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O ACORDO DE BASILÉIA II E SUAS
IMPLICAÇÕES PARA O
GERENCIAMENTO DO RISCO DE
CRÉDITO NO BRASIL
Kadidja Ferreira Santos (UFPB/UFPE)
Charles Ulises de Montreuil Carmona (UFPE)
Edison Luiz Leismann (UNIOES/UFPE)
Amilca Ferreira Santos (UFPB)
Este artigo buscou estudar as implicações estratégicas do Acordo de
Basiléia II no processo de Gerenciamento do Risco de Crédito no
Brasil, procurando entender como suas diretrizes afetarão o
gerenciamento de risco e as concessões de créditto no mercado
financeiro brasileiro. Para tanto, realizou-se uma pesquisa
exploratória, utilizando-se de estudos bibliográficos e documentais
feitos com base em livros, dissertações e artigos, bem como nas
resoluções disponibilizadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) na
Internet. O quadro teórico centrou-se nos estudos dos acordos de
Basiléia. Os resultados demonstraram que as implicações de ordem
normativa para as instituições financeiras no Brasil referem-se às
modificações na forma de cálculo do Patrimônio de Referência
Exigido, bem como nos percentuais de ponderação do risco a serem
aplicados, tendo-se mantido o percentual de capital mínimo exigido em
11%. Além das implicações de ordem normativa, apresentadas pelo
Bacen, e que deverão ser implementadas pelas instituições financeiras
brasileiras até o final de 2012, os efeitos resultantes do Acordo de
Basiléia II podem ser visualizadas não apenas junto às instituições
bancárias e órgãos supervisores, como também se impondo aos demais
elos do sistema financeiro, afetando o acesso ao crédito, e
provavelmente, os processos de gerenciamento de risco de crédito de
empresas, em especial as de micro e pequeno porte. A conclusão a que
se pôde chegar é que este Novo Acordo apresenta desafios
organizacionais não somente ao órgão supervisor, o Banco Central do
Brasil, e às instituições financeiras em atividades no país, mas também
aos empresários e consumidores, que terão de enquadrar-se ao novo
ambiente estabelecido no âmbito do Comitê de Basiléia II.
Palavras-chaves: Crédito, gerenciamento de risco, acordo de Basiléia
II.
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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1. Introdução
O Sistema Financeiro de um país desempenha, especialmente através do sistema bancário,
papel de suma importância para manutenção da economia nacional. Essas instituições
bancárias, ao facilitar a realocação de recursos dos agentes superavitários, isto é, dos
poupadores e investidores, para os agentes deficitários, aqueles cujos investimentos superam
sua quantidade de capital próprio e que têm disposição para tomar emprestado, sob
pagamento de juros, assumem riscos diversos.
Como uma das principais atividades do sistema bancário é a intermediação financeira, em
especial utilizando-se de recursos de terceiros, a assunção de riscos é inerente a essa atividade
de intermediação, donde decorre também sua remuneração.
Como se observa, o risco está presente constantemente na atividade bancária. Entende-se por
risco, conforme a visão de Brigham e Houston (1999, p. 158), a “chance de que ocorra um
evento desfavorável”, ou, como declara Gitman (2004, p. 184), “a possibilidade de perda
financeira”.
Laycock (1998), referenciado por Marshall (2002, p. 21) aponta que, na atividade bancária, os
riscos normalmente são segmentados em riscos de mercado, de crédito, estratégicos e
operacionais. Riscos de mercado se referem às flutuações no lucro líquido ou no valor da
carteira, oriundas de mudanças de fatores específicos no mercado. Risco de crédito são as
flutuações no lucro líquido ou ativo líquido resultantes da inadimplência do tomador de
recursos. Os riscos estratégicos referem-se às mudanças ambientais de longo prazo que podem
interferir em como uma empresa agrega valor para seus interessados. Os riscos operacionais
reportam-se à operacionalização das atividades bancárias; pode ser definido como “o
potencial de flutuações adversas no demonstrativo de resultados (lucros e perdas) ou no fluxo
de caixa de uma empresa devido a efeitos atribuíveis a clientes, controles inadequadamente
definidos e eventos incontroláveis”.
