dos potentes'lobbies' dos negócios e dasfinanças, dos círculos mediáticos eda manipulação das informações,os juristas abandonam-se ao cos-mopolitismo humanitário e aderemao grande partido das boas

intenções e das boas maneiras".vi

À margem do anterior, na trama daConstituição não se percebe nen-hum impulso político que produza,com claridade, uma inércia demutações estimulantes: encontra-mo-nos, pelo contrário, perante amesma triste sordidez herdada dopassado, e isso por muito que sejainvocado retoricamente, e é umexemplo entre outros, o peso dademocracia participativa. É lícitomantermos dúvidas, também, noque se refere à possibilidade de quea Constituição sirva para satisfazeros objectivos aos quais ela mesmaconfessa se subordinar: aproximara UE dos cidadãos e cidadãs, forta-lecer o carácter democrático daUnião, acrescentar a sua capacida-de de decisão, propiciar a suaactuação como uma voz coerenteno cenário internacional e respon-der de maneira eficaz aos reptosderivados da globalização e a inter-dependência.vii Antes parece comose se estivesse a confirmar aintuição de C. Castoriadis: "Pesamuito a ilusão constitucional, aideia de que é suficiente ter umaConstituição para que as coisasestejam em ordem".viii

Também não se intui, enfim, queexistam motivos sérios para aceitaro argumento de que a Constituiçãoda UE é um primeiro passo que per-mitirá assumir outros posterioreschamados a provocar um destinosaudável. Se, por um lado, o textoobjecto da nossa atenção acarreta,sem mais, uma simples ratificaçãodo já conhecido e não incorporanenhuma dimensão de genuínarevisão crítica de nada,ix pelo outro,o impulso orientado a introduzirnovidades parece, como adianta-mos, claramente travado. Alguémpoderia perguntar-se, afirmado sejaentre parêntese, porque este esque-ma dos pequenos passos na linhado progresso se invoca em relação àConstituição da União Europeia,ficando no esquecimento, porém,no que se refere às constituiçõesdos diferentes Estados-nação. Paraalém disto, há que concordar porforça com a afirmação de A.Cantaro que sugere que "é umailusão típica da ideologia europeia,mesmo da mais sinceramente euro-

peista e federalista, pensar que sepode dar vida a uma ‘lei superior’sem introduzir no programa, demaneira explícita, a discussão sobreuma nova ordem social e política".x

Era de esperar que no seu preâmbu-lo uma Constituição se entregasse,em suma, ao exercício da auto-lou-vança. Limitemo-nos a mencionarque aquela entende, sem rebuço,que "a Europa" é uma realidadevinculada com a "igualdade daspessoas, a liberdade e o respeito darazão", que tem permitido o enrai-zamento do "lugar primordial dapessoa e dos seus direitos inviolá-veis e inalienáveis, assim como orespeito do direito", e que está cha-mada a avançar "pelo caminho dacivilização, o progresso e a prospe-ridade" (art. 5)...xi

Misérias da ConvençãoNada convida a concluir que o eter-no problema do défice democráticoque a UE arrasta vai entrar emcaminho de resolução da mão daConstituição. E isto tanto maisquanto esta -sem povo, sem nação esem Estado por baixo- mostra umvazio de legitimação que é obriga-do preencher com o concurso demeios -o direito dos tratados, osdireitos fundamentais, a juris-prudência, a administração, osexpertos...- que pouca relaçãomantêm, em si mesmos, com a prá-tica vital da democracia.xii

A dimensão da tara mencionada emmodo nenhum se vê rebaixada pelo

facto de que os trabalhos daConvenção encarregada de elaborara Constituição se desenvolvessemsegundo critérios formalmenteabertos. E é que a Convenção emquestão exibiu fendas inquietan-tes:xiii os seus membros foram co-optados e não são, portanto, o pro-duto da eleição popular, de talmaneira que a Constituição nãonasceu de nada que lembre umaassembleia constituinte. Na cúpulada Convenção operou, por outraparte, um grupo de notáveis que,encabeçado por V. Giscardd'Estaing, assumiu funções executi-vas aos olhos de muitos e muitasvisivelmente excessivas.xiv As tare-fas, amiúde opacas, ficaram longedo conhecimento da maioria doscidadãos e cidadãs, e o resultadonão foi outro que um texto redigidonuma língua quase sempre incom-

preensível.xv Por se pouco fosse, enos factos, na Convenção só estive-ram presentes pessoas próximasdas forças conservadoras, liberais esocial-democratas que são maiorianas instituições europeias.xvi Não seesqueça que no caso do Estadoespanhol só participaram naConvenção representantes dos par-tidos popular e socialista. Noutro terreno, sublinhar-se-á queo fortalecimento do papel doConselho e do seu presidente, inse-rido no núcleo da Constituição,acarreta uma ratificação paraleladas capacidades dos governos emdetrimento de outras instâncias.xvii

A própria disputa sobre as maiorias,e as possibilidades de veto, noConselho da UE ilustra algo quenão deve passar inadvertido: nessainstância, de grande importância,não se percebe o eco da eleiçãopopular no âmbito próprio da UE.Haverão de ser, antes pelo contrá-rio, os governos dos Estados os quefiquem com a totalidade dos votoscorrespondentes a estes últimos,algo que, com certeza, e pordemais, reduzirá significativamentea representação das ideologias. Nãodeixa de ser significativo que forçaspolíticas de corte diferente procu-rem manter quotas de poder para osseus Estados, e receiem em parale-lo da conveniência de fortalecer, atéonde for possível, as suas opçõesideológicas.

Manter o défice democrático Quanto aos problemas que emmatéria de qualidade democráticase manifestam no detalhe daConstituição, nada melhor queinvocar a análise desenvolvida porDemopunk com o título de "Críticaao Processo Constituinte Europeu".Neste texto afirma-se o seguinte:"No cimo da autocracia situa-se oConselho, uma espécie de depu-tação permanente do tratado deVersalhes. O representante espan-hol é o monarca, ainda que porcomplicadas e desconhecidasrazões de Estado delegue no presi-dente do Governo. O Conselhonomeia o presidente da Comissão,que pela primeira vez deve ser rati-ficado pelo Parlamento. Reserva-sea iniciativa à emenda constitucio-

Mostra um vazio delegitimação que é

obrigado preenchercom o concurso demeios que pouca

relação mantêm, emsi mesmos, com a

prática vital dademocracia

A Constituição da União Europeia:um comentário impertinente(1)

Ainda que, segundo o prometido, a Constituição daUnião Europeia (UE) venha a ser objecto de umreferendo entre nós, não deve esperar-se que aoamparo deste se desenvolva nenhum debate franco e

aberto. O que já sabemos da ordem que padecemosconvida a concluir, antes pelo contrário, que seimporá, com o apoio das duas principais forças polí-ticas de âmbito estatal, uma formidável maquinaria

de propaganda, manipulação e ocultação. Apesardisso, ou talvez por isso, faz sentido debruçarmo-nossobre alguns dos muitos elementos conflituosos queacarreta a Constituição objecto do nosso interesse.

