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Capitulo Seis NIETZSCHE E A REPRESENTA<;AO DO DIONISiACO A ilusao apolfnea Pensando 0 conteudo tragico sem referenda a forma da tragedia, grega ou modema, Nietzsche foi 0 primeiro a se intitular filosofo tcigico. Essa postura radicalmente nova em relat;aO a tudo 0 que 0 antecedeu dH.ideia de tragico ° maximo de sua expressao, ao contrapo-la a razao e a moralidade. Ela pode ser notada quando Nietzsche afirma, no ultimo pedodo de suas reflexoes, que e 0 primeiro fil6sofo tragico ou 0 inventor do ditirambo dionisiaco, mas princi- palmenre em seu livro rna is importante: Assim falou Zaratustra. Po is ao mesmo tempo que 0 Zaratustra apresenra 0 personagem central superando 0 niilismo moral e merafisico e tornando-se urn fil6sofo ao afirmar 0 etemo re- torno e a inocencia do devir como ponto culminante de urn longo aprendiza- do de tambem evidencia a independencia do com rela"ao a forma da tragedia, dadaasingularidade estilfsticado Iivro, que elaboraum pensamento filos6fico atraves da palavra poeticae de sua narrativa e dramatica. Nao sera esse, no entanto, 0 objeto deste capitulo. Pois, tendo estudado essa questao em meu livro Zaratusfra, tragedia gostaria agora de mOstrar como a interpreta\ao da tra.gedia do jovem Nietzsche, tal como e ex- posta em 0 nascimento da tragedia enos escritos e fragmenros da epoca - que sera sempre a base das posteriores segue a instaurada no final do seculo XVIII, naAlemanha, de pensar 0 tragico como uma dualidade de prindpios metafisicos ou onrologicos. Assim, 0 objetivo mills geral deste capitulo e estudar a "metaffsica de artista" nietzschiana, analisando os princi- pios constitutivos da tragedia - 0 apolineo e 0 dionisfaco eo tipo de rela\ao entre eies, para situar a posit;iio de Nietzsche na trajetoriahistorico-filosofica do crigico. Nietzsche e a represenl:afii.o do dionisiaco 203 o conceito de pode ser compreendido a do "principium in- dividuationis" schopenhaueriano. E uma boa maneira de a investigar como 0 jovem Nietzsche concebe 0 individuo, quando reflete sobre 0 apoHneo e sua na epopeia homerica, e partir de uma nor;:ao que Ihe esta intrin- secamente associada, a nor;:ao de agon, de justa, disputa, combate, rivalidade. Esta eraocentral em "0 agon em Homero" texto sobreadisrinc;ao en- tre a teogonia titanica dos horrores e a teogonia olfmpica do jubilo que Nietzsche chega a consideri-la como "a mais nobre e mais fundamental das ideias gregas", um dos pensamentos mais notiveis da etica grega, por libertar o grego do "abismo pre-home rico de selvagem crueldade feita de6dioe de pra- zer destruidor',l_ De onde parte Nietzsche para tratar dessa questao? Da premissa de que "os gregos, os homens rna is humanos daAntiguidade, possuem umacaracte- rlstica cruel e trazem a marca de urn desejo selvagem de destruic;iio .. l . 0 inte- ressante, no entanto, para con'lpreender sua do apolineo, eque, ao registrar 0 odio e a cruel volupia do grego, Nietzsche nao esta propriamente fazendo urn elogio da da impiedade. Para e1e, no momenta inicial de sua teo rica, esse mundo cruel, 0 mundo pre-homerico, ou ririnico, e que nos da uma imagem da vida dominada pelos filhos da Noite: a Discordia, a Velhice, a Morte ... , primordiais personificadas da Teogonia de Hcsio- do. Com isso, seu objetivo e mostrar como os gregos lidaram com aquestao da cr.ueldade, procurando se proteger de um mundo sombrio, atroz, aterrador, atraves da "ilusao artistica" homerica. rdeia que ele procura esclarecec a partir da feita pOl' Hesiodo em Os trabalhos e os dias., entre duas Eris, duas Disc6rdias. Uma, a filhada Noite, rna, perniciosa, cruel, que fomemaaguerra e a dissensao, levando os homens a se matarem dominados pdo odio; a outra, a boa Eris, colocada por Zeus entre os homens com 0 objetivo de ineita-Ios a agir, de estimula-Ios para a disputa, ajusta. Enesse sentido, porexemplo, que ° fragmento p6scumo 16[19], escrito entre 0 vedo de 1871 e a primavera de 1872, esclarece: "A Eris de Hesiodo e geralmente mal compt"eendida: 0 que lIn- pulsiona as pessoas a guerra e ao conflito e a rna; 0 que as impulsiona aos atos honrosos e a boa." Para distinguir a ideia de agon, e a etica grega em que ela se enconrra, ja moral moderna, Nietzsche inclusive, as palavras de Hesiodo segun 0 as quais pelaboa Eris ° oleiro sente inveja do oleiro, ° carpinteiro do carpintei- ro, ° mendigo do mendigo, 0 aedo do aedo. E Hesiodo aparece aqui como urn 202

nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

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Page 1: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

Capitulo Seis

NIETZSCHE E

A REPRESENTAltAO DO DIONISiACO

A ilusao apolfnea

Pensando 0 conteudo tragico sem referenda a forma da tragedia grega ou

modema Nietzsche foi 0 primeiro a se intitular filosofo tcigico Essa postura

radicalmente nova em relataO a tudo 0 que 0 antecedeu dHideia de tragico deg maximo de sua expressao ao contrapo-la arazao e a moralidade Ela pode ser notada quando Nietzsche afirma no ultimo pedodo de suas reflexoes que e 0

primeiro fil6sofo tragico ou 0 inventor do ditirambo dionisiaco mas princishy

palmenre em seu livro rnais importante Assim falou Zaratustra Pois ao mesmo

tempo que 0 Zaratustra apresenra 0 personagem central superando 0 niilismo

moral e merafisico e tornando-se urn fil6sofo ao afirmar 0 etemo reshy

torno e a inocencia do devir como ponto culminante de urn longo aprendizashydo de tambem evidencia a independencia do com relaao a forma da tragedia dadaasingularidade estilfsticado Iivro que elaboraum pensamento

filos6fico atraves da palavra poeticae de sua constru~iio narrativa e dramatica

Nao sera esse no entanto 0 objeto deste capitulo Pois tendo estudado

essa questao em meu livro Zaratusfra tragedia gostaria agora de

mOstrar como a interpretaao da tragedia do jovem Nietzsche tal como e exshy

posta em 0 nascimento da tragedia enos escritos e fragmenros da epoca - que sera sempre a base das modifica~6es posteriores segue a tradi~ao instaurada no final do seculo XVIII naAlemanha de pensar 0 tragico como uma dualidade

de prindpios metafisicos ou onrologicos Assim 0 objetivo mills geral deste

capitulo e estudar a metaffsica de artista nietzschiana analisando os princishy

pios constitutivos da tragedia - 0 apolineo e 0 dionisfaco eo tipo de relaao

entre eies para situar a positiio de Nietzsche na trajetoriahistorico-filosofica do crigico

Nietzsche e a represenlafiio do dionisiaco 203

o conceito de pode ser compreendido a do principium inshy

dividuationis schopenhaueriano E uma boa maneira de come~ a investigar como 0 jovem Nietzsche concebe 0 individuo quando reflete sobre 0 apoHneo

e sua presen~a na epopeia homerica e partir de uma norao que Ihe esta intrinshy

secamente associada a norao de agon de justa disputa combate rivalidade

Esta no~ao eraocentral em 0 agon em Homero texto sobreadisrincao enshy

tre a teogonia titanica dos horrores e a teogonia olfmpica do jubilo que Nietzsche chega a consideri-la como a mais nobre e mais fundamental das ideias gregas um dos pensamentos mais notiveis da etica grega por libertar o grego do abismo pre-homerico de selvagem crueldade feita de6dioe de prashy

zer destruidorl_

De onde parte Nietzsche para tratar dessa questao Da premissa de que

os gregos os homens rnais humanos daAntiguidade possuem umacaracteshy

rlstica cruel e trazem a marca de urn desejo selvagem de destruiciio l 0 inteshy

ressante no entanto para conlpreender sua concep~ao do apolineo eque ao registrar 0 odio e a cruel volupia do grego Nietzsche nao esta propriamente fazendo urn elogio da vingan~a da impiedade Para e1e no momenta inicial de

sua produ~ao teo rica esse mundo cruel 0 mundo pre-homerico ou ririnico e

que nos da uma imagem da vida dominada pelos filhos da Noite a Discordia

a Velhice a Morte primordiais personificadas da Teogonia de Hcsioshy

do Com isso seu objetivo emostrar como os gregos lidaram com aquestao da

crueldade procurando se proteger de um mundo sombrio atroz aterrador atraves da ilusao artistica homerica rdeia que ele procura esclarecec a partir da distin~ao feita pOl Hesiodo em Os trabalhos e os dias entre duas Eris duas

Disc6rdias Uma a filhada Noite rna perniciosa cruel que fomemaaguerra

e a dissensao levando os homens a se matarem dominados pdo odio a outra

a boa Eris colocada por Zeus entre os homens com 0 objetivo de ineita-Ios a

agir de estimula-Ios para a disputa ajusta Enesse sentido porexemplo quedeg fragmento p6scumo 16[19] escrito entre 0 vedo de 1871 e a primavera de

1872 esclarece A Eris de Hesiodo e geralmente mal compteendida 0 que lInshy

pulsiona as pessoas aguerra e ao conflito e a rna 0 que as impulsiona aos atos

honrosos e a boa

Para distinguir a ideia de agon e a etica grega em que ela se enconrra ja

moral moderna Nietzsche inclusive as palavras de Hesiodo segun 0

as quais pelaboa Eris degoleiro sente inveja do oleiro deg carpinteiro do carpinteishyro deg mendigo do mendigo 0 aedo do aedo E Hesiodo aparece aqui como urn

202

204 o nasdmento do tnigico

testemunho de uma posi~ao generalizada sobre 0 valor do ajonlna Grecia em que Nietzsche indui are Platiio e Aristoteles e do qual ele explicj1ta os predicashydos ou as propriecladesatraves das virtudes homericas da invej-t do cilimeda

cobisa da ambisao Dai enCOntrarmos nesse texto frases do tipo 0 grego einshy

vejoso e sente esse seu tra~o nao como urn defeito mas como a influencia de

uma divindade benifica quanto mais urn grego egrande e nobre tanto mais

eluminoso 0 fogo da ambiltao que dele brota e que devora qualquer urn que

segue 0 mesmo caminho

Logo no inicio desse escritf poStUIllO Nietzsche se pergunta Por que o mundo grego exultavacom as fenas de combate naIlfada A respostae imeshydiata porque os poemas homerlcos sao juStas cantadas porque a epopeia e uma apologia do agon porque a arte epica transforma acrueldade em disputa

Se a repeticao incansaveldas cenas de combateede horror da guerrk de Troia

e contemplada por Homero com delicia eporque a epopeia ea legitimaltao do

combate e da alegria de combater

Ora essa notiio de agon resposta epica aquestiio do sofrimenro cia cruel- dade da morte s6 pode ser compreendida profundarnente pela nOsiio deindishy

vidualidade Com isso quero dizer que 0 agon eo combate individual que cia

brilho aexistencia tornando a vida do indivfduo digna de ser vivida nao pda

busca da felicidade como acontecera a partir de Socrates mas pela busca do

kieos da gloria Nas alt6es her6icas do individuo que conquista a gloria a vida

atinge a perfeiltao Aarte apoHnea e uma j ustificaltao do mundo da individuashy

tao 3 Melhor ainda a epopeia e UITl processo de individuatao que cria 0 indivishyduo atraves da competi~o pela gloria 0 individuo homerico se caracteriza

pelaaristeia peia serie de feitos her6icos que lhe trazem 0 presdgio a gloria 0

renome permitindo-lhe escapar do anonimato do esquecimento 0 imporshy

tante para 0 grego homerico e ter os seus feitos antados petos homens vinshy

douros Viver afitmando-se como individualidade e querer ser lembrado e

a l LdHUdUt llLelana ser Cantado

aedo pelo poeta 0 poetaeo mestre do kleos nosentido de que e ele quem conshy

Nietzsche Siimtliche Werke 1 p787-8 trad bras in Cincoprefdcios p79 Em Humano demaWdo

bumano I sect170 Nietzsche tambem interpreta a boa Eris de Hesiodo como a ambiao que dava

asas aDS genios dos artistas exigindo que suas ob ras se elevassem ao que aseus proprios olhos era

a sem levar em conca 0 gosro reinance

Nietzsche e a representatiio do dionisiaco 20S

fete e transmite a gloria A lliada e a Odisseia sao modos de conferir imortalidashyde pela do poeta

Mas para atingir a gloria e preciso enfrentar a luta e a morte provando sua arete sua excelencia 0 kJeos 0 renome a gl6ria ea recompensa pelo duro

destino do heroi Para obtera imortalidade a gl6riaimorredoura epreciso arshy

riscar heroicamente a vida A epopeia euma das respostas gregas ao problema

da dor do sofrimento da morte4 Ser um individuo her6ico esuperar a morte

proteger-se contra 0 monstruoso da morte tornando-se vivo na memoria dos homens mesmo que se renha de morrer eITl combate Deste modo as atrocishydades narradas na epopeia sobretudo na Ilada visam a ressalrar as dificuldashydes de se atinglr a yida gloriosa mas de tal ITlodo que elas apatesam neutralizashy

das anestesiadas pda figura do individuo heraico 0 que faz da epopeia como

dizo sect24de Onascimentodatragidia 0 deleite no mundo da individualidade

Assim 0 individuo tal como ecriado e apresentado pela epopeia e0 ideal

o modelo 0 exemplo de urn sistema de valores a ser seguido pelo grego que ouvindo fascinado as narrarivas dos feiros dos herois de urn lendirio desvia 0 olhar do que hi de sombrio e tenebroso na vida cotidiana No entanshyto para compreendermos mais profundaITlente como isso se da atnda e

so notar que esse individuo heroico teITl ele ITlesmo urn modelo os deuses A

crialtao do individuo euma consequencia da crialtao dos deuses olimpicos

Como os homens os deuses sao individuos 56 que entre uns e outros ha

uma distancia intransponivel enquanto os deuses que nao comem pao nao

bebem vinho como diz 0 Canto V da Iliada5 nao tern como destino ser morshytos ou seja sao imorrais (enao propriaITlente erernospOlS nao existia essa noshysao na Grecia arcaica) 0 genero hUITlano muda e passa como as folhas6 diz Nietzsche possivelmente pensando na beleza da mecafora com que naIliada 0

troiano Glauco constata 0 fato terrivel e natural da morte comparando os hoshy

mens com as folhas que os ventos atiram ao solo sem vida para que outras broshytern na primavera Nesse sentido os deuses sao moddos modelos

dos quais os homens devem se esforltar para se aproximar mas guarcianshy

do a devida distancia Esse limite inrransponivel entre os de uses e os homens e lembrado por Apolo a Diomedes quando enfurecido em suaaristeia naserie de sellS feitos guerreiros nao mostra reverencia ao grande deus ao tentar matar 0

troiano Eneias sobre quem ele havia estendido os brasos protetores8

Ora ejustamente Apolo deus que Nietzsche privilegia por considerar

que 0 mesmo impulso que nde se materializou engendrou todo 0 mundo

OG o nascimento do trigico

0Iimpico9 quem melhor personifica a ideia de indivfduo Apob ea expresshy

sao a representaa0 a imagem divina do principium individuationis dizNietzsche

apropriando-se da expressao que Schopenhauer havia retirado da escolistica para caracterizar 0 espaco e 0 tempo como condic6es formais do objeto tO

Ideia explicitadaem urn fragmento dessa epoca do seguinte modo Projetanshy

do no passado cinzento do povo os reflexos veneraveis do individuo Apolo

velou para que 0 olhar da multidao guardasse a acuidade que permite recoshy

nhecer 0 individuo no presente ao mesmo tempo que se esfonava para dar

nascimento a novas individuos e para cerci-los de urn charm1rotepoundOr por sishy

nais maravilhosos11 A pulsao apoHnea diferenciadora cria ~~rmas e assim individualidadesO povo de Apolo e 0 povo das individualid~des12

Na etimologia de Apolo Nietzsche encontra duas caracteristicas do aposhylinea 0 brilho e a aparencia Apolo e a divindade da luz Logo no inicio de A

visao dionisiacado mundo escrito preparatorio a 0 nascimentodatmgidia do

verao de 1870 Nietzsche se pergunta em que sentido foi possivel fazer de

Apolo 0 deus da arte para logo responder Apenas enquanto ele eo deus

das representa~6es onfricas Ele e 0 Resplandecente de modo total em sua

raiz mais profunda eo deus do sol e da luz que se revela em seu brilho1J Febo

Apolo e 0 brilhante 0 resplandecente 0 solar E esse brilho essaluminosidashyde que nao e propriedade apenas de Apolo mas dos deuses olimpicos em geshyral ilumina os homens mesmo que estes sejam urn pilido reflexodos deuses

Quanta mais gloriosos os individuos em seus feitos heroicos mais brilhantes eles sao 14

Na epopeia a vida no apogeu de sua superabundancia de for~ e apreshy

senrada sob a luz clara e ensolarada dos deuses E luz aqui obviamente se

contrapoe a trevas Como diz 0 nascimento da tragedia Apolo ultrapassa 0 soshyfrimento do individuo pela gl6ria da luz15 Conceber 0 mundo apolineo como brilhante e segundo Nietzsche estrategia da epopeia para lidar com 0

sombrio 0 tenebroso da vida criando uma proteltao Mas que tipo de proteshy

~ao eessa A concep~ao da poesia epica como proteltao s6 pode ser compreenshy

dida em sua singularidade quando se pensa nela como crialtao de uma ilusao

uma ilusao artistica Assim intrinsecamente ligada a ideia de brillio esta a de aparencia

A ideia de individuo apolineo tal como aparece na interpre~o nietzshyschiana da epopeia em 0 nascimento da tragidia e introduzida por uma cons ishy

deraltao sobre a manifestaltao fisiol6gica do sonho Eassim que 0 sect1 diz que

em sonho apareceram primeiro as esplendorosas figuras divinas que fa-

Nietzsche e a representa~ao do dJOnisiaco 207

zem com que a arteapawa como urn jogo com 0 sonho Acredito que aosalishy

entar 0 carater onirico da epopeia Nietzsche esteja privilegiando na arte

apolinea 0 olhar a imagem a forma a figura A tal ponto que mesmo quando no Crepusculodosidoloselesubstitui 0 sonho eaembriaguez como caracteristishycas do apolineo e do dionisiaco por duas variedades de embriaguez defmira 0

apolfneo como a embriaguez que excira 0 olho Os deuses homericos com

seus traltos humanos perfeitos sao espelhos em que os homens se olham e se

veem transfigurados em figuras de sonho 0 mundo oHmpico e urn espelho

transfigurador E nessa conremplacao onirica 0 homem senre profundo prashy

zer interior como observa Nietzsche no sect4 de 0 nascimento da tragidia A visao onirica a visao extatica euma protecao urn abrigo que permite olhar com a mesma alegria 0 que hade sombrio no mundo

Sabe-se queo jovemNietzs~ e marcado pelo pensamento de Kantesoshy

bretudo de Schopenhauer Em 0 nascimento da tragidia ele esrrutura sua arshy

gumentaltao a partir das ca[egorias de fen6meno e coisa em si (kanrianas)

de representa~ao e vontade (schopenhauerianas) mas tambem platonicas de

aparencia e essencia (platonicas) N esse sentido uma das originalidades do lishy

vro quanto asua cdtica da metafisica racional e a valorizacao da aparencia

do fenomeno da representacao pela interpreta~olo das figuras de Apolo e dos deuses olimpicos considerados como criacoes de uma arte apolinea Arealidashyde dos deuses olimpicos euma aparencia uma mentira poetica

Essa rela~ao tao intima que Nietzsche estabelece entre brilho e aparencia

lhe permite passardo primeiro ao segundo termo e pensar a prote~ao apolinea

como oculta~ao encobrimentomiddotmiddot A luz e uma ilusao Os deuses e herois epicos

sao miragens artisticas que tornam a vida desejavel Ao transformar em apashy

rencia nolo s6 0 agradavel mas tambem 0 sombrio 0 poeta epico di avida prashy

bull Cf Nietzsche Crepusculo dos idalos Incurs6es de urn extemporineo sect10 Concordo portanto

com Paul de Man quando escreve que 0 sonho nilo e em 0 nascirnento da tragedia a emergencia

de uma verdade mais profunda ocultada pela distra~ao da mente desperra euma merasuperfishy

cie urn mero jogo de fonnas e associa~6es u m conjunro de imagens de luz e cor e nao a escurishy

dao da esfera imerior (Genese e genealogia in Alegorias da leitura p112)

Em alemao a passagem e de Schein a Erscheinung Wilamowitz-Mollendorff prates contra essa assimila~ao de luz e aparencia Certamente Ie umaenorme ousadia fazer de Apolo que pel a raiz de seu nome Ie 0 brilhantegra~as a umjogo de palavras 0 deus da aparencia iscoedaapashy

rencia da aparencia da verdade superior do sonho que contrasta com a realidade diurna pouco

compreens[vel (Filologiado fmuro primeira parte in Machado (org) Nietzscheeapolemicasoshy

bre 0 nascimento da tragidia p61)

208 o nascimento do tragico

zer e alegria Os deuses sao urn I1spelho luminoso que os gregos colocaram entre eles e as atrocidades da vid~ Como escreve Nietzsche no sect2 de A visao

dionisiica do mundo 0 mund6 brilhance do Olimpo s6 venceu porque era

preciso ocultar pelas figuras luminosas de Zeus Apolo Hermes ecc a sombria

atividade da moira do destino que impile a Aquiles morrer jovem e aEdipo

contrair urn casamento abominaveL

Quando no sect3 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche investiga os fundashymentos da culrura apolinea em busca da necessidade que levou acriruao dos deuses homericos 0 que descobre e 0 sofiimento 0 sofrimento com os terrores e atrocidades da existencia tao bern representados pelos poderes ciCltinicos da

natureza E no sect1O ele complementa essaanilise esclarecendo que 0 epos hoshy

merico e a poesiadacuituraolimpicacomaqual estacantou 0 seu proprio canshy

tico de vitoria sobre as terrores da titanomaquia Ideia que Erwin Rohde 0

fil6logo amigo de Nietzsche comenta em sua resenha recusada sabre 0 nascishy

mento da tragedia em termos bern schopenhauerianos ao escrever que a obra de arte epica exercira no mais altO grau 0 poder de libertar cia violencia da vontade

que move todas as coisas Se 0 insuponavel do sofrimento exige a proteltao da

arte como meio de tomar a vida suportavel a solult10 homerica evelar encobrir

o sofrimento criando uma ilusao protetora contra 0 ca6tico eo informe Essa

ilusao e 0 principio de individualtiio 0 indivlduo essa crialtiio Iuminosa e apashy

rente de Homero da decorrem 0 Estado a patria a familia eurn modo de

aliviar a atmosfera opressora da existencia 0 modo de triunfar do sofrimento apagando os seus trruos ou dele se esquecendo

Esse mundo apolineo criador do individuo como luminosidade e apashy

rencia possui solidamente unidas uma dimensao estetica e uma dimensao

etica a que se tern acesso pela noltiio de medida

Beleza no sentido propriamente estetico emedida harmonia equiHbrio

simetria ordem proporltiio delimitaiio Apolo e 0 deus da beleza e0 slmbolo

do mundo considerado como bela e ilus6rio e por isso do mundo da arte Sob 0 seu nome diz Nietzsche em Onascimento da tragedia reunimos as inushymeriveis ilusoes da bela aparencia que a cada instante tornam de algum

modo a existencia digna de ser vivida e impelem a viver 0 moment~inshy

tegtl6 Segundo A visiio dionisiaca do mundo e 0 nascimento da tragidia a beleshy

za e 0 elemento de Apolo a bela aparencia do mundo dos sonhos eseu reino

Mesmo irado triste ou de mau humor a gralta da bela aparencia niio 0 abanshy

Nietzsche e a representafao do dionislaco 20~

dona 17 Alem disso e nesse espelho apolineo que se consrr6i a imagem dos hoshy

mens como belos reflexosdos deuses A imagemdairade Aquiles eparade [0

artista epico] apenas uma imagem cuja expressao raivosa ele desfruta com

aquele seu prazer onirico na aparencia18 Asingularidade da arte apolinea ea

-uv de urn veu de beleza que encubra 0 sofrimento E 0 que diz por exemshy

deg fragrnento postumo 7[91] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871

Nao hi bela superflcie sem uma profundidade aterradora Ideia que aparece de modo ainda mais schopenhaueriano no fragmento 7[27] da mesmaepoca quando depois de pergunrar 0 que e 0 bela Nietzsche responde imediatashy

mente Uma sensacao de prazer que nos ocultaem seu fenomeno as verdadeishy

ras intenltoes da vontade Ou em A visao diorusiaca do mundo sect4 quando

depois de perguntar 0 que e a beleza responde no mesmo sentido A rosa

ebela significa apenas a rosa tern uma bela aparencia tern alguma coisa de

brilhante que agrada Nada se diz do seu ser Elaagrada ela faz nascer 0 prazer como aparencia 0 que significa dizer que a vontade e tranqUilizada por seu

aparecimento que 0 prazer de ekistir aumenta

Mas esta dimensao estetica da beleza esci intrinsecamente ligada a uma

dimensao erica Nestesentido beleza e calmajovialidade serenidade sapienshy

te tranquilidade limita1io mensurada Iiberdade com relaltiio as emooes

Apolo deus da bela aparencia etambem a divindade etica da medida e des

justos Iimites Essa face de ApoIo e do individuo apolineo e ilustrada no inishy

cio de 0 nascimento cia tragedia com uma camparacao bastante expressiva retishyrada de Schopenhauer Assim como em meio ao mar enfurecido urn

barqueiro esra sentado em seu bote conftando na frigil embarcaltao assim

tambem em meio a Urn mundo de tormentoso homem individual esta transhy

apoiado e confiante no principium individuationis19 A serenidade

nea eo emblema da perfeilt3o individual E para que os limites apolfneos sejam

mantidos Apolo exige do indivfduo 0 conhecimento de si Junto com 0 nada em demasia nadaem excesso 0 outro principio sagrado inscri to no templo

de Apolo e conhece-te a ti mesmo20 Conhecimento de si que nao euma inshy

trospecltao psico16gica a constituiltao de urn mundo interior uma conscienshy

cia reflexiva mas urn espelhamento na figura na imagem do deus urn jogo de

espelhos pelo qual 0 homem se ve como bela reflexo do deus da beleza e da meshy

elida que ele mesmo criou Homero e urn poem da exterioridade

210 o nasdmento do tragico

A tenta~ao dionisiaca

Hi em Nietzsche urn evidente dogio da epopeia como modo ardstico de dar

sentido it vida pela expressao de uma superabundancia de pr6pria do

individuo her6ico Mas essas analises sao bastante reduzidas como se 56 exisshy

tissem para esclarecer um saber bem mais importance e profundo do que 0

apolineo 0 saber trigico De fato se Nietzsche nunea se denominou urn filoshysofo apo[fneo eporgue sempre esteve acento aos limites de uma visao apolinea do mundo Esses limites sao de dois tipos

o primeiro consiste naimpossibilidade de 0 apolineo se apresencar como

alternativa it racionalidade 0 tema nao e muito explicitado por Nietzsche

mas e possivd encontrar_DO pedodo inidal de sua obra algumas passagens

que constatam a apropri~o de Apolo pdo saber racionaL Eassim que 0 fragshymento p6stumo 3[36J de 1869-70 aproximaPlatio de Apolo dizendo que em Platio 0 mundo e visto do ponto de vista de Apolo ou do ponto de vista do

olho sua filosofiae uma glorificaltao supremadas coisas como imagens orishy

ginarias 0 fragmento 7[102] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871 ao

mesmo tempo que diz na linha de 0 nascimento da tragedia pois se trata de

uma de suas teses centrais que S6crates recusa os misteriJs dionisiacos

tambem enuncia a tese muito menos explicitada no livro de que S6crates se apegaaApolo 0 fragmento8[131 do pedodode 1870-71 ao outono de 1872

caractedza Socrates como mestre apoHneo indicando que sua serenidade de artista se nlanifesta na maieutica Socrates e a tragedia un1a das confeshy

rencias que estao na origem do livro pronunciada na Basileia em 12 de [evereishy

ro de 1870 diz que em Socrates encarnou-se urn aspecto do clemento grego a

dareza (Klarheit) apolinea Ideia que reaparece no sect14 de 0 nascimento da trageshydia que ao se perguntar se entre a socratismo e a arte hi necessariamente uma rela~ao antagonica lembraque na prisao Socrates compos urn hino em homeshynagem aApolo e versificou algumas fabulas de Esopo referindo-se entio asua lucidez (Einsicht) apoHnea E nesse mesma item Nietzsche refere-se a Platio

a tendencia apoHnea mumificou-se em esquematismo 16gico

a rela~ao entre 0 apolineo e a racionalidade se evidencia mais uma

vez quando Nietzsche chama a nova comedia de inspiracao de seshy

renidade do escravo e serenidade alexandrina21 Ou quando retoma essa

ideia na Tentativa de autocritica ao ver continuidade entre serenidade e ciencia ao falar de serenidade do homem teorico ou dizer que os gregos nos