Como boa parte da remuneração das instituições bancárias é oriunda da concessão de crédito,
o risco de crédito vem sendo monitorado pelos bancos há mais tempo que os demais riscos,
cujos monitoramentos, de modo regulamentar, e especificamente no Brasil, são mais recentes,
datando de 1996, no caso do risco de mercado, e de 2004, com a introdução do Acordo de
Basiléia II, no caso do risco operacional.
Segundo Saunders (2000), existem pelo menos sete motivos que justificam o aumento de
interesse acerca do gerenciamento do risco de crédito, sendo que o último item, referente à
exigência de capital baseado no risco feita pelo BIS, ficou conhecida como Basiléia I. A
identificação de necessidades de ajustes em suas diretrizes, juntamente com a ocorrência de
outros fatos no mercado financeiro internacional, como os escândalos ocorridos com as
falências de alguns bancos importantes, provocou a elaboração do Novo Acordo de Basiléia,
conhecido como Basiléia II. Este Acordo, além de introduzir algumas modificações nas
diretrizes de Basiléia I, no que se refere ao gerenciamento do risco de crédito e no montante
de capital ponderado pelo risco a ser mantido pelos bancos, introduziu a necessidade de
gerenciamento do risco operacional, até então não monitorado e responsável por inúmeros
problemas de falências de instituições bancárias, como, por exemplo, o caso do Barings.
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Tendo em vista que a matéria-prima dos produtos bancários é o capital, a concessão de
crédito, e o gerenciamento de riscos deste, deve ser feita de maneira a considerar o suporte de
capital necessário pela instituição bancária para tal fim; todavia, muitas instituições, quando
da concessão de crédito, não se preocupavam em provisionar recursos suficientes, com base
no risco incorrido, para garantir sua liquidez, o que provou muitos casos de falências.
Como o Acordo de Basiléia II traz modificações, especialmente em termos de flexibilizações
e ao mesmo tempo de novas exigências, sobre a forma como o gerenciamento de crédito deve
ser realizado pelas instituições bancárias, especificamente no que se refere à manutenção de
capital baseado nos riscos incorridos pela instituição, o estudo de seus impactos nestas é fator
preponderante para a compreensão das repercussões que provavelmente virão em cadeia aos
demais elos do mercado, isto é, aos tomadores de recursos e seus clientes. É neste sentido, e
considerando a importância da atividade bancária, enquanto intermediação financeira, para a
manutenção dos fluxos de recursos e da economia no país, que este artigo buscou estudar as
implicações estratégicas do Acordo de Basiléia II no processo de Gerenciamento de Risco de
Crédito no Brasil, tendo em vista entender como suas diretrizes afetarão o gerenciamento de
risco e as concessões de crédito no mercado financeiro brasileiro. O que se espera é que, ao
final do estudo, uma visão clara dos impactos do Acordo de Basiléia II sobre o gerenciamento
do risco de crédito seja proporcionada, de forma a, inclusive, provocar maiores debates sobre
o tema ora proposto junto à academia, gestores de crédito e mesmo junto aos tomadores de
crédito.
2. Procedimentos Metodológicos
Considerando-se os objetivos propostos e com base na taxionomia adotada por Gil (2007),
que classifica as pesquisas quanto ao nível, em exploratórias, descritivas e explicativas, este
estudo classifica-se como exploratório, tendo em vista que, conforme o referido autor, este
tipo de estudo apresenta como finalidade esclarecer conceitos e idéias, além de serem
desenvolvidos com o objetivo de proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, sobre
determinado fato.