Nada convida a concluir que o eterno problema do défice democrático que a UE arrastavai entrar em caminho de resolução da mão da Constituição

análise

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nal, as principais decisões de políti-ca exterior e defesa, e mesmo acapacidade legislativa em procedi-mentos especiais.""O denominado Conselho deMinistros é uma instituição poli-mórfica, com membros que podemvariar, nomeados discricionaria-mente pelos governos (na Espanhasem ratificação parlamentar). É ainstância de transmissão dos pode-res executivos nacionais: umaespécie de poder executivo quevoa. Dispõe de umas nada comunsatribuições, particularmente noâmbito legislativo.""A função executiva mais estávelrealiza-a a Comissão Europeia.Encarregada da elaboração de leise regulamentos, da execução deresoluções e da inspecção, repre-senta juridicamente a UE nosEstados membros e no resto domundo. Talvez o seu poder maisnotável é o que se deriva do factode que dispõe em exclusiva da ini-ciativa legislativa." "Outras instituições presentes norascunho constitucional são oBanco Central Europeu e as máxi-mas instâncias judiciais: oTribunal Judicial, que assume opapel de tribunal constitucional, eo Supremo Tribunal. Os seusmembros são nomeados discricio-nariamente pelos governos semratificação parlamentar (art. I-28.2e art. III-84.2).""O Parlamento é a única instituiçãoeleita do regime europeu. Comonovidade, ratifica a nomeação dopresidente da Comissão (art. I-19.1)

e, se bem que possa exercer amoção de censura colectiva sobreesta (art. I-25.5 e art. III-243), nãopode fazê-lo individualmentesobre os seus membros. A iniciati-va correspondente a esta moçãonão está regulada. A função legis-lativa apresenta taras incríveis:carece da iniciativa legislativa,

reservada em exclusiva àComissão, e, ainda, partilha o pro-cedimento ordinário com oConselho de Ministros (art. I-33.1e art. III-302), de forma que umalei não pode ser aprovada sem aautorização de ambas as insti-tuições. Esta incrível paridade nãoé exactamente simétrica, uma vezque o Conselho de Ministros apro-va solitariamente muitos regula-mentos e decisões europeias (art.III-334), legislação menor decarácter obrigatório em muitoscasos. O raquítico papel doParlamento situa-o quase no papelde instituição comparsa." "O papel mencionado vê-se maisclaramente se considerarmos aquiloque o Parlamento não pode fazer:não desfruta da iniciativa legislativa(art. I-25.2); tem que dirigir-se àComissão para apresentar uma ini-ciativa dessa natureza (art. III-234);não nomeia, só ratifica, o presiden-te da Comissão (art. I-19.1); nãonomeia nem ratifica individual-mente os comissários (art. I-26.2), oministro de Negócios Estrangeirosda UE (art. I-26.2), os juízes doTribunal Judicial (art. I-28.2), adirecção do Banco Central (art. III-84.2) nem os membros do Tribunalde Contas (art. I-30.3); não decide acomposição do Comité das Regiõese do Comité Económico e Social(art. I-31.5, art. III-295); não temcompetência efectiva em assuntosde política exterior e de defesa (art.I-39.6 e art. I-40.8); não dita osregulamentos sobre a competência(art. III-52), sobre a relação entre a

administração e as entidades finan-ceiras (art. III-74.2), sobre os crédi-tos dos bancos centrais (art. III-75.2), sobre os aspectos técnicosmonetários (art. III-78.2) e sobre asmatérias agrícola e piscatória (art.III-126.1 e art. III-127.3); não ela-bora nem inspecciona o projecto deorientações económicas (art. III-71)nem o de orientações sobre empre-go (art. III-102); não aprova avigilância e as sanções sobre des-vios do défice (art. III-76), nem alei de controlo deste (art. III-76.13);não pode modificar os estatutos doBanco Central (art. III-79); não temcompetência efectiva em leis sobrepolítica social (art. III-104.3) e polí-tica ambiental (art. III-130), nemlegisla sobre os procedimentos (art.III-178) e a cooperação policial(art. III-176.3); estão indefinidos ostermos de controlo parlamentardesta última (art. III-177.2); nãotem competências em caso de inter-venção militar no exterior (art. III-210), no terreno da investigaçãomilitar (art. III-212), no da autori-zação de acordos comerciais comoutros Estados (art. III-217 e art.III-227) e no da ruptura de relaçõeseconómicas e financeiras por moti-vos militares (art. III-224); nãoautoriza em caso nenhum o iníciodas negociações de acordos interna-cionais (art. III-227); não é compe-tente para activar a denominadacláusula de solidariedade (art. III-231.1); as suas comissões de inves-tigação são inoperantes, não estãoprotegidas pelo juramento e aca-bam num simples relatório (art. III-235); não ratifica os representantespermanentes do Conselho deMinistros (art. III-247); não é com-petente para regular o acesso doTribunal de Contas ao Banco deInvestimentos (art. III-290.3), paraaprovar o regulamento do Tribunalde Contas (art. III-290.4), paramodificar o estatuto do Banco deInvestimentos (art. III-299), parafixar os salários e pensões dos car-gos da UE (art. III-306), para auto-rizar cooperações reforçadas emmatéria de defesa ou de políticaexterior (art. III-325.2), para autori-zar que uma cooperação reforçadadesfrute de financiamento do orça-mento comunitário (art. III-327)nem para fixar o regime linguísticodas instituições (art. III-339)".xviii

O informe de Demopunk agregaque, por omissão, a Constituição daUE proíbe formas de iniciativapopular como é o caso das relativasà ratificação de leis e tratados, à

derrogação de umas e outros, e àrevogação de cargos públicos.Não só isso: o referendo comresultados vinculatórios é proibi-do. A Constituição, por outraspalavras, pouco ou nada faz parapôr em dia os direitos de cidadãose cidadãs, mas consente, porém,fórmulas de pressão que nada têmde democráticas. Não parece que o panorama descri-to esvaeça, como resultado da apli-cação efectiva da Constituição,pela aparição do que algumas auto-ras e autores, como JürgenHabermas, estão a chamar ‘esferapública europeia.’xix Nada indica,em particular, que vão aparecerpartidos, sindicatos e organizaçõessociais com âmbito de acção pró-prio da UE, e não dos Estados-nação ou de umas ou outras partesdestes. Damos parte de razão, pelocontrário, a Joseph Weiler quandoafirma que o que os cidadãos e ascidadãs europeias precisam é maispoder, e não mais direitos.xx