Nietzsche e a representa~ao do dionisfaco 211

mJod= diolu raquaa CO mam m oumi~m l6gi

mais serenos e mais cientificos22 Todas essas indic~6es eVldenciam porranto

que se Nietzsche nao se denomina urn fil6sofo apolineo e Doraue ve nisso

ou uma insuficienci no sentido de que abandonado a 5i messhy

moo saber apolineo transforma-se em saber radonal

o segundo limite da visao apoHnea tal como aparece na epopeia eo fato

de ela nao ser uma afirma~ao integral da vida Como uma prote~ao contra 0

terrivel da dor do sofrimento da morte que funciona como encobrimento 0

saber apolineo evidencia-se parcial ao deixar de ladoalgo que nao pode serigshy

norado e fatal mente se imp5e a outra forp artis ticada natureza 0 dionisiaco

56 consigo pois explicar 0 Estado d6rico e a arte d6rica como urn continuo

acampamento de guerra da forlta apoHnea s6 em uma incessante resistencia

contra 0 cariter titwico-barbaro do dionisiaco podia perdurar uma arte tao desafiadoramente austera circundada de baluartes uma educa~ao tao belicoshysa e ispera urn Estado de natureza tao cruel e brutal diz 0 sect4 de 0 nascimento

da tragedia Oeste modo ao analisar a epopeia Nietzsche 0 faz por oposicao ao

saber dionisiaco a sabedoria popular que grita infelicidade infeicidade

na cara da serenidade apolinea ou que na boca de Sileno 0 companheiro de

Oioniso revela rindo que 0 bem supremo irnpossivel ao homem e nao ter

nascido e 0 segundo dos ainda acessivel e morrer 0 quanta antes23 A

Grecia ensinou a Nietzsche ensinamento que the foi uti inclusive na commiddot do seu Zaratu5tra qll- uma cultura apolinea ao pretender negar 0

lado sombrio tenebroso da vida pela criaao da i1usao do individuo her6ico e

impotente contra urn saber aniquilador da vida tal COIRO 0 que se manifesta

no culto a Oioniso Em tudo que 0 dionisiaco penetrou 0 apolfneo foi suspenshy

so e aniquilado24

o que e entao 0 dionisiaco nietzschiano Fundamentalmente 0 culto

das bacantes Isro e 0 culro manifestado nos conejos orgiisticos de mulheres que em transe coletivo dan~ando cantando e toeando tamborins ern homa de Dloniso invadiram a Grecia vindas da Asia para fazer seu deus ser reconhe-

Ebern possive que Nietzsche tenha aprendido com Jacob Burckhardt

seu colega na Basileia acaracterizacao de Oioniso como urn deus semigrego

Eis 0 que escreve Burkhardt em sua Histolia da cultura grega POl wis da mascashy

ra do deus da fertilidade se oculta um ser meio cstrangeiro Uma das personifishycaoes do deus ern paixao (que acreditarnos ser um deus camica) adquiriu no

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 2: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

204 o nasdmento do tnigico

testemunho de uma posi~ao generalizada sobre 0 valor do ajonlna Grecia em que Nietzsche indui are Platiio e Aristoteles e do qual ele explicj1ta os predicashydos ou as propriecladesatraves das virtudes homericas da invej-t do cilimeda

cobisa da ambisao Dai enCOntrarmos nesse texto frases do tipo 0 grego einshy

vejoso e sente esse seu tra~o nao como urn defeito mas como a influencia de

uma divindade benifica quanto mais urn grego egrande e nobre tanto mais

eluminoso 0 fogo da ambiltao que dele brota e que devora qualquer urn que

segue 0 mesmo caminho

Logo no inicio desse escritf poStUIllO Nietzsche se pergunta Por que o mundo grego exultavacom as fenas de combate naIlfada A respostae imeshydiata porque os poemas homerlcos sao juStas cantadas porque a epopeia e uma apologia do agon porque a arte epica transforma acrueldade em disputa

Se a repeticao incansaveldas cenas de combateede horror da guerrk de Troia

e contemplada por Homero com delicia eporque a epopeia ea legitimaltao do

combate e da alegria de combater

Ora essa notiio de agon resposta epica aquestiio do sofrimenro cia cruel- dade da morte s6 pode ser compreendida profundarnente pela nOsiio deindishy

vidualidade Com isso quero dizer que 0 agon eo combate individual que cia

brilho aexistencia tornando a vida do indivfduo digna de ser vivida nao pda

busca da felicidade como acontecera a partir de Socrates mas pela busca do

kieos da gloria Nas alt6es her6icas do individuo que conquista a gloria a vida

atinge a perfeiltao Aarte apoHnea e uma j ustificaltao do mundo da individuashy

tao 3 Melhor ainda a epopeia e UITl processo de individuatao que cria 0 indivishyduo atraves da competi~o pela gloria 0 individuo homerico se caracteriza

pelaaristeia peia serie de feitos her6icos que lhe trazem 0 presdgio a gloria 0

renome permitindo-lhe escapar do anonimato do esquecimento 0 imporshy

tante para 0 grego homerico e ter os seus feitos antados petos homens vinshy

douros Viver afitmando-se como individualidade e querer ser lembrado e

a l LdHUdUt llLelana ser Cantado

aedo pelo poeta 0 poetaeo mestre do kleos nosentido de que e ele quem conshy

Nietzsche Siimtliche Werke 1 p787-8 trad bras in Cincoprefdcios p79 Em Humano demaWdo

bumano I sect170 Nietzsche tambem interpreta a boa Eris de Hesiodo como a ambiao que dava

asas aDS genios dos artistas exigindo que suas ob ras se elevassem ao que aseus proprios olhos era

a sem levar em conca 0 gosro reinance

Nietzsche e a representatiio do dionisiaco 20S

fete e transmite a gloria A lliada e a Odisseia sao modos de conferir imortalidashyde pela do poeta

Mas para atingir a gloria e preciso enfrentar a luta e a morte provando sua arete sua excelencia 0 kJeos 0 renome a gl6ria ea recompensa pelo duro

destino do heroi Para obtera imortalidade a gl6riaimorredoura epreciso arshy

riscar heroicamente a vida A epopeia euma das respostas gregas ao problema

da dor do sofrimento da morte4 Ser um individuo her6ico esuperar a morte

proteger-se contra 0 monstruoso da morte tornando-se vivo na memoria dos homens mesmo que se renha de morrer eITl combate Deste modo as atrocishydades narradas na epopeia sobretudo na Ilada visam a ressalrar as dificuldashydes de se atinglr a yida gloriosa mas de tal ITlodo que elas apatesam neutralizashy

das anestesiadas pda figura do individuo heraico 0 que faz da epopeia como

dizo sect24de Onascimentodatragidia 0 deleite no mundo da individualidade

Assim 0 individuo tal como ecriado e apresentado pela epopeia e0 ideal

o modelo 0 exemplo de urn sistema de valores a ser seguido pelo grego que ouvindo fascinado as narrarivas dos feiros dos herois de urn lendirio desvia 0 olhar do que hi de sombrio e tenebroso na vida cotidiana No entanshyto para compreendermos mais profundaITlente como isso se da atnda e

so notar que esse individuo heroico teITl ele ITlesmo urn modelo os deuses A

crialtao do individuo euma consequencia da crialtao dos deuses olimpicos

Como os homens os deuses sao individuos 56 que entre uns e outros ha

uma distancia intransponivel enquanto os deuses que nao comem pao nao

bebem vinho como diz 0 Canto V da Iliada5 nao tern como destino ser morshytos ou seja sao imorrais (enao propriaITlente erernospOlS nao existia essa noshysao na Grecia arcaica) 0 genero hUITlano muda e passa como as folhas6 diz Nietzsche possivelmente pensando na beleza da mecafora com que naIliada 0

troiano Glauco constata 0 fato terrivel e natural da morte comparando os hoshy

mens com as folhas que os ventos atiram ao solo sem vida para que outras broshytern na primavera Nesse sentido os deuses sao moddos modelos

dos quais os homens devem se esforltar para se aproximar mas guarcianshy

do a devida distancia Esse limite inrransponivel entre os de uses e os homens e lembrado por Apolo a Diomedes quando enfurecido em suaaristeia naserie de sellS feitos guerreiros nao mostra reverencia ao grande deus ao tentar matar 0

troiano Eneias sobre quem ele havia estendido os brasos protetores8

Ora ejustamente Apolo deus que Nietzsche privilegia por considerar

que 0 mesmo impulso que nde se materializou engendrou todo 0 mundo

OG o nascimento do trigico

0Iimpico9 quem melhor personifica a ideia de indivfduo Apob ea expresshy

sao a representaa0 a imagem divina do principium individuationis dizNietzsche

apropriando-se da expressao que Schopenhauer havia retirado da escolistica para caracterizar 0 espaco e 0 tempo como condic6es formais do objeto tO

Ideia explicitadaem urn fragmento dessa epoca do seguinte modo Projetanshy

do no passado cinzento do povo os reflexos veneraveis do individuo Apolo

velou para que 0 olhar da multidao guardasse a acuidade que permite recoshy

nhecer 0 individuo no presente ao mesmo tempo que se esfonava para dar

nascimento a novas individuos e para cerci-los de urn charm1rotepoundOr por sishy

nais maravilhosos11 A pulsao apoHnea diferenciadora cria ~~rmas e assim individualidadesO povo de Apolo e 0 povo das individualid~des12

Na etimologia de Apolo Nietzsche encontra duas caracteristicas do aposhylinea 0 brilho e a aparencia Apolo e a divindade da luz Logo no inicio de A

visao dionisiacado mundo escrito preparatorio a 0 nascimentodatmgidia do

verao de 1870 Nietzsche se pergunta em que sentido foi possivel fazer de

Apolo 0 deus da arte para logo responder Apenas enquanto ele eo deus

das representa~6es onfricas Ele e 0 Resplandecente de modo total em sua

raiz mais profunda eo deus do sol e da luz que se revela em seu brilho1J Febo

Apolo e 0 brilhante 0 resplandecente 0 solar E esse brilho essaluminosidashyde que nao e propriedade apenas de Apolo mas dos deuses olimpicos em geshyral ilumina os homens mesmo que estes sejam urn pilido reflexodos deuses

Quanta mais gloriosos os individuos em seus feitos heroicos mais brilhantes eles sao 14

Na epopeia a vida no apogeu de sua superabundancia de for~ e apreshy

senrada sob a luz clara e ensolarada dos deuses E luz aqui obviamente se

contrapoe a trevas Como diz 0 nascimento da tragedia Apolo ultrapassa 0 soshyfrimento do individuo pela gl6ria da luz15 Conceber 0 mundo apolineo como brilhante e segundo Nietzsche estrategia da epopeia para lidar com 0

sombrio 0 tenebroso da vida criando uma proteltao Mas que tipo de proteshy

~ao eessa A concep~ao da poesia epica como proteltao s6 pode ser compreenshy

dida em sua singularidade quando se pensa nela como crialtao de uma ilusao

uma ilusao artistica Assim intrinsecamente ligada a ideia de brillio esta a de aparencia

A ideia de individuo apolineo tal como aparece na interpre~o nietzshyschiana da epopeia em 0 nascimento da tragidia e introduzida por uma cons ishy

deraltao sobre a manifestaltao fisiol6gica do sonho Eassim que 0 sect1 diz que

em sonho apareceram primeiro as esplendorosas figuras divinas que fa-

Nietzsche e a representa~ao do dJOnisiaco 207

zem com que a arteapawa como urn jogo com 0 sonho Acredito que aosalishy

entar 0 carater onirico da epopeia Nietzsche esteja privilegiando na arte

apolinea 0 olhar a imagem a forma a figura A tal ponto que mesmo quando no Crepusculodosidoloselesubstitui 0 sonho eaembriaguez como caracteristishycas do apolineo e do dionisiaco por duas variedades de embriaguez defmira 0

apolfneo como a embriaguez que excira 0 olho Os deuses homericos com

seus traltos humanos perfeitos sao espelhos em que os homens se olham e se

veem transfigurados em figuras de sonho 0 mundo oHmpico e urn espelho

transfigurador E nessa conremplacao onirica 0 homem senre profundo prashy

zer interior como observa Nietzsche no sect4 de 0 nascimento da tragidia A visao onirica a visao extatica euma protecao urn abrigo que permite olhar com a mesma alegria 0 que hade sombrio no mundo

Sabe-se queo jovemNietzs~ e marcado pelo pensamento de Kantesoshy

bretudo de Schopenhauer Em 0 nascimento da tragidia ele esrrutura sua arshy

gumentaltao a partir das ca[egorias de fen6meno e coisa em si (kanrianas)

de representa~ao e vontade (schopenhauerianas) mas tambem platonicas de

aparencia e essencia (platonicas) N esse sentido uma das originalidades do lishy

vro quanto asua cdtica da metafisica racional e a valorizacao da aparencia

do fenomeno da representacao pela interpreta~olo das figuras de Apolo e dos deuses olimpicos considerados como criacoes de uma arte apolinea Arealidashyde dos deuses olimpicos euma aparencia uma mentira poetica

Essa rela~ao tao intima que Nietzsche estabelece entre brilho e aparencia

lhe permite passardo primeiro ao segundo termo e pensar a prote~ao apolinea

como oculta~ao encobrimentomiddotmiddot A luz e uma ilusao Os deuses e herois epicos

sao miragens artisticas que tornam a vida desejavel Ao transformar em apashy

rencia nolo s6 0 agradavel mas tambem 0 sombrio 0 poeta epico di avida prashy

bull Cf Nietzsche Crepusculo dos idalos Incurs6es de urn extemporineo sect10 Concordo portanto

com Paul de Man quando escreve que 0 sonho nilo e em 0 nascirnento da tragedia a emergencia

de uma verdade mais profunda ocultada pela distra~ao da mente desperra euma merasuperfishy

cie urn mero jogo de fonnas e associa~6es u m conjunro de imagens de luz e cor e nao a escurishy

dao da esfera imerior (Genese e genealogia in Alegorias da leitura p112)

Em alemao a passagem e de Schein a Erscheinung Wilamowitz-Mollendorff prates contra essa assimila~ao de luz e aparencia Certamente Ie umaenorme ousadia fazer de Apolo que pel a raiz de seu nome Ie 0 brilhantegra~as a umjogo de palavras 0 deus da aparencia iscoedaapashy

rencia da aparencia da verdade superior do sonho que contrasta com a realidade diurna pouco

compreens[vel (Filologiado fmuro primeira parte in Machado (org) Nietzscheeapolemicasoshy

bre 0 nascimento da tragidia p61)

208 o nascimento do tragico

zer e alegria Os deuses sao urn I1spelho luminoso que os gregos colocaram entre eles e as atrocidades da vid~ Como escreve Nietzsche no sect2 de A visao

dionisiica do mundo 0 mund6 brilhance do Olimpo s6 venceu porque era

preciso ocultar pelas figuras luminosas de Zeus Apolo Hermes ecc a sombria

atividade da moira do destino que impile a Aquiles morrer jovem e aEdipo

contrair urn casamento abominaveL

Quando no sect3 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche investiga os fundashymentos da culrura apolinea em busca da necessidade que levou acriruao dos deuses homericos 0 que descobre e 0 sofiimento 0 sofrimento com os terrores e atrocidades da existencia tao bern representados pelos poderes ciCltinicos da

natureza E no sect1O ele complementa essaanilise esclarecendo que 0 epos hoshy

merico e a poesiadacuituraolimpicacomaqual estacantou 0 seu proprio canshy

tico de vitoria sobre as terrores da titanomaquia Ideia que Erwin Rohde 0

fil6logo amigo de Nietzsche comenta em sua resenha recusada sabre 0 nascishy

mento da tragedia em termos bern schopenhauerianos ao escrever que a obra de arte epica exercira no mais altO grau 0 poder de libertar cia violencia da vontade

que move todas as coisas Se 0 insuponavel do sofrimento exige a proteltao da

arte como meio de tomar a vida suportavel a solult10 homerica evelar encobrir

o sofrimento criando uma ilusao protetora contra 0 ca6tico eo informe Essa

ilusao e 0 principio de individualtiio 0 indivlduo essa crialtiio Iuminosa e apashy

rente de Homero da decorrem 0 Estado a patria a familia eurn modo de

aliviar a atmosfera opressora da existencia 0 modo de triunfar do sofrimento apagando os seus trruos ou dele se esquecendo

Esse mundo apolineo criador do individuo como luminosidade e apashy

rencia possui solidamente unidas uma dimensao estetica e uma dimensao

etica a que se tern acesso pela noltiio de medida

Beleza no sentido propriamente estetico emedida harmonia equiHbrio

simetria ordem proporltiio delimitaiio Apolo e 0 deus da beleza e0 slmbolo

do mundo considerado como bela e ilus6rio e por isso do mundo da arte Sob 0 seu nome diz Nietzsche em Onascimento da tragedia reunimos as inushymeriveis ilusoes da bela aparencia que a cada instante tornam de algum

modo a existencia digna de ser vivida e impelem a viver 0 moment~inshy

tegtl6 Segundo A visiio dionisiaca do mundo e 0 nascimento da tragidia a beleshy

za e 0 elemento de Apolo a bela aparencia do mundo dos sonhos eseu reino

Mesmo irado triste ou de mau humor a gralta da bela aparencia niio 0 abanshy

Nietzsche e a representafao do dionislaco 20~

dona 17 Alem disso e nesse espelho apolineo que se consrr6i a imagem dos hoshy

mens como belos reflexosdos deuses A imagemdairade Aquiles eparade [0

artista epico] apenas uma imagem cuja expressao raivosa ele desfruta com

aquele seu prazer onirico na aparencia18 Asingularidade da arte apolinea ea

-uv de urn veu de beleza que encubra 0 sofrimento E 0 que diz por exemshy

deg fragrnento postumo 7[91] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871

Nao hi bela superflcie sem uma profundidade aterradora Ideia que aparece de modo ainda mais schopenhaueriano no fragmento 7[27] da mesmaepoca quando depois de pergunrar 0 que e 0 bela Nietzsche responde imediatashy

mente Uma sensacao de prazer que nos ocultaem seu fenomeno as verdadeishy

ras intenltoes da vontade Ou em A visao diorusiaca do mundo sect4 quando

depois de perguntar 0 que e a beleza responde no mesmo sentido A rosa

ebela significa apenas a rosa tern uma bela aparencia tern alguma coisa de

brilhante que agrada Nada se diz do seu ser Elaagrada ela faz nascer 0 prazer como aparencia 0 que significa dizer que a vontade e tranqUilizada por seu

aparecimento que 0 prazer de ekistir aumenta

Mas esta dimensao estetica da beleza esci intrinsecamente ligada a uma

dimensao erica Nestesentido beleza e calmajovialidade serenidade sapienshy

te tranquilidade limita1io mensurada Iiberdade com relaltiio as emooes

Apolo deus da bela aparencia etambem a divindade etica da medida e des

justos Iimites Essa face de ApoIo e do individuo apolineo e ilustrada no inishy

cio de 0 nascimento cia tragedia com uma camparacao bastante expressiva retishyrada de Schopenhauer Assim como em meio ao mar enfurecido urn

barqueiro esra sentado em seu bote conftando na frigil embarcaltao assim

tambem em meio a Urn mundo de tormentoso homem individual esta transhy

apoiado e confiante no principium individuationis19 A serenidade

nea eo emblema da perfeilt3o individual E para que os limites apolfneos sejam

mantidos Apolo exige do indivfduo 0 conhecimento de si Junto com 0 nada em demasia nadaem excesso 0 outro principio sagrado inscri to no templo

de Apolo e conhece-te a ti mesmo20 Conhecimento de si que nao euma inshy

trospecltao psico16gica a constituiltao de urn mundo interior uma conscienshy

cia reflexiva mas urn espelhamento na figura na imagem do deus urn jogo de

espelhos pelo qual 0 homem se ve como bela reflexo do deus da beleza e da meshy

elida que ele mesmo criou Homero e urn poem da exterioridade

210 o nasdmento do tragico

A tenta~ao dionisiaca

Hi em Nietzsche urn evidente dogio da epopeia como modo ardstico de dar

sentido it vida pela expressao de uma superabundancia de pr6pria do

individuo her6ico Mas essas analises sao bastante reduzidas como se 56 exisshy

tissem para esclarecer um saber bem mais importance e profundo do que 0

apolineo 0 saber trigico De fato se Nietzsche nunea se denominou urn filoshysofo apo[fneo eporgue sempre esteve acento aos limites de uma visao apolinea do mundo Esses limites sao de dois tipos

o primeiro consiste naimpossibilidade de 0 apolineo se apresencar como

alternativa it racionalidade 0 tema nao e muito explicitado por Nietzsche

mas e possivd encontrar_DO pedodo inidal de sua obra algumas passagens

que constatam a apropri~o de Apolo pdo saber racionaL Eassim que 0 fragshymento p6stumo 3[36J de 1869-70 aproximaPlatio de Apolo dizendo que em Platio 0 mundo e visto do ponto de vista de Apolo ou do ponto de vista do

olho sua filosofiae uma glorificaltao supremadas coisas como imagens orishy

ginarias 0 fragmento 7[102] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871 ao

mesmo tempo que diz na linha de 0 nascimento da tragedia pois se trata de

uma de suas teses centrais que S6crates recusa os misteriJs dionisiacos

tambem enuncia a tese muito menos explicitada no livro de que S6crates se apegaaApolo 0 fragmento8[131 do pedodode 1870-71 ao outono de 1872

caractedza Socrates como mestre apoHneo indicando que sua serenidade de artista se nlanifesta na maieutica Socrates e a tragedia un1a das confeshy

rencias que estao na origem do livro pronunciada na Basileia em 12 de [evereishy

ro de 1870 diz que em Socrates encarnou-se urn aspecto do clemento grego a

dareza (Klarheit) apolinea Ideia que reaparece no sect14 de 0 nascimento da trageshydia que ao se perguntar se entre a socratismo e a arte hi necessariamente uma rela~ao antagonica lembraque na prisao Socrates compos urn hino em homeshynagem aApolo e versificou algumas fabulas de Esopo referindo-se entio asua lucidez (Einsicht) apoHnea E nesse mesma item Nietzsche refere-se a Platio

a tendencia apoHnea mumificou-se em esquematismo 16gico

a rela~ao entre 0 apolineo e a racionalidade se evidencia mais uma

vez quando Nietzsche chama a nova comedia de inspiracao de seshy

renidade do escravo e serenidade alexandrina21 Ou quando retoma essa

ideia na Tentativa de autocritica ao ver continuidade entre serenidade e ciencia ao falar de serenidade do homem teorico ou dizer que os gregos nos

Nietzsche e a representa~ao do dionisfaco 211

mJod= diolu raquaa CO mam m oumi~m l6gi

mais serenos e mais cientificos22 Todas essas indic~6es eVldenciam porranto

que se Nietzsche nao se denomina urn fil6sofo apolineo e Doraue ve nisso

ou uma insuficienci no sentido de que abandonado a 5i messhy

moo saber apolineo transforma-se em saber radonal

o segundo limite da visao apoHnea tal como aparece na epopeia eo fato

de ela nao ser uma afirma~ao integral da vida Como uma prote~ao contra 0

terrivel da dor do sofrimento da morte que funciona como encobrimento 0

saber apolineo evidencia-se parcial ao deixar de ladoalgo que nao pode serigshy

norado e fatal mente se imp5e a outra forp artis ticada natureza 0 dionisiaco

56 consigo pois explicar 0 Estado d6rico e a arte d6rica como urn continuo

acampamento de guerra da forlta apoHnea s6 em uma incessante resistencia

contra 0 cariter titwico-barbaro do dionisiaco podia perdurar uma arte tao desafiadoramente austera circundada de baluartes uma educa~ao tao belicoshysa e ispera urn Estado de natureza tao cruel e brutal diz 0 sect4 de 0 nascimento

da tragedia Oeste modo ao analisar a epopeia Nietzsche 0 faz por oposicao ao

saber dionisiaco a sabedoria popular que grita infelicidade infeicidade

na cara da serenidade apolinea ou que na boca de Sileno 0 companheiro de

Oioniso revela rindo que 0 bem supremo irnpossivel ao homem e nao ter

nascido e 0 segundo dos ainda acessivel e morrer 0 quanta antes23 A

Grecia ensinou a Nietzsche ensinamento que the foi uti inclusive na commiddot do seu Zaratu5tra qll- uma cultura apolinea ao pretender negar 0

lado sombrio tenebroso da vida pela criaao da i1usao do individuo her6ico e

impotente contra urn saber aniquilador da vida tal COIRO 0 que se manifesta

no culto a Oioniso Em tudo que 0 dionisiaco penetrou 0 apolfneo foi suspenshy

so e aniquilado24

o que e entao 0 dionisiaco nietzschiano Fundamentalmente 0 culto

das bacantes Isro e 0 culro manifestado nos conejos orgiisticos de mulheres que em transe coletivo dan~ando cantando e toeando tamborins ern homa de Dloniso invadiram a Grecia vindas da Asia para fazer seu deus ser reconhe-

Ebern possive que Nietzsche tenha aprendido com Jacob Burckhardt

seu colega na Basileia acaracterizacao de Oioniso como urn deus semigrego

Eis 0 que escreve Burkhardt em sua Histolia da cultura grega POl wis da mascashy

ra do deus da fertilidade se oculta um ser meio cstrangeiro Uma das personifishycaoes do deus ern paixao (que acreditarnos ser um deus camica) adquiriu no

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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BOWfE--Andrew Aestetics and Subjectivity from Kant to NretzJche Manchester Manchester University Press 1990

___ Esteticay subjetividad Lafilosofta alemana de Kanta Nietvche y La teona estitica actual Madri Visor 1999

BUTLER EM The Tirany ofGreece over Germany Boston Beacon Press 1958

BiblioJirafia 273

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umgarten Kant Schelling Hegel und Schopenhauer Wiesbaden Franz Steiner 1983 ROSENFELD Anatol Teatro moderno Sao Paulo Perspectiva 1977 $CHAEFFERJean-MarieLAntierage moderne LEsthetiqlleetla philosophie de IartduXVII1

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I Ensaio sabre atrali-co Rio de JaneiroJorge Zahar 2004 TAMI~IAUxJacques La nostalgie de La Grece a[aube de idealisme allemand Haia Nijhoff

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Obras complementares

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mens em tempos sombrias Sio Paulo Companhiadas Letras 1987 ARlSTOTELES La Poetique trad e noras Dupont-Roc e Lallot Paris Seuil 1980 ___ Poetica rrad preficio inrrodwao comencirio e apendice de Eudoro dtgt Soushy

sa Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 5 ed AYRAULT Roger La genese du romantisme allemand Paris Aubier 1976 BENJAMIN Walter OconceitoJecritica de arte no romantismoaemao Sio Paulo Iluminushy

ras1993

Page 3: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

OG o nascimento do trigico

0Iimpico9 quem melhor personifica a ideia de indivfduo Apob ea expresshy

sao a representaa0 a imagem divina do principium individuationis dizNietzsche

apropriando-se da expressao que Schopenhauer havia retirado da escolistica para caracterizar 0 espaco e 0 tempo como condic6es formais do objeto tO

Ideia explicitadaem urn fragmento dessa epoca do seguinte modo Projetanshy

do no passado cinzento do povo os reflexos veneraveis do individuo Apolo

velou para que 0 olhar da multidao guardasse a acuidade que permite recoshy

nhecer 0 individuo no presente ao mesmo tempo que se esfonava para dar

nascimento a novas individuos e para cerci-los de urn charm1rotepoundOr por sishy

nais maravilhosos11 A pulsao apoHnea diferenciadora cria ~~rmas e assim individualidadesO povo de Apolo e 0 povo das individualid~des12

Na etimologia de Apolo Nietzsche encontra duas caracteristicas do aposhylinea 0 brilho e a aparencia Apolo e a divindade da luz Logo no inicio de A

visao dionisiacado mundo escrito preparatorio a 0 nascimentodatmgidia do

verao de 1870 Nietzsche se pergunta em que sentido foi possivel fazer de

Apolo 0 deus da arte para logo responder Apenas enquanto ele eo deus

das representa~6es onfricas Ele e 0 Resplandecente de modo total em sua

raiz mais profunda eo deus do sol e da luz que se revela em seu brilho1J Febo

Apolo e 0 brilhante 0 resplandecente 0 solar E esse brilho essaluminosidashyde que nao e propriedade apenas de Apolo mas dos deuses olimpicos em geshyral ilumina os homens mesmo que estes sejam urn pilido reflexodos deuses

Quanta mais gloriosos os individuos em seus feitos heroicos mais brilhantes eles sao 14