No que se refere ao delineamento da pesquisa, ainda de acordo com Gil (2007), este estudo
adotou as pesquisas bibliográfica e documental, sendo que a coleta de dados foi realizada
através de consultas a livros, dissertações e artigos divulgados na Internet; a pesquisa
documental foi realizada utilizando-se as resoluções divulgadas pelo Banco Central do Brasil
(Bacen) em sua página na Internet. Com base nas análises das informações oriundas das
fontes bibliográficas e documentais buscou-se destacar as implicações do Acordo de Basiléia
II para o processo de gerenciamento de risco de crédito no Brasil, objetivo deste estudo. A
análise não se restringiu aos impactos esperados e observados nos processos de
gerenciamento de riscos das instituições financeiras, mas estendendo-se, procurou-se sondar
qual a provável repercussão dos ajustes a serem feitos ou já realizados pelas instituições
financeiras junto aos seus tomadores de crédito, e mesmo junto aos clientes destes. A
estratégia de pesquisa adotada está representada esquematicamente na figura 01, a seguir.
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Figura 01 - Estratégia metodológica do trabalho
3. O Acordo de Basiléia II
O Acordo de Basiléia II foi introduzindo tendo em vista o atendimento de deficiências
encontradas no Acordo de Basiléia I, introduzido em 1988, no que se refere à insuficiência de
sensibilidade aos riscos efetivamente incorridos pelos bancos, bem como por estes centrarem-
se apenas no risco de crédito (VERRONE, 2007). Tendo em vista uma contextualização do
Acordo de Basiléia II, iniciar-se-á este tópico trazendo-se um breve panorama do surgimento
dos acordos de Basiléia.
3.1. Breve histórico dos Acordos de Basiléia
O comitê de Basiléia foi estabelecido pelos Bancos Centrais dos países do grupo dos 10, o G-
10, no final de 1974 e dele fazem parte, além dos representantes dos bancos centrais de cada
país do grupo, autoridades com responsabilidade formal pela supervisão prudencial dos
negócios bancários desses mesmos países. Fazem parte deste comitê a Bélgica, o Canadá, a
França, a Alemanha, a Itália, o Japão, Luxemburgo, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Reino
Unido e Estados Unidos. Apesar de o Comitê não possuir autoridade formal supervisora
supranacional (BIS, 2008), seu objetivo consiste em propiciar:
[...] a compreensão de questões supervisórias fundamentais e o aperfeiçoamento da
qualidade da supervisão bancária no mundo. Busca fazê-lo através de intercâmbio de
informações relativas a questões, abordagens e técnicas sobre a supervisão bancária
nacional, tendo em vista a promoção de entendimentos comuns. Ocasionalmente, o
Comitê utiliza tais entendimentos comuns para desenvolver diretivas e padrões
supervisórios em áreas em que estes possam ser considerados desejáveis. Por essa
razão, o Comitê é mais conhecido por seus padrões internacionais de adequação de
Pesquisa
bibliográfica
Acordo de Basiléia
II
Gerenciamento de
Risco de Crédito
Pesquisa
documental
Acordo de Basiléia
II, Resoluções do
Bacen
Análise – levantamento das implicações de
Basiléia II no Gerenciamento de Risco de
Crédito no Brasil
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capital, pelos Princípios Fundamentais para a Efetiva Supervisão Bancária e pela
Concordata para Supervisão Bancária Transnacional (BIS, 2007 apud VERRONE,
2007, p. 23).
O Comitê de Basiléia se reúne regularmente quatro vezes ao ano, geralmente no Banco de
Compensações Internacionais (BIS – Bank of International Settlements), em Basiléia, Suíça,
onde está localizada a sede do Banco. Como se observa, este Comitê se propõe a incentivar a
convergência de padrões de supervisão; seus dois princípios básicos, neste sentido, apontam
que “nenhum estabelecimento bancário estrangeiro possa escapar da supervisão e que esta
supervisão seja exercida em bases adequadas”. Tendo em vista este propósito, o Comitê tem
emitido uma série de documentos e recomendações, destacando-se, em 1988, a introdução de
um sistema para mensuração do capital bancário, que ficou conhecido como Acordo de
Capital de Basiléia, hoje conhecido como Basiléia I (BIS, 2008; VERRONE, 2007).