Continua no próximo número

NOTASi. M. Fioravanti, "Un ibrido fra 'Trattato' e'Costituzione'", in E. Paciotti (dir.), LaCostituzioneeuropea. Luci e ombre (Meltemi, Roma,2003), págs. 17-27.ii. Cit. in A. Manzella, "Agnizione e innova-zione: nascita di una Costituzione", inPaciotti, op. cit., pág. 29.iii. M. Poiares Maduro, "Europe and the cons-titution: what if this is as good as it gets?", inJ.H.H. Weiler e M. Wind, European constitu-tionalism beyond the state (CambridgeUniversity, Cambridge, 2003), pág. 81 e ss.iv. A. Cantaro, Europa sovrana (Dedalo, Bari,2003), pág. 19.v. Ibidem, pág. 21.vi. P. Barcellona, "Prefazione", in Cantaro,op. cit., pág. 7.vii. E. Paciotti, "Introduzione", in Paciotti, op.cit., pág. 8.viii. Cit. in X. Pedrol e G. Pisarello, LaConstitución furtiva (Icaria, Barcelona, 2004),pág. 15.ix. Ibidem, pág. 24.x. A. Cantaro, "La Europa social y laConstitución 'virtual' de la Unión Europea", inX. Pedrol e G. Pisarello, La ilusión constitucio-nal (El viejo topo, Barcelona, 2004), pág. 41. xi. Ver http://www.europa.eu.int/futurum/consti-tution/index_es.htm.xii. Cantaro, Europa sovrana, op. cit., pág. 72.xiii. Ver "Crítica al proceso ConstituyenteEuropeo", inwww.demopunk.net/sp/intern/europe/pcon_euro01_sp.html.xiv. Pedrol e Pisarello, La Constitución furti-va, op. cit., pág. 34.xv. D. Capezzone, Euroghost. Un fantasmas'aggira per l'Europa: l'Europa (Rubbettino,s.l., 2004), págs. 13-14.xvi. L. Vinci, Sinistra alternativa e costruzio-ne europea (Punto Rosso, Milão, 2004), páss.100-101.xvii. Como quer que o Conselho de Ministrospartilha o poder executivo com a Comissão ecom o Conselho, o seu é que se revelem pro-blemas severos nas suas funções respectivas.Ver M. Luciani, "Complessità della strutturaistituzionale", in Paciotti, op. cit., pág. 62.xviii. "Crítica al proceso...", op. cit.xix. G. Napolitano, "Democrazia sovranazionale",in Paciotti, op. cit., pág. 69.xx. In Cantaro, Europa sovrana, op. cit., pág. 122.

análiseDezembro 2004novas da galiza 11

Estamos diante deuma genuína

Constituição ouperante um híbrido

entre umaConstituição e um

simples tratado? Quemodalidade de texto

político-legal é este quenasce sem um povo,

uma nação e umEstado que lhe

confiram sentido?Qual está chamado aser o produto final:uma confederação,uma federação, umEstado com vocação

unitária, umafórmula de governo

transnacional...?

O Parlamento não desfruta da iniciativa legislativa não nomeia nem ratifica individualmente os comissários, o ministro de NegóciosEstrangeiros da UE, os juízes do Tribunal Judicial, a direcção do Banco Central nem os membros do Tribunal de Contas.

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12 vários Dezembro 2004 novas da galiza

No início do ano que está a acabar,o Colectivo Nacionalista remeteuum pedido àAutoridade Portuáriade Marim, expondo os nossosargumentos para que tanto a rotula-gem do porto como a comuni-caçom interna e externa das insta-laçons do mesmo se fizesse emgalego.A resposta que recebemosnom foi a esperada, já que, com opretexto depertencer àAdministraçom Geral do Estado, apresidenta da Autoridade Portuáriarecusou-se a atender o nossa recla-maçom. Isto nom conseguiu que oColectivo Nacionalista desanimas-se, e logo voltamos a dirigir outrareclamaçom com mais e novosargumentos. Ainda nom obtivemosresposta, mas, segundo se pode verno porto, as nossas reivindicaçonsnom estám a ter sucesso. Antespolo contrário, agora, nom só arotulagem externa do porto seencontra em espanhol, mas tam-bém toda a nova sinalizaçom,estando totalmente ausente a nossa

língua.O galego nom é, como háquem diga, umha língua minoritá-ria, masminorizada polo trato querecebe de diversos estamentossociais, instituiçons públicas emeios de comunicaçom, que emvez de respeitarem o que dizem asleis, promovendo o uso do galegoem todos os planos da vida pública,cultural e informativa, desprezam oseu uso, deixando fora de jogo mil-hares de falantes.Quando estamosa ver, ultimamente, os passos queestá a dar o governo do Estado parao reconhecimento oficial na UE dogalego, do basco e do catalám, osseus companheiros de partido emMarim, apesar do pedido remetidoà Cámara Municipal polo nossocolectivo, nom fam nada paramudar esta situaçom, apesar defigurarem no conselho daAutoridade Portuária. Isto só nospode fazer pensar numha atitudehipócrita por parte do PSOE, quepara fora fai umha cousa e dentrofai outra diferente.O presidente da

Junta da Galiza, o dinossauroFraga, dixo recentemente que aEuropa pareceria a Torre de Babelse chegasse a se reconhecer oficial-mente o galego na UE. Já diziaCastelao, no “Sempre em Galiza”que a Torre de Babel nom tinhasido nenhum castigo, mas todo ocontrário, já que a variedade deculturas, línguas e de maneiras deviver e pensar som modos de supe-raçom para criar civilizaçons cadavez melhores. AcrescentavaCastelao que só os burros conti-nuam a falar ainda o idioma uni-versal.Do Colectivo Nacionalistade Marim, pedimos e continuare-mos a pedir que o galego, comolíngua da nossa terra, seja respeita-da, sendo portanto usada por todasas administraçons publicas naGaliza, sem nenhum tipo de discri-minaçom com respeito ao castelha-no.

Francisco Currás Domínguez(Marim)

O Pelourinho do NovasA Autoridade Portuária de Marim contra o Galego

Quanto à polémica gerada em PonteVedra, por causa do boicote ao monó-lito dedicado à ConstituiçomEspanhola em Campo Longo no pas-sado dia seis de Dezembro, aAssembleia da MocidadeIndependentista quer manifestar oseguinte:1.-O Povo Galego nom refe-rendou em 1978 essa Constituiçom,praticando umha abstençom de maisde 50%, que, junto com os votos con-trários, a torna ilegítima no nossoterritório.2.- Espanha nom respeitouesta decisom, e recusa a nossa sobera-nia exercendo a violência, mediante o

constante e sistemático espólio dosnossos recursos e a custa dos nossosdireitos colectivos. 3.- Sendo assim,consideramos que a homenagem queesse monumento tributa àConstituiçom na nossa cidade é umhagravíssima ofensa ao nosso povo e àsua livre decisom. 4.- Por todos estesmotivos, exigimos à Cámara de PonteVedra a imediata retirada do monólitoda Praça em que actualmente seencontra desde 1988.