Na epopeia a vida no apogeu de sua superabundancia de for~ e apreshy

senrada sob a luz clara e ensolarada dos deuses E luz aqui obviamente se

contrapoe a trevas Como diz 0 nascimento da tragedia Apolo ultrapassa 0 soshyfrimento do individuo pela gl6ria da luz15 Conceber 0 mundo apolineo como brilhante e segundo Nietzsche estrategia da epopeia para lidar com 0

sombrio 0 tenebroso da vida criando uma proteltao Mas que tipo de proteshy

~ao eessa A concep~ao da poesia epica como proteltao s6 pode ser compreenshy

dida em sua singularidade quando se pensa nela como crialtao de uma ilusao

uma ilusao artistica Assim intrinsecamente ligada a ideia de brillio esta a de aparencia

A ideia de individuo apolineo tal como aparece na interpre~o nietzshyschiana da epopeia em 0 nascimento da tragidia e introduzida por uma cons ishy

deraltao sobre a manifestaltao fisiol6gica do sonho Eassim que 0 sect1 diz que

em sonho apareceram primeiro as esplendorosas figuras divinas que fa-

Nietzsche e a representa~ao do dJOnisiaco 207

zem com que a arteapawa como urn jogo com 0 sonho Acredito que aosalishy

entar 0 carater onirico da epopeia Nietzsche esteja privilegiando na arte

apolinea 0 olhar a imagem a forma a figura A tal ponto que mesmo quando no Crepusculodosidoloselesubstitui 0 sonho eaembriaguez como caracteristishycas do apolineo e do dionisiaco por duas variedades de embriaguez defmira 0

apolfneo como a embriaguez que excira 0 olho Os deuses homericos com

seus traltos humanos perfeitos sao espelhos em que os homens se olham e se

veem transfigurados em figuras de sonho 0 mundo oHmpico e urn espelho

transfigurador E nessa conremplacao onirica 0 homem senre profundo prashy

zer interior como observa Nietzsche no sect4 de 0 nascimento da tragidia A visao onirica a visao extatica euma protecao urn abrigo que permite olhar com a mesma alegria 0 que hade sombrio no mundo

Sabe-se queo jovemNietzs~ e marcado pelo pensamento de Kantesoshy

bretudo de Schopenhauer Em 0 nascimento da tragidia ele esrrutura sua arshy

gumentaltao a partir das ca[egorias de fen6meno e coisa em si (kanrianas)

de representa~ao e vontade (schopenhauerianas) mas tambem platonicas de

aparencia e essencia (platonicas) N esse sentido uma das originalidades do lishy

vro quanto asua cdtica da metafisica racional e a valorizacao da aparencia

do fenomeno da representacao pela interpreta~olo das figuras de Apolo e dos deuses olimpicos considerados como criacoes de uma arte apolinea Arealidashyde dos deuses olimpicos euma aparencia uma mentira poetica

Essa rela~ao tao intima que Nietzsche estabelece entre brilho e aparencia

lhe permite passardo primeiro ao segundo termo e pensar a prote~ao apolinea

como oculta~ao encobrimentomiddotmiddot A luz e uma ilusao Os deuses e herois epicos

sao miragens artisticas que tornam a vida desejavel Ao transformar em apashy

rencia nolo s6 0 agradavel mas tambem 0 sombrio 0 poeta epico di avida prashy

bull Cf Nietzsche Crepusculo dos idalos Incurs6es de urn extemporineo sect10 Concordo portanto

com Paul de Man quando escreve que 0 sonho nilo e em 0 nascirnento da tragedia a emergencia

de uma verdade mais profunda ocultada pela distra~ao da mente desperra euma merasuperfishy

cie urn mero jogo de fonnas e associa~6es u m conjunro de imagens de luz e cor e nao a escurishy

dao da esfera imerior (Genese e genealogia in Alegorias da leitura p112)

Em alemao a passagem e de Schein a Erscheinung Wilamowitz-Mollendorff prates contra essa assimila~ao de luz e aparencia Certamente Ie umaenorme ousadia fazer de Apolo que pel a raiz de seu nome Ie 0 brilhantegra~as a umjogo de palavras 0 deus da aparencia iscoedaapashy

rencia da aparencia da verdade superior do sonho que contrasta com a realidade diurna pouco

compreens[vel (Filologiado fmuro primeira parte in Machado (org) Nietzscheeapolemicasoshy

bre 0 nascimento da tragidia p61)

208 o nascimento do tragico

zer e alegria Os deuses sao urn I1spelho luminoso que os gregos colocaram entre eles e as atrocidades da vid~ Como escreve Nietzsche no sect2 de A visao

dionisiica do mundo 0 mund6 brilhance do Olimpo s6 venceu porque era

preciso ocultar pelas figuras luminosas de Zeus Apolo Hermes ecc a sombria

atividade da moira do destino que impile a Aquiles morrer jovem e aEdipo

contrair urn casamento abominaveL

Quando no sect3 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche investiga os fundashymentos da culrura apolinea em busca da necessidade que levou acriruao dos deuses homericos 0 que descobre e 0 sofiimento 0 sofrimento com os terrores e atrocidades da existencia tao bern representados pelos poderes ciCltinicos da

natureza E no sect1O ele complementa essaanilise esclarecendo que 0 epos hoshy

merico e a poesiadacuituraolimpicacomaqual estacantou 0 seu proprio canshy

tico de vitoria sobre as terrores da titanomaquia Ideia que Erwin Rohde 0

fil6logo amigo de Nietzsche comenta em sua resenha recusada sabre 0 nascishy

mento da tragedia em termos bern schopenhauerianos ao escrever que a obra de arte epica exercira no mais altO grau 0 poder de libertar cia violencia da vontade

que move todas as coisas Se 0 insuponavel do sofrimento exige a proteltao da

arte como meio de tomar a vida suportavel a solult10 homerica evelar encobrir

o sofrimento criando uma ilusao protetora contra 0 ca6tico eo informe Essa

ilusao e 0 principio de individualtiio 0 indivlduo essa crialtiio Iuminosa e apashy

rente de Homero da decorrem 0 Estado a patria a familia eurn modo de

aliviar a atmosfera opressora da existencia 0 modo de triunfar do sofrimento apagando os seus trruos ou dele se esquecendo

Esse mundo apolineo criador do individuo como luminosidade e apashy

rencia possui solidamente unidas uma dimensao estetica e uma dimensao

etica a que se tern acesso pela noltiio de medida

Beleza no sentido propriamente estetico emedida harmonia equiHbrio

simetria ordem proporltiio delimitaiio Apolo e 0 deus da beleza e0 slmbolo

do mundo considerado como bela e ilus6rio e por isso do mundo da arte Sob 0 seu nome diz Nietzsche em Onascimento da tragedia reunimos as inushymeriveis ilusoes da bela aparencia que a cada instante tornam de algum

modo a existencia digna de ser vivida e impelem a viver 0 moment~inshy

tegtl6 Segundo A visiio dionisiaca do mundo e 0 nascimento da tragidia a beleshy

za e 0 elemento de Apolo a bela aparencia do mundo dos sonhos eseu reino

Mesmo irado triste ou de mau humor a gralta da bela aparencia niio 0 abanshy

Nietzsche e a representafao do dionislaco 20~

dona 17 Alem disso e nesse espelho apolineo que se consrr6i a imagem dos hoshy

mens como belos reflexosdos deuses A imagemdairade Aquiles eparade [0

artista epico] apenas uma imagem cuja expressao raivosa ele desfruta com

aquele seu prazer onirico na aparencia18 Asingularidade da arte apolinea ea

-uv de urn veu de beleza que encubra 0 sofrimento E 0 que diz por exemshy

deg fragrnento postumo 7[91] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871

Nao hi bela superflcie sem uma profundidade aterradora Ideia que aparece de modo ainda mais schopenhaueriano no fragmento 7[27] da mesmaepoca quando depois de pergunrar 0 que e 0 bela Nietzsche responde imediatashy

mente Uma sensacao de prazer que nos ocultaem seu fenomeno as verdadeishy

ras intenltoes da vontade Ou em A visao diorusiaca do mundo sect4 quando

depois de perguntar 0 que e a beleza responde no mesmo sentido A rosa

ebela significa apenas a rosa tern uma bela aparencia tern alguma coisa de

brilhante que agrada Nada se diz do seu ser Elaagrada ela faz nascer 0 prazer como aparencia 0 que significa dizer que a vontade e tranqUilizada por seu

aparecimento que 0 prazer de ekistir aumenta

Mas esta dimensao estetica da beleza esci intrinsecamente ligada a uma

dimensao erica Nestesentido beleza e calmajovialidade serenidade sapienshy

te tranquilidade limita1io mensurada Iiberdade com relaltiio as emooes

Apolo deus da bela aparencia etambem a divindade etica da medida e des

justos Iimites Essa face de ApoIo e do individuo apolineo e ilustrada no inishy

cio de 0 nascimento cia tragedia com uma camparacao bastante expressiva retishyrada de Schopenhauer Assim como em meio ao mar enfurecido urn

barqueiro esra sentado em seu bote conftando na frigil embarcaltao assim

tambem em meio a Urn mundo de tormentoso homem individual esta transhy

apoiado e confiante no principium individuationis19 A serenidade

nea eo emblema da perfeilt3o individual E para que os limites apolfneos sejam

mantidos Apolo exige do indivfduo 0 conhecimento de si Junto com 0 nada em demasia nadaem excesso 0 outro principio sagrado inscri to no templo

de Apolo e conhece-te a ti mesmo20 Conhecimento de si que nao euma inshy

trospecltao psico16gica a constituiltao de urn mundo interior uma conscienshy

cia reflexiva mas urn espelhamento na figura na imagem do deus urn jogo de

espelhos pelo qual 0 homem se ve como bela reflexo do deus da beleza e da meshy

elida que ele mesmo criou Homero e urn poem da exterioridade

210 o nasdmento do tragico

A tenta~ao dionisiaca

Hi em Nietzsche urn evidente dogio da epopeia como modo ardstico de dar

sentido it vida pela expressao de uma superabundancia de pr6pria do

individuo her6ico Mas essas analises sao bastante reduzidas como se 56 exisshy

tissem para esclarecer um saber bem mais importance e profundo do que 0

apolineo 0 saber trigico De fato se Nietzsche nunea se denominou urn filoshysofo apo[fneo eporgue sempre esteve acento aos limites de uma visao apolinea do mundo Esses limites sao de dois tipos

o primeiro consiste naimpossibilidade de 0 apolineo se apresencar como

alternativa it racionalidade 0 tema nao e muito explicitado por Nietzsche

mas e possivd encontrar_DO pedodo inidal de sua obra algumas passagens

que constatam a apropri~o de Apolo pdo saber racionaL Eassim que 0 fragshymento p6stumo 3[36J de 1869-70 aproximaPlatio de Apolo dizendo que em Platio 0 mundo e visto do ponto de vista de Apolo ou do ponto de vista do

olho sua filosofiae uma glorificaltao supremadas coisas como imagens orishy

ginarias 0 fragmento 7[102] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871 ao

mesmo tempo que diz na linha de 0 nascimento da tragedia pois se trata de

uma de suas teses centrais que S6crates recusa os misteriJs dionisiacos

tambem enuncia a tese muito menos explicitada no livro de que S6crates se apegaaApolo 0 fragmento8[131 do pedodode 1870-71 ao outono de 1872

caractedza Socrates como mestre apoHneo indicando que sua serenidade de artista se nlanifesta na maieutica Socrates e a tragedia un1a das confeshy

rencias que estao na origem do livro pronunciada na Basileia em 12 de [evereishy

ro de 1870 diz que em Socrates encarnou-se urn aspecto do clemento grego a

dareza (Klarheit) apolinea Ideia que reaparece no sect14 de 0 nascimento da trageshydia que ao se perguntar se entre a socratismo e a arte hi necessariamente uma rela~ao antagonica lembraque na prisao Socrates compos urn hino em homeshynagem aApolo e versificou algumas fabulas de Esopo referindo-se entio asua lucidez (Einsicht) apoHnea E nesse mesma item Nietzsche refere-se a Platio

a tendencia apoHnea mumificou-se em esquematismo 16gico

a rela~ao entre 0 apolineo e a racionalidade se evidencia mais uma

vez quando Nietzsche chama a nova comedia de inspiracao de seshy

renidade do escravo e serenidade alexandrina21 Ou quando retoma essa

ideia na Tentativa de autocritica ao ver continuidade entre serenidade e ciencia ao falar de serenidade do homem teorico ou dizer que os gregos nos

Nietzsche e a representa~ao do dionisfaco 211

mJod= diolu raquaa CO mam m oumi~m l6gi

mais serenos e mais cientificos22 Todas essas indic~6es eVldenciam porranto

que se Nietzsche nao se denomina urn fil6sofo apolineo e Doraue ve nisso

ou uma insuficienci no sentido de que abandonado a 5i messhy

moo saber apolineo transforma-se em saber radonal

o segundo limite da visao apoHnea tal como aparece na epopeia eo fato

de ela nao ser uma afirma~ao integral da vida Como uma prote~ao contra 0

terrivel da dor do sofrimento da morte que funciona como encobrimento 0

saber apolineo evidencia-se parcial ao deixar de ladoalgo que nao pode serigshy

norado e fatal mente se imp5e a outra forp artis ticada natureza 0 dionisiaco

56 consigo pois explicar 0 Estado d6rico e a arte d6rica como urn continuo

acampamento de guerra da forlta apoHnea s6 em uma incessante resistencia

contra 0 cariter titwico-barbaro do dionisiaco podia perdurar uma arte tao desafiadoramente austera circundada de baluartes uma educa~ao tao belicoshysa e ispera urn Estado de natureza tao cruel e brutal diz 0 sect4 de 0 nascimento

da tragedia Oeste modo ao analisar a epopeia Nietzsche 0 faz por oposicao ao

saber dionisiaco a sabedoria popular que grita infelicidade infeicidade

na cara da serenidade apolinea ou que na boca de Sileno 0 companheiro de

Oioniso revela rindo que 0 bem supremo irnpossivel ao homem e nao ter

nascido e 0 segundo dos ainda acessivel e morrer 0 quanta antes23 A

Grecia ensinou a Nietzsche ensinamento que the foi uti inclusive na commiddot do seu Zaratu5tra qll- uma cultura apolinea ao pretender negar 0

lado sombrio tenebroso da vida pela criaao da i1usao do individuo her6ico e

impotente contra urn saber aniquilador da vida tal COIRO 0 que se manifesta

no culto a Oioniso Em tudo que 0 dionisiaco penetrou 0 apolfneo foi suspenshy

so e aniquilado24

o que e entao 0 dionisiaco nietzschiano Fundamentalmente 0 culto

das bacantes Isro e 0 culro manifestado nos conejos orgiisticos de mulheres que em transe coletivo dan~ando cantando e toeando tamborins ern homa de Dloniso invadiram a Grecia vindas da Asia para fazer seu deus ser reconhe-

Ebern possive que Nietzsche tenha aprendido com Jacob Burckhardt

seu colega na Basileia acaracterizacao de Oioniso como urn deus semigrego

Eis 0 que escreve Burkhardt em sua Histolia da cultura grega POl wis da mascashy

ra do deus da fertilidade se oculta um ser meio cstrangeiro Uma das personifishycaoes do deus ern paixao (que acreditarnos ser um deus camica) adquiriu no

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 4: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

208 o nascimento do tragico

zer e alegria Os deuses sao urn I1spelho luminoso que os gregos colocaram entre eles e as atrocidades da vid~ Como escreve Nietzsche no sect2 de A visao

dionisiica do mundo 0 mund6 brilhance do Olimpo s6 venceu porque era

preciso ocultar pelas figuras luminosas de Zeus Apolo Hermes ecc a sombria

atividade da moira do destino que impile a Aquiles morrer jovem e aEdipo

contrair urn casamento abominaveL

Quando no sect3 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche investiga os fundashymentos da culrura apolinea em busca da necessidade que levou acriruao dos deuses homericos 0 que descobre e 0 sofiimento 0 sofrimento com os terrores e atrocidades da existencia tao bern representados pelos poderes ciCltinicos da

natureza E no sect1O ele complementa essaanilise esclarecendo que 0 epos hoshy

merico e a poesiadacuituraolimpicacomaqual estacantou 0 seu proprio canshy

tico de vitoria sobre as terrores da titanomaquia Ideia que Erwin Rohde 0

fil6logo amigo de Nietzsche comenta em sua resenha recusada sabre 0 nascishy

mento da tragedia em termos bern schopenhauerianos ao escrever que a obra de arte epica exercira no mais altO grau 0 poder de libertar cia violencia da vontade

que move todas as coisas Se 0 insuponavel do sofrimento exige a proteltao da

arte como meio de tomar a vida suportavel a solult10 homerica evelar encobrir

o sofrimento criando uma ilusao protetora contra 0 ca6tico eo informe Essa

ilusao e 0 principio de individualtiio 0 indivlduo essa crialtiio Iuminosa e apashy

rente de Homero da decorrem 0 Estado a patria a familia eurn modo de

aliviar a atmosfera opressora da existencia 0 modo de triunfar do sofrimento apagando os seus trruos ou dele se esquecendo

Esse mundo apolineo criador do individuo como luminosidade e apashy

rencia possui solidamente unidas uma dimensao estetica e uma dimensao

etica a que se tern acesso pela noltiio de medida

Beleza no sentido propriamente estetico emedida harmonia equiHbrio

simetria ordem proporltiio delimitaiio Apolo e 0 deus da beleza e0 slmbolo

do mundo considerado como bela e ilus6rio e por isso do mundo da arte Sob 0 seu nome diz Nietzsche em Onascimento da tragedia reunimos as inushymeriveis ilusoes da bela aparencia que a cada instante tornam de algum

modo a existencia digna de ser vivida e impelem a viver 0 moment~inshy

tegtl6 Segundo A visiio dionisiaca do mundo e 0 nascimento da tragidia a beleshy

za e 0 elemento de Apolo a bela aparencia do mundo dos sonhos eseu reino

Mesmo irado triste ou de mau humor a gralta da bela aparencia niio 0 abanshy

Nietzsche e a representafao do dionislaco 20~

dona 17 Alem disso e nesse espelho apolineo que se consrr6i a imagem dos hoshy

mens como belos reflexosdos deuses A imagemdairade Aquiles eparade [0

artista epico] apenas uma imagem cuja expressao raivosa ele desfruta com

aquele seu prazer onirico na aparencia18 Asingularidade da arte apolinea ea

-uv de urn veu de beleza que encubra 0 sofrimento E 0 que diz por exemshy

deg fragrnento postumo 7[91] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871

Nao hi bela superflcie sem uma profundidade aterradora Ideia que aparece de modo ainda mais schopenhaueriano no fragmento 7[27] da mesmaepoca quando depois de pergunrar 0 que e 0 bela Nietzsche responde imediatashy

mente Uma sensacao de prazer que nos ocultaem seu fenomeno as verdadeishy

ras intenltoes da vontade Ou em A visao diorusiaca do mundo sect4 quando

depois de perguntar 0 que e a beleza responde no mesmo sentido A rosa

ebela significa apenas a rosa tern uma bela aparencia tern alguma coisa de

brilhante que agrada Nada se diz do seu ser Elaagrada ela faz nascer 0 prazer como aparencia 0 que significa dizer que a vontade e tranqUilizada por seu

aparecimento que 0 prazer de ekistir aumenta

Mas esta dimensao estetica da beleza esci intrinsecamente ligada a uma

dimensao erica Nestesentido beleza e calmajovialidade serenidade sapienshy

te tranquilidade limita1io mensurada Iiberdade com relaltiio as emooes

Apolo deus da bela aparencia etambem a divindade etica da medida e des

justos Iimites Essa face de ApoIo e do individuo apolineo e ilustrada no inishy

cio de 0 nascimento cia tragedia com uma camparacao bastante expressiva retishyrada de Schopenhauer Assim como em meio ao mar enfurecido urn

barqueiro esra sentado em seu bote conftando na frigil embarcaltao assim

tambem em meio a Urn mundo de tormentoso homem individual esta transhy

apoiado e confiante no principium individuationis19 A serenidade

nea eo emblema da perfeilt3o individual E para que os limites apolfneos sejam

mantidos Apolo exige do indivfduo 0 conhecimento de si Junto com 0 nada em demasia nadaem excesso 0 outro principio sagrado inscri to no templo

de Apolo e conhece-te a ti mesmo20 Conhecimento de si que nao euma inshy

trospecltao psico16gica a constituiltao de urn mundo interior uma conscienshy

cia reflexiva mas urn espelhamento na figura na imagem do deus urn jogo de

espelhos pelo qual 0 homem se ve como bela reflexo do deus da beleza e da meshy

elida que ele mesmo criou Homero e urn poem da exterioridade

210 o nasdmento do tragico

A tenta~ao dionisiaca

Hi em Nietzsche urn evidente dogio da epopeia como modo ardstico de dar

sentido it vida pela expressao de uma superabundancia de pr6pria do

individuo her6ico Mas essas analises sao bastante reduzidas como se 56 exisshy

tissem para esclarecer um saber bem mais importance e profundo do que 0

apolineo 0 saber trigico De fato se Nietzsche nunea se denominou urn filoshysofo apo[fneo eporgue sempre esteve acento aos limites de uma visao apolinea do mundo Esses limites sao de dois tipos

o primeiro consiste naimpossibilidade de 0 apolineo se apresencar como

alternativa it racionalidade 0 tema nao e muito explicitado por Nietzsche

mas e possivd encontrar_DO pedodo inidal de sua obra algumas passagens

que constatam a apropri~o de Apolo pdo saber racionaL Eassim que 0 fragshymento p6stumo 3[36J de 1869-70 aproximaPlatio de Apolo dizendo que em Platio 0 mundo e visto do ponto de vista de Apolo ou do ponto de vista do

olho sua filosofiae uma glorificaltao supremadas coisas como imagens orishy

ginarias 0 fragmento 7[102] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871 ao

mesmo tempo que diz na linha de 0 nascimento da tragedia pois se trata de

uma de suas teses centrais que S6crates recusa os misteriJs dionisiacos

tambem enuncia a tese muito menos explicitada no livro de que S6crates se apegaaApolo 0 fragmento8[131 do pedodode 1870-71 ao outono de 1872

caractedza Socrates como mestre apoHneo indicando que sua serenidade de artista se nlanifesta na maieutica Socrates e a tragedia un1a das confeshy

rencias que estao na origem do livro pronunciada na Basileia em 12 de [evereishy

ro de 1870 diz que em Socrates encarnou-se urn aspecto do clemento grego a

dareza (Klarheit) apolinea Ideia que reaparece no sect14 de 0 nascimento da trageshydia que ao se perguntar se entre a socratismo e a arte hi necessariamente uma rela~ao antagonica lembraque na prisao Socrates compos urn hino em homeshynagem aApolo e versificou algumas fabulas de Esopo referindo-se entio asua lucidez (Einsicht) apoHnea E nesse mesma item Nietzsche refere-se a Platio

a tendencia apoHnea mumificou-se em esquematismo 16gico

a rela~ao entre 0 apolineo e a racionalidade se evidencia mais uma

vez quando Nietzsche chama a nova comedia de inspiracao de seshy

renidade do escravo e serenidade alexandrina21 Ou quando retoma essa

ideia na Tentativa de autocritica ao ver continuidade entre serenidade e ciencia ao falar de serenidade do homem teorico ou dizer que os gregos nos

Nietzsche e a representa~ao do dionisfaco 211

mJod= diolu raquaa CO mam m oumi~m l6gi

mais serenos e mais cientificos22 Todas essas indic~6es eVldenciam porranto

que se Nietzsche nao se denomina urn fil6sofo apolineo e Doraue ve nisso

ou uma insuficienci no sentido de que abandonado a 5i messhy

moo saber apolineo transforma-se em saber radonal

o segundo limite da visao apoHnea tal como aparece na epopeia eo fato

de ela nao ser uma afirma~ao integral da vida Como uma prote~ao contra 0

terrivel da dor do sofrimento da morte que funciona como encobrimento 0

saber apolineo evidencia-se parcial ao deixar de ladoalgo que nao pode serigshy

norado e fatal mente se imp5e a outra forp artis ticada natureza 0 dionisiaco

56 consigo pois explicar 0 Estado d6rico e a arte d6rica como urn continuo

acampamento de guerra da forlta apoHnea s6 em uma incessante resistencia

contra 0 cariter titwico-barbaro do dionisiaco podia perdurar uma arte tao desafiadoramente austera circundada de baluartes uma educa~ao tao belicoshysa e ispera urn Estado de natureza tao cruel e brutal diz 0 sect4 de 0 nascimento

da tragedia Oeste modo ao analisar a epopeia Nietzsche 0 faz por oposicao ao

saber dionisiaco a sabedoria popular que grita infelicidade infeicidade

na cara da serenidade apolinea ou que na boca de Sileno 0 companheiro de

Oioniso revela rindo que 0 bem supremo irnpossivel ao homem e nao ter

nascido e 0 segundo dos ainda acessivel e morrer 0 quanta antes23 A

Grecia ensinou a Nietzsche ensinamento que the foi uti inclusive na commiddot do seu Zaratu5tra qll- uma cultura apolinea ao pretender negar 0

lado sombrio tenebroso da vida pela criaao da i1usao do individuo her6ico e

impotente contra urn saber aniquilador da vida tal COIRO 0 que se manifesta

no culto a Oioniso Em tudo que 0 dionisiaco penetrou 0 apolfneo foi suspenshy

so e aniquilado24

o que e entao 0 dionisiaco nietzschiano Fundamentalmente 0 culto

das bacantes Isro e 0 culro manifestado nos conejos orgiisticos de mulheres que em transe coletivo dan~ando cantando e toeando tamborins ern homa de Dloniso invadiram a Grecia vindas da Asia para fazer seu deus ser reconhe-

Ebern possive que Nietzsche tenha aprendido com Jacob Burckhardt

seu colega na Basileia acaracterizacao de Oioniso como urn deus semigrego

Eis 0 que escreve Burkhardt em sua Histolia da cultura grega POl wis da mascashy

ra do deus da fertilidade se oculta um ser meio cstrangeiro Uma das personifishycaoes do deus ern paixao (que acreditarnos ser um deus camica) adquiriu no

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 5: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

210 o nasdmento do tragico

A tenta~ao dionisiaca

Hi em Nietzsche urn evidente dogio da epopeia como modo ardstico de dar

sentido it vida pela expressao de uma superabundancia de pr6pria do

individuo her6ico Mas essas analises sao bastante reduzidas como se 56 exisshy

tissem para esclarecer um saber bem mais importance e profundo do que 0

apolineo 0 saber trigico De fato se Nietzsche nunea se denominou urn filoshysofo apo[fneo eporgue sempre esteve acento aos limites de uma visao apolinea do mundo Esses limites sao de dois tipos

o primeiro consiste naimpossibilidade de 0 apolineo se apresencar como

alternativa it racionalidade 0 tema nao e muito explicitado por Nietzsche

mas e possivd encontrar_DO pedodo inidal de sua obra algumas passagens

que constatam a apropri~o de Apolo pdo saber racionaL Eassim que 0 fragshymento p6stumo 3[36J de 1869-70 aproximaPlatio de Apolo dizendo que em Platio 0 mundo e visto do ponto de vista de Apolo ou do ponto de vista do

olho sua filosofiae uma glorificaltao supremadas coisas como imagens orishy

ginarias 0 fragmento 7[102] escrito entre 0 final de 1870 e abril de 1871 ao

mesmo tempo que diz na linha de 0 nascimento da tragedia pois se trata de

uma de suas teses centrais que S6crates recusa os misteriJs dionisiacos

tambem enuncia a tese muito menos explicitada no livro de que S6crates se apegaaApolo 0 fragmento8[131 do pedodode 1870-71 ao outono de 1872

caractedza Socrates como mestre apoHneo indicando que sua serenidade de artista se nlanifesta na maieutica Socrates e a tragedia un1a das confeshy

rencias que estao na origem do livro pronunciada na Basileia em 12 de [evereishy

ro de 1870 diz que em Socrates encarnou-se urn aspecto do clemento grego a

dareza (Klarheit) apolinea Ideia que reaparece no sect14 de 0 nascimento da trageshydia que ao se perguntar se entre a socratismo e a arte hi necessariamente uma rela~ao antagonica lembraque na prisao Socrates compos urn hino em homeshynagem aApolo e versificou algumas fabulas de Esopo referindo-se entio asua lucidez (Einsicht) apoHnea E nesse mesma item Nietzsche refere-se a Platio

a tendencia apoHnea mumificou-se em esquematismo 16gico

a rela~ao entre 0 apolineo e a racionalidade se evidencia mais uma

vez quando Nietzsche chama a nova comedia de inspiracao de seshy

renidade do escravo e serenidade alexandrina21 Ou quando retoma essa

ideia na Tentativa de autocritica ao ver continuidade entre serenidade e ciencia ao falar de serenidade do homem teorico ou dizer que os gregos nos