Este Acordo (Basiléia I) introduziu a implementação de um modelo de gerenciamento de risco
de crédito, com um capital padrão mínimo de 8% até o final de 1992. Assim, desde 1988 este
modelo tem sido progressivamente introduzido não somente pelos países membros do
Comitê, mas também em outros países com bancos internacionalmente ativos (BIS, 2008).
Em termos gerais, o capital mínimo exigido para cobrir os riscos e preservar a liquidez das
instituições financeiras, foi estabelecido em 8% das somas dos ativos; cada ativo seria
computado considerando-se o peso relativo ao seu respectivo risco, o que comporia o
chamado Ativo Ponderado pelo Risco (APR). Para cálculo do APR os ativos foram agrupados
em quatro grupos distintos, conforme suas características, com diferentes percentuais de
ponderação, conforme apresentado no quadro 01. A ponderação levaria ao montante mínimo
de capital próprio a ser mantido por cada instituição (VERRONE, 2007).
Quadro 01 - Fatores de Ponderação por Categorias de Ativos
Fator Risco Ativos a serem ponderados
0% Risco nulo Caixa e ouro
Créditos contra o governo central e banco central, em moeda
nacional
Créditos contra governos desde que membros da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD)
20% Risco
reduzido Créditos contra bancos multilaterais de desenvolvimento ou
garantidos por estes
Créditos contra bancos sediados em países da OECD
Créditos contra bancos sediados em países fora da OECD, com
prazo até um ano
50% Risco
reduzido Financiamentos imobiliários com hipoteca residencial
100% Risco
normal Créditos contra o setor privado
Créditos de governos não membros da OECD
Créditos contra bancos sediados em países fora da OECD, com
prazo superior a um ano
Créditos contra empresas comerciais do setor público
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Ativo permanente e todos os outros ativos
0, 10, 20 ou
50%, a
critério
nacional
Créditos contra entidades domésticas do setor público, exceto
governo central e banco central
Fonte: BCBS, 1988, p. 17, 18 citado por Verrone, 2007, p. 34
O Comitê apresentou uma definição de capital a ser adotado para suporte do risco; este
conceito foi dividido em dois níveis, conforme aponta Verrone (2007):
- Nível I, chamado de capital básico, compreende os recursos permanentemente disponíveis
para absorção de perdas eventuais e evitar a perda de confiança e a insolvência; era formado
pelo patrimônio dos acionistas e os lucros retidos;
- Nível II, chamado de capital suplementar, de natureza mais flexível, compostos por reservas
de reavaliação, provisões gerais, instrumentos híbridos de capital e dívida e dívidas
subordinadas;
- Em 1996 foi incluído, através de emenda ao Acordo de 1988, o nível III, relacionado a
obrigações vinculadas de curto prazo, cujo objetivo era cobrir riscos decorrentes de posições
em aberto de moedas estrangeiras, títulos, ações, commodities e derivativos.
Apesar de sua simplicidade, Basiléia I apresentava deficiências que exigiram sua revisão.
Conforme Verrone (2007), os principais problemas eram a baixa sensibilidade ao risco e a
desconsideração de mitigadores de risco, além da centralização quase que exclusiva no risco
de crédito.
Assim, em 1999 foi proposto pelo Comitê a realização de uma revisão para adequação do
capital de risco estabelecido pelo modelo. Este modelo de capital revisado e proposto consiste
em três pilares e é fruto da interação com bancos, grupos industriais e autoridades de
supervisão que não são membros do Comitê, tendo sido publicado em 26 de Junho de 2004,
ficou conhecido como Acordo de Basiléia II (BIS, 2008).