Xiana Gomes (Responsável Comarcal AMI

Ponte Vedra)

O boicote ao monólito da constituiçom

Por J. Alberte Corral Iglesias

Muito poderíamos escrever sobre aactual Venezuela, mas para compreen-dermos a curta história da VRepúblicaBolivariana, acho imprescindível tratarcertos aspectos da mesma: A energia é o bem de bens. Sem elanom pode existir nem actividade eco-nómica nem a sociedade de consumotal como hoje se conhece nos Estadosmetropolitanos dominantes do planeta.Em conseqüência, estes Estados estámobrigados a exercer o seu poder militare político para controlarem as fontesprimárias da energia.A guerra é um dos mecanismos paralevar a cabo este domínio. Ora bem, aguerra hoje tem diferentes intensidadese existem diferentes maneiras de levá-las a cabo. As chamadas, por estrate-gistas militares, guerras de quartageraçom ou guerras modernas tenhementre os seus vários vectores dousespecialmente salientáveis: o uso dosmedia como ferramenta para a guerrapsicológica e a inexistência de lindesentre a guerra e a paz. Assim, as activi-dades civis e militares ficam diluídas.Pois bem, todos estes elementos ope-ram na contra-revoluçom venezuelana,propiciada pola embaixada norte-ame-ricana em Caracas, tendo sido o ante-rior embaixador, Shapiro, um verda-deiro experto em guerra suja. Neste jogo mortal devemos incluirtanto o atentado contra o fiscal DaniloAnderson, responsável pola investi-gaçom do Golpe de Estado de 12 deAbril, como o assassinato de seis mili-tares e umha engenheira de PDVSAnaraia colombiana, sem esquecermos o

assassínio de mais de oitenta líderescamponeses vitimados polos pistolei-ros pagos pola oligarquia agrária.Aguardamos que a resposta da VRepública venezuelana, prometidapolo Presidente, seja contundente, paraassim nom ficarem impunes estesmassacres, já que se espera um incre-mento das acçons terroristas depois dofracasso de Rumsfeld e Uribe, emQuito, que tentavam criar um corpo deexército latino-americano para comba-terem as forças guerrilheiras colombia-nas.Depois do Referendo Revogatório de15 de Agosto, 59% de votantes afir-mou a continuidade do PresidenteChávez e nos arrabaldes populares estaporcentagem superou 70%. Quandoeste resultado foi assumido polos orga-nismos internacionais o Cardeal vene-zuelano, Rosálio Castillo Lara, ex-membro da cúria romana, ousou inju-riar e difamar o povo humilde com estamentira: “Davam 60 dólares às pesso-as pobres para que votassem no

Presidente”, e continuou a bufar lumeideológico golpista. Eis de novo amacabra simbiose de interesses naAmérica Latina entre o EstadoVaticano e os Estados Unidos daAmérica do Norte contra toda a acçomemancipadora das classes populares edo povo no seu conjunto, como jáantes tinha acontecido no Chile, naArgentina, na Nicarágua, no Peru, etc.Após as eleiçons daquele domingo 31de Outubro, o povo venezuelano mos-trou de novo a sua vontade de mudartudo aquilo que cheirasse à IVRepública, que é o mesmo que dizercorrupçom e engano que perduráromdurante meio século. Vinte das vinte eduas Governaçons e a Alcaldia Maiorde Caracas fôrom ganhas polos candi-datos apoiados polo “chavismo”, e aestas devemos acrescentar duzentas esetenta alcaldias das trezentas e trinta equatro que componhem Venezuela.Esta grande vitória das classes popula-res venezuelanas foi possível graças àsorganizaçons vicinais, que conseguí-

rom derrotar os meios de comuni-caçom privados fazendo umha políticaao pé das necessidades reais, tangíveise políticas dos moradores e moradorasdos bairros mais carenciados.Do outro lado, nesta guerra permanen-te, a luita psicológica tem umha impor-táncia fulcral como factor da estratégiamilitar. Toda a guerra tem como objec-tivo final o controlo dos recursos dopaís. Para isto seria preciso mudar aconduta da populaçom e lograr o seualinhamento com a oligarquia. Amudança dos três componentes da ati-tude: o intelectual (o que se pensa dealgumha cousa), o emocional (o que sesente de algumha cousa) e a conduta (oque se fai com respeito a algumhacousa) seria imprescindível para obte-rem esse resultado. As operaçons psi-cológicas estám planificadas e dirigi-das tanto à gente amiga ou inimigacomo aos órgaos decisórios do país,para influírem nas suas atitudes e con-dutas.Há anos que os meios de comu-nicaçom privados na Venezuela tentamcriar umha atitude de rejeitamento faceao Presidente e à RevoluçomBolivariana através da implantaçom deideias com a técnica de alagar o discer-nir da cidadania, repetindo as consig-nas até esmagar a lucidez das pessoas:«Chávez é um assassino», «Chávez écastro-comunista» (componente inte-lectual); associando a imagem deChávez com cenas nojentas de forma agerar umha resposta condicionada dedesprezo diante de qualquer represen-taçom presidencial (componente emo-cional). Os meios de comunicaçomdirigem a conduta de parte da popu-laçom (componente condutiva) com

convites para fazer “trancazos”, “gua-rimbas”, etc. Felizmente, por enquan-to, estes mecanismos nom tenhemconseguido derrubar a Revoluçomvenezuelana. Ora bem, nem tudo évitoria no Processo Bolivariano: acorrupçom, a ineficiência e a sabota-gem estám presentes no porta-avions–assim denomina o analista políticoAram Ahoroniam o processo chavista.Muitas pessoas subírom nele sem con-hecerem bem o rumo e agora tentamdesviá-lo. E de facto podemos afirmarque excepto a derrota política dos“amos do vale”, a história encontra-setrancada na Venezuela. Os saláriossom pequenos. Ter ou nom ter trabalhodepende da vontade de contrataçompor parte do patronato, como em qual-quer outro país, e este mesmo patrona-to hoje está a ter benefícios como haviamuito tempo nom arrecadava. E porcima nom existe um sistema fiscal efi-caz e progressivo. No entanto, é verda-de que existe um incremento das ren-das nom monetárias nas classes trabal-hadoras: Escolas Bolivarianas,Unidades Sanitárias, Planos deAlfabetizaçom e de Aprendizagem deOfícios, Refeitórios Populares eMercados Populares –onde os produ-tos básicos som a baixo preço. Estasiniciativas constituem um aumento debem-estar como nunca antes tinhamconhecido estas classes populares: eiso cerne do apoio a esta Revoluçom queobjectivamente as beneficia. Fiqueclaro, nom obstante, que o importanteé levar a cabo a consigna dada polopróprio Chávez: «se quigermos findarcom a pobreza, demos o poder aospobres».

Venezuela, umha nova esperança

O Presidente Chavez no funeral do fiscal Danilo Anderson em Caracas

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Dezembro 2004novas da galiza 13

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ENCE está empenhada em manter-se em Ponte Vedra, mesmoampliando o complexo industrial, sea Cámara Municipal lhe der alicença...O Governo municipal nom vai permi-ti-lo, como tampouco o permitirá a leide costas. Isto há de ficar claro. Anomser que ignorem absolutamente toda alegalidade, e já nom seria a primeiravez. Mas do ponto de vista legal, nomserá com a licença da Cámara queENCE permaneça ali. O limite é 2018.A soluçom passa por sentar-se e falar,a empresa com a própria Cámara ecom a mediaçom da Junta, para pro-curarmos umha alternativa, com umhanova localizaçom, nova tecnologia,num novo espaço industrial que seriapreciso encontrarmos para se manter aactividade industrial e os empregos.Nós somos a favor de que Ponte Vedraseja um pólo tecnológico florestal.Aqui é a Missom Biológica, aEstaçom Fitopatológica, a Escola deCapacitaçom Florestal, o próprio cen-tro de investigaçom de ENCE, TAFI-SA, Eucaliptos de Ponte Vedra...Assim sendo, seria natural termos nacomarca umha instalaçom industrialque tirasse proveito deste ciclo produ-tivo. Nós defendemos, evidentemente,a diversificaçom dos usos do monte.Temos umha base florestal importan-tíssima e devemos evitar o monoculti-vo: cumpre diversificá-la. Porém, éevidente que na Galiza temos, comotambém no norte de Portugal, umhaproduçom importante de eucalipto,que fornece umha pasta de papel deenorme qualidade, tornando-se econo-micamente rentável para a expor-taçom, e é óbvio que temos que apro-veitá-la. Mas nom pode ser à custa deestragar umha ria, um espaço naturalúnico no mundo.