Nietzsche e a representa~ao do dionisfaco 211

mJod= diolu raquaa CO mam m oumi~m l6gi

mais serenos e mais cientificos22 Todas essas indic~6es eVldenciam porranto

que se Nietzsche nao se denomina urn fil6sofo apolineo e Doraue ve nisso

ou uma insuficienci no sentido de que abandonado a 5i messhy

moo saber apolineo transforma-se em saber radonal

o segundo limite da visao apoHnea tal como aparece na epopeia eo fato

de ela nao ser uma afirma~ao integral da vida Como uma prote~ao contra 0

terrivel da dor do sofrimento da morte que funciona como encobrimento 0

saber apolineo evidencia-se parcial ao deixar de ladoalgo que nao pode serigshy

norado e fatal mente se imp5e a outra forp artis ticada natureza 0 dionisiaco

56 consigo pois explicar 0 Estado d6rico e a arte d6rica como urn continuo

acampamento de guerra da forlta apoHnea s6 em uma incessante resistencia

contra 0 cariter titwico-barbaro do dionisiaco podia perdurar uma arte tao desafiadoramente austera circundada de baluartes uma educa~ao tao belicoshysa e ispera urn Estado de natureza tao cruel e brutal diz 0 sect4 de 0 nascimento

da tragedia Oeste modo ao analisar a epopeia Nietzsche 0 faz por oposicao ao

saber dionisiaco a sabedoria popular que grita infelicidade infeicidade

na cara da serenidade apolinea ou que na boca de Sileno 0 companheiro de

Oioniso revela rindo que 0 bem supremo irnpossivel ao homem e nao ter

nascido e 0 segundo dos ainda acessivel e morrer 0 quanta antes23 A

Grecia ensinou a Nietzsche ensinamento que the foi uti inclusive na commiddot do seu Zaratu5tra qll- uma cultura apolinea ao pretender negar 0

lado sombrio tenebroso da vida pela criaao da i1usao do individuo her6ico e

impotente contra urn saber aniquilador da vida tal COIRO 0 que se manifesta

no culto a Oioniso Em tudo que 0 dionisiaco penetrou 0 apolfneo foi suspenshy

so e aniquilado24

o que e entao 0 dionisiaco nietzschiano Fundamentalmente 0 culto

das bacantes Isro e 0 culro manifestado nos conejos orgiisticos de mulheres que em transe coletivo dan~ando cantando e toeando tamborins ern homa de Dloniso invadiram a Grecia vindas da Asia para fazer seu deus ser reconhe-

Ebern possive que Nietzsche tenha aprendido com Jacob Burckhardt

seu colega na Basileia acaracterizacao de Oioniso como urn deus semigrego

Eis 0 que escreve Burkhardt em sua Histolia da cultura grega POl wis da mascashy

ra do deus da fertilidade se oculta um ser meio cstrangeiro Uma das personifishycaoes do deus ern paixao (que acreditarnos ser um deus camica) adquiriu no

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 6: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

212 o nascimento do trligico

extremo oriental daAsia menor entre os frigios como tambem entre os traeishyos um ritmo selvagem e embriagador e em repetidas invas6es conseguiu reimshyplantar na Grecia 0 culto de Dionisomiddot Tambem Erwin Rohde amigo de

Nietzsche e autordePsyche livro publicadoem 1893 defende que 0 dionisiaco

representa urn corpo estranho na cultura gregahomerica 0 que 0 leva a situar

a origem de Oioniso fora das fronteiras da Greaa na Tracia e a explicar Sua

expansao a maneira de epidemias de danas convulsivasz5 Inclusive ao coshymentar 0 nascimento da tragedia em sua resenha- publicada ern maio de 1872

poucos meses portanto depois da publica~odo livro - Rohde ja defende que o entusiasmo panteista vindo do Oriente espalhou-se em ondas possantes pela Grecia Mas epreciso assinalar que jtt Holderlin chama 0 i0 niso urn deus estrangeiroZ6 considera-o deus dos elementos asiiticos27 Essa ideia pareshy

ce ser inquestionavel para os pensadores filologos ou nio do seculo XIX

Seja ou nio correta a ideia de urn Dionisoestrangeiro no sentido de nasshycido fora da Grecia interpretaao hoje negadapelos fil6Iogosmiddotmiddot 0 importante e que 0 culto mistico a Dioniso urn estrangeiro terrfvel28 significa para Nietzsche a neg~ao dos valores principais dacultura apolinea Em vez de urn

processo de individuaao e uma experienciade reconciliasao entre as pessoas

e das pessoas com a natureza uma harmonia universal e urn sentimento misshy

tico de unidade Sob a magia do dionisiaco toma a selar-se nao apenas 0 lalto

de pessoa a pessoa mas rambem a naturezaalheada inamistosa ou subjugada

volta a celebrar a festa da reconciliasao com seu fdho perdido 0 homem diz o sect 1 de 0 nascimento da tragedia

Burckhardt Hist6ria de La cultura grega tome II p112-3 Heidegger formula a hiperese de que

Burckhardt ja esrava no encal~o do ancagonismo entreoapolineo e 0 dionisfaco em suas confeshy

reneias sobre a civiliza~ao grega tealizadas na Basileiaaque Nietzsche em parte assistiu (cf

Nietzsche I p99) Eis como Nietzsche se refere it relruaoenm de e Burckhardt a respeito do dioshy

nisiaco no CrepUsculo tks idalos 0 que devo aos antigosD sect4 Fui 0 primeiro que para compreshyender a instinto heleruco mals antigo ainda rico e mesmo transbordante levei a serio 0

maravilhoso fenomeno que cern como nome Dioniso 0 qual s6 e explieavel par urn exeesso de forlta Quem se dedica ao escudo dos gregos comoJacob Burckhardt da Basileia a mals profun do conhecedor ainda em vida de sua culrura se deu logo conca da impartancia que lsso ctnha Burckhardt acrescentou aSUa Cultura do grego sesao especial sabre esse fenomeno

U Para Marcel Detienne nao hi duvida sobre a origem grega ~niso embora e1e scja 0

Estrangeiro porrador de estranheza 0 Esrrangeiro do interior (Dioniso a ceu aberto p21 26

37) Para Louis Gernet ao mesmo tempo que 0 dionisismo nao e uma religiao que vern de fora

Dioniso faria pensar no Dutro (Dionysos et la religion dionysiaque elements herites et tralS originaux in Anthopologje de La Grece antique p116 114)

Nietzsche e a nepresentafiio do dionisiac 2P

A experiencia dionisiaca ea possibilidade de escapar da divisao da muldshy

plicidade individual e se fundir ao uno ao ser ea possibilidade de integraao

da parte na totalidade Nietzsche enuncia is so ern linguagem entusiasmada

Camando e dan~ando rnanifesta-se 0 homem como membro de uma cornushy

nidade superior ele desaprendeu a andar e a falar eesra a ponto de danltando

sair voando pelos ares De seus gestos fala 0 encantamento Assim como agora

os animais falam e a terra cia le~te e mel do interior do homem tambern soa

algo de sobrenatural ele se sente deus carninha tin extasiado e enlevado

como vira em sonho os deuses caminharem29 Alias em sua resenha recusada

pelo editor Rohde salienta esse aspecto da experiencia dionisfaca ao escrever

que no encantamento ardente proporcionado pelo dionisfaco 0 homem

sente-se assim como Prometeu libertado livre de todas as amarras da indivishy

dualidade movido porurnaliberdade poderosaeilimirada transportado pela

tempestade de uma alegriae de uma dor nuncaantesexperimentada30

Essa reconciliacao com a natureza aparece com toda a pujana no texro que a meu ver mats inspirou Nietzsche na caracterizacao do culto dionisfashy

co As bacantes de Euripides Pois e importante nao esquecer que embora

Nietzsche critique a tendenciasocririca de Euripidese the impute a mone da

tragedia ele considera As bacantes obra escrita urn ano antes da mo rte de seu

autor - urn arrependimento Eis como esse Euripides tardiamente dionisiaco

canta a uniao das bacanres com a natureza 0 chao regurgita de leite de vishynho do nectar das abelhas31 Umas bacantes usam em vez de cinto serpenshy

tes que lhes lambem 0 rosto Outras segurando fdho~s de corcas e de lobos

selvagens dao-Ihes os seios ainda tllrgidos maes que abandonaram os mhos

recem-nascidos Todas elas coroam-se de hera de carvalho ou de flo res silvesshy

tres Vma delas bate com 0 tirso numa rocha e faz jorrar agua pura Omra fere

o chao com sua haste e 0 deus faz brotar uma fontedevinho As que desejam 0

alvo leite esfregam 0 solo com os dedos e 0 recolhem em abundancia Da hera dos tirsos escorre 0 doce mel3~ No jlibilo mfstico as fronteiras da individuashy

ao desaparecem Todas as fronteiras de castas que a necessidade ou 0 caprishy

cho estabeleceram entre os homens desaparecem 0 escravo e 0 homen1livre 0

nobre e 0 plebeu se unern nos mesmos coros baquicos diz Nietzscheraquo E poshy

de-se lcrescentar no mesmo espirito que desaparecem Oll se atenuam ao

maxiJt1o as diferenltas entre masculino-feminino birbaro-civilizado velhoshy

jove~ louco-sabio i

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 7: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

214 o nascimento do tragico

1sso q uanto asubstituiltao da individualiza~ao pela reconcilialtao Em seshygundo lugar 0 culto dionisiaco tarnbern significa 0 abandono dos preceitos apolineos da rnedida e da consciencia de si Em vez de medida 0 que se manishy

festa na celebraltao das bacantes e a hybris com a mllsica extatica magica enfeishy

tiadora apresentando a desmedida a desmesura da natureza exultante na

alegria no sofrimento e no conhecimentO34 Adesmesura se revela como vershy

dade no sentido de que iibeleza da medidaseopoe a verdade da desmesura ou

de que amentiradaciviliza~ao se opoe a verdade da natureza Na pecade Eurishy

e Penteu 0 rei de Tebas principal representante da ao instinshyto aforlta dionislaca quem denuncia que as mulheres de Tebas abandonaram seus lares pelas bacanais permanecendo nas florestas sombrias danltando em

homa de uma nova divindade urn impostor urn encantador vindo da Lidia

que as esta iniciando nos misterios baquicos35 0 cuIto dionisfaco em vez de I

delimita~ao calma tranquilidade serenidade apolineas impoe um comporshy

tamento marcado por um extase urn entusiasmo um enfeiticamento urn freshy

nesi sexual uma bestialidade namral constituida de volupia e crueldade de forlta grotesca e cruel

Do mesmo modo em vez da consciencia de si apolinea 0 culto dionisiaco produz uma desintegra~o do eu uma aboliltao da subjetividade ate 0 total esshy

quecimento de si um desprendimento de SI proprio a dissoluao do eu no

um abandono ao extase divino aloucura mistica do deus da possesshy36

Sii0 No das Bacantes Dion1so esclarece que pelo fato de suas Gas as

irmas de sua mae Semele 0 terem insultado declarando nao ser ele filho de

Zeus negando porranto sua condioao divina ele compeliu as mulheres de Tebas a deixar seus lares e a morar nos altos montes usando apenas a roushypagem orgiastica E logo a seguir 0 cora das bacanres em sua primeira intershyvenltao enaltece sua orgia sagrada Feliz daquele que se inicia nos misterios

divinos Ihes consagra sua vida e santifica sua alma purificada nas bacanais da montanha37

Mas a melhor ilustraltao da perda da consciencia caracteristica do extase

do entusiasmo do enfeitiltamento dionisiaco e 0 comportamento de Agave -shyfilhade fundadordeTebas e irmadeSemele mae de Dioniso-quanshydo seu filho Penteu culpado por querer contemplar aquilo que nao epermishytido ver quando nao se e bacante vai observar as bacantes sem que elas notem

mas 0 deus as faz descobri-Io e enfurecer-se contra ele Penteu acariciando 0

rosto de sua miie pede-Iheque se apiede dele e nao asacrifique Agave emdelf-

Nietzsche e a representa~ao do dionisiaco 215

rio pando muira espuma pela boca e revirando os olhos desvairadamente como se Baco a possuisse38 nao 0 ouve esquarteja-o ajudada por suas duas irmas e lanlta os restosde seu corpo ern todas as direcoes Oepois toma a cabeshy

lta que ela imagina ser a cabelta de urn leao e a leva em procissao para Tebas

espetada em seu tirso mostrando-a pelo caminho Em Tebas ela a entrega a

seu pai Cadmo que se lamenta com essas palavras bern elucidativas da aminoshy

mia entre a conscienciaapolinea e 0 delirio dianisiaco Quando recuperardes

vossa lucidez sofrereis atrozmente vendo a vassa feito Ese deveis permanecer

ate 0 fim nesse estado se a felicidade vos menos ignorais vossa

desventuralmiddot

Como se ve apesardaoriginalidade na determinaltao dessas duas fonasshy

o apolineo e 0 dionisiaco- a tese de Nietzsche a respeito daexistencia de uma

oposiltao entre elas se insere perfeitamente no tipo de pensamenro caracterisshy

tico da filosofia do tragico desde 0 final do seculo XVIII que postula a divisao

entre uma Grecia marcada pela serenidade ou simplicidade caracteristica que

lhe da Winckelmann e uma Grecia arcaica sombria violenta selvagem miseishy

ca extatica como aparece bern daramence ern Holderlin Em 0 nascimento da tragedia possivelmente pensando em Winckelmann Nietzsche se insurge conshy

traa ideia de que aartegrega possa ser explicada por urn untco principio Maf nao se pode esquecer que isso nao eu ma navidade de sua filosofia pais para

toda a filosofia do trigico nao se trata mais de interpretar a arte grega como

nobre simplicidade e serena A tal ponto que mesmo os

pensadores do tragico postulam em sua reflexao sobre a tragedia uma harshy

monia ela eo produto de uma oposiltao de prindpiosmiddotI bull

E interessante observar que 0 nascimento da tragedia retoma a distincao d~ Schiller entre 0 ingenuo e 0 sentimental forrnuladaem seu livro Poesia ingenua

esentimental para pensar 0 apolineg e 0 dionisfaco Partindo da ideia do ingeshy

nuo como harmonia ou unidade dd homem com a natureza Nietzsche aproshy

a seu modo dadistinltao de Schiller considerando 0 ingenuo no sect3

bull Asbacante5 1258-6L a fragmenco poswmo 14[14] da primavera de 1888 a meu ver bemem

continuidade COm 0 na5ci_ da tragedia define 0 dionisiaco 0 desmesurado 0 selvagemo

asiatico U utna vontadede focmidavel [UngeheucrJ pot U uma tendencia irresisrivel aunidade

urn slm excasiado ao carater total da vida sempre a 5i proprio em meio ao que muda a

grafeSlmpatia panteiscana alegriae nador define por ourrolado 0 apolineo LIma vontade

de Tdlda como a rendencia ao set-pata-st ao

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 8: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

216 o nasdmento do tragico

de 0 nascimento da tragidia 0 efeito supremo dacivilizaltio apollnea 0 total

engolfamenro na beleza da aparencia No fundoo que 0 nascimento da trage

dia faz e explicar 0 ingenue peIo apoHneo Assim se Homero e urn inge

nuo como 0 considerava Schillet39 e que a ingenuidade hometica s6 pode

set compreendida como uma vit6ria rotal da ilusiio apoHnea E se Nietzsche

nao e muito explicito no livro sobre a util~ desses conceitos de Schiller

principalmente 0 de sentimental 0 fragmento pOstumo 7[126] escrito entre 0

final de 1870 e abrilde 1871 val mais longequando afirma Penso interpretar

ingenuo corretamente por puramente apolineo aparencia da aparencia e

sentimental em compensagtao por nascidodaluta do conhecimento trigico

e da mistica E vendo dificuldades no conceito de sentimental 0

Nietzsche torna mais preciso 0 seu pensamentodizendo Compreendo como o opOSto absolute do ingenuo e do apoHneo 0 ltdionisiaco isto e tudo 0 que nao e aparenciade aparencia mas aparencia do ser reflexo da eterna unidashyde originiria

Mas a refenncia essencial de Nietzsche para interpretar a mitologia e a

arte gregas e como sempre nessa epoca Schopenhauer E se 0 nascimento

da tragedia se baseia em 0 mundo como vontade e representafdo isso significa

principalmente que os conceitos mais abrangentes da analise nierzsc~iana da rragedia 0 dionisiaco e 0 apolineo sao penados a partir dos conceitos schopenhauerianos de vonrade e represent~ transformados na lingua gem nierzschiana em uno originirio e aparencia

Ja me referi a rela=ao entre a aparencia nietzschiana e a rprpenl~r() schopenhaueriana ao estudar 0 apolineo como 0 dominio do princfpio de in

dividua~ao) do ser fenomenal da aparencia Mas rambem me parece evidente

que 0 conceito de dionisiaco e fundado metafisicamente no uno originirio

unidade existente alem au aquem da represent~ que por sua vez e uma reo tomada da vontade universal de Schopenhauer 0 que ha entao de comum entre a concepao de vontade em Nietzsche e Schopenhauer

Se eevidente como me parece que a estrururada argumentaltao de 0 nas

cimento da tragedia parte de uma separaltao radical entre 0 apolineo

como individualtao e 0 dionisiaco pensado como totalidade os dois

comum a interpreta~ao da vontade comolinica universal Pode pareshy

cer dificil defender essa posi~ao pais se encontram em Nietzsche afirma=oes que vao en sentido diferente Penso em fragmentos da epoca como a Vonta

de e a forma mais geral do fenomeno Ou 0 que diz A vontade pertence a

Nietzsche e a representa~iio do dionisiaco ~~7

aparencia A vonrade eja uma forma de fenomeno Ou ainda 0 que

ltliz Toda a vida pulsional s6 nos econhecida - devo acrescentat contra

Schopenhauer - como representalt3o e nao segundo sua essencia e Dooe-se

mesmo dizer que a propria vontade de Schopenhauereapenas a forma mais ~l

geral de algo que perrnanece inteiramenre indecifravel essa forma original~ da manifestaao a vontade consegue no entanto uma expressao simb61imiddot~

-r ca sempre mais adequada no desenvolvimento da mnsica40f

Apontar tais afirma=oes nao me parece no entanto uma objeao imporshy~ j

tante Primeiro porque encontramos fragmentos damesma epoca que enunshy~ 7J clam ourra posiltao Por exemplo Na vontade s6 hi pluralidade movimenco ~

pela representaltao a vontade e universal a represenraltao 0 que diferenshy

cia ou aquele que opoe a no~ao epica de agon a de regime tragico esc1areshyemdo que esta ultima faz frente ao egosmo- middotdt-ittdividualidade e dele se protege colocando-o a servio da totalidade41

Segundo porque quando me pergunto qual dessas inrerpretaoes privileshy

giar parece-me evidente que as fragmenros postumos devem set interpretashy

dos a partir das obras publicadas na epoca peio proprio auror pois sao essa~

obras que expressam com mais clareza e sistematicidade a dire~ao que ele da

aos pensamentos que lhe surgem enquamo investiga determinado tema Assim a meu ver no caso preciso de saber qual a posiiio de Nietzsche sobre a vonrade e preciso se voltar para 0 nascimento da tragiJia E a esse nao

acho que no livro uma critica a Schopenhauer que por razoes

ticas isea e pelo faro de seus maiores amigos como Rohde Overbeck ou

Wagner serem schopenhauerianos Nietzsche teria eSGondido Ou que ainda

usando uma cerminologiaschopenhaueriana Nietzsche ja apresenre urn penshy

same~co rotalmente diferente daquele que encontrou no fil6sofo que consishy

deravt seu mestre

Cercamente ja na epoca de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz varias criticas a Schopenhauer par exemplo aideia de que aarre seja nega=ao da vonmiddot

tade Nao penso pOtem que a leitura do livroedosescriros que the deram orimiddot

gem permtta conduir que a pluralidade ou a multiplicidade ja se encomra na

vontade ou que a vonrade nada mais edo que a aparencia Parece-me ao canmiddot

tnirio que 0 uno originario nietzschiano quando pensado em 0 tragedia como um principio ontol6gico opoSto aaparencia fenomenal e como

a vontade schopenhaueriana unico eterno incondicionado 13 esse sentido da

expressao uno originario que permite por exemplo compreender a caracteshy

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 9: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

218 0 nascimento do tragico

riza~ao do dionisiaco barbaro no sectl do livro Agora gra~as ao evangelho da

harmonia universal cada qual se sente mo s6 unificado condliado fundido

com 0 seu proximo mas urn como se 0 veu de Maia tivesse sido rasgado e reduzido a tiras esvoacasse diante do misrerioso uno originario Ou mesmo a concepltiio da tragedia no sect7 0 efeito mais imediate da tragerua e que deg Estado e a sociedade tudo 0 que constirni urn abismo uma separ~ao entre

homem e homem daD lugar a urn sentimento todo-poderoso de unidade que

reconduz ao amago da natureza 0 que me conduir que 0 dionisiaco e

fundado metafisicamente no uno origiruirio que e uma retomadada vontade

universal de Schopenhauer isto e da vontade considerada como nlicleo do

mundo essencia das cOlsas forlta que etemamente quer deseja e aspira Acredito que s6 interpretando a vontade desse modo e possivel dar coma da tese do livro sobre a tragedia como rel~ entre 0 apolineo eo dionisiaco

A dialetica e 0 sublime na recondliafao tragica

o estudo das duas pulsoes esteticas da natureza mostrou que 0 apolineo tal como se manifesta na poesia epica reprimiu a principio os sombrios impulshysos dionisiacos mas essa repressao foi incapaz de reter a torrente invasora do dionisfaco42 que pouco a pouco como ilustra As bacantes de Euripides disshy

solvia abolia engolia as fronteiras apolineas No entanto se 0 apolineo e- 0 I

dionisfaco aparecem ate aqui em antagonismo luta discordia esse antagoshy

nismo nao e a ultima palavra de Nietzsche - como ja transparece no inicio de

o nascimento da tragedia ao se referir as duas forcas da natureza

Nietzsche salienta nao s6 a lura incessante entre elas como tambem a intershyven~ao de peri6dicas Nesse sentido uma das finalidades do livro e justamente apontar como depoisde prolongada luta esses dois

50S atraves de uma uniiio conjugal geraram a arte tragica Ideia

que Nietzsche expressa em termos diferentes mas proximos quando se refere

it laquoalian~a fraterna it ao pacto de it redproca necessidashy

de a propor~o redproca aD contato e intensifica~ao redprocos encre Apolo e Oioni5O43 Assim sua palavra final a respeito da tragedia no primeiro livro nao e 0 antagonismo mas a reconcilialtiio

Significara isso um hegelianismo de Nietzschei No sect3 de sua Temativa

de autocritica a 0 nascimento da tragedia ele se ve retrospectivamente como 0

~

f~ ~ Nietzsche e a repre5en~ao do dionisiaco 219 ~

f

bull ft

11 disdpulo de urn deus desconhecido que se havia provisoriamente dissimushy

lado ___ sob 0 peso e a morosidade dialetica do alemao _ E e ainaa mais preciso

quando diz no Ecce homo que seu primeiro livro tern cheiro indecorosamente hegeliano dando inclusive como exernplo a concepltao da tragedia em que a oposiltao e transformada em unidade44

Essas formula~oes remetem evidentemente i dialetica que e segundo

Hegel a lei do movimento de retorno do espirito absoluto a si mesmo a lei

encadeamento dos diferentes momentos que constituem 0 espirito

ao percorrer uma serie de etapas em que ele se manifesta de maneira cada vez

mats universal mais concreta Ese nesse processo dialetico a nega~ao tern urn

papel fundamental e porque 0 trabalho do negativo e 0 elemento impulsionashydor a mola propulsora que leva a reconcilialtao e porque peIo processo de neshyga~iio da nega~ao a contradi~iio e superada-conservada ern uma totalidade

mais elevada Assim a dialetica e urn processo de supera~ao-conservacao (Auf

hebung) em que duas ideias opostas se revelam como momentos de uma terceishy

ra ideia que contem as duas primeiras elevando-as a uma unidade superior

Deleuze valoriza a interpretaltao que Nietzsche da de sua propria trajet6shy

ria ao criticar seu primeiro livro como hegeliano para ressaltar os limites da concepltiio nietzschiant do tragico no momenta de 0 nascimento da tragedia e mostrar em que sentido se daa evolu~ao de seu pensamento para umanova concepcao do wigico Eassim que ele apresenta 0 movimento do primeiro lishy

vro de Nietzsche como 0 de uma contradi=ao entre a unidade primiriva e a inshy

dividuaao ou entre a vonrade e a aparencia contradiao que se reflete na

oposicao de Dioniso eApolo e finalmente se resolve pela reconciliacao domishy

nada por emre os dois principlos na tragedia Mais precisarnenre inshy

terpretando a dialetica do tragico corno 0 movimenro da contradi~ao e de sua solultao embora considere que rigorosamente falando o nascimento da nao e um livro dialetico Deleuze defende que sob

fluencia de Schooenhauer filosofo aue nao aDreciava a

ea e expressao dramatica teatral portanto aposhy

linea dessa 45

Isso no entanto niio e sufidente para caracterizar urn hegeIianismo de Nietzsche Pois como temos visto OUtlOS pensadores da mesma epoca OUlate

mesmo imediatamente anteriores a Hegel como Schelling e 0 primeiro Hoi-

I

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 10: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

220 o nascimento do tragico

derlin pensaram de forma mais ou menos semelhante 0 dualismo tragico

como uma unidade dos cOntrarios produzida pe1a inversao de urn dos termos

no outro Quer dizer mesmo queO nascimento da tragidia seja urn livro dialerishy

co talvez isso nao fa~a do Nietzsche dessa epoca necessariamente urn hegeliashy

no pois pensar a tragedia diaJeticamente - q uestao que diz menos respei to a contradiltao ou aoposiyao propriamente do que ao tipo de reJaltiio existente entre os prindpios antagonicos - nao foi uma singuJaridade de Hegel na Aleshymanha do final do seculo XVIII e inkio do seculo XIX

Mas sera 0 livro dialetico Lacoue-Labarthe tambem defende essa posishyltao Sempre interessado em seus estudos na questao da mimesis na modershynidade ele tambem segue essa pista ao investigar 0 ripo de amagonismo

caracteristico da tragedia no primeiro livro de NietzscheAssim ele interpreta

a relayao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco como uma re~ de imitalt3o em que 0 elemento dionisfaco e urn primeiro reflexo uma primeita copia urn prishymeiro espelho do mundo ou davonrade e 0 elemento apolfneo uma imitaltao do dionisiaco A partir daf ele observa que quando 0 antagonismo aparece em

o nascimento da tragedia urn conflieo entre duas forltas ou potincias iguais no

inicio do livro onde a relaltao entre as duas forltas epensadaatraves da metafoshy

ra da uniao dos sexos a 16gica dessa rela~ao mimetica ea dialetica E deste

modo Lacoue-Labarthe e levado aconcluir que para Nietzsche a tragedia e a

filha ou a substituiltao [releve] dialeticada contradiltaoque opoe e nao cess a de referir um ao outro os dois principios antagonicos46

Mas nao seria possivel explicar a relaltao entre essas duas forltas esteticas da natureza - que apesar da tensao que persiste entre elas se cornam compleshy

mentares - de maneira diferente E0 que faz por exemplo Sarah fOfman ao

negar que a relaltiio entre Apolo e Dioniso devaser pensadaa partir 0 modelo

diaietico como uma eontradiCao entre duas ideias que poderiam ersubstishy

tuidas [(relevees] por uma terceira a tragedia Ela prefere pensa-la peIo moshydelo heradftico de uma relaao conflitual entre dois tipos de fora cada um por sua vez vencedor 0 triunfo provis6rio de urn dos dois lutadores dando a

aparencia de uma harmonia enquanto a guerra e a luta sao de faro permashynentes47

Retomando os passos da refl~xao sobre 0 rragico penso que e possivel

compreeI-der essa uniao conjugalr do dionisiaco e do apolineo pela vinculashy

lt30 entre a tematica nietzschiana do tragico e a teoria do sublime que ja foi

usada por Schiller Schelling e Schopenhauer para explicar a reJaltao e1tre os

Nietzsche e a representafio do ltlionisfaco

dois principios constiturivos da tragedia A dificuldade no entanto e que

diferentemente do que acontecia no caso desses autores Nietzsche praticashy

mente nao fala do sublime e quando fala nem sempre parece dizer a mesma

coisa Poisna verdade nio hi uma teo ria do sublime em suaobra mas apeshy

nas uIlfas poucas passagens em que seu conceito aparece em geral para exshy

plicar ttragedia48

A rimeira questao a ser investigada ea seguinte haved em 0 nascimento da tragedia uma concepltao da beleza como forma e do sublime como informe ou da belezacomo sonho e do sublime como embriaguez 0 queidentificaria a bela com 0 apoUneo e 0 sublime com 0 dionisiaco 0 fragmento p6stumo

