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22 22DEZEMBRO2011 scut SOCIEDADE MARCO ROQUE AS ROAD TRIPS, isto é, as longas viagens de carro em que um grupo de amigos atravessa um país de um lado ao outro são um elemento central em muitos filmes da América do Nor- te, sendo uma tradição dos Estados Unidos. No entanto, não existem motivos para deixar de fazer a experiência em Portugal. Com a introdução de pórticos de pagamen- to eletrónico na A25, a autoestrada que liga Aveiro (na costa) até Vilar Formoso (na fron- teira com Espanha), a partiu à descoberta de alternativas para fazer a viagem sem pagar portagem. Assim, "pedimos" ao GoogleMaps para nos traçar um percurso de um lado ao outro do país, tentando evitar a concessão da Beira Alta e Beira Litoral. CONTUDO, a primeira sugestão do progra- ma passou pela A25, numa viagem a rondar uma hora e 50 minutos. Depois de refinar a busca, surgem três alternativas: a N17 , a N16 e a N230, todas com mais de quatro horas. O trajeto escolhido acabou por ser a N17 , via Celorico da Beira. Apesar de ser o trajeto mais longo, acaba por ser o mais confortável, evi- tando as zonas mais montanhosas. Para além disso, os repórteres da fizeram PERCORRER 530 KM D VOLTA, ENTRE A COST A PARTIU À DESCOBERTA DE UMA DAS ALTERNATIVAS PARA EVITAR AS PORTAGENS NA A25. POR ENTRE CURVAS E CONTRACURVAS, A QUALIDADE DA ESTRADA ESPANTOU. MAS O TEMPO PARECE NÃO COMPENSAR O DESVIO 13 pórticos - A25 Entre o nó do IC2, junto ao IP5, em Albergaria e o Alto do Leomil (EN 332) existem 13 pórticos na A25, abrangendo 172,6 km. PENACOVA IP5 ALBERGARIA - NÓ DO IC2 €0,70 CARVOEIRO - TALHADAS €1,60 REIGOSO - CAMBARINHO €1,05 VOUZELA NASCENTE - VENTOSA €1,20 BOA ALDEIA NASCENTE - FAIL €0,95 EN232 - EN2 €0,90 CAÇADOR - FAGILDE €0,65 MA A25 ROTA USADA PELA AVEIRO 15,65 euros - classe 1 valor pago por percorrer a Concessão da Beira Alta e Beira Litoral de uma ponta à outra.

Novas portagens nas estradas portuguesas

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Reportagem sobre o impacto das portagens nas antigas SCUT.

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22 22DEZEMBRO 2011

scut

sociedade

MARCO ROQUE

AS ROAD TRIPS, isto é, as longas viagens de carro em que um grupo de amigos atravessa um país de um lado ao outro são um elemento central em muitos filmes da América do Nor-te, sendo uma tradição dos Estados Unidos. No entanto, não existem motivos para deixar de fazer a experiência em Portugal.Com a introdução de pórticos de pagamen-to eletrónico na A25, a autoestrada que liga Aveiro (na costa) até Vilar Formoso (na fron-teira com Espanha), a partiu à descoberta de alternativas para fazer a viagem sem pagar portagem.

Assim, "pedimos" ao GoogleMaps para nos traçar um percurso de um lado ao outro do país, tentando evitar a concessão da Beira Alta e Beira Litoral.