O governo municipal propomumha localizaçom alternativa?No concelho de Ponte Vedra é difícil,com certeza, porque está a ocupar500.000 metros quadrados. E nestemomento nom dispomos de 300.000que podam ser catalogados como soloindustrial. Isto depende da adminis-traçom autonómica, que é a encarre-gada da organizaçom do território e dacatalogaçom de polígonos industriais.Mas o problema é que a empresa se

recusa rotundamente a falar de trans-ferência. Agora estám a lutar por semanterem aí, por incrementarem aproduçom no mesmo sítio; apresen-tam a papeleira como aval, dizendoque criam quatro postos de trabalho, eassim tentam consolidar o complexonesse lugar. A questom da papeleira éum engano, atrás do qual se encontraapenas a duplicaçom da produçom depasta, para passar de 350.000 t a750.000 t por ano

Neste braço-de-ferro com o governomunicipal, quais as manobras daempresa?A empresa e o PP tentárom, num pri-meiro momento, deitar abaixo ogoverno municipal, antes das eleiçons.Nós estávamos relativamente confian-tes nos resultados eleitorais, conformeaos inquéritos de que dispúnhamos,fruto dos trabalhos de melhoramentourbanístico da cidade, de dinami-zaçom económica, de coesom social ede pedonalizaçom. A empresa fixoumha enorme campanha oculta paratentar tombar o governo. E já tinhampreparado o ardil da supramunicipali-dade por se nom conseguiam derru-bar-nos eleitoralmente. Nós mantive-mo-nos no poder, e aos quinze diaspromulgárom o decreto. Houvo umpacto claríssimo entre ENCE e o PP;Caixa Galiza, Méndez, Fraga e Rajoi:Caixa Galiza compraria ENCE nahora da privatizaçom, mas com agarantia de que o projecto continuaria.Mas afinal acabárom por perder tam-bém o governo de Madrid, e agora osseus planos tornárom-se mais compli-cados. A soluçom, com certeza, nomserá pressionar o governo local.Tentárom contornar a nossa posiçomclara através da declaraçom das suasactividades como supramunicipais. Asua ideia era a seguinte: declarada asupramunicipalidade, enquanto aCámara recorria da decisom, com ademora habitual destes processos,ENCE consolidava as obras deampliaçom. Assim, daqui a dez anos aobra estaria acabada e nós teríamosque aceitá-la. Mas podem declarar oque quigerem, porque vamos paralisartodo o tipo de obras. Portanto, semexerem umha pá, paralisamos a obrae acabou a conversa. E se nom quige-rem parar, metemos a força pública daCámara e do Estado para que seja res-peitada a ordem de paralisaçom.

Diz que ENCE conta exclusivamen-te com o apoio do PP e da Junta.Mas também existírom mobili-zaçons de trabalhadores afectados.Mesmo se produziu umha ocu-paçom de umha assembleia munici-pal...Por enquanto, todas as mobilizaçonssom dirigidas pola própria empresa. Ofacto de que haja uns senhores que sedisponibilizam para fazer o trabalhosujo é outra cousa. Quando ocupáromo plenário havia trabalhadores deNorfol, mesmo de comarcas muitodistantes, trabalhadores de Eucaliptosde Ponte Vedra, sediada em PonteCaldelas, alguns de ENCE e, curiosa-mente, alguns de ELNOSA, por meiode algum sindicato ou seja lá o que for.Também havia camionistas e algumsucateiro. Ninguém pode acreditar queum sindicato mobilize autónomos dotransporte. O comité de empresa é for-mado pola CIG, UGT e CCOO, poresta ordem. Nesse dia a que te referes,nom aparecêrom trabalhadores deENCE nem do comité de empresa. Éa própria empresa que mobiliza umcerto sector que se disponibiliza parafazer o trabalho sujo. E o PP está pordetrás. Estám a seguir ordens deFraga.

O argumento da perda de empre-gos é o mais utilizado...Pois, mas é umha falácia. ENCE estáa reduzir sistematicamente os postosde trabalho. Chegou a ter 400. Nestemomento tem duzentos e sessenta. Pormuitos que tenha induzidos, nemchega a mil. A papeleira prometidasuporiam mais noventa, fundamental-mente porque a Junta já lhes tem pro-metido ajuda para a instalaçom, efinanciaria estes empregos de novacriaçom. Mesmo assim, eu tenho acerteza que se trataria de trabalhadoresreconvertidos da própria empresa quena actualidade estariam a trabalhar emsituaçom precária. Entom repare-se:neste momento em Ponte Vedra temos38.700 pessoas filiadas na segurançasocial, quer dizer, 49% da populaçomtotal do concelho. Dessas 38.700, ape-nas 260 trabalham em ENCE, que seencontra no lugar vigésimo sétimoentre as empresas que geram empregono município. Dantes, aqui nom haviasenom TAFISA e ENCE. Cada umhanum lado da cidade. Eis umha dascausas da impossibilidade de cresci-

mento físico e económico desta cida-de. ENCE é um entrave, umha barrei-ra, para o crescimento da cidade.

Com que apoios conta neste confli-to?O BNG mantém umha postura clarahá muito tempo. Felizmente, o PSOEtambém está a manter umha posiçomcoerente desde há uns anos a nívellocal. Em Madrid dixérom que a lei decostas vai ser aplicada, que nom é pos-sível ampliar o prazo e que, evidente-mente, nom vai ser concedida nenhu-ma licença de obra que nom tenha oaval do concelho de Ponte Vedra e doplaneamento urbanístico. Fôrom con-cedidos trinta anos para a rentabili-zaçom dos investimentos da empresae este período finaliza no ano 2018. Euaguardo que o ministério do ambientee o governo do Estado mantenhamessa postura. Nós, por enquanto, nomdeixaremos que nada se consolide.

Acidadania de Ponte Vedra acha-sedividida nesta questom como temdado a entender, de algumhamaneira, a imprensa?Nom temos dados suficientes, masacho que a maioria social é claramen-te a favor da transferência de ENCE.Esta maioria social, está representadana assembleia municipal polo BNG,como primeira força política, e poloPSOE, como segunda. E digo isto por-que ao concorrermos nas últimaseleiçons apresentamos aos eleitores eeleitoras umha postura clara quanto aesta problemática. A maioria da cidadania votou, cons-cientemente, para que ENCE nomcontinuasse aqui. As pessoas nomestám à espera de que eu me apresen-te nas processons e, menos ainda, deque eu apareça de braço dado comENCE. Sabem que eu sou nacionalis-

ta e que defendo coerentemente o quepenso. E, com certeza, esta Cámaranom aceita pressons de tipo urbanísti-co ou de promotoras. Quanto a ENCE,a cidadania há de saber que vamosmanter-nos coerentes, e esta é apostu-ra maioritária também em Poio, VilaBoa ou Marim. O interesse na recupe-raçom da ria e do espaço que ocupaENCE já foi defendido publicamentenumha reuniom de Presidentes autár-quicos. É verdade que ENCE usamecanismos de pressom. Nom nosenganemos, há sectores da direitareaccionária e da imprensa local queacabarám por utilizar qualquer cousapara conseguirem a claudicaçom dogoverno municipal neste tema. Estáma tentar comprar vontades de todo otipo, por exemplo financiando clubesdesportivos sob umha condiçom quenom fica escrita mas é obvia: derrubareste governo.