7[46] do periodo entre 0 final de 1870 e abril de 1871 cheio de questoes sobre

o belo e 0 sublime poderia dar essaimpressao quando diz USe 0 belo repousa

[beruht] sabre urn sonho do ser 0 sublime repousa sobre a embriaguez do ser Mas minha hip6tese nao e exatamente essa Penso inclusive que mesmo esse fragmento parece dar uma pista para pensar a identificacao do sublime nao propriamente com 0 dionisiaco mas com 0 tragico Vimos que quando salishy

entava 0 carater onrdeo da epopeia no inlcio de 0 nascimento da tragedia

Nietzsche nao dizia propriamente que 0 bela era degsonho mas que 0 sonho era

a condiCao do apareciqlento das belas figuras Aqui Nietzsche parece expor

essa mesma ideia ao indicar que 0 bela repousa sobre urn sonho do ser E do mesmo modo tambem parece indicar nao exatamente que 0 sublime seja a embriaguez 0 extase 0 entusiasmo dionisiacos mas que os tenm por base os tenha em sua origem como condiltao fisio16gica

onascimento da tragedia quase nao se refere ao -su---bn-ru-e Mas no final do sect7

hi uma passagem importante para se pensar nao 56 0 que Nietzsche entendia

nessa epoca por sublime como tambem a utilizaltao que faz desse conceito

para pensar 0 tragico Trata-se de uma simples menCao ao sublime como sushy

jeiltao artistica do horror [Udas Erhabene als die kiinstlerische Bandigung des Entsealichenj- ideia que pode ser mais bern compreendida pelo sect3 de A vishy

sao dionisiaca do mundo que define 0 sublime exatamente com as mesmas

palavtas porem emais expHcito do que a breve menltiio de 01ldScimentoda trashy

gedia Sua formul~ao e a seguinte lmporta antes de cudo transformar 0 penshy

samento de desgosto com respeito ao horror e ao absurdo da existencia em~~~

representaltOes que permitam viver sao 0 sublime [aqui os erutores das obras

complecas indicam que Nietzsche anotou na margem do manuscrito 0 mlmeshy

ro de uma pagina de 0 mundo como vontade erepresentctfao] como sujeiltao arclsshy

~ 2~jl~

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 11: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

223 222 0 nascimenro do tragilto

tica do horror eo ridfculo como aHvio artistico do desgosto do absurdo Esses

dois elementos entrela~ados estiio unidos em uma obra de arre que imita a

embriaguez que joga com a embriaguez I Deixando de lade 0 ridiculo que diz respeito ao comico hreio que essas

duas passagens permitem pensar 0 sublime como modelo nao propriamente do dionisiaco mas cia acte tragica como rela~ entrE 0 apolfneo e 0 dionisfashyco Pois nito sera claro que Nietzsche esta dizendo nelas que a tragedia eolushy

gar de uma passagem do horror ao sublime OU mais explicitamente que a

arte sublime da tragedia nao exdui ou reprime 0 terrivel da natureza mas

transforma 0 desgosto com respeito ao horror daexistencia presence no

slaco em representaoes que tornam a vida possiveI

Ora a relaltao entre 0 horror e a represent~ que encontramos nessa ideia esta em continuidade com uma das caracteristicas do sublime em geral independentemente dos teemos que ele relaciona ou do te6rico que 0 conceishy

tuou Estou pensando na existencia de uma desproponao entre esses rermos

desproporao que produz urn conflito Urn desacordo uma dissonancia uma

desarmonia entre des mas que leva finalmente a urn acordo Com isso estou

querendo salientar que Nietzsche se insere na tradi~ao do sublime pensado

a panir da dualidade de principios imagina~ao e razao no caso de Kant senshysivel e supra-sensivel no caso de Schiller intui~ sensivel e contempla~ao absoluta no caso de Schelling representa~ao e ideia no caso de Schopenshyhauer Em Nieczscheessadualidadeeado apolfneoedo 0 quese

observa portanto quando se comparam esses pensadores eque tanto em

Nietzsche quanto em seus antecessores a partir de Kant 0 sublime esempre

definido levando em considera~ao dois termos de nlveis peso ou potencia

diferentes urn marcado pelo finiro pela Iimitaxao pela forma 0 outro pelo

infinito pela ilimitaao pelo informe Essa desproporao essa imensurabilishydade entre um condicionado e urn incondicionado marca 0 pensamento do sublime de Kant a Nietzsche

Deixo de lado Hegel porque ele s6 utiliza 0 conceiro de sublime para caracrerizar a relaltao enshy

tre os elementos sensivel e espiritual na aHe simb6lica sem panamo ver nele importancia

a teoria da tragedia Tambem niiovejo a relevancia do sublime paraa inrerpretacao holderliniana

da tragedia Wagner q uase nilo pensa 0 sublime mas em set Beabwwen ele explica a musica a parshytir do sublime defendendo que ela provoca 0 extase supremo proveniente da consciencia do ilishymitado (Beethoven p33) AMm disso tambem explica 0 drama a panir da musica (p69) COnsideshyrando-o reflexo da rnusica que se cornou visfvel (p77)

Nietzsche e a ~o do dionisiaco

Alem dis so 0 sublime tambem foi sempre pensado como possibilitando

uma apresentaao negativa como disse Kant de uma instfulcia infinita que

pennaneceria inacesslvel se nao fosse refletida no espelho de wna instancia finishy

taFoisempre um modo de apresemar 0 que nao podia ser apresemado 0 que

o supra-sensi vel em Kant e Schiller 0 abso I uto em Schelling a ideia (urn tipo de ideia) em Schopenhauer 0 ilirnitado em Wagner No caso de Nietzsche 0 wonishyS1acO Assim mesmo se um dos teemos e dominante a ele s6 se tem acesso peIo

outro termo marcado por uma inferioridade seja no que diz respeiro agrandeshy

za seja no que diz respeito afor~ apotencia ao poder Urn so pode aparecer

simboIizado pelo outro isto e deixando em parte de ser ele mesmomiddot

Assim os dois tetmos importantes na apropriaiio nietzschiana do sublishy

me sao 0 horror dionisfaco e a representaao apolinea ou a embriaguez e a

inU~ E nessa rela~ao de prindpios opostos nao eo hotTOr dionisiaco que esublime mas a representa~ao teatral do horror Nio e a embriaguez que e sushy

blime mas a imita=ao a representaao apolfnea da embriaguez 0 jogo com a

embriaguez logo que rem como funao aliviar a propria embriaguez Deste

modo 0 sublime nao se identifica ao dionislaco averdade aessencia da natushy

reza Eurn elemento intermediario entre a belezae a verdade entre a bela apashy

renciae a verdade enigmaticae tenebrosa possibilitado pela uniiio de Apolo e Dioniso existente na tragedia Pois na tragedia a aparencia e saboreada nao mais como aparencia como no caso da arte da a epopeia mas como

simbolo como signa da verdade A tragedia arte simb61icaarre em que a vershy

dade esimbolizada expressa a verdade arraves da aparencia da ilushy

sao apolinea da beleza diferentemente da em~ue a beleza e um veu

que oculta a verdade 0 acordo discordante caracteriscico do sublime em

contraposi=ao ao acordo harmonioso do belo que s6 e possivel pela exclusao

pda recusa da essencia arerrorizadora do mundo se da em Nietzsche entre 0

apolineo eo dionisiaco ~ntre as belas formas e a verdade profunda e informe

proveniente de seu desacordo iniciaL Neste sentido atcageciiae a arte sublime

que produz 0 dominio simb6lico do monstruoso da natureza

No sect3 de A visao dionisfaca do mundo que esrou comentando Nietzsche da uma indica~iio

importante de como 0 Seu conceito de sublime esta relacionado ao da tradiao acrescentando

logo a seguir que 0 sublime da urn passo a1em da beleza da bela aparenda porque e sentido romocontradicao 0 fragmento3[42] diz 0 pensamento traglco que concradiz a belezajorra damlisica

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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ras1993

Page 12: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

224 o nascimento do iligieo

Creio inclusive que 0 fragmento p6stumo 3[74] escrito entre 0 inverno de

1869 e a primavera de 1870 em que Nietzsche caracteriza 0 mundo helenico

como 0 terrivel sob a mascara do belo como uma boadefini~o da tragedia 0

tempel ea natureza a verdade dionisfaca a mascara e a aparencia 0 apolfneo

Dioniso simbolo da natUreza terrivel renebrosa monstruosa nao se da diretashymente nao se apresenta em pessoa mas atraves de m3scaras A tragedia e a uniao dos dois impulsos das duas for~as 0 horror dionisiaco da natureza e a beshy

leza apolinea da arre Dito mais explicitarnente a tragedia eo a utilizacao de urn

dos elementos a mascara como forma artfstica que permite 0 acesso pelo disshy

tanciamento apolineo da vi sao ao informe da natureza A impossibilidade de

uma apresentaao direta de Dioniso exige aintervenao de Apolo que estende 0

veu da aparencia como urn modo de tomar suporcavel a presena do deus ao

homem Retomando express5es de Kant a respeito do sentimento sublime seshyria possivel dizer que 0 sublime para Nietzsche e uma apresentaIYaO indireta uma apresentaao negativa do terrivel da natureza da vontade do uno origishy

nario possibilitada pela arte tragica

A musica a cena e a ealavra

Essa uniao conjugal essa alianIYa fraterna do dionisiaco e do apoHneo pode ser compreendida de modo mais explicito pelo estudo dos elementQS

constitutivos da tragedia por urn lado a musica por outro a cena e a palavra

o modo como se da a passagem da luta para a reconcili~ao entre 0 dionishy

slaco e 0 apolineo reconciliaii1 que possibilita 0 nascimento da tragedia - e

descrit por Nietzsche como u~a transformaao de urn fen6meno natural

em urn fenomeno artistico 0 fenomeno natural e 0 dionisfaco puro selvashygem barbaro e titmico 0 fenomeno artistico ea arte tragica 0 [earroj a trageshydia49 Estabelecer uma alianIYa entre 0 dionisiaco eo apolfneo etransfbrmar 0

saber dionisiaco em arte em saber artistico Processo que nao esimples e em

cuja interpretaao Nietzsche assinala tanto as identidadesquanto as diferenshy

ltas entre 0 que chama natural e artfstico

o ponto importante da interpretaao e a ideia de urn liame entre 0 culto

dionislaco e a arte tragica liame que 0 nascimento da tragidia procura estabeleshy

cer atraves de uma continuidade entre a turba satirica e 0 coro entendido como causada tragedia e do tragico No entanto paraencaminhar sua hip6teshy

Niettsche e a repres~ do dionisfac ~~5

se do coro migico comodrama original Nietzsche sente a necessidade de reshy

jeitar as formas esteticas correntes que veem 0 coro como representante do

povo e como espectador ideal50

A primeira forma estetica rejeitadae possivelmente a de Hegel que como

vimos defendia na Esecttitica que 0 coro grego representava a sabedoria do povo exprimia os pensamentos e os sentimenoos coletivos em conttaposiao ao disshy

curso individual Nietzsche indica que essa interpreta~iio esci baseada em Arist6teles salientando seu cariter politico demoeratico e sua oposiao a reashyleza da cena Condul entao que as raizes puramente religiosas da tragedia exshy

cluem essa oposi~ao do povo ao principe e que seria uma blasfemia falar ate

mesmo de pressentimento de uma representaao constitucional do povo na

Grecia anriga A segunda forma estetica 0 nascimento da tragMia indica como sendo a de August-Wilhelm Schlegel que ve 0 coro como a substancia e 0 exshytrato da multidao dos espectadores Mas Nietzsche acredita ser impossivel

tirar do publico por idealizaltao 0 coro tcigieo pois 0 espectador tern consshy

cienciadeestarassistindo a uma obradearte enquanto 0 eorovenacena figushy

ras reais e niio urn esperaeulo 0 coro das Oeeanides ere verdadeiramente

tet sob seus olhos 0 Tita Prometeu e se ve tao real q uanto 0 deus em cena diz

Nietzsche no sect7 do sel) primeito livro

Nietzsche nao rejeita no entanto todas as teorias modemas do coro Ao contrario nesse mesmo sect7 ele elogia como infinitamente mais rica do que as precedentes a interpretaao de Schiller que considerava 0 coro como uma

muralha viva que a tragedia estende asua volta a fim de se isolar totalmente

do mundo real e preservar seu espao ideal e sua liberdade poerica Frase que

e uma parafrase quase literal de uma afirmaao do prefacio de A noiva de

Messina inritulado Sobre 0 uso do coro na tragedia escrito de Schiller

de 1803 em que 0 coro epensado como a principal arma contra 0 naturalismo e para salvaguarda da ilusao poetica e dramadca 51

E Schillervai numa direltao ainda mais imeressante para Nietzsche quanshy

do defende que a tragedia originou-se poeticamente do espirito do coro ao

afirmar que a linguagem lirica do coro leva 0 poeta a elevar proporcionalshy

mente 0 nivel da linguagem da ttagedia reforando com isso 0 poder sensivel

da expressao emgeral52 Assim a ideiade que a tragedia teriacomo origem 0

cora nao ede Nietzsche ela se encontra em Schiller que a explicita ao dizer

que a tragedia autiga precisava do coro como de um acompanhamento neshycessario Encontrara-o na natureza e 0 usava porque 0 tinha encontrado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 13: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

226 o nasamento do tragicltgt

Consequentemente na tragedia antiga 0 coro era mais urn orgao natural que

provinha da propria forma poetica da vida realS3

Retomando de Schiller aideia da importanciado coro na tragedia anciga

a hip6tese de Nietzsche ede que no momento em que eapenas coro a trageshy

dia grega imita 0 fenomeno da embriaguez dionisiaca 0 coro tragico ea imishytacao artistica do fenomeno natural do cortejo exa1tado dos servos de Oioniso Essa passagem do lirismo do coro it imi~ do dionisfaco e uma

originalidade de Nietzsche em relaltao a Schiller

Essa interpretacao alias parece estar em continuidade com a constatashy

lt30 que Arist6teles faz na Poetica de que a tragedia nasceu dos solistas do ditishy

rambo acrescentando a seguir que a poesia tragica tinha uma origem

satirica 0 que talvez indique 0 CarateI satirico do dicirambo cujo coro seria

composto de satiros54 Mas como interpretar estahipOtese Jean-Pierre Vershynant para quem 0 assunto das tragedias nao tern absolutamente nada aver com Oioniso a interpreta como expressando 0 desejo que tern Arist6teles de

marcar as transformacoes que levaram a tragediaa romper com sua origem dishy

tirambica para se tornar outracoisass E Pierre Vidal-Naquet no prefacio a trashy

ducao de Paul Mazon as tragedias de SOfodes radicaliza a posicao de Vernant

ao defender que nao hi outra origem da tragedia a naoser a propria tragedia

Que 0 protagonista saia do coro que canta urn ditirambo em honra a Dionishyso que urn segundo (com Esquilo) depois urn terceiro ator (com S6focles) veshynham se juntar a ele no confranto entre deg her6i eo coro 1ao se pode explicar ern termos de origenss6

A origem da tragedia parece ser uma dessas questOes filologicamente inshy

soluveis De todo modo Nietzsche defende a continuidade entre a turba satshy

rica e 0 coro dionisiaco Mas como ele estabelece essa relaao entre a arte

tragica e 0 culto satirico Antes de tudo por uma interpretaao da figura do satiro Segundo Nietzsche 0 satiro ser natural ficticio fingidoS7 era para

o grego a autentica verdade da natureza a natureza intocada pelo conhecishy

mento a imagem e 0 reflexo da natureza em seus impulsos mais fortes 0

Poetica IV 1449 a 9-15 Eis 0 reecho completo Mas nascidade urn princjpio improvisado (tanto a tragedia como a co media a tragedia dos soliscas do dirirambo a cony~dia dos solistas dos cantos filicos composisoes estasainda hoje esrimadas em muiasdas nossas cidades) [a tramiddot gedia] pouco a POllCO foi evoluindo a medidaque se desenvolvia rudo quanto ~ela se manifesta va ate que passadas muitas transform~oes a tragedia se deteve logo que atingiu a sua forma natural

Nietzsche e a re~o do dionisfaco 227

anunciador da sabedoria que sai do iimago mais profundo da natureza a

Iproto-imagem do homems8 Ora enunciando a verdadeirasabedoria diontshy

siaca ele p5eem questao a ilusao dacultura apolinea que reduz deghomem dshy

vilizado a uma caricatura mentirosa Assim 0 satiro esta para 0 homem

civilizado como a musica dionisia~ esta para a civiliza~o E ~ exatamenre no culeo dionisiaco dos cortejos embri~gados extaticos das bacantes que 0 grego se vi transfonnado melhor ainda encantado em sariro Sob 0 efeito de tais

disposicoes de animo e cognicoes exulta a turba entusias~ dos servidores

de Dioniso eo poder dessas disposicoes e cognic5es os ttansforma diante de

sellS proprios olhos de modo que veern a si mesmos como se fossem genios da

natureza restaurados como satiross9

Mas resta ainda explicar como a arte tragica nasce dessa multidao encanshy

tad que se sente transfonuada em satiros e silenos como se liwsse entrada em out 0 corpa em urn personagem Ora a explicacao de Niettsche e dada peIoitema tradicional da imita~ao Estou querendo dizer com isso que Nietzsche

permanece fiel adefiniltao aristotelica da arte como imitacao 0 que pode ser

notado por exemplo no sect2 de 0 nascimento da tragtfdi4 quando ele diz que

todo artista eurn imitador e faz referencia aexpress3o arlscotelica imitashy

io da naturezaGO A diferena e que na concepao metafisica nietzschiana

independentemente do artista sem a mediaio do artista humano - a propria natureza ji e artistica por ser constituida pelas pulsOes esteticas aposhylineae dionisiaca Assirn 0 que diz Nietzsche e que em facedesses estados arshy

tlsticos imediatos da natureza todo artista e urn imitador A arte imita uma

natureza que ja e artfstica que ja epulsao forlta artist~ imita as condilt5es

criadoras imediatas da natureza

Assim se Nietzsche da impoftiincia a teoria schilleriana do cora como

muralha viva contra 0 realismo ou 0 naturalismo e porque como ele esdarece

no sect24 de 0 nascimento da tragedia a arte nao eapenas uma imitaao da realishy

dade natural mas urn suplemento metafisico dessa realidade natural colocashy

da jUnto dela a fim de ultrapassa-la Se mesmo concebidacomo imitaltao a

arre tragica tem como finalidade uma transfiguraltao metafisica e porque

ela imita nao a realidade fenomenal mas 0 que Schopenhauer chamou de

vontade e Nietzsche de uno originario a essencia da natureza

Eseguindo esse raciocfnio que para dar conta cia rel~ do coro com 0

cortejo dionisiaco ele acrescenta no sect8 do livro A constituicentio posterior do coro tragico nao sera mais do que imitacao pelos meios daarte desse fen601eshy

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 14: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

228 o nascimento do trigico

no natural [0 cortejo exaltado dos servos de Dioniso] Isto significa exshy

plicitamente que no momenta em que se constitui como fen6meno artistico

primordial protofenomeno dramatico no momento em que e apenas

coro construido como uma arma~iio suspensa de urn fingido estado natural

com firrgidos seres naturais61 a tragedia reproduz imita espelha simboliza 0

fenomeno da embriaguez dionisiaca responsavel pelo aniquilamento da indishyvidualidade e pelo desaparecimento dos prindpios apolineos criadores da inshydividua~ao a medida e a consciencia de si

para que essa hip6tese se revele em tada sua originalidade e preciso sashylientar 0 seu aspecto mais importante 0 que tama a imitacento do dionisiaco

possivel ea musica Vejamos entao 0 que significa dizer que arragedia nasce do

espirito da mtisica que a origem da tragediae a possessao causadapela musica

No sect16 de 0 nascimento da tragedia Nietzsche faz uma longa citacao do sect52 de 0 mundo como vontade e representtlfao destacando urn pequeno trecho que ele considera 0 conhecimento maisimp~rtante da estecica Ejustamente a passagem em que Schopenhauer diz que a mUsica difere de rodas as outras

faro de nao ser reflexo [AbbildJ do fenomeno ou mais corretamente

da adequada objetividade da vontade mas reflexo imediato da propria vontashy

de e ponanto exprime 0 metafisico para tudo 0 que efisico nomundo a coisa

em si para todo fenomeno

Vimos 0 quanto 0 nascimento datragMia e inspirado em Schopenhauer so- bretudo pela aproprialtao que faz dos pares fen6meno-coisa em si representashy~ao-vontade para pensar as duas for~as artisticas da natureza 0 apolineo e 0

dionisiaco Pois e tambem profundamente inspirado em Schopenhauer e na

aproprialtio que dele faz Wagner em seu Beethoven que Nietzsche pensara a

musica como espelho dionisfaco do mundo considerado como essencia ou

fundamento e ponanto como umaarte essencialmente metafisica Schopenshy

hauer define a mUsica como conhecimento imediato da essencia do mundo como reflexo reproducao tradu~iio expressao imediata e universal da vontashyde da vontade impessoal e universal do centro e nueleo do mundo da forshy~a que eternamente queI deseja e aspira for~a cega ca6ticasem caos

originario Wagner que ve Schopenhauer como 0 primeiro adefinit com clashy

reza filosofica a diferen~a da musica com rela~ao as ourras artes por ser uma

lingua que todos podem compreender imediatamente reroma a definiltao

schopenhaueriana ao considerar que ill musica e a propria ideia do mundo

que se revela alternando sofrimento e alegria felicidade e dorti2

Nietzsche e a represen~ d dionisiao

A teoria nieuschiana da musica e uma transposicao da concepltao de

Schopenhauer eWagner para 0 ambito de seu proprio esquema conceitual

de interpret~ao daarte a partir dos dois impulsos esreticos da natureza Essa

transposi~ao 0 leva a distinguir uma musiea apoHnea e uma musica dionisiashy

ca A apolineaeumacompanhamento ritmico pela citara dos poemas homeshy

ricos definida como uma arquiterura darka de sons apenas insinuados63

Mas Nietzsche asvezes tambem se refere a uma musica exelusivamente dionishysiaca que inteiramente isenta de imagem eum reflexo do ser primordial do

uno originario como no sect5 de 0 nascimentoda tragedia Haveria portanto dois

tipos de musica uma que reproduz 0 fenomeno outra que reproduz a vontashy

de Em outros momentos no entanto Nietzsche explica a musica pelos eleshy

mentos a constituem a melodia a harmonia e 0 rirmo ii entao que I

privilegiando a harmonia e a melodia a torrente uniraria da melodia e 0

mundo absoluramente incomparavel da harmonia em detrimento da badshyda ondulante do rirmo ele ve a musica como uma arre essencialmente dionishy

siaca que nao se restringindo ao mundo do fen6meno estabelece uma

rela~ao imediatacom a vontade Acredito a esse respeito que se Nietzsche diz

que a tragedia leva a musica aperfeiltao como no sect21 eporqueela aperfeishy

ltoa a musica exclusivamente dionisiaca orgiastica aquela que no curso sobre

a tragedia ltitiea ele chamou de musica natural (Naturmusik) indicando que

fIxar a musica natural das dionisias demoniacas durante as quais explode a embriaguez do sentimento todo-poderoso em formas artisticas foi 0 primeishy10 passo dado emdirecao da tragedia64

Essa conce~ da musica se assemelha muito aOque sem se referir ao

apolineo e ao dionisiaco Wagner disse na mesma epoca em uma linguagem

profundamente schopenhaueriana no Beethoven Enquanto a harmonia dos

sons livre do esp~o e do tempo permanece como 0 elemento espedfico da

musicao mtisico criador por mdo da sucessao ritmica de suas manifestaC5es estende a mao conciliat6ria ao mundo dos fen6menos em estado de vigiliamiddot Que se compare esse texto ao que diz Nietzsche em A visao dionisiaca do

mundo e a semelhanlta entre os dois pensadores torna-se ainda mais evidenshy

bull Beethoven p30 Noeusaio Do destine da opera de 1871 Wagner escreve quemiddoto drama amigo

atingiu sua originalidade rragica pOl urn compromisso entre 0 elememo apolineo e 0 elemenco

dionislaco afinn~em que Nieczsche viu uma revelasao indiscreca do que ele iria dizer em 0 nascimento cia tragidiaLieberr Nietzsche et la musique p52 nl)

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 15: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

I 0 nasdmento do tragico

te Enquanto 0 ritmo e a dinamica sao ainda de ceno modo aspectos externos

da vontade que se exprime por sfmbolos enquanto trazem quase que em si

proprios a caracteristica do fenomeno a harmonia e simbolo da essencia pura

da vontade Portanto no ritmo e na dimlmica 0 fenomeno isolado deve ainda

ser caracterizado como fenomeno e vista sob esse aspectoJ amusica pode sertratadaJ

como arte da aparencia A harmonia residuo indivisfvel fala da vontade de fora e de dentro de todas as faemas do fen6meno e portanto uma simb6lica nao apenas do sentimento mas do mundo List also nicht bloss Gefols- sondern Welt-rymbolik] 65

Como se poderia preyer pelo que foi dito anteriormente pensar a musica

como arte essencialmente dionisiaca significa dizer que ela eo meio mais imshy

portantede que 0 homem dispoe para se desprenderdesi proprio para se desshyfazer da individualidade66 e entrar em comunhao com 0 uno originario expressando com a i~tensifica~o maxima de todas assuas capacidades simshybolicas a dor e 0 prazer da vontade

Se entao utilizando a dualidade schopenhaueriana representa~ao-vonshytade em sua interpreta~ao da tragedia Nietzsche pensaque por ser apenas reshy

presentaaoo individuo her6ico ao ser aniquilado nao afeta a vida eterna da

vomade e e capaz de proporcionar alegria isso se deveasuaideia de que a trashy

gedia atraves do coro absorve a musica orgiastica levando-a aperfeivao Eis duas cita~oes de 0 nascimento da tragedia que VaG neste sentido A consolaao mecafisica lte que a vida no fundo das coisas apesar de coda a mudana das

aparencias fenomenais e indestrutivelmente poderosae cheia de alegria apashy

rece com nitidez corp6rea como coro satirico como coro de seres naturais

que vivem por assim dizer indestrutiveis por tras de todaciviHzaao e que a

despeito de toda mudanva de geraoes e das vicissitudes cia historia dos povos permanecem perenemente os mesmos Somente a partir do espirito da mushy

sica compreendemos a alegria do aniquilamenw do individup Pois s6 nos exemplos individuais de tal aniquilamento eque fica claro par~ nos 0 eterno fen6meno da arte dionisiaca a qual leva aexpressao a vontacfe rm sua oniposhy

tencia por assim dizer por tras do principium individuationis a vida eterna para

aIem de toda aparencia e apesar de todo aniquilamentogt67

A continuidade portanto entre 0 dionisiaco como fenomeno natural

caracterizado por uma embriaguez que rompe 0 principio de individualtao e abole a subjetividade possibilitando aos seres isolados se sentirem unificados com 0 mais profundo da natureza eo dionisiaco como fenomeno artisticq

~

Nietzsche e a representasao do dionisiaco 231

tal como se da no rearro se deve aimtisica considerada como expressao imedishy

ata da vontade Mas se a mlisicaIem sua completa ilimi~ao eo principal

elemento que perm ite expIicar 0 nascimen to da rragedia rara dar conta to talshy

mente desse fen6meno artistico epreciso ir alem e acrescentar ao lado da mushy

sica 0 componente essencialmente dionisiaco da tragedia seus componentes apolineos a palavra e a cena

Essa analise da relaao entre os componentes da tragedia e introduzida

PENietzsche a partir de uma interpreta~ao da poesia liriea que assinala seus

c ponentes apolineo e dionisiaco a palavra e a musica e salienta a prevashy

Ie cia da ffitisica nessa rela~ao Eis urn trecho significativo do modo como

Nietzsche equaciona 0 problema no sect5 de 0 nascimento cIa tragidia Como arshy

tista dionisiaco 0 poeca lfrico antes de cudo identificou-se inteiramente ao uno origiruirio com sua dor e sua conrradiltao e proauziu ac6pia [AbbildJ desshyse uno origiomo em forma de musica em seguida e~sa miisica se cornou visivel parade como numa imagem onirica simbolica [anal6giea gleichnissartishy

gen] sob a influencia do sonho apoHneo Ideia que Nietzsche introduz a parshy

tir de uma observa~iio de Schiller a Goethe sobre 0 seu pr6prio modo de

composi~ao em que 0 estado preliminar do aro poetico e descrito como uma

predisposiaomusical 0 sentimento se me apresenta no comeo sem urn obshy

jew claro edeterminado este so se forma mais tarde Primeiro vem uma certa predisposi(3o musical e_ s6 depois eC)ue se segue a ideia poericaraquo68 Essa relaltao entre musica e palavra e alias retomada no sect6 de 0 nascimento da tragidia de

modo bemsemelhante ao anterior quando Nietzsche se refereacan~ao popushy

lar como espelho musical do mundo como meloltt~a origimiria que agora

procura uma aparencia onirica paralela e a exprime na poesia A tnelodia e portanto 0 que ha de primeiro e mais universal podendo por isso suportar multiplas objetivalt6es em muitos textos a melodia da aluz a poesia

Ora e aplicando esse principio da superioridade da mtisica na poesia l11ishyca que Nietzsche pensa a relaltao entre 0 apolineo e 0 dionisiaco na tragedia Isso se notaclaramente por exemplo no sect8 de 0 nascimentocIatragedia quanshy

do alem de explicitar como a tragedia surge do ditirambo dionisfaco 0 que

ja vimos - Nietzsche the acrescenta urn elemento radicalmente diferente da

musica 0 onirico mundo apolineo da cena do qual 0 coro eo seio matershy

no e derme a tragedia como urn coro dionisfaco que incessantemenre se descarregaem urn mundo apoHneode imagens A tragediae0 coro dionisiashyco que se expande projetando fora de si imagens apolineas diz 0 sect2 L