3.2. O Acordo de Basiléia II
Conforme Boechat e Bertolossi (2001), a revisão do Acordo de Basiléia foi apresentada, em
sua versão preliminar em Janeiro de 2001, estando estruturada em duas partes: a) âmbito de
aplicação; e, b) os três pilares. O âmbito de aplicação refere-se às entidades às quais se aplica
o novo requerimento de capitais e a maneira que adquire essa aplicação (âmbitos consolidado,
subconsolidado e individual). A finalidade desse escopo é garantir que sejam considerados os
riscos em níveis consistentes com os bancos internacionalmente ativos e suas subsidiárias. O
Acordo prevê que se uma instituição do grupo não for consolidada, a participação no capital
do grupo controlador referente a essa empresa deverá ser deduzida dos recursos próprios, para
efeito do cálculo do risco.
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A segunda parte do Acordo, que contém o novo Acordo propriamente dito, está dividido em
três pilares disciplinares: requerimento mínimo de capital, processo de revisão supervisora e
disciplina de mercado.
Segundo o Basel Comittee on Banking Supervision (BCBS, 2004, p. 11), citado por Verrone
(2007, p. 45), o objetivo do Comitê de Basiléia, em sua edição de Basiléia II foi o de criar:
[...] estrutura que fortaleça ainda mais a solidez e a estabilidade do sistema bancário
internacional e, ao mesmo tempo, mantenha consistência suficiente para que o
regulamento de adequação de capital não seja fonte significativa de desigualdade
competitiva entre os bancos internacionalmente ativos.
Os três pilares disciplinares nos quais estão fundamentados este Acordo estão ilustrados na
figura 02, a seguir.
Figura 02 - Resumo dos Pilares da Basiléia II
Fonte: Garcia e Duarte, 2004
O Pilar 1 estabelece o requerimento mínimo de capital que as instituições devem manter para
fazer frente aos riscos de crédito, de mercado e operacional. Este requisito, expresso pela
fórmula abaixo, é conhecido como Índice de Basiléia.
Como se observa, neste modelo manteve-se a definição de capital exigido para fins
regulatórios e o requisito mínimo de 8% do capital para ativos ponderados por risco (no caso
do Brasil, o percentual adotado pelo Bacen foi de 11%); foi introduzido no cálculo o risco
operacional, manteve-se o risco de mercado e foram feitas consideráveis alterações no risco
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de crédito. Além disso, o Novo Acordo assegurou incentivos para as instituições financeiras
que adotarem modelos mais apurados de cálculo para suas exposições ao risco, através de
menor alocação de capital regulador (BOECHAT e BERTOLOSSI, 2001).
Conforme os modelos definidos no Acordo, e como observado na figura 01, a mensuração do
risco de crédito apresenta três distintas abordagens:
- Abordagem padronizada – semelhante à abordagem utilizada em Basiléia I, está baseada em
categorias ponderadas de risco. Mais uma vez, os ativos deverão ser agrupados, como no
Acordo de 1988, em níveis de ponderação associados aos riscos, de 0 a 100%, sendo
acrescido um novo patamar de 150% para ativos classificados como de alto risco, conforme
quadro 02.
- Abordagem IRB básico (foundation) e avançado (advanced) – abordagens que prevêem a
elaboração de modelos internos, que dependem de autorização prévia da supervisão bancária
para seu uso e baseiam-se em fórmulas de cálculo estabelecidas pelo Comitê. Os dados de
entrada destas fórmulas são a probabilidade de inadimplência (PD), o valor estimado da
exposição no momento do inadimplemento (EAD), a perda estimada dado o inadimplemento
(LGD) e o prazo (M), e apresentam como resultado a exigência de capital para risco de
crédito com nível de confiança de 99,9%. A diferença entre a abordagem básica e a avançada
é que na primeira os bancos calculam apenas a PD, enquanto a LGD, a EAD e M são
fornecidos pelo órgão regulador.