CONTUDO, a primeira sugestão do progra-ma passou pela A25, numa viagem a rondar uma hora e 50 minutos. Depois de refinar a busca, surgem três alternativas: a N17, a N16 e a N230, todas com mais de quatro horas. O trajeto escolhido acabou por ser a N17, via Celorico da Beira. Apesar de ser o trajeto mais longo, acaba por ser o mais confortável, evi-tando as zonas mais montanhosas. Para além disso, os repórteres da fizeram

PERCORRER 530 KM DE ESTRADA, IDA E VOLTA, ENTRE A COSTA E A FRONTEIRA

A PARTIU À DESCOBERTA DE UMA DAS ALTERNATIVAS PARA EVITAR AS PORTAGENS NA A25. POR ENTRE CURVAS E CONTRACURVAS, A QUALIDADE DA ESTRADA ESPANTOU. MAS O TEMPO PARECE NÃO COMPENSAR O DESVIO

13pórticos - A25Entre o nó do IC2, junto ao IP5, em Albergaria e o Alto do Leomil (EN 332) existem 13 pórticos na A25, abrangendo 172,6 km.

PENACOVA

IP5 ALBERGARIA - NÓ DO IC2€0,70

CARVOEIRO - TALHADAS€1,60

REIGOSO - CAMBARINHO€1,05

VOUZELA NASCENTE - VENTOSA€1,20

BOA ALDEIA NASCENTE - FAIL€0,95

EN232 - EN2€0,90

CAÇADOR - FAGILDE€0,65

MANGUALDE - CHÃS DE TAVARES€1,45

A25

ROTA USADA PELA

AVEIRO

15,65euros - classe 1valor pago por percorrer a Concessão da Beira Alta e Beira Litoral de uma ponta à outra.

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PERCORRER 530 KM DE ESTRADA, IDA E VOLTA, ENTRE A COSTA E A FRONTEIRA

À ESQUER-DA: optar pela nacional com tempo chu-voso acres-centa mais um problema, para além das curvas. No entanto é a via mais cénica.

À DIREITA: Ana Maria reabriu o seu quiosque (em cima), con-fiante de que as portagens nas SCUT vão aumentar o trânsito na N16.

CELORICODA BEIRA

GUARDACAÇADOR - FAGILDE

€0,65

MANGUALDE - CHÃS DE TAVARES€1,45

FORNOS DE ALGODRES - EN330 (CELORICO)

€1,85

EN17 (CELORICO) - RATOEIRA POENTE€0,55

DOURO INTERIOR (IP2/IP5) - GUARDA€1,55

GUARDA PINHEL - PÍNZIO€1,45

ALTO DO LEOMIL - EN332€1,75

VILAR FORMOSO

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um desvio. Ao invés de partir de Aveiro, saiu--se de Coimbra em direção a Penacova, ponto onde o trajeto iria convergir. Assim se poupou mais de uma hora de viagem.

A PRIMEIRA parte da aventura começa logo na tentativa de sair de Coimbra. Pelas 09H35, a parte de Taveiro e só consegue entrar no IP3 às 10H00. Para além do habitual trânsito da manhã, uma operação da polícia numa das rotundas mais movimentadas da cidade não ajudou nada ao fluir do trânsito.

Dez minutos depois, sempre com a chuva a bater nos vidros do carro, entramos no IC6. Na estrada veem-se camiões e pouco mais, em particular na direção seguida. Os pou-cos carros que passam aproveitam a estrada deserta para circular acima dos 120km/h. Passando para a N17, na direção da Guarda, a beira da estrada começa a ser dominada por

uma vegetação mais densa, de pinhal. O trânsito diminui de velocidade e as ultra-passagens ficam mais difíceis. Por exemplo, os repórteres veem-se obrigados a circular abaixo dos 50 km/h durante vários minutos, atrás de um Opel Corsa 1.2, quase com idade para ser uma relíquia de museu.

PELAS 10H45, perto de Oliveira do Hospital, mais uma paragem que seria impossível numa autoestrada. Os semáforos começam a apa-recer e, quase sempre, em tons de vermelho. Depois da saída para Seia, passa-se Santiago e Paranhos da Beira, optando-se, mais à frente, por seguir na direção de Gouveia. Ao lado da estrada, o terreno húmido parece ser mais propício à procura de míscaros do que para companheiro de viagens de longo curso. Às 11H15, passa-se Gouveia e as estradas conti-nuam vazias, embora as suas condições sejam bastante boas. A paisagem vai mudando e o aspeto de serra é cada vez mais dominan-te. Linhares da Beira fica para trás, após as 11H26, e entramos em Celorico pouco antes das 11H40.Até agora, o caminho seguido dificilmente pode ser considerado uma alternativa viável à A25. A rota seguida fica bastante a Sul da autoestrada e é muito mais morosa. Aliás, pela autoestrada, a equipa da já estaria em Vilar Formoso por esta hora.