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 16: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

232 o nascimento do tragico

Esse mundo apolfneo de imagens gerado pea musiea na tragedia eo mito

tragico cujo conteudo nao deixa duvida para Nietzsche os sofrimentos de Dion1so Pois 0 coro da tragedia alem de se ver metamorfoseado em sariro

tambem contempia Dioniso arrives de uma nova visao apolinea 0 sect8 afirma

a esse respeito A possessao epdr eonseguinte a eondi~ao previa de toda ane

dramarica possufdo 0 exaltado de Dioniso se ve como satiro ecomo satiro

entao ve 0 deus Isso significa que metamorfoseado ele percebe comol exterior

a ele uma nova visao que ea inretra real~o apolinea de seu estado Ecom essa nova visao que 0 drama acaba de se constimir Dioniso e para Nietzsche o heroi de todas as tragedias no sentido de que as figuras famosas do teatro

grego como Prometeu eom seu amor tiranico pelos homens e Edipo com

sua sabedoria desmesurada sao apenas suas mascaras Ese na ttagedia 0 ioshy

niso se objetiva nas aparencias apolineas aparecendo em cena individualizashy

do na mascara de um heroi lutCl-dor e como que enredado nas malhas da

vontade individual e justamente para sofrer os padedmentos cia individuashy

sao e apresentar 0 estado de individuasao como a causa do mal a fonte do

sofrimento evidendando a necessidade de sua rejeiltao em nome da universashy

lidade de tudo 0 que existe69

Ve-se como 0 mim migico gerado pela musica e jusramente por ser gerashy

do por ela inverte 0 mito epico tomando-o veiculo da sabedoria dionisfaca

Deslocando-se das ac6es heraicas para 0 pathos os sofrimentos dos herois a I

tragedia representa a queda degocaso 0 aniquilamento a catistrofe a derrocashy

da do individuo e sua uniao com 0 ser primordial 0 uno origin2ric Ao curso de inumeras explosoes sueessivas 0 fundo primitivo da tragedia produz por

irradialtao uma visao dramatica que e inicialmence um sonho isto e tem nashy

tureza epica por outro lado objerivando urn estado dionisiaco representa

nao a redentao apolinea pela aparencia mas ao contrario 0 naufragio do inshy

divfduo e Sua absor~ao no ser originario70

Estamos no imago da relacao da uniao conjugal da redproca necessishy

dade dos dois elementos constitutivos da tragedia 0 dionisiaco presence na

musica 0 apolfneo presente na cena e na palavra

Por um lado a importancia da imagem No teatro 0 mito tragico e uma

transposiltao da sabedoria dionisiaca instintivamente inconsciente para a

linguagem das imagens e a representatao simb6lica [Verbildlicbung] da sabeshy

doria dionisiaca atraves dos meios artisticos apolineos71 Se 0 milagre realiza-

Nietzsche e a representaio do dlOOisiaco )33

do peio teatro grego e salvar 0 individuo cia forlta dest~uidora do dionisiaco existente no auto-aniquilamenco orgiastico aliviando-o de uma unificaYao

imediata com a mtisica dionisiaca72 isso se deve it imagem no sentido de que

a abolilt1io dos iimites da individualidade e a restaura~1io da unidade origishy

niria sao na cena rearral apenas representadas Assim a negacao dos valoshy

res apolineos s6 se realiza em forma de representacao de imagem isto e

apolineamente Pela influencia do sonho apolineo a musica coma a forma de

umsonho Servindo-se da aparEncia da representasao 0 canto e a dana nao sao

mais embriaguez instintiva da naturezagt a massa coral excitada por Dioniso

nao e mais a massa popular apreendida inconscientemente peIo instinto da

primavera servindo-se da aparencia 0 dionisiaco artistico e uma irnitacao

da embriaguez urn jogo com a embriaguez urn estado de embriaguez em que

nao se perde a lucidez um estado em que embriagado se observa a propria

embriaguez 0 artista tragieo e aquele que na embriaguez dionisiacae naaushy

to-alienaltao mistica prosterna-se solitario e it parte dos coros entusiastas e

por meio do influxo apolineo do sonho 0 seu proprio estado isto esua unishy

dade com 0 fundo mais intimo do 111 undo se the revela em uma imagem onirishy

ca simbalica7J Ao afirmar que I

Apolo ensina a medida a Oioniso Nietzsche

esta assinalandoquena tragedia a imagem apolinea imp6e a beleza ao instinshy

to dionisfaco ttansfigurando idealizando espiritualizando a orgia musical

transformando urn veneno em um remedio4 Mesmo que os motivos que 0

levam a essa afirmasao tenham variado a tragedia sempre sera pensada por Nietzsche como tendo 0 efeito terap~utico de um toni~o A especificidade desshy

se momento de sua prodult1iO filosafiea em que pensa 0 tragico a partir de

dois principios antagonicos - 0 apolineo e 0 dionisiaco - ever na imagem

apolinea a condicao que coma 0 fundo dionisiaco possivel de ser vivido transshy

formando um veneno em um remedio

Por outro lado a imagem apolinea euma projecao uma expansiio uma

descarga uma irradialtao do eanto coral que absorve 0 orgiastico musicaL 0 que era a tragediaem sua origem senao uma lirica objetiva um canto modulashy

do saido do estado de espirito de seres mitol6gicos determinados e vestido

com suas roupas Antes de tudo urn coro ditirambico de homens fanrasiados

de sitiros e silenos que dava a entender 0 que 0 tinha mergulhado em semeshy

lhante excitacao ele indicava ao es pectador que 0 compreendia rapidamente

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 17: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

234 6 nascimento do tragico

urn detalhe escolhido dos combates e dos sofrimentos de Dioniso75 A musishyca e 0 elemento determinante prevalecente originario na re~ao entre 0 aposhylinea e 0 dionisiaco

Se a hip6tese mecafisica de 0 nascimento da tragidia eque 0 ser verdadeiro

Cem necessidade da aparencia para sua libert~o 0 que possibilita essa tranSshy

figur~iio da vontade ea propriavontade Ver 0 seu ser tal como ele e em urn

es pelho que 0 transfigura e se proteger com esse espelho contra a Medusa era

a es trategia genial da yontade helenica Com os gregos a vontade q ueria se

ver transfigurada em obra de arre Foi com essa arma fa bdeza] que a vontashy

de helenica lutou contra 0 talento para 0 sofrimento e paraa sabedoria do 50shy

frimemo correlato ao talento artistico A tragedia nasceu dessa Iuta como

monumento da vit6ria diz 0 sect2 da Visao dionisiaca do mundo evidencianshy

do que a vontade esta por cras nao apenas da arte dionisiaca mas ate mesmo

da arte apolinea 0 que mostra mais uma vez como Nietzsche esta proximo de

Schopenhauer A tragedia grega e 0 fruto de um ato mecaflSico miraculoso da

vontade como 0 proprio mundo olimpico cdado pela epopeiafoi urn espelho transfigurador que a vontade colocou diante de si mesmo parase contemplar

e se Iibertar pela aparenciamiddot Assim em ultima analise e a vontade a essencia

do mundo da natureza da vida que na tragedia transformaa nausea causashy

da pelo horror e absurdo da existencia caracterfstica do dionisiaco puro seIshy

vagem em re-presenta~oes que tornam a vida posslvel

Desse modo na tragedia se realiza a reconcilia~ao nao-dialetica das duas

for~as esteticas da natureza que apesar da eensao que persiste entre elas agoshyra se tornam complementares A reconcilia~ao de dois adversarios com a rishy

gorosa determina~ao de respeitar doravante as respeccivas linhas fronteiricas

e com 0 periodico envio mutuo de presentes honorificos no fundo 0 abismo

nao fora transposto por nenhuma ponte76 Com a cragedia temos nao mais

um caos nem propriamente urn cosmo mas um caosmo podedamos dizer

retomando a bela palavra de Joyce de que Deleuze tanto gosta 0 que nos tershy

mos de Nietzsche significa na tragedia Dioniso fala a linguagem de Apolo Apolo fala a linguagem de Oioniso

Cf o nasdmentodatragidia sectl 3 e 4 0 sect5 dizNamedidaem que 0 sujeitoeumartistaee jase libertou de sua vontade individual e tornou-se por assim dizer urn medim atraves do Qual 0

mica sujeito que existe verdadeirarnente celebra sua reden~ao na aparencia

Nietzsche e a represen~ do dionis(aco 235

A finalidade da tragedia

Estamos agora em conditoes de pensar a finalidade dessa reconcilia~ao de

principios realizada pda tragedia E antes de expor a posicao nietzschiana e

importante conhecer sua critica a outras soIuc6es ao problema

E no sect22 de 0 nascimento da tragidia que Nietzsche escuda mais detidashy

mente a finalidade da tragedia ou mais precisamente de uma verdadeira

tragedia musical Etamhem nesse momenta que ele cri rica as interpreta~oes do efeito trigico de Arist6teles e de Schiller que segundo ele em vez de recoshy

nhecerem 0 jogo estetico da tragedia sao moralizantes Eis 0 texeo mais

cito sobre a questao Nunca desde Arist6teles foi dada a respeito do efeito

tragico uma explicacao da qual se pudessem inferir estados amsncos uma

acividade estetica do ouvinte Ora sao a compaixao e 0 temor [Furcbtsamkeit]

que devem ser impeUdos por serias ocorrencias a uma descarga [Entladung] alishy

viadora ora devemos nos sentir exaltados e entusiasmados com a vit6ria dos

bons e nobres principios com 0 sacrificio do heroi no sentido de uma consid1shyra~ao moral do mundo

Em sua critica a 0 nascimento da tragedia Wilamowitz-Mollendorff acusa

Nietzsche de usar uma arte de dissimulacao em relacao a Arist6teles ao travar

uma polemica latente com ele - dada a autoridade que Arist6teles cinha na

epoca devido sobretudo a Less ing e fazer rocieios para evitar a catarse Ora Ia cririca a Arist6teles e clara na unica men~ao explicita acatarse feita no sect22 E entao que referindo-se a ela como uma descarga patQJogica que os fi1610gds

nao sabem sedeve ser computad~ entre os fenomenos medicos ou morais

Nietzschedefende contra os efei~os substitutivos procedentes de umaesfera

extra-esterica contra 0 processo ~atoI6gico-moraI que 0 patetico era para

os gregos apenas um jogo estetico8 Postulando 0 carater medico e moral da

catarse definida como descarga patologica Nietzsche interpteta que para

Aristoteles remor e compaixao deveriam ser eliminados do homem pela [rageshy

dia como pot urn purgante Crftica ainterpreea~ao patologica da catarse em nome de umaexplica~ao estritamente esterica da cragedia que logodepois de

aplfundar 0 sentido da cricicaveremos propriamente 0 que significa

Quando me referi a tese aristotelica sobre a catarse ponderei que Aristoshy

tel possivelmente quer dizer que temor e compaixao sao emOloes penosas

que a tragedia deve despertar no espectador com a finalidade de purifica-Ias

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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ras1993

Page 18: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

236 o nascimento do trigico

fazendo-o reconhece-Ias ern sua essencia em sua forma pura Alem disso obshy

servei que essa experiencia emotiva purificada substitui no espectador 0 soshy

frimento pelo prazer ou mais precisamenre que e a inteleccao das formas do

temor e da compaixao tal como aparece na catarse tragica que produz prazer

Ora em vez de imerpretar temor e compaixao como produtosda atividashy

de mimetica como parece sugerir Aristoteles na Poetica Nietzsche os ve como

uma experiencia patol6gica do espectador Por que Talvez porque sualeitura da catarse seja marcada pela Politica

No Capitulo 7 do Livro 8 da Politica ao classificar as melodias em eticas

(que representam as disposic6es estaveis do carater e sao importantes para a

educacao) praticas (que representam a acao) e possessivas entusiisticas (que

representam os diversos estados de disturbios emocionais) Aristoteles obsershy

va que ao estimularem em quem escuta perrurbat6es como 0 medo eacomshypaixao estas ultimas melodias exercem urn efeito sedativo a maneira de urn tratamento medico e de uma purgacao ou como tambem diz Arist6teles

uma certa purg~o e urn alivio acompanhado de prazer

Valorizando a metafora medica presence na explicacao aristotelica da cashy

rarse musical Nietzsche ve a catarse tragica como uma descarga de determinashy

dos humores cuja concentracao anormal seria acausa do estado patologico

descarga que teriacomo fonte 0 proprio disturbio no sentido de quequando

este cessa produz 0 prazer do alivio Epossivel inclusive que Nietzsche teshy

nha sido marcado pela interpretacao deJacob Bernays - fil610go traducor da

Politica de Aristoteles e autor do artigo Aristoteles e 0 efeito da tragedia _

bull Cf Arist6teles Politica 1342 a-b nota de Dupont-Roc e LaHot in Poitique p191 Concordando

com 0 comentirio dos tradutores franceses Lacoue-Labarthe observa que a compreensao da cashy

tarse trigica no sentido medico de purgaltao baseia-se provavelmeme na rna inrerprefaao da passagem da Politica sobre a catarse musical passagem em que segundo ele 0 uso medico do tershyrno eexplicitarnente metaf6rico (cf Poetique de Ihistoire p91)

Dupont-Roce Lallot em seus comentarios a Poitica defendem que a catarse musicaJque edishyferente da catarse tragica nada tem a ver com uma descarga de humor pois em momento a1gum

Arist6teles diz que a purgaltao operada pela musica supoe a interrupltiio do disturbioque ela proshy

voca Eles preferem explicar 0 prazer proporcionado pea catarse musical como resulrando direshy

tameme do fato de a musica ser em si mesma agradavel ou uma fome de prazer A catarse

musical para eles consiste na neutralizaltao pelo prazer da pena que ela provoca 0 alivio e

co-extensivo ao disnirbio e a nocividade do mal eanulada para dar lugar aalegria (inArist6teles Poetique p192)

Nietzsche e a representa~ao do dionislafo 28

que utiliza a teoria da catarse musical da Politica pata imerpretar a passagem

da Poetica sobre a catarse tragicamiddot

Mas isso nao e rudo a respeito da crftica as interpretac6es da finalidade cia

tragedia pois Nietzsche tambem diz Na epocade Schiller foi levada a serio a

tendencia de empregar 0 teatro como uma instituicao para a formacao moral

do povo Nao e possivel saber com certeza em quem Nietzsche estaria penshy

sando com a expressaoepoca de Schiller alem do proprio Schiller evidenteshy

mente Mas e provavel que seja em Lessing pois 0 carater eminentemente

moral da tragedia que teria como fim supremo a melhoria dos costumes foi

defendido por Lessing que se refere inclusive na Parte 77 da Dramaturgia de

Hamburgo) ao fim moral que Arist6teles atribui a tragedia acrescentando

que todos aqueles que se degararam contra esse fim nao entenderam Arisroshy

teles Ebern provavel portanto que seja nele que Nietzsche se baseia para afirmar 0 carater moral da catarse tragica

Por outro lado proximo de Lessing a esse respeito Schiller pensa a trageshy

dia como a imitacao de uma acao que tern como finalidade suscitar no especshy

tador 0 prazer da compaixao Esse prazer eo deleite que 0 conflito tragico

proporciona ao espectador que presencia 0 triunfo da ordem moral com a vishy

toria da razao da voRtade humana da liberdade sobre 0 sofrimento Se 0 esshy

pectador pode sentir prazer alegrar-se com a representacao da dor e porque a

raiaq ou melhor a vontade do her6i tragico e capaz de triunfar dessa dor e cashy

paz de se comportar perante essa dor com a maior dignidade ao se manter lishy

vre ~o impulso egoista Assim como 0 prazer eo fim supremo da arte a

tragedia proporcionao prazer moral mais elevado deleitando atraves da dor

porque apresenta a autonomia legislativa da razao atraves da vito ria da lei

moral sobre 0 sofrimento

Com que fmalidade entao segundo Nietzsche a tragedia transforma 0

mito epico em mito tcigico reconciliando Apolo e Dioniso A de fazer 0 esshypectador aceitar 0 sofrimento corn alegria como parte integrante da vida por-

I

bull Sabe-se que Nietzsche retirou esse texto na biblioteca da Universidade da Basileia em maio deJ 1871 No artigo contra Wdamowitz Filologia retr6grada argumentando que Nietzsche tinha

razao em nao integrar como elemento determinante de suas consideralt6es a catarse - interpreshy~ tada a partir de Bernays e privilegiando a Politiea como descarga apaziguadora ou cura medica 1 do medo e da compaixao- Erwin Rohde defende que a interpretaltao de Bernays do sexto capitushy

lo da Poetica ea unica aceicivel (cf Nietzsche e a polemica sobre 0 nascimento cia tragedia p121-32)~ Ii

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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ras1993

Page 19: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

238 o nasamento do Iragico

que seu proprio aniquilamento como individuo em nada afeta a essencia da

vida 0 mais intimo do mundo da vontade Para Nietzsche 0 efeito tragico

possibilitado em tlitima analise pela musica - da ele se referir a tragedia como musical e ao espectador como ouvinte - e a consoJasao metafisica (metaphysische Trost) Se ao apresentar a sabedoria dionisiaca arraves de meios

apoHneos a tragedia produz alegria com 0 aniquilamento do ihdividuo eporshy

que a representaltao tragica ecapaz de fazer 0 proprio individJo experimentar

temporariamente por tras das aparencias das figuras mutam~ 0 eterno prashy

zer da existencia pela identificatao pela fusao com 0 ser primordial 0 uno

originario Fundada na musica a tragedia nao apenas di 0 conhecimento

da vontade como tambem p roporciona a afirma4)ao da vontade grande origishynalidade do primeiro livro de Nietzsche em rela-ao ii teoria da tragedia de Schopenhauer

Essa tese de que a consolaltao metafisica produzida pela tragedia transshy

forma 0 horror e 0 absurdo da vida em noc5es que permitem viver como e dito no sect7 de 0 nascimento da tragidia eobjeto de avaliatao do sect7 da Tentativa de autocritica Assim quinze anos depois ja independente de Schopenhauer e Wagner Nietzsche critica sua antiga n04)ao de arte da consolaltao rnetafisishycan ligando-a ao romantismo e ao cristianismo e sugerindo que se aprenda a arte da consolacao daqui de baixo que se aprenda a rir pois talvez em conseshy

qUenciadisso rindo mandareis umdiaaodiabo toda essaconsolaltiio metaffshy

sIca a comecar pela propria metansica Ora uma afirmaciio como essa

alem de evidenciar 0 distanciamento do ultimo Nietzsche dessa ideia refona

sua importancia na concepiio da tragedia de seu primeiro livro

Essa ideja aparece varias vezes em 0 nascimento da trageJia 0 sect7 diz que a consol~ao metafisica possibilitada por toda verdadeira tragedia e 0 pensamenshyto segundo 0 qual a vida no fundo ltas coisas e apesar do carater mutante dos

fenomenos e toda de prazer em sua potencia indestrutfveL 0 sect8 diz mats uma

vez que a tragedia por sua consolaiio metafisica sugere a etemidade do nlicleo

da existenda apesar da incessante destruitao dos fenomenos do mesmo modo

que 0 simbolismo do coro exprime por analogia a relaiio originiria da coisa em

si e do fenomeno Eo sect 17 volta ii quesrao expondo a mesma ideia a tragedia nos

persuade do prazer eterno da existencia com a condiao de procurarmos este prazer nao nos fenomenos no turbilhio ltas formas mutantes que nascem e

morrem mas atras deles Alem diso ahescenta que pela arte dionisiaca nos soshy

mos momentanearnente deg proprio ser primordial sentimos seu desejo e seu

~~

Nietzsche e a representa~o do dionisiaco 239

prazer de existir Afelicidade que a tragedia proporciona diz respeito ao vivente tinico com 0 qual nos confundimos Ideia que volta mais uma vez no inicio do

sect 18 quando ao definir a cultura migica Nietzsche esclarece que se a tragedia proporciona uma consolaltao metafisica e porque convence 0 espectador de que sob 0 turbilhio dos fenomenos a vida etema continua fluindo_

Essa consolacao metaffsica proporcionada pela ttagedia euma alegria

um p razer Melbor ainda uma alegria urn prazer metafisico Como edito no

sect16 A alegria metaflsica com deg tragico euma transpositao da instintiva e inshy

consciente sabedoria dionisiaca para a linguagem das imagens 0 heroi a sushy

prema manifestaio da vontade e negado para 0 nosso prazer porque e apenas manifest~ao e pm-que 0 seu aniquilamenro em nada afeta a vida etershynadavontadeNola-se portanto pelo modo como Nietzsche defmea alegria

eo prazer que eles sao sinonimos de consolacento Ese 0 adjetivo metafisicoe empregado para qualifici-Ios eporque eles dizem respeito ao aniquilamento

do individuo eaidentificaltao momentanea do espectador com 0 ser primorshy

dialo uno originano a vontade universal

Perguntando no sect24 em que reside 0 prazer estetico Nietzsche reconheshyce que muitas ltas imagens tragicas podem produzir de vez em quando urn deleite moral em forma de compaixao ou de triunfo moral Mas defende

ao mesmo tempo que para aclarar 0 mito tragico a primeira exigencia eproshy

curar 0 prazeraele peculiar na esfera esteticamente pura sem qualquer intrushy

sao no terreno do remor (Furcht) da compaixiio ou do moralmente sublime

(Sittlich-Erhabenen)middot Ora quando ele diz em formula famosa no sect24 do livro

que somente como fenomeno estetico aexistencia e ltNnundo aparecem justishy

ficados isso nlio reduz sua analise da tragedia a uma estetica Urn de seus obshyjetivos e certamente esciarecer contra Schopenhauer que a vida nao pode ser justificada moralmente Mas contrapondo-se a uma interpret~io moral da

tragedia 0 que ele faz e propor uma interpretatao metafisica que ve na trageshy

Mas os escritos p6srumos preparat6rios a 0 nascimentodatragedia nao criticarn acompaixao 0

drama musical grego diz a tflrefa da musica e are mesmo da palavra era transformar 0 sofrishymemo do deus edo heroi ern potente compaixao nosouvintes (I p528 ed fr p28) Socrates e

a tragedia diz queatragedia nasceu da fonce profunda da compaixao (I p546 ed fr p43) Analisando Tristao eholda 0 sect21 de a nascimento do tragidia faz 0 seguinte elogio da cornpaixao e1a nos salva do sofrimento primordial do mundo do mesmo modo que a imagem simb61ica

[GleichnissbildJ do nUw nos salva da inruiao imediata da ideia suprema do mundo e 0 pensashy

mento e a patavra nos salvam da efusao desenfreadada vontade inconsciente

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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umgarten Kant Schelling Hegel und Schopenhauer Wiesbaden Franz Steiner 1983 ROSENFELD Anatol Teatro moderno Sao Paulo Perspectiva 1977 $CHAEFFERJean-MarieLAntierage moderne LEsthetiqlleetla philosophie de IartduXVII1

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Obras complementares

ARENDT Hannah La condition de lhomme moderne Paris Calmann-Levy 1983 ___ Sobre a humanidade em tempos sombrios Reflexoes sobre Lessing in Hoshy

mens em tempos sombrias Sio Paulo Companhiadas Letras 1987 ARlSTOTELES La Poetique trad e noras Dupont-Roc e Lallot Paris Seuil 1980 ___ Poetica rrad preficio inrrodwao comencirio e apendice de Eudoro dtgt Soushy

sa Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 5 ed AYRAULT Roger La genese du romantisme allemand Paris Aubier 1976 BENJAMIN Walter OconceitoJecritica de arte no romantismoaemao Sio Paulo Iluminushy

ras1993

Page 20: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

240 o nascimento do trigico

dia musical na tragedia em que 0 mito tragico e expressao da musica uma

metaflsica de artista

Assim interpretando por exemplo que 0 mico tragico deve convencer 0

espectador de que mesmo 0 feio e 0 desarmonico 0 conteudo do mito tragishyco - sao um jogo artisrico que a vontade jogaconsigo propria fenomeno prishy

mordial que s6 pode ser cartado pela dissonancia musical e que 0 prazer com

o mito tragico e identico ao prazer com a dissonancia musical suametafisica

da arte evidencia que a justifica~ao do mundo como fenomeno estetico e

dada pela musica considerada como umaarte metaflsica e nao pela moral79

Por que Porque a mUsica expressa 0 dionisfaco ou melbor ainda a vontade Como diz 0 inkio do sect22 quando se trata de uma verdadeira tragedia musishycal 0 mito tragico da ao espectador uma onisciencia que 0 faz indo alem da superficie das~coisas penetrar no interior e com a ajuda da musica enxergar

as ebulic6es da vontade a lura dos motivos e a torrente transbordante das

paixoes vendo com nitidez 0 her6i tragico mas alegrando-se com 0 seu anishy

quilamento 0 que torna 0 ouvinte estecico da tragedia na verdade um oushy

vinte metafisico i Se para 0 nascimento da tragedia a atte tragica e urn remedi uma Burna

de todas as potencias curativas profiLiticas que tinha a funcao rapeutica de excitar [erregen] purificar [reinigen] e descarregar [entladen] a vida do povoso

e1a e urn remedio metafisico Nao um purgante como Nietzsche interpreta a

posi~ao de Arisc6teles nem urn calmante como pensava Schopenhauer mas

um t6nico urn estimulante capaz de fazer 0 espectador alegrar-se com 0 sofrishy

mento e ate mesmo com a morte porque a destruicao da individualidade nao e

o aniquilamento do mundo da ida da vomade Foi isso que Nietzsche chashymou nessa epoca de consolaaol metafisica proporcionada pela tragedia

Grtkia A1emanha e 0 renascimento da tragedia

Hiem 0 nascimento da tragedia uma reflexao sobre 0 valor da Grtcia para a Aleshy

manha que insere 0 primeiro livro de Nietzsche no projeto de politicacultural iniciado por Winckelmann pensador que teve urn papd fundamental na mashyneira de pensar os gregos e sua imporranda para a constituicao da moderna cultura alema Nesse sentido como vimos Winckelmann marcou decisivashy

mente sua epoca inclusive Goethe e Schiller ao defender em 1755 nas Rejle-

Nietzsche e a represen~ do dionislaDo 24~

xOes sobre a imitaio daartegrega na pintura e na escultura duas ideias importantes

por urn lado que 0 cwer geral das obras-primas gregas e uma nobre simplishycidade e uma serena grandeza tanto na atitude quanto na expreSSaOSI por outro que 0 caminho para os alemaes tornarem-se inimitaveis seria a imitashy~o dos antigos au mais precisamente da Antigiiidade heIenia

I

Nietzsche atesta a presenca desse projeto em 0 nascimento da tragiJia

quando em carta de 30 de janeiro de 1872 a seu antigo professor e protetoro

filalogo Friedrich Ritschl refere-se ao livro como rico de esperancas para

nossa ciencia da Antigiiidade rico de esperan~as para a germanidade Ideia

que volta na carta de Rohde a Nietzsche de 10 de abril de 1872 quando diz que os filologos deveriam aprender com 0 nascimento da tragidia que apenas com os gregos eles podenam encontrar a modelo pelo qual se guiar

E na verdade 0 livro que se refere aos gregos como nossos luminosos guiass2 alem de reconhecer que a partir Winckelmann Goethe e Schiller 0

espitito alemao elltrou na escola dos gregos chega a lamentar 0 enfraquecishy

mento do projeto de imitacao da cultura he1enica para a constitui~ao da culshytura alema Continua vivo em Nietzsche 0 projeto de Goethe e Schiller a respeito do que deve sera obra de arte moderna e da imp 0 rtancia de uma refleshyrio sabre a Grecia para repensar 0 mundo modemo Como 0 jovem Nietzsche tambem 5eSente como urn pensador que pade entender melhor sua

~ epoca por meio da Grecia antiga 1 Mas isso nao significaque Nietzsche aceite os clados iniciais do problemaj isto e a caracteriza~da Grecia pela serenidade como se os gregos tivessem J 1

~

1 0 nascimento da tragidia sect20 No inlcio do paragrafo Nietzsche referemiddotse iI nobilissima Utade

Goethe Schiller e Winckelmann pela cultura Alem disso pode-se notar perfeitamente a idiia da superioridade dos gregos sobre os romanos quando por exemplo no curso Introdu~aos