Quadro 02 - Ponderação de riscos das principais classes de ativos
Fonte: BCBS, 2004, p. 25 citado por Verrone, 2007, p. 53
No caso da abordagem avançada, os bancos devem calcular todos os parâmetros de entrada.
Em ambos os casos os dados de entrada devem ser coletados pelos próprios bancos para cada
carteira ou crédito e o modelo deve ser validado pelo órgão supervisor. O cálculo pela
abordagem IRB está ilustrada esquematicamente na figura 03, a seguir.
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Figura 03 - Abordagem IRB
Fonte: Garcia e Duarte, 2004
Algo importante que deve ser enfatizado é que os sistemas de classificação utilizados para
alocação de capital devem realmente ser utilizados pelos bancos em suas atividades normais,
tendo em vista que esta questão é fundamental, pois faz parte da própria base conceitual de
Basiléia II, de aproximar o capital regulatório do capital econômico calculado pelos bancos
(VERRONE, 2007).
Quanto ao risco operacional, o Acordo apresenta quatro métodos, que guardam semelhanças
conceituais com as abordagens para o risco de crédito. Neste caso, os métodos disponíveis são
os apresentados na figura 04:
Figura 04 - Modelos para alocação de capital com base no risco operacional
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Fonte: Garcia e Duarte, 2004
O Pilar 2, processo de revisão da supervisão, tem o objetivo de garantir que os bancos
apresentem sólidos processos internos, estabelecidos de modo a aferir a adequação de seu
capital, com base em uma avaliação completa de seus riscos. Além disso, também apresenta
como finalidade promover maior aproximação das áreas de risco dos bancos com os
supervisores, de forma a garantir que as exigências do Pilar 1 sejam atendidas em bases
permanentes (BOECHAT e BERTOLOSSI, 2001). Tendo em vista esses objetivos, o Comitê
definiu quatro princípios fundamentais que devem orientar fiscalização dos reguladores
(FERREIRA, 2008):
- As instituições financeiras devem dispor de um processo para calcular sua adequação geral
de capital em relação ao seu perfil de risco, bem como deverá buscar estratégias para manter
seus níveis de capital;
- Os supervisores devem rever e avaliar os cálculos e as estratégias de adequação de capital
internas da instituição financeira, bem como sua capacidade de monitorar e assegurar sua
aderência aos limites regulamentares de capital;
- Os supervisores devem esperar que as instituições financeiras operem acima do limite
mínimo regulamentar de capital e devem ser capazes de requerer que as instituições
financeiras mantenham excesso de capital em relação ao mínimo;
- Os supervisores devem intervir antecipadamente para evitar que os bancos caiam abaixo do
mínimo e ou requerer rápida ação corretiva, caso o capital não seja mantido ou restabelecido.
Como se percebe, este pilar entende a regulação e supervisão como elemento essencial no
estabelecimento e manutenção das necessidades mínimas de capital por parte das instituições
financeiras participantes do sistema financeiro nacional.
O Pilar 3, disciplina de mercado, tem a função de proporcionar maior transparência aos
agentes de mercado acerca dos riscos incorridos pelos bancos, bem como informar sobre os
níveis desses riscos e como seu gerenciamento vem sendo feito por parte das instituições
financeiras. Ele constitui um meio adicional para reforçar a segurança e a solidez dos sistemas
financeiros, ao complementar os pilares 1 e 2, através da obrigatoriedade de divulgações
periódicas de um determinado conjunto de informações. Quanto mais avançada for a
abordagem utilizada, maior volume de informações é requerido para divulgação. A
importância deste pilar é tamanha que alguns autores sustentam que ele, mais que os Pilares 1
e 2 deveria estar no topo de prioridades do Comitê. Rochet (2004, p. 14), referenciado por
Verrone (2007, p. 63), apresenta sua posição: “nós sustentamos que [...] a disciplina do
mercado pode fornecer uma ferramenta muito útil para definir práticas harmônicas e sem
impedimentos para autoridades de supervisão bancária através do mundo, em uma tentativa de
eliminar eventuais pressões políticas e falhas regulatórias. Esta deveria ser a prioridade
superior do Comitê de Basiléia.”