Já tenho este quiosque há 35 anos", revela Ana Maria, a proprietária, revelando que "o fechei depois de o IP5 abrir, e reabri agora a contar" com a introdução das portagens

ENQUANTO os veícu-los pesados parecem continuar a optar pela autoestrada, os ligeiros são os mais vistos na nacional.

APESAR DO sinal prometedor, o café ao lado da estrada estava fechado.

No entanto, a partir de Celorico, a alternativa passa a ser paralela à A25. Talvez a partir desta zona se comecem a ver camiões ou, pelo me-nos, mais trânsito.No entanto, para se conseguir encontrar a alternativa, é preciso ser persistente. Embora existam várias placas que encaminham para a A25, é complicado encontrar a rota certa através da nacional. Felizmente, o dono de um quiosque rapidamente nos encaminha para a Guarda, pelo caminho sem portagem.Embora com alguns troços de menor qualida-de, a estrada continua sem veículos pesados. Aliás, o único camião que se encontra surge a sair… da A25.

APESAR DISSO, antes de se chegar à Guar-da, surge um sinal de que algo mudou com a introdução de portagens na antiga SCUT. À beira da estrada, está um quiosque que vende de tudo um pouco a quem passa. "Já tenho este quiosque há 35 anos", revela Ana Maria, a proprietária, revelando que "o fechei depois de o IP5 abrir, e reabri agora a contar" com a introdução das portagens. Agora, "existe mui-to mais movimento", garante. Por isso tem em exposição o queijo da Serra e o chouriço, entre muitas outras coisas, pois "com mais movimento, mais pessoas podem parar".Até porque "temos de ter sempre esperança", em particular neste "lado muito bonito do

Portagens avançaram apesar da contestação

NO INÍCIO DO mês, a Comissão de Uten-tes Contra as Portagens na A25, A24 e A23 organizou uma marcha lenta que foi mais um sinal do desagrado dos utilizado-res das antigas estradas SCUT (Sem Cus-tos para o Utilizador). "Não vamos parar. Esta marcha lenta será uma das iniciati-vas, mas não a última", referiu Francisco Almeida, porta-voz da comissão, acres-centando que "o Presidente da República fez mal ao promulgar o diploma". Apesar das medidas de contestação, as portagens na A25 entraram em vigor no dia 8 de dezembro. No total, o percurso

passou de zero para 15,65 (classe 1), 27,20 (classe 2), 34,90 (classe 3) e 39,00 euros (classe 4). Os medos dos utentes vão para além dos custos da autoestrada. Com o au-mento de trânsito, "vai começar a haver outra vez mortes [nas estradas nacionais alternativas à autoestrada]", vaticinou Orlando Cruz, presidente da Asso-ciação dos Motoristas Internacionais e Nacionais de Pesados.

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Mondego. Antes de partir, tempo para uma fofoca. "Já ouvi dizer que as empresas proí-bem os funcionários de ir pela A25", revela-se.