I 1

estudos de filologia cLlssica do verno de 1871 e Ie afirma No que diz respeico amissao cultl1l3l

humanisea ja nos oriencamos para alem dos romanos as obras dos gregos sao sempre mais inashy

cesslveis e mais dignas de admirasw as dos romanos sao sempre mais superficiais sem sabor e J ardficiais (p119-20) Lendo urn rexeo como esse nao se pode deixar de pensar no que esamri1 Nietzsche em 1888 no CrepUrculo do fdolos 0 que devo aos anrigos sect2 depois de indicaraamshy~1 biltio de estilo romano deAmm falouZaratustra e 0 encanro inigualivel que Horacio lhe proporoshy

onava Na~ aos gregos absolutamente nenhuma impressao tao forte e para dize-Io diretamente des nao podem ser para nos 0 que sao os romanos Nao se aprende com os gregosshyseu modo de ser e demasiado esttanho tambem e demasiado fluido para rer urn feito impcrarishy

vo classico Quem teria aprendido a escrever com Um grego Quem reria aprendido scm os roshy

manosJ

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 21: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

middot 242 o nascimento do lrigico

sido exdusiva ou essencialmente apoHneos Criticando os pensadores que tishy

veram essa visao do problema Nietzsche reladonara a serenidade com urn asshy

pecto mais profundo da Grecia 0 dionisiaco Se entao ele critica 0 que

pensadores como Winckelmann e Goethe disseram da serenidade grega e por

considerar que a Grecia so pode ser pensadaa partir do fundo asiatico do dioshy

nislaco que nlio ceria sido levado em conca por eles

Essa busca de urn ouero principio constitutivo do mundo grego - alem da serenidade - nao e porem uma originalidade de Nietzsche 13 como temos visco uma constante em toda interpret~ da Grecia desde 0 nascimento do

tragico isto e da interpretaao filos6fica ou ontologica da tragedia como

apresentando uma visao tragica A continuidade de Nietzsche com a reflexao

sobre 0 rnigico que 0 antecedeu esta no faro de sua estetica ser uma metafisica

que interpretaattagedia a partir da dualidade de principios 0 que talvez exshy

plique a cdticaviolenta que os fila logos lhefizeram na epoca da publica~ao do livro a ponto de no ano seguinte ele rer ficado praticamenre sem aluno a quem ensinar83

Essa valoriza~o metafisica da tragedia grega que teria sido invalidada

pelo racionalismo socrarico do qual a modemidade e mais uma metamorfose

do que uma cdrica radical implicara que a imita~ao dos gregos s6 pode ser

para Nietzsche urn renascimento de uma arte dionisiaca 0 sect16 do livro diz

que 0 renascimento da tragedia -e uma das bem-aventuran~as para 0 ser aleshymao 0 sect 19 preve ltJue rudo 0 que chamamos agora de cultura edu~ao cishy

viliza~ao tera algum dia de comparecer perante 0 infaliveI j uiz Dioniso E 0

sect23 termina dizendo Se 0 alemao olhar hesitante asua volta em busca de

urn guia que 0 reconduza de novo apitria hi muito perdida cujos caminhos e

sendas ainda mal conhece - que ele ou~ao chamado deliciosamente sedutor

do passaro dionisfaco que sobre ele se balou~a e quer indicar-Ihe 0 caminho para lamiddot

Essa referencia aAlemanha como uma patria perdida a que se podera ter acesso pelo dionisfaco e muito importante Pois com isso Nietzsche quer dishy

zer que se 0 genio alemao viveu a servi~o de perfidos anoes ~o mais profunshy

Alusao ao pissarodoSiegtned de Wagner Alimdobemedo mal iindase refere afigutade Siegfried

a crialtiio mais nocavel de Richard Wagner como aquele homem muiro livre de faxo IM-e demais

duro demais alegre demais sadio demais anticatltilicv demais para 0 gosto dos velhos muito veshylhos povos civillzados (sect256)

Nietzsche e a representao do dionisiaco 243

do de si mesmo ele se conservava intaceo com coda a sua for~a dionisiaca

como se 0 espirito tragico existente na Grecia premiddotsocratica embora reprimishy

do em vez de ter sido totalmente riquilado peIo espirito s~cratico se tivesse

mantido vivo na profundeza adoenecida do espirito alemao Dat Nietzsche

acreditar e o enunciar no sect23 que 0 nucleopuro evigoroso do ser alemaoexshy

pulsara os elementos estranhos implantados afor~a tornando possivel que 0

espirito alemao retome a si mesmo reconscientizado E chega mesmo a fepeshyti-Io com todas as letras em uma passagem do final do sect24 cheia de alusOes a personagens de mitos germanicos recomados por Wagner e interpretados por

Nietzsche como mitos dionisfacos 0 espirito alemao intacto em sua esplenshy

dia saude profundidade e for~a dionisiaca qual urn cavaleiro prostrado em

so 0 repousava e sonhava em urn abismo inacessfvel abismo de onde se eleva

at nos a can~o dionisiaca para nos dar a entender que tambem agora esse cashy

valdro alemao aindasonha 0 seu antiquissimo mito dionisiaco em visOes ausshyteras e beatificas Que ninguem crcia que 0 espirito alemao renha perdido para

sempre a sua pitria mitica posto que continua compreendendo com tanta

clareza as vozes dos passaros que falam daquela patria U mdia ele se encontrashy

ra desperto com todo 0 frescor matinal de urn sonho imenso entao matara 0

dragiio aniquilad os perfidos anoes e acordari Brunhilda - e nem mesmo a

lan~a de Wotan podera barrar-Ihe 0 caminho Continuidade entre 0 mito trashy

gico grego e 0 mito alemao que faz do nascimento de uma era tragica do esp[rishyto alemao apenas urn retorno a si mesrno urn bem-aventurado reevcontrar-se a si proprio depois que par longo tempo enormes poderes conquistadores

vindos de fora haviarn reduzido aescravidao de sua (ltlrma 0 que vivia em deshy

samparada barbarie da forma como e dim no final do sect19 do livre

Se com Winckelmann Goethe e Schiller 0 espiriw ale mao entrou naescoshy

la dos gregos por que Nietzsche pensa que ate mesmo Goethe e Schiller nao

conseguiram abrir a porta magica que daacesso amontanha encantadado heshy

lenisrno84 A resposta esimples Porque nao usaram a boa chave para isso a

musica ou melhor ainda a tragedia musical A originalidade de Nietzsche nao

e propriamente sua concepltao da musica no fundo bastante semelhante na

epoca as de Schopenhauer e Wagner Suaoriginalidade foi inspirado na conshy

cep~ao schopenhaueriana da musica e na ideia wagnenana de drama musical

valorizar a musica para pensar a tragedia grega como uma arte essenciaImente

musical ou como tendo origem no espirito da musica Mas tambem rer anishy

culado Schopenhauer com 0 movirnento de utilizacao da Grecia para pensar a

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 22: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

244 0 nascimento do trigico

I

cultud alema atraves de urn ren1ascimento do espfrito tragico ideia que nao

existe em Schopenhauer Eo do que possibilirou iS50 foi certamence Wagner

Que se pense a esse respeito no Beethoven onde Wagner constata qucent 0 granshy

de pedodo do renascimento alemao mesmo com Goethe e Schiller econsideshy

rado com certo desprezo as vezes dissimuladoe ao mesmo tempo destaca a

importiincia incomparavel que a mUS1ca adquiriu para 0 desenvolvimento de nossa civiliza~aomiddot

Embora Nietzsche insista postedormente no quanto a esperanlta e urn

sentimento negativo no tnfdo de sua produltao intelectual a Grecia da trageshy

dia musical e 0 principal motivo de sua esperan~a na Alemanha Pois nao e ele

quem diz que naAnriguidade helenica reside a esperan~a de uma renova~ao e

de uma purifica~ do espirito ale mao pelo jogo magico da musica Ideia

que aparece com a conotaltao de uma volta aos gregos que elide todo progresshyso no final de 0 drama musical grego 0 que esperamos do futuro jii foi uma vez realidade - em urn passado que tern mais de dois mil anos Esse vinshyculo entre 0 renascimento alemao da Antigilidade grega e a musica considerashy

da como uma condiyao essencial do despertar do espirito dionisiaco aparece I

ate no curioso eIogio ao profundo corajoso e inspirado coral de Lurero

como primeiro chamariz dionisiaco no sect23 do livro Mas ele e ainda mais

forre quando estabelecendo no sect19 uma verdadeira hist6ria da musica dio nisiaca Nietzsche defende que do fundo do espfriro alemao a m usica alema alshy=ou-se em seu poderoso curso solar de Bach a Beethoven e de Beethoven a Wagner

Se 0 nascimento da tragedia e urn livro profundamente ale mao que utiliza

expressoes como problema ale mao esperan~as alemiis genio ale mao

espirito ale mao ser alemao epeia importancia que da it musica 0 sect6 da

Tentativa de autocritiea quinze anos depois lamenta que 0 livro tenha esshy

Wagner Beethoven p79 Em carta a Rohde de 9 de dezembro de 1868 Nietzsche considera Wagner a melhor i1us~ do que Schopenhauer chama de genio Em A arte e a revoUfaode 1849 depois de estabelecer a superioridade da ane grega sobre a arre romana e a crista Wagner

confronra a acre grega com a modema para marcar sua diferen~a e defender que 56 a prirneira

era de fato arre A conseqiienciaque ete tira eque a obra de arte do fueuro genuina atividade ar

tfstica s6 pode existir em oposi~ao aos valores correntes mas carnbem nao deve set uma reproshy

du~ao da arre grega Elevar a arre adignidade que the compere dev~lvetaarre sua nohre voc~ao erecuperar 0 eemento vital dos gregos mas segundo ele em urn grau muito mais e1evad6 Cpound sobrerudo os Capitulos 3 5 e 6

Nietzsche e a Ifsen~ao do dionisfaco M5 ~

tragado 0 problema grego misturando-o a coisas modemas por haver fabulashy

do com base nas wtimas manifestaltoes da musica ale~a a respeito do ser

alemao Essa autocritica bern posterio r evidencia no entanto 0 quanto 0 lishy

vro estava impregnado nao sO de ideias germiinicas como tambem da ideia de

que amusica demonio surgido de profundezas inexauriveis unico espirito

de fogo limpo puro e purificador e a fot=a a partir da qual Nietzsche faz sua critica a cultura alemi Como se 0 jovem professor de filologia no desejo de pensar 0 seu tempo tivesse aeatado 0 conselho de Wagner em carta de 12 de

fevereiro de 1870 Perman~fil61ogo para poderserdirigido peIa musicass

o nascimento da tragidia estabelece a origem musical da tragedia grega e

sua importincia como metafisica ardstica para justificar legitimar a arte wagshy

neriana fazendo com que 0 renaseimento do espirito dionisiaco tenha como

expressaomais forte para Nietzsche 0 drama musical wagneriano Vendo na 6peta de Wagner 0 renascimento da tragedia grega 0 nascimento da tragidia vai aacre tragica para explicar a ar~e wagneriana Essa ideia ereal~ada por exemshyplo na prime ira resenha (rejeitada) de Rohde sobre 0 livro quando pouco deshy

pois de defender a necessidade de aprender com os gregos 0 que hi de mais

elevado isto e a despertar aarte apolfneo-dionisfaca da trageciia a fim de inaushy

gurar uma civiliza9io nova e promissora acrescenta que a essa formaltao

tultural aprofundada corresponderia entao como 0 mais esplendido dos floshyrescimencos a maissublime das obras de arte a tragedia nascida da mlisica alema au quando indicaainda mais explicitamente em sua resenha publicashyda Nas obras drarnaticas de Richard Wagner [Nietzsche] identifiea a potenshy

cia maravilhosa do canto harmonioso da mais elevadaatte apolineo-dionisfaca

Nesse compositor ele ve a aurora de uma nova cultura ale rna que surge da

mais profunda compreensao artistica do mundoS6 Assim como a tragedia

nasce da musica diorusiaca Wagner e0 renascimento do dionisiaco ou meshy

Ihor da tragedia grega na modernidade com sua obra de arte totaL Daf Nietzsche confessar no fragmento p6stumo 9[34J de 1870 Reconheyo na vida grega a unica forma de vida e considero Wagner a tentativa mais sublime do ser alemao na dite~o de seu renascimento

Se 0 nascimento da trap e urn centauro nascido do cruzamento da arte

dacienciae da filosofia- como disse 0 seu autoremcartaa Rohde do final de

janeiro de 1870 - e em uma de suas passagens mais poeticas que se revela de modo mais veemente 0 tom militante em favor do renascimenco do migico pela for=a cdadota do dionisiaco musical Estou pensando na passagem inspishy

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 23: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

246 o nascimento do trigico

rada nas Bacantes de Euripides em que Nietzsche sugere a seus amigos leitores

(para ironia de Wllamowitz-M6llendorff que propoe que ele abandone a Unishy

versidade e sejao primeiro a seguir 0 seu conselho) Coroai-vos de hera tomai o tirso na mao e ruio vos admireis se tigres e panteras se deitarem acariciadoshyres a vossos pes Ousai ser homens tragicos pois serds redimidos Acompashynhareis da India ate a Grecia a procissao festiva de Dioniso Armai-vos para

uma dura peleja mas crede nas maravilhas de vosso deus 87

1 1

bull Notas

Introdu~ao bull Teatro e politica cultural na Alemanha p7-22

L Cf Lacoue-LabarthePoetique de ihistaire p23

2 Haberrnas 0 discurro fiJosofico da modernidade pll 16 26-7 51

3 Cf Nabais Metafoiudoitrdgico plS 21 22

4 Hegel Vorlesungen fiber die Asthetik I in Werke pA8 Cursos de ertetiea yoU p50 Thomas

Mann chama Schiller de primeiro dramaturgo alernao (Esrai sur Schiller plO)

1 5 Schiller 0 reatroconsiderado como instiruiltao moral in Teoria da tragedia pAS Emseu

livro Du sublime (cf p74) Pierre Hartmann sugere a importancia da teoria kantiana do sublime

para a constiruiltao de urn [earrO nacional alemao privilegiando a exemp[o de Schillerj 6 Cf Mann Essai sur Schiller p1S Mas nao se deve esquecer que Schiller rambem aiticotJ 0I

cuLrivo d~ assuntos nacionais pelaarte literaria como se Ie em Sabre 0 patttico sectSO (in Temia

1 datragedia p142)

l 7 Winckelmann Rifluions sur I imitation Gedanken uberdie Nachahmung p102-3 106-7 j 8 Ibid p9S-9

9 Ibid p1l4-5 10 Ibid p142-3

11 Cf ibid p96-7 142-3 146middot7

12 Ibid p120-I

13 Ibid pl24-5

14 Cf Pommier Windelmann inventeurde lhistoire de Iart p187-S

15 Sabre aincerpre~odaimiraltao Como inspiraltiiocfainrroduao de Leon Mis a sua crashy

dwao francesa de Gedanken Riflexions sur I imitation Gedanken ber die Nachahmung p14-20

16 Ibid p94-S I

17 Cf a correspondencia de Goethe e Schiller Parte dessacorrespondencia foi publicada no

Brasil com 0 titulo Goetbee Schiller Compa~eiros de viagem I

18 Cf Goethe Para 0 dia de ShakesPf~re in Escritos sobre literatura p26-8

19 Goethe Shakespeare e 0 sem fim in ibid pSO-7

20 Ibid p27

21 Goethe A Iftgeniade Goethe pIS

22 Ibid p2l

23 Cf ibid p63

24 Ibid p35

25 Cf Euripides Ifiginiaem Tduride Pro[ogo e v533-4

247

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 24: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

248 o nascimento do tragico

26 Cf Rosenfeld Teatro moderno p14-7 27 Goethe A Ifigenia de Goethe p31 43 45

28 Ifigenia ereconhecidacomo uma bela alma na p117 da edi~o citada Para 0 hist6rico da bela alma vale a pena ciear por sua concisao e runplitude 0 Dicionirio Hegel de Michael Inshywood verbere Mente e alma (p223) 0 conceito de bela almaoriginou-se com os misticos esshy

panh6is do seculo XVI (alma bella) aparece depois em Shaftesbury e Richardson como beleza do

cora~o (beauty ofthe heart)e naNwaHeloisa (1761) de Rousseau como la belleame e foi inrrodushy

zido na Alemanha por Wieland como a schOne Seele em 1774 Para Schiller ela representa uma harmonia ideal entre os aspectos marais e esteticos de uma pessoa entre dever e inclina~llo O~shyvro VI de Os anos de aprendiudo de Wilhelm Meister de Goethe consiste nas Confissoes de ~ bela alma

29 Cf a carta de Schiller a Goethe de 26 dez 1797 30 Cf a Carta de Goethe a Schiller de 9 dez 1797

31 Goethe A Ifigeni4 de Goetbep65 83-5105139 e 145 respectivamente 32 Ibid p153

33 lntrodultao a Propileus (1798) in Goerhetiliritos sobre am p94

34 Antigo e moderno in ibid p236

35 Cf a esse respeito Luciks Goethe et son epoque 36 Winckelmann in Herdere Goethe Ie tombeau de Winckelmann p79 87

Capitulo Zero bull Poetica da tragedia e filosofia do tragico p23-49

L Szondi Ensaio sobre 0 trigieo p23-4 Na mesma [inha de raciodnioJacques Taminiaux con

sidera que Schelling faz a primeira leitura deliberadamence especulariva da rragedia grega Ie theatre des philosophes p247

2 Arist6teles Fifica 194 a21-22 e 199 a 16-18

3 Atribuir a Arist6teles a patemidade da ideia segundo a qual a acte no sentido artistico e U01a imira~o da natureza implica uma transferlncia de signif1~o do plano da fisica para 0 da poetica cla arte no sentido de teclme para a arre no senrido de poiesis dizemJacqueline Lichtensshy

tein e Elisabeth Decultot no verbete mimesis do Vocabulaireeuropien des philosophies organizado por Barbara Cassin (p789)

4 Cf Arist6teles Poetica 1448 b 4-23

5 Para se rer uma ideia do problema basta observar que a Bibliografia da Poetica elaboracla

par Cooper e Gudeman ttaz 150 posi~oes a respeito cia catarse do seculo XVI ate 1928 data da publica~ao do livr~ Em seus Discursos sobre a ucilidade e as partes do poema dramatico de 1660 Corneillej~ observavaque em 1613 Paolo Beni pro fessorde Pidua assinalou a existencia de 12 au 15 inrerpreta~6es as quais refutou antes de propor a sua

6 Arist6teles ReMrtca II 51382 a 21middot25 e 8 1385 b 13-16 7 Arisr6teles Poetica 1453 a 3-7

8 Ibid 1453 b 12 f 9 Esta exposiltao se baseia em grande parte na nora sobre a catarse dos traducor s franceses

do livro de Arist6teles Roselyne Dupom-Roc e Jean Latloe Mes010 pensando que or nao cer sido dada par Arist6teles naPotiticA qualquer explicacao da catarse rragica perman ce necessa-

Notas 249

riamente hipocetica os tradutares propoem a sua fundada naPoitiC4 levando em conca Politica e se inspirando em estudos de vmosautores sobre 0 tema Cf Arisroreles Ut potitique p188-93

10 Cf Poitique de Ihiftoire p8S-7

11 Horacio Arte poetica 343-4

12 Corneille e0 inimigo principal de Lessing muito mats do que Racine Na 81 parte da Dmshy

~ de Hamburgv Lessing explica essa escolha Eque dos dois foi Corneille quem inlligiu

maior dano e exerceu influenda mais corrupta nos poetas tragicos franceses Pois Racine transshy

viou apenas pelo exempIo ao passoque Corneille 0 fez pelo exemplo e pelo ensinamento

13 Corneille 0eu1milS comperesp830 14 Cr ibid p822middot3 15 [bid p830 16 Ibid p832

17 Cf ibid p831

18 Lessing euma unanimidadequanto ao reconhecimento de sua importilncia para a culmmiddot

ra alerna Heine na Contribuicento ahistOria da religitio e filosofia na Alemanha dtra que ele e0 maior e

melbor alemao desde Lucero Nietzsehe em 0 nascimento da tragidia 0 chamara de 0 mais honmiddot

rado do~ homens te6ricos Friedrich Schlegel 0 saudara como aquele que produziu uma revolumiddot

~ genU e duravel na critica Schiller como 0 mais claro 0 mais agudo e aquele que pensou sabre a lute com mais liberdade e 0 velho Goethe consideradque ele possula uma culrura ao lado dalqual todos os escritores contemporaneos erarn barbaros

19 C[ Lessing carca de 16 fey 1759 in De teatro e literatura p109 20 Lessing Dramaturgia deHamburgo 81 pane in De teatroeliteratura p89 21 Sobre essa nomenclatura c[ Szondi Teorta do drama burgues p144

22 Heine Contribuifio abistOriada religiao e filosofia na Alemanha p85

23 Sobre a descriltao de Virgt1iocf Eneida II203-17

24 Cf Lessing Laocoonre oUfobreasfronteiras da pintura e da poesia caps IV V VI e XVI No sect46

de 0 mundo como f)ontade e representacento Schopenhauer procura explicar por que Laocoonre nilo grita Depois de se referir as interpreta~oes de Wincketmann Lessing Goerhe Hire e Fernow ele defende - a meu ver inspirado em Lessing mesmo pensando queeste nao resolveu a questiio -a posi~o de que 0 grico que eo essencia1mente som eincompadvel corqos meios de expressao das

artes plasticas

25 Szondi Teoria do drama bUFpis p157

26 Cf Lessing Dramaturgia de Hamburgo 46 parte in De teatro eliteratura p44-6

27 Lukacs observa que IU[3ndo em nome de Shakespeare contra a idealizaltao abstraca do

drama no classicismo frances Lessing argumenta que as exigencias reais da poesia antiga e cla

poetica de Arist6teles sao satisfeiras em seu espirito em Shakespeare (como em S6focles) enshyquanto a mane ira literal como elassio rea1izadas nos clasicos franceses s6leva a uma caricatura abstrata (Cf Lukics Goetheetsoaepoque pB1 144)

28 Lessing Dramaturgiade Hamburgo 77 partt in De teatro e literatum p66 29 Ibid 74 parte in Deteatmeliteratura p52 53 Refletindo sobre Ricardo lII Lessing define

o rerror como 0 estarrecimenro diantemiddotcle-wmes inconceb[veis 0 horror em face de monstruosishy

clades que ultrapassam nossacompreensao 0 arrepio de pavor que nos acomete ao percebermos

atrocidades deliberadas que sao perperradas por prazer Ibid p50

30 Ibid 75 parte in De teatroe literatura p55

31 Ibid p56 e ibid 76 parte p60 respectivamente

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

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Page 25: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

1 250 o nascimento do tnigico

32 Ibid 76 parte in Deteatra e literatura p60

33 Sobre 0 assunto cf ibid 76 parte in De teatro e litenUwa p62-4

34 Ibid 75 parte in Deteatro e literatura pS7

35 Cr sobre 0 assuntoibid 77 e 78 partes in De teatrrJeliteratura p69 e p71-3 36 Ibid 77 parte inDereiUTO e literatura p69

37 Ibid 78 parte in Deteatro e literatura p74-5

38 Cf Most Da tragedia ao tragico in Rosenfield Fit)scji4 eliteratura 0 trdgico p32

39 Cr Platao 0 sojistaZ35c

40 Platao Timeu 28a

41 Plarao A repubampa X 600e-601c 60Sb 607a respectivameme Cf sobre 0 assunro

593a-60Sb 42 Taminiaux formulasua hipetese ace rca das visoes til0s6ficas de Platao e Arist6teles sobre

a tragedia servindo-se de ideias de Hannah Arendt A esse respeito consuItar 0 CapIII UOkis_

tOte au bios politikos et iiladJreoria rragique de seu livro 1A filIede Thrace et Ie penseur professioanel

43 Cr Platao As leis VlJ817a

44 Platao Republica X603c

45 Cf Lacoue-Labarthe -La cesure du speculatif e LAntagonisme in LImitfon desmodermiddot

nes pA7 49-51 120 A conferencia La cesure du speculatif esea traduzidana cole1anea brasileishy

ra A imitaf-W MS modernos que apesar do titulo igual nao contem os mesmos textos de l Imitation

des modernes

46 Szondi Ensaia sobreOlTrigco p26 47 Lacoue-Labarthe uLacesure du speculatif in LImiuticn des modernes p3940 43 48 Cf Courcine Extasedela nJison plO 45-6 A esse respeito ele cieao seminario dedicado a

Hegel e it Differenzschrift em que Heidegger diz Essa proximidade [enere Holderlin e Hegel) no

entaneo eproblematica Poisdesde essaepoca [1798-1800Jeapesardetodas as aparenciasdedishy

aletica que os Ensaios possam apresemar 0 poeta ja atravessou e se ~astou do idealismo espeshy

culativo enquanto Hegel oestaconstiruindo (p46) Varios textos desse livre estao traduzidos

na coletanea bra~ilcira de renos de Courtine A tragedia e 0 tempo d4 hist6ria

49 Lacoue-Labarthe Holdrlin et les Grecs in LImitaJion des modernes p 7 4-5

50 Philonenko introd~o a Delbos De Kant aux postkantiens p96-7

Capitulo Um bull Schiller e a representafao da liberdade p50-79

I cr sobre 0 assumo porexemploas cartas de Schillerde4abr de 19 abre de 26 dez 1797

2 Esse comentario integra a coletanea de textos de Goethe Escritos sabre literatura

3 Cpound carta de Schiller a Goethe de 5 mai 1797

4 Na Introdultao it sua Estitica Hegel cita a Poitica de Arist6reles ao lade da Ars poetica de Horacio e do Sobre a sublime de Longino como exerrtplo de ciencia cia arte que se ocupa apenas de seus aspectos exteriores parrindo do empirico - do particular e do exisrente e fonnando criterios e enunciados gemis ou numa generalizacao ainda mais formal as teorias das anes

(Voriesungen iiher die Asthetik I in Werke p30-1 Cursas de estitica I p39)

5 Poetica 1451 a-b

6 Eckermann Conversacentescom Goethe 14 nov 1823

Notas 251

7 Cf a Introdultao de Anatol Rosenfeld it cole tinea de textOS de Schiller Teo1i4 d4 tragfdio p9

8 Cf Hegel Voriesullgen jjber die Astbetik J in Werke pS9-91 Cursos de estetica I p7S-S0

9 Cr Sobre 0 sublime sect18 in Teona do trdgico p60 Thxtos sabre 0 bela 0 sublime e 0 trdgico p225 AMm de dar a referenciadacoletanea brasileira de texeos de Schiller publicada pela EPU

darei tambem a referencia da coletanea portuguesa lan~ada pela Imprensa Nacional- e alias

mais completa Indico os paragrafos seguindo uma sugestao da traducao portuguesa

10 Cf Sobre 0 patetico sect11-22 in Teoria do trdgico p119-24Textos sobreo bela pl69-73

II Cf Tragedie et sublimite in Dusublime p223 225226middot7

12 Schiller Sobre 0 patetico sect1 in Teoria da tragedia pll Textos sobre a belobull p165

13 1A philosophie critique de Kant p4l

14 Sobre 0 paretieo sect17 in Teoria da tragedia p121 Textos sabre a bela p169-70 15 Esse eurn tema recOlTentede Sobre 0 paretico comose pode ver pelos sect 1 2 3 81516

1721 dO

16 Gaia ciiincia sect335

17 Cf Sobre 0 sublime sectlO in Teoria da tragidia p54 Textos sobre 0 belo p222

18 Cf Criticadafaculdadedojuho sect27 p102

19 Ibid sect24 p93

20 Ibid sect23 p91

21 Cr ibid sect27 pl05 No sublime analisado matematicamente trata-se da razio no uso te6rico no sublime analisado dinamicamente trata-se da razao no Seu uso pnicico

22 Ibid p100 e 101

23 A Observacento geral identifica promocao e inibiltao das forltas vitais a bem-estar e

mal-estar

24 Cf ibid sect23 p90

25 Ibid sect26 p98

26 Ibid p106

27 Sobre 0 sublime sect3

28 Cf Sobre 0 sublime sect16 in Teona da tragedia p58-9 Textes sabre 0 belo p224

29 Schiller Teana da trag6dia p55 Textos sabre 0 bela p222

30 Formulo deste modo a posiltio do tnigico em Schiller pensando nas palavras de Ernest Hemingway em seu livroO vefhoe 0 mar 0 homem podeserdesrruido mas nao derrotado

31 Do sublime sect40middot3 Esse texto redigido provavelmenre a partir dos cursos na Universishy

dade delena no semestre deinverno de 1792-93 e nao publicado por Schiller nao se encontra na

coletanea Teona da tragidia mas foi induido ern Textos sabre 0 hew degsublime e 0 trdgico

32 Sobre a interpre~aoschillerianadc Laocoonte cf Sobreo patetico sect22-31 in Teoriada

tragedia p125-31 Textossobreo bela pln-s

33 Cf Do sublime sect21 in Textos sabre 0 belo 0 sublimeeotragico p147

34 Kant Observtifoes sabre 0 helo eo sublime (in Werke II p834 Oeuvres philosophiques I pA60) e

Criticada faculdade da juizo p114

35 Do sublime sect28 in Textas sabre 0 bela p149

36 Estabelecendo como principio a da raziio pranca no sentido kantiano Schiller

depreciava a tragedia grega e nao escondia sua predileltiio cxcmplos de heroismo moral

propostos por CorneiHe Taminiaul( Le theatre des philasophes p279

70 o nasdmento do tragico

GUEROULT MarciaL Schopenhauer et Hehte Paris Les Belles Lettres 1946 GRANAROLO Philippe Le maitre gue permit aNietzsche de devenir ce guil ecaic in