Que planos existem para os terre-nos após o abandono de ENCE?Fala-se de umha zona urbana detransiçom entre Ponte Vedra eMarim...O primeiro plano passa polo abando-no da zona de ENCE. Tenhem que ir-se embora, deixando o lugar nas con-diçons em que estava quando o ocu-párom. Depois, deveríamos procurarumha alternativa à autovia, que pode-ria ser a circunvalaçom para Marim. Onosso projecto é recuperar grandeparte dessa marisma, para que o marentre perfurando a autovia ou elimi-nando-a. A seguir, queremos reorde-nar o espaço, sempre de forma com-patível com os usos de Costas, cultivosmarinhos, logradouros, de lazer, comconcesons pontuais. Ainda está por estudar, mas em qual-quer caso estamos a falar de recupe-rarmos espaços para usos públicos.

Miguel A. Fernández Lores: “O governo municipal nom vai permitirque ENCE continue em Ponte Vedra.”

Alonso Vidal

entrevista

reportagem

O Presidente da Câmara falou para NOVAS DA GALIZA sobre a polémica com ENCE.

Miguel Anxo Fernández Lores (BNG) é o único presidente autárquico nacionalista das grandes cidadesgalegas que repetiu mandato. Perante as críticas de demasiada ortodoxia, mantivo umha imagem dogoverno que parece que a cidadania soubo entender e valorizar. Sem ter participado em processons, coro-açons de rainhas de festas nem touradas, fixo mudar de forma significativa o entorno urbanístico da cida-de, salientando a pedonalizaçom do casco velho ou a promoçom económica da mesma. NOVAS da GALI-ZA falou com ele da pugna que está a manter com ENCE para lograr que a empresa deixe definitivamen-te o entorno da ria em que ainda está situada

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norma AGAL mediante cursos degalego-português. Os e as galeguis-tas que acudiram ao encontro somamigos e amigas dos impulsionado-res da AGAL na Límia, Borxa eAndré, que havia tempo que esta-vam a madurar a ideia da criaçomdo grupo. A formaçom do grupolocal da AGAL-Límia tem o intuitode se espalhar para além dos limitescomarcais, graças à situaçom estra-tégica da comarca, que linda comvárias comarcas da regiom raiana e faifronteira com a vizinha comarca trans-montana do Barroso, o que será apro-veitado para fortalecer os contactoscom o vizinho norte português.

14 cultura Dezembro 2004 novas da galiza

portal galego da língua

Criado grupo para a recepção de televisão e rádio portuguesa na Galiza

PGL

A princípios de Dezembro foicriado um grupo de discussãoque visa acabar com o isola-mento mediático a que aGaliza está submetida a res-peito de Portugal. A lista decorreio [email protected] tenciona ser o pri-meiro passo na criação de umaPlataforma Galega Para aRecepção de Televisões eRádios Portuguesas. Hoje, aúnica hipótese com que contaquem quiser ouvir rádio ou vertelevisão portuguesa é vivernalgumas regiões fronteiriçasou recorrer ao uso de antenasparabólicas.A recepção livre de televisão erádio proveniente de um outroestado não é nada novo naEuropa, apesar de o ser naEspanha. Por exemplo, nasregiões francófonas da Suíçaou da Bélgica recebe-se osinal das emissoras francesas,reforçando assim o sentimentode unidade cultural e linguísti-ca. Também em grandes áreasde Portugal se pode ver aTVG, que, pelo contrário,reforça o sentimento dedivisão cultural e linguística e

a imagem folclórica da Galiza.Além disso, a existência demeios de comunicação portu-gueses seria facilmente aceitepola população galega no seiode uma União Europeia e deuma Euro-região galaico-por-tuguesa. A lista é de asso-ciação aberta e todas as pesso-as que estiverem interessadasem participar podem cadas-trar-se enviando uma mensa-gem para [email protected].

radioGaliza.net inicia emissons regulares

PGL

Desde o dia 19 de Novembro de2004, a estaçom radioGaliza.net,cujas emissons se realizam polaInternet, já está a emitir regularmen-te, encerrando o período de provascomeçado aquando o seu lançamen-to público, no passado dia 25 deJulho. Conforme informou o res-ponsável pola grelha de progra-maçom desta estaçom radiofónica,Ricardo Cabanelas, a equipa deradioGaliza.net está realmente satis-feita pola qualidade e mesmo quan-tidade de programas que se vamemitir. «Cada um dos programastem muito bom nível dentro da suatemática específica», manifestouCabanelas, que acrescentou ainda

que "é muito significativo que jácontemos com contributos contacta-dos por meio do correio electrónicoapós o lançamento do projecto noVerao passado, como o magazinerealizado polo grupo Olho".Cabanelas também deu a conhecerque a grelha de programaçom demadrugada está pensada para oBrasil e a das 8h00 da manhá para aprimeira hora de Portugal. Segundoas informaçons fornecidas porRicardo Cabanelas, os programas deproduçom própria som: o coquetel depropostas "Planeta dos Macacos", omagazine de temática galega "Olhocom as ondas", sob a responsabilidadedo grupo Olho, e o programa"Histórias mínimas", sob a direcçomde Raquel Miragaia e Luz Castro.

Ainda, a programaçom completa-se deparceria com Rádio Alhariz e osseguintes programas: O programa semnome, O cartafolk, A veleta, Totusrevolutum rock, Expresso 80, Totusrevolutum e 262. Aprogramaçom serápreenchida também com a emissomde conferências e palestras queabrangem diversas temáticas.

A lista, de associação aberta, visa melhorar a comunicação entre a Galiza e Portugal

Sede da RTP em Lisboa

AGAL já tem grupo local na Límia

PGL

No passado dia 7 de Dezembroconstituiu-se oficialmente o grupolocal da AGAL-Límia. O acto deco-rreu na sala de actos da CámaraMunicipal de Vilar de Santos e con-tou com o apoio de José ManuelBarbosa, coordenador do grupolocal de Ourense. Os assistentesresolveram que proximamente se iráeleger um coordenador geral eumha organizaçom interna consis-tente em diversas comissons, entreelas umha económica e outra de for-maçom, para instruir e dar a conhe-cer a quem o desejar a proposta da

Caixanova excluigalego do novoportal digital

A Mesa

Perante a notícia da estreia doportal de Internet de Caixanova(www.caixanova.es), a "Mesapola Normalizaçom Lingüística"manifestou a sua indignaçom polaexclusom total do idioma galegonos conteúdos do mesmo. Nestesentido, A Mesa está a desenvol-ver umha campanha de galegui-zaçom da banca consistente emcompilar dados de pessoal dispos-to a mudar o seu ordenado para asentidades que se comprometam adar passos importantes na própriagaleguizaçom. A Mesa consideraque com actuaçons como esta,Caixanova auto-exclui-se dospotenciais destinatários da bolsade clientes.