Como se percebe, acredita-se que o aumento no volume de informações disponíveis ao
mercado possa reduzir a assimetria de informações, de forma a se observar maior disciplina e
eficiência nos mercados.
4. Implicações do Acordo de Basiléia II no processo de Gerenciamento de Risco de
Crédito no Brasil
É interessante, antes de fazer-se um apontamento das implicações de Basiléia II no
gerenciamento de risco de crédito no Brasil, conhecer o cronograma de implantação do
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Acordo, conforme estabelecido pelo Banco Central do Brasil (Bacen) em seu Comunicado
16.137 de 27 de setembro de 2007. O cronograma está resumido no quadro 03.
Quadro 03 - Cronograma para implantação de Basiléia II no Brasil
Prazos Atividades
Etapas cumpridas
em agosto de
setembro de 2007
- revisão dos requerimentos de capital para risco de crédito na abordagem
simplificada; - introdução de parcelas de requerimento de capital para risco de
mercado ainda não contempladas pela regulamentação.
Até final de 2007 - estabelecimento da parcela de requerimento de capital para risco operacional nas
abordagens básica ou padronizada alternativa.
Até final de 2008 - estabelecimento de critérios de elegibilidade para adoção de modelos internos para
risco de mercado;- divulgação do processo de solicitação de autorização para uso de
modelos internos para risco de mercado;- implementação de estrutura para
gerenciamento de risco de crédito e divulgação dos pontos-chave necessários para
formação da base de dados para modelos internos de risco de crédito.
Até final de 2009 - início do processo de autorização para uso de modelos internos de risco de
mercado; - estabelecimento dos critérios de elegibilidade para adoção de modelos
internos para risco de crédito; - divulgação do processo de solicitação de
autorização para uso de modelos internos para risco de crédito;- divulgação dos
pontos-chave para uso de modelos de risco operacional.
Até final de 2010 - início do processo de autorização para uso de modelos internos de risco de crédito
– abordagem básica.
Até final de 2011 - início do processo de autorização para uso de modelos internos de risco de crédito
– abordagem avançada; - estabelecimento dos critérios de exigibilidade para adoção
de modelos internos para risco operacional; - divulgação do processo de solicitação
de autorização para uso de modelos internos para risco operacional.
Até final de 2012 - início do processo de autorização para uso de modelos internos de risco
operacional.
Fonte: KPMG, 2007
Apesar de todo o processo normativo em vigor e em andamento de elaboração, alguns
analistas já prevêem algumas dificuldades que poderão abater-se sobre esse processo de
implantação e, mais especificamente, debatem os prováveis resultados do mesmo. Boechat e
Bertolossi (2001) apontam, por exemplo, que não deverão ser poucas as mudanças nos
mercados emergentes e nem superficiais os efeitos sobre as diferentes formas de captação
externa e interna de recursos por parte desses países.
Analisando-se o efeito como percorrendo os elos do sistema financeiro, pode-se esperar,
conforme apresentado nas normas sobre gerenciamento de risco de crédito do Bacen, uma
evolução nesse processo de gerenciamento de risco. Ora, se as instituições financeiras estarão
mais rigorosas quando da classificação de riscos, o acesso ao crédito por parte de empresas
dependerá de sua adequação, mesmo que de modo indireto, ao ambiente bancário e suas
normas. Vale destacar que provavelmente tal fato repercutirá de maneira muito mais forte
sobre as micros e pequenas empresas, que muitas vezes já encontram dificuldades para acesso
ao crédito atualmente.
Descendo um elo a mais nesse sistema, encontrar-se-á a necessidade de adequação dos
clientes das empresas e mesmo da população que utiliza crédito, seja ele bancário ou não.