Jean Lefranc(org) Schopenhauer ParisLHerne 1997 HAAR MicheL La critigue nietzscheenne de Schopenhauer in Jean Lefranc (org)

Schopenhauer Paris LHerne 1997 HENRY Anne Schopenhauer et La creation littiraire en ___ Proust lecreur de Schopenhauer in lean Lefranc

LHerne 1997 HDBSCHER Arthur Denker gegen den Strom Schopenhauer Gestern-Heute-Morgen Bonn

Bouvier 1973 JACQUETIE Dale (org) Schopenhauer Philosophy and the Arts Cambridge Cambridge

University Press 1996 JAMBET Christian LExperience de la terreur in Roger-Pol Droit (org) Presences de

Schopenhauer Paris Grasset 1989

]ANAWAY Christopher Self and World in Scbopenbauers Philosophy Oxford Oxford Unishyversity Press 1989 I

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sehopenhauer A Very ShortIntroduction Oxford Oxford University Press 2002

Paris Klincksiec14

____ Schopenhauer Sao Paulo Loyola 2003

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Bibliografia 291

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rPlIi ~ f

272 0 nascimento do tragico

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imagine della Grecia Rivista di Iitterature Modernee Comparate vol XLVII fasc 1shyjan-mar 1994

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Bibliogndia 273

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274 o nasdmento do tragico

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1992

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etzsche Stuctgart Metzler 1995

Obras complementares

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ras1993

Page 26: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

70 o nasdmento do tragico

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272 0 nascimento do tragico

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siologie der Kunst als Version dyonisischen Philosophierens Nietzsche Studien 131984

LOVE Frederick Nietzsches quest for a new aesthetic ofmusic Nietzsche Studien 6 1977

LOWITH Karl Von Hegel V NletZSche Stuttgart S Fischer 1969 MCGINTY Park Interpretation and Dionysos Method in the Study ojthe God Haia Parisi

Nova York sn 1978

MACEDO Iracema Nietzsche Bayreuth e a epoca tragica dos gregos Kriterion 2005

___ Nietzsche Wagnere aepoca tragjca dos gregos Sao Paulo Annablume 2006 MACHADO Roberto Nietzsche e a verdade Rio de Janeiro Graal 1999

Zaratustra tragedia nietzschiana Rio de J anei ro Jorge Zahar 1997 ___ Nietzsche Holderlin e 0 tragico moderno in Evando Nascimento e Maria

Clara Castelloes de Oliveira (orgs) Literatura e filosofia diJIogos Juiz de Fora UFJF 2004

___ Nietzsche e 0 renascimento do migico Kriterion 112 jul-dez 2005

___ (org) Nietzsche eapoIemica sobre 0 nascimento da tragedia Rio deJaneiro]orge Zahar2005 shy

MARTIN Nicolas Nietzsche and Schiller Untimely Aesthetics Oxford pxford University 1Press 1996 I

MAY Keith Nietzsche and the Spirit ofTr1gedy Nova York Saint-Martin 1990 MOLLER-LAUTER Wolfgang Nietzsche Seine Philosophie tier Gegensiitze und die Ge)ensat(e

seiner Philosophie BerlimNova York Walter de Gruyter 1971 NABAlS Nuno Metaftsicadotrdgico Lisboa ReL6gio DAgua 1997 NIETZSCHE Friedrich samtliche Werke ediltao critica organizada por G Colli e M

Montinari BerlimNova York Walter de Gruyter 1967-1977 ed fro Paris Gallishymard1977

_ _ Samtliche Brieje BedimNova York Walter de Gruyter 1975 Correspondance Paris Gallimard 1986 0 nascimento datmgtdia Siio Paulo Companhiadas Letras 1993 Introduction awe efons sur LOedipe-Roi de Sophocle Introduction aux etudes de~p ilologie classique Paris Encre Marine 1994

___ Cinco prefados para cinco livros nao escritos Rio deJaneiro 7Letras 1996

274 o nasdmento do tragico

___ Introdu~4o a tragedia de Sofoeles Rio de JaneiroJorge Zahar 2006 PIPPIN Robert Nietzsche and the origin of the ideas of modernism Inquiry 22

1983 REIBNITZ Barbara von EinKommentar zu Fiedrich Nietzsche Die Geburtder Tragooie aus

dem Geist-der Musik Stuttgart Metzler 1992 REUBER Rudolf Aesthetische Lebensformen bei Nietzsche Munkjue Wilhelm Fink 1989 RODRIGUES Luzia Gontijo Nietvche e os gregos Sao Paulo Annablume 1998 RUPP G Rhetorische Strukturen und kommunikative Determinanz Studien sur Textkonstitutishy

on des philosophisch Dirkurses im Werk F Nietzsches Bema-Frankfurt Lang 1976 SALUS John Crossing Nietvche and the Space ofTragtJy Chicago The University of

Chicago Press 1991

SCHLOPMANN Heide Friedrich Nietzsches asthetische Opposition Stuttgart sn 1977 I

SCHMIDT Be rcram Der ethische Aspekt der Musik NieIzsches laquoGeburtder Tragoedie)J unddie Wiener KLassische Musik Wiirburg Konigshausen amp Neumann 1991

SCHRIFT Alan D Language metaphor rhethoric Niel7ampches deconstruction ofepisshytemologylournal ofthe History ofPhilosophy 23 n3julI985

SILK MS e JP Stern Nietvche on tragedy Cambridge Cambridge University Press 1981

SLOTERDIJK Peter Thinker on Stage Nietzsches Materialism Minneapolis University of Minnesota Press 1989

SUAREZ Rosana Platao professor aos olhos do professor Nietzsche in Angel de Barshyrenechea e OHmpioJose Pimenta Neto (orgs) Amm falou Nietzsche Rio de Janeiro 7Letras 1999

___ Nota sobre ser e representa~ao em 0 nascimento da tragedia in Charles Feitosa e Miguel Angel de Barrenechea (0rgs) Assimfaiou Nietsche II Rio de janeiro Relume Dumara 2000

_____ Nietzsche e os cursos sobre a ret6rica OquellOsfozpensar 13 Rio de Janeiro set 2000

WITTE Erich Das Problem des Tragischen bei Nietzsche Halle Karmmerer 1904

YOUNG Julian Nietzsches Philosophy oiArt Cambridge Cambridge Universiry Press

1992

ZUCKERMAN Elliot Nieczsche and music The birtboftragedy and Nietzsche contra ner Symposium 28 primavera 1984

Obras gerais

BEISTEGUI Miguel de e Simon Sparks (orgs) Philosopbyand Tragedy LondresNova York Routledge 2000

BOWfE--Andrew Aestetics and Subjectivity from Kant to NretzJche Manchester Manchester University Press 1990

___ Esteticay subjetividad Lafilosofta alemana de Kanta Nietvche y La teona estitica actual Madri Visor 1999

BUTLER EM The Tirany ofGreece over Germany Boston Beacon Press 1958

BiblioJirafia 273

COURTINE Jean-Fran~ois A tragidia e 0 tempo cIa hist6ria Sao Paulo Edi tora 34 2006 FERRY Luc Homo aestheticus Paris Grasset 1990 FIGUEIREDO Virginia Por uma conceplTiio tragica da obra de arre Folhetim 3 jan

1999 HARTMANN Pierre Du sublime Paris PUF 1997 LACOUE-LABARTHE Philippe LImitation des modernes Paris Galilee 1986 ___A imitdfiio dos modemes Ensaios sobre arte e filosofld Sio Paulo Paz e Terra 2000 NANCYJean-Luc (org) Du sublime Paris Belin 1988 NAUEN F Revolution Idealism and Human Freedom Schelling H olderlin and Hegel and the

Crisis ofEarly German Idealism Haia Nijhoff 1973 NOVAUS F et al Fragmentos para una teoria romantica del arte Madri Tecnos 1987 PAETZHOLD H kthetikdesdetschen Idealismus Zur Idee des asthetichen R4tionalitat bei Bamiddot

umgarten Kant Schelling Hegel und Schopenhauer Wiesbaden Franz Steiner 1983 ROSENFELD Anatol Teatro moderno Sao Paulo Perspectiva 1977 $CHAEFFERJean-MarieLAntierage moderne LEsthetiqlleetla philosophie de IartduXVII1

sieck anos jours Paris Gallimard 1992 --- shySPENLE jean-Edouard La pensie allemande de Luther Ii Nietvche Paris A Colin 1955 STAlGER Emil Der Geistdcr Liebe und das Schicksal Schelling Hegel und Holderlin Leipzig

sn 1935 STEINER George Antigonas Lisboa Anttopos 1995 SZONDI Peter Poesie et poitique de lidealisme allemand Paris Minuic 1974

I Ensaio sabre atrali-co Rio de JaneiroJorge Zahar 2004 TAMI~IAUxJacques La nostalgie de La Grece a[aube de idealisme allemand Haia Nijhoff

1967 ___ Le theatre des philosophes Grenoblejerome Millon 1995 TERRAY Emmanuel Unepassion allemande Luther Kant Schiller Hiilderlin Kleist Paris

Seuil 1994 WIESE Benno von Diedeutsche Tragodie von Le5sing his Hebbel Hamburgo Hoffman und

Campe 1955 ZELLE Carsten Die doppelte Astbetik der Maderne Revisionen lie5 SchOnen von Boileau bis Nimiddot

etzsche Stuctgart Metzler 1995

Obras complementares

ARENDT Hannah La condition de lhomme moderne Paris Calmann-Levy 1983 ___ Sobre a humanidade em tempos sombrios Reflexoes sobre Lessing in Hoshy

mens em tempos sombrias Sio Paulo Companhiadas Letras 1987 ARlSTOTELES La Poetique trad e noras Dupont-Roc e Lallot Paris Seuil 1980 ___ Poetica rrad preficio inrrodwao comencirio e apendice de Eudoro dtgt Soushy

sa Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 5 ed AYRAULT Roger La genese du romantisme allemand Paris Aubier 1976 BENJAMIN Walter OconceitoJecritica de arte no romantismoaemao Sio Paulo Iluminushy

ras1993

Page 27: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

rPlIi ~ f

272 0 nascimento do tragico

CAZNOK Yara e Alfredo Naffah New Ouvir Wagner ecos nietzsehianos Sao Paulo Musa 2000

Centre de Recherches Dhistoire des Idees de Nice Nietzsche Holderlin et14 Greece Paris Belles Leccres 1987

CHAVES Ernani Culturae politica 0 jovem Nietzsche eJacob Burckhardt Cadernos NieJ1sche 9 2000

Etica e estetica em Nietzsche crftica cia compaixao como crftica aos efeitos catarticos da arte Cadernos Academicos Ethica vol II n1 e 2 romo 1 2004

DELEUZE Gilles Nietzscheetfaphilosophie Paris PUP 1962

DE MAN Paul Alegorias da leitura Rio de Janeiro Imago 1996

DlAS Rosa Maria Nietzsche ea musica Sao Pauloljui Discurso EditorialEditora Ijui 2005

--- Nietzsche e Schopenhauer uma pdmeira ruptura in Charles Feitosa Mishyguel Angel de Barrenechea e Paulo Pinh~iro (orgs) A fidelidade aterra assim JaWu Nietzsche Iv Rio de Janeiro DPampA 2003

Musica schopenhaueriana na filosofia cia arte de 0 nascimento da dia Revista Tempo Brasikiro 1432000

--_ Nietzsche ea quescao do g~nio in Miguel Angel de Barrenechea e Ol[mpio Jose Pimenra New (orgs) Assim falou Nietzsche Rio de Janeiro 7Letras 1999

A influencia de Schopenhauer na filosofia da arte de Nietzsche Cadernos Nietzsche 3 1997

DIXSAUT Monique Querelleautourde La naissancede latragedie Paris Vrin 1995 FERRAZ Maria Cristina Katharsis e arte no pensamentode Nietzsche in Nove variashy

fOes sobre temas nietzschianos Rio de Janeiro Relume Dumara 2002 FINK Bugen Nietzsches PhiUJsophie Stuttgart Kohlhammer 1960 GEISENHANSLOKE Achim Ie sublime chez Nietsche Paris LHarmattan 2000 GENTILU Carlo Bernays Nierzsche e la nozione di tragico alle origine di una nuova

imagine della Grecia Rivista di Iitterature Modernee Comparate vol XLVII fasc 1shyjan-mar 1994

HAAR Michel NietIJcbe et la metaphysique Paris Gallimard 1993 --_ La critique nietzscheenne de Schopenhauer in Jean Lefranc (org) Schopeshy

nhauer Paris LHerne 1997 HEIDEGGBR Martin Nietzsche I Paris Gallimard 1971 HEFTRlCH Drs Nietzsches Analyse des Mideids in Wagner- Nietzsche - Thomas Mann

Frankfurt Vittorio Klosrernann 1993 HEILKE Thomas Nietzsches Tragic Regime Culture Aesthetics and Political Education Deshy

kalb Northern Illinois University Press 1998

HIGGINS Kathleen Nietzsche on music Journal ofthe History ofIdeas out-dez 1986

]ANZ Cun Paul Friedrich Nietzsches Biographie Munique Carl Hansen 1978 -- Nietzsche Biograpbie Paris GaUimard 1985 JONES Hugh L Nietzsche and the study of the Ancient World inJames OFlaherty

Timothy Sellner e Robert Helm (orgs) Studies in NietJsche and the Classical Traditicn Chapell Hill University ofNorth Carolina Press 1976

KESSLER Mathieu LEstbetique de Nietzsche Paris PDF 1998 KOfMAN Sarah Nietzscbeetlametaphore Paris Payor 1972

Bibliogndia 273

NietIJche et 14 scene pbilosophique Paris Minuit 1018 1979 LACOUE-LABARTHE Philippe Histoire et mimesis e Lantagonisme in L Imitatiun

des modemer Paris Galilee 1986

LAMBERT B Les grandes theories Nietzsche et Ie theme Iittirature 9 Paris 1973 LARGE Duncan Nosso maior mestre Nietzsche Burckhardt e 0 conceito de cultushy

ra Cadernos Nietzsche 9 2000 LAsSERRE Pierre_ Les ideesIkNzetncbe sur la musique la periDde wagnerienne Paris Mercushy

re de France 1097 LEBRUN Gerard Quem era Dioniso Kriterion 1985

LENSON David The Birth ofTragedy A Commentary Boston Twayne 1971 LIEBERT Georges Nietzsche et fa musique Paris PUF 1995 Lypp Bernhard Dionysisch-Apollinisch ein unhaltbarerGegensatz NietzschesPhyshy

siologie der Kunst als Version dyonisischen Philosophierens Nietzsche Studien 131984

LOVE Frederick Nietzsches quest for a new aesthetic ofmusic Nietzsche Studien 6 1977

LOWITH Karl Von Hegel V NletZSche Stuttgart S Fischer 1969 MCGINTY Park Interpretation and Dionysos Method in the Study ojthe God Haia Parisi

Nova York sn 1978

MACEDO Iracema Nietzsche Bayreuth e a epoca tragica dos gregos Kriterion 2005

___ Nietzsche Wagnere aepoca tragjca dos gregos Sao Paulo Annablume 2006 MACHADO Roberto Nietzsche e a verdade Rio de Janeiro Graal 1999

Zaratustra tragedia nietzschiana Rio de J anei ro Jorge Zahar 1997 ___ Nietzsche Holderlin e 0 tragico moderno in Evando Nascimento e Maria

Clara Castelloes de Oliveira (orgs) Literatura e filosofia diJIogos Juiz de Fora UFJF 2004

___ Nietzsche e 0 renascimento do migico Kriterion 112 jul-dez 2005

___ (org) Nietzsche eapoIemica sobre 0 nascimento da tragedia Rio deJaneiro]orge Zahar2005 shy

MARTIN Nicolas Nietzsche and Schiller Untimely Aesthetics Oxford pxford University 1Press 1996 I

MAY Keith Nietzsche and the Spirit ofTr1gedy Nova York Saint-Martin 1990 MOLLER-LAUTER Wolfgang Nietzsche Seine Philosophie tier Gegensiitze und die Ge)ensat(e

seiner Philosophie BerlimNova York Walter de Gruyter 1971 NABAlS Nuno Metaftsicadotrdgico Lisboa ReL6gio DAgua 1997 NIETZSCHE Friedrich samtliche Werke ediltao critica organizada por G Colli e M

Montinari BerlimNova York Walter de Gruyter 1967-1977 ed fro Paris Gallishymard1977

_ _ Samtliche Brieje BedimNova York Walter de Gruyter 1975 Correspondance Paris Gallimard 1986 0 nascimento datmgtdia Siio Paulo Companhiadas Letras 1993 Introduction awe efons sur LOedipe-Roi de Sophocle Introduction aux etudes de~p ilologie classique Paris Encre Marine 1994

___ Cinco prefados para cinco livros nao escritos Rio deJaneiro 7Letras 1996

274 o nasdmento do tragico

___ Introdu~4o a tragedia de Sofoeles Rio de JaneiroJorge Zahar 2006 PIPPIN Robert Nietzsche and the origin of the ideas of modernism Inquiry 22

1983 REIBNITZ Barbara von EinKommentar zu Fiedrich Nietzsche Die Geburtder Tragooie aus

dem Geist-der Musik Stuttgart Metzler 1992 REUBER Rudolf Aesthetische Lebensformen bei Nietzsche Munkjue Wilhelm Fink 1989 RODRIGUES Luzia Gontijo Nietvche e os gregos Sao Paulo Annablume 1998 RUPP G Rhetorische Strukturen und kommunikative Determinanz Studien sur Textkonstitutishy

on des philosophisch Dirkurses im Werk F Nietzsches Bema-Frankfurt Lang 1976 SALUS John Crossing Nietvche and the Space ofTragtJy Chicago The University of

Chicago Press 1991

SCHLOPMANN Heide Friedrich Nietzsches asthetische Opposition Stuttgart sn 1977 I

SCHMIDT Be rcram Der ethische Aspekt der Musik NieIzsches laquoGeburtder Tragoedie)J unddie Wiener KLassische Musik Wiirburg Konigshausen amp Neumann 1991

SCHRIFT Alan D Language metaphor rhethoric Niel7ampches deconstruction ofepisshytemologylournal ofthe History ofPhilosophy 23 n3julI985

SILK MS e JP Stern Nietvche on tragedy Cambridge Cambridge University Press 1981

SLOTERDIJK Peter Thinker on Stage Nietzsches Materialism Minneapolis University of Minnesota Press 1989

SUAREZ Rosana Platao professor aos olhos do professor Nietzsche in Angel de Barshyrenechea e OHmpioJose Pimenta Neto (orgs) Amm falou Nietzsche Rio de Janeiro 7Letras 1999

___ Nota sobre ser e representa~ao em 0 nascimento da tragedia in Charles Feitosa e Miguel Angel de Barrenechea (0rgs) Assimfaiou Nietsche II Rio de janeiro Relume Dumara 2000

_____ Nietzsche e os cursos sobre a ret6rica OquellOsfozpensar 13 Rio de Janeiro set 2000

WITTE Erich Das Problem des Tragischen bei Nietzsche Halle Karmmerer 1904

YOUNG Julian Nietzsches Philosophy oiArt Cambridge Cambridge Universiry Press

1992

ZUCKERMAN Elliot Nieczsche and music The birtboftragedy and Nietzsche contra ner Symposium 28 primavera 1984

Obras gerais

BEISTEGUI Miguel de e Simon Sparks (orgs) Philosopbyand Tragedy LondresNova York Routledge 2000

BOWfE--Andrew Aestetics and Subjectivity from Kant to NretzJche Manchester Manchester University Press 1990

___ Esteticay subjetividad Lafilosofta alemana de Kanta Nietvche y La teona estitica actual Madri Visor 1999

BUTLER EM The Tirany ofGreece over Germany Boston Beacon Press 1958

BiblioJirafia 273

COURTINE Jean-Fran~ois A tragidia e 0 tempo cIa hist6ria Sao Paulo Edi tora 34 2006 FERRY Luc Homo aestheticus Paris Grasset 1990 FIGUEIREDO Virginia Por uma conceplTiio tragica da obra de arre Folhetim 3 jan

1999 HARTMANN Pierre Du sublime Paris PUF 1997 LACOUE-LABARTHE Philippe LImitation des modernes Paris Galilee 1986 ___A imitdfiio dos modemes Ensaios sobre arte e filosofld Sio Paulo Paz e Terra 2000 NANCYJean-Luc (org) Du sublime Paris Belin 1988 NAUEN F Revolution Idealism and Human Freedom Schelling H olderlin and Hegel and the

Crisis ofEarly German Idealism Haia Nijhoff 1973 NOVAUS F et al Fragmentos para una teoria romantica del arte Madri Tecnos 1987 PAETZHOLD H kthetikdesdetschen Idealismus Zur Idee des asthetichen R4tionalitat bei Bamiddot

umgarten Kant Schelling Hegel und Schopenhauer Wiesbaden Franz Steiner 1983 ROSENFELD Anatol Teatro moderno Sao Paulo Perspectiva 1977 $CHAEFFERJean-MarieLAntierage moderne LEsthetiqlleetla philosophie de IartduXVII1

sieck anos jours Paris Gallimard 1992 --- shySPENLE jean-Edouard La pensie allemande de Luther Ii Nietvche Paris A Colin 1955 STAlGER Emil Der Geistdcr Liebe und das Schicksal Schelling Hegel und Holderlin Leipzig

sn 1935 STEINER George Antigonas Lisboa Anttopos 1995 SZONDI Peter Poesie et poitique de lidealisme allemand Paris Minuic 1974

I Ensaio sabre atrali-co Rio de JaneiroJorge Zahar 2004 TAMI~IAUxJacques La nostalgie de La Grece a[aube de idealisme allemand Haia Nijhoff

1967 ___ Le theatre des philosophes Grenoblejerome Millon 1995 TERRAY Emmanuel Unepassion allemande Luther Kant Schiller Hiilderlin Kleist Paris

Seuil 1994 WIESE Benno von Diedeutsche Tragodie von Le5sing his Hebbel Hamburgo Hoffman und

Campe 1955 ZELLE Carsten Die doppelte Astbetik der Maderne Revisionen lie5 SchOnen von Boileau bis Nimiddot

etzsche Stuctgart Metzler 1995

Obras complementares

ARENDT Hannah La condition de lhomme moderne Paris Calmann-Levy 1983 ___ Sobre a humanidade em tempos sombrios Reflexoes sobre Lessing in Hoshy

mens em tempos sombrias Sio Paulo Companhiadas Letras 1987 ARlSTOTELES La Poetique trad e noras Dupont-Roc e Lallot Paris Seuil 1980 ___ Poetica rrad preficio inrrodwao comencirio e apendice de Eudoro dtgt Soushy

sa Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 5 ed AYRAULT Roger La genese du romantisme allemand Paris Aubier 1976 BENJAMIN Walter OconceitoJecritica de arte no romantismoaemao Sio Paulo Iluminushy

ras1993

Page 28: nietzche e a represenatação do dionisíaco_Roberto Machado

274 o nasdmento do tragico

___ Introdu~4o a tragedia de Sofoeles Rio de JaneiroJorge Zahar 2006 PIPPIN Robert Nietzsche and the origin of the ideas of modernism Inquiry 22

1983 REIBNITZ Barbara von EinKommentar zu Fiedrich Nietzsche Die Geburtder Tragooie aus

dem Geist-der Musik Stuttgart Metzler 1992 REUBER Rudolf Aesthetische Lebensformen bei Nietzsche Munkjue Wilhelm Fink 1989 RODRIGUES Luzia Gontijo Nietvche e os gregos Sao Paulo Annablume 1998 RUPP G Rhetorische Strukturen und kommunikative Determinanz Studien sur Textkonstitutishy

on des philosophisch Dirkurses im Werk F Nietzsches Bema-Frankfurt Lang 1976 SALUS John Crossing Nietvche and the Space ofTragtJy Chicago The University of

Chicago Press 1991

SCHLOPMANN Heide Friedrich Nietzsches asthetische Opposition Stuttgart sn 1977 I

SCHMIDT Be rcram Der ethische Aspekt der Musik NieIzsches laquoGeburtder Tragoedie)J unddie Wiener KLassische Musik Wiirburg Konigshausen amp Neumann 1991

SCHRIFT Alan D Language metaphor rhethoric Niel7ampches deconstruction ofepisshytemologylournal ofthe History ofPhilosophy 23 n3julI985

SILK MS e JP Stern Nietvche on tragedy Cambridge Cambridge University Press 1981

SLOTERDIJK Peter Thinker on Stage Nietzsches Materialism Minneapolis University of Minnesota Press 1989

SUAREZ Rosana Platao professor aos olhos do professor Nietzsche in Angel de Barshyrenechea e OHmpioJose Pimenta Neto (orgs) Amm falou Nietzsche Rio de Janeiro 7Letras 1999

___ Nota sobre ser e representa~ao em 0 nascimento da tragedia in Charles Feitosa e Miguel Angel de Barrenechea (0rgs) Assimfaiou Nietsche II Rio de janeiro Relume Dumara 2000

_____ Nietzsche e os cursos sobre a ret6rica OquellOsfozpensar 13 Rio de Janeiro set 2000

WITTE Erich Das Problem des Tragischen bei Nietzsche Halle Karmmerer 1904

YOUNG Julian Nietzsches Philosophy oiArt Cambridge Cambridge Universiry Press

1992

ZUCKERMAN Elliot Nieczsche and music The birtboftragedy and Nietzsche contra ner Symposium 28 primavera 1984

Obras gerais

BEISTEGUI Miguel de e Simon Sparks (orgs) Philosopbyand Tragedy LondresNova York Routledge 2000

BOWfE--Andrew Aestetics and Subjectivity from Kant to NretzJche Manchester Manchester University Press 1990

___ Esteticay subjetividad Lafilosofta alemana de Kanta Nietvche y La teona estitica actual Madri Visor 1999

BUTLER EM The Tirany ofGreece over Germany Boston Beacon Press 1958

BiblioJirafia 273

COURTINE Jean-Fran~ois A tragidia e 0 tempo cIa hist6ria Sao Paulo Edi tora 34 2006 FERRY Luc Homo aestheticus Paris Grasset 1990 FIGUEIREDO Virginia Por uma conceplTiio tragica da obra de arre Folhetim 3 jan

1999 HARTMANN Pierre Du sublime Paris PUF 1997 LACOUE-LABARTHE Philippe LImitation des modernes Paris Galilee 1986 ___A imitdfiio dos modemes Ensaios sobre arte e filosofld Sio Paulo Paz e Terra 2000 NANCYJean-Luc (org) Du sublime Paris Belin 1988 NAUEN F Revolution Idealism and Human Freedom Schelling H olderlin and Hegel and the

Crisis ofEarly German Idealism Haia Nijhoff 1973 NOVAUS F et al Fragmentos para una teoria romantica del arte Madri Tecnos 1987 PAETZHOLD H kthetikdesdetschen Idealismus Zur Idee des asthetichen R4tionalitat bei Bamiddot

umgarten Kant Schelling Hegel und Schopenhauer Wiesbaden Franz Steiner 1983 ROSENFELD Anatol Teatro moderno Sao Paulo Perspectiva 1977 $CHAEFFERJean-MarieLAntierage moderne LEsthetiqlleetla philosophie de IartduXVII1

sieck anos jours Paris Gallimard 1992 --- shySPENLE jean-Edouard La pensie allemande de Luther Ii Nietvche Paris A Colin 1955 STAlGER Emil Der Geistdcr Liebe und das Schicksal Schelling Hegel und Holderlin Leipzig

sn 1935 STEINER George Antigonas Lisboa Anttopos 1995 SZONDI Peter Poesie et poitique de lidealisme allemand Paris Minuic 1974

I Ensaio sabre atrali-co Rio de JaneiroJorge Zahar 2004 TAMI~IAUxJacques La nostalgie de La Grece a[aube de idealisme allemand Haia Nijhoff

1967 ___ Le theatre des philosophes Grenoblejerome Millon 1995 TERRAY Emmanuel Unepassion allemande Luther Kant Schiller Hiilderlin Kleist Paris

Seuil 1994 WIESE Benno von Diedeutsche Tragodie von Le5sing his Hebbel Hamburgo Hoffman und

Campe 1955 ZELLE Carsten Die doppelte Astbetik der Maderne Revisionen lie5 SchOnen von Boileau bis Nimiddot

etzsche Stuctgart Metzler 1995

Obras complementares

ARENDT Hannah La condition de lhomme moderne Paris Calmann-Levy 1983 ___ Sobre a humanidade em tempos sombrios Reflexoes sobre Lessing in Hoshy

mens em tempos sombrias Sio Paulo Companhiadas Letras 1987 ARlSTOTELES La Poetique trad e noras Dupont-Roc e Lallot Paris Seuil 1980 ___ Poetica rrad preficio inrrodwao comencirio e apendice de Eudoro dtgt Soushy

sa Lisboa Imprensa NacionalCasa da Moeda 1998 5 ed AYRAULT Roger La genese du romantisme allemand Paris Aubier 1976 BENJAMIN Walter OconceitoJecritica de arte no romantismoaemao Sio Paulo Iluminushy

ras1993