DEIXADO PARA trás o quiosque de Ana Ma-ria, passando por dois edifícios similares, mas fechados. E a estrada segue, através de curva e contracurva. Pelas 12H37, entra-se na Guar-da. Mais uma vez, descobrir a alternativa à A25 não é fácil, só se segue pela N16 pelas 12H53. Esta estrada corre em paralelo à A25 e, portanto, permite ver a diferença entre o trânsito de um lado e outro. Camiões na au-toestrada, veículos ligeiros na nacional, este parece ser o equilíbrio encontrado. Depois de cerca de meia hora, a equipa da pára num café de beira da estrada para desco-brir se o negócio melhorou com as portagens. No entanto, apesar do cartaz a anunciar em grandes letras "Já Abriu", o estabelecimento estava fechado.Às 13H28 passa-se Castelo Mendo e, embora a via fique mais cénica, a estrada piora. Por en-tre curva e contracurva, no meio dos montes, entra-se em Vilar Formoso às 13H48. Mesmo

saindo de Coimbra, a viagem ficou em mais de quatro horas. Uma eternidade por compara-ção com as menos de duas horas prometidas pela A25, desde Aveiro.

O INVERSO. Para comparar os percursos sem ser por via eletrónica, a equipa da optou por voltar a casa pela A25. Se pelas 14H50 Vilar Formoso já estava no retrovisor, às 15H13, já se passava pela Guarda. Com a estrada a perder de vista, o facto é que a paisagem é muito menos variada do que pela nacional. Continua a haver pouco trânsito, mas já somos acompanhados por camiões. Para além disso, a estrada mantém algumas das curvas e contracurvas comuns na nacio-nal, bem como algumas inclinações dignas de registo. Entre lençóis de água, descidas e subidas e os sprays de água enviados pelos camiões, a viagem não parece muito segura.Celorico, Gouveia, Mangualde, Viseu, Vou-zela passam a voar ao lado do carro. Também se veem matrículas estrangeiras, mesmo em carros ligeiros, algo que não acontecia na na-cional. A chuva não pára e, quando se passa

em Sever do Vouga (16H21), a escuridão do anoitecer, aliada ao nevoeiro e à chuva, já se faz notar.

PELAS 16H36, o estádio Municipal de Aveiro surge no horizonte e a viagem termina. Feitas as contas, o trajeto foi feito em menos de duas horas. Mas a viagem não termina aqui. Uma vez que o carro que a equipa da usou não tinha Via Verde ou um dispositivo eletrónico de pagamento, a viagem pela A25 foi feita sem pagar cada pórtico passado. Dias depois, mas dentro do período de cinco dias úteis permitidos para o pagamento, é pedida a fatura final. Todo o percurso da A25 ficou em 15,65 euros. A surpresa surge no se-guimento da conta. O último pórtico passado já pertencia à concessão da Costa de Prata, portanto pagou-se mais um euro e 45 cênti-mos. 17,32 euros e cerca de 530 km depois, as diferenças entre os dois trajetos ficam visí-veis. O tempo que se poupa compensa o gasto da portagem. A não ser, claro, que se queira parar muitas vezes – e com melhor condições climatéricas – para desfrutar da paisagem.

Análise pórtico a pórtico revela alternativas mais lentas

RUI SOUSA, autor do blogue Viver na cidade da Guarda, apresentou no início do mês uma análise pórtico a pórtico do trajeto da A25, de uma forma mais parale-la que a rota usada pela . Ao longo dos quilómetros, nota-se uma falta de alternativas viável. Parece ser po-sitivo trocar a A25 pela alternativa no Nó

14-Serra da Penoita ao nó 19-Satão/Vi-seu, "e poupar 3,05 euros em portagens", bem como no Nó 14-Serra da Penoita ao nó 16-Tondela (N228). Na maioria dos locais onde se aponta a viabilidade de outras alternativas, o autor faz questão de salvaguardar que "opte pela alternativa a não ser se o tempo for

mesmo muito importante". Em suma, o tempo feito na A25 parece impossível de bater pelas alternativas, embora estas apresentem algumas vantagens, particularmente ao nível da beleza das paisagens. Confira a análise no blogue http://viverci-dadeguarda.blogspot.com.

OS PÓRTICOS foram apresentados como uma inovação tecnológica, mas acabaram por ser o alvo da contestação. Na Via do Infante, no Algarve,já foram vandalizados.

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