Nas regiões francófonas

da Suíça ou da Bélgica

recebe-se o sinal das

emissoras francesas,

reforçando o sentimento

de unidade linguística

Até dez programas na primeira grelha de programaçom

A Gentalha do Pichel

principia campanha

pola restauraçom dos

toponímos

PGL

AComissom de língua da Gentalha doPichel já editou o primeiro de umhasérie de mapas das diferentes áreas dacomarca compostelana em que somrecolhidos os topónimos dos concel-hos, paróquias e lugares na sua grafia eforma histórica. Utilizando como fonteo TOPOGAL, a Gentalha do Pichelestá a distribuir este material entre asinstituiçons, associaçons culturais evicinais da comarca. O fim é fomentara utilizaçom dos nomes correctos dasdiferentes localidades e conscienciali-zar sobre a importáncia da utilizaçomdos mesmos. O primeiro dos mapas éo correspondente ao Vale da Amaía(concelhos de Ames e Briom).

Primeiros passos para umha

«escola em galego» na Galiza

Heitor

Os últimos inquéritos acerca do usodo galego mostram um claro retro-cesso da língua, designadamenteentre as camadas mais jovens dapopulaçom. Som estas que, parado-xalmente, e de acordo com a legis-laçom vigente, tenhem recebido aomenos parcialmente educaçom emgalego. É por isso que há tempo quese estám a produzir diversas refle-xons sobre a importáncia do ensinoem galego-português na infánciapara o futuro da língua. Nom obs-tante, ainda nom tinha sido posta emandamento nenhuma iniciativa.

Levando isto em conta, um grupo depessoas preocupadas por estasituaçom estám a trabalhar tentandoreunir um grupo ainda mais amploque se encarregaria de definir estra-tégias e, sobretudo, de levar a termoalgumha iniciativa concreta nesteámbito. Até o momento presente,existe umha modesta página web deapresentaçom na urlwww.sallent.comtenidos.com ondeas pessoas interessadas se poderámpôr em contacto com este grupo detrabalho, que também poderá sercontactado através do endereço decorreio electrónico: [email protected]

Visam fortalecer os contactos com a vizinha comarca do Barroso

A estaçom está em www.radioGaliza.net

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Dezembro 2004novas da galiza 15

música

Um novo número que destacapola enorme riqueza gráfica(incluindo partituras e imagensinéditas), polo significativoavanço da capa a toda a cor, epola acessibilidade dos textos,sem por isto ter descido o impe-cável rigor científico.A aposta de Murguia na ediçomde um número monográficodestinado à recuperaçom danossa memória histórica noterreno musical, salienta espe-cialmente neste ano em quecelebramos o centenário dasprimeiras gravaçons comerciaisde que se tem notícia na Galiza.Uxio Breogám, director dapublicaçom, assinala neste sen-tido que “é com base naintençom última que Murguiatem de resgatar do esquecimen-to a nossa história, que nasceeste monográfico. Neste caso,tomamos como data assinalada1904, ano em que foi gravadono nosso País o primeiro discomusical, Aires d´a Terra”. Aediçom deste trabalho é precisa-mente a temática sobre a qual sedebruça um dos artigos deinvestigaçom, assinado polohistoriador e especialista nanossa música, Ramom PinheiroAlmuinha.Outro dos conteúdos de maiorinteresse, incluído na epígrafede «fontes», é um texto datadoem 1874 da autoria de TeodósioVesteiro Torres, um dos nossoscompositores mais relevantes ecom amplo reconhecimento

internacional. Originariamentepublicado no diário ourensanoHeraldo Gallego, aborda algum-has questons de carácter teóricoem torno da música tradicionalda Galiza. O autor, natural deVigo, emigra em 1870 paraMadrid, onde acabou com a suavida vítima de umha profundadepressom motivada polo péssi-mo trato recebido na capitalespanhola. Dele resgatamos,como mostra do seu talante,estas palavras: “Quanto somos efomos os galegos está indele-velmente estereotipado na nossamúsica popular”. Também é possível achar arti-gos referentes a instrumentos datradiçom galega, como o acor-deom (num trabalho de FélixCastro), flauta ou violino (nestecaso com umha aproximaçombiográfica de Manuel Quiroga,compositor de “EmigrantesCeltas”, formosa música quetriunfou em Paris). Também agaita-de-foles tem o seu espaço

da mao de Norberto PabloCírio, argentino pertencente ao“Instituto Nacional deMusicologia Carlos Vega” emembro da Fundaçom JeitoNovo de cultura galega. No seu artigo explora a evo-luçom da gaita-de-folesgalega a partir da repro-duçom em pedra pre-sente num capitel deMelide do século XIaté a morfologiaactual.Ainda, reproduz-se na revista oclássico de Cons-tantin Brailou, oestranho ritmode aksak quepoderíamos tra-duzir por flexívelou coxo, umharecensom do ar-quivo sonoro doConselho da Cul-tura Galega, umhamemória do conserva-tório de música tradi-cional e folk de Lalim eumha homenagem nasecçom “Lembranças” aManuel Maria, um dos poetasmais musicados e recentementefalecido.O número completa-se com umartigo de José Luís do PicoOrjais relativo a um cancioneirode Valadares provavelmenteinédito e com a entrevista aosantigos Fujam Os Ventos, hojemúsicos d’A Quenlla, XoséLuis Rivas Cruz (Mini) eBaldomero Iglesias (Mero).

Murguia, revista galega de his-tória, con-tribui

com estetrabalho para res-gatar do esquecimento factosfundamentais em qualquer his-tória nacional, mas em boamedida marginalizados noactual estado de cousas quepadece a Galiza. O projecto éresultado da colaboraçom de

membros do conservatório demúsica tradicional e folk de

Lalim, de OuvirmosS.L. e da própria

revista Murguia.

revista MURGUIA

cultura

A nossa memória histórica também se escreve numha partitura

Davide Loimil

Pomos desta vez o nosso olhar sobre o último número deMurguia, Revista Galega de História, que abre o segundo anode caminhada realizando um percurso através de diferentesaspectos da história da nossa música..