Como as empresas necessitarão adaptar-se ao novo ambiente, espera-se que elas busquem
também um aperfeiçoamento dos seus processos de gerenciamento de risco de crédito, tendo
em vista a, com base em uma gestão de riscos (todos eles!) mais eficiente, tornarem-se aptas
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ao crédito junto às instituições bancárias. Assim, as implicações resultantes do Acordo de
Basiléia II podem ser visualizadas não apenas junto às estratégias das instituições bancárias e
órgãos supervisores, como também impondo-se aos demais elos do sistema financeiro,
afetando o acesso ao crédito e provavelmente, os processos de gerenciamento de risco de
crédito de empresas, em especial as de micro e pequeno porte.
Pode-se visualizar estas implicações no esquema apresentado na figura 05.
Figura 05 - Dinâmica prevista das implicações de Basiléia II no processo de gerenciamento de risco de crédito
no Brasil
Fonte: Elaboração própria
Considerando a dinâmica proposta, acredita-se que Basiléia II trará dificuldades no que se
refere ao acesso ao crédito no Brasil; todavia, apesar disto, pode-se esperar que, talvez, esse
novo ambiente, ao exigir maior adequação no que se refere às exposições ao risco, traga
algumas modificações em termos de práticas de acesso ao crédito, especialmente no que se
refere ao estímulo que pode advir daí para uma reeducação financeira por parte da população
brasileira.
Por outro lado, considerando-se a probabilidade de não adaptação ao novo ambiente bancário
e os efeitos dele oriundos, o que se pode esperar é o entravamento das atividades econômicas,
em especial aos das empresas de capital nacional, e aquelas de menor porte, em decorrência
da falta de recursos para realização de investimentos, bem como da falta deste como
mecanismo de estímulo ao consumo, através do crédito ao consumidor.
Ajustes nas instituições
bancárias, novas regras de
gerenciamento de risco e de
concessão de crédito
Basiléia II
Ajustes no gerenciamento de
riscos das empresas, tendo em
vista atender aos requisitos dos
bancos para obtenção de
crédito
Novas regras para concessão
de crédito nas empresas e
mesmo em bancos varejistas
Necessidade de adequação da
população que necessita de
crédito às novas regras
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Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009
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5. Considerações Finais
As implicações de ordem normativa para as instituições financeiras no Brasil referem-se às
modificações na forma de cálculo do Patrimônio de Referência Exigido, bem como nos
percentuais de ponderação do risco a serem aplicados, tendo-se mantido o percentual de
capital mínimo exigido em 11%. Ademais, as instituições não poderão utilizar as
classificações de rating emitidas por agências especializadas e terão que adotar, ao menos
inicialmente, a abordagem padrão simplificada para mensuração de seu risco de crédito, o que
poderá colocá-las em desvantagem frente à competitividade do mercado internacional.
Além das implicações de ordem normativa, apresentadas pelo Bacen, e que deverão ser
implementadas pelas instituições financeiras brasileiras até o final de 2012, os efeitos
resultantes do Acordo de Basiléia II podem ser visualizadas não apenas junto às estratégias de
instituições bancárias e órgãos supervisores, como também impondo-se aos demais elos do
sistema financeiro, afetando o acesso ao crédito, e provavelmente, os processos de
gerenciamento de risco de crédito de empresas; além disso, pode-se esperar as implicações no
acesso ao crédito junto à população, que provavelmente será „forçada‟ a enquadrar-se ao
ambiente, sob pena de não conseguir crédito.
Assim, acredita-se que este Novo Acordo apresenta desafios organizacionais não somente ao
órgão supervisor, o Banco Central do Brasil, e às instituições financeiras em atividades no
país, mas também aos empresários e consumidores, que terão de enquadrar-se ao novo
ambiente sugerido, mas, pode-se dizer imposto, pelo Comitê de Basiléia II.
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