Perfecto Feijóo 1919

(Foto do Museu de Ponte Vedra)

“Quanto somos

e fomos os galegos

está indelevelmente

estereotipado na

nossa música

popular”

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Nom som estranhos os vín-culos entre o narcotráfico e ojogo. Nom há maneira maisfácil de aparvalhar o povoque oferecer-lhe, com muitobombo por certo, os milio-nários prémios da lotaria deNatal: impostos indirectossobre os sonhos. E há mais.A ONCE (exacto: dos“cegos”); as «quinielas»essas, as do futebol esse; a«primitiva», «bonolotos»,máquinas de bares e mil jei-tos mais de narcotizar.Fluxos de dinheiro trapacei-ros que som o motor da eco-nomia. As práticas do talnegócio acabam por inçartoda a mara?a do capitalis-mo. O imperialismo é umacaso: a «pedrea» para unspoucos, contentes com asmigalhas do sistema; o«reintegro» para alguns quecalam e bem, tudo bem; e amaioria do povo, no entanto,só vê fugir os quartos. O«gordo», já se sabe, continuaa engordar. Daquela, quer oPlano Galiza quer aComissom de Tal ou Qual,tanto dá, som um bingo,onde políticos com manhasde croupieres estudam asmelhores combinaçons paraos seus benefícios. Volto a Marx, ao alheamen-to, ao ópio do povo. A igre-ja, um falar, sabe bem dotema; ao jeito dos bares, emcada capela há umha «traga-perras»; nom som de CIRSAou Franco, som Sam Breixo,Santa Maria ou a NossaSenhora das Angústias. E osbancos, que jogam com onosso dinheiro e trocam ospoucos juros por prémiospara nos tornar mais felizes,mais parvos, até ficarmossem poupança, que é omomento em que começama nos cobrar «reintegro»através dos empréstimos,hipotecas, abusos, ou comolhe quigerem chamar.Engenharia narcotraficante.Nom há armadilhas, tudo éjogo. Apostamos no vermel-ho e sempre sai negro.Ganha a banca.

novas da

“Interessam-nos as histórias humanas daspessoas que vivem ao redor dos barcos”

a entrevista Luís Rei, coordenador da revista Ardentía

ÓpioKiko Neves

A Federaçom Galega da Cultura Marítima e Fluvial (FGCMF), colectivo que reúne diferentes grupos da Galiza e donorte de Portugal, vem de editar Ardentía, revista especializada de divulgaçom desta temática. Falamos com Luís

Rei, coordenador do projecto, que em vindouros números partilhará esta responsabilidade com Xavier Camba.

Sole Rei

Como surgiu o projecto deArdentía?A directiva da Federaçom decidiuque queria umha revista semestral.Antes estava a publicar-se umha emdous anos, cada vez que havia umencontro, mas eram ocasionais e atemática estava muito marcada pololugar em que se realizasse esseencontro. O Apupo, polo seu carácterde boletim, nom cobria o ámbito dedivulgaçom da cultura marítimacomo um suporte que se fizesse ecodo que se estava a investigar e a tra-balhar nesse ámbito. Porém, nomaspiramos a ser umha revista paraengenheiros navais, interessam-nosmuito mais as histórias de vida daspessoas que há ao redor desses bar-cos. A Federaçom decidiu tambémque o primeiro número tratasse dopatrimónio imaterial, devido aoapoio que está a prestar ao projectoda Associaçom Cultural ePedagógica «Ponte… nas Ondas» naUNESCO, para a 3ª proclamaçomdas Obras Primas do PatrimónioImaterial que terá lugar em 2005.Assim, encarregárom a coorde-naçom a Xabier Camba e a mim.Camba, finalmente, nom pudo estarno primeiro número, mas participarános vindouros, que se debruçarámsobre «os barcos e as gentes» e sobreo urbanismo no mar e nos rios.

O vosso projecto tem umha temá-tica muito especializada. Comoprevedes a acolhida?Neste primeiro número tivemosumha tiragem de mil exemplares, enom prevemos, excepto em anos deencontro como o que vem, tiragensmaiores. Pensamos que se nos man-tivermos assim estará bem.Aguardamos que funcione mediantea assinatura entre as pessoas interes-sadas, mas como se trata de umhapublicaçom da Federaçom, os colec-tivos que a componhem tambémserám muito importantes.Apresentou-se em Carnota, Bueu,Ferrol, Viveiro, Guarda, Povoa deVarzim, Ilha e Aveiro, e a acolhida foimuito boa.

A FGCMF tem muitas vincu-laçons com outros colectivos simi-lares do norte de Portugal. Deonde vem esta relaçom?

Vem mesmo das origens. Um dosprimeiros actos da Federaçom foi naBiblioteca Rosa Peixoto da Póvoa deVarzim; a colaboraçom com o JoãoBaptista e com a Ivone Magalhãesvem desde as primeiras concen-traçons, onde todos os anos há dousou três barcos portugueses. Aliás,temos umha associaçom, Barcos doNorte, de Viana do Castelo, que tam-bém forma parte da Federaçom. Éalgo que vem do começo. Tanto éassim que o João Baptista é o vice-presidente. Nos encontros do anoque vem aguardamos que a presençade pessoas portuguesas seja mesmoforte.

E onde é que se realizarám os pró-ximos Encontros de EmbarcaçonsTradicionais?Fam-se cada dous anos e tenhemcarácter itinerante. Os próximos somem Cambados, em Julho de 2005, esom muito ambiciosos, porque defacto tenhem a obrigaçom de sê-lo, jáque estivérom a crescer ano apósano. Nos últimos houvo mais de cembarcos concentrados e três dias defesta. Tanto é assim que a revistaChass-maré, bíblia mundial dos bar-cos antigos, já falou dos encontros daIlha como “le petit Douarnenez”. Esteano aspiramos a ter, no mínimo,duzentos barcos, umhas jornadas decultura marítima e um festival de artescénicas: Musas do Mar.

Retomando o tema das relaçonscom Portugal, na revista aparecemtextos com “grafia portuguesa”, tale como tu mesmo a defines. Queopinas do reintegracionismo?Nós nom modificamos, excepto porquestons de estilo ou normas deediçom, os textos de ninguém. Os tex-tos com «grafia portuguesa», e defino-a assim e nom «português» porquepenso que som o mesmo idioma, vamassim porque estám escritos por por-tugueses ou portuguesas. Como coor-denador nom penso ir mais além no

debate lingüístico. Tenho as minhasinclinaçons, mas nom vou manifestá-las. Por outro lado, é natural o empre-go de um léxico próximo do portu-guês, já que tentamos fazer-nos enten-der em Portugal.

A saída da revista calhou com ospreparativos para o Encontro deEmbarcaçons Tradicionais deDouarnenez, e por esse motivotodos os artigos levam umha recen-som em francês. É a Bretanha umponto de referência para a culturamarítima e fluvial?É, claro. AFederaçom nasceu a imitaro modelo bretom, sem complexos.Era o modelo mais desenvolvido. Os encontros de Brest tenhem maisde um milhom de visitantes e os deDouarnenez tivérom este ano300.000, para além de 2000 barcos,numha vila pequena, nom maior que

qualquer vila costeira da Galiza. Quanto à cultura imaterial a que sededica este número… achas que éesse património o que define umhasociedade?

O património imaterial é todo ointangível da etnografia, da arte; é oidioma, o léxico, os mitos, as crenças,os ritos, a música, os costumes, asformas de transmissom de conheci-mento… Desse ponto de vista, éclaro que se trata da chave de umhacultura, de umha idiossincrasia, daessência de um povo, daquilo que é.Mas isto tampouco pode fazer-nosdesprezar o outro património, omaterial, que por enquanto tinha sidoo centro dos debates, porque nesteterreno, a batalha também está longede ser ganha. É preciso continuarmosa luitar para a conservaçom dasembarcaçons tradicionais.

Luís Rei no Encontro de Embarcaçons Tradicionais de Douarnenez deste ano.